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Saúde Pública, com endereço na Rua Marechal Floriano Peixoto, n.º 1.251, nesta Capital,
com fulcro no artigo 129 da Constituição Federal, nos artigos 159, 962, 1537 e seu inciso I,
1538, 1539 e 1544, do Código Civil, artigo 282 e seguintes do Código de Processo Civil, e
brasileiro, solteiro, menor impúbere, representado por sua mãe SANDRA REGINA ALVES
SSP/PR, residentes e domiciliados na Rua Victor Benato n.º 170, Pilarzinho, Curitiba,
Paraná,
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em face do
e da
76.591.569/0001-30, com sede nesta capital, na rua Desembargador Motta, 1070, Rebouças,
caso, contra o responsável civil" (art. 64), aduzindo a mesma carta, mais adiante que, se "o
titular do direito à reparação do dano for pobre... a ação cível será promovida, a seu
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vocábulo, de acordo com suas declarações v. (doc. fls. 367/368 do PA. n.º 03/96), pelo que se
Hospital Erasmo de Roterdam), a Srª. Sandra Regina Alves dos Santos, deu à luz
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Mantovani, não apresentando nenhuma complicação, o bebê nasceu bem, com boa vitalidade,
Estado da Saúde, através da análise dos documentos integrantes do P.A. 03/96, às fls. 240:
sem diagnóstico da causa da prematuridade” (grifo nosso), não sendo claro, inclusive, “quem
avaliou esta criança nos primeiros minutos de vida e lhe prestou assistência”, bem como, “O
recém nato deveria ser considerado de médio risco, necessitando de um atendimento com
pessoal e equipamentos para tal, fato não observado nos relatórios”(grifo nosso).
cuidados do médico Dr. Ricardo Carlini, sendo posteriormente substituído pelo pediatra
Dorivan Celso Nogueira, durante a primeira semana e, em seguida, pela Dra. Tânia Schinzel.
nascimento, que Hiago, demonstrava desequilíbrio metabólico, uma baixa pressão e saturação
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havendo, talvez, a indicação de ventilação assistida, porém, tal avaliação não está
demonstrada nos dados apresentados, pois só existem pedidos de exames de controle, cinco
Calcio=7.6 mg/dl; Po2=29.,2 mmHg; Sat. O2= = 32,65%). Acrescente-se que há relatos de
icterícia a partir do oitavo dia, sem que hajam exames para avaliar a necessidade de
do segundo dia de nascido, o bebê passou a se alimentar por sonda e no terceiro dia, passou a
apresentar estase, ou seja, demora do esvaziamento gástrico. No quinto dia, o recém nascido
pois a suspeita era mesmo de infecção”), caracterizado por palidez, hipo-atividade, e acidose
metabólica, fato que, conforme afirmação inserta no relatório do referido especialista da
SESA (fls. 239/242), em face dos sinais descritos nos exames clínicos, a partir do quinto dia
Tânia Mara Schinzel, em substituição ao Dr. Dorivan Celso Nogueira, ele foi acometido por
uma parada respiratória (apnéia), sendo que antes dessa intercorrência, Hiago estava numa
incubadora, conforme afirma a própria médica (fls. 216/217), “com 34º de temperatura e
paciente, resolvendo pô-lo numa campânula, com oxigênio à razão de 3 litros por minuto,
pelo Dr. Ricardo Carlini, às fls. 164, de que o bebê “foi posto sob o oxigênio na
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proporção de 3 (três) litros por minuto (46 v)” e pelo Dr. Dorivan (fls. 214), de que a
medida de oxigênio fornecida era “de 2 (dois) a 3 (três) litros por minuto”.
