Ética Pastoral
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ÉTICA PASTORAL
EGUINALDO HÉLIO DE SOUZA
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25 ÉTICA PASTORAL
Sumário
03 u Introdução
39 u Conclusão
41 u Referências bibliográficas
q Introdução
Quando surge algum caso de adultério ou fraude com algum ministro evangé-
lico é logo veiculado na imprensa, mesmo que a pessoa envolvida não seja muito
conhecida. Dessa forma, percebemos as dimensões da cobrança com respeito ao
comportamento dos ministros.
É bom lembrar que a cobrança não é primeiramente social, mas, sim, bíblica.
Esta exige que o homem de Deus seja “irrepreensível”. A finalidade da Palavra de
Deus é tornar “o homem de Deus perfeito, e perfeitamente instruído para toda
a boa obra” (2Tm 3.17). A expressão “perfeito”, no sentido bíblico, não significa
infalível ou sem pecado, embora este deva ser nosso alvo constante. Perfeito, sig-
nifica completo, acabado, pronto para o propósito para o qual existe. Um Deus
perfeito só pode desejar ministros perfeitos.
Todavia, bem sabemos que esta perfeição nem sempre está à mão. Sem que-
rer nos apoiar em erros alheios para justificar os nossos, não podemos ignorar que o
próprio Pedro, já como uma das colunas de Jerusalém, foi considerado repreensível
por Paulo, devido à sua conduta diante dos cristãos judaicos: “E, chegando Pedro
à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível” (Gl 2.11). Por isso, temos de
ser bastante cuidados neste ponto, não desejando ser excessivamente tolerantes, a
ponto de permitir que desvios morais e éticos sérios venham ser acobertados, nem
excessivamente julgadores, a ponto de transformar os líderes cristãos em alvo de
padrões legalistas de conduta.
Outro fator que deve ser levado em consideração é que a Bíblia é explícita em
mostrar um maior rigor no julgamento dos líderes (Tg 3.1). Isto é natural, uma vez
que o líder é o representante, a síntese de um povo. É fato que muitos movimentos,
mesmo eclesiásticos, ficaram ligados à pessoa de seus fundadores e líderes, como,
por exemplo, os valdenses, os luteranos, os calvinistas, os wesleyanos, etc. Por isso,
sua conduta deve estar acima dos demais.
Ao tomar uma posição de vanguarda, o líder fica exposto aos olhos, aos ouvi-
dos e, principalmente, à língua de seus liderados e de outros. Embora seja agradá-
vel, isto é fato. Quem é alvo de atenção é alvo de crítica também. Quem tem suas
virtudes conhecidas pelo público, também tem seus vícios sujeitos aos julgamentos
dos outros. Não há como escapar.
Sabemos que muito da ética aqui expressa não é exclusiva aos ministros, mas
está relacionada aos cristãos em geral. Todavia, os líderes são o “exemplo do re-
banho” (1Pe 5.3) e seu comportamento determinará, no todo ou em parte, o com-
portamento de seus liderados. Além disso, o líder eclesiástico, como qualquer líder,
representa a ideologia à qual pertence. Sua falha é a falha do grupo. Sua imagem
é a imagem do grupo. Por isso, sua responsabilidade é maior. É curioso como no
livro de Levítico a oferta pelo pecado do príncipe era igual à oferta pelo pecado
da congregação toda (Lv 4.13-26). O peso era o mesmo.
Para amenizar um pouco esta intensa cobrança moral existente sobre o repre-
sentante eclesiástico, cabe destacar que a cobrança, tanto do meio eclesiástico
quanto de fora, costuma ser exagerada. Aquilo que poderia ser uma crítica cons-
trutiva acaba se tornando maledicência.
Outro fator a ser considerado é o fato de a vida cristã ser um processo. Estamos
sendo continuamente aperfeiçoados pela ação do Espírito, da Palavra de Deus e
das circunstâncias (Sl 119.67; 1Co 3.18; 2Tm 3.14-17). O tempo é um fator a ser consi-
derado na vida do líder. Isto não é um “deixar para depois” que nunca chega, mas
um reconhecimento de que falhas existentes hoje podem ser corrigidas amanhã. O
caminho de um líder sofre um aperfeiçoamento, como disse Davi (Sl 18. 32).
