Aula - Trincas e Ensaios de Fissuração

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CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Disciplina: SOLDAGEM

AULA – TRINCAS E ENSAIOS DE FISSURAÇÃO

Profº. M.e Sérgio Mateus Brandão

Anápolis –GO
Associação Educativa Evangélica
CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Disciplina: SOLDAGEM

AULA - TRINCAS E ENSAIOS DE FISSURAÇÃO

OBJETIVOS:
• Apresentar alguns ensaios de fissuração aplicados para determinação de
qualidade e controle de processos de soldagem.

Associação Educativa
Evangélica
CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA
Disciplina: SOLDAGEM

AULA - TRINCAS E ENSAIOS DE FISSURAÇÃO

REFERÊNCIAS:
Básica:
MODENESI, P. J. ; MARQUES, P. V.; SANTOS, D. B. Introdução à Metalurgia da Soldagem.
Universidade Federal de Minas Gerais - Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais.
Belo Horizonte, 2012. Disponível em https://demet.eng.ufmg.br/wp-
content/uploads/2012/10/metalurgia.pdf, acessado em 03 de Maio de 2023.
Complementar

1- HEMSWORTH, B., BONISZEWSKI, T., EATON, N.F. "Classification and definition of


high temperature welding cracks in alloys", Metal Construction and British Welding
Journal, Fev. 1969, pp. 5-16.
2. MACHADO, I.G., KISS, J.F. "Mecanismo e natureza das trincas de solidificação nas
soldas, partes I e II", Tecnologia de Soldagem, Associação Brasileira de Soldagem, São
Paulo, 1980, pp. 1-30. Associação Educativa
3. LANCASTER, J.F. Metallurgy of Welding, Evangélica
4ª Ed., George Allen & Unwin, Londres,
1987, 361p.
4. BORLAND, J.C. "Fundamentals of solidification cracking in metals. Part I", Welding
and Metal Fabrication, Jan/Fev. 1979, pp. 19-29.
5. MASUBUCHI, K. Analysis of Welded Structures, Pergamon Press, London, 1980, 642p.
Fissuração em Juntas Soldadas
Aspectos Gerais
Fissuras, ou trincas, são consideradas um dos tipos mais graves de descontinuidade em uma junta
soldada.
Formam-se quando tensões de tração se desenvolvem em um material fragilizado, incapaz de se
deformar plasticamente para absorver estas tensões.

Tensões de tração elevadas se


desenvolvem na região da solda
como resultado das expansões e
contrações térmicas localizadas,das
variações de volume devido a
transformações de fase
A fragilização na região da solda pode
resultar de mudanças estruturais, da
absorção de elementos nocivos, de
alterações posteriores durante outras
operações de fabricação (por
exemplo, tratamentos térmicos) ou,
ainda, em serviço.
Será apresentada, a seguir, uma tentativa de classificação aplicável a estes materiais e baseada na
temperatura e no momento de formação da descontinuidade. Para cada classe de problema, são
também citados alguns mecanismos de fissuração conhecidos.
- Problemas de fissuração que ocorrem durante a soldagem quando o material está submetido a altas
temperaturas, isto é, superior à metade de sua temperatura líquidus, expressa em graus Kelvin(6.1),
mas, mais comumente, próximas desta temperatura. Como exemplo deste tipo de fissuração cita-se:
! Fissuração na solidificação
! Fissuração por liquação na ZTA
! Fissuração por perda de dutilidade (ductility-dip cracking)
Estas formas de fissuração são comumente referidas, particularmente a fissuração na solidificação,
como fissuração a quente (hot cracking ou high temperature cracking).
! Problemas de fissuração que ocorrem durante a soldagem, ou logo após esta operação, quando o
material está submetido a temperaturas inferiores à metade de sua temperatura líquidus, em graus
Kelvin. Como exemplos cita-se:
! Fissuração pelo Hidrogênio (fissuração a frio ou cold cracking)
! Decoesão Lamelar
Problemas de fissuração que ocorrem durante operações subsequentes de fabricação ou durante o
serviço. Exemplos:
! Fissuração ao Reaquecimento
! Decoesão Lamelar
! Fissuração por Corrosão sob Tensão
! Fadiga
Trincas de Solidificação
Este tipo de trinca está associado com a presença de segregações que levam à formação de filmes
líquidos intergranulares, nas etapas finais da solidificação(6.1). Esta forma de fissuração apresenta as
seguintes características(6.2):
-Ocorre a altas temperaturas, em geral, próximas à temperatura sólidus do material ou quase certamente
acima da metade desta temperatura expressa em graus Kelvin. Exceções podem ocorrer em alguns
poucos casos (por exemplo, certas ligas de alumínio) onde a trinca parece se formar a temperaturas bem
inferiores à sólidus, quando o filme final de metal líquido já se solidificou.
-A trinca aparece entre os contornos de grão, contornos interdentríticos ou entre células, isto é, a sua
morfologia é intergranular em relação à estrutura primária de solidificação.
- Quando a trinca aflora externamente, a sua superfície apresenta-se geralmente oxidada, refletindo a sua
alta temperatura de formação.
- As trincas são, em geral, longitudinais e superficiais, ocorrendo, com frequência no centro do cordão), mas
podem também ser transversais ou, na cratera, radiais. Trincas internas podem também ser formadas e
serem macro ou microscópicas.

