Unidade II

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Especialização em Literatura e Ensino

Módulo
Concepções de Literatura e
II Ensino

Unidade

2
Literatura e práticas educativas: proposições
metodológicas

Autor

Florêncio Caldas De Oliveira


GOVERNO DO BRASIL ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO
Concepções de Literatura e Ensino
Presidente da República Unidade 2: Literatura e práticas educativas: proposições
DILMA VANA ROUSSEFF metodológicas

Ministro da Educação Professor Pesquisador/conteudista


ALOIZIO MERCADANTE FLORÊNCIO CALDAS DE OLIVEIRA

Diretor de Ensino a Distância da CAPES Diretor da Produção de Material Didático


JOÃO CARLOS TEATINI ROSEMARY PESSOA BORGES

Reitor do IFRN Coordenadora da Produção de


BELCHIOR DE OLIVEIRA ROCHA Material Didático
LEONARDO DOS SANTOS FEITOZA
Diretor do Câmpus EaD/IFRN
ERIVALDO CABRAL Revisão Linguística
ELIZETH HERLEIN
Diretora Acadêmica do Câmpus EaD/
IFRN Coordenador de Design e Projeto Gráfico
ANA LÚCIA SARMENTO HENRIQUE LEONARDO DOS SANTOS FEITOZA
Coordenadora Geral da UAB /IFRN Diagramação e Ilustração
ILANE FERREIRA CAVALCANTE LUANNA CANUTO DA ROCHA
LUÃ SANTOS
Coordenador Adjunto da UAB/IFRN
JÁSSIO PEREIRA

Coordenadora do Curso a Distância


de Licenciatura em Letras-Espanhol
CARLA AGUIAR FALCÃO
UNIDADE

1 Literatura e práticas educativas: proposições


metodológicas

APRESENTANDO A UNIDADE

Até agora, conversamos a respeito do ensino de Literatura e conhecemos um pouco os


pensamentos de alguns estudiosos dessa área. Dessa maneira, é pertinente, nesta unidade,
a apropriação do pensamento de dois estudiosos nessa área de conhecimento, os quais
muito têm contribuído para o enriquecimento do ensino de Literatura nas escolas de nosso
país, que são a professora Ivanda Martins e o professor José Hélder Pinheiro. Iremos, pois,
ler dois de seus textos. Ambos integram o livro Português no ensino médio e formação do
professor, organizado por Clecio Bunzen e Márcia Mendonça.

• “A literatura no ensino médio: quais os desafios do professor?”, da Profª Ivanda Martins;

• “Reflexões sobre o livro didático de literatura”, de José Hélder Pinheiro.


Iremos, ainda, observar um capítulo de minha tese de doutoramento, em que faço
uma análise de alguns livros didáticos destinados ao ensino de Literatura no Ensino Médio.
Na tese, originalmente, procedemos com a análise de cinco livros disponíveis no mercado,
todavia, julgamos pertinente, em virtude da natureza da disciplina em curso, restringir
essa amostragem a dois dos livros os quais conheceremos mais a frente. Buscaremos, com
essa leitura, investigar qual tratamento é dispensado à disciplina de Literatura, bem como
analisaremos qual tratamento é dado ao texto literário nos manuais de Literatura.
As leituras e as atividades pensadas para esta unidade foram ponderadas com o intuito
de alcançar alguns objetivos conforme descritos abaixo:

• refletir a respeito do papel do professor de Língua Portuguesa/Literatura e seu reflexo


nas aulas de Literatura;

• discutir acerca do livro didático de Literatura, observando as atividades propostas com


o texto literário;

• analisar aspectos relevantes quanto à apresentação do texto literário;

• elaborar pesquisa analítica em livros didáticos de Língua Portuguesa/Literatura


distribuídos nas escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio.

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Concepções de Literatura e Ensino

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

TEXTO 1

A LITERATURA NO ENSINO MÉDIO: QUAIS OS DESAFIOS DO


PROFESSOR?

