The Evil Couple - Duologia Bad - Y.L Rodrigues
The Evil Couple - Duologia Bad - Y.L Rodrigues
The Evil Couple - Duologia Bad - Y.L Rodrigues
EVIL
COUPLE
Duologia Bad Heart - 1
Capa:
Y.L Rodrigues
Betagem:
Eduarda Moura
Leitura sensível:
Carolina Kim
(Cap 14)
Diamagração:
Y.L Rodrigues
Eduarda Moura
Prólogo
Capítulo 01 - O Reencontro
Capítulo 02 - Te provocando
Capítulo 03 - Pavão?
Capítulo 08 - Me recuso
Capítulo 10 - Calafrios
Capítulo 13 - Atrasado
Capítulo 14 - Frágil
Capítulo 15 - Fanfic
Capítulo 19 - Afastados
Capítulo 25 - Proteção
Capítulo 27 - Cibele
Capítulo 29
Epílogo
Capítulo bônus
Em breve...
Notas da autora
Sobre a autora
Este livro contém material sensível, linguagem com palavrões, e
gatilhos de ataque de pânico, autolesão. Em nenhum momento,
romantizo nenhuma dessas ações e respeito pessoas que passam por
essas coisas.
Porque eles dizem que todos garotos maus trazem o céu até você. A
garota má pode trazer o mundo até você, assim como ela pode colocar tudo
ao chão apenas para te destruir...
Prólogo
Tenho vontade de correr pelo quintal e sentir a chuva bater contra meu
rosto, seria uma sensação tão prazerosa, se eu não tivesse sido chamada
para ver meu pai hoje.
Quando eu e meu pai nos mudamos, o lugar ainda era carregado de luxo,
mas não tanto como agora. Eu tenho certeza que o jarro de flores na mesinha
de centro é revestido de cristais e a mesa tem detalhes em ouro.
Ouço barulho de passos e olho para a entrada em arco, meu pai entra de
mãos dadas com a mulher que eu conhecia tão bem. Imaginar que ano
passado, Alisson vinha para me ver e agora ela dorme com meu pai, é algo
de embrulhar o estômago. Vou nem pensar no fato de que ela poderia ser
minha irmã mais velha.
— Alguma música vai tocar agora para combinar com a entrada triunfal de
vocês? — Digo, com a sobrancelha arqueada.
— Se não for para falar o que eu penso, para que vim ao mundo?
Da última vez, três vasos inocentes foram sacrificados para aplacar a raiva
do meu pai. Quase tenho vontade de rir ao me lembrar desse dia.
Isso não pode ser verdade, não, não… Ele não fez isso, mas conhecendo
bem esse homem que viveu comigo por anos, isso é bem o seu feitio. Meu pai
acha que ficar noivo a cada ano com mulheres diferentes é algo muito normal,
babaca imprudente.
Ele fez isso só para me provocar porque dentre todas as moradoras desse
lugar, ele tem que ficar noivo da mulher que um dia foi minha amiga. Oh! Com
certeza, eu iria surtar, mas não na sua frente.
— A única pessoa que tem o gênio para quebrar as coisas nessa casa é
você, pai — Digo, revirando os olhos. — Se vocês já falaram sua notícia, eu
irei para minha casa
— Não, você não vai vim com esse teatrinho pra cima de mim. Eu já
aguentei desculpas suficientes de vocês dois. — Vou em direção a porta, mas
a voz grave do meu pai me interrompe no lugar.
— Não tem nada que você possa fazer, iremos nos casar. — Me viro em
minha bota, que faz barulho no chão de mármore. O encarando novamente.
— Eu não preciso fazer nada, você vai causar isso por conta própria. Se
temos algo em comum, é sempre destruir as pessoas ao nosso redor.
Um ano atrás, Alisson se assustaria ao ver que agora ela usa escova ao
invés dos seus cachos naturais, me recordo como ela era apegada com seu
cabelo. Mais uma modificação do meu pai, tudo ele molda até ficar ao seu
agrado.
Se eu tivesse continuado na mansão, ele teria feito o mesmo comigo ou
pior. O pensamento me faz sentir um arrepio, ainda bem que fui embora
quando completei dezoito anos.
— Você não pode continuar agindo assim, seremos uma família. Já não
me imaginava como irmã?
— Irmã para madrasta, que grande distância entre essas duas posições.
— Acelero a moto para longe de Alisson, para longe do meu pai e daquela
mansão fria.
Eu consegui sair daquela casa, mas algo ainda me impede de deixar meu
pai ir. Insistindo em saber se ele está bem, quando nenhum de nós dois está
e que nossa relação é fadada ao fracasso desde o momento que nasci.
Depois de uns dez minutos, os ventos se tornam mais fortes, mas eu nem
sequer penso em parar, quero continuar sentindo todo esse caos se formar
ao meu redor como se fossemos iguais. Eu sendo uma tempestade por
dentro e a natureza por fora.
Fecho os olhos para acalmar um pouco o meu interior, estou uma confusão
maior que toda essa tempestade, mas isso é algo de muitos anos atrás. O
anúncio do noivado só contribuiu mais ainda para o fiapo de saúde mental que
eu ainda tento — desesperadamente manter, querer se partir.
É nesse fiapo que eu me agarro com todas as forças, como se pelo menos
nisso ela não tivesse me atingido, mas de resto ela me destruiu
completamente, assim como fez com meu pai.
Tenho que virar a moto bruscamente, antes de derrapar pelo chão e minha
cabeça — protegida pelo capacete — bater com tudo no asfalto.
Gosto de sentir uma familiaridade com toda essa confusão que acontece. A
natureza é algo para ser apreciado.
Eu não consigo ver muito bem o rosto da mulher já que está coberto pelo
capacete, mas quando seus olhos se abrem tento não demonstrar como
aquela imensidão de íris pretas fez meu coração errar uma maldita batida.
Porra, são os olhos mais escuros que eu já vi em toda minha vida.
— Isso é uma rodovia, não uma pista de corrida. — Me fuzila com o olhar.
— Você deveria estar andando a mais de cem por hora, existe uma placa
de cinquenta quilômetros aqui.
A motoqueira maluca iria cair com a moto e tudo, me adianto e pego ela
pela cintura, segurando o veículo com a mão livre.
Sem cabeça para sofrer alguma multa porque querendo ou não, ela está
certa. Aquela rodovia não é para alguém ficar correndo.
Entro no meu quarto com um copo de água e alguns remédios que eu tinha
encontrado para dor.
— Meu apartamento.
— Sabia que você é um Ted Bundy da vida, só para avisar que eu já tive
aula de MMA e defesa pessoal, não vai ser tão fácil se livrar de mim.
— Isso são remédios para dor, você deve ter desmaiado por conta do
impacto, mas não acho que tenha sido alguma concussão na cabeça — A
motoqueira encara os comprimidos como se fossem veneno. — Se fosse
para te matar, eu teria feito isso quando estava apagada.
— Onde é a saída desse lugar? Acho que ainda não estou pronta para ser
presa. — Passa por mim e vai em direção a sala, vou logo atrás.
Vai saber se ela iria me roubar, mas pelo modelo exclusivo da sua moto,
eu sei que a mesma deve ter uma boa condição de vida. Assim como a
metade da Califórnia, o lugar é cheio de bilionários.
A mesma decide ir de escadas e agradeço mentalmente por isso, cada
degrau em direção a garagem um pouco do seu rosto se enruga. Alguém
tenta manter a pose de durona.
Indico na direção que leva a garagem e ela me segue, aponto para sua
moto em um canto.
— Achei que ainda não estava pronta para ser presa.— Dou um sorrisinho
enquanto abro o portão da garagem.
Ela coloca seu capacete e nem olha duas vezes para mim antes de
acelerar pela rua do condomínio, presto atenção em algo escrito nas suas
costas. O que é? Não faço a mínima ideia, mas tenho a impressão de já ter
visto em algum lugar.
Verifico pela grande janela do meu apartamento que hoje o clima está
voltando ao seu normal, o sol já brilha no céu, mandando raios solares para
dentro do meu apê. As luzes se destacam no lugar de paredes pretas e
móveis da mesma cor.
Respondo com alguma figurinha, sei o quanto Lohan odeia recebê-las, mas
é um modo bem prático de responder ao está com pressa.
Estaciono minha moto e coloco meus óculos de sol enquanto caminho pelo
grande campus, a universidade é a melhor do estado e também a mais cara.
Então é obrigação deles ter um campus desses com ginásio para hóquei e um
para futebol, como estamos na Califórnia, o foco é mais no futebol americano,
isso não deixa que o time de hóquei fique para trás.
Possui mesas distribuídas pela extensa área verde, que fica próxima dos
quatro edifícios de aulas e todos eles tendo quatro andares, todos equipados
com material de última linha e possuindo um visual moderno por fora, tirando
a biblioteca.
— Se você quiser, posso ter uma palavrinha com seus colegas de time. —
O sorriso de Bastien se tornou malicioso.
A mesma puxa sua bolsa e sai apressada pelo campus, tirando qualquer
pessoa que esteja em seu caminho.
Sinto que alguém me encara mais do que o normal, já que ninguém tem
coragem de me olhar por tempo suficiente e não sair correndo na direção
contrária. Me viro e encontro o cara de ontem, o que tinha me feito sofrer um
acidente.
Encontrei seu olhar, ele murmura algum palavrão, o mesmo estar ao lado
de dois jogadores do time de hóquei. Phineas Rodriguez e Santiago.
Eles vêm andando em minha direção e ergo minha cabeça para encará-los,
só Phineas que não é tão alto quanto os outros dois, mesmo assim ainda é
uns bons centímetros mais alto do que eu.
Me solto dele e percebo que o idiota nos encara, tentando entender que
relação eu tenho com aqueles dois. Fofoqueiro.
— Stor, esse é o Jace, nosso novo colega de time. — Quase sinto meu
queixo cair com aquela informação. O babaca é daqui e ainda vai fazer parte
do time? O universo está fumando drogas por algum acaso?
Entro no meu prédio de aula e vou direto para meu andar, dou bom dia para
a professora antes de caminhar até a última cadeira.
A aula começa e pego meu tablet que é distribuído pela universidade, uma
forma de não ficar andando com o peso dos livros que são imensos. Me
desconcentro do texto ao perceber que Storm está brincando com o doce,
em sua boca.
— Pode ter certeza que não penso em você desse jeito. — Abro um
sorrisinho cínico.
— Não precisa sentir nada, é gratificante ouvir isso ainda mais porque eu
não quero nada com você também.
— Claro, Storm. — Digo seu nome com nojo, a fazendo revirar os olhos.
O restante da aula, fingimos que o outro não existe e agradeço por isso,
mentalmente. Aquela coisinha pequena sabe ser irritante e eu não estou com
saco para lidar com isso.
Pelo o que Phineas e Santiago avisaram, ela é desse jeito mesmo. Os dois
falavam sobre uma amiga que é assustadora e irresistível ao mesmo tempo,
tive a prova ao ver Storm.
Storm, seu nome significa tempestade em inglês e isso combina com a
mesma. Nada ou ninguém pode parar uma tempestade, assim como nada ou
ninguém deve parar Storm.
Eu ainda sinto saudades do frio da Rússia, mas não nego que esse clima
quente esteja me fazendo bem.
Estou a caminho de uma das bibliotecas quando vejo minha prima Audrey
com seu namorado — a estrela do gelo — Will Jones. Eu o conheci nas
seletivas do time e a treinadora colocou nós dois como wingers. Uma péssima
decisão.
Audrey percebe meu olhar e uma sombra de surpresa surge em seu rosto
impecável. Eu e minha prima éramos confundidos com gêmeos quando mais
novos, até hoje ainda compartilhamos algumas similaridades, a mais visível
são nossos cabelos loiros, porém o meu é matizado e o da minha prima louro
natural.
A mesma sussurra algo para Will, antes de vir caminhando até mim. Ela
para na minha frente e simplesmente me dá um tapa, fazendo meu rosto
queimar.
— Você se mudou a treze anos atrás e não deu mais sinal de vida, agora
volta como se nada tivesse acontecido? — Talvez eu tenha sido um péssimo
primo. — Então continua sendo o mesmo babaca de sempre.
— Também senti sua falta. — Por mais que Audrey não acredite, eu estou
sendo sincero. Eu senti falta dela, mas a mesma me lembrava desse lugar e
eu tive que me distanciar para o meu bem.
Depois de ficar um tempo parado onde falei com minha prima, fui em
direção a uma das bibliotecas. Encaro o grande prédio que é o único pelo
campus que parece não ter passado por uma reforma, toda a frente do local
mostra como sofreu com o tempo.
Storm percebe que estou ao lado de Lizzie e faz questão de fechar a cara,
voltando a atenção para o garoto em sua frente.
— Ela tem mania de achar que isso virou algum motel — Estende o livro
para mim e o pego. — Você deve ser o Jace, certo? Meu namorado
comentou.
— Seu namorado é…? — Respondo meio ríspido, não gosto de papo
jogado fora.
— Certo, lembro dele. Foi bom te conhecer, Lizzie. — Ela concorda com a
cabeça.
Não preciso olhar uma última vez para Storm, para saber que a mesma
está me vendo ir embora.
Meu pai e eu não somos conhecidos por termos uma boa relação. A
verdade é que não tenho boa relação com ninguém da minha família, tirando
minha avó e mesmo assim quase estraguei tudo com ela.
Por mais que ambos tenham bastante dinheiro, minha mãe que lidera no
quesito poder e influência, sendo uma empresária de sucesso. Isso quer dizer
que é a mesma que paga meu ensino, algo que eu não sou muito a favor
porque é um modo dela jogar na minha cara que ainda me ajuda depois de
tudo o que fiz.
— Audrey ligou para sua mãe...— Reviro os olhos com a boca grande da
minha prima, a puxação de saco não mudou. — Você não contou para sua
prima que estava indo para mesma universidade que a dela?
— Não, porque Evans não tem nada a ver com minhas decisões.
— Vocês são primos e tiveram uma época que eram como irmãos. Pelo
jeito se esqueceu disso também.
Eu não tinha me esquecido, Audrey era minha outra metade na infância,
isso foi destruído por mim e pela influência dos nossos pais. Pelo jeito,
ninguém da família pode ter laços como os das gêmeas Ludovicih.
— Eu sei.
— Jace Ludovicih, não nos faça se arrepender por você ter voltado. Mas
ainda é seguro você se manter distante dela.
— Não repita coisas que eu já sei. O que você quer, pai? Eu preciso ir.
Eu posso ter vinte e três anos, mas ainda sim, não tenho escolhas sobre
não ir para esse jantar. Serão horas incessantes dos meus pais me
lembrando de todas as merdas que eu já fiz e continuo fazendo.
Entro na minha próxima aula e reviro os olhos quando vejo Storm nessa
também. Tenho que arrumar um jeito de mudar essa grade curricular.
— Sério? Que raios de curso você faz para estar aqui? — Sua pergunta é
carregada de raiva e abro um sorrisinho, que a faz revirar os olhos.
— Veterinária, mas tinha que escolher uma aula extra de humanas — Dou
de ombros, me sentando ao seu lado. — Você não é a única que não está
feliz com isso.
— Além de ter que lidar com a professora, vou ter que aguentar sua
presença? Já mereço o Nobel da paz.
Se essa mulher acha que pode me causar medo está muito enganada, ela
vai acabar sabendo que eu também não sou alguém para se mexer.
— Espera, você vai para uma festa com seu pai porque ele te obrigou? —
Lohan exclama.
— Desde quando você e seu pai são uma família? — Ele tem um ponto.
Eu não estou em um bom momento com meu pai há anos, mas tirando
minha avó e meus tios, meu pai é alguém que chega mais próximo de família,
se bem que para ele eu só sirvo para essas demonstrações públicas.
— Certo, minha mãe não está muito bem hoje também, então preciso me
distrair um pouco também. — Isso faz a bile subir pela minha garganta.
Tem como acabar com algo, quando não existe mais nada em sua alma?
— Não é como você pudesse opinar no que devo ou não usar. — Abro um
sorrisinho sarcástico, passando pelos jornalistas em frente à mansão. Eu que
não iria tirar fotos ao lado do meu pai e da Alisson, não vou fingir que temos
uma boa relação para promover Caleb.
Consigo ver até Audrey Evans, parecendo uma estrela brilhante desfilando
pelo salão. Mas tem algo nela que não combina com seu personagem, seu
sorriso parece forçado demais e ela aperta com tanta força a mão de Will,
seu namorado.
Merda, não pode ser. Esse não é o mesmo sobrenome do Jace? Ele é filho
do doutor Durand? Uma dor de cabeça me atinge e procuro a saída mais
próxima, respiro aliviada quando estou no jardim.
Tento acalmar minha mente barulhenta, não gosto de saber que Jace é
filho de Ayla e Durand. Eu odeio saber disso, faz meu estômago se revirar.
Ergo minha cabeça, no momento que ouço uma série de palavrões, mas
acho que são em outro idioma. Como a boa curiosa que sou, me aproximo do
barulho para tentar me distrair um pouco, vou até uma área cheia de animais
exóticos, incluindo pavões.
Uma pessoa tenta desesperadamente fazer com que um dos pavões fique
em seu lugar, mas o bicho corre de um lado ao outro.
A cena é engraçada, mas resolvi deixar para lá. Cômico a pessoa achar
que vai conseguir pegar um animal ágil daquele.
Aproximo-me do lago que tem ali perto. As luzes do jardim iluminam o lago
escuro e a vasta propriedade da família Durand, consigo avistar até um
estábulo no fim do lugar.
Encaro as estrelas brilhando no céu, são poucos momentos que posso
apreciar um céu desse, mas tento aproveitar cada segundo. A vastidão do
universo é algo tão incrível e somos apenas minúsculas partículas em um
mundo tão grande.
— Só podia ser você. — Limpo meus olhos que também estão sujos.
— Seu filho da...— Assustei o animal que começa a correr que nem um
maluco. DE NOVO.
— Você fez ele fugir. — Jace começa a correr atrás do bicho, enquanto
eu os observo.
— Isso vale a pena pelo vestido — Dou risada, pedaços de terra saindo
da minha boca e fecho a cara na hora. — Eu vou te matar, tem terra até na
minha alma.
Jace consegue pegar o bicho, me fazendo bater contra seu corpo duro,
uma luz vem em nossa direção e arregalamos os olhos para o segurança.
— Oh! É, você, senhor Ludovicih. Desculpe, não queria atrapalhar. — O
homem encara com peculiaridade nosso estado.
Uma doida toda suja de lama enquanto batia em um outro doido que tem
um pavão nos braços. Uma cena digna de piada. Onde eu deixei minha
dignidade?
— Alguém pelo jeito foi na área dos animais e acabou deixando a portinha
aberta, um pavão fugiu — Entrega o animal para o segurança.— Seria bom o
assunto não vazar para minha mãe, sabe como ela ficaria chateada com uma
coisa dessas.
— Com toda certeza, a senhora Ludovicih ama seus filhotes. Vou pedir
para um dos seguranças ficar próximo daquela área. — Jace concorda com a
cabeça.
O segurança nos olha uma última vez, antes de sair andando com o pavão
grasnando em seus braços. Me viro para encarar Jace que está se
segurando para não rir.
— O que você faz aqui? Pelo jeito não sou eu o Ted Bundy.
— Sua maluca, isso é feito sob medida, pare de agir como uma criança —
Encara a grande mancha no palitó. — Que porra você faz aqui, além de cair
em poças de lama e me sujar?
— Não vou infernizar sua vida, Ludovicih, tenho coisas melhores para fazer
e uma delas é ir embora daqui. — Puxo a cauda do vestido que está
destruída e me afasto dele.
— Enfia esse ego no seu cu, idiota. — Volto a andar, ouvindo sua risada
de fundo.
O deixo para lá e faço questão de ir embora, não aviso meu pai que eu
estou indo, não é como se ele fosse sentir falta da minha presença. Chamo o
motorista que faz uma careta quando sujo o banco do carro, que se foda.
Mesmo assim as lembranças espreitam minha mente todo santo dia, elas
nunca me deixariam, estão gravadas em minha pele e memória. E não é algo
que eu possa lidar, só tenho que conviver com tudo que passei e não deixar
que ninguém faça novamente comigo o que ela fez.
Pessoas não são confiáveis, ainda mais aquelas que amamos e quando
uma delas resolve quebrar nossa confiança, a dor pode ser considerada
como a de um tiro.
Capítulo 04 - Brincando com fogo
“Eu sempre gostei de brincar com fogo
Eu ando no limite, minha velocidade vai no vermelho
Sangue quente nas veias, meu prazer é a dor deles
Eu amo assistir os castelos queimar.”
— Play With Fire - Sam Tinnesz.
Eu tinha saído para o jardim para pegar um pouco de ar, depois da longa
conversa que tive com minha mãe, onde só ela falou sobre os conselhos que
nunca irei seguir e avisos que não irei evitar.
Até que fui até para área de animais exóticos, meus pais quiseram alguma
coisa peculiar na mansão, como se de peculiar já não bastasse eles.
— Eu sei que você está há algum tempo sem vim em eventos desse tipo,
mas é para usar o blazer e não arrastá-lo no braço. Somos os donos da
festa, aja de acordo.
— Esse é o teatrinho que elas pedem para você seguir? Já está soando
como nossas mães.
Vou até a porta do meu antigo quarto e não me surpreendo por estar
convertido em um cômodo para hóspedes, toda a decoração que eu tinha,
que consistia em paredes pretas com longas estantes de livros pelo lugar,
não estão mais ali. Agora, são paredes em bege com uma cama grande com
edredom florido e uma decoração requintada.
Porém, um dia. Ah! Um dia iremos ir contra o outro, eu largarei tudo isso
de mão e serei uma pessoa em paz.
Só o pouco que eu sei dele, Will é um grande imbecil e alguém que não
merece minha prima, assim como não merece seu lugar no time.
Nas seletivas, ele chegou atrasado e foi o que menos participou das
dinâmicas e perguntas, nem ligando para quem iria entrar.
— Aham, mentir isso mais vezes não irá fazer se tornar verdade. — Ethon
revira os olhos.
— Vou ter que concordar. — Ethon revira os olhos e vai logo atrás.
