DCC Compilação
DCC Compilação
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INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
Epidemiologia do Cancro
As doenças oncológicas são doenças prevalentes, neste momento são a 2ª causa
de morte nos países desenvolvidos e, são doenças que têm um impacto clínico
importante quer sobre o doente, que sobre a sua família e sociedade.
Impacto do Cancro
O Cancro é uma doença com:
- Alta incidência (tem vindo a aumentar, em parte devido ao envelhecimento da
população);
- Alta prevalência (quer pela maior incidência, quer pelos tratamentos cada vez
melhores);
- Mantém-se uma alta mortalidade;
- Cronicidade (com alto impacto sobre o doente, as famílias e sociedade, não
esquecendo ainda o impacto financeiro);
- Tratamentos tóxicos (com custos elevados);
A mortalidade por cancro em Portugal, é muito parecida à dos países europeus, como
se pode observar na figura abaixo.
Assim sendo, torna-se também claro que o nº de anos de vida perdidos (mortes antes
dos 65 anos) por tumores malignos é bastante superior face às doenças do aparelho
circulatório.
Os tumores malignos do pulmão, brônquios e traqueia são os que têm maior nº de anos
potenciais de vida perdidos, seguidos dos tumores malignos colorretais e do tumor maligno do
pâncreas.
O aumento do nº de mortes atribuídas a tumores malignos não é um falhanço
diagnóstico, devendo-se sobretudo ao facto de haver maior esperança média de vida e o risco
de cancro aumentar, precisamente, com a idade.
Assim, como a nossa pirâmide etária tende cada vez mais a ter uma maior % de pessoas
mais velhas e menor % de jovens é, portanto, de esperar que haja um aumento da incidência de
cancro.
Portugal, é um dos
países com menor
incidência de
doença oncológica
na Europa e
também um dos
que tem menor
mortalidade.
As imagens dizem respeito a dados dos EUA de 2018, mas os dados são iguais aos
dados de Portugal e da Europa, em geral.
Ainda assim, uma vez que o cancro depende da esperança média de vida:
- A probabilidade de um indivíduo do sexo masculino nascido entre 2009-2011 vir a
ser diagnosticado com doença oncológica é de 1/2. Ou seja, ao longo da vida 1 em
cada 2 destes indivíduos, deverá ser diagnosticado com cancro. Há a expectativa de 1
em cada 7 vir a ser diagnosticado com cancro da próstata.
- No que respeita ao sexo feminino, o risco de uma mulher nascida entre 2009-2011
vir a ser diagnosticada com doença oncológica, é um pouco mais pequeno, com
risco de 1/3. Ou seja, ao longo da vida, 1 em cada 3 destas mulheres, deverá ser
diagnosticada com cancro. A expectativa é que 1 em cada 8 seja diagnostica com cancro
da mama.
Um outro aspeto que leva ao aumento do número de prevalentes com cancro, além do
aumento da incidência, é o facto da sobrevivência de doentes com cancro estar a aumentar
progressivamente. Ou seja, de entre os doentes que têm um diagnóstico de cancro, a
probabilidade de estar vivo 5 anos mais tarde, tem vindo a aumentar de uma forma importante
(49% nos anos 70, 55% entre 1987-1989 e 68% entre 2004-2010). Este aumento tem sido quase
transversal à grande maioria dos tumores. Apenas não se verifica em tumores de elevada
letalidade como o carcinoma do pulmão, pâncreas e até ovário.
Portanto, em suma, vivemos mais tempo, temos mais neoplasias e vivemos mais
tempo com elas.
Estatísticas no Cancro
Há várias maneiras para medir o impacto ou os dados de determinada doença, pelo que
podemos ter:
- Medição do Número de casos;
- Incidência e Prevalência
- Mortalidade
- Taxas de Sobrevivência
Mas, como é que se podem comparar dados entre Portugal (com 10M de habitantes) e países
como os EUA (com muitos mais habitantes)?
R:. Tem de ser através de taxas ajustadas.
Incidência e Prevalência
Assim, existem doenças com uma incidência semelhante à prevalência como no caso
do cancro do pâncreas. Pelo contrário, existem também doenças onde há uma prevalência muito
superior à incidência, como o carcinoma da próstata.
Mortalidade
Taxa de Sobrevivência
Aplica-se não à população, mas aos indivíduos com doença. refere-se à probabilidade
de estar vivo após um certo período de tempo (habitualmente 5 anos) desde o diagnóstico.
A sobrevivência
aos 5 anos na
doença neoplásica
é muito diferente
consoante o tipo de
neoplasia, podendo
variar entre valores
muito elevados
(tumor da próstata,
tumor da tiróide,
tumor do testiculo)
até valores muito
baixos (neoplasia do
pâncreas,
mesoteliomas, tumor
do pulmão, entre
outros).
Além da variabilidade inerente à biologia das doenças há também uma variação quer da
incidência, quer da mortalidade ao longo do tempo por outros fatores. Vemos que há uma
tendência para uma menor incidência nos últimos anos de cancro do colo do útero (pensa-se
que devido ao Papanicolau) ou do estômago (por melhor acondicionamento da comida). Por
outro lado, alguns cancros têm aumentado a sua incidência, como o carcinoma da próstata ou a
neoplasia do pulmão no sexo feminino (que se atribui ao aumento do tabagismo neste mesmo
sexo).
São muito variáveis, depende da localização do tumor primitivo e de uma possível doença
metastática.
Contudo, alguns sintomas gerais que nos devem colocar alerta para despistar ou
confirmar doença oncológica, são:
- Presença de uma tosse persistente (mais num adulto, de idade avançada e
fumador);
- Modificações na boca, garganta ou voz (rouquidão persistente);
- Queixas inespecíficas, como dispepsia, pirose de novo, enfartamento de
novo, ou alterações dos hábitos intestinais;
- Perda de sangue persistente através dos orifícios anatómicos;
- Dificuldades na micção;
- Deteção de lesões cutâneas novas, que aumentem de tamanho ou alterem as
suas características (contornos ou pigmentação);
- Aparecimento de "algo que se palpa ou vê" (aparecimento de um nódulo ou
aumento do testículo).
De modo a prevenir o risco de cancro, foi criado um Código Europeu contra o Cancro, que
contém 12 ações:
Etiologia do Cancro
O cancro é uma doença genética com etiologia multifatorial, quer isto dizer que o cancro
não é uma doença genética mendeliana com transmissão de pais para filhos, mas é uma doença
genética, na medida em que resulta de uma célula que acumula uma série de erros no seu
património, no seu ADN, que leva a que a célula se torne autónoma e independente dos normais
fatores de controlo, levando a uma neoplasia, primeiro localizada e depois, metastática.
Estas alterações genéticas só muito raramente resultam de uma predisposição
hereditária transmissível de pais para filhos, sendo que na maioria dos casos não se conhecem
fatores causais. De facto, os fatores causais melhor estabelecidos são:
- Fatores Ambientais;
- Causas Infeciosas;
- Predisposição hereditária;
Fatores Ambientais
De longe, o fator ambiental mais estudado e conhecido é o tabaco. O tabagismo está
associado a muitos tipos de cancro (pulmão, cabeça e pescoço, esófago, estômago e bexiga),
bem como a outras doenças como doenças respiratórias ou CV.
A Obesidade e o Cancro
A obesidade é já considerada a epidemia do século XXI, sendo definida pela OMS como
um problema de saúde pública.
Há uma relação entre a obesidade e o cancro, sendo que a American Cancer Society,
revela que "para a maioria dos indivíduos que não fumam o principal risco de cancro é a
obesidade, podendo ser alterado pela dieta, controlo do peso e atividade física".
Estadiamento no Cancro
Para estabelecer um plano terapêutico para um doente com cancro, são precisos
um diagnóstico histológico (biópsia), bem como, um estadiamento da doença. Assim, para
a mesma doença:
- num estadio precoce pode ser feito um tratamento cirúrgico sem necessidade
terapêutica adjuvante;
- num estadio adiantado pode não ser já recomendada cirurgia, e o tratamento
pode ser apenas médico, através de fármacos;
Pelo contrário, o fator positivo de resposta é uma caraterística da doença que ajuda
a selecionar um tratamento. Por exemplo, num cancro da mama pode haver ou não presença
de recetores hormonais. Um cancro da mama sem expressão de recetores hormonais tem uma
menor probabilidade de cura do que um cancro da mama com expressão de recetores
hormonais. Assim sendo, num tumor da mama sem recetores hormonais em que se faça
terapêutica com Tamoxifeno, a probabilidade de cura é exatamente a mesma (não se altera),
uma vez que estes tumores não respondem a tratamento hormonal. Pelo contrário, num tumor
da mama com recetores hormonais positivos que seja tratado com hormonoterapia, a
probabilidade de cura aumenta.
Deste modo, a presença deste fator preditivo de resposta ajuda a selecionar o
tratamento, permitindo que sejamos mais agressivos no tratamento de doentes com pior
prognóstico, sendo que este tratamento é selecionado dependendo se o tumor tem, ou não,
determinado fator preditivo de resposta.
Esta aula vai basear-se na biologia da célula tumoral, ou seja, vão ser discutidos os processos
biológicos que estão na base da transformação de uma célula normal numa célula tumoral. Vão
ser transmitidos alguns conceitos base do processo de tumorigénese, mas também das
caraterísticas presentes nas células tumorais e, sobretudo, dar uma perspetiva acerca do
“caminho” que já foi feito em relação ao conhecimento da biologia do cancro, das muitas
perguntas que ainda existem mas, essencialmente, do impacto que o melhor conhecimento do
cancro teve e continua a ter na vida das pessoas que são diagnosticadas com cancro.
O que é o cancro?
Definição da OMS:
“Cancer is a large group of diseases that can start in almost any organ or tissue of the body when
abnormal cells grow uncontrollably, go beyond their usual boundaries to invade adjoining parts of
the body and/or spread to other organs. The latter process is called metastasizing and is a major
cause of death from cancer. A neoplasm and malignant tumour are other common names for
cancer.”
Esta definição tem alguns conceitos importantes e que vão ser discutidos mais à frente. Em
primeiro lugar, o cancro tem associado um crescimento descontrolado de células anormais.
Em segundo lugar, este crescimento pode levar à invasão dos tecidos adjacentes aos locais
onde surgem as células tumorais, mas também pode incluir a disseminação destas células
tumorais para outros órgãos (metastização). A metastização é a principal causa de morte por
cancro.
“Cancer is a term used for diseases in which abnormal cells divide without control and are able to
invade other tissues. Cancer cells can spread to other parts of the body through the blood
and lymph systems. Cancer is not just one disease but many diseases. There are more than 100
different types of cancer.”
Esta definição reforça, mais uma vez, a noção de células anormais, de crescimento não
controlado e de invasão quer nos tecidos adjacentes, quer noutros órgãos à distância. As
últimas frases também tornam esta definição muito interessante, uma vez que referem que o
cancro não é uma só doença. A oposição “cancro como entidade única vs cancro como
múltiplas doenças” é uma das noções que sofreu uma evolução grande, ao longo das últimas
décadas. Por exemplo, um cancro da mama não é apenas um cancro da mama, já que existem
várias doenças dentro deste e vários subtipos biológicos. Tal como o cancro do pulmão não é
apenas um cancro do pulmão, uma vez que é possível caraterizar as alterações e as mutações
genéticas e caraterizar o cancro do pulmão nas suas diferentes variantes. Assim, de facto, o
cancro não é uma doença, mas sim uma multiplicidade de patologias que têm prognósticos,
tratamento, seguimento, evolução e histórias naturais muito diferentes.
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DCC Biologia da Célula Neoplásica
Em primeiro lugar, vai ser discutida a ideia de “cancro como doença genética”. O processo de
tumorigénese tem a sua base em alterações genéticas que ocorrem ao nível da célula e a
maioria das neoplasias têm origem numa primeira célula, que era normal e que foi adquirindo
alterações genéticas, que lhe concederam vantagem adaptativa (por exemplo, menor
necessidade de fatores de crescimento para a sua proliferação, maior capacidade de invasão
dos tecidos circundantes). Basicamente, esta célula sofreu alterações genéticas, que se
traduziram em alterações fenotípicas, que lhe deram uma vantagem de sobrevivência. Assim,
utiliza-se, muitas vezes, a ideia de “clonalidade”, ou seja, a ideia de existirem grupos de células
relacionados entre si, porque tiveram origem numa célula única que foi sofrendo alterações
genéticas. Por outro lado, usa-se também bastante o conceito de “evolução darwiniana do
cancro”, ou seja, em que ocorre uma seleção da célula mais forte/agressiva, baseada nas
caraterísticas fenotípicas (semelhante à evolução darwiniana do mundo animal). Esta seleção
das células mais capazes faz com que o tumor se desenvolva, prolifere, invada tecidos e
cresça cada vez mais.
Houve muita discussão à volta deste artigo, o que fez com que em 2011, os mesmos autores
publicassem um segundo artigo em que, basicamente, acrescentaram outras caraterísticas
fundamentais às já mencionadas no artigo anterior, os “Emerging Hallmarks”. Portanto, além
das 6 caraterísticas anteriores, incluíram:
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DCC Biologia da Célula Neoplásica
Para além destas, descreveram ainda mais duas caraterísticas, que designaram por “Enabling
Characteristics”, ou seja, não são caraterísticas da própria célula adquiridas por mutação, mas
sim caraterísticas que favorecem o desenvolvimento do fenótipo tumoral, nomeadamente:
• Inflamação
• Instabilidade genómica
Falando agora de cada uma das “Hallmarks of Cancer”, ou seja, as tais caraterísticas que
precisam de existir nas células tumorais e que as caraterizam:
O que se sabe é que nas células tumorais, as vias de sinalização e de ativação da proliferação
estão, habitualmente, sobreativadas. Isto quer dizer que a célula está constantemente a receber
sinais para avançar no processo de proliferação, divisão celular e crescimento. Muitas vezes, o
que acontece é que as células tumorais têm alterações que fazem com que elas fiquem
independentes da estimulação externa: ou porque aumentam bastante a expressão de
recetores de superfície, tornando-se muito mais sensíveis aos fatores de crescimento externos;
ou porque as próprias células tumorais passam a produzir fatores de crescimento que vão
atuar nos seus próprios recetores (feedback positivo constante); ou porque ocorrem alterações
nas próprias vias de sinalização que fazem com que estas fiquem constantemente ativadas
e, portanto, independentemente da célula estar a receber um estímulo externo ou ter recetores
de superfície mais ou menos expressos, abaixo disto a via de sinalização está continuamente
ativa e, assim, dá indicação à célula para entrar em divisão celular e para proliferar. Este
conhecimento permitiu perceber o porquê de alguns doentes responderem melhor ou pior a
determinadas terapêuticas. Temos como o exemplo o cetuximab (anticorpo monoclonal anti-
recetor EGFR). Este recetor EGFR é um recetor membranar frequente nas células humanas,
mas na verdade, encontra-se sobreexpresso no cancro. Em particular, no cancro colorretal,
cerca de 80% dos tumores tem uma sobreexpressão deste recetor de superfície, o que o tornaria
um candidato excelente para o desenvolvimento de um medicamento que pudesse atuar e
bloquear este recetor, impedindo o desenvolvimento da célula. Assim, é daqui que surge o
cetuximab, que foi testado em ensaios clínicos e mostrou o seu benefício no controlo da
doença nos doentes com cancro colorretal. No entanto, percebeu-se muito precocemente no
desenvolvimento clínico deste fármaco, que nem todos os doentes respondiam de igual
forma a este medicamento, sendo de destacar um grupo de doentes que não beneficiavam, de
todo, deste fármaco. Então, estes doentes foram estudados e percebeu-se que, de facto, eram
doentes que tinham uma ativação RAS, o que quer dizer que, independentemente do que
acontecesse na superfície da célula, estava a ocorrer uma ativação contínua através do RAS e,
portanto, quando o RAS está sobreativado, continua a ativar a via abaixo, ou seja,
independentemente da sinalização anterior, esta via estava sempre ativada. Portanto, de nada
valia o bloqueio do recetor EGFR se abaixo disso, havia uma ativação constante desta via de
sinalização. Então, concluiu-se que os doentes que tinham uma mutação RAS, não eram
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DCC Biologia da Célula Neoplásica
Numa célula normal, sabe-se que o processo de proliferação é regulado de uma forma apertada,
sobretudo através do controlo da entrada no ciclo celular. Habitualmente, numa célula
normal, através de fatores de crescimento, existe ativação do complexo ciclina D – CDK e a
ativação deste complexo leva a fosforilação da proteína do retinoblastoma (Rb), que por sua
vez, vai libertar o fator de transcrição E2F, que vai dar indicação para o início da replicação
do DNA e, assim, da entrada no ciclo celular. Por outro lado, em resposta a estes fatores de
crescimento, a célula produz sinais anti-crescimento, nomeadamente através do p53, que vai
inibir a formação do complexo ciclina D – CDK, não ocorrendo fosforilação da proteína Rb e não
havendo libertação do fator de transcrição E2F, o que faz com que a célula não entre no ciclo
celular. Numa célula tumoral, todo este processo pode estar alterado, nomeadamente através
da mutação do p53, que deixa de ter o seu efeito inibitório, ou através da mutação do Rb. Hoje
em dia com base nesta evasão aos inibidores de crescimento, existem medicamentos
disponíveis, os inibidores CDK, que têm como função inibir a formação do complexo, inibindo
assim a fosforilação da proteína Rb e a libertação do fator de transcrição E2F, para que não haja
uma entrada constante da célula tumoral no ciclo celular. Deste modo, as células acabam por
ficar num estado quiescente e acabam por morrer. Estes fármacos já são usados na prática
clínica e já demonstraram um benefício significativo, nomeadamente em doentes com cancro
da mama metastático, tendo demonstrado benefícios, inclusive, no tempo de sobrevida.
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• Resistência à apoptose
Quando uma célula normal tem uma lesão do DNA que não é reversível/reparável, é ativado o
processo de apoptose, ou seja, de morte celular. Este processo é, habitualmente, ativado
através do p53. Este é um gene que está, muitas vezes, mutado e alterado no cancro (estima-
se que em > 50% dos cancros, haja uma mutação do p53), o que faz com que não seja possível
a indução da entrada da célula no caminho da apoptose. Assim, a célula acaba por sobreviver
e acaba por manter as alterações genéticas, que lhe vão dar caraterísticas fenotípicas e que
lhe conceder vantagens adaptativas.
• Aquisição de imortalidade
Basicamente, este hallmark consiste na ideia de que à medida que as células se vão dividindo,
vai havendo um encurtamento dos telómeros e esse encurtamento dá um sinal à célula para
não se continuar a dividir. Na célula tumoral, este processo está descontrolado, o que quer
dizer que à medida que as células se vão dividindo, vai-se mantendo o tamanho do telómero,
por uma ativação excessiva da atividade da telomerase. Deste modo, a célula continua a
replicar-se, sem perceber que, de facto, já está na altura de parar. A noção de imortalidade
ocorre no sentido em que a célula não envelhece e continua sempre a replicar-se e a proliferar.
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• Angiogénese
• Invasão e Metastização
A invasão e a metastização são caraterísticas que têm sido estudadas de forma intensa, uma
vez que a doença metastática é a principal causa de morte dos doentes com cancro. Assim,
existe a noção de que se houver um melhor entendimento da forma como ocorre o processo de
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metastização, melhor poderá ser feito o tratamento e quem sabe, a prevenção do processo de
metastização. O que a investigação tem demonstrado é que, de facto, a metastização é um
processo complexo e que contém várias etapas: saída das células tumorais do tumor primário,
entrada das células na corrente sanguínea, sobrevivência durante o percurso nos vasos
sanguíneos (o que não é fácil, devido a todos os mecanismos de defesa que temos),
extravasamento do vaso para um tecido à distância e com um microambiente diferente ao natural
desta célula e sobrevivência no tecido à distância, arranjando condições para proliferar e
constituir macro-metástases nesse local. Todos estes passos são, de facto, difíceis e exigentes
e necessitam de uma série de caraterísticas que a célula tumoral tem de ter, que lhe permitam
sobreviver a todo o processo e continuar a proliferar neste local à distância.
No fundo, o que foi descrito anteriormente foi a cascata metastática, que descreve os passos
que são necessários e fundamentais para que uma célula tumoral consiga constituir macro-
metástases em locais à distância. Esta é uma área de intensa investigação, sendo que têm
sido descritos os genes que podem estar mutados e que conferem estas caraterísticas de
invasão, capacidade de entrada em circulação, sobrevivência em circulação, extravasamento,
formação de micro-metástases e, depois, o crescimento para macro-metástases. Nestes
diferentes passos, há diferentes genes que estão envolvidos. Por outro lado, hoje em dia,
percebe-se a importância do sistema imunitário e de outras células do hospedeiro neste processo
de metastização. De facto, isto é um tema que tem sido muito estudado e com certeza que no
futuro irão existir melhores abordagens no tratamento da doença metastática, que continua a ser
principal causa de morte em doentes com cancro.
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DCC Biologia da Célula Neoplásica
Nesta imagem, pode ver-se o cromossoma de Philadephia, que foi a primeira vez em que foi
descrita uma alteração genética associada a uma doença concreta e bem definida (relação
alteração genética à doença).
leucemia mieloide cronica
Depois da descrição desta alteração genética, têm sido descritas múltiplas alterações genéticas,
que podem surgir através de diferentes processos: mutações, translocações cromossómicas,
inversões, deleções, amplificações, etc. Por outro lado, as caraterísticas podem também
aparecer devido a alterações bioquímicas, sem uma alteração genética associada, designadas
por alterações epigenéticas.
Mutação Pontual:
Translocação e
Inversão cromossómicas:
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DCC Biologia da Célula Neoplásica
Depois, existem ainda outros exemplos como a associação entre o EBV e o desenvolvimento
do carcinoma da nasofaringe ou o HBV e HCV e o desenvolvimento de carcinoma
hepatocelular.
A terceira forma que pode levar ao aparecimento de alterações genéticas é a inativação dos
genes responsáveis pela integridade do genoma.
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Depois da discussão acerca das caraterísticas de uma célula tumoral, da forma como estas
caraterísticas aparecem, da forma e do porquê de as alterações genéticas subjacentes a estas
caraterísticas ocorrerem, vão ser dados dois exemplos de como integrar toda a informação.
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Tumorigénese no CCR
O segundo exemplo é do processo de tumorigénese no cancro colorretal (que deve ter sido
o primeiro a ser descrito). Neste exemplo, fica muito claro que, de facto, há uma evolução desde
o tecido normal até a um tumor, passando pelas células pré-neoplásicas, com as alterações
genéticas associadas a estas alterações fenotípicas. A noção de “evolução fenotípica” é
relevante quando se pensa na importância do rastreio do cancro colorretal e na possibilidade
de serem detetadas lesões pré-neoplásicas, que podem ser tratadas antes de se chegar a um
estadio de carcinoma, com capacidade de invasão e de metastização.
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DCC Biologia da Célula Neoplásica
Hoje em dia, já existe um conhecimento bastante significativo dos diferentes tipos de células
e de quais são as suas funções no processo de tumorigénese. Já há muitos anos que se
tinha percebido que existiam células do sistema imunitário nos tumores, porém, o que se
achava inicialmente é que essas células estavam lá, porque tinha havido uma tentativa do
sistema imunitário de combater o tumor, que não tinha sido bem-sucedida. Atualmente, já se
sabe que essas células do sistema imunitário estão no tumor com um propósito muito bem
definido, que é auxiliar o crescimento desse tumor. Na verdade, o que acontece é que as
células tumorais conseguem alterar as células do hospedeiro (nomeadamente, células do
sistema imunitário, fibroblastos e células endoteliais) e conseguem alterar a sua função normal,
transformando-as em células que: ou produzem fatores que vão beneficiar a proliferação e o
crescimento das células tumorais; ou ficam inibidas (ex. células do sistema imunitário) e não
conseguem responder eficazmente às células tumorais. Conclui-se, então, que algumas
células do hospedeiro não são apenas “espetadores” do processo de tumorigénese, mas que
participam ativamente no processo e contribuem para o crescimento e proliferação do tumor.
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DCC Princípios de Cirurgia Oncológica
A cirurgia é a forma mais antiga de tratamento do cancro. Mais de 90% dos doentes oncológicos são
submetidos a procedimentos cirúrgicos, quer seja para tratamento, quer seja para diagnóstico.
A cirurgia oncológica é uma subespecialidade que se foca em integrar a cirurgia nas restantes
especialidades de tratamento do cancro. Para ser eficaz, o cirurgião oncológico tem de ter um
conhecimento profundo da história natural dos tumores sólidos, desde a sua origem, proliferação e
disseminação. Tem de ter um conhecimento das opções de diagnóstico, de avaliação inicial do tumor,
estadiamento, conhecer o prognóstico e os diferentes algoritmos terapêuticos. Tem de saber aplicar
corretamente os tratamentos, conhecer as suas indicações, riscos e benefícios e, numa era cada vez mais
regida por princípios económicos, ter uma noção dos custos associados às diferentes formas de tratamento
do cancro.
Raramente a cirurgia atua de forma isolada. O que é mais frequente é combinar-se com a Radioterapia,
Quimioterapia, Hormonoterapia, Imunoterapia, seja em tratamentos pré-operatórios, muitas vezes
chamados neoadjuvantes, procurando melhorar as
condições de obter uma cirurgia curativa, quer uma fase
pós-operatória em que estes tratamentos, chamados
de adjuvantes, procuram reduzir o risco de recorrência
local e à distância.
Vantagens
A cirurgia apresenta algumas vantagens em relação às outras formas de tratamento do cancro:
◼ “p” TNM.
• Importante referir que é da peça cirúrgica que obtemos
◼ Prognosis factors.
o material para classificar os doentes no estadiamento
“p” TNM.
• É também através das peças cirúrgicas que conhecemos outros fatores de prognóstico (recetores
hormonais, marcadores HER2)
Desvantagens
Foi necessário fazer uma resseção do esterno e de vários arcos costais, expondo o
pericárdio (imagem inferior esquerda). Foi mobilizado um retalho de epíploon para
resolver a parte infeciosa e, num 2º tempo, encerrou-se o defeito utilizando um
retalho muscular do grande dorsal sobre o qual foi feito um enxerto livre de pele.
• Ressecção do tumor
• Margem adequada (tipo histológico, estadio)
• Estadiamento linfático
• Função
• Estética
Linfadenectomia de estadiamento
Nos tumores do cólon, a presença de metástases ganglionares é o fator determinante para pôr indicação
para terapêutica adjuvante com quimioterapia. Desta forma, é muito importante fazer uma correta
linfadenectomia para estadiamento da doença. Quando o cirurgião efetua essa linfadenectomia, tem
também de compreender as implicações da laqueação dos vasos na origem.
Neste caso, temos 2 doentes com tumores no cólon direito: um no cego, outro no ângulo hepático. Os
tumores do cego só metastizam até aos gânglios do ramo direito da cólica média. Já para um tumor do
ângulo hepático é necessário laquear esta artéria na sua origem. Essa laqueação condiciona uma
desvascularização da metade esquerda do
cólon transverso, o que obriga a alargar a
resseção até ao ângulo esplénico. Sempre
que se faz a linfadenectomia, tem de se ter
noção das implicações do ponto de vista
funcional e vascular, e alargar a resseção
para permitir uma anastomose com topos
bem vascularizados e em segurança.
Doença residual
Um conceito importante no tratamento do tumor primário é o de doença residual.
• R0: Quando não ficou doença residual macroscópica e não há envolvimento microscópico da margem.
• R1: Quando na peça histológica há um envolvimento microscópico da margem.
• R2: Quando ficou doença macroscópica residual.
Por exemplo, num tumor do cólon direito (como no exemplo anterior), se ao efetuar a hemicolectomia
direita fosse detetada uma metástase hepática e ela não tivesse sido ressecada, essa cirurgia seria
classificada como R2. Só devemos esperar longos tempos de sobrevida quando efetuamos cirurgias R0.
A impossibilidade de as obter deve levar o cirurgião a abster-se de fazer a cirurgia, ou seja, se não há
sintomas para paliar, não há vantagens em ressecar um tumor primário e, por exemplo, deixar múltiplas
metástases hepáticas... Os doentes não têm melhorias de sobrevida.
Podemos efetuar:
• Traqueostomias, por exemplo, em tumores irressecáveis da laringe, para resolver problemas de
dispneia;
• Gastro/jejunostomias de alimentação para tratar tumores na área da cabeça e pescoço, tumores
oclusivos do esófago ou do cárdia
• Ileo/colostomias derivativas do trânsito intestinal em doentes com tumores pélvicos do reto, tumores
ginecológicos, tumores da próstata;
• By-pass, por exemplo, em tumores da cabeça do pâncreas que estão a causar icterícia obstrutiva.
Sempre que possível, a cirurgia paliativa deve ser substituída por técnicas endoscópicas que permitam
resolver os sintomas dos doentes, com menor risco cirúrgico e com menor necessidade de internamento.
A: Síndrome de Lynch.
E: Todas.
BRCA 1 BRCA 2
Cromossoma 17 Cromossoma 13
Os principais fatores que levaram à melhoria dos resultados foi o conhecimento pré-operatório do
diagnóstico histológico, submetendo os doentes a biópsias guiadas por imagem, por ecografia, por TC,
biópsias realizadas por técnicas endoscópicas. Melhoraram muito os exames de estadiamento (o TC, a
RM, a ecoendoscopia [método mais eficaz de estadiamento locoregional (T e N) para os tumores do
esófago, estômago e reto], a PET [excelente método de screening de lesões com alta atividade metabólica,
tais como as metástases, mas não dá detalhes anatómicos]). Todos estes meios permitem selecionar os
doentes em função do seu estadio para um caminho de cirurgia primária ou para a necessidade de
terapêutica neoadjuvante com quimio e/ou radioterapia ou hormonoterapia.
Veronesi demonstrou que os doentes submetidos a cirurgia conservadora, quando comparados com os
doentes submetidos a mastectomia, tinham iguais sobrevidas globais e livres de doença. Os doentes
submetidos a cirurgia conservadora têm, na sua maioria, bons resultados estéticos.
◼ Introduction:
◼ Veronesi (Milan Trial I-1973-80 & II-1985-87).
◼ Conservative surgery and mastectomy have equal free of disease and overall
survival.
◼ 10 year local recurrence 5.2% & 1.4% new ipsilateral cases.
◼ Milan Trial II better local control of Quadrantectomy vs Tumorectomy.
◼ Most patients achieve acceptable cosmetic results.
◼ Introduction:
◼ 15% bad cosmetic outcomes, requiring reconstructive surgery.
◼ Cosmetic outcomes are influenced by:
Tumor size (excision volume)
Tumor location
Breast volume and shape
Foi para tentar evitar estes maus resultados estéticos que surgiu o conceito de cirurgia oncoplástica.
Vamos falar das Perfusões Isoladas de Membro que combinam cirurgia e quimioterapia, Quimioterapia
(QT) Intraperitoneal, a Eletroquimioterapia e a Radioterapia (RT) Intraoperatória.
• Doentes com sarcomas do membro, em que a terapêutica tem um objetivo neoadjuvante, ou seja,
fazer downstaging do tumor, procurando evitar a necessidade de uma amputação;
• Doentes com metástases em trânsito de melanoma, em que o objetivo é paliativo, ou seja, tentar
destruir as lesões que não seriam passíveis de uma resseção cirúrgica.
◼ Indicações:
- Pseudomixomas peritoneais
- Mesoteliomas
- Carcinomatose peritoneal
◼ Protocolo:
Resseção de todo o peritoneu parietal e visceral,
esplenectomia, colecistectomia, omentectomia, resseção
anterior do reto (tumor < 2 mm)
◼ HIPEC (QT Hipertérmica com Mitomicina)
3.4.3. Eletroquimioterapia
A Eletroquimioterapia é uma técnica que utiliza pulsos de energia elétrica de alta voltagem para
permeabilizar a membrana celular. A utilização desta corrente elétrica permite obter um efeito de forma
transitória e reversível. Esta despolarização das membranas celulares torna-as permeáveis a agentes de
QT (como a bleomicina), que normalmente não seriam capazes de atravessar a membrana celular. É
utilizada no tratamento de metástases cutâneas, sobretudo em zonas em que não é possível efetuar
perfusão isolada de membro, como o tronco e a face. Portanto, é utilizada em metástases em trânsito de
melanoma, recidivas cutâneas de cancro da mama e uma série de tumores com metastização difusa com
objetivos paliativos de controle álgico e diminuição do risco de ulceração e hemorragia.
◼ Utilização de pulsos de energia elétrica de alta voltagem para permeabilizar a membrana celular.
◼ A utilização desta corrente elétrica permite obter esse efeito de uma forma transitória e reversível.
◼ Inicialmente usado para transferência genética, este procedimento é hoje em dia utilizado para
facilitar a entrada de vários constituintes para dentro das células: Drogas, Corantes, Marcadores,
Anticorpos, Nucleótidos.
◼ Toxicidade da bleomicina aumenta de 300 a 5000 x com o uso da eletroporação e a da cisplatina
aumenta de 2 a 13 x.
◼ A EQMT sozinha faz desaparecer 90% de todos os tipos histológicos de lesões malignas da pele.
4. Novas tecnologias
O surgimento de novas tecnologias nas últimas duas décadas tem revolucionado a cirurgia oncológica:
• Laparoscopia
• Instrumentos de corte (laser, bisturis ultrassónicos e harmónicos)
• Suturas Mecânicas (lineares, circulares) [poupam tempo nas anastomoses]
• Ecografia intraoperatória [nomeadamente, para resseção de metástases hepáticas]
• Cirurgia radioguiada
Laparoscopia
Hoje em dia, está perfeitamente demonstrado que a via de abordagem
laparoscópica permite a realização de cirurgias oncológicas com a
mesma eficácia e segurança e com menor tempo de recuperação e de
internamento após a cirurgia.
Laparoscopia
Neoplasias
Gastrointestinais
5. Novos conceitos
Se, em doentes com metastização ganglionar, axilar ou inguinal, está indicada a linfadenectomia, para
objetivos de estadiamento, esta técnica tem uma morbilidade muito elevada. Foi para evitar esta
morbilidade que surgiu o conceito de gânglio sentinela.
O gânglio sentinela é o primeiro ou primeiros gânglios que recebem a drenagem linfática de uma
determinada área anatómica. Está demonstrado que, se o gânglio sentinela é negativo, com uma grande
probabilidade, todos os restantes gânglios dessa cadeia ganglionar, o serão também. Assim, a técnica de
gânglio sentinela permite efetuar um estadiamento ganglionar em doentes, por exemplo, com cancro da
mama ou com melanoma, sem os riscos associados de linfedema da técnica de linfadenectomia.
A beautiful operation that results in death of the patient is not satisfactory surgery.
Sir J. Horsley
2.Acelerador linear
3.Abordagem ao doente
4.Técnicas de Radioterapia
5.Notas finais
Introdução
A Radioterapia é um importante componente do tratamento multimodal do doente oncológico (tal como a cirurgia e os
tratamentos sistémicos – quimioterapia e imunoterapia).
Mais de 50% dos doentes recebem Radioterapia em algum momento da sua vida, quer com intuito curativo (isolada ou
em combinação com a quimioterapia ou com cirurgia – podendo ser neoadjuvante ou adjuvante), quer como tratamento
paliativo.
Algumas doenças benignas podem também ser tratadas com Radioterapia (Ex: Doença de Graves, Schwanoma
vestibular, Adenoma da hipófise, Crânio-faringiomas, Malformações arteriovenosas).
1.Radiobiologia
A RT é feita com radiação ionizante, com energia suficiente para arrancar os eletrões das órbitas dos átomos. Esses
eletrões vão interagir com outros átomos e criam uma cascata de ionizações. Estas ionizações vão levar à quebra de
ligações entre as moléculas gerando radicais livres (ex: hidroxilo, superóxido e peróxido de hidrogénio). Como os
radicais livres são instáveis e altamente reativos vão interagir com outras moléculas, entre elas o ADN. Neste caso vão
provocar diretamente ionização do ADN, ou indiretamente e de forma mais importante, vão interagir com a água que
existe nas células, o que vai gerar mais radicais livres, que por sua vez vão interagir com o ADN. Estes radicais vão
depois provocar danos no ADN, um dos mais importantes é a quebra da dupla cadeia (mas podem ser também quebras
de cadeias simples, translocações, mutações…). Estes danos são detetados durante o ciclo celular (nos checkpoints).
Serão então ativadas vias que vão levar à morte celular, como por exemplo at ravés da ativação do p53. No cancro,
morte celular significa que a célula não se vai conseguir replicar/dividir. Isto pode ocorrer por vários mecanismos:
- Apoptose* = morte celular programada; autodestruição da célula de forma organizada; principal causa de morte
celular nos tecidos rapidamente proliferativos. Atua poucas horas após a irradiação.
- Necrose
- Mitose catastrófica* = mecanismo mais importante na maioria dos tecidos e células tumorais. Ocorre num período
mais tardio após a irradiação. Ocorre quando as células entram prematuramente na mitose, sem corrigir os danos do
ADN ou corrigindo apenas o suficiente para que consigam proliferar um ou mais ciclos, até surgirem aberrações
cromossómicas letais que impeçam a divisão celular.
Redistribuição: As células são mais radiorresistentes na fase S (pois é a fase onde ocorrem as recombinações
homólogas a partir de cadeias de ADN não danificadas, logo vão servir de molde para reparar os erros, e a célula vai
sobreviver) e mais radiossensíveis em G2 e mitose (onde já não vão conseguir reparar os erros tão facilmente).
Reoxigenação: Células oxigenadas são mais radiossensíveis (pois a via dos radicais livres é dependente do oxigénio)
e as que têm menos disponibilidade de O2 (que têm menos erros) mais radiorresistentes. No ambiente dinâmico que
existe nos tecidos, as células hipóxicas sobreviventes são reoxigenadas e ficam mais radiossensíveis.
Repopulação: Células sobreviventes permitem a repopulação do tumor e tecidos saudáveis.
2.Acelerador linear
De uma forma muito simples, os eletrões num acelerador linear formam-se a partir de um filamento de tungsténio e
depois vão ser acelerados ao longo de um tubo em vácuo até à velocidade pretendida (quando maior a velocidade,
maior a energia). Depois vão colidir com um alvo metálico e transformam-se em fotões. Na realidade, na maioria dos
casos o tratamento é com fotões (só nos tumores mais superficiais é que se usam os eletrões). O feixe de radiação vai
passar por um 1º colimador (lâminas) para diminuir a dispersão do feixe, e depois por um 2º colimador que vão definir
o campo de tratamento em si, consoante a forma que pretendo irradiar.
Consulta de TC de
Planeamento Dosimetria Tratamento
1ª vez planeamento
Tudo começa com uma reunião multidisciplinar (uma reunião com vários médicos, entre eles um radioncologista,
oncologista médico, cirurgião, radiologista, anatomia patológica…) , onde se vão discutir os casos clínicos e o
tratamento indicado para cada doente. Para isso é necessário ter em conta não só o estadio da doença, mas também
o Performance Status do doente. Se houver indicação para radioterapia, segue-se uma 1ª consulta onde se vai explicar
como funciona o tratamento, o número de sessões e os efeitos secundários expectáveis.
TC de planeamento
Em seguida faz-se uma TC de planeamento, onde se vai definir o que se quer irradiar. Como esta não pode estar
constantemente a ser repetida, temos de posicionar o doente de forma a que se consiga repetir diariamente a mesma
posição. Para isso utilizam-se vários acessórios para posicionar e mobilizar o doente, que vão variar conforme a área
a tratar.
- Clinical Target Volume (CTV): volume tecidular que contém o GTV e/ou doença maligna microscópica/ subclínica.
- Planning Target Volume (PTV): CTV + margem interna (variação da posição do tumor devido por ex. a diferentes
graus de enchimento da bexiga) + margem setup (por ex. variação da posição do tumor devido ao posicionamento do
doente).
- Internal Target Volume (ITV): CTV + margem interna (variações no tamanho, forma e localização do CTV, por ex.
ao longo da respiração). Geralmente definido através de uma TC 4D.
Depois de definir os volumes alvo, temos de definir quias são os órgãos de risco, ou seja, os órgãos e tecidos saudáveis
que estão à volta e que queremos que recebam o mínimo de radiação possível. No caso de um tumor do reto, os
órgãos do risco são a cabeça e colo do fémur, a bexiga e o intestino.
- Dose total
- Número de tratamentos
- Frequência dos tratamentos (ex: diário, bi-diário (intervalo mínimo de 6h), dias alternados)
- Técnica de irradiação
- Tipo de radiação (fotões na maioria; eletrões nos tumores mais superficiais; protões não existem em Portugal e têm
indicações muito específicas)
Dosimetria
Seguidamente uma equipa de físicos vai transformar o plano em algo real. Segundo aquilo que queremos irradiar vs
proteger, vão ser definidos vários campos de radiação à volta do tumor. No final, o computador consegue dizer, através
de um algoritmo de cálculo, quanta dose está a chegar ao tumor e aos órgãos de risco.
- Distribuição da dose
- Histograma dose-volume
- Dose máxima
- Dose mínima
- Dose média
Existem tabelas que definem as doses de tolerância para cada órgão. Ultrapassando essas doses, podem
desencadear-se efeitos secundários.
Tratamento
Se estiver tudo bem, avança-se para tratamento. Começa-se por deitar o doente exatamente na posição em que fez a
TC e depois alinha-se com recurso a um sistema de lasers, através de marcações na pele, que têm de coincidir com
estes lasers.
Estas imagens são comparadas com a TC de planeamento e verifica-se se as estruturas ósseas estão alinhadas da
mesma maneira e se o tumor está no mesmo sítio.
4.Técnicas de Radioterapia
- Radioterapia Externa: A fonte de radiação é externa ao volume que vou irradiar (vem do acelerador linear)
- Braquiterapia: A fonte está dentro ou próximo do tumor (imagem inferior)
5.Radioterapia Externa
Começando pela radioterapia externa, estas são as técnicas disponíveis:
5.1.Radioterapia 3D conformacional
É de certa forma o tratamento mais simples, mas isto não significa que seja o pior tratamento. Aliás, é preciso ter em
atenção, que o que é mais recente e mais avançado não é necessariamente melhor para todos os doentes, cada caso
é um caso em particular.
