10 - RevPHM I 1 Fernando Francisco

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Revista Portuguesa de História Militar

Ano I, nº 1 (Dezembro 2021).


Dossier: Início da Guerra de África 1961-1965
ISSN 2795-432

RESISTÊNCIA À DOMINAÇÃO COLONIAL


PORTUGUESA NO INÍCIO DA LUTA ARMADA 1964:
UMA VISÃO MOÇAMBICANA

Fernando Francisco

Resumo
O presente artigo1, cujo objecto é trazer elementos relevantes da resistência
do povo moçambicano face à colonização portuguesa, em diferentes fases, antes
do início da Luta Armada de Libertação de Moçambique, em 1964.
Para uma melhor compreensão, o mesmo vai contar com um amplo contexto
histórico em fases, nalguns casos não de forma cronológica, mas capaz de
apresentar evidências sobre a resistência face à dominação colonial portuguesa.
A razão disso é o facto de existência de vários movimentos de resistência à
dominação colonial portuguesa em Moçambique, sendo a luta armada, o
culminar desses movimentos de resistência, daí a sua importância.
Deste modo, teremos a primeira fase que é marcada com achegada dos
portugueses em Moçambique, em 1498 e os primeiros movimentos de resistência,
a segunda fase começa com o período marcado pela fraca relação económica
entre Portugal e Moçambique, seguido do Golpe de Estado de 1926, em Portugal
e instituição do Ensino Rudimentar e Educação não Formal pela Missão Suíça
em Moçambique, a terceira fase tem início a partir da promoção da cultura de
algodão, até ao momento de ligação de Eduardo Mondlane à Igreja Metodista,
a quarta fase, do Massacre de Mueda à fundação da Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO) e consequente criação de condições para o início da
luta armada, que foi o fim último para se alcançar a Independência Nacional, já
que por via diplomática era um acto impensável para a Administração Colonial
Portuguesa.

1 Texto adaptado no Antigo Acordo Ortográfico, em vigor na República de Moçambique.


Revista Portuguesa de História Militar, Ano I, n.º 1
ISSN 2795-4323

Palavras-chave: Moçambique; Luta Armada de Libertação; Administração


Colonial Portuguesa; Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO)

Abstract
The present article aims to bring to the fore some relevant elements of
the Mozambican people’s resistance against the Portuguese colonization, in
different times, before the beginning of the Armed Struggle for the Liberation
of Mozambique, in 1964.
For a better understanding, it will rely on a broad historical context divided
into phases, in some cases not chronologically, but nonetheless capable of
presenting evidence of resistance against the Portuguese colonial domination.
The reason for this is the fact that there were several instances in the struggle
against the Portuguese colonial domination throughout the Mozambican history,
and the armed struggle was the ultimate result of those, hence its importance.
Thus, the first phase is marked by the arrival of the Portuguese in Mozambique
in 1498 and the first resistance acts; the second begins with the period marked by
the weak economic relationship between Portugal and Mozambique, followed
by the Coup of 1926, in Portugal, and by the establishment of rudimentary
education and non-formal education by the Swiss Mission in Mozambique; the
third starts with the promotion of the cotton culture; and finally, the fourth -
from the Mueda Massacre to the foundation of the Mozambique Liberation
Front (FRELIMO) and the consequent creation of conditions for the beginning
of the armed struggle - which was a last resort solution to achieve National
Independence, since diplomatic means were unthinkable for the Portuguese
Colonial Administration.

Keywords: Mozambique; Armed Struggle for the Liberation; Portuguese


Colonial Administration; Mozambique Liberation Front (FRELIMO)

1. Contexto histórico que caracterizou a resistência do povo


moçambicano face a administração colonial portuguesa, até ao início da
luta armada em 1964
A criação da FRELIMO e os processos subsequentes conducentes ao início
da luta armada, são considerados o culminar de todos os processos de resistência
do povo moçambicano desde a dominação colonial portuguesa. Por isso, uma
abordagem sobre o início da luta armada sem fazer menção ao passado histórico
Fernando Francisco

que ditou as diferentes fases da resistência de moçambicanos, será insignificante.


Para o efeito, vamos agrupar os momentos em quatro fases.

