Analisecomplexa

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Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Campus Campo Mourão

ANÁLISE COMPLEXA

Pós Graduação em Matemática / Cálculo Diferencial e Integral III

WELLINGTON JOSÉ CORRÊA

Campo Mourão, Paraná

Brasil.
2
Sumário

0.1 Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4


0.2 Propriedades Algébricas de C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
0.3 Representação Polar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
0.4 Raı́zes n-Ésimas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
0.5 Conjuntos de Pontos no Plano Complexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
0.6 Funções Complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
0.7 A Função Exponencial Complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
0.8 Um Repasso às Transformações Complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
0.9 Funções Trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
0.10 A Função Logaritmo Natural de z . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
0.11 Limite e Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
0.12 Função Analı́tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
0.13 As Equações de Cauchy-Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
0.14 Integração Complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
0.15 Teorema Integral de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

3
4 Análise Complexa

0.1 Números Complexos


Desde que algumas equações algébricas, tais como x2 + 1 = 0, não tem solução em R, os pri-
meiros matemáticos foram obrigados a considerar soluções puramente formais, envolvendo raı́zes
quadradas dos números negativos. Assim, Heron (Alexandria, 100 a. C.) obteve a solução de
√ √ √
−63, Girolano Cárdan (1545) escreveu 40 = (5 + −15) · (5 − −15). Esses números foram
considerados sem utilidade e o termo imaginário foi aplicado a eles.
Se i é definido solução da equação x2 + 1 = 0, os números da forma a + i b, a, b ∈ R são
chamados Números Complexos. O desenvolvimento moderno dos números complexos começou
com a descoberta por meio da interpretação geométrica deles. Iniciada por John Wallis (1685),
formalizada por Caspar Wessel (1799) e estabelecida e reconhecida a partir de 1806 com Jean
Robert Argant e, finalmente, formalmente estudada por Carl Friedrich Gauss (1831).
Certamente, o seu primeiro contato com os números complexos foi por meio da obtenção das
raı́zes de uma equação do 2o¯ grau a2 + bx + c = 0 dada pela fórmula

−b ± b2 − 4ac
x= .
2a

Quando o discriminante for negativo, sabemos que a fórmula acima não leva a nenhuma raiz real.
No entanto, os números complexos entraram na Matemática pela equação do 3o¯ grau e não do 2o¯ .

Definição 0.1. Definimos o conjunto C (chamado de conjunto dos números complexos) como
sendo o conjunto dos pares ordenados (a, b) com a, b ∈ R com as operações:

(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)

(a, b) · (c, d) = (ac − bd, ad + bc)

As seguintes identificações, serão de grande valia no nosso estudo. Estas serão justificadas no
teorema (0.1).
Identificações: Denotamos

(a, 0) = a (0, 1) = i . (1)

Observação 0.1. Temos que

1. Dado z ∈ C, z = (a, b), chamamos a = <(z) como parte real de z e b = =(z) de parte
imaginária de z.
Wellington José Corrêa 5

2. O par (0, 0) é o elemento nulo para a operação soma.

3. O par (1, 0) é o elemento nulo para a operação multiplicação.

4. Temos que (a, b) = (c, d) ⇔ a = c, b = d.

Munidos dos conceitos apresentados acima, podemos obter o plano complexo, que é o conjunto
de representações de todos os números complexos z = x + iy pelos pontos P = (x, y) do plano.
A representação dos números complexos por pontos do plano é muito útil e de uso frequente.
Por meio dela, o número complexo z = x + iy é identificado com o ponto (x, y), ou com o vetor
Oz de componentes x e y.
6 Análise Complexa

y z = x + iy

0 x

Figura 1: Representação dos números complexos

Proposição 0.1. Dados os números complexos z1 , z2 , z3 ∈ C, valem as propriedades:

1. Associativa: (z1 + z2 ) + z3 = z1 + (z2 + z3 ) .

2. Comutativa: z1 + z2 = z2 + z1 .

3. Distributiva: z1 · (z2 + z3 ) = z1 z2 + z1 z3 .

Observação 0.2. Usando a 1¯a definição e as identificações, temos:

1. (0, 1) · (0, 1) = (−1, 0) = −1, ou i · i = −1, o que nos mostra que i2 = −1.

2. Adição
(a + ib) + (c + id) = (a + c) + i(b + d) .

3. Subtração
(a + ib) − (c + id) = (a − c) + i(b − d) .

4. Multiplicação
(a + ib) · (c + id) = (ac − bd) + i(ad + bc) .

5. Divisão
a + ib a + ib c − id
= ·
c + id c + id c − id
ac + bd + i(bc − ad)
=
c2 + d2
ac + bd bc − ad
= 2 + i .
c + d2 c2 + d 2
Wellington José Corrêa 7

Exemplo 0.1. Sejam z1 = 1−i e z2 = 3+4 i . Calcule z1 +z2 , z1 −z2 , z1 · z2 , z1 /z2 e represente-os
geometricamente.

O número complexo c − id é chamado conjugado do número complexo c + id. De modo geral,


dado z = a + ib, denotamos por z = a − ib como sendo o conjugado de z.

Observação 0.3. (Comparação com Análise Real)

1. Várias das propriedades do sistema de números reais R permanecem válidas no sistema de


números complexos C, mas há algumas diferenças notáveis.

Por exemplo, o conceito de ordem do sistema de números reais não se aplica ao sistema
de números complexos. Em outras palavras, não podemos comparar dois números complexos
z1 = a1 + i b1 , b1 6= 0 e z2 = a2 + i b2 , b2 6= 0, por meio de desigualdades. Asserções como
z1 < z2 , ou z2 ≥ z1 não têm qualquer significado em C.

2. Algumas coisas que sabemos ser impossı́veis na análise real, como ex = −2 e sen x = 5,
quando x é uma variável real, são perfeitamente corretas e corriqueiras na análise complexa,
quando x é interpretado como uma variável complexa, como veremos posteriormente.

Definição 0.2. (Valor Absoluto) Seja z = a + ib um número complexo. Definimos |z| = a2 + b 2
como sendo o valor absoluto de z.

Propriedades de conjugação e valor absoluto.

1. z1 ± z2 = z1 ± z2 . 6. z + z = 2 <(z) .

2. z1 · z2 = z1 · z2 .
  7. z − z = 2 =(z)
z1 z1
3. = .
z2 z2
8. |<(z)| ≤ |z| .
4. Se z = <(z) ⇒ z = z .

5. Se z = =(z) ⇒ z = −z . 9. |=(z)| ≤ |z| .

p
10. Se z1 = a1 + b1 i e z2 = a2 + b2 i então |z1 − z2 | = (a1 − a2 )2 + (b1 − b2 )2 é a distância entre
z1 e z2 .
8 Análise Complexa

11. z · z = |z|2 . z1 |z1 |


14. = , z2 6= 0.
z2 |z2 |
12. |z| = |z|. 15. |z1 + z2 | ≤ |z1 | + |z2 |

13. |z1 · z2 | = |z1 | · |z2 | 16. |z1 − z2 | ≥ | |z1 | − |z2 | |

0.2 Propriedades Algébricas de C


Iniciemos esta subseção com a seguinte proposição.

Proposição 0.2. O conjunto dos números complexos C é um corpo.

Demonstração: Basta usar a proposição (0.1) e a observação (0.2) para verificar a veracidade
das propriedades de corpo.

Corolário 0.1. Dados z1 , z2 ∈ C, temos que z1 · z2 = 0 se, e somente se, z1 = 0 ou z2 = 0.

Demonstração: Dados zi = (ai , bi ), i = 1, 2 veja que

z1 · z2 = (a1 a2 − b1 b2 a1 , b2 + b1 a2 ) .

Se z1 · z2 = 0, então,

 a1 a2 − b 1 b 2 a1 = 0
a b + b a = 0
1 2 1 2

 a1 a2 = b 1 b 2 a1
⇒ (2)
 a b = −b a
1 2 1 2

Multiplicando a primeira equação de (2) por b2 temos:

a1 b2 a2 = b1 b22
|{z}
=−b1 b2

−b1 a22 = b1 b22

⇒ b1 (a22 + b22 ) = 0
| {z }
=| z2 |

Como a última igualdade envolve apenas números reais, a mesma nos diz que b1 = 0 ou | z2 | = 0,
isto é, z2 = 0. Se b1 = 0, então por qualquer equação de (2) temos que a1 = 0, e assim, z1 = 0.
Portanto, z1 · z2 = 0 se, e somente se, z1 = 0 ou z2 = 0.
Wellington José Corrêa 9

Corolário 0.2. (Lei do Cancelamento)

Dados z1 , z2 , z3 ∈ C com z1 6= 0 e z1 · z2 = z2 · z3 então, z2 = z3 .

