Disserta o de Mestrado Jovino Gentilini Junior C Pia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG

FACULDADE DE MEDICINA

JOVINO GENTILINI JUNIOR

AVALIAÇÃO DE CICATRIZES DE CIRURGIAS ESTÉTICAS DE MAMA E


ABDOME APÓS APLICAÇÃO DE PLASMA RICO EM PLAQUETAS AUTÓLOGO

Estudo Prospectivo e Randomizado

BELO HORIZONTE – MG
Agosto 2016

JOVINO GENTILINI JUNIOR


AVALIAÇÃO DE CICATRIZES DE CIRURGIAS ESTÉTICAS DE MAMA E
ABDOME APÓS APLICAÇÃO DE PLASMA RICO EM PLAQUETAS AUTÓLOGO

Estudo Prospectivo e Randomizado

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à
Cirurgia e à Oftalmologia da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de
Minas Gerais, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Medicina.

Área de concentração: Cicatrização


Linha de Pesquisa: Fatores intervenientes
na cicatrização
Orientadora: Profa. Dra. Vivian Resende

BELO HORIZONTE – MG
Setembro 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO: Profa. Dra. Denise Maria Trombert de


Oliveira
PRÓ-REITOR DE PESQUISA: Profa. Dra. Adelina Martha dos Reis

FACULDADE DE MEDICINA
DIRETOR: Prof. Dr. Tarcizo Afonso Nunes
CHEFE DO DEPARTAMENTO DE CIRURGIA: Prof. Dr. Renato Santiago Gomez

CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENADOR: Prof. Dr. Luiz Armando de Marco

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS APLICADAS À CIRURGIA E


OFTALMOLOGIA
COLEGIADO:
COORDENADOR: Prof. Dr. Edson Samesima Tatsuo
SUB-COORDENADOR: Prof. Dr. Túlio Pinho Navarro
Prof. Dr. Agnaldo Soares Lima
Prof. Dr. Marcelo Dias Sanches
Prof. Dr. Márcio Bittar Nehemy
Prof. Dr. Marco Aurélio Lana
Prof. Dr. Renato Santiago Gomez
REPRESENTANTE DISCENTE: Taíse Míriam Cruz Mosso Ramos
JOVINO GENTILINI JUNIOR

AVALIAÇÃO DE CICATRIZES DE CIRURGIAS ESTÉTICAS DE MAMA E


ABDOME APÓS APLICAÇÃO DE PLASMA RICO EM PLAQUETAS AUTÓLOGO

Estudo Prospectivo e Randomizado

Dissertação apresentada e defendida perante a Comissão Examinadora constituída


pelos Professores:

Profa.Dra. Vivian Resende

Orientadora

Profa.Dra. Carla Jorge Machado

Examinador 1

Prof. Dr. João Bosco Dupin

Examinador 2

Profa.Dra. Sumara Marques Barral

Suplente

Belo horizonte, 21 de setembro de 2016


À minha esposa Ana e minha filha Amanda,
pelas sugestões, ajuda e incentivo.
Aos meus pais Jovino e Ruth (in memoriam)
por me ensinarem os caminhos a seguir.
AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Vivian Resende, orientadora, pela competência e sabedoria que


tornaram possível esse projeto.
À Profa. Dra. Carla Jorge Machado por ter traduzido e interpretado os números,
deixando-os coerentes e compreensíveis.
Ao Dr. Luiz Alberto Lamana, cirurgião plástico do STK Núcleo de Cirurgia Plástica,
pela generosa e imprescindível colaboração nessa pesquisa.
Aos colegas, anestesistas e cirurgiões, pela valiosa e inestimável participação:
Dr. Célio José de Oliveira, cirurgião plástico do STK.
Dr. Antonio Caminhas Fasciani, anestesiologista.
Dra. Natália Pinho Tavares, anestesiologista.
Dr. Daniel Stefenoni Carvalho, anestesiologista.
Dra. Heloisa Terezinha Garrido, anestesiologista.
Dr. Fernando Antonio Lamana dos Santos, cirurgião plástico do STK.
Ao Rodrigo Campanella, doutorando em Comunicação na UFMG.
Á Luiza Guasti, arquiteta, pela ajuda na organização das fotos.
Á Thayse Franco, pela formatação da dissertação.
Ás Sras.:
Lúcia Maria Gonçalves, auxiliar da equipe de anestesiologista.
Maria das Dores Miranda Ramos, auxiliar e circulante do bloco cirúrgico.
Lúcilene Antonia Cardozo, instrumentadora cirúrgica. Dayse Maria Nascimento
Cesar Chagas, enfermeira.
Pela valiosa colaboração nos procedimentos de preparo do PRP.
A todos os pacientes que participaram dessa pesquisa. Pela gentileza, paciência,
cooperação, demonstrados ao longo de todo esse trabalho.
RESUMO

A cicatrização dos tecidos é mediada por uma grande e variada sequência de


eventos, intra e extracelulares, nos quais as plaquetas têm papel relevante. Define-
se como Plasma Rico em Plaquetas (PRP) um volume da fração do plasma de
sangue autólogo com uma concetração de plaquetas acima de 1000.000/µl. O PRP
tem sido utilizado em vários campos da atividade médica e odontológica, com efeitos
benéficos já descritos em implantes dentários, enxertos ósseos e ulcerações
cutâneas. As plaquetas são essenciais, na cicatrização dos tecidos, com os Fatores
de Crescimento (FC) por elas liberados desempenhando um importante papel
nesse processo. O PRP e Fatores de Crescimento têm sido amplamente descritos
na literatura para fins estéticos e reparadores, mas são poucas as pesquisas com
nível de evidência, que comprovam os seus benefícios. Da mesma forma, em
Cirurgia Plástica, embora muito utilizado, as pesquisas são também insuficientes, se
considerarmos o modelo aqui adotado. Foram selecionados 48 pacientes,
submetidos a abdominoplastia e mamoplastia, com idade entre 22 e 68 anos,
(média de 35 anos), para um trabalho experimental, randomizado, prospectivo,
emparelhado, em que cada paciente serviu como seu próprio controle. No per-
operatório, o PRP foi aplicado intradermicamente, nas bordas de um segmento da
cicatriz previamente demarcada, para fins de comparação com o segmento cicatricial
oposto sem a aplicação de PRP Atribuiu-se um escore para a melhor cicatriz com
valores variando de zero a três, correspondendo respectivamente a: indiferente,
levemente, moderadamente e acentuadamente melhor. As cicatrizes foram
avaliadas por dois cirurgiões plásticos (aos quais denonimamos Avaliador 1 e
Avaliador 2), utilizando-se fotografias feitas com quatro dias , um mês, três meses e
12 meses de pós-operatório. Houve concordância entre os avaliadores, quanto à
melhor cicatriz, com aplicação de PRP, em torno de 70%, aos quatro dias de pós-
operatório e essa tendência se repetiu aos três meses. Ambas as avaliações foram
estatisticamente muito próximas da concordância além do acaso, com índice Kappa
moderado (estatisticamente significativio, acima de 0,40). Não houve concordância
entre os dois avaliadores no pós-operatório de um mês. No entanto, os dois
avaliadores voltaram a apresentar concordância aos 12 meses, com índice kappa
precário (abaixo de 0,20), não indo além do acaso. Quanto aos escores, observou-
se a manutenção da tendência dos quatro dias iniciais, com avaliações
moderadamente e acentuadamente melhores com PRP, para ambos os
avaliadores, porém sem significância estatística, com p igual a 0,82 para avaliador 1
e p igual a 0,070 para avaliador 2. Com um mês de pós-operatório, o avaliador 1
considerou 6 cicatrizes (37,6%) moderadamente melhores e 7 cicatrizes
acentuadamente melhores ( 43,7) com PRP num total de 16 cicatrizes.O avaliador
2 não considerou nenhuma cicatriz acentuadamente melhor sem PRP. Ambas as
avaliações sem significância pelo número insuficiente de casos avaliados. Aos três
meses, foi mantida essa tendência e as cicatrizes tratadas com PRP foram
consideradas melhores. Aos 12 meses, o avaliador 1, classificou em torno de 40%
das cicatrizes com PRP como acentuadamente melhores e 17,7% das cicatrizes
sem PRP como acentuadamente melhores. Portanto, o uso intradérmico do PRP,
apresentou-se promissor, contribuindo beneficamente de forma evidente na
evolução do processo cicatricial, com melhores resultados aos 4 dias e 90 dias de
pós-operatório. Não se observou nenhum efeito colateral sobre as mesmas, em
qualquer das fases cicatriciais estudadas.

Palavras Chave: Sangue. Plaquetas. Plasma Rico em Plaquetas. Cicatrização.


Fator de Crescimento derivado das plaquetas.Abdominoplastia. Mamoplastia.
Cirurgia Plástica.
ABSTRACT

The healing of tissues is mediated by a large and varied sequence of events, intra
and extracellular, in which platelets play an important role. Platelet Rich Plasma
(PRP) is defined as a volume fraction of autologous blood plasma with concentration
above 1000,000 platelets / microl. The PRP has been used in various fields of medi-
cal and dental activity, with beneficial effects already described in dental implants,
boné grafts and skin ulcerations.Platelets are essential in healing of tissues, with
Growth Factors (CF) released by them playing an important role in this process. The
PRP and growth factors have been widely described in the literature for aesthetic and
restorative purposes, but there are few studies with level of evidence, to justify their
benefits. Similarly, in plastic surgery, although widely used, research is also
insufficient, considering the adopted model here. We've selected 48 patients who
underwent abdominoplasty and mammoplasty, aged between 22 and 68 years
(average 35 years), for an experimental, randomized, prospective and paired work, in
which each patient served as his own control. During the procedure, the PRP was
applied intradermally, on the edges of a segment previously marked scar, for,
comparison with the opposite scar segment without the application of PRP. It was
assigned a score to the best scar with values ranging from zero to three
corresponding respectively to: indifferent, mildly, moderately and markedly better.The
scars were evaluated by two plastic surgeons (named here as Evaluator 1 and
Evaluator 2), using photographs taken four days, one month, three months and 12
months post-operatively.There was agreement among raters in around 70% as the
best scar being the one with PRP application in the fourth day after the operation with
this same trend repeated at three months. Both assessments were statistically very
close to agreement beyond chance, with moderate Kappa index (statistically
significant above 0,40). There was no agreement between the two raters in the one
month postoperative evaluation. However, the two evaluators again present
agreement at 12 months, with poor kappa index (below 0,20), not going beyond
chance. As for the scores, there was the continuing trend of the first four days, with
assessments moderately and markedly better for scars with PRP for both evaluators,
but not statistically significant, with p equal to 0,82 for evaluator 1 and p equal to
0,070 for evaluator 2. One month after surgery, the evaluator 1 considered 6 scars
(37,6%) moderately better and 7 scars markedly better (43,7) with a total of 16 PRP
scars.The evaluator 2 saw no scar markedly better without PRP. Both assessments
were considered without significance due to the small number of cases evaluated. At
three months, it was maintained this trend and the scars treated with PRP were
considered better. At 12 months, the evaluator 1 ranked around 40% of scars with
PRP as markedly better and 17,7% of the scars without PRP as markedly
better.Therefore, intradermal use of PRP was presented as promising, beneficially
contributing in an evident way in the evolution of the healing process, with best
results at 4 days and 90 days after surgery. There was no side effect observed in any
of the scarring phases studied.

