Ceo Inesperado Meu Ex Melhor A - Aline Padua

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1° edição – setembro 2021

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A ALINE PÁDUA


SUMÁRIO
SUMÁRIO

NOTA

PLAYLIST

SINOPSE

PARTE I

PRÓLOGO

CAPÍTULO I

CAPÍTULO II

CAPÍTULO III

CAPÍTULO IV

CAPÍTULO V

CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VII

CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO IX

CAPÍTULO X

PARTE II

CAPÍTULO XI

CAPÍTULO XII

CAPÍTULO XIII
CAPÍTULO XIV

CAPÍTULO XV

CAPÍTULO XVI

CAPÍTULO XVII

CAPÍTULO XVIII

CAPÍTULO XIX

CAPÍTULO XX

CAPÍTULO XXI

NOVOS COMEÇOS SAGRADOS

O melhor amigo do meu irmão (A REJEIÇÃO)

O irmão da minha melhor amiga (A REDENÇÃO)

UMA GRAVIDEZ INESPERADA

CONTATOS DA AUTORA
NOTA

Quem diria que os Torres tomariam conta da cena e trariam mais


livros inspirados nas músicas da Taylor Swift? Se você é nova por aqui,
fico feliz de lhe contar, que todos os álbuns da Taylor Swift me marcaram

em momentos diferentes da vida, e desde maio, tenho lançado livros


clichês baseados em álbuns dela. Já passamos por RED em “O melhor
amigo do meu irmão: A REJEIÇÃO”, por Speak Now e 1989 em “O irmão
da minha melhor amiga: A REDENÇÃO”, e por Reputation e Lover em
“UMA GRAVIDEZ INESPERADA”.

UMA GRAVIDEZ INESPERADA foi o primeiro livro que conta a


história da família Torres e seus quatro irmãos. Ele discorre sobre Mabi e
Inácio (o irmão mais velho). Não é necessária a leitura deste livro para o

entendimento deste, contudo, fica o aviso de spoilers sobre o casal


Mabi e Inácio.

CEO INESPERADO: o meu ex melhor amigo, veio diferente e


não foi baseado em um álbum todo, mesmo que Lover esteja presente em
várias passagens, a realidade é que realizei o sonho de ter Back To
December (do álbum Speak Now) como a base da história. Talvez não faça
sentido para você, cara leitora, porém, saiba que é construído com a
melhor parte do meu coração.

Se você é fã da Taylor, com toda certeza, pegará todas as

referências e crossovers de eras diferentes dela.

Babi e Júlio tem por objetivo te levar a um clichê que a gente se


emociona, se irrita e quer colar a cabeça deles e fazê-los conversar. Um
toque de drama e comédia (alô novelas turcas que amo), e muita Taylor

Swift na playlist de uma história.

Espero que esse livro seja um respirar profundo durante esse


momento tão difícil.

Boa leitura,
Aline Pádua
PLAYLIST

Posicione a câmera do seu celular para ler o QrCode e conheça um pouquinho


das músicas que inspiraram este livro. Caso não consiga ter acesso, clique aqui
SINOPSE

Se nem tudo que reluz é ouro, Júlio é apenas a melhor imitação


de pedra preciosa que Babi colocou os olhos.

O seu ex melhor amigo, a abandonou e quebrou seu coração


quando eram adolescentes. Bárbara Ferraz jurou a si mesma que nunca
mais o deixaria ficar perto. Maldito CEO engomadinho!

Júlio Torres sabe que deixou uma parte de si para trás. Sua ex

melhor amiga o odeia e ele, muitas vezes, teve o mesmo sentimento por si.
Maldita sombra!

Júlio sabe que não pode mais ignorar, porque ele não quer apenas a
sua melhor amiga de volta, ele a quer como sua.

Babi foge dele como o diabo foge da cruz. Entretanto, como fugir
se depois do reencontro e finalmente os pratos limpos, ela se descobre
grávida do seu ex melhor amigo?
PARTE I

“Mas eu sabia que você duraria como um beijo tatuado

Eu sabia que você iria assombrar todos os meus “e se’s”

O cheiro de fumaça ficaria por todo esse tempo

Porque eu sabia tudo quando era jovem

Eu sabia que te amaldiçoaria pelo maior tempo

Perseguindo sombras na fila do mercado

Eu sabia que você sentiria minha falta quando a emoção expirasse

E você estaria em pé na luz da minha varanda da frente

E eu sabia que você voltaria para mim.”

cardigan – Taylor Swift


PRÓLOGO

“No tempo em que ainda estávamos mudando para melhor

Querer era suficiente

Para mim, era suficiente

Viver pela esperança de tudo isso

Cancelava planos só para o caso de você ligar”[1]

BABI

Aquele lugar era nosso.

Sorri pela lembrança e passei a mão pelo balanço velho. Não sabia
dizer como foi, mas de repente, a gente se resumia ali. Eu e Júlio éramos
partes um do outro. Desde os doze anos, até ali, aos dezoito. Era estranho

pensar que nossas escolhas estavam chegando, e que poderiam nos separar.

Porém, eu duvidava que nos separariam. Por que estava tão preocupada
com aquilo?

Soltei o ar com força, sabendo que ele terminara o namoro de


alguns meses com Lúcia. Eu também terminara o meu há algumas

semanas. Até naquilo, parecíamos conectados. E por mais que quisesse


resguardar e mentir, sabia, lá no fundo, que era mais do que eu estava
preparada. Eu o sentia em tudo de mim. Eu queria senti-lo em toda parte de
mim.

Em que momento você descobre que seu melhor amigo se tornou


seu primeiro verdadeiro amor? E por que desejar que ele seja o único?

— Quem? — a pergunta veio alta, e antes que pudesse impedi-lo,


sua mão estava sobre meus olhos.

Foi exatamente assim que a nossa amizade começou, quando ele


ajudou meus pais em minha festa surpresa de doze anos na época, mesmo
que a gente nunca tivesse se falado além de almoços entre as famílias.

— Estúpido. — respondi, e sorri quando ele encostou seu queixo


em minha cabeça. Ele era tão maior... Suspirei, não querendo pensar
daquela forma. Parecia poder estar em cada canto meu. E estando ali, nas
minhas costas, não conseguia impedir meu corpo todo de querê-lo. E Júlio
me conhecia melhor do que ninguém, então, ele conseguia ver que me

arrepiava e tremia em sua presença? Ao mesmo tempo que me sentia


segura e queimava?

Tantas outras bocas que beijei, buscando o que eu só queria


encontrar na dele. Lá no fundo, sabia que só encontraria na dele.

— Geralmente, você luta mais... — provocou, me trazendo para a


realidade, e me forcei a afastá-lo e tirar sua mão de meus olhos. — O que
aconteceu? — perguntou, quando seu olhar parou no meu e seu sorriso
sumiu.

Olhos castanhos lindos, assim como os cabelos castanhos


enrolados, que se mantinham impecavelmente. Vi-o se tornar um homem,
e não conseguia fingir que não me atingia a sensação de que ele era meu.

— Não quero falar sobre a faculdade hoje. — vi-me dizendo e ele

me puxou para perto, rodando-me no meio do caminho. — Por que a gente


só não fica aqui?

— A gente já está aqui, Bárbara.

Sorriu lindamente de lado e meu pensamento evaporou. Todos


tinham apelidos, assim como ele era chamado de playboy e eu de sombra,
a sombra dele, no caso. Não era um problema, até porque, sempre
estávamos juntos. A questão era que ele não me chamava de nada daquilo,

nem mesmo de Babi. Apenas carinho ou o meu próprio nome. E algo na

forma que ele dizia meu nome, fazia-me derreter. Era alguma crise dos
dezoito anos?

— Fecha os olhos. — pedi, e ele o fez de imediato, sem perguntar


ou questionar. Ele era tão fácil nas minhas mãos, sempre ali para tudo e

para todas as horas. Como seria tê-lo tão longe? Eu realmente consideraria
ir para fora do Brasil apenas para não o perder? Não poderia, e ele não
poderia deixar seu sonho morrer. — Imagina seu futuro. — continuei, e ele
sorriu, como se pensasse em algo. — O que você vê daqui dez anos?

— Você. — respondeu de imediato e meu corpo todo tremeu. Por


que ele tinha que ser tão perfeito? Júlio Torres tinha que errar em alguma
coisa, não era possível. A cada dia em que me tomava conta de que o
amava me sentia apavorada. — Você me infernizando vinte e quatro horas.

— Na mesma cama? — a pergunta escapuliu de minha boca e ele


franziu o cenho, mas não abriu os olhos.

Vi-me tomando coragem, que não sabia de onde vinha, e fui até
ele, tocando sua camisa branca agarrada a cada músculo que ele
desenvolvera ao longo dos anos. Subi minha mão até o seu pescoço, e vi o
exato momento em que seus pelos se arrepiaram. Ele sentia o mesmo? Eu
tinha perdido a noção?
— Se fizer isso... — começou, ainda de olhos fechados.

— Fizer o que? — indaguei, e toquei seus lábios com os dedos, e

mesmo que estivesse acostumada a tocá-lo, nunca fora tão certeiro como
naquele instante.

— Não brinca comigo. — pediu, abrindo os olhos e uma de suas


mãos foi direto para o meu rosto. — Eu te conheço melhor do que

ninguém, e pensei que estava louco ao ver o desejo gritando no seu olhar...
— soltou o ar com força, e seu hálito de hortelã me atingiu. Ele poderia só
parar e me beijar até esquecermos que éramos melhores amigos? — Me
diz o que quer. — praticamente implorou, tocando meus lábios e fazendo-
me quase gemer. O que diabos era aquilo?

Nem mesmo os namorados diferentes, ou os beijos perdidos em


pessoas aleatórias... Tudo se apagou ali.

— Você. — soltei, e não sabia dizer quem deu o primeiro passo,

mas de repente, aqueles lábios que tanto me faziam sorrir, calaram os


meus. Sem tempo para pensar no que era certo ou errado. Sem tempo para
imaginar o que seríamos. Sem tempo para podermos parar.

Sua língua na minha e toda meu raciocínio evaporado. Mãos na


minha cintura e costas, fortes e decididas, fazendo-me arquejar e gemer
seu nome no beijo. A forma como aquele lugar se transformara por
completo e ele era meu. Por alguns segundos ou talvez por horas com
aqueles lábios nos meus, em uma sede sem fim... por aquele momento, eu

poderia jurar que ele era meu, em todos os sentidos.

Lego engano.

— Júlio!

A voz veio de longe, e eu finalmente me afastei de seu corpo, sem

saber quanto tempo ficamos ali. A gente se olhou e eu sabia que não
precisávamos dizer nada. A gente se conhecia no olhar. Eu estava uma
bagunça, daquilo tinha certeza, e percebi que era fato quando Inácio
Torres, o irmão mais velho de Júlio se aproximou.

Ele me fez um leve cumprimento, tocando a mão no chapéu de


cowboy, e eu sorri. Ele era uma pessoa fechada, mas eu conhecia um
pouco do lado família dele. Inácio, assim como todos os Torres, eram
únicos quanto estavam juntos. E eu, sempre estava lá, envolta deles.

— Mamãe está maluca atrás de você, parece que o voo adiantou e


ela precisa te levar para a capital agora.

— Voo? — perguntei, olhando de Inácio para Júlio. O mais velho


franziu o cenho, como se tão perdido quanto eu, e Júlio o olhou como se
implorasse para ficar calado.

Contudo, conhecia Júlio melhor do que aquilo.


— Hora errada, irmão. — Júlio falou, e Inácio pareceu entender o
que acontecia, e eu fiquei ainda mais perdida. — Bárbara, eu...

Por que ele parou de falar quando me encarou? Por que ele
parecia ter uma culpa nos ombros?

— Você disse que estava pensando no estágio e... Como já tem um


voo marcado? — a pergunta saiu de imediato, e era como se eu, pela

primeira vez, visse em seu olhar a mentira clara. — Fala alguma coisa!

— Eu sinto muito, Bárbara. — falou de repente, e me surpreendeu


ainda mais ao me puxar para perto e beijar minha testa. Eu estava inerte,
sem saber o que fazer. — Eu sinto tanto, e eu... Preciso ir.

Ri sem vontade, empurrando-o para longe. Era como se ele


estivesse se despedindo. Por que ele estava fazendo aquilo? Por que ele
não estava falando? Por que ele não estava sendo claro? Por que ele estava
escondendo coisas?

Pensei em ameaçá-lo. Pensei em gritar. Pensei em apenas chorar.


Entretanto, apenas paralisei, e vi-o sair dali, indo em direção ao irmão, que
tinha se afastado, e estava a alguns metros, olhando para outra direção. Era
como se eu levasse um soco na cara, e o destino me mostrasse que todos
aqueles anos de amizade eram uma mentira.

Quando ele desapareceu do meu campo de visão, permiti que uma


lágrima descesse, e toquei meus lábios, ainda formigavam pelos dele. Ele

estava me deixando, sem dizer nada, como se eu não fosse nada... Talvez,

eu não significasse nada de fato para ele.


CAPÍTULO I

“Os demônios jogam os dados, os anjos reviram os olhos

O que não me mata me faz te querer ainda mais”[2]

Cerca de dez anos depois...

BABI

— A gente tem mesmo que ir fantasiada? — perguntei a Lisa, que


deu de ombros, girando em sua fantasia de diaba. Ri um pouco, porque eu
sabia o quanto minha amiga adoraria infernizar alguém.

Dei de ombros, olhando para o vestido colado em meu corpo, uma


fenda entre os seios, que destacava a tatuagem que ficava entre o vale

deles, e chegava próxima ao meu umbigo. Era nova, e finalmente, estaria

exibindo-a por aí.

Olhei para a máscara que usaria, e tentei imaginar se conseguiria


ficar com ela boa parte da noite. A realidade era que tudo em meu rosto me
incomodava. Por aquilo, tinha quase três graus de miopia, mas só colocava

os óculos ou lentes quando era realmente necessário. Naquela noite, eu


estava de lentes, justamente, porque usaria uma máscara que ocuparia boa
parte do meu rosto.

— Minha amiga, você tá uma gostosa! — Lisa assoviou assim que


prendi a máscara na cabeça e eu revirei os olhos. — Não faz essa cara,
porque a gente vai na melhor festa do ano aqui da capita, e eu consegui
isso, de graça.

— O dono da festa está quase construindo um Taj Mahal para você.

— revidei e ela deu de ombros, como se não importasse. — Vai mesmo


torturar o pobre homem? — indaguei, e ela pareceu pensar um pouco e deu
um giro, a saia não deixava muito para a imaginação, a se pensar sobre o
fato de que sua bunda era enorme e ela com certeza, rebolaria até o chão.
— Você disse que ele é 10 de 10, lembra? — insisti, e ela parou ao meu
lado, encarando-me pelo reflexo.

— Olha o julgamento da mulher que não transa há meses porque


vive para o trabalho e a família! — rebateu e eu não pude sequer

questionar. — Só por hoje, sem atender nenhum telefonema... — falou,

praticamente ordenando, e eu me vi, mesmo a contragosto, entregando-lhe


meu aparelho.

— Sabe que assim que você se ajeitar com alguém e eu estiver


bêbada o suficiente, eu vou pegar o celular de volta. — rebati, e ela riu de

lado.

— Sei onde esconder muito bem. — piscou um olho e saiu do meu


lado.

Lisa Fernandes era minha rocha na cidade grande. Conhecia-a no


primeiro dia de estágio em uma multinacional, e desde então, nunca mais
nos desgrudamos. Tínhamos objetivos diferentes no trabalho, assim como,
para a própria vida. Eu buscava experiência e aprendizado diferentes da
fazenda na qual cresci, ela buscava a presidência de uma multinacional.

Já faziam cinco anos que estávamos ali, dividindo um apartamento


na capital, enquanto eu ainda me decidia se voltaria a fazenda ou não, e me
desdobrava para estar no interior todo fim de semana. Enquanto Lisa
mantinha seu foco em conseguir a promoção que estava ainda mais perto
de ser realidade – um cargo executivo.

Eu adorava o meu trabalho, ainda mais, poder aplicar tudo o que


aprendera durante a faculdade de Economia, no entanto, sempre sentia
falta de algo. Assim como, me sentia quando estava na fazenda, a qual eu

administrava, mesmo à distância, e com a relutância dos meus pais, de


estarem me sobrecarregando. Eu era filha única e tudo para eles, assim
como, eles era o meu mundo. Porém, nunca soubera ao certo do que abrir
mão, e como diria minha mãe: faça o que tem que fazer, enquanto se sentir

feliz.

Eu era feliz me dividindo em duas, mas sabia, que em algum


momento, acabaria tendo que escolher. E mesmo que amasse a cidade
grande e estar ali, minha família era meu porto seguro, e pesava muito
mais na escolha.

— Pensando demais...

Voltei a realidade com Lisa estalando os dedos na minha frente e a


máscara já me incomodando.

— Pronta? — perguntou e eu dei de ombros, seguindo-a em


direção a saída do quarto de hotel, o qual, o seu cara da vez, deixara um
andar fechado para nós duas. Nunca entenderia de fato o porquê de ele
fazer aquilo, a não ser, para surpreendê-la. Mal sabia ele que Lisa estava
pouco se importando com aquilo.

Não sabia como minha amiga fazia tantos preparativos para uma
única noite, contudo, o seu envolvimento com o anfitrião da festa, vulgo
gostosão que ela não admitia ser gostoso, nos trouxera para a cobertura de

um hotel, um andar exclusivo, enquanto a festa aconteceria há alguns


andares dali.

— Vamos conversar sobre o sobrenome dele ser o mesmo do


hotel? — indaguei, provocando-a, e ela me lançou um olhar mortal.

— Vamos falar de Reis, no dia em que você falar sobre o tal CEO
engomadinho. — rebateu, e eu engoli em seco, adentrando o elevador. —
Foi o que pensei. — ela riu, e meus pensamentos se perderam.

Não era o momento certo para pensar em Júlio Torres. Na


realidade, nenhum momento o era. Dez anos... Felizmente, o elevador
chegou ao local, e eu não me perdi em nada a mais, apenas me vi seguindo
para fora do mesmo e as luzes escuras me acertaram.

— Uau! — Lisa falou, caminhando ao meu lado, e a olhei de

esguelha. — Ele sabe dar uma festa. — comentou e eu sorri no momento


em que vi o tal Igor Reis se aproximar de nós, como se ele estivesse
esperando a noite toda ali para vê-la.

Muitas pessoas ao redor dele, mas o olhar, era direto na minha


amiga, e eu tive que cutucá-la com o braço, para que finalmente o notasse.
No segundo em que ela o encarou, soube que era minha deixa para achar o
bar. A música explodia por todos os lados e eu tive que sorrir por ser uma
das músicas da minha cantora favorita, só que remixada.

— Boa sorte. — falei para Lisa, antes que ela me usasse para fugir,
e praticamente corri em direção a um amontoado de pessoas à frente de um
balcão gigantesco. Surpreendendo-me, não era a única a usar uma máscara
simples para ter o traje da noite. Muitas pessoas pareciam tê-lo feito.

“Odeio acidentes

Exceto quando nós fomos de ''amigos'' pra isso

Ah-ah, querido, você é a pessoa que eu quero”[3]

Cantei alto a música e fiquei mais animada do que imaginava para

aquela noite.

— Uma dose de uísque. — pedi, sentando-me na banqueta, e


cantando um pouco mais com a música, enquanto era servida. Levei a dose
até a boca e degustei um pouco, já querendo tirar aquela máscara de vez.
Suspirei profundamente, no segundo em que terminei o líquido e meu
corpo todo estremeceu.

Não era a bebida.


Olhei ao redor, e me surpreendi no segundo em que Lisa me puxou
para si, praticamente me carregando até a pista de dança, só me dando

tempo de deixar o copo sobre uma o balcão e mais nada. O pop acabou,
dando lugar a um funk, que explodiu por todos os lados.

— Se me abandonar assim de novo e não for por algum gostoso...


— falou, e eu tive que rir, porque ela estava com o batom todo borrado. —

O que foi?

— Sua boca. — respondi, e ela arregalou os olhos, fazendo-me


sorrir mais. — Não sei por que não fica com ele de vez.

— Porque não vamos falar disso. — cortou o assunto e eu neguei


com a cabeça. — Balança essa raba, mulher! — encorajou-me e eu ri,
fazendo o movimento que ela me ensinara, que não era ainda tão bom
quanto o dela, mas estava aprendendo.

No momento em que desci até o chão, novamente, o mesmo arrepio

me acertou e a respiração falhou. Parei, levantando-me, e vi-me


procurando alguém, sem entender porquê.

— A esquerda, máscara escura e terno sob medida. — Lisa falou


alto, devido à música, e eu assenti, virando na direção. — Ele está te
secando faz um tempo.

— Quem é ele? — perguntei, e no mesmo instante meus olhos se


encontraram com os dele. Prendi uma respiração, sem saber porquê, e o

arrepio se tornou quente. De repente, cada parte da minha pele estava

quente.

— Não faço ideia. — ouvi a reposta de minha amiga, mas não me


atentei.

Como se algo me puxasse, apenas vi-me indo. Passei dentre as

pessoas, e de repente, faltavam apenas alguns passos para chegar até ele.
Quando notei a aproximação, e a forma como ele me encarava, como se
fosse possível me ler por inteira, acabei parando. Desviei de seu olhar,
assim como, de seu caminho. O que eu estava pensando?

Por que deveria ir até um homem que me fazia tremer apenas com
o olhar? Deveria ir, porque ele parecia bem capaz de te esquentar
também. Mente traidora.

Cheguei ao bar e pedi outra dose de uísque, e torci para que fosse

apenas algo da minha imaginação. Virei a dose e mexi na máscara, que me


incomodava ainda mais. Por um segundo, lembrei que ele usava uma
também, que me permitia apenas ter um vislumbre dos olhos castanhos
profundos. Como eu conseguia enxergar aquilo?

— Por que fugiu? — a pergunta soou baixa e perigosa, e mesmo


com a música explodindo para todos os lados, o tom dele, me atingiu por
inteira. Permaneci na postura perfeita e apenas girei o rosto. Os olhos dele
eram realmente castanhos, tentadores, e algo me dizia que prontos para

pecar.

— A gente se conhece? — indaguei, querendo fugir daquele


momento, mas não consegui desviar o olhar do dele. Imponente, dentro de
um terno preto sob medida, com a máscara tomando grande parte do seu

rosto, e me fazendo imaginar como ele seria. Mesmo assim, era fácil dizer
que ele era lindo. Oh merda!

— Adoraria te conhecer essa noite. — falou, e passou um braço


perigosamente ao meu lado, e vi-o pegar um copo de uísque, e trazê-lo até
seus lábios. Aquela aproximação, me queimava. E fazia muito tempo que
não me sentia tão tentada a estar numa noite com um estranho. Me fazia
querer saber o gosto dele, misturado ao uísque. Deveria ser tão gostoso
quanto ele aparentava ser?

Vi-me apenas pedindo outra dose e a virando. Seu olhar me


acompanhava, queimando cada pequena parte exposta do meu corpo,
principalmente, a tatuagem em meu decote. Suspirei e caminhei em
direção a minha amiga, que estava envolta de Igor, e que me fez quase rir
da cena. Cheguei próxima a eles, e consegui sua atenção quando a
cutuquei, tirando-a do que ela chamaria de “feitiço do dono mundo” e ela
piscou algumas vezes, virando-se para mim.
— Posso mesmo pegar qualquer quarto do andar em que estamos?
— perguntei, e ela assentiu, piscando um olho para Igor, que não

conseguia desviar dela. — Eu vou com ele... — fiz um sinal com a cabeça
na direção que o meu corpo gritava que ele estava. Como era possível
perceber a presença de alguém assim?

— Minha amiga... o cara é um gostoso, e a gente nem tá vendo o

rosto dele. — falou, e senti o exato momento em que Igor a puxou para
perto, fazendo-me segurar a risada. — Te encontro de manhã, então? Daí
você me conta se ele é bonito mesmo.

— Não vou tirar a máscara dele. — vi-me falando e ela arregalou


os olhos, sorrindo. — Uma noite para fugir da realidade, lembra?

— Você é uma mulher cruel quando quer. — piscou um olho, e eu


saí, dando-lhe as costas, e parado a cerca de sete passos dali, envolto de
um mar de gente, estava ele, como se esperando.

Eu não precisei dizer nada, mas senti que ele me seguia. No


momento em que paramos à frente do elevador, e as portas se abriram, era
o último momento para eu desistir. Se no meio de um mar de gente, eu
conseguia senti-lo me queimar, como seria apenas nós dois em um espaço
mínimo?

Dei um passo à frente, e no segundo seguinte, senti minhas costas


contra a porta que se fechara e a proximidade do corpo dele envolto do
meu. Ele não perdia tempo, e eu tive que sorrir pela forma primitiva como

aqueles olhos me encaravam. Caralho! Ele era como um sonho molhado


dos meus livros favoritos.

— O que você quer? — perguntou, e um de seus dedos percorreu o


entorno da minha máscara, sem a pretensão de tirá-la, e era claro que

aquilo o excitava. Tudo era claro no olhar castanho dele.

— Sem nomes. — falei, e seu dedo desceu por meu pescoço,


trilhando um caminho perigoso até meu decote. — Sem rostos.... — engoli
em seco quando ele tocou a tatuagem e quase o beijei ali mesmo.

Nunca agradeceria tanto ao universo por estar com uma máscara


apenas nos olhos e parte do nariz. De repente, nem mesmo o fato de odiar
algo em meu rosto parecia importar. Eu queria ele sobre mim, e aquela
máscara como lembrança de que poderia apenas esquecer tudo.

— Uma noite? — perguntou, sua voz grossa e sexy, fazendo-me


arquejar, e era como se ele fosse feito para me fazer desejá-lo.

As portas se abriram, e ele me segurou firmemente contra si, e meu


olhar se perdeu no dele. Subi minhas mãos até seu peito e o afastei
levemente, apenas para puxá-lo no segundo seguinte pela mão, até um dos
quartos que estavam vazios naquele andar.
— Se o seu gosto for tão bom quanto o seu toque... eu estou fodido.
— falou, e eu parei um passo, antes de abrir a porta. — Permita-me. —

pediu, e me encostou levemente contra a parede do corredor.

Suas mãos desceram pelo contorno do meu corpo, e vi o exato


momento em que ele se ajoelhou. Quando abri a boca para perguntar algo,
vi-o puxar uma das minhas pernas sobre seu ombro e paralisei. Ele não

ia... ou ia?

— Eu posso? — indagou, dando um leve beijo na parte exposta da


minha coxa, enquanto o vestido longo já estava uma bagunça quase em
meu quadril. — Diga-me o que posso e eu farei.

— Pode tudo. — falei, e senti a mordida em minha coxa e segurei


um gemido. Filho da...

Antes que eu pudesse dizer algo mais, sua boca veio diretamente
para onde mais o necessitava, e eu engoli o gemido, e todo o orgulho que

tinha. De repente, era aquilo. Eu estava perdida, com as pernas em torno


dos ombros de um desconhecido, em um corredor de hotel, e me
derretendo por inteira.

Eu estava, literalmente, fodida.


CAPÍTULO II

“Eu não me identifico com você

Eu não me identifico com você, não

Porque eu nunca me trataria de forma tão merda assim

Você me fez odiar essa cidade”[4]

BABI

Segurei a corrente ao redor do meu pescoço, após finalmente


arrumá-la e fui até o espelho do outro lado da loja. No momento em que
me vi ali, era como ter um vislumbre dele, e sua máscara negra, o peito
exposto e a corrente presa a si. Suspirei fundo, guardando aquela noite
quente como o próprio inferno no canto mais bonito da minha mente,

enquanto guardava a corrente que eu acabei por arrebentar de seu pescoço

e se tornou a prova de que aquela noite realmente existiu.

— E como sua mãe está, sombrinha? — a pergunta veio da dona da


loja, senhora Suellen, que deveria ter a idade da minha mãe, e me conhecia
por aquele apelido ridículo, e que infelizmente, a cidade toda também.

Como eu poderia brigar com todo mundo para pararem de me


relembrar que um dia fui a sombra de Júlio Torres?

— Melhor agora. — respondi, e abri minha carteira, pagando-lhe


os vinte reais do conserto do fecho. — Voltei de vez.

— Que notícia incrível! — bateu palmas, e eu sorri. Não tinha


como brigar com aquelas pessoas. Elas não tinham culpa que meu ex
melhor amigo quebrou meu coração, e no fim, me fez odiar aquele apelido,
assim como, me fizera odiar aquela pequena cidade por um longo tempo.

Cerca de uma década depois, tornara-se apenas indiferente. Nunca


mais tivera o desprazer de ter um encontro com Júlio ali, e muito menos, o
azar de vê-lo na capital. Quer dizer, a não ser...

— Sempre que precisar, estamos aqui. — ela falou, cortando meu


pensamento e agradeci por aquilo. O melhor era ignorar tal pensamento.

— Preciso passar no mercado ainda, mas... obrigada, dona Suellen.


Quando quiser, sabe que a fazenda está de portas abertas.

— Obrigada, Babi.

Sorri tanto porque ela me chamara pelo meu real apelido, quanto
por me sentir bem em estar ali. Já tinha se passado um mês, e as coisas
simplesmente foram acontecendo. Minha mãe teve uma crise e me vi
correndo no dia seguinte daquela festa para o interior, e não saí dali mais.

Estava em tempo de decidir o que fazer e onde ficar, e bom, acabara o


fazendo. Decidi por ficar com meus pais e cuidar integralmente dos
negócios da família.

Sentia-me diferente, tinha que admitir. Enquanto andava pelo


pequeno centro, sabia que não me faltava nada ali, a não ser, pela a
saudade que sentia de Lisa. O resto, eu tinha tudo. Na realidade, minha
mãe andava dizendo que era como se eu estivesse brilhando. Talvez,
depois daquela noite com o desconhecido que eu mataria alguém para

descobrir quem era, eu o estivesse.

Suspirei fundo, e cumprimentei algumas pessoas, enquanto


adentrava o mercado. Coloquei minha bolsa no carrinho e no momento em
que comecei a empurrá-lo, uma vontade sem igual de comer miojo de
tomate me bateu. Há quanto tempo eu não comia aquilo?

Vi-me empurrando o caminho pelo lugar e me sentindo salivar.


Quando parei próxima as várias marcas, notei que o sabor que eu queria,
estava justamente no alto, o qual, eu não alcançava. Custava ter mais cinco

centímetros de altura? E pra ajudar, apenas usava meus all-stars de guerra,


e que sempre eram os melhores aliados.

— Para de me provocar, e ajuda a moça. — ouvi uma voz nada


desconhecida, e antes que pudesse me virar, senti meu corpo todo

tensionar e a mesma sensação daquela noite me atingir.

Não, não poderia ser... Um corpo alto e musculoso, tal qual o do


homem daquela noite, praticamente me cobriu, e pegou alguns miojos no
alto da prateleira. Quando ele finalmente me encarou, sabia que não tinha a
probabilidade de ser outra pessoa. Era ele – o cara daquela noite.

Eu não poderia acreditar. Eu só poderia estar confundindo tudo e o


meu corpo, ainda mais maluco do que nunca. Não poderiam ser o mesmo
cara. O cara da máscara negra, e que me fez alcançar ao céu, não poderia

ser Júlio Torres – meu ex melhor amigo e inferno pessoal.

— Babi! — a voz de Mabi Gonçalo quebrou o momento, e pisquei,


fugindo do olhar dele, e aceitando o leve abraço dela. Soubera por cima,
das fofocas que os outros irmãos Torres me passavam, que ela se casara
com Inácio. E ali estava ela, fazendo compras com o cunhado. — Quanto
tempo a gente não se vê? — perguntou, e eu engoli em seco, sem saber o
que dizer.
A gente se conhecia, porque toda aquela cidade se conhecia.
Contudo, não me lembrava de me sentir desconfortável em algum

ambiente com Mabi antes, ela era uma pessoa encantadora. Alguns anos
mais jovem que eu, mas ainda assim, era fácil gostar dela.

— Muito trabalho. — vi-me respondendo, e vi-a cutucar Júlio com


o braço, o qual não desviava o olhar do colar em meu pescoço.

Ele parecia em choque. E eu, queria correr dali. De repente, após


uma década pensando em como seria revê-lo, com o destino atuando, ali
estávamos nós, frente a frente, e nada me viera com o ódio que imaginava.
Na realidade, eu não sabia o que sentir ou o que deveria. Seu olhar parou
no meu, e eu desviei, segurando levemente a mão de Mabi, antes de pensar
em qualquer desculpa esfarrapada para sair.

— Esqueci algo no carro... — vi-me falando. — Podemos


continuar essa conversa outro dia? — indaguei e ela parecia presa em olhar

entre nós dois.

— Claro... Vai ter um almoço na minha casa nesse domingo, e não


aceito não como resposta.

— Eu vou, sem problemas. — falei no impulso e saí dali no mesmo


instante. Não olhei para trás, até finalmente chegar ao carro e poder
respirar fundo. Que merda estava acontecendo?
Não sabia dizer quanto tempo fiquei ali, procurando a chave do
carro na bolsa, com a cabeça perdida em qualquer outro lugar. Como

aquilo poderia estar acontecendo?

— Bárbara. — a voz que eu tanto amei um dia, agora, me fazia


duvidar da minha sanidade mental. Não me virei, ignorando sua presença.
E como se fosse o universo conspirando, achei a chave. Desfiz o alarme e

quando fui abrir a porta e sair dali, senti-me sendo delicadamente


empurrada. Da forma delicada e certeira que aquele cara tinha.

— Não precisa ficar tão perto, eu consigo ouvir. — falei, e senti-o


se afastar. — O que quer? — indaguei, e levantei meu olhar, fingindo que
não sentia absolutamente nada, e que estava tudo sob controle. No fundo,
eu estava enlouquecendo por completo.

— Mabi me obrigou a trazer o miojo de tomate. — comentou e me


estendeu uma sacola, e eu queria tanto negar, contudo, não poderia

demonstrar nada, nem mesmo, raiva. Ele tinha que achar que eu era
indiferente, da mesma maneira que eu acreditei que seria. Merda!

— Agradeça ela por mim. — falei, e abri a porta, entrando no


carro. Antes que eu pudesse fechar a porta, senti sua mão a segurando e eu
quis levantar dali e estapear aquele rosto. Aquele belo rosto... Inferno!

— Precisamos conversar.
Soltei uma risada, sem conseguir me conter e neguei com a cabeça.

— Está atrasado dez anos. — falei, e dei-lhe um olhar como quem

diz: suma daqui. — Não temos mais nada em comum.

— Não estou falando do passado, estou falando daquela noite. —


franzi o cenho, fingindo não ter ideia do que ele falava.

— Tenho certeza que está me confundindo. Não nos esbarramos há

uns dez anos, e...

— Não vai escapar de mim. — sua voz soou tão certa quanto
naquela noite.

Ele dissera a mesma frase, e eu sabia que o resultado fora diferente.


Porém, mesmo querendo dar-lhe uma resposta à altura, resolvi apenas
vestir a capa da indiferença e sorrir. Puxei a porta, e daquela vez ele se
afastou, e no momento que ela bateu, agradeci aos céus pelos vidros
completamente escuros. Soltei o ar com força, e olhei para o lado de fora,

no qual ele permaneceu parado, olhando-me, como se fosse possível me


enxergar ali. Maldito!

Por que ele tinha que aparecer no interior justamente naquele


momento? Por que era ele naquela noite?

