Pa Captulo 10
Pa Captulo 10
Pa Captulo 10
Rio de Janeiro
2008
2ª Edição - 2022
Patrocinadores:
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
Trama Criações de Arte
REVISÃO DE TEXTO
Mariflor Rocha
Sonia Cardoso
Inclui Bibliografias.
Patrocínio ANTT, TRANSBRASILIANA.
CDD 625.85
APRESENTAÇÃO
Apresentação 3
Prefácio 9
1 Introdução 11
2 Ligantes asfálticos 35
2.1 INTRODUÇÃO 35
2.2 ASFALTOS 36
Desde a sua primeira versão em 2007, este livro foi pensado de modo a apoiar o
ensino de graduação de Engenharia, especificamente para disciplinas de infraestru-
tura de transportes. Ao longo dos anos, o retorno da comunidade de pavimentação
sobre o conteúdo foi bastante positivo e evidenciou-se a utilidade deste tipo de ma-
terial também para engenheiros, técnicos e pós-graduandos da área.
Fizemos à época uma analogia da elaboração de um livro como este à construção
de uma estrada, influenciada por vias preexistentes e abrindo-se para muitos caminhos
possíveis. Desde então, novos caminhos surgiram pelo avanço da área em ciência,
em tecnologia e em inovação, na compreensão dos materiais, nas técnicas de pro-
jeto e de execução, e até nos propósitos ampliados dos pavimentos (e.g. geração
de energia, captura de CO2, etc.). Com o intuito de alinhar o escopo anterior com
o conhecimento disponível e aplicado hoje, traz-se a presente versão atualizada.
Diversos novos métodos e ensaios foram incorporados, com centenas de referências
bibliográficas adicionais.
Como em um projeto de manutenção viária, decisões foram tomadas com vistas
à delimitação do que deveria ser alterado ou mesmo descartado. Nesta espécie de
reciclagem, na qual se aproveita parte dos materiais sem comprometer o sistema,
foram priorizados melhoramentos nas camadas do livro referentes aos ligantes as-
fálticos e aos tipos e propriedades das misturas asfálticas, técnicas executivas e de
avaliação de desempenho. Além da relevância destes assuntos para a pavimentação,
os mesmos passaram por transformações tão significativas nos últimos 15 anos, que
as atualizações são entendidas como essenciais para proporcionar a devida estrutura
de conhecimento.
Os autores reconhecem a limitação do escopo, mesmo frente à presente atuali-
zação, e recomendam que os leitores busquem bibliografia complementar em temas
tão diversos quanto dimensionamento de pavimentos, mecânica dos pavimentos,
química e reologia de materiais, geotecnia, projeto de tráfego e drenagem, técnicas
de controle tecnológico, gerência de pavimentos etc.
Assim como na primeira versão, contamos para esta revisão com a contribuição
de colegas e alunos, os quais gostaríamos de reconhecer por seus valiosos comentári-
os e sugestões. Nossos agradecimentos especiais a Leni Figueiredo Mathias Leite e
Luis Alberto do Nascimento; também a Suelly Barroso; Sandra Soares; Jorge Lucas
Junior; Jardel de Oliveira; Juceline Bastos; Aline Fialho; Alessandra Oliveira; Beatriz
Gouveia; Kamilla Vasconcelos; Clóvis Gonzatti; Armando Morilha Júnior; Ana Karo-
liny Bezerra; Lucas Sassaki. Note-se ainda o uso de textos anteriormente escritos
pelos autores em coautoria com seus vários colaboradores, sendo estes devidamente
referenciados.
Os autores agradecem a Danilo Martinelli Pitta pela atuação junto à conces-
sionária para a viabilização do projeto RDT junto à ANTT e pelo apoio durante a
execução deste projeto que viabilizou a revisão do livro.
A experiência de revisitar este livro, novamente a oito mãos, agora mais experien-
tes, foi deveras gratificante. Isso só foi possível num período tão agudo como o
da pandemia graças à harmonia entre os quatro autores. Competências e disponi-
bilidades de tempo foram devidamente dosadas e, se fizeram falta os encontros
presenciais, houve uma adaptação aos encontros virtuais que possibilitaram viagens
instantâneas do Rio Grande do Sul ao Ceará, passando pelo Rio de Janeiro e por
São Paulo.
Como previsto desde que foi lançado este projeto, qual uma estrada, a obra
estava sujeita a falhas. O olhar atento dos pares ajudou na manutenção ora entre-
gue. O avanço do conhecimento na área de pavimentação prosseguirá e, portanto,
alguns trechos da obra merecerão novos reparos, reciclagens, inserções inovadoras.
Certamente novos trechos surgirão na infindável estrada que é o conhecimento.
Boa viagem. De novo.
Os autores
10
Avaliação estrutural
de pavimentos asfálticos
10.1 INTRODUÇÃO
Os pavimentos são estruturas que em geral não apresentam ruptura súbita, mas sim deteriora-
ção funcional e estrutural acumuladas a partir de sua abertura ao tráfego. A parcela estrutural
é associada aos danos ligados à capacidade de carga do pavimento e é tratada neste capítulo,
enquanto os aspectos funcionais são objeto do capítulo 9.
