01 Estruturas de Fundações - Introdução - 2022
01 Estruturas de Fundações - Introdução - 2022
01 Estruturas de Fundações - Introdução - 2022
Esta apostila, intitulada “Elementos Estruturais de Fundações”, foi originalmente elaborada pelo
Prof. Dr. Ricardo Carrazedo, com o auxílio do doutorando Diogo Silva de Oliveira. O texto original
foi revisado pelos colaboradores Profa. Dra. Alessandra Lorenzetti de Castro, Prof. Dr. Libânio
Miranda Pinheiro, doutorandos Gustavo de Miranda Saleme Gidrão, Mariana Lavagnolli Rossi e
Paula de Oliveira Ribeiro.
1 Introdução ........................................................................................................................ 1
2 Tipos de fundação............................................................................................................ 2
2.1 Fundações superficiais............................................................................................. 2
2.1.1 Sapatas .............................................................................................................................. 2
2.1.2 Blocos de fundação ........................................................................................................... 4
2.1.3 Radiers ............................................................................................................................... 4
2.2 Fundações profundas............................................................................................... 5
2.2.1 Tubulões ............................................................................................................................ 5
2.2.2 Estacas .............................................................................................................................. 7
2.2.3 Blocos sobre estacas ou tubulões ................................................................................... 10
2.3 Escolha da fundação .............................................................................................. 11
2.4 Esforços na fundação............................................................................................. 12
2.4.1 Dimensionamento geotécnico da fundação..................................................................... 12
2.4.2 Dimensionamento dos elementos estruturais.................................................................. 12
2.5 Materiais e critérios de detalhamento e durabilidade ............................................. 14
3 Referências .................................................................................................................... 16
1 Introdução
2 Tipos de fundação
De acordo com a definição da NBR 6122:2019 (ABNT, 2019), nos elementos estruturais de
fundação superficiais a carga é transmitida diretamente ao terreno pelas tensões distribuídas
sob a base da fundação. Esse esquema estrutural é possível quando as camadas superficiais
do solo são resistentes o bastante para resistir às tensões impostas pela fundação. Como
critério de geometria, nas fundações superficiais a profundidade de assentamento em relação
à superfície do terreno adjacente é inferior a duas vezes a menor dimensão em planta da
fundação. Neste tipo de fundação incluem-se as sapatas, blocos e radiers.
2.1.1 Sapatas
As sapatas isoladas são aquelas que servem de apoio para apenas um pilar (Figura 2.1).
Podem ter base circular, quadrada ou retangular, e a altura pode ser constante ou variável
(“chanfrada” ou em “degraus”).
As sapatas corridas são aquelas sujeitas a uma força linearmente distribuída, como,por
exemplo, quando a sapata serve de apoio para uma parede ou muro (Figura 2.2). É uma
solução muito utilizada em edifícios de paredes estruturais, pois se aproveita a disposição das
cargas linearmente distribuídas.
As sapatas associadas são aquelas comuns a dois ou mais pilares (Figura 2.3). Esta solução
estrutural pode ser utilizada quando os pilares são muito próximos, caso em que as sapatas
isoladas iriam se sobrepor. É comum utilizar uma viga de rigidez para distribuir linearmente
na sapata as forças pontuais provenientes dos pilares. Neste caso a sapata passa a ter o
comportamento estrutural semelhante ao de uma sapata corrida.
As sapatas de divisa são necessárias em situações nas quais o pilar está muito próximo à
divisa do terreno, impossibilitando a localização do pilar no centro da sapata. Por conta dessa
excentricidade, surgem momentos fletores e forças cortantes que precisam ser absorvidos
por uma viga de equilíbrio que se une a um pilar interno, como mostrado na Figura 2.4.