Key Words: Blood. Platelet. Platelet-rich plasma. Wound healing. Platelet-derived


growth factor. Abdominoplasty. Mammoplasty. Plastic Surgery
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema mostrando a ativação plaquetária, liberação de fatores de


crescimento pelos grânulos α. (Everts et al. 2006) ................................................... 19
Figura 2 - Quadro com as contra-indicações absolutas e relativas ao uso de PRP
.................................................................................................................................. 20
Figura 3 - Cascata de coagulação. Mecanismo de coagulação, vias intrínseca e
extrínseca. (Disponível em: http://4.bp.blogspot.com /acesso em dez.2015.............24
Figura 4 - Hemostasia Primária e Secundária. (Disponível em
http://www.esteticnat.com.br/acesso em ago.2015 ................................................... 24
Figura 5 - Plaquetas. Microfotografia eletrônica, mostrando a formação de
pseudópodes. (Disponível em http//3.bp.blogspot.com/acesso.em dez.2015 ........... 25
Figura 6 - Fases da cicatrização e Fatores de Crescimento.................................... 28
Figura 7 - Gráfico da especificidade celular imunológica e o tempo decorrido do
trauma. (Park & Barbul,2004) .................................................................................... 29
Figura 8 - Fatores de crescimento (roxo, e amarelo) presos aos receptores tirosina
quinases (azul, e verde) na superfície celular. (Art: Nicolle Rager Fuller) ................. 30
Figura 9 - Mecanismo de sinalização dos Fatores de crescimento (FC). (Disponível
em: http://science.sciencemag.org/acesso em dez.2015.......................................... 30
Figura 10 - Quadro representativo dos principais Fatores de Crescimento..............33
Figura 11 - Formação do trombo e liberação dos Fatores de Crescimento............. 33
Figura 12 - Preparo de Plasma Rico em Plaquetas, coleta e 1a centrifugação do
sangue. ..................................................................................................................... 36
Figura 13 - Preparo do Plasma Rico em Plaquetas, após 2a centrifugação............. 37
Figura 14 - Marcação dos segmentos direito (D) e esquerdo (E) no abdome......... 38
Figura 15 - Descolamento justa-aponeurótico e exposição do retalho dermo-
gorduroso. ................................................................................................................. 39
Figura 16 - Seringas de 1 ml, com PRP para aplicação na cicatriz.......................... 39
Figura 17 - Aplicação intra-dérmica de PRP, nas áreas demarcadas com azul de
metileno. .................................................................................................................... 40
Figura 18 - Cicatriz cirúrgica de mama marcada com azul de metileno................... 41
Figura 19 - Aplicação intra-dérmica de PRP na mama em área demarcada com azul
de metileno ................................................................................................................ 41
Figura 20 - Quadro de concordâncias, discordâncias e escores atribuídos às
comparações, entre cicatrizes com PRP e sem PRP................................................ 45
Figura 21 - Pós-operatório de abdominoplastias em diferentes pacientes, com 4 dias
(1), 1 mês (2), 3 meses (3) e 12 meses (4) . ............................................................. 47
Figura 22 - Cicatrizes de mama de mesma paciente, com 4 dias de pós-operatório
SEM PRP (1) e COM PRP (2). Cicatrizes de mama de mesma paciente, com 1 mês
de pós-operatório SEM PRP (3) e COM PRP (4 ) ..................................................... 48
Figura 23 - Cicatrizes de mama do mesmo paciente com 3 meses de pós-operatório
de mama direita (D) SEM PRP (1) e cicatriz de mama esquerda (E) COM PRP (2)
Cicatrizes de mesma paciente com 12 meses de pós-operatório de mama direita (D)
SEM PRP (3) e cicatriz de mama esquerda(E) COM PRP (4) .................................. 49
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Total e percentual de concordância, discordância e indiferentes pela


avaliação, em 4 momentos diferentes, de cicatrizes com e sem a aplicação de PRP
................................................................................................................................... 51
Tabela 2 - Concordância percentual geral e valores de Kappa para avaliações, em 4
momentos diferentes, de cicatrizes que tiveram ou não a aplicação de PRP ........... 52
Tabela 3 - Avaliação dos escores (levemente, moderadamente e acentuadamente
melhor), segundo a escolha da melhor cicatriz por cada avaliador, após 4 dias da
intervenção. ............................................................................................................... 53
Tabela 4 - Avaliação dos escores (levemente, moderadamente e acentuadamente
melhor) para a melhor cicatriz, segundo a escolha de cada avaliador, após 1 mês
da intervenção. .......................................................................................................... 54
Tabela 5 - Avaliação dos escores (levemente, moderadamente e acentuadamente
melhor) para a melhor cicatriz, segundo a escolha de cada avaliador, após 3 meses
da intervenção. .......................................................................................................... 55
Tabela 6 - Avaliação dos escores (levemente, moderadamente e acentuadamente
melhor) para a melhor cicatriz, segundo a escolha de cada avaliador, após 12
meses da intervenção. .............................................................................................. 56
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

% Percentual
α Alfa
β Beta
cm Centímetro
COEP Comitê de Ética em Pesquisa
CFF Conselho Federal de Farmácia
CFM Conselho Federal de Medicina
CNS Conselho Nacional de Saúde
EGF Fator de Crescimento Epidérmico
FCP Fatores de Crescimento Plaquetários
FGF Fator de Crescimento de Fibroblastos.
g Força da gravidade
GF Fator de Crescimento
KDA Quilodalton (molecular weight)
µl Microlitro
ml Mililitro
ng Nanograma
OMS Organização Mundial de Saúde
PDGF Fator de Crescimento derivado das Plaquetas
PN Plasma Normal
PRF Plasma Rico em Fibrina
PRP Plasma Rico em Plaquetas
r Raio
rpm Rotações por minuto
TCLE Termo de consentimento livre e esclarecido
TF Fator Tecidual
TGFα Fator de Crescimento de Transformação α
TGFβ Fator de Crescimento de Transformação β
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
VEGF Fator de Crescimento do Endotelio Vascular
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................17
2. OBJETIVOS........................................................................................................22
Objetivos Gerais.................................................................................................22
Objetivo Específico ............................................................................................22
3. REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................23
3.1. Coagulação e Hemostasia ........................................................................... 23
3.2. Fases da Cicatrização ................................................................................... 25
3.1.1. Fase Inflamatória .................................................................................... 25
3.1.2. Fase ProIiferativa .................................................................................... 26
3.1.3. Fase de Maturação ................................................................................. 28
3.2. Fatores de Crescimento ............................................................................... 29
3.2.1. Principais Fatores de Crescimento....................................................... 31
4. MATERIAL e MÉTODO ......................................................................................34
4.1. Aspectos éticos e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
34
4.2. Delineamento ................................................................................................ 34
4.3. Critérios de Seleção ..................................................................................... 34
Critérios de Inclusão ........................................................................................ 34
Critérios de Exclusão ....................................................................................... 34
4.4. Coleta do Sangue e Preparo do Plasma Rico em Plaquetas .................... 35
4.5. Protocolo Cirúrgico ...................................................................................... 37
4.5.1. Descrição de Abdominoplastia e Aplicação do PRP .......................... 38
4.5.2. Descrição de Mamoplastia e Aplicação do PRP ................................. 40
4.5.3. Acompanhamento Pós-Operatório ....................................................... 41
4.5.4. Avaliação das Cicatrizes ........................................................................ 42
4.6. Análise Estatística ........................................................................................ 42
4.6.1. Concordância entre Lado de Aplicação de PRP e Avaliadores .......... 43
4.6.2. Concordância entre Avaliador 1 e Avaliador 2 .................................... 44
4.6.3. Escores dos avaliadores: comparação entre cicatrizes com PRP e
sem PRP ............................................................................................................ 44
5. RESULTADO.......................................................................................................46
6. DISCUSSÂO........................................................................................................57
7. CONCLUSÂO......................................................................................................65
8. REFERÊNCIAS...................................................................................................66
9. ANEXOS..............................................................................................................70
Anexo I ............................................................................................................... 70
Anexo II .............................................................................................................. 71
17

1. INTRODUÇÃO

Durante o processo de cicatrização de feridas, uma série de eventos celulares e


moleculares interagem entre si, contribuindo para que ocorra a reconstituição dos
tecidos. Fenômenos bioquímicos e fisiológicos acontecem de forma harmônica com o
objetivo de reparar a lesão. A alta incidência de feridas crônicas e as sequelas
decorrentes das mesmas, têm um custo social relevante. A cada ano cerca de 100
milhões de pessoas adquirem cicatrizes, que podem ter repercussões físicas,
estéticas, psicológicas e sociais, graves. Cerca de 55 milhões de cirurgias eletivas e
25 milhões decorrentes de traumatismos, são realizadas em todo o mundo.

Problemas circulatórios, infecções, uso de medicamentos, desnutrição, diabetes,


hipertensão, obesidade, deficiências imunológicas, e outras situações, podem
interferir negativamente na qualidade final da mesma. Durante toda a evolução
cicatricial, afastadas as causas descritas anteriormente, como potenciais
modificadores desse processo, a síntese e degradação do colágeno, são diretamente
responsáveis pelo bom ou mau resultado de uma ferida. Quando o equilíbrio
dinâmico, entre síntese e degradação é quebrado, uma cicatriz hipertrófica ou
queloidiana pode ser adquirida.

Para a Cirurgia Plástica, em especial, os aspectos relativos às cicatrizes, são


relevantes, para o sucesso ou fracasso de um procedimento cirúrgico com finalidade
estética. Uma cicatriz disforme, hipertrófica, ou queloidiana pode ser causa de
desconforto e insatisfação quanto ao resultado estético esperado.

A cicatrização dos tecidos é mediada por uma grande e variada sequência de


eventos, intra e extracelulares, nos quais as plaquetas têm papel relevante. Entende-
se como Plasma Rico em Plaquetas, concentrações de plaquetas superiores a
1000.000/ul, como preconizaram Marx1,2 em 1998 e Lemos et al.3 em 2002. Em
2008, Witlow et al.4, consideraram também como PRP, as concentrações de
plaquetas três a cinco vezes superiores àquelas encontradas no sangue. O Plasma
rico em Plaquetas (PRP) é obtido por centrifugação de sangue autólogo. Começaram
a ser utilizados no início da década de 70, inicialmente nos processos cirúrgicos
18

odontológicos e posteriormente no tratamento de áreas cruentas extensas e úlceras


de compressão. Knighton et al.5 em 1986, utilizaram PRP em feridas crônicas, em
pacientes diabéticos. Lynch et al.6,7 em 1987, do mesmo modo utilizaram o PRP, em
diversas reparações teciduais. Estes autores demonstraram o sinergismo entre os
fatores de crescimento epidérmico (Epitelial Growth Factor - EGF) e o fator de
crescimento semelhante à insulina (Insulina Growth Factor - IGF. Em 1989, Lynch et
al.6,7 empregaram o PRP na regeneração periodontal, nas formas liquida e gel, em
cirurgias com retalhos. Em 1991, observaram, na sequência de seus estudos, os
benefícios na cicatrização do tecido ósseo ao redor dos implantes dentários.

Marx et al.1,2 em 1988 publicaram o artigo que foi a principal base teórica para a
utilização do PRP, no qual descreveram sua biologia e bioquímica. A partir dessa
publicação, o PRP passou a ser considerado uma nova possibilidade terapêutica,
especialmente na regeneração óssea. Foi demonstrada a sua atuação no reparo
ósseo, assim como a participação dos fatores plaquetários neste processo. Em 1999,
Anitua8,29 demonstrou a possibilidade de se obter o PRP, pela centrifugação de
sangue, em laboratório. No Brasil, os trabalhos de Rossi et al.9 e Lemos et al.3
contribuíram para o emprego do PRP, na Odontologia. Na Cirurgia Plástica Estética,
Man10 em 2001, Rumalla et al.11 em 2001, Bhanot et al.12 em 2002, Chajchir13 em
2005, entre outros descreveram novas aplicações do PRP em áreas cruentas.
Ressalta-se a importância dos trabalhos publicados por Marx1,2 em 2004, dando
impulso às pesquisas de engenharia de tecidos e sobre a liberação dos fatores de
crescimento plaquetários, presentes nos alfa-grânulos (Figura 1). Seus estudos
estabeleceram a relação direta dos fatores de crescimento e a formação de tecidos
novos, neoangiogênese, atividade mitogênica e quimiotáxica.

Também de vital importância, os trabalhos pioneiros do bioquímico norte-americano,


Stanley Cohen14 e a bióloga italiana Rita Levi –Montalvani15 que identificaram pela
primeira vez os fatores de crescimento em células nervosas, no início da década de
50. Foram denominados fatores de crescimento do nervo (Nerve Growth Factor-NGF)
e fatores de crescimento epidérmico (Epidermal Growth Factor-EGF). Comprovaram
sua efetiva participação, no mecanismo de crescimento e diferenciação celular. Em
1986, por essa descoberta, foram contemplados com o prêmio Nobel de Medicina e
19

Fisiologia. A partir de 1950, nos 10 anos seguintes inúmeros fatores de crescimento


foram identificados, entre eles, o fator de crescimento derivado das plaquetas,
(Platelet Derived Growth Factor- PDGF), o fator de crescimento das células
endoteliais, (Vascular Endotelial Growth Factor-VEGF), o fator de crescimento de
fibroblastos, (Fibroblast Growth Factor -FGF). Os fatores de crescimento juntamente
com as citocinas fazem parte de polipeptídios secretados por moléculas reguladoras
do nosso organismo.

Figura 1 - Esquema mostrando a ativação plaquetária, liberação


de fatores de crescimento pelos grânulos α.