Primeira fase – Da chegada dos portugueses em Moçambique e registo


de primeiros movimentos de resistência contra dominação colonial
portuguesa
No princípio de 1498 embarcações dirigidas por Vasco da Gama atracaram
na costa sul de Moçambique (Inhambane), sendo a partir daí que sucessivamente
foram aparecendo, de passagem, outras embarcações que se cruzavam e
disputavam pelo espaço na costa moçambicana e pelas rotas marítimas do
Oceano Índico com os swahillis, árabes e indianos (Cabaço, 2007, pp. 27-30).
Actos de resistência iniciam meses antes de Conferência de Berlim (1884-
1885), quando o Ngungunhana “tomou o poder”, face ao interesse das grandes
potências europeias por Moçambique (Grã-Bretanha e Alemanha), apesar
de que já tinha o domínio português, o qual se sentia pressionado. Neste
caso, Ngungunhana, percebendo da existência de rivalidades entre a potência
colonizadora de Moçambique e a Grã-Bretanha e Alemanha, procura tirar
vantagens disso, reforçando as suas capacidades guerreiras contra a dominação
colonial portuguesa, a “ofensiva militar” portuguesa contra si, no início de 1885,
num momento que já tinha perdido lealdade diante dos seus guerreiros, isso
contribuiu para a invasão do seu império (Império de Gaza), mesmo assim,
Ngungunhana não se rendeu até as últimas consequências que foi a sua prisão
a 28 de Dezembro de 1885 ordenada por Mouzinho de Albuquerque, na altura
“Governador Militar do distrito de Gaza”, de seguida deportado para à capital
portuguesa, onde “Ngungunhana e a sua comitiva foram expostos à curiosidade
popular. Cruzaram Lisboa numa jaula antes de serem exibidos no Jardim
Botânico de Belém e depois levado ao Arquipélago dos Açores (Ilha Terceira),
onde passou o resto da sua vida até 1906, ano que perdeu a vida2.
A Conferência de Berlim (de 15 de Novembro de 1884 à 26 de Fevereiro
de 1885), impôs o traçado definido pelas potências europeias no continente
africanos, sem no entanto ter se dado o devido respeito e consideração aos
interesses dos povos africanos, o que afectou de forma significativa os aspectos
culturais, linguísticos, étnicos, entre outros, portanto, a ideia dominante das
potências europeias era da “incapacidade dos africanos de puderem estabelecer
“um sistema de organização política estruturado e dotado de limites territoriais
mais ou menos precisos e delimitados geograficamente”3.

2 dw.com/ngungunhane-o-rei-moçambicano, que-lutou-contra-a-ocupação-portuguesa (441770)


3 Francisco, 2018, pp. 134-136
Revista Portuguesa de História Militar, Ano I, n.º 1
ISSN 2795-4323

Tanto que à generalidade de estudos sobre ocupação de África pelas potências


europeias faz menção de não se der “conta dos laços que ligam os seus povos”.
Por isso, Patrício (s/d) citado por Francisco4 enaltece a ideia de fronteiras
arbitrárias pelo facto dos próprios africanos não terem tomado parte da sua
definição e delimitação, constituídas apenas para a satisfação dos interesses
das potências ocidentais. O mesmo ocorre em relação a divisão administrativa
de Moçambique, também não houve preocupação de envolver os nativos na
definição dos limites, por isso que os laços culturais, linguísticos, étnicos e
tantos outros ficaram afectados, prova disso verifica-se por exemplo nas línguas
nacionais, os falantes podem estar para além de uma província, como é o caso
de emacua, falada na Província de Nampula e uma boa parte das províncias da
Zambézia, de Cabo Delgado e de Niassa, evidências claras da arbitrariedade na
definição dos limites.
A potência colonial portuguesa tendo em conta os escassos recursos materiais
e financeiros que tinha, as suas prioridades estavam orientadas “para a ocupação
da parte costeira” de Moçambique, sendo essa, também, “uma forma a garantir
a defesa contra qualquer agressão ou invasão inimiga, pois, provável inimigo só
podia alcançar Moçambique por via marítima, não se falava de aviões, mas sim
barcos e isso levou a que ao longo da costa fossem construídas fortificações da
defesa com efectivos militares, designadas por fortalezas, equivalente ao que se
designa por castelo em Portugal, onde eram erguida infra-estruturas consideradas
estratégicas na época. Depois, com o andar do tempo, “o próprio processo de
definição das fronteiras foi permitindo a penetração para o interior, sendo dessa
forma que se consolidou “a missão de edificação das actuais delimitações e
demarcações com os países vizinhos, bem como entre províncias (Francisco, op.
cit. p. 153).

Segunda fase – Da fraca relação económica entre Portugal e


Moçambique até ao Golpe de Estado em Portugal de 1926 e da instituição
do Ensino Rudimentar à Educação não Formal pela Missão Suíça
Um outro marco importante a ter que sublinhar tem a ver com o Golpe de
Estado em Portugal de 1926, “fruto da política portuguesa do princípio do século
XX”, nessa altura a situação económica era considerada débil, o impacto era sentido
em todas as classes sociais, mas a classe social baixa (operários e camponeses)
é a que estava mais afectada, por isso as “manifestações de protesto” e como
corolário, surge o “Estado Novo”. “Até cerca de 1930 as relações económicas
entre Portugal e Moçambique eram muito fracas, daí que o “Estado Novo
saído do Golpe de Estado de 1926 tinha como objectivo alterar esta situação”.
4
op. cit, pp. 135-137
Fernando Francisco