Basicamente colocam-se os campos à volta do tumor, com as lâminas abertas na zona que se quer irradiar e a tapar
os órgãos saudáveis que se têm de proteger. O computador vai depois informar onde e quanta dose vai chegar ao
tumor e aos órgãos sãos.
Estra técnica é utilizada numa grande parte dos casos, onde se consegue obter uma boa irradiação do tumor (sem
grande toxicidade), por exemplo mama, reto, esófago, entre outros…
- Gradiente de dose rápido entre volume alvo e tecidos circundantes, diminui dose órgãos de risco.
Quando esta técnica é utilizada para um tumor fora do cérebro diz -se radioterapia estereotáxica corporal (SBRT).
Pode-se usar por exemplo em metástases pulmonares.
Quando estas terapêuticas se fazem em poucas sessões usam-se grandes quantidades de radiação, sendo este o
princípio/conceito do hipofracionamento. Assim são extremamente necessárias técnicas ainda mais rigorosas de
verificação e monitorização do movimento.
6.Braquiterapia
6.1.Intersticial
As fontes radioativas são colocadas diretamente dentro do tumor através de um cateter que o atravessa (recorrendo a
anestesia prévia), ficando o mesmo ligado a uma máquina que emite radiação durante alguns minutos. Assim apenas
os tecidos que estão imediatamente ali à volta é que são irradiados. É um tratamento muito localizado e permite utilizar
doses mais altas. No exemplo abaixo vemos a utilização deste tipo de radioterapia num tumor da pálpebra.
6.2.Intracavitária
As fontes radioativas são colocadas através de aplicadores, dentro de cavidades naturais do corpo. É utilizada nos
tumores ginecológicos. Colocam-se os aplicadores junto do colo e dentro do útero, ligados à máquina que emite
radiação, mais uma vez tudo com recurso a anestesia. A radiação é distribuída pelos aplicadores, ficando em cada
um alguns minutos a irradiar. Pode ser utilizada isoladamente ou como boost após radioterapia externa.
6.3.Intraluminal
Os “aplicadores” são lumens do próprio corpo, por exemplo no cancro do esófago.
7.Notas finais
- A investigação científica na Radioterapia está em constante crescimento e é muito abrangente, focando-se não só
na vertente terapêutica, mas também no campo da ciência radiobiológica e física.
- Como tratamento oncológico, a evolução tecnológica nesta área tem sido muito rápida, mas não podemos optar
cegamente pelas técnicas mas recentes. Devemos adequar o tratamento a cada tumor e, em particular, a cada
doente.
- Além disso, não podemos esquecer que, apesar de termos objetivos terapêuticos, não podemos causar toxicidade
inaceitável para os atingir. E devemos manter sempre a exigência técnica que nos garanta a administração segura do
tratamento.
A intervenção que podemos ter sobre o cancro pode dar-se em vários níveis:
• Prevenção (ideal)
• Rastreio (muito importante mas só fazível em poucos tipos de cancro)
• Diagnóstico precoce
• Terapêuticas de intenção curativa
• Terapêutica paliativa (quando já não é curável)
• Tratamento de suporte
Prevenção
Rastreio
O objetivo é detetar o cancro antes que desenvolva sintomas. Infelizmente só em poucos cancros é
que há uma eficácia e custos aceitaveis. Estes são:
- Cancro da mama, no qual está demonstrado a
utilidade da realização de 1 mamografia a cada 1/2
anos após os 40/45 anos de idade
- Cancro do colo do útero, em que se faz um
esfregaço cervical a cada 2/3 anos após o início da vida
sexual;
- Cancro colorretal, no qual se faz uma colonoscopia
total, uma sigmoidoscopia ou uma pesquisa de sangue
oculto nas fezes (que tem uma sensibilidade e
especificidade muito mais baixas), devendo ser feito em
toda a populaçao com idade>50 anos;
- Cancro da próstata, faz-se o rastreio com a
determinaçao do PSA e o toque retal, não havendo
regras muito definidas quanto à idade para inicio do
rastreio;
- Cancro do pulmão cujo rastreio é importante pela sua frequência crescente nas últimas décadas e
pela sua elevada mortalidade. O exame mais indicado é a TC Tórax (apesar do risco da radiação),
sendo realizado apenas na população de alto risco como os grandes fumadores
Diagnóstico
Guiamo-nos por sintomas e sinais de alarme,
análises de sangue (muito inespecíficas), exames
radiológicos, estudos com radioisótopos e
biópsias, para termos um diagnóstico histológico.
Estadiamento
Depois de termos o diagnóstico, é importante
fazermos um estadiamento correto. O
sistema que geralmente se usa é o TNM que
divide em grupos de 0 a IV, sendo importante
que seja feito de forma sistemática, porque é
essencial para estabelecer um prognóstico,
definir o plano de tratamento, para termos
uma linguagem universal compreendida por
todos e para interpretarmos a eficácia do
tratamento.
Terapêutica
Após o estadiamento, pensamos na
terapêutica, que pode ser feita através de
várias modalidades.
Quimioterapia
A quimioterapia tem uma ação
sistémica, inespecífica, atuando
principalmente nas células com uma
divisão mais rápida, mas atua
também nas células não-neoplásicas
(o que explica os efeitos
secundários).
Habitualmente usa-se em ciclos para
permitir a recuperação dos tecidos.
Pode usar-se com um fármaco ou
com vários, sendo vantajosa a
poliquimioterapia porque aumenta a
eficácia e reduz as resistências.
- Sobrevivência global é o
intervalo de tempo entre a data de
diagnóstico ou inicio de um
tratamento até que o doente
falece;
- Sobrevivência livre de
progressão é o intervalo de
tempo desde o inicio de
tratamento até que o doente tenha
progressão da doente, isto é, o
intervalo de tempo que o doente
permanece sem progressão;
- Sobrevivência livre de doença
é um parâmetro que se usa
quando o doente foi submetido a
um tratamento curativo e
queremos avaliar o intervalo de
tempo em que não aparece
doença, não há recaídas
-neodajuvante
-adjuvante
Objetivos de tratamento -concomitante
Eficácia da Quimioterapia
Há determinados tipo de cancro em que a
quimioterapia não é curativa, mas é muito
importante e eficaz quando aliada a outras
modalidades. No caso do cancro de pequenas
células do pulmão, a quimioterapia costuma ser
muito eficaz numa primeira fase, mas facilmente
desenvolve resistências e permite recidivas.
Resistência à Quimioterapia
Pode ser natural, mas habitualmente é adquirida.
Existem causas bioquímicas e farmacológicas.
Causas bioquímicas podem ser, por exemplo, a
falta de uma determinada enzima que não
permite a conversão de uma droga na sua forma
ativa.
Quimioterapia Oral
Objetivos da Quimioterapia
A Quimioterapia pode ter intenção curativa, paliativa ou ainda ser usada em tumores potencialmente
curáveis. Quando há intenção curativa temos a Quimioterapia Primária, que é o tratamento que é feito
antes do tratamento local, sendo o objetivo reduzir o tumor para tornar o tratamento local mais fácil. A
Quimioterapia Adjuvante é realizada depois da cirurgia com o intuito de reduzir o risco de recorrência.
A terapêutica concomitante é a associação de Quimio + Radioterapia, podendo ser usada como
terapêutica Neoadjuvante antes da cirurgia, como tratamento definitivo ou ainda como terapêutica
adjuvante após cirurgia.
Às vezes há uma “zona cinzenta” entre a intenção curativa e a paliativa. Quando temos uma doença
que há partida se considera incurável, mas tem uma boa resposta à quimioterapia, pode-se passar a
encarar essa doença como curável.
Terapêutica Neoadjuvante
No cancro da mama o
objetivo é reduzir o volume
tumoral e proporcionar uma
cirurgia mais conservadora.
Quimioterapia Adjuvante
Utilização da QuimioRadioterapia
Combinação entre quimio e radioterapia. No slide podemos ver um estudo alemão. Na época, no
cancro do reto a percentagem de recidivas locais em doentes operados era grande (15 - 20%). Após
fazerem quimioradioterapia (QRT) pré-operatória obtiveram uma a percentagem de recidivas
reduzida para metade.
Em alguns tumores a QRT pode ser usada como tratamento definitivo, tais como tumores do canal
anal, tumores da cabeça e pescoço, esófago e, em alguns casos, pulmão, bexiga e colo do útero.
Hormonoterapia
A hormonoterapia não é útil em muitos
tumores, apenas nos hormonosensíveis.
Terapêutica Biológica
Tem o problema de que as células têm alguma facilidade em fazer bypass às vias onde esta terapêutica
vai atuar, criando resistências. (Vai ser melhor abordado numa aula mais à frente).
TRATAMENTO MÉDICO:
AGENTES BIOLÓGICOS
BASEADO NOS ÁUDIOS DO POWERPOINT
Para iniciar, é recomendada
a leitura deste artigo: "The halmarks
of cancer", que explica de forma
muito didática as características que
as células neoplásicas adquirem
para formarem um tumor. Estão aqui
expressas no gráfico ao lado, mas o
artigo é muito elucidativo.
https://www.cell.com/cell/pdf/S0092-
8674(00)81683-9.pdf
The field of cancer research has largely been guided by a reductionist focus on cancer cells and the
genes within them (left panel)—a focus that has produced an extraordinary body of knowledge. Looking
forward in time, we believe that important new inroads will come from regarding tumors as complex
tissues in which mutant cancer cells have conscripted and subverted normal cell types to serve as
active collaborators in their neoplastic agenda (right panel). The interactions between the genetically
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DCC – Doente Com Cancro Tratamento Sistémico – Agentes Biológicos
altered malignant cells and these supporting coconspirators will prove critical to understanding cancer
pathogenesis and to the development of novel, effective therapies.
O objetivo desta aula é falar das terapêuticas dirigidas ao alvo. Existem vários alvos que tem
sido objeto do desenvolvimento de terapêuticas especificas.
Neste gráfico podemos ver vários exemplos de alvos e de várias terapêuticas dirigidas aos
seus alvos respetivos.
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TKIs mAbs
Inibidores do HER2 • Lapatinib • Trastuzumab
• Neratinib • T-DM1
Inibidores EGFR • Lapatinib • Cetuximab
• Erlotinib • Panitumumab
• Gefitinib
Inibidores da angiogenese • Sunitinib • Bevacizumab
• Sorafenib • Ramucirumab
• Pazopanib
Imunoterapia - • Nivolumab
• Pembrolizumab
• Ipilimumab
Podemos ver exemplos de medicamentos. do lado esquerdo inibidores da tirosina cinase e do
lado direito anticorpos monoclonais que inibem as mesmas vias de sinalização. Por exemplo, temos
os inibidores da via do HER2 como o lapatinib e neratinib que são inibidores da tirosina cinase e no
outro lado, contrapondo, como anticorpos monoclonais, que vão atuar na mesma via, como o
trastuzumab e T-DM1. Mais a frente vamos ver exemplos concretos que se aplicam a cada uma das
vias.
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Por exemplo, no cancro do colon metastático, podemos ver aqui neste slide, inibidores do anti
EGFR que interagem com o recetor de membrana EGFR (epidermal growth factor receptor) que
sinaliza a via do RAS (-RAF-MEK-ERK) dentro da célula neoplásica e estes anticorpos monoclonais
(cetuximab, panitumumab), ao interagirem com este recetor, vão inibir esta via de sinalização
intracelular impedindo a replicação da célula neoplásica.
Por outro lado, temos inibidores de angiogénese como os anti-VEGF (vascular endotelial
growth factor, fator de crescimento do endotélio vascular) e os anti-VEGFR (vascular endotelial growth
factor receptor). O VEGF é o ligando do recetor, não é o recetor. O recetor é o VEGFR. Os anti-VEGF
(o bevacizumab, afilbercept, ramucirumab) vão-se ligar ao ligando do recetor (o VEGF) impedindo a
interação do ligando com o recetor e assim inibindo a sinalização intracelular da via da angiogénese,
impedindo deste modo que a célula endotelial se replique. Por tanto, neste caso, não é a célula
neoplásica que vai ser inibida diretamente – são os vasos sanguíneos que alimentam o tumor que não
se vão desenvolver ou que vão regredir. Em alguns casos, estes vão impedir a nutrição da célula
neoplásica.
Outro exemplo é o regorafenib que atua diretamente no recetor do VEGF, ou seja, o VEGFR,
logo é um anti-VEGFR porque atua diretamente no recetor. Ele atua dentro da célula - é um inibidor
da tirosina cinase.
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Existem dois tipos de anticorpos monoclonais anti-EGFR que são utilizados na prática clínica
no tratamento do cancro do colorretal metastizado: o cetuximab e o panitumumab.
Estes anticorpos monoclonais tem uma toxicidade muito características - é uma toxicidade
cutânea que se manifesta com um rash papulopustular que ocorre em 80-90% dos doentes que fazem
este tipo de anticorpos monoclonais. Este tipo de toxicidade pode ser preditor da resposta ao
tratamento com os mesmos.
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Existem vários ensaios clínicos de fase 3 que foram desenvolvidos e que sustentam a
aprovação destes dois anticorpos em combinação com vários protocolos de quimioterapia (QT) no
tratamento do cancro colo retal metastizado sem mutação do RAS, ou seja, RAS wild type (WT).
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Neste diagrama temos o exemplo do cancro da mama. Existem vários tipos de cancro da mama:
Em função do tipo de cancro da mama existem vários tipos de tratamentos dirigidos ao alvo.
Neste esquema podem ver vários exemplos de anticorpos monoclonais como o Trastuzumab
e o Pertuzumab que interagem com recetores de membrana inibindo a via ErbB2 e ErbB1, o
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Bevacizumab que inibe o VEGF impedidndo a ligação do VEGF ao seu recetor de membrana. Por
outro lado, dentro da célula temos o Lapatinib que vai inibir a via do ErbB1 e ErB2 e na via da
angiogenese o Sunitinib e o Pazopanib.
• First-line trastuzumab in combination use improved survival in this high-risk population of patients
with metastatic breast cancer (MBC).
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• There was a significant increase in median overall survival (OS) resulting from the addition
of: trastuzumab to chemotherapy compared with chemotherapy alone (25.1 vs 20.3
months; p=0.046).
• There was a trend towards an increase in median OS resulting from the addition of
trastuzumab to paclitaxel compared with paclitaxel alone (22.1 vs 18.4 months; p=0.17)
(data not shown).
• Median OS was 26.2 months for trastuzumab + chemotherapy vs 20.3 months for
chemotherapy alone in fluorescence in situ hybridisation-positive patients, and
25.1 months for trastuzumab + chemotherapy vs 20.3 months for chemotherapy
alone in immunohistochemistry-positive (2+/3+) patients.
• Trastuzumab administration can result in left ventricular dysfunction and congestive heart
failure. Serious infusion reactions and pulmonary toxicity have occurred; rarely, these have
been fatal. Exacerbation of chemotherapy-induced neutropenia has also occurred. The
most common adverse reactions associated with trastuzumab use were fever, nausea,
vomiting, infusion reactions, diarrhoea, infections, increased cough, headache, fatigue,
dyspnoea, rash, neutropenia, anaemia, and myalgia.
Os tumores HER2+ quando tratados com o Trastuzumab tem sobrevivências superiores aos
mesmos tumores quando não tratados com Trastuzumab, como se pode ver no gráfico superior, com
redução de risco de morte de cerca de 40%.
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Existe uma outra via que é a via dos inibidores do mTOR, como o Everolimus, que demonstrou
ser uma via muito eficaz quando inibida em tumores da mama com recetores hormonais positivos
resistentes à terapêutica hormonal.
O ensaio clínico BOLERO-2 foi feito em doentes com cancro da mama metastático pós-
menopáusicas com ER+ (recetores de estrogénio positivo) HER2- que eram refratários ao tratamento
clinico com inibidores da aromatase como o Letrozole ou o Anastrozol. Estas doentes foram
randomizadas em dois grupos: Everolimus com Exemestano vs. Exemestane com placebo.
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O que se verificou foi que a combinação de Everolimus com Exemestano prolongava de forma
significativa a sobrevivência livre de progressão nestas doentes face ao braço controlo com
Exemestane e placebo.
Outro tipo de terapêutica que está atualmente aprovada para cancro de mama metastático
resistente à hormonoterapia é a terapêutica com inibidores das ciclinas com a Palbociclib e o Ribociclib.
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Temos aqui o exemplo do Palbociclib que foi estudado em combinação com o Letrozole ou em
combinação com o Fulvestrant, demonstrando em ensaios clínicos de fase 3 posteriormente que a
combinação era melhor do que a hormonoterapia isoladamente.
Um destes ensaios foi publicado no The New England Journal of Medicine - ensaio PALOMA3:
• Foi realizado com doentes com cancro da mama metastático, com expressão de recetores
hormonais HER2 negativos, que estavam a fazer inibidores da aromatase.
• Neste ensaio estudou-se a combinação de Palbociclib (inibidor da ciclina) + Fulvestrant versus
Fulvestrant + Placebo.
• Verificou-se que a combinação de Palbociclib + Fulvestrant prolongava, de forma significativa,
a sobrevivência, livre de progressão, face à terapêutica de controlo (Fulvestrant + Placebo).
Para além das células neoplásicas, podemos tentar atuar junto do microambiente tumoral
através de diversos mecanismos, tais como: inibição da angiogénese, imunoterapia, etc.
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Desenvolvimento tumoral:
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Tratamentos anti-angiogénicos:
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▪ Aflibercept, Raucirumab
• Existem também outros ensaios de fase III, em 2ª linha, com estes anticorpos
monoclonais.
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Cancro Renal:
Alvos terapêuticos:
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Imunoterapia
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Melanoma Mestastático:
Ipilimumab - anti-CTLA4
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DCC Princípios da Radioterapia
PRINCÍPIOS DA RADIOTERAPIA – Parte A + Parte B
Sumário
1.Radiobiologia
2.Acelerador linear
3.Abordagem ao doente
4.Técnicas de Radioterapia
5.Notas finais
Introdução
A Radioterapia é um importante componente do tratamento multimodal do doente oncológico (tal como a cirurgia e os
tratamentos sistémicos – quimioterapia e imunoterapia).
Mais de 50% dos doentes recebem Radioterapia em algum momento da sua vida, quer com intuito curativo (isolada ou
em combinação com a quimioterapia ou com cirurgia – podendo ser neoadjuvante ou adjuvante), quer como tratamento
paliativo.
Algumas doenças benignas podem também ser tratadas com Radioterapia (Ex: Doença de Graves, Schwanoma
vestibular, Adenoma da hipófise, Crânio-faringiomas, Malformações arteriovenosas).
1.Radiobiologia
A RT é feita com radiação ionizante, com energia suficiente para arrancar os eletrões das órbitas dos átomos. Esses
eletrões vão interagir com outros átomos e criam uma cascata de ionizações. Estas ionizações vão levar à quebra de
ligações entre as moléculas gerando radicais livres (ex: hidroxilo, superóxido e peróxido de hidrogénio). Como os
radicais livres são instáveis e altamente reativos vão interagir com outras moléculas, entre elas o ADN. Neste caso vão
provocar diretamente ionização do ADN, ou indiretamente e de forma mais importante, vão interagir com a água que
existe nas células, o que vai gerar mais radicais livres, que por sua vez vão interagir com o ADN. Estes radicais vão
depois provocar danos no ADN, um dos mais importantes é a quebra da dupla cadeia (mas podem ser também quebras
de cadeias simples, translocações, mutações…). Estes danos são detetados durante o ciclo celular (nos checkpoints).
Serão então ativadas vias que vão levar à morte celular, como por exemplo at ravés da ativação do p53. No cancro,
morte celular significa que a célula não se vai conseguir replicar/dividir. Isto pode ocorrer por vários mecanismos:
- Apoptose* = morte celular programada; autodestruição da célula de forma organizada; principal causa de morte
celular nos tecidos rapidamente proliferativos. Atua poucas horas após a irradiação.
- Necrose
- Mitose catastrófica* = mecanismo mais importante na maioria dos tecidos e células tumorais. Ocorre num período
mais tardio após a irradiação. Ocorre quando as células entram prematuramente na mitose, sem corrigir os danos do
ADN ou corrigindo apenas o suficiente para que consigam proliferar um ou mais ciclos, até surgirem aberrações
cromossómicas letais que impeçam a divisão celular.
Redistribuição: As células são mais radiorresistentes na fase S (pois é a fase onde ocorrem as recombinações
homólogas a partir de cadeias de ADN não danificadas, logo vão servir de molde para reparar os erros, e a célula vai
sobreviver) e mais radiossensíveis em G2 e mitose (onde já não vão conseguir reparar os erros tão facilmente).
Reoxigenação: Células oxigenadas são mais radiossensíveis (pois a via dos radicais livres é dependente do oxigénio)
e as que têm menos disponibilidade de O2 (que têm menos erros) mais radiorresistentes. No ambiente dinâmico que
existe nos tecidos, as células hipóxicas sobreviventes são reoxigenadas e ficam mais radiossensíveis.
Repopulação: Células sobreviventes permitem a repopulação do tumor e tecidos saudáveis.
2.Acelerador linear
De uma forma muito simples, os eletrões num acelerador linear formam-se a partir de um filamento de tungsténio e
depois vão ser acelerados ao longo de um tubo em vácuo até à velocidade pretendida (quando maior a velocidade,
maior a energia). Depois vão colidir com um alvo metálico e transformam-se em fotões. Na realidade, na maioria dos
casos o tratamento é com fotões (só nos tumores mais superficiais é que se usam os eletrões). O feixe de radiação vai
passar por um 1º colimador (lâminas) para diminuir a dispersão do feixe, e depois por um 2º colimador que vão definir
o campo de tratamento em si, consoante a forma que pretendo irradiar.
Consulta de TC de
Planeamento Dosimetria Tratamento
1ª vez planeamento
Tudo começa com uma reunião multidisciplinar (uma reunião com vários médicos, entre eles um radioncologista,
oncologista médico, cirurgião, radiologista, anatomia patológica…) , onde se vão discutir os casos clínicos e o
tratamento indicado para cada doente. Para isso é necessário ter em conta não só o estadio da doença, mas também
o Performance Status do doente. Se houver indicação para radioterapia, segue-se uma 1ª consulta onde se vai explicar
como funciona o tratamento, o número de sessões e os efeitos secundários expectáveis.
TC de planeamento
Em seguida faz-se uma TC de planeamento, onde se vai definir o que se quer irradiar. Como esta não pode estar
constantemente a ser repetida, temos de posicionar o doente de forma a que se consiga repetir diariamente a mesma
posição. Para isso utilizam-se vários acessórios para posicionar e mobilizar o doente, que vão variar conforme a área
a tratar.
- Clinical Target Volume (CTV): volume tecidular que contém o GTV e/ou doença maligna microscópica/ subclínica.
- Planning Target Volume (PTV): CTV + margem interna (variação da posição do tumor devido por ex. a diferentes
graus de enchimento da bexiga) + margem setup (por ex. variação da posição do tumor devido ao posicionamento do
doente).
- Internal Target Volume (ITV): CTV + margem interna (variações no tamanho, forma e localização do CTV, por ex.
ao longo da respiração). Geralmente definido através de uma TC 4D.
Depois de definir os volumes alvo, temos de definir quias são os órgãos de risco, ou seja, os órgãos e tecidos saudáveis
que estão à volta e que queremos que recebam o mínimo de radiação possível. No caso de um tumor do reto, os
órgãos do risco são a cabeça e colo do fémur, a bexiga e o intestino.
- Dose total
- Número de tratamentos
- Frequência dos tratamentos (ex: diário, bi-diário (intervalo mínimo de 6h), dias alternados)
- Técnica de irradiação
- Tipo de radiação (fotões na maioria; eletrões nos tumores mais superficiais; protões não existem em Portugal e têm
indicações muito específicas)
Dosimetria
Seguidamente uma equipa de físicos vai transformar o plano em algo real. Segundo aquilo que queremos irradiar vs
proteger, vão ser definidos vários campos de radiação à volta do tumor. No final, o computador consegue dizer, através
de um algoritmo de cálculo, quanta dose está a chegar ao tumor e aos órgãos de risco.
- Distribuição da dose
- Histograma dose-volume
- Dose máxima
- Dose mínima
- Dose média
Existem tabelas que definem as doses de tolerância para cada órgão. Ultrapassando essas doses, podem
desencadear-se efeitos secundários.
Tratamento
Se estiver tudo bem, avança-se para tratamento. Começa-se por deitar o doente exatamente na posição em que fez a
TC e depois alinha-se com recurso a um sistema de lasers, através de marcações na pele, que têm de coincidir com
estes lasers.
Estas imagens são comparadas com a TC de planeamento e verifica-se se as estruturas ósseas estão alinhadas da
mesma maneira e se o tumor está no mesmo sítio.
4.Técnicas de Radioterapia
- Radioterapia Externa: A fonte de radiação é externa ao volume que vou irradiar (vem do acelerador linear)
- Braquiterapia: A fonte está dentro ou próximo do tumor (imagem inferior)
5.Radioterapia Externa
Começando pela radioterapia externa, estas são as técnicas disponíveis:
5.1.Radioterapia 3D conformacional
É de certa forma o tratamento mais simples, mas isto não significa que seja o pior tratamento. Aliás, é preciso ter em
atenção, que o que é mais recente e mais avançado não é necessariamente melhor para todos os doentes, cada caso
é um caso em particular.
Basicamente colocam-se os campos à volta do tumor, com as lâminas abertas na zona que se quer irradiar e a tapar
os órgãos saudáveis que se têm de proteger. O computador vai depois informar onde e quanta dose vai chegar ao
tumor e aos órgãos sãos.
Estra técnica é utilizada numa grande parte dos casos, onde se consegue obter uma boa irradiação do tumor (sem
grande toxicidade), por exemplo mama, reto, esófago, entre outros…
- Gradiente de dose rápido entre volume alvo e tecidos circundantes, diminui dose órgãos de risco.
Quando esta técnica é utilizada para um tumor fora do cérebro diz -se radioterapia estereotáxica corporal (SBRT).
Pode-se usar por exemplo em metástases pulmonares.
Quando estas terapêuticas se fazem em poucas sessões usam-se grandes quantidades de radiação, sendo este o
princípio/conceito do hipofracionamento. Assim são extremamente necessárias técnicas ainda mais rigorosas de
verificação e monitorização do movimento.
6.Braquiterapia
6.1.Intersticial
As fontes radioativas são colocadas diretamente dentro do tumor através de um cateter que o atravessa (recorrendo a
anestesia prévia), ficando o mesmo ligado a uma máquina que emite radiação durante alguns minutos. Assim apenas
os tecidos que estão imediatamente ali à volta é que são irradiados. É um tratamento muito localizado e permite utilizar
doses mais altas. No exemplo abaixo vemos a utilização deste tipo de radioterapia num tumor da pálpebra.
6.2.Intracavitária
As fontes radioativas são colocadas através de aplicadores, dentro de cavidades naturais do corpo. É utilizada nos
tumores ginecológicos. Colocam-se os aplicadores junto do colo e dentro do útero, ligados à máquina que emite
radiação, mais uma vez tudo com recurso a anestesia. A radiação é distribuída pelos aplicadores, ficando em cada
um alguns minutos a irradiar. Pode ser utilizada isoladamente ou como boost após radioterapia externa.
6.3.Intraluminal
Os “aplicadores” são lumens do próprio corpo, por exemplo no cancro do esófago.
7.Notas finais
- A investigação científica na Radioterapia está em constante crescimento e é muito abrangente, focando-se não só
na vertente terapêutica, mas também no campo da ciência radiobiológica e física.
- Como tratamento oncológico, a evolução tecnológica nesta área tem sido muito rápida, mas não podemos optar
cegamente pelas técnicas mas recentes. Devemos adequar o tratamento a cada tumor e, em particular, a cada
doente.
- Além disso, não podemos esquecer que, apesar de termos objetivos terapêuticos, não podemos causar toxicidade
inaceitável para os atingir. E devemos manter sempre a exigência técnica que nos garanta a administração segura do
tratamento.
2.Acelerador linear
3.Abordagem ao doente
4.Técnicas de Radioterapia
5.Notas finais
Introdução
A Radioterapia é um importante componente do tratamento multimodal do doente oncológico (tal como a cirurgia e os
tratamentos sistémicos – quimioterapia e imunoterapia).
Mais de 50% dos doentes recebem Radioterapia em algum momento da sua vida, quer com intuito curativo (isolada ou
em combinação com a quimioterapia ou com cirurgia – podendo ser neoadjuvante ou adjuvante), quer como tratamento
paliativo.
Algumas doenças benignas podem também ser tratadas com Radioterapia (Ex: Doença de Graves, Schwanoma
vestibular, Adenoma da hipófise, Crânio-faringiomas, Malformações arteriovenosas).
1.Radiobiologia
A RT é feita com radiação ionizante, com energia suficiente para arrancar os eletrões das órbitas dos átomos. Esses
eletrões vão interagir com outros átomos e criam uma cascata de ionizações. Estas ionizações vão levar à quebra de
ligações entre as moléculas gerando radicais livres (ex: hidroxilo, superóxido e peróxido de hidrogénio). Como os
radicais livres são instáveis e altamente reativos vão interagir com outras moléculas, entre elas o ADN. Neste caso vão
provocar diretamente ionização do ADN, ou indiretamente e de forma mais importante, vão interagir com a água que
existe nas células, o que vai gerar mais radicais livres, que por sua vez vão interagir com o ADN. Estes radicais vão
depois provocar danos no ADN, um dos mais importantes é a quebra da dupla cadeia (mas podem ser também quebras
de cadeias simples, translocações, mutações…). Estes danos são detetados durante o ciclo celular (nos checkpoints).
Serão então ativadas vias que vão levar à morte celular, como por exemplo através da ativação do p53. No cancro,
morte celular significa que a célula não se vai conseguir replicar/dividir. Isto pode ocorrer por vários mecanismos:
- Apoptose* = morte celular programada; autodestruição da célula de forma organizada; principal causa de morte
celular nos tecidos rapidamente proliferativos. Atua poucas horas após a irradiação.
- Necrose
- Senescência
- Mitose catastrófica* = mecanismo mais importante na maioria dos tecidos e células tumorais. Ocorre num período
mais tardio após a irradiação. Ocorre quando as células entram prematuramente na mitose, sem corrigir os danos do
ADN ou corrigindo apenas o suficiente para que consigam proliferar um ou mais ciclos, até surgirem aberrações
cromossómicas letais que impeçam a divisão celular.
Redistribuição: As células são mais radiorresistentes na fase S (pois é a fase onde ocorrem as recombinações
homólogas a partir de cadeias de ADN não danificadas, logo vão servir de molde para reparar os erros, e a célula vai
sobreviver) e mais radiossensíveis em G2 e mitose (onde já não vão conseguir reparar os erros tão facilmente).
Reoxigenação: Células oxigenadas são mais radiossensíveis (pois a via dos radicais livres é dependente do oxigénio)
e as que têm menos disponibilidade de O2 (que têm menos erros) mais radiorresistentes. No ambiente dinâmico que
existe nos tecidos, as células hipóxicas sobreviventes são reoxigenadas e ficam mais radiossensíveis.
2.Acelerador linear
De uma forma muito simples, os eletrões num acelerador linear formam-se a partir de um filamento de tungsténio e
depois vão ser acelerados ao longo de um tubo em vácuo até à velocidade pretendida (quando maior a velocidade,
maior a energia). Depois vão colidir com um alvo metálico e transformam-se em fotões. Na realidade, na maioria dos
casos o tratamento é com fotões (só nos tumores mais superficiais é que se usam os eletrões). O feixe de radiação vai
passar por um 1º colimador (lâminas) para diminuir a dispersão do feixe, e depois por um 2º colimador que vão definir
o campo de tratamento em si, consoante a forma que pretendo irradiar.
Consulta de TC de
Planeamento Dosimetria Tratamento
1ª vez planeamento
Tudo começa com uma reunião multidisciplinar (uma reunião com vários médicos, entre eles um radioncologista,
oncologista médico, cirurgião, radiologista, anatomia patológica…), onde se vão discutir os casos clínicos e o
tratamento indicado para cada doente. Para isso é necessário ter em conta não só o estadio da doença, mas também
o Performance Status do doente. Se houver indicação para radioterapia, segue-se uma 1ª consulta onde se vai explicar
como funciona o tratamento, o número de sessões e os efeitos secundários expectáveis.
TC de planeamento
Em seguida faz-se uma TC de planeamento, onde se vai definir o que se quer irradiar. Como esta não pode estar
constantemente a ser repetida, temos de posicionar o doente de forma a que se consiga repetir diariamente a mesma
posição. Para isso utilizam-se vários acessórios para posicionar e mobilizar o doente, que vão variar conforme a área
a tratar.
- Clinical Target Volume (CTV): volume tecidular que contém o GTV e/ou doença maligna microscópica/ subclínica.
- Planning Target Volume (PTV): CTV + margem interna (variação da posição do tumor devido por ex. a diferentes
graus de enchimento da bexiga) + margem setup (por ex. variação da posição do tumor devido ao posicionamento do
doente).
- Internal Target Volume (ITV): CTV + margem interna (variações no tamanho, forma e localização do CTV, por ex.
ao longo da respiração). Geralmente definido através de uma TC 4D.
Depois de definir os volumes alvo, temos de definir quias são os órgãos de risco, ou seja, os órgãos e tecidos saudáveis
que estão à volta e que queremos que recebam o mínimo de radiação possível. No caso de um tumor do reto, os
órgãos do risco são a cabeça e colo do fémur, a bexiga e o intestino.
- Dose total
- Número de tratamentos
- Frequência dos tratamentos (ex: diário, bi-diário (intervalo mínimo de 6h), dias alternados)
- Técnica de irradiação
- Tipo de radiação (fotões na maioria; eletrões nos tumores mais superficiais; protões não existem em Portugal e têm
indicações muito específicas)
Dosimetria
Seguidamente uma equipa de físicos vai transformar o plano em algo real. Segundo aquilo que queremos irradiar vs
proteger, vão ser definidos vários campos de radiação à volta do tumor. No final, o computador consegue dizer, através
de um algoritmo de cálculo, quanta dose está a chegar ao tumor e aos órgãos de risco.
- Distribuição da dose
- Histograma dose-volume
- Dose máxima
- Dose mínima
- Dose média
Existem tabelas que definem as doses de tolerância para cada órgão. Ultrapassando essas doses, podem
desencadear-se efeitos secundários.
Tratamento
Se estiver tudo bem, avança-se para tratamento. Começa-se por deitar o doente exatamente na posição em que fez a
TC e depois alinha-se com recurso a um sistema de lasers, através de marcações na pele, que têm de coincidir com
estes lasers.
Estas imagens são comparadas com a TC de planeamento e verifica-se se as estruturas ósseas estão alinhadas da
mesma maneira e se o tumor está no mesmo sítio.
4.Técnicas de Radioterapia
- Radioterapia Externa: A fonte de radiação é externa ao volume que vou irradiar (vem do acelerador linear)
Incidência
O cancro de mama é o
segundo com maior incidência
a nível dos países da União
Europeia e o terceiro com
maior mortalidade.
Como pudemos ver no gráfico a incidência de Cancro de Mama tem vindo a aumentar nas últimas
décadas. Contrariamente a mortalidade têm vido a diminuir. Os programas de rastreio permitem
diagnósticos em estádios mais precoces e consequente mais facilmente curáveis.
Os avanços científicos, nomeadamente novos fármacos de Quimioterapia, Hormonoterapia e
Imunoterapia, e uma melhor definição da estratégia terapêutica multidisciplinar conjugando os
tratamentos loco regionais (Cirurgia e Radioterapia) com os tratamentos sistémicos, permitiram,
apesar do aumento do numero de doentes, reduzir a mortalidade por este tipo de cancro.
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Uma das causas do incremento do número de novos casos é o aumento da esperança de vida.
A melhoria no tratamento das doenças infeciosas e cardiovasculares permite-nos viver cada vez
mais anos. Como podem ver no gráfico é na terceira Idade que o cancro de mama é mais
frequente:
Na mama podem surgir diversos tumores benignos e malignos. Trataremos nesta aula sobretudo
dos Carcinomas invasivos e ductais in situ, mas devemos ter presente que outras neoplasias
como os Tumores filóides, Angiossarcomas e Linfomas também podem ocorrer neste órgão.
• Bom prognóstico:
Tubular
Cribiforme
Mucinous
Adenoid Cystic
• Prognóstico intermédio:
Medular
Secretory
Invasive Lobular
• Mau Prognóstico:
Metaplastic
Micropapilar
Signet ring
Inflamatory
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Na tabela podem ver quais os fatores que aumentam e diminuem o risco de cancro de mama.
O cancro de mama é raro nos homens, 1 caso em cada 8 casos. Apenas 5 a 10 % são
geneticamente determinados. Os genes mais frequentemente implicados são as mutações do
BRAC1 e 2, que correspondem a 15-20% dos casos. Clinicamente devemos suspeitar da
presença destas mutações em diagnósticos nos seguintes casos: mulheres jovens, tumores
bilaterais, triplos negativos ou homens com cancro de mama.
A colheita durante a história clínica dos antecedentes familiares de cancro de mama e/ou ovário
e outras neoplasias é muito importante. Sempre que a agregação de casos assim o justifique
devemos referenciar estes doentes às clínicas de risco familiar.
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
BRCA 1 BRCA 2
Autossómica dominant Autossómica dominant
Cromossoma 17 Cromossoma 13
Breast cancer Risk 60-85% Breast cancer Risk 60-85%
Ovary cancer Risk 40 a 66% Ovary cancer Risk 10 a 20%
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
O diagnóstico deve ser efectuado com uma microbiópsia ou biópsia assistida por vácuo, sempre
que necessário assistida por imagem.
As adenopatias suspeitas também devem ser confirmadas podendo estas ser estudadas por
microbiópsia ou citologia de agulha fina.
Dois casos raros de metastização de cancro de mama: o primeiro de uma doente em oclusão
por metastização no ileon e o segundo de metastização cutânea tórax e abdómen.
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Locoregional Sistemica
Disease Disease
O tratamento cirúrgico da mama pode ser efetuado com mastectomia ou cirurgia conservadora.
A cirurgia conservadora implica em todos os casos a realização de radioterapia adjuvante.
A Radioterapia adjuvante também é efetuada em doentes submetidos a mastectomia com
tumores localmente avançados (T3, T4) ou com envolvimento ganglionar mais extenso.
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
O estudo Z11 demonstrou que mesmo alguns doentes com metastases intranodais em 1 ou 2
ganglios sentinela podem ser poupados a linfadenectomia axillar.
(Artigo: Sentinel Lymph Node Dissection With and Without Axillary Dissection in Women With Invasive Breast Cancer
and Sentinel Node Metastasis: A Randomized Clinical Trial
1 2 3 4 5 6
Armando E. Giuliano, Kelly K. Hunt, Karla. V. Ballman, Peter D. Beitsch, Pat W. Whitworth, Peter W. Blumencranz,
A. Marilyn Leitch, Sukamal Saha, Linda M. McCall, and Monica Morrow )
7 8 9 10
É importante realçar que as doentes submetidas a cirurgia conservadora têm uma maior taxa de
recidiva local que como referimos não tem impacto sobre a sobrevida. O que oferecemos em
troca é um melhor resultado estético. Se o resultado estético do tratamento conservador é mau
não há benefício para a doente. Nesses casos é melhor efetuar mastectomia e reconstrução
mamária total.
Cirurgia Oncoplástica
15% das cirurgias tem um mau resultado cosmético e por isso necessitam de cirurgia
reconstrutiva.
Os resultados cosméticos do tratamento conservador são influenciados por:
• Ratio entre o tamanho tumoral e o tamanho da mama;
• Localização do tumor;
• Dimensão da mama.
Mamas volumosas e adiposas após a radioterapia adjuvante podem desenvolver fibrose tardia
levando a retrações:
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Foi para prevenir estas sequelas que os breast surgeons desenvolveram um novo conceito:
A cirurgia oncoplástica. Utilizando técnicas de remodelação ou substituição de volume que não
são mais do que adaptações das técnicas de reconstrução mamária ou de mamoplastia de
redução é possível evitar as sequelas do tratamento conservador e em muitas doentes até
melhorar o aspeto estético da mama.
O ideal estético da mama é menos subjectivo do que podem pensar como demonstraram os
estudos de Patrick Mallucci. A mama ideal é concava no polo superior, convexa no polo inferior,
numa proporção ideal de 45 para 55 % e com o mamilo apontando para cima. Análise quantitativa
de 100 modelos com mamas “naturais” publicadas no site do jornal Sun entre 2009 e 2010
(Adobe® Photoshop ®, Sigma Stat 2.0):
1. Pólo Superior
2. Pólo Inferior
3. Angulação do Mamilo
4. Contorno pólo superior (concavo, recto, convexo)
5. Convexidade pólo inferior
Foi pedido a mais de mil pessoas que escolhessem para mamas de diversos tamanhos e
proporções aquela que lhes parecia mais atraente. Independentemente do sexo, idade, etnia ou
continente de residência a esmagadora maioria dos inquiridos escolhem a proporção ideal de 45
para 55 %.
Assim ao reconstruirmos parcial ou totalmente a mama de uma doente, podemos almejar a este
ideal.
Os critérios mais importantes para selecionar os doentes para estas técnicas são:
• Localização do tumor
• Ratio entre o tamanho do tumor e o tamanho da mama
• Densidade do tecido mamário
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Técnica Grisotti:
Tumorectomia com marcação prévia dos limites,
biópsia de gânglio sentinela e mamoplastia de
pedículo inferior à esquerda e bi-pediculado na
mama contra-lateral.