Demonstração: De fato, se z1 · z2 = z2 · z3 , então,

z1 · z2 − z2 · z3 = 0

⇒ z1 · (z2 − z3 ) = 0.

Assim, em virtude que z1 6= 0, pelo corolário precedente resulta que z2 − z3 = 0, ou seja, z2 = z3 .

Observação 0.4. Definindo seguinte multiplicação por escalar

·:R × C → C

(k, z) 7→ k · z

não é difı́cil verificar que (C, + , · ) é um R– espaço vetorial.

Proposição 0.3. O conjunto {1, i} é uma base de C como R– espaço vetorial.

Demonstração: Apenas como registro, o conjunto {1} é uma base de C como C– espaço vetorial.
Agora, vamos a prova da proposição. Com efeito, note que {1, i} gera C, pois, dado a + i b ∈ C,

a + ib = a · 1 + b · i.

E ainda, dados α, β ∈ R tivermos α · 1 + β i = 0, então, pelas identificações mencionadas


anteriormente,

α · 1+βi = 0

α · (1, 0) + β · (0, 1) = (0, 0)

(α, β) = (0, 0)

⇒ α = β = 0,

logo, o conjunto {1, i} é l. i. e, portanto, base de C como R– espaço vetorial.


10 Análise Complexa

A seguir, estudaremos produto interno em C.

Definição 0.3. Considere V um espaço vetorial real, o produto interno é uma função h , i :
V × V → R que satisfaz:

1. || v ||2 = hv, vi ≥ 0 e hv, vi = 0 se, e somente se, v = 0, para todo v ∈ V.

2. hα v, vi = α hv, vi, ∀ α ∈ R; ∀ v ∈ V.

3. hv1 + v2 , v3 i = hv1 , v3 i + hv2 , v3 i, ∀ v1 , v2 , v3 ∈ V.

4. hv1 , v2 i = hv2 , v1 i, ∀ v1 , v2 ∈ V.

Observação 0.5. Se, considerarmos agora v ∈ C, onde V é um espaço vetorial sobre C, de-
verı́amos ter hv, vi ≥ 0 para todo v ∈ V, pela propriedade 1 da definição anterior. Mas, se
v = i w, note que

hi w, i wi = i hw, iwi (propriedade 2)

= ihi w, wi (propriedade 4)

i2 hw, wi ≤ 0 (propriedade 2)
= |{z}
| {z }
=−1 ≥0

o que é uma contradição.

Para driblar tal problema, precisamos de uma nova definição de produto interno quando se
considera o corpo dos complexos.

Definição 0.4. Seja V um espaço vetorial complexo, o produto interno é uma função h , i :
V × V → C que satisfaz:

1. || v ||2 = hv, vi ≥ 0 e hv, vi = 0 se, e somente se, v = 0, para todo v ∈ V.

2. hα v, vi = α hv, vi, ∀ α ∈ C; ∀ v ∈ V.

3. hv1 + v2 , v3 i = hv1 , v3 i + hv2 , v3 i, ∀ v1 , v2 , v3 ∈ V.

4. hv1 , v2 i = hv2 , v1 i, ∀ v1 , v2 ∈ V.

Definição 0.5. Seja V um espaço vetorial complexo, o produto interno é uma função h , i :
V × V → C que satisfaz:
Wellington José Corrêa 11

1. || v ||2 = hv, vi ≥ 0 e hv, vi = 0 se, e somente se, v = 0, para todo v ∈ V.

2. hα v, vi = α hv, vi, ∀ α ∈ C; ∀ v ∈ V.

3. hv1 + v2 , v3 i = hv1 , v3 i + hv2 , v3 i, ∀ v1 , v2 , v3 ∈ V.

4. hv1 , v2 i = hv2 , v1 i, ∀ v1 , v2 ∈ V.

Terminaremos esta subseção, demonstrando que C é uma extensão de R, isto é, C contém
um subconjunto isomorfo a R. Este resultado, há de nos garantir a boa colocação de nossas
identificações dadas em (1).

Teorema 0.1. C é uma extensão de R.

Demonstração: Com efeito, considere a aplicação

ϕ : R → =(ϕ)

a 7→ ϕ(a) = (a, 0)

Note que

(i) Para todo a, b ∈ R e todo α ∈ R, ϕ é um homomorfismo:

ϕ(a + b) = (a + b, 0) = (a, 0) + (b, 0) = ϕ(a) + ϕ(b).

ϕ(α · a) = (α · a, 0) = (α · a, α · 0) = α · (a, 0) = α ϕ(a).

(ii) ϕ é sobrejetora.

Pela própria construção de ϕ, obtemos o desejado.

(iii) ϕ é injetora.

De fato, note ϕ é linear e Ker(ϕ) = {a ∈ R, ϕ(a) = (0, 0)}.

Seja x ∈ Ker(ϕ). Então, ϕ(x) = (0, 0), ou ainda,

(x, 0) = ϕ(x) = (0, 0) ⇔ x = 0,

logo,
{ 0 } ⊂ Ker(ϕ) ⊂ { 0 } ⇒ Ker(ϕ) = { 0 }.

Deste modo, por um resultado clássico de Álgebra Linear, ϕ é injetora.


12 Análise Complexa

Portanto, ϕ é um isomorfismo e assim,

R ≈ =(ϕ) ⊂ C,

o que prova o desejado.

0.3 Representação Polar


Considerando a representação geométrica de um número complexo z 6= 0, chama-se argumento
de z o ângulo θ formado pelo eixo Ox e o vetor Oz, no qual denotaremos por arg(z). Como em
trigonometria, os ângulos são aqui orientados: consideramos positivo o sentido de percurso oposto
ao dos ponteiros do relógio.
Nesta definição, o argumento não é único e só fica determinado a menos de múltiplos inteiros
de 2π, isto é, θ pode ser trocado por θ + 2kπ, k ∈ Z.
Deste modo, temos que o

arg(z) ≡ Arg(z) (mod 2π)

≡ Arg(z)

onde Arg(z) = θ quando 0 ≤ θ < 2 π.

Observação 0.6. Aqui e somente aqui, Arg(z) significa a classe de equivalência mod (2π). No
restante do texto, como de costume na teoria envolvendo números complexos, z será o conjugado
de dado número complexo z.

A menos que se diga o contrário, consideraremos o argumento de um número complexo como


θ = Arg(z), 0 ≤ θ ≤ 2 π.
Como a = |z| cos θ e b = |z| sen θ, temos a seguinte representação polar ou representação
trigonométrica:

z = r (cos θ + i sen θ), r = |z|; (3)

de modo que r e θ são designados as coordenadas polares de z.

A seguir, um resultado interessante:


Wellington José Corrêa 13

b z = a + ib

r = |z|

θ
0 a

Figura 2: Forma Polar do número complexo z = a + b i

Proposição 0.4. Sejam z, w dois números complexos. Então,


z
arg(z · w) = (arg(z) + arg(w)) (mod 2 π) e arg = (arg(z) − arg(w)) (mod 2 π) . (4)
w
14 Análise Complexa

Observação 0.7. (Comparação com Análise Real)

1. Um argumento pode ser associado a qualquer número complexo não nulo de z. Contudo,
para z = 0 não é possı́vel dar a arg(z) qualquer definição que faça sentido.

2. Se tomarmos arg(z) no intervalo (−π, π], a relação entre um número complexo z e seu
argumento é unı́voca; ou seja, todo número complexo não nulo tem precisamente um ângulo
entre (−π, π]. Todavia, o intervalo (−π, π] nada tem de especial; também estabelecemos uma
relação unı́voca se usarmos o intervalo (0, 2 π] para definir o valor principal do argumento
de z. Para o intervalo (−π, π], o eixo real negativo é análogo a uma barreira que decidimos
não cruzar; a denominação técnica dessa barreira é corte de ramo ou linha de corte
de ramo (branch cut). Se usarmos (0, 2 π], o corte de ramo é o eixo positivo. Veremos
novamente este conceito ao tratar da função logaritmo complexa.

