Imersão Na Realidade Prisional Feminina
Imersão Na Realidade Prisional Feminina
Imersão Na Realidade Prisional Feminina
DIREITO
TEÓFILO OTONI
2023
ADRIANA PEREIRA GONÇALVES
ANA GABRIELA FERREIRA AMARAL
CLARA VITÓRIA NASCIMENTO GUIMARÃES
TEÓFILO OTONI
2023
ADRIANA PEREIRA GONÇALVES
ANA GABRIELA FERREIRA AMARAL
CLARA VITÓRIA NASCIMENTO GUIMARÃES
Banca Examinadora:
_________________________________
Orientador
_________________________________
Co-orientador (Opcional)
_________________________________
Membro da Banca
_________________________________
Membro da Banca
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer imensamente à Deus. Sem Ele não teríamos
realizado o sonho de cursar Direito, não chegaríamos até aqui, porque através dEle tivemos
forças para ultrapassar todos os obstáculos e vencer todas as barreiras na busca desse grande
sonho. Em segundo lugar, mas não menos importante, agradecemos às nossas famílias, que
sempre nos deram todo suporte, incentivo, força, amor e carinho durante esses anos fazendo
com que a caminhada fosse mais leve e florida. Aos nossos pais, pilares principais, por
sempre incentivarem na busca pelo conhecimento e a todo momento presentes, terem sido
essenciais para que jamais perdêssemos a força e a coragem de seguir adiante.
Agradecemos ainda a todos os amigos que formamos ao longo desses anos de faculdade, que
sempre estiverem por perto com uma palavra amiga, um incentivo e até mesmo um caderno
para ajudar nos momentos de aflição. Aos professores comprometidos e cheios de novos
ensinamentos que passaram por nossas vidas, que plantaram em nós conhecimento e amor
pela profissão que escolhemos a seguir.
RESUMO
O presente artigo aborda a experiência das mulheres detidas na cidade de Teófilo Otoni,
Minas Gerais. O objetivo principal é analisar os desafios enfrentados por essas mulheres
durante o período de reclusão. A pesquisa baseou-se em abordagens qualitativas e envolveu
entrevistas, observações e análise de documentos. Os resultados destacam a complexidade da
vivência das detentas, revelando problemas relacionados à superlotação, falta de estrutura,
acesso limitado a cuidados de saúde e educação, bem como a presença de estigmas sociais
associados à prisão. Além disso, as detentas enfrentam obstáculos adicionais, como a
separação de suas famílias e a falta de oportunidades de reinserção social. Os resultados
indicam a necessidade urgente de melhorias nas condições do sistema prisional feminino em
Teófilo Otoni, bem como a implementação de programas de reintegração social e assistência
psicossocial para apoiar as detentas na transição para a vida pós-prisão. Esta pesquisa
contribui para a compreensão das questões enfrentadas pelas mulheres no sistema prisional e
destaca a importância de abordar essas questões de forma holística e humanitária. Em resumo,
o estudo realça a necessidade de reformas no sistema prisional para garantir o respeito aos
direitos humanos e a dignidade das mulheres encarceradas em Teófilo Otoni-MG.
ABSTRACT
This scientific article addresses the experience of women detained in the city of Teófilo Otoni,
Minas Gerais, in the prison system. The main objective is to analyze the challenges faced by
these women during their period of imprisonment. The research was based on qualitative
approaches and involved interviews, observations and document analysis. The results
highlight the complexity of the inmates' experience, revealing problems related to
overcrowding, lack of structure, limited access to health care and education, as well as the
presence of social stigmas associated with prison. Furthermore, inmates face additional
obstacles, such as separation from their families and a lack of opportunities for social
reintegration. The results indicate the urgent need for improvements in the conditions of the
female prison system in Teófilo Otoni, as well as the implementation of social reintegration
and psychosocial assistance programs to support inmates in the transition to post-prison life.
This research contributes to understanding the issues faced by women in the prison system
and highlights the importance of addressing these issues in a holistic and humanitarian way. In
summary, the study highlights the need for reforms in the prison system to guarantee respect
for human rights and the dignity of women incarcerated in Teófilo Otoni-MG.
Keywords: Criminal Law; Criminal proceedings; Women's Prison; Criminal Executions Law;
Drug Law; Human rights.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
Quanto aos procedimentos metodológicos, este projeto classifica-se como: uma pesquisa
aplicada que possui como objetivo gerar novos conhecimentos e aplicar esse conhecimento
para solucionar problemas relacionados à condição de vida das detentas encarceradas em
Minas Gerais. Foi empregado como um instrumento para fundamentar o estudo de caso, o
método de pesquisa empírica onde foram coletados os dados para aprofundar nas questões
assistenciais das detentas.
