Analisecomplexa
Analisecomplexa
Analisecomplexa
ANÁLISE COMPLEXA
Brasil.
2
Sumário
3
4 Análise Complexa
Quando o discriminante for negativo, sabemos que a fórmula acima não leva a nenhuma raiz real.
No entanto, os números complexos entraram na Matemática pela equação do 3o¯ grau e não do 2o¯ .
Definição 0.1. Definimos o conjunto C (chamado de conjunto dos números complexos) como
sendo o conjunto dos pares ordenados (a, b) com a, b ∈ R com as operações:
(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)
As seguintes identificações, serão de grande valia no nosso estudo. Estas serão justificadas no
teorema (0.1).
Identificações: Denotamos
1. Dado z ∈ C, z = (a, b), chamamos a = <(z) como parte real de z e b = =(z) de parte
imaginária de z.
Wellington José Corrêa 5
Munidos dos conceitos apresentados acima, podemos obter o plano complexo, que é o conjunto
de representações de todos os números complexos z = x + iy pelos pontos P = (x, y) do plano.
A representação dos números complexos por pontos do plano é muito útil e de uso frequente.
Por meio dela, o número complexo z = x + iy é identificado com o ponto (x, y), ou com o vetor
Oz de componentes x e y.
6 Análise Complexa
y z = x + iy
0 x
2. Comutativa: z1 + z2 = z2 + z1 .
3. Distributiva: z1 · (z2 + z3 ) = z1 z2 + z1 z3 .
1. (0, 1) · (0, 1) = (−1, 0) = −1, ou i · i = −1, o que nos mostra que i2 = −1.
2. Adição
(a + ib) + (c + id) = (a + c) + i(b + d) .
3. Subtração
(a + ib) − (c + id) = (a − c) + i(b − d) .
4. Multiplicação
(a + ib) · (c + id) = (ac − bd) + i(ad + bc) .
5. Divisão
a + ib a + ib c − id
= ·
c + id c + id c − id
ac + bd + i(bc − ad)
=
c2 + d2
ac + bd bc − ad
= 2 + i .
c + d2 c2 + d 2
Wellington José Corrêa 7
Exemplo 0.1. Sejam z1 = 1−i e z2 = 3+4 i . Calcule z1 +z2 , z1 −z2 , z1 · z2 , z1 /z2 e represente-os
geometricamente.
Por exemplo, o conceito de ordem do sistema de números reais não se aplica ao sistema
de números complexos. Em outras palavras, não podemos comparar dois números complexos
z1 = a1 + i b1 , b1 6= 0 e z2 = a2 + i b2 , b2 6= 0, por meio de desigualdades. Asserções como
z1 < z2 , ou z2 ≥ z1 não têm qualquer significado em C.
2. Algumas coisas que sabemos ser impossı́veis na análise real, como ex = −2 e sen x = 5,
quando x é uma variável real, são perfeitamente corretas e corriqueiras na análise complexa,
quando x é interpretado como uma variável complexa, como veremos posteriormente.
√
Definição 0.2. (Valor Absoluto) Seja z = a + ib um número complexo. Definimos |z| = a2 + b 2
como sendo o valor absoluto de z.
1. z1 ± z2 = z1 ± z2 . 6. z + z = 2 <(z) .
2. z1 · z2 = z1 · z2 .
7. z − z = 2 =(z)
z1 z1
3. = .
z2 z2
8. |<(z)| ≤ |z| .
4. Se z = <(z) ⇒ z = z .
p
10. Se z1 = a1 + b1 i e z2 = a2 + b2 i então |z1 − z2 | = (a1 − a2 )2 + (b1 − b2 )2 é a distância entre
z1 e z2 .
8 Análise Complexa
Demonstração: Basta usar a proposição (0.1) e a observação (0.2) para verificar a veracidade
das propriedades de corpo.
z1 · z2 = (a1 a2 − b1 b2 a1 , b2 + b1 a2 ) .
Se z1 · z2 = 0, então,
a1 a2 − b 1 b 2 a1 = 0
a b + b a = 0
1 2 1 2
a1 a2 = b 1 b 2 a1
⇒ (2)
a b = −b a
1 2 1 2
a1 b2 a2 = b1 b22
|{z}
=−b1 b2
⇒ b1 (a22 + b22 ) = 0
| {z }
=| z2 |
Como a última igualdade envolve apenas números reais, a mesma nos diz que b1 = 0 ou | z2 | = 0,
isto é, z2 = 0. Se b1 = 0, então por qualquer equação de (2) temos que a1 = 0, e assim, z1 = 0.
