Apostila Do Curso
Apostila Do Curso
Apostila Do Curso
Coordenação-Geral de Ensino
Ana Claudia Bernardes Vilarinho de Oliveira
Coordenação Pedagógica
Joyce Cristine da Silva Carvalho
Gerente de Curso
Danilo Bruno Moreira
Conteudistas
Alan Fernandes
Elizabeth Albernaz
Ignacio Cano
Colaboração: Renato Sérgio de Lima
Revisão Técnica
Ana Paula Santos Meza
Danilo Bruno Moreira
Revisão Pedagógica
Evania Santos Assunção
Revisão Textual
Julio Cezar Rodrigues
Programação e Edição
Renato Antunes dos Santos
Fábio Nevis dos Santos
Design Instrucional
Wagner Henrique Varela da Silva
Sumário
FINALIZANDO....................................................................................................................................... 45
FINALIZANDO..................................................................................................................................... 102
FINALIZANDO..................................................................................................................................... 164
FINALIZANDO..................................................................................................................................... 206
APRESENTAÇÃO DO CURSO
Primeiro Módulo
Segundo Módulo
Terceiro Módulo
Quarto Módulo
Este curso tem, dentre seus propósitos, oferecer os instrumentos para que
os profissionais de Segurança Pública atuem ainda mais fortemente para
assegurar a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça previstas já nas primeiras linhas da nossa Constituição
Federal, a Lei Maior. Os caminhos que apresentaremos aqui passam, em
resumo, por refletir sobre o papel da Segurança Pública e seus profissionais na
construção do Estado de Direito. Por meio dos conteúdos que serão trazidos
aqui, almejamos que os/as profissionais do SUSP disponham de um repertório
para sua atuação junto à sociedade e junto aos órgãos e corporações das quais
fazem parte. Nesse esforço, procuramos alcançar os profissionais da ponta da
linha, mas também os gestores e lideranças policiais e dos órgãos ligados ao
Sistema de Segurança Pública.
OBJETIVOS DO CURSO
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
ESTRUTURA DO CURSO
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
OBJETIVOS DO MÓDULO
ESTRUTURA DO MÓDULO
Vamos Refletir!
Qual a melhor forma de assegurar níveis de harmonia e paz na
sociedade?
que se coloquem contra a lei, mas também que a sociedade civil 1 se posicione
em face dos abusos de poder que o Estado pratique.
Thomas Hobbes tem como sua principal obra Leviatã. Para ele, a
sociedade pré-estatal (chamada de estado de natureza) é uma guerra
permanente entre os indivíduos pela ausência de um ente que pudesse regular
a vida social. Em sua concepção,
1 O Estado também possui deveres de atuar contra a ação de seus integrantes em caso de
ilegalidades. Para um aprofundamento quanto a isso, recomendamos o estudo das análises
sobre check and balances, incialmente tratada em O Federalista (LIMONGI, 2010).
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 17
Saiba mais
Thomas Hobbes viveu entre 1588 e 1679 e suas ideias
circularam durante a Revolução Gloriosa na Inglaterra. Suas
ideias monarquistas se opunham à República de Cromwell
instalada naquele país, tendo sido exilado na França por suas
ideias.
Acesse: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/thomas-hobbes.htm
embora tenha vivido antes desse acontecimento (1712-1778) que derrubou o rei
Luis XVI do trono e provocou o questionamento de todas as monarquias vigentes
na Europa. Seus escritos, representados sobretudo nas suas principais obras,
“O Contrato Social” e “Discurso sobre a origem e os fundamentos da
desigualdade entre os homens”, tiveram impacto mesmo fora do continente
europeu, como na Independência dos Estados Unidos da América (1776) e na
Inconfidência Mineira do Brasil, nos anos de 1780.
Esse pensamento é tão vigoroso que, passados quase 300 anos, inspirou
a Constituição Federal brasileira vigente que diz, no parágrafo único do artigo 1º,
que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL.
CONSTITUIÇÃO (1988). Isso significa que o povo é o corpo a partir do qual
advém a legitimidade que permite ao governo exercer suas atribuições. Por ser
o povo a origem desse poder, é a ele que se voltam as ações realizadas pelos
agentes públicos. Isso não se dá por uma elevação moral, abstrata, dos
integrantes do Governo, ainda que isso seja importantíssimo, mas decorre,
sobretudo, da lei. Aqui, voltamos a Rousseau.
As Revoluções burguesas
Democracia
Estado de Direito e
Direitos Humanos.
A Revolução Inglesa
1603-1649
1660-1668
A Inglaterra se viu dominada por militares após o Rei Carlos I ter sido
derrubado. Essa ditadura inglesa foi marcada fortemente pelo puritanismo
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 21
A Revolução Francesa
2ELIAS, Norbert. A Sociedade de Corte. Tradução de Ana Maria Alves. Lisboa: Editorial
Estampa, 1987, 240
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 23
Primeiro Estado
Segundo estado
Terceiro Estado
Nos últimos anos do século XVIII, já com o reinado de Luís XVI, a França
passava por uma severa crise fiscal. Isso exigiu que Luís XVI propusesse ao
Parlamento francês o fim das isenções econômicas usufruídas pelos primeiro e
segundo Estados. Diante da crise que tais propostas geraram junto a esses
grupos, somado à insatisfação que já existia no terceiro Estado, o Parlamento
exigiu que o rei convocasse a Assembleia Nacional. Nela, cada Estado teria
direito a um voto o que, diante da disparidade na composição em termos das
quantidades populacionais que representavam, indicava uma clara perda para o
terceiro Estado. Não somente o rei Luís XVI foi colocado em xeque, mas a
própria noção de representatividade da Assembleia Nacional, pois, apesar de o
terceiro estado ser a imensa maioria da população, sua participação nas
discussões tinha o mesmo peso que o primeiro e segundo estados.
O terceiro estado então fez uma série de reivindicações, dentre as quais
a de que o voto fosse por pessoa e não mais por ordem, já que compunham a
maioria da população francesa, exigências as quais não tiveram respostas do rei
Luís XVI. Paralelamente ao processo político, ocorre um importante
acontecimento que simbolizou a Revolução Francesa - a Queda da Bastilha
(1789) - movimento de cunho popular caracterizado por derrubar uma prisão a
qual continham presos políticos, um lugar o qual representava uma grande
marca do velho e decadente Regime absolutista francês. Com isso, o rei Luís
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 25
XVI foi ficando cada vez mais fragilizado politicamente. Encurralado e sem
saídas, tomou como medida sancionar as vitórias populares.
