Análise Do Conforto Térmico em Ambientes Climatizados: Arlindo Tribess
Análise Do Conforto Térmico em Ambientes Climatizados: Arlindo Tribess
Análise Do Conforto Térmico em Ambientes Climatizados: Arlindo Tribess
São Paulo
2008
i
FICHA CATALOGRÁFICA
Tribess, Arlindo
ii
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Eitaro Yamane pelo exemplo de correção e determinação e pela confiança e
apoio ao longo de toda a minha vida acadêmica no Departamento de Engenharia Mecânica
da Escola Politécnica da USP.
Ao Prof. Dr. Walter Borzani (in memoriam) pelo inestimável apoio no início da minha vida
acadêmica na Universidade Regional de Blumenau.
Ao Prof. Dr. Clóvis Raimundo Maliska, orientador do mestrado, e ao Prof. Dr. Giovanni
Brunello, orientador do doutorado, pela confiança, incentivo e exemplo de orientação.
Ao Prof. Dr. José Maria Saiz Jabardo e ao Prof. Dr. Jurandir Itizo Yanagihara pelas
importantes sugestões e contribuição ao estudo do conforto térmico.
Aos engenheiros André Busse Gomes, Brenda Chaves Coelho Leite, Danilo de Moura,
Eduardo Oliveira dos Santos, Fernando Stancato, José Alberto Ávila, José Carlos Lima,
Marcelo Blanco Bolsonaro de Moura, Marcelo Luiz Pereira, Marcelo Pustelnik, Márcio
Alves Ferreira, Rogério Reder Gimenez e Victor Barbosa Felix, representando os alunos de
pós-graduação e graduação que estiveram envolvidos nas diversas fases deste trabalho,
pela importante contribuição, amizade e dedicação aos projetos de pesquisa.
iii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SÍMBOLOS
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 História da climatização de ambientes 1
1.2 Evolução dos critérios e índices de conforto térmico 5
1.3 Normas técnicas de avaliação de conforto térmico 9
1.4 Motivação do trabalho 10
1.5 Objetivos do trabalho 12
1.6 Organização do trabalho 12
2 CONFORTO TÉRMICO 14
2.1 O sistema termorregulador 14
2.2 Balanço térmico do corpo humano 15
2.3 Condições de conforto térmico 17
iv
4.4.2 Procedimento de calibração do manequim 38
4.4.3 Diagramas de sensação térmica 39
v
9.1 Avanços na modelagem do conforto térmico 107
9.2 Métodos numéricos na análise do conforto térmico 109
9.3 Método da temperatura equivalente 109
9.4 Avaliações subjetivas 110
vi
LISTA DE FIGURAS
vii
Paulo (Leite, 2003)
Figura 5.2 Corte esquemático do laboratório (Leite, 2003) 44
Figura 5.3 Perspectiva da câmara de testes (Leite, 2003) 44
Figura 5.4 Outra perspectiva da câmara de testes (Leite, 2003) 45
Figura 5.5 Tela de interface homem / máquina – sistema de controle 46
(Leite, 2003)
Figura 5.6 Sistema de aquisição de dados no ambiente (Leite, 2003) 47
Figura 5.7 Pontos de medição (Leite, 2003) 49
Figura 5.8 Curvas representativas dos votos dos usuários na escala de sensação 50
térmica (Leite, 2003)
Figura 5.9 Perfis de temperatura do ar com insuflamento pelo piso (Leite, 2003) 51
Figura 5.10 Localização dos difusores de teto, simuladores e pontos de medição 54
na câmara de testes (Okuyama et al., 2005)
Figura 5.11 Perfis de temperatura e velocidades no insuflamento pelo piso e pelo 55
teto: condição C1 (26,0 oC) (Okuyama et al., 2005)
Figura 5.12 Perspectiva da câmara de testes com o split (Ramos et al., 2005) 57
Figura 5.13 Perfis de temperatura e velocidade na condição C1: 26,0 o C 58
(Ramos et al., 2005).