Peso direita: 382 g, esquerda (tumor) 440 g
Duração 11h40m até 14h23m Total=163
minutos
Técnica Roundblock:
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Um expansor é uma envolcro de silicone que é colocada debaixo do peitoral parcialmente cheio
com soro fisiológico e que posteriormente se vai enchendo por punção percutânea numa câmara
até atingir o volume necessário. Podemos comparar ao crescimento da barriga de uma grávida,
o bebé cresce, o útero cresce a pele na barriga cresce. No segundo tempo o expansor é
substituído por uma prótese com gel de silicone
Outra alternativa de reconstrução mamária, esta totalmente autóloga, é o TRAM ou seja retalho
pediculado de recto-abdominal ou a versão poupadora de músculo com micro-cirurgia
anastomosando as perfurantes dos vasos epigástricos aos vasos axilares ou à mamária interna.
A reconstrução do Complexo Areolo-Mamilar pode ser efetuada com retalhos locais, enxertos
ou dermopigmentação. Em casos bem selecionados, após avaliação pré-operatória com
ressonância magnética e exame extemporâneo microscópico intraoperatório da base do mamilo
é oncologicamente seguro efetuar mastectomias poupadoras de Complexo Areolo-Mamilar.
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Incidência
Sobrevivência
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Fatores Importantes
Os fatores de risco conhecidos para o Cancro da Mama estão relacionados com a idade fértil
e a paridade, tal como o maior tempo de atividade ovárica. Estes riscos incluem:
• Menarca precoce
• Menopausa tardia
• Poucos filhos
• 1ª gravidez tardia
• Tratamento Hormonal de Substituição (o seu uso pós menopausa duplica o risco de
cancro da mama)
• Radiação da mama em idade jovem
• História familiar
• Mutações nos genes somáticos
• Obesidade (fator de risco e de prognóstico)
Num estudo americano estudaram vários tipos de quimioterapia, o que se demostrou é que num
subgrupo de tumores da mama com recetores HER-2 negativos e HR positivos, subgrupo mais
frequente, há um aumento de 23% de recaída e do risco de morte de 46% em mulheres obesas
comparando com mulheres normais.
• Amamentação
• Exercício físico (>3h/semana)
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Para definir uma estratégia terapêutica e cálculo de risco, os oncologistas usam como fatores
as características do tumor:
• Subtipo Histológico
• Grau de Diferenciação - pouco diferenciado pior diagnóstico
• Recetores Hormonais (Estrogénio e Progesterona) – maior percentagem de células
recetoras, maior a sensibilidade ao tratamento hormonal, melhor o prognóstico
Hoje em dia, usa-se os perfis moleculares para caracterizar os tumores, e que classificam
os tumores de acordo com a expressão génica, dividindo em 4 subgrupos: Luminal A,
Luminal B, basal e ERBB2 positivo.
Existe alguma sobreposição não tota entre estes subtipos e os referidos anteriormente:
• Os tumores luminais A e B correspondem aos tumores RH+
• Os tumores luminais A são os que tem melhor pronóstico, tem mais recetores de
estrogénio e progesterona, baixo índice proliferativo (medido pelo grau de
diferenciação e pelo Ki67)
• Os tumores com pior prognóstico são os ERBB2 positivos equivalentes aos Triplo
Negativos.
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Legenda:
A – Total
B – Her2+ HR+
C – Her2+ HRneg
Existe outra classificação molecular do Cancro da Mama, que destaca 10 clusters mas não
é aplicável na clinica.
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Tratamento Sistémico
Quando se pondera uma estratégia terapêutica tem de se considerar os seguintes fatores:
A Doença:
• Característica Biológicas do Tumor
• Estadiamento da Doença (Classificação TNM)
• Comorbilidades do Doente
Tipos de tratamento:
Quimioterapia Sistémica
É um tratamento utilizado na oncologia, causador dos sintomas como queda do cabelo e
enjoo, e atua nas células que tem um índice produtivo elevado (como as células
neoplásicas) e melhora os sintomas e prolongar a sobrevivência em contexto de doença
metastática, mas também no tratamento curativo.
Qualquer que seja o grupo etário, extensão de doença, gânglios envolvidos, a QT no
contexto curativo, adjuvante ou neoadjuvante, diminui a recidiva e aumenta a sobrevivência.
Ao longo dos anos a QT tem sido cada vez mais eficaz. Não sendo sua eficácia que está
em causa, mas sim a sua não necessidade em doentes com melhor prognóstico.
O uso da QT na doença metastática não tem como objetivo curar, mas sim diminuir
sintomas, prolongar a sobrevivência, melhorar qualidade de vida. Enquanto no contexto
adjuvante usamos vários fármacos, na doença metastástica:
• Favorecer Monoterapia sequencial – primeiro tenta-se a Hormonoterapia, se RH+,
e depois, quando esgotada, tenta-se a QT
• Monoterapia (vs poli-QT)
• Redução de dose (vs G-CSF) – esta é ajustada à toxicidade
• Duração – depende da sintomatologia do doente e necessidade de paliação
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O termo “The Triple Negative Paradox” pretende dizer que apesar deste ser o tipo de cancro
com pior prognóstico, aqueles que são tratados com QT neoadjuvante tem maior probabilidade
de remissões patológicas completas (curva azul). No entanto, continuam a ter pior prognóstico
porque existem doentes que não atingem a remissão.
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sobretudo para diminuir o tamanho para permitir uma cirurgia conservadora. Neste subgrupo, a
probabilidade de redução patológica é pequena, na maior parte das séries valores menores de
de 10%, enquanto nas séries mais recentes para estes subgrupos, este valor pode ser atingido
até 50% a 60%.
Hormonoterapia
O tratamento hormonal está indicado em todos os tumores com receptores hormonais, sendo
tanto mais eficaz, quanto maior for a intensidade dessa expressão. Um tumor de macro
sensibilidade é um tumor com expressão de receptores hormonais, de estrogénio e de
progesterona em 100% das células tumorais. Contudo, mesmo em tumores que tenham mais do
que 1% de recetores de estrogénio e progesterona, este tratamento está na mesma indicado
porque há beneficio mesmo que inferior.
Esta imagem pretende mostrar uma célula tumoral, está representada a membrana celular, o
citoplasma e núcleo. Mostra a influência que o estrogénio tem nas células do cancro da mama
com receptores hormonais positivos, o estrogénio entra dentro da célula, liga-se ao receptor, que
acaba por penetrar no núcleo e ligar aos estrogen-responsive elements induzindo assim a
síntese de proteínas. Esta é a via clássica, mas existem outras vias estudadas, como por
exemplo as vias de escape/não genómicas, encontradas em doentes previamente tratados
com imunoterapia, são vias cruzadas com outras e tem importância terapêutica.
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• Progestagéneos: Megestrol
Nos últimos 10 anos, os inibidores da Aromatase (IA) são usados na terapia adjuvante apenas
em mulheres pós-menopausa (não tem eficácia em mulheres com ovários funcionantes).
Foram comparados os resultados do Tamoxifeno (TAM) e dos Inibidorres da Aromatase através
de várias estratégicas:
a
• Upfront: TAM x 5a vs IA x 5 (ou 5 anos de IA ou 5 anos de TAM)
• Switch: TAM vs TAM →IA vs IA → TAM (5 anos) – uso sequencial
• Extended: TAM x 5a → IA x 5a – estudos em que aumentaram a duração do tratamento
de 5 para 10 anos
Foi demonstrado que o tratamento com IA era um pouco mais eficaz do que o TAM, sobretudo
no que consta ao risco de recaída. No entanto, este beneficio é aproveitado do ponto de vista
clinico, e a mulher pós-menopausa com carcinoma da mama, deve ter com parte integrante do
tratamento a hormonoterapia e inibidores da aromatose, período maior ou menor, isolado ou em
conjunto com o Tamoxifeno.
Estudos sugerem que terapias que alcançam os 10 podem aumentar o risco de toxicidade e de
desistência dos doentes.
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SOFT
Comparou o tratamento standart de 5 anos de Tamoxifeno com 2 tratamentos experimentais,
Castração + Tamoxifeno e Castração +Inibidores da Aromatase.
Os doentes podiam ao não ser tratados com QT, caso tivessem gânglios envolvidos, à partida,
já eram doentes com prognóstico diferente.
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Conclusões:
• Mulheres Pré.Menopausa com tumors agressivos beneficiam de Castração e não de apenas
Tamoxifeno isolado.
• Na análise combinada dos estudos TEXT e SOFT, demonstram que com 8 anos de
follow-up, não é possível distinguir qual o melhor parceiro para a Castração, ou seja,
é indiferente usar o Tamoxifeno ou um Inibidor da Aromatase.
O uso de hormonoterapia sequencial pode criar resistência à mesma e por isso existem fármacos
que ajudam a reverter. Estes fármacos bloqueiam vias compensatórias, que contribuem para a
resistência à hormonoterapia. Desses, os que têm dados clínicos mais maduros e em que há de
facto dados de utilidade clinica, são os inibidores do mTOR e os inibidores da Pi3K (uso mais
recente).
Para além da via clássica, em que a enzima se liga ao receptor e este atua nos estrogen
responsive elements, há vias compensatórias nas quais o mTOR e o PI3K se destacam. Estudos
demonstram que estes inibidores de resistência aumentam o tempo de resposta à terapêutica e
a sobrevivência, principalmente numa resistência secundária.
Neste slide, o que se pretende demonstra é o número de mutações que podem estar presentes
no cancro da mama. Algumas múltiplas, frequência variável. A mutação mais frequente é a
PICK3 e, hoje em dia, temos fármacos que bloqueiam esta proteína.
Inibidores da CDK4/6
Num ciclo celular, para o controlo da passagem da célula de G1 para S, são importantes um
conjunto de proteínas e existem fármacos que as bloqueiam estas proteínas e são eficazes no
tratamento. Os fármacos que estão disponíveis comercialmente são: Palbociclib, Ribociclib e
Abemaciclib. Na tabela com os respetivos nomes dos fármacos são referidos estudos feitos em
primeira linha em várias fases da doença.
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Notou-se um prolongamento grande do tempo de progressão de 14,5 meses para 24,8 meses,
por exemplo.
Neste momento está a
estudar-se a eficácia
destes fármacos nos
tumores HER2+ desde
que tenham também
expressão de recetores
hormonais.
Inibidores da PI3K
Por fim, no que toca à terapêutica hormonal, existem vários fármacos testados que atuam
contra a proteína em geral ou contra a as suas isoformas:
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No estudo SOLAR1, os tumores foram estudados primeiro para se saber se havia mutações
nos PI3K e depois uma randomização dos tipos de tratamento:
4.Hormonterapia Neoadjuvante: é uma estratégia muito menos seguida, por várias razões:
• Induzir resposta clinica, mas é raro obter uma resposta patológica completa
• Pode ser ideal para mulheres na menopausa mas não elegíveis para tratamento com
quimioterapia
• A duração ideal da terapêutica não está bem definida
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Explicação do gráfico: a
linha 1 significa que
ambos os braços do
estudo têm a mesma
eficácia, ou seja, não
favorece a adição do
transtuzumab nem braço
controlo, depois coloca-
se os resultados dos
vários estudos feitos está
uma “caixinha” que
representa a alteração do
risco de morte, em todos
os estudos verifica-se
uma redução de 40% de
mortalidade com a adiçaõ
de transtuzumab à
terapêutica.
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Até há poucos anos, um doente que tinha um diagnóstico de cancro da mama ou uma recidiva
de doença, a mediada de sobrevivência com a doença é entre 2-2.5 anos. No estudo
CLEOPATRA, com o tratamento com Trastuzumab + Docetaxel + Pertuzumab a sobrevivência
passa para 5 anos, ou seja, mais de 50% dos doentes com doença metastática sobreviveu pelo
menos 5 anos. Representa assim um impacto major.
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No estudo mais recente feito com este medicamento, usado no contexto adjuvante, em doentes
que se apresentavam sem doença metastática, tumores com e sem envolvimento ganglionar,
fizeram QT + Transtuzumab durante 3 a 4 meses e depois são operados. Nos doentes em que
mantinham tumor viável ou nos gânglios regionais após a cirurgia, foram randomizados entre
continuar o Transtuzumab ou o T-DM1. A substituição do Transtuzumab pelo T-DM1 resultou
numa diminuição do risco de recaída.
Para além do T-DM1, existe outro fármaco recente, o DS-8201, que também resulta da adição
ao Trastzumab de outro fármaco e os resultados clínicos foram surpreendentes. O estudo foi
realizado em doentes com tratamento prévio e demonstrou-se a diminuição do tumor com o uso
deste novo fármaco, em muitos deles reduziu 60% e outros tiveram até remissão completa.
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Por últmo, os tumores triplo negativo correspondem a 10-20% dos carcinomas da mama, não
tem recetores hormonais e são os de pior prognóstico. São os tumores mais frequentemente
associados a mutações dos genes BRCA, que são as mutações de síndrome familiar mais
frequentes no contexto de cancro da mama, e são no gene BRCA 1 (mais frequente nos países
anglo-saxónicos) ou BRCA 2 (mais frequente em Portugal).
A mutação c.156_157insAlu BRCA2 está exclusivamente descrita na população portuguesa ou
de origem portuguesa, está presente em 30% dos casos de cancro da mama familiar em Potugal,
As mutações BRAC1 estão predominantemente associados a carcionomas Triplo Negativo,
enquanto as mutações BRAC2, 50% dos casos, os tumores têm recetores hormonais.
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Porquê que os genes BRAC são importantes e estão associados ao risco de cancro da mama (e
cancro do ovário)?
A neoplasias resultam de erros acumulados no DNA e a célula normal tem vários mecanismos
de reparação desses erros, p.e. excisão de bases identificadas. Os genes BRAC 1 e BRAC2 são
genes importantes na reparação e hoje em dia temos fármacos que interferem na via “base
excision repair”, e a PARP é uma das enzimas principais, e farmacologicamente ao bloquearmos
esta via de reparação em tumores que tem esta via alterada verifica-se beneficio.
No esquema a baixo (“Synthetic lethality: interaction between PARP and BRCA”), está uma célula
normal com as duas vias de reparação saudáveis (A); tumores com mutação na via BRAC em
que há compensação pela via PARP1 (C); temos o uso de fármacos anti-PARP em tumores que
não tem mutações BRCA e por isso não tem eficácia porque esta via está funcionante; por ultimo,
é demonstrada a mortalidade sinérgica pois quando se bloqueiam as duas vias verifica-se a
morte celular (D).
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O fármaco Olaparib, inibidor da PARP, no primeiro estudo demonstrou atividade clinica mesmo
em doentes com mutação no BRAC.
No que diz respeito ao tratamento do carcinoma da mama com doença metastática em que há
mutação do BRCA, existem dois estudos que comparam dois fármacos inibidores de PARP e o
tratamento com QT: OlympiAD que estuda o fármaco Olaparib e o EMBRACA que estuda o
fármaco Talazoparib.
Em relação ao OlympiAD, demonstrou que o Olaparib tinha um efeito terapêutico mais duradouro
que a QT mas sem impacto na sobrevivência. Hoje em dia está a aguardar-se os resultados do
estudo do seu efeito adjuvante.
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Nos tumores com expressão de PD-L1 havia um prolongamento de progressão e somente neste
grupo havia um impacto na sobrevivência. Atualmente, apesar de ter existido outro estudo, o
papel deste fármaco não está bem esclarecido. Contudo, existe outro fármaco, o
Pembrolizumab, um anticorpo ant-PD1, usado no contexto pré-operatório em tumores da mama
Triplo Negativos e tratados com QT pré-operatória associada. No estudo KEYNOTE-522, o
fármaco referido anteriormente, em associação com QT, demonstrou um pequeno aumento da
probabilidade de cura patológica completa e prolongou o tempo até à recaída.
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
No gráfico seguinte estão ilustrados os mecanismos que se tem conhecimento que são
importantes na oncogénese e os vários fármacos que hoje em dia existem para interferir:
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Doente Com Cancro Cancro da Mama
Curiosidade Final:
Em oncologia, existe uma dependência da histologia que é feita a partir de biópsias do tumor
primitivo ou metástases. Hoje em dia existe uma tecnologia muito promissora que permite olhar
não para biópsias de tumor ou metástases mas sim pesquisa células tumorais em circulação, as
CTT, ou pesquisa de DNA em circulação (ctDNA).
Num estudo, em que se pretendeu monitorizar doentes com cancro da mama precoce para ver
se isto podia antecipar o diagnóstico de recaída, sendo que tanto em ER+, HER2+ e Triplo
Negativo, os doentes que se mantinham sem evidência de DNA circulante detetável no sangue
tinham uma excelente sobrevivência, enquanto os doentes que após tratamento adjuvante
tinham DNA circulante tinham prognóstico pior e recidiva.
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DCC Cancro do Pulmão
Cancro do Pulmão:
Introdução histórica:
O cancro do pulmão é uma doença desobediente em termos clínicos e resiliente em termos
terapêuticos. Historicamente foi um diagnóstico subestimado, dada a presença da tuberculose
pulmonar, com a qual geralmente se confunde.
O flagelo começa após a Guerra da Crimeia (1853 – 1856), na qual os soldados ingleses
contactaram com soldados turcos que fumavam pequenos cigarros avermelhados chamados
Papi Rossi, marcando o início dos hábitos tabágicos na população inglesa.
Na Primeira Guerra Mundial, já era distribuído tabaco juntamente com as rações de combate e
entre as duas grandes guerras, deu-se a explosão do consumo, que levou à epidemia, que ainda
hoje se mantém.
Até ao século dezanove o tabaco era quase exclusivamente fumado por pessoas de classe social
mais elevada, sob a forma de charutos e rapé. A difusão do uso de tabaco atingiu uma dimensão
verdadeiramente social durante a primeira guerra mundial, onde as grandes companhias de
tabaco distribuíam, gratuitamente, maços de cigarros a milhões de soldados.
No período entre as duas guerras, o mundo viu a população dos países desenvolvidos, começar
a fumar em massa em parte desencadeada pela propaganda da indústria cinematográfica de
Hollywood. Os danos na saúde só se tornaram evidentes 20 a 30 anos depois, altura em que
se assistiu a uma súbita epidemia de cancro do pulmão, que surpreendeu toda a classe médica
por volta de 1950.
Sobrevida global aos 5 anos: 18% (em doença avançada- com metastização sistémica, a
sobrevida é de apenas de 4%!)
O Cancro do pulmão é a primeira causa de cancro evitável, dada a sua íntima relação com o
consumo de tabaco, e porventura a maior hipocrisia política e social, dadas as crónicas
dificuldades na implementação de políticas de controlo do consumo de tabaco.
Existem, contudo, 3 razões fundamentais para a situação ter vindo a mostrar alguma melhoria:
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DCC Cancro do Pulmão
NOTA:
A China é o país com mais casos de cancro do pulmão no mundo
(cerca de 700.000 novos casos/ano), sendo também o principal
produtor mundial de tabaco. Muita da investigação sobre cancro do
pulmão é também feita na China.
EPIDEMIOLOGIA:
Numa publicação da British Lung Foundadtion de 2012, No Reino Unido, as duas principais
causas de mortalidade por doenças respiratórias, são a DPOC e o cancro do pulmão,
intimamente relacionadas com o tabagismo, compreendendo no seu conjunto mais de 50% dos
casos.
Estudos estatísticos realizados em Inglaterra e nos Estados Unidos na década de 50, provaram
sem margem para dúvida a relação entre a probabilidade de desenvolver cancro do pulmão e o
hábito de fumar cigarros. Verificou-se que os fumadores tinham 5x mais probabilidade de
desenvolver cancro do pulmão.
Enquanto que o número de novos casos a nível mundial o coloca em segundo lugar relativamente
aos tumores específicos de género (próstata-♂ e mama-♀), no que diz respeito à mortalidade, o
cancro do pulmão ocupa o primeiro lugar a uma distância considerável dos restantes.
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DCC Cancro do Pulmão
A nível da Europa, a mortalidade por cancro do pulmão no homem atingiu o seu máximo, no final
dos anos 80, enquanto que nas mulheres continua ainda a aumentar.
A nível mundial, entre 2012 e 2035, a mortalidade mundial por tumores do pulmão, vai quase
duplicar. A nível da Europa passer-se-á o mesmo
Distribuição etária, a nível mundial, do cancro do pulmão, em ambos os sexos: maior frequência
entre os 50 e os 80 anos.
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DCC Cancro do Pulmão
Outros fatores:
Carcinogénios do tabaco:
• Hidrocarbonetos Aromaticos Policiclicos (Benzeno, Benzopireno, Tolueno, Naftaleno)
• Nitrosaminas especificas do tabaco (N-Nitroso-nornicotine)
• Aminas aromáticas (4-Aminobifenil, 2-Naftilamina)
• Outros compostos orgânicos (Cloreto de vinilo, DDT, Uretano, Ácido cianídrico, Amoníaco)
• Radionuclidos (Polonium-210, Cádmio )
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DCC Cancro do Pulmão
Mais:
Design do tabaco:
Modificações na localização dos cancros do pulmão pela alteração do tamanho das partículas.
Alguns dos produtos resultantes da combustão do tabaco vão produzir substâncias químicas que
vão ficar inseridas nas duplas hélices de DNA (aductos de DNA). Existem 6 substâncias com
este efeito: Benzo[a]pyrene (BaP), 4-(Methylnitrosamino, N-Nitrosodimethylamine,
P450s(enzima alterada geneticamente!), Ethylene oxide, 4-Aminobiphenyl. Isto causa alterações
profundas a nível do ciclo celular.
• Receptores ß-Adrenergicos
• NICOTIN IC Receptor da
Acetilcolina
• Raf/mitogen-Activated
Protein Kinase
• PI3k/Akt
• Fator Nuclear -kB
• EGFR
Tabagismo Passivo:
Risco da mulher não fumadora exposta ao marido fumador: 1.29 (95% CI 1.17-1.43) Taylor
2001
Risco de um não fumador exposto ao fumo no local de trabalho: 1.17 (95% CI 1.04-
1.32)Bofetta 2002
Dependência nicotínica:
A dificuldade em abandonar hábitos tabágicos por farmacodependência da nicotina é superior à
dependência originada pela cannabis, LSD, entre outros.
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DCC Cancro do Pulmão
Cigarros eletrónicos:
Alguns artigos mostram que 20 puffs do e-cigarette são aproximadamente equivalentes a fumar
um cigarro normal. Fizeram a avaliação dos efeitos de 20, 60, e 100 puffs, mostrando que as
potenciais lesões genéticas a nível do DNA, aumentavam com o número de puffs.
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• Moderado; despite applying low-dose CT, a positive test is sometimes followed by a full
CT, and the number of positives is high
• Um participante que inicie o rastreio aos 55 anos, receberá uma elevada dose de
radiação
Confirmação de doença após um exame positivo
• Moderado a alto
É difícil arranjar critérios para rastreio na população geral (nomeadamente em não fumadores).
Já é possível através do ar exalado determinar as mutações do gene EGFR e a mutação de
resistência de doentes com cancro do pulmão em terapêutica com inibidores da tirosina cinase.
Assim, supõe-se que não faltará muito para que surja um método de rastreio mais sustentável e
prático.
Conclusão: O rastreio do cancro do pulmão por TAC parece ter pouca utilidade prática.
Contudo, estão a desenvolver-se métodos de rastreio mais baratos e práticos
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DCC Cancro do Pulmão
Este padrão celular continua mais distalmente, dando por fim origem a
um revestimento dos pequenos brônquios e bronquíolos, que consiste
numa única camada celular, que mantém ainda o padrão ciliado e a sua
forma colunar.
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DCC Cancro do Pulmão
Para além disso existe um subgrupo de tumores bronco-pulmonares primários mais raros, onde
se incluem os tumores benignos e certos tumores malignos, constituindo na totalidade do grupo
apenas um por cento de todos os tumores primários pulmonares. Nesta aula trataremos apenas
de carcinomas do pulmão.
- Carcinóides 1% - 6%
• Típicos 90%
• Atípicos 10%
- Tumores Raros 1%
• Adenoescamosos 0,4% - 4%
• Glândulas Salivares 0,1% - 0,2%
• Sarcomatoide 0,3% - 3%
• Células Granulares 0,2%
- Tumores benignos
• Adenomas
• Teratomas
• lipomas
Por outro lado, na prática pneumológica diária, encontramos frequentemente lesões pulmonares
secundárias, consecutivas ao processo de metastização própria de cada tumor primário de
origem extrapulmonar, que mimetiza frequentemente o cancro do pulmão, colocando muito
frequentemente, dificuldades de diagnóstico diferencial e que exigem a máxima atenção quer do
ponto de vista clínico quer anatomo-patológico.
Uma das dificuldades clínicas centra-se em que a lesão pulmonar identificada, poderá
corresponder a um segundo tumor primário pulmonar num doente com uma neoplasia prévia já
conhecida ou corresponder a uma metástase inaugural de um tumor extra-pulmonar conhecido
ou desconhecido.
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DCC Cancro do Pulmão
O pulmão é um órgão com enorme rede vascular e linfática e que, pela sua estrutura é um órgão
extremamente suscetível à retenção de células neoplásicas circulantes a nível do seu território
capilar parenquimatoso, onde se estabelecem focos tumorais secundários autónomos, alterando
subsequentemente toda a estrutura e função do órgão.
Habitualmente são metástases de tumores sólidos como a tiroideia, mama, rim, estomago,
colon, faringe e laringe, bexiga, metástases de melanomas, sarcomas, tumores germinativos,
coriocarcinomas, linfomas e até já encontrámos raros casos de infiltração leucémica do pulmão.
ADENOCARCINOMA: tem uma estrutura que reproduz glândulas exócrinas e está rodeado por
intensa reação fibrosa com vasos (reação desmoide à presença do tumor)
EPIDERMOIDE: epitélio de superfície com infiltração por células de dimensões grandes, com
citoplasma vasto, núcleos pequenos e densos, rodeado por um halo de linfócitos
GRANDES CÉLULAS: não simula nem glândulas nem epiderme, é um tumor mais dismórfico,
com pleomorfismo celular muito grande, células com núcleos bizarros, fenómenos mais
frequentes de divisão celular, células com diferenciação e produção de substâncias
neuroendócrinas.
PEQUENAS CÉLULAS: constituído na sua maioria por infiltrados de células muito pequenas com
pouco citoplasma e núcleos densos e pequenos que se assemelham a linfócitos.
CARCINÓIDE: estrutura de células muito monomorfa, com neovascularização, células com grau
de malignidade inferior. Típicos ou atípicos consoante a anatomopatologia.
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DCC Cancro do Pulmão
Devido às alterações na composição do tabaco, tem se verificado uma modificação nos tipos
histológicos encontrados.
• Tumores que eram encontrados com maior frequência a nível central (epidermoides-
eram dos mais frequentes), têm vindo a diminuir a sua frequência.
• Os adenocarcinomas têm vindo a aumentar exponencialmente e a tornar-se mais
periféricos.
• O Carcinoma de Pequenas Células tem vindo a manter o seu padrão e é
predominantemente central.
• O carcinoma de grandes células tem vindo a diminuir
NOTA: o mesmo tumor pode apresentar vários tipos de apresentação (ex: lepídico e mucinoso,
mucinosos, alveolar e lepídico, etc)
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Figura A:
Figura A:
(b) Adenocarcinoma Papilar- padrão papilar com células cubóides a crescer ao longo de cores
fibrovasculares
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DCC Cancro do Pulmão
• Tosse [+++] (um dos sintomas mais frequentes- por vezes, não é tanto o seu
aparecimento, mas mais a modificação do seu carácter habitual, tornando-se mais
intensa e acessual)
• Dispneia [+++] - pode associar-se a pieira, como nos doentes asmáticos, e a
farfalheira, indicando secreções brônquicas mais abundantes.
• expetoração pode tornar-se mais espessa, perdendo o carácter mucoso, semelhante
a clara de ovo, passando a um tom mais amarelado escuro ou mesmo esverdeado,
traduzindo eventual infecção associada. Por vezes é raiada de sangue ou é mesmo
só sangue, mais vivo ou mais escuro, com carácter intermitente ou persistente
(hemoptises [+]).
• Pneumonia obstrutiva
Periférico:
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As lesões ósseas, únicas ou múltiplas, ocorrem com bastante frequência e dão dor local [+], que
acaba por ser intensa e impor um acompanhamento e escalada do tratamento analgésico.
As lesões do sistema nervoso central podem exprimir-se de forma diversa conforme a zona
atingida. São as dores de cabeça persistentes, as náuseas e vómitos, as crises de convulsões,
a perda de força de um dos lados do corpo, semelhante à que se verifica no acidente vascular
cerebral, a paralisia isolada de um membro, um quadro confusional ou alterações da
personalidade de instalação rápida. Podem ainda manifestar-se por sintomas de compressão
medular.
As lesões do fígado, responsáveis pela falta de forças e emagrecimento, são indicador de mau
prognóstico. Traduzida por hepatomegália ou hepatalgia
- Síndromes paraneoplásicos:
Manifestações determinadas pelo efeito no organismo de certas substâncias produzidas
especificamente pelo tumor- conjunto de sinais e sintomas que acompanham paralelamente a
presença do tumor. São muitos e muito variados na sua expressão.
Hipocratismo digital: a extremidade dos dedos das mãos e dos pés ficam com um aspeto que
lembra a extremidade das baquetas de um tambor e as unhas tomam um aspeto de uma calote
esférica, muito redondas e sem o habitual sulco na união da unha com a pele. Contudo, é o seu
aparecimento recente e permanente que são sugestivos de um tumor do pulmão, pois estes
sinais podem existir noutras doenças que nada têm a ver com tumores malignos.
OUTROS:
O cancro do pulmão só é reconhecido pelos seus sintomas em fase muito avançadas da doença.
Afastado razoavelmente da via aérea central, um pequeno foco tumoral pode crescer
gradualmente e durante um período considerável, sem produzir qualquer sintoma obstrutivo ou
condicionar invasão de estruturas nobres. Por esse motivo, cerca de oitenta por cento dos
tumores do pulmão, quando são diagnosticados, já se encontram em fase muito avançada da
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NOTA:
Responde muito bem a QT e RT mas é um tumor com prognóstico muito reservado porque se
apresenta com grande invasão de estruturas mediastínicas.
Histologicamente as células são pequenas, com núcleos que coram intensamente, de aspeto
granular fino da cromatina, com fenómenos de esmagamento nuclear e presença de mitoses
abundantes. O escasso citoplasma assemelha as células tumorais a linfócitos. A
imunohistoquimica revela Cromogranina e Sinaptofisina que são o suporte para o diagnóstico.
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Os aspetos broncoscópicos podem revelar-se por uma massa de tumor ou por infiltração da
parede brônquica, são os sinais diretos da presença da neoplasia:
O reflexo endoluminal de uma neoplasia extra-brônquica traduz-se por vários sinais indiretos,
que são de grande importância na seleção da instrumentação que permita transpor a parede
brônquica:
• Estenose
• Compressão
• Edema
• Hiperémia (criação de neovasos)
• Esteira Hemática
Em condições de neoplasia muito periféricas, que não apresentem quaisquer alterações visíveis
endoscopicamente (exame normal), existem abordagens trans-cutâneas, designada punção-
biópsia transtorácica, bem como procedimentos broncoscópicos como a radioscopia, a ECO
broncoscopia e a navegação eletromagnética, que trataremos mais à frente.
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Legenda:
Oclusão com
Oclusão brônquica (2
convergência de
Massa hemorrágica pregas numa brônquios
segmentares) Hiperémia difusa
e infiltrativa pequena massa
(brônquio mais
periférico)
Espessamento da
Massa tumoral parede com edema e
Sinal de hemorragia
necrótica branca hiperémia da Redução de calibre
periférica- esteira
(Carcinoma mucosa que brônquico
hemática
epidermoide) condiciona redução
de calibre
Sinais indiretos da
Massa tumoral não Modificações e presença de
necrótica, com vasos irregularidades da Formação de adenopatias
à superfície e banda mucosa por neovasos infracarinais
de material purulento infiltração e necrose (alargamento e
fixação da carina)
Intensificador de imagem:
Em lesões pulmonares periféricas, pode fazer-se controlo radiológico das lesões durante a
broncoscopia, permitindo direcionar melhor o broncoscópio e a pinça de biópsia em direção à
lesão, permitindo realização de biópsias.
EBUS
A Ecobroncoscopia linear EBUS é a técnica broncoscópica que permite a amostragem citológica
ou mesmo histológica ganglionar mediastínica através de uma agulha de punção guiada em
tempo real. Para o adequado estadiamento devem ser puncionados todos os grupos
ganglionares mediastínicos acessíveis e as amostras analizadas separadamente de acordo com
o seu mapeamento.
Este exame tem grande relevância para o estadiamento N (determinação da invasão de nodos
linfáticos).
NOTA: A agulha pode ir até aos 5 cm e permite puncionar a Glândula Suprarrenal direita!
EBUS radial: ecobroncoscópio periférico- broncoscópio normal através do qual se introduz uma
sonda que caminha no interior de uma bainha plástica. A sonda está centrada no meio da lesão
Navegação eletromagnética:
Com a navegação eletromagnética é possível atingir a lesão pulmonar periférica através de
instrumentação guiada por um campo electromagnético envolvente e, através de uma cânula
que permanece no local podem ser introduzidos diversos instrumentos de colheita.
Através de uma TAC criam-se pontos localizados à superfície do tórax dos doentes através dos
quais se guia uma sonda que passa por dentro do broncoscopio até chegar perto da lesão.
Depois pelo interior da cânula por onde a sonda passa são introduzidos os instrumentos que
permitem biopsar a mesma.
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Broncoscopia Robótica:
É uma última modalidade que permite atingir lesões nodulares muito pequenas na periferia do
parênquima pulmonar.
O operador não precisa de estar a segurar o broncoscópio: são uns braços movíveis por uma
consola que penetram na via aérea através da visualização endoscópica guiada e se dirigem a
zonas do pulmão muito próximas dos bronquiolos terminais e alveolares para realizar biópsias.
O despiste de metástases à distância deve ser feito através de PET-TC que permite mostrar
metabolicamente a existência de depósitos secundários por todo o organismo. Se houver
necessidade de caracterizar essas lesões: se possível, podem ser abordadas perifericamente,
mas, na falta dessa possibilidade, terá que se fazer estadiamento mediastínico.
Mediastinoscopia
A mediastinoscopia é uma forma de estadiamento cirurgico que presentemente só é utilizada
para uma confirmação precisa do componente ganglionar mediastinico.
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Quando existe derrame pleural é necessária toracocentese com análise do líquido pleural
(permite estudos da biologia molecular tumoral).
A Biópsia Aspirativa Transtorácica tem com alguma frequência complicações como a hemorragia
e o pneumotórax.
Biópsia Líquida:
Os recentes avanços científicos na compreensão da circulação de células tumorais, do seu DNA
e RNA livres circulantes bem como dos exosomas, têm produzido uma base sólida para o
desenvolvimento da biópsia líquida molecular de rotina. Isto permite um acesso não invasivo a
informação genética sobre mutações somáticas, epigenéticas e expressões diferenciais.
A biópsia líquida tem o potencial para providenciar informação acerca de diversas neoplasias,
sem necessidade de biópsias invasivas, usando biomarcadores circulantes, com uma boa
rentabilidade. Pode ser útil não apenas para o Screening bem como para eventual monitorização
evolutiva do cancro do pulmão. Com o aparecimento de tecnologias altamente sensíveis e
precisas, tais como a next-generation sequencing, a biópsia líquida molecular passou a ser um
instrumento fulcral.
Esta técnica tem também grande importância para detetar mutações de resistência às
terapêuticas em curso.
O custo deste exame tem vindo a reduzir-se significativamente e para o doente é também melhor!
Para tal é utilizado o sistema TNM (Tumor; Nodes; Metastasis) entrando em conta com
informação de variados exames dos quais uns são imagiológicos ou broncoscópicos e outros
procedimentos mais invasivos.
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Notas:
A extensão de uma adenopatia a uma estrutura tumoral não interfere com a categoria T.
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A seguinte tabela serve para substituir as imagens apresentadas na aula sobre os estádios do
Cancro do Pulmão. O Professor reforçou que essas imagens constituíam apenas um elemento
de consulta em caso de necessidade.
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O cancro do pulmão identificado de uma forma completamente incidental não é, na prática Clínica
diária, tão pouco frequente como isso, mesmo entre indivíduos não fumadores. No entanto, isso
confere uma melhor sobrevivência, sobretudo se assintomáticos, dado que habitualmente o
diagnóstico identificou a doença em estadio bastante precoce.
Um estudo de 2014 (International Journal of Surgical Oncology, Volume 2015 2014), realizado
com o intuito de avaliar as caraterísticas e os resultados operatórios, de doentes com cancro do
pulmão diagnosticados incidentalmente, revelou que as principais indicações para a realização
do exame radiológico no grupo de doentes completamente assintomáticos foram:
- Em cerca de 5,6%, não foi possível determinar os motivos pelos quais foi realizado o
exame radiológico.
Nódulo subsólido:
Mostram um aspeto ténue, por
vezes com núcleo mais central,
mas têm densidade inferior à
óssea. Têm algoritmos próprios
para se perceber como evoluem
com o tempo.
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Nódulo sólido:
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Cerca de 90% dos doentes com cancro do pulmão têm história prévia de consumo de
tabaco não somente aquando do diagnóstico, mas também subsequentemente. Mesmo
entre os que, neste contexto, deixam de fumar, a taxa de recaída é elevada. A Consulta de
Tabagismo para apoio e terapêutica do doente fumador constitui um componente imprescindível
no plano terapêutico do doente com cancro do pulmão. Importa fazer um acompanhamento
regular do doente, para que se possa otimizar a medicação e a função respiratória do doente,
nomeadamente em doentes com condições para cirurgia.
Doentes com critérios de estadiamento para uma eventual terapêutica cirúrgica com intenção
curativa, têm estrito aconselhamento e apoio na consulta para cessação tabágica absoluta, no
mínimo oito semanas antes da intervenção, para obterem máximo benefício e minimização das
complicações pós-operatórias.
Doentes T1(a ou b) N0 e com margens cirúrgicas negativas (R0) têm indicação para manter-se
em vigilância.
Nas situações com margens cirúrgicas positivas (R1, R2), a reintervenção cirúrgica com
alargamento de margens, deve ser realizada sempre que possível ou quando não possível,
devem realizar radioterapia pós operatória PORT.
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Em tumores de reduzida dimensão e periféricos (Ia, b ou c), sem adenopatias, após avaliação
inicial, a única terapêutica com intencionalidade curativa surge com a ressecção cirúrgica do
tumor com linfadenectomia mediastínica homolateral ou sistemática dos dois lados. Quando não
há possibilidade cirúrgica por motivos clínicos de outra ordem, poderá optar-se por Radioterapia.
Doentes com doença N1 (Doença ganglionar homolateral) (T1a,b-T2a,b) e T3N0 com margens
cirúrgicas negativas, recomenda-se quimioterapia adjuvante.
Doentes com doença N1 e margens cirúrgicas positivas (T1-2, N1), as opções incluem:
Para a quimioterapia adjuvante, recomenda-se o uso de uma combinação de duas drogas, com
um dupleto de platina, preferencialmente cisplatin, 3 a 4 ciclos. A combinação mais estudada é
a cisplatina + vinorelbina.
Doentes portadores de tumores T1-T2a (≤5cm) N0 M0, sem condições clínicas para cirurgia ou
recusam esta modalidade terapêutica, podem ser submetidos a radioterapia estereotaxica SBRT.
As opções de tratamento nos doentes portadores de cancro do pulmão no estadio IIB (T3N0M0)
são decididas de acordo com a localização do tumor primitivo (sulco superior, parede torácica,
via aérea ou mediastino), devendo ser efetuada uma determinação prévia das condições de
ressecabilidade cirúrgica.
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Globalmente o estadio III do carcinoma não pequenas células, constitui um grupo bastante
heterogéneo em termos de definição das modalidades das várias terapêuticas. Habitualmente
necessita de uma opinião de cirurgia bem como de Radio Oncologistas, para definir a estratégia
mais adequada. Embora não exista uma definição precisa do que é um tumor irressecável,
portanto sem possibilidade de cirurgia, é em última análise o cirurgião que determina.
Para tumores localmente avançados, mas ainda assim ressecáveis, especialmente na doença
N2 positiva numa única estação ganglionar, tanto a quimioterapia e radioterapia concomitante,
como a quimioterapia de indução (Neo-Adjuvante) seguida de cirurgia, são opções equivalentes,
mas não mostrarem uma sobrevida global superior embora exista alguma sobrevida livre de
doença.
A RT está indicada após uma cirurgia incompleta, sendo os doentes pN2, aqueles que parecem
beneficiar com a RT, com aumento do controlo loco-regional da doença.
Os doentes com pN2 e margens negativas devem ser tratados com Quimioterapia seguida de
Radioterapia.
Os doentes pN2 descobertos somente na exploração mediastínica durante o ato cirúrgico e com
as margens positivas após a cirurgia devem ser tratados com Radioterapia e Quimioterapia
concomitante.
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Situações particulares:
T3 com invasão da parede N0-1 a QRT mostrou sobrevida entre 50% e 70% aos 2 anos e uma
taxa de sobrevida global aos 5 anos cerca de 40%.
Em geral, para doentes com doença do estadio I ou do estadio II, a cirurgia fornece a melhor
possibilidade para a cura. O procedimento cirúrgico usado vai depender da extensão da doença
e da reserva cardiopulmonar do doente. Estão recomendadas ressecções anatómicas, quando
possível.
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Terapêutica cirúrgica:
• A cirurgia torácica por toracoscopia vídeo assistida (VATS): menos invasiva, tem algumas
vantagens sobre a toracotomia: a dor aguda e crónica com a VATS é mínima; o procedimento
requer um tempo mais curto de hospitalização, está também associado a morbilidade e
mortalidade menores.
• A lobectomia ou mesmo a pneumectomia por via uniportal é presentemente a cirurgia com
menor morbilidade.
• [A cirurgia robótica é uma alternativa que irá permitir uma abordagem facilitada a zonas
menos acessíveis a uma adequada obaservação e à utilização da atual instrumentação
laparoscópica]- expectativa futura
Os doentes em estádio I com cirurgia efectuada por VATS com dissecção dos gânglios
mediastínicos, têm uma taxa de sobrevivência a 5 anos, sobrevivência a longo prazo, e recidiva
local comparáveis àqueles conseguidos pela cirurgia clássica.
