A Supersticao em Roma
A Supersticao em Roma
A Supersticao em Roma
símbolos da abundância.
1 - Século II d.C.
The J. Paul Getty Museum, Los
Angeles, Califórnia
2 - Príapo. Fresco da Casa Vetti -
Pompeios
Príapo
• Pomona, uma das Hamadríades do Lácio, ninfa dos
bosques e protectora das árvores de fruto, era amada
por Vertummo, o deus itálico das estações. Pomum,
em latim, significa maçã e em geral frutos.
Príapo
Século I d.C.
Lupanar, Pompeia, Itália
O digitus impudicus
• Em Roma, com o gesto feito com
o digitus impudicus ou digitus
infamis (dedo impúdico ou obsceno),
poderia querer dizer «toma …» (o
mesmo que hoje em dia) …
• Mas, contudo, o falo, também tinha
uma conotação mágica ou espiritual:
o falo é um símbolo protector para o
“mau olhado” (Plínio o Velho designa-
o medicus invidiae, remédio contra a Os primeiros registos escritos acerca desse costume
inveja) e traz boa sorte e aparecem no ano de 423 a.C., quando o grego
Aristófanes, um poeta da época, escreveu a peça “As
prosperidade. De facto, era habitual nuvens”. Num dos diálogos da obra, o personagem
que os meninos usassem amuletos Estrepsíades acaba por fazer a comparação, no meio
de uma piada, entre o dedo do meio e o pénis.
fálicos (fascina) no colo e que os A ofensa teria chegado da Grécia à Roma, onde
bebés tiviessem passou a ser conhecida como “digitus infamis”, ou
dedo obsceno.
um tintinnabulum fálico.
Roman images in stone from Bar Hill Fort. Silenus
and bearded man with middle finger extended to
ward off the evil eye.
https://https://en.wikipedia.org/wiki/Bar_Hill_Fort
A MAGIA E A SUPERSTIÇÃO
• Mundo complexo é o da magia,
profundamente ligada à religião e que
compreendia, tal como nesta, um
conjunto de cerimónias e rituais.
• A magia, apesar de corrente, era, de
fato, reprovada. Por isso, foi combatida
moralmente desde sua chegada em
solo latino, e juridicamente, a partir do
principado de Tibério.
• Mas a maioria dos Romanos acreditava
que, tal como os sacerdotes, os magos
tinham uma relação privilegiada com
os deuses. Gema mágica, gravada em ambas as faces. Lápis-lazuli, proveniente dos
Muitas vezes esses magos evocavam arredores de Borba ou de Estremoz, publicda por Graça Cravinho..
Paradeiro actual: desconhecido. Séculos II-III d. C. " As figuras maiores
divindades de outras regiões com que são Esculápio, sua filha Hygieia-Salus e, provavelmente, um dos filhos de
Esculápio (Podalírio ou Macoaon). A figura menor, ao lado de Esculápio,
iam tomando contacto, e o nome de deverá ser o seu outro filho, Telesphoros, o deus da convalescência, que
o acompanhava sempre.
algumas foram inscritos em talismãs e A inscrição que sobrepõe as suas cabeças – CIC(G)A IAW – é uma
invocação a Iaw (Iahwe), o deus único dos Judeus, que poderá traduzir-se
amuletos. por “olha para mim, Jahwe” (um pedido de escuta e de ajuda)».
A Magia
• A magia era o meio pelo qual
o engenho humano tentava
impor a sua própria vontade
sobre a natureza ou sobre as
pessoas.
• A religião perseguia, em
parte, os mesmos objectivos,
mas, ao contrário dos rituais
mágicos, celebrados de forma
secreta e individual, o culto
dos deuses do Olimpo estava
regulamentado e instituído Fresco da Casa dos Dióscoros em Pompeios que representa
um viajante consultando um mago. Museu Arqueológico
publicamente. Nacional de Nápoles.
A Magia
• Por práticas mágicas é considerado
um conjunto de rituais ou
procedimentos que não se
inscrevem nos religiosos oficiais,
cujo simbolismo lhes é
desconhecido. Muitas vezes esses
rituais são mesmo secretos.
• “uma estratégia manipuladora para
influenciar o curso da natureza por
meios sobrenaturais”, segundo
Oxford Classical Dictionary
• É conhecida a estreita relação Mão de Sabázio bronze, usada em cultos por romanos (século I-
II). Sabázio era uma divindade de origem trácia ou anatólia –
entre a Magia e a Medicina. que se tornou popular no Imério Romano.
Fotografia a partir de:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Magia_no_mundo_greco-
romano#/media/Ficheiro:HandOfSabazius.JPG
A Magia
• A magia, e em particular a magia
erótica, foi amplamente praticada na
Antiguidade. A primeira alusão literária
à magia de cariz erótico encontramo-la
no Canto 14 da Ilíada, quando Hera
tenta, para seduzir Zeus, convencer
Afrodite a emprestar-lhe a sua cinta
“cinta variegada, na qual todas as
coisas estão urdidas”. É assim o
primeiro amuleto de magia erótica da
literatura grega.