Figura 6.1 Sistema turbulento com insuflamento pelo teto (Schmidt, 1987) 61
Figura 6.2 Sistema turbulento com insuflamento pela parede (Schmidt, 1987) 62
Figura 6.3 Fluxo unidirecional com cortina de ar (Schmidt, 1987) 62
Figura 6.4 Zonas das salas cirúrgicas segundo critérios de assepsia 64
(Mora et al., 2001)
Figura 6.5 Valores de PMV calculados pelo método de Fanger (Felix, 2008) 67
Figura 6.6 Valores de PMV obtidos dos questionários aplicados à equipe 67
cirúrgica após realização de cirurgias (Felix, 2008)
Figura 7.1 Temperaturas do ar em cabine climatizada (Cisternino, 1999). 74
Figura 7.2 Câmara climática com simulação de radiação solar (Santos, 2005) 75
Figura 7.3 Câmara climática sem radiação solar (Moura, 2007) 75
Figura 7.4 Sitckman dentro do veículo (esquerda) e versão simplificada para 77
medições de velocidade do ar (direita) (Guan et al, 2003a).
Figura 7.5 Representação esquemática do problema (Han e Huang, 2004) 79
Figura 7.6 Temperaturas equivalentes (EHT) nos 16 segmentos (Han e Huang, 79
2004)
viii
Figura 7.7 Pontos de medição de temperaturas do ar no interior da cabine 80
(Moura, 2007)
Figura 7.8 Manequim com sensores aquecidos utilizado nos ensaios (Gomes, 81
2005)
Figura 7.9 Posicionamento do manequim na câmara climatizada para calibração 81
(Gomes, 2005)
Figura 7.10 Manequim com roupa 0,6 clo e 1,0 clo (Gomes, 2005) 82
Figura 7.11 Sensores de temperatura e velocidade no interior do veículo (Gomes, 83
2005)
Figura 7.12 Temperaturas superficiais do manequim - veículo B condição de 83
verão (Gomes, 2005)
Figura 7.13 Temperaturas superficiais do manequim - veículo B condição de 83
inverno (Gomes, 2005)
Figura 7.14 Temperaturas equivalentes em diagrama de sensação térmica para 84
condição de verão (Gomes, 2005)
Figura 7.15 Temperaturas equivalentes em diagrama de sensação térmica para 85
condição de inverno (Gomes, 2005)
Figura 7.16 Temperaturas equivalentes nos segmentos em contato com os 86
assentos (Lima, 2006)
Figura 8.1 Detalhe do mock-up mostrando os manequins e cilindros aquecidos 90
(Strøm-Tejsen et al., 2007).
Figura 8.2 Detalhes da cabine do mock-up (Zhang et al., 2007). 90
Figura 8.3 Cabine de Airbus 380 e detalhe de região de análise (Pennecot et al., 91
2004)
Figura 8.4 Geometria do manequim computacional com 18 segmentos 93
(Nilsson, 2004, Stancato et al., 2006)
Figura 8.5 Posicionamento do manequim na câmara de calibração 93
(Nilsson, 2004, Stancato et al., 2006)
Figura 8.6 Malha tetraédrica utilizada na calibração do manequim digital 94
(Stancato et al., 2006)
Figura 8.7 Cabine simétrica com os manequins computacionais e a malha 95
gerada (Stancato et al., 2006)
Figura 8.8 Temperaturas equivalentes para a aeronave em solo (Stancato et al., 96
2006)
ix
Figura 8.9 Temperaturas equivalentes para condição normal de vôo 96
(Stancato et al., 2006)
Figura 8.10 Temperaturas equivalentes para a condição de vôo com vazão 96
mínima (Stancato et al., 2006)
Figura 8.11 Diagrama com as temperaturas equivalentes para a aeronave em solo 97
(Stancato et al., 2006)
Figura 8.12 Diagrama com as temperaturas equivalentes para condição normal de 98
vôo (Stancato et al., 2006)
Figura 8.13 Diagrama com temperaturas equivalentes para a condição de vôo 98
com vazão mínima (Stancato et al., 2006)
Figura 8.14 Ilustração de mock-up de 20 lugares 99
Figura 8.15 Configuração do mock-up de 12 lugares (Moura, 2008) 100
Figura 8.16 Vistas internas do mock-up instalado, mostrando as poltronas, o bin e 100
manequim instrumentado (Moura, 2008)
Figura 8.17 Sistema de distribuição com mistura de ar na cabine (Zhang et al., 101
2007)
Figura 8.18 Testes realizados em mock-up simples e em aparato experimental 102
em sala de laboratório (Jacobs e Gids, 2005)
Figura 8.19 Geometria utilizada para simulação e configuração dos manequins 103
(Gao e Niu, 2007)
Figura 8.20 Linhas de corrente do sistema de insuflamento convencional (a) e do 103
sistema com insuflamento pelo piso (b) (Zhang e Chen, 2007)
Figura 8.21 Linhas de corrente da simulação do sistema com insuflamento pelo 104
piso e distribuição personalizada de ar (Zhang e Chen, 2007).