Entre 1930 e 1937 foram lançadas as bases do Nacionalismo Económico, cujo


objectivo era colocar a economia moçambicana “verdadeiramente ao serviço de
Portugal”5.
Nos anos 1930, o governo ditatorial colonial português decidiu criar o
Ensino Rudimentar em Moçambique, que “não tinha em vista facilitar o acesso
da população negra a uma educação semelhante à dos brancos e de um escasso
número de assimilados”. Era um ensino de diferenciação entre indígenas6 e
cidadãos7. Embora a ideia do ensino rudimentar reforçasse “a exploração do
trabalho e a reprodução da autoridade colonial”, tinha como objectivo principal
promover as populações indígenas da “condição primitiva”, para um “estatuto de
civilizada”, dessa forma, seria possível encontrar indivíduos que podiam se tornar
portugueses, por via disso, serem úteis e servirem os interesses da administração
colonial, como são exemplos de interpretes, funcionários da administração,
professores, entre outros. Enquanto para os assimilados se observa o mesmo
estatuto dos brancos, não estavam sujeitos ao ensino rudimentar8.
Eduardo Mondlane oriundo do ensino rudimentar e depois Educação não
Formal através da Missão Suíça, destinada aos jovens da classe não assimilada,
sendo desta forma que, “a Missão Suíça terá encorajado o desenvolvimento de
uma consciência africana mais alargada que a consciência étnica, desenvolvendo
um conceito e uma perspectiva nacional em contraposição à local, fomentando
a luta ideológica perante a opressão portuguesa”9.
A ideia do nacionalismo foi reforçada por Eduardo Mondlane, que segundo
Torgal, Pimenta e Sousa10, foi em “resultado da confluência de diversos
factores”, destacando-se: (i) “das influências internas que resultam do meio
social e cultural” da comunidade onde nasceu e cresceu; (ii) “das influências
externas decorrentes da conjuntura política, económica e social internacional”,
que sofreram mutações influenciados pela componente espaço-temporal;
(iii) da “influência que o próprio Eduardo Mondlane cria, resultante do seu
posicionamento crítico e activo”.
No entanto, segundo os mesmos autores11, a Missão Suíça encorajou os
jovens moçambicanos para “o desenvolvimento de uma consciência africana
⁵ IEDA, s/d, p. 6
⁶ Indígenas - embora o termo tenha significado de originalidade da pessoa, era a designação
usada para as pessoas da classe baixa.
⁷ Cidadãos, termo usado para designar os brancos e negros assimilados (aqueles que conviviam
com brancos e se expressavam em língua portuguesa.
⁸ Torgal, Pimenta e Sousa, 2008, p. 151
⁹ idem, p. 152
10
2008, p. 149
11
idem, pp. 151-152
Revista Portuguesa de História Militar, Ano I, n.º 1
ISSN 2795-4323

mais alargada que a consciência étnica”, que era considerada dominante. Para
isso, a influência protestante teve um papel preponderante no posicionamento
de Eduardo Mondlane, ainda enquanto estudante da Missão, mas também como,
“posteriormente como pastor e catequista”. Foi na fase de pastor e catequista
da Missão Suíça “que nele se abre uma nova etapa no processo de formação
política e ideológica”. Chegado à Lourenço Marques (atual cidade de Maputo),
Mondlane: “teve de enfrentar os problemas inerentes a uma grande cidade, em
que a diferenciação entre ricos e pobres era mais vincada. Teve, igualmente, que
suportar os problemas do dia-a-dia associados com o seu estatuto de homem
negro, com discriminação por todo o lado, o uso obrigatório da caderneta
indígena e outras barreiras de classe e cor12.
Face à tudo que que foi vendo e vivendo, Mondlane, “como africano,
apercebeu-se bem da política colonialista, e é talvez neste período que decide
enveredar por um combate político firme pelos “direitos do seu Povo”, associado
às tensões e repressão dos movimentos associativos e políticos nos anos 1935,
sendo nessa altura que tomou conhecimento da “actividade política e cultural
do Grémio Africano de Lourenço Marques (GALM), mais tarde, por volta dos
anos 1939/1940, Mondlane foi enviado para Inhambane, onde tinha como
missão transmitir a experiência de Educação Informal introduzida pela Igreja
Presbiteriana aos grupos de jovens da Igreja Metodista, onde “frequenta o curso
de agricultura e introduz a experiência de trabalho com os jovens”13.