Portanto, z1 · z2 = 0 se, e somente se, z1 = 0 ou z2 = 0.
Wellington José Corrêa 9
z1 · z2 − z2 · z3 = 0
⇒ z1 · (z2 − z3 ) = 0.
·:R × C → C
(k, z) 7→ k · z
Demonstração: Apenas como registro, o conjunto {1} é uma base de C como C– espaço vetorial.
Agora, vamos a prova da proposição. Com efeito, note que {1, i} gera C, pois, dado a + i b ∈ C,
a + ib = a · 1 + b · i.
α · 1+βi = 0
(α, β) = (0, 0)
⇒ α = β = 0,
10 Análise Complexa
Definição 0.3. Considere V um espaço vetorial real, o produto interno é uma função h , i :
V × V → R que satisfaz:
2. hα v, vi = α hv, vi, ∀ α ∈ R; ∀ v ∈ V.
4. hv1 , v2 i = hv2 , v1 i, ∀ v1 , v2 ∈ V.
Observação 0.5. Se, considerarmos agora v ∈ C, onde V é um espaço vetorial sobre C, de-
verı́amos ter hv, vi ≥ 0 para todo v ∈ V, pela propriedade 1 da definição anterior. Mas, se
v = i w, note que
= ihi w, wi (propriedade 4)
i2 hw, wi ≤ 0 (propriedade 2)
= |{z}
| {z }
=−1 ≥0
Para driblar tal problema, precisamos de uma nova definição de produto interno quando se
considera o corpo dos complexos.
Definição 0.4. Seja V um espaço vetorial complexo, o produto interno é uma função h , i :
V × V → C que satisfaz:
2. hα v, vi = α hv, vi, ∀ α ∈ C; ∀ v ∈ V.
4. hv1 , v2 i = hv2 , v1 i, ∀ v1 , v2 ∈ V.
Definição 0.5. Seja V um espaço vetorial complexo, o produto interno é uma função h , i :
V × V → C que satisfaz:
Wellington José Corrêa 11
2. hα v, vi = α hv, vi, ∀ α ∈ C; ∀ v ∈ V.
4. hv1 , v2 i = hv2 , v1 i, ∀ v1 , v2 ∈ V.
Terminaremos esta subseção, demonstrando que C é uma extensão de R, isto é, C contém
um subconjunto isomorfo a R. Este resultado, há de nos garantir a boa colocação de nossas
identificações dadas em (1).
ϕ : R → =(ϕ)
a 7→ ϕ(a) = (a, 0)
Note que
(ii) ϕ é sobrejetora.
(iii) ϕ é injetora.
logo,
{ 0 } ⊂ Ker(ϕ) ⊂ { 0 } ⇒ Ker(ϕ) = { 0 }.
R ≈ =(ϕ) ⊂ C,
≡ Arg(z)
Observação 0.6. Aqui e somente aqui, Arg(z) significa a classe de equivalência mod (2π). No
restante do texto, como de costume na teoria envolvendo números complexos, z será o conjugado
de dado número complexo z.
b z = a + ib
r = |z|
θ
0 a
1. Um argumento pode ser associado a qualquer número complexo não nulo de z. Contudo,
para z = 0 não é possı́vel dar a arg(z) qualquer definição que faça sentido.
2. Se tomarmos arg(z) no intervalo (−π, π], a relação entre um número complexo z e seu
argumento é unı́voca; ou seja, todo número complexo não nulo tem precisamente um ângulo
entre (−π, π]. Todavia, o intervalo (−π, π] nada tem de especial; também estabelecemos uma
relação unı́voca se usarmos o intervalo (0, 2 π] para definir o valor principal do argumento
de z. Para o intervalo (−π, π], o eixo real negativo é análogo a uma barreira que decidimos
não cruzar; a denominação técnica dessa barreira é corte de ramo ou linha de corte
de ramo (branch cut). Se usarmos (0, 2 π], o corte de ramo é o eixo positivo. Veremos
novamente este conceito ao tratar da função logaritmo complexa.