Com toda essa crise, o rei decide fugir do palácio a fim de tentar organizar
forças estrangeiras para, de alguma forma, tentar reconquistar seus direitos
reais. Porém, acaba sendo descoberto na fronteira e é trazido para Paris. Luís
XVI então é julgado, considerado um traidor da França e acaba sendo
condenado à guilhotina, encerrado, assim, a monarquia absolutista francesa.
Mais do que uma disputa pelo poder, tão comum na história, a Revolução
Francesa representa o fim dos privilégios de classe, a vitória de uma ideia de
igualdade entre os indivíduos e a definição de que a legitimidade do poder
político advém do povo, por meio de seus representantes legalmente
constituídos, o que, à época, constituíam ideias profundamente reformadoras. A
dimensão de tais acontecimentos foi tamanha que o documento pelo qual os
revolucionários redigiram os seus princípios se tornou a base a partir da qual foi
construída a ideia de que a garantia à vida, à liberdade e à propriedade são
inerentes à condição de ser humano. Essa condição política é vista, a partir de
então, como condição essencial para a existência de um governo legítimo. A
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, escrita em 1789, materializa
esse pensamento e é, a partir dela, que os Direitos Humanos vão passar a ser
uma dimensão essencial para a construção do Estado Democrático de Direito.
Tanto a citada Declaração quanto os Direitos Humanos serão mais bem
explorados em aula adiante.
propriedades observando o status social das pessoas, foi elaborada uma nova
“constituição” para a recém instaurada “República Francesa”. Esta, além de
proclamar a “igualdade de direitos” como princípio, foi a responsável por cunhar
o termo “cidadão”.
A “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” foi promulgada
naquele mesmo ano “revolucionário” de 1789. Em seu preâmbulo, o legislador
escreveu:
Fonte: wikipedia
Saiba mais
Essa convenção, que contempla uma Comissão Interamericana de
Direitos Humanos e uma Corte Interamericana de Direitos Humanos, foi
ratificada pelo Brasil em 1992. Em 1998, o Brasil reconheceu a
competência da Corte sobre o seu território, tornando-se desde então
obrigatório o cumprimento das sentenças dela. Cortes continentais
semelhantes existem na Europa (Tribunal Europeu dos Direitos Humanos)
e na África (Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos).
evitar abusos contra os cidadãos, tal como tinha sucedido na Segunda Guerra
Mundial.
Por sua vez, os direitos positivos são relativos a bens, serviços ou
oportunidades que o Estado deve prover para que os indivíduos sob seu cargo
tenham uma vida digna, como o direito à educação ou ao trabalho.
Correspondem sobretudo aos direitos econômicos, sociais e culturais.
Alguns direitos podem ser ao mesmo tempo positivos e negativos, como,
por exemplo, o direito à saúde. Os Estados devem prover serviços de saúde,
mas também devem evitar tomar medidas que comprometam a saúde dos
cidadãos.
Outra forma comum de classificar os direitos é dividi-los em direitos de
primeira, segunda e terceira geração, em função do momento em que foram
propostos e reconhecidos. Os de primeira geração são os direitos civis e
políticos, começando pelo direito à vida, sem os quais os outros não podem ser
realizados. Os de segunda geração são os econômicos, sociais e culturais,
objeto do Pacto Internacional de 1966. Por último, os de terceira geração, os
mais recentes, são direitos coletivos e não mais individuais, como o direito a um
meio ambiente limpo, o direito à paz e o direito à autodeterminação cultural.
De forma geral, os direitos humanos são considerados como direitos
brandos (soft law), isto é, como direitos propositivos e ideais, mas cuja garantia
efetiva depende mais da aceitação dos Estados do que de sentenças jurídicas.
A própria Declaração Universal em seu preâmbulo que acabamos de ver define
os direitos humanos como “um ideal comum a ser atingido”, isto é, como um
dever-ser ou um desideratum. Isto é especialmente verdadeiro para os direitos
positivos, econômicos, sociais e culturais. A despeito do direito individual ao
trabalho, por exemplo, existem pessoas desempregadas em todos os países do
mundo, e o objetivo é tentar que esse percentual seja reduzido ao mínimo
possível.
Mas, mesmo no caso dos direitos negativos de interpretação mais
inequívoca, como os direitos civis e políticos, não existe um aparato coercitivo
para garanti-los, diferentemente dos direitos protegidos na legislação nacional,
que podem ser defendidos por sentenças judiciais nacionais que, se resistidas,
podem ser aplicadas pela polícia. A polícia, como vimos, possui o monopólio da
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 34
violência legítima. Não existem, entretanto, polícias universais nem polícias das
Nações Unidas que garantam a aplicação da lei internacional que, por isso, é
conceituada como uma “lei branda", que depende da aceitação dos Estados.
Nessa visão, se a lei impõe limites ao que o Estado pode fazer em relação
a um suspeito ou mesmo a um criminoso convicto, isso é percebido como um
empecilho na busca da segurança. Gera-se, assim, um falso antagonismo entre
direitos humanos e segurança, como se essa última só pudesse ser obtida
mediante o sacrifício dos direitos individuais. Na realidade, não há evidências de
que o atropelo dos direitos das pessoas tenha resultado numa sociedade mais
segura e há muitas evidências em sentido contrário: quando o Estado pôde agir
livremente contra seus opositores ou inimigos, sem limites legais, isso provocou
grande insegurança na população.
são geradas de forma democrática. Com isso, a lei e o exercício do poder tendem
a atingir uma legitimidade maior e, dessa forma, aumenta a obediência a essas
leis que foram desenvolvidas de forma coletiva. Se os contratualistas falavam de
um contrato implícito para a criação do Estado, nesse caso trata-se de um
contrato explícito em que as pessoas participam na gestação das normas a que
estarão sujeitas.
Na prática
Os dois termos (Estado de Direito e Estado Democrático de
Direito) são usados muitas vezes de forma quase indistinta, mas o
último sublinha o caráter democrático do Estado e a legitimidade
subsequente.
Vamos Refletir!
Mas, afinal, por que é de fato importante que todos esses conceitos
sejam levados a efeito pelos profissionais do Susp, diante de problemas de
tamanha ordem e gravidade como são aqueles com os que têm de lidar
constantemente?
populações, um olhar mais atento às suas histórias nos provará que foram
processos políticos que possibilitaram bons níveis de convivência social. Para
discutir uma dessas possibilidades, vamos trazer uma análise realizada pela
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Você sabia?