Vamos conhecer um pouco sobre a professora


Ivanda Maria Martins Silva? Ela é doutora em Letras
pela UFPE e professora, da Faculdade Integrada do

http://pibidufrpe.ning.com/profile/
Recife (FIR), além de colaborar na UFPE, FAINTVISA,
FACHO e FAFIRE. Tem publicações sobre ensino
de Língua Portuguesa e de Literatura, abordando:
letramento, leitura literária e novas tecnologias, PCN,
literatura pernambucana, entre outros. É autora do

IvandaMartins
livro Literatura em sala de aula: da teoria literária à
prática escolar.

Figura 01

Seu texto “A literatura no ensino médio: quais


os desafios do professor?”, capítulo que integra
http://pibidufrpe.ning.com/profile/

o livro Português no ensino médio e formação do


professor, está dividido em seis subtópicos – Leitura
da literatura e ensino da literatura; Leitura, literatura
e interdisciplinaridade; Escolarização da leitura
literária; Literatura e escola: relação marcada por
IvandaMartins

mitos; Ensino de literatura e novas tecnologias: qual o


papel da escola?; Literatura em sala de aula: sugestões
metodológicas; além das considerações finais.
Figura 02
Logo de início, Ivanda Maria Martins Silva reflete
sobre como a leitura da Literatura e o ensino de Literatura devem estar presentes no
ambiente escolar de modo articulado por se apresentarem relacionados entre si. Para ela,

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essa atitude deve incidir de modo dinâmico a partir do texto literário para que o aluno possa
estabelecer relações interativas com o objetivo a fim de que o estudo se torne significativo.
Reconhecendo o texto literário como sendo “plural”, faz-se necessário, segundo a autora,
que seja proporcionado ao aluno momentos de interação que possibilitem a percepção das
relações existentes entre a “Literatura e as outras áreas do conhecimento” de modo que
“Leitura, Literatura e Interdisciplinaridade” possam estar articuladas, desenvolvendo uma
compreensão mais crítica a partir do texto literário. Para que isso aconteça, é necessário ao
aluno obter noções prévias sobre intertextualidade, interdisplinaridade, transversalidade e
intersemiose com a finalidade de que haja a construção de uma compreensão crítica dos
textos literários que lhes forem oportunizados.
Como exemplificação de sua proposta de ensino, a autora sugere o texto “Poema
tirado de uma notícia de jornal”, do poeta Manuel Bandeira, demonstrando exemplos sobre
as noções apresentadas. A autora propõe uma reflexão sobre a “Escolarização da Leitura
Literária” ao chamar a atenção para o fato de que “é necessário que o aluno compreenda
a literatura como fenômeno cultural, histórico e social, instrumento político capaz de
revelar as contradições e conflitos da realidade” (MARTINS, 2006, p. 90). Evitando, assim,
transformar o texto literário em discurso estático, o que o limitaria tão somente a simples
pretexto para questões de análise gramatical, por exemplo.
No tocante à “Literatura e escola: relação marcada por mitos”, a autora chama
atenção para a existência de alguns mitos – Literatura é muito difícil; é preciso ler obras
literárias para escrever bem; e, a linguagem literária é marcada pela especificidade – os
quais são capazes de disseminar ideias preconceituosas, o que só contribui para a formação
de leitores acríticos.
Em “Ensino da Literatura e novas tecnologias: qual o papel da escola?” notamos uma
preocupação da autora em vista da postura que o leitor precisaria ter – e não demonstra
ter – em relação ao que se lê através das novas tecnologias: e-books, blogs, chats etc. O
indivíduo passa a “navegar” e, como tal, o dilema da leitura literária se repete. Quando ele
(o aluno, indivíduo agora navegador) parece perdido em meio a tantos recursos tecnológicos
que propagam, cada vez mais rápido, informações na mídia eletrônica, provocando, dessa
maneira, a Escola a desenvolver estratégias ainda mais diversificadas com vistas a preparar
melhor o “leitor-navegador”. A respeito dessas questões referentes ao conflito entre o
mundo da internet e a leitura de Literatura, Ivanda comenta:

O aluno deveria ser persuadido, motivado a gostar de ler, atraído pelo


texto literário, encarando a leitura literária como um jogo, nos termos de
Iser (1999), em que o autor dita as regras de funcionamento do jogo por
meio da tessitura textual e o leitor descobre e redescobre como jogar,
negociando sentidos, decifrando pistas, fazendo inferências, enfim,
reconstruindo o jogo, antes dirigido pelo autor. (MARINS, 2006, p. 98).