Este tipo de cirurgia, é particularmente benéfica nas populações mais idosas e em doentes de
alto risco cirúrgico.
As cirurgias poupadoras, tais como segmentectomia e a ressecção em cunha, poderão ser úteis
em doentes com função pulmonar severamente reduzida, os quais não seriam, de outra maneira,
candidatos à cirurgia.
No que diz respeito aos estádios não operáveis, se forem estádios precoces a RT é uma
alternativa com possibilidade curativa. Contudo, para estádios mais avançados, esta não é
suficiente, devendo utilizar-se também QT.
Atualmente há outras terapêuticas para além destas, que veremos na parte 3 da aula.
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RADIOTERAPIA:
Os avanços tecnológicos têm permitido uma melhoria nos tratamentos de radioterapia com
escalonamentos de dose, melhorando o controle local da doença e com menor toxicidade nos
tecidos adjacentes.
Estadios precoces sem condições operatórias, podem ser tratados com radioterapia isolada, e
em casos mais avançados é possível o tratamento definitivo com combinações de quimioterapia
e radioterapia, em que o timing desta associação deve ser idealmente ao 1º-2º ciclo, com
aumento significativo da sobrevivência global.
•
RT pré-operatória – 45-50Gy
•
QRT pós-operatória concomitante com o 1º ou 2º ciclo de QT – 50-70Gy
dependendo do status de ressecção,
com eventual redução de campo, respeitando as doses de tolerância dos órgãos críticos.
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• Radioterapia isolada nos estádios iniciais (I-II) com RT 60-74Gy, ou se o doente for
elegível para SBRT 48-60Gy
• QRT concomitante com o 1º ou 2º ciclo de QT + RT 60-74Gy, seguido de QT de
consolidação
Em 1980 foi identificada uma proteína chave, à superfície das células T, chamada cytotoxic T-
lymphocyte associated Protein (CTLA-4), que atua como frenador da atividade das células T.
As moléculas inibidoras que se ligam aos ligandos presentes nas células tumorais e os seus
correspondentes receptores existentes à superfície dos Linfócitos T são chamados
immunochekpoints.
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Imunoediting
Por Cancer Immunoediting entende-se um processo através do qual o Sistema imunitário pode
simultaneamente contrariar ou promover o crescimento tumoral. É um processo que se
desenvolve em três fases consecutivas: a fase de eliminação, a fase de equilibrio e a fase de
escape. Ocorre durante toda a evolução tumoral, mantendo-se mesmo em doentes sob
imunoterapia.
• Transformação
• Presença de sinais de
perigo
• Antigénios tumorais
• Ligandos NK R
• Eliminação (Immunosurvaillance)
• Imunidade Inata
• Imunidade Adaptativa
• Equilíbrio
• Dormência Tumoral
• Tumoral Editing
• Novas Variantes
• Escape
• Perda antigénica
• MCH loss
• CTLA-4
• Variantes Tumorais de
Crescimento
• Promoção
A modulação da imunogenecidade tumoral tem por nome imunoedição que significa a eliminação
celular tumoral silenciosa e que clinicamente não tem expressão, passando a uma segunda fase
de equilíbrio em que as células não são destruídas (fase de dormência) e por último o sistema
imunológico deixa de conseguir combater as células tumorais e acaba por haver escape e surgir
clínica.
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Inibidores de Checkpoint:
e PD-L2)
Mecanismos de escape:
CTLA4 expresso nas células T ativadas condiciona regulação negativa sobre o processo de
ativação das células T e com o tempo, a exposição prolongada a estímulos antigénicos tumorais
leva a uma exaustão dos linfócitos T que perdem a sua capacidade citotóxica.
A PD1 é a proteína de morte celular programada produz uma limitação da resposta imunológica
por interação com ligandos como o PD-L1. A ligação ao PD-L1 expresso à superfície da célula
tumoral suprime a capacidade citotóxica da célula T provocando uma imunodeficiência.
A terapêutica de primeira linha nos carcinomas não pequenas células metastizados, consistia
em quimioterapia com dupleto de platina em que a cisplatina ou a carboplatina se associavam
a outros fármacos como a vinorelbina a gemcitabina, o pemetrexede, o paclitaxel ou o docetaxel.
Estes dupletos de platina resultavam numa melhoria sintomática dos doentes e aumento da
sua sobrevida média em cerca de mês e meio e a um ano, um aumento da taxa de sobrevida de
9%.
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Em associação com quimioterapia, verificou-se uma taxa de resposta objetiva de 45% versus
28% no braço da quimioterapia e uma sobrevida sem progressão de doença e uma sobrevida
global muito importante. Em termos de toxicidade e qualidade de vida, também se
registaram melhores resultados com a associação, em comparação com a quimioterapia
isolada.
Nos carcinomas avançados sem alterações suscetíveis de terapêutica alvo e com PDL1
positivo, mas inferior a 50% poderá haver preferência de associação de imunoterapia com
quimioterapia.
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Existem alternativas terapêuticas que podem ser úteis em certas circunstâncias, como por
exemplo quando há contra-indicação para terapêutica com inibidores do PD1 PD-L1 como é o
caso da eistência de uma doença autoimune ou situações em que o doente se encontra sob
terapêutica imunossupressora, ou ainda se detetada a presença de um oncogene que lhe
conferiria ausência de benefício terapêutico.
Monitorização terapêutica após a primeira linha deve incluir uma avaliação após dois ciclos e
depois de dois a 4 ciclos com TAC torácica e de eventuais outros locais envolvidos, ou quando
clinicamente estiver indicado
A terapêutica de switch refere-se a adição do novo agente que não fez parte do regime de
primeira linha de tratamento.
A monitorização durante terapêutica subsequente implica uma avaliação da resposta com TAC
torácica e dos locais em que a doença existia com contraste.
Mantém-se a indicação para terapêutica com dupleto de platina. Como nesta população o
Premetrexedo apresentou uma sobrevida geral bastante inferior, o dupleto mais utilizado é
cisplatina + gemcitabina.
A imunoterapia com PD-L1 com pembrolizumab está aprovada apenas para tumores com
expressão de PD-L1 superior a >1%. demonstrou um aumento da SG, estatisticamente
significativo, de 8,5 meses para 10,4 meses.
Em doentes com expressão de PDL-1 > 1% e PS entre 0 e 1, com progressão da doença após
1ª linha de QT paliativa ou Quimio-RT realizada < 6 meses têm indicação para realização de
imunoterapia, sobretudo se houver expressão de PDL1>1%. Independentemente da histologia
do tumor, esta abordagem confere:
Outras opções para terapêutica de segunda linha baseiam-se em quimioterapia citotóxica com:
Esquemas de quimioterapia de combinação não parecem aumentar a Sobrevida Geral (SG), com
agravamento do perfil de toxicidade.
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Doentes com PS 3 ou 4 não têm indicação para terapêutica sistémica de segunda linha.
A terapêutica de 3ª linha está indicada para doentes com performance status 0 -2, que
progrediram após segunda linha.
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Anti PD-1:
Anticorpos monoclonais humanizados IgG4 inibidores do PD-1:
• Nivolumab
• Pembrolizumab
• Atezolizumab
• Durvalumab
• Avelumab
Existem situações de utilização comum com QT e terapêuticas alvo que é preciso ter em atenção
pela sua toxicidade que tem tendência para se prolongar para além do tempo de administração.
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Doença OLIGOMETASTÁTICA:
A doença oligometastatica consiste na existência de um número limitado de metástases em
poucas localizações (uma única lesão / um único órgão com várias lesões / múltiplas lesões
isoladas em múltiplos órgãos). Habitualmente são aceites neste contexto até 5 metástases, mas
estas devem ter a possibilidade de terapêutica local radical através de ressecção cirúrgica /
SBRT ou ambas.
Este conceito de doença metastática, deu origem a uma nova classificação do estadio IV sendo
precisamente o estadio IVa doença pulmonar contralateral metastática e o estadio IVb metástase
em órgão distante único.
A suprarenalectomia está indicada quando este é o único local de metastização, devendo ser
confirmado histologicamente por punção aspirativa.
As lesões solitárias no pulmão contralateral, devem ser encaradas como um tumor síncrono
primário e tratadas com cirurgia ou radiocirurgia estereotáctica e terapêutica adjuvante (se
indicado), ou quimioterapia e radioterapia definitiva.
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Estas terapêuticas mostraram ser mais eficazes e com menos efeitos adversos do que a
quimioterapia habitual, levando ao desenvolvimento de mais de 500 moléculas com capacidade
de atuar nas diversas alterações nessas vias, introduzindo o conceito de terapêutica
individualizada ou personalizada ou até específica (pois embora sendo para a pessoa, é dirigida
a alterações específicas). Contudo, devem ser vistas também como terapêuticas temporizadas
respondendo ao controlo da neoplasia mediante as diferentes alterações específicas que vão
sendo adquiridas pela célula neoplásica na sua adaptação à imortalidade.
Biologia Molecular
• EGRF mutações
• ALK
• ROS1
• MET
• BRAF V600E
• RET
• PD-L1
Estes fármacos alvo, são pequenas moléculas (dimensões < 2 Daltons) que conseguem
atravessar a membrana plasmática das células e interagir a nível do domínio citoplasmático de
recetores de membrana ou de moléculas de sinalização citoplasmática.
A maior parte destas pequenas moléculas, destinam-se a interferir com enzimas celulares, muito
particularmente com o recetor da tirosina cinase.
Nas últimas décadas a extensa investigação destas moléculas resultou na aprovação pela FDA,
de vários destes agentes para tratamento do cancro do pulmão.
Entre esses agentes contam-se os inibidores da tirosina cinase (TKI´s), do receptor do fator de
crescimento epidermico 2 (HER2), o receptor do factor de crescimento epidermico (EGFR), do
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Nestes tipos de tumor, podem existir uma série de alterações genéticas somáticas que incluem
mutações translocações, rearranjos e aberrações que é fundamental identificar, dada a atual
existência de fármacos utilizados presentemente em primeira linha, que têm constituído um dos
pilares fundamentais no tratamento destes doentes, em várias fases da evolução biológica e
clínica da sua doença, com repercussões importantes sobre a sua qualidade de vida e a sua
sobrevida.
Assim o estudo do perfil genómico poderá incluir outras alterações moleculares possíveis,
algumas mais raras e com um elevado grau de heterogeneidade na sensibilidade aos diferentes
fármacos. Isso permitirá a seleção de terapêuticas personalizadas e temporizadas, com
significativo impacto clínico.
Mutação EGFR:
O gene EGF é responsável pela produção do recetor do
fator de crescimento epidérmico, que corresponde a uma
proteína transmembranar com um componente
intracelular e outro extracelular, onde se vêm ligar várias
proteínas chamadas ligandos e que representam outros
tantos sinais que permitem que a célula responda ao seu
meio ambiente.
Isso provoca a sua ativação que, por sua vez resulta na estimulação de vias de sinalização no
interior da célula, responsáveis por promover o crescimento, a divisão celular e a
proliferação, assegurando a sua sobrevivência.
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Os inibidores da Tirosina cinase TKI permitem uma melhor taxa de resposta com menor
toxicidade, uma melhor QOL, uma sobrevida livre de doença significativamente superior à
quimioterapia clássica nestes doentes, mesmo em estadios mais avançados.
Perante terapêutica em curso com EFGR se houver progressão de doença deve fazer-se
pesquisa da T790M por biópsia líquida. Se negativa, confirmar resultado com a pesquisa
histológica da mutação. HD TKI com efeitos promissores em doentes selecionados (apenas
reportados em casos clínicos, não em séries ou ensaios clínicos).
O tratamento de terceira linha deve ser efetuado com quimioterapia, com dupleto de platina, caso
o performance status e comorbilidades o permitirem, e caso esta terapêutica não tenha sido
utilizada antes (por ex caso a progressão houvesse sido T790M negativa). Se a terapêutica com
dupleto de platina já houver sido utilizada deve-se prosseguir com terapêutica de segunda linha.
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Rearranjos do ALK:
A proteína ALK (Anaplastic Lymphoma Kinase), foi identificada em células de um linfoma
anaplástico de grandes células em 1994 e resulta de uma translocação cromossómica entre os
cromossomas 2 e 5. Tem funções de quinase da tirosina e após dimerização com outra proteína
idêntica autoativando a sua função quinásica.
Os ligandos que atuam sobre o domínio extracelular desta proteína transmembranar, são dois
pequenos péptidos o FAM 150 A e B que são fortemente ativos na sinalização celular, resultando
a ativação a jusante de outras vias, entre as quais a MAPK-ERK, a PI3K, a PLCy, a CRKL-C3G
e a JAK-STAT, envolvidos em múltiplos processos celulares: sobrevivência, crescimento e
proliferação celulares.
A terapêutica de doentes com carcinoma de não pequenas células com arranjos do ALK, foi
revolucionada pelo aparecimento de uma pequena molécula inibidora o crizotinib, mas a
progressão da doença surgia habitualmente pelos 12 meses da terapêutica, devido ao
desenvolvimento de resistências ao fármaco.
Nos últimos anos surgiram outros inibidores com reconhecida utilidade (doentes com
metastização do SNC), e que são o Creritinib, Alectinib, Entrectinib e Brigatinib, estando ainda
em desenvolvimentos vários outros ainda em fase de ensaio.
Caso haja mutações que causem resistência aos fármacos de primeira linha, progride-se
para a 2ª linha (Ceritinib)
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Ceritinib- Reações adversas com elevação das transaminases, sobrevida livre de doença d e6.9
meses, taxa de resposta de 56%.
Para além da progressão com Crizotinib, poderá haver necessidade de terapêutica de paliação.
• 1º linha: Crizotinib
• 2ª linha: Ceritinib, Alectinib (útil na atividade metastática do SNC)
Rearranjos do ROS:
O Proto-oncogene tirosina cinase ROS é uma enzima codificada pelo gene de fusão ROS1 do
cromossoma 6 e é uma proteína integral de membrana também com atividade proteína cinásica,
que faz parte da família dos recetores da insulina.
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DCC Cancro do Pulmão
O tratamento destes doentes com Crizotinib, tal como na situação de CPNPC com rearranjos
do gene ALK, revelou uma taxa de reposta elevada (66%) e duração de resposta de 18,3 meses,
com um perfil de toxicidade, semelhante ao já conhecido, manejável.
Enquanto que o Crizotinib inibe o ALK, ROS1 e MET, os restantes inibidores ALK no mercado,
tal como o Ceritinib ou o Alectinib não o fazem. É necessária uma biópsia líqduia para determinar
se há ou não mecanismos de resistência secundária, para os quais haverá terapêutica mais
dirigida que pode ser acompanhada por QT sistémica.
Assim, é possível que todos os doentes com carcinoma do pulmão não pequenas células, devam
ser submetidos a um estudo de biologia molecular mais amplo, incluindo testes menos
frequentes, para identificar alterações acionáveis por fármacos que presentemente já estão
disponíveis.
Embora este conjunto de mutações seja menos frequente nos carcinomas epidermoides, poderá
vir a ser recomendada uma abordagem standardizada para todos os carcinomas não pequenas
células.
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• Responsável pela produção de uma proteína que corresponde a um recetor com atividade
tirosinacinásica, envolvido na sobrevivência e na proliferação celular. As alterações
genómicas compreendem as skipping mutation do exão 14, o aumento do número de cópias
do gene e a amplificação ou ganho da expressão.
• As alterações genómicas do MET normalmente não se sobrepõem às do EGFR, ROS1,
BRAF e ALK contudo, a mutação skipping do exão 14 e a amplificação simultânea do gene,
são relativamente frequentes.
• A mutação skipping ocorre em 3% a 4% dos doentes com adenocarcinomas, mas apenas
em 1% a 2% noutras histologia.
• Estes tipos de anomalias genéticas são mais frequentes em mulheres idosas e em não
fumadores, e têm uma resposta reduzida (16%) à imunoterapia mesmo nas situações com
PD-L1 elevado
• A recomendação para este tipo de driver é o Capmatinib
NTRK
• Codifica um recetor com com atividade tirosina cinásica para a tropo miosina, que atuam
com drivers oncogenicos em diversos tipos onde se inclui o pulmão.
• Calcula-se que fusão do TRK nos carcinomas não pequenas células, não se sobrepõe
habitualmente a outros drivers oncogenicos,
• Os fármacos recomendados em primeira linha neste tipo de mutação são o Larotrectinib e
o Entrectinib.
• Serina/treonina cinase da família da sinalização celular MAP/ERK que tem atividade tirosina
cinásica que faz parte da via de sinalização celular MAP/ERK.
• Existem diversos tipos de mutação, mas a única para a qual existe tratamento é a V600E,
que ocorre entre 1% a 2% dos doentes com cancro do pulmão.
• Estes doentes são habitualmente ex-fumadores e a mutação não se sobrepõe a outras
mutações. Doentes com mutações do BRAF, respondem à imunoterapia com inibidores
checkpoint em cerca de 24%.
• A terapêutica destes doentes recomendada inclui o Dabrafenib juntamente com o
Trametinib, e em caso de toxicidade, poderá utilizar-se uma monoterapia com qualquer
desses fármacos.
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RET
• Responsável por uma proteína recetora com atividade tirosina cinásica que afeta a
proliferação e a diferenciação celular.
• Os rearranjos do RET podem ocorrer no carcinoma não pequenas células entre o gene e
outros domínios genómico, especialmente da família 5B(KIF5B) e o domínio da estrutura de
enrolamento molecular que contém 6(CCDC6), que condiciona a hiperpressão da proteína
RET.
• Ocorrem em acerca de 1% a 2% dos doentes com carcinoma do pulmão não pequenas
células, sobretudo adenocarcinomas, quer em fumadores quer em não fumadores, não
existindo também sobreposição com outros drivers genéticos. Têm uma resposta muito baixa
à imunoterapia (6%).
• Os fármacos utilizados nos rearranjos do RET são o Salpercatinib e o Pralsetinib.
Mutações KRAS
As mutações do KRAS são conhecidas desde a largas décadas estando entre as mutações
driver mais frequentes no cancro, mas tem havido enormes dificuldades em encontrar
moléculas que atuem para interromper este fator de crescimento celular. O KRAS é uma proteína
G com atividade GTP que faz parte da via MAP/ERK, cujas mutações envolvem o
fundamentalmente no codão 12.
Os dados conhecidos sugerem que 25% dos doentes com adenocarcinoma, pelo menos nos
Estados Unidos, tenham mutações do KRASs e que a prevalência dessas mutações está
diretamente associada aos hábitos tabágicos.
Os doentes com mutações do KRAS têm menor sobrevida que os doentes com wild-type, pelo
que se assumem como fator prognóstico.
Embora não existam correntemente disponíveis terapêuticas alvo para esta alteração genética,
a imunoterapia com inibidores de checkpoint apresenta alguma eficácia.
Refere-se esta mutação, dada a sua frequência no CPNPC e o facto de ter saído um artigo em
2019, em que, pela primeira vez, surge um fármaco - o Sotrastasib com utilidade clínica.
O tratamento deverá ser sempre elaborado tendo por princípio um planeamento 3D.
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• Hemorragia incontrolável da via aérea poderá ser indicação caso não seja possível
controlá-la por técnicas broncoscópicas.
Carcinomas Neuroendócrinos:
Os tumores neuroendócrinos tem a sua origem em células do sistema endócrino difusas por todo
o organismo. Compreendem uma família relativamente grande de tumores a maior parte dos
quais têm a sua origem no trato digestivo, a nível Broncopulmonar, Timo e Pâncreas.
A classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS 2004) dos TNEP reconhece quatro
entidades patológicas distintas: o carcinóide típico (CT), o carcinóide atípico (CA), o carcinoma
neuroendócrino de grandes-células (CNEGC), e o carcinoma de pequenas-células (CPPC).
O carcinoma neuroendócrino de pequenas células deve ser tratado à parte dado o seu grau de
gravidade clínica e diferentes características terapêuticas.
Exames imagiológicos um pouco diferentes: para além da TAC, o PET neste caso é feito com
análogos da somatostatina.
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A investigação laboratorial da expressão destas substâncias deve ser guiada pela presença de
sintomatologia não sendo por isso necessária uma utilização por rotina de todas as
possibilidades.
Aspeto anatomopatológico:
Carcinóide Típico: ilhas celulares com vasos abundantes entre elas, com células do mesmo
tamanho e núcleos idênticos, algumas mitoses (situação de alguma benignidade)
Carcinóide atípico: densidade celular bastante elevada, distribuição não é tão isolada embora
também existam septos de tecido conjuntivo onde correm vasos, anisocoria (núcleos de
diferentes dimensões), mais figuras de mitoses celulares
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No caso de se tratar de um carcinóide típico, poderá optar-se por vigilância clínica regular, se
assintomático ou por Everólimus / Octreótido / Lanreótido se houver manifestações
hormonais. Em alternativa Temozolamida isolada ou em associação com Capecitabina ou ainda
radioterapia torácica.
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Terapêuticas subsequentes de segunda linha devem ser inseridas em ensaios clínicos e deve
ser considerada a modificação da terapêutica inicial e, eventualmente, considerar terapêutica
com o radionuclido Lutetium – 177Lu- Dotatato.
Em segunda linha deverá ser decidida outra das modalidades terapêuticas não administrada em
primeira linha.
Contudo esta classificação tem vindo a ser substituida pela classificação TNM 7ed da
AJCC/IUAC, na qual a doença limitada equivale a qualquer T (excepto T3-4 por nódulos multiplos
que não permitam um único campo de irradiação), qualquer N, embora sempre com M0 (estadio
I-IIIb). Todos os estadios IV da classificação TNM corresponderão a situações de doença
extensa.
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Na doença metastática os órgãos abdominais estão envolvidos em 60% dos casos, com as
glândulas suprarenais e o fígado a aparecerem como os locais mais frequentemente atingidos.
Desta forma a TAC deverá incluir o abdómen com contraste iv no estadiamento de rotina.
O osso está atingido em 35% dos casos e a cintigrafia óssea faz parte do estadiamento inicial.
Progressivamente vai sendo substituída pela FDG-PET/CT de corpo inteiro, dado que também
permite despiste de lesões a nível ósseo.
o Cisplatino ou Carboplatino
o Etoposido
o RT radical (60 Gy) concomitante com início no 1º ou 2º ciclo de QT.
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• Carboplatina + Etoposido
• Cisplatina + Etoposido
• Carboplatina + Irinotecano
• Cisplatino + Irinotecano
Nas situações de doença extensa, a sobrevivência sem terapêutica é de 1,3 meses. Com
tratamento a sobrevivência mediana é de 6 a 12 meses, com uma taxa de sobrevivência aos 5
anos de 1-2 %.
CPPC- RECIDIVA:
É frequente! Se ocorrer nos primeiros 90 dias após QT, considera-se um tumor refratário a QT,
se ocorrer depois deste período o tumor continua a ser considerado quimiossensível.
A imunoterapia tem sido objeto de estudo tendo passado a ser uma opção na doença
recorrente. Em 2018 foi aprovada pela FDA, a utilização de Nivolumab em 3ª linha.
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DCC Cancro do Pulmão
o Regimes Alternativos
• Nivolumab
• Pembrolizumab
• Paclitaxel
• Docetaxel
• Irinotecano
• Temozolamida
• Ciclofosfamida + Doxorubicina + Vincristina (CAV)
• Etoposido Oral
• Vinorelbina
• Gemcitabina
• Etoposido
Recidiva em PS = 3-4: RT em localizações sintomáticas + Terapêutica paliativa
Terapêutica Paliativa:
Na paliação sintomática dos doentes com cancro do pulmão avançado, para além das
terapêuticas farmacológicas, existem outras modalidades, que comportam um componente
técnico e que contribuem significativamente para o controle sintomático da doença.
Radioterapia externa:
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DCC Cancro do Pulmão
Conclusão:
Enfrentamos ainda uma epidemia considerável:
Deu a entender que a aula foi muito mais extensa do que se tivesse sido presencial.
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DCC Carcinoma Colorectal
Carcinoma Colorectal
Estas alterações das vias de mutagénese têm implicações clínicas: os tumores que
apresentam instabilidade de microssatélites apresentam melhor sobrevida do que outras
vias subjacentes (a via da instabilidade cromossómica).
5-FU:
Em caso de tumores por instabilidade microssatélites, estes não respondem a
todos os tipos de quimioterapia, tais como os baseados no 5-FU.
Só tem vantagens na sobrevida em tumores da via da instabilidade cromossómica.
Anti PD1
Recentemente verificou-se que, em doentes com CCR metastático, os anti PD1
apenas são benéficos em doentes que apresentem tumores com instabilidade
microssatélite.
Poderá ser porque a via mutadora apresenta uma carga de mutações maior, o que
representam um alvo preferencial para a terapêutica com estes anticorpos.
A presença de diferentes
mutações e vias de carcinogénese
não é aleatória, e tem levado a
múltiplas tentativas de
estabelecimentos de classificações
moleculares do CCR. Tentou-se
estabelecer uma classificação
baseada na presença ou ausência
instabilidade de microssatélites. Isto
levou à agrupação dos doentes em
cerca de cinco grupos, com
consequências depois também na
sua sobreviva.
Rastreio CCR
Relativamente ao rastreio
populacional do CCR, neste momento é
universalmente aceite os países ocidentais,
mas a sua forma de implementação tem
variado conforme as zonas, sendo a
colonoscopia o método preferido nos
Estados Unidos e os testes fecais na Europa.
Efeito da idade na incidência de CCR: É uma doença rara antes dos 50 anos, sendo
que nos últimos 10 anos tem-se verificado um aumento preocupante de incidência
entre os 30 e os 45 anos, cujas causas ainda não são totalmente conhecidas.
Uma história familiar pesada deve chamar a atenção para existência de um possível
sindrome Lynch ou a Polipose adenomatosa familiar.
Como métodos experimentais estão a ser desenvolvidos testes serológicos, mas ainda
não apresentam dados que lhe permitam a sua utilização prática. A colonoscopia por
cápsula também sendo um método endoscópico não invasivo apresenta resultados longe
dos ideais para ser utilizado como método de rastreio.
Teste Guaiac:
o Baseiam-se numa reação de oxidação redução simples, em que uma pequena
amostra de fezes é corada com reagente e cora azul se presença de sangue.
o Dada a facilidade do seu envio e reenvio em massa por correio para a população, é
um método seguro e sem complicações. No entanto a sua sensibilidade para o CCR
não é superior a 50% e não deteta lesões precursoras.
o Tem um grande número de falsos positivos uma vez qualquer patologia que provoca
sangramento GI leva a FP. É recomendada anualmente com 3 amostras sucessivas,
a partir dos 50 anos em doentes de risco padrão.
Mucosectomia Endoscópica:
o Pólipos > 20mm;
o A avaliação deve excluir componente invasivo ou lesões de baixo risco;
o Remoção em fragmentos, com injeção e redução sequencial da lesão com
uma ansa elétrica.
Ao encontrar uma lesão é preciso fazer uma avaliação do tipo histológico e do risco de
ocorrência de um carcinoma invasivo.
No caso de lesões pequenas, com padrão regular e vascular, podemos avançar com
tratamento endoscópico com polipectomia ou mucosectomia.
Em lesões com características de risco, como componentes nodulares grandes ou
zonas deprimidas, fazer uma receção em bloco.
Quando lesão é claramente deprimida, irregular e apresente uma mucosa alterada
com perda de padrão vascular é muito provavelmente invasiva, e deverá ser tatuada,
biopsada e enviada para cirurgia.
A cirurgia a fazer é a resseção anterior do reto com excisão total do mesorreto. Implica a
resseção tanto do reto como de todo o tecido conjuntivo contigo na fáscia do mesorreto,
que inclui os gânglios peri-retais. Este procedimento é provavelmente o maior responsável
pela redução das recidivas locais.
Igualmente ao cólon, também na cirurgia do reto não há diferenças entre cirurgia por
laparotomia ou laparoscopia. Na laparoscopia temos a vantagem relacionada com o
internamento inferior e menores complicações locais.
CapeOX / Capecitabina:
o Existe ainda o regime de capecitabina, que é um pró-fármaco do 5-FU
disponível por via oral.
o A capecitabina é absorvida a niv́ el intestinal e metabolizada a nível
hepático.
o A grande vantagem deste esquema é a sua administração oral.
o Quanto aos efeitos adversos, são muito sobreponiv́ eis ao FOLFOX, com
mielotoxicidade e neurotoxiciade, verificando-se porém mais toxicidade
cutânea com eritrodisestesia palmo-plantar.
Doença metastática
Para a terapêutica sistémica da doença metastática foram introduzidos anticorpos
monoclonais dirigidos contra recetores específicos:
o EGFR (fator de crescimento epidermoide): Cetuximab e Panitumumab
o VEGF (fator de crescimento vascular endotelial): Bevacizumab
Carcinoma Colorectal
Estas alterações das vias de mutagénese têm implicações clínicas: os tumores que
apresentam instabilidade de microssatélites (mutação dos mismatch repair) apresentam
melhor sobrevida do que tumores com outras vias.
5-FU:
Os tumores por instabilidade microssatélites não respondem a todos os tipos
de quimioterapia, tais como os baseados no 5-FU.
Só tem vantagens na sobrevida em tumores da via da instabilidade cromossómica.
Anti PD1
Em doentes com CCR metastático, os anti PD1 apenas são benéficos em doentes
que apresentem tumores com instabilidade microssatélite.
Poderá ser porque a via mutadora apresenta uma carga de mutações maior, o que
representam um alvo preferencial para a terapêutica com estes anticorpos.
A presença de diferentes
mutações e vias de carcinogénese
não é aleatória, e tem levado a
múltiplas tentativas de
estabelecimentos de classificações
moleculares do CCR.
Tentou-se estabelecer uma
classificação baseada na
presença ou ausência
instabilidade de microssatélites.
Isto levou à agrupação dos
doentes em cerca de cinco grupos,
com consequências depois também
na sua sobreviva.
Rastreio CCR
Efeito da idade na incidência de CCR: É uma doença rara antes dos 50 anos, sendo
que nos últimos 10 anos tem-se verificado um aumento preocupante de incidência
entre os 30 e os 45 anos, cujas causas ainda não são totalmente conhecidas.
Uma história familiar pesada deve chamar a atenção para existência de um possível
sindrome Lynch ou a Polipose adenomatosa familiar.
Como métodos experimentais estão a ser desenvolvidos testes serológicos, mas ainda
não apresentam dados que lhe permitam a sua utilização prática. A colonoscopia por
cápsula também sendo um método endoscópico não invasivo apresenta resultados longe
dos ideais para ser utilizado como método de rastreio.
Teste Guaiac:
o Baseiam-se numa reação de oxidação
redução simples, em que uma pequena
amostra de fezes é corada com reagente e
cora azul se houver presença de sangue.
o Dada a facilidade do seu envio e reenvio em
massa por correio para a população, é um
método seguro e sem complicações. No
entanto a sua sensibilidade para o CCR
não é superior a 50% e não deteta lesões
precursoras (lesões benignas não libertam
sangue).
o Tem um grande número de falsos
positivos uma vez qualquer patologia que
provoca sangramento gastrointestinal leva a
FP.
o É recomendada anualmente com 3 amostras sucessivas, a partir dos 50 anos em
doentes de risco padrão.
Mucosectomia Endoscópica:
o Pólipos > 20mm;
o A avaliação deve excluir componente invasivo ou lesões de baixo risco;
o Remoção em fragmentos, com injeção e redução sequencial da lesão com
uma ansa elétrica.
Ao encontrar uma lesão é preciso fazer uma avaliação do tipo histológico e do risco de
ocorrência de um carcinoma invasivo.
No caso de lesões pequenas, com padrão regular e vascular, podemos avançar com
tratamento endoscópico com polipectomia ou mucosectomia.
Em lesões com características de risco, como componentes nodulares grandes ou
zonas deprimidas, fazer uma resseção em bloco.
Quando a lesão é claramente deprimida, irregular e apresente uma mucosa alterada
com perda de padrão vascular é muito provavelmente invasiva, e deverá ser tatuada,
biopsada e enviada para cirurgia.
Igualmente ao cólon, também na cirurgia do reto não há diferenças entre cirurgia por
laparotomia ou laparoscopia. Na laparoscopia temos a vantagem do internamento
inferior e menores complicações locais.
o
Estes esquemas também são administrados por via IV e os principais
eventos adversos devem-se à neurotoxicidade, mielotoxicidade e lesão GI.
CapeOX / Capecitabina:
o Existe ainda o regime de capecitabina, que é um pró-fármaco do 5-FU
disponível por via oral.
o A capecitabina é absorvida a niv́ el intestinal e metabolizada a nível
hepático.
o A grande vantagem deste esquema é a sua administração oral.
o Quanto aos efeitos adversos, são muito sobreponiv́ eis ao FOLFOX, com
mielotoxicidade e neurotoxiciade, verificando-se porém mais toxicidade
cutânea com eritrodisestesia palmo-plantar.
Doença metastática
Para a terapêutica sistémica da doença metastática foram introduzidos anticorpos
monoclonais dirigidos contra recetores específicos:
o EGFR (fator de crescimento epidermoide): Cetuximab e Panitumumab
o VEGF (fator de crescimento vascular endotelial): Bevacizumab
Cancro do estômago
Embora o tratamento que permite aumentar de forma significativa a sobrevivência dos doentes
com cancro gástrico em estádios precoces seja a cirurgia, como podem verificar neste slide, a
sobrevivência depende também do estadio TNM.
Para além disso, a mortalidade por cancro gástrico é elevada porque 80-90% dos doentes são
diagnosticados em estadios avançados
Quimioterapia Adjuvante
Apesar das criticas, este protocolo de quimio e radioterapia adjuvante foi considerado standard
durante vários anos.
Existe ainda um outro estudo, um Francês, que testou um outro regime de QT peri operatória,
portanto com 3 ciclos de cisplatina e 5Fu antes e depois da cirurgia. Este estudo incluía menos
doentes,
O braço controlo era também a cirugia mas globalmente não foi um estudo positivo. Contudo,
de referir que, a partir da publicação Magic, na pratica clinica o standard passou a ser terapêutica
neoadjuvante seguida de cirurgia seguida de QT adjuvante. No entanto, apenas 50% dos
doentes conseguem completar a QT adjuvante.
Alguns outros estudos foram realizados adotando o mesmo esquema como por exemplo o estudo
da EORTC ou o estudo ingles publicado em 2017 no Lancet com o esquema triplo de QT versus
esquema duplo não se demonstrando uma vantagem significativa para o esquema triplo.
FLOT
Em 2017 foi publicado um outro estudo que revolucionou mais uma vez a prática clinica com o
protocolo FLOT que inclui fazer terapêutica tripla (docetaxel+oxaliplatina+ 5 FU) que foi
comparado com o esquema ECX/F (epirrubicina+cisplatina+capecitabina ou 5FU), portanto,
o esquema do Magic. O FLOT demonstrou-se melhor que o esquema do Magic.
ARTIST
O ensaio ARTIST não foi positivo. Testou a QT com radioterapia versus a QT isolada. É um
estudo unicêntrico em população coreana e portanto não tem o mesmo valor que os outros
ensaios clínicos multicêntricos que foram falados anteriormente.
CRITICS
ToGA
Cancro do esófago
Ainda nos século 20 vários estudos demonstraram que a utilização de quimioradioterapia nos
tumores do esófago parece ser a terapêutica standard face a cirurgia isolada. Este protocolo Al-
Sarraf mostrou que a combinação de cisplatina com 5-FU concomitante com radioterapia
era melhor do que fazer radioterapia sozinha. Este protocolo tem alguma toxicidade.
CROSS
Um estudo mais receite, o estudo CROSS, demostrou que fazer QTRT neoadjuvante com
carboplatina e paclitaxel semanal em doentes com carcinomas do esofago e da JEG melhorava
de forma significativa a sobrevivência de doentes com tumores ressecáveis, à data do
diagnóstico, quando comparada com a cirurgia.
O protocolo de QTRT não era standard mas com vantagens significativas e baixas toxicidades.
Este protocolo incluía fazer carboplatina e paclitaxel semanal durante as 6 semanas de
radioterapia concomitante. Verificou-se que tanto para a histologia de adenocarcinoma como
para o carcinoma escamoso, esta estratégia mostrava vantagens significativas em termos de
sobrevivência global
O protocolo do IPO está aqui indicado neste slide e baseia-se nas recomendações, estudos,
metanálises e guidelines internacionais.
Em suma:
• Os tumores localmente avançados do esófago e estômago necessitam de tratamento
multimodal.
• A qualidade da cirurgia é critica e tem impacto no prognóstico dos doentes
• Nos doentes com carcinoma gástrico o protocolo preferencial é com FLOT peri-
operatório.
• A quimioradioterapia adjuvante deve ser considerada nos doentes com carcinoma
gástrico, operados (que não fizeram QT neoadjuvante), sobretudo se N < 15gg ou D 0,
isto é se a cirurgia não tiver sido óptima - mais do que 15 gânglios identificados na peça
operatória e linfadenectomia D2 e R0 (margens cirúrgicas sem tumor).
• Embora exista evidência de quimioterapia adjuvante neste contexto, o melhor regime
não está identificado.
CLASSIC
O estudo Classic demonstrou que existem vantagens em termos de sobrevivência global (OS) e
sobrevivência livre de doença (DFS) na realização de 8 ciclos. 6 Meses de quimioterapia
adjuvante com o protocolo XELOX (capecitabina+ oxaliplatina) vs cirurgia, mas em população
asiática. Apesar disso, em doentes que não fazem quimioterapia neadjuvante é uma opção e
tratamento a considerar.
CARCINOMA DA PRÓSTATA
A área do tumor da próstata tem sido alvo de grande investigação científica e grandes
desenvolvimentos nos últimos 20 a 30 anos.
A urologia acompanha assim o doente desde o início da sua clínica até ao final da sua doença,
participando muitas vezes nos métodos complementares de diagnóstico e na terapêutica.
Anatomia masculina
Para compreender as limitações e complicações
inerentes à abordagem diagnóstica e terapêutica do
tumor de próstata, é fundamental compreender a
anatomia da próstata:
Relativamente à anatomia zonal, é importante nos relembrarmos que a próstata pode ser
grosseiramente dividida em 2 porções:
➔ Região Anterior e Peri-uretral: responsáveis por uma minoria dos tumores de próstata,
mas associadas à maioria das queixas que conduzem os doentes à consulta.
Esta região compreende a zona central e a zona de transição, responsável pelo crescimento
progressivo da próstata ao longo da vida e na HBP. Assim, esse mesmo crescimento pode
levar à compactação/aperto da via urinária, condicionando uma dificuldade de esvaziamento
vesical e o aparecimento de todas as queixas caraterísticas de HBP, das quais se destaca:
Sintomas de armazenamento,
Sintomas de esvaziamento: secundários à obstrução:
Jato fraco ou entrecortado Queixas de frequência urinária e
urgência miccional e noctúria.
Portanto, de um modo geral podemos associar a patologia maligna à região periférica e posterior
e a patologia benigna à região anterior e periuretral.
Funções da Próstata
Cancro da Próstata
Epidemiologia
O tumor da próstata é uma preocupação major de saúde pública.
Fatores de Risco
Ao contrário de muitas outras patologias oncológicas, o tumor de próstata não é particularmente
afetado por fatores de risco. Reconhecem-se:
➔ Idade
➔ Background étnico
➔ História familiar, que se torna particularmente relevante quando há 2 familiares diretos
com antecedentes de tumor de próstata.
Screening
Nenhuma sociedade internacional relevante recomenda uma investigação populacional seriada.
Antes pelo contrário, a pesquisa do tumor de próstata deve ser individualizada e após adequado
consentimento do doente.
Ou seja, não devem ser pedidos exames que possam resultar em métodos de diagnóstico e de
eventual tratamento de uma forma desenfreada (p.e. valores de PSA). A sua realização seriada
e sem critério acaba por fazer muitos diagnósticos desnecessários, que não se pretendia fazer.
Como se faz?
➔ Primeira avaliação aos 40 ou aos 45, consoante grupo em que se insere o doente
➔ Na ausência de alterações claras da avaliação do PSA e na palpação prostática, repetir
essa avaliação 5 anos depois
➔ A partir daí não há um consenso claro, mas recomenda-se a avaliação entre 1 a cada 2
anos.
Esta questão deve-se ao facto de dois grandes estudos, o PLCO (americano) e o ERSPC
(europeu) não terem demonstrado vantagem do rastreio seriado na mortalidade por tumor da
próstata. Estes compararam um grupo de controlo, com indivíduos apenas em vigilância e sem
nenhuma intervenção, a um a grupo de indivíduos rastreados de uma forma seriada.
Uma melhor avaliação dos grupos de ambos os ensaios, permitiu perceber uma grande
contaminação dos grupos de controlo. Cerca de 50% dos doentes inseridos no braço de controlo
já teria feito, pelo menos, uma dosagem do PSA ou toque retal (não deveria ter feito nenhum).
Estas intervenções, apesar de pontuais, fizeram muitos diagnósticos e permitiram assim salvar
vidas. Se essa única avaliação do PSA não tivesse sido feita, provavelmente teriam maior nº de
mortes associadas à doença.
PLCO e ERSPC: Rastreio (PSA + avaliação transretal) seriado vs. pontual → sem
relevância
O trabalho mais relevante nesta área é do grupo de Goteborg, de Hugosson, que conseguiu
demonstrar uma redução da mortalidade de 40%, após um seguimento de 14 anos. Ao contrário
dos estudos anteriores, a amostra de controlo era de facto mais pura, pois os indivíduos nela
inseridos não tinham avaliação de PSA ou toque retal prévia.
Pode parecer estranho um seguimento de 14 anos, mas té justificável pois o tumor de próstata
é uma doença particularmente indolente. Todos os trabalhos e pareceres que foram feitos com
base em informação menos enriquecida pelo tempo, com menos maturidade, acabaram
provavelmente por ignorar a real vantagem da avaliação seriado do PSA ao longo do tempo
(como o PLCO e o ERSPC).