-Esta forma de fissuração pode ocorrer em associação a todos os processos de soldagem conhecidos e,
também, com processos de fundição.
-A superfície da trinca, quando observada com o microscópio eletrônico de varredura (MEV), apresenta
uma aparência "dendrítica" típica, associada frequentemente com filmes de segregação.
-O problema pode ocorrer na soldagem da maioria das ligas usadas industrialmente. Contudo, algumas
são particularmente sensíveis: aços cromo-níquel com estrutura de solidificação completamente
austenítica, ligas de alumínio com silício (0 - 1,5%Si), cobre (0,5 - 5,0%Cu) ou magnésio (1,0 - 4,0 %Mg),
ligas de cobre contendo bismuto ou chumbo, bronze de alumínio (com cerca 7,5%Al) e ligas de níquel
contendo elementos como Pb, Bi, S, P, Cd, Zr e B.
A chance de formação de trincas aumenta com o nível de restrição da junta. Entende-se, como
nível de restrição, a maior ou menor falta de liberdade que os membros da junta têm para se
mover e acomodar as tensões resultantes da soldagem. O nível de restrição aumenta com a
espessura da junta e com uma maior rigidez da montagem.
A forma da poça de fusão e o seu padrão de solidificação também influenciam a sensibilidade à
fissuração. Condições de solidificação que levem ao crescimento dos grãos colunares para o interior
da poça, favorecem o aparecimento de trincas. Essas condições ocorrem em cordões de elevada
relação penetração/largura, com formato de sino ou de acabamento côncavo. O efeito está ligado,
como ocorre em fundição, à menor facilidade de partes da poça de fusão serem alimentadas com
metal líquido nas etapas finais da solidificação.
Como discutido anteriormente, pode-se associar a formação de uma trinca de solidificação com dois
fatores básicos: incapacidade do material deformar-se e presença de esforços de tração, causando
tensões que eventualmente podem ultrapassar a capacidade de resistência do material.
Uma fragilização pode ocorrer nas etapas finais do processo de solidificação, quando os grãos ainda estão
largamente separados por filmes de material líquido, existindo apenas poucos pontos de contato entre os
grãos(6.4). Nestas condições, o material é incapaz de se deformar apreciavelmente, apresentando,
contudo, alguma resistência mecânica (figura 6.7). A temperatura na qual o material passa a possuir
resistência mecânica, ao final da solidificação, é conhecida como temperatura coerente.