Terceira fase – Da promoção da cultura de algodão até a ligação de


Eduardo Mondlane à Igreja Metodista
Esta fase foi caracterizada essencialmente pela (i) centralização administrativa
e política; (ii) redução dos direitos das companhias; (iii) estabelecimento de
uma Zona de Escudo; e (iv) a promoção da cultura do Algodão. Sendo estas as
acções as autoridades portuguesas consideravam de extrema importância, tanto
que era estratégia face a Crise Económica Mundial que teve grande impacto na
economia e na produção em Moçambique e que foi um problema sentido por
todas as colónias, originando uma acentuada “redução da produção de matérias-
primas, consequentemente, baixa de preços para cerca de metade”14.
No caso vertente de Moçambique, “a baixa de preços atingiu especialmente
o amendoim, milho, copra, açúcar e sisal”, enquanto “os preços do caju e do
algodão se mantiveram”. Por isso, “face a crise”, os proprietários das plantações
decidiram: (i) reduzir os custos, abandonando as atividades dispendiosas, (ii)
12
Torgal, Pimenta e Sousa (op. cit. p. 152)
13
Torgal, Pimenta e Sousa, (op. cit. p. 153)
14
IEDA, op. cit, p. 6
Fernando Francisco

despedir trabalhadores, (iii) encerrar fábricas menos rentáveis; (iv) comprar


certos produtos directamente aos camponeses a preços baixos, no lugar de
produzi-los; v) reduzir salários; (vi) introduzir novos métodos de produção,
como é o caso do uso de tração animal e do estrume. Como consequência
dessas medidas, a mão-de-obra moçambicana na África do Sul e Rodésia do Sul
diminuiu consideravelmente, porque a crise também teve impacto nas economias
e produção desses países15.
Importa ainda referir que se por um lado, antes de 1926 a indústria têxtil
portuguesa precisava 17 000 toneladas de algodão anualmente, enquanto
Moçambique e Angola juntos só tinham capacidade para produzir de 800
toneladas. Foi a partir disso que “em Novembro de 1926 Portugal decretou
o cultivo de algodão por camponeses africanos (lei que vigorou até 1961 mas
reforçada em 1946 pelo Decreto no 35 844)”. Era obrigação dos camponeses
de Moçambique e Angola produzirem algodão e havia concessão de terras
para o efeito, de seguida foram erguidas fábricas pelas companhias para o
descaroçamento do algodão e respectivos armazéns. Para isso, forneceriam
sementes aos produtores de algodão16.
Por outro, deve se dizer que durante o período em que Mondlane esteve
ligado à Missão da Igreja Metodista , teve oportunidade de trocar ideias com
jovens “negros que tinham feito estudos na Rodésia”, o que condicionou a
“tomar consciência de uma realidade mais abrangente, que não se circunscrevia”
apenas ao seu país, mas toda África Austral. Sendo notório nesse período,
“a sua preocupação a respeito das leis coloniais como as relacionadas com a
obrigatoriedade de produção de algodão, de controlo da população indígena e
sobre os pesados impostos a pagar, sob pena de ser preso17.
Concedido uma bolsa de estudo em 1944, pela Igreja Metodista, Eduardo
Mondlane “partiu para a África do Sul, onde fez os estudos secundários na
Escola da Missão de Lemana, no norte do Transval, trabalhando ao mesmo
tempo como catequista”, naquele país onde a descriminação racial era muito
mais intensa que Moçambique, este “conseguiu conciliar os seus estudos com as
suas actividades religiosas”, alargando de forma considerável “os seus horizontes
e o seu conhecimento político no contexto da África Austral”. De referir que
a visão de Eduardo Mondlane diante da administração colonial portuguesa não
era bem vista, tendo sido interrogado algumas vezes pela PIDE18, em todo o

15
Idem
16
ibidem, p. 15
17
Torgal, Pimenta e Sousa, op. cit. pp. 153-154
18
PIDE – Polícia Internacional de Defesa de Estado (máquina repressiva da administração
colonial portuguesa).
Revista Portuguesa de História Militar, Ano I, n.º 1
ISSN 2795-4323

caso, sempre se manteve elemento activo da Missão Suíça19.