3. A parte “cosseno i seno” da parte da forma polar de um número complexo é, às vezes,
abreviada por cis, ou seja,

z = r (cos θ + i sen θ) = r cisθ .

Esta notação, empregada principalmente na engenharia, não será utilizada neste texto.

Fórmulas do Produto e do quociente


De posse da representação polar, vamos deduzir uma regra conveniente para a multiplicação.
Sejam
z1 = r1 (cos θ1 + i sen θ1 ) e z2 = r2 (cos θ2 + i sen θ2 )

dois números complexos quaisquer. Então

z1 z2 = r1 r2 (cos θ1 + i sen θ1 ) (cos θ2 + i sen θ2 )

= r1 r2 [(cos θ1 cos θ2 − sen θ1 sen θ2 ) + i( sen θ1 cos θ2 + cos θ1 sen θ2 )]

= r1 r2 [cos(θ1 + θ2 ) + i sen (θ1 + θ2 )] .

Com isto, note que Arg(z1 · z2 ) = θ1 + θ2 = Arg(z1 ) + Arg(z2 ).


Vamos deduzir um resultado análogo para a divisão, no entanto, note que

1 cos θ − i sen θ
= = cos θ − i sen θ,
cos θ + i sen θ (cos θ + i sen θ)(cos θ − i sen θ)
Wellington José Corrêa 15

temos:

z1 r1 cos θ1 + i sen θ1
= ·
z2 r2 cos θ2 + i sen θ2
r1
= · (cos θ1 + i sen θ1 )(cos θ2 − i sen θ2 )
r2
r1
= · [(cos θ1 cos θ2 + sen θ1 sen θ2 ) + i( sen θ1 cos θ2 − cos θ1 sen θ2 )]
r2
r1
= · [cos(θ1 − θ2 ) + i sen (θ1 − θ2 )] .
r2

Analogamente, Arg(z1 / z2 ) = θ1 − θ2 = Arg(z1 ) − Arg(z2 ).


Fórmula De Moivre
A fórmula da multiplicação estende-se para um número qualquer de fatores, isto é, de demons-
tração simples, podemos obter

z1 z2 . . . zn = r1 r2 . . . rn [cos(θ1 + θ2 + . . . θn ) + i sen (θ1 + θ2 + . . . θn )].

Quando todos os fatores são iguais e de módulo unitário, obtemos a fórmula De Moivre:

(cos θ + i sen θ)n = cos nθ + i sen nθ .

Esta fórmula também é válida também para expoentes negativos. De fato,

1 1
(cos θ + i sen θ)−n = n
=
(cos θ + i sen θ) cos nθ + i sen nθ
= cos nθ − i sen nθ = cos(−nθ) + i sen (−nθ) .

0.4 Raı́zes n-Ésimas


Diz-se que um número z é raiz n-ésima de um dado número complexo a, se z n = a. Como veremos
logo a seguir, um número complexo não-nulo possui n raı́zes distintas. Para isso, consideremos o
número dado a 6= 0 em sua forma polar, bem como, a raiz que desejamos encontrar na sua forma
polar, ou seja,

a = r(cos θ + i sen θ) e z = ρ(cos ϕ + i sen ϕ).

Utilizando com deleite a fórmula De Moivre, a equação z n = a assume a seguinte forma:

ρn (cos nϕ + i sen nϕ) = r(cos θ + i sen θ) .


16 Análise Complexa

Como a igualdade de números complexos requer a igualdade das partes reais e das partes ima-
ginárias, separadamente, devemos ter

ρn cos nϕ = r cos θ e ρn sen nϕ = r sen θ .

Estas equações, por sua vez, equivalem a ρn = r e nϕ = θ + 2kπ, onde k é um inteiro. Daqui
segue-se que se ρ é a raiz n-ésima positiva de r, donde
√ √
    
θ + 2kπ θ + 2kπ
z = a = r cos
n n
+ i sen . (5)
n n
Esta fórmula produz n raı́zes distintas, quando k se atribuem os valores de k = 0, 1, . . . , n − 1.

No caso particular quando a = 1, temos que θ = 0 e a fórmula (5) se reduz a


   
2kπ 2kπ
z = cos + i sen (6)
n n
que são chamadas raı́zes n-ésimas da unidade.

Exemplo 0.2. Calcule as raı́zes de z 6 = 1 e esboce tais raı́zes no plano complexo.

Solução: Note que recorrendo à (5) temos que

z0 = 1,

z1 = cos(π/3) + i sen (π/3) = 1/2 + i 3/2, z2 = −z1 , z3 = −1, z4 = −z1 , z5 = z1 .

A figura (3) ilustra as raı́zes para a equação z 6 = 1:

Observação 0.8. (Comparação com Análise Real)

1. Como consequência de (5), podemos dizer que o sistema de números complexos é fechado
sob a operação de extração de raı́zes. Isso significa que para qualquer número z ∈ C,
z 1/n também está em C. O sistema de números reais não goza de propriedade similar de
fechamento, pois se x ∈ R, x1/n não está necessariamente em R.

2. Do ponto de vista geométrico, as n raı́zes n-ésimas de um número complexo z também podem


ser interpretadas como os vértices de um polı́gono regular com n lados que está inscrito em

uma circunferência de raio n r e centro na origem. A plausibilidade deste fato pode ser
comprovada por uma reinspeção da figura anterior.

3. Quando m e n são inteiros positivos sem fator comum, (5) nos permite definir uma potência
racional de z, ou seja, z m/n . Pode ser mostrado que o conjunto de valores (z 1/n )m é igual
ao conjunto de valores (z 1/m )n . Este conjunto de n valores comuns é definido como z m/n .
Wellington José Corrêa 17

z2 z1

z3 z0

z4 z5

Figura 3: Raı́zes da equação z 6 + 1 = 0

0.5 Conjuntos de Pontos no Plano Complexo


p
Definição 0.6. Consideremos z0 = x0 + i y0 . Como |z − z0 | = (x − x0 )2 + (y − y0 )2 representa
a distância entre os pontos z = x + iy e z0 = x0 + i y0 , os pontos z = x + iy que satisfazem a
equação

| z − z0 | = ρ, ρ > 0, (7)

estão localizados na circunferência de raio ρ, centrada em z0 , como ilustrado na figura a seguir.

Figura 4: Circunferência de raio ρ.

Definição 0.7. Dizemos que o conjunto de pontos definidos por |z − z0 | ≤ ρ é um disco de raio
ρ e centro z0 . O conjunto de pontos definidos por |z − z0 | < ρ é dito vizinhança de z0 .
18 Análise Complexa

Definição 0.8. Um ponto z0 é denominado ponto interior de um conjunto S do plano complexo


se existir alguma vizinhança de z0 que esteja inteiramente contida em S. Se todo ponto z de um
conjunto S for um ponto interior, então S é denominado conjunto aberto.

Figura 5: Conjunto aberto

Definição 0.9. Se toda vizinhança de um ponto z0 contiver pelo menos um ponto que está em
S e pelo menos um ponto que não está em S, então z0 é denominado ponto de fronteira. A
coleção de pontos de fronteira de S é chamada fronteira de S. Um ponto z que não é um ponto
interior nem um ponto de fronteira de um conjunto S é chamado ponto exterior de S.

y
Exterior

Fronteira

Interior
S

Figura 6: Interior, fronteira e exterior de S.

Definição 0.10. Dizemos que z0 é um ponto de acumulação do conjunto S se qualquer vizi-


nhança de z0 contém infinitos pontos de C. Caso contrário, z0 é dito isolado.

Exemplo 0.3. Considere o conjunto


 
1 1 1
i + ,i + , ... ,i + .
2 3 n
Wellington José Corrêa 19

1 1 1
Temos que i + , i + , . . . , i + são pontos isolados e o único ponto de acumulação do conjunto
2 3 n
é i que não pertence ao conjunto.