3. A parte “cosseno i seno” da parte da forma polar de um número complexo é, às vezes,
abreviada por cis, ou seja,
Esta notação, empregada principalmente na engenharia, não será utilizada neste texto.
1 cos θ − i sen θ
= = cos θ − i sen θ,
cos θ + i sen θ (cos θ + i sen θ)(cos θ − i sen θ)
Wellington José Corrêa 15
temos:
z1 r1 cos θ1 + i sen θ1
= ·
z2 r2 cos θ2 + i sen θ2
r1
= · (cos θ1 + i sen θ1 )(cos θ2 − i sen θ2 )
r2
r1
= · [(cos θ1 cos θ2 + sen θ1 sen θ2 ) + i( sen θ1 cos θ2 − cos θ1 sen θ2 )]
r2
r1
= · [cos(θ1 − θ2 ) + i sen (θ1 − θ2 )] .
r2
Quando todos os fatores são iguais e de módulo unitário, obtemos a fórmula De Moivre:
1 1
(cos θ + i sen θ)−n = n
=
(cos θ + i sen θ) cos nθ + i sen nθ
= cos nθ − i sen nθ = cos(−nθ) + i sen (−nθ) .
Como a igualdade de números complexos requer a igualdade das partes reais e das partes ima-
ginárias, separadamente, devemos ter
Estas equações, por sua vez, equivalem a ρn = r e nϕ = θ + 2kπ, onde k é um inteiro. Daqui
segue-se que se ρ é a raiz n-ésima positiva de r, donde
√ √
θ + 2kπ θ + 2kπ
z = a = r cos
n n
+ i sen . (5)
n n
Esta fórmula produz n raı́zes distintas, quando k se atribuem os valores de k = 0, 1, . . . , n − 1.
z0 = 1,
√
z1 = cos(π/3) + i sen (π/3) = 1/2 + i 3/2, z2 = −z1 , z3 = −1, z4 = −z1 , z5 = z1 .
1. Como consequência de (5), podemos dizer que o sistema de números complexos é fechado
sob a operação de extração de raı́zes. Isso significa que para qualquer número z ∈ C,
z 1/n também está em C. O sistema de números reais não goza de propriedade similar de
fechamento, pois se x ∈ R, x1/n não está necessariamente em R.
3. Quando m e n são inteiros positivos sem fator comum, (5) nos permite definir uma potência
racional de z, ou seja, z m/n . Pode ser mostrado que o conjunto de valores (z 1/n )m é igual
ao conjunto de valores (z 1/m )n . Este conjunto de n valores comuns é definido como z m/n .
Wellington José Corrêa 17
z2 z1
z3 z0
z4 z5
| z − z0 | = ρ, ρ > 0, (7)
Definição 0.7. Dizemos que o conjunto de pontos definidos por |z − z0 | ≤ ρ é um disco de raio
ρ e centro z0 . O conjunto de pontos definidos por |z − z0 | < ρ é dito vizinhança de z0 .
18 Análise Complexa
Definição 0.9. Se toda vizinhança de um ponto z0 contiver pelo menos um ponto que está em
S e pelo menos um ponto que não está em S, então z0 é denominado ponto de fronteira. A
coleção de pontos de fronteira de S é chamada fronteira de S. Um ponto z que não é um ponto
interior nem um ponto de fronteira de um conjunto S é chamado ponto exterior de S.
y
Exterior
Fronteira
Interior
S
1 1 1
Temos que i + , i + , . . . , i + são pontos isolados e o único ponto de acumulação do conjunto
2 3 n
é i que não pertence ao conjunto.
Definição 0.11. Se um par qualquer de pontos z1 e z2 de um conjunto S puder ser ligado por uma
linha poligonal que consiste em segmentos de retas conectados e inteiramente contidos no conjunto,
S é denominado um conjunto conexo. A figura a seguir, ilustra o conceito. Um conjunto conexo
aberto é denominado domı́nio.
z1
z2
(0, 1)
(x0, y0)
Reta de (a, 0)
números
f
z
f (z)
D I
Exemplo 0.5. Nas funções de variável complexa definidas abaixo, identifique a parte real u(x, y),
a parte imaginária v(x, y), bem como o domı́nio destas funções.
