Análise Do Conforto Térmico em Ambientes Climatizados: Arlindo Tribess

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ARLINDO TRIBESS

ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO EM


AMBIENTES CLIMATIZADOS

Tese apresentada à Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo para obtenção
do título de Professor Livre Docente do
Departamento de Engenharia Mecânica

São Paulo
2008
i
FICHA CATALOGRÁFICA

Tribess, Arlindo

Análise do conforto térmico em ambientes climatizados. Arlindo


Tribess. São Paulo, 2008.
130p.

Tese (Livre Docência) - Escola Politécnica da Universidade de São


Paulo. Departamento de Engenharia Mecânica

1. Climatização. 2. Conforto térmico I. Universidade de São Paulo.


Escola Politécnica. Departamento de Engenharia Mecânica II. t

ii
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Eitaro Yamane pelo exemplo de correção e determinação e pela confiança e
apoio ao longo de toda a minha vida acadêmica no Departamento de Engenharia Mecânica
da Escola Politécnica da USP.

Ao Prof. Dr. Walter Borzani (in memoriam) pelo inestimável apoio no início da minha vida
acadêmica na Universidade Regional de Blumenau.

Ao Prof. Dr. Clóvis Raimundo Maliska, orientador do mestrado, e ao Prof. Dr. Giovanni
Brunello, orientador do doutorado, pela confiança, incentivo e exemplo de orientação.

Ao Prof. Dr. José Maria Saiz Jabardo e ao Prof. Dr. Jurandir Itizo Yanagihara pelas
importantes sugestões e contribuição ao estudo do conforto térmico.

Ao Dr. Gustavo Silveira Graudenz pelo profissionalismo e entusiasmo no desenvolvimento


de trabalhos conjuntos envolvendo a área da saúde e a engenharia.

Aos engenheiros André Busse Gomes, Brenda Chaves Coelho Leite, Danilo de Moura,
Eduardo Oliveira dos Santos, Fernando Stancato, José Alberto Ávila, José Carlos Lima,
Marcelo Blanco Bolsonaro de Moura, Marcelo Luiz Pereira, Marcelo Pustelnik, Márcio
Alves Ferreira, Rogério Reder Gimenez e Victor Barbosa Felix, representando os alunos de
pós-graduação e graduação que estiveram envolvidos nas diversas fases deste trabalho,
pela importante contribuição, amizade e dedicação aos projetos de pesquisa.

À FAPESP, CNPq e CAPES pelos auxílios e bolsas concedidos.

Aos colegas da Engenharia Térmica do Departamento de Engenharia Mecânica da EPUSP,


Adherbal Caminada Netto, Alberto Hernandez Neto, Ernani Vitillo Volpe, Flávio Augusto
Sanzovo Fiorelli, Guenther Carlos Krieger Filho e Silvio de Oliveira Jr. pela amizade e
convívio ao longo dos anos.

À D. Mariana Guedes Marques pelo zelo e dedicação ao Departamento de Engenharia


Mecânica da Escola Politécnica da USP e à Universidade Pública.

iii
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SÍMBOLOS
RESUMO
ABSTRACT

1 INTRODUÇÃO 1
1.1 História da climatização de ambientes 1
1.2 Evolução dos critérios e índices de conforto térmico 5
1.3 Normas técnicas de avaliação de conforto térmico 9
1.4 Motivação do trabalho 10
1.5 Objetivos do trabalho 12
1.6 Organização do trabalho 12

2 CONFORTO TÉRMICO 14
2.1 O sistema termorregulador 14
2.2 Balanço térmico do corpo humano 15
2.3 Condições de conforto térmico 17

3 AVALIAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES 22


HOMOGÊNEOS
3.1 Voto médio estimado de Fanger 22
3.2 Percentagem de pessoas insatisfeitas 24
3.3 Zonas de conforto da ASHRAE 26
3.4 Desconforto térmico local 27
3.5 Influência de fatores secundários no conforto térmico 32

4 AVALIAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES NÃO 34


HOMOGÊNEOS
4.1 Temperatura equivalente 34
4.2 Manequins térmicos 36
4.3 Manequins com sensores aquecidos 37
4.4 Avaliação de conforto térmico utilizando temperaturas equivalentes 37
4.4.1 Equacionamento das trocas de calor 37

iv
4.4.2 Procedimento de calibração do manequim 38
4.4.3 Diagramas de sensação térmica 39

5 CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES DE ESCRITÓRIOS 42


5.1 Laboratório representativo de ambientes de escritórios instalado no 43
LCT/EPUSP
5.2 Resultados de pesquisas realizadas no LCT/EPUSP 48
5.2.1 Avaliação de condições de conforto térmico com insuflamento pelo piso 48
5.2.2 Estudo comparativo de condições de conforto térmico com insuflamento 53
pelo piso e pelo teto.
5.2.3 Avaliação de condições de conforto térmico com sistema de ar 57
condicionado tipo split

6 CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES CIRÚRGICOS 60


6.1 Distribuição de ar em salas cirúrgicas 61
6.1.1 Sistemas com fluxo turbulento 61
6.1.2 Sistemas com fluxo unidirecional (fluxo “laminar”) 62
6.2 Estudos de conforto térmico em salas cirúrgicas 63
6.3 Estudo de conforto térmico em salas cirúrgicas realizado pelo LCT/EPUSP 65
6.3.1 Estudo comparativo com resultados da literatura 68

7 CONFORTO TÉRMICO EM AUTOMÓVEIS, ÔNIBUS E TRENS 71


7.1 Conforto térmico e segurança veicular 72
7.2 Conforto térmico em automóveis 74
7.2.1 Avaliação de conforto térmico utilizando a temperatura da pele 76
7.2.2 Avaliação de conforto térmico em regime transiente 76
7.2.3 Avaliação de conforto térmico realizada pelas montadoras 78
7.2.4 Resultados de avaliações de conforto térmico realizadas pelo LCT/EPUSP 80
7.3 Conforto térmico em ônibus e trens 87

8 CONFORTO TÉRMICO EM AERONAVES 89


8.1 Estudos em centros internacionais de pesquisa 89
8.2 Estudos realizados pelo LCT/EPUSP 91
8.2.1 Avaliação numérica de conforto térmico em aeronaves 92
8.2.2 Avaliação de conforto térmico em seção de cabine (mock-up) 99
8.3 Estudos com insuflamento diferenciado e personalizado de ar 101
8.4 Estudos com assentos aquecidos e ventilados 105

9 AVANÇOS E TENDÊNCIAS NA ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO 106

v
9.1 Avanços na modelagem do conforto térmico 107
9.2 Métodos numéricos na análise do conforto térmico 109
9.3 Método da temperatura equivalente 109
9.4 Avaliações subjetivas 110

10 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 112


10.1 Continuidade do trabalho 113

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 115

vi
LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Carta normal para a temperatura efetiva, ET (reproduzida de 6


Jabardo, 1984)
Figura 1.2 Zona de conforto da ASHRAE (ASHRAE 55, 1974; reproduzido de 7
Jabardo, 1984).
Figura 1.3 Zonas de conforto da ASHRAE para atividade sedentária 8
(ASHRAE 55, 2004; ASHRAE, 2005)
Figura 1.4 Fatores mais importantes em edifício de escritórios (Romero, 2004). 11
Figura 2.1 Centros de controle do hipotálamo (Guyton, 1997). 15
Figura 2.2 Modelo cilíndrico da interação térmica corpo humano – meio 16
envolvente (ASHRAE, 2005)
Figura 3.1 Percentual de pessoas insatisfeitas x Voto médio estimado 26
(ASHRAE, 2005)
Figura 3.2 Zonas de conforto de verão e inverno da ASHRAE para atividade 27
sedentária (ASHRAE 55, 2004; ASHRAE, 2005)
Figura 3.3 Correntes de ar para 15% de insatisfeitos em atividade sedentária 29
(ASHRAE, 2005)
Figura 3.4 Percentual de pessoas insatisfeitas com a diferença vertical de 30
temperatura do ar entre os pés e a cabeça (ASHRAE, 2005)
Figura 3.5 Percentual de pessoas insatisfeitas devido à assimetria da radiação 31
(ASHRAE, 2005).
Figura 3.6 Percentual de pessoas insatisfeitas com a temperatura do piso 31
(ASHRAE, 2005).
Figura 4.1 Ilustração da definição de temperatura equivalente (adapt. de 35
Nilsson, 2004)
Figura 4.2 Manequim térmico instalado em ambiente simulando uma cabine de 36
automóvel (Nilsson, 2004)
Figura 4.3 Manequim com 16 segmentos 40
Figura 4.4 Diagrama para avaliação de teq em função da sensação 40
térmica:condição de verão, resfriamento (ISO 14505-2,2004)
Figura 4.5 Diagrama para avaliação de teq em função da sensação 41
térmica:condição de inverno, aquecimento (ISO 14505-2, 2004)
Figura 5.1 Planta de um pavimento tipo de um edifício de escritórios em São 43

vii
Paulo (Leite, 2003)
Figura 5.2 Corte esquemático do laboratório (Leite, 2003) 44
Figura 5.3 Perspectiva da câmara de testes (Leite, 2003) 44
Figura 5.4 Outra perspectiva da câmara de testes (Leite, 2003) 45
Figura 5.5 Tela de interface homem / máquina – sistema de controle 46
(Leite, 2003)
Figura 5.6 Sistema de aquisição de dados no ambiente (Leite, 2003) 47
Figura 5.7 Pontos de medição (Leite, 2003) 49
Figura 5.8 Curvas representativas dos votos dos usuários na escala de sensação 50
térmica (Leite, 2003)
Figura 5.9 Perfis de temperatura do ar com insuflamento pelo piso (Leite, 2003) 51
Figura 5.10 Localização dos difusores de teto, simuladores e pontos de medição 54
na câmara de testes (Okuyama et al., 2005)
Figura 5.11 Perfis de temperatura e velocidades no insuflamento pelo piso e pelo 55
teto: condição C1 (26,0 oC) (Okuyama et al., 2005)
Figura 5.12 Perspectiva da câmara de testes com o split (Ramos et al., 2005) 57
Figura 5.13 Perfis de temperatura e velocidade na condição C1: 26,0 o C 58
(Ramos et al., 2005).
Figura 6.1 Sistema turbulento com insuflamento pelo teto (Schmidt, 1987) 61
Figura 6.2 Sistema turbulento com insuflamento pela parede (Schmidt, 1987) 62
Figura 6.3 Fluxo unidirecional com cortina de ar (Schmidt, 1987) 62
Figura 6.4 Zonas das salas cirúrgicas segundo critérios de assepsia 64
(Mora et al., 2001)
Figura 6.5 Valores de PMV calculados pelo método de Fanger (Felix, 2008) 67
Figura 6.6 Valores de PMV obtidos dos questionários aplicados à equipe 67
cirúrgica após realização de cirurgias (Felix, 2008)
Figura 7.1 Temperaturas do ar em cabine climatizada (Cisternino, 1999). 74
Figura 7.2 Câmara climática com simulação de radiação solar (Santos, 2005) 75
Figura 7.3 Câmara climática sem radiação solar (Moura, 2007) 75
Figura 7.4 Sitckman dentro do veículo (esquerda) e versão simplificada para 77
medições de velocidade do ar (direita) (Guan et al, 2003a).
Figura 7.5 Representação esquemática do problema (Han e Huang, 2004) 79
Figura 7.6 Temperaturas equivalentes (EHT) nos 16 segmentos (Han e Huang, 79
2004)