Coloco meu uniforme para os treinos, junto com todas as proteções e saio
com os patins nas mãos, em direção à pista, retirando a capa das lâminas
assim que meus pés pisam no gelo. Isso que eu chamo de casa.
Não posso reclamar muito, a treinadora Ferraz fez questão que eu fosse
mandado para o time de Los Angeles, depois de ver um jogo meu na Rússia.
Foi uma boa ideia já que eu queria fugir dos meus problemas e demônios
pessoais, só tinha me esquecido que parei bem nos braços de outras
sombras do passado.
Storm está debruçada na grade, rindo de alguma coisa que Bastien fala.
Sou jogado para lembranças de ontem à noite e tenho vontade de rir, Storm
toda suja de lama foi uma imagem e tanto.
— O que é? — Murmuro.
Claro que ela seria sobrinha da minha treinadora e pelo jeito que todos os
rapazes — menos Bastien — estão tensos, ela é o inferno desse time, que
bom que eu sempre tive afinidade com o fogo.
— Só mostrando para ela que pode brincar comigo, vamos ver quem
aguenta.
Volto minha atenção para meu celular e confirmo que minha aula foi
cancelada, eu deveria está agora na biblioteca dando uma revisada nos
últimos assuntos da matéria, mas quis ver um pouco do treino.
Quem fala que faculdade é só festas, está muito enganado. O pouco tempo
que tenho livre, eu uso para colocar o sono ou as leituras em dia, e não é
muito tempo livre só curtos espaços de tempo entre a semana.
— Ela vai te matar. — Ergo minha cabeça e encaro Lohan, ao lado da sua
dupla no gelo e melhor amigo, Ethon.
Percebo que o treino acabou e eu nem ao menos percebi, merda. Já vai
sobrar pouco tempo para revisar a matéria, eu deveria ter ido direto para a
biblioteca.
— Você quebrou a mão do cara, ele ficou uma semana afastado. — Ethon
balança a cabeça.
Observo quando minha tia Mindy vem caminhando em minha direção, ela
para na minha frente e abro um sorriso em resposta. O jeito que somos
totalmente diferentes, quase não faz parecer que ela é parente, talvez seja o
fato dela ser só meia irmã do meu pai.
— Você mente mal para alguém que é filha do Caleb — Revira os olhos.
— Storm, você não pode aparecer aqui, não era para está em aula? Eu não
aguento mais inventar desculpas do porquê você aparece ainda aqui, mesmo
após a regra.
Entrei no lugar fedendo a sabonete barato e suor, com toda aquela fumaça
de banho quente pelo local. Alguns caras se escondem atrás das suas
toalhas ao me verem entrando, me fazendo segurar a risada.
— Sabe que isso é o vestiário só para o time, né? E pessoas de fora são
proibidas de entrar. — Se encosta no seu armário com um sorriso no rosto
estúpido. Encaro seus olhos verdes, tentando não prestar atenção ao fato
que ele está só com uma toalha enrolada na cintura, já que metade dos
homens ao redor também estão.
— Ei, vamos logo, antes que você tente matar Will de novo. — Lohan
aparece ao meu lado, enroscando seu braço no meu.
— Não seja por isso, eu posso tentar dessa vez e ter êxito. — Abro um
sorrisinho assassino para o mesmo. Se ele soubesse o quanto me seguro
para não quebrar sua cara, só estou esperando a oportunidade certa.
— Tira logo ela daqui, Bastien, por mais que gostaríamos que Storm
fizesse algo a Jones, ele é o capitão do time. — A voz de Santiago é
acompanhada por risadas.
— Não sei como a treinadora ainda não criou algum tipo de lei para te
manter distante daqui. — Dá risada.
— Aí vou ter que assistir o time de futebol e você sabe que Bela tentaria
arrancar minha cabeça. — Lohan para abruptamente, o encaro sem entender.
— O que foi? Parece que viu a melhor coisa da sua vida.
— Você acabou de falar que teve algum tipo de epifania, pelo jeito só em
vê-la. Acabou de se apaixonar por ela, Bastien — Dou tapinhas em seu peito,
o fazendo rir, mas sem tirar os olhos dela.
— Como sabe que não irá se apaixonar? Eu amaria ver sua cara de
pamonha apaixonada.
— Amor são para pessoas que tem algo a perder, eu não tenho nada a
perder — Dou de ombros — É sério que você acabou de sugerir que eu
ficaria com cara de pamonha apaixonada?
— Acho que você já está apaixonada e é por essa moto — Tenho que
concordar com a cabeça. — Aliás, o que houve com a outra?
Dou uma última olhada por cima do ombro e vejo Audrey dando risada ao
lado do seu namorado, que resolveu aparecer.
Tem alguma coisa por trás de toda essa fachada de garota popular que se
paga de padrão, mas isso não é do meu interesse, assim como tem dias que
eu só coloco um sorriso falso no rosto e apareço perto dos meus amigos,
como se nada tivesse acontecido. Eu não poderia julgá-la por fazer o mesmo.
Prendo meu cabelo em um coque frouxo enquanto espero por Bastien, que
está uns bons dez minutos atrasado. Passo a mão pelo couro da minha
jaqueta, tive que pegar a reserva já que ontem à noite sujei a minha outra.
Faço uma careta ao me lembrar daquele jantar, Jace me fez ficar com cara
de idiota e depois acha que pode fazer algum tipo de joguinho comigo, vamos
ver só.
Desço da minha moto e deixo o alarme ligado por precaução, Lohan já tinha
me levado em lugares piores então isso é quase nada.
— Finalmente você vai deixar eu ter uma arma em minhas mãos, isso é
tão excitante. — Não consigo conter o entusiasmo em minha voz.
Meus melhores amigos têm uma regra bizarra sobre não deixar coisas
afiadas ou perigosas em minhas mãos, não sei porquê.
Apesar da fachada está quase caindo aos pedaços e a porta que entramos
ser toda enferrujada, por dentro é completamente diferente. Entramos por um
corredor escuro, iluminado por luzes vermelhas e paredes com desenhos
estranhos.
Lohan vai falar com um cara que parece trabalhar aqui e logo depois o
mesmo volta com dois fones contra som, consigo sentir a excitação
fervilhando dentro de mim. Mas tudo desmorona quando pelo corredor que
entramos, Jace, Phineas e Santiago aparecem.
Não reclamo pelos dois últimos, mas sim pelo primeiro que ao colocar os
olhos em mim, fecha a cara e só posso fazer o mesmo.
— Que porra ele faz aqui? — Aponto para Jace que vai com os caras até
o homem que entregou os fones para Lohan.
— Você tem algum problema com ele? — Revira os olhos. — Porque isso
ainda me surpreende.
— Mas nele, pelo jeito você é capaz — Santiago aponta para Jace e nem
percebo que estávamos nos olhando de cara feia. — Que porra de história há
entre vocês dois?
Quando estou pronta para atirar com a arma em minha mão e os fones
em meu ouvidos, uma série de tiros ecoa ao meu lado, acertando o meu alvo
em cheio.
— Não sei se apostar com Storm seja uma boa ideia. — Lohan aconselha.
— Sugiro ambos pedirem algo que quer e se o outro não colaborar, pagar
por isso. — Concordo com Santiago.
— Sempre querendo inflar seu ego — Reviro os olhos. — Está bem, você
vai ter que pagar pelo meu almoço durante uma semana, em qualquer lugar
que eu quiser e caso não pague, quero ver você usando apenas fio dental em
um dos treinos. Fio dental acompanhado por aquelas fantasias sexuais.
Nathan é um ruivo fofo, do tipo alto e magro, mas ainda sim com músculos,
vantagens que ele abaixa a cabeça para qualquer coisa que eu pedir e ele
tem esse brilho no olhar.
— Nath, acho melhor não termos mais nada — Tombo minha cabeça para
o lado. — É o melhor.
— Para nós dois, nos divertimos e era isso que queríamos desde o
começo. — Seus olhos passam de suaves para raivosos. O cachorrinho dócil
mostrou suas garrinhas.
— Sério?
— Você é mesmo isso tudo que falam, ainda achei que gostasse de mim.
— Bufa.
— Calma, não falamos nada sobre sentimentos e não aja como inocente.
Você ficou comigo um dia depois de ter terminado seu namoro, quanta
consideração com sua ex — Debocho. — Não venha se sentir um pobre
coitado, desde o começo estabelecemos que era apenas alguns amassos.
— Storm, você merece toda essa fama que te puseram como quebradora
de corações. Deveria ter ouvido os outros caras no momento que me falaram
que você é uma cobra. — Sai andando, me fazendo dar risada enquanto o
vejo se afastar.
— Eu nunca prometi que gostava de ninguém, mas todos eles acham que
podem me mudar. Fazer o que os outros não fizeram — Dou de ombros. —
Homem sendo homem.
— Talvez eles não estejam fazendo um bom trabalho. — Abre um sorriso
malicioso.
— Oh! Você acabou de partir meu coração, conseguiu fazer o que nenhum
outro fez — Dou risada com um ar de deboche. — Quero entender o que te
faz pensar que você possa ser o meu tipo.
— E não sou? — Faz beicinho. — Acho que alguém não está cumprindo
sua parte na aposta.
Merda. Eles inventaram que eu tinha traído Nathaniel com Jace, como se
trai alguém que você nem sequer namorou? O idiota com olhos de cachorro
abandonado, realmente conseguiu sair como vítima e mais uma vez, a mulher
saindo como vilã da história.
Já arrumaram tanta história com meu nome que eu posso escrever uma
fanfic imensa. Quanto mais falam de mim, menos eu me importo e não
suporto viver mais com seres humanos.
— Claro que eu já vi, fizeram questão de marcar meu perfil. Esse povo
não estuda para ficar arrumando tempo de inventar essas coisas? Porque eu
tenho muito o que fazer, do que perder meu tempo em inventar fofocas na
internet.
— Não sei como você ainda continua ficando com os caras daqui.
— Clima de ódio? Único sentimento que consigo sentir por aquele babaca,
aliás a oposta está ocorrendo muito bem.
— Acha que vou perder o treino da minha garota? Também não perderia
as tretas dos garotos do gelo e do campo.
Pago meu almoço já que não tem nenhum imbecil para fazer isso e vou
embora da lanchonete, o sol quente beija meu rosto e engulo um gemido de
satisfação. Caminho até o outro lado da rua e vou em direção ao campus, os
alunos parecem interessados mais do que o normal quando me vêem passar.
Ergo minha cabeça, indo até Bela que está sentada em um canto com
Lohan, ambos jogados embaixo de uma árvore.
— Não sabe que ultimamente ela só fala do Jace Ludovicih, quem mais
seria? — Jogo um tomate em Bela, que o pega com a boca.
— Não, ele não veio. Acho que rolou algum assunto familiar, mas Audrey
veio. — Indica para a mesma no outro lado do campus.
Depois da minha última aula, subo na minha moto e vou em direção ao meu
compromisso, três vezes — deveria aumentar para quatro — na semana.
— Ela — Digo, sem pensar duas vezes. — Eu espero coisas desse tipo
do meu pai, sempre esperei, mas dela… Alisson me traiu e de uma maneira
nojenta.
— Por que não falamos o que te levou a não confiar mais em seu pai?
— Mas nunca vi isso saindo da sua boca e você que é minha paciente.
Storm, eu te acompanho há quase treze anos e nunca entramos no assunto
que mudou você, mudou sua vida.
— É só que… entrar nesse assunto é abrir uma ferida que eu não estou
preparada para reviver. — Olho para minhas botas que parecem mais
interessantes do que enfrentar minha terapeuta.
— Por hoje ainda não vamos entrar nesse assunto — Anota algo em seu
caderninho, como eu odeio aquela coisa. Senhora Bastos já passou de uns
vinte cadernos desde que nós conhecemos, uma vida problemática mais
coisas para anotar.
— Ainda anda de moto para extravasar a raiva?
— Sim, isso ou dançar balé. — Não entro no assunto que eu danço até
fazer feridas em meus pés para ver se a dor diminui, talvez eu seja medicada
novamente e não quero ter que tomar aqueles remédios como anos atrás.
— Oh! Isso é bom, só queria ver se algo tinha mudado. Mas lembre- se
de não exigir muito, tem que se cuidar apesar de tudo.
— Nosso horário já terminou, espero te ver na...— Não deixo que ela
termine, saindo porta afora.
Apoio minhas mãos nos joelhos, quando estou do lado de fora — na rua —
e respiro fundo, meu estômago se embrulha um pouco. Meus olhos pinicam,
mas não deixo nem uma lágrima sequer rolar.
Essa foi uma das sessões mais calmas que eu já tive, então por que eu
me sinto assim? Porque a menção de ter que tocar naquele assunto
novamente, faz dores antigas voltarem com tudo. Eu nunca mais fui a mesma
desde aquele dia e minha terapeuta sabe disso.
Ter que manter meu mundo controlado é difícil porque é uma missão falha
dia após dia, ter que garantir que meu pai não irá ferrar com mais ninguém,
também toma muito de mim.
Mas eu não posso controlar o que o mundo nos reserva, muito menos as
atitudes que meu pai irá tomar.
Caleb Brassard já foi alguém com a possibilidade de amar, mas hoje em
dia, não. Hoje em dia eu duvido se ele me ama, mas não é como se eu
pudesse julgá-lo.
Nem eu também acho que posso amar mais alguém, me escondi tanto
dentro de mim mesma, que me abrir para outra pessoa novamente seria meu
pesadelo.
Verifiquei meu celular mais de uma vez para garantir que não tem nenhuma
novidade, fico tentado a pegar um voo e ir correndo para casa. Casa, será
que Moscou é mesmo meu lar? A pessoa que mais amo está lá e eu não
posso ajudá-la porque posso colocar tudo em risco novamente, então é lá que
fica meu lar.
Isso que eu mereço depois de toda merda que eu causei, ninguém mandou
ser um imbecil após ter sido traído pela própria família. Cerro meus dentes
de raiva, me lembrar disso só faz todo meu corpo borbulhar de ódio.
Ainda acho que foi uma decisão difícil ter ido embora da Rússia, eu tinha
alguém que me amava e se importava comigo, no começo eu até tive amigos
leais. Mas tudo desmoronou naquele dia e só foi desandando mais ainda com
minhas atitudes.
Coloco uma roupa de corrida e saio para a rua quando o sol começa a
nascer, fico alguns instantes admirando o céu até começar minha maratona.
Sinto meus pulmões pegando fogo aos poucos, mas me concentro na dor que
cada passo trás.
— Cara, você não quer se envolver nessa. — Ethon surge ao meu lado.
De onde ele saiu?
— Faz bem, por mais que Storm seja incrível, aquela mulher é para fazer
qualquer um sentir que tortura é algo agradável. — Dou risada com o
comentário.
— Tão bom ver alguém que não me conhece muito bem, achar que logo
eu iria cair em um papinho furado, ainda mais de uma mulher como Storm.
— Isso não é um pouco demais? Posso até entender, mas isso tudo para
defini-la?
— Pelo pouco que você já conheceu dela, sabe que não é alguém para se
brincar, não se você quer sair inteiro e eu já vi homens chorando por ela.
Homens grandes, Ludovicih.
— Eu até achei que seria algo pior — Ethon comentar. — Mas essa não é
a primeira vez que Storm está envolvida em algo do tipo.
— Não preciso anunciar que isso é uma mentira — Faço uma careta. —
Mas espera, Storm já traiu alguém?
— Para você — Estica uma bolsa e a pego, abrindo e dando de cara com
o conteúdo contido ali. — Você não apareceu ontem, com isso não fez sua
parte da aposta.
— Espera, Jace vai ter que usar fantasia de oncinha? Meu Deus, eu amo
essa faculdade. — Phineas gargalha.
Tiro aquela merda da minha bunda pela décima vez em trinta minutos.
Sério, como as pessoas conseguem usar aquilo sem está com a mão na
bunda sempre? O fio dental estava cravado em mim e tive que fazer um
esforço para esconder meu amigão debaixo, mas Storm tinha tudo em mente.
Junto com o fio dental, tem uma mini saia que tampa a minha parte da
frente e deixa tudo à mostra na parte de trás. A pestinha é uma gênia
diabólica.
Ainda tem umas malditas orelhinhas de oncinha na minha cabeça, eu só
me recuso a colocar aquele rabo.
Tudo isso vale a pena com Storm pagando sua parte também, eu realmente
consegui tudo que precisava e agora a mesma está se vestindo em um dos
corredores vazios. Os caras tinham saído depois de eu ter quase socado
cada um para que pudesse colocar essa fantasia humilhante.
O biquíni que eu arranjei tem meu rosto em cada um dos seus seios fartos,
tenho que engolir a seco quando meu olhar vai para parte de baixo. É meu
nome ali em letras grandes.
E cada maldita parte do seu corpo está à mostra, tudinho. Meu olhar se
encontra com o de Storm, eu consigo ver algo ali, misturado com ódio puro e
também desconforto.
— Aliás, eu realmente acho que vocês são almas gêmeas. — Storm revira
os olhos e então, entramos no gelo.
Capítulo 08 - Me recuso
“Eu digo a mim mesma pra fugir de você
Mas eu me percebo atraída ao meu dilema
Meu dilema: É você, é você.”
— My Dilemma - Selena Gomez.
Eu com certeza não pensei nas consequências que podia me trazer e uma
delas é achar ele atraente. Meu Deus, o cara é insuportável, é uma ousadia
eu pensar nele dessa forma.
Quando saímos para a pista de gelo, todos meus pelos se eriçam, assim,
como os bicos do meu peito endurecem com o frio. Argh! Tem aquele biquíni
horrendo com seu rosto ainda.
Aperto o pavão contra mim para tentar aplacar o frio, todos os olhares se
voltam para nós e depois de um silêncio bizarro, todos caem na gargalhada.
Se eu tivesse no lugar deles, eu também estaria rindo, mas estou ocupada
sendo o motivo da vergonha.
Como eu odeio ser motivo de risadas, era para eu estar rindo de Jace. Ele
realmente me pegou nessa boa jogada, Ludovicih.
Os caras dão mais risada ainda e Phineas chega cair no chão de tanto rir,
me viro para olhar Jace que está cerrando os dentes e me olhando com raiva.
— Awn! Você fica fofo ruborizado — Ludovicih me encara com ódio mútuo
com suas bochechas vermelhas de vergonha. — Não é tão durão quanto
tenta parecer, só uma fachada.
— Está bem, acabou. Eu preciso continuar com meu treino e vai logo,
Ludovicih, você já faltou ao treino de ontem. — A treinadora seca as lágrimas
de divertimento em seus olhos.
— Eu preciso tirar uma foto com Storm assim. — Fuzilo meu melhor amigo
com o olhar.
— Eu sei que no fundo você amou usar essa roupa. — Cruzo os braços.
— Diz a pessoa que amou ter meu rosto em uma parte do seu corpo. —
Um sorriso sujo aparece em seus lábios.
A luxúria que percorreu os olhos de Jace no momento que ele me olhou, foi
a mesma que eu senti ao percorrer seu corpo com meu olhar. A diferença é
que ele não tinha visto o desejo estampado em meus olhos e nunca mais o
verá.
Eu me recuso a sentir qualquer tipo de desejo por Jace Ludovicih.
Sinto vontade de tapar meus ouvidos com o barulho da multidão, isso nem
ao menos é um jogo de verdade. Apenas o último treino do ano, que encerra
a temporada de futebol para focar na de hóquei.
Pelo jeito meus colegas de faculdade não entendem isso porque estão
eufóricos quando o time entra em campo. Consigo enxergar Bela de longe, a
mesma parece se destoar de todo o time e nem é por ser a única mulher em
campo, seu olhar é mais voraz e cheio de concentração.
— Pode imaginar que um dia foi você o topo daquela pirâmide? — Segura
a risada e lhe dou um beliscão.
Ao fim do jogo, o time do capitão ganha por uma diferença de dois pontos.
Aguardo Bela na saída, ao lado de Lohan, nossa amiga sai do vestiário com
uma expressão de raiva em seu belo rosto.
— Não cite arrogância, você sabe como alguém aqui se sentirá ofendida
— Lohan indica discretamente para mim e lhe dou um soco. — Ok, ok.
Calma, vamos agora para a lanchonete no píer, os caras estão nos
esperando.
— Eu devia ficar com meus colegas de equipe, eles estão fazendo uma
festa de encerramento.
— Nós vamos para lá depois da lanchonete. — Lohan explica.
— Você quer boa parte dos jogadores de hóquei em uma festa do time de
futebol? Isso é uma missão suicida.
— E quando ela não está de mau humor? — Storm me fuzila com o olhar.
— Oh meu Deus! Você deve ser o Jace, que passou vergonha ao lado de
Storm. Prazer, sou a Bela. — A mulher ao lado de Storm abre um sorriso
doce, que faz seus olhos verdes brilharem.
Puta merda, ela é linda de uma forma tão suave em contraste com Storm,
que parece tão bruta. Bela tem cabelos de um castanho claro e olhos de um
verde escuro, algumas sardas em sua bochecha que a deixam mais linda.
— Ela não liga, então por que você está ligando, vampirinha? — Storm
range os dentes.
— Porque você estava pilotando feito uma maluca, eu poderia ter morrido.
— Apontei de volta.
— Então, tudo isso por que ele...— Bela aponta o dedo para mim. — Fez
você sofrer dois acidentes?
— Storm Brassard sendo dramática? Vivendo por todos esses anos para
ver isso. — Santiago não tem medo do perigo, Storm está tentada a enforcá-
lo e ele sabe disso.
— Era para você estar do meu lado, Lohan — Seu amigo dá de ombros.
— O ponto é: ele é um imbecil que me fez tomar um prejuízo, também toda
sua arrogância me dá nojo e ele é egocêntrico.
— Sou um filho da puta, mas um filho da puta com modos. Minha avó me
deu educação.
— Eu não suporto olhar para cara dele, como se acha que um dia irei
pega-lo?
— Como vocês tem tanta certeza que não irão ficar? — Bela, pergunta.
— Além do fato que eu não me sinto atraída por ele? — Revira os olhos.
— Não cheguei ao ponto de ficar com alguém por necessidade.