Capítulo
q A ética pastoral
1
Conceituação
E mbora o título da matéria seja “Ética pastoral”, preferimos usar o termo “mi-
nistro”, “líder”, “representante eclesiástico”, ou outro semelhante, para desig-
nar as pessoas envolvidas nos conceitos éticos aqui expostos. Isto por dois motivos:
Primeiro, porque o termo “pastor”, muito comum no Brasil, não é designação
geral. Existem outros títulos que também são utilizados para descrever este cargo,
tais como: reverendo, bispo, missionário, presbítero. Os princípios éticos aqui des-
critos não estão ligados a um termo utilizado, mas ao tipo de pessoa que exerce
liderança na Igreja de Cristo.
O segundo motivo é que a ética é pertinente a qualquer nível hierárquico, a
qualquer posição de liderança no contexto eclesiástico. Seja um missionário, um
pastor, um evangelista, um professor, todos estão, de uma forma ou de outra, sujei-
tos a certos princípios éticos norteadores. Talvez, uns mais do que outros, mas todos,
de maneira geral, têm sua parcela de responsabilidade.
Hábitos salutares
Irrepreensível no falar
Isso não implica que não possamos mudar de idéia. Antes, significa que pro-
ceder de uma maneira hoje e fazer outra amanhã é uma atitude reprovável. Se
agirmos assim, somos dignos das maiores críticas.
Pontualidade
Nem sempre nos damos conta de que quando chegamos atrasados estamos
cometendo uma espécie de agressão. É como se o outro, que deixou seus com-
promissos e se esmerou em chegar na hora, não valesse a nossa preocupação.
Como resultado, ganhamos antipatia e má fama. E isso não é bom.
Não se trata de ser escravo do relógio. Claro que podemos, vez ou outra,
chegar atrasados em algum compromisso. Quando, porém, isto é uma constan-
te, ficamos caracterizados, ou melhor, “caricaturados”, o que torna totalmente
conveniente o jargão popular que nos tacha de “atrazildos”.
Capítulo
q O ministro e sua cidadania
2
“C onvém também que tenha bom testemunho dos que estão
de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo”
(1Tm 3.7). Não somos do mundo, conforme atestam as Escrituras Sagradas, mas
vivemos nele. É impossível evitar algum tipo de interação. O líder está inserido em
uma comunidade, em uma sociedade, em uma cultura. Ele é um cidadão de um
país e, como tal, tem responsabilidades, direitos e deveres para os quais não pode
se omitir.
Os que pertencem ao meio eclesiástico tendem a ser mais tolerantes em rela-
ção aos seus representantes. Eles conhecem as dificuldades da vida cristã e ten-
dem a ser cooperativistas algumas vezes, minimizando os erros de seus ministros.
Entretanto, as pessoas que não fazem parte desse meio nem sempre agem assim.
Pelo contrário, usam as falhas dos líderes eclesiásticos como uma desculpa para
sua vida dissoluta ou os tomam como referência para analisar sua própria conduta.
Logo, os líderes cristãos estão continuamente em evidência.
Por causa disto, muitas vezes, o julgamento dos não-crentes é implacável.
Quem nunca ouviu a expressão: “E ele é um pastor, já imaginou?”. O apóstolo
Paulo, perante o presidente Félix, enfatizou a necessidade de se ter a consciência
limpa perante todos os homens (At 24.16).
Diante da mídia
É fato que nem todos os ministros estarão um dia diante da imprensa secular.
Mas isso pode acontecer e de fato já tem acontecido atualmente com mui-
to mais freqüência do que em outros tempos. Nem todos, também, estão prepara-
dos e correm o risco de tomar posturas éticas que podem embaraçar o evangelho.
Há necessidade de muita sabedoria em muitas questões.
Para citar um exemplo, um líder evangélico foi entrevistado em um programa e
questionado acerca do uso de preservativo por parte dos jovens. A questão era se
ele aprovava ou não o uso. Na verdade, a pergunta era ambígua em sua natureza.
