Cartilha Embrapa Mata Riparia

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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Embrapa Cerrados
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Cerrado: Restauração de
Matas de Galeria e Ciliares

Fabiana de Góis Aquino


Lidiamar Barbosa Albuquerque
Araci Molnar Alonso
Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
Evie dos Santos de Sousa

Embrapa
Brasília, DF
2012
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:
Embrapa Cerrados
BR020, Km18, Rod. Brasília/Fortaleza
Caixa Postal 08223
CEP 73310-970
Planaltina, DF
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Comitê de Publicações da Embrapa Cerrados


Presidente: Cláudio Takao Karia
Secretária-Executiva: Marina de Fátima Vilela
Secretária: Maria Edilva Nogueira

Colaboração: Adriana Reatto dos Santos Braga, José Carlos Sousa-Silva, José Francisco Rocha e
Renato Berlim Fonseca
Revisão técnica: Carlos Eduardo Lazarini da Fonseca, Clarissa Lima e José Felipe Ribeiro
Revisão Gramatical: Francisca Elijani do Nascimento
Ilustração e Capa: Claudio Delamare
Projeto Gráfico: 4•5•6 STUDIO Comunicação e Branding - 456studio.com
Catalogação na fonte: Marilaine Schaun Pelufê

1a edição
1a impressão (2012)
tiragem: 5.000 exemplares

Todos os direitos reservados


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos
direitos autorais (Lei no. 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP


Embrapa Cerrados

C417 Cerrado : Restauração de Matas de Galeria e Ciliares /


Fabiana de Gois Aquino... [et al.].
Brasília, DF: Embrapa, 2012.
40 p. ; 20 cm x 20 cm

ISBN 978-85-7035-008-4

1. Meio ambiente. 2. Mata de galeria. 3. Vegetação.


4. Cerrado. I. Aquino, Fabiana de Gois. II. Embrapa Cerrados.

CDD 577
©Embrapa2012
Autores

Fabiana de Góis Aquino


Bióloga, D.Sc.
Pesquisadora da Embrapa Cerrados
[email protected]

Lidiamar Barbosa Albuquerque


Biológa, D.Sc.
Pesquisadora da Embrapa Cerrados
[email protected]

Araci Molnar Alonso


Engenheira Agrônoma, D.Sc.
Pesquisadora da Embrapa Cerrados
[email protected]

Jorge Enoch Furquim Werneck Lima


Engenheiro Agrônomo, D.Sc.
Pesquisador da Embrapa Cerrados
[email protected]

Evie dos Santos de Sousa


Engenheira Agrônoma, M.Sc.
Analista da Embrapa Cerrados
[email protected]
Apresentação
A vegetação é parte importante no equilíbrio da Terra, pois per-
mite manter a vida dos animais, a qualidade do solo e da água.
Devido a sua importância, esta cartilha apresenta conceitos e
técnicas para conservar e recuperar um tipo particular de vege-
tação, as matas de galeria, importantes para a preservação de
rios que fazem parte das bacias hidrográficas no Cerrado.
O que é uma bacia hidrográfica e qual a sua importância?

A bacia hidrográfica é o conjunto de rios, seus afluentes e as terras drenadas por eles.
Nessa área a água da chuva que escoa pela superfície do solo é direcionada para um
determinado córrego, rio, lago ou reservatório. À medida em que as águas descem das
áreas mais altas em direção aos oceanos, tornam-se rios de maior porte
e vazão.

A bacia hidrográfica interliga os elementos naturais (água, vegeta-


ção, animais, solo, clima) entre si e a comunidade rural.

Apesar de ser um bem muito importante para todos, a água


é finita e vulnerável. Por isso, os rios, nascentes e demais
corpos d’água devem ter suas margens protegidas
por faixas de vegetação nativa. Isso garante a
preservação da natureza e da própria água.

A região do Cerrado é conhecida como


o berço das águas do Brasil, pois
nessa região se concentra grande
parte das nascentes de impor-
tantes bacias hidrográficas,
como: a Araguaia-Tocantins, a
do Prata e a do São Francisco.
Assim, o Cerrado desempenha

8
papel fundamental no processo de quado dessa água podem ser propa-
captação e distribuição das águas pelo gados por grandes extensões do ter-
País, sendo uma região estratégica. ritório brasileiro.
Portanto, os efeitos do uso inade-

Alerta: O Cerrado – berço das


águas – desempenha papel fun-
damental na distribuição da
água pelo País.

