Genética Humana

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Genética Básica | Introdução à Genética Humana: análise de características monogênicas

Tão logo as leis que governam a transmissão da herança biológica


foram descobertas, procurou-se estender os estudos da Genética à espécie
humana. Porém existem algumas peculiaridades no estudo dos padrões
de herança em seres humanos decorrentes da inadequação de nossa
espécie como material experimental. Ao contrário de espécies como as
POLIMORFISMO ervilhas ou as drosófilas, a espécie humana apresenta: pequeno número
GENÉTICO
de indivíduos na prole; longo tempo de geração; e impossibilidade de
O conceito de
polimorfismo manejar acasalamentos. Assim, embora as leis que regem a transmissão
genético refere-
se à freqüência
da herança em ervilhas ou humanos possam ser semelhantes, os métodos
dos alelos de um utilizados para seus estudos são diferentes. O estudo da herança de
determinado gene
em uma população. caracteres na espécie humana constitui um ramo especial da Genética
Diz-se que um
gene apresenta conhecido como Genética Humana.
polimorfismo A Genética Humana se tornou uma área de particular interesse
quando este possui
pelo menos dois dos cientistas por sua importância na prática clínica, através de seu
alelos normais na
população, tendo o papel na etiologia (origem) de vários distúrbios. Muitos genes humanos
alelo mais raro uma
foram identificados através de um distúrbio clinicamente significativo
freqüência superior
a 1%. causado por um alelo mutante desse gene. Praticamente qualquer doença
Na espécie humana, é resultado da ação combinada de genes e do ambiente, embora o papel
por exemplo, a
característica forma relativo de cada um desses fatores possa variar. Os principais distúrbios
do lóbulo (ou lobo)
da orelha (solto ou causados total ou parcialmente por fatores genéticos podem ser de três
preso) é determinada
tipos: monogênicos, cromossômicos ou multifatoriais.
por um gene que
possui pelo menos Nesta aula nos concentraremos no estudo das características
dois alelos, sendo o
alelo que determina com herança monogênica, analisando exemplos relacionados tanto
o estado solto
dominante sobre a distúrbios quanto a POLIMORFISMOS GENÉTICOS na espécie humana.
o que determina o
estado preso. Estes Características multifatoriais, ou seja, condicionadas pela interação de
dois alelos estão em
vários genes e destes com o ambiente, serão estudadas em aulas futuras,
alta freqüência na
população, o que bem como alguns dos distúrbios causados pela variação do número ou
pode ser constatado
pela alta freqüência estrutura dos cromossomos humanos.
de indivíduos com
cada um dos tipos de Nos estudos da determinação do padrão de herança de
fenótipos. Dizemos
características humanas não podemos realizar cruzamentos experimentais.
então que o gene
que condiciona a As análises são feitas a partir do levantamento do histórico familiar, o que
forma do lóbulo de
orelha é polimórfico permite avaliar se uma determinada característica é ou não hereditária
e, também, que
esta característica
e de que modo é herdada. Esse levantamento é feito a partir de uma
é polimórfica representação gráfica denominada heredograma (do latim hereditariu),
na população
humana. Muitas das também conhecida como genealogia, árvore genealógica ou pedigree.
características em
diversas espécies são
polimórficas.

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MÓDULO 1
A CONSTRUÇÃO DE HEREDOGRAMAS

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Na construção de heredogramas usamos símbolos para os

AULA
indivíduos de uma família e suas relações de parentesco. A Figura 9.1
apresenta a simbologia usada na construção de heredogramas e a Figura
9.2 apresenta o exemplo de um heredograma.

Figura 9.1: Símbolos usados nos diagramas de heredogramas.

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Figura 9.2: Heredograma de uma família.