A OCDE é uma organização internacional composta por 38 países-
membros, que reúne as economias mais avançadas do mundo, além de
alguns países chamados “emergentes”. O ingresso de um país junto a
essa organização significa uma espécie de credenciamento que sinaliza
que as práticas adotadas e o ambiente político estão conseguindo
enfrentar os desafios sociais, econômicos e ambientais de forma
satisfatória.
Saiba mais
Fazem parte da OCDE: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá,
Chile, Colômbia, Coreia do Sul, Costa Rica, Dinamarca, Eslováquia,
Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia,
Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Letônia, Lituânia,
Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Suécia,
Suíça, Reino Unido, República Tcheca, Turquia. Os primeiros passos para o
ingresso do Brasil junto à OCDE ocorreram em janeiro de 2022, juntamente
com Argentina, Bulgária, Croácia, Peru e Romênia.
Acesse: https://www.oecd.org/about/
Segunda conclusão:
Na prática
Especificamente, elas também garantem o próprio exercício da
democracia representativa, possibilitando que as eleições sejam livres.
Por exemplo, perseguindo os crimes eleitorais, que tentam impedir,
condicionar ou comprar o voto. E, em ocasiões, impedindo a atuação
daqueles que querem derrubar o governo democraticamente eleito por
meio da força. De fato, uma democracia sem instituições de segurança
pública ficaria extremamente vulnerável à ação de extremistas que
quisessem acabar com ela.
Finalizando....
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
OBJETIVOS DO MÓDULO
●
ESTRUTURA DO MÓDULO
2 Moralidade;
3 Saúde pública;
4 Suprimento de alimentos;
5 Estradas públicas;
8 Ciências e artes;
10 Serventes e trabalhadores; e
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 49
11 Os pobres.
Na Roma clássica, foi criada a figura do Aedil no ano 497 a.C. O Aedil se
encarregava da ordem e da segurança, além de muitas outras funções, entre
elas a manutenção de aquedutos, banhos, prédios, esgotos, além do controle da
moral pública, das apostas, da usura, dos animais perigosos, dos esportes, dos
funerais e dos mercados, garantindo que os preços nesses últimos fossem
razoáveis.
1º Processo:
2º Processo:
3º Processo:
limitada. Com o tempo, a polícia foi ficando restrita ao poder executivo, perdendo,
em tese, qualquer capacidade legislativa ou judicial. Isto significa que as polícias
modernas carecem, em princípio, de qualquer função punitiva, a despeito da
pressão significativa que com frequência enfrentam por parte da sociedade e dos
governos para que apliquem punições. Contudo, numa sociedade moderna a
decisão sobre punições cabe exclusivamente ao poder judicial e a sua aplicação,
fundamentalmente ao sistema de justiça criminal.
Na Prática
Há ainda circunstâncias em que o monopólio da violência legítima é
questionado pela existência de outras legitimidades alternativas à do
Estado. Por exemplo, nos casos de linchamentos em que pessoas
enfurecidas capturam e torturam ou matam alguém supostamente
responsável de ter cometido um delito. Essa violência não é legítima do
ponto de vista das leis e do Estado, mas se beneficia do apoio, e
consequentemente da legitimidade, popular.
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 57
Por outro lado, há também uma grande controvérsia hoje em dia sobre se
a proliferação da segurança privada em muitos países do mundo supõe ou não
uma erosão desse monopólio da violência legítima do Estado.
A ideia do monopólio da violência como um mecanismo pacificador se
enquadra também dentro da concepção do processo civilizatório de Norbert
Elias, que descreve como a humanidade tem feito um esforço para reduzir os
níveis de violência entre os seres humanos nos últimos séculos e desenvolvido
valores contrários a ela. Como veremos na próxima aula, a criação da polícia
inglesa no século XIX está ligada, entre outras coisas, à vontade de evitar as
mortes que provocava a intervenção do exército para reprimir conflitos civis. Mais
uma vez, encontramos um propósito pacificador por trás da criação das polícias.
A ideia-força da definição da polícia em termos da possibilidade do uso da
força, que vem desde Bittner até nossos dias, não implica que a polícia deva
usar a força de forma corriqueira ou muito menos intensa. Os pesquisadores que
observaram o trabalho diário das polícias registraram que os incidentes do uso
da força física eram bastante raros (Bayley & Garofalo, 1989). E, de fato,
princípios internacionais estabelecem que a polícia deve tentar usar o mínimo
grau de força possível, e ainda assim limitando os danos, na procura dos seus
objetivos legítimos. Em suma, o elemento definidor não é nem deve ser a
quantidade de força usada, mas a simples possibilidade de ela vir a ser usada.
Bittner compara a capacidade de um policial para usar a força de forma legítima
e competente à de um sacerdote para administrar sacramentos; trata-se de uma
capacidade definitória e negada a terceiros.
Idealmente, o fato de a polícia ser uma organização legal e bem treinada
no uso da força deveria servir como um elemento dissuasório para diminuir a
resistência a ela e, portanto, reduzir a probabilidade desse uso da força.
Observe-se que a literatura policial prefere o termo “uso da força” ao de
“violência” quando se refere ao trabalho policial, mas a rigor não há uma
diferença conceitual entre ambas (Brodeur, 2003: 208).
O segundo eixo central do conceito de Bittner é ver a polícia como uma
organização que pode ser acionada em casos de emergência. Isso fica refletido
de forma muito gráfica na sua descrição de que o papel do policial é intervir em
situações em que:
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 58
“alguma-coisa-não-deveria-estar-acontecendo-e-sobre-a-qual-
alguém-precisa-fazer-alguma-coisa-agora” (Bittner 1990: 249).
A polícia moderna, desde o seu nascimento, vive uma tensão entre dois
grandes modelos: uma polícia pensada para defender o Estado ou o regime
versus uma polícia desenhada para proteger os direitos dos cidadãos e para
pacificar as relações entre eles, mais afastada, portanto, de preocupações
políticas. Todas as polícias possuem, em alguma medida, ambos os polos,
embora em proporções diferentes.
Para introduzir esses dois modelos vamos apresentar inicialmente as
duas polícias consideradas como as pioneiras da polícia moderna na Europa:
1 a francesa no século XVII e
2 a inglesa no século XIX, essa última também chamada de Nova Polícia
(New Police).
Embora o rei tenha criado a polícia como uma função e não como um
conjunto de homens, o Tenente Geral de Polícia obviamente precisava de uma
equipe para desenvolver seu trabalho. Ele tinha sob seu comando um número
aproximado de 40 comissários (commissaires) responsáveis pelos diversos
bairros de Paris. Como delegados do Tenente Geral, esses comissários também
possuíam poderes judiciais e podiam conduzir julgamentos. Os comissários
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 62
eram assistidos por uns 20 inspetores cuja principal missão era a vigilância.