ˆ +∞
1. f (z) = z 2 4. w = z 2 − 5z + 3
7. w = e−xt dt +
0
1 +∞
2. f (z) = 3z + 2 5. w = X
z i yn
3 n=0
2
3. w = z + z + 1 6. w =
z−5
22 Análise Complexa
De fato, se y = f (x) for uma função de valor real de uma variável real x, o gráfico de f é
definido como o conjunto de todos os pontos (x, f (x)) no plano cartesiano bidimensional. Uma
definição análoga pode ser feita para funções complexas. No entanto, se w = f (z) for uma função
complexa, z e w residem no plano complexo. Por conseguinte, o conjunto de todos os pontos
(z, f (z)) reside no espaço quadridimensional (duas dimensões da entrada z e duas dimensões da
saı́da w). é Óbvio que um subconjunto do espaço quadridimensional não pode ser ilustrado com
facilidade. Em vez de usar um gráfico, representaremos uma função complexa por meio de uma
transformação complexa com o uso de duas figuras: a primeira descreve um subconjunto S
no plano complexo, e a segunda, a imagem S 0 do conjunto S sob a transformação complexa. A
figura a seguir, apresenta um exemplo de uma transformação complexa.
v
y
w = f (z) S′
S
x u
+∞ n
x
X x x2 x3
e = =1+x+ + + ...; (8)
n=0
n! 2! 3!
+∞
X (−1)n x2n x2 x4 x6
cos x = =1− + − + ...; (9)
n=0
(2n)! 2! 4! 6!
+∞
X (−1)n x2n+1 x3 x5 x7
sen x = =x− + − + ... (10)
n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7!
Vamos tomar o desenvolvimento (8) como base para definir ez com z complexo. Formalmente,
assuma que este desenvolvimento seja válido para nossos propósitos e que ez para z complexo,
então para y real, tem-se:
Ou ainda,
y2 y4 y6 y3 y5 y7
iy
e = 1− + − + . . . ... + i y − + − + ... ,
2! 4! 6! 3! 5! 7!
ou seja, em vista de (9) e (10), obtemos:
ez = ex+iy = ex eiy ,
doravante,
Propriedades:
7. ez = 1 ⇔ z = 2kπi, k inteiro.
z n nz
4. (e ) = e , n inteiro;
8. ez é periódica com perı́odo puramente
5. ez 6= 0 para todo z; imaginário 2π i.
Observação 0.11. Se z = r (cos θ + i sen θ), então eiθ = e0 (cos θ + i sen θ) = (cos θ + i sen θ),
portanto, obtemos a conhecida fórmula exponencial polar
z = reiθ . (12)
Se z = x + i y, c = c1 + i c2 , w = f (z) = x + c1 + i(y + c2 ) .
y + c2
f
y y
x x x + c1
z-plano w-plano
f
r · r1
z θ + θ1
r
r
θ θ
z-plano w-plano
3. Considere w = f (z) = (1+i)z +2−i de tal modo que domı́nio de f é formado pelo retângulo
de vértices 0, 1, 2i e 1 + 2i.
Note que
f (0) = 2 − i; f (1) = 3; f (2i) = i; f (1 + 2i) = 1 + 2i .
f
1 + 2i f (1 + 2i)
2i
f (2i)
f (1)
0 1
z-plano w-plano
f (0)
π
Veja que i = 1 ei 2 , logo, para z = r ei θ , w = i z = r ei(θ+π/2) .
5. Funções z n .
(a) w = z 2 .
Se z = r ei θ , então, w = z 2 = r2 ei 2 θ .
26 Análise Complexa
0 1
z-plano w-plano
1 −1 1
z-plano w-plano
(b) w = z n .
π π
Temos que w = rn · ei n θ . Se θ = , ou seja, z = r ei n , então, z n = rn ei π .
n
1
(c) w = .
z
1 −i θ
Recorrendo à fórmula exponencial polar z = r ei θ , temos que w = e .
r
z
r π
θ=
n
z-plano w-plano
z
r
θ
1
−θ
z-plano r w-plano
1
z
1
Figura 18: Imagem de S sob a transformação w = com domı́nio dado.
z
eiz + e−iz
cos z := (13)
2
eiz − e−iz
sen z := (14)
2i
sen z
tg z := (15)
cos z
cos z 1 1
cotg z := , sec z := , cossec z := (16)
sen z cos z sen z
Propriedades:
1. sen 2 z + cos2 z = 1 .