viii
Figura 7.7 Pontos de medição de temperaturas do ar no interior da cabine 80
(Moura, 2007)
Figura 7.8 Manequim com sensores aquecidos utilizado nos ensaios (Gomes, 81
2005)
Figura 7.9 Posicionamento do manequim na câmara climatizada para calibração 81
(Gomes, 2005)
Figura 7.10 Manequim com roupa 0,6 clo e 1,0 clo (Gomes, 2005) 82
Figura 7.11 Sensores de temperatura e velocidade no interior do veículo (Gomes, 83
2005)
Figura 7.12 Temperaturas superficiais do manequim - veículo B condição de 83
verão (Gomes, 2005)
Figura 7.13 Temperaturas superficiais do manequim - veículo B condição de 83
inverno (Gomes, 2005)
Figura 7.14 Temperaturas equivalentes em diagrama de sensação térmica para 84
condição de verão (Gomes, 2005)
Figura 7.15 Temperaturas equivalentes em diagrama de sensação térmica para 85
condição de inverno (Gomes, 2005)
Figura 7.16 Temperaturas equivalentes nos segmentos em contato com os 86
assentos (Lima, 2006)
Figura 8.1 Detalhe do mock-up mostrando os manequins e cilindros aquecidos 90
(Strøm-Tejsen et al., 2007).
Figura 8.2 Detalhes da cabine do mock-up (Zhang et al., 2007). 90
Figura 8.3 Cabine de Airbus 380 e detalhe de região de análise (Pennecot et al., 91
2004)
Figura 8.4 Geometria do manequim computacional com 18 segmentos 93
(Nilsson, 2004, Stancato et al., 2006)
Figura 8.5 Posicionamento do manequim na câmara de calibração 93
(Nilsson, 2004, Stancato et al., 2006)
Figura 8.6 Malha tetraédrica utilizada na calibração do manequim digital 94
(Stancato et al., 2006)
Figura 8.7 Cabine simétrica com os manequins computacionais e a malha 95
gerada (Stancato et al., 2006)
Figura 8.8 Temperaturas equivalentes para a aeronave em solo (Stancato et al., 96
2006)

ix
Figura 8.9 Temperaturas equivalentes para condição normal de vôo 96
(Stancato et al., 2006)
Figura 8.10 Temperaturas equivalentes para a condição de vôo com vazão 96
mínima (Stancato et al., 2006)
Figura 8.11 Diagrama com as temperaturas equivalentes para a aeronave em solo 97
(Stancato et al., 2006)
Figura 8.12 Diagrama com as temperaturas equivalentes para condição normal de 98
vôo (Stancato et al., 2006)
Figura 8.13 Diagrama com temperaturas equivalentes para a condição de vôo 98
com vazão mínima (Stancato et al., 2006)
Figura 8.14 Ilustração de mock-up de 20 lugares 99
Figura 8.15 Configuração do mock-up de 12 lugares (Moura, 2008) 100
Figura 8.16 Vistas internas do mock-up instalado, mostrando as poltronas, o bin e 100
manequim instrumentado (Moura, 2008)
Figura 8.17 Sistema de distribuição com mistura de ar na cabine (Zhang et al., 101
2007)
Figura 8.18 Testes realizados em mock-up simples e em aparato experimental 102
em sala de laboratório (Jacobs e Gids, 2005)
Figura 8.19 Geometria utilizada para simulação e configuração dos manequins 103
(Gao e Niu, 2007)
Figura 8.20 Linhas de corrente do sistema de insuflamento convencional (a) e do 103
sistema com insuflamento pelo piso (b) (Zhang e Chen, 2007)
Figura 8.21 Linhas de corrente da simulação do sistema com insuflamento pelo 104
piso e distribuição personalizada de ar (Zhang e Chen, 2007).
Figura 8.22 Linhas de corrente para o insuflamento pelo teto (Moura, 2008) 104
Figura 8.23 Linhas de corrente para o insuflamento pelo piso (Moura, 2008) 104

x
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Taxas metabólicas para alguns tipos de atividades (ASHRAE, 2005) 19
Tabela 3.1 Escala de sensação térmica da ASHRAE 22
Tabela 3.2 Determinação do voto médio estimado PMV (ISO 7730, 1994) 25
Atividade sedentária e umidade relativa do ar de 50%
Tabela 4.1 Escala de sensação térmica da norma ISO 14502-2 (2004). 41
Tabela 5.1 Características dos instrumentos de medição (Leite, 2003) 47
Tabela 5.2 Parâmetros de conforto térmico em ambientes de escritórios com 53
insuflamento pelo piso (Leite, 2003)
Tabela 5.3 Temperaturas do ar de insuflamento pelo piso e pelo teto 54
(Okuyama et al., 2005).
Tabela 5.4 Valores de PMV e PPD: ensaio 1 (piso) e 2 (teto) (Okuyama et al., 56
2005).
Tabela 5.5 Variáveis de conforto térmico e valores de PMV e PPD (Ramos et al., 59
2005)
Tabela 6.1 Condições de ensaio nas salas cirúrgicas (Felix, 2008) 66
Tabela 6.2 Valores médios de condições ambientais na zona 1 (Felix, 2008) 66
Tabela 6.3 Valores médios de condições ambientais na zona 2 (Felix, 2008) 66
Tabela 6.4 Valores de temperatura do ar para condição de conforto (Felix, 2008) 68
Tabela 6.5 Condições ambientais e pessoais de conforto térmico utilizadas nos 69
cálculos da temperatura equivalente (Felix, 2008)
Tabela 6.6 Quadro comparativo de temperaturas equivalentes (oC) 70
(Felix, 2008).

xi
LISTA DE SÍMBOLOS

Símbolo Variável Unidade


Acl área da superfície coberta do corpo pela vestimenta m2
AD área Du Bois m2
C calor transferido pela pele por convecção W/m2
Cres calor transferido por convecção pela respiração W/m2
Eres calor transferido por evaporação pela respiração W/m2
Esk calor transferido pela pele por evaporação W/m2
Esw calor trocado pela transpiração W/m2
o
ET, ET* temperatura efetiva C
fcl fator de área da roupa adimensional
h coeficiente de transferência de calor combinado, convecção e W/m2K
radiação
hc coeficiente de transferência de calor por convecção W/m2K
hcal coeficientes de troca de calor de calibração W/m2K
hr coeficiente de transferência de calor por radiação W/m2K
IAT índice de atividade térmica W/m2
Icl índice de isolamento da roupa clo
Iclu,i índice de isolamento de cada peça de roupa clo
l altura m
M metabolismo W/m2 ou met
m massa corporal kg
pa pressão parcial do vapor de água no ar kPa
ps pressão de saturação do vapor de água no ar kPa
PMV predicted mean vote adimensional
PPD predicted percentage of dissatisfied %
Q troca de calor por radiação e convecção W/m2

R calor transferido por radiação pela pele W/m2


Rcl resistência intrínseca da roupa m2K/W
SM Superfície molhada adimensional
ta temperatura do ar °C
tcl temperatura da roupa °C
teq Temperatura equivalente °C

xii
tg temperatura de globo °C
to temperatura operativa °C
tr temperatura radiante média °C
ts temperatura superficial °C
tsk temperatura média da pele °C
Tu intensidade de turbulência %
U taxa de variação da energia interna (W/m2)
UR umidade relativa do ar %
Va velocidade relativa do ar m/s
W trabalho externo W/m2

SIGLAS

Sigla Descrição
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ASHAE American Society of Heating and Air Conditioning Engineers
ASHRAE American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning
Engineers
ASHVE American Society of Heating and Ventilating Engineers
ASRE American Society of Refrigerating Engineers
EMBRAER Empresa Brasileira de Aeronáutica
EPUSP Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
ISO International Organization for Standardization
LCT Laboratório de Conforto Térmico
USP Universidade de São Paulo

xiii
RESUMO

O estágio de desenvolvimento da sociedade atual tem aumentado


significativamente a demanda por ambientes climatizados e por conforto. Em veículos
automotivos o conforto é atualmente um importante diferencial de marketing e de vendas
e, em edifícios de escritórios, o conforto térmico é um dos mais importantes fatores de
bem-estar. Esse conforto, contudo, não tem sido promovido da forma desejada. No
presente trabalho é apresentado um panorama do estado da arte no estudo do conforto
térmico e discutidos os aspectos mais relevantes na análise do conforto térmico em
ambientes climatizados, tanto de edificações quanto de cabines de veículos automotivos.
São focados no trabalho os ambientes de escritórios, ambientes cirúrgicos, de automóveis e
aeronaves. Enfoque especial é dado às particularidades e às diferenças na análise do
conforto térmico nesses diferentes tipos de ambientes. No início do trabalho é apresentada
uma breve história da climatização de ambientes e a evolução dos critérios e índices de
conforto térmico. Ao longo do trabalho são apresentados e discutidos resultados de
trabalhos desenvolvidos pelo Laboratório de Conforto Térmico da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo na análise e melhoria de condições de conforto térmico em
ambientes climatizados. Ao final do trabalho são apresentados e discutidos avanços e
tendências na modelagem do conforto térmico, na utilização de métodos numéricos e na
realização de avaliações subjetivas.

