MACHUCADA PELO CEO (Livro Unico - Aline Padua

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Copyright 2023 © Aline Pádua

2° edição – março 2023

Todo o enredo é de total domínio da autora, sendo todos os direitos

reservados. Proibida qualquer forma de reprodução total ou parcial da


obra, sem autorização prévia e expressa da autora.

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Edição: AAA Designer


Sumário
Playlist
Nota I
Sinopse
Prólogo
Parte I
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Parte II
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Bônus
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Epílogo
Nota II
REDES SOCIAIS
OUTROS LIVROS
UMA GRAVIDEZ INESPERADA
CEO INESPERADO – meu ex melhor amigo
O BEBÊ INESPERADO DO COWBOY
FELIZ NATAL, TORRES
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O VIÚVO
GRÁVIDA DO CEO QUE NÃO ME AMA
O CASAMENTO DO CEO POR UM BEBÊ
A FILHA DO VIÚVO QUE ME ODEIA
GRÁVIDA EM UM CASAMENTO POR CONTRATO
UM CASAMENTO DE MENTIRA PARA O CEO
GRÁVIDA DO COWBOY QUE NÃO ME AMA
UMA FILHA INESPERADA PARA O CEO
UMA FAMÍLIA INESPERADA
Nota
Paloma “Lola” Gerard foi moldada pelos pais para ser a dama

perfeita, entretanto, um acaso do destino, permitiu com que se libertasse

e pudesse correr atrás de


Playlist

Call Out My Name – The Weeknd

Catch Me – Demi Lovato

Deixe-me ir – 1kilo

Feels Like Home – Chantal Kreviazuk

Happier – Ed Sheeran

Havana – Camila Cabello

Heaven – Julia Michaels

In My Blood – Shawn Mendes

Love Me Like You Do - Ellie Goulding

Mercy – Shawn Mendes

Peak – Anne-Marie

Pray – Sam Smith

SexyBack – Justin Timberlake

Skinny Love – Birdy


Teatro Dos Vampiros – Legião Urbana

Then – Anne-Marie

To Good At Goodbyes – Sam Smith

Worst In Me – Julia Michaels


Nota I

Esse livro é um relançamento. Anteriormente, intitulado como “O


que sobrou da sua atração”. Espero que seja essa sua primeira ou segunda

experiência com eles, que ela seja incrível!

Boa leitura,

Aline
Sinopse

Lola Gerard é uma mulher que lutou para fugir do estereótipo de

perfeição da família, e se esconde absolutamente de todos.

Pedro Soares é um homem de sorriso fácil e sorriso cafajeste,


que levanta suspiros pro onde passa.

Ela, depois de tanto desacreditar, acaba se entregando a ele.

Ele, chama o nome de outra mulher enquanto dorme ao seu lado.

Tudo o que Lola tentou tanto evitar, acontece: ela acaba

machucada pelo homem que não deveria amar.


Prólogo

No passado

Lola

— André, eu não posso! — seus olhos se encheram de lágrimas,


assim como os meus. — Eu sinto muito, mas não podemos nos casar

porque nossos pais querem.

— E o que vou fazer, Lola? — leva as mãos aos cabelos negros,

bagunçando-os com raiva. — Sei que a fortuna de nossas famílias não


significa nada pra você, mas eu... Eu amo o que faço, e não quero perder

a futura presidência.

— Isso é arcaico e cruel. — digo com raiva e ele assente,

encostando-se contra o pequeno muro do jardim. — Não podemos ser


coniventes com algo tão...

— Frio. — complementa e eu assinto.

André Ferreira é meu amigo desde que me entendo por gente.


Nossas famílias sempre foram próximas, já que nossos pais são melhores

amigos. Mesmo círculo de pessoas, escola, amigos, festas... Nós somos o

par perfeito que ambas as famílias necessitam para se unir. Porém, nosso
sentimento nunca ultrapassou qualquer linha de amizade. André é como

um irmão para mim, e eu me nego, de todas as formas, a me casar com

ele.

— Dé, eu tive uma ideia. Na realidade, aquele velho plano. —

digo de uma vez, e ele me encara espantado.

— Não! — vem até mim, tocando meu rosto. — Não vai

simplesmente fugir para outro lugar, só porque...

— Vai arruinar nossas vidas. — insisto em alto e bom som,

fechando os olhos. — Sei o quanto as empresas significam pra você, e sei

também como Lua é apaixonada por ti. Ambos sabemos que é recíproco.
— Não, Lola! — nega veemente. — Eu a amo, mas não quero
obrigá-la a nada.

— Acredite, talvez, esse seja o destino intervindo por vocês. —


toco seu rosto, e sinto uma lágrima em meus dedos. — Eu amo você, Dé.

Mas me nego a passar o resto da vida ao seu lado, vendo a infelicidade

minha, sua, e da minha irmã.

— Eles não vão aceitar... Eles vão atrás de você...

— Não, porque eu vou para o Rio e simplesmente desaparecer.

Nona vai estar ao meu lado, e você sabe, apenas ela se importa comigo
de todos os grandes Gerard. — debocho, porém, meu coração por dentro

se quebra.

Tinha me acostumado de certa forma a não ser querida por meus


pais e familiares, porém, a dor por ser apenas uma boa moeda de troca,

ou uma dama perfeita para cada um deles, faz-me ressentida a cada dia.

O dinheiro que me cercou até hoje, nunca será o suficiente para tapar os

buracos em meu coração, pela falta de carinho, atenção e principalmente,

amor.

— Lola, somos jovens, talvez...

— Temos apenas dezoito anos, mas teriam nos casado aos doze se

fosse permitido pela lei. — limpo suas lágrimas, e seus olhos escuros
parecem apagados. — Eu nunca sonhei com esse destino, sabe que sonho

em construir uma vida longe daqui.

— Como vai se esconder, Lola?

— Não vai ser difícil. — dou de ombros. — Se preocupe apenas


em ser feliz, e por favor, trate Lua como a princesa que ela é.

— Eu te amo, Lola. — sorrio, e o puxo para o forte abraço.

— Eu também, Dé.

Suspiro fundo, agarrando-me ao único homem que me passou


segurança, e que infelizmente ficará para trás em minha vida.

Semanas depois...

— Nona, acha mesmo que vai dar tudo certo? — pergunto


insegura, e ela apenas segura minha mão, enquanto o avião pousa.

Minutos se passam, desembarcamos, pegamos as malas, e não


obtenho resposta alguma.

— Nona...
Ela então para de andar, e sorri fracamente, tocando meu rosto.

Ela é minha avó materna, mas sempre fez mais do que minha própria
mãe. Além de tudo, apoiou minha decisão de não coibir com o casamento

forjado com André, e construir minha própria história. Nona odeia a


forma como meus pais veem o mundo, pois assim como eu, quer algo

além de dinheiro – amor.

— Um dia, quando fui forçada a casar com seu avô, jurei a mim

mesma que não permitiria que tal coisa acontecesse a minha família mais
uma vez. A vida me abençoou ao colocar em meu caminho, naquela
igreja, além do desconhecido, o homem que sempre será minha alma

gêmea. Sua mãe não foi obrigada a nada, mas Rachel sempre foi
ambiciosa demais. Ela casou por dinheiro, e felizmente, se apaixonou por

Tales, que seguiu o mesmo caminho... Ambos compartilham algo bonito,


mas frágil. Por isso, o casamento forçado entre você e André seria uma
segurança.

— Para que eles nunca fiquem sem dinheiro? — pergunto,


sentindo meu estômago revirar.

— Para que não corram o risco de perder um ao outro, pois não


sabem o que é amar sem toda a fortuna que carregam. — sorri triste, e

tento controlar as lágrimas. — Eu falei com ambos antes de virmos, eles


sabem de sua decisão, minha querida. E não vão de forma alguma
intervir.

— Porque eles têm Lua para usar. — abaixo a cabeça, sentindo-


me culpada.

— Não, eu não permiti tal coisa. — encaro-a sem entender. —

Jamais deixaria que controlassem o seu futuro ou de Lua, por isso


estamos aqui.

— O que quer dizer, nona?

— Lua tem apenas dezessete anos, e vai estudar fora do país

alguns bons anos... — arregalo os olhos, e ela pela primeira vez, sorri
verdadeiramente. — Sei que ela gosta de André, e ele dela, mas se vão
ficar juntos, eles têm o direito de escolher a hora certa. Não suas

respectivas famílias.

— Mas...

— Sua mãe terá que arcar com as consequências caso não cumpra
o que pedi. — diz tranquilamente.

— Como assim, nona?

— Se te deixasse com eles em Porto Alegre, nunca conseguiria

fugir das garras e cobranças de ambos.

— Meu sonho sempre foi vir para o Rio, nona.


— Por isso, quando completou dezoito te contei sobre o plano de
virmos morar juntas aqui. Sua mãe perde tudo na herança caso intervenha
novamente na sua vida ou na de Lua.

— Nona! — exclamo assustada, e ela sorri de lado,


maliciosamente.

— Fui paciente demais... Deixei com que moldassem minhas

netas, mas não vou deixar que vivam presas nos sonhos deles. Vocês são
livres, querida. E tudo o que quero, estando aqui, ao seu lado, é que viva

seus sonhos.

— Obrigada, nona! — abraço-a com força, e choro copiosamente.

Um alívio paira sobre meus ombros, pois mesmo tentando apenas


fazer o melhor, saindo de Porto Alegre, destinei minha irmã a um

casamento, o qual sim, ela até quer, porém, não é sua primeira escolha

com essa idade. Agora, estou eu, no Rio de Janeiro, pronta para
recomeçar minha vida. Finalmente, sinto-me livre.
Parte I

“Os teus olhos sempre me disseram mais que a tua boca. Neles
sempre encontrei a tristeza que você duramente se esforçava pra esconder
atrás de um sorriso. Alguns dizem que os olhos são a janela da alma. Os

seus são a casa inteira.”[1]


Capítulo 1

No presente

Lola

— Sophie, o que faz aqui? — pergunto curiosa, ao ver minha


melhor amiga entrar em meu escritório. Sophie não é do tipo de pessoa

que passa de vez em quando para dar “oi”.

— Que tal, passando para dar um oi! — sorri amplamente, e eu


bufo.
Mentirosa!

— Sei... — ela se senta à minha frente, e apenas continuo a

encarando. — Desembucha logo o que aconteceu.

— Tá! — bate na mesa, mais animada do que o normal. — Eu

consegui a vaga como assistente executiva!

— O que? — praticamente grito, e me levanto, indo até ela.

— Isso mesmo! — fica estática por alguns segundos. — O chefe

que trabalhava no exterior voltou e precisava de uma assistente daí...

— Meu Deus, Sophie! — grito, e a puxo pra mim, abraçando-a

com força. — Você merece, garota! Logo logo vai conseguir a vaga de

economista e...

Ela então me afasta e bate em meu ombro.

— Vamos apenas comemorar o fato de que depois de três anos


consegui subir de cargo e quem sabe, possa permanecer com ele. —

Assinto, e sorrio para ela, abraçando-a novamente.

Sophie Moraes mais do que ninguém em minha vida, merece tudo

de melhor. A conheci na faculdade, poucos meses depois que comecei a

estudar administração. Ela era quieta, mas não do tipo que analisa as

pessoas, apenas sossegada em seu canto. Por incrível que pareça, e ainda

mais com a forma que mudei para não me lembrar dos tempos ao lado de
minha família, ela não se envergonhou quando fizemos um trabalho
juntas em uma disciplina comum entre nossos cursos.

As pessoas gostavam muito de status em nossa faculdade, e


felizmente eu não aparentava a riqueza da qual venho. Uma escolha que

fiz, é não parecer mais com a mulher que meus pais me moldaram para

ser. Mudei, me escondo com roupas largas, e com o rosto sem nenhuma

maquiagem. Porque a qualquer momento que penso em usar algo dessa

forma, lembro-me da forma como tudo se sucedeu em minha vida há

alguns anos.

— Que tal almoçar aqui? — pergunto, e Sophie fica um pouco

sem jeito. — É por conta da casa, mulher!

— Lola, não, eu...

— Relaxa, é o meu presente para a comemoração do seu mais

novo cargo. — Sorrio, tentando convencê-la, e felizmente, ela aceita.

Sophie batalha muito para se sustentar, e ainda ajudar a mãe que

mora no interior. Eu noto como é difícil para ela, então da forma que

consigo, às vezes, dando algumas voltas nela para que não negue ou ache

que faço demais, a ajudo. Ela é a única que sabe sobre a história de

minha família, e tudo o que sofri há alguns anos. Sempre foi como uma
rocha ao meu lado, dando-me apoio em momentos que nem pensei que

suportaria.

Descemos as escadas do meu escritório, direto para o primeiro

andar, onde fica o restaurante. Olho ao redor e sorrio, vendo quase todas
as mesas ocupadas.

— Uau, hoje é um bom dia! — bate palmas e eu gargalho.

Andamos mais um pouco, e deixo-a em minha mesa favorita, que


felizmente está desocupada.

— Vai escolhendo o que quer, que eu já volto. — Pisco pra ela, e


saio.

A passos rápidos vou até a cozinha, e procuro Luís, para fazer um

pedido especial para Sophie. Poderia pedir a Pedro, o sócio majoritário, e


o principal o chefe do restaurante, porém, há alguns dias venho apenas
me afastando do mesmo, tentando de alguma forma, blindar meu

coração. Felizmente, ele teve que sair para resolver um problema pessoal,
e Luís é tão bom quanto ele na cozinha.

— Ei, o que temos aqui? — Luís diz, assim que me vê, e fico

apenas parada num lugar estratégico para não atrapalhar ninguém em


seus respectivos serviços.
— Oi, Luís. — Sorrio e ele me encara desconfiado. — Ocupado

demais?

— Bom, não muito... Por que?

— Sabe aquela torta de morango magnífica que fez no meu


aniversário? — assente, e eu levanto as mãos em sinal de expectativa. —

Então, minha melhor amiga está aqui e...

— Eu faço, Lola! — pisca do seu jeito cafajeste e eu solto um

gritinho, fazendo todos me olharem.

— Desculpe! — mordo o lábio, completamente sem jeito.

— Pode demorar um pouco para ficar pronta. — Avisa.

— Sem problema, eu levo pra casa dela como surpresa se for


preciso. — Sorrio pra ele. — Obrigada, Luís.

— Você que manda, chefe! — sorrio, e saio da cozinha.

Assim que dou alguns passos em direção a área das mesas do


restaurante, lembro-me de que deixei minha agenda no escritório, e
preciso confirmar se realmente fiz uma ligação pela manhã. Cabeça de

vento!

Refaço meus passos e subo as escadas novamente para o segundo

andar, e assim que abro minha sala, levo um susto.


— Por Deus! — digo, levando as mãos ao peito, o qual tento
acalmar.

— Ah, oi, Lola! — Pedro diz, e apenas o analiso, sem entender


sua intromissão.

— Precisa de algo?

Ele me encara por alguns instantes e tento não demonstrar


absolutamente nada. O que ele faria, caso soubesse de meus reais

sentimentos? Isso com certeza não resultaria em algo bom.

— Na verdade sim... — suspira fundo, e o encaro sem entender.

— Eu... Olha, você é uma mulher e...

Espero que continue sua fala, porém ele se cala de repente.

— E? — incentivo-o, e logo o vejo ficar completamente sem

jeito.

— Quer dizer... É que... Merda! Não sei como simplesmente

fazer uma pergunta.

Parece falar consigo mesmo, enquanto anda de um lado para o

outro, deixando-me completamente confusa.

— Pedro! — chamo-o, e ele me encara, um pouco sem jeito. —


Apenas pergunte.
Ele me olha por alguns segundos, mas nada sai de sua boca. Sinto
novamente aquela pequena dorzinha em meu peito, quando tenho a
certeza de que ele nunca conseguiu me enxergar além de sua sócia. Como

se eu estivesse dentro de um dos livros que leio, onde o CEO é


simplesmente intocável, e eu sou a personagem secundária que apenas

suspira por ele, até a principal surgir.

— O que um cara teria que fazer para te conquistar? — arregalo


os olhos, e tenho certeza de que minha feição de espanto é assustadora.

— Digo, hipoteticamente.

— Bom, hipoteticamente... — encaro seus olhos azuis, e tento


manter meu coração seguro.

Teria que ser você – penso em dizer, porém me xingo

mentalmente por tal besteira.

— Ser legal, charmoso, atencioso... Mas além de tudo,


verdadeiro. — Respondo sem jeito, e ele presta atenção em cada palavra.

— Alguém que me visse além da aparência, que fosse além do dinheiro

ou atração.

— Certo. — Passa as mãos pelos cabelos loiros. — Mas e se esse


cara fosse isso tudo, e ao mesmo tempo completamente fascinado por
você, só que nunca deu uma chance pra ele? Ou sabe, demonstrou

interesse nele?

O tom de sua voz muda, e fico completamente estática, sem

sequer saber o que responder. Apenas consigo pensar no quanto queria

que cada palavra fosse destinada a mim.

— Atitude. — Dou de ombros. — Acho que me faria o olhar de

outra forma. Talvez falte mostrar para essa mulher que a quer.

— Mas... Acho que ela me vê apenas como um amigo, e sabe,

não confia muito nas pessoas.

Uma pulga se instala atrás da minha orelha e sinto meu coração se

despedaçar aos poucos. É horrível a sensação de saber que o homem que

ama está fascinado por outra mulher. E pior, ele está a sua frente,

confessando isso.

— Bom, tomar alguma atitude é o melhor! — engulo a tristeza e

tento me mostrar forte. — Talvez assim ultrapassem a linha de amizade.

Antes que ele responda, pego meu celular sobre a mesa, e saio
rapidamente, sem sequer me despedir. O mundo paira sobre meus

ombros, meu corpo parece sentir o impacto de cada palavra dele como

um soco, mas abro um sorriso, assim que vejo Sophie de longe. É o seu
dia, e por ela, vou ficar inteira.
Capítulo 2

Lola

Arrumo alguns papéis e me estico na cadeira, tentando não

dormir em pleno expediente. Sorrio, ao me lembrar que sou uma das


chefes, e ao menos, teoricamente, posso ir para casa descansar mais cedo.

Mas, estar no Chandel, é minha paz. Ficar em casa sozinha, tem sido

meu maior tormento.

Seguro o pingente pendurado em meu pescoço, e o abro, vendo


nele a foto da pessoa que mais amei nesse mundo, e mesmo tendo

perdido, continuarei amando. Nona... Adélia Gonçalves, a mulher que


acreditou em meus sonhos e no amor, e que me tornou quem sou hoje.

Não há um segundo em minha vida que não sinta sua falta.

Suspiro fundo, limpando uma lágrima que desce por meu rosto.

Escuto duas batidas na porta, que logo é aberta, e levanto meu olhar,
encontrando Pedro, que me encara sem jeito, e um pouco preocupado.

Ele sabe, por partes, como a morte de minha avó acabou comigo.

— Tudo bem?

— Sobrevivendo. — Brinco, abrindo um sorriso, e ele assente,

parecendo um pouco sem graça. — Não precisa me olhar assim, Pedro.

— Assim como? — faz-se de desentendido, levando as mãos ao

peito, como se estivesse sendo acusado.

É impossível não sorrir a sua frente. Pedro é o homem mais

encantador que tive o prazer de conhecer. Conviver ao seu lado, se tornou


algo mágico, mesmo que as vezes tente colocar obstáculos entre nós, já

que meu coração está completamente entregue há tempos. Olhar para ele

é como se perder na mais vasta beleza.

Alto, que parece conseguir me proteger do mundo; Olhos azuis,


que transbordam todos seus sentimentos com apenas um olhar; Cabelos

loiros bagunçados da forma mais perfeita, junto a pele bronzeada na

medida certa, que sempre indaguei a mim mesma como ele a consegue;
Porte atlético, o que diz claramente que se exercita, e fora tudo isso, um
homem completamente sorridente e devastador. Por onde passa, ao

menos uma dúzia de mulheres fica estática, apenas o olhando.

Assim que me formei na faculdade, nona insistiu em me dar um

presente, e sem ao menos saber, ela o fez. Juntou em um único lugar tudo

o que mais amo – comida, administração e pessoas em harmonia. Foi

dessa forma que ela me apresentou o Chandel, e logo me disse que

comprou parte da sociedade. A qual, foi meu presente.

No primeiro instante, surtei por completo. Mas depois que

visitamos o lugar juntas, meu coração se rendeu. Ela sabia, há cerca de

quatro anos, o que me faria feliz, e foi como se estivesse me preparando

o futuro. O qual, de certa forma, aconteceu sem ela.

Olho para o homem a minha frente, que continua em silêncio, e

me pergunto o que ele faz novamente em minha sala no mesmo dia.

Pedro e eu há pouco tempo tínhamos realmente estabelecido uma

amizade, mesmo assim não consigo ser aberta com ele, por medo de não
saber como voltar se me jogar de cabeça. Ser amiga do homem que sou

apaixonada, tem sua parte boa, de podermos ficar perto sem ser algo

constrangedor, mas tem a parte ruim, onde não posso simplesmente puxá-

lo e torná-lo meu.

— Está divagando. — Constata e eu assinto.


— Acho que você está fazendo o mesmo. — Pontuo, e ele sorri,

sentando-se a minha frente.

— É... Sabe o que lembrei agora? — pergunta e nego com a

cabeça. — De quando me chamava de Senhor Soares. — Sorri, e faço o


mesmo.

— Ainda não perdi por completo esse hábito. — Pisco pra ele,

que me encara por alguns segundos. — É a forma que devo te tratar, já


que é meu chefe.

— Por apenas dois por cento.

— Ainda sim, é mais dono do que eu. — Ele dá de ombros. —

Mas duvido que tenha vindo falar comigo por conta da forma que te
trato.

Arqueio a sobrancelha esquerda, e ele engole em seco, como se


procurasse as palavras certas a dizer.

— É que tem uma festa no sábado, onde preciso estar


acompanhado.

— E? — indago sem entender.

— Bom, queria que fosse comigo. — Sorri sem jeito, e arregalo

os olhos.
— Eu? — fico completamente chocada. — Pedro, olha pra mim,

não sou o tipo de mulher que vai a evento chiques. — Ao menos, não
mais.

— Lola, prometo que será rápido, apenas um jantar de negócios


enroscado a uma festa sem necessidade. — Chega mais próximo a mim,

e faz um biquinho.

Como alguém pode ficar bonito fazendo isso?

— Ok, sem bico. — Encaro-o séria, e o mesmo sorri de lado. —


Por que não chama Débora? Pelas tantas vezes que vem aqui e ainda na
minha sala perguntar sobre você, ela adoraria o convite.

— Porque quero ir com você. — diz sério, e é minha vez de


engolir em seco.

— Ok então. — Dou de ombros, como se não significasse nada,


mas por dentro, torno-me um grande caos. — Me manda depois todos os

detalhes, certo?

Ele assente, e se levanta. Quando está próximo da porta para sair,


se vira, e me encara novamente.

— Obrigado, Lola.

Sorrio sem graça, e ele sai, fechando a porta atrás de si. Solto a
respiração que nem percebi que prendia, e levo as mãos à cabeça,
tentando entender o que aconteceu. Para de se iludir, Lola! Óbvio que ele
não vai levar alguém interessada nele, senão, é como sair dando
esperanças e tudo se torna uma grande bola de neve.

Mal sabe ele, que escolheu entre muitas, a garota errada. A que
realmente está apaixonada por ele.

Droga!

Ainda é quarta-feira, e encaro minha sala sem saber o que fazer.

Apenas dois dias me separam de ir a uma festa com ele. Por que acho
que é o acontecimento do ano? Porque talvez seja – minha mente acusa.
O que me põe na linha tênue de: ir por uma noite contra tudo aquilo que

acredito, e me divertir ao lado dele.

Até sábado, preciso decidir o que realmente vale a pena.

Esconder-me do passado, ou ao menos, em uma noite, mostrar-me ao


futuro. É uma difícil escolha a ser feita.
Capítulo 3

Pedro

— Há quanto tempo?

— Fala logo pra que ligou, idiota. Tenho que trabalhar. — Digo
nervoso, e jogo uma toalha nas costas, indo para o banheiro.

Coloco o celular em viva-voz, e deixo em cima da bancada da


pia, enquanto tiro minha roupa.

— Pois é, minha mãe está me enchendo o saco, perguntando onde


diabos o sobrinho favorito dela se meteu.
— Eu sou o único, Chris! — ele gargalha assim como eu. — Mas

diga a tia Lea que domingo passo na casa de vocês, certo?

— Ok, falo pra ela. Agora...

— O que? — coloco o celular novamente na orelha, e ligo a

ducha, testando a água com uma das mãos.

— Está tomando banho por acaso?

— Claro, com o celular debaixo d’água. — Ironizo. — Fala logo

porque ligou.

— Ok. — ouço sua risada baixa. — Como vão as coisas com sua

princesa inabalável?

— Já falei pra não a chamar assim! — sinto a raiva tomar conta

do meu ser, e Chris gargalha com força. — Estou falando sério,


Christopher!

— Ok, ok... Mas me diz, algum avanço?

— Não entendo por que tanto interesse na minha vida amorosa.


— Bufo, e encosto-me contra a parede de frente a pia.

— Que vida amorosa, Pedro? — reviro os olhos. — Sério, quando


foi a última vez que transou com alguém?

— Débora, há umas duas semanas. — Respiro fundo, sem querer

lembrar de como foi um desastre. — Aliás, a culpa é sua, ela vive me


ligando e querendo repetir a dose.

— Eu? Minha culpa?

— Você que nos apresentou, ou não se lembra? — ironizo. —

Além do mais, devia ter me falado que ela...

— Adora homens com nomes respeitados e dinheiro? — respondo

um simples “sim”.

Realmente, ela é desse jeito.

— Mesmo assim, estou a ponto de mandá-la atrás do Soares mais


rico. — Provoco.

— O que? Nem pensar! — diz nervoso. — Sério, Pedro!

— Ok, idiota. Agora posso tomar meu banho em paz e trabalhar,

mamãe?

— Não estou te impedindo. — Ele é realmente insuportável. —

Aliás, vou fazer uma visitinha a minha administradora favorita.

— Não, nem pensar! — praticamente grito. — Christopher, você

não ousaria...

Noto o silêncio descomunal do outro lado da linha, e encaro o

celular. Ele desligou! Filho da mãe!

Praticamente jogo o celular sobre a pia, e entro debaixo da ducha.

Tentando pensar em outra coisa que não seja socar a cara de Christopher
até que desfaça suas palavras. Ele ainda insiste em cercar Lola, tentando

entender o porquê ela não dá bola para ele, e a nenhum outro homem ao
redor. Mas eu conheço seu jogo, ele quer me ajudar com ela. Porém,

Christopher Soares não é nem de longe um bom partido para isso.

Ser de uma família conhecida numa das cidades mais famosas do

país, nunca foi uma dificuldade. Porém, encontrar pessoas que não se
importem com tal coisa, sempre foi o problema. Posso contar nos dedos
de uma mão as pessoas que realmente são meus amigos, pelo que sou,

não pelo sobrenome que carrego. Além de que sou a parte dos Soares que
não vive sob holofotes.

Minha mãe sempre odiou a exibição, e meu tio Rodrigo, fez o


máximo para protegê-la. Ainda mais quando se tornou mãe solo aos
dezoito anos, já que meu pai sequer fez questão de algo. Os boatos sobre

meu pai foram tantos, pelo que ela me conta, que até filho de um jogador
de futebol famoso me consideraram.

As pessoas deveriam é xingar o babaca que abandona uma mulher


grávida com medo do futuro. Porém, a sociedade enxerga o lado que dá

mais audiência, e claro, dinheiro. Por isso, falar da jovem Clarissa


Soares, grávida aos dezoito, foi a melhor matéria naquele momento.

Mamãe até hoje ri do que aconteceu, mesmo que tenha sido


difícil. Ela é minha heroína, pois lutou cada dia sem se deixar abater, por
minha causa. Por ela, eu serei eternamente grato. Teve uma época que

meu pai tentou uma aproximação, isso depois que descobriu que tinha
dinheiro. Seria cômico se não fosse trágico. Um pai, anos depois, decide

ser pai, apenas por dinheiro. Porém, isso não me machuca, porque algo
que aprendi com minha mãe faz sentido: só nos machuca, aquilo que

amamos. Quando a dor vem de onde menos esperamos, aí sim, é dor.

A água desce por meu corpo, e meus pensamentos voam para

Lola. Ela é uma completa incógnita para mim. Nos últimos meses que
finalmente consegui alguma aproximação com ela, pensei que teria
alguma chance de mostrar que quero ser mais que um amigo.

Porém, ela sempre deixou bem clara sua posição. Lola é


impenetrável, e sinto que a cada dia fica mais difícil de manter nossa
amizade. Um passo para frente e dois para trás, a cada vez que nos

vemos.

Há quatro anos que temos o restaurante juntos, e sei que cada um

deles foi difícil para Lola. Por mais fechada que seja, eu soube que ela
estava destruída no momento que a conheci, pois no seu primeiro dia

como administradora, sua vó acabou falecendo.

Fiquei do seu lado, cada momento que pude, mesmo ainda sendo

apenas um desconhecido. Ela me permitiu de certa forma ajudá-la, mas


aos poucos foi se afastando. E no meio disso tudo, nunca, em toda minha
vida, senti-me tão fascinado por uma mulher. Eu quis, e ainda quero,
protegê-la de tudo no mundo. Mesmo que que soe clichê e romântico
demais, pois ela desde o primeiro olhar, deixou-me completamente

encantado.

Termino meu banho, ainda com os pensamentos nela, e assim que

me enxugo, encarando meu reflexo no espelho, abro um sorriso. Ela


aceitou sair comigo, mesmo não sabendo que se trata de um encontro. O

primeiro passo para ser notado é tomar alguma atitude – palavras dela.
Mesmo que não saiba que meu objetivo é conquistá-la. Sempre notei a
forma como se esconde debaixo de roupas grandes, e a falta de

maquiagem. Porém, não é como se faltasse algo nela, que a deixe menos
perfeita. Lola é linda de qualquer forma, vi isso, analisando-a sempre que

posso.

Arrumo-me rapidamente para o trabalho, e assim que abro a porta


da frente, dou de cara com Gael, meu melhor amigo desde a faculdade.

— Caiu da cama? — pergunto, fechando a porta, e ele dá de


ombros.

— Vim saber como andam as coisas com Lolita. — encara-me


curioso, e franzo o cenho, odiando a forma como ele se refere a ela.

— Vão bem. — Dou de ombros, indo em direção ao elevador.


Gael segue o mesmo caminho, já que somos vizinhos, e com
certeza passou em minha casa apenas para fofocar algo. Ele sempre foi
previsível, porém, tenho odiado a cada dia mais sua proximidade com

Lola. Segundo ele, se conseguir uma amizade com ela, pode me ajudar a
conquistá-la. Pior que Christopher pagando de cupido, apenas Gael.

— Tá com cara de quem comeu e não gostou. — Provoca, e


encosto-me contra a parede do elevador.

— Apenas tentando acordar para mais um dia. E você? Como vão

as coisas com Karina?

— No de sempre. — Dá de ombros. — Ela quer namorar, e tento


evitar ao máximo chegar a esse assunto. Aí ela diz pra nunca mais voltar

ao apartamento dela, mas quando apareci lá ontem, ela pareceu não ter

lembrado disso.

— Qual o problema, cara? Vocês estão juntos desde o final da


faculdade, e ainda a enrola. — Constato o óbvio, e seu olhar muda, como

se pensasse em algo aleatório.

— Karina não é a mulher certa. — Encaro-o surpreso.

— Que?

— É a verdade. Não me olhe assim! — levanta as mãos em sinal

de rendição. — Vai me dizer que achou que me casaria com ela?


— Então por que ainda fica com ela? Deixa ela seguir a vida e...

— Há coisas que nunca vai entender, Pedrão! — bate em meu


ombro, no mesmo instante que a porta do elevador se abre. — Te vejo

mais tarde?

Assinto, e o vejo ir em direção a seu carro. Faço o mesmo, e


assim que entro no meu, sinto-me mal por Karina. Realmente tem coisas

que nunca vou entender, e até prefiro que seja assim. Ficar com alguém

apenas para não ser sozinho, faz-me querer ainda mais apenas a

companhia de mim mesmo.


Capítulo 4

Lola

Jogo minha bolsa sobre a mesa, e tento encarar esse dia como
outro qualquer. Porém, não passa de uma mentira que digo a mim mesma

todos os anos. Essa data traz consigo meus piores demônios. Quatro anos

em que perdi a parte sólida de minha vida. Minha querida e amada nona.

Olho ao redor do apartamento, e a passos incertos vou até o

quarto que costumava ser seu, que mantenho da forma que deixou. Abro

a porta devagar, temendo desabar em algum momento. Assim que meus

olhos encaram o interior do cômodo, as lembranças mais felizes de


minha vida me atingem como uma flecha. Suspiro fundo, vendo cada

parte colorida do lugar, que ainda a representa.