Fonte: Everts et al. 2006

No transplante de órgãos, citocinas e fatores de crescimento desempenham um


papel central como mediadores dos eventos imunológicos. O papel destas moléculas
é relevante no desencadeamento da resposta imunológica pós -transplantes, e
também nos efeitos citotóxicos nas células alvo e organização do processo
inflamatório local. Os fatores de crescimento atuam ainda como mediadores na
maturação celular, nos processos de reparação de danos teciduais, na angiogênese,
aumentando a microcirculação e ativando vários grupos celulares na integração e
vitalidade dos tecidos. Às citocinas cabem mais as respostas imunológicas do
organismo.
O PRP tem sido utilizado em vários campos da atividade médica e odontológica, em
implantes dentários, enxertos ósseos e ulcerações cutâneas. Sua utilização em
cicatrizes cirúrgicas, principalmente em intervenções estéticas, ainda é pouco
estudada. Por ser autólogo, não há descrição de reações de sensibilidade na
20

literatura. Também não há relatos de casos de infecção, provocados por sua


aplicação. Preparado dentro das normas técnicas exigidas, não existe risco de
contaminação. Os trabalhos publicados sobre os efeitos benéficos na cicatrização de
lesões cutâneas crônicas, em procedimentos odontológicos, dermatológicos e
ortopédicos são extensos. Existem contraindicações relativas e absolutas ao uso de
PRP, que devem ser observadas (Figura 2). Em cirurgia plástica, os fatores de
crescimento têm sido usados em procedimentos estéticos, de rejuvenescimento
facial. Diferentes fatores de crescimento foram sintetizados em laboratório, e estão
disponíveis comercialmente em diversos países. Os efeitos benéficos na cicatrização
det feridas, têm sido relatados em pesquisas randomizadas, porém em sua maioria
utilizando o modelo animal nas pesquisas. São escassos os trabalhos publicados
utilizando seres humanos na pesquisa. Embora, já esteja sendo amplamente usado
em cicatrização de feridas cirúrgicas de procedimentos estéticos, sem efeitos
colaterais relatados, não encontramos estudos com grau elevado de evidência na
literatura, que dêem embasamento científico, aos seus reais benefícios. Não foi
relatado até o presente momento, nenhum efeito colateral quando aplicado na forma
injetável ou topicamente, na forma de gel.

Absolutas Relativas
Alterações funcionais das plaquetas Injeção de corticoide no local
Instabilidade hemodinâmica Uso sistêmico de corticoides
Septicemia Febre ou enfermidades recentes
Infecção no local da aplicação Neoplasias malignas
Não aceitação do paciente Nível de hemoglobina < 10 g/dl
(TCLE não assinado) Contagem de plaquetas < 105µl

Figura 2 - Quadro com as contraindicações absolutas e relativas ao uso de PRP.


21

Por se tratar de procedimento de baixo custo e relativamente simples, o PRP pode se


tornar um importante recurso terapêutico coadjuvante, no tratamento das feridas
crônicas, tais como as observadas em pacientes diabéticos e imunodeprimidos. O
PRP é facilmente obtido laboratorialmente, não necessitando de tecnologia
sofisticada e cara. Essa pesquisa visa comprovar sua eficácia em promover uma
cicatrização de melhor qualidade, e verificar também se os benefícios no processo
cicatricial das feridas cirúrgicas são significativamente relevantes. Não existem
relatos de efeitos colaterais indesejáveis, na literatura. Esta pesquisa, no modelo que
foi feita, randomizada e controlada, procura corroborar os achados já descritos,
quanto à segurança de sua aplicação. Trata-se de um trabalho inédito, que procura
oferecer subsídios científicos relevantes, quanto à eficácia do PRP autólogo, em
promover uma cicatrização de melhor qualidade.
22

2. OBJETIVOS

Objetivos Gerais
Através de um estudo randomizado e controlado, verificar a segurança da aplicação
intradérmica de PRP em feridas cirúrgicas de abdominoplastias e mamoplastias.
Observar se haverá ocorrência de efeitos colaterais locais e sistêmicos.

Objetivo Específico
Verificar os efeitos da aplicação intradérmica do Plasma Rico em Plaquetas autólogo,
nas cicatrizes cirúrgicas de cirurgias estéticas de abdome e de mama. Avaliar sua
eficácia em promover uma cicatrização de melhor qualidade, aos quatro dias, um
mês, três meses, e 12 meses, de pós-operatório.
23

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. Coagulação e Hemostasia


Define-se hemostasia como o equilíbrio entre a hemorragia e a trombose. Os
fatores que concorrem para este equilíbrio, são os fatores plasmáticos da
coagulação, os inibidores fisiológicos, antifibrinolíticos, as células endoteliais e as
plaquetas. Estas participam da hemostasia primária16 que ocorre a nível da
microcirculação e também da hemostasia secundária, onde atuam os fatores de
coagulação denominada cascata de coagulação (Figura 3).

Na hemostasia primária, (Figura 4) ocorre a vasoconstrição e adesão das


plaquetas, através da ligação entre a glicoproteína Ib/IX/V, existente na célula
sanguínea e o colágeno do vaso. As plaquetas ativadas, liberam substâncias que
vão estimular a sua agregação, alterando a sua forma, produzindo peudópodes,
que por sua vez se unem a outras plaquetas (Figura 5).

Na denominada cascata de coagulação, um conjunto de fatores, substâncias e


reações regulam e auxiliam a formação de coágulos, na ocorrência de uma ferida.
Esse mecanismo é constituído basicamente por três vias: extrínseca, intrínseca e
comum. Pela via extrínseca, a lesão dos vasos faz com que as células
circundantes produzam um fator tecidual, TF (também chamado tromboplastina
tecidual) não presente no plasma, que se liga ao fator VII (originando o fator VII
ativado). Este por sua vez ativa o fator IX (via intrínseca), o qual associado ao
fator VIII, plaquetas e cálcio, ativa o fator X (via comum). Nessa fase ocorre a
transformação da protrombina (fator II) em trombina, que por sua vez, transforma
o fibrinogênio em fibrina (atividade pró-coagulante).

A trombina, também, tem uma ação anticoagulante, quando limita a formação do


coágulo no local da lesão, estimulando o endotélio a sintetizar e liberar
substâncias, que inibem outras potencialmente vasodilatadoras. A trombina
apresenta ainda atividade de fator de crescimento e citocina, com atuação nos
processos aterosclerótico, cicatricial e inflamatório.
24

Figura 3 - Cascata de coagulação. Mecanismo de coagulação, vias intrínseca e


extrínseca.
Fonte: Disponível em: http://4.bp.blogspot.com / acesso em dez.2015

Figura 4 - Hemostasia Primária e Secundária.


Fonte: Disponível em http://www.estetic nat.com.br / acesso em ago.2015
25

Figura 5 - Plaquetas. Microfotografia eletrônica, mostrando a formação de


pseudópodes.
Fonte: Disponível em http//3.bp.blogspot.com / acesso em dez.2015

3.2. Fases da Cicatrização


A cicatrização visa restabelecer a integridade morfológica e funcional de qualquer
tecido ou órgão lesado. É uma cascata de eventos celulares e moleculares
perfeitamente coordenados, interagindo entre si. O tipo de pele, a localização
anatômica da lesão, a idade, o estado nutricional do paciente, as alterações
cardiocirculatórias, os problemas de coagulação, o uso de alguns fármacos
sistêmicos dentre outros, podem interferir no processo cicatricial.

Fundamentalmente, a cicatrização se divide em 3 fases: a inflamatória, a


proliferativa e a de remodelação ou maturação. Cada fase tem características
próprias, porém se sobrepõem umas às outras, de forma harmônica e orquestrada
(Figura 6).

3.1.1. Fase Inflamatória


Inicia-se no momento da lesão e pode durar até 4 dias, dependendo da
extensão e natureza da área afetada. Esta fase é caracterizada por dois
processos que buscam limitar a lesão tecidual: a hemostasia e a resposta
26

inflamatória aguda. Assim, a ferida nesse momento, pode se apresentar


edemaciada, hiperemiada e dolorosa.

Os eventos iniciais do processo de reparo, estão primeiramente voltados para


o tamponamento dos vasos lesados. A ruptura do endotélio, desencadeia a
deposição de plaquetas, que ativadas, formam o trombo, limitando a perda de
constituintes circulatórios para os interstícios celulares. Esse trombo, fornece
uma matriz preliminar, que dará suporte à migração de outras células
envolvidas no reparo. As plaquetas ativadas, liberam fatores de crescimento
como PDGF (fator de crescimento derivado das plaquetas) e o TGF-β (fator
transformador de crescimento beta), quimiocinas, fibrinogênio, fibronectina e
tromboplastina. Os neutrófilos, após o rompimento dos vasos, migram em
grande quantidade para a superfície da ferida, formando uma barreira contra a
invasão de microrganismos. Ao final do primeiro dia, estes representam 50%
das células migradas ao local. Outros elementos contribuem para a
quimiotaxia dos neutrófilos, como a bradicinina (propriedades vasoativas e
nociceptivas), complementos e eicosanoides.

A última contribuição quimiotáxica, na resposta inflamatória inicial, é dada


pelos monócitos, e fibroblastos. As citocinas lL-1 (Interleucina-1) e TNFα (Fator
de necrose tumoral α) produzidos pelos macrófagos, mastócitos, e células
estromais, expressam em suas membranas, proteínas de adesão de
leucócitos favorecendo sua fixação. Os macrófagos, (derivados dos
monócitos) por fagocitose, promovem a eliminação de fragmentos teciduais e
neutrófilos inativos. Também produzem e exportam citocinas, FC, fatores de
coagulação e frações de complementos.

3.1.2. Fase ProIiferativa


A fase proliferativa ou fibroblástica é de deposição de matriz. Inicia-se por volta
do 40 dia e pode durar cerca de 2 a 3 semanas. A produção e liberação dos
mediadores químicos produzidos pelos macrófagos, levam a uma intensa
ativação de fibroblastos. Estes são os principais componentes do tecido de
27

granulação, e sofrem a influência dos fatores de crescimento e demais


mediadores, derivados dos macrófagos.

Com o aumento do número de fibroblastos ativados para a produção de


colágeno, a matriz extracelular começa a ser substituída por um tecido
conjuntivo mais forte e elástico. É a chamada fibroplasia, que vem
acompanhada de neoformação vascular. O tecido de granulação formado
nessa fase é composto principalmente por macrófagos, fibroblastos, vasos
neoformados, sustentados por uma matriz mais frouxa de fibronectina, ácido
hialurônico e colágeno tipos l e ll.

Os fatores de crescimento e outros mediadores, as células endoteliais dos


capilares intactos, nas margens da ferida, passam a secretar colagenase e
ativador de plasminogênio. Essas substâncias promovem migração das
células endoteliais, para o local da lesão. A presença de fibroblastos,
juntamente com vasos neoformados inicia a produção da nova matriz
extracelular.

Já nas bordas da lesão, os fibroblastos se diferenciam em miofibroblastos,


com capacidade contráctil. Juntamente com as células basais adjacentes, os
miofibroblastos promovem intensa mitose aproximando as bordas da lesão.
No início do reparo, a baixa de O2, no local, estimula a produção de fatores de
crescimento, pelos macrófagos. Com a grande produção de colágeno pelos
fibroblastos, o processo de contração da ferida, alcança sua maior eficiência,
aumentando intensamente a força e a tensão entre as células. A reepitelização
ocorre de forma mais acentuada quando o processo de granulação começa a
atingir a superfície a nível de epiderme e a proliferação celular se torna mais
intensa. Ao final dessa etapa, o leito da ferida está totalmente preenchido pelo
tecido de granulação e a circulação totalmente reestabelecida, pela
neovascularização.
28

3.1.3. Fase de Maturação


Inicia-se por volta do 10o dia e tende a se estabilizar em torno do 12 o
mês,podendo se prolongar por até 24 meses. Com o acúmulo de colágeno, o
tecido de granulação começa a adquirir a aparência de fibrose, característica
da cicatriz. A cicatriz completamente madura, possui apenas 70% da
resistência da pele normal. Nessa fase final, os linfócitos constituem o
subsistema leucocitário mais abundante. A infiltração de neutrófilos e
macrófagos, a fibroplasia e deposição da matriz extracelular e angiogênese,
são eventos que não acontecem isoladamente (Figura 6 e 7)

.
Figura 6 - Fases da cicatrização e Fatores de Crescimento.

FGF (Fator de crescimento fibroblastico), EGF ( Fator de crescimento epidérmico),


VEGF (Fator de crescimento endotelial vascular), PDGF (Fator de crescimento derivado das
plaquetas), TGFβ e TGF α (Fator de crescimento transformador β e α).

Fonte (Disponível em http://science.sciencemag.org / acesso dez. 2015


29

Figura 7 – Gráfico da Especificidade celular em função do tempo decorrido do trauma


Fonte: Park & Barbul,2004

3.2. Fatores de Crescimento


Diversos mediadores químicos estão envolvidos no processo cicatricial, em todas
as suas fases. Mediadores derivados da circulação (frações livres dos
complementos, fatores de coagulação, moléculas do sistema fibrinolítico,
hormônios esteroidais, tireoideanos, insulina, cininas. Somam-se a estes, os
mediadores peptídicos (citocinas, fatores de crescimento, neuropeptídios),
mediadores lipídicos e outros elementos.

