Ensaios Educacionais
Ensaios Educacionais
Ensaios Educacionais
Organizador
Formato: e-book
Acesso em www.editorabagai.com.br
ISBN: 978-65-5368-116-3
CDD 370
10-2022/20 CDU 37.01
https://doi.org/10.37008/978-65-5368-116-3.23.09.22
R
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Sidney Washington de Lima Melquiades
Organizador
ENSAIOS EDUCACIONAIS
ENTRE TEORIAS E PRÁTICAS
1.ª Edição - Copyright© 2022 dos autores
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cada autor(es).
Revisão Os autores
5
CURRÍCULO ESCOLAR: REFERECIAL NA TRANSMISSÃO DA
CULTURA E COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA APRENDIZAGEM
CONSTRUCIONISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
Moacir de Souza Júnior | Leila Melo Cajazeira | Maria do Socorro Furtado Silva Silveira |
Maria do Carmo da Silva Souza | Maria Cristiane Raimundo da Costa |
Maria Ivanilda Cassimiro de Brito | Célia Maria da Silva
6
APRESENTAÇÃO
7
No quarto capítulo, A Escolarização dos Alunos(as) Surdos-ne-
gros(as), escrito por Helleni Priscille de Souza Ferreira Oliveira, Élida
Soares de Santana Alves, Fernanda Marcelo Souza, Leia Silva San-
tos, André Luiz de Alcântara Brandão, Alan dos Santos Andrade
Ferreira, Roselin Angelita Dantas Reis e Damaris Oliveira Souto,
onde objetivam discutir a pauta da educação de pessoas com sur-
dez para a educação brasileira.
No quinto capítulo, intitulado Uma Revisão Sistemática de Lite-
ratura Sobre o Conceito de Função Usando a Lente da Teoria Antropológica
do Didático, dos escritores Jefferson Dagmar Pessoa Brandão e Iracema
Campos Cusati, que tem como objetivo identificar as contribuições
da Teoria Antropológica do Didático nas investigações que adotaram
o conceito de função como objeto de pesquisa.
No sexto capítulo, com título Uma Proposta Teórico-Metodológico
de Ensino de Língua Inglesa com Base na Linguística Gerativa e na Abor-
dagem da Aprendizagem Ativa, escrito por Glaucyenne Cavalcante dos
Santos e Jessé de Sousa Mourão, tem como objetivo apresentar uma
proposta teórico-metodológica baseada no modelo de Pilati (2017)
e adaptada para o contexto de ensino e aprendizagem de segunda
língua, particularmente de língua inglesa.
No sétimo capítulo, designado Como Surgiu o Moderno Estudo
dos Semicondutores e Quais Foram Suas Primeiras Aplicações Tecno-
lógicas?, produzido por Francisco Vadimar Bezerra Alves, João Eri-
neudo Cavalcante, Marlene Francisca de Andrade, em que o objetivo
do trabalho foi fazer um levantamento bibliográfico de como surgiu
o moderno estudo dos semicondutores, como também as suas pri-
meiras aplicações tecnológicas.
No oitavo capítulo, nominado A Internet na Sala de Aula e a
Sala De Aula na Internet: as novas tecnologias comunicacionais e sua
interface educadora, escrito por Leonardo Freire Marino, com objetivo
de apontar de que forma as tecnologias digitais e as redes infor-
macionais têm contribuído para a construção de um novo arranjo
pedagógico e, consequentemente, possibilitado o soerguimento de
um novo arcabouço metodológico.
8
No nono capítulo, sob o título O Fenômeno da Monotongação nas
Aulas de Língua Portuguesa nos Anos Finais do Ensino Fundamental,
escrito por Julieta Vilar Medeiros, Marleide Maria Arruda Linha-
res Isaias e Samara Cornélio Fernandes dos Santos, onde objetiva-
ram apresentar um percurso possível de reflexão sobre o fenômeno
de monotongação com alunos do 6º ano do ensino fundamental
nas aulas de língua portuguesa.
No décimo capítulo, Currículo Escolar: referecial na transmissão
da cultura e como ponto de partida para uma aprendizagem construcio-
nista, os pesquisadores Moacir de Souza Júnior, Leila Melo Caja-
zeira, Maria do Socorro Furtado Silva Silveira, Maria do Carmo da
Silva Souza, Maria Cristiane Raimundo da Costa, Maria Ivanilda
Cassimiro de Brito e Célia Maria da Silva, objetivaram apresentar
um levantamento sobre currículo e tem a intenção de provocar uma
reflexão, a partir de debates que acontecem frequentemente entre os
profissionais da área educacional.
No décimo primeiro capítulo, A Produção Textual Escrita em Livros
Didáticos do Ensino Fundamental Anos Finais, escrito por Benigna Soares
Lessa Neta e Mônica de Souza Serafim, com objetivo de analisar as
propostas de produção textual escrita presentes em livros didáticos de
Língua Portuguesa da primeira e da última série do ensino Ginasial,
atual Ensino Fundamental Anos Finais.
No décimo segundo capítulo, nominado Proposta de Ensino do
Conjunto dos Racionais com Base na Teoria Histórico-Cultural com Abor-
dagem Geométrica, produzido pelo autores Sarah Galatto Cancillier,
Mateus Bitencourt, Maxwel Fernandes Bernardes e Eloir Fátima
Mondardo Cardoso, que objetivou-se desenvolver, aplicar e avaliar
uma proposta de ensino dos conjuntos dos racionais com base na
Teoria Histórico-Cultural - THC.
No décimo terceiro capítulo, intitulado Letramento Literário:
relato de experiência de leitura em sala de aula virtual, dos pesquisadores
Adilma Gomes da Silva Machado, Antônia Caroline Alves da Silva e
Sidney Washington de Lima Melquiades, com objetivo de trabalhar o
9
eixo de leitura e oralidade a partir do gênero conto, visando as práticas
de leitura: antes, durante e depois da leitura.
No décimo quarto capítulo, As Tecnologias Digitais e o Ensino de
Química: quais são as ferramentas gratuitas disponíveis para o desenvolvi-
mento uma prática docente inovadora?, escrito por Maria Stella Nunes
de Oliveira Nogueira, tem como objetivo disponibilizar algumas
tecnologias digitais importantes para o ensino de Química.
No décimo quinto capítulo, designado O Reflexo do Movimento
Migratório na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá: a prática do pro-
fessor e sua formação continuada, os autores Taysa Paganotto Lemes
e Caique dos Santos Silva, objetivaram abordar os aspectos legais
que asseguram aos imigrantes e refugiados, os direitos fundamentais
que permeiam sua formação educacional dentro do Brasil e em seus
estados e municípios, nos quais se encontra, e quais políticas educa-
cionais estão propostas e eles.
No décimo sexto capítulo, Memórias de Verão: o lugar da ausência
no romance ao Farol, de Virginia Woolf, da pesquisadora Francielle Apa-
recida Garuti de Andrade, que tem como objetivo analisar o lugar da
ausência no romance Ao Farol de Virginia Woolf à luz dos conceitos
de memória coletiva e individual.
No décimo sétimo capítulo, intitulado Documentário “Nosso
Sagrado” no Combate ao Racismo Religioso no Espaço Escolar, do pes-
quisador Jorge Santana, objetivou trazer as experiências das exibições
e rodas de conversas do documentário “Nosso Sagrado” em diversas
escolas privadas e públicas no estado do Rio de Janeiro.
No décimo oitavo capítulo, Relato de Experiência: reflexões sobre
o produtivismo acadêmico, avanços e desafios, da autora Tânia Aparecida
Soares, com objetivo de apresentar análises e reflexões sobre o produ-
tivismo acadêmico, seus avanços e desafios postos pela quantificação
de produções, amparada pela política de avaliação.
Diante do exposto, esperamos que as leituras sejam alvo de
boas reflexões e de transformação da realidade educacional brasileira.
Organizador
10
CONTEXTO HISTÓRICO DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA NO BRASIL
INTRODUÇÃO
1
Doutora em Educação (UEM). Professora Adjunta (UNILA).
CV: http://lattes.cnpq.br/2603261007140303
2
Doutora em Educação (USP). Professora aposentada do Programa de Pós-Graduação em Educação
(UEM). Professora (UNOESTE). CV: http://lattes.cnpq.br/9372609347074339
3
Doutora em Educação (UEM). Professora colaboradora (UENP).
CV: http://lattes.cnpq.br/0978100384431802
11
voltada para a característica de adestramento, treinando os indivíduos,
ofertando conteúdos abstratos e conformismo, ignorando a sua ver-
dadeira função, a de promover uma transformação e revolução social.
Diante dessa realidade pontuada pelo autor e reconhecendo a
concepção de função da escola defendida por Saviani, logo, confron-
tamo-nos com um problema maior, que não se remete apenas ao ato
de incluir, mas reserva-se a formação que está sendo ofertada nestes
espaços inclusivos de educação. Nesta perspectiva, o estudo aqui se
propõe, a princípio, fazer um giro histórico e epistemológico a res-
peito da educação especial e os encaminhamentos que resultaram na
oficialização da educação inclusiva no Brasil. Logo, nosso foco será
observar na região nordeste do Brasil, quais encaminhamentos as
políticas do estado têm aplicado quanto ao processo inclusivo e seu
caráter substancial de formação dos alunos, considerando a priori, os
investimentos na área e as práticas pedagógicas de ensino
DESENVOLVIMENTO
15
A partir de 1954, organizações filantrópicas foram sendo implan-
tadas, como o das pessoas com Deficiência Física, devido ao surto de
poliomielite que se desencadeou nesse período, entre elas, a Associação
de Assistência à Criança Defeituosa (AACD) de São Paulo (LANNA
JUNIOR, 2010). O Brasil superou os demais países quanto ao aten-
dimento, enquanto os demais países priorizavam os mutilados das
guerras, no Brasil, atendia-se independente da causa de sua deficiência.
Bueno (1993) adverte que enquanto essas entidades se formalizavam
em instituições especializadas, atendendo às diferentes deficiências,
o poder público inseria seus investimentos nas classes especiais em
escolas regulares, restringindo-se à deficiência mental.
Na década de 50, o Brasil continha inúmeras instituições públi-
cas, filantrópicas e privadas na área. No período que segue até 1959,
aumentou-se o número de estabelecimentos, em sua grande maio-
ria de caráter público (MIRANDA, 2003). Outros movimentos a
partir da década de 1960 foram surgindo, expansão de instituições
privadas de caráter filantrópico sem fins lucrativos, isentando assim,
o governo da obrigatoriedade na oferta desse atendimento na rede
pública de ensino (MIRANDA, 2003).
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), nº 4.024/61, criada em 1961, apresenta nas suas alíneas nos
artigos 88 e 89, as pessoas com deficiência. Destaca-se que a educação
dos excepcionais passa a ser enquadrada no sistema geral de educação,
tendo como princípio a integração desses sujeitos a sociedade. A lei veio
garantir tratamento especial por meio de empréstimos, subvenções e
bolsas de estudo para as iniciativas privadas que tinham atendimentos
eficientes na questão educacional dessas pessoas.
Na LDBEN nº 5.692 de 1971, aparece em seu Art. 9º, com base
nas normas fixadas pelos Conselhos de Educação, considerações acerca
da educação de alunos com deficiência, principalmente os alunos com
Deficiência Física e Intelectual. De acordo com Ferreira (2006), a lei
veio atribuir definições para a educação das pessoas com deficiência,
16
entre elas, a efetivação de carreiras dos professores para atuarem com
esses alunos e, por fim, a organização de equipes que trabalhem na
reabilitação dessas pessoas, bem como, na educação formal.
A influência da Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes,
aprovada pelas Nações Unidas em 1975 foi decisiva nas reformas de
esfera educacional. Miranda (2003) aponta que a prática de inte-
gração social ocorrida a partir da década de 80, teve repercussão no
mundo todo, abrangendo também, a Constituição Federal (CF/88,
artigo 208), estabelecia o direito de todos pela educação e o atendi-
mento de pessoas com deficiência.
Consolidaram-se, assim, até a década de 1990, as classes especiais
nas escolas de ensino comum, e as salas de recursos para alunos com
deficiência sensorial. Na constituição brasileira destaca-se a Educação
Especial como modalidade educativa de abrangência desde a infância
até o Ensino Médio. Esse período representou a disseminação de inú-
meros documentos, propostos por organismos internacionais em defesa
do direito de todos a educação, inclusive das pessoas com deficiência,
fortalecendo assim, o processo da inclusão. A interferência constante
de outros setores na esfera educacional como a política e a economia
tornaram-se notórias. Os financiamentos no sistema educacional vão
permitindo a participação do Fundo Monetário Internacional (FMI),
o Banco Mundial (BM), o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BIRD), além da Unesco, que aparece após a Segunda Guerra Mundial
com o intuito de promover a paz e criar condições de acesso à educação.
Entre as conferências realizadas, a de Jomtien na Tailândia,
em 1990, representaria a proposta mais complementar para a reso-
lução dos problemas sociais e, consequentemente, educacionais, mas
a reunião entre os países latino-americanos e o Caribe, que ocor-
reria no final de 1989 e início de 1990, no Equador, representou a
possibilidade de reverter as condições dos países desestabilizados
economicamente pela dívida externa em benefícios posteriores para
a área educacional (GADOTTI, 1999).
17
A partir da década de 1990, observa-se um pacote de reformas
do BIRD no que tange à descentralização dos estados. Trata-se de uma
nova configuração nas políticas educacionais e na Reforma Estatal.
Entre essas reformas, constavam aos governos em âmbito educacional:
“(1) fixar padrões, (2) facilitar os insumos que influenciam o rendimento
escolar, (3) adotar estratégias flexíveis para a aquisição e uso de tais insu-
mos; e (4) monitorar o desempenho escolar” (ALTMANN, 2002, p. 80).
No Brasil, a escola torna-se o espaço de mudanças e as políticas
versam para a superação do déficit escolar. Paralelamente a esse discurso,
dá-se ênfase a educação inclusiva e o acesso das pessoas com deficiência
a escolarização. Na Lei nº 8.069/90 no Art. 54, no inciso III, preconiza
o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1990).
Em 1994, à Declaração de Salamanca, reafirma e reconhece
a necessidade urgente de providências na área educacional, além do
compromisso com a educação de crianças, jovens e adultos com defi-
ciência no sistema regular de ensino (UNESCO, 1994).
Em janeiro de 1995, Fernando Henrique Cardoso assume a
presidência da República, seu mandato reforçou algumas normatiza-
ções e instrumentalizou novas, como “modalidade de educação escolar,
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
portadores de necessidades especiais” (BRASIL, 1996). Além disso,
atribuem serviços e apoios especiais para o atendimento a esses alunos
na rede regular, considerando as peculiaridades de cada um, e o AEE é
necessário quando a deficiência impede a frequência na classe comum.
Em 2001, a Declaração Internacional de Montreal sobre Inclu-
são foi aprovada no Canadá pelo Congresso Internacional “Socie-
dade Inclusiva”, cujo objetivo maior é a parceira de todos os estados,
buscando soluções quanto aos estilos de vida que sejam sustentáveis,
além de serem seguros, acessíveis, adquiríveis e úteis, destacando
que “o desenho acessível e inclusivo de ambientes, produtos e servi-
ços aumenta a eficiência, reduz a sobreposição, resulta em economia
18
financeira e contribui para o desenvolvimento do capital cultural,
econômico e social” (CANADÁ, 2001).
Em 2004, foi aprovado o Decreto nº 5.626, que enfatiza que o
professor e instrutor de LIBRAS precisam ter formação em Letras/
Libras ou Pós-Graduação em LIBRAS, tanto para surdos quanto para
ouvintes, porém dar-se-á prioridade para professores surdos (BRASIL,
2005). Em 2005, cria-se os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/
Superdotação (NAAH/S) em todos os estados e no Distrito Federal,
cujo objetivo era orientar os pais, capacitar profissionais, além de
destacar o atendimento especializado desses alunos (BRASIL, 2010).
De acordo com Solano e Rodrigues (2010), no ano de 2007, foi
lançado pelo MEC o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE),
mais conhecido como “O PAC da Educação” e aprovado o Decreto
nº 6.094/07 que dispõe sobre a implementação do Plano de Metas
Compromisso Todos pela Educação, um regime colaborativo entre a
União Federal, estados e municípios (BRASIL, 2007).
Em 2008, foi aprovada a “Política Nacional de Educação Inclu-
siva”, a qual se refere à distribuição de recursos do Fundo de Manuten-
ção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). Seguindo os
objetivos dessa política, as escolas têm a obrigação de ofertar o AEE,
ou seja, a organização dos serviços e recursos da Educação Especial
de forma complementar ao ensino regular. Com base na Constitui-
ção Nacional, a oferta busca superar a visão do caráter substitutivo
da Educação Especial ao ensino comum, ofertado no turno inverso,
garantindo ao aluno o acesso à educação comum. 0a forma, com vistas
a apresentar orientações que devem nortear os sistemas de ensino para
a efetivação do direito ao AEE, fica proposto na Resolução CNE/
CEB nº 4/2009 o financiamento via Fundeb.
Diante dessas perspectivas, a inclusão comporta um novo modelo
de atendimento que almeja reconhecer esses alunos como parte consti-
tutiva histórica da sociedade. Da exclusão para a inclusão social foi um
longo período, porém muito se tem a fazer, e oportunidades a oferecer.
19
A escola especial é necessária como suporte de atendimento às neces-
sidades desses alunos, mas a inclusão de fato se dá pela possibilidade
de serem reconhecidos como pessoas, de promover a interação entre
seus pares e de se desenvolverem humanamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
20
Embora se reconhece a influência política e econômica na tra-
jetória das escolas públicas de um modo geral, e na Educação Espe-
cial não seria diferente, cujo os propósitos, ocorrerão também no
caráter profissionalizante de formação, assim como a transferência
da Educação Especial para o setor privado, mas é relevante pontuar
que todos esses encaminhamentos, também foram positivos, permi-
tiram que muitos sujeitos antes ignorados e esquecidos, tivessem o
direito ao trabalho e a escola.
O retorno não foi tão imediato, mas foi o suficiente para que
novas propostas fossem aprovadas e leis fossem promulgadas. Mesmo
com uma abordagem voltada para atender ao mercado de trabalho, a
Declaração de Salamanca, cujo princípio era a equalização de oportu-
nidades para as pessoas com deficiência, reforçou o direito a educação.
Posteriormente, as leis e normatizações oportunizaram o acesso, bem
como, a escolha pela modalidade de ensino, oportunizando as pessoas
com deficiência, o direito e a autonomia de escolha.
O que deve ser primordial em ambas as modalidades, Educação
Especial e Educação Inclusiva, é o acesso aos conteúdos sistematiza-
dos e a formação ofertada. Nos três estados analisados, fica evidente
que os documentos norteadores da educação inclusiva nos estados,
seguem as normativas propostas na federação. Os estados do Ceará
e Bahia reforçam o atendimento escolar desses alunos desde na edu-
cação infantil, creches e pré-escolas, sempre que houver necessidade,
mediante avaliação, o atendimento no AEE também. Essa atenção
desde a educação infantil apresenta-se necessária, principalmente no
caso dos surdos em cidades que não tenham escolas de surdos.
Quanto a organização curricular, Pernambuco assegura enca-
minhamentos para uma ação interdisciplinar adequada, com proce-
dimentos e instrumentos que orientem melhor o atendimento desse
alunado. Esta é uma preocupação necessária e determinante para a
formação desses alunos. No Ceará, destacou-se além de currículos,
também métodos, técnicas e recursos educativos visando uma orga-
nização específica. Essa ênfase ao currículo, embora seja contemplada
nos documentos, na sala de aula da rede regular, se apresenta como um
21
desafio aos docentes, devido ao número de alunos e as peculiaridades
que apresentam. No estado da Bahia, ressalta o documento norteador,
a organização dos currículos escolares e em seus projetos pedagógicos
as disposições necessárias para o atendimento desses alunos.
O que se observa é que os projetos políticos pedagógicos das
escolas nem sempre atendem as exigências que compreendem as nor-
mativas na área do AEE, na maioria dos casos, esses documentos estão
descontextualizados da realidade objetiva de suas escolas. Ademais,
no quesito de serviços, materiais e recursos humanos, os documentos
seguem à risca o que determina as leis federais, mas na prática, o desafio
maior está em oferecer profissionais habilitados para atuarem na área.
Segundo a Teoria Histórico-Cultural, a inclusão tem entre seus
pontos positivos, a interação social e a mediação. Para Vygotski, a
compensação da deficiência caracteriza-se pelas condições que o meio
social propicia ao sujeito, e a educação intencional e dirigida corrobora
positivamente para o desenvolvimento das funções psíquicas superiores,
que no caso das pessoas com deficiência podem ser estimuladas por
meio de instrumentos mediadores como os conhecimentos científicos.
Dessa forma, os avanços adquiridos até então na Educação
Especial e na Educação Inclusiva devem ser analisados pelo caráter
educativo que cada modalidade tem oportunizado e é na prática
escolar que se pode compreender, se realmente as lacunas de práticas
excludentes estrão sendo sanadas com um ensino que oportunize
a hominização desses sujeitos.
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24
PROCESSO FORMATIVO NA PERSPECTIVA
DA TEORIA CRÍTICA DA SOCIEDADE: UMA
ANÁLISE DA POLÍTICA NACIONAL DE
ALFABETIZAÇÃO (PNA)
INTRODUÇÃO
27
Nesse processo da produção do ensino em massa [...], as
práticas pedagógicas não apenas discriminam e excluem
como emudecem e calam (SMOLKA, 2003, p. 16).
29
Mortatti (2016, p. 1) explica que a face mais visível da alfabeti-
zação se relaciona aos métodos de alfabetização e a suas alternâncias,
que desde o século XIX geram “[...] tensas disputas relacionadas com
‘antigas’ e ‘novas’ explicações para um mesmo problema: a dificuldade
de nossas crianças em aprender a ler e escrever, especialmente na
escola pública.” Nesse sentido, podemos compreender esse período
da história da alfabetização em uma perspectiva de transformações
sociais, econômicas, políticas e educacionais.
Mendonça (2011) organiza, de maneira cronológica, a histó-
ria da alfabetização em quatro períodos: o primeiro ocorreu entre
a antiguidade e a idade média; o segundo, entre os séculos XVI e
XVIII; o terceiro período teve início em meados da década de 1980 e,
finalmente, o quarto período, denominado pela autora de “reinvenção
da alfabetização”, que apresenta discussões sobre o contexto atual.
Os denominados métodos sintéticos priorizavam a menor unidade
existente, sucessivamente em direção à maior unidade, ou seja, dava-se
maior importância ao valor sonoro das letras e sílabas, fazendo com
que, da soletração, prosseguisse para os métodos fônicos e silábicos:
Assim, os métodos da soletração, o fônico e o silábico
são de origem sintética, pois partem da unidade menor
rumo à maior, isto é, apresentam a letra, depois unindo
letras se obtém a sílaba, unindo sílabas compõem-se
palavras, unindo palavras formam-se sentenças e jun-
tando sentenças formam-se textos. Há um percurso
que caminha da menor unidade (letra) para a maior
(texto) (MENDONÇA, 2011, p. 28).
36
luto e o analfabetismo funcional [...]” (BRASIL, 2019, p. 1). Dentre
os princípios, destacam-se os seguintes:
III - fundamentação de programas e ações em evidên-
cias provenientes das ciências cognitivas; IV - ênfase
no ensino de seis componentes essenciais para a alfa-
betização: a) consciência fonêmica; b) instrução fônica
sistemática; c) fluência em leitura oral; d) desenvolvi-
mento de vocabulário; e) compreensão de textos; f )
produção de escrita (BRASIL, 2019, p. 2).
38
gestores da “[...] literatura científica nacional e internacional para
conhecer e avaliar o conhecimento mais recente sobre os processos
de ensino e de aprendizagem” (BRASIL, 2019, p. 20).
Pode-se afirmar que, nesse sentido, desde o século XIX, a alfa-
betização faz parte da produção científica acadêmica, revelando-se
ampla e sempre utilizada para constituir os referenciais e as diretrizes
pedagógicas da área. Destaca-se a dinâmica de cada contexto, ou seja, o
fato de o referencial adotado estar coerente com os interesses daqueles
que conduzem o processo de formulação das políticas para a alfabeti-
zação. No contexto atual, o MEC considera que, “entre os ramos das
ciências que mais contribuíram nas últimas décadas para a compreensão
dos processos de leitura e de escrita, está aquele que se convencionou
chamar ciência cognitiva da leitura” (BRASIL, 2019, p. 20).
O conceito de ciência cognitiva da leitura apresentado na PNA
(BRASIL, 2019) refere-se à utilização das imagens do cérebro para
mapear o seu funcionamento durante o processo de aprendizagem da
leitura e da escrita, cujos dados indicam o ensino explícito e sistemático
como mais exitoso. Esses elementos teóricos não são distintos daqueles
já apresentados na produção científica acadêmica da área, inclusive
aqueles referenciados ao longo do nosso estudo. O avanço da ciência
comprovou a plasticidade cerebral por meio de imagens tomográficas
que permitem mapear as modificações cerebrais que ocorrem quando
a criança aprende a ler e a escrever. De acordo com a PNA:
Aprender a ler e a escrever faz criar no cérebro um
caminho que liga as áreas de processamento fonológico
com as de processamento visual, de modo que uma
palavra, quando é vista, ativa no cérebro as mesmas áreas
que uma palavra quando é ouvida [...]. As pesquisas em
neurociências indicam que existe uma área do cérebro
que passa a especializar-se no reconhecimento das letras
quando se aprende a ler e a escrever. É a chamada Área
da Forma Visual das Palavras (AFVP), situada na região
39
occipitotemporal esquerda, correspondente a uma área
atrás da orelha esquerda, onde se conectam as regiões
de processamento visual com as regiões de processa-
mento fonológico e, por isso, é ideal para responder ao
processo de leitura e de escrita (BRASIL, 2019, p. 26).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
ADORNO, Theodor. Prismas: crítica cultural e sociedade. São Paulo: Ática, 1998.
ADORNO, Theodor. Teoria da Semicultura. In: Educação & Sociedade, Campinas, SP, v.17,
n.56, p.388-441, dez. 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Educação é a Base.
Brasília, DF: MEC; CONSED/ UNDIME, 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF,
20 dez. 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. PNA Política Nacional de
Alfabetização/Secretaria de Alfabetização. Brasília: MEC, SEALF, 2019.
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potencial formativo. In: MACIEL, Lizete Shizue Bomura, VIEIRA, Renata de Almeida,
SOUZA, Fátima Cristina Lucas de. (Orgs). Pesquisas em educação: diferentes abordagens
teórico metodológicas. Maringá, EDUEM, 2014.
GONTIJO, Cláudia Maria. A escrita infantil, São Paulo: Cortez, 2008.