Diversos usos
da água

9
O que é vegetação ripária e qual a sua importância?

A s matas de galeria ocorrem nas margens dos córregos, riachos e rios. As


matas de galeria e as matas ciliares são exemplos de matas ripárias, ou seja,
estão associadas à água.

Mata Ciliar

Mata de Galeria

10
Alerta: É fundamental ado-
tar medidas práticas para a
preservação da água, uma vez
que esta é um bem universal,
finito e vulnerável.

Nas matas de galeria, a copa das


árvores das duas margens se toca
sobre o curso d’água, formando túneis
ou galerias. Já nas matas ciliares, a
copa das árvores da beira de uma
margem não encosta na copa das
árvores da outra margem. Nessa com-
paração, as matas ciliares seriam os
cílios e o rio os olhos.

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As matas ripárias (matas de galeria e matas ciliares) geram importantes serviços ambientais,
ou seja, trazem benefícios diretos e indiretos para o homem. Alguns exemplos desses
serviços são:

.. Diminuir o risco de contaminação da


água por fertilizantes e agrotóxicos;
ALERTA: As matas ripárias
.. Reduzir o custo de tratamento da água; são essenciais para a manu-
tenção dos serviços ambien-
.. Diminuir o risco de assoreamento (depó- tais que beneficiam o homem.
sito de terra no leito do rio);

.. Auxiliar na estabilização dos barrancos


do rio, evitando desmoronamento; .. Funcionar como corredor ecológico
interligando as matas ripárias
.. Diminuir o risco e os impactos das a outras áreas de conservação,
enchentes; o que propicia o aumento da
diversidade, a melhora da qua-
.. Fornecer alimento, abrigo e refúgio para lidade ambiental e a prestação
muitos animais, por exemplo: poliniza- dos serviços ambientais;
dores, inclusive de culturas agrícolas,
dispersores de sementes, peixes e .. Propiciar o uso
outros; direto dos rios
para fins de
.. Proporcionar melhor qualidade da água, pesca, recrea-
mantendo a temperatura e o nível de ção, ecoturismo,
oxigênio adequado para a sobrevivência entre outros.
dos animais aquáticos, entre eles os
peixes;

12
ALERTA: Somente cumprir a
Devido à sua grande importância lei não basta! É fundamental
na proteção dos cursos d’água, é também entender que as
fundamental manter as faixas de matas ripárias protegem a
vegetação nas margens dos córre- água e garantem sua
gos e rios, conforme indica a legis- qualidade.
lação ambiental.

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Embora as matas prestem importantes serviços ambientais, muitas pessoas ainda retiram
essa vegetação e degradam as matas.

A ausência dessa vegetação pode desencadear uma série de impactos negativos, que afetam
tanto o homem quanto o ambiente natural como um todo, tais como:

.. Enchentes. .. Doenças.

.. Contaminação e poluição da água. .. Migração e morte de animais que depen-


dem da vegetação para sobreviver.
.. Morte de peixes.
.. Diminuição da disponibilidade de água
.. Assoreamento dos rios. e, consequentemente, a falta de água
para diversos usos, inclusive para o con-
.. Formação de erosões e grandes voçoro- sumo humano tanto no campo quanto
cas (buracos na terra). nas cidades.

ALERTA: A falta das matas


ripárias causa desequilíbrios
ambientais, afetando a vida
dos animais, das plantas e do
próprio homem.

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Como o Cerrado é o berço das águas, a diminuição
da disponibilidade da água, provocada pela remo-
ção das matas ripárias, afetaria diretamente a
distribuição das águas para outras regiões.
Consequentemente, haveria um desequilíbrio
imediato, não somente na região afetada pela
retirada da vegetação. O problema iria “rio abaixo”,
propagando e ampliando os efeitos negativos no
percurso de suas águas.

Degradação da Mata Ripária

E m áreas ripárias podem ser encontradas situa-


ções com pouca, média ou muita degradação.
Áreas pouco degradadas são geradas pela queda
natural ou derrubada de algumas árvores (ambien-
tes perturbados). Já áreas com média a muita degra-
dação são geradas pelas queimadas, corte e derru-
bada de diversas árvores, pisoteio frequente do
gado, trânsito intenso de máquinas agrícolas,
deposição de lixo, ocupação de áreas impróprias
ao cultivo, uso indiscriminado de agrotóxicos, entre
outros. Alerta: Quanto maior for a
degradação, mais difícil será
A grande degradação leva ao desmoronamento a recuperação da mata.
das margens dos rios e à compactação do solo.