Figura 8.22 Linhas de corrente para o insuflamento pelo teto (Moura, 2008) 104
Figura 8.23 Linhas de corrente para o insuflamento pelo piso (Moura, 2008) 104
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Taxas metabólicas para alguns tipos de atividades (ASHRAE, 2005) 19
Tabela 3.1 Escala de sensação térmica da ASHRAE 22
Tabela 3.2 Determinação do voto médio estimado PMV (ISO 7730, 1994) 25
Atividade sedentária e umidade relativa do ar de 50%
Tabela 4.1 Escala de sensação térmica da norma ISO 14502-2 (2004). 41
Tabela 5.1 Características dos instrumentos de medição (Leite, 2003) 47
Tabela 5.2 Parâmetros de conforto térmico em ambientes de escritórios com 53
insuflamento pelo piso (Leite, 2003)
Tabela 5.3 Temperaturas do ar de insuflamento pelo piso e pelo teto 54
(Okuyama et al., 2005).
Tabela 5.4 Valores de PMV e PPD: ensaio 1 (piso) e 2 (teto) (Okuyama et al., 56
2005).
Tabela 5.5 Variáveis de conforto térmico e valores de PMV e PPD (Ramos et al., 59
2005)
Tabela 6.1 Condições de ensaio nas salas cirúrgicas (Felix, 2008) 66
Tabela 6.2 Valores médios de condições ambientais na zona 1 (Felix, 2008) 66
Tabela 6.3 Valores médios de condições ambientais na zona 2 (Felix, 2008) 66
Tabela 6.4 Valores de temperatura do ar para condição de conforto (Felix, 2008) 68
Tabela 6.5 Condições ambientais e pessoais de conforto térmico utilizadas nos 69
cálculos da temperatura equivalente (Felix, 2008)
Tabela 6.6 Quadro comparativo de temperaturas equivalentes (oC) 70
(Felix, 2008).
xi
LISTA DE SÍMBOLOS
xii
tg temperatura de globo °C
to temperatura operativa °C
tr temperatura radiante média °C
ts temperatura superficial °C
tsk temperatura média da pele °C
Tu intensidade de turbulência %
U taxa de variação da energia interna (W/m2)
UR umidade relativa do ar %
Va velocidade relativa do ar m/s
W trabalho externo W/m2
SIGLAS
Sigla Descrição
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ASHAE American Society of Heating and Air Conditioning Engineers
ASHRAE American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning
Engineers
ASHVE American Society of Heating and Ventilating Engineers
ASRE American Society of Refrigerating Engineers
EMBRAER Empresa Brasileira de Aeronáutica
EPUSP Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
ISO International Organization for Standardization
LCT Laboratório de Conforto Térmico
USP Universidade de São Paulo
xiii
RESUMO
xiv
ABSTRACT
The present stage of the society development has been increasing significantly the
demand for acclimatized and comfortable environments. Comfort is nowadays an
important marketing and sale tool for the automotive industry. In office buildings thermal
comfort is one of the most important well-being factors. However, comfort has not been
promoted in the desired way. In the present work a panorama of the thermal comfort study
state-of-the-art is presented and the most relevant aspects in the analysis of thermal
comfort in acclimatized environments are discussed. Buildings environments, as office
environments and surgical rooms, and automotive vehicles cabins, as automobiles and
aircrafts, are focused. Special focus is given to the particularities and differences in the
analysis of thermal comfort in those different kinds of environments. In the beginning of
the work a summary of the history of acclimatized environments and the evolution of
criteria and indexes of thermal comfort are presented. Along the work results of researches
developed by the Laboratory of Thermal Comfort of the Polytechnic School of the
University of São Paulo in the analysis and improvement of thermal comfort conditions in
acclimatized environments are presented and discussed. At the end of the work advances
and tendencies in thermal comfort modeling, in the use of numerical methods and in the
accomplishment of subjective evaluations are also presented and discussed.