Saí com o carro e bati com força contra o painel de música, como
se o som tivesse culpa da minha frustração, ou por Júlio Torres ser o rosto
do cara que eu tinha ficado encantada e viciada em uma noite. Não poderia
ser!

— Não vai escapar de mim. — a voz dele reverberou por todo meu
corpo, fazendo-me gemer, quando suas mãos seguraram com força minhas
coxas. — Depois dessa noite, eu vou te contar o meu nome, e vai gemer
ele. — sussurrou, fazendo-me cravar as unhas em suas costas, e ansiar

ainda mais pelo seu toque.

— Inferno! — falei, tentando me concentrar na rua, enquanto as


lembranças daquela noite me atingiam. Parei na segunda rua que virei, e
tive que puxar o ar com força algumas vezes. Não era apenas aquela noite
me atormentando, era o nosso passado, correndo por toda minha mente e
me paralisando.

— Eu só quero me despedir... — eu ouvi a voz dele, quase em um


grito, e ele querendo partir para cima do capataz da fazenda.

Apenas fiquei ali, do alto da varanda do meu quarto, com o


coração quebrado. Sabia que tudo o que desejava era ir até ele, ter seus
braços ao meu redor e esquecer que ele me escondeu que já tinha tomado
sua decisão. Contudo, não pude. Porém, eu não deixaria. Nunca mais
deixaria que ninguém, muito menos, Júlio Torres, me machucasse
novamente. Apenas lhe dei as costas, e entrei para o meu quarto. Eu
poderia ficar a salvo ali. Longe dele. Longe de tudo. Era só questão de
tempo para passar.

O tapa na frente do carro me fez pular no banco e pisquei algumas

vezes. De relance vi olhos castanhos quase idênticos com os de Júlio, os


cabelos castanhos enrolados, só que compridos, diferentes dos irmãos mais
velhos. Olhar para Bruno Torres sempre me fazia lembrar de Júlio, e ali, a
semelhança me doeu ainda mais.

Baixei o vidro do carro, e ele se escorou, como pessoa que não


precisava de convite algum. Os vidros eram escuros, mas se existia alguém
que poderia saber a placa do meu carro, com certeza, era ele.

Ele era o irmão Torres que eu mais mantive contato, claro, além
dos seus pais. Nunca pudera virar as costas para eles, mesmo evitando ao
máximo e eles respeitando o fato de não querer saber de Júlio. Bruno era
uma extensão da nossa amizade, quando mais novos. Onde a gente ia, o
caçula ia junto. Até mesmo Olívia entrara naquela dança, muitas vezes.

Nossa diferença de idade era pouca, apenas de quatro anos quando se


tratava dele.

— Eu já te disse que é a mulher mais linda do mundo hoje? —


indagou, do jeito galante de sempre, e eu apenas apertei seu nariz, como
fazia quando ele era uma criança. — Você sabe acabar com o ego de um
homem, mulher!
— O que foi? — perguntei, e ele revirou os olhos.

— Soube que estava na cidade, e como não tem me atendido... E

olhe só, cidade pequena é uma coisa maravilhosa. Foi só eu pensar em


você e aqui estamos! — fez um sinal com a mão e eu tive que rir.

— Precisa de carona até a fazenda de Inácio? — perguntei,


imaginando que talvez ele estivesse com a cunhada e o meu carma – Júlio.

— Eu preciso saber se esbarrou no meu irmão. — falou, e eu


desviei o olhar de imediato. — Ok, agora eu quero a carona!

— Não vamos falar do seu irmão, fofoqueiro mirim! — rebati, e


apenas senti o momento que ele bateu a porta do carro do lado do carona, e
entrou. — To falando sério, Bruno!

— Olha, eu sei que você proibiu Deus e o mundo de falar dele,


mas... Primeiro, esse colar no seu pescoço é dele. E segundo, o que
consegui tirar dele com muita força de vontade e gastura, com a ajuda da

Mabi, foi que ele não consegue esquecer uma mulher que foi embora com
esse mesmo colar...

— Do que diabos você está falando? — perguntei, fingindo burrice


completa e ele levou uma mão ao peito, como se fazendo de vítima. —
Podemos só esquecer o fato de que reencontrei seu irmão?

— Eu sabia! — gritou, e eu ignorei completamente, ligando o som,


e saindo com carro.

Coloquei o volume no máximo, enquanto Bruno contava toda sua

expectativa e certeza de que eu era a mulher mascarada com Júlio. Era por
aquelas e outras, que eu nunca, em hipótese alguma, estaria com Júlio, se
soubesse que era ele. Tínhamos uma fanbase muito sólida e famílias certas
de que ficaríamos juntos. Não ficaríamos. Não éramos nada. Foi o que

repeti a mim mesma todo o caminho, enquanto Bruno fofocava tudo a


respeito dos Torres, como sempre fazia, mas daquela vez, ignorando
propositalmente meu pedido de não falar sobre Júlio.
CAPÍTULO III

“Eu acho que já vi esse filme antes

E eu não gostei do final

Você não é mais minha terra natal

Então, o que estou defendendo agora?”[5]

BABI

— Então sua família inteira está na cidade? — perguntei, e Bruno


assentiu, parecendo intrigado com algo. — Você está muito quieto. —
sondei, e ele deu de ombros, e senti seu olhar sobre meu rosto.
— De todas as vinte perguntas que fiz, você respondeu uma ou
duas, e ainda não foi sincera... Eu estou numa tarefa difícil aqui. —

comentou, do jeito leve e espontâneo que tinha, e eu sorri. Sempre fora


fácil sorrir para ele.

— Quase todas suas perguntas envolvem seu irmão, e quem dera


fosse o Inácio... A gente tem um limite claro sobre tudo isso, Bruno. Sua

família é parte da minha vida, e eu nunca me afastei de vocês, mas não vou
falar sobre seu irmão.

— É tão difícil assim dizer o nome dele? — perguntou, e eu engoli


em seco, tentando focar no caminho de terra a nossa frente.

— As coisas são mais fáceis do que parecem. — falei, mesmo


sabendo que era uma grande mentira. Ao menos, talvez Bruno acreditasse.
— O que eu posso dizer... Júlio... — engoli em seco ao dizer seu nome,
porque se tornara um erro pronunciá-lo daquela forma tão aberta. E o papo

de ser indiferente, ia por terra, quando não estava à frente dele. — Não é
um assunto que gosto de relembrar e conversar... Éramos melhores amigos,
nos afastamos, eu o odiei por um longo tempo, e agora... Não somos mais
nada.

— O colar no seu pescoço diz outra coisa. — Bruno praticamente


sussurrou e acabei parando com o carro, sem conseguir me concentrar. —
Sabe que pode mentir para todo mundo, mas não para mim.
Bruno conhecia bem aquela história, e parte dele, parecia querer
consertar. Contudo, não era algo que ele pudesse fazer. Júlio fizera a

escolha dele, e ninguém mais conseguiria lidar com toda aquela bagunça.

— Tem que parar de querer consertar, seja lá que for... — falei, e


levei uma mão ao seu rosto, tocando-o com carinho. Eu vi ali, no castanho
dele, que me escondia algo, mas como sempre, apenas guardei para mim.

Sabia que Bruno tentara muito ao longo dos anos, juntar-nos. Contudo, era
impossível.

Ao menos, sempre me pareceu. Existia uma linha de mágoa a qual


me acertava, assim como, me atingia naquele momento por saber que era
Júlio naquela noite.

— Um dia, vai entender. — respondeu simplesmente, e beijou


levemente minha mão. Sorri para ele, porque era um irmão para mim. A
família Torres era minha, mesmo que não fizesse de fato parte dela. —

Mabi me mandou mensagem, pra te lembrar que tem um almoço no


domingo, na fazenda de Inácio.

Fazenda de Inácio, vulgo fazenda principal dos Torres, onde eles


cresceram, e onde eu passei boa parte da adolescência.

— O que? — respondi de relance, saindo com o carro, e me


sentindo mais leve. Lembrei-me então de que concordei com aquilo no
automático, apenas para fugir de Júlio. — Merda! Mabi já mora com
Inácio, né?

— Talvez as coisas sejam como nos velhos tempos... Ok, não tanto,
porque temos mais agregados, e agora duas crianças na família, mas...
Sabe que meus pais vão adorar te ver.

— Golpe baixo! — revidei, e ele voltou a sorrir, da forma cafajeste

de sempre.

Eu tinha fugido daquele embate por tanto tempo, que de repente,


não entendia como fora tão boa em não esbarrar com Júlio por ali. Os
últimos tempos mostravam apenas que eu era péssima. Primeiro de tudo,
fui para cama com ele e esqueci completamente o meu nome, mesmo não
sabendo qual era o dele. Segundo, eu esbarrara com ele no supermercado,
com o colar que sequer sabia que lhe pertencia, em meu pescoço.

E ele permanecia ali, contra minha pele.

O toque dele, ainda queimando por cada parte de mim.

Foco, Bárbara!

Felizmente, já chegara em frente à fazenda de Inácio, a qual um


dia, fora minha segunda casa, quando todos os Torres moravam ali. Aquela
lembrança me atingia em cheio.

— Promete que vai, ao menos pensar que existe uma explicação.


— Bruno falou de repente, e não me deu tempo para responder ou
prometer de fato, beijou minha testa, e pulou do carro. Fiquei estática e

neguei com a cabeça. Mandei-lhe um beijo com a mão, e segui meu


caminho.

Precisava de um mergulho no lago e esquecer o turbilhão de coisas


que aconteceram naquele dia. Minha vida calma e fácil, de repente, se

entrelaçava ao fato de que meu passado voltara como uma erupção. Levei
uma mão até o colar, e tive que me concentrar em dobro, para não deixar
que o carro saísse da estrada, enquanto meus pensamentos eram dele.
Apenas dele.

Quando pensei que finalmente poderia, quem sabe, conhecer


alguém que me faria parar de pensar em Júlio, o cara, na verdade, era ele...

— Se eu pudesse, te levaria para jantar e dançar por toda uma


noite... — a voz dele era como um lembrete de que não tínhamos acabado.

Vibrando por cada canto de minha pele, enquanto seus lábios desciam, e
suas mãos seguravam minhas pernas bem abertas. — Mas te ter como um
banquete, o seu gosto... — sua língua me acertou em cheio e eu gemi,
mesmo voltando de um orgasmo. O que aquele homem tinha? Ele me tinha
completamente entregue em suas mãos. — O seu gosto é a melhor coisa
que já provei.

Bati contra o volante, e agradeci aos céus pela fazenda da minha


família não ficar tão longe. Estava enlouquecendo apenas por pensar e me

perder naquele momento. Assim como fizera após estar com ele, e não

saber quem era. Agora porque sabia exatamente onde o encontrar. Ainda,
sabia que ele fora a primeira pessoa a quebrar meu coração. A primeira e
única.

JÚLIO

Não poderia ser ela.

Não poderia...

Repetia aquilo continuamente, enquanto queria correr até ela e

implorar para que fosse minha. Por que não era simples assim?

— Quando vai me dizer o porquê de estar com essa cara? — Mabi


me perguntou, assim que a ajudei a subir no carro, e eu apenas neguei com
a cabeça, fechando a porta. Dei a volta, e me sentei no banco do motorista.
— Odeio o fato de você parecer um Inácio 2, às vezes. Já me basta um! —
reclamou, e eu tive que sorrir para ela.
— Pode ligar para Bruno e ver se ele achou o bendito frango? —
indaguei, e ela arqueou uma sobrancelha, como se soubesse exatamente o

que eu estava fazendo. Eu estava fugindo do assunto, e sequer disfarçava.


— Gravidinha linda. — provoquei, tentando colocar a mão na sua barriga,
e ela me deu um tapa, focando no telefone.

— Já terminamos as compras, e preciso do meu fofoqueiro favorito

para ajudar a descobrir o que houve com Júlio... — falou, e vi-a clicando
em algo na tela, deixando o celular no viva-voz.

Era possível ouvir uma voz feminina ao fundo, cantando não muito
baixo, e eu paralisei. Aquela voz...

— Eu estou com Babi. — respondeu, e era possível ouvir ele rindo


de algo que ela dissera, que não chegara até nós. Meu corpo todo gelou e
meu coração se afundou. — Eu devo chegar na fazenda antes de vocês, e
sobre o frango, nada feito.

— Então a gente se vê lá. — Mabi falou abruptamente e clicou em


desligar. — É ela. — comentou alto, olhando-me com preocupação e eu
engoli em seco. Era como se minha cunhada, que agora era uma parte
minha e da minha família, conseguisse me ler por completo com o olhar.
Como se ela finalmente juntasse um mais um, e descobrira a parte que eu
escondia. — Quer conversar? — perguntou, e eu neguei com a cabeça,
pegando sua mão e dando um leve beijo.
Eu não tinha muito o que contar. Eu não tinha o que lhe falar. Mabi
assentiu, e pareceu perceber que eu precisava de espaço. Ao mesmo tempo

que eu queria poder falar abertamente com alguém sobre tudo aquilo. Eu
não conseguia. Fazia tanto tempo.

Vi-me encostando contra o banco do motorista e suspirando


profundamente. Pela primeira vez, em anos, aquilo me acertara novamente.

Justo no momento que acreditei ter superado o que sentia por Bárbara, era
ela. No mais inesperado, continuava sendo ela.

Abri os olhos e resolvi me concentrar na realidade. Sair dali com o


carro, ir a fazenda, ajudar Mabi com as compras, e não pensar em Bárbara.
A última parte parecia impossível. Ouvi Mabi mexer no som e ela
conectou suas músicas, as quais ela não tinha ideia, me acertavam
diretamente. Porque a maioria delas, eram parte do que ouvi um dia com
Bárbara.

“Esses dias eu não tenho dormido

Fico acordada lembrando de como eu fui embora

Quando o seu aniversário passou eu não te liguei

Então eu penso no verão, todas as lindas vezes

Que eu assisti você dando risada, no banco do passageiro


E me dei conta que eu te amava no outono...”

Por alguns segundos, eu apenas saí dali, e era como se fosse a voz
dela, comigo, anos atrás, cantando. Sorri sozinho, preso ao momento e
querendo me apegar a cada parte dele.

— Deve ser difícil, não é? — perguntou, olhando para as estrelas,

enquanto a música continuava e ela parecia imersa. Eu estava deitado ao


seu lado, e o seu cheiro em cada canto de mim. Ela era minha melhor
amiga, a parte mais bonita que eu conhecia da vida, e de repente, não
conseguia vê-la apenas como tal.

— O que? — vi-me indagando, e me apoiando em um braço, para


olhá-la com atenção. Por todos os deuses! Ela era coisa mais linda que eu
já vira!

— Você deixar alguém, achando que é o certo, e depois perceber

que estragou tudo. Que ela é o amor da sua vida. — respirou


profundamente, e seus olhos castanho claros bateram nos meus. — Sorte
que a gente é novo o suficiente para não precisar pensar em amor.

— Sim. — respondi no automático e engoli em seco. Por mais novo


que fosse, e sabendo de todos os contras, eu sabia dizer o que sentia, ali
dentro, e que crescia a cada dia. Eu me apaixonara pela minha melhor
amiga, enquanto ela, apenas me olhava com carinho.

— O que foi? — perguntou, ao se sentar, e levar uma mão ao meu

rosto. Aos dezesseis, eu estava a ponto de implorar para voltasse atrás e


que meu primeiro beijo fosse dela. Que tudo de mim, fosse dela. — Anda
tão longe esses dias...

— Estamos juntos todos os dias. — rebati, e sorri, tentando fugir

da questão.

— Estou falando daqui. — tocou meus cabelos, e sabia ao que ela


se referia. Contudo, ela sequer desconfiava. Eu era bom em esconder
sentimentos, algo que aprendera de relance com meu irmão mais velho. —
Nunca escondemos nada um do outro, Júlio.

— Não é nada para se preocupar, carinho. — falei, e toquei seu


rosto, e a forma como ela era quente, me desestabilizava por inteiro.

— Quando me chama pelo apelido é porque está fugindo...

E eu realmente estava fugindo... Já faziam dez anos em que eu


fugia dela. Daquele sentimento. Do que éramos. Do que eu sonhava.

Finalmente avistara à frente da casa de meu irmão, e parei com o


carro, Desci de imediato, e dei a volta para ajudar Mabi a descer.

— Eu...

— Apenas fica sozinho um pouco. — ela falou, como se


entendesse, e eu assenti.

Vi-me caminhando pela fazenda, e mesmo sem destino, sabia

exatamente para onde estava indo. Parei no meio do caminho, sabendo que
não tinha como ir até lá. Não naquele instante. Seria intenso demais e não
estava pronto. Como simplesmente voltar ao lugar que um dia foi nosso, e
fingir que não sentia nada depois de tudo? Toda vez que ia lá, parte de

mim se perdia. E naquele momento, estava a ponto de perder a razão.

Olhei para o céu e neguei com a cabeça, sem conseguir acreditar. A


mulher naquela noite era Bárbara. A mulher a qual me fez pensar que
finalmente havia a esquecido, no fim, era ela. Por que aquele amor? Por
que um amor que eu não podia ter?
CAPÍTULO IV

“E o que já foi nosso

Não é de ninguém agora

Eu te vejo em todos os lugares, a única coisa que compartilhamos

É esta pequena cidade”[6]

BABI

— Ei, Marcos! — falei, assim que passei próxima a cerca e ele


sorriu, concentrado em seu trabalho.

Ele fora meu primeiro namorado e não era nada estranho estar
próxima a ele e conversar. Não como o era quando se tratava de outra
pessoa. Por que tudo sempre me levava para Júlio?

— Qual o real problema? — minha mãe perguntou, andando ao

meu lado, e eu apenas apertei mais sua mão na minha. — Soube que os
Torres todos estão na cidade...

— Quem é o fofoqueiro dessa fazenda? — perguntei, e ela me


olhou sorrindo, parecendo relaxada e em paz. Não a culpava por se sentir

mal, existia algo nas mulheres da minha família, como se precisassem ser
uma rocha. Na maioria do tempo éramos, contudo, nem sempre era
possível.

— Seu pai é o maior fofoqueiro da região e você sabe disso. — tive


que rir, porque era verdade. Finalmente chegamos até o lago, e separei
nossas mãos, apenas para levantar meu vestido solto e ficar apenas com o
maiô. — E eu te conheço bem o suficiente para saber que vai usar a água
como fuga, como sempre...

— Mamãe! — falei, revirando os olhos. Ela se sentou sob uma das


árvores, com os óculos de sol escondendo os olhos azuis, os quais sempre
me lembravam de casa. Entretanto, não puxara aquilo dela, na realidade,
eu era a cópia física do meu pai, enquanto a personalidade era toda dela.

No primeiro impacto contra a água, meu corpo protestou por estar


gelada, mas agradeceu no segundo seguinte. Coloquei-me para boiar e
sorri sozinha. Eu gostava de apenas poder ficar ali, perdida em tudo e
pensando em nada. Com os olhos de uma das pessoas que mais amava na

vida, ao meu lado.

Senti novamente que era a hora certa para voltar ao interior e


assumir de vez a administração da fazenda, assim como, ficar perto dos
meus pais. Amava aquele lugar, e estaria mentindo se dissesse que não saí

dali no passado, apenas para fugir também. A capital fora, por um tempo, o
meu lago para não encontrar o passado. Mesmo que o risco fosse alto,
quando soubera por cima, que ele estava de volta ao Brasil, e trabalhando
com tecnologia. Por que, novamente, meus pensamentos estavam nele?

— Não pode curar um término apenas nadando. — Júlio falou,


como se fosse o dono da razão, e eu lhe dei a língua, apenas indo até o
pequeno deck do outro lado do lago, para conseguir pular certeira. O fiz,
e ouvi seu grito do meu nome logo atrás, desaparecendo enquanto eu

desaparecia na água.

Mal sabia ele que era fácil terminar, tanto que não fosse um
término com ele.

— Você é tão... — a voz dele estava alta e brava, fazendo-me rir,


quando emergi por completo, e notei-o passando a mão pelos cabelos
molhados. Lindo. Completamente lindo e a um toque da minha mão.
— O que? Uma deusa por não chorar por um término de namoro
adolescente? — perguntei, mordendo o lábio e seu olhar seguiu, fazendo-

me acreditar que não surtava sozinha.

— Incontrolável. — complementou, e tocou meu rosto, com o


carinho sempre exposto. No segundo seguinte, senti meu corpo sendo
empurrado para baixo, e assim que consegui me soltar, pulei sobre ele.

Uma bagunça de nós, no meio do lago, e me fazia pensar que eu gostaria


muito, de manter aqueles pequenos momentos enquadrados. Mas
principalmente, em meu coração.

— Sorriam, crianças! — ouvi de longe a voz de meu pai, e quando


me virei, apenas senti o flash, e Júlio gargalhou ao meu lado. Meu pai, a
cada dia que se passava, tornava-se o tio da foto. — Essa ficou ótima,
garoto!

Olhei de Júlio para meu pai, sem entender, e então notei que ele

estava fazendo chifrinhos em mim.

— Babaca! — reclamei, jogando água nele, que apenas sorriu


lindamente. Lindo demais para minha pobre existência.

— Não... Se você é uma deusa, eu sou um deus. — piscou um olho,


e eu queria ter uma resposta esperta para lhe dar, mas falhara
miseravelmente. Ele era o deus dos meus sonhos impossíveis, no meio da
noite. Ou até mesmo, enquanto me perdia de mim mesma durante o dia.

Era ele.

Sempre ele.

De todas as loucuras que imaginei, após crescer em uma casa


cheia de amor, e com pais que mesmo depois de tantos anos, dançavam
todas as noites juntos, não pensei que o amor me acertaria tão cedo. Bem

ali, ao meu lado. Bem ali, tão certo, aos dezessete. Encontrara o amor
antes mesmo de poder entender o que aquele sentimento todo
representava.

— Pode ficar à vontade, como sempre, meu querido.

Ouvi a voz de minha mãe e pisquei algumas vezes, saindo das


lembranças e parando de boiar. Assim que me virei, soube que estava a
ponto de infartar, quando ninguém mais, ninguém menos, do que Júlio
Torres, estava ali, me olhando. Ele usava o jeans escuro, completamente

colado a cada músculo, e a camisa social, puxada até os antebraços, como


se o calor fosse apenas suportável assim, a qual tanto o imaginei usando
um dia, já que sabia que ele se tornara um CEO.

Ele deu a volta, e foi até o velho deck, sentando-se, e eu, do outro
lado do lago, que não era tão grande assim, apenas tentei imaginar o que
diabos ele fazia ali. Talvez eu tivesse um pouco de noção, porém, não
queria ter consciência alguma naquele instante.

Não ousei sair do lago e muito menos do lugar que estava. Ele era o

intruso ali. Eu não ia lhe dar gosto de ceder a minha raiva, que ele sabia
melhor do que ninguém, que poderia me dominar, e dar a primeira palavra.
Se ele queria ficar ali, em silêncio, apenas me olhando, que fosse.

Foda-se também!

Olhei de relance em direção a árvore que minha mãe deveria estar,


e revirei os olhos. Dona Marta Ferraz era uma pequena traidora! Voltei a
tentar boiar, e usei todo meu autocontrole para simplesmente não sair dali,
e esmurrar a cara dele. Quem ele pensava que era? Depois de quase uma
década, aparecer ali e tudo bem? Era aquilo?

Fiquei ali, olhando para o céu, enquanto o pouco de sol que restara
tocava minha pele. Minha respiração meio perdida e minha mente no
homem sentado há alguns metros dali. Eu sentia seu olhar sobre mim,

sobre todo o meu corpo... Era sobre aquilo, não era?

Ouvi o exato momento em que algo ou alguém se jogou dentro da


água, e eu rezei para todos os deuses, para que ele não tivesse entrado.
Porém, quando saí da posição que me encontrava, olhei em direção ao
deck, e ele estava vazio. Não demorou muito, para ele emergir, bem ao
meu lado, e meu coração disparou desenfreado.
Merda de coração traidor!

— Não quero atrapalhar... — falou, e eu respirei fundo, negando

com a cabeça.

— Mas já atrapalhando. — complementei e me segurei, lá no


fundo, para não sorrir. Pensei que seria tão estranho estar à frente dele.
Pensei que seria horrível, ou até mesmo, que perderia as palavras. A

questão era como se o tempo não tivesse passado e eu ainda


complementava as frases dele. Merda!

— Sei que não quer falar comigo, e não quer me ver... Mas eu
preciso falar, Bárbara.

Ele estava todo molhado a minha frente, olhando-me como se eu


fosse o seu mundo. Quanta ironia! Eu ainda achava que conseguia
entendê-lo. Nunca o fizera de fato. Eu me iludira e demorara muito tempo
para tirá-lo do meu sistema. Porém, no fim ele estava ali, de novo, e apenas

olhá-lo, me fazia arder.

Como no passado.

Como naquela noite.

— Acho que está aqui por isso. — falei por fim, e puxei o cordão
de meu pescoço, fazendo-o arrebentar, da mesma forma que o fizera contra
a pele dele naquela noite. Não sabia ao certo o que ele ainda fazia ali,
preso a minha pele. No entanto, era errado.

Com o colar em mãos, deixei-o em sua mão, sem tocá-lo, e apenas

vi-me nadando para longe dali. Eu queria poder ficar e reafirmar que eu
continuava uma maldita deusa, e poderia superar tudo. Mas ainda assim,
não superara ele. E era demais, tê-lo tão perto, depois de ter o gosto do
paraíso.

Quantas vezes eu imaginei como seria me entregar a ele? A ponto


de que não poderia ser real. Não depois de tanto tempo, mas aquela noite,
fora ele. Fora nossa.

— Eu volto para dezembro toda vez. — falou e eu estaquei no


lugar, e meu coração afundou. Fechei os olhos por um segundo, e sabia
exatamente o que ele fazia. Um golpe baixo, e me acertou em cheio.

— Não tem o direito de voltar... — falei, virando-me e apontei o


dedo em sua direção. Meu corpo todo o reconhecendo como seu, e uma

lágrima desceu. O autocontrole indo para o caralho. — Não tem o direito


de voltar aqui e citar as músicas que o meu melhor amigo cantava
comigo... — olhei-o com raiva, e senti a dor clara em seu olhar. — O meu
melhor não existe mais! — encostei um dedo contra o seu peito, e sabia
que fora um erro, porque o senti em cada parte de mim.

— Ainda vai me ouvir...


Afastei-me e dei-lhe as costas, saindo dali praticamente correndo e
sem conseguir controlar a respiração. Júlio ultrapassava todos os limites

aparecendo ali, como se nada tivesse acontecido. Se ele estava querendo


me enlouquecer, poderia saber que estava tendo êxito. Sentia que cada
parte de mim, que jurava ter se encontrado, agora se partia. Se partia bem
no local onde eu jurei nunca mais deixá-lo estar – meu coração.
CAPÍTULO V

“E te dizer te amo

Agora é mais estranho

Estranho mesmo é te ver distante

Botaram o nosso amor numa estante”[7]

JÚLIO

Eu estava dando um tiro no escuro. E talvez, errando por completo


o alvo. O caminho até a volta para a fazenda do meu irmão, no lugar o qual
crescera, fora de apenas pensar sobre tudo, ao mesmo tempo que, apenas
sobre ela.
Ajudou com que as roupas secassem um pouco contra meu corpo, e
não parecesse ainda mais perdido, quando tentasse entrar de fininho pela

porta de trás da casa. O fato era que teria que torcer para que ninguém
estivesse do lado e fora. Os Torres eram unidos, e mais do que aquilo,
sabíamos de tudo um do outro.

Vi-me agradecendo aos céus, quando não encontrei ninguém à

frente da grande casa, e andei pé por pé, buscando não ser ouvido.
Qualquer barulho e teria certeza que alguém apareceria, nem que fosse de
algum buraco do chão. Quando cheguei na porta de trás, que daria para a
cozinha, comecei a pedir as bençãos, para que ninguém me notasse.
Contudo, ouvi a risada de meu irmão mais velho, e estaquei, torcendo para
que ele estivesse perdido em qualquer coisa, e não me localizasse.

Assim que o vi, notei que estava em uma das redes que, segundo
ele, sua esposa o obrigara a comprar no final de semana passado. Sorri da

cena, e era incrível vê-lo tão solto, como o Inácio que apenas a gente
conhecia, para com ela. Há alguns anos, a gente sabia que Mabi Gonçalo
era o amor da vida dele. E ali, vendo-o olhar para a barriga dela, enquanto
ela contava algo, e sorrindo, era gratificante.

Meu irmão mais velho merecia tal felicidade.

Pensei que passaria ileso, mas no segundo seguinte, lembrei-me


que além de fechado, Inácio era um ótimo observador.
— Por que está com a roupa toda molhada? — sua pergunta soou, e
eu ouvi a risada de Mabi parar, e soube que estava ferrado. Ao contrário

dele, que mesmo sendo perguntador, não era tão invasivo, ela me
dissecaria.

— Pulei num lago. — respondi, piscando um olho para Mabi, que


arregalou os olhos, com certeza fanficando algo em sua mente. — A gente

conversa depois, cunhadinha. — falei, antes que ela teorizasse, e ela sorriu
abertamente, como se já tivesse ganhado um prêmio. Por que éramos
todos tão impertinentes? — E como está o meu sobrinho? — acabei
indagando, enquanto tirava os sapatos, que estavam cheios de água.

— Se perguntando porque o tio dele está ensopado, e com o colar


de volta. — falou, astuta como sempre, e eu sabia que aquele colar em
minha mão era uma história tanto.

Por que a minha boca era tão grande a ponto de fazer Mabi e

Bruno calarem quando lhes contei na semana passada que estava


fascinado por uma mulher que levou embora, além da minha sanidade, o
bendito acessório?

— Por que você não canta pra mim? — vi Inácio indagando, e eu


sorri em gratidão. Ele estava distraindo a esposa, mesmo que seu olhar me
acusasse com “o que diabos estou perdendo?”. Ao menos, ele não era o
fofoqueiro oficial da família.
Deixei meus sapatos sobre o tanque, e vi-me tirando a camisa, que
estava imprestável. Apenas de calça e descalço, adentrei a mansão, e era

impossível não deixar as lembranças me embalarem. Todos nós crescemos


e fomos criados ali. Os quatro Torres, os tormentos de dona Heloísa, como
ela mesmo dizia. A maior diferença de idade era com Inácio, de oito anos,
já em relação ao restante, tínhamos apenas dois anos de um para com o

outro. Contudo, a grande diferença de personalidade contava muito mais,


mesmo sendo unidos.

Inácio era o mais velho e mais fechado de nós. Eu, o do meio, era a
transição perfeita do observador com o fofoqueiro oficial da família,
Bruno. Olívia era a única mulher, e a mais decidida de todos nós, o que ela
queria, ela tinha. Já Bruno era o caçula, e a mistura maluca dos três mais
velhos. E era ainda mais maluco saber que além de Dani, a filha de Oli, em
alguns meses, outro Torres estaria correndo por aquele mesmo lugar que

um dia fora nosso.

Perdido em pensamentos, vi-me subindo as escadas com todo


cuidado, e não sabendo se agradecia ou desconfiava daquele silêncio todo.
Eu tinha fugido do almoço em família, porque minha cabeça não conseguia
parar de pensar em Bárbara, e de repente, acabei apenas na fazenda dela,
que ficava há alguns quilômetros dali.

— Oi tio. — levei um susto, levando a mão ao peito, enquanto


Dani sorria sapeca, encarando-me desconfiada. — Você foi comprar

sorvete? — perguntou, e eu sabia que aquela menina nunca deixava passar

nada.

— Não, mas... E se a gente fizer um acordo? — perguntei,


agachando-me e ficando na altura dela, já no piso superior. — Se alguém
perguntar por mim, você diz que não me viu, e assim que eu sair do banho,

te levo para tomar sorvete no centro. — falei, e ela levou uma mão a
bochecha, batendo ali levemente com o dedo, como se pensasse. Meu
coração se aqueceu, diante da menina dos olhos da minha família.

— E eu posso comer dois sorvetes de casquinha? — indagou,


fazendo o arranjo como quisera, ao mesmo tempo que ouvi barulho vindo
do corredor esquerdo.

— Você pode tudo. — sussurrei e ela assentiu, esticando-me a


mão, a qual apertei. — Orgulho do titio! — beijei sua testa, e ela correu em

direção ao quarto que ficava, enquanto eu praticamente corri em direção ao


meu, que ficava na direção oposta.

Assim que tranquei a porta atrás de mim, ouvi o barulho de outra


porta sendo aberta, e sabia que escapei por pouco. O interrogatório de
Bruno e Olívia poderia ficar para depois. Vi-me então abrindo a mão sobre
a cômoda, e o colar até fizera uma leve marca nela, pela força com a qual o
segurara. De volta para mim, mas não da forma que gostaria. Na verdade,
ela poderia o ter. Assim como, poderia me ter. Assim como, o meu

sobrenome e futuros filhos.

Encarei o espelho a frente, e era como ver o mesmo eu, de dez anos
atrás. Louco por ela. Ansioso por ela. Apaixonado por ela. Soltei o ar com
força, sabendo que por mais que tenha lutado, não conseguia mais. Não
conseguia mais fingir que não a queria, e principalmente, que não queria

tê-la. Ainda, não sabia como falaria com Bruno sobre, mas eu precisava.

Porque ali estava o destino, colocando-a a minha frente, como uma


presa. E no fim daquela noite, na realidade, ela fora a predadora.
Roubando-me de mim mesmo, e pensei, que do amor errado que sentia
pela minha ex melhor amiga. Contudo, era ela. Como sempre, era ela.

— Bárbara Bárbara... — vi-me balançando a cabeça, incrédulo.


Uma dose do paraíso, e eu queria enfrentar o inferno por ela.

Comecei a divagar sozinho, enquanto entrava no banheiro, e minha

cabeça se perdia no que ela dissera. Depois de dez anos, ouvir aquilo,
acertara-me de uma forma que não sabia explicar.

— Não tem o direito de voltar aqui e citar as músicas que o meu


melhor amigo cantava comigo... — a raiva dela era nítida, mas me
acertara em cheio. — O meu melhor amigo não existe mais!

Eu poderia ser maluco por estar sorrindo, ali, dentro do banheiro,


enquanto tudo ficava ainda mais bagunçado. Entretanto, eu conseguiria

lidar com tudo que ela me direcionasse. A raiva, a mágoa, a dor, o ódio...

Só não poderia aceitar a sua indiferença. Um dia me doera tão forte, que
me paralisara. Ali, sabendo que de alguma forma, ela sentia algo, algo que
nos ligava ao passado, assim como, à noite em que nos entregamos por
completo, eu estava tendo esperança.

Depois de anos sem aquele sentimento, eu o tinha.

A esperança de poder recuperar o que nunca foi meu. A esperança


de poder amá-la de forma correta.

Eu cantava baixinho, a mesma canção que ecoava em minhas


lembranças com ela. Eu estava sorrindo como um adolescente, e depois de
tanto tempo me culpando, finalmente, não o fazia. O destino me colocara a
frente dela, eu não podia simplesmente negar. Não mais. Foram tantos
anos pedindo por um sinal, e ele veio, muito mais forte que um tapa na
cara. Naqueles olhos castanhos. Naquela tatuagem que me acendera por
inteiro. Naquela voz sexy que me embalara por uma noite. E eu queria

todas as outras.

“Esses dias eu não tenho dormido

Fico acordada lembrando de como eu fui embora

Quando o seu aniversário passou eu não te liguei

Então eu penso no verão, todas as lindas vezes

Que eu assisti você dando risada, no banco do passageiro

E me dei conta que eu te amava no outono...”

