The Evil Couple - Duologia Bad - Y.L Rodrigues

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THE

EVIL
COUPLE
Duologia Bad Heart - 1

Copyright © 2021 Y.L Rodrigues


Todos os direitos reservados.
TODOS OS DIREITOS DESTA OBRA ESTÃO RESERVADOS A Y.L
RODRIGUES. É PROIBIDO QUALQUER TIPO DE REPRODUÇÃO, CÓPIA,
IMPRESSÃO POR MEIOS FÍSICOS E DIGITAIS, REVENDA SEM MINHA
AUTORIZAÇÃO.

PROTEGIDO PELA LEI 9.610/98 de 19 de fevereiro de 1998.

Capa:
Y.L Rodrigues

Créditos de imagem capa:


Foto de Olya Kobruseva no Pexels

Betagem:
Eduarda Moura

Leitura sensível:
Carolina Kim
(Cap 14)

Diamagração:
Y.L Rodrigues
Eduarda Moura

Anteriormente lançado como Bad Girl, no Wattpad, agora com nova


reformulação.
Sumário
Dedicatória

Prólogo

Capítulo 01 - O Reencontro

Capítulo 02 - Te provocando

Capítulo 03 - Pavão?

Capítulo 04 - Brincando com fogo

“Eu sempre gostei de brincar com fogo

Capítulo 05 - Os jogos começaram

Capítulo 06 - Meu tipo?

Capítulo 07 - Aposta paga

Capítulo 08 - Me recuso

Capítulo 09 - Atraída por ele?

Capítulo 10 - Calafrios

Capítulo 11 - Nosso showzinho

Capítulo 12 - Esquecer a dor

Capítulo 13 - Atrasado

Capítulo 14 - Frágil

Capítulo 15 - Fanfic

Capítulo 16 - Eu não posso

Capítulo 17 - Dentro de mim


Capítulo 18 - Não sou covarde

Capítulo 19 - Afastados

Capítulo 20 - Coisas em comum

Capítulo 21 - Aqui está você

Capítulo 22 - Contra o mundo

Capítulo 23 - Vinte e três anos

Capítulo 24 - Espelhos rachados

Capítulo 25 - Proteção

Capítulo 26 - Broken Heart

“Esse mundo pode te machucar

Capítulo 27 - Cibele

Capítulo 28 - Voar sozinhos

Capítulo 29

Capítulo 30 - Outra vez

Epílogo

Capítulo bônus

Capítulo bônus dois

Em breve...

Disponível na Amazon, uma novela do mundo de Bad Heart.

Notas da autora

Sobre a autora
Este livro contém material sensível, linguagem com palavrões, e
gatilhos de ataque de pânico, autolesão. Em nenhum momento,
romantizo nenhuma dessas ações e respeito pessoas que passam por
essas coisas.

Aqui está o Sumário do gatilho

Cap 12 - gatilho de autolesão


Cap 14 - gatilho de ataque de pânico.

Este livro é classificado para maiores de 16 anos.


Dedicatória

Porque eles dizem que todos garotos maus trazem o céu até você. A
garota má pode trazer o mundo até você, assim como ela pode colocar tudo
ao chão apenas para te destruir...
Prólogo

Fico observando os raros momentos que chove na Califórnia, já estou


acostumada com o clima mais quente que quando o tempo muda, uma parte
minha se agita.

Tenho vontade de correr pelo quintal e sentir a chuva bater contra meu
rosto, seria uma sensação tão prazerosa, se eu não tivesse sido chamada
para ver meu pai hoje.

Permaneço aqui, dentro da mansão imensa do meu pai, esperando para


ver o que ele irá falar comigo, ao lado da sua namoradinha — minha ex
melhor amiga — Alisson. Me viro para encarar a grande sala de visitas, acho
que minha madrasta fez algumas modificações na decoração e agora parece
tudo tão pomposo e chamativo.

Quando eu e meu pai nos mudamos, o lugar ainda era carregado de luxo,
mas não tanto como agora. Eu tenho certeza que o jarro de flores na mesinha
de centro é revestido de cristais e a mesa tem detalhes em ouro.

Ouço barulho de passos e olho para a entrada em arco, meu pai entra de
mãos dadas com a mulher que eu conhecia tão bem. Imaginar que ano
passado, Alisson vinha para me ver e agora ela dorme com meu pai, é algo
de embrulhar o estômago. Vou nem pensar no fato de que ela poderia ser
minha irmã mais velha.
— Alguma música vai tocar agora para combinar com a entrada triunfal de
vocês? — Digo, com a sobrancelha arqueada.

— A língua afiada continua a mesma. — Caleb solta a mão de Alisson, se


sentando no sofá de couro marrom enquanto permaneço em pé assim como
sua namorada.

— Se não for para falar o que eu penso, para que vim ao mundo?

— Precisamos te dar uma notícia. — Alisson intervém, sabendo que


qualquer farpa trocada entre eu e o senhor Caleb, poderá resultar em alguma
discussão.

Da última vez, três vasos inocentes foram sacrificados para aplacar a raiva
do meu pai. Quase tenho vontade de rir ao me lembrar desse dia.

— Já podem dar, não vou gastar um dia de domingo aqui.

Domingo é meu dia para aproveitar o silêncio e falta de matérias


acumuladas, pelo menos eu acho que não deixei nada para fazer hoje.

Alisson levanta sua mão, sendo a resposta que eu preciso, um grande


solitário de diamante brilha em seu dedo anelar.
Meu estômago se embrulha e quase coloco todo meu almoço para fora,
mas ponho a máscara de neutralidade em meu rosto como se isso não
tivesse me afetado.

Isso não pode ser verdade, não, não… Ele não fez isso, mas conhecendo
bem esse homem que viveu comigo por anos, isso é bem o seu feitio. Meu pai
acha que ficar noivo a cada ano com mulheres diferentes é algo muito normal,
babaca imprudente.

— Seu pai me pediu em casamento ontem à noite e eu aceitei. — Tenho


vontade de lhe dar uma sacudida para ver se ela acorda para vida, mas
apenas os encaro com atenção.

Aperto meus punhos ao lado do corpo e respiro fundo, tentando controlar


a raiva que fervilha em meu ser. Tento me lembrar das palavras da minha
terapeuta: Quando você achar que está prestes a surtar, se lembre que
nenhuma pessoa merece seu surto, muito menos lhe tirar do sério.
É fácil falar, senhora Bastos.
— Esperamos que você não surte, Storm. — Meu olhar encontra o dele,
um sorriso sarcástico surge em seus lábios.

Ele fez isso só para me provocar porque dentre todas as moradoras desse
lugar, ele tem que ficar noivo da mulher que um dia foi minha amiga. Oh! Com
certeza, eu iria surtar, mas não na sua frente.

— Eu? Surtar? — Uma gargalhada rompe do fundo da minha garganta. —


Oh! Não mesmo.

— Não vai querer quebrar nada?

— A única pessoa que tem o gênio para quebrar as coisas nessa casa é
você, pai — Digo, revirando os olhos. — Se vocês já falaram sua notícia, eu
irei para minha casa

— Storm...— Alisson tenta se aproximar, mas a afasto.

— Não, você não vai vim com esse teatrinho pra cima de mim. Eu já
aguentei desculpas suficientes de vocês dois. — Vou em direção a porta, mas
a voz grave do meu pai me interrompe no lugar.

— Não tem nada que você possa fazer, iremos nos casar. — Me viro em
minha bota, que faz barulho no chão de mármore. O encarando novamente.

— Eu não preciso fazer nada, você vai causar isso por conta própria. Se
temos algo em comum, é sempre destruir as pessoas ao nosso redor.

Caminho em meio a chuva até a parte da frente, onde eu estacionei minha


moto. Tenciono minhas mãos ao lado do corpo e me contento em apenas
socar o banco da moto, respiro fundo e sinto a chuva molhar todo meu corpo
em questão de segundos.

— Precisamos conversar. — Faço uma careta ao erguer minha cabeça e


encarar Alisson, um empregado segura um guarda chuva para a mesma não
desfazer sua escova perfeita.

Um ano atrás, Alisson se assustaria ao ver que agora ela usa escova ao
invés dos seus cachos naturais, me recordo como ela era apegada com seu
cabelo. Mais uma modificação do meu pai, tudo ele molda até ficar ao seu
agrado.
Se eu tivesse continuado na mansão, ele teria feito o mesmo comigo ou
pior. O pensamento me faz sentir um arrepio, ainda bem que fui embora
quando completei dezoito anos.

— Não, nós com certeza não precisamos. — Pego meu capacete e o


coloco. Subo na moto e sinto o motor ronrona embaixo de mim.

— Você não pode continuar agindo assim, seremos uma família. Já não
me imaginava como irmã?

— Irmã para madrasta, que grande distância entre essas duas posições.
— Acelero a moto para longe de Alisson, para longe do meu pai e daquela
mansão fria.

Quando saio de todo o luxo que rodeia o condomínio, consigo enfim


respirar em paz. Ficar perto do meu pai sempre me dá a impressão que eu
estou sendo sufocada, sem chance de ir embora.

Eu consegui sair daquela casa, mas algo ainda me impede de deixar meu
pai ir. Insistindo em saber se ele está bem, quando nenhum de nós dois está
e que nossa relação é fadada ao fracasso desde o momento que nasci.

O som do trovão reverberar pelos meus ouvidos e solto uma gargalhada


alta com toda essa tempestade se formando ao meu redor, não me
impedindo de continuar pilotando em alta velocidade.

Depois de uns dez minutos, os ventos se tornam mais fortes, mas eu nem
sequer penso em parar, quero continuar sentindo todo esse caos se formar
ao meu redor como se fossemos iguais. Eu sendo uma tempestade por
dentro e a natureza por fora.

Fecho os olhos para acalmar um pouco o meu interior, estou uma confusão
maior que toda essa tempestade, mas isso é algo de muitos anos atrás. O
anúncio do noivado só contribuiu mais ainda para o fiapo de saúde mental que
eu ainda tento — desesperadamente manter, querer se partir.

É nesse fiapo que eu me agarro com todas as forças, como se pelo menos
nisso ela não tivesse me atingido, mas de resto ela me destruiu
completamente, assim como fez com meu pai.

Eu e Caleb somos pessoas que vivem no piloto automático há muitos anos


e o único momento que eu saio disso é quando estou naquela moto ou com
meus amigos. Mas o jeito que
me conecto com o caos é algo diferente, quando eu enfim abro os olhos
dão de cara com um homem correndo em plena rodovia.

Tenho que virar a moto bruscamente, antes de derrapar pelo chão e minha
cabeça — protegida pelo capacete — bater com tudo no asfalto.

Acho que só tomei consciência de alguma coisa, quando um par de olhos


verdes, muito intensos, me encara com irritação. Se esse babaca está
irritado, imagina a pessoa que está no chão.
O jeito que a adrenalina estimula nosso corpo a fazer algo totalmente
insano e muitas das vezes que possam nos colocar em perigo, me instiga.
Dessa vez eu não estou fazendo algo maluco, apenas correndo em uma
rodovia enquanto uma tempestade rola ao meu redor.
Nada demais.

Gosto de sentir uma familiaridade com toda essa confusão que acontece. A
natureza é algo para ser apreciado.

Me lembro dos dias chuvosos na Rússia, como eu gostava de pular nas


poças de chuva e sentir o frio contra minha pele. Nem parece que faz tanto
tempo que me mudei.
As lembranças do porquê eu ter voltado para esse lugar ensolarado,
fazem meu corpo tensionar.

Estou perdido em meus pensamentos quando vejo uma moto vindo em


minha direção. Penso em me esquivar, mas o motoqueiro faz uma virada
brusca e derrapa na pista.

Solto um resmungo, saindo correndo até a pessoa caída, mas não é um


motoqueiro que encontro ao chão, e sim uma motoqueira.

Eu não consigo ver muito bem o rosto da mulher já que está coberto pelo
capacete, mas quando seus olhos se abrem tento não demonstrar como
aquela imensidão de íris pretas fez meu coração errar uma maldita batida.
Porra, são os olhos mais escuros que eu já vi em toda minha vida.

A mesma se afasta, levantando-se em um pulo. Percebo o momento que


ela enruga o rosto de dor.

— Isso é uma rodovia, não uma pista de corrida. — Me fuzila com o olhar.

— Você deveria estar andando a mais de cem por hora, existe uma placa
de cinquenta quilômetros aqui.

— Não estou vendo nenhuma placa que diz sobre a passagem de


pedestres. — Ela se abaixa para pegar a moto, mais uma vez faz uma careta
de dor.

— Deixa eu te ajudar — Tento me aproximar, mas a mesma nega. —


Ótimo, então que se foda pra levantá-la.
— Não me mande ir se foder. Vai você, seu babaca...— Tropeça em seus
próprios pés e se segura na moto para não cair.

A motoqueira maluca iria cair com a moto e tudo, me adianto e pego ela
pela cintura, segurando o veículo com a mão livre.

— Tire as mãos de mim, seu...— Ela desmaia contra meu peito.

Da lista de péssimas ideias que eu já tive, trazer uma completa


desconhecida para meu apartamento foi uma dessas. Eu não podia tentar
levá-la para o hospital e arriscar ver meu pai que é o médico do lugar, então o
plano rápido era ter certeza que a mesma iria ficar bem.

Sem cabeça para sofrer alguma multa porque querendo ou não, ela está
certa. Aquela rodovia não é para alguém ficar correndo.

Entro no meu quarto com um copo de água e alguns remédios que eu tinha
encontrado para dor.

— Não foi a merda de um pesadelo — A desconhecida está acordada e


parece mais furiosa do que quando sofreu o acidente. — Que lugar é esse?

— Meu apartamento.

— Sabia que você é um Ted Bundy da vida, só para avisar que eu já tive
aula de MMA e defesa pessoal, não vai ser tão fácil se livrar de mim.

— Bem que eu queria — Resmungo, estendendo os remédios. — Sou


nenhum tipo de Ted Bundy ou Robert Pickton.
— Já tinha esquecido do Pickton. — Me encara com seus grandes olhos
intimidadores. Ainda bem que eu não tenho medo de alguém com metade da
minha altura, mas pelo seu semblante, eu deveria.

— Isso são remédios para dor, você deve ter desmaiado por conta do
impacto, mas não acho que tenha sido alguma concussão na cabeça — A
motoqueira encara os comprimidos como se fossem veneno. — Se fosse
para te matar, eu teria feito isso quando estava apagada.

— Isso é tão gratificante de se ouvir — Pegar os comprimidos e os


entornar na boca sem ao menos beber a água. — Pode ter certeza que eu
voltaria para te assombrar.

— Sua missão no mundo dos mortos seria me assombrar? Quanta


consideração. — Debocho.

— Me diz um bom motivo pra eu não te socar nesse momento. — Pega


suas botas pelo chão e as coloca, mesmo que seu rosto se contorceu de dor
ao fazer o esforço.

— Sou um rostinho muito bonito, o mundo sentiria falta de me apreciar. —


Ela ergue a cabeça para me encarar, revirando seus olhos.

— Só se for no zoológico onde as pessoas te apreciam.

— Você fica em qual sessão? Nas de cobras ou guaxinins? — A maluca


realmente se levanta da cama e me dá um soco no braço. Alguém tem
bastante força e raiva acumulada.

— O próximo vai ser nesse nariz com rinoplastia.

— Oh! É genética, não podemos dizer o mesmo que o seu. — Me afasto,


sabendo que ela iria me dar mais um soco.

— Onde é a saída desse lugar? Acho que ainda não estou pronta para ser
presa. — Passa por mim e vai em direção a sala, vou logo atrás.

Vai saber se ela iria me roubar, mas pelo modelo exclusivo da sua moto,
eu sei que a mesma deve ter uma boa condição de vida. Assim como a
metade da Califórnia, o lugar é cheio de bilionários.
A mesma decide ir de escadas e agradeço mentalmente por isso, cada
degrau em direção a garagem um pouco do seu rosto se enruga. Alguém
tenta manter a pose de durona.

Indico na direção que leva a garagem e ela me segue, aponto para sua
moto em um canto.

— Coitada da minha bebê. — Passa a mão pelos arranhões que estão na


lateral.

— Coitado de mim que quase fui atropelado.

— Eu deveria ter atropelado.— Sobe em cima da moto e abre um sorriso


ao ouvir o motor ronrona quando a liga, eu tinha deixado a chave no painel.
Esse som, eu também o amo.

— Achei que ainda não estava pronta para ser presa.— Dou um sorrisinho
enquanto abro o portão da garagem.

— Estou começando a rever isso.

Ela coloca seu capacete e nem olha duas vezes para mim antes de
acelerar pela rua do condomínio, presto atenção em algo escrito nas suas
costas. O que é? Não faço a mínima ideia, mas tenho a impressão de já ter
visto em algum lugar.

O dia se mostrou bastante intenso, espero que pelo menos o dia de


amanhã recompense.

Acabo não tirando os olhos da desconhecida da minha mente enquanto


subia de volta para meu apartamento, eu tinha trago ela para minha casa sem
ao menos saber seu nome. Não que eu nunca tenha trago uma desconhecida
para cá, mas foram por motivos diferentes.

Ninguém quase tinha me atropelado, motoqueira maluca e insana.


Capítulo 01 - O Reencontro
“Você sabe que eu sou atraente
Você consegue sentir todos os olhos em mim
Siga-me como se você estivesse enfeitiçado
Todo mundo me admira, logo você também fará isso.”
— Bad Boy - Red Valvet.

Acordo com o baque de algo caindo no chão, no caso alguém. Solto um


resmungo quando percebo que rolei do sofá e caí no chão frio. Meu corpo
lateja um pouco e sei que é pelo acidente de ontem, maldito seja aquele
idiota.
Quem é o imbecil que corre em uma rodovia? Pelo jeito o babaca de olhos
verdes.

Verifico pela grande janela do meu apartamento que hoje o clima está
voltando ao seu normal, o sol já brilha no céu, mandando raios solares para
dentro do meu apê. As luzes se destacam no lugar de paredes pretas e
móveis da mesma cor.

Vou em direção ao banheiro e retirei minha roupa, verificando alguns roxos


nas pernas e nas costelas. Um banho gelado pode resolver um pouco do
problema.
Estou colocando minha bota quando ouço o toque do meu celular, reviro os
olhos por ter me esquecido de desligar as notificações. No visor tem uma
mensagem do meu melhor amigo perguntando se vou para universidade hoje,
como se eu tivesse alguma escolha.

O curso de Direito parece me dar mais dor de cabeça a cada semestre, se


fosse para ter uma dor dessas eu namorava algum jogador do time de
futebol. Dentre alguns dias, eu já seria traída.

Respondo com alguma figurinha, sei o quanto Lohan odeia recebê-las, mas
é um modo bem prático de responder ao está com pressa.

Tomo uma xícara de café antes de sair e me verifico no espelho, passo


minha mão pela jaqueta de couro que me dá a força que eu preciso a cada
dia. Respiro fundo antes de sair, desço as escadas de dois em dois até a
garagem.
Meu coração dói por minha moto preferida não estar ali já que tive que
deixá-la no mecânico.

Acabo pegando minha Ducati Desmosedici, uma máquina de matar que me


faz quase voar.

O caminho até a Universidade de Los Angeles é rápido, o prédio onde eu


moro fica fora do campus, já que eu gosto de privacidade e no campus eu
tinha que seguir algumas regras, nem se fala em fraternidade porque eu não
aguentaria uma casa cheia de garotas tagarelas. Eu aprecio um bom silêncio
e falta de pessoas por perto.

Estaciono minha moto e coloco meus óculos de sol enquanto caminho pelo
grande campus, a universidade é a melhor do estado e também a mais cara.
Então é obrigação deles ter um campus desses com ginásio para hóquei e um
para futebol, como estamos na Califórnia, o foco é mais no futebol americano,
isso não deixa que o time de hóquei fique para trás.

Aliás, é adorável ver as brigas entre os jogadores do gelo e do campo.


Quem é o mais importante, eu não me importo qual seja só gosto de observar
as tretas entre os dois esportes.

Possui mesas distribuídas pela extensa área verde, que fica próxima dos
quatro edifícios de aulas e todos eles tendo quatro andares, todos equipados
com material de última linha e possuindo um visual moderno por fora, tirando
a biblioteca.

Avistei meus amigos de longe e quando me aproximo deles, Lohan abre um


sorriso ao me ver. Seu piercing no canto da boca brilha com a luz do sol,
causando um visual sexy em seu rosto fofo.

— Hey, ma chérie1. — Seu sotaque francês pesa em cada palavra, seu


sorriso ainda é aquele que pode fazer qualquer mulher se apaixonar, menos
eu e Bela.
( 1 - minha querida)

Imunizadas contra os galanteios de Lohan Bastien.

— Hey. — O cumprimento e a minha amiga Bela, a mesma parece


perdida em seus pensamentos e já sei o motivo: futebol americano.

— Oi, Storm. — Bela levanta a cabeça para me encarar, consigo


perceber que mais alguém não conseguiu dormir muito bem à noite.

— Se estressando com os treinos de novo? Ainda bem que são os


últimos. — Ela concorda com a cabeça.

— Se você quiser, posso ter uma palavrinha com seus colegas de time. —
O sorriso de Bastien se tornou malicioso.

Bela é a primeira mulher a fazer parte do time de futebol americano da


universidade, isso acabou rendendo várias cobranças que vem com o cargo,
ainda mais por ela ser uma running backs. Alguns dos caras com mente
pequena, ainda acham que uma mulher não pode ser melhor que eles, mas
minha melhor amiga mostrou o contrário.

— Eu passaria pano caso Lohan fizesse algo do tipo, ainda ajudava. — Eu


e meu amigo trocamos um olhar cúmplice.

Kempo é como a bebê do nosso pequeno grupo, a protegemos mesmo que


ela só seja dois anos mais nova e possui uma força própria brutal.

— Já falei que posso dar um jeito neles. — Concordamos com a cabeça.


Eu não duvidaria nem um pouco disso.
Me sento ao lado de Lohan que acende o seu cigarro, ele me oferece, mas
nego com a cabeça. Cigarros, drogas ou bebidas alcoólicas não são muito
minha praia, por mais que as pessoas pensem ao contrário.

— Cigarro às sete da manhã? — Bela indaga. — Conversamos sobre ser


a partir das nove. Storm, avisa.

— Minha doce guerrier2, eu fumo para esquecer um pouco a vida e a vida


não tem hora marcada. Então, sim, às sete estou fumando mais por você...—
Apaga o cigarro e abre um sorriso doce. — Eu apago.
( 2 - guerreira)

— Eu ainda acho que vocês seriam um ótimo casal — Ambos fazem


careta, me fazendo dar risada. — Estou brincando.

— Lohan é uma gracinha, mas eu passo — Bastien concorda com a


cabeça. Bela verifica a hora em seu relógio e seus olhos se arregalam. —
Droga, estou atrasada.

A mesma puxa sua bolsa e sai apressada pelo campus, tirando qualquer
pessoa que esteja em seu caminho.

— O que iremos fazer hoje, ma chérie? — Seus olhos brilham com


diversão contida. As ideias de Lohan sempre consistem em merda atrás de
merda, por isso abro um sorriso em resposta.

— Você que me diz, Bastien.

Caminho entre as pessoas do campus e a maioria dos alunos me encara


quando me vê passar, alguns parecem até horrorizados, possivelmente
devem ter ouvido alguma fofoca por aí. Eu não faço questão de desmenti-las
já que boa parte são verdades, ainda mais as que eu me envolvi em brigas
com alguns jogadores e eles acabaram com alguma parte do corpo
quebrada.

Sinto que alguém me encara mais do que o normal, já que ninguém tem
coragem de me olhar por tempo suficiente e não sair correndo na direção
contrária. Me viro e encontro o cara de ontem, o que tinha me feito sofrer um
acidente.

Encontrei seu olhar, ele murmura algum palavrão, o mesmo estar ao lado
de dois jogadores do time de hóquei. Phineas Rodriguez e Santiago.

Os três parecem esculturas gregas, mas por algum motivo o imbecil se


destaca e não é pelo seu cabelo platinado. O cara é alto e bastante
musculoso, fato que eu não tinha percebido ontem, a jaqueta de couro se
agarra em seus músculos e suas coxas são tão grandes naquela calça.

Eles vêm andando em minha direção e ergo minha cabeça para encará-los,
só Phineas que não é tão alto quanto os outros dois, mesmo assim ainda é
uns bons centímetros mais alto do que eu.

— Meus fofuxos — Abro um sorriso para Santiago e Phineas, finjo que o


idiota nem estar ali. — Vejo que esse tempo longe foi bom para vocês.

— Santi, estou assustado — Phineas murmurou para Santiago, os dois


são melhores amigos e tem um vínculo de almas gêmeas. Acho intrigante
como um é todo arco-íris e unicórnios, enquanto o outro não. — Storm está
sendo educada?

— Isso é estranho. — Santi abre um sorriso de canto de boca e abre os


braços para mim, pulo em seu corpo imenso. Sério, o cara tem uns dois
metros de altura e é cheio de músculos, parece que alguém o pintou por
horas.

Me solto dele e percebo que o idiota nos encara, tentando entender que
relação eu tenho com aqueles dois. Fofoqueiro.

— Stor, esse é o Jace, nosso novo colega de time. — Quase sinto meu
queixo cair com aquela informação. O babaca é daqui e ainda vai fazer parte
do time? O universo está fumando drogas por algum acaso?

— Eu sinto que vocês já se conhecem. — Santiago abre um sorriso


malicioso.
— O que? Santi, eu tenho um gosto melhor. Pergunte para seu irmão. —
Ele dá risada.

— Já nos vimos por aí. — O tal de Jace diz taciturno.

— Hm… Interessante. — Phineas abre um sorriso de orelha a orelha.

— Eu vou indo, meus bebês. — Aceno para a dupla dinâmica, nem


perdendo meu tempo em me despedir de Jace.

Entro no meu prédio de aula e vou direto para meu andar, dou bom dia para
a professora antes de caminhar até a última cadeira.

Quase tombo do lugar, no momento que Jace entra na sala e se senta na


cadeira, ao meu lado. Nem o olho e sei que ele faz o mesmo comigo.

Pego um pirulito do bolso da minha jaqueta e desembrulho o doce


enquanto a professora tagarela sobre a matéria do dia. Só aceitei essa aula
porque faltava mais uma matéria em minha grade curricular.

Coloco o doce na minha boca, capto alguém me olhando e nem preciso me


virar para saber quem é. Jace.
Capítulo 02 - Te Provocando
“E você sabe que ela é uma garota má
Todos os garotos a olham
Não dá para evitar, é um hábito
As roupas que ela usa
Saia curta e uma jaqueta.”
— Rumors - Neffex.

No instante, que entrei na sala de aula e a vejo sentada ali, toda


esparramada como se tivesse em casa. Senti vontade de ir para qualquer
lugar, menos ficar no mesmo ambiente que o dela, mas endireitei minha
postura e caminhei até a cadeira ao seu lado.

A aula começa e pego meu tablet que é distribuído pela universidade, uma
forma de não ficar andando com o peso dos livros que são imensos. Me
desconcentro do texto ao perceber que Storm está brincando com o doce,
em sua boca.

Balanço minha cabeça e tento focar na professora, mas de vez em


quando meu olhar é direcionado em sua direção.
Não basta Storm ser sexy naturalmente — algo que eu não tinha prestado
muita atenção dado os acontecimentos de ontem à noite —, ela tem que
chupar aquele pirulito como se fosse o último do mundo?

— Posso te processar por assédio. — Se vira na cadeira para me


encarar, um pequeno sorriso malicioso brilha em seus lábios.

— Pode ter certeza que não penso em você desse jeito. — Abro um
sorrisinho cínico.

— Sério? Então toma — Dá uma lambida no pirulito, antes de me


entregar. — Aplacar sua sede.

Só para provocá-la, eu chupo o doce e percebo que a mesma observa


cada movimento da minha boca.

— Quem vai processar quem por assédio? — Digo divertido.

— Sinto lhe informar, você é o último homem nessa faculdade que eu


ousaria pegar.

— Não precisa sentir nada, é gratificante ouvir isso ainda mais porque eu
não quero nada com você também.

— Fico feliz em entrarmos em um consenso, Jace. — Meu nome sai


carregado de raiva.

— Claro, Storm. — Digo seu nome com nojo, a fazendo revirar os olhos.

O restante da aula, fingimos que o outro não existe e agradeço por isso,
mentalmente. Aquela coisinha pequena sabe ser irritante e eu não estou com
saco para lidar com isso.

Quando o relógio marca o horário de saída, Storm sai correndo porta


afora, eu consigo reparar o que está escrito nas costas da sua jaqueta:
Broken Heart. Interessante. Será que alguém partiu o coração daquela
mulher? Duvido que alguém já tenha partido seu coração, essa mulher
demoníaca que deve ter feito muitas pessoas sofrerem.

Pelo o que Phineas e Santiago avisaram, ela é desse jeito mesmo. Os dois
falavam sobre uma amiga que é assustadora e irresistível ao mesmo tempo,
tive a prova ao ver Storm.
Storm, seu nome significa tempestade em inglês e isso combina com a
mesma. Nada ou ninguém pode parar uma tempestade, assim como nada ou
ninguém deve parar Storm.

Caminho pelo extenso gramado da Universidade de Los Angeles,


respirando o ar limpo e sentindo o sol bater contra meu rosto, resmungo pode
não ter trago meus óculos de sol.

Eu ainda sinto saudades do frio da Rússia, mas não nego que esse clima
quente esteja me fazendo bem.

O campus é maior do que o da minha antiga faculdade, tem até duas


bibliotecas distribuídas que são carregadas de livros novos assim como
clássicos.

Estou a caminho de uma das bibliotecas quando vejo minha prima Audrey
com seu namorado — a estrela do gelo — Will Jones. Eu o conheci nas
seletivas do time e a treinadora colocou nós dois como wingers. Uma péssima
decisão.

Audrey percebe meu olhar e uma sombra de surpresa surge em seu rosto
impecável. Eu e minha prima éramos confundidos com gêmeos quando mais
novos, até hoje ainda compartilhamos algumas similaridades, a mais visível
são nossos cabelos loiros, porém o meu é matizado e o da minha prima louro
natural.

A mesma sussurra algo para Will, antes de vir caminhando até mim. Ela
para na minha frente e simplesmente me dá um tapa, fazendo meu rosto
queimar.

— Que porra foi essa? É assim que você me recebe, priminha?

— Você se mudou a treze anos atrás e não deu mais sinal de vida, agora
volta como se nada tivesse acontecido? — Talvez eu tenha sido um péssimo
primo. — Então continua sendo o mesmo babaca de sempre.

— Também senti sua falta. — Por mais que Audrey não acredite, eu estou
sendo sincero. Eu senti falta dela, mas a mesma me lembrava desse lugar e
eu tive que me distanciar para o meu bem.

— Não apareça mais no meu caminho. — Ameaçar antes de voltar para o


lado do seu namorado.
As palavras doem um pouco em meu peito, mas eu mereço isso e coisa
pior.

Depois de ficar um tempo parado onde falei com minha prima, fui em
direção a uma das bibliotecas. Encaro o grande prédio que é o único pelo
campus que parece não ter passado por uma reforma, toda a frente do local
mostra como sofreu com o tempo.

O lado de dentro é totalmente diferente, as estantes são de metal com um


vidro na frente para proteger os livros e tem várias dessas pelo lugar. Olho
para cima e consigo ver o segundo andar onde ficam mais livros e algumas
mesas.

O silêncio me acompanha enquanto vou andando pelas infinitas fileiras,


uma me chama atenção que só possui livros de fantasia. Harry Potter, Percy
Jackson, Corte de Espinhos e Rosas, mas um com capa prateada parece
gritar por mim e o pego.

— Aqui. — Estendo o livro para a bibliotecária que o carimba.

A bibliotecária parece ser alguém da minha idade, seus cabelos coloridos


chamam mais atenção que o livro ao seu lado, possivelmente que ela estava
lendo.

O som de risadas ecoam pelo local silencioso e nos viramos ao mesmo


tempo para ver a causa do barulho, Storm está debruçada sobre a mesa
enquanto um carinha ruivo a encara com fascinação. Ela o puxa e beija sua
boca em um gesto, totalmente obsceno para uma biblioteca, não que eu
fosse o exemplo muito bom, já tinha ficado com pessoas em lugares mais
reclusos.

— Storm Brassard, isso não é motel. — A mulher grita e Storm se


distancia do homem.

— Anotado, Lizzie. — Então, esse é o nome da bibliotecária.

Storm percebe que estou ao lado de Lizzie e faz questão de fechar a cara,
voltando a atenção para o garoto em sua frente.

— Ela tem mania de achar que isso virou algum motel — Estende o livro
para mim e o pego. — Você deve ser o Jace, certo? Meu namorado
comentou.
— Seu namorado é…? — Respondo meio ríspido, não gosto de papo
jogado fora.

— Ethon Cárter, seu novo colega de time. — A imagem de um garoto


coreano que conheci nas seletivas, passa pela minha mente.

— Certo, lembro dele. Foi bom te conhecer, Lizzie. — Ela concorda com a
cabeça.

Não preciso olhar uma última vez para Storm, para saber que a mesma
está me vendo ir embora.

O toque do meu celular me chama atenção enquanto estou a caminho da


minha próxima aula, tiro o mesmo do bolso, o nome no visor me faz soltar um
grunhido.

Meu pai e eu não somos conhecidos por termos uma boa relação. A
verdade é que não tenho boa relação com ninguém da minha família, tirando
minha avó e mesmo assim quase estraguei tudo com ela.

— Ei. — Digo com falsa animação.

— Foi para a universidade? — Eu consigo saber suas palavras não ditas:


Está usufruindo de bom modo do meu dinheiro? Só que o dinheiro não é dele
e sim da minha mãe, eu preciso até arrumar um jeito de mudar isso.

Por mais que ambos tenham bastante dinheiro, minha mãe que lidera no
quesito poder e influência, sendo uma empresária de sucesso. Isso quer dizer
que é a mesma que paga meu ensino, algo que eu não sou muito a favor
porque é um modo dela jogar na minha cara que ainda me ajuda depois de
tudo o que fiz.

— Estou aqui agora e devo desligar, preciso entrar em uma aula.

— Audrey ligou para sua mãe...— Reviro os olhos com a boca grande da
minha prima, a puxação de saco não mudou. — Você não contou para sua
prima que estava indo para mesma universidade que a dela?

— Não, porque Evans não tem nada a ver com minhas decisões.

— Vocês são primos e tiveram uma época que eram como irmãos. Pelo
jeito se esqueceu disso também.
Eu não tinha me esquecido, Audrey era minha outra metade na infância,
isso foi destruído por mim e pela influência dos nossos pais. Pelo jeito,
ninguém da família pode ter laços como os das gêmeas Ludovicih.

— Eu sei.

— Jace Ludovicih, não nos faça se arrepender por você ter voltado. Mas
ainda é seguro você se manter distante dela.

— Não repita coisas que eu já sei. O que você quer, pai? Eu preciso ir.

— Compareça ao jantar de hoje à noite. — Ele desliga sem se despedir.

Eu posso ter vinte e três anos, mas ainda sim, não tenho escolhas sobre
não ir para esse jantar. Serão horas incessantes dos meus pais me
lembrando de todas as merdas que eu já fiz e continuo fazendo.

Entro na minha próxima aula e reviro os olhos quando vejo Storm nessa
também. Tenho que arrumar um jeito de mudar essa grade curricular.

— Sério? Que raios de curso você faz para estar aqui? — Sua pergunta é
carregada de raiva e abro um sorrisinho, que a faz revirar os olhos.

— Veterinária, mas tinha que escolher uma aula extra de humanas — Dou
de ombros, me sentando ao seu lado. — Você não é a única que não está
feliz com isso.

— Além de ter que lidar com a professora, vou ter que aguentar sua
presença? Já mereço o Nobel da paz.

— Considerando que voce está cheia de pensamentos sanguinários de


como me matar, você não merece o Nobel.

— Você é uma coisinha, né?

— Eu diria que sou uma coisona. — Abro um sorriso malicioso, a fazendo


revirar os olhos novamente.

— Irritante, macho alfa e mau caráter, a cada momento sua presença se


torna mais difícil de se conviver.

— Pode se retirar à vontade, Brassard.


— Te lembrar de algo: Eu sou a veterana aqui e você apenas o calouro.
Se eu quiser, consigo estragar o restante dos seus anos, então não me
estresse, russo oxigenado.

— Eu nasci aqui, amor — Digo, ronronando. — Acabou de conhecer


alguém que não tem um pingo de medo da sua presença, pode me ameaçar à
vontade, Brassard. Cão que apenas late, não morde.

— Senhor Ludovicih e senhorita Brassard, algo mais importante rolando do


que minha aula? — A professora nos encara, seu semblante de
aborrecimento.

— Qualquer coisa é mais importante do que sua aula, tirando ele. —


Aponta para mim.

Storm abre um sorrisinho quando a professora expulsa a mesma, então


esse foi seu planinho para ficar longe de mim.

Se essa mulher acha que pode me causar medo está muito enganada, ela
vai acabar sabendo que eu também não sou alguém para se mexer.

Storm Brassard se você soubesse o que sou capaz de fazer.


Capítulo 03 - Pavão
“Ah, eu estou pensando: Que se dane
Tudo que eu quero é bagunçar
E eu não me importo
Se você me ama, se você me odeia.”
— What The Hell - Avril Lavigne.

— Espera, você vai para uma festa com seu pai porque ele te obrigou? —
Lohan exclama.

— Obrigar é uma palavra muito forte e não é uma festa, é um jantar na


casa do médico da família.

— Desde quando você e seu pai são uma família? — Ele tem um ponto.

Eu não estou em um bom momento com meu pai há anos, mas tirando
minha avó e meus tios, meu pai é alguém que chega mais próximo de família,
se bem que para ele eu só sirvo para essas demonstrações públicas.

— Podemos marcar outro dia? Vou precisar distrair minha mente.

— Certo, minha mãe não está muito bem hoje também, então preciso me
distrair um pouco também. — Isso faz a bile subir pela minha garganta.

— An... Os remédios não estão mais fazendo efeito?


— No estado que ela está, nada mais pode fazer efeito. — Percebo o
quanto meu melhor amigo está cansado. Ter que carregar a família nas
costas é algo que eu sei bem, mas a situação de Lohan só parece piorar,
cobrando tudo dele e sobrando nenhuma esperança de que pode melhorar.

— Não existe mais expectativa, é o fim.

— Lohan, olha...— Sou cortada pelo som da buzina do carro. — Eu


preciso ir, mande beijo para ela, vou marcar para ir vê-la. Por favor, não
continue pensando assim.

— Obrigado. Storm, não deixe alguém acabar contigo novamente, ainda


mais se esse alguém for Caleb. — Não respondo e apenas desligo a
chamada.

Tem como acabar com algo, quando não existe mais nada em sua alma?

Respiro fundo e pego minha jaqueta, visto a mesma com um pequeno


sorriso no rosto. A peça combina com o vestido justo preto cheio de cristais,
pelo jeito o tal jantar exige roupa de gala.
— O que eu falei sobre usar tênis? — Meu pai olha apavorado para meu
All Star surrado, ao descemos do carro em frente a mansão.

— Não é como você pudesse opinar no que devo ou não usar. — Abro um
sorrisinho sarcástico, passando pelos jornalistas em frente à mansão. Eu que
não iria tirar fotos ao lado do meu pai e da Alisson, não vou fingir que temos
uma boa relação para promover Caleb.

Meu pai é um famoso empresário de celebridades em Hollywood, sua fama


decolou há alguns anos e isso impulsionou a carreira de Alisson. Claro que
minha amiga, a que tinha o sonho de se tornar médica, virou uma modelo por
conta dos desejos do meu pai, como se ninguém pudesse ser mais inteligente
que ele.

Sou recebida por dois funcionários que me acompanham até o grande


salão que será o jantar, o local deve ter em torno de cinquenta pessoas,
todas conversando e rindo entre si.

Consigo ver até Audrey Evans, parecendo uma estrela brilhante desfilando
pelo salão. Mas tem algo nela que não combina com seu personagem, seu
sorriso parece forçado demais e ela aperta com tanta força a mão de Will,
seu namorado.

Pelo o que eu sei, Audrey é parente do dono da festa, família poderosa


com uma reputação digna de manchetes.

Sinto vontade de me enterrar em um buraco com a quantidade de pessoas


aqui, eu odeio eventos desse tipo e odeio mais ainda as memórias que o
dono do jantar me trás. Doutor Durand é alguém que eu quero apagar da
minha mente.

Consigo o avistar conversando com sua esposa, a empresária, Ayla


Ludovicih. Ela é uma bela mulher, o vestido vinho lhe cai bem e a joia em seu
pescoço chama atenção.

Merda, não pode ser. Esse não é o mesmo sobrenome do Jace? Ele é filho
do doutor Durand? Uma dor de cabeça me atinge e procuro a saída mais
próxima, respiro aliviada quando estou no jardim.

O universo está zombando da minha cara, só pode. Primeiro o acidente,


depois o fato dele pertencer a mesma faculdade que a minha e agora, ele é
filho do médico da minha família? É, o universo está mesmo fumando um
baseado.

Tento acalmar minha mente barulhenta, não gosto de saber que Jace é
filho de Ayla e Durand. Eu odeio saber disso, faz meu estômago se revirar.

Ergo minha cabeça, no momento que ouço uma série de palavrões, mas
acho que são em outro idioma. Como a boa curiosa que sou, me aproximo do
barulho para tentar me distrair um pouco, vou até uma área cheia de animais
exóticos, incluindo pavões.

Uma pessoa tenta desesperadamente fazer com que um dos pavões fique
em seu lugar, mas o bicho corre de um lado ao outro.

A cena é engraçada, mas resolvi deixar para lá. Cômico a pessoa achar
que vai conseguir pegar um animal ágil daquele.

Aproximo-me do lago que tem ali perto. As luzes do jardim iluminam o lago
escuro e a vasta propriedade da família Durand, consigo avistar até um
estábulo no fim do lugar.
Encaro as estrelas brilhando no céu, são poucos momentos que posso
apreciar um céu desse, mas tento aproveitar cada segundo. A vastidão do
universo é algo tão incrível e somos apenas minúsculas partículas em um
mundo tão grande.

Sou arrancada dos meus pensamentos, no mesmo segundo que alguém


passa correndo por mim e um bicho vem em minha direção, não tenho tempo
de desviar porque deslizo de cara na parte rasa do lago, onde está cheia de
lama. Cuspo a terra e me levanto meio cambaleante, o pavão me encara com
curiosidade e logo atrás dele, Jace.

— Só podia ser você. — Limpo meus olhos que também estão sujos.

— Oh meu Deus — Gargalhar. — Lama combina bem com toda sua


roupa.

— Seu filho da...— Assustei o animal que começa a correr que nem um
maluco. DE NOVO.

— Você fez ele fugir. — Jace começa a correr atrás do bicho, enquanto
eu os observo.

— Isso vale a pena pelo vestido — Dou risada, pedaços de terra saindo
da minha boca e fecho a cara na hora. — Eu vou te matar, tem terra até na
minha alma.

— Desde quando cria do capeta tem alma? — Grita de volta. — Pare de


gritar, está o assustando. Por que eu fui me aproximar daquilo?

— Eu estou nem aí para a porra desse pavão. Quem em sã consciência


tem um animal desse em casa?

— Quem tem consciência tem você em casa? — Retruca de volta e isso


me faz correr atrás dele, como uma criança.

Realmente, perdemos a maturidade estando próximos de alguém que não


gostamos.

Jace consegue pegar o bicho, me fazendo bater contra seu corpo duro,
uma luz vem em nossa direção e arregalamos os olhos para o segurança.
— Oh! É, você, senhor Ludovicih. Desculpe, não queria atrapalhar. — O
homem encara com peculiaridade nosso estado.

Uma doida toda suja de lama enquanto batia em um outro doido que tem
um pavão nos braços. Uma cena digna de piada. Onde eu deixei minha
dignidade?

— Alguém pelo jeito foi na área dos animais e acabou deixando a portinha
aberta, um pavão fugiu — Entrega o animal para o segurança.— Seria bom o
assunto não vazar para minha mãe, sabe como ela ficaria chateada com uma
coisa dessas.

— Com toda certeza, a senhora Ludovicih ama seus filhotes. Vou pedir
para um dos seguranças ficar próximo daquela área. — Jace concorda com a
cabeça.

O segurança nos olha uma última vez, antes de sair andando com o pavão
grasnando em seus braços. Me viro para encarar Jace que está se
segurando para não rir.

— O que você faz aqui? Pelo jeito não sou eu o Ted Bundy.

— Cala a boca — Junto a lama do meu decote, jogando um punhado no


smoking de Jace. — Tem sorte que eu não quero fazer nada pior.

— Sua maluca, isso é feito sob medida, pare de agir como uma criança —
Encara a grande mancha no palitó. — Que porra você faz aqui, além de cair
em poças de lama e me sujar?

— Pelo jeito nossos pais se conhecem, para minha grande infelicidade. —


Dou de ombros.

— E até hoje nunca tínhamos nos falado? Um agradecimento ao universo,


pude viver em paz por algum tempo.

— Não vou infernizar sua vida, Ludovicih, tenho coisas melhores para fazer
e uma delas é ir embora daqui. — Puxo a cauda do vestido que está
destruída e me afasto dele.

— Desde o momento que eu te vi naquela tempestade, você está


infernizando minha vida. — Grita com ódio em sua voz.
— Oh! Sério? Você está sendo um paraíso na terra, né? — Digo por cima
do ombro. — Só se for a porra de um anjo caído.

— Não deixo de ser um anjo. — Abre um sorriso presunçoso, me fazendo


revirar os olhos.

— Enfia esse ego no seu cu, idiota. — Volto a andar, ouvindo sua risada
de fundo.

O deixo para lá e faço questão de ir embora, não aviso meu pai que eu
estou indo, não é como se ele fosse sentir falta da minha presença. Chamo o
motorista que faz uma careta quando sujo o banco do carro, que se foda.

Chego no meu prédio em alguns minutos e vou resmungando até chegar em


minha casa. Eu só quero um banho quente e tentar dormir.

Nem me surpreendo por eu e Jace não nos conhecemos desde pequenos,


eu mal saía de casa naquela época e quando saía… Afasto os pensamentos
do passado, não é o momento para pensar nisso. Não, agora.

Mesmo assim as lembranças espreitam minha mente todo santo dia, elas
nunca me deixariam, estão gravadas em minha pele e memória. E não é algo
que eu possa lidar, só tenho que conviver com tudo que passei e não deixar
que ninguém faça novamente comigo o que ela fez.

Pessoas não são confiáveis, ainda mais aquelas que amamos e quando
uma delas resolve quebrar nossa confiança, a dor pode ser considerada
como a de um tiro.
Capítulo 04 - Brincando com fogo
“Eu sempre gostei de brincar com fogo
Eu ando no limite, minha velocidade vai no vermelho
Sangue quente nas veias, meu prazer é a dor deles
Eu amo assistir os castelos queimar.”
— Play With Fire - Sam Tinnesz.

Fico observando Storm ir embora, com uma sombra de sorriso em meu


rosto, claro que ela iria me sujar até eu faria igual. Retiro o blazer e caminho
em direção a mansão, de volta para o jantar.

Eu tinha saído para o jardim para pegar um pouco de ar, depois da longa
conversa que tive com minha mãe, onde só ela falou sobre os conselhos que
nunca irei seguir e avisos que não irei evitar.

Até que fui até para área de animais exóticos, meus pais quiseram alguma
coisa peculiar na mansão, como se de peculiar já não bastasse eles.

Tinha avistado o pavão fugindo e acabei amando mais ainda o bichinho


quando ele deixou Storm cair no chão. Aquilo foi uma cena digna de ser
apreciada.
Entro novamente no salão e meu rosto se fecha ao ver Audrey caminhando
em minha direção. Pelo sorriso em seu rosto, não é boa coisa.

— Eu sei que você está há algum tempo sem vim em eventos desse tipo,
mas é para usar o blazer e não arrastá-lo no braço. Somos os donos da
festa, aja de acordo.

— Não se preocupe, priminha, não vou fazer nossa família passar


vergonha. Aliás, estou evitando isso, manchei meu blazer.

— Então pegue um do seu pai, precisamos estar impecáveis e não


estaremos se andar por aí com uma mancha. — Seu sorriso é algo
petrificado em seu rosto. Como alguém pode acreditar nesse sorriso?

— Esse é o teatrinho que elas pedem para você seguir? Já está soando
como nossas mães.

— Duas mulheres de sucesso? Obrigada. — Diz, cruzando os braços.

— Não, duas mulheres que só se importam com as aparências e com os


negócios — Ia indo, mas me viro para encará-la mais uma vez. — Quando se
tornou a pessoa que ainda por aí com sorrisos falsos?

— Quando se tornou a pessoa que se importa? — É ela que me vira as


costas, indo até seu namorado.

Me encaminho até as escadas no canto lateral do salão, que levam até o


andar dos quartos.

Vou até a porta do meu antigo quarto e não me surpreendo por estar
convertido em um cômodo para hóspedes, toda a decoração que eu tinha,
que consistia em paredes pretas com longas estantes de livros pelo lugar,
não estão mais ali. Agora, são paredes em bege com uma cama grande com
edredom florido e uma decoração requintada.

Abro a porta do closet e encontro algumas roupas minhas esquecidas pela


minha mãe, que não jogou fora essas. Pego um dos meus blazers antigos que
fica um pouco apertado em meus braços, mas dá para usar até o final dessa
noite.

Me apoio na porta e respiro fundo, minha vontade é de sair correndo, mas


temo o que Ayla Ludovicih pode me aprontar caso eu vá embora. Minha mãe
tem suas artimanhas na manga, que bom que eu também tenho as minhas, só
não é o momento certo de usá-las ainda.

Porém, um dia. Ah! Um dia iremos ir contra o outro, eu largarei tudo isso
de mão e serei uma pessoa em paz.

Quando chego na terça de manhã, na Universidade, não consigo conter a


ansiedade em meu peito.
Hoje vai ser meu primeiro treino oficial com o time, em uma posição de
destaque como dupla do capitão. Ao pensar que vou ter que lidar com Will no
gelo, a animação diminui um pouco.

Só o pouco que eu sei dele, Will é um grande imbecil e alguém que não
merece minha prima, assim como não merece seu lugar no time.

Nas seletivas, ele chegou atrasado e foi o que menos participou das
dinâmicas e perguntas, nem ligando para quem iria entrar.

Caminho pelo campus e alguns alunos me olham com curiosidade, controlo


a vontade de revirar os olhos e apenas foco em chegar logo ao ginásio.
Chamar atenção não é algo que eu gosto tanto, mas depois de começar a
jogar hóquei tive que me acostumar com isso e também ao fato que cresci em
uma família com pessoas de sucesso e poder, então uma vez ou outra,
saímos em entrevistas ou reportagens.

A família Ludovicih é conhecida na Rússia pelo grande sucesso da minha


avó e aqui, em Beverly Hills, pelo da minha mãe e da minha tia. Família com
mulheres poderosas.

— Ludovicih — Phineas Rodriguez me cumprimenta, no momento que


chego no vestiário. — Você tem algum lanche em seu armário?
— Vou ter que passar essa, cara. — Tenho que segurar a risada.

Phineas foi a primeira pessoa a falar comigo na seletiva do time, foi o


primeiro dos jogadores do time oficial a me receber bem. Logo que você
conhece Phineas, você conhece Santiago, os dois são como um bônus. O
mexicano e o colombiano fazem uma boa dupla.

— Nem todo mundo só pensa em comida, Rodriguez — O namorado de


Lizzie, Ethon Cárter, diz enquanto me cumprimenta. — Não liga para ele,
depois que tomou um pé na bunda da namorada, ele acha que comida pode
recompensar a dor.