A avaliação de pavimentos tem como conceitos associados:
• serventia: qualidade do pavimento, num determinado instante, em determinado trecho,
quanto aos aspectos para os quais foi construído em relação ao conforto ao rolamento
e segurança;
• desempenho: variação da serventia ao longo do tempo (ou do tráfego) de uso do pavi-
mento;
• gerência: administração, gestão e otimização dos recursos aplicados ao planejamento,
projeto, construção, manutenção e avaliação dos pavimentos;
• restauração: conjunto de operações destinadas a restabelecer na íntegra ou em parte
as características técnicas originais de um pavimento (intervenções); incluem as ações
de manutenção denominadas preventivas e o reforço estrutural;
• manutenção preventiva: operação de correções localizadas que não atingem a maioria
da superfície do pavimento, repondo pequena parcela da condição de serventia e retar-
dando o acúmulo de danos;
• reforço estrutural: operação de restauração em que se aproveita o valor residual da
estrutura do pavimento e acrescenta-se nova camada de mistura asfáltica (também
dito recapeamento). Atualmente, pode incluir a fresagem de parte do revestimento anti-
go, além da colocação de nova camada estrutural de revestimento ou camadas de re-
posição de conforto ao rolamento;
• reconstrução: operação de refazer o pavimento no todo, desde o subleito, ou mais
comumente a partir da sub-base por retirada total dos materiais de base e revestimen-
tos antigos e substituição por novos materiais ou ainda por reciclagem dos mesmos
sem ou com adição de estabilizantes, tais como asfalto espuma, cimento Portland ou
cal hidratada. Após a reciclagem constrói-se nova camada asfáltica como revestimento.
Uma forma de se representar uma curva de desempenho de um pavimento ao longo de
vários ciclos de restauração (intervenções) pode ser a indicada na Figura 10.1(a). O critério de
avaliação pode ser funcional ou estrutural, e o nível mínimo aceitável para este parâmetro define
o momento de realizar a intervenção corretiva de restauração ou reforço.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 703
A avaliação funcional, incluindo a segurança, como visto no capítulo 9, tem como palavras-
-chave: conforto ao rolamento, condição da superfície, interação pneu-pavimento, defeitos e
irregularidades.
A avaliação estrutural, por sua vez, está associada ao conceito de capacidade de carga, que
pode ser vinculado diretamente ao projeto do pavimento e ao seu dimensionamento. Os defei-
tos estruturais resultam especialmente da repetição das cargas e vinculam-se às deformações
elásticas ou recuperáveis, e plásticas ou permanentes.
As deformações elásticas são avaliadas por equipamentos próprios chamados genericamente
de deflectômetros por medirem os deslocamentos verticais elásticos na superfície, nomeados
como “deflexão” do pavimento. Elas são responsáveis pelo surgimento da maioria dos trinca-
mentos ao longo da vida do pavimento asfáltico, e que podem levar à fadiga do revestimento
asfáltico ou mesmo de camadas da estrutura, como bases e sub-bases, que trabalham à flexão,
ou seja, camadas que possuem rigidez dada por ligação entre agregados, como por ligantes as-
fálticos (camadas asfálticas), ligantes hidráulicos (brita graduada tratada com cimento, concreto
compactado com rolo, entre outros) etc. Não se deve confundir materiais que apresentam coe-
são, como solos argilosos, por exemplo, com os materiais aqui citados, com partículas ligadas
por ligantes asfálticos ou hidráulicos. Os solos coesivos resistem muito pouco à tração e não
trabalham à flexão na estrutura de pavimento. A figura 10.1(b) mostra os registros de deflexão
ao longo do tempo ou de vida de serviços de dois tipos de pavimentos asfálticos: (i) um subdi-
mensionado onde as deflexões crescem a partir da construção, e (ii) um outro adequadamente
dimensionado, no qual se podem observar três distintas fases, sendo a primeira a de conso-
lidação (com densificação complementar e acomodação de materiais, com leve redução de
deflexão neste período pós-obra), a segunda, a que deve ser de vários anos e que corresponde
à fase elástica (quando as variações do valor de deflexão são pequenas e com manutenção des-
tes valores durante as diferentes estações climáticas), e a fase de fadiga (quando os valores de
deflexão crescem progressivamente pois há camada ou camadas que apresentam trincamento,
em geral interligados, com redução de sua rigidez).
As deformações plásticas são acumulativas durante os anos de vida de um pavimento e
resultam em defeitos do tipo afundamento localizado ou em toda a trilha de roda, medidos
de maneira trivial por meio de treliça normatizada, mostrada no capítulo 9, ou por ensaios de
monitoramento em campo sem contato (laser, ultrassom etc.).
Fonte: DNER-PRO10/79.
A avaliação estrutural de um pavimento pode ser feita por três métodos: destrutivo, semides-
trutivo ou não destrutivo.
Um método destrutivo é aquele que investiga a condição estrutural de cada camada que
compõe o pavimento por abertura de trincheiras ou poços de sondagem, permitindo recolher
amostras de cada material até o subleito e realizar ensaios de capacidade de carga in situ. Pela
sua própria natureza destrutiva só pode ser empregado em alguns poucos pontos selecionados
como representativos de cada segmento a ser avaliado.
As figuras 10.2(a) e 10.2(b) mostram exemplos de extração de corpos de prova por extra-
tora rotativa e as figuras 10.2(c) e 10.2(d) de poços de sondagem em pavimentos em uso para
avaliação das camadas e retirada de amostras. Com a extração de amostras do pavimento é
possível identificar os tipos de materiais das camadas e subleito, as espessuras de camadas e
fazer coleta de amostras para ensaios de laboratório. É possível determinar a massa específica
in situ [figuras 10.2(e) e 10.2(f)] e a umidade do material de cada camada para comparar com
as condições de umidade ótima e massa específica máxima dos ensaios de compactação, e
assim, avaliar eventuais excessos de umidade ou deficiência de grau de compactação. A retira-
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 705
da de corpos de prova do revestimento asfáltico, por sonda rotativa, permite avaliar o grau de
envelhecimento do ligante, a granulometria dos agregados, fazer ensaios mecânicos e medir a
espessura, entre outras observações possíveis.