— Ele tá cantando Taylor Swift. — ouvi a voz de minha irmã mais


nova, e não me surpreendi em encontra-la deitada na minha cama, com o

nosso caçula ao lado. Bruno me olhou com um sorriso, e tentei não focar
em buscar algo diferente em seu semblante. Ainda precisava falar com ele,
mas sabia que era cedo demais para o fazer. Não o era? Ou já deveria o
fazer? Merda!

Quando eu pensava que tudo estava resolvido, eu me lembrava que


Bruno também era parte da minha vida e coração, e tudo o que menos
queria era machucá-lo. Muito menos, que a minha felicidade o
machucasse.

— O que querem? — perguntei, levando uma toalha até os cabelos

e os secando, enquanto outra estava presa na minha cintura.

— Usando sua sobrinha para mentir... — Olívia me acusou, e eu


sorri de lado. — Ela é uma péssima mentirosa.

— Não vou nem perguntar como entraram.

— Chaves extras! — Bruno respondeu, e se sentou na cama,


olhando-me com atenção. — Um passarinho me contou que você chegou
todo molhado.

— Um passarinho chamado Mabi? — rebati, e ele deu de ombros.


— O que tanto querem? — indaguei no fim.

— Beijou ela? Se ajoelhou? Implorou por perdão? — Olívia


parecia uma metralhadora, ficando de joelhos na cama, e me encarando
com expectativa. — Ou ela passou a sua cara no chão, pisou e...

— Isso é tudo é amor por mim? — rebati, e Oli revirou os olhos.

— Você foi um imbecil, convenhamos. — respondeu, e eu assenti,


sem poder negar. — E ainda mais imbecil por não ter tentado mais durante
esses dez anos... — complementou, e eu me vi olhando de relance para
Bruno, que engoliu em seco. Desviei dele, e fui em direção ao espelho,
soltando a toalha sobre a cômoda, e passando o antitranspirante. — Mas eu
ainda sou team #Jabi!

— Que shipp horrível! — falei, virando-me para olhá-la, a qual

sorria abertamente.

— Não pior que ser team #Minácio!

— Porra! — Bruno respondeu, gargalhando alto, e eu tive que


sorrir disso. — Não poderia ter um nome combinando nesses casais?

Por um segundo me perdi, e poderia jurar que Bruno com Babi


daria um nome e tanto. Merda! Merda de culpa!

— Iiiiii, nem vem com essa cara! — pisquei algumas vezes, e Oli
se aproximou, batendo em meu peito. — Quando tem esse olhar, você
sempre foge dela. Mesmo quando sabia que ela vinha, ou ia visitar nossos
pais, ou pior...

— Oli, não! — cortei-a, e ela suspirou profundamente. — As


coisas são diferentes agora.

— Espero mesmo! — rebateu, e tocou meu rosto, com carinho. O


mesmo com o qual a encarava. — E está devendo sorvete pra minha filha.
Então, se veste logo e leva ela no centro!

— Mais alguma coisa, ditadora? — perguntei, e ela me olhou com


raiva. Sabia que era o seu ponto fraco. Olívia era uma pessoa controladora,
mas odiava o fato de ser chamada assim. Contudo, como irmão mais velho,
era meu dever enchê-la sempre. — Sabe que eu te amo, não é? — ela
revirou os olhos, e beijei sua testa.

— Vou acreditar que me ama, quando se amar primeiro. —


apontou um dedo em meu peito, e vi-a indo em direção a porta. — Vai
com a gente na casa do Lucas? — vi-a indagando para Bruno, que
assentiu.

— Pode ir apressando nossos pais, eu já... — fez um sinal até mim,


e ela saiu, como se entendesse que Bruno ficaria ali mais um pouco. No
momento em que Oli fechou a porta atrás de si, vi-me apontando um dedo
para ele, o qual fez o mesmo, em minha direção. — Não! — falamos ao
mesmo tempo, e eu engoli em seco. — Não pode me impedir de falar,
irmão.

— Não vai se desculpar de novo.

— Eu vou me desculpar a vida toda, porra! — rebateu, e eu engoli

em seco. — Não precisa me olhar como se precisasse se explicar, ou


precisássemos conversar. — levantou e veio até mim, tocando meus
braços. — Eu nunca vou me perdoar por ter atrasado a sua felicidade e a
dela.

— Bruno...

— Por favor, só pense em vocês. Não pense mais em nada. — era o


claro pedido de uma promessa. — Quando soube que pulou em um lago,

eu só consegui pensar que foi até ela... Estava na hora de parar de cuidar de

todo mundo, e cuidar de você.

— Sabe que mesmo com tudo isso... Eu ainda a deixei. Eu ainda


não a mereço. — vi-me dizendo, e no segundo seguinte, queria socar
minha cara. Não deveria falar disso com Bruno, não com ele.

— Nunca é tarde demais para fazer por merecer. — sorriu


levemente, e eu sabia que era sincero. Conheci-o tão bem quanto a mim
mesmo. Ainda assim, me doía nos ver naquela situação. De todas as coisas,
não queria machucá-lo, porque o amor nos encontrou. — São feitos um pro
outro, e se ainda não enxergou isso, tá na hora de trocar aquela porra de
óculos velho!

— Obrigado, irmão. — falei, com um sorriso, e ele apertou meu


ombro. — Eu não queria que...

— Não! — cortou-me e sorriu levemente. — Apenas seja feliz. Tá


na hora, né? — piscou um olho, e sem me deixar falar nada, apenas saiu.

Soltei o ar com força, assim que a porta se fechou, e engoli em


seco. Parecia tão simples, que me assustava. Olhei para o colar sobre a
cômoda, e sabia que precisava consertá-lo, assim como, levá-lo até a dona
dele. A dona de tudo em mim.
CAPÍTULO VI

“Mas eu não sei confiar

Em ninguém, até sei que você me quer bem

Sei que tu quer me ganhar, meu bem

Sei que eu também não sou de ninguém

Tu só me ganha no olhar, no jeito de amar”[8]

BABI

— Eu quero saber onde a traidora se encontra! — vi-me indagando,


assim que adentrei em casa, e o silêncio fora minha resposta.
Estava muito quieto diante do que geralmente era. Não me
surpreendi ao encontrar um post-it neon pregado na porta da geladeira, e a

letra de minha mãe bem ali: “Fomos chamados para jantar nos Oliveira, a
casa então... tá livre. Aproveita. Com amor, mamãe” Ri não pela intenção,
mas na letra diferente, que pertencia ao meu pai, que complementava a
mensagem com “e papai que quer ser avô”. Por Deus, eles eram péssimos

cupidos!

Sabia que eles amavam Júlio, mesmo ele tendo quebrado meu
coração. Segundo minha mãe, talvez ele pudesse ser o cara certo, e que iria
juntar pedaço por pedaço. Porém, eu o tinha feito, durante aqueles anos.
Ele não só quebrara uma parte de mim, mas várias delas, após aquele dia
fatídico.

Pensei, depois de um tempo, que ele insistiria, que ele realmente se


arrependeria de ter se afastado tão repentinamente... contudo, não tive

nada. Nenhuma resposta ou tentativa. Era como se tudo o que ele desejasse
fosse me evitar.

O fez perfeitamente, por dez anos. Por aquilo, não entendia o que
ele fazia ali, na minha casa, pulando em um lago, citando a música que
costumava ser nossa, e agora, se encaixava tão perfeitamente. Merda de
mente fanfiqueira!

Subi as escadas, e consegui ouvir o barulho de meu celular, que


deixara no quarto. Corri até o mesmo, porque existia uma pessoa em

particular que sempre me ligava, e poderia estar tentando há um bom

tempo. Assim que cheguei à frente da penteadeira, cliquei em atender, e o


grito de Lisa do outro lado da linha não me surpreendeu.

— É melhor dizer que estava presa no feno com um peão gostoso!


— gargalhei alto, e comecei a me livrar das roupas, deixando-a no viva-

voz. — Mulher, aqui tá uma loucura!

— Rolando no colchão com o seu riquinho? — rebati, e ouvi seu


bufar. — O clichê do CEO é seu amiga, vai fundo!

— Olha que o carma pega! — falou certeira, e eu sabia exatamente


ao que se referia. Joguei-me nua na cama, e precisava tomar coragem
para tomar um banho e ir até o centro, comprar as coisas que não fizera
de manhã, porque me perdi por completo. Me perdi por ele. — Aliás, por
que o CEO engomadinho que tu confessou amar bêbada... é amigo do

Igor?

— Como assim? — vi-me perguntando surpresa.

— Ele ficou me falando de um tal de Torres que ficou perguntando


sobre a mulher no andar do hotel dele, e eu nem ligando... Aí, ele me
mostrou uma foto. E eu juro, se esse tal Torres não for o seu ex melhor
amigo, que tava na foto que você guarda como relíquia...
— Puta merda! — falei, levando uma mão a cabeça.

— Puta merda, exatamente o que eu disse pro Igor!

— Então agora ele não é mais riquinho ou Reis... — provoquei, e


sabia que ela me conhecia bem o bastante, para saber que eu estava
fugindo.

— Minha querida, eu te conheço! — cortou-me. — Agora entendo

porque do CEO engomadinho e tal, ele é realmente CEO de uma empresa


de tecnologia, mas... o que eu não entendo, por que nunca falou sobre ele?
Ou o nome dele?

— Lisa...

— Eu sei que não gosta de falar sobre amor e tudo mais, e eu


respeito isso. Mas Babi, eu to preocupada! Não me pergunte porque, algo
me deixou maluca assim que somei um mais um.

Sorri, porque Lisa era um achado e tanto. Eu era boa em fazer

amigos, e na realidade, tinha vários. A questão era que todos eram amigos
pontuais. Ele se lembravam de mim em datas importantes e tudo mais.
Porém, o que construí com Lisa era diferente. A gente se aguentava nos
dias comuns. Nos dias em que nada acontece, a não ser as nossas
reclamações ou sono sem fim.

Ela era o meu Júlio do passado, na realidade. Tirando a parte que


eu me apaixonava. Ela era como um pedaço de uma amizade verdadeira,
onde você confia até mesmo, os seus pensamentos perdidos, e a pessoa lhe

dá atenção, a pessoa quer estar ali.

— Era ele, o cara na noite. — respondi e ouvi um grito de “O


QUE”. — Eu sei, muita informação nova e tal, mas... Não tínhamos ideia.
Pelo menos, eu não sabia que era ele. — falei, e então a dúvida pairou

sobre mim. Eu vi a confusão e surpresa em seu olhar quando nos


encontramos no supermercado, porém, não era fácil dizer se o conhecia
ainda. Na realidade, se um dia o fiz. Então, ele poderia apenas estar
atuando.

Se ele sabia...

Eu precisava entender se ele sabia que era eu. Filho de uma... mãe
incrível! Merda!

— Cara, se ele não for o seu 10 de 10, eu não digo mais nada! —

Lisa falou, e eu tive que rir, porque apenas ela era capaz de me fazer ficar
animada diante de toda aquela bagunça. — Na segunda você vem pra cá,
certo? — indagou.

— Sim, tenho que buscar algumas coisas e assinar alguns papéis.


— falei. — E claro, te ver.

— Eu sei que sou irresistível. — tive que revirar os olhos. — Mas


você vai me falar tim tim por tim tim de tudo isso, porque te conheço, só

depois de umas duas taças de vinho para começar a falar...E quem sabe,

uma surpresa.

— Não tenho nada a esconder. — rebati sorrindo. — Que surpresa?


Aliás, a gente pode sair na segunda, sei lá, ir no parque?

— Você e seus programas nada a ver com os meus. — falou, e eu

ri. — Parque, depois boate? E sobre a surpresa... te conto mais tarde.

— Como quiser. — rebati, sentindo falta de estar perto dela. —


Sinto sua falta, Lisa.

— Eu também, mais do que gostaria de admitir. — sorri, sabendo


que era sincero. — Quem sabe eu não ganhe um quarto na sua fazenda de
rica, e daí, passe as férias aí, os finais de semana...

— Sabe que as portas sempre estão abertas. — falei, e ela sorriu do


outro lado.

— Quando você piscar, eu posso estar aí. — queria mesmo, de


fato, que ela estivesse. Porém, por mais próximas que fossemos, sabia que
a vida da Lisa era na cidade grande, ela amava o lugar. O tanto quanto eu
amava o meu interior. — Preciso desligar, mas... Promete que me liga?

— Se eu não ligar, tenho certeza que você vai fazer.

— Péssima amiga. — rebateu e eu sabia que ela ria. — Te amo,


coisa misteriosa.

— Eu também. — ela desfez a ligação, e suspirei profundamente.

Levantei-me, levando o celular comigo para o banheiro.

Cliquei na minha playlist favorita de sofrência, que praticamente


ouvia todo dia, e deixei o celular sobre o balcão da pia. Liguei a ducha, e
mesmo com o dia quente lá fora, eu não conseguia tomar banho frio. O que

não fazia sentido, já que eu amava nadar em lugares gelados. O que fazia
sentido em mim, afinal? Naquele segundo, nada.

Fechei os olhos e cantei baixinho, odiando o fato de pensar tanto


nele. Era como se virasse, girasse, partisse, reencontrasse, e no fim, era ele.
Mas talvez não fosse a vida me surpreendendo com uma armadilha. Era
apenas ele, me predando naquela noite, como se fosse o dono do mundo.

Júlio Torres era capaz daquilo? Se tinha algo que eu conhecia dele,
e tinha certeza que não mudara, era sua determinação. Desde sempre ele

parecia certo demais sobre tudo e sobre quem ele era. Poderia eu ter sido
apenas uma parte do jogo?

“E o que já foi nosso

Não é de ninguém agora

Eu te vejo em todos os lugares, a única coisa que compartilhamos


É esta pequena cidade

Você disse que era um grande amor

Um pra entrar pra história

Mas se a história acabou, por que ainda estou escrevendo páginas?”[9]

Cantei alto e enquanto cada parte de mim, ainda sentia as mãos


dele por meu corpo. Neguei com a cabeça, porque não poderia me apegar
aquilo. Uma noite de sexo com um desconhecido não poderia valer mais
do que um passado de abandono. Eu estava indo pelo caminho
terminantemente errado.

Saí do banho sem pensar muito, puxando o roupão que sempre


deixava pendurado do lado do box e pensando em como as coisas se
perdiam. Por um momento, queria ser capaz de bloquear meus próprios
pensamentos.

Quando cheguei até o quarto, meu celular estava tocando e sorri ao


ver o nome de Bruno, por mais que me doesse estar próxima a ele, ou
qualquer Torres. Estar perto deles, era o mesmo que me sentir perto de
Júlio. Queria negar, mas era a verdade. E não poderia ser mais uma
mentira que contaria a mim mesma.

— O que foi, fofoqueiro? — indaguei assim que coloquei a ligação


no viva-voz.

— Estou no centro, tomando um sorvete e pensei... por que não

chamar uma amiga? — perguntou e eu ri sozinha. O poder de Bruno – me


fazer sorrir, a qualquer momento. Talvez ele fosse a parte do irmão mais
novo, que eu nunca tivera.

— E o sorvete não vai derreter até eu chegar aí?

— Sempre posso pedir outro. — rebateu e eu sabia que ele não


desistiria. — E faz tempo que a gente não conversa para matar o tempo.

— Não precisa implorar. — falei, e ele riu do outro lado da linha.


— Chego em uns 20 minutos ou mais, sabe como é a estrada.

— Estarei esperando, senhorita.

Desfiz a ligação e pensei no mal que faria apenas sair e falar com
Bruno. Nenhum, certo? Suspirei e fui até meu armário, encarando as
opções. Vestidos, terninhos combinando, ou shorts com regatas. Eu não era

tão versátil. E para os calçados, fora os saltos que Lisa sempre me


presenteava nos aniversários, tinham meus vinte all-stars, que eu
colecionava desde os 12. Felizmente, meu pé nunca crescera, e ainda
serviam perfeitamente.

Optei por um vestido e meu all-star favorito da época de colégio.


Estava basicamente sem sola, mas, eu o adorava. Era branco, com vários
detalhes em preto e vermelho. Nunca achara outro igual, e descobrira logo
que fora uma edição limitada. Mandei uma mensagem para meus pais, e

olhei-me rapidamente no espelho. De repente, senti falta de algo em meu


pescoço – o colar.

Suspirei, minha tatuagem em destaque, o qual fizera há menos de


dois meses, e adorava por completo. Todas as outras eram pequenas, mas

aquela ali, era um sonho realizado – ter algo marcando quase todo meu
torso. E combinava perfeitamente comigo, uma espada adornada por
flores, livros e música.

Pensei que não tinha como Júlio saber sobre ela, porque eu não
usava redes sociais, a não ser para assistir vídeos aleatórios. E Lisa muito
menos tinha postado uma foto minha já com a tatuagem. Mas o que eu
estava pensando? Como se Júlio estivesse interessado em saber sobre
mim. Bufei do quão patética eu soava.

Cerca de meia hora depois, após acelerar um cadinho mais na


estrada de terra, acabara chegando no centro. Parei o carro perto da praça,
e ainda bem que o fiz, porque o centro estava lotado de pessoas,
principalmente, perto da sorveteria. Felizmente, Bruno deveria já estar em
algum lugar sentado, e garantindo alguma cadeira para mim.

— Ei sombra! — me virei, antes de entrar na sorveteria. Encontrei


Lili me encarando, a qual fora minha colega por toda a infância e
adolescência, e também, a primeira namorada de Júlio. Por que eu estava

lembrando daquilo? — Faz tempo que não te vejo! — falou, abrindo os

braços e vindo em minha direção.

Aceitei o seu abraço, e sabia que ela continuava animada, como


sempre fora. Os olhos azuis me encararam curiosos e ela sorriu
amplamente.

— Vamos marcar de sair, qualquer dia desses. — falou, e eu


assenti. Pensei que seriam aqueles velhos encontros que no fim a gente
nunca marcava. — Na realidade, a turma toda está pensando em fazer um
reencontro. Coisa de colégio antigo, e tal.

— Só me mandar uma mensagem, continuo com o mesmo número.


— comentei e ela sorriu amplamente. — É bom te ver, Lili!

— Continuo linda, né? — indagou, e eu sorri, assentindo. —


Enfim, eu ainda tenho que passar no mercado, mas... Te mando mensagem,

certo? Já até convidei a tua sombra hoje, então... Logo nos veremos todos.

— Ok. — falei sem entender, e ela me deu um beijo no rosto, antes


de dar as costas, e atravessar a rua.

Minha sombra? Pisquei algumas vezes, tentando não pensar sobre,


e adentrei a sorveteria. Minha cabeça ainda meio perdida, que não percebi
quando bati contra alguém e meu corpo todo acordou.
— Tia Babi!

O gritinho infantil me era familiar, porém, não tanto quanto o corpo

musculoso que encontrara o meu. Assim que levantei o olhar com cuidado,
paralisei ao encontrar os olhos castanhos de Júlio, olhando-me por inteira e
praticamente, me comendo viva. Oh merda!
CAPÍTULO VII

“Eu, eu, eu persisti e resisti à tentação de te perguntar

Se alguma coisa tivesse sido diferente

Tudo teria sido diferente hoje?”[10]

BABI

Felizmente, um puxão em meu vestido, fez-me piscar e acordar


para a realidade, e desviar o olhar, assim como, do corpo dele.

— Oi gatinha. — falei para Daniela, que abriu os braços, e me


agachei para lhe abraçar. — O que faz aqui? — indaguei, e busquei Bruno
com o olhar mas não o encontrei ali dentro. — E o seu tio Bruno?
— Eu vim tomar sorvete com o meu tio favorito. — falou, e eu
sabia que ela falava isso sobre todos eles. Garota esperta! — O tio Bruno

saiu com a mamãe, tio Ná, tia Má e os vovós.

— Jura? — indaguei, e me levantei, pensando em como caíra


diretamente na armadilha que Bruno montara. Filho da mãe!

Quando voltei a olhar para Júlio, ele parecia completamente

distante dali, como se algo brilhasse em seus olhos, mas não fosse nada
bom.

— Por que não senta com a gente? — a pequena perguntou e antes


que eu pudesse responder, puxou-me com a mão até uma mesa desocupada
do lado de fora, que tinha uma mochila de criança sobre. Deveria ser a
mochila dela.

Sentei-me numa das cadeiras, e Daniela me estendeu as mãos,


vindo para o meu colo. Só tinham duas cadeiras naquela mesa, e por um

segundo, vi-me pensando se caso ela quisesse sentar na cadeira, só sobraria


o colo de Júlio para mim. Oh merda!

— Eu vou pegar o sorvete para você. — Júlio falou, deixando o


copo com o sorvete dele sobre a mesa, e colocando o outro na mão da
sobrinha.

— Mas...
— Morango com leite condensado e calda de chocolate, não é? —
indagou, como se fosse no automático, e eu assenti. Ele ainda sabia o meu

sabor favorito... Não consegui desviar o olhar, e o segui com o mesmo, até
vê-lo desaparecer dentro do estabelecimento.

Não demorou muito para ele voltar, e eu continuei o olhando,


enquanto o via praticamente desviar do meu olhar e parecendo ter comido

algo que não gostou. Ainda assim, eu sabia que precisava perguntar sobre
aquela noite. Nem que fosse de forma rápida e certa. O fato de Daniela
estar entre nós, ajudava e muito, porque nunca seria o foco na conversa.

— Preciso saber. — vi-me falando, e engolindo em seco, quando


fui pegar o copo com o meu sorvete, e nossos dedos se tocaram. Era como
se tudo de mim soubesse que era ele, em cada mísero toque.

— O que? — indagou, ainda sem me encarar, e focado em seu


próprio sorvete. Eu não precisava olhar para saber que era de abacaxi e

limão.

— Sabia que era eu? — perguntei, e permaneci o olhando, o qual


apenas destinou o olhar a sobrinha, sentada em meu colo, e limpou a boca
dela com um guardanapo. Ele ainda era bom com crianças? Vi-me
querendo saber também. Foco, Babi!

— Não. — respondeu, e por um milésimo de segundo, encarou-me.


Desviou, parecendo fugir de algo e fiquei perplexa. Onde estava o homem
todo decidido de mais cedo? O que estava de fato acontecendo? — Não

tinha ideia, Bárbara.

— Ok. — vi-me respondendo, e ele não parecia estar mentindo.


Mesmo que naquele momento, eu não conseguisse entendê-lo em nada. —
Será que dá para me olhar? — perguntei, e notei-o travar um movimento

de levar o sorvete até a boca, e parei de raciocinar direito. Por que ele era
malditamente bonito até comendo?

Seu olhar castanho parou no meu, enquanto Daniela cantava algo


baixinho e se lambuzava no sorvete.

— Você gosta dele, não é? — perguntou, e eu pisquei algumas


vezes, como se não entendesse nada. E eu realmente, não entendia. —
Esquece, não tem que me responder isso. Na verdade, não sei como está
falando comigo agora.

Eu também não sabia. Poderia dizer que era porque Daniela me


pediu, ou apenas me deixei levar, contudo, eu sempre sabia fugir de
situações que não gostava. E ele, sabia muito bem daquilo. Se não quisesse
estar ali, eu não estaria.

O problema maior: eu queria.

— Acho que...
— Tio, eu posso tomar mais um? — a pergunta de Dani me parou,
e eu engoli em seco. Eu estava tão perdida ali, sem saber o que diabos ele

queria falar sobre.

— Claro que sim. — ele respondeu, e apenas senti Dani pular do


meu colo, e correr para dentro da sorveteria.

— Não corre! — a voz de Júlio se perdeu, assim como, a visão de

Daniela lá dentro. Ele sorriu, e pela primeira vez, notei que era verdadeiro.
Quando me encarou, sua expressão mudou e eu fiquei sem saber o que
dizer. — Eu pensei que teria muita coisa pra te falar quando quisesse me
ouvir.

— Só não pensou que eu ia querer ouvir agora? — rebati e ele


assentiu de imediato. — Devia armar melhor com o seu irmão. —
provoquei e ele piscou algumas vezes, como se buscando alguma resposta.
— Bruno não te falou?

— O que ele de fato fez? — perguntou, como se tão perdido quanto


eu, e o olhei em choque. Jurava que fora uma armação conjunta.

— Ele me ligou, disse que estava na sorveteria me esperando e...

— Ele nem veio ao centro com a gente. — cortou-me e levou uma


mão até os cabelos, passando-as levemente por ali. Aquelas mãos...
Grandes, do tamanho exato para me marcar inteira. Foquei em tomar mais
um pouco do sorvete, mas quase engasguei, quando notei Júlio analisar

cada sútil detalhe meu, ao engolir a sobremesa.

Ele parecia sem ar por alguns segundos, e eu, era um reflexo.

— Peguei estrelinhas! — o gritinho de Daniela me fez piscar, e me


afastei para que subisse no meu colo. — Muitas estrelinhas, tia, olha! —
falou, mostrando-me o sorvete, e eu me foquei ali, enquanto sentia todo

meu corpo queimar, sabendo que os olhos dele estavam em mim.

Comecei a fazer notas mentais, porque só poderia ter desligado os


neurônios.

Primeiro: não deveria estar ali.

Segundo: já deveria ter ido embora.

Terceiro: por que eu me deixava levar pelo tesão?

Só poderia ser aquilo. Todo o tesão acumulado a partir daquela


noite em que a gente se entregou por completo. E de repente, eu não

raciocinava direito.

— Tá na cara que está confusa. — a voz dele soou baixa e tão


tentadora, que eu quase me perdi ao olhá-lo. — Mais cedo fugiu, depois
quase me bateu, e agora, está me ouvindo... Pode levar o tempo que
precisar, Bárbara. Eu só quero conversar, de verdade.

Assenti, sem conseguir lhe dar uma resposta.


Eu nunca pensei que gostaria mesmo de ouvi-lo. Ao menos, não
imaginei que o faria tão repentinamente. Porém, a vida parecia brincar com

a gente, colocando-nos frente a frente no improvável, e ali, mesmo que


fosse uma armação, ainda significava algo. Entretanto, mesmo que
quisesse e desejasse ardentemente, ouvir suas desculpas ou entender o que
passou, eu sabia que abriria uma brecha para o que prometi a mim mesma,

nunca mais acontecer – um coração quebrado.

— Não posso te ouvir. — soltei, pois era a realidade. Querer, eu


queria. Mas poder, era outra história. Não poderia lhe conceder tal poder.
— E a realidade é que o que passou, passou. Não temos mais nada.

Ele pareceu analisar cada fala minha, e pensar sobre, porém não
disse nada por alguns minutos. Terminei de tomar meu sorvete, com seu
olhar sobre mim, e com Daniela contando animada sobre como adorava os
cavalos do tio Ná. Eu estava sorrindo para ela, mas nenhum deles era

verdadeiro.

E ali eu entendi porque tanto fugira da presença de Júlio antes, e


agora, deveria fugir ainda mais. Ele me intoxicava. Tudo nele, se tornava
cada parte de mim quando se aproximava. Como se eu não fosse mais um
ser pensante, e me perdesse.
JÚLIO

Só não terminamos de comer no silêncio, porque Daniela valia por

todos nós para falar. De repente, conversar com a pessoa que sempre fui eu
mesmo, era difícil. Não tão de repente assim, já que faziam dez anos.
Olhando-a dali, não parecia que o tempo fora tão esmagador assim. Porém,
lembrando-me de todas as datas que eram tão nossas, e não o foram, e eu
estava sem ela, sabia que fora devastador.

Assim que Daniela desceu de seu colo, e rumou em direção a


sorveteria, porque queria uma água, vi-me não pensando, e apenas
esticando a mão e tocando levemente no braço de Bárbara. Ela estacou, e

quase me vi perguntando: você sente como se cada parte de si estivesse a


ponto de se partir apenas para encontrar cada parte de mim?

Dei um passo à frente, e fiquei bem próximo, quase sentindo sua


respiração contra o meu pescoço, devido à nossa diferença de altura.

— A gente pode não ter nada, mas para mim, você ainda significa
tudo. Isso nunca mudou. Mesmo quando achou que mudou, não aconteceu.
— sussurrei, sem conseguir evitar, e ela me olhou, e era clara a mágoa.
Assim como, depois de tanto tempo, enxerguei o que sempre busquei
apenas nela – algo mais.

Se ela se lembrava ou não, eu não sabia, mas aquele sempre foi o


meu jeito de dizer que a amava. Mal sabia ela, que perdidamente.

— Não se foge ou abandona quem ama. — ela respondeu minha


pergunta silenciosa, mostrando que se lembrava. Porém, ela não aceitava

aquele amor, ao menos, não acreditava nele. — Teve tempo para tentar
voltar... por que agora?

— Por que não agora? — vi-me revidando e ela deu um passo


atrás.

— Tarde demais.

Deu-me as costas e eu soltei o ar com força. Sentia os olhares nada


discretos das pessoas ao nosso redor. Não sentia falta daquilo que
acontecia no interior, mas como meus pais ensinaram, deixem falar. Segui-

as para dentro da sorveteria, e já encontrei Daniela com uma garrafa de


água na boca. Aquela pequena não perdia tempo.

Ela me fazia pensar no quanto eu adoraria ser pai.

Suspirei fundo, ao vê-la interagindo com Bárbara. Todos aqueles


anos, vendo-as de longe, e não conseguindo me aproximar. Porque prometi
a mim mesmo, e em respeito a quem amava. Lembrava-me de quando a vi
segurar Dani no colo pela primeira vez, o quanto aquela imagem me
acertou. Eu seria o pai de quantos filhos aquela mulher quisesse me dar.

Ou até mesmo, se ela quisesse muitos cachorros e gatos.

Eu faria de tudo por ela. Mesmo sabendo que não fiz nada daquilo
que gostaria.

Por medo de machucar quem amava. E agora, talvez fosse o

momento mais errado, porque o sentimento dela, poderia ser outro. Poderia
ser dele. Poderia aquela noite ser algo de momento, porque ela não sabia
quem era. E de fato, poderia ser tarde demais.

Contudo, eu só saberia de tudo aquilo, falando com ela,


perguntando... Eu estava preparado para qualquer resposta?
CAPÍTULO VIII

“E eu sabia como você tomava seu café

E suas músicas favoritas de cor (...)

Estúpida, emotiva, obsessiva pequena eu

Eu sabia desde o início que seria exatamente assim que você iria embora "[11]

BABI

Depois de dar um grande beijo em Daniela e prometer que eu a


veria em breve. No caso, a veria mesmo, já que ela estaria na casa de
Inácio naquele domingo. A primeira vez em anos, que eu iria estar com
todos os Torres. Sabia que eles respeitaram meu espaço, de não estar
próxima a Júlio, mesmo quando os visitava. A questão era que geralmente
acontecia fora daquela cidadezinha. Eles viviam espalhados na capital e
outras cidades do interior. No final, tornara-se fácil não encontrar o

castanho dos olhos dele.

A cada passo que eu dava, sentia que ele me acompanhava com o


olhar. E eu queria poder virar, jogar tudo para cima e dizer: eu ainda te

amo. Porém, eu sequer sabia o que eu amava naquele momento. Estava tão
confusa com tudo aquilo. Por mais que a Bárbara de dezoito anos esperou
e aguardou tanto pelo momento que ele simplesmente voltaria atrás, e lhe
contaria que apenas teve medo, ali, a Bárbara de vinte e oito, sabia que o
medo não explicava dez anos longes um do outro.

No momento em que sentei no carro e girei a chave, com o motor


falhando, sabia que só poderia ser alguma brincadeira sem graça do
destino. Tentei mais cinco vezes, e tudo que o motor fizera era engasgar,

mas nada de ligar. Ri sozinha, sem graça alguma, e me perguntei: Bruno


teria estragado meu carro também? Sabia que ele não faria tal coisa, nem
ninguém. Parecia apenas a vida, me jogando na cara que eu não
conseguiria fugir.

Mas eu daria um jeito.

Uma batida no vidro aberto me fez parar de rir e girar. Não


precisava olhá-lo para saber quem era, no entanto.
— Precisa de uma carona? — Júlio perguntou sério, mas eu sabia
que por trás daquela carinha de bom moço inatingível, ele estava rindo.

Com toda certeza pensando que tinha ganhado aquela. Outra coisa que
nossa amizade se baseou: a competitividade.

Porém, não queria pensar em placares, ou em como as coisas iam.


Porque não importava o número, importava o fato de que eu estava à frente

dele, e parecia esquecer meu próprio nome. Eu não deveria apenas


continuar fugindo e evitando? Lutando para não pensar mais do que
deveria sobre aquela noite? Sobre o nosso passado?

— Não. — saí do carro, trazendo minha bolsa e ativando o alarme


em seguida. Lembraria de pedir para alguém da fazenda buscar o carro na
segunda e levar na oficina, já que era praticamente sexta-feira de noite, e
não atormentaria ninguém com aquilo, e não precisaria tão cedo.

Senti seus passos atrás de mim, e parei apenas porque a voz

feminina e de criança me chamou.

— Tia Babi. — quando olhei para Daniela, no colo de Júlio, notei


que ela tinha a cara de que pediria algo e eu não conseguiria negar. Oh
merda! — Por que não vai com a gente?

— Porque eu tenho que ir ao mercado ainda. — aproximei-me


apenas o suficiente para apertar o nariz dela, e sabia que ele encarava cada
gesto meu.

— A gente precisa comprar algumas coisas para o jantar também,

já que vamos ser só nós dois hoje. — Júlio comentou, como se fosse
simples assim, e eu o encarei perplexa. — O que? — indagou, na maior
cara de pau.

— Não vai conseguir nada indo por esse caminho. — falei,

indicando Dani com a cabeça e ele sorriu de lado, dando-me o ar cafajeste


que eu me derretia por completo quando mais nova. E ali, já adulta, senti o
mesmo impacto. O impacto daquela noite.

— O que tem de mais em ir ao mercado com a gente? —


perguntou, e eu conhecia aquele joguinho, mas era impossível não cair. —
Está com medo de ficar perto de mim e perceber que pode sim me escutar?

— Não vai ganhar nada com isso. — falei, e soltei o ar com força.
Ele estava me desafiando, e sabia que eu não abria mão. O pior, era vê-lo

tentar estar comigo de todas as maneiras, até mesmo, as mais antigas


nossas.

Júlio apenas sorriu e passou a minha frente, com Daniela em seu


colo, e os segui, com o meu pensamento completamente perdido. Queria
poder gritar com ele e tirar toda a raiva que ficara acumulada. Ao mesmo
tempo que queria colocá-lo contra a parede e fazê-lo ter algum sentido. O
que eu precisava entender além de mim mesma? Tudo. Absolutamente
tudo sobre nós.

E nós sequer existia.

Assim que o vi desligar o alarme do carro e notei qual era, fui em


direção ao mesmo, para já entrar no banco do carona, contudo, ele fora
mais rápido. Abriu a porta para mim, enquanto segurava a sobrinha com

um dos braços e eu tentei não pensar que o lado cavalheiro dele ainda
existia. E o pior de tudo, que a pobre Babi jovem, não tinha chance de não
se apaixonar por ele.

Quando se era adolescente, era fácil ver no mínimo, o máximo para


sentir o amor da sua vida. Lego engano.

Assim que me sentei, digitei rapidamente uma mensagem para


Lisa: “o que fazer quando se quer enforcar o seu ex melhor amigo com a
própria língua dele?”

Não demorou três segundos e ela respondeu, fazendo-me sorrir.