Os símbolos em negrito representam indivíduos afetados por
uma anomalia genética

Atividade

EXPRESSIVIDADE Procure construir o heredograma de sua família quanto à


VARIÁVEL
característica forma do lóbulo de orelha. Seja rigoroso na utilização
Diz-se do alelo que dos símbolos, inclua o maior número possível de indivíduos e procure
não se manifesta
exatamente da determinar os seus genótipos.
mesma forma em
todos os indivíduos Ao fazer esta atividade, você verá que para alguns indivíduos a
que o possuem.
classificação entre solto ou preso é muito fácil de ser feita, mas para outros
nem tanto. Uma outra coisa que eventualmente acontece é o aparecimento
PENETRÂNCIA de casos não explicáveis a partir do fenótipo dos pais.
INCOMPLETA Estes casos podem ser explicados pelo fato da ação gênica ser, mais
Diz-se do alelo que, ou menos, afetada por fatores biológicos ou físicos do ambiente, que podem
mesmo estando
presente, pode ou resultar na EXPRESSÃO VARIÁVELL dos alelos de um gene ou na sua PENETRÂNCIA
não se manifestar
no indivíduo INCOMPLETA. Nós voltaremos a estes conceitos na Aula 11 e veremos também
cujo genótipo
como analisar genealogias que apresentem estes e outros fenômenos. No
deveria expressá-lo
fenotipicamente. momento, basta saber que você não deve se assustar caso seu heredograma
apresente algum resultado inesperado.

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MÓDULO 1
ANÁLISE DE HEREDOGRAMAS E OS PADRÕES

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DE HERANÇA MONOGÊNICA

AULA
A fim de estabelecer o padrão de transmissão de uma característica,
a primeira etapa é a construção do heredograma. A análise do padrão
apresentado pelo heredograma permite que se determine o padrão mais
provável de transmissão da herança para a característica em questão.
Muitas vezes ficamos inclinados a fazer isso através de tentativa
e erro, considerando cada um dos padrões de herança possíveis
(autossômica dominante, autossômica recessiva, ligada ao X dominante,
ligada ao X recessiva) e, para cada uma das possibilidades, tentando
ajustar os genótipos dos indivíduos da família. Essa, sem dúvida, não é
a melhor, nem a forma mais elegante de analisarmos um heredograma.
Então, como proceder? Vamos olhar os heredogramas como
um todo e procurar padrões que nos indiquem o tipo de herança mais
provável. No Quadro 9.1 estão algumas dicas sobre os diferentes padrões
de herança que facilitam o seu reconhecimento.

Quadro 9.1: Critérios para avaliação do padrão de herança de características monogênicas em heredogramas

Autossômica recessiva Autossômica dominante


1. Freqüências aproximadamente iguais de 1. Freqüências aproximadamente iguais de
machos e fêmeas afetados. machos e fêmeas afetados.
2. Quase sempre o traço pula gerações. 2. Em geral, o traço aparece em todas
3. O traço pode aparecer em irmãos sem as gerações.
estar presente em seus pais. 3. Pelo menos um dos pais de um
indivíduo afetado é afetado

Ligada ao X recessiva Ligada ao X dominante


1. O traço é mais comum nos homens do que 1. Normalmente, todas as filhas de um homem
nas mulheres. afetado serão afetadas.
2. Não há transmissão de pai para filho. 2. Não há transmissão de pai para filho.
3. Todas as filhas de um homem afetado são
portadoras do alelo mutante.

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Agora, baseado no exposto no Quadro 9.1, você pode tentar determinar


o tipo de herança mais provável para os traços apresentados em negrito nos
heredogramas da Figura 9.3. Procure fazer isso observando o padrão geral do
pedigreee e não através de tentativa e erro. As respostas estão no final desta aula.

Figura 9.3: Heredogramas apresentando a herança de diversas características.

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MÓDULO 1
APLICAÇÃO DOS CÁLCULOS DE PROBABILIDADES

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À GENÉTICA HUMANA

AULA
Nas famílias humanas, o número de filhos produzidos por um casal
é tipicamente pequeno. Conseqüentemente, as proporções fenotípicas em
geral se desviam significativamente de suas expectativas teóricas.
Vamos tomar um exemplo hipotético. Suponha um casal onde
ambos os cônjuges sejam heterozigóticos para um gene que possui dois
alelos, F e f, sendo o alelo F dominante sobre o alelo f e condicionador do
fenótipo normal. Os indivíduos que apresentam o alelo f em homozigose
são afetados por uma determinada doença.
Nosso conhecimento sobre a segregação dos alelos durante a
formação dos gametas nos permite dizer que cada um dos membros
deste casal formará ½ de seus gametas portando o alelo recessivo f
e ½ portando o alelo dominante F. Como a fecundação ocorre ao
acaso, se pudéssemos obter os zigotos resultantes da fecundação de
todos os gametas produzidos por este casal observaríamos que: ¼ seria
homozigótico FF e normal; ½ seria heterozigótico Fff e, também, normal
e ¼ seria homozigótico fff e afetado.