As flores em minhas mãos são para levar ao cemitério, o que todo

ano tento fazer, mas acabo não conseguindo. Lembrar do dia de seu
enterro, da forma que tudo aconteceu, faz-me sentir doente. Dói sua

perda, e ainda mais lembrar o circo que nossos familiares fizeram em

torno de tudo. A única coisa que realmente importou para cada um deles
foi a herança. Se Nona estivesse viva, apenas daria de ombros, pois ela já

não se surpreendia com nenhuma ação de nossos parentes, e pior, de

minha mãe, sua própria filha.

Sento-me em sua cama, e deixo as rosas sobre a colcha branca.


Em seu criado mudo, pego uma foto nossa, do primeiro dia no Rio de

Janeiro, de como foi incrível conhecer o Cristo Redentor e as praias.


Sentar na areia e assistir o entardecer que acabou se tornando nosso

passeio especial de todos os domingos. Sorrio de nossa semelhança

física, olhos azuis, cabelos loiros, pele clara que não fica bronzeada de

forma alguma. Porém, o que mais me orgulha, é por sermos

principalmente, parecidas por dentro.

Lágrimas descem por meu rosto, e nem faço questão de limpá-las.

Ainda são sete da manhã, e o dia nublado, parece tão cinza quanto meu

coração. Meu celular toca, e nem preciso olhar para saber quem é. André
sempre me liga todos os anos no mesmo horário, como se fosse nossa
promessa silenciosa.

— Oi, Dé! — respiro fundo, tentando me acalmar.

— Ei, pequena. — Ouvir sua voz é como sentir um abraço

apertado nesse momento tão doloroso. — Como estão as coisas?

— Bom, tentando levar. — Sou sincera. — Nem parece que se

passaram quatro anos. O tempo voou e a cada dia parece que dói mais.

— Adélia não ia te querer assim, Lola. — diz, e sei que está certo.

— Lembra que tudo o que ela sempre quis foi sua felicidade.

Nona me ensinou o que realmente importa na vida – viver com

plenitude, sem medo. Mas ainda não tinha descoberto como o fazer sem

ela.

— Eu sei. — Digo, completamente vencida. — E Lua?

— Bom, presa no banheiro, sem me dizer porquê. — Conta, e


franzo o cenho sem entender.

— Como assim?

— Espera... — escuto-o falar algo com minha irmã, e de repente

um grito.

— Dé! Lua! — chamo, e demora alguns segundos para obter

resposta.
— Lola! — minha irmã diz, e sinto meu coração mais calmo.

Lua é a melhor parte minha, que felizmente, meus pais não

conseguiram mudar ou estragar. Ela fez seu próprio caminho, assim

como André. Estudou alguns anos fora, e logo após terminar, convenceu
André a ir vê-la. Casaram-se na Itália, e só saíram de lá no dia que André

assumiu a presidência da empresa de sua família. Eles vivem no Sul, mas


sei que sonho de ambos é voltar a viver no exterior. Com certeza, o
realizarão um dia.

— O que são esses gritos que ouvi? — pergunto intrigada.

— Hoje é um dia de merda, todos sabemos disso! — direta como

sempre. — Mas, acho que nossa nona, é tão especial que quis tornar esse
dia em algo melhor.

— Como assim? — pergunto, completamente perdida.

— Estou grávida, maninha!

Fico estática, sem saber o que dizer.

— Lua.. Isso é... Meu Deus! — levo a mão a boca, ainda

digerindo a notícia. — Eu vou ter tia! — grito animada.

Lua começa a falar algo, e ao mesmo tempo, encaro a foto de

nossa nona. É como se o sorriso dela para a câmera, iluminasse mais uma
vez este apartamento. Como se de alguma forma, ela tenha transformado
esse dia tão horrível, ao menos, em uma data com algo bom para se

recordar. O dia em que descobri que serei tia, e ainda, que Lua e André
serão pais. Um sobrinho ou sobrinha... Mais um componente da

pequenina e real família que tenho.

— Lola, diz alguma coisa! — minha irmã diz, e pisco, vendo que

sequer prestei atenção.

— Desculpe, eu...

— Vai ser madrinha, sim! — arregalo os olhos. — A resposta é


sim ou claro. Pode dizer!

— Meu Deus, Lua! É claro que vou! — sorrio, em meio as


lágrimas que descem por meu rosto. — Obrigada por esse presente!

— Eu é que vou ficar louca daqui nove meses com ele ou ela...
Você vai fazer sua obrigação de nos ajudar. — Sorrio, sabendo que
mesmo brincando ela fala sério.

— Ok, maninha. Eu vou! — respondo ainda emocionada. —


Como André está?

— Caído na cama, encarando o teto, como se perguntasse: como


vou ser pai?

Gargalhamos, e consigo imaginar a cena perfeitamente.

— Ele vai dar conta.


— Claro que vai! Deu conta de fazer, agora...

— Sem detalhes, pelo amor! — corto-a rapidamente, e ela

gargalha.

— Agora, vou beijar meu marido até desmaiar. — diz animada.


— Eu te amo, maninha! Antes que imagine vou te visitar!

— Ok, pentelha. Eu também te amo.

Ela desfaz a ligação e fico sorrindo em direção ao celular,

enquanto lágrimas tomam conta de mim. Olho pela janela, e vejo o sol
sair dentre as nuvens. Como pode tudo parecer tão sincronizado?

Passo as mãos de leve pelas rosas sobre a cama de nona, e acabo


as pegando. Preciso tomar coragem, por ela, pela vida, de ao menos dessa

vez, ir até o cemitério. Não que ela esteja lá, mas por poder criar alguma
lembrança menos dolorosa daquele lugar.

Assim que encaro as pequenas ruas, e ando até onde me

indicaram, sinto meu coração cada vez mais pesado. Como se fosse
mandada para um exato momento no passado, sinto meu corpo mole e
me seguro para não desabar.

— Não! Vou enterrá-la no sul. — minha mãe gritou diante de


toda nossa família, que de repente estava dentro do apartamento que
dividia com nona.

Não consegui dizer nada, amparada por Lua, após tomar algum

calmante para não surtar mais uma vez. O choque da morte de minha
nona foi tão doloroso que ficar sã, não era mais uma possibilidade

naquele dia.

— Ela deixou um testamento, senhora Gerard. Onde exige que


seja enterrada no Rio de Janeiro. — O advogado disse sem temer.

— O testamento que ainda quero que leia, por que não o faz? —

mamãe insistiu, e senti meu coração despedaçar ainda mais.

A mãe dela estava morta, e tudo o que ela pensava era no


testamento.

— Apenas uma semana após o enterro que isso será feito. É o

pedido da senhora Gonçalves, e não podemos mudar.

— Ok, então! Vamos enterrá-la ainda hoje. — disse de forma fria,


como se não significasse nada.
Senti minha mente pesar, meus olhos quererem fechar, mas a

indignação que me atingiu foi ainda maior. Como ela ousava?

— Como pode?

Minha voz saiu baixa, e o aperto de Lua ao meu redor aumentou.

Senti os olhares de todos sobre mim.

— Do que está falando, Paloma?

— Como ousa? Como ao menos não finge que dói perder sua

mãe? — meu tom de voz aumentou, e os olhos azuis de minha mãe se

arregalaram.

— Paloma...

— Lola. — Corrigi-a no mesmo instante. — O nome que minha

nona deu, que minha verdadeira mãe me chamava! — disse com raiva,

com a dor crescendo em meu interior. — O que faz aqui? Por que fez
questão de vir ao Rio? Por que não ficou na sua mansão escondida do

mundo, fingindo que nem eu nem ela existimos?

— Palo...

— Não fez questão alguma durante todos os anos que se


passaram. — Soltei-me do aperto de Lua, e me levantei, indo até minha

mãe. — Não fez questão de saber de sua própria filha, e agora quer

dar...
— Olhe bem o que vai dizer, Paloma.

— Meu nome é Lola! — disse alto, a encarando com raiva. —

Sabe o que faz aqui? Faz o papel de boa filha, mas nem questão de dar

continuidade tem. Está aqui por dinheiro! Como todos! Quer o dinheiro
da mãe que acabou de perder, da mulher que teve coragem o suficiente

de não viver nesse lixo que você chama de vida!

Nem precisei prever, para saber seu próximo ato. Sua mão
esquerda se encontrou com meu rosto, e eu sorri, encarando-a com mais

nojo.

— Se eu choro hoje, não é pela avó que perdi. Mas pela mãe que

ela foi, e sempre será pra mim. — Enfrentei-a, e o silêncio ao redor


deixou claro que ninguém se intrometeria. — Eu tenho nojo de ser sua

filha, Rachel.

Virei-me de costas, e escutei meu pai me chamar, mas não o


encarei. Fui até onde Lua estava e abri um sorriso sem dentes. Respirei

fundo e me virei para todos.

— Fora do meu apartamento! — exigi, e todos arregalaram os

olhos, mas um a um, saíram dali.

Antes de ir embora, senti o olhar de minha “mãe” sobre mim,

como se me analisasse.
— Ao menos, tenha a decência de ir arrumada ao enterro de sua

vó. — disse por fim, e saiu.

Sorrio pelo ódio que toma conta de meu corpo. Encostei-me no

colo de Lua, e senti carinhos de André em meu cabelo. Nunca, em toda

minha, senti-me tão só.

Paro então a frente do túmulo de minha querida nona. Coloco no

vaso vazio, as flores que comprei com todo carinho – rosas amarelas,

suas favoritas. Lembro-me de como foi horrível aquele dia, o como

minha mãe se importou com suas roupas durante todo o enterro, como se
não existisse algo mais importante.

Mas existia...

Sempre existirá para mim.

— Oi nona. — Digo com pesar. — Sei que não está aqui, mas...
Sinto muito não ter vindo nos outros anos. Dói demais saber que foi aqui

que te deixei na última vez. Eu mudei muito, nona. Se me olhasse agora,

com certeza pegaria sua maleta de maquiagem e me mimaria. Era assim,

não é? — sorrio sozinha. — Eu não faço isso há anos... Digo, me


arrumar. Dói imaginar que a beleza exterior é tão importante, não sinto

falta dela. Mas sabe, tem esse cara... O nome dele é Pedro, já falei sobre

ele algumas vezes com você, em sonhos ou divagando pelo apartamento.


Ele é diferente, não que me olhe além do que vê, mas eu gosto dele. Você

o conheceu, e me dizia, que era um bom partido. — Sorrio, com lágrimas

descendo por meu rosto. — Ele realmente é, mas não me vê da mesma

forma. Me convidou para uma festa sábado, quer dizer, não é um


encontro. Mas com certeza a festa exige algum tipo de vestimenta, como

social... Se você estivesse aqui, eu saberia o que fazer... — calo-me,

sentindo-me completamente perdida.

Fecho os olhos, e uma leve brisa passa por mim, como se me

acalmasse. Por um segundo, vejo a cena de minha nona com a sua maleta

de maquiagem em mãos sorrindo, como se estivesse animada para me

preparar para algo.

— Vai ficar linda, minha querida.

Pisco, e abro os olhos no mesmo instante, vendo que as flores

estão paradas no mesmo lugar. Sorrio, olhando para o céu, como se fosse
um sinal. Talvez seja a hora de deixar o passado no lugar dele e

finalmente, seguir em frente.

— Obrigada, nona.

Saio do cemitério com o rosto banhado de lágrimas, mas com o


coração pela primeira vez em anos, leve. Talvez o certo seja me encontrar

novamente, testar quem sou... Sem pensar em minha família, ou a dor


que passei. Aperto novamente o pingente em meu colar, sentindo-me

mais perto dela, como se tivesse novamente seu abraço quente e


carinhoso. Por ela, e principalmente, por mim, darei uma chance ao me

expor. Hipoteticamente, matamos um leão a cada dia... Eu preciso matar

meus medos e vencer meus demônios para ser feliz novamente.


Capítulo 5

Lola

Analiso alguns papéis, e tento me concentrar em apenas continuar


trabalhando nesse dia. Porém, meus pensamentos estão longe. Em minha

nona, em meu primeiro sobrinho ou sobrinha, e ainda, na festa de sábado.

Respiro fundo, tentando não pensar tanto a respeito. Criar expectativas


sobre algo é sempre o pior. Não posso imaginar o que vai acontecer,

sendo que Pedro me convidou por algum motivo qualquer.

Escuto batidas em minha porta, e logo ela se abre. Sorrio ao ver

Gael, que traz consigo um buquê de flores. Sorrio sem jeito, e me


levanto, indo até ele. Gael é o melhor amigo de Pedro, mas acabou se

tornando alguém muito próximo a mim. Sei bem que ele desconfia de
meus sentimentos por Pedro, mas nunca pressionou algo a respeito.

Agradeço imensamente por isso.

Abraço-o com carinho, e logo me afasto.

— Perdido por aqui? — pergunto, e me encosto contra a mesa.

— Passei pra almoçar, e claro, lembrei de uma amiga. —


Estende-me as rosas brancas, e sorrio sem graça. — Sei que é um dia

difícil pra você. Saiba que estou aqui, ok?

— Obrigada. — Sinto vontade de perguntar como ele sabe a

respeito, mas me contenho, aceitando as flores. — Elas são realmente

lindas. — Não toco no assunto do meu dia difícil, por conta que nada
mudará. Gael é sim próximo, mas não a pessoa com a qual quero me

abrir.

— Então, como está indo? — pergunta um pouco sem jeito, e

encaro-o sem entender.

Ele sempre é animado, insistente, e tenta melhorar o astral de


todos. O próprio Pedro o chama de seu palhaço exclusivo. Por essa razão,

estranho por completo a atitude dele comigo.


— Bem, vivendo um dia de cada vez. — Dou de ombros. — E
você?

— Morto de fome. — é direto, e sorrio.

— Vou deixar as flores aqui, e te acompanhar até sua mesa. Que

tal? — ele assente, e saímos do escritório.

Descemos as escadas conversando amenidades, e finalmente o

Gael que conheço está de volta. Faz-me sorrir a cada passo dado, diante

de suas brincadeiras, e histórias que ambos sabemos, não passam de

invenções. Encaro-o por alguns segundos, enquanto conta algo aleatório,


e me pergunto: Por quê? Por que não posso me apaixonar por um homem

como ele? Pedro vem em minha mente no mesmo instante, e sinto todo

meu corpo estremecer.

A resposta é clara. Estar perto de Gael não me causa nada, mesmo

sendo um moreno lindo, de pele bronzeada, olhos castanhos claros e um

porte atlético invejável. Além de ser um homem atencioso, carinhoso, e

melhor, parece não se importar com minha aparência. Os mistérios do

coração são mesmo indecifráveis.

Levo Gael até sua mesa, e ele me convida para almoçar, porém

nego. Tenho apenas tentado sobreviver a esse dia, enfiando a cara no

trabalho. Com toda certeza, não sou uma boa companhia.


Vou até o balcão principal, onde alguns doces maravilhosos ficam

expostos, e tenho a ideia brilhante e mais do que incrível: comer alguma


gordice para que ao menos meu estômago fique feliz. Entro no balcão, e

Luciana, uma das meninas que atendem ali, encara-me com um sorriso
de lado, como se já soubesse o que vou fazer.

— Quer que pegue para senhora? — Luciana pergunta, e eu a


encaro de forma desgostosa.

— Apenas Lola, Luci.

— É a força do hábito, senhora... Quer dizer, Lola. — Sorri meio


sem jeito, e eu pisco para ela.

— O doce mais enjoativo que tiver, preciso adocicar a vida. —


Peço, e em seguida ela abre uma das portas debaixo do balcão.

Enquanto a vejo procurar o doce, uma voz conhecida chama


minha atenção, além de estar sendo dirigida para mim.

— Pode não ser de um doce que precisa.

Encaro-o e me escoro sobre o balcão. Christopher mantém seu

melhor semblante cafajeste, e não preciso olhar ao redor para saber que
muitas de minhas funcionárias estão babando por ele.

— Como vai, senhor Soares? — pergunto educadamente,


provocando-o.
Sei o quanto ele odeia que seja impessoal.

— Pensei que já tínhamos passado dessa fase. — Finge


indignação, fazendo-me rir. — Pode me chamar de Chris, e se achar

apropriado, gostosão.

— Por Deus, Chris! — gargalho baixo. — Qual o seu problema?

— No momento, você! — encaro-o sem entender. — Mulher


nenhuma resiste a mim, como você faz?

Arqueio uma sobrancelha e escuto Luciana me chamar. Assim

que a olho, vejo suas bochechas coradas diante de Christopher Soares,


também, não basta o homem ser um cafajeste de primeira, é um belo
pedaço de mal caminho. Deve ser carma da família... Porque Pedro é

ainda mais lindo que ele.

Pego o doce com Luciana e agradeço. Ela praticamente corre para

o outro lado do balcão, acho que com medo de ser demitida por ficar
secando o primo do chefe.

— Sou algum tipo de experiência para você? — provoco, e ele

sorri de lado.

Homem cafajeste quando sorri de lado é o mesmo que pedir para

que a mulher a sua frente suspire. Felizmente, para ele, não tenho essa
reação.
— Acredite, você se tornou meu ratinho de laboratório favorito.
— brinca, e o encaro indignada, mas sorrindo. — Agora me diz, qual o
segredo para ser imune a mim?

— Nenhum. — Dou de ombros, olhando a tortinha de chocolate


que Luciana escolheu.

Eu pedi algo enjoativo e bem doce... Uma torta com três tipos de
chocolate é simplesmente perfeita.

— Qual é, Lola? — insiste. — Tem que existir um segredo.

— Vamos dizer que as mulheres imunes a você sejam todas

aquelas que já tem outro homem em seus pensamentos. — Simplifico, e


de repente, o dono dos meus, escolhe o pior momento para aparecer.

— Adora deixar Lola sem graça, não é?

Olho de Pedro para Christopher, que parece se divertir com essa


situação.

— Estou adorando a companhia do seu primo. — Debocho, e


Chris finge que levou uma flechada no coração. — Olha como ele é

adulto! Depois ainda tem coragem de me perguntar porque não lhe dou
bola.

— E o que você respondeu? — encaro Pedro incrédula, sem


entender por que de ele estar dando atenção para a pergunta besta de seu
primo.

— Que tem outro homem em seus pensamentos. — Chris se

adianta, e eu confirmo com a cabeça.

Continuo a encarar Pedro, e pergunto como tudo seria se ele


soubesse que é justamente o homem que não sai da minha mente.

— E quem é ele? — assusto-me com sua pergunta, sem ter

qualquer reação.

— Alguém que não nos interessa. — Christopher diz, e o encaro

aliviada. — Está nos pensamentos nela, e não tem por que sabermos, não

é, Lola?

— É. — respondo de relance, já com vontade de enfiar minha


cabeça em algum buraco.

— Tenho que voltar para a cozinha. — Pedro diz num tom

diferente. — Vejo você no domingo, e pare de atormentar minha sócia.

— Au revoir[2], priminho!

Assim que Pedro sai de meu campo de visão, solto o ar que nem
sabia que segurava. Essa conversa só tenderia piorar caso ele insistisse.

— Então... — encaro Chris, que limpa sua garganta para chamar

minha atenção. — Agora entendi o porquê de não me dar bola.


— Chris. — Penso em como enganá-lo, ou até mesmo mentir,

porém seu olhar é tão penetrante que não consigo fugir. Além de que
estou cansada de esconder tal sentimento. — Obrigada.

— De nada, minha não mais incógnita favorita. — Provoca, e

tento não sorrir, mas é em vão.

— Chris... Por favor, não...

— Fique tranquila. — Pisca em minha direção. — A história

pertence a vocês.

Abro a boca para dizer algo, porém ele é mais rápido.

— Passei apenas para dar um oi, tenho uma reunião agora. Até

mais, Lola!

— Até! — então o vejo sair pela porta da frente.

Encaro novamente o doce em minhas mãos, e sei que é


exatamente disso que preciso. Que o açúcar me dê o foco necessário para

terminar esse dia, pois ele nunca pareceu tão surpreendente. Retomo meu

caminho para o escritório, e assim que entro, ao olhar para as flores que
Gael trouxe, lembro-me de fato a dor que assola meu peito.

Ao menos, a conversa estranha com Pedro e Chris, fez-me

esquecer um pouco da realidade. Sento-me em frente aos intermináveis

papéis, e abro meu doce, já sentindo o cheiro maravilhosos de chocolate.


Torço para que o chocolate faça o mesmo, consiga me desligar do

mundo.
Capítulo 6

Pedro

O expediente se encerra, e saio pela porta dos fundos do

restaurante, tentando espairecer minha mente. Já tirei a touca e o avental,


que são usados para garantir ainda mais a higiene de cada prato

preparado. Sorrio, mesmo muito cansado, após mais um longo dia de


trabalho. É gratificante trabalhar com o que amo – cozinhar.

Passo as mãos por meus cabelos, e novamente mexo as mãos de


forma nervosa, a ansiedade me atingindo com força. Pego rapidamente

um chiclete no bolso traseiro da calça, e o jogo na boca. Comecei a fumar


com dezoito anos, e facilmente me viciei. Foi difícil abandonar o cigarro,

mas aos poucos e insistindo muito, pelo meu sonho, acabei conseguindo.
Mas nunca falta um chiclete em meu bolso, para tentar aliviar a tensão de

momentos que apenas consigo pensar na nicotina como calmante.

Retorno para dentro do restaurante, e me despeço dos últimos

funcionários. Logo a cozinha se encontra vazia, e sorrio olhando ao

redor. Esse lugar foi meu sonho desde o primeiro momento que entrei no
mesmo, quando ainda era um garoto. Chandel, o nome do meu

restaurante favorito na infância, e agora, meu restaurante. Quem diria?

Saio dali, e assim que chego próximo ao balcão de doces,

encontro Lola, um pouco enrolada com um buquê de rosas nas mãos.


Mas o que?

— Ei! — digo, tentando retrair minha curiosidade e desconforto,

mas parece impossível.

— Oi. — me encara, pegando algo na bolsa, e quase derrubando

as flores no chão.

Não seria algo ruim, de todo jeito.

— Precisa de ajuda? — pergunto solícito

Ela bufa baixinho, e meio sem jeito me entrega o buquê. A


vontade que tenho é de arremessá-lo longe, ou melhor, no lixo mais
próximo. Quem teria lhe dado flores?

Apenas fico parado, vendo-a procurar algo na enorme bolsa, e

ignorando meus ciúmes, aproveito o momento para admirá-la. Deus,


nunca vi mulher mais linda! Os cabelos loiros longos de tonalidades

diferentes em cada mecha, a pele clara que só consigo imaginar com a

marca de meus beijos, o corpo curvilíneo que percebo mesmo debaixo de

uma blusa larga que ela usa junto a uma calça jeans não muito justa.

— Achei! — diz animada, e mostra-me uma chave.

Porém, fico parado, encantado com o azul de seus olhos, a boca


naturalmente rosada e a pele livre de qualquer maquiagem. Essa mulher é

um pecado, ou melhor, meu pecado mais lindo.

— Terra chamando Pedro! — pisco algumas vezes, vendo que


sequer ouvi uma palavra dela.

— Oi, desculpe. — Digo sem jeito e ela sorri de lado.

— Anda no mundo da lua. — Provoca, e dou de ombros. Se ela

soubesse o mundo que ando... — Achei as chaves do carro, quase tive

um treco pensando que as perdi.

— Isso não seria algo bom. — Ela assente. — Onde quer que

deixe essas flores? — pergunto, um pouco desdenhoso.


— Ah, vou levá-las para casa. — As pega, e noto como olha com

admiração para cada rosa. — Está indo embora?

— Sim, apenas vou terminar de fechar tudo.

— Bom, eu já vou indo então. — Sorri, e passa por mim.

— Ah, Lola! — chamo-a, e ela se vira para me encarar. — É

alguma data especial? Digo, por conta das flores. — Explico-me, um


pouco sem jeito, e vejo seu semblante mudar por completo.

Notei que ela passou o dia todo trancada no escritório, raro o


momento que a vi conversando com meu primo, e pude vê-la. Algo
estava estranho com ela por todo dia, e me senti um idiota por não saber.

— Faz quatros anos que comecei a trabalhar aqui. — diz baixo,

como se as palavras doessem.

Por um segundo não consigo entender porque não está feliz pelo
tempo que completa aqui. Porém, rapidamente a realidade me dá um

soco. Há quatro anos, no mesmo dia, sua avó veio a falecer.

— Eu...

Não sei o que dizer, e ajo por instinto. Dou dois passos até ela, e
puxo-a para meus braços. Lola não nega, entregando-se a meu aperto.

Escuto-a fungar, e sei que seu choro corre livre. Nunca fomos tão
íntimos, mas sei como a morte de sua avó a marcou, e até hoje, o faz.
Lembro-me de ter comentado com Gael a respeito disso há alguns

dias, enquanto falava sobre Lola, só não sei como me esqueci por
completo de falar com ela justamente hoje. Sinto-me um completo

imbecil.

— Ela com certeza tem muito orgulho da mulher que se tornou.

— Digo baixinho em seu ouvido, ouvindo-a suspirar fundo.

Afastamo-nos um pouco, e passo as mãos por seu rosto, limpando


cada lágrima com meus dedos.

— Não devia ter vindo trabalhar. — Digo com carinho, ainda sem
conseguir me afastar.

Ela sorri um pouco sem jeito, e uma mecha cai sobre seus olhos.
Como no momento mais clichê de minha vida, coloco a mecha atrás de

sua orelha esquerda, e pela primeira vez, vejo-a demonstrar algo. Ela
cora lindamente, fazendo-me sentir o homem mais sortudo do mundo.

Porque por mais indiferente que ela seja a mim, ao menos, consegui
causar algo.

— Está tudo bem. Precisava distrair a cabeça. — Passa as mãos


nos olhos, e afasto as minhas, dando um passo para trás. — Obrigada! —

sua sinceridade é nítida.


Sei que nesse momento ela simplesmente vai se virar e ir embora.
Então dou novamente um passo e a puxo, dando um leve beijo em sua
testa.

— Estou aqui, para o que precisar. — Deixo meu coração falar, e


sinto seu corpo relaxar.

— Eu sei, Pedro. — Encara-me, e me surpreendendo por


completo, deixa um leve beijo em meu rosto. — Até amanhã!

Ela então se vira e vai embora. Esqueço-me por completo das


flores, e de meus ciúmes, apenas sentindo o lado esquerdo de meu rosto
formigar. Feito um verdadeiro adolescente, fico ali, completamente

estático. Levo a mão esquerda até minha bochecha e sorrio feito bobo.
Pela primeira vez na vida cogito a possibilidade de nunca mais lavar o

rosto.
Capítulo 7

Lola

Olho para o espelho, e sequer consigo acreditar no que vejo.

Respiro fundo, tentando absorver minha própria imagem, mas parece


impossível. Há quanto tempo não uso um vestido?

Prendo meus cabelos no alto da cabeça, e encaro de todas as

formas o espelho do provador. A imagem que tenho me atinge em cheio.


Lembro-me claramente da forma como fui criada, das normas disfarçadas
de dicas, e por um segundo a pergunta mais idiota do mundo passa por

minha mente: Rachel aprovaria isso?

Reviro os olhos, e a resposta é clara, ela odiaria, por não ser de

uma marca conhecida e mais cinquenta defeitos que com certeza


inventaria. Tiro o vestido tomara que caia de um vinho escuro beirando o

roxo, e parto para o próximo. Não sei quanto tempo se passa, mas parece

uma eternidade dentro do provador.

Em algum momento da tarde de sexta-feira, na qual não trabalho,


vi-me já em direção ao shopping, para assistir algum filme e comer muita

pipoca. O problema é que sequer cheguei ao cinema, sendo que parei na

primeira loja de vestidos, vidrada na vitrine deles. O que me motivou a


entrar é a vontade de provar a mim mesma que sou capaz de superar o

fato de que beleza não é tudo, mas nem por isso preciso simplesmente
ignorar minhas próprias vontades.

Eu quero ir ao jantar com Pedro. Quero de alguma forma estar em


um vestido lindo e poder desfilar com ele para cima e para baixo. O quão

ruim isso pode ser? Acho que nem um pouco, sendo que é uma escolha

que fiz, nada imposto. Portanto, estou aqui, encarando o último vestido

que peguei, e torcendo internamente para que ao menos esse dê certo.

Assim que o vestido se ajusta ao meu corpo, arregalo os olhos

para como me vejo. Os outros me causaram certa surpresa, mas pelo fato
de depois de anos estar dentro de uma peça como essas, entretanto, esse
parece ter sido feito sob medida para mim. Um sorriso se abre em meu

rosto, imaginando como nona piraria se me visse dessa forma. Analiso

cada detalhe, e opto por levá-lo, pois de alguma forma, quero me

encontrar novamente.

Saio do provador após o tirar e me vestir, e sorrio sem graça para

a vendedora que pacientemente me esperou do lado de fora. Entrego a ela

o vestido e um sorriso amplo se abre em seu rosto. Com certeza, sua

comissão será boa.

— Obrigada. — Digo ao passar pelo caixa e saio de lá com uma

sacola linda em mãos.

Há quanto tempo não faço isso?

Vou em direção a praça de alimentação, e acabo desistindo do

cinema por simplesmente estar exausta e querer logo minha cama. A

preguiça de ter que cozinhar me atinge, e peço uma batata recheada. Algo

rápido e que posso comer com tranquilidade, depois ir para casa e apenas

capotar na cama.

Assim que meu pedido está pronto, pego-o e vou em direção a

uma mesa. Coloco a sacola na cadeira ao meu lado, e cheiro com vontade
a batata a minha frente. Batata recheada à bolonhesa, como algo pode ser

tão bom? Ou melhor, o que pode não ser bom com batata?

Começo a comer tranquilamente, e me assusto no segundo que

sinto duas mãos sobre meus ombros. Meu embaraço é tanto, que assim
que encaro o homem atrás de mim, bato com força em seu peito.

— Que susto, Gael!

— Ei! — gargalha e o encaro com raiva. — Não podia te


encontrar aqui e simplesmente dizer “oi”. Tinha que ser épico.

— Um verdadeiro cavalheiro. — Provoco e ele pisca, sentando-se


a minha frente.

— Veio as compras? — pergunta, olhando em direção a sacola, e

dou de ombros, assentindo.

— Meio que isso, misturado ao fato de estar morta de fome no


momento. — Tomo um pouco do refrigerante, e o encaro. — E você, o

que faz por aqui?

— Me escondendo dos problemas. — Franzo o cenho sem

entender, e ele apoia os cotovelos na mesa, encarando-me um pouco sem


jeito. — É complicado demais para explicar.

— Tudo bem. — Sorrio com carinho. — Tem coisas que apenas


não dá pra dizer.
— É. — complementa sem graça, e me analisa por alguns

instantes. — Como vão as coisas no restaurante?

— Bem, aliás, não estou faltando no trabalho. —Arqueio a

sobrancelha e ele ri de lado. — É minha folga hoje.

— Pedro me falou a respeito em algum momento.

Só de ouvir o nome de Pedro um suspiro profundo me escapa.


Felizmente, Gael engata num monólogo a respeito da batata que como, e

acabo forçando alguns poucos sorrisos sem querer ser inconveniente e


falar a respeito de meus sentimentos por seu melhor amigo.

Acabo viajando em meu mundinho, e lembro do que conversei


com Gael a tempos atrás. Não sei em que momento chegamos ao assunto,
num dos dias que ele foi ao restaurante, mas de repente, falamos sobre

Pedro, e ele me contou algumas das aventuras dos dois, principalmente,


amorosas.

Isso ainda paira sobre minha mente, e principalmente meu


coração. Como saber mais sobre o homem que amo, sendo que não tenho

coragem de perguntar algo a seu melhor amigo, e muito menos para o


próprio?

— Você está em qualquer lugar... Menos aqui. — Pisco algumas

vezes, e forço mais um sorriso. — Não precisa fingir nada comigo, Lola.
Se estou te entediando só me dizer.

Seu olhar não é magoado, ele apenas me observa e espera a

resposta. Mas o que dizer? Que estou perdida em pensamentos a respeito


de Pedro?

— Posso fazer uma pergunta completamente aleatória? — tomo

coragem, e ele me encara curioso.

— Vá em frente!

— Lembra de quando me falou sobre a “mulher que Pedro ama”?


Há um mês, eu acho... Não me lembro bem.

Eu me lembrava bem de suas palavras... Porém, tentei não levar a


sério. Gael adorava contar histórias, e considerei, através de meu coração

apaixonado, que fora apenas uma brincadeira a respeito de Pedro ser


solteiro. Mas quem sabe... Poderia ser real.

— Eu me lembro. — Responde de forma estranha e seu

semblante muda.

— Quem é ela? Digo, por que ela seria uma mulher impossível?

— não resisto em perguntar.

Gael se encosta na cadeira, e antes que desconfie de meus

sentimentos, tento disfarçar.


— Digo, vocês dois são solteiros. Você eu sei que por opção,
certo? — ele assente. — Mas por que Pedro não vai atrás dessa mulher?

Ele parece pensar um pouco, e me encara um pouco sem graça.