O papo acaba quando uma garçonete chega para anotar nossos pedidos,
peço uma porção de salada mais um hambúrguer. Phineas e Storm são os
últimos a pedir.
— Acho que você está dormindo com as pessoas erradas então. — Storm
lhe lança uma piscadinha.
— Certo, então saia com Jace que eu me divirto com Pietro. — Diz de
braços cruzados, sabendo que ganhou essa.
— Assim como eu sei que você não faria o mesmo — Abre um sorrisinho.
— Não mexa comigo novamente.
Capítulo 10 - Calafrios
“ Eu vejo o que você fez
Você acha que está feliz estando entorpecido
Porque você não chora. ”
— Why Don’t Ya - Alex Clare.
— Ainda acho isso uma péssima ideia. — Bela comenta, no segundo que
paramos em frente a casa de Pietro.
— Considerando que Storm já brigou com boa parte do time, com certeza
é uma péssima ideia. — Dou uma cotovelada em Lohan.
— Não finja que não me ama, ursão. — Dou risada com os dois e volto
minha atenção para a casa.
— Ainda bem que não faço parte do time. — Saio andando em direção a
porta e o pessoal vem atrás a reboque. Mesmo se não quiséssemos, seria
meio impossível não chamar atenção.
— O que você faz aqui? — Abro meus olhos para o tom de voz de Audrey.
— Você não faz mais parte das líderes de torcida e não é mais bem-vinda
pelo time.
— Se eu não tivesse saído, você não teria seu lugar de destaque agora.
— Como se você ou qualquer outro fosse melhor do que eu, sabemos que
eu tenho meu brilho próprio, querida — Abre um sorriso afiado. — Só não
arrume confusão, está bem? Você fez isso por tempo o bastante nas
torcedoras, queremos só curtir que agora estamos de folga disso tudo por
algum tempo.
— Não sei como você aguenta ainda está na frente disso, não me leve a
mal. Eu amo aquelas garotas — Apontei para as outras líderes que dançam
na pista. — Mas é exaustivo.
— É, talvez eu tenha saído por exaustão, nem todos tem o dom de Audrey
Evans — Faço uma varredura pelo local, não o vendo — Will não veio?
— Perdi Jace de vista — meu melhor amigo para ao meu lado e seu olhar
encontra o de Audrey. — Plaisir, ma belle5.
(5 - Prazer, minha bela)
— Ei, vamos dançar. — Milly, a saltadora das líderes, me puxa para mais
próxima das colegas de equipe. Pelo jeito só Audrey guardou rancor com
minha saída.
Participar das torcedoras foi legal por um tempo, até se tornar exaustivo. Ir
atrás do time em qualquer jogo, consumia muito do meu tempo, mesmo que
eu gostasse de gravar as coreografias.
Nunca fui amiga de Evans, falávamos por conta dos ensaios e dela está a
frente do grupo, então nunca a conheci direito.
Observo-o quando Lohan puxa Audrey pela mão e a faz girar, meus olhos
se arregalaram ao ouvir Audrey gargalhando com o gesto. Eu nunca nem
sequer vi ela gargalhar, não ao lado de Will.
Meu melhor amigo é conhecido por ficar com ninguém do campus, eu não
faço ideia do motivo. Então, por ter esse jeito "difícil" de se conquistar, boa
parte das alunas se interessam por ele.
JJ não ouve e me pega mais uma vez pela cintura sem minha permissão.
Os caras bêbados chegam a ser mais nojentos do que sóbrios.
— Em que mundo eu te olhava? — Meu sangue ferve com sua mão ainda
em mim.
Dou um empurrão em JJ, encarando seu rosto estúpido, estico meu punho
para lhe bater, mas o babaca com reflexo super rápido se abaixa no último
segundo e o rosto de outra pessoa encontra o meu punho.
Tudo parece ocorrer em câmera lenta e ao perceber, é Jace que está com
seu nariz sangrando enquanto JJ encara de mim para o mesmo.
— Olha o que você me fez fazer. — Dessa vez agarrei JJ pelo ombro, lhe
dando um chute na sua virilha, ele cai de joelhos no chão.
— O que você estava fazendo atrás dele? — Reviro os olhos e pulo por
cima do corpo caído de JJ. — Olha o estado do seu nariz, Ludovicih.
Sinto os olhares de ódio do time em cima de nós e olho para trás, para
ver alguns jogadores levantando o idiota. Ninguém mandou ele encostar em
mim.
— Nenhuma novidade também ela ter socado Jace, ainda acho que
demorou para acontecer.
Faço uma careta para a blusa de Jace encharcada de sangue, seu nariz
estar mesmo torto e pelo jeito que ele me encara, eu sei que alguém não está
muito feliz.
— O que a esperteza em pessoa foi fazer atrás de JJ? Você é mais burro
do que eu imaginava. Não era para isso ter acontecido, eu iria dá um jeito
naquele assediador. — Reviro os olhos, o que faz Jace cerrar os dentes.
— O idiota resolveu surgir atrás de JJ, quando fui ver seu colega de time
estava se abaixando e a Elsa surgiu na minha frente.
— Claro que você vai, você fez isso. — Aponta para Jace no banco do
carona do seu SVU.
— Você vai levá-lo em meu carro e eu vou na sua moto, não confio em
você para nós seguir — Estende a chave do seu carro. — Ele precisa de
ajuda.
— Acho que você está mais preocupada com sua moto. — Ethon diz, no
banco ao meu lado.
Não respondo e dou mais uma olhada em Lohan dando partida na minha
moto com Phineas na garupa e murmuro mentalmente, que se ele fizesse algo
com minha bebê, eu o matava.
Com tantos hospitais por aí, tinha que ser justo esse?
— Só um acidente, mas acho que foi nada demais, Poppy. — Tira o pano
encharcado de sangue e Poppy faz uma careta. Também faço uma careta ao
ver que por baixo do sangue está ficando roxo.
— Você quebrou o nariz, temos que fazer um raio-x para analisar melhor.
— Que porra você faz aqui, Jace Ludovicih? — Faço uma careta ao ver o
doutor Durand, o mesmo me olha com intensidade antes de voltar a encarar
seu filho. — O que foi isso?
— Não. — Jace me encara e sei que ele não falará nada, muito menos eu.
— Então que porra foi isso? Não se quebra um nariz tão facilmente, e de
acordo com suas merdas do ano passado...— Encaro Jace com curiosidade
e ele apenas dá de ombros.
Seu rosto está coberto pelo sangue e tento não olhar para o chão que
também está vermelho, o nó que se forma na minha garganta me faz cerrar
os punhos ao lado do corpo. Eu preciso sair daqui. Agora. Mas alguma merda
me prende no lugar, então apenas olho para minha bota, mas eu ainda tenho
aquela sensação incômoda em meu âmago.
— Acho melhor vocês saírem, eles precisam ver o nariz do meu filho —
Doutor Durand diz ríspido, me lançando um último olhar — que faz meu corpo
se eriçar — antes de voltar sua atenção para o filho.
Olho mais uma vez para Jace, tentando não olhar para seu pai que parece
está me analisando e isso me faz querer vomitar.
— Vamos está na sala de espera. — Murmurei, me virando para sair dali.
— Storm, você está pálida. — Bela pontua e sei que eu estou mesmo. Me
odeio por demonstrar isso.
— Jace pediu para avisar que podem ir embora, o seu pai irá o levar para
casa. — Poppy abre um sorriso simpático ao aparecer em nossa frente.
Não deixo que ela fale mais nada, correndo até a saída, o restante do
pessoal vem logo depois.
Verifico que os outros garotos não estão vendo essa cena humilhante,
menos três então.
— Certo — Bela murmura, sem acreditar. — Tem certeza que vai ficar
bem indo sozinha?
— Com certeza.
Tento não pensar muito em como isso é apavorante, mas ele parece calmo,
tirando o fato que lança olhares de ódio na direção do pai. Meu olhar então
vai para senhor Durand, o babaca parece tudo, menos preocupado com o
filho.
Dou uma última olhada em Jace, bem no momento que ele ergue a cabeça
para onde estou. Me viro rapidamente, saindo logo dali.
Já foi uma brecha minha ter vindo verificá-lo, sendo que eu nem gosto do
cara, ele ainda tinha que me ver? Merda.
Vou até minha moto, dando uma última olhada no hospital, os calafrios
percorrem pelo meu corpo e meu coração está descontrolado no peito,
preciso sair logo daqui antes que eu coloque tudo para fora de novo.
Subo na minha moto e dessa vez não olho para trás, com medo de que
meus demônios pessoais tivessem me seguindo, mas eu sei que eles estão
atrás de mim, como sempre estiveram.
Capítulo 11 - Nosso showzinho
“Esses garotos ficam irritados
Porque eu não vou tolerar isso
Se você quer uma vida doce
Então aja de acordo.”
—Boys Ain’t Shit - Saygrace.
Coloco uma mão no joelho enquanto a outra segura o taco de hóquei com
força, ergo minha cabeça e vejo Nico no mesmo estado. A treinadora não
poupou ninguém no treino de hoje, depois de trinta voltas na quadra, ainda
tivemos que praticar gols e defesas.
Agora tínhamos acabado de fazer uma partida e o resultado foi bom, mas
para a treinadora ainda tem muito em que melhorar.
— Eu não sinto minhas pernas ou minha bunda. Alguém pode ver se elas
ainda estão aí. — Rodriguez pergunta e todos dão risada.
— Vou fazer piadas para sua mãe. — Santiago lhe lança uma piscadinha e
Ethon fecha a cara.
— Vocês olharam para o limite e falaram: sem tempo irmão. — Reviro os
olhos, tentando sufocar uma risada.
Eles vão implicando uns aos outros, enquanto caminhamos em direção aos
chuveiros do vestiário. Por mais que boa parte deles joguem juntos desde o
primeiro ano, eu já me sinto da família. Todos eles me acolheram, tirando Will,
mas esse babaca nem ao menos tenta ser hospitaleiro com quem está aqui
há mais tempo.
Chego em um dos chuveiros e tiro toda minha roupa antes de entrar, uma
porta tampa nossos corpos, dando apenas para ver nossas cabeças, então
isso não impede dos caras continuarem com as brincadeiras.
— Então quer dizer que você anda com senhoras? — Retruca e Nico fica
vermelho de vergonha.
— Estudávamos no mesmo colégio interno, bati nele por ele ter feito uma
piada com meu cabelo. Depois disso ele não saiu mais da minha cola, é como
uma praga que não te deixa. — Dou risada.
— Já tirou aquela coisa do nariz? Me sinto mal por não ter batido mais
forte. — Diz, cantarolando.
O que Storm não sabe é que eu não volto atrás em um desafio, ainda mais
contra ela. Todos os caras param o que estão fazendo para nos olhar, me
aproximo dela em passos largos e pego seu pequeno corpo com facilidade.
A jogo por cima do meu ombro e começo a andar em direção ao gelo, mas
como nada com Storm é pacifico e se ela fosse assim seria tão sem graça.
— Juro que quando você me colocar no chão, eu vou quebrar seu maldito
nariz pela segunda vez — Os seus socos são mais fortes e ela começa a
beliscar minha carne dura. — Está agindo como um maldito homem das
cavernas.
— Você seria o animal que eu pego para matar? — Isso só faz ela se
remexer mais ainda, tentando descer.
Dou uma olhada para trás e quase todo time está nos seguindo para ver o
que estamos fazendo, todo mundo entretido com nosso showzinho.
Quando chego no gelo, faço o possível para não escorregar, mas é tarde
demais. Eu caio com tudo no chão, Storm vem em seguida, caindo em cima
de mim. Gemo com a dor que percorre pelo meu corpo.
— Seu babaca. — Storm tenta se levantar, mas acaba puxando minha
toalha no processo e caindo novamente em cima de mim.
Ouço a série de risadas que ecoam pelo lugar e evito levantar minha
cabeça para os olhares de divertimento.
Eu nem a julgo, meu amigão lá de baixo parece triste com o frio de matar
aqui.
Isso definitivamente não é o que um cara quer ouvir quando alguém vê seu
equipamento de baixo. Puxei a toalha que ainda está em suas mãos,
tampando para o bem do meu ego.
— O que eu fiz para merecer isso? — Olho para o alto, pedindo ajuda. —
Acho que o universo está alucinando.
— Vocês acham que viramos algum tipo de circo? Primeiro, aquela cena
da aposta que eu já fiquei sabendo, agora um dos meus jogadores fica nu
com minha sobrinha jogada em cima do mesmo — Massageia suas têmporas.
— Eu não sei o que está rolando entre vocês dois, mas não quero nada disso
envolvido com o ginásio. Me entenderam?
Ela parece aquelas diretoras malvadas de filme que puxa a orelha dos mais
pequenos, quase tenho vontade de sorrir mas o semblante furioso no rosto da
treinadora me impede disso.
— Então quer dizer que você gostou? — Abro um sorriso malicioso para
a mesma.
— Eu com certeza não queria ouvir isso. — Storm faz uma careta
enquanto se levanta. — A gente se vê na próxima vez, tia.
Vou logo atrás de Storm e acelero os passos para ficar em sua frente.
— Admitir o fato que sou bem apessoado, não quer dizer que você queira
me pegar. — Cruzo os braços.
— Não tenho mais tempo para perder com você, preciso esquecer a
imagem dolorosa que tive. — Faz uma careta, passando por mim para ir
embora.
Eu realmente não quero nada com Storm e mesmo não gostando nem um
pouco dela, não consigo mentir para o fato que ela é mesmo incrível. Ainda
consigo me lembrar da maneira que aquele vestido preto marcou cada
centímetro do seu corpo antes dela cair no chão.
Mas eu não tenho nada que ficar olhando para ela, Storm continua sendo
Storm. A mulher que me fez passar vergonha, mesmo que bem engraçadas e
também tem o fato que eu não consigo confiar em uma mulher. Não,
novamente.
Capítulo 12 - Esquecer a dor
“Mas ainda estou desaparecendo
Não consigo me salvar
Será que vou me afogar?
Então prendo meu fôlego para respirar
Me machuque para que eu sinta
Eu costumava fazer essas coisas tão facilmente, de alguma forma.”
— Effortlessly - Maddison Beer.
Argh! Me odeio por ter pensando nisso, desde que cheguei no meu
apartamento ontem, a imagem não saiu da minha cabeça e me revirei na
cama a madrugada inteira. Por mais que o equipamento de Jace estivesse
mole, ele ainda era tão… Bela não me deixa terminar os pensamentos,
chamando minha atenção.
— Se você tentar encostar novamente nela, eu juro que quebro seu pau.
— Rosno.
— Vai ter que entrar na fila para saber a verdade dessa jaqueta, já teve
apostas do que significa por trás da frase Broken Heart, mas ninguém
conseguiu acertar. — Lohan tenta amenizar a situação.
— Acho que temos uma aula juntos agora, certo? — Jace concorda com a
cabeça. — Tchau, minhas garotas.
— Sério? Por que você apareceu toda suada e ofegante? O que houve no
segundo andar daquela casa?
— Além do fato de tudo que ele já me fez passar? Eu não sei, não fui com
a cara dele, algo em Jace não me cheira bem e só quero manter distância.
Assim como o universo, minha melhor amiga deve estar fumando algo
também.
Me comparar com o Jace é algo sem pé e sem cabeça, não temos nada a
ver, certo? Esse negócio de psicologia barata não funciona comigo, eu não
me vejo nele e ponto.
Caleb chamou todos de última hora para esse almoço, já sei o que ele vai
anunciar e estou de camarote para ver as reações de todos.
Não somos tão unidos, apenas nos vemos em almoços uma vez por ano,
mesmo todos eles morando na Califórnia. Tia Mindy tem uma desculpa, já que
morou por anos em Boston, antes de voltar.
Então meu pai sempre foi minha única "família" desde sempre, só falo
algumas vezes com meus tios e a única mais próxima é a Mindy.
— Quer dizer que depois de você fazer um jantar em comemoração,
decidiu finalmente contar para sua família que está noivo? Eu vi tudo na
revista People — Tia Mindy toma um gole do seu vinho e logo completa: —
De novo tendo uma noiva, já foram quantas?
— Vai começar, Mindy? Não temos coisas mais interessantes para falar?
— Achei que esse almoço fosse pra falar do seu noivado com uma
criança. — Aponta com desdém para Alisson.
— Oh! Você só é um ano mais velha que a filha dele, então sim, você é
uma criança ao lado do meu irmão.
— Você não vai falar nada? — Meu pai aponta para a vovó Cherrie, que
permanece concentrada em sua lasanha.
— Achava que você já era bem grandinho para ouvir sua irmã falando
apenas verdades — Vovó dá de ombros. — Isso é um absurdo, Caleb
Brassard, e você sabe disso. Ela...— Aponta para Alisson. — Era melhor
amiga da sua filha, vivia para baixo e para cima com Storm, então você
decide que é uma boa ideia dormir com Alina?
— Mas você já sabe que isso é uma péssima ideia, se quer continuar
fazendo esse papel ridículo com sua família, continue. Eu só estou aqui pela
minha neta e pelo fato de ser boca grátis. — Abro um sorriso cúmplice para
minha avó.
— Mamãe, como a senhora mesma falou, sou bem grandinho e foi uma
boa ideia para mim ficar com Alisson — Pega a mão dela por cima da mesa,
todos enrugam o rosto com o gesto.. — Eu me apaixonei por ela, não
importando para idades.
— Minha zangada, qual foi a mulher com menos idade que seu pai já
namorou? — É meu tio Karlos que pergunta.
— Vinte, foi naquela época que ele começou a usar ternos apertados. —
Meu tio concorda com um sorriso no rosto.
— Você quer que achemos super normal namorar meninas dessa idade?
Só é mais fácil para que você as manipule para ficarem igual a outra, a
primeira de tudo — Arqueou a sobrancelha. — Continua indo para a terapia,
Caleb?
— Acho melhor você começar a repetir, não vai fazer muita diferença.
Repete sempre o mesmo noivo, só muda a noiva. — Mindy diz, antes de
enfiar uma garfada do seu almoço na boca.
— Isso é uma falta de respeito com minha atual noiva. — Caleb esbraveja,
mas todos na mesa - tirando ele e Alisson, trocam olhares.
— E cadê o seu respeito ao dormir com a melhor amiga da sua filha? Não
seja hipócrita, Caleb Brassard — tio Walter
o alfineta. — Respeito é uma palavra que nem está em seu vocabulário.
— O respeito ele deve ter esquecido no...— Vovó interrompe Mindy com
um olhar.
— Fico feliz por você, seu avô iria amar saber disso. Meu primeiro marido,
é claro. — Dá dois tapinhas na minha mão.
A Vovó já tinha se casado umas cinco vezes, apenas dois filhos são do
mesmo marido, tio Pedro que não se encontra no momento e tia Grace, o
restante são de marido diferentes sendo o meu pai do primeiro esposo.
Cherrie soube aproveitar sua vida muito bem mesmo, já sabemos de quem
meu pai puxou o troca-troca.
— Falando sobre filhos...— Voltamos nossa atenção para meu pai, que
tem um sorriso no rosto, enquanto Alisson parece insegura. — Queremos
anunciar que estamos tentando ter um bebê.
Meu olhos vão do meu pai para Alisson, ela finalmente me encara, mas
percebe meu olhar de ódio e voltar a olhar seu prato.
Eu não estou apenas chocada, estou enojada e com raiva. Alisson só tem
vinte e quatro anos, ela não fez nada que queria ainda, meu pai a converteu
nesta esposa perfeita sem que a mesma pudesse opinar em nada. Que tipo
de monstro ele quer criar?
Um monstro como ela, minha mente me alerta.
— Você não vai ter um filho com ela, não mesmo — Meu olhar então vai
para Alisson. — É melhor você arrumar um jeito de sair daquela mansão
antes do final do mês, antes que eu mesma arrume um jeito de te livrar dessa
loucura. Isso não é vida, Alisson, fuja.
— Faz parte do seu nome, não? — Ergo meus olhos para encará-lo. —
Não é assim que você pode falar comigo também, eu sou seu pai.
— Então é isso? Você sempre volta para esse ponto? Sua tentativa
fracassada de tentar montar uma família novamente? Alisson não é a mamãe
e você sabe disso. — Grito com toda raiva em meu peito.
— Eu sei de uma coisa, você não a ama, não mesmo. — Meus olhos
estão pinicando.
Fico encarando a única pessoa que me restou, a única pessoa que deveria
me amar, que deveria me proteger e agora, está ele aqui, dizendo na minha
cara que eu não sou nada em sua vida.
Um tapa teria doído bem menos.
— Você está sozinha, Storm, sozinha. Eu tenho alguém e não vou deixá-la
pela minha filha imatura, que só pensa em si mesma.
O mesmo dá risada, uma risada fria que ecoa pelo estacionamento e pelo
meu coração.
Não tem porquê eu continuar com isso tudo, mesmo assim eu continuo,
por mim mesma, pelo meu pai, mesmo agora ele estando cego e em um dos
seus surtos. Eu não o deixaria, não depois que alguém já tinha o deixado.
Mais uma vez eu tento e dessa vez eu não caio no chão, mesmo assim não
foi tão perfeito como os meus eram na época que praticava balé. Então eu
tento, uma, duas, quatro vezes até eu conseguir fazê-los corretamente.
Meus pés sangram, mesmo assim eu não paro. Ainda consigo por mais
tempo, eu tenho mais energia.
Faço umas duas vezes, até inventar de fazer um adágio, um movimento que
devo tentar sustentar uma das minhas pernas no ar, mas na primeira vez,
coloco a sustentação errada e todo meu corpo vai para frente.
Sinto um par de mãos me puxando para que eu não caía e bato contra
uma sustentação sólida, um corpo com cheiro de suor forte ou talvez fosse
meu cheiro, me atingiu com tudo.
Maldito dia que eu resolvi colocar uma calcinha estilo vovó, ainda tem um
grande desenho na bunda.
— Então essas são suas calcinhas? — Ele se segura para não rir, não sei
porque ele já não está rindo. — Já vi minha avó comprando uma dessas.
— Acho que você percebeu como é incômodo usar fios dental. — Lhe
lancei uma piscadinha.
Jace deixa de olhar para minha calcinha imensa e seus olhos encontram
meus pés, eu sei que as sapatilhas estão sujas de sangue e ele também
repara isso.
