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TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA

AJU: ASSESSORIA JURÍDICA


ORIGEM: GABINETE DA PRESIDÊNCIA
PROCESSO Nº 04632e21
PARECER Nº 00438-21

EMENTA: UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS


DECORRENTES DE DIFERENÇAS DAS
TRANSFERÊNCIAS DO FUNDEF OU FUNDEB,
ORIUNDOS DE PRECATÓRIOS, REFERENTES
A EXERCÍCIOS ANTERIORES. LEI FEDERAL Nº
14.057/2020. DERRUBADA DE VETO
PRESIDENCIAL Nº 48/2020. PREVALÊNCIA DE
DETERMINAÇÃO CONTIDA NO PARÁGRAFO
ÚNICO DO ART.7º. POSSIBILIDADE DE RATEIO
DE TAIS VERBAS. EFEITO EX NUNC.
RESOLUÇÃO Nº 1.346/2016, ALTERADA PELAS
RESOLUÇÕES Nº 1.360/2017 E Nº 1.387/2019,
DESTE TCM/BA. VEDAÇÃO AO PAGAMENTO
DE REMUNERAÇÃO AOS PROFISSIONAIS DA
EDUCAÇÃO.

1. O comando institutido pela Lei 14.057/2020, no


qual destina 60% dos valores oriundos do
FUNDEF para profissionais do magistério ativos,
inativos e pensionistas na forma de abono, não
possui efeito retroativo a precatórios já pagos,
assim o referido dispositivo refere-se apenas a
acordos firmados a partir da sua vigência, ou seja,
11 de setembro de 2020, data da sua publicação;

2. Entendendo o gestor, dentro da sua


discricionariedade, pela possibilidade do rateio de
tais verbas, algo que ora refutamos, sugere-se ao
consulente o encaminhamento de consulta ao
Ministério Público Federal e ao Tribunal de
Contas da União, já que as referidas instituições
possuem entendimento pacificado pela
impossibilidade de tal destinação, em
consonância aos ditames contidos na
Constituição Federal;

3. Entende-se pela prevalência dos termos postos


na Resolução nº 1.346/2016, alterada pelas
Resoluções nº 1.360/2017 e nº 1.387/2019, deste
TCM, o Gestor somente poderá utilizar os
recursos recebidos em decorrência de ação
ajuizada contra a União, objeto de precatórios, em
virtude de insuficiência dos depósitos do FUNDEF
ou FUNDEB, nas hipóteses dispostas no artigo 70
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB (à exceção de remuneração do
pessoal docente e demais profissionais da
educação).

4. À luz das orientações traçadas no art. 2º, da


aludida Resolução, não é permitida a utilização da
aludida verba para o pagamento de rateio aos
profissionais da educação;.

Trata-se de consulta formulada pelo Sr. Silvando Brito Santos, Prefeito do Municipal de
Oliveira dos Brejinhos, endereçada ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da
Bahia, aqui protocolado sob nº 04632e21, afirmando em tempo, que a referida comuna
no “ano de 2019 recebeu a título de verba de precatório do FUNDEF o valor
aproximadamente de R$ 45.000.000,00 (quarenta e cinco milhões de reais). O recurso
encontra-se disponível na conta do município.”.

Neste contexto, relata o Consulente que no exercício de 2020, o Presidente da República


vetou parte do Projeto de Lei nº 1581/20, precisamente o parágrafo que destinava 60%
do valor para profissionais do magistério ativos, inativos e pensionistas na forma de
abono, entretanto, em sessões plenárias no Congresso Nacional do dia 17/03/2021, os
parlamentares e senadores derrubaram o veto 48/2020que impedia a distribuição dos
recursos oriundos do Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério), questionando:

“Diante de tudo exposto, Consulta este competente tribunal, sobre a forma de


EXECUÇÃO LEGAL DO RATEIO do recurso do Precatório do Fundef no município
de Oliveira dos Brejinhos.”