Todos eles, comissários e inspetores, podiam solicitar o apoio da Guarda de
Paris, que possuía mais de 1.000 homens armados, alguns dos quais tinham
treinamento militar. Na prática, era esse componente militar que andava
uniformizado e usava a força quando necessário.
Por outro lado, porém, diversos outros autores sublinham que a prioridade
do Tenente Geral da Polícia era o controle da opinião pública (Clément, 1866:
72).
glosadas. Nenhuma delas tinha a ver com crime violento, mas com fraude
econômica, falhas no suprimento de alimentos à população, religião, matérias de
Estado e censuras de livros (Bondois, 1936: 21).
O ponto central para entender a polícia francesa é pensar que ela foi
criada como um serviço auxiliar do rei. Desse modo, o poder de polícia é
concebido como emanado diretamente do soberano. Em função disso, a
manutenção do regime monárquico e da figura do rei é parte fundamental da sua
missão.
Você sabia?
Por isso, a garantia no fornecimento dos alimentos era uma questão tão
sensível para a polícia. Ao mesmo tempo, a polícia se preocupava em combater
as “ideias perigosas” como um requisito para a manutenção da ordem, ordem
essa que precisa ser entendida não apenas como a ausência de atos vandálicos
ou criminais, mas sobretudo como a manutenção do status quo político
imperante. Para evitar o contágio dessas ideias, ideias estas que finalmente
acabariam provocando a Revolução Francesa, algumas das estratégias usadas
pela polícia incluíam a censura e o espalhamento de boatos falsos. Em suma, a
polícia francesa do século XVII pode ser classificada como uma polícia política
(ver Aula 2 do Módulo III).
No dia a dia, o principal alvo da atuação policial desde 1667 até a
Revolução Francesa era o lumpemproletariado3. Vadios que não trabalhavam,
mendigos e trabalhadores informais que sobreviviam precariamente nas
Em primeiro lugar:
Em segundo lugar:
E, em terceiro lugar:
Este contingente era visto como sempre pronto para aderir a uma revolta,
que como vimos era o maior temor do regime.
Três são os motivos principais alegados para a reforma policial que foi
finalmente bem-sucedida em 1829:
1 a necessidade de coordenação e de centralização do policiamento;
2 o clima de desordem e insegurança, principalmente em relação aos
crimes contra a propriedade, imperante nas ruas de Londres; e
3 o alto número de vítimas fatais que aconteciam quando os militares eram
chamados para reprimir distúrbios civis.
Na Prática
Os alvos principais da polícia britânica não eram muito diferentes
dos da polícia francesa e se concentravam nas camadas mais humildes da
sociedade: prostitutas, bêbados e vadios.
Em primeiro lugar:
o trabalho da polícia, que pode contar, com maior probabilidade, com o apoio da
população. Ela não precisa ser temida para ter respeito dos cidadãos.
Em segundo lugar:
Em terceiro lugar:
Na Prática
Esse controle se exerce preferentemente, mas não exclusivamente,
sobre grupos e camadas sociais considerados suspeitos de cometerem
crimes.
Já na tradição anglo-saxã:
Em primeiro lugar:
Em segundo lugar:
Em primeiro lugar:
Policial guerreiro:
Policial guardião:
Já a prevenção não faz muito sentido para o policial guerreiro, pois ele
deve enfrentar um inimigo que em geral já foi plenamente definido e identificado.
Da mesma maneira que nas seções anteriores, a percepção dicotômica e rígida
da sociedade entre cidadãos de bem e bandidos fortaleceria a aposta por este
tipo de policial.
Noutro sentido, a noção de policial guerreiro reforça a ideia do
patrulhamento ostensivo em lugares públicos (o “campo de batalha”) e se afasta
da investigação policial, que não precisa de guerreiros, mas de detetives.
Portanto, a aposta pelo policial guerreiro é também uma aposta pela
ostensividade em detrimento da investigação criminal.
Nas últimas duas décadas o conceito do policial guerreiro tem sido muito
discutido nos EUA, especialmente após os atentados de 11 de setembro de
2001. O primeiro resultado dos atentados foi que a ênfase em medidas e políticas
antiterroristas acabou minando a distinção entre segurança interna e externa.
Você sabia?
O acrônimo inicialmente queria dizer Special Weapons Attack Team
(Time de Ataque com Armas Especiais), mas depois veio a ser conhecido
de forma mais moderada como Special Weapons and Tactics (Armas e
Táticas Especiais).
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 79
“elite policial”, o que marcava fortemente a instituição policial para além das
intervenções desses grupos. Por outro lado, a lei norte-americana permitia que
o exército repassasse seus equipamentos excedentes às organizações policiais,
o que facilitava o acesso dessas últimas a armamentos militares (Simckes et al.,
2019).
Internacional Humanitário, muita gente ainda está convencida de que tudo vale
numa guerra e, portanto, abusos devem ser ignorados ou perdoados.
Saiba Mais
Nos sistemas de “common law”, vigentes nos países anglo-saxões e
nas suas colônias, a aplicação da lei depende fundamentalmente da
jurisprudência anterior e, por isso, os diplomas legais tendem a ser menos
detalhados. Contrariamente, nos sistemas de “civil law, adotados na
Europa continental e nas suas colônias, os códigos legais escritos são a
fonte primária do direito e, por isso, tendem a ser mais específicos. A
jurisprudência nesses casos desempenha um papel menos importante.
Essa contradição faz com que a polícia deva deixar de lado a aplicação
da lei em muitas situações, mas experimente ao mesmo tempo grandes
dificuldades em reconhecer publicamente que o faz, sob risco de sofrer danos
reputacionais e inclusive sanções legais, como as contidas no crime de
prevaricação.
Obviamente, a discricionariedade relativa à decisão de processar o
responsável por uma transgressão vai diminuindo de acordo com a gravidade do
crime e com as consequências negativas para a sociedade. Não seria aceitável,
por exemplo, que a polícia decidisse não proceder contra o responsável por um
homicídio, independentemente de qualquer consideração.
Mas, mesmo nos crimes graves, a polícia deverá decidir que prioridade
dará a cada um deles e, com isso, ajudará a determinar a probabilidade de
esclarecimento de cada um.