Tabela 9.1: Probabilidades esperadas na prole de um casal heterozigótico para o gene F.

Gametas da Mãe
1/2 F 1/2 f
Gametas do Pai

1/2 F 1/4 FF normal 1/4 Ff normal

1/2 f 1/4 fF normal 1/4 ff afetado

Da mesma forma, se o casal tiver quatro filhos esperamos


que 3 sejam normais e 1 afetado, certo? Não, errado. Existem cinco
possibilidades distintas:
1) 4 normais;
2) 3 normais e 1 afetado;
3) 2 normais e 2 afetados;
4) 1 normal e 3 afetados;
5) 4 afetados.

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Intuitivamente, o segundo resultado parece ser o mais provável,


pois está de acordo com a proporção mendeliana 3:1. Mas esta não é a
forma correta de procedermos nesta análise. Ao analisarmos esta questão,
devemos tratar cada nascimento como um evento independente para o
cálculo da probabilidade. Ou seja, ao considerarmos um nascimento,
a probabilidade de a criança em questão ser normal é de ¾. Se
considerarmos os quatro nascimentos, a probabilidade de cada criança
ser normal é de ¾, mas a probabilidade de as quatro crianças serem
normais será ¾ × ¾ × ¾ × ¾ = (¾)4 = 81/256 (lembre-se da regra da
multiplicação). De modo semelhante, a probabilidade de uma criança ser
afetada será de ¼ e a probabilidade de as quatro crianças serem afetadas
será de (¼)4 = 1/256.
Até aqui tudo bem, mas qual a probabilidade de o casal ter
uma das quatro crianças afetada, independente do sexo da mesma?
Novamente temos mais de uma possibilidade:
1) a primeira criança a nascer ser a afetada e as outras três serem
normais (ANNN);
2) a segunda criança a nascer ser a afetada e as outras três serem
normais (NANN);
3) a terceira criança a nascer ser a afetada e as outras três serem
normais (NNAN);
4) a quarta criança a nascer ser a afetada e as outras três serem
normais (NNNA).

Vamos, então, calcular a probabilidade para a possibilidade


1 (P(ANNN)), ou seja, a primeira criança ser a afetada e a segunda
não ser afetada e a terceira não ser afetada e a quarta não ser afetada:
¼ (= probabilidade da primeira ser afetada) × ¾ (= probabilidade da
segunda ser normal) × ¾ (= probabilidade da terceira ser normal) × ¾
(= probabilidade da quarta ser normal) = 27/256. Da mesma forma,
podemos calcular as probabilidades para as outras três possibilidades
(P(NANN), P(NNAN), P(NNNA)). Em todos os casos, a probabilidade
será a mesma, 27/256. Finalmente, a probabilidade de um dos filhos
do casal ser afetado pela doença, não importando se o primeiro, ou o
segundo, ou o terceiro ou o quarto é igual a soma das probabilidades
para cada uma das possibilidades, ou seja: 27/256 + 27/256 + 27/256 +
27/256 = 4 × (27/256) = 108/256 (regra da adição).
Agora é a sua vez. Calcule a probabilidade de o casal ter apenas
uma das quatro crianças normais.

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MÓDULO 1
O resultado seria: P(NAAA) + P(ANAA) + P(AANA) + P(AAAN) =

9
4 × (3/256) = 12/256. Na Tabela 9.2 você pode conferir as probabilidades

AULA
associadas a todas as possibilidades de fenótipo para os quatro filhos do
casal no exemplo em questão.

Tabela 9.2: Probabilidades associadas ao fenótipo dos 4 filhos de um casal heterozigótico para um gene
autossômico cujo alelo recessivo causa uma determinada doença.

