STF - Liberdade de Expressão
STF - Liberdade de Expressão
STF - Liberdade de Expressão
DE EXPRESSÃO
LIBERDADE
DE EXPRESSÃO
Brasília, junho de 2023.
Secretaria-Geral da Presidência Secretaria de Comunicação Social
Estêvão André Cardoso Waterloo Mariana Araujo de Oliveira
Gabinete da Presidência Celiane Pereira de Oliveira Lima
Daniela Fernandes Daros Fábio José Caraciolo Teles
Helionai Martins dos Santos
Secretaria do Tribunal Ilana Vieira de Paiva
Miguel Ricardo de Oliveira Piazzi Osiel Luiz de Sousa
Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas Rogério Côrrea de Castro
e Gestão da Informação Revisão de provas editoriais
Fabyano Alberto Stalschmidt Prestes Márcia Gutierrez A. Bemerguy
Coordenadoria de Difusão da Juliana Silva Pereira de Souza
Informação Rosa Cecilia Freire da Rocha
Flávia Trigueiro Mendes Patriota Produção editorial
Coordenação da obra Lilian Januzzi Vilas Boas
Soraia de Almeida Miranda David Duarte Amaral
Produção de conteúdo Projeto gráfico
Alessandra Marreta de Veras Camila Penha Soares
Dirceu Moreira do Vale Filho Soraia de Almeida Miranda
Eliane Nestor da Silva Santos Capa
Heloísa Toledo de Assis Duarte Flávia Carvalho Coelho
Ivson Brandão Faria Valderato
Maria Beatriz Moura de Sá Diagramação
Mariana Bontempo Bastos Raposo Ana Carolina Caetano
Paula Roberta G. de Carvalho Farcic Camila Penha Soares
Priscila Heringer Cerqueira Pooter
Ricardo Henriques Pontes
Thiago Gontijo Vieira
Ministra
ROSA Maria Pires WEBER, Presidente
(19‑12‑2011)
Ministro
Luís ROBERTO BARROSO, Vice‑Presidente
(26-6-2013)
Ministro
GILMAR Ferreira MENDES, Decano
(20‑6‑2002)
Ministra
CÁRMEN LÚCIA Antunes Rocha
(21‑6‑2006)
Ministro
José Antonio DIAS TOFFOLI
(23‑10‑2009)
Ministro
LUIZ FUX
(3‑3‑2011)
Ministro
Luiz EDSON FACHIN
(16-6-2015)
Ministro
ALEXANDRE DE MORAES
(22-3-2017)
Ministro
Kassio NUNES MARQUES
(5-11-2020)
Ministro
ANDRÉ Luiz de Almeida MENDONÇA
(16-12-2021)
APRESENTAÇÃO
Lista de siglas............................................................................................................................................ 13
Liberdade de expressão e limites......................................................................................... 15
Liberdade de culto............................................................................................................................35
Direito ao esquecimento............................................................................................................49
Recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por moti-
vo de convicção filosófica..........................................................................................................59
Crítica realizada por meio de sátira a elementos religiosos inerentes
ao cristianismo....................................................................................................................................... 71
Tipificação do crime de desacato.......................................................................................81
Fake news....................................................................................................................................................95
Liberdade de expressão dos agentes políticos....................................................109
Liberdade de expressão no ambiente universitário........................................119
Identidade de gênero....................................................................................................................129
Direito de acesso à informação..........................................................................................137
Tolerância e respeito à diversidade.................................................................................145
Livre organização de entidades estudantis.............................................................157
Contribuição sindical...................................................................................................................167
Propaganda eleitoral via telemarketing.......................................................................183
Limite à manifestação do pensamento religioso..............................................193
Novo marco regulatório da televisão por assinatura..................................203
Ensino religioso confessional.................................................................................................219
Imunidade tributária cultural.............................................................................................229
Classificação indicativa...............................................................................................................241
Uso de tatuagem por postulantes a cargos públicos...................................255
Financiamento de campanhas eleitorais..................................................................265
Biografias não autorizadas.....................................................................................................275
Lei Geral da Copa........................................................................................................................... 289
Marcha da maconha....................................................................................................................297
Diploma para o exercício do jornalismo...................................................................313
Liberdade de imprensa..............................................................................................................329
Lei de Biossegurança e pesquisas com células-tronco
embrionárias.......................................................................................................................................345
Liberdade de reunião e de manifestação pública........................................... 365
LISTA DE SIGLAS
2ª T Segunda Turma
AC Ação Cautelar
ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade
ADO Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão
ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
AgR Agravo Regimental
AI Agravo de Instrumento
Ancine Agência Nacional de Cinema
AP Ação Penal
ARE Recurso Extraordinário com Agravo
c/c combinado com
CF Constituição Federal
CF/88 Constituição Federal de 1988
CP Código Penal
CPC Código de Processo Civil
CPP Código de Processo Penal
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
DJ Diário da Justiça
DJE Diário da Justiça Eletrônico
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
HC Habeas Corpus
Inq Inquérito
j. Julgamento em
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LGBT+ Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Trans-
gêneros e outras definidas por sua orientação sexual ou
identidade de gênero
MC Medida Cautelar
MI Mandado de Injunção
min. Ministro
MS Mandado de Segurança
13 Sumário
OC Opinião Consultiva
OEA Organização dos Estados Americanos
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
P Plenário
Pet Petição
PGR Procuradoria-Geral da República
Rcl Reclamação
RE Recurso Extraordinário
red. do ac. Redator do acórdão
REF Referendum
rel. Relator
RG Repercussão Geral
RHC Recurso Ordinário em Habeas Corpus
RISTF Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
RJTJSP Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo
SeAC Serviço de Acesso Condicionado
STF Supremo Tribunal Federal
TSE Tribunal Superior Eleitoral
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
14 Sumário
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIMITES
Sumário
RESUMO
16 Sumário
Direito preferencial
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
17 Sumário
10 X 1
Min. Alexandre
de Moraes – Relator
Min. Nunes Marques
Min. André
Mendonça – parcialmente
Min. Edson Fachin
Min. Roberto Barroso
Min. Rosa Weber
Min. Dias Toffoli
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Gilmar Mendes
Min. Luiz Fux – Presidente
18 Sumário
ENTENDA O CASO 1
19 Sumário
O ministro Nunes Marques, revisor da ação penal, divergiu do rela-
tor e votou pela improcedência da ação penal, por entender que o
réu apenas fez duras críticas aos Poderes constitucionais, que, a seu
ver, não constituem crime, nos termos do art. 359-T do Código Penal.
Ainda para o ministro revisor, as declarações estão protegidas pela
imunidade parlamentar (art. 53, caput, da Constituição Federal). Na
sua avaliação, o parlamentar, utilizando sua rede social para informar
seus eleitores (e, portanto, em razão de seu mandato), expôs fatos que
entendeu injustos. “É uma opinião com palavras chulas e desonrosas,
mas não crime contra a segurança nacional”, disse.
O ministro Nunes Marques afirmou que, de acordo com a jurispru-
dência do Supremo, só há crime político quando houver lesão real
ou potencial à soberania nacional e ao regime democrático, o que,
segundo ele, não ocorreu no caso. Ele também não verificou, nos atos
do parlamentar, ameaça ao curso do processo capaz de se concretizar.
O ministro André Mendonça divergiu apenas parcialmente do rela-
tor e votou pela condenação do réu apenas em relação ao crime de
coação no curso do processo, propondo a pena de 2 anos e 4 meses
de reclusão, em regime inicial aberto, e 130 dias-multa. No entanto,
absolveu o parlamentar das acusações de incitar a animosidade entre
as Forças Armadas e o STF e pela suposta tentativa de impedir o livre
exercício dos Poderes da União. Para ele, apesar do alto grau de repro-
vabilidade, a conduta não se enquadra no tipo penal atual.
20 Sumário
FUNDAMENTOS
21 Sumário
se aproximar da verdade, enquanto que o silenciamento cons-
tituiria uma prática perniciosa para a humanidade [...].
Isso porque a supressão do discurso faria com que opiniões ver-
dadeiras fossem negligenciadas, causando prejuízos ao desen-
volvimento civilizatório [...].
Por outro lado, mesmo nos casos de opiniões e pensamentos
equivocados, a proibição da veiculação de ideias impediria a
obtenção do benefício de reafirmação das ideais corretas que
decorre da colisão entre elas [...].
No âmbito da teoria proposta pelo autor inglês, somente seria
possível a realização de restrições à livre manifestação de ideias e
pensamentos quando houver a incitação à prática de uma ação
capaz de promover dano injustificado a terceiros [...].
A partir do exemplo apresentado pelo próprio Mill do mani-
festante que incita uma multidão faminta reunida em frente
à casa de um produtor de grãos à prática de atos violentos,
Owen Fiss destaca a necessidade, presente no pensamento do
filósofo britânico, que o discurso a ser reprimido seja claramente
calunioso e ilegal, devendo ainda possuir uma relação direta e
imediata com o dano causado a terceiros [...].
É importante registrar que a teoria liberal e utilitarista da liber-
dade de expressão foi incorporada à jurisprudência constitucio-
nal dos Estados Unidos através da metáfora do livre mercado de
ideais (free market place of ideas), que foi mencionada pela pri-
meira vez no voto dissidente do Justice Oliver Wendell Holmes,
da Suprema Corte dos Estados Unidos (Scotus) no caso Abrams
v. United States, julgado em 1919 [...].
A versão americana prevê que “o melhor teste para a verdade é
o poder de aceitação através da competição no mercado” [...]. A
ideia central é que, em uma sociedade democrática, a verdade e
22 Sumário
a razão só podem ser obtidas se a todos for atribuído o direito
de demonstrar e debater, racionalmente, o seu ponto de vista
sem qualquer interferência estatal [...].
Registre-se que a noção de livre mercado de ideias tem sido
utilizada para proteger principalmente discursos e opiniões que
possuem conteúdo político, tal como se observa do precedente
firmado no caso New York Times v. Sullivan, julgado em 1964 [...].
[...]
A lógica por trás desse e de outros precedentes é que o núcleo
essencial da primeira emenda à Constituição norte-americana,
que garante a liberdade de expressão, busca proteger discursos,
matérias e opiniões críticas ao governo, de modo a possibilitar
o livre convencimento individual e coletivo sobre os assuntos
relativos ao Estado [...].
[...]
Embora não se ignore a importância e a relevância da teoria
do livre mercado de ideias para tratar de inúmeras questões
relativas à liberdade de expressão, em especial no que se refere à
livre veiculação de ideias políticas, é possível apresentar algumas
críticas ou lacunas dessa corrente de pensamento.
Nessa toada, a interpretação predominante na jurisprudên-
cia da Suprema Corte dos Estados Unidos, que exerce forte
influência no Brasil, por vezes não oferece ferramentas ade-
quadas para regular discursos de ódio ou antidemocráticos,
tal como se observa dos precedentes estabelecidos no caso
Brandenburg vs. Ohio [...], nos quais se declarou a constitucio-
nalidade de manifestações de ódio contra negros e judeus e a
inconstitucionalidade de lei que restringia o uso de símbolos
que remetessem a práticas de discriminação racial.
23 Sumário
Não é por outro motivo que Alvin Goldman e Daniel Baker afir-
mam que “a liberdade de expressão envolve trocas e balancea-
mentos entre o valor deste direito e os prejuízos que o discurso
pode causar, de modo que nenhum país pode resolver essas
trocas apenas a partir da proteção integral da liberdade” [...].
De modo semelhante, ao problematizar a teoria do livre mer-
cado de ideias, Cass Sunstein assevera que “qualquer mercado
exige critérios e regras claras. Nenhum mercado pode operar
inteiramente livre.” [...].
Portanto, mesmo diante dessa ampla liberdade de manifestação
do pensamento e da opinião, é possível estabelecer algumas
hipóteses de regulação e limitação à liberdade de expressão.
Com efeito, a jurisprudência constitucional norte-americana
tem entendido que esse direito fundamental não abrange, por
exemplo, os atos de pedofilia, a pornografia ou discursos que
incitem a violência (fighting words). Também não se encontra
abrangida por esse direito fundamental textos, opiniões ou pala-
vras de difamações dolosas (denominada de actual malice pela
jurisprudência norte-americana [...].
A jurisprudência da Suprema Corte dos Estados Unidos também
tem entendido pela possibilidade de restrições à liberdade de
expressão nos casos em que o discurso apresentar o potencial
de caracterizar um perigo claro e iminente (clear and present
danger) ao bem público.
De acordo com Martin Shapiro, o perigo claro e iminente da
jurisprudência norte-americana demanda a existência de uma
ameaça que interfira de forma imediata e significativa sobre o
sistema jurídico e o regime democrático [...].
[...]
24 Sumário
Nessa perspectiva, discursos de incitação à sabotagem ou à vio-
lência que preencham os requisitos de perigo claro e iminente
são proibidos e podem ser legalmente restringidos, inclusive
através da aplicação da lei penal, sendo importante destacar
que as circunstâncias e o objetivo do discurso são relevantes
para a análise de adequação da resposta estatal [...].
[...]
Em suma, embora se defenda, no âmbito da filosofia política
e da teoria constitucional anglo-americana, um amplo espaço
de proteção à liberdade de expressão, que é considerada por
muitos como um direito preferencial, é possível vislumbrar
restrições à livre manifestações de ideias, inclusive mediante
aplicação da lei penal, nos seguintes casos: a) em atos, discursos
ou ações que envolvam a pedofilia; b) nos casos de discursos
que incitem a violência (fighting words); c) quando se tratar de
discurso com intuito manifestamente difamatório, de forma
dolosa (actual malice); d) em manifestações capazes de causar
um perigo claro e iminente ao sistema jurídico, ao regime demo-
crático ou ao bem público (clear and presente danger).
25 Sumário
mediante o uso da palavra, minar a independência do Poder
Judiciário e, mais do que isso, a própria existência de instituição
constitucionalmente concebida como o último refúgio de tutela
das liberdades públicas.
[...]
Afigura-se legítima e necessária, portanto, a tutela do Estado
de Direito mediante o emprego do Direito Penal contra atos
comunicativos, enquanto legítima expressão daquilo que se
convencionou chamar, no direito alienígena, de “democracia
combativa”, ou seja, uma democracia dotada de instrumentos
de autodefesa contra aqueles “que se valem dos mecanismos
constitucionais e democráticos para destruir, de dentro, a Cons-
tituição e a democracia” [...].
[...]
[...] o material documentado nos autos revela comportamento
destoante daquele que se espera de uma autoridade pública
que, por um lado, ascende ao cargo eletivo pelas vias democrá-
ticas e, noutro vértice, passa a utilizar a representação popular
como instrumento de fragilização e pretensa aniquilação das
instituições constituídas.
Ao publicar, na condição de representante eleito, conteúdo
propagando regozijo com situação hipotética de ataque até
mesmo físico contra integrantes de um Poder constituído da
República e de destituição de seus membros por vias que não
as legitimamente instituídas, o parlamentar incorre em prática,
consciente e voluntária, de ato atentatório ao próprio regime
democrático no qual está inserido.
Como assentei por ocasião do julgamento da ADPF 572, no qual
analisada a constitucionalidade do ato inaugural do Inquérito
4.781, “o resguardo da existência dos Poderes constituídos é
26 Sumário
vetor nuclear da República Federativa do Brasil, que, na falta
de qualquer deles, terá tolhida sua condição jurídica elemen-
tar, encartada já no artigo inaugural de nossa Carta fundante,
a saber, a de se constituir em Estado Democrático de Direito.”.