Tudo isso configura um cenário de aplicação seletiva da lei, que é ainda
mais inevitável no contexto em que se encontram a grande maioria das polícias
da América Latina e de muitos outros países no mundo, sobrecarregadas por um
alto número de denúncias que não podem ser investigadas em detalhe na sua
totalidade. Assim, se a seletividade é inevitável, a forma como ela será exercida
determinará a qualidade e equidade do serviço policial.
responder “você tinha que estar aí” (Manning, 2013 :63). Isso leva a Skolnick, no
seu livro clássico “Justice without Trial”, a descrever
Em primeiro lugar:
Em segundo lugar:
Em terceiro lugar:
Em quarto lugar:
Dois temas de grande relevância para a polícia que têm sido vinculados à
discricionariedade são a subcultura policial e a socialização informal, ambos
por sua vez também estreitamente relacionados entre si.
situações que enfrentam; e que com frequência não tem orientação para
decidir o que fazer numa situação dada. Eles aprendem gradualmente da
sua associação com o pessoal mais experimentado e dos seus
supervisores, que há um conjunto de “saber-fazer” no qual eles devem se
inspirar.” (Goldstein, 1977: 101).
Legitimidade tradicional:
Legitimidade carismática:
Legitimidade legal-racional:
indivíduos teriam cedido originalmente o poder ao Estado para seu próprio bem-
estar. Dessa forma, ao ser eles mesmos a fonte original do poder, a legitimidade
viria de forma natural.
Saiba mais
Acesse: https://www.gov.uk/government/publications/policing-by-
consent/definition-of-policing-by-consent
Assim, o primeiro requisito de uma polícia é que ela deve ser aceita pela
sociedade, que deve aprovar não apenas a sua existência, mas também a sua
forma de atuar. O terceiro dos princípios de Peel vai além ao afirmar que a polícia
deve procurar ativamente a “cooperação voluntária do público na tarefa de
garantir a observância das leis”, numa proposta que parece sugerir um papel de
pedagogia social para os policiais, além de uma coprodução da segurança por
parte dos cidadãos. Essa cooperação entre polícia e sociedade é mais esperável
se, como afirma o princípio 7, “a polícia é o público e o público é a polícia”,
frisando a noção de que os policiais não são senão membros da sociedade aos
quais foi encarregada uma tarefa que, no fundo, é de todos.
1º Nível:
2º Nível:
Na Prática
Esse vínculo está longe de ser comprovado empiricamente,
especialmente em países do Sul global com baixos níveis de
legitimidade do Estado e uma forte percepção de corrupção policial.
Vamos Refletir
Até aqui, falamos de legitimidade das leis e das instituições, isto é, de uma
legitimidade legal. Mas é possível que pessoas ou grupos contrários à
legalidade atinjam legitimidade? A resposta é que, a princípio, grupos
criminosos podem receber legitimidade da mesma forma que o Estado.
Finalizando....
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
OBJETIVOS DO MÓDULO
ESTRUTURA DO MÓDULO
Você já deve ter ouvido a frase “segurança pública deve ser uma política
de Estado, não de Governo”. Você mesmo já deve ter recorrido a essa expressão
algumas vezes. Em especial, naqueles momentos em que testemunhamos um
bom trabalho ser interrompido por esse tipo de interferência que chamamos de
“política”, esse é um pensamento que pode vir à tona.
Vamos Refletir
Você concorda que a atuação dos órgãos de segurança, enquanto burocracias
de Estado, deve ser neutra e não promover ideologias de partidos e nem
diferenciações de tratamento entre pessoas baseadas em sua raça, gênero,
orientação sexual, religião ou classe social?
Figura 4
Fonte: Revide.
Saiba mais
Nos sistemas de “common law”, vigentes nos países anglo-saxões e
nas suas colônias, a aplicação da lei depende fundamentalmente da
jurisprudência anterior e, por isso, os diplomas legais tendem a ser menos
detalhados. Contrariamente, nos sistemas de “civil law, adotados na
Europa continental e nas suas colônias, os códigos legais escritos são a
fonte primária do direito e, por isso, tendem a ser mais específicos. A
jurisprudência nesses casos desempenha um papel menos importante.
A governança da polícia:
A governança policial:
1º ponto:
2º ponto:
3º ponto:
Figura 5
Figura 6
Fonte: https://digital.gov/2021/10/08/census-led-prize-challenge-incentivizes-using-
open-data-for-good/
Figura 7
Fonte: https://www.imdb.com/title/tt2137321/
Saiba mais
A teoria da interseccionalidade se concentra na análise das
interconexões entre diferentes formas de opressão, discriminação e
desigualdade a que indivíduos ou grupos podem estar submetidos e que
operam simultaneamente no sentido de aumentar ou reduzir a
probabilidade destes figurarem como autores ou vítimas de violência.
Figura 8
escritório especial das Nações Unidas (United Nations, 2020), mostram que
a exposição de crianças a situações de violência continuada pode
prejudicar o seu desenvolvimento emocional, psicológico e até mesmo
físico. As crianças expostas à violência têm maior probabilidade de ter
dificuldades na escola, abusar de drogas ou álcool, agir agressivamente,
sofrer de depressão ou outros problemas de saúde mental e envolver-se
em comportamentos criminosos quando adultos. Estudo desenvolvido pelo
Fundo Monetário Internacional (Ouedraogo & Stenzel, 2021) em países da
África Subsaariana, por sua vez, sugere que um aumento de 1 ponto
percentual na violência contra as mulheres está associado a um nível de
atividade econômica 9% inferior. No curto prazo, isso acontece porque as
mulheres provenientes de lares abusivos tendem a trabalhar menos horas
e a ser menos produtivas quando trabalham. No longo prazo, níveis
elevados de violência doméstica podem diminuir o número de mulheres na
força de trabalho, minimizar a aquisição de competências e educação pelas
mulheres e resultar em menor investimento público e geração de riquezas
em geral.
Figura 9
Fonte: https://www.brookings.edu/books/secrets-and-spies/
Palavra do Especialista
O jurista Roberto Romano, Professor da Unicamp, em seu artigo
“Sigilo Jornalístico e Segredo de Estado” (2006), coloca essa questão de
forma definitiva. Em suas palavras, a “democracia começa e termina com
o segredo” (:226). Essa frase encarna perfeitamente o caráter dilemático
da questão. Se, como afirma Michel Foucault em seu livro “Segurança,
Território e População” (FOUCAULT, [1978] 2008), conhecer as
características de uma população é fundamental para o governo da
sociedade, função para a qual colaboram tanto a estatística como a própria
atividade de inteligência, a limitação desse saber-poder do Estado foi
fundamental para o surgimento do Estado Democrático de Direito.