Todas estas substâncias têm sua importância nas diversas fases do processo
cicatricial. Dentre estes, destacam-se os fatores de crescimento, que são
membros de um grande grupo de polipepeptídeos secretados por várias
moléculas reguladoras do nosso organismo. Também ocupam papel importante
na reparação de danos teciduais, os fibroblastos, osteoblastos, células
epidérmicas, o fígado e rins. Além de atuarem na reparação tecidual, exercem
papel de mediadores na maturação celular, através de moléculas sinalizadoras na
superfície da membrana, os chamados receptores tirosina quinase (Figura 8) e
(Figura 9).
Estes receptores estão relacionados a diversos processos fundamentais, como a
proliferação, diferenciação mobilidade e sobrevivência ou morte celular. Na
espécie humana há receptores para os fatores de crescimento: epidérmico, EGFR
30

(Fator de crescimento epidérmico), de fibroblastos, FGFR (receptor de fator de


crescimento de fibroblastos), derivado das plaquetas, PDGFR (receptor de fator
de crescimento derivado das plaquetas ) e receptor do fator de crescimento do
endotélio vascular VEGFR (receptor de fator de crescimento do endotélio
vascular)

Figura 8 - Fatores de Crescimento (roxo, e amarelo) presos aos receptores


tirosina quinases (azul e verde) na superfície celular.
Fonte: Nicolle Rager Fuller

Figura 9 - Mecanismo de sinalização dos Fatores de Crescimento (FC)


antes e depois da sinalização.
Fonte: Disponível em: http://science.sciencemag.org / acesso em dez.
2015
31

3.2.1. Principais Fatores de Crescimento


Mais de 50 fatores de crescimento já foram identificados. Dentre estes se
destacam (Figura 10).

PDGF (Platelet-Derived Growth Factor) - Fator de Crescimento Derivado da


Plaqueta. É um peptídio plaquetário tendo uma ação mitogênica sobre as
células do tecido conjuntivo e dos fibroblastos. Atua como regulador na
proliferação e quimiotaxia de células mesenquimais. Possui dois genes
distintos em duas correntes, 28 e 31 KDA (quilodalton) e é liberado após a
agregação plaquetária (Figura 11).

O PDGF estimula de forma intensa a migração de fibroblastos para a ferida.


Também é secretado por macrófagos estimulando a síntese de colágeno.
Existem na forma de isômeros, ou seja, PDGF α α, PDGF β β e PDGF α β. Há
cerca de 0.06ng (nanograma) de PDGF por milhão de plaquetas. Cada
plaqueta tem em torno de 1200 moléculas de PDGF.

TGFβ (Transforming Growth Factor β) - Fator de Crescimento de


Transformação Beta. É liberado por macrófagos e fibroblastos, mas encontra-
se em maior concentração nas plaquetas. Estão presentes também na forma
de isômeros: β 1, β 2 e β 3. Dentre estes, o TGF-β1 tem papel mais
importante, estando diretamente envolvido na maturação celular, migração
fibroblástica e síntese de matriz extracelular. Estes três isômeros são
responsáveis pela formação de colágeno, e aparecem em grande número nas
cicatrizes hipertróficas e queloidianas. Estão praticamente ausentes no feto,
portanto, não se forma praticamente nenhuma cicatriz, em lesões intrauterinas.

Em doenças como esclerodermia, doença pulmonar fibrocística, encontra-se o


TGF-β em níveis muito elevados. O TGF-β estimula o crescimento de células
mesenquimais na papila dérmica. Em níveis elevados inibe a proliferação de
células epiteliais e endoteliais. concentração, a ação inibitória de TGF-β é
maior do que a ação proliferativa do PDGF.
32

VEGF (Vascular Endotelial Growth Factor) - Fator de Crescimento Endotelial


Vascular). Como o próprio nome indica, este fator está vinculado ao sistema
vascular. Tem ação na permeabilidade vascular aumentando a angiogênese e
assim, incrementando o aporte sanguíneo necessário para o processo de
reparação tecidual. Atrai os fibroblastos para o sistema de produção de tecido
conjuntivo e participa também na cascata de transformação de fibrinogênio em
fibrina. A malha resultante da ação do VEGF, suporta o crescimento de células
endoteliais e fibroblastos, favorecendo a formação de um novo sistema micro
circulatório local.

EGF (Epidermal Growth Fator) - Fator de Crescimento Epidérmico.. O EGF é


mitogênico para uma variedade de células epiteliais, hepatócitos e fibroblastos.
É amplamente distribuído nas secreções e nos líquidos teciduais, como suor,
saliva, urina e conteúdos intestinais. No processo cicatricial da pele, o EGF é
produzido por queratinócitos, macrófagos e outras células inflamatórias que
migram para dentro da área lesionada. Todos estes fatores interagem entre si.

FGF (Fibroblast Growth Factor) - Fator de Crescimento Fibroblástico. O FGF


promove a a proliferação de fibroblastos, células endoteliais e estimula a
angiogênese. É importante nas lesões musculoesqueléticas e tendinosas.

IGF (Insulin Growth Factor) - Fator de Crescimento semelhante à Insulina.


Importante na formação óssea, e também na proliferação e diferenciação
celular.

KGF ( keratinocyte growth factor )- Fator de crescimento dos queratinócitos.


Está presente na fase de epitelização da cicatrização da ferida. Nesta fase,
os queratinócitos cobrem o ferimento, formando o epitélio.
33

Figura 10 - Quadro representativo dos Principais Fatores de Crescimento liberados pelas


plaquetas.
PDGF - Fator de crescimento derivado das plaquetas. FGF- Fator de crescimento fibroblástico.
IGF- Fator de crescimento semelhante a insulina. TGF- Fator de crescimento transformador α e β.
EGF- Fator de crescimento epidérmico. VEGF- Fator de crescimento do endotélio vascular.

Fonte: Disponível em http://biodermiscosmetics.com.br / acesso dez. 2015

Figura 11 - Formação do trombo e liberação dos Fatores de Crescimento.

PDGF (Fator de crescimento derivado das plaquetas) EGF (Fator de crescimento epidérmico),
VEGF (Fator de crescimento endotelial vascular) FGF (Fator de crescimento fibroblástico),
TGFβ1,β2,β3, α (Fator de crescimento transformador β1,β2,β3, α), KGF (Fator de crescimento dos
queratinócitos).

Fonte: Disponível em http://www.esteticnat.com.br / acesso dez. 2015


34

4. MATERIAL e MÉTODO

4.1. Aspectos éticos e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)


Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de ética em Pesquisa da UFMG-COEP,
em 12 de agosto de 2013 (parecer no 357.067) – Anexo 1.

Os pacientes foram informados quanto aos aspectos éticos e receberam


esclarecimentos quanto à pesquisa, participando de forma espontânea, assinando
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) – Anexo 2

4.2. Delineamento
Este é um trabalho experimental, controlado, randomizado e prospectivo,
emparelhado em que cada paciente serviu como seu próprio controle, na
aplicação ou não do PRP em feridas cirúrgicas após abdominoplastias ou
mamoplastias realizadas isoladamente ou associadas.

Esta pesquisa foi realizada na clínica STK Núcleo de Cirurgia Plástica, em 48


pacientes, sendo 46 do gênero feminino e 2 do masculino, com idades variando
de 22 a 68 anos, média de 35 anos. Os pacientes tiveram suas cicatrizes
cirúrgicas fotografadas aos quatro dias, 1mês, três meses e 12 meses.

4.3. Critérios de Seleção

Critérios de Inclusão
Pacientes clinicamente hígidos, com exames pré-operatórios dentro dos
parâmetros normais, submetidos a cirurgias estéticas de mama (mamoplastias
redutoras) e abdome (abdominoplastias), isoladamente e/ou associadas.
Assinaram o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) todos os
participantes da pesquisa.

Critérios de Exclusão
Pacientes portadores de diabetes mellitus, doenças do colágeno, distúrbios de
coagulação. Pacientes com obesidade mórbida, tabagistas, melanodérmicos.
35

Foram excluídos também, os pacientes com estrias abdominais ou mamárias, em


grande quantidade na área de aplicação do PRP, no abdome ou mama.

4.4. Coleta do Sangue e Preparo do Plasma Rico em Plaquetas


O método utilizado para o preparo do PRP foi aquele descrito por Vendramin et
al.17,18 em 2009. Com o paciente no bloco cirúrgico, realizou-se a punção de uma
veia periférica com cateter calibre 22G (Descarpack®) e coletou-se 40ml de
sangue total em duas seringas de 20ml, com agulha 25 x 7 mm ( BD Plastipack ®),
O sangue foi transferido para tubos a vácuo de 4,5 ml (Vacuontainer®) contendo
citrato de sódio a 3,2%.

Em seguida, foi realizada uma primeira centrifugação do sangue a 400g


(gravidade), equivalente a 1300 rpm (rotações por minuto), durante 10 minutos.
(Centrífuga de 8x15 ml, modelo Centribio 80 2B), (Figura 12).

O plasma foi coletado até o limite da zona de névoa e transferido para um tubo
seco. Realizou-se uma uma segunda centrifugação a 800g (2600 rpm) por 10
minutos. Em seguida de cada tubo foi retirado e descartado 50% do plasma
sobrenadante, correspondente ao Plasma Pobre em Plaquetas. O plasma
restante e o sedimento ( pellet ) depositado no fundo do tubo constituiu o Plasma
Rico em Plaquetas (Figura 13).

Cinco minutos antes da injeção do volume obtido na ferida cirúrgica, para


desencadear a agregação plaquetária, o PRP foi ativado com gluconato de cálcio
®
a 10% (Gluconato de Cálcio 10% ) na proporção de 1:10. Em seguida,
imediatamente após o término da síntese cirúrgica, para cada 1 cm da cicatriz,
previamente marcada com azul de metileno, foi injetado 0,5 ml de PRP na
margem superior e inferior da cicatriz. Para aplicação do PRP, utilizou-se uma
seringa de 1 ml (BD ultrafine-fineTM acoplada a uma agulha de 12,7 mm). No
segmento oposto, homolateral, nada foi injetado. A escolha do lado a ser aplicado
foi feita de modo aleatório.
36

A B

C D
a
Figura 12 - Preparo de Plasma Rico em Plaquetas, coleta e 1 centrifugação
do sangue.

A- Coleta do sangue.
B- Sangue total na seringa.
C- Centrífuga modelo 80 2B.
a
D- Tubos com sangue após 1 centrifugação.
Fonte: Elaborada pelo autor.
37

A B

C D
a
Figura 13 - Preparo do Plasma Rico em Plaquetas, após 2 centrifugação.

Coleta do plasma até a zona inferior da névoa (“pellet”). PRP para aplicação na
ferida cirúrgica.
a
A- Detalhe do sangue após 1 centrifugação.
B- Retirada de todo o plasma até o limite inferior da zona de névoa.
a
C- Plasma total após 2 centrifugação (com “pellet” depositado no fundo do
tubo).
D- Plasma Rico em Plaquetas.
Fonte: Elaborada pelo autor.
4.5. Protocolo Cirúrgico
Todas as operações foram realizadas no bloco cirúrgico da clínica STK Núcleo de
Cirurgia Plástica, num período médio de 12 meses. Os procedimentos cirúrgicos
foram sistematizados, com todos os pacientes submetidos à mesma técnica
cirúrgica. Todos os pacientes submeteram-se à mesma técnica cirúrgica. Os fios
de sutura, curativos e cuidados pós-operatórios seguiram o mesmo padrão.
38

4.5.1. Descrição de Abdominoplastia e Aplicação do PRP.


A operação foi feita sob sedação e anestesia peridural em todos os pacientes
e lipoaspiração prévia inicial19,20. Foi feita a demarcação cirúrgica padronizada,
pré-operatória, infra umbilical, supra-púbica e a limitação dos segmentos
cutâneos a serem injetados com PRP (Figura 14). Foi feita a dissecção do
retalho dermo-gorduroso no plano justa aponeurótico da região supra
umbilical, até a região do apêndice xifoide (Figura 15). Foi feita em seguida
ressecção do retalho dermo-gorduroso excedente.Foi feita a plicatura da
aponeurose do músculo reto abdominal com pontos separados de Mononylon
3.0 (Ethicon®). Feita a incisão cutânea, para confecção do neo umbigo. A
sutura foi finalizada por planos, com fios Mononylon 4-0 (Ethicon®) incolor,
subdérmico, e Monoylon 4-0 (Ethicon®) preto ou azul, intra-dérmico. Seringas
de 1 ml, sobre a compressa cirúrgica, prontas para aplicação do PRP (Figura
16). Foi aplicado 0,5 ml de PRP intradérmico, para cada 1 centímetro da
ferida , suprapúbica, (segmentos D ou E) de forma aleatória, com uma seringa
de 1 ml (BD ultrafine-fineTM) acoplada a uma agulha de 12,7 mm (Figura 17).