xiv
ABSTRACT

The present stage of the society development has been increasing significantly the
demand for acclimatized and comfortable environments. Comfort is nowadays an
important marketing and sale tool for the automotive industry. In office buildings thermal
comfort is one of the most important well-being factors. However, comfort has not been
promoted in the desired way. In the present work a panorama of the thermal comfort study
state-of-the-art is presented and the most relevant aspects in the analysis of thermal
comfort in acclimatized environments are discussed. Buildings environments, as office
environments and surgical rooms, and automotive vehicles cabins, as automobiles and
aircrafts, are focused. Special focus is given to the particularities and differences in the
analysis of thermal comfort in those different kinds of environments. In the beginning of
the work a summary of the history of acclimatized environments and the evolution of
criteria and indexes of thermal comfort are presented. Along the work results of researches
developed by the Laboratory of Thermal Comfort of the Polytechnic School of the
University of São Paulo in the analysis and improvement of thermal comfort conditions in
acclimatized environments are presented and discussed. At the end of the work advances
and tendencies in thermal comfort modeling, in the use of numerical methods and in the
accomplishment of subjective evaluations are also presented and discussed.

xv
Capítulo 1
INTRODUÇÃO

O estágio de desenvolvimento da sociedade atual tem feito com que o homem


permaneça cada vez mais tempo em ambientes interiores. Isto tem aumentado
significativamente a demanda por ambientes climatizados e por conforto. E, embora o
desenvolvimento tecnológico esteja resultando em sistemas de climatização com maior
eficiência energética, a questão do conforto térmico ainda apresenta muita insatisfação
dos usuários. Em parte isto se deve ao uso relativamente recente de sistemas de
climatização, notadamente para o resfriamento do ar, o que resulta em diferentes
expectativas dos usuários, falta de conhecimento e instalações inadequadas.
Por outro lado, ainda existe uma grande dificuldade em se analisar
adequadamente e em se prover condições de conforto térmico em ambientes interiores;
o que mostra a necessidade de maior aprofundamento nos estudos, o desenvolvimento
de novas tecnologias e uma maior interação com a área da saúde para melhorar as
condições de conforto térmico e de qualidade do ar em ambientes interiores.
Ao se analisar a história da climatização de ambientes e a evolução dos critérios
e índices de conforto térmico, verifica-se que a história do ar condicionado é bastante
recente e, mais recente ainda, é o estudo do conforto térmico.

1.1 História da climatização de ambientes


A história do aquecimento, da ventilação e do resfriamento do ar mostra não só
a importância do desenvolvimento de sistemas de climatização para o bem-estar e
conforto do homem, como também no progresso da humanidade.
A luta pela sobrevivência e a busca de bem-estar e conforto têm sido uma
constante ao longo da existência do homem. Em seus primórdios o homem buscou
abrigo em cavernas. Depois, descobriu e dominou o fogo, utilizado na proteção contra
feras, cozimento de alimentos e aquecimento. Por mais de 100.000 anos, o conforto
permaneceu restrito ao uso do fogo e à utilização das condições existentes na natureza
para encontrar temperaturas mais amenas para sobreviver.
Com a construção de moradias permanentes, o fogo foi trazido para dentro das
habitações. Estudos mostram que casas construídas perto de Corinto, na Grécia, por
volta de 2500 a.C. já possuíam fornos fixos nas habitações. Isso também foi verificado
2

nas casas da Segunda Fortaleza de Tróia, construída antes de 2000 a.C., e na vila de
Skara Brae, nas Ilhas Orkney - costa norte da Escócia, na Segunda Idade da Pedra
(2000 a 1800 a.C) (Roberts, 1995).
Posteriormente, há pouco mais de 2000 anos, foram inventados os primeiros
sistemas de aquecimento de ambientes na Roma antiga. E, somente há pouco mais de
100 anos, foram desenvolvidos os primeiros sistemas de resfriamento do ar para
conforto, os sistemas de ar condicionado.
Bernard Nagengast é um dos pesquisadores que mais tem se dedicado a contar
esta história. Durante os últimos 35 anos tem estudado o assunto e publicado artigos
que contam a história do resfriamento do ar para conforto e do ar condicionado
(Nagengast, 1993; 1999; 2002; Nagengast e Groff, 2007). Paralelamente, outros
pesquisadores tem contado a história do aquecimento de ambientes desde o homem
primitivo até o final da era Vitoriana (Roberts, 1995); a história do ar condicionado de
uso doméstico (Pauken, 1999); a história do ar condicionado automotivo (Ludvigsen,
1995; Bhatti, 1999) e a história da refrigeração e do ar condicionado no Brasil (Di
Rienzo, 2006).
A climatização de ambientes começou por volta do ano 80 a.C, quando os
romanos inventaram um sistema de aquecimento de ambientes denominado de
hypocaustum (do grego hypo (debaixo) e kauston (queimando)), que consistia na
passagem de gases de combustão e ar quente por um plenum construído abaixo do piso.
Em função da ocorrência, naquela época, de temperaturas amenas ao longo de
todo o ano na região do Mediterrâneo, o sistema foi utilizado, inicialmente, somente
para aquecimento em banhos públicos. Mas, após a destruição de Pompéia, no ano 79,
o sistema começou a ser utilizado também para aquecimento de ambientes e se
espalhou pela Europa e Grã-Bretanha. A partir daí, novos sistemas foram inventados,
como os fogões e lareiras (sem e com chaminés) e os sistemas que utilizam vapor
d´água e água quente, no final do século XVIII e início do século XIX.
Enquanto isso, com relação ao resfriamento de ambientes para conforto,
aparentemente, muito pouco foi feito antes do século XIX. A exceção ficou por conta
do armazenamento e utilização do gelo das montanhas na busca de temperaturas mais
amenas em espaços de convivência, na civilização greco-romana. No século III o
imperador romano Varius Avitus teria ordenado que montanhas de neve fossem
carregadas e formassem montes em seu jardim no verão, para que a brisa natural
pudesse ser resfriada e atingisse os seus aposentos. Até a segunda metade do século
XIX o resfriamento de ambientes ficou restrito a este tipo de aplicação.
3

Em 1856, a construção da primeira máquina de refrigeração por compressão de


vapor para fabricação de gelo, por Alexander C. Twinning, fez com que começassem a
ser desenvolvidos sistemas de ventilação e equipamentos utilizando o gelo diretamente
para o resfriamento do ar. O ar era soprado através de passagens tortuosas sobre blocos
de gelo. A instalação destes tipos de sistemas, contudo, foi pequena, pois havia pouca
demanda por resfriamento do ar para conforto e o preço do gelo era elevado.
Convém ressaltar que naquela época, final do século XIX, a demanda por
aquecimento e ventilação já era grande nos Estados Unidos e Europa, e grandes
sistemas centrais de aquecimento e de ventilação de edifícios começaram a ser
comercializados.
Ainda no final do século XIX ventiladores com acionamento elétrico, recém
inventados, começaram a ser utilizados para melhorar a sensação de conforto em
pequenos recintos. Resfriamento adicional era conseguido com a colocação de gelo na
frente do ventilador.
No final do século XIX e início do século XX lavadores de ar para resfriamento
começaram a ser utilizados. Eram utilizados tanto lavadores de ar com sistema de
refrigeração para a água do lavador, bem como sem este sistema.
No início do século XX começaram a ser instalados sistemas onde o ar era
resfriado e desumidificado utilizando trocadores de calor salmoura-ar. Esses sistemas,
instalados pela primeira vez em 1903, em um teatro em Colônia, na Alemanha,
utilizavam ciclo de compressão de vapor (amônia ou gás sulfuroso) para refrigerar a
salmoura. Nestes sistemas o ar frio já era insuflado pela parte superior do ambiente e
retornava por múltiplos furos no piso.
Sistema similar foi instalado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 1909.
Com a instalação deste sistema, o Brasil foi um dos primeiros países a contar com
sistema de resfriamento de ar para conforto.
Paralelamente, o desenvolvimento de sistemas de ar condicionado similares aos
que conhecemos hoje, com controle das condições higrotérmicas do ar no resfriamento
de ambientes, começou em 1902 com o projeto de um sistema de controle de
temperatura e umidade do ar do tipo spray para uma gráfica, por Willis Carrier.
Embora este sistema só tenha sido completamente implantado em 1904, e mesmo assim
não tenha apresentado os resultados esperados no controle da umidade do ar, a
continuidade dos estudos por parte de Carrier resultou no desenvolvimento de sistemas
mais eficientes e em um marco histórico do ar condicionado, que foi a carta
psicrométrica, em 1906.
4

Foi também em 1906 que o termo air conditioning foi utilizado pela primeira
vez, pelo engenheiro têxtil Stuart Cramer, no registro de patente de dispositivo para
regulagem automática da umidade e temperatura do ar em fábricas, intitulado
Humidifying and Air Conditioning Apparatus.
Até a década de 1920 poucos eram os sistemas de ar condicionado instalados
objetivando conforto. Em função da necessidade de um engenheiro para operar o
sistema, do custo elevado dos equipamentos, do grande consumo de água no
condensador e do problema dos refrigerantes tóxicos do ciclo de refrigeração, as
instalações ficaram praticamente restritas à aplicação industrial.
Em 1924, o início da produção de resfriadores de líquidos, os chillers,
combinados com sistema tipo spray de controle de condições higrotérmicas, mostraram
ser bem mais seguros e uma forma de diminuir o custo de sistemas de ar condicionado,
viabilizando a utilização de sistemas de grande porte em maior escala. Para instalações
menores, contudo, o sistema de ar condicionado ainda era muito caro e inviável, não
permitindo a sua utilização em massa. Nas décadas de 1920 e 1930 a grande aplicação
não industrial do ar condicionado ainda eram os teatros e as salas de cinema.
Nas décadas de 1930 e 1940 uma forte campanha de marketing dos fabricantes
de gelo nos Estados Unidos, com preços relativamente baixos, viabilizou a volta do uso
do gelo para resfriamento do ar em larga escala. Eram instalados sistemas utilizando o
gelo em arranjos de lavadores de ar, bem como de gelo derretido em água circulando
por conjuntos ventilador-serpentina - os fan-coils, com controle de condições
higrotérmicas.
Até a década de 1930 os sistemas de ar condicionado eram sistemas centrais e
muito caros para instalação em construções já existentes. Em 1931 foi produzido o
primeiro sistema de ar condicionado portátil com compressor hermético. Embora fosse
classificado como portátil, nunca era movido de um ambiente para outro em função de
seu peso de aprox. 540 kg. Na mesma linha de desenvolvimento, o primeiro ar
condicionado de janela foi vendido pela Westinghouse em 1941.
Na década de 1930 também começou o desenvolvimento de sistemas de
refrigeração para resfriamento do ar em automóveis. Em 1939 a Packard Motor Car
lançou o primeiro sistema completo de refrigeração e aquecimento original de fábrica.
Em 1941 a General Motors introduziu o sistema de ar condicionado na linha Cadillac.
Desde então, até os dias de hoje, os sistemas de climatização em veículos automotivos
tem experimentado grande desenvolvimento, assim como os sistemas de ar
condicionado utilizados em edificações.
5