15
Esses fatores são os principais responsáveis pela
perda da camada orgânica (fértil) do solo, deixando
ALERTA: A degradação da a terra exposta e desprotegida.
mata leva a perda da sua
capacidade de regeneração Quanto mais intensa for a degradação na mata ripária,
natural em consequência da maior é o impacto em suas características naturais, o
ausência dos animais, de que torna mais difícil sua recuperação.
sementes no solo e de peque-
nas plantas nativas. A mata ripária se torna degradada quando perde sua
capacidade de regeneração natural depois de algum
distúrbio (desmatamento, queimada, pisoteio pelo

16
gado, etc), o que torna necessária a ação humana
para tentar reverter o processo de degradação.

Compare uma mata ripária íntegra (página 16) com


uma mata ripária degradada (página 17).

17
Como recuperar as matas
ripárias?

A recuperação de matas ripárias é a melhor


estratégia para ajudar na proteção da
água e, consequentemente, das plantas, dos
animais e do homem. Normalmente, usa-se
o termo restauração ecológica, que visa res-
tituir a mata degradada o mais próximo
possível da mata original.

ALERTA: Os animais silves-


tres são parceiros do produtor
para acelerar a restauração
ecológica.

18
Primeiros passos...
Para que o processo de restauração tenha sucesso é fundamental seguir os seguintes
passos na área a ser restaurada:

1 Cercar a área a ser recuperada para 5 Controlar a presença de braquiária e


impedir que animais domésticos de capim-gordura com capinas periódi-
grande porte (vacas, cavalos, cabritos, cas. Essas plantas competem com as
etc) pisoteiem ou comam as mudas. plantas nativas por nutrientes.

2 Eliminar as causas da perturbação ou 6 Escolher espécies nativas de matas


da degradação, tais como: fatores ripárias, priorizando frutíferas que
físicos (pisoteamento, fogo, compac- atraiam animais nativos. Os animais
tação, lixo...) e químicos (agrotóxicos, desempenham um importante papel
fertilizantes, contaminantes...). ecológico, pois trazem sementes de
Dependendo do nível de perturba- diferentes locais e aumentam a bio-
ção, muitas vezes a simples elimina- diversidade local, auxiliando a recu-
ção desses distúrbios já proporciona perar áreas degradadas.
o sucesso da restauração.
7 Distribuir mudas das espécies nativas
3 Fazer aceiro no entorno da área para de acordo com o ambiente a que elas
evitar que o fogo se espalhe. estão adaptadas – alagável ou não.

4 Promover a interligação de remanes- 8 Envolver a comunidade local no moni-


centes naturais da vegetação. toramento da restauração.

19
Passos seguintes...
Escolher o sistema de restauração mais adequado para a área
degradada. Existem diferentes sistemas de restauração que
devem ser usados de acordo com o grau de degradação. É impor-
tante lembrar que numa mesma bacia hidrográfica podem ser
usados diferentes sistemas com o objetivo de acelerar o processo
de restauração das áreas degradadas.

Os sistemas de restauração são:

.. Regeneração natural .. Restauração induzida

Regeneração natural

A regeneração natural consiste em deixar os processos naturais


atuarem na restauração da área sem que haja o plantio de
mudas e sementes pelo
homem, e é mais usada em
áreas pouco perturbadas.
Lembre-se: Quanto mais
Essa restauração pode
degradada e distante de frag-
ocorrer com a utilização
mentos de matas naturais a
dos três primeiros passos
área degradada estiver, mais
sugeridos no processo de
pobre e mais demorada será a
restauração: cercar a área,
regeneração natural.
retirar os fatores de degra-
dação e fazer aceiro.

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Uma área é considerada de elevada capacidade de se regenerar naturalmente quando
apresenta:

A Sementes remanescen- D Presença de animais F Pouca perturbação.


tes no solo. silvestres, principal-
mente, aves e morce- G Solo conservado, sem
B Presença de pequenas gos dispersores de compactação.
plantas nativas. sementes.

C Presença de rebrota de E Proximidade com frag-


plantas nativas. mentos de matas natu-
rais que são fontes de
sementes.