Apenas Lisa era capaz de falar algo assim em uma situação como aquelas.
“Por que não usar a língua dele para algo que te faça revirar os olhos?”.
Acabei revirando os olhos no fim, apenas por saber que minha amiga
levava tudo da maneira mais leve possível. Era bom ser assim.

Senti sua proximidade, no momento em que ele se sentou no banco


do motorista, e eu foquei na janela, agradecendo o fato de que dali até o

mercado, eram menos de cinco minutos com o carro. A cada rua que a

gente passava, era como se eu lembrasse, do exato momento em que ele


tirou a carteira de motorista, e me levou como sua primeira passageira. O
nosso destino? O nosso lugar. O qual eu não ia há tantos anos, que sequer
sabia se ainda existia.

— Como minha primeira passageira, vai poder escolher a música.


— falou, e eu soltei um gritinho, animada. Estava para tirar minha
carteira também, porém, os meus dezoito só chegariam no próximo mês. E
era um sonho compartilhado nosso, poder ouvir música no mais alto
possível, e andar de carro por aí. — Podemos até ir nas cidades vizinhas
na semana que vem.

— Mas primeiro de tudo... — falei, e coloquei o cd, com os olhos


brilhando, enquanto via-o sumir, e esperava o meu álbum favorito

começar. — É agora que te faço decorar cada letra dos meus álbuns
favoritos.

— Já fazia isso antes. — provocou, e eu sorri, dando de ombros, e


sabendo que era verdade. O que a gente tinha, era tão bonito. Eu sabia
tudo sobre ele, cada mísero e pequeno detalhe. Assim como, ele conseguia
saber cada limite e espaço meu, apenas pelas minhas músicas e gostos.

— Tia Babi! — a realidade me chamou e eu pisquei algumas vezes,


saindo daquelas lembranças e me virando para Daniela.

— O que foi, gatinha?

— O tio perguntou se você não vai colocar nenhuma música? —


perguntou, e notei que Júlio sorria para ela pelo retrovisor. Naquele curto
espaço de tempo em que me distraí, pensando justamente naquele homem,
ele tinha influenciado a sobrinha. Eu tinha que ficar mais atenta.

— Não agora. — respondi para Júlio, que me olhou de esguelha. —


O mercado é logo ali... — dei de ombros, sem nem entender porque de fato
eu estava me explicando. — Para com esse joguinho! — sussurrei as
últimas palavras, e apenas fiquei em paz quando ele estacionou o carro, e
eu abri a porta, praticamente pulando do mesmo. Imbecil!

No instante em que adentramos o mercado, me arrependi por


completo. Daniela dentro do carrinho, ele o empurrando e eu sentia os
olhares de todos ao redor sobre nós. Era fato que nós éramos um dos casais

que aquela cidade mais torcia. Nunca entendera porquê, mas era claro que
a sombra de Júlio Torres, seria a futura senhora Torres para eles.

— Não vai pegar nada? — Júlio perguntou, enquanto pegava dois


pacotes de macarrão e colocava no carrinho, e eu apenas foquei em abrir
minha lista, e checar o que precisava.

Vi-me pegando um pacote de macarrão penne e já dando check.


Sentia o olhar dele sobre mim, mas foquei apenas no que era preciso – as

compras.

Alguns corredores do mercado depois, e faltava apenas um item na


minha lista. Estávamos no corredor dos doces e salgadinhos, e Júlio tirou
Daniela de dentro do carrinho para que ela pudesse correr livremente por
ali e escolher o que queria. Vi-me segurando um suspiro. Há muitos anos,

eu me via imaginando como seria uma vida exatamente assim.

Nós dois, no mercado, com o nosso filho correndo... Ri sozinha, do


meu próprio pensamento. Parecia tão certo naquela época, mas ali,
mostrava-me que a vida nunca era de fato como a gente queria. Não que eu
não desejasse um amor calmo e simples, mas a realidade, era que o
sentimento que eu tinha por ele, não tinha morrido, nenhuma pequena
parte, mas não resultara em nada.

— O seu favorito.

A voz dele me chamou atenção e me virei para encontrá-lo


segurando minha barra de chocolate branco favorito. Era como se Júlio
estivesse tentando provar que me conhecia, como se ele buscasse algo com
tudo aquilo. O que seria? Eu estava preparada para a resposta daquela
pergunta?

— Era o seu favorito, quero dizer. — corrigiu-se, colocando a barra


dentro do carrinho de compras, e suspirando profundamente. — Não sei
muito sobre o que você gosta ou não, hoje em dia. — confessou tão baixo,

que jurei que era para si mesmo, mas ainda assim, foi possível ouvir.

— O que quer com isso? — perguntei, dando um passo à frente,


ficando próxima a ele. Por mais que aquilo me energizasse por inteira e
não me permitisse pensar, eu precisava. Precisava saber. — Depois de

tanto tempo, o que quer comigo?

Ele passou uma mão pelos cabelos ondulados bem cortados, e a


outra estava amparada contra o carrinho.

— O que eu sempre quis... — começou a falar e notei-o engolindo


em seco. — Você. — eu estava tão próxima, que poderia jurar que ele não
mentia sobre aquilo. Mas nada naquela história e situação fazia sentido.

— Não... — vi-me falando, e negando com a cabeça. — Você quer


o que tivemos naquela noite. — falei, pois sabia que estávamos em um

local público, e ainda, Daniela ao nosso redor. — Por isso toda essa
encenação e armadilha, e... Porque você gostou da mulher mascarada
naquela festa. Você gostou e quer mais.

— Nunca se tratou de s... — travou o maxilar e se colocou ereto,


encarando-me com certeza. — Nunca se tratou de nada perto disso,
Bárbara. Você sabe muito bem disso.
— Então vai me dizer que aquela noite não influenciou em nada, o
fato de você simplesmente querer estar próximo de mim?

Notei o exato instante em que algo passou em seu olhar castanho.


A mágoa, a culpa, a dúvida... O que tanto ele pensava?

— Me mostrou que eu não posso mais negar o que sinto. Nem mais
um minuto. — soltou o ar com força, e pude senti-lo em meu rosto,

tamanha proximidade. — Você pode nunca me perdoar, mas eu nunca vou


parar de tentar.

— Eu tenho uma vida fora disso... — vi-me sussurrando de volta,


assim como ele fazia. — Eu tenho uma vida fora dessa fantasia de ex
melhores amigos que se reencontram. Você quer o meu perdão? Ok, você
o tem. — falei, sabendo que não era sincero, e mesmo assim, era o que eu
entregaria. Lhe entregaria qualquer coisa para ter minha paz de volta.

— Não minta para mim. — falou, tão baixo e perigoso que era

como se estivéssemos sozinhos, sem nada mais ao redor. — Não quero o


seu perdão, não só isso...

— O que quer, Júlio? — o nome dele saiu da minha boca e sabia


que fora um erro. Tudo porque ele estava perto demais, deixando-me
confusa e perdida.

— O seu amor.
— Eu quero esses todos! — o grito de Daniela não foi o suficiente
para que nossos olhares se afastassem, e tive que usar o que restara do meu

autocontrole para me afastar.

Sorri para a garotinha, e fui até ela, tocando seus cabelos castanhos.
Notei que ela estava com no mínimo, cinco barras diferentes de chocolate,
e sorria abertamente.

— Por que não me dá esses e pega alguns salgadinhos? — sugeri, e


ela me entregou os chocolates animada, e rumou em direção a sua outra
escolha. Coloquei os itens dentro do carrinho e tentei não pensar em mais
nada, porém, era impossível.

— Bárbara...

— Não. — falei, e o olhei sobre o ombro, o qual se me conhecesse


bem o suficiente, entenderia que eu estava por um fio. A qualquer
momento, ou eu quebraria, ou eu estaria em pura fúria. — Não agora.

Ele assentiu, e vi-o ir até a sobrinha. Peguei o último item da minha


lista, que era uma barra de chocolate branco, a qual ele tinha colocado no
carrinho antes, e continuava sendo a minha favorita.

Uma lágrima desceu, e eu pisquei algumas vezes, odiando o fato do


quanto ele conseguia me expor. Cada sentimento. Cada mínima parte. E
depois de muito tempo, admiti a mim mesma, que talvez não só meu gosto
por chocolate continuava o mesmo, mas o meu gosto por ele.
CAPÍTULO IX

“Meu tempo, meu vinho, meu espírito, minha confiança

Tentando achar uma parte de mim que você não tenha tomado

Eu te dei tanto, mas não foi suficiente

Mas eu ficarei bem, são apenas milhares de cortes"[12]

JÚLIO

— Boa noite, pequena. — falei para Dani, dando um leve beijo em


sua testa, a qual já estava com os olhinhos quase fechados.

Ela estava cansada de tudo o que fizemos naquela noite. Primeiro o


sorvete, depois o mercado, depois o jantar... Deixei a porta do seu quarto
entreaberta e fui em direção a sala de estar do meu irmão, no andar

debaixo.

Vi-me mudando o caminho no momento seguinte e indo até o


escritório dele, servindo-me de uma generosa dose de uísque. Meus
pensamentos se perderam por alguns instantes, e tudo o que conseguia
pensar era em cada detalhe dela. Cada pequena parte que eu perdi em todos

aqueles anos.

Levei o líquido a boca e virei um pouco, sentindo-me não muito


melhor após.

— Ei! — a voz baixa de Olívia me fez virar, e notei que ela estava
sozinha, já que se a família toda tivesse voltado, eu já teria escutado.
Olívia era tão silenciosa quanto Inácio quando queria. — Ela já dormiu,
né? — perguntou, tirando a jaqueta jeans que vestia, e vindo até mim,
pegando o copo de minha mão.

Ela cheirou a bebida e sorriu, dando um leve gole.

— Acho que a cansei muito. — falei e Oli devolveu o copo,


sorrindo. — Onde estão todos?

— Acho que tentando descer bêbados do carro, quer dizer, papai e


Mabi não estão, e eu obviamente também não. Enquanto dirigia pra cá, o
instinto de irmã apitou e eu sabia que só poderia ser você. — falou, e
olhou-me com atenção. — O que tá acontecendo?

— Eu a amo. — confessei, e vi-me indo em direção ao sofá que

tinha ali, e me sentando. Oli se prostrou ao meu lado e ficou me encarando,


como quem dizia “qual a novidade nisso?”. — E eu não consigo mais
evitar... — suspirei fundo e minha irmã me encarou com cuidado.

— Nunca entendi porque evitou. — falou, enquanto eu virava mais

um pouco da bebida. — Mas Inácio me disse algo hoje que... talvez faça
sentido.

— O que? — perguntei em alerta.

De todas as pessoas ao nosso redor, eu sabia que ele era o único


capaz de ter realmente entendido.

— Você foi um merdinha com ela quando resolveu tudo do estágio


antes e não contou, mas eu sei que você foi até ela minutos depois e tentou
se despedir... Depois disso, as coisas não fazem sentido, irmão. Por que

simplesmente desistiu de vocês?

Abri a boca para responder, mas me calei no segundo seguinte.

— Inácio sussurrou que Bruno estava tentando se redimir, apenas


para que eu ouvisse. — comentou e eu fiquei perplexo. — Isso, depois que
Bruno falou que armou para vocês se encontrarem.

— Apenas o Bruno sendo o Bruno. — engoli em seco, mas Olívia


deu um peteleco na minha testa, como se chamando minha atenção.

— Esqueceu que sou a mais próxima de você? — olhou-me com

certeza. — Por que nunca me disse?

— Não queria que Bruno ficasse mais sentido do que ele já ficou.
— confessei, e soltei o ar com força. — Ele se culpa há muito tempo e não
queria que ninguém quisesse escolher um lado, ou tentasse intervir. Eu não

ia deixá-lo sofrer.

— E então, você sofre? Babi sofre? — rebateu, e eu neguei com a


cabeça.

— Já parou para pensar que ela pode sentir o mesmo por ele? —
perguntei, tomando o resto do uísque. — Quando ela fala dele, tudo nela se
ilumina e... Eu vi os dois juntos durante esses anos, e eu podia jurar que...

— Ou isso é uma mentira que conta a si mesmo para justificar o


fato de que abriu mão do amor da sua vida, por conta dos sentimentos do

seu irmão mais novo?

— Oli...

— Eu nunca escolheria um lado. — cortou-me. — Mas essa


história não é a do Bruno, nunca foi. Ele não controla o que sente, eu sei
muito bem disso. Eu não controlei quando me apaixonei perdidamente e
acabei tendo uma filha, mas... A gente sabe quando é real.
— Não vamos falar disso agora, por favor. — pedi, trazendo-a para
perto e beijando sua testa. — Seu instinto de irmã é certeiro.

— Não me faça lembrar do almoço que eu organizei e descobrimos


sobre Mabi e o nosso futuro sobrinho... — suspirou feliz e convencida. —
Se vocês me dessem o poder de resolver seus problemas amorosos,
estariam todos casados e com no mínimo cinco filhos.

— Se eu estivesse com ela, já seria o bastante. — confessei, e sabia


que não poderia fingir não sentir nada, não perto de Oli. Trouxe-a mais
para perto e beijei novamente sua testa. — Acho que vou andar um pouco
e...

— Por que não vai até o lugar de vocês? — perguntou de repente,


afastando-se. — Há quantos anos não vai lá?

A realidade era que eu ia todos os anos, e em várias datas


diferentes. Por muito tempo, fora minha esperança de que ela apareceria, e

tudo se resolveria, e poderíamos ser apenas nós dois por alguns segundos.
Mudar aquela lembrança de quando a deixei. Mudar aquele momento para
apenas o qual eu dera o primeiro beijo no amor da minha vida.

— Não vou demorar muito, eu acho. — falei, levantando-me e


deixando o copo vazio sobre a bandeja do pequeno bar que Inácio tinha ali.
— Tudo bem se...
— Eu nunca imaginei que você fosse um péssimo bêbado. — ouvi
a voz de Mabi longe, e sorri, porque com certeza, ela tinha conhecido a

versão bêbada do nosso irmão mais velho.

— Vou sair de fininho. — falei para Oli, e segui para fora do


escritório. No momento que os vi subindo as escadas, com Bruno e Inácio
apoiando um ao outro, enquanto Mabi apoiava minha mãe, segurei a

gargalhada.

Assim que fechei a porta da frente, ri alto ao ouvir a frase de


Olívia.

— Que situação essa em Fabrício Torres? — nosso pai riu alto, e


era tão bom vê-lo assim – feliz. Uma pequena angústia no peito me
atingiu, e eu sabia que não poderia deixá-la tomar conta. Nosso pai ficaria
bem, e todos nós, faríamos o impossível para que ele se curasse.

Minha mente se perdeu um pouco, enquanto caminhava para fora

da fazenda, e sabia exatamente para onde eu iria. E após vários minutos, a


vista daquele lugar, com o nosso velho balanço, que eu reformara no ano
passado, me acertou em cheio. Ele ficava bem na divisa entre as fazendas
das nossas famílias. Um pedacinho de terra que nos fora dado, quando
ainda éramos adolescentes.

Depois de tanto tempo indo ali, e esperando por ela ou um sinal do


destino, acabei por construir a casa de madeira que a gente tanto falava de
ter, apenas para poder guardar nossas coisas, e dormir à luz das estrelas

quando decidirmos.

Era um espaço pequeno, mas ficara da forma como eu imaginava


que ela adoraria. Uma geladeira para todas as bebidas que a gente brigava
se não estivessem quase congelando. Um micro-ondas para as comidas

congeladas que com certeza traríamos para fazer ali, e a pipoca com
manteiga que ela adorava. Do outro lado, tinha uma cama enorme, a qual
não pensei muito, apenas escolhi. Apenas uma, porque era assim que nos
imaginava... Lembrando do nosso primeiro dia, naquele fatídico dia.

— O que você vê daqui dez anos?

— Você. — respondi sem precisar pensar, e notei sua respiração


mudar, como se uma reação de todo o corpo dela diante das palavras. Eu
poderia estar enlouquecendo, mas era como se depois de tanto tempo

apaixonado, finalmente, visse o sentimento sendo compartilhado. — Você


me infernizando vinte e quatro horas. — complementei, tentando suavizar
a resposta, e jurando que estava louco por enxergar desejo em seu olhar.

— Na mesma cama? — aquela pergunta me deixou de joelhos e eu


queria, mais do que tudo, aqueles lábios como meus.

Era uma doce lembrança, antes de tudo se perder. Ainda, todo o


lugar era telhado de forma transparente, para que assim, não importasse se
estivesse chovendo ou não, ela pudesse ver o céu, nos meus braços...

Suspirei profundamente, e me sentei na cama, pensando em como sonhei,


tantas vezes em poder mostrar a ela.

— Dez anos... — falei para o nada, e olhei em direção ao banheiro.


Ela adoraria, porque tinha a banheira enorme que ela tanto dizia que

sonhava ter, apenas para tomar vinho como adulta que seria, um dia. Eu
mal sabia se ela realmente gostava de vinho.

Levantei-me, indo até o baú que ficava a alguns passos da enorme


cama, e o abri, olhando para as várias cartas espalhadas. Tantas datas e
momentos diferentes... Confissões de um amor que eu sabia que se
perdera, e talvez, nunca mais fosse encontrado. Eu estava pronto para ela
me encontrar?

A chave daquele lugar era uma abertura eletrônica, do único jeito

mais seguro que pensei, que um lugar mais afastado das casas principiais
seria. A senha, era tão fácil, que eu pareceria ainda mais brega – a data do
aniversário dela. Que tinha além da importância clara, fora quando a gente
se tornou melhores amigos.

Talvez eu precisasse passar a noite ali... e pensar no que faria no


dia seguinte. Porque minha cabeça estava atormentada com tudo o que se
passara. Em pensar que planejei tanto que a gente teria nossa primeira vez
ali, e no fim, acabou sendo como completos desconhecidos. O quão

diferente o destino pode ser daquilo que planejamos, não era?

Olhei para o violão, que era dela, e que ela nunca buscara, e fui até
ele, trazendo o instrumento até mim, só conseguindo pensar na nossa
música. A qual ela cantara, porque era sua favorita, e de alguma forma, se
tornou algo nosso. Fazia um bom tempo que não tocava exatamente aquela

música, talvez porque as lembranças fossem grandes demais... doessem


demais.

“Eu sinto falta da sua pele bronzeada, do seu doce sorriso

Tão bom para mim, tão certo

E como você me segurou em seus braços

Naquela noite de setembro

A primeira vez que você me viu chorar

Talvez isso seja apenas uma doce ilusão

Provavelmente um devaneio sem motivo

Se nos amássemos de novo, eu juro que te amaria direito

Eu voltaria no tempo e mudaria tudo, mas não posso fazer isso

Então se a sua porta está trancada, eu entendo...”[13]


Parei de tocar e cantar, enquanto engolia em seco, e pensava em

como doía cada parte daquela música. Nunca pensei que nós dois
pudéssemos ser definidos daquela forma. Minutos depois, ouvi passos do
lado de fora e meu coração disparou, como se não acreditando que tinha
alguém ali. Deixei o violão de lado e praticamente corri para abrir a porta,

mas como sempre, deveria ser apenas a minha mente brincando.

Não tinha ninguém ali.

Baixei o olhar e respirei profundamente.

— Estou enlouquecendo... — sussurrei para o nada, e já me virei,


para voltar para dentro e me perder um pouco com a música.

— O que isso significa?

Paralisei diante da voz, e achei que fosse minha mente pregando


outra peça. Virei-me com cuidado e quando meu olhar recaiu sobre a visão

da pessoa que tanto esperei aparecer ali, meu coração errou uma batida.
Não sabia sobre “o que” ela estava perguntando, mas vendo-a dali, com os
cabelos castanhos presos no alto da cabeça, e os olhos castanho claros
iluminados, tive novamente a certeza, de que significava o mundo para
mim.
CAPÍTULO X

“E eu não sinto raiva

Eu não sinto nada

Além do que você já sabe

Pior é que cê sabe bem, meu bem"[14]

BABI

Eu não devia estar ali.

Depois de tantos anos... era a primeira vez, que me via ousando


estar tão perto do lugar que um dia foi nosso. Nosso lugar de se encontrar
todo dia. Nosso lugar de passar o tempo e esquecer tudo. Nosso lugar de
fofocar sobre nada e sobre tudo. Nosso lugar de inventar histórias sobre o

futuro. Nosso lugar de compartilhar medos, receios e desejos. Nosso lugar

de deitar sob as estrelas e dormir em colchões improvisados.

Porém, assim que me aproximei, e notei as várias luzes presas as


árvores ao redor, como se fosse a iluminação própria do lugar, o nosso
balanço completamente restaurado, como se tivesse sido o feito há pouco

tempo, as memórias se dissiparam. Virei-me e a pequena cabana de


madeira, fez meu coração pular no peito. Ele... Ele tinha feito tudo aquilo?

Nada mais fazia sentido. Nada parecia explicar a nossa separação.


Simplesmente, nada. Quando a porta da cabana se abriu, meu coração
perdeu a batida e eu apenas me vi escondendo atrás da árvore. Sabia que
era ele, apenas pela forma como meu corpo todo reagiu. Suspirei
profundamente, e soube que não dava mais para fugir.

Tinha sido o bastante.

Respirei fundo e saí de trás da árvore, caminhando até a porta, e


notei-o de costas.

— O que isso significa? — foi o que saiu de minha boca, enquanto


eu segurava tudo de mim para não quebrar. Júlio paralisou diante da fala, e
se virou devagar. Quando seu olhar parou no meu, era como se ele não
acreditasse que eu estava ali. — O que tudo isso significa? — perguntei,
abrindo os braços e deixando algumas lágrimas descerem.

Eu estava cansada.

Eu estava exausta de tudo aquilo.

Tantos anos se passaram, e de repente, alguns momentos,


quebraram cada pedaço da barreira que eu lutei tanto para construir. Era
como se apenas o olhar dele, fosse o suficiente para atravessá-la e no meio

do caminho, a derrubar.

— Por que está aqui? O que fez com esse lugar? — as perguntas
saíram tão rápidas que eu não pude impedir. Nem queria mais. — Por que
tudo o que eu estou descobrindo sobre você mostra o oposto do que de fato
aconteceu?

— Bárbara...

— Bárbara o que, Júlio? — rebati, e ele deu alguns passos à frente,


como se quisesse me alcançar. — Não tem o direito de aparecer na minha

frente depois de tantos anos e me fazer duvidar de tudo o que eu acredito!


— minha voz saiu praticamente quebrada. — Por que me abandonou? — a
real questão, o ultimo que jurei que nunca faria, mas ali estava eu,
quebrando minhas próprias regras, porque não aguentava mais estar
perdida.

Ele abriu a boca para falar uma e outra vez, mas nada saiu.
— Eu errei quando resolvi aceitar o estágio fora do país antes de te
avisar, e as coisas simplesmente aconteceram, e eu... Sabia que se te

contasse, poderia te influenciar a querer ir também, mas eu sei o quanto


sua família é unida, e o quanto te machucaria...

— Não tinha que escolher por mim. — rebati, e ele assentiu.

— Eu sei que eu fiz errado, e no momento que vi a dor nos seus

olhos eu tive ainda mais certeza... Então eu precisava me despedir e dizer


que tudo ia ser como era, mesmo longe e...

— Eu não te atendi. — complementei e ele assentiu, e era clara a


dor nos seus olhos.

— Me matou por dentro aquilo, mas eu sabia que merecia. Ia te dar


um tempo para pensar e assim que voltasse no próximo mês, eu ia fazer de
tudo para que a gente voltasse a ser... a gente. Ou até mais que isso. —
falou e suas palavras eram o oposto de tudo que aconteceu. — Mas eu... eu

não pude.

— Por que? — a pergunta saiu e eu me vi indo para mais perto,


quase o tocando. — Por que não pode?

— Eu não tenho o direito de falar sobre isso. Eu sei que é pedir


muito para que acredite em mim quando digo que eu tive um motivo, mas
não posso dizer. — respirou profundamente e eu fiquei perplexa. — Doeu
te ver de longe todos esses anos. Doeu tanto saber exatamente quando você

estaria ou não e fugir, porque eu não podia te ter ao redor. Porque sabia

que se eu te tocasse novo, se te tivesse perto... ia esquecer tudo e apenas


ser seu.

Neguei com a cabeça e uma risada fria saiu de minha boca.

— Então eu tenho que aceitar que você teve “um motivo”... — fiz

aspas com as mãos e deixei outra lágrima descer, mas não era tristeza, era
raiva. — Mas não pode falar sobre ele. Algo tão importante que nos
separou por anos, e você não pode confiar em mim? — minha pergunta
saiu quase como um grito e eu notei a dor clara em seu olhar.

— Depois daquela noite, eu procurei você feito um louco, mesmo


sem saber quem era... e quando eu descobri, no meio do mercado, na nossa
cidade, eu... Eu soube que eu não podia mais correr. Na verdade, eu nunca
pude. Cada ano sem você foi como perder uma parte de mim. — sua mão

veio para meu rosto, e sua testa encostou na minha. Por um segundo, eu
não consegui reagir. — Eu sei que é muita coisa, e que somos pessoas
diferentes agora, mas eu... sempre te amei, Bárbara. Desde os dezesseis...
— eu estava sufocada com tamanha aproximação e com a chuva de
revelações me acertando. — Desde lá, sempre foi você. Eu aceito o que
quiser me dar, qualquer coisa... Eu só quero uma segunda chance.

— Para que? — afastei-me de seu toque, e senti falta no mesmo


momento. — Para me quebrar de novo? Para daí, aparecer e dizer que tem

um novo motivo, mas que com certeza, não explica tudo isso. Você acha

que me ama, Júlio. Você está preso a um clichê de melhores amigos que se
apaixonam, sendo que na verdade, você apenas se esqueceu de mim. Se
lembrou, quando descobriu que a gente tem química... e deve estar em
meio a uma crise pessoal ou perdido. Mas você não me ama. Porque quem

ama confia... e você, não o fez no passado, e não o faz agora.

— Bárbara... — notei uma lágrima descendo por seu rosto, mas por
mais que aquilo me machucasse, apenas neguei com a cabeça, e resolvi
sair dali.

Eu não sabia o que encontraria, mas no fim, nada perto da paz que
precisava. O jeito era me agarrar a verdade cega que tive, durante todos
aqueles anos, que a gente não era feito para ser. Nunca seríamos.

Alguns metros dali, eu tinha estacionado meu carro, perdida em

mim, e em tudo que acontecia. As lágrimas secaram, mas meu coração


ainda doía. Mais do que o fez anos antes. Mais do que um dia pensei que
faria de fato. Entrei no carro, e quando encarei o retrovisor externo
esquerdo, vi-o parado, ali, me esperando.

Fechei os olhos com força, e quando os abri, soube do que


precisava.
Não saberia dizer o que me deu, mas vi-me apenas descendo do
carro e correndo até ele, abraçando-lhe com toda a força que tinha, e seu

corpo todo circulando o meu. A verdade era que eu morria de saudade


dele. Do toque. Do cheiro. Do abraço. Do amor.

— Eu senti tanto a sua falta. — admiti, afastando-me levemente, do


abraço que parecia querer curar todos aqueles anos, mas sabia que era

impossível. Éramos duas bagunças de lágrimas e dor. — Eu senti que eu


nunca mais te tocaria e... Não posso confiar o meu coração a você, Júlio.
Porque se eu te perder novo, não vai restar nada de mim.

— Só... fica comigo hoje. — seu pedido saiu livremente, e suas


mãos pararam no meu rosto. — Só nós dois, no nosso lugar, seu velho
violão, o balanço e... a gente finge por uma noite que o tempo não passou.
Que somos apenas...

— Apenas nós. — complementei e ele assentiu, e eu queria tanto

dizer “sim”. Queria tanto poder passar uma borracha em tudo e apenas
ficar ali, mas sabia que estar próxima a ele me confundia. A ponto de que
não me seguraria. — Não posso. — uma lágrima desceu, e vi-me tocando
o rosto dele com carinho. — Não quero te machucar ou me machucar no
caminho...

— Eu sei. — falou, puxando-me para si, e beijando minha testa,


fazendo-me fechar os olhos e querer não o soltar nunca mais. — Eu sei que
quebrei muitas coisas, mas... eu prometo, que não vou mais te machucar. E

se eu me machucar, tá tudo bem. — respondeu por fim, e engoli em seco,

afastando-me e olhando-o profundamente.

— É demais para mim. — fui honesta, e toquei seu rosto com


carinho. — Se eu ficar, vou me confundir ainda mais e... Eu preciso me
acalmar e colocar a cabeça no lugar. Você sabe que eu...

— É impulsiva e toma as decisões apenas por tomar, às vezes. —


assenti, e acabei sorrindo. Ele ainda completava minhas frases. Ele ainda
era uma parte de mim. Confusa, perdida e diferente, mas o era.

— E você precisa se encontrar de novo, porque talvez, esteja


confundindo tudo. — passei a mão levemente por sua barba, aquele arrepio
ultrapassando todo meu corpo. — O amor pode ser confundido com
carinho. — falei, lembrando-me exatamente da forma como ele me
chamava antigamente.

Ele então beijou minha mão direita e colocou sobre seu peito,
fazendo-me quase arfar.

— O meu coração sempre foi seu, para o que quisesse. E se


precisar quebrá-lo, para me dar uma chance, eu aceito. — abri a boca para
responder, mas a outra mão dele veio até meus lábios, calando-me. — Não
estou confuso ou perdido, não quando estou com você.
— Preciso pensar. — minha voz quase não saiu, e ele assentiu,
traçando uma linha perigosa entre meus lábios e a bochecha. — Preciso

pensar longe de você.

— Lembra que eu disse? Eu aceito qualquer coisa. — beijou minha


testa, e eu respirei fundo. Fiquei na ponta dos pés e beijei sua bochecha,
sentindo meu corpo todo ansiar por mais. — Eu também senti sua falta,

carinho.

O apelido me acertou em cheio, e sabia que ele estava agindo como


um homem que me amava loucamente. Porém, tudo aquilo me assustava.
Nada parecia claro. Nada parecia fazer sentido. A única coisa que eu
gostaria de fazer era beijá-lo e nunca mais soltar. Mas e se fosse um erro?
Um erro em meio a saudade?

Passei a mão por seu rosto, e me afastei, sem conseguir dizer mais
nada. Andei até o carro e não olhei para trás. Assim que saí com o veículo,

soube que consegui mais perguntas do que respostas. E queria poder


entender, o que de fato o afastou de mim. O que de fato o fez me deixar ali
e nunca mais voltar... Tinha algo que Júlio escondia a sete chaves, e aquilo
me intrigava. E eu sabia, que precisava descobrir aquilo, para tomar
alguma decisão.
PARTE II

“E você sabe que eu faria tudo por você

Sentaria com você nas trincheiras

Te daria minha vida selvagem, te daria um filho

Te daria o silêncio que só acontece quando duas pessoas se


entendem

Família que escolhi, agora que vejo seu irmão como meu irmão

É o suficiente?”

peace – Taylor Swift


CAPÍTULO XI

“Me diga que não é minha culpa

Me diga que sou tudo que você quer

Mesmo quando eu parto seu coração "[15]

BABI

No momento em que pisei novamente na casa dos meus pais, meu


coração ainda estava disparado. Uma parte de mim gritando que deveria ter
ficado, a outra me dizendo que estava certa em não o tê-lo feito. Suspirei
profundamente, e tentei pensar na barra de chocolate que comprara mais
cedo – junto a ele. Assim que abri a porta da frente, ouvi o barulho de um
carro do lado de fora, o que não era comum naquele horário. Meus pais já

tinham chegado e deveriam estar no décimo segundo sono. Os dois


acordavam com as galinhas, e por aquilo, praticamente dormiam com elas
também.

Voltei da porta que acabara de entrar, e não demorou muito para


um sorriso emoldurar meu rosto, assim como, eu ficar completamente

surpresa. Eu tenho uma surpresa... Lisa descera do carro, e a vi mandando


um beijo para quem quer que fosse que estivesse dirigindo. Sem que
pudesse falar ou perguntar algo, o carro apenas voltou por onde veio, e eu
fiquei paralisada, vendo-a com uma mochila e pequena mala, com os
braços abertos.

— Surpresa! — praticamente gritou, e eu fui até ela, aceitando o


seu abraço, completamente incrédula. — Quem mandou dizer que eu
poderia vir quando quisesse... Mal sabia que eu já tava vindo. —

provocou, afastando-se levemente, e me encarou de cima abaixo. — Por


que andou chorando?

Sua pergunta me pegara desprevenida e eu engoli em seco. Ela me


conhecia melhor do que ninguém naqueles últimos anos, e portanto, sabia
que tinha algo errado comigo.

— É uma longa história... — sorri, e ela fez o mesmo, como se


tentando me entender com o olhar. — Mas quem te trouxe? E o que deu na
sua cabeça, pensei que estava presa no trabalho...

— Um evento cancelado no final de semana, Igor tem negócios em

uma cidade aqui perto... — deu de ombros, como se fosse fácil assim. —
Uni o útil ao agradável ao aceitar a carona e jatinho dele.

— Então Igor Reis te trouxe? — caçoei e ela revirou os olhos,


empurrando meu ombro, enquanto eu pegava sua mala menor. — Mas

agora sério, não tem ideia de quão maluca as coisas ficaram nesses últimos
dias.

— O que seu ex melhor amigo, vulgo CEO engomadinho fez de tão


ruim? — indagou, como se fosse fácil saber que era sobre ele, e
adentramos a casa, a qual ela olhou com admiração, mesmo já tendo estado
ali tantas outras vezes. — Eu nunca me canso da beleza dessa casa e dessa
cidade.

— Pensei que fosse uma mulher de negócios da cidade. —

provoquei, e ela deu de ombros.

— Você é uma péssima influência. — piscou um olho, e me sentei


no sofá, com ela logo atrás. — Mas então... Por que não me dá um breve
resumo? Algo me diz que de duas uma, ou transou com ele de novo, ou
está mais perdida do que nunca.

— Tá tão na cara? — rebati, e encostei a cabeça contra o sofá,


notando que Lisa fizera o mesmo.

— Eu te vi falando mal desse cara desde que a gente se conhece, e

nunca, em momento algum, citou abertamente o nome dele. Sempre foi


“ex melhor amigo” ou “CEO engomadinho”, mas quando te liguei e falou
sobre ele abertamente, fiquei em alerta. Você funciona nos detalhes, Babi.
É fácil saber tudo sobre você se te analisar com cuidado. Mas, o mais

importante, como você tá?

— Perdida. — confessei, e levei uma mão a testa, suspirando


fundo. — E não tenho ideia do que fazer.

Então, contei-lhe tudo o que acontecera nos últimos dias, em cada


detalhe, e analisei as expressões de surpresa, raiva e estranheza de Lisa.
Ela parecia querer socar a cara de alguém, assim como, parecia pensar
sobre tudo aquilo.

— Então... resumindo, tem um motivo para tudo isso? Ou melhor,

ele diz que tem. — franziu o cenho, parecendo pensar sobre. — Por que
não pergunta aos irmãos dele? Pelo que sei, são muito próximos,
principalmente do tal Bruno.

— Não é uma má ideia, mas só o fato de eu perguntar e ter a


resposta por alguém que não seja Júlio, mostra que no fim, ele não confia
em mim.
— Porém, pode realmente não ser uma história dele, que ele possa
contar... — ela pareceu pensar, analisando as possibilidades. — Quanto

mais eu sei sobre esse cara, mais confusa eu fico. — assumiu, e eu dei de
ombros. — Mas essa coisa toda de construir a cabana dos sonhos, cuidar
do lugar que era de vocês... Isso soa muito romântico e apegado demais
para alguém que te evitou por anos.

