Aula 18
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aprendizagem de educandos
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AULA
com deficiência intelectual
Edicléa Mascarenhas Fernandes
Meta da Aula
Nesta aula você estudará a área de deficiência
intelectual/mental, os aspectos históricos do atendi-
mento aos alunos portadores dessas deficiências, as
metodologias de acompanhamento e o processo de
escolarização na perspectiva da Educação Inclusiva.
objetivos
Pré-requisitos
Para que você encontre mais facilidade na compreensão
desta aula, é importante que tenha assimilado os conteúdos
anteriores das unidades em que foram abordados os conceitos
de Educação Inclusiva, a necessidade educacional especial e as
modalidades de atendimento a alunos com estas necessidades,
para que possa identificá-las no contexto pedagógico do
atendimento aos alunos com deficiência intelectual.
Educação Especial | O processo de ensino e aprendizagem de educandos com deficiência intelectual
UM POUCO DE HISTÓRIA
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francês “les crétiens”, de onde surgiu o vocábulo “cretino” (que passou,
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mais tarde, a ser utilizado como forma pejorativa. Esse termo era utili-
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zado para designar as pessoas com HIPOTIREOIDISMO e com a síndrome de HIPOTIREODISMO
Down, que possuíam um cretinismo mais benigno. O pintor renascentista Baixo funcionamento
da glândula tireoide,
Andréa Mantegna, nascido na cidade de Veneza, que pintou na corte que pode resultar em
alterações metabólicas
para a família Gonzaga no século XV, retratou no quadro “A Virgem e que podem produzir
o Menino” uma criança com as características da síndrome de Down. como resultado
complicações
Possivelmente, nesse quadro o pintor representou sua esposa e seu filho, intelectuais.
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Diversas terminologias vêm sendo utilizadas para se referir a estes educandos:
excepcionais, débeis mentais, retardados mentais, deficientes mentais. Atual-
mente, o termo que as associações científicas e grupos de direitos têm reco-
mendado é deficiente intelectual. Você saberá o porquê ao longo da aula.
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O sistema clássico de avaliação da deficiência mental e im-
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plicações no campo da educação
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O estudo da deficiência mental/intelectual a partir do pressuposto
científico inicia-se classicamente com o termo utilizado para a inteligência
abaixo da média: retardo mental, e esse era escalonado dentro de níveis
de gravidade, de acordo com os escores obtidos em testes psicométricos.
O termo tem sido questionado e era avaliado como leve (um coeficiente
de inteligência entre 50-55 a 70), moderado (um coeficiente entre 35-40
a 50-55), severo (um coeficiente entre 25 a 35-40) e profundo (um nível
de coeficiente abaixo de 20 ou 25).
Esse tipo de terminologia só serviu para aumentarem o preconceito
e a falta de oportunidade educacional para pessoas com deficiência inte-
lectual. Por exemplo, se um aluno recebia um diagnóstico de deficiência
mental grave, somente poderia frequentar uma classe ou escola especial,
e aqueles alunos considerados graves eram os denominados “alunos
para instituição”.
Em contrapartida ao diagnóstico de deficiência mental leve, várias
pesquisas foram realizadas nos anos 1980 e identificaram que muitas
crianças que frequentavam classes especiais para deficientes mentais nas
redes públicas de ensino possuíam dificuldade de aprendizagem. Então,
verificou-se que as classes especiais para crianças com deficiência mental
estavam comprometidas, de certa forma, a encobrir o “fracasso escolar”
nas séries iniciais. Nesse sentido, os alunos com deficiência mental real
estavam nas escolas das instituições filantrópicas (APAE e Pestalozzi).
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
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COMENTÁRIO
Tenho certeza de que você deve ter aprendido muito com a visita
realizada, identificado os alunos com deficiência mental/intelectual, e
deve ter tido a oportunidade de verificar se ainda há muitos deles que
não estão matriculados em escolas regulares. Possivelmente, você
deve ter encontrado outra instituição com características similares.
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!
A Convenção Internacional das Pessoas com Deficiencias agora tem status
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constitucional porque o Brasil declarou-se signatário.
(a) Que as pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema geral de
educação em razão de sua deficiência, e que crianças com deficiência não
sejam excluídas de educação primária e secundária gratuita e compulsória
em razão de sua deficiência.
(b) Que as pessoas com deficiência tenham acesso à educação inclusiva,
de qualidade e gratuita, primária e secundária, em iguais bases com os
outros, na comunidade onde vive.
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A área da saúde também vem sofrendo transformações e mudando o
denominado CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS para CLASSIFICA-
ÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, por compreender que a
funcionalidade de uma pessoa acometida por uma doença vai além do
corpo e do orgânico. É uma complexidade que envolve o afetivo, o social
e os próprios suportes que essa pessoa recebe no curso de sua doença.