Definição 0.11. Se um par qualquer de pontos z1 e z2 de um conjunto S puder ser ligado por uma
linha poligonal que consiste em segmentos de retas conectados e inteiramente contidos no conjunto,
S é denominado um conjunto conexo. A figura a seguir, ilustra o conceito. Um conjunto conexo
aberto é denominado domı́nio.

z1
z2

Figura 7: Conjunto conexo

Observação 0.9. (Comparação com Análise Real)


No estudo de matemática é provável que o aluno tenha se deparado com o conceito de infinito.
Por exemplo, em um curso de cálculo o aluno deve ter estudado limites no infinito, quando
o comportamento de funções é examinado à medida que x aumenta ou diminui indefinidamente.
Como há exatamente duas direções em uma reta de números, é conveniente representar as noções
de “aumentar” indefinidamente e “diminuir” indefinidamente de forma simbólica por x → +∞
e x → −∞, respectivamente. No entanto, podemos nos sair muito bem sem a designação ± ∞
usando um “ponto ideal” denominado ponto infinito e denotado simplesmente ∞. Para isso,
associamos qualquer número real a a um ponto (x0 , y0 ) na circunferência unitária x2 + y 2 = 1 da
seguinte forma: traçamos uma reta do ponto (a, 0), no eixo x ou reta horizontal de números, ao
ponto (0, 1), na circunferência. O ponto (x0 , y0 ) na circunferência é a intersecção da linha reta
e da circunferência. A figura (8) deixa claro que quanto mais distante o ponto (a, 0) estiver da
origem, mais próximo (x0 , y0 ) se torna de (0, 1). Para completar a correspondência com todos os
pontos na circunferência , (0, 1) é associado ao ∞. O conjunto que consiste nos números reais R
é dito sistema de números reais estendido.
Em nosso estudo, o análogo à reta de números é o plano complexo. Recordemos que como
C não é ordenado, a noção de “aumento” ou “diminuição” de z não faz sentido. Contudo,
20 Análise Complexa

sabemos que se aumentarmos ou diminuirmos o módulo |z| de um número complexo z o número


se distancia da origem. Se permitirmos que z cresça indefinidamente, digamos ao longo do eixo
real ao do eixo imaginário, não precisaremos distinguir “direções” ao longo desses eixos, como
z → +∞, z → −∞, z → +i ∞ ou z → −i ∞. Em análise complexa, usamos apenas a noção de
∞, pois podemos estender o sistemas de números complexos C de forma análoga à que acabamos
de descrever para o sistema de números reais R. Todavia, agora associamos um número complexo
a um ponto na superfı́cie de uma esfera de raio unitário, denominada esfera de Riemann. Ao
desenhar uma reta do número z = a + ib no plano complexo, representado por A = (a, b, 0), ao
polo norte N = (0, 0, 1) da esfera x2 + y 2 + u2 = 1, determinamos um único ponto A0 = (x0 , y0 , u0 )
na superfı́cie da esfera unitária. Como mostra a figura (9), um número complexo de módulo muito
grande está distante de S = (0, 0, 0) e, por conseguinte, o ponto A0 está próximo de N . Assim,
cada número complexo é associado a um único ponto na superfı́cie da esfera. Como o ponto N não
está associado a qualquer número z no plano, o associamos a ∞. O resultante sistema consiste
em C e no “ponto ideal” é denominado sistema de números complexos estendido.
Esta forma de associar ou mapear os números complexos a uma esfera – com polo norte em
N é denominada projeção estereográfica.
Para um número finito z, temos z + ∞ = ∞ + z = ∞ e, para z 6= 0, z · ∞ = ∞ · z = ∞.
Adicionalmente, para z 6=, 0, escrevemos z/0 = ∞ e, para z 6= ∞, z/∞ = 0. Expressões como
∞ − ∞, ∞/∞, ∞0 e 1∞ não podem ser definidas se são denominadas indeterminações ou formas
indeterminadas.

(0, 1)

(x0, y0)

Reta de (a, 0)
números

Figura 8: Cı́rculo unitário Figura 9: Esfera unitária


Wellington José Corrêa 21

Exemplo 0.4. Esboce os conjuntos de pontos dados.

1. |z| = 1 4. |z − 2| = 1 7. <(z) < −3

2. |z| < 1 5. |z + 1 + 3i| = 4 8. =(z) ≥ 1

3. |z| > 1 6. z = z0 + (z1 − z0 )t, t ∈ R 9. | z − 2 | = | z − 3i |

0.6 Funções Complexas


Vamos considerar funções definidas em conjuntos complexos, assumindo valores complexos. Mais
precisamente, seja D um conjunto de números complexos e seja f a lei que faz corresponder, a
cada elemento z do conjunto D, um único número complexo, que denotaremos por f (z). Nestas
condições, diz-se que f é uma função com domı́nio D. O conjunto I dos valores w = f (z),
correspondentes a todos valores de z em D, é chamado a imagem de D pela função f conforme
ilustra figura a seguir: A cada função w = f (z) de uma variável complexa z = u + iv estão

f
z
f (z)

D I

Figura 10: Função de variável complexa

associadas duas funções reais de variáveis reais x e y,dadas por

u = u(x, y) = <(f (z)) : R2 → R e v = v(x, y) = =(f (z)) : R2 → R

Exemplo 0.5. Nas funções de variável complexa definidas abaixo, identifique a parte real u(x, y),
a parte imaginária v(x, y), bem como o domı́nio destas funções.
ˆ +∞
1. f (z) = z 2 4. w = z 2 − 5z + 3
7. w = e−xt dt +
0
1 +∞
2. f (z) = 3z + 2 5. w = X
z i yn
3 n=0
2
3. w = z + z + 1 6. w =
z−5
22 Análise Complexa

Observação 0.10. (Comparação com Análise Real)


Há uma grande diferença entre as análises real e complexa:

não é possı́vel desenhar o gráfico de uma função complexa

De fato, se y = f (x) for uma função de valor real de uma variável real x, o gráfico de f é
definido como o conjunto de todos os pontos (x, f (x)) no plano cartesiano bidimensional. Uma
definição análoga pode ser feita para funções complexas. No entanto, se w = f (z) for uma função
complexa, z e w residem no plano complexo. Por conseguinte, o conjunto de todos os pontos
(z, f (z)) reside no espaço quadridimensional (duas dimensões da entrada z e duas dimensões da
saı́da w). é Óbvio que um subconjunto do espaço quadridimensional não pode ser ilustrado com
facilidade. Em vez de usar um gráfico, representaremos uma função complexa por meio de uma
transformação complexa com o uso de duas figuras: a primeira descreve um subconjunto S
no plano complexo, e a segunda, a imagem S 0 do conjunto S sob a transformação complexa. A
figura a seguir, apresenta um exemplo de uma transformação complexa.
v
y

w = f (z) S′
S

x u

Figura 11: Imagem de S sob a transformação w = f (z).

A primeira função f : C → C será definida a seguir.

0.7 A Função Exponencial Complexa


Admitimos que o leitor, com sua familiaridade com as funções trigonométricas, a constante de
Euler e e a função exponencial ex , conceitos estes que são estudados nos cursos de Cálculo. Lem-
bramos, ainda, os desenvolvimentos dessas funções em séries de MacLaurin, válidos para todos os
valores reais da variável x:
Wellington José Corrêa 23

+∞ n
x
X x x2 x3
e = =1+x+ + + ...; (8)
n=0
n! 2! 3!

+∞
X (−1)n x2n x2 x4 x6
cos x = =1− + − + ...; (9)
n=0
(2n)! 2! 4! 6!

+∞
X (−1)n x2n+1 x3 x5 x7
sen x = =x− + − + ... (10)
n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7!

Vamos tomar o desenvolvimento (8) como base para definir ez com z complexo. Formalmente,
assuma que este desenvolvimento seja válido para nossos propósitos e que ez para z complexo,
então para y real, tem-se:

(iy)2 (iy)3 (iy)4 (iy)5 (iy)6 (iy)7


eiy = 1 + iy + + + + + + + ...
2! 3! 4! 5! 6! 7!
y2 y3 y4 y5 y6 y7
= 1 + iy − −i + +i − − i + ...
2! 3! 4! 5! 6! 7!

Ou ainda,
y2 y4 y6 y3 y5 y7
   
iy
e = 1− + − + . . . ... + i y − + − + ... ,
2! 4! 6! 3! 5! 7!
ou seja, em vista de (9) e (10), obtemos:

eiy = cos y + i sen y.