O intervalo de temperatura entre a


temperatura coerente e aquela em
que a dutilidade do material passa a
aumentar rapidamente é conhecida
como intervalo de fragilidade. Este
intervalo pode ser usado como
indicação da sensibilidade do
material à fissuração na
solidificação, isto é, quanto maior o
seu valor, maior é a sensibilidade
esperada do material à fissuração na
solidificação. O intervalo de
fragilização tende a ser grande, por
exemplo, quando a composição
química do material favorece a
formação de uma pequena
quantidade de eutético ao final da
solidificação, figura 6.8.
Outro fator importante é a
maior ou menor
capacidade do líquido de
molhar os contornos de
grão, isto é, a sua
capacidade de se espalhar,
na forma de finos filmes.
Assim, o manganês, que
tende a globulizar os
sulfetos, ajuda a prevenir a
fissuração da solda em
aços por reduzir a
molhabilidade dos sulfetos.
Trincas por Liquação na ZTA
Este termo refere-se a trincas formadas na ZTA, em regiões aquecidas a temperaturas próximas do
sólidus do metal base, e que são associadas com a formação, por diferentes causas, de bolsões de
material líquido nesta região.
Este líquido, em contato com contornos de grão e dependendo de sua capacidade de molhá-los, pode
espalhar-se entre os grãos na forma de um fino filme.
Nestas condições, o material fica fragilizado e trincas podem se formar no resfriamento, com o
aparecimento de tensões trativas.
Este tipo de fissuração foi observado em aços austeníticos e ligas não ferrosas e está associado a
inclusões e precipitados que podem se fundir durante o ciclo térmico de soldagem, tais como:
- inclusões de sulfetos;
- inclusões de silicatos de baixo ponto de fusão;
- carbonetos e carbonitretos (NbC, M6C, Zr(C,N), TiC, M26C6);
- boretos (M3B2, Ni4B2) e
- fases intermetálicas (por exemplo, em ligas de Al).
. Ao microscópio ótico, este tipo de trinca apresenta um aspecto serrilhado, ocorrendo sempre ao longo
dos contornos de grão.
Trincas por perda de dutilidade (“ductility dip cracking”)
Em certas ligas, problemas de fissuração a alta temperatura foram observados sem a formação de fase
líquida e têm sido associados à uma perda de dutilidade a temperatura elevada observada nestes materiais
(figura abaixo).
Exemplos de materiais sensíveis incluem: aços cromo-níquel de estrutura completamente austenítica e
certas ligas de níquel e cromo-níquel.
A trinca ocorre ao longo de contornos de grão sem apresentar a fase líquida.
Este tipo de fissuração parece ocorrer a temperaturas inferiores do que os tipos discutidos anteriormente.
Assim, a sua presença é mais comum em regiões mais afastadas da linha de fusão, podendo ocorrer em
associação com trincas iniciadas durante a solidificação ou por liquação.

O mecanismo fragilizante não é bem


conhecido, mas parece estar associado
com a segregação, durante exposição a
temperaturas elevadas, de impurezas,
principalmente o fósforo, e de
elementos de liga, como o níquel, para
contornos de grão.
Paralelamente, a ocorrência de
precipitação no interior dos grãos
causaria um endurecimento destes
concentrando os esforços nos
contornos.
Fissuração pelo hidrogênio
Esta forma de fissuração é considerada um dos maiores problemas de soldabilidade dos aços estruturais
comuns, particularmente para processos de baixa energia de soldagem. Ela pode ocorrer tanto na ZTA
como na ZF.
A trinca se forma próximo da temperatura ambiente. A sua formação se inicia após um período inicial,
tendendo a crescer de forma lenta e descontínua e levando até 48 horas após soldagem para a sua
completa formação.
A fissuração pelo hidrogênio tem sido associada muitas vezes com a falha prematura de componentes
soldados, ajudando a iniciação de fratura frágil ou por fadiga.
A fissuração pelo hidrogênio é muitas vezes citada na literatura técnica com diferentes nomes, como: "cold
cracking" (fissuração a frio), "delayed cracking" (fissuração retardada), "underbead cracking“ (fissuração
sob o cordão) e "toe cracking" (fissuração na margem do cordão).

Ocorre principalmente na ZTA, na região de crescimento de grão, mas pode também ocorrer na zona
fundida.
A fissuração pelo hidrogênio é causada quando ocorrem simultaneamente 3
fatores:
(a) Presença de hidrogênio na região da solda,
(b) Formação de microestrutura de elevada dureza, capaz de ser fortemente
fragilizada pelo hidrogênio,
(c) Solicitação de tensões residuais e externas.
Para minimizar a chance de fissuração, deve-se atuar nos fatores acima, por
exemplo, através da seleção de um material menos sensível, da redução
no nível de tensões, da seleção do processo de soldagem e do controle da
velocidade de resfriamento.
Durante a soldagem, o hidrogênio proveniente de moléculas de material
orgânico e umidade que são dissociadas no arco é absorvido pela poça de
fusão, ficando em solução na solda após a solidificação.
O hidrogênio difunde-se rapidamente no aço, atingindo regiões da ZF e,
principalmente, da ZTA cuja microestrutura é fortemente fragilizada pela
sua presença.
Com a ocorrência de tensões de tração (residuais e externas), fissuras podem
ser formadas.
Microestruturas de elevada dureza, particularmente a martensita, são, em geral,
mais sensíveis à fissuração pelo hidrogênio.
Fórmulas de carbono-equivalente, que representam o efeito dos diversos
elementos de liga, na temperabilidade, em termos de seu teor equivalente de
carbono, servem para avaliar a sensibilidade do metal base à fissuração pelo
hidrogênio. Uma fórmula de carbono-equivalente muito usada é:

