AV2 Psicopatologia
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lor a todas as vivncias humanas. Sem afetividade, a vida mental torna-se vazia, sem sabor. Afetividade um termo genrico, que compreende vrias modalidades de vivncias afetivas, como o humor, as emoes e sentimentos. Segundo Mira y Lpez, quanto mais os estmulos e os fatos ambientais afetam o indivduo (at a intimidade do ser), mais nele aumenta a alterao e diminui a objetividade. Distinguem-se cinco tipos bsicos de vivncias afetivas: 1. O humor ou estado de nimo 2. Emoes 3. Sentimentos 4. Afetos 5. Paixes O humor ou estado de nimo O humor, ou estado de nimo, definido como o tnus afetivo do indivduo, o estado emocional basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento. No estado de nimo, h confluncia entre a vertente somtica e a vertente psquica, que se unem de maneira indissolvel para fornecer um colorido especial a vida psquica momentnea. O humor vivido corporalmente e relaciona-se de forma considervel s condies vegetativas do organismo. Emoes As emoes podem ser definidas como relaes afetivas agudas, momentneas, desencadeadas por estmulos significativos. Origina-se geralmente como a reao do indivduo a certas reaes internas ou externas, conscientes ou inconscientes. Assim como o humor, as emoes so freqentemente acompanhadas de reaes somticas (neurovegetativas, motoras, hormonais, viscerais e vasomotoras), mais ou menos especficas. O humor e as emoes so, ao mesmo tempo, experincias psquicas e somticas, e revelam sempre a unidade psicossomtica bsica do ser humano. Sentimentos Os sentimentos so estados e configuraes afetivas estveis; em relao s emoes, so mais atenuados em sua intensidade e menos reativos a estmulos passageiros. Os sentimentos esto comumente associados a contedos intelectuais, valores, representaes e, em geral, no implicam concomitantes somticos. Pode-se classificar e ordenar os sentimentos em vrios grupos. Os afetos e sentimentos so vivenciados, de modo geral, em dois plos: agradvel e desagradvel, prazeroso e desprazvel. A seguir so expostos vrios sentimentos de acordo com sua tonalidade afetiva: sentimentos da esfera da tristeza: melancolia, saudade, tristeza, nostalgia, vergonha, impotncia, aflio, culpa, remorso, autodepreciao, autopiedade, sentimento de inferioridade, infelicidade, tdio, desesperana, etc.
sentimentos da esfera da alegria: euforia, jbilo, contentamento, satisfao, confiana, gratificao, esperana, expectativa, etc. sentimento da esfera da agressividade: raiva, revolta, rancor, cime, dio, ira, inveja, vingana, repdio, nojo, desprezo, etc. sentimentos relacionados atrao pelo outro: amor, atrao, teso, estima, carinho, gratido, amizade, apego, apreo, respeito, considerao, admirao, etc sentimentos associados ao perodo: temor, receio, desamparo, abandono, rejeio, etc. sentimento do tipo narcsico: vaidade, orgulho, arrogncia, onipotncia, superioridade, empfia, prepotncia, etc. Afetos Define-se afeto com uma qualidade e o tnus emocional que acompanha uma idia ou representao mental. Os afetos acoplam-se s idias, anexando a ela um colorido afetivo. Seriam, assim, os componentes emocionais de uma idia. Paixes A paixo um estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psquica como um todo, captando e dirigindo a ateno e o interesse do indivduo a uma s direo, inibindo os demais interesses. Emoo versus razo Na tradio do pensamento ocidental, a emoo ope-se frontalmente a razo; segundo essa tradio, a emoo cega o homem e impede de pensar com clareza e sensatez. Essa concepo considera a emoo, a vida afetiva de modo geral, como inferior a razo. A emoo turva a razo, distancia o homem da verdade e da conduta correta. Alm disso, corresponde a uma dimenso inferior do homem, seria o resqucio animalesco de um suposto homem primitivo dentro do homem maduro. Contrrios a tal concepo, vrios autores afirmam que a dimenso emocional pode contribuir (e no atrapalhar) no contato do homem com a realidade. Alguns existencialistas chegam a hipervalorizar a emoo no processo de conhecimento. Mesmo aceitando a tradicional primazia da razo sobre a emoo na apreenso da verdade, deve-se admitir que certas dimenses da vida s so realmente acessveis pela