Figura 14 – Fotografia de paciente em decúbito dorsal com segmento


tóraco-abdominal desnudo e marcado com azul de metileno, para a
aplicação do PRP de forma aleatória.
Fonte: Elaborada pelo autor.
39

Figura 15 - Descolamento justa aponeurótico e tração do retalho do


retalho dermo-gorduroso.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Figura 16 – Fotografia de paciente em decúbito dorsal, após a síntese


da pele abdominal. Seringas de 1 ml posicionadas para aplicação do
PRP na ferida operatória..
Fonte: Elaborada pelo autor.
40

Figura 17 - Aplicação intra-dérmica de 0,5 ml de PRP para cada


centímetro nas bordas da ferida em áreas demarcadas com azul de
metileno.
Fonte: Elaborada pelo autor

4.5.2. Descrição Mamoplastia e Aplicação do PRP


As cirurgias foram realizadas sob sedação e anestesia peridural alta. Em sua
maioria foi adotada a técnica de Mamoplastia em L ou LT21,22,23. Decorticação
epidérmica periareolar (manobra de Schartzman24) seguida de incisões
cutâneas sobre a marcação prévia, a ressecção em cunha e amputação da
base da mama. A sutura do parênquima mamário foi feita com fio
monofilamentar (Mononylon 3.0®), em seguida ressecções cutâneas,
hemostasia, sutura por por planos. A sutura da pele, foi feita com Monoylon 4-
0 (Ethicon®) subdérmico e Mononylon 4-0 (Ethicon®) preto ou azul,
intradérmico. A ferida operatória foi marcada com azul de metileno (Figura
18). Foi Injetado 0,5 ml de PRP em cada margem, a cada 1 centímetro de
cicatriz, com uma seringa de 1 ml (BD ultrafine-fineTM) acoplada a uma agulha
de 12,7 mm ( Figura 19). Foram feitos curativos oclusivos com Micropore®, na
ferida cirúrgica.
41

Figura 18 – Fotografia de mama de paciente em decúbito dorsal


demarcadas com azul de metileno, no pós –operatório imediato.As
setas indicam os pontos de aplicação do PRP.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Figura 19 - Aplicação intra-dérmica de PRP, em ambas as margens


da ferida cirúrgica na mama, em área demarcada com azul de
metileno.
Fonte: Elaborada pelo autor.

4.5.3. Acompanhamento Pós-Operatório


O tempo estipulado para o primeiro curativo foi de 4 dias e a retirada de
pontos, 12 dias.
42

4.5.4. Avaliação das Cicatrizes


As cicatrizes foram fotografadas pelo autor, aos quatro dias, um, três e 12 meses.
A máquina fotográfica utilizada foi da marca Canon, EOS Rebel T21,18
megapixels. As fotografias foram tiradas com cerca de 30cm de distância, sem
flash, em mesmo ambiente e luminosidade. As fotografias foram avaliadas por dois
cirurgiões plásticos, individualmente,em cada tempo pós-operatório pré-
determinado.

Nas abdominoplastias, o avaliador comparou ambos os segmento cicatriciais


direito e esquerdo, conforme a demarcação cirúrgica pré operatória. Quanto às
mamoplastias, comparou–se o segmento cicatricial vertical de uma mama com o
da mama oposta.

Os avaliadores elegeram a cicatriz que tinha o melhor aspecto, baseando-se nos


seguintes critérios: pigmentação, espessura, cooptação das bordas, reação
inflamatória, presença de equimoses e hematomas superficiais. O avaliador teve
também a opção de considerar as duas cicatrizes como iguais (indiferente).

Além disso, quando o avaliador elegeu uma das cicatrizes como melhor, atribuiu-
lhe um escore que foi definido da seguinte forma: escore zero (indiferente), um
(levemente melhor), dois (moderadamente melhor) e três (acentuadamente
melhor).

4.6. Análise Estatística


A análise estatística envolveu a verificação da validade da aplicação de Plasma
Rico em Plaquetas, frente à avaliação de dois cirurgiões plásticos. Essa análise é
imprescindível para verificar se a aplicação per-operatória intradérmica de PRP
nas feridas cirúrgicas, proporcionou melhores resultados em relação à não
aplicação. Essa análise é feita conforme descrito nos itens a, b e c. Verificou-se
ainda a confiabilidade entre os avaliadores, o que é importante para comprovar a
robustez, reprodutibilidade das avaliações quando os avaliadores forem
diferentes.
43

4.6.1. Concordância entre Lado de Aplicação de PRP e Avaliadores


Para avaliar a concordância entre o lado de aplicação do PRP e cada
avaliador em cada um dos tempos de avaliação das cicatrizes (quatro dias, um
mês, três meses e 12 meses), foram calculados:
a. Concordância percentual entre avaliador e o lado da cicatriz em que
o PRP foi aplicado.
b. Estatística Kappa que avalia se houve concordância além do acaso,
ou seja, se a concordância calculada no item a está além da
aleatoriedade.
c. Valor de p associado a cada estatística Kappa obtida. Níveis de
Kappa: precários (iguais ou inferiores a 0,20), razoáveis (entre 0,20 e
0,40), moderados (de 0,40 a 0,60), substanciais (de 0,60 a 0,80),
bons (acima de 0,80).

Foram consideradas concordâncias e discordâncias as situações, conforme


disposto na Figura 20.

É importante observar que a estatística Kappa usualmente é calculada para


concordância entre avaliadores. Ou seja, não é comumente utilizada para
comparar um padrão-ouro (o lado em que o PRP foi aplicado, que é
sabidamente conhecido) e o avaliador (aquele que não sabe onde foi
aplicado). Contudo, ela foi utilizada nessa pesquisa e não há restrições
quanto a isso, já que o motivo da avaliação é constatar se a concordância
obtida no item a está ocorrendo além do acaso. Além disso, o item c propõe o
cálculo do valor de p associado à avaliação desta concordância além do
acaso.

Finalmente, cabe observar que a estatística Kappa foi calculada apenas


quando o avaliador se manifestou sobre qual o lado a cicatriz estava melhor.
Quando o avaliador se revelou indiferente (ou seja, não sabia qual a cicatriz
estava melhor), essa situação foi excluída da análise.
44

4.6.2. Concordância entre Avaliador 1 e Avaliador 2


Para avaliar a concordância dos avaliadores (1 e 2), em cada um dos quatro
tempos de pós-operatório (quatro dias, um mês, três meses e 12 meses),
foram calculados:
a. Concordância percentual entre a opinião de cada avaliador sobre o
lado em que o PRP foi aplicado no momento em que as fotos foram
por eles avaliadas.
b. Estatística Kappa (que avalia se houve concordância além do acaso);
c. Valor de p associado a cada estatística Kappa obtida.

4.6.3. Escores dos avaliadores: comparação entre cicatrizes com PRP e


sem PRP
Nos quatro momentos de observação, foram atribuídos escores pelos
avaliadores. Para a melhor cicatriz atribuiu-se o escore um (levemente
melhor), dois (moderadamente melhor) e três (acentuadamente melhor),
independentemente se a cicatriz considerada melhor tivesse ou não sido
contemplada com a aplicação de PRP. Para essa análise, foram excluídas
situações nas quais o avaliador não tinha opinião sobre qual a melhor cicatriz
entre as duas apresentadas, ou seja, escore zero (indiferente). Em seguida, a
proporção dos escores nessas cicatrizes foi comparada, usando o teste exato
de Fisher. Para efeito de significância estatística, em todas as situações
(levemente, moderadamente e acentuadamente) considerou-se o valor de p
menor ou igual a 0,05. As situações de concordâncias e discordâncias
atribuídas às comparações, assim como os escores estão descritas na Figura
20.
45

Descrição de concordâncias, discordâncias e escores atribuídos às comparações


Concordância /
Ações do avaliador frente
Discordância / escore Comentários
às fotos apresentadas
atribuído

Avaliador compara as fotos


e diz que cicatriz com Concordância
aplicação de PRP está
melhor
Avaliador compara as fotos
Esse caso é excluído da
e diz que está indiferente à Indiferente
análise de concordância.
qual a cicatriz está melhor

Avaliador compara fotos e


diz que cicatriz sem Discordância
aplicação de PRP está
melhor
Se a cicatriz avaliada tiver
recebido PRP, chamamos
Avaliador diz que cicatriz de PRP com escore
que está avaliando está Escore levemente melhor levemente melhor; caso
levemente melhor em contrário chamamos de
relação a outra controle com escore
levemente melhor.

Se a cicatriz avaliada tiver


recebido PRP, chamamos
Avaliador diz que cicatriz de PRP com escore
que está avaliando está moderadamente melhor;
Escore moderadamente
moderadamente melhor em caso contrário chamamos de
melhor
relação a outra controle com escore
moderadamente melhor.

Se a cicatriz avaliada tiver


recebido PRP, chamamos
Avaliador diz que cicatriz de PRP com escore
que está avaliando está acentuadamente melhor;
Escore acentuadamente
acentuadamente melhor em caso contrário chamamos de
melhor
relação a outra controle com escore
acentuadamente melhor.

Figura 20 - Quadro explicativo sobre os critérios utilizados na pesquisa: concordâncias, discordâncias


e escores atribuídos às comparações, para as feridas operatórias nas quais o PRP foi utilizado ou
não.
46

5. RESULTADOS

Foram avaliadas 129 fotografias por cada um dos cirurgiões plásticos. Com pós-
operatório de quatro dias foram 48 fotografias; com um mês, 31; com três meses, 21;
29 fotografias com 12 meses. Foram estabelecidos escores variando de zero a três,
correspondendo a indiferente, levemente, moderadamente, e acentuadamente
melhor respectivamente. Clinicamente, aos quatro dias de pós-operatório, a
cooptação das margens da ferida, sangramentos, equimoses, hematomas,
deiscências, foram significativamente inferiores no segmento cicatricial com PRP
comparados ao segmento sem PRP. Em um mês de pós-operatório, os fenômenos
inflamatórios, se fizeram menos presentes, com alterações macroscópicas, pouco
evidentes, entre ambos os segmentos. Em torno de três meses, observou-se uma
cicatriz mais aparente em ambos os segmentos com e sem PRP. As cicatrizes se
apresentaram mais largas e hiperemiadas. Estas alterações ficaram mais evidentes
no segmento sem PRP. Aos 12 meses, ambos os segmentos cicatriciais se
apresentaram mais homogêneos, sem diferenças macroscópicas significativas.
Observou-se uma tendência à melhor cicatriz, no segmento com PRP. Essa
diferença, no entanto, não foi acentuadamente evidente aos 12 meses. Portanto, no
presente estudo, observou-se de forma mais evidente, macroscopicamente,
diferenças entre os segmentos cicatriciais com PRP e sem PRP, principalmente aos
quatro dias e três meses. Aos quatro dias o segmento da ferida com PRP,
geralmente se apresentou com melhor cooptação, menor sangramento, em relação
ao segmento sem PRP. Esta diferença, foi perceptível até mesmo por muitos
pacientes, que espontaneamente, consideraram a melhor cicatriz, como aquela com
PRP. Esta aparência diferenciada e mais favorável, se evidenciou também, de forma
mais acentuada com três meses de pós-operatório. Observou-se menor hiperemia,
alargamento e hipertrofia, nessa fase, no segmento de cicatriz com PRP. A
observação direta das cicatrizes, em suas diferentes fases, seria a forma ideal para
avalia-las. No entanto, as fotografias se apresentam como uma forma aceitável de
avaliação nessa pesquisa. O abandono espontâneo do protocolo e o não
comparecimento às datas pré-estabelecidas para as fotografias, foram as principais
causas de diminuição do número de cicatrizes avaliadas. Não houve exclusão de
participantes decorrentes de intercorrências clínicas. Os resultados estatísticos
47

obtidos corroboraram os achados clínicos observados, aos quatro dias e tês meses
de pós-operatório. Aos 12 meses, houve uma tendência à homogeneização,
corroborada estatisticamente, com nivelamento entre os segmentos analisados, sem
diferenças macroscópicas significativas. Não foram observadas cicatrizes defeituosas
como queloides e/ou hipertrofias nos segmentos com PRP, assim como no segmento
oposto sem PRP. A pesquisa realizada, não nos forneceu elementos suficientes para
se afirmar quanto à possível ação do PRP na formação ou não de cicatrizes
patológicas.
Fotografias de cicatrizes cirúrgicas, de abdominoplastias, de pacientes diferentes,
com os segmentos direito e esquerdo (D e E), SEM e Com PRP respectivamente.
Fotografias com quatro dias, um , três e 12 meses, (Figura 21).

1 2

C
3 D
4

Figura 21- Pós-operatório de abdominoplastias em diferentes pacientes, com quatro


dias (1), um mês (2), três meses (3) e 12 meses (4) .

