Mitos e Estações No Céu Tupi-Guarani - Revista
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Resumo
A astronomia indígena foi amplamente estudada por Germano Bruno Afonso,
professor aposentado de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR). No
trabalho que desenvolveu durante grande parte de sua vida, aliou o conhecimento
tradicional indígena à astronomia como ciência acadêmica, tornando-se essencial na
divulgação dessa sabedoria ancestral. O pesquisador explorou profundamente as
culturas indígenas nacionais, o que possibilitou um grande avanço em conhecimento
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Figura 2. Os guaranis que atualmente habitam o litoral relacionam as fases da Lua com as
marés e às estações do ano.
(Reprodução)
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Os antigos astrônomos não sabiam que era a Terra que orbitava em torno do Sol
(movimento de translação). Ao nascer e ao pôr-do-sol, observavam que a posição
do Sol mudava, dia a dia, em relação às estrelas fixas, em um movimento cíclico
de um ano. Perceberam que os eclipses solares e lunares ocorriam apenas
quando a Lua estava próxima a essa trajetória do Sol entre as estrelas, no céu.
Devido a esta relação com os eclipses, denominaram essa trajetória aparente do
Sol de eclíptica. O mito sobre os eclipses demonstra o grande conhecimento
empírico de astronomia dos tupis-guaranis.
As Crateras Lunares
Lua, irmão do Sol, entrava tateando no escuro, no quarto da irmã de seu pai, com
a intenção de fazer amor com ela. Para saber quem a importunava todas as
noites, sua tia lambuzou os dedos com resina e de noite, enquanto Lua a
procurava, passou a mão em sua face.
No dia seguinte, bem cedo, Lua foi lavar a face para retirar a resina. No entanto, a
substância não saiu, e ele ficou mais sujo ainda. Por esse motivo, Lua tem sempre
a face manchada.,Desde então, a lua nova lava seu rosto, fazendo chover para
tentar tirar as manchas de resina, que ficam mais visíveis quando ela se torna
cheia. Esta fábula ensina aos tupis-guaranis que não devem cometer incesto.
A Mulher da Lua
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O planeta Vênus era muito observado pelos tupis-guaranis por ser, depois do Sol e
da Lua, o objeto mais brilhante do céu. Vênus era utilizado principalmente para
orientação, por ser visto pouco antes do nascer ou logo após o pôr-do-sol, sempre
próximo ao Sol. Os indígenas pensavam que se tratava de duas estrelas que
apareciam em períodos diferentes: a estrela matutina (kaaru mbija), que
chamamos de estrela D\’alva, e a vespertina (ko\’e mbija), que chamamos de
Vésper, cada uma delas visível por cerca de 263 dias.
Os tupis-guaranis chamam o planeta Vênus, quando aparece como estrela
vespertina, de “Mulher da Lua”. Eles contam que a mulher da Lua é muito linda,
vaidosa e nunca envelhece. Ela só fica ao lado do seu marido enquanto ele é
jovem, afastando-se dele à medida que fica mais velho.
Ao anoitecer, no dia seguinte à lua nova, os dois astros se encontram bem
próximos, no lado oeste. Nas noites seguintes, a Lua vai crescendo e se
distanciando de Vênus. Na crescente, Vênus continua aproximadamente no
mesmo lugar, mas a Lua se encontra no alto do céu, perto da linha norte-sul. Na
lua cheia, ao anoitecer, a Lua está no lado leste e sua mulher, bem afastada, no
lado no oeste. Na lua minguante, Vênus e a Lua não são mais visíveis ao mesmo
tempo. Na lua nova, o ciclo recomeça.
Esse mito, que pode ser considerado uma maneira alternativa de explicar as fases
da Lua, nos foi relatado pelos guaranis do Sul do Brasil e pelos tembés do Norte do
país, duas etnias da família tupi-guarani que não têm contato entre si.