— Eu terminei com ela. — Phineas resmunga de cara emburrada.

— Aham, mentir isso mais vezes não irá fazer se tornar verdade. — Ethon
revira os olhos.

— Relacionamentos são dores de cabeça, Rodriguez, até agora sem me


interessar por ninguém do campus.

— Não é o que eu fiquei sabendo, passarinhos me contaram que você já


ficou com uma das alunas do seu curso. — Phineas comenta com o olhar
repleto de curiosidade.

— Os seus “passarinhos”...— Faço aspas com as mãos. — Estão


errados, não estou querendo nada de relacionamentos ou ficadas casuais.

— Não liga para ele. Phineas é um dos maiores fofoqueiros do time. —


Ethon lhe dá um soquinho no braço.

— E quem seria o outro?

— Eu — Lohan Bastien se aproxima com um sorriso no rosto. — Acho que


nós vimos no começo do ano.

— Sim, prazer, Jace Ludovicih. — O mesmo concorda com a cabeça.

— Qual foi rapazes? — A figura impressionante de Santiago surge, me


confirmando porque ele fica na linha defensiva, sendo um dos melhores do
time.
Ele é uns bons dez centímetros mais alto do que eu e sua estatura
corporal é imensa, o cara parece um monstro que ocupa boa parte do
pequeno corredor entre os armários.

— Só Phineas falando sobre o assunto preferido dele...

— Fofoca. — Santiago, completa.

— Acho que você, Rodriguez, tá precisando bater uma.

— Vocês são uns babacas — Sai resmungando em direção a pista. —


Meu assunto preferido não é esse também, é comida.

— Vou ter que concordar. — Ethon revira os olhos e vai logo atrás.

Coloco meu uniforme para os treinos, junto com todas as proteções e saio
com os patins nas mãos, em direção à pista, retirando a capa das lâminas
assim que meus pés pisam no gelo. Isso que eu chamo de casa.

— Vamos logo seu bando de bundões, eu não tenho todo o tempo do


mundo — A treinadora Ferraz grita, soprando o seu apito em seguida. —
Quero trinta voltas na pista, rapazes.

A mesma ouve a série de reclamações e revira os olhos.


— Vocês são tão fracos às vezes, vai ser quarenta pelas reclamações. —
É minha vez de revirar os olhos.

Não posso reclamar muito, a treinadora Ferraz fez questão que eu fosse
mandado para o time de Los Angeles, depois de ver um jogo meu na Rússia.
Foi uma boa ideia já que eu queria fugir dos meus problemas e demônios
pessoais, só tinha me esquecido que parei bem nos braços de outras
sombras do passado.

— Aí não. — Ouço o resmungo de Clave, o goleiro do time e sigo sua


linha de visão.

Storm está debruçada na grade, rindo de alguma coisa que Bastien fala.
Sou jogado para lembranças de ontem à noite e tenho vontade de rir, Storm
toda suja de lama foi uma imagem e tanto.

— Storm, o que eu falei sobre atrapalhar meu treino? — A voz da


treinadora ecoa pelo local.
— Desculpa, tia. — Brassard se joga no banco, antes de dar um beijo na
bochecha de Lohan. Ele joga na lateral direita fazendo dupla com Ethon que
joga na esquerda, eles fazem uma boa dinâmica pelo pouco que vi nas
eliminatórias. Por isso, conseguiram entrar no time logo no primeiro ano e
participarem como titulares.

— Lá vem a merda. — Ethon resmunga, na minha frente.

— O que é? — Murmuro.

— Storm, aquela mulher, não é um caminho para se seguir. Fique longe


dela se quer preservar sua saúde mental. — Ethon se vira novamente para
frente, quando vê o olhar da treinadora nos perfurando.

Ethon deve ser a terceira pessoa a me avisar sobre Storm, Phineas e


Santiago fizeram questão de me atualizar sobre cada aluno do campus,
incluindo Storm e como ela é capaz de acabar com qualquer homem.

A fama a persegue, pelo jeito alguém é o terror da universidade.

Claro que ela seria sobrinha da minha treinadora e pelo jeito que todos os
rapazes — menos Bastien — estão tensos, ela é o inferno desse time, que
bom que eu sempre tive afinidade com o fogo.

Talvez o universo tivesse pregado alguma peça para colocá-la em meu


caminho, ainda bem que posso lidar com isso.
Abro um sorrisinho em sua direção e mando um tchauzinho, sua testa se
enruga com o meu gesto.

— Que porra você está fazendo? — Santiago murmura ao meu lado.

— Só mostrando para ela que pode brincar comigo, vamos ver quem
aguenta.

— Oh! Com certeza, quero ver quem aguenta.


Capítulo 05 - Os jogos começaram
"Você é venenosa e eu sei que isso é verdade
Todos os meus amigos acham que você é viciosa
E eles dizem que você é suspeita
Você continua sonhando e tramando algo obscuro.”
— I Feel Like I’m Drowning - Two Feet.

Não deixo de admirar as pessoas que tentam me intimidar ou ter uma


espécie de jogo comigo, se Jace Ludovicih quer diversão, ele a terá, mas
pode ter certeza que esse é um jogo onde sou eu que ganho.

Volto minha atenção para meu celular e confirmo que minha aula foi
cancelada, eu deveria está agora na biblioteca dando uma revisada nos
últimos assuntos da matéria, mas quis ver um pouco do treino.

Quem fala que faculdade é só festas, está muito enganado. O pouco tempo
que tenho livre, eu uso para colocar o sono ou as leituras em dia, e não é
muito tempo livre só curtos espaços de tempo entre a semana.

— Ela vai te matar. — Ergo minha cabeça e encaro Lohan, ao lado da sua
dupla no gelo e melhor amigo, Ethon.
Percebo que o treino acabou e eu nem ao menos percebi, merda. Já vai
sobrar pouco tempo para revisar a matéria, eu deveria ter ido direto para a
biblioteca.

— Ela não tinha te proibido de assistir aos treinos depois do último


acontecimento? — Arqueia a sobrancelha.

— Desde quando isso iria me impedir? — Dou de ombros. — Aliás,


ninguém mandou aquele babaca tentar dar em cima de mim.

— Você quebrou a mão do cara, ele ficou uma semana afastado. — Ethon
balança a cabeça.

— Eu teria quebrado outra coisa se vocês não tivessem me segurado —


Reviro os olhos. — Agora vão logo para o banho, vocês estão fedendo e não
sou obrigada a sentir esse cheiro.

— Tão doce. — Lohan cantarola, se distanciando ao lado de Ethon.

Observo quando minha tia Mindy vem caminhando em minha direção, ela
para na minha frente e abro um sorriso em resposta. O jeito que somos
totalmente diferentes, quase não faz parecer que ela é parente, talvez seja o
fato dela ser só meia irmã do meu pai.

Mindy Ferraz tem cabelo ruivo acompanhado de olhos verdes intensos,


enquanto eu tenho cabelo preto e olhos da mesma tonalidade.

— O que eu falei sobre você distrair meus jogadores?

— Não me lembro muito bem — Abro um sorrisinho que a irrita. — Foi


algo sobre não quebrar nenhuma das partes dos corpos deles?

— Você mente mal para alguém que é filha do Caleb — Revira os olhos.
— Storm, você não pode aparecer aqui, não era para está em aula? Eu não
aguento mais inventar desculpas do porquê você aparece ainda aqui, mesmo
após a regra.

— Foi cancelada, mas tenho que ir para a biblioteca daqui a pouco —


Dou de ombros. — Não ligo para as regras, não quando quero ver meus
amigos e minha titia linda.
— Acaba vendo também todos os garotos que já gostaram de você e
seus ex 's cunhados — Massageia a cabeça e a pego murmurando, pedindo
calma. — Sabe que o time te apelidou, né?

— Nada que eu não possa lidar — Caminho para longe das


arquibancadas. — A gente se vê por aí, tia.

— Sabe que eu me sinto velha quando você me chama assim e eu só sou


meia irmã do seu pai. — Grita, nem percebendo que estou indo em direção
ao vestiário.

Entrei no lugar fedendo a sabonete barato e suor, com toda aquela fumaça
de banho quente pelo local. Alguns caras se escondem atrás das suas
toalhas ao me verem entrando, me fazendo segurar a risada.

— Nada que eu já não tenha visto, senhores.

— Ei, Benji, o tanquinho tá ficando incrível — Benji me lança uma


piscadela. — Conseguiu fechar aquele passe muito bem hoje, Nico, da
próxima vez tente ser mais rápido.

— Vou tentar, estressadinha. — Abre um sorrisinho e reviro os olhos.

Avisto Lohan no último armário se trocando, vou em sua direção,


acabando por esbarrar no novo jogador do time, Jace.

— Sabe que isso é o vestiário só para o time, né? E pessoas de fora são
proibidas de entrar. — Se encosta no seu armário com um sorriso no rosto
estúpido. Encaro seus olhos verdes, tentando não prestar atenção ao fato
que ele está só com uma toalha enrolada na cintura, já que metade dos
homens ao redor também estão.

Mas daqui, eu consigo ver as gotículas de água descendo pelo abdômen


trincado dele, indo até... Balanço a cabeça, isso não é coisa para eu ficar
olhando. Esse caminho eu não irei seguir.

— Não me diga, eu nem sabia — Digo, com a voz carregada de


sarcasmo. — Pelo o que eu percebi, você é novo aqui então é melhor se
atualizar sobre minha presença andando por aqui e ali, e que você não pode
fazer nada para me impedir.
— Storm poderia mandar na universidade se quisesse. — Ouço a voz de
Santiago e me viro para encará-lo.

— Eu diria que poderia comandar o país se quisesse — Dou de ombros,


voltando minha atenção em seguida para Jace. — Agora que você já sabe
que posso ir e vir, não encha meu saco.

— O que já falamos sobre você aparecer aqui? — A voz de Will —


capitão do time — me causa ânsia ao ouvi-la.

— Você só é capitão do time, não manda em mim, muito menos aonde


devo ou não estar. — Reviro os olhos.

— Ei, vamos logo, antes que você tente matar Will de novo. — Lohan
aparece ao meu lado, enroscando seu braço no meu.

— Ela nunca tentou me matar.

— Não seja por isso, eu posso tentar dessa vez e ter êxito. — Abro um
sorrisinho assassino para o mesmo. Se ele soubesse o quanto me seguro
para não quebrar sua cara, só estou esperando a oportunidade certa.

— Tira logo ela daqui, Bastien, por mais que gostaríamos que Storm
fizesse algo a Jones, ele é o capitão do time. — A voz de Santiago é
acompanhada por risadas.

— Até o próximo treino, rapazes. — Aceno em despedida, caminhando ao


lado de Bastien.

— Não sei como a treinadora ainda não criou algum tipo de lei para te
manter distante daqui. — Dá risada.

— Aí vou ter que assistir o time de futebol e você sabe que Bela tentaria
arrancar minha cabeça. — Lohan para abruptamente, o encaro sem entender.
— O que foi? Parece que viu a melhor coisa da sua vida.

— Nada — Diz, com um sorrisinho bobo no rosto. — Parece que acabei


de ter uma epifania, como se algo, finalmente fizesse sentido.

— Voltou a ler aqueles livros de poemas? — O mesmo me dá um tapinha,


então sigo sua linha de visão e olho Audrey, sentada em um banco, afastada
dos outros alunos. Sem o namorado ao lado ou suas amigas, ela parece
solitária. — Está olhando Evans?

— Ela parece deprimida, como se algo estivesse errado. — Seu olhar se


torna terno.

— Você sabe que ela tem namorado, certo? — Arqueio a sobrancelha. —


Não que eu veja você como algum tipo de pegador de casadas.

— Não falei que a quero desse jeito, só estou comentando o óbvio.


Mesmo que todo mundo não pareça perceber.

— Você acabou de falar que teve algum tipo de epifania, pelo jeito só em
vê-la. Acabou de se apaixonar por ela, Bastien — Dou tapinhas em seu peito,
o fazendo rir, mas sem tirar os olhos dela.

— O fardo de ser a única no grupo que não irá se apaixonar é exaustivo,


mas eu aguento.

— Como sabe que não irá se apaixonar? Eu amaria ver sua cara de
pamonha apaixonada.

— Amor são para pessoas que tem algo a perder, eu não tenho nada a
perder — Dou de ombros — É sério que você acabou de sugerir que eu
ficaria com cara de pamonha apaixonada?

— Storm Brassard, espero que o destino te surpreenda. Agora, vamos


logo. — Me puxa em direção ao estacionamento, mas ele olha por cima do
ombro pela última vez.

Tento não fazer nenhum comentário besta e apenas corro em direção à


minha moto, beijo a mesma antes de me sentar e ligá-la.

— Acho que você já está apaixonada e é por essa moto — Tenho que
concordar com a cabeça. — Aliás, o que houve com a outra?

— Teve um probleminha, mas tudo certo — A sinto ronronar em resposta.


— Aliás, quais os planos para hoje?

— É uma surpresa, esteja preparada às nove. — Concordo com a


cabeça.
Saio rasgando para fora do campus, minha próxima aula será daqui uma
hora, ainda tenho um tempo para passar em casa.

Dou uma última olhada por cima do ombro e vejo Audrey dando risada ao
lado do seu namorado, que resolveu aparecer.

Tem alguma coisa por trás de toda essa fachada de garota popular que se
paga de padrão, mas isso não é do meu interesse, assim como tem dias que
eu só coloco um sorriso falso no rosto e apareço perto dos meus amigos,
como se nada tivesse acontecido. Eu não poderia julgá-la por fazer o mesmo.

Prendo meu cabelo em um coque frouxo enquanto espero por Bastien, que
está uns bons dez minutos atrasado. Passo a mão pelo couro da minha
jaqueta, tive que pegar a reserva já que ontem à noite sujei a minha outra.

Faço uma careta ao me lembrar daquele jantar, Jace me fez ficar com cara
de idiota e depois acha que pode fazer algum tipo de joguinho comigo, vamos
ver só.

— Custa você sorrir? Está olhando carrancuda para o nada. — Lohan


surge ao meu lado.

— Custa você chegar na hora? — Reviro os olhos, oferecendo um dos


capacetes. — Ainda não me falou para onde vamos.

— Calma, vou passando as coordenadas. — Se senta atrás de mim.

Meia hora depois, estou estacionando em frente há um estabelecimento de


tiro ao alvo, no meio do nada. O lugar nem parece pertencer a Beverly Hills,
mas todo lugar tem sua parte perigosa até o estado mais rico do país que é a
Califórnia.

Desço da minha moto e deixo o alarme ligado por precaução, Lohan já tinha
me levado em lugares piores então isso é quase nada.

— Finalmente você vai deixar eu ter uma arma em minhas mãos, isso é
tão excitante. — Não consigo conter o entusiasmo em minha voz.

Meus melhores amigos têm uma regra bizarra sobre não deixar coisas
afiadas ou perigosas em minhas mãos, não sei porquê.

— Já sei que irei me arrepender disso depois. — Caminha para dentro do


lugar e vou logo atrás.

Apesar da fachada está quase caindo aos pedaços e a porta que entramos
ser toda enferrujada, por dentro é completamente diferente. Entramos por um
corredor escuro, iluminado por luzes vermelhas e paredes com desenhos
estranhos.

No lugar principal, as paredes são pretas e com luzes, alguns sofás de


couro dispostos em um canto para quem quiser esperar sua vez e na frente o
local para fazer os disparos. Só tem três cabines ocupadas já que é terça e
algumas pessoas devem estar trabalhando ou em casa.

Lohan vai falar com um cara que parece trabalhar aqui e logo depois o
mesmo volta com dois fones contra som, consigo sentir a excitação
fervilhando dentro de mim. Mas tudo desmorona quando pelo corredor que
entramos, Jace, Phineas e Santiago aparecem.

Não reclamo pelos dois últimos, mas sim pelo primeiro que ao colocar os
olhos em mim, fecha a cara e só posso fazer o mesmo.

— Que porra ele faz aqui? — Aponto para Jace que vai com os caras até
o homem que entregou os fones para Lohan.

— Você tem algum problema com ele? — Revira os olhos. — Porque isso
ainda me surpreende.

— Olá, gente — Phineas abre um sorriso amigável, mas cheio de medo —


Eu ainda não acho que seja uma boa ideia dar uma arma na mão de Storm. A
chica3 já é perigosa sem uma.
( 3 - garota)

— Como se eu fosse capaz de dar um tiro em vocês.

— Mas nele, pelo jeito você é capaz — Santiago aponta para Jace e nem
percebo que estávamos nos olhando de cara feia. — Que porra de história há
entre vocês dois?

— Achava que Lohan ou Phineas fossem os fofoqueiros daqui. — Jace


resmunga.

— Não seja por isso. — Os dois respondem em uníssono.

— Vamos logo fazer isso. — Digo, pegando o fone de Lohan e


caminhando até uma cabine vaga.

Quando estou pronta para atirar com a arma em minha mão e os fones
em meu ouvidos, uma série de tiros ecoa ao meu lado, acertando o meu alvo
em cheio.

— Imaginou que era eu no lugar? — Pergunto para Jace, que tem um


pequeno sorriso nos lábios. Atiro então em seu alvo como resposta.

— Isso está ficando estranho. — Ouço Phineas murmurando,


possivelmente para Santiago.

— Me imaginou ali? — Um sorriso felino surge em seus lábios grossos. —


Tudo na cabeça? O mundo ficaria triste em ver meu rosto ferido.

— Ou ficaria agradecido. — Me viro para meu alvo, acertando os últimos


tiros onde seria o coração.

— Que tal fazermos uma aposta? — Jace tem minha atenção.

— Não sei se apostar com Storm seja uma boa ideia. — Lohan aconselha.

— E quem disse que apostar comigo também é? — Volta sua atenção


novamente para mim. — Quem acerta a cabeça de olhos fechados ganha
algo de seu agrado e quem perder se vê na mão do ganhador. Fechado?

— Já posso sentir o gosto da vitória — Digo, cantarolando. — Vamos lá.


— Espera — Olho para Santiago que está pegando seu celular. — Agora
podem ir.

— Vou me certificar que vocês estão de olhos fechados.

— Eu não jogo sujo — Jace se defende.

— Oh! Pois eu jogo. — Abro um sorrisinho malicioso, fechando meus


olhos.

— Ambos de olhos fechados, podem ir. — No segundo, que Lohan termina


de falar, os tiros são disparados.

Quando nossas balas acabam, abrimos os olhos e ambos os alvos estão


cheios de tiros na cabeça, nenhum em outro lugar.

— Vocês não falaram nada em caso de empate. — Phineas avisa.

— Sugiro ambos pedirem algo que quer e se o outro não colaborar, pagar
por isso. — Concordo com Santiago.

— Pode começar, Elsa. — Abro um sorriso na menção da princesa do


gelo com cabelos platinados.

— Deixa eu pensar, vampirinha — Um sorriso surge em seus lábios. —


Você vai ter que me elogiar por uma semana inteira e caso descumpra isso,
quero que apareça no treino apenas de biquíni, segurando um pavão com
uma placa dizendo: “ Achei minha verdadeira alma gêmea.”

— Sempre querendo inflar seu ego — Reviro os olhos. — Está bem, você
vai ter que pagar pelo meu almoço durante uma semana, em qualquer lugar
que eu quiser e caso não pague, quero ver você usando apenas fio dental em
um dos treinos. Fio dental acompanhado por aquelas fantasias sexuais.

— Querendo ver como fico em suas fantasias, querida? — Diz,


ronronando.

— Eu diria pesadelos, querido.

— Que comecem os jogos. — Diz Santiago, divertindo-se com a situação.


Capítulo 06 - Meu tipo?
“Eu nunca confio em um narcisista, mas eles me amam
Então eu os manipulo como um violino
E eu pareço tão fácil
Porque cada mentira que conto a eles, eles me contam três."
— I Did Something Bad - Taylor Swift.
Já são cinco dias de aposta entre mim e Jace, cinco dias que estou
enlouquecendo mais que o normal. O mesmo me faz elogiá-lo nas horas mais
impróprias, como na frente da turma inteira, falando como sua bunda ficava
linda em uma calça, mas eu também não estou aliviando, escolhendo os
restaurantes mais caros, mesmo que eu continuasse com fome depois de
comer aquelas mini comidas.
Um pouco infantil? Talvez, mas é a vida.

Vou caminhando em direção à minha próxima aula, ao ouvir alguém me


chamando. Ergo minha cabeça e encontro Nathaniel vindo até mim, eu estou
ficando com ele tem algumas semanas ou são meses?

Nathan é um ruivo fofo, do tipo alto e magro, mas ainda sim com músculos,
vantagens que ele abaixa a cabeça para qualquer coisa que eu pedir e ele
tem esse brilho no olhar.

— Hey — Abre um sorriso doce, que mostra suas covinhas. — A gente


iria se ver ontem.

Merda, eu esqueci completamente disso. Sério, eu tinha marcado para sair


com ele? Ah! Foi logo depois dele me beijar atrás do ginásio.

— Tive um compromisso de última hora. — Dou de ombros.


— Tudo bem, podemos nos ver daqui a pouco na biblioteca? — Seus
olhos castanhos claros se tornam mais ternos. Ele é fofo? Bastante, mas às
vezes me irrita como ele parece um filhote de cachorro, tão doce.

— Nath, acho melhor não termos mais nada — Tombo minha cabeça para
o lado. — É o melhor.

— O melhor para quem?

— Para nós dois, nos divertimos e era isso que queríamos desde o
começo. — Seus olhos passam de suaves para raivosos. O cachorrinho dócil
mostrou suas garrinhas.

— Estamos saindo há um mês.

— Sério?

— Você é mesmo isso tudo que falam, ainda achei que gostasse de mim.
— Bufa.

— Calma, não falamos nada sobre sentimentos e não aja como inocente.
Você ficou comigo um dia depois de ter terminado seu namoro, quanta
consideração com sua ex — Debocho. — Não venha se sentir um pobre
coitado, desde o começo estabelecemos que era apenas alguns amassos.

— Storm, você merece toda essa fama que te puseram como quebradora
de corações. Deveria ter ouvido os outros caras no momento que me falaram
que você é uma cobra. — Sai andando, me fazendo dar risada enquanto o
vejo se afastar.

— Pobre rapaz, teve seu coração partido. — Me virei em minhas botas,


dando de cara com outro idiota. Eu tenho um imã para esse tipo, só pode.

— Quer confortá-lo? Eu posso dar um empurrãozinho. — Jace revira os


olhos.

— Como os caras ainda caem em seu papo?

— Eu nunca prometi que gostava de ninguém, mas todos eles acham que
podem me mudar. Fazer o que os outros não fizeram — Dou de ombros. —
Homem sendo homem.
— Talvez eles não estejam fazendo um bom trabalho. — Abre um sorriso
malicioso.

— E você que vai fazer? — Arqueio a sobrancelha, cética.

— Não, amor, eu estou longe de encostar minha boca na sua — Diz,


puxando uma mecha do meu cabelo e enroscando em seu dedo. — Você não
faz meu tipo.

— Oh! Você acabou de partir meu coração, conseguiu fazer o que nenhum
outro fez — Dou risada com um ar de deboche. — Quero entender o que te
faz pensar que você possa ser o meu tipo.

— E não sou? — Faz beicinho. — Acho que alguém não está cumprindo
sua parte na aposta.

— Sempre querendo aumentar seu ego — Retirei sua mão do meu


cabelo, passando minha unha sobre seu peito, por cima da camiseta branca.
— Jace Ludovicih, tão gostoso para pessoas sem algum tipo de cérebro.

— Tão maldosa, vampirinha — Distancio-me do mesmo e ele dá risada.


— No final da semana, vamos ver quem vai está aparecendo no treino com
um pavão.

— Vamos ver — Me viro e volto a entrar no meu prédio de aula, só então


percebo que alguns alunos estão parados me vendo falar com Jace — O
show acabou, fuxiqueiros.

Relaxo ao sair da minha aula, depois de duas horas incessantes ouvindo


sobre leis judiciais, erros e acertos de um advogado na área penal, meus
músculos estão até tensos.

Pego meu celular no bolso da jaqueta, me surpreendendo ao ver


abarrotado de mensagens. Normalmente, tem mais mensagens de Phineas,
Lohan ou Bela, mas são de várias pessoas diferentes, meu nome está mais
uma vez entre os assuntos mais comentados das redes sociais da
universidade, logo ao lado dos nomes de Jace e Nathaniel.

Merda. Eles inventaram que eu tinha traído Nathaniel com Jace, como se
trai alguém que você nem sequer namorou? O idiota com olhos de cachorro
abandonado, realmente conseguiu sair como vítima e mais uma vez, a mulher
saindo como vilã da história.
Já arrumaram tanta história com meu nome que eu posso escrever uma
fanfic imensa. Quanto mais falam de mim, menos eu me importo e não
suporto viver mais com seres humanos.

Desde o começo tínhamos estabelecido o que queríamos e agora ele é a


vítima? Como que isso virou para esse lado?

— Ei, já viu? — Bela aparece ao meu lado.

— Claro que eu já vi, fizeram questão de marcar meu perfil. Esse povo
não estuda para ficar arrumando tempo de inventar essas coisas? Porque eu
tenho muito o que fazer, do que perder meu tempo em inventar fofocas na
internet.

— Não sei como você ainda continua ficando com os caras daqui.

— A carne é fraca, amiga — Dou de ombros. — Tirando Bastien e


Phineas, todos os homens desta universidade pertencem ao mesmo saco.

— Até Jace? — Abre um sorriso malicioso.

— Que merda Lohan te falou? — Minha melhor amiga dá risada.

— Foi o Phineas — Reviro os olhos a menção do Rodriguez. — Ele falou


sobre a aposta de vocês e todo o clima no estande de tiro, pena que eu
estava abarrotada de matérias.

— Clima de ódio? Único sentimento que consigo sentir por aquele babaca,
aliás a oposta está ocorrendo muito bem.

— Se no final das contas vocês se pegarem, eu vou rir — Reviro os olhos


mais uma vez, Bela me abraça em resposta. — Agora, me diga, vai no último
treino do meu time?

— Acha que vou perder o treino da minha garota? Também não perderia
as tretas dos garotos do gelo e do campo.

— Todos, no fundo, sabem que o futebol americano é mais importante


aqui. Fazer o que, se a Califórnia é o estado do calor. — Dou risada com o
comentário.
Fico batendo meus pés uns nos outros, enquanto verifico o horário, o
babaca não vai aparecer mesmo? Sério? Bom para mim, ele que vai passar
vergonha.

O espero por mais dois minutos e adentro na lanchonete, alguns alunos


me olham com curiosidade.

Pago meu almoço já que não tem nenhum imbecil para fazer isso e vou
embora da lanchonete, o sol quente beija meu rosto e engulo um gemido de
satisfação. Caminho até o outro lado da rua e vou em direção ao campus, os
alunos parecem interessados mais do que o normal quando me vêem passar.

Com certeza, é sobre o assunto de ontem ou qualquer último assunto que


tenham inventado. Meu nome roda bastante na boca desse povo.

Ergo minha cabeça, indo até Bela que está sentada em um canto com
Lohan, ambos jogados embaixo de uma árvore.

— O babaca veio para o treino? — Coloco uma garfada de salada na


boca, depois de me sentar na frente deles.

— Tem muitos babacas no time, seja mais específica. — Lohan acende


seu cigarro.

— Não sabe que ultimamente ela só fala do Jace Ludovicih, quem mais
seria? — Jogo um tomate em Bela, que o pega com a boca.

— Não, ele não veio. Acho que rolou algum assunto familiar, mas Audrey
veio. — Indica para a mesma no outro lado do campus.

— Hm...— Resmungo, entre algumas garfadas.


Meus amigos ficam falando entre si enquanto mantenho meu foco na
comida, nem prestando muita atenção. Fico repassando o conteúdo da minha
próxima aula na cabeça e pensando sobre o fato de Jace não ter aparecido,
mas não tem porque pensar nele além da aposta que temos.

Depois da minha última aula, subo na minha moto e vou em direção ao meu
compromisso, três vezes — deveria aumentar para quatro — na semana.

— Senhorita Brassard? — Volto minha atenção para senhora Bastos,


minha terapeuta.

— Hm… Sim? — Ajeitei-me na poltrona de couro verde.

— Me diga, Storm, o que está te aborrecendo, ao ponto de você nem


sequer estar prestando atenção em mim?

— Além de toda minha vida me aborrecer? — Solto uma risada sem


graça. — Meu pai noivou com Alisson.

— Alisson é sua melhor amiga, certo? — Verifica em seu caderno, mas


nem precisava. Senhora Bastos me acompanha desde os meus dez anos,
essa mulher sabe cada coisa da minha vida, menos uma. O ponto do meu
iceberg, o que eu não consigo tocar no assunto sem querer vomitar.

— Ex-melhor amiga — A corrijo. — E pelo jeito minha nova madrasta.

— Quem te decepcionou mais, ela ou ele?

— Ela — Digo, sem pensar duas vezes. — Eu espero coisas desse tipo
do meu pai, sempre esperei, mas dela… Alisson me traiu e de uma maneira
nojenta.

— Por que não falamos o que te levou a não confiar mais em seu pai?

— Eu não sei se quero — Respirei fundo. — Você sabe o que me levou a


isso.

— Mas nunca vi isso saindo da sua boca e você que é minha paciente.
Storm, eu te acompanho há quase treze anos e nunca entramos no assunto
que mudou você, mudou sua vida.
— É só que… entrar nesse assunto é abrir uma ferida que eu não estou
preparada para reviver. — Olho para minhas botas que parecem mais
interessantes do que enfrentar minha terapeuta.

— Por hoje ainda não vamos entrar nesse assunto — Anota algo em seu
caderninho, como eu odeio aquela coisa. Senhora Bastos já passou de uns
vinte cadernos desde que nós conhecemos, uma vida problemática mais
coisas para anotar.
— Ainda anda de moto para extravasar a raiva?

— Sim, isso ou dançar balé. — Não entro no assunto que eu danço até
fazer feridas em meus pés para ver se a dor diminui, talvez eu seja medicada
novamente e não quero ter que tomar aqueles remédios como anos atrás.

— Oh! Isso é bom, só queria ver se algo tinha mudado. Mas lembre- se
de não exigir muito, tem que se cuidar apesar de tudo.

Verifico a hora no relógio de teto, o único objeto colorido no espaço


monocromático. Todas as cores combinam entre si e aquele relógio é o único
que não parece fazer parte do local, é como eu me sinto às vezes.

Destoada do restante das pessoas, um ponto preto no meio do mundo


colorido.

— Nosso horário já terminou, espero te ver na...— Não deixo que ela
termine, saindo porta afora.

Apoio minhas mãos nos joelhos, quando estou do lado de fora — na rua —
e respiro fundo, meu estômago se embrulha um pouco. Meus olhos pinicam,
mas não deixo nem uma lágrima sequer rolar.

Essa foi uma das sessões mais calmas que eu já tive, então por que eu
me sinto assim? Porque a menção de ter que tocar naquele assunto
novamente, faz dores antigas voltarem com tudo. Eu nunca mais fui a mesma
desde aquele dia e minha terapeuta sabe disso.

Ter que manter meu mundo controlado é difícil porque é uma missão falha
dia após dia, ter que garantir que meu pai não irá ferrar com mais ninguém,
também toma muito de mim.

Mas eu não posso controlar o que o mundo nos reserva, muito menos as
atitudes que meu pai irá tomar.
Caleb Brassard já foi alguém com a possibilidade de amar, mas hoje em
dia, não. Hoje em dia eu duvido se ele me ama, mas não é como se eu
pudesse julgá-lo.

Nem eu também acho que posso amar mais alguém, me escondi tanto
dentro de mim mesma, que me abrir para outra pessoa novamente seria meu
pesadelo.

Eu e Caleb fomos quebrados pela mesma pessoa e sem expectativas


para o amor porque sabemos o que alguém pode fazer com a nossa vida.

Se colocarmos nosso amor e confiança em suas mãos, ela irá nos


destruir, ao ponto de jamais confiarmos totalmente em alguém da mesma
forma novamente.

E é isso que evitamos a todo custo.


Capítulo 07 - Aposta paga
“Vamos apenas fingir que acreditamos e rir
As palavras que ignoram seu coração
Por causa dessas pequenas coisas
Seu precioso dia não precisa ser transformado num dia ruim”
— Awkward Silence - Stray Kids.

Verifiquei meu celular mais de uma vez para garantir que não tem nenhuma
novidade, fico tentado a pegar um voo e ir correndo para casa. Casa, será
que Moscou é mesmo meu lar? A pessoa que mais amo está lá e eu não
posso ajudá-la porque posso colocar tudo em risco novamente, então é lá que
fica meu lar.

Isso que eu mereço depois de toda merda que eu causei, ninguém mandou
ser um imbecil após ter sido traído pela própria família. Cerro meus dentes
de raiva, me lembrar disso só faz todo meu corpo borbulhar de ódio.

Me jogo no sofá, encarando esse apartamento tão vazio, eu preciso


encontrar algum colega de quarto. Antes que toda essa solidão me consome,
talvez fosse uma boa ideia dividir com alguém do time.

Conheço os horários da outra pessoa e vou saber com quem estou me


metendo, eu também só tenho como o mais próximo de amigos, meus
colegas de time. Eu não posso considerar as poucas crianças que tive
convívio a treze anos atrás, boa parte deve nem se lembrar de mim.

Ainda acho que foi uma decisão difícil ter ido embora da Rússia, eu tinha
alguém que me amava e se importava comigo, no começo eu até tive amigos
leais. Mas tudo desmoronou naquele dia e só foi desandando mais ainda com
minhas atitudes.

Agora minha casa — ou o mais próximo disso — é novamente em Beverly


Hills, mesmo que uma parte minha fique na Rússia com minha única família.

Acordo às cinco da manhã com aquela sensação de não conseguir ficar


parado, correndo por todo meu corpo e me deixando inquieto.
Eu tinha capotado na cama com o celular em mãos, não tive mais notícias,
então para aliviar o estresse sei que a única maneira será correr um pouco.

Coloco uma roupa de corrida e saio para a rua quando o sol começa a
nascer, fico alguns instantes admirando o céu até começar minha maratona.
Sinto meus pulmões pegando fogo aos poucos, mas me concentro na dor que
cada passo trás.

A cidade é menos movimentada essa hora da manhã e não tenho tempo


para admirar todo o luxo ao meu redor, eu só continuo correndo até estar
encharcado de suor.

Volto para meu apartamento um pouco mais aliviado, a preocupação ainda


está lá, mas eu conseguirei continuar meu dia. Tomo um banho e visto minhas
roupas para mais um dia na universidade.

Chego um pouco atrasado e corro até minha aula, então a risada de


alguém me faz empacar no lugar. Solto um arquejo de surpresa ao ver quem
está sorrindo, Storm? Eu nem sequer sabia que ela é capaz de rir ou fazer
qualquer coisa sem ser assustadora.

Seu riso é um pouco sombrio, alguém realmente não ria muito.

— Cara, você não quer se envolver nessa. — Ethon surge ao meu lado.
De onde ele saiu?

— Me envolver em que? — Ele aponta para Storm com seus amigos. —


Você acha que quero Storm? Oh! Cara, não mesmo.

— Faz bem, por mais que Storm seja incrível, aquela mulher é para fazer
qualquer um sentir que tortura é algo agradável. — Dou risada com o
comentário.

— Ainda bem que o sadomasoquismo nunca me foi tão atraente. — Ethon


também riu.

— Talvez, mas metade do time já se apaixonou ou teve uma queda por


Storm Brassard e a outra metade, teve parentes apaixonados pela mesma.
Eu não te julgaria caso você caísse em suas gracinhas.

— Tão bom ver alguém que não me conhece muito bem, achar que logo
eu iria cair em um papinho furado, ainda mais de uma mulher como Storm.

— Se você diz — Dá de ombros. — Mas, não é você que escolhe Storm,


é ela que te escolhe.

— Isso não é um pouco demais? Posso até entender, mas isso tudo para
defini-la?

— Pelo pouco que você já conheceu dela, sabe que não é alguém para se
brincar, não se você quer sair inteiro e eu já vi homens chorando por ela.
Homens grandes, Ludovicih.

— Ainda acho meio exagerado, porém não precisa se preocupar. Eu estou


longe de me envolver com Storm — Dou de ombros e ajeito meu livro
embaixo do braço. — E se tem alguém que pode bater de frente com ela, sou
eu.

— Essa batalha pode se tornar épica. Agora vamos.


Enquanto entro no prédio, sinto alguém me olhando e quando me viro para
ver quem é, encontro Storm com um sorrisinho nos lábios. Ela acena com
deboche e volta a prestar atenção em algo que sua amiga fala. Essa mulher...

Estou a caminho do ginásio depois da minha última aula, ao prestar


atenção em alguns alunos cochichando sobre mim. Eu já sei sobre o que é,
não consegui vir na aula ontem mas soube que eu tinha me tornado o pivô de
uma separação. Graças a um certo mexicano e sua boca grande, que me
contou tudo.

Como se eu tivesse pegado Storm enquanto ela “namorava” o ruivo da


biblioteca. Sério, o que faz esse povo achar que eu pegaria alguém que
namora e esse alguém seria Storm? Mas eu conheço as fofocas muito bem,
as pessoas não gostam da verdade, apenas gostam de algo escandaloso.
Algo que pode fazer elas inventarem mais finais para a fofoca e nenhum deles
é verdadeiro.

— Nosso bebê apareceu — Phineas me cumprimenta quando chego no


vestiário. — Nah, eu sou o bebê do grupo.

— Ludovicih, soube que ficou metido em fofoca. Seja bem-vindo a


faculdade de L.A — Santiago dá dois tapinhas no meu ombro.

— Eu até achei que seria algo pior — Ethon comentar. — Mas essa não é
a primeira vez que Storm está envolvida em algo do tipo.

— E nem será a última. — Santiago complementar.

— Não preciso anunciar que isso é uma mentira — Faço uma careta. —
Mas espera, Storm já traiu alguém?

— Não, mas o povo do campus acha interessante envolvê-la em assuntos


desse tipo, como se não estudassem e só tomassem conta da vida dela.
Bando de idiotas. — Lohan comenta de mau humor.

— Falando na bendita. — Storm surge no final do corredor. Com um


sorrisinho nos lábios, ela vem desfilando em minha direção e para bem na
minha frente.

— Para você — Estica uma bolsa e a pego, abrindo e dando de cara com
o conteúdo contido ali. — Você não apareceu ontem, com isso não fez sua
parte da aposta.
— Espera, Jace vai ter que usar fantasia de oncinha? Meu Deus, eu amo
essa faculdade. — Phineas gargalha.

— Certo — Abro um sorriso malicioso que Storm não consegue entender.


— Se eu não cumpri minha parte, você também não cumpriu a sua.

— C-Como? — Pisca sem entender. Aí Storm, acabei de pegar você.

— Não ouvi nenhum elogio ontem direcionado à mim. — Meu sorriso


aumenta com a carranca no rosto dela.

— Mas você não veio ontem, como eu iria te elogiar?

— Ligando. — Dou de ombros.

— Eu não tenho seu número e nem o quero. — Diz, entre os dentes


semicerrados.

— Nenhum de nós dois cumpriu, então ambos devem fazer a prenda.

— Storm, ele pegou você. — Lohan murmura.

— Me dê trinta minutos para fazer o pavão e o biquíni chegarem aqui. —


Me afasto de Storm com a mesma de queixo caído.

Tiro aquela merda da minha bunda pela décima vez em trinta minutos.
Sério, como as pessoas conseguem usar aquilo sem está com a mão na
bunda sempre? O fio dental estava cravado em mim e tive que fazer um
esforço para esconder meu amigão debaixo, mas Storm tinha tudo em mente.

Junto com o fio dental, tem uma mini saia que tampa a minha parte da
frente e deixa tudo à mostra na parte de trás. A pestinha é uma gênia
diabólica.
Ainda tem umas malditas orelhinhas de oncinha na minha cabeça, eu só
me recuso a colocar aquele rabo.

Tudo isso vale a pena com Storm pagando sua parte também, eu realmente
consegui tudo que precisava e agora a mesma está se vestindo em um dos
corredores vazios. Os caras tinham saído depois de eu ter quase socado
cada um para que pudesse colocar essa fantasia humilhante.

Eu daria um prêmio para cada pessoa que consegue usar isso.


— Vamos lá, vampirinha, quero acabar logo com isso. — Resmungo de
saco cheio.

Ouço o som do bicho grasnando e me viro para ver Storm no fim do


corredor, merda. Eu não esperava vê-la assim.

O biquíni que eu arranjei tem meu rosto em cada um dos seus seios fartos,
tenho que engolir a seco quando meu olhar vai para parte de baixo. É meu
nome ali em letras grandes.

E cada maldita parte do seu corpo está à mostra, tudinho. Meu olhar se
encontra com o de Storm, eu consigo ver algo ali, misturado com ódio puro e
também desconforto.

— An...— Dou uma tossida falsa. — Se você quiser, podemos encontrar


algo para tampar isso… — Aponto para seu corpo magnífico.

Desde quando a palavra magnífico passou a ser usada com Storm?

Eu com certeza não pensei nas consequências dessa aposta.

— O meu corpo? — Abraça o pavão contra si, o bicho parece ter se


acalmado. Obrigada ao mordomo da minha mãe por ter trago. — Pode falar
a palavra, não irá te matar.

— É, seu corpo. Podemos lhe colocar um casaco.

— Eu não sou uma covarde, Elsa — Dá de ombros, restando apenas o


ódio mútuo em seu olhar. — Não é como se ninguém tivesse me visto assim
ou até nua.

— Certeza? — Eu realmente não quero deixá-la desconfortável.

— Tenho, vamos lá, oncinha. — Dá um tapa na minha bunda quando


passa por mim.

— Você se esqueceu disso. — Dou a plaquinha de almas gêmeas para a


mesma e ela coloca em seu pescoço.

Por alguns minutos eu esqueço completamente dos meus problemas


graças a Storm e foco na vergonha que iremos passar agora. Juntos.
Será uma imagem a ser apreciada, um cara com fantasia de oncinha com
suas bolas quase à mostra e uma mulher de biquíni com simplesmente um
pavão nos braços.

— Aliás, eu realmente acho que vocês são almas gêmeas. — Storm revira
os olhos e então, entramos no gelo.
Capítulo 08 - Me recuso
“Eu digo a mim mesma pra fugir de você
Mas eu me percebo atraída ao meu dilema
Meu dilema: É você, é você.”
— My Dilemma - Selena Gomez.

No segundo, que o vi naquela fantasia ridícula, tive que me controlar para


esganar Jace ou lamber seu abdômen… Ei, ei, o que é isso? Ele é patético,
mas irresistível também, minha mente me lembra.
Todos os seus músculos à mostra e seu amigão lá de baixo quase dando um
olá.

Eu com certeza não pensei nas consequências que podia me trazer e uma
delas é achar ele atraente. Meu Deus, o cara é insuportável, é uma ousadia
eu pensar nele dessa forma.

Aliás, eu já vi muitos corpos por aí, Jace não será o último.

Quando saímos para a pista de gelo, todos meus pelos se eriçam, assim,
como os bicos do meu peito endurecem com o frio. Argh! Tem aquele biquíni
horrendo com seu rosto ainda.

Aperto o pavão contra mim para tentar aplacar o frio, todos os olhares se
voltam para nós e depois de um silêncio bizarro, todos caem na gargalhada.
Se eu tivesse no lugar deles, eu também estaria rindo, mas estou ocupada
sendo o motivo da vergonha.
Como eu odeio ser motivo de risadas, era para eu estar rindo de Jace. Ele
realmente me pegou nessa boa jogada, Ludovicih.

— Que porra é essa? — Tia Mindy diz entre gargalhadas.

Os caras dão mais risada ainda e Phineas chega cair no chão de tanto rir,
me viro para olhar Jace que está cerrando os dentes e me olhando com raiva.

— Qual foi? Eu também estou passando vergonha. — Reviro os olhos.


Tudo parece girar em torno dele, idiota.

— Eu consigo ver as bolas do Jace daqui. — Phineas rir ainda mais.

— Awn! Você fica fofo ruborizado — Ludovicih me encara com ódio mútuo
com suas bochechas vermelhas de vergonha. — Não é tão durão quanto
tenta parecer, só uma fachada.

— Está bem, acabou. Eu preciso continuar com meu treino e vai logo,
Ludovicih, você já faltou ao treino de ontem. — A treinadora seca as lágrimas
de divertimento em seus olhos.

— Eu preciso tirar uma foto com Storm assim. — Fuzilo meu melhor amigo
com o olhar.

Viro-me de costas, voltando para o vestiário com Jace ao meu reboque.


Coloco o animal no chão que corre pelo lugar vazio.

— Eu nunca mais aposto com você. — Jace tira a calcinha da bunda.


Resolvo não declarar que eu comprei um tamanho menor de propósito.

— Eu sei que no fundo você amou usar essa roupa. — Cruzo os braços.

— Diz a pessoa que amou ter meu rosto em uma parte do seu corpo. —
Um sorriso sujo aparece em seus lábios.

— Imaginando isso, Ludovicih? Alguém parece estar bastante atraído por


mim.

— Você poderia ser a última mulher na terra, Brassard, e mesmo assim


eu ainda não iria me sentir atraído.
— Tente mentir isso mais vezes na frente do espelho depois de beijar seus
bíceps, mas não vou esquecer da forma que seus olhos ficaram quando me
olharam. — O deixo para voltar até o corredor vazio.

A luxúria que percorreu os olhos de Jace no momento que ele me olhou, foi
a mesma que eu senti ao percorrer seu corpo com meu olhar. A diferença é
que ele não tinha visto o desejo estampado em meus olhos e nunca mais o
verá.
Eu me recuso a sentir qualquer tipo de desejo por Jace Ludovicih.

Sinto vontade de tapar meus ouvidos com o barulho da multidão, isso nem
ao menos é um jogo de verdade. Apenas o último treino do ano, que encerra
a temporada de futebol para focar na de hóquei.

Pelo jeito meus colegas de faculdade não entendem isso porque estão
eufóricos quando o time entra em campo. Consigo enxergar Bela de longe, a
mesma parece se destoar de todo o time e nem é por ser a única mulher em
campo, seu olhar é mais voraz e cheio de concentração.

— Perdi alguma coisa? — Lohan ajeita o boné na sua cabeça, se


sentando no lugar vago ao meu lado.

— Esse boné escondeu super sua identidade.

— Todo filme da Marvel eles usam boné e óculos escuros para se


esconderem — Dá de ombros. — Eu só não achei os óculos.

— Não é como se alguns dos jogadores te olhassem na arquibancada e


vinhessem arrumar briga.

— Eu não duvidaria, estou aqui por Bela também — Se ajeita no banco


desconfortável. — Você sabe como esses caras nos odeiam.
— Sendo que tem espaço para qualquer esporte no campus. — Reviro os
olhos com a rivalidade ridícula.

Me pergunto como esse campus seria se a universidade tivesse mesmo


incrementado o beisebol como na Universidade de San Diego, já basta a briga
de atenção entre esses dois esportes aqui, ainda é dividido durante o ano
quais meses são os campeonatos de cada um. Enquanto os jogadores de
hóquei estariam jogando, os de futebol estariam descansando e vice-versa.

O jogo começa depois das líderes de torcida fazerem sua coreografia, me


fazendo lembrar dos meus tempos como cheerleader. Audrey continua
comandando o grupo com um sorriso no rosto, mas o olhar duro.

— Pode imaginar que um dia foi você o topo daquela pirâmide? — Segura
a risada e lhe dou um beliscão.

— Sabemos como eu era ótima. — Dou de ombros.

Tento me concentrar na Bela que formou um time com alguns jogadores e


o outro time é do capitão, um carinha insuportável que minha amiga não
gosta.

Ao fim do jogo, o time do capitão ganha por uma diferença de dois pontos.
Aguardo Bela na saída, ao lado de Lohan, nossa amiga sai do vestiário com
uma expressão de raiva em seu belo rosto.

— Como eu queria enfiar aquela bola na bunda dele. — Resmunga,


enquanto vamos em direção ao carro de Lohan.

— Pietro? — Nem precisava perguntar, com certeza é Pietro, o capitão do


time. O cara que não sai do pé de Bela desde que ela chegou porque estão
concorrendo ao mesmo cargo.

— Quem mais seria? A arrogância dele me mata. — Revira os olhos.

— Não cite arrogância, você sabe como alguém aqui se sentirá ofendida
— Lohan indica discretamente para mim e lhe dou um soco. — Ok, ok.
Calma, vamos agora para a lanchonete no píer, os caras estão nos
esperando.

— Eu devia ficar com meus colegas de equipe, eles estão fazendo uma
festa de encerramento.
— Nós vamos para lá depois da lanchonete. — Lohan explica.

— Você quer boa parte dos jogadores de hóquei em uma festa do time de
futebol? Isso é uma missão suicida.

— Eu gosto do perigo. — Lohan dá de ombros.

— Diz a pessoa que estava se escondendo com um boné. — Resmungo.


Capítulo 09 - Atraída por ele?
"Você é tudo o que eu antecipei
Mostre-me o que você tem
Garota, você me estimulou
Tocando todos esses pontos.”
— You Again - Garrickson e Qole.

Adentrei na lanchonete com o cheiro de água salgada invadindo o local, que


é bem ao lado do píer de Santa Mônica.

Vou em direção às escadas que ficam no canto lateral, levando até o


segundo andar, onde Phineas me falou que eles estariam.

O andar de cima é reformado em comparação ao local de baixo que tem


uma decoração mais familiar, aqui, já parece um bar com paredes pretas e
brancas, luzes coloridas no teto e uma música de festa tocando como plano
de fundo. Uma série de sofás de couro são dispostos pelo espaço e vejo o
pequeno grupo na última mesa, caminho até eles e não me surpreendo ao ver
Storm ali.

A mesma parece fazer mais parte do time que qualquer um.

— Não me falaram que o imbecil viria. — Resmunga.


— Mas ele já faz parte da nossa grande família, chica — Phineas comenta
com um sorriso no rosto, me sento ao seu lado que é bem em frente a Storm.
— Não liga para Stor, ela está de mau humor depois do que vocês fizeram
mais cedo.

— E quando ela não está de mau humor? — Storm me fuzila com o olhar.

— Oh meu Deus! Você deve ser o Jace, que passou vergonha ao lado de
Storm. Prazer, sou a Bela. — A mulher ao lado de Storm abre um sorriso
doce, que faz seus olhos verdes brilharem.

Puta merda, ela é linda de uma forma tão suave em contraste com Storm,
que parece tão bruta. Bela tem cabelos de um castanho claro e olhos de um
verde escuro, algumas sardas em sua bochecha que a deixam mais linda.

Então me lembro do seu rosto do site da universidade, Bela faz parte do


time de futebol americano, chegou de Washington há pouco tempo.

— Pare de encará-la. — Volto minha atenção para sua amiga carrancuda.

— Bela, você se sente incomodada se eu te encarar? — A mesma negou


com um sorrisinho nos lábios.

— Nem um pouco, gosto bastante. — Um sorriso malicioso surgiu em


meus lábios.

— Ela não liga, então por que você está ligando, vampirinha? — Storm
range os dentes.

— Vampirinha? — Bela exclama.

— É o apelido que ele me deu. Não é, Elsa?

— Isso acabou de virar algum confronto entre Disney e Crepúsculo. —


Phineas murmura.

— Espera, você já viu Crepúsculo? — Santiago pergunta.

— Por que eu não assistiria? É um clássico.

Minha atenção é direcionada para Storm novamente, que parece tentada a


arrancar os meus olhos, só para eu não olhar para sua melhor amiga. Pelo
jeito alguém quer me manter distante de Bela, interessante.

— Sabe, eu acho o que Storm está sentindo é ciúmes. — Ethon comenta


e a mesma revira os olhos.