Por outro lado, da definição da exponencial no caso de um expoente qualquer z = x + iy temos

ez = ex+iy = ex eiy ,

doravante,

ez = ex+iy = ex (cos y + i sen y) . (11)

Propriedades:

1. e0 = 1. 2. ez1 +z2 = ez1 ez2 ;


24 Análise Complexa

3. e−z = 1/ez ; 6. |ez | = e<(z) ;

7. ez = 1 ⇔ z = 2kπi, k inteiro.
z n nz
4. (e ) = e , n inteiro;
8. ez é periódica com perı́odo puramente
5. ez 6= 0 para todo z; imaginário 2π i.

Observação 0.11. Se z = r (cos θ + i sen θ), então eiθ = e0 (cos θ + i sen θ) = (cos θ + i sen θ),
portanto, obtemos a conhecida fórmula exponencial polar

z = reiθ . (12)

0.8 Um Repasso às Transformações Complexas


Veremos a seguir, que a fórmula exponencial polar dada em (12) é muito útil quando queremos
analisar transformações complexas. Vejamos os exemplos a seguir.

1. Funções Lineares: w = f (z) = z + c, c ∈ C .

Se z = x + i y, c = c1 + i c2 , w = f (z) = x + c1 + i(y + c2 ) .

y + c2
f

y y

x x x + c1
z-plano w-plano

Figura 12: Imagem de S sob a transformação w = f (z) = z + C.

2. Função Linear w = f (z) = c z, c ∈ C.

Usando a fórmula exponencial polar, z = r eiθ , c = r1 eiθ1 , note que w = f (z) = r ·


r1 ei · (θ+θ1 ) .
Wellington José Corrêa 25

f
r · r1
z θ + θ1
r
r
θ θ

z-plano w-plano

Figura 13: Imagem de S sob a transformação w = f (z) = z C.

3. Considere w = f (z) = (1+i)z +2−i de tal modo que domı́nio de f é formado pelo retângulo
de vértices 0, 1, 2i e 1 + 2i.

Note que
f (0) = 2 − i; f (1) = 3; f (2i) = i; f (1 + 2i) = 1 + 2i .

f
1 + 2i f (1 + 2i)
2i

f (2i)
f (1)
0 1
z-plano w-plano
f (0)

Figura 14: Imagem de S sob a transformação w = f (z) = (1 + i)z + 2 − i.

4. w = f (z) = i z onde o domı́nio é a faixa cuja fronteira são as retas z = 0 e z = 1.

π
Veja que i = 1 ei 2 , logo, para z = r ei θ , w = i z = r ei(θ+π/2) .

5. Funções z n .

(a) w = z 2 .

Se z = r ei θ , então, w = z 2 = r2 ei 2 θ .
26 Análise Complexa

0 1

z-plano w-plano

Figura 15: Imagem de S sob a transformação w = f (z) = i z com o domı́nio dado.

1 −1 1

z-plano w-plano

Figura 16: Imagem de S sob a transformação w = f (z) = z 2 com domı́nios dados.

(b) w = z n .
π π
Temos que w = rn · ei n θ . Se θ = , ou seja, z = r ei n , então, z n = rn ei π .
n
1
(c) w = .
z
1 −i θ
Recorrendo à fórmula exponencial polar z = r ei θ , temos que w = e .
r

0.9 Funções Trigonométricas


Como vimos na seção anterior

eiy = cos y + i sen y e eiy = cos y − i sen y,


Wellington José Corrêa 27

z
r π
θ=
n

z-plano w-plano

Figura 17: Imagem de S sob a transformação w = f (z) = z n com domı́nio dado.

z
r
θ

1
−θ
z-plano r w-plano
1
z

1
Figura 18: Imagem de S sob a transformação w = com domı́nio dado.
z

logo é natural definir

eiz + e−iz
cos z := (13)
2

eiz − e−iz
sen z := (14)
2i

sen z
tg z := (15)
cos z

cos z 1 1
cotg z := , sec z := , cossec z := (16)
sen z cos z sen z
Propriedades:

1. sen 2 z + cos2 z = 1 .

2. cos z = cos x cosh y + i sen x senh y.


28 Análise Complexa

3. sen z = sen x cosh y + i cos x senh y.

4. sen (z + 2π) = sen z e cos(z + 2π) = cos z .

5. sen (z + π) = − cos z, cos(z + π) = − sen z e tg (z + π) = tg z.

6. | sen z|2 = sen 2 x + senh 2 y e | cos z|2 = cos2 x + senh 2 y.

7. sen (z1 ± z2 ) = sen z1 cos z2 ± cos z1 sen z2 e cos(z1 ± z2 ) = cos z1 cos z2 ∓ sen z1 sen z2 .

8. sen (−z) = − sen z e cos(−z) = cos z.



 sen z = 0 ⇒ z = 0 ou z = ± nπ

9.
 cos z = 0 ⇒ (2n − 1)π
z=±

2
As funções hiperbólicas seno e cosseno, são definidas, como no caso de variáveis reais, pelas
seguintes expressões:

ez − e−z ez + e−z
senh z = , cosh z = .
2 2
Propriedades:

1. cosh2 z − senh 2 z = 1 .

2. sen z = −i senh (iz) e cos z = cosh(iz).

3. senh (−z) = − senh z e cosh(−z) = cosh z.

4. senh (z ± w) = senh z cosh w ± cosh z senh w.

5. cosh(z ± w) = cosh z cosh w ± senh z senh w.

0.10 A Função Logaritmo Natural de z


O logaritmo de um número complexo z = reiθ 6= 0, é definido assim:

ln z = ln r + iθ,

onde r denota o logaritmo real do número r > 0. O logaritmo está definido para todo número
complexo z 6= 0, e se reduz ao logaritmo real quando θ = 0.
Wellington José Corrêa 29

Na realidade, a fórmula acima permite atribuir ao logaritmo vários valores distintos, depen-
dendo do argumento usado para o número z. Por causa disso, costuma-se dizer que o logaritmo é
uma função multivalente. O ponto z = 0 é chamado ponto de ramificação de ln z, justamente
porque, descreve um cı́rculo centrado na origem e volta ao ponto inicial, a função ln z retorna
aumentada de 2π i.
É claro que o valor de uma função tem de ser determinado univocamente. Para tanto, se
considerarmos
ln z = ln r + iθ, −π < θ ≤ π,

teremos uma função univalente. A escolha de um valor prefixado para o argumento na definição da
função ln é chamado ramo de ln . Então, como dizemos acima, a função ln está bem definida se, e
somente se, o ramo da função estiver no intervalo (−π π]. Tal ramo é dito ramo principal de ln z,
já que poderı́amos admitir que arg(z) possuam valores num intervalo da forma (y0 , y0 +2π], y0 ∈ R.

Observação 0.12. 1. Neste contexto, denotaremos

Ln z = ln r + iArg(z), Arg(z) ∈, (−π, π]. (17)

2. Pode-se mostrar que com o logaritmo definido acima, a função exponencial e a função loga-
ritmo são funções inversas.

Propriedades: Dados z1 , z2 ∈ C, temos:

1. ln(z1 z2 ) = ln z1 + ln z2 . 4. Ln(z1 z2 ) = (Ln z1 + Ln z2 ) (mod 2 π i).

2. ln(z1 / z2 ) = ln z1 − ln z2 . 5. Ln(z1 / z2 ) = (Ln z1 − Ln z2 ) (mod 2 π i).

3. Ln z1n = n ln z1 . 6. Ln z1n = n Ln z1 (mod 2π i).

Observação 0.13. Podemos dar uma definição ao número complexo z α com z, α ∈ C. Seja
z 6= 0, então definimos z α pela equação

z α = eα ln z .

Observação 0.14. (Comparação com Análise Real)

1. A função exponencial real é biunı́voca, mas a função exponencial complexa não é.
30 Análise Complexa

2. ln x, x ∈ R é uma função unı́voca, enquanto ln z é multivalente.

3. No caso complexo, ez = −2 e ln(−2) fazem sentido, o que não ocorre no caso real.

4. (z α1 )α2 6= z α1 α2 a menos que α1 , α2 ∈ Z.

5. |sen x|, | cos x| ≤ 1, ∀ x ∈ R, contudo, por exemplo, | cos(i)|, | sen (2 + i)| > 1.

6. Nas propriedades de funções trigonométricas, item 6, pelo fato que as função seno hiperbólica
real é ilimitada, temos que as funções seno e cosseno complexas são ilimitadas.