Goteborg: Rastreio (PSA + avaliação transretal) criterioso vs. Não rastreio → Relevante
Conclusão: O rastreio vale a pena, porque nos permite salvar vidas → Aumento da longevidade,
com cada vez menos impacto na qualidade de vida, porque a abordagem terapêutica é cada vez
mais detalhada e afeta cada vez menos os órgãos adjacentes
Por outro lado, pode resultar num problema de sobrediagnóstico (diagnostico de tumores que
não valem a pena diagnosticar), se o fizermos sem critério e de uma forma indiscriminada. Neste
sentido, devemos encarar os 3 estudos anteriores de modo a responder à seguinte pergunta:
Vale a pena fazer a pesquisa de tumor da próstata de uma forma sistemática e criteriosa ou de
uma forma desorganizada? Há algum ganho na forma criteriosa ou na desorganizada?
Se conseguirmos visualizar a doença numa ótica de longo prazo, não iniciando o pedido de
MCDT’s (RM, biopsias, tratamentos) por todas as pequenas elevações de PSA, conseguimos ter
uma imagem de quais os doentes que vale a pena diagnosticar e tratar.
Clínica
A clínica urinária pode estar presente, mas a sua presença não é fundamental para fazermos a
investigação → não é critério de exclusão nem de diagnóstico de tumor da próstata.
Diagnóstico
Como em todas as neoplasias, o diagnóstico é feito por estudo histológico de uma amostra do
indivíduo – biópsia prostática. Mas, antes da biópsia, considera-se um conjunto de informações
que podemos colher através de:
➔ PSA
➔ Avaliação pelo toque retal
➔ Ecografia
➔ RM
1. PSA:
Ao contrário do que se pensa, as unidades celulares não produzem mais PSA e os doentes com
tumores não têm maior quantidade de PSA no organismo. Têm sim uma maior passagem de
PSA da célula para a corrente sanguínea.
Assim, não podemos inferir que os doentes com um tumor de próstata mais agressivo têm
maiores níveis de PSA.
➔ HBP: maior quantidade de tecido prostático → mais PSA libertado para a corrente
sanguínea → justificação para a subida dos níveis de PSA normal ao longo das décadas
de vida
➔ Doenças infeciosas: prostatite/infeção urinária mais intensa aumentam também o PSA.
Os homens terão na sua maioria tumor da próstata, mas apenas estamos interessados em
diagnosticar aqueles que são clinicamente significativos (que afetam a qualidade e quantidade
de vida dos doentes). Felizmente, o tumor da próstata é uma doença indolente, o que nos
permite olhar para os doentes num horizonte temporal mais alargado. Logo:
➔ Uma subida de PSA isolada não tem grande importância, devendo ser sempre
confirmada com outra avaliação ou 2.
➔ Tem mais importância uma subida mais lenta, mas mais arrastada no tempo.
➔ Um valor mais alto > 0,75ng/ml/ano, corresponde a uma subida do valor de PSA rápida,
logo está associada a um maior risco de neoplasia,
➔ Uma vPSA < 0,75ng/ml/ano é mais sugestivo de patologia benigna
➔ Um doente com um PSA = 5 e uma próstata de 30 cm3 terá uma densidade de PSA
completamente distinta de um outro com um PSA = 5, mas uma próstata de 100 cm3. O
valor de PSA deve ser encarado com base no tamanho da próstata.
PSA livre: forma livre na corrente sanguíneo. Quanto maior for a sua fração, mais favorável é de
patologia benigna (“PSA bom”, porque quanto mais elevado melhor)
➔ Em que doentes é útil a avaliação do PSA livre? Doentes que se encontram na “zona
cinzenta”, entre os 2-10ng/ml de PSA total.
➔ Exame com um custo 10x superior ao PSA total, portanto requer algum critério no
momento de pedir este exame.
2. Palpação prostática
Vantagens: Desvantagens:
Sem custos associados Exame que exige treino, de modo a
Não provoca dor (quando executado que diferenciar, por exemplo, uma
de forma cuidada) Hiperplasia nodular benigna de uma
Elevado rendimento de informação. alteração mais sugestiva de tumor.
Deve ser realizado tanto quanto possível e ser incluído num rastreio anual de pesquisa
de tumor da próstata.
➔ Desvantagens: apenas 30% das lesões hipoecóicas (típicas de tumor) resultam de facto
num diagnóstico de neoplasia prostática. Ou seja, é um exame de baixa sensibilidade e
especificidade para a pesquisa de doença.
➔ Única vantagem: além de obviamente guiar a biópsia, permite uma medição correta das
dimensões prostáticas.
4. Ressonância Magnética
Particularmente relvante porque permite identificar uma lesão com probabilidade de malignidade,
como também uma lesão com maior probabilidade de significado clínico.
O objetivo é encontrar tumores de próstata clinicamente agressivos numa fase inicial,ou seja,
tumores de risco intermédio, intermédio-alto numa fase em que ainda são tratáveis. A RM
consegue alcançar esse objetivo, com niveis de sensibilidade sucessivamente mais elevados
para lesões de graus cada vez mais altos.
Nesta tabela, verificamos essa mesma relação .Quanto maior o grau e dimensões do tumor,
maior a sensibilidade e especificidade do exame para este tipo de lesão.
Imagens a e b: envolvimento
além da cápsula prostática →
pT3A
Indicações para RM: Não existe capacidade de fazer RM a todos os homens com palpações
prostáticas ou níveis de PSA progressivamente mais elevados, sugestivos de tumor da próstata.
Mesmo a nível europeu, não está fortemente recomendada a realização de RM a todos os
doentes.
➔ Mas é extremamente útil fazer uma RM a todos os doentes antes da biópsia prostática.
Se conseguirmos fazer tanto melhor, uma vez que permite fazer uma biopsia mais
dirigida a determinada região alvo.
➔ Se não for possivel fazer antes da 1ª biópsia, a RM deve ser feita – indicação grau 1
A – antes da re-biópsia. Por exemplo, num doente que fez biópsia por suspeita clínica
de tumor de prósta há alguns anos e o resultado foi negativo. Manteve a suspeita clínica
e pretende-se uma RM que estude melhor a próstata e permita guiar as agulhas na eco
prostática.
Novos Marcadores
➔ Competem diretamente com a RM, o que pode torna-los menos interessates. Mas,
nestas situações, é tido em conta o acesso e o custo-eficácia de cada um deles. Os
testes genéticos são rapidos e podem ser feitos de uma forma mais seriada a um maior
nº de doentes, enquanto uma RM é mais prolongada e terá de ser realizada num centro
com experiência.
Em 2011, foi realizado um dos estudos que mais impulsionou a pesquisa diagnóstica dos testes.
O estudo dedicou-se a treinar pastores belgas a identificar, através do cheiro da urina, doentes
com tumor de próstata.
No decorrer do estudo, os cães identificaram neoplasia em 33 homens, sendo que 3 casos foram
dados como errados (ou seja, apenas 30 tinham neoplasia). Destes 3 casos dados como errados,
1 dos 3 numa re-biópsia tinha efetivamente neoplasia da próstata, aumentando assim a
sensibilidade e especificidade final para 91 %.
Biópsia Prostática
Indicações: Elevação de PSA confirmada (primária ou recorrente); Nódulo palpável; Biópsia
prévia de ASAP (Proliferação Atípica de Pequenos Ácinos); Vigilância ativa
Técnica: Realizada numa sala confortável, sob anestesia, com administração de antibióticos e
realização de compressão.
➔ Risco infecioso: a incidência de infeção pós biópsia é relativamente baixa (1% dos
exames realizados). Contudo tem uma elevada probabilidade de evolução negativa para
de doença grave. Um doente que, p.e. esteja com febre nos 2-4 dias após realização de
uma biópsia, mesmo a fazer profilaxia antibiótica, deve ser encarado como um doente
com um quadro de prostatite aguda, com grande carga bacteriana e risco de progressão
para urossépsis.
Tratamento: Está indicado o internamento, hidratação e antibioterapia de largo espetro.
É evidente que a probabilidade é de 1%, não é muito, mas fazem-se inúmeras biópsias
por ano em Portugal, e existe com alguma frequência este tipo de doente na urgência.
Estadiamento
A classificação TNM existe como para todos os outros tumores.
T4: já há envolvimento
dos órgãos adjacentes.
Estratificação de risco
Existem 3 grandes grupos de risco: baixo, intermédio e alto, sendo que são critério para a
definição do risco o PSA, o score de Gleason e o estadiamento T.
Tratamento
Tratamento diferido:
Este é um tipo de abordagem “adiada” e indicada para tumores de próstata de baixo risco, com
um baixo impacto na qualidade e na quantidade de vida e clinicamente não significativos.
➔ 1/3 destes doentes irá desenvolver doença clínica significativa nos 5 anos após o
diagnóstico, mas os restantes 2/3 dos doentes pode passar sem uma abordagem
terapêutica ativa do seu tumor de próstata, que é indolente e não clinicamente
significativo.
Diversos estudos, como o demostrado abaixo, evidenciam uma baixa mortalidade
associada a tumores de baixa agressividade, sobretudo na população de maior idade.
Vigilância Ativa:
Watchful Waiting:
Tratamento Ativo:
Quanto ao tratamento ativo, existem 2 modalidades: Cirúrgica e por Radioterapia.
Normalmente um doente segue por uma via ou outra, mas estas abordagens não são
mutuamente exclusivas, ocasionalmente pode ser feita cirurgia seguida de RT.
Entre estas abordagens, cirúrgicas e RT, não podemos inferir qualquer superioridade de uma em
relação à outra. Cada doente e o contexto em que está inserido (centro médico, aptidão do
cirurgião, etc.) determina o benefício e preferência por determinada técnica.
Portanto, podemos sim considerar uma equivalência na eficácia da cirurgia e da terapêutica com
RT, uma vez que a taxa de falência terapêutica ronda os 30% aos 5 anos, quer para uma como
para outra.
Critérios: Doença localizada, T1-T2, esperança de vida > 10 anos, cintigrafia óssea
negativa, consentimento informado
Vantagens:
Desvantagens:
➔ Do ponto de vista técnico, é uma cirurgia difícil, exigente e demorada, mas curiosamente
bem tolerada pelo doente no pós-operatório na maioria das situações (internamentos de
2-3 dias).
➔ Efeitos adversos: incontinência urinária (<5%) depois de 1 ano, disfunção erétil (50-
70%), estenoses anastomóticas (<10%), lesões retais (<1%) e hemorragia (<10%)
Incontinência urinária: uma vez que a cirurgia reconstrói a via urinária, há uma
fragilização da via, sendo extremamente frequente existir dificuldade na continência
urinária no pós-operatório imediato e nos primeiros 2-3 meses. A continência é
recuperada com o treino muscular. Quando essa reabilitação é de facto feita
corretamente pelos doentes, a taxa de incontinência é baixíssima (após um ano, <5%)
e, além disso, é tratável. O raro doente que mantem alguma incontinência após a
cirurgia, coloca uma fita semelhante às que se colocam nas senhoras para a
incontinência urinária de esforço.
Por isso, a incontinência urinária não deve demover o doente da opção cirúrgica.
Radioterapia
Os vários métodos de tratamento do tumor da próstata por RT são igualmente eficazes entre si
e equivalentes à abordagem cirúrgica.
Tal como a cirurgia, está indicada para a doença localizada, embora seja possível no tratamento
de doença localmente avançada (combinação frequente da abordagem cirúrgica + RT)
Vantagens:
➔ Abordagem é muitas vezes mais cómoda, pelo facto de o doente não ter de ser
submetido a anestesia geral.
➔ Praticamente ausente a incontinência, pois os doentes não têm uma alteração anatómica
do trato urinário, logo não terão incontinência.
Contudo, poderão ter, durante algum tempo, o agravamento das queixas urinárias de
base, dada a inflamação do tecido prostático irradiado. De um modo geral, desaparecem
nas primeiras semanas/meses após a cirurgia e, comparativamente a um doente
submetido a cirurgia, não é obrigado a processos de reabilitação e fisioterapia do
pavimento pélvico.
➔ Nos doentes de baixo risco, sem necessidade de hormonoterapia, faz-se RT isolada,
evitando a disfunção erétil decorrente da HT.
Desvantagens:
➔ Pode ser desconfortável para o doente, no que toca a deslocações. A RT implica muitas
idas ao hospital, embora já existam muitas modalidades de RT com menor número de
sessões de tratamento, a RT externa convencional implica 30 a 35 sessões de RT.
➔ Maior dificuldade de seguimento do doente e maior dificuldade em fazer diagnóstico
de recidiva, pois o doente permanece com um valor residual de PSA. Por sua vez, isto
implica um diagnóstico mais tardio.
➔ Nos doentes de risco intermédio a alto, deve ser associada à RT a HT adjuvante.
A HT bloqueia quer a produção de androgénios, quer a chegada aos seus recetores,
culminando numa resposta terapêutica à RT mais rápida ou numa melhor eficácia
terapêutica.
Mas, a demora do efeito da HT (1 a 3 anos) significa também um prolongamento dos
efeitos da HT no tempo e um aumento do tempo de recuperação.
Preocupação: Um doente cirúrgico apercebe-se da sua disfunção erétil, o que o torna mais
motivado na reabilitação da sua função e da sua autoestima sexual. Já um doente que passa
2-3 anos em HT, quando recupera a líbido por reprodução de androgénios e pretende reatar
a sua função erétil, a reabilitação é mais difícil. Fruto normalmente da idade, tempo de
inatividade, má qualidade das ereções durante o período de “castração”, efeito da RT sobre
os corpos cavernosos penianos com fibrose associada são fatores de mau prognóstico no
que toca a reabilitação sexual.
Braquiterapia
Desvantagens:
➔ Realizada fundamentalmente para doentes de baixo risco. Isso não quer dizer que com
risco intermédio-baixo não possa fazer, mas está efetivamente mais vocacionada para
doentes de baixo risco e para próstatas pequenas.
Se se pretende que a radiação das sementes chegue a toda a próstata, temos de conseguir
visualizar a próstata visualizável no losango criando pela cavidade pélvica do homem. Isto é,
quando é realizado este exame, o urologista deve encontrar na posição de litotomia uma
janela que lhe permita ver toda a próstata do doente.
➔ Se a próstata for >60 cm3, a abordagem pode ser mais difícil de conseguir.
➔ RT: primeiro é essencial o atingimento do nadir - o valor de PSA mais baixo fora da HT,
pois o critério de recidiva será uma subida do PSA 2 ng/ml acima desse nadir.
A HT, por si só, condiciona valores de PSA próximos do 0. Assim que se termina a
castração, o PSA volta a recuperar e estabiliza em volta de um determinado valor
Além de ser difícil comparar cirurgia e RT pelas diferenças na técnica, temos também uma
dificuldade acrescida na definição de recidiva pós-cirurgia ou pós-RT. Isto porque na cirurgia o
tecido prostático torna-se ausente e na RT o doente mantém alguma porção de próstata.
O presente gráfico ilustra os níveis de PSA (eixo das ordenadas) consoante as fases da doença
do tumor de próstata.
➔ Após uma primeira fase de falência do tratamento local e consequente subida de PSA,
a introdução de terapêutica hormonal origina uma importante diminuição do PSA, que se
pode manter durante meses a anos.
➔ Ao longo do tempo, as mutações das linhas celulares evoluem, fazendo com que o PSA
suba novamente de forma progressiva.
Quando esta subida progressiva de PSA acontece num doente castrado com HT, consideramo-
lo um doente resistente à castração, mas sem evidência de doença metastática numa fase
inicial → doente M0
Provavelmente estes doentes terão doença sistémica, mas não detetável por meios tecnológicos.
O desenvolvimento de vários métodos, nomeadamente a PET, tem permitido antecipar a
capacidade de deteção das metástases. Apesar disso, há um intervalo de tempo em que o
doente não responde ao tratamento local ou hormonal de 1ª linha e não se identifica doença
metastática.
Anteriormente, os doentes nesta fase M0 eram denominados doentes órfãos, pois não existia
nenhum tratamento capaz atrasar a progressão da doença, neste caso o surgimento de
metástases.
Desde 2018, surgiram 3 ensaios importantes, cada um associado a um novo fármaco. Todos
mostraram uma vantagem significativa no atraso da metastização, sendo que doentes que
normalmente mestastizavam após 1 anos, sob terapêutica com apalutamida, darolutamida ou
enzalutamida, têm o seu processo de metastização após 3-3,5 anos.
Ao contrário da maioria dos ensaios que procuraram mostrar vantagem na sobrevida dos doentes
já em fase avançada de doença, estes ensaios definiram como end point o surgimento de
metastização. Compararam a sobrevida livre de metástase nos grupos de controlo e no grupo
tratado, com diferenças marcadas de 1 ano para 3 anos.
Em Portugal, ainda não estão disponíveis de uma forma generalizada, só em contexto de ensaio
clínico ou acessos individuais solicitados ao infarmed.
Slide 6
Nos casos de maior risco clínico (em que há mais doença óssea ou visceral) existe vantagem na
associação da HT com quimioterapia. Ou seja, existe benefício na adoção de uma abordagem
mais agressiva para aumento da sobrevida.
O ensaio de registo CHAARTED em 2015, trouxe uma pequena revolução na abordagem destes
doentes, uma vez que comprovou o benefício dessa mesma associação na sobrevida dos
doentes de maior risco tratados com: HT + QT (docetaxel).
Em 2017, foram obtidos resultados muito semelhantes com o uso de HT de 2ª linha (abiraterona)
associada à HT utilizada na 1ª linha (ADT), já sem o uso da QT.
Em 2004, o ensaio TAX327 foi aquele que demostrou o benefício do docetaxel no tratamento da
doença tumoral resistente à HT.
Durante muitos anos, este constituiu a única abordagem standard, mas mais recentemente
demonstrou-se a utilidade de outros agentes no tratamento da doença metastizada refratária à
castração. Surgiram primeiramente com intuito de serem utilizados pós-docetaxel e só mais tarde
foram considerados no contexto pré-docetaxel. Além disso, todos fármacos vantajosos na
sobrevida dos doentes.
➔ Carbazitaxel: ensaio TROPIC em 2010 demonstrou a sua eficácia como agente de QT.
Carcinoma Renal
Epidemiologia e Fisiopatologia
Epidemiologia
O carcinoma de células renais representa entre 3 a 4% dos tumores malignos em adultos. A
maioria dos casos (80-85%) corresponde ao tipo histológico de células claras, enquanto 10-
15% são do tipo papilar. Existem outros tipos histológicos mais raros que vão ser falados mais
à frente. As caraterísticas mais marcantes desta doença são:
• Falta de resposta aos tratamentos citotóxicos clássicos - Quimiorresistência
• Comportamento variável da doença metastática, ou seja, mesmo entre doentes que
apresentam doença disseminada, é possível identificar grupos prognósticos diferentes
• Aproximadamente 1/3 dos doentes tem metástases, mesmo após o tratamento curativo
e, em muitos deles, aparecem muitos anos após a cirurgia
Neste mapa, é possível observar a incidência do cancro do rim nos diversos países da Europa.
A maior incidência (mundial) encontra-se na República Checa, (35 casos por cada 100.000
habitantes) e nos países vizinhos, que apresentam igualmente elevada incidência, sem que seja
conhecido o fator responsável. De realçar que Portugal é um dos países com menor taxa de
incidência de cancro do rim na Europa. Em relação à mortalidade do cancro renal, esta é
também mais elevada na República Checa.
A incidência do cancro do rim é, geralmente, maior nos homens, com uma razão de 1.6 homens
por cada 1 mulher. Esta incidência tem aumentado entre 3-4% por ano, enquanto a mortalidade
tem diminuído, o que se pode atribuir a um melhor acesso aos métodos de imagem, que são
hoje o principal meio de diagnóstico, com consequente hipótese de tratamento curativo em
formas mais precoces.
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De acordo com dados do registo epidemiológico americano, a sobrevivência aos 5 anos para
o cancro do rim é de 75%. Como medida comparativa, podemos observar o cancro do pulmão,
cuja sobrevivência global aos 5 anos é de apenas 15%. A mediana da idade no diagnóstico é
de 64 anos. Como foi dito anteriormente, a sobrevivência dos doentes tem melhorado
substancialmente, registando-se um aumento de mais de 20% desde 1975.
Focando, agora, na incidência e mortalidade do cancro do rim corrigidos para idade, entre
Portugal (à esquerda) e o sul da Europa (à direita), conclui-se que os números de Portugal são
semelhantes, mas ligeiramente melhores em relação ao conjunto de países do sul da Europa.
Em relação aos números do cancro do pulmão e do pâncreas, observa-se que a sua mortalidade
é muito semelhante à sua incidência. Isto também é uma diferença importante relativamente aos
tumores de rim, cuja incidência é bastante superior à mortalidade.
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DCC Carcinoma Renal
Fatores de Risco
Os fatores de risco para este tumor são a obesidade, a HTA e o tabagismo, sendo que 1/3
dos casos em homens e 1/4 dos casos em mulheres pode estar relacionado com o ato de fumar.
Outro fator de risco é a presença de algumas mutações próprias de doenças hereditárias
conhecidas, como a doença de Von Hippel-Lindau e a síndrome de Birt-Hogg-Dube. A
insuficiência renal também é citada como um fator de risco.
O conhecimento das síndromes geneticamente herdadas tem um papel importante no carcinoma
de células renais. A existência de formas familiares permitiu conhecer mais acerca dos
mecanismos de desenvolvimento do carcinoma de células renais, abrindo portas à investigação
e ao desenvolvimento farmacológico, representado pelos inibidores de tirosina-cinase do
recetor VEGF. Contudo, ao contrário do que se pode imaginar, as formas genéticas
correspondem a apenas 3% dos casos.
Fisiopatologia
A fisiopatologia do carcinoma de células renais está ligada a um gene supressor tumoral, o
VHL, que se encontra localizado no braço curto do cromossoma 3, exão 2, banda 5 (ou 3p25).
O complexo VHLE3 visa o fator de crescimento induzido pela hipoxia, HIFa, para degradação
mediada por ubiquitina. Sob concentrações normais de oxigénio, o HIFa é hidroxilado,
permitindo a ligação da proteína VHL e a ubiquitinação pelo complexo VHLE3 ligase, com
degradação pelo proteossoma. Sob hipoxemia, a proteína VHL não consegue reconhecer
o HIFa, levando à sua acumulação e
regulação positiva dos genes alvo, o
VEFG, GLUT1 e PDGF. Estes genes
apoiam o crescimento e a
neovascularização do tumor.
Quando o gene VHL está mutado, a
proteína VHL é incapaz de se ligar
ao HIFa e a estabilização deste leva
a regulação positiva transcricional
dos genes alvo, como dito
anteriormente.
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Não existem diretrizes universais sobre quem deve ser rastreado para a síndrome de Von-Hippel
Lindau. No entanto, deve-se suspeitar da síndrome quando uma pessoa tem história familiar
positiva para esta doença, diagnóstico de hemangioblastoma cerebral, da coluna ou da retina,
cancro renal de células claras, quistos pancreáticos, feocromocitoma ou tumores do saco
endolinfático. Adicionalmente, se não houver história familiar, deve-se suspeitar da síndrome
de Von-Hippel Lindau nas seguintes situações:
• Presença de hemangioblastomas múltiplos do cérebro, medula espinhal ou olho
• Hemangioblastoma e carcinoma de células claras do rim, quistos pancreáticos,
feocromocitoma, tumor do saco endolinfático ou quisto epididimário
• Pessoa jovem com múltiplos carcinomas de células claras do rim bilaterais
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Patologia
Como sabemos, 80-85% dos casos de cancro do rim correspondem ao tipo de células claras,
exemplificado na imagem.
No entanto, também existem outros tipos. O segundo tipo histológico mais frequente é o
carcinoma papilar, que corresponde a 10-15% dos casos e que já foi abordado anteriormente.
O terceiro tipo histológico mais frequente é o carcinoma de células cromófobas, um tumor cuja
origem está nos túbulos coletores distais, enquanto o carcinoma de células claras se localiza
nas estruturas proximais. Dois genes supressores tumorais bem estabelecidos estão
frequentemente mutados no carcinoma de células cromófobas: p53 e PTEN. Os rearranjos
estruturais do promotor do gene TERT, uma área reguladora da enzima telomerase, podem
conduzir também a este tipo de tumores.
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DCC Carcinoma Renal
Agora, apresentando dois outros tipos de tumores: os tumores dos ductos de Bellini e os
oncocitomas.
Os tumores dos ductos de Bellini, também chamados de carcinomas medulares do rim ou
dos ductos coletores, constituem uma variedade rara de tumor renal, originado
embriologicamente do ducto mesonéfrico de Wolff. Representam menos de 1% das neoplasias
do rim, com poucos casos relatados, localizando-se anatomicamente na porção medular dos
ductos coletores, vindo daí uma das suas denominações. Caraterizam-se pela sua
agressividade, normalmente com apresentação metastática no diagnóstico.
Os oncocitomas são neoplasias renais benignas, comuns e que representam 3-7% de todos
os tumores renais. Geralmente ocorrem em adultos, mais frequentemente na 7ª década de vida.
Os oncocitomas renais, geralmente, têm um prognóstico excelente e não estão associados a
um curso clínico agressivo. No entanto, ocasionalmente, pode haver metastização para o
fígado e para os ossos. A excisão cirúrgica costuma ser curativa.
Diagnóstico Clínico
O diagnóstico clínico do tumor de células renais costuma ser desafiante, pois tumores
volumosos podem originar síndromes paraneoplásicas, gerando confusão com outras
entidades clínicas. Alterações como eritrocitose, hipercalcemia e disfunção hepática não
metastática (também chamada Síndrome de Stauffer) podem estar presentes. Devido à ampla
gama de manifestações possíveis (em diversos sistemas), este tumor também é conhecido como
“Tumor do Internista”.
A chamada tríade clássica está presente em 10% dos doentes e consiste em hematúria (macro
ou microscópica), dor abdominal e massa abdominal palpável. Os sintomas podem incluir
febre e perda ponderal, podendo também ocorrer algumas alterações analíticas, presentes
no slide.
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Como referido anteriormente, o diagnóstico clínico é feito, atualmente, numa minoria dos
doentes. Com a maior disponibilidade do diagnóstico imagiológico, observou-se um aumento
do diagnóstico incidental de formas mais precoces dos tumores renais. Massas renais que
ainda não têm dimensões ou localização passível de produzir sintomas são, assim, descobertas,
o que possibilita o tratamento dos doentes, com intenção curativa. Isto explica o aumento do
número de casos diagnosticados de cancro renal nas últimas décadas, nos países
desenvolvidos, bem como o aumento da sobrevivência associada à doença.
Pode-se, então, concluir que o diagnóstico imagiológico é a forma de diagnóstico mais
comum das massas renais, ocorrendo em até 60% dos casos. De facto, até 30% dos novos
diagnósticos são achados incidentais em doentes assintomáticos.
Neste slide, do lado esquerdo, observam-se imagens de TC e RM, demonstrando uma massa
renal à direita, associada a um trombo na veia renal. Na metade direita do slide, pode observar-
se uma massa heterogénea que ocupa os 2/3 superiores do rim direito.
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Diagnóstico Diferencial
Por melhores que sejam os métodos de imagem, temos sempre que pensar no diagnóstico
diferencial. É importante relembrar que o que se vê nos exames de imagem são massas renais,
cujo diagnóstico deverá passar pela consideração de várias entidades clínicas. Podemos
começar este exercício de diagnóstico, pensando em lesões neoplásicas vs lesões não
neoplásicas e pseudo-tumorais.
As lesões neoplásicas podem ser primárias (ex. tumores de células renais), mas também
podem ser secundárias (metástases de tumores de outros órgãos para os rins). Embora raras,
as metástases de tumores de outros órgãos para os rins constituem o achado renal mais
frequente em séries de autópsias. A tríade clássica de hematúria, dor no flanco e massa
abdominal, como já foi dito, é agora pouco comum, compreendendo aproximadamente 10% dos
casos e, geralmente, traduzindo a presença de doença avançada. É importante lembrar que as
lesões quísticas são, frequentemente, benignas, assim como as lesões com conteúdo
lipomatoso, que, habitualmente, correspondem a hamartomas ou angiolipomas. Para além
disso, nas mulheres jovens, há uma maior probabilidade de benignidade, assim como nos
homens, em que a probabilidade de malignidade diminui com a idade.
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Estudo Inicial
O estudo inicial deve ser realizado com uma TC ou RM com contraste e é fundamental para
observar o aspeto anatómico dos rins e as suas alterações. Contudo, o diagnóstico diferencial
de hematúria e das alterações renais exige também um painel um pouco mais abrangente, com
análises à urina e sedimento urinário, além do hemograma e de um painel bioquímico
básico.
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estadio III. Ocorre um agravamento crescente do prognóstico, conforme nos dirigimos para
o estadio IV.
Na imagem do slide, é possível observar os grupos ganglionares da primeira estação de
drenagem dos rins, que quando se encontram atingidos, constituem os gânglios N1.
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Algumas séries de nefrectomias, referiam mortes até 11% relacionadas com o procedimento, o
que não se verifica atualmente. Isto prende-se não só com o domínio e evolução da técnica
cirúrgica, mas também com a existência de melhores recursos de anestesia e de
recuperação pós-anestésica e pós-operatória. Estes avanços possibilitaram a disseminação
das nefrectomias parciais, muitas vezes realizadas através de métodos minimamente
invasivos.
Em relação aos métodos minimamente invasivos, destacam-se como principais vantagens a
menor agressão cirúrgica e, consequentemente, menores perdas hemáticas intra-operatórias,
menos dor no pós-operatório e menos tempo de internamento após a cirurgia.
Assim, a cirurgia é o método de escolha para o tratamento com intenção curativa da doença
localizada. A cirurgia pode ser total, com remoção completa do rim e com incisão em bloco
da fáscia de Gerota e da adrenal (que pode ser poupada caso não haja invasão tumoral) e
disseção das estações ganglionares regionais. Sempre que possível, de acordo com as
caraterísticas do tumor, ou seja, de acordo com a sua localização e tamanho, deve-se preferir
uma cirurgia poupadora de nefrónios ou nefrectomia parcial. Sempre que possível, também
se procura preservar ao máximo a função renal do indivíduo.
É importante lembrar que o fator preponderante da decisão é, sem dúvida, o doente. A decisão
do método cirúrgico deve ser individualizada de acordo com o estado clínico e com as
comorbilidades apresentadas. Na existência de contraindicações cirúrgicas, mesmo que
sejam relativas, existem outras modalidades de tratamento da doença localizada, como a crio e
a radioablação e, mais recentemente, a aplicação de radioterapia estereotáxica.
Prognóstico
O carcinoma de células renais é um bom exemplo de uma doença em que o conhecimento
adquirido acerca da sua biologia transformou o tratamento clínico.
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Como se observa no gráfico a linha azul representa o prognóstico da doença metastática antes
da introdução dos inibidores da tirosina quinase (TKI), representando uma sobrevivência <10%
ao fim de 5 anos.
Novos fármacos e estratégias terapêuticas associadas a uma melhor seleção dos doentes de
acordo com o grupo de prognóstico e a uma maior experiência dos oncologistas em relação à
gestão apropriada dos efeitos adversos das terapêuticas possibilitou uma duplicação dos
doentes metastáticos vivos aos 5 anos.
Atualmente encontramo-nos na era de ouro no que toca ao tratamento do carcinoma de células
renais.
Fatores de Prognóstico
Uma das características do CCR é a sua heterogeneidade, o que significa que mesmo para
doentes com doença em estadio IV, existem grupos que têm maior sobrevivência e outros grupos
com péssimo prognóstico apesar de várias tentativas terapêuticas.
Apesar desta heterogeneidade existe atualmente forma de agrupar os doentes utilizando escalas
de prognóstico.
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DCC Carcinoma Renal
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Aula nº 9 10 Novembro
DCC Carcinoma Renal
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NOTA:
Nefrectomia Radical para estadio V?
A citorredução tumoral através da nefrectomia era classicamente aceite como uma estratégia
que conferia um aumento significativo na sobrevivência dos doentes com doença disseminada.
Terapêutica Médica
Combinação de imunoterapia (IO) + TKI como 1ª linha no tratamento dos doentes com doença
metastática (mCCR). (sustentado por estudo Keynote 426).
Em doentes não candidatos a imunoterapia (indivíduos com doença autoimune de base) ou em
locais onde imunoterapia não está disponível, o tratamento com TKI (sunitinib, pazopanib ou
cabozantinib) em monoterapia em 1ª linha continua a ser a opção.
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DCC Carcinoma Renal
Nota: Houve benefício na sobrevivência global tanto nos doentes com PDL1 menor e maior que
1%, com vantagem para o grupo com maior expressão de PDL1. O PDL1 não é fator de bom
prognóstico, não sendo útil como fator de seleção para este tipo de terapêutica.
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DCC Carcinoma Renal
Avalia a combinação de
Atezolizumab com um anticorpo
monoclonal anti-VEGF
(Bevacizumab).
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DCC Carcinoma Renal
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DCC – Doente Com Cancro Carcinoma do Ovário e do Endométrio
CARCINOMA DO OVÁRIO
Não vamos abordar os tumores com origem em células germinais e células do estroma
ovárico porque são muito mais raros (10%) e a sua apresentação e tratamento são muito
diferentes dos tumores com origem epitelial.
▪ À medida que a idade da mulher avança, aumenta o risco de vir a desenvolver cancro
do ovário;
▪ Uma história pessoal de cancro da mama, sobretudo em idades jovens, aumenta o risco
de vir a desenvolver cancro do ovário;
▪ Este risco também parece estar associado a mutações em vários genes, principalmente
os genes BRCA 1 / 2 – genes que codificam proteínas implicadas na recombinação
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DCC – Doente Com Cancro Carcinoma do Ovário e do Endométrio
homóloga (um dos mecanismos de reparação do DNA de uma célula saudável e que é
perdido quando existe esta mutação); mutações destes 2 genes aumentam
consideravelmente o risco de uma mulher portadora vir a desenvolver cancro da mama
e do ovário ao longo da sua vida; existem outros genes associados a proteínas de
reparação homóloga que também aumentam este risco.
Rastreio:
o Nas populações de risco standard (população que NÃO é portadora desta mutação),
a recomendação atual é não fazer rastreio de cancro do ovário;
o Em mulheres portadoras da mutação BRCA 1 / 2 deve fazer-se rastreio e, idealmente,
assim que a mulher cumprir a sua idade fértil, a cirurgia redutora de risco (anexectomia
bilateral), para reduzir o risco de vir a desenvolver cancro do ovário e da mama também.
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DCC – Doente Com Cancro Carcinoma do Ovário e do Endométrio
• Carcinoma Seroso de Alto Grau (HGSC) – tumor maligno, de origem epitelial, mais
frequente no ovário (no geral, quando nos referimos ao carcinoma do ovário referimo-
nos a este subtipo);
• Existem outros subtipos histológicos: carcinoma seroso de baixo grau, carcinoma de
células claras, carcinoma endometrióide, carcinoma mucinoso – menos frequentes;
todos com padrões de disseminação diferentes, diferentes respostas à quimioterapia e
diferente prognóstico; num futuro próximo, o tratamento para cada um será diferente mas
à data do conhecimento atual continuam a tratar-se todos da mesma maneira.
Padrões de Disseminação:
o Exfoliação/ Disseminação peritoneal – mais frequente; ocorre uma exfoliação de
células tumorais ao longo da membrana peritoneal; na maioria das vezes, à data do
diagnóstico, a doença apresenta já uma disseminação ao longo das cavidades pélvica e
abdominal exuberante.
o Linfática
o Hematogénea
o Extensão direta (bexiga; recto)
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DCC – Doente Com Cancro Carcinoma do Ovário e do Endométrio
▪ Ecografia pélvica com sonda vaginal; no entanto, muitas vezes como a doença é
avançada e, para uma melhor caracterização da massa pélvica, é necessário recorrer à
RM pélvica;
▪ TAC abdomino-pélvica - quando existe uma massa pélvica fortemente sugestiva de ser
um tumor maligno com origem provável nos anexos; permite perceber a extensão da
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Equipas multidisciplinares:
• Ginecologista oncológico - cirurgião com diferenciação em ginecologia oncológica;
• Radiologista – ajuda a definir os critérios de ressecabilidade;
• Patologista – define o subtipo histológico do tumor em causa;
• Oncologista – participa na decisão, nomeadamente na necessidade ou não de
quimioterapia (pré ou pós-operatória);
• Radioterapeuta – tem um papel menos preponderante nesta doença, comparativamente
a outras doenças, nomeadamente no carcinoma do endométrio.
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Fatores de Prognóstico:
o Estadio avançado da doença aquando do diagnóstico – o mais importante
o Volume de doença residual após a cirurgia
o Subtipo histológico
o Grau de diferenciação (bem diferenciado/ moderadamente/ pouco diferenciado)
o Mutação BRCA 1 / 2 (somática ou germinativa) – são fatores de bom prognóstico!
▪ Os únicos carcinomas do ovário que ficam bem tratados apenas com cirurgia são os do
estadio I - G1 (bem diferenciados) ou G2 (moderadamente diferenciados);
▪ Todos os outros de estadio I pouco diferenciados ou estadios 2 a 4, para além da cirurgia,
precisam sempre de quimioterapia adjuvante (6 ciclos);
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▪ Hoje em dia, em alguns centros internacionais, não em Portugal (pois ainda não está
aprovado pelo INFARMED), doentes com mutação BRCA 1 / 2, para além da
quimioterapia, devem fazer terapêutica complementar com inibidores da PARP.
• Os inibidores da PARP interferem no mecanismo de reparação homóloga, que
está alterado nas doentes com esta mutação.
Nota: Cerca de 17% das mulheres com carcinoma seroso de alto grau do ovário são portadoras
de mutação BRCA → Por isso, hoje em dia, qualquer mulher, independentemente da idade ou
história familiar, diagnosticada com carcinoma do ovário não mucinoso (normalmente os
carcinomas mucinosos não parecem estar associados a mutações BRCA), deve ser testada para
a pesquisa de mutação BRCA 1 / 2.
Quimioterapia:
▪ Intraperitoneal – existem vários estudos com resultados muito positivos em termos do
impacto na melhoria da sobrevivência com este tipo; no entanto, em termos logísticos, é
um tratamento mais difícil, comparativamente à forma endovenosa, o que faz com que a
maior parte dos centros adiram pouco a esta forma terapêutica (em Portugal não existe
nenhum centro diferenciado em oncologia ginecológica a fazer);
Recaída:
▪ 90% das doentes em estadios avançados ao diagnóstico sofrem recaída;
▪ Trata-se de uma situação incurável;
▪ Pode ser uma recaída clínica (que se traduz por sinais/sintomas) ou apenas uma
recaída laboratorial (CA 125; não tem indicação para terapêutica na ausência de
sintomas ou ausência de evidência de doença nos exames de imagem);
▪ Terapêutica:
• Quimioterapia – o tipo de quimioterapia vai depender do tempo que decorreu
desde o final da quimioterapia precedente até à recaída;
• Carboplatina – é o mais usado habitualmente, no entanto, quando as
recaídas são muito precoces (< 6 meses após o último tratamento com
platina) não costuma ser utilizado.
• Cirurgia – normalmente quando são recaídas isoladas;
• Radioterapia – pode ser considerada em casos de doença localizada, embora
seja menos usada;
• Inibidores da PARP – grande avanço dos últimos anos no tratamento do
carcinoma do ovário; parecem ter benefício não só para doentes com mutação
em genes associados a recombinação homóloga (têm efeito máximo) mas
também em doentes sem este tipo de mutações;
• Antiangiogénicos (inibidores do recetor VEGF)
➔ À medida que o tempo vai passando, os períodos entre as remissões (sem sintomas
decorrentes da doença) e as recaídas (doença ativa e em crescimento) vão ser cada vez
mais curtos!
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DCC – Doente Com Cancro Carcinoma do Ovário e do Endométrio
TUMORES DO ENDOMÉTRIO
Continuando a aula, agora vamos abordar os tumores do endométrio. Aqui também, tal como
na apresentação do carcinoma do ovário em que nos cingimos aos tumores de origem epitelial, aqui
vamos fazer a mesma coisa: vamos deixar de fora um grupo menos frequente de tumores malignos do
útero (os sarcomas uterinos) e vamos falar especificamente do carcinoma do endométrio porque, de
facto, é o mais frequente.
Carcinoma do Endométrio:
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DCC – Doente Com Cancro Carcinoma do Ovário e do Endométrio
diagnostico precoce. Assim, uma hemorragia vaginal numa mulher pós-menopausa tem de ser
investigada porque pode ter como origem um carcinoma do endométrio (embora, e temos de ter esta
ideia, a causa mais frequente de hemorragia vaginal na mulher pós menopausica não é o
carcinoma do endométrio, é sim a atrofia vaginal. Mas como esta é uma das causas de hemorragia
vaginal e é potencialmente letal se não for curada, esta suspeita tem de ser sempre levantada e
excluída ou diagnosticada a tempo. Tem de haver sempre uma investigação no sentido de excluir um
carcinoma do endométrio). Assim, este tumor costuma ter uma apresentação precoce, com sintomas
de doença muito precoces que nos alertam para uma investigação e, muitas vezes, nos levam a um
diagnostico numa etapa precoce com uma taxa de cura bastante considerável.
Fatores de Risco:
• Obesidade
• Menopausa tardia
• Menarca precoce
• Infertilidade
• Tamoxifeno
• Nuliparidade
• Síndrome de Lynch
Os fatores de risco são, geralmente, situações que aumentam os estrogénios circulantes e têm
fatores de risco para cancro do endométrio, de forma geral.
→ Obesidade
→ Menarca precoce e menopausa tardia
o Longo período de exposição a ciclos hormonais de estrogénios que aumentam
o risco
→ Infertilidade, Nuliparidade
o Mulheres que nunca engravidaram
→ Tamoxifeno
o Medicamento que se usa para tratar o cancro da mama
o Nas células da mama tem um efeito antagonista quando se liga ao recetor
de estrogénio, desencadeando efeitos opostos neste recetor do que quando o
estrogénio se liga a ele.
o Nas células do endométrio, o Tamoxifeno também se liga a recetores
presentes nestas células e ao ligar-se tem um efeito agonista levando a uma
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Rastreio:
Patologia:
• Células claras: 1% a 5%
• Mucinoso: 1%
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Diferenciação:
Estes tumores, tal como a maior parte dos tumores malignos, obedecem também a critérios de
diferenciação celular que têm implicação no prognóstico da doença e, como tal, na necessidade de
terapêutica acrescida para além da cirurgia.