Normais Afetados Probabilidade

4 0 1 × (¾) × (¾) × (¾) × (¾) = 81/256

3 1 4 × (¾) × (¾) × (¾) × (¼) = 108/256

2 2 6 × (¾) × (¾) × (¼) × (¼) = 54/256

1 3 4 × (¾) × (¼) × (¼) × (¼) = 12/256

0 4 1 × (¼) × (¼) × (¼) × (¼) = 1/256

Será que toda essa conversa não fez você lembrar das Probabi-
lidades Binomiais? É isso, podemos obter uma generalização para a
estimativa das probabilidades associadas ao resultado de cruzamentos
genéticos aplicando a fórmula da distribuição binomial. Isso pode ser
feito sempre que a prole dos cruzamentos se segregar em duas classes
distintas, por exemplo, macho ou fêmea, normal ou afetado, dominante
ou recessivo.
A fórmula para calcular a probabilidade binomial de que x
indivíduos da prole caiam em uma das classes é:

[n! / (x! y!)] pxqy

Fórmula 9.1

onde:
n= número total da prole;
x= número de indivíduos da prole que pertence à primeira de duas
classes possíveis;
y= número de indivíduos da prole que pertence à segunda de duas
classes possíveis;
p= probabilidade de cada indivíduo da prole pertencer à primeira
das duas classes;
q= probabilidade de cada indivíduo da prole pertencer à segunda
das duas classes.

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Não precisa se assustar. Com um exemplo tudo fica mais fácil.


Voltando ao casal em que ambos eram heterozigóticos para o gene
F, vamos usar a fórmula da distribuição binomial para calcular a
probabilidade de, tendo 4 filhos, um desses ser afetado. Neste caso,
podemos usar a probabilidade binomial, pois na prole temos duas classes
possíveis, a primeira, ser normal; e a segunda, ser afetado. Temos então
que: n = 4; x = 3; y = 1; p = ¾; q = ¼.
Aplicando estes valores à Fórmula 9.1 obtemos:

[4! / (3! 1!)] (¾) 3 (¼)1 =


[ (4×3×2×1) / (3×2×1×1) ] 27/64 × 1/4 =
4 × 27/256 = 108/256,
valor que confere com o que estimamos anteriormente.

Vamos ver mais um exemplo para garantir que o assunto está


entendido. Considere que um casal pretende ter três filhos e quer saber
qual a probabilidade de todos serem do sexo masculino. Temos duas
classes possíveis para a prole, a primeira ser do sexo masculino; a
segunda, ser do sexo feminino. Aplicamos a fórmula com os valores
de n = 3; x = 3; y = 0; p = ½; q = ½ . Assim, [3! / (3! 0!)] (½)3 (½)0 =
27/27 × 1/8 = 1/8, lembrando que 0! = 1 e que qualquer número elevado
a zero também é igual a 1. A resposta, então, é que o casal tem uma
chance de 1/8 (ou 0,125 ou 12,5% ) de, tendo três filhos, os três serem
do sexo masculino.
Uma outra aplicação das leis da probabilidade em Genética
Humana ocorre quando os futuros pais desejam saber se seus filhos
correm risco de herdar uma determinada condição, especialmente
se outros membros da família forem afetados. A avaliação do risco
requer um bom conhecimento de Genética, aliado à familiaridade com
probabilidades e estatística. Esta análise se inicia pela construção da
genealogia da família, visando a determinar o mais provável padrão de
herança e, quando possível, o genótipo dos pais.
Agora você participará do aconselhamento genético na questão
a seguir. A amelogênese imperfeita por hipomaturação é uma alteração
do esmalte dos dentes, em que estes se tornam pouco resistentes e sua
coloração varia de branco-leite a um marrom-claro meio transparente.

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MÓDULO 1
O esmalte é quebradiço, desprendendo-se em pequenos fragmentos. Três

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casais de uma mesma família procuraram o serviço de aconselhamento

AULA
genético para saber o risco de terem filhos afetados por essa anomalia,
já que há casos na família. A Figura 9.4 apresenta o heredograma da
família em questão. As pessoas que solicitaram a informação foram o
casal III-3 e III-4 e o casal II-7 e II-8. O terceiro casal é formado pelos
indivíduos IV-1 e IV-2, que pretendem se casar, mas estão receosos quanto
à probabilidade de terem filhos com a anomalia. O que você diria a cada
um destes casais?