— Acho que vou trocar...— Aponto para minha bota, mas o mesmo não
me deixa ir.
Jace, aquele Jace que não suporta olhar para minha cara, estar agora de
joelhos na minha frente? Julgo que isso é um universo paralelo, única
explicação lógica.
— Acho que nunca fiquei de joelhos perante uma mulher, antes — Seu
olhar encontra o meu. — Irônico a mulher ser você, né?
Ele volta a focar em meus pés e retira com tanto cuidado cada uma das
minhas sapatilhas.
Jace retira o outro par, esse pé parece pior do que o outro. Péssima ideia
não ter colocado os esparadrapos.
— Como conseguiu fazer isso? Não estava doendo? — Sua voz sai rouca,
o mesmo parece afetado com isso. Mas não pode ser, porque Jace se
incomodaria?
— Faço balé desde os oito anos, mas parei aos quinze. Estou
acostumada. — Dou de ombros. A verdade é que eu não usava o balé como
uma forma de aliviar a pressão, até uns anos atrás, em minha adolescência.
— Por que? — Solta minha perna e coloca no chão com cuidado, pegando
a outra.
— Eram muitas dietas, prende a barriga, prende mais — Dou mais uma
vez de ombros. — Não nasci para ouvir pessoas dizendo o que devo ou não
fazer com meu corpo.
Isso foi uma meia verdade, meu pai surtou em uma das aulas e me fez sair.
Fiquei trancada no meu quarto por uma semana porque o balé era minha
válvula de escape, até eu descobrir as motos.
— Boa conduta. — Coloca meu outro pé no chão e se levanta em um pulo,
quando eu acho que ele iria deixar isso de lado e ir embora.
Inesperadamente, Jace me pega no colo.
— Eu ainda posso andar. — Zombo, tentando sair do seu colo, mas ele
me prende contra si.
Ele passa correndo pela porta da academia e nem preciso perguntar para
saber que os outros caras estão aqui, com certeza eu também não gostaria
que eles me vissem nesse estado. Já é bem incômodo, Jace está me
tratando como uma boneca de porcelana.
Jace então entra em uma sala mal iluminada e percebo que é uma
enfermaria improvisada, sou colocada com cuidado na cama, antes dele ir até
um armário no canto e puxar um estojo de lá.
— Eu te ajudei. — Debocha.
— Ajudou. — Resmungo.
— Não se preocupe, não terá nenhum preço, só tome cuidado.
— Não sabia que meu segundo nome é cuidado? — Minha voz pinga
sarcasmo.
— E o que você tem a ver com isso? — Me aproximo dele e ergo minha
cabeça para encará-lo. — Não venha fingir falsa preocupação.
— É um aviso, para seu bem — Abaixou sua cabeça, ficando cara a cara
com meu rosto. — Não se machuque, por favor.
— Acha que terá outra oportunidade para ficar tão próximo de mim?
Convencido de merda.
— O seu ego é tão grande que poderia ser comparado com o monte
Everest — Digo, revirando meus olhos. — Eu não vou te beijar, nem nessa
vida e nem na próxima.
— É — Indica para uma mancha de sangue meu, que ainda está em seu
dedo. — Mas era superficial.
— Claro que sim. — Phineas fingiu fechar a boca e jogar a chave fora.
— Quer que eu acredite nisso com o grupo que vocês tem do time? —
Jace, exclama.
Os deixo para trás, Jace tenta me acompanhar, sou mais rápida e logo
subo na minha moto, indo embora sem olhar para conferir se ele estava me
vendo ir.
Esse dia, com certeza, foi estranho o bastante, tenho que lidar com toda a
merda que meu pai jogou em minha cabeça e ainda ter que aceitar o fato que
eu queria beijar Jace, se ele tivesse feito isso, eu teria correspondido.
Aquilo foi sua válvula de escape, assim como passar por algum perigo fazia
comigo. É como se a dor te mantivesse mais forte, lembrando que você está
vivo.
Eu admito que tenho algo em comum com Storm, mesmo que isso desça
amargo.
Passo metade do dia tentando andar por lugares, onde não encontraria a
mesma, até porque o campus é imenso. Eu posso muito bem não esbarrar
com Storm.
Me dirijo até o vestiário, mal entro e já consigo ouvir os gritos e risadas, o
lugar está uma completa bagunça, mais que o normal.
— Aliás, que grupo é esse que vocês tanto falam? — Troco minha roupa
fresca pelo moletom grosso, para aguentar o frio do gelo.
— Sabe o que foi mais estranho? Ver o seu pau à mostra. — Até que
aguentaram um fim de semana inteiro para tocar nesse assunto.
— Não me leve a mal, mas não queremos vê-lo novamente — Phineas faz
uma careta. — Ando tendo pesadelos desde então.
— Vocês podem parar de falar merda e voltar para a pista. — Will late,
antes de sair do vestiário.
— Um dia, esse cara não vai fazer parte do time e eu juro que vou socar a
cara dele — Santiago avisa. — Idiota de merda.
— Eu vou fingir que não ouvi isso, ursão. Mas topamos, Ludovicih.
Acho que agora minha vida começou a caminhar novamente, pelo menos eu
sei que terei amigos para me acompanharem. Amigos em que posso confiar,
não pessoas que só estão ao meu lado por segundas intenções.
Pela primeira vez sinto que uma parte do meu passado está começando a
ficar no seu devido lugar: passado.
Encaro os meus pais enquanto eles discutem entre si, como se eu não
estivesse ali. Sou jogado para lembranças de anos atrás, quando eles faziam
a mesma coisa, discutiam na minha frente sobre minhas travessuras. Agora,
essas travessuras ficaram piores e mais intensas.
Ainda é frustrante a maneira que eles acham que podem comandar minha
vida, que eu não tenho direito a nada. Eu só concordei em voltar por ela e não
porque eles mandaram, senão nunca mais teria pisado na Califórnia, muito
menos nessa casa.
— O que eu te falei quando engravidei? Que iria dar tudo errado. — Minha
mãe anda de um lado para o outro.
— Tudo só piorou, Ayla— Meu pai a encara com raiva. — Isso é tudo
culpa sua.
— Minha? Por que não eduquei nosso filho bem? — Revira os olhos. —
Alexei está muito bem e você poderia ter o educado.
Babás no plural, tinha que ter no mínimo três para me fazer ficar quieto
em um lugar.
— O que você está fazendo? — Ela deixa algumas das caixas caírem no
chão com o susto.
— A pergunta seria: O que você está fazendo aqui? — Diz, puxando uma
das caixas para seu colo, se sentando em uma cadeira de madeira no canto.
Parece que foi o único lugar que não foi reformado, possui paredes em
bege e é cheio de armários e prateleiras, todos abarrotados de caixas e
álbuns de fotos.
— Preciso aparecer uma vez na semana para ver a senhora Ayla gritar
em meu ouvido — Soltei um riso amargurado. — Pelo jeito você continua mais
aqui do que em sua própria casa.
— Talvez porque eu era como uma filha emprestada, já que andava com o
filho dela para todo o lado, daí ele sumiu sem olhar para trás. — Ergo meus
olhos para encará-la, Audrey parece perdida em seus pensamentos.
— Isso não justifica nada, você era a única pessoa da família que eu
podia contar, Jace. Eu não tinha a vovó para ficar ao meu lado.
— Sabia que eu entrei em uma tristeza tão profunda quando você foi
embora que eu só ficava chorando? Dia após dias, eu chorei porque a única
pessoa que eu podia chamar de amigo tinha ido embora sem olhar para trás,
sem se despedir — Aumenta o tom de voz, seu rosto ficando vermelho de
ódio e mágoa. — Talvez eu tenha que te agradecer por isso, depois eu cresci
e comecei a contar só comigo mesma. Aprendi que não precisava de ninguém
ao meu lado, muito menos um primo fedelho.
Ela se vira para ir embora com seus saltos batendo no chão de madeira.
— Eu peço perdão por não ter me despedido, mas não peço perdão por
ter ido embora.
— Está atrasado treze anos. — Dessa vez não a impeço de ir.
Que porra eu ainda estou fazendo? Balanço minha cabeça e abro a caixa
para tentar me distrair, tem alguns álbuns de fotos do meu irmão, mas no
fundo da caixa eu consigo achar um álbum de fotos minhas.
Vou para outro álbum que é um jantar que teve a muitos anos atrás, penso
em pular o mesmo, mas resolvi dar uma olhada. Parece ser um jantar para
empresários, meus pais estão em todas as fotos, menos as últimas que são
de uma mesa das crianças.
Ela parecia rir de algo que eu falava ao seu ouvido, seu sorriso era discreto
e tímido. Duas palavras que não posso atribuí-la hoje em dia.
Seu rosto é tão meigo e combinava com seu vestido florido, passo mais
algumas fotos e nas outras ela já não está mais à mesa. Ao fundo, eu consigo
vê-la ao lado de uma mulher alta, a mesma parece está com os olhos cheios
de lágrimas, diferente da foto sorridente ao meu lado.
Com certeza não preciso ver seu olhar cheio de perguntas do que ocorreu,
algo em meu estômago se remexe quando me lembro que poderíamos ter
nos beijado. Seria o eufemismo da minha vida ter beijado esse cara.
— Phineas vai ficar chateado se você não aparecer. — Bela sai na frente
do elevador e vou logo atrás.
— Phin fica chateado até quando não chamamos ele para almoçar ou lhe
contamos uma fofoca. Ele é como uma grande bebê. — Digo, revirando os
olhos.
Respiro fundo, tentando me acalmar quando Bela aperta a campainha do
apartamento, não demora muito para Jace atender.
— Oi, Bela — Lança uma piscadinha para minha amiga, antes de seu
olhar encontrar com o meu. — Não sabia que você iria aparecer.
— Você não é o único que aprecia cultura geek. — Entro logo depois de
Bela.
O apê possui paredes de vários tons de cinza, a sala ocupa boa parte do
lugar com um grande sofá de couro preto e uma televisão de umas sessenta
polegadas, ainda tem um frigobar no canto cheio de bebidas. A grande porta
da sacada fica ao lado.
Não tenho tempo para registrar a cozinha, no momento que meu olhar cai
para quatro homens imensos com máscaras de limpeza de pele no rosto.
Prendo meus lábios para segurar a risada ao presenciar Santiago com um
arquinho, para segurar os cabelos pretos que pegam no ombro.
— Achava que isso seria uma festa. — Me virei para encarar Jace.
— Amanhã teremos jogo e não queríamos beber além da conta. —
Concordo com a cabeça. — Bastien teve a ideia das máscaras.
— Você? — Encaro meu melhor amigo, que está com o rosto coberto por
algo verde e gosmento.
Pense, Storm, pense. Garoto loiro com olhos verdes, garoto loiro com
olhos verdes, então me lembro, eu me lembro de Jace me contando algo e
eu dando gargalhada.
Aquele garoto que mal me conhecia, tinha me feito um favor naquela noite,
ele deixou que eu desfrutasse de um pouco de alegria. Algo que eu não
saberia o que é depois de anos.
Meu coração começa a bater com mais força e minha respiração se torna
mais irregular, tenho vontade de me afundar no chão, esse sentimento de
medo e pavor percorre por todo o meu corpo. Eu estou tendo um ataque de
pânico em pleno banheiro de Jace, sinto meus joelhos falharem e me seguro
na pia do banheiro, tentando não cair.
Não ouço a batida na porta até Jace entrar no pequeno cômodo e trancar a
porta.
— Olhe para mim, Storm. — Sua voz soa calma aos meus ouvidos.
— Então olhe para meus pés — Com lentidão começo a olhar para seus
pés, cobertos por uma meia rosa de unicórnio. — Agora, comece a respirar
na minha contagem.
Jace começa a contar de um a quatro e vou respirando com sua ajuda, aos
poucos meu coração vai diminuindo um pouco as batidas, mas aquela
sensação incômoda no meu peito não diminui, assim como meus
pensamentos se atropelando os outros.
Isso é a cara de Phineas, sinto vontade de rir mas não consigo. Jace passa
as mãos em torno da minha cintura para me firmar em pé, começo a
perceber que ele está me levando para outro local. Falando coisas sem
sentido enquanto pede para eu regular minha respiração.
— Eu tive muitos ataques de pânico quando era mais novo, eles foram
diminuindo ao longo dos anos. — Diz simplesmente. Eu não esperava essa
revelação saindo dos seus lábios.
Ergo meus olhos e encontro o seu olhar atento, pela primeira vez parece
que o vejo de verdade. Todas suas cicatrizes e dores em seu olhar, eu não fui
a única a ser quebrada e saber que Jace também já passou por algo
parecido, me faz querer fugir de perto dele.
Presto atenção onde estamos, ele me trouxe para seu quarto. Não dei
muita atenção no dia que fiquei aqui, estava deitada em sua cama e só queria
ir embora.
— Sim, eu não saí para muitos jantares com meus pais depois disso. —
Pelo menos isso, eu me lembro muito bem.
Saímos do seu quarto, indo até a sala, mas nenhum de nossos amigos se
encontrava ali. Os mesmos tinham rabiscado um bilhete dizendo que queriam
nos deixar a sós.
— Sabia que seus pais iriam te preocupar por nada, eu só tive uma
queda. Nada demais, sabe que não me machuco facilmente — Eu poderia
dizer ao contrário. — Mas bom, conte sobre aí.
— Estou indo bem com as aulas e o hóquei, consegui fazer algumas
amizades, babushka8.
( 8 - vovó)
— Eu fico feliz em ouvir isso, não queria que você passasse por tudo
sozinho. Você merece ser feliz e ter boas companhias ao seu lado. — Sua
voz é carregada de preocupação. Como essa mulher incrível consegue ainda
se preocupar comigo depois de tudo que eu fiz? O amor dela sempre falando
mais alto.
— Não sou mais aquele garoto indefeso, sei me proteger das palavras
dos meus pais e do restante do mundo.
— Vovó…
— Não tente atrasar sua vida por conta deles — Imagino-a com um
sorriso singelo nos lábios. — Espero que seus dias continuem indo bem, se
minha filha falar algo, me ligue.
— Eu não vou estressar a senhora com coisas idiotas que minha mãe diz.
— Jace Durand Ludovicih, eu não quero Ayla enchendo seus ouvidos, está
bem? Eu te perdoei, isso que importa, não as opiniões dela.
Nos falamos mais um pouco até ela anunciar que está saindo para o
mercado central, me despeço com a promessa que iria ligar mais.
Não sabia que precisava ouvir sua voz dizendo que está bem até a mesma
ligar, eu não saberia mais o que fazer se minha doce mulher enrugada com
um sorriso de orelha a orelha, não pertencesse mais a esse mundo e pensar
que isso quase aconteceu ano passado.
Me repreendo por pensar nisso, ela me perdoou então por que eu não
consigo fazer o mesmo? Eu não consigo pensar em uma forma de redenção
para mim depois de tudo o que eu fiz, por causa daqueles dois… Pensar
nesses dois não vai ser bom e não adianta colocar toda a culpa neles, fui eu
que resolvi seguir por aquele caminho.
Corro por quilômetros até chegar na placa de Hollywood, por ser uma
manhã de quarta-feira o lugar está vazio de turistas. Então aproveito um
pouco do silêncio, ouvindo alguns pássaros cantando ao fundo.
— Acho melhor ter mais cuidado com o que sai de você, Rodriguez, só
temos aquele banheiro.
— Se aquilo é o rosto dele? Sim, Phineas está passando pela fase pós-
termino, onde só ele importa. Algo sobre amor-próprio — Abana com as
mãos. — Não tente entender a cabeça louca de Rodriguez.
Tomo café da manhã com os dois e eles ainda discutem um pouco entre si,
mas percebo que é coisa deles mesmo. Saímos do apartamento dez minutos
adiantado para a aula, depois de encher o banheiro com perfumes para tirar a
catinga.
Vejo Storm sozinha, na mesa de sempre, que seus amigos ficam e ela deve
estar esperando-os, me aproximo e abro um sorriso ao ver que ela está com
um pirulito nos lábios, concentrada no livro em suas mãos.
Abaixo um pouco minha cabeça e vejo o título do livro.
— E quem não tem? — Dá de ombros — Sou fraca para o jeito dele, todo
mal e irresistível.
— Eu conheço alguém assim, está bem na sua frente —Ela retira o pirulito
dos lábios para falar melhor.
Não deixo ela ir, ficando em seu caminho. Storm bufa de impaciência.
— Entenda uma coisa para poupar saliva. Eu nunca estou bem e isso não
é da sua conta — Ergue a cabeça para me encarar nos olhos. — Pare de se
intrometer nas minhas coisas.
Storm passa ao meu lado, esbarrando em meu braço, seguro a risada pelo
seu tamanho que nem alcança meu ombro. A observo rebolar até à biblioteca,
respiro fundo antes de me dirigir até o ginásio de hóquei. Nosso último treino
antes do jogo de hoje à noite.
— Isso não desfaz o fato que Storm o quer. — Todos parecem concordar
com o comentário de Ethon, até Lohan.
— Desde quando Storm me quer? Vocês estão criando uma fanfic pesada
aqui. — Digo, revirando os olhos.
— Sim, vocês não? — Todo mundo cai na gargalhada. — São muito boas,
ok? A metade delas tem tara por jogador de hóquei, isso aumenta minha
auto-estima.
— O que vocês estão fazendo aqui? Não podemos nos desgastar antes
do jogo, hoje vai ser na sala de vídeos, seus idiotas. — Will grita de fora do
gelo.
— Você pode sair a hora que quiser, Jones, ninguém está te segurando.
— Não consigo segurar minha língua, já está ficando mais insuportável jogar
ao seu lado. Eu nem tenho confiança nele em gelo ou fora, provável de
acontecer alguma merda hoje por conta disso.
— Como é? Eu sou o melhor daqui, não deixe suas bolas subir a cabeça.
— Cospe nos meus tênis.
— Isso que você acredita? — Dou risada. — Alguém aqui precisa acordar
para a vida.
— Quer contar para seus amiguinhos o que você já fez? Por que veio
parar aqui? Acredito que terão medo ao saber que...— Não deixo que o
mesmo termine, meu punho chega em encontro ao seu rosto. Will cambaleia
para trás com seu nariz escorrendo de sangue.
— Meus dois melhores jogadores centrais não formam uma boa dupla, é
só o que me faltava — Massageia suas têmporas. — Eu achei que isso
poderia mudar, mas estou enganada e hoje já é tarde demais. Dê o seu
melhor hoje, Jace, não deixe Will fazer sua cabeça, eu sei o quanto ele é um
imbecil, mas preciso do seu foco. Eu já ouvi o desejo dos outros em você se
tornar o novo capitão.
Esse é meu primeiro jogo oficial com esses caras, eu tenho que ser o
melhor possível para mostrar a todos que ainda duvidam. Preciso mostrar
que sou melhor do que já fui em Moscou.
Eu vou dar tudo de mim, eu preciso dar. Hoje, Jace Ludovicih vai mostrar
porque era conhecido como “Mercurio”, o personagem veloz da Marvel.
Eu não deveria estar discutindo com Will logo agora, mas não tem como
não falar nada para ele ou ter vontade de socar sua cara. A veia violenta
continua por aqui, mesmo após algum tempo.
— Não chegou a quebrar, mas pode ter certeza que você vai pagar por
aquilo. — Se vira, indo na direção do corredor que fica o seu armário.
— Olha, Ludovicih, por mais que eu queira ver você metendo a porrada
em Will novamente, precisamos do foco de vocês dois hoje. Esse jogo é
importante, se já começarmos ganhando será ótimo. — Ethon diz com o
semblante preocupado e concordo com a cabeça.
Estou parcialmente feliz em meses, mas parece que algo ainda falta,
melhor pensar nisso depois, agora é focar em chutar a bunda desses idiotas.
Chegando próximo ao gol, espero o passe de Will já que ele tem quatro
jogadores na sua cola e eu estou livre, mas o idiota acha boa ideia jogar em
direção ao gol e erra. O encaro sem entender que porra ele acabou de fazer.
Não temos tempo de falar mais nada, os jogos são rápidos, piscou você já
pode ter sofrido um gol ou algum jogador pode está brigando. Não podemos
perder tempo em discussões que vão nos levar à derrota.
O juiz apita para o segundo tempo e mais uma vez é brutalidade para todos
os lados, sou prensado contra a parede por um jogador mil vezes maior do
que meu tamanho, mas consigo lhe dar um empurrão para trás. Ele cai no
gelo, porém não ligo e me concentro no disco em meu taco, o acerto em
cheio no gol, faço um toque com Santiago que me deu o passe. Consigo ouvir
alguns torcedores gritando Hulk e Mercúrio, definitivamente viramos Os
Vingadores.
— Isso não é verdade, não foi assim. — Will tenta intervir, mas o juiz pede
para o mesmo ter calma.
— Jogue para mim, seu idiota. — Will também retira seu capacete e me
dá mais um empurrão, mas dessa vez o pego pelo braço lhe jogando no chão.
Santiago e Clave correm para nos separar, o juiz intervém antes nos
deixando no banco por seis minutos.
Conseguimos fazer mais dois gols e o time rival apenas um, o placar final
é de oito a cinco.
— Na próxima vez, você joga a merda daqueles passes pra mim. —
Rosno para Will quando o jogo termina.
— Eu vou arrebentar a sua cara. — Lhe dou um soco atrás do outro, mas
Will consegue acertar alguns em meu maxilar.
As brigas no hóquei são algo frequente em cada jogo, não tão frequente
são jogadores da mesma equipe caírem na porrada. Mas essa cena que eu e
Will protagonizamos só serviu para mostrar o quanto não estamos em
sincronia para ser uma dupla.
— Sei o que você está insinuando e não sou nenhum cara que fica
pagando de macho alfa. — Faço uma careta, passando o paninho em meu
lábio cortado.
— Acho que nunca fiquei de joelhos perante um homem antes — Seu olhar
encontra o meu. — Irônico o homem ser você, né?
— Eu podia, mas algo não deixou. — Aquela parte que ainda insiste em
confiar em uma mulher e que ainda tem empatia, gritou para ajudá-la, aliás a
culpa foi minha. Eu lhe dei aquele gatilho que resultou em seu ataque de
pânico.