— Ciúmes? Dele? Ethon, você me conhece? — Debocha. — Eu ainda


tenho lucidez.

— Sério? Não parece — Ela me fuzila com o olhar novamente. — Doida


para me matar.

— E seria com prazer. — Cerrar os dentes.

— Parece até preliminares. — Phineas comenta e todos concordam.

— Eca. — Storm faz uma careta.

— Sabem que podem se pegar mesmo se odiando, né? — Bastien olha


para mim e para Storm, ao mesmo tempo. — Aliás, por que vocês se odeiam
mesmo? Foi antes da aposta isso.

— Ele me fez sofrer um acidente. — Storm aponta o dedo para mim,


como uma criança que dedura alguém por fazer besteira.

— Porque você estava pilotando feito uma maluca, eu poderia ter morrido.
— Apontei de volta.

— Você estragou a Docinho. — Exclamou, visivelmente irritada.

— Por conta da imprudência da motoqueira.

— Você é um babaca pretensioso, né? — Arqueia a sobrancelha.

— Oh! Sério? Diz a pessoa que também é.

— Ele me fez sofrer um outro acidente, envolvendo lama e um pavão.

— A gente sempre volta para o pavão. — Ouço um dos caras murmurar,


mas nem percebo quem.

— Você deveria ter caído no lago.


— Pode ter certeza que eu teria te puxado para ir junto. — Diz entre os
dentes semicerrados.

— Não precisa de mais motivos para não gostarmos um do outro — Dou


de ombros. — O santo não bateu e não preciso de uma maluca resmungando
em meu ouvido.

— Imbecil prepotente. — Acusa.

— Então, tudo isso por que ele...— Bela aponta o dedo para mim. — Fez
você sofrer dois acidentes?

— Não diz como se não fosse grande coisa, eu poderia ter me


machucado, quebrado um braço ou uma perna. Ainda tem a merda da aposta
que ele me fez perder.

— Storm Brassard sendo dramática? Vivendo por todos esses anos para
ver isso. — Santiago não tem medo do perigo, Storm está tentada a enforcá-
lo e ele sabe disso.

— Deixa eu arranhar um dos seus tacos preferidos, aí você vai sentir o


que estou falando.

— Ok, ela tem um ponto.

— Ela poderia ter me atropelado ou coisa pior.

— Storm anda como se fosse voar mesmo.

— Era para você estar do meu lado, Lohan — Seu amigo dá de ombros.
— O ponto é: ele é um imbecil que me fez tomar um prejuízo, também toda
sua arrogância me dá nojo e ele é egocêntrico.

— Que engraçado, você acabou de se descrever. — A mesma joga uma


batata em Phineas.

— Ele não mentiu. — Ethon murmura.

— Vocês são uns idiotas mesmo.

— Não vamos esquecer do fato que eu te socorri, te levei para meu


apartamento no dia do acidente. — Meus colegas de time dão risada, como
se fossem crianças do maternal.

— Você a levou para seu apartamento? Isso começou a ficar mais


interessante. — O olhar de Santiago vai entre mim e Storm, como se
estivesse assistindo a um filme.

— Eu tive meus bons modos.

— Bons modos? Eu achei que você estivesse me envenenando. — Pontua


com ódio na voz.

— Por que eu iria te envenenar? — Retruquei. — Se bem que o mundo


agradeceria.

— Eu não sei. Um estranho me faz sofrer um acidente, depois me levar


até seu apartamento e ele me acorda oferecendo água e remédio — Bufou
de tédio. — Nossa, eu nem deveria desconfiar.

— Sou um filho da puta, mas um filho da puta com modos. Minha avó me
deu educação.

— Que você deve ter esquecido no seu...— A interrompo.

— Deveria ter deixado você na estrada ou se afogado naquele lago.

— Oh! Deveria mesmo.

— Quanto tempo vocês acham que eles irão se pegar? — Phineas


pergunta, inocentemente.

— Uma semana, isso é muita tensão sexual. — Santiago, assobia.

— Eu não suporto olhar para cara dele, como se acha que um dia irei
pega-lo?

— Você beija de olho aberto? — Phineas pergunta e todos na mesa —


menos eu e Storm — caem na gargalhada.

— Não iremos se pegar, pode anotar isso. — Digo, confiante.

— Como vocês tem tanta certeza que não irão ficar? — Bela, pergunta.
— Além do fato que eu não me sinto atraída por ele? — Revira os olhos.
— Não cheguei ao ponto de ficar com alguém por necessidade.

O papo acaba quando uma garçonete chega para anotar nossos pedidos,
peço uma porção de salada mais um hambúrguer. Phineas e Storm são os
últimos a pedir.

— Eu quero dois hambúrgueres de cheddar, uma coca gelada, um


milkshake e duas batatas. — Phineas abre um sorriso para a garçonete.

— Chega amanhã quase morrendo porque comeu besteira. — Ethon dá


um tapa na cabeça de Phineas.

— A morte nunca pareceu tão tentadora.Comida é melhor que sexo,


entendam. — Dá de ombros.

— Acho que você está dormindo com as pessoas erradas então. — Storm
lhe lança uma piscadinha.

— Nem venha, esse charme todo de trevosa e partidora de corações não


cola comigo, diabla4. — Faz o sinal de oração.
( 4 - diaba)

— Sério, PhinPhin? — Se estica na mesa e passa sua unha pelo rosto de


Phineas, o mesmo fica vermelho que nem um tomate. — Algumas pessoas
adoraram brincar com o inimigo.

— Sua diaba que fica tentando as pessoas. — Tenta se esconder atrás de


mim, me fazendo dar risada.

— Eu tenho um dom. — Storm recolheu sua mão.

Todos comem em silêncio até os caras trazerem o assunto da aposta de


mais cedo, eu e Storm ficamos de cara fechada enquanto eles riem.

— Eu não acredito que quase vi as bolas de Jace. — Phineas faz uma


careta.

— Eu não acredito que vi a lendária Storm Brassard de biquíni com o


rosto de um homem que ela nem sequer gosta, hembra. — Santiago recebe
um olhar fulminante de Storm. Sério, eu acho que ela vai matá-lo.
— Eu espero que você não tenha me xingado. — Storm rosna, como um
pinscher raivoso.

— Calma, quer dizer mulher na Colômbia — Santiago dá de ombros —


Sabe que nunca te xingaria.

— Sério, onde você conseguiu biquinis personalizados com seu rosto? —


Bela, pergunta entre gargalhadas.

— É um segredo. — Lhe lancei uma piscadinha.

— Argh! — Storm revira os olhos.

— O que foi, amor? — Digo, ronronando.

— Eu sei o que você está fazendo. — Resmunga, colocando uma batata


frita na boca.

— Com certeza, você sabe. — Meu sorriso se amplia na direção de Bela.

— Se não se sente atraída por ele, então você não se importaria se eu


saísse com Jace, né? — Todos na mesa param para encarar as duas. Bela
com certeza está tentando um joguinho aqui, mas Storm tem total ciência
disso.

— Só sentiria pena de você — Encara a amiga com atenção. — E não


tente brincar comigo, Bela, eu sei o que você quis fazer e eu simplesmente
não me importo. Assim como você não se importaria se eu saísse com Pietro,
logo o capitão que você odeia.

As orelhas de Bela ficam vermelhas, Storm consegue tocar no assunto que


ela não gosta. Oh! Isso está ficando divertido.

— Também sentiria só pena de você.

— Certo, então saia com Jace que eu me divirto com Pietro. — Diz de
braços cruzados, sabendo que ganhou essa.

— Eu sei que não sairia com alguém que eu odeio.

— Assim como eu sei que você não faria o mesmo — Abre um sorrisinho.
— Não mexa comigo novamente.
Capítulo 10 - Calafrios
“ Eu vejo o que você fez
Você acha que está feliz estando entorpecido
Porque você não chora. ”
— Why Don’t Ya - Alex Clare.

— Ainda acho isso uma péssima ideia. — Bela comenta, no segundo que
paramos em frente a casa de Pietro.

— Considerando que Storm já brigou com boa parte do time, com certeza
é uma péssima ideia. — Dou uma cotovelada em Lohan.

— Vai ser bom beber às custas desses otários. — Santiago estala os


dedos.

— Se eles não nos expulsarem antes — Phineas murmura, se escondendo


atrás de Santiago. — Qualquer coisa me protejo atrás de Santi.

— Eu ainda me pergunto como somos melhores amigos. — Diz, revirando


os olhos.

— Não finja que não me ama, ursão. — Dou risada com os dois e volto
minha atenção para a casa.

Várias pessoas bêbadas se encontram no gramado e sinto um arrepio


percorrer meu corpo. Eu odeio reuniões ou muitas pessoas agrupadas assim,
ainda mais sendo um bando de alunos.
Prefiro o silêncio da minha casa, mas como eu já estou aqui, o negócio é
aproveitar.

— Eles odeiam todo o time de hóquei. — Bela adverte.

— Ainda bem que não faço parte do time. — Saio andando em direção a
porta e o pessoal vem atrás a reboque. Mesmo se não quiséssemos, seria
meio impossível não chamar atenção.

Os olhares de todos vão em nossa direção e eles se dividem em surpresa


ou raiva. Oh! Com certeza, essa noite não vai acabar bem.

— Eu tenho a ligeira impressão que ninguém aqui gosta de você — Jace


murmurar. — Ainda bem que não sou o único.

— O que te fez perceber? As caras feias dos jogadores ou os sussurros


das namoradas deles? — Ergo meus olhos para o encarar. — E eu também
não gosto de você, mas já sabe disso.

Os caras somem da minha vista ao entrarmos na casa, Bela se perde entre


seus colegas de equipe e permaneço ao lado de Lohan e Jace, o último saiu
em seguida para buscar bebidas.

Encarei a pista de dança improvisada na sala de jantar, faço questão de me


juntar aos corpos suados e bêbados.
Dançar é uma das coisas que deixam minha alma um pouco
mais leve e me faz esquecer do mundo à minha volta, me lembra das
minhas aulas de balé e meus tempos de cheerleader.

Fico mexendo meus quadris, de acordo com as batidas da música, e


mesmo de olhos fechados eu ainda posso sentir os olhares em cima de mim.
É uma tática que adquiri a muito tempo atrás, quando comecei a chamar
muita atenção para mim.

— O que você faz aqui? — Abro meus olhos para o tom de voz de Audrey.
— Você não faz mais parte das líderes de torcida e não é mais bem-vinda
pelo time.

— Só porque alguns caras se magoaram — Dou de ombros. — Vai me


expulsar por conta disso, Evans?
— Sabe que não é só por isso — Diz enquanto remexe na pulseira
dourada em seu pulso. — Mas se essa festa fosse minha, eu a expulsaria
porque você saiu do time por conta própria, quase destruiu toda equipe.

— Se eu não tivesse saído, você não teria seu lugar de destaque agora.

— Como se você ou qualquer outro fosse melhor do que eu, sabemos que
eu tenho meu brilho próprio, querida — Abre um sorriso afiado. — Só não
arrume confusão, está bem? Você fez isso por tempo o bastante nas
torcedoras, queremos só curtir que agora estamos de folga disso tudo por
algum tempo.

— Não sei como você aguenta ainda está na frente disso, não me leve a
mal. Eu amo aquelas garotas — Apontei para as outras líderes que dançam
na pista. — Mas é exaustivo.

— Alguns nascem com o dom de governar e outros apenas recebem


ordens, é a hierarquia da vida — Dá de ombros. — Faço parte desde o
ensino médio, não seria agora que eu sairia, já estou acostumada com a
exaustão. — Abre um sorriso frio, mas eu sei ver por cima da sua máscara
de cadela. Audrey Evans estava longe de está bem.

— É, talvez eu tenha saído por exaustão, nem todos tem o dom de Audrey
Evans — Faço uma varredura pelo local, não o vendo — Will não veio?

A resposta é óbvia: Sim, por isso ela está mais leve.


— Não é como se os caras quisessem alguém do hóquei por perto —
Seus olhos encontram alguém atrás de mim. — Trouxe ele?

— Eu trouxe quase todo o time. — Digo cantarolando, Audrey arregala os


olhos.

— Perdi Jace de vista — meu melhor amigo para ao meu lado e seu olhar
encontra o de Audrey. — Plaisir, ma belle5.
(5 - Prazer, minha bela)

— Plaisir — Abre um sorriso torto para meu melhor amigo. — Vocês


conhecem meu primo? Ah, esqueci que ele é do time.

— A Barbie e o Ken tem suas semelhanças. — Audrey revira os olhos.


— Ser comparada com a Barbie não é um insulto, seja mais criativa,
Brassard. — Me lança uma piscadela.

— Não tem necessidade alguma de ofender você, Audrey.

— Não tente pagar de santa.

— Oh! Nunca — Abro um sorrisinho. — Não tenho problemas com você,


Evans, por mais que pense ao contrário.

— Ei, vamos dançar. — Milly, a saltadora das líderes, me puxa para mais
próxima das colegas de equipe. Pelo jeito só Audrey guardou rancor com
minha saída.

Participar das torcedoras foi legal por um tempo, até se tornar exaustivo. Ir
atrás do time em qualquer jogo, consumia muito do meu tempo, mesmo que
eu gostasse de gravar as coreografias.
Nunca fui amiga de Evans, falávamos por conta dos ensaios e dela está a
frente do grupo, então nunca a conheci direito.

Observo-o quando Lohan puxa Audrey pela mão e a faz girar, meus olhos
se arregalaram ao ouvir Audrey gargalhando com o gesto. Eu nunca nem
sequer vi ela gargalhar, não ao lado de Will.

— Bastien e Evans? Por essa ninguém esperava. — As garotas


comentaram.

— Não se esqueça que Audrey tem namorado e acho difícil do Lohan


querer alguém daqui. — Milly dá de ombros. Já tinha até esquecido que ela
teve uma queda por ele, como boa parte da universidade.

Meu melhor amigo é conhecido por ficar com ninguém do campus, eu não
faço ideia do motivo. Então, por ter esse jeito "difícil" de se conquistar, boa
parte das alunas se interessam por ele.

E quem sou eu para julgar? Quase dois metros de altura, olhos de um


castanho escuro e cabelos da mesma cor, Lohan ainda é tatuado nos dois
braços e não tenta esconder isso, o sotaque francês é o bônus.

As garotas voltam a dançar e as acompanho, sinto uma mão me puxar


contra um corpo e bato em uma parede de músculos sólidos. As garotas se
entreolharam com a pessoa que me puxou, me desloquei do seu aperto com
facilidade e encarei JJ, o Running Back6 do time de futebol.
(6 - posição no futebol americano)

— Eu acho melhor você ficar distante de mim, antes que eu quebre a


porra do seu nariz. — Rosnei.

O silêncio recai pela sala no mesmo instante. Bando de fofoqueiros.

— Qual foi, Storm? Não sou inteligente o bastante para você? — Se


aproxima uma polegada e consigo sentir o hálito de álcool em sua boca.

— JJ, deixa ela. — Ouço uma das garotas avisar.

JJ não ouve e me pega mais uma vez pela cintura sem minha permissão.
Os caras bêbados chegam a ser mais nojentos do que sóbrios.

— Eu sei que você sempre me quis, Storm, ficava dançando enquanto me


olhava.

— Em que mundo eu te olhava? — Meu sangue ferve com sua mão ainda
em mim.

Dou um empurrão em JJ, encarando seu rosto estúpido, estico meu punho
para lhe bater, mas o babaca com reflexo super rápido se abaixa no último
segundo e o rosto de outra pessoa encontra o meu punho.

Tudo parece ocorrer em câmera lenta e ao perceber, é Jace que está com
seu nariz sangrando enquanto JJ encara de mim para o mesmo.

— Olha o que você me fez fazer. — Dessa vez agarrei JJ pelo ombro, lhe
dando um chute na sua virilha, ele cai de joelhos no chão.

— Porra. — Jace murmurou com o nariz torto.

— O que você estava fazendo atrás dele? — Reviro os olhos e pulo por
cima do corpo caído de JJ. — Olha o estado do seu nariz, Ludovicih.

— Sério? Eu nem tinha reparado — Debocha, mas me aproximo melhor


para ver o ferimento. Sangue jorra do seu nariz, me fazendo controlar a
careta. — Não ria.
— Você está muito nojento para que eu possa rir.

— Essa é a melhor hora para sairmos daqui. — Lohan surge ao nosso


lado e me afasto de Jace em um pulo, meu amigo indica para a saída e
vamos logo atrás.

Sinto os olhares de ódio do time em cima de nós e olho para trás, para
ver alguns jogadores levantando o idiota. Ninguém mandou ele encostar em
mim.

— O que aconteceu lá dentro? — Phineas vem nos seguindo com os


outros caras.

— Storm socou alguém, nenhuma novidade sob esse sol. — Ethon,


comentou.

— Nenhuma novidade também ela ter socado Jace, ainda acho que
demorou para acontecer.

— Calem a porra da boca. — Jace resmunga.

Faço uma careta para a blusa de Jace encharcada de sangue, seu nariz
estar mesmo torto e pelo jeito que ele me encara, eu sei que alguém não está
muito feliz.

— Alguém me lembra de nunca ficar na direção de um soco seu — Rasga


um pedaço da sua camisa e coloca sobre o nariz. — Essa merda está
doendo.

— O que a esperteza em pessoa foi fazer atrás de JJ? Você é mais burro
do que eu imaginava. Não era para isso ter acontecido, eu iria dá um jeito
naquele assediador. — Reviro os olhos, o que faz Jace cerrar os dentes.

— Burro? Diz a pessoa que sai socando as pessoas.

— Ele estava me agarrando.

— Eu sei disso e apareci para socá-lo — A declaração faz todo mundo


ficar calado. — O que foi? Eu não iria ver um cara assediando uma mulher e
não fazer nada, mesmo que eu não goste de Storm, ainda tenho caráter.

— Eles vão se casar, certeza. — Phineas bate palmas.


— Ok, cara, precisamos te levar ao hospital. Seu nariz está quebrado,
não dá para dar um jeito apenas o segurando com um pano. — Lohan
comentou.

— Graças a Deus, que vocês estão aqui — Bela aparece ofegante ao


nosso lado. Suas bochechas estão vermelhas e seus olhos arregalados, abro
um sorriso malicioso pelo o que ela poderia estar fazendo. — E já ouvi de
alguns caras que você aleijou JJ.

— Aonde você estava? — Digo, arqueando minhas sobrancelhas, minha


amiga gagueja antes de responder.

— Na área de cima — Dá de ombros. — Agora, pode me dizer como


Ludovicih ficou com o nariz sangrando?

— O idiota resolveu surgir atrás de JJ, quando fui ver seu colega de time
estava se abaixando e a Elsa surgiu na minha frente.

— Sabia que JJ era um idiota, mereceu o alejamento.

— Vamos levá-lo logo para o hospital. — Ethon ajuda Jace a entrar no


carro, enquanto isso arrasto Lohan até um canto.

— Eu não vou levá-lo para o hospital. — Tento esconder o medo da minha


voz.

— Claro que você vai, você fez isso. — Aponta para Jace no banco do
carona do seu SVU.

— Eu não tenho culpa se a Elsa é um idiota que surge nas horas


inesperadas. — Minha voz soa fria, escondendo os tremores. Eu estou
mesmo ficando boa nisso, Lohan nem ao menos percebeu, acho que ele está
tão transtornado que nem percebe para onde está sugerindo que eu vá.

— Você vai levá-lo em meu carro e eu vou na sua moto, não confio em
você para nós seguir — Estende a chave do seu carro. — Ele precisa de
ajuda.

— Eu não vou levá-lo — Digo, cruzando os braços e Lohan revira os


olhos, enfiando a mão no meu bolso e puxando a chave da moto. — Ei.
— Agora você vai logo, o sangue está escorrendo no chão do meu carro e
não vai ser eu a pagar para lavar. — Coloca sua chave na minha mão e me
empurra em direção ao seu veículo.

Quando entro no carro, verifico pelo espelho retrovisor Jace lamentando


enquanto Bela segura o pano em seu nariz e Santiago faz de tudo para não
rir.

— Acho que você está mais preocupada com sua moto. — Ethon diz, no
banco ao meu lado.

Não respondo e dou mais uma olhada em Lohan dando partida na minha
moto com Phineas na garupa e murmuro mentalmente, que se ele fizesse algo
com minha bebê, eu o matava.

Estacionei em frente ao hospital; Santiago, Bela e Ethon levam Jace até o


pronto socorro. Penso por uns dez segundos se é mesmo uma boa ideia,
então decidi segui-los.

— O que ocorreu, Jace? — Uma enfermeira pergunta com bastante


familiaridade. Merda, ela o conhecia por doutor Durand. Eu tinha que o trazer
justo para aqui?

Com tantos hospitais por aí, tinha que ser justo esse?

— Só um acidente, mas acho que foi nada demais, Poppy. — Tira o pano
encharcado de sangue e Poppy faz uma careta. Também faço uma careta ao
ver que por baixo do sangue está ficando roxo.

— Você quebrou o nariz, temos que fazer um raio-x para analisar melhor.

— Achei vocês — Lohan aparece ao lado de Phineas. — Ele quebrou


mesmo?

— Quebrou, sim. — Poppy responde.

— Que porra você faz aqui, Jace Ludovicih? — Faço uma careta ao ver o
doutor Durand, o mesmo me olha com intensidade antes de voltar a encarar
seu filho. — O que foi isso?

— Pessoal, esse é meu pai — Apontou para doutor Durand. — Ocorreu


um acidente. — Explica em seguida.
— Desde quando um nariz quebrado é um acidente? Você se meteu em
brigas de novo, garoto? — Os dentes de Ludovicih rangem com o comentário.

— Não. — Jace me encara e sei que ele não falará nada, muito menos eu.

— Então que porra foi isso? Não se quebra um nariz tão facilmente, e de
acordo com suas merdas do ano passado...— Encaro Jace com curiosidade
e ele apenas dá de ombros.

Seu rosto está coberto pelo sangue e tento não olhar para o chão que
também está vermelho, o nó que se forma na minha garganta me faz cerrar
os punhos ao lado do corpo. Eu preciso sair daqui. Agora. Mas alguma merda
me prende no lugar, então apenas olho para minha bota, mas eu ainda tenho
aquela sensação incômoda em meu âmago.

— Acho melhor vocês saírem, eles precisam ver o nariz do meu filho —
Doutor Durand diz ríspido, me lançando um último olhar — que faz meu corpo
se eriçar — antes de voltar sua atenção para o filho.

Olho mais uma vez para Jace, tentando não olhar para seu pai que parece
está me analisando e isso me faz querer vomitar.
— Vamos está na sala de espera. — Murmurei, me virando para sair dali.

Me sento na cadeira desconfortável, encarando o chão branco, o cheiro


familiar está impregnado e sei que quando eu chegar em casa, precisarei
colocar todas minhas roupas para lavar e tomar um banho demorado.
Eu sei que nem isso vai fazer a sensação daquele cheiro, daquele lugar, ir
embora.

— Storm, você está pálida. — Bela pontua e sei que eu estou mesmo. Me
odeio por demonstrar isso.

— Não é nada. — Respondi com a voz rouca.

— Certeza? — Phineas, murmura.

— Jace pediu para avisar que podem ir embora, o seu pai irá o levar para
casa. — Poppy abre um sorriso simpático ao aparecer em nossa frente.

— Ele vai ficar bem? — Pergunto, a senhora de meia idade abre um


sorriso maior para mim. Que porra, não tinha nada para ser feliz aqui.
— Vai sim, ele pediu para não se preocuparem.

Não deixo que ela fale mais nada, correndo até a saída, o restante do
pessoal vem logo depois.

Respiro o ar puro da noite e me repúdio mentalmente por ter quase dado


um treco lá dentro. Eu não posso ficar assim, não na presença dos meus
amigos, eles não precisam saber dessas coisas, ninguém precisa.
Eu posso carregar isso tudo sozinha, como sempre fiz.

Porra! Eu sou Storm Brassard, não fico pálida por pensamentos do


passado ou… Me agacho para vomitar no chão, Lohan corre para segurar
meu cabelo enquanto Bela passa a mão no meu braço.

Verifico que os outros garotos não estão vendo essa cena humilhante,
menos três então.

— Eu estou bem. — Limpo minha boca com a mão, me afastando do


toque deles.

Meus amigos me encaram com preocupação e tenho vontade de vomitar


novamente, mas não irei desmoronar. Não na presença deles e em frente há
esse lugar assombroso.

— O que houve? — Lohan pergunta, preocupação pinga da sua voz.

— Eu já estava um pouco enjoada, não foi nada.

— Certo — Bela murmura, sem acreditar. — Tem certeza que vai ficar
bem indo sozinha?

— Com certeza.

— Não vai vomitar de novo? — Lohan estende as chaves da minha moto e


lhe dou a chave do seu carro.

— Não. — Minha resposta soou ríspida.

— Ok...— Diz desconfiado, entendimento brilha em seus olhos. — Storm,


eu...
— Agora, podem se espremer em seu carro porque não irei levar
ninguém.

— Qual foi, Storm? — Santiago escolheu esse momento para se


aproximar. — Eu mal vou caber ao lado deles.

— Desde quando isso é problema meu? — Subo em minha moto. —


Tchau.

— Tome cuidado, má chérie — Lohan abre um sorriso terno e concordo


com a cabeça. — Me ligue ao chegar em casa.

Tento não pensar em Jace sozinho naquele hospital, cerro os punhos ao


lado do corpo e as lembranças vem com tudo em minha mente, mas não
deixo elas me consumirem e acelero para longe.

Não consigo ir embora, as lembranças esmagam minha alma, me fazendo


pensar em Ludovicih. Viro com a moto, voltando para o hospital, antes de
entrar verifico que meus amigos foram embora.

A enfermeira Poppy está distraída na recepção, aproveito para passar por


alguns parentes de pacientes e ir até a área do pronto socorro. O vejo por
uma brecha na cortina que dá privacidade ao local, Jace está sentado na
cama, sendo preparado pelos enfermeiros enquanto seu pai observa a tudo.

Tento não pensar muito em como isso é apavorante, mas ele parece calmo,
tirando o fato que lança olhares de ódio na direção do pai. Meu olhar então
vai para senhor Durand, o babaca parece tudo, menos preocupado com o
filho.

Dou uma última olhada em Jace, bem no momento que ele ergue a cabeça
para onde estou. Me viro rapidamente, saindo logo dali.
Já foi uma brecha minha ter vindo verificá-lo, sendo que eu nem gosto do
cara, ele ainda tinha que me ver? Merda.

Vou até minha moto, dando uma última olhada no hospital, os calafrios
percorrem pelo meu corpo e meu coração está descontrolado no peito,
preciso sair logo daqui antes que eu coloque tudo para fora de novo.

Subo na minha moto e dessa vez não olho para trás, com medo de que
meus demônios pessoais tivessem me seguindo, mas eu sei que eles estão
atrás de mim, como sempre estiveram.
Capítulo 11 - Nosso showzinho
“Esses garotos ficam irritados
Porque eu não vou tolerar isso
Se você quer uma vida doce
Então aja de acordo.”
—Boys Ain’t Shit - Saygrace.

Coloco uma mão no joelho enquanto a outra segura o taco de hóquei com
força, ergo minha cabeça e vejo Nico no mesmo estado. A treinadora não
poupou ninguém no treino de hoje, depois de trinta voltas na quadra, ainda
tivemos que praticar gols e defesas.

Agora tínhamos acabado de fazer uma partida e o resultado foi bom, mas
para a treinadora ainda tem muito em que melhorar.

O primeiro campeonato está a caminho e ano passado a Universidade não


ganhou o Frozen Four, nem sequer chegou às finais, esse ano, precisamos
ganhar e todos do time sabem disso, então temos um peso em dobro nos
ombros. Precisamos fazer de tudo para conseguir passar para os playoffs e
não desapontar toda a faculdade.

Ainda tem os caras que se inscreveram no draft, eu consigo perceber a


tensão em Santiago já que esse é seu último ano e ele precisa ser aceito em
algum time da NHL, antes que fosse tarde demais para seu sonho e ele é
fantástico no gelo, acredito que em breve possa ser escalado.
Prefiro guardar para mim que eu já fui procurado no primeiro ano, mas
ainda não sei se quero seguir o caminho como jogador profissional.
Independente da minha decisão, meus pais não vão aceitar, mas eu não
espero nada diferente vindo deles.
Para destruir meus sonhos e minha vida, eles são bem capazes disso.

— Encerrado o treino de hoje, espero vocês amanhã. — A treinadora


assobia em seu apito e todo mundo resmunga em comemoração.

Eu preciso de um banho de gelo ao chegar em casa para diminuir alguns


roxos e doloridos do meu corpo. Isso é o hóquei, temos que saber que a
qualquer momento iremos levar uma porrada e continuar jogando, sem se
importar. Ou acabar por responder a porrada, então isso daria brigas infinitas
no gelo, o que é algo bastante normal nos jogos.

No primeiro ano, na minha antiga faculdade, tive um dente perdido ao me


meter em uma dessas brigas. Não me lembro o que o jogador adversário
tinha me falado, só sei que acabou com ele me dando um soco na boca e eu
lhe dando um soco no nariz, um jogo bastante saudável.

— Eu não sinto minhas pernas ou minha bunda. Alguém pode ver se elas
ainda estão aí. — Rodriguez pergunta e todos dão risada.

— Ninguém vai olhar pra sua bunda, Rodriguez. — Benji, resmunga.

— Vocês são ótimos amigos mesmo — Revira os olhos, massageando


sua bunda. — O que custa ajudar seu amigo? Um companheiro de equipe tão
prestativo como eu.

— Amizades tem limites, verificar a bunda é um desses — É Santiago que


diz. — Aliás, eu te ajudei ontem com o seu tornozelo, se tem alguém
prestativo nessa equipe, sou eu.

— Você? Prestativo? — Ethon, gargalhou. — Se a carreira de jogador não


der certo, tente a de comediante.

— Vou fazer piadas para sua mãe. — Santiago lhe lança uma piscadinha e
Ethon fecha a cara.
— Vocês olharam para o limite e falaram: sem tempo irmão. — Reviro os
olhos, tentando sufocar uma risada.

Eles vão implicando uns aos outros, enquanto caminhamos em direção aos
chuveiros do vestiário. Por mais que boa parte deles joguem juntos desde o
primeiro ano, eu já me sinto da família. Todos eles me acolheram, tirando Will,
mas esse babaca nem ao menos tenta ser hospitaleiro com quem está aqui
há mais tempo.

Chego em um dos chuveiros e tiro toda minha roupa antes de entrar, uma
porta tampa nossos corpos, dando apenas para ver nossas cabeças, então
isso não impede dos caras continuarem com as brincadeiras.

— A bunda do Santiago é tão feia, parece bunda de velha. — Um dos


caras gargalha.

— Então quer dizer que você anda com senhoras? — Retruca e Nico fica
vermelho de vergonha.

— Mom sugar — Phineas, explica. — Só tenha cuidado, a dentadura pode


ficar presa em alguma parte do seu corpo.

— Calem a boca. — Nico sai enrolado em uma toalha, emburrado.

— Como vocês dois viraram amigos? — Eu realmente tenho curiosidade.


Eles são tão diferentes e na metade do tempo, Santiago quer matar Phineas,
mas todo mundo quer matar Phineas.

— Almas gêmeas, meu ursão foi destinado apenas a mim. — Santiago


revira os olhos com o comentário.

— Estudávamos no mesmo colégio interno, bati nele por ele ter feito uma
piada com meu cabelo. Depois disso ele não saiu mais da minha cola, é como
uma praga que não te deixa. — Dou risada.

— Para algumas pessoas, eu sou uma praga bem atraente.

— Seus pais não contam. — Respondi e ele faz beicinho.

Os deixei discutirem entre si sobre as diferentes gírias dos seus países


natais.
Caminho em direção aos armários e não contenho meu bufar quando
Storm se vira para me encarar.

— Já tirou aquela coisa do nariz? Me sinto mal por não ter batido mais
forte. — Diz, cantarolando.

— Se eu te pegar agora e jogá-la no meio da pista, será que alguém vai


se importar? — Abro um sorriso malicioso.

— Duvido você fazer isso.

— Storm, eu acho melhor não. — Um dos jogadores que estava


conversando com a mesma antes de eu atrapalhar, Benji Turner, avisa.

— Vamos ver só se Jace Ludovicih tem coragem. — Abre um sorrisinho


condescendente.

O que Storm não sabe é que eu não volto atrás em um desafio, ainda mais
contra ela. Todos os caras param o que estão fazendo para nos olhar, me
aproximo dela em passos largos e pego seu pequeno corpo com facilidade.

A jogo por cima do meu ombro e começo a andar em direção ao gelo, mas
como nada com Storm é pacifico e se ela fosse assim seria tão sem graça.

Ela começa a dar socos em minha bunda.

— Juro que quando você me colocar no chão, eu vou quebrar seu maldito
nariz pela segunda vez — Os seus socos são mais fortes e ela começa a
beliscar minha carne dura. — Está agindo como um maldito homem das
cavernas.

— Você seria o animal que eu pego para matar? — Isso só faz ela se
remexer mais ainda, tentando descer.

Dou uma olhada para trás e quase todo time está nos seguindo para ver o
que estamos fazendo, todo mundo entretido com nosso showzinho.

Quando chego no gelo, faço o possível para não escorregar, mas é tarde
demais. Eu caio com tudo no chão, Storm vem em seguida, caindo em cima
de mim. Gemo com a dor que percorre pelo meu corpo.
— Seu babaca. — Storm tenta se levantar, mas acaba puxando minha
toalha no processo e caindo novamente em cima de mim.

Ouço a série de risadas que ecoam pelo lugar e evito levantar minha
cabeça para os olhares de divertimento.

— Eu te odeio. — Gemo de dor e frustração.

— É um sentimento recí... — A mesma se perde no que ia falar, olhando


para minha parte de baixo. — Acho que quero ficar cega.

Eu nem a julgo, meu amigão lá de baixo parece triste com o frio de matar
aqui.

— Eu sei, ele ainda impressiona. — Seu olhar encontra o meu e vejo um


lampejo de desejo ali, antes da mesma erguer a cabeça para trás e explodir
em uma série de gargalhadas.

Isso definitivamente não é o que um cara quer ouvir quando alguém vê seu
equipamento de baixo. Puxei a toalha que ainda está em suas mãos,
tampando para o bem do meu ego.

— Pode sair agora? — Resmungo e Storm se levanta, ainda rindo.

Me levanto com meu corpo gritando de dor, me enrolo na toalha novamente


e ergo minha cabeça para meus colegas de equipe, porém não são os
mesmos que eu encontro e sim a treinadora Ferraz de braços cruzados,
batendo o pé.

— Na minha sala. Agora. — A mesma se vira e sai andando.

— Eu juro que vou te matar. — Digo, entre os dentes semicerrados.

— A ideia de tentar me jogar no gelo foi sua, só porque não aguentou um


soquinho meu. — Debocha.

— O que eu fiz para merecer isso? — Olho para o alto, pedindo ajuda. —
Acho que o universo está alucinando.

— Tenho que concordar. — Resmunga.


Me visto no vestiário e os caras se entreolham para não rir, a treinadora
deve ter avisado para ficarem calados.
Vou em direção a sala de Mindy, encontrando Storm sentada em uma das
cadeiras de frente para a mesa da sua tia.
Eu ainda não consigo acreditar que essas duas sejam parentes.

Me sento na cadeira ao lado de Storm e a treinadora nos encara com


irritação.

— Vocês acham que viramos algum tipo de circo? Primeiro, aquela cena
da aposta que eu já fiquei sabendo, agora um dos meus jogadores fica nu
com minha sobrinha jogada em cima do mesmo — Massageia suas têmporas.
— Eu não sei o que está rolando entre vocês dois, mas não quero nada disso
envolvido com o ginásio. Me entenderam?

Ela parece aquelas diretoras malvadas de filme que puxa a orelha dos mais
pequenos, quase tenho vontade de sorrir mas o semblante furioso no rosto da
treinadora me impede disso.

— Sinto muito pela cena que fizemos. — A treinadora concorda com a


cabeça.

— Tirando alguns machucados, eu não sinto muito. Foi engraçado ver o


material de Jace à mostra.

— Então quer dizer que você gostou? — Abro um sorriso malicioso para
a mesma.

— O-O que? — gagueja. Sim, meus amigos, Storm Fodona Brassard


acabou de gaguejar.

— Ai meu Deus, se peguem logo — Ferraz explode, ficando ereta em


seguida. — Ninguém me ouviu falando isso.

— Eu com certeza não queria ouvir isso. — Storm faz uma careta
enquanto se levanta. — A gente se vê na próxima vez, tia.

Vou logo atrás de Storm e acelero os passos para ficar em sua frente.

— Você gostou do que viu. — Ela revira os olhos em resposta, seu


método preferido de resposta.
— Vou ter que andar com um letreiro que diga: “Eu não quero pegar Jace
Ludovicih”? Desencana, Elsa.

— Admitir o fato que sou bem apessoado, não quer dizer que você queira
me pegar. — Cruzo os braços.

— Parece mais um cogumelo grande e mole — Dá risada. — O seu ego


é bem deprimente.

— Eu consigo admitir o fato que você é atraente, mesmo que lembre um


guaxinim. — Storm cerrou os dentes.

— Não tenho mais tempo para perder com você, preciso esquecer a
imagem dolorosa que tive. — Faz uma careta, passando por mim para ir
embora.

Eu realmente não quero nada com Storm e mesmo não gostando nem um
pouco dela, não consigo mentir para o fato que ela é mesmo incrível. Ainda
consigo me lembrar da maneira que aquele vestido preto marcou cada
centímetro do seu corpo antes dela cair no chão.

Mas eu não tenho nada que ficar olhando para ela, Storm continua sendo
Storm. A mulher que me fez passar vergonha, mesmo que bem engraçadas e
também tem o fato que eu não consigo confiar em uma mulher. Não,
novamente.
Capítulo 12 - Esquecer a dor
“Mas ainda estou desaparecendo
Não consigo me salvar
Será que vou me afogar?
Então prendo meu fôlego para respirar
Me machuque para que eu sinta
Eu costumava fazer essas coisas tão facilmente, de alguma forma.”
— Effortlessly - Maddison Beer.

Fico olhando para meu reflexo no espelho, a jaqueta desbotada, as


olheiras aparentes e a pele pálida. Eu ainda me sinto tão fraca por dentro,
como se estivesse prestes a me quebrar novamente. Isso não irá ocorrer,
não se eu puder evitar.

Eu não vou deixar ninguém acabar comigo novamente, chegar no fundo do


poço a qual eu cheguei e arrumei abrigo porque eu não sei mais como voltar
para a superfície.

É sufocante não conseguir viver em minha própria pele, querendo fugir de


mim mesma.
Retiro minha jaqueta e passo os dedos pelas letras gastas de Broken Heart
nas costas da peça, sinto um arrepio percorrer meu corpo — mesmo que
esteja um calor lá fora — ponho a jaqueta novamente e abro um sorrisinho
para meu reflexo cansado.

Aquela jaqueta é a força que eu preciso a cada dia, um lembrete diário do


que pode ocorrer novamente se eu for fraca. É a minha armadura e as armas
são minhas atitudes e palavras.

Saio do apartamento em direção a faculdade, tento não pensar que hoje


tenho mais algum teste, mas a série de trabalhos que passei a madrugada
fazendo.Vida dura da estudante de direito, ainda tenho o estágio que começa
no ano que vem.

Encontro com meus amigos, ao sair da minha primeira aula e os ver no


lugar de sempre.

— Eu soube que alguém viu o amiguinho de Jace ou devo dizer o amigão?


— Bela abre um sorrisinho malicioso.

— Pior imagem da minha vida. — Digo, com uma careta no rosto.

Argh! Me odeio por ter pensando nisso, desde que cheguei no meu
apartamento ontem, a imagem não saiu da minha cabeça e me revirei na
cama a madrugada inteira. Por mais que o equipamento de Jace estivesse
mole, ele ainda era tão… Bela não me deixa terminar os pensamentos,
chamando minha atenção.

— Sua pessoa favorita no mundo chegou. — Minha amiga diz


ironicamente, indicando para Jace que vem em nossa direção.

— Bom dia, Bela — O mesmo abre um sorriso malicioso para minha


amiga e fecha a cara para mim. — Bom dia, Storm.

— Ainda envergonhado, Elsa? Achei que tinha superado essa.

— O assunto repercutiu no grupo do time, os caras ficaram doidos —


Lohan ergue a cabeça do seu trabalho. — Olá, Ludovicih.

— Bastien. — Acena com a cabeça.


— Sabe, Elsa, me diga. O que de horrível você já fez no passado para o
papai não gostar? — Digo, irônica.

— Eu te digo o que fiz no passado, se você me dizer o que significa a


frase na jaqueta. — Ia tentando encostar na mesma, mas dou um tapa na sua
mão.

— Se você tentar encostar novamente nela, eu juro que quebro seu pau.
— Rosno.

— Pela saúde do meu bem precioso, eu passo — Recolheu sua mão. —


Mas não pergunte novamente sobre o meu passado, não quando você não
gosta das perguntas que eu faço.

— E eu digo o mesmo da minha jaqueta.

— Vai ter que entrar na fila para saber a verdade dessa jaqueta, já teve
apostas do que significa por trás da frase Broken Heart, mas ninguém
conseguiu acertar. — Lohan tenta amenizar a situação.

— Eu não duvido que tenham errado. — Jace diz, taciturno.

— Acho que temos uma aula juntos agora, certo? — Jace concorda com a
cabeça. — Tchau, minhas garotas.

— Você está checando ele. — Bela diz, cantarolando.

— Sabe, amiga, o que houve naquela festa do Pietro? — Observo quando


sua respiração se torna acelerada e abro um sorriso com a resposta não dita.

— Além do fato que bateu no Jace? Nada. — Dá de ombros, mentindo


descaradamente.

— Sério? Por que você apareceu toda suada e ofegante? O que houve no
segundo andar daquela casa?

— Eu não sei porque ainda tento te provocar — Diz, ao revirar os olhos.


— Mas seria mais fácil admitir que Jace é bonito, bem bonito mesmo.

— Tem certeza que não quer sair com ele?


— Tenho, sabe que eu só queria te provocar — Joga o cabelo para o alto,
fazendo um rabo de cavalo. — Por que realmente você o odeia? Sei que
odeia mais da metade da população, mas ainda não entendo.

— Além do fato de tudo que ele já me fez passar? Eu não sei, não fui com
a cara dele, algo em Jace não me cheira bem e só quero manter distância.

— Talvez seja o fato que vocês se parecem, você vê a si mesma em Jace


e isso acaba te frustrando.
— Está fumando drogas? Olha, eu diria para ir com cuidado, isso pode
acabar com seu condicionamento físico.

— Vocês praticamente são a versão um do outro em sexo oposto.

— Eu me recuso a ser comparada com aquele homem — Me levanto em


um pulo. — Preciso ir para minha próxima aula.

Assim como o universo, minha melhor amiga deve estar fumando algo
também.
Me comparar com o Jace é algo sem pé e sem cabeça, não temos nada a
ver, certo? Esse negócio de psicologia barata não funciona comigo, eu não
me vejo nele e ponto.

Coloco uma garfada da macarronada em minha boca, reprimindo a careta


de aprovação, tentando não comer tudo de uma vez enquanto observo os
olhares da minha tia na direção do meu pai.

Caleb chamou todos de última hora para esse almoço, já sei o que ele vai
anunciar e estou de camarote para ver as reações de todos.

Não somos tão unidos, apenas nos vemos em almoços uma vez por ano,
mesmo todos eles morando na Califórnia. Tia Mindy tem uma desculpa, já que
morou por anos em Boston, antes de voltar.

Então meu pai sempre foi minha única "família" desde sempre, só falo
algumas vezes com meus tios e a única mais próxima é a Mindy.
— Quer dizer que depois de você fazer um jantar em comemoração,
decidiu finalmente contar para sua família que está noivo? Eu vi tudo na
revista People — Tia Mindy toma um gole do seu vinho e logo completa: —
De novo tendo uma noiva, já foram quantas?

— Vai começar, Mindy? Não temos coisas mais interessantes para falar?

— Achei que esse almoço fosse pra falar do seu noivado com uma
criança. — Aponta com desdém para Alisson.

— Eu sou maior de idade. — Rebate com os dentes trincados.

— Oh! Você só é um ano mais velha que a filha dele, então sim, você é
uma criança ao lado do meu irmão.

— Você não vai falar nada? — Meu pai aponta para a vovó Cherrie, que
permanece concentrada em sua lasanha.

— Achava que você já era bem grandinho para ouvir sua irmã falando
apenas verdades — Vovó dá de ombros. — Isso é um absurdo, Caleb
Brassard, e você sabe disso. Ela...— Aponta para Alisson. — Era melhor
amiga da sua filha, vivia para baixo e para cima com Storm, então você
decide que é uma boa ideia dormir com Alina?

— Alisson. — Diz corrigindo a mesma, vovó apenas abana com as mãos


em indiferença. Não importa para a velha senhora, qual é o nome de Alisson,
vovó também sabe que logo Caleb vai desencanar dessa ideia.

Todos aqui, nessa mesa, já estão acostumados com o troca-troca de


noivas do meu pai, nenhuma conseguiu ser esposa e acho difícil isso
acontecer agora. Só tem uma pessoa que ele cogita se casar novamente e
ela não está mais aqui.

— Mas você já sabe que isso é uma péssima ideia, se quer continuar
fazendo esse papel ridículo com sua família, continue. Eu só estou aqui pela
minha neta e pelo fato de ser boca grátis. — Abro um sorriso cúmplice para
minha avó.
— Mamãe, como a senhora mesma falou, sou bem grandinho e foi uma
boa ideia para mim ficar com Alisson — Pega a mão dela por cima da mesa,
todos enrugam o rosto com o gesto.. — Eu me apaixonei por ela, não
importando para idades.

— Minha zangada, qual foi a mulher com menos idade que seu pai já
namorou? — É meu tio Karlos que pergunta.

— Vinte, foi naquela época que ele começou a usar ternos apertados. —
Meu tio concorda com um sorriso no rosto.

— Você quer que achemos super normal namorar meninas dessa idade?
Só é mais fácil para que você as manipule para ficarem igual a outra, a
primeira de tudo — Arqueou a sobrancelha. — Continua indo para a terapia,
Caleb?

— Continua. — Respondi pelo meu pai.

— Pelo jeito não está adiantando, vamos mandar para um psiquiatra. —


Meu pai fuzila tio Karlos com o olhar.

— Certo, os ânimos estão à flor da pele — Tia Yana levanta as mãos, em


sinal de paz. — Eu não sei porque Caleb nos chamou aqui, quando sabe que
ninguém dessa mesa aprova esse noivado, é insano. Você não é mais um
adolescente, é um pai, empresário com cinquenta anos nas costas, você tem
noção das coisas muito bem.

— Eu tenho quarenta e sete — A corrige, como se só tivesse ouvido ela


falando isso. — Eu só queria anunciar mesmo para vocês, não estou pedindo
aprovação de ninguém.

— Com certeza, você não está. — Digo, cantarolando.

— Eu já estou cansada de todos esses anúncios de noivado, não tenho


mais vestido chique para comprar. — Tia Grace, diz.

— Acho melhor você começar a repetir, não vai fazer muita diferença.
Repete sempre o mesmo noivo, só muda a noiva. — Mindy diz, antes de
enfiar uma garfada do seu almoço na boca.

— Isso é uma falta de respeito com minha atual noiva. — Caleb esbraveja,
mas todos na mesa - tirando ele e Alisson, trocam olhares.
— E cadê o seu respeito ao dormir com a melhor amiga da sua filha? Não
seja hipócrita, Caleb Brassard — tio Walter
o alfineta. — Respeito é uma palavra que nem está em seu vocabulário.

— O respeito ele deve ter esquecido no...— Vovó interrompe Mindy com
um olhar.

— E você, querida? Como anda a faculdade? — Cherrie se vira para mim,


abro um sorriso para sua pele enrugada cheia de botox. Ela não tem mais
expressão alguma para aparentar qualquer idade, menos os seus setenta
anos.

— Bem, ano que vem eu já me formo e pretendo trabalhar como


advogada criminal. — Ela abre um sorriso brilhante.

— Fico feliz por você, seu avô iria amar saber disso. Meu primeiro marido,
é claro. — Dá dois tapinhas na minha mão.

A Vovó já tinha se casado umas cinco vezes, apenas dois filhos são do
mesmo marido, tio Pedro que não se encontra no momento e tia Grace, o
restante são de marido diferentes sendo o meu pai do primeiro esposo.

Cherrie soube aproveitar sua vida muito bem mesmo, já sabemos de quem
meu pai puxou o troca-troca.

— Falando sobre filhos...— Voltamos nossa atenção para meu pai, que
tem um sorriso no rosto, enquanto Alisson parece insegura. — Queremos
anunciar que estamos tentando ter um bebê.

As palavras dessem como ácido em meu estômago e sinto minhas mãos


tremendo embaixo da mesa.

Meu olhos vão do meu pai para Alisson, ela finalmente me encara, mas
percebe meu olhar de ódio e voltar a olhar seu prato.

— Você o quê, Caleb Collalto Brassard? — A vovó é a primeira a falar e


parece quase tão chocada quanto eu.

Eu não estou apenas chocada, estou enojada e com raiva. Alisson só tem
vinte e quatro anos, ela não fez nada que queria ainda, meu pai a converteu
nesta esposa perfeita sem que a mesma pudesse opinar em nada. Que tipo
de monstro ele quer criar?
Um monstro como ela, minha mente me alerta.

— Você não vai fazer isso, chega dessa brincadeira de casinha — Me


levanto em um pulo, o encarando. — Eu aguentei essa merda por um ano, já
chega.

— Você não manda nas minhas decisões, Storm Shine Demetriou


Brassard. — Parece um soco no meu estômago quando ele cita o penúltimo
sobrenome. Ele nunca o usou, não depois de tudo que aconteceu.

— Você não vai ter um filho com ela, não mesmo — Meu olhar então vai
para Alisson. — É melhor você arrumar um jeito de sair daquela mansão
antes do final do mês, antes que eu mesma arrume um jeito de te livrar dessa
loucura. Isso não é vida, Alisson, fuja.

Saio do restaurante com meu corpo tremendo de raiva, ao chegar em


minha moto, consigo ouvir passos atrás de mim e sei que só pode ser ele.

— Você usou o sobrenome. — Murmurei.

— Faz parte do seu nome, não? — Ergo meus olhos para encará-lo. —
Não é assim que você pode falar comigo também, eu sou seu pai.

— Não é assim? E você tem direito de me tratar desse jeito? Eu cansei


dessa merda, aja como pai que eu ajo como filha.

— Eu vou ter uma família com Alisson, isso não é discutível.

— Então é isso? Você sempre volta para esse ponto? Sua tentativa
fracassada de tentar montar uma família novamente? Alisson não é a mamãe
e você sabe disso. — Grito com toda raiva em meu peito.

— Claro que ela não é porque eu a amo, eu amo Alisson. — As mentiras


saem com tanta facilidade da sua boca. A mentira já é algo padrão em sua
vida.

— Você é um narcisista que só pensa em si próprio, o senhor não está


bem, pare com isso. Pare de tentar achar que pode suprir essa necessidade
de construir uma família, trocando de mulher a cada ano, ninguém nunca vai
ser ela. — Minha voz soa rouca.
— E acha que eu não sei? Mas eu estou tentando melhorar, e você,
Storm? Não é porque você não tem a habilidade de amar novamente que eu
vou ser assim também. Eu vou ser feliz ao lado de Alisson, eu vou. Agora,
você? — Abre um sorriso deprimente para mim. — Você não sabe amar,
talvez nunca soube, não entende o que sinto e nunca poderá entender porque
não existe uma gota de esperança em sua vida.