Em 1950 consegue uma outra bolsa de estudo para Portugal, onde deu início
ao curso de História e Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa. Estando em Lisboa e onde teve a oportunidade de manter “contactos
importantes com Agostinho Neto, Marcelino dos Santos, Mário Pinto de
Andrade, Amílcar Cabral e outros estudantes das colónias portuguesas. Nos
encontros com essa juventude africana das colónias portuguesas, Eduardo
Mondlane fez parte do grupo de alunos que frequentou a Casa dos Estudantes
do Império (CEI)”, onde, também “partilhou experiências do meio africano”,
incluindo a realidade sul africana onde frequentou o ensino secundário. “Para
além da CEI, Eduardo Mondlane “recebeu influências políticas e associativas
por parte do Centro de Estudos Africanos (CEA), do Clube Marítimo Africano
(CMA) e da Casa de África (CA), todos eles sediados em Lisboa”. Um ano depois,
isto é, em 1951, Eduardo Mondlane obteve uma outra bolsa de estudos para os
Estados Unidos da América (EUA), onde iniciou os estudos em Antropologia
e Sociologia na Universidade de Oberlin, em Nova Iorque, onde frequentou
e concluiu o bacharelato e mais tarde, frequentou e concluiu o Mestrado e
Doutoramento na Universidade North Western20.
Devo salientar aqui que os primeiros contactos de Eduardo Mondlane
com os EUA tinham sido em Hartford, onde passou algum tempo a apoiar
especialistas de estudos da fonética Bantu. Para além disso, repartia o seu tempo
de estudos universitários com discursos e palestras sobre Moçambique e África
nas conferências e reuniões, muitos deles em círculos cristãos. É assim que a
sua estadia nos EUA é foi considerada uma oportunidade ímpar, pois conheceu
políticos de renome oriundos de muitos países e trocou várias experiências.
De seguida, em 1952 representou a África na Conferência da UNESCO21,
realizada em Nova Iorque, onde o seu foco foi sobre os problemas dos países
subdesenvolvidos e dependentes. De sublinhar que nos EUA esteve sempre
próximo da Igreja Metodista, com a qual tinha trabalhado em Moçambique22.
O percurso profissional de Eduardo Mondlane inicia-se em 1957, quando foi
nomeado oficial de investigação no Departamento de Curadorias das Nações
Unidas, até 1961, quando decide abandonar o cargo que tinha nas Nações
Unidas, e dedicar-se exclusivamente à causa da independência de Moçambique,
O seu trabalho como funcionário deu-lhe uma experiência directa sobre a
situação política do continente africano, particularmente no período em que se
19
ibidem
20
ibidem, pp. 154-155
21
UNESCO - United Nations Education Science and Cultural Organization.
22
ibidem
Fernando Francisco

intensificam os esforços a fim de favorecer os processos de descolonização em


todo o mundo23.
Do mesmo modo, “o conhecimento e a experiência que trazia sobre a
Tanganica, os Camarões e o Sudoeste Africano”, fizeram com encontros com
“dirigentes políticos africanos”, exemplo de Mualimo “Julius Nyerere, de quem
se torna amigo”. Diga-se que o facto de ter sido funcionário das Nações Unidas
condicionou para o alargamento do seu horizonte “sobre os conflitos em curso”
e reforçou “as suas ideias sobre a necessidade de combater o colonialismo e a
dominação política em Moçambique”, tanto que em 1950, apenas quatro países
africanos tinham alcançado as suas independências (Egipto, Etiópia, União Sul
Africana e Libéria) e entre 1956 e 1962 assiste-se “os processos de descolonização
de muitos países africanos, essencialmente, os das colonias inglesas e francesas,
enquanto as colónias portuguesas em África procuravam reforçar o seu domínio
em Moçambique e Angola, tanto que Moçambique estava rodeado pelos Regimes
da segregação racial do Apartheid na África do Sul e da minoria branca de Iam
Smith na Rodésia do Sul. Tanto que em “Angola e Moçambique os colonos
brancos, cujo número tinha crescido rapidamente a partir dos finais dos anos de
1940, também se sentiram ameaçados pelas mudanças políticas”24.

Quarta fase – Do Massacre de Mueda até a fundação da Frente de


Libertação de Moçambique e criação de condições para o início da Luta
Armada
O Massacre de Mueda (Cabo Delgado), a 16 de Junho de 1960, ocorrido depois
“das últimas campanhas de ocupação do território desenvolvidas no primeiro
quartel do século XX”, cuja resistência é dita como aquela que representou o
espírito nacionalista, pelo número de macondes25, camponeses produtores do
algodão, que reivindicavam os baixos custos de venda algodão e outras formas
de exploração, portanto, presentes no local do encontro (junto à Administração
Colonial Portuguesa em Mueda), acompanhando os seus representantes que
tinham sido convocados para um encontro, no qual não houve consenso e em
respostas às reivindicações, os representantes ficaram imediatamente presos e o
povo maconde que os acompanhava, afrontaram o aparato militar fortemente
armado, resultando no assassinato de cerca de 600 pessoas, entre homens
e mulheres, jovens e adultos. Sendo este um dos marcos importantíssimo da
23
Torgal, Pimenta e Sousa, op. cit. pp. 155-156
24
idem, pp. 155-156
25
Macondes – Uma tribo do Planalto dos Macondes que inclui os seguintes distritos da Província
de Cabo Delgado: Mueda, Macomia, Muidumbe, Nankade e Palma, cuja língua é Emaconde,
falada apenas por povos oriundos ou de origem do Planalto dos Macondes.
Revista Portuguesa de História Militar, Ano I, n.º 1
ISSN 2795-4323

