Teologia e Pluralismo Religioso
Teologia e Pluralismo Religioso
Teologia e Pluralismo Religioso
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Teologia
e
Pluralismo Religioso
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Faustino Teixeira
Teologia
e
Pluralismo Religioso
NHANDUTIEDITORA
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Teixeira, Faustino
Teologia e Pluralismo Religioso / Faustino Teixeira. – São Bernardo do Campo :
Nhanduti Editora, 2012, 192p.
Bibliografia.
ISBN 978-85-60990-14-6
1. Cristianismo e outras religiões. 2. Diálogo inter-religioso.
I. Teixeira, Faustino II. Título.
CDD-201.5; 230
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À pequena Lis,
expressão viva da plural
manifestação do Mistério
que nos envolve
Sumário
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Capítulo 1
O paradigma exclusivista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.1 No campo católico: extra ecclesiam nulla salus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.2 No campo protestante: a presença de Karl Barth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Capítulo 2
O paradigma inclusivista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1 A teologia do “acabamento”: a linha de Jean Daniélou . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2 A teologia da “presença de Cristo nas religiões” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.2.1 Karl Rahner: a dimensão sobrenatural das religiões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2.2 Paul Tillich: as religiões sob a Presença Espiritual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.3 A teologia do pluralismo inclusivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.3.1 Jacques Dupuis: os caminhos diversificados da graça divina . . . . . . . . . . . 62
2.3.2 Claude Geffré: as religiões no desígnio salvífico de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2.3.3 Andrés Torres Queiruga: uma teologia aberta da revelação . . . . . . . . . . . . . 83
2.4 Outros desdobramentos do paradigma inclusivista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
2.4.1 Michael Amaladoss: a amplitude cósmica da ação do Cristo . . . . . . . . . . . 88
2.4.2 Edward Schillebeeckx: as surpresas da manifestação de Deus . . . . . . . . . . 93
2.4.3 Hans Küng: para uma teologia ecumênica das religiões . . . . . . . . . . . . . . . . 99
2.4.4 Christian Duquoc: a sinfonia sempre adiada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Capítulo 3
O paradigma pluralista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
3.1 John Hick e a centralidade do Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
3.2 Paul Knitter: as religiões e a responsabilidade global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
3.3 Raimon Panikkar: as religiões no mistério cosmoteândrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
3.4 Roger Haight: a constitutividade crística em questão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
12
Capítulo 4
Teologia e pluralismo religioso na Ásia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
4.1 Teologia e pluralidade religiosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
4.2 O rosto asiático de Jesus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
4.3 Uma eclesiologia dialogal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
4.4 Em companhia com os outros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Capítulo 5
A teologia do pluralismo religioso na América Latina . . . . . . . . . . . . . . 155
5.1 O reconhecimento do desafio do pluralismo religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
5.2 A teologia latino-americana diante do pluralismo religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
5.3 A emergência de novos aportes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160
5.4 Os desconfortos diante do pluralismo religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
Capítulo 6
O irrevogável desafio do pluralismo religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
6.1 A acolhida do pluralismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
6.2 A presença universal do Mistério . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
6.3 O despertar para a riqueza da diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
6.4 Singularidade cristã e abertura plural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174
Apresentação
A teologia no Brasil está a abrir cada vez mais os braços. Já faz tempo que
deixou de ser reflexo, para tornar-se fonte inspiradora. Lá foram os tempos em
que ela reproduzia a teologia europeia quase mecanicamente, tanto nos idos
da neoescolástica quanto nos primeiros sopros da modernidade pós-conciliar.
Encontrou-se, nos primeiros anos de originalidade, com os pobres imersos em
situações de dominação e opressão, lançando-lhes o grito de libertação desde
a fé cristã. Assim surgiu e cresceu a teologia da libertação que marcou defini-
tivamente o nascimento das teologias latino-americanas. As mulheres vieram
e trouxeram a originalidade de sua presença e pensar. Assim vicejou e ainda
atua entre nós excelente grupo de teólogas a enriquecer a compreensão da
Revelação com o olhar feminino. As etnias negra e indígena enriqueceram-nos
também o cenário teológico. Do lado hispano, a tradição indígena fecundou
bons teólogos. No Brasil, a teologia negra resgatou a dívida religiosa em rela-
ção à fértil tradição africana.