7. sen (z1 ± z2 ) = sen z1 cos z2 ± cos z1 sen z2 e cos(z1 ± z2 ) = cos z1 cos z2 ∓ sen z1 sen z2 .
ez − e−z ez + e−z
senh z = , cosh z = .
2 2
Propriedades:
1. cosh2 z − senh 2 z = 1 .
ln z = ln r + iθ,
onde r denota o logaritmo real do número r > 0. O logaritmo está definido para todo número
complexo z 6= 0, e se reduz ao logaritmo real quando θ = 0.
Wellington José Corrêa 29
Na realidade, a fórmula acima permite atribuir ao logaritmo vários valores distintos, depen-
dendo do argumento usado para o número z. Por causa disso, costuma-se dizer que o logaritmo é
uma função multivalente. O ponto z = 0 é chamado ponto de ramificação de ln z, justamente
porque, descreve um cı́rculo centrado na origem e volta ao ponto inicial, a função ln z retorna
aumentada de 2π i.
É claro que o valor de uma função tem de ser determinado univocamente. Para tanto, se
considerarmos
ln z = ln r + iθ, −π < θ ≤ π,
teremos uma função univalente. A escolha de um valor prefixado para o argumento na definição da
função ln é chamado ramo de ln . Então, como dizemos acima, a função ln está bem definida se, e
somente se, o ramo da função estiver no intervalo (−π π]. Tal ramo é dito ramo principal de ln z,
já que poderı́amos admitir que arg(z) possuam valores num intervalo da forma (y0 , y0 +2π], y0 ∈ R.
2. Pode-se mostrar que com o logaritmo definido acima, a função exponencial e a função loga-
ritmo são funções inversas.
Observação 0.13. Podemos dar uma definição ao número complexo z α com z, α ∈ C. Seja
z 6= 0, então definimos z α pela equação
z α = eα ln z .
1. A função exponencial real é biunı́voca, mas a função exponencial complexa não é.
30 Análise Complexa
3. No caso complexo, ez = −2 e ln(−2) fazem sentido, o que não ocorre no caso real.
5. |sen x|, | cos x| ≤ 1, ∀ x ∈ R, contudo, por exemplo, | cos(i)|, | sen (2 + i)| > 1.
6. Nas propriedades de funções trigonométricas, item 6, pelo fato que as função seno hiperbólica
real é ilimitada, temos que as funções seno e cosseno complexas são ilimitadas.
7. Diferentemente das funções hiperbólicas reais, as funções hiperbólicas complexas são periódicas
e têm infinitos zeros.
Definição 0.12. Seja z0 um ponto de acumulação do domı́nio D de uma função f . Diz-se que f
tem limite L com z tendendo a z0 se dado qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que
z + 3i
Exemplo 0.6. Recorrendo à definição, mostre que a função f (z) = é contı́nua no ponto
2
z0 = 2 − i.
Observação 0.15. A prova envolvendo épsilon–delta nos exemplos anteriores ilustra o importante
fato de que, embora a teoria de limites complexos seja baseada na definição (0.12), esta não fornece
um método conveniente para o cálculo de limites complexos. A seguir, o teorema 0.2 é uma
útil ferramenta, não apenas no quesito computacional, mas, também estabelece uma importante
conexão entre o limite complexo de f (z) = u(x, y) + i v(x, y) e os limites reais de funções reais
das duas variáveis u(x, y) e v(x, y).
Teorema 0.2. Sejam f (z) = u(x, y)+i v(x, y), z0 = x0 +i y0 e L = u0 +i v0 . Então, lim f (z) = L
z→ z0
se, e somente se,
Teorema 0.3. (Critério para a Não existência de um Limite) Se f se aproximar de dois números
complexos L1 6= L2 , ao longo de duas curvas ou percursos diferentes que passam por z0 , então
lim f (z) não existe.
z→ z0
z
Exemplo 0.9. Usando o teorema anterior, mostre que lim não existe.
z→ 0 z
Como no caso de funções reais, para funções complexas contı́nuas também vale o seguinte
critério bem conhecido:
Critério para Continuidade em um Ponto
Uma função complexa f é contı́nua em um ponto z0 se cada uma das três condições forem
atendidas:
32 Análise Complexa
(ii) f é definida em z0 e
Se uma função complexa f não for contı́nua em um ponto z0 , dizemos que f é descontı́nua
em z0 .