Um critério simples, baseado nesta fórmula, considera que, se CE < 0,4, o aço é insensível
à fissuração e, se CE > 0,6, o material é fortemente sensível, exigindo técnicas especiais
de soldagem, por exemplo, o uso de processos de baixo nível de hidrogênio e de pré-
aquecimento.

O nível de tensões residuais na solda pode ser minimizado.


Cita-se, por exemplo, a seleção adequada da disposição das soldas e da sequência de montagem do
componente ou estrutura.
Na execução, a adoção de sequências especiais de deposição e cuidados para se evitar a presença de
mordeduras, reforço excessivo e falta de penetração na raiz também ajudam a minimizar o nível de
tensões localizadas na solda e, desta forma, a chance de fissuração.
A liberdade de escolha de processos de soldagem é muitas vezes limitada por
considerações práticas e econômicas.
De uma maneira geral, processos que usam elevada energia de soldagem, como a
soldagem a arco submerso e por eletroescória, apresentam menor risco de fissuração
pelo hidrogênio.
Para aços ligados e aços de alta resistência mecânica, eletrodos básicos são mais
utilizados pois estes podem garantir menor quantidade de hidrogênio na soldagem.
Em geral, cuidados devem ser tomadas para evitar a contaminação de consumíveis
ou do metal base com umidade, óleos ou graxa, pois estas substâncias podem
fornecer hidrogênio à solda.
Finalmente, a fissuração por hidrogênio pode ser controlada pelo pré-aquecimento
da peça a ser soldada. Esta medida reduz a velocidade de resfriamento,
possibilitando a formação de uma estrutura menos dura na ZTA e propiciando um
maior tempo para que o hidrogênio escape da peça antes que se atinja as
temperaturas de fragilização por este elemento.
Em casos particularmente sensíveis à fissuração, a junta ou toda a peça pode ser
mantida aquecida após a soldagem (pós-aquecimento). Este procedimento permite
que o hidrogênio escape da região da solda, reduzindo, assim, a chance de formação
de trincas. Para ser efetivo, temperaturas superiores a 200oC e tempos relativamente
longos (superiores a 2 horas) devem ser usados e o resfriamento final, até a
temperatura ambiente, deve ser lento.

30
Decoesão Lamelar
A decoesão lamelar, ou trinca lamelar, é uma forma de fissuração que ocorre no metal base
(e às vezes na ZTA), em planos que são essencialmente paralelos à superfície da chapa.
Estas trincas ocorrem tipicamente em soldas de vários passes em juntas em T feitas em
chapas ou placas laminadas de aço com espessura entre cerca de 12 e 60mm.

Foram observadas na construção de prédios e pontes de estrutura metálica e na fabricação


de vasos de pressão, navios, estruturas "off-shore" e caldeiras e equipamento nuclear.

Na análise macrografica, a trinca lamelar apresenta uma aparência típica em degraus. Esta
aparência está associada com o seu mecanismo de formação, que está ligado à decoesão ou
fissuração de inclusões alongadas, quando o metal base é submetido a tensões de tração no
sentido da espessura (direção Z).
Os vazios formados crescem e se unem por rasgamento plástico da matriz entre as inclusões
ao longo de planos horizontais e verticais, resultando na sua morfologia característica.
As características das inclusões não metálicas no metal base é a variável de maior
influência na formação da trinca lamelar.
Como resultado do processo de laminação, uma chapa ou placa de aço possui uma
certa quantidade de inclusões alongadas. Inclusões de sulfeto e, em menor grau, as
inclusões de silicato são os tipos mais deformáveis e, portanto, capazes de se
apresentarem numa forma alongada. Estas inclusões prejudicam fortemente a
dutilidade na direção Z, tendo um efeito muito menor nas outras direções.