Segmentos cicatriciais direitos (D), em 1, 2, 3, 4 SEM PRP. Segmentos cicatriciais


esquerdos (E) em 1, 2, 3, 4 COM PRP. Fonte: Elaborada pelo autor.
48

Fotografias de cicatrizes de mesma paciente, de mama direita (D) sem PRP e


mama esquerda (E) com PRP com quatro dias de pós-operatório (figuras 1 e
2). Cicatrizes de mesma paciente de mama direita (D) sem PRP e mama
esquerda (E) com PRP (figuras 3 e 4) com um mês de pós-operatório, (Figura
22).

! B
1A 2
1 2

C D

3 4

Figura 22 - Cicatrizes de mama de mesma paciente, com quatro dias


de pós - operatório SEM PRP (1) e COM PRP (2). Cicatrizes de mama de
mesma paciente, com um mês de pós-operatório SEM PRP (3) e COM
PRP (4 ).
Fonte : Elaborada pelo autor.
49

Fotografias de cicatrizes de mesma paciente, de mama direita (D) sem PRP (1) e
mama esquerda (E) com PRP (2) com três meses de pós-operatório. Cicatrizes de
mesma paciente de mama direita (D) sem PRP (3) e mama esquerda (E) com PRP
(4) com 12 meses de pós-operatório, (Figura 23).

1 2
,

3 4
33 4
Figura 23 - Cicatrizes de mama de mesmo paciente com três meses de
pós- operatório: mama direita (D) SEM PRP (1) e cicatriz de mama
esquerda (E) COM PRP (2). Cicatrizes de mesma paciente com 12 meses
de pós-operatório: de mama direita (D) SEM PRP (3) e cicatriz de mama
esquerda(E) COM PRP (4). Fonte: Elaborada pelo autor.

A Tabela 1 mostra o total de cicatrizes avaliadas, com ou sem a aplicação de PRP, e


o percentual de concordância, discordância e de indiferentes segundo dois
avaliadores, em 4 momentos diferentes. Um total de de 48 cicatrizes foram avaliadas
após quatro dias da cirurgia; 31 cicatrizes com um mês; 21 cicatrizes após três
50

meses e 29 aos 12 meses. A diminuição do número de cicatrizes aconteceu por


abandono espontâneo do protocolo pelos pacientes, e também por não
comparecimento dos mesmos às datas pré-estabelecidas para as fotografias.

Aos quatro dias da avaliação o porcentual de escolha da melhor cicatriz em


concordância com o lado de aplicação do PRP pelo avaliador 1 e 2 foi divergente. O
avaliador 1 foi aquele que apresentou maior índice de concordância entre a cicatriz
escolhida como melhor e o lado no qual foi aplicado (70,83%). Para o avaliador 2
este percentual foi de apenas 54,16%. Aos quatro dias, o percentual de cicatrizes
consideradas iguais foi de 25% para o avaliador 2, enquanto o avaliador 1 não
apontou nenhuma como igual.

Decorridos um mês da cirurgia, entre 31 cicatrizes avaliadas, o porcentual de


concordância do avaliador 1 e do avaliador 2 foi bastante homogêneo na escolha da
melhor cicatriz como aquela em que o PRP foi aplicado, apesar de inferior em relação
aos 4 dias. O porcentual de escolha do avaliador 1 apontou como melhor cicatriz em
acordo com o lado em que havia recebido a aplicação do PRP foi de 51,61%
enquanto do avaliador 2 foi de 54,83%. Com um mês, o percentual de cicatrizes
consideradas iguais foi de 25,8% para o avaliador 2 enquanto o avaliador 1 não
apontou nenhuma como igual.

Decorridos três meses da intervenção cirúrgica, entre as 21 cicatrizes avaliadas, o


percentual de escolha do avaliador 1 da melhor cicatriz em acordo com o lado que
havia recebido a aplicação do PRP foi de 66,65%, enquanto a do avaliador 2 foi de
52,38%. Com três meses, o percentual de cicatrizes consideradas iguais foi de
33,33% para o avaliador 2, enquanto o avaliador 1 não apontou nenhuma como igual.

Decorridos 12 meses da intervenção cirúrgica, entre as 29 cicatrizes avaliadas o


percentual de escolha da melhor cicatriz em acordo com o lado de aplicação do PRP
pelo avaliador 1 e 2 foi homogêneo, porém, houve considerável diminuição no
percentual de concordância que foi apenas 34,48% para ambos os avaliadores. O
avaliador 2 considerou oito cicatrizes como iguais, enquanto o avaliador 1 apontou
somente duas.
51

Tabela 1 - Total e percentual de concordância, discordância e indiferentes pela avaliação, em


momentos diferentes, de cicatrizes com e sem a aplicação de PRP.N0 absoluto e relativo
(parêntesis)

4 dias 1 mês 3 meses 12 meses


Avaliadores
Total (%) Total (%) Total (%) Total (%)
Avaliador 1

Concordantes 34 (70,83) 16 (51,61) 14 (66,66) 10 (34,48)


Discordantes 14 (29,16) 15 (48,38) 7 (33,33) 17 (58,62)
Indiferentes 0 (0,00) 0 (0,00) (0,00) 2 (6,89)

Total de cicatrizes 48 (100,00) 31 (100,00) 21 (100,00) 29 (100,00)


Avaliador 2

Concordantes 26 (54,16) 17 (54,83) 11 (52,38) 10 (34,48)

Discordantes 10 (20,83) 6 (19,35) 3 (14,28) 11 (37,93)


Indiferentes 12 (25,00) 8 (25,80) 7 (33,33) 8 (27,58)
Total de cicatrizes 48 (100,0) 31 (100,0) 21 (100,0) 29 (100,0)

A Tabela 2 mostra a concordância percentual geral e valores de Kappa. A estatística


Kappa foi significativamente além do acaso, sendo classificadas como moderadas
aos quatro dias. Após três meses a concordância entre o avaliador e o lado de
aplicação foi próxima a 70% (66,7%) para o avaliador 1 e o Kappa (0,34) foi
considerado razoável e estatisticamente muito próximo da concordância além do
acaso (p=0,052). Aos 12 meses, as concordâncias não foram além do acaso.
Valores do Indice Kappa
Precário ≤0,20 Substancial 0,60 a 0,80
Razoável 0,20 a 0,40 Bons ˃0,80
Moderado 0,40 a 0,60

Quando se comparou os avaliadores, os Kappa foram classificados como razoáveis e


as concordâncias estatisticamente além do acaso para todos meses, exceto o
primeiro mês.
52

Tabela 2 - Concordância percentual geral e valores de Kappa para avaliações, em 4


momentos diferentes, de cicatrizes que tiveram ou não a aplicação de PRP.

Concordância
Tempo da observação Kappa (valor de p)
Percentual
4 dias

PRP e avaliador 1 70,8 0,42 (0,002)

PRP e avaliador 2 70,3 0,41 (0,006)

Avaliador 1 e Avaliador 2 60,4 0,36 (<0,001)

1 mês

PRP e avaliador 1 51,6 0,02 (0,451)

PRP e avaliador 2 73,9 0,49 (0,006)

Avaliador 1 e Avaliador 2 45,2 0,087 (0,232)

3 meses

PRP e avaliador 1 66,7 0,34 (0,052)

PRP e avaliador 2 78,6 0,57 (0,009)

Avaliador 1 e Avaliador 2 52,4 0,29 (0,016)

12 meses

PRP e avaliador 1 37,0 -0,14 (0,817)

PRP e avaliador 2 47,6 0,18 (0,551)

Avaliador 1 e Avaliador 2 55,2 0,28 (0,011)

A Tabela 3 mostra a avaliação dos escores (levemente, moderadamente e


acentuadamente melhor), segundo a escolha da melhor cicatriz por cada avaliador,
decorridos quatro dias da intervenção.

Não se obteve significância estatística nos achados aos quatro dias. Contudo,
observa-se que o avaliador 1 nomeou maior porcentagem de cicatrizes com PRP
como moderada ou acentuadamente melhor (23,5%+44,1%=67,6%)
53

comparativamente àquelas sem PRP (14,3%+50,0%=64,3%). A mesma tendência


foi encontrada para o avaliador 2, cujos percentuais foram 50,0% e 10,0%, com e
sem PRP, respectivamente. Ou seja, as cicatrizes com PRP foram em maior medida
avaliadas como moderada ou acentuadamente melhor aos quatro dias, comparadas
áquelas sem PRP.

Tabela 3 - Avaliação dos escores (levemente, moderadamente e acentuadamente melhor),


segundo a escolha da melhor cicatriz por cada avaliador, após 4 dias da intervenção.Valor
absoluto e relativo (entre parêntesis).

Escore atribuído aos 4 Valor de


Total* Sem PRP Com PRP
dias p
Avaliador 1
Total 48 (100,0) 14 (100,0) 34(100,0)
– Levemente Melhor 16 (33,3) 5 (35,7) 11(32,4) 0,842
– Moderadamente Melhor 10 (20,8) 2 (14,3) 8 (23,5)
– Acentuadamente Melhor 22 (45,8) 7 (50,0) 15 (44,1)
Avaliador 2
Total 36 (100,0) 10 (100,0) 26 (100,0) 0,070
– Levemente Melhor 22 (62,1) 9 (90,0) 13 (50,0)
– Moderadamente Melhor 13 (36,1) 1(10,0) 12 (46,1)
– Acentuadamente Melhor 1(2,8) 0 (0,0) 1 (3,9)

Notas: *excluídas as situações nas quais o avaliador não tinha opinião sobre qual a melhor cicatriz
das duas apresentadas (Indiferente).

A Tabela 4 mostra a avaliação dos escores (levemente, moderadamente e


acentuadamente melhor), segundo a escolha da melhor cicatriz por cada avaliador,
decorrido 1 mês da intervenção. Observa-se a mesma tendência observada aos
quatro dias: maior proporção de cicatrizes com PRP, tanto para o avaliador 1 quanto
para o avaliador 2, foram avaliadas como moderadamente melhor ou
acentuadamente melhor, comparativamente àquelas sem PRP. Chamam a atenção
duas ocorrências: o avaliador 1 ter classificado 20% das cicatrizes sem PRP como
acentuadamente melhor, sendo esse percentual de 43,7% no caso de cicatrizes com
PRP e o avaliador 2, que não avaliou qualquer cicatriz sem PRP, como
54

acentuadamente melhor. Ou seja, maior proporção de cicatrizes com PRP tiveram


classificação moderada/acentuadamente melhor comparativamente sem PR.

Tabela 4 - Avaliação dos escores (levemente, moderadamente e acentuadamente melhor)


para a melhor cicatriz, segundo a escolha de cada avaliador, após 1 mês da
intervenção.Valor absoluto e relativo (parêntesis).

Escore atribuído após 1


Total* Sem PRP Com PRP Valor de p
mês
Avaliador 1
Total 31 (100,0) 15 (100,0) 16 (100,0)
– Levemente Melhor 10 (32,3) 7 (46,7) 3 (18,8)
– Moderadamente Melhor 11 35,5) 5 (33,3) 6 (37,5) 0,451
– Acentuadamente Melhor 10 (32,3) 3 (20,0) 7 (43,7)
Avaliador 2
Total 23 (100,0) 6 (100,0) 17 (100,0)
– Levemente Melhor 19 (82,6) 5 (83,3) 14 (82,3)
– Moderadamente Melhor 2 (8,7) 1 (16,7) 1 (5,9) 0,731
– Acentuadamente Melhor 2 (8,7) 0 (0,0) 2 (11,8)

Notas: excluídas as situações nas quais o avaliador não tinha opinião sobre qual a melhor
cicatriz das duas apresentadas (Indiferente).

A Tabela 5 mostra a avaliação dos escores (levemente, moderadamente e


acentuadamente melhor), segundo a escolha da melhor cicatriz por cada avaliador,
decorridos três meses da intervenção. Mantêm-se a mesma tendência observada
anteriormente com escores com melhor avaliação entre aquelas cicatrizes com PRP.
Os avaliadores 1 e 2 não nomearam nenhuma cicatriz sem PRP como
acentuadamente melhor. O avaliador 2 não chamou qualquer cicatriz sem PRP
como moderadamente melhor, sendo este percentual diferente de zero entre
cicatrizes com PRP (18,2%). Mais uma vez, é importante ressaltar que não houve
55

diferenças estatisticamente significativas nos achados, muito possivelmente pelo


pequeno número de cicatrizes avaliadas.

Tabela 5 - Avaliação dos escores (levemente, moderadamente e acentuadamente melhor)


para a melhor cicatriz, segundo a escolha de cada avaliador, após 3 meses da
intervenção.Valor absoluto e relativo (entre parêntesis).