resistência contra o colonialismo português em Moçambique e, acredita-se que


foi o Massacre de Mueda que deu força aos nacionalistas moçambicanos que já
tinham noção sobre o processo da descolonização, para melhor se organizarem
para enfrentar o colonialismo português26.
Em 1961, Eduardo Mondlane decidiu visitar Moçambique. Durante a
sua estadia no país teve apoio das Missões Suíça e Metodista Episcopal, que
prontamente ofereceram alojamento e, manteve encontros com os seus
parentes e antigos amigos, facilitando desse modo a sua visita à Moçambique,
onde “testemunhou as más condições de vida das populações africanas, da
sua educação, saúde e outros serviços sociais providenciados pelo governo, a
diferenciação racial, a repressão política e a crise económica”, tudo isso que
testemunhou serviu para reforçar “o seu comprometimento com a necessidade
de lutar pelo seu país”27.
Julgo ser de extrema importância fazer menção aos Movimentos Nacionalistas
das Colónias Portuguesas que se reuniram em Casablanca (Marrocos), em
1961, Moçambique esteve representado pela UDENAMO28, que “fez um
apelo vigoroso à unidade dos movimentos nacionalistas”. Em Casablanca foi
criada uma comissão com a missão de “analisar e coordenar os problemas
comuns e a evolução política nas colónias” De igual modo, houve contributo
muito valioso de alguns “dirigentes políticos, como é o caso do Presidente do
Gana, Kwame Nkrumah, este também apoiou a formação de frentes unidas,
e, no Tanganica, o próprio Presidente Julius Nyerere exerceu uma influência
pessoal sobre os movimentos sediados no seu território com vista à unificação”.
Assim, Eduardo Mondlane decidiu demitir-se do cargo que desempenhava nas
Nações Unidas e aceitou “o convite” dos líderes das organizações nacionalistas
moçambicanos (UDENAMO, MANU29, e UNAMI30) no exílio, “mantendo
inclusive correspondência e contacto permanente com estes, tendo de seguida
participado no I Congresso realizado em Dar-Es-Salam entre os dias 23 e
28 de Setembro de 1962, o qual ditou a unificação dos mesmos consequente
fundação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), um movimento
26
Oliveira, 2019, p. 6
27
ibidem, p. 157
28
UDENAMO - União Democrática Nacional de Moçambique, fundada em Outubro de 1960
na Rodésia do Sul, agregando moçambicanos originários do centro e sul, radicados na Rodésia
do Sul (Garcia, 2010, pp. 13-18 e Brito, 2019, pp. 32-34).
29
MANU - Mozambique African National Union, fundada em 1961 no Quénia, e que agrupava
naturais das regiões setentrionais de Cabo Delgado, que trabalhavam nas plantações de sisal dos co-
lonos ingleses (Torgal, Pimenta e Sousa, 2008, p. 158, Garcia, 2010, pp.13-18 e Brito, 2019, 32-34).
30
UNAMI - União Nacional Africana de Moçambique Independente, fundada em 1961, em
Niassalândia (Malawi), com origem na Associação Nacional Africana de Moatize, criada em Tete
em 1959 (Torgal, Pimenta e Sousa, 2008, p. 158, Garcia, 2010, pp.13-18 e Brito, 2019, 32-34).
Fernando Francisco