Esse mesmo aluno ainda não estava conseguindo sequer perceber o que está nas
entrelinhas – o não dito –, portanto, seria necessário desenvolver uma leitura mais crítica

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para o que está ocorrendo na sociedade, de modo que os alunos encontrem o prazer de ler.
Enquanto isso não acontecer, continuarão lendo os resumos das obras clássicas disponíveis
na web, recortando e copiando textos da internet, o que só diminui sua capacidade
imaginativa, limitando seu potencial de coprodução textual enquanto leitores críticos.
Em seguida, a autora apresenta uma breve reflexão sobre a “Literatura em sala de
aula: sugestões metodológicas” com o intuito de enfatizar nos níveis de intertextualidade –
homoautoral; heteroautoral; endoliterária; e exoliterária – em decorrência das frequentes
e rápidas mudanças contextuais que são possíveis de trabalhar na escola. Para melhor
compreensão desses níveis de intertextualidade, Ivanda apresenta o seguinte quadro:

Nível de Definição Exemplo


intertextualidade

Homoautoral Relação entre textos pro- Na obra machadiana, ana-


duzidos por um mesmo lisar a representação dos
autor. perfis femininos (Capitu,
Virgília etc) que dialogam
constantemente.
Heteroautoral Diálogo entre textos de Abordar as relações entre a
autores distintos. obra machadiana Dom Cas-
murro e a tragédia shake-
speariana Otelo.
Endoliterária Relações intertextuais entre Considerar as relações entre
textos que fazem parte do obras literárias como Missa
sistema literário. do Galo, de Machado de
Assis, e Missa do Galo, de
Gilvan Lemos.
Exoliterária Relações intertextuais entre Relações entre o romance
uma obra literária e outro Boca do inferno, de Ana
texto que não participa do Miranda (obra literária), e
sistema literário. os documentos históricos
que forneceram subsídios
para a autora ficcionalizar
a biografia de Gregório de
Matos.

(MARTINS, 2006, p. 99).


Por fim, a autora anota que muito ainda se tem a desbravar para superar os desafios
que se encontram no Ensino Médio quando o assunto é Literatura. Desmistificar (pré)
conceitos construídos e mitificados sobre a Literatura; oportunizar momentos de “leitura
por prazer” em detrimento da “leitura obrigatória”; reavaliar a metodologia aplicada sobre
Leitura da Literatura e Ensino da Literatura; oportunizar o acesso aos textos literários de
maneira dinâmica (lúdica), entre outras estratégias são sugestões que a autora apresenta

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para que o docente possa realizar uma atividade interativa na sala de aula com vistas a
aprendizagem significativa e plural que o texto literário é capaz de proporcionar.

TEXTO 2

REFLEXÕES SOBRE O LIVRO DIDÁTICO

A fim de nos ajudar nessas reflexões, recorremos ao professor José Hélder Pinheiro
Alves. Ele é professor de Literatura Brasileira, Teoria da Literatura e Literatura Infanto-
Juvenil na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba. Mestre e doutor
em Letras pela Universidade de São Paulo. É autor de vários livros, além de capítulos de
livros publicados.