Assim, a medida mais comum para evitar a formação de trincas lamelares é o uso de
um metal base com boas propriedades na direção Z, em juntas que apresentam
condições favoráveis à sua formação. Isto é conseguido principalmente pela redução do
teor de enxofre no aço e/ou pela adição de certos elementos de liga que tendem a
tornar as inclusões menos deformáveis.

O ensaio de tração de um corpo de prova retirado na direção Z pode ser utilizado para
avaliar a sensibilidade à decoesão de um aço, sendo a redução de área (RA) o
parâmetro mais usado nesta avaliação. Considera-se comumente que, se RA for
superior a 30%, o material não é sensível ao problema; se RA estiver entre 20 e 30%, o
material é pouco sensível e, finalmente, para RA inferior a 20%, o material é
considerado fortemente sensível.
Outras medidas para minimizar a ocorrência de trincas lamelares são baseadas
principalmente em mudanças no projeto da junta ou no procedimento de soldagem.
Exemplos de mudanças no projeto da junta compreendem:
- redução do volume de metal depositado por mudança da geometria da junta.
-redução do nível de tensões na direção z por troca da peça a ser chanfrada ou por
alteração da configuração da junta,
-substituição local da chapa laminada por um material insensível ao problema, por
exemplo, uma peça forjada.

Além dessas, alguns cuidados


relacionados com o procedimento
podem ser indicados na
soldagem de juntas com elevado
risco de decoesão lamelar:
-martelamento entre passes
(quando permitido),
-utilização de eletrodo de menor
limite de escoamento,
- soldagem com processo de
baixo hidrogênio e
-"amanteigamento" (deposição
de uma camada de solda), na
região de alto risco, com um
material de alta dutilidade antes
da soldagem propriamente dita.
Tipos de Fissuração em Serviço
Inúmeros fatores podem levar ao aparecimento de trincas em uma junta soldada nas etapas
posteriores de um processo de fabricação ou durante o uso (serviço) desta. Durante a
fabricação, trincas podem ser formadas em uma junta em função de solicitações mecânicas
excessivas devido a um processamento inadequado.

Trincas de reaquecimento (ou trincas de alívio de tensão)


Podem ser formadas durante tratamentos térmicos pós-soldagem (a temperaturas entre cerca
de 450 e 700oC) em alguns materiais, particularmente aços Cr-Mo-V e aços inoxidáveis
austeníticos. Um tipo similar defissuração pode, também, se desenvolver em juntas soldadas,
após vários anos de serviço a temperaturas em torno de 300 a 400oC, em usinas térmicas,
químicas ou em refinarias. Trincas de reaquecimento ocorrem, em geral, na ZTA, região de
crescimento de grão, e propagam ao longo dos contornos de grão austeníticos (no caso de
aços estruturais ferríticos, os contornos dos grãos austeníticos que existiam quando o
material estava submetido a alta temperatura).

Juntas soldadas de materiais dissimilares, em equipamentos submetidos a temperaturas


elevadas, podem desenvolver, também, trincas de fadiga térmica devido a tensões que
aparecem em função de diferenças nos coeficientes de expansão térmica dos materiais.
Trincas de fadiga
São causadas por esforços mecânicos variáveis. A fadiga de um material é um fenômeno progressivo, que
se inicia em regiões localizadas, onde existe, em geral, um entalhe qualquer, originário de projeto ou do
processo de fabricação, capaz de causar uma concentração de tensões.

Em juntas soldadas, mordeduras, falta de penetração na raiz, trincas pré-existentes e outras