Constelações na Via Láctea
As constelações formam figuras imaginárias, criadas há mais de 6 mil anos para
reunir grupos de estrelas (jaxy tatá), aparentemente próximas, visíveis a olho nu,
tendo em vista que nomear cada uma delas era uma tarefa difícil. A maioria dos
povos antigos observava as constelações ao anoitecer e as utilizavam como
calendário e orientação. Cada cultura tinha as suas próprias constelações. As
constelações dos tupis-guaranis diferem das concepções das sociedades
exteriores ocidentais principalmente em três aspectos.,Primeiro, as principais
constelações ocidentais registradas pelos povos antigos são aquelas que
interceptam o caminho imaginário que chamamos de eclíptica, por onde
aparentemente passa o Sol, e próximo do qual encontramos a Lua e os planetas.
Essas constelações são chamadas zodiacais. As principais constelações
indígenas estão localizadas na Via Láctea (Tapi\’i Rape), a faixa esbranquiçada que
atravessa o céu, onde as estrelas e as nebulosas aparecem em maior quantidade,
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braço maior aponta para o ponto cardeal Sul. Olhando para o Sul, às nossas costas
temos o Norte, à direita o Oeste e à esquerda, o Leste.
Tendo em vista que o Cruzeiro do Sul efetua uma volta completa em cerca de 24
horas, o tempo gasto, por exemplo, para ir da posição deitada até a posição em pé
é de 6 horas. Assim, podemos determinar o intervalo de tempo transcorrido em
uma noite observando duas posições do Cruzeiro do Sul.
O início de cada estação do ano é determinado pelos tupis-guaranis considerando
a posição da cruz ao anoitecer: no outono ela fica deitada do lado esquerdo do Sul,
isto é, para leste; no inverno, fica em pé apontando para o Sul; na primavera, ela
se encontra deitada para o lado oeste e no verão de cabeça para baixo, abaixo da
linha do horizonte, sendo visível somente após a meia-noite.
As Plêiades e a Chuva
As Plêiades (Eixu, em guarani) são um aglomerado de estrelas jovens, azuis, que
se localizam na constelação ocidental do Touro. A olho nu, longe da iluminação
artificial e sem Lua, podemos ver, normalmente, sete dessas estrelas e, por isso, as
Plêiades são conhecidas, também, como as sete estrelas ou as sete irmãs. Muitas
etnias indígenas utilizavam as Plêiades para construir seu calendário. Eles
consideravam principalmente os dias do nascer helíaco, do nascer anti-helíaco e
do ocaso helíaco das Plêiades.
Cerca de um mês por ano, as Plêiades não são visíveis porque ficam muito
próximas da direção do Sol. O nascer helíaco das Plêiades ocorre perto do dia 5 de
junho, o primeiro dia em que elas se tornam visíveis de novo, perto do horizonte,
no lado leste, antes do nascer do sol. Esse dia marcava o início do ano.,Por volta
do dia 10 de novembro, as Plêiades nascem logo após o pôr-do-sol, este dia
recebe o nome de nascer anti-helíaco das Plêiades, pois o Sol se encontra no lado
oeste e as Plêiades no lado leste. Perto de 1o de maio, acontece o ocaso helíaco
das Plêiades, pois elas desaparecem do lado oeste, logo após o pôr-do-sol. Depois
desse dia, elas não são mais visíveis à noite, até perto do dia 5 de junho quando
ocorre, novamente, seu nascer helíaco. Pode-se admitir, então, um ano sideral,
baseado no nascer helíaco das Plêiades.
Os tupinambás conheciam muito bem o aglomerado estelar das Plêiades e o
denominavam “Seichu”. Quando elas apareciam, afirmavam que as chuvas iam
chegar, como chegavam, efetivamente, poucos dias depois. Como a constelação
aparecia alguns dias antes das chuvas e desaparecia no fim para tornar a
reaparecer em igual época, eles reconheciam perfeitamente o intervalo de tempo
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Astronomia Indígena
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