A utilização de sistemas de ar condicionado central e também de sistemas


unitários - o ar condicionado de janela, teve um grande incremento após a Segunda
Guerra Mundial, com o desenvolvimento de sistemas mais confiáveis, com tamanhos
menores e de menor custo. No início dos anos 1950, os proprietários de casas e de
edifícios nos Estados Unido já tinham várias opções à disposição para climatização de
ambientes, incluindo sistemas centrais de ar condicionado com condensadores a água
ou ar e também sistemas centrais de aquecimento e resfriamento formando um único
sistema.
Com a crise do petróleo em 1973, os sistemas de climatização viraram vilões; o
que teve um lado bastante positivo, pois resultou no desenvolvimento de equipamentos
com maior desempenho e redução no consumo de energia. Mais recentemente, o
desenvolvimento de compressores scroll e de sistemas de controle mais sofisticados
representaram importantes avanços na indústria do ar condicionado. Os sistemas de ar
condicionado atualmente existentes possibilitam melhor controle na demanda de carga
térmica, com menor consumo de energia, e obtenção de condições ambientais mais
adequadas de conforto térmico, embora ainda insatisfatórias.
Enfim, a história da climatização de ambientes mostra que a utilização de
sistemas de ar condicionado, inicialmente em edificações e posteriormente em veículos
automotivos, é bastante recente, e que uma maior utilização destes sistemas ocorreu
somente depois da Segunda Guerra Mundial, representando pouco mais de 100 anos de
história e de 50 anos de utilização em maior escala.

1.2 Evolução dos critérios e índices de conforto térmico


Os primeiros estudos de conforto térmico em ambientes com sistema de
resfriamento de ar foram encomendados pela ASHVE1 a Yaglou e colaboradores, em
1923. O trabalho consistiu em obter condições de temperatura, umidade e velocidade
relativa do ar que proporcionariam a mesma sensação térmica (Houghten e Yaglou
(1923, apud ASHRAE 2005). Para tal foi definido um índice que caracterizava cada
combinação dos três parâmetros, denominado de temperatura efetiva, ET2, e
construídas cartas de temperatura efetiva (Fig.1.1).

1
ASHVE – American Society of Heating and Ventilating Engineers, fundada em 1894, que em 1954 mudou
o nome para ASHAE - American Society of Heating and Air Conditioning Engineers e, finalmente em 1962
para ASHRAE – American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers, resultado da
fusão com a ASRE - American Society of Refrigerating Engineers, fundada em 1905.
2
Temperatura efetiva (ET): temperatura de um ambiente de ar saturado e de velocidade nula do ar que
provoca a mesma sensação térmica que o ambiente real.
6

Figura 1.1 Carta normal para a temperatura efetiva, ET


(reproduzida de Jabardo, 1984)

O estabelecimento de uma escala de temperatura efetiva não resolveu o


problema, pois nas experiências que resultaram nas escalas de ET não foram levados
em consideração os efeitos da atividade e da roupa das pessoas e nem o efeito da
temperatura radiante média.
Somente nas décadas de 1960 e 1970 foram propostos novos critérios que
consideraram os parâmetros não considerados por Yaglou. A proposta destes critérios
foi resultado de estudos de grupo de pesquisadores da Universidade de Kansas (Estados
Unidos) e de Fanger (Dinamarca). Realizando o balanço térmico do corpo humano,
estes pesquisadores verificaram que a temperatura média da pele, tsk , e o índice de
superfície molhada, SM, também são parâmetros de conforto térmico.
Gagge et al. (1971) obtiveram valores de tsk e de SM e de outros parâmetros
fisiológicos, após exposição de 1h em um ambiente caracterizado por sua temperatura,
umidade relativa e velocidade relativa do ar para pessoas em determinado tipo de
7

atividade e vestimenta. A partir destes valores foi definido um novo índice de


temperatura efetiva (ET*)3 e construídas as cartas de conforto da ASHRAE, com a
especificação das zonas de conforto, conforme apresentado na Figura 1.2.
Em função da temperatura efetiva ET* ser um índice estabelecido para
determinadas condições ambientais e também de atividade e vestimenta das pessoas,
cada carta de conforto é válida somente para um conjunto de condições ambientais e
pessoais. A carta da Figura 1.2, por exemplo, é válida para atividade sedentária, roupa
leve, temperatura radiante média, t r ≈ t a , temperatura do ar (temperatura de bulbo
seco), velocidade relativa, Va < 0,2 m/s e umidade relativa do ar, UR, em torno de 50%.

Figura 1.2 Zona de conforto da ASHRAE


(ASHRAE 55, 1974; reproduzido de Jabardo, 1984).

Paralelamente, Fanger (1972) desenvolveu um método mais conceitual e geral,


baseado em equações de conforto témico. Fanger obteve equações para a temperatura
da pele, tsk, e o calor liberado pela evaporação de suor, Esw, em função do metabolismo
(atividade). Estas equações foram obtidas a partir de regressões lineares de dados

3
Temperatura efetiva (ET*): temperatura uniforme de um ambiente imaginário, de ar com velocidade nula e
umidade relativa de 50%, com o qual a pessoa trocaria a mesma quantidade de calor, por radiação,
convecção e evaporação, que no ambiente real.
8

experimentais de Rohles e Nevins (1971), para atividade sedentária, e de dados


experimentais próprios (Fanger, 1967), para diferentes níveis de atividade, com
estudantes do sexo feminino e masculino. Adicionalmente, Fanger realizou outros
ensaios e relacionou a sensação térmica das pessoas, dada por meio de votos, com as
condições ambientais (temperatura, umidade relativa e velocidade relativa do ar, e
temperatura radiante média) e parâmetros pessoais (vestimenta e atividade). E, a partir
do balanço térmico do corpo humano e das equações de tsk e Esw, estabeleceu um
método de avaliação de condições de conforto térmico baseado no voto médio estimado
(PMV – predicted mean vote) e no percentual de pessoas insatisfeitas (PPD – predicted
percentage of dissatisfied), detalhado no Capítulo 3.
Normalmente, os resultados de PMV são relacionados com a temperatura
operativa, to, definida por Gagge (1940 apud Gameiro da Silva, 2002) como sendo a
temperatura uniforme de um invólucro no qual os ocupantes trocam a mesma
quantidade de calor, por convecção e radiação, que no ambiente real. Por se tratar de
um conceito mais simples e de mais fácil determinação, conforme será visto no
Capítulo 3, desde a revisão da norma ASHRAE 55 (1981 apud Madsen et al., 1984) a
temperatura operativa, to, também vem sendo utilizada na construção das cartas da
ASHRAE (Fig. 1.3).

Figura 1.3 Zonas de conforto da ASHRAE para atividade sedentária


(ASHRAE 55, 2004; ASHRAE, 2005)
9

Os índices apresentados anteriormente referem-se a ambientes homogêneos. Em


ambientes não homogêneos, como aqueles em veículos automotivos, onde diferentes
partes do corpo experimentam diferentes condições térmicas, a forma mais indicada
para avaliação do conforto térmico é o da determinação de temperaturas equivalentes
(teq)4 em diferentes partes (segmentos) de um manequim térmico (Madsen et al., 1986;
Gameiro da Silva, 2002; Nilsson, 2004, Strøm-Tejsen et al., 2007).
O conceito de temperatura equivalente foi formulado pela primeira vez por
Dufton (1929 apud Nilsson, 2004) que desenvolveu um cilindro preto de cobre para
imitar a perda de calor do corpo humano e denominou a variável medida de
temperatura equivalente. Naquela época a temperatura equivalente era definida como
“a temperatura de um invólucro uniforme no qual, em ar parado, um corpo negro
grande a 24 oC (75 oF) perderia calor na mesma taxa que no ambiente”.
Winslow e Greenburg (1935 apud Nilsson 2004) foram os primeiros a descrever
um instrumento com alimentação de fluxo de calor constante e temperatura superficial
variável para a determinação de temperaturas equivalentes, denominado de termo-
integrador. Este instrumento consistia de um cilindro de cobre oco, aquecido
eletricamente, com fluxo de calor constante. A temperatura superficial do corpo era
medida por meio de termopares distribuídos sobre a superfície do cilindro.
Procedimento similar é utilizado até os dias atuais na determinação de
temperaturas equivalentes utilizando manequins, conforme será visto no Capítulo 4.
Embora o conceito tenha sido formulado em 1929, a utilização da temperatura
equivalente como índice de conforto térmico só começou a se viabilizar na última
década com o desenvolvimento de manequins térmicos sofisticados, que permitem
reproduzir de forma adequada a geração interna de energia do corpo e a avaliação das
trocas de calor com o ambiente (Gameiro da Silva, 2002; Nilsson, 2004; Strøm-Tejsen
et al., 2007).

1.3 Normas técnicas de avaliação de conforto térmico


Os critérios e os índices apresentados no item anterior são a base das normas
técnicas internacionais de avaliação de condições de conforto térmico. O trabalho de
Gagge et al. (1971) é a base da norma ASHRAE 55 e o trabalho de Fanger (1972) é a
base da norma ISO 7730, destinadas à avaliação de ambientes que possam ser

4
Temperatura equivalente (teq): temperatura de um invólucro imaginário com a temperatura radiante média
igual à temperatura do ar e ar parado, no qual a pessoa troca a mesma quantidade de calor por radiação e
convecção que nas condições reais (ASHRAE 62, 1989).
10

considerados homogêneos, conforme detalhado no Capítulo 3. Em ambientes não


homogêneos, o conceito de temperatura equivalente é a base da norma ISO 14505-2, de
avaliação de conforto térmico em veículos, conforme detalhado no Capítulo 4.
Os critérios e índices de avaliação de conforto térmico servem para nortear a
análise do conforto térmico. Contudo, as diretrizes e especificações constantes das
normas técnicas são objeto constante de atualização decorrente de resultados de novas
pesquisas. Além disso, a busca de solução do problema do conforto térmico requer uma
análise bem mais detalhada, que envolve o sistema de climatização, o tipo de ambiente,
a distribuição e movimentação do ar, a atuação do usuário, entre outros.