7. Diferentemente das funções hiperbólicas reais, as funções hiperbólicas complexas são periódicas
e têm infinitos zeros.

0.11 Limite e Continuidade


A definição de limite e continuidade que daremos agora é formalmente a mesma dos cursos de
Cálculo.

Definição 0.12. Seja z0 um ponto de acumulação do domı́nio D de uma função f . Diz-se que f
tem limite L com z tendendo a z0 se dado qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que

z ∈ D, 0 < |z − z0 | < δ ⇒ |f (z) − L| < ε > 0.

Escreve-se lim f (z) = L .


z→ z0

Figura 19: Interpretação geométrica de um limite complexo.


Wellington José Corrêa 31

z + 3i
Exemplo 0.6. Recorrendo à definição, mostre que a função f (z) = é contı́nua no ponto
2
z0 = 2 − i.

Exemplo 0.7. Ainda usando a definição, mostre que lim (z 2 + 3 z) = −4 + 6 i .


z→ 2 i

Observação 0.15. A prova envolvendo épsilon–delta nos exemplos anteriores ilustra o importante
fato de que, embora a teoria de limites complexos seja baseada na definição (0.12), esta não fornece
um método conveniente para o cálculo de limites complexos. A seguir, o teorema 0.2 é uma
útil ferramenta, não apenas no quesito computacional, mas, também estabelece uma importante
conexão entre o limite complexo de f (z) = u(x, y) + i v(x, y) e os limites reais de funções reais
das duas variáveis u(x, y) e v(x, y).

Teorema 0.2. Sejam f (z) = u(x, y)+i v(x, y), z0 = x0 +i y0 e L = u0 +i v0 . Então, lim f (z) = L
z→ z0
se, e somente se,

lim u(x, y) = u0 e lim v(x, y) = v0 .


(x,y)→ (x0 ,y0 ) (x,y)→ (x0 ,y0 )

Exemplo 0.8. Use o teorema precedente para calcular lim (z 2 + i) .


z→ 1+i

Teorema 0.3. (Critério para a Não existência de um Limite) Se f se aproximar de dois números
complexos L1 6= L2 , ao longo de duas curvas ou percursos diferentes que passam por z0 , então
lim f (z) não existe.
z→ z0

z
Exemplo 0.9. Usando o teorema anterior, mostre que lim não existe.
z→ 0 z

Observação 0.16. De maneira análoga, as propriedades de limites e de continuidade (vistas a


seguir) de números reais podem ser estendidas aos números complexos.

Definição 0.13. Uma função complexa f é contı́nua em z = z0 se

lim f (z) = f (z0 ) .


z→ z0

Como no caso de funções reais, para funções complexas contı́nuas também vale o seguinte
critério bem conhecido:
Critério para Continuidade em um Ponto

Uma função complexa f é contı́nua em um ponto z0 se cada uma das três condições forem
atendidas:
32 Análise Complexa

(i) lim f (z) existe.


z→ z0

(ii) f é definida em z0 e

(iii) lim f (z) = f (z0 ).


z→ z0

Se uma função complexa f não for contı́nua em um ponto z0 , dizemos que f é descontı́nua
em z0 .

Exemplo 0.10. Usando o teorema (0.2) prove que se f (z) = u(x, y) + i v(x, y) e z0 = x0 + i y0 ,
a função complexa f é contı́nua no ponto z0 se, e somente se, as duas funções reais u e v forem
contı́nuas no ponto (x0 , y0 ).

0.12 Função Analı́tica


A definição de derivada de uma função de variável complexa é formalmente a mesma que no caso
de uma função de variável real.

Definição 0.14. Seja a função complexa f definida em uma vizinhança de um ponto z0 . A deri-
vada de f em z0 , denotada por f 0 (z0 ), é

f (z + ∆z) − f (z)
lim , (18)
∆z→ 0 ∆z

desde que este limite exista.

Se o limite em (18) existir, a função f é dita diferenciável.

Definição 0.15. Diz-se que uma função f é analı́tica numa região D se ela é diferenciável em
cada ponto de D.

Exemplo 0.11. Note que,


(z + 2)(3z − 1)2
1. f (z) = é analı́tica exceto, nos pontos z = 0, 3 − i. Em tais pontos onde a
z(z − 3)(z + i)2
função não é analı́tica, daremos por abuso de notação, o nome de singularidades.

2. Os polinômios f (z) = a0 + a1 z + a2 z 2 + . . . + an z n são funções analı́ticas em todo o plano.


Neste caso, chamamos as funções analı́ticas em todo o plano de funções inteira.

3. A função exp(z) é inteira.


Wellington José Corrêa 33

Observação 0.17. Todas as funções com que o leitor se familiarizou em seu curso de Cálculo
são analı́ticas, quando convenientemente estendidas ao plano complexo. Assim,

• Uma função constante é analı́tica e sua derivada é zero.

• A função f (z) = z n , z ∈ Z é analı́tica e sua derivada é f 0 (z) = nz n−1 .

• Se f e g são analı́ticas, as funções a seguir são analı́tcas e calcula-se com as conhecidas


regras:

d d z
1. (f (z) + g(z)) = f 0 (z) + g 0 (z) 5. (e ) = ez
dz dz
d d
2. (f (z) · g(z)) = f 0 (z)g(z) + f (z)g 0 (z) 6. (cos z) = − sen z.
dz dz
g(z)f 0 (z) − f 0 (z)g(z)
 
d f (z) d
3. = 7. ( sen z) = cos z.
dz g(z) [g(z)]2 dz
d d 1
4. (f (g(z))) = f 0 (g(z))g 0 (z) . 8. (ln z) = .
dz dz z

Como na análise real, se uma função complexa for diferenciável em um ponto é necessariamente
contı́nua no ponto.

Teorema 0.4. Se f for diferenciável em um ponto z0 , em um domı́nio D, f é contı́nua em z0 .

Demonstração: Inicialmente, observe que


f (z) − f (z0 )
lim = f 0 (z0 ) e lim (z − z0 ) = 0 .
z→ z0 z − z0 z→ z0

Consequentemente, pela observação (0.16), podemos escrever o seguinte limite de um produto


como o produto de limites:
f (z) − f (z0 )
lim (f (z) − f (z0 )) = lim · (z − z0 )
z→ z0 z→ z0 z − z0
f (z) − f (z0 )
= lim · lim (z − z0 )
z→ z0 z − z0 z→ z0

= f 0 (z0 ) · 0 = 0 .

De lim (f (z) − f (z0 )) = 0 concluı́mos que lim f (z) = f (z0 ), isto é, f é contı́nua em z = z0 .
z→ z0 z→ z0

Exemplo 0.12. O recı́proco do teorema anterior, no entanto, não é verdadeiro. Considere a


função f (z) = x + i 4y.
34 Análise Complexa

1. Mostre que f é contı́nua em todo o plano complexo (use o exemplo (0.10)).

2. Prove que f não é diferenciável.

Observação 0.18. (Comparação com Análise Real)

1. No cálculo real, a derivada de uma função y = f (x) em um ponto x tem várias inter-
pretações. Por exemplo, f 0 (x) é a inclinação da reta tangente ao gráfico de f no ponto
(x, f (x)). Quando a inclinação é positiva, negativa ou nula, a função, por sua vez, está au-
mentando, diminuindo ou, possivelmente, tem um máximo ou mı́nimo. Além disso, f 0 (x) é
a taxa de variação instantânea de f em x. Em um contexto fı́sico, esta taxa de variação pode
ser interpretada como velocidade de um objeto móvel. Nenhuma dessas interpretações
se aplica ao cálculo complexo. Deste modo, vale a pergunta: “O que significa a deri-
vada de uma função complexa w = f (z)?” Eis a resposta: na análise complexa, o interesse
principal não é o que a derivada de uma função significa ou representa, mas sim se a
função f realmente tem derivada, fato este, há de dizer muito sobre a função analisada.

