Representações e Protagonismos Do Negro No Acervo Do Museu Nacional de Belas Artes
Representações e Protagonismos Do Negro No Acervo Do Museu Nacional de Belas Artes
Representações e Protagonismos Do Negro No Acervo Do Museu Nacional de Belas Artes
2019
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
CDD 709.60981
Ogó de Exu: bastão cerimonial
• GRUPO CULTURAL YORUBÁ
A Construção da Exposição
Como Observa Frantz Fanon: “o negro terá que resistir seu ser diante
do outro.” (FANON, 1998, p.103). Neste caso, os artistas negros,
oriundos da AIBA presentes na exposição, precisavam reiteradamente
reafirmar-se não só para seus pares internos na AIBA, mas também
para a sociedade escravocrata na qual estavam inseridos.
É importante notar que tivemos como interesse também na exposi-
ção nos pautarmos em aspectos relevantes da trajetória de todos
os artistas representados, procurando ressaltar seus protagonismos,
seja nas suas atitudes, escolhas ou vivências que trilharam.
Destacamos em particular os
artistas que frequentaram a
AIBA como Francisco Chaves
Pinheiro, Estevão Silva, Firmino
Monteiro, Leôncio Vieira e Rafael
Pinto Bandeira. Esses são
Paisagem de Niterói • Firmino Monteiro
alguns dos artistas do século
XIX presentes neste núcleo que
inclusive integram a AIBA no pré
e no pós-abolição.
1 Pesquisa realizada com aplicação de 400 questionários, nos meses de julho a setembro
de 2018, com perguntas objetivas e discursivas. As perguntas abrangiam informações sobre dados
como raça, gênero, idade, escolaridade, região que mora bem como sobre a exposição: obras e
artistas que gostaram, o que a exposição acrescentou de conhecimento e etc.
colocava no horizonte das elites políticas e intelectuais, período que
se estende até a ascensão do paradigma do Brasil da democracia
racial, quando uma suposta valorização do negro como elemento
constituinte da nacionalidade entraria em cena.
Neste caso, a tela Mãe Maria também integrante deste núcleo ajudou
a ilustrar uma das formas como o negro foi representado do período
do pós-abolição até a década de 1950 do século XX. Esta pintura
não apresenta registros de empréstimos para exposições, mas
integrou peque na mostra comemorativa dos 100 anos da abolição
da escravatura, na Biblioteca do MNBA em 1988. Já a pintura
Colheita de flores esteve exposta no módulo Arte Popular da Galeria
Mario Pedrosa2 em 2002 e somente em 2018 participou de duas
exposições: uma nacional e outra internacional. Esta obra integrou o
terceiro núcleo que tratou do protagonismo dos artistas negros.
Redenção de Cã, 1895 • Modesto Brocos Mãe Maria, 1945 • Orózio Belém
2 Galeria dedicada ao Projeto Mário Pedrosa – Museu das Origens coordenado por Dinah
Guimarães entre os anos de 1994 e 2002. Criado a partir da proposta do crítico de arte Mário Pedrosa
de implantação do Museu das Origens no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. No MNBA a ideia
era apresentar as origens da arte brasileira através das matrizes Indígena, africana, popular, europeia
e inconsciente, revelando assim a identidade cultural brasileira.
A escolha do público revela o que se via durante uma visitação à
exposição: o grau de recepção do visitante à estas pinturas que
se materializava através de muitos registros fotográficos e selfies.
Para além da questão racial que as obras Redenção de Cã,
Colheita de Flores e Mãe Maria apresentam, a percepção de uma
familiaridade, geradora de lembranças de vivências em família,
foram associadas a essas pinturas seja através dos personagens,
seja através dos cenários.
Cenários da Escravização
primerio núcleo
Catálogo
Mulata a caminho do sítio para as festas de Natal; Rua Direita no Rio de Janeiro [RJ, ilustração para
Concurso de composições entre escolares no dia de Viagem pitoresca através do Brasil, de Johann Moritz
Santo Aleixo., circa 1816 / 1831, nº reg.13036 Rugendas], circa 1821 / 1825, nº reg. 13034
• Jean Baptiste Debret • Johann Moritz Rugendasvictor Adam
Redenção de Cã, 1895, nº reg. 323 • Modesto Brocos
A Construção da
Identidade Nacional e a
Representação dos Negros
segundo núcleo
Novos Horizontes
Representativos
terceiro núcleo
Paisagem de Niterói, nº reg. 578A Retrato de Arteobela Frederico, filha do artista, 1895,
• Firmino Monteiro nº reg. 727 • Rafael Frederico
Natureza morta (ameixas), 1880, nº reg. 1663
• Leôncio Vieira
Colheita de flores, 1972, nº reg. 1012 Paisagem do Rio de Janeiro, RJ, 1884, nº reg. 709
• Maria Auxiliadora Silva • Pinto Bandeira
“Não acho crime neste homem”, circa 1980, nº reg.
10543 • Manuel Messias
Argolas entrelaçadas, 1997, nº reg. 15694 Natureza-morta, 1891, nº reg. 810 • Estevão Silva
• Fernando Diniz
“Abapatá”, 1986, nº reg. 13640 (?) • Emanuel Araújo
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