Um método semidestrutivo é aquele que se vale de aberturas menores de poços de sonda-
gem, popularmente denominadas “janelas no pavimento”, que permitam utilizar um instrumento
portátil de pequenas dimensões para avaliar a capacidade de carga de um pavimento, tal como
o uso de cones dinâmicos de penetração – DCP (Trichês e Cardoso, 2001; Fontes, 2001; Trichês
et al., 2004). Este ensaio também tem sido utilizado para controle de compactação de camadas
de pavimento e de subleito em campo (Alves, 2002; Berti, 2005; Kim et al., 2010; Torres,
2017), e vem sendo empregado inclusive como controle de compactação de solos e de mate-
riais granulares em reposição de pavimentos em valas, entre outras aplicações (Sabesp NTS
327/2019). A figura 10.3 mostra um exemplo dessa técnica expedita de avaliação da capacida-
de de carga de subleitos e camadas de solo fino do pavimento. A aplicação deste ensaio permite
em geral correlação com o ISC (Índice de Suporte California – CBR) dos materiais, com certa
precisão. Uma aplicação interessante é a detecção de mudança de material pela inclinação das
curvas DCP (mm/golpes) x profundidade (m).
Vêm sendo empregados para controle de deformabilidade de camadas compactadas equipa-
mentos portáteis do tipo LWD (Light Weight Deflectometer) para avaliação expedita do módulo
de elasticidade de camadas do pavimento, através de pulsos, aplicados em placa circular apoia-
da na superfície, e medições da resposta do retorno dos mesmos (repique), como o exemplo
mostrado na figura 10.4 (www.dynatest.com). Preussler (2007) empregou esta técnica para
controle de compactação de camadas de solo e de material granular, demonstrando a evolu-
ção da resposta defletométrica com o número de passadas de rolo de compactação; o autor
demonstrou a praticidade do equipamento e fez correlações com outros equipamentos como o
FWD (item 10.3.2).
A avaliação mais adequada para ser feita em grandes extensões de pistas e com possibilida-
de de inúmeras repetições no mesmo ponto, de forma a acompanhar a variação da capacidade
de carga com o tempo, é a que lança mão de medidas não-destrutivas, representadas por me-
didas de deflexão (LWD ou FWD ou outros equipamentos – item 10.3).
A cada passagem de roda o pavimento sofre um deslocamento total que tem duas compo-
nentes:
1. Deformação elástica que resulta na flexão alternada do revestimento, chamada por
convenção de deflexão, cuja medida é a principal forma de avaliação estrutural de um
pavimento em uso.
2. Deformação permanente, que resulta no afundamento de trilha de roda cuja medida
também é um critério de definição da vida útil de um pavimento visto que, a partir de
certo valor, pode interferir na condição de conforto e segurança do tráfego.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 707
Figura 10.3 – Exemplo de equipamentos DCP de avaliação estrutural expedita de
subleitos e camadas de solo
Figura 10.4 – LWD (Light Weight Deflectometer) equipamento de avaliação expedita do módulo
elástico de camadas de pavimento (Fotos Dynatest)
Quando se mede o deslocamento elástico em vários pontos a partir da carga, tem-se a deno-
minada bacia de deflexão ou linha de influência da carga sobre um ponto do pavimento. Quando
a linha de influência longitudinal inerente à parcela transitória de deformação é ocasionada pela
carga de prova aplicada estaticamente à superfície de um pavimento, aplica-se a norma DNIT
133/2010.
A figura 10.5(a) mostra o resultado da repetição das deformações elásticas num pavimento
de revestimento de concreto asfáltico como trincamento generalizado e interligado, chamado de
“couro de jacaré” ou trincamento por fadiga. Já na figura 10.5(b) observa-se o resultado do acú-
mulo das deformações permanentes, que podem ocorrer tanto no revestimento quanto no su-
bleito ou como contribuição de todas as camadas do pavimento. As deformações permanentes
são medidas por treliça padronizada com 120 cm de base, conforme mostrado na figura 9.26.
Há, em geral, muita diferença entre os valores numéricos de avaliação estrutural realizados
quando se utiliza cada um desses tipos de equipamentos, os quais podem ser empregados
para levantamentos da condição de pavimentos para sistema de gerência em nível de rede,
para análises de rotina ou para projeto de reabilitação de pavimentos. Todos os equipamentos
devem ser constantemente calibrados por processos específicos e seguem rotinas de aplicação
determinada pelo tipo de carregamento (ASTM D 4695).
Foi estabelecida a norma DNIT 162/2012 PRO que regula a utilização do deflectógrafo
Lacroix para medida de deflexão sob carga dinâmica, tipo de equipamento que operou durante
um período no Brasil. Também foram estabelecidas as normas DNIT 170/2016 PRO/Determi-
nação de deflexões utilizando o Curviâmetro e DNIT 171/2016 PRO/Calibração dos sensores do
deflectógrafo Curviâmetro, e ambas operaram durante certo período no país.