Figura 9.4: Heredograma de uma família que apresenta amelogênese imperfeita por hipomaturação.

A análise do heredograma permite concluir que este tipo de


amelogênese imperfeita apresenta padrão de herança autossômico
recessivo. Além das características já listadas no Quadro 9.1, observa-
se ainda que o casal III-3 e III-4 são primos. O que isso tem a ver?
A maioria dos alelos dos distúrbios autossômicos recessivos
está presente em portadores (heterozigotos) e não nos homozigotos.
Eles podem ser transmitidos nas famílias por numerosas gerações sem
jamais aparecer na forma homozigótica. De fato, acredita-se que todas
as pessoas possuem pelo menos alguns alelos de distúrbios autossômicos
recessivos, que em homozigose poderiam ser nocivos ou mesmo letais.
A presença desses alelos recessivos é revelada, quando o portador se
acasala com alguém que possua a mesma mutação, ou uma outra muta-

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ção no mesmo loco, e os dois alelos deletérios são herdados por algum
de seus filhos. A chance de isto acontecer é muito aumentada se os pais
forem aparentados, pois numa mesma família vários indivíduos podem
ser portadores do mesmo alelo mutante que é transmitido ao longo das
gerações. A consangüinidade dos genitores de um paciente com distúr-
bio genético é uma forte evidência (embora não comprove) em favor da
herança autossômica recessiva.
Voltando à análise do heredograma, os indivíduos III-3 e III-
4 são heterozigóticos (Aa) para o alelo em questão, o que indica uma
probabilidade de ¼ (25%) de que seu próximo filho,
! independente do sexo, seja afetado pela anomalia.
Quando analisamos um heredograma de uma
anomalia genética rara devemos considerar que No caso do casal II-7 e II-8, a mulher (II-8),
os indivíduos provenientes da população, ou
seja, os indivíduos não-afetados da população
sendo afetada, é uma homozigota recessiva (aa).
que se casam com alguém da família, são Quanto ao homem (II-7), ele é um indivíduo que não
homozigóticos para o alelo normal do gene
em questão. Isto porque, no caso de anomalias pertence a nenhuma das duas linhagens onde o alelo
raras, o alelo mutante está em baixa freqüência
na população, sendo muito pequena a chance que causa a amelogênese imperfeita está segregando.
de um indivíduo da população em geral ser
portador desse alelo. Entretanto, a chance Logo, a chance de ele ser portador deste alelo é igual
de um indivíduo não-afetado da família em a chance de qualquer indivíduo da população, ou seja,
questão ser portador desse alelo mutante
dependerá da análise do fenótipo e do muito baixa. Podemos considerá-la desprezível, sendo
genótipo de seus ancestrais e, quando possível,
da análise de seus descendentes. muito provável que o II-7 seja homozigoto dominante
(AA). A chance de este casal ter uma criança afetada
pela anomalia em questão é, aproximadamente, zero. No entanto, todos
os seus filhos, independente do sexo, serão portadores do alelo a.
No caso do casal IV-1 e IV-2, o cálculo da probabilidade é um
pouquinho mais complicado, pois não sabemos se eles são ou não
portadores do alelo a. Teremos então que calcular a probabilidade de
eles serem portadores. Começando por IV-2, como já sabemos que ele
não é afetado, a probabilidade de ser portador passa a ser 2/3. Isto
porque, como sua irmã (IV-3) é afetada (aa), podemos deduzir que
tanto sua mãe (III-3) quanto seu pai (III-4) sejam heterozigóticos (Aa).
Assim, considerando as quatro possibilidades genotípicas resultantes de
um cruzamento entre heterozigotos (AA, Aa, Aa, aa), a probabilidade
de IV-2 ser portador será de 2 chances am 3 (AA, Aa, Aa, aa
aa), pois
definitivamente este indivíduo não pode ser aa, já que ele não é afetado.
Vamos agora calcular a probabilidade de IV-1 ter herdado o alelo a. A
avó paterna, II.2, é heterozigótica e precisaria passar o alelo a para o
indivíduo III-1, pai de IV-1. Há uma chance de ½ disso ter ocorrido.
Havendo recebido o alelo a, o indivíduo III-1 precisaria ter passado o