— Bom, digamos que é complicado. — Dá de ombros. — Ela


casou muito nova por conta de uma gravidez... Isso é o que ele me

contou por cima. Eles perderam o contato por muito tempo, e pelo que

sei, está casada até hoje.

— Isso faz quanto tempo?

— Uns dez anos, desde a última vez que realmente estiveram

juntos. — Arregalo os olhos, estática com suas palavras.

— Ele deve amá-la muito. — As palavras saem praticamente


forçadas de minha boca, e com gosto horrível da tristeza.

— Do jeito dele, com toda certeza. — Sorri de lado. — Mas e

você? É uma mulher linda, inteligente, interessante... Não me diga que


esse coraçãozinho tem dono desde sempre?

— Ah! — sou pega de surpresa com sua pergunta, e por um

segundo penso em confessar a ele o que realmente sinto, porém, me

nego.

Pode apenas piorar tudo, e Pedro descobrir sobre o que sinto, e

assim, acabar destruindo a paz em meu querido restaurante. Ainda mais


agora tendo a certeza de que o coração dele tem dona, e pelo jeito, ela

ainda o será por um bom tempo.

— Pela sua cara, tenho certeza de que sim.

— Não, quer dizer...

— Lola, está tudo bem. Pedro é louco por Melissa há tanto tempo
que qualquer pessoa que é apaixonada por outra, eu não tenho direito

algum de julgar, já que tenho exemplo de perto.

— Melissa? — pergunto um pouco sem jeito, e ele assente.

— É o nome dela. — Esclarece, dando de ombros. — Pelo que


sei ela se casou com um cara tão rico quanto ela, e são donos da empresa

de telecomunicações mais famosa do país.

— Ah sim. — tento disfarçar a tristeza em meu sorriso. — Isso

deve machucar Pedro.

— Ele supera... Um dia. — Assinto, e felizmente, Gael muda de

assunto.

Quando chego em casa, cerca de uma hora depois. Deixo a sacola


sobre o sofá, e sem pensar duas vezes pego o notebook jogado sobre a

mesa de centro. Assim que abro o navegador de internet, digito


rapidamente o nome da mulher que Pedro tem em seu coração, e

relaciono a telecomunicações, na esperança de encontrar algo.

Felizmente ou infelizmente, várias fotos dela infestam minha

pesquisa, assim como de seu marido. Clico na mais recente, e me assusto


ao ler a respeito de um assunto sobre eles. Pelo que parece ela sofreu um

feio acidente, e ele está afastado da empresa para lhe dar toda atenção.

Pelos olhares que ambos dão um ao outro, é fácil reconhecer o amor que
os une. A admiração nos olhos verdes dele por ela, é incrível, assim

como os castanhos dela brilham por ele. Pelo que a matéria diz, é uma

foto de cerca de meses atrás. Eles parecem tão felizes, que consigo sentir

a dor de Pedro por vê-la dessa forma.

Fecho o notebook sem querer saber de mais nada, e meus olhos

recaem sobre a sacola, o que me faz pensar no dia de amanhã. Tinha

confirmado minha presença com Pedro, e tudo o que quero fazer é


simplesmente me esconder e encontrar um jeito de arrancá-lo de meu

coração.

De repente, uma ideia sem nexo me bate na mente, sobre como as

coisas seriam, caso ele pudesse se apaixonar por outra pessoa... No caso,
eu. Talvez, exista alguma chance do mesmo olhar ao redor e me

encontrar amanhã, e quem sabe, se demonstrar algum interesse, seus

olhos passem de amigos para algo “mais”. Esconder-me não o fará me


enxergar, muito menos esquecer a tal Melissa. Preciso de alguma forma,

mostrar a ele quem sou, e que posso ser a dona de seu coração.
Capítulo 8

Pedro

Aguardo a frente de seu prédio, encostado em meu carro, sem


saber muito bem como disfarçar minha ansiedade em vê-la. Depois

desses quatro anos, é a primeira vez que tomo coragem de chamá-la para

sair. Tecnicamente é um jantar de negócios, mas ela não precisa saber


que ele não existe. Que na realidade, ninguém além de nós dividirá uma

mesa nessa noite.

Olho em meu relógio as horas e fico cada vez mais impaciente.

Liguei para ela há poucos minutos, a qual me disse que estava descendo,
porém, ainda nenhum sinal. Mexo as mãos nervosamente e tento não

pensar muito em como agir, pois não quero parecer um completo idiota,
demonstrando de cara que armei tudo. Talvez ela entenda, porém, pode

simplesmente me mandar a merda e nunca mais querer olhar na minha

cara.

Bato os pés repetidas vezes na calçada, e olho para seu prédio a

cada dois segundos. Nunca, em toda minha vida me senti dessa forma por
alguém.

Meu celular toca e sem sequer olhar no visor, o atendo. Já com a

esperança de que seja ela.

— Oi, aconteceu alguma coisa?

— Eu que pergunto, Pedrão! — franzo o cenho.

— O que foi, Gael?

Passo as mãos por meus cabelos, e levanto meu olhar. Meu corpo

todo paralisa com a visão que tenho. Escuto Gael do outro lado da

ligação, mas não consigo responder. Meu foco é a mulher que caminha

perfeitamente até mim.

— Nos falamos depois. — Digo no automático e desfaço a

ligação, colocando o celular no bolso.


Tenho certeza de que minha boca está aberta e minha surpresa
nítida. De todas as formas que imaginei Lola vestida para essa noite,

nenhuma delas faz jus a mulher a minha frente. É quase impossível

reconhecê-la, diante da forma que se veste, que seu rosto está.

— Nossa. — A palavra escapa de minha boca, enquanto ela ainda

caminha até mim.

Tento me recompor, mas é impossível. Lola usa um vestido preto


curto que delineia perfeitamente seu corpo, com um decote profundo e

mangas compridas, e que parece ter sido feito para ela. Não entendo nada

sobre tecidos, mas a cada passo que ela dá, um certo brilho aparece e

some do preto, como se me hipnotizasse. Minha inspeção não acaba,

ainda mais quando chego em seu rosto, e... Uau! Ela não usa nada

extravagante, mas a pouca maquiagem já chama ainda mais atenção a


seus olhos azuis bem-marcados, e os lábios num tom de vermelho. Os

cabelos estão presos no alto da cabeça, deixando seu pescoço exposto, e

tudo o que mais sonho nesse instante, e um dia, poder marcá-la bem ali.

Deus que me ajude nessa noite!

— Pedro! — engulo em seco, só então notando que ela está


apenas a dois passos. — Tudo bem?
— Não... — desencosto-me do carro, tentando não parecer um

idiota. — Quer dizer, sim! Claro que sim!

— Ah... pareceu estar divagando de novo. — Sorri, e não faço a

mínima ideia de como meu coração não parou.

Seu cheiro me inebria no mesmo instante, um perfume que me


marca como ferro quente. Num ato de coragem, aproximo-me, e a puxo

para perto, dando um leve beijo em seu rosto.

— Desculpe meus maus modos. — Digo, afastando-me

lentamente dela.

O ar ao nosso redor de repente se torna pesado, me pergunto

como ela pode ser tão indiferente a mim? Sendo que estou queimando
por ela.

— Tudo bem. — Sorri, mordendo levemente o lábio.

Porra!

— Pronto? — assinto, abrindo a porta do carro, a convidando


para entrar.

Ela então se senta, e cruza fatalmente as pernas, deixando-me


boquiaberto. Engulo em seco mais uma vez, controlando-me ao máximo

para não jogar tudo no ventilador, e beijá-la como sempre sonhei.


— Obrigada. — diz um pouco tímida, e minha Lola de sempre

está ali.

Ela é a mistura mais inédita e única que conheci. Hoje vejo um

lado de Lola que sequer sabia da existência, uma mulher fatal, ao mesmo
tempo que vejo a mulher doce que sempre convivi.

— Você está linda. — Digo e ela abre a boca, mas nada sai.

Sorrio, fechando a porta do carro, e dando a volta rapidamente até

a do motorista. Assim que entro no carro, fecho a porta e coloco o cinto,


levanto rapidamente o olhar para ela, que me encara, analisando-me por
completo.

— Está muito bonito também. — diz, surpreendendo-me.

Ela então sorri abertamente, como se fosse a dona de toda a


situação. E porra, ela é! Por completo!

— Você está vermelho, Pedro! — olho no mesmo instante o

retrovisor, enquanto escuto sua risada baixa. — Como se nenhuma


mulher tivesse te chamado assim antes.

Nenhuma que me importasse...

Constato o que ela diz, assim que vejo meu reflexo. Por essa

reação, de fato, nunca esperei. Porém, como um homem pode ficar diante
da mulher que o tem por completo? Com certeza, entregue.
— Ok, piadista da noite. — Tento suavizar a situação, e a encaro.
— Preparada para o jantar?

— Quem vai conversar com eles será você, não é? — assinto


automaticamente, diante da minha mentira. Sou péssimo nisso. — Então,
tudo tranquilo.

— Vamos então!

Dou partida com o carro, e tento me concentrar no caminho,

mesmo sendo puxado para a mulher sentada ao meu lado, que parece um
verdadeiro imã. Não sei se ela sente o mesmo, mas assim que paro no
primeiro semáforo, Lola começa a mexer no painel, e coloca uma

música, sem ao menos perguntar ou dizer algo.

Sorrio, vendo que está mais solta comigo. Mas a música que com

toda certeza seria para nos deixar mais confortáveis, parece por fim,
traduzir a situação. Ao menos, a minha.

“You're just too good to be true

I can't take my eyes off you

You'd be like heaven to touch

I wanna hold you so much

At long last love has arrived


And I thank God I'm alive

You're just too good to be true

Can't take my eyes off you

Pardon the way that I stare

There's nothing else to compare

The sight of you leaves me weak

There are no words left to speak

But if you feel like I feel

Please let me know that is real

You're just too good to be true

I can't take my eyes off you”[3]

Seu olhar está preso no meu, e tudo o que consigo pensar é em ter

o gosto dos seus lábios. O ar fica ainda mais pesado, a boca de Lola se

abre, como se quisesse dizer algo, e por um segundo, temo que fuja.
Porém, no seguinte, o som alto de buzinas me faz voltar a realidade, e

Lola vira rapidamente a cabeça em direção a janela. Saio com o carro,


com os pensamentos ainda mais confusos. Por um breve momento, tive a

certeza de que ela me quer também.


Capítulo 9

Lola

Pedro finalmente para o carro de frente a um belo restaurante, e


solto o ar profundamente, tentando não focar no homem lindo ao meu

lado.

— A festa também vai ser aqui? — indago incerta, notando que o


local não parece tão amplo para acomodar uma festa pós jantar de

negócios como o mesmo tinha comentado.

— Bom... — encaro-o, e ele ajeita as mangas da blusa social


cinza chumbo. — Foi o que me passaram. Acho que não será algo de
grande parte.

Assinto, já tendo em mente como a cabeça da maioria das pessoas

que negociamos funciona. Muitos adoram esbanjar dinheiro. Então, um

jantar seguido de uma festa, com certeza é a cara deles, ainda mais para
comemorar, quem sabe, um novo contrato.

Tiro o cinto de segurança, e escuto a porta de Pedro abrir, e

rapidamente, ele dá a volta no carro, abrindo a minha. Sorrio sem jeito,

assim que encontro seu olhar no meu. Ele parece um pouco sem jeito, o
que me deixa intrigada. Noto como me encara, e uma pequena pontada

acerta meu coração. Será que minha aparência mudou tanto que ele

sequer me reconhece?

Saio do carro, e o vejo entregar a chave a um rapaz simpático do

restaurante que vai estacioná-lo.

— Obrigada.

Incrível como não me sinto tão estranha sobre um salto alto fino,

estando agora ainda mais próxima de Pedro. Ele então sorri de lado, o

que me faz quebrar por dentro, sem conseguir evitar uma nova análise.

Com toda certeza é o homem mais lindo que já vi. Não sei descrever ao

certo como o faz, mas sua presença é tão imponente, assim como o olhar
doce que me lança. Por um segundo é como se lesse minha alma, sinto-
me completamente exposta.

— Vamos! — tomo coragem de dizer, e ele assente, oferecendo-


me seu braço.

Abro a boca uma vez pensando no que dizer e acabo desistindo.

Olho-o novamente, e o sorriso nervoso em seu rosto, faz-me sentir pela

primeira vez na noite uma mulher poderosa. De alguma forma, Pedro


está afetado.

Engancho-me em seu braço, e no mesmo instante, sinto seu


perfume ao meu redor, inebriando-me. Como no carro, a tensão no ar

parece palpável. Tento afastar os pensamentos de que há poucos minutos

senti que o mesmo ia me beijar. Minha sonhadora e tola cabeça

apaixonada, como sempre, armando para meu coração.

— Tudo bem? — pergunta baixinho, e recuso-me a olhá-lo.

Sinto como se essa noite fosse a primeira que vivo em anos.

Pedro parece entender meu silêncio e logo adentramos o restaurante.

Enquanto o mesmo fala sobre nossa reserva com uma mulher que o

encara como um belo pedaço de carne, tento me segurar para não o tocar

como quero, e deixar claro a quem ele pertence. Ao menos, em meus

pensamentos, posso sonhar com isso.


Vejo-o sorrir de forma sedutora para a mulher e meu sangue

ferve, como nunca. Eu sei bem que ele não é um santo, mas o assistir em
ação é completamente diferente do que vê-lo dispensando alguém.

— Pedro. — Chamo-o sem conseguir me segurar.

Ele então parece lembrar de minha presença e dá alguns passos


em minha direção, já que me afastei, na falha tentativa de disfarçar meu

foco em “seu momento”.

— Oi, desculpe. — diz um pouco sem jeito. — Parece que os

anfitriões não virão, a mulher de um deles passou mal e foram ao


hospital, minutos antes de chegarmos.

Arregalo os olhos, surpresa com a situação.

— Nossa! Mas ela está bem? — Pedro fica branco feito papel, e
franzo o cenho sem entender.

— Vou mandar uma mensagem para o marido dela e desejar

melhoras. — Força um sorriso, e mal o reconheço.

O Pedro que conheço é solto, alegre, brincalhão.... Nunca tão

rígido como o que está a minha frente.

— Então, nós já vamos? — pergunto sem graça, sem conseguir

pensar diante de sua imponência.


— Por que não aproveitamos a reserva e jantamos juntos? —

surpreende-me por completo. — Claro se não tiver...

— Tudo bem. — Digo rapidamente, finalmente tomando uma

atitude.

Pela primeira vez em anos, me maquiei, coloquei saltos e um

vestido sexy, e simplesmente não consigo jantar com ele?

Decidi no momento que aceitei o convite que nessa é a noite na

qual quero mostrar a Pedro tudo o que conseguir sobre mim, ao menos,
algo que ele ainda não tenha visto ou conheça. Esconder-me feito uma
boba e não ter atitude alguma, não mudará a situação. Vou continuar

sendo apenas a sócia que suspira pelos cantos e não consegue assumir o
que sente.

Mas eu quero mais... muito mais. Seja lá o que Pedro possa me


oferecer, nessa noite, vou além.

Assim que nos sentamos na mesa, o clima entre nós continua


tenso, e tento encontrar em minha mente algo que possa melhorar isso.

— Tem certeza de que quer jantar aqui? Quer dizer, comigo? —

tomo a iniciativa, e Pedro me encara sem graça.

— Devo estar parecendo um idiota.


Sua sinceridade é tão nítida, que novamente algo dentro de mim é
tocado. Sorrio, vendo-o colocar os braços sobre a mesa, e logo levando
uma mão ao cabelo, dando a ele um aspecto selvagem. Num ato de

coragem, toco sua mão, e o formigamento que percorre todo meu corpo
me faz encará-lo no mesmo instante. Seus olhos estão nos meus, como se

sentisse o mesmo. Resolvo então, pela primeira vez, apenas aproveitar o


momento.

— Nem se quisesse, ia conseguir ser um idiota.

Ele então sorri, do modo cafajeste que o deixa irresistível. Antes


que eu possa puxar minha mão de volta, ele as entrelaça, levando-a

rapidamente a sua boca, onde deposita um leve beijo.

— Obrigado.

— Pelo que? — indago, ainda perdida por seu toque tão íntimo.

— Por ser quem é, Lola. — Surpreendo-me mais uma vez nessa

noite. — Por ser uma mulher incrível.

— Pedro...

— Sei que pode parecer estranho, mas... Droga, eu nem sei o que
dizer. — Suspira fundo, por um segundo noto sua insegurança. — Quero

que me enxergue além de seu sócio nessa noite.


Tenho certeza de que minha boca está entreaberta, e que não há
mais nada que possa me deixar espantada no momento. Simplesmente,
tudo o que não esperava está acontecendo. Um sorriso se abre em meu

rosto sem que precise pensar. Apenas ajo, tentando encontrar muito além
que mim mesma, mas o homem que amo.

— Só se fizer o mesmo. — O desafio, e ele arqueia a sobrancelha


esquerda, demonstrando que não esperava tal resposta.

— Então... Lola. — diz meu nome de forma tão sexy que sinto

meu corpo queimar por dentro. — O que vai pedir essa noite?

Você!

Tento encontrar as palavras certas, entender-me novamente. Mas


acabo por me deixar levar. É uma escolha que me pertence, e o olhar de

Pedro apenas demonstra que se eu der um passo, ele vai pular comigo.

Recosto-me contra a cadeira, e puxo minha mão delicadamente da


sua. Encaro-o da forma que sempre quis, mostrando que sou muito além

de tímida, doce e reservada. Sou a mulher que pode enlouquecê-lo.

— Então? — insiste.

Pega o cardápio a sua frente, olhando-o de relance, como se não


estivesse interessado na comida. Ao menos, eu não estou.

— Você.
Minha voz sai firme, em alto e bom som. Vejo-o engolir em seco,

como se sentisse desconfortável de repente, deixando o cardápio de volta


a mesa.

— Lola...

— É o meu pedido da noite, Pedro.

De repente toda a insegurança de Pedro parece se esvair, e tudo o

que consigo pensar, é em sua reação. Ele então curva os lábios

ligeiramente para o lado, com os olhos atentos a cada parte minha, como

se quisesse me guardar em sua memória.

— Seu pedido é uma ordem, boneca.


Capítulo 10

Lola

Pedro não pensa duas vezes e levanta a mão, chamando o garçom.


O vejo pedir a conta e se desculpar por alguma coisa, porém meu foco

são seus olhos, que nunca estiveram tão vivos a minha frente. Quando
seu olhar retorna ao meu, tenho a certeza – nessa noite, serei dele.

— Obrigado. — diz ao garçom e me encara cauteloso.

Sua mão toca a minha mais uma vez sobre a mesa, e sinto aquela

conexão palpável entre nossas peles. É algo clichê dos livros, porém,
nunca foi tão real como nesse instante. Ele então se levanta, e por

instinto, faço o mesmo. Realmente, não sei ao certo o que estou fazendo!

Saímos do restaurante e assim que o ar da noite toca minha pele,

fico completamente inerte, sem saber como fugir ou até mesmo o que
dizer para continuar. Uma de suas mãos está na base da minha cintura, e

esse simples gesto, me tem acesa para ele. A questão é: o que ele sente a

respeito?

— Pedro. — Decido tomar alguma atitude.

Seu olhar encontra o meu, e noto a diferença com a qual me

encara. Algo está acontecendo, não posso ser a única a pirar.

— Lola, olha...

— Não, não diz nada. — Peço, e me aproximo dele, tomando

coragem de tocar seu rosto.

A barba por fazer faz minha pele se arrepiar, além do calor que

sua pele emana. Seus olhos se fecham por um instante, e sinto que estou

indo pelo caminho certo. Ele também sente a mesma atração... Encaro a

realidade nesse momento.

Quando meus dedos tocam seus lábios, num leve carinho, ele abre

os olhos azuis, e os noto nublados pelo desejo. Sem que eu precise dizer
algo, apenas sinto uma de suas mãos tirando a minha de seu rosto, e a
deixando atrás de seu pescoço. E ali, na frente do restaurante, numa noite
amena, sinto pela primeira vez, o gosto dos seus lábios.

O beijo se inicia leve, e aos poucos aprendo que nada se compara


a estar nos braços do homem pelo qual sou apaixonada. O toque dele em

minhas costas, puxando-me ainda mais para perto, a delicadeza que sua

língua pede passagem para minha, e de repente, estou imersa no

momento mais pecaminoso. Pois de fora, tenho certeza, que não há nada

além do que dois amantes se pegando literalmente. Mas quem se

importa?

Eu estou nos braços do homem que amo, como sempre quis estar.

Nada mais me importa.

Ele aos poucos solta minha nuca, e o beijo vai ficando calmo, até

que nos separamos de vez. Encaramo-nos, e acabo sorrindo, sem ao

menos saber o porquê. Estou feliz, pois nunca imaginei que nessa noite, o

teria tão próximo a mim. Ele não diz nada, apenas passa a mão de leve

por meus lábios, acho que limpando um pouco do batom que com certeza
está manchado, e em seguida, segura de leve minha cintura, guiando-me

até seu carro.

Assim que entro no veículo, tento fingir que nada me abalou, mas

é impossível. Tento não olhar para Pedro, mas no instante em que o


mesmo coloca o cinto de segurança, ele toca de leve meu queixo, e me

olha profundamente.

— Está arrependida?

Surpreendo-me com sua pergunta, e apenas nego com a cabeça.

— Não vamos fazer nada que não queira. — diz, e noto sua voz

mais rouca que o normal. Ele parece perdido, mas ao mesmo tempo,
completamente decidido sobre o que quer. — Apenas me diz o que quer,
boneca.

— Eu já disse. — Engulo em seco, e o vejo me encarar com ainda


mais desejo.

— Diz mais uma vez, só para eu ter certeza de que não estou

maluco.

Sorrio de lado e noto que posso ter poder por esse homem... Basta
saber jogar seu jogo.

— Você, Pedro Soares. — Digo firme, e seu toque em meu


queixo aumenta, deixando-me ainda mais desejosa por ele. — Quero

você!

— Você vai me ter, boneca. — Dá-me um leve selinho, e se

afasta.
Fico atordoada por alguns segundos, mas assim que sinto sua mão

direta em minha coxa esquerda, num aperto dolorido, sei que ambos
precisamos dessa noite. Algo mudou dentro daquele restaurante. E

enquanto Pedro dirige, eu sei que muito mais pode mudar.

Não sei por que, mas assim que Pedro abre a porta do seu

apartamento, sinto que estou cometendo o pior erro da minha vida. Ele
não me tocou mais após sairmos do carro, e ficou apenas me encarando
feito um predador pelo reflexo do espelho do elevador. Eu estou aqui,

apenas esperando um passo seu, pois de todas as vezes em que estive


com alguém em minha vida, essa é a primeira em que a insegurança me

bate.

E se for ruim?

E se for um completo desastre?

Suspiro fundo, e seguro minha bolsa com força. Talvez o certo


seja deixar para lá e simplesmente ir embora. Decidida, viro-me para

contar a ele, no instante em que escuto o trinco da porta.

Viro-me e nem tenho tempo para pensar, seus lábios cobrem os


meus. Seguro-me contra suas costas, que agora não estão mais cobertas
por nenhum tecido. Não sei em que momento ele o fez, mas aproveito
para tatear cada pequeno pedacinho de sua pele, que me deixa ainda mais
pronta. Seu corpo levanta o meu, e em seguida, ele se afasta, olhando-me

com devoção.

Sem dizer nada, ele me leva por um corredor, e quando noto,

estamos em seu quarto, e eu sobre sua cama. Pedro fica de pé, apenas me
encarando por alguns segundos. Não sei o que ele pensa... Mas sei que

nada mais faz sentido. Eu apenas o quero. Toda a insegurança voando


para longe.

— Eu pensei em te atacar no carro... — começa a dizer, no

segundo em que abre o botão da calça, e o que faço é assistir a cena mais
erótica de minha vida. — Dentro do elevador... — calças fora, e fico

completamente inerte diante do seu corpo que parece ter sido esculpido
para me desorientar.

Apenas de cueca, Pedro sobe na cama, e me encurrala. Sinto-me a


sua mercê, mas ao mesmo tempo como a dona do momento. Ele está
dessa forma por mim, e para mim. Como não sentir meu coração pular no

peito, e meu corpo reagir instantaneamente?

— Mas eu não o fiz. — Desce seu rosto para meu pescoço e deixa

um leve beijo, fazendo-me arfar.


— Não. — Finalmente encontro minha voz, e ele sorri,
presunçoso.

— Porque se o fizesse, não ia conseguir parar. — Encara-me


profundamente. — Tem certeza?

— Sim. — Digo com toda verdade que explode em meu peito, e

seus olhos mostram um brilho que não sei explicar.

— Não vai se arrepender, boneca. — Toca de leve meu rosto. —


Isso é uma promessa.

Seus lábios descem para os meus, e me agarro a ele no mesmo

instante. Pedro me seduz da forma que ninguém, em momento algum,

sequer, pensou em fazer. Assim, só penso que posso mostrar a ele, que
sou a única capaz de deixá-lo fora de si. Ao menos, posso tentar.

Meio sem jeito, lembro-me das aulas de luta que tive há algum

tempo, e consigo virá-lo na cama, ficando sobre seu corpo. Pedro me


encara surpreso, e antes que pense em fazer algo, apenas puxo o zíper do

vestido, e o tiro pela cabeça. Ficando apenas lingerie sobre ele. Pedro

passa as mãos de leve por meus quadris, e quando percebo, suas mãos

tomam conta de minha bunda, fazendo-me derreter ali mesmo.

— Você é perfeita. — diz, admirando-me com paixão.


Solto o sutiã, e deixo cair do lado cama, e vagarosamente consigo

tirar minha calcinha. Pedro engole em seco, dando-me espaço para


levantar e me livrar da última peça. Meus cabelos antes num coque,

bagunçados por nossos beijos, são soltos e caem sobre nós, como uma

cortina. Pedro se senta na cama, e em instantes fica nu, fazendo-me babar


diante dele.

No quarto, a luz está acesa, e só nesse momento me dou conta do

quão exposta estou. Porém não me importo, e sem sequer dizer algo, vou

até ele, sentando-me sobre seu colo, e encontrando meu próprio paraíso.
Pedro me beija com paixão e retribuo, sentindo novamente o mesmo me

colocar contra o colchão. No momento em que me toca, solta um baixo

rosnado, e acabo sorrindo em meio a um gemido.

— Não, sem preliminares. — Praticamente imploro, vendo qual é

sua intenção.

Ele assente, e o vejo pegar a camisinha no criado mudo. Ele a

veste, rapidamente, e assim que seu corpo está novamente sobre o meu,
seus olhos me encaram profundamente, e em um impulso, o mesmo está

dentro de mim. Seguro um grito, pela sensação do desejo ainda mais

inflamado, e do meu corpo que já começa a pedir para ser tomado com
força.

— Boneca...
Sua respiração sai falha, assim como a minha, entretanto, palavras

não são necessárias. Ele parece entender, ou ao menos, sente o mesmo.

Pois logo o sinto tomar conta de mim, assim como eu de si. Tudo o que
nos envolve é a sensação de nossos corpos sendo jogados para a beira do

precipício.

E por Pedro, permito-me cair.


Capítulo 11

Pedro

Acordo sentindo a luz do sol tocando minha pele, e antes mesmo


de abrir os olhos, imagens da noite que passei com Lola vem em minha

mente. Sorrio, jogando meu corpo para o lado, e com cuidado coloco

meu braço sobre...

Abro os olhos espantado, assim que não encontro Lola ao meu

lado da cama, e ainda pior, os lençóis frios. O que?

Sento-me na cama e fico olhando ao redor por alguns segundos,


tentando me reorientar. Onde Lola se meteu? Levanto-me, e pego a cueca
jogada sobre o piso, colocando-a rapidamente. Caminho até o banheiro e

bato na porta, esperando por alguma resposta.

— Lola?

Bato mais algumas vezes na porta e novamente fico sem resposta.

Toco a maçaneta e resolvo tentar abrir, e me surpreendendo, a porta se


abre. Feito um tolo vasculho o banheiro com o olhar, apenas confirmar de

fato que ela não está.

Passo as mãos por meus cabelos, sentindo-me um pouco perdido

e vou em direção a cozinha. Os minutos se passam e acabo apenas não

olhando debaixo da cama, mas cada canto da casa foi vasculhado, e


nenhum sinal de Lola. Frustrado, sento-me novamente sobre a cama e

pego meu celular, discando seu número.

Na primeira tentativa a chamada vai direto para a caixa-postal e

me seguro para não jogar o celular contra a parede. Solto-o contra a

cama, e levo as mãos à cabeça, tentando entender por que ela foi embora.

A noite foi perfeita... na realidade, a madrugada toda em que nos

amamos.

Por que ela simplesmente foi embora sem me dizer nada?

As perguntas giram em minha mente e não consigo encontrar

nenhuma resposta. Mando uma mensagem para ela, tentando ao menos


ter algum sinal, porém, permaneço sem uma resposta qualquer. Acabo
ficando feito um louco, andando de um lado para o outro no apartamento,

procurando algum sentido para sua fuga.

Talvez eu esteja pensando demais, e encarando como algo ruim.

Afinal, foram anos lado a lado como amigos, e em uma noite, que ela

sequer imaginava ou cogitava a possibilidade, acabamos nos envolvendo.

Talvez ela só precise digerir o que aconteceu, e possamos conversar

sobre.

Isso, Pedro! Raciocina!

Se ela soubesse que quero muito mais que conversar... Depois

dessa noite, eu jamais terei o suficiente de Lola. Ela me tem desde o

primeiro olhar, mas após nossa noite, apenas reafirmei que é perfeita, sob

medida para mim. Eu a quero por completo.

— Merda!

Xingo para o nada, e pego o celular novamente, finalmente

tomando ciência de que para ela a noite pode parecer apenas uma

confusão, ou até mesmo, nada demais. Mas vi em seus olhos, em seu

toque, suas reações... Ela pareceu me querer tanto a ponto de minha

mente tola viajar, imaginando que ela sente o mesmo.


Porém, tenho paciência para esperar, para que ela me escute, e

ainda mais, para fazê-la me amar. Assim, digito uma mensagem, e espero
a resposta por alguns instantes, porém, como na outra, não obtenho nada.

Tentando negar a mim mesmo a frustração de não acordar ao lado


da mulher que amo, após fazer amor com ela a noite toda, vou para

debaixo do chuveiro. Ali, enquanto a água quente cai sobre meu corpo,
sorrio, sabendo que estou literalmente de joelhos por essa mulher.

Lola

A porta do apartamento finalmente se abre, e Sophie arregala os

olhos, tirando uma grande caneca da boca, e abrindo um dos braços,


puxando-me para ela. Não sei como a porta é fechada e muito menos

onde ela deposita a caneca, mas logo sinto seus braços ao meu redor, e
ela faz carinhos em minhas costas.

Ali, eu desabo mais uma vez.

Já perdi as contas de quantas vezes me permiti chorar nessa

madrugada, mais uma vez, ultrajada pelos meus demônios, e ainda mais,
pela realidade. Pedro ama outra mulher, e sequer o meu toque, e muito

menos a noite juntos, o fez esquecer. Ou ao menos, pensar em mim.

Foi o nome dela que ele chamou por vários segundos em seu

sonho... Mel.

Senti a ânsia me atingir, e acabo soluçando nos braços de minha

amiga, que tenta me confortar.

— Vai ficar tudo bem.

Ela sequer sabe o que aconteceu, e ainda assim tenta me fazer


melhorar. É impossível, logo depois de ouvir o homem que amo, chamar

o nome da mulher que ele ama após nos amarmos por horas... ou melhor,
após eu amá-lo.

Acordei sentindo um corpo quente envolto no meu, sorri antes


mesmo de abrir os olhos. Uma de suas mãos cobria meu seio nu, e ele
dormia serenamente. Virei-me com cuidado para não o acordar, e já senti

falta de seu toque.

Como ele é lindo – pensei encantada. Os cabelos loiros


bagunçados, a barba por fazer, o rosto másculo encostado contra o

travesseiro, num sono tranquilo. Suspirei, descendo meu olhar, e tendo


novamente a visão do verdadeiro pecado na terra. Passei a mão

levemente por seu rosto, e tentei conter o sorriso bobo em meu rosto.
Mas para que?

Nunca tinha me sentido tão feliz e completa como nos momentos

em seus braços. Só conseguia pensar em como queria ter isso todos os


dias... Tê-lo próximo assim, para pode tocar, beijar, amar... Ele era meu
sonho de tanto tempo. Virei-me de costas para cama, e acabei batendo

meus pés de leve contra a mesma, como uma adolescente feliz.

Eu estava... Ele me fez. Existia uma complexidade no sentimento


que me invadia, que sequer sabia explicar. Se aquilo não era amor, não

fazia ideia do que mais seria.

Escutei um sussurro, e logo uma de suas mãos tocou meu cabelo,

num carinho terno. Olhei-o rapidamente, pensando que já estava


acordado, mas me surpreendi ao vê-lo de olhos fechados. Tão lindo...

