13332628042020literatura de Lingua Inglesa IV Aula 05
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MITO E MITOLOGIA:
O CASO DA INGLATERRA
META
Apresentar a complexidade do conceito de mito, observando o caso do mito da
Inglaterra em Portugal.
OBJETIVOS
At the end of this class, it is expected that the students:
Identificar, descrever e analisar o modo
como os contatos, confrontos e diálogos entre culturas de línguas diferentes, neste
caso específico, a língua inglesa e a portuguesa, bem como as representações da
Inglaterra, se configuram nos discursos dos estudiosos, jornalistas, artistas e intelectuais
selecionados.
PRERREQUISITOS
Familiaridade com os períodos formativos da literatura inglesa;
Conceitos-chave da Teoria da Literatura e da história literária.
INTRODUCTION
Embora o mito e a mitologia tenham alcançado o status de objeto
de investigação científica desde finais do século XVIII, especialmente
com Johann Gottfried Herder (1744-1803), dada a sua importância como
repositório de tradições culturais, somente no século XX deixaram de ser
entendidos apenas como “fábula” ou “ficção”, readquirindo, através do
trabalho de historiadores, críticos literários, etnólogos, sociólogos e semi-
ólogos, o sentido que tinha nas sociedades arcaicas, de “história verdadeira”,
“tradição sagrada”, “revelação primordial” e “modelo exemplar”, ao con-
trário das lendas, fábulas e contos, que eram considerados “histórias falsas”
(Burkert, 1991). Assim, é relativamente recente a concepção de mito como
algo vivo na sociedade, bem como a apreensão de sua dimensão interpela-
tiva e performativa, que o torna capaz de assumir variadas funções e estar
sujeito a múltiplas transformações, seja no imaginário popular, seja em suas
representações poéticas e narrativas, para não falar nas demais manifestações
artístico-literárias ou nas práticas rituais e culturais do cotidiano.
Para Roland Barthes (2007), por exemplo, o mito é uma fala, isto
é, um sistema de comunicação, não podendo ser concebido como um
objeto, uma ideia ou uma forma. Assim, tudo que é passível de discurso é
um mito. No entanto, o discurso mítico não surge da natureza das coisas,
mas emerge de circunstâncias históricas concretas, constituindo-se como
um sistema semiológico no qual a linguagem é entendida não somente em
sua forma verbal, mas como uma unidade significativa que pode abranger
imagens e objetos, desde que eles possam tornar-se “fala”. Com efeito, a
palavra mythos, em grego, significa “fala, narração, concepção”. Durante o
Iluminismo, tornou-se um termo para designar narrativas tradicionais que,
embora pudessem ser tomadas como manifestações culturais de fundamen-
tal importância para a criação das mitologias nacionais, não poderiam ser
levadas a sério porque não eram histórias “verdadeiras”. Nesse sentido, a
mitologia é um domínio parcelar da investigação geral sobre a narrativa.
Contudo, seja como relato acerca dos feitos de deuses e heróis,
seja como história das origens do mundo, o mito apresenta-se frequent-
emente como uma narrativa sagrada, realizando a verbalização de dados
coletivamente importantes. Assim, pode ser compreendido como “carta
de fundação de instituições”, “explicação de rituais”, “precedente para
aforismos mágicos”, “esboço de reivindicações familiares ou étnicas” e
como “orientação que mostra o caminho neste mundo ou no de além”
(Burkert, 1991, p. 18). Como estrutura de sentido, pode ser transmitido
sob variadas formas, imagéticas, orais ou escritas, não se limitando a um
texto fixo. Contudo, como os estudiosos da mitologia só dispõem, na
maioria dos casos, de textos escritos, ficam sujeitos ao cânone de obras e
autores disponíveis nas bibliotecas e bibliografias que chegaram até nós.
Nesse sentido, a mitologia antiga apresenta-se como história da literatura,
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Mito e Mitologia: O Caso da Inglaterra Aula 5
pois os mitos gregos “clássicos” representam o triunfo da obra literária
sobre a crença religiosa, razão por que só os conhecemos na condição de
documentos ou textos política e artisticamente trabalhados. Mesmo assim,
o mito sobrevive às amarras da cultura escrita, inscrevendo-se, de forma
secularizada ou cristianizada, nas tradições rurais ou no folclore religioso.