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MÓDULO 1
alelo a para IV-1, chance de ½ também. A probabilidade desses eventos

9
terem ocorrido é igual ao produto das probabilidades de cada um deles,

AULA
ou seja, ½ x ½ = ¼.
Resumindo, 2/3 é a chance de IV-2 ser heterozigótico e 1/4 é a
chance de IV-1 ser heterozigótica. A chance de o casal ter uma criança
afetada será igual à chance de os dois serem heterozigóticos (= 2/3 × 1/4)
multiplicada pela chance de a criança receber dos dois pais o alelo a (=
1/4). Isto é, 2/3 × 1/4 × 1/4 = 2/48 = 1/24 (= 0,04 = 4%).

Vamos conferir as respostas do exercício da Figura 9.3?

A. Autossômica dominante; E. Ligada ao X dominante;


B. Ligada ao X dominante; F. Autossômica recessiva;
C. Ligada ao X recessiva; G. Autossômica dominante;
D. Autossômica recessiva; H. Ligada ao X recessiva.

É provável que, em alguns dos casos, você tenha ficado na dúvida entre dois padrões
possíveis, mas lembre-se de que, ao analisarmos um pedigree, procuramos determinar o
padrão de herança mais provável.
Veja, por exemplo, o caso do heredograma B. Alguém poderia sugerir que a herança do
traço representado pelos símbolos em negrito pudesse ser autossômica dominante e não ligada
ao X dominante. É verdade que os dois tipos de herança podem explicar o heredograma B,
mas temos que escolher o mais provável. Note que o homem da primeira geração apresenta
o traço e passa o alelo correspondente para todas as suas filhas, mas para nenhum de seus
filhos. Isto é uma forte indicação de que o padrão de herança em questão seja ligado ao X
dominante, pois na herança ligada ao X as filhas recebem um de seus cromossomos X do
pai, enquanto os filhos recebem do pai o cromossomo Y e nunca o cromossomo X. É menos
provável que o padrão apresentado tenha ocorrido por puro acaso.

INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA

Na próxima aula teórica vamos ver que diversos fatores podem alterar o padrão de
herança esperado, incluindo a inativação do cromossomo X, a idade do indivíduo
e interações do genótipo com o ambiente, por exemplo.

Contudo, nossa próxima aula será uma prática onde apresentaremos estratégias
para sedimentar os conceitos e as relações conceituais que vimos até aqui.
Verifique, no Guia do Aluno, a data e horário em que você deve se dirigir ao
pólo e não esqueça de levar o resultado das propostas de atividades desta aula e
das anteriores para discussão com seus colegas e tutores.
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Genética Básica | Introdução à Genética Humana: análise de características monogênicas

RESUMO

Embora as leis que regem a transmissão da herança em ervilhas ou humanos


possam ser semelhantes, os métodos utilizados para seus estudos são diferentes.
O estudo da herança de caracteres na espécie humana constitui um ramo especial
da Genética conhecido como Genética Humana. Nos estudos da determinação do
padrão de herança de características humanas não podemos realizar cruzamentos
experimentais. As análises são feitas a partir do levantamento do histórico familiar,
o que permite avaliar se uma determinada característica é ou não hereditária e
de que modo é herdada. Esse levantamento é feito a partir de uma representação
gráfica denominada heredograma (do latim hereditariu), também conhecida como
genealogia, árvore genealógica ou pedigree. Os resultados de uma análise de
pedigree dependem da distribuição dos alelos através dos gametas passados de
pais para filhos e permitem que consultores genéticos determinem a probabilidade
de uma pessoa herdar uma determinada característica.

EXERCÍCIOS

1. Nos heredogramas abaixo, indique com S ou N caso estes sejam compatíveis


com os padrões de herança listados.

A B C D E F
Autossômica recessiva
Autossômica dominante
Ligada ao X recessiva
Ligada ao X dominante
Ligada ao Y

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