Sonhando.

Pensei em acordá-lo ou dar-lhe um simples beijo, para ter esse

momento eternizado, porém, me contive, tentando ouvir o que ele dizia.


Ele repetiu a mesma palavra algumas vezes, e estranhei, pensando se ele

estava com fome ou vontade daquilo.

— Mel...

Ele repetiu mais uma vez, e o carinho em meu cabelo se

intensificou, e no mesmo instante arregalei os olhos, tendo noção do que


acontecia. Deus, não podia ser!

— Sinto sua falta, Mel!

Fechei meus olhos com força, e segurei as lágrimas que já se

formavam. Afastei-me de seu toque como se me queimasse, e fiquei de


pé, com o lençol envolto do corpo. Ele procurava pelo travesseiro,

sussurrando várias vezes que sentia falta de Mel...

Como eu poderia competir com aquilo?

Apenas pensei em uma coisa, ir embora, e fingir que nunca fui

tão humilhada em toda minha vida.

— Ei, Lola!

A voz de Sophie me tira de meus devaneios, e agradeço


silenciosamente por não estar presa novamente aquele momento. Ele me

quebrou... Melhor, Pedro Soares apenas pisoteou no que restava de meu

coração.
Capítulo 12

Lola

Olho para meu reflexo no espelho e suspiro fundo, sem a mínima


vontade de sair de casa. Já é terça-feira, e depois de fugir na segunda do

restaurante, preciso ir trabalhar. Só de me imaginar perto de Pedro

novamente, sinto meu corpo retesar. Nunca imaginei que a melhor noite
da minha vida, também se tornaria a pior. Pedro tem um poder tão grande

sobre mim, que sequer imaginava.

Meu celular vibra e olho-o com desgosto, imaginando ser mais

uma mensagem de Pedro. Eu já o respondi que estava bem, mas ele de


repente resolveu mandar “Boa noite”, “Bom dia” e pior, “Sinto sua falta”.

A última mensagem eu fingir não ler. Ser a segunda opção de alguém não
é uma escolha plausível.

Quero ser amada por ele, mas ser a única... assim como eu o vejo.
Suspiro e leio a mensagem que na realidade é de Gael, mais uma vez me

chamando para tomar um café. Ele sempre foi um pouco próximo, por

ser o melhor amigo de Pedro, mas ultimamente tornou-se insistente.

Respondo um simples “sim”, só que para amanhã, e jogo o


celular na bolsa. Meu objetivo de conversar com Gael é entender mais a

respeito dos sentimentos de Pedro, por mais que sejam claros, depois de

ele chamar o nome dela.

— Força, Lola!

Falo para mim mesma, tentando me convencer de que consigo

enfrentar esse dia. Passo o batom nude e amarro meus cabelos no alto da

cabeça. Só então noto o quanto estou diferente, e novamente a dura

realidade me atinge. Pedro me notou naquela noite... Justo quando resolvi

me mostrar completamente produzida.

— Ele não é sua família, Lola! — coloco a chave na fechadura, e

suspiro fundo. — Ele só é um homem.


Saio de casa e a cada passo na rua, sinto um bolo se formando em
minha garganta. A cada passo, nos saltos não muito altos, sinto o coração

na boca.

Assim que passo pela porta principal, cumprimento a todos e

forço um sorriso.

— Bom dia, coisa linda. — Abro meu primeiro sorriso verdadeiro

em dias, virando meu olhar para Luís.

— Oi, seu descarado.

— Parece que caiu da cama. — Dou de ombros, acompanhando-o

até perto da cozinha.

— Preciso é voltar a trabalhar. — Sorrio sem jeito. — Não se

esquece das tortinhas maravilhosas.

Ele sorri, assentindo. Em seguida entra na cozinha, e meu sorriso

se desfaz instantaneamente. Suspiro fundo, mudando em direção para as

escadas, e as subo devagar, até minha sala.

De relance olho para a porta de Pedro, e sinto um alívio por estar

fechada. Abro a minha, e fecho em seguida, finalmente respirando em

paz. Então, sinto a presença de alguém e travo, virando-me devagar.

Assim, o olhar de Pedro Soares encontra o meu. O ar fica escasso,

e por um segundo, tudo que quero fazer é me jogar em seus braços. Mas
então seus sussurros voltam a minha mente.

— Oi. — Digo baixo, dando a volta na mesa, onde ele está

encostado.

Deixo minha bolsa sobre a mesma, e sento-me na cadeira. Apenas


consigo imaginar um porquê de ele estar aqui, e ver sua pena estampada,
não é algo que queira.

— Ei, por que parece tão distante? — arrisco olhá-lo e me


surpreendo ao ver um sorriso, e um olhar carinhoso em seu rosto. — Está

tudo bem?

— Por que não estaria? — dou de ombros.

Faço-me de desentendida e olho para o teto, tentando não lembrar

da nossa noite. Foi tudo tão perfeito, que tê-lo assim, tão próximo, faz-
me sentir presa novamente a seu corpo. Olho-o mais uma vez, sinto-me
queimar.

Ok, hora de fingir!

— Algum problema? Assinatura?

Pedro franze o cenho e finjo normalidade. Ele então leva as mãos


aos cabelos, como se estivesse confuso. O que ele quer?

— Vai ser assim? — sua voz sai ácida, e tento evitar minha
surpresa. — Vai fingir que nada aconteceu?
— O que vamos ganhar falando sobre aquela noite? — tento

parecer insensível, mas parece impossível.

— Por isso me respondeu tão... tão sem vontade? — praticamente

explode, e raiva cresce dentro de mim.

Por que não está atrás de Melissa, afinal?

Ah é, ela é casada...

— Vamos mesmo fazer um caso sobre isso?

O tom de deboche em minha voz não sai despercebido, e vejo a


respiração de Pedro vacilar. Sua boca abre e fecha várias vezes, e o amor

e mágoa que sinto se misturam. O que ele quer de mim, afinal?

Batidas na porta nos interrompem e agradeço mentalmente por


isso. De repente a porta se abre e uma mulher que tenho gravada em

minha memória entra. Débora... Uma das noites de Pedro, que


simplesmente não desiste.

Olho com a sobrancelha esquerda arqueada, e praticamente o


enfrento para prosseguir. Ele quer mesmo falar sobre nossa noite, sendo

que uma outra noite antiga dele está a nossa frente?

— Pê! — ela sorri, dando um grande beijo em seu rosto. — Já

que não atendeu minhas ligações, pensei em...

— Pensou errado, Débora.


A voz de Pedro é sombria, e ela pisca algumas vezes, claramente
atingida. Seu olhar recai no meu, e abro um falso sorriso. Ela sempre
deixou claro, todas as vezes que veio aqui, que não gosta de mim. O que

eu fiz a ela? Nada! Porém, o desgosto está se tornando recíproco.

— Como vai, querida?

— Isso são olheiras? — provoca, e sorrio ainda mais. — Pelo


jeito mudou as roupas, mas isso não ajuda se não souber usar a make
pra...

— O que quer, Débora? — Pedro a olha com raiva, como se fosse


explodir. — Não tenho tempo pra isso.

— Sabe bem o que quero. — Toca o peito dele e Pedro segura a


mão dela de relance.

— Olha, se querem continuar a cena de casal, já podem mudar de


sala. — Digo impaciente, e bato um livro na mesa.

Pedro sequer me olha e sai da sala, claramente chateado. Débora


empina o nariz, e me olha com desdém.

— Pelo jeito conseguiu o que queria. — Sorri sarcástica. — Mas


Pedro é meu, e com toda certeza não quer uma coisinha como você.

— Você é um pouco esperta! — escoro-me na mesa, e a olho com


deboche. — Mas se ainda não entendeu, sou eu que não o quero. Não sou
você que insiste em tentar prender um homem rico pra ser feliz.

Ela fica sem resposta, e sai dali, fechando a porta com força.

Fecho meu sorriso, e seguro um grito que vem com força. Além

de tudo, o homem que amo ainda quer me iludir com algo... quem sabe a
fim de repetir nossa noite.

Bufo, olhando ao redor da sala e tenho uma ideia. Preciso de

tempo de Pedro, para tentar esquecer, e principalmente me reencontrar.


Ter me entregado a ele foi só um começo para o fim... E preciso de muito

mais, muito mais para ser feliz.

Tenho que tornar Pedro Soares, apenas uma sombra a minha

volta. Não mais o homem que amo.

Semanas depois...

Evitei ao máximo me aproximar de Pedro, e ele finalmente

pareceu respeitar meu silêncio ou como o mesmo disse na última vez que

tentamos conversar.

—Vou fingir que não se lembra da nossa noite, porque deve estar

confusa. Mas vamos conversar e vai entender que é minha.


Suas palavras me deixaram ainda mais confusa, mas o que ele

falou em seu sonho ainda me atormenta, assim acabei fugindo de uma


conversa com Gael, com medo de que soubesse ainda mais do amor de

Pedro por Melissa.

Desço as escadas ao escutar gritos vindos de perto do banheiro, e


levo um susto ao ver Pedro com o rosto machucado, e em seguida dando

um soco em cheio num homem moreno a sua frente. Eu o reconheço,

assim como a mulher ao seu lado, que parece perdida na situação.

— Nunca mais! — Pedro grita. — Nunca mais a trate dessa


maneira!

Engulo em seco diante da cena e tento me controlar. Pelo jeito

Melissa não está mais junto ao marido... Então, noto Levi Gutterman
com o rosto ainda mais machucado que o de Pedro, assim ligo um mais

um.

Olho para os papéis em minhas mãos, e tento não me odiar por ter

adiado tanto o pedido de sua assinatura. Preciso para hoje, mas


exatamente para agora. Engulo o choro, e repenso minha fala, diante da

cena a minha frente. Ok, eu preciso enfrentar Pedro! Enfrentar esse

sentimento!

Fecho os olhos, suspiro fundo e tomo coragem.


— Senhor Soares, eu gostaria de...

Travo e seguro a dor em meu peito, ao olhar para a mulher que

me encara, que tem um rosto angelical. Pelas fotos na internet sei bem

quem ela é, e ainda mais, pela forma como parece íntima de Pedro. Eles
estão abraçados, e isso parte meu coração.

— Desculpe, eu volto depois. — Digo, desistindo de fingir, e

praticamente corro dali.

Como o diabo foge da cruz, corro para minha sala e fecho a porta.

Uma lágrima desce, sinto-me quebrar. Por um instante pensei que ele

estivesse mesmo me dando um tempo, que talvez esquecesse Melissa,

mas ela está aqui, a sua frente.

Ele não vai esquecer, muito menos agora... Preciso – eu –

esquecê-lo o mais rápido possível.


Parte II

“O amor é frágil. E nem sempre cuidamos dele muito bem. A


gente se vira e faz o melhor que pode, e torcemos para que esta coisa

frágil, sobreviva apesar de tudo.”[4]


Capítulo 13

Meses depois...

Lola

— Já disse o quanto ficou linda com esse cabelo curto? —

Christopher diz mais uma vez, e reviro os olhos.

Depois de tantos anos finalmente tinha cortado meus cabelos, e

essa mudança foi um passo crucial. Uma forma de dizer tanto a mim
mesma, quanto ao próprio Pedro de que não estou aqui para seus

caprichos.
Ele tinha dito, em mais uma tentativa falha de conversarmos que

amava meus cabelos longos, e minha raiva foi tanta, que virei as costas e
fui embora, sem sequer dar uma resposta. Ele me cercava sempre que

podia, e assim, com toda raiva acumulada, ainda mais por vê-lo com

Melissa dentro do restaurante, simplesmente fui ao cabelereiro e cortei


Chanel.

Como disse a minha melhor amiga, Sophie, ao menos, tirei o


gosto dele de achar algo bonito em sua segunda opção. O mais louco de

tudo é Sophie estar envolvida com Daniel Lourenzinni, o irmão de

Melissa. O mundo é mesmo muito pequeno.

— Não adianta tentar, não vai me ganhar com essa cantada barata
e esse sorrisinho fácil. — Provoco Christopher, que dá de ombros,

olhando-me com mais atenção. — O que foi?

— Nem me olhe assim, você que está distante faz tempo.

Por que ele tem que ser tão perspicaz?

— Pedro comentou que passa mais tempo fora do restaurante do

que dentro, aliás acabei reparando. Claro que esse é um direito seu, já

que é uma das sócias majoritárias, mas nunca o fez desde que abriram o

restaurante.
— É complicado, Chris. — Sorrio sem vontade. — Mas por que
todo esse interesse?

— Sei quando meu primo sofre, e por mais maricas que pareça,
eu me preocupo com ele. — Dá de ombros, e tento absorver suas

palavras.

— Como assim? Por que ele está sofrendo?

O nome de Melissa vem em minha mente, e me sinto uma

completa idiota. Por que não consigo simplesmente seguir em frente?

— Por você.

— Eu? — praticamente grito, e Christopher sorri amplamente.

— Não se abandona um cara da forma como você fez. — Coro no

mesmo instante, e Chris gargalha, vendo meu embaraço. — Pedro está


ficando louco com essa distância.

— Você entendeu que gosto dele naquele dia, há alguns meses...


Por que só agora tocou no assunto?

— Porque meu primo está sendo um pé no saco. — brinca, porém


o olho com determinação e ele cede. — Porque não consigo entender

você. O deixou e o ignora, sendo que acabou de readmitir que gosta dele.

— É complicado lutar pelo coração de alguém, Chris. Não estou

pronta pra isso.


— Para o amor, você quer dizer? — assinto com pesar, vendo que

não consigo falar abertamente sobre Pedro.

— Podemos só... não conversar mais sobre isso? — ele assente, e

agradeço internamente.

— Que bons ventos te trazem?

Essa voz...

Os dois Soares a minha frente se cumprimentam, e me perco por

alguns segundos na beleza de Pedro. Por que simplesmente não o espanto


de minha vida? Por que meu coração insiste em bater de forma tão
desesperada por ele? Nem mesmo a mágoa parece capaz de me fazer

esquecer.

— Oi, boneca. — Tento fingir que o apelido não me afeta, e forço


um sorriso.

Pedro não tem sido muito sútil depois que percebeu que não vou

tocar no assunto daquela noite. Além de que resolvi passar mais tempo
trabalhando em casa do que no restaurante, afastando-o ainda mais.
Mesmo assim, nos poucos momentos que nos encontramos, ainda mais,

quando estou em busca de algum doce no balcão e acabo ficando


exposta, ele tenta chamar minha atenção.

Tudo o que me pergunto é: por quê?


— Bom, vou deixar vocês conversarem. — Coloco o brigadeiro

inteiro na boca, e abro um sorriso sem dentes, dando um tchauzinho para


Chris.

Saio dali, em direção ao banheiro, feito um foguete. Assim que


abro a porta, a cena que me recebe, me assusta por completo. Olho com

desgosto para Débora que segura o braço de uma mulher ruiva,


claramente incomodada.

— Algum problema aqui? — pergunto desconfiada.

— Tudo ótimo. — Débora diz com desdém, e solta o braço da


outra mulher. — Olha aqui empregadinha...

Débora escolheu o dia errado para me provocar. Estou farta de


tantas coisas na vida, que ela não tem ideia do que está procurando.

— Olha aqui você! — digo com uma falsa calma. — Eu te


conheço há tempos Débora, assim como ronda Pedro e o primo dele, sei

que dá em cima de todos os outros clientes ricos do restaurante. Você só


entrou aqui hoje porque convenceu algum velho idiota pra te trazer.

— Olha aqui...

— Ah, cala a boca! Sai logo daqui, antes que eu chame os

seguranças. — Ela enrubesce, claramente furiosa, mas não cedo.


— Quem você pensa que é Lola? — pergunta e me encara, em
claro desafio. — Não passa da empregadinha que dá pro chefe e...

Sua frase nem termina e simplesmente acerto seu rosto com força.
Seu rosto vira, e em meus pensamentos, até a imagino me agradecendo
por ter sido um tapa, mal sabe ela a força do meu soco. Eu estou

simplesmente farta de ouvir calada seus insultos.

— Pra você é Paloma! — uso meu tom mais afiado, as palavras


simplesmente correm soltas. — E sobre dar para o chefe, pelo menos ele

é solteiro e me quer, não é? — pergunto com deboche, e no mesmo


instante Débora tenta revidar o tapa, o qual não consegue, já que sou

mais rápida e seguro sua mão no ar. — Não, não! Vamos sair daqui!

Saio praticamente arrastando Débora para fora do banheiro e

deixo-a ao lado de um segurança que está próximo ao corredor.

— Segure ela aqui, não deixe que ela se mexa! — exijo, e ele

apenas assente.

— Eu trabalho para o marido daquela mulher, estávamos apenas

conversando! — Débora diz furiosa. — Vou processar essa espelunca!

Só então interligo a imagem do homem que vi junto a mulher


ruiva no banheiro, e acabo entendendo tudo. Lembro-me bem dele,

quando o encontrei num mercadinho perto de casa, claramente perdido.


Um homem lindo e perdido. Pelo jeito muito bem casado, e Débora a fim
de se aproveitar da situação.

— Tente! — enfrento-a e olho novamente para o segurança. —


Segure ela aqui, eu já volto!

Volto para o banheiro, pois sei que não devia tratar uma cliente

daquela forma, muito menos na frente de outra.

— Me desculpe pelo transtorno, mas eu já estava sem paciência


há meses com Débora. Aliás, ela gritou um pouco quando a coloquei pra

fora, dizendo que trabalha para o seu marido, e se seu marido for aquele

pedaço de mau caminho lá fora, minha filha, sei que ela não tem chance.

— O que? — pergunto já perdida.

— Sou Paloma Gerard, mas todo mundo me chama de Lola. Quer

dizer, todo mundo menos a Débora. Bom, eu meio que sou perspicaz com

algumas coisas e me intrometo na vida das pessoas, sinto muito por isso.
Mas encontrei seu marido há um tempo no mercado perto de casa, ele

estava olhando para as bebidas sem saber qual comprar. Na hora eu

fiquei pensando: que homem como ele não sabe o que beber? Mas já

senti que tinha algo a ver com mulher, e no caso, a mulher é você. Espero
que esteja tudo bem. — Nessa hora percebo que sempre falo demais com

desconhecidos. Isso é um mal que não consigo mudar.


— Eu...

— Nem diz nada, vai lá com o teu homem. — Digo e ela sorri. —
É um prazer...

— Carla Gutterman! — arregalo os olhos diante de sua

apresentação.

— Meu Deus! Aquele lá é Ricardo, o irmão de Levi? — pergunto

assustada, e ela assente.

— Por quê?

— É que minha melhor amiga é enrolada com o irmão da


Melissa, ex-mulher do Levi. — explico sem jeito e felizmente, ela sorri.

— Sim, somos uma bagunça.

— Bom, espero que isso não faça você odiar o restaurante, e,

aliás, vou pedir para preparem a melhor sobremesa, por conta da casa. —
Digo sem graça, e lhe dou uma piscadela.

— Não precisa, já...

— Claro que precisa. — Dou de ombros, sorrindo. — Tenho que

voltar, pois sei que vou ouvir algumas idiotices daqui a pouco. Até mais,
Carla!

— Mas...
Saio dali, já perdida em meio as coincidências da vida, e no

mesmo instante que encontro Débora com o segurança, agradeço-o, e a

pego pelos braços, levando até a saída.

— Me solta! — Débora diz, e eu a ignoro, indo pela cozinha,


colocando-a pra fora, pela porta de trás do restaurante. — Eu vou falar

com Pedro e isso...

— Ah, faça-me o favor, Débora! — reviro os olhos. — Ok,


transou com Pedro e blá blá. E daí? Isso não muda nada.

— Assim como não mudou pra você, né empregadinha? —

zomba e sorri, com o rosto vermelho do tapa que dei.

Dou um sorriso forçado, e já me viro pra entrar no restaurante,


mas consigo ouvir suas palavras.

— Sempre será apenas mais uma pra ele.

Fecho a porta atrás de mim e respiro fundo, então um dos


ajudantes da cozinha passa e me encara um pouco sem jeito. Abro um

falso sorriso e já tento sair de perto, mas assim que dou dois passos para

ir até meu escritório, escuto a voz de Pedro.

— Merda!

— Merda é o que o senhor que está sozinho na mesa esperando

Débora voltar vai pensar desse restaurante. — diz, então me viro pra ele.
Malditos olhos claros!

Maldito cabelo perfeitamente bagunçado!

Maldita barba por fazer!

— Ah. — Dou de ombros, fazendo-me de desentendida. — Não

fiz nada demais.

— Lola...

Saio andando em direção ao segundo andar, e subo rapidamente,

tentando o mais rápido possível ficar longe dele. Tem sido assim entre

nós, tudo acaba em uma briga desnecessária.

Abro a porta do meu escritório, e antes que eu possa fechá-la, ele

entra também, praticamente me derrubando.

— O que quer ouvir, Pedro? — pergunto e ele leva as mãos à

cabeça, claramente nervoso. — Débora estava incomodando uma cliente


no banheiro, dizendo barbaridades. Queria que eu a deixasse aqui,

causando na frente de todos?

— E você pode causar? — devolve a pergunta e eu gargalho.

— Carla adorou o que fiz, aliás, se está tão incomodado, devia


ligar para Débora. Ela está louca esperando uma ligação sua. — Implico,

e me viro, pegando minha bolsa sobre a mesa.


— Sabe muito bem que a única mulher que quero... — ele me

prensa contra a mesa e suspiro fundo. — É você. — Sussurra em meu

ouvido.

— Olha, ele e o papo maluco sobre a noite que transamos. —


Digo e me viro em sua direção. — Aquela noite não foi nada, sabe disso.

— Eu sei que você foge de mim desde então, e não entendo por

quê.

— Porque eu cansei. — Digo e abro um sorriso falso, tocando em

seu rosto. — Aliás, eu tenho que encontrar alguns fornecedores e você

cuidar do restaurante, querido sócio.

— Nós ainda vamos falar sobre aquela noite. — diz e eu tiro a


mão de seu rosto, saindo de perto dele. — Isso é uma promessa, Lola!

Abro a porta do escritório e fico estática por um instante.

— Mais uma promessa que vai quebrar... — digo baixinho, e saio,

deixando para trás o homem que amo, mas que infelizmente, nunca me
olhou antes de tudo.

Antes de minhas roupas mudarem, da maquiagem se tornar um

hábito... Antes de me entregar de corpo e alma, e simplesmente sair


completamente machucada. Pedro é uma incógnita, e a cada dia apenas

dói mais.
A cada dia sinto-me sufocar, e quero gritar tudo em seu rosto.

Gritar que sei a verdade, sobre o que sente pela tal Melissa, e que não
quero mais sua insistência. Não quero mais apenas tê-lo como parte de

um sexo incrível. O quero por inteiro. Infelizmente, não tenho esse

direito.

Saio do restaurante, e bato de frente com um corpo de alguém que


me segura, e tento não quebrar ali. Estou cansada e completamente

exausta. Não tenho cabeça para o trabalho, não diante da dor que carrego

no peito. Amar Pedro me sufoca.

— Desculpe.

A mulher a minha frente apenas sorri, e saio dali, andando em

direção a meu apartamento. O trabalho que espere, a vida que me deixe...

Preciso apenas permitir que a dor se esvaia. Chego em casa, e jogo a


bolsa no chão, indo até a cozinha, e pegando a garrafa de meu vinho

favorito.

Rio de mim mesma e o abro, dando um gole generoso. Vi

tantas vezes em filmes e livros meus personagens afogando as mágoas no

álcool, que, bom, essa é minha vez. Torcendo que em meio a falta de
lucidez esqueça meus sentimentos. Que esqueça por completo que sou

uma verdadeira covarde.


Capítulo 14

Pedro

Olho para as portas fechadas do restaurante, e completamente


perdido caminho até meu carro. Mais um dia em minha vida, onde tento
entender o porquê não posso ter a mulher que quero ao meu lado. Qual é

o meu maldito problema?

Entro no carro, e antes de dar partida, olho rapidamente o celular,

em busca de uma mensagem dela. Estou há meses esperando algum

indício de Lola, para podermos conversar, mas tudo o que ela tem feito é
fugir. Sinto-me acuado, com medo de agir de cabeça quente, e acabar
estragando tudo de vez. Mas estragar o que? Se nossa noite parece não

ter significado nada pra ela.

O celular vibra em minhas mãos e atendo no mesmo instante em

que o nome “Boneca” aparece na tela.

— Lola. — Digo rapidamente. — Oi.

Deus, eu sequer sei falar com ela ao telefone!

— Como vai, gostosão? — franzo o cenho diante de suas

palavras. — Como vão as coisas?

— Lola... Você está bem? — pergunto, e escuto sua gargalhada.

— Melhor do que nunca! — praticamente grita, e pisco algumas

vezes, encarando o celular rapidamente, confirmando que é mesmo seu

número.

— Lola, me diz, o que está acontecendo?

Fico em alerta, e novamente escuto sua risada.

— Eu amo um homem. — Fecho os olhos com força, sentindo-me

quebrar. — Mas ele não me quer... O que eu faço?

Suas palavras saem um pouco embaralhadas, e seu tom está

completamente fora do habitual. A dor dilacera meu peito, por agora

saber o que de fato a afasta de mim, seu coração já tem um dono. Mas
apenas foco na forma como ela parece estar, por sua voz, completamente
bêbada.

— Boneca, apenas me diz onde está. — Peço calmo, e de repente


escuto um choro baixinho. — Lola?

— Eu quero que ele me ame. — Seus soluços são mais altos. —

Por que ele não pode me amar?

— Boneca, por favor... — meu peito dói ainda mais por vê-la

sofrer dessa forma. — Você está em casa?

— Aham. — diz baixo, e escuto seu suspiro profundo. — Por

favor, traz o homem que eu amo.

Ela então desfaz a ligação e encaro o celular completamente

preocupado. Lembro-me que seu apartamento fica a algumas quadras

daqui, e que por muitas vezes ela vem a pé, quando não tem

compromissos fora do restaurante ao decorrer do dia. Deixo meu carro no


estacionamento, e aciono o alarme. A passos rápidos chego à frente de

seu prédio, discando várias vezes seu número, já que não tenho o número

de seu apartamento.

Assim que paro a frente da portaria, ligo mais uma vez para ela, e
novamente toca várias vezes, até a chamada ser encaminhada para a

caixa-postal.
— Merda!

— Soares? — viro minha cabeça rapidamente, e encaro o homem

a minha frente, reconhecendo-o. — Como vai, Pedro?

— Vou bem, Gustavo. — O cumprimento, e ele permanece sério,


como sempre. — E você?

— Parece que num dia melhor que o seu. — Olha-me com


atenção. — Precisa subir? — indica o prédio e assinto sem jeito.

— Uma amiga me ligou bêbada, e agora não atende o telefone, e


sequer sei o número do apartamento... — passo as mãos por meus
cabelos. — Pareço um idiota.

— Parece apaixonado. — Arregalo os olhos diante de sua

declaração.

Gustavo Di Lucca não é o verdadeiro exemplo de conhecido que


acaba dando sua opinião sobre algo. Ele parece muito mudado. Ao

menos, em relação a época que o via pra cima e pra baixo com meu
primo mais velho, Caleb. O encontro ultimamente em festas em comum,
que ele participa por sua empresa, e eu, na representação do Chandel.

— Pode-se dizer que sim. — Dou de ombros. — Ela é diferente.

— Bom, se quiser pode subir comigo.

— Sério? — pergunto de relance, sem acreditar.


— Mas precisa descobrir o apartamento da sua amiga, e o andar...

Porque senão vai ser impossível a encontrar.

— Merda! — reclamo, e disco novamente o número de Lola.

Gustavo vai a minha frente, entrando no prédio, assim o sigo, e


logo estamos no elevador. Ele aperta o botão da cobertura, e sequer me

espanto, já que mesmo sendo de uma família rica, sei o quanto os Di


Lucca são poderosos.

Após três andares Lola finalmente atende, e agradeço


internamente por isso.

— Boneca, por favor, me diz qual é o seu andar e o apartamento.


— Praticamente suplico, e de relance, noto o olhar evasivo de Gustavo.

Ao menos ele disfarça bem a curiosidade.

— Eu tava tentando atender, mas...

— Lola! — chamo sua atenção. — Apenas me dê os números.

— Sexto andar, apartamento 609. — diz meio embolada, mas


aperto rapidamente no painel o número seis.

— Ok, estou chegando! — ela sussurra um simples “ok”, e


apenas continuo ouvindo sua respiração através do telefone.

Finalmente o elevador para no sexto andar, e as portas se abrem.


Olho rapidamente para Gustavo, e ele apenas acena com a cabeça.
— Obrigado! — ele apenas assente.

Logo saio do elevador, e as portas se fecham. Suspiro fundo,

caminhando até seu apartamento, e ela permanece em silêncio o outro


lado da linha.

— Boneca, estou aqui na frente. — Digo, no mesmo instante que

paro a frente de sua porta. — Vou tocar a campainha, aí você abre, ok?

— Tá bom!

Toco a campainha, e deixo o celular fora da orelha. Em poucos


segundos a porta se abre, e uma Lola completamente diferente do

habitual aparece. Suspiro fundo, vendo a dor em seus olhos, e a forma


como parece afetada.

— Você. — diz com um sorriso, em meio as lágrimas já


derramadas em seu rosto. — Você trouxe ele.

— Ei, boneca.

Ela então abre mais a porta, e me dá espaço para entrar. Posso ver
pela forma como me encara, que o álcool ainda está alto em seu

organismo. Ela então fecha a porta, trancando-a em seguida, e logo deixa


seu celular sobre uma mesinha.

Encaro seu apartamento rapidamente, e logo volto minha atenção


para ela. Está a um passo de mim, mesmo assim, nunca a senti tão
distante. Todo esse tempo longe dela abriu uma cratera entre nós. Depois
de tê-la por completo, apenas imaginei que as coisas mudariam para
melhor, não que a teria a um braço de distância, e que ela fugiria. Mas

isso não importa agora, pois preciso apenas verificar se ela está bem.

— O que aconteceu, boneca? — pergunto baixo, e ela suspira.

Em um passo ela me alcança, e seus pequenos braços me

envolvem. Suspiro fundo, abraçando-a, tendo-a em minhas mãos


novamente. Por um segundo, sinto-me completo. Tê-la é como um

bálsamo para todos os problemas.

Porém, vê-la bêbada dessa forma pelo tal homem que ama,
apenas me atinge por inteiro. Ela ama e sofre, assim como eu... O quão

perdido meu sentimento por ela deve se tornar?

— Você trouxe ele. — Aconchega-se em meu peito, inalando meu

cheiro, deixando-me completamente inerte. — Você trouxe.

— Do que está falando? — pergunto com carinho, afastando-me

um pouco para encará-la. — Preciso te colocar num banho e fazer um

café bem forte. Onde fica o banheiro?

— Não. — diz de repente, e fica na ponta dos pés, tocando meu


rosto.

— Lola.
— Você trouxe... não pode mais ir. — Sua voz sai fraca, e noto a

confusão em seus olhos.

— O que eu trouxe, boneca? — sorrio, vendo que ela está apenas

distorcendo a realidade.

— O homem que amo.

Por um segundo prendo a respiração, sem saber o que dizer,

muito menos o que responder. Ela está bêbada! Fora da razão... por isso

está dizendo isso. Porém, minha mente funciona a todo vapor, tentando

não acreditar que é real. Entretanto, o que mais quero, é que de fato seja.

— Eu? — acabo perguntando, mesmo me sentindo um idiota.

Ela sorri lindamente, passando a mão com carinho por meu rosto.

— Sempre foi você. — Confessa, e sinto meu coração bater

freneticamente. — Pra sempre você, Pedro Soares.

Tento dizer a mim mesmo que não é real, que ela está me

confundindo com alguém. Porém meu nome saiu de seus lábios, e

mesmo bêbada, noto que me diz a verdade. Talvez, o álcool apenas tenha
colocado seus sentimentos reais a mostra. Ela me ama?

Eu preciso ouvir isso de minha boneca, só que com ela sóbria.

— Eu também te amo, boneca. — Confesso, e toco seu rosto com

todo amor que sinto. — Mas primeiro, precisa de um banho, e em


seguida um café forte. Depois vamos conversar, tudo bem?

— Você me ama?

Praticamente pula em meu colo, e a seguro com carinho, e


aproveito sua entrega para procurar pelo banheiro. Assim que entramos

num dos últimos cômodos, noto que é seu quarto, e vejo uma porta ao

fundo, que felizmente é o banheiro.

Lola permanece em meu colo, deitada em meu ombro,


sussurrando que me ama. Se isso é um sonho, por favor, que eu nunca

mais acorde.
Capítulo 15

Lola

Minha cabeça dói de forma estrondosa, e levo uma mão até o


couro cabeludo, massageando-o. A dor parece apenas piorar, e tento me

mover, ficando sentada na cama. Respiro fundo algumas vezes, antes de


abrir os olhos e focar na luz que entra pela janela. Que horas devem ser?