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genética; os outros três quartos são de causas ambientais (isto é, por
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infecções, intoxicações e traumatismos) e passíveis de serem evitados.
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ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter respondido que poderia avaliar seu aluno por meio de
um registro de observações, verificando de que forma uma criança
de sete anos se comunica, utiliza as dependências da escola, como
se alimenta durante o recreio, de que forma utiliza o banheiro, se é
independente nessas atividades ou se necessita de apoio. Em relação
às funcionalidades acadêmicas você também poderia observar por
intermédio do desenho livre, da utilização de materiais escolares.
Identificar essas capacidades o auxiliará no planejamento dos
suportes pedagógicos que você estudará a seguir.
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(2000) destacou algumas das competências vinculadas às dez áreas de
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capacidades adaptativas:
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1. Comunicação: inclui a habilidade para compreender e expres-
sar informações por meio de comportamentos simbólicos (por
exemplo: palavra falada, escrita, símbolos gráficos, língua de
sinais, LIBRAS ou comportamentos não simbólicos (por exem-
plo: expressões faciais, movimentos corporais, toques, gestos).
Exemplos específicos incluem a habilidade para compreender
e/ou aceitar um pedido, uma emoção, um cumprimento, um
protesto ou rejeição. Altos níveis de habilidade de comunicação
como, escrever uma carta, podem também ser pontuados em
habilidades acadêmicas.
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devem relacionar-se à idade e às normas culturais. Essa habili-
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dade envolve a possibilidade de escolher e iniciar uma atividade,
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utilizar e aproveitar o lazer do lar e da comunidade, envolver-se
em atividades recreativas solitárias ou com companheiros, jogar
socialmente, mudar, escolher não participar de atividades recrea-
tivas, manter-se participativo e expandir o repertório de interesses
e habilidades. A habilidade de lazer refere-se então à consolidação
de um comportamento de lazer e recreação, indicando escolhas e
necessidades, mantendo interação social e aplicação das funcio-
nalidades acadêmicas e mobilidade.
!
Então, você pode observar que a introdução das capacidades adaptativas
no sistema de avaliação da deficiência intelectual traz novas dimensões,
tanto no diagnóstico quanto no acompanhamento desses educandos.
A funcionalidade é um fator importante para a inclusão social de pessoas
com deficiência intelectual. Na perspectiva da inclusão em classes regu-
lares é importante que essas áreas sejam parte integrante dos objetivos
pedagógicos. Observe que, quanto mais os suportes são oferecidos ade-
quadamente, melhor a funcionalidade do educando.
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encaminhada à Educação Infantil, que é a modalidade oferecida a crianças
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de zero a cinco anos de idade pelas Secretarias Municipais de Educação. Se a
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Educação Infantil é importante para uma criança sem necessidade especial,
imagine para a criança com deficiência intelectual, que terá oportunidade de
vivenciar atividades curriculares que desenvolverão a linguagem, a motrici-
dade, a criatividade, a inteligência e as competências sociais!
Na Educação Básica, durante o Ensino Fundamental do primeiro
ao nono ano, o processo de inclusão pode ser acompanhado com serviços
e sistemas de suporte da Educação Especial, ou seja, a implementação
de salas de recursos, da modalidade de professor itinerante e consulto-
ria. Atualmente, o Ministério da Educação vem implantando em redes
públicas salas multifuncionais com apoio de materiais e equipamentos
para a garantia desses suportes. Contudo, o suporte fundamental é o
professor, seja ele da classe regular ou dos sistemas de apoio. É importante
que esses profissionais possam dialogar no sentido de organizarem uma
proposta pedagógica para este educando. Lembre-se de que os alunos
com necessidades educacionais especiais são alunos da escola. Outro
fator a considerar é a presença da família em todas as etapas do proces-
so, seja solicitando colaboração acerca do conhecimento do aluno, seja
notificando cada etapa do planejamento e objetivos a serem atingidos.
?
No modelo da Educação Especial separada da Educação Básica, os alunos
das classes especiais às vezes ficavam no mesmo espaço físico da escola e
eram percebidos como entidades à parte. A entrada na escola, o recreio,
as pastas e os arquivos, as festas e comemorações eram todas separadas.
A proposta da Educação Inclusiva propõe a ruptura desse sistema, que,
além de segregar os alunos, alijava também o professor do processo de
construção do projeto pedagógico. Em contrapartida, o simples fato
de um aluno com deficiência intelectual estar numa turma comum não
significa que ele esteja plenamente incluído. A Educação Inclusiva é um
projeto filosófico, teórico e prático que envolve o compromisso de todos
os atores da instituição escolar, e não se restringe somente ao aluno com
necessidade especial, mas à coletividade.