A regeneração natural tende a ser a forma de recuperação mais


barata. Mas, se a área a ser restaurada não apresenta condições
de se regenerar naturalmente, recomenda-se o plantio de mudas
e sementes de espécies nativas.

Restauração induzida

A restauração induzida consiste em recompor o solo,


semear, plantar mudas, entre outras ações, que promo-
vam o retorno da vegetação nativa e dos animais.

21
Seleção de Espécies
Para restaurar a mata ripária é necessário selecionar
ALERTA: Quanto maior a inte-
as espécies nativas que serão plantadas ou semeadas.
ração entre as espécies de plan-
Normalmente, recomenda-se selecionar espécies que
tas e animais, maior é a capaci-
ocorram naturalmente na região, ou seja, plantas que
dade de recuperação do local.
componham a vegetação natural da região próxima ao
local a ser restaurado.

A seleção deve considerar principalmente espécies


vegetais nativas que produzem frutos e que atraiam animais dispersores de
sementes. Essas plantas também irão garantir ao longo dos anos os recursos
alimentares para esses animais (insetos, aves, mamíferos, peixes, etc). Algumas
espécies recomendadas com essas características estão apresentadas no Anexo.

Alguns procedimentos básicos são muito importantes e recomendados na seleção de espé-


cies para restauração de matas ripárias:

A Selecionar espécies nativas com ocor- D Plantar frutíferas que irão


rência na região. atrair animais, como
aves e morcegos,
B Selecionar o maior número possível de que trazem semen-
espécies de plantas nativas para gerar e tes de diferentes
atrair alta diversidade. locais, aumentando a
biodiversidade local.
C Utilizar combinações de plantas nativas
de rápido crescimento junto com plan-
tas que crescem mais lentamente.

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Procedimentos gerais para o preparo do solo
O preparo de solo consiste no conjunto de atividades reali-
zadas anteriormente ao plantio, com o objetivo de melhorar
as suas propriedades físicas e químicas.

As técnicas de preparo do solo variam conforme o


local. De modo geral, relacionam-se às atividades
que irão possibilitar o plantio definitivo como: ALERTA: Matas com maior
diversidade de plantas, em
.. Abertura de covas, ou melhor, berços com lar- geral, apresentam maior capa-
gura e profundidade suficientes para o plantio cidade de restauração.
das mudas.

.. Correção do solo, quando recomendado por


um profissional da área.
ALERTA: As mudas de espécies
nativas podem ser adquiridas
.. Adubação das covas ou do solo com produtos em viveiros.
orgânicos (estercos) ou químicos, recomen-
dado por um profissional da área.

.. Uso de cobertura orgânica morta sobre o solo para garantia da umidade


Animais
do solo, diminuição da temperatura e fornecimento de nutrientes. polinizadores

.. Estabelecimento das curvas de nível.

.. Controle de formigas. e

.. Controle de plantas daninhas com poda manual ou mecânica.

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Áreas com presença de braquiária ou mão-de-obra e é mais rápido. As covas
capim-gordura devem ser roçadas devem ser abertas num tamanho que
(manual ou mecanicamente) antes do possa caber a muda e ter espaço sufi-
plantio. O resíduo das roçadas pode ciente para a adubação e o
ser incorporado ao solo por gradagem enraizamento.
ou deixado no local sobre
o solo. Essa biomassa Uma alternativa ao plantio de mudas
vegetal fornece matéria é a semeadura direta. O tamanho das
orgânica, protege o solo sementes irá determinar o procedi-
ALERTA: contra o aumento da mento de semeadura na área a ser
Recomenda-se temperatura, erosão e restaurada, podendo ser a lanço, em
fazer uma análise perda de umidade. linha ou na cova. A superfície deve ser
do solo e um aberta de acordo com o tamanho das
laudo técnico que No planejamento da res- sementes, cobrindo-as com solo.
indique se há tauração da área, as
necessidade de mudas devem ser planta- A quantidade de mudas colocada no
correção e aduba- das seguindo as curvas plantio de restauração deve respeitar
ção do solo para de nível distribuídas em o número aproximado de plantas adul-
plantio das espé- função da inclinação do tas que se espera na área. A densidade
cies nativas. local. Nos locais onde a natural de espécies arbóreas adultas
declividade é acentuada, das matas ripárias é de 1.000 a 2.000
recomenda-se fazer as árvores por hectare. Essa informação
covas manualmente, com é importante para considerar o número
o uso de cavadeiras e em de mudas ou sementes que serão
nível. Em áreas planas, o uso de trato- plantadas no local a ser restaurado.
res acoplados a perfuratrizes facilita Os arranjos ou a disposição das mudas
bastante o trabalho, demanda menos e/ou sementes no terreno pode ser

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feita em linhas, ao acaso ou em ilhas, dependendo dos obje-
tivos do plantio, do tamanho e formato da área e dos recursos
disponíveis (financeiros, pessoas, equipamentos, dentre
outros).