41
MENDONÇA, Onaide Schwartz. Percurso Histórico dos Métodos de Alfabetização. In:
Sônia Maria Coelho. (Org.). Caderno de Formação: Formação de Professores Didática dos
Conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 23-35.
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. História dos métodos de alfabetização no Brasil.
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SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Autores
Associados, 1980.
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na fase inicial da escrita: Alfabetização como
processo discursivo. Ed. São Paulo: Cortez, 2003.
SOARES, Magda. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.
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VENCO, Selma Borghi; CARNEIRO, Reginaldo. Para quem vai trabalhar na feira... essa
educação está boa demais: a política educacional na sustentação da divisão de classes. Revista
Horizontes, São Paulo, v. 36, n. 1, p. 7-15, jan./abr. 2018.
42
PRODUÇÃO DE TEXTO ESCRITA
MULTIMODAL NOS ANOS FINAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL: UMA DISCUSSÃO
A PARTIR DA BASE NACIONAL COMUM
CURRICULAR
INTRODUÇÃO
6
Mestre em Linguística e Ensino (UFPB). Professor (SME - São José do Egito – PE).
CV: http://lattes.cnpq.br/1417394158108828
7
Doutor em Linguística (UnB). Professor adjunto do departamento de língua portuguesa e linguística
(UFPB). CV: http://lattes.cnpq.br/6418588531824212
43
ninguém aprender a escrever. As coisas do redigir, ou
seja, as habilidades implicadas na competência do
escrever, têm de ser ensinadas de forma sistemática,
constante, metódica, progressiva (FERRAREZI JR.;
CARVALHO, 2015, p. 15).
45
observamos que a ênfase foi dada tanto na produção como na leitura
de textos multimodais partindo do uso das tecnologias digitais para
promoverem o multiletramento.
A pesquisadora utilizou a pesquisa etnográfica para dar vida a seu
trabalho. Durante a pesquisa houve a criação de blogs, roda de conversas
por meio de ferramentas digitais, uso de diário de bordo e produções
multimodais com uso de celulares. Os encaminhamentos da pesquisa
demonstram que grande parte dos alunos mostram-se mais interessados
durante as aulas partindo da ideia de uso de seu contexto sociocultural
e identitário, bem como quando o repertório de leitura e produção
dos textos multimodais pertencem ao centro de interesse do alunado
Na base de dados Scielo com a pesquisa intitulada produção de
textos multimodais a partir do ano 2018 até o presente momento não
houve produção com o título sugerido, há pesquisas apenas no que
diz respeito a leitura do texto multimodal.
Partindo destas contações observamos que as produções aca-
dêmicas no que diz respeito a produção textual multimodal ainda
não está tão amplamente desenvolvida. Assim, tomamos como jus-
tificativa a produção textual multimodal com ênfase na Base Nacio-
nal Comum Curricular tendo em vista se tratar de uma pesquisa
pioneira que conjuga a produção textual multimodal apontada pela
BNCC, bem como traz apontamentos de como tem ocorrido as pro-
duções multimodais em sala de aula.
Nesse sentido, propomos os seguintes questionamentos concer-
nentes a produção de textos escritos, em especial aos textos multimodais
na sala de aula: sobre os textos multimodais, o que está proposto na
BNCC (BRASIL, 2017)? Quais desafios são colocados aos docentes,
frente ao uso dos textos multimodais?
Trazemos à luz os questionamentos propostos acima uma vez que
a BNCC nos coloca frente ao desafio da produção do texto multimo-
dal na sala de aula, e que cada vez mais nossos estudantes entram em
46
contato com as diferentes mídias e nisso a escola não pode ser omissa
com a introdução do estudante frente as multissemioses dos textos.
47
letrada, de construir conhecimentos (inclusive escolares)
e de se envolver com maior autonomia e protagonismo
na vida social. 3. Ler, escutar e produzir textos orais,
escritos e multissemióticos que circulam em diferentes
campos de atuação e mídias, com compreensão, auto-
nomia, fluência e criticidade, de modo a se expressar
e partilhar informações, experiências, ideias e senti-
mentos, e continuar aprendendo. 4. Compreender o
fenômeno da variação linguística, demonstrando atitude
respeitosa diante de variedades linguísticas e rejeitando
preconceitos linguísticos. 5. Empregar, nas interações
sociais, a variedade e o estilo de linguagem adequados à
situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero
do discurso/gênero textual. 6. Analisar informações,
argumentos e opiniões manifestados em interações
sociais e nos meios de comunicação, posicionando-se
ética e criticamente em relação a conteúdos discrimi-
natórios que ferem direitos humanos e ambientais.
7. Reconhecer o texto como lugar de manifestação e
negociação de sentidos, valores e ideologias. 8. Sele-
cionar textos e livros para leitura integral, de acordo
com objetivos, interesses e projetos pessoais (estudo,
formação pessoal, entretenimento, pesquisa, trabalho
etc.). 9. Envolver-se em práticas de leitura literária que
possibilitem o desenvolvimento do senso estético para
fruição, valorizando a literatura e outras manifestações
artístico-culturais como formas de acesso às dimensões
lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo
o potencial transformador e humanizador da experiên-
cia com a literatura. 10. Mobilizar práticas da cultura
digital, diferentes linguagens, mídias e ferramentas
digitais para expandir as formas de produzir sentidos
(nos processos de compreensão e produção), aprender
e refletir sobre o mundo e realizar diferentes projetos
autorais (BRASIL, 2017, p. 87).
49
uso e o contexto em que se encontra o gênero e que acima de tudo que
esta prática seja significativa para o estudante. Os campos de atuação
inseridos para os anos finais do ensino fundamental são quatro: campo
jornalístico-midiático, campo de atuação na vida pública, campo das
práticas de estudo e pesquisa e campo artístico-literário.
Nesse sentido, Brasil (2017) concernente ao uso dos campos
de atuação afirma que:
Compreende-se, então, que a divisão por campos de
atuação tem também, no componente Língua Por-
tuguesa, uma função didática de possibilitar a com-
preensão de que os textos circulam dinamicamente
na prática escolar e na vida social, contribuindo para
a necessária organização dos saberes sobre a língua e
as outras linguagens, nos tempos e espaços escolares
(BRASIL, 2017, p. 85).
51
“ampliar e qualificar a participação dos jovens nas práticas relativas ao
debate de ideias e à atuação política e social [...]” (BRASIL, 2017, p.
146). Este campo apresenta um objeto de conhecimento (textualiza-
ção, revisão e edição); assim, o trabalho com a produção escrita nesse
campo privilegia as habilidades de produção e revisão de textos com
objetivos reivindicatórios no tocante à resolução de problemas do dia
a dia da escola ou ainda do contexto do estudante.
Tanto as habilidades quanto o objeto de conhecimento desse
campo pretendem levar o estudante a ser sujeito ativo nas mais diversas
situações em que ele se envolve em seu contexto e busca ainda incutir
no aluno habilidades que façam com que ele possa posicionar-se e usar
suas produções textuais para a resolução de problemas reais em situações
reais; para tanto, busca agregar no estudante a ideia de comunidade.
No terceiro campo de atuação, a BNCC apresenta o campo
das práticas de estudo e pesquisa, campo que, assim como os demais,
perpassa desde os anos iniciais. Esse campo pretende “ampliar e qua-
lificar a participação dos jovens nas práticas relativas ao estudo e à
pesquisa” (BRASIL, 2017, p. 150); assim, privilegia-se o trabalho com
três objetos de conhecimento (consideração das condições de produção
de textos de divulgação científica; estratégias de escrita: textualização,
revisão e edição; e estratégias de produção) que colocam o estudante
diante da qualificação e ampliação de sua participação em práticas
de estudo e pesquisa e o desenvolvimento de habilidades inerentes a
esfera científica, pesquisa, estudo e divulgação de conhecimento.
Todas as habilidades a serem desenvolvidas nesse campo propi-
ciam ao estudante a atuação produtiva e crítica na esfera do estudo e
científica em sua vida cotidiana, propiciando ainda que este produza
e compartilhe novos conhecimentos adquiridos com seus pares numa
relação de interação e reciprocidade mútua.
O campo artístico-literário apresenta-se como o quarto e último
campo de atuação referente à organização da Base para os anos finais
do ensino fundamental, neste campo pretende-se possibilitar aos
52
estudantes “o contato com as manifestações artísticas e produções
culturais em geral, e com a arte literária em especial, e oferecer as
condições para que eles possam compreendê-las e fruí-las de maneira
significativa e, gradativamente, crítica” (BRASIL, 2017, p. 156). Assim,
o objetivo da base é encaminhar o estudante a ter contato com as
mais diversas manifestações artísticas, principalmente a literária,
habilidades já desenvolvidas nos anos iniciais, pretendendo que tais
habilidades sejam desenvolvidas de forma crítica e significativa. Esse
campo apresenta três objetos de conhecimento (relação entre textos;
consideração das condições de produção de textos; estratégias de
produção: planejamento, textualização e revisão/edição), nos quais as
habilidades desenvolvidas levam o estudante a adquirir o domínio da
retextualização, transformando um gênero dado em outro, prezando
pelas características de cada gênero, demandando assim habilidades
desenvolvidas em outras etapas da escolarização.
Podemos identificar o destaque do campo de atuação jorna-
lístico-midiático, o que se justifica pelo fato de que nesse campo se
produz uma diversidade de gêneros ainda mais próximas do dia a dia
dos jovens do ensino fundamental, sendo essas informações transmi-
tidas por meios multimodais, seja pelo rádio, televisão ou pela internet.
Dessarte, o ensino de produção textual almejado na BNCC para
os anos finais do ensino fundamental preza pelo trabalho principal-
mente pela dinamicidade dos gêneros textuais e pela sua constante
midiatização, apresentando cada vez mais textos involucrados pelas
multissemioses. Uma constante na BNCC referente à produção textual
é o apego ao trabalho com os textos multimodais, tendo em vista que
“são contempladas habilidades para o trato com o hipertexto e com
ferramentas de edição de textos, áudio e vídeo e produções que podem
prever postagem de novos conteúdos locais [...]” (BRASIL, 2017, p.
137). Destaca-se ainda o trabalho com o planejamento da produção
textual, tendo em vista que tal habilidade tem sido negligenciada na
educação básica, como já afirmamos, sendo tal habilidade colocada em
53
desuso pela prática de um ensino pautado em atividades meramente
gramaticais descontextualizadas (ANTUNES, 2009).
A produção de textos multimodais, segundo a Base
Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017, p. 76),
deve compreender as mais diversas práticas de produção
de usos da linguagem que se relacionam à “interação
e à autoria”, nesse sentido, sua aplicação nas diversas
modalidades do texto, seja ele oral, escrito e multis-
semiótico, deve abranger as mais diversas finalidades,
permitindo ao estudante aproximar-se ainda mais da
noção de autor autônomo de sua produção.
54
Diante disso, as atividades de produção devem ser ampliadoras
do contexto de atuação que o estudante tem, para que ele compreenda
a prática da escrita como algo ligado a seu dia a dia, levando-o a
questionamentos como: para que escrever? Para quem escrever? O que
escrever? E de que modo escrever? A introdução da escrita enquanto
multimodal e multissemiótica leva o aluno a perceber-se como autor
de um texto que faz relação à sua realidade e que o ato da escrita não
é apenas a materialização do texto, mas também planejamento, revisão
e consequentemente leitura pelo seu público-alvo.
Como reforço a essa discussão, Munhoz e Abreu (2019)
nos apresentam, no tocante à diversidade de metodologias com o
trabalho de produção textual, que
[...] a BNCC propõe que a escola trabalhe com gêneros
textuais mais conhecidos pelos estudantes e, portanto,
que se inserem na internet. Esses gêneros do presente
devem ser aliados às aulas. Como estratégia, o professor
pode trabalhar conteúdos já conhecidos ou familiari-
zados pelos estudantes e debater a linguagem utilizada
por eles, dialogar sobre o modo como estes gêneros do
presente são organizados e quais os princípios éticos
envolvidos. Dependendo do contexto, pode-se também
traçar táticas de possibilidades para que os estudantes,
também, produzam textos desses gêneros do presente
(MUNHOZ; ABREU, 2019, p. 83).
55
de pôr planos em prática, desinformação e preconceito
quanto a tecnologias na escola e ao ensino a distância,
etc. (RIBEIRO, 2020, p. 6).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
56
tida como lugar de interação, o sujeito é compreendido como agente
ativo na construção do sentido”.
O texto multimodal deve levar em conta a mistura de culturas
nas salas de aulas, bem como a multiplicidade dos textos e como
estes circulam nos diversos meios, seja nas redes sociais, no celular,
no tablet ou no laptop. Ainda para Rojo (2012), os multiletramentos
são estruturas textuais interativas e colaborativas. Eles acontecem
no aqui e no agora e sua produção subentende a ativa participação
de diversos atores nesse processo. Os multiletramentos também são
caracterizados por transgredirem as relações de poder demandadas
pelas configurações textuais convencionais, aqueles não se submetem
à noção de propriedade, de posse. Estes textos são o que Rojo chama
de “híbridos, fronteiriços, mestiços” (ROJO, 2012, p. 23). Nisso dis-
cernimos que os multiletramentos perpassam a noção de texto físico,
indo além das fronteiras das letras; são híbridos pelo seu caráter de
misturas de suas semioses e modalidades; são fronteiriços porque
perpassam as próprias estruturas do texto físico; e são mestiços porque
carregam em si muito da diversidade cultural na qual se propagam.
A Base Nacional Comum Curricular postula que as novas face-
tas dos gêneros textuais e das práticas da cultura digital dentro das
salas de aulas da educação básica contribuem para que o aluno e suas
práticas de linguagens tenham seu lugar na escola bem como permi-
tem que o estudante seja o autor de sua própria produção, passando
de mero usuário da língua a produtor do conhecimento, assim “a
BNCC procura contemplar a cultura digital, as diferentes lingua-
gens e os diferentes letramentos, desde aqueles basicamente lineares,
com baixo nível de hipertextualidade, até aqueles que envolvem a
hipermídia” (BRASIL, 2017, p. 70).
57
REFERÊNCIAS
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ROJO, Roxane; BARBOSA, Jaqueline. Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros
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ROZA, Edleide Santos; MENEZES, Ângela Maria de Araújo. Multimodalide: ampliação
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autoria: uma proposta para a construção da autonomia na escrita. Revista Prolíngua, João
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SILVA. Karinne Michelle Florêncio da. A Produção de textos multimodais com foco no
cotidiano de alunos do 9º Ano. 2019. 185 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Letras
em Rede Nacional) – Faculdade de Letras, Programa de Pós Graduação em Mestrado Pro-
fissional em Letras e em Rede Nacional, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2019.
58
A ESCOLARIZAÇÃO DOS ALUNOS(AS)
SURDOS-NEGROS(AS)
INTRODUÇÃO
8
Mestra em Ensino e Relações Étnicas-Raciais (UFSB). Tradutora Intérprete de Libras – PROLIBRAS
(IF Baiano). CV: http://lattes.cnpq.br/0170774841922552
9
Mestra em Educação (UFRRJ). Docente EBTT do Atendimento Educacional Especializado (IF
Baiano). CV: http://lattes.cnpq.br/7236854215589810
10
Mestranda em Educação em Ciências e Matemática (UESC). Revisora de Texto Braille (IF Baiano).
CV: http://lattes.cnpq.br/6054329727163854
11
Especialista em Libras (FAMESUL). Proficiente Libras–PROLIBRAS. Tradutora/Interprete de
Libras (IF Baiano). CV: http://lattes.cnpq.br/8873352745367684
12
Especialista em Ética e Filosofia (FINOM). Advogado sob o n° 54365 OAB/BA. Técnico em Assuntos
Educacionais (IF Baiano). CV: http://lattes.cnpq.br/3625323386735668
13
Pós-Graduado em Marketing e Gestão Estratégica (UCAM). Técnico de Tecnologia da Informação
(IF Baiano). CV: http://lattes.cnpq.br/7696482155417900
14
Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FUNIP). Técnico-Pedagógico (IF Baiano).
CV: http://lattes.cnpq.br/6905784327311756
15
Mestranda em Economia Regional e Políticas Públicas (UESC). Coordenação NAPNE (IF Baiano).
CV: http://lattes.cnpq.br/3136114193854328
59
De acordo com esta concepção, a língua de sinais, é uma língua
de representação imagética das experiências de saberes formalizadas
pelos sinais e seus significados. Os estudantes com essas vivências apren-
dem maisfacilmente assim como os estudantes não surdos (ouvintes)
quando essas interpretações dos significados do mundo estão em sua
língua de comunicação, ou seja, Língua de Sinais. (QUADROS, 2013).
Além disso, a educação de pessoas surdas que também são
negras, desafia os muitos educadores nos espaços de sala de aula coti-
dianamente. Contudo, para muitos pesquisadores, a educação a partir
da decolonialidade da comunidade surda-negra, antirracista, inclusiva
e bilíngue - encontra ressonância cada vez mais com a realidade
vivenciada por esses indivíduos nos espaços formais e não formais de
educação na sociedade brasileira.
Portanto, a linguagem é a característica de um ser humano,
que interage com outros sujeitos e implica primordialmente refletir
sobre sua comunicação. Em virtude dos registros históricos e sociais
que esses sujeitos surdos-negros vivenciaram e, muitos ainda viven-
ciam, desde seus primórdios, os registros históricos trazem poucas
compreensões da sociedade acerca da melhor maneira para inclusão
e escolarização das crianças surdas. Como Frantz Fanon (2009, p.
81) sinaliza “Todo o mundo já o disse, para o negro a alteridade
não é o outro negro, é o branco”.
DESENVOLVIMENTO
60
educação brasileira precisa refletir sobre as repetições de práticas no
ensino de surdos, práticas essas que tem deixado de fora essas vozes.
Nesse contexto, Candau (2013, p. 30) aponta duas características,
relacionadas às diferenças da cultura.
[...] a primeira é que ela faz tentando construir uma
nova postura, onde o confronto com diferentes correntes
pedagógicas é fundamental. Então, essa nova postura
vai sendo construída, de alguma forma, em confronto
com o que se costuma chamar pedagogia tradicional.
(CANDAU, 2013, p. 30).
61
crianças surdas ficam expostas somente ao português oral e escrito
desde a infância (ALMEIDA, 2009).
De acordo com esta percepção, o conhecimento da trajetória
educacional dos surdos faz com que seja possível depreender mais
sobre o processo de segregação social ao qual muitos ainda são sub-
metidos, sendo duplamente marginalizados: pela sua condição auditiva
e étnica. Por isso, este estudo também se refere às diferenças, onde
essas se tornam uma espécie de marca na vida dos sujeitos que as
possuem; marcas que, na maioria das vezes, os coloca em posição de
desvantagem em relação aos ditos “normais”, fazendo com o que os
diferentes sejam vistos como inferiores
No pensamento de Buzar (2012), ele aborda em sua pesquisa as
adversidades que os surdos negros vivenciam em relação ao preconceito
intrinsecamente ligados à raça e à surdez em variados ambientes, como
na escola, na família, entre amigos, dentre outros espaços.
Portanto, tais proposições estruturais e sociais vêm reforçando,
ao longo dos tempos, a dupla desvantagem que esse alunado enfrenta
no acesso à escola, permanência e conclusão dos estudos no ensino
público, principalmente em cidades interioranas onde a educação é
mais precarizada devido à falta de investimento do poder público.
Por isso, essa a efetivação dessa discussão, tem como premissas refletir
sobre as problemáticas dos alunos(as) surdos(as) negros no tocante
da ausência da usualidade da língua Libras no processo de escola-
rização nos espaços de formação.
Desta forma, como explica Monteiro (2006, p. 279), devido à sua
condição de surdez e de raça, as crianças desde muito novas conhecem
a exclusão nos espaços sociais, ou seja, em suas famílias e também nos
espaços formais de ensino. Podemos destacar algumas dessas pro-
blemáticas enfrentadas por esses indivíduos como, por exemplo, não
compreendem efetivamente a fala dos pais e irmãos, não são estimu-
ladas a todo tempo em uma língua “alfabética” como crianças ouvintes
e serem visualizadas muitas vezes como crianças agressivas, porque, ao
62
tentarem se comunicar, emitem sons altos, que os caracterizam como
“inquietos”, “nervosos” e “doentes” Uma cultura determinada pelo con-
texto sócio-histórico. Dessa forma, desde criança somos empurrados
pelo racismo estrutural, que permeia as nossas relações sociais.
No imaginário coletivo dos educadores o fracasso é produ-
zido, predominantemente, por ‘culpa’ do aluno que, segundo muitos:
é pouco inteligente, com problemas de comportamento, defasado
intelectualmente, é oriundo de famílias muito pobres, desajusta-
das, e sem exemplos domésticos a serem seguidos, como ideais de
vida (CARVALHO, 2007, p. 124).
Dessa maneira e concordando com autor/autora, na maioria dos
casos, quando as crianças surdas ingressam na escola, são desafiados
primeiramente a aprenderem a ler e escrever em português, mesmo sem
nem mesmo terem adquirido sua própria língua considerada materna,
a língua de sinais. Além disso, muitas também não foram ensinadas
sobre igualdade racial e cultural, dessa maneira, têm dificuldades para
defenderem sua identidade enquanto sujeito minoritário em um espaço
excludente. – gerando atrasos na construção de identidade, cultura e
desenvolvimento pois parte-se do princípio que o ser humano aprende
e se desenvolve a partir das interações com o outro que são media-
das pela língua (OLIVEIRA, 2018).
Entretanto, Bruno (2008) pondera que, apesar dos avanços
das políticas públicas, principalmente, das ações afirmativas, que
incluem a implementação das leis n° 10.639/2003 e n° 11.645/2008,
que modificaram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), tornando obrigatório o ensino da História da África e Cultura
Afro-Brasileira, além da Lei de Libras n° 10436/02 e do Decreto n°
5626/05, o espaço escolar continua sendo reflexo de uma sociedade
preconceituosa que, guiada por um discurso de inclusão e igualdade,
desconsidera a identidade, a língua e a etnia dos sujeitos envolvi-
dos nos processos de formação .
63
Ora, a maioria dos casos, quando as crianças surdas ingressam
na escola, são desafiados primeiramente a aprenderem a ler e escrever
em português, mesmo sem nem mesmo terem adquirido sua própria
língua considerada materna, a língua de sinais. Além disso, muitas
também não foram ensinadas sobre igualdade racial e cultural, dessa
maneira, têm dificuldades para defenderem sua identidade enquanto
sujeito minoritário em um espaço excludente.
Nesse contexto, acentua-se ainda mais quando esses alunos
surdos-negros chegam à escola com a idade avançada, adolescentes
ou adultos e precisam lidar com situações de preconceitos, bullying e
chacotas. Escolas, predominantemente, de pessoas não surdas e brancas,
ou seja, ouvintes que desconhecem a Libras e geralmente desrespeitam
sua raça, sua cultura e sua identidade, impondo-lhes a uma padroniza-
ção hegemônica que dificulta a escolarização. Por conta disso, muitos
alunos desistem antes de concluírem o ensino básico. Dessa forma,
desde criança somos empurrados pelo racismo estrutural, que permeia
as nossas relações sociais, como assinala Silva (2000).
É importante ratificar que, a educação das relações Étnico-Raciais
tem por alvo a formação de cidadãos, mulheres e homens empenhados
em promover condições de igualdade no exercício de direitos sociais,
políticos, econômicos, dos direitos de ser, viver, pensar, próprios aos
diferentes pertencimentos étnico-raciais e sociais. Em outras palavras,
persegue o objetivo precípuo de desencadear aprendizagens e ensinos
em que se efetive participação no espaço público. Isto é, em que se
formem homens e mulheres comprometidos com e na discussão de
questões de interesse geral, sendo capazes de reconhecer e valorizar
visões de mundo, experiências históricas, contribuições dos diferentes
povos que têm formado a nação, bem como de negociar prioridades,
coordenando diferentes interesses, propósitos, desejos, além de propor
políticas que contemplem efetivamente a todos. (SILVA, 2000, p. 190).
Diante disso, esse processo dificulta a percepção, a construção e
a valorização de uma identidade étnico-racial diversificada, ao mesmo
64
tempo que fortalece a imposição de padrões á preestabelecidos. A
linguagem é a forma do ser humano interagir com outros sujeitos. No
processo de comunicação entre surdo-surdo e surdo-ouvinte é possível
perceber que há diferenças significativas. “A visão dicotômica centra-se
na separação de teoria e da prática “dentro deste esquema, corresponde
aos ‘teóricos’ pensar, elaborar, refletir, planejar e, aos ‘práticos’ executar,
agir, fazer” (CANDAU, 2013, p. 60).
Atualmente, no Brasil, é possível diagnosticar um expressivo quan-
titativo de pessoas surdas-negras e com deficiência auditiva. Segundo o
IBGE (2010), os pretos e pardos representam respectivamente 50,9%
da população. A maior parte da população brasileira é negra e deveria
estar ocupando todas as estruturas da sociedade, o que não acontece
atualmente, visto que a população negra ainda é minoria nas universi-
dades, nos órgãos públicos e nas esferas estatais na sociedade brasileira.
Se pensarmos sobre um indivíduo negro que ainda apresenta algum
tipo de deficiência essa realidade se torna ainda mais cruel/caótica.
Assim, facilmente visualizamos no dia a dia: um expressivo
número de pessoas surdas e negras não só no Brasil. Isso reforça ainda
mais a necessidade de políticas que visibilize essa população. Nas esco-
las, surdos sofrem para além das questões clínicas e de acessibilidade;
pois ainda não encontramos um ensino que seja pautado nas vivências
surdas e nem em suas histórias africanizadas. As disciplinas de histó-
rias não mencionam o contexto de luta de seus(as) alunos surdos(as)
negros(as). Não há sequer interação na comunicação entre professor
e seu aluno surdo. A segregação não é física, mas é, principalmente,
social e linguística. A escola é um espaço que deve garantir os direitos
de acesso e permanência escolar e não somente pautado no AEE.
Ou seja, o AEE, não deve ser o único momento que o aluno é
visibilizado na escola. O serviço precisa ser um complemento da escola
comum, direcionando os atendimentos de acordo com as especificidades
e as necessidades de cada um, retomando atividades que fortalecem
a identidade e cultura do aluno
65
É importante memorarmos que, há aproximadamente 30 anos,
era muito difícil encontrarmos pessoas com deficiência incluídas em
rede regular de ensino. Essa situação é completamente diferente
atualmente. Naquele tempo não se discorria sobre o direito desses
sujeitos serem incluído ou não em rede regular; até porque as pessoas
com deficiência eram segregadas e excluídas da coletividade e de
ambientes que apresentavam “pessoas com normalidade”, ações essas,
que muito contribuía com uma sociedade, os excluíam cada vez mais.