Ali, referindo-me à desinformação digital e à potencialidade de
sua utilização como instrumento de desestabilização demo-
crática do país, pontuei, com muito desalento, que “agora nos
vemos às voltas com ataques sistemáticos, que em absoluto
se circunscrevem a críticas e divergências abarcadas no direito
de livre expressão e manifestação assegurados constitucional-
mente, traduzindo, antes, ameaças destrutivas às instituições
e seus membros, com a intenção de desmoralizá-las, assim
influenciando na própria conformação dos valores mais caros
a uma sociedade democrática.”.
O fenômeno social identificado revela aspiração, tão pretensiosa
quanto nefasta, de fragilizar a missão de intérprete e guardião
da Constituição conferida a este Supremo Tribunal Federal pelo
texto constitucional e – qual praga de hábitos subterrâneos a
atacar raízes e estruturas fundantes da vegetação de nosso relevo
institucional – de corroer os alicerces da própria democracia.
27 Sumário
Assim, convém deixar claro, desde logo, o seguinte ponto: não
há liberdade de expressão quando o seu exercício puder resul-
tar no próprio extermínio da liberdade de expressão. Resgato,
no particular, a advertência de Munhoz Netto: “O Estado não
pode tolerar, sem negar-se a si próprio, a atividade dos que,
valendo-se das liberdades que ele assegura, queiram terminar
com a própria liberdade” [...].
[...]
Na realidade, a questão que se mostra contenciosa, no plano
doutrinário, consiste na indagação sobre qual o limite à crimi-
nalização de discursos. Sendo inquestionável a existência de
limites à liberdade de expressão, o problema reside, portanto,
na pesquisa do limite dos limites.
Sem embargo, no caso concreto, esse problema (do limite dos
limites) – identificado na literatura jurídica alemã e normal-
mente equacionado com recurso ao princípio da proporcio-
nalidade – não se põe, uma vez que as investidas criminosas e
antidemocráticas do acusado sequer se ajustam ao âmbito de
proteção da garantia fundamental em apreço. É que a partici-
pação no debate público, in casu, foi utilizado pelo réu apenas
como subterfúgio para a promoção de virulentos ataques não
apenas aos juízes desta Corte, mas, sobretudo, aos pilares da
democracia, expresso em sua tentativa de corroer os alicerces
do Estado de Direito, a partir da apologia de ações voltadas a
inviabilizar a própria existência deste Tribunal.
[...]
É certo que em tais casos, não basta, à higidez da repressão penal
a atos comunicativos, que (i) esteja ela devidamente prevista em
leis formalmente válidas e (ii) atenda a fins constitucionalmente
legítimos. É essencial, ainda, que (iii) a pretendida interferência
do Estado no livre tráfego de ideias traduza, ao ser aplicada ao
28 Sumário
caso concreto, uma resposta necessária à preservação de uma
sociedade democrática e plural. Se é assim, forçoso assinalar
que, quando o agente ataca, como no caso, a própria existência
desta Suprema Corte, enquanto instituição, não há dúvidas de
que ele se expõe, como efeito imediato dos mecanismos de
autodefesa da democracia, à censura penal do Estado.
[...]
Em suma: no livre mercado de ideias – para usarmos a concep-
ção de JOHN STUART MILL consagrada na jurisprudência da
Suprema Corte dos Estados Unidos – alguns conteúdos sim-
plesmente não podem ser negociados.
29 Sumário
ções claramente antidemocráticas e contrárias à ordem cons-
titucional estabelecida.
II – a imunidade parlamentar, que deve ser compreendida de
forma extensiva para a garantia do adequado desempenho de
mandatos atribuídos aos representantes eleitos do povo, não
alcança os atos que sejam praticados:
II.1 – sem claro nexo de vinculação ou implicação recíproca com
o desempenho das funções parlamentares (teoria funcional);
II.2 – nos casos em que for utilizada para a prática de abusos,
usos criminosos, fraudulentos ou ardilosos, para incitar a prática
de delitos ou para atacar a própria democracia ou o sistema
representativo para o qual foi idealizada.
30 Sumário
a finalidade de afastamento de qualquer tendência ao autori-
tarismo e concentração de poder.
A Constituição Federal não permite a propagação de ideias con-
trárias à ordem constitucional e ao Estado Democrático (CF,
arts. 5º, XLIV; 34, III e IV), nem tampouco a realização de mani-
festações nas redes sociais visando o rompimento do Estado de
Direito, com a extinção das cláusulas pétreas constitucionais
Separação de Poderes (CF, art. 60, § 4º), com a consequente,
instalação do arbítrio.
A liberdade de expressão e o pluralismo de ideias são valo-
res estruturantes do sistema democrático. A livre discussão, a
ampla participação política e o princípio democrático estão
interligados com a liberdade de expressão tendo por objeto
não somente a proteção de pensamentos e ideias, mas também
opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes
públicos, no sentido de garantir a real participação dos cidadãos
na vida coletiva.
Dessa maneira, tanto são inconstitucionais as condutas e mani-
festações que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo
aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime
democrático; quanto aquelas que pretendam destruí-lo, junta-
mente com suas instituições republicanas; pregando a violência,
o arbítrio, o desrespeito à Separação de Poderes e aos direitos
fundamentais, em suma, pleiteando a tirania, o arbítrio, a vio-
lência e a quebra dos princípios republicanos [...].
[...]
Na presente hipótese, é fato incontroverso que as palavras, as
opiniões, as expressões trazidas na denúncia pela Procurado-
ria-Geral da República foram proferidas fora do recinto parla-
mentar e sem a presença dos requisitos imprescindíveis para
caracterização da inviolabilidade constitucional: (a) “nexo de
31 Sumário
implicação recíproca” e (b) “parâmetros ligados à própria fina-
lidade da liberdade de expressão qualificada do parlamentar”.
[...]
A jurisprudência desta CORTE, portanto, é pacífica no sentido
de que a garantia constitucional da imunidade parlamentar
material somente incide no caso de as manifestações guardarem
conexão com o desempenho da função legislativa ou que sejam
proferidas em razão desta, não sendo possível utilizá-la como
verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas [...].
DOUTRINA CITADA
32 Sumário
JOBIM, Nelson. Relatoria da revisão constitucional: pareceres pro-
duzidos: histórico n. 1 a 81. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de
Edições Técnicas, 1994. v.1.
KOMMERS, Donald P. The jurisprudence of free speech in the
United States and the Federal Republic of Germany. Sourther
California Law Review, v. 53, n. 2, p. 666-668, Jan. 1980. Dis-
ponível em: https://scholarship.law.nd.edu/cgi/viewcontent.
cgi?article=1573&context=law_faculty_scholarship&httpsredir=1&r
eferer=. Acesso em: 23 fev. 2023.
KROTOSYNSKI JR, Ronald. A comparative perspective of the First
Amendement: free speech, militant democracy, and the primacy of
dignity as a preferred constitutional value in Germany. Tulane Law
Review, v. 78, n. 5, p. 1592. Disponível em: https://scholarship.law.
ua.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1216&context=fac_articles.
Acesso em: 23 fev. 2023.
LEITE, Alaor; TEIXEIRA, Adriano. Parecer – Defesa do Estado de direito
por meio do direito penal: a experiência comparada e o desafio brasi-
leiro. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 29, n. 182,
p. 385-458, ago. 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/
parecer-oab-lsn-alaor-teixeira.pdf. Acesso em: 23 fev. 2023.
MILL, John Stuart. On liberty. New Haven: Yale University Press, c2003.
p. 86-87, p. 122.
MUNHOZ NETTO, Alcides. Estado de direito e segurança nacional.
Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná,
v. 19, p. 161-183, 1979. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/direito/
article/view/8829/6139. Acesso em: 23 fev. 2023.
SHAPIRO, Martin. Freedom of speach: the Supreme Court and judicial
review. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1966. p. 48-49.
33 Sumário
SUNSTEIN, Cass R. Falsehoods and the First Amendment. Harvard
Journal of Law & Technology, v. 33, n. 2, p. 388-426, Spring 2020.
Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/Delivery.cfm/SSRN_
ID3426765_code647786.pdf?abstractid=3426765&mirid=1.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
34 Sumário
LIBERDADE DE CULTO
Sumário
RESUMO
36 Sumário
Liberdade
religiosa: garantia
individual prevista
por declarações de
direitos do século 18
Dimensões da liberdade religiosa:
interna (forum internum) e
externa (forum externum)
A LIBERDADE RELIGIOSA
NÃO É ABSOLUTA
37 Sumário
9X2
Min. Gilmar
Mendes – Relator
Min. Nunes Marques
Min. Alexandre de Moraes
Min. Edson Fachin
Min. Roberto Barroso
Min. Rosa Weber
Min. Dias Toffoli
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Marco Aurélio
Min. Luiz Fux – Presidente
38 Sumário
FUNDAMENTOS
39 Sumário
DIMENSÕES DA LIBERDADE RELIGIOSA: INTERNA (FORUM
INTERNUM) E EXTERNA (FORUM EXTERNUM)
40 Sumário
ou legais” (MICHAEL, Lothar e MORLOK, Martin. Direitos Fun-
damentais. São Paulo: IDP/Saraiva, 2016, p. 194-195.).
[...]
Como destacado pelo Professor MARK HILL QC, um dos mais
renomados acadêmicos de Direito Constitucional da Religião no
continente europeu, “o aspecto interno do direito à liberdade de
pensamento, consciência e religião – é um direito absoluto tal
que não pode ser restringido, enquanto que o aspecto externo
o direito a manifestar uma religião ou crença no culto, ensino,
prática e observância, está sujeito às limitações expressas na
parte 2 do próprio art. 9º da Convenção Europeia de Direitos
Humanos (CEDH), que prescreve que a liberdade de manifestar
a sua religião ou crenças está sujeita às limitações prescritas em
lei” (HILL QC, Mark. Coronavirus and the Curtailment of Reli-
gious Liberty. Laws, v. 9, 4, 2020, p. 3-4, disponível em: https://
doi.org/10.3390/laws9040027.).
Essa interpretação, por assim dizer, disjuntiva do direito fun-
damental à liberdade religiosa tem guiado os debates consti-
tucionais recentes em torno das restrições impostas durante a
pandemia do novo Coronavírus.
Em importante artigo sobre o tema, o professor PIOTR
MAZURKIEWICZ avalia que “no contexto de uma pandemia,
a questão da possibilidade de impor restrições ao exercício
do direito à liberdade religiosa por parte do Estado torna-se
particularmente importante”. De acordo com o acadêmico, no
sentido técnico, “não é o direito à liberdade religiosa que está
sujeito a restrições, mas a forma como o direito é exercido. Por
conseguinte, pode-se dizer que o direito à liberdade religiosa é
absoluto na dimensão interna (forum internum) e limitado na
forma de expressão externa (forum externum)” (MAZURKIE-
WICZ, Piotr. Religious Freedom in the Time of the Pandemic.
Religions, v. 12, 2, 2021, p 16.).
41 Sumário
Embora advinda da interpretação das fontes supranacionais dos
Direitos Humanos, esse reconhecimento da dúplice dimensão
do direito à liberdade religiosa é albergado no texto da Cons-
tituição Federal de 1988. Tanto as liberdades de consciência
quanto as de religião e de exercício de culto foram reconhecidas
pelo constituinte. Conquanto uma e outra se aproximem em
vários aspectos, não se confundem entre si.
Sob a dimensão interna, a liberdade de consciência está prevista
no art. 5º, VI, da Constituição e não se esgota no aspecto reli-
gioso, mas nele encontra expressão concreta de marcado relevo.
Nesse sentido é referida também no inciso VIII do art. 5º da CF.
Por outro lado, na dimensão externa, o texto constitucional bra-
sileiro alberga a liberdade de crença, de aderir a alguma religião,
e a liberdade do exercício do culto respectivo. As liturgias e os
locais de culto são protegidos nos termos da lei, a qual deve
proteger os templos e não deve interferir nas liturgias, a não ser
que assim o imponha algum valor constitucional concorrente
de maior peso na hipótese considerada. Os logradouros públi-
cos não são, por natureza, locais de culto, mas a manifestação
religiosa pode ocorrer ali, protegida pelo direito de reunião, com
as limitações respectivas.
42 Sumário
marcado relevo. Por outro lado, na dimensão externa, o texto
constitucional brasileiro alberga a liberdade de crença, de aderir
a alguma religião e a liberdade do exercício do culto respectivo.
A CF, no entanto, autoriza a restrição relativa dessa liberdade
ao prever cláusula de reserva legal para o exercício dos cultos
religiosos (art. 5º, VI, da CF).
Após a declaração da pandemia mundial do novo Coronavírus
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 11 de março de
2020, diversos países passaram a adotar proibições ou restrições
ao exercício de atividades religiosas coletivas. Com variações de
intensidade e de horizonte temporal, essas medidas ora consis-
tiam na proibição total da realização de cultos, ora na fixação
de diretrizes intermediárias ao funcionamento das casas religio-
sas. As restrições ao funcionamento das casas de cultos foram
impulsionadas por eventos de supercontaminação identificados
em diversas regiões do mundo. Colhe-se do Direito Comparado
decisões de Cortes Constitucionais que reconhecem a consti-
tucionalidade das restrições às atividades religiosas coletivas
presenciais durante a pandemia do novo Coronavírus.
[...]
Corroborando a tese de que há uma possibilidade de restrição
relativa do direito à liberdade religiosa em sua dimensão externa
(forum externum), é digno de destaque que o constituinte de
1988, ao prescrever o direito de liberdade religiosa, estabeleceu
inequívoca reserva de lei ao exercício dos cultos religiosos.
Nesse sentido, o inciso VI do art. 5º assegura “o livre exercício
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei”. Essa reserva
legal, por si só, afasta qualquer compreensão no sentido de
afirmar-se que a liberdade de realização de cultos coletivos seria
absoluta. Como já tive a oportunidade de esclarecer em âmbito
doutrinário, a lei deve proteger os templos e não deve interfe-
rir nas liturgias, “a não ser que assim o imponha algum valor
43 Sumário
constitucional concorrente de maior peso na hipótese consi-
derada” (MENDES, Gilmar Ferreira. BRANCO, Paulo Gustavo
Gonet. Curso de Direito Constitucional. 15ª Edição. São Paulo:
IDP/Saraiva, 2020, p. 323.).
2 ADI 6.341 MC REF, rel. min. Marco Aurélio, red. do ac. min. Edson Fachin,
j. 15-4-2020, P, DJE de 12-11-2020.
44 Sumário
contágio do Coronavírus, qual seja o lockdown – talvez a única
disponível num contexto de falta de vacinas.
A pretendida obstrução em desfavor dos entes subnacionais
seria realizada mediante uma concentração, na figura do Presi-
dente da República, da definição de atividade essencial. Contra
ela, o Supremo Tribunal Federal reafirmou o dever de todos os
entes políticos na promoção da saúde pública. De forma coe-
rente ao federalismo cooperativo, adotado na Constituição de
1988, assentou a competência dos Estados e dos Municípios, ao
lado da União, para adotarem medidas sanitárias direcionadas
a enfrentar a pandemia [...].