xv
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
nas casas da Segunda Fortaleza de Tróia, construída antes de 2000 a.C., e na vila de
Skara Brae, nas Ilhas Orkney - costa norte da Escócia, na Segunda Idade da Pedra
(2000 a 1800 a.C) (Roberts, 1995).
Posteriormente, há pouco mais de 2000 anos, foram inventados os primeiros
sistemas de aquecimento de ambientes na Roma antiga. E, somente há pouco mais de
100 anos, foram desenvolvidos os primeiros sistemas de resfriamento do ar para
conforto, os sistemas de ar condicionado.
Bernard Nagengast é um dos pesquisadores que mais tem se dedicado a contar
esta história. Durante os últimos 35 anos tem estudado o assunto e publicado artigos
que contam a história do resfriamento do ar para conforto e do ar condicionado
(Nagengast, 1993; 1999; 2002; Nagengast e Groff, 2007). Paralelamente, outros
pesquisadores tem contado a história do aquecimento de ambientes desde o homem
primitivo até o final da era Vitoriana (Roberts, 1995); a história do ar condicionado de
uso doméstico (Pauken, 1999); a história do ar condicionado automotivo (Ludvigsen,
1995; Bhatti, 1999) e a história da refrigeração e do ar condicionado no Brasil (Di
Rienzo, 2006).
A climatização de ambientes começou por volta do ano 80 a.C, quando os
romanos inventaram um sistema de aquecimento de ambientes denominado de
hypocaustum (do grego hypo (debaixo) e kauston (queimando)), que consistia na
passagem de gases de combustão e ar quente por um plenum construído abaixo do piso.
Em função da ocorrência, naquela época, de temperaturas amenas ao longo de
todo o ano na região do Mediterrâneo, o sistema foi utilizado, inicialmente, somente
para aquecimento em banhos públicos. Mas, após a destruição de Pompéia, no ano 79,
o sistema começou a ser utilizado também para aquecimento de ambientes e se
espalhou pela Europa e Grã-Bretanha. A partir daí, novos sistemas foram inventados,
como os fogões e lareiras (sem e com chaminés) e os sistemas que utilizam vapor
d´água e água quente, no final do século XVIII e início do século XIX.
Enquanto isso, com relação ao resfriamento de ambientes para conforto,
aparentemente, muito pouco foi feito antes do século XIX. A exceção ficou por conta
do armazenamento e utilização do gelo das montanhas na busca de temperaturas mais
amenas em espaços de convivência, na civilização greco-romana. No século III o
imperador romano Varius Avitus teria ordenado que montanhas de neve fossem
carregadas e formassem montes em seu jardim no verão, para que a brisa natural
pudesse ser resfriada e atingisse os seus aposentos. Até a segunda metade do século
XIX o resfriamento de ambientes ficou restrito a este tipo de aplicação.
3
Foi também em 1906 que o termo air conditioning foi utilizado pela primeira
vez, pelo engenheiro têxtil Stuart Cramer, no registro de patente de dispositivo para
regulagem automática da umidade e temperatura do ar em fábricas, intitulado
Humidifying and Air Conditioning Apparatus.
Até a década de 1920 poucos eram os sistemas de ar condicionado instalados
objetivando conforto. Em função da necessidade de um engenheiro para operar o
sistema, do custo elevado dos equipamentos, do grande consumo de água no
condensador e do problema dos refrigerantes tóxicos do ciclo de refrigeração, as
instalações ficaram praticamente restritas à aplicação industrial.