2. Como outra consequência de diferenciabilidade, a regra de L’Hôpital para o cálculo da forma


indeterminada 0/0 também se aplica à anàlise complexa, isto é, se f e g forem funções
anaı́liticas em um ponto z0 e se f (z0 ) = g(z0 ) = 0 e g 0 (z0 ) 6= 0, então,
f (z) f 0 (z0 )
lim = 0 .
z→ z0 g(z) g (z0 )
De modo geral, se f, g e suas n − 1 derivadas forem nulas em z0 e g (n) (z0 ) 6= 0, então,
f (z) f (n) (z0 )
lim = (n) .
z→ z0 g(z) g (z0 )

0.13 As Equações de Cauchy-Riemann


Iniciaremos esta seção com um teorema que mostra que se uma função f (z) = u(x, y) + iv(x, y) for
diferenciável em um ponto z, as funções u e v devem satisfazer um par de equações que relacionam
suas derivadas parciais de primeira ordem.

Teorema 0.5. (Uma Condição Necessária para Analiticidade) Suponhamos que f (z) = u(x, y) +
iv(x, y) seja diferenciável em um ponto z = x + i y. Então, em z as derivadas parciais de primeira
ordem de u e v devem satisfazer as Equações de Cauchy–Riemann
∂u ∂v ∂u ∂v
= e =− . (19)
∂x ∂y ∂y ∂x
Wellington José Corrêa 35

Demonstração: Se f é analı́tica, então,

f (z + ∆z) − f (z)
f 0 (z) = lim . (20)
∆z→ 0 ∆z

Escrevendo f (z) = u(x, y) + iv(x, y) e ∆ z = ∆ x + i ∆ y, (20) fica escrita como

u(x + ∆ x, y + ∆ y) + i v(x + ∆ x, y + ∆ y) − u(x, y) − iv(x, y)


f 0 (z) = lim . (21)
∆z→ 0 ∆x + i∆y

Como, por hipótese, o limite (20) existe, ∆ z pode se aproximar de zero ao longo de qualquer
direção conveniente. Em particular, se fizermos ∆ z → 0 ao longo de uma reta horizontal ∆ y = 0
e ∆ z = ∆ x, podemos, então, escrever (21) como

u(x + ∆ x, y) − u(x, y) + i[ v(x + ∆ x, y) − v(x, y) ]


f 0 (z) = lim
∆x→ 0 ∆x
u(x + ∆ x, y) − u(x, y) v(x + ∆ x, y) − v(x, y)
= lim + i lim . (22)
∆x→ 0 ∆x ∆x→ 0 ∆x

Veja que a existência de f 0 (z) implica que cada limite em (22) existe. Esses limites são a definição
das derivadas parciais de primeira ordem de u e v em relação à x, respectivamente. Portanto,
∂u ∂v
mostramos duas coisas: que e existem no ponto z e que a derivada de f é
∂x ∂x
∂u ∂v
f 0 (z) = +i . (23)
∂x ∂x

Agora, façamos ∆ z → 0 ao longo de uma reta vertical, isto é, ∆ x = 0 e ∆ z = i ∆ y, (21) fica
escrita como

u(x, y + ∆ y) − u(x, y) + i[ v(x, y + ∆ y) − v(x, y) ]


f 0 (z) = lim
∆y→ 0 i∆y
1 u(x, y + ∆ y) − u(x, y) v(x, y + ∆ y) − v(x, y)
= lim + i lim . (24)
i ∆y→ 0 ∆y ∆y→ 0 i∆ y

∂u ∂v
Neste caso, (24) mostra que e existem em z e
∂y ∂y
∂u ∂v
f 0 (z) = −i + . (25)
∂y ∂y

Igualando as partes real e imaginária de (23) e (25), obtemos o par de equações em (19).

Exemplo 0.13. Mostre que a função complexa f (z) = 2x2 + y + i (y 2 − x) não é analı́tica em
qualquer ponto.
36 Análise Complexa

Observação 0.19. A análise acima mostra que as equações de Cauchy–Riemann são uma condião
necessária para a existência da derivada de uma função f . Mas, elas não são suficientes para
garantir a existência dessa derivada. Como exemplo disto, consideremos a função
p
f (z) = | x y |,

onde, como de costume z = x + i y. Temos que v(x, y) = 0, portanto, vx = vy = 0.


p
Por outro lado, u = | x y |, donde u(s, 0) = u(0, 0) = 0, logo,
∂u u(s, 0) − u(0, 0)
(0, 0) = lim = 0.
∂x s→ 0 s
∂u
Analogamente, (0, 0) = 0. Vemos então que as equações de Cauchy–Riemann estão satisfeitas
∂y
no ponto z = 0.
Não obstante, f não é diferenciável em z = 0. De fato, pondo ∆ z = r ei θ , obtemos:
f (∆ z) − f (0)
lim
∆ z→ 0 ∆z p
| cos θ sen θ |
=
ei θ
 1/2
1
= sen 2θ e−i θ .
2
Fazendo ∆ z se aproximar de zero pelo eixo real, isto é, quando θ = 0, temos que
f (∆ z) − f (0)
lim = 0.
∆ z→ 0 ∆z
Agora, tomando ∆ z se aproximar de zero quando a parte real √ x e a parte imaginária y são
f (∆ z) − f (0) 2
iguais , ou seja, se θ = π/4, resulta que lim = i π/4 .
∆ z→ 0 ∆z 2e
Assim, pelo teorema (0.3), resulta que f 0 (0) não existe.

Teorema 0.6. (Condições Suficientes para Diferenciabilidade) Se as funções reais u(x, y) e v(x, y)
forem contı́nuas e tiverem derivadas parciais de primeira ordem contı́nuas em algum domı́nio D,
e s u e v satisfizerem as equações de Cauchy–Riemann (19) em todos os pontos de D, então, a
função complexa f (z) = u(x, y) + i v(x, y) é analı́tica em D.

Demonstração: Para a demonstração desse teorema, usamos o Teorema de Taylor de funções


de duas variáveis reais. Seja a = α + i β ∈ D e s = γ + i δ ∈ C onde α, β, γ, δ ∈ R. Então,
recorrendo ao fato que as derivadas parciais são contı́nuas, utilizando o Teorema de Taylor do
curso de cálculo temos que
∂ u(α, β) ∂ u(α, β)
u(α + γ, β + δ) − u(α, β) = · γ+ · δ + 1 (γ, δ), (26)
∂x ∂y
Wellington José Corrêa 37

1 (γ, δ)
onde → 0, quando γ, δ → 0.
|γ| + |δ|
Da mesma forma,
∂ v(α, β) ∂ v(α, β)
v(α + γ, β + δ) − v(α, β) = · γ+ · δ + 2 (γ, δ), (27)
∂x ∂y
2 (γ, δ)
onde → 0, quando γ, δ → 0.
|γ| + |δ|
Pelo fato que f (a) = u(α, β) + i v(α, β), temos:
∂f ∂u ∂v
= +i (28)
∂x ∂x ∂x
∂f ∂u ∂v
= +i (29)
∂y ∂y ∂y
veja ao multiplicar (27) por i e somando com (26), iremos obter:
∂ f (a) ∂ f (a)
f (a + s) − f (a) = · γ+ · δ + (s), (30)
∂x ∂y
(s)
onde → 0 quando s → 0.
|s|
Mas, com as equações de Cauchy–Riemann, a notação (29) fica
∂f ∂u ∂v
= +i
∂y ∂y ∂y
∂v ∂u
= − +i
∂x
 ∂x 
∂u ∂v
= i +i (31)
∂x ∂x
 
∂f
= i .
∂x
Deste modo, dividindo (30) por s e usando (32), temos que
f (a + s) − f (a) 1 ∂ f (a) 1 ∂ f (a) (s)
= · γ+ · δ+
s s ∂x s ∂y s
=s
z }| {
γ + iδ ∂ f (a) (s)
= + .
s ∂x s
Enfim, fazendo s → 0 na última expressão, resulta que
f (a + s) − f (a)
f 0 (a) = lim
s→ 0 s
∂ f (a) (s)
= + lim
∂x | {z s }
s→ 0
=0
∂ f (a)
=
∂x
∂u ∂v
= (α, β) + i (α, β)
∂x ∂x
38 Análise Complexa

∂u ∂v
isto é, f 0 (a) existe (já que
(α, β) e (α, β) existem) para todo a ∈ D, portanto, f é analı́tica
∂x ∂x
em D, pela arbitrariedade de a.