45 Sumário
A principal pergunta que se coloca é, afinal, em que medida o
valor normativo atribuído ao direito fundamental à vida e à saúde,
cuja proteção historicamente é invocada para justificar restrições
desse nível, pode acomodar limitações, por vezes, tão drásticas às
liberdades individuais e coletivas. Aqui, temos o claro agravamento
de uma problemática ínsita à solução dos conflitos entre direitos
fundamentais: a incomensurabilidade das posições em questão.
Se, por um lado, essa ordem de ideias obsta que se confira peso
máximo ao direito à liberdade religiosa, de modo a justificar a
criação de espaços imunes às regras de restrição de circulação
de pessoas voltadas ao combate da pandemia; por outro lado,
ainda não explica se e até que ponto o poder público pode
lançar mão de medidas restritivas à guisa de cumprir o dever
inscrito no art. 196 da CF/88, a tutela da saúde.
[...]
[...] é possível afirmar que há razoável consenso na comunidade
científica no sentido de que os riscos de contaminação decor-
rentes de atividades religiosas coletivas são superiores ao de
outras atividades econômicas, mesmo aquelas realizadas em
ambientes fechados.
Essa noção geral sobre o elevado risco de contaminação das
atividades religiosas coletivas presenciais foi complementada
por um exame de fatos e prognoses subjacente à edição do
Decreto Estadual de São Paulo.
Sobre esse ponto, observa-se que a norma impugnada, em seus
considerandos, busca justificar que as medidas impostas foram
resultantes de análises técnicas relativas ao risco ambiental de
contágio pela Covid-19 conforme o setor econômico e social,
bem como de acordo com a necessidade de preservar a capa-
cidade de atendimento da rede de serviço de saúde pública.
46 Sumário
DOUTRINA CITADA
47 Sumário
MAZURKIEWICZ, Piotr. Religious freedom in the time of the pan-
demic. Religions, v. 12, n. 2, p 16, 2021. Disponível em: https://www.
mdpi.com/2077-1444/12/2/103/pdf?version=1612358786. Acesso
em: 24 fev. 2023.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso
de direito constitucional. 15. ed., rev. e atual. São Paulo: SaraivaJur,
2020. p. 323.
MICHAEL, Lothar; MORLOK, Martin. Direitos fundamentais. São
Paulo: Saraiva, 2016. p. 194-195.
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO,
Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tri-
bunais, 2012. p. 337.
SCHNEIDER, Peter et al. Prinzipien der Verfassungsinterpretation
Gefährdungshaftung im öffentlichen Recht. Berlin: de Gruyter,
1963. p. 77. (Veröffentlichungen der Vereinigung der Deutschen
Staatsrechtslehrer).
WHITTINGTON, Keith E. Extrajudicial constitutional interpretation:
three objections and responses. North Carolina Law Review, v. 80, n.
3, p. 773-852, 2002. Disponível em: https://scholarship.law.unc.edu/
cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=3980&context=
nclr. Acesso em: 24 fev. 2023.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
48 Sumário
DIREITO AO ESQUECIMENTO
Sumário
TESE FIXADA Tema 786
50 Sumário
Incompatível com a Constituição
Restringe a manifestação
de pensamento
DIREITO AO ESQUECIMENTO
Limita o direito de
informação da coletividade
• a respeito de fatos
relevantes da história social
51 Sumário
7X3
Min. Dias
Toffoli – Relator
Min. Nunes Marques
Min. Alexandre de Moraes
Min. Edson Fachin
Min. Rosa Weber
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Gilmar Mendes
Min. Marco Aurélio
Min. Luiz Fux – Presidente
Afirmou suspeição:
Min. Roberto Barroso
52 Sumário
FUNDAMENTOS
53 Sumário
O DIREITO AO ESQUECIMENTO VIOLA O DIREITO
CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
54 Sumário
A liberdade de expressão protege não apenas aquele que comu-
nica, mas também a todos os que podem dele receber informa-
ções ou com ele partilhar os pensamentos.
A ponderação, assim, na pretensão ao direito ao esquecimento
não se faz apenas entre o interesse do comunicante, de um lado,
e o do indivíduo que pretende ver tornados privados dados
ou fatos de sua vida, de outro. Envolve toda a coletividade,
que poderá ser privada de conhecer os fatos em toda a sua
amplitude.
[...]
[...] o ordenamento jurídico brasileiro está repleto de previsões
constitucionais e legais voltadas à proteção da personalidade,
aí inserida a proteção aos dados pessoais, com repertório jurí-
dico suficiente a que essa norma fundamental se efetive em
consagração à dignidade humana.
Em todas essas situações legalmente definidas, é cabível a restri-
ção, em alguma medida, à liberdade de expressão, sempre que
afetados outros direitos fundamentais, mas não como decor-
rência de um pretenso e prévio direito de ver dissociados fatos
ou dados por alegada descontextualização das informações em
que inseridos, por força da passagem do tempo.
55 Sumário
DOUTRINA CITADA
56 Sumário
MAYERSCHÖNBERGER, Viktor. Delete: the virtue of forgetting in the
digital age. Princeton University Press, 2011. 272 p.
MAURMO, Julia Gomes Pereira. O direito ao esquecimento sob a
perspectiva da saúde individual. Revista Internacional Consinter
de Direito, v. 4, n. 6, p. 81-97, jan./jun. 2018. Disponível em: https://
revistaconsinter.com/wp-content/uploads/2018/07/ano-iv-numero-
vi-o-direito-ao-esquecimento-sob-a-perspectiva-da-saude-individual.
pdf. Acesso em: 24 fev. 2023.
MONCAU, Luiz Fernando Marrey. Direito ao esquecimento: entre a
liberdade de expressão, a privacidade e a proteção de dados pessoais.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020. 397 p.
KOOPS, Bert-Jaap. Forgetting footprints, shunning shadows: a
critical analysis of the ‘right to be forgotten’ in a Big Data practice.
SCRIPTed, v. 8, n. 3, p. 229-256, Dec. 2011. Disponível em: https://
papers.ssrn.com/sol3/Delivery.cfm/SSRN_ID1986719_code797387.
pdf?abstractid=1986719&mirid=1. Acesso em: 24 fev. 2023.
PINHEIRO, Denise. A liberdade de expressão e o passado:
desconstrução da ideia de um direito ao esquecimento. Orientador:
João dos Passos Martins Neto. 2016. 287 p. Tese (doutorado em
Direito) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2016. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/
handle/123456789/169667/342648.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 24 fev. 2023.
SARLET, Ingo Wolfgang; FERREIRA NETO, Arthur M. O direito ao
“esquecimento” na sociedade da informação. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2019. 236 p.
57 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
58 Sumário
RECUSA DOS PAIS À VACINAÇÃO
COMPULSÓRIA DE FILHO MENOR POR
MOTIVO DE CONVICÇÃO FILOSÓFICA
É constitucional a obrigatoriedade
de imunização por meio de vacina.
Sumário
TESE FIXADA Tema 1.103
60 Sumário
Liberdade de consciência
é ponderada com a
defesa da vida e da saúde
VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
61 Sumário
11 X 0
Vencedores no mérito:
Min. Roberto
Barroso – Relator
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Nunes Marques
Min. Alexandre de Moraes
Min. Edson Fachin
Min. Rosa Weber
Min. Dias Toffoli
Min. Cármen Lúcia
Min. Gilmar Mendes
Min. Marco Aurélio
Min. Luiz Fux – Presidente
62 Sumário
FUNDAMENTOS
63 Sumário
LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA: ILEGÍTIMA
A RECUSA DOS PAIS À VACINAÇÃO COMPULSÓRIA
DE FILHO MENOR POR MOTIVO DE CONVICÇÃO
FILOSÓFICA
64 Sumário
[...] há direitos fundamentais contrapostos em jogo, a saber: liber-
dade de convicção filosófica, de um lado; direito à vida e à saúde
da coletividade e melhor interesse da criança, do outro. Ao fazer
a ponderação entre esses direitos, que não são hierarquizados
abstratamente, mas que, em concreto, para decidir a questão,
é preciso definir qual vai ter precedência, estou decidindo pela
precedência do direito à vida e à saúde coletivas e à proteção
prioritária da criança, por essas três razões que enunciei: porque
é possível, em certos casos – e este é um deles –, proteger a
pessoa contra si mesma; porque, aqui, o interesse da coletividade
deve prevalecer, posto que, no fundo, estamos falando do direito
à vida e à saúde de cada pessoa individualmente; e, por fim, a
Constituição manda cuidar prioritariamente do interesse da
criança, e toda a ciência médica entende que a vacinação é vital
ou altamente relevante para a proteção da saúde das crianças.
65 Sumário
é importante para a proteção de toda a sociedade, não sendo
legítimas escolhas individuais que afetem gravemente direitos
de terceiros (necessidade de imunização coletiva); e c) o poder
familiar não autoriza que os pais, invocando convicção filosó-
fica, coloquem em risco a saúde dos filhos (CF/1988, arts. 196,
227 e 229) (melhor interesse da criança).
[...] é legítimo impor o caráter compulsório das vacinas, quando
exista consenso científico e registro em órgão de vigilância sani-
tária. E são três [...] os fundamentos que legitimam essa obriga-
toriedade e, portanto, são esses os três fundamentos que dão
mais peso à proteção da saúde coletiva e à proteção da criança
em contraste com a liberdade de consciência.5
[...] o Estado pode, em situações excepcionais, proteger as pes-
soas, mesmo contra a sua vontade.
[...]
[...] a vacinação é importante para a proteção de toda a socie-
dade, não sendo legítimas escolhas individuais que afetem gra-
vemente direitos de terceiros. E aqui [...] organizações interna-
cionais, institutos de pesquisa em todo o mundo defendem e
incentivam o uso da vacina como um instrumento vital capaz
de proteger os indivíduos contra uma série de doenças e de
deficiências graves.
[...]
[...] não é legítimo, em nome de um direito individual, que seria
a liberdade de consciência, frustrar o direito da coletividade. Isso
não é um direito abstrato, é o direito de cada um, individual-
66 Sumário
mente, de não estar exposto à contaminação por uma doença
que poderia ser evitada mediante vacinação.
EXCEÇÃO
DOUTRINA CITADA
67 Sumário
BARBIERI, Carolina Luisa Alves; COUTO, Marcia Thereza; AITH,
Fernando Mussa Abujamra. A (não) vacinação infantil entre a cultura
e a lei: os significados atribuídos por casais de camadas medias
de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro,
v. 33, n. 2, p. 2, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/
NDSjRVcpw95WS4xCpxB5NPw/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 27
fev. 2023.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da
Constituição. 7. ed. 3. reimpr. Coimbra: Almedina, 2006. p. 225.
CARVALHO, Kildare Goncalves. Direito constitucional: teoria do
Estado e da Constituição: direito constitucional positivo. 13. ed., rev.,
atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. p. 1167.
CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição Brasileira de 1988.
2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993. p. 4331-4332.
DALLARI, Sueli Gandolfi. O direito à saúde. Revista de Saúde Pública,
São Paulo, v. 22, n. 1, p. 58-59, 1988. Disponível em: https://www.scielo.
br/j/rsp/a/jSj9cfJhsNcjyBfG3xDbyfN/?format=pdf&lang=pt. Acesso
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DALLARI, Sueli Gandolfi; NUNES JUNIOR, Vidal Serrano. Direito sani-
tário. São Paulo: Verbatim, 2010. p. 9.
FÜRST, Henderson. Recusa terapêutica e recusa vacinal: notas sobre
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Jusbrasil, Gen Jurídico, São Paulo, 14 dez. 2020. Disponível em: https://
genjuridico.jusbrasil.com.br/artigos/1143668774/recusa-terapeutica-e-
recusa-vacinal-notas-sobre-a-regulacao-juridica-da-vacina-de-covid-19-
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MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo.
17. ed., rev. e atual. até as emendas 41 (da Previdência) e 42, de 2003.
São Paulo: Malheiros, 2004. p. 87.
68 Sumário
MENDES, Gilmar Ferreira, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso
de direito constitucional. 15. ed., rev. e atual. São Paulo: SaraivaJur,
2020. p. 768.
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO,
Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 2. ed., rev. e
atual. São Paulo: Saraiva: Instituto Brasileiro de Direito Público, 2008.
p. 151.
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria
geral: comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República
Federativa do Brasil: doutrina e jurisprudência. 10. ed. São Paulo: Atlas,
2013. p. 48.
SARLET, Ingo Wolfgang. Comentário ao art. 196. In: CANOTILHO,
José Joaquim Gomes et al. (coord.). Comentários à Constituição do
Brasil. São Paulo: Saraiva: 2013. p. 193.
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO,
Daniel. Curso de direito constitucional. 9. ed., rev. e atual. São Paulo:
SaraivaJur, 2020. p. 443-444.
SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 6.
ed., atual. até a Emenda Constitucional 57, de 18.12.2008. São Paulo:
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SILVA, José Afonso da. A dignidade da pessoa humana como valor
supremo da democracia. Revista de Direito Administrativo, n. 212,
p. 92, abr./jun. 1998. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/
index.php/rda/article/view/47169/45637. Acesso em: 27 fev. 2023.
69 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
70 Sumário
CRÍTICA REALIZADA POR MEIO DE
SÁTIRA A ELEMENTOS RELIGIOSOS
INERENTES AO CRISTIANISMO
Sumário
RESUMO
72 Sumário
Autoridade da decisão na ADPF 130
• contra atos do poder público tendentes a
suprimir a liberdade de expressão
73 Sumário
4X0
Vencedores no mérito:
Min. Gilmar
Mendes – Relator
(Presidente da Turma)
Min. Edson Fachin
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
74 Sumário
FUNDAMENTOS
75 Sumário
pela sociedade, características que não raramente fazem com
que obras artísticas sejam submetidas ao escrutínio do Poder
Judiciário para verificação de possíveis abusos.
[...] a Constituição de 1988 estabelece amplo espectro de pro-
teção a toda forma de credo e de celebração religiosa ou, ainda,
à objeção de consciência, cabendo, de fato, ao Poder Judiciário
intervir, ao identificar eventuais abusos, quando provocado.
[...] neutralidade do Estado não significa que este precise deixar
de garantir as condições adequadas à facilitação do exercício de
liberdade religiosa. O que não se admite é que o Estado assuma
determinada concepção religiosa como a oficial ou a correta,
beneficiando um grupo religioso em detrimento dos demais ou
concedendo privilégios.
Nesse contexto, ao Poder Judiciário cabe contrabalancear direi-
tos e possíveis tensões existentes – no caso ora apreciado, pon-
derar acerca dos limites entre liberdade de expressão artística
e liberdade religiosa.
[...] eventual colisão entre liberdade de expressão artística e
outros direitos constitucionalmente garantidos deve levar em
conta o fato de que o conceito de arte possui sentido amplo,
incluindo-se aí obras provocativas, que pretendam atingir fins
políticos ou religiosos, também por meio de sátiras.
76 Sumário
permitindo-se que cada indivíduo forme suas próprias convic-
ções, a partir de informações que escolha obter.
No caso, por se tratar de conteúdo veiculado em plataforma
de transmissão particular, à qual o acesso é voluntário e con-
trolado pelo próprio usuário, não apenas é possível optar-se
por não assistir ao conteúdo disponibilizado, como também é
viável decidir-se pelo cancelamento da assinatura contratada.