Os equipamentos de medição de deflexão do pavimento – deflectômetros – mais utilizados
são de duas gerações bastante distintas:
• o primeiro grupo, da década de 1950, é a viga Benkelman, sendo o engenheiro do
Departamento de Transportes da Califórnia, A. C Benkelman, seu criador. Foi introduzi-
do no Brasil em 1962 (Carneiro, 1965);
• o segundo grupo é dos equipamentos de peso batente (falling weight deflectometer)
– FWD – criados na década de 1980. Foi introduzido no Brasil já no final da década de
80 pela Dynatest do Brasil e há registros de testes de 1994 (DNER, 1998).
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 709
Os dois tipos de equipamentos são empregados para avaliação estrutural e com eles são
medidos os seguintes parâmetros:
1. Deflexão máxima: deslocamento sob o centro da carga (FWD) ou sob o centro das
rodas duplas de um eixo simples (viga Benkelman), sendo a deflexão normalmente ex-
pressa em 10-2mm (d0).
2. Raio de curvatura: círculo ou arco de parábola que passa por dois pontos da deformada
(viga Benkelman), normalmente sob a carga e a 25 cm do centro da mesma (d0 e d25).
3. Deformada, bacia de deformação ou bacia defletométrica: medidas dos deslocamentos
elásticos ou recuperáveis em vários pontos a partir do centro do carregamento (d0, d25,
d50 etc.).
Há vários parâmetros que podem ser calculados a partir da bacia de deflexão para avaliação
das condições estruturais dos pavimentos (Andrade, 2016). Como complemento à avaliação
estrutural não destrutiva de pavimentos podem ser usados equipamentos como o georradar,
munido de radar para estimar as espessuras das camadas ao longo da via (Gonçalves e Ceratti,
1998; Aguiar, 2005; Lopes, 2009; Lopes et al., 2009; ASTM D 4748). É uma importante fer-
ramenta para definir segmentos homogêneos sem precisar fazer poços de sondagem, que são
destrutivos, muito próximos uns dos outros.
A seguir são descritos os principais equipamentos mencionados.
(10.1)
A deflexão recuperável máxima (d - no caso da expressão 10.1, d coincide com a d0) é um
parâmetro importante para a compreensão do comportamento da estrutura. Quanto maior o
seu valor, mais elástica ou resiliente é a estrutura, e pode expressar maior comprometimento
estrutural. No entanto, a análise isolada de seu valor pode não esclarecer completamente a
Figura 10.6 – Esquema da viga Benkelman (DNIT 133/2010) e exemplo de medida em campo
A figura 10.7 mostra o esquema de medidas quando se deseja obter a bacia de deflexão com
a viga Benkelman (VB). É um procedimento trabalhoso e de pouca precisão quando realizado
com a viga convencional, mas hoje encontram-se no país vigas automatizadas, nas quais a
leitura dos deslocamentos se faz com medidores eletrônicos tipo LVDT (figura 10.8). Todas as
leituras intermediárias devem ser referidas à leitura final, para o cálculo da deflexão no ponto
considerado.
Na maioria das vezes, com a VB medem-se somente a deflexão máxima d0 e mais um
ponto, em geral a 25 cm do inicial (d25), para cálculo do chamado raio de curvatura R, que
representa um arco de parábola que passa pelos dois pontos. A figura 10.9 representa de for-
ma esquemática os pontos de leitura e a forma da bacia de deflexões. A figura 10.10 mostra
os pontos considerados e o esquema deste cálculo (DNER-ME 24/94) do raio de curvatura R.
Reitera-se a dificuldade de realizar estas medidas na VB convencional e a facilidade, de outro
lado, da obtenção da bacia de deflexão, com a precisão necessária, pela VB automatizada.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 711
Figura 10.7 – Etapas do ensaio com a viga Benkelman convencional
712 Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros Bernucci, Motta, Ceratti e Soares
Figura 10.10 – Esquema de medida e cálculo do raio de curvatura
A partir da expressão (10.2), indicada para cálculo do raio de curvatura R com as deflexões
em centésimos de milímetro, obtém-se o raio em metros:
(10.2)
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 713
Na Europa foi criado um veículo de teste que carrega duas vigas para medidas de deflexões
com gravação automática em cada ponto de teste, enquanto o caminhão está em movimento.
O Deflectógrafo La Croix é um dispositivo largamente utilizado na Europa e consiste em um
veículo de teste carregado (5.442 kg a 11.791 kg), que se move a uma velocidade constante
de 3 km/h, quando as deflexões são medidas por vigas móveis. A operação é totalmente au-
tomática e as medidas de deflexão são gravadas numa fita magnética para posterior análise
(DNIT, 2006). Na figura 10.12 mostra-se um exemplo deste tipo de equipamento, com a viga
localizada na proximidade do semieixo traseiro do caminhão dedicado para esta finalidade e o
sistema de aquisição existente para registro das deflexões, locado dentro do caminhão.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 715
Figura 10.14 – Registros da bacia de deflexões durante o movimento do Curviâmetro a 18 km/h
(RT-LTP-PTREPUSP00365/10.05.11)
MASSAS EM QUEDA
AMORTECEDORES
DE BORRACHA
CÉLULAS DE SENSORES
CARGA DE REFLEXÃO
BACIA DE
REFLEXÃO
15 cm
D1 D2 D3 D4 D5 D6
D0
Quanto ao FWD, como qualquer outro equipamento, para que as deflexões e as bacias de
deflexão obtidas por tal equipamento estejam corretas, é necessário que o mesmo esteja ade-
quadamente calibrado. Além disso, equipamentos de diferentes marcas podem ter diferenças
de concepção e de formas de leituras, exigindo então a necessidade de comparações periódicas
entre eles, seguindo um protocolo próprio. Uma avaliação entre diferentes equipamentos FWD
pode ser vista em Moraes (2015), entre outros autores.