2.1.3 Radiers
Os radiers são lajes que servem de suporte para as paredes ou pilares de uma estrutura,
distribuindo os carregamentos no solo. Assim como as sapatas corridas, o radier é uma
solução bastante utilizada em edificações de paredes estruturais por conta da distribuição
linear das cargas. Na situação de radier sob pilares, é possível utilizar vigas ou capitéis para
auxiliar na distribuição das cargas pontuais dos pilares para o radier, como mostrado na Figura
2.6.
(a)
(b) (c)
Figura 2.6 - Radier: (a) sob paredes de alvenaria estrutural; (b) sob pilares com vigas de distribuição e (c) sob
pilares com capitéis.
A NBR 6122:2019 (ABNT, 2019) classifica como elementos de fundação profunda aqueles
em que a transmissão da carga ao terreno é feita pela base (resistência de ponta) e/ou
superfície lateral (resistência de fuste), devendo sua ponta ou base estar assentada em
profundidade superior a oito vezes a sua menor dimensão em planta e, no mínimo, 3,0 m.
Esta solução estrutural é necessária quando as camadas superficiais do solo não têm
resistência suficiente para resistir às cargas provenientes da estrutura, situação comum em
edifícios de múltiplos pavimentos e obras de grande porte. Neste tipo de fundação incluem-se
os tubulões e as estacas.
2.2.1 Tubulões
Os tubulões são construídos por meio da concretagem de um poço aberto no terreno, que
pode ter as paredes revestidas ou não. A base do tubulão pode ser alargada, com forma
circular (Figura 2.7) ou de falsa elipse (parte central retangular associada a dois semicírculos
nas extremidades). O mecanismo resistente se dá pela resistência de ponta. Diferenciam-se
das estacas porque em pelo menos na sua etapa final há a descida de um operário para
completar a geometria da escavação, fazer a limpeza e inspeção do solo. Para que isso seja
possível, o diâmetro mínimo do fuste precisa ser de pelo menos 70 cm. Deve-se evitar o
emprego de tubulões em solos arenosos por conta do risco de desabamento.
Os tubulões dividem-se em dois tipos básicos: a céu aberto (normalmente sem revestimento)
e a ar comprimido (Figura 2.8). Os tubulões a ar comprimido são sempre revestidos, e esse
revestimento pode ser constituído por um anel de concreto armado ou de aço (metálico). Esse
anel também é conhecido como camisa, que pode ser recuperada ou perdida durante a
concretagem do tubulão.
2.2.2 Estacas
Diferentes dos tubulões, as estacas (Figura 2.9) são executadas inteiramente por
equipamentos ou ferramentas, sem que seja necessária a descida de pessoas em qualquer
fase da execução. Nas estacas, o mecanismo resistente se dá pela resistência de ponta, na
base da estaca, e pela resistência por atrito ao longo do fuste. A proporção entre essas duas
parcelas de resistência varia conforme o tipo de estaca e a classificação do solo ao longo da
altura da estaca.
De acordo com Hachich et al. (1998), as estacas usuais podem ser classificadas em duas
categorias: estacas de deslocamento e estacas escavadas.
As estacas escavadas são aquelas executadas “in situ” através da perfuração do terreno por
um processo qualquer, com remoção de material, com ou sem revestimento. Nessa categoria
enquadram-se, entre outras, as estacas tipo broca, tipo hélice contínua e Strauss (HACHICH
et al., 1998).
Estaca moldada no local e executada por cravação, por meio de sucessivos golpes de um
pilão em uma bucha seca de pedra e areia aderida ao tubo. Atingida a cota de apoio, procede-
se a expulsão da bucha e execução da base alargada, instalação da armadura e execução
do fuste de concreto apiloado com a simultânea retirada do revestimento (Figura 2.11). Os
diâmetros variam de 30 cm a 70 cm e a profundidade independe do nível do lençol freático,
podendo atingir grandes profundidades. Sua cravação gera grandes vibrações no terreno.