No momento, duas áreas do pensar nos ocupam principalmente, sem dei-
xar as perspectivas já conquistadas do pobre, da mulher, das etnias: a ecologia
e o diálogo com as religiões. Nesse segundo campo, Faustino Teixeira tem-se
especializado e se tornou referência imprescindível, além de estudos alentados
e profundos sobre a mística das diferentes religiões. Ele relança com essa pre-
sente publicação, em nova, revista e aumentada edição, suas reflexões sobre a
Teologia das Religiões.
14 João Batista Libanio
Prefácio
1 F. TEIXEIRA. Teologia das religiões. Uma visão panorâmica. São Paulo: Paulinas, 1995.
2 F. TEIXEIRA. Teologia de les religions. Visió panoràmica de la situació actual. Barcelona: Claret, 2002;
Teología de las religiones. Una visión panorámica. Quito: Abya-Yala, 2005.
18
Introdução
7 Embora seja ainda mais correto dizer que a teologia das religiões constitui, antes, uma resposta ou
prolongamento do diálogo inter-religioso, uma reapropriação da questão no plano de uma elaboração
teológica enraizada numa dada herança religiosa. A distinção entre teologia das religiões e diálogo
inter-religioso foi muito bem enfocada por J.-C. BASSET, em sua obra Le dialogue interreligieux: histoire
et avenir. Paris: Cerf, 1996, 412.
8 Como sublinha C. Geffré: “A teologia das religiões não se fechou sobre a questão da salvação. Sua
tarefa própria e nova é interrogar-se sobre o significado do pluralismo religioso no plano de Deus”:
C. GEFFRÉ. O lugar das religiões no plano de salvação. In: F. TEIXEIRA (org.). O diálogo inter-religioso
como afirmação da vida. São Paulo: Paulinas, 1997, 116; C. GEFFRÉ. Croire et interpréter. Le tournant
herméneutique de la théologie. Paris: Cerf, 2001, 99 (tradução brasileira: Crer e interpretar). Para
Jacques Dupuis, a afirmação crescente de uma nova consciência da realidade do pluralismo religio-
so vem provocando nos teólogos a necessidade de uma mudança na própria formulação do tema:
prefere-se falar atualmente em teologia do pluralismo religioso. Trata-se de uma reflexão que “busca,
com mais profundidade, à luz da fé cristã, o significado, no projeto de Deus para a humanidade, da
pluralidade das fés vivas e das tradições religiosas que nos cercam”: J. DUPUIS. Rumo a uma teologia
cristã do pluralismo religioso. São Paulo: Paulinas, 1999, 25.
9 Entre os autores que trabalham com estas categorias podem-se citar: A. Race, H. Coward. G. D'Costa,
J. Hick, P. Schmidt-Leukel etc. Outras classificações foram adotadas para distinguir tais posicionamen-
tos: cf. P. SCHINELLER. Christ and Church. A Spectrum of Views. Theological Studies 37, 1976, 545-
566; DUPUIS, Rumo a uma teologia; R. PANNIKKAR. Il dialogo intrareligioso. Assis: Cittadella Editrice,
1988, 27s; P. KNITTER. Introdução às teologias das religiões. São Paulo: Paulinas, 2008. Nessa obra,
Knitter prefere falar em quatro modelos: modelo de substituição, modelo de complementação, modelo
de mutualidade e modelo de aceitação.
10 Adota-se aqui a distinção feita por J. Dupuis entre paradigma e modelo. Em contraponto com o termo
modelo, que apresenta um caráter mais descritivo, o termo paradigma implica uma “chave de inter-
pretação complexiva da realidade”. Os modelos não se excluem mutuamente, já que não pretendem
definir distintivamente uma realidade. Isto já não ocorre com o paradigma, que exclui possibilidades
de combinação. DUPUIS, Rumo a uma teologia, 252-253.
