Genética Humana
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MÓDULO 1
A CONSTRUÇÃO DE HEREDOGRAMAS
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Na construção de heredogramas usamos símbolos para os
AULA
indivíduos de uma família e suas relações de parentesco. A Figura 9.1
apresenta a simbologia usada na construção de heredogramas e a Figura
9.2 apresenta o exemplo de um heredograma.
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Genética Básica | Introdução à Genética Humana: análise de características monogênicas
Atividade
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MÓDULO 1
ANÁLISE DE HEREDOGRAMAS E OS PADRÕES
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DE HERANÇA MONOGÊNICA
AULA
A fim de estabelecer o padrão de transmissão de uma característica,
a primeira etapa é a construção do heredograma. A análise do padrão
apresentado pelo heredograma permite que se determine o padrão mais
provável de transmissão da herança para a característica em questão.
Muitas vezes ficamos inclinados a fazer isso através de tentativa
e erro, considerando cada um dos padrões de herança possíveis
(autossômica dominante, autossômica recessiva, ligada ao X dominante,
ligada ao X recessiva) e, para cada uma das possibilidades, tentando
ajustar os genótipos dos indivíduos da família. Essa, sem dúvida, não é
a melhor, nem a forma mais elegante de analisarmos um heredograma.
Então, como proceder? Vamos olhar os heredogramas como
um todo e procurar padrões que nos indiquem o tipo de herança mais
provável. No Quadro 9.1 estão algumas dicas sobre os diferentes padrões
de herança que facilitam o seu reconhecimento.
Quadro 9.1: Critérios para avaliação do padrão de herança de características monogênicas em heredogramas
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MÓDULO 1
APLICAÇÃO DOS CÁLCULOS DE PROBABILIDADES
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À GENÉTICA HUMANA
AULA
Nas famílias humanas, o número de filhos produzidos por um casal
é tipicamente pequeno. Conseqüentemente, as proporções fenotípicas em
geral se desviam significativamente de suas expectativas teóricas.
Vamos tomar um exemplo hipotético. Suponha um casal onde
ambos os cônjuges sejam heterozigóticos para um gene que possui dois
alelos, F e f, sendo o alelo F dominante sobre o alelo f e condicionador do
fenótipo normal. Os indivíduos que apresentam o alelo f em homozigose
são afetados por uma determinada doença.
Nosso conhecimento sobre a segregação dos alelos durante a
formação dos gametas nos permite dizer que cada um dos membros
deste casal formará ½ de seus gametas portando o alelo recessivo f
e ½ portando o alelo dominante F. Como a fecundação ocorre ao
acaso, se pudéssemos obter os zigotos resultantes da fecundação de
todos os gametas produzidos por este casal observaríamos que: ¼ seria
homozigótico FF e normal; ½ seria heterozigótico Fff e, também, normal
e ¼ seria homozigótico fff e afetado.
Gametas da Mãe
1/2 F 1/2 f
Gametas do Pai
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O resultado seria: P(NAAA) + P(ANAA) + P(AANA) + P(AAAN) =
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4 × (3/256) = 12/256. Na Tabela 9.2 você pode conferir as probabilidades
AULA
associadas a todas as possibilidades de fenótipo para os quatro filhos do
casal no exemplo em questão.
Tabela 9.2: Probabilidades associadas ao fenótipo dos 4 filhos de um casal heterozigótico para um gene
autossômico cujo alelo recessivo causa uma determinada doença.
Será que toda essa conversa não fez você lembrar das Probabi-
lidades Binomiais? É isso, podemos obter uma generalização para a
estimativa das probabilidades associadas ao resultado de cruzamentos
genéticos aplicando a fórmula da distribuição binomial. Isso pode ser
feito sempre que a prole dos cruzamentos se segregar em duas classes
distintas, por exemplo, macho ou fêmea, normal ou afetado, dominante
ou recessivo.
A fórmula para calcular a probabilidade binomial de que x
indivíduos da prole caiam em uma das classes é:
Fórmula 9.1
onde:
n= número total da prole;
x= número de indivíduos da prole que pertence à primeira de duas
classes possíveis;
y= número de indivíduos da prole que pertence à segunda de duas
classes possíveis;
p= probabilidade de cada indivíduo da prole pertencer à primeira
das duas classes;
q= probabilidade de cada indivíduo da prole pertencer à segunda
das duas classes.
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O esmalte é quebradiço, desprendendo-se em pequenos fragmentos. Três
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casais de uma mesma família procuraram o serviço de aconselhamento
AULA
genético para saber o risco de terem filhos afetados por essa anomalia,
já que há casos na família. A Figura 9.4 apresenta o heredograma da
família em questão. As pessoas que solicitaram a informação foram o
casal III-3 e III-4 e o casal II-7 e II-8. O terceiro casal é formado pelos
indivíduos IV-1 e IV-2, que pretendem se casar, mas estão receosos quanto
à probabilidade de terem filhos com a anomalia. O que você diria a cada
um destes casais?
Figura 9.4: Heredograma de uma família que apresenta amelogênese imperfeita por hipomaturação.
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ção no mesmo loco, e os dois alelos deletérios são herdados por algum
de seus filhos. A chance de isto acontecer é muito aumentada se os pais
forem aparentados, pois numa mesma família vários indivíduos podem
ser portadores do mesmo alelo mutante que é transmitido ao longo das
gerações. A consangüinidade dos genitores de um paciente com distúr-
bio genético é uma forte evidência (embora não comprove) em favor da
herança autossômica recessiva.