Diagnóstico:
• Ecografia transvaginal
• Histeroscopia
• Biópsia endometrial
• Curetagem uterina
Em relação ao diagnóstico, como já foi dito, 90% das doentes com carcinoma do endométrio
apresentam-se no seu medico assistente ou ginecologista com uma queixa de hemorragia vaginal.
Habitualmente é uma mulher pós-menopáusica que tem uma hemorragia/ perda de sangue anómala
pela vagina e que procura ajuda médica por isso. Muito menos frequentemente podemos ter na
citologia papanicolau umas alterações sugestivas com:
→ Células anómalas
→ Epitélio glandular anómalo
→ Presença de células endometriais anómalas
Estas alterações remetem-nos para a suspeita de que podemos estar perante uma doente com
carcinoma do endométrio. Portanto, no rastreio do seu cancro do colo do útero, temos alterações
citológicas que nos podem fazer sugerir a presença de um carcinoma do endométrio e vamos então
investigar. Mas, o mais frequente, de longe, é a existência de uma hemorragia vaginal anómala que
acontece numa mulher pós-menopáusica.
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Estadiamento:
Cirúrgico: baseado na extensão de doença (útero, anexos, lavado peritoneal, gânglios pélvicos e
LA)
Protocolo cirúrgico:
Lavado peritoneal; inspeção cavidade e biópsia de lesões suspeitas; histerectomia total com
exame intraoperatório, anexectomia bilateral; dissecção ganglionar pélvica e LA de acordo com
exame extemporâneo (invasão < ½ miométrio G1 / G2 não fazer)
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detalhada – não só porque o tratamento médico e cirúrgico da doença vai depender deste tipo de
abordagem mas, também, o próprio estadiamento da doença e consequentemente a necessidade de
mais terapêutica pós-cirúrgica e complementar à mesma.
O protocolo cirúrgico passa por uma laparotomia supra e infra-cólica com a realização de
lavado peritoneal (muitas vezes não temos ascite, mas temos de ir a procura de células neoplásicas
na membrana peritoneal através da realização de um lavado peritoneal) seguido de uma inspeção
cuidadosa de toda a cavidade pélvica com biopsia de lesões que nos pareçam suspeitas. Assumindo
que a examinação da cavidade não mostra lesões extrauterinas, com exame intraoperatório do útero,
o passo seguinte é fazer uma histerectomia total com anexectomia bilateral.
Se, pelo contrário, nós sabemos à partida pela biópsia que temos feita pré-operatoriamente
que se trata de um carcinoma de células claras ou papilar seroso que têm pior prognóstico, o protocolo
cirúrgico deve ser o protocolo de carcinoma do ovário que passa também pela biópsia de material não
suspeito das goteiras parieto-cólicas, do fundo de saco de Douglas e de ambas as cúpulas
diafragmáticas. Passa também por uma omentectomia e, mais uma vez, ressecção de todas as lesões
suspeitas.
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Fatores Prognóstico:
• Estadio (FIGO)
• Grau de diferenciação
• Angioinvasão
Este estadio é uma forma resumida do estadiamento da FIGO. O estadiamento da FIGO é bem
mais detalhado, mas, para esta fase de aprendizagem, esta ideia geral já é suficiente.
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1 https://cancerbro.com/endometrial-cancer-staging-and-treatment/
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Terapêutica:
Alto risco:
• histologia
• diferenciação
• > estadio II
• angioinvasão
• tumor> 2 cm
A terapêutica passa pela cirurgia mais ou menos radioterapia e mais ou menos quimioterapia
adjuvante de acordo com a existência ou não dos tais fatores de risco/ prognóstico, falados
anteriormente.
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DCC – Doente Com Cancro Carcinoma do Ovário e do Endométrio
A maior parte dos doentes vão ser operados, podendo ou não fazer terapêutica adjuvante. Isto
é um bocadinho diferente do que se passa no carcinoma do ovário em que a maioria dos doentes faz
terapêutica complementar a seguir à cirurgia ou às vezes antes, quanto têm critérios de
irrececabilidade. No carcinoma do endométrio muitos destes tumores ficam logo tratados com cirurgia,
quanto muito têm necessidade de fazer radioterapia e ficam em remissão.
2 https://cancerbro.com/endometrial-cancer-staging-and-treatment/
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DCC – Doente Com Cancro Carcinoma do Ovário e do Endométrio
Vigilância Clínica
A vigilância, depois de entrarem em remissão pós terapêutica inicial, é uma vigilância clínica.
Apesar de tudo, felizmente, a maior parte dos doentes entra em remissão e não volta a recair, ao
contrário do que acontece nos doentes com carcinoma do ovário. Nas poucas situações em que, no
entanto, temos uma recidiva esta pode ser local ou à distância (com metastização em órgãos à
distância). Os sintomas que vamos ter dependem do padrão de recidiva:
Quando estamos a falar de recidiva local, a terapêutica pode passar por uma re-intervenção
nomeadamente cirurgia (apesar de a cirurgia de exenteração ser cada vez uma cirurgia menos usado).
Usamos muitas vezes a RT quando falamos em recidivas locais passiveis de terapêutica local. Quando
não é o caso, usamos eventualmente QT ou Hormonoterapia. Não esquecer que estes tumores são
tumores que expressam recetores hormonais e em alguns casos, sobretudo em doentes muito idosos
com poucas condições para fazer QT e com tumores bem diferenciados, as respostas a HT não são
desprezíveis e é uma arma terapêutica que usamos com frequência.
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DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
ONCOGÉNESE VIRAL
• HPV
• HBV, HCV
A oncogénese viral não serve apenas para explicar os mecanismos oncogénicos por detrás do HPV
ou HBV/HCV, uma vez que, na biologia molecular do cancro, percebeu-se que existia material genético
viral que quando introduzido em células normais, alterava o seu comportamento e morfologia,
transformando essas células. Portanto, as células até então normais passaram a ser confluentes,
deixavam de viver em monocamadas e de ter inibição de contacto, transformavam-se,
imortalizavam-se e passavam a ser independentes de ancoragem.
Peyton Rous (Nobel 1966) – demonstrou que quando infetava células normais com vírus, as células
transformavam a sua morfologia, mas quando aumentava a temperatura, as proteínas desnaturavam-
se e as células passavam a ser normais de novo. Quando baixava a temperatura, as células voltavam
à morfologia transformada. Isto significa que as células perderam a proteína transformadora quando
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DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
passaram de “transformadas” para “normais”. Mas, na segunda passagem (a 1ª foi com a inclusão do vírus)
de “normais” para “transformadas”, produzem-se novas proteínas que voltam a dar o fenótipo
transformado às células.
Varmus e Bishop
A oncogénese viral foi fundamental para esta descoberta revolucionária no entendimento da biologia
tumoral.
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DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
Lista de oncogenes (slide 6 pouco visível – só iria ocupar espaço desnecessário) – é uma lista referente a
genes ancestrais de origem viral integrados no nosso genoma. Esta ancestralidade não permite afirmar
que um determinado vírus causou determinada neoplasia, no entanto sabe-se que temos uma
sequência no nosso genoma, que quando sofre disrupção da sua função por mutação ou por
amplificação, provoca uma neoplasia. Foram destacados os seguintes: MYC, RAS – importantes na
oncogénese epitelial, FGF (foi referido, mas não está na lista), ERB.
São apresentados dois gráficos que nos mostram o tempo necessário para a produção de alterações
epiteliais importantes (CIN 3) após infeção com HPV.
Verifica-se que uma enorme percentagem dos infetados mantém infeção persistente no primeiro ano,
e depois do primeiro ano, a grande maioria faz clearance do vírus. No entanto, existe um pequeno
número de infetados no qual há uma persistência do vírus com produção de alterações epiteliais (CIN3)
ao longo dos 3 anos – Gráfico da esquerda (branco e preto)
Depois, pegando apenas nos que persistem infetados após os 3 anos, verifica-se que 50% dos
infetados tem uma regressão das alterações epiteliais até 30 anos após o diagnóstico. Nos restantes
50%, as células mantem as alterações características de um fenótipo neoplásico, progredindo para
invasão do córion da mucosa. Gráfico da direita (azul e vermelho)
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DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
Apresenta-se um gráfico com a idade do pico de prevalência para cada estadio da carcinogénese
no cancro do colo do útero.
(NOTA: a prof. não foi muito clara nesta parte, portanto acrescentei, ao que ela disse, a legenda da
imagem do artigo)
Dentro dos 1.000.000 novos casos de cancro em localizações passíveis de ser provocados pelo HPV
(colo do útero, ânus, vagina e vulva, pénis, orofaringe, cavidade oral e laringe), verifica-se que uma
totalidade de 600.000 foram atribuíveis a este vírus. A fração de atribuição ao HPV foi especialmente
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DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
grande no cancro do colo do útero (100%), sendo significativamente menor no cancro da orofaringe
(31%) e da cavidade oral e laringe (2,4%).
Verifica-se na imagem abaixo, uma fenda no epitélio, com as partículas virais a atingir e infetar as
células da camada basal.
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DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
NOTA 2: A prof. não me pareceu muito clara aqui, dando a entender que o HPV alto risco provocava
uma alteração do epitélio (estratificado para colunar) – por via das dúvidas, deixo a legenda da imagem,
bem como a citação do artigo da Nature, para se perceber melhor. Não fiz interpretações do que li para
não provocar desinformação, portanto recomendo a consulta do artigo para perceber melhor estes
mecanismos.
Figure 5 | HPV infection and the transformation zone. The deregulation of high-risk human papillomavirus
(HPV) gene expression is thought to depend on the specific characteristics of the basal epithelial cell that
the virus infects, as well as on the susceptibility of this infected cell to external stimuli, such as hormones
and growth factors. Most cancers at the cervix arise at the transformation zone and adjacent endocervix,
a region of the cervix comprising initially of columnar epithelium but then undergoes metaplasia —
particularly at puberty — to form a fully differentiated squamous epithelial layer. The stratified layers of
the ectocervix are thought to be maintained by ‘conventional’ epithelial stem cells that are located in the
basal layer. The nature of these cells has not been established, and several models of epithelial
homeostasis have been suggested208. By contrast, the stratified layers of the transformation zone, and
the single layer of columnar cells that line the endocervix, are thought to be maintained by the cervical
reserve cells209,210. Although reserve cells are typically abundant at sites of metaplasia, recent studies
have additionally suggested the involvement of a second type of stem-like cell with cuboidal appearance
that are located more precisely at the squamocolumnar junction (SCJ)161,211. Current thinking suggests
that productive high-risk HPV infection is favoured at the ectocervix and that lesion formation begins from
infection of an epithelial stem cell (reserve or cuboidal stem cell) at the transformation zone or
endocervix. The immunohistochemistry images on the right show a normal cervix, a low-grade clinical
lesion pathologically labelled as cervical intraepithelial neoplasia grade 1 (CIN1) and a high-grade CIN3
lesion stained to detect the HPV E4 protein (green) and the cell cycle marker minichromosome
maintenance protein complex (red).
LINK: Schiffman, M., Doorbar, J., Wentzensen, N. et al. Carcinogenic human papillomavirus infection. Nat
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DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
NOTA: apesar da prof. ter dito este último ponto, no mesmo artigo, é
referido o que está na imagem ao lado
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DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
Legenda da última imagem (mesmo artigo) - Figure 6 | Molecular events during progression and invasion in the cervix.
Productive infection (producing virion particles) is thought to involve low-level regulated expression of human papillomavirus
(HPV) genes E6 and E7 and does not necessarily require the stimulation of extensive cell cycle entry in the basal and
parabasal cell layers (noted by the absence of the cell cycle marker minichromosome maintenance protein complex (red) in
the first immunofluorescence image). In such lesions, E6 and E7 gene expression is required primarily for genome
amplification in the mid-epithelial layers in preparation for virus assembly. E4 and late viral (L1 and L2) gene expression can
be extensive (green on immunofluorescence imaging). However, low-grade lesions are heterogeneous and can show more-
extensive suprabasal cell cycle entry (increasing red on immunofluorescence imaging). Pathologically, such lesions would be
labelled cervical intraepithelial neoplasia grade 1 (CIN1; BOX 2). Higher-grade lesions can be regarded at a virology level as
abortive infections, in which E6 and E7 activity is further increased, and the extent of late gene expression becomes
increasingly restricted (increasing red and decreasing green staining on immunofluorescence imaging). Such abortive
infections correspond to precancer similar to CIN2 or CIN3 on pathology (BOX 2), although, in reality, the grades of neoplasia
represent a continuum. Progression to cancer requires time (years or decades) to accumulate host genetic changes.
Integrated HPV DNA often persists in cervical cancer in the absence of viral episomes. Deregulated expression of E6 and E7
contributes to the final cancer phenotype along with host genetic changes, including chromosome abnormalities, point
mutations and changes in patterns of host gene methylation. More-severe disease grades are generally located within the
transformation zone and the endocervix rather than in the ectocervix
Nas zonas de maior poderio económico (países desenvolvidos), podem-se utilizar a citologia, o teste
de HPV ou a citologia + HPV. A citologia tem de ser repetida em intervalos menores, pois tem um maior
número de falsos positivos *, por outro lado, o teste HPV pode ser repetido em intervalos maiores dado
o seu maior VPN. Para o diagnóstico é obrigatória uma biópsia (colposcopia). A terapêutica inicial é a
excisional.
NOTA 3 - *a Prof.
disse isto, mas
fiquei na dúvida
porque no slide diz
↓ VPN – portanto
seria um maior
número de falsos
negativos e não de
falsos positivos;
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DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
intervalos ainda menores. Para o diagnóstico, pode-se tentar detetar as proteínas oncogénicas virais
E6 e E7. A nível terapêutico, é utilizado preferencialmente o tratamento ablativo.
EPIDEMIOLOGIA
NOTA 4 – pareceu-me existir alguma contradição relativamente ao que referiu imediatamente antes –
dito isto, deixo a informação da legenda e a minha interpretação desta figura:
Este gráfico é referente à resposta imune e estabilidade de parceiros APÓS a infeção adquirida
por HPV – por esta razão só comparam duas curvas após o pico de incidência.
Legenda do gráfico c) na fonte| Cell-mediated immune control of acquired infections and partial, antibody-
mediated immunity to re-infection, combined with reduced interchange of sexual partners, are likely explanations for
a rapid decline in incidence 5–10 years after the initial peak206. During a plateau that begins around 30–35 years of
age, a certain proportion of infections represent persistence linked to increased risk of developing precancer or cancer.
Widespread use of high-quality cervical cancer screening during this plateau can target prevalent HPV-related lesions
and infections. The arrows demark the shifts in the curve possible depending on these factors
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Aula Nº 10.2 17.11.2020
DCC – Doente Com Cancro Oncogénese Viral + CCs TUI
▪ Nos países mais desenvolvidos, até aos 30 anos existe uma prevalência relativamente
elevada, ocorrendo depois uma diminuição/eliminação;
▪ Na India, existe uma prevalência mais elevada e estável ao longo das diferentes faixas etárias
em comparação com os países mais desenvolvidos;
▪ Na África, existe uma prevalência ainda mais elevada em comparação com a Índia e os países
mais desenvolvidos;
Legenda dos gráficos d), e) e f) na fonte| The pattern of an initial peak and a moderate rebound around menopause
is clearly observed in countries with widespread economic development, such as those in Europe or North America. e | By
contrast, in some developing countries (for example, India), little decline in HPV prevalence after 25 years of age or a second
moderate peak is observed after or around menopause, as measured by DNA or RNA tests. The influences on the smaller
second peak are not certain and most likely multifactorial. f | Countries with very high HPV prevalence rates (for example,
those in sub-Saharan Africa) show HPV estimates at 34–55 years of age far higher than the expected 5–10%, and they generally
show an intense second peak after 55 years of age; widespread impairment of cell-mediated immunity due to chronic
parasitosis could play a part in creating this third pattern207. In panels d–f, age-specific prevalence rates are truncated at
younger ages for brevity and the data were extracted from several studies
O carcinoma do colo do útero é um problema grave, dado que é o 2º tumor mais frequente da
mulher jovem (15-44 anos), estando apenas atrás do cancro da mama. A nível global, tem mais ou
menos metade da incidência em relação ao cancro da mama (dados GLOBOCAN 2012 – a Prof.
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refere que estes dados são obsoletos, exemplificando que o cancro do pulmão já tem uma
prevalência muito maior nas mulheres, dado o crescente tabagismo neste sexo).
TERAPÊUTICA
Classificação de estadiamento
FIGO (2018) – espero que consigam
ver com algum esforço, caso
contrário avisem-me!
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O slide acima demonstra que o cancro não é o problema de saúde mundial mais importante se
observarmos a grande escala (nível global) e compararmos com a incidência e prevalência de outras
patologias/complicações.
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O carcinoma do colo do útero é uma doença cada vez mais evanescente nos países mais
desenvolvidos, muito devido às estratégias de vacinação. Apesar disto, devemos estar alerta para esta
patologia pois o fenómeno da migração contribui para a prevalência da doença em países como
Portugal.
O slide acima alerta-nos para as sobrevidas baixas dos doentes com cancro, na África sub Sahariana,
como exemplos:
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▪ Na Gâmbia, apenas 22% dos doentes diagnosticados com cancro estão vivos ao fim de 5
anos. Em Portugal, atingem-se sobrevidas aos 5 anos superiores a 50%.
▪ No Uganda, apenas 13% dos doentes estão vivos ao fim de 5 anos. A exceção é o cancro da
mama (sobrevida 46%), para o qual existem terapêuticas, como a mastectomia e tamoxifeno,
que por serem relativamente baratas se conseguem fazer nestes países.
Relativamente ao cancro do colo do útero, a Prof. refere que tem recebido doentes evacuadas de África
que foram tratadas com histerectomia radical. Esta terapêutica não é suficiente para estadios como o
FIGO II, portanto tem de ser realizada a QRT, que é inacessível na maioria dos países africanos, como
Angola.
A tabela acima demonstra como os países desenvolvidos conseguem obter melhores resultados no
tratamento do cancro. Estes dados são prévios à imunoterapia, o que é espelhado pela semelhança
dos resultados entre países pobres e ricos para cancros mais agressivos, como o cancro do pulmão.
Com o desenvolvimento de novas terapêuticas, o fosso entre os países tende a crescer para estas
neoplasias de pior prognóstico, aproximando-se das restantes neoplasias (mama, colorretal, cavidade
oral).
Abaixo, demonstra-se que os países ricos gastam muito dinheiro em saúde (ordem dos milhares per
capita – esq), ao contrário dos países pobres que gastam muito menos (ordem das centenas per capita
- dta).
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É imperioso desenvolver estratégias alternativas para a prevenção do cancro do colo do útero nos
países Africanos, visto que, nestes, não existe a capacidade de diagnóstica de cancro do colo do útero,
e muitas vezes nem se sabe a
causa de morte das mulheres.
Como esta doença mata
predominantemente mulheres
jovens, é importante saber
caracterizá-la nestes países. No
slide, chama-se à atenção a
inspeção visual com ácido
acético, que consiste em “pintar”
o colo do útero com ácido acético e depois observar a diferenciação entre epitélio pavimentoso integro
e epitélio doente (monocamada – colunar).
A OMS tentou fazer um projeto piloto de demonstração em 6 países africanos (slide abaixo) fazendo
screening com visualização do ácido acético e com coloração Papanicolau. Neste projeto, o que se
pretendia observar era a rentabilidade da visualização do ácido acético, verificando-se que 1% (326
mulheres) tinham lesões suspeitas. Dentro destas 326, só 96 foram investigadas e quase todas (79/96)
tinham cancro do colo do útero. Entretanto perderam-se muitas doentes neste estudo - em 230
mulheres não se obteve mais informação. Constatou-se depois que as mulheres (HIV +) recebiam
antiretrovirais, mas ainda tinham de pagar para terem consultas de ginecologia e biópsias cervicais.
As doentes acabaram por ser tratadas com radioterapia (não era possível ser feita cirurgia).
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VACINAÇÃO
▪ A vacinação é custo-eficiente.
▪ As formas de continuar a fazer screening são a
realização de testes virais e citologias para
verificação de neoplasia intraepitelial. Como
outros marcadores temos: metilações p16
(proteína supressora de tumor) ou presença da
oncoproteína E6
▪ Uma das estratégias futuras é a realização destes métodos (vacinação e screening) em grupos
etários mais avançados.
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Existe um conjunto de razões podem estar por detrás destes resultados, nomeadamente:
NOTA - na gravação, a Prof. refere norte coreano mas não é. No artigo, os autores são sul coreanos.
Perante a análise deste gráfico circular, a Prof. começa por referir que não tem a noção da divisão
apresentada no gráfico, referindo, baseando-se na
sua prática clínica, que a laringe/hipofaringe e
orofaringe são neoplasias mais frequentes do que as
neoplasias da cavidade oral. Aponta como razão para
isto o facto de os oncologistas verem pouca patologia
neoplásica da cavidade oral, já que estas são mais
vezes tratadas cirurgicamente do que com QT/RT.
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Estes resultados podem ser explicados pelo facto de os doentes fumadores serem mais velhos e
classicamente mais desnutridos (doentes com fumadores com cancro cabeça e pescoço), e, portanto,
os fumadores morrem mais com as terapêuticas (ex. toxicidade da radioterapia – 70 Gy na laringe é
muito agressivo!).
As neoplasias HPV + são mais frequentes na amígdala e base da língua (BOT), histologicamente
caracterizadas como não-queratinizante, e apresentam-se clinicamente como tumores pequenos
(Ts baixos) com bastante doença ganglionar (↑N). Biologicamente, apresentam um ↑p16 e p53
normal (wild), ao contrário das neoplasias HPV -, que apresentam o p53 frequentemente mutado com
perda de função. Por serem caracteristicamente doentes mais novos, normalmente não apresentam
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TERAPÊUTICA
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Internacionalmente, definiu-se os
tumores da cabeça e pescoço HPV +
como sendo atualmente uma entidade
clínica com uma classificação própria (a
necessidade desta nova classificação é
explicada por, entre outras diferenças, a
maior frequência de doença ganglionar
ao diagnóstico do que nos tumores
clássicos) – suponho que se estava a
referir a um sistema de estadiamento
próprio!!
VOLTANDO À DE-ESCALAGEM…
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É apresento um gráfico (abaixo) que estratifica os doentes com cancro orofaríngeo em três grupos de
risco:
▪ N3
▪ N2c
▪ N2b + fumadores > 10 UMA(?)
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INTRODUÇÃO - EPIDEMIOLOGIA
INCIDÊNCIA DO CHC
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No que diz respeito à mortalidade por cancro em 2004, em número absoluto, na Europa, em que
vê-se a seguinte ordem em termos
de mortalidade: 1º Pulmão, 2º
Coloretal, 3º Mama, 4º Próstata – é
importante perceber que estes 4
matam mais porque incidem mais. O
CHC aparece em 7º, atrás do
Pâncreas e Estômago. Poderíamos
ver uma espécie de contradição com
o que foi referido no slide prévio, no
entanto, o CHC é menos frequente
dentro das neoplasias já referidas.
Portanto, o CHC é um cancro
EVITÁVEL que, proporcionalmente
à sua incidência, é dos que mais
mata, sendo porventura superado
pelo cancro do pâncreas ou
mesotelioma.
Os doentes com doença hepática crónica (DHC) e cirrose devem ser monitorizados/seguidos por
equipas com expertise para estas patologias.
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Aborda-se agora a patogénese molecular e a inserção das proteínas virais C e B nas várias vias
celulares.
Relativamente às partículas virais C, destaca-se a sua inserção nas várias vias celulares, como
exemplos os fatores de
crescimento epidérmico e fator
de crescimento da insulina.
Verificam-se ainda o stress
mitocondrial, bem como
alterações no retículo
endoplasmático e do processo
de autofagia, que culminam no
↑ sobrevivência e replicação do
vírus.
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Figura 4 (a explicação pareceu-me muito confusa – abaixo fica a legenda| Signalling pathways targeted by HBV and
HCV in CLD pathogenesis. a | Major steps in the pathogenesis of hepatitis B virus (HBV) and hepatitis C virus (HCV)-
associated hepatocellular carcinoma (HCC) are shown. In both virus infections, immune responses to persistent virus
replication promote the development of hepatitis, which consists of hepatocellular destruction followed by regeneration
and/or fibrosis. During regeneration, the hepatitis B x (HBx) and pre-S and S genes increasingly integrate into host
DNA, resulting in increased levels of intracellular HBx. b | The activities and expression of selected signalling pathways
and target genes are altered by HBV- and HCV-encoded proteins. Note that both viruses promote the growth and
survival of infected cells during chronic liver disease (CLD), and activate several overlapping signalling pathways (for
example, RAS, PI3K, epidermal growth factor receptor (EGFR) and insulin-like growth factor receptor 1 (IGFR1)) that
contribute to the pathogenesis of HCC. A2M, α2-macroglobulin; ANG2, angiopoietin 2; CDH1, E-cadherin; COX2,
cyclooxygenase 2; EPCAM, epithelial cell adhesion molecule; EMT, epithelial–mesenchymal transition; ER,
endoplasmic reticulum; FN, fibronectin; HDAC, histone deacetylase; HIF, hypoxia-inducible factor; TERT, human
telomerase reverse transcriptase; MDR1, multi-drug resistance 1; MMP, matrix metalloproteinase; NF-κB, nuclear
factor-κB; ROS, reactive oxygen species; TGFβ, transforming growth factor-β; UPR, unfolded protein response; VEGF,
vascular endothelial growth factor
O gráfico abaixo expõem o aumento do risco de vários tipos de cancro devido à obesidade, verificando-
se que o aumento de risco de CHC é um muito grande (4-5x) nos doentes obesos (IMC > 35 kg/m2).
Existem outras neoplasias que podem estar relacionadas com a obesidade (risco >1x): próstata,
linfoma não Hodgkin,
neoplasias de células
renais, mieloma múltiplo,
colangiocarcinoma,
carcinomas esófago,
estômago, colon, reto,
pâncreas. A obesidade e os
hábitos alimentares podem
influenciar mais o
aparecimento de neoplasias
gastrointestinais.
Em suma, em homens com IMC > 35 kg/m2, apesar do risco ainda ser inferior para a maioria das
neoplasias, no CHC, onde este pode ser 4x nos grandes obesos.
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OBESIDADE - EPIDEMIOLOGIA
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PROJEÇÕES
▪ Pulmão
▪ Pâncreas
▪ Fígado - que se deve à tal
epidemia de síndrome metabólico
e o consumo de álcool
permanecer elevado
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SUMÁRIO DO CHC
A Prof. conclui o tema do CHC dizendo que, no Hospital Amadora-Sintra, mais de 1/2 dos doentes
com CHC não tem critérios de elegibilidade para terapêutica dirigida (ex. Sorafenib).
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VIH/SIDA e ONCOLOGIA
✓ Sarcoma de Kaposi
✓ Linfoma não Hodgkin
✓ Cancro do colo do útero
invasivo
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✓ A 2ª causa de morte por VIH é o cancro do colo do útero (ultrapassa o cancro de mama)
✓ A 5ª causa de morte por VIH é o sarcoma de Kaposi
✓ A 10ª causa de morte por VIH é o linfoma não Hodgkin
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(imagem talvez pouco clara, mesmo no slide não se vê bem – tentem ver no modo apresentação)
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Nesta radiografia torácica de um doente com VIH/SIDA, deparamo-nos com a dificuldade em fazer
diagnóstico diferencial de tuberculose miliar ou sarcoma de Kaposi. Portanto, o que fazer?
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Em 58 adultos:
Foram tratados 50 doentes com CHOP (os restantes 8 morreram antes do tratamento começar),
dentro dos quais, 31 VIH + e 19 HIV -.
Conclui-se que o regime CHOP pode ser seguro, efetivo e fazível em doentes VIH+ ou
VIH- com linfoma não Hodgkin agressivo, mesmo em países da África sub Sahariana,
como o Malawi.
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▪ O regime CHOP pode ser uma terapêutica standard para doentes VIH + de países com
baixos recursos económicos.
▪ Existe uma elevada mortalidade associada ao CHOP e Linfoma Não Hodgkin
▪ Para a diminuição desta mortalidade deve existir investimento nos cuidados de suporte.
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Surpreendentemente, os doentes
com VIH + e linfoma B difuso de alto
grau podem ter melhor
prognóstico, algo demonstrado pela
curva da sobrevida livre de eventos
(EFS – à esquerda) e sobrevida global
(OS – à direita). As explicações para
estes achados foram as seguintes:
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Verifica-se que a sobrevida livre de progressão (PFS) e a sobrevida global (OS) é igual nos
doentes VIH + ou VIH - que são transplantados devido a linfoma de mau prognóstico.
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ANTI-CHECKPOINT NOS
DOENTES
TRANSPLANTADOS
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Atualmente, estes fármacos (inibidores do checkpoint) não estão a ser usados em doentes com SIDA,
transplantados e os que fazem grandes doses de corticoide.
1º - as neoplasias com
maior utilização destas
terapêuticas (carcinoma
de células renais,
melanoma, cancro do
pulmão), são, ao mesmo
tempo, mais comuns nos
transplantados de órgãos
sólidos.
2º - os ensaios clínicos
com estes inibidores do
checkpoint imune,
tipicamente, excluem os
doentes transplantados.
FIM
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EMC3 Neoplasias Cutâneas
Epidemiologia
A pele é o maior órgão da pele – sendo o mais comum o carcinoma basocelular, e a principal causa
de morte o melanoma (85% das mortes por cancro da pele)
Podemos ter
• tumores epiteliais (originados na epiderme ou seus anexos);
• tumores melanocíticos (que derivam do melanócito);
• tumores dérmicos (que podem ter origem no fibroblasto, nervo, vaso, músculo ou tecido
adiposo);
• tumores linfoproliferativos
Os tumores malignos da pele têm vindo a aumentar a sua incidência, devido à maior exposição solar
e maior recorrência aos dermatologistas que aumenta o diagnóstico.
Melanoma:
incidência
duplica cada
Carcinoma 15 anos
espinocelular:
incidência
duplica cada 20
Carcinoma anos
basocelular:
incidência
duplica cada 25
anos
Oncogénese
Há varios fatores oncogénicos:
- Físicos (radiações ionizantes, radiação solar – causa mais frequente – sobretudo a UV A (penetra
a pele e atinge o tecido subcutâneo) e UV B (atinge a epiderme e a derme superficial)
- Químicos (hidrocarbonetos aromáticos, arsénico);
- Biológicos (vírus): HPV, HHV8 associado a Sarcoma de Kaposi, polyomavirus associado a Carcinoma
de células de Merkel
UV suprime imunidade
Quando a radioação UV contacta com a pele, altera o seu DNA e induz mutações genéticas, sendo
alguns genes alvo importantes o p53, RAS, PTCH e proto-oncogenes bcl-2 e fos.
Além de haver oncogénese direta da radiação solar, há também uma depressão do sistema
imunitário: ↓ células de Langerhans na pele e ↓ resposta local às células tumorais (isto pode ser
aproveitado em algumas dermatoses inflamatórias como o eczema e a psoríase).
A radiação não danifica de forma idêntica todos os indivíduos; os indivíduos de pele, cabelo e olhos
claros são mais suscetíveis. Dividimos então os indivíduos consoante o seu Fototipo pela
classificação de Fitzpatrick:
I- Pele branca, pigmento ruivo, olho claro, efélides, reage com queimadura solar à exposição solar,
nunca bronzeia – muito sensível ao sol;
II- Pele branca, olho claro, efélides, reage com queimadura solar à exposição solar, nunca bronzeia
ou bronzeia muito pouco, – sensível ao sol;
III- Pele clara, olho castanho, queimadura solar ocasional na exposição solar, bronzeia
moderadamente – sensibilidade normal ao sol;
IV- Pele morena, olho escuro, queimadura solar rara, bronzeia rapidamente na exposição solar–
sensibilidade normal ao Sol;
V- Pele morena escura, raramente tem queimadura solar, bronzeia rapidamente – pouco sensível ao
sol;
VI- Pele, olho e cabelo negro, excepcional a queimadura solar, é a mais resistente ao sol
Pigmentação:
Na sua via de proliferação, há uma via importante- Via de sinalização Hedgehog onde há um
recetor de membrana que está permanentemente ativado ou liga-se a outro para aumentar a
proliferação celular e a progressão do tumor
Fatores de risco:
Ø Skin type (Fototipo) – types I and II are especially susceptible, as are patients with albinism
Ø Sun exposure – primarily UVB, 290-320 nm, intermittent exposure
Ø Exposure to artificial UV light – tanning booths, PUVA
Ø Gene mutations – p53 and PTCH
Ø Ionizing radiation exposure – radiation therapy
Ø Arsenic exposure – Fowler’s solution; contaminated water source
Ø Immunosuppression – transplant recipients
Ø Personal and family history of previous skin cancer – the risk of a new cancer is 35% at 3 years and
50% at 5 years after the initial diagnosis
Ø Nevoid basal cell carcinoma syndrome (Gorlin’s Syndrome) – PTCH gene mutation. Other tumours:
odontogenic cysts, medulloblastomas, meningioma, fetal rhabdomyoma and ameloblastoma can occur
Ø Bazex syndrome – atrophoderma /(“ice pick marks”, especially on dorsal hands, multiple basal cell
carcinomas and local anhidrosis (decreased or absent sweating)
Tipos Clínicos:
- nodular
- superficial
- morfeico/morfeiforme
- ulcus rodens
(variantes: ulcerado, pigmentado)
CBC Nodular:
Embora seja um tumor que não metastiza, tem uma agressividade local
considerável nos planos de fusão embrionária da face (sulco nasogeniano,
zona pre-auricular, canto interno do olho).
CBC Superficial:
CBC Morfeico:
Ulcus Rodens:
Há tumores que são ulcerados desde o inicio – ulcus rodens – tumor muito
agressivo que invade rapidamente até o osso e os limites adjacentes. No
entanto, apesar de ser um tumor agressivo,
Carcinoma Espinocelular
Tumor epidérmico proveniente dos queratinócitos da camada espinhosa
É o 2º cancro cutâneo mais frequente, é mais frequente no homem e em idades mais tardias (70 anos).
Tem-se verificado um aumento marcado da sua incidência devido ao envelhecimento da população,
exposição solar, melhoria do diagnóstico e do aumento de doentes imunodeprimidos (transplantados
p.ex). Tem uma evolução rápida.
É um tumor que pode metastizar, ocorre em 2-4% dos casos. Qualquer processo inflamatório da pele
pode predispor ao aparecimento de CEC, nomeadamente cicatrizes crónicas, sinus pilonidalis, ulceras
cronicas dos membros inferiores..
É localmente destrutivo. Têm maior capacidade metastática os tumores genitais, do lábio e do pavilhõ
auricular, e os tumores não relacionados com o sol. Quanto maior o tumor maior a probababilidade de
metastizar
Formas clínicas:
- Nodular
- Úlcero-infiltrativo
- Úlcero-vegetante
- Verrucoso
Forma Nodular:
Forma Úlcero-infiltrativa:
Forma Úlcero-vegetante:
Forma verrucosa:
Carcinoma in Situ
O CEC tem uma fase de carcinoma in situ em
alguns casos, designado Doença de Bowen,
onde o carcinoma é todo intraepidérmico,
esta área não metastiza. Surge como uma
placa eritemato-descamativa em área foto-
exposta. Tem capacidade de tornar-se
invasivo (após meses/anos)
Lesões precursoras
- leucoplasia
- queilite actínica
- cicatrizes crónicas (hidrosadenite
supurativa)
- radiodermite crónica
A nível histológico há uma classificação TNM para o tumor (dimensão e invasão do tumor)
Radiotera TERAPÊUTICA
Curetag Terapêutica cirúrgica destrutiva – se a cirurgia não for
pia em possível ou em tumores pouco agressivos, pode-se fazer
curetagem, eletrocirurgia, laser cirúrgico, terapêutica
fotodinâmica, criocirurgia
Criocirur Laser
Radioterapia – tumores agressivos ou que recidivam
gia cirúrgic
T. o Imunoterapia – casos mais avançados
fotodinâ
mica Num CBC avançado e inoperável e sem possibilidade de
radioterapia, pode-se fazer um tratamento alvo com
inibidores da sinalização de Hedgehog.
Melanoma
• Pele clara
• Cabelos e olhos claros
Fatores ambientais • Presença de sardas
• Reacção à exposição solar
• Latitude geográfica • Múltiplos nevos melanocíticos
• Exposição solar: • Presença de nevo melanocítico
Fatores de risco congénito
para melanoma padrão e dose
• Presença de nevos atípicos
intermitente
• Idade (> 40 anos)
• Queimadura solar na • História pessoal ou familiar de MM
infância/adolescência • Tratamento imunossupressor
Melanoma familiar:
Raro
Suspeitar quando: Genes mais frequentemente envolvidos no melanoma
- Melanomas múltiplos num doente familiar:
- Melanoma em várias gerações - CDKN2A
- Melanoma e outras neoplasias - CDK4
malignas - MITF
- Pâncreas - BAP
- Sistema nervoso central - Polimorfismos MC1R
- Rim
- Vários tumores malignos
Diagnóstico:
O melanoma produz melanina -> pode ser detetado clinicamente -> tumor pigmentado habitualmente
(podem haver melanomas não pigmentados mais difíceis de detetar – melanoma amelanótico)
Regra ABCDE
• Assimetria da lesão
• Bordos irregulares
• Várias cores dentro da
mesma lesão
• Diâmetro > 5mm
• Rápida evolução
A dermatoscopia permite:
Estruturas
dermatoscópicas
Melanomas: suspeitas: rede
Nevos assimetria de cor e atípica, estrias
melanocíticos: estruturas, periféricas, pontos
simétricos, desordem ou glóbulos
Identificar lesão Definir malignidade uniformes, menos arquitectural,
da lesão atípicos, veu azul-
melanocitica vs de 3 cores, presença de esbranquiçado,
lesão não melanocitica arquitectura estruturas vasos atípicos,
melanocitica ordeira dermatoscópicas áreas sem
suspeitas estruturas
Formas Clínicas:
Fatores de risco:
- queimaduras solares na infância e adolescencia
- presença de multiplos lentigos solares
- nevos >50
Melanoma Nodular:
Melanoma acral-lentiginoso
•Mutações prevalentes:
NRAS,NF1, KIT and BRAF nãoV600E
Confirmação do Diagnóstico
Perante o diagnostico de melanoma, faz-se uma biopsia excisional. No caso de tumores muito grandes
faz-se uma biopsia incisional.
Estadiamento:
Presença de
mitoses
Regressão
Os fatores mais importantes são a
espessura do tumor e a ulceração,
Nível de Clark
pois determinam o passo seguinte de
Margens tratamento cirúrgico.
cirúrgicas
Outros: tipo, invasão
vascular,
neurotropismo, infiltração
linfocitária
Temos T1, T2, T3 e T4 dividindo-se sempre em A e B consoante tem ou não a ulceração. A ulceração
agrava o prognóstico, pois um tumor ulcerado tem um comportamento biológico semelhante ao tumor
não ulcerado da classificação imediatamente a seguir.
Melanoma pT1a
Não há necessidade de fazer exames
imagiológicos de estadiamento, faz-se
apenas avaliação clínica (verificar
adenopatias/organomegálias) e faz-se
excisão com margem de segurança
Melanoma pT1b
Faz-se avaliação clínica e pesquisa de
metástases no gânglio sentinela.
A técnica de gânglio sentinela é aplicada aos doentes com melanomas a partir de pT1b, sem
metástases clinicamente evidentes.
Injeta-se à volta do tumor ou da cicatriz operatória que resulta da biopsia excisional, uma injeção de
produto marcado com Tecnecio que vai migrar pelos canais linfáticos em direção às cadeias
ganglionares de drenagem do melanoma. Intraoperatoriamente, o cirurgião injeta azul patente que
migra para os gânglios linfáticos e o cirurgião identifica esses gânglios que estão marcados pela
radioatividade ou pelo azul patente, excisa-os e são enviados para anatomia patológica para ver se
tem metástases.
O melanoma dissemina-se
maioritariamente pela via
linfática, mas também pode
haver disseminação
hematogénea direta sem haver
metástases linfáticas antes
(raro).
Há 2 estudos:
antigamente
Epidemiologia
Em Portugal temos cerca de 36,000 doentes com cancro por ano, dentro destes, 30% podem vir a ter
metástases cerebrais.
Mais raros são os tumores primários do SNC (cerca de 1400/ano, no entanto metade são malignos)
Nas crianças o cancro em geral é mais raro, no entanto as neoplasias do SNC constituem a 2º causa
de cancro (23% - cerca de 70 crianças/ano).
Metástases Cerebrais
As metástases cerebrais surgem
70% have known systemic
mais em doentes que já têm 10%
metástases sistémicas, no metastases
entanto, podem também surgir ao
20% 20% are synchronous with
mesmo tempo que as metástases systemic metastization
sistémicas são diagnosticadas.
5-10% are the first
70% manifestation of cancer
Tem todos os tumores têm a
mesma apetência para metastizar
no SNC.
Manifestações Clínicas
Sintomas gerais:
• Cefaleias, náuseas e vómitos – Geralmente indicam hipertensão intracraniana.
• Alterações do comportamento.
• Sonolência.
Sintomas Focais:
Relacionam-se com a localização das metástases:
• Areas motoras – parésia ou plégias.
• Areas sensitivas – hipostesia.
• Áreas visuais – alterações dos campos visuais.
Epilepsia:
• Em 15% surge como manifestação inaugural.
• Mais de 10% surge ao longo da doença
• Raros (5-10%)
• Muitas vezes relacionados com hemorragia das metástases.