Esta estaca de concreto moldada no local é executada mediante a introdução, por rotação,
de um trado helicoidal contínuo no terreno e injeção de concreto pela própria haste central do
trado, simultaneamente com sua retirada, sendo a armadura posicionada após a concretagem
da estaca. A rapidez de execução, a ausência de vibrações no terreno e a grande capacidade
de carga fazem com que esse tipo de estaca seja largamente utilizado nas últimas décadas.
As estacas tipo broca são escavadas manualmente com trado em forma de conchas,
conforme a Figura 2.12. São de uso limitado, pois são aplicáveis em situações de fundação
acima do nível do lençol freático. A perfuração manual restringe a utilização dessas estacas
a pequenas cargas por conta da pequena profundidade que se consegue alcançar (da ordem
de 6 m a 8 m) e também pela dificuldade de se manter a verticalidade do furo.
As estacas escavadas mecanicamente com trado helicoidal são executadas por meio de uma
haste de perfuração, podendo esta ser helicoidal em toda a sua extensão ou constituída de
trado helicoidal apenas em sua extremidade. A perfuração do solo é feita por meio de
prolongamento telescópico da haste. O processo constitui na perfuração até a cota desejada
e o posterior lançamento do concreto. Seu emprego é restrito a perfurações acima do nível
do lençol freático e não causa vibrações no terreno.
As estacas moldadas no local tipo Strauss foram consideradas, inicialmente, como uma
alternativa às estacas pré-moldadas cravadas por percussão, evitando a ocorrência de
vibrações no terreno. O processo de execução consiste na retirada da terra com uma sonda
ou piteira e a simultânea introdução de tubos rosqueáveis entre si até atingir a profundidade
desejada, e posterior concretagem com apiloamento e retirada da tubulação.
Após terem sido apresentados os tipos de fundação mais usuais, percebe-se que cada um
possui características peculiares que abrangem desde aspectos estruturais até aspectos
financeiros e de execução. Essas características fazem com que a escolha do tipo de
fundação seja na verdade um estudo de viabilidade que vai conduzir ao tipo de fundação mais
adequado para cada obra específica. E para isso, alguns aspectos devem ser analisados,
como descrito a seguir.
- Tipo de solo –Além de estar relacionado com a resistência, indicando a escolha entre
fundações rasas ou profundas, o tipo de solo também se torna um fator condicionante
do ponto de vista da execução, sendo necessário verificar se a coesão é capaz de
manter o solo estável durante o processo de escavação.
Rk
Fk Radm 2.1
C
Sendo:
Fk - Força solicitante com seu valor característico;
Rk - Força resistente com seu valor característico;
C - Coeficiente de segurança global;
concreto armado, a consideração das ações é feita pelo método semiprobabilístico dos
Estados Limites, descrito de maneira completa pela NBR 8681:2003 (ABNT, 2003), e de
maneira mais específica, para as aplicações em estruturas de concreto armado, pela NBR
6118:2014 (ABNT, 2014).
Sendo:
Fd - Valor de cálculo das ações para combinação última;
g - Coeficiente de majoração das ações permanentes diretas, tomado igual a 1,4 para o caso
de ação desfavorável (conforme Tabela 11.1 da NBR 6118:2014);
Fgk - Ações permanentes diretas;
q - Coeficiente de majoração das ações variáveis diretas, tomado igual a 1,4 para o caso de
ação geral (conforme Tabela 11.1 da NBR 6118:2014);
Fq1k - Ação variável direta, tomada como a principal;
0 j - Coeficiente de ponderação das ações variáveis diretas, cujo valor deve ser consultado
na Tabela 11.2 da NBR 6118:2014;
Fqjk - Ações variáveis diretas, tomadas como secundárias;
Além de obter os valores das ações em termos de valores de cálculo, a NBR 8681:2003
(ABNT, 2003) recomenda a consideração de um coeficiente adicional (𝛾𝑛 ) para casos
especiais. Como os elementos estruturais de fundação têm grande responsabilidade para o
suporte de toda a estrutura, 𝛾𝑛 pode ser devidamente aplicado a este caso. Assim, tal
coeficiente é definido por meio de duas parcelas, como mostrado a seguir.
n n1 n2 2.3
Sendo:
Além dos critérios indicados pela NBR 6118:2014 (ABNT, 2014) para consideração das
propriedades mecânicas do concreto e do aço, aos quais todos os elementos estruturais de
concreto armado devem satisfazer, os elementos estruturais de fundação precisam também
atender a requisitos adicionais.