Moraes (2015) comparou a repetibilidade e a reprodutibilidade de quatro equipamentos
FWD, fez a verificação da confiabilidade das temperaturas registradas pelos equipamentos
e discutiu a necessidade de implantação de um Centro de Calibração no Brasil, que à época
não existia. Aplicou um protocolo de análises e procedimentos estabelecido na Holanda (Crow,
2011). Todas as etapas e cálculos estão explicados nessa dissertação de Moraes (2015). Foram
três equipamentos da marca Kuab e um da marca Dynatest. Na figura 10.16 mostra-se a foto
do comboio em um dos dias de ensaio. Vários pequenos experimentos foram feitos até treinar a
equipe e eliminar erros e ajustar o protocolo. Conclui-se que para a execução dos ensaios com-
parativos, o pavimento deve estar isento de trincas nas proximidades da seção de teste, caso
contrário a bacia de deflexão fica suscetível a dados imprecisos devido a pequenas variações no
posicionamento dos equipamentos. Antes da verificação da reprodutibilidade, deve-se checar
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 717
se todos os sensores dos equipamentos participantes estão posicionados à mesma distância e
se os termômetros para o registro da temperatura estão adequados para a utilização. Quando
um equipamento não atender aos critérios estabelecidos de repetibilidade, deve-se fazer uma
verificação para a identificação da causa antes de repetir os ensaios. Se após novos ensaios o
equipamento continuar não atendendo aos critérios estabelecidos, deve-se fazer a calibração
dos sensores.
Na Holanda também foi estabelecido o chamado “Dia do FWD”: uma época do ano em que
todos os equipamentos que operam nas rodovias holandesas devem se submeter a um teste
coletivo (todos passam pelos mesmos trechos e pelos mesmos procedimentos de verificação).
Todos os equipamentos que atendem aos critérios preestabelecidos ganham um certificado e
podem operar por dois anos. Ao final deste período, deve-se submeter ao mesmo processo e
renovar seu certificado. Atualmente, este centro denominado de CROW realiza ensaios compa-
rativos em vários equipamentos de monitoramento de pavimentos, incluindo medidores de atrito
dinâmicos, medidores de ruído pneu-pavimento, entre outros. Na figura 10.17 mostram-se fotos
do “Dia do FWD” na Holanda que ocorreu em outubro de 2013 com a participação de 16 FWDs
de três marcas diferentes (Dynatest, Rodos, Grontmij / Carl Bro / Phønix).
Há também equipamentos simplificados denominados LWD ou LFWD (Light Falling Weight
Deflectometer), item 10.2, que eventualmente são utilizados para medidas de deflexão máxima
do pavimento. Mais informações podem ser obtidas em Preussler (2007); Rodrigues (2018) e
Rodrigues et al. (2019), entre outros. É um equipamento relativamente leve, portátil, com ope-
ração manual e com possibilidade de sistema de aquisição de dados automático, e empregado
principalmente para controle de camadas granulares, de solo, de misturas asfálticas recicladas
e de materiais não muito rígidos. Em pavimentos acabados, com o revestimento já executado,
é possível que a carga aplicada não consiga sensibilizar a estrutura do pavimento de forma
adequada.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 719
que cada aeronave induz sobre o pavimento) para liberar a utilização da pista do aeroporto para
cada tipo de aeronave. Dados sobre a resistência de pavimentos aeroportuários são informa-
ções divulgadas nas publicações aeronáuticas, as quais podem ser acessadas na plataforma
AISWeb, do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Com o COMFAA também se
calcula o consumo de resistência à fadiga (CDF) considerando o número de pousos e decola-
gens das aeronaves que são autorizadas a utilizar o aeroporto. Na figura 10.21 mostra-se um
FWD operando em pista de aeroporto.
Figura 10.20 – Desenho esquemático do FWD e representação fora de escala da bacia de deflexão e
representação gráfica da distribuição das deflexões em 3D
h1 E1
h2 E2
h3 E3
Em
Fonte:www.dynatest.com.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 721
Figura 10.21 – Exemplo de medida de deflexão com FWD em aeroportos
O entendimento do pavimento como uma estrutura que forma um sistema em camadas que
trabalham solidariamente, permite compatibilizar os materiais em termos de rigidez. Aplican-
do-se os princípios da mecânica dos pavimentos (Medina e Motta, 2015) é possível fazer uma
avaliação estrutural mais adequada de todas as camadas e do subleito.
Para se aplicar o cálculo de tensões e deformações para um dimensionamento apropriado
do reforço do pavimento, é necessário se conhecer a rigidez de todas as camadas do pavimento
e do subleito. Muitos pavimentos em uso foram dimensionados pelo método do CBR (ou ISC)
e, assim, não se conhece, a princípio, a característica elástica ou resiliente dos materiais em
cada trecho. Porém, mesmo se conhecendo os valores dos módulos de resiliência da época
do projeto e construção, eles tendem a ser variáveis com o tempo e o uso e, em alguns casos,
variáveis pela ação climática. Uma forma de resolver esse problema seria por meio da avaliação
destrutiva por abertura de poços de sondagem, que permitam coletar amostras para deter-
minação destes parâmetros em laboratório (item 10.1). Mas este é um serviço lento e causa
transtornos adicionais ao tráfego e ao pavimento. Os poços de sondagem são usados de forma
parcimoniosa, mais para ter certeza da estrutura existente em cada segmento homogêneo do
que para se obter amostras para ensaios mecânicos. O uso do georradar (GPR) pode contribuir
como ferramenta de levantamento contínuo e não destrutivo e para substituir os poços de son-
dagem, ou pelo menos reduzir em número as aberturas destes recursos destrutivos.