descontinuidades podem desempenhar este papel e acelerar o aparecimento da trinca de fadiga. A figura
6.13 compara o efeito da presença de porosidade nos limite de resistência mecânica e à fadiga de soldas de
aço baixo carbono. Pode-se observar que a porosidade tem um efeito mais pronunciado na fadiga do que na
resistência ao carregamento estático. Por exemplo, enquanto uma perda da área na seção da solda de
cerca de 10% devido a porosidade reduz o limite de resistência aproximadamente da mesma quantidade, a
resistência à fadiga é reduzida cerca de 50%.
A trinca de fadiga se propaga lentamente por um período de tempo até atingir um tamanho
crítico, quando a ruptura final tende a ocorrer de forma rápida e, em geral, inesperada e com
consequências desastrosas.
A figura 6.14 mostra a macrografia de uma junta soldada, parte de um braço de uma
escavadeira, que se em serviço devido a formação de uma trinca de fadiga. A trinca se iniciou
na raiz da solda devido a um entalhe resultante de um desalinhamento dos componentes da
junta (seta). Devido a este entalhe, o desenvolvimento da trinca de fadiga foi fortemente
abreviado, levando à falha do componente após poucos meses de serviço.
Trincas de corrosão sob tensão
Podem aparecer em soldas de diferentes materiais quando em contato com um dado ambiente corrosivo
(tabela 6.I). Este problema não é específico de juntas soldadas, mas, nestas, a sua ocorrência é facilitada
pela presença de um nível elevado de tensões residuais. As principais características desta forma de
fissuração são:
- as trincas são ramificadas, podendo ser intergranulares ou transgranulares.
- a formação das trincas necessita de uma tensão de tração superior a um valor crítico.
-a fratura tem, macroscopicamente, um aspecto frágil, embora o material seja normalmente dúctil na
ausência do meio agressivo.
-o problema depende da microestrutura.
-longos períodos de tempo (muitas vezes, anos) podem se passar antes que as trincas se tornem visíveis;
contudo, uma vez formadas, as trincas tendem a se propagar rapidamente, podendo resultar em uma falha
inesperada do componente.
Ensaios de Fissuração
Um grande número de trabalhos tem sido realizado há várias décadas para a compreensão e a
caracterização das diversas formas de fissuração que podem ocorrer em uma solda. Aspectos como a
influência da composição química da solda ou do metal base, dos parâmetros de soldagem e dos níveis
de tensão têm sido estudados. Por outro lado, a tendência de uma trinca se formar em um dado
componente soldado é um evento complexo que depende de inúmeros fatores, vários deles de difícil
caracterização. Como consequência, um grande número de ensaios de fissuração (ou de soldabilidade)
tem sido desenvolvido por diferentes autores.
Alguns ensaios foram desenvolvidos para avaliar uma forma de fissuração em uma dada aplicação bem
específica. Estes ensaios tentam reproduzir com uma montagem, em geral, de pequenas dimensões, as
condições existentes na estrutura soldada de interesse.

Vários ensaios fornecem resultados apenas qualitativos (do tipo “trinca/não trinca”). Outros ensaios
fornecem resultados quantitativos, contudo, na maioria dos casos, estes resultados não podem ser
usados diretamente para prever se trincas poderão se formar durante a soldagem de uma estrutura real.

Apesar destas limitações, ensaios de fissuração são usados em diferentes aplicações, por exemplo,
incluindo a seleção de materiais para soldagem, o desenvolvimento de um procedimento de soldagem, a
homologação de consumíveis de soldagem e estudos mais acadêmicos dos mecanismos que controlam
uma certa forma de fissuração.

Alguns ensaios são bastante simples, podendo ser realizados em qualquer oficina e com equipamentos ou
ferramentas de baixo custo. Consistem em realizar uma solda em uma junta simples e, depois, rompê- la
de alguma forma e examinar a superfície de fratura para se determinar a presença de escontinuidades de
soldagem, inclusive trincas. Devido à sua simplicidade, os ensaios em juntas simples são comumente
requeridos em normas de fabricação ou em especificações de consumíveis de soldagem.
Outros ensaios utilizam uma junta especial capaz de gerar, na solda, tensões transientes
e residuais que podem levar à formação de trincas. Como estas tensões se originam da
própria montagem, este tipo de ensaio é comumente chamado de ensaio auto-
restringido.
Finalmente, existem ensaios nos quais a solicitação é imposta por um dispositivo externo
que aplica uma
carga ou deformação controlada ao corpo de prova, durante ou após a soldagem. São
conhecidos como testes com restrição externa. A tabela 6.II lista alguns dos ensaios
de fissuração citados na literatura. Uma descrição destes ensaios e de vários outros
pode ser encontrada no livro de Stout e Doty(6.6). A seguir, alguns ensaios selecionados
de cada um dos tipos definidos acima serão discutidos de forma resumida.
Ensaio CTS:
Este ensaio foi concebido para avaliar a sensibilidade de aços à fissuração (pelo hidrogênio) em
condições de resfriamento que são controladas pela espessura das chapas usadas na montagem
do corpo de prova e pelo número de caminhos disponíveis para o escoamento do calor de soldagem.
O corpo de prova consiste de duas chapas, uma quadrada (chapa de topo, de espessura t) e a outra
retangular (chapa de base, de espessura b), unidas por um parafuso de 12,5mm de diâmetro (figura 6.13).
Duas soldas de teste são depositadas em cada corpo de prova. Primeiro deposita-se a solda mostrada à
direita na figura 6.13. Após o corpo de prova se resfriar completamente, a solda à esquerda é depositada.
Esta última apresenta condições mais favoráveis para a difusão do calor de soldagem, apresentando uma
maior velocidade média de resfriamento e, portanto, maior chance de vir a trincar.
Após o corpo de prova permanecer por 72 horas à temperatura ambiente, três amostras metalográficas da
seção transversal de cada solda de teste são retiradas e o comprimento das trincas eventualmente
presentes é medido.