No caso das fundações profundas moldadas no local, a NBR 6122:2019 (ABNT, 2019)
estabelece que, mesmo sendo empregada uma classe de resistência maior para o concreto,
para fins de dimensionamento, essa resistência deve ser limitada em função do tipo de
elemento de fundação, indicando também coeficientes específicos para ponderar as
resistências dos materiais, de acordo com a classe de agressividade ambiental definida pela
NBR 6118:2014 (ABNT, 2014), como indicado na Tabela 2.1.
CAA Classe de
Tipo de fundação
(NBR 6118:2014) concreto (fck) c s
I, II 30 2,7
Hélice contínua 1,15
III, IV 40 3,6
I, II 25 3,1
Escavadas sem fluido 1,15
III, IV 40 5,0
I, II 30 2,7
Escavadas com fluido 1,15
III, IV 40 3,6
Strauss I, II 20 2,5 1,15
Franki I, II, III, IV 20 1,8 1,15
Raiz I, II, III, IV 20 1,6 1,15
Microestacas I, II, III, IV 20 1,8 1,15
Estaca trado vazado segmentado I, II, III, IV 20 1,8 1,15
Estacas pré-moldadas - 40 1,4 1,15
I, II 25 2,2
Tubulões não encamisados 1,15
III, IV 40 3,6
Tubulões encamisados com concreto - - 1,4 1,15
1,5 (ELU) 1,15
Tubulões encamisados com aço - -
1,3 (ELS) 1,15
Continua
CAA Classe de
Tipo de fundação
(NBR 6118:2014) concreto (fck) c s
Sapatas - 1,4 1,15
Blocos de transição
- - 1,4 1,15
ou blocos sobre estacas
Industrial
Rural Marinha
Tipo de ambiente Urbana Respingos de
Submersa Industrial
maré
Cobrimento (mm) 30 30 40 50
A NBR 6122:2019 (ABNT, 2019) indica que nas estacas sujeitas à tração e/ou flexão deve ser
feita a verificação da fissuração considerando os Estados Limites de Serviço. No entanto,
como maneira simplificada de atender a esse requisito referente à proteção da armadura,
pode-se proceder ao dimensionamento, considerando uma redução de 2 mm no diâmetro das
barras longitudinais, como espessura de sacrifício. No entanto, para o caso de estacas pré-
moldadas deve ser seguindo os critérios da NBR 16258:2014 (ABNT, 2014).
3 Referências
ALONSO, U. R. (1983). Exercícios de Fundações. Ed. Edgard Blücher Ltda., São Paulo;
CAPUTO, H. P. (1978). Mecânica dos solos e suas aplicações. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos. V. 4.
GUERRIN, A. (1955) Traité de Béton Armé, Les Fondations.Dunod, Tome III, Paris.
LEET, K.; BERNAL, D. (1997). Reinforced Concrete Design. 3.ed., New York: McGraw-Hill.
MONTOYA, P.J.; MESEGUER, A.; CABRE, M. (2000) Hormigon Armado 14ed Basada em
EHE ajustada al Código Modelo y al Eurocódig. Barcelona, Gustavo Gili.
PFEIL, Walter (1983) Concreto armado: dimensionamento. 4ed. Rio de Janeiro: Livros
técnicos e científicos.
SILVA, E. A. (1998). Análise dos Modelos Estruturais para Determinação dos Esforços
Resistentes em Sapatas Isoladas, Dissertação de Mestrado, EESC-USP.