Suas palavras me fazem cambalear para trás, me seguro com força na


moto.

— Eu sei de uma coisa, você não a ama, não mesmo. — Meus olhos
estão pinicando.

— Eu a amo, amo mais que qualquer coisa no mundo. Alisson é o motivo


de eu acordar e querer continuar, não você. Não mesmo, uma filha sem
coração e sem alma. — Grita com toda sua fúria.

Fico encarando a única pessoa que me restou, a única pessoa que deveria
me amar, que deveria me proteger e agora, está ele aqui, dizendo na minha
cara que eu não sou nada em sua vida.
Um tapa teria doído bem menos.

— Você está sozinha, Storm, sozinha. Eu tenho alguém e não vou deixá-la
pela minha filha imatura, que só pensa em si mesma.

— Eu só penso em mim mesma? Quem você acha que vem te


protegendo? Quem você acha que cuida para que você não caia de novo?
Porque eu sei, eu sei o que foi passar aquele tempo sozinha, tentando cuidar
do meu pai quebrado. Eu sei...— Minha voz sai em um fiapo, uma piada até
para mim mesma. Eu pareço uma criança que não consegue confrontar o
próprio pai.

O mesmo dá risada, uma risada fria que ecoa pelo estacionamento e pelo
meu coração.

— Cuidou de mim? Por favor, seja menos infantil — Revira os olhos. —


Me diga, Storm, você sabe o que é o amor ? Por algum acaso sabe?

— Não — Mesmo que meus olhos estejam pinicando, eu não derramo


uma única lágrima sequer. — Eu sempre desconfiei se você me amava
mesmo, mas não. Você não me ama, muito menos Alisson, você só ama a si
mesmo e seu ego imenso.

Me viro e subo na minha moto, sem olhar para Caleb Brassard.

No segundo que chego na estrada movimentada, as lágrimas fazem


pressão para rolar, mas não as deixo derramar. Não, eu não farei isso,
mesmo que por dentro meu coração esteja em frangalhos novamente, eu não
irei chorar.

Já estou acostumada com a dor, já estou acostumada com essa merda


toda, não tem porque chorar. Mesmo assim, sinto os pequenos fragmentos
do meu coração indo embora novamente, restando apenas pó.

Não tem porquê eu continuar com isso tudo, mesmo assim eu continuo,
por mim mesma, pelo meu pai, mesmo agora ele estando cego e em um dos
seus surtos. Eu não o deixaria, não depois que alguém já tinha o deixado.

Estacionei em frente a faculdade, observando alguns alunos indo embora


ou entrando em seus prédios de aula, caminho para a parte mais afastada do
campus, onde fica a academia e a sala de dança.

Abro a porta e respiro o ar do produto de limpeza, encaro os vários


espelhos dispostos pela sala de dança e vou até o cantinho escondido, atrás
de um espelho que eu mantenho meu par de sapatilhas. Passo meus dedos
pelo material gasto, vivi tantas memórias com esse sapato, descontei tantas
mágoas neles.

Retiro as botas e ponho as sapatilhas de ponta, sem qualquer tipo de


esparadrapo ou proteção. Eu sei que irá me machucar, eu sei disso e mesmo
assim eu estou fazendo.

Eu preciso da dor, ela me mantém viva, acordada. Eu sangraria, mas


sangraria fazendo algo que amo, algo que alivia parte do sofrimento da minha
alma.

Flexionei um pouco meus braços, testando alguns movimentos e quando


não sinto meu corpo chiar, começo a tentar fazer um grand plié.

Meu corpo memorizou o movimento de anos atrás e logo estou flexionando


as pernas de uma forma mais acentuada, me segurando na barra de metal
enquanto me encaro no espelho.
Meus pés pedem socorro quando caio de joelhos pela quinta vez, não
consigo esticar bem minhas pernas, por conta do jeans então os tiro.

Mais uma vez eu tento e dessa vez eu não caio no chão, mesmo assim não
foi tão perfeito como os meus eram na época que praticava balé. Então eu
tento, uma, duas, quatro vezes até eu conseguir fazê-los corretamente.

Meus pés sangram, mesmo assim eu não paro. Ainda consigo por mais
tempo, eu tenho mais energia.

Me seguro na barra e tento dar um grand battement, onde tenho que


lançar uma das minhas pernas o mais alto que conseguir enquanto a outra
serve de base.

Faço umas duas vezes, até inventar de fazer um adágio, um movimento que
devo tentar sustentar uma das minhas pernas no ar, mas na primeira vez,
coloco a sustentação errada e todo meu corpo vai para frente.
Sinto um par de mãos me puxando para que eu não caía e bato contra
uma sustentação sólida, um corpo com cheiro de suor forte ou talvez fosse
meu cheiro, me atingiu com tudo.

— Acho que já estou de pé — A pessoa então me solta e me viro para


encontrar Jace com um sorrisinho nos lábios. — Claro que seria você, dentre
todas as pessoas desse campus.

— Também não fiquei satisfeito ao te ver, vampirinha — Porque seus


olhos não demonstram isso? — O barulho me incomodou da academia e vim
ver o que era.

— Além de egocêntrico, também é fofoqueiro. — Reviro meus olhos e


caminho para pegar minha calça e bota. Então é que Jace também repara, eu
estou só de calcinha e blusa com jaqueta, mas nada além da sapatilha de
balé.

Maldito dia que eu resolvi colocar uma calcinha estilo vovó, ainda tem um
grande desenho na bunda.

— Então essas são suas calcinhas? — Ele se segura para não rir, não sei
porque ele já não está rindo. — Já vi minha avó comprando uma dessas.

— Acho que você percebeu como é incômodo usar fios dental. — Lhe
lancei uma piscadinha.
Jace deixa de olhar para minha calcinha imensa e seus olhos encontram
meus pés, eu sei que as sapatilhas estão sujas de sangue e ele também
repara isso.

— Acho que vou trocar...— Aponto para minha bota, mas o mesmo não
me deixa ir.

— Você está sangrando. — Se coloca de joelhos, me surpreendo com o


gesto inesperado.

Jace, aquele Jace que não suporta olhar para minha cara, estar agora de
joelhos na minha frente? Julgo que isso é um universo paralelo, única
explicação lógica.

— Acho que nunca fiquei de joelhos perante uma mulher, antes — Seu
olhar encontra o meu. — Irônico a mulher ser você, né?

Ele volta a focar em meus pés e retira com tanto cuidado cada uma das
minhas sapatilhas.

Jace retira o outro par, esse pé parece pior do que o outro. Péssima ideia
não ter colocado os esparadrapos.

— Como conseguiu fazer isso? Não estava doendo? — Sua voz sai rouca,
o mesmo parece afetado com isso. Mas não pode ser, porque Jace se
incomodaria?

— Faço balé desde os oito anos, mas parei aos quinze. Estou
acostumada. — Dou de ombros. A verdade é que eu não usava o balé como
uma forma de aliviar a pressão, até uns anos atrás, em minha adolescência.

— Por que? — Solta minha perna e coloca no chão com cuidado, pegando
a outra.

— Eram muitas dietas, prende a barriga, prende mais — Dou mais uma
vez de ombros. — Não nasci para ouvir pessoas dizendo o que devo ou não
fazer com meu corpo.

Isso foi uma meia verdade, meu pai surtou em uma das aulas e me fez sair.
Fiquei trancada no meu quarto por uma semana porque o balé era minha
válvula de escape, até eu descobrir as motos.
— Boa conduta. — Coloca meu outro pé no chão e se levanta em um pulo,
quando eu acho que ele iria deixar isso de lado e ir embora.
Inesperadamente, Jace me pega no colo.

— Eu ainda posso andar. — Zombo, tentando sair do seu colo, mas ele
me prende contra si.

— Irei ajudar os seus pés feios. — Se abaixou um pouco para pegar


minha calça e minhas botas, antes de sair da sala. Como se eu não estivesse
de calcinha em seus braços no corredor da academia.

Ele passa correndo pela porta da academia e nem preciso perguntar para
saber que os outros caras estão aqui, com certeza eu também não gostaria
que eles me vissem nesse estado. Já é bem incômodo, Jace está me
tratando como uma boneca de porcelana.

Jace então entra em uma sala mal iluminada e percebo que é uma
enfermaria improvisada, sou colocada com cuidado na cama, antes dele ir até
um armário no canto e puxar um estojo de lá.

— Eu vou te ajudar. — Puxou um banquinho para ficar entre minhas


pernas, tento não ficar muito desconfortável.

Mas a verdade é que eu não estou nem um pouco desconfortável, mesmo


que meus pés estejam doendo, por algum motivo eu sinto meu corpo ficar
eriçado quando Jace começa a passar um tipo de pomada nos machucados.

O mesmo fica concentrado enquanto limpa minhas feridas com tanto


cuidado para alguém que me ameaçou jogar em um lago. A pomada não dói
tanto ou talvez eu não sinta mais tanta dor como antes, meu corpo acabou se
acostumando.

— Toma. — Jogar minha calça e a pego.

Visto a peça, antes de Jace me colocar novamente sentada e me ajudar


com minhas botas. Ao acabar, ele me encara com um sorrisinho no rosto e
percebo como estamos próximos em uma sala muito, muito pequena.

— Eu te ajudei. — Debocha.

— Ajudou. — Resmungo.
— Não se preocupe, não terá nenhum preço, só tome cuidado.

— Não sabia que meu segundo nome é cuidado? — Minha voz pinga
sarcasmo.

— Achava que era vampirinha, falha minha — Reviro os olhos, o fazendo


dar risada. — Tome cuidado, Storm, eu fiquei uns bons minutos te
observando. Você não estava fazendo aquilo por prazer e sim para aliviar
algum tipo de dor, você estava se auto machucando.

— E o que você tem a ver com isso? — Me aproximo dele e ergo minha
cabeça para encará-lo. — Não venha fingir falsa preocupação.

— É um aviso, para seu bem — Abaixou sua cabeça, ficando cara a cara
com meu rosto. — Não se machuque, por favor.

Merda, eu consigo sentir sua respiração se misturando a minha. Estamos


tão próximos e por que eu não estou vomitando por está tão próxima desse
imbecil? Ao invés disso, estou imaginando como seria me aproximar e...

— Não vamos fazer isso — Se afasta, relutante. — Não podemos fazer


isso, não com você nesse estado.

— Acha que terá outra oportunidade para ficar tão próximo de mim?
Convencido de merda.

— Não — Abre um sorriso malicioso. — Sou seguro de mim, quero que


você guarde na sua memória o dia que finalmente perceber que não importa
se não gostamos um do outro, ainda podemos nos pegar. Aí sim, eu vou te
beijar.

— O seu ego é tão grande que poderia ser comparado com o monte
Everest — Digo, revirando meus olhos. — Eu não vou te beijar, nem nessa
vida e nem na próxima.

— Negue mais um pouco, vampirinha, mas você queria. — Abre a porta e


sai, empacando no lugar.

— O que foi? — Passo por baixo do seu braço, parando ao vê-los


também.
Phineas e Lohan estão com sorrisos idiotas no rosto, olhando de mim para
Jace.

— Eu falei que iria rolar mais cedo.

— Vocês estavam se pegando na enfermaria? Sério? — Phineas diz entre


gargalhadas.

— O que? Não — Faço careta. — Jace tinha cortado o dedo, eu só


ajudei, né?

— É — Indica para uma mancha de sangue meu, que ainda está em seu
dedo. — Mas era superficial.

— Você estava ajudando Jace? Ma chérie, você já soube mentir melhor,


mas podemos guardar segredo.

— Claro que sim. — Phineas fingiu fechar a boca e jogar a chave fora.

— Quer que eu acredite nisso com o grupo que vocês tem do time? —
Jace, exclama.

— Temos que nos lembrar de colocar Jace. — Phineas, murmura.

— O ponto é: Vocês se pegaram — Lohan abre um sorriso malicioso. —


Storm está apaixonada.

— Anda usando a mesma droga que Bela? — Reviro os olhos. —


Também se lembre que beijar alguém significa nada, não para mim, mesmo
assim não aconteceu algo.

Os deixo para trás, Jace tenta me acompanhar, sou mais rápida e logo
subo na minha moto, indo embora sem olhar para conferir se ele estava me
vendo ir.

Esse dia, com certeza, foi estranho o bastante, tenho que lidar com toda a
merda que meu pai jogou em minha cabeça e ainda ter que aceitar o fato que
eu queria beijar Jace, se ele tivesse feito isso, eu teria correspondido.

Meus neurônios devem está ficando com problemas só pode, essa é a


única explicação lógica ou… Não, não é isso.
Eu não me sinto atraída por ele, nem vem.
Capítulo 13 - Atrasado
“Eu sinto falta dessas madrugadas
Só você e eu no meu quarto até amanhecer
Poderia passar a noite toda conversando com você.”
— Friends Go - Maggie Lindemann.

Passei todo o fim de semana me perguntando o que deu na minha cabeça


para ajudar Storm, na sexta. Sério, por que eu fiz isso? Eu sei bem o porquê,
alguma parte minha, aquela que ainda se importa, se quebrou ao ver ela se
auto machucando.

Aquilo foi sua válvula de escape, assim como passar por algum perigo fazia
comigo. É como se a dor te mantivesse mais forte, lembrando que você está
vivo.
Eu admito que tenho algo em comum com Storm, mesmo que isso desça
amargo.

Passo metade do dia tentando andar por lugares, onde não encontraria a
mesma, até porque o campus é imenso. Eu posso muito bem não esbarrar
com Storm.
Me dirijo até o vestiário, mal entro e já consigo ouvir os gritos e risadas, o
lugar está uma completa bagunça, mais que o normal.

— Hey, Ludovicih — Benji me cumprimenta. — Estamos conversando


sobre quem Storm já bateu no time. Bem-vindo ao clube, fizemos um
levantamento no grupo ontem.

— Espera, Storm já bateu em quantas pessoas daqui? — Perguntei, indo


em direção ao meu armário.

— Ela me bateu no primeiro ano depois de eu tê-la irritado, bateu em


Clave, o goleiro. Phineas a irritou em uma festa, recebeu um olho roxo em
resposta e o irmão de Santiago levou um belo chute — Benji dá de ombros.
— Aquela mulher tem alma de matador.

— Eu diria que ela é como Jackie Chan, em Karate Kid. — Phineas


explica.

— Como algum guerreiro colombiano. — Santiago dá risada.

— Aliás, que grupo é esse que vocês tanto falam? — Troco minha roupa
fresca pelo moletom grosso, para aguentar o frio do gelo.

— Vocês não colocaram Jace? — Santiago pergunta. — Se chama: as


vadias de L.A, um grupo de mensagens com quase todos do time.

— Eu já consigo imaginar quem colocou esse nome. — Meu olhar


encontra com o de Phineas.

— “Caras de L.A”, era tão sem graça. — Diz, emburrado.

— Acabamos gostando dos vadias — Santiago dá de ombros. — Acabei


de colocar você. Bem vindo ao clube, vadia.

— Eu não quero nem pensar em como isso soou estranho. — Balanço


minha cabeça.

— Só não temos Will, sabe bem o motivo. — Turner faz careta.

— Sabe o que foi mais estranho? Ver o seu pau à mostra. — Até que
aguentaram um fim de semana inteiro para tocar nesse assunto.
— Não me leve a mal, mas não queremos vê-lo novamente — Phineas faz
uma careta. — Ando tendo pesadelos desde então.

— Vocês podem parar de falar merda e voltar para a pista. — Will late,
antes de sair do vestiário.

— Um dia, esse cara não vai fazer parte do time e eu juro que vou socar a
cara dele — Santiago avisa. — Idiota de merda.

— Sério, por que Jones ainda é nosso capitão? — Phineas pergunta.

— Porque o papai dele continua subornando o diretor — Ethon, explica. —


Jones era pra ter sido expulso no segundo ano, quando cometeu uma infração
atrás da outra, mas o seu papai lavou as mãos do diretor e ele continuou por
aqui.

— Capitão é para ser alguém em que confiamos e puxar nossas orelhas


quando necessário, não um cara que odeia cada um de nós e só quer a fama
do posto de destaque. — Comento.

— Por isso, vamos arrumar um jeito de você ser nosso capitão. —


Phineas dá dois tapinhas nas minhas costas e quase engasgo.

— Estão falando sério? — Os caras concordam com a cabeça, fico


tocado com essa decisão deles.

Eu acabei de chegar e eles já estão pensando em me colocar como


capitão? Esse time com certeza é minha nova família, barulhenta mas
suportável, como minha família de sangue deveria ser.

— Você se mostrou competente desde as classificatórias para entrar no


time, até Jones sabe disso e ele te odeia por isso também. Além do fato de
você e Evans serem parentes. — Santiago dá de ombros.

— Sério, caras, muito obrigado. — Abro um sorriso para todos ali.

— Awn! Eu vou chorar. — Phineas funga.

Todos começam a sair do vestiário e ao restar apenas eu e a dupla


dinâmica, resolvo perguntar algo que está na minha cabeça há alguns dias.

— Vocês moram juntos, certo? — Phineas e Santiago concordam.


— O aluguel fica meio pesado às vezes porque alguém não quer pedir
ajuda aos pais. — Santiago fuzila Rodriguez com o olhar.

— Olha, eu tenho um apartamento já pago e queria companheiros para


dividirem, se vocês quiserem — Dou de ombros. — Só vamos dividir com as
despesas.

— Podemos ser só eu e você, e deixar Phineas de fora? — Phineas faz


beicinho para ele.

— Eu vou fingir que não ouvi isso, ursão. Mas topamos, Ludovicih.

— Se vocês quiserem podem se mudar amanhã, passo o endereço e faço


chaves extras. — Eles concordam com a cabeça.

Acho que agora minha vida começou a caminhar novamente, pelo menos eu
sei que terei amigos para me acompanharem. Amigos em que posso confiar,
não pessoas que só estão ao meu lado por segundas intenções.

Pela primeira vez sinto que uma parte do meu passado está começando a
ficar no seu devido lugar: passado.

Encaro os meus pais enquanto eles discutem entre si, como se eu não
estivesse ali. Sou jogado para lembranças de anos atrás, quando eles faziam
a mesma coisa, discutiam na minha frente sobre minhas travessuras. Agora,
essas travessuras ficaram piores e mais intensas.

Ainda é frustrante a maneira que eles acham que podem comandar minha
vida, que eu não tenho direito a nada. Eu só concordei em voltar por ela e não
porque eles mandaram, senão nunca mais teria pisado na Califórnia, muito
menos nessa casa.
— O que eu te falei quando engravidei? Que iria dar tudo errado. — Minha
mãe anda de um lado para o outro.

— Tudo só piorou, Ayla— Meu pai a encara com raiva. — Isso é tudo
culpa sua.

— Minha? Por que não eduquei nosso filho bem? — Revira os olhos. —
Alexei está muito bem e você poderia ter o educado.

— Como se eu tivesse tempo para ensinar uma criança o que é certo ou


errado.

— E eu tenho? Não se esqueça de quem tem mais dinheiro nessa casa,


amor. — Com ela jogando isso sempre, não tinha mesmo como esquecer.

Me levanto, os deixando em sua bolha de brigas e intrigas, sem paciência


para aguentar essa merda. Isso que dá um casamento por sobrenome, meu
pai é de uma família importante.

Passeio pelos corredores da mansão, todos são brancos e com alguma


decoração de luxo, me lembro que aos cinco anos eu rabisquei todas essas
paredes com canetinha porque estava cansado de ver a mesma cor.
Fiquei de castigo por uma semana e não pude mais passar pelos
corredores sem minhas babás ao lado.

Babás no plural, tinha que ter no mínimo três para me fazer ficar quieto
em um lugar.

Vejo uma cabeleira loira entrando em um cômodo, sigo Audrey até o


pequeno lugar, ao lado da sala de cinema. A mesma puxa algumas caixas de
um armário, dentre vários espalhados pelo local.

— O que você está fazendo? — Ela deixa algumas das caixas caírem no
chão com o susto.

— A pergunta seria: O que você está fazendo aqui? — Diz, puxando uma
das caixas para seu colo, se sentando em uma cadeira de madeira no canto.

Parece que foi o único lugar que não foi reformado, possui paredes em
bege e é cheio de armários e prateleiras, todos abarrotados de caixas e
álbuns de fotos.
— Preciso aparecer uma vez na semana para ver a senhora Ayla gritar
em meu ouvido — Soltei um riso amargurado. — Pelo jeito você continua mais
aqui do que em sua própria casa.

— Só vim buscar algumas fotos, preciso para um trabalho e mamãe não


gosta de guardar essas coisas. — Se levanta com um grande álbum em
mãos.

— Me pergunto porque minha mãe guardou suas fotos. — Passo os


dedos pela lombar de um baú, é datado de quando eu tinha cinco anos.

— Talvez porque eu era como uma filha emprestada, já que andava com o
filho dela para todo o lado, daí ele sumiu sem olhar para trás. — Ergo meus
olhos para encará-la, Audrey parece perdida em seus pensamentos.

— Você sabe porque fui embora.

— Isso não justifica nada, você era a única pessoa da família que eu
podia contar, Jace. Eu não tinha a vovó para ficar ao meu lado.

— Audrey, eu... — A mesma me interrompe.

— Sabia que eu entrei em uma tristeza tão profunda quando você foi
embora que eu só ficava chorando? Dia após dias, eu chorei porque a única
pessoa que eu podia chamar de amigo tinha ido embora sem olhar para trás,
sem se despedir — Aumenta o tom de voz, seu rosto ficando vermelho de
ódio e mágoa. — Talvez eu tenha que te agradecer por isso, depois eu cresci
e comecei a contar só comigo mesma. Aprendi que não precisava de ninguém
ao meu lado, muito menos um primo fedelho.

Ela se vira para ir embora com seus saltos batendo no chão de madeira.

— Você me lembrava desse lugar, me lembrava tudo que eu queria


esquecer — Murmuro sem olhá-la, mas eu sei que Audrey parou para prestar
atenção. — Tentar manter contato, abriria a ferida que eu estava tentando
fechar. Eu precisava daquele recomeço.

— Eu sei disso — Sua voz é carregada de dor antiga. — Problema que


você foi sem pensar em quem deixaria para trás.

— Eu peço perdão por não ter me despedido, mas não peço perdão por
ter ido embora.
— Está atrasado treze anos. — Dessa vez não a impeço de ir.

Respiro fundo, deixando suas palavras penetrarem em minha mente,


talvez eu não tenha machucado só uma pessoa que amo, eu machuquei duas.
Uma que se importou comigo toda minha infância, que foi a luz em muitos
momentos que eu quis desistir e a outra que foi minha salvação.

Que porra eu ainda estou fazendo? Balanço minha cabeça e abro a caixa
para tentar me distrair, tem alguns álbuns de fotos do meu irmão, mas no
fundo da caixa eu consigo achar um álbum de fotos minhas.

Fotos de alguns aniversários e em quase todas eu estou ao lado de


Audrey, abro um sorriso em como estávamos felizes em todas as fotos. Mas
as com meus pais, eu parecia desconfortável e com um sorriso forçado nos
lábios.

Vou para outro álbum que é um jantar que teve a muitos anos atrás, penso
em pular o mesmo, mas resolvi dar uma olhada. Parece ser um jantar para
empresários, meus pais estão em todas as fotos, menos as últimas que são
de uma mesa das crianças.

Consigo me identificar nas imagens e bem ao meu lado uma criancinha


loira, mas não é Audrey. Não, eu consigo reconhecer aqueles olhos de um
carvão intenso em qualquer lugar.

Ela parecia rir de algo que eu falava ao seu ouvido, seu sorriso era discreto
e tímido. Duas palavras que não posso atribuí-la hoje em dia.

Seu rosto é tão meigo e combinava com seu vestido florido, passo mais
algumas fotos e nas outras ela já não está mais à mesa. Ao fundo, eu consigo
vê-la ao lado de uma mulher alta, a mesma parece está com os olhos cheios
de lágrimas, diferente da foto sorridente ao meu lado.

Fecho o álbum com um sentimento estranho em meu peito, eu já conhecia


Storm. De muitos anos atrás, tantos anos que eu nem consigo me lembrar
mais de nenhum momento que eu tenha visto em outro jantar ou festa.

Ela também está totalmente irreconhecível da infância, o cabelo loiro


dourado deu lugar ao cabelo preto, as roupas floridas deram lugar à jaqueta
preta. Mas os olhos parecem traiçoeiros hoje em dia, porém continuavam os
mesmos de anos atrás.
Storm tinha passado por alguma coisa que a transformou na pessoa que é
hoje, assim como eu não sou mais esse garotinho. Algo me diz que não foi
apenas a puberdade, desde pequena ela já estava passando por algo. O que
era? O que transformou Storm nessa pessoa fria e distante?

Perguntas às quais talvez nunca tenha uma resposta.


Capítulo 14 - Frágil
“É engraçado, você é quem está destruído
Mas eu sou a única que precisava ser salva
Porque quando você vê a luz
É difícil saber qual de nós está desabando.”
— Stay - Rihanna.

Continuo achando uma péssima ideia comparecer a uma festa, no


apartamento da pessoa que eu menos quero ver no momento, venho evitando
Jace já tem dias desde nosso encontro na sala de dança.

Com certeza não preciso ver seu olhar cheio de perguntas do que ocorreu,
algo em meu estômago se remexe quando me lembro que poderíamos ter
nos beijado. Seria o eufemismo da minha vida ter beijado esse cara.

— Me lembre que eu só estou aqui por Phineas e Santiago. — A dupla


inseparável achou uma boa ideia dividir apartamento com Jace e cá estou eu
aqui, tentando ser uma boa amiga.

— Phineas vai ficar chateado se você não aparecer. — Bela sai na frente
do elevador e vou logo atrás.

— Phin fica chateado até quando não chamamos ele para almoçar ou lhe
contamos uma fofoca. Ele é como uma grande bebê. — Digo, revirando os
olhos.
Respiro fundo, tentando me acalmar quando Bela aperta a campainha do
apartamento, não demora muito para Jace atender.

— Oi, Bela — Lança uma piscadinha para minha amiga, antes de seu
olhar encontrar com o meu. — Não sabia que você iria aparecer.

— Eu não sabia que viria — Resmungo, encarando seus grandes olhos


verdes.

— Pronta para entrar na caverna do seu arqui-inimigo, Batwoman? —


Abre um sorriso irônico.

— E você seria quem? Ladrão da Noite? — Lembro um dos inimigos de


Gotham.

— Você lê HQs. — Parece surpreso com a descoberta.

— Você não é o único que aprecia cultura geek. — Entro logo depois de
Bela.

Quando vim aqui depois do acidente, estava com muita


pressa para reparar no lugar e é maneiro para ser a casa de Ludovicih.

O apê possui paredes de vários tons de cinza, a sala ocupa boa parte do
lugar com um grande sofá de couro preto e uma televisão de umas sessenta
polegadas, ainda tem um frigobar no canto cheio de bebidas. A grande porta
da sacada fica ao lado.

Não tenho tempo para registrar a cozinha, no momento que meu olhar cai
para quatro homens imensos com máscaras de limpeza de pele no rosto.
Prendo meus lábios para segurar a risada ao presenciar Santiago com um
arquinho, para segurar os cabelos pretos que pegam no ombro.

— Ei, vocês inventaram de fazer um skin care e nem esperaram pela


gente. — Bela resmunga, enquanto arruma um lugar ao lado de Rodriguez.

— Desculpa, Bel. — O mesmo lhe dá um beijo em sua bochecha, antes de


passar uma máscara preta para ela.

— Achava que isso seria uma festa. — Me virei para encarar Jace.
— Amanhã teremos jogo e não queríamos beber além da conta. —
Concordo com a cabeça. — Bastien teve a ideia das máscaras.

— Você? — Encaro meu melhor amigo, que está com o rosto coberto por
algo verde e gosmento.

— Franceses são conhecidos por ter uma ótima pele. — Dá de ombros.

— Agora, você precisa de algo em seu rosto. — Só então reparo que


Jace está com uma máscara de glitter em sua cara também.

Me sentei ao lado de Santiago, ele começa a passar algo em mim quando


é substituído por Jace, que começa a passar o produto com atenção, como
se meu rosto fosse um grande enigma. Mas ele parece tão focado em meus
olhos.

— Se quer me cegar, eu vou morder sua mão. — Ele dá risada.

— Seus olhos não mudaram, só passaram a serem hostis. — Murmura.

— Como? — Pisquei sem entender.

— A gente já se conhecia, Storm, mas parece que nenhum de nós se


lembra disso. — Fico mais confusa ainda.

Eu não me lembro de ninguém como Jace passando pela minha vida, só se


faz muitos anos, a época que…

— Tínhamos mais ou menos cinco anos, a gente se conheceu. Achei uma


foto outro dia, você tinha cabelo loiro dourado, não preto.

Esquivo-me do pincel em sua mão, o encarando com atenção. Jace tinha


me conhecido em um dos meus piores momentos, quando eu era aquela
menina calada que achava que a vida podia melhorar, mas só piorou.

— Você sorria naquela época.

— Não o bastante. — Me levantei de forma abrupta. Caminhando até o


corredor, encontro o banheiro e entro.

Meu coração palpita descontrolado em meu peito, algo parece segurar


minha garganta, impossibilitando minha respiração e minhas mãos ficam
molhadas de suor, rapidamente.
Eu não conseguia me lembrar, acho que faz tantos anos que eu não me
lembrava dos seus malditos olhos verdes.

Pense, Storm, pense. Garoto loiro com olhos verdes, garoto loiro com
olhos verdes, então me lembro, eu me lembro de Jace me contando algo e
eu dando gargalhada.

Rindo depois de anos, sentindo uma espécie de alegria genuína em meu


peito. Ele foi aquele meu pequeno momento de paz em anos de escuridão, eu
não lembro o que ele me falou, mas lembro da sensação que senti.

Aquele garoto que mal me conhecia, tinha me feito um favor naquela noite,
ele deixou que eu desfrutasse de um pouco de alegria. Algo que eu não
saberia o que é depois de anos.

Então me lembro do que aconteceu em seguida, dela gritando em meu


ouvido, das lágrimas escorrendo em meu rosto, do seu aperto em meu braço.

Meu coração começa a bater com mais força e minha respiração se torna
mais irregular, tenho vontade de me afundar no chão, esse sentimento de
medo e pavor percorre por todo o meu corpo. Eu estou tendo um ataque de
pânico em pleno banheiro de Jace, sinto meus joelhos falharem e me seguro
na pia do banheiro, tentando não cair.

Não ouço a batida na porta até Jace entrar no pequeno cômodo e trancar a
porta.

— Olhe para mim, Storm. — Sua voz soa calma aos meus ouvidos.

— Eu não consigo. — Murmurei sem muita força. Eu já estou começando


a hiperventilar.

Parece que estou me perdendo dentro de mim mesma e não consigo


encontrar a saída, é sufocante.

— Então olhe para meus pés — Com lentidão começo a olhar para seus
pés, cobertos por uma meia rosa de unicórnio. — Agora, comece a respirar
na minha contagem.

Jace começa a contar de um a quatro e vou respirando com sua ajuda, aos
poucos meu coração vai diminuindo um pouco as batidas, mas aquela
sensação incômoda no meu peito não diminui, assim como meus
pensamentos se atropelando os outros.

— Continue respirando comigo — Consigo concordar com a cabeça. —


Eu sei que essas meias são ridículas, Phineas me deu de presente por ter se
mudado.

Isso é a cara de Phineas, sinto vontade de rir mas não consigo. Jace passa
as mãos em torno da minha cintura para me firmar em pé, começo a
perceber que ele está me levando para outro local. Falando coisas sem
sentido enquanto pede para eu regular minha respiração.

— Melhor? — Pergunta depois de um tempo.

Minha respiração se normalizou e eu não sinto mais que meu coração


poderia sair pela boca, o aperto em meu peito também diminuiu, mas sinto
todo meu dorso encharcado de suor e minha cabeça parece prestes a
explodir.

— Como sabia o que fazer? — Reuni coragem para perguntar.

— Eu tive muitos ataques de pânico quando era mais novo, eles foram
diminuindo ao longo dos anos. — Diz simplesmente. Eu não esperava essa
revelação saindo dos seus lábios.

Ergo meus olhos e encontro o seu olhar atento, pela primeira vez parece
que o vejo de verdade. Todas suas cicatrizes e dores em seu olhar, eu não fui
a única a ser quebrada e saber que Jace também já passou por algo
parecido, me faz querer fugir de perto dele.

— Desculpe te dar gatilhos e você ter passado por isso — Dou de


ombros. — Sério, me desculpe, Storm.

— É só que...— Não iria falar isso com ele.

Presto atenção onde estamos, ele me trouxe para seu quarto. Não dei
muita atenção no dia que fiquei aqui, estava deitada em sua cama e só queria
ir embora.

O lugar é bem aconchegante como o resto do apartamento, as paredes


são de um verde com uma grande estante de livros na parede ao lado da
porta, tem uma mesa ao lado da cama, cheia de livros dispostos e uma
pequena brisa passa pela janela.

— Não se lembra mais de nada, né? — Faço um movimento sutil com a


cabeça, concordando. — Acho que só nos vimos durante aquela vez.

— Sim, eu não saí para muitos jantares com meus pais depois disso. —
Pelo menos isso, eu me lembro muito bem.

— Será que teríamos sido amigos, vampirinha? — Sua voz é carregada


de divertimento, tentando amenizar a situação.

— Dificilmente — Dou de ombros e me levanto da cama, então me lembro


de quem está na sala. — O que eles acham que estamos fazendo?

— O pior, eu imagino. Então é melhor você ir de acordo. — Abre um


sorrisinho malicioso.

Saímos do seu quarto, indo até a sala, mas nenhum de nossos amigos se
encontrava ali. Os mesmos tinham rabiscado um bilhete dizendo que queriam
nos deixar a sós.

— Babacas — Reviro os olhos, caminhando até a porta. — Acho que vou


embora.

— Tem certeza que está bem para andar de moto?

— Acho que posso me cuidar.

— Eu não duvido nem um pouco disso.

Não me despeço ou sequer agradeço, muito envergonhada por isso. Me


sinto incomodada por ter deixado Jace presenciar um momento de fragilidade
minha, eu poderia ter trancado a porta. Mas se tivesse me trancado e
desmaiado no chão do banheiro? Já aconteceu uma vez e as consequências
não foram boas.

Estaciono em frente ao meu prédio e não me surpreendo ao ver Ludovicih


do outro lado da rua, eu tinha sentido ele me seguindo.

— Queria me certificar que você chegaria bem. — Abre um sorriso, que


não consigo identificar a mensagem por trás e sai rasgando os pneus.
Me viro novamente para o prédio que moro e por algum motivo, eu entro
com uma sombra de sorriso em meus lábios.
Capítulo 15 - Fanfic
“E não consigo te ver aqui, me pergunto onde posso
Parece que estou correndo contra o tempo
Eu não encontrei o que esperava contar.”
— Why’d You Only Call Me When You’re High - Arctic Monkeys.

Acordo com meu celular tocando, pego o mesmo rapidamente, já sabendo


quem seria na chamada.

— Vovó. — Meu coração se acalma ao dizer essa simples palavra, com


tanto significado.

— Querido, te acordei, né? Desculpe, Dorogoy7, mas eu precisava falar


com meu neto — Seu sotaque russo pesa em sua voz, o meu tinha diminuído
um pouco desde que cheguei. — Como você está?
( 7 - querido)

— Eu que deveria perguntar isso. Como está? — Me ajeitei melhor na


cama, apoiando minhas costas na cabeceira.

— Sabia que seus pais iriam te preocupar por nada, eu só tive uma
queda. Nada demais, sabe que não me machuco facilmente — Eu poderia
dizer ao contrário. — Mas bom, conte sobre aí.
— Estou indo bem com as aulas e o hóquei, consegui fazer algumas
amizades, babushka8.
( 8 - vovó)

— Eu fico feliz em ouvir isso, não queria que você passasse por tudo
sozinho. Você merece ser feliz e ter boas companhias ao seu lado. — Sua
voz é carregada de preocupação. Como essa mulher incrível consegue ainda
se preocupar comigo depois de tudo que eu fiz? O amor dela sempre falando
mais alto.

— Não sou mais aquele garoto indefeso, sei me proteger das palavras
dos meus pais e do restante do mundo.

— Eu sei, mas é disso que tenho medo, malenkiy9. Você já é grande e


forte, mas não acho que possa se proteger do restante do mundo. Acho que
tenta agir como algum super herói porque tem medo de se machucar
novamente.
(9- pequeno)

— Vovó…

— Não tente atrasar sua vida por conta deles — Imagino-a com um
sorriso singelo nos lábios. — Espero que seus dias continuem indo bem, se
minha filha falar algo, me ligue.

— Eu não vou estressar a senhora com coisas idiotas que minha mãe diz.

— Jace Durand Ludovicih, eu não quero Ayla enchendo seus ouvidos, está
bem? Eu te perdoei, isso que importa, não as opiniões dela.

Nos falamos mais um pouco até ela anunciar que está saindo para o
mercado central, me despeço com a promessa que iria ligar mais.

Olho para a janela ao lado da minha cama e percebo que já está


amanhecendo, o fuso horário da Rússia é de mais dez horas, então lá deve
ser de tarde.

Não sabia que precisava ouvir sua voz dizendo que está bem até a mesma
ligar, eu não saberia mais o que fazer se minha doce mulher enrugada com
um sorriso de orelha a orelha, não pertencesse mais a esse mundo e pensar
que isso quase aconteceu ano passado.
Me repreendo por pensar nisso, ela me perdoou então por que eu não
consigo fazer o mesmo? Eu não consigo pensar em uma forma de redenção
para mim depois de tudo o que eu fiz, por causa daqueles dois… Pensar
nesses dois não vai ser bom e não adianta colocar toda a culpa neles, fui eu
que resolvi seguir por aquele caminho.

Me levanto em um pulo e faço café ao passar pela cozinha, deixo para


Santiago também já que Phineas parece não beber. Coloco em uma garrafa
térmica e saio para uma corrida.

Corro por quilômetros até chegar na placa de Hollywood, por ser uma
manhã de quarta-feira o lugar está vazio de turistas. Então aproveito um
pouco do silêncio, ouvindo alguns pássaros cantando ao fundo.

Volto para meu apartamento com barulho de discussão vindo de dentro,


encontro Phineas rindo enquanto Santiago grita sobre algo. Talvez não fosse
uma boa ideia ter colegas de apartamento.

— Eu falei que deveríamos ter deixado ele de fora — Santiago massageia


sua cabeça, bagunçando seus cabelos.

— Santi, está chateado porque eu entupir o vaso. Vê se pode. — Phineas


finge inocência.

— O problema foi ver aquele monstro no vaso, eu só queria apagar da


minha mente. — Faz careta.

— Acho melhor ter mais cuidado com o que sai de você, Rodriguez, só
temos aquele banheiro.

— Um homem não pode ao menos ter prisão de ventre. — Sai andando


em direção ao seu quarto, que é ao lado do meu e em frente ao de Santiago.

— Espera, aquilo é... — Aponto para o desenho em sua cueca.

— Se aquilo é o rosto dele? Sim, Phineas está passando pela fase pós-
termino, onde só ele importa. Algo sobre amor-próprio — Abana com as
mãos. — Não tente entender a cabeça louca de Rodriguez.

Tomo café da manhã com os dois e eles ainda discutem um pouco entre si,
mas percebo que é coisa deles mesmo. Saímos do apartamento dez minutos
adiantado para a aula, depois de encher o banheiro com perfumes para tirar a
catinga.

Vejo Storm sozinha, na mesa de sempre, que seus amigos ficam e ela deve
estar esperando-os, me aproximo e abro um sorriso ao ver que ela está com
um pirulito nos lábios, concentrada no livro em suas mãos.
Abaixo um pouco minha cabeça e vejo o título do livro.

— Six Of Crows? Não é aquele que um grupo de amigos se juntam para


fazer um assalto? — Storm ergue os olhos para me encarar.

— Os garotos do barril. — Explica e volta sua atenção para o livro.

— Não tem um personagem que é um gangster? — Eu sei o quão horrível


é alguém atrapalhar sua leitura, mas eu só estou querendo irritá-la.

— Kaz Brekker, amor da minha vida.

— Então você é do tipo que tem queda por personagem literário?

— E quem não tem? — Dá de ombros — Sou fraca para o jeito dele, todo
mal e irresistível.

— Eu conheço alguém assim, está bem na sua frente —Ela retira o pirulito
dos lábios para falar melhor.

— Você não é um quarto de Kaz Brekker ou qualquer outro personagem


literário, Elsa — Fecha o livro, se levantando da beirada da mesa. — Como já
atrapalhou minha leitura, vou encontrar um lugar sossegado, sem idiotas por
perto.

Não deixo ela ir, ficando em seu caminho. Storm bufa de impaciência.

— O que você quer, Ludovicih?

— Saber se você está bem. — Murmuro.

— Entenda uma coisa para poupar saliva. Eu nunca estou bem e isso não
é da sua conta — Ergue a cabeça para me encarar nos olhos. — Pare de se
intrometer nas minhas coisas.
Storm passa ao meu lado, esbarrando em meu braço, seguro a risada pelo
seu tamanho que nem alcança meu ombro. A observo rebolar até à biblioteca,
respiro fundo antes de me dirigir até o ginásio de hóquei. Nosso último treino
antes do jogo de hoje à noite.

Em vez de encontrar meus colegas de equipe treinando, os mesmos estão


comentando sobre mim e Storm.

— Sério, a gente deixou eles sozinhos e tudo. — Phineas fecha o bico


quando me vê se aproximando.

— Eu não peguei Storm ontem. Ou em qualquer outro dia. — Todos me


encaram sem acreditar.

— Não sabia que Ludovicih é o tipo de Storm. — Benji comenta.

— Isso não desfaz o fato que Storm o quer. — Todos parecem concordar
com o comentário de Ethon, até Lohan.

— Desde quando Storm me quer? Vocês estão criando uma fanfic pesada
aqui. — Digo, revirando os olhos.

— Eu gosto de fanfics, minha irmã me viciou nessas coisas — Phineas dá


de ombros. — Então sim, estou criando toda uma fanfic sobre você e Storm,
estilo cão e gato.

— Espera, você lê fanfics? — Lohan pergunta.

— Sim, vocês não? — Todo mundo cai na gargalhada. — São muito boas,
ok? A metade delas tem tara por jogador de hóquei, isso aumenta minha
auto-estima.

— Eu já li Crepúsculo — Dou tapinhas em Rodriguez. — Qualquer leitura é


válida, sendo ou não fanfic.

— Você já leu Crepúsculo também? — Nico pergunta, entusiasmado.

— Espera, vocês leram Crepúsculo mesmo? — Santiago nos encara.

— Crepúsculo é um clássico. Então, Time Edward ou Time Jacob? — É


Ethon que pergunta e encaro o mesmo. — O que foi? Minha namorada só
deixou eu sair com ela se lesse todos os seus livros favoritos, Crepúsculo era
um deles. Aliás, sou time Edward.

— Também, cara. — Dou um toque de mão com ele.

— Eu sou Time Jacob, o cara foi deixado na zona de amizade. Eu senti a


dor. — Nico coloca a mão sobre o coração.

— Eu vou é dizer nada — Santiago balança a cabeça e sai patinando na


frente. — Eu não conheço esses caras, não mesmo. Dios Santo1o.
(10- Deus santo)

— O que vocês estão fazendo aqui? Não podemos nos desgastar antes
do jogo, hoje vai ser na sala de vídeos, seus idiotas. — Will grita de fora do
gelo.

Revirando os olhos para fora da pista, tiramos nossos patins e caminhamos


em direção à sala de vídeo, para rever alguns jogos de nosso adversário de
hoje a noite.

— Eu não acredito que tenho vocês como equipe.

— Você pode sair a hora que quiser, Jones, ninguém está te segurando.
— Não consigo segurar minha língua, já está ficando mais insuportável jogar
ao seu lado. Eu nem tenho confiança nele em gelo ou fora, provável de
acontecer alguma merda hoje por conta disso.

— Como é? Eu sou o melhor daqui, não deixe suas bolas subir a cabeça.
— Cospe nos meus tênis.

— Isso que você acredita? — Dou risada. — Alguém aqui precisa acordar
para a vida.

— Acabou de chegar, Ludovicih, e nem é um quarto do que eu sou. Abaixe


sua bola, idiota. — Estufa seu peito, como um canarinho.

Os caras se reúnem à nossa volta e alguns tentam nos segurar, mas eu


não iria deixar. Esse babaca vai ver o que é bom.

— Quer contar para seus amiguinhos o que você já fez? Por que veio
parar aqui? Acredito que terão medo ao saber que...— Não deixo que o
mesmo termine, meu punho chega em encontro ao seu rosto. Will cambaleia
para trás com seu nariz escorrendo de sangue.

Quando estava prestes a lhe dar um chute na barriga, o grito da treinadora


ecoa pelo local.

— Se você levantar essa perna, não participará do jogo, Ludovicih — Me


afasto de Jones, em um pulo. — Jones para a enfermaria.

O mesmo vai espumando de raiva, quando ele está longe, os caras


começam a rir, mas o semblante da treinadora não é para diversão.

— Todos vocês fora, estejam preparados para o jogo mais tarde. E


Ludovicih? — Ergo minha cabeça. — Na minha sala, agora.

— Boa sorte. — Bastien dá dois tapinhas no meu ombro e some junto ao


restante do time, que parece querer rir mais ainda.

Caminho para a sala da treinadora e me sento, no mesmo local que me


sentei quando ela puxou minha orelha e de Storm.

— Me dê um bom motivo para você estar socando seu capitão.

— Além dele ser um babaca? — Sugiro e a treinadora conta até dez. —


Acho que vai dar completamente errado hoje à noite, eu e Jones como dupla
somos péssimos juntos.

— Meus dois melhores jogadores centrais não formam uma boa dupla, é
só o que me faltava — Massageia suas têmporas. — Eu achei que isso
poderia mudar, mas estou enganada e hoje já é tarde demais. Dê o seu
melhor hoje, Jace, não deixe Will fazer sua cabeça, eu sei o quanto ele é um
imbecil, mas preciso do seu foco. Eu já ouvi o desejo dos outros em você se
tornar o novo capitão.

— E então? — Me coloco um pouco para frente.

— Gosto da ideia, você se dá bem com todos e ainda os ajuda. É mais do


que Jones, então só foque no jogo de hoje, ok? Me verei com o diretor
perante essa decisão. — Concordo com a cabeça e me levanto da cadeira,
indo embora da sua sala.
Agora eu preciso arrumar um jeito de não bater no meu capitão hoje a
noite, que ótimo. Vou até ligar para minha terapeuta, pedindo dicas para me
acalmar e talvez me benze um pouco, vai que isso ajude.
Capítulo 16 - Eu não posso
“Eu já estive aqui muitas vezes antes
Mas eu continuo indo embora, longe de tudo
Eu gostaria de ter confiado em você do jeito que posso
Mas será que alguém vai me amar pelo o que sou?”
— Face My Fears - Isak Danielson.

Encaro meus colegas de time, todos ocupados na tarefa de vestirem seus


equipamentos e acalmarem os nervos para o jogo.

Eu consigo ouvir os gritos da multidão daqui, não basta a pressão de ser o


primeiro jogo da temporada, ainda vai ser em casa.

Esse é meu primeiro jogo oficial com esses caras, eu tenho que ser o
melhor possível para mostrar a todos que ainda duvidam. Preciso mostrar
que sou melhor do que já fui em Moscou.

Eu vou dar tudo de mim, eu preciso dar. Hoje, Jace Ludovicih vai mostrar
porque era conhecido como “Mercurio”, o personagem veloz da Marvel.

— O idiota resolveu aparecer para minha infelicidade. — Will aparece no


fim do corredor e me viro para encará-lo.
— Alguém tem o nariz no lugar, posso quebrá-lo novamente? — Arqueio a
sobrancelha.

Eu não deveria estar discutindo com Will logo agora, mas não tem como
não falar nada para ele ou ter vontade de socar sua cara. A veia violenta
continua por aqui, mesmo após algum tempo.

— Não chegou a quebrar, mas pode ter certeza que você vai pagar por
aquilo. — Se vira, indo na direção do corredor que fica o seu armário.

— Estou tremendo de medo. — Reviro os olhos.

— Olha, Ludovicih, por mais que eu queira ver você metendo a porrada
em Will novamente, precisamos do foco de vocês dois hoje. Esse jogo é
importante, se já começarmos ganhando será ótimo. — Ethon diz com o
semblante preocupado e concordo com a cabeça.

— Farei de tudo para darmos certo no gelo. — O problema é Jones fazer


o mesmo.

— Vamos lá. — A treinadora chama para o centro do vestiário.

Formamos um círculo em volta dela e a treinadora Ferraz parece um


gnomo no meio de todos nós, um bando de brutamontes ao lado do outro e
Santiago se destacando como sempre. Espero que os caras do time
adversário tenham medo ao olhar o nosso incrível Hulk.

Talvez os Vingadores de L.A fosse um bom apelido, mas Phineas ainda


lutaria pelo Vadias. No fundo, até eu gosto desse nome.

— Quero pedir concentração total de todos essa noite, sabemos como


esse jogo pode ser brutal, mas peço que todos se mantenham com a cabeça
no lugar. Eu acredito no potencial de cada um, sei que seremos capazes de
ganhar esse jogo.

Colocamos a mão no centro e gritamos vai Los Angeles e o sentimento de


saber que aqui é meu lugar inunda meu peito, encaro por mais alguns minutos
cada rosto dos meus parceiros de equipe. Ainda teremos um longo tempo
juntos e estou entusiasmado por isso.

— Não importa se vamos ganhar ou não, mas quero entrega de cada um


— Grito para todos ouvirem e Will revirar os olhos. — Mas acho melhor
ganharmos.

Estou parcialmente feliz em meses, mas parece que algo ainda falta,
melhor pensar nisso depois, agora é focar em chutar a bunda desses idiotas.

Caminhamos em direção a pista e toda a multidão vibra quando nos vê


saindo do vestiário, ouço algumas pessoas chamando meu nome e sinto uma
emoção em meu peito.

Nos posicionamos no centro do gelo, ouvimos o narrador falar cada um dos


nomes de nossos jogadores e quando o mesmo anuncia os jogadores do time
rival também, eles estão nos encarando com ódio e devolvemos o olhar. Com
certeza, alguém vai comer gelo hoje e não será a gente.

Cantamos o hino nacional logo depois, um gesto obrigatório em cada jogo.


Quando acabamos, cada um vai para seu lugar na pista, eu fico ao lado de
Will e abaixo meu capacete, seguro com força o taco em minhas mãos e
encaro o disco no gelo, aquele é meu objetivo assim como passar pelos
outros jogadores até o gol.

— Que comece o face-off. — O grito do narrador ecoa pelos altos


falantes do ginásio e o jogo começa.

O disco é jogado em minha direção, depois do jogador de Nevada


cometer logo um erro no começo, jogo o disco para Will, dois jogadores vêm
em minha direção, mas Ethon e Lohan o interceptam.

Chegando próximo ao gol, espero o passe de Will já que ele tem quatro
jogadores na sua cola e eu estou livre, mas o idiota acha boa ideia jogar em
direção ao gol e erra. O encaro sem entender que porra ele acabou de fazer.

— É melhor você começar a jogar os passes. — Digo, me aproximando


dele.

— Se não o que? — Murmura.

Não temos tempo de falar mais nada, os jogos são rápidos, piscou você já
pode ter sofrido um gol ou algum jogador pode está brigando. Não podemos
perder tempo em discussões que vão nos levar à derrota.