Escore atribuído aos 3


Total* Sem PRP Com PRP Valor de p
meses
Avaliador 1
Total 21 (100,0) 7 (100,0) 14 (100,0)
– Levemente Melhor 10 (47,6) 4 (57,1) 6 (42,8) 0,417
– Moderadamente Melhor 7 (33,3) 3 (42,9) 4 (28,6)
– Acentuadamente Melhor 4 (19,1) 0 (0,0) 4 (28,6)
Avaliador 2
Total 14 (100,0) 3 (100,0) 11 (100,0)
– Levemente Melhor 12 (85,7) 3 (100,0) 9 (81,8) 0,999
– Moderadamente Melhor 2 (14,3) 0 (0,0) 2 (18,2)
– Acentuadamente Melhor 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0)

Notas: *excluídas as situações nas quais o avaliador não tinha opinião sobre qual a melhor
cicatriz das duas apresentadas (Indiferente).

A Tabela 6 mostra a avaliação dos escores (levemente, moderadamente e


acentuadamente melhor), segundo a escolha da melhor cicatriz por cada avaliador,
decorridos 12 meses da intervenção. Observa-se a mesma tendência observada
nas outras avaliações (quatro dias, um mês, três meses), exceção feita ao avaliador
1, cuja avaliação merece maior detalhe. No caso do avaliador 1, aos 12 meses,
41,2% das cicatrizes sem PRP foram classificadas como moderadamente melhor,
enquanto 20,0%, ou seja, um percentual menor, das cicatrizes com PRP foram
classificadas de tal maneira. Contudo, houve inversão no caso de acentuadamente
melhor: o avaliador 1 classificou 17,7% como acentuadamente melhor entre aquelas
sem PRP, mas esse percentual foi maior entre aquelas com PRP, em torno de
40,0%.
56

Tabela 6 - Avaliação dos escores (levemente, moderadamente e acentuadamente melhor)


para a melhor cicatriz, segundo a escolha de cada avaliador, após 12 meses da
intervenção. Valor absoluto e relativo (entre parêntesis).

Escore atribuído aos 12


Total* Sem PRP Com PRP Valor de p
meses
Avaliador 1
Total 27 (100,0) 17 (100,0) 10 (100,0)
– Levemente Melhor 11 (40,7) 7 (41,2) 4 (40,0)
– Moderadamente Melhor 9 (33,3) 7 (41,2) 2 (20,0) 0,420
– Acentuadamente Melhor 7 (25,9) 3 (17,7) 4 (40,0)
Avaliador 2
Total 21 (100,0) 11 (100,0) 10 (100,0)
– Levemente Melhor 15 (71,4) 8 (72,7) 7 (70,0)
– Moderadamente Melhor 6 (28,6) 3 (27,3) 3 (30,0) 0,999
– Acentuadamente Melhor 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0)

Notas: *excluídas as situações nas quais o avaliador não tinha opinião sobre qual a melhor
cicatriz das duas apresentadas (Indiferente).
57

6. DISCUSSÂO

O Plasma Rico em Plaquetas é um produto autólogo, rico em fatores de crescimento


produzidos pelos grânulos α-plaquetários. É também chamado de plasma autógeno,
plasma enriquecido com plaquetas, concentrado de plaquetas, gel de plaquetas. Por
ser o PRP um produto autólogo, não apresenta reações de histocompatibilidade, e,
portanto, não possui efeitos tóxicos, sobre o organismo de quem o recebe 32,53.

O PRP é constituído basicamente de plasma, leucócitos e plaquetas. O soro, parte do


plasma, possui os fatores de coagulação (fibrinogênio e fibrina) e eletrólitos, como
sódio, cloreto, bicarbonato. Por apresentar elementos da série branca do sangue,
pode contribuir para a defesa do organismo contra agentes infecciosos, tendo um
papel relevante na prevenção e combate a microrganismos, potencialmente
patogênicos. As plaquetas, atuam no processo de hemostasia, cicatrização de feridas
e reepitelização dos tecidos. Os fatores de crescimento, liberados pelas plaquetas
têm importante papel, na angiogênese, proliferação de fibroblastos e
consequentemente aumento na síntese de colágeno, contribuindo diretamente na
cicatrização das feridas27,28,50.

Há mais de três décadas, o PRP vem sendo utilizado na medicina, sobretudo em


ortopedia e odontologia. Uma grande quantidade de trabalhos tem sido publicada
nessa área relatando uso do PRP em processos inflamatórios tendinosos,
ligamentares e processos degenerativos osteomusculares30,33. No entanto, ainda
existem controvérsias quanto aos benefícios de seu emprego.

Embora o PRP venha sendo utilizado em larga escala, principalmente na Medicina


Esportiva, as bases científicas para sua aplicação ainda não foram totalmente
elucidadas. Muitos estudos foram publicados com diferentes resultados quanto à
atuação do PRP. Revendo a literatura, utilizando como base de pesquisa, Cochrane
Library e PubMed, encontramos apenas doze protocolos de pesquisas randomizadas
relacionadas ao uso do PRP em experiências clínicas controladas 7,33,38. Os trabalhos
publicados sobre a utilização do PRP, são em sua grande maioria relacionados à
ortopedia. No entanto são escassos os estudos publicados que dêem respaldo
58

científico ao seu emprego. As pesquisas relevantes, com randomização e controle


são em pequeno número.

Em Cirurgia Plástica, encontramos apenas nove estudos randomizados e


controlados10,12,13,42. O PRP autólogo na forma injetável, intradérmico, tem sido
empregado em procedimentos estéticos de rejuvenescimento e em feridas cirúrgicas.
No entanto, não existe na literatura, até o presente momento, nenhum trabalho
publicado, randomizado e controlado, de aplicação intradérmica de PRP, em feridas
cirúrgicas de abdominoplastias e mamoplastias. Muitos trabalhos têm sido publicados
sobre o PRP, utilizando animais. Dessa forma, em uma pesquisa com equinos, De
Rossi et al.25 em 2009, testaram o PRP em gel, em feridas induzidas cirurgicamente
na região cervical. O grupo tratado com PRP, teve menor resposta inflamatória em
biópsias realizadas com 5, 15 e 45 dias. Os resultados histológicos mostraram uma
melhor organização tecidual, e maior angiogênese, no grupo tratado com PRP em
relação ao grupo controle. No entanto, Monteiro et al.26 em 2009, utilizando também
equinos em sua pesquisa, não observaram aceleração e nem melhora na qualidade
da reparação, ao tratar lesões na região metacarpiana. O PRP teve um efeito
deletério estimulando o tecido de granulação, atrasando significativamente a
cicatrização. Uma provável justificativa seria a elevada concentração de TGF-β (Fator
de crescimento transformador β) que aceleraria a diferenciação dos fibroblastos em
miofibroblastos, reduzindo a síntese e quantidade de colágeno no tecido cicatricial.
Camargo FF27 em 2013, em tese de mestrado, num trabalho utilizando ratos,
constataram que as feridas dermoepidérmicas tratadas com PRP e PRF (fibrina rica
em plaquetas), não apresentaram diferenças significativas em relação ao grupo
controle. Apesar de observarem maior concentração de colágeno no grupo tratado
com PRP, através de análise histomorfométrica. Pazzini28 em 2014, em tese de
mestrado, utilizando coelhos, divididos em dois grupos estudou a evolução cicatricial
em feridas dermoepidérmicas. Os estudos histológicos levaram à conclusão de que o
grupo tratado com PRP, teve melhor cicatrização, caracterizada por aumento
significativo de colágeno no sítio cirúrgico. Atribuiu esse achado, à proliferação dos
fibroblastos, aumento da angiogênese, e síntese da matriz celular. Anitua et al. 8,29,50
em 2006, relata a variação na regeneração dos tecidos em uma cicatriz, teria como
explicação entre outras variáveis, as diferenças das espécies de animais utilizados.
59

Marni et al.30 em 2016, em um estudo randomizado, com base em imagens de


Ressonância Magnética, comprovaram melhora nos tecidos musculares lesionados
seis meses após a aplicação do PRP em cinco de sete pacientes estudados. Estes
autores concluíram que, apesar do pequeno número de pacientes, os resultados
foram clinicamente relevantes. Foi constatada melhora morfofuncional significativa e
uma diminuição da dor nos pacientes. Mishra et al.31 em 2012, afirmaram que apesar
dos dados científicos sobre o PRP serem ainda incipientes, a sua utilização é
promissora, requerendo, no entanto , maiores pesquisas. Em um estudo inédito
Wasterlain A.S et al.32 em 2013, sobre os efeitos sistêmicos do PRP, encontraram
evidências de que algumas substâncias no sangue se elevariam após sua aplicação.
O PRP, era até então, considerado um medicamento potencialmente estimulante e o
seu uso, classificado como dopping. Até a publicação desse trabalho, era proibido
empregar o PRP em atletas competitivos. Estes autores mostraram elevação nos
níveis sanguíneos de VEGF (Fator de Crescimento Endovascular) quando o PRP era
administrado. Não se comprovou, no entanto, que se aplicado nos músculos e
tendões poderia haver melhora na performance dos atletas, por efeitos sistêmicos. A
partir dessa data o VEGF foi considerado como potencial marcador molecular para
detectar quando o atleta foi tratado com PRP. Dragoo JL et al.33 em 2014, através de
um estudo randomizado, duplo cego, demonstraram que o PRP rico em leucócitos,
acelerou a recuperação das lesões patelares. No entanto constataram que essa
vantagem desapareceu com o tempo. Yuksel et al.34 em 2014, relataram melhores
resultados quando se utilizava o PRP associado ao laser, no tratamento de cicatrizes
atróficas, ocasionadas por acne. Willensen et al.35 em 2014, num estudo
retrospectivo, relataram melhores resultados, na associação tópica do PRP e enxerto
de gordura, em procedimentos de rejuvenescimento facial. Nesses pacientes,
constataram menor tempo de recuperação, em relação aos enxertos e e lifting
realizados sem o PRP.

Nofal et al.36 em 2014, publicaram trabalhos sobre o uso tópico do PRP em úlceras
de membros inferiores, com resultados positivos. Shan et al.37 Em 2013 e Saad et
al.38 em 2011 mostraram resultados satisfatórios com a aplicação do PRP em úlceras
de membros inferiores, em pacientes diabéticos, portadores de vasculopatia
periférica grave. Sclafani AP et al.39 em 2005, em uma revisão bibliográfica, em
60

cirurgia plástica, a partir de 2001, mostraram que em 13 estudos in vitro, a utilização


de PRP e (PRFM) matriz de fibrina rico em plaquetas teve um efeito positivo sobre a
atividade celular. Vinte e quatro , dos vinte e oito estudos em animais, exibiram
resultados favoráveis com o PRP, quando utilizado em enxerto. Ramos –Torrecillas J
et al.40 em 2014, numa revisão da literatura, sobre a ação do PRP e fatores de
crescimento, em odontologia, cirurgia plástica, ortopedia e dermatologia, encontraram
diferentes resultados, os quais atribuíram à ausência de padronização nos
protocolos. O grupo que recebeu PRP, teve recuperação mais rápida. Os pacientes
foram avaliados através de fotografias, antes e depois das cirurgias. Alsousou J. et
al.41 em 2013, com base em revisão da literatura, mostraram controvérsias, mas
também resultados encorajadores, como maior velocidade de recuperação e melhor
cicatrização. Sommeling CE et al.42 em 2013, numa revisão sistemática de trabalhos
publicados sobre PRP até 2011, em cirurgia plástica estética e reconstrutora,
encontraram 40 estudos com critérios de inclusão relevantes, num total de 82. Foram
incluídas pesquisas com cicatrização, enxertos de gordura e ósseos. Desse total, 15
estudos randomizados, e 25 casos controles. Foram favoráveis ao uso do PRP, 36
estudos. De Pascale et al.43 em 2015 fizeram uma revisão dos produtos biológicos
derivados do PRP, e constataram uma ampla variação na eficácia terapêutica.
Atribuíram esses diferentes resultados à falta de protocolos de preparação e
reprodutibilidade. Segundo a pesquisa, a lógica da terapia com derivados de
plaquetas ainda está em discussão. Os autores estão com cerca de 14 ensaios
clínicos, na fase 3 ou 4, com grupos significativamente grandes. Wang L et al.44 em
2014, numa revisão, mostraram que a utilização do PRP em feridas de pacientes
internados, reduziu o tempo de recuperação e consequentemente o de
hospitalização. Concluíram que o PRP reduziu a incidência de complicações,
melhoram a dor pós-traumática, e também a incidência de infecções. Marques LF et
al.45 em 2015, afirmaram que, apesar do grande potencial de aplicabilidade, a
implementação terapêutica do PRP, torna-se difícil, devido à falta de pesquisas
relacionadas á padronização das técnicas, e a insuficiente descrição dos
procedimentos adotados. Recomendaram maior números de estudos para determinar
a concentração apropriada de plaquetas para as diferentes condições clínicas.
Eppley BL et al.46 em 2004 relataram estudo sobre PRP e os fatores de crescimento
analisando a quantidade dos mesmos no plasma e sua relação com a cicatrização.
61

Kamakura T et al.47 em 2015 e Hersant B et al.48 em 2016 melhores resultados


quando utilizaram PRP no tratamento de acne associado à dermoabrasão. Cobos R
et al.49 em 2015, relataram benefícios do uso de PRP em úlceras em diabéticos com
diminuição do tempo de cicatrização. Prado R et al50 em 2015, relataram diferentes
protocolos para obtenção dos fatores de crescimento. Díaz-Ley B et al.51 em 2015,
num estudo controlado e randomizado, observaram boa resposta no grupo tratado
com PRP intradérmico, no rejuvenescimento facial. Lynch et al.6,7 em 2016, numa
revisão crítica de pesquisas que utilizaram modelos animais e humanos não
encontraram evidências suficientes da eficácia do uso do PRP que justificassem
seu emprego como rotina, em procedimentos dermatológicos.