Em 1924, o início da produção de resfriadores de líquidos, os chillers,
combinados com sistema tipo spray de controle de condições higrotérmicas, mostraram
ser bem mais seguros e uma forma de diminuir o custo de sistemas de ar condicionado,
viabilizando a utilização de sistemas de grande porte em maior escala. Para instalações
menores, contudo, o sistema de ar condicionado ainda era muito caro e inviável, não
permitindo a sua utilização em massa. Nas décadas de 1920 e 1930 a grande aplicação
não industrial do ar condicionado ainda eram os teatros e as salas de cinema.
Nas décadas de 1930 e 1940 uma forte campanha de marketing dos fabricantes
de gelo nos Estados Unidos, com preços relativamente baixos, viabilizou a volta do uso
do gelo para resfriamento do ar em larga escala. Eram instalados sistemas utilizando o
gelo em arranjos de lavadores de ar, bem como de gelo derretido em água circulando
por conjuntos ventilador-serpentina - os fan-coils, com controle de condições
higrotérmicas.
Até a década de 1930 os sistemas de ar condicionado eram sistemas centrais e
muito caros para instalação em construções já existentes. Em 1931 foi produzido o
primeiro sistema de ar condicionado portátil com compressor hermético. Embora fosse
classificado como portátil, nunca era movido de um ambiente para outro em função de
seu peso de aprox. 540 kg. Na mesma linha de desenvolvimento, o primeiro ar
condicionado de janela foi vendido pela Westinghouse em 1941.
Na década de 1930 também começou o desenvolvimento de sistemas de
refrigeração para resfriamento do ar em automóveis. Em 1939 a Packard Motor Car
lançou o primeiro sistema completo de refrigeração e aquecimento original de fábrica.
Em 1941 a General Motors introduziu o sistema de ar condicionado na linha Cadillac.
Desde então, até os dias de hoje, os sistemas de climatização em veículos automotivos
tem experimentado grande desenvolvimento, assim como os sistemas de ar
condicionado utilizados em edificações.
5
1
ASHVE – American Society of Heating and Ventilating Engineers, fundada em 1894, que em 1954 mudou
o nome para ASHAE - American Society of Heating and Air Conditioning Engineers e, finalmente em 1962
para ASHRAE – American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers, resultado da
fusão com a ASRE - American Society of Refrigerating Engineers, fundada em 1905.
2
Temperatura efetiva (ET): temperatura de um ambiente de ar saturado e de velocidade nula do ar que
provoca a mesma sensação térmica que o ambiente real.
6
3
Temperatura efetiva (ET*): temperatura uniforme de um ambiente imaginário, de ar com velocidade nula e
umidade relativa de 50%, com o qual a pessoa trocaria a mesma quantidade de calor, por radiação,
convecção e evaporação, que no ambiente real.
8
4
Temperatura equivalente (teq): temperatura de um invólucro imaginário com a temperatura radiante média
igual à temperatura do ar e ar parado, no qual a pessoa troca a mesma quantidade de calor por radiação e
convecção que nas condições reais (ASHRAE 62, 1989).
10
ESTÉTICA
A CUSTICA
SEGURA NÇA
MOBILIÁ RIO
ILUMINA ÇÃ O
QUA LIDA DE DO A R
CONFORTO TÉRMICO
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Finalmente, nos últimos dez anos uma série de trabalhos vem sendo desenvolvidos
pelo Laboratório de Conforto Térmico da Escola Politécnica da USP (LCT/EPUSP) na
análise e na busca de soluções para o conforto térmico em ambientes climatizados de
edificações e de veículos automotivos, cujos principais resultados são apresentados no
presente trabalho.
Capítulo 2
CONFORTO TÉRMICO
A norma ASHRAE 55 define conforto térmico como “um estado de espírito que
expressa satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa”. Esta definição
“deixa em aberto o que significa estado de espírito e satisfação, mas enfatiza
corretamente que o julgamento do conforto é um processo cognitivo, que envolve
muitos dados de entrada influenciados por processos físicos, fisiológicos, psicológicos,
entre outros” (ASHRAE, 2005).