Para apresentação do texto “Reflexões sobre o livro didático de literatura”, de Hélder


Pinheiro, optamos pelo gênero textual esquema
de leitura. Uma vez que julgamos ser de suma

content/uploads/2012/04/0000001277.jpg
importância sua leitura integral. Ao lê-lo, você verá

http://contaumahistoria.com.br/wp-
que o professor Hélder tece comentários pertinentes
acerca do livro didático de Literatura, procedendo
a uma investigação, digamos, de caráter histórico,
desde algumas publicações dos anos de 1960 até
publicações dos anos de 1990.
Primeiramente, transcreveremos um trecho
da “introdução” o qual se constitui em depoimento
pessoal do autor sobre sua experiência com o livro
didático de Literatura. Vejamos o que fala o professor: Figura 03

[...]devo confessar que eles foram meu socorro quando iniciei o magistério.
Os esquemas a colocar nos quadros, as datas, alguns poemas, que até
decorei como o tempo, me foram ofertados pelos livros didáticos. Mas
com o tempo, vamos percebendo que um livro difere pouco de outro.
Que muitos textos se repetem e o que foi descoberta passa a ser limitação.
[...] a experiência de trazer para a sala de aula antologias de poemas, de
contos e crônicas e discuti-las, encená-las suscita um tipo de vibração, de
alegria bem mais significativa do que ficar listando características de estilos
de época. [...] passei a perceber que os livros didáticos, que foram úteis
para um jovem que não tinha condições de comprar livros, poderiam ser
bem mais completos se privilegiassem mais a leitura dos textos (poemas,
crônicas, contos, fragmentos de romances e peças teatrais, para ficar só
com alguns gêneros do domínio literário). (PINHEIRO, 2006, p. 103).

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A partir dessas reflexões, Hélder se propõe a levantar questões, ao longo do texto,


com a finalidade de ajudar a pensar um outro modelo de livro didático, embora acredite
que, para se estudar Literatura, o melhor mesmo seria ir direto às fontes. Nossa escolha
para o estudo desse texto foi norteada por, igualmente, acreditarmos que o ensino de
Literatura deva ser pautado em outro modelo que não seja o trazido nos livros didáticos
e que caberia ao professor a seleção mais pertinente dos textos a serem lidos e analisados
em sala de aula.
O texto “Reflexões sobre o livro didático de literatura” está dividido em sete subtópicos,
além da introdução:
0. Introdução
1. Estudos pioneiros sobre LD de literatura
2. Diversidade de livros
3. A cara dos livros didáticos de literatura nos últimos quinze anos
4. História da literatura
5. Livros didáticos de literatura?
6. Sugestões para o trabalho em sala de aula
7. Considerações finais

Passemos, agora, ao esquema de leitura:

Estudos pioneiros sobre LD de literatura


1. Reflexões sobre o ensino de literatura e livro didático têm chamado a atenção para
problemas complexos e poucas vezes superados.
2. Algumas merecem ser retomadas para se ter noção do que mudou, do que resiste
e de quais os novos conflitos e possíveis avanços que as obras contêm.
3. Osman Lins:
Do ideal e da glória (1978):

• crítica fecunda aos manuais;

• levanta pontos que permanecem atuais;

• discute ausência de obras literárias de autores de algum modo ligados ao modernismo;

• questiona o valor estético dos textos selecionados;


4. Em 1976, Osman Lins volta-se para os livros didáticos e chama a atenção para
novas questões:

A primeira coisa, neles, que desperta a curiosidade, são as palavras com


que os seus autores os introduzem, em geral dirigidas aos alunos. Tal
introdução, parece, transformou-se em norma; o tom, aí, é sempre ameno
e aliciador, sem perder de vista certos recursos usuais de venda. (LINS,
apud PINHEIRO, 2006, p. 104).

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5. A crítica de Osman Lins à ideologia subjacente ao manual didático anda um pouco


deixada de lado entre educadores.
6. Lígia Chiappini de Moraes Leite:
Invasão da catedral: literatura e ensino em debate (1983):

• levanta questões sérias e atualíssimas sobre o uso do manual didático;

• não se interessa apenas em indicar os limites do livro didático. Ela sugere saídas sempre
ciente dos limites de qualquer proposta;

Não há, evidentemente, fórmulas mágicas para resolver essa questão.


Talvez seja possível a invenção de um livro didático que não suponha uma
concepção ‘bancária’ do ensino e da aprendizagem. Talvez seja possível
a invenção de um antimanual, ou de um plurimanual; de livros que não
tragam o saber condensado, congelado a partir de uma perspectiva unitária,
mas incorporem a diversidade e, caleidoscópios, tornem a questionar
numa página o que responderam na outra. (CHIAPPINI, apud PINHEIRO,
2006, p. 105).