Assim, acreditava-se na ideia de que pessoas que apresentavam qualquer
tipo de limitação não estavam aptas para frequentar o mesmo ambiente
que pessoas “sem deficiências’’
Nesse contexto, ainda que os (a) aluno(a) surdo(a) e negro(a), ao
ser matriculado em uma escola comum, em que não tenha uma política
linguística bilíngue em uso, está sujeito a um processo de exclusão, já
que por não ser compreendido em sua língua de sinais, seja durante as
aulas seja nos espaços comuns da escola, não conseguirá ser atendido
em suas dificuldades ou anseios, ou seja, não terão “voz’’. A falta de for-
mação de profissionais da educação que desconhecem as singularidades
linguísticas da comunidade surda e suas representações étnicas, com os
quais os alunos convivem constantemente, faz com que esses discentes
sejam encarados como sujeitos que devem ser reparados socialmente.
Por isso, os professores acabam aprovando-os independentemente
do rendimento obtido pelos alunos. Além disso, estar matriculado não
deve ser somente uma garantia de que o acesso à educação foi dis-
ponibilizado e de que os alunos serão aprovados; mesmo se questões
sociais importantes de identidade e de cultura não forem fomenta-
das. Como podemos observar nas informações, a maioria dos alunos
surdos acabem sendo aprovados pelo conselho de classe, e ainda não
apresentam fundamentos documentados que justificam esse processo
avaliativo excludente, o que reforça os estigmas históricos exclusivos
e os predestina a uma educação seletiva.
66
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
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entre dois mundos. Revista Virtual de Cultura Surda, n.24, 2018.
68
UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE
LITERATURA SOBRE O CONCEITO DE
FUNÇÃO USANDO A LENTE DA TEORIA
ANTROPOLÓGICA DO DIDÁTICO
INTRODUÇÃO
16
Doutorando em Educação Matemática e Tecnológica – EDUMATEC (UFPE). Professor (IFPB).
CV: http://lattes.cnpq.br/6743103980451012
17
Doutora em Educação (FEUSP). Professora Permanente do PPGFPPI (UPE) e do EDUMATE
(UFPE). CV: http://lattes.cnpq.br/2629444811211201
69
A elaboração de uma RSL, sobre determinado objeto de investi-
gação é importante para evidenciar o que vem sendo pesquisado sobre
o tema de interesse (GIL, 2002). No entanto, como afirma Mendes
e Pereira (2020), na área de Ensino e Educação Matemática não se
tem realizado revisões sistemáticas de Literatura que considerem
os critérios próprios dessa modalidade de busca. Se fossem usados
poderiam, segundo os referidos autores, orientar e facilitar o trabalho
do pesquisador como já vem ocorrendo na área de Ciência da Saúde.
Na Revisão apresentada neste capítulo empregamos as cinco
etapas propostas por Galvão e Ricarte (2019) que constituem a RSL
realizada acerca do conceito de Função sob a ótica da Teoria Antro-
pológica do Didático (TAD) como recurso de análise, quais sejam: i)
delimitação da questão a ser tratada na revisão; ii) seleção das bases de
dados; iii) elaboração de estratégias para busca avançada; iv) seleção
de textos e v) sistematização dos resultados.
O objetivo geral desta RSL foi identificar as contribui-
ções da TAD nas investigações que adotaram o conceito de
função como objeto de pesquisa.
Após essas considerações iniciais, a seguir é exposto o percurso
metodológico utilizado para definição, escolha e análise dos textos sele-
cionados em função do objeto de estudo e dos critérios metodológicos
para RSL; bem como um esboço analítico e as conclusões da pesquisa.
CRITÉRIOS METODOLÓGICOS
70
compreender: Quais as contribuições da TAD nas dissertações e
teses defendidas a partir do ano de 2013 que adotaram o conceito de
Função como objeto de pesquisa?
Após a definição da pergunta, seguindo a próxima etapa pro-
posta por Galvão e Ricarte (2019), foi consultado o Catálogo de
Teses e Dissertações da CAPES.
Na terceira etapa, de elaboração de estratégias para busca avan-
çada (GALVÃO e RICARTE, 2019), foram definidos termos de busca
para a base selecionada. Nessa etapa, recorreu-se ao uso de elementos
de restrição, conforme indicado para as pesquisas de revisão do tipo
sistemática, cujos descritores utilizados combinaram as palavras-chave:
“Teoria Antropológica do Didático”, “Transposição Didática” e “Con-
ceito de função”. Para o cruzamento das palavras-chave utilizou-se os
operadores booleanos “AND” e “OR”.
Das dissertações e teses encontradas, foram selecionadas aquelas
que continham o conceito de Função como conteúdo investigado,
combinado com a Transposição Didática e a TAD. Nesta quarta etapa,
como sugerida por Galvão e Ricarte (2019), a seleção de textos pode
ser extensa. Nesta busca, a lista de dissertações e teses encontradas
somou setenta e, portanto, foram submetidas aos critérios de exclusão
de repetições que, por conta do uso dos booleanos e pela permuta das
palavras, restaram vinte e quatro investigações selecionadas.
Outro critério adotado foi retirar os trabalhos que tanto no título
quanto no resumo não identificavam o uso do conceito de Função.
Assim, foram excluídas mais nove pesquisas que abordavam os con-
teúdos ciclo trigonométrico, operações elementares, área de figuras
geométricas, conceito de números, entre outros.
Após a utilização dos critérios de busca e exclusão, realizadas
todas as etapas da pesquisa sistemática no Catálogo da CAPES, foram
elencados treze trabalhos, constituindo quatro teses de doutorado e
as demais dissertações de mestrado.
71
Destaca-se que o ano de 2016 sobressaiu com três dissertações
defendidas e 2019 com duas teses. As instituições cujos trabalhos
foram desenvolvidos são PUC/SP, UFRPE e UFBA, todas com duas
publicações, as demais foram UFJF, UNIAN, UFOPA, UESC, UFPE,
UFPA e UEPB, com uma defesa em cada uma destas instituições.
A figura 01 a seguir resume as cinco etapas propostas por Galvão
e Ricarte (2019) e deixa em destaque os critérios considerados para
o desenvolvimento dessa RSL em cada etapa. Essas etapas não são
desconexas e podem ser reutilizadas em qualquer tempo.
72
mitirá ordenar e organizar as contribuições da TAD nas pesquisas
no campo da Educação Matemática.
Foi realizada uma leitura acurada de três partes dos textos que
compõem essa RSL: o resumo, a introdução e as considerações finais,
além de uma leitura transversal das outras partes da pesquisa. Os
realces considerados para esse capítulo, foram dispostos por meio de
suas semelhanças de abordagens e investigações. Nos textos analisados
e na triagem de análise foram priorizados o uso da TAD em análise
de provas, passando por livros didáticos, opinião dos professores,
até a proposta de um Percurso de Estudo e Pesquisa (PEP), entre
outros, conforme é descrito a seguir:
Sobre a prova do ENEM, mesmo havendo contextualização, foi
percebido por Campos (2014) que nada vale a questão estar relacionada
com o cotidiano do discente se ele não tem compreensão do conceito
e que ao resolver as tarefas os alunos aplicam técnicas que diferem das
técnicas dos professores, geralmente utilizam sensibilidade numérica.
As contextualizações cotidianas, nos livros didáticos, embora
existam um apelo das situações-problema para alguns aspectos da
realidade, tais parâmetros serviram de maquiagem, sem importância na
construção dos saberes matemáticos. O que ocorre também com uma
suposta interdisciplinaridade e a contextualização com outros conteúdos
da matemática. Chaves (2016) afirma que a diversidade de contexto
envolvendo o objeto estudado não garante que proporcionará condições
para a apropriação de conhecimento do objeto em jogo pelo aluno.
A partir do estudo das dissertações e teses percebemos que
os aprendizes fazem o uso mecânico, via de regra, das técnicas para
solucionar as tarefas. As investigações asseguram que isso ocorre já
que em sala de aula é anteposto esse recurso pelos professores, onde
é dado destaque no bloco prático-técnico. Até mesmo a proposi-
ção de questões das avaliações segue um cuidado para que as tarefas
73
sejam parecidas com as que foram executadas em sala de aula pelos
docentes, como afirma por Maduro (2015), quando destaca uma orga-
nização didática tecnicista. Os livros didáticos também privilegiam
as tarefas e como executá-las, não dando ênfase sobre a reflexão na
utilização de determinada técnica.
A apresentação dos livros didáticos, sobretudo os exercícios
resolvidos, destacados por Santana (2016) e Teixeira (2016), em sua
maior parte, utilizam uma técnica e em seguida propõem outra tarefa
similar àquela resolvida, confirmando que a apresentação do conteúdo
no livro didático geralmente apresenta a teoria referente aos conceitos
do objeto, seguido de exemplos resolvidos e no final surgem as tare-
fas propostas, dando ênfase às tarefas de fixação e memorização de
fórmulas. Quando algum livro explora o trabalho da técnica, os pro-
fessores tendem a enfatizar apenas o seu uso para resolver as questões
(MADURO, 2015). Segundo ele, os docentes afirmam que é impor-
tante a demonstração de fórmulas e teoremas nas aulas, porém não o
fazem porque os alunos não sinalizam interesse por essa abordagem
e o tempo disposto para aula é insuficiente para outras explorações.
Na maioria das organizações matemáticas predomina-se o uso
da aplicação repetitiva de uma mesma técnica ou procedimento, pre-
valecendo a praxeologia pontual, segundo Santos (2017). O autor
afirma que em determinadas tarefas, a praxeologia é expandida, tendo
um discurso tecnológico de justificação e percepção de regularidades
na aplicação de algumas técnicas, nessas foi identificada a praxeologia
regional, entretanto ocorre pouco.
Sobre o uso de materiais didáticos, o estudo de Gouvêa (2014)
aponta que, apesar da orientação dos documentos oficiais e de
outros materiais de apoio indicarem um caminho alternativo para
o ensino de função, por meio do entendimento de proporcionali-
dade, os professores priorizam o que é proposto nos livros didáticos
e introduz função por meio de conjuntos, apesar de reconhecer a
importância do material de apoio.
74
Dessa forma, o livro didático é posto como um organizador do
saber matemático que deve ser ensinado como afirma Santos (2017).
Chaves (2016) constata que a escolha do livro que vai ser ofertado
e usados pelos alunos não passam por uma seleção e análise criteriosa,
geralmente essa escolha é feita em reunião rápida em que um dos
professores apontava sua opção baseada no autor mais conhecido e
os outros o seguiam, isso ocorre apesar da importância que os livros
didáticos têm para o cotidiano da sala de aula.
Segundo Freitas (2015), a TAD dispõe de um suporte relevante
para que se tenha uma noção do que os livros didáticos oferecem,
pois faz evidenciar como é abordado o conceito, identificando tanto
o bloco prático-técnico como o tecnológico-teórico. Ou seja, a TAD
permite ter uma visão ampla dos livros didáticos, sendo a noção de
praxeologia ferramenta indispensável para as análises das atividades
propostas nos livros didáticos e nas atividades.
Pantoja (2017) verificou que as organizações matemáticas e
didáticas dos professores diferem das propostas pelo livro didático,
isso foi detectado através da transposição didática realizada pelo pro-
fessor em situações quando selecionou o conteúdo a ser ensinado de
acordo com o que considerava relevante; quando alguns aspectos ou
parte do conteúdo eram mais ou menos enfatizados do que outros;
quando determinou uma forma de apresentar e organizar o conteúdo
por meio da apresentação e da resolução de tarefas. Em contrapartida,
Santos (2017) afirma que os professores guiam suas aulas conforme a
sequência apresentada no livro didático e que o mesmo exerce grande
influência na prática da sala de aula.
Outro ponto de destaque é o uso de tecnologias digitais nas
atividades matemáticas, a partir das praxeologias desenvolvidas sem
a presença da tecnologia digital ou quando ela foi simplesmente jus-
taposta à prática, estavam ligadas a técnicas sem muita complexidade,
através de fórmulas e a algoritmos de cálculos. Já as praxeologias das
atividades com o uso de tecnologias digitais ganham, além da otimiza-
75
ção de tempo nas construções gráficas, uma dinamicidade, aponta Sousa
(2020). As ferramentas tecnológicas, nas situações didáticas, são os
objetos ostensivos que, por meio da exploração e do manuseio na expe-
riência empírica, possibilitam compreender os objetos não-ostensivos
O uso das ferramentas digitais integrado ao processo de ensino e
aprendizagem, ajudam segundo Sousa (2020) na comunicação de saberes,
na construção de novas praxeologias e na dialética da ostensividade dos
objetos, abrindo um leque para novas análises dos fenômenos didáticos.
Uma alternativa de uso da TAD para melhor qualidade do ensino
e da aprendizagem é a utilização do Percurso de Estudo e Pesquisa
(PEP). O PEP promove alterações nas Organizações Matemática e
Didática dos professores; oportuniza mudanças na praxeologia dos alu-
nos e do professor, ao mesmo tempo que influencia as práticas de ensino
do professor, proporciona formação profissional; permite a utilização e
articulação de técnicas, fazendo com que o professor e seus alunos as
justifiquem com uma discussão tecnológica fundamentada por uma teo-
ria (CARVALHO, 2019; RODRIGUES, 2019; CARNEIRO, 2020).
77
as organizações matemáticas e didáticas feitas pelos professores em
sala de aula, a transformação do saber em jogo, se o planejamento da
aula corresponde a organização matemática efetivamente ensinada
e as praxeologia efetiva em sala de aula. Entrevista semiestruturada
buscou entender o que o professor narra a respeito do uso da pra-
xeologia matemática, tarefa, técnica, tecnologia e teoria. Já o PEP
apareceu em pesquisas dos anos de 2019 e 2020, revelando que seu
uso é recente nas investigações, elas propunham a construção de um
modelo praxeológico alternativo para o estudo do conceito em jogo.
Na figura 02 apresentamos um quadro que esboça uma síntese
do que foi considerado como conexões percebidas na leitura das
investigações, destacando a quarta coluna que são os aportes teóricos
da TAD que foram utilizados pelos pesquisados, levando a perceber
a amplitude que essa teoria é capaz de atingir.
78
CONSIDERAÇÕES FINAIS
79
tarefas propostas nos livros didáticos, pela praxeologia pontual, são
poucos os casos que expandem para a praxeologia regional.
Nas pesquisas em que houveram observação das aulas, há uma
valorização da técnica, tanto pelos professores como pelos alunos,
refletindo uma tendência tecnicista. Existe um distanciamento entre o
que é realmente ensinado pelos professores e a organização matemá-
tica de referência, ou seja, o saber sábio sofre diversas transformações
e chegam até o aluno de maneira que distorce o conceito e geram
dificuldades no entendimento, pelos alunos.
O PEP favorece a mudança de praxeologia do aluno e do pro-
fessor e influencia as práticas de ensino utilizadas. Outra perspectiva
que beneficia o ensino e aprendizagem é o foco na Transposição
Didática Reflexiva, junção das perspectivas da Transposição Didática
e da Educação Matemática Crítica.
As pesquisas que usaram tecnologias e são analisadas por meio
da TAD, mostram que os recursos tecnológicos favorecem a otimização
do tempo e uma dinamicidade na utilização da técnica.
Por dispor de leque grande de elementos, a TAD se mostra, a
partir de todos os trabalhos aqui catalogados, como uma teoria que
consegue ser base de avaliação de diversos fenômenos no processo
de ensino e aprendizagem, mesmo nosso olhar sendo voltado para o
conceito de Função, destacamos que TAD pode contribuir da mesma
forma para outros conceitos matemáticos.
De maneira geral, acreditamos que a questão norteadora dessa
RSL foi respondida, principalmente a relação da TAD com as diversas
modalidades de ensino e sua aplicação em diversos ambientes, como
o material didático e prática do professor.
80
REFERÊNCIAS
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81
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82
UMA PROPOSTA TEÓRICO-
METODOLÓGICO DE ENSINO DE LÍNGUA
INGLESA COM BASE NA LINGUÍSTICA
GERATIVA E NA ABORDAGEM DA
APRENDIZAGEM ATIVA
INTRODUÇÃO
18
Especialista em Neurociência e Aprendizagem (IBRA). CV: http://lattes.cnpq.br/7215155649772302
19
Doutor em Linguística (UFC). Professor adjunto (UVA). CV: http://lattes.cnpq.br/3551885027852388
83
enfatiza a capacidade inata do ser humano para adquirir línguas e a par-
ticipação ativa do aprendiz no processo de aprendizagem de uma língua.
Este capítulo objetiva apresentar uma proposta teórico-meto-
dológica baseada no modelo de Pilati (2017) e adaptada para o con-
texto de ensino e aprendizagem de segunda língua20, particularmente
de língua inglesa. A proposta de Pilati é desenvolvida tendo em vista
o ensino de gramática no contexto de aprendizagem de Português
como língua materna. Pretendemos mostrar que a proposta de Pilati
apresenta elementos e concepções teórico-metodológicas que também
podem ser aplicados no contexto de aprendizagem de segunda língua.
88
padrões, isto é, ela não consiste em um encadeamento ou combinação
aleatória de itens linguísticos.
Em relação ao desenvolvimento do conhecimento profundo
do objeto de estudo, nesse caso a gramática da língua, Pilati dis-
cute a importância de criar oportunidades de compreensão apro-
fundada. Isso deve ser garantido por meio de atividades que valori-
zem a reflexão sobre os fatos linguísticos e não apenas a identifica-
ção e memorização desses fatos.
É fundamental também, conforme Pilati, que todo esse conhe-
cimento refletido e aprofundado seja posto em uso, e isso pode ser
feito, por exemplo, por meio de “elaboração de textos, leitura crítica,
revisão e análise de textos” (PILATI, 2017, p. 108).
Quanto ao princípio do desenvolvimento de habilidades meta-
cognitivas, de Bransford et al. (2007), Pilati argumenta que o aprendiz
deve ser capaz de avaliar seu próprio processo de aprendizagem. Para
isso, a autora propõe que “haja momentos para a criação do sentido, para
a autoavaliação e para a reflexão sobre o que funciona e o que precisa
ser melhorado no processo de aprendizagem” (PILATI, 2017, p. 108).
Para o desenvolvimento dessas habilidades metacognitivas, a
autora faz uma sugestão bem interessante: utilizar materiais con-
cretos nas aulas. Esses materiais concretos são objetos físicos (como
brinquedos, materiais reciclados, tabelas etc) associados aos conceitos,
funcionamento e propriedades da língua, e que podem ser manipulados
pelos alunos. É nesse processo de uso e manipulação desses materiais
que os alunos poderão transformar os conceitos abstratos em elementos
concretos, e assim alcançar uma maior compreensão e consciência da
estrutura sintática e dos fenômenos gramaticais da língua em estudo.
Para orientar a ação prática do professor na promoção de uma
aprendizagem ativa, Pilati propõe uma sequência didática que pode
ser utilizada para estruturar uma aula com essa abordagem. Essa
sequência é apresentada no quadro abaixo:
89
Quadro 1 - Sequência didática da aprendizagem ativa
Atividade Explicação dos objetivos da atividade
1. Avaliação do conheci- No primeiro momento da aula, é importante que se investiguem os conhecimentos
mento prévio dos alunos prévios dos alunos acerca do fenômeno a ser estudado.
2. Experiência linguística O momento da “experiência linguística” está diretamente relacionado ao conhecimento
factual. O professor deve selecionar conjuntos de dados relevantes, orações ou textos,
em que os aspectos linguísticos a serem estudados estejam presentes e possam ser
objeto de análise pelos alunos.
3.Reflexões linguísticas Os alunos devem ser incentivados a refletir sobre os fenômenos linguísticos e a expor suas
intuições sobre os aspectos linguísticos relacionados ao tema que está sendo investigado.
4. Organização das ideias Nessa etapa, devem ser sistematizadas as descobertas dos alunos.
5. Apresentação das ideias Para que os conhecimentos linguísticos adquiridos sejam utilizados de forma consciente,
os alunos devem ser incentivados a produzir textos e a expressar suas ideias nas formas
oral e escrita e também por meio do uso de materiais concretos.
6. Aplicação dos conheci- Para desenvolver o conhecimento factual dos alunos, é recomendável que o professor
mentos em textos apresente para eles textos em que o fenômeno estudado ocorra. Dessa forma, o aluno
poderá entender como determinado fenômeno ocorre em situações reais de uso e poderá
desenvolver seu conhecimento linguístico explícito em situações complexas, parecidas
com as que enfrentará em situações reais de leitura, análise ou produção de textos.
SOBRE A
METACOGNIÇÃO:
Devemos incentivar os estu-
dantes a usar a metacogni-
ção em todos os momentos
da aula, ou seja, ensinar os
estudantes a aprender o
controle da sua própria
aprendizagem por meio da
definição dos objetivos da
aprendizagem e do moni-
toramento do seu progresso
em alcançá-lo.
90
também é incluída na proposta elaborada neste trabalho e será arti-
culada e contextualizada nas seções seguintes.
PROPOSTA DE APLICAÇÃO
92
O exemplo de aplicação será apresentado seguindo a sequên-
cia didática de Pilati (2017) dada no quadro 1, que inclui as etapas:
avaliação do conhecimento prévio dos alunos, experiência linguística,
reflexões linguísticas, organização das ideias, apresentação das ideias,
aplicação dos conhecimentos em textos, além do exercício da meta-
cognição que deve perpassar todas as etapas.
94
Uma continuação dessa etapa pode ser pedir aos alunos que
formulem frases simples com essas palavras. Uma outra tabela pode
ser disponibilizada para a formulação das frases, e os verbos podem ser
incluídos numa coluna central, deixando em branco os espaços para
os argumentos desses verbos, como demonstrado no quadro abaixo.
95
Outra possibilidade seria o inverso: o professor coloca apenas
as figuras no quadro (sem figuras com palavras) e os alunos devem
formar as frases apenas com cartões de texto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
97
aulas a partir dessa proposta. É somente a aplicação dessa proposta em
situações e contextos reais de ensino de segunda língua/língua inglesa
que mostrará sua adequação, pertinência e viabilidade, bem como pos-
síveis lacunas, inconsistências e necessidades de ajuste ou ampliação.
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PILATI, Eloisa. Linguística, gramática e aprendizagem ativa. 2 ed. São Paulo: Pontes, 2017.
98
COMO SURGIU O MODERNO ESTUDO DOS
SEMICONDUTORES E QUAIS FORAM SUAS
PRIMEIRAS APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS?
INTRODUÇÃO
100
atuou em trabalhos mais recentes sobre radiotividade. Portanto, estava
aí mais uma descoberta ao estudo dos semicondutores, a fotovoltagem.
Mais tarde, por volta do ano de 1870, o efeito fotovoltaico foi
estudado em sólido por um engenheiro eletricista de nome, Willoughby
Smith, que durante suas pesquisas com cabos submarinos precisava
de um material que demostrasse uma alta qualidade e resistência, a
haste de selênio material escolhido por Smith, parecia desenvolver
com satisfação o propósito almejado, porém, quando levado a prática,
mostrou muitas inconsistências (TEICHHOLTZ, 1967).
Após investigações, descobriu que a condutividade das hastes
de selênio aumentou significativamente quando exposta à uma forte
luz. Sem explicação, foi preciso averiguar as possíveis causas para o
fenômeno e, em 1873 W. Smith, descobriu a fotocondutividade ao
perceber que a resistência do selênio (material quenão conduz eletrici-
dade), poderia ser reduzida com a incidência de luz sobre ele, passando
de isolante para condutor. Três anos depois, foi verificado pelo próprio
Smith que o selênio também gerava energia a partir dos raios solares.
No ano seguinte (1874) veio a descoberta de uma quarta pro-
priedade semicondutora, a retificação. Karl Ferdinand Braun, observou
que o sulfeto de chumboem contato com uma ponta metálica causava
uma não linearidade, ou seja, permitia a passagem de corrente elétrica
em uma direção e sentido, mas o mesmo não era possível com mesma
intensidade na direção e sentido contrários. “Na verdade, a corrente da
direção é tão pequena, que quando aplicada diz-se que gira em uma
direção” (SANTOS, 2013). O retificador galena como é conhecido o
sulfeto dechumbo, foi o primeiro detector de estado sólido para ondas
de rádio, e ficou popularmente conhecido como bigode de gato.
Arthur Schuster, estudou a retificação entre não manchados
(elementos de natureza pura), e manchados (elementos com algum
nível de impureza). Muitos pesquisadores da época acreditavam que
o foco dos trabalhos de Schuster sobre a retificação era voltado para o
óxido de cobre, talvez por ser possível controlar o tipo de portadores
101
majoritário de cargas devido a adição de dopantes. É valido salien-
tar que, por muito tempo o fenômeno da retificação acreditava-se
tratar de um efeito térmico, e o cobre apresenta uma resistência ao
calor e durabilidade considerável.
Em 1876, W.G. Adams e R.E. Day criaram o primeiro elemento
fotovoltaico do tipo moderno de camada de barreira, sua base foi feita
com selênio. Eles observaram que a presença de luz podia mudar a
direção da corrente, fluindo atravésdo selênio conectado a uma bateria.
Continuando o trabalho de W.G. Adams e R.E. Day sobre o selênio,
C.E. Fritts produziu o primeiro retificador seco de grande área em
1883, que foi a primeira célula fotovoltaica.
Com isso, Fritts sintetizou o selênio em filmes muito finos no
substrato metálico e pressionou uma pequena folha de ouro em cima
para fazer um segundo contato, o filme de ouro era fino o suficiente
para deixar a luz passar. Em 1885, quatro das principais propriedades
dos semicondutores foram observados, embora em materiais distintos.
Ainda em 1885, foi conhecido as propriedades básicas dos semi-
condutores,alguns dispositivos foram criados, mas sem grande apreciação
uma vez que, ninguémsabia ao certo o que era um semicondutor, nem
sua finalidade. Em 1925 a resposta para o que seria semicondutor veio
com a equação de Schrödinger, a partir desse ponto, a física do estado
sólido deu um grande passo rumo ao desenvolvimento da microele-
trônica. A equação fundamental da mecânica quântica de Schrödinger
resultou na invenção do diodo.
Nos anos seguintes o aumento por conhecimentos dos semicon-
dutores foi notório devido a comercialização do mesmo. “A propriedade
fotocondutor desses materiais foi explorada comercialmente para
fotocélulas e sua propriedade de retificação foi usada para elementos
não lineares em circuitos eletrônicos” (TEICHHOLTZ, 1967, p. 11).
102
Figura 1: Mapa conceitual com noções básicas sobre a história dos semicondutores.
Díodo
Figura 3: Díodo.
Transistores
107
TEORIA DE BANDAS
108
Este modo, emprega átomos formados a partir de núcleos (com-
postos de prótons e nêutrons) e esferas elétricas (compostas de elétrons).