Exemplo 0.14. Mostre que f (z) = ez é uma função inteira e prove que f 0 (z) = ez .
p
Exercı́cio 0.1. Prove que em coordenadas polares, x = r cos θ, y = r sen , θ onde r = x2 + y 2 , θ =
tg −1 (y/x), z = x + i y as condições de Cauchy–Riemann são

∂u 1 ∂v 1 ∂u 1 ∂v
= e = .
∂r r ∂θ r ∂θ r ∂r
d 1
Exemplo 0.15. Mostre que Ln z = ln r + i θ é uma função analı́tica e Ln z = .
dz z

0.14 Integração Complexa


A teoria de integração é um item extenso e importante da análise de funções de uma ou diversas
variáveis reais ou complexas. O domı́nio de integração de uma função de variável real é um
subconjunto de R. Na variável complexa, o domı́nio de integração de uma função de variável
complexa é uma linha ou um domı́nio em C, pois a variação de uma variável z no plano determina
uma linha, um caminho, um arco ou
ˆ um contorno.
˛ De modo análogo ao caso real, podemos definir
a integral de linha complexa f (z) dz ou f (z) dz é a integral de f (z) ao longo da curva
C C
C.

Definição 0.16. Uma curva, um contorno ou um caminho é uma função contı́nua γ : [a, b] →
R × R ou C. O caminho é diferenciável ou suave quando γ é uma função diferenciável. Dizemos
que a curva é fechada se γ(a) = γ(b).

Exemplo 0.16. Considere a função γ : [0, 1] → R2 definida por

1

 t, 0 ≤ t ≤

γ(t) = 2
 1 − t, 1
≤ t ≤1

2
1
No R2 podemos escrever a curva como γ(t) = (x(t), y(t)) onde x(t) = t, y(t) = t, 0 ≤ t ≤ e
2
1
x(t) = t, y(t) = 1 − t, ≤ t ≤ 1.
2
Wellington José Corrêa 39

1 1
Já em C, podemos representar a curva como γ(t) = t + i t, 0 ≤ t ≤ e γ(t) = t + (1 − t) i, ≤
2 2
t ≤ 1.
Veja que a curva é contı́nua, mas não é diferenciável em t = 1/2. Porém, a curva é dita
diferencı́avel (suave por partes), pois ela é considerada como a união ou soma de duas curvas
suaves, a saber, a curva t e 1 − t.

Exemplo 0.17. Uma curva fechada, simples é dita curva de Jordan se toda curva fechada
cujos pontos, a exceção das extremidades sejam todos simples.

não - simples

γ(a) = γ(b) γ(a) = γ(b)

curva fechada Curva de Jordan

Figura 20: Curva de Jordan na figura à direita

Definição 0.17. Seja f uma função contı́nua e definida em um conjunto

A seguir, vem a definição de integral complexa.

Exemplo 0.18. Seja f uma função contı́nua e definida num conjunto aberto A ⊂ C e que
γ : [a, b] → C é uma curva suave por partes tal que γ([a, b]) ⊂ A. Definamos a integral de f
sobre γ como o limite da soma de Riemann:
ˆ n−1 ˆ
X ai+1
f (z) dz = lim f (γ(t)) · γ 0 (t) dt, (32)
γ n→ ∞ ai
i=1

onde a = a0 < a1 < . . . < an = b é a divisão do intervalo [a, b] nos subintervalos (ai , ai+1 ).
Quando o limite existe, dizemos que f é integrável.

Tal integral pode ser ser definida e representada em termos das integrais reais, ou seja, fazendo-
se

f (z) = u(x, y) + i v(x, y) e dz = dx + i dy,


40 Análise Complexa

obtemos

˛ ˛ ˛
f (z) dz = (u(x, y)dx − v(x, y)dy) + i (u(x, y)dy + v(x, y)dx),
C C C
desde que existam as integrais reais do lado direito da equação acima.
O caminho C pode ser aberto ou fechado, mas devemos especificar a direção de integração,
pois uma mudança de direção resulta em mudança no sinal da integral. As integrais complexas
são, portanto, redutı́veis a integrais reais curvilı́neas e possuem as as análogas propriedades como
no caso real.

0.15 Teorema Integral de Cauchy


As integrais de funções analı́ticas possuem algumas propriedades muito importantes. Provavel-
mente a mais importante delas seja descrita pelo teorema integral de Cauchy. Para apresentar
este teorema precisamos do conceito de conjunto simplesmente conexo. Um conjunto D é dito
conexo se quaisquer dois de seus pontos podem ser unidos por uma linha totalmente pertencente
a D. Um conjunto D é dito simplesmente conexo se qualquer curva simples fechada contida
em D, pode ser deformada, sempre totalmente contida em D, até se tornar um ponto. A figura
abaixo ilustra duas regiões conexas A e B, dos quais A é simplesmente conexa, mas B não é, pois
esta possui um “buraco”.

Figura 21: Exemplo de conjunto simplesmente conexo

Teorema 0.7. (Teorema Integral de Cauchy) Seja f (z) uma função analı́tica num domı́nio
simplesmente conexo D. Se C é um caminho fechado simples de D, então
ˆ
f (z) dz = 0 .
C
Wellington José Corrêa 41

Exemplo 0.19. Seja C a circunferência unitária, centrada na origem, orientada positivamente.


ˆ
1. ez dz = 0, pois f (z) = ez é uma função analı́tica, para todo z complexo.
C
ˆ
1
2. dz = 2π i 6= 0. Mas, isto não contradiz o teorema de Cauchy, pois f (z) = z −1 não é
C z
analı́tica na origem, a qual pertence a região R interior ao caminho C.

Teorema 0.8. Se f (z) é analı́tica em um domı́nio simplesmente conexo D e, se F (z) for uma
integral indefinida de f (z), ou seja, F 0 (z) = f (z), então para todos os caminhos situados em D
que ligam dois pontos a e b em D, têm-se que

ˆ b
f (z) dz = F (b) − F (a) .
a

Este teorema permite o cálculo das integrais de linha de funções complexas através de uma
integral indefinida. Com isto, podemos chegar aos seguintes resultados, donde C é uma constante
arbitrária:
ˆ ˆ
z n+1
1. n
z dz = + C, n 6= −1 5. sen z dz = − cos z + C
n+1
ˆ
1
2. dz = ln z + C ˆ
z
ˆ 6. cos z dz = sen z + C
z z
3. e dz = e + C
ˆ ˆ
z az
4. a dz = +C 7. sec2 z dz = tg z + C
ln a

A consequência mais importante do teorema de Cauchy é a fórmula integral de Cauchy. Esta


fórmula é dada pelo teorema abaixo.

Teorema 0.9. (Fórmula Integral de Cauchy) Seja f (z) uma função analı́tica no interior e
sobre um caminho fechado C. Se z0 é um ponto qualquer no interior de C, então:
ˆ
1 f (ζ)
f (z0 ) = dζ, (33)
2 π i C ζ − z0
onde a integração é efetuada no sentido positivo ao longo de C.

A fórmula integral de Cauchy, mostra que o valor de uma função analı́tica numa região é
determinado em toda a região por seus valores na fronteira. A demonstração deste teorema é
42 Análise Complexa

omitida. Devemos observar também que a fórmula integral de Cauchy nos permite calcular uma
integral de linha desde que a função a ser integrada tenha uma única singularidade no interior do
caminho C.

Derivadas de Todas as Ordens:


Como importante consequência da fórmula de Cauchy, enunciaremos um resultado que diz que
uma função analı́tica possui derivadas de todas as ordens.

Teorema 0.10. Uma função analı́tica numa região D possui derivadas de todas as ordens, as
quais, por sua vez, são também analı́ticas em D e

ˆ
(n) n! f (ζ)
f (z) = dζ,
2πi C (ζ − z)n+1
onde n é um inteiro positivo qualquer.

Demonstrando-se alguns resultados por meio do uso do Teorema de Cauchy, obtém-se o

Teorema 0.11. (Teorema Fundamental da Álgebra) Todo polinômio

P (z) = an z n + an−1 z n−1 + . . . + a1 z + a0


0
de grau n ≥ 1 e coeficientes an s complexos possui ao menos uma raiz.

Exemplo 0.20. Considere o polinômio p(x) = x2 + 1. É notório que que p não possui raiz real.
No entanto, ao considerarmos p(z) = z 2 + 1, donde os coeficientes são complexos, o Teorema
Fundamental da Álgebra nos diz que este polinômio possui ao menos uma raiz. Como se pode ver,
tal polinômio possui duas raı́zes, a saber i e −i.

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