• Sabe-se através das tragédias,
designadamente de Eurípides, que
eram usados filtros amorosos, através
da confecção de poções e filtros,
designadamente Eurípides (Fedra e
Andrómaca) bem como de de venenos.
• Em Roma, essas práticas cabiam às
mulheres: os sortilégios amorosos e as
impiedades ligadas à invocação dos
mortos e dos deuses infernais, sendo a
magia considerada uma atividade
Estátua de Afrodite – Artista Desconhecido – primeira metade
feminina. do século II a.C | Google Arts and Culture
O Sagus
• Sagus é o mágico, adivinho, feiticeiro, que
faz presságios e saga é mulher sábia, dos
conhecimentos mágicos.
• O termo mago tem uma origem grega,
embora se conheçam magos desde
épocas anteriores. Os Romanos
acreditavam que, tal como os sacerdotes,
os magos tinham uma relação privilegiada
com os deuses. Muitas vezes esses magos
evocavam divindades de outras regiões
Tabella defixionis de Salacia.
com que iam tomando contacto, e o Domine Megare / Inuicte! Tu, qui Attidis / corpus accepisti, accipias
nome de algumas foram inscritos em cor/ pus eius qui meas sarcinas / supstulit, qui me compilauit / de
domo Hispani. Illius corpus / tibi et anima(m) do dono ut meas / res
talismãs e amuletos. inuenuia(m). Tunc tibiostia //quadripede(m), Do(mi)ne Attis, uoueo, /
si eu(m) fure(m) inuenero. Dom(i)ne / Attis, te rogo per tu(u)m
• Sagus é o mágico, adivinho, feiticeiro, que Nocturnum / ut me quam primu(m) compote(m) facias. “Ó Senhora
Mégara Invicta! Tu, que recebeste o corpo de Átis, digna-te receber o
faz presságios e saga é mulher sábia, dos corpo daquele que levou as minhas bagagens, que mas roubou da
conhecimentos mágicos. casa de Hispano. Ofereço-te como dádiva o corpo e alma daquele
para que eu encontre as minhas coisas. Se vier a encontrar esse
ladrão, então prometo-te, ó Senhor Átis, um quadrúpede como
vítima. egundo leitura de Amílcar Guerra. “Anotações ao texto da
tabela defixionis
de Alcácer do Sal”. Revista Portuguesa de Arqueologia. volume 6.
número 2. 2003. pp. 335-339.
OS MAGOS E AS MAGAS
• Na Grécia Antiga, apenas duas mulheres, Circe e
Medeia, têm poderes mágicos ou sobrenaturais,
fazendo uso de uma poções e do poder das ervas.
• Circe é essa maga que viveu na Ilha de Eeia,
castigada por ter envenenado o marido, foi
visitada pelos Argonautas e por Ulisses, o herói da
Guerra de Tróia, segundo a Odisseia.
• A bela Maga Circe, era, segundo Mitologia, loira
porque é filha o deus o Sol - Hélios - e da ninfa
Pérsia.
• Segundo a Mitologia, dela emanava uma luz ténue
e fúnebre, motivo pelo que Circe era também
designada como a "Deusa da Morte".
• Era associada aos voos mortais dos falcões, pois
como estes, Circe circundava suas vítimas para as
enfeitiçar.
• A "Circe das Madeixas Trançadas", como a
descreveram alguns autores gregos, podia
manipular as forças da criação e destruição
através de nós nas tranças dos seus cabelos.
• Era também a tecelã dos destinos, sendo
Medeia fugindo de Jasão na carruagem de Hélio
considerada a Deusa da Lua Nova, da feitiçaria, Cálice-cratera lucaniana de figuras vermelhas
dos encantamentos, dos sonhos premonitórios, Círculo do Pintor de Policoro.
maldições, vinganças, magia negra, bruxaria. Museu de Arte de Cleveland
2 - Edmund Dulac. Circe, the Enchantress, 1915
A MAGA CIRCE E O CONHECIMENTO DAS ERVAS
Ovídio, nas suas Metamorfoses, Livro XIV,
assim descreve Circe, considerada
«feiticeira» e conhecedora do poder das
ervas:
• A feiticeiras romanas já
manipulavam os engrimanços
com imagens e receitas.
• Os grimórios medievais -
colecções de feitiços, rituais e
encantamentos mágicos com
orientações sobre como efectuar
feitiços ou misturar remédios,
conjurar entidades sobrenaturais
e indicações sobre confecção de
talismãs - remetem o seu uso a
fontes clássicas hebraicas ou
Figura em terracota Museu do Louvre.
200 / 399 d. C.
egípcias.