Ademais, como ressalta Eliade (2000), não conhecemos nenhum mito
grego em seu contexto cultural, o que faz com que se nos escape toda a
dimensão performativa, viva e popular, da religião grega, uma vez que ela
não foi descrita de forma sistemática.
Burkert (1991) classifica em três as teorias do mito. A primeira
delas, desenvolvida na Antiguidade, concebe os mitos como narrativas
dotadas de um sentido verdadeiro, desde que interpretadas de modo que
a sua “mensagem oculta” seja descoberta. Passada a vaga desse método
alegórico, que perdurou até finais do século XIX e ficou desacreditado pela
arbitrariedade crescente desse tipo de interpretação, veio a teoria do ritual,
formulada em Cambridge por W. Robertson Smith (1846-1894) e Jane E.
Harrison (1850-1928), e difundida por James George Frazer (1854-1941)
em The Golden Bough (1890). Segundo esta teoria, os mitos são narrativas
tradicionais ligadas a rituais, uma vez que dependem de cerimônias este-
reotipadas em comunidades primitivas. Desse ponto de vista, o mito seria
a parte falada do ritual, enquanto o ritual seria a execução do mito. No en-
tanto, tal hipótese foi contrariada por inúmeros casos da Antiguidade, e hoje
há um relativo consenso no sentido de que um mito pode desenvolver-se
independentemente de qualquer ritual. A terceira e última teoria, segundo a
classificação de Burkert, é a teoria psicanalítica. A associação da psicanálise
com o mito começou com Sigmund Freud (1856-1939), que nomeava e ilu-
strava suas teorias com a mitologia grega, o que proporcionou à psicanálise
a pretensão de explicar a organização dos mitos tradicionais, no mais das
vezes de modo anacrônico. Com efeito, o Édipo da lenda não poderia ter
desenvolvido complexo de Édipo nenhum com relação aos seus pais, pois
eles eram desconhecidos da criança. Ademais, Édipo não era sexualmente
desequilibrado, uma vez que havia casado e gerado filhos. Carl Gustav Jung
(1874-1961), por sua vez, a partir das categorias de Freud, aprofundou a tese
de que os mitos eram sonhos coletivos, através da “teoria dos arquétipos”
do “inconsciente coletivo”, buscando demonstrar o modo como os mitos
ainda afetavam a vida do homem moderno.
A par da abordagem psicanalítica dos mitos, que rendeu muitos
trabalhos na área dos estudos literários, o estruturalismo estabeleceu-se
como método interdisciplinar na análise dos mitos, especialmente depois
dos trabalhos de Claude Lévi-Strauss sobre os mitos indígenas (1908-2009).
Assentado nas bases da linguística saussureana, o mito passa a ser objeto
da semiologia, o que, no entender de Barthes (2007), faz da mitologia um
campo comum tanto aos estudos semiológicos, como ciência formal, quanto
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Mito e Mitologia: O Caso da Inglaterra Aula 5
Romano, e especialmente depois das Cruzadas, as primeiras comunidades
dinásticas hegemônicas vão criar seus próprios mitos de origem, seja base-
adas nos heróis greco-romanos, seja em episódios e personagens bíblicos,
buscando, especialmente no segundo caso, legitimar a sua qualidade de povo
eleito por Deus. O desenvolvimento do mecenato e a crescente relevância
política dos cronistas e poetas dos séculos XV e XVI, que produziam suas
obras a serviço do rei ou de alguma família nobre, farão da crônica e da
epopeia gêneros privilegiados para a narrativa dos mitos de origem. Tal foi
o caso de Portugal, como se pode verificar na cronística de Fernão Lopes
(c. 1380-c. 1459), na épica de Luís de Camões (c. 1524-1580) ou na escrita
historiográfica de Fernão de Oliveira (1507-1581).