lente de emoo. Catatimia Bleuler denominou de catatimia a importante influncia que a vida afetiva, o estado de humor, as emoes, os sentimentos e as paixes exercem sobre as demais funes psquicas. A ateno captada, dirigida, desviada ou concentrada em funo do valor afetivo de determinado estmulo; a memria altamente detalhada ou muito pobre dependendo do significado afetivo dos fatos ocorridos, a sensopercepo pode se alterar em funo de estados afetivos intensos, e assim por diante. Relao afetiva H duas importantes dimenses da resposta ou reao afetiva de um indivduo. Denomina-se sintonizao afetiva a capacidade de o indivduo ser influenciado afetivamente por estmulos externos; assim, o sujeito entristece-se com ocorrncias
dolorosas, alegra-se com eventos positivos, ri com uma boa piada, enfim, entra em sintonia com o ambiente. A irradiao afetiva, por sua vez, a capacidade que o indivduo tem de transmitir, irradiar ou contaminar os outros com seu estado afetivo momentneo; por meio da irradiao afetiva, faz com que os outros entrem em sintonia com ele. Na condio de rigidez afetiva, o indivduo no deseja, tem dificuldade ou impossibilidade tanto de sintonizao como de irradiao afetiva; ele no produz reaes afetivas nos outros nem reage afetivamente diante da situao existencial cambiante. Teorias e dimenses da afetividade - Teoria de James-Lange Segundo William James e Karl Lange, a base das emoes deveria ser encontrada na periferia do corpo, principalmente nas reaes do sistema nervoso autnomo perifrico. Aqui a emoo concebida como a tomada de conscincia das modificaes fisiolgicas produzidas por determinados eventos. James diz que: aps as mudanas corpreas, segue-se imediatamente a percepo do fato excitante, e a emoo o que sentimos dessas mudanas (corpreas). James afirma que seria impossvel imaginar o que sobraria da emoo se no sentisse o pulsar do corao, a respirao ofegante, o tremor dos lbios, o dobrar das pernas, a pele de ganso, etc. Seria outra coisa, mas no a verdadeira emoo. Aspectos psicodinmicos da afetividade - Concepo freudiana A angstia tem importncia central na teoria freudiana dos afetos. Freud concebe a angstia como afeto bsico emergindo do eterno conflito entre o indivduo, seus impulsos instintivos primordiais, seus desejos e suas necessidades, por um lado, e, por outro, as exigncias de comportamento civilizado, restries que a cultura impe ao indivduo. A angstia seria uma transformao da libido no-descarregada. Ou seja, a energia sexual que, por algum motivo, no fosse adequadamente descarregada ficaria retida, represada no aparelho psquico, gerando angstia como subproduto. Em teoria posterior, Freud postulou que a angstia seria no um subproduto da libido represada, mas um sinal de perigo, enviado pelo Eu, no sentido de evitar o surgimento de algo muito mais ameaador ao indivduo, algo que poderia gerar angstia muito mais intensa. A angstia funcionaria ento como sinal de desprazer que se suscitaria da parte do Eu uma reao de defesa passiva ou ativa, ativando o recalque ou outros mecanismos de defesa, a fim de evitar uma situao de perigo mais importante e, conseqentemente uma angstia muito maior. A depresso ou melancolia relaciona-se ao modo particular de elaborao inconsciente de perdas reais ou simblicas. Para Freud, quando perde o objeto significativo, o sujeito tende, para no perder totalmente, a identificar-se narcisicamente com ele e a introjet-lo ao prprio Eu. Concepo de Melanie Klein Melanie Klein deu importante nfase vida afetiva em suas concepes sobre o funcionamento mental humano. Os afetos, em sua teoria, seriam centrais para toda psicopatologia e estariam intimamente associados s fantasias primitivas e s chamadas relaes de objeto. -