Proveniente do Egipto sob dominação
romana. Imagem a partir de:
https://collections.louvre.fr/ark:/53355/cl01
0011467
“Achei, ó minha irmã”, uma via – congratula-
te com tua irmã – / de o fazer voltar para mim
ou de me libertar dele e deste amor./
Perto do fim do Oceano e do sítio onde o sol
se põe, / fica o derradeiro lugar dos Etíopes,
onde o enorme Atlas/ faz rodar em seus
ombros o céu, semeado de estrelas ardentes;/
vinda daqui, foi-me apresentada uma
sacerdotisa do povo Massilo, guardiã do
templo das Hespérides e que dava comida/ ao
dragão e preservava na árvore os ramos
sagrados,/ espargindo gotas de mel e a
papoila que induz o sono./ Ela promete,
através do seu canto, libertar os corações/ que
lhe aprouver e passar para outros a crueza dos
cuidados,/ suster a água dos rios e tornar
atrás as estrelas/ e põe em acção os manes
das sombras; hás-de ver/ ressoar às suas
pisadas a terra e descerem dos montes os
freixos./ Tomo por testemunhas, ó minha
querida irmã, os deuses e a ti e a tua/doce
cabeça: é contra vontade que me ajusto às
artes da magia.”
Dido e Eneias. Fresco de Pompeios.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Affresco_ro VERGÍLIO, Eneida. Liv. IV. vv. 478- 493.
mano_-_Enea_e_di.jpg Tradução, introdução e anotações de Carlos
Ascenso André. Livros Cotovia. 2020.
A Magia e a Feitiçaria
Na Antiguidade greco-latina, a magia
apelava a poderes sobrenaturais, a
potências invisíveis que atacavam a
alma ou que fluíam no universo
exterior aos humanos.
As práticas de magia, embora
condenadas, continuam em Época
Romana. Sabe-se que, muitas vezes
era evocado um conjunto de
divindades, a exemplo de preces
conhecidas através de Apuleio, na sua
obra «Asno de Ouro», iniciado
também em várias «religiões
mistéricas» , tendo sido acusado de
práticas de magia.
O mago, através da utilização de Fotografia «Casa de mau olhado» Antioquia, Hatay Museum
Antioch, Turquia.
distintas técnicas e procedimentos Século II d. C.
ritualísticos, actua através de A partir de:
adivinhações, sonhos reveladores, https://domus-romana.blogspot.com/.../fascinum-amuletos...
• AA.VV Religion, Supersticion y Magia en el Mundo Romano. Departamento de Historia Antigua. 1985 Cadiz
• ALVAR NUÑO, Antón, Envidia y fascinación: el mal de ojo en el occidente romano. Universidad de Huelva. 2012
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• ÂNGELO, Maria João, D’ENCARNAÇÃO, José, EPÍGRAFES VOTIVAS DA TORRE DOS NAMORADOS (QUINTAS DA TORRE, VALE
PRAZERES, FUNDÃO)* «Conimbriga» XLVII (2008) p. 175-183.
• GARRAFFONI, Renata Senna e SANFELICE, Pérola de Paula. Símbolos fálicos, fertilidade e fruição da vida em Roma: novas
abordagens a partir da cultura material de Pompeia. Romanitas – Revista de Estudos Grecolatinos, n. 9, p. 26-50, 2017. ISSN:
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• https://periodicos.ufes.br/romanitas/article/view/18478?fbclid=IwAR1C7pk6Qjlt6RCxxxEtsjRw2qks_svkp038lYio0c592jpt7T3e1t
BMgAY#:~:text=Disserta%C3%A7%C3%A3o%20%28Mestrado%20em%20Arqueologia%29%20-
%20Programa%20de%20P%C3%B3s-
Gradua%C3%A7%C3%A3o,da%20Universidade%20de%20S%C3%A3o%20Paulo%2C%20S%C3%A3o%20Paulo%2C%202009
• JÁUREGUI, Ane Urrizburu. Magia, mal de ojo y protección en la Antigua Roma (2019)
• https://www.academia.edu/40385918/Magia_mal_de_ojo_y_protecci%C3%B3n_en_la_Antigua_Roma_2019_
• JÚNIOR, Márcio Meirelles Gouvêa, “Magae Romae: As feiticeiras na literatura latina”.
• PhaoS - 2011 (11) - pp. 5-21
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• Magia en la antigua Grecia: necromancia, maldiciones, hechizos de amor y oráculos
• http://www.ancient-origins.es/noticias-general-historia-tradiciones-antiguas/magia-la-antigua-grecia-necromancia-maldiciones-
hechizos-amor-or%C3%A1culos-003978?nopaging=1
• DOMVS ROMANA: Fascinum, amuletos contra el mal de ojo en la antigua Roma (domus-romana.blogspot.com)
• ¿Por qué los bebés en la Antigua Roma tenían móviles fálicos en sus cunas? - Historias de la Historia