141789-Texto Do Artigo-278456-1-10-20171219
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RESUMO: Na cultura japonesa, o jardim é uma das mais elevadas formas de arte. É a transposição
da essência da natureza circundante para uma pequena porção de espaço, onde o arranjo de pedras
e plantas atinge não só os sentidos, mas também a mente do visitante. Muito influenciados pelo
Zen Budismo, princípios como assimetria, simplicidade, maturidade, naturalidade, e serenidade,
norteiam os projetos dos jardins japoneses. Existem diferentes tipos de jardim, sendo que cada um
tem sua simbologia própria. Um deles é o Jardim do Chá. A partir do século XII, com a chegada
do chá verde no Japão e baseada no taoísmo e na filosofia Zen surgiu a Cerimônia do Chá. A partir
de então, a Casa do Chá tomou-se o maior elemento nos jardins japoneses e, o jardim, o percurso
introdutório a essa cerimônia. O caminho para a Casa do Chá deve ser atravessado lentamente,
para dar aos participantes a sensação de paz e de se estar entrando em outro mundo. É um lugar de
passagem do mundo exterior para o interior, evocando simplicidade, naturalidade e, além disso, a
tranqüilidade e introspecção exigidas pela cerimônia. O jardim do chá é um convite à iluminação e
a preparação da alma para a vivência da cultura japonesa.
Palavras-chave: jardim japonês; cerimônia do chá; jardim do chá.
ABSTRACT: In the Japanese culture, the garden is one of the most elevated art expressions. It
is the transposition of the essence of the surrounding nature to a minor portion of space, where
the stones placement and plants stimulate not only the senses, but also the visitor’s mind. Vastly
influenced by Zen Budhism, principles as assimetry, simplicity, maturity, naturalness and serenity
are the main guidance for projects of japanese gardens. There are many different styles of garden
and each one has its own simbology. One of them is the Tea Garden. Since the 12th century, with
the arrival of the green tea, the tea cerimony became part of the Zen philosophy. The Tea House
becomes the major element of the japanese gadens, and, the garden,is the introductory path to
this cerimony.The path to the Tea House must be walked slowly to provide peace sensation for
the participants while entering in another world. It is a passway from the external world to the
inner world, evoquing simplicity, naturalness and also the qualities of serenity and introspection,
essential for the tea cerimony.The Tea Garden is an invitation to enlightenment and preparation of
the soul to experience the Japanese culture.
Key words: Japanese garden; tea cerimony; tea garden.
O jardim japonês
A arte do jardim japonês começou há milhares de anos com a criação de
áreas cobertas com seixos nas praias ou florestas criadas para cerimoniais honrando
espíritos vindos do céu ou do além mar. Com o passar do tempo transformaram-se em
lugares para a locação de santuários Shinto1, e a ser implantados em antigas casas de
aristocratas como forma de contemplação.
No período Nara (646-794 AD2), quando o comércio com a China começou
a se desenvolver mais seriamente, os jardins sofreram grande influência das práticas
chinesas de jardinagem. Nesse momento, representavam um local de prazer e
divertimento para os aristocratas, como uma forma de lazer contemplativo, e espaço
para realização de eventos como recitais de poesia e torneios de arco e flecha.
Entretanto, foi no período Heien (794-1185 AD) que apareceram as principais
mudanças na configuração dos jardins, dando origem ao estilo Shinden, cuja forma
era ditada por lendas e mitos oriundos da cultura chinesa. A presença de um lago e
uma ilha eram importantes características desse estilo.
Havia a intenção de se criar um jardim com diferentes aspectos de acordo
com a estação do ano. Sendo assim, as cores e o período de floração eram importantes
requisitos para escolha das plantas. Representavam a natureza com lagoas artificiais,
pedras e vegetação.
Com a influência do Zen Budismo, os jardins começaram a ser vistos como
local apropriado para meditação. Características da filosofia Zen passaram a ser
A Cerimônia do Chá
A cerimônia do chá, conhecida como “chanoyu”, é uma atividade tradicional
no Japão, mas também realizada em outros países asiáticos como China e Coréia,
que se caracteriza por servir e beber o chá verde pulverizado, chamado de “matcha”
O chá verde foi introduzido no Japão, no século XII (por volta de 1200 AD),
pelos monges Zen budistas que o utilizavam durantes as práticas de meditação. A
presença do chá passou a ser incorporada pela filosofia zen, dando origem ao ritual
da Cerimônia do Chá, síntese da cultura e essência da arte japonesa.