Em caráter preliminar, registra-se que os pronunciamentos desta Unidade, nos


processos de Consulta, são confeccionados sempre em tese, razão pela qual não
nos cabe analisar e opinar diante do caso concreto apresentado.

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Ademais, ressalte-se que, na casuística, tendo em vista as peculiaridades de cada
situação apresentada, esta Corte de Contas, mediante decisão do Tribunal Pleno ou
Câmara, pode emitir pronunciamento dissonante sobre o assunto ora tratado.

Dito isso, primeiramente, cumpre esclarecer que o art. 30, VI, da Constituição Federal
preceitua que compete aos Municípios “manter, com a cooperação técnica e financeira da
União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental”, ao tempo
em que o art. 211, §2º, também da CF, dispõe que “Os Municípios atuarão
prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil”.

Logo, da leitura dos dispositivos acima reproduzidos, infere-se que é prioridade do


Município promover a educação infantil e o ensino fundamental, contando, para tanto,
com o auxílio também da União.

Com a finalidade de atender ao quanto disposto na Carta Magna, foi instituído o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério –
FUNDEF, através da Emenda Constitucional nº 14/1996, regulamentado pela Lei nº
9.424/1996. O mesmo teve por objetivo destinar recursos para serem aplicados,
exclusivamente, na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental público, ou
seja, aquele ministrado aos educandos da 1ª a 8ª séries, à época.

Assim sendo, tem-se que os recursos do FUNDEF – no período da sua existência – não
poderiam ser aplicados em finalidade diversa da manutenção e desenvolvimento do
ensino fundamental público.

Contudo, necessário se faz informar que o FUNDEB – Fundo de Manutenção e


Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação,
instituído pela Emenda Constitucional nº 53/2006 e vigente de 2007 a 2020, fora
recentemente transformado em fundo permanente e substituído pelo novo FUNDEB,
através da Emenda Constitucional nº 108, de 26/08/2020, cuja implementação fora
regulamentada pela Lei nº 14.113, de 25 de dezembro de 2020.

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Ressalte-se, porque necessário, que os recursos provenientes do FUNDEB devem ser
destinados à manutenção e desenvolvimento da educação básica pública e à valorização
dos profissionais da educação, conforme disciplinado na referida Lei.

Ademais, dentre as modificações trazidas pela recente Lei nº 14.113/2020, cumpre-nos


destacar o quanto disciplinado no seu artigo 26, in verbis:

Art. 26. Excluídos os recursos de que trata o inciso III do caput do art. 5º desta Lei,
proporção não inferior a 70% (setenta por cento) dos recursos anuais totais dos
Fundos referidos no art. 1º desta Lei será destinada ao pagamento, em cada rede
de ensino, da remuneração dos profissionais da educação básica em efetivo
exercício.

Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput deste artigo, considera-se:

I - remuneração: o total de pagamentos devidos aos profissionais da educação


básica em decorrência do efetivo exercício em cargo, emprego ou função,
integrantes da estrutura, quadro ou tabela de servidores do Estado, do Distrito
Federal ou do Município, conforme o caso, inclusive os encargos sociais
incidentes;
II - profissionais da educação básica: aqueles definidos nos termos do art. 61 da
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, bem como aqueles profissionais
referidos no art. 1º da Lei nº 13.935, de 11 de dezembro de 2019, em efetivo
exercício nas redes escolares de educação básica;
III - efetivo exercício: a atuação efetiva no desempenho das atividades dos
profissionais referidos no inciso II deste parágrafo associada à regular vinculação
contratual, temporária ou estatutária com o ente governamental que o remunera,
não descaracterizada por eventuais afastamentos temporários previstos em lei
com ônus para o empregador que não impliquem rompimento da relação jurídica
existente.