Nós, cristãos, somos contra o sexo fora do casamento. Se ele respondesse que era
a favor, de certo modo, apresentaria uma aprovação ao sexo extraconjugal. Se
dissesse que não, seria criticado por fazer uma declaração que vai de encontro ao
que é divulgado pela sociedade, até por questões de saúde.
Não vamos entrar no mérito da sua resposta. Mas podemos captar, por esse
fato, que um ministro na mídia está fora de seu contexto, lidando com pessoas de
mentalidade bem oposta à sua. Embora esta pareça ser uma ótima forma de di-
vulgar o evangelho, também pode ser uma forma de envergonhá-lo. É necessário
saber responder com sabedoria, pois, o efeito de suas colocações será decisivo.
Estar na mídia é uma exposição muito ampla ao julgamento público e, por isso,
uma situação que exige comportamento ético exemplar. É comum líderes nessa
situação negarem os seus princípios ou afirmá-los de um modo inconveniente.
Quando analisamos Mateus 22, vemos ali diversos grupos diferentes querendo
apanhar Jesus em alguma falta. Era de sua competência responder sabiamente,
para não se comprometer com sua resposta e, ao mesmo tempo, não comprome-
ter a mensagem do evangelho.
Capítulo
q
3
O ministro e sua liderança familiar
Diante do cônjuge
N ão podemos dizer que um líder cristão não possa vir a ter um c ônjuge
não-crente, temporária ou definitivamente. Isso pode até vir a acontecer,
porque ele é livre. Mas esta situação é de difícil justificativa e abala, seriamente,
o ministério do líder. Neste caso, é necessário um comportamento ainda mais sin-
cero para que o outro cônjuge venha a ser tocado e transformado. O mau teste-
munho pode ser motivo da inconversão do outro, ou mesmo de seu afastamento
da igreja.
Todavia, se ambos são servos de Deus, cabe aos dois um testemunho exemplar.
A maneira como o marido trata a esposa e como a esposa trata o marido, com
certeza, será observada por todos. A insubmissão da mulher ou a falta de amor do
marido fere a expectativa da igreja, que busca em ambos o padrão. O casal minis-
terial deve reger sua vida pelos padrões de Efésios 5.22-23.
Um obreiro, ao tratar mal sua esposa, principalmente diante de outros, apre-
senta um defeito sério. Não pense alguém que isso é incomum. Existem casos de
obreiros que têm atitudes, com suas esposas, completamente reprováveis. O que é
um problema grave, pois, geralmente, é ocultado de forma muito hábil. A mulher,
para não envergonhar o marido, nada comenta, vivendo de máscaras.
A situação fica ainda pior quando a mulher comenta o problema com os ou-
tros, denegrindo a imagem do marido, ao invés de tentar corrigir a situação junta-
mente com ele, em oração. Muitos lares de ministros já foram destruídos por falta
de ética nesse ponto, tanto por parte de um como do outro.
A educação dos filhos não é uma tarefa primeiramente da igreja, mas uma
responsabilidade dos pais que devem criá-los no ensino cristão, conforme
ensina a Bíblia (Ef 6.4). O ministro deve ter autoridade sobre os filhos, sem, contudo,
tornar-se um tirano (Cl 3.21). É bom lembrar que os filhos tendem a espelhar-se em
seus pais ou, ao menos, serem influenciados por eles. As crianças procedentes de
um lar em que não se falam palavrões, geralmente não enveredarão por esse “ca-
minho”, pois refletem a educação de casa.
A princípio, isso é óbvio e simples, mas deve ser devidamente pesado. Primei-
ramente, as crianças e adolescentes têm suas próprias personalidades. Podem ser
mais agitadas, extrovertidas, independentes, etc. Estereotipar o comportamento
dos filhos de determinado ministro pode gerar juízos errôneos e lançar sobre eles
traumas que os levem a rejeitar tudo o que se refere ao âmbito eclesiástico, o que
freqüentemente acontece.
Os ministros devem saber pesar o que são lançados sobre seus filhos. Não de-
vem pensar que todos os comentários que fazem deles devem ser levados em con-
ta. Há muitos casos de filhos rebeldes de ministros, em sua adolescência, que hoje
são verdadeiros instrumentos de Deus. Mas o ambiente eclesiástico carregado de
cobranças, ao invés de encorajá-los, irritou-os. O ministro deve verificar cada ques-
tão e confirmá-las, se assim for o caso. Estamos em tempos difíceis e se o líder não
tiver um diálogo aberto com seus filhos não saberá quando estiverem correndo um
perigo real.