Exemplo 0.10. Usando o teorema (0.2) prove que se f (z) = u(x, y) + i v(x, y) e z0 = x0 + i y0 ,
a função complexa f é contı́nua no ponto z0 se, e somente se, as duas funções reais u e v forem
contı́nuas no ponto (x0 , y0 ).
Definição 0.14. Seja a função complexa f definida em uma vizinhança de um ponto z0 . A deri-
vada de f em z0 , denotada por f 0 (z0 ), é
f (z + ∆z) − f (z)
lim , (18)
∆z→ 0 ∆z
Definição 0.15. Diz-se que uma função f é analı́tica numa região D se ela é diferenciável em
cada ponto de D.
Observação 0.17. Todas as funções com que o leitor se familiarizou em seu curso de Cálculo
são analı́ticas, quando convenientemente estendidas ao plano complexo. Assim,
d d z
1. (f (z) + g(z)) = f 0 (z) + g 0 (z) 5. (e ) = ez
dz dz
d d
2. (f (z) · g(z)) = f 0 (z)g(z) + f (z)g 0 (z) 6. (cos z) = − sen z.
dz dz
g(z)f 0 (z) − f 0 (z)g(z)
d f (z) d
3. = 7. ( sen z) = cos z.
dz g(z) [g(z)]2 dz
d d 1
4. (f (g(z))) = f 0 (g(z))g 0 (z) . 8. (ln z) = .
dz dz z
Como na análise real, se uma função complexa for diferenciável em um ponto é necessariamente
contı́nua no ponto.
= f 0 (z0 ) · 0 = 0 .
De lim (f (z) − f (z0 )) = 0 concluı́mos que lim f (z) = f (z0 ), isto é, f é contı́nua em z = z0 .
z→ z0 z→ z0
1. No cálculo real, a derivada de uma função y = f (x) em um ponto x tem várias inter-
pretações. Por exemplo, f 0 (x) é a inclinação da reta tangente ao gráfico de f no ponto
(x, f (x)). Quando a inclinação é positiva, negativa ou nula, a função, por sua vez, está au-
mentando, diminuindo ou, possivelmente, tem um máximo ou mı́nimo. Além disso, f 0 (x) é
a taxa de variação instantânea de f em x. Em um contexto fı́sico, esta taxa de variação pode
ser interpretada como velocidade de um objeto móvel. Nenhuma dessas interpretações
se aplica ao cálculo complexo. Deste modo, vale a pergunta: “O que significa a deri-
vada de uma função complexa w = f (z)?” Eis a resposta: na análise complexa, o interesse
principal não é o que a derivada de uma função significa ou representa, mas sim se a
função f realmente tem derivada, fato este, há de dizer muito sobre a função analisada.
Teorema 0.5. (Uma Condição Necessária para Analiticidade) Suponhamos que f (z) = u(x, y) +
iv(x, y) seja diferenciável em um ponto z = x + i y. Então, em z as derivadas parciais de primeira
ordem de u e v devem satisfazer as Equações de Cauchy–Riemann
∂u ∂v ∂u ∂v
= e =− . (19)
∂x ∂y ∂y ∂x
Wellington José Corrêa 35
f (z + ∆z) − f (z)
f 0 (z) = lim . (20)
∆z→ 0 ∆z
Como, por hipótese, o limite (20) existe, ∆ z pode se aproximar de zero ao longo de qualquer
direção conveniente. Em particular, se fizermos ∆ z → 0 ao longo de uma reta horizontal ∆ y = 0
e ∆ z = ∆ x, podemos, então, escrever (21) como
Veja que a existência de f 0 (z) implica que cada limite em (22) existe. Esses limites são a definição
das derivadas parciais de primeira ordem de u e v em relação à x, respectivamente. Portanto,
∂u ∂v
mostramos duas coisas: que e existem no ponto z e que a derivada de f é
∂x ∂x
∂u ∂v
f 0 (z) = +i . (23)
∂x ∂x
Agora, façamos ∆ z → 0 ao longo de uma reta vertical, isto é, ∆ x = 0 e ∆ z = i ∆ y, (21) fica
escrita como
∂u ∂v
Neste caso, (24) mostra que e existem em z e
∂y ∂y
∂u ∂v
f 0 (z) = −i + . (25)
∂y ∂y
Igualando as partes real e imaginária de (23) e (25), obtemos o par de equações em (19).