Os elétrons percorrem órbitas horizontais determinadas pela distância
do núcleo. À medida que essa distância aumenta, a atração entre o núcleo
e o elétron se torna menor, e a carga negativa é facilmente removida
quando o corpo está sob energia eletromotriz. No nívelmacroscópico,
o fluxo de elétrons é equivalente à corrente elétrica.
CONDUTIVIDADE ELÉTRICA
PROCESSO DE DOPAGEM
CÉLULAS FOTOVOLTAÍCA
110
Figura 3: Placas solares feitas com cristais de silício ultra puro.
TIPOS DE SEMICONDUTORES
111
Desta forma, os semicondutores internos possuem o mesmo
número decondutores positivos e negativos, pois a cada elétron desen-
volvido na banda de valência, é produzida uma lacuna na banda condu-
tora. Portanto, a condutividade elétrica do semicondutor intrínseco é
definida pelo produto do número de elétrons e lacunas, seu custo e fluxo.
A estrutura molecular de um semicondutor intrínseco é tetra
ética, ou seja, tem fortes ligações entre os quatro átomos ao seu redor.
Cada átomo semicondutor intrínseco contém elétrons de valência, isto
é, os elétrons giram em torno da camada externa de cada átomo. Cada
um desses elétrons forma ligações com elétrons vizinhos.
Já os Semicondutores extrínseca: atendem ao incluir impurezas nos
condutores internos, isto é, combinação de elementos trivalentes ou pen-
tavalentes. Introduz um comportamento de semicondução que depende
muito do foco material no assunto, que pode ser de dois tipos: n ou p.
Os semicondutores externos são aqueles que possuem menos
impurezas eletrônicas, ou seja, as impurezas possuem uma banda de
valência com valores de gap de energia mais baixos que o material puro.
Portanto, são capazes de fornecer elétrons para a banda. Por outro lado,
os semicondutores do tipo p externos possuem impurezas receptoras
de elétrons, ou seja, possuem bandas flexíveis, possuem um elemento
de bandade valência, um gap de energia menor que o próprio objeto.
Desta forma, os átomos de impurezas atuam como receptores
de elétrons na banda de valência do material. Com isso em mente, é
possível fazer um semicondutordopado adicionando impurezas do tipo
n ou p para melhorar as propriedades elétricasdesses materiais.
Esse processo é chamado de dopagem e visa aumentar a con-
dutividade elétrica dos materiais de construção, melhorando suas
propriedades físicas e elétricas. Ao substituir o átomo semicondu-
tor interno por outro átomo atômico, dois tipos de semiconduto-
res externos podem ser obtidos.
• Semicondutor do tipo P.
112
Neste caso, a impureza é um elemento semicondutor triva-
lente; ou seja, com três (3) elétrons em sua camada de valência.
Os elementos que penetram no interior da estrutura são
chamados deelementos dopados.
Exemplos de tais elementos para um semicondutor do tipo P
são boro (B), gálio (Ga) ou índio (In).
• Na ausência de elétrons de valência para formar quatro ligações
semicondutoras interconectadas, o semicondutor do tipo P
tem um buraco na ligação ausente.
• Semicondutor tipo N.
O elemento intrusivo na configuração é dado pelos elementos pen-
tagonais; ou seja, substâncias com cinco (5) elétrons na banda de valência.
Neste caso, as impurezas embutidas no semicondutor interno
sãoelementos como fósforo (P), antimônio (Sb) ou arsênico (As).
Dopantes com mais um elétron de valência sem ligações
covalentes para se unir, se moverão automaticamente pela rede.
METODOLOGIA
RESULTADOS
114
A banda proibida é a região que fica entre a banda de valência
ou camada devalência de um átomo e a banda de condução (a região
onde a corrente flui sob a ação de um campo elétrico). Quando os
elétrons ganham uma certa quantidade de energia, eles se tornam
livres e movem-se da camada de valência para a camada decondução.
A condutividade de um semicondutor pode ser alterada a tem-
peratura para atingir uma condutividade semelhante à de um metal, ou
pode vir da excitação térmica,conhecida como condutividade intrínseca.
Os semicondutores podem ser feitos de silício ou germânio e são usados
para fazer componentes eletrônicos, como transistores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
115
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TECHNOLOGY. Jun 1967.
116
A INTERNET NA SALA DE AULA E A SALA
DE AULA NA INTERNET: AS NOVAS
TECNOLOGIAS COMUNICACIONAIS E SUA
INTERFACE EDUCADORA
INTRODUÇÃO
O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas
aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender.
119
uma análise substancial, pois, em muitos casos, existem incorreções,
imprecisões, ambiguidades e, em páginas especificas, a manipulação de
informações essenciais. Aspectos que tornam a avaliação constante dos
conteúdos digitais uma prática docente fundamental em nossos dias.
Não resta dúvida que o contato com um universo maior de
informações representa um aspecto positivo da disseminação do uso
da rede mundial de computadores. Contudo, ao contrário do que ocor-
reu nas primeiras décadas de existência da internet, onde o acesso às
informações ocorria de maneira descentralizada e independente. Hoje,
como consequência direta dos avanços tecnológicos, do marketing
digital e do estabelecimento de interesses econômicos e políticos nos
ambientes virtuais, convivemos com o soerguimento de sistemas de
direcionamento de conteúdos por meio de mecanismos de inteligência
artificial – IA (LEE, 2019). Contraditoriamente, a ampliação do uso da
internet possibilitou a multiplicação da produção de conteúdos digitais,
mas o acesso a eles, ao longo dos últimos anos, tem sido cada vez mais
restrito, sendo direcionado pelos algoritmos de inteligência artificial.
Para o pleno funcionamento dos algoritmos de IA é necessário
um intenso processo de coleta e armazenamento de dados. A partir
dos dados coletados, são traçados padrões de acesso e construídos os
perfis dos usuários. É por meio desses perfis que as informações são
disponibilizadas em nossos feeds, são os algoritmos que determinam
o que será apresentado, as notícias e os links que serão disponibiliza-
dos nas primeiras posições em um site de busca. Foi pensando nestes
mecanismos que o pesquisador norte-americano Eli Pariser (2012),
denunciou que o direito de escolha dos usuários da rede mundial de
computadores foi subtraído pelos algoritmos de inteligência artificial.
De acordo com suas formulações, se dois indivíduos acessarem o mesmo
buscador comercial e pesquisarem o mesmo assunto, os resultados
apresentados serão diferentes. Isso ocorrerá devido à ‘personalização’
realizada pelos algoritmos, que direcionarão os resultados com base
no histórico de navegação, cliques e curtidas dos usuários. É a inte-
120
ligência artificial quem direciona o que tem sido exposto e que tipos
de informações serão disponibilizados (CANCLINI, 2016).
A crítica a personalização não reside em sua existência, mas
na forma arbitrária e velada, quase imperceptível, que os perfis são
estruturados. Os usuários não decidem o que será disponibilizado,
não têm ideia do que não será exibido, ou seja, informações que pode-
riam ser interessantes não estarão acessíveis, serão desprezadas pelos
algoritmos (MOROZOV, 2018). A consequência mais perceptível
desse processo reside na criação das chamadas ‘bolhas digitais’ que,
entre outros aspectos, impedem o contato com opiniões contrárias e
divergentes. As bolhas digitais constroem uma ilusão, uma miragem
da realidade, cujo desdobramento determina uma falsa percepção do
mundo, como, por exemplo, na ideia de que a posição política pessoal
de um indivíduo é a única possível e existente. Em diversos momentos,
os fatos e a complexidade que caracterizam os aspectos sociais, eco-
nômicos e políticos são desprezados em razão de convicções pessoais
alimentadas pela inteligência artificial. É por meio da personalização
estabelecida pelos algoritmos que as bolhas ampliam a disseminação
de diversos conteúdos, incluindo notícias falsas ou servindo aos pro-
cessos de desinformação (HUI, 2020).
Com base nessa realidade, torna-se essencial que docentes e dis-
centes tenham um comportamento mais ativo em relação ao ambiente
digital e, especialmente, que percebam os direcionamentos estabele-
cidos pelos algoritmos. É preciso que as informações e os conteúdos
disponibilizados na internet sejam, permanentemente, discutidos,
confrontados e submetidos a uma análise crítica. Além disso, se o que
recebemos como informação tem origem em algoritmos, precisamos
questionar se de fato possuímos liberdade de escolha e se a internet
democratizou, verdadeiramente, o acesso à informação.
Vivemos um momento da era digital diferente daquele que existiu
em seu início. Passamos de uma ‘sociedade em rede’, como descreveu
o sociólogo espanhol Manuel Castells (2006), para uma ‘sociedade
121
de dados’. Se o advento da cultura digital, em seus primeiros anos,
foi associado a democratização da informação, com a ampliação do
acesso e da produção de conteúdos digitais, de saberes e de expressões
culturais, atualmente, este processo tem sido solapado. Na sociedade de
dados, ao passo que acontece a ampliação do número de usuários e de
acesso aos serviços digitais, ocorre a redução da liberdade de escolha
e do contato com o contraditório, com o diferente. A livre escolha foi
subtraída dos indivíduos nos ambientes virtuais (MOROZOV, 2018).
A incorporação da cultura digital nas práticas escolares não
pode envolver apenas a disponibilização de artefatos tecnológicos
ou o acesso às novas mídias, mas, fundamentalmente, a garantia de
que os estudantes consigam perceber suas ‘bolhas’ e compreendam os
fatores envolvidos no direcionamento de informações e conteúdos
digitais. As redes informacionais precisam ser percebidas conforme
o seu potencial, a cultura digital deve ser incorporada nas práticas de
ensino, mas esses processos devem envolver análises criteriosas dos
limites inerentes a sua utilização em nossos dias. Portanto, é preciso
construir projetos pedagógicos que contemplem, simultaneamente, o
potencial formativo presente nas redes e o estabelecimento de análi-
ses críticas do que é acessado.
Informação e conhecimento não são sinônimos. A informação
tem sido facilitada por meio das redes virtuais, mas o conhecimento
é uma construção mental, estabelecida através do processamento,
da interpretação e da compreensão das informações recebidas. O
conhecimento é o significado que atribuímos as informações que
acessamos ao longo do tempo. Nesse sentido, podemos afirmar que
a Internet criou uma geração de aprendizes mais informados, porém
os algoritmos da inteligência artificial limitam as possibilidades de
escolha e, consequentemente, interferem na produção de conhecimen-
tos. Desta forma, é preciso que as informações acessadas não sejam
entendidas como verdades absolutas, os conteúdos digitais precisam
122
ser confrontados, analisados e validados com base nos conhecimen-
tos historicamente produzidos.
É por esta condição que defendo que devemos levar a internet para
o interior das salas de aula, mas, igualmente, precisamos levar as salas de
aula para a internet. Aqui reside a importância das instituições de ensino
e das práticas docentes, uma vez que os instantes de ensino devem ser
transformados em momentos de reflexão a respeito das informações,
cotidianamente, acessadas e de curiosidade para correlacionar diferentes
visões de mundo. Existe um elevado potencial educativo nos ambientes
virtuais, mas sua utilização depende de como esse recurso é apropriado
pelos sujeitos. É preciso que as novas tecnologias sejam encaradas
como um instrumental favorável a construção de novos processos de
aprendizagem, porém esses recursos não substituem os momentos de
formação, o contato com os docentes e a construção de processos de
reflexão e aprendizagem (MORAN, 2018).
A seguir apresentaremos uma possibilidade metodológica que
pode subsidiar as ações docentes. Neste ponto uma ressalva deve
ser feita, uma vez que não apontaremos um procedimento defini-
tivo e acabado ou o relato de uma experiência pedagógica exitosa, o
que busco é elencar uma possibilidade, um caminho metodológico
que pode contribuir para a incorporação dos recursos digitais nos
ambientes escolares e que, simultaneamente, favorecerá a formação
de estudantes curiosos, criativos e colaborativos, competências atitu-
dinais que considero como essenciais para a concreção de processos
educativos adaptados ao momento atual.
124
Apesar de estarmos sempre aprendendo, a construção sistemática
do conhecimento não é um procedimento facilmente estabelecido.
Hoje, com base nos inúmeros avanços da neurociência associados a
educação, sabemos que a consolidação do conhecimento demanda uma
combinação mental complexa, onde as informações adquiridas precisam
ser confrontadas, analisadas e, quando necessário, reconstruídas por ava-
liações e combinações (COSENZA, 2011). Portanto, a complexidade
dos processos mentais relacionados a consolidação de conhecimentos,
requer mais do que o acesso a informações e a apresentação de con-
ceitos no interior de uma sala de aula. É cada vez mais necessário que
os procedimentos escolares se apoiem em experimentações, vivências,
inferências e pelo compartilhamento de saberes. Procedimentos que
entendo que devam balizar todas as atividades escolares.
Em um mundo marcado pela virtualidade, pela ampliação
do acesso às informações e pela existência de filtros de inteligên-
cia artificial, o papel desempenhado por docentes na construção de
conhecimentos é ampliado. As redes informacionais têm produzido
processos de alienação, reduzindo o direito a escolha e limitando o
contato com o contraditório e o diverso. Por isso, é vital que as prá-
ticas docentes passem a promover uma análise crítica a respeito das
informações acessadas pelos estudantes por meio das redes digitais.
O fomento a autonomia dos estudantes precisa ser entendido como
uma questão central, que direcionará a seleção das metodologias
empregadas no interior das escolas.
Sobre esse prisma, Mitchel Resnick (2020) defende que deve-
mos estimular os estudantes para se transformarem em pensadores
criativos. De acordo com suas formulações, a criatividade constitui
uma habilidade fundamental, devendo ser ambicionada em todas
as atividades escolares. Para que esse processo ocorra, os ambientes
escolares precisam ser reestruturados, as salas de aula estanques e
desconectadas, marcadas pela presença de estudantes dedicados a
tarefas disciplinares, devem ser abandonadas; em seu lugar precisam
125
ser estabelecidos ambientes que estimulem uma postura ativa, criativa
e colaborativa. Resnick (2020) propõe que os processos de aprendi-
zagem sejam estruturados por meio de atividades práticas, projetos,
compondo o que ele denominou como ‘aprendizagem mão na massa’.
A metodologia de aprendizagem proposta por Resnick (2020)
estimula os estudantes a assumirem o protagonismo dos itinerários
formativos, sendo corresponsáveis pela construção dos processos de
aprendizagem. Ao passo que vivenciam a construção do conheci-
mento, ocorrem estímulos para o desenvolvimento da autonomia, da
capacidade argumentativa e da avaliação e contraposição de infor-
mações e conceitos, levando os discentes a selecionarem os recursos
mais adequados para a execução dos projetos propostos. A proposta
metodológica de Resnick (2020), apoiada na criatividade, deve ser
considerada, igualmente, como essencial no fomento a curiosidade
e a colaboração entre os estudantes, visto que ela provoca um pro-
cesso permanente de autoavaliação, de percepção de erros e acertos,
de reconhecimento da necessidade de ajustes e de estímulo a troca
de informações entre os envolvidos. Considero que a metodologia
proposta por Resnick (2020) compõem uma estratégia didática que
pode ser empregada na elaboração de processos de aprendizagem mais
adaptados ao cenário atual, uma vez que compreendo como necessária
a horizontalização das práticas docentes, aspecto que possui a capa-
cidade de tornar menos exaustivos os momentos de permanência dos
sujeitos no interior das escolas.
Em um mundo marcado pelo direcionamento de informações
por algoritmos de inteligência artificial, acredito que o fomento a
curiosidade, a criatividade e a colaboração devem ocupar uma posição
central nas práticas escolares. A emancipação dos sujeitos em um mundo
marcado por transformações permanentes, pelo acréscimo de novas
tecnologias, por interconexões virtuais e pela cultura digital dever se
considerada como uma atividade fundamental nas práticas docentes.
126
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É impossível progredir sem mudança, e aqueles que não
mudam suas mentes não podem mudar nada.
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REVISTA PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES NEGÓCIOS. Exclusivo: Descomplica
terá graduação online com mensalidade de até R$ 219. 10 de março de 2020. Disponível em:
< https://revistapegn.globo.com/Startups/noticia/2020/03/exclusivo-descomplica-tera-gra-
duacao-online-com-mensalidade-de-ate-r-219.html>. Acesso em: 02 maio 2022.
RIFKIN, J. Sociedade com custo marginal zero. São Paulo: M. Books do Brasil Editora
Ltda, 2016.
SIBILIA, P. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. Rio de Janeiro: Contra-
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cursos online. Revista Digital de Tecnologias Cognitivas. São Paulo: Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo - Programa de Pós-graduação em Tecnologia da Inteligência e Design
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IV Colóquio luso-brasileiro sobre questões curriculares. Florianópolis: UFSC, 2008. p. 1-18.
130
O FENÔMENO DA MONOTONGAÇÃO NAS
AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA NOS ANOS
FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
INTRODUÇÃO
PERCURSO TEÓRICO
132
gramaticais greco-latina de forma fragmentada, dogmática, prescritiva
e sem nenhuma reflexão sobre as regras.
Vieira (2020) contribui com esse diálogo afirmando que a gra-
mática tradicional apresenta dois eixos principais: o da norma-padrão e
o da análise metalinguística. O primeiro eixo foi utilizado por especia-
listas para nomear a gramática tradicional como gramática normativa
e tem a sua prioridade nas regras da escrita e falas corretas e que “[...]
esse eixo idealiza um padrão gramatical homogêneo e estável, mas
distantes dos usos linguísticos […]” (VIEIRA, 2020, p. 88).
O eixo da análise metalinguística aborda uma conceituação e cate-
gorização amparada pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB).
Ainda segundo o autor, esses dois eixos são articulados como uma engre-
nagem, que dão a estrutura de funcionamento da gramática tradicional.
Esse entendimento reforça um conceito de gramática tradicional
como sendo uma gramática regida por regras uniformes e invariáveis,
focada na norma padrão como a única maneira correta de escrita, preo-
cupada apenas com a conceituação e classificação das nomenclaturas,
desconsiderando os usos reais da língua.
Entretanto, esse estudo procura abordar uma outra concepção
de gramática que é utilizada diariamente pelos falantes nas diversas
interações, sempre voltada para as situações de uso, oportunizando aos
estudantes a reflexão sobre o contexto em que estão inseridos.
Antes de adentrarmos na discussão da monotongação nas aulas
de língua portuguesa gostaríamos de enfatizar que na gramática tra-
dicional o fenômeno da monotongação pouco ou quase não aparece
nas aulas, possivelmente por não estarem presentes nos livros didá-
ticos que se limitam a apresentar apenas o conceito de ditongo e sua
classificação em crescente, decrescente, nasal, oral, desconsiderando
a reflexão sobre a relação direta da fala e da escrita.
Frente a isso temos que levar em consideração também as contri-
buições da fonologia para compreendermos melhor os fenômenos da
monotongação. Inicialmente precisamos entender que não existe uma
supremacia entre a fala e a escrita como nos alerta Marcuschi e Dionísio
133
[...] não se pode afirmar que a fala é superior à escrita ou
vice-versa. Em primeiro lugar, deve-se ter em mente o
aspecto que se está comparando e, em segundo, deve-se
considerar que essa relação não é nem homogênea nem
constante. (MARCUSCHI e DIONÍSIO, 2007, p. 26)
136
É importante ressaltar que a monotongação é considerada um
“erro” na gramática tradicional, mas na concepção linguística não se
apresenta como erro e sim como um fenômeno linguístico apoiado
na variação da fala. Partindo dessa premissa, apresentamos uma pro-
posta, embasada na reflexão dos fenômenos fonético-fonológico da
monotongação que pretende contribuir com o professor na mediação
de automonitoramento do estudante com relação a diferença existente
entre fala e escrita dos usuários da língua.
Os estudos da linguagem a partir de uma perspectiva funciona-
lista podem contribuir para uma abordagem mais descritiva e menos
prescritiva no fenômeno da monotongação, uma vez que difere de
outras abordagens como afirmam Cunha, Costa e Cezario
O Funcionalismo Linguístico contemporâneo difere
das abordagens formalistas - estruturalismo e gera-
tivismo - primeiro por conceber a linguagem como
um instrumento de interação social e segundo porque
seu interesse de investigação linguística vai além da
estrutura gramatical, buscando no contexto discursivo
a motivação para os fatos da língua. A abordagem fun-
cionalista procura explicar as regularidades observadas
no uso interativo da língua analisando as condições
discursivas em que se verifica esse uso. (CUNHA,
COSTA e CEZARIO, 2015, p. 21)
A BNCC E A MONOTONGAÇÃO
EXPERIÊNCIA DIDÁTICA
140
Com as discussões levantadas a partir dos registros dos estudantes
também foi possível trazer a reflexão do porquê desse fenômeno aconte-
cer com alguns ditongos e outros não. A língua sofre mudanças a partir
de elementos externos que mexem no sistema linguístico, denominados
como atratores, entre eles temos o sentido e economia que ocorre na
linguagem humana, durante a comunicação o atrator da economia
ocorre sem prejuízo, portanto não interfere no sentido comunicativo
(ABREU, 2013, p. 231-232). No fenômeno em estudo ocorre a alteração
fonética apenas nos ditongos que permitem a manutenção do sentido.
Na sequência foi apresentado outro gênero, o meme, muito
comum e compartilhado por eles nas redes sociais e no qual a presença
do fenômeno da monotongação é recorrente. Trabalhamos com os
alunos dois exemplos. Na figura 1 com a palavra dinheiro - dinhêro e
na figura 2 com a palavra apresentou - apresentô.
Figura 1
<https://www.facebook.com/BodeGaiato/photos/a.463935863669678/356687259
6709307/>
141
Figura 2
<https://www.facebook.com/BodeGaiato/photos/a.463935863669678/35581459309
15307>
142
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
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143
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BODE GAIATO [07 de jul 2020]. 2 figura. Disponível em: <https://www.facebook.com/
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VIEIRA, F. E. Tradição gramatical: história, epistemologia e ensino. In: VIEIRA, F. E.;
BAGNO, M. (Orgs.). História das línguas, histórias da linguística: homenagem a Carlos
Alberto Faraco. São Paulo: Parábola Editorial, 2020. p. 85-124.
144
CURRÍCULO ESCOLAR: REFERECIAL
NA TRANSMISSÃO DA CULTURA E
COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA
APRENDIZAGEM CONSTRUCIONISTA
INTRODUÇÃO
28
Doutor em Ciências da Educação. Universidade da Madeira (UMa). Portugal.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7612-2034
29
Mestre em Ciências da Educação. Universidade da Madeira (UMa). Portugal.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0098-2473
30
Mestre em Ciências da Educação. Universidade da Madeira (UMa). Portugal.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4302-4312
31
Doutora em Ciências da Educação. Universidade da Madeira (UMa). Portugal.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6217-2305
32
Doutoranda em Educação. Universidad Columbia del Paraguay. Paraguai.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1924-5158
33
Doutoranda em Educação. Universidad Columbia del Paraguay. Paraguai.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6149-1323
34
Doutoranda em Educação. Universidad Columbia del Paraguay. Paraguai.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8093-772X
145
É bom considerar que, na atualidade, a escola tem sua autonomia
pedagógica atrelada às políticas públicas vigentes e orientações dos
sistemas de ensino. Nessa perspectiva, ações de caráter inovador, bem
como intervenções revolucionárias, são delimitadas pelas normas
oficiais que quase sempre expressam a ideologia dominante.
Em busca de apontar o sentido da palavra currículo, Sousa
(2007, p. 16) afirma que, “ainda no século XVI, quando a palavra
currículo foi, pela primeira vez, utilizada, foi-lhe conferida a ideia de
organização lógica do conhecimento”.
Na atualidade, o currículo permanece disposto de forma sequen-
cial detalhando as diferentes disciplinas escolares, como um roteiro
pormenorizado a seguir dentro de prazos pré-estabelecidos. A sociedade
moderna tem, na racionalidade, na ciência e na tecnologia, sua base de
sustentação, daí que novas formas curriculares seguem com caracte-
rísticas fabris antigas. “Ora, as concepções modernas de currículo não
podiam deixar de estar imbuídas desta lógica de obsessão com a pro-
dutividade e eficácia, oriunda do mundo fabril” (SOUSA, 2007, p. 19).
Entende-se que essa busca atual pela produtividade e eficácia,
antes decorrente do mundo fabril, deriva de objetivos característicos
da economia neoliberal, que continua a formar na escola, a mão-de-
-obra necessária à realização de suas metas. Fala-se da necessidade de
mudanças profundas no currículo, entretanto a escola, como instituição,
continua preservando e assegurando a estrutura social e econômica
vigente, servindo aos propósitos hegemônicos.
Nesse sentido, discute-se sobre a necessidade da escola definir
o seu currículo de forma a atender à realidade dos alunos e às especi-
ficidades locais de origem desses alunos.
146
METODOLOGIA
150
O currículo, em seu conteúdo e nas formas através das
quais se nos apresenta e se apresenta aos professores e
aos alunos, é uma opção historicamente configurada,
que se sedimentou dentro de uma determinada trama
cultural, política, social e escolar: está carregado, por-
tanto, de valores e pressupostos que é preciso decifrar
(SACRISTAN, 2000, p. 17).
151
tentativas sérias de lidar com o conflito (conflito de
classes, conflito científico, ou outros). Em vez disso,
fazemos nossas “investigações” dentro de uma ideologia
consensual que tem pouca semelhança para com as
relações e contradições complexas que cercam o controle
e a organização da vida social (APPLE, 2006, p. 41).
152
da ideologia vigente. Segundo Apple (2006, p. 35) “o educador está
envolvido em um ato político, esteja ciente ou não disso”.
Diante disso, o educador precisa localizar e contextualizar o
conhecimento transmitido aos alunos, para formar indivíduos inde-
pendentes, dispostos a questionar a ordem social e política. Precisa
ensinar à criança a recepcionar, de maneira séria e crítica, as informações
recebidas e, principalmente, tomar consciência, de que seus ensinamen-
tos farão parte da vida dos alunos e que, agindo de modo diferente,
permitirá que a situação de opressão se mantenha por mais tempo.
A escola não se pode esquecer de que ensina modos
de pensar que, uma vez interiorizados, não podem ser
isolados da vida e da cultura dos alunos. A educação
existe na cultura que é poder e, por isso mesmo, ela não
está acima da política. Ela está na política (RODRI-
GUES, 2007, p. 171).
154
de aprendizagem de uma nova maneira, onde o papel do profes-
sor muda completamente. Ele deixa de ser um mero repassador de
ensino, para criar novos ambientes mais adequados para a aprendiza-
gem. Ele se coloca à disposição como um facilitador, um orientador
da aprendizagem (VALENTE, 1993).
Moran (1998) afirma que o perfil do professor na abordagem
construcionista é ser um profissional mais aberto, que busca na humani-
zação a sua prática pedagógica, que motiva e estimula seu alunado, onde
as relações de poder entre professor e aluno sejam democráticas e éticas.