Com o apoio da cabeceira da cama, tento me levantar, porém,


apenas sinto uma forte náusea e tudo girar, fazendo com que meu corpo
caia novamente na cama. Suspiro fundo, sem entender ao certo como

estou dessa forma.

— Merda!

— Ei, boneca. — Braços fortes me amparam, e arregalo os olhos.

Olho-o sobre meu ombro e fico chocada com sua imagem

relaxada sobre minha cama.

— O que faz aqui? — pergunto de uma vez, sentindo-me culpada

no segundo seguinte pelo tom grosso que saiu de minha boca.

— Eu... — suspira fundo, afastando seus braços de meu corpo. —

Você me ligou bêbada e fiquei preocupado.

— Ah. — Fecho os olhos por um instante, sentindo a vergonha

me atingir. — Me desculpe. — Sou sincera. — Há anos que não bebo, e


com toda certeza meu corpo não está mais acostumado a passar de

algumas taças de vinho.

— Você bebeu a garrafa toda, boneca.

Arregalo os olhos, e ele sorri, deixando a situação um pouco

menos desconfortável. Não sei o que fazer, ao olhar para o homem que

amo, sobre minha cama, olhando-me de forma tão profunda. Não quero

me iludir mais uma vez, e vê-lo assim, faz-me querer apenas mergulhar

em seu ser... Ser dele mais uma vez.


— Eu estou bem. — Tento soar calma. — Desculpe por te
preocupar.

— Boneca, eu não consigo entender o que está acontecendo


conosco. — diz de repente, e tenta me tocar, mas acabo me afastando,

ficando longe dele.

— Não faz isso, Pedro. — Peço, e tento de algum jeito, fingir que

não me afeta.

Mas é impossível. Estou entregue há tanto tempo, apenas tentando

fazer com que ele me olhe, e que de alguma forma seja recíproco. Porém,
só depois de mudar, mostrar a parte “bonita” superficial, que ele me

notou. Dói ver que nunca seria a mulher escolhida por ele, se não fosse

alguns tons de maquiagem, e roupas bonitas.

— Lola, eu...

— Só me deixa. — Peço, e saio de perto dele, em direção a


sacada.

Noto que estou com as mesmas roupas do trabalho de ontem, e

imagino que devo ter apagado na cama. Suspiro fundo, ao abrir a porta

de vidro, e o ar frio encontrar com meu corpo. Sinto-me quebrada, sem


saber o que fazer. Eu quero Pedro, não sei como fugir de tal sentimento,
mas temo a despedida. Temo me entregar novamente, e nunca mais me

sentir inteira.

Então, sinto os braços fortes de Pedro me cercarem, e meu

coração acelera, minha boca seca e todo meu corpo implora para ficar ali
para sempre.

— Você disse que me ama.

Fecho os olhos com força, digerindo suas palavras. O que?

— Não! — soltei baixo, sem acreditar no que fui capaz de fazer.


— Não pode ser!

— Você disse. — Virou-me para si, encarando-me, e não sei


como fugir. — Disse muitas vezes, mas eu sei que não estava sóbria. Até

porque no momento que me afastei para tentar preparar um banho,


quando voltei, já estava adormecida na cama.

— Me desculpe, eu...

— Tudo o que quis, é que sã, repetisse cada palavra. — Suspira


fundo, tocando meu rosto. Fico completamente inerte, sem saber para

onde isso caminhará. — Eu sou louco por você, boneca.

— Pedro.

— Lola.
Nossos rostos se aproximam, e nenhum de nós fala nada. A

atração é palpável, assim como a forma que meu coração pela primeira
vez está exposto para ele, por completo. Sinto-me cair mais uma vez,

sem querer esquecer que da última vez fui quebrada.

Amar um homem que ama outra mulher, é o mesmo que pedir

para ter uma transa inesquecível e em algum momento ter que ouvi-lo
suspirar por ela. Assim que os lábios de Pedro tocam os meus, suspiro

fundo, sentindo-me quebrar. Não consigo.

— Não posso. — Digo de uma vez, afastando-me, e me nego a


encará-lo. — Por favor, vá embora!

— Mas, boneca...

— Lola. — Corto-o, e continuo encarando meus pés. — Meu

nome é Lola.

— Por que está me afastando, boneca? — noto sua voz trêmula, e

arrisco olhá-lo. — Por quê?

Seu olhar está quebrado, como reflexo do meu. O que ele quer me
mostrar? Por que não se contentou apenas com uma noite e pula para a

próxima mulher? Por que pisar em meu coração?

— Sabe o que sinto, Pedro. — O olho determinada, e tento


respirar direito. — Mas isso não muda nada.
— Isso muda tudo, bone... Quer dizer, Lola. — Sua voz é
completamente diferente do habitual, e tento de alguma forma não me
iludir. — Isso é tudo o que esperei.

— Por favor, eu não posso! — insisto, e passo por ele, saindo da


sacada. — Só quero ficar sozinha. Peço desculpas por ser uma bêbada

idiota, não vai se repetir.

— Lola...

— Apenas vá, Pedro!

— Mas eu te amo, porra!

Meu coração falha uma batida, e tento fingir que não me atingiu.
Uma lágrima desce por meu rosto, e sei que nunca estive tão perdida. Ele

chamou a mulher que ama após passarmos uma noite incrível juntos... E
agora, aparece dizendo que me ama. Não, Pedro Soares não me ama. Sou
apenas a segunda opção disponível, e isso me mata por dentro.

— Vá embora! — insisto, sem olhá-lo.

— Eu disse que te amo, Lola. — Sua voz é mais baixa. — Você

ouviu?

— Ouvi. — Suspiro, tentando segurar as lágrimas. — E isso não

muda nada.

— Eu...
Sinto então o silêncio recair sobre o quarto, e apenas espero que o
mesmo vá embora. Contrariando-me, ele me puxa para seu corpo,
forçando-me a encará-lo.

— Olhe pra mim! — toca meu rosto, e me nego. — Eu sou seu, o


tanto quanto é minha. — Diz determinado. — Talvez precise de um

tempo para ter certeza, mas foi minha desde o momento em que
atravessou o Chandel há quatro anos. Eu te amo, boneca, e vou te
esperar.

Sinto então um beijo sobre minha testa, e em poucos segundos, o

corpo do homem que amo se afasta, deixando-me sozinha. Ouço a porta


da sala bater, e desabo, sem saber o que fazer. Não consigo entender mais

nada, nem mesmo sei no que acreditar... Uma hora ele ama Melissa, na

outra, se declara como um homem apaixonado por mim. Preciso de

tempo para pensar, mas por um instante, permito-me quebrar. Choro por
todo amor que sinto, e por não saber por onde seguir.
Capítulo 16

Lola

Olho para o teto por diversas horas, como se tentando fugir da

realidade, tentando entender como cheguei até aqui. A voz de Pedro ecoa
ao meu redor, como se suas palavras tivessem ficado marcadas além de

meu coração e mente, em minha própria casa.

Penso no que fazer, e como melhorar meu humor, como fingir que

nada aconteceu. Mas tudo parece me pressionar para continuar deitada na


cama, sem saber para onde seguir. Num momento eu tenho Pedro, no

outro o perco... Essa situação me dilacera e me deixa perdida.


A campainha toca, porém, a vontade de levantar se torna

inexistente. Não quero encarar ninguém, e das possibilidades de quem


está em minha porta, apenas pode ser minha melhor amiga, ou pior,

Pedro Soares.

Suspiro fundo, me enrolando ainda mais nos lençóis e tento focar

apenas em como resolver essa situação. Minha vontade é gritar em seu

rosto suas palavras, de como seu coração não é meu, e sim de Melissa.
Porém, o medo de assistir a verdade em seus olhos me paralisa.

A campainha soa novamente e coloco o travesseiro sobre a

cabeça, tentando fingir que não estou. Seja quem for, não é o horário e

momento certo. Felizmente o barulho para, e então tiro o travesseiro da


cabeça, viro-me novamente, encarando o teto. Minha vida nunca pareceu

tão perdida e sem graça como nesse momento.

Quero correr para os braços de Pedro, porém, ainda temos um

empecilho – o coração dele.

— E eu achando que a casa estava vazia! — a voz tão familiar

chega aos meus ouvidos, e arregalo os olhos, levantando o olhar. —


Surpresa!

Uma lágrima escorre de meu rosto, no momento em que minha


cópia mais nova abre os braços, e antes que possa me levantar, ela está
sobre mim, praticamente me esmagando na cama. Noto então a barriga já
arredondada, e ao mesmo tempo que a abraço, acaricio o sobrinho ou

sobrinha que me espera.

Lua sorri em meio ao abraço, e assim que escutamos um barulho

forte no piso, ela se afasta, jogando-se na cama para o lado. Ali está meu

melhor amigo, o homem no qual confio de olhos fechados. André abre

um sorriso enorme, com todo seu charme e jeito de menino.

— Então aqui é a reunião das mulheres da minha vida?

Como sempre, um cavalheiro sem igual.

Levanto-me da cama e vou até ele, abraçando-o com força. Ele

faz o mesmo, acariciando meus cabelos, e de alguma forma, fazendo-me

sentir em casa novamente.

Assim que nos afastamos, reparo na folga em que minha irmã se

encontra, toda jogada contra a cama, sorrindo animada, e ao mesmo


tempo passando a mão pela barriga. Ver que nossa família vai crescer,

faz-me deixar todos os problemas de lado, e só focar em uma coisa – no

futuro.

— Então, como brotaram de repente aqui? — pergunto


descontraída.
— Corta essa! — minha irmã me encara séria, e fico sem

entender. — Seu rosto está péssimo, e tenho certeza de que tem a ver
com o tal Pedro. Vamos lá! Irmã caçula chata a postos, além do seu

melhor amigo insuportável aí... — aponta para André que pisca para ela,
claramente, a irritando. — Pode contar tudo!

— Mas...

— “Mas” nada, Lola! — dá de ombros com um sorriso ameno. —


Cansei de viver longe da única família que realmente tenho, e ainda mais,

de não cuidar de você.

— Eu quem deveria cuidar de você e...

— Você o fez, há muitos anos, quando foi contra tudo e todos, e


veio para o Rio com a nona. — Suspira fundo, como se fosse uma boa

lembrança. — Eu vivi anos num colégio fora do país, longe daqueles que
se dizem nossos pais, e nas férias, sempre estive aqui, com vocês. Você

me fez acreditar em família, Lola.

— Irmã, eu... — digo sem jeito, e vou até ela. Sentando-me ao

seu lado.

— Chega de distância. — Segura minha mão, sorrindo animada.


Fico sem entender o que quer dizer. — Temos um bebê a caminho, duas
propostas maravilhosas de emprego além disso, nossa família aqui. —

Aperta minha mão com força. — Não vai se livrar de nós, nunca mais!

— Não acredito! — digo incrédula.

— Pode começar a acreditar, Lola. — A voz de André está


próxima, e logo o noto ao nosso lado. — Vivi anos à frente da empresa

da família acreditando ser meu sonho, mas aos poucos fui descobrindo
que não era nada disso. Sua irmã e eu, decidimos que queremos mudar e
sim, ficarmos próximos de você.

— Eu nem sei o que dizer. — Sorrio abertamente.

— Pode começar contando o porquê os sorrisos nesse rostinho


estão tão sem vida. — Minha irmã se pronuncia, e em seguida toca meus
cabelos. — Além de ter que me passar cada detalhe dessa mudança no

visual. O que aconteceu, Lola?

Olho de um para o outro, e noto que não vão desistir do que

querem. Eles sempre foram superprotetores, e gostam de estar a par de


tudo. Suspiro vencida, e me sento mais perto da cabeceira da cama,

encostando-me. Fecho os olhos por um instante, e começo a contar tudo,


sem deixar um detalhe fora. A cada palavra que sai de minha boca, um

peso de cinco quilos parece ir embora.

Realmente, aqui, está minha família.


Pedro

Caminho perdido pelo parque, sem saber muito bem o que fazer,
ou para onde ir. Na realidade, o que quero realmente é voltar para o
apartamento da mulher mais teimosa que conheço e fazê-la me ver como

seu. Passo as mãos por meus cabelos e tento controlar a ansiedade que
me atinge. Porém, como aceitar novamente que meus sonhos ruíram?

Lola mal sabe o quanto é importante para mim, e no momento

que resolvo finalmente confessar meu amor, ela é reticente, e além de


tudo, manda-me embora. Suspiro, completamente frustrado. Olho ao

redor e vejo as pessoas sorrindo umas para outras, casais claramente


apaixonados, e crianças ao redor... O que daria para sermos nós, nessa

exata situação?

Se alguém me perguntasse, anos antes de conhecer Lola, que

meus sonhos envolveriam casamento e filhos, negaria por completo.


Entretanto, foi necessário apenas seus olhos azuis encararem os meus,
para qualquer plano se dissolver.
Lola se tornou meu plano pessoal, instigando e levando-me a
loucura sem ao menos perceber. Nunca fui crédulo sobre amor à primeira
vista, mesmo que em minha antiga casa tenham centenas de romance

espalhados, e muitos com toda certeza falam a respeito. Clarissa Soares,


minha mãe, acreditou no amor após o canalha do meu pai, tanto que vive

seu conto de fadas com meu padrasto. Contudo, amor à primeira vista
parece tão surreal que apenas livros podem retratá-lo. Ledo engano, eu
caí perdidamente por Lola na primeira vez que nos esbarramos. Ela foi e

ainda é, minha incógnita favorita.

Sinto um calafrio percorrer meu corpo, e acabo me sentando em


um banco. Não sei explicar de onde vem esse mal-estar. Passo as mãos

por meu rosto e em seguida encaro o nada... De repente, o nada se torna

meu tudo. Abro um sorriso ao vê-la tão livre e solta, sorrindo animada

para algo, com uma casquinha de sorvete em mãos.

Levanto-me no mesmo instante e penso em ir até Lola, porém, no

segundo passo, meu corpo trava por completo. Um homem o qual não

conheço enlaça sua cintura, fazendo-a rir ainda mais, e a vejo olhá-lo
com carinho e até mesmo... amor. Sinto-me quebrar nesse instante.

A minha frente está a resposta que tanto quero a respeito de nós.

Finalmente entendo... “Nós” nunca existiu. A declaração de Lola com


certeza se deveu ao fato de me confundir com o cara, quem sabe. Eles

então se abraçam, e sinto todo meu corpo ser movido pela adrenalina.

Em meio segundo estou ao lado deles, e a puxo levemente para

me encarar. Seus olhos se arregalam, e vejo que fica perdida entre me

olhar, e olhar para ele. Nem perco tempo respirando fundo, e apenas ajo
de impulso.

— É por ele? — pergunto, e as palavras saem amargas de minha

boca. — É por isso que tem brincado tanto comigo? O quão engraçado

tem sido rir pelas minhas costas?

— Pedro...

— Ei, cara! Vamos nos acalmar e...

— Chega, Lola! — solto seu braço e seguro as lágrimas que

querem descer. — Vou fazer o que tanto me pediu.

— Pedro. — Sua voz sai fraca e ela segura minha mão.

Nossos olhos se encontram e nunca me senti tão humilhado como

nesse instante.

— O que quer? — solto-me dela, e me viro de costas. — Não sei


o que queria, mas sei de algo que conseguiu. — Viro-me apenas para

encará-la sobre meus ombros. — Você quebrou a porra do meu coração!


Finalmente saio dali, a passos largos até meu carro. Não olho para

trás, sentindo-me o maior idiota do século, isso para não dizer, trouxa.

Assim que entro em meu carro, tento segurar a raiva e dor que se
acumulam em meu ser. Quando finalmente estou no meu apartamento,

olho ao redor, e soco a primeira coisa que encontro – a parede. Meus

dedos sangram, a dor se instaura no local, mas não me incomodo. Vou até

o pequeno barzinho e pego dali um uísque, o primeiro gole desce


queimando minha garganta, mas não me importo.

Sou um idiota por beber para esquecer um amor não

correspondido, e ainda mais, um amor que brincou comigo. Mas que se

dane qualquer tipo de razão! Beber é a única forma de esquecer Paloma


Gerard e meus sentimentos por ela, nem que fosse por alguns segundos.

Pois uma certeza permanece, eu ainda a amo, apesar de tudo.


Capítulo 17

Lola

Fico estática por um minuto, porém no seguinte vou a passos


rápidos por onde vi Pedro andar. Entretanto, quando paro na calçada,

vejo seu carro há uma distância considerável.

— Não! — digo sozinha, e uma lágrima desce por meu rosto.

O desespero toma conta de meu corpo e começo a tremer, como

se meu próprio fisiológico avisasse o que está errado. Eu preciso fazer

algo, e finalmente entender o que está acontecendo entre nós. Conversei


por um longo tempo com minha irmã, e ela me fez perceber que não vou
chegar a nada se continuar fingindo que vou superá-lo. Preciso ter uma

conversa franca com Pedro para seguir em frente.

Mas por que mesmo sabendo que ele ama outra, e ainda assim me

ama, sinto-me culpada por feri-lo?

Você quebrou a porra do meu coração!

A dor nítida em seus olhos parece viva em minha mente, assim

como as palavras ditas. Tudo parece entrar em colapso, e me viro


rapidamente, batendo com tudo contra André.

— Ei! — diz baixo. — Calma!

— Não, Dé! — digo em desespero. — Sinto que preciso falar

com ele. Sinto que...

Fica difícil respirar, algo dentro de mim se contorce, e por um


segundo sinto meu corpo fraquejar.

— Pequena!

— Eu não sei o que fazer, Dé! — digo com dificuldade. — Eu o


amo, mas agora...

— Onde ele mora? — pergunta de repente, encarando-me


solícito.

Minha irmã aparece ao nosso lado de repente, e nos olha de forma

estranha.
— O que houve? — segura meu braço, claramente notando a
forma como estou. — Lola?

— Pedro me viu abraçada a André e...

— Ele pensou algo errado, disse que Lola quebrou o coração

dele. — meu amigo complementa, e tento me acalmar.

— Agora tudo ficou lindo mesmo! — Lua revira os olhos. —

Você vai até ele e vão ter uma conversa franca.

— Mas...

— “Mas” nada! — Lua diz nervosa.

— Eu acabei de pedir o endereço dele, mas Lola parece em outro

mundo.

— Ei! — minha irmã segura meus braços, chamando minha

atenção.

Meus pensamentos estão longe, no homem que tanto amo e que

no momento sinto que destruí. Por mais confuso que tudo pareça,

finalmente sinto a força necessária para lutar por ele... por nós.

— Vamos lá!

Logo estamos dentro de meu carro e André dirige pelas ruas do

Rio de Janeiro. Internamente, torço para que Pedro esteja em seu

apartamento, já que não faço ideia para onde ele tenha ido. Penso em
ligar, porém o medo de ser rejeitada é maior. Acabo escolhendo me

arriscar.

Minutos depois André estaciona o carro em frente ao prédio de

Pedro e olho rapidamente para minha irmã, que apenas assente com a
cabeça, como se me incentivando. Suspiro fundo e saio do carro, indo até

a portaria. Converso rapidamente com o porteiro e digo meu nome, em


seguida o andar e apartamento de Pedro. Por dentro, sinto que vou pirar a
qualquer momento, já que ele pode simplesmente não me deixar subir, ou

pior, não estar em casa.

— O senhor Soares autorizou sua entrada, senhorita Gerard.

— Obrigada. — Digo sem jeito, e viro minha cabeça em direção


do carro.

Faço um gesto positivo com as mãos para minha irmã e cunhado


e ambos entendem, já que combinamos de me deixar aqui, que avisaria

caso tudo desse errado e precisasse ir para casa rapidamente. Eles saem
com o carro e sorrio para o porteiro, que abre o portão.

Assim que adentro o imponente prédio, peço o elevador e


aguardo. Respiro de forma pesada, com o coração na boca e meu
nervosismo no ápice. Sei agora que ele me espera, e temo a forma como

nossa conversa ocorrerá. O elevador para, e logo as portas se abrem. Uma


mulher ruiva me encara sem graça, com o rosto vermelho, e forço um

sorriso.

Ela entra no elevador, no mesmo momento que saio, assim sigo

em direção a porta de Pedro. Toco a campainha e espero, por dentro todo


o caos do mundo parece me preencher. Sinto-me péssima, e ao mesmo

tempo, esperançosa. Não sei imaginar como será nossa conversa.

Adiei por tanto tempo falar sobre isso, que agora, as palavras
pareceram sumir. A porta finalmente se abre, e respiro fundo, ao encarar

Pedro. Ele parece tão perdido quanto eu, apenas vestido numa calça de
moletom e com um copo nas mãos. Reparo rapidamente no líquido

dentro, e arrisco que seja uísque.

Antes que pergunte se posso entrar, ele abre mais a porta e me dá

espaço para passar. Vejo sua postura rígida e me sinto completamente


perdida.

Assim que adentro o apartamento, as lembranças de nós dois ali


me atingem em cheio. Lembro-me perfeitamente de seu toque, seu

cheiro, seu gosto... Por que tudo tem que ser tão complicado?

— Eu não quero ser grosso, Lola. — Pedro diz de repente,

enquanto fecha a porta.


Ele vira o restante do líquido no copo, e o deixa de lado, sobre a
mesa de centro de sua sala. Estou parada ao lado do sofá, sem saber o
que dizer, sem saber como agir.

— Não estou no meu melhor momento, e você vir aqui não foi
uma boa ideia. — Vai em direção ao grande balcão que separa a cozinha

da sala e se encosta. — Sou uma péssima companhia hoje.

— Eu só quero conversar. — Finalmente encontro minha voz.

— Agora? — indaga desgostoso, cruzando os braços, sem me


encarar. — Sabe há quanto tempo que tento fazer isso? — ri sem
vontade. — Claro que sabe, deve ter rido muito de todas as minhas falhas

tentativas.

— Pedro, eu não ri de nada disso. — Digo firme, e seus olhos

encontram os meus. — Sei que tudo está confuso, não imagina o quanto
está na minha mente, e principalmente, em meu coração.

Um silêncio ensurdecedor se instala entre nós, e dou um passo à


frente, tentando ficar mais próxima dele, vendo que sua dor é clara, assim

como a minha.

— Esquece ele. — diz de repente, e seus olhos azuis parecem


desesperados.
Ele dá um passo à frente, e sem me permitir resposta, toca meu
rosto com as duas mãos.

— Eu posso ser o homem que quer... — fecha os olhos, e encosta


nossas testas, deixando-me pasma. — Eu posso te conquistar, te fazer me
amar e...

— Mais ainda? — pergunto, deixando as lágrimas descerem.

Seus olhos se abrem, e ele demonstra clara confusão.

— Mais do que já amo? — a dor em meu peito explode, mas sigo

em frente. — Eu me apaixonei por você desde...

— O primeiro dia. — Ele complementa, deixando-me

boquiaberta, e fico sem reação. — Por que estamos separados então? Por
que está com ele?

— Ele na verdade é meu cunhado, e melhor amigo. — explico, e

Pedro arregala os olhos, claramente surpreso. — Ele e minha irmã


vieram fazer uma surpresa no Rio.

— Eu pensei que... — coloco dois dedos em sua boca, calando-o.

— Nunca, em toda minha vida, fui tão afetada por um homem,

como sou por você. — Confesso, meu coração finalmente entregue. —


Mas é difícil pra mim, tem que entender. — Afasto-me um pouco,

tentando respirar com calma.


— Boneca, eu estou perdido aqui.

Fico de costas para ele por alguns instantes, e limpo as lágrimas,


tentando me conter. Assim que me viro, noto seus olhos atentos, e

começo a falar:

— Eu sei que ama outra mulher, ao menos, sente algo por ela. —
As palavras saem amargas de minha boca e Pedro franze o cenho. Tenta

se aproximar, porém dou um passo atrás, e ele entende o recado. — Gael

me contou por cima sobre seus sentimentos por Melissa, e quando

chamou o nome dela em seus sonhos logo após fazermos amor, eu...

— O que? — Pedro praticamente grita, e fico perplexa. — Gael te

disse isso? E como assim chamei o nome de Melissa? — ele parece

completamente perdido.

— Desculpa, eu acabei... Eu queria saber mais sobre você e


perguntei pra ele porque era solteiro, aí ele me disse que é apaixonado há

muito tempo pela mesma mulher. Enfim, isso...

— Não! — Pedro diz claramente nervoso. — Sou sim apaixonado


pela mesma mulher há muito tempo... — meu coração se aperta. — Mas

nunca foi Melissa, por Deus, boneca... Sempre foi você! — arregalo os

olhos, sendo minha vez de ficar quase sem chão.

— Mas você chamou por ela... Disse que sentia falta.


— O que exatamente eu disse dormindo? — pergunta, dando um

passo à frente, ficando bem próximo a mim.

— Eu sinto sua falta, Mel. — Repito a frase que me quebrou

naquela noite e Pedro leva uma mão ao rosto, claramente transtornado.


— Eu sei que devia ter contado antes a respeito, mas... Não consegui.

Dói demais saber que...

— Que o que, boneca? — respira fundo e me encara. — Que


ficamos separados porque Gael resolveu enlouquecer e encher sua mente,

e por que chamei o nome de minha irmã dormindo?

O que?

— Irmã? — pergunto surpresa, e me sinto uma completa imbecil.

— Eu sonho com ela desde que veio a falecer quando ainda

éramos crianças. — diz com calma, e forçando um sorriso. — Éramos

gêmeos, e bom, perdi uma parte minha aos oito anos. Sempre sonho com

ela, mas lembro em partes que após nossa noite, ela conversou comigo,
engraçado que consigo vê-la como adulta nos sonhos... Enfim, ela disse

que finalmente eu tinha encontrado a companheira que precisava, e que

iria embora. — Dá de ombros. — Já cheguei a ter muitos sonhos


estranhos com ela, mas em todos, eu sempre digo que sinto falta... Pois é
a pura verdade. — Encara-me profundamente. — O nome dela era

Melaine.
Capítulo 18

Lola

Fico chocada com suas palavras e me escoro no sofá, tentando

permanecer em pé. Penso então sobre todas as coisas que passaram por

minha mente, de Pedro ter escolhido justo aquela noite comigo para
termos algo. Como o relacionei e ainda associei a minha mãe, como se

tivesse ficado comigo por estar bonita. Seu olhar é tão nítido, nunca foi
por isso. E agora tenho a certeza, que nunca foi por ser sua segunda

opção.
— Eu me sinto uma idiota. — Confesso, e levo as mãos aos

cabelos, tentando encontrar as palavras certas. — Eu sinto muito, Pedro.

Ele vira de costas, segurando-se contra o balcão, como se

tentando raciocinar a respeito de tudo. Não resisto, e vou até ele,


abraçando-o por trás, sentindo novamente a pele quente contra meus

dedos.

Sem saber o que dizer, resolvo agir, e espalho beijos por suas

costas. O corpo dele se arrepia no mesmo instante, e de relance vejo que


segura com força o balcão. Passo as unhas de leve por cada parte de seu

peito, descendo para o abdome e noto seu corpo enrijecer.

Me surpreendendo, ele se vira de repente, e toca meu rosto, como

se querendo me marcar como sua.

— Como pôde pensar que quero outra? — pergunta, claramente

frustrado. — Se quando te perguntei a respeito de conquistar uma

mulher, era sobre você que falava... — fico perplexa com sua confissão.

— Por isso inventei aquele jantar de negócios com festa, até mesmo que

alguém tinha ficado doente. — Arregalo os olhos, sem saber como ele
consegue me surpreender ainda mais. — Tudo porque queria ficar a sós

com você longe do trabalho, para que me enxergasse além do seu sócio,

além de seu amigo...


— Como meu homem. — Intrometo-me e ele assente.

— Diga que não vai me deixar. — Pede, olhando-me

profundamente.

— Não vou. — Abraço-o pela cintura, trazendo-o ainda mais para

perto.

— Diga que depois de hoje será minha.

— Eu já sou. — Ele sorri, e uma lágrima desce por seu lindo

rosto.

— Não sabe o quanto esperei pra te ter assim. — fecha os olhos

por um segundo. — Acho que estou sonhando, que não é real.

— Eu estou bem aqui, amor. — Ele abre os olhos, presenteando-

me com um sorriso encantador, claramente aprovando a forma como o


chamo.

— Diga que me ama.

Sorrio, enquanto lágrimas de felicidade descem por meu rosto.

— Eu amo você. — Digo com todo amor que sinto, livre para

viver a minha história. — Só você, Pedro.

— Boneca...

Antes que ele continue, uno nossos lábios, e sem se fazer de

rogado, Pedro me puxa para si com força. Enlaço sua cintura com as
pernas, e antes que possa raciocinar, ele me senta sobre o balcão, e só se

afasta o suficiente para puxar minha blusa junto com o sutiã para cima.

— Perfeita. — Suspiro ao sentir novamente seus lábios nos meus,

e percorro toda sua pele com as unhas, marcando-o.

Nossos beijos ficam ainda mais ferozes, deixo-me levar pelo


momento, sem querer pensar em mais nada que não seja nós. Até porque,

é real, somos apenas nós. Ele me ama, eu o amo.

Em poucos segundos estamos nus, e antes que precise reclamar,

Pedro me toma para si. Agarro com força seus cabelos, e tento controlar
o prazer tão próximo. Nos olhos dele vejo a mesma necessidade, como se

ambos precisássemos dessa conexão para reafirmar o que sentimos, como


se nada além da entrega seja necessário. E não é.

— Eu te amo. — diz, e morde com força meu pescoço, fazendo-


me ficar ainda mais perto da borda.

— Pedro, eu...

— Não diz nada, boneca. — Espalha várias mordidas por meu


ombro, e logo chega aos meus seios, fazendo-me arfar. — Apenas seja

minha.

Entrego-me a ele mais uma vez, tendo a certeza de que mesmo

com todos os erros e acertos, estou onde devo estar. Nos braços do
homem que amo, sendo apenas dele, e ele, sendo apenas meu. Os

minutos parecem infinitos, enquanto o sangue parece percorrer ainda


mais rápido todo meu corpo, e o prazer se instala em cada poro de meu

ser. Pedro me olha de forma devastadora, e assim, deixo-me ir, dizendo


em alto e bom som que o amo, perdidamente.

Pedro

Olho para a mulher deitada em meu peito e sorrio, velando seu


sono. Lola dorme agarrada ao meu corpo, feito uma gatinha. Dou uma
geral em meu corpo e o vejo todo marcado, que demonstra que é mesmo

uma gatinha, com garras afiadas. Ouço a campainha e bufo baixinho, já


querendo correr dali para não acordar Lola.

Afasto-me com cuidado dela, porém, ela logo abre os olhos azuis.

— O que foi? — pergunta um pouco perdida.

— Tem alguém na porta. — Acomodo-a no travesseiro, e sorrio.


— Eu já volto pra você, boneca.

— Promete?
Sua pergunta me pega de surpresa, e só então noto sua
fragilidade. E pensar que temos tanto para conversar... tanto para falar
sobre nós. Mas agora, apenas foco no seu olhar sincero, e beijo de leve

seus lábios.

— Prometo. — Passo a mão por seu rosto. — Descansa, que eu já

volto.

— Eu te amo. — diz, e cora lindamente, fazendo-me sentir o


homem mais sortudo do mundo.

A mulher que amo, me ama... A sensação desse momento é


indescritível.

— Eu também te amo.

Ela então sorri, se aconchega aos lençóis, fechando os olhos mais


uma vez. A campainha soa novamente, e bufo, levantando-me. Pego a
calça de moletom jogada perto da sala e visto, passando as mãos em

meus cabelos, e abrindo a porta em seguida.

— Amigo, eu...

Fecho meu semblante no mesmo instante, assim que encaro Gael.


Ele parece completamente fora de si, praticamente caindo em pé. Quando

dá um passo à frente, quase cai sobre mim, e acabo tendo que escorá-lo.
— O que faz aqui? — sou direto. — Ainda mais bêbado desse
jeito.

Saio com ele do apartamento, e o escoro em meus braços,


levando-o para o seu, que fica a frente. Felizmente a porta está aberta, e
assim que consigo, jogo-o contra o sofá.

— O que quer, Gael? — pergunto, completamente frustrado. —

Nem sei se vale a pena ter essa conversa com você, ainda mais estando
dessa forma. Mas saiba que tem muito a me explicar.

— Ela me deixou. — diz, fechando os olhos, e de repente muda

seu semblante. — Ela disse que me viu com outra, mas... Eu não estive
com ninguém... Ela...

— Karina? — pergunto sem vontade, e ele abre os olhos.

— Ela tá aqui? — parece desesperado e tenta se levantar, falha, e

cai novamente contra o sofá. — Chama ela, Pedro, eu...

— Precisa de um banho gelado e dormir! — levo as mãos à

cabeça.

Resolvo deixar nossa conversa para depois e logo estou com Gael

no box de seu banheiro. Abro a ducha gelada sobre ele, que reclama, mas
de alguma forma consegue se manter um pouco de pé.
Alguns minutos depois, lhe estendo a toalha, e murmurando

algumas coisas sem nexo, ele se enxuga, enrolando em seguida a toalha


na cintura.