O plantio deve ser sempre na época das chuvas para


favorecer o estabelecimento e a sobrevivência das
mudas, evitando os períodos de veranico (estia-
gem durante a estação chuvosa). Se necessário,
no período após o plantio ou mesmo durante a
primeira estação seca, a irrigação deve ser apli-
cada para evitar a mortalidade das mudas. O
plantio pode ser total ou em plantios sucessi-
vos, possibilitando aos poucos o adensamento
de arbóreas e arbustivas de várias espécies.

Durante o desenvolvimento das mudas, é reco-


mendável protegê-las contra ataque de formigas.
Nesse caso, podem-se usar cilindros de garrafas pet ou
embalagens longa vida, envolvendo as mudas a partir do solo
até uma altura de cerca de 20 cm. Ainda é possível espalhar,
ao redor das mudas, farinha de ossos, casca de ovos moída e
torrada, carvão vegetal e cinzas do fogão à lenha.

É importante monitorar o plantio para garantir o


ALERTA: O plantio deve ser sem-
estabelecimento seguro das mudas. É recomendá-
pre feito no início das chuvas.
vel repor as mudas que morrerem.

25
Técnicas de restauração
induzida

Recomenda-se o uso de duas técnicas de


restauração induzida, que podem ser usa-
das de forma conjunta, dependendo das
condições da área a ser restaurada:

..Técnicas de distribuição das mudas em


Linhas de Preenchimento e Linhas de
Diversidade

..Técnicas de nucleação

As duas técnicas buscam acelerar e manter sadio


o processo de restauração, ao longo do tempo,
promovendo as interações fauna-flora e facilitando
o processo de restauração da área. Nessa parceria,
os animais desempenham um importante papel
ecológico, pois trazem sementes de diferentes
locais, aumentam a biodiversidade local, propiciam
estabilidade aos processos ecológicos e conferem
mais sustentabilidade às atividades de recuperação
de áreas degradadas.

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Técnica de distribuição das mudas em Linhas de
Preenchimento e em Linhas de Diversidade
Essa técnica busca o rápido recobrimento da área pela distribuição
das mudas de crescimento rápido nas Linhas de Preenchimento. Nessas
linhas são plantadas espécies nativas de rápido crescimento e que pro-
movem grande cobertura da área, por possuírem copas maiores. Em seguida,
são instaladas as Linhas de Diversidade que formarão a mata madura. Essas
linhas são compostas por várias espécies nativas que não apresentam cresci-
mento tão rápido, nem copa tão ampla, mas que podem, por exemplo, atrair
a fauna pelos alimentos que fornecem. Na linha de diversidade, a proporção
maior é de espécies de crescimento lento e de diferentes formas de vida (erva,
arbusto e árvore).

Distribuição
em linhas de
preenchimento
e linhas de
diversidade

27
Técnicas de nucleação
A nucleação é a capacidade de uma espécie ou de
um elemento (p.ex.: poleiro) em atrair animais que
vêm se alimentar de seus frutos ou obter outros
benefícios, como: local de pouso e abrigo. Os ani-
mais, como aves e morcegos, propiciam o transporte
de sementes para o local em restauração.

Ao atrair diversos animais, as técnicas de nucleação


aceleram a restauração ecológica de áreas degra-
dadas e têm menor custo quando comparadas aos
projetos tradicionais de reflorestamento, pois nem
sempre demandam tratamento contra pragas e
manutenção constante.

ALERTA: Naturalmente, os animais nativos


ajudam a recuperar áreas degradadas por
trazer sementes de plantas nativas para esses
locais. Assim, os animais também prestam
serviços ambientais para o homem e para o
ambiente. São os jardineiros das matas!