De uma forma geral, o conforto térmico ocorre quando as temperaturas do corpo
são mantidas em uma faixa estreita de variação, a evaporação de suor é pequena e o
esforço fisiológico de regulação é minimizado.
Em condições térmicas diferentes daquelas na qual a pessoa se sentiria
confortável, o organismo provoca reações desencadeadas pelo sistema termorregulador,
que age no sentido de manter constante a temperatura interna do corpo frente a
variações térmicas internas e externas. Esta ação mais intensa do sistema
termorregulador acarreta sensação de desconforto.
são, entretanto, o resultado do trabalho dos músculos, que pode mudar o metabolismo basal
por um fator de 10 vezes (Olesen, 1982).
Em mamíferos, incluindo o homem, o balanço térmico entre a geração interna de
energia e o calor perdido para o ambiente é controlado principalmente pelo hipotálamo
(Fig. 2.1), que atua como um termostato. O hipotálamo recebe sinais de neuro-receptores
termo-sensíveis localizados em uma grande extensão da pele. Em ambientes frios a
excitação dos receptores sensíveis ao frio irá baixar o set-point e o ajuste do balanço
térmico se dará por meio de vaso-constrição e de “tremores”. Em ambientes quentes, por
outro lado, o set-point aumenta e o ajuste se dará pelo aumento da perda de calor por meio
de vaso-dilatação na pele e suor. A eficiência do controle do sistema termorregulador é
semelhante nos homens e mulheres, sendo diminuída em idosos e em pacientes gravemente
enfermos (Biazzotto et. al., 2006).
Uma revisão muito boa sobre o sistema termorregulador e a sua atuação pode ser
encontrada em Ferreira (1997) e Ferreira (2001).
Radiação (R)
Convecção (C)
Superfície no
C+R (pele)
Ambiente
Corpo
Pele (tsk, AD)
Suor (psk,sw)
Figura 2.2 Modelo cilíndrico da interação térmica corpo humano – meio envolvente
(ASHRAE, 2005)
onde:
M = metabolismo;
W = trabalho externo;
Fanger (1972) estabelece três condições para uma situação de conforto térmico de
uma pessoa exposta a um dado ambiente por um período longo:
A. A primeira condição é que haja equilíbrio das trocas de calor entre o corpo e o
ambiente, isto é,
U = 0 (2.2)
B. A segunda condição é que a temperatura média da pele (tsk) seja dada pela equação:
[
(M − W ) = 3,96.10 −8 f cl (t cl + 273)4 + (t r + 273)
4
]
+ f cl .hc (t cl − t a ) + 3,05[5.73 − 0,007(M − W ) − p a ]
°2,38(t cl − t a )0, 25 0 , 25
2,38(t cl − t a ) > 12,1 Va ½°
® para 0 , 25 ¾
°̄ 12,1 Va 2,38(t cl − t a ) ≤ 12,1 Va °¿
(2.7)
18
onde:
M = metabolismo (W/m2)
ta = temperatura do ar (°C)
A equação 2.5 relaciona os fatores pessoais (M, W, Icl ) e ambientais (ta, Va, pa , tr )
para conforto térmico:
a. Pessoais
a.1. Atividade, dada por (M- W) - O metabolismo é dado em unidade “met”, onde l met é
igual ao metabolismo para uma pessoa sentada em repouso, isto é, em atividade
sedentária (1 met = 58,2 W/m2). Na Tabela 2.1, são listadas algumas atividades e
seus correspondentes valores de metabolismo.
O trabalho externo, normalmente, pode ser considerado igual a zero (W = 0), pois
corresponde ao trabalho de levantamento de um peso ou ascensão de um aclive, ao
passo que uma caminhada em plano horizontal não representa realização de
trabalho.
a.2. Vestimenta – é dada pelo índice de isolamento térmico da roupa (Icl) que pode ser
determinado basicamente sob duas formas: por meio de medições em manequins
aquecidos (McCullough e Jones, l984 apud ASHRAE, 2005) e por meio de
medições em pessoas (Nishi et al., 1975).