Ao trabalhar dessa forma o professor insere um currículo muito
mais participativo, um currículo que valoriza as relações interpessoais,
bem como cria um ambiente propício para que a aprendizagem seja
efetiva. Um currículo que acolhe a diversidade, que é interativo em sua
essência e acima de tudo transcende a sala de aula permanentemente.
O currículo na abordagem construcionista deve acompanhar as
mudanças constantes por quais passam a sociedade mundial. Como
indica Toffler (1970) em sua obra “O Choque do Futuro”, a educação
precisa se ver livre de suas amarras do passado. Ele ainda afirma que
currículos obsoletos geram seres humanos padronizados e homogêneos.
É necessário revê-los com a maior urgência, pois assim como o processo
de ensino e de aprendizagem, queremos uma sociedade heterogênea.
Ao se abordar um currículo construcionista, acenamos que é
preciso “aprender a aprender” (TOFFLER, 1970, p. 332), onde os
valores, os relacionamentos e as escolhas não podem ser transmiti-
dos sem nenhum sentido. Nesse sentido, o currículo deve perceber a
potencialidade de cada aluno. Devemos prever no currículo a cons-
trução do conhecimento com o objetivo de atingir a elevação do
pensamento lógico dos nossos alunos.
[...] o conhecimento não procede, em suas origens,
nem de um sujeito consciente de si mesmo, nem dos
objetos já constituídos (do ponto de vista do sujeito)
que se lhe imporiam: resultaria de interações que se
155
produzem a meio caminho entre sujeito e objeto, e que
dependem, portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas
em virtude de uma indiferenciação completa e não de
trocas entre formas distintas (PIAGET, 1990, p. 8).
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158
A PRODUÇÃO TEXTUAL ESCRITA
EM LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL ANOS FINAIS
INTRODUÇÃO
160
Fayol (1984) constata que os estudantes escrevem mal porque
não lhes foi ensinado escrever bem, por isso, a partir de uma abordagem
cognitiva da escrita, ele defende a necessidade de se priorizar o pro-
cesso, denominado por ele de composição, em detrimento do produto.
Essa constatação acerca do despreparo dos estudantes é plenamente
compreensível se considerarmos que eles, muitas vezes, são obrigados
a redigir textos sem propósitos definidos, prática infelizmente ainda
adotada por muitos professores, como se pode ler em Albuquerque
(2006, p. 26) que, ao analisar a Proposta Pedagógica de Língua Por-
tuguesa da Prefeitura da Cidade de Recife, questionou à didática dos
professores em relação ao ensino da escrita: “A prática de ensino da
escrita na escola é criticada do ponto de vista didático, uma vez que
sua dimensão pragmática não é considerada”.
Tantos os professores quanto os estudantes precisam compreen-
der que, como diz Marcuschi (2008, p. 218), “o trabalho de escrita é
também um trabalho de reescrita. O processo de produção deve ser de
algum modo distinguido da produção final do texto, pois o produto
final é o resultado de um processo de muitas revisões”, e o livro didá-
tico pode funcionar como um guia nesse processo, pois ele continua
sendo o principal referencial teórico utilizado pelos professores e
manuseado pelos estudantes, de modo que, quanto mais abrangente
for a sua abordagem sobre o processo da escrita, mais eficaz será o
resultado da atividade pelos estudantes.
É importante lembrarmos que, quando falamos de produção
textual enquanto processo, estamos recuperando uma proposta de
escrita que foi discutida, pela primeira vez, ainda nos anos 80, por J. R.
Hayes e L.S. Flower, quando estes, inspirados por uma série de protoco-
los verbais de redatores proficientes, propuseram que a escrita consistisse
em três grandes processos: Planejamento, Textualização e Revisão.
161
METODOLOGIA
162
relevante contabilizar a quantidade de vezes em que o livro didático
fornecia oportunidades de escrita aos estudantes.
No que diz respeito à análise das propostas de produção textual
escrita que compuseram o corpus, fizemos um recorte, necessário
quando se estuda determinado objeto, e apresentaremos os achados
no tocante ao aspecto da concepção de ensino de produção textual
escrita que vigorava em cada período destacado, a saber, as décadas
de 60, 70, 80, 90, 2010 e 2020.
163
O ensino de produção textual escrita partia da noção de que
os estudantes deveriam redigir um produto, pois não havia qualquer
preocupação com a estrutura dos enunciados objetivando orientar os
estudantes quanto ao tipo de texto a ser elaborado (narrativo, descri-
tivo ou dissertativo), ou quanto às etapas de seu planejamento, de sua
execução ou de sua avaliação (MARCUSHI, 2008). Acerca dos temas
sugeridos pelo LD, podemos dizer que eram superficiais e que não
instigavam os estudantes a elaborarem textos autônomos.
Sobre as propostas de produção textual escrita na década de 70,
notamos uma ligeira diferença na concepção de ensino de produção
textual, uma vez que, apesar de não ser possível perceber etapas de
um processo, há uma preocupação em determinar e explicar o tipo
textual e propor um plano modelo.
165
de avaliação do texto elaborado, quando é solicitado que o estudante
releia sua produção e imagine a recepção dele pelo interlocutor e a de
refacção, quando, após reler o texto e pensar se ele está suficientemente
claro para o leitor, é sugerido que ele faça uma revisão do texto e, só
depois, passe-o a limpo e o mostre ao colega; é importante notar que
essas etapas de avaliação e de revisão seguem a orientação dos PCN,
quando estes sugerem que o estudante analise e revise o próprio texto
em função dos objetivos estabelecidos, da intenção comunicativa e do
leitor a que se destina, redigindo tantas quantas forem as versões neces-
sárias para considerar o texto produzido bem escrito. (BRASIL, 1998).
166
reformas educacionais, que, pelo menos na teoria, buscaram melhorar
o sistema educacional brasileiro.
Na figura 5, referente aos anos 2010, temos, de modo bem mais
acentuado, a concepção de produção textual escrita como processo,
sendo discriminadas, ainda que de forma não detalhada, as etapas de
planejamento, de produção, de revisão e de publicação.
167
No planejamento, especifica-se o que deve ser feito e como o
texto deve ser elaborado: os estudantes deverão elaborar um verbete
e, para isso, devem, primeiro, pesquisar a respeito em enciclopédias,
jornais, revistas e, se os estudantes puderem, na internet; deverão,
também, planejar os espaços entre os parágrafos, a disposição das
ilustrações e dos boxes etc.; diferentemente das propostas analisadas
anteriormente, nesta, além de o professor ou de os colegas de sala,
o próprio estudante, a partir de uma série de critérios, avaliará seu
texto quanto aos aspectos textuais, visuais e relacionados ao conteúdo;
depois da fase de revisão, temos a fase de publicação, quando, depois
de os estudantes terem realizado as correções propostas pelo profes-
sor e inserido suas sugestões, o texto irá compor uma enciclopédia e,
também, no projeto do final do ano, um almanaque.
A escolha do tema da proposta de 2010 fica, em parte, a cargo
do estudante, uma vez que é solicitada a elaboração de um verbete
enciclopédico sobre um animal, sem que seja especificado qual. Esse
tema, caso estivesse desassociado das motivações apresentadas para
a escrita, poderia ser considerado distante da realidade do estudante
ou genérico, mas é o contrário disso, a unidade inteira do livro didá-
tico, intitulada “Definindo o mundo que nos cerca”, traz como tema
transversal o meio ambiente e como tema associado a exploração de
animais, a extinção de espécies e a preservação da natureza, forne-
cendo, com isso, inspiração para a escrita e despertando a consciência
crítica do estudante. A estrutura do enunciado, por sua vez, apresenta
o que deve ser feito e como deve ser feito, atendendo às condições de
produção: finalidade, publicação na enciclopédia e no almanaque; o
gênero, verbete de enciclopédia; suporte, a enciclopédia e o almanaque;
interlocutor, os colegas de sala, possíveis leitores da enciclopédia e do
almanaque; e, assim como nas propostas anteriores, não são apresen-
tadas restrições quanto aos lugares de circulação.
Por fim, a partir de 2020, a concepção de produção textual
escrita da figura 6 é a de processo, sendo apresentadas diferentes etapas
168
(apresentação da proposta, planejamento, revisão e reescrita e publi-
cação) e coaduna-se com a da BNCC, uma vez que está relacionada
à interação e a autoria (BRASIL, 2017), pois não apenas sugere a
elaboração de uma resenha a partir do acesso a um site, como também
há um investimento no processo de interação entre os estudantes,
sendo isso enfatizado tanto no momento da revisão e reescrita quanto
durante a etapa de publicação.
SANTA BARBARA, M.G. Língua Portuguesa. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 39.
169
O tema abordado, uma das telas da pintora modernista Tarsila
do Amaral, possibilita o cumprimento de algumas competências dis-
criminadas na BNCC, como o conhecimento e a exploração de uma
prática de linguagem artística, democratizando, assim, por meio do
uso de tecnologias digitais, o acesso a esse tipo de expressão artística;
e o desenvolvimento do senso estético, com o intuito de os estudantes
reconhecerem, fruírem e respeitarem esse tipo de arte, apesar de não
os inserirem em um contexto totalmente real de interação.
A motivação para a escrita também se concentra em textos de
apoio, cujo gênero textual é o mesmo solicitado na proposta de produção
textual escrita da unidade, o que é interessante, pois auxilia o aluno no
processo de elaboração do gênero, contudo, o fato de ser apresentada
apenas uma resenha e com organização retórica não convencional, pois
é apresentada em forma de tópicos, pode comprometer o processo de
criação do estudante, cabendo ao docente apresentar um material extra
a fim de ilustrar melhor a forma composicional do gênero. Contudo, o
tipo de atividade proposta, tour virtual, pode funcionar como elemento
motivacional, apesar de, considerando a multiplicidade de gêneros
sugeridos pela BNCC (vlogs, vídeos, podcasts variados e produções e
gêneros próprios das culturas juvenis, como fanzines, fanclipes, e-zines,
gameplay, detonado etc.), além da resenha, que também é apresentada
como gênero textual possível, não há um investimento na abordagem
dessa multiplicidade de gêneros nem no acesso dos alunos às demais
produções e eventos culturais apontados pela Base (produções culturais:
livro, filme, série, game, canção, disco, videoclipe etc.; ou evento: show,
sarau, slam etc.), ou seja, a proposta não apresenta avanços no que diz
respeito aos gêneros solicitados nas décadas anteriores.
Quanto às condições de produção, que se assemelham bastante
às dos PCN, todas são disponibilizadas na proposta: os enunciadores
são os próprios estudantes e o papel assumido por eles é o de elabo-
170
radores de resenhas; o objetivo está explícito “auxiliar seus colegas nas
suas escolhas para leitura, apreciação e compartilhamento de impres-
sões sobre obras de arte, como as pinturas em tela”, o gênero textual
é apresentado desde o início da unidade e há um quadro explicando
sua estrutura, o lugar de circulação também fica bastante claro no
enunciado da proposta, será o blog da turma, site da escola, ou em
outro lugar definido com o auxílio do professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, E.B.C. de. Mudanças didáticas e pedagógicas no ensino de Língua
Portuguesa: apropriações de professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – terceiro e quarto ciclos do Ensino Funda-
mental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (2017). Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf. Acesso em: 14 fev. 2018.
CEGALLA, D. P. Português: gramática, antologia, exercícios (1ª série ginasial). 13. ed. São
Paulo: Companhia Editoria Nacional, 1964, p. 31.
DELMANTO, D; CARVALHO, L.B. de. Jornadas.port: língua portuguesa, 6º ano. 1. ed.
São Paulo: Saraiva, 2012, p. 305-306.
DISCINI, N; TEIXEIRA, L. Leitura do mundo. São Paulo: Editora do Brasil, 1999, p. 20.
FARACO, C; MOURA, F. Comunicação em Língua Portuguesa (Primeiro Grau – 5ª série).
São Paulo: Editora Ática, 1984, p. 190.
FAYOL, M. L’approche cognitive de la rédaction: uma persective nowvelle. Repères, nº 63,
maio de 1984. Disponível em: http://www.persee.fr/docAsPDF/reper_0755-7817_1984_num_
63_1_1783.pdf. Acesso em: 6 mar. 2018.
173
MARCUSCHI, L.A. Produção Textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008.
MAROTE, J.T.D. PortuguêsFuncional (8ª série do novo ensino de 1º grau – antiga 4ª série
ginasial). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1972, p. 149.
SANTA BARBARA, M.G. Língua Portuguesa. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
174
PROPOSTA DE ENSINO DO CONJUNTO
DOS RACIONAIS COM BASE NA TEORIA
HISTÓRICO-CULTURAL COM ABORDAGEM
GEOMÉTRICA
INTRODUÇÃO
37
Graduanda em Matemática (UNESC). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9720-5245
38
Graduando em Matemática (UNESC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0322-0725
39
Graduando em Matemática (UNESC). CV: http://lattes.cnpq.br/0592073531179886
40
Doutoranda em Educação (UNESC). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3489-8771
175
com o intuito de promover a inter-relação desses conceitos mate-
máticos (SANTA CATARINA, 2019).
Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também consta a
necessidade dessa inter-relação entre os diversos campos da matemática,
além da estatística e da probabilidade. Em vista disso, esta proposta
desenvolve os conceitos e propriedades do conjunto dos racionais asso-
ciados com os polígonos regulares (triângulo equilátero, quadrado, hexá-
gono regular), tanto seu perímetro quanto equivalência de suas áreas, os
quais constam como objetos de conhecimentos previstos pela BNCC
para o ensino do sétimo ano do Ensino Fundamental (BRASIL, 2018).
Então, objetivou-se neste estudo desenvolver, aplicar e avaliar
uma proposta de ensino dos conjuntos dos racionais com base na
THC em estágio obrigatório com estudantes do sétimo ano de uma
escola estadual de Santa Catarina, de modo a verificar a necessidade
da subdivisão da unidade de medida; realizar o processo de medição,
relacionado com o perímetro de polígonos regulares; desenvolver o
conjunto dos racionais interligado à geometria, álgebra e aritmé-
tica; avaliar a apropriação do conhecimento sobre os conjuntos dos
racionais por parte dos alunos.
Os alunos foram desenvolvendo os conceitos durante as tarefas.
Algumas tarefas foram desafiadoras para eles, bem como o processo de
síntese, com o qual não estavam acostumados. Eles se apropriaram de
muitos conceitos, principalmente da geometria, e apresentaram dificul-
dade no processo de divisibilidade e subdivisão da unidade de medida.
179
Para a atividade, foi proposto o uso de cordas para a medição,
por poder se modelar aos segmentos dos polígonos e ainda ser padrão
para todos, e não variante, como medidas baseadas em partes do corpo.
Inicialmente foi medido o perímetro ( ) e com a sua divisão o lado do
hexágono ( ), após isso, utilizando outras cordas do mesmo tamanho
de , e dividindo em 3 e 4 foram formados os segmentos dos lados
do quadrado ( ) e do triângulo ( )(Figura 1).
183
Figura 4 – Respostas dos alunos sobre seus aprendizados na aula.
185
Para concluir, foi realizada na última aula a tarefa de construção
dos polígonos, sendo necessária a apropriação dos conceitos anterio-
res, como os conceitos de ângulos, polígonos regulares e medição de
comprimento. Além disso, foi complementada com o conceito de
medição de áreas de retângulos e decomposição de áreas (Figura 6).
186
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL/MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum Curricular. Brasília:
MEC, 2017. 472p.
DAMAZIO, A.; ROSA, J. E. Educação Matemática: possibilidades de uma tendência his-
tórico-cultural. Espaço pedagógico, Passo Fundo, v.20, n. 1, p. 33-53, jan/jun, 2013.
PERES, T. C.; FREITAS, R. A. M. M. Ensino Desenvolvimental: uma alternativa para a
educação matemática. Poiésis, Tubarão, Volume Especial, p. 10 - 28, Jan/Jun, 2014.
ROSA, Josélia Euzébio da. Proposições de Davydov para o ensino de matemática no primeiro
ano escolar: inter-relações dos sistemas de significações numéricas. 2012. 244 f. Tese (Douto-
187
rado) - Curso de Educação, Ufpr, Curitiba, 2012. Disponível em: http://www.ppge.ufpr.br/
teses%20d2012/d2012_Joselia%20Euzebio%20da%20Rosa.pdf. Acesso em: 27 maio 2021.
SANTA CATARINA. Currículo Base da Educação Infantil e do Ensino Fundamental do
Território Catarinense. Florianópolis-SC. Secretaria do Estado da Educação, 2019. 492p.
Disponível em: http://uaw.com.br/pagflip/pdf.php?pag=portifolio&cod=35.
SILVA, R. A.; XAVIER, C. S. F.; BENTO, A. N. S. Explorando o formato hexagonal dos
favos de mel das abelhas na sala de aula de matemática. In: Encontro Paraibano de Educação
Matemática – EPBEM, nº 7, 2012, João Pessoa, Paraíba.
TAHAN, M. As maravilhas matemáticas. 2ª ed. brasileira, Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1973.
188
LETRAMENTO LITERÁRIO: RELATO DE
EXPERIÊNCIA DE LEITURA EM SALA DE
AULA VIRTUAL
INTRODUÇÃO
41
Mestranda em Linguística e Ensino (UFPB). CV: http://lattes.cnpq.br/6698663075218742
42
Mestranda em Linguística e Ensino (UFPB). CV: http://lattes.cnpq.br/3875671872212548
43
Mestrando em Linguística e Ensino (UFPB). CV: http://lattes.cnpq.br/7129040181714788
189
dos estudantes com a leitura, com o livro e com narrativas, atividades
que possibilitem a eles momentos de interação leitor-texto-leitor, mas
também interação entre os educandos por meio de socialização das
histórias lidas, narradas, vividas.
Infelizmente a grande maioria dos estudantes ainda não têm
consciência da importância e da necessidade da leitura em seu percurso
de desenvolvimento e aprendizagem, ou melhor, na maioria das vezes
leem por obrigação, leem apenas o que lhes foi solicitado, sem dar à
leitura o seu real valor. A escola tem função essencial de ensinar aos
alunos a importância de se praticar a leitura, pois a prática da leitura
contribui para a formação intelectual, moral e cultural.
Solé (2014) assevera que a leitura decorrente de processo de
ensino não é apostar em um método único, fechado, que pode ser
aplicado a qualquer caso, contexto ou aluno. Muito pelo contrário, as
práticas pedagógicas e metodologias devem levar em consideração o
indivíduo, seus conhecimentos prévios, seus objetivos e suas condições.
Desse modo, a disciplina Leitura e Ensino, ministrada pelas
professoras Eliana Esvael e Josete Marinho, no Mestrado Profissional
em Linguística e Ensino da Universidade Federal da Paraíba - UFPB,
no segundo semestre de 2021, nos proporcionou refletir sobre vários
olhares do nosso cotidiano docente e entender a leitura como uma
prática social importante para o desenvolvimento dos educandos, mas
que ainda temos muitos desafios a enfrentar.
Para a culminância da disciplina, as professoras solicitaram que
criássemos e desenvolvêssemos uma vivência, adaptada para o meio
virtual, envolvendo de forma dinâmica e significativa uma metodologia
para o ensino de leitura, na qual pudéssemos não só discutir as teorias,
mas também colocá-las em prática. Dessa forma, realizamos as vivên-
cias com nossa própria turma de mestrado por meio da plataforma
Google Meet. Com esse capítulo, pretende-se refletir sobre o que foi
vivenciado e compartilhar os saberes, pois a construção coletiva em
nosso meio é muito relevante para nossa prática enquanto docente.
190
Nesse sentido, foram realizadas diversas discussões teóricas
sobre leitura e suas definições, bem como os procedimentos de leitura:
antes, durante e depois. Para este fim, nos ancoramos em Leffa (1996),
Kleiman (2005), Martins (2006), Solé (2014) e Cosson (2014) que
propõem um trabalho com leitura, visando à interação nas práticas
sociais de letramento. Os resultados foram obtidos a partir das leituras
e discussões na disciplina Leitura e Ensino, bem como da aplicação
de uma aula, que nos proporcionou refletir sobre as várias situações do
nosso cotidiano docente e a entender a leitura como uma prática social
importante para o desenvolvimento dos educandos, em que as estra-
tégias de leitura contribuem positivamente para a formação do leitor.
Nossa vivência utilizou o livro “A colcha de retalhos” de Con-
ceil Corrêa e Nye Ribeiro que aborda a descoberta de sentimentos
e descobertas de novas sensações que influenciam no nosso jeito de
ver o mundo. Esta vivência foi pensada para alunos do 6º ano do
ensino fundamental II, mas dependendo da abordagem é aplicável em
qualquer segmento de ensino, tendo duas horas de duração. O nosso
objetivo foi trabalhar o eixo de leitura e oralidade a partir do gênero
conto, visando as práticas de leitura: antes, durante e depois da leitura.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
192
essa nomenclatura se refira aos usos que se faz da escrita nas diversas
instâncias da vida em sociedade.
Nesse sentido, o letramento literário torna-se membro desse
campo tão abrangente de usos da escrita no meio social. Conforme
Paulino e Cosson (2009, p. 67), o letramento literário é “o processo de
apropriação da literatura enquanto construção literária de sentidos”.
Para que os alunos se apropriem da literatura e possam construir senti-
dos a partir daquilo que lê, é necessário que o processo de ensino da lei-
tura na escola dê condições de o aluno tornar-se letrado literariamente.
É nessa perspectiva que as estratégias de leitura antes, durante e
depois, conforme foram apontadas por Solé (2014) e diversos autores
(Pearson e Johnson, 1978; Raphael, 1982, dentre outros), contribuem
substancialmente para a formação do leitor, incluído aí o leitor de
textos literários. Cabe, nesse momento, apresentar sucintamente a
que se refere cada estratégia.
Solé (2014) apresenta pelo menos cinco estratégias que podem
ser realizadas antes mesmo de a leitura iniciar e que contribuem para
a compreensão do texto: motivar os alunos, indicar o objetivo da lei-
tura, atualizar o conhecimento prévio, ajudar a formular previsões e
incentivar as perguntas dos alunos.
A motivação pode ocorrer mediante a apresentação de textos
desafiadores (não conhecidos pelos alunos), bem como mediante a
contextualização da leitura em uma situação real, como ler para obter
determinada informação ou por prazer, sem que o aluno se sinta pres-
sionado, dentre outras situações. A indicação do objetivo de leitura
se refere ao fato de o professor expor a finalidade daquela leitura.
A atualização do conhecimento prévio, por sua vez, é um elemento
fundamental, dado que se o aluno não sabe de que se trata a história,
isto é, não tem um conhecimento prévio, a construção do sentido é
afetada. Se, por outro lado, o leitor já sabe de tudo que a história vai
tratar, provavelmente essa leitura não será interessante. Dessa maneira,
propor uma leitura que permita que o conhecimento prévio do aluno/
leitor se amplie é fundamental. Segundo Solé (2014):
193
Se ler é um processo de interação entre um leitor e
um texto, antes da leitura (antes de saberem ler e antes
de começarem a fazê-lo quando já sabem) podemos
ensinar estratégias aos alunos para que essa interação
seja o mais produtivo possível. (SOLÉ, 2014, p. 154)
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
44
É uma plataforma projetada para a criação de atividades personalizadas, em modelo gamificado,
utilizando apenas poucas palavras. Disponível em: https://wordwall.net/pt/features.
197
A primeira etapa diz respeito à estratégia: antes da leitura. A
partir dessa estratégia, antes mesmo de mostrar o livro, convidamos os
alunos a fazerem uma viagem, e fomos instigando utilizando perguntas
norteadoras como: “Vocês gostam de viajar?”, “Para onde foram?”,
“Podemos fazer outro tipo de viagem, ou apenas para conhecer luga-
res?”. Após o convite, aguçamos a curiosidade dos alunos utilizando
alguns objetos: óculos antigo, carretéis de linha de costura, linhas,
tesoura, agulha, pedaços de tecidos, uma colcha feita com retalhos e
por último o som de uma máquina de costura bem antiga, aquela com
pedal e correia, para que os alunos descobrissem que som era aquele e
depois mostramos o objeto e questionamos se aqueles objetos teriam
algo a ver com a história, qual assunto o texto trataria, qual seria o
título. Falamos um pouco sobre os autores, mostramos a capa do livro
e fazendo a mediação: “Alguém já ouviu falar no livro A colcha de
retalhos?”, “O título deste livro lembra o quê?”, “Quais os detalhes da
capa que lhe chamaram mais atenção?”, “O que esses retalhos pode-
riam significar para vocês?”, “Esse nome aqui, colcha de retalho, faz
vocês lembrarem de alguma coisa?”.
Com essa exploração inicial, os alunos ficaram curiosos para saber
como é a história e partimos para a estratégia durante a leitura. Para isso,
criamos um jogo na plataforma virtual WordWall, nesse jogo solicitamos
que cada aluno entrasse no link45 disponibilizado no chat e escolhesse
um número, ao clicar o aluno visualizava uma ilustração da história.
45
Disponível em: https://wordwall.net/pt/resource/25854813/escolha-uma-carta-e-observe.
198
Figura 1: Tela inicial do jogo.
46
Adaptação a partir do vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yCXYnADbZAo
199
Seguindo com a estratégia depois da leitura, fizemos uma breve
compreensão de texto, munindo-se das seguintes questões norteadoras:
“Vocês gostaram dessa história?”, “Por que gostou?”, “Quem são os
personagens?”, “O que vocês imaginaram que seria essa história, era
assim mesmo?”, “A colcha de retalhos feita pela vovó causa lembranças
em Felipe porquê?”. Para continuar nossa viagem indagamos: “E você
sente saudades de alguma coisa, de sua avó ou de uma situação que
você sente saudade até hoje?”.
Essa abordagem deu margem para o desenvolvimento do eixo
oralidade. Expomos vários retalhos de diversas cores, texturas, e soli-
citamos que o aluno escolhesse um retalho que lhe chamou mais a
atenção e que contasse uma memória vivida que marcou sua vida e
que foi tecida pelas relações familiares e amizades. A cada memória
contada, fomos pegando o retalho e costurando um ao outro. No fim da
vivência, tínhamos uma colcha de retalhos feita com nossas memórias,
que estão interligadas e tecidas por pessoas com as quais convivemos
e que marcam nossa vida, deixando lições, emoções e saudades.
Essas memórias representam a história de cada uma das pessoas
ali presente, que somando todas as histórias formamos uma colcha de
retalhos. Assim é a experiência de cada um, como também as experiên-
cias de todos juntos relatada em um único espaço que foi a sala de aula,
escutamos vários relatos durante a aula, como: passeios na infância na
casa da avó; passeios na praia no verão; lembranças de momentos de
felicidades; como também de momentos de dor, tristezas e angústias;
lembranças dos filhos ainda pequenos; momentos da infância na escola.
