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Trata-se de consulta formulada pelo Sr. Silvando Brito Santos, Prefeito do Municipal de
Oliveira dos Brejinhos, endereçada ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da
Bahia, aqui protocolado sob nº 04632e21, afirmando em tempo, que a referida comuna
no “ano de 2019 recebeu a título de verba de precatório do FUNDEF o valor
aproximadamente de R$ 45.000.000,00 (quarenta e cinco milhões de reais). O recurso
encontra-se disponível na conta do município.”.
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Ademais, ressalte-se que, na casuística, tendo em vista as peculiaridades de cada
situação apresentada, esta Corte de Contas, mediante decisão do Tribunal Pleno ou
Câmara, pode emitir pronunciamento dissonante sobre o assunto ora tratado.
Dito isso, primeiramente, cumpre esclarecer que o art. 30, VI, da Constituição Federal
preceitua que compete aos Municípios “manter, com a cooperação técnica e financeira da
União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental”, ao tempo
em que o art. 211, §2º, também da CF, dispõe que “Os Municípios atuarão
prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil”.
Com a finalidade de atender ao quanto disposto na Carta Magna, foi instituído o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério –
FUNDEF, através da Emenda Constitucional nº 14/1996, regulamentado pela Lei nº
9.424/1996. O mesmo teve por objetivo destinar recursos para serem aplicados,
exclusivamente, na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental público, ou
seja, aquele ministrado aos educandos da 1ª a 8ª séries, à época.
Assim sendo, tem-se que os recursos do FUNDEF – no período da sua existência – não
poderiam ser aplicados em finalidade diversa da manutenção e desenvolvimento do
ensino fundamental público.
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Ressalte-se, porque necessário, que os recursos provenientes do FUNDEB devem ser
destinados à manutenção e desenvolvimento da educação básica pública e à valorização
dos profissionais da educação, conforme disciplinado na referida Lei.
Art. 26. Excluídos os recursos de que trata o inciso III do caput do art. 5º desta Lei,
proporção não inferior a 70% (setenta por cento) dos recursos anuais totais dos
Fundos referidos no art. 1º desta Lei será destinada ao pagamento, em cada rede
de ensino, da remuneração dos profissionais da educação básica em efetivo
exercício.
Com efeito, percebe-se que, a partir do exercício financeiro de 2021, pelo menos 70%
dos valores do FUNDEB deve ser destinado à remuneração dos profissionais da
educação básica em efetivo exercício, podendo ser utilizado o restante dos recursos,
correspondente ao máximo de 30%, na cobertura das demais despesas afetas à
manutenção e desenvolvimento do ensino básico, preceituadas no artigo 70, da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei Federal nº 9.394/96.
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No que diz respeito às ações admitidas como de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino – MDE, é oportuno transcrever o que dispõe o art. 70, da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/1996:
Por sua vez, o art. 71, dessa mesma Lei elenca as despesas que não podem ser
efetuadas com recursos destinados à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino - MDE,
a saber:
Em que pese a remuneração aos profissionais da educação esteja enumerada como uma
ação de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino – MDE, o entendimento sustentado
pelo C. Tribunal de Contas da União, nos autos do Acórdão nº 2.866/2018, Relator
Walton Alencar Rodrigues, ao qual se filia essa Corte de Contas, é que, em razão da
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natureza extraordinária da verba, não se deve utilizar a verba em questão para
pagamento de tal despesa, entendimento como alhures mencionado, recepcionado
pelo art. 26 da Lei nº 14.113/20, desta maneira utilizaremos para fundamentar tais
entendimentos, julgados que ainda se referem a Lei nº 11.494/2007.
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com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos,
mantida a vinculação constitucional a ações de desenvolvimento e manutenção do
ensino. (…) Plenário, 6.9.2017.” (grifos aditados)
Feitas tais considerações, importante acrescentar, com relação aos créditos decorrentes
de precatórios, oriundos de diferenças das transferências do FUNDEF ou FUNDEB de
exercícios anteriores, que esta Corte de Contas, diante da complexidade que reveste os
assuntos relacionados com tais valores e no intuito de dirimir diversas dúvidas dos
Jurisdicionados, bem como de orientar os seus técnicos e servidores, aprovou a
Resolução nº 1.346/2016, alterada pelas Resoluções nº 1.360/2017 e nº 1.387/2019,
disciplinando a sua contabilização e aplicação pelos Municípios.