O primeiro tempo acaba em um empate de apenas um ponto, Lohan foi


arrastado por um dos jogadores rivais e seu corpo derrapou na pista de gelo,
tenho um vislumbre dele saindo da pista quase mancando, então a treinadora
coloca Benji no gelo para o segundo tempo. Agora Benji será a dupla de
Ethon, não é tão bom quanto Lohan mas ele sabe jogar muito bem, pelo o
pouco que vi nos treinos.

Ocorrem muitas trocas no hóquei, então já estamos acostumados a


levarmos uma porrada muito pesada que não podemos continuar, então algum
jogador do banco entra em nosso lugar. Por isso, o banco está tão cheio e o
time tem tantos jogadores.

O juiz apita para o segundo tempo e mais uma vez é brutalidade para todos
os lados, sou prensado contra a parede por um jogador mil vezes maior do
que meu tamanho, mas consigo lhe dar um empurrão para trás. Ele cai no
gelo, porém não ligo e me concentro no disco em meu taco, o acerto em
cheio no gol, faço um toque com Santiago que me deu o passe. Consigo ouvir
alguns torcedores gritando Hulk e Mercúrio, definitivamente viramos Os
Vingadores.

— Estou com ciúmes, queria ser o Homem Aranha, bastante ágil. —


Phineas comenta ao patinar do nosso lado. O mesmo logo volta para seu
lugar como right wing.

Na metade do segundo tempo, dois jogadores tentam interceptar o meu


passe, mas consigo passar pelos mesmos depois de receber uma série de
empurrões, quando estou próximo do gol. Will passa com tudo ao meu lado,
sem se importar que eu também estou livre. Ele roubou o disco de mim,
conseguindo fazer o gol, não reclamo já que no fim foi um gol.
O juiz sinaliza que o disco bateu na parte de cima do bastão e o gol é
anulado.

— Isso não é verdade, não foi assim. — Will tenta intervir, mas o juiz pede
para o mesmo ter calma.

— Volte ao jogo, Jones. Houve sim, uma penalidade. — Contrariado, ele


se afasta.

A tensão aumenta no terceiro tempo, vários jogadores já tinham tomado


penalidades e ficado uns cinco minutos fora no segundo tempo, incluindo eu.
Acabei tendo uma discussão com o capitão do time de Nevada e não
resultou em uma coisa boa, o mesmo tentou me bater com o taco, mas lhe
dei um empurrão fazendo ele cair em outro jogador.
Nós dois ficamos cinco minutos no banco antes de voltar para o gelo.

No quarto tempo, Will e eu estamos completamente fora de foco, o que


resulta em vários gols perdidos. Eu consigo sentir a tensão pelo ginásio,
estamos em cinco a quatro, a qualquer momento Nevada pode empatar do
jeito que eles estão jogando, se eu e Will não encontrarmos uma forma de dar
certo, o jogo ficará empatado e resultará em mais um tempo.

— Concentração, garotos. — Ouço a treinadora gritar, antes do corpo de


Will vim de encontro ao meu.

Jones me dá um empurrão, me fazendo bater contra a parede dura da


proteção, o encaro sem entender nada.

— Que porra foi essa? — Tiro meu capacete, o encarando.

— Jogue para mim, seu idiota. — Will também retira seu capacete e me
dá mais um empurrão, mas dessa vez o pego pelo braço lhe jogando no chão.

— Se você tentar me empurrar novamente, eu vou enfiar esse capacete


no seu cu. — Rosno.

Will se levanta em um pulo e avança para cima de mim, faço o mesmo e


acerto um soco em cheio no seu maxilar, ele cambaleia um pouco e avança
novamente, acertando um soco em meu nariz. Não dói como o soco de
Storm, menos mal que ele não tem a força daquela mulher para quebrar meu
nariz novamente.

Santiago e Clave correm para nos separar, o juiz intervém antes nos
deixando no banco por seis minutos.

Saio do gelo de mal vontade e me sento afastado de Will, tento me


concentrar no jogo e não no idiota do meu capitão que reclama sobre mim
para a treinadora, acho que nem treinadora Ferraz está o aguentando.

Faço uma comemoração quando Ethon consegue um passe de Santiago e


acertar o gol em cheio, bem no momento que o juiz nos permite entrar em
gelo novamente.

Conseguimos fazer mais dois gols e o time rival apenas um, o placar final
é de oito a cinco.
— Na próxima vez, você joga a merda daqueles passes pra mim. —
Rosno para Will quando o jogo termina.

— Se não vai fazer o que? — Me dá um empurrão.

— Eu vou arrebentar a sua cara. — Lhe dou um soco atrás do outro, mas
Will consegue acertar alguns em meu maxilar.

O juiz intervém de novo, mas acaba recebendo um soco no rosto, ele se


afasta ao perceber que não tem mais controle sobre aquilo. Ethon e Santiago
me seguram, e Benji e Nico seguram Jones.

— Eu quero os dois na minha sala daqui dez minutos. — A treinadora ruge


por cima dos gritos da galera, que está entretida com nossa briga.

As brigas no hóquei são algo frequente em cada jogo, não tão frequente
são jogadores da mesma equipe caírem na porrada. Mas essa cena que eu e
Will protagonizamos só serviu para mostrar o quanto não estamos em
sincronia para ser uma dupla.

Passo no vestiário antes de ver a treinadora, quando chego no meu


armário, tiro toda a proteção e vejo os roxos pelo meu corpo. O babaca
conseguiu cortar até meu lábio, se bem que eu consegui lhe causar um olho
roxo, então isso é quase nada.

Ouço barulho de alguém entrando no lugar, me viro observando Storm


chegar pelo outro corredor.

— Então você é do tipo que dá porrada quando está com raivinha. —


Cantarola, se aproximando de mim, há passos lentos.

— Sei o que você está insinuando e não sou nenhum cara que fica
pagando de macho alfa. — Faço uma careta, passando o paninho em meu
lábio cortado.

— Eu diria que isso é coisa de homens radioativos, mas isso é mais a


cara de Jones. — A mesma para na minha frente e retira o pano da minha
mão.

Storm me surpreende quando fica na ponta dos pés e passa o pano em


meus lábios com tanta atenção e cuidado que me choca. Essa não é a Storm
que conheço, essa só pode ser um clone.
— Dando dor de pescoço? — Me refiro ao seu tamanho, sento-me em um
dos bancos. Para minha total surpresa e choque, Storm se coloca de joelhos
à minha frente.

— Acho que nunca fiquei de joelhos perante um homem antes — Seu olhar
encontra o meu. — Irônico o homem ser você, né?

Quase me desmantelo todo quando ela repete minhas palavras do outro


dia.

Storm Brassard está agora, de joelhos, me ajudando. Acho que estou


sonhando ou tendo algum tipo de pesadelo, será que sofri algum aneurisma?

— Obrigada pelo outro dia. — As palavras chegam e somem tão rápidas


que nem consigo digeri-las direito.

— Eu não entendo — Murmurei comigo mesmo. — Não entendo porque te


ajudei.

— Você podia ter me deixado sozinha naquele banheiro. — Diz ao se


sentar, me entregando o paninho sujo de sangue.

— Eu podia, mas algo não deixou. — Aquela parte que ainda insiste em
confiar em uma mulher e que ainda tem empatia, gritou para ajudá-la, aliás a
culpa foi minha. Eu lhe dei aquele gatilho que resultou em seu ataque de
pânico.

Acabei lembrando, naquele momento, dos meus ataques de pânico, como


não tinha ninguém para me ajudar naquela época e eu não pude deixá-la
sozinha, sabendo o que poderia estar acontecendo.

— Se fosse você no lugar, eu também teria pensado a mesma coisa:


ajudo ou não — Tomba a cabeça para o lado e me encara. — A gente não se
gosta.

— A gente, se desteta.

— A gente quer se matar metade das vezes.

— E mesmo assim, nós ajudamos. — Concluo.


— Por que? — A voz dela ecoa pelo vestiário vazio. Logo o time estaria
aqui.

— E por que apesar de todos os aspectos negativos que sentimos pelo


outro, eu teria te beijado naquela enfermaria e você teria deixado?

— Talvez — Se levanta em um pulo, no segundo que ouve as vozes dos


caras. — Acho que eles conseguiram abrir a porta.

— Você a trancou? — Não sei porque fico chocado com a informação.

— Por que eu não a trancaria? — Me lança uma piscadela antes de sumir


pela porta dos fundos.

— Ei, a treinadora ainda está te esperando. — Um dos jogadores me


avisa.

Corro para tomar um banho rápido já que Storm me atrapalhou. Storm,


tento tirar sua imagem da minha cabeça me ajudando enquanto estou a
caminho da treinadora.

Saio quarenta minutos depois de ouvir tudo e mais um pouco, nunca recebi
um puxão de orelha tão pesado, mas eu mereço. Não que eu esteja
arrependido de ter socado ele, o idiota mereceu, mas não foi uma boa coisa
fazer isso na frente de toda universidade.

Não gosto de mostrar meu lado agressivo, isso me faz pensar que sou
ainda aquela pessoa que meu pai pensa que eu sou.

Talvez também eu não tenha prestado muita atenção no que a treinadora


falava, minha mente voltava sempre até Storm. Como você pode não gostar
de alguém e ainda se sentir atraído por essa pessoa? É loucura.

— Jace. — Me surpreendo ao ver Audrey no corredor do vestiário.

— A enfermaria é por ali — Ela pisca sem entender. — Não veio ver Will?

— Will? — Choque percorre pelo seu rosto. — É, mas ele nunca vai na
enfermaria daqui, só não bata no meu namorado novamente, queria avisar
isso para você.
— Faz tempo que não te conheço mais, porém você não aprendeu a
mentir com os anos — Minha prima revira os olhos. — Você nem sequer se
lembrou do seu namorado quando pisou aqui, o que houve?

— É uma péssima ideia eu ter aparecido, como você pontuou, vou ver
meu namorado. — A mesma dá meia volta e fico sem entender nada.

Observo Audrey ir embora e dou risada, indo até o vestiário novamente, me


surpreendo ao ver Lohan sentado no banco enquanto Ethon o ajuda a se
levantar.

— Já te liberaram? — Vou até o meu armário e pego minha mochila.

— Fui liberado da enfermaria à força, eu não vou perder nossa primeira


comemoração. — Me coloco no lado oposto dele e ajudo Ethon, dividindo o
peso de Lohan entre nós dois.

— Os caras estão marcando em uma balada no centro, você precisa ir —


Concordo com a cabeça. — Precisamos do nosso Mercúrio.

— E você precisa me dizer como esse apelido surgiu. — Lohan dá risada.

— Acho que estou vendo quatro de mim. — Phineas gargalha de frente


para um espelho, depois de tomar quatro copos de vodka. Ele já tinha até
tentado tirar a roupa, mas consegui impedi-lo.

— Estou cego. — Dou risada com Santiago que está com todo seu cabelo
jogado na frente do seu rosto, cortesia de Lohan.

Lohan já está dançando em cima da mesa, ao lado de duas alunas, mas o


mesmo nem parece dar atenção para elas.
Percebo alguns alunos cochichando entre si sobre mim e meu
desempenho no jogo, ouço até meu apelido. Parece que eu fiz um ótimo
primeiro jogo, tirando a briga no final.

— Alguém está te encarando e pela primeira vez, não é um olhar de ódio


mortal. — Benji comenta se levantando para me deixar sozinho.

Ergo minha cabeça e encontro o olhar de Storm, a mesma está do outro


lado da boate, sentada com Bela que parece entretida descobrindo a boca de
um dos reservas do time. Parece que alguém está ficando com o inimigo e
Storm sobrou de vela.

Tomo um gole da minha bebida e não tiro os olhos de Storm enquanto levo
o copo aos meus lábios, deixo toda a bebida cair em minha camisa. Brassard
explode em uma gargalhada e tenho que rir também.

Ela se aproxima até mim e não sei se é efeito da bebida, mas Storm
parece brilhar nas luzes coloridas pelo local com paredes pretas. Seus olhos
ficam mais cintilantes e suas bochechas estão vermelhas por conta do álcool,
quando ela vem em minha direção como em câmera lenta, tenho que prender
a respiração.

A jaqueta parece se destacar mais ainda nela e a curiosidade sobre o que


significa a frase naquela peça, ainda me instiga.

Meu interior se revira e sinto minha pele ficar quente, mas … Perco a
noção dos meus pensamentos quando a mesma se senta ao meu lado, sou
atingido em cheio pelo seu perfume doce. Ela não cheira a morte, estou
surpreso.

— Além de egocêntrico é desastrado? — Dá risada. — Pode me explicar


de onde saiu Mercúrio?

— Não consegue perceber? — Pego um punhado de guardanapos e limpo


minha camisa sob o olhar vigilante de Storm. — Sou rápido na pista e meu
cabelo lembra do mesmo.

— Ainda acho você parecido com a Elsa, Santiago seria Pocahontas,


Lohan a Cinderela, Phineas a Vanellope…

— Vanellope? — Me viro para encará-la.


— Nunca viu Detona Ralph? — Exclama. — Ela é o Phineas todo.

— Não, você já assistiu? — Dou risada. — Fã de HQs, da Disney e de


livros. O que mais você esconde, Brassard?

— Coisas que você pode nem imaginar — Abre um sorriso malicioso. — E


que não são para seu bico.

— As mais terríveis então.

— Acho que não tenho cara de esconder coisas boas — Seu sorrisinho
aumenta. — Nem você.

— Anda interessada no que escondo?

— Talvez? Nunca saberá, Ludovicih. — Dou risada.

Como alguma força estranha, como a do tipo de Star Wars, meu olhar recai
para a boca de Storm.

Nunca tinha percebido a pinta minúscula em seu lábio inferior e como o


arco dos seus lábios parecem convidativos.

Talvez eu tenha bebido demais para estar me sentindo atraído por Storm,
mas o dia na enfermaria eu não estava bêbado e me senti atraído por ela.
Assim como hoje mais cedo, no vestiário…

Não gostar de uma pessoa, não tem nada a ver com se sentir atraído por
ela. É o desejo falando mais alto.

Isso é loucura
Eu não gosto de Storm
Ela é...Storm

Então, por que aproximo meu corpo do seu e ela não recua? Por que levo
minha mão ao seu lábio? Por que eu não sinto nem um pouco de repulsa ao
fazer isso?
Perguntas que se perdem em minha mente.

— Jace. — Meu nome sai em um sussurro dos seus lábios.


Minhas mãos passeiam pelo seu cabelo e reúno um bocado em minha mão,
o puxando. Storm solta um gemido e a puxo para mim, mas aquele
sentimento sujo sobe pelo meu corpo.

Eu te quebrei, Jace, eu quebrei a pessoa que mais me amou; suas


palavras ecoam em minha mente e me distancio de Storm, rapidamente.

— Eu queria, queria mesmo. Mas não posso — Digo me levantando, sem


coragem de encará-la. — Eu não posso fazer isso.

Como eu fugi uma vez de Bervely Hills e outra da Rússia, eu fujo de Storm,
dando as costas para a mesma e me dirigindo, correndo para a saída
daquele lugar tão sufocante.

Quando chego do lado de fora, inspiro o ar da noite e sinto lágrimas não


derramadas encherem meus olhos. Eu não consigo fazer isso, não consigo.

Depois de tudo que houve ano passado, como a mesma destruiu minha
confiança e a porra do meu coração, como fui tratado como lixo. Eu não
posso deixar uma mulher me destruir novamente e Storm Brassard pode fazer
isso, ela tem poder nas mãos e dei brecha ao mostrar que a quero.

Como eu sou idiota, parece que não aprendi nada.

Nesse jogo com Storm, nós dois podemos sair destruídos, mas eu sei que
no final apenas um terá o coração partido novamente.

Eu sei que podemos só nos pegar, mas é o medo falando mais alto.

Meu celular toca no bolso e me assusto ao ver o número da minha avó no


visor.

— Babuska? O que houve?

— Jace, é ele. Ele precisa da sua ajuda.

— Quando ele não precisa. — Corro em direção a minha moto.

— Venha para a Rússia. Agora.

E eu vou, mesmo que alguma coisa me dissesse para ficar, eu dou as


costas e volto para Moscou. Volto para onde tudo se encerrou.
Capítulo 17 - Dentro de mim
“Sempre me sentindo culpada, então eu preciso de um
lugar para colocar a dor
Veneno na minha boca porque é melhor do que as
palavras que eu diria
Eu sou apenas um fardo ou apenas incerto, não sei.”
— Different - Maggie Lindemann.

Fuga, um ato feito por pessoas covardes ou que só querem se proteger.


Ato a qual eu odeio e me faz questionar sobre várias coisas, uma delas: Por
que elas nunca pensam em quem deixam para trás?

Eu as julgo por se protegerem em primeiro lugar? Não, mas eu as julgo por


serem tão covardes que nem uma maldita explicação elas dão, só se vão.

O babaca tinha fugido, ele simplesmente FUGIU, quando ousou querer me


beijar. A merda maior nem é essa, é o fato que eu iria deixar ele fazer DE
NOVO, naquele momento eu teria correspondido de todas as formas
possíveis.

Parece que meu passado não foi lição o bastante, parece que ter a vida
destroçada não foi o suficiente. Parabéns, Storm.
Eu ainda não entendo as reações do meu corpo a Jace Ludovicih, ele é
minha destruição e tentação. Como isso foi acontecer? Por que ele me
estendeu a mão quando eu estava na escuridão?

Me levanto com o toque do meu celular, puxo o mesmo da mesa de


cabeceira e reviro os olhos ao ver um número desconhecido no visor. São
sete da manhã, minha primeira aula é às dez.

— Alô? — Minha voz sai carregada de ódio.

— Eu não te chamaria se não fosse caso de emergência, Storm, seu pai


sumiu. — A voz de Alisson soa desesperada.

Chego na casa do meu pai em dez minutos, tento esquecer todas as


palavras frias que ele me direcionou no nosso último encontro e como eu sou
idiota ainda de ir vê-lo. Abro a porta e encontro Alisson no hall de entrada,
conversando com uma das empregadas.

— Você veio, ele sumiu desde ontem à noite. — Parece ficar aliviada ao
me ver.

— Que dia é hoje? — Alisson me encara sem entender. — Que data é


hoje?

— Vinte de março, por que? — Entendimento passa pelo seu rosto. —


Aniversário dela.

No mesmo segundo, a porta é aberta e meu pai aparece com uma sombra
de sorriso no rosto, que se murcha ao colocar os olhos em mim.

— Que porra você faz aqui? — Grita a plenos pulmões. Me finjo de forte e
não deixo isso me abalar, ele não iria me diminuir depois de eu ter vindo aqui.

— Ela veio me ajudar, você sumiu e eu fiquei preocupada.

— Eu não posso mais sair? — Lança um olhar carrancudo na direção da


sua noiva, antes de se virar para me encarar novamente. — Você sabe que
tudo o que houve é culpa sua.

— E se a culpa for sua também? Não tente tirar a culpa de seus ombros
para colocar nos de uma garotinha, eu tinha cinco anos. Ou talvez a culpa
seja de nenhum de nós e apenas dela, não tente amenizar as atitudes de
alguém.

— Não fale assim de Cibele — Ele tocou no nome dela. O nome dela que
não é falado a tantos anos. — O que você fez por ela? Sempre sendo uma
filha que não fazia nada para agradar.

— Eu era uma criança. CRIANÇA — Cerro meus punhos ou com certeza,


eu irei socá-lo. — Eu fiz de tudo ao meu alcance, mas do que adiantou, além
do nosso psicológico fodido? Pare de chorar por alguém que nem sequer
tentou te amar.

— Saia daqui, saia daqui. — Aponta para a porta e passo por ele, sem
olhá-lo duas vezes.

No momento que chego do lado de fora, respiro fundo e tento não deixar as
lágrimas rolarem.

Seu nome ecoa em minha mente; Cibele, Cibele, Cibele. Como eu tive
tantos pesadelos com esse nome e a pessoa que o acompanha.

Parece que nunca ficarei bem. Não com meu pai me lembrando de tudo a
todo momento, como se meus pensamentos já não me torturasse o bastante.

Desligo a televisão, depois de duas horas assistindo Modern Family, é


cômico assistir uma série que fala sobre famílias felizes quando a minha é tão
ferrada. Porém, é como uma sensação de conforto assistir a algo
assim.

Vou em direção a minha mesa de cabeceira e pego o remédio para dor de


cabeça que eu escondia ali, é forte o bastante para me fazer dormir por
horas ou dias, já foi bom em épocas que eu não aguentava ficar acordada.

Tomo apenas um, já que o turbilhão de pensamentos que gira em minha


mente faz minha cabeça querer explodir de dor. Solto um palavrão com o
toque incessante do meu celular. Por que eu ainda não desliguei essas
notificações?

— Ei, ma chérie. — Lohan praticamente grita no meu ouvido.

— O que foi? — Seguro o celular com uma mão, enquanto a outra


massageia minha testa.

— Storm mal humorada é como um dia cinzento — Cantarola. — Você


não compareceu a aula de hoje, temos aquele evento com os patrocinadores
hoje à noite.

— O time de hóquei tem um evento, eu não.

— Agora você tem porque será meu par. Eu não aguento mais as alunas
me assediando.

— Pobre homem difícil de ser conquistado.

— Pena que quando sou conquistado tudo tem a premissa de dar errado.

— Achei que você iria me ajudar a melhorar, não me colocar mais ainda
em depressão. — Lohan dá risada.

— O que seu pai falou ou fez dessa vez?

— Merda, apenas merda — Solto uma risada sem graça. — Não sei por
quanto tempo mais eu vou aguentar.

— E você acha que eu também sei? Mon cheri, somos pessoas sem
qualquer promessa de felicidade.

— Pelo menos você tenta ser alguém melhor.

— Eu só escondo minha verdadeira face, assim como esconde a sua.


Agora, voltando para o evento…
— Eu não vou, Lohan, eu nem estou com cabeça para isso. Colocar um
vestido apertado e ficar em cima de você enquanto tenta conquistar alguns
investidores, não é algo muito atraente aos meus olhos.

— Te pago duas tortas de baunilha.

— Odeio ser influenciada assim, adicione mais dois livros nessa equação.

— Um só, com edição de capa dura.

— Fechado.

Ele fica falando comigo por uma hora, sobre coisas totalmente diferentes e
sei que em algum momento, meu melhor amigo começou a falar em francês
só para me irritar. Mas, entendo o que Lohan está fazendo porque ele já fez
isso por mim uma vez, assim como eu já fiz o mesmo por ele.

Ele não quer me deixar sozinha, Lohan está tentando me pôr para cima e
a simples ideia de alguém fazer isso por mim faz meus olhos arderem.
Desligo a chamada com um bolo na minha garganta.

Lohan Bastien é alguém cheio de merdas pessoais e mesmo assim, ele


continua tentando ser um bom amigo, tentando me pôr de pé quando ele
mesmo está tão próximo do fundo do poço.

Me arrependo no instante que coloco os pés no salão de festas da


universidade, o lugar está cheio de jogadores de hóquei e do futebol
americano. Todos tentando arrumar algum patrocinador para o time ou
tentando manter os antigos.

Tenho vontade de rir com os caras de cara emburrada por estarem


vestidos de terno. Lohan e Phineas se aproximam de mim, ao me verem.

— A jaqueta continua aí como sempre. — Phineas abre um sorriso.

— Segunda pele. — Dou de ombros.

— Bem que eu soube que cobras trocam de pele.

— Não se esqueça que eu estou aqui por você.

— E por duas tortas e um livro. — Me lança uma piscadela.


Presto atenção em como esses dois estão lindos, o terno se ajusta bem
em seus corpos e até o pé enfaixado de Lohan lhe dá algum charme. Argh!
Odeio o fato que homens de terno são minha kriptonita, até meus próprios
amigos se tornam mais irresistíveis vestidos assim.

— Odeio essas coisas, me sinto em uma coleira. — Phineas remexe em


sua gravata borboleta.

— Mas ficou fofo, um cachorro dócil — Dou risada. — Cadê sua cara
metade?

— Tentando encantar os velhos empresários ou dando em cima das


mulheres deles. Ursão é assanhado — Phineas gargalha até seus olhos
saltarem da órbita. — Acho que seu fiel inimigo acabou de chegar.

Depois de quatro dias sumidos, só ouvindo os comentários sobre sua


performance em jogo e sua briga com Will. Jace — o covarde — Ludovicih
volta e tenho que controlar meu fogo ao vê-lo naquele smoking apertado.

Ao contrário dos demais que os ternos são pretos, o seu é de um azul


intenso que faz seus olhos e seu cabelo se destacarem. Ele parece mais
sombrio do que nunca, olhando taciturno para alguns empresários, todos
parecem se assustar com a áurea de Jace, dando passagem para ele.

Seus olhos se tornam fendas ao me verem, o desafio a se aproximar, mas


como um bom covarde, ele apenas vai na direção contrária.

— O que deu em Jace? — Lohan exclama.

— Apenas colocando sua máscara no lugar.

— Máscara? — Phineas murmura.

— Você é bom demais para entender que pessoas como Jace e Storm
tem sua verdadeira face que escondem por baixo de máscaras frias, a do
Jace está a mostra hoje. — Meu melhor amigo explica e ele está
completamente certo.
Capítulo 18 - Não sou covarde
“Termine o que você começou
Não vamos pensar muito, estaremos bem assim
Se isso é pecado, eu não sei
Para que vamos parar?
— Dámelo To’ - Selena Gomez part. Myke Towers.

Os dias que passei na Rússia foram mais difíceis do que imaginava, voltar
para tudo que eu tinha deixado para trás, foi como reabrir uma ferida com
uma faca afiada e deixá-la sangrar.

Meu humor piorou desde que o jatinho da minha avó aterrissou em Moscou
e piorou quando voltei para Califórnia, parece que todo rancor e mágoa
tinham voltado à tona.

Como se aquele Jace de meses atrás tivesse surgido novamente, mas bem
pior.

Toda minha postura vai ao chão, no segundo que entro naquele salão e
avisto Storm, a meta era entrar e sair, mas alguma coisa me dizia que não
seria assim e se comprovou quando eu a vi.

Seu vestido preto — nenhuma novidade — é meio rodado na saia com


uma fenda na perna, a parte de cima tem algo que o faz brilhar e um decote
destaca seus seios. A jaqueta, como sempre, faz parte do seu visual,
deixando Storm mais irresistível.

Tenho que me virar antes que eu pense ou fale alguma merda.

Caminho em direção a Audrey que parece esbanjar luz ao lado de Will, eles
conversam animadamente com minha mãe, já que a empresa da mesma é
uma das patrocinadoras do hóquei e do futebol. Excito um pouco quando o
olhar da minha mãe me encontra, mas eu não iria me diminuir em sua
presença.

— Priminha — Abro um sorriso para Audrey e fecho a cara para Will e


minha mãe. — Jones e senhora Ludovicih.

— Difícil dizer mãe? Soube que foi para a Rússia, fico feliz em saber que
continua ajudando seu irmão.

— Alguém ainda tem que ajudá-lo, já que sua mãe não faz mais isso.

— Virou corno manso, Jace? — Viro-me para encarar Audrey que está
com um sorriso cruel nos lábios. — Depois de tudo o que ele te fez.

— Acho que nós dois somos cornos mansos. — Lhe lancei uma piscadela.

— Olha como fala com sua prima. — Senhora Ludovicih me adverte.

— Só não convença vovó a pedir que eu ajude Alexei novamente. Não a


coloque nesse meio. — Encaro minha mãe de frente e a mesma abre um
sorriso diabólico.

— Tendo ciúmes do seu irmão novamente? — Arqueia a sobrancelha loira.


— Não é grandinho para isso? Achei que tinha deixado essa fase, querido,
mas algumas crianças nunca crescem mesmo.

— Se lembre que seu preferido está se tornando pior do que eu já fui.

Deixo eles para trás e vou em direção aos corredores que tem por ali,
vejo uma porta que é para manutenção e entro. Encaro o local relativamente
pequeno, com uma série de painéis e uma saída de ar no teto.

Só queria um lugar para ter um tempo sozinho, absorver tudo que passei
nesses quatro dias, como a lembrança de Storm ficou viva em minha mente.
Como me perguntei a cada noite porque insistia em pensar nela depois de
tudo que dissemos um para o outro, então eu via ela a cada manhã na
Rússia, e qualquer pensamento sobre Storm se acabava e eu me lembrava o
porquê não poderia pensar em ninguém assim novamente.

Meu tempo a sós se acaba quando alguém entra na sala, a porta é fechada
em um baque e me viro para encarar o intruso, no caso, intrusa.

— Fala sério. — Storm tenta abrir a porta, mas uma série de risadas ecoa
do lado de fora.

— Agora, parem de se odiar. Esse enemies to lovers já deu. — Phineas


grita.

— Está se referindo a gente como um gênero de livro? — Exclamo,


irritado. — Abra essa porra, Rodriguez.

— Jace está de mau humor mesmo, vai se dar bem com o humor que
Storm se encontra hoje. — Lohan comenta, antes de ouvirmos os passos
deles indo embora. Nos deixando naquela sala, sozinhos.

Storm me olha irritada e devolvo o olhar, ela cruza os braços e faço o


mesmo. Duas crianças grandes, é isso que nos resumimos.

— Além de covarde é um idiota. — Resmunga.

— Eu sou covarde? — Gargalho.

— Fugir depois de quase beijar alguém e nem olhar para trás, isso é
realmente uma atitude de um covarde. — Desafia.

— Está chateada por que eu não te beijei? — Abro um sorriso malicioso.

— Não, nem um pouco.

— Aliás, eu não sou um covarde. — Me aproximo dela em um passo.

— Palavras vazias, suas atitudes provaram o que digo. — Sua


língua estala.

— Você não sabe de nada, não é a única que tem problemas. — Ranjo os
dentes.
— Meus problemas não me fazem ser menos corajosa. Apenas alguém
mais forte — Seu sorrisinho se alarga. — Teve medo de mim, Ludovicih?

— Nem todo mundo a teme ou a venera, Storm.

— Não é isso que metade do campus diz.

— Como se você se importasse com o que as pessoas dizem. — Peguei


ela nessa.

— Mas sabe, acho que você não é muito diferente dos demais alunos do
campus. Quando puxei a corda, eles fugiram — Se afasta em direção ao
canto da sala. — Agora vou arranjar um jeito de sair daqui.

— Por onde, gênia? A porta...— Chuto a mesma e nada de abrir. — Não


abre e não tem janelas.

— Tem passagem de ar. — indica para a grade estreita no teto.

— Isso não é nenhum Missão Impossível, onde você se esgueira pela


saída de ar.

— Sou a única que cabe ali dentro. — Coloca um dos pés na prateleira
dos monitores, Storm se coloca para cima e consegue se segurar na grade.

Ela fica agarrada na grade com os pés balançando no ar, não


conseguindo se impulsionar para cima. Explodo em uma gargalhada ao vê-la
desse jeito, pego meu celular e tiro uma foto do momento.

— Seu babaca, me ajuda a subir. — Guardo o aparelho no bolso e me


aproximo dela, segurando suas pernas e a ajudando a se impulsionar. Storm
consegue abrir a grade e se esgueirar para dentro, metade do seu corpo fica
para fora.

— Você ficou presa, não foi? — Começo a rir novamente, a mesma tenta
se mexer para sair, mas seu corpo nem se move do lugar. — Ficou entalada.

— Cala a boca. — Se remexe e aos poucos vai conseguindo sair até seu
corpo está pendurado novamente.

— Eu poderia te aju...— Storm cai em cima de mim e consigo segurá-la


sem cairmos no chão. — Sua maluca.
— Serviu bem como amortecedor — Pula do meu colo e fica cara a cara
comigo. — Sério, você é jogador e não consegue arrombar uma mísera
porta?

— Sério, que não conseguiu se esgueirar pela saída de ar, Tom Cruise?
— Storm revira os olhos. — Eu não sou um covarde.

Não sei porque tento afirmar isso novamente. Mas a verdade é que eu agi
mesmo como covarde, só não queria admitir isso para Storm.
É mais fácil sustentar uma mentira.

— Eu conheço um covarde quando vejo um. — Me olha de cima a baixo.

— Eu não sou covarde — A puxei pela cintura, passando minha mão pelo
seu pescoço, trazendo seu rosto para próximo do meu. Nossas respirações
se tornam uma só. — Sabe por que eu fugi? Porque quando eu confiei em
uma mulher acabei fodido, você nem me causou nada e eu já me sinto assim.

É Storm que se inclina e me beija, meu choque inicial passa quando nossas
línguas estão em contato uma com a outra. Solto um gemido com o leve
sabor de morango em sua boca, isso é a tentação.

Brigo pelo controle da situação e Storm faz o mesmo, tentando ter as


rédeas do beijo, não querendo que o outro ganhe. Só queremos saciar uma
vontade, uma sede que existe entre nós dois.

Mas acabo por perceber que posso sentir muito além de rancor por
Storm, esse pensamento me assusta e me afasto dela.
Seu sabor ainda fica em meus lábios e solto um gemido frustrado.

— Então isso tudo porque alguma mulher te magoou? — A mesma fingi


não ligar para o fato do que tínhamos acabado de fazer, mas assim como eu,
se encontra ofegante e querendo mais.

— Estou questionando sua dor? Então não questione a minha, assim como
eu não banalizo sua jaqueta, não banalize o que já ocorreu comigo. — Storm
se cala na hora com meu tom de voz.

— Não aja com grosseria para cima de mim, Ludovicih, eu sei que tem
algo mais aí embaixo. Não vou ficar me perguntando o que é.
— Já viraram Friends to lovers? — Phineas abre a porta e Storm sai
como um furacão. — A resposta é: não.

— Não aja como um babaca novamente. — Trombo com Phin, ao passar


por ele.
]
Voltando ao salão, observo Storm caminhando até a saída ao lado de
Lohan.

Saio na direção contrária e quando chego no estacionamento, me permito


pensar no que tinha acabado de acontecer.

— Porra. — Murmuro.

Me lembro dos seus lábios nos meus, na sua atitude de me puxar e me


beijar. Como minhas mãos desceram para sua bunda, como elas se
encaixaram.

Será mais difícil do que eu imaginava me manter distante de Storm depois


disso, não irei me permitir sentir nada por alguém novamente. Não é como se
um beijo pudesse levar alguém a se apaixonar, mas o meu medo fala mais
forte.

Eu não posso deixar alguém me quebrar novamente, não depois de me


destruir e destruir todos ao meu redor.
Capítulo 19 - Afastados
“Agora diga que me odeia
Que você não consegue aguentar mais
Mas eu sei que eu e você
Nós somos inevitáveis."
— Red Lights - Stray Kids.

Sinto seus lábios em meu pescoço enquanto suas mãos vão descendo
pelo meu corpo, minha pele vibra e queima por onde suas mãos vão
passando. Eu preciso de mais, preciso de mais dele.

— Por favor. — Suplico.

— Por favor, o que, Storm? — Ergo minha cabeça e o encontro com


aquele sorrisinho malicioso nos lábios.

— Jace? — Exclamei, horrorizada.

— O que você quer, amor? — Ronrona.

— Você. — Digo, ofegante.

Acordo no susto, que porra eu tinha acabado de sonhar? O que aquele


beijo fez comigo? Tudo na vida tem limites, sonhar com Jace é um deles.
Lembrar da sua boca na minha, faz todo meu corpo se arrepiar. Eu não
posso ficar assim, não com alguém como Jace, alguém que me faz querer
arrancar os cabelos e beijá-lo com vontade.

Da onde estão saindo esses pensamentos? Eu estou lendo muito ou...Não


gosto de pensar que posso sentir mais do que atração por ele, já basta todos
meus traumas e problemas familiares, me apaixonar não podia estar nesse
meio.

Ninguém está falando de paixão aqui, ninguém.

Pelo amor, eu sou a pessoa que já dispensou vários caras em um curto


espaço de tempo e levo a sério o termo “é só uma ficada.”

Chego na faculdade com uns vinte minutos livre, depois de não conseguir
mais voltar a dormir. Resolvo passar na biblioteca para distrair um pouco
minha cabeça, estou a caminho de lá quando vejo Will e seu grupinho de
machos radioativos conversando, eu não iria parar para ouvir até o nome da
minha tia sair da sua boca.

— Sim, cara, a fodida daquela treinadora acha que pode fazer uma nova
votação para capitão, como se a universidade quisesse um antigo delinquente
como líder. Se eu pudesse, tiraria o sorrisinho daquela vadia, que acha saber
mais do que um treinador homem.

— Como é que você chamou minha tia? — Will engole a seco quando se
vira para me encarar.

— Está precisando de um cotonete? — Dá risadas com seus amigos, a


risadas dos outros idiotas se cessam ao ver meu semblante.

— Acho melhor parar, cara. — Um loiro indica para mim.

— De falar verdades sobre a imbecil da sua tia? — Me aproximo até ficar


na sua frente.

O peguei pelos ombros, acertando no meio das pernas, Will cai de joelhos
e aproveito para acertar seu rosto com um soco.

Desfiro uma série de socos em sua face, não parando nem ao ouvir os
amigos de Will gritarem, até sentir alguém me puxando para longe, me debato
nos braços de Jace.

— Ele desmaiou, Storm — Sussurra em meu ouvido e amaldiçoo meu


corpo por se arrepiar. Meu olhar vai para Will, estirado no chão. — Vamos.

Deixo Jace me levar para longe dos olhares amedrontados dos amigos de
Will e olhares de julgamento de alguns alunos que já estavam surgindo ali.

Ele me leva para atrás da biblioteca, solto um grito estrangulado, no


momento que percebo que há mais ninguém por perto.

— Sua mão. — Indica para minha mão suja de sangue.

— Nem venha querer ajudar.

— Não, não mesmo — Encara-me com um olhar gélido. — Onde


aprendeu a bater daquele jeito?

— Luta livre, quer sentir um gostinho? — Solto uma risada amarga. —


Pelo jeito, você vai ganhar o cargo de capitão.

— É o que dizem.

— Sinto muito pelo time. — Me afasto dele, mas Jace me segura pelo
pulso, virando-me para encará-lo.

— Melhor limpar sua mão, os machucados podem infeccionar.

— Achei que fosse estudante de veterinária e não médico.

— Guaxinim é um animal, não? — Lhe dou um soco na lateral do


estômago com a mão livre.

— Cobra é também um, não? — Jace se contorce. — Que porra


aconteceu com você?

— A Rússia aconteceu comigo — Seu olhar se tornou perdido por um


segundo, depois volta a se tornar frio. — Foi como reviver quase todos meus
demônios em um lugar.

— E onde estão os outros?


— Aqui, na minha família — A confissão sai rapidamente dos seus lábios.
— Conviver com pessoas que te lembram o porquê você não é bom o
bastante, te faz se tornar frio.

É isso que sinto com minha família, eu e Jace estamos carregando traumas
e um passado conturbado com pessoas que eram para ser nossa base.

— Se sente assim, não? Foi alguém da sua família que partiu seu
coração, não foi? — Pisco rapidamente.

E-Ele… Ele foi a pessoa mais próxima a acertar sobre isso, Jace
conseguiu chegar mais perto do que ninguém.

— Nunca consegui acreditar que alguém como você teria o coração


partido por alguém romanticamente.

— A pessoa não faz parte mais da minha família. — Dessa vez eu me


afasto e é para meu bem.

Quando estou longe o bastante de Jace, coloco todo o conteúdo do meu


estômago para fora.

Eu preciso me manter distante dele, antes que descubra tudo o que tento
manter oculto do resto do mundo.

Como o dia começou sonhando com ele até Jace quase descobrir o que
significa o Broken Heart?

Preciso admitir para mim mesma que Jace é mais perigoso do que eu
imaginava, mas eu também sou e não irei me deixar abater, mesmo por
alguém que esteja confundindo toda minha cabeça, em pouco tempo.
Dou risada com o carrinho de kart do Phineas que derrapa com tudo na
pista, Santiago bate em seguida nele e ambos comem poeira. Avanço com
meu carro por eles e consigo chegar em primeiro na chegada, desço do meu
carro e espero Jace chegar em seguida.

— Como você conseguiu aquela ultrapassagem? — Nem ouso olhar para


o mesmo e foco em Lohan que estaciona com seu carrinho ao meu lado.

— Me lembre porque a gente não vem mais nisso desde os quinze anos.
— Retira seu capacete e mexe em seu cabelo.

— Por que briguei com um dos instrutores? Talvez seja isso. — Digo,
inocente.

— Cheguei — Bela estaciona seu carro ao lado de Jace e o mesmo ajuda


ela a sair. — Valeu, Ludovicih, mas ainda estou com raiva que você conseguiu
me passar.

— Argh! Tem areia na minha boca. — Phineas vem se arrastando com um


Santiago cheio de ódio logo atrás.

— Você me fez bater. — Dá um tapa na cabeça dele.

— Ninguém ainda teria me vencido. — Jogo meu cabelo.

— Jace quase conseguiu. — Bela pontua.

— Quase, ainda não é ganhar.

— Então que tal uma corridinha entre nós dois? — Pela primeira vez o
encaro nessa noite.

Sustentamos o olhar um do outro, me fazendo esquecer do maldito mundo.

Os olhos azuis que podem descobrir cada segredo meu, isso é o choque
que eu precisava lembrar.

— Passo — Sou a primeira a desviar o olhar. — Vou ao banheiro.

Dou meu capacete para Bela, indo em direção ao corredor que leva até o
banheiro, é no mesmo corredor que a entrada para o kart.
Consigo ver algumas famílias chegando com seus filhos e sinto um
pequeno incômodo em meu peito, nunca senti inveja de quem tem uma
verdadeira família, é mais um lembrete do que perdi.

— É estranho ver famílias felizes quando você nunca teve uma — Sinto a
respiração de Jace em meu pescoço, não ouso me virar para encará-lo. —
Sei como é.

— O que você quer? Não posso ir ao banheiro sozinha?

— Não, se está me evitando. Quem está sendo covarde agora? — Me


viro para encará-lo.

— Com certeza, essa palavra não vai ser dirigida a mim. Eu não fugi de
nada por medo do passado, eu bati de frente com cada um dos meus
problemas. E você, Jace? — O mesmo se cala. — Foi o que eu pensei, o que
tanto sua família te fez?

— Me destruiu — Seu olhar penetra o meu. — Cada parte da minha alma


foi destruída.

— E agora você está de volta.

— Não tive escolha.

— Assim como não teve escolha quando sumiu por quatro dias? —
Murmuro.

Sim, essa merda realmente me atingiu de alguma forma.

— Família — A palavra sai carregada de sarcasmo. — Alguém que me


machucou precisava de mim e fui ajuda-lo, não é idiota? Pode fazer piada, eu
deixo.

Não é algo que eu conseguiria rir, já que faço a mesma coisa com meu pai,
toda vez que ele me chuta, eu o ajudo. Família ou desconhecidos? Talvez
não tenha muita diferença.

— Por que me beijou naquele dia?

— Porque se eu não tivesse beijado, você teria e de acordo com seu


histórico, poderia ter tentado fugir. — Jace abre um sorrisinho sujo.
— Não se preocupe, Storm Brassard, de agora em diante não vou deixá-
la. — Suas palavras são ocas para mim. Qualquer um está destinado a partir
um dia.

— Não sei se o quero por tanto tempo assim, Ludovicih — Ergo minha
cabeça para olhá-lo de frente. — Sou de enjoar bem rápido, gosto de manter
certa rotatividade.

— Poderíamos tentar ser amigos.

— Por que? A gente não se gosta e você não confia em mulheres.

— Sabe o que eu acho? Que a gente se odeia porque somos parecidos


um com o outro — Tenho que rir. — Sério, e sobre a parte de não confiar em
mulheres, você é alguém que pode me destruir assim como outra já fez, então
opto por sermos amigos.

— Está tentando poupar seu coração? — Abro um sorrisinho, mesmo que


entendesse onde ele quis chegar. Assim como eu, ele quer poupar o que
restou do seu coração, nós dois poderíamos nos destruir facilmente.

— Talvez, agora podemos dar uma trégua e sermos amigos?

— Não podemos ser amigos. — Jace me encara sem entender.

— Por que? — Sua voz soa, dolorida? Ou algo próximo a isso.

— Porque amigos não fazem isso. — O puxo pela jaqueta e subo na ponta
dos pés para beijá-lo.

Não era para me manter afastada? Não era eu que mantenho certa
rotatividade?

O beijo é terno no começo até começarmos a briga de quem está no


comando, Jace morde meu lábio inferior, solto um grunhido com a ação. Subo
em seu colo e esqueço que estamos em um local familiar, cheio de crianças.

— Foda-se, me destrua, Storm Brassard. — Suas mãos vão para minha


bunda.

Sua boca reivindica a minha para si e Jace esquece completamente o papo


de “vamos ser amigos”. Não, ou nos odiávamos ou… Pensamento perigoso,
mas é isso ou nada com nós dois.

Somos pessoas quebradas, cheias de traumas e problemas de confiança,


mas agora. Nesse instante, colocamos todos esses problemas por terra.

— Jace? — Ele paralisa no mesmo instante.

O mesmo desgruda sua boca da minha e segue com o olhar até a pessoa
que o chamou.

— Sasha? — Seu corpo fica tenso e a máscara fria volta ao seu rosto.
Acho que a Elsa está de volta.

— Jace Durand Ludovicih, isso é um estabelecimento para famílias. Quer


levar sua vadia para um lugar, vai para o motel — Desço na mesma hora do
colo de Jace e encaro Ayla Ludovicih. — Storm Brassard?

— Não era vadia? — Abro um sorrisinho afiado.


Capítulo 20 - Coisas em comum
“Um coração partido é tudo o que restou
Eu ainda estou consertando todas as rachaduras
Perdi algumas peças quando
Eu o levei, o levei, levei para casa.”
— Arcade - Duncan Laurence.

Ouço a interação entre Storm e minha mãe, mas minha concentração é em


Sasha, a mulher que eu me apaixonei, a que me destruiu, está aqui.
Agora, na Califórnia, com minha sobrinha em seus braços, sua filha.

O fruto da sua traição com meu irmão, mas Alexei não está por perto.

— Cala a boca, mãe. — Rujo de raiva e meu olhar vai para Storm, a
mesma entende a deixa e me puxa pela mão, em direção a saída.

Passamos por Sasha e meu olhar vai para a pequena neném em seus
braços, sinto meu estômago se revirar e desvio o olhar.

— Só me seguir. — Storm avisa quando chegamos ao estacionamento.

Subo na minha moto, com meu coração batendo mais rápido que o motor e
a sigo até uma das áreas mais luxuosas de Beverly Hills, como se todo o
lugar já não fosse, ainda tem as partes mais luxuosas ainda.
Storm entra em um estacionamento subterrâneo de um prédio com uns
trinta andares, estacionei meu veículo ao lado do seu.

— Porra, quanto de dinheiro sua familia tem?

— Quanto de dinheiro eu tenho — Me lança uma piscadela, nos dirigindo


até o elevador. Olho para a estrutura metálica como se fosse um monstro de
sete cabeças. — Faço investimentos.

Ela acaba percebendo meu olhar apavorado e que ainda não tinha entrado
dentro da caixa metálica.

— Tem medo de elevadores?

— Quando eu tinha cinco anos de idade fiquei preso no elevador da


mansão, acabei ficando com medo desde então. — Não adiciono a parte que
fiquei cinco horas sozinho, no escuro até meu pai decidir usar o elevador e ver
que o mesmo tinha parado, ninguém sentiu minha falta durante esse tempo.

— Certo, vem — Agarra minha mão, meu corpo tenciona quando estamos
dentro daquela caixa. Storm solta minha mão logo depois. — Olhe para mim,
Ludovicih.

Faço o que ela pede, no caso ordenar já que pedidos não são feitos com
Storm Brassard. A ouço e ergo minha cabeça para encará-la, seus olhos
pretos são como um calmante.

Eu gostaria mesmo de saber se anos atrás podíamos ter sido amigos,


Storm podia ter sido minha âncora assim como Audrey foi.

— Está pensando em quê? Não vamos cair.

— Eu não tinha pensado nisso até você dizer — Dá risada. — Eu não sei,
desde que descobri que já nos conhecíamos, fico pensando se pudéssemos
ter sido amigos.

— Não adianta pensar no passado, Ludovicih, ele não pode ser mudado.
Talvez todas nossas atitudes nos levaram aqui, hoje.

— Dentro de um elevador? — Abro um sorriso.

— É, dentro de um elevador.
Pela primeira vez em anos, entrar em um elevador não foi tão difícil porque
Storm está aqui, comigo. É realmente irônico imaginar que a mulher que jurou
me matar, agora está me trazendo uma sensação de conforto, até esqueço
de quem vi alguns minutos atrás.

— Chegamos — O elevador para no décimo quinto andar. Saímos e


Storm olha para nossas mãos unidas. — Em que momento você pegou minha
mão de novo?

— Eu sou uma pessoa com medos, ok? — Damos risada.

Só então percebi que o elevador parou dentro de um apartamento, um


apartamento com paredes todas pretas e móveis da mesma cor, até a
decoração também é em preto.

— Isso é a BatStorm. — A mesma gargalha e o som é tão gostoso de se


ouvir, é a mesma risada de quando a ouvi rindo com Bela.

— Vai precisar de bebida? — Caminha em direção à cozinha, que é ao


lado da sala. Storm abre a geladeira. Adivinhem a cor?

— Vai me embebedar para que eu possa falar meus segredos mais sujos?
— Aceito a garrafa de cerveja e Storm fica com uma garrafa de água.

— Nunca obrigaria alguém a despir suas cicatrizes para mim, faça o que
quiser. Ainda não temos confiança no outro, certo? — Se joga em seu sofá de
couro e me sento na poltrona de frente para o mesmo. Por algum motivo a
poltrona é vermelha.

—Não é lá grande coisa, só minha namorada que dormiu com meu irmão e
engravidou dele — Tomo metade do conteúdo da garrafa em um único gole.
— Meus pais decidiram ficar ao lado dele, já que o mesmo jurou que tinha se
apaixonado pela minha namorada.

— Minha melhor amiga dormiu com meu pai e agora, eles vão se casar e
ter filhos. Acho que realmente temos coisas em comum.

— Isso é horrível de se admitir?

— Tem um gosto amargo. — Faz careta.


A história não é apenas essa, tem mais coisas e como eu reagi a toda essa
merda, assim como a história de Storm é mais profunda também. Mas como
ela pontuou, ainda não confiamos um no outro ou algo do tipo, e de acordo
com meu histórico, eu não devo mesmo confiar nela, sequer deveria estar
aqui.
Porém, estou e me sinto confortável ao seu lado, isso é estranho.

Storm liga a televisão depois de um silêncio que se instala pela sala, passa
Hotel Transilvânia e me jogo para sentar ao seu lado. Na parte em que eles
começam a cantar Você é o meu Tchan, eu e Storm começamos a cantarolar
juntos até estarmos cantando com toda força em nosso corpo.

— Se você contar para alguém que assisto filmes infantis, eu te mato. —


Diz ofegante depois de nossa apresentação.

— Seu lado assassino apareceu, estava ficando preocupado com o


sumiço dele. — Storm me acerta uma almofada no rosto.

— Você é um babaca. — Revira os olhos.

— O babaca que você beijou duas vezes, não se esqueça.

— Não me esquecerei, ainda sinto o gosto pútrido na boca — Finge que


vai vomitar.

— Assim que vai tentar superar isso? “Porque amigos não fazem isso”. —
Repito suas palavras.

— Eu não acredito que falei isso para você.

— Eu gostei bastante — Me aproximo, a puxando para meu colo. —


Agora é minha vez.

Pego um emaranhado dos seus cabelos e aproximo sua boca da minha,


quando nossas línguas estão juntas é como se todo meu corpo acendesse
em resposta. Storm pela primeira vez, me deixa no controle e me delicio com
isso.