11 Ver a propósito DUPUIS, Rumo a uma teologia, 277-282. E também: G. GISPERT-SAUCH. La teologia
indiana dopo il Vaticano II. Rassegna di Teologia 1, 2001, 5-37 (em especial 24.30).
21
Capítulo 1
O paradigma exclusivista
12 Esta expressão, que teve sua origem no século III com Orígenes e Cipriano, indicava no início a
impossibilidade de “maternidade de graça” fora da Igreja, nova Eva. Não havia uma intenção nestes
autores de desenvolver uma teoria sobre a condenação dos não cristãos, mas muito mais uma pre-
22 Capítulo 1
ocupação parenética: em Orígenes, de apelar aos judeus para que não se restringissem apenas ao
Antigo Testamento, e em Cipriano, de defender a unidade da Igreja, em face das ameaças de divisão
da comunidade. Antecedentes históricos podem ainda ser encontrados nas obras de Inácio de Antio-
quia e Irineu.
13 Para uma reflexão mais ampla sobre o histórico do axioma, ver: F. A. SULLIVAN. ¿Hay salvación fuera
de la Iglesia? Bilbao: Desclée de Brouwer, 1999; B. SESBOÜE. Hors de l’Église pas de salut. Histoire
d’une formule et problèmes d’interprétation. Paris: Desclée de Brouwer, 2004; DUPUIS, Rumo a uma
teologia, 123-155; G. CANNOBIO. Nessuna salvezza fuori della Chiesa? Storia e senso di un contro-
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Morcelliana, 1964, 385-399.410; IDEM. Vaste monde, ma paroisse. Vérité et dimensions du salut.
Paris: Cerf, 2000, 108-114. Para Christian DUQUOC, este axioma, seja qual for sua verdade teórica,
produziu “efeitos sociais muitas vezes destruidores”: O cristianismo e a pretensão à universalidade.
Concilium 155/5, 1980, 67-68 (e também 63-64).
14 Em sua obra De fide ad Petrum, Fulgêncio de Ruspe explicitará um exclusivismo bem definido ao
descrever o mal da heresia e do cisma. Para ele, todos os pagãos, e também os judeus, heréticos e cis-
máticos estão condenados ao “fogo eterno”, caso não se convertam ainda em vida à Igreja católica.
Não há para eles uma solução benigna, mesmo que tenham atenuado sua situação com “abundantes
esmolas” ou derramado o seu sangue em nome de Cristo. Segundo este autor, o único caminho sal-
vífico viável é o que se relaciona com a inserção na unidade da Igreja católica. Cf. FULGÊNCIO DE
RUSPE. Le condizioni della penitenza la fede. Roma: Città Nuova, 1986, 170-171.147.
15 DUPUIS, Rumo a uma teologia, 137. Retomando a tese de Fulgêncio de Ruspe, o Concílio de Floren-
ça assume o enunciado do axioma em sua formulação mais rígida: “A Igreja crê firmemente, confessa
e anuncia que ‘nenhum dos que estão fora da Igreja católica, não só os pagãos’, mas também os
judeus ou hereges e cismáticos, poderá chegar à vida eterna, mas irão para o fogo eterno ‘preparado
para o diabo e para os seus anjos’ (Mt 25,41), se antes da morte não tiverem sido a ela reunidos [...]”:
DENZIGER-HÜNERMANN. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. São
Paulo: Paulinas e Loyola, 2007, n. 1351. Doravante: DzH.
Capítulo 6 O paradigma exclusivista 23
665 H.-G. GADAMER. Verdade e método II. Complementos e índice. Petrópolis: Vozes, 2002, 247.
666 DUPUIS, Rumo a uma teologia, 530.
667 DALAI LAMA. Uma ética para o novo milênio. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, 32-33; IDEM.
Minha autobiografia espiritual. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009, 99-100.
668 A. COMTE-SPONVILLE. O espírito do ateísmo. São Paulo: Martins Fontes, 2007, 128-186.
Ver também: H. PEÑA-RUIZ. Qu’est-ce que la laicité? Paris: Gallimard, 2003.
177
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