— A gente, se desteta.
Saio quarenta minutos depois de ouvir tudo e mais um pouco, nunca recebi
um puxão de orelha tão pesado, mas eu mereço. Não que eu esteja
arrependido de ter socado ele, o idiota mereceu, mas não foi uma boa coisa
fazer isso na frente de toda universidade.
Não gosto de mostrar meu lado agressivo, isso me faz pensar que sou
ainda aquela pessoa que meu pai pensa que eu sou.
— A enfermaria é por ali — Ela pisca sem entender. — Não veio ver Will?
— Will? — Choque percorre pelo seu rosto. — É, mas ele nunca vai na
enfermaria daqui, só não bata no meu namorado novamente, queria avisar
isso para você.
— Faz tempo que não te conheço mais, porém você não aprendeu a
mentir com os anos — Minha prima revira os olhos. — Você nem sequer se
lembrou do seu namorado quando pisou aqui, o que houve?
— É uma péssima ideia eu ter aparecido, como você pontuou, vou ver
meu namorado. — A mesma dá meia volta e fico sem entender nada.
— Estou cego. — Dou risada com Santiago que está com todo seu cabelo
jogado na frente do seu rosto, cortesia de Lohan.
Tomo um gole da minha bebida e não tiro os olhos de Storm enquanto levo
o copo aos meus lábios, deixo toda a bebida cair em minha camisa. Brassard
explode em uma gargalhada e tenho que rir também.
Ela se aproxima até mim e não sei se é efeito da bebida, mas Storm
parece brilhar nas luzes coloridas pelo local com paredes pretas. Seus olhos
ficam mais cintilantes e suas bochechas estão vermelhas por conta do álcool,
quando ela vem em minha direção como em câmera lenta, tenho que prender
a respiração.
Meu interior se revira e sinto minha pele ficar quente, mas … Perco a
noção dos meus pensamentos quando a mesma se senta ao meu lado, sou
atingido em cheio pelo seu perfume doce. Ela não cheira a morte, estou
surpreso.
— Acho que não tenho cara de esconder coisas boas — Seu sorrisinho
aumenta. — Nem você.
Como alguma força estranha, como a do tipo de Star Wars, meu olhar recai
para a boca de Storm.
Talvez eu tenha bebido demais para estar me sentindo atraído por Storm,
mas o dia na enfermaria eu não estava bêbado e me senti atraído por ela.
Assim como hoje mais cedo, no vestiário…
Não gostar de uma pessoa, não tem nada a ver com se sentir atraído por
ela. É o desejo falando mais alto.
Isso é loucura
Eu não gosto de Storm
Ela é...Storm
Então, por que aproximo meu corpo do seu e ela não recua? Por que levo
minha mão ao seu lábio? Por que eu não sinto nem um pouco de repulsa ao
fazer isso?
Perguntas que se perdem em minha mente.
Como eu fugi uma vez de Bervely Hills e outra da Rússia, eu fujo de Storm,
dando as costas para a mesma e me dirigindo, correndo para a saída
daquele lugar tão sufocante.
Depois de tudo que houve ano passado, como a mesma destruiu minha
confiança e a porra do meu coração, como fui tratado como lixo. Eu não
posso deixar uma mulher me destruir novamente e Storm Brassard pode fazer
isso, ela tem poder nas mãos e dei brecha ao mostrar que a quero.
Nesse jogo com Storm, nós dois podemos sair destruídos, mas eu sei que
no final apenas um terá o coração partido novamente.
Eu sei que podemos só nos pegar, mas é o medo falando mais alto.
Parece que meu passado não foi lição o bastante, parece que ter a vida
destroçada não foi o suficiente. Parabéns, Storm.
Eu ainda não entendo as reações do meu corpo a Jace Ludovicih, ele é
minha destruição e tentação. Como isso foi acontecer? Por que ele me
estendeu a mão quando eu estava na escuridão?
— Você veio, ele sumiu desde ontem à noite. — Parece ficar aliviada ao
me ver.
No mesmo segundo, a porta é aberta e meu pai aparece com uma sombra
de sorriso no rosto, que se murcha ao colocar os olhos em mim.
— Que porra você faz aqui? — Grita a plenos pulmões. Me finjo de forte e
não deixo isso me abalar, ele não iria me diminuir depois de eu ter vindo aqui.
— E se a culpa for sua também? Não tente tirar a culpa de seus ombros
para colocar nos de uma garotinha, eu tinha cinco anos. Ou talvez a culpa
seja de nenhum de nós e apenas dela, não tente amenizar as atitudes de
alguém.
— Não fale assim de Cibele — Ele tocou no nome dela. O nome dela que
não é falado a tantos anos. — O que você fez por ela? Sempre sendo uma
filha que não fazia nada para agradar.
— Saia daqui, saia daqui. — Aponta para a porta e passo por ele, sem
olhá-lo duas vezes.
No momento que chego do lado de fora, respiro fundo e tento não deixar as
lágrimas rolarem.
Seu nome ecoa em minha mente; Cibele, Cibele, Cibele. Como eu tive
tantos pesadelos com esse nome e a pessoa que o acompanha.
Parece que nunca ficarei bem. Não com meu pai me lembrando de tudo a
todo momento, como se meus pensamentos já não me torturasse o bastante.
— Agora você tem porque será meu par. Eu não aguento mais as alunas
me assediando.
— Pena que quando sou conquistado tudo tem a premissa de dar errado.
— Achei que você iria me ajudar a melhorar, não me colocar mais ainda
em depressão. — Lohan dá risada.
— Merda, apenas merda — Solto uma risada sem graça. — Não sei por
quanto tempo mais eu vou aguentar.
— E você acha que eu também sei? Mon cheri, somos pessoas sem
qualquer promessa de felicidade.
— Odeio ser influenciada assim, adicione mais dois livros nessa equação.
— Fechado.
Ele fica falando comigo por uma hora, sobre coisas totalmente diferentes e
sei que em algum momento, meu melhor amigo começou a falar em francês
só para me irritar. Mas, entendo o que Lohan está fazendo porque ele já fez
isso por mim uma vez, assim como eu já fiz o mesmo por ele.
Ele não quer me deixar sozinha, Lohan está tentando me pôr para cima e
a simples ideia de alguém fazer isso por mim faz meus olhos arderem.
Desligo a chamada com um bolo na minha garganta.
— Mas ficou fofo, um cachorro dócil — Dou risada. — Cadê sua cara
metade?
— Você é bom demais para entender que pessoas como Jace e Storm
tem sua verdadeira face que escondem por baixo de máscaras frias, a do
Jace está a mostra hoje. — Meu melhor amigo explica e ele está
completamente certo.
Capítulo 18 - Não sou covarde
“Termine o que você começou
Não vamos pensar muito, estaremos bem assim
Se isso é pecado, eu não sei
Para que vamos parar?
— Dámelo To’ - Selena Gomez part. Myke Towers.
Os dias que passei na Rússia foram mais difíceis do que imaginava, voltar
para tudo que eu tinha deixado para trás, foi como reabrir uma ferida com
uma faca afiada e deixá-la sangrar.
Meu humor piorou desde que o jatinho da minha avó aterrissou em Moscou
e piorou quando voltei para Califórnia, parece que todo rancor e mágoa
tinham voltado à tona.
Como se aquele Jace de meses atrás tivesse surgido novamente, mas bem
pior.
Toda minha postura vai ao chão, no segundo que entro naquele salão e
avisto Storm, a meta era entrar e sair, mas alguma coisa me dizia que não
seria assim e se comprovou quando eu a vi.
Caminho em direção a Audrey que parece esbanjar luz ao lado de Will, eles
conversam animadamente com minha mãe, já que a empresa da mesma é
uma das patrocinadoras do hóquei e do futebol. Excito um pouco quando o
olhar da minha mãe me encontra, mas eu não iria me diminuir em sua
presença.
— Difícil dizer mãe? Soube que foi para a Rússia, fico feliz em saber que
continua ajudando seu irmão.
— Alguém ainda tem que ajudá-lo, já que sua mãe não faz mais isso.
— Virou corno manso, Jace? — Viro-me para encarar Audrey que está
com um sorriso cruel nos lábios. — Depois de tudo o que ele te fez.
— Acho que nós dois somos cornos mansos. — Lhe lancei uma piscadela.
Deixo eles para trás e vou em direção aos corredores que tem por ali,
vejo uma porta que é para manutenção e entro. Encaro o local relativamente
pequeno, com uma série de painéis e uma saída de ar no teto.
Só queria um lugar para ter um tempo sozinho, absorver tudo que passei
nesses quatro dias, como a lembrança de Storm ficou viva em minha mente.
Como me perguntei a cada noite porque insistia em pensar nela depois de
tudo que dissemos um para o outro, então eu via ela a cada manhã na
Rússia, e qualquer pensamento sobre Storm se acabava e eu me lembrava o
porquê não poderia pensar em ninguém assim novamente.
Meu tempo a sós se acaba quando alguém entra na sala, a porta é fechada
em um baque e me viro para encarar o intruso, no caso, intrusa.
— Fala sério. — Storm tenta abrir a porta, mas uma série de risadas ecoa
do lado de fora.
— Jace está de mau humor mesmo, vai se dar bem com o humor que
Storm se encontra hoje. — Lohan comenta, antes de ouvirmos os passos
deles indo embora. Nos deixando naquela sala, sozinhos.
— Fugir depois de quase beijar alguém e nem olhar para trás, isso é
realmente uma atitude de um covarde. — Desafia.
— Você não sabe de nada, não é a única que tem problemas. — Ranjo os
dentes.
— Meus problemas não me fazem ser menos corajosa. Apenas alguém
mais forte — Seu sorrisinho se alarga. — Teve medo de mim, Ludovicih?
— Mas sabe, acho que você não é muito diferente dos demais alunos do
campus. Quando puxei a corda, eles fugiram — Se afasta em direção ao
canto da sala. — Agora vou arranjar um jeito de sair daqui.
— Sou a única que cabe ali dentro. — Coloca um dos pés na prateleira
dos monitores, Storm se coloca para cima e consegue se segurar na grade.
— Você ficou presa, não foi? — Começo a rir novamente, a mesma tenta
se mexer para sair, mas seu corpo nem se move do lugar. — Ficou entalada.
— Cala a boca. — Se remexe e aos poucos vai conseguindo sair até seu
corpo está pendurado novamente.
— Sério, que não conseguiu se esgueirar pela saída de ar, Tom Cruise?
— Storm revira os olhos. — Eu não sou um covarde.
Não sei porque tento afirmar isso novamente. Mas a verdade é que eu agi
mesmo como covarde, só não queria admitir isso para Storm.
É mais fácil sustentar uma mentira.
— Eu não sou covarde — A puxei pela cintura, passando minha mão pelo
seu pescoço, trazendo seu rosto para próximo do meu. Nossas respirações
se tornam uma só. — Sabe por que eu fugi? Porque quando eu confiei em
uma mulher acabei fodido, você nem me causou nada e eu já me sinto assim.
É Storm que se inclina e me beija, meu choque inicial passa quando nossas
línguas estão em contato uma com a outra. Solto um gemido com o leve
sabor de morango em sua boca, isso é a tentação.
Mas acabo por perceber que posso sentir muito além de rancor por
Storm, esse pensamento me assusta e me afasto dela.
Seu sabor ainda fica em meus lábios e solto um gemido frustrado.
— Estou questionando sua dor? Então não questione a minha, assim como
eu não banalizo sua jaqueta, não banalize o que já ocorreu comigo. — Storm
se cala na hora com meu tom de voz.
— Não aja com grosseria para cima de mim, Ludovicih, eu sei que tem
algo mais aí embaixo. Não vou ficar me perguntando o que é.
— Já viraram Friends to lovers? — Phineas abre a porta e Storm sai
como um furacão. — A resposta é: não.
— Porra. — Murmuro.
Sinto seus lábios em meu pescoço enquanto suas mãos vão descendo
pelo meu corpo, minha pele vibra e queima por onde suas mãos vão
passando. Eu preciso de mais, preciso de mais dele.
Chego na faculdade com uns vinte minutos livre, depois de não conseguir
mais voltar a dormir. Resolvo passar na biblioteca para distrair um pouco
minha cabeça, estou a caminho de lá quando vejo Will e seu grupinho de
machos radioativos conversando, eu não iria parar para ouvir até o nome da
minha tia sair da sua boca.
— Sim, cara, a fodida daquela treinadora acha que pode fazer uma nova
votação para capitão, como se a universidade quisesse um antigo delinquente
como líder. Se eu pudesse, tiraria o sorrisinho daquela vadia, que acha saber
mais do que um treinador homem.
— Como é que você chamou minha tia? — Will engole a seco quando se
vira para me encarar.
O peguei pelos ombros, acertando no meio das pernas, Will cai de joelhos
e aproveito para acertar seu rosto com um soco.
Desfiro uma série de socos em sua face, não parando nem ao ouvir os
amigos de Will gritarem, até sentir alguém me puxando para longe, me debato
nos braços de Jace.
Deixo Jace me levar para longe dos olhares amedrontados dos amigos de
Will e olhares de julgamento de alguns alunos que já estavam surgindo ali.
— É o que dizem.
— Sinto muito pelo time. — Me afasto dele, mas Jace me segura pelo
pulso, virando-me para encará-lo.
É isso que sinto com minha família, eu e Jace estamos carregando traumas
e um passado conturbado com pessoas que eram para ser nossa base.
— Se sente assim, não? Foi alguém da sua família que partiu seu
coração, não foi? — Pisco rapidamente.
E-Ele… Ele foi a pessoa mais próxima a acertar sobre isso, Jace
conseguiu chegar mais perto do que ninguém.
Eu preciso me manter distante dele, antes que descubra tudo o que tento
manter oculto do resto do mundo.
Como o dia começou sonhando com ele até Jace quase descobrir o que
significa o Broken Heart?
Preciso admitir para mim mesma que Jace é mais perigoso do que eu
imaginava, mas eu também sou e não irei me deixar abater, mesmo por
alguém que esteja confundindo toda minha cabeça, em pouco tempo.
Dou risada com o carrinho de kart do Phineas que derrapa com tudo na
pista, Santiago bate em seguida nele e ambos comem poeira. Avanço com
meu carro por eles e consigo chegar em primeiro na chegada, desço do meu
carro e espero Jace chegar em seguida.
— Me lembre porque a gente não vem mais nisso desde os quinze anos.
— Retira seu capacete e mexe em seu cabelo.
— Por que briguei com um dos instrutores? Talvez seja isso. — Digo,
inocente.
— Então que tal uma corridinha entre nós dois? — Pela primeira vez o
encaro nessa noite.
Os olhos azuis que podem descobrir cada segredo meu, isso é o choque
que eu precisava lembrar.
Dou meu capacete para Bela, indo em direção ao corredor que leva até o
banheiro, é no mesmo corredor que a entrada para o kart.
Consigo ver algumas famílias chegando com seus filhos e sinto um
pequeno incômodo em meu peito, nunca senti inveja de quem tem uma
verdadeira família, é mais um lembrete do que perdi.
— É estranho ver famílias felizes quando você nunca teve uma — Sinto a
respiração de Jace em meu pescoço, não ouso me virar para encará-lo. —
Sei como é.
— Com certeza, essa palavra não vai ser dirigida a mim. Eu não fugi de
nada por medo do passado, eu bati de frente com cada um dos meus
problemas. E você, Jace? — O mesmo se cala. — Foi o que eu pensei, o que
tanto sua família te fez?
— Assim como não teve escolha quando sumiu por quatro dias? —
Murmuro.
Não é algo que eu conseguiria rir, já que faço a mesma coisa com meu pai,
toda vez que ele me chuta, eu o ajudo. Família ou desconhecidos? Talvez
não tenha muita diferença.
— Não sei se o quero por tanto tempo assim, Ludovicih — Ergo minha
cabeça para olhá-lo de frente. — Sou de enjoar bem rápido, gosto de manter
certa rotatividade.
— Porque amigos não fazem isso. — O puxo pela jaqueta e subo na ponta
dos pés para beijá-lo.
Não era para me manter afastada? Não era eu que mantenho certa
rotatividade?
O mesmo desgruda sua boca da minha e segue com o olhar até a pessoa
que o chamou.
— Sasha? — Seu corpo fica tenso e a máscara fria volta ao seu rosto.
Acho que a Elsa está de volta.
O fruto da sua traição com meu irmão, mas Alexei não está por perto.
— Cala a boca, mãe. — Rujo de raiva e meu olhar vai para Storm, a
mesma entende a deixa e me puxa pela mão, em direção a saída.
Passamos por Sasha e meu olhar vai para a pequena neném em seus
braços, sinto meu estômago se revirar e desvio o olhar.
Subo na minha moto, com meu coração batendo mais rápido que o motor e
a sigo até uma das áreas mais luxuosas de Beverly Hills, como se todo o
lugar já não fosse, ainda tem as partes mais luxuosas ainda.
Storm entra em um estacionamento subterrâneo de um prédio com uns
trinta andares, estacionei meu veículo ao lado do seu.
Ela acaba percebendo meu olhar apavorado e que ainda não tinha entrado
dentro da caixa metálica.
— Certo, vem — Agarra minha mão, meu corpo tenciona quando estamos
dentro daquela caixa. Storm solta minha mão logo depois. — Olhe para mim,
Ludovicih.
Faço o que ela pede, no caso ordenar já que pedidos não são feitos com
Storm Brassard. A ouço e ergo minha cabeça para encará-la, seus olhos
pretos são como um calmante.
— Eu não tinha pensado nisso até você dizer — Dá risada. — Eu não sei,
desde que descobri que já nos conhecíamos, fico pensando se pudéssemos
ter sido amigos.
— Não adianta pensar no passado, Ludovicih, ele não pode ser mudado.
Talvez todas nossas atitudes nos levaram aqui, hoje.
— É, dentro de um elevador.
Pela primeira vez em anos, entrar em um elevador não foi tão difícil porque
Storm está aqui, comigo. É realmente irônico imaginar que a mulher que jurou
me matar, agora está me trazendo uma sensação de conforto, até esqueço
de quem vi alguns minutos atrás.
— Vai me embebedar para que eu possa falar meus segredos mais sujos?
— Aceito a garrafa de cerveja e Storm fica com uma garrafa de água.
— Nunca obrigaria alguém a despir suas cicatrizes para mim, faça o que
quiser. Ainda não temos confiança no outro, certo? — Se joga em seu sofá de
couro e me sento na poltrona de frente para o mesmo. Por algum motivo a
poltrona é vermelha.
—Não é lá grande coisa, só minha namorada que dormiu com meu irmão e
engravidou dele — Tomo metade do conteúdo da garrafa em um único gole.
— Meus pais decidiram ficar ao lado dele, já que o mesmo jurou que tinha se
apaixonado pela minha namorada.
— Minha melhor amiga dormiu com meu pai e agora, eles vão se casar e
ter filhos. Acho que realmente temos coisas em comum.
Storm liga a televisão depois de um silêncio que se instala pela sala, passa
Hotel Transilvânia e me jogo para sentar ao seu lado. Na parte em que eles
começam a cantar Você é o meu Tchan, eu e Storm começamos a cantarolar
juntos até estarmos cantando com toda força em nosso corpo.
— Assim que vai tentar superar isso? “Porque amigos não fazem isso”. —
Repito suas palavras.
Puxo sua cabeça para trás deixando seu pescoço à mostra, vou descendo
meus lábios até chegar no alto do seu decote.
Solto seu cabelo e vou descendo sua jaqueta, mas percebo quando o corpo
de Storm fica tenso e me lembro sobre não tocar na peça.
— Acho melhor não fazermos nada que iremos nos arrepender depois. —
A tiro do meu colo e Storm parece perdida por alguns instantes, ajeitando a
peça de roupa em seu corpo.
Eu também não estou nem um pouco pronto para isso, ainda mais depois
de quem eu vi mais cedo. Seja lá o que eu e Storm estivermos fazendo, é
melhor pararmos para o bem de ambos.
Eu só teria que recompensar no próximo jogo que é daqui dois dias, vamos
de ônibus até Nevada, uma viagem de dez horas com os caras resmungando
entre si.
— O que? Acha mesmo que vou continuar em um time que nem sou o
capitão? E nem que eu nascesse de novo, iria obedecer ordens de um cara
que quase matou a avó. — Me levanto em um pulo, o encarando.
— Repete, seu otário. — Prendo meus punhos ao lado do corpo. Toda a
sala fica em silêncio, de repente.
— Não quer que todos saibam que você quase matou sua avó porque
estava envolvido com...— O barulho do apito da treinadora ecoa pela sala
antes que Will termine.
— Fora daqui, Jones, como você pontuou que não faz mais parte do time,
não tem o que fazer aqui. — Will sai batendo os pés.
— Elas são donas do mesmo clube, não quer dizer que eu goste de
Jones, só significa que o aguento na faculdade e nas festas da empresa, já
não bastava mais no time também. — Rodriguez faz careta.
— Então, Lohan vai ter que dizer que ajudou sua prima no carrinho dela.
— Phineas dedura.
— Mas isso não te impediu de pegá-la pela cintura, quando ela quase caiu
no chão. — Bastien fuzila Santiago com o olhar.
— O foco não era para onde Jace e Storm tinham ido? — Os caras
concordam com a cabeça. A maioria nem estava ontem.
— A gente não acha, temos certeza. — Phineas vira seu celular com a
filmagem do corredor, na imagem aparece eu e Storm nos beijando ou quase
nos engolindo. Uau! O beijo foi quente mesmo.
— Isso foi a coisa mais melosa que você já disse. — Santiago revira os
olhos.
— Alguém tem que ser o cúpido aqui. Jace e Storm são o casal que
podem ficar juntos mas não querem, seja lá por qual motivo — Phineas
aponta para Lohan. — E Lohan não pode ficar com Audrey porque ela já é
apaixonada por outro, logo a vez que nosso francês resolve se interessar por
alguém daqui.
Quando estou entrando no meu prédio de aula, me viro para encarar Storm
que entrava no prédio, ao lado. Talvez se fossemos pessoas diferentes com
passados diferentes…
Mas, somos apenas nós e não vamos dar certo, mesmo assim ainda
estamos nos torturando. Por que continuamos nos atraindo assim?