— A cada volta que eu dou, mais confusa eu fico. — ela assentiu, e


trouxe uma mão até meu ombro. — É bom te ter aqui, poder colocar para
fora, sem a expectativa de ninguém...

— Nem me perguntou se eu torço ou não para o casal. — riu de


lado, e eu revirei os olhos. — Eu te vi tendo seus casinhos de uma noite
durante esses anos, e até aquele quase namoro que você corria... Mas
nunca te vi com esse semblante.

— Qual? — indaguei, passando a mão no rosto.

— De saudade e paixão. — pisquei algumas vezes, e ela continuou.


— Não sou a pessoa mais romântica do mundo, e você sabe, mas sei de
uma coisa: que a gente não consegue mentir o que grita dentro do peito. E
quando o faz, machuca muito mais do que a gente mesmo.

— Eu preciso decidir se quero uma resposta e se... Se eu tiver? —


dei de ombros. — Vou correr pros braços dele e tentar um relacionamento?
Depois de tudo isso, parece que é tarde demais.

— Diz isso para os livros que você lê sobre reencontros, e fica

suspirando... — rebateu e eu ri de lado, pois era verdade. Ao mesmo tempo


que sabia que na vida real era diferente.

— Talvez, quem sabe, eu esteja assim porque sou apegada demais


ao passado, e quando a dúvida sobre isso passar, os sentimentos se

mostrem de fato.

— E se perceber que o ama loucamente e foda-se tudo? —


perguntou, e eu suspirei profundamente.

— Aí, minha amiga, eu sei que estou ferrada. — respondi e ela


sorriu abertamente. — Que tal chocolate branco?

— Você sabe que eu nunca nego um doce.

Levantei do sofá, com Lisa as minhas costas, e o coração um


tantinho mais leve. Era bom não me sentir sozinha ali e perdida com meus

próprios sentimentos. Porque minha cabeça logo se dispersaria e eu viveria


como se Júlio não tivesse voltado a minha vida.

E de repente, no meio de uma conversa sobre o filme que Lisa


assistira no cinema naquela semana, vi-me pensando em como ele adoraria
o tema. Por um segundo, era como se eu finalmente passasse a entender,
que por mais longe que ele estivera e por mais machucada fora, eu nunca,
de fato, o deixei sair por completo do meu coração.

JÚLIO

— Precisava mesmo te ver. — a voz de minha cunhada me acertou,


e pausei um passo, voltando em direção as redes penduradas no jardim de
trás da casa. Mabi tinha um livro em mãos e sorria abertamente.

Fez um sinal com a cabeça e as mãos, para que fosse até ela, e me
sentasse ao seu lado. Sorri, porque era como se eu tivesse uma nova irmã.
Ela era o oposto completo do meu irmão, mas ainda assim, o complemento

certo.

— O que posso fazer pela grávida mais linda desse mundo? —


perguntei, sentando-me em algumas almofadas jogadas à frente da rede, e
ela me olhou com atenção. — O que foi?

— Parece mais... não sei dizer, só mais feliz. — respondeu, e deu


de ombros, como se calando a si mesma. — Enfim, você lembra que
convidei Babi para o almoço no domingo, mas queria saber sua opinião
sobre isso. Na hora, eu não tinha notado que vocês tinham uma história

maior do que a amizade que toda a cidade sabe, eu... Eu não quero me
intrometer se isso for machucar algum de vocês.

Sorri para ela, e para o cuidado que ela tinha para comigo.

— Está tudo bem, na verdade, não sei como as coisas estão entre

nós. — suspirei profundamente. — Apenas não se culpe por tê-la


convidado ou algo assim. Um almoço de domingo com os Torres, é algo
que ela está mais do que acostumada. E pela nossa conversa de hoje, talvez
minha presença não seja tão ruim quanto um dia foi.

— Quer falar sobre? — Mabi perguntou, tocando minha mão, e a


clara preocupação no olhar. — Eu sou uma ótima fanfiqueira, você sabe.

— Não tenho muito a dizer. — suspirei profundamente, tentando


não pensar que não confessei de fato o que me fizera afastar dela, e sabia,

que jamais o faria. — Talvez ela decida que me quer e que me ama. Talvez
a gente só volte a ser amigo. Talvez ela nunca mais queira me ver... Não
posso pensar sobre as múltiplas escolhas que ela tem.

— Por que não faz melhor do que pensar? — perguntou e eu a


encarei sem entender. — Demonstra que vale a pena, o porquê de estar
com você é uma escolha.
— Não quero pressioná-la, e eu sei que a nossa química, acaba por
fazer isso. — Mabi pareceu pensar sobre, como se buscando uma solução.

— Sei exatamente como é isso... — suspirou, como se lembrasse


de algo, e tinha certeza, apenas pelo seu olhar, que era sobre seu irmão. —
Porém, nada te impede de ser apenas você domingo... vamos estar todos,
então, como até Olivia me contou, que ela é praticamente da família, vai

ser um momento diferente de apenas vocês, no seu mundinho particular.


Pode ser o momento de verem se pertencem ao mundo um do outro,
mesmo separados.

— Quando ficou tão boa em dar conselhos? — indaguei, e ela fez


uma careta de esnobe, como se fosse a dona da verdade, fazendo-me rir.

— Desde o momento em que me apaixonei pelo cara que eu


sempre quis jogar um sapato na cara. — respondeu, com um sorriso
iluminando cada parte do seu rosto. — As melhores histórias de amor

acontecem sem a gente saber. O fato de você ter estado com uma
desconhecida, e no fim, ser sua antiga melhor amiga, a qual, tá na sua cara,
você é completamente louco... pode ser real, Júlio.

— É pelo que torço. — fui honesto e sorri, levantando-me.

— Ajuda a grávida de um metro e cinquenta e cinco? — perguntou,


estendendo-me a mão, e fazendo-me rir ao ajudá-la. — Eu agora vou ter
que dormir no quarto vazio ao lado, porque seus irmãos apagaram juntos
na minha cama. — falou, fazendo-me gargalhar, enquanto andávamos em

direção a entrada dos fundos. — Eu tirei várias fotos e vou usá-las contra
Inácio sempre que ele pensar em me dizer que não posso fazer algo porque
estou grávida.

— Ele ainda tenta te controlar?

— Nem nos sonhos dele, ele consegue, imagina... — sorriu em


minha direção, enquanto eu passei um braço ao redor de seu pescoço. —
Todo dia uma reza para que o nosso bebê tenha a minha personalidade.
Porque se for um mini Inácio...

— Você vai dar conta. — falei, assim que chegamos as escadas, e


ela parecia perdida, com uma das mãos livres do livro sobre a barriga. —
Vai ser uma mãe incrível, Mabi. Já é, na verdade. — corrigi, e ela sorriu
abertamente. Era claro que por trás dos sorrisos mais sinceros, ainda assim,

ela trazia sua fragilidade.

— Obrigada. — respondeu, enquanto a ajudava a subir as escadas.


— Quando eu estiver de nove meses, vão querer me carregar, só pode... —
bateu em meu braço, fazendo-me soltá-la, enquanto ela subia as escadas
sozinha. — Você e Inácio podem dar a mão e sair correndo, quando se
trata de querer me colocar no plástico bolha. Imagina quando você for pai?
— perguntou, como se ofendida, e eu ri de lado.
Dei-lhe um beijo na testa, assim que chegamos ao andar de cima, e
desejei boa noite. Quando entrei no meu quarto, os acontecimentos daquele

dia, mais a pergunta de Mabi, me acertavam por inteiro. Como eu seria


pai? Não tinha ideia, porém, apenas conseguia pensar em como seria um
sonho, construir a família que Bárbara um dia me confidenciou querer.

— E eu ainda vou encontrar alguém que queria construir comigo,

uma família enorme como a sua... ou caso eu não possa ter filhos, adotar
vários. — suspirou profundamente, parecendo pensar seriamente sobre.
Enquanto eu, queria levantar uma placa e dizer “ei, eu to aqui”. Porém,
Bárbara parecia não me enxergar no meio de uma multidão. Ela me via e
me amava, mas não da forma como eu fazia. Não romanticamente. Aos
quase dezoito, aquilo me acertava por inteiro. — E você?

— O que tem eu? — respondi sem entender. — Está me chamando


para ser o pai dos seus filhos? — indaguei, e ela revirou os olhos, batendo

contra meu peito.

— Se eu chegar aos quarenta sem, quem sabe, eu te faça essa


oferta. — piscou um olho, e eu ri abertamente, e poderia jurar que aquela
ideia era uma possibilidade que não descartaria. — Vai que a gente sobra
e se junta?

— Vai que... — falei, e passei meu braço ao redor do seu corpo,


trazendo-a para perto, a qual se encostou contra meu pescoço e suspirou
profundamente.

Vi-me sorrindo sozinho dentro do quarto, com cada lembrança me

acertando. Sequer sabia o que aconteceria, porém, sabia que mesmo que
ela não quisesse o meu amor ou não fosse capaz de me dar uma chance, eu
ainda era dela – com cada imperfeição e afeição – por completo.
CAPÍTULO XII

“Você pode fugir, mas só até certo ponto

Eu escapei também, lembra como você me viu partir

Mas se está tudo bem para você, está tudo bem para mim"[16]

JÚLIO

Eu estava nervoso e sequer conseguia disfarçar.

Mabi me avisara que Babi realmente viria para o almoço no


domingo, e por mais que meu coração tentasse se acalmar, parecia
impossível.

— Então você disse a verdade para ela? — a voz de Olívia chegou


até mim, que já andava em círculos no jardim da frente, e eu a olhei sem

conseguir responder de fato. — Iiiiii, por que essa cara?

— Não é nada, eu só não sei o que esperar. Ela vir aqui com toda
nossa família, não quer dizer nada demais. — engoli em seco e Olívia
sorriu abertamente. — Para de me olhar como se estivesse me casando!

— Você vai estar pior no dia do casamento, relaxa. — chegou bem

próxima e segurou meus ombros. — Não falou sobre Bruno?

— Não. — ela assentiu, pensando sobre. — Não é a minha história


para contar.

— Mas estragou a sua história, a história de vocês... — apontou em


meu peito e eu apenas neguei com a cabeça. — Uma hora, ela vai
descobrir... e aí? Vai querer que ela pense que não confia nela? Ou que vai
passar o resto da vida sem entender de fato o que te fez ficar longe dela por
anos?

— O que eu posso fazer? — rebati, e neguei com a cabeça. Minha


voz estava baixa e controlada, porque não queria que ninguém ouvisse
aquilo também. Porém, precisava continuar: — Como eu vou
simplesmente dizer que ela é o primeiro amor do meu irmão? Que eu
preferi quebrar o meu coração do que o dele?

— O que?
Paralisei diante da voz, e vi-me sem conseguir virar.

— Puta merda! — Olívia falou, e virou o resto do vinho na taça em

suas mãos. — Oi Babi! — olhei de relance, minha irmã ir até ela, e então,
notei uma outra mulher.

— Eu sou a Lisa. — ela se adiantou, cumprimentando minha irmã,


enquanto meu olhar se perdia, dentro do castanho de Babi.

— Acho que vai adorar conhecer o restante dos Torres. — Olívia


falou, e vi-a apenas passar por mim, com os braços dados com a que
deveria ser a amiga de Babi, e olhou-me como se mandasse energia
positiva.

— Bárbara... — comecei a falar, mas ela levantou a mão, me


calando. Vi-a passar uma mão no rosto, como se pensasse sobre, e meu
coração se apertou. Eu não sabia de fato como aquela informação a
acertaria.

— Podemos... — engoliu em seco e fez um sinal com a cabeça. —


Podemos só andar um pouco? — indagou, e eu assenti, indo até ela, e
seguindo-a lado a lado.

Depois de alguns metros, um pouco mais longe da casa, ela passou


a mão pelos cabelos, e parou, olhando-me.

— Como assim Bruno me ama? — perguntou, e eu não sabia se era


para mim, ou para si mesma, ou para o universo. — Eu... Eu não posso
acreditar que...

— Não era para você saber, eu... Eu não queria trazer ainda mais
bagunça para essa situação. Ele se culpa pelo nosso afastamento, mesmo
que ele não pudesse controlar o que sentia, o mesmo que confessou
completamente sem saber que o fazia.

— Como descobriu isso? — perguntou, seu rosto parecendo em


pânico e a cor fugindo do mesmo.

— Quando voltei do estágio, no fim do mês, encontrei apenas ele


em casa, completamente bêbado, e acabado... Ele me xingou e no meio do
processo de colocá-lo na cama ou tentar que tomasse banho, ele disse
que... — paralisei, porque nunca consegui tirar aquelas palavras de minha
mente. Não até aquele exato momento.

— O que ele disse, Júlio? — insistiu, vendo-me travar.

— Ele disse que nunca te machucaria como eu fiz, e que eu não


tinha ideia do quanto você valia. Que você era o amor da vida dele e ele
não sabia mais o que fazer.

— Ele tinha o que? Dezesseis? — rebateu, e eu assenti, vendo-a


passar a mão no rosto, totalmente incrédula. — E daí...

— Eu fingi que não sabia de nada no dia seguinte, e que ele não
falou nada... Mas então, eu comecei a perceber como ele ficava, toda vez
que te via, e com o tempo, soube que eu não podia interferir. Um dia, ele

me confrontou sobre, se eu não ia mais falar com você ou... Então, ele
entendeu que eu sabia dos sentimentos dele. Eu não poderia te amar se isso
significava que quebraria o coração de outra pessoa que eu amo.

— E eu, Júlio? — sua voz quase não saiu, e ela levou a mão ao

próprio peito. — E o meu coração? Já se perguntou sobre como quebrou o


meu coração?

— Eu os via... Eu sabia quando você estaria ou não em casa, ou


quando Dani nasceu, ou as festas... eu sempre fiquei longe, mas te vendo.
Eu te via sorrindo e feliz com ele, e achei que só iria estragar tudo, porque
no fim, todo mundo parecia bem sem mim. Pensei que talvez ele fosse o
cara certo... Por que eu faria algo?

— Porque eu te amava. — abriu os braços, como se fosse óbvio. —

Porque a gente sempre confiou um no outro e não tinha o direito de


escolher por mim! Por que sempre tem que pensar em todo mundo, menos
em você? Por que?

— Bárbara...

— Por que não me contar agora? Se passaram dez anos e eu nunca,


em momento algum, estive com Bruno, então... — ela fez um careta, como
se apenas a ideia daquilo a aterrorizasse. — Por que adiar mais isso?

— Porque eu não sei o que fazer. — admiti, levando a mão a

cabeça. — Porque eu já tive de escolher entre vocês antes, e eu não quero


machucar ninguém de novo. Não queria mais que isso seja um problema.
Não quero que isso seja um problema. Mas o é, você sabe que minha
família é...

— Seu tudo, eu sei. — complementou, e deu um passo à frente,


vindo até meu corpo, tocando meu rosto, surpreendendo-me por completo.
— Eu sei da conexão que todos vocês tem, eu sei! — fechou os olhos, e eu
fiquei paralisado, apenas a olhando tão próxima a mim. — Mas isso não
justifica tudo! — a voz dela soou ainda mais séria. — Não justifica não
confiar em mim! — fez um sinal contra si e era clara a mágoa no seu
olhar. Ela respirou fundo e fez um sinal com a cabeça. — Acho melhor a
gente entrar.

— Bárbara...

— Se eu falar sobre isso agora, não vai ser bom, para nenhum de
nós. — foi sincera e eu assenti, sabendo que não poderia pressioná-la. Ela
saiu de perto, e vi-a seguindo em direção a casa. Tomei uma larga
respiração, antes de fazer o mesmo caminho, e minha cabeça ainda mais
perdida do que antes.
Por que a vida tramava tanto assim para nós?

BABI

Assim que adentrei a casa, encontrei a família toda e meu coração


se encheu, assim como, passei a entender mais do porquê Júlio escolhera
me esconder aquilo. Eu sabia qual era o sentimento de amar tanto alguém,
a ponto de abrir mão de tudo. Faria o mesmo pela minha família, e eu não
poderia julgá-lo por aquilo. O que se passava por minha mente, era o fato
de que ele não confiou em mim. Porém, não saberia dizer o que eu faria, se
estivesse em seu lugar.

A cada momento que se passava e a cada nova revelação, eu apenas

estava desistindo de não tentar. Depois de tantas falhas, erros e tempo


perdido, eu não queria mais lutar contra o que me trazia direto para ele.
Tentar ser amiga dele seria um recomeço grande para mim, e eu tentava
me convencer, de que era o suficiente.

— Oi, minha filha. — Fabrício Torres me abraçou e eu sorri para


ele, tocando seu rosto com carinho. Ele parecia bem e forte, o que
apaziguava meu coração. — Estou forte como um touro, como pode ver.
— E gato. — respondi, e ele passou as mãos pelos cabelos, fazendo
charme. Aquele homem continuava lindo, mesmo com o passar dos anos,

assim como, sua esposa, que logo estava nos braços, e passou as mãos por
meus cabelos. — E a sorte de ter casado com uma mulher dessa, em senhor
Torres.

— O charme que ela não pode resistir. — ouvi as risadas ao redor,

enquanto Heloísa revirava os olhos, e eu só pensava o quanto um amor


daqueles era bonito. Eu tinha o exemplo em casa, e ali, também.

— Estamos felizes por estar aqui. — Heloísa tocou meu rosto e


sabia o quanto aquilo significava para ela. Ela gostava de todos juntos e
misturados, sem faltar ninguém.

— Ela não parou de falar o quanto precisava comprar o seu


refrigerante favorito. — Olívia provocou e eu me virei para ela, que estava
sentada em um dos sofás, com Lisa ao seu lado.

Mabi estava sobre o colo de Inácio, que bebia algo, e sorria


levemente. Ele me endereçou um daqueles sorrisos e fiz o mesmo. Até
mesmo dele, o protetor e fechado Torres, eu sentia falta de estar ao redor.
Era difícil encontrá-lo, já que ele mal ia para a capital ou as outras
fazendas da família. Ele sempre preferiu o seu mato, como ele diria.

Júlio adentrou o ambiente segundos depois, e meu olhar ficou preso


nele, como se tudo se tornasse apenas nosso. Eu sabia que ele queria dizer
algo, assim como, eu queria poder fazer. Mas o que falaríamos? Sobre o

que discutiríamos? A cada momento, ficava mais difícil estar perto, porque
tudo parecia nos levar para o mesmo caminho.

Nunca apenas nós dois.

Nunca apenas a nossa decisão.

Nunca apenas um momento de poder respirar fundo.

Estavam sendo dias esgotantes com toda aquela imersão de


sentimentos.

— Bruno vai se atrasar, então... Por que não vamos todos para a
mesa?

Assenti para dona Heloísa, e minha mente se perdeu pelo simples


citar de Bruno. Tentei ignorar aquilo por um instante, porque não poderia
simplesmente gritar tudo o que me agoniava. Eu precisava comer, respirar

fundo e pensar. Sempre pensava melhor de barriga cheia. Fui até Lisa, que
praticamente grudou no meu braço e sussurrou no segundo seguinte.

— Eu não sei quem eu pegaria primeiro, se pudesse. — ri da minha


amiga, que me encarava incrédula. — Babi, esse povo é bonito demais! Eu
ficaria com a mulher do brutão ali, ele, e a irmã dele... Só não pegaria o
seu, claro, por respeito e tal.
— Meu Deus do céu, Lisa! — ri alto, e ela bateu em minha mão,
como se para que a deixasse continuar.

— Eu estou chocada que eu não sabia da existência de gente tão


bonita assim...

— Você se comporta! — empurrei seu ombro e ela me olhou como


se pensasse em algo.

— Que eu saiba, Olívia é solteira e o mais novo também... Só


preciso checar quando ele aparecer. — queria rir do que ela falara, mas
fora impossível.

Mais uma vez, apenas o nome de Bruno, me fazia pensar o quanto


ele entendera tudo errado. Me amar? Como ele podia? Não fazia sentido
algum. Contudo, existia algum sentido no amor?

— Pela sua cara, deve ser feio... — sussurrou e eu neguei com a


cabeça.

— Te conto depois. — pisquei um olho, e nos separamos assim que


chegamos na mesa.

Ela se sentou ao meu lado, e logo a minha frente, estava Júlio. Eu


acabei sorrindo, sem saber como me portar, era como se meu coração
estivesse querendo pular da boca, e queria poder dizer que era apenas o
fato de estarmos próximos novamente e entendendo o que acontecera.
Fechei o sorriso no segundo seguinte, confusa e ansiosa. No fundo, eu
sabia que era mais... Eu sempre soube que ele significava mais.

Passinhos de bebê, Babi...

Eu precisava daqueles passinhos para entender se valeria a pena


arriscar mais do que podia do meu coração. Mesmo que uma voz lá no
fundo, já me dissesse que já o fizera, no segundo em que me permiti ouvi-

lo.
CAPÍTULO XIII

“Então podemos dizer que estamos quites

Você poderia me chamar de "amor" no fim de semana (...)

Estou na casa dos meus pais

E a estrada não percorrida parece muito boa agora

E ela sempre leva a você na minha cidade natal”[17]

BABI

— Você conhece o Reis, não é? — Lisa perguntou para Júlio,


assim que saímos para o jardim, o qual a encarou surpreso pela pergunta
repentina, assim como eu.
Pós almoço, todo mundo com preguiça, buscando apenas descansar
um pouco. Bruno não tinha aparecido e algo me dizia que não fora uma

coincidência. Algo que eu precisava perguntar a Júlio, não me


surpreenderia se ele tivesse avisado o irmão que eu descobrira sobre.

— Igor? — Júlio perguntou, se aproximando, e ela assentiu. —


Temos alguns negócios em comum.

— Então, ele vem me buscar amanhã, vamos no avião dele para a


capital... — sorriu para mim e eu queria poder calar a boca dela naquele
momento, porém, ela fora mais rápida. — Por que não vai com a gente?
No caso, Babi vai também.

— Elisa. — chamei sua atenção e ela fingiu que nem era consigo.
Apenas a chamava pelo nome todo quando estava a ponto de esganá-la.

— Ignore o mau humor. — fez um sinal para mim, e eu olhei para


Júlio, torcendo para que ele negasse. — O que me diz?

— Eu não quero atrapalhar, Elisa.

— Pode me chamar de Lisa, quer dizer... se pensar em quebrar o


coração dela de novo, eu sou Elisa, a que vai quebrar o seu belo rostinho.
Mas... se for para fazer ela ficar com a pele linda e feliz, aí pode ser o
apelido.

Júlio sorriu diante da honestidade ácida de minha amiga, e eu


puxei-a para perto.

— O que está fazendo? — perguntei, sem me importar de que ele

ouvisse.

— Resolvendo problemas. — apertou minha bochecha e se virou


para ele. — No caso, vou dizer para o Igor, que você vai com a gente, e
acho falta de educação não estar pronto as dez amanhã.

— Você nem sabe se a família dele vai junto. — falei, olhando para
Júlio, como se pedisse socorro. A gente ainda nem tinha conversado direito
e Lisa não tinha ideia do que estava fazendo.

— Meus irmãos e meus pais vão ficar essa semana... — explicou e


eu só consegui pensar o quanto aquilo era oportuno. Olhei-o como quem o
desafiava a dizer “não” e ele sorriu para minha amiga, assentindo. —
Estarei na fazenda de Bárbara as 10.

— Ótimo. — minha amiga falou, e olhei ao redor. — Eu vou

aproveitar para ficar na rede com o resto das pessoas, e antes que Babi me
coma viva. Boa sorte no que for que forem conversar, já que toda vez,
parece ser um novo capítulo de novela turca.

— Vai me pagar por isso. — ela sorriu, mandando-me um beijo


com a mão, e indo diretamente para Daniela, que sorria para minha amiga.

Onde eu tinha me enfiado?


Um amor que decidia a minha vida.

Uma amiga que me fazia parecer ainda mais maluca.

— Não precisamos conversar agora se não quiser. — falou,


parecendo diferentes de segundos atrás e eu revirei os olhos.

— Diz o cara que poderia ter negado ir com a gente. — apontei o


óbvio e ele pareceu sem graça.

— Não pensei que minha presença fosse te deixar tão chateada. —


engoliu em seco, e levou uma mão para de trás da cabeça, demonstrando
que estava nervoso.

— A questão é que eu estou a ponto de explodir. — assumi o que


era fato. — Não consigo crer que decidiu tudo por mim. — falei, e ele me
olhou com pesar. — Custava o que me ver e contar a verdade? Eu sei que
envolve mais do que a gente, mas...

— Eu não queria machucar ninguém. E acredite quando digo que

me matou por dentro ter te machucado.

— Como eu posso acreditar nisso? — abri os braços, incrédula.


Caminhei na direção oposta de onde todos estavam, evitando que a minha
voz alta pudesse atrapalhá-los. — Como posso acreditar que se importa, se
sequer confia em mim?

— Olha para mim e diz que não acredita que fiz tudo isso pensando
no melhor. — pediu, e deu um passo à frente, trazendo minha mão para
seu peito, fazendo-me entender que estava tão entregue quanto eu. Ainda

no hoje.

— Por que agora? Por que não ignorou aquela noite e continuou a
decidir por mim? — rebati, sem conseguir evitar e bater contra seu peito.
— Por que?

— Porque eu não suporto mais ficar longe de você. — assumiu, e


uma lágrima desceu por seu rosto. — Não suporto mais passar um segundo
sem poder saber que posso te ver, ou ligar, ou... Quando soube que meu
pai ficou doente, eu só consegui pensar, em como tinha perdido tanto
tempo longe de uma das pessoas que eu mais amava. Eu senti a dor que
era, perder você, mesmo estando ali... E se eu te perdesse para sempre?

— Isso foi no começo do ano... — ele assentiu, e sabia que fazia


alguns meses em que descobriram sobre a doença do pai, assim como,

fazia o mesmo tempo em que estive tão perto de Júlio. Ele só não sabia da
segunda parte.

— Eu fiquei tão perdido, que eu jurei que tinha estado com você...
Criei na minha cabeça um momento juntos, como se você pudesse estar lá
para me abraçar e cuidar de mim, no momento em que eu perdi o chão por
completo. — ele achava que fora um sonho? — Bêbado e perdido,
pensando em como tudo seria se eu não tivesse escolhido por você... ou
pelo meu irmão. — negou com a cabeça. — E daí, a noite em que eu te

tive... — prendi uma respiração. — Eu juro que quando acordei no dia

seguinte, e não te encontrei lá, eu só consegui pensar em como seu cheiro


era familiar, em como sua voz me acalmava... Em como parecia ser a
minha Bárbara, nos meus braços, mesmo que fosse impossível. Mas era
você... Mais uma vez, a vida me jogando na cara o quanto eu tinha errado,

e... eu desisti de não lutar. De apenas aceitar. De não poder amar você.

— E como vai ser meu amigo se não confia em mim? — eu estava


fingindo que a parte do amor romântico não existia. Uma parte de mim,
ainda completamente resguardada. — Se quer que a gente volte, ao menos,
a ser amigo... vai ter que confiar em mim. Isso inclui, dizer a verdade. E
não tomar qualquer decisão, por simples que seja, ou que vá nos separar
por anos, por mim.

— Eu aceito o que quiser me dar. — soltei o ar com força, sentindo

a dor de vê-lo ali, completamente aberto.

Depois de tanto tempo, eu só queria tê-lo nos meus braços e não o


deixar ir. O problema era que não sabia até que ponto poderia deixar
acontecer. E se eu o perdesse de novo? E se a gente se machucasse? E se
não fôssemos mais os mesmos?

Não éramos, de fato.


— Não posso prometer nada ou que vamos ser isso ou aquilo. —
suspirei fundo. — Mas não quero mais fingir que você não existe e que

não sinto sua falta. — admiti, e levei uma mão até seu rosto. — Só peço a
verdade, Júlio.

— Eu só quero você. — encostou minhas testas e eu fechei os


olhos, tamanha a intensidade. — Pensei que não iria querer...

— O que? — insisti, vendo-o travar, claramente, se escondendo.

— Que você não ia querer estar perto de mim tão cedo, confesso.
—sorri para ele, e depois de tanto tempo, era completamente honesto. —
Mas eu não estou reclamando.

— Eu sei que não. — ele sorriu, e como sempre, sabia que


iluminava a noite mais escura daquela forma. Por que a fanfiqueira não
parava? — Passinhos de bebê... — falei, e ele assentiu, tocando meu
cabelo, do jeito que fazia no passado, e mostrou-me que algumas coisas

não mudavam.

Eu reagi como sempre, encostando mais contra sua mão, e por um


segundo, apenas consegui pensar em como aquelas mãos eram perfeitas
para enrolar cada fio e me fazer adorar aquela pequena dor.

Foco, Babi!

Afastei-me do seu toque, sem querer parecer alarmante, e lembrei


do fato em questão.

— Sabe que eu vou falar com Bruno, não é? — indaguei e ele

assentiu, e era claro o seu desagrado sobre aquilo. — Disse a ele que
descobri isso? — negou de imediato, com os olhos confusos. — Ele não
apareceu pro almoço, então...

— Pode ter sido que Oli falou algo e ele não veio, mas... não tenho

ideia.

— Bom, eu vou falar com ele o quanto antes e espero que as coisas
não fiquem estranhas. — soltei o ar com força, sabendo que falava mais
para mim do que para ele. — Bruno é como meu irmão mais novo, e... Isso
fode a minha cabeça.

— Imagina como ficou a minha. — ele sorriu sem vontade alguma,


e eu sabia, naqueles pequenos detalhes, que não estava errada em ouvi-lo e
muito menos, em tentar. O que eu estava tentando de fato, era o que não

sabia. — A propósito, reparei que está comendo de verdade.

— O que quer dizer com isso? — perguntei, e ele deu de ombros.

— Lembra que praticamente não comia quando éramos mais


novos? — assenti, porque era a verdade. Sempre comia muito pouco e
ficava satisfeita, e até tive que fazer uma reeducação alimentar para
melhorar aquilo. — Eu vi hoje que tem comido mais, quer dizer... fiquei
feliz por isso.

— Não vai ficar nada feliz ao saber que essa fome toda tem surgido

nas últimas semanas... — confessei, e suspirei fundo. — Continuo não


comendo muito, quer dizer, tudo o que não é chocolate. E daí, me forço, na
maioria das vezes, porque sigo uma dieta para não ficar abaixo do peso.

— O que será que desencadeou sua fome? — indagou e eu dei de

ombros, enquanto minha mente viajava, e por um segundo, travei por


completo. Fora exatamente três semanas depois da nossa noite que eu
começara a ter mais fome... porém, quem estava contando, não é mesmo?

Não que sexo dos deuses pudesse abrir o apetite semanas depois.

Revirei os olhos de mim mesma, e travei no segundo seguinte.


Sexo não, mas...

“Eu soube que estava grávida de você, com poucas semanas,


quando comecei a ficar maluca por comer até os tijolos se fosse

possível...”, o que minha mãe sempre dizia, quando contava a história da


minha gravidez. A fruta caía longe do pé, às vezes, não era?

Abri a boca para perguntar para Júlio, se em algum momento ele


não usara camisinha, mas travei. Onde eu estava com a cabeça? A gente
tinha acabado de decidir que tentaríamos ser amigos, e eu ia perguntar
sobre a noite maluca de sexo que tivemos?
— Bárbara, você está bem? — Júlio perguntou, e seu tom
preocupado não me passou despercebido. Ele tocou meu rosto, e só então,

pisquei algumas vezes, e respirei fundo. — O que foi?

— Eu lembrei de algo, mas... — engoli em seco. Ele me encarava


de forma estranha, e me lembrei que nunca soube mentir para ele. Merda!
— Ok, não vou mentir. Estou te pedindo para ser sincero e tal, e já estou

começando errado. — ele riu baixinho, surpreendendo-me. — Eu só não


quero falar sobre isso, tudo bem?

— Ok. — respondeu simplesmente e sorriu, mas a preocupação


continuou clara no olhar. — Se precisar falar, saiba que eu estou aqui.
Sempre vou estar.

E se eu estiver grávida, você vai ser o pai do meu filho... Cacete!

— Podemos só ir ficar com os outros? — perguntei, querendo fugir


dele, enquanto minha mente girava, e eu sabia que se ficasse mais um

segundo sozinha ali, ao lado dele, acabaria perguntando.

E assim que chegamos perto de todos, sentei em uma das redes que
Lisa estava, e notei seu olhar sobre quem julga “eu sei o que você fez no
baile a fantasia passado”. Contudo, naquele momento, nem eu sabia. E de
repente, vi-me pensando em cada segundo, recordando se a gente não tinha
se prevenido. E que os céus me perdoassem, porque eu estava relembrando
a noite de sexo quente com Júlio, ao lado de toda a família dele.
CAPÍTULO XIV

“Todos nos alertaram sobre momentos assim

Nos disseram que a estrada fica difícil e você se perde

Quando você está sendo guiado por uma fé cega"[18]

BABI

Eu estava tremendo.

No momento em que adentrei a casa dos meus pais, ainda sentia o


olhar atento de Lisa sobre mim.

— Babi, se isso é porque convidei Júlio, juro que foi com a melhor
intenção, mas posso inventar qualquer desculpa e...

— Não é isso, eu só... — suspirei fundo, mas não consegui falar

sobre o que desconfiava. — Todos esses dias tem sido uma bagunça e
eu...acho que só tem sido demais para mim.

— Quer falar sobre? — indagou, e acabei assentindo, tentando


fugir da minha desconfiança e focando no fato de que Bruno era

apaixonado por mim. Ele não deveria mais ser, certo?

— Júlio me contou que não voltou para mim porque descobriu que
o irmão me amava. — suspirei com pesar. — Bruno, o mais novo dos
Torres.

Ela arregalou os olhos, claramente em choque.

— Que porra é essa?

— Foi exatamente o que pensei. — falei, jogando-me contra o sofá,


e ouvindo o barulho dos meus pais na cozinha. — A gente pode conversar

melhor sobre quando estivermos na capital, como já disse, meu pai é o


maior fofoqueiro da região... — a última frase falei mais alto, e ouvi um
resmungo alto vindo da cozinha.

— Olha como você pinta seu pai, menina! — ele então apareceu,
desviando-me do assunto, assim como, fazendo-me focar em algo diferente
de toda aquela confusão. Que poderia apenas piorar. Foco, Babi! — E
como foi o almoço?

— Depende. — Lisa respondeu-o, assim que se sentou ao meu lado

e sorriu de lado. — O senhor vai contar para quem sobre?

Uma gargalhada estourou logo atrás do meu pai, e eu acabei


acompanhando minha mãe, enquanto meu pai levava uma mão ao peito e
fingia que fora machucado.

— Vocês não sabem apreciar os dons de um fofoqueiro. — falou,


desfazendo com as mãos, e se sentou no sofá a nossa frente.

— Eu adoro uma fofoca e o senhor sabe... — o pior era que


Domenico Ferraz e Lisa combinavam e muito naquele quesito. No caso,
não que ela espalhasse as fofocas com ele, mas sim, porque ela adorava
ouvir tudo o que ele tinha para contar sobre a pequena cidade e além. —
Foi ótimo, mas fiquei dividida entre qual dos Torres eu ficaria, se tivesse a
chance...

— Eles tem o próprio charme, né? — minha mãe perguntou e Lisa


assentiu, enquanto meu pai a olhava inconformado. — O que? Eu e
Fabrício já fomos namorados e isso não é um segredo!

— Mentira! — Lisa praticamente gritou e eu ri abertamente. —


Como assim?