1.4 Motivação do trabalho


O estudo do conforto térmico tem avançado bastante nos últimos anos. No
Brasil, contudo, um número reduzido de pesquisadores tem se dedicado a estudar o
conforto térmico em ambientes climatizados, o que dificulta a consolidação do
conhecimento e um maior desenvolvimento dessa área no país.
Um fato que chama a atenção, por exemplo, é que a norma técnica brasileira de
conforto térmico em ambientes climatizados de edificações ainda apresenta tão
somente parâmetros básicos de projeto para instalações centrais de ar condicionado
para conforto (NBR 6401, 1980). Somente em 2006 esta norma começou a ser revisada
por meio do Comitê ABNT/CB55, que trouxe para a norma os avanços verificados nos
estudos realizados no mundo e no Brasil. Na revisão da norma, além das diretrizes de
projeto, foi incluída uma parte específica que trata dos parâmetros de conforto térmico,
coordenado pelo presente autor, e uma parte referente à qualidade do ar em ambientes
interiores. A presente revisão incorpora os avanços verificados nas normas ISO 7730 e
ASHRAE 55, e resultados de estudos realizados pelo Laboratório de Conforto Térmico
da Escola Politécnica da USP no estabelecimento dos limites das zonas de conforto,
conforme apresentado no Capítulo 5. Após passar por processo de Consulta Pública,
onde a proposta referente ao conforto térmico foi integralmente aprovada, a publicação
da norma revisada está prevista para o final do presente ano.
Além disso, embora tenham ocorrido avanços significativos na busca de soluções
para o conforto térmico em ambientes climatizados de edificações, pesquisas recentes têm
demonstrado que este conforto não tem sido promovido da forma desejada (Leite et al.,
2000; Romero, 2004; Budawi, 2007; Barlow e Fiala, 2007; Karjalainen e Koistinen, 2007).
11

Em resultados de avaliação pós-ocupação realizada em edifício de escritórios de


elevada tecnologia situado em São Paulo, Romero (2004) mostra que a qualidade do ar
e o conforto térmico são apontados pelos usuários como os fatores mais importantes de
bem-estar (Fig. 1.4) e que ainda não foram resolvidos. Karjalainen e Koistinen (2007),
da Finlândia, também mostram problemas com o conforto térmico, mesmo em
ambientes de escritórios com controle individual de temperatura.

ESTÉTICA

PRIV A CIDA DE V ISUA L

PRIV A CIDA DE SONORA

SEGURA NÇA CONTRA INCÊNDIO

A CUSTICA

SEGURA NÇA

MOBILIÁ RIO

ILUMINA ÇÃ O

QUA LIDA DE DO A R

CONFORTO TÉRMICO

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Figura 1.4 Fatores mais importantes em edifício de escritórios (Romero, 2004).

Em veículos automotivos vários fatores também têm contribuído para o aumento


do interesse no conforto térmico. O aumento do tempo que as pessoas têm despendido
em veículos tem aumentado substancialmente e os critérios dos consumidores têm
mudado bastante em função do aumento das expectativas, resultando em um aumento
na demanda por conforto. Função disso, nos últimos anos tem se verificado um especial
interesse no conforto térmico, principalmente em automóveis, mas também em
aeronaves.
Um bom exemplo no setor automobilístico são as pesquisas desenvolvidas por
um consórcio integrado por montadoras de automóveis e grupos de pesquisa de
universidades da Europa (CABCLI, 1999; Gameiro da Silva, 2002), que resultou na
publicação da norma ISO 14505 (2004).
A indústria aeronáutica também tem aumentado significativamente o seu
interesse no conforto térmico e, a exemplo da indústria automobilística, vem
desenvolvendo estudos de simulação utilizando dinâmica dos fluidos computacional
(CFD) e estudos experimentais realizados em mock-ups de seção da cabine (Irgens e
Melikov, 2004; Stancato et al., 2006; Strøm-Tejsen et al.,2007; Zhang e Chen, 2007).
12

Finalmente, nos últimos dez anos uma série de trabalhos vem sendo desenvolvidos
pelo Laboratório de Conforto Térmico da Escola Politécnica da USP (LCT/EPUSP) na
análise e na busca de soluções para o conforto térmico em ambientes climatizados de
edificações e de veículos automotivos, cujos principais resultados são apresentados no
presente trabalho.

1.5 Objetivos do trabalho


Tendo em vista a importância crescente do conforto térmico na vida das
pessoas, as dificuldades na solução do conforto térmico, a dispersão de informações e
os resultados de pesquisas desenvolvidas recentemente, os objetivos deste trabalho são:
- consolidar as informações e apresentar em um único trabalho aspectos relevantes
na análise do conforto térmico em ambientes climatizados, tanto de edificações
quanto de cabines de veículos automotivos;
- apresentar um panorama do estado da arte do conforto térmico em ambientes
climatizados;
- enfocar as particularidades e as diferenças na análise do conforto térmico em
diferentes tipos de ambientes climatizados;
- apresentar e discutir resultados de trabalhos desenvolvidos por pesquisadores do
LCT/EPUSP;
- apresentar e discutir os avanços e tendências na análise do conforto térmico em
ambientes climatizados.

1.6 Organização do trabalho


No Capítulo 2 são apresentados aspectos gerais de conforto térmico, enfocando
o sistema termorregulador, o balanço térmico do corpo humano e condições de conforto
térmico.
No Capítulo 3 são discutidos aspectos relacionados ao conforto térmico em
ambientes homogêneos, o método PMV/PPD de Fanger, as condições de desconforto
térmico local e a influência de fatores secundários no conforto térmico.
No Capítulo 4 são discutidos aspectos relacionados ao conforto térmico em
ambientes não homogêneos, o método das temperaturas equivalentes e o uso de
manequins.
No Capítulo 5 é discutido o conforto térmico em ambientes de escritórios, com
ênfase no laboratório representativo de ambientes de escritórios instalado no
LCT/EPUSP. São apresentados e discutidos resultados de avaliação de condições de
13

conforto térmico considerando diferentes formas de insuflamento de ar.


No Capítulo 6 são abordados o conforto térmico em ambientes cirúrgicos e
fatores relacionados com a contaminação aérea. São apresentados e discutidos
resultados de trabalhos de análise de conforto térmico em salas cirúrgicas realizados
pelo LCT/EPUSP, bem como de estudo comparativo de resultados com outros
trabalhos.
No Capítulo 7 é enfocada a análise do conforto térmico em automóveis, ônibus
e trens. São apresentados e discutidos aspectos de conforto térmico e segurança
veicular, a análise de conforto térmico realizada por montadoras e resultados de
avaliação em veículos de passeio realizados pelo LCT/EPUSP.
No Capítulo 8 são apresentados e discutidos estudos de conforto térmico
realizados em aeronaves em centros internacionais de pesquisa e no LCT/EPUSP. São
destacados os estudos desenvolvidos em seção de cabine de aeronave, o
desenvolvimento de método numérico de análise de conforto térmico e a utilização de
insuflamento diferenciado e personalizado de ar na cabine.
No Capítulo 9 são apresentados e discutidos avanços e tendências na análise do
conforto térmico, destacando os avanços na modelagem do conforto térmico, o
desenvolvimento de métodos numéricos de avaliação, a utilização do conceito de
temperatura equivalente e questões relacionadas com avaliações subjetivas.
No Capítulo 10 são apresentadas conclusões e considerações finais e uma breve
discussão dos trabalhos em desenvolvimento e a serem desenvolvidos pelo
LCT/EPUSP na análise de conforto térmico em ambientes climatizados. Finalmente, no
Capítulo 11 são apresentadas as referências bibliográficas.
14

Capítulo 2
CONFORTO TÉRMICO

A norma ASHRAE 55 define conforto térmico como “um estado de espírito que
expressa satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa”. Esta definição
“deixa em aberto o que significa estado de espírito e satisfação, mas enfatiza
corretamente que o julgamento do conforto é um processo cognitivo, que envolve
muitos dados de entrada influenciados por processos físicos, fisiológicos, psicológicos,
entre outros” (ASHRAE, 2005).
De uma forma geral, o conforto térmico ocorre quando as temperaturas do corpo
são mantidas em uma faixa estreita de variação, a evaporação de suor é pequena e o
esforço fisiológico de regulação é minimizado.
Em condições térmicas diferentes daquelas na qual a pessoa se sentiria
confortável, o organismo provoca reações desencadeadas pelo sistema termorregulador,
que age no sentido de manter constante a temperatura interna do corpo frente a
variações térmicas internas e externas. Esta ação mais intensa do sistema
termorregulador acarreta sensação de desconforto.

2.1 O sistema termorregulador


Para manter o funcionamento dos órgãos vitais, a temperatura interna do corpo
humano deve ser mantida praticamente constante; por volta de 37oC em atividade
sedentária. Para tal é necessário que ocorra equilíbrio entre a geração interna de energia e o
calor perdido para o ambiente.
O processo metabólico de transformação de energia química (oxidação) dos
alimentos produz energia continuamente. Esta produção interna de energia é da ordem de
1 W/kg de massa do corpo, se medida durante certas condições padrão: passadas 8 horas
depois da última refeição, em posição de relaxamento e em condição de equilíbrio térmico
com o ambiente. Variações na produção interna de energia (metabolismo) podem ocorrer
em função, tanto de fatores fisiológicos e pessoais, quanto das condições ambientais. Por
exemplo, em ambientes frios, o centro de controle da temperatura aumenta o tônus dos
músculos, aumentando a produção interna de energia e, em ambientes ainda mais frios, as
tensões musculares provocam calafrios, que podem aumentar a produção interna de energia
em três vezes o metabolismo basal. As maiores mudanças na produção interna de energia
15

são, entretanto, o resultado do trabalho dos músculos, que pode mudar o metabolismo basal
por um fator de 10 vezes (Olesen, 1982).
Em mamíferos, incluindo o homem, o balanço térmico entre a geração interna de
energia e o calor perdido para o ambiente é controlado principalmente pelo hipotálamo
(Fig. 2.1), que atua como um termostato. O hipotálamo recebe sinais de neuro-receptores
termo-sensíveis localizados em uma grande extensão da pele. Em ambientes frios a
excitação dos receptores sensíveis ao frio irá baixar o set-point e o ajuste do balanço
térmico se dará por meio de vaso-constrição e de “tremores”. Em ambientes quentes, por
outro lado, o set-point aumenta e o ajuste se dará pelo aumento da perda de calor por meio
de vaso-dilatação na pele e suor. A eficiência do controle do sistema termorregulador é
semelhante nos homens e mulheres, sendo diminuída em idosos e em pacientes gravemente
enfermos (Biazzotto et. al., 2006).