Sobre o objetivo da pesquisa, o mesmo será de maneira exploratória tendo em vista que
o objeto de estudo do projeto é apresentar o registro de dados que caracterizam as
dificuldades dentro dos estabelecimentos penais femininos e identificar qual a
responsabilidade do Estado.
A realidade prisional brasileira, não tem sido prioridade á anos para a sociedade e para o
Estado, no sistema prisional feminino isto têm tido ainda mais força devido a cultura do
machismo ainda enraizada na população brasileira. A dificuldade de visualizar o gênero
feminino ocupando uma cela dentro de um estabelecimento prisional é dura, sendo realizada de
muitos casos que acabam enfatizando o esquecimento deste grupo, contexto este que vem
ocorrendo desde o surgimento do sistema prisional.
A ciência que muitas das dificuldades são apresentadas pelos ambos gêneros, entretanto, o
presente artigo ainda é uma crítica no tratamento e condições desumanas nas quais as detentas
são submetidas durante a reclusão, e como são desrespeitados todos os direitos específicos a este
gênero estabelecidos pelo nosso ordenamento jurídico até mesmo pelas cortes internacionais,
tendo em vista que nenhum indivíduo deve ser submetido a isso.
Sabemos que alguns dos desafios enfrentados pelo gênero feminino soma-se ao fato de que a
locação não atende às peculiaridades básicas femininas, de forma em que submetem as detentas
a revistas íntimas vexatórias e acarretam no posicionamento de celas escuras, úmidas e
desproporcionais, observa-se ainda o descaso familiar das detentas durante o período de
reclusão, pois a ausência do contato familiar torna a estadia mais cruel e solitária.
O presente artigo ainda é uma crítica no tratamento e condições desumanas nas quais as
detentas são submetidas durante a reclusão, e como são desrespeitados todos os direitos
estabelecidos pelo nosso ordenamento jurídico até mesmo pelas cortes internacionais, tendo em
vista que nenhum indivíduo deve ser submetido a isso.
3. A IMERSÃO NA REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL FEMININO
No contexto histórico, observa que a imagem da mulher era limitada por papéis pré-
estabelecidos socialmente. No século médio, o radicalismo religioso predominava sobre a
mulher, na visão da igreja como condição de agente do mal, uma vez representante da Eva, a
mulher bíblica que permitiu a entrada do mal no mundo a partir da atenção dada a serpente. A
mulher, no entendimento religioso medieval, era dada ao descontrole da curiosidade, além de ser
voltada à transgressão e vista como a corruptora dos valores civilizados e corretos.
No período historicamente compreendido como “moderno” a mulher se localizava
socialmente entre duas opções de mundo. Em uma opção a mulher seria vista como a “Virgem
mãe”, desconexa dos prazeres sexuais que remetem ao mau, protetora e atenciosa para com os
filhos, reclusa no lar e livre das influencias mundanas que poderiam leva-la a perdição. Na outra
opção, a mulher seria considerada igual à Eva, uma mulher perdida, sedutora, consumida pela
sexualidade e pelo mal, agente das vontades maléficas prejudiciais à sociedade (BRANDEN,
1992:30).
Del Priore (DEL PRIORE, 1993), descreve que ao observar as atitudes da igreja em
relação ao papel que a mulher brasileira desempenhava no período colonial, entende-se que a
importância do matrimonio estabelecido no pela Igreja na sociedade, tinha como objetivo o
fortalecimento enquanto instituição hegemônica. Vale ressaltar que essa estrutura do controle do
matrimonio se interligava com o poder que a Igreja possuía sobre os indivíduos, principalmente
com a posição que defendia a submissão da mulher ao homem. É por essa razão que
enfatizamos que as desigualdades entre homens e mulheres não são tão recentes na história da
humanidade e podem ser encontradas em quase todas as culturas no mundo.
Nesse entendimento, a mulher não era socialmente compreendida como capaz de
cometer crimes. Sob esse ângulo, Franco, (2015, p.10) descreve "em razão de uma imagem
estereotipada da mulher, vista como dócil e incapaz de cometer crimes, por muito tempo,
associou-se a ela tão somente a prática de delitos passionais ou daqueles chamados crimes
contra a maternidade (aborto e infanticídio)".