— Ela vai voltar, né? — pergunta, e sequer consigo reconhecê-lo.

Deixo-o sobre a cama, e vou até a cozinha, em busca de um café.


Assim que fica pronto, volto para o quarto, e reviro os olhos, vendo que

apagou, caído sobre o tapete. Como ele chegou ali? Com certeza tentando

ir a algum lugar.

Pego um travesseiro sobre a cama e coloco debaixo de sua


cabeça. Gael resmunga algumas coisas, mas está completamente

apagado. Meu amigo com certeza percebeu tarde demais que perderia

Karina. Deixo para depois nossa conversa, e vou até a cozinha, deixando
a caneca com café sobre a pia.

Saio de seu apartamento, e volto para o meu, sem querer pensar

em Gael, e muito menos em seus problemas. Ele tinha causado um pior

em minha vida, o qual ainda não sei o motivo, mas preciso descobrir.

Assim que fecho a porta atrás de mim e levanto meu olhar, a cena

que me espera, faz-me sorrir feito um adolescente apaixonado. Lola está

parada no meio da sala, com um copo em mãos, olhando os quadros na

parede, vestindo minha camiseta favorita.


Não resisto e vou até ela, abraçando-a por trás, a qual se assusta.

Ela então vira seu rosto para o meu, oferecendo seus lábios. Dou-lhe um

leve selinho e logo vejo um sorriso aberto em seu rosto. Finalmente,


estamos juntos.
Bônus

Karina

Quando vejo a mulher sair do seu apartamento, claramente após


uma noite juntos, sinto-me uma completa idiota por estar aqui
novamente. Mais uma vez insistindo em um homem que só soube me
colocar em segundo plano em sua vida.

Gael Novaes tem sido minha perdição desde que meus olhos
pararam nos seus na festa de calouros da universidade. Nunca fui uma

mulher que esconde o que quer, e eu o quis, e claro, não facilitei a vida
de ninguém ao redor apenas para tê-lo numa noite em minha cama.

Porém, uma noite se tornou duas, até se passar uma semana, e


perceber que estava me ligando a um homem claramente livre, assim

como eu. Deixamos em aberto nossa relação, mas após vê-lo beijar outra

mulher em uma festa, acabei decidindo me afastar. Não soube lidar com
aquela carga emocional, e decidi que criar sentimentos por alguém
poderia me tirar o foco do que realmente importava durante a faculdade –

estudar.

Os anos se passaram, nos tornamos veteranos, assim como eu, ele

estava se formando em administração. Ambos tínhamos objetivos


parecidos, fazíamos parte da mesma turma, e foi muito difícil permanecer

longe após ter tido o gosto dele em meu ser. Porém, nada me preparou

para o último semestre, onde estagiamos na mesma empresa, e além do


mais, que carrega o sobrenome da minha família.

Pensei várias vezes em mudar de estágio, porém, meus pais nunca

concordariam. Ainda mais se soubessem do meu interesse pessoal no

estagiário que passou em primeiro lugar na prova da empresa, fariam


questão de me manter próxima dele, pois já o veriam como um futuro

genro brilhante. Foi complicado, árduo, e além e tudo, perigoso para nós.
Mas me mantive afastada o máximo que o trabalho permitia, tentando

esquecer o fato de meu corpo e coração estarem tão apavorados por ele.

Mas tudo mudou em uma noite, onde ficamos inertes no trabalho, e de

repente, estava em seus braços, sobre a mesa da sala de reuniões.

Não existiu lógica naquele instante, e após aquele beijo nada

discreto, durante o fim do expediente da maioria das pessoas, acabamos

finalizando a noite em seu apartamento. A partir dali, Gael se tornou meu

inferno pessoal.
Demorei muito para aceitar meus sentimentos por ele, e ainda
mais, para começar a demonstrar. Gael age como eu, pensamos muito

parecido, mas durante os quatro anos que se passaram, tudo parece o

mesmo para ele. Esperei até quando pude, até quando meu coração

aguentou. Porém, cheguei ao ponto de não poder mais, precisava de um

amor que não se resguardasse de mim. Ou melhor, reciprocidade.

Gael foi posto contra a parede, e pensou que tudo seria como nos

nossos inúmeros términos ao passar dos anos, mas estava decidida. Ele

demorou para enxergar a realidade, que não estou mais em suas mãos,

mas também resolvi não o deixar me usar novamente. Meses fugindo do


homem que amo e da sua insistência, tentando fazê-lo perceber que sou a

mulher que ele ama também. Ledo engano.

A mulher morena sorri para mim ao passar, e entra no elevador.


Noto a forma como ela está bagunçada e lembro de como fico após

passar a noite com Gael. Suas mensagens foram tão desesperadas que

decidi vir até ele, que decidi explicar tudo. Mas ele tem outras, como

sempre suspeitei, mas nunca me permiti admitir ou acreditar.

Lágrimas descem por meu rosto e tento me controlar. Prendo

meus cabelos ruivos de qualquer forma no alto da cabeça e vou em

direção ao elevador. Aguardo-o chegar, e assim que adentro o mesmo,

encosto-me contra a parede de metal, segurando-me para não quebrar ali.


Quando as portas se fecham, outra lágrima desce, e no meu reflexo

assumo, nunca serei feliz com Gael.


Capítulo 19

Lola

— Eu prometo que conto tudo quando chegar.

— Não acredito que vai fazer isso com sua irmã grávida! — Lua
diz indignada, fazendo-me rir.

— Pedro está no banho, não tem como eu falar disso agora.

— E o que faz falando comigo, em vez de estar no banho com

ele? Vai logo!

Desfaz a ligação, e encaro o celular, sorrindo.


Lua sendo Lua!

Deixo meu celular sobre o criado mudo e analiso por alguns

instantes o quarto de Pedro. As paredes têm um tom cinza, os móveis na

cor preta, e os lençóis variam entre branco e azul. Um típico quarto


masculino de solteiro. Levanto-me da cama, e puxo a camiseta que visto

para baixo, a qual cobre parcialmente minhas coxas. Sorrio, sentindo-me

pela primeira vez, imersa em um romance.

Paro a frente de um porta-retratos que não tinha notado, já que


nunca reparei de fato em seu quarto. Sendo que na outra vez estive

apenas entregue a ele. Pedro está sorrindo junto a uma mulher bem

parecida com ele, com a diferença nos cabelos negros dela. Passo as
mãos por sua imagem, na qual acredito que ele tenha uns vinte anos.

— Clarissa Soares, minha mãe.

Dou um pulo com o porta-retratos em mãos, e balanço a cabeça

sorrindo. Só hoje, Pedro conseguiu me assustar duas vezes. Não sei como

consegue ser tão silencioso.

— Ela é linda. — Comento. — Ela mora aqui no Rio, certo?

Olho para Pedro, que adentra uma porta, na qual acredito ser o

closet. Ele logo volta vestindo uma calça de moletom branca e uma

camisa cinza, que se agarra perfeitamente a seus músculos.


— Sim, na casa que cresci, junto com meu padrasto. — Sorri, e
vem até mim. — Você a conheceu de relance, algumas vezes em que ela

apareceu de surpresa no restaurante.

— Me lembro em partes disso. — Dou de ombros, e logo sinto

seus braços ao meu redor. — Não sou muito boa de memória.

— Com fome? — pergunta, fazendo carinhos em meu cabelo.

— Um pouco. — Confesso, e ele sorri.

— O que que tirou suas forças, senhorita Gerard? — sorrio de

lado, revirando os olhos.

— Um cafajeste, senhor Soares? — provoco.

— Posso ter mil e uma faces. — Pisca, sorrindo de lado.

Em seguida coloco o porta-retratos de volta no lugar, sobre uma

prateleira. E Pedro permanece me cercando.

— E qual face está a mostra agora?

Puxa-me para si, fazendo-me encará-lo.

— A do homem que te ama.

Lhe dou um leve selinho que logo se torna um beijo profundo.

Com toda certeza, essa é minha face favorita.


— Eu até agora não consigo acreditar que nunca percebeu os

olhares que te lanço. — Pedro diz de repente, ao colocar os ovos mexidos

que cheiram divinamente bem sobre o prato a minha frente.

Olho-o sem graça e fico sem saber o que dizer.

— Ei! — levanta meu queixo, fazendo-me o encarar. — O que


foi?

— Você me notou antes mesmo de eu mudar o visual, não é? —


pergunto, mesmo já sabendo a resposta.

— Sim. — Responde de relance. — Eu sou apaixonado por quem


você é, não apenas pelo que vejo.

— Mas com certeza notou o quanto minhas roupas mudaram, e...

Bom tem um porquê nisso.

Pedro se afasta rapidamente, pegando dois refrigerantes de latinha

na geladeira e deixando um aberto a minha frente, para em seguida se


servir dos ovos mexidos.

— Quer falar sobre isso? — pergunta atencioso, e assinto no


mesmo instante.

Se realmente quero ficar com ele, é necessário abrir meu coração


além do que sinto. Pedro merece me conhecer, saber quem realmente sou.
— Como sabe, meu sobrenome é Gerard... Talvez não tenha

muita noção sobre, mas ele tem um grande peso de onde venho.

— Como assim? — bebe um pouco de seu refrigerante e me

encara. — Assim como os Soares?

— Bem, não sei se tanto quanto, mas com certeza minha família...

Quer dizer, meus pais e outros parentes, se importam muito com isso. —
respiro fundo, e mexo de leve com o garfo na comida. — Fui moldada
desde pequena para ser uma dama na sociedade, mas nunca parei pra

pensar realmente porquê. Até que meus pais anunciaram, ou melhor,


ordenaram que me casasse com André. Ele é o homem com o qual me

viu abraçada... Ele é como um irmão de coração pra mim, e que desde
aquela época, quando tínhamos apenas dezoito, era apaixonado por
minha irmã mais nova e ela por ele.

— Como conseguiu fugir disso? — pergunta, claramente


intrigado.

— Minha nona. — sorrio apenas por falar dela. — Ela foi quem

me trouxe para o Rio, conseguiu impedir que meus pais usassem Lua,
minha irmã, em meu lugar... Enfim, assim nos conhecemos. — ele então
aperta minha mão esquerda, que está sobre a mesa, como se dando todo o

apoio. — Eu sei tudo sobre etiqueta, roupas, maquiagem... mas deixei pra
trás, no dia em que nona faleceu e minha mãe simplesmente se importou
mais com as roupas, fotos e declarações para jornais, do que para a
própria mãe. Percebi que fui criada numa mentira. Meus pais eram uma
mentira, e eu seguia pelo mesmo caminho.

— Por isso resolveu se esconder debaixo de roupas largas e sem


maquiagem? — apenas assinto para sua pergunta, e o olho com pesar. —

Mas você gosta de se vestir da forma como está agora, não é?

— Sim. — confesso, sentindo-me mais aliviada. — Quando me


chamou para ir aquele jantar de negócios, ponderei sobre tudo, pois sabia

que não podia simplesmente ir de qualquer forma. Consegui superar


muitas coisas desde então... Pois queria mostrar a você o que realmente

sou, com ou sem maquiagem, com ou sem roupas bonitas... Apenas eu.

— Você me tem nas mãos apenas por me olhar. — emociono-me

com suas palavras. — Sei bem como é isso que está dizendo. Minha mãe
sentiu na pele o peso do sobrenome, ainda quando engravidou de mim e

Melaine. Uma Soares solteira foi uma notícia e tanto... E bom, sobre
status e família. Acredite, os Soares têm alguns casamentos arranjados ao
longo da família, e vi isso acontecer com um primo meu. Agora, sobre

mim, sei bem como é ter alguém que devia te amar além de tudo, e que
na realidade, apenas quer algo de você.

— Seu pai? — pergunto cautelosa, e ele assente. — Eu sinto


muito!
— Não sinta. — dá de ombros. — Ele sequer pode ser chamado
disso, e nunca me fez falta. Felizmente minha mãe conheceu Fábio no
momento certo, e meu padrasto realmente cuidou de mim e Melaine. Ele

nos ajudou muito quando a perdemos para o câncer. — diz com pesar, e
aperto sua mão com força. — Bom, vejo Fábio como meu real pai. Já o

outro lá... — sorri em deboche. — Só apareceu em minha vida duas


vezes, quando precisou de dinheiro, e neguei de todas as formas.

— Nossas famílias são mais parecidas do que imaginei. — sou

sincera, e ele assente.

— Infelizmente. — pisca, um pouco mais descontraído. — Mas


pela forma que fala de sua irmã e do marido dela, parece ser bem

próximos.

— São de fato minha família. — sorrio, e pego o refrigerante,

tomando um gole. — Ah, e logo mais serei tia! — conto animada.

— Isso deve ser incrível. — diz de repente, e assinto fervorosa.

— Minha pequena família finalmente está aumentando.

— Espero estar incluso nessa contagem. — arregalo os olhos e

ele puxa de leve minha mão, dando um leve beijo em seguida. — Estou
falando sério, boneca.

— Não é muito cedo para pensarmos assim? — indago incerta.


Por dentro, tudo o que quero gritar é “Sim, você já é uma parte

minha.”

— Demoramos quatro anos para finalmente estarmos assim... Já

passou tempo demais, garanto.

— Como sempre, direto e sincero. — ele solta minha mão e come


um pouco.

— O que posso dizer, sou um homem irresistível.

— Não, não vamos entrar nesse mérito! — faço uma careta ao

lembrar de como as mulheres ficam perto dele. — Vou aproveitar e me


deliciar com essa comida, e depois vamos conversar mais, Pedro.

— Sobre o que? — faz-se de inocente.

— Sobre suas “conquistas”. — faço aspas com as mãos e ele

sorri, mostrando seu lado galanteador.

— Como a minha mulher quiser.

Sorrio encantada e volto atenção para comida. Pedro começa a

falar a respeito de algumas coisas de sua família, e fico atenta a cada

palavra, principalmente sobre sua ligação forte com Christopher. Tê-lo ao


meu alcance é a melhor sensação que poderia experimentar.
Capítulo 20

Pedro

Lola me dá mais um beijo fervoroso, e seguro sua cintura com

força, não querendo deixá-la ir. Ela sorri em meio ao beijo e se afasta um
pouco.

— Preciso ir. — diz, de forma não muito convincente.

— Aham. — dou uma leve mordida em seu lábio inferior,


puxando-o.
— Você me desconcerta. — acusa, dando-me mais um selinho. —

Mas se não for agora, não vou mais.

— Então não vá! — peço, tocando levemente seu cabelo. — Vou

sentir sua falta.

— Eu também. — toca meu rosto com carinho. — Eu te amo.

— E eu a você, boneca. — beijo-a mais uma vez. — Agora vai,

antes que eu te sequestre e nunca mais permita que saia do meu


apartamento.

Ela sorri e finalmente abre a porta do carro, saindo pela mesma.


Observo-a entrar pelos portões do prédio, e só assim saio dali.

No caminho até o apartamento, tudo o que vivemos durante os


últimos dois dias se passa por minha mente. Ter Lola em meus braços,

finalmente poder ser honesto sobre meus sentimentos... Amá-la me


apavora, e ao mesmo tempo, me completa. Felizmente nenhum de nós

trabalhava nesse fim de semana, e mesmo sendo o chefe principal do

restaurante, sei que posso confiar em meu pessoal. Assim, passamos o

máximo de tempo possível juntos.

Por mim, apenas passaríamos em seu apartamento para pegar

algumas roupas e voltarmos para o meu, e iríamos trabalhar juntos

amanhã, mas a família de Lola está na cidade, e como me contou,


pretendem se mudar para o Rio, e sei o quanto é importante para ela fazer
parte desse momento.

Quando finalmente estou parado a frente de meu apartamento já é


em torno das oito da noite, e suspiro, colocando a chave na porta. Antes

que possa abri-la, escuto o barulho do apartamento a frente, e logo vejo

Gael saindo do mesmo. Meu amigo nem de longe parece estar bem. Na

realidade, está mais do que péssimo.

— E aí! — diz sem muita vontade, trancando seu apartamento.

Lembro-me no mesmo instante do que Lola me contou e acabo


me virando para ele. De algum jeito, preciso entender, porque meu

melhor amigo, sabendo dos meus sentimentos por ela, a iludiu de algo

sem cabimento.

— Precisamos conversar. — sou direto.

— Não é uma boa hora, Pedrão. — leva as mãos ao rosto. —


Minha vida está uma merda!

— E a minha estava, em partes, por sua culpa. — acuso-o, e ele

arregala os olhos.

— O que eu fiz bêbado? — pergunta cauteloso.

— Do que está falando? — indago sem entender.


— Esquece, vamos entrar e conversar. — diz, e abre a porta do

seu apartamento.

Apenas tiro a chave do trinco da minha, e o sigo. Gael anda até o

sofá e praticamente se joga, mostrando o quanto está acabado. Fecho a


porta atrás de mim, e me encosto contra a mesma.

— Acordei duas vezes dentro do meu apartamento, sem fazer a

mínima ideia de como cheguei até aqui. — confessa. — Devo ter feito
alguma merda bêbado, estou certo?

— Bom, se fez, não tenho ideia. — ele me encara curioso. —


Mas o que quero saber é porque falou para Lola que amo Melissa? De

onde tirou uma merda dessas? A única vez que comentamos a respeito
dela foi quando conversamos sobre paixões adolescentes, e só. Agora,

você sabe bem que amo Lola e... Por que fez essa merda?

— Isso? — olha-me com desdém. — Eu tentei me aproximar de

Lola, ser amigo dela, para te ajudar. Não sou muito bom com relações,
mas fiz de tudo para que ela me escutasse.

— E então resolveu dizer a ela que amo outra mulher? —


pergunto inconformado.

— Não! — meneia a cabeça. — Quer dizer, sim! Mas porque

estava na cara dela que gosta de você, e quis dar um empurrão. Karina
me disse uma vez que mulheres agem com ainda mais garra quando se

sentem ameaçadas. — termina a fala um pouco sem vontade. — Eu só


queria ajudar!

— Porra, Gael! — levo as mãos aos cabelos, inconformado. —


Quase ferrou comigo e Lola.

— Sério? — pergunta alarmado. — Eu sou realmente um merda


em tudo! — reclama baixo, mas vejo o quão decepcionado está. — Eu
juro, só estava tentando ser legal com ela, abaixar aquela armadura de

mulher fria. Até levei flores, agi de forma que um amigo e...

— Você que deu rosas pra ela? — pergunto, lembrando-me do dia

que ela estava com um buquê em mãos, sentindo a fúria me invadir.

— Sim, tentando ser amigo. — esclarece, finalmente entendendo

o que estou pensando a respeito. — Olha, eu segui algumas dicas que


Karina me deu, quando ainda conversávamos sobre tudo... — suspira

fundo. — Não precisa me olhar como se eu fosse interessado na mulher


que você ama. — acusa-me. — Eu posso ser um babaca, até mesmo

insensível, mas nunca trairia alguém.

— Ok! — digo por fim, vendo a forma como é sincero.

— Eu até mesmo me considerei amigo de Lola... Tentei marcar

com ela para conversar a respeito de Karina, e quem sabe, ela me


ajudaria a entender o que fazer para melhorar as coisas.

— O que aconteceu? — pergunto, notando que de algum jeito, ele

sofre a cada momento que o nome Karina sai de sua boca.

— Karina me deixou, e dessa vez, é pra valer. — diz de forma


dura. — Venho tentando consertar as coisas, mas a cada vez que tento,

tudo piora.

— Eu te avisei sobre ela, e me disse que não pretendia algo sério.

— contesto, e ele ri, parecendo de si mesmo.

— Você nunca vai entender, nem ela... Nem ninguém. — diz com

pesar. — Deixa pra lá, preciso é focar no trabalho.

— Gael. — ele me encara sem vontade.

— Preciso passar na empresa ainda hoje. — levanta-se, sem me

dar chance pra falar. — Eu sinto muito, Pedrão. — vem até mim, e bate
em meu ombro. — Sou um péssimo cupido, admito.

— Você é terrível! — finalmente sorrio, e meu amigo força um.


— Vou te deixar espairecer, ou seja, lá o que o trabalho signifique pra

você agora. Mas se precisar de ajuda com Karina, saiba que estou aqui!

Ele assente, e então abro a porta, saindo por ela. Logo ele faz o

mesmo e em seguida a tranca. Vejo a forma como Gael está e só então


noto o quão machucado parece.
— Você a ama. — constato o óbvio, e ele dá de ombros. — Por
que demorou tanto tempo para admitir isso?

— Acredite eu já sei disso há muito tempo. — sorri sem vontade.


— Mas simplesmente não podemos ficar juntos.

— Ela te ama, cara. Por que não assumem um relacionamento de

uma vez? — pergunto, completamente perdido.

— Porque ela merece mais, muito mais do que posso oferecer. —


coloca as chaves no bolso e ajeita a camisa branca. — Não se preocupa

com isso, vai ficar tudo bem.

— Se você diz.

Gael sai sem dizer mais nada, e balanço a cabeça, sem conseguir
entender porque complicamos tanto quando se trata de amor. Lola e eu

somos o exemplo perfeito disso. Anos longe pelo simples medo da

rejeição, e depois de finalmente nos entregarmos, mais meses distantes


por uma simples confusão no caminho. Talvez essa seja uma das

peculiaridades do amor, que minha mãe sempre comentou. Ao menos eu,

nesse instante, posso sorrir com tal sentimento.


Capítulo 21

Lola

— Não precisam de uma casa, podem muito bem ficar aqui

comigo! — digo, mais uma vez, encarando meu melhor amigo.

André toma um pouco de café, encostado contra a geladeira.


Minha irmã nunca foi de acordar cedo, e com a gravidez, André disse que

o sono dela triplicou, ou seja, continua apagada na cama, e deve sair de lá

por volta do meio-dia. Minha irmã só assumiria seu novo cargo numa
galeria em algumas semanas, e André tinha flexibilidade entre o

escritório de advocacia novo e trabalhar em casa.


— Não é tão simples, pequena. — dá de ombros.

— É sim! — bufo, pegando minha bolsa sobre o balcão. — Esse

apartamento é enorme, Dé!

— Lola...

— Vou deixar que pensem sobre ok? — digo, indo até ele e dando

um leve beijo em seu rosto. — Vejo vocês mais tarde.

— Sim, senhora! — pisca sorrindo.

Escuto o interfone tocar, assim que estou próxima da porta, e me


viro, vendo André atendê-lo. Ele sorri malicioso em minha direção e logo

coloca o telefone no gancho.

— O que foi? — pergunto curiosa.

— O porteiro disse que Pedro Soares está aí embaixo, te

esperando... — deixa a frase no ar.

— Mas nós não combinamos de nos ver antes do trabalho.

— Talvez ele queira te surpreender. — dá de ombros. — Vai logo,

mulher!

— Ok. — sorrio.

Saio de casa e assim que entro no elevador, começo a ponderar se

em algum momento combinei de me encontrar com Pedro à frente de

meu prédio. Tudo bem que meu apartamento fica a poucas quadras do
restaurante, mas sei que o dele fica no mínimo há uns quinze minutos de
carro, isso em um dia com o trânsito tranquilo, pelo que me contou.

Assim que chego à saída do prédio, ando um pouco cautelosa,


procurando-o ali na frente. Cumprimento meu porteiro, que sorri de

forma cordial como sempre, e logo abre os portões. Olho para o lado

esquerdo e não vejo nada, pegando meu celular no mesmo instante.

Porém, quando viro meu olhar para o outro lado, a imagem que tenho faz

meu coração acelerar.

Pedro Soares com seu sorriso sedutor está encostado próximo de

uma árvore, e logo vem em minha direção. O momento parece passar em

câmera lenta, quando noto que ele traz um buquê de rosas vermelhas nas

mãos, e a cada passo, sinto meu corpo implorar pelo seu.

Ele então fica a minha frente, olhando-me profundamente, e antes

que possa dizer algo, seus lábios estão nos meus. Um leve selinho, mas

que faz o dia realmente começar a ser bom, e relembrar o porquê amo

tanto esse homem. Estar perto dele é como encontrar uma paz que nunca
imaginei ser capaz de desfrutar. Pedro com toda certeza é o amor que

minha nona tanto falou, o amor de várias vidas, que só com um olhar,

reconhece-se.

Me afasto o máximo para poder tocar seu lindo rosto, e ele dá um

beijo em minha mão. Sorrio apaixonada, não sabendo como agradecer


por toda felicidade que me atinge.

— Oi, boneca. — diz carinhoso, e me oferece as flores. — Bom

dia.

— Bom dia.

Pego as rosas com cuidado e toco com carinho, inalando o cheiro,

que logo percebo é o seu perfume.

— Bom, minha mãe disse que o melhor cheiro em rosas é do

homem que as manda. — conta, com um sorrisinho de lado.

Por um segundo me questiono se sua mãe já sabe sobre nós, e fico

um tanto apavorada.

— Ei, dona Clarissa sabe de você há muito tempo. — arregalo os


olhos, e ele enlaça minha cintura. — Mamãe é minha confidente.

— Têm uma relação linda pelo que me conta. — assente, e toca


meu rosto. — Eu amei as flores, obrigada! — dou-lhe um leve beijo.

— Bom, resolvi pegar minha garota para irmos ao nosso


restaurante. — diz um pouco sem graça. — Exagerei?

— Em aparecer de surpresa com rosas, e ainda por cima me


chamar de “sua garota”? — nego com a cabeça. — Nenhum exagero, eu

amei! — ele sorri amplamente. — Mas seu olhar me acusa que tem algo
mais para me dizer. — digo, notando que parece se conter.
— Bom... — respira fundo. — Isso só mais tarde.

— Pedro. — lança-me um sorriso de lado e dou-lhe um tapa no


peito. — Me fala.

— Mais tarde, boneca. — afasta-se, entrelaçando nossos dedos, e


sorrio pelo gesto. — Agora vamos para o trabalho.

— Mandão. — reviro os olhos, andando ao seu lado.

— Nunca imaginei que fosse curiosa. — sorri, tocando meu rosto.

— Tem até um bico nesse rosto, Lola.

— Eu sou virginiana, gosto de ter controle sobre tudo e saber tudo

o que acontece. — confesso, como se fosse uma bela desculpa, e Pedro


apenas sorri.

Quando finalmente chegamos ao restaurante, penso a respeito da

forma que todos nos encararão. Acho que ninguém desconfiava sobre nós
ou até mesmo pensou que seus chefes poderiam ficar juntos. Porém, não

me afasto de Pedro, sentindo-me completa por tê-lo ao meu lado, e


quando passamos pela recepção do restaurante, e encontramos alguns
funcionários pelo caminho, noto sorrisos em vários lugares.

Todos parecem animados ao notar nossos dedos entrelaçados, e

quando vejo Luís, um sorriso enorme se abre em seu rosto.

— Finalmente, chefe! — pisca pra mim. — Quer dizer, chefes.


Olho em direção a Pedro, que parece mais do que confortável em
sua própria pele.

— Finalmente consegui conquistar a minha boneca. — diz em


alto e bom som, fazendo-me corar diante de todos.

Subimos as escadas para nossos escritórios e antes que possa abrir

minha porta, Pedro praticamente me arrasta até a sua sala. Após trancar,
apenas sinto o buquê ser tirado de minhas mãos e no momento seguinte
estou contra a porta de sua sala sendo beijada da forma mais desejosa

possível. Correspondo o beijo com fervor, segurando com força contra


seu corpo, tendo a certeza de que nunca terei o suficiente desse homem.

Aos poucos o beijo vai se acalmando, e os lábios de Pedro


migram para meu pescoço, dando leve mordidas.

— Pedro... — tento raciocinar, mas fica difícil.

— Senti sua falta, boneca. — olha-me com desejo e dou-lhe um

leve selinho.

— Também.

Logo ele me solta de forma que posso ficar de pé sozinha, porém


não tira as mãos de minha cintura.

— Desculpe por isso, mas eu já não conseguia me conter. —


confessa, um pouco envergonhado. — Nunca agi dessa forma antes, e
pareço um desesperado por você.

Sorrio de sua confissão e sei exatamente como se sente. Uma

atração como a nossa é forte demais para ser evitada após todos os
tormentos que passamos. Mas o que toca meu coração é saber que somos
muito além disso. Por um segundo a pergunta do que realmente somos

passa por minha mente, porém a deixo de lado. Nunca fui adepta a
rótulos, e com toda certeza, não o seria agora.

— Vai ser difícil trabalhar sabendo que está tão perto. — toca

meu rosto com carinho. — Me pergunto por que perdemos tanto tempo.

— Porque o amor não é fácil. — mordo o lábio inferior, sabendo


que minha alma romântica está solta. Pedro me olha com tanto carinho

que acabo por continuar. — Amar alguém nunca é simples, e ainda mais,

duas pessoas tão confusas como nós. — ele sorri assim como eu.

Estar nos seus braços é como finalmente ter meu lar.


— Obrigada, eu entro em contato. — desfaço a ligação e deixo o

celular sobre a mesa.

Estico-me um pouco e giro com a cadeira em seguida. O dia

estava sendo normal, porém em alguns momentos me vi perdida em

pensamentos os quais não me agradam nem um pouco. Após sair da sala


de Pedro e ele ir para cozinha, um vazio se instalou em meu ser. Não por

sua ausência, mas como um aviso de que algo ia acontecer.

A velha desconfiança de quando tudo começa a entrar nos eixos

me assombra. Suspiro fundo, levando as mãos a meus cabelos, tentando


não pensar em coisas ruins, muito menos fazer de um momento feliz,

algo a se temer. Uma vida para aprender a amar e confiar... Eu tenho isso

com Pedro, um começo de algo que pode dar certo, de algo que toca meu
coração de forma encantadora.

Sorrio sozinha, e como se fosse o destino, no mesmo instante uma

mensagem chega em meu celular. Sorrio ao ver o nome Pedro no

remetente, e ainda mais pelo que me pede para fazer.

Remetente: Pedro

Abra a porta, boneca.


Levanto-me da cadeira e abro a porta rapidamente. Surpreendo-

me ao dar de cara com um enorme buquê de rosas brancas, logo à frente

do homem que amo, tampando seu rosto. Logo ele abaixa o buquê com
um sorriso sincero no rosto, deixando-me completamente perdida.

— Você só pode ter feito algo muito errado. — brinco, assim que

me entrega o buquê, e ele franze o cenho. — Ouvi dizer que homens dão

muitas flores logo após fazer algo que se arrependem.

— Bom. — sorri de lado, do modo que me devasta. — Eu só

quero fazer um convite.

— Qual seria? — pergunto, cheirando as flores delicadas.

— Aceita jantar comigo hoje à noite? — olho-o curiosa. — Da


primeira vez não fui corajoso o bastante pra fazer esse convite

diretamente, mas o que mais quero é poder te levar a algo romântico,

boneca.

— Sério? Nunca te imaginei como um homem romântico. —


provoco-o, e o mesmo se faz de magoado.

— Como já disse, tenho muitas faces. — pisca, fazendo-me

segurar em seu pescoço em seguida, e dar-lhe um leve selinho. — Isso é


um sim?

— Com todas as letras, amor.


Pedro me olha feito um predador, e noto como gosta que o chame

de tal forma. Aos poucos construímos algo, e pelo que me contou nos
dias que passamos juntos, isso é muito novo para ele, assim como para

mim. Ambos nunca embarcamos em algo sério, que imaginávamos um

futuro junto com a outra pessoa. Porém, é assim que nos enxergamos, um
passo de cada vez.

— Então temos um encontro marcado? — assinto freneticamente

e ele sorri. — Preciso voltar pra cozinha, mas prometo te recompensar a

noite.

— Sei que vai.

Dando-me um último beijo ele sai em direção as escadas e volto

para minha sala, suspirando feito uma adolescente. Deixo o enorme


buquê ao lado do de rosas vermelhas, e sem conseguir me conter, acabo

girando sozinha pelo meu escritório, feliz demais para conseguir

descrever.

Batidas na porta me pegam de surpresa e abro um sorriso enorme


já imaginando ser Pedro, com toda certeza, querendo me dar um beijo

como de manhã. Num segundo abro a porta e tudo o que meus olhos

veem, acaba me chocando. Uma versão minha de cabelos pretos longos,

que ostenta um sorriso quase sem vida, e segura a bolsa firmemente


contra seu corpo. Meu sorriso morre e ela nota claramente que não é um

momento bom.

— Rachel. — Finalmente encontro minha voz, e ela força um

sorriso.

— Oi, fi... — limpa a garganta rapidamente. — Lola, oi!

Fico chocada com a forma que me chama, e por um instante não

parece que estou diante da mesma mulher de anos atrás... Jogo tais
pensamentos para longe, e apenas tento espantar minha surpresa, é

apenas Rachel Gerrard, minha mãe.


Capítulo 22

Lola

— Desculpe aparecer sem avisar. — Começa a dizer e fico sem

reação. — Podemos conversar?

Olho-a como se não pudesse acreditar. Ela está vestida com um


jeans e uma camisa social branca solta, sem uma grama de maquiagem

sobre o rosto, deixando à mostra suas sardas. Não consigo esconder

minha inspeção, muito menos a surpresa.