28
Nucleação

29
As técnicas nucleadoras, usadas em conjunto, aumen-
tam muito a eficiência ecológica da restauração com
mínimo custo.

Dentro das técnicas de nucleação, podem ser citadas:

➽➽ Poleiros naturais e artificiais ➽➽ Transposição de solo de


Os poleiros naturais são obtidos natu- áreas próximas
ralmente pelo plantio de árvores de Esta técnica consiste na coleta de
rápido crescimento que tenham copa pequenas porções da camada super-
favorável para o pouso de aves e mor- ficial do solo (5cm) em ambientes
cegos, para repouso ou alimentação de
naturais próximos à área a ser restau-
frutos. Nesses locais, os animais deixam
rada. Esse solo pode ser coletado em
cair os frutos, regurgitam ou defecam
ambientes que serão radicalmente
as sementes. Além disso, esses poleiros
modificados para plantios agrícolas,
servem de locais estratégicos para
para construção de barragens ou para
pouso, reprodução ou esconderijo no
mineração, por exemplo. O solo da
caso de aves perseguidas por predado-
camada superficial tem muitas folhas,
res, além de aumentarem a frequência
de visitação à área, permitindo maior sementes, galhos e raízes em decom-
interação entre fauna-flora. posição que podem ajudar no processo
de restauração das áreas degradadas,
Os poleiros artificiais (poleiros secos) tanto pelas sementes contidas nesse
são construídos com varas de bambu, solo quanto pelos organismos, como:
postes de eucalipto, entre outros. Para bactérias, algas, fungos, ácaros, cupins,
ajudar a atrair os animais, recomenda-se formigas, minhocas, besouros, tatuzi-
o plantio de trepadeiras que irão colo- nhos, aranhas, centopeias, grilos,
nizar o poleiro. caracóis, mariposas, entre outros.

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Essas espécies são responsáveis pela ➽➽ Enleiramento de galharia
transformação dos nutrientes e pela
O material da floresta como galhos,
fertilização natural do solo, o que auxilia
tocos e caules de rebrotas podem
a recuperação das propriedades físico-
formar pilhas distribuídas em leiras
-químicas do solo degradado e, por
com alturas variadas de 30 a 50 cm.
consequência, a revegetação da área.
Essas leiras funcionam como atrativo
e abrigo aos animais, que podem aju-
No entanto, o maior limitante dessa
dar a distribuir sementes na área
técnica é o custo, porque pode requerer
degradada. As leiras também mantêm
mais atividades operacionais no caso
o ambiente mais úmido e sombreado,
de grandes movimentações de solo em
rico em matéria orgânica, propício
grandes distâncias.
para o desenvolvimento de plantas.

➽➽ Transposição de sementes de
áreas próximas
➽➽ Plantio em ilhas ou em núcleos
Consiste na formação de pequenas ilhas
Esta técnica consiste na coleta perió-
onde são colocadas plantas nativas que
dica de sementes por meio de coleto-
florescem e frutificam precocemente,
res colocados no interior de matas
de forma a atrair animais que espalham
vizinhas. Os coletores de sementes
sementes. As ilhas podem ter diferentes
recebem parte das sementes que
densidades e diversidade de plantas
caem das árvores. As sementes podem
nativas. O plantio em ilhas consiste em
ser usadas para a produção de mudas
distribuir as mudas de forma adensada
ou para semear diretamente na área
(núcleos ou ilhas) e simétrica. Cada ilha
a ser restaurada. A coleta periódica
pode conter de 3 a 25 mudas, tanto de
permite que se coletem sementes
espécies arbóreas como arbustivas. A
de diversas plantas que frutificam
distância máxima entre cada muda deve
ao longo do ano.
ser de um metro.

31
Avaliação do processo de restauração
ecológica de matas ripárias

U ma área de mata ripária restaurada deverá apresentar certas


características que indiquem que o processo de restauração
esteja acontecendo de forma contínua e saudável, ou seja,
ambientalmente equilibrada.

As características que são facilmente percebidas numa área


restaurada são:

A Funcionar como barreira que impede a chegada de terra


carregada pela enxurrada ladeira abaixo até o rio
(sedimentos).

B Formar camada de folhas e galhos sobre o solo.

C Apresentar conjunto característico de plantas nativas de


diferentes idades, tamanhos, formas de vida (ervas,
arbustos e árvores) e aspecto saudável semelhantes ao
ecossistema original da região.

D Apresentar animais silvestres como aves, mamíferos (capi-


varas, pacas e tatus, morcegos entre outros), e peixes nos
corpos d’água.