7. Tem-se discutido pouco o livro didático de literatura.


8. Mais grave: tem-se discutido pouco o ensino de literatura.
9. Pouco interesse dos professores de literatura em se reunir em associações, como as
que existem em linguística, história, geografia e outras disciplinas.

Diversidade de livros
1. Destaca-se a diversidade de autores e de reedições.
2. Boa quantidade de livros no mercado.
3. O modo de apresentar a literatura e de conceber o seu ensino não tem sofrido
grandes alterações.
4. Dois modelos de livros didáticos: os livros de coleções voltadas para os três anos
do ensino médio e os de volume único.
5. Quase sempre são de língua e literatura; em muitos deles, a literatura é a menor
parte.
6. Em geral, estas obras são muito parecidas, sobretudo nos problemas:
1. A quantidade de textos literários é sempre muito pequena.
2. Além da quantidade, há a questão do fragmentarismo.
3. Os autores omitem muitas referências bibliográficas.
4. Outro problema é o modo como são trabalhadas as figuras de linguagem.
5. Os livros didáticos são, em sua totalidade, escritos no eixo Rio-São Paulo, os
autores não priorizam autores contemporâneos de outras regiões do país.
6. No fim da década de 1960, publica-se Literatura brasileira em curso, de Dirce
Riedel, Carlos Lemoas, Ivo Barbieri, Therezinha Castro.

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A cara dos livros didáticos de literatura nos últimos quinze anos


1. Mudaram sua apresentação: maiores, bem mais coloridos, em papel de melhor
qualidade; o número de imagens é a grande diferença;

Lado positivo Lado negativo

Se o manual é de
Diálogo das artes: proximidade
literatura, espera-se que a
temática ou de estilo entre um
predominância seja de textos
poema e um quadro e uma escultura.
literários.

Imagens de filmes, de montagens


O espaço concedido a
teatrais, um cenário podem levar a
imagens poderia ser ocupado
leituras mais significativas de obras
por mais textos.
literárias.

Espaço significativo dedicado


a exercícios de vestibular.

História da literatura
1. Estuda-se mais história da literatura e não as obras em particular.
2. Tendem a apresentar as obras como exemplo de determinados estilos de época.
3. O problema não é do autor do livro: eles têm espaço delimitado e não podem ir
além do que imposto.
4. Não privilegiar um método que força a memorização e não a experiência real de
leitura dos textos.

Uma possível saída, que experimentamos em nossa atuação como


professores do ensino médio, seria inverter a ordem dos conteúdos.
Ou seja, iniciar os estudos literários no ensino médio pela literatura
contemporânea. Mas a mera mudança de ordem também não garante um
bom trabalho. Há ainda uma questão séria a ser enfrentada: a formação
metodológica do professor e suas experiências de leitura do texto literário.
(PINHEIRO, 2006, p. 113).

Livros didáticos de literatura?


Neste tópico, Hélder lança algumas questões:

• Precisamos de livros didáticos de literatura?

• Os livros didáticos de literatura, como estão, têm contribuído para a formação de


leitores de obras literárias?

• Não seria mais rico ler as obras com os alunos?

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• Não seria mais produtivo estudar Gregório de Matos, por exemplo, lendo uma
diversidade maior de poemas de uma antologia que traz sempre mais poemas que
qualquer livro didático?
1. Os professores precisariam estar mais bem preparados intelectual e
metodologicamente, fundamentando-se em trabalhos de crítica literária á
disposição em livros, artigos, teses e dissertações.
2. A escola é o lugar de leitura e discussão.
3. As condições sociais da absoluta maioria dos professores, a própria formação a
que tiveram na universidade torna quase impossível a hipótese de deixar de lado o livro
didático.
4. Hoje, os meses de janeiro ou junho são tomados por reuniões, planejamentos e
outras atividades que nem sempre fazem avançar a prática educativa.