tentou providenciar a remoção da criança para uma UTI neonatal, só conseguindo dois dias
após, para o Hospital Pequeno Príncipe. Faz-se necessário ressaltar que o Hospital Erasmo de
Roterdam, à época dos fatos, não possuía ar comprimido, nem oxímetro cutâneo, o qual
mede a quantidade de oxigênio recebido pelo paciente; bem como, percebe-se, pelo relato
de fls. 217, que o referido hospital, já teve problemas com a vigilância sanitária, exatamente
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risco apresentados e de conhecimento pleno dos médicos, houve qualquer tipo de avaliação
causada ou não pelo oxigênio, tornam esse tipo de problema reversível, ou seja, a presença
desse profissional (Oftalmologista), poderia ter evitado e, em não evitando, poderia ter
(aproximadamente uma semana e meia) foi transferido para o Hospital Pequeno Príncipe com
suspeita clínica de obstrução intestinal, sendo atendido pelos médicos Dr. Wilmar Mendonça
Guimarães (fls. 158/159) e Dra. Maria Izabel Fonseca Martins (fls. 151/152), os quais
afirmaram que a criança ao chegar ao hospital já apresentava sinais claros de infecção, bem
acompanhado, tão somente, por um bilhete (fls. 151) que, embora expressasse diversos dados
sobre a permanência do paciente na UTI, não indicava o tipo de parto, nem o APGAR
(consistente em uma nota dada ao recém nato sobre as condições de nascimento: respiração,
atendimento do recém nascido. Ressaltou a Dra. Izabel que, em casos de bebês prematuros,
como de Hiago, faz-se necessário o uso de oxigênio, porém o seu excesso pode lesionar a
visão e a sua não administração nas crises de apnéia ou de cianose, pode levar à paralisia
cerebral. Informou, também, que o Hospital Pequeno Príncipe não utiliza saturação alta de
oxigênio (acima de 45%) para tratamento de recém nascidos, sendo que, à época, no Hospital
Saint Claire (Erasmo de Roterdam) a saturação administrada ao paciente era de 96%, bem
como, esclarece que, conforme fls. 22, não há indicação da presença dos profissionais
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treinado em obstetrícia. Informa ainda que a infecção da qual Hiago foi acometido,
conforme consulta a seus registros, era grave, pois foi associado mais um antibiótico (Keflin)
exame Eletroencefalográfico não permite ter certeza sobre a existência de lesão cerebral na
momento algum foi feito. O médico ratifica também que o excesso de oxigênio é agente que
contribui para a retinopatia. Esclarece que conforme histórico no Hospital Saint Claire
(Erasmo de Roterdam), o paciente apresentara apnéia, fato que não ocorreu no Hospital
concreto. O recém nascido teve alta da UTI com 32 dias de vida e da enfermaria com sessenta
dias.
cuidados imprescindíveis, já que, destaco, a escolha não fica entre CAUSAR a cegueira para
evitar a morte, ou CAUSAR a morte para evitar a cegueira. A escolha é, eventualmente, entre
correr o RISCO de causar a cegueira e o RISCO de perder a vida da criança. Sendo assim,
por ser um RISCO e não uma CERTEZA de dano, é que se exige a tomada de todas as
providências possíveis para evitar-se o mencionado dano. O risco de morte foi minimizado
pelo uso do oxigênio, mas o risco de cegueira não foi evitado pelo seu monitoramento
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Vicente Scheidt Polli (fls. 150), foi diagnosticado o comprometimento motor da criança,
oxigenoterapia. Afirma ainda que, crianças que nascem prematuramente como Hiago (trinta
e duas semanas conforme o relato), possuem os pulmões imaturos, o que leva à necessidade
de tratamento com oxigênio em alta concentração, mas esta terapia deve ser feita buscando
sua oferta pode causar comprometimento cerebral, não tendo o médico “condições de
identificar ou informar uma outra causa da cegueira de Hiago que não fosse o excesso de
oxigênio”. Acrescenta ainda este médico que “atualmente, o quadro físico de Hiago é
irreversível”.
Dr. Vicente Polli (fls. 150), Dr. Dorivan Nogueira (fls. 214/215) e a Dra. Maria Izabel
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Príncipe que, se não podia, eventualmente, ter evitado a lesão às córneas de Hiago,
certamente poderia tê-la revertido. Causas estas que, sem dúvida, contribuíram ou mesmo,
situação do recém nato, não obstante os inúmeros fatores de risco presentes, bem como, a
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“RESUMINDO:
(destaque nosso)
www.acm.org.br/sco/educação/retinopatia_da_prematuridade.html
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www.spoftalmologia.pt/novidades/14.html
www.cbo.com.br/retina/artigos8.htm
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(grifo nosso)
(grifo nosso).
www.hope.com.br/ctudo-noticias.html
irreversível.
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precocemente.
www.institutodavisao.med.br/c_dicas.htm
FATORES DE RISCO
nosso)
nosso)
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quando necessário.