Figura 2.1 Centros de controle do hipotálamo (Guyton, 1997).

Uma revisão muito boa sobre o sistema termorregulador e a sua atuação pode ser
encontrada em Ferreira (1997) e Ferreira (2001).

2.2 Balanço térmico do corpo humano

O homem interage termicamente com o ambiente trocando calor pelos mecanismos


da condução, convecção, radiação e evaporação pela pele e por meio da respiração,
conforme apresentado na Figura 2.2.
16
Ar no Ambiente
(ta, Va, pa)

Radiação (R)
Convecção (C)
Superfície no
C+R (pele)
Ambiente

Corpo
Pele (tsk, AD)

Suor (psk,sw)

Roupa (Rcl, Re,cl)


Evaporação
Pele (Esk) (M-W) Superfície Exposta
(tcl, fcl, ε)

Respiração (Cres, Eres)

Figura 2.2 Modelo cilíndrico da interação térmica corpo humano – meio envolvente
(ASHRAE, 2005)

Da 1a. lei da termodinâmica, tem-se que:

U = M − W − ( R + C + E sk ) + (C res + E res ) (2.1)

onde:

U = taxa de variação da energia interna (W/m2);

M = metabolismo;

W = trabalho externo;

R = calor transferido pela pele por radiação;

C = calor transferido pela pele por convecção;

Esk = calor transferido pela pele por evaporação;

Cres = calor transferido por convecção pela respiração;

Eres = calor transferido por evaporação pela respiração.


17

2.3 Condições de conforto térmico

Fanger (1972) estabelece três condições para uma situação de conforto térmico de
uma pessoa exposta a um dado ambiente por um período longo:

A. A primeira condição é que haja equilíbrio das trocas de calor entre o corpo e o
ambiente, isto é,

U = 0 (2.2)

B. A segunda condição é que a temperatura média da pele (tsk) seja dada pela equação:

t s k = 35,7 − 0,0275( M − W ) (2.3)

C. A terceira condição é que a produção de suor (Esw) seja igual a:

E sw = 0,42( M − W − 58,2) (2.4)

Inserindo-se as Eqs. 2.2 a 2.4, juntamente com as equações de transferência de


calor, na Eq. (2.1), obtém-se a equação de conforto de Fanger (Fanger, 1972;
ASHRAE,2005), dada por:

[
(M − W ) = 3,96.10 −8 f cl (t cl + 273)4 + (t r + 273)
4
]
+ f cl .hc (t cl − t a ) + 3,05[5.73 − 0,007(M − W ) − p a ]

+ 0,42[(M − W ) − 58,15] + 0,0173M (5.87 − p a ) + 0,0014 M (34 − t a )


(2.5)
com:

­(M − W ) − 3,05[5,73 − 0,007(M − W ) − p a ] ½


° °
t cl = 35,7 − 0,028(M − W ) − 0,155I cl ®− 0,42[(M − W ) − 58,15] − 0,0173M (5,87 − p a )¾
°− 0,0014 M (34 − t ) °
¯ a ¿
(2.6)

­°2,38(t cl − t a )0, 25 0 , 25
2,38(t cl − t a ) > 12,1 Va ½°
® para 0 , 25 ¾
°̄ 12,1 Va 2,38(t cl − t a ) ≤ 12,1 Va °¿
(2.7)
18

­1,00 + 0,2 I cl I cl ≤ 0,5½


f cl ® para ¾ clo
¯1,05 + 0,1I cl I cl > 0,5¿
(2.8)

onde:

M = metabolismo (W/m2)

W = trabalho externo (W/m2)

Icl = índice de isolamento da roupa (clo)

ta = temperatura do ar (°C)

tcl = temperatura da roupa (°C)

Va = velocidade média do ar (m/s)

pa = pressão parcial do vapor d’água no ambiente (kPa)

tr = temperatura radiante média (°C)

A equação 2.5 relaciona os fatores pessoais (M, W, Icl ) e ambientais (ta, Va, pa , tr )
para conforto térmico:

a. Pessoais

a.1. Atividade, dada por (M- W) - O metabolismo é dado em unidade “met”, onde l met é
igual ao metabolismo para uma pessoa sentada em repouso, isto é, em atividade
sedentária (1 met = 58,2 W/m2). Na Tabela 2.1, são listadas algumas atividades e
seus correspondentes valores de metabolismo.
O trabalho externo, normalmente, pode ser considerado igual a zero (W = 0), pois
corresponde ao trabalho de levantamento de um peso ou ascensão de um aclive, ao
passo que uma caminhada em plano horizontal não representa realização de
trabalho.

a.2. Vestimenta – é dada pelo índice de isolamento térmico da roupa (Icl) que pode ser
determinado basicamente sob duas formas: por meio de medições em manequins
aquecidos (McCullough e Jones, l984 apud ASHRAE, 2005) e por meio de
medições em pessoas (Nishi et al., 1975).
19

Os valores medidos representam a resistência intrínseca da roupa (Rcl), expressa em


m2K/W. Entretanto, é mais usual a aplicação do símbolo Icl, expresso na unidade
clo, sendo:

Rcl = 0,155 Icl (2.9)

Tabela 2.1 Taxas metabólicas para alguns tipos de atividades


(ASHRAE, 2005)
Atividade W/m2 met
Descansando
Dormindo 40 0,7
Reclinado 45 0,8
Sentado, quieto 60 1,0
Em pé, relaxado 70 1,2
Atividades de escritório
Lendo, sentado 55 1,0
Escrevendo 60 1,0
Digitando 65 1,1
Arquivando, sentado 70 1,2
Arquivando, em pé 80 1,4
Andando 100 1,7
Dirigindo/voando
Carro 60 a 115 1,0 a 2,0
Avião, rotina 70 1,2
Avião, pousando 105 1,8
Avião, combate 140 2,4
Veículo pesado 185 3,2

Mc Cullough e Jones (1984 apud ASHRAE 2005) sugerem que, para se obter o
isolamento térmico de um conjunto de roupas, pode-se utilizar a equação 2.10,
considerando valores específicos para cada peça:

Icl = 0,835 ™Iclu,i + 0,161 (2.10)

onde Iclu,i é o isolamento efetivo de cada peça.


20

Um outro fator importante para o cálculo da transferência de calor é o fator de área


(fcl), expresso pela equação:

fcl = Acl / AD (2.11)

onde:

Acl = área da superfície coberta do corpo (incluindo partes descobertas, como


mãos);

AD = área do corpo nu (Área Du Bois)

AD = 0,202 m0,425l0,725 (2.12)

onde:

m = massa corporal (kg)

l = altura (m)

A equação 2.12 é empírica (ASHRAE, 2005), por meio da qual, se pode estimar um
valor da superfície externa do corpo nu, se conhecidos a sua massa e sua altura.

Valores de isolamento térmico para conjuntos de roupas (combinações de várias


peças) e para peças individuais são apresentados nas normas ASHRAE 55 e
ISO 7730 que, normalmente, são suficientes para se estimar os valores para esta
variável.

b. Ambientais

b.1. Temperatura do ar (ta) – é a média aritmética das temperaturas de bulbo seco em


torno do ocupante, em três alturas: do tornozelo (0,10m), do tronco (0,60m) e da
cabeça (1,10m), referentes a uma pessoa sentada, e a 0,10m; 1,10m e 1,70m, para
pessoas em pé.

b.2. Temperatura radiante média ( t r ) – é definida como a temperatura uniforme de um


invólucro negro imaginário na qual a transferência de calor por radiação do corpo
humano se iguala à transferência de calor por radiação num ambiente real não
uniforme. Seu valor pode ser calculado em função dos valores das medições de
21

temperatura de globo (tg)5, temperatura do ar (ta) e velocidade do ar (Va),


utilizando-se as Eqs (2.13) e (2.14):

- convecção natural
1
ª 1
º4
t r = «(t g + 273) + 0,4.10 8. t g − t a 4 .(t g − t a )» − 273
4
(2.13)
¬ ¼
- convecção forçada
1
[ 4 0, 6
]
t r = (t g + 273) + 2,5.10 8.Va .(t g − t a ) 4 − 273 (2.14)

onde t r , ta e tg são dados em °C e Va em m/s.

b.3. Velocidade do ar (Va) – é a média da velocidade instantânea do ar à qual o corpo


está exposto. Esta média é calculada com os valores medidos durante o mesmo
período de medição e nos mesmos níveis que a temperatura do ar.

b.4 Umidade relativa (UR) – caracteriza a quantidade de vapor d’água no ar em relação


à máxima quantidade que pode ser mantida, numa dada temperatura, dado pela
relação entre a pressão parcial do vapor de água no ar, pa, e a pressão de saturação
do vapor de água no ar, ps, à mesma temperatura.

pa
UR = (2.15)
ps

A umidade relativa, UR (e conseqüentemente a pressão parcial do vapor d’água, pa)


deve ser medida a 0,60m do piso nas áreas ocupadas pelas pessoas.

A norma ISO 7726 (1998) apresenta as características necessárias dos instrumentos


de medição para determinação das variáveis ambientais, bem como o procedimento
e cuidados para a realização das medições.