O líder também deve se posicionar na congregação diante dos erros de seus
filhos, caso sejam membros. Ele pode ser tentado a encobrir a falta, mas será pior.
As pessoas acabam nutrindo o falso conceito de que os filhos do ministro herdam
uma espécie de “superDNA” que os tornam diferentes dos demais seres humanos.
Tal conceito não é verdadeiro. Eles podem pecar, cair, desviar-se e o ministro terá
de lidar com isto. Ele precisa aceitar que os filhos podem falhar em sua caminhada
cristã tanto quanto qualquer outro e não exigir nem mais nem menos do que exigi-
ria das demais pessoas.
Diante da parentela
Capítulo
q
4
O ministro e sua liderança eclesiástica
moças, como a irmãs, em toda a pureza. Honra as viúvas que verdadeiramente são
viúvas” (1Tm 5.1-3).
Dentro desse aspecto da ética pastoral, vale a pena ressaltar a questão da re-
lação com o sexo oposto. Nossa sociedade atual é mais livre nos relacionamentos,
mas isso não deve servir de tropeços e falatórios. Não é conveniente ao líder con-
versar em oculto com uma pessoa do sexo oposto. Um dos dois deve estar acom-
panhado pelo cônjuge ou por outra pessoa. Não só por uma questão de evitar
possíveis deslizes, mas também para cortar comentários que possam se originar de
mal-entendidos. Essa é uma atitude sábia e ética.
Um dos motivos pelos quais Hitler perdeu a guerra foi o fato de não mais ouvir
seus generais. Ele julgava que, sozinho, poderia conduzir e acertar tudo. É muito
oportuno citarmos aqui o que escreveu o apóstolo Tiago: “Portanto, meus amados
irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”
(Tg 1.19).
Existe o outro lado da questão, que é o obreiro não saber se portar quando
convidado para pregar, palestrar ou ministrar louvor em outra congregação. Muitos
acabam deixando uma impressão tão ruim, que não só não são mais convidados
como também fecham outras oportunidades. Isso ocorre até com pregadores, pa-
lestrantes ou cantores de renome, pois acham que a sua fama obriga a todos a
perdoarem seus desvios de comportamento.
São necessários certos cuidados ao ser chamado para ministrar em outras co-
munidades:
Chegar no horário ou informar que não poderá fazê-lo, caso tenha contra-
tempos já previstos;
Caso alguma coisa não lhe agrade, suporte. Não faça críticas diretas nem
comente quando estiver em outro lugar. Maledicência é um dos piores erros
para quem faz um trabalho itinerante. Observe que o apóstolo Paulo, ao co-
mentar de uma congregação à outra, falava apenas as coisas boas.
Comporte-se com ele assim como gostaria que ele agisse com você, não
seja contaminado pelo proceder dele;
Ouça-o, pois muitas vezes, ele tem razão de estar aborrecido com você. Não
esqueça que as decisões de um líder podem facilmente gerar certos proble-
mas para alguns, mesmo quando tomadas com um coração sincero;
Em relação ao erro de Davi, convém notar certas atitudes dignas de elogios. Al-
guns incrédulos ou mesmo crentes revoltados chegam a acusar Deus de ser parcial
por ter perdoado a Davi e tê-lo restaurado no trono. Mas quando olhamos para as
atitudes dele (Davi), vemos que teve um comportamento digno e esse foi um dos
motivos pelos quais seu ministério pôde ser restaurado.
Davi pecou e reconheceu seu erro (2Sm 12.13) – Sua atitude foi diferente de
muitos líderes que ocultam seus fracassos ou buscam justificá-los com argu-
mentos nada razoáveis;
Davi pecou e pediu perdão pelo seu erro (Sl 51) – Foi uma grande lição de
humildade e reconhecimento. Diferente dos grandes líderes do mundo an-
tigo, que se consideravam verdadeiros descendentes dos deuses. O rei de
Israel estava disposto a pedir perdão da forma mais natural possível;
Não usamos o pecado de Davi querendo dizer que o fracasso seja um pecado.