— Foi há muito tempo. — minha mãe deu de ombros, rindo do


olhar ciumento de meu pai, que já fazia bico. Eles não mudavam. — Mas
no fim, a gente descobriu que era só amigo, foi um namoro na

adolescência... antes da gente encontrar o amor verdadeiro — ela então


encarou meu pai e poderia jurar que ele sorria como se fosse o homem
mais feliz do mundo. Não duvidava que ele o fosse. — Agora, sem mais
enrolar... Júlio e Babi se mataram? Quer dizer, ela bateu nele?

— Por que? É um pré-requisito deles dois? — Lisa perguntou,


olhando-me de relance, e eu neguei com a cabeça. Mas ela me conhecia
bem o suficiente para saber que era impulsiva, e geralmente, o toque era o
meu jeito de expressão.

— Nunca vi alguém mais impaciente quanto ela e alguém tão


paciente quanto ele... opostos completos, sabe?

— Mamãe, ninguém quer saber sobre a sua torcida de anos sobre


eu Júlio. — revirei os olhos, mas a sensação que me atingiu não fora ruim.

Não como antes.

Naquele momento, eu e Júlio não éramos mais uma parte do


passado. A gente agora estava tentando... ser amigo de novo, certo? Falar
dele não me trazia dor, não mais. E a forma como tudo mudara, me
assustara por completo. Era aquele o poder dele sobre mim?

— Foi por isso que eu o fiz nos ajudar no aniversário de 12 dela, e


a partir dali, eles nunca mais se soltaram. — falou, como a boa cupido que
se orgulhava de ser. — Eu sabia que ele era o par perfeito para ela, no

momento em que ele em vez de brigar quando ela chamou sua atenção por
derrubar algo durante um almoço entre as famílias, ele apenas sorriu.
Sorriu e pareceu encantado.

— A gente tinha 11 anos, mamãe! — fiz um gesto com as mãos,

como se fosse impossível ela prever tudo aquilo.

— Pois eu compraria um livro com essa história. — Lisa falou,


surpreendendo-me por completo. Ela não era a maior adepta de romances
clichês, o que me fez arquear uma sobrancelha. — Todos nós temos nossos
segredos, Babi. — piscou um olho como quem diz “nunca disse que
odiava clichê, só vivo dizendo que podem ser demais”.

— E agora eles estão como? — o questionamento de minha mãe foi


para minha amiga, deixando-me perplexa.

— Gente, eu estou aqui! — fiz um sinal com a mão entre as duas,


as quais deram de ombros.

— Eles parecem bem, e eu acho que não vai demorar muito para se
agarrarem.

— Lisa! — falei, olhando-a incrédula.

— O que? — deu de ombros, sorrindo abertamente. — Eu estou


apenas sendo sincera.

— Eu acho que estão todos malucos. — fiz sinal com as mãos em

direção a ela e minha mãe, enquanto meu pai fazia sinal de rendição com
as dele. — Estamos apenas tentando voltar a ser amigos... passinhos de
bebê. — falei o certo e todos me encararam como quem diz: nem você
mesma acredita nisso. — E eu estou com sono! — bati uma palma e me

levantei. Fui até meus velhos, dando um beijo no rosto de cada um, e me
virei para minha amiga.

— Vou ficar aqui mais um pouco. — falou, e eu sorri, bagunçando


seu cabelo quando passei, e ouvindo um xingamento.

A cada degrau que subia, era como se minha cabeça voltasse a se


questionar sobre tudo. Do fato de que estava tentando ser amiga de Júlio
de novo. Do fato de que não conseguia esquecer a noite em que nos
reencontramos. Do fato de que ele não tinha ideia de que tinha estado com

ele antes daquilo, mas sem máscara. Do fato de que eu tinha uma dúvida
permanente e que não conseguia ignorar.

Não sabia se ficava feliz ou furiosa pela farmácia mais próxima


ficar há quilômetros dali. Ao mesmo tempo que tentei pensar sobre a
última vez que fiquei menstruada, e já fazia mais de um mês. Suspirei
profundamente, sabendo que as vezes acontecia aquilo. Eu atrasava, e era
normal.
Vi-me segurando contra o balcão da pia do banheiro e soltando o ar
com força. E se realmente tivesse uma vida ali? E por que não pegava o

carro do meu pai emprestado novamente e ia no centro? E por que não


falava com ninguém sobre? E por que estava com medo de fazer o teste e
descobrir que estava apenas fantasiando?

Tantos porquês, mas eu sabia bem... Eu sempre quis uma família.

Lembrava-me de aos dezoito, desejar uma família com ele. Ali, aos
vinte e oito, eu estava aterrorizada. Abri a torneira e molhei a mão direita,
levando-a até minha nuca e respirando profundamente. Minhas lembranças
me atingindo, e meu coração errando uma batida, por saber que precisava
tirar aquilo a limpo, mas que no dia seguinte, estaria frente a frente com
ele.

— A gente deveria fazer uma casa de madeira aqui. — falei,


girando ao redor do nosso lugar, enquanto pensava em como seria

incrível morar exatamente ali, na divisão entre as fazendas dos nossos


pais. O nosso lugar, se tornar o nosso lar.

— E construir uma família juntos aos quarenta? — provocou,


fazendo-me olhá-lo com escárnio. Ele não parava de falar sobre aquilo e
eu queria socar a sua cara. — Nunca pensei que sonhasse com uma
família, você é tão...
— Impulsiva para ser mãe? — rebati e ele negou de imediato.

— Livre. — olhei-o sem entender. — Não parece querer se prender

a ninguém. Digo, ninguém que seja como os seus namorados que não
combinam.

— Para de falar assim deles. — bati em seu peito e ele riu alto. —
Suas namoradas também não combinam em nada com você. Ou devo dizer

algo depois que Olívia pisou no pé de Sofia porque ela falou mal dos
cavalos? — ele riu ainda mais alto e o acompanhei.

Era aquilo.

Tudo parecia passar, menos nós dois. Desde os doze, era apenas a
gente, e a cada segundo, sabia que me marcava mais, porque eu não
conseguia parar de pensar, em como seria ter aqueles lábios como meus.
Em como seria de fato, ter uma vida com ele.

Parecia cedo para pensar aquilo. Pelo menos, aos dezessete, não

deveria estar tão apaixonada certo? Ou não, não sabia o que pensar ou
como controlar. Apenas aceitava o que ele poderia me dar, enquanto
guardava aquele sentimento e fingia que não entendia os olhares diferentes
que ele me destinava. Não poderia acreditar que um sonho adolescente
com meu melhor amigo, que gostaria que fosse meu amor, poderia ser real.

Neguei com a cabeça, voltando a realidade, e encarando meu


reflexo. Ele construíra uma cabana para gente, como a casa que um dia

pedi... E agora, a gente voltava a tentar ser amigo... Quando me dei conta,

minha mão estava sobre minha barriga e um medo descomunal tomou


conta do meu corpo.

E se estivesse apenas confundido tudo? Se estivesse deixando a


Babi adolescente tomar conta da Bárbara adulta que não pensava que

falaria com ele de novo?

Vi-me sentando no chão do banheiro e tentando encontrar alguma


explicação ou solução. Porém, depois de anos, com as coisas á claras, a
única confusão consistia em mim mesma, e no fato de que minha mão não
saía de minha barriga.

JÚLIO

— Está sorrindo tão bonito, meu menino. — minha mãe falou,


entrando no meu quarto e tocando meu rosto com carinho. Beijei sua
palma e ela me olhou com cuidado. — Ela faz toda diferença e falta, não
é?

Assenti, e sabia o quanto Bárbara também significava para minha

família.

— Vê-los longe doeu em todos nós. — admitiu, e desceu sua mão


para meu ombro. — Apenas tome cuidado com ela, e seja você... é nítido o
amor que sentem e o quanto precisam estar juntos.

— Acha que ela ainda me ama? — perguntei, e minha mãe sorriu


abertamente, como quem diz “não creio que está perguntando isso”.

Porém, não disse nada, apenas piscou um olho e deu um passo


atrás.

— Isso é algo que você tem que perguntar a ela, não acha? —
rebateu e eu me vi assentindo.

— Só não quero pressioná-la, mais do que imagino que já tenho


feito...

— Se tem uma coisa que sei sobre Bárbara, é que ela não faz nada
que não queira... ela te ignorou por dez anos, filho. Se ela não quisesse te
ouvir ou falar, ela ficaria mais dez.

— Tem razão. — ela sorriu, olhando-me como boa dona da razão


que era.

— Sempre tenho. — ouvi o barulho de batidas na porta, e ambos


olhamos.

Meu pai estava ali, encostado contra o batente e mais forte do que

nunca. Era por aquilo, que a doença dele, mesmo tendo aterrorizado a
todos nós no primeiro instante, no outro, nos uniu ainda mais. Todos
juntos, e aquilo não parecia o real monstro que era.

— Estou feliz por você, meu filho. — ele deu passos calmos até

nós, e me segurei para não ir até ele e o ajudar. — Bárbara é parte da nossa
família, e nunca deixou de o fazer. Mas ver vocês dois juntos... é algo que
esse velho homem sempre desejou.

— Estamos tentando ser amigos... — cortei-o e vi o olhar que


trocou com minha mãe, como se eles soubessem de muito mais. —
Agradeço a torcida, no entanto.

— Apenas cuide dela, e deixe alguém cuidar de você... — segurou


minha nuca e encostou nossas testas, fazendo-me sorrir.

— Obrigado, papai.

Os dois logo saíram, e eu fiquei ali, com o coração mais quente e


era como se finalmente pudesse ser eu mesmo. Meus pensamentos não
mais perdidos, mas apenas nela. Sabia que meu sono não me encontraria,
não com tudo o que acontecera naquele dia. Para ser mais exato, naqueles
últimos dias.
Resolvi descer até a sala de estar, e assim que cheguei lá, encontrei
Bruno, que brincava com Dani, e me lembrei de que ainda não tinha ideia

se ele sabia que Babi descobrira sobre tudo ou não.

— Contei a ele. — Olívia falou, como se lesse a pergunta em


minha mente. — Mas foi assim que ele chegou. — complementou,
esclarecendo o fato de Bruno não ter vindo ao almoço, então aquela não

tinha sido a razão?

— Fiquei preso conversando com uma amiga, e almoçamos juntos.


— meu irmão comentou despreocupado, colocando Dani em suas costas.
— E eu estou muito feliz, de verdade, por saber que estão voltando a se
falar... e espero, que me deem mais sobrinhos...

— Bruno. — falei, indo para perto dele, e por mais que seu tom
fosse leve e calmo, sabia que meu irmão ainda tinha algo o preocupando.
Eu não tinha ideia do quanto o sentimento que ele nutria por Bárbara,

ainda poderia ser real. — Sabe que se quiser...

— Nem vem! — bateu em minha mão, e Daniela soltou um


gritinho, agarrando-se em seu pescoço e rindo. — Quero os dois felizes, e
espero que Babi não acabe com a minha bunda quando conversarmos.

Acabei sorrindo, porque todos nós sabíamos o quanto ela era


explosiva e impulsiva. E pela primeira vez, em anos, eu não sentia culpa
por falar sobre ela com Bruno. Era como se as coisas finalmente
estivessem acontecendo... e no tempo certo.

E em um tempo, que eu poderia lutar pelo amor dela.

E amanhã seria um novo dia, um novo dia para lutar.


CAPÍTULO XV

“Quanto mais você fala, menos eu sei

Aonde quer que você vagueie, eu seguirei

Estou implorando para você pegar minha mão"[19]

JÚLIO

Assustando-me por completo, no caminho de carro, até o jatinho


particular dos Reis, em uma cidade vizinha, Bárbara ficou em silêncio até
fechar os olhos e parecer cair em sono profundo. Notei que ela descansava
com a cabeça para trás no banco, claramente exausta, como se não tivesse
dormido a noite toda. Não sabia se ela fingia estar dormindo, ou se minha
suspeita estava certa.

— Quase tive que jogar água nela, para que acordasse. — Lisa

falou baixo, olhando-me do banco do carona. — Acho melhor a gente


deixar ela dormir, já que será corrido na cidade.

Vi que os fios de cabelo voaram para o rosto de Bárbara, e


comprovaram que ela estava de fato em sono profundo. Ela odiava

qualquer coisa em seu rosto, que pudesse incomodá-la. Lembrava-me de


como odiava usar os óculos quando éramos mais novos. Ela ainda era
assim?

Sob o olhar de Lisa, levei minha mão até o rosto de Bárbara e


retirei os fios com cuidado, colocando-os com mais cuidado ainda atrás da
orelha.

— Ela é importante, Júlio. Mas eu acho que já sabe disso... — olhei


para Lisa e assenti, a qual sorriu em minha direção. Vi-a trocar um longo

olhar com Igor, que cantava baixinho com a canção que soava ainda mais
baixo por todo o carro.

Minutos depois, nós já estacionamos, e notei que Bárbara sequer se


mexeu. Igor foi o primeiro a descer, e notei que correu para abrir a porta
para Lisa, a qual segurou um sorriso.

— Sempre sendo o cavalheiro que eu não pedi. — ela o provocou e


notei o olhar de devoção que ele tinha por ela.

Quem via Igor Reis ali, daquela forma, não tinha ideia de que

meses atrás, ele estava cada noite com alguém diferente. A prova de que
quando o amor nos acertava, nos derrubava na lona.

Desci do carro, enquanto vi alguns funcionários de Igor se


aproximarem, para levar as malas. Abri a porta do lado de Bárbara, e

toquei seu rosto com cuidado.

— Ei, carinho. — chamei, e ela piscou algumas vezes, mas não


abriu os belos olhos. Levei a mão até sua bolsa, a qual ela deixara cair do
lado, e peguei, colocando ao meu redor. — Vou te colocar no meu colo,
para pegarmos o avião, ok? — perguntei, e poderia jurar que ela estava
dividida em um sonho e a realidade.

— Se quiser, ainda posso pegar a água que trouxe e jogar nela. —


Lisa sugeriu, sorrindo malevolamente e eu neguei.

Peguei Bárbara com cuidado, e no segundo seguinte, ela encostou a


cabeça contra meu peito, como se fosse o lugar mais confortável do
mundo.

— Tá tudo bem, pontinho. — ela sussurrou e parecia imersa no


sonho, enquanto as mãos estava grudadas uma na outra. Caminhei com
cuidado, levando-a até o avião, e colocando-a no seu lugar, ao meu lado.
Assim que fui passar o cinto nela, seus olhos castanho claros se
abriram e ela piscou algumas vezes, como se acostumando com a luz e

tentando entender onde estava.

— Mas eu... — começou a dizer e seu olhar encontrou o meu. —


Quanto tempo eu dormi? E como cheguei aqui?

— Como um belo mocinho, ele te trouxe nos braços. — a voz de

Lisa soou do lado esquerdo e Bárbara me olhou como se perguntasse se era


verdade.

— Você não acordou por nada e não quis te assustar. — falei, e ela
assentiu, como se pensando em algo, e notei a mão sobre a barriga, como
se estivesse com fome, ou algo assim. — Precisa de algo? — indaguei,
sentando-me ao seu lado, e ela encostou a cabeça contra o assento.

— A minha dignidade de volta. — resmungou, fazendo-me rir e


negar com a cabeça.

Passou as mãos pelos cabelos, colocando-os atrás da orelha, e eu


fiquei ali, perdido em cada detalhe dela. Não conseguia tirar os olhos, nem
mesmo, fingir que não a observava. Quando fomos avisados sobre a
decolagem, vi-me segurando firme contra o assento e finalmente desviando
meu olhar dela. Voar não era algo que me acostumaria nunca. Ainda era
um teste contra o medo de altura.
Assim que agarrei mais firme o braço do assento, senti uma mão
delicada sobre a minha, apertando levemente. O simples toque dela me fez

relaxar um pouco mais, e quando o avião estabilizou e abri os olhos, ela


sorria.

— Me lembrou de quando a gente voou pela primeira vez, em um


ano novo... achei que você fosse ter um ataque cardíaco. — provocou e eu

revirei os olhos, mas não afastei minha mão da dela. Eu estava


aproveitando cada brecha que ela me dava.

— Continuo tendo um minimedo toda vez, mas... não mudei quase


nada, em todo o resto.

— Sério? — indagou, e notei-a engolir em seco, olhando-me


profundamente. — Achei que eu tinha mudado muito, muito mesmo.. —
sua voz foi quase um sussurro. — Mas quando olho para você, é como
ficar presa no tempo.

— Espero que não seja ruim. — falei, vendo-a desviar o olhar.

— Só é diferente de como me sinto com os outros. — assumiu, e


pareceu que não era algo que gostaria de dizer em voz alta, pela careta que
fez logo em seguida. — Continuo pensando alto demais.

— Sempre amei esse lado seu. — assumi e seus olhos voltaram


para os meus. — Que pensa alto, fala de uma vez e não enrola. Eu sou o
oposto... — dei de ombros. — Talvez por isso eu seja tão...

— Sem graça? — era claro o tom de provocação em sua voz. — O

que? — perguntou, fingindo-se de inocente, e sua mão saiu da minha,


quando a levou para os cabelos, prendendo-os no alto da cabeça em um
coque.

— Você está linda. — soltei, sem conseguir mais segurar, e ela me

encarou depois de respirar profundamente. — O que...

— Você disse isso, no começo do ano, quando a gente se viu... —


suspirou pesadamente. — Você não estava consciente.

— Como assim? — minha pergunta saiu perdida, e ela negou com


a cabeça.

— Podemos falar disso mais tarde. — vi-me assentindo. — Eu


prometo que a gente fala sobre isso, ok?

— Ok.

Não entendi absolutamente nada, mas fiquei ali, apenas tentando


lembrar de como poderia ter estado com ela, sem que me lembrasse.
Respirei profundamente, buscando na minha memória, mas nada veio, a
não ser, o sonho que tive com ela, que pareceu tão real, no dia em que
descobrimos sobre a doença de meu pai.

— Está fritando seus miolos. — sua voz me fez parar, e a encarei.


— Vai sobreviver até quando eu te contar.

— Eu espero que sim. — ela sorriu, e eu me vi não acreditando,

que depois de tanto tempo, era tão simples.

Mesmo que não conseguisse evitar o desejo que me acertava, a


cada pequeno contorno dela e a forma como ela me olhava, uma
recordação de como seu gosto e toque me enlouqueciam. Mas além do

desejo, era ela, minha melhor amiga, ali, ao meu lado. E eu torcia, para que
pudesse também voltar a ser o melhor amigo dela, assim como, queria
mais. Sempre mais.
CAPÍTULO XVI

“Odeio acidentes

Exceto quando nós fomos de ''amigos'' pra isso

Uhum, é isso aí

Querido, você é a pessoa que eu quero

Anéis de papéis e porta-retratos e sonhos impróprios"[20]

BABI

Olhei para o teste de gravidez em minha mão e mal sabia como se


respirava. Não consegui falar sobre aquilo. Não consegui pensar direito
sobre aquilo. Aqueles últimos dias tinham sido demais e eu não sabia mais
para onde correr. Não depois de ter um sonho com uma menina, que corria

ao meu redor e me chamava de mamãe. Não depois de acordar nos braços


de Júlio e lembrar que aquela menina, o chamou de papai. E nós a

chamávamos de pontinho...

— Ahhhh! — falei com raiva, e joguei o teste dentro da bolsa, sem


conseguir pensar direito.

Lisa teve que ir trabalhar, e eu estava presa no nosso apartamento,


que fora minha casa por um longo tempo, mas que agora, seria apenas um
lugar para eu poder visitar minha melhor amiga.

Vi-me então apenas parando de pensar e saí do apartamento,


pedindo um Uber no caminho, e sabendo que meu destino não deveria ser
aquele, mas de repente, o era. A cada minuto que se passava, eu ficava
mais impaciente e meu coração acelerava. Quando o carro finalmente
parou e eu dei de cara com o logo da TORRES Tecnologia, sabia que

estava deixando minha impulsividade falar.

Porém, aquela era eu, e precisava daquilo.

Fui até a recepção e falei meu nome, quando pensei em dizer o


nome de Júlio e explicar da visita não marcada, o rapaz sorriu para mim, e
apenas me direcionou ao que parecia ser um elevador privativo.

— Mas eu nem disse para onde iria ou quem. — falei, e ele pareceu
olhar algo em seu tablet.

— O senhor Torres deixou sua passagem livre pela empresa... ao

que consta, desde a data da abertura. — abri a boca, sem saber como ainda
me surpreendia com aquilo.

Correndo de mim como o diabo corria da cruz, ao mesmo tempo


que, parecia deixar aberto o caminho direto para ele. O que eu faria com

Júlio Torres? O abraçaria? O encheria de beijos? O socaria por esconder


tanta coisa?

E se agora fosse eu que estivesse escondendo?

Minha mão foi diretamente para a barriga e vi-me agradecendo ao


rapaz, quando o elevador se abriu e eu entraria. Porém, paralisei diante da
cena de Júlio, conversando animosamente com uma mulher que eu não
conhecia. Porém, eu conhecia o olhar que ela tinha para com ele.

Qual é, Babi? Ele é um homem lindo, gostoso e solteiro.

E vocês são só amigos... Quis bater na minha própria consciência,


enquanto esperava ele me notar ali. Quando o fez, pareceu completamente
em choque por um instante, e vi-o me olhar de cima abaixo. Meu coração
deu um pulo, porque acabei fazendo o mesmo, e aquele homem, em um
terno sob medida, caindo como uma luva, e o colar que eu arrebentei de
seu pescoço, de volta ao dono, fez meu corpo todo ferver.
— Obrigado, senhorita Alencar. — ele falou para a mulher, que
deu um beijo demorado em seu rosto, antes de sair sem sequer destinar um

olhar para mim. Ok, então! — Bárbara! — meu nome foi dito com clara
surpresa e eu quase me derreti, porque me vi tão atraída, que era
impossível não querer pular sobre ele.

Ele agiu como meu melhor amigo naquela manhã, mas ali, eu não

conseguia enxergar só aquilo. Ele era bonito demais. A gente tinha história
demais. E aquilo me deixava à beira de explodir.

— Preciso falar com você. — soltei de uma vez, e ele assentiu para
o rapaz que me trouxe até ali, fazendo um sinal com o braço, para que o
acompanhasse.

Assim que o elevador se fechou, vi-me encostando contra a parede


de aço e as lembranças daquela noite me acertaram. Olhei para o espelho
da porta, e o olhar de Júlio estava sobre mim, como se me inspecionando e

pensasse exatamente o mesmo que eu.

— O que foi? — perguntei, tentando quebrar a tensão que parecia


poder ser cortada por uma faca, e notei o sorriso que se emoldurou no belo
rosto.

— Só feliz em te ver aqui. — respondeu, e eu engoli em seco, sem


saber ao certo o que fazer. O que de fato eu fazia ali?
Quando o elevador parou e finalmente chegamos ao que parecia ser
o andar que ele tinha uma sala, apenas o segui e tentei lembrar o que me

levara até ali. Porém, a cada segundo em que seguia seus passos, eu me
perdia das palavras. O que eu poderia dizer?

— Então? — ele perguntou, dando a volta em uma enorme mesa de


vidro e se sentando em uma cadeira que gritava “sou o CEO”. E ele era tão

engomadinho quanto eu costumava xingá-lo para minha amiga, mesmo ela


não tendo ideia antes, de quem ele era. Eu não tinha ideia de como era a
versão CEO dele. Mas era quente, cada pequeno detalhe. — Bárbara?

“Então, a gente tá tentando voltar a ser amigo, mas eu quero foder


com você a cada minuto e acho que estou grávida.” De repente, apenas
guardei aquelas palavras e suspirei profundamente. Não poderia
descarregar tudo e depois culpar minha impulsividade. Apenas... O que que
poderia fazer? Eu sequer sabia o que ele sentia. Ou melhor, não sabia se

podia confiar no que ele dizia sentir.

Nós dois poderia apenas ser errado... e talvez não fosse para
acontecer.

— Desculpe, eu não devia ter vindo. — assumi, sentando na


cadeira que ele me indicara. Seu olhar mudou para preocupação e me vi
pensando em como estava uma bagunça. Mas ainda assim, tinha coisas a
dizer para ele. E precisava, mais do que nunca, entender o que sentia.
Era amizade? Era amor? Era saudade? Era tesão?

— É sobre o que deixou em aberto no avião? — indagou, e aquele

foi meu escape perfeito. — Sabe que pode confiar qualquer coisa a mim,
certo?

Olhei-o e a minha resposta era simples: eu sabia?

— Quando descobriram que seu pai estava doente, Bruno me

ligou... Ela me contou tudo e me disse que você tinha sumido para algum
lugar e... — suspirei profundamente. — Eu apenas não pensei, fui até o
endereço que tinha do seu apartamento, sem ter ideia se morava lá ou não,
e... te esperei lá. Na época, não entendi porque meu nome estava liberado
para subir no seu prédio, mas agora, sei que parece que sempre deixou as
coisas ali para mim, como se me esperasse.

Ele assentiu, como se pensasse sobre tudo aquilo.

— Você apareceu na madrugada e cheirando a bebida,

completamente irracional. A primeira coisa que disse foi que eu estava


linda. — sorri, e respirei fundo. — Depois de tanto tempo longe, eu só quis
poder estar ali com você. Então, te ajudei a entrar, a tomar banho e te
coloquei para dormir. — as lembranças daquela noite voltando com força.
— Não sabia se você lembraria ou não, mas quando Bruno apareceu de
manhã, obriguei-o a prometer que não contaria que me viu saindo dali e
ficasse com você. Caso você perguntasse, que ele fingisse que não sabia de
nada.

— Então não foi um sonho. — Júlio falou, e passou as mãos pelos


cabelos, como se completamente confuso. Vi-me levantando e indo até ele,
do outro lado da mesa, e me encostei contra o tampo, bem próxima. — Foi
tão real, mais do que os outros sonhos que tive com você durante esses

anos todos... — ele então me olhou e sua mão veio para a minha, com o
cuidado de sempre. — Obrigado por estar lá por mim. — eu sorri, sem
saber o que fazer, e uma lágrima desceu. — O que foi?

— Eu só... Só não sei o que estamos fazendo. — confessei, e toda


minha guarda desceu. — É como se os últimos tempos tivessem me
engolido, e a cada segundo surge algo... Eu não sei.

— Por que não fica comigo hoje? — indagou e eu o encarei sem


entender. — Digo, para passarmos um tempo juntos, entender como nos

sentirmos, e sermos só a gente.

“Eu e você, nosso mundinho particular e muita comida, é tudo o


que eu preciso.” era como se pudesse ouvir a voz dele, não tão grossa
quanto agora, me dizendo.

Levei uma mão até seu rosto e apenas assenti. Não podia mais lutar
contra o que sentia. Só poderia entender o que sentia, sentindo. Era aquilo.
Fazer o que podia no agora, e entender o que ainda viria.

— Preciso resolver algo na minha antiga empresa, mas estou livre à

noite. — comentei e ele me encarou claramente curioso. — Acabei


deixando a empresa, para assumir a fazenda. Sabia que um dia acabaria
optando por um, e minha família sempre ganharia. Além de que, sinto falta
daquela terra.

— Somos dois. — assumiu, e eu o olhei, arqueando a sobrancelha.


— O que?

— Essa pose de CEO engomadinho. — revirei os olhos, e ele riu


abertamente. — Eu te chamava assim para Lisa, quando estava com raiva.
— olhou-me claramente interessado e dei de ombros. — Ela ficava me
atazanando, querendo saber quem era o cara que minha mãe tanta falava...
Aí, quando me estressava, falava sobre você assim.

— Se for o CEO dos livros que você lê. Quer dizer, pelo menos

lia... — olhei-o incrédula, o qual trouxe sua cadeira para mais perto,
fazendo-me sentar na mesa, e meus saltos pararam em sua calça
perfeitamente delineada no corpo. Não estávamos fazendo aquele
joguinho, estávamos? — Não quer tirar? — indagou, e antes que
respondesse, vi-o tirando meus sapatos com cuidado, e depositando meus
pés sobre as coxas, que me recordava bem daquela noite, eram torneadas e
na medida que me faziam babar. Literalmente.
O toque da sua mão contra meus pés era o oposto do salto, mesmo
que ele fosse confortável. O toque de Júlio acalmava meu corpo todo, ao

mesmo tempo que, me acendia.

— O que diabos está fazendo? — indaguei baixo, notando o olhar


dele mudar, e sabia que eu não estava diferente. — Não vamos transar de
novo, Júlio. — alertei-o, mas foi como se dissesse aquilo para mim mesma.

Ele arqueou uma sobrancelha e eu conhecia aquela expressão de quem diz:


“tem certeza?”. Fui bater contra seu peito, mas acabei por me
desequilibrar e cair sobre seu colo. Ele riu alto, ajeitando-me sobre si, e eu
revirei os olhos, batendo contra seu peito. — Não pense que vou cair nos
seus joguinhos. — alertei-o, e me certifiquei de ficar sentada no braço da
cadeira, longe do seu colo.

— Nunca joguei com você, Bárbara. — tocou meu cabelo com


carinho, tirando os fios do meu rosto, os quais eu já estava correndo para

tirar. — E eu sei que não vamos transar de novo... aliás, a gente nunca
transou. — revirei os olhos, e ele segurou meu rosto com cuidado,
olhando-me profundamente. — Gosto de me lembrar daquela noite, mas
nada se compararia a te ter, sabendo que é você. — de repente, a conversa
mudava por completo, e notei a forma intensa como me encarava. —
Desculpe, não quero que pense que...

— Pode ser sincero comigo. — falei, e tentei não pensar muito nas
suas palavras. — Afinal, somos eu e você, né?

Ele assentiu, e de repente, meu coração falhou uma batida.

Lembrei-me do teste de gravidez na minha bolsa, e de tudo que estava me


questionando antes de chegar ali. Ele me inebriava tanto, a ponto de eu
esquecer que poderia estar grávida. Suspirei fundo, e sorri, tentando não
pensar muito.

Precisava tomar coragem para fazer o teste, mas não ali. E não
tinha ideia do que esperar do homem à minha frente, que me olhava como
se fosse sua deusa particular e seu mundo todo. E por um segundo, apenas
não questionei, aceitei que talvez, eu fosse realmente amada por ele.
CAPÍTULO XVII

“Me beije uma vez

Pois você sabe que eu tive uma noite longa (Oh)

Me beije duas vezes, pois vai ficar tudo bem (Uh)

Três vezes, pois eu estive esperando minha vida toda "[21]

BABI

— O que você acha? — perguntei a Lisa, enquanto ela penteava o


cabelo, sentada no sofá e parecendo pensar sobre tudo o que contei.

— Como você ainda não teve coragem de fazer o teste? —


indagou, olhando-me como se seu fosse um ser extraterrestre. — Eu já
teria feito uns vinte, só para ter certeza. — riu de lado e me encarou. —

Mas é sério, parece que você tá mais com medo de estar próxima dele e

ceder de fato, do que de estar grávida.

Respirei profundamente, e assenti, sentando-me no tapete a sua


frente. Já era noite, e eu tinha feito tudo o que precisava. Depois de passar
um tempo com Júlio naquela tarde, e perceber o quanto eu ainda o amava,

as coisas apenas pioraram em minha mente. Porque eu não conseguia


desapegar do sentimento de posse, de ter e de querer. Eu já fora
apaixonada pelo meu melhor amigo, e o fato de que aquele amor
romântico não morreu, me assustava.

Tudo desandou quando misturamos as coisas anos atrás, e eu não


queria passar por aquilo novamente. Não suportaria perdê-lo de novo, e
quando o encarava, era um reflexo. Sabia que ele também temia aquilo, e a
cada olhar, risada ou palavra que ele me direcionou, me mostrava o quanto

estava exposto. A questão era: a gente não poderia realmente só ser amigo
e tudo ficar bem?

— Por que não deixa acontecer? — a pergunta de Lisa me trouxe


da realidade, e ela soltou a escova de cabelo, puxando minha mão para o
seu colo. — Você pensa demais, Babi. Sempre protegeu seu coração, e o
que aconteceu?

— Foi quebrado? — indaguei, e ela assentiu. — Não quer dizer que


se apenas agir por impulsividade, não vai acontecer de novo.

— Mas quer dizer que você quer. Admita que o ama, e que isso não

vai mudar... Se ele ousar te machucar de novo, eu vendo a minha coleção


de bolsas de marca. Eu juro!

— Você tem uma bolsa de marca, Lisa. — ela riu comigo e


assentiu.

— Esse é o ponto! — apertou minhas mãos com carinho. — Ele te


olha como se você fosse a coisa mais preciosa da vida, como se fosse uma
deusa... Eu conheço aquele olhar, Babi. E você também.

Pisquei algumas vezes, absorvendo suas palavras, e tentando minar


minhas inseguranças. Eu tinha razão para tê-las. Dez anos de razões para
não querer estar com ele. Dez anos de convicções jogadas por terra em
apenas alguns dias. Dez anos que pareciam absolutamente nada quando
estava próxima a ele. Dez anos de um sentimento que não foi embora.

— O olhar dos meus pais? — indaguei, e ela assentiu, como se me


lesse perfeitamente. — Queria tanto apenas querer e ter, e não ficar
pensando em como isso pode me machucar, ou no que isso vai resultar.

— Por que não começa apenas indo no apartamento dele, e


desejando boa noite? — Lisa incentivou e eu a encarei com uma careta. —
Sem choro nem vela, vamos mexer essa raba, que eu te deixo lá. E a
qualquer sinal de algo que você decida que não quer mais, me manda uma

mensagem, liga, que eu vou correndo.

— Sabe que eu sinto sua falta todo dia, não é? — indaguei, e notei
o carinho em seu olhar, e a forma como a gente se completava.

Eu não era boa em fazermos amigos íntimos. Eu era cercada de


vários, no entanto, mas confiava em quase ninguém. Confiar em Lisa foi

tão fácil, que a gente dividiu a vida. Era estranho não chamar mais ali de
lar, assim como, não a ver todos os dias.

— Sei que se tentar mudar de assunto, para me amolecer, eu vou


ligar para o Torres, e arrastar a bunda dele para cá. — provocou, puxando-
me ao seu levantar, e me abraçando. — Eu te amo, e só quero sua
felicidade, nem que tenha que dirigir para isso.

Ri alto, pois sabia o quanto ela odiava estacionar o carro.

— Lado positivo é que vou te deixar na frente do prédio e nem vou

me matar na baliza, já saio no segundo seguinte. — piscou um olho e me


puxou pela mão. — Vou só trocar de roupa e a gente já vai.

— Ok. — segui-a, e me joguei contra a sua cama, enquanto Lisa


tirava tudo do armário.

Levei a mão para minha barriga, e peguei o celular que deixara


dentro do bolso da frente do vestido. Uma mensagem de Júlio piscou na
tela, como se em verdadeira sintonia, e era um fato que nenhum de nós
trocou o número de telefone durante todos aqueles anos. No caso, o

número dele estava denominado como “nunca pense em atender”, o que o


fez rir mais cedo, quando lhe mostrei, ao mesmo tempo que notei o seu
olhar vacilar. Ele se culpava por aquilo. Se culpava por ter escolhido por
mim.

“Está tudo bem se não puder vir, mas... comprei o seu tipo de
lasanha favorito. Só no caso de precisar de algum incentivo.”

Ri da mensagem, e entendi que não podia mais me apegar a


covardia, e muito menos, deixar passar aquele momento. Precisava viver, e
deixar acontecer. E não poderia mais adiar a verdade sobre aquela noite.
Levei a mão a minha barriga, antes de responder que estava indo, e me
sentei na cama.