1º caminho:
2º caminho:
Como vimos, não é possível governar aquilo que não se conhece, menos
ainda quando não existe reconhecimento da legitimidade para tal. Essa falta de
reconhecimento pode ter diversas causas contextuais, como a distância e o
isolamento de comunidades, a sua prolongada exposição a situações de
violência perpetrada por agentes estatais, a existência de grupos locais que
capturam funções de regulação disputando com o Estado a legitimidade para tal,
dentre outras. Nessa aula, entretanto, vamos identificar algumas causas
estruturais importantes nesse sentido e que mostram que a construção da
legitimidade da lei do Estado é um processo constante e diário de convencimento
cujo objetivo é ganhar “corações e mentes” para as vantagens da mediação
estatal dos conflitos.
1º movimento:
2º movimento:
A lei universal,
E a norma social,
William Ker Muir (1977), em seu livro “Street Corner Politicians”, define os
policiais como “políticos de esquina”. Isso porque sua função seria marcada por
um trabalho cotidiano e diligente de fazer com que as “leis do mundo” (normas
sociais e práticas culturais) possam encontrar o “mundo das leis” (normas
positivadas e universais). O autor fez seu trabalho de campo no departamento
de polícia da cidade norte-americana de Lacônia4. Numa democracia, como
vimos, esse trabalho da polícia precisa obter consentimento social e Muir
pensava esse atributo em oposição à necessidade de aplicação da força. Quanto
maior o consentimento, menos a necessidade de usar meios mais invasivos para
obter a submissão das pessoas às leis. Essa competência, entretanto,
demandava um entendimento das percepções sobre justiça e sobre a natureza
dos conflitos e daquilo que está sendo disputado pelas pessoas.
Nesse sentido, o trabalho do antropólogo Luis Roberto Cardoso de
Oliveira pode nos auxiliar na caracterização dessa problemática. Em seu texto
“Existe violência sem agressão moral?” (2008), o autor apresenta casos em que
circunstâncias de desrespeito à cidadania não são devidamente captadas pelo
processo judicial ou pela linguagem dos direitos universais. Com base em suas
análises, ele propõe o conceito de “insulto moral” como uma dimensão
importante do fenômeno jurídico e do Direito. Nas palavras de Cardoso de
Oliveira,
Entretanto, podemos dizer que países que passaram por guerras civis
ou conflitos prolongados compartilham algumas características gerais
desafiadoras. A principal delas é o reestabelecimento das instituições, da ordem
e da previsibilidade social em um ambiente de profunda instabilidade política
causada pela suspensão das regras que regem a sociedade em situações de
normalidade. Mais desafiador ainda é o restabelecimento da fé das pessoas no
Estado e suas instituições, no reconhecimento de sua função de terceira-parte
neutra para a mediação dos conflitos sociais.
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 135
Vamos Refletir
A paz não significa superação ou eliminação total dos conflitos. O
conflito, na verdade, faz parte da própria vida em sociedade.
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 136
Palavra do Especialista
Disponibilidade (availability):
Pronta-resposta (responsiveness):
Imparcialidade (even-handedness):
Perito, a polícia deve buscar reencontrar as suas funções civis. Entretanto, não
basta treinar a polícia para que esse “reencontro” aconteça. Faz-se necessário
um esforço simultâneo de reformulação e fortalecimento das estruturas de
governança do sistema de justiça e segurança de forma ampla. O que, segundo
os autores, demandaria vontade política, liderança estratégica e participação
social.
sua própria polícia e sistema de justiça, mas sempre subordinadas aos desígnios
do Governo central.
Saiba mais
A palavra apartheid significa “separação” em afrikaans e foi adotada
como slogan pelo Partido Nacional Sul-africano depois da vitória de Daniel
François Malan nas eleições parlamentares de 1948. Na foto acima,
denominada “apartheid fence” (“cerca do apartheid” em português), vemos
a ideia de separação encarnada no registro feito por Jurgen Schadeberg
em um parque de Joanesburgo (Johannesburg, 1953).
Figura 11: Hector Pieterson sendo carregado por Mbuyisa Makhubo após ser baleado
pela polícia sul-africana. Sua irmã, Antoinette Sithole, corre ao lado deles.
Você sabia?
Diversos episódios de violência policial ocorridos durante o apartheid
ganharam projeção internacional. Um dos mais famosos foi o "Massacre de
Sharpeville". O episódio ocorreu em 21 de março de 1960, na cidade de
Sharpeville, na África do Sul, e desempenhou um papel fundamental na
história da luta contra o regime de segregação racial no país, gerando
comoção pública e pressão internacional pelo seu fim. Durante uma
manifestação pacífica contra as "Leis do Passe" a polícia de Sharpeville
abriu fogo contra os manifestantes, matando sessenta e nove pessoas e
ferindo centenas de outras. Dezesseis anos depois, em 1976, em Soweto,
bairro negro da cidade de Joanesburgo, um outro episódio de brutalidade
foi protagonizado pela polícia sul-africana. Em junho daquele ano, cento e
setenta e seis jovens em idade escolar que protestavam contra a
obrigatoriedade do ensino do afrikaans, língua de origem colonial
holandesa, em detrimento de línguas nativas, foram mortos pela polícia.
Contagens não oficiais falam em até setecentos jovens mortos no episódio
que ficou conhecido como o “Levante de Soweto” e foi imortalizado pela
imagem do menino Hector Pieterson, de apenas doze anos, sendo
carregado sem vida por um colega e pela irmã, em busca de socorro (ver
figura 12).
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 145
Segundo David Welsh (2010), em seu livro “The Rise and Fall of
Apartheid” (O Surgimento e a Queda do Apartheid), os elevados custos de
manutenção do sistema de passes, associados a pressões diplomáticas
internacionais, embargos econômicos e movimentos de resistência
internos tornaram o regime do apartheid inviável e precipitaram o seu fim.
Na década de 90, quando Nelson Mandela deixou a prisão, existiam onze
forças policiais diferentes operando no território sul-africano. A principal era
a SAP, cuja atuação se concentrava nas cidades, áreas de moradia da
população branca. Os postos de baixa-patente da SAP eram reservados à
população negra, mantendo-se os níveis estratégicos e de comando da
organização nas mãos da minoria branca. As demais polícias eram
compostas a partir de efetivos da SAP e eram responsáveis por atuar nos
dez territórios reservados exclusivamente para os negros africanos, os
chamados Bantustões.