Antes, porém, da disputa pela primazia entre os reinos da Cristandade
ocidental no século XVI, e que se fazia tanto política quanto cultural e
linguisticamente, o mito das origens de Portugal relaciona-se com um mo-
mento de união entre as casas dinásticas cristãs contra um inimigo comum:
o Outro muçulmano, diante da expansão islâmica iniciada no século VIII,
que havia fechado o Estreito de Gibraltar e impedido o tráfico marítimo
entre o Mediterrâneo e o Atlântico durante quinhentos anos. Assim foi que
alguns Cruzados nórdicos, entre eles ingleses, haviam chegado ao Porto
em 1147, reunindo-se no cemitério da Sé para ouvirem, através do bispo,
o apelo de Afonso Henriques (c. 1109-1185) para colaborar na conquista
de Lisboa contra os infiéis. Seu discurso teria sido traduzido para várias
línguas, como se fosse uma primeira sessão do Parlamento da Europa. Tal
acordo, que incluía a concessão de privilégios reais aos Cruzados e novas
terras para que eles se estabelecessem, teria marcado o início das relações
político-diplomáticas entre os reinos de Portugal e Inglaterra, antecipando
os tratados que seriam firmados no século XIV para assegurar a proteção
de seus interesses nas disputas comerciais e o auxílio mútuo em tempos
conflituosos, como era aquele decorrente da Guerra dos Cem Anos.
Nesse sentido, o mito da Inglaterra, em Portugal, inscreve-se no próprio
mito de origem do reino lusitano, uma vez que remonta à época da chamada
fundação da nacionalidade, quando ocorre o que talvez seja o primeiro
momento de emergência de uma consciência europeia no mundo, pois é
nesse período que os europeus, tal como se fizeram conceber, confrontam-
se com um Outro, seja ele representado pelo mundo eslavo do até então
desconhecido Leste europeu – sendo a Europa, como era imaginada pelos
gregos, somente a ponta do imenso continente asiático –, seja pelo inimigo
muçulmano, contra o qual as Cruzadas tinham sido planejadas e organizadas.
Em tal confronto, delineia-se a sua identificação com a Cristandade, que
pode ser tida como precursora da ideia de Europa. Com efeito, já no ano
de 732, quando a vaga da conquista árabe tinha atingido a Europa ociden-
tal, um cronista, ao escrever sobre a vitória de Carlos Martel em Poitiers,
opunha os “muçulmanos” aos “europeus”.
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busca de aventuras. O episódio, além de ressaltar os valores cavaleirescos
tão caros à época, revestia-se de uma funcionalidade política crucial para o
reino de Portugal, pois contribuía de forma eficaz para o reconhecimento
internacional da Casa de Avis. A obra de Camões, contudo, não é a fonte
original de tal história, pois existem outros textos que fazem referência ao
relato, de origem provavelmente oral, que apontam para um documento
datado de meados do século XV: Cavalarias de Alguns Fidalgos Portugueses,
um manuscrito preservado na Biblioteca Municipal do Porto, e Memorial
das Proezas da Sagrada Távola Redonda, escrito por Jorge Ferreira de Vas-
concelos (c.1515-1585) e datado de 1567. Outros dois relatos baseiam-se
em fontes anteriores a Camões: a edição dos Diálogos de Vária História, de
Pedro de Mariz (c. 1550-1615), e Lusíadas de Luís de Camoens Comentados
(1613), de Manuel Correia (Hutchinson, 2008, p. 163-180).
Um aspecto a ser destacado, nesse processo de mitificação desencadea-
do pela lenda dos Doze de Inglaterra, é o fato de ser omitido o desaponta-
mento dos portugueses com a ação militar dos aliados ingleses, bem como
o descrédito de D. João perante os súditos quando o seu sogro assinou
termos de paz com Castela, em proveito da ênfase sobre o ambiente de paz
e prosperidade resultante da vitória de Aljubarrota. Com efeito, datam do
reinado de D. João I as primeiras conturbações da aliança, desencadeadas
por inúmeras queixas apresentadas ao monarca português por mercadores
que procuravam comerciar com a Inglaterra e que viam seus produtos
confiscados pelos ingleses, como meio de pagamento das dívidas da Coroa
portuguesa, havendo casos em que navios e mercadorias eram capturados
no mar e os cidadãos portugueses eram presos, como ocorreu com o meio-
irmão do rei, o infante D. Dinis (c. 1354-1397). Os mercadores do Porto,
insatisfeitos com a situação, começaram a exigir o direito de se apoderar
da propriedade dos mercadores ingleses em Portugal, para compensar as
perdas sofridas pelos seus compatriotas ao longo da costa inglesa. Mesmo
tendo Henrique IV (1366-1413), filho e sucessor de Eduardo III (1312-
1377), tentado dar um tratamento mais equitativo aos cidadãos portugueses
depois das queixas do próprio D. João I, os portugueses nunca tiveram na
Inglaterra os mesmos privilégios que os ingleses tinham em Portugal. As-
sim, não é de se estranhar que a história apresente os portugueses como
superiores aos ingleses.