— Ele te faz sorrir como uma adolescente, e olha, que eu não te

conheci adolescente.

Peguei o travesseiro ao meu lado e joguei nela, a qual sorria tão


largo, que parecia pronta para me entregar a um casamento.

— Eu não vou nem perguntar se quer se trocar ou se arrumar,


porque estamos indo agora. — pegou as chaves do carro sobre a mesa de
cabeceira e fez um sinal com a cabeça. — Antes que a dona insegurança
que baixou em você, volte com força. — me pegou pelas mãos, e me
puxou, fazendo-me segui-la em direção a saída do apartamento.

Consegui pegar minha bolsa no último segundo, enquanto Lisa me


empurrava, e na realidade, eu não estava nervosa sobre a minha aparência.
Era muito mais do que aquilo. Era muito maior do que estar pronta para
encontrar o cara que eu tanto sonhava. Era o fato de que eu me sentia

exposta, dos pés até o último fio de cabelo, porque não era qualquer cara.
Era Júlio.

Era a pessoa que me conhecia melhor do que ninguém. Sabia das


minhas falhas, defeitos, acertos e qualidades. A gente compartilhou muito
mais do que a adolescência, a gente compartilhou sonhos e uma vida nos
anos que estivemos lado a lado. Dez anos depois, e por mais mudados que
estivéssemos, os momentos que tivemos nos últimos dias, não silenciaram
ou acalmaram meu coração, eles me expuseram ainda mais.

Eu ainda o amava.

Eu ainda o queria.

E eu sabia que não podia mais fugir.


JÚLIO

Eu não conseguia tirar aquela tarde da minha mente. A cada


segundo, eu revivia a risada, a expressão, o olhar, os trejeitos... Tudo o que
envolvia Bárbara. Notei também a forma como ela ainda parecia se conter

e temer estar comigo. Não a julgava, porque sabia o quanto aquele tempo
tinha nos afastado e nos machucado.

Olhei-me no espelho e era estranho me sentir tão à vontade comigo


mesmo. Porque era ela que viria ali, e por mais que meu coração estivesse
martelando contra o peito, de ansiedade para vê-la. Ainda assim, era a
minha melhor amiga. Ela sabia de cada detalhe meu, e me dera uma
segunda chance. Uma chance que eu não desperdiçaria nem por um
segundo.

Eu seria o melhor amigo, se ela quisesse.

Eu seria o seu amante, se ela desejasse.

Eu seria o seu amor, se ainda tivesse chance.

Seria o que ela estivesse disposta a me dar. E tudo de mim, sabia


que estava disposto a ser apenas dela. Porque aqueles dez anos não foram
em busca de um novo amor. Foram anos em que tentei me convencer de
que o amor não era para mim, mas nem por um segundo, a não ser na noite
que passamos juntos, imaginei que poderia amar outra pessoa. E o destino
riu e me deu a resposta: não pode mesmo.

Ainda tinha muito para acontecer e trilhar. Passinhos de bebê,


como ela mesmo dissera. Suspirei fundo, e meu corpo todo tremeu com as
batidas na porta. Assim como sempre deixara o caminho livre para ela,
mesmo que soubesse que não poderia estar lá, Bárbara sempre esteve na

lista de pessoas que poderiam me visitar sem precisar anunciar. E pela


primeira vez, a espera fazia sentido. Não era apenas eu, uma taça de vinho
e a vontade angustiante de estar com ela, e mais uma vez, não poder.

Eu não sabia de fato se podia, ou se merecia, contudo, faria de tudo


para que de alguma forma, pudesse ser digno daquilo. No momento que
abri a porta, e meus olhos bateram no castanho claro dos dela, meu corpo
todo a reconheceu, e era como se eu fosse puxado em sua direção. Cada
pequeno detalhe dela a um passo de mim, e eu tive que sorrir, enquanto

cada parte do meu ser, implorava internamente para que me aproximasse.

Era ela, o meu amor.

Era ela, a minha melhor amiga.

Era ela, como ela diria anos atrás, a quem eu pertencia.

Abri a boca para dizer “boa noite” enquanto não conseguia tirar o
sorriso do rosto. Porém, como nada com Bárbara era como o esperado, o
meu sorriso sumiu no segundo seguinte. Isso porque, os lábios dela se

encontraram com os meus.


CAPÍTULO XVIII

“Você segurou as minhas mão na rua

Andou comigo de volta ao apartamento

Anos atrás, nós estávamos lá dentro

Descalços na cozinha

Novos começos sagrados

Se tornaram minha religião, escute”[22]

BABI

Quando a porta se abriu, o olhar que me recebeu, me fez entender


que eu não conseguiria fugir, nem mesmo se tentasse. Ainda não entendia
por completo como ele conseguiu nos afastar daquela forma, mas estava
ali, justamente, porque queria tentar. Tentar com ele.

O mesmo arrepio me envolveu, quando seu olhar desceu por todo


meu corpo, e logo o castanho escuro parou no claro do meu. Não pude
evitar fazer a mesma análise. Cada grama do meu corpo implorando para
que eu me aproximasse do dele. Do calor. Do abraço. Do aconchego.

Depois de tanto tempo, e tantos casos perdidos de amor, era como


voltar para casa e encontrar o que eu já tinha há muito tempo – o amor para
a minha vida. E a forma como vi o mesmo nele, me fez jogar todo o pensar
para o fundo da gaveta.

Antes que pudesse evitar ou correr, vi-me indo para seus braços, e
meus lábios encontraram os seus. Diferente do nosso primeiro beijo.
Diferente daquela noite. Éramos nós dois, cientes do que cada um sentia,
cada mínima parte. Porque mesmo que eu não tivesse dito em voz alta,

Júlio me conhecia bem o suficiente para saber, para conseguir me ler.

O toque dos seus lábios nos meus me queimou, e não me


surpreendia como todo meu corpo buscou mais do dele, e agradecendo
exponencialmente quando ele me levantou em seu colo, e me acomodou
perfeitamente nos braços. Ouvi o barulho da porta se fechando, e meu
corpo encontrando a madeira. Um gemido saiu sem que eu pudesse evitar
quando seus dentes roçaram meus lábios, e busquei o ar que sequer me
lembrei de precisar, quando ficamos a apenas um fio de cabelo de distância

um do outro.

— Bárbara... — sua voz tão baixa e suplicante como naquela noite,


fazendo todo meu corpo querer implorar por mais de cada parte do seu. —
Eu...

Ele se calou, enquanto uma de minhas mãos foi para o seu pescoço,

e a outra se depositava contra o rosto. Notei o desejo claro em seu olhar,


assim como, podia senti-lo contra meu corpo. Contudo, existia uma
fragilidade ali, que eu interpretei perfeitamente.

“Eu aceito o que quiser me dar.”

Poderia até ser uma sentença bonita, se não fosse o peso o qual ela
carregava. As palavras dele, suplicantes para que eu lhe desse o mínimo.
Contudo, eu nunca seria uma pessoa que amaria o mínimo, ou retribuiria
aquilo. E falava por nós, quando sabíamos que o amor se igualava, ao

menos, o amor verdadeiro. Nada de partes. Nada de metades. Nada de


quase. Era tudo. Era cada pequeno detalhe.

Suspirei profundamente, e me vi descendo do seu colo, sabendo


que por mais que o desejasse, não poderia usar aquilo, enquanto não
estivéssemos na mesma página. E ele precisava entender de fato o que eu
queria dar. E não se assemelhava em nada com uma parte de mim.
— E eu disse que não íamos transar... — falei, e ri de mim mesma,
vendo um lindo sorriso surgir em seu rosto. — Não consigo conter minhas

mãos, no entanto.

Toquei a dele, agora parada ao lado da minha cabeça, e as


entrelacei. Era claro o desejo mútuo. A forma como nossos corpos
gritavam. O jeito como parecíamos tão certos. Como naquela noite,

vendados para a verdade. Como naquela ali, vendo claramente.

— Não vou negar seus beijos. — ele provocou, e me deu um leve


beijo na testa, fazendo-me adorar aquele leve carinho. — Nossa lasanha
está no forno, já pronta. Eu tenho alguns vinhos, mas não sabia qual
escolheria... Então...

Ele se afastou, e seguiu em direção ao que imaginei ser a cozinha.


Não consegui inspecionar o apartamento de primeiro momento, porque
minha mente girou sobre o fato de que não poderia degustar um bom

vinho. Não com a dúvida ainda em mente. Não com a pergunta que eu
necessitava de resposta.

Segui-o, e o vi colocar algumas garrafas sobre o balcão, o que me


fez rir, e voltar ao exato momento, quando ele fez aquilo, no meu
aniversário de dezessete, colocando os cds que encontrou da minha cantora
favorita – Taylor Swift – e disse que não conseguiu escolher apenas um
para me presentear. Eram versões deluxe e importadas, e fiquei
completamente incrédula com a decisão nada responsável que ele tomou.

Júlio também não sabia amar pela metade, e eu sempre soube.

— Eu não sei se prefere tinto, branco, verde... — seu olhar parou


no meu, como se fosse ainda um menino, e eu fui até ele, tomando
coragem de falar sobre o que tanto adiei.

Quando me encostei contra o balcão e levei uma mão a sua boca,

ele se calou, como se me estudasse com cuidado. Olhos castanhos


avaliadores, e que eu desejei tanto de volta nos meus.

— Não quis perguntar antes, porque eu achei que sabia exatamente


porque as coisas ainda estavam um poucos estranhas entre nós, mas... Por
que parece que tem algo para me dizer?

— Eu te amo. — confessei, e uma lágrima desceu, sentindo o peso


daquelas palavras, que pesavam no meu peito. — Eu te amo como antes,
talvez até mais... — minha mão passou por sua bochecha e notei seus olhos

marejados. — Queria dizer que vamos fazer isso devagar, e que vamos
apenas ser amigos até estragarmos tudo, mas... Eu não quero que estrague.
Eu não quero ser só sua melhor amiga.

— Bárbara... — meu nome soou baixo, e abri os olhos, que sequer


notei ter fechado.

— Me conhece melhor do que ninguém, e sei que está disposto a


me dar o que eu quiser. — ele me olhou atentamente, assentindo. —
Pessoas como nós não amam apenas a borda, Júlio. A gente ama até o mais

profundo, se joga de cabeça e não tem nenhuma corda para se segurar, a


não ser, o nosso próprio coração.

Ele encostou a testa na minha, e respirei fundo.

— Eu te quero inteiro, da forma como vejo que você me quer

também. — fui franca, e fora como se meu coração relaxasse, mesmo que
batesse freneticamente, pelo fato de que estava à frente do real dono dele.
Sempre ele.

Suas mãos vieram para meu rosto, e afastou-se levemente.

— Eu nunca mais vou te machucar, nunca mais vou tomar decisões


por nós dois. — falou e eu assenti, sentindo a sinceridade em cada palavra.
— E se estragarmos tudo, que a gente faça isso junto, apenas nós. —
acabei negando com a cabeça, sabendo que não era apenas aquela conversa

que precisávamos ter. — O que foi?

— Lembra da nossa noite? — indaguei, e notei seu olhar mudar e


tinha certeza que todas as coisas mais pecaminosas que fizemos se
passaram por sua mente. Bati em seu peito, e ele sorriu preguiçoso. — É
sério! — chamei sua atenção e ele pareceu entender. — Preciso que me
diga se tem certeza que usou camisinha todas as vezes que transamos.
Ele pareceu pensar por um segundo, e uma de suas mãos desceram
para minha barriga, e ele mexeu levemente ali, como se no automático,

enquanto parecia buscar algo na memória. No segundo seguinte, ele


engoliu em seco, e já soube a resposta.

Desviei levemente do seu corpo, apenas para abrir minha bolsa, e


colocar o teste de gravidez de farmácia sobre o balcão.

— Eu não tive coragem ainda... Desconfiei quando comentou sobre


o fato de eu estar comendo mais do que antigamente e ao fato de que
minha mãe sempre conta que sua fome duplicou quando ficou grávida.
Então, um mais um...

— Dois. — respondeu baixo e sua respiração alterada, a mão ainda


na minha barriga e seu olhar desceu para a mesma. — Ou quem sabe, três?

Passei as mãos pelo rosto, sentindo-me completamente exposta e


com medo.

— Tive alguns sonhos e não sei o que dizer. — assumi. — Não sei
se estou mais com medo de dar positivo ou negativo. — coloquei para
fora, e senti sua mão em meu rosto, enquanto sentia-me tremer.

— Por que a gente não faz isso junto? — indagou, e eu engoli em


seco, olhando-o atentamente. — Como nas viagens em lugares duvidosos,
em que tínhamos que dividir o mesmo banheiro, e eu ficava de guarda do
lado de dentro.

Acabei rindo, e me lembrei de como ele conseguia aquela reação

tão facilmente.

— Ok.

Concordei com a cabeça, como se precisasse reafirmar para mim


mesma, e peguei o teste. Júlio me guiou pelo apartamento, e assim que

acendeu as luzes do banheiro, fiquei ainda mais nervosa. Minha mão


tremia e eu estava a ponto de correr.

— Carinho... — olhei-o, e notei como ele parecia calmo. Eu, a pura


impulsividade. Ele, a pura calma. — Tudo bem se não der positivo, a gente
tem a vida toda para tentar, juntos. — passou as mãos pelos meus cabelos e
eu finalmente percebi que não precisava ser naquele momento exato. Por
mais que desejasse ser mãe, um sonho recorrente, podia ser depois. E seria
com ele. Eu sabia que seria.

Beijou minha testa, e eu respirei fundo, antes de entrar no banheiro,


e a intimidade era algo que nunca poderia negar que tínhamos. Fiz o xixi
no potinho, com o olhar atento de Júlio sobre mim, claramente de
preocupação, e eu sequer travei. Simples assim, deixei o pote sobre um
apoio do lado, me limpei, e fui lavar as mãos no segundo seguinte.

Júlio colocou as mãos sobre meus ombros, e encarei-o pelo reflexo,


como quem dizia: calma, vai ficar tudo bem! Assenti, e senti um leve beijo

contra meus cabelos, enquanto os minutos pareciam ter parado no tempo.

Júlio tinha finalizado o teste, e o deixado sobre a pia, e cada segundo, meu
coração parecia que pararia.

Fechei os olhos, assim que terminei de contar mentalmente, e me


encostei contra o seu peito, sem coragem de olhar. Algo dentro de mim

gritando, como se eu não precisasse de confirmação alguma.

— Carinho...

— Vai, me diz. — pedi, sem conseguir abrir os olhos.

— Vamos ser pais.

Abri os olhos e olhei para o teste a nossa frente, sem acreditar na


palavra “Grávida”. Virei-me para Júlio e ele sorria abertamente, com os
olhos marejados, como se estivesse tão feliz quanto eu. Pelos céus, eu
sequer perguntei como ele se sentia a respeito.

— Vamos ser pais. — repeti suas palavras e ele assentiu, tocando


meu rosto com carinho. — A gente ficou dez anos longe, e em um mês e
pouco, transamos, brigamos, nos resolvemos e... vamos ter um filho. —
sequer conseguia acreditar no que acontecia.

Se alguém me contasse, anos atrás, que aquilo tudo aconteceria, eu


gargalharia e mandaria a merda. Porém, era a verdade, a mais pura e real.
E eu estava adorando-a.

— E vamos ter um filho antes dos quarenta. — ri alto de suas

palavras, e fui direto para seus braços, enquanto sentia as lágrimas


descerem, e entendia melhor ainda porque eu parecia um bebê chorão nos
últimos dias. Poderia já ser algo relacionado aos hormônios?

— O que a gente vai fazer? — vi-me perguntando, assim que ele

me encarou novamente, e levei os dedos ao seu rosto, limpando algumas


lágrimas. Minha barriga roncou alto e ele riu abertamente, levando suas
mãos bem ali.

— Primeiro, vamos alimentar vocês... — meu coração todo se


encheu ao vê-lo se referir assim. — Segundo, vamos não sei... pensar em
nomes?

— Puta merda! — soltei, rindo ainda mais, e ele fez o mesmo.

Era como se nenhum de nós esperasse por aquilo. Não daquela

forma. Nunca daquela maneira. Contudo, era uma sucessão devastadora de


acontecimentos que não te davam chance de reclamar, brigar ou contestar.
Você poderia, no entanto, mas ainda assim, ia compreender no fim, que o
melhor, sempre seria ali, nos braços de quem você amava.

E quando nos vi gargalhando um para o outro, em meio a um choro


descontrolado e dúvidas infinitas, eu soube... que era o nosso recomeço.
Diferente do que um dia sonhei. Marcante como eu imaginava. Mas apenas

nosso, como sempre desejei.


CAPÍTULO XIX

“Senhoras e senhores, por favor, fiquem de pé

Com cada cicatriz de corda de violão na minha mão

Eu aceito essa força magnética de homem para ser meu amado

Meu coração estava emprestado e o seu estava triste

Tudo está bem quando termina bem se o final for com você

Juro ser excessivamente dramática e honesta com o meu amado"[23]

JÚLIO

Sentados no sofá, com seu corpo sobre o meu, no lugar onde eu


poderia dizer que ela pertencia. Bem assim, livremente. Era estranho poder
amá-la de uma forma não escondida e não resguardada. Contudo, era a

melhor maneira que eu poderia conhecer.

Bárbara estava concentrada na pesquisa em seu celular, sobre


algum médico para irmos no dia seguinte, e simplesmente não conseguia
fazer o mesmo, porque não conseguia desviar o olhar dela. De tudo o que

ela me contou e o que descobrimos, saber que ela ainda confiava seu amor
em mim, abertamente, me tomou por completo. Ainda mais, por saber que
aquele amor, mesmo que a gente não pretendesse, se multiplicara.

Uma de minhas mãos estavam sobre sua barriga, e a cada segundo


que desviava do seu rosto, meus olhos paravam ali – uma parte de nós.
Como sempre, tudo a respeito de Bárbara não pedia licença ou batia na
porta. Apenas entrava, derrubando o que precisasse no caminho, para no
fim, me deixar de joelhos. Pelo fato de que amava o quanto ela mudou

tudo de mim, desde os nossos doze anos. Pela maneira como ela me fazia
rir tão facilmente, e parecia ser tão fácil deixá-la fora de si apenas com um
olhar.

Encostei-me contra o assento, levando a cabeça para trás, e respirei


fundo. Fechei os olhos, deixando um sorriso sair e não saberia dizer
quando ele iria embora. Talvez, nunca mais.

— Eu acho que temos que estabelecer regras. — a voz dela soou de


longe, fazendo-me parar o balanço e me virar. Bárbara trazia uma grande

mochila, fora uma ainda maior, que sabia que acomodava seu violão, eu

franzi o cenho. — Sobre o lugar ser nosso, pateta.

Assenti, e ela veio até mim, deixando-me dar um beijo em sua testa,
como era de praxe. Sorriu lindamente, e nem parecia a mesma de
segundos antes, que estava soltando ordens ao redor.

— Nossos pais nos deram essa parte das terras, o que achei meio
bizarro, mas... Quer dizer que pertence a nós. — falou, dando uma
voltinha, e colocando as mochilas no chão. Primeiro, ela abriu a menor,
tirando um manto, o qual jogou sobre a grama, e assim que se sentou
sobre, bateu no lugar, como se para me convidar, e eu fui.

Minutos depois, ela se acomodou contra o meu peito, fazendo-me


sorrir pela proximidade, e entender que estava completamente fodido por
ter me apaixonado pela minha melhor amiga.

— Eu tenho uma coisa... — começou, e virou seu olhar para mim,


como se tivesse um segredo. — Aprendi a tocar o bridge daquela música.
— falou, e eu arregalei os olhos, pois sabia que ela tinha a mania de
começar a aprender, e apenas se focar na parte favorita da canção e
nunca mais voltar. Porém, estava feliz que ela finalmente decidira por
tudo. Bárbara e suas barbarices. — E antes que eu desista, resolvi que vou
tocar para você.
— É uma honra, carinho. — falei, e ela revirou os olhos pela forma
lisonjeira, mas sabia que ela amava tal apelido.

— Preparado? — perguntou, ajeitando-se melhor com o violão já


em mãos, e eu assenti, ansioso por sua voz. Ela respirou fundo e se
concentrou nos acordes, fazendo-me relaxar, ao mesmo tempo que, ficar
atento a cada palavra dela. — “ Ah, eu lembro de você...

Você dirigindo até minha casa

No meio da noite

Eu sou a única que te faz rir

Quando você está quase chorando

Eu sei suas músicas favoritas

E você me conta sobre seus sonhos

Penso que eu sei aonde você pertence

Penso que eu sei que é a mim...”[24]

Seu olhar parou no meu por um segundo, e eu sabia que ela estava
orgulhosa de si mesma, mas o brilho nela não era apenas por aquilo, por
ter acertado cada parte da música... Por um segundo, deixei-me acreditar
que era porque ela desejava dizer aquelas mesmas palavras. Antes que eu
pudesse bater palmas ou dizer algo, ela continuou.
“Você não pode ver

Que eu sou a única

Que te entende

Que esteve aqui por todo esse tempo

Então por que você não consegue ver?

Você pertence a mim

Em pé ao lado e esperando em sua porta dos fundos

Todo esse Tempo

Como você pode não saber

Você pertence a mim...”[25]

— O que está te fazendo rir assim, em?

A voz dela soou baixa, o que era raro, e um leve beijo no meu
pescoço, fez meu corpo todo acordar, e reagir ao seu toque. Saí das minhas
lembranças, enroscadas ao pertencimento que sentia sobre aquela mulher,
e adorando ainda mais o momento atual, porque ela estava ali, nos meus
braços, e era óbvio que nunca deixei de pertencer a ela. Nenhuma parte de
mim.
— Adoro o fato de ser tão sensível ao meu toque. — sua voz soou
perigosa, e sua boca subiu para minha orelha, puxando o lóbulo, e me

fazendo firmar ainda mais as mãos em sua cintura, segurando-a sobre


exatamente o que ela me causava. Bárbara tinha o poder de me deixar duro
em segundos, como um bendito adolescente.

Sem abrir os olhos e deixando-a explorar meu pescoço com a boca,

apenas deixei minhas mãos fazerem seu caminho, trilhando por debaixo da
barra do vestido que subira, deixando suas pernas mais expostas, assim
como, poderia manejar livremente por seu torso. A cada arrastar de minhas
unhas por sua pele, conseguia ouvir a mudança em sua respiração, assim
como, o leve tremor do seu corpo.

— Acho que dois podem jogar esse jogo... — falei, minha voz mais
rouca do que o usual, e abri os olhos, encontrando os dela já dilatados, e no
exato momento que ela lambeu os lábios, fazendo-me quase gemer sobre

si. — A gente não estava transando, lembra? — perguntei, com o sorriso


caído para o canto do rosto, e ela assentiu, como se conseguisse entender
perfeitamente o que eu queria.

Suas mãos vieram para detrás do meu pescoço, e ela se ajeitou


ainda melhor sobre meu colo, fazendo-me arfar.

— O que vamos fazer sobre isso então? — indagou, provocativa.


— Nos tocar a seco como dois adolescentes? — seus lábios chegaram ao
meu rosto, mas longe o suficiente para quase implorar por eles nos meus.

— Nos tocar a frente um do outro? Ou ignorar a química que explode a

cada dois segundos entre a gente? — complementou, e eu desci a mão para


sua bunda, apertando-a com força, e Bárbara quase engasgou.

Era a troca perfeita que eu só encontrara com ela, naquela noite.


Cada pequeno toque e olhar, fazendo o outro se perder por completo. Não

poderia mentir que mal lembrava meu próprio nome após gozar querendo
descobrir o dela naquela noite. E que só conseguia desejar que ela gritasse
o meu.

— Como disse, e eu respeito, não vou transar com você. —


anunciei, e ela parou o leve beijo que daria próximo aos meus lábios. Levei
uma mão até seu rosto, e ela me encarou como se quisesse socar a minha
cara. Linda, porra! Linda ainda mais cheia de desejo por mim. —Vou
venerar cada parte do seu corpo e ouvir cada gemido. Descobrir todos os

seus pontos secretos de prazer e te entregar todos os meus. Vou fazer amor
com você, Bárbara.

Minhas palavras pareceram ter tanto efeito, que o clima ao nosso


redor ficou ainda mais cortante, e sabia que nada mais precisava ser dito.
Não sei quem deu o primeiro passo, mas minha boca encontrou a dela no
meio do caminho, e ela gemeu alto contra mim. Meu corpo todo implorou
por mais, e eu sabia que nem nos meus sonhos mais bonitos, imaginei que
seria tão bom assim. Tão certo.

BABI

Mãos espalhadas pelo meu corpo, parando em meu cabelo e seios,


fazendo-me arquear para trás, buscando por mais contato. Júlio estava me
torturando, a cada toque certo, mas não tão certo assim, como se
prologando o momento, e deixando-me ainda mais louca por ele.

— Tira a roupa para mim.

Sua voz não era um pedido e meu corpo estremeceu. Tão calmo e
sereno fora dali. Tão direto e dominador na hora do sexo. Ele era o que eu

sempre busquei e não sabia.

Desci o zíper do vestido, e olhei sobre os ombros, enquanto a peça


descia por meu corpo, caindo aos meus pés, e apenas dei um passo atrás,
para sair de perto do tecido, e levar as mãos para a calcinha, única peça
que restara. Sentia meus seios pesarem, minha boca secar e todo meu
interior quase explodir.
Antecipação do que viria a seguir, com seu olhar em cada parte
exposta minha. Antes que eu pudesse olhá-lo novamente, senti uma mão

sobre meus olhos, e senti a pele nua de seu torso contra as minhas costas.
Merda! Como ele podia fazer aquilo tão bem?

— Quem? — a pergunta antiga, diferente de todas as outras vezes,


incendiou-me por inteira. A voz dele estava no tom certo para me fazer

derreter, e eu já tinha perdido minha mente. — Quem?

Sua mão livre encheu um de meus seios, fazendo gemer e soltar um


arfar, enquanto minha cabeça tombava contra o seu ombro.

— Cretino. — praguejei, com a sua mão deixando meus seios e


descendo por minha barriga, e logo, rondando onde eu mais precisava dele.
Engoli em seco, soltando um suspiro, e minha boca, institivamente, buscou
a dele.

Achei que ele me torturaria mais, enrolaria mais, ou brincaria ainda

mais. Contudo, seus lábios devoraram os meus, daquela maneira, fazendo-


me perder a força nas pernas, quando sua mão tomou conta do meu centro,
fazendo-me quase gritar.

— Lembra do que eu disse? — perguntou, mas ainda não tirou a


mão dos meus olhos, impedindo-me de ver. Segurei com força contra seu
corpo, enquanto sua boca mordia perigosamente meu queixo e pescoço.
Senti o exato momento em que a cama bateu contra minhas pernas.

Meu corpo foi virado, e finalmente, pude vê-lo por completo.

Mordi o lábio, incapaz de fazer algo diferente, ao ver seu torso todo
exposto, a boca inchada, os olhos castanhos dilatados, a forma como ele
me encarava como se fosse uma maldita deusa. Não duvidava que poderia
gozar apenas olhando-o.

Minha mão foi diretamente para a cueca, única peça sobre seu
corpo, e antes que ele pudesse impedir, retirei a peça, encarando-o no
processo, e vendo-o me olhar furioso, porque não o toquei em nenhuma
outra parte que não fosse o tecido. Nem cheguei perto.

Lhe dei um sorriso de quem diz “eu também posso te fazer


implorar” e me deitei na cama, sendo abençoada com a visão daquele
homem nu e completamente pronto para mim. Suspirei no segundo em que
seu corpo me escalou, e uma de suas mãos traçou uma linha imaginária na

lateral direita do meu corpo, e cada segundo, ficava mais quente.

— Sabe que temos dez anos para compensar... — sua boca desceu
para bem próxima da minha, e eu quase implorei por um beijo. — E eu
preciso dessa boca esperta tão suja... — falou, traçando um dedo no meu
lábio inferior, e o suguei para dentro, vendo-o aprovar o movimento com
um quase gemido. — Me diz o que você quer. — pediu, olhando-me
profundamente, e seus lábios desceram para minha garganta, e sua língua
lambeu cada parte de meu corpo, até chegar nos seios, e me fazer arfar. —

Palavras, Bárbara.

Sabia o que ele queria fazer. Venerar o meu corpo e tomar seu
tempo, e eu não estava reclamando, nem um pouco, porém, tudo o que eu
queria, naquele exato momento, era que ele me tomasse. Era me sentir
dele. Era que pudesse fazê-lo perder o controle.

Quando sua boca chegou na minha barriga, vi-o sorrir levemente e


deixar um beijo ali, longe de todo o desejo e perversão que estávamos
imersos. Suspirei fundo, porque nem de longe era uma transa qualquer, não
com ele. Não com meu melhor amigo. Não com o amor da minha vida.
Não com o pai do meu filho.

— Quero você dentro de mim. — minha voz soou baixa, mas sabia
que ele ouviu, quando sua língua parou, e refez todo caminho até minha
boca, torturando-me. — Júlio, se você não estiver em mim, em alguns

segundos, eu sou capaz de gozar só pela sua tortura. — praguejei, e ele


parou a frente do meu rosto, com um sorriso preguiçoso.

Senti-o abrir ainda mais minhas pernas, e se acomodar entre elas.

— O quão molhada está para mim? — perguntou, e eu amava


aquele homem cavalheiro e quieto, mas na cama, a forma como ele parecia
apenas ser o mais sujo possível, me enlouquecia.
— Por que não confere? — rebati, petulante, e senti o exato
momento em que invadiu meu corpo, sem precisar de mais, e me fez arfar.

Tão certo. Tão bom. Tão perfeito. — Porra! — falei, ao mesmo tempo em
que ele amaldiçoou alguma coisa.

Fechei os olhos, e senti sua mão em meu pescoço, fazendo-me


arfar. A cada encontro dos nossos corpos, eu sabia que não demoraria

muito. Tudo era demais. A entrega. Os toques. Os olhares. As palavras.

— Júlio... — gemi, e quando abri os olhos, encontrando seus olhos


presos aos meus, e o quanto ele parecia a ponto de explodir. Ótimo, porque
eu estava na mesma.

— Sabe o que sonhei todos esses anos? — perguntou, e eu neguei,


sentindo-o aumentar o ritmo, e minhas pernas já ao seu redor, enquanto ele
se ajoelhou na cama, tornando tudo ainda mais intenso, e me fazendo-me
arquear em sua direção. — O suor na sua pele, o seu gosto na minha boca,

o jeito como você me receberia tão bem... — uma mão nos meus seios, a
outra em minha bunda, ajudando-me a cavalgá-lo com mais força e
fazendo-nos gemer alto. — Mas principalmente, como seria poder te
amar... te foder enquanto te amo, tão loucamente.

Sua boca veio para a minha e gemi em sua língua, sentindo minha
mente viajar, enquanto me agarrava a seu pescoço, quase enterrando
minhas unhas, e querendo tudo, mas menos que aquele momento acabasse.
Quando busquei o ar, e soube que iria perder a linha de raciocínio
nos próximos segundos, segurei seu rosto com as mãos, e olhei-o

profundamente. Existia de tudo ali. A parte carinhosa e competitiva do


meu melhor amigo. A parte dominadora e perversa do meu amante. Mas
acima de tudo, tinha amor.

— Eu te amo. — falei, antes de sentir-me perdendo toda a

racionalidade, e quase gritando seu nome, enquanto meu corpo se desfazia


em mil pedaços, e a boca dele veio diretamente para a minha, como se
bebendo cada palavra que disse. E senti-o encontrar o seu prazer,
deixando-me ainda mais no limite.

— E eu te amo, carinho.

Sua declaração preencheu o ambiente que estava repleto de nossas


respirações altas. Enquanto nossos corpos permaneciam ligados, e nossos
corações se acalmavam. Ele sorriu, e acabei fazendo o mesmo, e enquanto

respirava profundamente, e olhava-o completamente lindo após um


orgasmo fenomenal, soube que eu queria sempre aquilo. Todas as partes
dele, como minhas. E que todas as minhas, fossem dele.
CAPÍTULO XX

“Tempo, tempo místico

Me rasgando, depois me curando bem

Havia pistas que eu não vi?

E não é bem bonito pensar

Que o tempo todo havia uma

Corda invisível

Amarrando você a mim"[26]

BABI

Uma semana passou voando.


As coisas aconteceram em um ritmo que eu sequer conseguia
acreditar. Ficara toda ela na capital, resolvendo burocracias, e me

dividindo entre o apartamento de Lisa e o de Júlio. Nós todos tínhamos


surtado juntos, quando fiz o primeiro ultrassom, o qual Lisa ficara
presente, e fora a primeira vez, em anos, que a vi chorar.

— Acho que as vezes não é para ser. — comentou, enquanto

dirigia, e eu apertei levemente sua perna, enquanto ela dava de ombros. —


Sabia que a família dele era complicada, mas nem tanto assim... E eu não
vou mudar ou me moldar porque um bando de gente riquinha acha que
devo estar à altura. — revirou os olhos, e sabia que o sentimento dela
estava mais para raiva do que qualquer outra coisa. — E enquanto puder,
vou fugir de Reis e fingir que nunca dei uma chance para essa... —
suspirou fundo. — essa coisa de relacionamento.

— Eu queria estar lá para te ver colocar cada um em seu lugar, ao

mesmo tempo que, sinto muito por eles serem tão infelizes. — falei, e ela
já parecia melhor, apenas por desabafar.

— E olhe só, eu tenho um interior inteiro para passar os próximos


dias, bendito feriado! — levantou uma mão e eu sorri. — Posso passar
altas horas fofocando com seu pai e sua mãe, além de conhecer vários
peões... — olhou-me e sorriu abertamente.

Eu sabia que ela estava magoada com toda a situação que passara
com Igor, mas também, conhecia-a o suficiente para saber que não

importava mais nada, não quando as pessoas machucavam apenas porque

sentiam que podiam. Era claro que minha amiga queria apenas distância
dos Reis, mesmo que ainda tivesse sentimentos por Igor. No entanto, não
era minha história para contar.

— Então, tudo certo para contar? Coragem? — perguntou, assim

que parou o carro à frente da fazenda Torres, e eu assenti. — Primeiro de


tudo, vai conversar com Bruno, não é?

— Não posso mais adiar isso. — suspirei profundamente. — Só


espero que as coisas não fiquem estranhas, ou sei lá... Eu o amo como um
irmão, e vai me machucar, caso o machuque.

— Ele vai ficar bem. — falou, enquanto tirávamos os cintos. —


Mas lembra que não pode se estressar, não mais do que já faz. — chamou
minha atenção, como boa madrinha do meu filho que era.

— Eu espero que nossos pais não esperem que vamos fazer disso
um casamento. — ri sozinha, e Lisa me encarou com uma careta. — O
que?

— O colar no seu pescoço é uma aliança disfarçada, vamos lá, né!


— revirou os olhos, e eu sorri, descendo do carro. Não poderia negar, no
entanto.
Aquele mesmo colar, que marcara nosso reencontro, assim como,
nosso recomeço. Sorri, segurando-o contra meu peito, e sorrindo, enquanto

caminhava ao lado de minha amiga.

Estava escovando os dentes, após acordar, e ainda um pouco presa


ao sono. Abaixei-me para lavar a boca e quando voltei a encarar meu
reflexo, ali estava ele. O rosto inchado pelo sono, os cabelos ondulados

mais bagunçados do que o usual, mas que lhe caíam perfeitamente, e com
o peito todo exposto.