19
Mc Cullough e Jones (1984 apud ASHRAE 2005) sugerem que, para se obter o
isolamento térmico de um conjunto de roupas, pode-se utilizar a equação 2.10,
considerando valores específicos para cada peça:
onde:
onde:
l = altura (m)
A equação 2.12 é empírica (ASHRAE, 2005), por meio da qual, se pode estimar um
valor da superfície externa do corpo nu, se conhecidos a sua massa e sua altura.
b. Ambientais
- convecção natural
1
ª 1
º4
t r = «(t g + 273) + 0,4.10 8. t g − t a 4 .(t g − t a )» − 273
4
(2.13)
¬ ¼
- convecção forçada
1
[ 4 0, 6
]
t r = (t g + 273) + 2,5.10 8.Va .(t g − t a ) 4 − 273 (2.14)
pa
UR = (2.15)
ps
5
Temperatura de globo (tg); temperatura medida no centro de um globo metálico oco de 150 mm de
diâmetro, pintado de preto fosco, colocado a 0,60m do piso nas áreas ocupadas pelas pessoas (ISO 7726,
1998).
22
Capítulo 3
corpo para uma dada atividade e o calor trocado pela pele sob condições de neutralidade
térmica para a mesma atividade e mesmo ambiente térmico. Em condições que propiciem
neutralidade térmica IAT é nulo e cresce em valor absoluto à medida que o ambiente se
afasta das condições de neutralidade.
Assim, uma vez que IAT é uma medida da atuação do sistema termorregulador, a
sensação térmica, para uma dada atividade (M), é função de IAT. Fanger (1972) obteve
uma relação entre o IAT e M a partir do voto de algumas centenas de pessoas submetidas a
diferentes condições térmicas do ambiente, que denominou de PMV (Predicted Mean
Vote), o voto médio estimado, resultando:
[ ]
PMV = 0,303 e -0,036M + 0,028 IAT (3.2)
ta = 10 a 30°C
t r = 10 a 40°C
Va = 0 a 1 m/s
pa = 0 a 2700 (Pa)
UR = 30 a 70%
Uma vez que o cálculo do voto médio estimado é trabalhoso, a norma ISO 7730
(1994) apresenta tabelas, gráficos e uma rotina para utilização em microcomputador, que
permitem determinar, mais facilmente, o PMV para diferentes atividades, tipos de
vestimenta e condições ambientais.
24
A Tabela 3.2 apresenta valores de PMV para atividade sedentária (1,0 met) com
umidade relativa de 50%, que são apresentados em função da temperatura operativa6 (to),
dada pela equação 3.3.
hr t r + hc t a
to = (3.3)
hr + hc
onde “a” depende da velocidade do ar, conforme a relação abaixo (ISO 7726, 1998):
Para ambientes com pessoas em atividades cuja taxa metabólica se apresenta entre
1,0 met e 1,3 met, não sujeitas à incidência direta do sol e não expostas a velocidades do ar
superiores a 0,20 m/s, a relação pode ser aproximada, com aceitável exatidão, por:
to =
(t a + tr ) (3.5)
2
Os valores de PMV, por si só, também não são suficientes para definir a sensação
de desconforto, pois, “ligeiramente frio”, ou qualquer outro valor da escala, não indicam o
quão insatisfeitas as pessoas estão. Para isto, Fanger (1972), associou aos índices de voto
médio estimado (PMV), valores percentuais de insatisfação manifestada por aquelas
pessoas, o percentual previsto de insatisfação (Predicted Percentage of Dissatisfied –
PPD).
6
Temperatura operativa, tO: é a temperatura de um invólucro imaginário com a temperatura radiante média
igual à temperatura do ar, no qual uma pessoa trocaria a mesma quantidade de calor por radiação e
convecção que nas condições reais.