Puxo sua cabeça para trás deixando seu pescoço à mostra, vou descendo
meus lábios até chegar no alto do seu decote.
Solto seu cabelo e vou descendo sua jaqueta, mas percebo quando o corpo
de Storm fica tenso e me lembro sobre não tocar na peça.
— Acho melhor não fazermos nada que iremos nos arrepender depois. —
A tiro do meu colo e Storm parece perdida por alguns instantes, ajeitando a
peça de roupa em seu corpo.

Eu também não estou nem um pouco pronto para isso, ainda mais depois
de quem eu vi mais cedo. Seja lá o que eu e Storm estivermos fazendo, é
melhor pararmos para o bem de ambos.

Chego no treino com antecedência, hoje é a votação que decidirá o novo


capitão do time. A treinadora Ferraz já tinha conversado comigo ontem, sobre
meu sumiço de quatro dias, mas ela sabe que foi por motivos familiares e não
puxou muito minha orelha.

Eu só teria que recompensar no próximo jogo que é daqui dois dias, vamos
de ônibus até Nevada, uma viagem de dez horas com os caras resmungando
entre si.

— Vamos começar. — A treinadora coloca uma caixa no meio da sala de


revisão, onde assistimos aos jogos antigos.

Todos já tinham chegado e aos poucos cada um vai se levantando para


colocar um papel na caixa, quando Will se levanta para ir. O mesmo me
encara com um sorrisinho certo que já ia ganhar, mas a surpresa vem vinte
minutos depois.

— Parabéns, Jace Ludovicih, você é o novo capitão do time — Os caras


se levantam para me parabenizar. — Jones, iremos arrumar uma nova dupla
para você.

— O que? Acha mesmo que vou continuar em um time que nem sou o
capitão? E nem que eu nascesse de novo, iria obedecer ordens de um cara
que quase matou a avó. — Me levanto em um pulo, o encarando.
— Repete, seu otário. — Prendo meus punhos ao lado do corpo. Toda a
sala fica em silêncio, de repente.

— Não quer que todos saibam que você quase matou sua avó porque
estava envolvido com...— O barulho do apito da treinadora ecoa pela sala
antes que Will termine.

— Fora daqui, Jones, como você pontuou que não faz mais parte do time,
não tem o que fazer aqui. — Will sai batendo os pés.

— Tinha que ser o babaca para estragar a comemoração. — Ethon,


resmunga.

— Concentração — Todos nós voltamos para encarar a treinadora. —


Ludovicih sua nova dupla vai ser o Santiago, gosto da interação entre vocês
dois nos treinos — Trocamos um aceno de cabeça..— Quero todos vocês
mais tarde no treino.

— Eu não acredito que finalmente não teremos Will como capitão. —


Phineas me abraça.

— A família de vocês frequentam o mesmo clube. — Comentar Ethon.

— Elas são donas do mesmo clube, não quer dizer que eu goste de
Jones, só significa que o aguento na faculdade e nas festas da empresa, já
não bastava mais no time também. — Rodriguez faz careta.

— Parabéns, Ludovicih, você será um bom capitão. Agora, pode me dizer


para onde você e Storm foram ontem? — Lohan abre um sorriso malicioso.

— Então, Lohan vai ter que dizer que ajudou sua prima no carrinho dela.
— Phineas dedura.

— O segredo dos fofoqueiros é nunca revelarem informações um do


outro. — Revira os olhos.

— Espera, você e minha prima?

— Não, ela namora.

— Mas isso não te impediu de pegá-la pela cintura, quando ela quase caiu
no chão. — Bastien fuzila Santiago com o olhar.
— O foco não era para onde Jace e Storm tinham ido? — Os caras
concordam com a cabeça. A maioria nem estava ontem.

— Se acha que eu e Storm estávamos ficando…

— A gente não acha, temos certeza. — Phineas vira seu celular com a
filmagem do corredor, na imagem aparece eu e Storm nos beijando ou quase
nos engolindo. Uau! O beijo foi quente mesmo.

— Como vocês conseguiram isso? — Digo, horrorizado.

— Sou bom em hackear. — Santi dá de ombros.

— Quero lembrar a vocês que eu e Storm não gostamos um do outro.

— Aham, sei. — Todos eles dizem juntos.

— Sério. — Eles reviram os olhos.

— Capitão, acho que você e minha amiga se gostam há um tempo. Mas


se deixam levar tanto nas brincadeiras e ofensas, que não percebem o óbvio.

— Parecem até Feyre e Rhysand, no começo do segundo livro — Encaro


Phineas, sem entender. — O que? Nunca leram Corte de Espinhos e Rosas?
O fato que o personagem do Rhys sempre teve um tipo de laço com a
personagem Feyre, mas a mesma fingia que não existia porque achava amar
outro de verdade…

— Storm ama outro? — Pergunta Santiago.

— Deixa eu chegar na moral da história, por favor? — Phin volta sua


atenção para mim. — Eles ficavam implicando com o outro, fazendo piadinha
de duplo sentido até a Feyre descobrir que tinha uma ligação com o Rhys…

— Aí eles comeram a sopa. — Completo.

— Você leu — Dou de ombros. — Já sabe que podem negar o quanto


quiserem, vocês vão ficar juntos no final.

— Sinto te decepcionar, Rodriguez, mas não vamos. Isso não é um livro,


muito menos eu sou o Rhysand.
— O amor é uma caixinha de surpresas, capitão, vocês podem ter seus
traumas, mas isso não impede o amor de acontecer.

— Isso foi a coisa mais melosa que você já disse. — Santiago revira os
olhos.

— Alguém tem que ser o cúpido aqui. Jace e Storm são o casal que
podem ficar juntos mas não querem, seja lá por qual motivo — Phineas
aponta para Lohan. — E Lohan não pode ficar com Audrey porque ela já é
apaixonada por outro, logo a vez que nosso francês resolve se interessar por
alguém daqui.

— Eu não gosto de Audrey, isso seria um desrespeito com o


relacionamento dela.

— Me engana que eu gosto, Bastien.

Logo todos estão falando de outro assunto enquanto caminhamos em


direção às nossas respectivas aulas, mas as palavras de Phineas ficam
flutuando na minha cabeça.

Quando estou entrando no meu prédio de aula, me viro para encarar Storm
que entrava no prédio, ao lado. Talvez se fossemos pessoas diferentes com
passados diferentes…

Mas, somos apenas nós e não vamos dar certo, mesmo assim ainda
estamos nos torturando. Por que continuamos nos atraindo assim?
Capítulo 21 - Aqui está você
“Eu quero que você fale sobre como você se sente por dentro
Você sempre estará segura comigo, basta colocar sua mão na minha
Apenas me deixe ser sua terapia esta noite.”
— Therapy - Noelle.

Caminho em direção à minha moto, depois de quatro aulas consecutivas


de um mesmo assunto. Se no final disso tudo eu não conseguir passar na
prova dos advogados, vou viajar por um ano em período sabático. Estudar
que nem uma maluca tem que valer de algo.

Ouço alguém me chamando e me viro para ver Audrey caminhando em


minha direção, suas roupas parecem fazer parte do desfile de alguma grife.
Vestido rodado branco curto, botas rosas que combinam com a jaqueta da
mesma cor e uma bolsa da Gucci branca também, ainda tem aquelas tiaras
estilo Blair Waldorf. Os dias que assisti Gossip Girl, valeram de alguma coisa.

— Olá, Evans — Me apoio na moto e cruzo meus braços. — Já sei, veio


falar sobre seu namoradinho.

— Primeiro Jace, agora você. Qual é o problema de vocês baterem no


meu namorado? Will recebeu alta hoje.

— Talvez porque seu namorado seja um babaca? Mas você já sabe disso,
nenhuma novidade sob esse sol.
— Você também não é a melhor pessoa do mundo — Abre um sorrisinho
afiado. — Não bata mais no meu namorado.

Ela já ia se virando, mas a interrompi.

— Sabe uma coisa engraçada? Você faz questão de proteger seu


namoradinho, mas quando você precisou, ele não fez isso por ti. — Audrey
engole a seco.

— Will é alguém ocupado.

— E você, não? — Arqueio a sobrancelha. — Quando inventaram aquele


boato que usava drogas para emagrecer. Will não levantou um dedo sequer
para te defender.

— Aquilo, era uma fofoca qualquer, não tinha porque ele falar algo.

— Mesmo assim teve que provar que era mentira e em nenhum momento
Will esteve lá, mas já sabe disso. Eu não tenho nada a ver com sua vida ou
seu namoro, mas é triste ver uma mulher se rebaixando para caber dentro do
mundinho de um homem.

— Engraçado, eu vejo tanta gente se diminuindo para caber em seu


mundo — Solta uma risada amarga. — Não venha querer apontar os defeitos
dos outros, quando você mesma tem vários. Quase todo mundo dessa
faculdade já se sentiu usado por você, então não faça o mesmo com meu
primo. Não enrole Jace em sua teia.

— Acho que Jace é bem grandinho para se proteger.

— Talvez, mas aquele cara já foi usado demais por alguém. — Com isso,
ela se vira e vai embora com seus saltos fazendo barulho pelo chão do
estacionamento.

Tenho que controlar a risada, como esse papo virou contra mim? Ok, eu
mereci já que não tenho nada a ver com a vida dela.
Sério que eu me tornei a vilã da universidade?

— Você? Falando com Audrey? — Bela vem em minha direção.

— Já fomos colegas nas torcedoras — Dou de ombros. — Nossa abelha


cruel veio me avisar sobre não bater mais em seu namoradinho.
— Ela tinha que te agradecer.

— Concordo — Dou risada. — Também veio avisar para eu não deixar


Jace cair em minha teia, pelo jeito faço muito isso.

— Não é como se os caras vinhessem até você na maior inocência, sabe


que não merece essa fama que te puseram.

— Eu sei — Abro um sorriso torto. — Talvez eu seja a vilã de muitos


pesadelos.

— Ou a rainha do sonho de alguém — Minha melhor amiga sugere. —


Talvez de um certo russo.

— Ele só tem descendência russa.

— Já tá sabendo mais do que muita gente. Eu shippo vocês dois, Phineas


também shippa.

— Phineas não pode ver ninguém ao lado do outro que já shippa — Reviro
os olhos e subo na minha moto. — Vai querer carona?

— Não, eu preservo minha vida e tenho grupo de estudos agora. —


Ouvimos a risada de alguém e nos viramos ao mesmo tempo para ver Pietro
desfilando ao lado de uma mulher linda. Ela é alta com cabelo cacheado e
pele negra, seu uniforme curto das líderes destaca seu corpo.

— O que essas mulheres lindas veem em Pietro? — Bela ainda encarava


os dois, antes de voltar sua atenção para mim. — Bela?

— O que? — Balança a cabeça. — Tenho que ir, te amo.

— Também te amo. — Aceno, a observando correr na direção contrária


que Pietro foi, mas a biblioteca é para onde ele está indo…
Respiro fundo e inspiro mais uma vez, coloco minha mão sobre meu
coração e observo o mesmo batendo muito rápido. Malditos pesadelos, às
vezes eles param e às vezes voltam.

Mesma cena, repetida milhares de vezes na minha cabeça, como se eu não


me lembrasse o bastante daquele dia.

Desço da minha cama e busco minha jaqueta no closet, quando saio do


meu prédio, a brisa fria vem com tudo nas minhas pernas desnudas.
Caminho em direção a praia, que parece ficar mais frio quanto mais me
aproximo da brisa gelada.

Sento em um banco de frente para o mar e respiro o ar salgado, meus


batimentos cardíacos vão diminuindo com o tempo. Puxo meus joelhos para
mim e descanso minha cabeça sobre eles.

As ondas batem com tudo na areia e o som preenche o lugar, conseguia


ouvir bem ao fundo o barulho dos carros passando, mas ainda assim, aqui é
um lugar calmo.

Nada comparado com o tumulto que minha alma se encontra, essa


sensação de paz é tão passageira que logo eu sair daqui, tudo vai voltar com
mais força ainda. É como se essa sensação de bagunça interna nunca me
deixasse, mesmo com tanta terapia, eu continuo essa confusão ambulante.
Talvez porque eu não me abro, totalmente com minha terapeuta.

— Por que sempre tenho que te encontrar? — Ergo minha cabeça e


encontro seus olhos verdes mais escuros por conta da pouca luz.

— Você mora a uns vinte minutos daqui, eu que devo estranhar o porquê
está aqui. — Murmuro sem muita animação.
— A praia mais perto é a daqui. — Mentira descarada e ele sabe disso, a
praia mais perto fica a uns cinco minutos da sua casa.

— O que quer, Jace? — Ele se senta ao meu lado.

— Meu irmão chegou na Califórnia.

— Sério, como você consegue? — Me viro para encará-lo. — Desabafar


tão facilmente.

— Muitos anos de terapia?

— Humpf! — Abano com as mãos.

— Não é como eu desabafasse com qualquer um porque ninguém


entenderia, mas você entende. Você não me julga, me ouve e até rir, faz as
coisas ficarem menos difíceis. Storm, ninguém mais sabe tanto sobre mim
quanto você e isso é estranho já que queremos nos matar metade das vezes.

— Resolveu logo falar para pessoa que não gosta de você?

— Acho que já passamos desse estágio, já nos conhecemos muito bem


há três meses. — Abre um sorrisinho.

— Três meses tão infelizes. — Balanço minha cabeça e Jace gargalhar.

Um silêncio confortável recai sobre nós dois, penso no dia que o levei até
meu apartamento — já tem algumas semanas — e deixei claro o fato de não
confiarmos um no outro. Então não sei para que, resolvi abrir minha boca
agora.

— Eu peguei eles dois na minha cama, no dia do meu aniversário, vai


fazer um ano dentre uns dias. O dia que peguei minha ex-melhor amiga
fodendo com meu pai, na minha festa de aniversário — Solto uma risada
fraca. — Em nenhum momento, ele se desculpou, apenas abriu um sorriso
sujo antes de me expulsar do quarto e Alisson tentar vestir sua roupa,
repetindo mil vezes desculpas.

Me viro para encarar Jace que está vermelho de raiva, tentado a matar
alguém. Que ótimo, somos dois com veia sanguinária.

— Seu pai nunca te pediu desculpas? — Cerra os dentes.


— Acho que puxei isso dele — Dou de ombros, voltando minha atenção
para o mar, o sol começa a surgir ao fundo. — Acho que não mereço um
pedido de desculpas, mereço essas merdas todas.

— Não, qualquer um merece desculpas, assim como devo as minhas


como te tratei naquele dia. Eu não tenho nada a ver com o porquê você usa
essa jaqueta.

— Tudo bem, Ludovicih, não é como se tivesse me machucado.

— Mas eu sei que machucou. Quem te quebrou, Storm? Quem te fez se


tornar essa pessoa?

— A pergunta deveria ser: Quem não me quebrou? — Me levanto do


banco e o encaro. — Acho melhor você voltar logo, daqui a pouco teremos
aula.

— Dane-se à nossa aula. — Jace se levanta e me puxa para seus braços.


Fico rígida até relaxar, Jace me aperta contra si e apoio minha cabeça em
seu peito.

Respiro seu cheiro amadeirado, e ficamos encarando o nascer do sol


enquanto fico ouvindo as batidas do seu coração. Como esse cara consegue
me desmontar assim? Eu odeio abraços e esse… eu não odeio, chega nem
perto disso.

— Vamos ficar bem. — Murmura em meu ouvido.

— Não tem como prometer o impossível, Elsa.

Eu sei que Jace conseguiria pegar os resquícios do meu coração e jogá-los


fora, por isso não posso dar esse poder em suas mãos porque algo dentro
de mim quer isso. Eu não tinha percebido, deixando o rancor falar mais alto,
mas agora eu consigo perceber.

Jace Ludovicih pode ser a destruição de tudo que tento manter e eu não
posso me perder, não posso deixar minha confiança nas mãos de outra
pessoa novamente.

— Eu não vou te machucar.


— Todas as pessoas estão destinadas a machucarem as outras, é só
questão de tempo — Me solto do seu abraço e fico cara a cara com ele. —
Mas eu vou te machucar, Jace, eu vou quebrar seu coração como faço com
tantas pessoas.

— Eu sei, eu deixo — Abre um sorriso. — Pode me machucar, Storm,


pode gritar, me bater, seja o que for. Eu vou continuar aqui, mesmo você não
gostando.

— Quando a corda apertar e você estiver me xingando de diferentes


nomes, vai repensar isso. — Reviro os olhos.

— Talvez — Dá risada, mas logo fica sério. — Não me distancie por


medo.

— Não tenho medo.

Eu com certeza tenho medo dele, medo dele saber tudo que escondo do
resto do mundo. Ele viu algumas partes das minhas feridas e as recebeu de
braços apertos, isso me assusta.

— Mentiras não caem bem em você, Storm Brassard.

— E compaixão não cai bem em você, Jace Ludovicih. Você tem seus
próprios demônios, por que se preocupar com os meus?

— Eu também não sei, sabe o quanto estou abrindo mão por isso? Fiquei
meses remoendo na minha cabeça o quanto não devo confiar ou me
preocupar com ninguém novamente, eu ainda penso nisso, mas me desgrudo
da ideia quando vejo o quão quebrada você é.

— O quão quebrado nós somos — Murmuro, voltando minha atenção para


o céu. — Eu devo ir embora.

— Eu deveria estar na praia que é mais perto do meu apartamento. — Dá


de ombros.

— Mas aqui está você.

— Aqui estou eu…


Capítulo 22 - Contra o mundo
“O mundo não é perfeito, mas não é tão ruim assim
Se temos um ao outro e isso é tudo que temos
Eu serei seu irmão e segurarei sua mão
Quando o mundo não for perfeito, quando o mundo não for gentil.”
— If We Have Other - Alec Benjamin.

Puxo a mesma pela cintura e a coloco contra o muro do ginásio, Storm


revira os olhos com o ato.
Pode passar o tempo que for e ela continuará revirando os olhos para mim,
acabou se tornando seu charme irritante.

— O que você acha que está fazendo? — Olha para os dois lados, antes
de voltar sua atenção para meu rosto.

— Não quer ser vista comigo? Estou magoado. — Faço beicinho e Storm
se aproxima, mordendo meu lábio inferior.

— O que me fez beijar um cara com um ego tão grande? — Tenho que
dar risada.

— Diz a pessoa que também tem um grande ego.


— Sério, o que você quer? — Percebo que sua paciência já está
chegando no limite. Nenhuma novidade.

— Seu aniversário está chegando, quero te levar em um encontro no dia


— Storm joga a cabeça para trás e gargalhar alto. — O que foi?

— Por que raios vou sair com você, justo no meu aniversário?

— Porque um...— Ergo um dedo. — Você e eu já nós gostamos…

— Há controvérsias — Me inclino e mordo seu pescoço. — Pelo jeito o


sanguessuga aqui não sou eu.

— Eu sei chupar outras coisas também, mas continuando — Ergo meu


segundo dedo. — Já nos pegamos e número três: existe uma química
inexplicável entre nós, o rancor se transformou em química.

— Um: Nós toleramos, dois: beijar quer dizer na...— A interrompi lhe
dando um beijo.

O beijo é nada suave, apenas carnal e cheio de desejo, mordo seu lábio
inferior e Storm solta um pequeno gemido em meu ouvido. Tenho que me
esforçar para me distanciar dela.

— Pode continuar. — Abro um sorrisinho sujo ao ver como a mesma ficou


desconcertada.

— Três: Umas faíscas não dizem nada.

— Quer que eu te beije de novo? — Storm me dá um empurrãozinho e se


afasta.

— Não vou sair em um encontro, eu nem sei mais o que é isso.

— Já está velha demais? — Debocho.

— A velha aqui ainda tem energia para muitas coisas. — Diz ronronando.
Fico um pouco chocado, ela acabou de ronronar para mim? Talvez, meu
coração tenha errado uma batida.

— Pode fazer isso de novo. — Digo, atordoado.


— O que? — Abre um sorrisinho sujo.

— Ronronar.

— Acha que só você pode mexer com uma pessoa assim? — Se


aproxima de mim e fica na altura do meu ouvido, ronronando: — Eu também
consigo fazer uma pessoa perder os sentidos.

— Acabou de admitir que eu causei isso em você.

Observo Storm se afastar, eu ia conseguir arrumar um jeito de sair com


ela. Eu não sei da onde tinha saído essa ideia, mas talvez depois do meu
passado aparecer, fiquei com isso na cabeça.

Talvez eu pudesse arriscar tudo por Storm, mas será que ela seria capaz
do mesmo? Cada um tem seu caos pessoal, cada um já passou por um
trauma que o machucou de alguma forma, tenho a certeza que os de Storm a
machucaram de uma forma bem pior.

Me lembro de como ela ficou atordoada quando falei sobre a jaqueta, sei
que quase acertei o motivo dela usar aquela armadura, mas só descobriria de
fato se Storm um dia me contasse, não vou mais interferir nisso quando a faz
mal.

Quase tenho vontade de rir, desde que momento me preocupo se algo faz
mal a Storm? Desde que ela sofreu aquele ataque de pânico por minha
causa, meu subconsciente me responde.

Não, foi antes.

Foi quando a vi naquele estúdio de dança, quebrada e se auto


machucando, tentando aliviar sua dor. Algo em meu coração se acendeu de
novo, como se ao ver aquela mulher se machucando também me ferisse de
alguma maneira.

Meu passado ainda está ali, em cada passo que dou, quanto mais eu me
aproximo de Storm, mas minhas inseguranças gritam, tentando me avisar do
que já aconteceu e dessa vez pode ser pior. Porque não será minha mãe ou
Sasha a me machucarem, será Storm.

— Jace? — Ergo minha cabeça para encarar Audrey. — Olhando para o


nada e pensando em tudo?
— Filosofando, priminha? — Abro um pequeno sorriso.

— Vim te buscar, o carro já está nos aguardando. — Balanço a cabeça.

— Eu não vou nesse almoço.

— Sabe que não existe opção, não existe nenhuma opção em nossa
família. — Dá de ombros.

— O quanto seus pais te destruíram?

— Por que não está se incluindo nessa? — Abre um sorriso frio. — Não
tire sua parcela de culpa, Ludovicih.

A mesma se vira, indo em direção a BMW que nos aguarda e vou logo
atrás.
Me sento ao lado de Audrey, que começa a folhear uma revista de moda
enquanto estamos a caminho da mansão Ludovicih.

— Seu irmão vai embora em uma semana. — Comentou, analisando uma


roupa na revista.

Meu irmão, chega ser piada pensar em Alexei como um irmão. Fomos
criados para sermos inimigos do outro e como se um fosse melhor, no caso
meu irmão mais velho.
Eu fui jogado para escanteio por minha infância inteira. Quem era Jace
perto de Alexei? Desde o começo, meus pais sempre deixaram claro que só
se importavam com seu herdeiro, eu fui apenas o filho deixado de lado,
aquele que nasceu por acidente.
Agora, meu maninho, está enterrado até o pescoço na própria merda.

— Ele está acabado — Ergue a cabeça para me encarar. — Mas você já


sabe, foi ajudá-lo mesmo depois de tudo.

— Me ajudaria depois de tudo? — Audrey não pensa muito.

— Mesmo que isso abrisse uma ferida antiga? Sim.

— Está aí sua resposta. — Engulo a seco, quando o carro estacionar em


frente a grande mansão. Essa construção que mais parece um castelo
vitoriano, ainda me traz arrepios.
E pensar em cada maldade que vivi em cada cômodo e corredor…

— Por hoje, seremos Audrey e Jace contra o mundo — Audrey para ao


meu lado. — Apenas por hoje.

— Já é o bastante. — Agarro sua mão e entramos juntos na mansão.

— Vejo que a dupla imbatível voltou. Como se sente, priminha? — Alexei


abre um sorriso pútrido quando nos vê entrando na sala.

Audrey está certa, meu irmão está horrível, pior do que quando o vi, mês
passado. A aparência de Alexei parece mais como a de um cadáver e o
mesmo perdeu mais uns oito quilos, sobrando apenas ossos magros.

A droga e o álcool consumiram ele de dentro para fora, seu cabelo que
antes era penteado com gel, agora é uma bagunça ressecada e os ternos
que antes caiam como uma luva em seu corpo, parece folgado.

— Voltou a falar com seu primo, querida? — Minha mãe encara Audrey,
sei o quanto minha prima está abrindo mão nesse momento e o quanto vai
cobrar caro para ela no futuro.

— Sim, ele precisa de alguém. — Murmura.

— Tão fofo toda essa cumplicidade. — Alexei grita.

— Vai acordar a bebê. — Sasha murmura. Tento não olhar para o neném
que dorme em seus braços, a minha sobrinha.

— Já viu sua sobrinha, maninho? A que podia ter sido sua filha. — Dá
risada e meu olhar trava com o de Sasha, ela nunca contou. Pelo menos em
algo ela não me traiu.

— Sasha que foi idiota por ter tido um filho com você, além de péssimo
gosto para roupas, também tem para homens. — Audrey olha com nojo para
Sasha, que se remexe em seu lugar, no sofá, ao lado de Alexei.

— Audrey. — Meu pai avisa e minha prima abana as mãos.

— Alguém a leve para uma loja, a mesma não faz parte da família
Ludovicih, agora? Eu me recuso a ter alguém mal vestida perto de mim. —
Pergunta para ninguém em particular.
— Audrey, fique longe desse assunto. — Tia Dasha chama atenção da
filha. Isso não é apenas ficar contra minha mãe que é como uma inspiração
para minha prima, é ficar contra sua mãe também e as duas já não possuem
uma boa relação. Quem nessa família possui uma boa relação com os pais?

— Audrey — A mesma me encara. — Não.

Volto minha atenção para meus pais, tios e meu irmão e sua esposa. Essa
parte desce melhor do que a última vez que proferi essa palavra em minha
mente.

— Querem me odiar pelo o que eu fiz? Odeiam, mas não se esqueçam


que Alexei está indo para um caminho pior. Quer falar com quem você estava
quando fui te salvar, maninho? — Encaro meu irmão e depois minha mãe. —
Com as mesmas pessoas que eu me envolvi.

— Jogue outra carta, Jace, essa nossos pais já sabem. — Encaro nossos
genitores e os mesmos estão tranquilos com isso.

— Espera, Alexei está indo para um caminho pior do que Jace foi e vocês
não o odeiam por isso? — Audrey, exclama.

— Não percebeu, raio de sol? — Uso o apelido que a chamava quando


éramos mais novos. — O problema está em mim, o filho deles pode cair na
merda que vão continuar o amando.

— Enquanto odeiam você. — Murmura e concordo com a cabeça.

— A diferença é que seu irmão sempre foi uma boa pessoa, só está tendo
problemas agora, ao contrário de Jace. Você quase matou minha mãe, quase
destruiu nossa reputação na Rússia e quase destruiu a família do seu irmão,
como quer que confiemos em você? — Ayla Ludovicih me encara com
desgosto, mesmo olhar de quando eu era mais novo. Nada mudou nessa
casa, não quando o filho continua sendo eu.

— Como se em algum momento, a senhora ou meu pai, me amaram ou


confiaram em mim.

Eu poderia nascer de novo, que ela e meu pai continuariam me odiando


porque eu destruí muitas oportunidades para eles, fui o causador, mas eles
também tiveram sua parcela de culpa. Fui o famoso filho indesejado enquanto
Alexei, o herdeiro para ter toda a empresa.
Meu olhar encontra com o de Sasha, a mesma parece envergonhada e
aperta a bebê contra seus braços. Como se lembrasse de toda culpa que ela
me fez sentir, mas eu não iria abrir minha boca sobre isso, não mesmo.

— Parem de me chamar para esses almoços ou jantares. — Dou meia


volta e vou em direção a saída. Ouço passos e sei que Audrey está me
seguindo.

Sou jogado para lembranças de anos atrás, quando minha mãe gritava
comigo até me fazer chorar e Audrey vinha logo atrás para me consolar.
Como pude estragar a única ligação que sempre tive na família?

— Eu te quebrei também, você está certa e eu sinto muito, Audrey —


Meus olhos se enchem de lágrimas quando me viro para encarar minha prima.
— Eu mostrei que sou mesmo filho dela, eu agi terrivelmente.

— Não se compare com sua mãe — Sussurra e seus olhos encontraram


os meus. — Você teve sim sua parcela de culpa, mas não toda. Porém, não
consigo te perdoar, não agora.

— Eu entendo…— Encaro minha prima. — Precisamos confiar um no


outro novamente, Audrey, antes que nossa família nos devore.

— Acho que já é tarde demais, Jace, ela já nos devorou. Somos a prova
disso.

Vou embora com aquele vazio voltando para meu peito. Volto em direção
ao campus, onde eu teria um último treino no dia e toda a dor que sinto
parece cair por terra, no segundo que vejo Storm.

Essa sensação em meu peito, depois da tempestade quando ponho meus


olhos nela, me faz duvidar de tudo. Como é possível começar a sentir algo
por alguém que você nem sequer gostava?

A resposta parece estampada em meu rosto, mas eu ainda não consigo vê-
la porque ainda não estou pronto.

Tudo que falei na praia é verdade, ela pode me chutar, gritar e eu ainda vou
querer continuar aqui. Mesmo que meus instintos gritavam para eu odiá-la ou
mantê-la longe.
Capítulo 23 - Vinte e três anos
“Honestamente, ela precisa de um pouco de conforto
Olha o que aconteceu comigo
Mas meu amor tem apenas vinte e três anos.”
— 23 - Chase Atlantic.

Me levanto na manhã do dia dezesseis de abril, com aquela sensação


incômoda em meu peito, a sensação de sempre, que tudo está errado e não
tem como melhorar. Senhora Bastos me repreenderá por pensamentos
pessimistas desse tipo, mas é a vida.

Calço minhas botas e ajeitei minha saia curta, a peça combina com minha
jaqueta do mesmo material. Vou até a cozinha e pego um bolinho jogado no
armário, coloco uma vela sob o doce e acendo.

— Parabéns para mim, nessa data fodida… — Cantarolo, carrancuda.

Vou comendo o bolinho enquanto estou a caminho do consultório da minha


terapeuta, resolvi dar um descanso para minhas motos e ir andando.
Entro na sala da senhora Bastos, que abre um sorriso singelo ao me ver.

— Como anda minha aniversariante?

— Infeliz — Me jogo no sofá que já conheço muito bem. — Ninguém


mandou nem um parabéns, nem aquelas tias do Facebook.

— Achei que você não tivesse facebook.


— Isso é verdade, mas nem Lohan ou Bela falaram nada — Jogo os
braços para cima. — Eu também não podia esquecer os eventos desse dia?

— Um ano que Alisson e seu pai estão juntos — Concordo com a cabeça,
mesmo que não tenha sido uma pergunta. — Como anda sua cabeça em
relação a isso?

— Um pesadelo — Acabo me perdendo em meus pensamentos. — Eu


ainda consigo ouvir os gemidos, a sensação do meu estômago se revirando
quando vi a cena e o sorriso no rosto dele. Sabe, senhora Bastos? A cada dia
tenho mais certeza que ele nunca se importou comigo.

— Como chegou há isso?

— Quer saber a verdadeira história? A que você nunca conseguiu saber


por mim? — Me ajeitei melhor no sofá, apertando minha jaqueta que trás a
força que preciso. — Lá vem a história de como Storm Brassard foi quebrada
e sem chance de retorno. Como minha vida foi destruída, sem minha
permissão.

Depois de contar toda a história, reviver todos os meus pesadelos, traumas


e dores antigas e até mesmo as presentes, sinto como se alguém tivesse
revirado minha alma e cutucado cada uma das minhas feridas com uma faca.

Encaro minha terapeuta que está com as mãos tremendo, acho que não
era para ela expressar o que está sentindo. Que ótimo, acabei de quebrar
minha médica.

— An...então ela te causou isso tudo? — Diz, se recompondo.

— E mais um pouco, parece que não foi o bastante ela destruir minha
saúde mental, a física também foi junto — Abro um sorriso amargo. — Por
isso, eu sou desse jeito, nunca recebi amor ou uma preocupação saudável,
tudo foi ao extremo. Ou ela me odiava ou ele se preocupava de uma maneira
doentia.

— E ninguém parou para perguntar como você se sentia? — Concordo


com a cabeça. — Como consegue esconder isso tudo?

— Me diz você, a pessoa aqui que é minha terapeuta.

Eu tinha que mexer nessa história justo hoje?


Como Bastos foi a única a se lembrar, parece que devia algo a ela, mesmo
sendo paga para me ajudar, ela estava comigo há anos e eu nunca consegui
mexer nesse ponto da minha vida, acho que precisava colocar para fora.

Mesmo quando contei para meus melhores amigos, eles souberam tudo por
cima e não consegui entrar em detalhes profundos, contar os detalhes mais
intensos do que ocorreu foi como despir minha alma para senhora Bastos.

Vou me arrastando até meu apartamento e verifico mais uma vez minha
caixa de mensagem — completamente — vazia. Até Phineas, que no meu
último aniversário tinha feito um vídeo fantasiado de cupido, com direito a
fralda e asas, não me mandou nada dessa vez.

Eu não os julgo por esquecerem, não é como se eu fosse a melhor pessoa


do mundo. Talvez eu seja bem filha da puta mesmo com quem se importa
comigo, tenho a tendência de destruir as pessoas ao meu redor.

Quando abro a porta do meu apartamento, solto um grito ao ver meus


amigos gritando “SURPRESA”. Encaro cada rosto e tenho que revirar os
olhos.

— Eu falei que não era uma boa ideia não mandar mensagem, ela sentiu
falta do meu vídeo — Phineas se aproxima e me abraça à força. —
Parabéns, diabla, a ideia foi toda de Jace e Lohan.

Os dois maiores idiotas da minha vida me olham com curiosidade, um está


com um amplo sorriso no rosto enquanto o outro, tem aquele sorriso
malicioso nos lábios. Vou na direção do último e lhe dou um beliscão na
barriga.

— Babaca — Me aproximo de Lohan e também lhe dou um beliscão. —


Outro babaca.

— Awn! Tão doce. — Bela vem correndo me abraçar.

— Vocês não me mandaram uma mensagem sequer. — Reviro os olhos.

— Awn! Ela ficou magoada. — Todos dizem juntos e vem me dar um


abraço em grupo. Dou risada quando alguém aperta minha bunda.

— Eu senti isso. — Grito.


— Foi Jace — Phineas dedura. — Não consegue manter as mãos longe
de você.

— Cala a boca, Rodriguez. — Late.

— Ok, agora vai logo se arrumar porque vamos sair. — Santiago diz, se
jogando no meu sofá.

— Falando nisso. — Bela me estende uma grande caixa com o logo da


Versace na tampa.

Abro a caixa e dentro, retiro um vestido cheio de brilho. O mesmo é preto,


curto e com uma fenda em uma das pernas, o tecido é tão macio.

— Esse é meu e de Santi. — Phineas oferece uma caixa menor, entrego


de volta o vestido para Bela e abro um sorriso para ela.

Abro a caixa da Nike que Phineas me entregou e dentro tem um lindo tênis
personalizado, com um S ao lado de um coração partido na lateral e um par
de meias com desenho de bolo.

— É lindo, até a meia — Phineas se gaba para os demais. — O vestido


também, Bela.

— Minha vez — Lohan estende uma caixa menor com um sorriso no rosto.
— Lembra quando tínhamos dezesseis anos e você queria muito um colar de
rubi?

— Eu sei, consegui comprar quando fiz meu primeiro milhão. — Concorda


com a cabeça.

— Na mesma época, você queria muito algo mais singelo. — Aponta para
a caixa.

O presente é um cordão com o desenho de um coração quebrado


cravejado de rubis, fico sem fala e olho para meu melhor amigo.

— Ele te representa de muitas formas. — Me jogo no seu colo, o


abraçando.

— Obrigada. — Me desgrudo dele.


— Demoramos, mas chegamos. — Ethon abre a porta da frente e nos
viramos para vê-lo ao lado de Lizzie, sua namorada.

— Eu falei que íamos chegar atrasados. — Dá um chute em seu


namorado.

Lizzie vem correndo me abraçar e depois se afasta, me dando tempo para


analisar toda sua beleza. A mesma é alta com uma cintura larga que fica
marcada no vestido justo amarelo, seus traços turcos a deixam mais bonita e
seu cabelo azul, é seu toque especial.

Me lembro de quando entrei na biblioteca pela primeira vez e a vi, quase


engasguei porque Lizzie é tão linda e iluminada.

— Toma. — Me entrega a caixa que Ethon estava segurando.

O formato denúncia que é um livro, não me surpreende já que Lizzie deixou


bem claro, desde que começou a namorar com Ethon e andar com os caras
do time, que sempre vai dar livros de presente, a pessoa gostando ou não de
ler.

Não consigo controlar o grito quando vejo a versão de colecionador de Six


Of Crows.

— Meu Deus, tem desenho do meu marido. — Estendo o desenho do Kaz


Brekker.

— Acho que nunca vi Storm tão feliz, estou assustado, Santi. — Ouço
Phineas murmurar para Santiago.

— Parece um psicopata sorrindo. — Sussurra de volta.

— Calem a boca — Reviro os olhos e guardo o livro na caixa com muito


cuidado. — Obrigada, Lizzie.

— Nada, desculpe pela demora, alguém não estava achando os sapatos.


— Fuzila o namorado com o olhar.

— Seus irmãos o esconderam na lavanderia. — Joga as mãos para o alto.

Olho para Jace que foi o único ainda a não falar comigo separadamente ou
me dar um presente, ele parece desconfortável. O deixo para lá, pegando os
presentes de cada um e levando até meu quarto.

Estou colocando o vestido que Bela me deu, quando ouço alguém batendo
na porta. Peço para entrar e logo a figura imensa de Jace surgir.

Ele está vestindo uma calça jeans rasgada, botas estilo militar, blusa
branca e sua jaqueta de couro. Seu cabelo parece um pouco mais comprido e
acho que prefiro ele raspado, mesmo assim o idiota continua lindo.

Meu olhar recai para a caixa em sua mão e depois para seu rosto. Pela
primeira vez desde que eu o conheci, vejo Jace Ludovicih inseguro.

O cara que tem o ego lá nas nuvens, está inseguro e eu nem sei o motivo.

— Eu não te dei parabéns. — Coloca a caixa na minha cama e se


aproxima de mim.

— Não. — Respondo antes dele me puxar pela cintura e colar sua boca
na minha.

Solto um grunhido de satisfação, nossas línguas brincam juntas e seu toque


se torna mais selvagem, passo minhas mãos em torno do seu pescoço e
aprofundo mais o beijo.

Esqueci todas as merdas que despejei hoje de manhã, meu foco agora é
esse beijo que faz minhas pernas ficarem trêmulas.

— Feliz aniversário, vampirinha. — Sua voz soa rouca contra meu ouvido,
lançando uma série de arrepios pelo meu corpo.

— Vejo que tem algo para mim. — Aponto para a caixa na cama e Jace
pega a mesma, me entregando.

— Fiquei com isso martelando na minha cabeça desde que vi a cor da sua
poltrona. Qual é sua cor favorita?

— Vermelha. — Respondo enquanto desfaço o laço da caixa, me


surpreendo ao ver o que tem debaixo do papel branco.

Uma jaqueta de couro, mas não qualquer jaqueta. É uma jaqueta de couro
vermelha e logo atrás — sinto minhas pernas falharem — os dizeres: Broken
Heart.
— Para mim, não fazia sentido te dar outra coisa. — Murmura e ergo
minha cabeça para encará-lo.

Esse homem que já me fez passar bastante raiva, que me ajudou, que riu
da minha cara, me beijou até fazer minhas pernas falharem, acabou de dar o
melhor presente que já ganhei em toda minha vida. Algo que significa tudo
para mim, meu lembrete diário.

— Jace, eu… Obrigada. — Abro um sorriso sincero, que o pega


desprevenido.

— Você deveria sorrir mais.

— Por que? Segundo Santiago, parece um psicopata.

— Talvez — Abre um sorrisinho. — Mas faz seus olhos brilharem e eles


atingem um preto mais escuro e intenso.

Tenho que revirar os olhos, retiro a jaqueta da caixa e hesito antes de


deslizar a que estou usando.
Minha armadura vai de encontro ao chão, Jace olha petrificado para mim,
acho que acabei de quebrá-lo sem muito esforço.

Parece que quando não estou usando a peça na frente de outras pessoas,
não sou forte o bastante.

Passo o couro novo em meus braços, abro um sorriso singelo para minha
imagem no espelho.

— E aí? — Me virei para Jace, que me encara de cima a baixo, o mesmo


passa a língua entre os lábios antes de dizer:

— Mais linda do que nunca, guaxinim — Distancio-me dele, mas Jace me


puxa pela cintura de encontro ao seu corpo. — Não preciso elogiá-la quando
você sabe o quão incrível é.

— Não, mas é bom para meus ouvidos. — Não sei como consegui reunir
forças o bastante para dizer isso, já que seu gesto bruto me desestabilizou.

— Quem está sendo egocêntrica agora e tendo o ego do tamanho do


monte Everest? — Deposita uma mordidinha em meu pescoço, fazendo uma
descarga elétrica atravessar meu corpo.
— Se você não sair desse quarto agora, eu vou jogá-lo naquela cama. —
Digo com a voz rouca.

— Talvez eu não queira sair. — Murmura.

— Eu falei que eles estão se pegando. — Me sobressalto para longe de


Jace e encaramos nossos amigos na porta do meu quarto.

— Não sabe fechar a porta? — Reviro os olhos.

— Phineas, você está certo, isso é uma baita fanfic. — Lizzie troca um
olhar cúmplice com Phineas.

— Eu te falei, eles já chegaram naquela parte que deixam de serem


inimigos e passam a se pegarem. — Jogo uma almofada na direção de
Rodriguez.

— Eu falei que não ia demorar muito. — Bela abre um sorrisinho em minha


direção.

— Vamos ou não sair? — Sento na beirada da cama e calço meus tênis


novos.

— Jace, sentado — Jace cruza os braços para a ordem do meu melhor


amigo. — Vamos, Ludovicih, aqui você não é nosso capitão e sim, alguém que
está ficando com minha melhor amiga.

Jace se senta ao meu lado a contragosto e me ajuda a colocar meu tênis,


nossos amigos se colocam à nossa frente.

— Eles estão começando a me assustar. — Murmuro para Ludovicih.

— O que eles tem a ver com isso? — Murmura de volta.

— Temos a ver desde o momento que Storm não parece infeliz, ao lado
de alguém e você está se envolvendo com alguém também. — Santiago
começa bastante sério, seu sotaque pesando em cada palavra.

— Sério isso?

A verdade é que por dentro estou sorrindo, por esse bando de idiotas que
se importam comigo, mesmo que eu não mereça isso.
— Muito sério, mocinha. — Lizzie bate o pé, como se estivesse falando
com um dos seus irmãos mais novos.

— O que está rolando entre vocês dois? — Pergunta Lohan.

— Nada? — Dou de ombros.

— Tudo. — Jace responde ao mesmo tempo, todos o encaram.

— Alguém está sendo sincero aqui — Phineas joga as mãos para o alto.
— É melhor começar a falar a verdade, menina trevosa.

— Vocês não tem a ver com isso. Ok? Esqueceram que eu não fico sério
com ninguém? E pelo jeito Ludovicih é a mesma coisa.

— Ela não mentiu. — O mesmo dá de ombros.

— Eles estão me dando dor de cabeça — Bela revira os olhos — Vocês


se gostam, admitam, ambos têm o mesmo jeito.

— De novo isso — Jace acaba de colocar meu tênis e tiro minha perna do
seu colo, me levanto em um pulo e encaro meus amigos fofoqueiros. —
Podemos sair agora?

— Se no final vocês não ficarem juntos, vão me traumatizar. — Phineas


faz beicinho.

No estacionamento do meu prédio, vou na direção do carro de Lohan que


está cheio, vou para o carro de Lizzie que também não possui vaga.
Traidores, tudo para eu ir com Jace.

Me sento atrás dele na moto e passo minhas mãos em torno do seu


abdômen.

— Me mostre do que é capaz, Elsa. — Digo, ronronando em seu ouvido.

— Se você continuar ronronando assim, eu vou me apaixonar. — Jogo


minha cabeça para trás e dou risada.

O mesmo liga a moto e logo estamos indo em alta velocidade,


ultrapassando até os carros dos nossos amigos. Sinto o vento bagunçar todo
meu cabelo e nem ligo, faço questão de aproveitar o momento, mas ainda
prefiro ser a pessoa que pilota do que ficar na garupa.

Demoramos cerca de vinte minutos até Jace estacionar em frente a uma


lanchonete de frente para a praia.

— Graças a Deus, achei que iriam me levar para aqueles restaurantes grã
finos que não enchem barriga. — Desço da moto.

— Coisas chiques não são bem sua cara. — Dou um soco em seu braço.

— Sabe que eu tenho mais dinheiro que você, né? — Cruzo os braços e o
encaro.

— Tecnicamente, minha família tem mais poder e dinheiro. Conhecidos


mundialmente. — Abre um sorriso zombeteiro.

— E você? Já fez seu primeiro milhão por algum acaso? — Jace coloca a
mão sobre o coração.

— Toca na parte que dói — Gargalhar, mas logo fica sério. — Ainda estou
tentando arrumar um jeito de trabalhar, quero pagar a faculdade com meu
dinheiro.

— Já tentou trabalhar no campus? Lohan trabalhou por um tempo como


técnico dos juniores, a Universidade tem um trabalho com algumas escolas
locais e você pode trabalhar como técnico em algumas atividades.

— Sabe se tem patinação artística? — Concordo com a cabeça.

— Não me diga que o grande Ludovicih já foi patinador artístico? — Abro


um sorrisinho.

— Quando eu era mais novo fazia dupla com Audrey, ela tem mais jeito
para a coisa, meu negócio era mais ajudá-la.

— Ela continua participando de alguns eventos ainda. — Jace parece se


alegrar com a informação.

Ouvimos o som de buzinas e nos viramos para ver nossos amigos


chegando, talvez Jace tenha ido muito rápido mesmo.
— Vocês voaram? — Ethon exclama, saindo do carro de Lizzie.

— Vamos logo, estou doido para um hambúrguer. — Santiago vai na


frente em direção à lanchonete.

Sentamos em uma grande mesa, onde cabe todos nós e cada um faz seus
pedidos.

— Hoje não teremos uma sessão de Bela tentando dar em cima de Jace
para provocar Storm? — Santiago pergunta com um sorrisinho nos lábios, me
inclino sobre a mesa e belisco seu braço. Não adianta de nada, o cara é uma
muralha.

— Dessa vez Storm pode mesmo ficar com ciúmes. — Fuzilo Ethon com o
olhar.

— Nem no dia de hoje, vocês podem me dar sossego? — Reviro os olhos


e como uma das minhas batatas, mergulhando a mesma no sorvete. Olho
para cima e vejo Jace me encarando. — O que foi?

— Come batata com sorvete? — Concordo com a cabeça.

— Experimenta. — Passo uma das batatas no sorvete e coloco na boca


dele, Jace abre um pequeno sorriso para mim enquanto come.

— É bom, não me lembro de já ter provado antes. — Me faço por


satisfeita e volto para minha comida, ergo minha cabeça e encontro nossos
amigos nos encarando.

— Acabei de presenciar isso mesmo? — Lohan olha para Bela.

— Ela fez isso mesmo? Lohan, nossa amiga está apaixonada, acabou de
perder a postura. — Todos fazem um sonoro “Awn”.

— Sabe, a gente podia dar o que falar para eles. — Jace se inclinou para
sussurrar em meu ouvido.

— Vamos explodir mais ainda a cabeça deles? — Abro um sorriso


malicioso.

— O que vocês estão cochichando? — Phineas pergunta com a boca


cheia de nuggets.
Me viro para ficar de frente para Jace, o mesmo pega meu queixo e me
encara, antes de se inclinar para me beijar.
O beijo é diferente de todos que já demos, é suave e faz algo meu coração
ficar calmo no peito.

O puxei pela camisa e aprofundei mais ainda esse contato, minha língua
brinca com a sua e mordo seu lábio inferior, o mesmo vai com sua mão até
meu pescoço e o aperta.

Nos separamos ofegantes e nos viramos para encarar a todos, que estão
de olhos arregalados e bocas abertas.

— Quebramos eles? — Jace, murmura.

— Acho que sim — Dou risada. — Vamos lá.

— A gente viu isso mesmo? — Phineas pergunta primeiro. — Acho que


meu livro acabou de ganhar mais um capítulo.

— Espera, está escrevendo um livro sobre a gente? — Ele dá de ombros.

— Eu não acredito nisso — Esqueço essa história de livro e volto minha


atenção para minha melhor amiga. — Você está mesmo apaixonada.

Todos parecem acordar e começam a falar entre si sobre o beijo, reviro


os olhos e me remexo ao sentir uma mão na minha coxa. Abaixo meus olhos e
vejo o polegar de Jace me acariciando, ergo minha cabeça novamente para o
mesmo e ele parece interessado no que nossos amigos falam, nem prestando
atenção no que está fazendo.

Depois da lanchonete, passamos em um parque de diversões e me divirto


como nunca. Dou risada ao levar Jace até a montanha russa.

— Isso é uma péssima ideia — Me olha horrorizado. — Quando fiquei


com medo de elevadores, acabei tendo medo de altura também.

— Merda, podemos esperar chegar ao chão novamente e sairmos. —


Jace concorda com a cabeça.

O brinquedo para e descemos em um pulo, cor parece voltar para as


feições dele.
— Está bem? — Murmuro enquanto passo minha mão pelo seu braço.

— Sim, estou bem — Ergue a cabeça para me encarar com um pequeno


sorriso nos lábios. — Onde iremos agora?

— Aqui. — Phineas grita do trem fantasma, o mesmo está com um grande


unicórnio nos braços enquanto Santiago segura um urso do mesmo tamanho
que o unicórnio.

Me aproximo deles e encaro os bichos de pelúcia.

— Santi ganhou para mim. — Rodriguez abre um sorriso.

Vou em alguns brinquedos com os três e depois fico procurando o restante


da galera, fico parada no lugar quando vejo Bela discutindo em um canto
com… Pietro? A mesma grita algo para ele, que a puxa pela cintura, a
calando com um beijo de tirar o fôlego. Uau!

Dou meia volta os deixando para lá, eu já tinha desconfiado sobre os dois e
parece que o ódio está os levando para águas nebulosas.

Vou a procura de Lohan e paro de novo no lugar, quando vejo o mesmo


conversando com Audrey.

O que deu nesse povo hoje?

A mesma parece sorrir com algo que meu amigo fala, mas logo se
distancia ao ouvir alguém a chamando. Lohan fica meio desconcertado ao vê-
la indo embora.

Não acredito que ele está mesmo gostando de Audrey ou seja lá o que.
Eu não quero tentar entender a vida amorosa de ninguém, é muito
complicado.

— Ei — Jace aparece ao meu lado. — Vamos?

— Para onde? — Vou ao seu lado até a saída do parque.

— Achou mesmo que a noite iria acabar por aqui? — Me estende o


capacete e o aceito.
Logo nossos amigos aparecem e tento não os encarar, mas a cara deles
denuncia muita coisa.

Subo na garupa de Jace e sinto a moto ronronar abaixo de nós, não


demora muito para o mesmo estacionar em frente há uma boate, no centro
de todo o luxo de Beverly Hills.

— Agora é hora da diversão. — Jace murmura em meu ouvido, com uma


das suas mãos em minha cintura.

— Não vai fugir como da última vez? — Não posso deixar de alfinetar e eu
quero mesmo saber disso.

— Não — Morde o lóbulo da minha orelha. — Não vai se livrar de mim,


Brassard.

Ele me solta no momento que nossos amigos se aproximam, entramos


dentro do local abafado e já começo a remexer meu corpo ao ouvir a música
de fundo.
Me aproximo dos corpos suados na pista e começo a dançar com os
desconhecidos, sinto um par de mãos em minha cintura e sei bem quem é.

Jace se remexe comigo em sua frente ao ritmo da batida, vamos para um


lado e para outro. Ele me vira de frente para si e me roda novamente para
ficar de costas, sinto algo me cutucando e engulo a seco.