Muitas vezes, o fracasso se resume em não atingir o alvo, ter sido rejeitado por qual-
quer motivo, ou ter tomado atitudes erradas que o prejudicaram.
Gostaríamos de lembrar o caso de muitos televangelistas que foram impedidos
de ter uma postura correta, devido ao falso conceito de infalibilidade que carre-
garam. Caíram e com certeza, isso trouxe marcas em suas vidas. Mas o que muitas
vezes impossibilitou o retorno foi justamente à falta de princípios que nortearam
seus deslizes.
Na outra ponta do procedimento ético está a nossa atitude diante do fracasso
alheio. Muitos assumem uma atitude de indiferença e até dizem “bem-feito”, ou
ainda jogam “vinagre na ferida” quando testemunham. Claro que podemos tecer
comentários e até aprender e ensinar alguma lição diante da queda de alguém,
como fazemos usualmente. Mas isso deve ser feito em uma atitude de temor e amor
para com aquele que caiu. Uma atitude de julgamento, neste caso, é reprovável,
conforme Mateus 7.1-3.
Capítulo
q
5
O ministro e sua filiação denominacional
A inveja nos diminui e nos impede de ganhar o amor daquele a quem ama-
mos;
Lembre-se de que somos membros uns dos outros. Dessa forma, a exaltação
de meu irmão é a minha também. Aquilo que ele possuir de bom mais cedo
ou mais tarde me beneficiará;
A inveja nos faz perder de vista o propósito de Deus para nós, que, com cer-
teza, é tão bom quanto o propósito dele para o outro (Jo 21.21,22);
Diga todo o bem que puder sobre a pessoa a quem você se ver tentado a
invejar e ore continuamente por ela, para que seja ainda mais a
bençoada.
Vencendo o invejoso
Nem sempre isso será possível. Mas até neste sentido temos de ter uma atitude
correta. Querer ostentar as coisas que temos, sejam talentos naturais ou bens ma-
teriais, é uma forma de diminuir os outros e despertar a inveja. José, o personagem
bíblico, foi vítima da inveja de seus irmãos logo após ter se mostrado com a bela
túnica que só ele havia ganhado de seu pai, e falado de um sonho que o exaltava
acima dos seus irmãos. Não estamos justificando a atitude dos irmãos de José, mas
somente mostrando que devemos fugir de atitudes como essa, pois, com certeza,
darão fruto de inveja.
Tente fazer com que todos participem de seu sucesso. Quando as pessoas sen-
tem que crescem junto com você e que são beneficiadas com os seus benefícios,
elas se sentem mais aptas a apreciar sua vitória e até mesmo a desejarão.
No mais, caso não consiga resolver o problema do invejoso, deixe-o. Seu cami-
nho é curto e em breve não estará mais ao seu lado, ou por não suportar mais seu
sucesso ou porque o seu próprio pecado o derrubará.
Elogie e valorize o invejoso, pois a Bíblia ordena: “Bendizei os que vos maldizem,
e orai pelos que vos caluniam.” (Lc 6.28). Muitos possuem esta má qualidade por se
sentirem inferiorizados. Quando se vêem valorizados, o sentimento de inferioridade
que acompanha a inveja também cessa. E podem se transformar em verdadeiros
aliados.
A pior coisa para um ministro é não crer em seu próprio credo religioso. É
possível haver momentos na vida de quem está inserido em determinada
organização em que a pessoa não concorda com certas posições doutrinárias. A
Bíblia diz que cada um deve estar seguro no seu próprio entendimento (Rm 14.5).
Muitas posições doutrinárias podem ser aceitas por um ministro sem qualquer
dificuldade. Outras, porém, podem chocar a consciência, de modo que sua acei-
tação e defesa por parte do ministro se tornem incômodas. Realmente, é difícil
permanecer de coração dividido entre a consciência e a fidelidade, mas alguns,
não sabendo lidar com essa situação, acabam manchando seus nomes, pois não
se atrevem a se desvincular da denominação a qual pertencem e vivem fazendo
críticas internas que enfraquecem o grupo. É possível discordar em paz. É possível
desprender-se sem dor, sem necessidade de conflito. Importante é a imagem de
Paulo, dando as destras aos líderes em Jerusalém (Gl 2.9). Claro que havia diferen-
ças de métodos e de conceitos, mas isso não era impedimento ao bom andamento
do evangelho.