Reavaliação:
Avaliação da Visão
(Dra. Betty Moszkowicz; Dr. Sansão Isaac Kac)
www.spb.com.br/follow_up/aval_visao.html
1570 (mil quinhentas e setenta) gr., sendo transferido para o Hospital Pequeno Príncipe
com 10 (dez) dias de vida e pesando 1270 (mil duzentas e setenta) gr, com icterícia e sinais
Pequeno Príncipe), ainda que com todas as indicações feitas acima, passou pelo exame de
fundo de olho.
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civilmente pelos atos de seus prepostos (médicos, enfermeiros, empregados em geral, etc.),
assim como por sorte de ocorrências sucedidas em seu interior (v. a respeito os artigos 37, §
6º, da Constituição Federal, 1.521, inciso III, do Código Civil e a Súmula n.º 341 do STF),
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17).
Tribunais:
(grifo nosso)
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Ac. 2041 - unân. - 6a. Câm. Cív. - Rel: Des. Newton Luz -
nosso)
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nossos)
IV - Da Especificação do Dano
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indicado pela Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, fls. 239/242, Hiago não foi atendido
visão.”
semana de vida para o Hospital Pequeno Príncipe, inobstante todos os fatores de risco e
indicações da doutrina médica, não foi acompanhado por um Oftalmologista nem, tão pouco,
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distinção entre dano material e moral, abrangendo tanto o dano patrimonial como o extra-
patrimonial.
a disciplina do art. 1.538, "caput", do Código Civil, onde está estabelecido que, em casos
como este, o réu deverá custear todas as despesas de tratamento médico necessário (as
periódicos, entre outros, como por exemplo fraldas, pois até hoje a criança faz uso delas (com
06 anos de idade), além do leite, cujo consumo é de 15 litros/mês. Ressalta-se que em relação
ao tratamento que está sendo feito ao autor, este compreende a freqüência a uma escola
especial de nome Escola Ecumênica, que não tem custo, excetuando os relativos ao
deslocamento, e é mantida por doações, sendo que em tal escola recebe tratamento
do Código Civil.
pretensão de esgotar todos os cerceamentos possíveis ocasionados pela perda de visão, bem
crianças não portadoras de tais deficiências, tendo ainda sua condição impossibilitada no que
concerne à realização de atividades lúdicas comuns às demais crianças. Vale ressaltar que
sustento próprio e de sua família, já que é difícil imaginar alguma atividade que comporte seu
exercício por um indivíduo que possua atraso mental e deficiência visual, determinando-se
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“ad eternum”, uma dependência total de seus familiares que, diante disso, também terão
explana o tema:
Cultural. p. 109/110)
hospitalar, a qual não só ocasionou um sofrimento maior à luta do recém nascido pela vida,
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danos morais sofridos, ou seja, conforme aponta Miguel Kfouri Neto, em seu livro
equivalente econômico à altura. O tema, aliás, há muito tempo, foi invulgarmente balizado
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in RT 489/92).
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21.9.93 - RT 703/57).
reais), bem como, as despesas de tratamento e recuperação que ainda se farão necessárias,
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locomoção, alimentação especial, dentre outras, conforme artigo 1.539 do Código Civil;
ao assistido, no valor de 2 (dois) salários mínimos, conforme art. 1.539 do Código Civil,
sofridos por Hiago Augusto Mangini e sua família, fixados na quantia de trezentos salários
mínimos;
cominações legais.
Raul Carneiro (Hospital Pequeno Príncipe) , na pessoa de seus diretores, para, querendo,
pedido julgado procedente, com a condenação dos réus ao pagamento das verbas
anteriormente especificadas.
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fundamento na Lei n.º 1.060/50, dá-se à causa, tão só para efeitos fiscais, o valor de R$
P. deferimento.
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Rol de Testemunhas
Identidade/RG n.º4.537.474-2 SSP/PR, residente e domiciliada na Rua Victor Benato n.º 170,
n.º 7.199, residente e domiciliado na Rua Francisco Nunes n.º 394, Rebouças, Curitiba,
Paraná.
PR sob o n.º 3.088, residente e domiciliada à Trav. Percy Withers n.º 80, ap. 102, Curitiba,
Paraná.
PR sob o n.º 3711, residente e domiciliado à Av. Sete de Setembro n.º 3845, Curitiba, Paraná.
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