— Você está diferente. — Assumo e ela assente sem graça. —

Entre.
Dou-lhe espaço para passar e logo está sentada a frente de minha

mesa. Dou a volta na mesma e me sento, e ambas ficamos algum tempo


apenas nos encarando. Tinham se passado quatro anos desde nossa última

conversa, e com certeza não é uma lembrança bonita.

— Eu sei que não devia estar aqui, não depois de tanto tempo. —

Olha-me com pesar. — Muita coisa aconteceu depois que sua avó

morreu. Muita coisa mudou na minha vida e em mim, Lola. Eu nunca me


esqueci do que fiz a você, a sua irmã, e até mesmo, como agi com a

morte da minha própria mãe. Sou humana como todos, mas não posso

comparar isso a um simples erro... Foi o meu caráter que simplesmente


desapareceu no instante em que preferi dinheiro ao sofrer o luto.

Acredite, sofri muito após isso.

— Do que estamos falando aqui? — pergunto sem saber aonde


quer chegar. — Quer dizer que não é mais a pessoa que conheci?

— Não sei o que vai achar de mim, Lola. Mas eu demorei muito
pra tomar coragem e vir aqui. Na verdade, muitas vezes vim ao Rio e

simplesmente não consegui vir até o restaurante. Sou uma covarde. —

Admite, e noto seus olhos cheios de lágrimas.

— O que quer me dizer?


— Quero pedir, na verdade. — Engole em seco. — Não posso
pedir perdão porque não tenho esse direito. Fui mesquinha, supérflua,

ambiciosa... Me casei com um homem por sua riqueza, isso com toda

certeza diz muito sobre mim. Mas eu mudei, e quero poder provar a você

e a sua irmã isso. Eu as perdi há muito tempo, e agora, que descobrimos

pelos pais de André que sua irmã está grávida, só posso ver que vou

perder ainda mais minha família. Não quero mais ficar longe por medo
de pedir pra fazer parte da vida de vocês, mesmo que apenas como

espectadora.

Suas palavras me chocam por completo e me levanto, levando as


mãos à cabeça.

— De todas as coisas que imaginei ao te reencontrar, nenhuma

delas foi isso. — Sou sincera. — Não sei dizer o que mudou ou não,
Rachel. Não sei...

— Isso me mata por dentro. — Uma lágrima desce por seu rosto.

— De minha própria filha não conseguir me chamar de mãe. Sei que


mereço, ou melhor, não mereço ser chamada assim. Mas eu quero um dia

poder recompensar nem que seja 1% do que devia ter sido a você e Lua.

Poder ser uma avó como minha mãe foi, e ainda mais, ser de fato uma

mãe.
— O que aconteceu nesses quatro anos? — pergunto, sem

conseguir me conter.

Rachel suspira fundo e passa as mãos pelo rosto, limpando

algumas lágrimas. Sei que o que vai sair da sua boca, com toda certeza
me surpreenderá.

— Não quero sinta pena de mim, Lola. — diz com pesar. — É

uma história complicada e...

— Se quer fazer parte da minha vida, eu tenho que fazer parte da

sua. — Olho-a com cautela. — Os anos passaram, somos pessoas


diferentes. As coisas podem se complicar ainda mais se não entender

porque de repente...

— Seu pai me deixou um dia após o enterro da sua avó. —

Arregalo os olhos, chocada com suas palavras. — Tales e eu tivemos


uma briga feia, a qual resultou na nossa separação. Ele me acusou de

interesseira e todos os outros sinônimos que imaginar para isso, e apenas


devolvi. Eu pensei que ele também tivesse se casado comigo por dinheiro
e se apaixonado depois, mas... Tales deixou claro naquela noite que não

me amava.

— Mas Tales é louco por você. — Intervenho, e Rachel sorri

fracamente.
— Naquela época tudo ficou um caos entre nós. Me vi sozinha e

não consegui seguir em frente. As coisas saíram do eixo e me vi numa


depressão profunda, mas não tinha a quem recorrer. — Suspira fundo, e

sinto sua dor. — Deixei tudo para seu tio Manuel, e mudei de Porto
Alegre. Fui morar no interior e tentei de alguma forma seguir com um

tratamento, e perdoar a mim mesma. Resumindo, passei cinco meses


presa numa casa afastada de tudo, bom, apenas com livros. Eu mal me
alimentava, pois evitei ao máximo sair de casa. Um dia, quando pensei

que tudo acabaria, que não aguentaria mais, seu pai apareceu lá,
desesperado. Eu tinha deixado tudo pra trás, e de alguma forma, ele ficou

louco e tentou me encontrar... Demorou um pouco mas conseguiu. Eu


não o queria lá. Não me sentia digna dele, de minhas filhas, da mãe que
tive. Eu era um monstro, Lola. Percebi isso tarde demais, e só encontrava

uma solução.

— Qual? — pergunto num fio de voz.

— Foram duas tentativas. — Conta sem jeito. — Na primeira o


senhor que entregava leite achou estranho a leiteira não estar à frente da

casa e como era o interior, entrou... Ele me encontrou caída no chão e


levou para o hospital. Conseguiram fazer a lavagem, e minha vida
seguiu. — Lágrimas se formam em meus olhos e tento me segurar contra

a mesa. — Na segunda foi o dia que seu pai apareceu, ele me salvou e
disse que nunca me deixaria. Que iria me mostrar que alguém precisava
de mim. No caso, ele.

— Deus! — levo as mãos à cabeça, inconformada.

— Eu entrei num tratamento para a depressão e estou há três anos


tentando melhorar o bastante para vir até vocês. — Suspira fundo. — Eu

sinto muito pela demora, eu tentei vir antes, mas não me senti digna. —
Ela pisca algumas vezes, como se para afastar as lágrimas.

Uma dor me atinge em cheio, e sei que apesar de tudo, de nunca


ter sido de fato uma mãe, jamais poderia odiá-la. Jamais poderia saber de
sua morte e aceitar facilmente.

— Eu não vim aqui pra contar sobre isso... Mas com certeza meu
visual te chocou, o tanto quanto vai chocar Lua. — Dá de ombros. — Eu

sinto muito por tudo, Lola. — Se levanta rapidamente, e antes que possa
impedi-la, já está do lado da porta. — Eu só quero fazer parte da vida de

vocês, sinto falta do que não vivi.

Fecho os olhos com força, e uma lembrança da infância me bate

com toda força. Lembro-me de momentos em que ela passava as mãos


em meus cabelos e após dar-me um beijo na testa, cantava a música que

dizia ser sua favorita.


— “E é só você que tem a cura pro meu vício de insistir nessa
saudade que eu sinto... — Rachel me encara espantada, mas continuo,
com as lágrimas descendo livremente por meu rosto. — De tudo que eu

ainda não vi.”[5]

— Nunca fui fã de canção de ninar. — diz, finalmente abrindo um

sorriso verdadeiro. — Obrigada por me receber e principalmente, por me


ouvir.

— Aqui. — Pego um papel rapidamente e escrevo meu número,


entregando a ela. — Me ligue para marcarmos algo. Lua com certeza vai

ficar feliz em te ver.

— Você realmente acha isso? — pergunta surpresa.

— Sim.

Lembro-me de como Lua é muito mais leve do que eu, ainda


mais, por não ter sido tão influenciada por todos. Com toda certeza, ela

ficará feliz em ter uma avó presente para o seu filho.

— Obrigada. — Sorri e eu assinto.

— Onde Tales está? — pergunto curiosa.

A mágoa por ele não era tão grande quanto por Rachel, pois com

toda certeza ele foi mais amoroso, presente no passado, porém, ainda não

conseguia chamá-lo de pai. Agora entendo por que ele voltou ao Rio
após o dia do enterro, e ficou comigo por uma semana. Ele com certeza

não concordou com que aconteceu, e tentou me dar o apoio necessário.


Pensei, que após ter voltado para o sul ele me esqueceria mais uma vez,

como fez enquanto nona estava viva, mas conversávamos

esporadicamente por telefone, e de algum jeito meio torto, ele tentava


estar presente.

— Ele deve estar no hotel. Não contei a ele que vinha, e

praticamente saí escondida. — Confessa sem jeito. — Queria poder falar

a sós com você, Lola.

— Entendo. — Forcei um sorriso.

— Ele sente a falta das suas meninas. — Conta com um sorriso

triste. — Tales errou muito também, mas ambos queremos ser bons pais,
ao menos, tentar ser algo bom na vida de vocês. Deixar alguma memória

boa.

— Então precisamos todos sair e conversar, não é? — ofereço e

ela me encara surpresa. — Não vou afastá-los. É óbvio o quanto está


arrependida, e apesar de tudo, sou sua filha.

Aproximo-me dela, e nos encaramos por alguns instantes. Ela

então toca meu rosto com carinho, de forma cautelosa e lágrimas banham
nossas faces. O quanto eu perderia por deixá-la fazer parte da minha

vida? Nada, com toda certeza.

— Obrigada, Lola.

Ela então me dá um leve beijo na testa, e em seguida sai,

deixando-me perdida em pensamentos e lágrimas. A porta se abre

minutos depois, e o sorriso de Pedro morre quando encara meu estado.

Com toda certeza não é uma cena bonita. Ver-me escorada contra a mesa,
praticamente desabando todos meus sentimentos.

Logo estou em seus braços e ele me coloca sobre seu colo, na

poltrona perto de uma prateleira. Choro toda mágoa que sinto, toda a dor

que me assola, tentando aos poucos me controlar. Em seus braços,


encontro um porto-seguro.

Algum tempo se passa e finalmente meu choro cessa. Respiro

fundo algumas vezes, tentando me recompor, mas antes que possa limpar
meu rosto, Pedro o faz com suas mãos.

— Boneca, o que houve? — pergunta, claramente angustiado.

O carinho que vejo em seus olhos me atinge, e finalmente sei com

quem posso contar, além de uma vida calma, os meus medos mais
profundos. Ele já os sabia, fiz questão que soubesse. Ali, em seus braços,

só pude pensar em como tudo acontece no momento certo.


— Eu te amo. — Toco seu rosto com todo amor que sinto. —

Obrigada por existir, Pedro.

— Boneca... — sorri, claramente perdido. — Eu também te amo.

Ele entende que prefiro ficar assim, em seus braços, antes de falar

do que houve, e acata por completo. Ali, em seus olhos encontro o que
preciso, alguém disposto a me ouvir, a cuidar. Ele ultrapassou todas as

barreiras impostas, e me deu muito mais que um amante ou amigo. Ele se

doa apenas com o olhar, e isso, é tudo para mim.


Capítulo 23

Lola

— Uau!

Minha irmã bate palmas e solta um gritinho ao me ver, e faço uma

pose na porta do closet. Pisco para ela, que gargalha e parece suspirar.

— Você tá linda!

Sorrio em sua direção, andando até a penteadeira, e olhando para

as diversas maquiagens que tinha reposto há pouco tempo. Olho para


meu reflexo no espelho e não me sinto mal com isso, ainda mais depois

de ter enfrentado o meu medo mais interno – minha própria mãe.

Depois de chorar no colo de Pedro e lhe contar o que tinha

acontecido, ele sugeriu para apenas ficarmos em casa juntos, mas jamais
abriria mão do nosso encontro, ainda mais por apenas ter sido um

momento de desabafo. Foi difícil convencê-lo, mas passaria em minha

casa por volta das 21h30, e me levaria a um lugar surpresa.

Escolhi um vestido branco curto que delineia meu corpo, alças


finas chamando atenção para a fina gargantilha, e aos outros acessórios.

Começo a me maquiar e de relance escuto o que minha irmã diz a

respeito de Rachel. Contar a ela sobre o que aconteceu foi muito fácil,
Lua tem um coração que mal cabe em seu peito. Claro que não entrei em

detalhes da vida de Rachel, minha irmã merece saber disso diretamente


por ela. Mas só de saber que seu neném terá avós presentes, Lua chorou

emocionada.

Depois de finalizar a maquiagem com um batom rosa queimado,

me viro em direção a Lua que parece perdida em seu próprio mundo,

deitada em minha cama.

— O que acha? — pergunto um pouco receosa.


Minha irmã me encara com lágrimas nos olhos e fico um pouco
perdida.

— O que foi, Lua? — levanto-me da cadeira e vou até ela,


parando a sua frente. — Está sentindo algo?

— Nostalgia conta? — uma lágrima desce por seu rosto. — Olhar

você tão de perto, apenas me lembra o quanto sempre me inspirei em

você. — arregalo os olhos diante de sua confissão. — Sempre foi a mais


forte de nós, Lola. Sempre buscando seus sonhos, suas conquistas, e te

ver assim, tão feliz, me faz finalmente poder aceitar minha própria

felicidade.

— Ei! — toco seu rosto. — Que besteira é essa?

— Sempre torci pela sua felicidade, da mesma forma que tanto


você e nona lutaram pela minha, quando sequer tive escolha. — sorri

com carinho. — Eu te amo muito, irmã.

— Eu também, baixinha. — puxo-a para um abraço, e acaricio

sua barriga. — E o meu afilhado ou afilhada. — ambas sorrimos.

— Dá pra acreditar que vou ser mãe?

— Você vai ser a melhor. — sou sincera. — E prometo ser a

melhor madrinha do mundo.

— Você já é a melhor irmã, não será muito difícil.


Abraço-a novamente, e finalmente estou completa. As coisas

foram complicadas para todos, mas realmente, nunca imaginei que Lua
pensasse em mim dessa forma. Nunca me vi como patamar para alguém

se inspirar, muito menos que fosse uma boa irmã. Só posso agradecer por
tê-la em minha vida.

Passo pelos portões de meu prédio e então procuro por Pedro, que

já tinha tocado meu interfone. Encontro-o novamente perto da mesma


árvore e ele vem em minha direção com seu sorriso sedutor. Logo estou
em seus braços, e ele me analisa minuciosamente.

— Linda. — toco seu rosto com carinho, e noto um brilho


diferente em seu olhar. — O que foi, boneca?

— Parece ansioso. — ele sorri de lado, misterioso. — Pedro!

— Vamos? — corta-me e bufo baixinho. — Curiosa, minha


boneca.
Sem conseguir mais resistir, sentindo a barba por fazer em meus

dedos, olhando-o perfeitamente vestido em uma camisa azul clara, com


as mangas arregaçadas até os cotovelos, moldando perfeitamente seu

corpo, puxo-a para mim, e o beijo com toda vontade que sinto.

Pedro me corresponde com fervor, e por um segundo me esqueço

que estou no meio da calçada, onde qualquer um pode nos ver. Com
certeza precisamos aprender a lidar com essa atração.

— Me ajuda, boneca. — pede, praticamente implorando. — Não

sabe o que faz comigo.

— O mesmo que faz comigo? — implico, e noto seu olhar

nublado pelo desejo. — Mas sei que é um cavalheiro. — provoco.

— Sou tudo o que quiser, milady. — sorrio, no mesmo instante

que ele se curva e deixa um leve beijo em minha mão direita.

Entramos em seu carro e logo sua mão está sobre minha coxa

esquerda, no aperto doloroso que me faz lembrar de nossa primeira noite


juntos. Pedro dirige devagar, e antes que uma música sequer comece a

tocar, vejo-o fazer uma curva muito conhecida por mim, e parando no
nosso restaurante.

Franzo o cenho sem entender, mas antes que possa perguntar

algo, Pedro sai do carro, e está ao lado da minha porta, abrindo-a.


— Milady? — brinca, e tiro meu cinto, dando-lhe minha mão.

Sentindo novamente a brisa do Rio de Janeiro em meu corpo,

olho-o um pouco perdida. Ainda mais por reparar que as luzes do


Chandel estão completamente diferentes do habitual.

— O que está acontecendo? — arrisco perguntar.

Pedro praticamente me ignora, enlaçando minha cintura, e


levando-me em direção a entrada do restaurante. Olho-o completamente

perdida e antes que possa dizer algo, adentramos o restaurante.

Minha boca se abre, e nenhum som sai. Noto que há apenas uma

mesa no enorme salão, e tudo está com o clima mais romântico possível.
Velas espalhadas, uma meia luz vermelha, deixando um ambiente ainda
mais aconchegante, e para brindar em cheio, uma foto minha e de Pedro

está colocada sobre o balcão principal, num porta-retratos delicado.

Uma foto antiga, de quanto reabrimos o restaurante há quatro

anos. Passo a mão com carinho por nossas feições, e só assim noto o
olhar apaixonado de ambos pelo nosso negócio.

— Nós dois nos conhecemos aqui. — ouço a voz de Pedro atrás


de mim. — Me apaixonei por você aqui, e... — suspira fundo, abraçando-
me por trás. — Só quero poder continuar nossa história junto ao nosso

sonho. Nunca pensei que o Chandel me traria algo além do amor por esse
lugar. Mas me trouxe você... — viro meu olhar para o seu. — Trouxe
nós.

— Pedro.

Ele então se afasta um pouco, e antes que possa dizer algo, ele se
ajoelha, tirando uma caixinha de veludo do seu bolso traseiro.

— Meu Deus! — levo as mãos a boca, completamente

embasbacada.

— Pensei em fazer isso depois do jantar. — começa, claramente

nervoso. — Mas eu não consigo mais esconder. Sou um homem paciente

em muitos aspectos da vida, boneca. Sei que pode parecer cedo, para

muitos, claramente é. Mas eu te amo, você me ama... Não quero passar


mais tempo longe do seu toque, do seu ser.

Ele então abre a caixinha, mostrando uma linda aliança prata,

delicada, com uma rosa ao redor da pedra de cor azul claro.

— Tenho dois pedidos a fazer, boneca. — olho-o tentando segurar

a emoção. — Um pode parecer óbvio. — sorri em direção a aliança. — O

outro, é sobre não conseguir mais ficar longe.

— Pedro...

— Os dias com você no meu apartamento foram os melhores em

tempos. — confessa. — Te ter lá, na minha cama... É o que quero todos


os dias.

Ele então fica em silêncio, claramente buscando as palavras


certas.

— Pode dizer, amor. — digo, sorrindo pra ele.

— Aceita namorar comigo, boneca? — sorrio em meio as


lágrimas e assinto várias vezes.

Pedro se levanta, beija-me com fervor, ao mesmo tempo que

coloca a bela aliança em meu dedo anelar direito.

— Continua. — peço, tocando seu rosto, já tendo a noção sobre


seu segundo pedido.

— Não se assusta, por favor. — sorrio, beijando seu rosto. —

Mora comigo?

Seguro com as duas mãos seu rosto, incrédula diante dele. Não
por suas propostas, pois assim que começou a falar, Pedro transpareceu

tudo o que queria. Ele é assim, aberto com seus sentimentos. Mas estou

perplexa por encontrar alguém disposto a ter tudo comigo. Ainda mais,
sem medo de dar um passo adiante.

— Tem certeza? — pergunto, receosa por ele ter medo de pular.

Eu já estou em queda-livre por ele há muito tempo.


— O que mais quero é acordar e poder ver a confusão loira de seu

cabelo ao meu lado. Poder ter seu corpo agarrado ao meu. — suspira,

tocando meu rosto. — Eu te amo muito, boneca.

— Eu também. — sorrio, e ele limpa algumas lágrimas que


descem por meu rosto. — E eu aceito.

— Sério? — ele arregala os olhos como se não acreditasse.

— Com você, eu quero tudo. — abraço-o com carinho.

Ele então me puxa para cima, fazendo-me enlaçar sua cintura, e


sorrio na curva do seu pescoço.

— Apenas com você, boneca.

Agarro-me a ele, e uno nossos lábios. Uma noite perfeita, a


entrega ao homem que amo. É a realidade, ambos não queremos esperar,

sem medo de que não dê certo, que seja muito cedo. O amor as vezes

apresenta urgência, após tanto tempo de calmaria. Com ele, não tenho
que pensar duas vezes em me lançar ao desconhecido. O desconhecido

mais importante e bonito de toda minha vida.


Capítulo 24

Semanas depois...

Lola

Olho para atendente da farmácia e tento respirar fundo, tentando


controlar todo o nervoso que toma conta de meu ser. Ela me dá a cestinha

com os três testes dentro e sigo rapidamente para o caixa. Assim que

pago, pego a sacola e praticamente corro até meu carro. Respiro fundo ao
encarar a sacola no banco do carona, tentando entender como tudo se

sucedeu até aqui.

Uma única vez me vem em mente... Quando eu e Pedro nos

acertamos. Não nos lembramos de nada naquele instante além de nossos


próprios corpos. Levo a mão a cabeça sem saber direito o que pensar,

mas tendo a certeza que preciso fazer os testes de gravidez. Suspiro

fundo, no mesmo instante que meu celular toca. Pego-o meio


desesperada e olho para o nome no visor – Amor.

Passo as mãos por meu rosto, tentando me controlar. Ainda

sequer sei qual será o resultado, tudo o que me fez desconfiar, é minha

menstruação ter atrasado, sendo que nunca aconteceu.

Calma, Lola!

Pode ser apenas por conta das mudanças na sua vida!

O celular continua a tocar e fico sem coragem de atender, pois

tudo o que quero fazer é perguntar a Pedro a respeito de filhos. Deus do

céu! Deixo o celular de lado e resolvo me acalmar. Coloco o cinto de

segurança e no instante que o encaixo, encaro minha barriga plana.

Imaginar que ela pode estar arredondada e maior daqui alguns meses, faz

um desespero completo tomar conta de meu corpo.


— Respira, Lola! — digo repetidas vezes, enquanto dirijo até o
apartamento de Pedro, ou melhor, nosso apartamento.

As últimas semanas tinham passado tão rápido, tão animadas, tão


completas... Nada ao redor me chamou a atenção, a não ser olhar para o

homem dormindo serenamente ao meu lado todos os dias. Olhar Pedro

em seu sono tornou-se um vício, o qual pratico todas as manhãs, sem

conseguir acreditar que chegamos a esse patamar.

Compartilhando muito mais que um sentimento, uma vida, uma

casa... E agora? Penso a respeito de ser mãe e todo o medo do mundo se

instala em meu ser. Toda a figura de nona me vem mente, como aquela

que tenho para seguir. Mas não sou ela, muito menos Rachel, o que serei?

Meu maior medo é decepcionar meu filho ou filha.

Meu peito se aperta pois já estou praticamente considerando a

gravidez sem ter prova alguma. Pirando diante de algo que não é real...

ao menos, ainda não. Estaciono o carro na vaga, e vou direto para o

elevador. Com a sacola em mãos, digito rapidamente uma mensagem


para Pedro, alegando que estava dirigindo. O celular toca cerca de um

minuto depois de minha mensagem ser enviada, e resolvo atendê-lo,

tentando ao máximo não falar demais.

— Oi, boneca.
— Oi amor. — suspiro fundo, tentando não pirar diante dos testes

de gravidez que refletem no espelho do elevador.

— Tem certeza que não precisa de ajuda em casa?

Sorrio, finalmente me acalmando um pouco. É tão gostoso ouvi-


lo me tratar dessa forma, preocupado e ao mesmo tempo, zeloso. Pedro é
realmente um homem de mil faces, e cada descoberta, o amo ainda mais.

— Tenho. — o elevador para e eu saio. — Ainda mais que minha


irmã vem aqui antes, pra dar uma ideia melhor da disposição na mesa.

— Sabe que se...

— Pedro, está tudo bem. — corto-o rapidamente. — O dia no


restaurante está corrido, sei que precisa ter atenção na cozinha. Consigo

dar conta de arrumar o apartamento, fica tranquilo.

— Ok, eu...

Escuto um grito ao fundo: Chefe!

— Vai lá, amor! — interrompo-o. — Eu te amo, até mais tarde.

— Eu te amo, boneca.

Desfaço a ligação antes que ele continue, já que Pedro sempre


pensa que posso desmanchar a cada segundo. Como se quisesse me

proteger de tudo ao redor, mesmo sabendo que o que mais me fere sou eu
mesma.
Deixo a bolsa sobre o sofá, e pego a sacola em mãos,

completamente perdida. Escuto o barulho da mensagem, e vejo ser


André, falando que Lua está praticamente apagada na cama e que duvida

que conseguirá levantar dali tão cedo. Sorrio, respondendo rapidamente.


Os dois por fim aceitaram ficar com meu apartamento, que na realidade,

nona deixou para mim e Lua.

Olho para sacola em minha mão e acabo deixando-a do lado de

uma almofada, sem conseguir pensar se faço ou não os testes antes do


jantar. A ansiedade me corrói, entretanto, não sei como lidar com tudo,
além de meus pais virem, e conhecer os pais de Pedro. Eu sou um

desastre, completo.

Fecho os olhos, me imaginando com uma miniversão minha e de


Pedro. Tudo se refazendo em minha mente, desde o primeiro momento

que o vi, até onde viemos parar. Somos rápidos em relação a muitos
casais, porém, ainda fico perdida em meio a intensidade de nossos

sentimentos. É algo que não conseguimos controlar ou fingir.

A campainha toca e vou até a porta sem muita vontade, já

imaginando ser Gael. Tínhamos nos tornado amigos, após Pedro me


contar quais eram mesmo as intenções dele, e ainda mais, ele mesmo ter

pedido desculpas. Torço profundamente para que ele se acerte com a


mulher que ama. Porém, ele me lê muito bem e com certeza vai perceber
que tem algo errado.

Abro a porta com um sorriso forçado e quase caio para trás para
quem vejo a minha frente. Clarissa Soares tem um sorriso enorme no
rosto, e antes que possa dizer algo, ela me puxa para seus braços. Sem

saber como ou por que, faço o mesmo, sentindo que de alguma forma, a
mesma mulher que temo tanto desapontar, por ser a mãe do homem que

amo, abraça-me de forma como uma mãe realmente faz.

Quando nos afastamos, ela me encara completamente carinhosa.

— Oi, querida. — sorri mais amplo se possível. — Sou Clarissa,

mas isso já deve saber.

Sorrio sem graça, dando-lhe espaço para entrar no apartamento.

— Sou Paloma Gerrard, mas todo mundo me chama de Lola. —


ela passa por mim, e sorri.

— Finalmente vejo cores nesse apartamento. — diz animada. —


Gosto de você desde que Pedro me falou que estava apaixonado. Aquele

menino é muito especial para não escolher alguém como você.

Sinto meu rosto queimar no mesmo instante.

— Calma, querida. Vim mais cedo pra poder te conhecer antes.


Pedro me falou por cima que tem medo de mim. — brinca e arregalo os
olhos. — Ele exagera um pouco, tenho certeza. Mas que tal
conversarmos? E assim, te ajudo a arrumar tudo.

— Eu fico muito feliz, ah... — travo, pois não sei ao certo como
chamá-la.

— Clarissa. — pisca em minha direção. — Ou pode me chamar

de sogra, sem receio.

— Desculpe por fugir todo esse tempo. — digo com pesar. —


Fiquei receosa de que não me aprovasse.

— Aprovar o que? — revira os olhos. — Você faz meu filho feliz,

isso basta.

— Desculpe mesmo assim. — digo mais à vontade.

— Bom, por onde podemos começar? — olha ao redor, e parece

se lembrar de algo. — Ah, um minuto, lembrei de algo.

Ela então mexe na almofada no sofá e arregalo os olhos. Antes


que possa impedi-la, a sacola cai no chão, esparramando os testes. Olho-a

completamente perdida e Clarissa leva as mãos a boca, claramente

envergonhada.

— Eu queria pegar o controle da tv. — conta rapidamente. —


Pedro sempre o deixa perto dessa almofada e... Desculpe, querida!
— Tudo bem. — digo meio gaguejando, e com medo de sua

reação.

— Quer falar a respeito?

Fico chocada com sua reação e tento encontrar as palavras

corretas.

— Estou com... medo. — respiro fundo, confessando. — Nunca

me imaginei como mãe, e... Nem sei o que imaginar.

— Vem cá. — chama-me para perto, levando-me até o sofá.

Sento-me ao seu lado e não consigo encará-la.

— Quando descobri que estava grávida, meu namorado me

deixou. — diz com descaso. — Mas sabe qual foi meu maior medo? —

nego com a cabeça, finalmente levantando meu olhar. — Não ser uma

mãe boa o suficiente, para o que descobri mais tarde, serem dois.

— Mas a senhora é incrível. — confesso, através de tudo o que

Pedro me contou.

— Bom, mas o medo sempre está aqui. — aponta para meu peito.

— Ser mãe é algo que muda nossas vidas, querida. Tenho certeza que se
aquele teste der positivo, você vai se empenhar e dar tudo pelo sorriso do

seu pequeno ou pequena. Além de que meu filho vai surtar com a notícia.
— Sequer pensei na reação dele. — digo envergonhada. — Só

pensei que não quero ser uma mãe ruim.

— Pelo que Pedro me contou sobre você, por ver o desespero no

seu olhar agora, sei que vai tirar de letra. — sorri carinhosa. — Serão
muitas noites sem dormir, mas querida, vale cada hora de sono perdida.

— Acha que devia fazer agora? — pergunto perdida.

— O que você acha?

— Não faço ideia. — levo as mãos à cabeça, completamente fora


de minha mente. — Parece um sonho estranho.

— Pode ser a realidade mais linda da sua vida.

Olho-a de relance e acabo decidindo. Pego os testes caídos no


chão e olho para minha sogra que sorri, claramente emocionada.

— Vou fazer. — digo decidida.

— Estarei bem aqui.

Saio da sala rapidamente e vou em direção ao banheiro do quarto.


Faço os três testes e um minuto nunca demorou tanto para passar em toda

minha vida.

Respiro fundo após o celular apitar e olho para os testes. Uma


divisão clara se abre dentro de mim, ao ver as duas listrinhas em cada

teste. É real, estou grávida. Lágrimas banham meu rosto e não consigo
me controlar. Saio do banheiro praticamente devastada, e rumo em

direção a sala. Clarissa levanta no mesmo instante que me vê, e sem


precisar dizer algo, ela me abraça, chorando junto a mim. Nossa vida

mudou, por completo.

Tudo está arrumado, os pais de Pedro tinham chegado, minha


melhor amiga e seu namorado, assim como Christopher. Minha sogra fez

um sinal discreto com a cabeça para irmos ao quarto, e inventei algo para

Pedro, indo rapidamente para lá. Segundos depois ela estava no quarto, e
me entregou uma sacola.

— Sei que não deve ter pensado como contar, mas trouxe algo. —

estende-me a sacola.

Abro-a rapidamente e vejo um lindo macacão branco com


detalhes em dourado. Sorrio para ela, completamente emocionada. Agora

sim, teria algum jeito de contar a Pedro que estou grávida. Sequer

consegui pensar em como o fazer.


— Obrigada, mesmo. — abraço-a com carinho.

Em seguida guardo a sacola dentro do closet, bem no alto. Volto

até ela, que me encara ansiosa.

— Sabe, pode parecer estranho, mas... Sinto que será uma


menina. — sorrio para ela, tentando controlar as lágrimas.

— Podem ser duas. — brinco, e ela arregala os olhos.

— Meu Deus! — leva as mãos a boca. — Pode mesmo, querida.

— Obrigada por em tão pouco tempo ter feito tudo isso.

— Venha cá, querida! — puxa-me para seus braços. — Preciso

dizer que Melaine ia te amar. — não consigo mais segurar as lágrimas.

— Assim como eu e Fábio, já te amamos. Obrigada por trazer esse


sorriso lindo ao rosto dele, depois de tantos anos sem tê-lo visto assim.

Batidas na porta chamam nossa atenção, e viro meu olhar,

notando Pedro. Ali está ele, a causa de todas minhas alegrias, de minhas

emoções. Olho de relance para minha sogra, e sabemos bem, essa noite,
será mais do que especial.
Capítulo 25

Pedro

Meu apartamento com toda certeza tinha mudado em vários

aspectos. Não era mais tão cinza, nem preto, muito menos escuro. Lola,
desde que se mudou há algumas semanas, trouxe uma luz que sequer

imaginei dentro do meu próprio lar, porém, faz-me ainda mais feliz aqui

dentro.

É tarde da noite, mais certo um sábado. Todas as pessoas


importantes para nós estão presentes. Lola conversou comigo a respeito

de marcar um encontro com seus pais, mas que pudesse não ser algo
intimidador. Algo que os acolhesse em sua vida e de sua irmã. A ideia de

fazer isso trazendo meus pais fez com que Lola negasse a princípio,
porém, tinha a boa desculpa de poder finalmente apresentá-la a minha

mãe.

Lola corre de Clarissa Soares como o diabo foge da cruz. Mamãe

percebeu isso de início, quando contei que moraria junto com Lola, e a

todo custo quis nos visitar. Porém, Lola pareceu tão reticente, que
acabamos adiando. Não sei o porquê, mas Lola parece ter taquicardia só

de pensar em conhecer minha mãe. Já lhe falei que sua preocupação é

desnecessária, e que minha mãe sem ao menos conversar com ela a


adora, por fazer o filho dela feliz. Nessa noite, Lola não tem como fugir.

— Ei, cunhado.