Há diversas formas de indicar descontentamento com deter-
minada opinião e de manifestar-se contra ideais com os quais
não se concorda – o que, em verdade, nada mais é do que a
dinâmica do chamado mercado livre de ideias.
77 Sumário
DOUTRINA CITADA
78 Sumário
PIEROTH, Bodo; SCHLINK, Bernhard. Direitos fundamentais. São
Paulo: Saraiva, 2012. p. 244, p. 291, p. 293.
VALE, André Rufino do. A importância dos 500 anos da Reforma Lute-
rana para o constitucionalismo. Consultor Jurídico, Observatório
Constitucional, 5 ago. 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.
br/2017-ago-05/observatorio-constitucional-importancia-500-anos-
reforma-luterana-constitucionalismo. Acesso em: 27 fev. 2023.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
79 Sumário
TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE
DESACATO
Sumário
RESUMO
82 Sumário
Convenção Americana de Direitos Humanos
• norma supralegal
• proteção ampla à liberdade de expressão e de
manifestação do pensamento
• responsabilização ulterior por manifestação que viole o
respeito aos direitos ou à reputação
• liberdade de expressão não é um direito absoluto
• legítima a utilização do direito penal, em casos de
grave abuso
• para a proteção de outros interesses e direitos
relevantes
83 Sumário
9 X 27
84 Sumário
FUNDAMENTOS
85 Sumário
regular o acesso a espetáculos públicos, para proteção moral
da infância e da adolescência; proíbe-se, ademais, a restrição do
direito de expressão por vias ou meios indiretos.
Não obstante, o dispositivo ressalva expressamente a possibili-
dade de responsabilização ulterior daqueles que, a pretexto de
exercerem a liberdade de manifestação do pensamento, violem
não apenas “o respeito aos direitos ou à reputação das demais
pessoas” (art. 13.2, “a”), mas também “a proteção da segurança
nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral pública”
(art. 13.2, “b”).
Vê-se, portanto, que o próprio texto da convenção excepciona a
liberdade de expressão para a proteção da honra subjetiva (repu-
tação) de todas as pessoas, bem como para o respeito à ordem e à
moral públicas. Portanto, a lei de cada Estado-Parte pode garantir
ao servidor público a proteção necessária para o adequado exer-
cício da função de que foi incumbido, não como um privilégio em
seu benefício – o que seria evidentemente indevido –, mas como
um instrumento de proteção do serviço público por ele prestado
e, em última instância, do público destinatário do serviço.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos tem destacado
que a liberdade de expressão não é um direito absoluto e que,
em casos de grave abuso, faz-se legítima a utilização do direito
penal para a proteção da honra, devendo a aplicação dessas
medidas ser avaliada com especial cautela [...].
[...]
Portanto, a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos
Humanos não indica uma proibição terminante da utilização do
direito penal para a coibição de abusos cometidos sob pretexto
de exercício da liberdade de expressão, embora exija que a via
criminal seja reservada a casos graves.
86 Sumário
Em conclusão, nem o texto expresso da Convenção, nem a juris-
prudência da Corte vedam que os Estados-Partes se valham
de normas penais para a proteção da honra e do adequado
funcionamento da Administração Pública, desde que de modo
proporcional e justificado.
87 Sumário
FUNDAMENTOS DA TIPIFICAÇÃO PENAL DO DESACATO
88 Sumário
Também no campo penal é razoável que se prevejam tipos penais
protetivos da atuação dos agentes públicos. É nesse contexto que
se justifica a criminalização do desacato. Não se trata de conferir
um tratamento privilegiado ao funcionário público. Trata-se, isso
sim, de proteger a função pública exercida pelo funcionário, por
meio da garantia, reforçada pela ameaça de pena, de que ele não
será menosprezado ou humilhado enquanto se desincumbe dos
deveres inerentes ao seu cargo ou função públicos.
Vê-se, portanto, que a diversidade de regime jurídico – inclusive
penal – existente entre agentes públicos e particulares é uma
via de mão dupla: se existente justificativa razoável para tanto,
as consequências previstas para as condutas típicas são diver-
sas não somente quando os agentes públicos são autores dos
delitos, mas, de igual modo, quando deles são vítimas.
89 Sumário
funcionário público. O tipo penal não abrange, portanto, even-
tuais ofensas perpetradas por meio da imprensa ou de redes
sociais, resguardando-se a liberdade de expressão. [...]
Não basta, ademais, que o funcionário se veja ofendido em sua
honra. Não há crime se a ofensa não tiver relação com o exercício
da função. É preciso um menosprezo da própria função pública
exercida pelo agente. E, mais, é necessário que o ato perturbe ou
obstrua a execução das funções do funcionário público.
Além disso, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal reco-
nhece a atipicidade de reclamações, censuras ou críticas, ainda
que veementes, à atuação funcional do funcionário [...]10.
[...]
[...] os agentes públicos em geral estão mais expostos ao escru-
tínio e à crítica dos cidadãos, devendo demonstrar maior tole-
rância à reprovação e à insatisfação, sobretudo em situações em
que se verifica uma tensão entre o agente público e o particular.
Devem ser relevados, portanto, eventuais excessos na expres-
são da discordância, indignação ou revolta com a qualidade
do serviço prestado ou com a atuação do funcionário público.
Assim, o tipo penal do art. 331 do Código Penal deve ser inter-
pretado restritivamente, a fim de evitar a aplicação de punições
injustas e desarrazoadas.
O sistema de persecução penal brasileiro possui uma série de
filtros para tanto, que vão desde a autocontenção do próprio
funcionário, passando por seus deveres funcionais de atender
com presteza e tratar com urbanidade as pessoas (ex. art. 116,
V e XI, da Lei nº 8.112/1990) e pela ameaça de cometimento
10 Inq 3.215, rel. min. Dias Toffoli, j. 4-4-2013, P, DJE de 25-9-2013; HC 83.233,
rel. min. Nelson Jobim, j. 4-11-2003, 2ª T, DJ de 19-3-2004.
90 Sumário
de crime de abuso de autoridade, chegando à necessidade de
formação de opinio delicti positiva pelo Ministério Público e,
finalmente, à apreciação do Poder Judiciário.
Em suma, o tipo penal deve ser limitado a casos graves e evi-
dentes de menosprezo à função pública [...].
DOUTRINA CITADA
91 Sumário
GOMES, Luiz Flávio; MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Comentários à
Convenção Americana sobre Direitos Humanos: Pacto de San José
da Costa Rica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 136. (Direito
penal, v. 4).
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código penal: Decreto-lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959.
v. 9. p. 424.
JESUS, Damásio Evangelista de. Código penal anotado. 23. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016. p. 1230.
LEWIS, Anthony. Liberdade para as ideias que odiamos: uma biografia
da primeira emenda à Constituição americana. São Paulo: Aracati,
2011. 248 p.
MACEDO JÚNIOR, Ronaldo Porto. Freedom of expression: what les-
sons should we learn from US experience? Revista Direito GV, v. 13,
n. 1, p. 274-302, jan./abr. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
rdgv/a/tRnqx97GRkqny4L77JFGBTx/?format=pdf&lang=en. Acesso
em: 27 fev. 2020.
MASSON, Cleber. Código penal comentado: análise completa: legis-
lação, doutrina e jurisprudência 4. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo:
Método, 2016. p. 1396-1397.
MATA, Jéssica Gomes da. A política do enquadro. 2019. Dissertação
(Mestrado em Direito Penal) – Faculdade de Direito, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2019. p. 178.
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. 12. ed.,
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MIRABETE, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Código Penal Inter-
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NAÇÕES UNIDAS. Economic and Social Council. Commission on
Human Rights. Civil and political rights, including the question of
92 Sumário
freedom of expression: report submitted by Mr. Abid Hussain, Spe-
cial Rapporteur, in accordance with Commission on Human Rights
Resolution 1999/36: addendum: visit to the Sudan: E/CN.4/2000/63/
Add. 13 March 2000. 33 p. Disponível em: https://digitallibrary.un.org/
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fev. 2023.
NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal. 18. ed. São Paulo:
Saraiva, 1988. v. 4, p. 303.
NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal. 23. ed. São Paulo:
Saraiva, 2003. v. 4. p. 317, item 1391.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 18. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2018. p. 1517-1518, item 48.
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Comissão Intera-
mericana de Direitos Humanos. Informe anual del relator especial
para la libertad de expresión: 1999. Disponível em: http://www.oas.
org/es/cidh/expresion/docs/informes/anuales/Informe%20Anual%20
1999.pdf. Acesso em: 27 fev. 2023.
OSORIO, Aline. Direito eleitoral e liberdade de expressão. Belo Hori-
zonte: Fórum, 2017. 456 p.
SMET, Stijn; BREMS, Eva (ed.). When human rights clash at the Euro-
pean Court of Human Rights: conflict or harmony?. Oxford: Oxford
University Press, 2017. 280 p.
93 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS 11
94 Sumário
FAKE NEWS
É constitucional o inquérito
instaurado com o objetivo de
investigar a existência de notícias
fraudulentas, denunciações
caluniosas e ameaças contra a
Corte, seus ministros e familiares.
Sumário
RESUMO
96 Sumário
O inquérito previsto no art. 43 do Regimento
Interno do STF é compatível com a ordem
constitucional vigente
É CONSTITUCIONAL INQUÉRITO
INSTAURADO PELO STF PARA
APURAR NOTÍCIAS FRAUDULENTAS,
DENUNCIAÇÕES CALUNIOSAS, AMEAÇAS
E ATOS PRATICADOS CONTRA A CORTE,
SEUS MEMBROS E FAMILIARES
Instrumento de defesa do
equilíbrio e da estabilidade
entre os Poderes
97 Sumário
10 X 1
Min. Edson
Fachin – Relator
Min. Alexandre de Moraes
Min. Roberto Barroso
Min. Rosa Weber
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Luiz Fux
Min. Cármen Lúcia
Min. Gilmar Mendes
Min. Marco Aurélio
Min. Celso de Mello
Min. Dias Toffoli – Presidente
98 Sumário
FUNDAMENTOS
99 Sumário
de cúpula do Poder Judiciário e principal titular da Jurisdição
Constitucional, é coerente com o sistema de garantias confe-
ridos pela Constituição, não havendo que se falar em afronta
ao devido processo legal, ao dever de imparcialidade ou ao
princípio acusatório.
Ao Presidente do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, enquanto
Chefe do Poder Judiciário, compete a defesa institucional da
CORTE e da independência de seus magistrados, que somente
será plenamente assegurada quando efetivamente garantidas a
integridade física e psíquica e a própria vida de seus membros
contra graves ofensas, ameaças e atentados realizados em vir-
tude do exercício da função jurisdicional.
100 Sumário
É o texto que se reproduziu neste voto do art. 43, segundo o
qual “o Presidente instaurará inquérito” ou “delegará esta atri-
buição a outro Ministro.”
A designação por delegação é mesmo direta por ato presiden-
cial, como ocorreu, ou deve se submeter ao crivo da distribui-
ção, eis a questão a ser respondida. Em tal contexto estão os
significantes designação e delegação. O Regimento se refere à
delegação, enquanto a Portaria designa o condutor do inquérito.
[...]
Não é extravagante apreender que a designação é um modo
de realizar a delegação. O delegante transfere de si poderes
que são seus ao exercício de outrem. Ao fazê-lo por designação
aponta, indica, escolhe desde logo a quem delegará. Aqui se
tem a delegação por designação.
A matéria não isenta de controvérsia. Também seria compreen-
sível que a delegação ali encartada poderia ser exercitada por
um dentre os Ministros integrantes do STF, sem prévia desig-
nação, e, portanto, um ato cuja materialização se submete à
normal distribuição. O que se passa é que a regra assenta a
atribuição no Presidente e este pode delegar. Age, pois, o dele-
gatário em nome do delegante.
[...] a delegação, nestes termos, pode afastar a distribuição por
sorteio, por conseguinte, a distribuição de modo aleatório entre
todos os Ministros do Tribunal. Em casos tais, embora legíti-
mas as duas vias (delegação por designação e distribuição via
sorteio), a regra do art. 43 não prevê a distribuição ou a redis-
tribuição entre todos os Ministros.
101 Sumário
ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS X LIBERDADE DE EXPRESSÃO
102 Sumário
o vazamento de informações sigilosas não são, enfim, manifes-
tações protegidas pela liberdade de expressão.
Não há direito no abuso de direito. O antídoto à intolerância é
a legalidade democrática.
103 Sumário
Sem embargo, inexiste sentido ou prática que possa desbordar
desse múnus.
[...]
Na perspectiva do devido processo penal constitucional, inves-
tigar, acusar, defender e julgar são mesmo afazeres de funções
distintas. Nas democracias, reitero, há mesmo um sistema de
justiça a ser preservado, incluindo-se a advocacia (pública e
privada), as defensorias, o Ministério Público e o Judiciário.
O art. 43 do Regimento Interno é, assim, regra excepcional que
confere ao Judiciário função atípica na seara da investigação, de
modo que, a fim de preservar preceitos fundamentais, dentre
os quais, o princípio da separação dos poderes (CFRB, art. 60,
§ 4º, III), impende ter um rígido escrutínio do seu emprego.
[...]
Esse dispositivo é repetido no art. 2º da Resolução STF nº
564/2015, ocasião recente em que o Tribunal reconheceu a
constitucionalidade das disposições sobre a polícia do STF, regu-
lamentando “o exercício do poder de polícia previsto no art. 42,
43, 44 e 45 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.”.
104 Sumário
mais ter uma conotação puramente física, porque boa parte da
vida contemporânea, para bem e para mal, é vivida virtualmente,
como de resto bem comprova esta sessão a que todos estamos
comparecendo, em que estamos todos em locais geografica-
mente distintos, inclusive em Estados distintos da Federação, e
estamos, no entanto, reunidos virtualmente no mesmo lugar, que
é esta plataforma pela qual estamos nos comunicando.
A ideia de sede ou dependência no mundo contemporâneo já
não significa mais dentro de um espaço físico determinado. E,
portanto, ataques virtuais ao Supremo Tribunal Federal, via inter-
net, via rede mundial de computadores, e os múltiplos instru-
mentos que a rede mundial oferece – vão do WhatsApp, passam
pelo YouTube, Instagram, Facebook –, todos eles permitem que se
amplie a ideia de sede e dependência para significar tudo aquilo
que, de alguma forma, chegue ao Tribunal, agredindo-o, sem que
necessariamente se exija que alguém tenha fisicamente inva-
dido as dependências do prédio. Portanto, ao analisar o art. 43,
assento que “sede, ou dependência” não exclui, no mundo con-
temporâneo, a possibilidade de que esses ataques ao Supremo
sejam por via virtual e que se considere que isso tenha ocorrido
efetivamente dentro do Supremo Tribunal Federal.
DOUTRINA CITADA
105 Sumário
NAL, 1993, Lisboa. Legitimidade e legitimação da justiça constitu-
cional. Coimbra: Coimbra Editora, 1995. p. 139-153.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria
da Constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998. p. 782.
CAPPELLETTI, Mauro. Necesidad y legitimidade de la justicia constitu-
cional. In: FAVOREU, Louis et al. Tribunales constitucionales europeus
y derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucio-
nales, 1984. p. 599-662.