Com efeito, percebe-se que, a partir do exercício financeiro de 2021, pelo menos 70%
dos valores do FUNDEB deve ser destinado à remuneração dos profissionais da
educação básica em efetivo exercício, podendo ser utilizado o restante dos recursos,
correspondente ao máximo de 30%, na cobertura das demais despesas afetas à
manutenção e desenvolvimento do ensino básico, preceituadas no artigo 70, da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei Federal nº 9.394/96.

Desta maneira, percebe-se que o teor no art. 20 da Lei nº 11.494/07, fora


recepcionada em parte pela Lei nº 14.113/20, art. 26, em especial permanece a
continuidade da vinculação dos percentuais ali descriminados com a obrigatória
manutenção e desenvolvimento do ensino básico.

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No que diz respeito às ações admitidas como de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino – MDE, é oportuno transcrever o que dispõe o art. 70, da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/1996:

“Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as


despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das
instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam
a:

I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da


educação;
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e
equipamentos necessários ao ensino;
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino;
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao
aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino;
V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos sistemas de
ensino; VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e
privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao
disposto nos incisos deste artigo;
VIII - aquisição de material didático escolar e manutenção de programas de
transporte escolar.” (grifo aditado)

Por sua vez, o art. 71, dessa mesma Lei elenca as despesas que não podem ser
efetuadas com recursos destinados à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino - MDE,
a saber:

“Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino


aquelas realizadas com:

I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou, quando efetivada


fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de
sua qualidade ou à sua expansão;
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial,
desportivo ou cultural;
III - formação de quadros especiais para a administração pública, sejam militares
ou civis, inclusive diplomáticos;
IV - programas suplementares de alimentação, assistência médico odontológica,
farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social;
V - obras de infra estrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou
indiretamente a rede escolar;
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em desvio de
função ou em atividade alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino.”

Em que pese a remuneração aos profissionais da educação esteja enumerada como uma
ação de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino – MDE, o entendimento sustentado
pelo C. Tribunal de Contas da União, nos autos do Acórdão nº 2.866/2018, Relator
Walton Alencar Rodrigues, ao qual se filia essa Corte de Contas, é que, em razão da

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natureza extraordinária da verba, não se deve utilizar a verba em questão para
pagamento de tal despesa, entendimento como alhures mencionado, recepcionado
pelo art. 26 da Lei nº 14.113/20, desta maneira utilizaremos para fundamentar tais
entendimentos, julgados que ainda se referem a Lei nº 11.494/2007.

Neste sentido, cite-se a jurisprudência do C. TCU mencionada acima:

“REPRESENTAÇÃO. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES NA APLICAÇÃO DOS


RECURSOS PROVENIENTES DE PRECATÓRIOS RELATIVOS À
COMPLEMENTAÇÃO DO FUNDO DE MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO
DO ENSINO FUNDAMENTAL E DE VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO (FUNDEF).
NATUREZA EXTRAORDINÁRIA DOS RECURSOS. AFASTAMENTO DA
SUBVINCULAÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 22, CAPUT, DA LEI 11.494/2007.
MEDIDA CAUTELAR CONCEDIDA OBSTANDO A UTILIZAÇÃO DE TAIS
RECURSOS PARA O PAGAMENTO DE PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO A
QUALQUER TÍTULO. OITIVA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO FUNDO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. CONFIRMAÇÃO DA
CAUTELAR. DETERMINAÇÃO. RECOMENDAÇÕES.
1. Os recursos recebidos a título de complementação da União no Fundef,
reconhecidos judicialmente, além de não estarem submetidos à subvinculação de
60% prevista no artigo 22, da Lei 11.494/2007, não podem ser utilizados para
pagamentos de rateios, abonos indenizatórios, passivos trabalhistas ou
previdenciários, remunerações ordinárias ou outras denominações de mesma
natureza, aos profissionais da educação.
2. Os entes federados beneficiários devem, previamente à utilização dos valores,
elaborar plano de aplicação dos recursos compatível com a presente deliberação,
o Plano Nacional de Educação, os objetivos básicos das instituições educacionais
e os respectivos planos estaduais e municipais de educação, dando-lhe ampla
divulgação.” (grifos aditados)

Quanto à aplicação limitada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico, o E.