Capítulo 21 - Aqui está você
“Eu quero que você fale sobre como você se sente por dentro
Você sempre estará segura comigo, basta colocar sua mão na minha
Apenas me deixe ser sua terapia esta noite.”
— Therapy - Noelle.
— Talvez porque seu namorado seja um babaca? Mas você já sabe disso,
nenhuma novidade sob esse sol.
— Você também não é a melhor pessoa do mundo — Abre um sorrisinho
afiado. — Não bata mais no meu namorado.
— Aquilo, era uma fofoca qualquer, não tinha porque ele falar algo.
— Mesmo assim teve que provar que era mentira e em nenhum momento
Will esteve lá, mas já sabe disso. Eu não tenho nada a ver com sua vida ou
seu namoro, mas é triste ver uma mulher se rebaixando para caber dentro do
mundinho de um homem.
— Talvez, mas aquele cara já foi usado demais por alguém. — Com isso,
ela se vira e vai embora com seus saltos fazendo barulho pelo chão do
estacionamento.
Tenho que controlar a risada, como esse papo virou contra mim? Ok, eu
mereci já que não tenho nada a ver com a vida dela.
Sério que eu me tornei a vilã da universidade?
— Phineas não pode ver ninguém ao lado do outro que já shippa — Reviro
os olhos e subo na minha moto. — Vai querer carona?
— Você mora a uns vinte minutos daqui, eu que devo estranhar o porquê
está aqui. — Murmuro sem muita animação.
— A praia mais perto é a daqui. — Mentira descarada e ele sabe disso, a
praia mais perto fica a uns cinco minutos da sua casa.
Um silêncio confortável recai sobre nós dois, penso no dia que o levei até
meu apartamento — já tem algumas semanas — e deixei claro o fato de não
confiarmos um no outro. Então não sei para que, resolvi abrir minha boca
agora.
Me viro para encarar Jace que está vermelho de raiva, tentado a matar
alguém. Que ótimo, somos dois com veia sanguinária.
Jace Ludovicih pode ser a destruição de tudo que tento manter e eu não
posso me perder, não posso deixar minha confiança nas mãos de outra
pessoa novamente.
Eu com certeza tenho medo dele, medo dele saber tudo que escondo do
resto do mundo. Ele viu algumas partes das minhas feridas e as recebeu de
braços apertos, isso me assusta.
— E compaixão não cai bem em você, Jace Ludovicih. Você tem seus
próprios demônios, por que se preocupar com os meus?
— Eu também não sei, sabe o quanto estou abrindo mão por isso? Fiquei
meses remoendo na minha cabeça o quanto não devo confiar ou me
preocupar com ninguém novamente, eu ainda penso nisso, mas me desgrudo
da ideia quando vejo o quão quebrada você é.
— O que você acha que está fazendo? — Olha para os dois lados, antes
de voltar sua atenção para meu rosto.
— Não quer ser vista comigo? Estou magoado. — Faço beicinho e Storm
se aproxima, mordendo meu lábio inferior.
— O que me fez beijar um cara com um ego tão grande? — Tenho que
dar risada.
— Por que raios vou sair com você, justo no meu aniversário?
— Um: Nós toleramos, dois: beijar quer dizer na...— A interrompi lhe
dando um beijo.
O beijo é nada suave, apenas carnal e cheio de desejo, mordo seu lábio
inferior e Storm solta um pequeno gemido em meu ouvido. Tenho que me
esforçar para me distanciar dela.
— A velha aqui ainda tem energia para muitas coisas. — Diz ronronando.
Fico um pouco chocado, ela acabou de ronronar para mim? Talvez, meu
coração tenha errado uma batida.
— Ronronar.
Talvez eu pudesse arriscar tudo por Storm, mas será que ela seria capaz
do mesmo? Cada um tem seu caos pessoal, cada um já passou por um
trauma que o machucou de alguma forma, tenho a certeza que os de Storm a
machucaram de uma forma bem pior.
Me lembro de como ela ficou atordoada quando falei sobre a jaqueta, sei
que quase acertei o motivo dela usar aquela armadura, mas só descobriria de
fato se Storm um dia me contasse, não vou mais interferir nisso quando a faz
mal.
Quase tenho vontade de rir, desde que momento me preocupo se algo faz
mal a Storm? Desde que ela sofreu aquele ataque de pânico por minha
causa, meu subconsciente me responde.
Meu passado ainda está ali, em cada passo que dou, quanto mais eu me
aproximo de Storm, mas minhas inseguranças gritam, tentando me avisar do
que já aconteceu e dessa vez pode ser pior. Porque não será minha mãe ou
Sasha a me machucarem, será Storm.
— Sabe que não existe opção, não existe nenhuma opção em nossa
família. — Dá de ombros.
— Por que não está se incluindo nessa? — Abre um sorriso frio. — Não
tire sua parcela de culpa, Ludovicih.
A mesma se vira, indo em direção a BMW que nos aguarda e vou logo
atrás.
Me sento ao lado de Audrey, que começa a folhear uma revista de moda
enquanto estamos a caminho da mansão Ludovicih.
Meu irmão, chega ser piada pensar em Alexei como um irmão. Fomos
criados para sermos inimigos do outro e como se um fosse melhor, no caso
meu irmão mais velho.
Eu fui jogado para escanteio por minha infância inteira. Quem era Jace
perto de Alexei? Desde o começo, meus pais sempre deixaram claro que só
se importavam com seu herdeiro, eu fui apenas o filho deixado de lado,
aquele que nasceu por acidente.
Agora, meu maninho, está enterrado até o pescoço na própria merda.
Audrey está certa, meu irmão está horrível, pior do que quando o vi, mês
passado. A aparência de Alexei parece mais como a de um cadáver e o
mesmo perdeu mais uns oito quilos, sobrando apenas ossos magros.
A droga e o álcool consumiram ele de dentro para fora, seu cabelo que
antes era penteado com gel, agora é uma bagunça ressecada e os ternos
que antes caiam como uma luva em seu corpo, parece folgado.
— Voltou a falar com seu primo, querida? — Minha mãe encara Audrey,
sei o quanto minha prima está abrindo mão nesse momento e o quanto vai
cobrar caro para ela no futuro.
— Vai acordar a bebê. — Sasha murmura. Tento não olhar para o neném
que dorme em seus braços, a minha sobrinha.
— Já viu sua sobrinha, maninho? A que podia ter sido sua filha. — Dá
risada e meu olhar trava com o de Sasha, ela nunca contou. Pelo menos em
algo ela não me traiu.
— Sasha que foi idiota por ter tido um filho com você, além de péssimo
gosto para roupas, também tem para homens. — Audrey olha com nojo para
Sasha, que se remexe em seu lugar, no sofá, ao lado de Alexei.
— Alguém a leve para uma loja, a mesma não faz parte da família
Ludovicih, agora? Eu me recuso a ter alguém mal vestida perto de mim. —
Pergunta para ninguém em particular.
— Audrey, fique longe desse assunto. — Tia Dasha chama atenção da
filha. Isso não é apenas ficar contra minha mãe que é como uma inspiração
para minha prima, é ficar contra sua mãe também e as duas já não possuem
uma boa relação. Quem nessa família possui uma boa relação com os pais?
Volto minha atenção para meus pais, tios e meu irmão e sua esposa. Essa
parte desce melhor do que a última vez que proferi essa palavra em minha
mente.
— Jogue outra carta, Jace, essa nossos pais já sabem. — Encaro nossos
genitores e os mesmos estão tranquilos com isso.
— Espera, Alexei está indo para um caminho pior do que Jace foi e vocês
não o odeiam por isso? — Audrey, exclama.
— A diferença é que seu irmão sempre foi uma boa pessoa, só está tendo
problemas agora, ao contrário de Jace. Você quase matou minha mãe, quase
destruiu nossa reputação na Rússia e quase destruiu a família do seu irmão,
como quer que confiemos em você? — Ayla Ludovicih me encara com
desgosto, mesmo olhar de quando eu era mais novo. Nada mudou nessa
casa, não quando o filho continua sendo eu.
Sou jogado para lembranças de anos atrás, quando minha mãe gritava
comigo até me fazer chorar e Audrey vinha logo atrás para me consolar.
Como pude estragar a única ligação que sempre tive na família?
— Acho que já é tarde demais, Jace, ela já nos devorou. Somos a prova
disso.
Vou embora com aquele vazio voltando para meu peito. Volto em direção
ao campus, onde eu teria um último treino no dia e toda a dor que sinto
parece cair por terra, no segundo que vejo Storm.
A resposta parece estampada em meu rosto, mas eu ainda não consigo vê-
la porque ainda não estou pronto.
Tudo que falei na praia é verdade, ela pode me chutar, gritar e eu ainda vou
querer continuar aqui. Mesmo que meus instintos gritavam para eu odiá-la ou
mantê-la longe.
Capítulo 23 - Vinte e três anos
“Honestamente, ela precisa de um pouco de conforto
Olha o que aconteceu comigo
Mas meu amor tem apenas vinte e três anos.”
— 23 - Chase Atlantic.
Calço minhas botas e ajeitei minha saia curta, a peça combina com minha
jaqueta do mesmo material. Vou até a cozinha e pego um bolinho jogado no
armário, coloco uma vela sob o doce e acendo.
— Um ano que Alisson e seu pai estão juntos — Concordo com a cabeça,
mesmo que não tenha sido uma pergunta. — Como anda sua cabeça em
relação a isso?
Encaro minha terapeuta que está com as mãos tremendo, acho que não
era para ela expressar o que está sentindo. Que ótimo, acabei de quebrar
minha médica.
— E mais um pouco, parece que não foi o bastante ela destruir minha
saúde mental, a física também foi junto — Abro um sorriso amargo. — Por
isso, eu sou desse jeito, nunca recebi amor ou uma preocupação saudável,
tudo foi ao extremo. Ou ela me odiava ou ele se preocupava de uma maneira
doentia.
Mesmo quando contei para meus melhores amigos, eles souberam tudo por
cima e não consegui entrar em detalhes profundos, contar os detalhes mais
intensos do que ocorreu foi como despir minha alma para senhora Bastos.
Vou me arrastando até meu apartamento e verifico mais uma vez minha
caixa de mensagem — completamente — vazia. Até Phineas, que no meu
último aniversário tinha feito um vídeo fantasiado de cupido, com direito a
fralda e asas, não me mandou nada dessa vez.
— Eu falei que não era uma boa ideia não mandar mensagem, ela sentiu
falta do meu vídeo — Phineas se aproxima e me abraça à força. —
Parabéns, diabla, a ideia foi toda de Jace e Lohan.
— Ok, agora vai logo se arrumar porque vamos sair. — Santiago diz, se
jogando no meu sofá.
Abro a caixa da Nike que Phineas me entregou e dentro tem um lindo tênis
personalizado, com um S ao lado de um coração partido na lateral e um par
de meias com desenho de bolo.
— Minha vez — Lohan estende uma caixa menor com um sorriso no rosto.
— Lembra quando tínhamos dezesseis anos e você queria muito um colar de
rubi?
— Na mesma época, você queria muito algo mais singelo. — Aponta para
a caixa.
— Acho que nunca vi Storm tão feliz, estou assustado, Santi. — Ouço
Phineas murmurar para Santiago.
Olho para Jace que foi o único ainda a não falar comigo separadamente ou
me dar um presente, ele parece desconfortável. O deixo para lá, pegando os
presentes de cada um e levando até meu quarto.
Estou colocando o vestido que Bela me deu, quando ouço alguém batendo
na porta. Peço para entrar e logo a figura imensa de Jace surgir.
Ele está vestindo uma calça jeans rasgada, botas estilo militar, blusa
branca e sua jaqueta de couro. Seu cabelo parece um pouco mais comprido e
acho que prefiro ele raspado, mesmo assim o idiota continua lindo.
Meu olhar recai para a caixa em sua mão e depois para seu rosto. Pela
primeira vez desde que eu o conheci, vejo Jace Ludovicih inseguro.
O cara que tem o ego lá nas nuvens, está inseguro e eu nem sei o motivo.
— Não. — Respondo antes dele me puxar pela cintura e colar sua boca
na minha.
Esqueci todas as merdas que despejei hoje de manhã, meu foco agora é
esse beijo que faz minhas pernas ficarem trêmulas.
— Feliz aniversário, vampirinha. — Sua voz soa rouca contra meu ouvido,
lançando uma série de arrepios pelo meu corpo.
— Vejo que tem algo para mim. — Aponto para a caixa na cama e Jace
pega a mesma, me entregando.
— Fiquei com isso martelando na minha cabeça desde que vi a cor da sua
poltrona. Qual é sua cor favorita?
Uma jaqueta de couro, mas não qualquer jaqueta. É uma jaqueta de couro
vermelha e logo atrás — sinto minhas pernas falharem — os dizeres: Broken
Heart.
— Para mim, não fazia sentido te dar outra coisa. — Murmura e ergo
minha cabeça para encará-lo.
Esse homem que já me fez passar bastante raiva, que me ajudou, que riu
da minha cara, me beijou até fazer minhas pernas falharem, acabou de dar o
melhor presente que já ganhei em toda minha vida. Algo que significa tudo
para mim, meu lembrete diário.
Parece que quando não estou usando a peça na frente de outras pessoas,
não sou forte o bastante.
Passo o couro novo em meus braços, abro um sorriso singelo para minha
imagem no espelho.
— Não, mas é bom para meus ouvidos. — Não sei como consegui reunir
forças o bastante para dizer isso, já que seu gesto bruto me desestabilizou.
— Phineas, você está certo, isso é uma baita fanfic. — Lizzie troca um
olhar cúmplice com Phineas.
— Temos a ver desde o momento que Storm não parece infeliz, ao lado
de alguém e você está se envolvendo com alguém também. — Santiago
começa bastante sério, seu sotaque pesando em cada palavra.
— Sério isso?
A verdade é que por dentro estou sorrindo, por esse bando de idiotas que
se importam comigo, mesmo que eu não mereça isso.
— Muito sério, mocinha. — Lizzie bate o pé, como se estivesse falando
com um dos seus irmãos mais novos.
— Alguém está sendo sincero aqui — Phineas joga as mãos para o alto.
— É melhor começar a falar a verdade, menina trevosa.
— Vocês não tem a ver com isso. Ok? Esqueceram que eu não fico sério
com ninguém? E pelo jeito Ludovicih é a mesma coisa.
— De novo isso — Jace acaba de colocar meu tênis e tiro minha perna do
seu colo, me levanto em um pulo e encaro meus amigos fofoqueiros. —
Podemos sair agora?
— Graças a Deus, achei que iriam me levar para aqueles restaurantes grã
finos que não enchem barriga. — Desço da moto.
— Coisas chiques não são bem sua cara. — Dou um soco em seu braço.
— Sabe que eu tenho mais dinheiro que você, né? — Cruzo os braços e o
encaro.
— E você? Já fez seu primeiro milhão por algum acaso? — Jace coloca a
mão sobre o coração.
— Toca na parte que dói — Gargalhar, mas logo fica sério. — Ainda estou
tentando arrumar um jeito de trabalhar, quero pagar a faculdade com meu
dinheiro.
— Quando eu era mais novo fazia dupla com Audrey, ela tem mais jeito
para a coisa, meu negócio era mais ajudá-la.
Sentamos em uma grande mesa, onde cabe todos nós e cada um faz seus
pedidos.
— Hoje não teremos uma sessão de Bela tentando dar em cima de Jace
para provocar Storm? — Santiago pergunta com um sorrisinho nos lábios, me
inclino sobre a mesa e belisco seu braço. Não adianta de nada, o cara é uma
muralha.
— Dessa vez Storm pode mesmo ficar com ciúmes. — Fuzilo Ethon com o
olhar.
— Ela fez isso mesmo? Lohan, nossa amiga está apaixonada, acabou de
perder a postura. — Todos fazem um sonoro “Awn”.
— Sabe, a gente podia dar o que falar para eles. — Jace se inclinou para
sussurrar em meu ouvido.
O puxei pela camisa e aprofundei mais ainda esse contato, minha língua
brinca com a sua e mordo seu lábio inferior, o mesmo vai com sua mão até
meu pescoço e o aperta.
Nos separamos ofegantes e nos viramos para encarar a todos, que estão
de olhos arregalados e bocas abertas.
Dou meia volta os deixando para lá, eu já tinha desconfiado sobre os dois e
parece que o ódio está os levando para águas nebulosas.
A mesma parece sorrir com algo que meu amigo fala, mas logo se
distancia ao ouvir alguém a chamando. Lohan fica meio desconcertado ao vê-
la indo embora.
Não acredito que ele está mesmo gostando de Audrey ou seja lá o que.
Eu não quero tentar entender a vida amorosa de ninguém, é muito
complicado.
— Não vai fugir como da última vez? — Não posso deixar de alfinetar e eu
quero mesmo saber disso.
— Storm. — Sua voz soa rouca em meu ouvido e consigo perceber seu
sotaque russo.
O mesmo está com a boca entreaberta e com suor pingando do seu rosto,
seus olhos parecem duas esferas fundas verdes.
Ele se inclina e começa a distribuir beijos pelo meu pescoço, descendo até
o decote do meu vestido. Arfo quando sinto suas mãos subindo pela minha
bunda, erguendo meu vestido até a cintura.
— Merda, não posso fazer isso aqui, não com você. — Passa as mãos
pelo cabelo.
Ajeitei minha roupa antes de voltar para próxima dos meus amigos, que
nem parecem ter sentido minha falta, me jogo no sofá ao lado de Bela, a
mesma está com um copo de vodka na mão.
— Está bem? — Se vira para mim, nem reparando que eu estava aqui.
— Quer que eu diga de quem você está falando? — Bela nega com a
cabeça. — Ok.
Meu olhar então encontra com o de Jace, o mesmo está no bar com
Santiago ao seu lado. Ele lambe os lábios no momento que coloca os olhos
em mim e meu corpo parece se lembrar dele.
— Quer que eu chute com quem você estava? — Nego com a cabeça
também e desvio o olhar de Jace. — É complicado, né?
Meu olhar vai novamente para ele, como alguma força que não consigo ir
contra.
Às duas da manhã, Lohan surge com um bolo e toda boate ajuda a cantar
parabéns, ao lado dos meus amigos. Saímos do local todos sujos de bolo já
que Phineas e Lohan acharam uma boa ideia destruir o doce, jogando uns nos
outros.
— Pode levar Storm para casa? — Pergunta para Lohan que concorda
com a cabeça. — Vamos, Rodriguez.
O encaro partindo sem entender nada, uma hora ele quer me pegar e outra
vai embora sem olhar para minha cara? Por que isso o deixou mais atraente?
Vou fingir que é o efeito do álcool.
Lohan me deixa em meu apartamento e vou me arrastando até meu quarto,
me jogo na minha cama e respondo mensagens da minha madrinha e da
minha prima, minha avó e tios também deixaram algumas mensagens. Não
tento pensar no fato que meu pai nem se deu o trabalho de falar comigo.
Esse dia foi intenso e louco, pelo jeito meus vinte e três anos vão ser desse
jeito. O dia começa comigo desabafando com minha terapeuta sobre meu
iceberg até quase… Balanço a cabeça com a lembrança fresca do banheiro
da boate.
Comemoro com meus colegas mais uma vitória que tivemos, ganhamos
todos os jogos desde o começo da temporada, vamos chegar na metade da
competição imbatíveis.
O time evoluiu desde que Will saiu, mostrando como ele era a fruta podre
daqui, mesmo que ele tenha sido o número um por muito tempo, perdeu a
confiança com seus colegas de equipe. O que adianta ser uma estrela, se
os seus colegas não gostam de você?
— Desculpe, capitão.
Vamos até uma lanchonete que depois daqui seguiremos para Los Angeles,
mais uma viagem de cinco horas com Phineas obrigando todo mundo a
assistir Ladybug. Tenho que admitir que para um desenho é bastante legal,
cheio de cenas de luta.
Começa uma discussão sobre alguns pontos que erramos ao longo do jogo
e logo a treinadora nos grita para entrar novamente no ônibus. Troco um olhar
com Storm, antes de subir as escadas do veículo.
— O que vocês estão aprontando? — Ethon pergunta.
— Nada.
Minha decisão foi tomada naquele banheiro da boate, tudo que passei foi
jogado para descarga naquele momento. Mesmo que algo ainda me alerte, a
parte mais descontrolada quer isso.
Storm é a pessoa certa para isso, mesmo que no final eu saia fudido e a
chance é grande, eu vou ter aproveitado, vou ter me entregado de verdade só
precisamos colocar as cartas na mesa.
— Eu não quis fazer nada na boate, não foi por gesto romântico —
Respiro fundo para dizer logo a verdade de uma vez, deixando minha guarda
baixa. — Eu sou virgem, Storm.
— Ah! Meu signo é áries, mesmo que eu não acredite muito, tenho muita
coisa de ariana — Abre um sorriso confuso. — Você acredita em signos?
Mapa astral não estava bom naquele dia?
— Storm — Tenho que abrir um sorriso divertido, só ela para deixar isso
menos estranho. — Eu nunca dormi com uma mulher antes, eu sou virgem.
Pisca sem entender, até erguer a cabeça para trás e explodir em uma
gargalhada, começo a rir também porque essa merda é engraçada.
Tem problema nenhum você ser virgem, mas do jeito que falam da minha
vida, parece que eu estou longe de ser um e eu ainda contribuo para a fama
que criaram sobre mim, negando nada.
— Isso é mesmo verdade? Por que?
— Teve um dia que saiu uma fofoca sobre uma aluna que estava traindo o
namorado, eu nem dei bola porque nem sequer passou pela minha cabeça
que podia ser Sasha. Um tempo depois, começaram a sair boatos que a
aluna era minha namorada, a Sasha, aquela que você viu no dia do kart —
Storm enruga o rosto. — Então veio a bomba, ela estava grávida, eu a
confrontei até porque como eu poderia ser o pai? Só se ela era a nova Maria
e eu não sabia, não demorou muito para a verdade aparecer e minha
namorada acabar admitindo que o filho era do Alexei, meu irmão mais velho.