Alguém já disse que os três maiores problemas de uma organização são: co-
municação, comunicação e comunicação. Ninguém consegue expressar seus sen-
timentos e prefere, às vezes, tomar certas atitudes que acabam ferindo ambos os
lados, quando tudo poderia ser resolvido com uma boa conversa. É importante
comentar sobre essa atitude, pois evita diversos comportamentos antiéticos.
T odos nós temos certo temor com relação às mudanças. Uma prova bíblica
disso é que os judeus cristãos tiveram receios quanto à pregação do após-
tolo Paulo, pelo fato de suas proposições variarem daquilo que haviam aprendido
no judaísmo tradicional. Alguns também dizem que os nicolaítas referidos em Apo-
calipse 2.6 foram seguidores de Nicolau, diácono escolhido, conforme atesta Atos
6, e que rejeitou as decisões do Concílio de Jerusalém (At 15), permanecendo nas
práticas judaicas.
Capítulo
q O ministro pregador
6
D e tudo o que estudamos até aqui, pudemos constatar a sabedoria devida
a um líder. Mas sabedoria é saber o caminho certo. O líder precisa mais
do que isso. Ele precisa ter autocontrole tanto no que precisa fazer quanto no que
precisa dizer. Esse princípio pode ser percebido em Tiago 3.2.
Uma personalidade firme não se adquire “do dia para a noite”. É necessário
muito treino, muita disciplina interior, para que o líder saiba controlar suas pala-
vras e atos. Há ministros, por exemplo, que são tentados a transformar o púlpito
em um lugar de onde podem atirar indiretas. Pode ser presenciado isso quando só
há uma pessoa cometendo determinado pecado em toda a congregação e, por
não ter segurança de falar direto à pessoa, o ministro comenta algo relacionado
ao caso para toda a igreja, o que é tolice. Para tudo há tempo e modo. Contro-
lando seus impulsos, o ministro conseguirá encontrar o momento certo para dizer
o que precisa ser dito.
Não olhe para uma única pessoa, principalmente, se for do sexo o posto. Ge-
ralmente, toda a assembléia tem de ser contemplada durante a mensagem.
Mesmo que isso não passe de inexperiência na prática de falar em público,
cabe corrigir o mais breve possível para evitar más interpretações;
Não fique com a cabeça baixa. Olhe a congregação nos olhos. Se tiver de
ler algo, leia e depois torne a levantar a cabeça. Certas atitudes que geral-
mente são fruto da timidez ou da insegurança podem ter outra interpretação
por parte da audiência;
Não fique falando de si mesmo, ao menos que seja edificante (Pv 25.27). Um
testemunho pessoal pode ser bastante edificante, mas quando as pessoas
deixam de pregar a Palavra de Deus e começam a tecer um currículo verbal
isso soa como pedantismo para os ouvintes;
Não use termos grosseiros (Tt 2.8). É importante saber que certos termos que
usamos com facilidade podem não ser recebidos por outros com a mesma
naturalidade. Em alguns lugares, usar a palavra “desgraça” em pregações
equivale a invocar a mesma, independente de como seja usada. É bom sem-
pre conhecer a cultura do lugar onde estamos pregando;
Capítulo
q
7
Ministro: O embaixador do reino de Deus
q Conclusão
“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque
haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfe-
mos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconci-
liáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores,
obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo
aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. Porque
deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres nés-
cias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências; que aprendem
sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e
Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo ho-
mens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante;
porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles. Tu,
porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade,
amor, paciência, perseguições e aflições tais quais me aconteceram em Antioquia,
em Icônio, e em Listra; quantas perseguições sofri, e o Senhor de todas me livrou;
e também todos os que piamente querem viver em C risto Jesus padecerão perse-
guições. Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e
sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste
inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes
as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há
em Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar,
para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus
seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2Tm 3.1-17).
q Referências bibliográficas
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