Assim, foi estabelecido um método que permite inferir os módulos de elasticidade das ca-
madas do pavimento e do subleito por interpretação das bacias de deformação – a retroanálise.
Usa-se aqui o termo módulo de elasticidade por ser nesse caso um parâmetro retrocalculado e
Figura 10.22 – Esquema dos dados necessários para se fazer a retroanálise de um pavimento
(representação da bacia de deflexão fora de escala para poder evidenciar a forma)
A norma ASTM D 5858 (2020) apresenta uma diretriz de entendimento desta técnica e
cuidados na sua interpretação. Não se tem norma correspondente no país, mas o Manual de
reabilitação do DNER (1998) já comentava sobre a retroanálise. No Manual DNIT (2011) este
assunto também é mencionado.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 723
Os dados de entrada do processo de retroanálise são: a configuração do carregamento, a
bacia defletométrica, seção-tipo do pavimento, coeficientes de Poisson e faixas de valores mo-
dulares para cada camada da estrutura.
Em relação aos procedimentos de avaliação estrutural e projeto de reforço de pavimentos
flexíveis adotados tradicionalmente pelo DNER (PRO-10/79 – procedimento A, PRO-11/79 –
procedimento B, PRO-159/85 e PRO-269/94) que consideram somente a deflexão máxima e
eventualmente o raio de curvatura, a retroanálise dos módulos de elasticidade de um pavimento
apresenta as seguintes vantagens:
• possibilita a obtenção dos módulos nas condições reais de campo;
• minimiza o número de sondagens para determinação das espessuras e coletas de
amostras para determinação dos parâmetros desejados, que são de difícil reprodução
em laboratório, além de serem onerosas, perigosas e demoradas;
• os ensaios não destrutivos são menos onerosos e menos demorados do que os ensaios
destrutivos; e
• possibilita o uso pleno da bacia defletométrica, não só a deflexão máxima (d0) como
nas técnicas de avaliação estrutural preconizadas pelo DNER há décadas.
Os métodos tradicionais de projeto de reforço fazem a caracterização estrutural de um pa-
vimento a partir dos valores individuais de deflexão máxima, considerando-os isoladamente. A
deflexão máxima possibilita a determinação dos locais onde o pavimento apresenta variações
nas deformações verticais reversíveis quando do carregamento imposto pelo tráfego. Entretanto,
um mesmo valor de deflexão reversível máxima pode representar numerosos níveis de quali-
dade estrutural do pavimento, tanto mais crítica quanto mais concentrada a bacia (ou seja, as
deflexões próximas à aplicação de carga são expressivamente maiores que aquelas obtidas a
poucas dezenas de centímetros do ponto de aplicação de carga, demonstrando falha na distri-
buição de tensões pela estrutura de pavimento). A forma da bacia de deflexão depende também
do tipo da estrutura de pavimento, da combinação das camadas e de seu comportamento. Ou
seja, pode-se obter uma mesma deflexão máxima para diversas combinações estruturais, con-
forme ilustra a figura 10.22.
Nos procedimentos A e B do DNER recomenda-se o levantamento da bacia defletométrica,
em poucos pontos (dois ou três pontos em 1 km de extensão), mas não é feito o uso pleno desta
determinação. O procedimento B incorpora esses dados no cálculo do raio de curvatura, o que
subestima a potencialidade da bacia defletométrica que, usada de forma adequada, fornece
parâmetros bastante úteis para a avaliação estrutural completa, que engloba a estimativa dos
módulos de elasticidade das camadas que compõem o pavimento.
A sistemática de retroanálise se justifica por permitir:
• inferir os módulos de elasticidade “E” nas condições de campo;
• eliminar ou minimizar coleta de amostras;
• caracterizar com rapidez as camadas em termos de elasticidade; e
• verificar a condição estrutural de cada camada e subleito.
A retroanálise permite estimar qual a camada que mais está contribuindo para a deflexão e
assim apontar qual delas contribuiu mais para a incidência de danos por fadiga caso estes já
estejam presentes. Assim, nem sempre a solução será um acréscimo de espessura somente.
Outras soluções podem ser mais adequadas, tais como fresagem ou intervenções do tipo res-
tauração total – ver capítulo 11.
As desvantagens de obtenção dos módulos de elasticidade por retroanálise são:
• a sensibilidade do cálculo dos valores dos módulos de elasticidade aos valores das bacias
defletométricas que possuem uma imprecisão inerente aos levantamentos de campo;
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 725
Os programas se dividem em simplificados e iterativos. Entre os iterativos, todas as empre-
sas e instituições que possuem FWD dispõem de um método de retroanálise associado – por
exemplo, o ELMOD, da empresa Dynatest do Brasil. É possível também se conseguir na internet
muitos desses programas.
Entre os programas simplificados brasileiros, um dos primeiros foi o RETRAN2CL, desenvol-
vido por Albernaz (1997) que se baseia nas seguintes hipóteses e simplificações, entre outras:
• modelagem como um sistema ideal elástico de duas camadas: (i) pavimento, e (ii)
subleito;
• materiais da estrutura de pavimento são considerados sem peso, homogêneos e isotró-
picos;
• pavimento tem uma espessura uniforme e uma largura infinita; o subleito tem espessu-
ra infinita;
• coeficiente de Poisson é 0,5 para o pavimento e o subleito; e
• aplicação em pavimento com espessura menor que o raio da placa de carga não é
confiável.