COOLEY, Thomas Mc Intyre. Princípios gerais de direito constitu-
cional dos Estados Unidos da América do Norte. 2. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1982. p. 142.
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. São
Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 54.
MIRANDA, JORGE. Nos dez anos de funcionamento do tribunal
constitucional. In: COLÓQUIO NO 10. ANIVERSÁRIO DO TRIBUNAL
CONSTITUCIONAL, 1993, Lisboa. Legitimidade e legitimação da
justiça constitucional. Coimbra: Coimbra Editora, 1995. p. 95.
LIMA, Renato Brasileiro de. Código de processo penal comentado.
2. ed. Salvador: Juspodium, 2017. p. 39-40.
LUCHAIRE, François. El Consejo Constitucional francés. In: FAVO-
REU, Louis et al. Tribunales constitucionales europeus y derechos
fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1984.
p. 55-132.
PEREZ ROYO, Javier. Tribunal constitucional y división de poderes.
Madri: Tecnos, 1988. p. 24-25.
SHWARTZ, BERNARD. Direito constitucional americano. Rio de
Janeiro: Forense, 1966, p. 26-27.
106 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
107 Sumário
LIBERDADE DE EXPRESSÃO DOS
AGENTES POLÍTICOS
Sumário
TESE FIXADA Tema 562
110 Sumário
Relativização quanto à tutela de seus direitos
à privacidade, à honra e à imagem
• esfera de privacidade reduzida
LIBERDADE DE EXPRESSÃO DE
AGENTES POLÍTICOS
Dever de informação
• transparência e
• accountability
111 Sumário
9 X 113
Afirmou suspeição:
Min. Roberto Barroso
112 Sumário
FUNDAMENTOS
113 Sumário
já que “o controle do poder governamental e a prevenção
contra a censura ampliam o grau legítimo de ingerência na
esfera pessoal da conduta dos agentes públicos” (BARROSO,
Luís Roberto. Colisão entre Liberdade de Expressão e Direitos
da Personalidade. Critérios de Ponderação. Interpretação
constitucionalmente adequada do código civil e da lei de
imprensa. In: Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro,
v. 235, p.1-36, Jan./Mar. 2004).
Isto é, na vigência de princípios e regras democráticas, a liber-
dade de expressão e de manifestação do pensamento deve ser
a mais ampla possível e, consectariamente, aqueles que buscam
a vida pública devem tolerar as implicações de tal escolha.
De outro modo, porém, o dever de informação dos agentes
públicos para com os cidadãos e a exigência de transparên-
cia e de accountability por parte do Poder Público promovem
mitigação dessa flexibilização, mercê de o discurso dos agentes
políticos possuir proteção mais abrangente, não obstante o
direito de personalidade de terceiros envolvidos e/ou afetados.
Disputas políticas, não raramente, são marcadas justamente por
uma linguagem áspera e pungente, o que faz com que decla-
rações mordazes sejam deveras mais aceitas em tal contexto,
a despeito de inadmissíveis em âmbito distinto, por exemplo.
Nesse contexto, para se averiguar eventual excesso no exercí-
cio da liberdade de expressão de alguém e, por conseguinte,
autorizar necessária indenização relativa aos danos causados,
é preciso, antes, avaliar elementos como: (i) quem foi o emissor
da manifestação; (ii) em que ambiente esta foi exteriorizada; e
(iii) em qual contexto a proferiu.
114 Sumário
IMUNIDADE RELATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS
INSERIDOS NO PODER EXECUTIVO
115 Sumário
prometidas com o interesse público venham a ocupar os cargos
políticos. O risco de ser processado a todo tempo por grupos
politicamente descontentes tem como consequência uma ati-
tude defensiva, a dificultar a prestação de contas à população,
além de desestimular que os indivíduos concorram a cargos
públicos de cúpula.
O segundo argumento concerne à necessidade de reconhe-
cer algum grau de simetria entre a compressão que sofrem no
direito à privacidade e o regime da liberdade de expressão.
[...]
O argumento é singelo: aqueles que ocupam cargos públicos
tem a esfera de privacidade reduzida. Isso porque o regime
democrático impõe que estejam mais abertos à crítica popular.
Em contrapartida, devem ter também a liberdade de discutir,
comentar e manifestar opiniões sobre os mais diversos assuntos
com maior elasticidade que os agentes privados, desde que,
naturalmente, assim o façam no exercício e com relação ao
cargo público ocupado.
116 Sumário
servidores exprimirem a própria visão e conhecimento sobre a
condução dos negócios públicos.
A imunidade relativa dos agentes políticos está circunscrita
aos casos em que puder ser reconduzida, ainda que de modo
tênue, ao exercício da função pública. Naturalmente, hão de
ser excluídos os casos de dolo manifesto, ou seja, o deliberado
intento de prejudicar outrem. No mais, as afirmações equivo-
cadas, quando assim provadas, são inevitáveis em um debate
livre e também devem ser protegidas para que a liberdade de
expressão tenha vez na ordem constitucional brasileira.
DOUTRINA CITADA
117 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS 14
118 Sumário
LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO
AMBIENTE UNIVERSITÁRIO
Sumário
RESUMO
120 Sumário
Descumprimento de preceitos constitucionais fundamentais
• liberdade de expressão e livre manifestação do pensamento
• liberdade de reunião
• liberdade de informação, ensino e aprendizagem
• pluralismo político
• autonomia universitária
LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO
AMBIENTE UNIVERSITÁRIO
Autonomia universitária
• autonomia didático-científica
• pluralismo de ideias
• A liberdade de expressão e de manifestação de pensamento
deve ser assegurada do modo mais amplo possível
121 Sumário
11 X 015
Vencedores no mérito:
Min. Cármen
Lúcia – Relatora
Min. Alexandre de
Moraes – voto escrito
Min. Edson Fachin
Min. Roberto Barroso
Min. Rosa Weber
Min. Luiz Fux
Min. Ricardo
Lewandowski – voto escrito
Min. Gilmar Mendes
Min. Marco Aurélio
Min. Celso de
Mello – voto escrito
Min. Dias Toffoli – Presidente
122 Sumário
FUNDAMENTOS
123 Sumário
emana de ato do Estado (no caso do Estado-juiz ou de atividade
administrativa policial), mais afrontoso é por ser ele o responsá-
vel por assegurar o pleno exercício das liberdades, responsável
juridicamente por impedir sejam elas indevidamente tolhidas.
Fazendo incidir restrição no ambiente de informação, ensino e
aprendizagem como é o universitário, que tem o reforço cons-
titucional da garantia de autonomia, assegurado de maneira
específica e expressa constitucionalmente, para se blindar esse
espaço de investidas indevidas restritivas de direitos, a demons-
tração da nulidade faz-se mais patente e também mais séria.
A liberdade é o pressuposto necessário para o exercício de todos
os direitos fundamentais. Os atos questionados na presente
arguição de descumprimento de preceito fundamental desaten-
dem os princípios constitucionais assecuratórios da liberdade
de manifestação do pensamento e desobedecem as garantias
inerentes à autonomia universitária.
124 Sumário
de propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscri-
ção a tinta e exposição de placas, estandartes, faixas, cavaletes,
bonecos e assemelhados nos espaços indicados na norma”.
A interpretação do referido dispositivo deve sempre ser rea-
lizada de maneira absolutamente restritiva, pois é cerceadora
do debate político [...].
[...]
Não se trata, aqui, de fazer letra morta do art. 37 da Lei das
Eleições, que tem a função relevante de coibir o abuso do poder
político e econômico, os quais não devem influenciar nem as
eleições nem mesmo, ressalto, as atividades acadêmicas da
universidade. A tal dispositivo, porém, deve ser dada a leitura
correta diante de valores da máxima envergadura que com ele
podem colidir. Notadamente, destaco, a liberdade de expressão
de pensamento, a liberdade acadêmica e a autonomia univer-
sitária em sua dimensão didático-científica.
125 Sumário
do cidadão não se afina com a teleologia da norma eleitoral,
menos ainda com os princípios constitucionais garantidores da
liberdade de pensamento, de manifestação, de informação, de
aprender e ensinar.
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA
126 Sumário
livre manifestação do pensamento, por definição constitucional,
hão de ser as mais amplas possíveis.
[...]
A autonomia é o espaço de discricionariedade deixado consti-
tucionalmente à atuação normativa infralegal de cada univer-
sidade para o excelente desempenho de suas funções constitu-
cionais. Reitere-se: universidades são espaços de liberdade e de
libertação pessoal e política. Seu título indica a pluralidade e o
respeito às diferenças, às divergências para se formarem con-
sensos, legítimos apenas quando decorrentes de manifestações
livres. Discordâncias são próprias das liberdades individuais. As
pessoas divergem, não se tornam por isso inimigas. As pessoas
criticam. Não se tornam por isso ingratas. Democracia não é
unanimidade. Consenso não é imposição, é conformação livre
a partir de diferenças respeitadas.
Daí ali ser expressamente assegurado pela Constituição da
República a liberdade de aprender e de ensinar e de divulgar
livremente o pensamento, porque sem a manifestação garantida
o pensamento é ideia engaiolada.
Também o pluralismo de ideias está na base da autonomia uni-
versitária como extensão do princípio fundante da democracia
brasileira, que é exposta no inc. V do art. 1º da Constituição
do Brasil.
[...]
Cabe a esta Corte, no exercício da tutela constitucional da
defesa das liberdades públicas, proteger de forma incondicional
as universidades, que sempre foram bastiões da independência,
da autonomia e da emancipação do pensamento nacional, e que
como tal foram erigidas pelo Poder Constitucional, no art. 207
da Carta Magna.
127 Sumário
DOUTRINA CITADA
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
128 Sumário
IDENTIDADE DE GÊNERO
Sumário
RESUMO
130 Sumário
Oposição do silêncio
• contraria objetivos e
princípios fundamentais da
República Federativa do Brasil
PROIBIÇÃO DE DIVULGAÇÃO DE
MATERIAL DIDÁTICO COM CONTEÚDO
RELACIONADO À TEMÁTICA DE
GÊNERO NAS ESCOLAS
Princípio de Yogyakarta
• aplicação da legislação internacional
sobre direitos humanos em relação à
orientação sexual e identidade de gênero
O reconhecimento da
identidade de gênero é,
portanto, constitutivo da
dignidade humana
131 Sumário
11 X 016
Vencedores no mérito:
Min. Alexandre
de Moraes – Relator
Min. Edson Fachin – voto escrito
Min. Roberto Barroso
Min. Rosa Weber
Min. Luiz Fux
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Gilmar Mendes – voto
escrito
132 Sumário
FUNDAMENTOS
133 Sumário
IDENTIDADE DE GÊNERO
134 Sumário
DOUTRINA CITADA
INFORMAÇÕES ADICIONAIS 17
135 Sumário
DIREITO DE ACESSO À INFORMAÇÃO
Sumário
RESUMO
138 Sumário
Responsividade dos agentes públicos
Transparência
• liberdade de expressão
• Estado Constitucional
de Direito = democrático
Publicidade é a regra
• sigilo é a excepcional
exceção
139 Sumário
6 X 518
140 Sumário
FUNDAMENTOS
141 Sumário
sigilo, quando referido no texto constitucional ou na legislação
infraconstitucional, deve ser interpretado de forma restritiva,
levando-se em conta a dimensão pluralística e democrática do
estado brasileiro.
[...]
A publicidade é a regra, o sigilo, a excepcional exceção.
142 Sumário
dente, no entanto, que apenas em excepcionais circunstâncias
ele se encontra justificado.
[...]
Os tratados internacionais e a própria Constituição Federal
convergem no sentido de se reconhecer não apenas a ampla
liberdade de acesso às informações públicas, corolário do direito
à liberdade de expressão, mas também a possibilidade de res-
tringir o acesso, desde de que (i) haja previsão legal; (ii) desti-
na-se a proteger a intimidade e a segurança nacional; e (iii) seja
necessária e proporcional.
[...]
[...] disposto em termos demasiadamente genéricos, a previsão
constante do art. 86 do Decreto-Lei 200/67, embora veiculada
em norma jurídica, é insuficiente para amparar a restrição ao
direito de acesso à informação. Não prevê a lei a única hipótese
em que a restrição é admitida, isto é, proteção da segurança
nacional, nem regula o direito dos cidadãos de entenderem
eventual restrição.
DOUTRINA CITADA
143 Sumário
SCAFF, Fernando Facury. Direitos fundamentais e orçamento: despe-
sas sigilosas e o direito à verdade. In: CONTI, José Maurício; SCAFF,
Fernando Facury (org.). Orçamentos públicos e direito financeiro.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 231.
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 9.
ed., atual. até a Emenda Constitucional 83, de 5.8.2014. São Paulo:
Malheiros, 2014. p. 132.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS 19
144 Sumário
TOLERÂNCIA E RESPEITO À
DIVERSIDADE
Práticas homofóbicas e
transfóbicas configuram atos
delituosos.
Sumário
TESE FIXADA
146 Sumário
cos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma construção
de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desi-
gualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação política, à
subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da huma-
nidade daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por
não pertencerem ao estamento que detém posição de hegemonia
em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferen-
tes, degradados à condição de marginais do ordenamento jurídico,
expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de perversa
estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema
geral de proteção do direito.
147 Sumário
Reunião de pessoas e grupos sociais distintos
• unidos pela vulnerabilidade
• agravada por práticas discriminatórias e
atentatórias aos seus direitos e liberdades
fundamentais
Direito à autodeterminação
• poder fundamental de qualquer pessoa
Condutas homofóbicas e
transfóbicas = racismo
• delitos enquadrados
na Lei 7.716/1989
GARANTIA DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS – LGBT+
Liberdade de expressão
• garantia de opinião
divergente
148 Sumário
8X3
Min. Celso de
Mello – Relator
Min. Edson Fachin
Min. Alexandre de Moraes
Min. Roberto Barroso
Min. Rosa Weber
Min. Luiz Fux
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
(parcialmente procedente)
Min. Gilmar Mendes
Min. Marco Aurélio
(improcedente)
Min. Dias Toffoli (parcialmente
procedente) – Presidente
149 Sumário
FUNDAMENTOS
TERMINOLOGIA
IDEOLOGIA DE GÊNERO
150 Sumário
essencial direito humano cuja realidade deve ser reconhecida
pelos Poderes Públicos [...].20
20 [...] tal como esta Corte já o fez quando do julgamento da união civil homoafe-
tiva (ADI 4.277/DF e ADPF 132/RJ, das quais foi relator o ministro Ayres Britto) e,
também, no exame da controvérsia referente à alteração do prenome da pessoa
transgênero, com redesignação do gênero por ela própria autopercebido, inde-
pendentemente de cirurgia de transgenitalização (ADI 4.275, rel. min. Marco
Aurélio, red. do ac. min. Edson Fachin, j. 1º-3-2018, P, DJE de 7-3-2019).
151 Sumário
NINGUÉM PODE SER PRIVADO DE DIREITOS NEM SOFRER
RESTRIÇÕES DE ORDEM JURÍDICA POR MOTIVO DE
ORIENTAÇÃO SEXUAL OU EM RAZÃO DE SUA IDENTIDADE
DE GÊNERO
152 Sumário
rejeição por parte de correntes majoritárias ou hegemônicas
em uma dada coletividade.