A severidade do ensaio pode ser aumentada


usando-se chapas de topo e de base de maior
espessura ou, alternativamente, aumentando-se a
abertura da raiz das soldas de teste pela usinagem
de um pequeno rebaixo na chapa de topo ou pela
colocação de uma arruela no parafuso, entre as
chapas de topo e de base (ensaio CTS
modificado).
O ensaio CTS é usado na Inglaterra como um teste
padrão para avaliar a sensibilidade à
fissuração pelo hidrogênio de aços estruturais de
média e alta resistência
Ensaio Tekken:
O ensaio Tekken foi desenvolvido no Japão, tendo se tornado um dos mais utilizados para a avaliação de
problemas de fissuração pelo hidrogênio em aços estruturais de alta resistência.
Esta popularidade se justifica por ser este ensaio considerado um dos mais sensíveis à fissuração
pelo hidrogênio, por permitir a avaliação e medição de seus resultados de uma forma relativamente
simples e por apresentar uma razoável repetibilidade de resultados. A figura 6.14 ilustra o corpo de prova
usado neste ensaio. A solda de teste (de um único passe) é realizada na parte central do corpo de prova
de cerca de 80mm. Decorrido um período de tempo após a soldagem, usualmente 48 horas, amostras
metalográficas são retiradas da seção transversal dasolda de teste e a presença ou não de trincas é
observada. As trincas são observadas principalmente na raiz da solda, tanto na ZTA como na ZF.
Ensaio Houldcroft:
O ensaio Houldcroft foi desenvolvido para avaliar a sensibilidade à fissuração na solidificação em
chapas finas. Neste ensaio, uma série de entalhes de profundidade variável é feita nos dois lados do
corpo de prova de forma a desenvolver um grau de restrição variável ao longo deste (figura 6.15). A
soldagem é feita usualmente com o processo GTAW, sem metal de adição, em condições de soldagem
que permitam a obtenção de um cordão de penetração total e é feita da região de menor restrição
(menores entalhes) para a de maior restrição. O resultado do ensaio é expresso como o comprimento
da trinca formada.
ESQUEMA REPRESENTATIVO DO TESTE GAPPED BEAD-ON-PLATE (G-BOP)
Ensaio de Implante:
O ensaio de implante foi desenvolvido pelo Institut de Soudure (França) como um método para se obter
informações quantitativas sobre a sensibilidade à fissuração pelo hidrogênio. O ensaio utiliza uma pequena
barra (implante) do material que será testado e que é colocada em um furo com ajuste folgado feito em
uma chapa auxiliar (figura 6.16). O implante tem um diâmetro de 6 a 8mm e um entalhe de 1mm de
profundidade colocado em posição tal que este fique localizado na ZTA, na região de crescimento de grão,
após a soldagem do conjunto. Para facilitar o posicionamento do entalhe nesta região, pode-se usinar
alternativamente uma rosca na extremidade do implante que será colocada no furo. Um cordão de solda é
depositado sobre a chapa de teste e o implante. Após a soldagem, uma carga constante de tração é
aplicada na barra e o tempo para a ruptura é registrado. Desta forma, variando-se a carga em uma série
de testes é possível determinar a curva de tempo de fratura em função da carga aplicada para o material e
as condições de soldagem testadas.