Supremo Tribunal Federal, nos autos da Ação Civil Ordinária (ACO/BA) nº 648, assim se
posicionou:
“O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro Edson Fachin, que
redigirá o acórdão, julgou parcialmente procedente a ação, para condenar a parte
Ré ao pagamento indenizatório da diferença entre os valores de complementação
devidos orçados com fundamento no Decreto 2.264/1997 e na fórmula de cálculo
apresentada pela parte Autora, durante os exercícios financeiros de 1998 a 2007,
mantida a vinculação da receita, mesmo em caráter destinatório, à educação, e,
como consectários legais, determinou a incidência dos índices de atualização
monetária e juros moratórios os fixados no Manual de Cálculos da Justiça Federal
(atual Resolução 267 de 2013 do Conselho da Justiça Federal), sobre as parcelas
até 2009, a partir de quando o débito deve ser corrigido nos termos do artigo 1º-F
da Lei 9.494/97 (com a redação da Lei 11.960/09), honorários advocatícios
deverão ser fixados após a realização do cálculo aritmético, pro força do inciso II
do §4º do art. 85, CPC, (a partir dos elementos fixados nesta decisão, observando
as regras próprias de fixação de honorários em face da Fazenda Pública - art. 85,
§3º a 7º, CPC/15), com pagamento de custas na forma da lei e da Resolução n.
581/2016 do STF. Ademais, o Tribunal fixou o seguinte entendimento: 1 - O valor
da complementação da União ao FUNDEF deve ser calculado com base no valor
mínimo nacional por aluno extraído da média nacional; 2 - A complementação ao
FUNDEF realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em desacordo

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com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos,
mantida a vinculação constitucional a ações de desenvolvimento e manutenção do
ensino. (…) Plenário, 6.9.2017.” (grifos aditados)

Feitas tais considerações, importante acrescentar, com relação aos créditos decorrentes
de precatórios, oriundos de diferenças das transferências do FUNDEF ou FUNDEB de
exercícios anteriores, que esta Corte de Contas, diante da complexidade que reveste os
assuntos relacionados com tais valores e no intuito de dirimir diversas dúvidas dos
Jurisdicionados, bem como de orientar os seus técnicos e servidores, aprovou a
Resolução nº 1.346/2016, alterada pelas Resoluções nº 1.360/2017 e nº 1.387/2019,
disciplinando a sua contabilização e aplicação pelos Municípios.

O art. 1º, caput, da supracitada Resolução nº 1.346/2016, alterada pelas Resoluções nº


1.360/2017 e nº 1.387/2019, disciplina que:

“Art. 1º. Os recursos recebidos em decorrência de ação ajuizada contra a União,


objeto de precatórios, em virtude de insuficiência dos depósitos do FUNDEF ou
FUNDEB, referentes a exercícios anteriores, somente poderão ser aplicados na
manutenção e desenvolvimento do ensino básico, em conformidade com o
disposto nas Leis Federais nº 9.394/1996 e 11.494/2007, vedada a utilização para
pagamento de remuneração dos profissionais da educação, não se aplicando a tais
recursos a vinculação prevista no art. 22 da Lei nº 11.494/2007 e, no que diz
respeito à remuneração, o inciso I do art. 70, da Lei nº 9.394/1996.”

Infere-se, pois, que a utilização, pelo Gestor, dos recursos auferidos em decorrência de
ação ajuizada contra a União, tendo em vista a insuficiência dos depósitos do FUNDEF
ou FUNDEB, objeto de precatórios, deve ter sua aplicação limitada à manutenção e
desenvolvimento do ensino básico (à exceção de remuneração do pessoal docente e
demais profissionais da educação), não se aplicando a vinculação prevista no art. 26, da
Lei nº 14.113/20.