Percebemos a importância desde o momento da leitura do conto até
o momento final que foi a construção da colcha de retalhos.
200
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Brasil no
Pisa 2018 [recurso eletrônico]. – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-
cacionais Anísio Teixeira, 2020. Disponível em: https://download.inep.gov.br/publicacoes/
institucionais/avaliacoes_e_exames_da_educacao_basica/relatorio_brasil_no_pisa_2018.pdf.
Acesso em: 06 jan. 2021.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro
e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Funda-
mental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2014, p. 138-139.
KLEIMAN, Ângela B. Preciso “ensinar” o letramento? Cefiel/IEL/ Unicamp, 2005.
LEFFA, Vilson J. Aspectos da leitura: Uma perspectiva psicolinguística. Porto Alegre: Sagra/
DC Luzzatto, 1996a.
MACEDO, N. D. Iniciação à pesquisa bibliográfica: guia do estudante para a fundamentação
do trabalho de pesquisa. São Paulo, SP: Edições Loyola, 1994.
201
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? São Paulo: Brasiliense, 2006 (Coleção Primeiros
Passos; 74).
PAULINO, Graça; COSSON, Rildo. Letramento literário: para viver a literatura dentro e
fora da escola. In: ZILBERMAN, Regina; RÖSING, Tania (Orgs.). Escola e leitura: velha
crise; novas alternativas. São Paulo: Global, 2009.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura [recurso eletrônico] / Isabel Solé; tradução: Claudia
Schilling; revisão técnica: Maria da Graça Souza Horn. – 6. ed. – Porto Alegre: Penso, 2014.
202
AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E O ENSINO
DE QUÍMICA: QUAIS SÃO AS FERRAMENTAS
GRATUITAS DISPONÍVEIS PARA O
DESENVOLVIMENTO UMA PRÁTICA
DOCENTE INOVADORA?
INTRODUÇÃO
Doutoranda em Ensino de Ciências (IFRJ). Docente de Química Geral e Química Inorgânica (IFRJ).
47
CV: http://lattes.cnpq.br/5155222246293976
203
modificam os processos e metodologias de aprendizagem. Ademais,
as TDIC facilitam a relação entre a sociedade e a escola, haja vista
que nos encontramos na era da informação e da cultura digital, sendo
também papel da escola introduzir e promover o letramento digital e
a cidadania digital de seus educandos (PAIVA, 2020).
Desse modo, é de extrema importância o aumento da utilização
das tecnologias educacionais na prática docente na última década, para
que ocorra a integração adequada do educando na sociedade da infor-
mação no qual ele está inserido. É papel da escola formar o educando
para ser cidadão, democratizando o conhecimento, formando pessoas
conscientes, críticas, engajadas e com potencial de transformação de
si mesmas e da sociedade (LEITE, 2020; PAIVA, 2020).
O início do ano de 2020, apresentou-se como um grande marco
na história mundial e certamente será recordado e estudado profunda-
mente ao longo ao longo dos próximos anos (ARRUDA, 2020; FIORI,
2020). A emergência sanitária provocada pelo aparecimento de um
novo vírus, surgido na província de Wuhan, na China, em novembro
de 2019, trouxe uma inquietação sem precedentes na sociedade. A
epidemia resultante do aparecimento do novo coronavírus (SAR-
S-CoV-2) se tornou um dos maiores flagelos da história moderna,
afetando drasticamente vários países e originando, plausivelmente,
a maior política e regime de distanciamento social já observada
(ARRUDA, 2020; PAIVA; GOI, 2020).
Muitas instituições de ensino, a partir do advento do novo
coronavírus, rapidamente introduziram e incorporaram metodologias
diferenciadas de ensino e aprendizagem inteiramente online e atividades
remotas para toda a comunidade acadêmica, como forma de preservar
a saúde dos educandos e dos profissionais da educação, mantendo em
segurança toda a coletividade, além de aderir e seguir às orientações
de saúde pública propostas pelas entidades governamentais (BRASIL,
2020; CARVALHO; CUNHA; QUIALA, 2021).
204
Para o processo de ensino e aprendizagem de disciplinas como
a Química, a Física e a Matemática, tão temida pelos educandos, o
uso de tecnologias educacionais tanto no ensino remoto (durante a
pandemia de coronavírus), quanto no ensino presencial (adaptação
pós-pandemia) pode ser um fator importante para a melhoria do apren-
dizado, podendo atuar, desde maneira, como ferramentas importantes
na superação de barreiras ideológicas que apenas contribuem para a
desentusiasmo em estudar as disciplinas da área de exatas.
Nesse sentido, o seguinte questionamento pode ser evidenciado:
quais ferramentas digitais estão atualmente disponíveis, de forma gra-
tuita, para uso por docentes e discentes, que sejam de fácil manuseio e
que promovam uma melhor aprendizagem dos conceitos de Química?
A Química, enquanto unidade curricular, é parte integrante do
programa do Ensino Médio. Busca-se, de forma geral, o desenvolvi-
mento do conhecimento científico e da compreensão de fenômenos
atrelados a esta ciência. A obtenção dos conhecimentos da Química
visa fundamentalmente preparar os discentes para serem cidadãos
críticos e reflexivos, conscientes de seus deveres e inteirados do papel
desta ciência na sociedade (BRASIL, 2017).
No decorrer do período das atividades remotas, o uso das tecno-
logias digitais foi descrito como uma prática bem-sucedida que coopera
com a busca por um ensino de qualidade, integrado e contextualizado
em diferentes conteúdos da unidade curricular Química (LAMBACH;
LOMAS, 2021). Dentre as muitas possibilidades observadas nas publi-
cações científicas mais recentes, tem-se o uso de vídeos, de softwares
e simuladores, e de plataformas de laboratório, dos jogos e das salas
virtuais, que quando associados a outras metodologias e abordagens,
como a CTS (Ciência-Tecnologia-Sociedade), as práticas investiga-
tivas, a sala de aula invertida e as sequências didáticas, podem induzir
a uma aprendizagem significativa, através de uma prática inovadora
(LEITE, 2020, 2021; YAMAGUCHI, 2021).
205
Nestas circunstâncias, o presente trabalho tem como objetivo
disponibilizar, no contexto de apresentar de forma resumida e não
exaustiva, algumas tecnologias digitais importantes para o ensino de
Química. Busca-se, portanto, na presente pesquisa, a apresentação
das ferramentas disponíveis gratuitamente para uso especialmente
na educação básica. Para alcançar tal objetivo foi realizada revisão
bibliográfica, usando a ferramenta Google Acadêmico, com especial
enfoque a documentos do tipo artigo, publicados durante a pandemia
de Covid-19, que possam contribuir para a melhoria e a inovação no
processo de ensino e aprendizagem de Química, tanto no ensino remoto
quanto no ensino presencial, a partir do uso de tecnologias educacionais.
DESENVOLVIMENTO
209
– como, por exemplo, ouvindo-os em seus smartphones durante o seu
transporte até a escola (SOUZA; SILVA; NETO; REZENDE, 2021).
Dentre importantes podcasts disponíveis, citaremos neste traba-
lho o podcast Moléculas, criado com o propósito de divulgar a Química
e sua relação com o cotidiano; e o Deviante, site que reúne diver-
sos podcasts de temáticas científicas, abordados de forma divertida
(SOUZA; SILVA; NETO; REZENDE, 2021).
Os simuladores têm se apresentado como recursos bastante úteis
na aprendizagem de Química. A possibilidade de demonstrar e tra-
balhar de forma lúdica e interativa, conceitos importantes que muitas
vezes são apresentados ao educando de forma puramente abstrata e
desconectada da realidade cotidiana (LEITE, 2020).
Nesse sentido, um simulador que merece destaque é o do projeto
PhET (Universidade de Colorado Boulder). Trata-se de uma plataforma
que cria e disponibiliza simulações interativas de Química e de outras
ciências, possibilitando a visualização de conceitos abstratos e aspectos
microscópicos (SILVA; VASCONCELOS; SILVA, 2022). O docente,
ao empregar o PhET em sua prática, pode utilizar as simulações para
apresentar e ilustrar os conceitos subjetivos e teóricos da Química,
de maneira a reproduzir de forma simulada ambientes laboratoriais
ou ainda melhorar a visualização dos conteúdos abordados por parte
dos discentes (LEITE, 2021; YAMAGUCHI, 2021).
Além dos simuladores, os jogos didáticos virtuais são uma exce-
lente ferramenta para a aprendizagem ativa e significativa, e vêm
sendo amplamente testados e aplicados nas últimas décadas na área
de educação. A gamificação é uma realidade em âmbito escolar e tem
como principal objetivo a introdução das estratégias de variados jogos
nas atividades em sala de aula, com o intuito de aumentar o interesse
e o engajamento dos educandos (FIORI; GOI, 2020).
Para se ter sucesso na aplicação dos jogos educativos, sejam eles
físicos ou virtuais, é necessário definir muito bem as suas funções,
objetivos e estratégias, proporcionando de forma equilibrada a função
210
lúdica e a função educativa, que é o principal objetivo, haja vista a
importância da ampliação e do aprofundamento dos conhecimentos
e saberes (SOUZA; SILVA; NETO; REZENDE, 2021).
Nesse sentido, dentre as muitas possibilidades de criação e
aplicação de jogos didáticos, temos: os jogos de adivinhação, os jogos
de estratégia, as palavras cruzadas, os jogos de perguntas e respostas
(quizzes), entre outros (FERREIRA; GOMES; BRAGA, 2022). Em
relação à aplicação de quizzes, a plataforma de aprendizagem Kahoot!
se apresenta de maneira interessante, sendo ao mesmo tempo lúdica e
didática. São basicamente jogos de aprendizado, denominados “Kah-
oots”, cuja abordagem é de testes online de múltipla escolha. Para a
participação no jogo, cada discente deve gerar um usuário e acessar
o jogo por meio de um navegador da Web ou do próprio aplicativo.
O interessante do Kahoot! é que toda a turma pode participar con-
comitantemente do jogo, provendo a aprendizagem integral sob um
aspecto lúdico e leve (SOUZA; SILVA; NETO; REZENDE, 2021).
Além dos jogos didáticos que podem ser utilizados tanto como
ferramentas do processo de ensino-aprendizagem, quanto no processo
avaliativo, existem importantes aplicativos e softwares para avaliação
dos conteúdos ministrados. Sabe-se que a avaliação é uma etapa
fundamental dos processos educativos e, portanto, merece especial
importância quanto ao uso de TDICs (LIMA; BARROSO, 2020).
Dentre as opções de softwares disponíveis, podemos enfatizar
aqueles que funcionam como questionários e formulários eletrônicos
online, tais como o Google Forms, SurveyMonkey e Socreative (SOUZA;
SILVA; NETO; REZENDE, 2021). O interessante dessas ferramentas
eletrônicas é que seus formulários podem ser aplicados tanto no contexto
escolar (no horário da aula) quanto fora deste (de forma assíncrona).
A personalização dos formulários permite a inclusão de palavras
cruzadas, imagens, vídeos, entre outros arquivos, tornando as ques-
tões da avaliação muito mais dinâmicas, interativas e interessantes.
Os formulários eletrônicos são uma grande e importante ferramenta
211
para tornar o processo avaliativo mais instigante e potencializadora
de uma aprendizagem significativa.
O desenvolvimento de mapas mentais e de mapas conceituais
pelos educandos têm se apresentado como uma importante estra-
tégia no processo de aprendizagem de conceitos da Química. Os
mapas mentais se diferenciam especificamente dos mapas concei-
tuais. Enquanto os mapas mentais articulam e conectam ideias a
partir de um tópico central, interligando conceitos semelhantemente
a estrutura de uma árvore, os mapas conceituais são diagramas que
apresentam conexões em rede, estruturando conceitos e informações
de maneira esquematizada, cujo objetivo principal é classificar e hie-
rarquizar os conteúdos (LEITE, 2020).
Para o desenvolvimento de mapas mentais, têm-se, dentre outros,
os aplicativos gratuitos Coggle e Goconqr. São excelentes ferramentas
para a construção de mapas mentais, inclusive de forma colaborativa,
permitindo a visualização e a organização de ideias, de forma clara
e prática. A construção de mapas conceituais, por sua vez, pode ser
facilitada pelo aplicativo CmapTools. Esta ferramenta permite a ela-
boração de esquemas conceituais, representando-os graficamente.
Desenvolvida por Joseph Novak, ainda na década de 1970, a teoria dos
mapas conceituais se apresenta como uma forma de inter-relacionar
conceitos de maneira a proporcionar uma aprendizagem significativa
(FERREIRA; BRANCHI; SUGAHARA, 2020).
Os memes e as histórias em quadrinho têm se mostrado como
importantes ferramentas didáticas para uma prática de ensino inova-
dora. Podem ser utilizadas tanto para iniciar uma discussão ou uma
sequência didática quanto como método avaliativo, com os discentes
desenvolvendo seus próprios memes e histórias em quadrinho. Essas
ferramentas podem estimular o hábito da leitura e influenciar, inclu-
sive, na observação de signos, desenhos e gestos a partir da importante
leitura não-verbal. Tanto o meme quanto as histórias em quadrinhos
212
trazem o lúdico para a sala de aula, podendo tornar o ensino leve
e interessante para o educando.
Alguns softwares podem ser utilizados com sucesso por docentes
e discentes para a construção personalizada de memes e histórias em
quadrinhos. Dentre eles, pode-se citar o Comica, o Pixton, o HagáQue
e o ToonDoo (CARDOSO, 2022). Tratam-se de aplicativos gratuitos,
de fácil utilização, com excelente visual gráfico e que pode propor-
cionar ao usuário uma vasta gama de recursos e ilustrações para a
construção de memes e histórias de forma lúdica em sala de aula,
melhorando a aprendizagem de Química.
Outras importantes tecnologias digitais são aquelas capazes de
que criar vídeos personalizados, interativos e animados. Os vídeos são
importantes recursos didáticos e podem ser utilizados com as mais
diversas aplicações, inclusive na composição de formulário avaliativos
e como alternativa aos tradicionais slides produzidos no PowerPoint
ou no Canva. As ferramentas Edpuzzle e Powtoon são tecnologias
importantes para esta finalidade.
O Edpuzzle é um criador de vídeos interativos. Esta tecnologia
permite integrar questões aos vídeos e modificar vídeos já disponíveis
em plataformas on-line, como o Youtube, por exemplo, para a criação
de atividades personalizadas. É uma excelente ferramenta para a
criação de conteúdos e vídeos interativos com grande apelo visual
(MONTEIRO; JUNIOR; COSTA, 2020). O Powtoon, por sua vez,
permite a elaboração de apresentações e vídeos animados, de maneira
fácil e intuitiva, constituindo-se um importante recurso didático para
uso pelos educandos quanto pelos docentes para uma prática atual e
inovadora (ROSA; SILVA; SOARES, 2021).
Uma ferramenta que também merece neste texto é o Wordwall.
Trata-se de uma plataforma para a criação de atividades personali-
zadas e de jogos (online e impressos), permitindo que o docente crie
seus próprios recursos didáticos. O Wordwall é mais uma ferramenta
na gameficação do ensino, que pode estimular o raciocínio e o enga-
213
jamento, além de promover a fuga da aprendizagem mecânica e tra-
dicional. Com esta tecnologia digital é possível criar palavras cru-
zadas, questões de verdadeiro ou falso, forca, jogos de correlação,
entre outros, viabilizando uma aula mais dinâmica e atraente para o
educando ( JUNIOR et al, 2022).
Tendo em vista toda a discussão apresentada acima, é funda-
mental conhecer as características técnicas de cada recurso educacional
antes da aplicação em sala de aula, testando previamente cada um deles
e avaliando profundamente a proposta pedagógica da atividade a ser
realizada (YAMAGUCHI, 2021). É igualmente fundamental refletir
sobre as alternativas metodológicas de condução de aulas utilizando
tecnologias educacionais adequadas para cada momento e processo.
Portanto, é imprescindível estar preparado para a utilização de tecno-
logias digitais e recursos educacionais. É justamente nesse sentido que
os cursos de capacitação e atualização para docentes e profissionais
da educação se tornam indispensáveis e urgentes. O docente precisa
estar plenamente capacitado e amparado para a superação dos grandes
desafios que podem ser enfrentados na sala de aula da atualidade.
CONCLUSÃO
214
No entanto, é importante salientar que a tecnologia ou o sistema
por si só não modificará magicamente o desempenho do docente e
nem do discente. As tecnologias educacionais são ferramentas cruciais
na condução do processo de ensino e aprendizagem, mas dependem
de metodologia adequada e de uma excelente proposta pedagógica
para o sucesso em sua aplicação em sala de aula.
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216
O REFLEXO DO MOVIMENTO MIGRATÓRIO
NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
CUIABÁ: A PRÁTICA DO PROFESSOR E SUA
FORMAÇÃO CONTINUADA
INTRODUÇÃO
48
Pós-graduanda em Administração Escolar e Orientação Escolar (FAVENI).
CV: http://lattes.cnpq.br/1567216853258148
49
Mestrado em Educação (PUC-GO). Professor (SME / Cuiabá - MT).
CV: http://lattes.cnpq.br/8505026449088528
217
do tempo, isso resultou em uma grande miscigenação étnica e cultural
que hoje contribui para a diversidade e pluralidade da nossa sociedade.
Em muitas situações, isso se dá involuntariamente por motivos
de conflitos armados, perseguições políticas, raciais, religiosas e sociais
e/ou graves violações de direitos humanos. Deixando pretensiosamente
de lado os mais variados motivos pelos quais países, como o Brasil,
acolhem/recebem esses imigrantes, tem-se o fato de que a vulnera-
bilidade é um elemento que caracteriza a situação dos envolvidos em
movimentos migratórios interpelando sobre as consequências deste
ato que se aplica as suas dimensões constitutivas, sob uma realidade
que ainda não conhece suficientemente e na qual ainda tem escassas
relações pessoais, sociais e trabalhistas.
De acordo com um estudo da Unesco (2018), sobre apren-
dizagem e educação de refugiados e migrantes no Brasil, uma das
maiores e mais significativas barreiras que incorre na dificuldade de
acolhimento dos refugiados e migrantes é a da comunicação decorrente
do pouco ou nenhum domínio da língua portuguesa a qual, não só
integra o indivíduo socialmente, mas também o possibilita de exercer
o pertencimento a determinado grupo social.
Delineando esta pesquisa, abordaremos os aspectos legais que
asseguram aos imigrantes e refugiados, os direitos fundamentais que
permeiam sua formação educacional dentro do Brasil e em seus estados
e municípios, nos quais se encontra, e quais políticas educacionais estão
propostas e eles. Indicaremos as práticas pedagógicas que instrumen-
talizam os docentes que, apesar de hercúleos esforços, ainda se sentem
despreparados e desarmados para tal enfrentamento. E por último, e
não menos importante, será evidenciado as possibilidades formativas
ofertadas pela Secretaria Municipal de Educação (SME) e pela prá-
tica individual que constitui o elixir para equilibrar os elementos que
envolvem a garantia da educação como direito de todos.
218
ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICAS EDUCACIONAIS
QUE INTEGRAM A FORMAÇÃO EDUCACIONAL DO
IMIGRANTE E DO REFUGIADO
219
Em 1984, a Declaração de Cartagena foi adotada em um Coló-
quio sobre Proteção Internacional dos Refugiados da América Cen-
tral, México e Panamá, realizado na Colômbia, e tinha o objetivo de
“promover dentro dos países da região a adoção de normas internas
que facilitem a aplicação da Convenção e do Protocolo” (Declaração
de Cartagena, 1984, p. 2). A Declaração amplia a noção de refugiado,
contemplando pessoas que tenham fugido dos seus países em virtude
de ameaças à vida, segurança e liberdade, pela violência generalizada,
conflitos internos, violação de direitos humanos ou outras circuns-
tâncias que perturbaram gravemente a ordem pública.
Posteriormente, outras reuniões ocorreram na Guatemala em
1989, San Jose em 1994 e na Cidade do México em 2004, nas quais
novos documentos foram redigidos como reforços aos acordos firmados
pelos governos e organizações relacionados à questão do refúgio, forta-
lecendo a cooperação entre os Estados tanto no sentido de erradicar as
condições que originaram o êxodo forçado, como também de alargar
a proteção internacional e encontrar soluções humanitárias para os
problemas oriundos dos deslocamentos em massa. Ancoradas nestes
documentos, agências em âmbitos nacional e internacional atuam em
programas que envolvem o acolhimento a pessoas em deslocamento.
No Brasil, a Lei nº 9.474/1997 define os mecanismos para a
implementação do estatuto, adotando a definição ampliada de refu-
giado, além de estender a concessão para os membros da família. A
lei ainda estabelece direitos e deveres da pessoa reconhecida como
refugiada, pautados tanto no Estatuto de 1951 quanto no Protocolo
de 1967, firmando o compromisso de não deportação daqueles que
se encontram em situação de ameaça à vida ou liberdade, em virtude
de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política. Por
meio desta lei, foi também criado o Comitê Nacional para Refugia-
dos (Conare), órgão responsável por analisar os pedidos e declarar o
reconhecimento, em primeira instância, da condição de refugiado, bem
como orientar e coordenar as ações necessárias à eficácia da proteção,
220
assistência e apoio jurídico aos refugiados, é presidido pelo Ministério
da Justiça e integrado por membros de outros ministérios e de ONGs
dedicadas à assistência. O documento que dispõe sobre as migrações
é a Lei nº 13.445/2017, que estabelece direitos e deveres do migrante,
bem como regula sua entrada e estada no país. Define como imigrante
a pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside, e
se estabelece temporária ou definitivamente no Brasil.
Neste sentido, atua a Organização Internacional para as Migra-
ções (OIM) das Organização das Nações Unidas (ONU), que traba-
lha em parceria com governos, outras organizações e sociedade civil,
fornecendo assistência e assessoramento. Em âmbito local, temos o
Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), uma entidade
filantrópica que visa promover o reconhecimento da cidadania plena
de migrantes e refugiados, atuando na defesa de direitos, na assistência
sociojurídica e humanitária, em sua integração social e inclusão em
políticas públicas com especial atenção às situações de maior vulne-
rabilidade (IMDH, 2014), além das modalidades de intervenção que
têm sido desenhadas, buscando evidenciar dimensões sociopolíticas
que envolvem o campo do trabalho humanitário.
Direcionando uma busca para os aspectos Legais que assistam
os imigrantes e refugiados no Estado de Mato Grosso e Município
de Cuiabá, tem-se que o atual governo Mauro Mendes, a partir do
Decreto nº 845, de 9 de março de 2021, regulamenta a Lei nº 11.162,
de 1º de julho de 2020, instituiu a Política Estadual para a população
migrante, regulamenta a criação de um Núcleo Estadual de Políticas
Públicas para Migrantes, no entanto, ele não aponta para políticas
públicas educacionais que garantam não só o acesso à matricula, o que
em muitos casos já é algo difícil de se concretizar por falta de docu-
mentos exigidos no processo, e que não basta para efetivar e garantir
os mesmos direitos que estudantes brasileiros tem.
Considerando o exposto até aqui, buscou-se na Política da Escola
Cuiabana, a qual trata dos fundamentos teóricos e metodológicos
221
que norteiam a prática educacional da rede de educação municipal
de Cuiabá/MT, subsídios que indiquem uma política educacional
voltada aos imigrantes, refugiados e apátridas. Historicamente, a
concepção educacional da Escola Cuiabana se ancorou em uma filo-
sofia de vida, uma concepção de homem e sociedade de um determi-
nado contexto (FREITAG, 1980).
[...] Trata-se aqui de fundamentos sociológicos, filo-
sóficos, antropológicos e psicológicos pautados em
um entendimento de garantia de direitos imbricados
na proposta de um currículo decorrente da pedagogia
crítica e da abordagem sociocultural de educação. (SME,
2020, p. 49)
223
Mantoan (2008, p. 83) “pensar nas diferenças em sala de aula é uma
coisa muito difícil, porque o aluno continua a ser, para a universidade,
aquele ser ideal, que é fruto do que a teoria nos mostrou a respeito dos
seres humanos”. Mudar essa ideologia instaurada é pensar em longos
prazos, visto que não são mudanças que se possa realizar da noite para
o dia, isso exige que todas as esferas políticas educacionais voltem seus
olhares para a realidade presente em nossas escolas.
É evidente o sentimento e atitude de impotência perante a
situação de ensinar estrangeiros, a incapacidade de dar atendimento
a eles corrobora, junto com outros fatores, para o fracasso e a evasão
escolar. Nesse sentido, percebe-se a urgência em se instaurar políticas
públicas que fortaleça, (re)signifique e (re)construa condições espe-
cíficas que possam servir como suporte a todos os profissionais da
educação que direta ou indiretamente são responsáveis pela formação
integral (no sentido de completude/integralidade) desses estudantes,
bem como a suas famílias que se encontram sob os mesmos direitos
de acolhimento legal. Não se trata aqui apenas de novas propostas
curriculares que possa dar conta da heterogeneidade, mas que as
formações como instrumentos de ressignificação das práticas possam
propiciar um fazer pedagógico singular para esse contexto, e não se
reduzir apenas a receituários.
225
A Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá (SME/Cuiabá)
tem como pilar, em sua política educacional, a formação e valorização
dos profissionais da educação, os quais vêm sendo construídos desde
a década de 1990, passando por parcerias e convênios estabelecidos
entre a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Escola Sarã
(1999). Em 2000, a SME/Cuiabá publicou o primeiro livro contendo
as novas diretrizes político-pedagógicas da rede de ensino cuiabana
que tinha como eixo básico da formação do professor “a reflexão sobre
a ação pedagógicas e a socialização dessa reflexão, possibilitando
a intervenção dialógica e crítica na prática pedagógica através da
teorização.” (SME, 2000, p. 87).
A partir de 2005, a SME retomou o processo formativo da rede
instituindo projetos próprios, especificamente para “professores que
atuam na Sala de Apoio à Aprendizagem (criada em decorrência do
processo de implementação do Ciclo de Formação), Alfabetização,
Educação Física, Sala de Recursos multifuncional, Educação de Jovens
e Adultos.” (SME, 2000, p. 89).
Incorporaram-se a esses projetos federais como o Gestar 2,
Praler, Pró-letramento, entre outros, em parceria com a UFMT, para
formação inicial e continuada dos Técnicos em Desenvolvimento
Infantil (TDI). Além disso, com o objetivo de enfrentar os desafios do
processo educativo, em 2008 foi instituído o Programa Revitalizando
a Formação o qual contemplava dois projetos:
Projeto Roda de Conversa, criado para fortalecer o
processo pedagógico e de gestão escolar e Projeto Ava-
liar, com foco nas ações educacionais desenvolvidas
nas unidades que, por não estarem em consonância
com o objetivo do programa de formação continuada,
em 2010 deu origem a Coordenadora de Avaliação
Institucional. (SME, 2000, p. 259)
226
na Idade Certa (PNAIC), entre outros. Contudo, somente em 2018,
a SME conseguiu reformular seu programa formativo e elaborar sua
política educacional de formação continuada.