Voltando à análise do heredograma, os indivíduos III-3 e III-
4 são heterozigóticos (Aa) para o alelo em questão, o que indica uma
probabilidade de ¼ (25%) de que seu próximo filho,
! independente do sexo, seja afetado pela anomalia.
Quando analisamos um heredograma de uma
anomalia genética rara devemos considerar que No caso do casal II-7 e II-8, a mulher (II-8),
os indivíduos provenientes da população, ou
seja, os indivíduos não-afetados da população
sendo afetada, é uma homozigota recessiva (aa).
que se casam com alguém da família, são Quanto ao homem (II-7), ele é um indivíduo que não
homozigóticos para o alelo normal do gene
em questão. Isto porque, no caso de anomalias pertence a nenhuma das duas linhagens onde o alelo
raras, o alelo mutante está em baixa freqüência
na população, sendo muito pequena a chance que causa a amelogênese imperfeita está segregando.
de um indivíduo da população em geral ser
portador desse alelo. Entretanto, a chance Logo, a chance de ele ser portador deste alelo é igual
de um indivíduo não-afetado da família em a chance de qualquer indivíduo da população, ou seja,
questão ser portador desse alelo mutante
dependerá da análise do fenótipo e do muito baixa. Podemos considerá-la desprezível, sendo
genótipo de seus ancestrais e, quando possível,
da análise de seus descendentes. muito provável que o II-7 seja homozigoto dominante
(AA). A chance de este casal ter uma criança afetada
pela anomalia em questão é, aproximadamente, zero. No entanto, todos
os seus filhos, independente do sexo, serão portadores do alelo a.
No caso do casal IV-1 e IV-2, o cálculo da probabilidade é um
pouquinho mais complicado, pois não sabemos se eles são ou não
portadores do alelo a. Teremos então que calcular a probabilidade de
eles serem portadores. Começando por IV-2, como já sabemos que ele
não é afetado, a probabilidade de ser portador passa a ser 2/3. Isto
porque, como sua irmã (IV-3) é afetada (aa), podemos deduzir que
tanto sua mãe (III-3) quanto seu pai (III-4) sejam heterozigóticos (Aa).
Assim, considerando as quatro possibilidades genotípicas resultantes de
um cruzamento entre heterozigotos (AA, Aa, Aa, aa), a probabilidade
de IV-2 ser portador será de 2 chances am 3 (AA, Aa, Aa, aa
aa), pois
definitivamente este indivíduo não pode ser aa, já que ele não é afetado.
Vamos agora calcular a probabilidade de IV-1 ter herdado o alelo a. A
avó paterna, II.2, é heterozigótica e precisaria passar o alelo a para o
indivíduo III-1, pai de IV-1. Há uma chance de ½ disso ter ocorrido.
Havendo recebido o alelo a, o indivíduo III-1 precisaria ter passado o
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MÓDULO 1
alelo a para IV-1, chance de ½ também. A probabilidade desses eventos
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terem ocorrido é igual ao produto das probabilidades de cada um deles,
AULA
ou seja, ½ x ½ = ¼.
Resumindo, 2/3 é a chance de IV-2 ser heterozigótico e 1/4 é a
chance de IV-1 ser heterozigótica. A chance de o casal ter uma criança
afetada será igual à chance de os dois serem heterozigóticos (= 2/3 × 1/4)
multiplicada pela chance de a criança receber dos dois pais o alelo a (=
1/4). Isto é, 2/3 × 1/4 × 1/4 = 2/48 = 1/24 (= 0,04 = 4%).
É provável que, em alguns dos casos, você tenha ficado na dúvida entre dois padrões
possíveis, mas lembre-se de que, ao analisarmos um pedigree, procuramos determinar o
padrão de herança mais provável.
Veja, por exemplo, o caso do heredograma B. Alguém poderia sugerir que a herança do
traço representado pelos símbolos em negrito pudesse ser autossômica dominante e não ligada
ao X dominante. É verdade que os dois tipos de herança podem explicar o heredograma B,
mas temos que escolher o mais provável. Note que o homem da primeira geração apresenta
o traço e passa o alelo correspondente para todas as suas filhas, mas para nenhum de seus
filhos. Isto é uma forte indicação de que o padrão de herança em questão seja ligado ao X
dominante, pois na herança ligada ao X as filhas recebem um de seus cromossomos X do
pai, enquanto os filhos recebem do pai o cromossomo Y e nunca o cromossomo X. É menos
provável que o padrão apresentado tenha ocorrido por puro acaso.
Na próxima aula teórica vamos ver que diversos fatores podem alterar o padrão de
herança esperado, incluindo a inativação do cromossomo X, a idade do indivíduo
e interações do genótipo com o ambiente, por exemplo.
Contudo, nossa próxima aula será uma prática onde apresentaremos estratégias
para sedimentar os conceitos e as relações conceituais que vimos até aqui.
Verifique, no Guia do Aluno, a data e horário em que você deve se dirigir ao
pólo e não esqueça de levar o resultado das propostas de atividades desta aula e
das anteriores para discussão com seus colegas e tutores.
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Genética Básica | Introdução à Genética Humana: análise de características monogênicas
RESUMO
EXERCÍCIOS
A B C D E F
Autossômica recessiva
Autossômica dominante
Ligada ao X recessiva
Ligada ao X dominante
Ligada ao Y
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