32
Todo esse conjunto indica que as ameaças de degradação foram eliminadas
ou substancialmente reduzidas ao longo do processo de recuperação.

Como qualquer ambiente natural, a composição das espécies e demais carac-


terísticas das matas ripárias restauradas mudam com o tempo, com tendência
natural a se aproximar à dinâmica da vegetação original.

Preservar, conservar e restaurar nossas matas ripárias no Bioma Cerrado é


questão de sustentabilidade e sobrevivência da espécie humana.

Então, vamos restaurar a diversidade das matas ripárias do Bioma Cerrado – o


berço das águas!

33
ANEXO
Animais que ajudam a espalhar sementes, nome comum, nome científico e ambiente de
ocorrência natural de algumas espécies vegetais que podem ser utilizadas para restauração
de matas ripárias do Bioma Cerrado. Lembre-se: outras plantas nativas também podem ser
utilizadas desde que sejam do mesmo ambiente.

Quem espalha as
Nome da planta Nome científico Ambiente
sementes?
Preferência por ambiente
Murici Miconia hirtella
inundável
Preferência por ambiente
Bapeba-branca Pseudolmedia laevigata
não inundável
Exclusiva de ambiente
Chá-de-bugre Cordia sellowiana
não inundável
Exclusiva de ambiente
Jaca brava Richeria grandis
inundável
Exclusiva de ambiente
AVES Pinha-do-brejo Talauma ovata
inundável
Exclusiva de ambiente
Pindaíba-do-brejo Xylopia emarginata
inundável
Preferência por ambiente
Almécega Protium almecega
inundável
Indiferentes às condições
Embaúba Cecropia pachystachia
do ambiente
Preferência por ambiente
Morototó Schefflera morototoni
inundável

34
Quem espalha as
Nome da planta Nome científico Ambiente
sementes?
Preferência por ambiente
Pau-pombo Tapirira guianensis
inundável
Preferência por ambiente
Embireira Guatteria sellowiana
não inundável
Preferência por ambiente
Ucuúba Virola sebifera
não inundável
Preferência por ambiente
Espinho-de-vintém Zanthoxylum rhoifolium
não inundável
Cardiopetalum Exclusiva de ambiente
Imbirinha
calophyllum não inundável
Exclusiva de ambiente
Pau-d’óleo Copaifera langsdorffii
não inundável
Exclusiva de ambiente
AVES Bosta-de-rato Hirtella glandulosa
não inundável
Exclusiva de ambiente
Camboatá Matayba guianensis
não inundável
Exclusiva de ambiente
Aracá Myrcia rostrata
não inundável
Exclusiva de ambiente
Caxeta Simarouba amara
não inundável
Exclusiva de ambiente
Pimenta-de-macaco Xylopia sericeae
não inundável
Exclusiva de ambiente
Palmiteiro Euterpe edulis
inundável
Exclusiva de ambiente
Copororoca Rapanea guianensis
inundável

35
Quem espalha as
Nome da planta Nome científico Ambiente
sementes?
Exclusiva de ambiente
ANTA Buriti Mauritia flexuosa
inundável
Exclusiva de ambiente
CUTIA Jatobá-da-mata Hymenaea courbaril
não inundável
Preferência por ambiente
MACACOS Ingá-do-brejo Inga vera
inundável
Preferência por ambiente
Marmelo Alibertia sessilis
inundável
Exclusiva de ambiente
Landim Calophyllum brasiliense
inundável
MORCEGOS
Preferência por ambiente
Jaborandi Piper hispidum
inundável
Preferência por ambiente
Sobre Emmotum nitens
não inundável
Preferência por ambiente
PEIXES E AVES Mutamba Guazuma ulmifolia
não inundável

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AGRADECIMENTOS
À Fundação Banco do Brasil (FBB) pelo apoio financeiro.

Aos projetos :
Popularização da Ciência & Tecnologia: espaços de interação no Cerrado – CNPq/SECIS/
MCT/Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa nº 064/2009 e
AQUARIPARIA: Restauração ecológica de ambientes ripários sob influência de atividades
agrícolas e urbanas em mananciais de três bacias hidrográficas – MCT/CNPq/CT-Agronegócio
Nº 26/2010 pelas informações técnico-científicas.
ISBN 978-85-7035-008-4

9 788570 350084

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