Atualmente, considera-se que:
No âmbito das políticas públicas da educação do muni-
cípio de Cuiabá, é de responsabilidade da Coordenadora
de Formação/DE/SME a elaboração, implementação,
execução e avaliação da Política de Formação dos Pro-
fissionais da Educação da Rede Pública do Município
de Cuiabá, Programas e Projetos de formação, a forma-
ção continuada dos profissionais da Educação Básica,
articular e firmar parcerias com outros municípios,
estados ou a União, para alcançar as metas definidas
pela Política Educacional. (SME, 2020, p. 260)
227
O paralelo existente entre interculturalidade e formação de
professores aponta para um caráter monocultural, homogeneizador
e eurocêntrico da educação, sendo necessário repensá-la, tendo em
vista que grupos específicos da sociedade – mulheres, homossexuais,
indígenas, negros e estrangeiros – lutam pela conquista e efetivação
de direitos sociais que lhes são negados dentro de processos históricos,
políticos, ideológicos e sociais.
Sendo a escola, a protagonista desse espaço social marcado pela
diversidade étnico-cultural, pressupõe ser ela democrática e que pre-
cisa privilegiar a equidade, a solidariedade e a alteridade. É necessário
admitir que a diversidade de sujeitos que a compõe irá gerar vivências
diferenciadas, cuja referência de pensamento é peculiar ao que se reflete
em suas ações. Sendo assim, é necessário que o educador (re)conheça
as formas das quais os seus alunos lançam mão para compreender o
mundo e como estas práticas sociais interagem neste espaço social
marcado pela diversidade étnico-cultural.
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230
MEMÓRIAS DE VERÃO: O LUGAR DA
AUSÊNCIA NO ROMANCE AO FAROL, DE
VIRGINIA WOOLF
INTRODUÇÃO
Mas a saudade é isso mesmo,
é o passar e o repassar de memórias antigas.
(Dom Casmurro).
CV: http://lattes.cnpq.br/9821201632314062
231
tempo de expectativas, anseios e, também, de frustações e inconfor-
mismos. O tempo passa, marca o período de dez anos desde o início
da Primeira Guerra, momento de clímax no romance que antecede
ao desfecho. Nesta parte da obra, a memória coletiva é representada
pela memória de Virginia Woolf ao expor os horrores da guerra, o
dilacerar das relações pessoais e o trauma da experiência. O terceiro
período, O farol, corresponde ao pós-guerra, momento da narrativa
envolto pelo silêncio, pela ausência que impulsiona as lembranças e
também pelo costurar das relações afetivas.
Para fins didáticos, este artigo está dividido em duas partes.
A primeira, ocupa-se em abordar conceitos relativos à memória em
Sobre a memória: diálogos entre Maurice Halbwachs e Beatriz Sarlo. A
segunda parte do trabalho, Passeio ao Farol pelos caminhos da memória: o
rememorar da experiência, dedica-se a discutir aspectos mais específicos
do romance de Virginia Woolf no que diz respeito a rememoração,
em especial no comportamento, pensamentos e experiências de Mrs.
Ramsay projetados na arte de Lily Briscoe por meio das suas memó-
rias que fazem parar o tempo, voltar ao passado e reviver momentos.
233
A memória está ancorada em um passado que foi vivido e que
permite a construção de uma narrativa sobre a experiência do sujeito. Na
obra Tempo Passado: Cultura da Memória e Guinada Subjetiva, Beatriz
Sarlo analisa as reconstituições da memória a partir da reavaliação do
lugar do testemunho em relação a preservação da memória, da expe-
riência vivida e da associação com a verdade histórica. Para a autora, a
subjetividade, que são as lembranças individuais, marcadas pela expe-
riência, tem lugar privilegiado na contemporaneidade, especialmente
no que se refere à teoria sobre memória e história (SARLO, 2007).
Considerando que as lembranças são as reconstruções do pas-
sado, com a ajuda de dados emprestados do presente, e perpassada por
outras reconstruções feitas em épocas anteriores, de onde a imagem de
outrora manifestou-se já bem alterada, sobretudo, quando em contato
com a memória de outras pessoas, tais lembranças podem apresentar-se
modificadas, de modo a expandir e até mesmo alterar a percepção do
passado, mesmo quando se trata de experiências individuais. Nesse
sentido, o passado é sempre conflituoso, mormente quando se trata
de rememoração (HALBWACHS, 1990; SARLO, 2007).
No processo de compreensão das relações conflituosas entre
memória e história, Sarlo (2007) traz para o debate, discursos tes-
temunhais de crimes de ditaduras e genocídios históricos, com o
objetivo de apresentar a legitimidade de memórias individuais fun-
damentadas na subjetividade da experiência, que nos casos elencados
pela autora, foram traumáticas.
Para Sarlo (2007), muitas vezes as lembranças e os relatos do
sujeito, a partir de suas experiências traumáticas, são colocadas em
dúvida pela história quanto à veracidade e fidedignidade dos fatos
narrados, uma vez que a historiografia considera que todo testemunho,
independentemente de ser de uma vítima ou não, deve ser passado
por uma análise de rigor metodológico. Diante do rigor historiográ-
fico, a memória corre o risco de ser subjetiva, seletiva e carregada de
impressões que podem alterar e/ou modificar os fatos.
234
A partir disso, a autora salienta que: “os combates pela história
também são chamados agora de combates pela identidade. A narração
da experiência está unida ao corpo e a voz, a uma presença real do
sujeito na cena do passado” (SARLO, 2007, p. 23, 24).
Nos estudos da memória, portanto, é estabelecida uma cor-
respondência entre presente e passado. Ela é construída fora do fato
histórico. Quando se está ao lado dos acontecimentos, não há como
narrar, pois o distanciamento é necessário para formar a história.
[...] o presente, quando sustentado pelo passado, torna-
-se mil vezes mais profundo do que o presente quando
está tão próximo que não é possível sentir mais nada.
Mas é preciso paz para sentir o presente deslizando
sobre as profundezas do passado. O presente deve ser
tranquilo, habitual (WOOLF, 2020, p. 67).
236
designados em terceira pessoa); ele se define por seu
conteúdo (LEJEUNE, 2008, p. 25).
237
Ainda neste dia repleto de tristeza para James Ramsay, há no
jardim a artista plástica Lily Briscoe, que pinta um quadro da famí-
lia. A amiga de Mrs. Ramsay, lida com a insegurança do destino dos
seus pincéis. Mesmo com todo o movimento diante da Mrs. Ramsay,
jovens brincando e outros na praia, a monotonia que paira sobre
a casa a incomoda, ao ponto de obrigá-la a quebrar o silêncio. Ao
avistar o farol, ela declara:
[...] quando deram no cais, e a baía inteira estendeu-se
diante deles. Mrs. Ramsay não pôde deixar de exclamar,
“Oh, que lindo!”, pois a vasta extensão de água azul
surgia diante dela; o antigo Farol, distante, austero, no
centro; e à direita, tão longe quanto a vista alcançava,
desvanecendo-se e descendo em dobras suaves, as dunas
de areia verdes, inundadas pela relva selvagem, e que
sempre pareciam estar correndo em direção a algum país
lunar, inabitado pelos homens (WOOLF, 2013, p. 14).
239
cido imaginar que poderia encontrar na praia uma
resposta para suas dúvidas, ou alguém para compartilhar
sua solidão, e, livrando-se das cobertas, descesse para
caminhar na areia, nenhuma imagem com aparência
de servil e divina presteza viria de bom grado ajudá-lo
a trazer a noite à ordem e fazer o mundo refletir a
extensão da alma. A mão desaparece em sua mão; a voz
clama em seu ouvido. Quase pareceria inútil, em meio
a tal confusão, perguntar à noite: o quê? e por quê? e
para quê?; questões que instigam o ser adormecido a
deixar seu leito e buscar uma resposta. [Mr. Ramsay,
andando aos tropeções pelo corredor em certa manhã
sombria, estendeu os braços, mas como Mrs. Ramsay
morrera repentinamente na noite anterior, seus braços,
embora estendidos, permaneceram vazios.] (WOOLF,
2013, p. 99).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
243
REFERÊNCIAS
ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais
Ltda, 1990.
LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet. Trad. De Jovita Maria
Gerheim Noronha e Maria Inês Coimbra Guedes. Belo Horizonte. Ed. UFMG, 2008.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Trad. de Rosa
Freire d´Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007.
WOOLF, Virginia. Ao farol. São Paulo: Editora Autêntica, 2013.
244
DOCUMENTÁRIO “NOSSO SAGRADO” NO
COMBATE AO RACISMO RELIGIOSO NO
ESPAÇO ESCOLAR
Jorge Santana51
51
Doutorando em Ciências Sociais (UERJ). CV: http://lattes.cnpq.br/1269372465942460
52
Sinopse: O documentário investiga a perseguição e o racismo religioso contra o Candomblé e a
Umbanda, que foram criminalizadas na Primeira República e na Era Vargas. Durante esse período mais
de 200 objetos foram apreendidos pela polícia. As peças sagrados da Umbanda e Candomblé foram
expostas como “Coleção Magia Negra” e ainda hoje encontram-se sob a posse do Museu da Polícia
Civil do Estado do Rio de Janeiro. A partir da fala de religiosos, pesquisadores e militantes, buscamos
entender a importância do acervo sagrado afro-brasileiro, a luta pela sua libertação e os efeitos do
racismo religioso. Atualmente o filme está disponível na plataforma de streaming: < https://www.kweli.
tv/> Acesso em: 24 jul. 2022.
245
O filme é fruto da campanha Liberte Nosso Sagrado53, criada
em 2017 por lideranças religiosas, parlamentares, movimentos
sociais e pesquisadores em defesa da reparação dos objetos sagra-
dos em posse da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Os objetos sacros
foram apreendidos no período da Primeira a República (1889-1930)
e na Era Vargas (1930-1945), quando as religiões afro-brasileiras
eram oficialmente criminalizadas.
A existência de três artigos: 156, 157 e 15854 no Código Penal
Brasileiro de 1890 (MAGGIE, 1992), que, de forma racista, crimi-
nalizavam as religiões. A partir de denúncias ou por própria inciativa
das forças policiais os terreiros eram invadidos os religiosos eram
apreendidos assim como os objetos litúrgicos55. Durante todo esse
período, centenas de terreiros foram vitimados por essa política racista,
produzindo um acervo de objetos sacros, armazenados nos depósitos
policiais. Em 1938, esses objetos foram tombados no Instituto do
Patrimônio Histórico e Artísitico Nacional (IPHAN).
Esta ação se constituiu enquanto o primeiro tombamento etno-
gráfico do órgão federal. Contudo, de uma forma racista e desres-
peitosa. A coleção de objetos sagrados da Umbanda e do Candom-
blé foi nomeada com alcunha de “Coleção Magia Negra”56. O que
demonstra como essa coleção era concebida de maneira desabonadora
e negativa pelo Estado brasileiro. Desde então a coleção passou a
53
A campanha Liberte Nosso Sagrado realizou uma série de ações para transferência da coleção sagrada
para um outro museu. Uma das ações foi uma representação ao Ministério Público Federal no ano de
2017. A representação tornou-se um inquérito, em que o órgão decidiu pela transferência dos objetos
sagrados para o Museu da República. A transferência foi realizada com festa no dia 21 de setembro de
2020. Disponível em: < https://extra.globo.com/noticias/objetos-sagrados-transferidos-para-museu-da-
-republica-ganham-exposicao-virtual-25306660.html> Acesso em: 24 jul. 2022.
54
Os artigos 156, 157 e 158 do Código Penal criminalizavam as religiões afro-brasileiras. Esses artigos
criminalizavam práticas nomeadas como baixa feitiçaria, curandeirismo, uso de talismã, xamanismo,
sortilégios, cartomancia e prática ilegal da medicina. Os artigos previam pena de prisão de até 6 meses
e multa que poderia chegar até 500 mil réis.
55
Os objetos religiosos eram apreendidos, pois constituíam provas de crime no inquérito policial contra
os religiosos acusados.
56
A Coleção Magia Negra é composta por mais de 500 objetos sagrados afro-brasileiros apreendidos pelo
Estado brasileiro no final do século XIX e primeira metade do século XX no Rio de Janeiro. Atualmente
um processo tramita no IPHAN a pedido dos religiosos em defesa da alteração da nomenclatura para
“Sagrado afro-brasileira”.
246
ser exibida de maneira também desabonadora e racista pelo Museu
da Polícia Civil do Rio de Janeiro, configurando uma dura agressão
contra o sagrado das religiões.
É importante sinalizar que a perseguição às religiões não ocor-
reu apenas no Rio de Janeiro, mas em diversos estados da nação. Em
outros estados como: Pernambuco, Bahia, Ceará e Alagoas também
foram criados acervos museológicos tal como o do Museu da Polícia
Civil do Rio de Janeiro, com objetos sacros apreendidos em terreiros
(PEREIRA, 2017). Apenas no Rio de Janeiro e na Bahia (SERRA,
2011) os acervos permaneceram em posse das instituições policiais.
Desde a segunda metade do século XX, movimentos de ter-
reiros e negros engajaram-se em busca da reparação histórica em
torno “Coleção Magia Negra”. Os movimentos lutavam pela retirada
dos objetos sagrados e acondicionamento em outro espaço cultural
ou mesmo a devolução aos terreiros de onde foram violentamente
usurpados (ALVES, 2020). Contudo, os valorosos movimentos não
conseguiram o propósito e a coleção permaneceu em posse da insti-
tuição policial até a segunda década do século XXI.
Em busca da realização desta antiga demanda nasceu a campanha
“Liberte Nosso Sagrado”. Ao realizarmos a divulgação da campanha
via internet, nos terreiros e panfletagens nos deparamos com um
grande desconhecimento de religiosos, militantes do movimento negro
e dos direitos humanos. Muitos não sabiam da existência do acervo
e a perseguição institucional das religiões de matrizes africanas no
Brasil República. É nesse desconhecimento e apagamento que nasceu
a ideia da produção de um documentário para contar essa história da
perseguição às religiões e também servir de instrumento de divulgação,
de pressão e de contribuição pela reparação da coleção sagrada.
Desde seu lançamento o filme foi requisitado para diversas
atividades como cine-debates, rodas de conversas, aulas, palestras,
entre outras. Mas, sobretudo atividades em escolas para os seguintes
247
objetivos: atividades para promoção da lei 10639/200357, educação
antirracista, valorização das religiões de matrizes africanas, combate
ao racismo religioso e promoção do pluralismo religioso nas escolas.
Como professor de História e um dos diretores do filme recebi diversos
convites de muitos docentes relatavam sobre os sucessivos casos em
sala de aula de manifestações desabonadoras e preconceituosas contra
as religiões afro-brasileiras.
Nesse presente artigo abordo a minha experiência em ativi-
dades de exibição do filme “Nosso Sagrado” em escolas privadas e
públicas do estado do Rio de Janeiro. A partir da prática pedagógica
da utilização do audiovisual como recurso didático essencial na edu-
cação contemporânea. Iniciarei abordando as concepções acerca do
uso do cinema nas salas de aula como prática de ensino. Em seguida,
analiso as experiências de rodas de conversa nas salas de aula que
foram positivas e engrandecedoras.
CINEMA E EDUCAÇÃO
57
Lei no 10.639 foi aprovada pelo Congresso Nacional em 2002 e sancionada em janeiro de 2003. A
legislação estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede
de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. A lei busca reparação
para a população negra, que durante anos foi negligenciada nos currículos escolares e nasceu a partir de
uma longa luta dos movimentos negros ao longo do século XX.
58
As plataformas de streamings são sites de transmissão de conteúdo audiovisual ou podcasts que são
acessos por celulares, tablets ou smartphones. Onde o assinante pode assistir filmes, séries, novelas entre
outros conteúdos.
248
Lauro António (1998), o cinema é proprietário de algumas
propriedades que são fundamentais e acessíveis para a utilização como
recurso didático pelos docentes: a) as acessibilidades – são fáceis de ser
transportados e de baixo valor; b) despertar de interesses- a capacidade
de provocar atenção e curiosidade nos estudantes; c) prazer- o cinema
gera nos educandos uma concentração e uma atenção e d) a necessidade
– o cinema atende a uma das necessidades da atualidade do processo
de ensino que é trabalhar como múltiplas fontes de conhecimento
para além do livro didático (ANTÓNIO, 1998).
O autor aborda essas propriedades que fazem do cinema um
instrumento que consegue atrair os alunos pelo prazer que desperta.
O audiovisual também consegue ser de fácil acesso para os docentes e
para escolas e apresentar uma fonte de saber e conhecimento para além
do livro didático. Não é uma superação do livro como recurso didático,
pois o livro é insubstituível. Contudo é a utilização de outros recursos
para além do livro didático contribuem para complementar como outras
fontes de conhecimento tecnológicas e inovadoras do século XXI.
Para Logger (1965), o cinema tem uma capacidade profícua de
produzir interesse e engajamento em todos os envolvidos no processo,
mas principalmente nos jovens e adolescentes, pois é uma manifes-
tação cultural de grande importância e popularidade no mundo con-
temporâneo. A novas gerações estão em um profundo contato com o
audiovisual. É utilizando dessas características de um ativo cultural
de grande adesão dos jovens e adolescentes, que o professor busca ao
trazer para sala de aula o cinema e fazer dele um recurso para educação.
O cinema tem outras características importantes para ade-
são dos educandos, pois é uma manifestação cultural que utiliza de
áudio e imagem. O primeiro contribui para despertar através do
som, das músicas e das múltiplas sensações provocadas pelo som. E
as imagens contribuem não apenas para apresentar cenários, paisa-
gens, lugares, entre outras muitas vezes desconhecidos pelo público.
Quando já de conhecimento os filmes conseguem trazer imagens a
249
partir de distintos prismas e olhares. Dessa forma visão e audição
são estimulados cognitivamente.
Segundo Romagnani (2008), o cinema é um recurso pedagógico
fundamental na contemporaneidade. A autora desenvolve uma proposta
a prática docente pode utilizar esse recurso de uma forma proemi-
nente. O modelo desenvolvido é estruturado em quatro momentos:
a) escolha do filme; b) planejamento; c) exibição e d) debate. Todos
os momentos são importantes para que a interlocução cinema e ensi-
no-aprendizagem sejam frutíferos. Os professores nas atividades em
que participei seguiram esses momentos enunciados para exibição do
“Nosso Sagrado”. A prévia construção contribui para o recurso não seja
apenas um momento isolado, mas parte do planejamento do ano letivo.
O ato de exibição é potente, pois desperta nos estudantes refle-
xão, imaginação e questionamentos. O debate posterior à exibição é
o lugar propício para que todas as sensações, indagações e interações
provocadas pela película possam ser enunciadas pelos estudantes na roda
de conversa. É nesse momento em que os estudantes contribuem de
maneira sólida para um amplo debate sobre a temática. Como aponto
mais a frente às impressões são distintas, mas sempre contribuem para o
enriquecimento. E a partir do docente apontar para os objetivos da aula.
O cinema contribui a partir da escolha do filme para ensejar
temas transversais na sala de aula, como: direitos humanos, intole-
rância religiosa, racismo, xenofobia, entre muitos outros. Ao assistir
ao filme, os alunos reconhecem problemas e questões cotidianas. E se
auto reconhecem ou reconhecem amigos, conhecidos, familiares ou
histórias na rede de proximidades em que partilham de vivências ou
experiências similares (MORIN, 2002).
Edgar Morin (2002) intitula esse processo como projeção/
identificação, pois é quando os estudantes se colocam no lugar do
outro. As narrativas veiculadas pelo filme desperta uma abertura, o
qual Morin (2002) denomina como “abertura subjetiva em relação
ao outro”. Provocando uma sensibilização daqueles que não vivem
250
cotidianamente as questões abordadas no filme. No caso, os estudantes
cristãos não acostumados a passar por situações de intolerância religiosa,
são afetados primeiramente pela história de perseguição as religiões de
matrizes africanas do documentário. No debate pós-filme esse afeto
provocado pelo filme ganha mais camadas a partir dos depoimentos
dos educandos que sofrem no dia a dia o racismo religioso.
Portanto, é nessa identificação que muitos estudantes nas rodas
de conversa apresentam situações vividas e experiências e apresentam
no momento pós-filme, quando se abre um espaço para as interven-
ções. Nas minhas experiências a partir de uma película, que aborda as
religiões afro-brasileiras são os estudantes adeptos da Umbanda e do
Candomblé se identificam de maneira mais profunda e trazem questões
da vivência religiosa do ethos para o centro de debate. Desse modo, os
estudantes alheios a essa vivência entram em contato com distintas
experiências religiosas, mas dessa vez não de pessoas desconhecidas às
quais assistiram no filme, mas dos seus amigos de sala de aula.
59
Atividade de exibição do filme “Nosso Sagrado” procedida por uma roda de conversa com os estu-
dantes do Colégio Pedro II, campus São Cristóvão, em 2018. Disponível em: <http://www.cp2.g12.br/
blog/saocristovao2/2018/11/14/neab-exibira-documentario-no-mes-da-consciencia-negra-em-scii/>.
Acesso em: 24 ago. 2022.
251
do estado do Rio de Janeiro passando por Baixada Fluminense e
chegando até na região Centro-Sul. Em escolas técnicas, em turmas
de Educação Para Jovens e Adultos, Ensino Fundamental e Médio.
Na maioria desses contextos a maioria dos estudantes eram
católicos ou evangélicos, portanto, muitos compartilhavam de um
desconhecimento acerca das religiões afro-brasileiras ou mesmo de
traços de intolerância religiosa. Apenas em duas ocasiões estudantes
cristãos se recusaram a assistir, por motivos de preconceito. Após a
exibição do filme eu questionava aos estudantes sobre quais eram suas
religiões. Em todas as atividades estudantes pertencentes as religiões
cristãs eram maioria seguido por alguns alunos kardecistas e poste-
riormente umbandistas e candomblecistas.
Após eu fazer uma fala a respeito do processo histórico de
perseguição as religiões afro-brasileiras e da temática abordada no
filme e abria para as falas dos educandos. Nesse momento as falas
dos estudantes dividiam-se em três linhas: a primeira linha era de
questionamentos que versavam sobre o senso comum envolto em
racismo sobre as religiões afro-brasileiras; a segunda de cristãos ou
ateus indignados com a perseguição e com a intolerância religiosa e a
terceira de indignação e acolhimento para com a perseguição do pas-
sado e atual contra as religiões de matrizes africanas em sua maioria
de estudantes adeptos das religiões afro-brasileiras.
A primeira linha de intervenção evidenciava o processo histórico
de demonização das religiões afro-brasileiras desde a chegada dos pri-
meiros africanos escravizados no Brasil potencializado desde os 1980
pela campanha racista em especial dos evangélicos neopentecostais60
contra as religiões minoritárias e negras. Eram perguntas como: “É
verdade que Exu é demônio?”, “Porque as pessoas dessas religiões
fazem trabalho para desejar o mal para as pessoas”, “Porque matam
os animais?”, entre outros questões no mesmo sentido.
60
O Bispo e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo escreveu um livro intitulado
Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios? Em que expõem uma série de ataques levianos, racistas e
intolerantes contra as religiões de matrizes africanas e associando com religiões demoníacas. O livro chegou
a ser proibido de circular e ser publicado por uma decisão judicial, que depois foi revertida nos tribunais
superiores. Trago esse livro para ilustrar o duro processo de racismo religioso ainda em voga no Brasil.
252
Em algumas dessas questões eram introduzidas por histórias
do universo pessoal de uma mãe ou um familiar que foi no pretérito
praticante das religiões. Dessa forma, o educando buscava afirmar que
suas informações eram oriundas de alguém de grande proximidade,
portanto não eram invenções ou histórias banais. Nesse momento
buscava responder de maneira didática e a partir de exemplos sobre a
liturgia, os preceitos e os princípios das religiões de matrizes africanas.
Nesse sentido utilizava dos questionamentos para discorrer
sobre as religiões afro-brasileiras de maneira simples, mas efetiva
sobre as questões no campo teológico e histórico. Também aprovei-
tava para dissertar sobre como o desconhecimento é um catalisador
da discriminação e da intolerância religiosa. Utilizava de exemplos
das práticas religiosas cristãs para exemplificar similaridades com as
práticas de matrizes africanas. Aproximando as religiões concebidas
pelo senso comum como “antagônicas”, contudo que partilham de
práticas comuns em diversas religiões.
Nesse momento eu não atuava sozinho os docentes presentes
também contribuíam nessa ação de abordar sobre como as religiões
afro-brasileiras são religiões como as demais e no processo desafiador de
desconstruir o senso comum embebidos em preconceito e intolerância
religiosa. E nesse momento também os estudantes candomblecistas e
umbandistas interviam apresentando a partir dos seus saberes cons-
truídos nos terreiros sobre as informações equivocadas.
Dessa maneira, compreendo esse momento como o mais pro-
fícuo, pois os educandos tornavam-se agentes do processo de ensino-
-aprendizagem. Nesse momento saía de campo a minha figura e dos
professores enquanto os “detentores do saber”, na visão tradicional
da Educação, e entrava em campo os estudantes como emissores de
conhecimento e saberes. Essa inversão dos lugares hierarquizados e
pré-concebidos dos espaços de ensino é transgressora. Era a partir das
experiências e vivências dos estudantes que as informações racistas
acerca das religiões eram desconstruídas a partir dos próprios religiosos.
A tomada de fala pelos estudantes das religiões afro-brasileira
configura em um importante processo de lugar de fala. Nos termos de
253
Djamila Ribeiro (2017) é a defesa de que as narrativas são permea-
das pelas experiências vividas e experimentadas pelos sujeitos. Dessa
forma como a sociedade é hierarquizada e diversos marcadores de raça,
econômicos, de gênero, de orientação sexual, entre outros posicionam
os indivíduos. O lugar de fala determina uma consciência discursiva
sobre esse lugar de vivência dos sujeitos. Portanto a fala dos sujeitos
vítimas de processos sociais como racismo, machismo, intolerância
religiosa têm importância, pois além de serem silenciados. É olhar
para quem é o enunciador do discurso.
Nesse sentido, as atividades capitaneadas a partir da exibição
do documentário desperta nos estudantes pertencentes a uma fé
minoritária e historicamente discriminada tomam o lugar público.
Compreendendo a escola como espaço público em que muitas iden-
tidades podem desabrochar, porém essas identidades só emergem
em contextos favoráveis, harmônicos e sensíveis. É nesse sentido, que
defendo que atividades tais como das rodas de conversas, após a exibição
do filme, produzem esses contextos favoráveis para que identidades
sejam agenciadas no espaço escolar.