As ideias, nestas compreendidas as mensagens, inclusive as pre-
gações de cunho religioso, podem ser fecundas, libertadoras,
transformadoras ou, até mesmo, revolucionárias e subversivas,
provocando mudanças, superando imobilismos e rompendo
paradigmas até então estabelecidos nas formações sociais.
O verdadeiro sentido da proteção constitucional à liberdade de
expressão consiste não apenas em garantir o direito daqueles
que pensam como nós, mas, igualmente, em proteger o direito
dos que sustentam ideias (mesmo que se cuide de ideias ou de
manifestações religiosas) que causem discordância ou que pro-
voquem, até mesmo, o repúdio por parte da maioria existente
em uma dada coletividade. O caso United States v. Schwimmer
(279 U.S. 644, 1929): o célebre voto vencido (dissenting opinion)
do Justice OLIVER WENDELL HOLMES JR.
É por isso que se impõe construir espaços de liberdade, em
tudo compatíveis com o sentido democrático que anima
nossas instituições políticas, jurídicas e sociais, para que o
pensamento – e, particularmente , o pensamento religioso –
não seja reprimido e, o que se mostra fundamental, para que
as ideias, especialmente as de natureza confessional, possam
florescer, sem indevidas restrições, em um ambiente de
plena tolerância, que, longe de sufocar opiniões divergentes,
legitime a instauração do dissenso e viabilize, pelo conteúdo
argumentativo do discurso fundado em convicções antagônicas,
a concretização de valores essenciais à configuração do Estado
Democrático de Direito: o respeito ao pluralismo e à tolerância.
O discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações
e manifestações que incitem a discriminação, que estimulem
a hostilidade ou que provoquem a violência (física ou moral)
contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua
153 Sumário
identidade de gênero, não encontra amparo na liberdade consti-
tucional de expressão nem na Convenção Americana de Direitos
Humanos (Artigo 13, § 5º), que expressamente o repele.
DOUTRINA CITADA
154 Sumário
SILVA JUNIOR, Jonas Alves da. Uma explosão de cores: sexo, sexuali-
dade, gênero e diversidade. In: VIEIRA, Tereza Rodrigues (org.). Mino-
rias sexuais: direitos e preconceitos. Brasília: Consulex, 2012. p. 12-14.
SILVEIRA, Fabiano Augusto Martins. Da criminalização do racismo:
aspectos jurídicos e sociocriminológicos. Belo Horizonte: Del Rey,
2007. p. 77-85.
TREVIZANI, Giovanna Bianca. Meu corpo, minhas regras: a transe-
xualidade sob a luz do direito constitucional e as lacunas no Estado
democrático de direito. In: DESLANDES, Keila (coord.). Homotrans-
fobia e direito sexuais: debates e embates contemporâneos. Belo
Horizonte: Autêntica, 2018. p. 98-100.
155 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
156 Sumário
LIVRE ORGANIZAÇÃO DE ENTIDADES
ESTUDANTIS
Sumário
RESUMO
158 Sumário
Constitucionalidade da norma estadual que assegura, no
âmbito da educação superior, a livre criação e a auto-
-organização de centros e diretórios acadêmicos
• funcionamento no espaço físico da faculdade
• livre divulgação de jornais e outras publicações
• livre circulação das ideias por eles produzidas
• acesso dos seus membros às salas de aula
• participação em órgãos colegiados
• liberdade de associação
• promoção de uma educação plena e
capacitadora para o exercício da cidadania
• gestão democrática da educação
LIVRE ORGANIZAÇÃO DE
ENTIDADES ESTUDANTIS
159 Sumário
6X2
Ausentes:
Min. Celso de Mello
Min. Gilmar Mendes
Min. Ricardo Lewandowski
160 Sumário
FUNDAMENTOS
161 Sumário
A LIVRE DIVULGAÇÃO DE PUBLICAÇÕES CONSAGRA
A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE CIRCULAÇÃO DA
INFORMAÇÃO
PARTICIPAÇÃO EM CONSELHOS
162 Sumário
tência de “órgãos colegiados deliberativos”, de que participem
“os segmentos da comunidade institucional, local e regional”.
[...] a regra geral em relação à gestão de recursos públicos é a
da publicidade. Essa é uma decorrência de um conjunto de
normas constitucionais, tais como o direito de acesso à informa-
ção dos órgãos públicos (art. 5º, XXXIII), especialmente quanto à
documentação governamental (art. 216, § 2º), o princípio da
publicidade (art. 37, caput, CF) e o princípio republicano (art.
1º), do qual se originam os deveres de transparência e de presta-
ção de contas, bem como a possibilidade de responsabilização
ampla por eventuais irregularidades.
No mesmo sentido, a Lei de Acesso à Informação (Lei nº
12.527/2011) prevê a “observância da publicidade como pre-
ceito geral e do sigilo como exceção” (art. 3º, I), e assegura o
acesso à informação sobre “atividades exercidas pelos órgãos
e entidades, inclusive as relativas à sua política, organização e
serviços; administração do patrimônio público, utilização de
recursos públicos , licitação, contratos administrativos; e resul-
tado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas de contas
realizadas pelos órgãos de controle interno e externo, incluindo
prestações de contas relativas a exercícios anteriores (art. 7º, V,
VI e VII, b )”, entre outros temas.
163 Sumário
condiciona o exercício de tal direito ao “bom senso”, à razoabi-
lidade, compatibilizando o livre acesso com a necessidade de
funcionamento adequado da universidade.
[...] a livre circulação dos integrantes dos centros e diretórios
acadêmicos nas universidades públicas é necessária para viabi-
lizar a sua existência. Isso porque, como órgão de representação
dos acadêmicos de uma Instituição de Ensino Superior, as ati-
vidades relacionadas à representação dos estudantes somente
poderão ser viabilizadas caso os membros dos centros acadêmi-
cos possam entrar em contato com os estudantes, para difundir
ideias e mobilizar seus representados.
164 Sumário
DOUTRINA CITADA
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
165 Sumário
CONTRIBUIÇÃO SINDICAL
É constitucional a Lei
nº 13.467/2017, que extinguiu a
contribuição sindical obrigatória.
[ADI 5.794, rel. min. Edson Fachin, red. do ac. min. Luiz Fux,
j. 29-6-2018, P, DJE de 23-4-2019.]
Sumário
RESUMO
168 Sumário
A supressão no caráter compulsório das
contribuições sindicais não viola o princípio
da autonomia das organizações sindicais
Liberdades de expressão, de
associação e de sindicalização
169 Sumário
6X3
Ausentes:
Min. Celso de Mello
Min. Ricardo Lewandowski
170 Sumário
FUNDAMENTOS
171 Sumário
INEXISTÊNCIA DE COMANDO CONSTITUCIONAL
IMPONDO A COMPULSORIEDADE DA CONTRIBUIÇÃO
SINDICAL
172 Sumário
LIBERDADES DE EXPRESSÃO, DE ASSOCIAÇÃO E DE
SINDICALIZAÇÃO
173 Sumário
Em segundo lugar, quanto ao risco de free-riders se beneficia-
rem da atuação dos sindicatos sem contribuírem para a sua
manutenção, a Corte concluiu que na verdade são os sindicatos
que se beneficiam da prerrogativa de representarem trabalha-
dores não filiados, aumentando seu poder político e influên-
cia. Mais ainda, o risco de free-riders não justifica a violação a
liberdades fundamentais. Do contrário, alegou a Corte, seria
preciso concluir que, para financiar grupos de lobby em favor
de idosos, por exemplo, o governo poderia obrigar todos os
idosos a pagar-lhes uma contribuição. Consignou-se que a “Pri-
meira Emenda não permite que o governo obrigue uma pessoa
a financiar a atuação de outra só porque o governo pensa que
o seu discurso promove os interesses da pessoa que não quer
pagar” (“the First Amendment does not permit the government
to compel a person to pay for another party’s speech just because
the government thinks that the speech furthers the interests of
the person who does not want to pay”).
Além disso, ressaltou-se que a atuação dos sindicatos atinge o
núcleo da liberdade de expressão dos trabalhadores, pois abran-
gem matérias centrais do debate público, como restrições orça-
mentárias, tributos, educação, suporte a dependentes menores,
assistência à saúde e direitos das minorias. Por isso, entendeu-se
que as contribuições sindicais obrigatórias violariam a liberdade
de expressão dos não filiados sem gerar benefícios que justifi-
quem a restrição, quanto mais quando demonstrado que os
sindicatos podem continuar sendo efetivos sem as agency fees.
Com base nesses fundamentos, afirmou a Suprema Corte que:
“empregados devem escolher financiar o sindicato antes que
qualquer coisa lhes seja tomada” (“employees must choose to
support the union before anything is taken from them”).
Perceba-se que, no caso americano, a lei obrigava o pagamento
das contribuições sindicais e a mais alta Corte do país declarou
a prática incompatível com os direitos fundamentais inscul-
174 Sumário
pidos na Constituição. No caso ora em exame, a lei brasileira
impede a cobrança de contribuições sindicais sem prévia e
expressa autorização do empregado, mas as Requerentes das
ADIs pretendem a declaração de que o pagamento forçado é
decorrência da Constituição, malgrado os artigos 5º, incisos
IV e XVII, e 8º, caput, garantam as liberdades de expressão, de
associação e de sindicalização.
Não havendo razões teóricas ou elementos empíricos que
tornem inadmissível a opção do legislador, é de se respeitar
a sua escolha democrática, plasmada na reforma trabalhista
sancionada pelo Presidente da República, em homenagem à
presunção de constitucionalidade das leis.
DOUTRINA CITADA
175 Sumário
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179 Sumário
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tiva dos direitos sociais trabalhistas. São Paulo : LTr, 2014, p. 262. 2014.
180 Sumário
VIANA, Oliveira. Problemas de direito sindical. Rio de Janeiro: Max
Limonad, 1943. 288 p. (Coleção de direito do trabalho, 5).
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
181 Sumário
PROPAGANDA ELEITORAL VIA
TELEMARKETING
Constitucionalidade do § 2º do
art. 25 da Resolução 23.404/2014
do TSE, que proíbe a realização
de propaganda eleitoral via
telemarketing em qualquer
horário.
Sumário
RESUMO
184 Sumário
Meios de propaganda permitidos
pela Lei Eleitoral:
• rol taxativo (arts. 37, § 2º, e
38 da Lei 9.504/1997)
VEDAÇÃO À REALIZAÇÃO DE
PROPAGANDA ELEITORAL
VIA TELEMARKETING
185 Sumário
8X1
Min. Edson
Fachin – Relator
Min. Luiz Fux
Min. Alexandre de Moraes
Min. Rosa Weber
Min. Dias Toffoli
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Marco Aurélio
Min. Celso de Mello
Min. Cármen Lúcia – Presidente
Ausentes:
Min. Roberto Barroso
Min. Gilmar Mendes
186 Sumário
FUNDAMENTOS
[...] os arts. 37, § 2º e 38, da Lei 9.504/97 (Lei das Eleições) esta-
belecem um rol taxativo das situações em que a propaganda
eleitoral pode ser realizada independentemente de autorização.
Logo, concluiu-se que as demais formas de divulgação utilizadas
pelos partidos políticos e por seus candidatos somente pode-
riam ocorrer com a chancela da Justiça Especializada.
Portanto, nada impede o Tribunal Superior Eleitoral se antecipar
a eventuais pedidos de autorização, e vedar, desde logo, o uso
de determinada técnica propagandística, qual seja, o uso de
telemarketing, sem que isso caracterize usurpação de competên-
cia do Congresso Nacional para legislar sobre Direito Eleitoral.
CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DA
RESOLUÇÃO 23.404/ 2014
187 Sumário
ganda política à esfera de intimidade do eleitor. Isso porque o
uso de aparelhos telefônicos destinam-se, em regra, aos ambien-
tes profissionais ou residenciais do cidadão, espaços protegidos
contra intervenções arbitrárias que não tenham conotação de
proteção a direitos de feição coletiva.
No caso dos autos, o parágrafo 2º do artigo 25 da Resolução
nº 23.404/2014 proibiu, de forma indistinta, o uso de telemar-
keting para a realização de propaganda eleitoral. Criou regra
nova, condizente com a exigência de atuação eficiente da Justiça
Eleitoral. Longe de configurar ato inconstitucional, o disposi-
tivo constitui meio idôneo para a preservação da higidez do
processo eleitoral.
188 Sumário
referência ao parecer de Sepúlveda Pertence, na qualidade de
Procurador-Geral Eleitoral, nos Mandados de Segurança 984,
997 e 1.008, de 26/10/1988).
No âmbito político-eleitoral, a meu sentir, essa proeminência da
liberdade de expressão deve ser trasladada por óbvias razões:
os cidadãos devem ser informados da variedade e riqueza de
assuntos respeitantes a eventuais candidatos, bem como das
ações parlamentares praticadas pelos detentores de mandato
eletivo, sem que isso implique, em linha de princípio, violação às
normas que regulam a comunicação social (FUX, Luiz; FRAZÃO,
Carlos Eduardo. Novos Paradigmas do Direito Eleitoral. Belo Hori-
zonte: Fórum, 2016, p. 116-119).
No campo da comunicação política, pois, a livre circulação de
ideias e opiniões deve prosperar, em definitivo, máxime porque
a democracia se desenvolve sob a crença no valor do diálogo e
sob a premissa de que os sujeitos participantes gozam de uma
certa capacidade intelectual para tomar parte, em condições de
igualdade, das circunstâncias relativas aos assuntos que concla-
mam uma atenção comum (PERROUX, citado por BURGUERA
AMEAVE. Democracia electoral: comunicación y poder. Madrid:
Congreso de los Diputados, 2013, p. 33).
[...]
Sucede que, a despeito de sua preferred position nas democra-
cias constitucionais contemporâneas, a liberdade de expressão,
tal como os demais direitos e garantias fundamentais, pode
sofrer limitações. Como sugere Gregorio Badeni (BADENI, Gre-
gorio. Tratado de libertad de prensa. Buenos Aires: Lexis Nevis,
2002, p. 21), se alguma liberdade jurídica fosse absoluta, seria
impossível concretizar uma vida social em liberdade. Daí que as
liberdades constitucionais encontram-se condicionadas à ade-
quação do indivíduo à ordem jurídica da comunidade global.
Mais: é essa mesma ratio essendi que admite a imposição de
189 Sumário
restrições razoáveis, aquelas vocacionadas à harmonização dos
interesses individuais rumo à satisfação do interesse comum.
No valioso escólio de Robert Alexy, é impossível a existência
de um “estado global de liberdade” não apenas em função dos
choques entre direitos subjetivos e competências que condi-
cionam a sua existência, mas ainda em função de inúmeras
características presentes na organização estatal e na sociedade
(ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo:
Malheiros, 2008, p. 379).
Sob esse prisma, não há negar que mesmo uma liberdade pre-
ferencial, como a de expressão, pode ser limitada em uma ativi-
dade de ponderação, máxime quando o seu modo de exteriori-
zação redunde em um menoscabo de outro princípio prioritário
segundo o quadro da Constituição. [...]
[...]