Mas o mito da Inglaterra, em Portugal, não é somente um mito de
origem, mas também um mito de fim e renovação, com o qual se relaciona
e se confunde. Nesse sentido, a ideia de criação, ao se configurar, nas co-
munidades primitivas ou modernas, em momentos de crise, seja ela militar,
política ou religiosa, é motivada por um desejo ou recordação imaginária
de uma Idade de Ouro primordial ou de um “Paraíso Perdido”. Assim, a
escatologia constitui-se como a prefiguração de uma cosmogonia do futuro,
como sugerem não somente os mitos do Fim do Mundo, tanto nas religiões
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ição dos valores sociais, morais e religiosos. Do enfrentamento e da vitória
do Salvador sobre as forças do Mal vai depender a paz e a prosperidade
do novo recomeço. Essa é mais ou menos, do ponto de vista estrutural,
a “morfologia do conto”, tal como demonstrou Vladimir Propp (1895-
1970): a uma “procura” ou “aventura”, como a busca do Santo Graal, por
exemplo, seguem-se as “funções”, representadas por heróis cuja missão é
enfrentar o oponente com a ajuda de um talismã ou de uma espada sagrada,
vencê-lo, libertar o povo e ascender ao trono. Como notou Burkert (1991),
o opositor do herói deve ser poderoso e causador de medo, devendo ser
“mau” no sentido mais verdadeiro da palavra.
É desse modo que, aos mitos, por assim dizer, positivos, como, no caso
da história de Portugal, o da sua eleição por Deus, na Batalha de Ourique,
ou, em sua perspectiva utópica, o mito do Encoberto, no movimento mes-
siânico do Sebastianismo, ou ainda na ideia de um Quinto Império, cor-
respondem os mitos negativos de feição “anti”, fomentados e utilizados,
como nota José Eduardo Franco (2006), com vistas à monopolização e
instrumentalização coletiva, seja para preservar a sua autonomia e garantir
a sua regeneração, seja para promover a sua renovação ou o seu progresso.
Assim, na medida em que se configuram no imaginário popular, os mitos
negativos institucionalizam-se politicamente, como foi o caso da figura-
ção negativa do castelhano, da perseguição aos judeus e da lenda negra
dos jesuítas, a partir do período pombalino (1750-1777). Nesse contexto
insere-se também a anglofobia, pois a aliança com a Inglaterra, a partir do
século XVIII, especialmente depois do Tratado de Methuen (1703), vai ser
interpretada, em perspectiva histórica, como uma das causadoras de todos
os males do reino e depois da nação portuguesa, atingindo seu ápice com
o Ultimato de 1890, num movimento crescente de mitificação em negativo.
No caso do mito da Inglaterra em Portugal, podemos identificar uma
dupla funcionalidade. Se, por um lado, ele se inscreve nas origens do reino
ou nos momentos de refundação da nação, configura-se discursivamente
em termos positivos, o que faz com que as narrativas de Portugal que o
levam em conta sejam caracterizadas por um movimento de anglofilia. Se,
por outro lado, ele se inscreve nos mitos apocalípticos, em períodos de
crise e decadência financeira, política e militar, emerge como um Outro
demonizado, tal como um Anticristo, que é geralmente representado sob
a forma de um monstro ou dragão, simbolismo que sumariza, conforme
Gilbert Durand (1997), todos os aspectos negativos do regime noturno da
imagem. Nesses casos, portanto, trata-se de um movimento de anglofobia,
que podemos conceber como um processo de demonização do Outro
que teve como corolário a constituição discursiva da identidade nacional
portuguesa, através de uma comparação em negativo. É preciso ressaltar,
no entanto, que tal processo decorre de circunstâncias históricas concretas,
marcadas por uma relação de dependência suportada porque necessária à
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CONCLUSION
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europeu é algo indissociável de sua condição portuguesa. Ademais, Portu-
gal não se caracteriza mais somente como país de saída, mas também de
entrada, dado o contigente imigratório das décadas de 1980 e 1990, o que
o torna obrigatoriamente um país cosmopolita, por mais que não esteja,
em muitos aspectos, ainda preparado para conviver com a diversidade e