25
Tabela 3.2 Determinação do voto médio estimado - PMV (ISO 7730, 1994)
Atividade sedentária e umidade relativa do ar de 50%
0.75 0.118 21 – 1.11 – 1.11 – 1.30 – 1.44 – 1.66 – 1.82 – 1.95 – 2.36
22 – 0.79 – 0.81 – 0.96 – 1.11 – 1.31 – 1.46 – 1.58 – 1.95
23 – 0.47 – 0.50 – 0.66 – 0.78 – 0.96 – 1.09 – 1.20 – 1.55
24 – 0.15 – 0.19 – 0.33 – 0.44 – 0.61 – 0.73 – 0.83 – 1.14
25 0.17 0.12 – 0.01 – 0.11 – 0.28 – 0.37 – 0.46 – 0.74
26 0.49 0.43 0.31 0.23 0.09 0.00 – 0.08 – 0.33
27 0.81 0.74 0.64 0.56 0.45 0.36 0.29 0.08
28 1.12 1.05 0.96 0.90 0.80 0.73 0.67 0.48
1.00 0.155 20 – 0.85 – 0.87 – 1.02 – 1.13 – 1.29 – 1.41 – 1.51 – 1.81
21 – 0.57 – 0.60 – 0.74 – 0.84 – 0.99 – 1.11 – 1.19 – 1.47
22 – 0.30 – 0.33 – 0.46 – 0.55 – 0.69 – 0.80 – 0.88 – 1.13
23 – 0.02 – 0.07 – 0.18 – 0.27 – 0.39 – 0.49 – 0.56 – 0.79
24 0.26 0.20 0.10 0.02 – 0.09 – 0.18 – 0.25 – 0.46
25 0.53 0.48 0.38 0.31 0.21 0.13 0.07 – 0.12
26 0.81 0.75 0.66 0.60 0.51 0.44 0.39 0.22
27 1.08 1.02 0.95 0.89 0.81 0.75 0.71 0.56
1.50 0.233 14 – 1.36 – 1.36 – 1.48 – 1.58 – 1.72 – 1.82 – 1.89 – 2.12
16 – 0.94 – 0.95 – 1.07 – 1.15 – 1.27 – 1.36 – 1.43 – 1.63
18 – 0.52 – 0.54 – 0.64 – 0.72 – 0.82 – 0.90 – 0.96 – 1.14
20 – 0.09 – 0.13 – 0.22 – 0.28 – 0.37 – 0.44 – 0.49 – 0.65
22 0.35 0.30 0.23 0.18 0.10 0.04 0.00 – 0.14
24 0.79 0.74 0.68 0.63 0.57 0.52 0.49 0.37
26 1.23 1.18 1.13 1.09 1.04 1.01 0.98 0.89
28 1.67 1.62 1.56 1.56 1.52 1.48 1.47 1.40
2.00 0.310 10 – 1.38 – 1.39 – 1.49 – 1.56 – 1.67 – 1.74 – 1.80 – 1.96
12 – 1.03 – 1.05 – 1.14 – 1.21 – 1.30 – 1.37 – 1.42 – 1.57
14 – 0.68 – 0.70 – 0.79 – 0.85 – 0.93 – 0.99 – 1.04 – 1.17
16 – 0.32 – 0.35 – 0.43 – 0.48 – 0.56 – 0.61 – 0.65 – 0.77
18 0.03 – 0.00 – 0.07 – 0.11 – 0.18 – 0.23 – 0.26 – 0.37
20 0.40 0.36 0.30 0.26 0.20 0.16 0.13 0.04
22 0.76 0.72 0.67 0.54 0.59 0.55 0.53 0.45
24 1.13 1.09 1.05 1.02 0.98 0.95 0.93 0.87
(3.6)
Figura 3.2 Zonas de conforto de verão e inverno da ASHRAE para atividade sedentária
(ASHRAE 55, 2004; ASHRAE, 2005)
[
DR = (34 − t a )(
. Va − 0,05)
0, 62
].(0,37.V .T
a u + 3,14 ) (3.7)
DPV
Tu = .100 (3.8)
Va
15% insatisfeitos
Temperatura °C
Teto quente
Teto frio
Parede quente