A cerimônia levou ao desenvolvimento das casas e salões do chá {sukiya)
durante o período Muromachi (1333-1573) e Momoyama (1573-1600). O mestre do
chá que desenvolveu a cerimônia, como é realizada até os dias de hoje, foi Sen-
no-rikyu, sendo classificada por ele como wabicha (chá rústico). Anteriormente
a cerimônia continha outras regras, e era realizada como atividade artística
acompanhando a observação de pinturas e obras de arte.
Os quatro elementos básicos do espírito da cerimônia e do caminho do
chá são: harmonia, respeito, pureza e tranqüilidade, e constituem a base do ritual
O jardim
A composição do jardim do chá tem relação direta com a cerimônia. Enquanto
os outros tipos de jardim japonês focam a contemplação, o jardim do chá tem como
principal objetivo o caminhar. Devido a isso também é chamado de tea roji, sendo
que roji significa caminho (ou corredor). A palavra é também encontrada no Sutra
de Lótus3, no qual há uma alegoria comparando o mundo profano a uma casa em
chamas, e o mundo puro ao roji, onde a iluminação pode escapar das chamas.
Para que os convidados entrem em sintonia com o estado mental exigido para
o ritual,o jardim é divido em três partes: exterior (jardim soto roji), intermediário, e
interior (jardim uchi roji).
A vegetação
A palavra roji foi designada pelos mestres do chá com o significado de
“solo úmido” ou fresco. Por isso, antes da chegada dos convidados, o jardim recebe
tratamento de irrigação para transmitir a sensação de umidade e frescor. A atmosfera
de caminho com profundidade e clima de montanha é alcançada pela mistura de
musgos, árvores perenes, arbustos e em alguns casos, bambus.
As espécies mais comuns no jardim são: Ginkgo Biloba, Ligustro,
Bambuzinho-de-Jardim, Pinheiro-Negro (e outras espécies de pinheiro), Junípero,
Buxinho (Figura 5), entre outras.
As flores são evitadas, para não interromper a sensação de austeridade que é
própria da estética Zen. O plantio no jardim é plano e modesto, combinando tonalidades
e texturas diferentes, mas sempre mantendo uma linguagem sóbria e que transmita
tranqüilidade. Devido a isso, em alguns jardins também existe a presença da água.
Normalmente, o jardim do chá faz parte de um jardim maior, sendo um mundo a
parte de onde está inserido, não só pelas demarcações físicas, como também pela mudança
na composição e cores da vegetação, onde o a presença do verde é preponderante.
Figura 5. D a direita para esquerda: superior G inkgo B iloba, Ligustro, Bam buzinho de jardim;
Inferior: Ligustro, Pinheiro-N egro e Buxinho.
Fonte: G oogle Images
Notas
1 . É a tradicional religião do Japão, e tem uma grande relação com deuses e a natureza.
2. AD (Anno Domini) é uma expressão utilizada para marcar os anos seguintes ao ano 1 do
calendário utilizado no Ocidente, designado como “Era Cristã” ou “Era Comum”.
3. Sutra de Lótus é um dos escritos mais importantes do budismo, contendo a Lei da Vida.
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILIENSE DE AIKIDO [email protected]).
Cerimônia do Chá. Brasília/ DF:2005. Disponível em: <http://bukaru.zevallos.com.
br/Cha.htm> Acesso em: 24/10/2007.
HOLY MOUNTAIN TRADING COMPANY. The art o f Japanese Garden.
São Francisco, CA: 2000. Disponível em: <http://www.holymtn.com/garden/
JapaneseGardens.htm> Acesso e m :14/10/2008.
Jardim Japonês - Estilos de Jardim. São Paulo: 2006. Disponível em: <http://www.
jardineiro.net/br/artigos/jardimJapones.php> Acessado em 08/10/2007.