5
Temperatura de globo (tg); temperatura medida no centro de um globo metálico oco de 150 mm de
diâmetro, pintado de preto fosco, colocado a 0,60m do piso nas áreas ocupadas pelas pessoas (ISO 7726,
1998).
22

Capítulo 3

AVALIAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO EM


AMBIENTES HOMOGÊNEOS

No capítulo 2 foram apresentadas equações que tratam exclusivamente de situações


de conforto, ou seja, das combinações dos parâmetros (M, W, Icl, ta, Va, pa , tr ) que causam
neutralidade térmica. Contudo, para se estabelecer um método de avaliação de um
ambiente térmico é necessário incluir a percepção das pessoas quanto à aceitação dos
ambientes que causam, ou não, conforto – a sensação térmica.
Para tal, foi estabelecido um critério que avalie o grau de desconforto apresentado
por um determinado ambiente, expresso subjetivamente, de acordo com a classificação a
seguir, denominada Escala de Sensação Térmica da ASHRAE (Tab. 3.1):

Tabela 3.1 Escala de sensação térmica da ASHRAE


+3 muito quente
+2 quente
+1 ligeiramente quente
0 neutro
-1 ligeiramente frio
-2 frio
-3 muito frio

3.1 Voto médio estimado de Fanger


À medida que um ambiente térmico se afasta das condições nas quais a maioria das
pessoas se sentiria confortável, correspondendo a um valor nulo na escala da Tabela 3.1, o
sistema termorregulador do corpo humano age com maior intensidade no sentido de
preservar a temperatura interna de variações significativas. Essa ação mais intensa do
sistema termorregulador acarreta uma sensação maior de desconforto.
Isto significa que se pode, então, associar a sensação de desconforto ao nível de
atuação do sistema termorregulador por meio de um índice que leva em conta o grau de
afastamento das condições de conforto. Esse índice, denominado de Índice de Atividade
Térmica, IAT, é definido por Fanger (1972) como a diferença entre a energia gerada no
23

corpo para uma dada atividade e o calor trocado pela pele sob condições de neutralidade
térmica para a mesma atividade e mesmo ambiente térmico. Em condições que propiciem
neutralidade térmica IAT é nulo e cresce em valor absoluto à medida que o ambiente se
afasta das condições de neutralidade.

IAT = M – (R + C + Esk + Cres + Eres) (3.1)

Assim, uma vez que IAT é uma medida da atuação do sistema termorregulador, a
sensação térmica, para uma dada atividade (M), é função de IAT. Fanger (1972) obteve
uma relação entre o IAT e M a partir do voto de algumas centenas de pessoas submetidas a
diferentes condições térmicas do ambiente, que denominou de PMV (Predicted Mean
Vote), o voto médio estimado, resultando:

[ ]
PMV = 0,303 e -0,036M + 0,028 IAT (3.2)

Considerando a abrangência do estudo realizado, o uso de PMV para a avaliação do


conforto térmico deve se restringir à faixa − 2 ≤ PMV ≤ +2 e os principais parâmetros
devem estar dentro dos seguintes intervalos:

M = 46 a 232 W/m2 (0,8 a 4 met)

Icl = 0 a 0,310 m2°/W (0 a 2 clo)

ta = 10 a 30°C

t r = 10 a 40°C

Va = 0 a 1 m/s

pa = 0 a 2700 (Pa)

UR = 30 a 70%

Uma vez que o cálculo do voto médio estimado é trabalhoso, a norma ISO 7730
(1994) apresenta tabelas, gráficos e uma rotina para utilização em microcomputador, que
permitem determinar, mais facilmente, o PMV para diferentes atividades, tipos de
vestimenta e condições ambientais.
24

A Tabela 3.2 apresenta valores de PMV para atividade sedentária (1,0 met) com
umidade relativa de 50%, que são apresentados em função da temperatura operativa6 (to),
dada pela equação 3.3.

hr t r + hc t a
to = (3.3)
hr + hc

onde: hr = coeficiente de transferência de calor por radiação;

hc = coeficiente de transferência de calor por convecção.

Para ambientes climatizados, a temperatura operativa também pode ser calculada


utilizando-se a equação:

t o = a.t a + (1 − a ).t r (3.4)

onde “a” depende da velocidade do ar, conforme a relação abaixo (ISO 7726, 1998):

Va (m/s) 0-0,2 0,2-0,6 0,6-1,0

a 0,5 0,6 0,7

Para ambientes com pessoas em atividades cuja taxa metabólica se apresenta entre
1,0 met e 1,3 met, não sujeitas à incidência direta do sol e não expostas a velocidades do ar
superiores a 0,20 m/s, a relação pode ser aproximada, com aceitável exatidão, por:

to =
(t a + tr ) (3.5)
2

3.2 Percentagem de pessoas insatisfeitas

Os valores de PMV, por si só, também não são suficientes para definir a sensação
de desconforto, pois, “ligeiramente frio”, ou qualquer outro valor da escala, não indicam o
quão insatisfeitas as pessoas estão. Para isto, Fanger (1972), associou aos índices de voto
médio estimado (PMV), valores percentuais de insatisfação manifestada por aquelas
pessoas, o percentual previsto de insatisfação (Predicted Percentage of Dissatisfied –
PPD).

6
Temperatura operativa, tO: é a temperatura de um invólucro imaginário com a temperatura radiante média
igual à temperatura do ar, no qual uma pessoa trocaria a mesma quantidade de calor por radiação e
convecção que nas condições reais.
25

Tabela 3.2 Determinação do voto médio estimado - PMV (ISO 7730, 1994)
Atividade sedentária e umidade relativa do ar de 50%

Vestimenta Temperatura Velocidade relativa do ar – m/s


Operativa
m2 ºC ºC
CLO
W
< 0.10 0.10 0.15 0.20 0.30 0.40 0.50 1.00

0 0 26 – 1.62 – 1.62 – 1.96 – 2.34


27 – 1.00 – 1.00 – 1.36 – 1.69
28 – 0.39 – 0.42 – 0.76 – 1.05
29 0.21 0.13 – 0.15 – 0.39
30 0.80 0.68 0.45 0.26
31 1.39 1.25 1.08 0.94
32 1.96 1.83 1.71 1.61
33 2.50 2.41 2.34 2.29

0.25 0.039 24 – 1.52 – 1.52 – 1.80 – 2.06 – 2.47


25 – 1.05 – 1.05 – 1.33 – 1.57 – 1.94 – 2.24 – 2.48
26 – 0.58 – 0.61 – 0.87 – 1.08 – 1.41 – 1.67 – 1.89 – 2.66
27 – 0.12 – 0.17 – 0.40 – 0.58 – 0.87 – 1.10 – 1.29 – 1.97
28 0.34 0.27 0.07 – 0.09 – 0.34 – 0.53 – 0.70 – 1.28
29 0.80 0.71 0.54 0.41 0.20 0.04 – 0.10 – 0.58
30 1.25 1.15 1.02 0.91 0.74 0.61 0.50 0.11
31 1.71 1.61 1.51 1.43 1.30 1.20 1.12 0.83

0.50 0.078 23 – 1.10 – 1.10 – 1.33 – 1.51 – 1.78 – 1.99 – 2.16


24 – 0.72 – 0.74 – 0.95 – 1.11 – 1.36 – 1.55 – 1.70 – 2.22
25 – 0.34 – 0.38 – 0.56 – 0.71 – 0.94 – 1.11 – 1.25 – 1.71
26 0.04 – 0.01 – 0.18 – 0.31 – 0.51 – 0.66 – 0.79 – 1.19
27 0.42 0.35 0.20 0.09 – 0.08 – 0.22 – 0.33 – 0.68
28 0.80 0.72 0.59 0.49 0.34 0.23 0.14 – 0.17
29 1.17 1.08 0.98 0.90 0.77 0.68 0.60 0.34
30 1.54 1.45 1.37 1.30 1.20 1.13 1.06 0.86

0.75 0.118 21 – 1.11 – 1.11 – 1.30 – 1.44 – 1.66 – 1.82 – 1.95 – 2.36
22 – 0.79 – 0.81 – 0.96 – 1.11 – 1.31 – 1.46 – 1.58 – 1.95
23 – 0.47 – 0.50 – 0.66 – 0.78 – 0.96 – 1.09 – 1.20 – 1.55
24 – 0.15 – 0.19 – 0.33 – 0.44 – 0.61 – 0.73 – 0.83 – 1.14
25 0.17 0.12 – 0.01 – 0.11 – 0.28 – 0.37 – 0.46 – 0.74
26 0.49 0.43 0.31 0.23 0.09 0.00 – 0.08 – 0.33
27 0.81 0.74 0.64 0.56 0.45 0.36 0.29 0.08
28 1.12 1.05 0.96 0.90 0.80 0.73 0.67 0.48

1.00 0.155 20 – 0.85 – 0.87 – 1.02 – 1.13 – 1.29 – 1.41 – 1.51 – 1.81
21 – 0.57 – 0.60 – 0.74 – 0.84 – 0.99 – 1.11 – 1.19 – 1.47
22 – 0.30 – 0.33 – 0.46 – 0.55 – 0.69 – 0.80 – 0.88 – 1.13
23 – 0.02 – 0.07 – 0.18 – 0.27 – 0.39 – 0.49 – 0.56 – 0.79
24 0.26 0.20 0.10 0.02 – 0.09 – 0.18 – 0.25 – 0.46
25 0.53 0.48 0.38 0.31 0.21 0.13 0.07 – 0.12
26 0.81 0.75 0.66 0.60 0.51 0.44 0.39 0.22
27 1.08 1.02 0.95 0.89 0.81 0.75 0.71 0.56

1.50 0.233 14 – 1.36 – 1.36 – 1.48 – 1.58 – 1.72 – 1.82 – 1.89 – 2.12
16 – 0.94 – 0.95 – 1.07 – 1.15 – 1.27 – 1.36 – 1.43 – 1.63
18 – 0.52 – 0.54 – 0.64 – 0.72 – 0.82 – 0.90 – 0.96 – 1.14
20 – 0.09 – 0.13 – 0.22 – 0.28 – 0.37 – 0.44 – 0.49 – 0.65
22 0.35 0.30 0.23 0.18 0.10 0.04 0.00 – 0.14
24 0.79 0.74 0.68 0.63 0.57 0.52 0.49 0.37
26 1.23 1.18 1.13 1.09 1.04 1.01 0.98 0.89
28 1.67 1.62 1.56 1.56 1.52 1.48 1.47 1.40

2.00 0.310 10 – 1.38 – 1.39 – 1.49 – 1.56 – 1.67 – 1.74 – 1.80 – 1.96
12 – 1.03 – 1.05 – 1.14 – 1.21 – 1.30 – 1.37 – 1.42 – 1.57
14 – 0.68 – 0.70 – 0.79 – 0.85 – 0.93 – 0.99 – 1.04 – 1.17
16 – 0.32 – 0.35 – 0.43 – 0.48 – 0.56 – 0.61 – 0.65 – 0.77
18 0.03 – 0.00 – 0.07 – 0.11 – 0.18 – 0.23 – 0.26 – 0.37
20 0.40 0.36 0.30 0.26 0.20 0.16 0.13 0.04
22 0.76 0.72 0.67 0.54 0.59 0.55 0.53 0.45
24 1.13 1.09 1.05 1.02 0.98 0.95 0.93 0.87

PMV = 0 indica condições de conforto térmico


26

Os valores de PPD podem ser extraídos da Figura 3.1 ou determinados pela


equação (3.6).