— Enfim, quando Sasha disse que estava tendo um caso a dois anos com
meu irmão, foi a gota d'água para mim. Eu dei tudo de mim em um
relacionamento de oito anos, tinha momentos que eu a amava mais do que
minha própria avó e aquela senhora fez de tudo por mim, foquei tanto em
amar Sasha para esquecer dos meus problemas familiares, que quando
descobri a traição foi um baque. Eu fiquei com tanto ódio dela, de mim e do
meu irmão que liguei o foda-se para tudo, deixei de ir na terapia, de ligar para
mulheres e nem dei bola sobre o assunto de perder a virgindade.
“Na Rússia como em qualquer lugar tem o seu lado sombrio e comecei a
gostar de frequentar esse tipo de lugar para esquecer dos problemas.”
— É, não foi uma boa decisão, tinha esse grupo de jovens que gostava de
sair fazendo furtos, vender drogas e pixar as coisas, alguns deles já tinham
ido até preso — Abano com as mãos. — Eu só usei droga uma vez, foi
quando descobri que a bebê era menina e Sasha colocou o nome que
tínhamos escolhido para um eventual filho...— Engulo a seco, essa merda
ainda é dolorosa de dizer.
— Jace? — Ergo meus olhos para encarar Storm, a mesma me olha com
compreensão. — Não precisa contar, não tem problema. Eu entendo.
— Eu preciso disso — Ela concorda com a cabeça. — Fumei tanto que fui
parar em uma vala, minha avó me encontrou no dia seguinte, todo sujo de
esgoto, eu ainda consigo ouvir o choro dela. Nada me quebrou tanto quanto
ouvir a pessoa que mais me amou chorar, eu fiquei totalmente destruído e
jurei para a mesma que nunca mais iria usar coisas do tipo.
“É totalmente horrível como as drogas me fizeram sentir em um único uso,
uma hora eu estava bem, esquecendo de tudo e na outra, estava sendo
jogado de um penhasco, parecendo que minha cabeça estava explodindo.
Porém, eu não parei de andar com o grupo mesmo depois desse episódio
porque eu não conseguia mais andar com o povo da universidade, entende?”
Não sinto que estou chorando até Storm se inclinar para secar minhas
lágrimas, a mesma me deita com a cabeça em seu colo e começa a fazer
carinho em meu cabelo, que está começando a crescer.
— Por isso foi embora? Por que não poderia machucar sua avó
novamente?
— Sim, depois que ela acordou e nos certificamos que estava bem,
prometi aos meus pais que nunca voltaria a vê-la, que nunca mais a colocaria
em perigo novamente.
— Mesmo que isso custasse sua saúde mental a conviver com sua família
novamente? — Murmura.
— Espera, seu irmão está usando drogas e seus pais nem ligam?
— Ainda não entendeu? — Viro minha cabeça para que posso olhá-la nos
olhos. — Eu tenho a tendência de machucar pessoas que realmente se
importam comigo, com Audrey não foi diferente. Eu a abandonei e deixei a
deriva da nossa família, a mesma foi minha âncora por anos, não consegui
ser a sua.
— Acho que já não sou mais rachada e sim, quebrada. — Abre um sorriso
triste e percebo pelo seu olhar como Storm está cansada.
— Se achou que eu iria tirar sua virgindade hoje, pode tirar o cavalinho da
chuva. Vou fazer nada com você nesse estado. — Pega o controle para ligar
a televisão.
— Não hoje? Mas outro dia? — Não consigo segurar o sorriso malicioso,
Storm instiga meu lado mais depravado.
— Aliás, o que te fez falar isso para mim? — Diz, depois de um tempo.
— Calado. — Rosna.
Contar minha história foi como dar uma parte da minha alma para a
mesma porque meu coração é pouco. Ela pegou logo minha alma e guardou
no bolso da sua jaqueta.
Não estou restaurado porque contei tudo isso a ela, ainda tenho medo de
confiar e me entregar totalmente a Storm, mas algo me faz querer arriscar
como se um coração partido não tivesse sido o bastante.
Mas será que existe vida depois de Storm? Se realmente ela acabasse
por me magoar, será que eu conseguiria me reerguer novamente? Não, não
mesmo.
Capítulo 25 - Proteção
“Se você sangrar, eu vou sangrar da mesma forma
Se você está com medo, eu estou a caminho.”
— Where’s My Love - SYML.
Como a sala tem esse modelo aberto, tenho visão de um Jace sem
camisa, se servindo de café, na cozinha.
Saio do banheiro já vestida com minha roupa do dia, vestido preto justo,
tênis da mesma cor e minha jaqueta. Meu cabelo está em um coque
bagunçado, não tive paciência para arrumá-lo.
O tal cara tem cabelo loiro ralo que pega na altura dos ombros, seu corpo
é composto por músculos magros e ele é um pouco mais baixo que Jace,
suas roupas parecem folgadas mas sua postura está intacta.
Um lobo caído, mas ainda com a pose de alfa.
É o irmão mais velho de Jace, o tal de Alexei. Sério, como essa mulher
conseguiu trocar Jace por ele? O amor é cego e burro mesmo.
— Pelo jeito alguém já está apaixonado, fico feliz em saber que minha
esposa não te quebrou totalmente. — Me viro para encarar Jace, ele não
tinha me contado essa parte da história.
— Protegendo meu irmãozinho? Ele precisa, não sabe lutar suas próprias
batalhas.
— Olha como você fala...— Ele ia avançando, mas Jace entra na minha
frente como uma muralha.
— Será que teria coragem mesmo? Foi você que esteve me ajudando
mês passado.
— Por Storm, eu tenho coragem de fazer qualquer coisa, até pegar essa
sua cara de merda e quebrá-la. — Jace avança e seu irmão vai um pouco
para trás. Covarde.
Puxo Jace, mesmo que quisesse ver ele fazendo tudo isso que falou, me
coloco na frente dele e olho para seu irmão. O analisando de cima a baixo,
ele não vale nem um pouco do nosso tempo.
— O que você veio fazer aqui? Não foi o bastante dormir, engravidar e
casar com a ex-namorada dele? E alguns desses fatos ocorreram quando era
namorada.
— Pode ter certeza que eu vou fazer com que ela pare de pagar sua
faculdade, quero ver se virá sem a ajuda dos nossos pais.
— Assim como você se vira com a ajuda de quem? Se não sou eu indo
para a Rússia te resgatar, é vovó ou até mesmo Sasha, você não é nada sem
ajuda, Alexei. Eu pelo menos posso dizer ao contrário. — Então foi por isso
que Jace sumiu por quatro dias, para ajudar seu irmão.
A postura de Alexei vacila, pelo jeito alguém não aguenta ouvir verdades. O
idiota aguenta nada, o conheço a dez minutos e já posso concluir isso.
— Será que sua vadiazinha pode te bancar? — Indica para mim e antes
que Jace bata nele, eu faço isso.
Meu punho encontra seu maxilar e o mesmo cambaleia para trás, cuspindo
sangue. Alexei ergue a cabeça para me encarar, horrorizado.
— Larga de palhaçada, sabe que não pode ser colocado no mesmo saco
que seu irmão. — Jace abre um sorrisinho para mim. — O que foi?
— Que história é essa que você esfolaria a cara de alguém por mim? —
Não consigo esconder a nota de diversão na minha voz.
— O que?
— Ok, que raios deu em você e Jace ontem? — Bela pergunta ao sentar
do meu lado, no restaurante.
— Não é bem isso, acho que só estamos indo. Sem esperar nada do
outro — Digo, entre garfadas de carne gordurosa. — Eu precisava dessa
carne, tive uma aula dura sobre direito penal.
— Uma verdadeira dor de cabeça, mas indo bem — Solto uma respiração
exasperada. — Sério, por que tive que escolher direito?
— Eu não viria se não fosse necessário — Puxa seu celular da bolsa que
ela carrega. — Eu uso o notebook do seu pai de vez em quando, hoje de
manhã fui verificar sua caixa de e-mail e encontrei isso. — Estende o
smartphone.
O pego e começo a rolar a tela, vendo todos os emails mandados, tem uns
de cinco anos atrás e alguns de semana passada, todos para a mesma caixa
de endereço.
— E-Ele fez isso mesmo? — Minha voz está trêmula, algo que não
consigo controlar.
— Sinto muito, Storm, mas ele fez. — Percebo que a mesma está sem o
anel de noivado.
— Você sabe que eu só estava com ele pelo dinheiro, seu pai também
sabe porque minha família perdeu tudo. Mas não posso continuar com esse
terror psicológico, olha o que ele fez com a própria filha — Aponta para mim.
— Eu nunca deveria ter ouvido meus pais, nunca deveria ter te
decepcionado…
— Nossa saúde mental não merece ser abalada por ninguém, melhor você
ir para um lugar onde eles não te encontrem.
— Não ele, mas sua família, sabemos como seus pais são articuladores.
Como eles vão ficar ao saberem que seu banco pessoal deu no pé? — O
rosto de Alisson enruga. — Eu tenho um apartamento em Miami — Tiro uma
das chaves do meu bolso. — Vai para lá.
— Você não pode me ajudar. — Tenta entregar a chave, mas nego com a
cabeça.
— Eu realmente não posso, mas não vou deixar alguém à deriva assim,
ainda mais alguém que foi minha amiga — Abro um sorriso doloroso. Meu
estômago ainda está revirado e sinto minhas pernas falharem. — Sou uma
filha da puta, mas com modos.
— Seu único problema foi dar ouvidos aos seus pais, nada mais. Ok?
Medo: Uma sensação desagradável desencadeada pela percepção de perigo, real ou imaginário.
— Eu sei, alguém tinha que fazer isso quando eu e sua mãe não éramos
capazes. — Vai em direção a uma enfermeira, me deixando para ir atrás de
Storm.
Ela apoia as mãos nos joelhos e fica chorando, seu corpo começa a tremer
de tanto que as lágrimas lhe consomem, como se a mesma tivesse ficado
muitos anos engolindo seus sentimentos.
A puxei contra meu peito e passo minhas mãos em suas costas, tentando
acalmá-la.
— Ela está voltando, Jace — Sua voz soa irregular. — Minha mãe está
voltando.
Dirijo suas palavras com calma, eu achava que sua mãe tinha falecido já
que nunca a vi falando dela. Mas pelo jeito a mesma foi embora e foi a
pessoa que quebrou Storm.
Sua aparência é de uma morta viva, perdida dentro da dor que nem está
ligada com o mundo à sua volta, ela nem ao menos percebe quando
chegamos em meu prédio e a levo até meu apartamento.
— São raros os momentos que me lembro dela — Sua voz soa tão baixa
que me aproximo para ouvir melhor. — Me lembro um pouco da sua
aparência, ela tinha cabelos loiros longos e uns olhos azuis-escuros. As
pessoas diziam como éramos parecidas e as únicas diferenças sempre foram
os olhos, meus malditos olhos pretos a deixava frustrada, como se até isso
me deixasse indigna de ser sua filha.
“Eu não sei o porquê ela me odiava tanto, mas sempre foi assim. Nunca era
boa o bastante, nunca chegava às suas expectativas e eu só tinha quatro
anos. Quem joga suas ambições em uma criança de quatro anos? Pelo jeito
minha mãe.”
A mesma fica em silêncio por alguns segundos, parecendo reviver tudo que
passou. Me aproximo, sentando ao lado dela, mesmo estando tão próximo
ainda parece que Storm está distante.
Sua voz soa mais quebrada enquanto continua.
— Aos cinco anos, foi quando tudo piorou, ela me acordava às seis da
manhã para correr porque parecia que meu corpo não era bom o bastante.
Eu fui proibida de comer doces ou besteiras, proibida de brincar, proibida de
ver outras crianças até aquele jantar… — Então seus olhos encontraram os
meus, mas ainda é como se ela não estivesse me olhando de verdade. —
Você, Jace, foi a primeira pessoa a me fazer feliz. A primeira pessoa que me
mostrou o que era felicidade em meio às trevas.
— Foi sua mãe que te fez chorar naquela festa. — Storm concorda com a
cabeça.
— Ela me agarrou até um canto e falou que filha dela não ficava de
conversinha com garoto, filha dela não ficava rindo atoa — Abre um sorriso
totalmente amargo. — Quando cheguei em casa, ela me jogou no sótão e me
trancou. Fiquei por muito tempo naquele lugar, chorando até perceber que
não adiantava chorar, ela não iria me tirar dali.
— Onde estava seu pai nisso tudo? — Digo, apertando os punhos ao lado
do corpo.
Percebo o momento que ela se afunda tanto em sua dor, que a cor sumiu
de suas bochechas.
— Por uma semana, fiquei chorando e gritando, meu pai achou que seria
uma boa ideia me deixar trancada no quarto para não me ouvir. Eu sentia uma
dor tão forte em meu peito que parecia que alguém o estava dilacerando —
Um sorriso repuxa em seus lábios. — Quer saber por que ainda uso aquela
jaqueta, escrito Broken Heart? Porque minha mãe me quebrou, porque eu
literalmente tive o coração partido.
— C-Como?
— Meu pai começou uma preocupação doentia por mim, arrependido, mas
isso só me deixava mais sufocada. Eu queria tanto sumir, quando fui a
terapeuta pela primeira vez, meu pai dormia com ela para saber o que eu
falava. — Pela primeira vez Storm parece saber que eu estava ali, apertando
minha mão. — Demorei para confiar em um profissional da área novamente,
demorei para fazer tantas coisas novamente. Meu mundo tinha diminuído até
restar uma pequena bolha que eu vivia.
— Storm? Olha para mim —Ela me olha. — Eu não vou embora, não
mais. Eu não sou sua mãe.
Quando tenho certeza que ela está dormindo, deixo as lágrimas caírem em
silêncio do meu rosto. Eu passei por muita merda com meus pais, desde ficar
preso no elevador a ter que ficar dias sozinhos porque eles viajaram. Mas
esse tipo de coisa a qual ela passou, parece que alguém está me
machucando.
No meio do dia, Storm acorda por alguns segundos e me puxa para deitar
ao seu lado, descanso minha cabeça em suas costas e fico contando suas
respirações.
— Não tem porque chorar, tem uma beleza em está morta e mesmo assim
ainda está viva. — Murmura.
— É o bastante?
A pessoa a qual presenciou seu lado vulnerável, quebrado, sem nenhum tipo
de julgamento e ainda estendeu a mão para ajudar, diz muito sobre ela.
Jace foi a luz que eu precisava quando era mais nova, ele me ajudou sem
ao menos saber. Atualmente, ele está sendo o mesmo tipo de pessoa.
Olho para ele, concentrado na estrada e mesmo assim ainda mantém uma
mão na minha coxa, mostrando que está aqui, ao meu lado. Mostrando que
vai a lugar nenhum, não mais.
Talvez ele não saiba o quanto foi importante para mim, quando ele segurou
minha mão ontem e mostrou que estava ali por mim, Jace não me pediu
calma, apenas me escutou e me amparou.
Sou uma idiota por dizer a ele que não me tem, mas é uma verdade dura até
para mim. Só fui perceber isso agora, logo no momento que minha vida está
se revirando novamente.
Eu sinto muito por ele ter passado por maus bocados com sua família,
assim como sinto muito pelo o que eu passei. Famílias egocêntricas que nos
destruíram, mas estamos nos reconstruindo. Ou tentando.
— Eu não posso te deixar sozinha com ele, não depois de tudo o que eu
soube.
— Eu sei disso, mesmo assim vou socar a cara dele caso necessário. —
Deposita um beijo na minha testa.
Caminho em direção a sala com minhas mãos tremendo, respiro fundo e
tento controlar o turbilhão de pensamentos que estão passando na minha
mente.
Ele continuou se comunicando com ela, ele continuou indo atrás dela. Tento
me lembrar disso quando entro na sala e encontro meu pai, sentado na
poltrona com um copo de uísque na mão.
Engulo as lágrimas quando vejo o quanto Caleb está destruído, meu pai
parece que não dorme há dias e as olheiras escuras denunciam isso.
— Você sabe o que ela me fez, mesmo assim ainda foi atrás.
— Você tem razão, mas quero que ouça uma história — Toma o restante
da bebida no copo. — Conheci sua mãe desde que eu tinha dezesseis e ela
quinze anos, quando a mesma se mudou da Grécia para a casa ao lado.
Meus olhos bateram nela e não pude deixar de me apaixonar, até quando
completei vinte anos e os pais dela souberam que eu sempre gostei dela, e
propuseram um casamento.
— Não, não mais… No começo, eu culpei mas posso ver que você não
tinha nada a ver com aquilo, os anos foram passando e eu só queria atender
tudo o que ela pedia, dava mesadas semanais e comprava qualquer coisa
que pudesse fazê-la feliz, então quando ela foi embora… — Respira fundo e
seus olhos se enchem de lágrimas, é a primeira vez que vejo Caleb chorar
desde aquele dia fatídico. — Quando a mesma fugiu, fiz de tudo para que
pudesse encontrá-la, seus pais também tinham sumido e então eu consegui
encontrá-los na Grécia e pude entender. Cibele só casou comigo porque
queria ter dinheiro o bastante para voltar até sua cidade natal e ter uma vida
boa para se manter com o homem que ela amava.
— E eu tolo de paixão cai feito patinho, ela se aproveitou disso e então foi
embora ao ter tudo o que queria. Eu sei o quanto Cibele foi fria com você, o
quanto eu mesmo fui, mas perdi tudo quando a mesma fugiu. Minha alma se
destroçou ao saber que nem ao menos ela gostava de mim, que só fui um
meio para um fim.
— Então por que continua atrás dela? Mesmo depois de tudo, você ainda
vai atrás dela. Eu não consigo entender que tipo de amor é esse.
— Por que eu a amo o bastante para esquecer que ela fugiu para ficar
com outro.
— Mas você sabe que ela só deve está vindo para buscar mais dinheiro,
que Cibele continua não se importando e ela nunca vai se importar.
— Pai, você precisa de ajuda, isso não é saudável. Esse jeito doentio,
isso não é amor, é obsessão e não me venha com a história de que eu não
sei o que é o amor porque eu sei — Balanço a cabeça. — Tem que parar de
machucar as pessoas ao seu redor, acabou com Alisson de uma forma
horrível e Deus sabe como você a destruiu para tentar suprir esse amor por
uma pessoa que não se importa.
— Eu sei, acaba comigo ser essa pessoa que fere as pessoas, mas não
consigo parar com isso — Joga o copo de uísque do outro lado da sala, o
vidro se estilhaçar pelo chão. — Essa necessidade de sempre amá-la me
sufoca, me sinto preso em uma sala e ninguém pode me ajudar. Eu a amo,
Storm, amo tanto que chega a doer.
— Amor não é para ferir ninguém e eu sei disso muito bem. O seu amor
doentio por mim, me machucou quando eu mais precisava de você e eu nunca
vou esquecer da dor que me causou. Você precisa de ajuda porque não serei
mais capaz de fazer isso, não vou me destruir mais uma vez para te levantar,
pai, eu me recuso a fazer isso novamente.
— Eu ainda quero vê-la, mas não vou aguentar presenciar ela indo embora
novamente, não vou aguentar esse tipo de dor. O tipo de dor que eu lhe
causei — Se levanta, totalmente perdido. — Pode ligar para o senhor
Bastos? Eu não quero ficar aqui.
— Vai para o seu quarto, vou fazer isso agora. — Ele concorda com a
cabeça, antes de caminhar até o elevador.
— Ei, você é forte, eu sei que está cansada, mas você é forte. Ok? —
Seca uma lágrima que escorre pelo meu rosto — Me desculpe por dizer isso,
mas tem uma mulher esperando na frente da mansão. — Sinto o gelo subir
pelo meu corpo ao ouvir essas palavras saindo da sua boca.
Caminho em direção a porta com minhas pernas quase virando gelatina.
Em frente da casa, meus olhos vão direto na direção dela.
Cibele Demetriou não mudou tanto nesses dezoito anos, mas eu sempre
tive poucas lembranças da mesma e as poucas que tenho, são de todos os
momentos ruins que sofri em sua mão.
Ela está com um vestido longo vinho e uma bolsa da Gucci repousa em seu
braço, óculos de sol chama atenção em seu cabelo loiro dourado. O mesmo
tom de cabelo que eu tenho, mas tive a questão de pintar esse único traço
que herdei dela.
— Storm? Uau! Parece igual ao seu pai — Faz uma careta para meu
cabelo e roupas. — Enfim, cadê ele?
Por que eu ainda pensei que ela iria falar alguma coisa sobre ter ido embora?
Cibele é ambiciosa, isso não mudou durante os anos, outra coisa igual a
antes é que ela continua não se importando com minha existência.
— De quanto você precisa para nunca mais vir atrás? — Tiro o talão de
cheque do meu bolso.
— Storm… — Jace tenta avisar, mas não dou ouvidos. Eu quero essa
mulher o mais rápido possível longe dos Estados Unidos.
— Por que nunca conseguiu ao menos gostar de mim? Eu sou sua filha.
— Mas agora você sabe que Caleb não é mais seu banco pessoal — A
peguei pelo braço, não apertando muito forte. — Não volte mais, arrume um
jeito de achar dinheiro por conta própria. Seja feliz com sua família miserável,
mas não volte.
É doloroso saber que ela nunca amou Caleb ou a mim, mas o amor
doentio dele pela mesma, acabou se tornando dependência emocional.
— Eu tentei fazer que você fosse uma boa garota, para sua presença se
tornar menos insuportável — Me encara de cima a baixo. — Vejo que não foi
o bastante.
— Ela nunca te mereceu, Storm, nunca. Ouça — Jace me virar para que
eu possa encará-lo. — Você é como uma pedra preciosa, nas mãos de quem
não sabe é pouco valorizada, mas nas mãos de quem a valoriza, é tudo. Você
é tudo, Storm Brassard.
Como pude pensar em algo diferente vindo de uma mulher que fugiu quando
eu tinha cinco anos? Cibele fez da minha vida um inferno, mas eu precisava
disso, precisava vê-la novamente para poder me reerguer de verdade.
Ele falou que eu poderia destruí-lo, mas não posso fazer isso quando o
mesmo tenta se reerguer dos seus problemas. É covardia machucar alguém
que já foi machucado, é como chutar um cão ferido.