Seguindo a mesma base de entendimento, Coelho explica que "os crimes que têm como
agente a mulher limitaram-se ao que podemos chamar de crimes de gênero, associados a sua
sexualidade: prostituição, aborto, infanticídio, crimes passionais, quase nunca contra a pessoa e
contra a propriedade" (2013, p. 53). O foco da legislação penal não se voltava à mulher que
cometia delitos e sim, notadamente ao homem, sujeito ativo dominador, hostil e perigoso, o que,
como visto, é fruto de uma construção social baseada em um modelo de dominação simbólica
masculina.
Este fato foi uma condicionante, ao longo do tempo, fazendo com que o Estado não
tenha se interessado em construir e destinar um tratamento diferenciado às mulheres criminosas,
que chegaram a ficar, inclusive, no mesmo presídio que os homens.
Na atualidade, a essência medieval do encarceramento feminino segue presente,
mesmo após a divisão de gênero, foi nítido a diferenças de tratamentos masculinas que tinham
o objetivo de ressocializar o detento, enquanto nas prisões femininas o intuito era converter
essa encarcerada a um modelo de mulher socialmente aceito.
Em um contexto contemporâneo brasileiro um grande marco histórico prisional
ocorreu em 1940 através da reforma no código penal, no qual iniciou assim o surgimento do
encarceramento feminino, instituindo o cumprimento de pena por mulheres em
estabelecimento individualizado. Como Olga Espinoza expõe em sua obra ―A Prisão
Feminina desde um Olhar da Criminologia Feminista, no trecho abaixo transcrito:
Buscando prover condições de vida melhores a seus filhos, e em sua maioria com baixa
escolaridade e nenhuma qualificação profissional necessária para ocupar cargos que lhe
proporcione uma independência financeira, muitas veem na criminalidade uma forma de suprir
as suas demandas financeiras. Neste contexto, muitas têm o tráfico de drogas como a principal
porta de entrada para o submundo do crime, como de acordo com dados do Sistema Prisional
Brasileiro que apontam que no ano de 2022, 54% das mulheres que estão encarceradas se
devem pela relação com o tráfico de drogas. Sendo assim, o aumento do encarceramento
feminino como resultado das vias penais de resposta social, não podem ser analisados de forma
separada da realidade socioeconômica do indivíduo.
As mulheres encarceradas, em geral, são jovens de baixa renda, com filhos e família
dependentes economicamente delas, e a sua ida para a prisão se deu devido ao de tráfico de
drogas, por pequenos furtos e também por assassinatos (QUEIROZ, 2015). Todos os fatores
citados somados a vulnerabilidade social, e a falta de oportunidade colaboram para o
crescimento da criminalidade feminina, mas vale evidenciar que o peso de chefiar uma família e
o desemprego predominam como causas determinantes neste processo.
A princípio, quando uma pessoa está encarcerada por a ela ter sido atribuída autoria de
um ato considerado crime pela legislação penal vigente, o Estado exerce o seu papel de punir
através das sanções penais. O Estado, única entidade dotada de poder soberano, é o titular
exclusivo do direito de punir (para alguns, poder-dever de punir). Mesmo no caso da ação penal
exclusivamente privada, o Estado somente delega ao ofendido a legitimidade para dar início ao
processo, isto é, confere-lhe o jus persequendi in judicio, conservando consigo a exclusividade
do jus puniendi.(CAPEZ,2023, p.16).
Um dos primeiros princípios jurídicos que norteia a conduta punitiva do Estado, é o
principio da legalidade, este é fundamental no direito penal e estabelece que uma pessoa só pode
ser punida por uma conduta se essa conduta for expressamente proibida por lei, com uma pena
previamente estabelecida. O código penal brasileiro é norteado por diversos princípios para que
seja garantido uma pena justa, cabível e humana.
A Lei de Execução Penal também trata este tema, reforçando o cuidado durante a
gestação e sucessivamente no pós- parto, como preleciona Brito (2023).
Para tanto, é necessário que questões como superlotação, que é um dos geradores de um
ambiente prisional insalubre, seja revisto com atenção, incentivando a criação de políticas
públicas com o intuito de sanar essa defasagem. Essas condições dispostas pelas Regras
Mínimas colacionam procedimentos considerados indispensáveis aos reclusos e nenhum pode
ser considerado como regalia ou luxo. A leitura tranquila dos direitos enunciados evidencia a
natureza de minimum de dignidade a quem perdeu a liberdade.(BRITO,2023, p.56)
Ademais, quando qualquer inciso do artigo 11 da lei 7210/1984 não for cumprido por
negligência estatal, estabelece no ambiente prisional um sentimento de uma nova condenação,
sendo a segunda consequência da primeira.
DEL PRIORE, Mary Del. As atitudes da igreja em face da mulher no Brasil colonial. In MARCILIO, Maria
Luiza (org). Família, mulher e sexualidade no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1993.