Exemplo 0.13. Mostre que a função complexa f (z) = 2x2 + y + i (y 2 − x) não é analı́tica em
qualquer ponto.
36 Análise Complexa
Observação 0.19. A análise acima mostra que as equações de Cauchy–Riemann são uma condião
necessária para a existência da derivada de uma função f . Mas, elas não são suficientes para
garantir a existência dessa derivada. Como exemplo disto, consideremos a função
p
f (z) = | x y |,
Teorema 0.6. (Condições Suficientes para Diferenciabilidade) Se as funções reais u(x, y) e v(x, y)
forem contı́nuas e tiverem derivadas parciais de primeira ordem contı́nuas em algum domı́nio D,
e s u e v satisfizerem as equações de Cauchy–Riemann (19) em todos os pontos de D, então, a
função complexa f (z) = u(x, y) + i v(x, y) é analı́tica em D.
1 (γ, δ)
onde → 0, quando γ, δ → 0.
|γ| + |δ|
Da mesma forma,
∂ v(α, β) ∂ v(α, β)
v(α + γ, β + δ) − v(α, β) = · γ+ · δ + 2 (γ, δ), (27)
∂x ∂y
2 (γ, δ)
onde → 0, quando γ, δ → 0.
|γ| + |δ|
Pelo fato que f (a) = u(α, β) + i v(α, β), temos:
∂f ∂u ∂v
= +i (28)
∂x ∂x ∂x
∂f ∂u ∂v
= +i (29)
∂y ∂y ∂y
veja ao multiplicar (27) por i e somando com (26), iremos obter:
∂ f (a) ∂ f (a)
f (a + s) − f (a) = · γ+ · δ + (s), (30)
∂x ∂y
(s)
onde → 0 quando s → 0.
|s|
Mas, com as equações de Cauchy–Riemann, a notação (29) fica
∂f ∂u ∂v
= +i
∂y ∂y ∂y
∂v ∂u
= − +i
∂x
∂x
∂u ∂v
= i +i (31)
∂x ∂x
∂f
= i .
∂x
Deste modo, dividindo (30) por s e usando (32), temos que
f (a + s) − f (a) 1 ∂ f (a) 1 ∂ f (a) (s)
= · γ+ · δ+
s s ∂x s ∂y s
=s
z }| {
γ + iδ ∂ f (a) (s)
= + .
s ∂x s
Enfim, fazendo s → 0 na última expressão, resulta que
f (a + s) − f (a)
f 0 (a) = lim
s→ 0 s
∂ f (a) (s)
= + lim
∂x | {z s }
s→ 0
=0
∂ f (a)
=
∂x
∂u ∂v
= (α, β) + i (α, β)
∂x ∂x
38 Análise Complexa
∂u ∂v
isto é, f 0 (a) existe (já que
(α, β) e (α, β) existem) para todo a ∈ D, portanto, f é analı́tica
∂x ∂x
em D, pela arbitrariedade de a.
Exemplo 0.14. Mostre que f (z) = ez é uma função inteira e prove que f 0 (z) = ez .
p
Exercı́cio 0.1. Prove que em coordenadas polares, x = r cos θ, y = r sen , θ onde r = x2 + y 2 , θ =
tg −1 (y/x), z = x + i y as condições de Cauchy–Riemann são
∂u 1 ∂v 1 ∂u 1 ∂v
= e = .
∂r r ∂θ r ∂θ r ∂r
d 1
Exemplo 0.15. Mostre que Ln z = ln r + i θ é uma função analı́tica e Ln z = .
dz z
Definição 0.16. Uma curva, um contorno ou um caminho é uma função contı́nua γ : [a, b] →
R × R ou C. O caminho é diferenciável ou suave quando γ é uma função diferenciável. Dizemos
que a curva é fechada se γ(a) = γ(b).
1
t, 0 ≤ t ≤
γ(t) = 2
1 − t, 1
≤ t ≤1
2
1
No R2 podemos escrever a curva como γ(t) = (x(t), y(t)) onde x(t) = t, y(t) = t, 0 ≤ t ≤ e
2
1
x(t) = t, y(t) = 1 − t, ≤ t ≤ 1.
2
Wellington José Corrêa 39
1 1
Já em C, podemos representar a curva como γ(t) = t + i t, 0 ≤ t ≤ e γ(t) = t + (1 − t) i, ≤
2 2
t ≤ 1.