Sugestões de trabalho
Partindo de sua experiência de sala de aula, o autor faz duas sugestões bem pontuais.
Segundo ele, o trabalho com a literatura deve sempre estar ligado à nossa vida, nossos
desejos, nossos mais diversos sentimentos. Assim, aponta as seguintes sugestões:
1. É bom que o(a) professor(a) conheça um pouco a realidade social e cultural de seus
alunos.
2. Qualquer que seja o LD adotado pelo profissional de ensino, sugere que ele não
fique preso apenas aos textos do livro.
Nesta linha de raciocínio, o professor José Hélder Pinheiro finaliza:

Inúmeras outras questões poderiam ser levantadas sobre o modo como


os manuais didáticos abordam a literatura. Por exemplo, discutir mais
profundamente determinados conceitos que circulam sem muita precisão
e com eficácia discutível para a formação de leitores de literatura.
Questões teóricas que estão no calor da hora, como algumas discussões
propostas pelos estudos culturais, pouco ou nada se refletem nos livros
didáticos. Também, as ricas discussões sobre formação de cânon, sobre
as obras que a escola privilegia necessitam ser discutidas. Embora não
partilhe da visão dos que procuram negar o cânon, acho que ele precisa
sempre ser discutido. Só assim evitaremos qualquer forma de dogmatismo.
(PINHEIRO, 2006, p. 115).

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TEXTO 3

O QUE DIZEM OS LIVROS DIDÁTICOS DE LITERATURA?

Para dar continuidade ao nosso curso, depois de observadas as problemáticas acerca


das questões que envolvem o ensino de Literatura, partirei para a observação de alguns dos
livros didáticos existentes no mercado, a fim de discutirmos sobre as práticas do ensino de
Literatura no ensino médio. A razão pela qual farei essa análise, refere-se ao fato de que,
hoje no Brasil, o livro didático apresenta-se como um instrumento importante na prática
educativa, uma vez que, em muitas realidades educacionais, constitui, muitas vezes, como
única possibilidade de ferramenta de trabalho do professor.
Analisarei dois livros didáticos de Literatura
destinados ao ensino médio, com o objetivo de investigar

Fonte: arquivo pessoal do professor


como se apresentam as propostas de ensino de Literatura
e, especificamente o estudo acerca dos gêneros literários.
Assim, selecionei duas obras para esta análise: Português:
linguagens, de Willian Roberto Cereja & Theresa Cochar
Magalhães (2005); e, Gramática, literatura & produção
de textos para o ensino médio, de Ernani Terra & José de
Nicola (2002).
1. Português: linguagens, de Willian Roberto Cereja
e Theresa Cochar Magalhães: Figura 04

No capítulo 2, “Introdução à literatura”: os


http://lista.mercadolivre.com.br/portugus-linguagens-

autores trazem dois textos: o primeiro é trecho de uma


reportagem de jornal, de autoria de Mirna Feitosa,
intitulada Dormir fora de casa pode trazer tormento, o
segundo, uma crônica de Moacyr Scliar, Tormento não
tem idade, seguidos de uma atividade em que discutem
a natureza da linguagem literária através da investigação
dos aspectos formais dos dois textos. E apresentam o
conceito de plurissignificação da linguagem literária.
Em seguida, subdividem o capítulo: “Literatura: a arte
vol-1-william

da palavra”; “Literatura e comunicação”; “Literatura e


sociedade”; “Literatura e imaginação”; “Literatura e
prazer”; “A literatura na escola”; “Estilos de época, estilo
pessoal, tradição literária”.
Figura 05
No penúltimo parágrafo da página 35, lembram

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que a partir do capítulo 5 da unidade do livro, o aluno iniciará o estudo sistematizado


da literatura em língua portuguesa, começando pelas origens da literatura em Portugal,
ressaltando que a literatura brasileira surgiu somente alguns séculos depois.
O capítulo 3, Produção textual, intitulado Introdução aos gêneros do discurso,
subdivide-se em dois tópicos: O que é gênero textual?; Os gêneros literários.
Na obra em questão, os capítulos voltados para o
estudo da Produção de texto, apresentam um estudo

http://www.crisdias.com/s/43018/gramatica-
mais detalhado sobre as formas literárias: o poema, o

literatura-e-producao-de-textos-curso-
texto teatral, a crônica e o conto. Essas formas literárias
são estudadas como sendo gêneros textuais, ou gêneros
do discurso, o que compreendemos ser uma forma
reducionista de estudo dos gêneros literários.