A figura 10.23 mostra uma das telas do programa RETRAN2CL em que é possível observar
o ajuste entre a bacia medida e a calculada, e os módulos retroanalisados do pavimento e do
subleito. Com esses valores é possível avaliar a capacidade estrutural do pavimento e calcular
a eventual espessura de reforço necessária para o trecho avaliado. A retroanálise não serve
somente para avaliação estrutural e projeto de reforço, já tendo sido usada para o desenvolvi-
mento de método de dimensionamento de pavimentos novos de vias de baixo volume de tráfego
(Alvarez Neto, 1997; Alvarez Neto et al., 1998). Nestes referidos trabalhos, a retroanálise foi
usada na estimativa de módulos de elasticidade de camadas de pavimentos de trechos já im-
plantados e serviu de calibração do método de dimensionamento proposto. Além disso, a retro-
análise é recomendada como forma de estimar o módulo de elasticidade de trabalho do subleito
(“para grandes extensões, o levantamento in situ torna-se mais econômico que a realização de
uma campanha de ensaios para extração, coleta e ensaios de amostras de solos” [Alvarez Neto,
1997, p. 152]).
Os dados da retroanálise podem contribuir para a elaboração de projetos mais confiáveis,
para pavimentos mais duráveis, representando um ganho de tempo nos projetos e minimizando
a coleta de amostras. A retroanálise é o procedimento de projeto de reforço que mais evolui
no mundo. É fundamental que os procedimentos de retroanálise de bacias defletométricas se-
jam claramente compreendidos para que o projetista e o contratante conheçam as vantagens
e as limitações da modelagem utilizada. Há, ainda, a necessidade de balizar os programas e
procedimentos de retroanálise pelos ensaios de laboratório ou faixas de valores de módulos de
elasticidade consistentes.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 727
Como exemplo, entre as referências citadas, Dotto (2016) fez interessante pesquisa sobre
retroanálise e características de rigidez das camadas, analisando diferentes segmentos de ro-
dovias do Rio Grande do Sul. Utilizou quatro programas de retroanálise (BackFAA, BackSispav,
Evercalc e Mnlayer) e analisou medidas de deflexão obtidas com FWD e VB. Investigou a influ-
ência das condições climáticas e os efeitos das correções das temperaturas. Tem um rico banco
de dados, com variações das medidas e das análises. Aconselha-se a leitura desta dissertação
e de outras. Torquato e Silva et al. (2014) realizaram retroanálise de trecho acompanhado
pelo LMP/UFC por meio do pacote computacional CAP3D. Os autores contrastaram os valores
obtidos com resultados laboratoriais, o que permitiu o diagnóstico da condição estrutural das
camadas da rodovia, a qual apresentava sub-base de reduzida rigidez. Mais adiante a pesquisa
resultou no programa de retroanálise BackCAP, baseado no Método dos Elementos Finitos,
conforme mostra a figura 10.24(a).
Como uma forma de contornar esta variabilidade entre programas de retroanálise e, tam-
bém, permitir a criação de um novo método de projeto de reforço que substitua os tradicionais
do DNER, o novo método de dimensionamento de pavimentos asfálticos do DNIT – MeDiNa
– incorpora um método de retroanálise que tem as mesmas bases de cálculo do método de
dimensionamento de pavimentos novos. Assim, o “pacote” é composto de um programa de aná-
lise de tensões e deformações (AEMC), um programa de retroanálise (BackMedina) e um pro-
grama de dimensionamento propriamente dito. As calibrações foram feitas considerando vários
segmentos acompanhados por vários anos (Fritzen et al., 2019a, 2019b). O DNIT disponibiliza
as versões atualizadas do software gratuitamente (DNIT, MeDiNa versão 1.1.4.0, 2020).
A figura 10.24(b) mostra uma das telas de entrada e de saída do programa BackMedina; à
esquerda, um conjunto de medições de bacia de deflexão a cada estaca, e a cor verde repre-
sentando que a retroanálise conseguiu reproduzir bem a deformada de campo, e na cor amarela
estão as bacias para as quais as várias tentativas de retroanálise ainda resultaram em um erro
maior do que o admissível como ótimo. Os resultados dos módulos elásticos obtidos das retro-
análises das várias bacias de deflexão avaliadas no segmento homogêneo são utilizadas para se
fazer o projeto de reforço estrutural utilizando o próprio MeDiNa.
O DNIT (2015) propôs um catálogo de soluções de restauração previstas para dez anos de
vida útil com base nos métodos DNER-PRO 11/79 e DNER-PRO 269/94, que consideram so-
mente a deflexão máxima do pavimento atual para propor uma espessura de reforço. De forma
mais abrangente, o método MeDiNa dimensiona o reforço da estrutura do pavimento com base
na deformabilidade dos materiais, curva de fadiga do material do reforço e na previsão de trin-
camento, sendo os módulos de elasticidade das camadas obtidos por retroanálise das bacias de
deflexão utilizando o BackMeDiNa.