nacionalista com ideias claras e comprometimento de todos com a “necessidade


de lutar por Moçambique, do qual Eduardo Mondlane fora eleito presidente a
28 de Setembro de 196231.
Com base na experiência de vida e seu profissionalismo, agregado aos
“apoios que recebeu provenientes de diversos quadrantes políticos, rapidamente
tornaram-no líder capaz de unificar” as três organizações nacionalistas numa
“única frente comum”, a FRELIMO e todos os processos que foram tendo
lugar a partir daí, que concorriam para o processo de Luta de Libertação do país.
Para do apoio logístico recebido de diversos quadrantes políticos, teve também
apoio das Nações Unidas32.
Os momentos que se seguiram foram de definição das linhas orientadoras e
da estratégia que conduziria ao início da luta armada, bem como os objectivos da
Revolução Nacional, tarefas que seriam disseminadas no interior de Moçambique,
para permitir a adesão do povo moçambicano às causas da libertação do país
contra a dominação colonial portuguesa. Associado a isso, foi definido como
prioridade o “desenvolvimento de uma educação livre de ideologias e aberta a
todas as camadas sociais e incremento da diplomacia junto de todos os países que
pudessem alimentar a causa da libertação dos povos africanos. Para o efeito, a
“FRELIMO que estabeleceu a sua sede em Dar-Es-Salam, tinha como objectivos:
(i) a liquidação total da dominação colonial portuguesa e de todos os vestígios
do colonialismo e do imperialismo; (ii) a conquista da independência imediata e
completa de Moçambique e a defesa e realização das reivindicações de todos os
moçambicanos explorados e oprimidos pelo regime colonial português33.
Foi assim que a partir de 1963, em três momentos, os primeiros duzentos
e cinquenta jovens foram recebidos e trinados militarmente na Argélia, sendo
que Samora Machel34 fez parte deste grupo de jovens. Mais tarde, para além
da Argélia, a China, a União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas (URSS) e a
própria Tanzânia (Bagamoyo) desempenharam, também, um papel crucial nesse
processo de treinamento militar aos jovens que tinham a missão de iniciar a luta
armada, mas também, enquanto a luta armada decorria, o envolvimento de jovens
não militares em diferentes actividades de apoio aos combatentes, era notória,
exemplo disso, foi o papel das jovens do sexo feminino, que mobilizavam outros
31
Oliveira, 2019, p. 157 e Januário, 2019, pp. 14-15
32
Oliveira, op. cit. p. 158
33
idem
34
Samora Machel sucede Eduardo Mondlane após o seu assassinato em 1969 e conduz a Luta
de Libertação Nacional até a proclamação da Independência em 1975, tendo perdido a vida
num acidente de aviação que ocorreu em Mbuzini (território sul africano), a 19 de Outubro de
1986, quando regressava da Zâmbia onde fora participar numa cimeira cujo pano de fundo era a
eliminação do Apartheid na África do Sul.
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jovens para a sua adesão às causas da libertação do país, bem como “explicação
da política da FRELIMO e da necessidade de apoiar a luta armada”35.

2. Estratégia da FRELIMO para o início e durante a luta armada


Embora a FRELIMO tenha sido fundada no exterior (Tanzânia), a sua
estratégia tinha em vista criar as Zonas Libertadas no interior de Moçambique,
sob seu controlo e longe do alcance da administração portuguesa. Deste modo,
as Zonas Libertadas eram quase que uma miniatura do que se pretendia alcançar
em todo o país com o desencadeamento da luta armada. Elas estavam sob
controlo efectivo da FRELIMO36.
Pedro de Pezarat Correia, no capítulo sobre “Teorias Globais do Poder
Mundial”, no Manual de Geopolítica e Geostratégia, refere-se ao aproveitamento
dos factores geográficos para “o reforço e a consolidação do poder…”,
mas também, a FRELIMO tinha estrategicamente privilegiar a “posição de
hegemonia”, face aos Estados e líderes mundiais que apoiavam os processos de
descolonização em África e no mundo inteiro, mas acima de tudo, como devia
se lidar com os líderes dos países vizinhos que não apoiavam a pretensão deste
movimento libertador de condução da guerra de libertação. Foi com base nessa
estratégia que a FRELIMO recebeu apoio logístico diverso dos países como a
União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas (URSS), China, Roménia, Bulgária,
entre outros, mas também apoio para os treinos militares como são os casos da
Tanzânia, Argélia, Cuba e tantos outros países37.
Outra estratégia definida pela FRELIMO assim que a guerra começou, foi
envolvimento directo das mulheres na luta armada, embora se trate de uma
experiência não comum, pois, havia uma percepção quase generalizada sobre
“a participação feminina em atividades militares” de combate e de condução da
guerra serem “sempre vistas como atividades exclusivamente masculinas”38.
Foi assim que em 1967, três anos após o início da luta armada, a FRELIMO,
decidiu enviar as primeiras 25 jovens ao Centro de Preparação Político-Militar
de Nachingwa (Tanzânia), para os treinos militares e depois integradas na frente
de combate, nas mesmas condições reservadas aos guerrilheiros homens. Devo
sublinhar que foi este grupo de jovens mulheres que para além da participação
activa na luta de libertação nacional, criou o Destacamento Feminino (DF) e tinha
tarefas acrescidas de assistência aos feridos de guerra e filhos dos combatentes
nas Zonas Libertadas, juntamente com outras mulheres que ingressaram depois.
35
Brito, op. cit. pp. 15-16 e Isacman & Stephen (1984) citado por Penicela, 2012, pp. 21-22
36
Dantes, https://brasilescola.uol.com.br/guerra-independencia-mocambique.htm
37
Correia, 2018, p. 149
38
Carreiras (2011), citado in Penicela, 2012, p. 7
Fernando Francisco