Figura 12
Fonte:
Segundo Janine Rauch (2000), em seu paper “Police Reform and South
Africa's Transition” (Reforma Policial e Transição na África do Sul), a missão da
polícia durante o apartheid era fazer cumprir as leis de segregação racial e suas
funções eram muito assemelhadas às de uma “polícia política” (ver Aula 2 desse
módulo), o que não exigia grandes competências em funções policiais
tradicionais e permitia abusos em grande escala. Demonstrações de lealdade
política e a força bruta eram as únicas habilidades exigidas de seus agentes. A
tarefa de transformar a SAP em uma organização legítima para a maioria da
população e eficaz contra o crime era gigantesca e ficou conhecida como um
dos mais ambiciosos processos de reconstrução das bases de legitimidade de
uma força policial na história das democracias modernas.
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 148
Figura 13: Nelson Mandela depositando o seu voto nas primeiras eleições
democráticas da África do Sul, realizadas em Abril de 1994, momento histórico registrado pelo
fotógrafo Paul Weinberg.
Figura 14
Saiba mais
A insígnia adotada pela SAPS em 1995 usa uma árvore de aloe vera
como imagem principal. Planta típica da África do Sul, o aloe vera é uma
vegetação de gosto amargoso, mas que é reconhecida mundialmente por
suas propriedades curativas e simboliza a ideia de que a polícia pode ser
um remédio amargo, mas fundamental para a saúde da comunidade.
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 150
Palavra do Especialista
Vamos Refletir
Você concorda que a atuação dos órgãos de segurança, enquanto
Se é verdade que sua profissão exige níveis de dedicação e
burocracias de Estado, deve ser neutra e não promover ideologias de
preparação diferenciados, estas exigências não podem naturalizar causas
partidos e nem diferenciações de tratamento entre pessoas baseadas em
de adoecimento físico, emocional e moral associados ao seu trabalho.
sua raça, gênero, orientação sexual, religião ou classe social?
1º motivo:
2º motivo:
Figura 15
Fonte:
Você sabia?
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência
especializada das Nações Unidas dedicada a promover direitos
trabalhistas, emprego decente e relações de trabalho justas em todo o
mundo. Ela enfatiza a importância do direito à sindicalização como um dos
princípios fundamentais do trabalho. O direito à sindicalização é abordado
principalmente nas convenções e recomendações da OIT, bem como em
suas declarações e documentos relacionados. A OIT trabalha para garantir
que os países membros respeitem e implementem esses princípios
fundamentais. A organização também monitora a conformidade dos países
membros com esses princípios e pode prestar assistência técnica para
promover a sindicalização e a negociação coletiva em nações que
enfrentam desafios nessa área.
Saiba mais
Em parte, o “cinismo” pode ser uma forma de autodefesa, pois as
pessoas cínicas têm dificuldade em acreditar na honestidade e integridade
de terceiros. Os cínicos tendem a criticar constantemente o status quo, as
normas sociais e as ações das pessoas. Entretanto, a característica
fundamental do cinismo é um ceticismo acentuado em relação a ideias,
valores, instituições e pessoas. Eles veem as instituições sociais como
corruptas e desonestas. Uma postura excessivamente cínica pode levar a
relações sociais difíceis, isolamento social e um senso geral de
desconfiança em relação ao mundo, o que pode provocar sofrimento
emocional e privação.
Saiba mais
As "relações de patronagem" se referem a um tipo de interação
social ou prática em que uma pessoa em posição de poder, conhecida
como "patrão" ou "patrono," fornece proteção, favores, apoio ou recursos a
outra pessoa em troca de lealdade, obediência ou serviços. Essas relações
são desiguais em termos de poder e influência, e o patrão detém uma
posição social, política ou econômica superior à pessoa que recebe o
patrocínio, conhecida como "protegido" ou "afilhado". Embora as relações
de patronagem possam ter benefícios mútuos, elas também podem criar
desigualdades e oportunidades limitadas para aqueles que não têm acesso
a um patrono influente. Em muitos casos, as relações de patronagem
podem perpetuar sistemas de nepotismo e corrupção. Portanto, em muitos
países e contextos, esforços são feitos para regulamentar ou reduzir essas
práticas a fim de promover maior igualdade de oportunidades e justiça.
Saiba mais
Se, por um lado, a falta de poder de barganha coletiva pode expor mais o
modelo associativista à lógica de estabelecimento de relações de patronagem
com políticos e comandantes, sabotando os esforços de profissionalização da
polícia, os contratos produzidos pelos sindicatos têm sido motivo de
preocupação, ameaçando a democracia em diversos países do mundo. Esse é
um amplo debate que tem questionado exatamente a forma como as demandas
trabalhistas de policiais podem ser ouvidas de forma institucionalizada, universal
e transparente.
Finalizando....
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
OBJETIVOS DO MÓDULO
ESTRUTURA DO MÓDULO
Essa situação não é própria somente dos nossos dias. A violência compõe
a nossa própria história, desde a configuração histórica das nossas relações
sociais, marcada por séculos de submissão de parcela substancial da nossa
população à escravidão e, por óbvio, à violência, até a naturalização da violência
para a solução de conflitos.
Por certo que, tão variadas sejam as lentes de análise sobre os problemas
estruturantes de nossa sociedade, tão variadas serão as explicações para eles.
Para nosso módulo, vamos nos deter em duas marcas de nossa sociedade que,
em nossa concepção, guardam forte relação com a violência e a oferta de
segurança pública pelo Estado.
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 171
Você sabia?
Uma das características mais marcantes da sociedade brasileira é o
autoritarismo, marca de nossa cultura política em que o poder se
concentra nas mãos de uma pessoa ou grupo político, com pequena
participação das pessoas nas decisões que afetam suas vidas
(SCHWARCZ, 2019).
Ainda que isso seja marcante nas questões que envolvem Estado e
sociedade, o autoritarismo se construiu nas diversas esferas de relações sociais
com grande disparidade (ou assimetria) de poder, como o caso dos senhores e
a população escravizada, nas relações familiares com pouco espaço de poder
para mulheres e filhos, ou nas relações de trabalho que se constituíram após o
regime escravocrata.
Grupos criminais:
Um dos principais teóricos sobre isso foi Raymundo Faoro (2001), em seu
livro “Os Donos do Poder”. Nele, Faoro descreve como, desde o início da história
nacional, um grupo, para o qual o Estado funciona como uma extensão de seus
interesses, alcançou posições de destaque no Brasil. Nessa trajetória, o governo
no Brasil privilegiou o atendimento às classes economicamente poderosas,
deixando de lado critérios que atendessem a fins públicos definidos em leis.
Assim, segundo essa leitura, os integrantes do Estado orientavam suas práticas
para o atendimento a esse grupo, negligenciando, portanto, as camadas menos
favorecidas e mais carentes.