Nessa concepo, haveria fetos primrios, primitivos, como o dio, a inveja, o medo de ser retaliado, etc., e outros, que indicariam maior maturidade psquica do indivduo, como a gratido, a reparao e o amor. Os afetos resultariam, em grande parte, do tipo e da qualidade das relaes do sujeito com os seus objetos internos. Alteraes patolgicas da afetividade - Alteraes do humor Distimia o termo que designa a alterao bsica do humor, tanto no sentido da inibio como no sentido da exaltao. O termo genrico depresso, significando tristeza patolgica, tornou-se uma designao consagrada, que vem substituindo o termo clssico distima hipotmica ou melanclica. Os termos distimia hipertmica, expansiva ou eufrica, nomeia a exaltao patolgica do humor, ou seja, as bases afetivas dos quadros manacos. Muito freqentemente junto com o humor depressivo ocorrem idias relacionadas morte, idias suicidas, planos suicidas, atos e tentativas de suicdio. O termo disforia diz respeito distimia acompanhada de uma tonalidade afetiva desagradvel, mal-humorada. Os dois plos bsicos das alteraes do humor so o plo depressivo, ou hipotmico, e o plo manaco, ou hipertmico. Assim, hipotimia refere-se base afetiva de todo transtorno depressivo. Por sua vez, o termo hipertimia refere-se a humor patologicamente alterado no sentido da exaltao ou alegria. No espectro manaco, o termo euforia, ou alegria patolgica, define o humor morbidamente exagerado, no qual predomina um estado de alegria intensa e desproporcional s circunstncias. J no estado de elao, h, alm da alegria patolgica, a expanso do Eu, uma sensao subjetiva de grandeza e de poder. A puerilidade uma alterao do humor que se caracteriza pelo aspecto infantil, simplrio, regredido. Verifica-se a puerilidade especialmente na esquizofrenia hebefrnica, em indivduos com dficit intelectual, em alguns quadros histricos e em personalidades imaturas de modo geral. Assemelhando-se puerilidade, a moria uma forma de alegria muito pueril, ingnua, boba, que ocorre principalmente em pacientes com leses extensas nos lobos frontais, em deficientes mentais e em indivduos com quadros demenciais acentuados. No estado de xtase, h uma experincia de beatitude, uma sensao de dissoluo do Eu no todo, de compartilhamento ntimo do estado afetivo interior com o mundo exterior, muitas vezes com o colorido hipertmico e expansivo. Associado a um contexto religioso ou mstico. O xtase tambm pode estar presente em condies psicopatolgicas, como no transe histrico, na esquizofrenia ou na mania. Na irritabilidade patolgica, h hiper-reatividade desagradvel, hostil e, eventualmente, agressiva a estmulos do meio exterior.
Ansiedade, angstia e medo A ansiedade definida como estado de humor desconfortvel, apreenso negativa em relao ao futuro, inquietao interna desagradvel. Porm, ela no s uma sensao ruim, pode ser boa quando envolve uma expectativa. O termo angstia relaciona-se diretamente sensao de aperto no peito e na garganta, de compresso, sufocamento. Assemelha-se muito ansiedade, mas tem conotao mais corporal e mais relacionada ao passado.
O medo, caracterizado por referir-se a um objeto mais ou menos preciso, diferencia-se da ansiedade e da angstia, pois essas no se referem a objetos precisos. Em psicopatologia tm-se definido certos tipos de angstia e de ansiedade: o Na escola psicanaltica: 1. Angstia de castrao. Uma angstia de perda, de algo importante do ponto de vista narcsico para o indivduo. 2. Angstia de morte ou de aniquilamento. a sensao intensa de angstia perante perigo ou situao que indique ao sujeito possibilidade iminente de morte ou do aniquilamento. 3. Ansiedade depressiva. vivida por um sujeito que teme perder seus objetos bons; teme que estes sejam destrudos ou desintegrados, e, juntamente com eles, seu prprio Eu. 4. Ansiedade persecutria ou paranide. Vivida como temor de retaliao feroz aos ataques imaginrios, fantasmticos, que o sujeito, em sua fantasia, perpetuou contra seus objetos internos ou externos. 5. Angstia de separao. Seriam reaes emocionais vividas pela criana quando separada da me. o Na escola existencial: 6. Angstia existencial. Articula-se ao fato de o homem estar condenado a ser livre, a no poder de forma alguma abdicar de seu livre arbtrio, em oposio a todos os determinismos histricos e sociais. o Nas escolas comportamentalistas e cognitivistas: 7. Ansiedade de desempenho. a reao de ansiedade associada a temores em relao execuo de uma tarefa, possibilidade de ser avaliado criticamente por pessoas importantes ou significativas. 8. Ansiedade antecipatria. a ansiedade vivenciada antes da ocorrncia de uma situao estressante, experimentada na imaginao do indivduo que fica remoendo como ser sua futura ao desconfortvel.