completo-2-grau.html
No capítulo 31, que trata do gênero crônica, os
autores lembram que o gênero é híbrido: oscila entre a
literatura e o jornalismo.
2. Gramática, literatura & produção de textos para o
ensino médio, de Ernani Terra & José de Nicola:
Figura 06
Esta obra é dividida em três partes: Produção de textos, Gramática e Literatura. Na
parte Literatura, no capítulo 1, “A arte literária”, inicia-se com duas gravuras: Esboço para A
Negra e A Negra, ambas de Tarsila do Amaral, e um fragmento do poema Pai João, de Jorge
de Lima, com exercício. Apresentam um estudo sobre literatura – “A arte literária” – o qual
traz fragmentos dos críticos José Veríssimo, Jonathan Culler e do poeta norte-americano
Ezra Pound. Os autores finalizam esse trecho, sintetizando o que fora exposto: exposicoes/exposicao_permanente_obras/
exposicoes/exposicao_permanente_obras/

exposicao_permanente_obras_tarsila.asp
http://www.mac.usp.br/mac/templates/
exposicao_permanente_obras_tarsila.asp
http://www.mac.usp.br/mac/templates/

Figura 07 Figura 08

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Dessa forma, apenas como ponto de partida do nosso trabalho com literatura,
podemos estabelecer que:

• a literatura é uma manifestação artística;

• a linguagem é o material da literatura, isto é, o artista literário trabalha predominantemente


com a palavra;

• em toda obra literária percebe-se uma ideologia, uma postura do artista diante da
realidade e das aspirações humanas. (ERNANAI & NICOLA, 2002, p. 234).
Após essa introdução ao estudo de literatura, os autores iniciam o estudo sobre os
gêneros literários, propriamente ditos. Reportam-se à divisão clássica feita por Aristóteles:
lírico, dramático e épico. Optam por acrescentar às três formas aristotélicas, o gênero
narrativo, que compreende as narrativas em prosa. Como se pode ver na síntese a seguir:

• Gênero lírico: ode e hino; elegia; idílio e écloga; epitalâmico; sátira; soneto;

• Gênero dramático: tragédia; comédia; tragicomédia; farsa;

• Gênero narrativo: romance; novela; conto; fábula; crônica;

• Gênero épico: aqui, os autores fazem menção à epopeia e apresentam sua divisão:
proposição ou exórdio; invocação; dedicatória; narração; epílogo. (ERNANAI &
NICOLA, 2002, p. 235-6).
No segundo capítulo desta obra, “A linguagem literária”, além de discutirem acerca da
conotação, da denotação e das figuras de linguagem, os autores finalizam o capítulo com
fragmentos do texto Retórica e poesia, de Jonathan Culler, cujo tema central trata de uma
abordagem sobre a divisão aristotélica entre retórica e poesia, a teoria literária e a metáfora.
No capítulo 3, “Periodização das literaturas portuguesas e brasileiras”, os autores
estabelecem uma rápida diferença entre arte literária e história da literatura.
Em seguida, surge um capítulo com a exposição da periodização literária portuguesa,
subdividindo-a em: Era medieval; Era clássica e Era romântica ou moderna; e a periodização
literária brasileira, subdividida em: Era colonial (de 1500 a 1808); Período de transição (de
1808 a 1836) e Era nacional (de 1836 até nossos dias).
Nos capítulos destinados ao estudo de literatura, há uma abordagem historiográfica,
com ênfase das escolas literárias, dos momentos históricos de cada período em estudo,
com dados sobre a vida dos autores. O texto literário é apresentado em fragmentos, sem
nenhuma referência ao texto enquanto objeto estético da palavra escrita.
Recomendo que, para finalizar esse estudo, a leitura do capítulo integral de minha
tese, bem como a consulta às obras analisadas, ressaltando as edições que utilizei.