— Storm. — Sua voz soa rouca em meu ouvido e consigo perceber seu
sotaque russo.

Existe um momento na vida, onde você tem a chance de cometer a maior


burrada e isso pode se assemelhar com a melhor coisa da sua vida. Esse é
um desses momentos e eu não sei o que pode me aguardar, mas me viro
para encarar Jace.

O mesmo está com a boca entreaberta e com suor pingando do seu rosto,
seus olhos parecem duas esferas fundas verdes.

— Vamos nos destruir. — Digo contra seus lábios.

— Eu sei. — Me puxa pelo pescoço e cobre sua boca com a minha.


Gemo quando nossas línguas entram em contato com a outra, sua mão
aperta de leve meu pescoço e isso acende todo meu corpo. Arranho seu
abdômen por baixo de sua camisa e sinto sua mão escorregar para minha
bunda.

Não percebo que andamos até estarmos dentro do banheiro, da boate,


Jace me prende contra a parede de azulejos. Passo minha mão pela sua
jaqueta e a tiro, jogando ao chão.

Ele se inclina e começa a distribuir beijos pelo meu pescoço, descendo até
o decote do meu vestido. Arfo quando sinto suas mãos subindo pela minha
bunda, erguendo meu vestido até a cintura.

Uma batida na porta faz Jace se afastar em um pulo, o mesmo parece


desconcertado por um segundo até perceber o que estávamos prestes a
fazer.

— Merda, não posso fazer isso aqui, não com você. — Passa as mãos
pelo cabelo.

— Sendo romântico, Ludovicih? — Me abaixo para pegar sua jaqueta e


entrego para ele.

— Vai descobrir que eu não sou nem um pouco romântico. — Diz


rosnando, pegando a jaqueta da minha mão e saindo do banheiro, me
deixando para trás.

Nem presto atenção na mulher que entra enfurecida no banheiro e apenas


tento digerir o que quase acabou de acontecer.

Ajeitei minha roupa antes de voltar para próxima dos meus amigos, que
nem parecem ter sentido minha falta, me jogo no sofá ao lado de Bela, a
mesma está com um copo de vodka na mão.

— Está bem? — Se vira para mim, nem reparando que eu estava aqui.

— An... Sim — Engole a bebida em um único gole. — Como você se


sentiu depois de beijar Jace pela primeira vez? Quando vocês se odiavam e
eu sei que não se odeiam mais.

— Me senti com nojo e... — Reviro os olhos. — Excitada.


— Isso é uma droga — Geme. — Eu quero matá-lo, mas ao mesmo
tempo beijá-lo e se tivesse a oportunidade poderia esganar ele durante o
beijo.

— Quer que eu diga de quem você está falando? — Bela nega com a
cabeça. — Ok.

— Pelo menos alguém parece está se divertindo. — Indica para Phineas


que tem uma mulher em seus braços.

— Alguém superou a ex. — Digo, cantarolando.

Meu olhar então encontra com o de Jace, o mesmo está no bar com
Santiago ao seu lado. Ele lambe os lábios no momento que coloca os olhos
em mim e meu corpo parece se lembrar dele.

— Quer que eu chute com quem você estava? — Nego com a cabeça
também e desvio o olhar de Jace. — É complicado, né?

Meu olhar vai novamente para ele, como alguma força que não consigo ir
contra.

— Mais do que você pode imaginar. — Sussurro.

Às duas da manhã, Lohan surge com um bolo e toda boate ajuda a cantar
parabéns, ao lado dos meus amigos. Saímos do local todos sujos de bolo já
que Phineas e Lohan acharam uma boa ideia destruir o doce, jogando uns nos
outros.

— Vocês estragaram um perfeito recheio de cookie. — Tiro um pouco do


bolo que tinha em meu decote e o como, Jace que está ao meu lado, segue
cada movimento meu.

— Pode levar Storm para casa? — Pergunta para Lohan que concorda
com a cabeça. — Vamos, Rodriguez.

— Estou indo, capitão. — Phineas me dá um abraço, antes de correr


atrás de Jace até sua moto.

O encaro partindo sem entender nada, uma hora ele quer me pegar e outra
vai embora sem olhar para minha cara? Por que isso o deixou mais atraente?
Vou fingir que é o efeito do álcool.
Lohan me deixa em meu apartamento e vou me arrastando até meu quarto,
me jogo na minha cama e respondo mensagens da minha madrinha e da
minha prima, minha avó e tios também deixaram algumas mensagens. Não
tento pensar no fato que meu pai nem se deu o trabalho de falar comigo.

Esse dia foi intenso e louco, pelo jeito meus vinte e três anos vão ser desse
jeito. O dia começa comigo desabafando com minha terapeuta sobre meu
iceberg até quase… Balanço a cabeça com a lembrança fresca do banheiro
da boate.

É, Storm Brassard, você acabou de caminhar para sua destruição de bom


grado e ele tem um sabor tão bom.
Capítulo 24 - Espelhos rachados
“Então abrirei mão de todos meus segredos
Dessa vez
Não preciso de outra mentira perfeita
Não me preocupo se as críticas nunca aparecem de uma só vez.”
— Secrets - OneRepublic.

Comemoro com meus colegas mais uma vitória que tivemos, ganhamos
todos os jogos desde o começo da temporada, vamos chegar na metade da
competição imbatíveis.
O time evoluiu desde que Will saiu, mostrando como ele era a fruta podre
daqui, mesmo que ele tenha sido o número um por muito tempo, perdeu a
confiança com seus colegas de equipe. O que adianta ser uma estrela, se
os seus colegas não gostam de você?

— Comam minha bunda, seus otários. — Santiago grita para o time de


San Francisco.

— Calma, Santiago. — O mesmo concorda com a cabeça.

— Desculpe, capitão.

Eu e Santiago estamos melhorando como dupla a cada jogo, o fato de


confiarmos um no outro ajuda e muito.
— Eu amo a vitória, quase tanto quanto amo fofoca. — Phineas grita
enquanto joga gatorade em si.

Saímos do ginásio da Universidade de San Francisco e abro um pequeno


sorriso quando vejo Bela e Storm nos aguardando, ao lado do ônibus.

— Não acredito que vocês vieram. — Lohan corre para abraçá-las.

— Storm veio reclamando as cinco horas de viagem, mas chegamos sem


que a matasse. Isso sim é uma vitória. — Bela abraça em seguida Phineas.
Storm continua encostada no ônibus, me encarando com um sorriso
malicioso nos lábios.

A encaro de volta com um sorrisinho nos lábios também, os caras ficam


implicando entre si.

— Vocês vão ficar só olhando mesmo? — Santiago aponta para mim e


Storm.

— A arte de encarar são como preliminares, ursão. — Explica Phineas.

Eu e Storm trocamos um sorriso cúmplice.

— Ok, vamos lá comemorar. — Benji me empurra para dentro do ônibus.

Vamos até uma lanchonete que depois daqui seguiremos para Los Angeles,
mais uma viagem de cinco horas com Phineas obrigando todo mundo a
assistir Ladybug. Tenho que admitir que para um desenho é bastante legal,
cheio de cenas de luta.

— Milkshake. — Storm bate as mãos, animada.

— Gosta de milkshake, vampirinha? — Desço minha mão até sua coxa e


fico acariciando.

— Sim. — Abre um pequeno sorriso, antes de começar a tomar a


sobremesa.

Começa uma discussão sobre alguns pontos que erramos ao longo do jogo
e logo a treinadora nos grita para entrar novamente no ônibus. Troco um olhar
com Storm, antes de subir as escadas do veículo.
— O que vocês estão aprontando? — Ethon pergunta.

— Nada.

Minha decisão foi tomada naquele banheiro da boate, tudo que passei foi
jogado para descarga naquele momento. Mesmo que algo ainda me alerte, a
parte mais descontrolada quer isso.

Storm é a pessoa certa para isso, mesmo que no final eu saia fudido e a
chance é grande, eu vou ter aproveitado, vou ter me entregado de verdade só
precisamos colocar as cartas na mesa.

Storm excita, se deve me deixar entrar ou não, mas acaba me dando


passagem e indica para o seu sofá.

— Quer começar por onde? — A mesma se senta na minha frente.

— Eu não quis fazer nada na boate, não foi por gesto romântico —
Respiro fundo para dizer logo a verdade de uma vez, deixando minha guarda
baixa. — Eu sou virgem, Storm.

— Ah! Meu signo é áries, mesmo que eu não acredite muito, tenho muita
coisa de ariana — Abre um sorriso confuso. — Você acredita em signos?
Mapa astral não estava bom naquele dia?

— Storm — Tenho que abrir um sorriso divertido, só ela para deixar isso
menos estranho. — Eu nunca dormi com uma mulher antes, eu sou virgem.

Pisca sem entender, até erguer a cabeça para trás e explodir em uma
gargalhada, começo a rir também porque essa merda é engraçada.

Tem problema nenhum você ser virgem, mas do jeito que falam da minha
vida, parece que eu estou longe de ser um e eu ainda contribuo para a fama
que criaram sobre mim, negando nada.
— Isso é mesmo verdade? Por que?

— Te falei que minha namorada dormiu com meu irmão, certo?


Começamos a namorar com quinze anos, sempre avançamos alguns sinais e
a mesma falava que queria fazer depois do casamento, respeitei isso e
também não fiz questão de traí-la só para perder minha virgindade, até
porque isso não era nada perto do quanto eu a amava. Então aguardamos
juntos, pelo menos eu aguardei — Abro um pequeno sorriso. — Já tínhamos
oito anos de relacionamento, éramos considerados o casal vinte da minha
universidade.

— Você e ela eram tipo Will e Audrey? — Concordo com a cabeça.

— Teve um dia que saiu uma fofoca sobre uma aluna que estava traindo o
namorado, eu nem dei bola porque nem sequer passou pela minha cabeça
que podia ser Sasha. Um tempo depois, começaram a sair boatos que a
aluna era minha namorada, a Sasha, aquela que você viu no dia do kart —
Storm enruga o rosto. — Então veio a bomba, ela estava grávida, eu a
confrontei até porque como eu poderia ser o pai? Só se ela era a nova Maria
e eu não sabia, não demorou muito para a verdade aparecer e minha
namorada acabar admitindo que o filho era do Alexei, meu irmão mais velho.

— Foi caso de uma noite? — Murmura e se senta ao meu lado, pegando


minha mão. O gesto me pega desprevenido.

— Eu achei que sim, pode me chamar de trouxa, mas eu a perdoei. Não


me importei com a traição do meu irmão porque eu espero coisas desse tipo
da minha família, fomos criados desse jeito para não gostar um do outro já
que eu fui um erro e minha mãe engravidou por acidente…

— Engravidou por acidente. — Storm me interrompe com um revirar de


olhos.

— Enfim, quando Sasha disse que estava tendo um caso a dois anos com
meu irmão, foi a gota d'água para mim. Eu dei tudo de mim em um
relacionamento de oito anos, tinha momentos que eu a amava mais do que
minha própria avó e aquela senhora fez de tudo por mim, foquei tanto em
amar Sasha para esquecer dos meus problemas familiares, que quando
descobri a traição foi um baque. Eu fiquei com tanto ódio dela, de mim e do
meu irmão que liguei o foda-se para tudo, deixei de ir na terapia, de ligar para
mulheres e nem dei bola sobre o assunto de perder a virgindade.
“Na Rússia como em qualquer lugar tem o seu lado sombrio e comecei a
gostar de frequentar esse tipo de lugar para esquecer dos problemas.”

— Já posso ver para onde essa história irá …

— É, não foi uma boa decisão, tinha esse grupo de jovens que gostava de
sair fazendo furtos, vender drogas e pixar as coisas, alguns deles já tinham
ido até preso — Abano com as mãos. — Eu só usei droga uma vez, foi
quando descobri que a bebê era menina e Sasha colocou o nome que
tínhamos escolhido para um eventual filho...— Engulo a seco, essa merda
ainda é dolorosa de dizer.

— Jace? — Ergo meus olhos para encarar Storm, a mesma me olha com
compreensão. — Não precisa contar, não tem problema. Eu entendo.

— Eu preciso disso — Ela concorda com a cabeça. — Fumei tanto que fui
parar em uma vala, minha avó me encontrou no dia seguinte, todo sujo de
esgoto, eu ainda consigo ouvir o choro dela. Nada me quebrou tanto quanto
ouvir a pessoa que mais me amou chorar, eu fiquei totalmente destruído e
jurei para a mesma que nunca mais iria usar coisas do tipo.
“É totalmente horrível como as drogas me fizeram sentir em um único uso,
uma hora eu estava bem, esquecendo de tudo e na outra, estava sendo
jogado de um penhasco, parecendo que minha cabeça estava explodindo.
Porém, eu não parei de andar com o grupo mesmo depois desse episódio
porque eu não conseguia mais andar com o povo da universidade, entende?”

— Eu abandonei a faculdade depois disso, todos só sabiam cochichar


sobre o assunto e como fui traído, ainda tinha boatos que fizemos teste de
DNA para comprovar, como se fosse necessário. Eu acho que andar com
aquelas pessoas me fez sentir vivo, não tinha Sasha ou Alexei, era somente
eu.
“Então um dia ajudei eles a roubar um banco, foi uma ideia estúpida desde
o começo, mas eu precisava daquela dose de adrenalina, precisava sentir
que estava vivo e eu me senti, mas quando cheguei no lugar, eu empaquei.
Minha avó estava dentro do estabelecimento e eu sabia como aqueles caras
eram doidos o bastante, não para matarem alguém e sim, machucar e
ninguém iria machucar ela, apenas eu” — Abro um sorriso triste com a
lembrança e sinto meus olhos pinicarem. — Vovó fez contato visual ao nos ver
chegar encapuzados, eu estava prestes a ir embora e indicar para ela me
seguir quando a mesma caiu dura no chão. Eu senti tanto medo, Storm, tanto
medo.
Os caras fugiram na hora quando os seguranças foram ajudar minha avó,
não podia deixá-la e não sai do seu lado até me certificar que ela estava bem.
Não podia viver se aquela mulher morresse por minha causa porque vovó deu
tudo de si para cuidar de mim quando eu estava destruído, então como fui
capaz de fazer isso com ela? Fiquei um dia detido, mas não tive a ficha suja
já que não chegamos a roubar nada.”

Não sinto que estou chorando até Storm se inclinar para secar minhas
lágrimas, a mesma me deita com a cabeça em seu colo e começa a fazer
carinho em meu cabelo, que está começando a crescer.

— Por isso foi embora? Por que não poderia machucar sua avó
novamente?

— Sim, depois que ela acordou e nos certificamos que estava bem,
prometi aos meus pais que nunca voltaria a vê-la, que nunca mais a colocaria
em perigo novamente.

— Mesmo que isso custasse sua saúde mental a conviver com sua família
novamente? — Murmura.

— Eu faria qualquer coisa para protegê-la, qualquer coisa até me manter


longe — Minha voz sai em um fiapo. — Reviver meus demônios pessoais não
é nada comparado a perder minha vó. Acabou que agora meus pais
continuam protegendo meu irmão como sempre, mesmo depois dele estar
indo pelo mesmo caminho que o meu.

— Espera, seu irmão está usando drogas e seus pais nem ligam?

— Eu nunca fui o filho preferido, sempre tentando chamar a atenção


deles. Quando minha avó me salvou aos dez anos e me levou para Rússia, foi
porque ela me enxergou, eu não era ninguém naquela mansão. Meus pais
viajavam e me deixavam sozinho, só levavam Alexei, fui deixado de lado minha
infância inteira e as únicas pessoas que foram capazes de me enxergar
foram minha avó e Audrey. Acho até que se não fosse pela minha prima eu
teria caído em uma depressão profunda. Os dois primos tendo
acompanhamento de terapeutas desde os seis anos de idade.

Storm volta a acariciar meu cabelo quando caímos em um silêncio, o som


de nossas respirações recaem pelo local.
— O que houve entre você e sua prima?

— Ainda não entendeu? — Viro minha cabeça para que posso olhá-la nos
olhos. — Eu tenho a tendência de machucar pessoas que realmente se
importam comigo, com Audrey não foi diferente. Eu a abandonei e deixei a
deriva da nossa família, a mesma foi minha âncora por anos, não consegui
ser a sua.

— Acho que temos muito em comum mesmo, Ludovicih — Storm beija


minha testa e diz contra a mesma: — Nessa vida, pessoas que machucam a
todos à sua volta tem a tendência de acabarem com seus semelhantes.

— Eu sei — Me levanto do seu colo e enxugo minhas lágrimas. — Somos


como espelhos rachados, tentando consertar o estrago.

— Acho que já não sou mais rachada e sim, quebrada. — Abre um sorriso
triste e percebo pelo seu olhar como Storm está cansada.

— O quão forte você é e o quão você se faz?

— Eu não sei. — Murmura.

Ficamos nos encarando até Storm se levantar e depois de uns cinco


minutos aparecer com um saco de pipoca.

— Se achou que eu iria tirar sua virgindade hoje, pode tirar o cavalinho da
chuva. Vou fazer nada com você nesse estado. — Pega o controle para ligar
a televisão.

— Não hoje? Mas outro dia? — Não consigo segurar o sorriso malicioso,
Storm instiga meu lado mais depravado.

— Cala a boca — Joga pipoca em mim. — Se continuar assim, não vai


usufruir do meu corpo.

— Calado. — Finjo trancar minha boca e jogar a chave fora.

— Aliás, o que te fez falar isso para mim? — Diz, depois de um tempo.

— Não percebe? — Nega com a cabeça. — Somos semelhantes.


Storm volta sua atenção para televisão e começa a escolher algum filme
para assistirmos.

— Pode colocar Ladybug? — A mesma me encara com uma sombra de


sorriso no rosto. — Não fala para Phineas, mas é mesmo muito bom.

— Fui eu que indiquei para ele — Admite e dou risada. — Acabou de


admitir que é boa para mim.

Assistimos alguns episódios entre risadas e surtos, admiro os momentos


que Storm explode em gargalhadas porque não é todo dia que essa mulher ri
e a cada vez que ela dá risada, merece ser apreciado. Por mais que seu riso
seja mesmo um pouco de psicopata, ainda é lindo de se ver.

Em algum momento dos episódios, a puxei para meu colo e Storm


descansa seu rosto contra meu peito, passo minhas mãos em torno do seu
corpo.

— Você perdeu totalmente a postura. — Murmuro em seu ouvido.

— Calado. — Rosna.

Storm Brassard, você não foi a única a perder a postura.

Contar minha história foi como dar uma parte da minha alma para a
mesma porque meu coração é pouco. Ela pegou logo minha alma e guardou
no bolso da sua jaqueta.

Não estou restaurado porque contei tudo isso a ela, ainda tenho medo de
confiar e me entregar totalmente a Storm, mas algo me faz querer arriscar
como se um coração partido não tivesse sido o bastante.

Mas será que existe vida depois de Storm? Se realmente ela acabasse
por me magoar, será que eu conseguiria me reerguer novamente? Não, não
mesmo.
Capítulo 25 - Proteção
“Se você sangrar, eu vou sangrar da mesma forma
Se você está com medo, eu estou a caminho.”
— Where’s My Love - SYML.

Cheiro de café perfuma o ar do apartamento, abro meus olhos e percebo


que estou jogada no sofá, faz sentido porque minhas costas doem.

Será que mais uma vez cai de cansaço?

Como a sala tem esse modelo aberto, tenho visão de um Jace sem
camisa, se servindo de café, na cozinha.

— Pelo o que eu me lembro, não chegamos ao nível de tirar a roupa. —


Jace se vira com um sorriso nos lábios.

— Estava calor — Se aproxima com uma caneca de café fumegante,


aceito a caneca. — Juro que não envenenei.

— É o que uma pessoa diz antes de envenenar alguém — Tomei um


grande gole, me surpreendendo com o sabor. — Meu Deus, colocou
chocolate amargo?

— É o meu truque — Senta ao meu lado com uma xícara em mãos


também. — Não gostava muito do gosto de café quando era mais novo, mas
me deixava acordado nos treinos, então colocava chocolate amargo
misturado.

— Café é tão... — Solto um pequeno gemido ao tomar mais um gole.

— Isso e algumas sobremesas russas, são as poucas coisas que sei


fazer na cozinha.

— Tão mimado — Reviro os olhos, o fazendo dar risada. — Aprendi a


cozinhar com oito anos, minha babá era brasileira e sabia umas comidas
fantásticas.

Tomamos café em silêncio e observo a luz do sol iluminar minha sala,


deixando a cor da poltrona mais intensa.

Me fazendo lembrar como Jace foi certeiro ao escolher a cor da jaqueta,


eu só tinha usado a mesma no dia do meu aniversário, não tive mais coragem
de vestir, preferindo as antigas surradas.

— Usa jaqueta até em casa? — Aponta para a peça.

— As vezes quando quero me sentir bem comigo mesma e me lembrar do


que sou capaz. — Dou de ombros.

— Acha que podíamos escrever algo na minha. O que acha? — A


pergunta é carregada de segundas intenções, se eu seria capaz de abrir mão
de algo meu para compartilhar com ele.

— Podemos pensar nisso depois — Jace concorda com a cabeça. — Tem


um banheiro de hóspedes no corredor, se quiser tomar banho.

— Ok. — Pega a caneca da minha mão e leva até a cozinha, vou em


direção ao meu quarto e entro no meu banheiro particular.

Saio do banheiro já vestida com minha roupa do dia, vestido preto justo,
tênis da mesma cor e minha jaqueta. Meu cabelo está em um coque
bagunçado, não tive paciência para arrumá-lo.

— Pegou um dos meus casacos? — Abro um sorriso para Jace vestindo


um dos meus casacos. É uma bela imagem de se ver.
É um dos casacos que acabo deixando pela casa, gosto de ficar
confortável, então acabo comprando na sessão masculina.

— Achei no banheiro, são enormes. Isso é um vestido em você. —


Concordo com a cabeça.

— Quer que eu te deixe no seu apartamento? Vai ver o que é pilotar de


verdade.

— Você pode tentar, vampirinha, mas sabemos quem é o melhor aqui.

Ao chegarmos no estacionamento, Jace se senta na garupa e passa suas


grandes mãos em torno da minha cintura, me apertando contra si e me
puxando um pouco para perto do seu corpo.

— Sabe que não precisamos ficar colados, não sabe?

— Eu sei, mas tudo é questão de proteção. Vai que eu acabo caindo.

— Sei… — Digo, segurando a risada, ligando o veículo.

Saio do condomínio, acelerando no primeiro sinal vermelho que vejo.

— Sabe que estavam vermelhos, não sabe?

— Tenho um tio juiz e outro policial. — Dou de ombros e atravesso alguns


carros.

— Não sabia que era do tipo de usar os privilégios da família.

— Quando necessário, eu mereço por aguentá-los também.

Depois de alguns minutos, estaciono em frente ao prédio de Ludovicih. Ele


desce da garupa, me entregando o capacete.

— A gente se vê, Ludovicih.

— A gente se vê, Brassard. — Retira o capacete da minha cabeça para


me dar um beijo, tenho que me segurar na moto para não perder o equilíbrio
e acabar caindo.

O mesmo devolve o capacete e sai andando, como se nada tivesse


acontecido. Babaca.
Jace empaca no lugar, ao ver um homem parado ao lado da entrada do
prédio.

O tal cara tem cabelo loiro ralo que pega na altura dos ombros, seu corpo
é composto por músculos magros e ele é um pouco mais baixo que Jace,
suas roupas parecem folgadas mas sua postura está intacta.
Um lobo caído, mas ainda com a pose de alfa.

Retiro meu capacete e apoio o mesmo no guidão, desço da moto e


caminho para o lado de Ludovicih.

— Vejo que encontrou alguém do seu tipinho, desistiu das mais


menininhas? — O cara abre um sorriso, me analisando de cima a baixo. —
Mas até que essa é bastante sexy, de um jeito diferente de Sasha.

É o irmão mais velho de Jace, o tal de Alexei. Sério, como essa mulher
conseguiu trocar Jace por ele? O amor é cego e burro mesmo.

— Escolhe bem suas palavras antes de falar sobre Storm. — Late.

— Pelo jeito alguém já está apaixonado, fico feliz em saber que minha
esposa não te quebrou totalmente. — Me viro para encarar Jace, ele não
tinha me contado essa parte da história.

Seu irmão ainda casou com ela?

— Oh! Pessoas com cicatrizes são mais interessantes de se envolver. —


Abro um sorriso felino, apertando meus punhos ao lado do corpo.

— Protegendo meu irmãozinho? Ele precisa, não sabe lutar suas próprias
batalhas.

— Não é como se Jace precisasse da minha ajuda, ainda mais contra um


tipinho como você — O encaro com nojo. — Como anda o mundo das
drogas?

— Olha como você fala...— Ele ia avançando, mas Jace entra na minha
frente como uma muralha.

— Dê mais um único passo e eu esfolo sua cara no asfalto, te faço ficar


irreconhecível, caso encoste um dedo em Storm. — O olhar de Jace é
totalmente de outro mundo, seus olhos estão dilatados de ódio. Oh! Isso é
sexy de um jeito sombrio e pervertido.

— Será que teria coragem mesmo? Foi você que esteve me ajudando
mês passado.

— Por Storm, eu tenho coragem de fazer qualquer coisa, até pegar essa
sua cara de merda e quebrá-la. — Jace avança e seu irmão vai um pouco
para trás. Covarde.

Puxo Jace, mesmo que quisesse ver ele fazendo tudo isso que falou, me
coloco na frente dele e olho para seu irmão. O analisando de cima a baixo,
ele não vale nem um pouco do nosso tempo.

— O que você veio fazer aqui? Não foi o bastante dormir, engravidar e
casar com a ex-namorada dele? E alguns desses fatos ocorreram quando era
namorada.

— Só vim avisar que voltei para Los Angeles, definitivamente — Abre um


sorriso. — Mamãe quer que eu fique na frente da sede da empresa.

— Um drogado? Achava que Ayla Ludovicih fosse mais esperta.

— Pode ter certeza que eu vou fazer com que ela pare de pagar sua
faculdade, quero ver se virá sem a ajuda dos nossos pais.

— Assim como você se vira com a ajuda de quem? Se não sou eu indo
para a Rússia te resgatar, é vovó ou até mesmo Sasha, você não é nada sem
ajuda, Alexei. Eu pelo menos posso dizer ao contrário. — Então foi por isso
que Jace sumiu por quatro dias, para ajudar seu irmão.

A postura de Alexei vacila, pelo jeito alguém não aguenta ouvir verdades. O
idiota aguenta nada, o conheço a dez minutos e já posso concluir isso.

— Será que sua vadiazinha pode te bancar? — Indica para mim e antes
que Jace bata nele, eu faço isso.

Meu punho encontra seu maxilar e o mesmo cambaleia para trás, cuspindo
sangue. Alexei ergue a cabeça para me encarar, horrorizado.

— Se não sair daqui agora, eu vou conseguir fazer pior. — Alexei se


embola nos próprios pés com a ameaça do irmão e corre até um SUV branco
que o aguarda.
O carro saiu cantando pneu pela rua.

— Você bateu no meu irmão, eu ia fazer isso. — É a vez de Jace revirar


os olhos.

— Ele também estava me irritando — Reviro os olhos também. — Odeio


esses machos de merda.

— Eu poderia ser considerado um.

— Larga de palhaçada, sabe que não pode ser colocado no mesmo saco
que seu irmão. — Jace abre um sorrisinho para mim. — O que foi?

— Você está me defendendo, mesmo que eu não precise disso.

— Eu sei, mas gosto de bater nas pessoas — Dou de ombros. — Agora,


quando iria me contar que você sumiu por quatro dias porque tinha ido ajudar
seu irmão?

— Tenho a tendência de salvar aqueles que não merecem — Olha para


onde seu irmão estava. — Minha avó ligou pedindo ajuda, Alexei está
envolvido com as pessoas que eu andava, mas o babaca do meu irmão achou
que seria uma boa ideia ficar roubando drogas deles. Tive que ir ajudar.

— Tudo por sua avó? — Jace concorda com a cabeça.

— Que história é essa que você esfolaria a cara de alguém por mim? —
Não consigo esconder a nota de diversão na minha voz.

— Eu mataria por você, Brassard, estou falando sério. Eu também te


protejo — Se inclina e beija minha testa, me pegando desprevenida. — Com
minha vida.

— Águas perigosas — Murmuro.

— O que?

— Estamos em águas perigosas e somos o colete salva vidas do outro,


mas também a onda que pode nos engolir.
— Metáforas? — Abre um sorriso malicioso. — É mais fácil dizer que
somos como a morte e a vida um do outro.

— Isso serve também.

— Ok, que raios deu em você e Jace ontem? — Bela pergunta ao sentar
do meu lado, no restaurante.

— Resolvemos colocar algumas cartas na mesa. — Dou de ombros.

— Vocês estão mesmo tentando? — Consigo ver uma sombra de sorriso


em seu rosto.

— Não é bem isso, acho que só estamos indo. Sem esperar nada do
outro — Digo, entre garfadas de carne gordurosa. — Eu precisava dessa
carne, tive uma aula dura sobre direito penal.

— Como anda os estudos, aliás? — Bela come um pouco da sua salada,


que eu já tinha pedido para ela.

— Uma verdadeira dor de cabeça, mas indo bem — Solto uma respiração
exasperada. — Sério, por que tive que escolher direito?

— Além de toda sua postura de advogada poderosa? Você sabe


argumentar bem e seus olhos transmitem o recado: Eu vou te triturar caso
necessário. — Dou risada.

— Se eu pensar em desistir, ainda vai estar aqui, né? — Bela me encara


com seriedade.

— Na sua derrota ou vitória, vou continuar aqui. Bem ao seu lado —


Concordo com a cabeça. — Não deixe a merda da sua família se infiltrar na
sua cabeça, nem todos vão embora.
— Uma parte minha quer acreditar nisso, outra… — Solto o garfo,
observando o fluxo de pessoas na rua.

— Ei — Pega minha mão por cima da mesa. — Nem todas as pessoas


são assim.

— Eu quero tanto acreditar nisso, Bela.

Depois do restaurante, saio do meu último tempo de aula, quase me


arrastando na direção do estacionamento. Empaco quando vejo quem está
me aguardando, parecendo uma mulher já casada com vestido longo elegante
e salto alto, o cabelo feito em uma perfeita escova e a pele carregada de
maquiagem.

Um fantasma reencarnado da antiga senhora Brassard.

— O que você quer, Alisson? — Me aproximo dela.

— Eu não viria se não fosse necessário — Puxa seu celular da bolsa que
ela carrega. — Eu uso o notebook do seu pai de vez em quando, hoje de
manhã fui verificar sua caixa de e-mail e encontrei isso. — Estende o
smartphone.

O pego e começo a rolar a tela, vendo todos os emails mandados, tem uns
de cinco anos atrás e alguns de semana passada, todos para a mesma caixa
de endereço.

Apenas um ela respondeu, que diz: Em breve, essas simples palavras me


fazem entregar o celular de volta e vomitar quase perto dos saltos preciosos
da minha madrasta.

— E-Ele fez isso mesmo? — Minha voz está trêmula, algo que não
consigo controlar.

— Sinto muito, Storm, mas ele fez. — Percebo que a mesma está sem o
anel de noivado.

— Você está fugindo. — Eu nem posso julgá-la, teria feito o mesmo.

— Você sabe que eu só estava com ele pelo dinheiro, seu pai também
sabe porque minha família perdeu tudo. Mas não posso continuar com esse
terror psicológico, olha o que ele fez com a própria filha — Aponta para mim.
— Eu nunca deveria ter ouvido meus pais, nunca deveria ter te
decepcionado…

— Nossa saúde mental não merece ser abalada por ninguém, melhor você
ir para um lugar onde eles não te encontrem.

— Acha que ele pode vir atrás de mim?

— Não ele, mas sua família, sabemos como seus pais são articuladores.
Como eles vão ficar ao saberem que seu banco pessoal deu no pé? — O
rosto de Alisson enruga. — Eu tenho um apartamento em Miami — Tiro uma
das chaves do meu bolso. — Vai para lá.

— Você não pode me ajudar. — Tenta entregar a chave, mas nego com a
cabeça.

— Eu realmente não posso, mas não vou deixar alguém à deriva assim,
ainda mais alguém que foi minha amiga — Abro um sorriso doloroso. Meu
estômago ainda está revirado e sinto minhas pernas falharem. — Sou uma
filha da puta, mas com modos.

— Obrigada — Concordo com a cabeça. — Perdão por tudo, fui a


primeira pessoa que você confiou em contar tudo que houve, nunca mereci
nossa amizade.

— Seu único problema foi dar ouvidos aos seus pais, nada mais. Ok?

— Não deixe eles acabarem com você novamente, Storm.

— Não entendeu, Alisson? Eles já estão acabando de novo — Minha voz


saiu em um fiapo. — Vai logo, se redescubra e faça as coisas que sua família
e meu pai impediram.

— Eu tenho algum dinheiro com a venda do anel, consigo chegar no


aeroporto — Concordo com a cabeça. — Aliás, eu não estou grávida, eu
continuei tomando os remédios.

— Então ele não conseguiu te manipular completamente, isso é bom. —


Alisson concorda, antes de se virar para ir embora.

A observo entrar no uber, pelo menos alguém aqui tem a chance de ir


embora. Ergo meus olhos para o céu, por quanto tempo mais eu irei
aguentar?

Sinto meus joelhos falharem, mas grandes mãos estão lá para me


segurarem.

— Estou aqui com você.

— Até quando? — Murmuro antes da escuridão me reivindicar para si.


Capítulo 26 - Broken Heart
“Esse mundo pode te machucar
Te cortar profundamente e deixar uma cicatriz
As coisas desmoronam, mas nada quebra como um coração.”
— Nothing Breaks Like Heart - Miley Cyrus feat. Mark Ronson.

Medo: Uma sensação desagradável desencadeada pela percepção de perigo, real ou imaginário.

Segundo a internet, é isso, esqueceram de acrescentar a sensação de


alguém tirando o chão dos seus pés ou como se alguém estivesse te
empurrando de um abismo, sem chance de conseguir subir novamente.
No fundo do buraco, tentando buscar forças para levantar porque precisa
salvar alguém.

O medo, agora, está apertando minha garganta e meu coração. Estou


sendo refém mais uma vez desse sentimento, não podendo fazer nada para
ajudar alguém importante. Sim, ela é importante para mim.

Quando cheguei naquele estacionamento e vi Storm quase caindo no chão,


corri para segurá-la porque eu nunca a deixaria cair enquanto estivesse
respirando. É como se alguém estivesse guiando meu corpo e dizendo: Você
não pode machucá-la.

Ela me protegeu dos meus demônios e eu a protegeria dos dela.


— Jace? — Ergo minha cabeça para encarar meu pai. — Acabei de
examiná-la, ela está bem. Cuido de Storm desde mais nova, bom saber que
sua saúde melhorou.

— Você é o médico da família dela, certo? — Me levanto da cadeira dura,


o encarando sem entender. Médico só dá Storm?

— Sim, de Storm mais ainda — Ele percebe a confusão em meu rosto. —


Melhor ir até ela, a mesma precisa de alguém. E Jace?

— O que? — Me viro para encarar a pessoa que deveria ficar ao meu


lado, mas que nunca esteve ali para mim.

— Cuidem um do outro — Murmura e concordo com a cabeça. —


Também se cuida.

— Sempre fiz isso, desde mais novo.

— Eu sei, alguém tinha que fazer isso quando eu e sua mãe não éramos
capazes. — Vai em direção a uma enfermeira, me deixando para ir atrás de
Storm.

Vou em direção ao quarto de Storm, a encontro calçando seus tênis, ela


ergue a cabeça ao me ver. Seus olhos estão fundos e sua pele parece pálida,
sinto um calafrio pelo meu corpo ao ver como ela está mal.

— Era para você ir embora? — Coloco o outro pé do seu calçado.

Tentando não demonstrar o quanto estou com medo, mesmo depois de


saber que Storm está aparentemente bem, algo em meu peito ainda não
sossega.

— Eu não posso mais ficar aqui. — Sua voz sai em um fiapo.

Consigo perceber o quanto ela está precisando de ajuda, tão sozinha e


perdida em suas dores. Alguém machucou o suficiente essa mulher, ao ponto
dela ter chegado ao fundo do poço.

— Me tire daqui, Jace, por favor — Essas palavras são capazes de me


quebrar com facilidade. Ainda mais ao ver a lágrima que desce pelo seu
rosto. — Parece que alguém está me sufocando.
— Eu vou te levar daqui. — Ela parece excitante ao se levantar, a ergo no
colo e levo até meu carro.

No momento que estamos no estacionamento, parece que liguei um


interruptor nela porque a mesma desce do meu colo e começa a chorar.

Storm está chorando na minha frente?

Ela apoia as mãos nos joelhos e fica chorando, seu corpo começa a tremer
de tanto que as lágrimas lhe consomem, como se a mesma tivesse ficado
muitos anos engolindo seus sentimentos.

A puxei contra meu peito e passo minhas mãos em suas costas, tentando
acalmá-la.

— O que houve, baby? — Sussurrei contra seu cabelo, não esperando


que ela respondesse.

— Ela está voltando, Jace — Sua voz soa irregular. — Minha mãe está
voltando.

Dirijo suas palavras com calma, eu achava que sua mãe tinha falecido já
que nunca a vi falando dela. Mas pelo jeito a mesma foi embora e foi a
pessoa que quebrou Storm.

— Vamos para minha casa.

No caminho até meu apartamento, Storm fica calada e perdida em seus


pensamentos, o medo se agarra ao meu peito mais uma vez, ele não saiu
desde que a tirei do hospital.

Sua aparência é de uma morta viva, perdida dentro da dor que nem está
ligada com o mundo à sua volta, ela nem ao menos percebe quando
chegamos em meu prédio e a levo até meu apartamento.

Agradeço em pensamento por Santiago e Phineas não estarem em casa,


mas logo eles voltariam, então levo Storm até meu quarto para termos
privacidade.

— Fique aqui. — Storm fica sentada na cama e vou até a cozinha,


voltando com um copo de água com açúcar.
Quase deixo o copo cair ao ver Storm encolhida, no canto da cama,
parecendo com dor, mas não é uma dor física e sim mental. A mesma está
em seu esgotamento final.

— Storm? — A chamo e ela nem parece me ouvir, olhando fixamente para


o nada. Sinto a bile subir pela minha garganta. — Storm?

— São raros os momentos que me lembro dela — Sua voz soa tão baixa
que me aproximo para ouvir melhor. — Me lembro um pouco da sua
aparência, ela tinha cabelos loiros longos e uns olhos azuis-escuros. As
pessoas diziam como éramos parecidas e as únicas diferenças sempre foram
os olhos, meus malditos olhos pretos a deixava frustrada, como se até isso
me deixasse indigna de ser sua filha.
“Eu não sei o porquê ela me odiava tanto, mas sempre foi assim. Nunca era
boa o bastante, nunca chegava às suas expectativas e eu só tinha quatro
anos. Quem joga suas ambições em uma criança de quatro anos? Pelo jeito
minha mãe.”

A mesma fica em silêncio por alguns segundos, parecendo reviver tudo que
passou. Me aproximo, sentando ao lado dela, mesmo estando tão próximo
ainda parece que Storm está distante.
Sua voz soa mais quebrada enquanto continua.

— Aos cinco anos, foi quando tudo piorou, ela me acordava às seis da
manhã para correr porque parecia que meu corpo não era bom o bastante.
Eu fui proibida de comer doces ou besteiras, proibida de brincar, proibida de
ver outras crianças até aquele jantar… — Então seus olhos encontraram os
meus, mas ainda é como se ela não estivesse me olhando de verdade. —
Você, Jace, foi a primeira pessoa a me fazer feliz. A primeira pessoa que me
mostrou o que era felicidade em meio às trevas.

— Foi sua mãe que te fez chorar naquela festa. — Storm concorda com a
cabeça.

— Ela me agarrou até um canto e falou que filha dela não ficava de
conversinha com garoto, filha dela não ficava rindo atoa — Abre um sorriso
totalmente amargo. — Quando cheguei em casa, ela me jogou no sótão e me
trancou. Fiquei por muito tempo naquele lugar, chorando até perceber que
não adiantava chorar, ela não iria me tirar dali.

— Como você saiu? — Pergunto com os olhos cheios de lágrimas.


— Usei a cabeça, observei o lugar ao meu redor e achei uma faca,
consegui abrir a fechadura. Ela me viu no corredor, abriu um pequeno sorriso
como se eu tivesse feito a coisa certa, encontrado a saída por conta própria.

— Onde estava seu pai nisso tudo? — Digo, apertando os punhos ao lado
do corpo.

— Fazendo as vontades dela, ninguém iria contra Cibele Demetriou.


Ninguém — Seu sorriso se torna perverso. — Dias depois, eu estava
brincando na sala com uma babá quando a mesma desceu as escadas, me
lembro perfeitamente do olhar frio em seu rosto enquanto puxava a mala. Eu
gritei, puxei seu vestido e ela nem dirigiu o olhar para mim, apenas caminhou
até o táxi e foi embora.
“Ela me deixou lá parada, chorando e gritando, meu pai me encontrou horas
depois e me vi nele. Estávamos quebrados, perdidos e sozinhos.”

Percebo o momento que ela se afunda tanto em sua dor, que a cor sumiu
de suas bochechas.

— Storm? — Ela não me ouve.

— Por uma semana, fiquei chorando e gritando, meu pai achou que seria
uma boa ideia me deixar trancada no quarto para não me ouvir. Eu sentia uma
dor tão forte em meu peito que parecia que alguém o estava dilacerando —
Um sorriso repuxa em seus lábios. — Quer saber por que ainda uso aquela
jaqueta, escrito Broken Heart? Porque minha mãe me quebrou, porque eu
literalmente tive o coração partido.

— C-Como?

— Eu tive cardiomiopatia de takotsubo…

— Mais conhecida como a síndrome do coração partido — Completo.

— A jaqueta é só um lembrete do que aconteceu comigo, minha armadura


também é minha maior fraqueza. Me fazendo relembrar do que acontece
quando eu confio e amo plenamente alguém. Ela pode ter me chutado, mas
eu ainda a amava porque ela era minha mãe — Respira fundo, aperto sua
mão com mais força. — Cibele me fez passar por esse inferno, a síndrome
acontece depois de uma situação de estresse absoluto, ela é conhecida por
ser uma doença psicológica, mas o veículo esquerdo do coração para mesmo
de bombear sangue em alguns casos, e foi o que aconteceu comigo. Vivi por
algum tempo sob efeitos de remédios e fazendo exames já que não precisava
de cirurgia, foi assim que conheci seu pai. Ele é amigo de Caleb, o que fez
meu pai confiar no mesmo com meu caso.

— Meu pai começou uma preocupação doentia por mim, arrependido, mas
isso só me deixava mais sufocada. Eu queria tanto sumir, quando fui a
terapeuta pela primeira vez, meu pai dormia com ela para saber o que eu
falava. — Pela primeira vez Storm parece saber que eu estava ali, apertando
minha mão. — Demorei para confiar em um profissional da área novamente,
demorei para fazer tantas coisas novamente. Meu mundo tinha diminuído até
restar uma pequena bolha que eu vivia.

— Ela teve a licença médica cassada? — Abre um sorrisinho.

— Claro que teve, me certifiquei disso ao completar dezoito anos — Então


ela passa a me olhar, não o seu fantasma, mas sim, Storm. Seus olhos
parecem voltar à vida. — Não é irônico, eu tenho trauma com abandono e
você tem a tendência a fugir.

— Eu não fugiria de você.

— Já fez isso uma vez — Solta a minha mão e se deita na cama,


encolhida. — A tendência é fazer novamente.

— Storm? Olha para mim —Ela me olha. — Eu não vou embora, não
mais. Eu não sou sua mãe.

— Você não é porque voltou e continuou aqui. — Fecha os olhos e a


observo cair no sono.

Quando tenho certeza que ela está dormindo, deixo as lágrimas caírem em
silêncio do meu rosto. Eu passei por muita merda com meus pais, desde ficar
preso no elevador a ter que ficar dias sozinhos porque eles viajaram. Mas
esse tipo de coisa a qual ela passou, parece que alguém está me
machucando.

Ambos fomos negligenciados pelos nossos pais, resultando nessas


pessoas quebradas. Cada um foi machucado de uma maneira diferente.

No meio do dia, Storm acorda por alguns segundos e me puxa para deitar
ao seu lado, descanso minha cabeça em suas costas e fico contando suas
respirações.

— Não tem porque chorar, tem uma beleza em está morta e mesmo assim
ainda está viva. — Murmura.

— Gostaria que você nunca tivesse passado por isso.

— Eu gostaria que sua família te amasse, você merece.

— Acho que estou bem, tenho você, minha avó e os caras.

— É o bastante?

— Só de ter você já é... — Minha voz soa embargada.

— Você não me tem, Jace. — Diz antes de voltar a dormir.


Capítulo 27 - Cibele
“Quanto mais velha fico, mais vejo
Que meus pais não são heróis, eles são como eu
E amar é difícil, nem sempre funciona
Você apenas tenta seu melhor para não se machucar.”
— Older - Sasha Sloan.

A pessoa a qual presenciou seu lado vulnerável, quebrado, sem nenhum tipo
de julgamento e ainda estendeu a mão para ajudar, diz muito sobre ela.

Eu não tinha entendido porque Jace continuava me ajudando, me


entendendo, mas depois de ontem, eu pude entender. Depois de meses, eu
posso — finalmente — entender.

Jace foi a luz que eu precisava quando era mais nova, ele me ajudou sem
ao menos saber. Atualmente, ele está sendo o mesmo tipo de pessoa.

Anos se passaram, me escondendo nessa armadura de garota má, até


Lohan ser o primeiro a criar uma rachadura, logo depois veio Bela e o time,
agora é Jace, mas ele conseguiu que toda minha armadura fosse destruída.
Não fiquei com medo de contar meus segredos, os que me atormentam de
madrugada porque ele me faz sentir acolhida.

Olho para ele, concentrado na estrada e mesmo assim ainda mantém uma
mão na minha coxa, mostrando que está aqui, ao meu lado. Mostrando que
vai a lugar nenhum, não mais.
Talvez ele não saiba o quanto foi importante para mim, quando ele segurou
minha mão ontem e mostrou que estava ali por mim, Jace não me pediu
calma, apenas me escutou e me amparou.

Sou uma idiota por dizer a ele que não me tem, mas é uma verdade dura até
para mim. Só fui perceber isso agora, logo no momento que minha vida está
se revirando novamente.

Eu sinto muito por ele ter passado por maus bocados com sua família,
assim como sinto muito pelo o que eu passei. Famílias egocêntricas que nos
destruíram, mas estamos nos reconstruindo. Ou tentando.

Só espero que em um futuro, ambos estejamos bem. Longe dessas


pessoas que sugam nossas energias, eu não sei Jace, mas eu não irei
aguentar mais um segundo desse jeito.

— Essa daqui. — Aponto para a mansão do meu pai, Jace estaciona o


carro em frente.

Respiro fundo antes de descer, Ludovicih se coloca ao meu lado e me dá a


mão enquanto caminhamos em direção a porta. Os seguranças concordam
com a cabeça ao me ver, uma empregada abre a porta, nos dando
passagem.

— Ele está na sala. — Concordo com a cabeça.

— Ok, eu preciso fazer isso sozinha — Me viro para encarar Jace. —


Preciso conversar com ele a sós, você fica aqui no hall.

— Eu não posso te deixar sozinha com ele, não depois de tudo o que eu
soube.

— Jace, eu sei que você está aqui e isso já me acalma. — Me coloco na


ponta dos pés e lhe dou um beijo rápido.

— Qualquer coisa, eu entro lá.

— Não seja tão agressivo, Ludovicih, eu posso me cuidar muito bem.

— Eu sei disso, mesmo assim vou socar a cara dele caso necessário. —
Deposita um beijo na minha testa.
Caminho em direção a sala com minhas mãos tremendo, respiro fundo e
tento controlar o turbilhão de pensamentos que estão passando na minha
mente.

Ele continuou se comunicando com ela, ele continuou indo atrás dela. Tento
me lembrar disso quando entro na sala e encontro meu pai, sentado na
poltrona com um copo de uísque na mão.

Engulo as lágrimas quando vejo o quanto Caleb está destruído, meu pai
parece que não dorme há dias e as olheiras escuras denunciam isso.

— Demorou para chegar — Abre um sorriso amargo ao me ver. — Se


senta aí, é melhor para o que vamos conversar.

Me sento no sofá de frente para a poltrona e controlo meus punhos ao lado


do corpo, respiro fundo antes de começar a falar.

— Você sabe o que ela me fez, mesmo assim ainda foi atrás.

— Eu nunca conseguiria não ir atrás dela, não entende? Cibele foi o


grande amor da minha vida. Storm, no momento que ela se foi.. .— Engole a
seco. — Foi como se eu tivesse perdido tudo, nada mais tinha sentido.

— Mas eu continuei aqui — Murmuro, elevando meu tom de voz. — Eu


entendo o quanto ela te quebrou porque aconteceu o mesmo comigo e não só
metaforicamente, mas podíamos ter nos unido. Podíamos ter sido como pai e
filha buscando apoio no outro, mas só restou uma filha tentando buscar forças
para tentar reerguer seu pai.

— Você tem razão, mas quero que ouça uma história — Toma o restante
da bebida no copo. — Conheci sua mãe desde que eu tinha dezesseis e ela
quinze anos, quando a mesma se mudou da Grécia para a casa ao lado.
Meus olhos bateram nela e não pude deixar de me apaixonar, até quando
completei vinte anos e os pais dela souberam que eu sempre gostei dela, e
propuseram um casamento.

— Casamento arranjado? — Exclamo.

— Sim, eu relutei no começo e resolvi pedir para a própria Cibele, eu


sabia que ela não devia gostar de mim e me surpreendi quando aceitou, mas
só fui entender isso anos mais tarde. Cibele sempre foi fria e distante com
qualquer um, para mim isso era um dos seus charmes, mas piorou quando
nos casamos e piorou mais quando ela teve você.

— Está me culpando por ela ser uma filha da puta gélida?

— Não, não mais… No começo, eu culpei mas posso ver que você não
tinha nada a ver com aquilo, os anos foram passando e eu só queria atender
tudo o que ela pedia, dava mesadas semanais e comprava qualquer coisa
que pudesse fazê-la feliz, então quando ela foi embora… — Respira fundo e
seus olhos se enchem de lágrimas, é a primeira vez que vejo Caleb chorar
desde aquele dia fatídico. — Quando a mesma fugiu, fiz de tudo para que
pudesse encontrá-la, seus pais também tinham sumido e então eu consegui
encontrá-los na Grécia e pude entender. Cibele só casou comigo porque
queria ter dinheiro o bastante para voltar até sua cidade natal e ter uma vida
boa para se manter com o homem que ela amava.

— Ela te enganou. — Murmuro.

— E eu tolo de paixão cai feito patinho, ela se aproveitou disso e então foi
embora ao ter tudo o que queria. Eu sei o quanto Cibele foi fria com você, o
quanto eu mesmo fui, mas perdi tudo quando a mesma fugiu. Minha alma se
destroçou ao saber que nem ao menos ela gostava de mim, que só fui um
meio para um fim.

— Então por que continua atrás dela? Mesmo depois de tudo, você ainda
vai atrás dela. Eu não consigo entender que tipo de amor é esse.

— Por que eu a amo o bastante para esquecer que ela fugiu para ficar
com outro.

— Mas você sabe que ela só deve está vindo para buscar mais dinheiro,
que Cibele continua não se importando e ela nunca vai se importar.