PPD = 100 − 95.e −(0, 03353. PMV )


4
+ 0 , 2179 PMV 2

(3.6)

A ISO 7730 (1994) recomenda, para ambientes térmicos aceitáveis, os limites de


PMV-PPD:

− 0,5 ≤ PMV ≤ +0,5


PPD ≤ 10%
Percentual de pessoas insatisfeitas - PPD

Voto médio estimado - PMV

Figura 3.1 Percentual de Pessoas Insatisfeitas X Voto Médio Estimado


(ASHRAE, 2005)

3.3 Zonas de conforto da ASHRAE

A partir do trabalho de Gagge et al. (1971) e da revisão e atualização periódica dos


estudos realizados, a ASHRAE normaliza a questão do conforto térmico na norma
ASHRAE 55. Nesta norma são especificadas zonas de conforto definidas por faixas e
combinações ótimas de fatores físicos (temperatura do ar, temperatura radiante média,
velocidade e umidade do ar) e fatores pessoais (tipo de vestimenta e nível de atividade),
com os quais, pelo menos 80% dos ocupantes expressem satisfação (Fig. 3.2).
27

Figura 3.2 Zonas de conforto de verão e inverno da ASHRAE para atividade sedentária
(ASHRAE 55, 2004; ASHRAE, 2005)

3.4 Desconforto térmico local


Mesmo que sejam satisfeitas as condições de conforto, ou de desconforto térmico
dentro dos limites aceitáveis, insatisfações térmicas locais podem ocorrer ocasionando
sensação de “frio” ou “calor” em uma parte particular do corpo (desconforto térmico
local).
Neste caso, a ISO 7730 (1994) e a ASHRAE 55 (2004) recomendam limites
adicionais para a aceitação do ambiente, baseados em um critério de 5% a 15% de
insatisfação. Mas, esses percentuais não são aditivos, pois pessoas que sentem conforto ou
desconforto, podem sentir ou não desconforto localizado e de modos diferentes. Sendo
assim, a norma admite que um ambiente estará confortável, sob os dois pontos de vista, se
satisfizer a, pelo menos, 80% dos ocupantes.
O desconforto local ocorre devido a alguns fatores que alteram a uniformidade no
ambiente. Tais fatores podem ser devido a correntes de ar, janelas ou superfícies frias ou
quentes, ou variações dessas. As principais causas são as descritas a seguir.
28

a. Correntes de ar (Draught Rate - DR) – quando ocorre um resfriamento


localizado e indesejado no corpo, devido ao movimento do ar, há uma sensação de
corrente de ar, que depende da velocidade do ar, da temperatura do ar, da
intensidade de turbulência, da atividade e da vestimenta das pessoas. A
sensibilidade à corrente de ar é maior em partes do corpo descobertas,
especialmente na região da cabeça, pescoço e ombros e na região dos pés,
tornozelos e pernas.

Determina-se o percentual de insatisfação (DR) com as correntes de ar pela


equação (3.7), quando são conhecidas a temperatura e a velocidade do ar do
ambiente. Este aspecto é verificado principalmente na altura da cabeça e tronco das
pessoas (1,10m para pessoas sentadas e 1,70m para pessoas em pé). Se a pessoa
estiver com as pernas descobertas, deve ser feita a verificação também no nível
0,10m.

[
DR = (34 − t a )(
. Va − 0,05)
0, 62
].(0,37.V .T
a u + 3,14 ) (3.7)

onde: ta = temperatura do ar local (°C)


Va = velocidade média do ar local (m/s)
Tu = intensidade de turbulência (%)

A intensidade de turbulência (Tu) – é a relação entre o desvio padrão (DPV)


e a média da velocidade do ar (Va), expresso em porcentagem. Esta relação pode ser
calculada pela equação (3.8), com base nos valores de velocidade do ar, medidos
com intervalos de 0,2 segundos, durante, pelo menos, três minutos e o desvio
padrão (DPv), referente à respectiva coleção de dados.

DPV
Tu = .100 (3.8)
Va

A ISO 7730 (1994) propõe, como limite para desconforto, 15% de


insatisfeitos. A Figura 3.3 ilustra algumas condições limites de temperatura e
velocidade do ar, dependentes da intensidade de turbulência para ambientes, nos
quais, o percentual de pessoas insatisfeitas seja o máximo tolerável (DR=15%).
29

15% insatisfeitos

Velocidade média do ar – m/s


Intensidade de turbulência

Temperatura °C

Figura 3.3 Correntes de ar para 15% de insatisfeitos em atividade sedentária


(ASHRAE, 2005)

b. Diferença vertical de temperatura do ar – geralmente, em ambientes fechados, a


temperatura do ar aumenta do piso para o teto. Se este aumento é muito grande,
pode ocorrer desconforto local expresso por calor na cabeça e frio nos pés, embora
o corpo como um todo possa estar em situação de conforto. Para que este fato não
ocorra, a diferença de temperatura não deve ser maior que 3°C, para pessoas em
atividade leve, vestindo roupa com isolamento de 0,5 clo a 0,7 clo. A Figura 3.4
pode ser usada para determinar a máxima diferença de temperatura no ambiente, de
acordo com o limite do percentual de insatisfação para o caso.

c. Assimetria da temperatura radiante – a radiação térmica em torno do ocupante


pode não ser uniforme, devido tanto a superfícies frias ou quentes quanto à radiação
solar direta. Esta assimetria pode causar desconforto local e reduzir a aceitabilidade
térmica do ambiente. Em geral, as pessoas são mais sensíveis à radiação assimétrica
causada por teto quente do que àquelas por superfícies verticais frias ou quentes.
30

Percentual de pessoas insatisfeitas - PPD


Cabeça = 1,10 m acima do
piso

Diferença de temperatura do ar entre os pés e a cabeça °C

Figura 3.4 Percentual de pessoas insatisfeitas com a diferença vertical de


temperatura do ar entre os pés e a cabeça (ASHRAE, 2005)

A medida da assimetria da temperatura radiante plana é dada pela diferença entre as


temperaturas radiantes planas de dois lados opostos de um elemento plano pequeno.
Deve ser medida na altura 0,60m para pessoas sentadas e a 1,10m do piso, para
pessoas em pé.

De acordo os com critérios determinados pela ASHRAE 55 (2004), para indivíduos


nas condições de atividade e vestimenta especificadas anteriormente, os limites
para a assimetria da temperatura radiante, apresentados no gráfico da Figura 3.5,
são os seguintes:

• Para teto quente, assimetria < 5°C


• Para teto frio, assimetria < 14°C
• Para parede quente, assimetria < 23°C
• Para parede fria, assimetria < 10°C

d. Temperatura do piso – Ocupantes de ambientes fechados, nas condições de


atividade e vestimenta já mencionadas, podem sentir desconforto nos pés, mesmo
calçados, devido ao contato direto com o piso, se este estiver frio ou quente. Os
limites de temperatura do piso indicados pela ASHRAE55 (2004), são de 19°C a
29°C, cujos limites correspondem a um percentual de 15% de insatisfeitas na
Figura 3.6.
31

Teto quente

Percentual de pessoas insatisfeitas


Parede fria

Teto frio
Parede quente

Assimetria da temperatura radiante °C

Figura 3.5 Percentual de pessoas insatisfeitas devido à assimetria da radiação


(ASHRAE, 2005).
Percentual de pessoas insatisfeitas

Temperatura do piso (°C)

Figura 3.6 Percentual de pessoas insatisfeitas com a temperatura do piso


(ASHRAE, 2005).
32

3.5 Influência de fatores secundários no conforto térmico

Os fatores intervenientes no conforto, descritos anteriormente, são ditos primários.


Entretanto, alguns outros, chamados de secundários, também podem influir no conforto,
mas em menor escala:

a. Variações diárias – Fanger (1972) concluiu que as preferências térmicas variam


pouco de um dia para o outro em ensaios que conduziu com um grupo de pessoas,
sob condições idênticas, em quatro dias diferentes.

b. Idade – em função do metabolismo diminuir ligeiramente com a idade, não seria


conveniente realizar experiências com pessoas de idades muito diferentes.
Entretanto, resultados de pesquisas realizadas na Dinamarca e Estados Unidos nas
décadas de 1960 e 1970, com grupos de diferentes idades (21 a 84 anos),
mostraram que os ambientes térmicos preferidos pelas pessoas mais idosas não
diferem daqueles preferidos pelas mais jovens (ASHRAE, 2005). O baixo
metabolismo nas pessoas mais idosas seria compensado pela baixa perda de calor
por evaporação; o que foi confirmado por Collins e Hoinville (1980 apud
ASHRAE, 2005).

c. Adaptação – resultados de pesquisas desenvolvidas por Fanger (1972) mostraram


que as pessoas não seriam capazes de se adaptar a uma determinada condição
térmica para sentir conforto, se ela não fosse de sua preferência. Sendo assim, as
condições de conforto estabelecidas poderiam servir para qualquer lugar, desde que
observada a utilização de roupas usadas habitualmente por aquelas pessoas.
Entretanto, pesquisas mais recentes realizadas em ambientes não climatizados em
climas quentes e úmidos, mostram que nestes climas as pessoas se sentem
confortáveis em temperaturas superiores àquelas previstas por Fanger (Brager e
Dear, 1998; Nicol, 2004). Em ambientes climatizados, contudo, o processo lento de
aclimatação não seria um fator relevante na adaptação térmica. Nestes ambientes o
histórico térmico anterior e os efeitos da expectativa quanto às condições térmicas
em ambientes climatizados seriam mais relevantes (Brager e Dear, 1998, Rohles,
2007). Resultados de pesquisa realizada no Japão e na Coréia do Sul mostram que
pessoas que utilizam ar condicionado em casa consideraram um mesmo ambiente
térmico mais quente do que aqueles que não têm ar condicionado em casa (Chun et
al., 2008).

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