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e na construção de conceitos.
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Há alunos com deficiência intelectual que possuem hipotonia
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associada e amadurecem mais tarde a coordenação motora, e podem
apresentar muita dificuldade para manipular o lápis e até mesmo dominar
a escrita (mesmo usando letras em bastão). Então, você pode experimen-
tar a escrita com suporte, e seu aluno poderá manipular bloquinhos de
letra ou até mesmo o computador. Dessa forma, você poderá observar
se seu aluno consegue iniciar a escrita por intermédio desses suportes.
Isso o deixará mais confiante e estimulado do que realizar tarefas para
as quais ainda não possua condição corporal e psicomotora para exe- PARLENDAS
cutar. Podem ser usadas também letras recortadas com papel-cartão ou São versinhos de
rimas fáceis e algu-
material emborrachado (conhecido como EVA). Assim, seu aluno realiza mas tão antigas que
pertencem ao nosso
a tarefa cognitiva de escolha da letra e a tarefa motora de colagem. Com
folclore. Exemplos:
esse recurso, você pode realizar ditados e seu aluno pode responder a Um, dois, feijão
com arroz.
pequenas perguntas e compor palavras. A informática também pode Três, quatro, feijão
no prato.
auxiliar bastante em um trabalho de parceria entre a professora de classe Cinco, seis, chegou
comum, o professor de sala de recursos e o professor de informática. minha vez.
Sete, oito, comer
biscoito.
Nove, dez, comer
pastéis!
?
Existe uma condição genética, a síndrome de Coffin Siris, em que criança
pode apresentar hipotonia (fraqueza muscular), que afeta a coordenação
motora, mas pode desenvolver a escrita com outros suportes (letras em
blocos de madeira ou no computador).
Foto: A autora
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As rupturas do sistema educacional durante o processo de pas-
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sagem à segunda etapa do Ensino Fundamental trazem, mesmo para
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educandos sem necessidades especiais, barreiras de aprendizagem e
fracasso escolar oriundo do fato de alguns alunos terem dificuldade para
lidar com vários professores de personalidades diferentes, com maior
demanda de trabalhos e exigência de raciocínio lógico.
Em relação ao acesso ao Ensino Superior, já temos casos de
jovens com síndrome de Down que completaram curso de Pedagogia e
Licenciatura. Nesses casos, esses alunos tiveram a oportunidade de fre-
quentar classes regulares desde o Ensino Fundamental, demonstrando,
assim, a importância do processo de inclusão desde o princípio e um
bom sistema de suporte.
?
Você sabia que atualmente a Lei 8.213, de 24/7/91, no artigo 93, estabe-
lece que as empresas devem cumprir cotas de emprego para pessoas com
deficiências? Historicamente, pessoas com deficiência intelectual só tinham
oportunidade profissional em oficinas protegidas; hoje podem, como
qualquer cidadão, ter garantido o direito ao trabalho. Então, a Educação
tem um papel fundamental no preparo desse aluno para as competências
do mundo do trabalho. Volte às capacidades adaptativas e verifique que a
décima trata do preparo para o trabalho. Esse preparo se inicia na Educação
Infantil. Isso mesmo, quando seu aluno aprende a ter autonomia para abrir o
armário, escolher a tinta, pegar o pincel, executar a tarefa e, por fim, limpar
e guardar os materiais.
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CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
COMENTÁRIO
Muito bem, você deve ter respondido que assim como a Educação
Inclusiva retira o enfoque do aluno com deficiência ou necessidade
especial e centra o enfoque na escola, o modelo atual de classificação
da deficiência intelectual também retira o enfoque da deficiência e o
repassa para o ambiente e o sistema de suportes que o aluno recebe.
Assim, como a Educação Inclusiva enfatiza o envolvimento de todos,
o novo enfoque também enfatiza a necessidade da interação dos
diversos ambientes.
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RESUMO
AULA
Nesta aula você estudou as concepções históricas acerca da deficiência mental e
identificou que a mudança para a terminologia atual de deficiência intelectual
refletiu mudanças conceituais importantes neste campo de conhecimento,
como aquelas que identificam a necessidade de se trabalhar com a noção de
competências, capacidades e habilidades adaptativas juntamente com o conceito
de quociente intelectual. A medida da inteligência também passou por várias
teorias e, na atualidade, privilegiam-se as abordagens funcionais, como a utilizada
pela Associação Americana de Deficiência Intelectual. Sendo assim, torna-se
importante para o educador, muito mais do que identificar níveis de deficiência
intelectual de seu aluno, relacionar quais as áreas de capacidades e habilidades
nas quais esse educando necessita de suporte e de adaptações no currículo para
maximizar seu desempenho acadêmico.
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