— Eu sei, mesmo assim eu ainda a quero — Seus olhos encontraram os


meus e lágrimas jorravam deles. — Eu a quero tanto que nunca me casei
novamente porque ninguém supria o que Cibele me fez sentir.

— Pai, você precisa de ajuda, isso não é saudável. Esse jeito doentio,
isso não é amor, é obsessão e não me venha com a história de que eu não
sei o que é o amor porque eu sei — Balanço a cabeça. — Tem que parar de
machucar as pessoas ao seu redor, acabou com Alisson de uma forma
horrível e Deus sabe como você a destruiu para tentar suprir esse amor por
uma pessoa que não se importa.

— Eu sei, acaba comigo ser essa pessoa que fere as pessoas, mas não
consigo parar com isso — Joga o copo de uísque do outro lado da sala, o
vidro se estilhaçar pelo chão. — Essa necessidade de sempre amá-la me
sufoca, me sinto preso em uma sala e ninguém pode me ajudar. Eu a amo,
Storm, amo tanto que chega a doer.

— Amor não é para ferir ninguém e eu sei disso muito bem. O seu amor
doentio por mim, me machucou quando eu mais precisava de você e eu nunca
vou esquecer da dor que me causou. Você precisa de ajuda porque não serei
mais capaz de fazer isso, não vou me destruir mais uma vez para te levantar,
pai, eu me recuso a fazer isso novamente.

— Eu ainda quero vê-la, mas não vou aguentar presenciar ela indo embora
novamente, não vou aguentar esse tipo de dor. O tipo de dor que eu lhe
causei — Se levanta, totalmente perdido. — Pode ligar para o senhor
Bastos? Eu não quero ficar aqui.

— Vai para o seu quarto, vou fazer isso agora. — Ele concorda com a
cabeça, antes de caminhar até o elevador.

— Storm? — Diz, antes da porta se fechar. — Eu nunca fui pai o bastante


para você, errei e continuo errando.

— É — Murmurei comigo mesma, quando a porta se fecha.

No mesmo instante, Jace aparece ao meu lado, me puxando para seus


braços. Descanso minha cabeça em seu peito, respirando fundo seu cheiro
amadeirado.

Isso foi mais doloroso do que eu achava que seria.

— Preciso ligar para o terapeuta dele — Seus olhos estão arregalados


para mim. — O que foi? Por favor, me fala que não é isso, eu não tenho mais
forças.

— Ei, você é forte, eu sei que está cansada, mas você é forte. Ok? —
Seca uma lágrima que escorre pelo meu rosto — Me desculpe por dizer isso,
mas tem uma mulher esperando na frente da mansão. — Sinto o gelo subir
pelo meu corpo ao ouvir essas palavras saindo da sua boca.
Caminho em direção a porta com minhas pernas quase virando gelatina.
Em frente da casa, meus olhos vão direto na direção dela.

Cibele Demetriou não mudou tanto nesses dezoito anos, mas eu sempre
tive poucas lembranças da mesma e as poucas que tenho, são de todos os
momentos ruins que sofri em sua mão.

Ela está com um vestido longo vinho e uma bolsa da Gucci repousa em seu
braço, óculos de sol chama atenção em seu cabelo loiro dourado. O mesmo
tom de cabelo que eu tenho, mas tive a questão de pintar esse único traço
que herdei dela.

— Quem é você? — Diz exigente: — Vim ver Caleb Brassard.

— Seria cômico se você se lembrasse de mim. Olá, mamãe. — Abro um


sorriso afiado, mesmo que meu estômago esteja se revirando.

— Storm? Uau! Parece igual ao seu pai — Faz uma careta para meu
cabelo e roupas. — Enfim, cadê ele?

Por que eu ainda pensei que ela iria falar alguma coisa sobre ter ido embora?
Cibele é ambiciosa, isso não mudou durante os anos, outra coisa igual a
antes é que ela continua não se importando com minha existência.

— De quanto você precisa para nunca mais vir atrás? — Tiro o talão de
cheque do meu bolso.

— Storm… — Jace tenta avisar, mas não dou ouvidos. Eu quero essa
mulher o mais rápido possível longe dos Estados Unidos.

— Dois milhões e meio — Seu semblante frio não muda, nada na


imperatriz de gelo muda, desde que ela colocou os olhos em mim depois de
anos. — Parece que alguém tem dinheiro, a cabeça dura serviu de algo.

Faço um cheque rápido, mesmo que minhas mãos estejam tremendo e eu


estou me segurando para não vomitar nos meus pés. Mas não quero que ela
veja o quanto me deixou frágil, o quanto me destruiu de dentro para fora, que
deixou uma marca permanente em meu coração.

— Aqui — Controlo o tremor na minha mão, ao estender o cheque. —


Agora, você me deve uma única resposta.
— Ok, garota — Pega o talão da minha mão e o guarda na bolsa. —
Pode ir logo? Tenho um avião para pegar.

— Por que nunca conseguiu ao menos gostar de mim? Eu sou sua filha.

— Porque você vinha dele, foi um erro no meio de um propósito — Abre


um sorriso felino. — No momento, tenho filhos de verdade com a pessoa que
realmente amo.

— Enquanto meu pai tentava desesperadamente ter uma família com


qualquer uma, você já estava tendo a sua — Fico com raiva de mim mesma,
pela minha voz soar tão frágil aos meus ouvidos. — Nunca nem sequer
pensou nele com afeto.

— Nunca prometi que o amava, meu coração sempre pertenceu a alguém


na Grécia. Minha família julgava esse homem por não ser rico ou poderoso, e
nos mudamos para que eu não pudesse ficar com ele. Arrumei alguém aqui
que pudesse me dar o que eu precisava antes de partir.

— Mas agora você sabe que Caleb não é mais seu banco pessoal — A
peguei pelo braço, não apertando muito forte. — Não volte mais, arrume um
jeito de achar dinheiro por conta própria. Seja feliz com sua família miserável,
mas não volte.

Cibele cambaleia um pouco quando eu a solto, ela entra depressa no carro.

É doloroso saber que ela nunca amou Caleb ou a mim, mas o amor
doentio dele pela mesma, acabou se tornando dependência emocional.

— Eu tentei fazer que você fosse uma boa garota, para sua presença se
tornar menos insuportável — Me encara de cima a baixo. — Vejo que não foi
o bastante.

O carro vai embora em seguida e fico encarando o táxi virando a esquina,


ao ter certeza que ela está longe, deixo algumas lágrimas rolarem pelo meu
rosto.

Engulo um gemido de dor e parece que sinto meu coração se destruindo


novamente, não a dor que senti anos atrás, mas ainda uma dor que me faz
querer ficar de joelhos.
Eu odeio a maneira que ela ainda consegue me fazer mal, mesmo depois
de todo esse tempo, ainda detém esse poder.

— Ela nunca te mereceu, Storm, nunca. Ouça — Jace me virar para que
eu possa encará-lo. — Você é como uma pedra preciosa, nas mãos de quem
não sabe é pouco valorizada, mas nas mãos de quem a valoriza, é tudo. Você
é tudo, Storm Brassard.

— Eu tirei o nome dela da minha identidade com um processo — Abro um


pequeno sorriso em meio às lágrimas. — É Storm Shine Brassard.

— Shine? — Abre um sorriso. — É, acho que combina com você.

O mesmo me puxa para um abraço apertado e não consigo pensar como


eu estaria se ele não estivesse aqui, possivelmente no chão, chorando.

O que eu vou fazer se magoar Jace e ele ter que se distanciar?

Jace deixa de me abraçar para ir falar com o terapeuta do meu pai


enquanto estou sentada em um canto, observando o quintal, tentando
absorver tudo o que acabou de acontecer.

Como pude pensar em algo diferente vindo de uma mulher que fugiu quando
eu tinha cinco anos? Cibele fez da minha vida um inferno, mas eu precisava
disso, precisava vê-la novamente para poder me reerguer de verdade.

Eu passei dezoito anos perambulando pela vida com um lembrete diário do


que eu não podia fazer, para ninguém me machucar novamente. Porque
apesar de dizer que não, minha vida ainda girava em torno da minha mãe.

Olhando para Jace, não adiantou me proteger tanto.

Mas será que eu conseguiria me entregar totalmente? Eu estou tão fudida,


a única maneira de protegê-lo de mim irá me quebrar.

Ele falou que eu poderia destruí-lo, mas não posso fazer isso quando o
mesmo tenta se reerguer dos seus problemas. É covardia machucar alguém
que já foi machucado, é como chutar um cão ferido.

Observo Caleb entrando no carro dos senhor Bastos e some depois de um


último olhar em minha direção. Sem palavras de desculpas porque sabíamos
que não seriam sinceras.
Eu espero que Caleb, consiga ficar bem internado na clínica, mesmo que
eu não esqueça tudo o que ele fez com tanta facilidade.

Nenhum amor vale ao ponto de destruir nossa saúde mental e o fato do


meu pai está quebrado, não anula a maneira que ele me fez sentir, a mim e
todas as mulheres que ele magoou.

Ele era um estúpido até com sua própria mãe e sei que vovó vai surtar
quando souber onde ele vai ficar. Todos da família dele irão surtar.

— Você está bem? — Me viro para encarar Jace.

— Vou ficar, eu precisei disso. Precisei vê-la nos olhos e entender a


história que ela teve com meu pai, era esse final que eu precisava para poder
continuar com minha vida.

— O passado fica no passado? — Concordo com a cabeça.

— O que você vai fazer em relação a sua família? Seu irmão voltou e com
sua ex.

— Passei por muita merda com minha família, mas é hora de deixar isso
para trás ou tentar. Falta só Audrey para me redimir, então ficarei bem ou
algo próximo disso — Aceno com a cabeça. — Então, Storm Shine…

— Estou arrependida de ter falado isso para você. — Reviro os olhos e


Jace dá risada.

Quero guardar bem o som do seu riso em minha memória, assim poderei
me lembrar em dias sombrios, quando não estivermos mais perto um do
outro.
Capítulo 28 - Voar sozinhos
“Diga como você quis dizer
No final, não vamos conseguir
Mesmo assim, continuo esperando
Mesmo no final, se você estiver comigo, eu estou bem.”
— House Of Cards - BTS.

Já se passaram três dias desde que Storm teve o encontro e a despedida


final com sua mãe, se é que devemos mencioná-la desse jeito.

Cibele Demetriou e Ayla Ludovicih têm muitas coisas em comum, não


deveriam ter tido filhos é uma delas.

Storm está rindo de algo com Bela e a observo, sentado no sofá. Ela
parece melhor, eu sei que ainda tem suas cicatrizes para superar e alguns
dias não é o bastante, mas ela está tentando. Assim como eu também estou.

Nesses três dias, estamos mais juntos do que nunca, ainda brigamos um
com o outro, mas de uma forma diferente. Nossos amigos podem achar que
estamos quase oficializando algo, mas eu sei o que isso significa, é como um
até logo ou um adeus.

Eu preciso deixá-la ir, assim como ela precisa fazer o mesmo comigo.
Preciso deixá-la ter o seu tempo para absorver tudo o que descobriu e eu
também preciso de um tempo para absorver que meu irmão está de volta,
mas acho difícil Alexei aparecer depois de Storm ter quebrado sua cara.

Toda sua ousadia de encarar o mundo de frente, me faz admirá-la mais


ainda.

— Você está olhando igual besta para ela — Lohan murmura, ao meu
lado. — O que você sente pela minha amiga?

— Tudo que eu jamais achei que poderia sentir por alguém novamente, de
uma forma mais avassaladora e destruidora — Abro um sorriso de lado. —
Ela não vai aguentar, né?

— Storm pode aguentar muitas coisas, mas não é o momento certo para
ela saber disso. A mesma precisa respirar depois de saber que o pai está
internado em uma clínica psiquiátrica e que a mãe dela nunca nem ao menos
tentou amá-la.

— Eu sei. — Tomo um gole da minha cerveja.

— Ela também sente o mesmo por ti e saber disso está a corroendo.

— Quem diria que duas pessoas quebradas e machucadas pela família,


poderiam se apaixonar uma pela outra.

— Eu chamaria isso de destino, tudo interligado é como aquela lenda


japonesa Akai Ito.

— A que diz que as pessoas estão ligadas por um fio vermelho? — Me


viro para encarar Lohan.

— Sim, o fio pode emaranhar, se embaraçar, mas não pode ser quebrado.
É um fio vermelho invisível a olho nu, mas que está atado no dedo mindinho
das duas pessoas, pode passar o tempo que for, um dia elas irão se
reencontrar.

Suas palavras ecoam em minha cabeça, muitos anos atrás eu a conheci e


anos mais tarde pude reencontrá-la novamente.

Talvez essa lenda japonesa possa mesmo ser aplicada a nós dois ou
apenas não… Mas eu espero que sim.
— Os únicos amigos que ela decidiu contar depois de Alisson, foram eu e
Bela. Eu sei que ela também te contou e isso já diz muito, Storm confia em
você ao ponto de ter revelado seus pesadelos do passado e presente.

— Assim como eu revelei os meus para ela .

O pessoal resolve sair para comer pizza e resolvo ficar com Storm, já que
a mesma não quis ir, nossos amigos saem com sorrisinhos maliciosos no
rosto e tenho que revirar os olhos.

Por mais que eu e Storm tenhamos trocado amassos nos últimos dias, não
acho que vamos passar disso.

— O que vamos fazer? Assistir Ladybug ou algum outro desenho? — Ela


nega com a cabeça. — Tenho um lugar para irmos.

Subimos as escadas em silêncio até a cobertura do prédio que é um jardim


aberto para todos os moradores, nos sentamos próximo da sacada e
mantenho meus olhos em Storm.

— Por que mesmo não gostando de altura, continua nos trazendo para
lugares altos?

— Porque você gosta — Digo, me levantando para pegar duas cervejas


que tem ali. — Quer brindar há algo?

— Aos medos, por nos mostrarem que somos humanos e ainda podemos
sentir. — Ergue sua cerveja e bate com a minha.

Tento acalmar meu coração e não pensar em como isso soa como uma
despedida, só tento focar no momento que estamos compartilhando.

— Eu estava com medo de você. — Admite Storm.


— Eu também tinha medo de você, mas sabe, Storm? — A mesma me
encara. — Eu não estou com mais medo de você e sim da sensação de te
perder.

Tomamos o restante das cervejas em silêncio e descemos de volta para


meu apartamento. Quando entramos, Storm tem um sorriso malicioso nos
lábios.

— Acho que hoje, eu vou tirar a virgindade de uma pessoa — Seu sorriso
se alarga. — Lembra no meu aniversário quando você falou que queria ficar
no quarto? Quer ficar aqui? Não vai ter como voltar atrás, Ludovicih, não é
algo que se pode restaurar.

— Eu quero ficar, mas se estiver tudo bem com você. Não quero fazer
nada sem que você esteja bem, eu posso esperar.

— Não acha que esperou demais? — Se coloca na minha frente e retira


sua jaqueta, a jogando no chão.

— Esperar me levou até aqui. — Meu coração se acelera quando a


mesma ergue os braços e tira sua blusa, revelando seus peitos cobertos pelo
sutiã rendado vermelho. Porra, acho que salivei.

Talvez eu tenha me enganado e meus amigos estejam certos, vamos fazer


mais do que só amassos.

— Eu estou bem, Ludovicih, e acho que já passou da hora de fazermos


logo isso — Seu sutiã vai ao chão também.

Engulo a seco ao descer meus olhos para seus seios empinados com o
tom amarronzado no bico.

Perco totalmente o autocontrole que eu nem sabia que tinha, puxo Storm
pela cintura e seus seios prensam contra mim, me fazendo soltar um gemido.

— Storm, você acabou comigo para qualquer uma. — Desço minha boca
até seu pescoço e vou depositando beijos até chegar ao lóbulo da sua orelha,
o chupando.

— Acho que nunca mais serei a mesma depois… — Ela arfar de surpresa
quando capturei sua boca, uma das minhas mãos vai para um dos seus seios,
o apertando e brincando com ele.
Storm arqueia as costas contra mim e pula para enlaçar suas pernas em
torno da minha cintura, seu corpo faz pressão em cima do meu.

Caminho com a mesma em direção ao meu quarto, sem tirar minha boca
da sua, desfrutando do sabor doce em seus lábios.

A jogo na cama, tendo um momento para observá-la, pela segunda vez ela
está sem sua armadura diante de mim e quase sinto meus olhos marejaram,
mas não é o momento para isso.
Eu preciso estar dentro dela e logo, acho que nunca prestei atenção em
tanto que perdi até ver Storm com os seios à mostra e de calça jeans, na
minha cama.

— Vai tirar essas calças ou não? Porra — Meu olhar dilatar ao vê-la se
levantar e retirar sua calça, sem pressa alguma. — Storm…

— Calma, apressadinho, você esperou vinte e três anos. Pode esperar


alguns segundos. — Abre um sorriso malicioso, quando tira a peça por uma
das suas pernas. Sempre gostando de estar no controle.

— Não acho que posso aguentar com você na minha frente. — Tiro minha
blusa e a jogo pelo chão, logo depois vão minha calça jeans.

— Que ódio, esqueço que você é gostoso. — Seu olhar dança pelo meu
abdômen.

Storm tira sua parte de baixo e minhas pernas ficam bambas quando a vejo
gloriosa em minha frente.
Cada curva, cada pequena cicatriz, estria e pintinhas é o que fazem Storm
ser mais sexy, acho que nunca me cansarei de vê-la.

Seus olhos ficam dilatados quando retiro minha cueca box, suas íris
parecem mais pretas do que nunca e porra, isso é sexy pra caralho.

Ela está sentindo esse desejo por mim, posso ter um ego enorme, mas
Storm já viu muitos corpos por aí e ela está sentindo isso por mim.

— Se você continuar me olhando assim, eu não vou durar muito. —


Murmuro com a voz rouca e meu sotaque esquecido, parece pesar mais
ainda em cada palavra.
Acho que consigo esquecer que falo russo ou qualquer outra língua com
Storm me olhando desse jeito. Eu não sei mais qual é meu nome com essa
mulher me encarando assim.

— Eu tinha visto naquele dia no gelo, mas ele assim em toda sua glória
é… Uau — Tenho que abrir um sorriso malicioso. — Nem abra esse sorriso.

— Você gosta do que vê, isso aumenta meu ego.

— Aumenta outra coisa também. — Engole a seco, apontando para meu


membro.

Me aproximo dela e a deito com cuidado na cama, subo depois de colocar


uma camisinha, me inclinando e beijando sua boca.

O beijo é carnal e cheio de paixão, eu passei anos não me importando com


o fato que nunca dormi com ninguém, eu já cheguei em muitas bases mas
nunca quis avançar com ninguém porque não fazia meu corpo entrar em
combustão.

Parece que se eu não tiver um pouco dela, posso explodir a qualquer


segundo.

É como se eu tivesse aguardando todo esse tempo só para tê-la em meus


braços, só para sentir seu corpo no meu porque ninguém mais irá superá-la.

— Tem que entender que eu não tenho experiência nisso, caso for ruim. —
Droga, eu só quero que seja bom para ela.

— Eu tenho experiência o bastante por nós dois, está tudo bem —


Arranha minhas costas e sua mão vai descendo para minha bunda. — Faça o
seu melhor, Ludovicih.

Respiro fundo e invisto em Storm, solto um grito quando nossos corpos


estão juntos pela primeira vez. Movimento meu corpo a medida dos seus
gemidos que pedem mais, nossos corpos batem um no outro e mesmo assim,
isso ainda não parece o bastante.

Storm inverte as posições ficando por cima e pego um punhado do seu


cabelo fazendo a mesma ir mais rápido, ao chegar lá, tenho vontade de gritar.
Storm cai logo depois em meu peito.
— Primeira vez, sempre é mais rápido, mas agora pode não ser tanto…
— Abre um sorriso malicioso para mim e inverto as posições.

— Oh! Storm, você acabou de criar um monstro. — Mordo seu lábio


inferior, antes de investir nela.

Caio ao seu lado depois da nossa terceira rodada, meu corpo parece
molenga e me sinto mais cansado do que horas de treino. Como eu fiquei
tanto tempo sem isso? Como fiquei tanto tempo sem Storm?

— Jace? — Abaixo minha cabeça para que eu possa olhá-la nos olhos. —
Obrigada, não por isso, mas por tudo que você fez por mim.

— Não precisa agradecer por nada, Storm.

— Eu não quero magoar você, Jace, eu não quero. — Seus olhos ficam
marejados.

— Eu sei que não quer, mas vai ficar tudo bem.

— Só quero dizer algo antes de qualquer coisa, eu sou apaixonada por


você, nunca achei que fosse capaz de me sentir assim um dia, mas você
conseguiu mudar isso. Me sinto amada e cuidada, algo que nunca achei que
fosse merecer. — Uma pequena lágrima escorre pelo seu rosto.

— Também sou apaixonado por você e ninguém mais merece te dizer que
não merece ser amada, quando você merece até ser adorada — Deposito
um beijo no topo da sua cabeça, absorvendo suas palavras. — Eu posso ficar
bem com mais um coração partido.

Mesmo que possamos não nos reencontrar novamente, não iremos mais
sentir isso por outra pessoa porque apesar de termos sidos quebrados, nos
completamos de alguma maneira.

— Vamos dormir um pouco, ok?

— Nunca se esqueça de mim. — Diz, antes de fechar os olhos e


descansar sua cabeça em meu peito.

Ao acordar horas mais tarde com a ausência do seu corpo, sei que ela foi
embora. Meu coração parece afundar um pouco no peito, mas eu sei que
precisamos disso.
Precisamos desse tempo para absorver tudo o que aconteceu com nós
dois, começamos não gostando um do outro para agora isso.... É, o universo
fumou algo mesmo quando decidiu traçar nosso caminho novamente, mas eu
o agradeço por isso, mesmo que tenha que ficar um tempo longe dela.

Às vezes, precisamos deixar alguém ir para que possamos nos encontrar.


Depois, se ambos estiverem preparados, podem tentar novamente, inteiros e
bem.

Mesmo assim, me levanto da cama, colocando as roupas pelo caminho


enquanto corro em direção a garagem. Respiro fundo e decido ir de elevador,
é o caminho mais rápido para chegar a tempo.

— Storm — Grito pela mesma, ela olha por cima do ombro, prestes a ir
embora. — Eu não consigo te deixar ir, eu não consigo. Isso dói pra caralho.

— Acha que será fácil para mim? — Uma lágrima escorre pelo seu rosto.
— Não vai, mas precisamos disso.

— Eu sei — Meus olhos se enchem de lágrimas. — Porra, eu te amo com


cada fibra da minha alma, imaginar um dia da minha vida sem olhar para você
e aprecia-la, faz meu coração doer.

— Eu preciso ir… — Murmura, antes de ligar a moto.

Storm se vai, ela vai embora e eu fico ali. Parado, com lágrimas silenciosas
escorrendo pelo meu rosto.

Eu a amo e saber disso agora só dói mais ainda, justo quando tenho que
deixá-la ir, concluo que a amo. Não sei se sou fudidamente burro ou idiota.
Capítulo 29

Primeira carta

Jace,

Faz uma semana desde que fui embora do seu apartamento, depois da
noite mais intensa que já tive, a primeira vez foi sua, mas minha também.
Foi a primeira vez que dormi com alguém que sou mesmo apaixonada.

Sério, eu pareço uma tola apaixonada escrevendo uma carta para você,
nem sei se isso vai chegar em suas mãos, mas é bom ter algo para fazer
nesse tempo longe.

Eu sei, nós sabemos que precisávamos disso, é você se apaixonando


novamente e eu me apaixonando pela primeira vez, é loucura demais.

Não sei se vou escrever outra carta, mas só quero que saiba que: Sim, Jace
Ludovicih, você me fez perder totalmente a postura da bandida má.

— Da antiga bad girl.


Segunda carta

Jace,

É, nunca imaginei que chegaria perto de escrever uma carta de amor e


olha eu aqui novamente, escrevendo minha segunda. O que você fez
comigo? Bela daria risadas se me visse fazendo isso, acho que todos no
campus dariam boas risadas.

Bom, eu estou me tratando, contei para senhora Bastos sobre você,


como me fez sentir depois de anos. Acabou a sessão e nós duas
estávamos chorando pela liberdade que você me faz sentir, eu sinto que
posso voar ao seu lado, mas ainda tenho que voar mais um pouco sozinha.

É hora de descobrir quem é Storm Brassard depois do trauma, não


alguém machucada, mas alguém que soube se reerguer sem guardar
mágoas ou rancores. Mas nunca deixarei a pose de bad girl e espero que
você continue com a sua de bad boy, eu gosto.

— De sua vampirinha.
Terceira carta

Jace,

Certo, essa será a última carta que escrevo para você, não aguento
mais o papel de tola com saudades porque sim, eu sinto saudades de você.

Isso soa meloso até para mim, mas sinto saudades da sua presença me
desafiando e me fazendo até passar vergonha. Te vi hoje saindo do ginásio
e quase corri para alcançá-lo, mas senti que não era o momento certo. Não,
pois o momento certo é agora.

Acho que ainda terei um longo caminho para cicatrizar todas minhas
feridas, mas quero ter você ao meu lado, seja como amigo ou… Enfim,
espero que esteja bem.

Jace Ludovicih, não te agradeci quando tínhamos cinco anos, mas posso
te agradecer nessa carta. Obrigada, por me fazer sentir viva e feliz, o tempo
passou e isso não mudou.

— De sua guaxinim.

Ps: Sério, ainda vou te dar outro soco por esse apelido ridículo, Elsa
russo oxigenado.
Capítulo 30 - Outra vez
“Porque você é a razão pela qual eu acredito no destino
Você é o meu paraíso
E farei qualquer coisa para ser seu amor
Ou ser seu sacrifício.”
— Infinity - James Arthur.

Quinze dias longe das piadas, dos ultimatos, dos tapas e risos. Storm me
destruiu para qualquer uma mesmo e a agradeço por isso.

Nesses dias eu pude focar em mim, sem contar que coloquei um ponto final
em qualquer problema relacionado com minha família ou algo perto disso, não
é como se eu pudesse me livrar deles. Porém, não vou mais ligar para o fato
que fui um acidente não planejado, que minha mãe pode ter tentado me amar
quando eu era um neném, mas desistiu no caminho assim como meu pai.

Meus erros do passado não condizem com quem eu sou hoje, fomos todos
programados para errar e tudo bem, se aprendermos com os nossos erros.

Ainda tenho um longo caminho pela frente, mas é bom saber que estou
tentando.

— Jace? — Olho para Sasha, a mesma parece ofegante já que correu


para me alcançar. — Podemos falar um pouco? Antes que seu irmão me
chame.

— Eu te perdoo — Abro um sorriso torto. — Acho que te perdoei há


algum tempo, mas só pude perceber agora.

— Sinto muito por ter te enganado.

— Eu sei e sinto muito por ter se apaixonado por alguém como Alexei. Vai
precisar de sorte.

Não espero que ela responda mais alguma coisa e caminho até minha
moto, pronto para ir à universidade. Olho para a mansão dos meus pais,
sempre vai ser o lugar das minhas piores lembranças, mas não vou deixar
mais que elas me persigam. É algo que quero tentar por mim.

Eu sei que não estou me livrando deles, mas quero tentar deixar toda a
dor que eles me causaram para trás e só tentar salvar minha prima disso
tudo.

Estou andando pelo campus quando a vejo, sinto meu coração acelerar e
minhas mãos ficarem suadas.

Storm parece a mesma destruidora de corações, mas algo está diferente,


talvez seja o sorriso em seu rosto.

Ela vem desfilando em minha direção e não consigo me mover do lugar, os


outros alunos parecem sentir o que está prestes a acontecer e ficam parados
para observar.

— Storm está vindo aqui? — Tinha esquecido que estou ao lado dos
caras. Além da minha terapeuta e minha avó, eles foram minha fonte de ajuda
nesses dias.
Me deram bastante apoio, além de encher o saco, que me apaixonei por
Storm. Eu era um otário por achar que não me apaixonaria por ela, mas essa
mulher me ganhou quando me xingava e me chamava de Elsa, vou fazer o
que.

— O exílio terminou. — Exclama Phineas.

— Olá, garotos — Storm abre um sorriso atrevido, ao ficar em minha


frente e ergue a cabeça para me encarar. — Elsa.

— Vampirinha. — Digo, ronronando.

— Ainda odeio esse ronronar. — Revira os olhos.

— Ainda odeio essa revirada de olhos. — Ela revira os olhos mais uma
vez, me fazendo gargalhar.

— É, certas coisas não mudam. — Ethon murmura para Santiago.

— Vamos deixar nosso casal em paz. — Lohan puxa os caras para longe.

— Por que? Eu preciso escrever sobre isso. — Phineas choraminga.

— Então…? — Não consigo conter a nota de felicidade em minha voz.

— Veio com sua moto? — Concordo com a cabeça. — Que tal uma
corrida até meu apartamento?

— Quem ganhar vai receber um prêmio? — Os olhos dela brilham.

— O prêmio é os dois na cama, não importa quem ganhar. — Meu sorriso


aumenta.

— Vamos lá.

No momento que saímos das escadas e chegamos no seu apartamento,


sua boca já está na minha e esqueço que ficamos quinze dias longe um do
outro.

Storm sobe em meu colo e caminho com a mesma até o seu sofá, me
sento com ela em cima de mim e paro por um segundo para observá-la,
percebendo que seu cabelo está mais curto. Antes batia quase na bunda e
agora está na altura do peito.

— Cortou o cabelo? — Pego uma mecha e enrolo em meu dedo.

— Depois admira isso, agora quero nós dois sem roupa. — Joga sua
jaqueta ao chão.

Não mais uma armadura, mas algo para confortar-lá porque faz parte de
quem ela é.

Acabamos em sua cama e Storm está com a cabeça em meu peito


enquanto brinco com seu cabelo, até reparar em uma pequena tatuagem
atrás da sua orelha. Como não vi isso antes?

— Você tem o nome do Lohan tatuado? — Exclamo.

— Foi por causa de uma aposta — Se vira e fica apoiada nos cotovelos
para me encarar. — Passamos muito tempo longe um do outro, mas não o
bastante. Não aguento essa sua cara.

— Ha ha, nós dois sabemos que você ama meu rosto impecável.

— Talvez eu ame mesmo — Seu sorriso se alarga com meus olhos


arregalados. — Eu pude entender algo, antes de admitir que te amava,
precisava me amar novamente. Primeiro eu, depois pode vir você.

— Acho que gosto de como isso soa — Me inclino e deposito um selinho


em seus lábios. — Também te amo, guaxinim, apesar de você ser bem chata
às vezes.

— Você deixou isso bem claro na garagem — Revira os olhos. — E chata


eu vou ficar se me chamar de guaxinim de novo.

— Guaxinim — Mordo seu lábio, ficando sério em seguida. — Foi ver seu
pai?

— Não, o mesmo não quer e respeito isso, acho melhor. Preciso ficar
longe dele por algum tempo, isso é bom para mim.

— Ok, respeito isso.


— E sua família?

— Minha avó ligou para minha mãe e arrumou um jeito de mandar meu
irmão para San Francisco, assim ele pode ficar na empresa de lá. Meus pais
não falam mais comigo, a não ser o necessário, como hoje — dou de ombros.
— Ah! Sasha falou comigo, perdoei ela.

— Sério? — Concordo com a cabeça.

— Aliás, você precisa conhecer minha avó.

— Por que tenho que conhecê-la? — Seu sorriso se alarga. — Não acho
que eu seja o tipo que agrada senhorinhas.

— Porque você é minha namorada — Reviro os olhos. — E não a chame


de senhorinha em sua presença, ela não gosta.

— Sou sua namorada? — Joga a cabeça para trás e dá risada. — Não


somos namorados.

— A partir do momento que as palavras “eu te amo” saíram da sua boca,


viramos namorados. — Abro um sorriso orgulhoso.

— Argh! Ok, seu babaca — Se inclina e morde meu peito. — Só porque


eu nunca disse isso para alguém antes, não romanticamente.

— Para com essas tendências vampirísticas de morder, baby. — Passo a


mão pelo meu peito.

— Eu não sou sua vampirinha? Tenho que manter o instinto. — Joga seu
cabelo.

— Eu tenho uma psicopata como namorada. — Jogo as mãos para o alto.

— Eu tenho um egocêntrico como namorado e você não me vê


reclamando.

— Não, porque você me ama — Mordo seu nariz. É, não vou conseguir
me manter longe dela.

— Estou começando a querer voltar atrás nisso, sabe como é. Eu tenho


uma reputação a zelar.
— Como bad girl que só parte corações? — Abro um sorriso malicioso, ao
citar o rótulo em inglês.

— Sim, e você o bad boy que não se envolve com ninguém, além de mim.
— Dá de ombros.

— Apenas seu? — Concorda com a cabeça.

— Sou a tempestade da sua vida, que sai revirando tudo.

— Mas que colocou tudo em seu devido lugar também.


Epílogo
"Vem aqui que agora eu tô mandando
Vem meu cachorrinho, a sua dona tá mandando."
- Cachorrinho - Kelly Key.

Sinto vontade de colocar fones contra som, com a barulheira da torcida.


Sério, como meu namorado aguenta isso em todo jogo?

Namorado, tenho vontade de rir quando penso que Jace Ludovicih é meu
namorado já por duas semanas, dias de estresse e muito sexo. Eu gosto
bastante disso até.

A universidade quase parou quando soube que estávamos juntos, ao nos


ver estacionando nossas motos em uma quarta e descendo de mãos dadas.
Tenho vontade de rir ao me lembrar dos semblantes de choque, ninguém
imaginava isso.

— Não estou vendo o número dele.

— Ali. — Aponta para o jogador com a camisa dezesseis e o nome


Ludovicih ao lado de um coração partido.

— Dezesseis? O número dele era um. — Porque o idiota acabou se


tornando o número um desde que se tornou capitão, parece que alguém é a
estrelinha do time.
Me viro para Bela que está com um sorrisinho no rosto.

— Odeio quando eu não sei das coisas.

— Depois de apaixonada parece que ficou um pouco burrinha — Dá


risada. — Ele fez isso em sua homenagem, trocou o número e colocou o
coração partido.

Porra, ele fez isso mesmo, esse babaca que me ama, fez isso em minha
homenagem. O dezesseis é o número do meu aniversário e o coração partido
sinaliza minha jaqueta.

Sinto lágrimas arderem meus olhos.

Jogo a cabeça para trás e dou risada, sentindo toda essa felicidade invadir
meu peito. Oh cara, ele está tão rendido por mim, parece que mais alguém
perdeu sua postura.

— Como eu odeio esse babaca. — Seco as lágrimas em meus olhos.

— Sabemos que você quis dizer ao contrário. — Bela me dá um


empurrãozinho.

Jace me procura pela multidão até me encontrar no lugar de sempre, o


mesmo abre um sorriso e o retribuo.
Murmuro um eu te amo, antes do narrador sinalizar o começo do jogo.

— EU TE AMO, BRASSARD. — Jace grita por cima do barulho.

Alguns alunos que ouviram, se viram para me encarar e dou de ombros.

— Não ouviram o cara? Ele me ama. — Jogo meu cabelo e volto o foco
para o jogo, com uma sombra de sorriso nos lábios.
Caminhamos pelo campus de jaqueta combinando e um sorriso malicioso
nos lábios.

Minha jaqueta vermelha que ele me deu em meu aniversário, escrito


Broken Heart e sua jaqueta escrito Ice King, o babaca encheu o saco para
colocar esse nome, ainda mais por ele ser o queridinho do time e remeter a
Elsa.

No passado, essa jaqueta foi como um lembrete do que passei, agora é


mais como algo que faz parte de mim. Quem é Storm Brassard sem sua
icônica jaqueta? Agora eu tenho um parceiro de jaqueta e vida, isso é insano.

Eu e Jace acabamos nos tornando uma força imbatível, somos fortes


separados e mais ainda quando estamos juntos.

Os alunos abrem espaço para passarmos ao verem nossas caras feias, é


ótimo ter um namorado com a mesma vibração que a sua.

— Se eu não conhecesse vocês, sentiria medo. — Bela faz careta e dou


risada.

— É o nosso casal maldoso — Phineas diz, orgulhoso. — Falei que vocês


são como Feysand.

O encaro sem entender, mas Jace tem uma sombra de sorriso nos lábios.

— Acho que somos mais como Kanej. — Essa referência eu peguei.

— Gosto de como isso soa, mas você ainda não chega aos pés de Kaz
Brekker.
— E você dá Inej? Se toca. — Revira os olhos com uma sombra de
sorriso nos lábios.

Ludovicih fez questão de ler Six Of Crows, depois que li para o mesmo em
uma madrugada e ele soube que é meu livro favorito. Parece que mais
alguém se apaixonou pela Inej.

Um burburinho começa pelo campus e nos viramos para a entrada da


faculdade, Audrey desfila sozinha com suas amigas ao lado, sem sombra de
Will a vista porque o idiota chega depois de braços dados com uma mulher
linda.

Audrey vacila um pouco, mas mantém as costas eretas com a atenção em


cima dela. A mesma não vai vacilar na frente de todos, como ela nunca
vacilou.
— Espera, eles não terminaram há uma semana? — Lohan cerra os
dentes. — Que filho da puta, je vais voeu donner un coup de poing au
visage11.
( 11- eu quero socar a cara dele)

— Olha a boca. — Aviso.

— E essa menina é aluna nova? Acho que ela chegou há uns dez dias. —
Bela explica.

— Minha prima está melhor sozinha. — Eu sei que esse cabeção loiro
está traçando algum plano para socar Will, vamos ver quem faz isso primeiro.

Por mais que Audrey ainda não tenha perdoado Jace e eu entendo a
mesma, Jace ainda se preocupa com a prima e ela se preocupa com ele,
mesmo que não assuma. Esses dois ainda têm um longo caminho pela frente.

Meu olhar vai para Audrey que tenta manter a cabeça erguida quando Will
passa ao seu lado, nem se dando o trabalho de olhá-la.

— A rainha acabou de perder a coroa. — Phineas murmura.

— Ou o rei acaba de perder sua coroa. — Bela argumenta.

— Não, a rainha acabou de se encontrar e muito bem sozinha — Meu


olhar encontra com o de Audrey. — Se preparem, vai ter briga dos grandes
porque a rainha acabou de encontrar sua força.
Ela terá nossa ajuda para o que for, ainda mais para destruir um homem
tóxico e tirar aquela mulher da sua mira porque ninguém merece alguém como
Will.

— Vai ajudá-la, não vai? — Phineas pergunta para mim. — Agora sim, eu
fiquei com medo.

— Oh! Querido, a única pessoa que deve ter medo é Will — Dou de
ombros, me virando para Jace. — Acho que vamos ajudar sua prima.

— Acho que vamos sim — Deposita um beijo rápido em meus lábios. —


Te amo.

— Também te amo.

— Filmou isso, ursão? Precisamos de provas que Storm Brassard acabou


de dizer isso. — Santiago concorda com a cabeça.

— Eu vou aguardar de camarote os dois se apaixonarem e sofrerem com


isso.

— Não, não… — Phineas diz, cruzando os braços. — Eu mereço um


romance fofo.

— Pode tentar, Brassard, mas nenhuma mulher vai me fazer ficar de


quatro como Jace ficou por você. — Santiago abre um sorriso presunçoso.

— Vai se arrepender disso, cara. — Jace dá dois tapinhas em seu ombro.

— Eu vou amar ver seu tombo Santi — Encaro minha melhor amiga. — E
vou amar ver o seu Bela.

— Como é?

— Vamos, Elsa. — Começo a andar e percebo que Jace não está ao meu
lado, me viro para encará-lo.

— Tenho treino agora — Arqueio a sobrancelha e o mesmo corre para me


alcançar. — Ficou mais mandona.

— A dona manda e o cachorrinho obedece. — Phineas murmura e Jace


lança um olhar maligno na direção dele.
— O que foi bebê? — O puxo pela jaqueta, dizendo contra seus lábios: —
Ele não mentiu.

— Eu sei, mas quero manter a postura. — Abre um sorriso.


Capítulo bônus
*Seis meses depois…

— Jace, onde você está? — Ouço o grito de Storm.

Tento esconder o que estava bisbilhotando, mas ela consegue me pegar no


flagra.
Me viro para encará-la.

— Por que você está chorando? — Se aproxima e olha as cartas na minha


mão. — Como as achou?

— Fui pegar as calcinhas que você pediu, estavam embaixo — Digo,


encarando o melhor presente que alguém poderia ter feito por mim. —
Quando as escreveu?

— Quando ficamos aquele tempo longe, era algo para fazer durante as
semanas — Se senta ao meu lado, no chão. — Não queria dar para você
porque ficaram bobas demais.

— Eu amei, cada linha — Me viro para encará-la. — Sentiu minha falta.

— Tinha como não sentir? — Revira os olhos. — Ok, agora me ajuda a


arrumar minhas malas.
— Eu...só estava processando — Indico para as cartas e me levanto,
puxando Storm em seguida. — Você me faz bem, Storm, também me faz
voar.

— Nem acredito ainda que escrevi isso — Abre um pequeno sorriso. —


Mas sério, me ajuda com a mala.

— Está bem, mas eu vou emoldurá-las. — Coloco as cartas no lugar que


estavam.

Com as férias começando, marcamos de ir à Rússia, Storm tentava se


manter distante do seu pai, que teve alta da clínica e voltou para seu trabalho,
mesmo depois de ter saído em todas as mídias sobre seu estado.

Storm precisa de um tempo longe da Califórnia e eu quero que a mesma


conheça minha avó, acho que é o momento certo para voltar a ver minha
pessoa favorita no mundo junto com minha outra pessoa favorita.

Consegui me perdoar e entender que tudo ficou no passado, eu nunca


feriria minha avó de propósito e nunca mais a magoaria. Storm também jurou
me matar caso eu fizesse isso novamente e eu não duvido de nada vindo
dela.

— Preparado? — Storm pergunta, quando o jatinho pousa no aeroporto


particular da minha avó. — Sabe, ainda podemos fugir se lembrar do seu
passado.

— Não, quero fazer novas memórias aqui. — Lhe dou um beijo rápido e
descemos juntos, as escadas do jatinho.

Vovó nos aguarda com um grande sorriso no rosto, solto a mão de Storm e
corro para abraçá-la.

Quando vim ajudar Alexei não consegui falar com ela e depois de mais de
um ano, eu posso enfim vê-la.

— Dorogoy — Aperta minhas bochechas. — Parece tão magrinho.

— É bom vê-la também — Abro um sorriso e indico para Storm. — Essa é


minha podruga.

— Isso parece até xingamento. — Murmura.


— É namorada em russo. — Dou risada.

— Prazer em conhecê-la, senhora Ludovicih. — Abre um sorriso tenso e


pressiono os lábios para segurar a risada.

— Pode me chamar de babushka — Aperta as bochechas de Storm


também. — Agora me conte sobre você. — Enlaça o braço no de Storm.

Meu coração se sente em paz ao vê-las, lado a lado.

— Então aqui que o grande Ludovicih começou sua vida como patinador?
— Storm quase cai e a agarro pela cintura, a mulher consegue ser horrível
em cima dos patins.

— Sim, comecei com seis anos e com oito, virei patinador artístico, mas o
hóquei sempre foi minha paixão. — Storm consegue se soltar e deslizar
alguns passos sozinha, antes de quase cair.

— Como anda as suas crianças?

Minhas crianças são os patinadores artísticos que eu treino a quase três


meses. Não é lá grande coisa o salário, mas consegui ainda um estágio em
uma clínica veterinária e logo vou me formar, então tudo certo.

Eu e Storm temos uma ideia de abrir um centro para crianças carentes


quando acabarmos os estudos e tivermos nossos empregos.

— Sther achou que seria uma boa ideia dar um salto duplo em sua
segunda aula, acho que descobri que sou molenga pra criança chorando.

— O que você fez? — Abre um sorrisinho e dou de ombros.

— Comprei um par de patins novos para ela com glitter e tudo, senhora
Shine. — Storm me dá a língua.
— Você comprou um par para dois alunos na semana passada. Seja forte,
homem.

— Olhe para aqueles rostos cheios de lágrimas, que irá me entender. —


Faço um giro e volto para segurar Storm.

— Agora, onde você vai me levar depois daqui? Que seja para a cama,
até minha bunda está gelada de frio. — Bate o queixo, mesmo estando com
dois casacos.

— Posso ajudar a esquentar. — Digo, com um sorriso malicioso nos


lábios.

— Você é sujo, Jace Ludovicih. — Me dá a mão enquanto a ajudo sair da


pista.

— O sujo que você ama — Lhe dou um beijo rápido e sinto seus lábios
também gelados. — Bebê, você está um gelo.

— O que eu te falei — Me dá um tapa. — Tem sorte que eu te amo


mesmo e gostei muito da sua avó, senão já estaria longe desse clima.

— Quando chegarmos em Beverly Hills, faço questão de te levar primeiro


na praia.

— Quer que eu use o biquíni com seu rosto, não quer? — Revira os olhos.

— Todo mundo precisa ver meu rosto em seu corpo incrível, o mundo
precisa nos apreciar.

Ao voltarmos para a casa que vivi por treze anos com minha avó, nos
sentamos próximos da lareira e Storm fica vendo algumas fotos minhas
enquanto minha avó dedura minhas travessuras.

Sinto meu coração se encher de amor ao observar as duas, o quanto eu


amo ver Storm sorrindo e sendo plenamente feliz, ainda mais me tendo ao
seu lado.

Amar Storm me deu asas, amar a mesma me fez saber que qualquer um
pode ter as chances que for no amor, eu tive minha segunda e última porque
Storm é a única pessoa que quero amar para o restante da minha vida.
É saber que posso deitar a noite com o coração quase explodindo porque
essa mulher, que antes era tão fria e distante, soube me amar na mesma
proporção.

— O que está olhando? — Ergue a cabeça para me encarar, quando vovó


sai para ir a cozinha.

— Você, apenas você, Storm.


Capítulo bônus dois
*Dezoito anos atrás...

Mamãe parece aliviada ao ouvir uma moça muito bonita, dizendo que não
posso me sentar ao seu lado, tento argumentar mas mamãe apenas nega e
me mandar ir com a moça.

Mesmo que minha mãe não goste de mim, eu amo ficar ao seu lado e
observar o quanto ela é bonita. Todos sempre dizem isso para mim também,
o quanto somos parecidas mesmo que mamãe não goste muito.

— Vai ficar aqui, querida. — A moça indica para um lugar vago, entre a
mesa das crianças.

Me sento ao lado de um garoto loiro, observo como seu cabelo parece bem
mais claro que o meu e seu rosto é tão bonito. Fico vermelha quando ele se
vira para me olhar.

— Por que está me olhando? — Murmura.

— Nada. — Balanço a cabeça, ficando mais envergonhada ainda.

Um moço vem com vários tipos de sorvete em nossa direção junto com
batatas fritas, tento conter minha empolgação. Eu amo essas coisas e como
mamãe não está por perto, posso comê-las.
Pego o sorvete de baunilha e um prato de batata frita, misturo as duas
coisas com um sorriso no rosto.

— O que está fazendo? — Ergo minha cabeça para o garoto. — Isso é


bom?

— É, sim, mas minha mãe diz que não. — Minha mãe diz que tudo é ruim,
tirando frutas e verduras.

— Sua mãe mentiu — O mesmo se lambuza todo, me fazendo rir até


minha barriga doer. Ele se inclinou para sussurrar em meu ouvido: — Sua
risada é meio de um vilão, mas eu gosto dela.

Olho para ele, todo sujo e dou mais risada ainda, sentindo um bater de
asas em alguma parte do meu corpo.

— Você é chato, sabia? — Paro de rir para observá-lo se limpar.

— Minha prima diz a mesma coisa — Dá de ombros, se aproximando


novamente. — Mas ela é mais chata ainda.

— Sério? — Murmuro.

— Sim, igual nossas mães — Ele faz uma careta que faz seus olhos
brilharem. — Muito chatas.

Dou risada novamente, sentindo até uma dor na barriga de tanto rir. O
garoto começa a rir também, me observando com atenção e isso me deixa
com vergonha.

— Agora é você me olhando.

— Gosto de olhar pra você, sua risada faz meu coração bater mais rápido
por algum motivo. — Dá de ombros.

— Isso é estranho, meu coração bate mais rápido te olhando também.

O mesmo fica me contando algumas piadas, o que me faz rir mais ainda.
Acho que nunca tinha rido assim, não desde que mamãe me proibiu de rir
porque boa menina não faz isso.
Acho que agora não devo ser uma boa menina então e esse garoto me
fazendo rir, também não é um bom menino.

— Qual é seu nome? — Não tenho a chance de responder porque mamãe


aparece e me puxa pelo braço.

Tenho vontade de gritar pela dor, mas apenas começo a chorar, sentindo
aquela alegria indo embora. Queria tanto que a alegria voltasse, eu gosto de
rir e não gosto de chorar, ainda mais porque mamãe continua apertando meu
braço.

— O que eu falei sobre ficar rindo, Storm? Meu Deus, você não tem jeito,
sua risada é horrível — Grita em meu ouvido, menos mal que ela soltou meu
braço. — Não quero você de conversinha, fique ao meu lado.

— Mas, mamãe… — A mesma me cala com um olhar e lágrimas


silenciosas continuam escorrendo em meu rosto, eu não consigo evitá-las.

— Ao chegarmos em casa, você vai ver.

Sei que mamãe só quer meu bem, mas sinto medo toda vez que ela faz
alguma coisa comigo.

Tento procurar pelo garoto, só para vê-lo e sentir alegria novamente, mas
não o acho, então só sinto tristeza e medo em meu coração.

Espero que um dia eu sinta alegria de novo, eu gosto tanto de rir...


Em breve...

The Good Couple

A história sobre Lohan e Audrey, o segundo e último livro da duologia


Bad Heart.

Disponível na Amazon, uma novela do mundo de Bad Heart.


Notas da autora
“Pode fazer o que quiser nesta vida. Mas eu quero que você seja feliz.
Quero que você seja valorizada.”
Gostaria de deixar esse trecho aqui do meu livro favorito, em meu primeiro
livro publicado, essa frase de De Lukov, Com Amor foi como uma luz em
muitos momentos e gostaria que esse livro também tenha sido para alguém.

Assim como Storm foi a luz para Jace e Jace foi a luz para Storm.

Mas a vida é muito além disso, você também pode ser sua própria luz,
precisa se valorizar e não esperar que alguém faça isso.

Eu quero agradecer a você que leu esse livro, tendo gostado ou não, eu te
agradeço por ter tirado um tempo da sua vida para ler The Evil Couple, isso é
muito para mim.

Obrigada a Ele por ter me dando tanta força, que vocês nem imaginam. A
maior desistente da história precisava de Deus para lhe dar estruturas.

Obrigada aos meus pais, amo vocês por sempre me apoiarem, ao


contrário dos pais da Storm.

Obrigada a Eduarda por ter sido como uma Bela para mim, chegou tem
pouco tempo, mas ocupou um grande espaço.
Obrigada ao meu Gly, por serem meu Lohan, amizades longas que me
apoiam também por quem eu sou e não terem ido embora como tantos.

Obrigada a mim mesma, foi difícil assim como foi difícil para Storm, mas
você conseguiu. Você chegou aqui, não desista mais, assim como Storm não
desistiu quando encontrou sua força.
Beijos para todos vocês.
Sobre a autora
Y. L Rodrigues, tem dezoito anos e mora no Rio de Janeiro, lê desde que
se conhece por gente e ama um vilão ou anti-herói. Seu primeiro amor dos
livros foi Maxon de A Seleção.

Não tem muitos amigos e aprecia muito a boa companhia de um livro ou


dorama, em qualquer momento.

Cursa Biblioteconomia na UFRJ e pretende continuar com a carreira de


escritora, não deixando suas histórias ficarem só em sua mente.

Você pode encontrá-la no Instagram: @autoraylrodrigues ou no email


[email protected]

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