Veja que a curva é contı́nua, mas não é diferenciável em t = 1/2. Porém, a curva é dita
diferencı́avel (suave por partes), pois ela é considerada como a união ou soma de duas curvas
suaves, a saber, a curva t e 1 − t.
Exemplo 0.17. Uma curva fechada, simples é dita curva de Jordan se toda curva fechada
cujos pontos, a exceção das extremidades sejam todos simples.
não - simples
Exemplo 0.18. Seja f uma função contı́nua e definida num conjunto aberto A ⊂ C e que
γ : [a, b] → C é uma curva suave por partes tal que γ([a, b]) ⊂ A. Definamos a integral de f
sobre γ como o limite da soma de Riemann:
ˆ n−1 ˆ
X ai+1
f (z) dz = lim f (γ(t)) · γ 0 (t) dt, (32)
γ n→ ∞ ai
i=1
onde a = a0 < a1 < . . . < an = b é a divisão do intervalo [a, b] nos subintervalos (ai , ai+1 ).
Quando o limite existe, dizemos que f é integrável.
Tal integral pode ser ser definida e representada em termos das integrais reais, ou seja, fazendo-
se
obtemos
˛ ˛ ˛
f (z) dz = (u(x, y)dx − v(x, y)dy) + i (u(x, y)dy + v(x, y)dx),
C C C
desde que existam as integrais reais do lado direito da equação acima.
O caminho C pode ser aberto ou fechado, mas devemos especificar a direção de integração,
pois uma mudança de direção resulta em mudança no sinal da integral. As integrais complexas
são, portanto, redutı́veis a integrais reais curvilı́neas e possuem as as análogas propriedades como
no caso real.
Teorema 0.7. (Teorema Integral de Cauchy) Seja f (z) uma função analı́tica num domı́nio
simplesmente conexo D. Se C é um caminho fechado simples de D, então
ˆ
f (z) dz = 0 .
C
Wellington José Corrêa 41
Teorema 0.8. Se f (z) é analı́tica em um domı́nio simplesmente conexo D e, se F (z) for uma
integral indefinida de f (z), ou seja, F 0 (z) = f (z), então para todos os caminhos situados em D
que ligam dois pontos a e b em D, têm-se que
ˆ b
f (z) dz = F (b) − F (a) .
a
Este teorema permite o cálculo das integrais de linha de funções complexas através de uma
integral indefinida. Com isto, podemos chegar aos seguintes resultados, donde C é uma constante
arbitrária:
ˆ ˆ
z n+1
1. n
z dz = + C, n 6= −1 5. sen z dz = − cos z + C
n+1
ˆ
1
2. dz = ln z + C ˆ
z
ˆ 6. cos z dz = sen z + C
z z
3. e dz = e + C
ˆ ˆ
z az
4. a dz = +C 7. sec2 z dz = tg z + C
ln a
Teorema 0.9. (Fórmula Integral de Cauchy) Seja f (z) uma função analı́tica no interior e
sobre um caminho fechado C. Se z0 é um ponto qualquer no interior de C, então:
ˆ
1 f (ζ)
f (z0 ) = dζ, (33)
2 π i C ζ − z0
onde a integração é efetuada no sentido positivo ao longo de C.
A fórmula integral de Cauchy, mostra que o valor de uma função analı́tica numa região é
determinado em toda a região por seus valores na fronteira. A demonstração deste teorema é
42 Análise Complexa
omitida. Devemos observar também que a fórmula integral de Cauchy nos permite calcular uma
integral de linha desde que a função a ser integrada tenha uma única singularidade no interior do
caminho C.
Teorema 0.10. Uma função analı́tica numa região D possui derivadas de todas as ordens, as
quais, por sua vez, são também analı́ticas em D e
ˆ
(n) n! f (ζ)
f (z) = dζ,
2πi C (ζ − z)n+1
onde n é um inteiro positivo qualquer.
Exemplo 0.20. Considere o polinômio p(x) = x2 + 1. É notório que que p não possui raiz real.
No entanto, ao considerarmos p(z) = z 2 + 1, donde os coeficientes são complexos, o Teorema
Fundamental da Álgebra nos diz que este polinômio possui ao menos uma raiz. Como se pode ver,
tal polinômio possui duas raı́zes, a saber i e −i.