10 - RevPHM I 1 Fernando Francisco
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Fernando Francisco
Resumo
O presente artigo1, cujo objecto é trazer elementos relevantes da resistência
do povo moçambicano face à colonização portuguesa, em diferentes fases, antes
do início da Luta Armada de Libertação de Moçambique, em 1964.
Para uma melhor compreensão, o mesmo vai contar com um amplo contexto
histórico em fases, nalguns casos não de forma cronológica, mas capaz de
apresentar evidências sobre a resistência face à dominação colonial portuguesa.
A razão disso é o facto de existência de vários movimentos de resistência à
dominação colonial portuguesa em Moçambique, sendo a luta armada, o
culminar desses movimentos de resistência, daí a sua importância.
Deste modo, teremos a primeira fase que é marcada com achegada dos
portugueses em Moçambique, em 1498 e os primeiros movimentos de resistência,
a segunda fase começa com o período marcado pela fraca relação económica
entre Portugal e Moçambique, seguido do Golpe de Estado de 1926, em Portugal
e instituição do Ensino Rudimentar e Educação não Formal pela Missão Suíça
em Moçambique, a terceira fase tem início a partir da promoção da cultura de
algodão, até ao momento de ligação de Eduardo Mondlane à Igreja Metodista,
a quarta fase, do Massacre de Mueda à fundação da Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO) e consequente criação de condições para o início da
luta armada, que foi o fim último para se alcançar a Independência Nacional, já
que por via diplomática era um acto impensável para a Administração Colonial
Portuguesa.
Abstract
The present article aims to bring to the fore some relevant elements of
the Mozambican people’s resistance against the Portuguese colonization, in
different times, before the beginning of the Armed Struggle for the Liberation
of Mozambique, in 1964.
For a better understanding, it will rely on a broad historical context divided
into phases, in some cases not chronologically, but nonetheless capable of
presenting evidence of resistance against the Portuguese colonial domination.
The reason for this is the fact that there were several instances in the struggle
against the Portuguese colonial domination throughout the Mozambican history,
and the armed struggle was the ultimate result of those, hence its importance.
Thus, the first phase is marked by the arrival of the Portuguese in Mozambique
in 1498 and the first resistance acts; the second begins with the period marked by
the weak economic relationship between Portugal and Mozambique, followed
by the Coup of 1926, in Portugal, and by the establishment of rudimentary
education and non-formal education by the Swiss Mission in Mozambique; the
third starts with the promotion of the cotton culture; and finally, the fourth -
from the Mueda Massacre to the foundation of the Mozambique Liberation
Front (FRELIMO) and the consequent creation of conditions for the beginning
of the armed struggle - which was a last resort solution to achieve National
Independence, since diplomatic means were unthinkable for the Portuguese
Colonial Administration.
mais alargada que a consciência étnica”, que era considerada dominante. Para
isso, a influência protestante teve um papel preponderante no posicionamento
de Eduardo Mondlane, ainda enquanto estudante da Missão, mas também como,
“posteriormente como pastor e catequista”. Foi na fase de pastor e catequista
da Missão Suíça “que nele se abre uma nova etapa no processo de formação
política e ideológica”. Chegado à Lourenço Marques (atual cidade de Maputo),
Mondlane: “teve de enfrentar os problemas inerentes a uma grande cidade, em
que a diferenciação entre ricos e pobres era mais vincada. Teve, igualmente, que
suportar os problemas do dia-a-dia associados com o seu estatuto de homem
negro, com discriminação por todo o lado, o uso obrigatório da caderneta
indígena e outras barreiras de classe e cor12.
Face à tudo que que foi vendo e vivendo, Mondlane, “como africano,
apercebeu-se bem da política colonialista, e é talvez neste período que decide
enveredar por um combate político firme pelos “direitos do seu Povo”, associado
às tensões e repressão dos movimentos associativos e políticos nos anos 1935,
sendo nessa altura que tomou conhecimento da “actividade política e cultural
do Grémio Africano de Lourenço Marques (GALM), mais tarde, por volta dos
anos 1939/1940, Mondlane foi enviado para Inhambane, onde tinha como
missão transmitir a experiência de Educação Informal introduzida pela Igreja
Presbiteriana aos grupos de jovens da Igreja Metodista, onde “frequenta o curso
de agricultura e introduz a experiência de trabalho com os jovens”13.
15
Idem
16
ibidem, p. 15
17
Torgal, Pimenta e Sousa, op. cit. pp. 153-154
18
PIDE – Polícia Internacional de Defesa de Estado (máquina repressiva da administração
colonial portuguesa).
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jovens para a sua adesão às causas da libertação do país, bem como “explicação
da política da FRELIMO e da necessidade de apoiar a luta armada”35.
3. Notas finais
Como nota de fecho devo dizer que a presença e fixação portuguesa em
39
Camarada era a designação usada na FRELIMO a quem estivesse directamente ligado à causa
da liberdade de Moçambique contra a dominação colonial portuguesa.
40
Penicela, idem, p. 22
41
2017, pp.67 e 68
42
IESM, 2006, pp. 4-5
43
idem, p. 7
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Francisco, Fernando (2018) – Estudo dos Sistemas de Segurança das Fronteiras Estatais
em Moçambique face às Novas Ameaças à Segurança Interna. Tese de Doutoramento
em Direito e Segurança. Lisboa: Faculdade de Direito da Universidade Nova de
Lisboa.
Fernando Francisco
FERNANDO FRANCISCO
Oficial da Polícia da República de Moçambique com a
categoria de Adjunto do Comissário da Polícia e Director-
geral Adjunto do Serviço Nacional de Investigação Criminal
(SERNIC). Doutor e Mestre em Direito e Segurança pela
Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e
Licenciado em Ciências Policiais pelo Instituto Superior de
Ciências Policiais e Segurança Interna (Lisboa-Portugal).
Docente na Academia de Ciências Policiais (ACIPOL).
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