Na espécie, é evidente que a alegada inconstitucionalidade do
art. 25, § 2º, da Resolução 23.404/2014 do Tribunal Superior
Eleitoral, patentemente respaldado pelo art. 243, VI, do Código
Eleitoral, suscita um aparente choque entre princípios: de um
lado, as garantias relativas à liberdade de expressão, à liberdade
da propaganda e ao direito do eleitor à informação; e, de outro,
o direito à intimidade e ao sossego. O deslinde da questão,
então, não pode deixar de passar pela análise do status daquelas
garantias da personalidade específicas no plano constitucional.
[...]
Destarte, a medida plasmada no art. 25, § 2º, da Resolução
23.404 é apta a promover o fim a que se destina (i.e., salvaguar-
dar a intimidade dos cidadãos). Ela visa a impedir transtornos no
local de descanso dos indivíduos, que certamente seriam invadi-
dos por um sem-número de chamadas telefônicas indesejáveis,
provenientes de dezenas, por vezes centenas de candidatos, no
190 Sumário
curto espaço de mais ou menos quarenta e cinco dias em que
se desenvolvem as campanhas eleitorais.
[...]
[...] a solução alvitrada pelo Tribunal Superior Eleitoral, ao pros-
crever propagandas via telemarketing, atende à proporciona-
lidade em sentido estrito. Isso porque a incidência limitativa
sobre a liberdade de expressão é insignificante, considerando-
-se que segue à disposição dos candidatos um farto catálogo
de opções publicitárias, sendo-lhes, ainda, totalmente possível
fazer com que suas mensagens cheguem ao corpo de cidadãos.
DOUTRINA CITADA
191 Sumário
OSORIO, Aline. Direito eleitoral e liberdade de expressão. Belo Hori-
zonte: Fórum, 2017. p. 221.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
192 Sumário
LIMITE À MANIFESTAÇÃO DO
PENSAMENTO RELIGIOSO
[RHC 146.303, rel. min. Edson Fachin, red. do ac. min. Dias
Toffoli, j. 6-3-2018, 2ª T, DJE de 7-8-2018.]
Sumário
RESUMO
194 Sumário
A liberdade de expressão e a livre
manifestação do pensamento
integram a própria concepção do direito
à liberdade religiosa
195 Sumário
4X1
196 Sumário
FUNDAMENTOS
197 Sumário
os que professam uma religião de qualquer restrição de direito
motivada em sua crença religiosa.
[...]
[...] a exteriorização do pensamento e da crença encontra pro-
teção constitucional, integrando a própria concepção do direito
de liberdade religiosa.
198 Sumário
das regras próprias e o ensino dessa linha teológica, deve haver
o respeito às ideologias dos demais concidadãos sem que se
atinjam de maneira vil as convicções alheias.
[...]
No que respeita à liberdade religiosa, há, como dito acima,
variadas nuances em sua concepção, inclusive a que assegura
o direito à liberdade de não crer, ou de crer de modo distinto
dos demais, sem seguimento a um discurso único de crença. O
direito à liberdade religiosa é, portanto, em grande medida, o
direito à multiplicidade de crenças/descrenças religiosas, que
se vinculam e se harmonizam – para a sobrevivência de toda
essa multiplicidade de fés protegida constitucionalmente – na
chamada tolerância religiosa.
199 Sumário
essenciais à configuração do Estado Democrático de Direito: o
respeito ao pluralismo e à tolerância.
[...]
Daí a essencialidade de propiciar-se a livre circulação de ideias,
particularmente no plano das formulações de índole confes-
sional, eis que tal prerrogativa individual representa um signo
inerente às formações democráticas que convivem com a
diversidade, vale dizer, com pensamentos antagônicos que se
contrapõem, em permanente movimento dialético, a padrões,
convicções e opiniões que exprimem, em dado momento his-
tórico-cultural, o mainstream, ou seja, a corrente dominante
em determinada sociedade.
Irrecusável, contudo, que o direito de dissentir, que constitui
irradiação das liberdades do pensamento, não obstante a sua
extração eminentemente constitucional, deslegitima-se quando
a sua exteriorização atingir, lesionando-os, valores e bens jurí-
dicos postos sob a imediata tutela da ordem constitucional,
como sucede com o direito de terceiros à incolumidade de seu
patrimônio moral.
É por tal razão que a incitação ao ódio público contra qualquer
pessoa, povo ou grupo social não está protegida pela cláusula
constitucional que assegura a liberdade de expressão.
[...]
É que pronunciamentos, como os de que trata este processo,
que extravasam os limites da prática confessional, degradan-
do-se ao nível primário do insulto, da ofensa e, sobretudo, do
estímulo à intolerância e ao ódio público contra fiéis de outras
denominações religiosas, não merecem a dignidade da prote-
ção constitucional que assegura a liberdade de expressão do
200 Sumário
pensamento, que não pode compreender, em seu âmbito de
tutela, manifestações revestidas de ilicitude penal.
Isso significa, portanto, que a prerrogativa concernente à liber-
dade de manifestação do pensamento, por mais abrangente
que deva ser o seu campo de incidência, não constitui meio
que possa legitimar a exteriorização de propósitos criminosos,
especialmente quando as expressões de ódio público a outras
denominações confessionais – veiculadas com evidente supe-
ração dos limites da pregação religiosa – transgridem, de modo
inaceitável, valores tutelados pela própria ordem constitucional.
[...]
[...] os postulados da igualdade e da dignidade pessoal dos seres
humanos constituem limitações externas à liberdade de expres-
são, que não pode, e não deve, ser exercida com o propósito
subalterno de veicular práticas criminosas tendentes a fomentar
e a estimular situações de intolerância e de ódio público.
DOUTRINA CITADA
201 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
202 Sumário
NOVO MARCO REGULATÓRIO DA
TELEVISÃO POR ASSINATURA
É inconstitucional a reserva de
mercado em favor de agências
de publicidade nacionais para
veiculação de propaganda
comercial nas TVs por assinatura.
Sumário
RESUMO
204 Sumário
Constitucionalidade das restrições impostas à propriedade
cruzada e à verticalização da cadeia de valor do audiovisual
• coíbem o abuso do poder econômico
• evitam a concentração excessiva do mercado
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 25
DA LEI 12.485/2011, QUE DISPÕE SOBRE
A COMUNICAÇÃO AUDIOVISUAL DE
ACESSO CONDICIONADO (TVS POR
ASSINATURA)
205 Sumário
8X0
Vencedores no mérito:
Min. Luiz
Fux – Relator
Min. Edson Fachin
Min. Roberto Barroso
Min. Teori Zavascki
Min. Rosa Weber
Min. Dias Toffoli
Min. Marco Aurélio
Min. Cármen Lúcia – Presidente
Ausentes:
Min. Celso de Mello
Min. Gilmar Mendes
Min. Ricardo Lewandowski
206 Sumário
FUNDAMENTOS
207 Sumário
Cuida-se, isto sim, de reconhecer que foi a própria Constituição
de 1988 que previu diretrizes comuns e gerais aplicáveis indistin-
tamente a todos os veículos de comunicação social, tais como a
proteção da livre manifestação do pensamento e da informação
e a vedação à censura (CRFB, art. 220, caput, §§ 1º, 2º e 3º), a
proibição da configuração de monopólio ou oligopólio no setor
comunicativo (CRFB, art. 220, § 5º) e as regras de preferência de
conteúdo a serem estimulados na produção e na programação
das emissoras de rádio e televisão (CRFB, art. 221 c/c art. 222,
§ 3º). Esses dispositivos respaldam, a toda evidência, uma pos-
tura não meramente passiva do Estado na regulação da TV
por assinatura, viabilizando (e porque não dizer reclamando)
verdadeira atuação positiva do Poder Público na promoção dos
valores constitucionais pertinentes ao setor.
208 Sumário
ou a restrição à participação societária do capital estrangeiro
(CRFB, art. 222, caput e § 1º).
Não me parece que tal previsão legislativa viole o princípio cons-
titucional da igualdade (CRFB, art. 5º, caput) entre brasileiros
e estrangeiros nem mesmo represente injustificada restrição
à liberdade profissional de não nacionais no Brasil. Ao revés,
entendo que a restrição operada pelo art. 10, caput e §1º, da
Lei nº 12.485/11 representa típica interpretação legislativa evo-
lutiva do comando constitucional encartado no art. 222, § 2º,
da Lei Maior, de todo condizente com os vetores axiológicos
que informam, no plano constitucional, a atividade de comu-
nicação de massa, dentre os quais a preservação da soberania
e identidade nacionais, o pluralismo informativo e a igualdade
entre os prestadores de serviço a despeito da tecnologia utili-
zada na atividade.
[...] convém observar que a Constituição de 1988 firmou com-
promisso com a proteção da soberania nacional e valorização
da cultura brasileira, alçando a primeira como princípio fun-
damental da República (art. 1º, I) e a segunda como diretriz da
produção e da programação das emissoras de rádio e televisão
(art. 221, II). Tal compromisso geral foi densificado (embora não
exaurido), ao longo da Carta Constitucional, por regras especí-
ficas, dentre as quais as previstas no art. 222 da Lei Maior, que
definiram os traços fundamentais da radiodifusão. A relevância
constitucional da mídia de massa se explica pela capacidade
(significativa) de influência desses veículos de comunicação
sobre o imaginário dos cidadãos, o livre fluxo de ideias e os
valores fundamentais cultivados pela sociedade.
209 Sumário
CREDENCIAMENTO PRÉVIO NA ANCINE PARA
EXPLORAÇÃO DAS ATIVIDADES DE PROGRAMAÇÃO
E EMPACOTAMENTO, E PROIBIÇÃO À DISTRIBUIÇÃO
DE CONTEÚDO EMPACOTADO POR EMPRESA NÃO
CREDENCIADA PELA AGÊNCIA
210 Sumário
sável por aferir o seu preenchimento, sob pena de, na prática,
não existir requisito nenhum.
Não vejo, a propósito, qualquer empecilho a que essa fiscaliza-
ção seja realizada previamente sempre que a obrigação insti-
tuída por lei seja exigível dos seus destinatários antes mesmo
do início das suas atividades. É o que ocorre, na hipótese, com
o credenciamento de programadoras e empacotadoras, que
se presta a aferir, por exemplo, se a gestão, a responsabilidade
editorial ou as atividades de seleção e direção inerentes à pro-
gramação e ao empacotamento estão designadas a brasileiros
natos ou naturalizados, como exige o art. 6º da Lei do SeAC.
Assentada a constitucionalidade desta exigência material
(consoante os fundamentos aduzidos no item anterior), não
é possível a uma sociedade empresária atuar no mercado sem
cumpri-la rigorosamente. Daí ser evidentemente natural que o
órgão competente controle seu cumprimento desde o primeiro
momento possível.
[...] os arts. 16, 17, 18, 19, 20, 23 da Lei nº 12.485/11, ao fixarem
“cotas de conteúdo nacional” para canais e pacotes de TV por
assinatura, promovem a cultura brasileira e estimulam a pro-
dução independente, dando concretude ao art. 221 da Consti-
tuição e ao art. 6º da Convenção Internacional sobre a Proteção
e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (Decreto
nº 6.177/2007). A intervenção estatal revela-se, ademais, (i) ade-
quada, quando relacionada ao fim a que se destina, (ii) neces-
sária, quando cotejada com possíveis meios alternativos e (iii)
proporcional em sentido estrito, quando sopesados os ônus e
bônus inerentes à medida restritiva.
211 Sumário
VALIDADE DA IMPOSIÇÃO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE
RADIODIFUSÃO DE SONS E IMAGENS DO DEVER DE
DISPONIBILIZAÇÃO GRATUITA DOS CANAIS DE SINAL
ABERTO ÀS DISTRIBUIDORAS DO SeAC
DOUTRINA CITADA
212 Sumário
ARAGÃO, Alexandre Santos de. A concepção pós-positivista do prin-
cípio da legalidade. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro,
v. 236, p. 12, abr./jun. 2004.
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são no exercício do poder normativo das agências e a concorrência
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tivo das agências reguladoras. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p.
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J. Gomes et al (coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 2061.
ÁVILA, Humberto. Teoria da igualdade tributária. 3. ed. São Paulo:
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ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos
princípios jurídicos. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 178-182.
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BALDWIN, Robert; CAVE, Martin; LODGE, Martin. Understanding
regulation: theory, strategy, and practice. New York: Oxford University
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BARBOSA, Joaquim. Agências Reguladoras: a “metamorfose” do
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comparado). In: BINENBOJM, Gustavo (org.). Agências reguladoras
e democracia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 21.
BARROSO, Luís Roberto. Constituição, comunicação social e as novas
plataformas tecnológicas. In: Barroso, Luís Roberto. Temas de Direito
Constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. v. 2, p. 109.
213 Sumário
BARROSO, Luís Roberto. Temas de direito constitucional. 2. ed. ver.
Rio de Janeiro: Renovar, 2009. v. 3.
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da consti-
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CARDOSO, Henrique Ribeiro. Controle da legitimidade da atividade
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CHEMERINSKY, Erwin. Constitutional law: principles and policies.
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CUÉLLAR, Leila. As agências reguladoras e seu poder normativo.
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CYRINO, André Rodrigues. Direito constitucional regulatório: ele-
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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Limites da função reguladora das
agências diante do princípio da legalidade. In: DI PIETRO, Maria Sylvia
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EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. Tradução: Sofia Rodrigues.
Lisboa: Temas e Debates, 2003. p. 40.
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 8. ed. São
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FORGIONI, Paula. Os fundamentos do antitruste. São Paulo: Revista
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GICO JUNIOR, Ivo Teixeira. Cartel. Teoria unificada da colusão. São
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GUERRA, Sérgio. Introdução ao direito das agências reguladoras.
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KAHN, Alfred. The economics of regulation: principles and institu-
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JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de licitações e contratos
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JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito administrativo. 2. ed. São
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MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. Agências reguladoras inde-
pendentes: fundamentos e seu regime jurídico. Belo Horizonte: Fórum,
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MELITZ, Marc. When and how should infant industries be protected?
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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Apontamentos sobre o poder
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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio
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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo.
30. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 747.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo.
28. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 170, 838-839.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo.
27. ed. rev. e atual. Malheiros: São Paulo, 2010. p. 793.
215 Sumário
MENDES, Conrado Hubner. A nova regulação estatal e as agências
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MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. A administração indireta e sua
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Samantha Ribeiro (coords.). A intervenção do Estado no domínio
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MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito Regulatório. Rio de
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NICHOLSON, Walter; SNYDER, Christopher. Microeconomic theory:
basic principles and extensions. Ohio: Thomson SouthWestern, 2007.
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nômico. São Paulo: Malheiros, 2000.
PAZ FILHO, José de Sousa; NAZARENO, Cláudio. Cotas de progra-
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Documentação e Informação, 2008. Disponível em: http://bd.camara.
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pazetali.pdf?sequence=1. Acesso em: 23 fev. 2020.
RAGAZZO, Carlos. Regulação jurídica, racionalidade econômica e
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RIBEIRO, Mauricio Portugal; PRADO, Lucas Navarro. Comentários à
Lei de PPP – parceria público-privada: fundamentos econômico-ju-
rídico. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 120-125.
SALOMÃO FILHO, Calixto. Direito concorrencial: as estruturas. São
Paulo: Malheiros, 2007. p. 310.
SAMUELSON, Paul; NORDHAUS, William D. Economia. 19. ed. São
Paulo: Mcgraw-Hill, 2012. p. 142.