Sorri, sentindo seu abraço ao meu redor, e senti um leve beijo em


meus cabelos. Os nossos dias juntos estavam sendo... não sabia de fato
como definir. Uma mistura de calmaria, risada, loucura, resumida em
felicidade. Era aquilo, eu me sentia feliz com ele. Mesmo que a gente se
visse apenas nas noites, e ainda fizesse tão pouco tempo. Conseguia me
imaginar dividindo uma vida com ele, todos os dias.

Senti o exato segundo em que ele passou algo por minha pele, e
abri os olhos, vendo o colar em meu pescoço – que era dele, e pelo jeito,
agora era meu.

— Eu pensei que gostaria de colocar um anel no seu dedo, quando


chegasse a hora, mas sei que aconteceu tanto, que no fim, posso te
assustar. — falou, olhando-me, enquanto mexia no colar em meu pescoço.
— Mas esse colar, é como uma promessa de que quando chegar a hora
certa, eu vou te fazer o pedido.

— Do jeito mais lindo e romântico, a lá meus romances de CEO?

— provoquei, e ele sorriu, beijando meus cabelos. Esperei que ele fechasse
o colar, mas não o fez, olhando-me ainda pelo reflexo, como se esperasse
algo. — O que?

— Quero saber se aceita esse colar, como uma promessa

silenciosa de que somos nós, de novo, e vamos ser, ainda mais. — sorri,
assentindo, e segurando o colar contra o meu peito. — Palavras, carinho.

— Sim. — levei minhas mãos a seu pescoço, enquanto ele fechava


o colar, e sorri abertamente. — Eu te amo. — falei, virando-me, e ele me
puxou para si, encostando nossas testas.

— Não mais do que eu. — falou, e antes que eu pudesse retrucar,


sua boca veio para a minha.

— Para de sonhar acordar com o CEO engomadinho! — Lisa falou,

batendo em meu braço, e eu pulei no lugar, só então percebendo que saí do


ar por alguns instantes. — Para a sua sorte, olha quem tá ali. — minha
amiga falou, indicando a esquerda, e quando olhei, Bruno estava ali,
falando no celular, e com um sorriso no rosto. — Caramba, olha o tamanho
desse homem! Ele á praticamente um trator de gostoso!

— Lisa! — bati em seu braço, e ela deu de ombros.


— Mulher, eu agora tô ainda mais na dúvida de quem eu pegaria
dessa família.

— Bruno é solteiro. — provoquei, e ela pareceu pensar e fez uma


careta.

— Ele tem cara de encrenca e dor de cabeça na certa. — sussurrou,


e deu de ombros. — Vou ver se encontro o bruto, ou a gravidinha, ou

quem sabe a gostosa da família... — piscou um olho, e foi direto para a


porta principal, enquanto eu negava com a cabeça.

Demorou alguns segundos para que Bruno se virasse por completo


e me notasse, a poucos passos dele. Seu sorriso morreu, e ele engoliu em
seco, enquanto se despedia da pessoa do outro lado da linha.

— Ei. — falou, e encarei-o com carinho, mas completamente


preocupada. — Estamos todos apostando sobre o que será o jantar. —
provocou, do jeito leve de sempre, e vi-me dando um passo para mais

perto. — Não vou conseguir fugir dessa conversa? — indagou, e eu dei de


ombros, cruzando os braços a minha frente.

— Antes de tudo, eu só quero dizer que você é muito importante


para mim. — admiti, e seu olhar mudou. — E não quero, que nem por um
segundo que se culpe pelo o que aconteceu comigo e seu irmão. O que foi
já foi, Bruno. — ele assentiu, mas notei o quanto não parecia certo sobre
aquilo. — E quero dizer que sinto muito, se em algum momento, mostrei
que...

— Você nunca demonstrou mais do que um amor fraternal, Babi.


— cortou-me, e o encarei com pesar. — Eu era jovem, meio burro e...
Estaria mentindo se dissesse que não foi o meu primeiro amor, você foi...
E todo o processo de entender o quanto isso me acertava foi intenso, e

acabou comigo julgando meu irmão por te machucar, e a arrogância de que


seria o cara certo. Eu não sou, e eu entendi no meio do caminho. Eu
entendi a forma como ele te olha, nunca seria o mesmo que eu faço. Muito
menos, você correspondeu algum olhar dessa maneira. — sorriu de leve, e
sua mão veio para meu braço, tocando-me com carinho. — Só queria
poder voltar atrás e não ter deixado que Júlio soubesse, porque ele nunca
faria algo para me ferir. E por mais que não me culpe, eu me culpo por
isso, porque não foi justo. Nem comigo. Nem com ele. Nem com você.

— Você é como um irmão para mim. — soltei, e segurei sua mão


com cuidado. Notei seu olhar vacilar, e me doeu saber que por mais que
ele parecesse ter superado aquilo tudo, ainda estava em um processo de
cura. — Existem vários tipos de amores, Bruno. Não sou nenhum
especialista, mas... Sei que não sou o amor da sua vida, ou para a sua vida.
Vai encontrar e eu vou estar aqui para ser a melhor cupido, se necessário.

— Eu sei que vai, sombra. — provocou e abriu os braços,


afastando-se. — Não vai chutar a minha bunda?

— Hoje não. — sorri, e fui até ele, aceitando seu abraço.

Um abraço que significava que o passado ficava no lugar dele, e


que não nos machucaríamos mais. E eu sabia que a vida guardava o amor
certo para ele. Porque pessoas como Bruno Torres não perderiam a chance
de um amor monumental.

— Agora que estamos em paz, e... ok, me conta vai! — pediu,


assim que me afastei e pisquei algumas vezes. — Vai matar o fofoqueiro
se não me disser sobre o que se trata o jantar.

— Nem em seus sonhos. — pisquei um olho, e ele levou uma mão


ao peito, fingindo-se de magoado.

— Ok ok, crianças! — ouvi a voz de Olívia, e me virei, para sentir


um pequeno pedaço de gente correndo em minha direção. Daniela veio até
mim, e abraçou minhas pernas, fazendo-me abaixar e lhe abraçar com

força, e levantá-la. — Eu não vou esperar mais, ou Júlio aparece ou...

— Estou aqui!

A voz dele me fez girar, com Daniela no colo, e por um segundo,


soube que ele enxergou o mesmo que eu. Como seria, dali alguns anos, ter
o pontinho de gente que estava na minha barriga, daquele tamanho.
Correndo e falante, entre nós. Seria menina? Seria menino?
— Por que você não vem com o tio favorito? — indagou, e ouvi
Bruno praguejar ao lado, enquanto Daniela saía do meu colo, e encarei

Júlio sem entender. — Sem esforço. — sussurrou, mas ouvi o grito de


Olívia no segundo seguinte.

— Não! — ela falou, e eu a olhei, como se não entendesse.

— Sim! — Bruno revidou, e os dois pareciam patetas se encarando.

Segundos depois, a família Torres saiu de dentro da casa, em peso,


assim como a minha. Meu pai fora o primeiro a colocar o pé para fora,
como bom fofoqueiro que era.

— Por que os gritos? — ele perguntou, e eu abri a boca, para dizer


que não era nada, mas Júlio me encarou, parecendo entender.

— Melhor fechar os ouvidos e ganhar dinheiro, gatinha. — falou


para a sobrinha, a qual levou as mãos a orelha, como boa tradição de que
teríamos palavrões ao redor, e ela não poderia ouvir. — Antes que os

dois...

— Babi tá grávida! — Bruno e Olívia praticamente berraram, e eu


os olhei como quem pergunta: como assim descobriram?

— O que? — Porra! — Como assim? — Diacho! — Eu sabia!

A mistura de gritos surpresas se espalhou, e minha cabeça girou.

— Mas como vocês... — olhei para Olívia e Bruno que correram


até nós, para nos abraçar.

— Mania clássica dos meus irmãos. Daniela parece um detector de

gravidez. — respondeu, e eu sorri, aceitando seu abraço, e ela pulou ao


meu redor.

— E ela planejou um discurso tão bonito... — a voz de Lisa soou


mais alta, provocativa, e eu sorri abertamente, sem me conter. — O que a

gente não sabia era que seria literalmente passinhos de bebê,. — provocou
e mesmo querendo rebatê-la, acabei sorrindo.

Logo nossos pais se aproximaram, e não pude evitar as lágrimas, ao


ver todos eles com os olhos marejados. Fabrício Torres me encarava com
um agradecimento explícito, assim como, minha mãe me encarava como
quem dizia: eu disse que ia ter uma família com ele. Ela o dissera, quando
eu tinha doze anos. Maluca, eu sei, mas aquela era Marta Ferraz.

— A cidade inteira vai ficar sabendo... — provoquei meu pai, que

me puxou para um abraço, praticamente me tirando do chão.

— É a melhor fofoca da vida desse velho homem, filha. — sorri, ao


ver uma lágrima descer por seu rosto. — Eu disse Fabrício, que no fim, as
nossas família se uniriam.

O Torres assentiu, e veio até mim, com Heloísa o auxiliando.

— Obrigado por cuidar tão bem dele, querida. — falou, e beijou


minhas mãos, fazendo-me querer chorar ainda mais. — É a única pessoa
que ele deixa fazer isso, então... é um momento e tanto vê-los assim.

— Mas eu quero saber, quem vai fazer a pergunta que não quer
calar... — Heloísa se pronunciou, após me abraçar, e trocou um olhar
significativo com Mabi.

— De quanto tempo? — minha agora cunhada indagou, e seu olhar

cresceu até duas vezes, enquanto parecia saber bem mais do que eu. No
caso, ela poderia saber daquela noite.

— Eu não vou dizer nada sobre isso. — respondi, antes que eles
começassem a cochichar, e senti o braço de Júlio ao meu redor.

— Nem precisa, Babi. — Lisa falou, e gargalhou alto, enquanto


todo mundo se virava para ela. — O que?

— Não ouse...

— Eu só posso dizer que sou a madrinha e... vai nascer daqui oito

meses.

Outra leva de palavrões nos acertou e Olívia foi rápida em tapar as


orelhas da filha, enquanto todo mundo ficava ainda mais incrédulo.

— Eu só quero saber, quem vai me contar essa história todinha. —


minha mãe falou, e eu neguei com a cabeça.

Suspirei fundo, olhando para Júlio e sabendo que, aquela história


nos pertencia. Apenas nossa, no meio do que um dia pareceu tão

impossível.
CAPÍTULO XXI

“Eu sei suas músicas favoritas

E você me conta sobre seus sonhos

Penso que eu sei aonde você pertence

Penso que eu sei que é a mim "[27]

JÚLIO

— Vem, quero te levar em um lugar. — falei, puxando Bárbara


para perto, e roubando sua atenção por completo, depois de uma noite
regada a nossa família toda ao nosso redor. Ela veio de bom grado,
entrando no carro, e me encarando como se já soubesse.
Ela de fato sabia para onde eu estava indo.

Minutos depois, chegamos no nosso lugar, e era tão bom poder

estar ali, e ter a certeza de que permanecia apenas nosso. De que ela estaria
ali comigo, por um bom tempo, se assim desejasse. No caso, ela poderia
querer passar a noite ali comigo.

— Por que não estou surpresa por estarmos aqui? — indagou,

assim que abri a porta para ela, descendo do carro, e puxei-a novamente
para mim, sem conseguir conter minhas mãos. — O que está aprontando,
Júlio?

Neguei com a cabeça, e paramos a frente da cabana. Só conseguia


pensar em como seria, transformar aquele lugar em um lar. Soltei o ar com
força, e antes que eu digitasse algo, ela colocou a data do seu aniversário, e
a porta se abriu.

— Por que não estou surpresa sobre isso também? — provocou e

eu bati em sua bunda, enquanto ela entrava. O seu silêncio me assustou em


um primeiro instante, mas quando passei a sua frente, notei como ela
parecia encantada. Deu passos até o grande baú, e o abriu, como se fosse a
parte que mais a instigava. E ali ainda não parecia ter olhado para o teto.
— Não... Você não fez isso, Júlio Torres!

— O que? — perguntei sorrindo e fui até ela, sentando-me na cama


do lado, e vi-a com o pacote de cartas em mãos. — Escreveu cartas para
mim, de todas as datas importantes e... — vi-a soltar um pacote, e pegar

uma outra, passando a mão ligeiramente. — Para a mãe dos meus filhos.

Escrevi aquela carta no momento em que descobrimos que Maria


Beatriz estava grávida. Algo me encheu, e eu só conseguia pensar em
como seria, ter um filho da mulher que eu ainda amava, profundamente.

Vi-me apenas escrevendo, sem conseguir evitar, e guardei-a ali, para o que
imaginei, ser o próprio mural dos meus sentimentos.

— Por que me trouxe aqui? — perguntou, com a carta em mãos, e


parecendo tomar coragem para abrir. Puxei-a até mim, e a fiz deitar sobre a
cama, a qual encarou o teto e praticamente soltou um gritinho, como se
não acreditasse. — Eu tenho uma raiva quando você apenas fica calado,
esperando que eu exploda e...

— Me ame? — perguntei, e pousei o corpo sobre o dela. — Te

trouxe aqui porque é o nosso lugar, e queria que... o nosso pontinho de


gente, o conhecesse. — passei a mão por sua barriga, e ela levou a sua até
ali. — E porque, eu acho que quero criar lembranças novas de nós, bem
aqui...

— E isso inclui o fato de o meu velho violão estar ali, e ter cartas
românticas, e a casa que eu te falei que teríamos um dia? — assenti, e ela
se levantou com cuidado, e passou a mão pela carta, parecendo ainda
pensar sobre lê-la. — Acho que terei um bom tempo lendo cada uma...

Mas antes disso, sei exatamente o que seu olhar pede.

— O que? — perguntei, e ela me deu um leve beijo, antes de se


levantar. Ela conseguia ver que eu estava praticamente implorando para
ouvir sua voz cantando para mim?

BABI

— Você sabe que passou um longo tempo, a Taylor lançou outros


álbuns... Não acho que Back to December defina essa parte da nossa vida.
— caminhei até o violão, e voltei rapidamente para ele, sentando-me na

beira da cama. Senti seu corpo logo atrás do meu, e era tão bom ter aquilo
de novo. Nós dois, um violão e o nosso lugar. Do jeito que eu imaginei, e
como ele fez. — Continuei aprendendo a tocar e bom... a primeira vez que
ouvi essa música, apensa lembrei de você. No caso, te amaldiçoei um
pouco, porque ainda era tudo nosso. Até mesmo, as minhas músicas
favoritas.

Ouvi sua risada baixinha, e respirei fundo, antes de começar a


tocar. Nunca pensei, que em algum momento de fato, cantaria aquela
música para ele... Mas ali estávamos nós, e não apenas dois, em três, e ele

era de fato, tudo o que aquela música definia.

“A lua está alta

Como os seus amigos, na noite em que nos conhecemos

Fui pra casa e tentei te stalkear na internet

Agora, eu já li todos os livros ao lado da sua cama

O vinho está gelado

Como o ombro que eu te dei na rua

Gato e rato por um mês, dois ou três

Agora, acordo à noite e te vejo respirar”

Vi-o me encarando como quem diria: talvez muito mais que três
meses, certo? Sorri, e continuei, e enquanto o olhava, notei a forma como
respirou fundo e não pude acreditar quando a voz dele, encontrou a minha,
cantando perfeitamente a letra. Júlio Torres não cansava de me
surpreender.
“Me beije uma vez

Pois você sabe que eu tive uma noite longa (Oh)

Me beije duas vezes, pois vai ficar tudo bem (Uh)

Três vezes, pois eu estive esperando minha vida toda

(1, 2, 1, 2, 3, 4)...”

Ele parou de cantar, destinando-me um sorriso com os olhos


marejados, enquanto toda aquela intensidade me atingia. Porém, eu
continuei, porque era daquilo que éramos feitos.

“Eu gosto de coisas brilhantes

Mas eu me casaria com você com anéis de papel

Uhum, é isso aí

Querido, você é a pessoa que eu quero

Odeio acidentes

Exceto quando nós fomos de ''amigos'' pra isso

Uhum, é isso aí

Querido, você é a pessoa que eu quero


Anéis de papéis e porta-retratos e sonhos impróprios

Oh, você é a pessoa que eu quero...

No inverno, na piscina gelada lá fora

Quando você pulou primeiro, eu fui também

Estou com você, mesmo que me deixe chateada

O que me faz lembrar

Da cor que pintamos a parede do seu irmão

Querido, sem todos os ''exs'', brigas e falhas

Nós não estaríamos aqui de pé tão orgulhosos, então...

Te beijo uma vez, pois sei que você teve uma noite longa (Oh)

Te bejo duas vezes, pois sei que vai ficar tudo bem (Uh)

Três vezes, pois você esperou a vida toda (1, 2, 1, 2, 3, 4)

Ah

Eu gosto de coisas brilhantes

Mas eu me casaria com você com anéis de papel


Uhum, é isso aí

Querido, você é a pessoa que eu quero

Odeio acidentes

Exceto quando nós fomos de ''amigos'' pra isso

Uhum, é isso aí

Querido, você é a pessoa que eu quero

Anéis de papéis e porta-retratos e sonhos impróprios

Oh, você é a pessoa que eu quero

Eu quero dirigir por aí com você

Eu quero suas complicações também

Eu quero suas segunda-feiras monótonas

Envolva seus braços em mim, bebê...

Eu gosto de coisas brilhantes

Mas eu me casaria com você com anéis de papel

Uhum, é isso aí

Querido, você é a pessoa que eu quero

Odeio acidentes
Exceto quando nós fomos de ''amigos'' pra isso

Ah-ah, querido, você é a pessoa que eu quero

Anéis de papel e porta-retratos e todos os meus sonhos

Oh, você é a pessoa que eu quero”[28]

Não consegui cantar o último refrão, porque notara as lágrimas


descendo pelo seu belo rosto. Deixei o violão de lado, e fui diretamente
para o seu colo, sendo embalada por ele, ao mesmo tempo que, ele fazia o
mesmo.

Era como se ele não pudesse acreditar que era real, e eu queria
mostrar que o era. Nos afastei apenas o suficiente para o olhar com todo o
amor que sentia, agora livre, e tão claro que ele sabia que estava em mim.
Sempre esteve.

Talvez ele ainda soubesse as minhas músicas favoritas, mesmo não


tendo noção que elas o eram.

— Ouvi todos os álbuns que ela lançou... — confessou, sorrindo


entre as lágrimas que eu sequei. — Era uma das poucas formas de me
sentir perto de você. Debatia comigo mesmo qual era sua favorita e como
seria poder te ouvir cantar por horas...

— E como está sendo a experiência? — perguntei, suas mãos


paradas no meu quadril, e logo uma foi para a frente da minha barriga.

— A melhor de toda minha vida. — respondeu, tocando meu rosto,

e fechou os olhos por alguns segundos, como se tentando se acostumar


com tamanha intensidade que nos consumia quando estávamos juntos. —
Tenho medo de abrir os olhos e acordar desse sonho... Disparado, o melhor
sonho que tive.

— Não está sonhando. — falei, e seus lindos olhos castanhos se


abriram. — Eu ainda vou ser o seu pesadelo particular, não tenho dúvida
nenhuma. — ele sorriu de lado, e tocou meu rosto.

— Mas pelo que entendi, ainda tenho que realizar os seus sonhos
impróprios, carinho. — sorri, assentindo. — E quero todos eles, todos os
sonhos que quiser compartilhar.

— Bom, sinto informar que está incluso em quase todos eles a


partir de agora, então... Será um longo caminho.

— Tenho dez anos para compensar, mas quem está contando? —


indagou, e seus lábios vieram levemente até os meus.

— E eu tenho dez anos para ler em cartas... O que eu vou descobrir


a mais sobre você, Júlio Torres?

Ele arqueou uma sobrancelha e deu de ombros.

— Não muito. — negou com a cabeça, como se reafirmasse. —


Sou o mesmo garoto que gostava de você aos doze, se apaixonou por
completo aos dezesseis, ferrou com tudo aos dezoito, e mal pode acreditar

que tem uma segunda chance aos vinte e oito...

— Mas no fim, quem está contando?

Ele sorriu, e puxou-me para si. Naqueles lábios, que pareciam


sempre ter a coisa certa para dizer, depois de tanto tempo, eu conseguia

ouvir e aceitar cada palavra. Talvez ele já não soubesse todas as minhas
músicas favoritas. Talvez ele não tivesse ideia de como foi a minha
faculdade. Talvez ele ainda estivesse caminhando para entender de fato
cada parte nova minha que encontraria.

Contudo, ainda assim, mesmo depois de tanto tempo e uma vida


nova, éramos nós. No mais improvável que poderia acontecer, e no
reencontro que jamais esperei que acontecesse, ainda mais, da forma que
fora. O reencontrei, o amei, o rechacei, o ouvi, e no fim, entendia o porquê

fazia tudo aquilo. Poderia ter mudado e se transformado, mas nada sobre o
nosso amor. Não ele.

Aos doze, eu só queria poder jogar um sapato na sua cabeça a cada


segundo.

Aos dezessete, eu só queria poder ser sincera e o amar como


sonhara.
Aos dezoito, um coração quebrado e a promessa que eu nunca mais
o deixaria entrar.

Aos vinte e oito, eu sabia que aquela promessa nunca teve chance
de ser quebrada, já que ele nunca de fato saiu.
NOVOS COMEÇOS SAGRADOS

“Anos atrás, nós estávamos lá dentro

Descalços na cozinha

Novos começos sagrados

Se tornaram minha religião, escute "[29]

Meses depois...

— Por que estamos mesmo construindo uma casa? — Bárbara


perguntou para Júlio, enquanto outra leva de problemas chegava até eles,
mesmo sendo sábado à noite. Obra sempre era trabalho e atraso.

— Eu acho que posso te roubar e levar para a cabana, e colocamos

o berço do lado da cama... — Júlio sugeriu, fazendo-a sorrir, porque era


uma ideia adorável, se não fosse por ser um lugar tão pequeno. Eles
estavam definitivamente, reconstruindo no lugar deles, a casa como
desejavam. — Mas por que a gente não se concentra que teremos que ver
todos os nossos ex colegas...

— E ex namorados? — ela provocou, e Júlio a olhou


perigosamente. — Imagina as piadinhas sobre nós. — fez uma careta, e lhe
deu as costas, para que pudesse fechar o vestido.

No reflexo do grande espelho do quarto que eles dividiam na casa

dos Ferraz, Júlio sorriu e não conseguia acreditar, mesmo pele contra pele,
enquanto subia o zíper, que ela estava de volta em sua vida. Todos os dias,
tanto longe, quanto perto, era sempre uma surpresa, porque ele podia
escutá-la, podia vê-la, podia tocá-la... Suspirou fundo, mandando um leve

arrepio por todo o corpo da mulher que adorava.

Bárbara sentia o quanto ele ainda se culpava, e não saberia dizer


quando aquilo passaria. Assim que o vestido foi fechado, puxou as mãos
dele ao seu redor, sentindo-as sobre sua barriga, enquanto ficavam ali,
apenas aconchegados um ao outro. Ela já estava com três meses, e eles
estavam enlouquecidos para descobrir o sexo.

Mabi até mesmo já fizera uma aposta que era uma menina. Bárbara
não poderia negar, porque ela sonhava constantemente com uma garotinha

com os olhos dele, e os cabelos dela.

— Como estão hoje? — Júlio indagou, pela décima vez no dia,


fazendo-a rir baixinho, e se afastar levemente.

— Tentando botar na sua cabecinha que eu não vou sumir. —


falou, dando um leve beijo em seus lábios, e ele sabia que por mais que
tentasse não transparecer, ela o lia perfeitamente. — E vou colocar sapatos
de salto para que quando me cansar, já tenho uma desculpa.

— Bárbara! — chamou-lhe atenção e ela deu de ombros,

afastando-se.

O coração de ambos se enchia, pela forma como eles se


completavam tão perfeitamente, no dia a dia. Construindo uma casa e
ficando malucos com todos os perrengues e atrasos. Dividindo-se entre a

capital e o interior enquanto tentavam dormir sempre juntos, mesmo que


fosse impossível. Colecionando novas memórias e sabendo que poderiam
partilhá-las no futuro.

Júlio viu-a colocando mais um colar, mas nunca tirando o qual ele
lhe entregara naquela manhã. Ele, toda vez, ficava incrédulo de que aquela
mulher, pudesse querê-lo.

— Se não sairmos agora, vamos nos atrasar... — uma voz veio do


lado de fora, batendo na porta, e logo a cabeça de Mabi adentrou a pequena

abertura. — E sabe que seu irmão está a ponto de virar o carro e ir


embora...

Ela já estava com a barriga bem maior do que Bárbara, mas era
clara a troca que as duas acabaram tendo após o exato momento em que
anunciaram a gravidez. E ali estavam eles todos, indo a um reencontro
geral de classes na antiga escola. Júlio poderia jurar que Inácio sequer se
mexeria durante todo o encontro.

— Inácio e um reencontro... — Babi falou provocativa, assim que

adentraram o carro do cunhado, o qual lhe deu um olhar de “não ouse”. —


O que? Não adianta me olhar assim! Sabe que estou vacinada contra
qualquer jeitão bruto dos Torres.

— Sem chance, velho. — Mabi rebateu, e Júlio notou o irmão

revirar os olhos, sem dizer mais nada, enquanto puxava Bárbara para mais
perto, e ela se acomodava melhor ao seu lado. — Aliás, eu acho que
deveríamos...

— Sim! — Bárbara rebateu, sem precisar que ela complementasse,


e Júlio e Inácio também entenderam perfeitamente. Elas gritariam todas as
músicas possíveis dali até o bairro longe, no qual a escola se encontrava.

E no meio de tudo aquilo, por um instante, Bárbara olhou para Júlio


e no olhar que trocaram, ela soube que não poderia pedir nada mais. Ela

sempre sonhou com um amor tranquilo, que tocasse seu coração e lhe
desse a paz misturada as borboletas no estômago. E ele o era,
perfeitamente. A cada dia, aqueles dez anos se dissipavam, e eles se
importavam com o agora.

Quando o carro estacionou, Inácio praticamente correu para ajudar


Maria Beatriz a descer, a qual revirou os olhos, e antes que eles fizessem o
mesmo, Bárbara segurou a mão de Júlio, e ele parou, sem descer.

— O que foi? — perguntou, tocando levemente seu rosto, e ela

mexeu em algo na bolsa que trouxera, tirando um pequeno envelope de


dentro. Era da cor rosa, deixando-o sem entender, e muito menos ter ideia
sobre o que seria.

— Eu queria fazer uma surpresa, até programei com Lisa e nossa

família, mas... Assim que fiz esse cartão, estou quase tendo um treco por
não contar. — Bárbara foi honesta, e suspirou profundamente, entregando-
lhe o pequeno envelope.

Ela estava há dias sem conseguir se conter e mal dormindo. Fora


fácil esconder de Júlio porque ele tivera que passar a semana quase toda na
capital, mas ainda assim, quando o viu naquela manhã de sábado, ela quase
jogou tudo para o ar.

— Queria poder escrever cartas lindas como as suas e entregar,

mas...Sou ansiosa e vai, abre!

Júlio notou que ela estava encorajando-o, e abriu o envelope, sem


entender porque a mulher da sua vida o encarava com tamanha
intensidade. Quando seu olho bateu nas três palavras escritas no cartão, seu
coração quase falhou, sua visão nublou e ele sorriu abertamente.

— Como...
— Surpresa! — Bárbara gritou, e foi possível ouvir o barulho de
Mabi e Inácio do lado de fora, olhando pelo vidro.

Ele puxou-a para si e sabia que aquele abraço significava tudo para
eles. Como na carta que ele escrevera para ela, meses antes, destinada a
mãe dos seus filhos. No meio do que ele escrevia, dissera claramente que
sentia que eles teriam uma menina, não saberia explicar porquê. E ele

sentiu, escreveu, e de alguma forma, acontecera...

Enquanto ele passava a mão na barriga dela e se deleitava com a


sensação de que agora, eram duas mulheres em seu mundo todo, e se um
dia apenas os dois foi perfeito, três apenas multiplicava a sensação.

Foi na resposta ácida dela que Júlio sorriu e soube que adorava a
filha dos seus vizinhos, e mais tarde, se apaixonara por cada lacuna dela.
Foi na paciência dele que Bárbara perdeu a pose e soube que o amor
poderia ser exatamente como ela sonhava – calmo e bom.

E fora as três palavras que ela escreveu, no cartão rosa esquecido


por alguns segundos sobre o banco do carro que ela, como sempre, o
surpreendera: É uma menina.
E chegamos ao fim, e eu espero que de alguma forma, Júlio e Babi
tenham alcançado as expectativas de todas as pessoas que me pediram por

mais dos Torres. Um casal que traz consigo vários clichês, mas que no fim,
são apenas pessoas reais, com medos, inseguranças, amores e desejos.

Eu já estou com saudade, mas posso dizer, que parte dela, será
sanada quando conhecermos as histórias dos outros dois Torres. Isso

mesmo! Teremos mais para contar deles, em clichês únicos. O que acha
disso? Bruno terá seu final feliz? Olívia contará sobre sua paixão pelo
pai de Dani?

Além disso, talvez os Reis sejam um ponto importante. Quem


adoraria conhecer mais sobre outra família?

Caso tenha gostado da leitura, não esqueça de deixar sua avalição.


Ela é muito importante para que a história chegue a outras pessoas e
desperte interesse nelas. E caso, queira conhecer mais do meu trabalho ou

papear comigo, recomendo que me encontre nas redes sociais,


principalmente, o Instagram (@alineapadua).

Muito obrigada por chegar até aqui

Espero te ver em outras histórias ��

Com amor,
Aline
O melhor amigo do meu irmão (A REJEIÇÃO)

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Sinopse: Gabriela Moraes era apaixonada pelo melhor amigo do irmão mais
velho desde os quinze anos. Antônio era mais do que o seu sonho de consumo, ele
também era a pessoa com quem ela sempre pode contar. O que ela não imaginava, era
que no seu aniversário de dezoito anos, ela seria rejeitada da forma mais fria por ele.

Dois anos depois e ele bate à sua porta.

Ela queria não sentir nada, e não sabia o que ele fazia ali. Porém, sabia que,

nunca mais, lhe daria a chance de quebrar seu coração.


O irmão da minha melhor amiga (A REDENÇÃO)

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Sinopse: Ane Sousa nunca quis se apaixonar por ninguém, muito menos, pelo
irmão mais velho da sua melhor amiga. Fábio Moraes era um amigo, no fim, mesmo que
a cada sorriso ela se visse sorrindo também. Era inevitável desejá-lo. Quando aqueles
lábios se tornam seus, por alguns segundos, Ane pensa que talvez estivesse errada.
Porém, a forma como ele reage, lhe mostra, que o certo, sempre foi correr do
sentimento.

Momentos marcados por desculpas esfarrapadas.

Dois anos de uma amizade consolidada, e nada mais.

Duas pessoas que fogem do real sentimento que as envolve.

No fim, eles se tornarão o clichê que nunca desejaram?


UMA GRAVIDEZ INESPERADA

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SINOPSE

Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra, no meio do


caminho de Maria Beatriz, sempre teve Inácio. O herdeiro da fazenda que fica ao
lado das antigas terras de sua família, tornou-se um homem bruto e fechado, que quando
aparece na sua frente, ela já sabe que só pode ser problema ou alguma proposta

indecorosa. Maldito peão velho!

Inácio Torres é um homem de poucas palavras, mas que vê em uma mulher


tagarela, a oportunidade perfeita. Mabi precisa de dinheiro, ele o tem. Ele precisa de um
casamento falso, e ela é a escolha perfeita. Porém, a única coisa que recebe de Mabi,
como sempre, é uma negativa. Maldita criança sonhadora!

No meio das voltas que a vida dá, uma noite de prazer os marca. E a
consequência será muito maior que o arrependimento: UMA GRAVIDEZ
INESPERADA.
CONTATOS DA AUTORA

Instagram: @alineapadua

Wattpad: @AlinePadua

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Grupo do facebook: Romanceando com Aline Pádua

Meus outros livros: aqui


[1] Trecho da canção intitulada august da artista norte-americana Taylor Swift –
álbum: folklore, data de lançamento: 2020.

[2] Trecho da canção intitulada Cruel Summer da artista norte-americana Taylor


Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[3] Trecho da canção intitulada Paper Rings da artista norte-americana Taylor


Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[4] Trecho da canção intitulada Happier Than Ever da artista norte-americana


Billie Eilish – álbum: Happier Than Ever, data de lançamento: 2021.

[5] Trecho da canção intitulada exile da artista norte-americana Taylor Swift –


álbum: folklore, data de lançamento: 2020.

[6] Trecho da canção intitulada Death By Thousand Cuts da artista norte-


americana Taylor Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[7] Trecho da canção intitulada penhasco. da artista brasileira Luísa Sonza –


álbum: DOCE 22, data de lançamento: 2021.

[8] Trecho da canção intitulada melhor sozinha :-)-: da artista brasileira Luísa
Sonza – álbum: DOCE 22, data de lançamento: 2021.

[9] Trecho da canção intitulada Death By Thousand Cuts da artista norte-


americana Taylor Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.
[10] Trecho da canção intitulada the 1 da artista norte-americana Taylor Swift –
álbum: folklore, data de lançamento: 2020.

[11] Trecho da canção intitulada Enough For You da artista norte-americana


Olivia Rodrigo – álbum: SOUR, data de lançamento: 2021.

[12] Trecho da canção intitulada Death By Thousand Cuts da artista norte-


americana Taylor Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[13]
Trecho da canção intitulada Back To December da artista norte-americana Taylor Swift
– álbum: Speak Now, data de lançamento: 2010.
[14] Trecho da canção intitulada penhasco. da artista brasileira Luísa Sonza –
álbum: DOCE 22, data de lançamento: 2021.

[15] Trecho da canção intitulada Afterglow da artista norte-americana Taylor


Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[16] Trecho da canção intitulada 'tis the damn season da artista norte-americana
Taylor Swift – álbum: Evermore, data de lançamento: 2020.

[17] Trecho da canção intitulada 'tis the damn season da artista norte-americana

Taylor Swift – álbum: Evermore, data de lançamento: 2020.

[18] Trecho da canção intitulada False God da artista norte-americana Taylor


Swift álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[19] Trecho da canção intitulada willow da artista norte-americana Taylor Swift –


álbum: Evermore, data de lançamento: 2020.
[20] Trecho da canção intitulada Paper Rings da artista norte-americana Taylor
Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[21] Trecho da canção intitulada Paper Rings da artista norte-americana Taylor


Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[22] Trecho da canção intitulada Cornelia Street da artista norte-americana Taylor


Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[23] Trecho da canção intitulada Lover da artista norte-americana Taylor Swift –


álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[24] Trecho da canção intitulada You Belong With Me da artista norte-americana


Taylor Swift – álbum: Fearless, data de lançamento: 2009.

[25] Trecho da canção intitulada You Belong With Me da artista norte-americana


Taylor Swift – álbum: Fearless, data de lançamento: 2009.

[26] Trecho da canção intitulada invisible string da artista norte-americana Taylor


Swift – álbum: folklore, data de lançamento: 2020.

[27] Trecho da canção intitulada You Belong With Me da artista norte-americana


Taylor Swift – álbum: Fearless, data de lançamento: 2009.

[28] Trecho da canção intitulada Paper Rings da artista norte-americana Taylor


Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[29] Trecho da canção intitulada New Year’s Day da artista norte-americana


Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento: 2017.

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