Infere-se, pois, que a utilização, pelo Gestor, dos recursos auferidos em decorrência de
ação ajuizada contra a União, tendo em vista a insuficiência dos depósitos do FUNDEF
ou FUNDEB, objeto de precatórios, deve ter sua aplicação limitada à manutenção e
desenvolvimento do ensino básico (à exceção de remuneração do pessoal docente e
demais profissionais da educação), não se aplicando a vinculação prevista no art. 26, da
Lei nº 14.113/20.
“Art. 2º. Os recursos de que trata esta Resolução não poderão ser aplicados
para o pagamento de:
I – rateios, abonos indenizatórios, passivos trabalhistas ou previdenciários,
II – remuneração e respectivos encargos sociais dos profissionais de educação;
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III – despesas de pessoal referentes a contratos de terceirização de mão de obra
concernentes a substituição de servidores e empregados públicos, conforme art.
18, § 1º, da LRF;
IV - outras verbas com denominações da mesma natureza aos contidos nos
incisos I e II ou que, após exame da documentação respectiva pelo Tribunal de
Contas dos Municípios, se revelarem sem amparo da legislação pertinente.”
(destaque no original)
Por outro lado, houve a tramitação de Projeto de Lei nº 1581/20, aprovado pelo
Congresso Nacional em julho de 2020, tendo como objetivo a regulamentação de acordos
diretos para pagamento com desconto ou parcelado de verbas oriundas de precatórios
federais, com a destinação dos descontos obtidos pela União ao enfrentamento da
situação de emergência de saúde pública relacionada a atual pandemia, ou ao
pagamento de dívidas contraídas pela União para fazer frente a tal situação emergencial,
desta maneira, o recebimento dos valores em um acordo com o Ente Público por meio
desta nova permissão do Projeto de Lei, poderiam ser pagos em até oito parcelas anuais
e sucessivas, sempre que se tratar de um título executivo com trânsito em julgado.
Nesta linha, por consequência, fora editada Lei Federal nº 14.057/2020, que “ Disciplina o
acordo com credores para pagamento com desconto de precatórios federais e o acordo
terminativo de litígio contra a Fazenda Pública e dispõe sobre a destinação dos recursos
deles oriundos para o combate à Covid-19”.
Neste contexto, houve na data de 17/03 do presente ano, a derrubada conjuntadas das
duas Casa - Câmara e Senado - do veto presidencial nº 48/2020, referente a retirada do
parágrafo único do art.7º da mencionada Lei, no qual destinava-se 60% dos valores
oriundos do FUNDEF para profissionais do magistério ativos, inativos e pensionistas na
forma de abono, passando o art.7º a dispor de seu texto inicial, vejamos:
Art. 7º (...) Parágrafo Único: Os repasses de que trata o caput deste artigo deverão
obedecer à destinação originária, inclusive para fins de garantir pelo menos 60%
(sessenta por cento) do seu montante para os profissionais do magistério ativos,
inativos e pensionistas do ente público credor, na forma de abono, sem que haja
incorporação à remuneração dos referidos servidores
A este respeito, em uma interpretação fria ao artigo ora evidenciado, entende-se pela
possibilidade à luz do quanto explicitado, do repasse de pelo menos 60% do valor
recebido pelos estados e municípios a título de precatórios do FUNDEB ao magistério,
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englobando os ativos, inativos e pensionistas do ente público credor, na forma de abono,
sem que haja incorporação à remuneração dos referidos servidores.
Contudo, cumpre-se advertir de início, que o mencionado comando não tem efeito
retroativo a precatórios já pagos, assim o referido dispositivo refere-se apenas a acordos
firmados a partir da vigência da Lei 14.057/2020, ou seja, 11 de setembro de 2020, data
da sua respectiva publicação.