negociar novas formas de ser português, para além do “equívoco da por-
tugalidade”. Nesse sentido, se levarmos em conta as gerações de retornados,
bem como os descendentes de imigrantes brasileiros, angolanos, moçambi-
canos, caboverdeanos etc., a “cultura portuguesa” contemporânea tem que
ser vista como uma cultura diaspórica, para falar como Hall , uma vez que
abrange discursos e manifestações políticas, artísticas e culturais de grupos
sociais que têm uma espécie de dupla, ou híbrida pertença, embora tenha
nascido e/ou crescido nos guetos e subúrbios de Lisboa. A diáspora, como
se sabe, tem o seu paradigma mítico, pelo menos no mundo ocidental, no
Velho Testamento, que narra o sofrimento do “povo escolhido” sob o
jugo da “Babilônia” e tem em Moisés o seu grande redentor. A estrutura
encontra paralelo nos países do chamado “Terceiro Mundo”, em que o
subdesenvolvimento, a pobreza, a fome e a miséria provocam a migração,
o espalhamento e a dispersão de grandes parcelas de sua população. Como
consequência direta dessa nova diáspora, as identidades, concebidas desde
o Iluminismo como estabelecidas e estáveis, entram em colapso quando
se confrontam com a diferenciação que se prolifera em todas as partes
do mundo, através de migrações livres ou forçadas, pulverizando assim
as identidades culturais de antigos Estados-nação dominantes e de velhas
potências imperiais.
Nesse processo de adaptação à convivência com a diferença, o rac-
ismo formal e institucionalizado se tornou comum na Europa, onde um
número cada vez maior de comunidades “étnicas” se estabeleceram, pro-
vocando, não raro, sérias manifestações de intolerância, numa nova onda
fundamentalista que é já uma característica marcante do século XXI. Como
se sabe, a palavra “raça”, que ainda tem uso corrente tanto em Portugal
quanto no Brasil quando relacionada a seres humanos, não é uma categoria
científica, mas política e social, funcionando discursivamente como um
indicador de superioridade ou inferioridade, numa relação assimétrica de
poder econômico e cultural. Assim, os estigmatizados por razões étnicas,
além de serem diferentes do ponto de vista cultural, são biologicamente
caracterizados, com estereótipos físicos e/ou sexuais. Em um tal contexto,
torna-se anacrônico qualquer discurso que insista na homogeneidade da
cultura nacional. No caso do Reino Unido, a perda da hegemonia impe-
rial e econômica, bem como do “ser inglês” sobre o “ser britânico” – nas
últimas Olimpíadas, realizadas em 2012, a Irlanda, a Escócia e o País de
Gales apresentaram-se conjuntamente como Grã-Bretanha – acabou por
provocar uma profunda crise de identidade nacional, pois não se trata mais
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Mito e Mitologia: O Caso da Inglaterra Aula 5
identificação que provocam uma resposta ativa de seus consumidores. Não
se trata, pois, de conceber a cultura a partir do seu grau de autenticidade
ou corrupção, mas de entendê-la como um processo dialético e dialógico,
numa luta constante entre os grupos que buscam deter a hegemonia dos
meios de produção cultural.
SUMMARY
ACTIVITY
Esta atividade tem por finalidade principal fazer você construa uma
síntese dos principais conteúdos desta nossa terceira Aula, de modo a com-
preender criticamente o processo de mitificação da Inglaterra e Portugal.
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NEXT CLASS
REFERENCE
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Mito e Mitologia: O Caso da Inglaterra Aula 5
Rüdiger e Sayonara Amaral. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.LE
GOFF, Jaques. A velha Europa e a nossa. Tradução: Regina Louro. Lisboa:
Gradiva, 1995.
OLIVEIRA, Luiz Eduardo. O mito de Inglaterra: anglofoilia e anglofobia
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às 13h e 30min.
SILVA, Amélia Maria Polônia da. “‘Os Doze de Inglaterra’: um romance
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dia – séculos XII-XV: intercâmbios culturais, literários e políticos. Tradução:
Catarina Fonseca. Lisboa: Europa-América, 2008, pp. 163-180.
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