Em atenção ao quanto sustentado acima, essa Corte de Contas editou a Resolução nº


1.387/2019, alterando a Resolução nº 1.346/2016, no intuito de que o seu art. 2º passe a
vigorar com a seguinte redação:

“Art. 2º. Os recursos de que trata esta Resolução não poderão ser aplicados
para o pagamento de:
I – rateios, abonos indenizatórios, passivos trabalhistas ou previdenciários,
II – remuneração e respectivos encargos sociais dos profissionais de educação;

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III – despesas de pessoal referentes a contratos de terceirização de mão de obra
concernentes a substituição de servidores e empregados públicos, conforme art.
18, § 1º, da LRF;
IV - outras verbas com denominações da mesma natureza aos contidos nos
incisos I e II ou que, após exame da documentação respectiva pelo Tribunal de
Contas dos Municípios, se revelarem sem amparo da legislação pertinente.”
(destaque no original)

Por outro lado, houve a tramitação de Projeto de Lei nº 1581/20, aprovado pelo
Congresso Nacional em julho de 2020, tendo como objetivo a regulamentação de acordos
diretos para pagamento com desconto ou parcelado de verbas oriundas de precatórios
federais, com a destinação dos descontos obtidos pela União ao enfrentamento da
situação de emergência de saúde pública relacionada a atual pandemia, ou ao
pagamento de dívidas contraídas pela União para fazer frente a tal situação emergencial,
desta maneira, o recebimento dos valores em um acordo com o Ente Público por meio
desta nova permissão do Projeto de Lei, poderiam ser pagos em até oito parcelas anuais
e sucessivas, sempre que se tratar de um título executivo com trânsito em julgado.

Nesta linha, por consequência, fora editada Lei Federal nº 14.057/2020, que “ Disciplina o
acordo com credores para pagamento com desconto de precatórios federais e o acordo
terminativo de litígio contra a Fazenda Pública e dispõe sobre a destinação dos recursos
deles oriundos para o combate à Covid-19”.

Neste contexto, houve na data de 17/03 do presente ano, a derrubada conjuntadas das
duas Casa - Câmara e Senado - do veto presidencial nº 48/2020, referente a retirada do
parágrafo único do art.7º da mencionada Lei, no qual destinava-se 60% dos valores
oriundos do FUNDEF para profissionais do magistério ativos, inativos e pensionistas na
forma de abono, passando o art.7º a dispor de seu texto inicial, vejamos:

Art. 7º (...) Parágrafo Único: Os repasses de que trata o caput deste artigo deverão
obedecer à destinação originária, inclusive para fins de garantir pelo menos 60%
(sessenta por cento) do seu montante para os profissionais do magistério ativos,
inativos e pensionistas do ente público credor, na forma de abono, sem que haja
incorporação à remuneração dos referidos servidores

A este respeito, em uma interpretação fria ao artigo ora evidenciado, entende-se pela
possibilidade à luz do quanto explicitado, do repasse de pelo menos 60% do valor
recebido pelos estados e municípios a título de precatórios do FUNDEB ao magistério,

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englobando os ativos, inativos e pensionistas do ente público credor, na forma de abono,
sem que haja incorporação à remuneração dos referidos servidores.

Contudo, cumpre-se advertir de início, que o mencionado comando não tem efeito
retroativo a precatórios já pagos, assim o referido dispositivo refere-se apenas a acordos
firmados a partir da vigência da Lei 14.057/2020, ou seja, 11 de setembro de 2020, data
da sua respectiva publicação.