Souza Jr (2018) analisou 13 segmentos de uma rodovia federal comparando as soluções
do Catálogo do DNIT (2015) e soluções por meio de análises com o MeDiNa após retroanáli-
se. Verificou que em 78% dos casos analisados as soluções indicadas pelo Catálogo do DNIT
(2015) não atingiriam a vida útil de projeto ao se considerar a retroanálise e o projeto de reforço
considerando as mesmas. Nas análises dos trechos desta pesquisa, observaram-se camadas
de base com baixa rigidez, sendo muito deformáveis e pode-se concluir que a indicação de
soluções como fresagem somente da camada de revestimento e posterior reforço mostraram-se
inadequadas sem o tratamento da camada de base. O catálogo de soluções do DNIT foi esta-
belecido para uso em um SGP visando o planejamento rodoviário em nível de rede, com isso
observou-se certa generalização de soluções para trechos diversos, porém com características
que se enquadram em um padrão admitido no catálogo como se fossem equivalentes às estru-
turas diversas. Devido a isso foi possível observar soluções inadequadas sendo indicadas em
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 729
A título de exemplo de retroanálise, apresenta-se na figuras 10.25 as bacias de deflexão
de dois segmentos rodoviários analisados por retroanálise. O segmento A apresentava uma
condição de tráfego ruim, com 25% de área trincada, IRI = 4,5 m/km e deflexão característica
(média + desvio padrão) de 53,0 (0,01 mm). O segmento B apresentava uma condição de trá-
fego também ruim, com 15% de área trincada, IRI = 4,0 m/km e deflexão característica (média
+ desvio padrão) de 25,0 (x10-2 mm). Para o cálculo dos MR retroanalisados, do segmento
B, foi necessário dividir a camada asfáltica em duas por se tratar de duas camadas asfálticas
construídas em períodos diferentes. Foi aberto poço de sondagem em cada segmento, feitos
ensaios de MR das amostras, e os resultados da avaliação das espessuras estão indicados nas
tabelas 10.1 e 10.2.
Aplicando-se o BackMedina para fazer a retroanálise das bacias de cada segmento, foram
obtidos os módulos elásticos retroanalisados indicados nas tabelas 10.3 e 10.4. Para o cálculo
dos MR retroanalisados, a camada de reforço e o subleito foram considerados conjuntamente
em um único espaço semi-infinito. Entrando-se com estes valores dos módulos retroanalisados
no programa MediNa, o projetista pode avaliar as soluções de reforço que melhor se apliquem
considerando o tráfego futuro.
Figura 10.26 – Bacias de deflexão de dois segmentos homogêneos de pavimentos de uma rodovia
1.000
Os simuladores de tráfego são grandes equipamentos de campo que permitem fazer importante
avaliação estrutural de seções de pavimento, para determinação de vida de fadiga em condi-
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 731
ções muito mais próximas da situação real de condições de tráfego e de materiais do que os
ensaios de laboratório vistos no capítulo 6, mas de forma acelerada em relação ao desempenho.
Existem vários tipos desses equipamentos que consistem, de forma geral, em fazer atuar
uma ou duas rodas de caminhão sobre uma curta seção do pavimento a ser testado, por ciclos
de carga contínuos durante várias horas por dia. Assim, reproduz-se em curto espaço de tempo
o número de passagens de eixos previstos no projeto da estrutura ensaiada. Assim, é possível
testar novos materiais e métodos de dimensionamento, entender o comportamento de distintos
perfis de pavimentos e concluir sobre eficiências de técnicas de restauração, por exemplo.
No Brasil, três tipos de simuladores de tráfego estão ou já estiveram em atividade:
• o primeiro instalado foi o simulador circular do IPR/DNER em 1980 no Rio de Janeiro
Silva, 2001), mostrado na figura 10.27(a). A concepção desse simulador é baseada no
princípio do simulador francês de pista do LCPC instalado em Nantes, apresentado na
figura 10.27(b);
• o segundo instalado no país foi o simulador linear da UFRGS/DAER-RS em 1995 em
Porto Alegre (Nunez, 1997), mostrado nas figuras 10.27(c) e (d). A Universidade Fe-
deral do Ceará (UFC) conta com um simulador também do tipo linear (Bastos, 2016),
construído no âmbito da Rede Asfalto N/NE, financiada pela Petrobras e pela FINEP em
parceria com uma empresa local, mostrado nas figuras 10.27 (e) e (f);
• o terceiro tipo é o simulador móvel tipo HVS (heavy vehicle simulator), de concepção
brasileira, que permite testar trechos de estradas em uso (Fritzen, 2005), mostrado nas
figuras 10.27(g), (h) e (i). Esse tipo de equipamento tem a grande vantagem de poder
ser transportado para o local de teste. Existem dois desses equipamentos móveis dis-
poníveis e atuantes no país desde 2003.
Existem no mundo simuladores HVS que podem ser deslocados de um ponto a outro por
meio de carreta, como o brasileiro, ou através de sua própria potência. Torna-se possível a si-
mulação acelerada do comportamento de um pavimento ao longo de sua vida de serviço com a
construção de um pequeno trecho de pavimento numa faixa adicional colocada ao lado do pavi-
mento existente, prática comum em alguns países, ou na própria pista, como se tem realizado
no Brasil. Além desses aspectos, o HVS pode simular os testes com controle de temperatura
através de uma câmara add-on. Os efeitos da umidade também podem ser levados em conside-
ração com o uso de sistemas de molhagem da superfície e técnicas simples de injeção de água
nas camadas de base e sub-base, e no subleito.
Várias pesquisas já foram realizadas com os simuladores de tráfego no Brasil. Como exem-
plo, citam-se: Nunez (1997); Fritzen (2005); Motta et al. (2006); Nunez et al. (2006); Vale
(2008); Nunez et al. (2009); Ramirez (2010); Silva (2011); Negrão (2012); Rivoiri Jr (2014);
Camargo (2016); Colpo (2019); Bastos e Soares (2019) entre outros.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Avaliação estrutural de pavimentos asfálticos 733
10.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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