Sorrio em direção a Lua, após abrir a porta, e a mesma beija meu

rosto. Ela é a cópia de Lola, mostrando apenas diferença na altura e

agora, na barriga arredondada de grávida. Por um segundo, enquanto


cumprimento André, sinto-me viajar e imaginar Lola dessa forma. Com

toda certeza, é um sonho o qual quero compartilhar com minha boneca.

— Cara, você tá muito ferrado.

André diz, como se lesse meus pensamentos. Com certeza não fui
muito sútil.
— Cedo demais para sonhar em ser pai? — sussurro e ele dá de
ombros.

— Lola nunca falou a respeito, mas com você ela parece tão feliz
que duvido não querer filhos num futuro próximo.

Sorrio já mais animado, se o melhor amigo dela acha isso, quem

sou eu para discordar?

Fecho a porta atrás de mim, e acomodo-os no apartamento. Vejo

meu padrasto tomando vinho na cozinha, conversando animado com

Christopher, que como sempre, está com o uísque, sua bebida favorita.
Sophie, a melhor amiga de Lola, que me fez no mínimo cem ameaças

quando ajudou Lola a se mudar, está abraçado ao namorado, Daniel

Lourenzinni. Todos bem entrosados, conversando algo de viagens.

Apresento-lhes Lua e André, e logo eles embarcam numa conversa. Isso

para mim é mais do que importante, ter a família de ambos os lados se

dando bem.

— Pai. — chamo Fábio, que me olha rapidamente. — Onde

mamãe se meteu?

— Ela saiu atrás de Lola há alguns minutos. — sorri. — Conhece

bem sua mãe, não vai parar até conseguir fazer daquela menina uma filha

pra ela.
— Mamãe não tem jeito. — sorrio, e vou em direção aos quartos,

onde Lola tinha dito que ia.

A campainha soa mais uma vez e mudo meu caminho, indo em

direção a porta. Abro-a rapidamente, e me espanto um pouco ao ver


Karina com os dedos entrelaçados aos de Gael. Olho meu melhor amigo

com curiosidade, e ele dá de ombros.

— Boa noite, gente. — Karina parece um pouco sem jeito, então


primeiro a cumprimento. — Continua linda, Ka.

Ela sorri sem graça, corando lindamente, e logo Gael a tira de


meus braços.

— Espaço, por favor. — Gael diz, claramente enciumado, e


gargalho.

— Entra logo, babaca. — sorrio, e Karina o encara um tanto


espantada. — Fiquem à vontade.

Assim que vou fechar a porta, levanto meu olhar e me surpreendo


ao ver duas pessoas ali, paradas, como se não soubessem como
simplesmente falar “boa noite”. Reconheço-os após alguns segundos, e

sorrio em sua direção. Ambos parecem um pouco mais calmos, e em


seguida se aproximam da porta.
— Boa noite, senhor e senhora Gerard. — estendo minha mão

para o pai de Lola, que logo a aperta, e em seguida para sua mãe. — Sou
Pedro Soares, namorado da filha de vocês. É um prazer conhecê-los.

Um pouco acanhados os dois me saúdam, e logo os levo para


dentro do apartamento. Apresento-lhes a todos ali, e me surpreendo ao

ver Lua abraçar tanto a mãe quanto o pai. Ela parece claramente
emocionada por tê-los por perto.

— Eu senti tanta saudade. — ouço-a dizer baixinho, nos braços

da mãe.

Sorrio em direção a cena, e vejo o quanto Lola merece ver, e

quem sabe, até mesmo participar.

— Fiquem à vontade, eu já volto!

Saio da cozinha em direção ao nosso quarto, e logo noto a porta


entreaberta. A cena que me espera, deixa-me espantado, mas ao mesmo

tempo, muito feliz. A mulher que amo está abraçada a minha mãe.
Sorrio, e penso em sair dali, e esperar que retornem para a sala, mas volto

em minha vontade, quando noto lágrimas no rosto de minha boneca.

Bato levemente na porta, e o olhar de minha mãe é o primeiro a


me encontrar.
— O que houve? — pergunto com cautela, e mamãe sorri
enigmática.

— Segredo de mulher. — mamãe se adianta.

Vou até Lola e toco seu rosto com carinho, dando um leve beijo
em sua testa. Logo noto um sorriso contido em seu rosto, e fico ainda

mais curioso.

— Sério que vão me esconder algo? — Lola assente. — Boneca!

— Já quase me matou de curiosidade várias vezes, amor. —


provoca, e me calo, sabendo que é verdade. — Prometo que depois

falamos sobre, ok?

— Ok. — concordo sem muita vontade.

— Não seja um sapo, Pedro. — mamãe puxa minha orelha,

fazendo-me rir. — Te criei pra ser um príncipe, garoto.

— Eu sou. — sorrio para mamãe, beijando seu rosto.

— Ok, vou deixar se iludir.

Lola gargalha de minha mãe e faço-me de ofendido.

— Isso é complô?

— É a realidade, amor. — dá-me um leve selinho. — Vamos para


a sala, tudo bem?
Sem me dar chance de respostas, ela sai a minha frente, e sigo ao
lado de minha mãe, que sorri amplamente.

— Quem não te conhece que te compre, dona Clarissa. — olha-


me, fazendo-se de confusa. — “Segredo de mulher”.

— Me respeita, garoto.

Ela então dá passos largos, e fico completamente chocado. Elas

estão escondendo algo, e me retorço por dentro pela curiosidade. Assim


que chego à sala, a cena que me aguarda, faz-me esquecer de tudo por

um momento. Lola está abraçada aos pais, junto a Lua. Com certeza, essa

noite está seguindo para o melhor caminho.

O jantar passa tranquilo, com muitas risadas e felizmente,

interação de todos. O objetivo da noite era trazer os pais de Lola para

perto das filhas, e que claramente, parece ter sido alcançado. Aperto a

mão de minha boneca sobre a mesa, e ela sorri lindamente, tendo um


brilho no olhar que me encanta.
— E filhos, garoto? — meu padrasto pergunta de repente, e o

encaro atento. — Estamos falando sobre a gravidez de Lua... — explica e


assinto. — O que pensa a respeito de ter filhos?

Olho rapidamente para Lola, que está atenta a mim, e dou de

ombros.

— Não consigo me imaginar com menos de cinco crianças. —

brinco, e Lola arregala os olhos, claramente assustada. — Brincadeira,

boneca.

Todos da mesa gargalham, e Gael é o primeiro a se manifestar.

— Deve ser verdade, Lola. Esse cara aí sempre foi louco por

crianças. — comenta e concordo com a cabeça.

— Mas podemos começar apenas com um, não é? — pisco em

direção a Lola, que me olha ansiosa.

— Preciso ir ao banheiro. — diz rapidamente. — Se me dão

licença.

Tento corrigir minha fala, porém ela sai em disparado.

— Acho que assustou a garota, filho.

Olho para todos com vergonha e resolvo tomar um pouco de

água, já me sentindo nervoso. Penso em que desculpa dar para sair da

mesa, e quando estou afastando a cadeira, mamãe me olha determinada.


— Acho melhor continuar sentado, filho.

Fico sem entender suas palavras, e então vejo Lola parada perto

da mesa, com uma sacola em mãos. Logo ela está novamente ao meu

lado, porém, permanece em pé.

— Eu só queria agradecer a todos pela presença aqui nessa noite.

— sorri, claramente feliz, e noto seus olhos marejados. — Todos que

estão aqui são muito importantes para nós. Queremos sempre que puder
repetir um jantar assim, e... Bom, tenho um presente especial. — a voz de

Lola sai meio falhada, e ela me estende a sacola. — Acho que é um

presente especial para todos, mas, quero que seja o... — olho
rapidamente para minha mãe. — O terceiro a receber.

Uma lágrima desce por seu rosto e meu coração dispara, sem

conseguir entender o que está acontecendo. Abro a sacola com cuidado e

quando retiro de dentro o macacão de bebê, minha respiração falha, meu


coração acelera, e tudo ao meu redor se perde.

— Boneca! — olho-a com cuidado. — Diz pra mim que não tô

sonhando.

Todos começam a gritar e bater palmas, e antes que possa


raciocinar melhor, ajoelho-me aos seus pés, e beijo sua barriga plana.
Lola se debulha em lágrimas, assim como eu, completamente perdido nas

emoções.

— Eu te amo, Pedro Soares. — diz, puxando-me para ela.

Dou-lhe um beijo apaixonado, e ao mesmo acaricio sua barriga.

Eu vou ser pai... No mesmo instante consigo imaginar Melaine feliz em


minha mente, e nada mais importa. Tudo está em seu devido lugar, e

abraço com cuidado minha mulher. Minha, sua, nosso.. É o nosso amor.

Afasto-me apenas para receber as felicitações, mas mesmo

quando Lola está abraçada a melhor amiga e irmã, seu olhar permanece
no meu.

— Uma conexão como essa é rara, filho. — mamãe diz, vendo o

mesmo que eu.

— De outras vidas, mãe. — deixo as lágrimas descerem. — Com


uma nova a caminho.

Sou um homem comum, com sonhos comuns, nada fora do

normal. Mas nesse instante tenho certeza que em algum momento


quando pedi a felicidade há anos atrás, ela veio, abençoando-me de forma

sem igual. Tudo faz sentido, tudo está em seu lugar. Pois no fim do dia,

quando tudo está quieto, não estou mais sozinho. Posso olhar para
mulher que amo, e agora, nos imaginar em três. O mais comum dos

sonhos, e também mais difícil, ser família. Sermos nós.


Epílogo

“Eu amo você. Eu sou quem eu sou por sua causa. Você é toda a razão, toda a esperança e todos

os sonhos que eu já tive na vida, e aconteça o que acontecer no futuro, cada dia que estamos
juntos é o melhor dia da minha vida. Serei sempre sua. E você, meu querido, será sempre

meu.”[6]

Lola olhou para seu marido inconformada, sem conseguir


entender de onde ele tinha tirado tamanha besteira. Ela sabia que Pedro

tinha ciúmes, assim como ela, mas nunca pensou que chegaria ao nível

de desconfiança. Por que diabos ele desconfiaria dela?

— Eu vou fingir que não ouvi isso. — disse cansada, e puxou o


lençol para si, saindo do quarto em seguida.

Migrou para o quarto das gêmeas, e trancou a porta atrás de si.

Ali ela teria paz, e poderia fingir que seu casamento não estava abalado.
De repente, tudo o que tanto amava em Pedro, parecia desaparecer. Isso,

porque um fornecedor do restaurante, que sempre lhe jogou cantadas


baratas, chamou-a para sair. Sem tempo para ter reação, Lola apenas viu

seu marido furioso, e teve que impedir que aquilo terminasse numa briga

sem necessidade.

Sempre tinha cortado tal homem, até porque nunca deu espaço

para homem algum agir de tal forma. Aquele era insistente, até mesmo
babaca, mesmo assim, nunca ultrapassou linha alguma. Quando

descobriu que ela era casada, pediu mil desculpas, e ela sequer conseguia

imaginar como o homem não enxergou a enorme pedra azul em seu dedo
anelar esquerdo.

Enfim, pensou que tudo tinha se acalmado, e tentou falar com

Pedro. Entretanto, ele simplesmente decidiu ignorá-la por todo dia no


trabalho, e pior, sequer esperar-lhe para ir para casa. Aquela atitude

abrupta a chocou, e tudo piorou quando chegou em casa, encontrando sua

mãe com as filhas gêmeas, Adélia e Melaine, sorrindo lindamente. Olhar

para elas, era como se lembrar do homem incrível que Pedro era, porém,

tudo o que queria fazer era lhe dar um soco na cara.

Pedro já estava em casa, de banho tomado e pelo que Rachel

contou, tinha brincado um pouco com as meninas. Ele não estava bem,

Lola tinha notado a algum tempo, só não conseguia entender o que lhe
atingia tanto. Era como se Pedro não acreditasse em seu amor, porém, ela
relevava, já que nunca lhe disse nada em voz alta.

Quando os olhos de ambos se encontraram, dentro de sua casa, o


coração de Lola acelerou, embasbaca com a visão dele, lindo como

sempre, e ao mesmo tempo, o dono de tudo nela. Ele tinha lhe feito tão

feliz nos últimos anos, que nunca imaginou que teriam um momento de

crise no casamento. Não daquela forma.

Por um instante pensou em ir até ele, e lhe dar o beijo costumeiro.

Mas ao receber um olhar frio, escolheu por preservar a si mesma, e até

mesmo ele, de uma briga que era certa. Sua mãe logo se despediu, e Lola

a abraçou com carinho, agradecendo-a.

Rachel Gerard tinha se tornado outra mulher, e cuidava tanto dela,

quanto de suas filhas, sempre que podia. Assim como seu pai, Tales, que

os visitava sempre, só não ficava mais, devido a correria na empresa.

— Obrigada por ficar com elas hoje, mãe. — Rachel olhou para

filha emocionada, mesmo depois de Lola já ter passado a chama-la de tal

forma, nunca se acostumaria. Ter sua família de volta, era seu maior

orgulho. — Não me lembrei que era feriado e... Juro que teria me
organizado melhor e não te...
— Elas são minhas princesas. — beijou a testa de Lola. — Se

pudesse ficava com elas todos os dias, uma pena que elas já são tão
grandes que tem que ir pra escola.

— O tempo voa. — Lola tentou sorrir, mas não conseguiu. Era


sufocante o sentimento de angústia em seu peito.

— O que foi, filha?

Rachel a olhava claramente preocupada, mas Lola não queria


abrir seu coração sobre, por mais que a mãe pudesse lhe ajudar. Queria

poder sentar com o homem que amava, e conversar abertamente,


entender o que vinha acontecendo nas últimas semanas, e principalmente,

a reação descabida dele no restaurante.

— Vai ficar tudo bem. — despediu-se da mãe por mais alguns

minutos e logo fechou a porta. — Eu espero. — disse para si, e voltou


atenção para as filhas que estavam confortavelmente jogadas no sofá,

assistindo pela milésima vez o filme da pequena sereia.

— Brincaram muito com a vovó, anjos? — perguntou, sentando-

se no meio das duas.

Suas filhas eram seus tesouros, a melhor parte de si, e finalmente


compreendia o que Clarissa Soares lhe disse sobre ser a realidade mais

bonita da vida. Elas eram seu tudo. Melaine com seu jeitinho um pouco
tímido, Adélia o oposto, totalmente espoleta. Porém ambas eram tão

carinhosas que lhe faltavam palavras, e logo se acomodaram, no colo da


mãe, de forma que podia acariciar os cabelos loiros das duas.

Nunca imaginou que a brincadeira sobre gêmeas idênticas se


tornaria real, mas ali estava a prova viva. Duas bagunças de cabelos

loiros, olhos azuis brilhantes e sorrisos enormes. Eram suas joias raras.
Não soube dizer em que momento, mas acabara pegando no sono ali.

Apenas acordou, ao sentir falta dos corpinhos quentes, e ao perceber que


todas as luzes estavam apagadas, viu que Pedro sequer fez o costumeiro,
que era levar-lhe para o quarto em seu colo.

Realmente, aquilo a apavorava.

Agora, trancada no quarto de suas filhas, após ter que ouvir seu

marido dizer que não confiava nela, tudo parecia desabar. Lola foi para o
banheiro das meninas e se trancou no mesmo, com o lençol em mãos,
tentando conter o choro. Era difícil, mas não podia demonstrar as

meninas que tudo ao redor ruía.

O que estava acontecendo com eles, afinal?

Voltou para o quarto das meninas minutos depois e se aconchegou

na poltrona grande e confortável que ficava mais no canto. Onde ela por
muito tempo amamentou suas filhas. Suspirou pensando em momentos
felizes, em tudo o que tinha de mais importante. Novamente a imagem de
Pedro veio a sua mente, e ali, ela entendia, que já não o reconhecia.

Tentando não chorar, fechou os olhos e pediu aos céus que


conseguisse dormir. O dia seguinte era um sábado, e ela precisava estar
disposta para passar o dia com as filhas, sem ficar presa as desconfianças

de Pedro. Se ele queria se afundar, que o fizesse sozinho. Ela se negava a


sofrer por algo que nunca fez, muito menos lhe deu motivos. Em algum

momento, finalmente, conseguira dormir.

Eram exatamente seis da manhã quando acordou, e notou que


dormir na poltrona não fora uma boa ideia. Seu corpo todo reclamava,

além de pedir um banho quente para relaxar. Suas meninas ainda


dormiam feito anjos, e resolveu que mesmo com todo receio de ver

Pedro, precisava cuidar de si mesma.

Saiu do quarto com cuidado para não as acordar, e quando chegou

ao seu, suspirou profundamente, ao ver que Pedro sequer estava na cama.


Era aquela sua realidade? Ser evitada e ignorada pelo homem que lhe
prometeu tudo, e ao qual fez o mesmo?

Incrédula, foi direto para o banheiro e ligou a ducha quente. Já


despida, deixou com que a água caísse, por fim, tentando fazer com que

todos seus medos se esvaíssem. Não conseguia entender quando de


repente Pedro ficou tão inseguro a respeito deles. Suspirou perdida, e
ficou por vários minutos ali, tentando encontrar uma resposta para a
pergunta que a atormentava.

Quando saiu do banheiro, enrolada em seu roupão, não esperava


encontrar Pedro parado ao lado da porta do quarto, com um rosto muito
pior que o dela. Pedro olhou para sua esposa e sentiu-se um maldito

bastardo. Sabia que tinha exagerado em seus ciúmes, ainda mais por ter a
coragem de dizer que não confiava nela. Como não poderia fazê-lo? Lola
era a mulher que o completava, e sempre o respeitou.

Em seus olhos viu a dor que tanto causara, e sentiu-se um inútil.

Tinha lhe prometido a felicidade, e agora, tinha se tornado o grande


causador de sua tristeza. Era difícil admitir sua insegurança, pois após

anos juntos, nunca se sentiu tão ameaçado a respeito. Um medo o abalava

profundamente, de não ser um bom marido, um homem o suficiente para

ela. Parecia estar em uma crise existencial, tudo desencadeado por


começar a reparar quantos homens babavam sem disfarce algum por sua

mulher.

Ela era doce e perfeita, além de linda por fora. Qual homem não
iria querê-la? Porém, Pedro se sentia perdido, pois de alguma forma,

parecia insuficiente para ela. Muitos acusavam que apenas mulheres

sofrem com essas questões, mas Pedro Soares, vinha sendo atormentado
por cada uma delas. O medo de ser abandonado por ela, era surreal. Até

que não conseguiu aguentar, e explodiu.

— Eu sinto muito. — disse, totalmente perdido. — Fui um idiota,

babaca, e tudo o que quiser me chamar. Nunca me deu motivos para

desconfiar, boneca. Eu só...

— O que está acontecendo, Pedro?

Nada de “amor”, e aquilo o atingiu em cheio. Talvez, o que faria

perdê-la eram suas atitudes inseguras.

— Depois do dia que aquele cara mais novo te mandou o número


dele e uma taça de champanhe, antes de chegar no nosso jantar, eu não

consegui mais parar de pensar sobre. — foi sincero, lembrando

claramente daquela noite.

Foi a partir dali que tudo o atormentou por completo.

— Como assim? Nós rimos da situação, e você acabou tomando o

champanhe. — Lola se aproximou dele, sem conseguir entender nada.

Naquele instante notou a fragilidade em seus olhos, vendo que


Pedro estava bem longe dali.

— Comecei a pensar em quantas vezes aquilo acontecia com

você... E pensar que talvez um dia, algum cara mais novo pode chamar

sua atenção e...


— De onde tirou uma merda dessas? — perguntou alarmada, e

tocou o rosto másculo, que naquele instante, aparentava um garoto

perdido.

— Eu sou o homem que praticamente te encurralou após ficarmos


juntos e...

— Você nunca fez isso. — disse concisa. — Se aceitei o seu

pedido de namoro e morar com você foi porque te amava... Porque te


amo!

Sem dar chances para Pedro pensar, Lola colou seus lábios nos

dele, seduzindo-a da forma que apenas ela conseguia e sabia. Pedro não

teve outra opção a não ser corresponder e tocar a mulher que tanto temia
perder, da forma que lhe mostrasse todo seu amor, sua paixão e

principalmente, seu desejo.

Lola não lhe deu escapatória, finalmente entendendo o que lhe


atormentava.

— Como pode pensar que vou olhar pra outro homem? — jogou-

lhe contra a cama, e sentou sobre seu corpo.

Sem pensar duas vezes deixou as mãos deles acima da cabeça, e


só com um olhar, Pedro entendeu, teria que as deixar ali.
— Você é tudo que sempre quis, Pedro Soares... — passou os

dedos por cada pedaço de seu abdome, deixando-o cada vez mais louco
por ela. — Cada parte do seu corpo que me tem louca... — ficou sobre

ele, deixando os lábios bem próximos. — Cada parte minha... — puxou

as mãos dele para suas costas, e passou por cada curva de seu corpo,
deixando ambos perdidos no prazer. — Que lhe pertence. — completou,

e lhe beijou com toda vontade que sentia.

Pedro soube naquele instante o quanto estava errado em pensar

que poderia perdê-la, e no momento que se tornaram um, confirmou mais


uma vez que não existiam espaços para inseguranças. Ela era sua, o tanto

quanto ele a pertencia. Duas almas destinadas, sem chance de se afastar,

sem alternativa diferente. Eles se completavam.

Mal sabiam que aquele momento de reconciliação lhes renderia

um fruto ainda mais lindo de seu amor, um filho. O qual viria apenas para

reconfirmar tal sentimento, e completar sua família.

No amor nem tudo são flores, ambos aprenderam com o passar


dos anos. Muitos sentimentos desnecessários acabam fluindo em

momentos errados, nos quais, apenas o amor deveria vencer. Porém, ficar

juntos era um aprendizado, no qual, mesmo após erros, eles se


entendiam. Pois no fim do dia, Lola e Pedro tinham a certeza que nada
além de seus corpos entrelaçados importava, e que nem mesmo o tempo,

acabaria com tal amor. Eles eram eternos.

Fim
Nota II

E então?l

O que acharam de Lola & Pedro? Espero que de alguma forma,


eles tenham chegado ao seu coração.

E será que temos secundários que merecem seu próprio livro?


Não esqueçam de avaliar e deixar sua opinião sobre.

Muito obrigada pela leitura

E espero que até a próxima,

Aline
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Se existe amor à primeira vista, Abigail Alencar e Bruno Torres compartilham o

completo oposto. Abi o detestou desde o primeiro momento, e com o passar dos anos, o
sentimento permaneceu. Bruno é o típico cowboy cafajeste, arrogante e popular, de quem ela não

suporta a presença um segundo.

A cidade pequena sabe de seu desgosto e desinteresse no mais novo dos Torres, porém, ele
sempre pareceu ficar ainda mais animado em confrontá-la. Se existe algo sobre Bruno que ela
conhece bem, é que ele não foge de um desafio.

Assim, quando Abi o encontra como babá da sua filha de apenas um ano, ela só consegue

pensar que ele quer algo. Bruno jura que está ali apenas para tirá-la do sério, como sempre, mas
tudo acaba por mudar, naquele exato instante.

Existe uma linha tênue entre o amor e o ódio... eles estarão dispostos a cruzá-la?
FELIZ NATAL, TORRES

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SINOPSE
O Natal parou de ser uma data festiva, e tornou-se dolorosa, assim que Maria Beatriz

perdeu os pais. No entanto, nesse ano, tudo mudou e ela vai lutar para que essa data seja
ressignificada. Que ela possa sorrir, o tanto quanto, um dia fez, no passado. Assim, ela precisa que

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Uma árvore de Natal destruída, enfeites perdidos pela casa, a ceia que não vai chegar a
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Será que ela terá o seu Feliz Natal ao lado dos Torres?

Esse é um conto natalino, narrado na visão de Mabi e Inácio (do livro Uma Gravidez
Inesperada), onde você poderá passar essa data tão especial ao lado da Família Torres.
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O VIÚVO

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Olívia Torres sempre teve em mente que para bom entendedor meia palavra bastava.

Assim, quando se apaixonou perdidamente e descobriu que o homem com o qual se envolveu era
casado, o seu mundo perdeu o chão. Ela apenas foi embora, sem olhar para trás.

Contudo, com Murilo, ela nunca pôde parar de olhar. Ainda mais, quando descobriu que
estava grávida.

Murilo Reis perdeu tudo. Nunca pensou, que em algum momento, poderia voltar a sentir
algo. Entretanto, bastou um olhar para Olívia, para ele compreender que ainda existia uma
chance. Chance essa, que se perdeu por completo, quando ela o deixou.

Anos depois e uma coincidência do destino, Murilo descobre que não apenas as

lembranças daquele amor de verão permaneceram, mas sim, que ele tem uma filha.

Um amor de verão pode ser o amor para a sua vida?


GRÁVIDA DO CEO QUE NÃO ME AMA

Família Reis – Livro 1

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O triste é que aquele velho ditado se tornou real em sua vida: Valéria que amava

Tadeu, que amava Bianca, que amava Murilo, que não amava ninguém. Desde que seus olhos
pousaram em Tadeu Reis, Valéria se apaixonou. Não sabia dizer se era pelo olhar escuro

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atencioso com quem amava.

Porém, Tadeu apenas tinha olhos para outra mulher, e Valéria escondeu aquele sentimento
no fundo de sua alma, tentando matá-lo durante os anos que se passaram. Uma coincidência do

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Águas passadas não movem moinhos – era o que Lisa repetia


a si mesma. Contudo, estar sempre tão próxima do único homem que

realmente se apaixonou, fazia com que ela quisesse voltar, e na verdade,

se afogar com ele. Igor Reis era um erro, e ela sempre soube.

Ainda assim, não podia evitá-lo para sempre, já que seus círculos

de amizades eram tão próximos. Então, era apenas isso: Igor era um

amigo. Um ótimo fofoqueiro e uma pessoa para perder horas


conversando – mesmo que quisesse perder muito mais.
Todavia, quando ele bate na sua porta no meio da madrugada com

um bebê a tiracolo, ela não sabe o que de fato está acontecendo. Porém,
nada é tão ruim que não possa piorar, e ele a pede em casamento.

Nas voltas que a vida dá, Lisa se vê com o sobrenome Reis, um


bebê para chamar de seu e um contrato de casamento por um ano com o

homem que ama.

Até onde o casamento do CEO por um bebê será uma mentira?


A FILHA DO VIÚVO QUE ME ODEIA

Família Reis – Livro 3

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SINOPSE

Os opostos se atraem.

Carolina Reis queria jurar que isso estava errado, mas não pôde
evitar a forma como seu corpo reagiu ao cowboy bruto e grosso que,

literalmente, atravessou o seu caminho. Franco era uma incógnita, com


um chapéu de cowboy escuro e uma expressão tão dura, que lhe fazia

indagar se ele em algum momento sorria. Bruto insensível!

Franco Esteves não tinha tempo para perder, muito menos, com

uma patricinha mimada que encontrou sozinha no meio da estrada.


Porém, não conseguia evitar ajudar alguém, mesmo que este parecesse

ser no mínimo uma década mais novo, com olhos claros penetrantes e um
sorriso zombeteiro. Diacho de madame!

O que era para ser apenas um esbarrão no meio do nada, torna-se


uma verdadeira tortura, quando Carolina assume, por coincidência a

função de tutora da filha do cowboy. Ele só quer evitá-la. Ela só quer

irritá-lo. No meio do ódio e atração que lhes permeiam, uma adolescente


se torna um vínculo que eles não podem evitar.

Mas até onde ela será a única a uni-los?


GRÁVIDA EM UM CASAMENTO POR CONTRATO

Família Reis – Livro 4

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SINOPSE

Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra,


no meio do caminho de Nero, sempre teve Verônica. A matriarca dos

Reis era uma mulher que intimidava a qualquer um, e ele nunca

conseguiu entender uma reação dela. Quando ela estava à sua frente, ele
sabe que tudo o que deve fazer é correr para a direção oposta.

Verônica Reis é uma mulher que nunca demonstra o que sente.

Sendo assim, praticamente impossível desvendar o que se passa em sua


cabeça, e muito menos, em seu coração. Contudo, sempre lhe intrigou o
fato de que Alfredo Lopes – ou apenas Nero para os demais – parecia

querer enfrentá-la em uma simples troca de olhares, e nunca a temer.

No meio das voltas que a vida dá, um contrato de casamento é o

que os une. O que ela e muito menos eles esperavam, era que no único
momento que deixassem a guarda baixar, teriam algo maior do que o

arrependimento para lidar: UMA GRAVIDEZ EM UM CASAMENTO

POR CONTRATO.
UM CASAMENTO DE MENTIRA PARA O CEO

Família Fontes – Livro 1

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SINOPSE
Nas voltas que a vida dá, Talita e Gael se encontram dizendo “sim” no altar.

A rejeição à frente de várias pessoas foi o que Talita Kang vivenciou aos dezessete anos,

quando Gael Fontes a recusou e humilhou abertamente sobre o possível noivado dos dois.

Porém, como o carma nunca falha, tudo o que o herdeiro dos Fontes necessita quinze anos
depois, quando retorna para recuperar a empresa da família, é justamente um casamento por
contrato.

O que ele não esperava era que justamente a mulher que quebrou seu coração seria a
candidata perfeita, e mais, que ela o escolheria novamente.

Ele a humilhou por um casamento por contrato.

Ele precisa dela agora, pelo mesmo motivo.


Talita se apegou a esse contrato pela sua família, e por uma promessa que apenas ela pode
cumprir. Mas nada lhe impede de se divertir com a infelicidade do homem que estará preso nessa

mentira com ela. Entre o carma, uma rede de mentiras e corações partidos, até que ponto um
casamento por contrato significará apenas isso?
GRÁVIDA DO COWBOY QUE NÃO ME AMA

Família Esteves – Livro 1

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SINOPSE
Ter um ditado como aquele sendo uma realidade, depois de tanto tempo, apenas fazia

Guta duvidar se realmente queria tal casamento. Augusta que amava Juan, que amava
Pâmela, que amava Franco, que amava Carolina, que felizmente, o amava de volta.

Deixada sozinha em casa, após finalmente ter o homem que amava da forma que sempre
desejou, Guta parou de se questionar do que era necessário para que aquele casamento fosse real,
e aceitou que o amor de Juan Esteves nunca seria seu.

Ela então o deixa para trás, e com ele, todo o sonho do primeiro amor que agora ela jurou
que esqueceria. Contudo, o que ela não esperava, depois de tanto tempo, era que criaria algum

laço real com ele.

Guta apenas quer os papéis do divórcio e distância, mas se descobre grávida do cowboy
que não a ama.
UMA FILHA INESPERADA PARA O CEO

Família Esteves – Livro 2

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SINOPSE
Júlia Medeiros sempre pensou que para bom entendedor, meia palavra bastava.

Entretanto, ela não sabia o que entender, quando o homem para o qual se declarou, a abandonou
na cama, na companhia de um chapéu. Ela só não tinha ideia do que mais acabou ficando para si.

Oscar Esteves sempre lutou por sua família, e seus irmãos eram seu mundo, contudo, os
olhos bonitos da mulher que o encantou desde que a encarou pela primeira vez, sempre vagavam
em suas memórias.

Anos depois e uma coincidência do destino, Oscar descobre que aquele amor não resultou
em apenas lembranças que ele não conseguia tirar da mente, mas também, em uma filha.
UMA FAMÍLIA INESPERADA

Família Esteves – Livro 3

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SINOPSE

Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra,

no meio do caminho de Flávio, sempre teve Dove Kang. O caçula da


Família Esteves, tem um sorriso fácil e piadinhas sempre na ponta da

língua, mas não consegue fingir que ela não desperta nada dele, nem que
seja medo. Diacho de moça bonita!

Dove Kang é uma mulher que vive pelo legado da sua família. Os
Kang são poderosos e intocáveis, e nenhum deles vive para o romance.
Contudo, ela não pode negar que existe algo que sempre a surpreende

nos olhos claros daquele menino.

Duas pessoas de realidades completamente opostas, mas que não

conseguem evitar a atração que sentem. E talvez descubram que existe


algo muito maior que o medo e a surpresa um no outro: uma família

inesperada.
[1]
Trecho do livro Querido John escrito por Nicholas Sparks.

[2]
Adeus em francês.

[3]
Canção intitulada Can't Take My Eyes Off You do artista Frankie Valli, 1967. Você é

boa demais para ser verdade/Não consigo tirar meus olhos de você/Você é como tocar o

céu/Quero tanto te abraçar/Enfim, o amor verdadeiro chegou/E agradeço a Deus por estar
vivo/Você é boa demais para ser verdade/Não consigo tirar meus olhos de você/Perdoe a maneira

como te olho/Não há nada que se compare/Ver você me enfraquece/Não restam palavras para
falar/Então se você sente como me sinto/Por favor, deixe-me saber que isso é real/Você é boa
demais para ser verdade/Não consigo tirar os meu olhos de você.

[4]
Trecho do livro A última música escrito por Nicholas Sparks.

[5]
Trecho da canção Índios, da banda brasileira Legião Urbana.

[6]
Trecho do livro Diário de uma paixão escrito por Nicholas Sparks.

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