Vamos Refletir
Na Prática
Para ilustrar, vamos pensar nas eleições brasileiras que ocorriam no
começo do século passado. Com o fim da Monarquia em 1889 e a
instalação da República, logo na passagem do século, o Brasil teve
eleições para presidente. Nada mais democrático, certo? Mas, quem podia
votar? Para se ter ideia, nas eleições da chamada Primeira República
(1889-1930) apenas 6% dos eleitores eram autorizados a votar*. Parece
inegável que a participação na definição das regras do país restringia-se a
uma pequeníssima parcela da população, esses mais poderosos
economicamente.
Esse exemplo nos mostra que o exercício do voto deve ser amplo o
suficiente para que contemple a vontade coletiva, caso contrário, teríamos a
reprodução da concentração de poder, reforçando a desigualdade e a mitigação
da cidadania para enormes parcelas da população.
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 176
Você sabia?
Chamada de “Constituição Cidadã”, representa a tentativa de
romper com um passado marcado pelo autoritarismo e pela reprodução de
estruturas que consolidaram forte desigualdade social e que estiveram na
base da formação da nossa nação e, consequentemente, do Estado
brasileiro.
Ela tenta superar os problemas que percorrem nossa história, não só pela
sedimentação da democracia, mas, em grande parte, pela organização do
Estado brasileiro com o intuito de torná-lo capaz de ser aderente aos interesses
da sociedade. Nestes termos, podemos afirmar que a Constituição Federal
possui tanto uma dimensão cidadã – representada com destaque nos seus
artigos 5º e 9º, que tratam dos direitos civis e dos direitos sociais – como uma
dimensão gerencial, como, por exemplo, no artigo 37 e seguintes, que abordam
a administração pública.
Saiba mais
*O Supremo Tribunal Federal, em decisão proferida em 28 de agosto
de 2023, reconheceu as Guardas Municipais como integrantes do rol de
agências que integram a Segurança Pública. Para mais informações,
recomendamos a leitura do julgamento da Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental nº 995.
Acesse: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6444398
Não será objeto do presente conteúdo descrever cada uma das missões
dessas agências policiais, as quais estão definidas no dispositivo legal, muito
embora existam importantes zonas de superposição de atuação. Para nossa
finalidade, cabe destacar uma outra questão ligada a esse artigo, qual seja a
falta de articulação entre essas agências. Para isso, vamos passar brevemente
pelo capítulo que trata de outra importante área de prestação estatal: a saúde e
os artigos 196 a 200 em que serão encontrados dispositivos mais bem
elaborados em relação à governança.
Agora, observem o quadro a seguir. Ele foi elaborado por Renato Sérgio
de Lima e utilizado por Iara Sennes em seu trabalho que diz respeito à
governança em segurança pública no Brasil (SENNES, 2021). Ele apresenta um
mapeamento dos stakeholders da burocracia estatal ligados à segurança pública
nacional.
A questão que essa lei busca enfrentar é como o Brasil pode promover
melhores condições de segurança às pessoas, organizando os atores públicos,
em especial as Polícias, Guardas Municipais, Bombeiros, apenas para citar
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 186
da vida, junto ao patrimônio e ao meio ambiente (artigo 4º, inciso X). Dedica
atenção às políticas destinadas à preservação da ordem pública (artigo 1º; artigo
6º inciso II), à investigação de crimes (artigo 6º, inciso III e XXIV), ao tráfico de
drogas (artigo 6º, XVI) e aos crimes transfronteiriços (artigo 6º, inciso VIII).
Figura 17: Princípios, diretrizes e objetivos que informam a concepção do Sistema Único de
Segurança Pública (Susp).
Articulação entre
os entes • Racionalização dos meios com base nas melhores práticas
federativos e • Compartilhamento de bancos de dados e informações de
entre as inteligência
agências de • Interoperabilidade tecnológica
Segurança • Unificação de registros policiais
Pública
• Transparência
• Prestação de contas
Na Prática
Há inúmeros exemplos disso como a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, a Política Nacional do Meio Ambiente, a Política Nacional de
Habitação, a Política de Defesa Nacional, a Política Nacional de Energia, a
Política Nacional de Saúde, dentre outras, cada qual com seus planos
correspondentes. Essas iniciativas diferenciam-se entre si em termos de
suas capacidades de entregar os bens públicos previstos em seus
objetivos, dentre outras variáveis.
Já vimos que, em 2018, foi promulgada a Lei Federal nº 13.675 que cria
a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, aqui resumida. A partir
da promulgação dessa lei, foi criado o Plano Nacional de Segurança Pública e
Defesa Social (BRASIL. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA.,
2021).
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 192
Fonte: https://www.gov.br/mj/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/categorias-de-
publicacoes/planos/plano_nac-_de_seguranca_publica_e_def-_soc-_2021___2030.pdf
Figura 19: Metas do Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social 2021-30
Problema Metas
Vitimização de profissionais de
Redução de 30% dos números absolutos
Segurança Pública
6 Unidade Local é unidade de produção numa única localização geográfica (endereço), onde a
atividade econômica é realizada (ou a partir de onde é conduzida) (IBGE, 2007 apud BRASIL,
2021, p. 22).
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
e os Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública 195
Para isso, vamos falar dos Fundos que a Lei nº 13.675/18 contemplou em
seu texto: o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) e o Fundo
Penitenciário Nacional (Funpen)*. É por meio deles que, somados a outras fontes
orçamentárias, o Governo Federal busca promover uma articulação que envolva
os entes federativos. Muito embora os Estados sejam quem empenha a maior
parte dos recursos investidos no Brasil em Segurança Pública, em torno de 80%
do total, os valores gerenciados pela União, por volta de 11% do total, contribuem
significativamente para as políticas públicas de segurança. Em 2017, foram
empenhados aproximados 95 bilhões de reais, dentre os quais 11 bilhões
tiveram como origem o Governo Federal (FÓRUM BRASILEIRO DE
SEGURANÇA PÚBLICA, 2019, p. 15).
Saiba mais
Por uma limitação de objeto de análise, não discutiremos o Fundo
de Direitos Difusos e o Fundo Nacional Antidrogas. Indicamos as normas
que disciplinam tais temas, que são a Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho
de 1985, e a Lei Federal nº 7.560, de 19 de dezembro de 1986,
respectivamente.
SINAPED:
SINESP:
SIEVAP:
CONCLUSÃO
Em primeiro lugar:
Em segundo lugar:
Em terceiro lugar:
Para refletir
Com isso, pretendemos dizer que a segurança pública vai muito além do
enfrentamento a crimes: ela tem como função prover condições para
exercer todos os outros direitos, entre eles os direitos políticos, longe de
constrições autoritárias.
Finalizando....
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