“(…) A Lei 14.057/2020 disciplina acordo com credores para pagamento, com
desconto, de precatórios federais e acordo terminativo de litígio contra a Fazenda
Pública. Em seu art. 7°, dispõe que os acordos a que a Lei se refere contemplam
também os precatórios oriundos da cobrança judicial de repasses da
complementação da União aos Estados e Municípios à conta do Fundef, por
descumprimento pelo governo federal do critério de cálculo dessa complementação
previsto na Lei 9.426/1996.
O parágrafo único do art. 7º da Lei 14.057/2020, que foi objeto do veto do
presidente da República derrubado na última quarta-feira 17, dispõe que os
recursos dos precatórios do Fundef deverão obedecer à destinação originária,
inclusive para fins de garantir pelo menos 60% do seu montante para os
profissionais do magistério ativos, inativos e pensionistas do ente público credor,
na forma de abono, sem que haja incorporação à remuneração dos referidos
servidores.
Alerta
A CNM esclarece que esse dispositivo refere-se apenas a acordos firmados a
partir da vigência da Lei 14.057/2020, ou seja, 11 de setembro de 2020. Portanto,
não tem efeito retroativo a precatórios já pagos, e não decorrentes de acordos
entre a União e os entes credores. Além disso, ressalta que há jurisprudência
pacificada no Tribunal de Contas da União (TCU) no sentido de que os recursos
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oriundos de precatórios do Fundef não podem ser empregados em pagamentos de
rateios, abonos indenizatórios, passivos trabalhistas/previdenciários e
remunerações ordinárias dos profissionais da educação.
A Confederação menciona ainda que a Emenda Constitucional (EC) 108/2020, que
instituiu o novo Fundeb, acrescentou o parágrafo 7° ao artigo 212 da Constituição
Federal, com a vedação expressa da utilização de recursos vinculados à
manutenção e ao desenvolvimento do ensino para pagamento de aposentadorias e
pensões. Portanto, a entidade recomenda cautela aos gestores locais, sugerindo
aguardar nova manifestação do TCU a respeito do tema ou mesmo de outra
instância que aprecie a constitucionalidade da medida.”
Saliente-se, por oportuno, que, caso seja detectado que houve destinação ou aplicação
destes recursos dissociadas dos fins dispostos nas Leis nº 9.394/1996 e nº 14.113/20, o
ato do Gestor deve ser objeto de consignação pela Inspetoria Regional de Controle
Externo – IRCE, no Relatório Mensal - RM de fiscalização da respectiva Prefeitura, sem
prejuízo da eventual lavratura de Termo de Ocorrência - TOC, devidamente instruído com
a documentação que evidencie a suposta irregularidade praticada, para fins de apuração
de responsabilidade do Gestor. Vejamos o quanto dispõem os arts. 4º e 7º da Resolução
nº 1.346/2016, alterada pelas Resoluções nº 1.360/2017, in verbis:
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“Art. 4º Qualquer outra destinação ou aplicação não prevista em lei para os
recursos especificados no art. 1º desta Resolução, salvo por determinação judicial,
transitada em julgado, deverá ser objeto de consignação pela Inspetoria Regional
de Controle Externo - IRCE no Relatório Mensal (RM) de fiscalização da respectiva
Prefeitura, sem prejuízo da eventual lavratura de Termo de Ocorrência - TOC,
devidamente instruído com a documentação que evidencie a suposta
irregularidade praticada, para fins de apuração de responsabilidade do Gestor.
Parágrafo único. Em decorrência do acompanhamento e fiscalização mensal, a
respectiva Cientificação Anual (CA) da Prefeitura deverá retratar, em tópico
próprio, os montantes de recursos eventualmente aplicados em desconformidade
com a lei e as orientações desta Resolução, para as possíveis repercussões na
respectiva prestação de contas anual do Gestor Público.
(…)
Art. 7º Eventuais aplicações previstas ou contratadas pelos Gestores Públicos com
base nos recursos especificados no art. 1º que refujam às orientações
estabelecidas por esta Resolução, deverão ser imediatamente suspensas, salvo se
decorrentes de decisões judiciais, expressas e específicas, transitadas em
julgado.” (destaques no original)
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postos na Resolução nº 1.346/2016, alterada pelas Resoluções nº 1.360/2017 e nº
1.387/2019, deste TCM.
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