Para obtenção do PRP, numerosos protocolos já foram descritos, não havendo


padronização quanto ao método. Na década de 70, quando seu uso começou a se
popularizar, máquinas sofisticadas eram utilizadas para a plasmaferese. A
preparação do PRP, demandava uma coleta de cerca de 500 ml de sangue, em veia
central, para se obter uma quantidade significativa de PRP. O uso da centrífuga de
mesa tornou a técnica mais simples e acessível.

Na nossa pesquisa, foi adotado o protocolo descrito por Vendramin et al.17,18 em


2009. Esses autores analisaram sete formas de preparação do PRP, variando a força
de centrifugação, em gravidade (g) e o tempo de centrifugação (T). Foram realizados
10 testes para definir reprodutibilidade. O melhor protocolo obtido por esses autores
foi adotado em nossa pesquisa que consistiu em dois tempos de centrifugação. A
primeira centrifugação foi a 400 g (gravidade) equivalente a 1300 rpm (rotações por
minuto) e a segunda a 800 g (gravidade) equivalente a 2600 rpm (rotações por
minuto).

A pesquisa avaliou cicatrizes com 4 dias, 1, 3, e 12 meses após a aplicação do PRP.


Essas datas foram estabelecidas, por estarem relacionadas com as diversas fases do
processo cicatricial, ou seja, a fase inflamatória inicial, (de mais ou menos 4 dias), a
proliferativa, (em torno de 10 a 21 dias) e a fase de maturação (que pode ir além dos
12 meses). No decorrer da pesquisa houve variação no número de cicatrizes
analisadas, por abandono espontâneo do protocolo de pesquisa. Aos 4 dias, a
62

presença de hiperemia, sangramento, hematoma, equimose, deiscência, bem como a


cooptação da ferida foram considerados na avaliação da qualidade cicatricial. No
decorrer da cicatrização, outros fatores relacionados aos aspectos estéticos das
cicatrizes foram acrescentados tais como: pigmentação, hipertrofia, largura, sinais
inflamatórios e infecção. A padronização da técnica cirúrgica, os cuidados pós-
operatórios uniformizados, bem como a não realização de outros procedimentos
cirúrgicos, concomitantes, ao longo de todo o estudo, possibilitou a eliminação de
vieses, que poderiam interferir nos resultados.

As diferenças mais evidentes em favor da cicatriz na qual foi aplicado o PRP autólogo
aconteceram, na avaliação com 4 dias de pós-operatório. Essa observação foi
corroborada principalmente pelos resultados do avaliador 1, que escolheu como
melhor cicatriz aquela na qual houve aplicação do PRP em 70% das vezes. O fato do
avaliador 2 ter tido opinião coincidente em apenas 53,4% das vezes pode ser
explicado pelo maior número de cicatrizes nomeadas por ele como iguais
(indiferente). Ambos apresentaram P≤0,05 e Índice Kappa moderado. Os resultados
mostraram que a intensidade na gradação da qualidade das cicatrizes não foi
predominantemente acentuada, porém os avaliadores foram capazes de discernir as
diferenças entre as mesmas. Vale salientar que, a diferença nas cicatrizes foi
observada pelos próprios pacientes que, muitas vezes manifestaram sua opinião
sobre o lado com melhor resultado estético, coincidindo com o lado em que o PRP foi
aplicado.

Também aos 3 meses, a concordância entre avaliador 1 e o lado no qual o PRP foi
aplicado foi próxima a 70% (66,7%) e o Kappa (0,34), considerado razoável e
estatisticamente, muito próximo da concordância além do acaso (p=0,05). Quando se
comparou os avaliadores, os índices Kappa foram classificados como razoáveis e as
concordâncias, estatisticamente além do acaso, para todos os meses, exceto para o
primeiro mês.

Aos 12 meses, as concordâncias não foram além do acaso. Não se pode afirmar
também, que nesse tempo cirúrgico, houveram diferenças significativas entre ambos
os segmentos cicatriciais estudados e se ocorreram por ação direta do PRP.
63

Nessa fase da cicatrização houve um equilíbrio na qualidade das cicatrizes, pois não
foram observadas diferenças significativas entre os segmentos com e sem PRP, por
ambos avaliadores. A ausência de complicações, como processo inflamatório
acentuado, infecção, sangramento, má cooptação da ferida, foi importante para
demonstrar que a aplicação do PRP foi segura e isenta de efeitos colaterais. Se tais
efeitos tivessem ocorrido, certamente teria comprometido o resultado estético
cicatricial final.

Para graduar a intensidade das diferenças entre as cicatrizes com e sem aplicação
de PRP, optou-se pela atribuição de escores na avaliação da melhor cicatriz.
Demonstrou-se que, apesar de uma proporção de cicatrizes com a aplicação de PRP
ter sido apontada como melhor em relação às que não receberam PRP, a gradação
na intensidade dessa diferença observada não foi estatisticamente significativa nos
dois grupos de cicatrizes.
Aos 4 dias de avaliação, observou-se que o avaliador 1 nomeou maior porcentagem
de cicatrizes com PRP como moderada ou acentuadamente melhor (23,5% e 44,1%
respectivamente), totalizando 67,6%. Quanto às cicatrizes sem PRP encontrou-se
14,3% e 50,0%, respectivamente, totalizando 64,3% para o avaliador 1. A mesma
tendência foi encontrada para o avaliador 2 nessas cicatrizes, cujos percentuais
foram 50,0% e 10,0% respectivamente. Ou seja, as cicatrizes com PRP, foram em
maior medida avaliadas como moderada ou acentuadamente melhor aos 4 dias,
comparadas àquelas sem PRP.

Na avaliação de um mês de pós-operatório, manteve-se a mesma tendência


observada aos 4 dias. A proporção de cicatrizes com PRP, tanto para o avaliador 1
quanto para o avaliador 2, foram classificadas como moderadamente melhor ou
acentuadamente melhor, comparativamente àquelas sem PRP.

Após 3 meses da intervenção, manteve-se a mesma tendência observada


anteriormente: escores com melhor avaliação entre aquelas cicatrizes com PRP. Os
avaliadores 1 e 2 não nomearam quaisquer cicatrizes com PRP como
acentuadamente melhor. O avaliador 2 não nomeou qualquer cicatriz sem PRP como
64

moderadamente melhor, sendo este percentual diferente de zero entre cicatrizes com
PRP (18,2%).

É importante ressaltar que não houve diferenças estatisticamente significativas nos


achados, possivelmente pelo número insuficiente de cicatrizes avaliadas. Entretanto,
constatou-se uma tendência dos avaliadores, a nomearem como melhores, as
cicatrizes nas quais foi aplicado o PRP. Em dois tempos distintos (aos 4 dias e 3
meses), a qualidade da cicatriz com PRP foi significativamente melhor. Observou-se
também uma tendência à melhor cicatriz com PRP, na maioria das análises, embora
sem significância estatística.

Essa pesquisa demonstrou a eficácia e segurança do uso de PRP autólogo nas


cirurgias estéticas de mama e abdome. O modelo randomizado e controlado,
adotado nessa pesquisa, para se avaliar os efeitos da aplicação do PRP nas
cicatrizes, é inédito, não havendo estudos semelhantes descritos na literatura. São
numerosos os trabalhos publicados sobre o uso do PRP autólogo, em diversas
especialidades porém são escassos os estudos com relevância. São necessárias
mais pesquisas para eliminar as controvérsias que ainda cercam o seu uso, bem
como padronizar os métodos de obtenção do mesmo. Nessa pesquisa, o abandono
espontâneo do protocolo, por alguns pacientes interferiu na obtenção de
significância estatística, por diminuição do número de cicatrizes avaliadas.

O uso intradérmico de PRP autólogo pré-operatório nas margens cirúrgicas mostrou-


se promissor e benéfico na evolução do processo cicatricial. Pesquisas
complementares serão necessárias utilizando-se maior número de casos para se
obter significância estatística e comprovar inequivocamente, os benefícios da
aplicação do PRP autólogo na cicatrização.
65

7. CONCLUSÂO

A aplicação do PRP em feridas cirúrgicas de abdominoplastias e mamoplastias


demonstrou-se segura, sem efeitos colaterais de ordem sistêmica ou locais que
pudessem comprometer prejudicar o paciente e também o processo cicatricial.

A melhor eficácia com a aplicação do PRP foi observada aos quatro dias de
avaliação, quando as melhores cicatrizes foram aquelas que tiveram a aplicação do
PRP. Apesar de o PRP ter se mostrado mais eficaz na fase inicial de cicatrização, a
sua ação foi indiferente nos períodos tardios da cicatrização. Aos doze meses de
avaliação, houve uma homogeneização na qualidade das cicatrizes, não sendo
possível observar-se diferenças macroscópicas significativas entre os lados com e
sem aplicação de PRP.

Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas nas cicatrizes


quanto à gradação levemente, moderadamente e acentuadamente melhores nos
grupos com e sem aplicação do PRP, em nenhum tempo da pesquisa.
66

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70

9. ANEXOS

Anexo I

Documento oficial de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da UFMG,


em 12 de agosto de 2013 (parecer no 357.067).
71

Anexo II

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLC)

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Eu, ________________________________________________________________,
RG______________, aceito participar dessa pesquisa, durante procedimento
cirúrgico que irei submeter-me nesta clínica (STK Núcleo de cirurgia Plástica) e
autorizo os procedimentos abaixo explicitados, estando plenamente consciente e
informada em relação aos mesmos. Estou ciente, de que se trata de um trabalho
científico, que visa estabelecer os efeitos da aplicação do Plasma Rico em Plaquetas
(PCR) autólogo, responsável, pela liberação dos chamados Fatores de Crescimento
(FC) na cicatriz cirúrgica e que fazem parte de um conjunto de substâncias que
atuam normalmente em todo processo cicatricial, e que são responsáveis, juntamente
com outros fatores intervenientes pela boa evolução e qualidade da mesma. Estou
ciente de que os Fatores de Crescimento existem normalmente no meu organismo,
sendo liberados toda vez que se produz um ferimento. Estou sendo informada que o
Plasma Rico em Plaquetas, por se apresentar em concentração mais elevada, após
manipulação mecânica laboratorial, ao ser aplicado na ferida cirúrgica, proporciona
uma maior concentração de Fatores de Crescimento que segundo trabalhos já
publicados e acompanhamento realizados, demonstraram não oferecer nenhuma
espécie de malefício, ou interferência negativa na qualidade cicatricial. Estou ciente,
de que não terei gastos extras acrescidos às despesas normais contratadas por este
procedimento. Os dados coletados, ou seja, observação da cicatriz ao longo do
acompanhamento pós-cirúrgico, normal, serão mantidos em sigilo, aos quais terei
amplo acesso. Estou ciente, de que uma pequena fração de sangue será coletada,
através de punção de veia periférica, (em torno de 40ml), que irá ser processada por
centrifugação, e aplicada em uma pequena área (em torno de 5cm) da ferida
cirúrgica, ainda na sala de cirurgia. Essa área será comparada posteriormente com o
72

segmento contralateral, sem a presença de PRP. O restante da cicatriz não receberá


qualquer medicação extra, durante o ato cirúrgico. Este procedimento é único, e
restrito ao ato cirúrgico em questão. Estou ciente da necessidade de seguir as
recomendações pós-operatórias. Estou ciente de que, as possíveis complicações que
possam ocorrer, como infecção, deiscência, seromas, são intercorrências que podem
acontecer, independentemente do PRP. Não receberei qualquer espécie de
pagamento ou vantagens de qualquer natureza por participar dessa pesquisa, a qual
me submeto por livre e espontânea vontade.

Belo Horizonte, __________________________________________________


(dia/mês/ano)

_______________________________________________________________
(assinatura)

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