Segundo Stela Caputo (2012) em seu livro clássico Educação Nos
Terreiros: E Como A Escola Se Relaciona Com Crianças De Candomblé, no
campo dos estudos das religiões afro-brasileiras versa sobre as crianças
de religiões afro-brasileira e os sucessivos casos de intolerância religiosa
sofridas no espaço escolar. Nesse sentido a pesquisadora Stela Caputo
(2012) aborda como o espaço escolar é em muitos casos um lugar
extremamente opressor para as crianças de axé, que acabam obrigadas
a esconder seu segmento religioso, seus conhecimentos, seus saberes,
para evitar sofrer atos discriminatórios não só por colegas de classe,
como também por professores e demais profissionais da educação61.
Em meio a roda de conversa ou em conversas posteriores estu-
dantes umbandistas ou candomblecistas revelavam para mim ou para
61
Esse caso de um estudante de 12 anos proibido de entrar na escola com as suas guias (colares sagrados
para os praticantes das religiões de matrizes africanas). Esse caso evidencia como em determinados
contextos escolares o racismo religioso produz efeitos deletérios. Disponível em: <https://g1.globo.com/
rio-de-janeiro/noticia/2014/09/aluno-e-barrado-em-escola-municipal-do-rio-por-usar-guias-do-can-
domble.html> Acesso em: 24 ago. 2022.
254
seus docentes que naquela atividade foi a primeira vez em que falaram
sobre a sua fé religiosa nas escolas e que nunca tinham compartilhado
de ambiente confortável em que pudessem falar sobre essas vivências e
experiências religiosas. Pois ao falar temiam ser vítimas de preconceito,
de racismo recreativo, racismo religioso e demais ações no escopo do
bullying que são muito comuns no âmbito do universo escolar.
Essas revelações dos estudantes reforçam o que Favret Saada
(2005), afirma em seu o artigo “Ser afetado”. a situação exposta pela
autora em seu trabalho de campo na África apresenta algumas seme-
lhanças com as rodas de conversas e cine-debates em especial a partir
dos educandos adeptos de religiões afro-brasileiras. foi a partir desse
conceito ser afetado os educandos olhar mais afetuoso e perspicaz
para determinadas questões no trabalho de campo e na observação
participante as quais não conseguia nisso. Portanto, ser afetado permitiu
novos olhares e sentimentos com as minhas interlocutoras.
Como se vê, quando um etnógrafo aceita ser afetado,
isso não implica identificar-se com o ponto de vista
nativo, nem aproveitar-se da experiência de campo
para exercitar seu narcisismo. Aceitar ser afetado supõe,
todavia, que se assuma o risco de ver seu projeto de
conhecimentos e desfazer. Pois se o projeto de conhe-
cimento for onipresente, não acontece nada. Mas se
acontece alguma coisa e se o projeto de conhecimento
não se perde em meio a uma aventura, então uma etno-
grafar é possível. Ela apresenta, creio eu, quatro traços
distintivos: (FAVRET-SAADA, 2005 p. 160)
255
adeptos de outras religiões também foram afetados com os relatos
nunca antes ouvidos de seus amigos de turma.
O desabrochar do afeto em atividades como as analisadas nesse
artigo são fruto de um ambiente escolar e também dos currículos que
são eurocêntricos e ancorados na história, na teologia e nas perspectivas
com base judaico-cristã. Dessa forma, excluem a diversidade religiosa
como a diversidade cultural. O que contribui diretamente para que
os estudantes não pertencentes às religiões não pertencentes à matriz
judaico-cristã sintam-se deslocados e excluídos. Ao realizar uma
atividade que contempla suas identidades silenciadas a reposta vem
em forma de afeto e engajamento.
É importante sinalizar que a lei 10639/2003 configurou um
grande avanço para mudança dos currículos escolares que excluíam
a cultura afro-brasileira, a história da África e das culturas africanas
e afro-brasileiras. Entretanto, a lei ainda é pouco aplicada. Uma das
razões para implantação plena da lei é a resistência por parte de funda-
mentalistas religiosos cristãos, com base no racismo religioso. Apenas
para guia de exemplo, a pastora evangélica e ex-ministra da Mulher,
da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves em palestras
antes de ocupar o cargo de ministra denunciou que “distribuíam Kit
Macumba”62, nas escolas e associando de maneira leviana as religiões
de matrizes africanas com atividades demoníacas (MOURA, 2019).
Nesse sentido, a experiência têm sido exitosa por produzir uma
atividade pedagógica em que todos os participantes de fato ensinam
e aprendem. O que produz uma prática educação verdadeiramente
polifônica, envolvendo docentes, discentes, palestrantes em uma ação
participativa. Portanto, quero defender que nesse processo educacional
descrito todos os participantes são afetados, principalmente a partir dos
recursos didáticos se sensibiliza a todos e, pelas revelações e declarações,
os estudantes que vivem em seu cotidiano situações de discriminações
similares as narrativas expostas no documentário.
62
Disponívelem:<https://www.reddit.com/r/brasil/comments/aqvrgu/em_v%C3%ADdeo_dama-
res_denuncia_kit_macumba_nas_escolas/>. Acesso em: 24 jul. 2022.
256
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALVES, Luiz Gustavo Guimarães Aguiar “Liberte Nosso Sagrado”: as disputas de uma
reparação histórica / Luiz Gustavo Guimarães Aguiar Alves; Marina Annie Martine Berthet
Ribeiro, orientadora. Niterói, 2021.
ANTÓNIO, Lauro. O Ensino, O Cinema e O Audiovisual. Porto: Porto Editora, 1998.
257
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258
RELATO DE EXPERIÊNCIA: REFLEXÕES
SOBRE O PRODUTIVISMO ACADÊMICO,
AVANÇOS E DESAFIOS
INTRODUÇÃO
63
Doutora e Mestre em Educação e Novas Tecnologias (UNINTER). Integrante do Banco de Avaliadores
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (BASis/MEC).
CV: http://lattes.cnpq.br/3766241525353282
64
Informações sobre o produtivismo disponíveis em: produtivismo | Definição ou significado de
produtivismo no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa (infopedia.pt). Acesso em: 27 set. 2022.
65
Informações disponíveis em: Programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias – Mes-
trado e Doutorado (uninter.com). Acesso em: 27 set. 2022.
66
As orientações das Maratona Doutoral Virtual estão disponíveis em: disponíveis em: AVA UNIVIR-
TUS (uninter.com). Acesso em: 27 set. 2022.
259
a conclusão de um crédito, uma proposta de Inserção Social opor-
tunizando o (re) conhecimento dos contextos sociais (educacionais)
e uma proposta de vivência no laboratório de tecnologias, possibili-
tando o desenvolvimento de ferramentas e de serviços tecnológicos,
com base em um plano de negócios.
Embora ciente do cumprimento de cada uma das três etapas
como universo da proposta, como amostra, esse relato de experiência
é resultado da realização da prática proposta pela Docência Orientada
(Edição e Revisão de Revista Científica), primeira etapa do Maratona
Doutoral Virtual como requisito parcial e conclusão de um crédito do
Programa de Doutorado Profissional em Educação e Novas Tecnologia
ofertado pelo Centro Universitário Internacional UNINTER, o qual
me encontro vinculada enquanto doutoranda.
A proposta de Docência Orientada (Edição e Revisão de Revista
Científica), programada para acontecer em três etapas no período de
02/04/2021 a 01/05/2021, foi fixada no Ambiente Virtual de Apren-
dizagem (AVA Univirtus), software aplicativo, desenvolvido por uma
equipe própria do Centro Universitário Internacional UNINTER,
procurando se valer dos recursos que o ambiente disponibiliza enquanto
um repositório de conteúdo digital e uma ferramenta virtual.
A proposta de Docência Orientada (Edição e Revisão de Revista
Científica), programada para acontecer em três etapas no período de
02/04/2021 a 01/05/2021, teve por objetivo, experenciar no decorrer
da Docência Orientada os trâmites do processo de análise de um
artigo científico enquanto parecerista de uma Revista.
Ao proporcionar uma visão ampla do tema proposto, o objetivo
geral, sinaliza os pontos principais que a pesquisa pretende contribuir,
ou seja, visa dar resposta ao problema central da pesquisa, se valendo
de algo que careceu ser investigado, tendo por certo ser essa uma pro-
posta que buscou dialogar com teóricos para responder a problemática
identificada na elaboração desse trabalho de relato de experiência. Para
tanto, se fez necessário compreender que todo trabalho científico deve
260
atender as normas quando submetido a publicação. Sendo assim nos
leva a questionar se: a elaboração dos trabalhos científicos, apresentam
em sua estrutura o rigor dos métodos e técnicas de investigação esta-
belecidos pelas normas da ABNT – NBR 6023 de 2002, independente
da abordagem do pesquisador quando publicados?
Essa indagação, possibilitou ampliar a visão acerca dos objeti-
vos propostos, ao percorrer os passos da pesquisa bibliográfica com
o “propósito de proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito” e pelo fato de que essa proposta
metodológica se caracteriza pelo “estudo desenvolvido com base em
material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos”,
proposta por Antônio Carlos Gil (2010, p. 27).
Visando atender o tema apresentado, buscou dialogar com Moysés
Kuhlmann Jr. (2015), Romualdo Portela de Oliveira (2015), Lucídio
Bianchetti e Ana Maria Netto Machado (2007) e Madel Therezinha
Luz. (2005), Bernardete Gatti (2001) Renato Ortiz (1983) e Aparecida
Joly Gouveia (1971), para apresentar uma reflexão acerca do produti-
vismo acadêmico, avanços e desafios. Ao termo, apresentou um relato de
experiências enriquecida pela etapa 1 – roda de conversa, etapa 2 – plano
de ação e a etapa 3 – desenvolvimento da prática, que possibilitaram a
elaboração de um parecer, resultante da análise de um artigo científico
e desse trabalho como um relato de experiência. Os resultados, fruto do
cotejamento das contribuições de cada etapa, levaram as considerações
finais e as referências, utilizadas na estrutura do trabalho.
Pesquisador da Fundação Carlos Chagas – FCC, São Paulo, Brasil; Professor da Universidade Católica
67
de Santos - Unisantos, Santos, São Paulo, Brasil; [email protected]. Acesso em: 27 set. 2022.
261
quantificação de produtos” (2015, p.839)68, servindo-se aqui um certo
descaso para com a formação dos futuros pesquisadores e em relação
a qualidade das possíveis pesquisas geradas, dentro de uma proposta
metodológica para avaliação dos periódicos científicos, onde a perio-
dicidade e/ou atualização, internacionalização, origem e distribuição
geográfica dos autores, se apresente como fator de impacto.
O autor Renato Ortiz (1983) foi preciso em suas argumenta-
ções sustentadas pelo francês Pierre Bourdieu (1979), que nas teorias
pedagógicas (apresentadas na década de 1970 a 1980), trazidas por
um viés sociológico do conhecimento, identificou a existência do
domínio em relação a reprodução de valores, imersos nas amarras
do “jogo da pesquisa”, como um monopólio da pesquisa científica,
orientados por uma política de avaliação, ao se referir que o “campo
científico, é um campo social como outro qualquer, cheio de relações de
força, disputas e estratégias que visam beneficiar interesses específicos
dos participantes deste campo”.
Segundo Ortiz (1983), as teorias de Bourdieu (1979) são
exemplificadas pelo resgate, pelas mudanças e por uma constante
adaptação do indivíduo na sociedade envolto em um campo ético-
-político “que permite passar por científica uma forma neutralizada
e eufêmica, particularmente eficaz simbolicamente porque parti-
cularmente irreconhecível da representação dominante do mundo
social” (Ortiz, 1983, p. 148).
Moysés Kuhlmann Jr, não se refere diretamente a questões éticas
em suas considerações, mas sim, fala sobre política de avaliação da
pesquisa que valoriza apenas a quantificação de produtos, atentando-se
aos cuidados para evitar o seu emprego de forma genérica e imprecisa.
Segundo o autor Moysés Kuhlmann Jr, o termo produtivismo,
“referir-se-ia a uma dada política de avaliação e não à prática dos
avaliados”, e ainda, que estaria diretamente relacionado a “política
Informaçõesdisponíveisem:CadernosdePesquisa-PrintversionISSN0100-1574On-lineversionISSN198
68
69
Os padrões de qualidade Qualis Capes estão disponíveis em: Qualis Capes: entenda o que é, como
funciona e como consultá-lo (even3.com.br). Acesso em: 27 set. 2022.
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O Portal Sucupira fornece informações detalhadas sobre os periódicos CAPES, disponível em: Pla-
taforma Sucupira (capes.gov.br). Acesso em: 27 set. 2022.
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72
Informações disponíveis em: CAPES-Português (Brasil) (www.gov.br). Acesso em: 27 set. 2022.
263
do produtivismo é o improdutivismo e nós na área
de educação não defendemos isso. Mais apropriado
seria dizer que o modelo de avaliação atual estimula a
produção em quantidade.
wuN2JfBe94fNVmx4GoBF9kHEgDBxpzTxACsLhu0GLnWqouj3Rus6NYhb1xF7cqsoS1WuRknr-
99KMN%2fn17Rog3I2RdFgSYlFh%2fDD57HGk%2fVtwpPPLPF3Ddmkd9siYfqYjGUob3zpLE-
5Z0pxb9bmiaRVE3J0GohmlSH0%3d&id=4770258. Acesso em: 27 set. 2022.
265
processos de avaliação no cerne dos programas de pós-graduação. Para
os autores Lucídio Bianchetti e Ana Maria N. Machado (2007, p. 1):
A temporalidade com que ele era executado não tinha
muita importância. E hoje eu acho que tem uma inver-
são absoluta. A gente é prisioneira de uma temporali-
dade, prisioneira de uma produtividade, prisioneira de
um fluxo, e aquilo que é o próprio exercício da cons-
trução teórica, da construção do pensamento, que tem
totalmente outro tempo, porque é o tempo da criação,
hoje em dia isso não existe.
267
O diálogo com os autores como Moysés Kuhlmann Jr. (2015),
Romualdo Portela de Oliveira (2015), Lucídio Bianchetti e Ana Maria
Netto Machado (2007) e Madel Therezinha Luz. (2005), Bernardete
Gatti (2001) Renato Ortiz (1983) e Aparecida Joly Gouveia (1971), se
fizeram necessário para refletir sobre o produtivismo acadêmico, avan-
ços e desafios e contracenar com a experiência vivenciada na Docência
Orientada (Edição e Revisão de Revista Científica)75, do Maratona
Doutoral Virtual, que por meio da roda de conversa, da elaboração do
plano de ação e do desenvolvimento da prática que resultou em dois
produtos: a elaboração de um parecer, resultante da análise de um artigo
científico e desse trabalho como um relato de experiência.
Os traços narrados a seguir, permitem descrever passo a passo a
cada sessão, a participação na Maratona Doutoral Virtual, 1ª Etapa -
Docência Orientada, enquanto doutoranda do PPGENT – Programa
de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias – UNINTER.
79
O artigo está disponível em: F9CE17039493A09A7FB11EB0A527F06E.pdf (uninter.com). Acesso
em: 27 set. 2022.
80
Orientações disponíveis em: AVA UNIVIRTUS (uninter.com). Acesso em: 27 set. 2022.
81
Orientações disponível: Roteiro de Estudo - AVA UNIVIRTUS (uninter.com). Acesso em: 27 set. 2022.
82
O artigo disponível em: 55B517060297C6F48F33DC3C48BDE056.pdf (uninter.com). Acesso em:
27 set. 2022.
83
Disponível em https://www.revistasuninter.com/intersaberes/index.php/revista/submissions. Acesso
em: 27 set. 2022.
269
SEGUNDA SESSÃO DO RELATO – ETAPA 1 – MÓDULO
2 (Roda de Conversas)
90
Informações disponíveis em: Cadernos de Pesquisa - Print version ISSN 0100-1574 On-line ver-
sion ISSN 1980-5314. Acesso em: 27 set. 2022.
274
um parecer preenchido diretamente na plataforma da Revista acadê-
mica e a oportunidade ímpar de elaborar esse relato de experiência.
Resultados esses, que somente se concretizaram devido
a oportunidade de participar enquanto doutoranda da Docên-
cia Orientada (Edição e Revisão de Revista Científica)91, ETAPA
1 da Maratona Doutoral Virtual.
METODOLOGIA DO ESTUDO
CONCLUSÃO DO RELATO
92
As orientações sobre as etapas da Maratona Doutoral Virtual estão disponíveis em: AVA UNIVIRTUS
(uninter.com). Acesso em: 27 set. 2022.
276
Cada etapa da Docência Orientada (Edição e Revisão de Revista
Científica) concluída, se tornou uma conquista. Os desafios planeja-
dos pelas professoras para provocar o desejo do “aprender a apren-
der fazendo” 93, foram superados por atitudes proativas e senso
crítico, características necessárias no atual cenário da educação.
A oportunidade de avaliar um artigo científico e ao final emitir
um parecer diretamente na plataforma de da Revista Intersaberes94,
foi ímpar, por se tratar de um processo pedagógico, ético e cauteloso,
que enquanto avaliadora, profissional, educadora e responsável pela
emissão do parecer, se faz necessário uma orientação precisa, contri-
buindo assim com a publicação do manuscrito no periódico científico.
A elaboração do relato de experiência, foi mais do que uma
simples descrição de uma situação para a área de estudo abordado. Foi
a melhor experiência e o melhor resultado alcançado na elaboração do
trabalho. Esse resultado, reafirma a relevância, e o comprometimento
de ter apresentado com riqueza as contribuições advindas do palco da
Docência Orientada (Edição e Revisão de Revista Científica).
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278
SOBRE O ORGANIZADOR
279
ÍNDICE culturais 53, 119, 122, 149, 156, 171,
189, 227, 229, 233
202, 204, 206, 210, 221, 222, 225, 226,
228, 229, 230
REMISSIVO currículo 9, 14, 21, 35, 47, 67, 77, 129, estrangeiros 217, 222, 223, 224, 228
145, 146, 147, 148, 150, 153, 154, 155,
estratégias 18, 32, 52, 53, 70, 71,
156, 157, 158, 175, 188, 222
138, 191, 193, 194, 195, 196, 201,
Alfabetização 7, 25, 26, 27, 28, 29, 30, DIDÁTICA 29, 42, 50, 56, 67, 71, 202, 210, 215
31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 74, 75, 76, 77, 80, 81, 90, 91, 93, 98,
41, 42, 144, 226 experiência 10, 48, 76, 85, 90, 93, 94,
126, 140, 143, 161, 209, 211, 212,
97, 98, 123, 140, 189, 192, 196, 201,
214, 215, 216
alunos 8, 9, 12, 16, 17, 18, 19, 21, 23, 208, 231, 232, 234, 235, 236, 242
26, 27, 28, 32, 33, 37, 45, 46, 49, 50, docentes 21, 46, 74, 79, 84, 118, 119,
51, 58, 59, 60, 61, 62, 64, 65, 66, 73, ficcional 231, 242, 243
121, 123, 124, 125, 126, 127, 144,
74, 75, 76, 80, 86, 87, 88, 89, 93, 94, 145, 205, 206, 207, 208, 213, 214, 218 formação 10, 11, 12, 14, 18, 20, 21,
95, 96, 132, 136, 140, 141, 143, 146, 24, 28, 34, 35, 36, 38, 40, 41, 42, 44,
150, 152, 153, 155, 156, 171, 176, 177, educacionais 7, 10, 17, 30, 35, 59, 167,
48, 55, 56, 62, 63, 64, 66, 76, 81, 83,
178, 179, 182, 183, 184, 185, 186, 187, 202, 203, 204, 205, 206, 208, 214, 215,
123, 128, 130, 147, 149, 153, 157, 190,
189, 190, 191, 193, 194, 195, 196, 197, 216, 218, 219, 221, 222, 224, 225, 226
191, 193, 196, 206, 217, 218, 219, 223,
198, 216, 225, 228, 229 EDUCAÇÃO 2, 7, 8, 11, 12, 14, 15, 224, 225, 226, 227, 228, 230
aprendizagem 8, 9, 24, 26, 28, 31, 32, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25,
FREIRE 8, 22, 23, 117, 129, 147,
35, 36, 38, 39, 40, 76, 80, 81, 82, 83, 26, 31, 32, 34, 35, 37, 38, 40, 41, 42,
148, 157, 243
84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 97, 47, 53, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64,
98, 99, 114, 123, 125, 126, 129, 136, 66, 67, 68, 69, 70, 73, 79, 80, 81, 82, função 8, 11, 13, 26, 28, 32, 44, 50,
145, 148, 153, 154, 155, 156, 176, 190, 84, 91, 118, 123, 125, 127, 128, 129, 69, 70, 71, 74, 75, 76, 77, 79, 80, 81,
204, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 132, 136, 148, 151, 152, 153, 154, 155, 82, 99, 107, 110, 124, 138, 166, 178,
212, 213, 214, 215, 218, 225, 226, 230 156, 157, 158, 162, 174, 175, 187, 188, 190, 210, 211, 219, 225
202, 203, 204, 206, 207, 210, 214, 215,
Brasil 7, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 216, 217, 218, 222, 223, 224, 225, 226, Física 15, 16, 65, 81, 102, 103, 111,
18, 19, 22, 23, 25, 26, 27, 29, 31, 32, 227, 228, 229, 230 113, 114, 150, 205, 226
33, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43,
ensino 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 16, 17, gêneros 32, 44, 49, 50, 51, 53, 55, 57,
44, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54,
18, 19, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 31, 58, 94, 171, 174, 243
57, 58, 59, 65, 68, 80, 116, 128, 130,
144, 165, 166, 169, 174, 176, 187, 189, 32, 33, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 43, 44, ideologia 27, 41, 145, 147, 151, 152,
202, 204, 205, 209, 215, 217, 218, 219, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 56, 153, 154, 157, 224
220, 221, 229 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 70,
74, 76, 77, 80, 81, 82, 83, 84, 86, 87, imigrantes 10, 218, 221, 222, 229, 230
compreensão 22, 25, 26, 33, 36, 37, 88, 91, 92, 97, 98, 113, 114, 117, 119,
interação 19, 22, 23, 44, 47, 49, 52, 54,
38, 39, 41, 48, 50, 56, 73, 79, 88, 89, 122, 123, 129, 131, 132, 135, 136, 139,
57, 61, 65, 137, 164, 169, 170, 173,
92, 94, 99, 113, 114, 122, 127, 139, 140, 143, 144, 145, 148, 150, 151, 153,
190, 191, 194, 227
143, 158, 174, 185, 191, 192, 193, 194, 154, 155, 157, 158, 159, 160, 161, 162,
195, 200, 205, 234, 242 163, 164, 165, 172, 173, 174, 175, 176, internet 8, 53, 55, 117, 118, 119,
177, 187, 188, 189, 190, 191, 193, 196, 120, 121, 122, 123, 127, 129, 158,
concepção 11, 14, 37, 60, 68, 83, 86,
197, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 168, 216, 243
91, 128, 133, 137, 155, 163, 164, 165,
208, 209, 212, 213, 214, 215, 216, 217,
167, 169, 173, 222, 225, 242 Lei 2, 16, 18, 22, 36, 41, 63, 104, 106,
222, 225, 226, 230
138, 151, 220, 221, 227, 229
Covid-19 177, 206, 214, 215
escola 11, 15, 18, 19, 21, 26, 30, 31,
leitor 166, 191, 192, 193, 194, 195,
CULTURA 9, 23, 25, 35, 38, 42, 47, 35, 38, 41, 43, 44, 45, 47, 52, 55, 56,
196, 201, 236, 238, 242
48, 49, 57, 61, 63, 64, 65, 66, 68, 119, 57, 58, 62, 63, 64, 65, 66, 86, 98, 123,
121, 122, 126, 127, 128, 145, 147, 150, 127, 128, 129, 130, 140, 145, 146, 148, leitura 10, 28, 29, 31, 32, 33, 36, 37,
152, 153, 157, 158, 204, 216, 223, 229, 150, 151, 152, 153, 156, 157, 158, 161, 38, 39, 40, 45, 46, 48, 49, 50, 55, 58,
230, 234, 243 166, 171, 176, 177, 190, 193, 196, 201, 73, 78, 89, 96, 132, 136, 138, 139, 140,
147, 171, 174, 189, 190, 191, 192, 193,
280
194, 195, 196, 197, 198, 200, 201, 202, ONU 219, 221 Tecnologias 8, 10, 46, 49, 54, 55, 56,
212, 224 58, 75, 76, 79, 80, 82, 117, 118, 123,
papel 15, 43, 44, 45, 49, 51, 56, 87, 92,
126, 127, 128, 130, 170, 203, 204, 205,
literária 48, 53, 193, 236, 243 96, 115, 124, 125, 153, 154, 156, 157,
206, 207, 208, 209, 213, 214, 215, 216
171, 177, 203, 204, 205, 216, 223, 242
língua portuguesa 9, 32, 43, 44, 47,
trabalho 8, 13, 14, 15, 20, 21, 22, 23,
49, 50, 54, 58, 84, 92, 97, 131, 132, prática docente 10, 50, 54, 56, 81, 84,
32, 36, 40, 45, 46, 48, 49, 52, 53, 54,
133, 159, 160, 161, 162, 165, 170, 172, 120, 196, 203, 204, 216
55, 56, 70, 74, 81, 91, 97, 99, 102, 118,
174, 202, 207, 218
Química 10, 81, 203, 205, 206, 207, 135, 136, 137, 139, 146, 148, 149, 150,
Matemática 33, 59, 69, 70, 73, 76, 77, 208, 209, 210, 212, 213, 214, 215, 216 152, 154, 159, 160, 161, 172, 191, 202,
78, 79, 80, 81, 82, 150, 175, 177, 182, 206, 210, 221, 225, 227, 229, 232, 242
reflexões 10, 23, 26, 27, 93, 124, 132,
187, 188, 189, 205, 216
143, 222 Wordwall 197, 198, 213, 215
memória 10, 200, 217, 231, 232, 233,
refugiado 219, 220
234, 235, 236, 241, 242, 243
romance 10, 231, 232, 236, 237, 238,
metodologia 32, 45, 69, 72, 77, 85, 87,
239, 241, 242, 243
97, 113, 114, 126, 146, 151, 158, 162,
177, 190, 196, 207, 215 sujeito 20, 22, 49, 52, 56, 57, 63, 64,
66, 97, 138, 148, 155, 164, 196, 228,
objetivo 7, 8, 9, 10, 15, 18, 19, 32, 33,
231, 233, 234, 235, 236
40, 51, 53, 54, 56, 64, 70, 72, 94, 99,
118, 132, 139, 155, 156, 171, 176, 187, suporte 19, 75, 77, 169, 173, 224
191, 192, 193, 197, 206, 210, 211, 212,
220, 226, 231, 234
ISBN 978-65-5368-116-3
www.editorabagai.com.br /editorabagai
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