Perante um doente com metástases cerebrais em que ainda não conhecemos a localização do
tumor primário, devemos fazer uma investigação completa:
• TC toraco-abdomino-pélvica
• Mamografia
• Cintigrafia Óssea
• PET (quando nenhum dos outros exames mostrar a localização tumor)
• Avaliação cuidada da pele (melanoma)
Se nenhum destes exames mostrar a localização do tumor primário podemos fazer uma biópsia de
uma das metástases para, pelo diagnóstico histológico, tentar chegar ao tipo de tumor primário.
Tratamento
Os corticosteroides são muito usados nestes doentes. Reduzem o edema peri lesional e, numa fase
inicial, podem melhorar clinicamente os doentes.
Diminuem a permeabilidade dos capilares tumorais ao diminuir a passagem de sódio, proteínas e água
para o espaço extracelular.
Dentro dos corticosteroides a dexametasona é das mais usadas pois tem uma ação mineralocorticoide
baixa. É, no entanto, um fármaco muito antigo (usado desde 1957) e os doentes têm muitos efeitos
secundários (cushing, diabetes, osteoporose etc).
A cirurgia deve ser considerada nestes doentes. Doentes com metástases em áreas não eloquentes,
que têm menor risco de ficar com défices no pós-operatório, são bons candidatos. Muitos destes
doentes também têm as metástases na transição cortico-subcortical, o que as torna mais abordáveis
do ponto de vista cirúrgico.
Quimioterapia: Não tem um papel muito significativo no tratamento das metástases cerebrais. Apesar
da sensibilidade das metástases à quimioterapia ser similar à do tumor primário, temos vários
problemas:
• A maior parte dos fármacos não atravessa a barreira hemato-encefálica.
• 80% destes doentes já estão em estadios tão avançados que são refratários à quimioterapia
citotóxica.
Prognóstico
Depende sobretudo do prognóstico do tumor primário. A maior parte dos doentes já apresenta
metástases noutros órgão e 50-70% acabam por falecer por causas sistémicas.
• Astrocitomas
• Oligodendrogliomas
• Ependimomas
Sistema reticuloendotelial:
• Linfomas do SNC primário
Meninges:
• Meningioma
Incidência
Os meningiomas são os mais frequentes,
seguidos dos tumores da hipofise. Os gliomas
correspondem apenas a 31% dos tumores
primários do SNS, no entanto, correspondem
a 30% de todos os tumores malignos.
Classes etárias:
Os gliomas tendem a ser diagnosticados
entre os 60 e os 70 anos. Já os meningiomas
aumentam com a idade, sendo mais
frequentes em doentes mais velhos com mais
de 80anos.
• Radioterapia craniana: No início do sec.20, muitos doentes foram tratados com Tinea foram
tratados com radioterapia uma vez que, na altura, não havia antifúngicos. Por este motivo
vieram mais tarde a desenvolver meningiomas e outros tumores.
• Doenças Hereditárias: Ex. Neurofibromatose, que se associa a gliomas.
Falam também do uso de telemóveis, no entanto, as meta análises realizadas não encontraram
nenhuma relação causam.
Classificação OMS
Discrepâncias no diagnóstico: O diagnóstico histológico não é fácil, muitas vezes as amostras são
pequenas ou não representativas de todo o tumor e, devido à subjetividade de alguns critérios, 2
neuropatologiastas podem ter opiniões diferentes.
Classificação OMS 2016: Refletindo esta origem diferente dos vários tipos de gliomas a OMS, em
2016, incluiu 2 marcadores citogenéticos que permitem diferenciar os vários tipos de gliomas:
IDH mutados e IDH não mutados. Os mutados ainda podem ter a co-deleção 1p19q, que é a marca
dos oligodendrogliomas.
Glioblastoma
Manifestações Clínicas:
• História curta (< 3 meses).
• Cefaleias (ao acordar, c/vómitos, sendo
sugestivo de hipertensão craniana).
• Alteração do estado mental.
• Epilepsia (30%).
• Sinais focais (que dependem do sítio do
glioblastoma).
Nos exames de imagem, os gliblastomas surgem com contornos irregulares num centro necrótico
(como se vê na imagem da diretia), associando-se, por vezes, a um extenso edema perilesional (como
se vê à esquerda).
Quando temos tumores mais profundos necessitamos de saber a sua localização no espaço nas 3
dimensões. Utilizamos, portanto, Bióspsias Estereotáxicas. Estas, no entanto, podem ser
desconfortáveis para os doentes, pelo que recentemente têm vindo a ser substituídas pela
Neuronavegação. Neste procedimento o neurocirurgião tem uma sonda localizadora na sua mão, a
qual aponta à cabeça do doente e se relaciona diretamente com a ressonância à sua esquerda.
O Gliadel são pastilhas embebidas em quimioterapia que podem ser implantadas no buraco que fica
após a remoção do tumor.
A Florescência Intraoperatória é uma técnica nova em que um análogo da porfirina (5-ALA) é
injetado previamente no doente. Quando chegamos ao bloco liga-se luz UV e vai brilhar a área mais
maligna do tumor, sendo mais fácil para o neurocirurgião removê-la.
Fatores de Prognóstico:
Oligodendrodriomas
O tratamento dos gliomas de baixo grau começa com uma biópsia ou, se possível, cirurgia (não só
confirma o diagnóstico, como remove o maior volume de tumor possível).
Estes doentes têm muitas vezes epilepsia (importante tratar) e fazer uma boa vigilância. Quando
indicado deve ser feita radioterapia e quimioterapia.
Fatores de prognostico: Histologia, idade, tamanho do tumor, se passa ou não a linha média e
existência de défices neurológicos.
Assim podemos classificar os doentes em baixo risco e alto risco, relativamente à sua sobrevida.
Tal como nas outras áreas, também na neuro-oncologia têm sido tentados vários alvos terapêuticos
com vários fármacos, no entanto, com poucos resultados positivos até ao momento.
Há estudos clínicos a decorrer com vacinas de células dendríticas. Como é que são efetuadas?
Primeiro tiramos células dendríticas inativadas do sangue periférico dos doentes. Depois, quando o
tumor cerebral é removido, faz-se um lisado dessa preparação de modo a expor os antigénios do tumor
às células dendríticas imaturas, que se tornam ativadas. São novamente administradas aos doentes
na forma de uma vacina, e espera-se depois que o sistema imunitário se encarregue de “atacar” o
tumor.
No futuro talvez fazer tratamentos das células estaminais tumorais, ou seja, eliminá-las ou
diferenciá-las de modo a que deixem de ser células tumorais e passem a ser células diferenciadas dos
SNC.
Para terminar, apesar de raros estes tumores podem vir “bater à nossa porta”. Estes são alguns
exemplos de pessoas conhecidas que faleceram com glioblastomas.
A incidência na Europa varia entre 3 a 5 casos por 100 000 habitantes por ano, nos países
mediterrânicos e 12–25 casos por 100 000 habitantes, nos países nórdicos. Em Portugal são
diagnosticados cerca de 3200 novos casos por ano, sendo a incidência e mortalidade superior
no sexo masculino (ainda desconhecidas as causas para esta diferença entre sexos).
Subtipos de melanoma
1. Melanoma de extensão superficial- subtipo
mais frequente, ocorrendo em cerca de 70%
dos casos, desenvolve-se de nevos pré-
existentes.
2. Melanoma Nodular- ocorre em 5% dos
casos, comportamento biológico mais
agressivo, com invasão vertical robusta e
com maior capacidade de invasão.
3. Lentigo Maligno- surge em 4-5% dos casos,
surge sobretudo em idosos e nas áreas mais
expostas à radiação UV, como face e dorso
das mãos.
4. Melanoma acral lentiginoso- surge em cerca de 5% dos casos, aparecendo nas palmas,
plantas e leito subungueal. Apresenta um comportamento biológico agressivo. Surge nas
pessoas de raça negra.
Existem outros tipos de melanoma menos frequentes como: melanoma amelanótico (carateriza-
se por ausência de pigmento, logo não apresenta uma cor escura) e os melanomas
desmoplásicos (muito raros).
Esta diferenciação é importante, pois têm alterações e caraterísticas moleculares diferentes com
implicações no prognóstico e tratamento.
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Estadiamento
O melanoma representa menos de 10% dos tumores malignos da pele, mas é responsável por
mais de 90% das mortes.
O seu estadiamento é feito através do sistema TNM:
T: profundidade de invasão vertical medida em mm; N:envolvimento ganglionar regional; M:
existência de metastização à distância. Atualmente utiliza-se a 8ª edição da AJCC.
O fator de prognóstico mais importante para a sobrevivência é a espessura de Breslow. A
presença ou ausência de ulceração é também importante no estadiamento, sendo a sua
presença fator de mau prognóstico.
A sobrevivência dos doentes depende do estadiamento: >90% aos 5 anos nos estadios
localizados; 70% quando existe envolvimento ganglionar e cerca de 25% com metastização à
distância.
Com as novas opções terapêuticas estes números sofreram uma evolução muito positiva nestes
últimos anos.
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Antes das novas terapêuticas, atualmente disponíveis, a sobrevivência mediana dos doentes
com melanoma avançado era cerca de 6-9 meses e a sobrevivência global aos 5 anos rondava
1-2%.
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o Interferon alfa
o Interleucina-2
o Anticorpos Anti- CTL-4 (ipilimumab) Utilizados atualmente. Inibidores
o Anticorpos Anti- PD-1 do check-point imunitários.
o Vacinas: existem ensaios clínicos a decorrer.
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Durante décadas a
dacarbazina em
monoterapia foi
considerado o agente
de referência, sem
nunca ter demonstrado
um benefício
estatisticamente
significativo na
sobrevivência. Com
uma sobrevivência
mediana de 6-9 meses.
Em 2010 foram apresentados os primeiros dados com imunoterapia da nova geração. O agente
Anti-CTLA-4 (Ipilimumab) que é um recetor que existe à superfície dos linfócitos T, com impacto
significativo na sobrevivência, tendo sido aprovado em 2011.
O inibidor BRAF( Vemurafenib) – foi aprovado em 2012. A combinação inibidor BRAF + inibidor
MEK foi aprovado em 2014. A combinação Vemurafenib e Cobimetinib foram aprovados em
2015. A combinação Pembrolizumab e Nivolumab –anticorpos monoclonais anti-PD1, aprovados
em 2014 pela FDA e 2015 pela EMA. A combinação Ipilimumab and Nivolumab – aprovada pela
EMA em 2016.
Hoje a sobrevivência mediana ultrapassa os 2 anos. Foram aprovados diversos agentes que
revolucionaram o tratamento do melanoma avançado.
Quimioterapia
Relativamente à QT nenhum dos tratamentos foi considerado standard: o agente mais usado e
considerado de referência foi a Dacarbazina em monoterapia que foi administrado em regime de
referência e no braço de controlo em diversos ensaios clínicos randomizados.
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A IL-2 em alta dose foi aprovada nos EUA, devido a publicação num artigo da JCO. O que se
verificou foi que a sua administração em 270 doentes com melanoma avançado, levou a uma
taxa de resposta de 16% e estas respostas foram de longa duração. Também se constatou que
dentro dos doentes que responderam, poucos doentes progrediram após os 2,5 anos do início
da terapêutica. Colocou-se a questão se estes doentes estariam curados. Na verdade, observou-
se também pela primeira vez, com a utilização da imunoterapia, um impacto na cauda da curva.
A partir de 20 meses os doentes que responderam, mantiveram a resposta ao longo do tempo.
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Mutações NRAS encontram-se no melanoma: cutâneo (15-25%), acral (10-15%), mucosas (5-
15%).
Vias de sinalização
Vias MAP KINASE (representada no centro da imagem): quando o ligando se liga ao recetor
transmembranar RTK desencadeia uma cascata de ativação RAS- RAF-MEK- ERK com controlo
da proliferação celular e sobrevivência das células.
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Mutação do gene
BRAF, com proteína
V 600 mutada, há
uma ativação constante BRAF- MEK-ERK, levando à proliferação e sobrevivência celular
excessiva das células de melanoma.
Inicialmente os inibidores BRAF e MEK foram testados isoladamente, mas verificou-se que em
combinação a sua ação é muito mais eficaz no controlo da proteína BRAF. Com a associação dos
inibidores BRAF e MEK conseguiu-se uma potente inibição da proliferação das células do
melanoma, com respostas excelentes nos ensaios clínicos.
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Este estudo veio comprovar que a utilização de Vemurafenib (inibidor BRAF) tem uma taxa
resposta (48%), sobrevivência global e sobrevivência livre de progressão (6,9 meses) superior à
dacarbazina, como se pode observar na tabela. Com Vemurafenib houve uma redução do risco
de morte de 30%. Assim, este estudo mostrou a importância de tratar os doentes com mutação
BRAF com um inibidor BRAF (Vemurafenib) que passou a ser considerado o tratamento de
referência.
Verificou-se que a utilização de Dabrafenib (inibidor BRAF) tem uma taxa resposta (50%), uma
sobrevivência global (20 meses) e uma sobrevivência livre de progressão (5,1 meses) superior
à dacarbazina, como se pode observar na tabela.
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Com Dabrafenib houve uma redução do risco de morte cerca de 23% (diferença não significativa
devido a ter sido permitido o crossover de dacarbazina para o ramo investigacional com
dabrafenib).
No entanto com a utilização de iBRAF em monoterapia, após uma resposta rápida e intensa,
ocorre uma rápida progressão com reaparecimento das massas tumorais. Tal deve-se ao
estabelecimento de resistência à ação dos iBRAF através da utilização de vias intracelulares
alternativas.
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Dabrafenib/Trametinib;
Vemurafenib/ Cobimetinib têm
notável atividade clínica sobre os
melanomas com mutações BRAF.
No entanto ao fim de 8-12 meses
após o início de tratamento os
iBRAF desencadeiam resistências.
Estas resistências podem ocorrer
através da ativação da via RAS,
COT ou PDGFRβ (via alternativa)
levando à proliferação celular
(como se pode observar no
esquema).
Algumas resistências (ao iBRAF) dependente da MEK são: mutações NRAS, ativação CRAF,
sobreexpressão COT e mutações MEK. Os dados sugeriram que através da associação do
iBRAF com iMEK atrasa-se a resistência. Observa-se que com a associação dos inibidores
MEK há uma diminuição do aparecimento de lesões cutâneas hiperproliferativas (associadas
à utilização em monoterapia dos iBRAF e dependentes das mutações e ativação NRAS).
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O aumento significativo na
Sobrevivência global
estabeleceu
que a combinação era o
tratamento Standard para o
melanoma avançado com
mutação BRAF V600.
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Rash
Fotossensibilidade
Lesões cutâneas hiperproliferativas como: Papilomas, foliculites, queratoacantomas,
CEC.
Artralgias
Fadiga
Náuseas
Aumento das transaminases hepáticas (obrigando durante o tratamento à sua
monitorização)
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Com a utilização de iBRAF + iMEK houve diminuição da toxicidade cutânea, mas existem outras
reações adversas associadas aos iMEK, como: retinopatia serosa (obrigando a uma vigilância
oftalmológica); diminuição da Fracção de ejecção ventricular (obrigando à realização de
ecocardiograma antes de iniciar o tratamento e posterior vigilância com ecocardiograma).
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Imunoterapia
As células tumorais são estranhas para o SI e têm à sua superfície Ag tumorais, que são
reconhecidos e processados pelas células apresentadoras de Ag (células dendríticas). As células
dendríticas têm a capacidade de expressar à sua superfície estes Ag estranhos (tumorais)
através do MHC. A nível dos gânglios linfáticos vão apresentar estes Ag estranhos aos linfócitos
T, ligando-se ao recetor TCR e com a co-ativação B7, CD28. Desta forma os linfócitos T são
ativados, vão proliferar e migrar. No ambiente tumoral são capazes de reconhecer estes
mesmos Ag à superfícies das células tumorais como estranhos, ligam-se a essas células
tumorais e destroem-nas.
O melanoma é um tumor
imunogénico que raramente sofre
regressão espontânea. A utilização
de imunoterapia (com IL-2, INF)
para o tratamento de melanoma já
tem algum tempo. No entanto, com
o conhecimento mais aprofundado
como se processa o
reconhecimento imunológico dos
tumores foi possível desenvolver
novas estratégias terapêuticas
como é o caso dos Immune
checkpoint inhibitors.
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A ligação do B7 ao CTLA-4 produz sinais inibitórios para controlar uma proliferação excessiva
de células T e fenómenos de autoimunidade.
Os Acs anti-CTLA-4 atuam na primeira fase (fase priming), ligando-se ao CTLA-4 evitando os
sinais inibitórios, desta forma permitindo a proliferação das células T.
A nível do ambiente tumoral, quando as células T estão expostas muito tempo aos Ag tumorais
começa a haver uma sobre-expressão da proteína PD1 (recetor inibitório para a sua atuação)
que se liga a recetores PDL1 e PDL2 (presentes nas células tumorais). A interação entre o PD1
e os seus ligandos PDL1 e PDL2 ocorre na fase efetora nos tecidos periféricos. O bloqueio desta
interação (entre PD1 e seus ligandos) através de Acs (Anti-PD1) favorece a resposta específica
anti-tumoral.
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convencional:
Resposta após um aumento inicial do volume tumoral (pseudo progressão que tem a ver
com a resposta imunológica e a infiltração linfocitária).
Resposta das lesões alvo com novas lesões, que acabam por desaparecer.
O importante a reter é que as respostas à imunoterapia são tardias e não imediatas como nas
terapêuticas alvo e QT clássicas.
Reações adversas
As reações adversas são sobretudo efeitos imuno-relacionados (grau 3 ou 4 em cerca de 10-
15% dos doentes). Estes efeitos podem ser graves e estar associados a mortes tóxicas, pelo que
exigem uma grande monitorização.
Efeitos adversos:
Foi estudada a associação do Ipilimumab com QT (neste caso a Dacarbazina), mas a toxicidade,
sobretudo hepática foi muito alta. Os efeitos adversos grau 3- 4 ocorreram em cerca de 56,3%
dos doentes que receberam o tratamento de combinação. Tendo em conta a toxicidade esta
abordagem terapêutica de associação anti-CTLA-4 e QT foi abandonada.
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Ipilimumab- conclusões:
Aprovado para o tratamento do melanoma avançado em 2011.
Impacto estatisticamente significativo na sobrevivência global em dois ensaios clínicos
randomizados.
Benefício apenas num pequeno subgrupo de doentes (10-15%), mas com respostas de
longa duração, como mostram as caudas das curvas de sobrevivência.
Toxicidade inflamatória e imunológica clinicamente significativa em aproximadamente 15-
20% dos doentes (toxicidade grave grau 3-4);
As respostas não são imediatas, geralmente levam 1-4 meses a surgirem.
Taxas de
resposta de 34%,
com
sobrevivência de
69% dos doentes
aos 12 meses.
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A sobrevivência livre de progressão aos 6 meses foi de 26,5% para o ipilimumab e de 46,4 % e
de 47,3% para o Pembrolizumab. A sobrevivência livre de progressão mediana foi também
superior para os braços do Pembrolizumab, com uma redução do risco de progressão de 42%.
A taxa de resposta para o ipilimumab foi de 12% e para o Pembrolizumab foi de 33%. A taxa de
sobrevivência aos 12 meses foi de 74,1% e 68,4% para os doentes tratados com Pembrolizumab
e 58,2% para o ipilimumab.
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O estudo foi interrompido precocemente pelo benefício observado nos doentes tratados com
Pembrolizumab. Este benefício foi homogéneo para todos os subgrupos de doentes. Observou-
se uma menor toxicidade no tratamento com Pembrolizumab.
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Os eventos adversos de grau 3-4 ocorreram em 16,3% dos doentes tratados com Nivolumab,
55% no regime de combinação e 27,3% no Ipilimumab.
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- Quando se considera a terapêutica alvo em doentes BRAF mutados, devem ser usados em
combinação Inibidores BRAF com inibidores MEK.
- Em doentes com mutação BRAF, atualmente não há dados, para saber se a terapêutica alvo
deve ser dada antes ou depois da imunoterapia, estão em curso diversos ensaios clínicos para
responder a esta pergunta. Estão também em curso ensaios a testar a utilização de terapêutica
alvo com imunoterapia, aguardam-se ansiosamente estes ensaios.
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Neoplasia em Pediatria
I. Epidemiologia
O cancro é raro na idade pediátrica, mas é a principal causa
de morte, não acidental, após o primeiro ano de vida.
O seu diagnóstico tem um enorme impacto familiar e social.
De facto, se esta doença é temida em qualquer idade, ela é
encarada nesta faixa etária de forma ainda mais dramática,
pelo potencial de vida naturalmente esperado, sendo uma
frequente causa de desestruturação familiar e perturbação
na atividade profissional dos pais.
É fundamental ter a noção da marcada evolução no
tratamento da doença oncológica infantil.
Na capa deste artigo publicado em 1955, que se dedicava aos aspetos psicológicos da leucemia aguda
na criança, referiam-se a esta como uma doença que era sempre fatal.
Em 1978, foi feita uma resenha de doentes, na qual podemos ver que havia 25% de doentes vivos com
leucemia infantil.
• No 1º ano de vida temos um predomínio de tumores embrionários. Estes são casos muito
preocupantes, a sua incidência está a aumentar e, regra geral, o seu prognóstico é pior.
• Entre 1 e 4 anos temos um predomínio de leucemias (sobretudo leucemia linfoblástica aguda).
Verifica-se um 1º pico de incidência de leucemia entre os 2 e 4 anos, já existente há algum
tempo em Portugal, mas que antigamente só se verificava nas sociedades desenvolvidas –
isto significa que estamos suficientemente desenvolvidos para termos leucemia nas crianças
entre os 2 e os 4 anos (ainda que esta seja uma forma um pouco perversa de ver as coisas, é
um facto). Nesta faixa etária, são também frequentes os tumores do SNC e os linfomas.
• Nas crianças mais velhas, sobretudo nos adolescentes, são mais frequentes os
osteossarcomas, tumores de células germinativas, linfoma de Hodgkin e tumores epiteliais.
2
Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
A taxa de sobrevivência global (SG) aos 5 anos para a totalidade dos cancros pediátricos é de
aproximadamente 75-80%. Para esta percentagem contribuem taxas de sobrevivência muito
diferentes nos vários tipos de tumores pediátricos. Assim, as neoplasias com melhores taxas de
SG são:
- Os tumores de células germinativas e os tumores hepáticos (com SG de aproximadamente
100%)
- Os linfomas (96%), embora com algumas variações conforme os seus subtipos
- Leucemias no seu conjunto (78%). De entre estas a LLA é a que tem prognóstico mais
favorável, com taxa de SG de 82%, que desce na LMA para 65%.
Nos tumores do SNC a SG é de 69%, sendo mais elevada nos astrocitomas e mais baixa nos
ependimomas.
No neuroblastoma, o tumor sólido mais frequente na criança (logo após os tumores do SNC),
obteve-se uma SG de 73%. É de salientar que é completamente diferente o prognóstico, conforme
a doença ocorre antes ou depois do primeiro ano de vida, sendo a SG nos lactentes próxima dos
100% e tornando-se muito baixa nos mais velhos.
Nos sarcomas das partes moles a SG é de aproximadamente 76%.
3
Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
II. Etiopatogenia
As neoplasias pediátricas têm uma etiologia muito distinta da dos adultos.
No adulto, tipicamente resultam de uso: o DNA não tem mais capacidade de reparar as suas lesões
ou défices. Surgem predominantemente neoplasias de órgão sólidos havendo uma predominante
afeção das células epiteliais e este aparecimento está frequentemente associado a exposição a
determinados fatores ambientais (ex: tabaco, álcool).
Por outro lado, nas crianças as principais células que estão envolvidas em neoplasias são as
sanguíneas ou os tecidos de sustentação não havendo, até ao momento, evidências científicas que
permitam estabelecer uma clara associação entre fatores ambientais e o surgimento destas
neoplasias.
Embora na criança não haja uma relação tão direta, alguns vírus também podem estar na génese de
neoplasias, nomeadamente em linfomas (EBV) e no carcinoma hepatocelular (vírus da hepatite B).
• mutação no gene supressor tumoral RB1 ou amplificação do oncogene MYCN podem estar na
origem do Retinoblastoma - sobretudo relacionado com o retinoblastoma não hereditário, conferindo
um carácter unilateral, mais agressivo e de início precoce à neoplasia.
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Existem ainda síndromes que conferem uma maior probabilidade de desenvolvimento de neoplasias
em idade pediátrica, nomeadamente: Síndrome Down, Síndrome de Bloom (patologia autossómica
recessiva em que há mutação do gene BLM que confere uma grande instabilidade genómica e uma
deficiente capacidade de reparação do DNA), Anemia de Fanconi (resulta de um defeito genético que
conduz a alterações nas proteínas responsáveis pela reparação do DNA – afecta, sobretudo, as células
sanguíneas podendo estar relacionada com o aparecimento de leucemias mielóides agudas e
síndromes mielodisplásicos - além de anemia e trombocitopénia).
O “olhar em sol poente” caracteriza-se por uma paralisia do olhar para cima
havendo, portanto, um desvio do olhar para baixo. Isto ocorre devido a
compressão das estruturas intracraninas suprajacentes ou por aumento da PIC
(como ocorre nos tumores da loca posterior, que impedem a circulação do líquor).
No entanto, este sinal é raro, visto que estas neoplasias surgem mais comumente
nos lactentes não havendo ainda encerramento das fontanelas o que impede que
haja um aumento da PIC tão acentuado.
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
No fundo, ter noção da existência das entidades é aquilo que nos pode encaminhar para tranquilamente
chegar a um diagnóstico.
Leucopénia/hiperleucocitose, anemia, trombocitopénia - alterações no hemograma que é feito
numa criança numa situação de perigo, por suspeita de uma anemia ou por ter umas pernas como
vimos no início podem indiciar patologia hemato-oncológica.
Hematúria ou HTA - apesar de ser rara a deteção de HTA na infância, pois a TA não é por norma
medida nesta faixa etária, estas alterações são observáveis em certos quadros neoplásicos,
sobretudo, nos tumores renais. O maior número de diagnósticos de tumores renais é feito pelos pais
no banho, porque geralmente estes não doem, os tumores intra-abdominais são mais tardios a dar
sintomas, uma vez que não crescem contra uma estrutura sólida, e por vezes só se nota ao passar
a mão.
Dores ósseas, “artrite” - causadas por distensão do periósteo; ocorre nas leucemias e nos
tumores/ metástases ósseas. Muito inespecíficos, evidenciadas sobretudo nos miúdos mais velhos.
Internámos nesta semana um adolescente de 15 anos com um quadro de dor lombar, parestesias
e impotência funcional dos membros inferiores – situação muito pouco frequente para uma massa
paravertebral (mas que é frequente em leucemias, devido a invasão medular).
Incontinência de novo (obviamente, numa criança que já tinha continência de esfíncteres).
Dores abdominais que aparentemente não têm razão de ser e que persistem.
Obstipação
Linfadenopatias ou organomegálias.
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
O estudo genético também deve ser efetuado em alguns casos particulares podendo ser utilizadas
diversas técnicas, nomeadamente: análise citogenética que permite o estudo do cariótopo (técnica
convencional) ou então técnicas de biologia molecular (ex: FISH, RT-PCR, micro-arrays…).
V. Fatores de Prognóstico
Os fatores de prognóstico são algo muito diferente na criança e no adulto. Existem alguns fatores que
podem condicionar uma melhor ou pior resposta da doença à terapêutica ou condicionar a própria
evolução da patologia, por exemplo:
Idade – ex: uma leucemia aguda tem um prognóstico muito pior se for abaixo dos 12 meses. O
neuroblastoma tem um prognóstico de muito maior gravidade se for acima dos 18 meses (a
resposta é geralmente pior). O grupo etário é fundamental para definição do prognóstico da
doença!
Doença:
Tipo celular – ex: nos rabdomiossarcomas o subtipo histológico alveolar confere pior
prognóstico que o embrionário. LLA x LMA.
Presença de alterações genéticas/ moleculares – a presença de determinadas alterações pode
conferir um carácter:
o desfavorável (ex: presença da t(9;22), rearranjos envolvendo o gene MLL na LLA,
amplificação do proto-oncogene N-myc no neuroblastoma)
o favorável (ex: a presença do gene de fusão TEL- AML1 na LLA [há algumas dúvidas
quanto a esta associação], aneuploidia no neuroblastoma)
Volume tumoral- nos tumores sólidos.
Localização tumoral - ex: um tumor que condicione disfagia tem um pior prognóstico.
Presença de metástases
Resposta à quimioterapia de indução ou neoadjuvante
Há também uma outra diferença de abordagem nas crianças e adultos (ainda que se esteja a verificar
uma alteração do paradigma nos adultos): muito raramente se opera um tumor sólido primeiro que
tudo, a não ser em situações muito bem definidas. Na maior parte das vezes, faz-se primeiro
quimioterapia redutora e cirurgia posterior. Isto permite, por um lado, testar a resposta da doença
à terapêutica sistémica, e, simultaneamente, possibilita a realização de uma cirurgia menos agressiva.
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Toda a evolução da oncologia tem sido feita no sentido de um diagnóstico preciso e é aqui que entram
a biologia molecular, a citogenética… é aqui que entra o diagnóstico mais preciso possível da doença,
de forma a estabelecer planos terapêuticos. Uma correta abordagem inicial em que seja possível
estabelecer especificamente qual a doença permite estratificar o risco desta e, deste modo, delinear
um plano terapêutico mais preciso.
O facto de o plano terapêutico ser definido de acordo com o risco de doença é ainda mais relevante
nas crianças que nos adultos, pelo tempo que se espera que as crianças sobrevivam à sua doença. O
organismo da criança é “virgem” / “não tem cadastro” (o coração está bom, o rim está bom, etc.), pelo
que “é mais difícil matar uma criança do que um adulto” ao fazermos terapêutica, pois estas têm uma
elasticidade funcional muito maior. No entanto, em termos de secundarismo a longo prazo não é bem
assim. Se pensarmos, por exemplo, as antraciclinas têm de ser dadas só e apenas quando é mesmo
preciso - temos de fazer um grande esforço para não as dar devido à sua toxicidade cardíaca, para
não comprometer o futuro de uma criança com muitos anos de vida pela frente (que queremos que
sejam vividos com qualidade e com boa função global).
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
VII. Leucemia
É a neoplasia maligna mais frequente na infância e compreende 25% dos cancros diagnosticados em
crianças com idade inferior a 15 anos. Na infância, 80% a 85% dos casos correspondem a leucemia
linfoblástica aguda (LLA) e 15% a 20% são do tipo mielóide aguda (LMA). As leucemias crónicas são
raras nesta faixa etária.
Infiltração extramedular
Hepato/esplenomegália;
Adenomegálias;
Infiltração SNC – ex: assimetria neurológica, pode levar a parésia de pares craneanos – ex: criança
que fica estrábica de repente;
Infiltração testicular - aumento do volume de um dos testículos (diagnóstico diferencial com tumor
do testículo). É uma manifestação rara na leucemia que se observa, sobretudo, nos adolescentes
com diagnóstico tardio de leucemia. É muito importante despir os doentes, até porque muitas vezes
este tipo de alterações é escondido por parte dos doentes! Ao despirmos uma criança ou
adolescente, podemos extrair informações que de outra forma nunca conseguiríamos obter, mesmo
que isso implique desconforto; Infiltração cutânea
Alargamento do mediastino (ver como a criança respira, a simetria dos arcos costais, se faz tiragem
num local específico, se há alguma posição preferencial).
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Alargamento Mesmo
do doente ao
mediastino 7º dia de
com derrame terapêutica
pleural com QT
A reter:
-Massas torácicas não correspondem necessariamente a tumores do mediastino!
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Neoplasia de células B maduras muito agressiva que afeta principalmente a faixa etária pediátrica.
Existem duas formas de linfoma de Burkitt (LB):
-Forma endémica, associada em 95% dos casos a infeção pelo vírus Epstein Barr (frequente em
África). Atinge fundamentalmente a mandíbula, abdómen, órbita e sistema nervoso central
-Forma esporádica (mais frequente em Portugal). Atinge o abdómen, medula óssea e membranas
serosas.
Todas as formas de LB são de linhagem B e estão associadas em 80% dos casos à translocação
t(8,14) podendo, no entanto, existirem outras translocações como: t(2,8) e t(8,22).
Estão associados a uma grande variabilidade de apresentação clínica. A maior parte deste tipo de
linfoma apresenta-se como um tumor abdominal, sendo a dor abdominal, alterações do trânsito
intestinal e vómitos, sintomas comuns. A presença de uma massa na fossa ilíaca direita ocorre em
25% dos casos. O envolvimento de estruturas retroperitoneais, incluindo os rins e o pâncreas é
frequente ao contrário do envolvimento hepático e esplénico. Muitas vezes também se observa a
presença de derrame pleural e ascite.
Este tipo de tumores caracteriza-se por uma taxa de crescimento muito elevada e por esse motivo
estão associados, quase sempre à síndrome de lise tumoral.
A duração do tratamento com quimioterapia pode variar de 2 a 6 meses consoante o grupo de risco
sendo a sobrevivência livre de doença de aproximadamente 90% caso não exista envolvimento do
SNC. É também importante considerar que as recaídas ocorrem quase exclusivamente nos 2 anos
após tratamento sendo raras após este período. Em suma, doentes com linfoma de Burkitt, ou não
respondem à terapêutica e recaem precocemente e acabam por morrer, ou ficam curados (>90%)
e não recaem mais.
TC de abdómen de um Burkitt de um
doente dos PALOP, que chegou em
estádio muito avançado de doença,
onde se observam inúmeras massas,
sendo algumas objetiváveis ao exame
objetivo, nomeadamente as cervicais
(como é possível ver na imagem
esquerda).
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
X. Tumores sólidos
Exceto em situações escassas, as crianças não têm carcinomas/tumores de órgão, mas sim de tecidos.
Assim sendo, apresentam maioritariamente sarcomas do mesênquima embrionário, os quais têm
origem nos tecidos moles do organismo (tecido conjuntivo, linfáticos, vasos, músculos liso e estriado,
gordura, fáscia muscular, tecido sinovial, endotélio e reticuloendotélio). Estes são mais sensíveis à
quimioterapia e à radioterapia e podem surgir em qualquer parte do organismo.
Rabdomiossarcoma
A maioria dos sarcomas (50%) tem origem nos músculos estriados - Rabdomiossarcomas. São raros,
responsáveis por aproximadamente 6% de todos os cancros da criança (15% dos tumores sólidos),
e 2/3 ocorrem em idades inferiores aos 6 anos, havendo também um pico na adolescência.
Localizam-se frequentemente na cabeça e pescoço, aparelho genito-urinário, extremidades, tronco
e retroperitoneu. Os da cabeça e pescoço e os do aparelho genito-urinário são os mais comuns em
crianças com menos de 8 anos de idade e os das extremidades mais comuns nos adolescentes.
Geralmente o diagnóstico é feito após biópsia cirúrgica do tumor. É importante a classificação
genética, pois o comportamento mais ou menos agressivo condiciona o tratamento.
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Hepatoblastoma
Há cerca de 20 anos esta doença matava todas as crianças, mas que
atualmente, salvo se implicar grande manipulação de vasos hepáticos, tem
resultados cirúrgicos fantásticos – os doentes estão praticamente todos
vivos e sem necessidade de terapêutica!
Normalmente ocorrem dentro das gónadas (ovários ou testículos), mas também podem aparecer
fora das gônadas (extragonadais ou ectópicos), fora das gónadas
podem ser malformação durante o desenvolvimento do embrião.
Podem ser classificados como:
• Germinomas: Malignos, afetam adultos. o Seminoma testicular:
secreta Fosfatase alcalina placentária o Disgerminoma ovárico:
pode secretar HCG
• Não-germinomas:
o Coriocarcinoma: Maligno, afeta jovens adultos, secreta βHCG o Tumor de saco vitelino:
Maligno, afeta bebês, secreta α- fetoproteína (AFP); o Teratoma pode ser
benigno (maduro) ou maligno (imaturo). Pode afetar bebés ou jovem adultos. Teratomas
puros não secretam marcadores. o Carcinoma embrionário: Maligno, afeta jovens adultos,
pode secretar HCG-beta ou/e AFP;
• Misto: mais de uma origem, o mais comum é o Teratocarcinoma (teratoma+carcinoma
embrionário)
• Quisto epidermoide: benigno formado a partir de ectoderme
• Quisto dermoide: benigno
• Struma ovarii
As localizações mais frequentes são: Testículos, Ovários, Retroperitoneu, Cóccix, Glândula pineal
Em neonatos, lactentes e crianças menores de 4 anos, a maioria dos tumores de células
germinativas são teratomas sacrococcígeos (como é o caso da imagem).
Nota: não fazemos diagnóstico diferencial pela localização do tumor! Um tumor abdominal pode ter
várias origens.
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Em Portugal, é a 4o neoplasia pediátrica mais frequente (depois das leucemias, tumores do SNC e
linfomas). O neuroblastoma pode originar-se a partir de qualquer tecido do sistema nervoso
simpático do organismo, sendo que os locais mais acometidos são os intra-abdominais. A glândula
suprarrenal é o local primário em 38% dos casos. Comumente as crianças são levadas ao pediatra
devido ao aumento da circunferência ou massa abdominal. Os tumores paravertebrais geralmente
levam a sintomatologia referente ao SNC (nomeadamente por compressão medular). Os doentes
com metástases hematogénicas podem queixar-se de dor óssea ou apresentar edema periorbitário
e equimoses. Por vezes, os tumores intra-abdominais envolvem os grandes vasos, tornando-se
irressecáveis.
Quadros Neurológicos
Neste ponto, chamo atenção para as crianças pequenas e adolescentes. Queixas álgicas e de
impotência funcional, sobretudo se de instalação súbita! Por exemplo, uma criança que está a fazer
birra e não põe os pés no chão, pode não o estar a fazer porque não consegue. Um outro exemplo são
dores nas costas num adolescente associado a impotência funcional pode ser uma manifestação de
um sarcoma de Ewing (e não nos devemos cingir simplesmente à hipótese de peso excessivo da
mochila da escola).
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Possível neuroblastoma
Sarcoma de condicionando quadro
Ewing álgico brutal com
paravertebral impotência funcional dos
MI, criança que já
andava e deixou de
andar
O seu tratamento rege-se pelos mesmos princípios: diagnóstico biológico, estadiamento, terapêutica
de acordo com o risco (QT, RT, Cirurgia…). Muitos Sarcomas de Ewing possuem características que
tornam a sua cirurgia difícil.
Osteossarcoma
É um tumor primário dos ossos raro (no IPO surgem apenas 3-4 casos/ano) sendo extremamente
infrequente antes dos cinco anos de idade ocorrendo o pico de incidência na segunda década de
vida. (apesar de atualmente se observar osteossarcomas em crianças cada vez mais pequenas).
A imagem de baixo é de uma criança dos PALOP, e mostra a evolução natural da doença, se for
deixada sem terapêutica.
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Retinoblastoma
É o tumor oftalmológico maligno mais comum na população pediátrica.
A sobrevida excede 90%, sendo, assim, uma das neoplasias da infância
com a maior taxa de cura. Aproximadamente 75% dos casos são
unilaterais sendo estes casos, usualmente, diagnosticados antes dos 2
anos. Nos pacientes com comprometimento bilateral, geralmente o
diagnóstico é realizado antes dos 12 meses de idade.
A maioria dos casos são esporádicos (mais unilaterais), no entanto,
alguns são hereditários (mais bilaterais), seguindo um padrão de
penetrância alto, como um traço autossómico dominante. Assim, os pais
e irmãos dos pacientes com retinoblastoma devem ser submetidos a um
exame oftalmológico cuidadoso, uma vez que a doença pode sofrer
regressão espontânea, deixando alterações características na retina.
Além disso, o estudo genético da família é crucial nesta patologia!
Geralmente as crianças são levadas ao pediatra devido a leucocória,
estrabismo, eritema conjuntival ou diminuição da acuidade visual.
O exame físico revela um reflexo pupilar esbranquiçado e o
oftalmoscópico pode demonstrar tumores que se localizam próximo à
mácula. A necrose de tumores localizados na retina ou a presença de
glaucoma podem levar ao surgimento de uveíte, com dor e eritema
local.
O diagnóstico da doença baseia-se predominantemente numa história clínica
detalhada, incluindo a familiar.
O diagnóstico precoce é fundamental, pois permite manter a sobrevivência sem ser necessária a
remoção do globo ocular. Como vimos previamente a sobrevivência do retinoblastoma tem se mantido
ao longo dos anos mas atualmente a sobrevivência não é assegurada por se tirar o globo ocular, mas
sim por outras terapêuticas.
Associado a isto, surge ainda a importância do aconselhamento genético, que é fundamental!
XI. Histiocitose
Trata-se de uma doença clonal. Há quem diga que não é oncológica, pois nem sempre se comporta
como tal. Pode aparecer um rash generalizado.
Para quem não lida com elas frequentemente, é sobretudo importante pensar nelas nestas situações:
• otites de repetição com eczema à volta das orelhas
• crianças pequenas com diabetes insipida
XII. Tratamento
Temos muitas formas de tratamento em pediatria. Esta é uma delas:
anestesia com “sulfato de peúga”. O relaxamento e alguma
brincadeira conseguem fazer milagres. Em pediatria, é obrigatório
deixarmos os doentes serem crianças em simultâneo com a sua
doença.
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Melhoria da Sobrevivência
Temos suporte escrito com os tempos da doença. Distribuímos este livro a todas as
famílias e tentamos integrá-las/enquadrá-las na doença, no serviço, nos procedimentos…
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Doente com Cancro Neoplasia em Pediatria
Este manual explica às famílias como tratar dos doentes em fase final de vida. Esclarece
como é que se dá alimentos a doentes com dificuldades de deglutição, como é que se
muda uma cama, como é que se lida com uma hemorragia ou uma convulsão, como é
que se lida com uma dificuldade respiratória.
Esta é uma versão “profissional” para informa outros médicos que tenham de lidar com
estes doentes.
Além disso, no IPO foi criada uma consulta especificamente dedicada aos “sobreviventes ao cancro” –
5 anos após terminada a terapêutica - intitulada de consulta dos DUROS (Doentes que Ultrapassam a
Realidade Oncológica com Sucesso) que elabora um plano individualizado consoante os riscos de
secundarismos e que tem como principais objetivos:
3) O que é a leucocória?