Assim, volvendo-se a situação posta no presente expediente, pode-se constatar que


conforme afirmado pelo Consulente “ O município de Oliveira dos Brejinhos do ano de
2019 recebeu a título de verba de precatório do FUNDEF o valor aproximadamente de R$
45.000.000,00 (quarenta e cinco milhões de reais). O recurso encontra-se disponível na
conta do município.”, por consequência, tais verbas não encontram-se abraçadas pelas
possibilidades constantes na Lei nº 14.057/20, sendo mais objetivo, não poderá ser
rateada pelos profissionais do magistério do município de Oliveiras dos Bejinhos.

De acordo com o entendimento aqui explicitado, encontra-se nota emanada pela


Confederação Nacional dos Municípios, em orientação intitulada “CNM esclarece
gestores sobre derrubada do veto que trata de precatórios do Fundef”, publicada em seu
site na data de 19/03/21, no qual afirma:

“(…) A Lei 14.057/2020 disciplina acordo com credores para pagamento, com
desconto, de precatórios federais e acordo terminativo de litígio contra a Fazenda
Pública. Em seu art. 7°, dispõe que os acordos a que a Lei se refere contemplam
também os precatórios oriundos da cobrança judicial de repasses da
complementação da União aos Estados e Municípios à conta do Fundef, por
descumprimento pelo governo federal do critério de cálculo dessa complementação
previsto na Lei 9.426/1996.
O parágrafo único do art. 7º da Lei 14.057/2020, que foi objeto do veto do
presidente da República derrubado na última quarta-feira 17, dispõe que os
recursos dos precatórios do Fundef deverão obedecer à destinação originária,
inclusive para fins de garantir pelo menos 60% do seu montante para os
profissionais do magistério ativos, inativos e pensionistas do ente público credor,
na forma de abono, sem que haja incorporação à remuneração dos referidos
servidores.
Alerta
A CNM esclarece que esse dispositivo refere-se apenas a acordos firmados a
partir da vigência da Lei 14.057/2020, ou seja, 11 de setembro de 2020. Portanto,
não tem efeito retroativo a precatórios já pagos, e não decorrentes de acordos
entre a União e os entes credores. Além disso, ressalta que há jurisprudência
pacificada no Tribunal de Contas da União (TCU) no sentido de que os recursos

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oriundos de precatórios do Fundef não podem ser empregados em pagamentos de
rateios, abonos indenizatórios, passivos trabalhistas/previdenciários e
remunerações ordinárias dos profissionais da educação.
A Confederação menciona ainda que a Emenda Constitucional (EC) 108/2020, que
instituiu o novo Fundeb, acrescentou o parágrafo 7° ao artigo 212 da Constituição
Federal, com a vedação expressa da utilização de recursos vinculados à
manutenção e ao desenvolvimento do ensino para pagamento de aposentadorias e
pensões. Portanto, a entidade recomenda cautela aos gestores locais, sugerindo
aguardar nova manifestação do TCU a respeito do tema ou mesmo de outra
instância que aprecie a constitucionalidade da medida.”

Desta maneira, em consonância reiterada com as orientações contidas na notícia acima


transcritas, e sendo entendimento muitas vezes sugerido nos pareceres emanados por
esta Unidade Jurídica, compreende-se que apesar da cautela necessária ao presente
tema, entendendo o Consulente dentro da sua discricionariedade, pela possibilidade do
rateio de tais verbas, aconselha-se o encaminhamento de consulta no que concerne a tal
possibilidade ao Ministério Público Federal e ao Tribunal de Contas da União, já que as
referidas instituições possuem entendimento pacificado pela impossibilidade de tal
destinação, em consonância aos ditames contidos na Constituição Federal.

Assim, por força do quanto exposto, no presente caso, aplica-se as orientações


contidas no quanto disposto no inciso I, do art. 2º, da Resolução nº 1.346/2016,
aletrado pela Resolução nº 1.387/2019, qual seja, a não permissão para a utilização
dos recursos do FUNDEF, oriundos de decisão judicial proferida em sede de ação
ordinária ajuizada em face da União Federal, para o p agamento de rateio aos
profissionais da educação.