Ele era um estúpido até com sua própria mãe e sei que vovó vai surtar
quando souber onde ele vai ficar. Todos da família dele irão surtar.
— O que você vai fazer em relação a sua família? Seu irmão voltou e com
sua ex.
— Passei por muita merda com minha família, mas é hora de deixar isso
para trás ou tentar. Falta só Audrey para me redimir, então ficarei bem ou
algo próximo disso — Aceno com a cabeça. — Então, Storm Shine…
Quero guardar bem o som do seu riso em minha memória, assim poderei
me lembrar em dias sombrios, quando não estivermos mais perto um do
outro.
Capítulo 28 - Voar sozinhos
“Diga como você quis dizer
No final, não vamos conseguir
Mesmo assim, continuo esperando
Mesmo no final, se você estiver comigo, eu estou bem.”
— House Of Cards - BTS.
Storm está rindo de algo com Bela e a observo, sentado no sofá. Ela
parece melhor, eu sei que ainda tem suas cicatrizes para superar e alguns
dias não é o bastante, mas ela está tentando. Assim como eu também estou.
Nesses três dias, estamos mais juntos do que nunca, ainda brigamos um
com o outro, mas de uma forma diferente. Nossos amigos podem achar que
estamos quase oficializando algo, mas eu sei o que isso significa, é como um
até logo ou um adeus.
Eu preciso deixá-la ir, assim como ela precisa fazer o mesmo comigo.
Preciso deixá-la ter o seu tempo para absorver tudo o que descobriu e eu
também preciso de um tempo para absorver que meu irmão está de volta,
mas acho difícil Alexei aparecer depois de Storm ter quebrado sua cara.
— Você está olhando igual besta para ela — Lohan murmura, ao meu
lado. — O que você sente pela minha amiga?
— Tudo que eu jamais achei que poderia sentir por alguém novamente, de
uma forma mais avassaladora e destruidora — Abro um sorriso de lado. —
Ela não vai aguentar, né?
— Storm pode aguentar muitas coisas, mas não é o momento certo para
ela saber disso. A mesma precisa respirar depois de saber que o pai está
internado em uma clínica psiquiátrica e que a mãe dela nunca nem ao menos
tentou amá-la.
— Sim, o fio pode emaranhar, se embaraçar, mas não pode ser quebrado.
É um fio vermelho invisível a olho nu, mas que está atado no dedo mindinho
das duas pessoas, pode passar o tempo que for, um dia elas irão se
reencontrar.
Talvez essa lenda japonesa possa mesmo ser aplicada a nós dois ou
apenas não… Mas eu espero que sim.
— Os únicos amigos que ela decidiu contar depois de Alisson, foram eu e
Bela. Eu sei que ela também te contou e isso já diz muito, Storm confia em
você ao ponto de ter revelado seus pesadelos do passado e presente.
O pessoal resolve sair para comer pizza e resolvo ficar com Storm, já que
a mesma não quis ir, nossos amigos saem com sorrisinhos maliciosos no
rosto e tenho que revirar os olhos.
Por mais que eu e Storm tenhamos trocado amassos nos últimos dias, não
acho que vamos passar disso.
— Por que mesmo não gostando de altura, continua nos trazendo para
lugares altos?
— Aos medos, por nos mostrarem que somos humanos e ainda podemos
sentir. — Ergue sua cerveja e bate com a minha.
Tento acalmar meu coração e não pensar em como isso soa como uma
despedida, só tento focar no momento que estamos compartilhando.
— Acho que hoje, eu vou tirar a virgindade de uma pessoa — Seu sorriso
se alarga. — Lembra no meu aniversário quando você falou que queria ficar
no quarto? Quer ficar aqui? Não vai ter como voltar atrás, Ludovicih, não é
algo que se pode restaurar.
— Eu quero ficar, mas se estiver tudo bem com você. Não quero fazer
nada sem que você esteja bem, eu posso esperar.
Engulo a seco ao descer meus olhos para seus seios empinados com o
tom amarronzado no bico.
Perco totalmente o autocontrole que eu nem sabia que tinha, puxo Storm
pela cintura e seus seios prensam contra mim, me fazendo soltar um gemido.
— Storm, você acabou comigo para qualquer uma. — Desço minha boca
até seu pescoço e vou depositando beijos até chegar ao lóbulo da sua orelha,
o chupando.
— Acho que nunca mais serei a mesma depois… — Ela arfar de surpresa
quando capturei sua boca, uma das minhas mãos vai para um dos seus seios,
o apertando e brincando com ele.
Storm arqueia as costas contra mim e pula para enlaçar suas pernas em
torno da minha cintura, seu corpo faz pressão em cima do meu.
Caminho com a mesma em direção ao meu quarto, sem tirar minha boca
da sua, desfrutando do sabor doce em seus lábios.
A jogo na cama, tendo um momento para observá-la, pela segunda vez ela
está sem sua armadura diante de mim e quase sinto meus olhos marejaram,
mas não é o momento para isso.
Eu preciso estar dentro dela e logo, acho que nunca prestei atenção em
tanto que perdi até ver Storm com os seios à mostra e de calça jeans, na
minha cama.
— Vai tirar essas calças ou não? Porra — Meu olhar dilatar ao vê-la se
levantar e retirar sua calça, sem pressa alguma. — Storm…
— Não acho que posso aguentar com você na minha frente. — Tiro minha
blusa e a jogo pelo chão, logo depois vão minha calça jeans.
— Que ódio, esqueço que você é gostoso. — Seu olhar dança pelo meu
abdômen.
Storm tira sua parte de baixo e minhas pernas ficam bambas quando a vejo
gloriosa em minha frente.
Cada curva, cada pequena cicatriz, estria e pintinhas é o que fazem Storm
ser mais sexy, acho que nunca me cansarei de vê-la.
Seus olhos ficam dilatados quando retiro minha cueca box, suas íris
parecem mais pretas do que nunca e porra, isso é sexy pra caralho.
Ela está sentindo esse desejo por mim, posso ter um ego enorme, mas
Storm já viu muitos corpos por aí e ela está sentindo isso por mim.
— Eu tinha visto naquele dia no gelo, mas ele assim em toda sua glória
é… Uau — Tenho que abrir um sorriso malicioso. — Nem abra esse sorriso.
— Tem que entender que eu não tenho experiência nisso, caso for ruim. —
Droga, eu só quero que seja bom para ela.
Caio ao seu lado depois da nossa terceira rodada, meu corpo parece
molenga e me sinto mais cansado do que horas de treino. Como eu fiquei
tanto tempo sem isso? Como fiquei tanto tempo sem Storm?
— Jace? — Abaixo minha cabeça para que eu possa olhá-la nos olhos. —
Obrigada, não por isso, mas por tudo que você fez por mim.
— Eu não quero magoar você, Jace, eu não quero. — Seus olhos ficam
marejados.
— Também sou apaixonado por você e ninguém mais merece te dizer que
não merece ser amada, quando você merece até ser adorada — Deposito
um beijo no topo da sua cabeça, absorvendo suas palavras. — Eu posso ficar
bem com mais um coração partido.
Mesmo que possamos não nos reencontrar novamente, não iremos mais
sentir isso por outra pessoa porque apesar de termos sidos quebrados, nos
completamos de alguma maneira.
Ao acordar horas mais tarde com a ausência do seu corpo, sei que ela foi
embora. Meu coração parece afundar um pouco no peito, mas eu sei que
precisamos disso.
Precisamos desse tempo para absorver tudo o que aconteceu com nós
dois, começamos não gostando um do outro para agora isso.... É, o universo
fumou algo mesmo quando decidiu traçar nosso caminho novamente, mas eu
o agradeço por isso, mesmo que tenha que ficar um tempo longe dela.
— Storm — Grito pela mesma, ela olha por cima do ombro, prestes a ir
embora. — Eu não consigo te deixar ir, eu não consigo. Isso dói pra caralho.
— Acha que será fácil para mim? — Uma lágrima escorre pelo seu rosto.
— Não vai, mas precisamos disso.
Storm se vai, ela vai embora e eu fico ali. Parado, com lágrimas silenciosas
escorrendo pelo meu rosto.
Eu a amo e saber disso agora só dói mais ainda, justo quando tenho que
deixá-la ir, concluo que a amo. Não sei se sou fudidamente burro ou idiota.
Capítulo 29
Primeira carta
Jace,
Faz uma semana desde que fui embora do seu apartamento, depois da
noite mais intensa que já tive, a primeira vez foi sua, mas minha também.
Foi a primeira vez que dormi com alguém que sou mesmo apaixonada.
Sério, eu pareço uma tola apaixonada escrevendo uma carta para você,
nem sei se isso vai chegar em suas mãos, mas é bom ter algo para fazer
nesse tempo longe.
Não sei se vou escrever outra carta, mas só quero que saiba que: Sim, Jace
Ludovicih, você me fez perder totalmente a postura da bandida má.
Jace,
— De sua vampirinha.
Terceira carta
Jace,
Certo, essa será a última carta que escrevo para você, não aguento
mais o papel de tola com saudades porque sim, eu sinto saudades de você.
Isso soa meloso até para mim, mas sinto saudades da sua presença me
desafiando e me fazendo até passar vergonha. Te vi hoje saindo do ginásio
e quase corri para alcançá-lo, mas senti que não era o momento certo. Não,
pois o momento certo é agora.
Acho que ainda terei um longo caminho para cicatrizar todas minhas
feridas, mas quero ter você ao meu lado, seja como amigo ou… Enfim,
espero que esteja bem.
Jace Ludovicih, não te agradeci quando tínhamos cinco anos, mas posso
te agradecer nessa carta. Obrigada, por me fazer sentir viva e feliz, o tempo
passou e isso não mudou.
— De sua guaxinim.
Ps: Sério, ainda vou te dar outro soco por esse apelido ridículo, Elsa
russo oxigenado.
Capítulo 30 - Outra vez
“Porque você é a razão pela qual eu acredito no destino
Você é o meu paraíso
E farei qualquer coisa para ser seu amor
Ou ser seu sacrifício.”
— Infinity - James Arthur.
Quinze dias longe das piadas, dos ultimatos, dos tapas e risos. Storm me
destruiu para qualquer uma mesmo e a agradeço por isso.
Nesses dias eu pude focar em mim, sem contar que coloquei um ponto final
em qualquer problema relacionado com minha família ou algo perto disso, não
é como se eu pudesse me livrar deles. Porém, não vou mais ligar para o fato
que fui um acidente não planejado, que minha mãe pode ter tentado me amar
quando eu era um neném, mas desistiu no caminho assim como meu pai.
Meus erros do passado não condizem com quem eu sou hoje, fomos todos
programados para errar e tudo bem, se aprendermos com os nossos erros.
Ainda tenho um longo caminho pela frente, mas é bom saber que estou
tentando.
— Eu sei e sinto muito por ter se apaixonado por alguém como Alexei. Vai
precisar de sorte.
Não espero que ela responda mais alguma coisa e caminho até minha
moto, pronto para ir à universidade. Olho para a mansão dos meus pais,
sempre vai ser o lugar das minhas piores lembranças, mas não vou deixar
mais que elas me persigam. É algo que quero tentar por mim.
Eu sei que não estou me livrando deles, mas quero tentar deixar toda a
dor que eles me causaram para trás e só tentar salvar minha prima disso
tudo.
Estou andando pelo campus quando a vejo, sinto meu coração acelerar e
minhas mãos ficarem suadas.
— Storm está vindo aqui? — Tinha esquecido que estou ao lado dos
caras. Além da minha terapeuta e minha avó, eles foram minha fonte de ajuda
nesses dias.
Me deram bastante apoio, além de encher o saco, que me apaixonei por
Storm. Eu era um otário por achar que não me apaixonaria por ela, mas essa
mulher me ganhou quando me xingava e me chamava de Elsa, vou fazer o
que.
— Ainda odeio essa revirada de olhos. — Ela revira os olhos mais uma
vez, me fazendo gargalhar.
— Vamos deixar nosso casal em paz. — Lohan puxa os caras para longe.
— Veio com sua moto? — Concordo com a cabeça. — Que tal uma
corrida até meu apartamento?
— Vamos lá.
Storm sobe em meu colo e caminho com a mesma até o seu sofá, me
sento com ela em cima de mim e paro por um segundo para observá-la,
percebendo que seu cabelo está mais curto. Antes batia quase na bunda e
agora está na altura do peito.
— Depois admira isso, agora quero nós dois sem roupa. — Joga sua
jaqueta ao chão.
Não mais uma armadura, mas algo para confortar-lá porque faz parte de
quem ela é.
— Foi por causa de uma aposta — Se vira e fica apoiada nos cotovelos
para me encarar. — Passamos muito tempo longe um do outro, mas não o
bastante. Não aguento essa sua cara.
— Ha ha, nós dois sabemos que você ama meu rosto impecável.
— Guaxinim — Mordo seu lábio, ficando sério em seguida. — Foi ver seu
pai?
— Não, o mesmo não quer e respeito isso, acho melhor. Preciso ficar
longe dele por algum tempo, isso é bom para mim.
— Minha avó ligou para minha mãe e arrumou um jeito de mandar meu
irmão para San Francisco, assim ele pode ficar na empresa de lá. Meus pais
não falam mais comigo, a não ser o necessário, como hoje — dou de ombros.
— Ah! Sasha falou comigo, perdoei ela.
— Por que tenho que conhecê-la? — Seu sorriso se alarga. — Não acho
que eu seja o tipo que agrada senhorinhas.
— Eu não sou sua vampirinha? Tenho que manter o instinto. — Joga seu
cabelo.
— Não, porque você me ama — Mordo seu nariz. É, não vou conseguir
me manter longe dela.
— Sim, e você o bad boy que não se envolve com ninguém, além de mim.
— Dá de ombros.
Namorado, tenho vontade de rir quando penso que Jace Ludovicih é meu
namorado já por duas semanas, dias de estresse e muito sexo. Eu gosto
bastante disso até.
Porra, ele fez isso mesmo, esse babaca que me ama, fez isso em minha
homenagem. O dezesseis é o número do meu aniversário e o coração partido
sinaliza minha jaqueta.
Jogo a cabeça para trás e dou risada, sentindo toda essa felicidade invadir
meu peito. Oh cara, ele está tão rendido por mim, parece que mais alguém
perdeu sua postura.
— Não ouviram o cara? Ele me ama. — Jogo meu cabelo e volto o foco
para o jogo, com uma sombra de sorriso nos lábios.
Caminhamos pelo campus de jaqueta combinando e um sorriso malicioso
nos lábios.
O encaro sem entender, mas Jace tem uma sombra de sorriso nos lábios.
— Gosto de como isso soa, mas você ainda não chega aos pés de Kaz
Brekker.
— E você dá Inej? Se toca. — Revira os olhos com uma sombra de
sorriso nos lábios.
Ludovicih fez questão de ler Six Of Crows, depois que li para o mesmo em
uma madrugada e ele soube que é meu livro favorito. Parece que mais
alguém se apaixonou pela Inej.
— E essa menina é aluna nova? Acho que ela chegou há uns dez dias. —
Bela explica.
— Minha prima está melhor sozinha. — Eu sei que esse cabeção loiro
está traçando algum plano para socar Will, vamos ver quem faz isso primeiro.
Por mais que Audrey ainda não tenha perdoado Jace e eu entendo a
mesma, Jace ainda se preocupa com a prima e ela se preocupa com ele,
mesmo que não assuma. Esses dois ainda têm um longo caminho pela frente.
Meu olhar vai para Audrey que tenta manter a cabeça erguida quando Will
passa ao seu lado, nem se dando o trabalho de olhá-la.
— Vai ajudá-la, não vai? — Phineas pergunta para mim. — Agora sim, eu
fiquei com medo.
— Oh! Querido, a única pessoa que deve ter medo é Will — Dou de
ombros, me virando para Jace. — Acho que vamos ajudar sua prima.
— Também te amo.
— Eu vou amar ver seu tombo Santi — Encaro minha melhor amiga. — E
vou amar ver o seu Bela.
— Como é?
— Vamos, Elsa. — Começo a andar e percebo que Jace não está ao meu
lado, me viro para encará-lo.
— Quando ficamos aquele tempo longe, era algo para fazer durante as
semanas — Se senta ao meu lado, no chão. — Não queria dar para você
porque ficaram bobas demais.
— Não, quero fazer novas memórias aqui. — Lhe dou um beijo rápido e
descemos juntos, as escadas do jatinho.
Vovó nos aguarda com um grande sorriso no rosto, solto a mão de Storm e
corro para abraçá-la.
Quando vim ajudar Alexei não consegui falar com ela e depois de mais de
um ano, eu posso enfim vê-la.
— Então aqui que o grande Ludovicih começou sua vida como patinador?
— Storm quase cai e a agarro pela cintura, a mulher consegue ser horrível
em cima dos patins.
— Sim, comecei com seis anos e com oito, virei patinador artístico, mas o
hóquei sempre foi minha paixão. — Storm consegue se soltar e deslizar
alguns passos sozinha, antes de quase cair.
— Sther achou que seria uma boa ideia dar um salto duplo em sua
segunda aula, acho que descobri que sou molenga pra criança chorando.
— Comprei um par de patins novos para ela com glitter e tudo, senhora
Shine. — Storm me dá a língua.
— Você comprou um par para dois alunos na semana passada. Seja forte,
homem.
— Agora, onde você vai me levar depois daqui? Que seja para a cama,
até minha bunda está gelada de frio. — Bate o queixo, mesmo estando com
dois casacos.
— O sujo que você ama — Lhe dou um beijo rápido e sinto seus lábios
também gelados. — Bebê, você está um gelo.
— Quer que eu use o biquíni com seu rosto, não quer? — Revira os olhos.
— Todo mundo precisa ver meu rosto em seu corpo incrível, o mundo
precisa nos apreciar.
Ao voltarmos para a casa que vivi por treze anos com minha avó, nos
sentamos próximos da lareira e Storm fica vendo algumas fotos minhas
enquanto minha avó dedura minhas travessuras.
Amar Storm me deu asas, amar a mesma me fez saber que qualquer um
pode ter as chances que for no amor, eu tive minha segunda e última porque
Storm é a única pessoa que quero amar para o restante da minha vida.
É saber que posso deitar a noite com o coração quase explodindo porque
essa mulher, que antes era tão fria e distante, soube me amar na mesma
proporção.
Mamãe parece aliviada ao ouvir uma moça muito bonita, dizendo que não
posso me sentar ao seu lado, tento argumentar mas mamãe apenas nega e
me mandar ir com a moça.
Mesmo que minha mãe não goste de mim, eu amo ficar ao seu lado e
observar o quanto ela é bonita. Todos sempre dizem isso para mim também,
o quanto somos parecidas mesmo que mamãe não goste muito.
— Vai ficar aqui, querida. — A moça indica para um lugar vago, entre a
mesa das crianças.
Me sento ao lado de um garoto loiro, observo como seu cabelo parece bem
mais claro que o meu e seu rosto é tão bonito. Fico vermelha quando ele se
vira para me olhar.
Um moço vem com vários tipos de sorvete em nossa direção junto com
batatas fritas, tento conter minha empolgação. Eu amo essas coisas e como
mamãe não está por perto, posso comê-las.
Pego o sorvete de baunilha e um prato de batata frita, misturo as duas
coisas com um sorriso no rosto.
— É, sim, mas minha mãe diz que não. — Minha mãe diz que tudo é ruim,
tirando frutas e verduras.
Olho para ele, todo sujo e dou mais risada ainda, sentindo um bater de
asas em alguma parte do meu corpo.
— Sério? — Murmuro.
— Sim, igual nossas mães — Ele faz uma careta que faz seus olhos
brilharem. — Muito chatas.
Dou risada novamente, sentindo até uma dor na barriga de tanto rir. O
garoto começa a rir também, me observando com atenção e isso me deixa
com vergonha.
— Gosto de olhar pra você, sua risada faz meu coração bater mais rápido
por algum motivo. — Dá de ombros.
O mesmo fica me contando algumas piadas, o que me faz rir mais ainda.
Acho que nunca tinha rido assim, não desde que mamãe me proibiu de rir
porque boa menina não faz isso.
Acho que agora não devo ser uma boa menina então e esse garoto me
fazendo rir, também não é um bom menino.
Tenho vontade de gritar pela dor, mas apenas começo a chorar, sentindo
aquela alegria indo embora. Queria tanto que a alegria voltasse, eu gosto de
rir e não gosto de chorar, ainda mais porque mamãe continua apertando meu
braço.
— O que eu falei sobre ficar rindo, Storm? Meu Deus, você não tem jeito,
sua risada é horrível — Grita em meu ouvido, menos mal que ela soltou meu
braço. — Não quero você de conversinha, fique ao meu lado.
Sei que mamãe só quer meu bem, mas sinto medo toda vez que ela faz
alguma coisa comigo.
Tento procurar pelo garoto, só para vê-lo e sentir alegria novamente, mas
não o acho, então só sinto tristeza e medo em meu coração.
Assim como Storm foi a luz para Jace e Jace foi a luz para Storm.
Mas a vida é muito além disso, você também pode ser sua própria luz,
precisa se valorizar e não esperar que alguém faça isso.
Eu quero agradecer a você que leu esse livro, tendo gostado ou não, eu te
agradeço por ter tirado um tempo da sua vida para ler The Evil Couple, isso é
muito para mim.
Obrigada a Ele por ter me dando tanta força, que vocês nem imaginam. A
maior desistente da história precisava de Deus para lhe dar estruturas.
Obrigada a Eduarda por ter sido como uma Bela para mim, chegou tem
pouco tempo, mas ocupou um grande espaço.
Obrigada ao meu Gly, por serem meu Lohan, amizades longas que me
apoiam também por quem eu sou e não terem ido embora como tantos.
Obrigada a mim mesma, foi difícil assim como foi difícil para Storm, mas
você conseguiu. Você chegou aqui, não desista mais, assim como Storm não
desistiu quando encontrou sua força.
Beijos para todos vocês.
Sobre a autora
Y. L Rodrigues, tem dezoito anos e mora no Rio de Janeiro, lê desde que
se conhece por gente e ama um vilão ou anti-herói. Seu primeiro amor dos
livros foi Maxon de A Seleção.