- Pupila branca – reflexo anormal que se observa ao se direcionar um foco luminoso para os olhos,
podendo ser visível a olho nu ou através de fundoscopia.
- Two-hits hypothesis: proposta por Nordling e mais tarde formulada por Knudson (daí se poder
designar por “Hipótese de Knudson”), defende que uma neoplasia é resultado de mutações
acumuladas no DNA de uma célula. O retinoblastoma hereditário ocorre numa idade mais jovem, além
de ser geralmente bilateral em crianças, o que sugere uma predisposição genética: a primeira mutação
é herdada no DNA e que com a existência de uma segunda mutação rapidamente se gera uma
neoplasia. Por outro lado, no retinoblastoma esporádico é necessário ocorrerem 2 “hits” antes de haver
desenvolvimento tumoral, o que explica que este surja numa idade mais tardia.
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DCC Urgências em Oncologia
URGÊNCIAS EM ONCOLOGIA
Resumo
• Emergências Metabólicas
o Hipercalcémia
o Síndrome de lise tumoral
o SIADH
• Emergências Cardiovasculares
o Tamponamento pericárdico
o Síndrome da veia cava superior
• Emergências Neurológicas
o Síndrome de compressão medular
o Metástases cerebrais
• Complicações Quimioterapia
o Neutropénia febril
o Extravasão
• Emergências Hematológicas
o Síndrome de hiperviscosidade
o Hiperleucocitose e leucoestase
• Emergências Urológicas
o Cistite hemorrágica
o Cistite rádica
Emergências Metabólicas
Hipercalcémia
Definição e Fisiopatologia
• Síndrome paraneoplásico mais frequente (10-30% dos doentes)
• Pode aparecer como forma de apresentação ou num doente com o diagnóstico
estabelecido
• Neoplasia mais comuns: mama, pulmão ou mieloma múltiplo
• Mau prognóstico
• Mecanismos:
o Metástases osteolíticas (20%)
§ Neoplasias acima referidas
§ TNF, IL-1, IL-6, proteína inflamatória do macrófago
§ Produção e atividade osteoclástica
o Sobreprodução tumoral de calcitriol
§ Linfomas Hodgkin e Não Hodgkin
§ Aumento da reabsorção óssea e absorção intestinal de cálcio
o Hipercalcémia tumoral (80%)
§ Tumores sólidos (88%) e hematológicos (33%)
§ PTHrP -> aumento da reabsorção óssea e reabsorção renal de Ca e
inibição do transporte renal de fósforo
§ Doença avançada e mau prognóstico
Clínica e Diagnóstico
Definições
Avaliação
• Doseamento do cálcio sérico ionizado que deve ser corrigido para o valor de albumina:
Cálcio corrigido = cálcio total medido + [0,8 x (4 – albumina)]
• Função renal: creatinina, eletrólitos e fosfatase alcalina
• PTH: exclusão de hiperparatiroidismo primário e normalmente diminuida na
hipercalcémia maligna
• PTHrP: não é necessário para o diagnóstico mas é um indicador de prognóstico
o Marcador tumoral útil para avaliar resposta ao tratamento
o Preditivo de resposta ao tratamento com bifosfonatos
o PTHrP >12 pmol/L -> menor resposta à terapêutica e maior risco de recidiva
dentro de 14 dias de terapêutica
Terapêutica
• Hidratação IV – terapêutica inicial tendo em conta as comorbilidades (IR ou IC)
• Bifosfonatos:
o Pamidronato – mais utilizado em contexto de urgência
o Ác. zoledrónico – mais utilizado em ambulatório
• Prednisolona
• Diálise – casos raros
Objetivos:
• Diminuição da concentração do cálcio sérico e tratamento da doença subjacente
• Inibição da reabsorção óssea, aumento da excreção renal ou diminuição da absorção
intestinal
Emergências Cardiovasculares
Tamponamento Cardíaco (não foi falado mas deixo a informação dos slides)
Definição
• Acumulação de líquido pericárdico com instabilidade hemodinâmica
Fisiopatologia
• Nos doentes oncológicos deve-se a 2 mecanismos:
o Obstrução à drenagem linfática
o Excesso de secreção de fluidos por nódulos de carcinomatose pericárdica
Etiologia
• Extensão direta (mama, pulmão, linfoma)
• Metástases epicárdicas (mama, pulmão, melanoma)
• Neoplasias primárias (mesotelioma)
• Irradiação torácica (aguda ou crónica)
• Causas não malignas: hipotiroidismo, urémia, infeção, DAI, fármacos e radiação*
* A pericardite induzida pela RT pode ser aguda (que ocorre alguns meses após a RT e
geralmente resolve espontaneamente) ou crónica (podendo surgir até 20 anos após tratamento,
sendo acompanhada por espessamento pericárdico, requerendo intervenção cirúrgica).
Clínica
• Dispneia
• Dor torácica
• Ortopneia
• Fadiga
• Taquicárdia
• Distensão jugular
• Tons cardíacos hipofonéticos Tríade de Beck
• Hipotensão
• Edema
Diagnóstico e Terapêutica
• Ecocardiograma:
o Útil no diagnóstico e avaliação do impacte hemodinâmico e da presença ou não
de tamponamento
• Pericardiocentese:
o Permite o alívio de sintomas e confirmação citológica da invasão neoplásica
o Permite a introdução de agentes esclerosantes (bleomicina, tetraciclinas)
• Tamponamento agudo com instabilidade hemodinâmica requer drenagem
imediata e as outras abordagens impedem a recorrência do derrame pericárdico
• No entanto, um estudo verificou que apenas o controlo sistémico da neoplasia de base
teria impacto significativo na sobrevida
• Antes de uma abordagem eletiva invasiva, os riscos devem ser pesados com a
esperança de vida e o que se espera de tratamento eficaz
Definição
• Obstrução mecânica ao retorno venoso através da veia cava superior
Etiologia
• Benigna (5-15%) • Maligna (85-95%)
o Bócio mergulhante o Neoplasia do pulmão (80%)
o Quisto dermoide § CNPC (50%)
o Teratoma benigno § CPC (25%)
o Sarcoidose o Timoma ou mesotelioma
o Silicose o Linfoma (10%)
o Tuberculose o Metástase mama e testículo
o Histoplasmose (10%)
o Actinomicose
o Infeção piogénica
o Sífilis
o Trombose VC
o Cateter
o RT
Fisiopatologia
• VCS é o vaso que permite o retorno da circulação do crânio, pescoço e membros
superiores às cavidades direitas do coração, logo, qualquer obstrução completa ou
parcial conduz a acumulação de sangue a montante
• Como consequência há compromisso da drenagem venosa, o que leva ao aumento da
pressão intravenosa e da circulação colateral através do sistema ázigos
• Desta forma surgem colaterais venosos (vias alternativas para retorno venoso)
Clínica
• Apesar de ainda ser considerado classicamente como uma emergência oncológica,
raramente constitui uma situação “life-threatening”
• Pode ser insidiosa ou abrupta (tumores de crescimento rápido, trombose)
• A obstrução súbita é uma emergência real que induz aumento rápido da pressão
intracraniana levando a edema cerebral
• Na maioria das vezes, desenvolve-se de forma insidiosa durante algumas semanas, o
que permite o desenvolvimento de mecanismos de compensação
• A rapidez com que a clínica é objetivada depende da existência de colaterais e da
tolerância do doente a esta obstrução
• A gravidade dos sintomas relaciona-se com o grau de obstrução e a velocidade de
instalação (formação de vasos colaterais)
• Sinais típicos: distensão venosa no pescoço e parede torácica, edema facial, plétora,
proptose, estridor e edema dos membros superiores
• Sinal botermann: aumento cianose, edema facial e congestão cefálica ao levantar os
membros superiores acima da cabeça
Diagnóstico
Diagnóstico Histológico
• É importante associar aos exames imagiológicos o diagnóstico histológico por 60% dos
SVCS não têm diagnóstico prévio de tumor
• Este permite a escolha de abordagem terapêutica adequada
• Exames:
o Citologia expetoração ou líquido pleural
o Biópsia de adenomegálias (diagnostica 2/3 casos)
o Broncoscopia, mediastinoscopia, toracoscopia ou toracotomia
Terapêutica
Objetivos:
• Alívio sintomático
• Tratamento da causa subjacente
o Tipo e extensão do tumor
o Prognóstico global (tipo histológico e terapêutica prévia)
Abordagem Inicial:
Algoritmo Terapêutico:
Medidas Gerais
• Oxigenoterapia
• Diuréticos
• Elevação da cabeceira
• Corticoterapia
Emergência
• Estridor ou alteração do estado de consciência
• Compressão da via aérea ou cardíaca
" Stent endovascular + RT
Emergências Neurológicas
Síndrome Compressão Medular
Definição
• Verdadeira emergência oncológica
• Consiste na dor e perda potencialmente irreversível da função neurológica
• Compromisso neurológico com alteração do estado funcional e qualidade de vida
• Geralmente os doentes têm agravamento do PS e redução da autonomia
• Ocorre em 5 a 10% dos doentes oncológicos
• Maioria (2/3) ocorre em neoplasias da mama (29%), pulmão (17%) e próstata (14%)
• Manifestação inicial do tumor em 20% dos casos
• Localização: coluna dorsal (60%), lombosagrada (30%) e cervical (10%)
• Mau prognóstico
Fisiopatologia
• Mecanismos:
o Metástases nos corpos vertebrais (85-90%) que erodem e ganham acesso ao
espaço epidural
o Massa paravertebral (neoplasia do pulmão, sarcoma e linfoma) (10%) acede ao
espaço epidural via corpos intervertebrais e embora não causem destruição
ósseas podem danificar a medula
o Metastização direta meníngea ou medular
Clínica
O risco de paraplégia irreversível é o que devemos evitar e em geral a janela entre o diagnóstico
e o início do tratamento deve ser 24-48h.
Tendo em conta que 80% dos SCM ocorrem em doentes com diagnóstico prévio e que o sintoma
mais comum é a dor, a sua presença é secundária a SCM até prova em contrário, visto que o
objetivo primordial é o estabelecimento de um disgnóstico antes de haver dano medular, porque
os défices neurológicos poderão não ser reversíveis com a terapêutica instituída. O prognóstico
irá depender largamente do estado neurológico do doente na altura do tratamento.
Diagnóstico
• RM (CDLS) – gold standard (sensibilidade 93% e especificidade 97%)
• TC – caso não seja possível realizar RM pois tem fraca avaliação do espaço epidural
• RX – apenas se doente com dor e sem mielopatia ou radiculopatia pois dá falsos
negativos em 10-17% dos doentes
Terapêutica Definitiva
• Escolha da terapêutica definitiva deverá ter por base fatores como instabilidade medular,
grau de compressão medular, radiosensibilidade, carga tumoral, esperança de vida e PS
• Cirurgia:
o Laminectomia com fixação:
§ Descompressão imediata
§ Fixação intra-operatória
o Indicações imediatas:
§ Tumor primário desconhecido
§ Grande instabilidade da coluna
§ Recidiva em área previamente irradiada
§ Neoplasia radiorresistente
§ Compromisso cervical alto
§ Tumores pediátricos com compressão severa
§ Diagnóstico incerto
• Radioterapia:
o Tratamento standard (30Gy/10fr/2 semanas)
o Eficácia modesta (70% dos doentes mantêm a marcha quando conservada no
início do tratamento e 10% recuperam a marcha)
o Múltiplos esquemas devido à heterogeneidade de doentes e histologias
Definição e Etiologia
• Complicação frequente e potencialmente fatal
• Ocorre em 10 a 30% de doentes oncológicos
• A metastização cerebral é a causa de HTIC
• Tumores mais frequentes: pulmão, mama e melanoma (metástases de melanoma e
de carcinoma de células renais têm risco superior de hemorragia)
• Via de disseminação hematogénea: hemisférios cerebrais (80%), cerebelo (15%) e
tronco cerebral (5%)
• Aumento da PIC:
o Efeito de massa
o Edema cerebral provocado por disrupção da BHE (intermédio da produção local
de VEGF)
Clínica
• 80% têm diagnóstico prévio de neoplasia
• Náuseas e vómitos
• Cefaleias (50%) – pouca melhoria com fármacos; cefaleia matinal pouco comum mas
altamente sugestiva; cefaleia noturna que impede doente de dormir; mais frequentes
quando múltiplas lesões; agravamento com mudanças posturais
• Défice neurológico focal (20-40%) – hemiparésia
• Défices cognitivos (30-35%) – alterações comportamento ou memória (encefalopatia
metabólica)
• Crises convulsivas (10-20%) – localização tumoral quase exclusivamente
supratentorial
• HTC – massa tumoral expansiva e edema > obstrução das vias de circulação do LC >
hidrocefalia > herniação > papiledema / rigidez da nuca / estupor / coma
Diagnóstico
• RMN com contraste – técnica de eleição e permite diferenciar tumor primário de
secundário
• TC – por vezes pedida primeiro pela maior disponibilidade e está indicada na suspeita
de hemorragia ou hidrocefalia
• Biópsia – diagnóstico duvidoso em lesão única
• Problemas:
o DD tumor cerebral primário, processo infecioso, enfarte/hemorragia cerebral
o Número e localização das lesões metastáticas
o 20% sem tumor primário conhecido
Algoritmo Terapêutico
• Elevação da cabeceira
• Corticoides (dexametasona): devem ser usados em todos os doentes com edema
cerebral sintomático e visam a redução do edema cerebral por diminuição da
permeabilidade capilar
• Manitol
Complicações Quimioterapia
Neutropénia Febril
Definição
• Neutropénia:
o < 500 neutrófilos/mcL
o < 1000 neutrófilos com previsão de descida para < 500/mcL nas 48h seguintes
• Febre:
o Temp. oral > 38.3ºC numa determinação única
o Temp. oral > 38ºC durante > 1 hora
Risco
A QT utilizada nos doentes oncológicos tem um risco relativamente baixo de NF, porém existem
terapêuticas em particular em que se deve considerar:
• Utilização de fatores de crescimento de forma profilática
• Vigilância assertiva nos dias a seguir à administração do fármaco
Diagnóstico
• História Clínica:
o Comorbilidades
o Última QT/RT
o Infeções prévias documentadas
o Antibioterapia recente (profilaxia ou tratamento)
o Medicação
o VIH
o Exposição: família, animais, viagens, TB, administração recente de sangue
• Exame Físico:
o Incluir:
§ Acessos IV
§ Pele
§ Pulmão
§ Perirretal/perivaginal
§ Sistema urológico
§ SNC
• Exames Complementares:
o Avaliação analítica – hemograma, plaquetas, função renal, eletrólitos,
enzimologia hepática
o RX tórax
o Exame sumário de urina
o Culturas:
§ Hemoculturas (SP e CVC)
§ Urocultura
§ Coproculturas – pesquisa de toxina Cl. Difficile
§ Exsudado cutâneo/aspirado
§ Cultura de vírus
Classificação MASCC
Classificação e Terapêutica
• Baixo Risco:
o Condições:
§ MASCC ³ 21
§ Sem comorbilidades agudas
§ Neutropénia expectável curta duração (<100 cels por <7d)
§ ECOG 0-1
§ Sem insuficiência renal ou hepática
o Necessário:
§ Não haja resultados críticos
§ Cuidador 24h/dia
§ Acesso fácil ao Serviço de Urgência (distância < 1h)
§ Via oral patente
§ Sem utilização de FQ como profilaxia prévia
§ Follow-up telefónico
o Ambulatório:
§ Ciprofloxacina + Amoxicilina-clavulanato
§ Clindamicina + Ciprofloxacina
• Alto Risco:
o Condições:
§ MASCC < 21
§ Comorbilidades significativas e descompensação
§ Neutropenia expectável prolongada (<100cels por >7d)
§ Insuficiência hepática (AST/ALT > 5xN)
§ Insuficiência renal (Cl Creat <30mL/min)
§ Pneumonia
§ Mucosite grau 3-4
§ Profilaxia prévia
o Internamento:
§ Imipenem/citastatin
§ Meropenen
§ Piperacilina-tazobactam
§ Cefepime
§ Ceftazidima
§ Vancomicina, fluconazol, anfotericina B, antivirais
§ Hemodinamicamente instável: b-lactâmico de largo espectro +
aminoglicosídeo + vancomicina ± antifúngico
NOTA: MASCC não considera a duração previsível da neutropenia e se > 7 dias é sempre de
alto risco.
Avaliação e Follow-Up
• Avaliação:
o Avaliação clínica diária
o Revisão diária resultados laboratoriais e culturas
o Avaliação da febre
o Avaliação da toxicidade
• Resposta clínica:
o ↓ Febre
o S&S estáveis ou melhoria
o Hemodinamicamente estável
o Abordagem:
§ Manter antibióticos até neutrófilos > 500-100
• Pele/tecidos moles: 7-14d
• Bacteriémia G+: 7-14d
• Bacteriémia G-: 10-14d
• Sinusite: 10-21d
• Pneumonia bact: 10-21d
• Fungos: > 2 semanas HC negativas
• HSV/HVZ: 7-10d
• Ausência de resposta clínica:
o Febre persistente
o S&S sem melhoria
o Hemodinamicamente instável
o Culturas persistentemente positivas
o Abordagem:
§ Aumentar espetro (incluir anaeróbios, G- resistentes, G+ resistentes)
§ Reavaliar os exames de imagem
§ Iniciar G-CSF (cat 2B)
§ Iniciar antifúngicos
1ª PARTE - DOR
Dor Oncológica
A definição da dor segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor é:
“Uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial
dos tecidos ou descrita em termos de tal dano.”.
A dor é, assim:
− Uma experiência multidimensional;
− Subjetiva, pois só o próprio indivíduo a pode sentir e reportar-nos a sua experiência.
É importante referir também que nem sempre é possível identificarmos lesão orgânica, apesar
do doente referir dor (como exemplo, temos a dor neuropática pós-herpética).
“Bem, Dr.ª, a dor começou nas costas, mas agora parece que toda eu estou mal”. Descreveu
vários sintomas, continuando: “O meu marido e filho foram fantásticos, mas estavam a trabalhar
e teriam que o deixar e perder dinheiro. Eu podia gritar pelos comprimidos e injeções embora
soubesse que não devia. Tudo parecia estar contra mim e ninguém me compreendia. Mas é tão
bom começar a sentir-me segura outra vez.”
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
A doente falou assim sobre a dor física, assim como sobre os componentes social e emocional
e a necessidade espiritual de voltar a sentir-se segura.
O conceito de dor total ajuda-nos a fazer uma avaliação global do doente, isto é: a maneira como
o doente percebe a sua dor físia é influenciada por outras dimensões da sua experiência,
problemas sociais, emocionais ou espirituais.
Exemplo 1: Está bem documentado que a dor física agrava a depressão e, da mesma forma,
num doente com depressão, a dor também é como que intensificada.
Exemplo 2: Uma doente com antecedentes de carcinoma da mama, em aparente remissão
clínica, e que inicia uma dorsalgia. O significado que esta doente atribui a esta dor será diferente
do que aquele que alguém sem estes antecedentes atribuiria e isso influenciará a sua
apresentação clínica e evolução.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
A dor é um problema comum nos doentes com cancro, estando presente em cerca de um terço
dos doentes aquando do diagnóstico e em sensivelmente metade dos doentes com cancros
potencialmente curáveis.
Na doença avançada a sua prevalência é maior. Num estudo em que coligiram dados de 27
estudos, a dor estava presente de 53 a 100% dos doentes, com uma média de 74%, variando
com o tipo de cancro. A dor é mais frequente nos cancros avançados de cabeça e pescoço,
colo do útero, canal anal, mieloma múltiplo, entre outros.
Para além disso, muitas vezes o doente reporta vários tipos de dor. Num estudo com 2266
doentes, 30% tinham apenas um tipo de dor, 39% tinham dois tipos distintos de dor e 31% três
ou mais tipos de dor.
Não esquecer que a dor pode também ter como etiologia a doença oncológica, mas também
pode ser provocada pelos tratamentos (e.g. a dor pós-toracotomia) ou por outra patologia
concomitante.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
Classificação da dor
A dor é classificada de acordo com o seu mecanismo de ação, tendo implicações quer na clínica
que apresenta quer na terapêutica que iremos implementar.
Existem assim dois grandes grupos a que juntamos um terceiro: Dor nociceptiva, dor
neuropática e dor mista.
A dor neuropática surge por destruição, infiltração ou compressão nervosa. É classificada como:
− Disestésica, caracterizada por ser constante, tipo ardor, associada a alodinia ou
hiperalgesia;
− Lancinante, em que surgem paroxismos de dor tipo choque ou facada.
A dor mista tem características clínicas de ambas as anteriores e na sua fisiopatologia possui
ambos os mecanismos.
A professora falou ainda de outro tipo de dor, a dor irruptiva. Esta define-se como uma
exacerbação de dor que pode surgir associada a um factor desencadeante (previsível ou não),
ou espontaneamente (sem factor desencadeante reconhecível), num contexto de dor basal
estável e controlada.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
Exemplo 1: Dor de uma metástase óssea localizada num fémur que surge quando o doente
caminha e faz carga sobre o membro.
Exemplo 2: Dor desencadeada quando se faz o penso de uma ferida maligna.
A sua importância deve-se ao facto de ser uma dor habitualmente de intensidade grande, de
curta duração e, devido às características enunciadas, de difícil controlo.
Avaliação da dor
Devemos fazer uma avaliação abrangente da dor, na qual devemos:
− Apurar a história da doença da pessoa;
− Caracterizar o melhor possível as características da dor, para podermos inferir o que a
está a causar e de que tipo de dor se trata, para podermos adequar a terapêutica o
melhor possível;
− Perceber se existem fatores de mau prognóstico (e.g. características neuropáticas ou
fenómenos de dor irruptiva associados, história de toxicodependência ou estados
confusionais).
É necessário também reavaliar para se perceber a eficácia do tratamento ou se surgiram efeitos
secundários, e irmos adequando a medicação conforme os resultados que se vão obtendo.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
A intensidade da dor terá um papel determinante na escolha dos fármacos para o tratamento da
mesma.
Para medirmos a intensidade da dor, que é subjetiva, usamos escalas que nos permitem objetivá-
la.
Escala numérica: É a mais comumente utilizada. Consiste num segmento horizontal ou vertical
com números de 0 a 10, em que 0 corresponde a “sem dor” e 10 corresponde à “pior dor
possível”, perguntando ao doente onde se localiza a sua dor dentro desta escala.
Escala visual analógica: Não possui números e não é repartida. Numa ponta lê-se “sem dor” e
na outra “pior dor possível”, pedindo-se ao doente para assinalar nessa linha onde identifica a
intensidade da sua dor. Por não possuir números, é habitualmente de mais difícil compreensão,
mas também de maior sensibilidade para variações na intensidade da dor e mais utilizada em
contexto de investigação.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
É importante notar que nem sempre os doentes compreendem estas escalas, e nesse caso o
que usamos é a escala verbal descritiva. Nesta, pergunta-se ao doente: “Como é que classifica
a sua dor? Ligeira, média, forte ou insuportável?”.
Há princípios em que nos baseamos para tratar a dor, que foram estabelecidos por um conjunto
de peritos sob os auspícios da OMS. A intenção foi que com o estabelecimento de princípios
simples se pudesse tratar a dor oncológica de uma maneira uniforme e que pudesse ser
reproduzida independente do estado de desenvolvimento de cada país.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
− Pela boca;
− Pelo relógio;
− Pela escada;
− Para o individuo;
− Atenção ao detalhe.
Em estudo que testaram a aplicação destes princípios básicos, verificou-se que cerca de 70% a
90% dos casos culminam no controlo eficaz da dor.
Pela boca: A via oral é a mais simples, mais barata e mais aceitável para o doente.
Num estudo em que foi perguntado aos doentes como quereriam que lhes fosse administrada a
medicação em SOS para exacerbação de dor, sendo informados dos tempos médios de atuação,
os doentes preferiram a via oral, sendo a via rectal e a via intramuscular aquelas pelas quais os
doentes menos optaram.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
Pelo relógio: Os analgésicos devem ser dados de forma continuada, de forma a que a dor
permaneça controlada. Com administrações só em SOS, não se mantém uma dose eficaz de
analgésico para controlar a dor, levando ao aparecimento de picos de dor. Já com administrações
regulares, segundo o tempo indicado pelo medicamento, tendo atenção à forma farmacêutica
que se está a utilizar, consegue-se manter uma dose do analgésico eficaz para o controle da dor,
permitindo uma analgesia constante.
Ao subirmos na escada do primeiro para o segundo degrau e para o terceiro vamos mantendo
sempre os fármacos do primeiro degrau, pois têm outro modo de atuação e ajudam no
controlo da dor, para além de diminuírem a dose de opióide a usar. Ao passarmos do segundo
para o terceiro degrau, mantemos os fármacos do 1º degrau, mas substituímos o(s) opióide(s)
fraco(s) pelo(s) forte(s).
Podemos ainda utilizar outros fármacos (denominados neste contexto de adjuvantes) ao longo
de todos estes degraus, se as características da dor assim o aconselharem. Numa dor com
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
Há hoje ainda um quarto degrau reservado aos métodos invasivos de analgesia, guardados
para quando não se consegue controlar a dor ou só à custa de efeitos secundários muito
marcados para o doente com fármacos do terceiro escalão.
Há, por fim, que ter em atenção todos os outros problemas que o doente apresenta, assim como
outros sintomas existentes.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
Atenção ao detalhe: A administração deve ser adequada aos horários do doente. Devemos
incluir um esquema terapêutico com todas as indicações (e.g. nome do fármaco, dose, horário
das tomas, para que serve...).
Devemos ainda prevenir o doente de possíveis efeitos secundários que possam surgir, da sua
evolução e de como os prevenir, para evitar que o doente descontinue um medicamento do qual
possa vir a beneficiar com a continuação da toma.
É necessário ainda fornecer indicação precisa do que o doente deve fazer em caso de
exacerbação da dor, o que tomar, como e com que intervalos o poderá fazer, assim como quem
contactar se o número de exacerbações for grande ou não obtiver alívio.
Farmacologia analgésica
No contexto da doença oncológica, os corticoides também são muito úteis no controlo da dor
neuropática.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
− Sudorese;
− Prurido (mais comum se o fármaco for administrado por via epidural ou intratecal);
− Neurotoxicidade: os primeiros sinais costumam ser o aparecimento de mioclonias,
podendo evoluir para um quadro de delirium.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
Com o uso crónico de opióides pode haver supressão do eixo hipotálamo-hipofisário e efeito de
imunodepressão.
A depressão respiratória é rara, pois os aumentos de dose vão sendo feitos de acordo com o
crescendo da dor e as exacerbações que o doente vai experienciando.
Para controlo dos efeitos secundários causados pelos opióides, podemos usar várias estratégias:
1. Redução da dose, se por exemplo existir bom controlo de dor e sonolência excessiva;
2. Associação de fármacos que controlem os efeitos secundários (e.g. metoclopramida
para controlar as náuseas; laxantes para controlar a obstipação);
3. Mudança para outro opióide na tentativa de controlar melhor a dor e obter menos
efeitos secundários (e.g. mudança de fentanilo transdérmico para morfina em perfusão
num doente com quadro de delirium e mau controlo de dor);
4. Mudança de via de administração (e.g. doente com obstipação marcada e de difícil
controlo, em que se muda de morfina por via oral para morfina em perfusão contínua por
via subcutânea).
− Começar com doses baixas, subindo a dose devagar de acordo com número de
exacerbações, resposta à medicação e presença de efeitos secundários. Por exemplo,
num idoso com dor intensa e que não fez opióide forte, antes começaríamos com 30 mg
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nas 24h (5 mg a cada 4 horas), mas em alguém mais novo começaríamos com 60 mg
nas 24h (10 mg a cada 4 horas);
− Associar sempre uma medicação para fazer em SOS que será um décimo a um sexto
da dose de morfina das 24h;
− Prescrever sempre laxantes ou associação de um emoliente com um laxante que
aumente o trânsito intestinal (e.g. lactulose, bisacodilo);
− Inicialmente deve-se prescrever sempre um antiemético, pois as náuseas e os vómitos
são comuns. O que se usa em primeira linha é a metoclopramida ou a domperidona, e
em segunda linha o haloperidol, se os vómitos persistirem com a administração dos de
primeira linha.
Quando se atinge estabilidade nas doses de morfina nas 24h, deve-se passar a formas de
libertação retardada de mais fácil posologia. Devemos manter os medicamentos do primeiro
escalão como forma de poupar opióide. O preferível será o paracetamol, por ter menos efeitos
secundários e ser mais seguro.
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PERGUNTA 1: Onde queremos ser cuidados em fim de vida? Onde é que eu quero
ser cuidado/a no fim da minha vida? Ponha o dedo no ar quem pensou num Hospital.
Os tratamentos eram desproporcionados, orientados para a cura e não para o conforto, tendo
em conta a situação e o prognóstico previsível. Foram feitos exames complementares e
terapêuticas que não acrescentaram nada às decisões sobre conforto. Havia um mal-estar
sentido pelos profissionais ao abordarem os problemas de fim de vida, notando-se mesmo
abandono físico dos doentes nos últimos dias de vida.
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Nestes doentes estavam presentes de um a nove sintomas, sendo que 69% eram considerados
como muito intensos. Quanto às terapêuticas, muitos dos sintomas foram considerados como
subtratados, como a anorexia, a obstipação ou a depressão. Assim, nota-se que existiam
necessidades dos doentes para as quais não houve resposta.
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PERGUNTA 2: Em fim de vida, que cuidados é que os doentes valorizam? O que
achamos importante que os doentes tenham nos cuidados paliativos que recebem?
A que chamamos uma boa morte hoje em dia? Quais as suas características que a definem?
Foi feito um inquérito por amostra de conveniência, apenas na região de Lisboa, em que foram
entrevistadas 205 pessoas, com idade média de 36 anos, 62% do sexo feminino e 62% solteiros,
99% caucasianos e 99% de nacionalidade portuguesa. Foi empregue o questionário “Conceito
de boa morte” de Carolyne Schwartz,
traduzido e validado para português.
Só para cerca de 40% dos entrevistados é que é importante que os familiares estejam presentes
ou que tenham a oportunidade de se despedir.
Num estudo que foi feito no Canadá a doentes crónicos ou pessoas com mais de 65 anos que
eram dependentes, internados em instituições comparáveis às Unidades de Longa Duração,
perguntou-se que cuidados quereriam receber quando em fim de vida.
Noutro estudo feito em Portugal, em Unidades de Cuidados Paliativos de Norte a Sul do país,
foram comparados os fatores que caracterizariam uma “boa morte” na perspetiva do doente e
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dos profissionais de saúde que o seguiam. A escolha dos profissionais era feita não a pensar no
que o próprio profissional quereria para si próprio, mas sim o que aquele determinado doente
valorizaria.
O que se observou foi uma não coincidência entre as prioridades dos doentes e aquelas que o
profissional de saúde consideraria para estes. Apenas o primeiro item, a ausência de dor, é
reconhecido por ambos como o mais importante.
Os cuidados aos moribundos estiveram a cargo de ordens religiosas em muitos países europeus
durante muitos séculos. Na década de 60 do século XX, de um lado e de outro do Atlântico,
surgiram relatos de cuidados menores aos doentes terminais.
A Dame Cicely Saunders (foto a preto e branco) foi primeiramente enfermeira. Por uma lesão
lombar que a impediu de trabalhar como enfermeira, tirou o curso de Assistente Social, e mais
tarde o de Medicina. Nos anos 40 enquanto enfermeira, tratou um doente polaco com cancro,
David Tasma, tendo reconhecido a inadequação dos hospitais de agudos para cuidarem de
doentes com doenças avançadas e em fim de vida, assim como para lidarem com os vários
tipos de sofrimento associados, numa alusão ao conceito de dor total. Este doente deixou-lhe
um legado e uma missão: “I will be a window in your heart”. Daqui, surge o projeto de construir
uma instituição para tratar estes doentes. Ao longo de vários anos, reúne dinheiro, e em 1967
nasce o primeiro “hospice” moderno - o St. Christopher’s Hospice, em Londres.
Balfour Mount (foto de baixo) é um urologista canadiano, que ao ouvir os relatos de como os
doentes terminais são tratados nos EUA e Europa, não acredita que tal ocorra no seu hospital.
No entanto, confirma a realidade. Faz então formação no St. Christopher’s Hospice e funda a
primeira Unidade de Cuidados Paliativos dentro de um hospital académico (Royal Victoria
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Hospital), trazendo para dentro da medicina tradicional o movimento dos cuidados paliativos. É
também ele o inventor do termo “Cuidados Paliativos”, pois “hospice” possuía conotações
negativas em francês.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
A pergunta surpresa que surge no topo do slide (“Ficaria surpreendido se este doente morresse
durante o próximo ano?”) serve para nos ajudar a identificar os doentes que poderiam beneficiar
de uma abordagem paliativa. Partindo da pergunta surpresa, existem outros instrumentos que
tentam fazer esta identificação de uma maneira mais fina, como o Gold Standards Framework
e o NECPAL.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
Na comunicação, temos que ter em atenção as duas componentes desta: a verbal e a não-
verbal, e ter em conta que ambas são importantes.
Existem maneiras de o fazer, que podemos aprender, de forma teórica e prática com cursos de
treino de comunicação. À esquerda no slide está o exemplo do Protocolo de Buckman para dar
más notícias.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
Noutro estudo em que foi utilizada uma escala de avaliação sintomática (a escala de avaliação
de sintomas de Edmonton, vulgo ESAS), que se debruça sobre vários sintomas (dor, cansaço,
sonolência, náuseas, falta de apetite, dispneia, ansiedade, tristeza e bem-estar) de 0 a 10, sendo
o 0 sem o sintoma e o 10 o pior possível) estabeleceu a trajetória destes vários sintomas de
10572 doentes seguidos por cancro avançado no Canadá, Ontário.
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Quanto às equipas domiciliárias, existe uma maior probabilidade de o doente falecer em casa,
mantendo um bom controlo sintomático e sem aumento de luto complicado para o cuidador.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
Quando se deve iniciar o seguimento por uma equipa de cuidados paliativos na doença
oncológica? Logo quando se estabelece o diagnóstico de doença avançada? Ou apenas
quando se decide suspender a terapêutica dirigida à doença? Ou só numa fase terminal?
Houve estudos que compararam doentes com doença oncológica avançada seguidos mais
precocemente por equipas de cuidados paliativos com outros em que este seguimento foi
mais tardio.
Nos doentes seguidos mais cedo, os resultados evidenciaram uma melhor qualidade de vida,
menos depressão, menos custos e, nalguns estudos, aumento do tempo de sobrevivência. Nos
cuidadores havia menos depressão e melhor adaptação após o falecimento do doente.
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DCC Cuidados Paliativos e Dor
existe a Competência em Medicina Paliativa, que é reconhecida pela Ordem dos Médicos como
uma formação especializada.
Em termos estruturais, o que está calculado é que deve haver uma equipa comunitária por cada
100.000 a 150.000 habitantes, que em todos os hospitais deve existir uma equipa intra-hospitalar
com consulta externa aberta e que exista colaboração entre as equipas dos vários níveis (já
ocorre, por exemplo, no Algarve, no Porto e em Trás-os-Montes).
Em hospitais mais diferenciados, o serviço de cuidados paliativos deverá ter todas as valências
(internamento, equipa intra-hospitalar, consulta externa e hospital de dia).
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DCC Sarcomas
Sarcomas
Trata-se de um tipo de cancro raro, que muito dificilmente teremos oportunidade
de contactar ao longo da nossa vida.
Importante referenciar para centros de referência.
Dividem-se em:
• Pediátricos/adultos (manifestando-se de formas diferentes)
• Tecidos moles/ósseos
Introdução
Os sarcomas desenvolvem-se a partir de células transformadas de origem
mesenquimatosa. O GIST é o subtipo mais frequente, apesar da enorme
diversidade existente (>70 subtipos histológicos). A sua incidência é bastante
rara, correspondendo a 1% de todos os tumores nos adultos. No entanto, em
idade pediátrica, a sua incidência corresponde a 15%. Deste modo, é frequente
encontrarmos este tipo de tumores nas crianças.
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DCC Sarcomas
Etiologia
Maioria da etiologia por detrás dos sarcomas é desconhecida. No entanto, uma
possível etiologia é atribuída à radioterapia (10-15 anos) – ex. desenvolvimento
de sarcoma da parede torácica no decurso de radioterapia realizada na mama.
Por outro lado, também estes tumores também se encontram associados a
doenças genéticas, nomeadamente Síndrome de Li-Farumeni (alteração do
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DCC Sarcomas
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o Ifosfamida
▪ Eficácia semelhante à doxorrubicina
▪ Em alta dose apresenta algum grau de dose-resposta
• Sarcoma sinovial apresenta elevada sensibilidade
para a ifosfamida
o QT isolada ou combinada? Do
ponto de vista da
sobrevivência não existe
diferença, mas a associação
confere maior taxa de
resposta parcial, estando
também associada a maior
toxicidade. Outro aspeto a
reter, é a maior percentagem
de mortes tóxicas no
tratamento de associação
face à monoterapia.
o Em que doentes se utiliza a associação (Doxorrubicina – 60mg/m2
+ Ifosfamida – 9 g/m2):
▪ Metástases pulmonares isoladas
▪ Jovens
▪ Boa performance status
o Nos doentes sintomáticos, sem doença ressecável, opta-se por
fazer apenas doxorrubicina isolada (60-75 mg/m2)
o Segunda linha (Aparentemente não precisamos de saber qual o
agente a utilizar em cada situação em particular. Fica apenas para
se ter uma ideia):
▪ Ifosfamida de alta dose (preferencialmente em sarcomas
sinoviais)
▪ Pazopanib (todos os sarcomas, exceto lipossarcoma)
▪ Trabectedine (todos os sarcomas, mas preferencialmente
lipossarcomas e leiomiossarcomas)
▪ Erubilina (apenas lipossarcomas)
▪ Gemcitabina + Docetaxel
▪ Gemcitabina
▪ Dacarbazina
▪ Paclitaxel
Sobrevivência de acordo com a extensão ao diagnóstico
• Locorregional: 4.9 anos
• Metastáticas: 1.1 anos
Fatores prognósticos
• Relacionados com o tumor:
o Grau histológico
o Profundidade
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o Tamanho
• Outros fatores independentes:
o Idade avançada
o Metástases ao diagnóstico
o Recorrência local
GIST
É um tumor com um comportamento diferente dos
restantes sarcomas, nomeadamente no que diz
respeito ao padrão de metastização e localização.
É um tumor também com origem mesenquimatosa,
sendo o tipo de sarcoma mais frequente. Pode
ocorrer em qualquer localização no trato GI (maioria
dos casos surge no estômago). Atinge
principalmente os adultos com idades
compreendidas 40-60 anos.
Clínica:
• Anemia
• Massa abdominal
• Dor abdominal
Por vezes o diagnóstico é um achado aquando da endoscopia – incidentaloma.
Pode também ser diagnosticado com metástases na apresentação, ocorrendo
estas mais frequentemente no fígado e peritoneu. Menos frequentemente, pode
metastizar para o osso.
Patologia e genética
Apresenta um marcador: CD 117+ ou c-Kit+ (positivos em >95%).
Mutações c-Kit (>90%) tanto no exão 11 (67%), como no exão 9 (11%).
Do ponto de vista do intervalo livre de recorrência, o
tamanho, índice mitótico e a localização conferem em
conjunto um fator preditor de prognóstico.
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Tratamento
• Os doentes com doença metastática
fazem Imatinib podendo,
eventualmente, ficar elegível para
intervenção cirúrgica.
• Em doentes com GIST >3cm,
verificou-se que havia maior intervalo
livre de recidiva realizando Imatinib
(durante 1 ano) como terapêutica
adjuvante. O estudo que se realizou
em 2002 verificou que este benefício
era ainda maior quando o Imatinib era
administrado durante 3 anos (36
meses) e que também havia uma
melhoria do ponto de vista da
sobrevivência global.
• Resumindo, o standard é fazer Imatinib (em adjuvância) durante 3
anos. E é graças ao Imatinib que a mediana de sobrevivência destes
doentes anda à volta dos 5 anos ou mais.
Sarcomas Ósseos
São mais raros que os sarcomas de tecidos moles. Correspondem a <0,2% das
neoplasias malignas.
Podem ser classificados em:
Sarcoma de Ewing
• Histopatologicamente assemelha-se a um linfoma, na medida
em que apresenta células pequenas, redondas e azuis.
• É um tumor altamente agressivo.
• Apresenta uma translocação – t(11:22) – praticamente
patognomónica, que surge em >90% dos tumores.
• É considerada uma entidade à parte dos outros sarcomas pelo
facto de poder surgir quer no osso, quer nos tecidos moles.
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Tratamento
➢ Doença localizada
Implica tratamentos agressivos devido ao facto de se considerar que esta doença
apresenta micro-metástases e, sem QT as recidivas são muito frequentes.
É um tratamento longo, sendo realizado durante 1 ano, com:
• QT pré-operatória + Tratamento local (Cirurgia +/- RT) + QT pós-
operatória
Este tumor responde muito bem à QT. O que fica ao fim de alguns ciclos é
doença que apresenta alguma resistência e essa é tratada cirurgicamente.
Pode-se também efetuar auto-transplante para realizar QT mais intensiva do
que a convencional.
➢ Doença metastática
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Osteossarcoma
Enquanto que o Sarcoma de Ewing surgia
preferencialmente ao nível das diáfises dos ossos
longos, o Osteossarcoma localiza-se,
predominantemente, ao nível da extremidade distal
e proximal do fémur e da tíbia, respetivamente. A
localização na face está associada a idades mais
jovens.
Apresenta uma distribuição etária bimodal, com o 1º
pico na adolescência e o 2º pico no idoso, estando
este último associado a um eventual tratamento com
RT, doença de Paget.
Sobrevivência aos 5 anos: 60%
Tratamento
➢ Doença localizada
• Nesta doença não se considera a RT, dada a radiorresistência destes
tumores.
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