Tendo sido um marco importante, pois, no seio dos Camaradas39 percebeu-


se que as mulheres são iguais aos homens40. De referir aqui que muitas outras
jovens, camponesas das aldeias comunais de Cabo Delgado, difundiam ao lado
de outros jovens de sexo masculino notícias deste movimento libertador do país,
antes e durante a luta armada. Este movimento juvenil liderado por jovens de
ambos os sexos, permitiu a adesão de muitos outros jovens entre mulheres e
homens de outras províncias como, Niassa, Zambézia, Manica, Tete e depois a
zona sul (Maputo, Gaza e Inhambane), estes já eram detentores de informação
sobre a existência da FRELIMO e respectivos objectivos, incluindo a luta armada
para o alcance da Independência.
Até ao início e durante a luta armada contra o colonialismo português a
FRELIMO, que detinha poucos recursos e sem aviação, nem carros de combate,
a sua estratégia consistia no emprego racional dos recursos para a derrota de
um inimigo bem equipado militarmente. Para tal, segundo Ribeiro41, “se torna
necessário descobrir as suas posições, alcançá-las com maior brevidade, atacá-las
com maior intensidade e continuar a avançar”.
Para o início da luta armada, os comandantes que já se encontravam no
interior de Moçambique, posicionados tinham noção das consequências
das suas decisões, uma vez que as mesmas visavam atingir um fim que era
derrubar a máquina da dominação colonial, isso implicou na “continuidade do
planeamento”, que permitiu a revisão dos planos à medida que os planos se
alteravam no terreno e à medida que existisse nova informação42.
O Manual do Processo de Decisão Militar faz alusão ao comando e controlo,
nomeadamente, o “controlo directivo”, tendo em conta que havia comandantes
em diferentes locais que apenas aguardavam o início da luta armada, a “iniciativa
disciplinada dos comandantes subordinados, bem como a tropa visava atingir
êxito nas operações. É neste contexto que a pesar das incertezas que pairavam,
o trabalho de reconhecimento das posições do exército português, o que
determinou o início das operações com segurança a 25 de Setembro de 1964,
Marcando desta forma o início da luta armada para a libertação do país43.

3. Notas finais
Como nota de fecho devo dizer que a presença e fixação portuguesa em
39
Camarada era a designação usada na FRELIMO a quem estivesse directamente ligado à causa
da liberdade de Moçambique contra a dominação colonial portuguesa.
40
Penicela, idem, p. 22
41
2017, pp.67 e 68
42
IESM, 2006, pp. 4-5
43
idem, p. 7
Revista Portuguesa de História Militar, Ano I, n.º 1
ISSN 2795-4323

Moçambique teve sempre questionamentos, manifestações contra e resistência


à dominação. O Massacre de Mueda face às reivindicações do povo, por estes
não concordarem certas coisas, incluindo o baixo preço de venda de algodão,
trabalho forçado a que estavam sujeitos, foi considerado o auge da paciência.
Depois seguiram-se todos os processos que ditaram a unificação das três
organizações nacionalistas (UDENAMO, MANU e UNAMI) e criação da
FRELIMO, movimento libertador liderado por Eduardo Mondlane, no qual
vincou a compressão comum do que estava a acontecer no teatro operacional,
incluindo a compreensão sobre o inimigo e da tropa da FRELIMO, criando-se
garantias da consolidação de unidade de esforço durante as operações em Cabo
Delgado, que foram se intensificando com o decorrer do tempo e ao mesmo
tempo abriram-se novas frentes de combate em Niassa, Zambézia e Tete.
Pode-se referir que não foi apenas o nível de preparação militar, político e
ideológico que as operações correram com sucesso, a disciplina, a iniciativa, a
determinação e o respeito pela cadeia de comando são aspectos considerados
cruciais o decurso da luta armada que durou dez anos, cujo fim foi com a assinatura
dos Acordos de Lusaka a 7 de Setembro de 1974, seguido da proclamação da
Independência, sendo Presidente Samora Machel, que esteve na presidência
da FRELIMO e na direcção da luta armada depois do assassinato de Eduardo
Mondlane em Fevereiro de 1969.

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FERNANDO FRANCISCO
Oficial da Polícia da República de Moçambique com a
categoria de Adjunto do Comissário da Polícia e Director-
geral Adjunto do Serviço Nacional de Investigação Criminal
(SERNIC). Doutor e Mestre em Direito e Segurança pela
Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e
Licenciado em Ciências Policiais pelo Instituto Superior de
Ciências Policiais e Segurança Interna (Lisboa-Portugal).
Docente na Academia de Ciências Policiais (ACIPOL).
Revista Portuguesa de História Militar, Ano I, n.º 1
ISSN 2795-4323

Como citar este texto:

FRANCISCO, Fernando – Resistência à Dominação Colonial Portuguesa até ao Início da Luta


Armada em 1964: Uma Visão Moçambicana. Revista Portuguesa de História Militar -
Dossier: Início da Guerra de África 1961-1965. [Em linha]. Ano I, nº 1 (2021). [Consultado
em ...], https://doi.org/10.56092/NVHQ2644

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