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ATIVIDADES

Para esta atividade de proposição de leitura, trabalharemos com o gênero


entrevista. Para tanto, deverá ser escolhida, se possível, uma escola, que não seja
a que você trabalhe normalmente, a fim de que os resultados a serem alcançados
não sofram influências da sua prática escolar. A entrevista deverá ser realizada com
professores de Língua Portuguesa que atuem no mesmo nível de ensino que você. A
quantidade de escolas ou o número e entrevistados, dependerá do contexto local –
poderá ser cerca de 4 ou 5 docentes.. Eis as questões a serem utilizadas na entrevista:
Questões

1. Em suas aulas de literatura, ao estudar o texto literário (contos, poemas,


romances, cordel, texto de teatro, entre outros), é levada em consideração a leitura
do aluno (opinião, comentário, ponto de vista)?
2. Ao selecionar textos literários para estudo em sala de aula, você leva em
consideração o conhecimento prévio de seu aluno?
3. Ao estudar literatura, que aspectos são abordados?
4. Que método de ensino você usa em aulas de literatura?
5. Como é feita a avaliação dessas leituras?
Depois de feita a coleta dos dados, produza um artigo no qual deverão ser
apresentados os resultados em forma de tabela. Seguido de avaliação crítica.

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LEITURAS OBRIGATÓRIAS
1. MARTINS, Ivanda. “A literatura no ensino médio: quais os desafios do professor?”.
In: Português no ensino médio de formação do professor. São Paulo: Parábola, 2006. (p.
83-102).
2. OLIVEIRA, Florêncio Caldas de. O ensino de literatura na perespectiva dos gêneros
literários: uma proposta de trabalho. 2010. 245p. Tese (Doutorado em Letras) – Programa
de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. 2010.
3. PINHEIRO, José Hélder. “Reflexões sobre o livro didático de literatura”. In: Português
no ensino médio de formação do professor. São Paulo: Parábola, 2006. (p. 103-116).

LEITURAS COMPLEMENTARES
1. BRANDÃO, Roberto de Oliveira. “Os manuais de retórica brasileiros do século
XIX”. In: O Ateneu: retórica e paixão. São Paulo: Brasiliense, 1988. (p. 43-58).
2. GEORGES, Snyders. Alunos felizes: reflexão sobre a alegria na escola a partir de
textos literários. Trad. Cátia Aida Pereira da Silva. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1993.
3. LAJOLO, Marisa. “Literatura e história da literatura: senhoras muito intrigantes”.
In: História da literatura: ensaios. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1994. (p. 19-36).

Especialização em Literatura e Ensino


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Unidade 2
Concepções de Literatura e Ensino

REFERÊNCIAS
ZILBERMAN, Regina. (org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor.
11.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. (Novas Perspectivas, 1).

LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001.

MACHADO, Irene A. Literatura e redação. São Paulo: Scipione, 1994. (Série Didática –
Classe Magistério).

ROCCO, Maria Thereza Fraga. Literatura, ensino: uma problemática. São Paulo: Ática,
1981. (Ensaios, 77).

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - http://pibidufrpe.ning.com/profile/IvandaMartins

Figura 02 - http://www.letramento.iel.unicamp.br/portal/wp-content/uploads/2009/07/
livro_clecio.jpg

Figuras 03 -http://contaumahistoria.com.br/wp-content/uploads/2012/04/0000001277.jpg

Figura 04 - Fonte: arquivo pessoal do professor

Figura 05 - http://lista.mercadolivre.com.br/portugus-linguagens-vol-1-william

Figura 06 - http://www.crisdias.com/s/43018/gramatica-literatura-e-producao-de-textos-
curso-completo-2-grau.html

Figura 07 - http://www.mac.usp.br/mac/templates/exposicoes/exposicao_permanente_
obras/exposicao_permanente_obras_tarsila.asp

Figura 08 - http://www.mac.usp.br/mac/templates/exposicoes/exposicao_permanente_
obras/exposicao_permanente_obras_tarsila.asp

Especialização em Literatura e Ensino


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