Saliente-se, por oportuno, que, caso seja detectado que houve destinação ou aplicação
destes recursos dissociadas dos fins dispostos nas Leis nº 9.394/1996 e nº 14.113/20, o
ato do Gestor deve ser objeto de consignação pela Inspetoria Regional de Controle
Externo – IRCE, no Relatório Mensal - RM de fiscalização da respectiva Prefeitura, sem
prejuízo da eventual lavratura de Termo de Ocorrência - TOC, devidamente instruído com
a documentação que evidencie a suposta irregularidade praticada, para fins de apuração
de responsabilidade do Gestor. Vejamos o quanto dispõem os arts. 4º e 7º da Resolução
nº 1.346/2016, alterada pelas Resoluções nº 1.360/2017, in verbis:

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“Art. 4º Qualquer outra destinação ou aplicação não prevista em lei para os
recursos especificados no art. 1º desta Resolução, salvo por determinação judicial,
transitada em julgado, deverá ser objeto de consignação pela Inspetoria Regional
de Controle Externo - IRCE no Relatório Mensal (RM) de fiscalização da respectiva
Prefeitura, sem prejuízo da eventual lavratura de Termo de Ocorrência - TOC,
devidamente instruído com a documentação que evidencie a suposta
irregularidade praticada, para fins de apuração de responsabilidade do Gestor.
Parágrafo único. Em decorrência do acompanhamento e fiscalização mensal, a
respectiva Cientificação Anual (CA) da Prefeitura deverá retratar, em tópico
próprio, os montantes de recursos eventualmente aplicados em desconformidade
com a lei e as orientações desta Resolução, para as possíveis repercussões na
respectiva prestação de contas anual do Gestor Público.
(…)
Art. 7º Eventuais aplicações previstas ou contratadas pelos Gestores Públicos com
base nos recursos especificados no art. 1º que refujam às orientações
estabelecidas por esta Resolução, deverão ser imediatamente suspensas, salvo se
decorrentes de decisões judiciais, expressas e específicas, transitadas em
julgado.” (destaques no original)

Não obstante as notificações endereçadas ao Gestor pelas supostas irregularidades


cometidas na execução dos recursos sob análise, no exame mensal efetuado pela
Inspetoria Regional, tal fato poderá influenciar no mérito das suas contas, além de
também ensejar oferecimento de representação ao Ministério Público Federal - MPF, para
apuração de eventual ato de improbidade administrativa, nos termos do artigo 11 da Lei
nº 8.429/1992.

É o quanto dispõe o art. 8º, da Resolução nº 1.346/2016, alterada pelas Resoluções nº


1.360/2017 e nº 1.387/2019:

“Art. 8º Sem prejuízo das sanções legais e da aplicação de multa, conforme


previsão na legislação desta Corte de Contas, o descumprimento, pelo Gestor
Público, das orientações estabelecidas nesta Resolução, ensejará o oferecimento
de representação ao Ministério Público Federal - MPF para apuração de eventual
ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 11, da Lei Federal nº
8.429/1992.” (destaque no original)

Diante do exposto, conclui-se pela não aplicabilidade da Lei nº 14.057/20, a situação


posta no presente expediente, haja vista não possuir tal norma característica de
retroatividade em ações julgadas antes da sua vigência datada de 11/09/2020, bem
como entende esta Unidade Jurídica pela prevalência até o momento, do
entendimento pacificado pelo Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Contas da
União sobre a vinculação das referidas verbas apenas em ações de
desenvolvimento da educação básica, concluindo-se por fim, a eficácia dos termos

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postos na Resolução nº 1.346/2016, alterada pelas Resoluções nº 1.360/2017 e nº
1.387/2019, deste TCM.

Salve melhor juízo, é o parecer.

Salvador, 24 de março de 2021.

Cristina Borges dos Santos


Assessora Jurídica
Revisado por Alessandro Macedo – Chefe da Assessoria Jurídica

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