80

15
15

3/8" NF
Ø 6 ± 0,05
Rosca Helicoidal
Passo de 1 mm

40°
0,5 ± 0,05
O ensaio de implante foi modificado por alguns pesquisadores para permitir o seu uso no estudo da fissuração
ao reaquecimento. Para esta aplicação, é ainda necessário, além do sistema de aplicação de carga, de um
sistema para o aquecimento do conjunto (um forno), o qual é usado para simular o tratamento térmico pós
soldagem, e de um sistema de monitoração que é usado para o acompanhamento da evolução da
temperatura e da carga sobre o implante durante o tratamento térmico. Em lugar de se trabalhar com uma
carga constante, é preferível, para este tipo de ensaio, a aplicação de uma deformação constante e a
monitoração do alívio da carga durante o tratamento térmico. A figura 6.17 mostra, de uma forma
esquemática, um dispositivo para o ensaio de implante modificado(6.8). Uma descrição do ensaio de implante
para avaliação da sensibilidade à fissuração pelo hidrogênio de soldas pode ser encontrada, por exemplo, na
norma francesa NF A 89-100.
Ensaio Varestraint:
O ensaio Varestraint foi desenvolvido por Savage e Lundin(6.9) para avaliar quantitativamente a influência
do metal base e de outras variáveis do processo de soldagem na tendência de formação de trincas de
solidificação. Neste ensaio, um nível definido de deformação é aplicado a um corpo de prova durante a sua
soldagem e a quantidade de trincas formadas em torno da poça de fusão naquele instante é,
posteriormente, medida. A deformação é aplicada forçando o corpo de prova a se dobrar, durante a
soldagem, sobre uma matriz de dimensões conhecidas (figura 6.18). A quantidade de deformação na face
da solda é dada por:

O corpo de prova (por exemplo, uma chapa de


50x305mm) é montado em balanço sobre o matriz
de dobramento. A soldagem é iniciada no ponto A
continuando em direção do ponto C. Quanto a
poça de fusão atinge o ponto B, o sistema de
dobramento é acionado, forçando o corpo de prova
a se dobrar sobre a matriz. A região da solda,
próxima do ponto B, é posteriormente examinada
em uma lupa (aumentos de 40 a 80X) para a
determinação da presença de trincas. O resultado
do ensaio pode ser registrado, em função da
deformação aplicada (equação 2) e de outras
variáveis do processo, através de diversos
parâmetros como, por exemplo, o número de
trincas, o tamanho da maior trinca observada ou
tamanho total das trincas (soma dos comprimentos
de todas as trincas observadas).
Ensaio de Dobramento
Avalia se a solda tem defeitos como: trincas, falta de fusão,
falta de penetração e porosidade.
Avalia a integridade da solda.
Rápido e Barato.
Sistema de Emissão Acústica
Defeitos de juntas soldadas

► Principais defeitos
Defeitos de juntas soldadas

► Falta de penetração – é o defeito mais comum na soldagem


► Causas: arco muito curto, parâmetros inadequados, velocidade

errada
Defeitos de juntas soldadas

► Porosidade
► Causas: falha ou falta de gás de proteção, eletrodo milhado

(caso for ER), contaminação da junta (ex. graxas)


Defeitos de juntas soldadas

► Inclusão de escória

► Causas: limpeza incompleta


Defeitos de juntas soldadas

► Falta de penetração

Falta de preenchimento

Porosiade

Falta de penetração
Defeitos de juntas soldadas

► Trincas
► Causas: solidificação muito rápida, contaminação por S e P,

metal tem baixa resistência a alta temperatura, junta


inadequada ou não preparada adequadamente
Defeitos de juntas soldadas

► Trincas

Fonte: AWS - American Welding Society.


Defeitos de juntas soldadas

► Fusão incompleta

► Causas: parâmetros incorretos de soldagem

Fonte: AWS - American Welding Society.


Defeitos de juntas soldadas

► Descontinuidades na fusão

► Causas: parâmetros incorretos

Fonte: AWS - American Welding Society.


Defeitos de juntas soldadas

► Deformação após a soldagem


► Causas: expansão térmica diferencial entras os componentes

soldados e diferentes taxas de resfriamento

Fonte: AWS - American Welding Society.


ATIVIDADE TEÓRICA
Resolver as atividades propostas no sistema
ATIVIDADE PRÁTICA
Realizar a solda no processo MIG-MAG e executar o
ensaio de filete nas amostras
CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Disciplina: SOLDAGEM

AULA - TRINCAS E ENSAIOS DE FISSURAÇÃO

RETOMADA DE OBJETIVOS:
• Apresentar alguns ensaios de fissuração aplicados para determinação de
qualidade e controle de processos de soldagem.
Associação Educativa
Evangélica

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