216 Sumário
SANKIEVICZ, Alexandre. Liberdade de expressão e pluralismo: pers-
pectivas de regulação. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 89-90.
SARMENTO, Daniel. Comentário ao art. 220. In: CANOTILHO, J. J.
Gomes et al (coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 2041-2042.
SARMENTO, Daniel. Liberdade de expressão, pluralismo e papel pro-
mocional do Estado. In: SARMENTO, Daniel. Livres e iguais: estudos
de direito constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 286.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 17.
ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 250, 762 e 769.
SOUTO, Marcos Juruena Villela. Direito administrativo regulatório.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.
SOUZA, Mateus Maia de; ALEM, Nichollas de Miranda. Direito à cul-
tura e políticas públicas no Brasil: uma análise dos gastos diretos e
indiretos com o setor audiovisual durante a Nova República. Revista de
Estudos Empíricos em Direito, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 93-112, jul. 2016.
SUNDFELD, Carlos Ari. Introdução às agências reguladoras. In: SUN-
DFELD, Carlos Ari (coord.). Direito administrativo econômico. São
Paulo: Malheiros, 2006. p. 27.
SUNDFELD, Carlos Ari. Direito administrativo ordenador. São Paulo:
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STEWART, Richard. The reformation of american administrative law.
Harvard Law Review, Cambridge, v. 88, n. 8, p. 1695-1697, june 1975.
VARIAN, Hal. Microeconomic analysis. New York: W. Norton & Com-
pany Inc, 1992. p. 218.
217 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
21 Julgamento em conjunto com as ADIs 4.679, 4.756, 4.747, rel. min. Luiz Fux,
j. 8-11-2017, P, DJE de 5-4-2018.
218 Sumário
ENSINO RELIGIOSO CONFESSIONAL
Sumário
RESUMO
220 Sumário
Conjugação do binômio laicidade do Estado (CF,
art. 19, I) e liberdade religiosa (CF, art. 5º, VI)
221 Sumário
6X5
222 Sumário
FUNDAMENTOS
223 Sumário
[...]
Assim, a Constituição Federal, ao consagrar a inviolabilidade
de crença religiosa, está também assegurando plena proteção
à liberdade de culto e às suas liturgias (FRANCESCO FINOC-
CHIARO, Il fenômeno religioso. I rapporti trà Stato e Chiesa cat-
tolica. I culti non cattolici. Manuale di diritto pubblico. Bolonha:
Il Molino, 1994. p. 943-964).
Insisto, um Estado não consagra verdadeiramente a liberdade
religiosa sem absoluto respeito aos seus dogmas, suas crenças,
liturgias e cultos. O direito fundamental à liberdade religiosa
não exige do Estado concordância ou parceria com uma ou
várias religiões; exige, tão somente, respeito; impossibilitando-o
de mutilar dogmas religiosos de várias crenças, bem como de
unificar dogmas contraditórios sob o pretexto de criar uma
pseudo neutralidade no “ensino religioso estatal”.
O Estado deve respeitar todas as confissões religiosas, bem
como a ausência delas, e seus seguidores, mas jamais sua legis-
lação, suas condutas e políticas públicas devem ser pautadas
por quaisquer dogmas ou crenças religiosas ou por concessões
benéficas e privilegiadas a determinada religião.
O Poder Público tem a obrigação constitucional de garantir a
plena liberdade religiosa, mas, em face de sua laicidade, não pode
ser subserviente, ou mesmo conivente com qualquer dogma ou
princípio religioso que possa colocar em risco sua própria laici-
dade ou a efetividade dos demais direitos fundamentais, entre
eles, o princípio isonômico no tratamento de todas as crenças
e de seus adeptos, bem como dos agnósticos e ateus.
É essa a ótica que deve garantir a efetividade da determinação
constitucional do ensino religioso, de matrícula facultativa, como
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental (CF, art. 210, § 1º), pautada pela análise da excepcio-
224 Sumário
nal e singular previsão constitucional do tema; pelo binômio Lai-
cidade do Estado/Consagração da Liberdade Religiosa e pelo res-
peito ao princípio da igualdade entre todas as crenças religiosas.
225 Sumário
organizações religiosas em oferecerem as disciplinas de acordo
com a confissão religiosa do aluno, em igualdade de condições.
[...]
Não faria sentido garantir a frequência facultativa às aulas de
ensino religioso se esse se limitasse a enunciar, de maneira abso-
lutamente descritiva e neutra, princípios e regras gerais das
várias crenças. A descrição do fenômeno religioso pelos enfo-
ques histórico, sociológico ou filosófico não ensejaria nenhum
motivo para a dispensa de comparecimento, cabendo lembrar
que há disciplinas de diversos cursos de ciências humanas, inclu-
sive do Direito e Ciências Jurídicas, em que tais abordagens são
corriqueiras e até imprescindíveis, sem que jamais se cogitasse
da possibilidade de algum aluno eximir-se de frequentá-las.
226 Sumário
[...]
O reconhecimento da laicidade e da liberdade de crença não
podem tornar letra morta a previsão constitucional de que deve
haver nas escolas públicas ensino religioso. De outra banda, o
cumprimento da referida previsão não pode acarretar o afas-
tamento do caráter laico do Estado brasileiro e da proteção da
liberdade de crença.
Exatamente para harmonizar essas disposições constitucionais
é que foi facultada a matrícula na mencionada disciplina.
Além disso, para dar concretude ao art. 210, § 1º, da Constitui-
ção e para que não restassem dúvidas a respeito da harmonia
entre ensino religioso, laicidade do Estado e o direito fundamen-
tal de liberdade de crença, os dispositivos legais questionados
preveem, (i) além da matrícula facultativa, (ii) que o ensino
religioso deve ser plural e diverso, (iii) devendo o conteúdo
programático ser estabelecido em parceria com a sociedade
civil, inclusive com a participação das diferentes denominações
religiosas, (iv) respeitada, ainda, a diversidade cultural do Brasil
e (iv) vedadas quaisquer formas de proselitismo.
DOUTRINA CITADA
227 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
228 Sumário
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA CULTURAL
Sumário
TESE FIXADA Tema 259 REPERCUSSÃO
GERAL
230 Sumário
Funções políticas e sociais da imunidade tributária
231 Sumário
10 X 0
Vencedores no mérito:
Min. Marco
Aurélio – Relator
Min. Roberto Barroso
Min. Teori Zavascki
Min. Rosa Weber
Min. Dias Toffoli
Min. Edson Fachin
Min. Luiz Fux
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Gilmar Mendes
Min. Cármen Lúcia – Presidente
Ausente:
Min. Celso de Mello
232 Sumário
FUNDAMENTOS
233 Sumário
Novas modalidades de litígios surgem a todo tempo. Discussões
envolvendo o direito à informação e a liberdade de pensamento,
de um lado, e o direito à privacidade e à honra, de outro, foram
verdadeiramente reinauguradas na “Era Digital”. Controvérsias
relacionadas ao intrincado mundo das empresas virtuais, dos
serviços e comércio eletrônicos, repercutindo a necessidade
de proteção à figura do “consumidor online”, à propriedade
intelectual e aos direitos autorais presentes as novas mídias
eletrônicas, aos limites comportamentais dos trabalhadores
no ambiente de trabalho quanto ao acesso à internet, entre
muitas outras, fazem parte do cenário judicial contemporâ-
neo. O próprio aperfeiçoamento do processo eletrônico vem
sendo um desafio. O que dizer do denominado Plenário Virtual
do Supremo, considerada a alteração introduzida à tradicional
forma colegiada de deliberação do Tribunal?
234 Sumário
As regras de imunidade devem ser vistas como elementos de um
sistema harmônico e integrado de normas e propósitos cons-
titucionais e interpretadas em função do papel que cumprem
em favor dos valores prestigiados por esse sistema. Isso vale,
especialmente, para as imunidades previstas no mencionado
artigo 150, inciso VI, considerados os impostos.
Os precedentes do Supremo, no tocante às imunidades das
alíneas “a”, “b” e “c” do aludido inciso VI, têm deixado clara a
atenção do Tribunal com as funções políticas e sociais dessas
normas, revelando-se prática de interpretação teleológica para
a solução das controvérsias surgidas e buscando-se sempre
a melhor realização dos valores protegidos. Como afirmado
pelo ministro Sepúlveda Pertence, no Recurso Extraordinário
nº 237.718, da relatoria de Sua Excelência, julgado em 29 de
março de 2001, a linha jurisprudencial do Tribunal, nos últimos
tempos, vem sendo “decisivamente inclinada à interpretação
teleológica das normas de imunidade tributária, de modo a
maximizar-lhes o potencial de efetividade, como garantia ou
estímulo à concretização dos valores constitucionais que ins-
piram limitações ao poder de tributar.”
[...] Esse propósito nuclear orienta a interpretação de modo que
a imunidade seja assegurada até o ponto que a tributação não
represente restrição à autonomia política dos entes. O intér-
prete deve levar em conta o fim maior da norma – a salvaguarda
da Federação, princípio estruturante de nossa ordem política e
constitucional – e, a partir dessa premissa, definir a abrangência
da imunidade.
235 Sumário
sendo a mesma adotada para a norma da alínea “d” do preceito
constitucional, ou seja, em relação à imunidade dos livros, jornais
e periódicos. O dispositivo visa promover a educação, garan-
tir o princípio da liberdade de manifestação do pensamento e
da expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, facilitando e estimulando a circulação de ideias,
o direito de informar e de ser informado e a própria liberdade de
imprensa. Considerados esses propósitos, a imunidade se apre-
senta como essencial ao próprio desenvolvimento da cultura,
da democracia e da cidadania participativa e reivindicatória.
A definição interpretativa do alcance da norma constitucional
deve guardar relação mais do que íntima com a compreensão
da função política e social que a imunidade cumpre em favor
da difusão das ideias, da educação, da cultura, da democra-
cia e da cidadania. Deve-se ter presente que a norma obje-
tiva proteger não simplesmente o livro, jornal ou periódico
como “suportes físicos de ideias e comunicação”, mas o valor
intrínseco do conteúdo veiculado, de natureza educacional,
informativa, expressiva do pensamento individual ou coletivo.
O meio é secundário, importando, precipuamente, promo-
ver e assegurar o direito fundamental à educação, à cultura, à
informação, à participação política dos cidadãos. O Supremo
tem compreendido bem a distinção e aplicado a norma de
imunidade valendo-se dessa diretriz.
236 Sumário
Ainda mais grave, essa perda gradativa de efetividade não
concerne apenas à norma de imunidade em si, mas aos valo-
res sociais, éticos e políticos cuja proteção e promoção são,
verdadeiramente, o propósito constitucional. Há o perigo de
enfraquecimento dos direitos fundamentais que serviram de
razão última para a instituição da imunidade pelo constituinte
desde 1946.
[...] Fixada a premissa da unidade didática, integrados fascículos
impressos e componentes eletrônicos, a abordagem sistêmi-
co-teleológica da imunidade, marcante na jurisprudência do
Supremo, não permite outra definição senão a do alcance da
imunidade nos termos definidos pelo Tribunal de origem.
Ainda que se parta de premissa fática diversa, qual seja, a carac-
terização dos elementos eletrônicos como insumos, a conclusão
pela imunidade se mantém.
237 Sumário
DOUTRINA CITADA
238 Sumário
RIBEIRO, Ricardo Lodi. A imunidade do livro eletrônico e o pluralismo
metodológico na interpretação do art. 150, VI, d, CF. Revista Trimes-
tral de Direito Civil, Rio de Janeiro, v. 46, p. 249, abril/junho de 2011.
RIBEIRO, Ricardo Lodi. A imunidade do livro eletrônico e o pluralismo
metodológico na interpretação do art. 150, VI, d, CF. Revista Trimes-
tral de Direito Civil, Rio de Janeiro, v. 46, p. 260, abril/junho de 2011.
SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito cons-
titucional: teoria, história e métodos de trabalho. Belo Horizonte:
Fórum, 2012. p. 415-416.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
239 Sumário
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Sumário
RESUMO
242 Sumário
Forma de liberdade de
expressão
Classificação indicativa
• busca esclarecer, informar e
indicar aos pais a existência de
conteúdo inadequado para crianças
e adolescentes
• não se confunde com autorização
• tem efeito pedagógico
LIBERDADE DE PROGRAMAÇÃO
Dever do Estado
• conferir publicidade aos avisos de
classificação
• desenvolver programas educativos
acerca do sistema de classificação indicativa
Responsabilização judicial
em caso de abusos
243 Sumário
7X3
Min. Dias
Toffoli – Relator
Min. Luiz Fux
Min. Cármen Lúcia
Min. Ayres Britto
Min. Edson Fachin
Min. Teori Zavascki
Min. Rosa Weber
Min. Marco Aurélio
Min. Celso de Mello
Min. Ricardo
Lewandowski – Presidente
Impedido:
Min. Gilmar Mendes
244 Sumário
FUNDAMENTOS
245 Sumário
pode ser confundida com um ato de licença, nem confere poder
à União para determinar que a exibição da programação somente
se dê nos horários determinados pelo Ministério da Justiça, de
forma a caracterizar uma imposição, e não uma recomendação.
Não há horário autorizado, mas horário recomendado.
246 Sumário
conteúdo inadequado, garantindo-lhes o acesso às informações
necessárias à proteção das crianças e dos adolescentes, mas sem
deixar de lado a preocupação com a garantia da liberdade de
expressão, pois não surge com o caráter de imposição.
247 Sumário
haveria, nesse caso, contumaz desrespeito da classificação pelas
emissoras, com a transmissão de programas fora do horário
recomendado?
Ora, não se discorda aqui do direito à programação sadia, reco-
nhecido expressamente pelo art. 221 da Constituição Federal.
Mas, também, não se pode partir do pressuposto de que as
emissoras de televisão, na escolha de sua programação, são, a
priori, nocivas à população infantojuvenil, merecendo, por isso,
ser tuteladas pelo Estado, o qual deve determinar o que é ou não
adequado para determinada grade horária de sua programação.
Segue-se, assim, lógica inversa: com o receio de abusos, restrin-
ge-se a garantia da liberdade de conformação da programação
das emissoras, as quais devem seguir os parâmetros e os padrões
que o Estado, como oráculo da moralidade, impõe.
248 Sumário
minados programas radiodifundidos, como já é feito em vários
países. Trata-se de tecnologia de uso obrigatório no Brasil, mas
que, infelizmente, ainda não tem sido adotada entre nós.
Em 2001, o Congresso Nacional editou a Lei nº 10.359, estabe-
lecendo que os aparelhos televisores produzidos no território
nacional devem dispor, obrigatoriamente, de dispositivo eletrô-
nico que permita ao usuário (pais ou responsáveis) bloquear a
recepção de programas com cenas impróprias para menores.
249 Sumário
de modo cogente. A classificação indicativa deve, portanto, ser
entendida, nesses termos, como um aviso aos usuários acerca do
conteúdo da programação, jamais como uma obrigação cogente
às emissoras de exibição em horários específicos, menos ainda
sob pena de sanção administrativa.
Sendo assim, se a conformação legislativa da liberdade de
expressão é condicionada aos limites autorizados pela Cons-
tituição Federal e o texto dela, na questão específica, já traz
regramento indicativo, informativo, sem sombra de dúvida,
padece de nulidade a legislação infraconstitucional que pre-
tenda amarrar o exercício da referida liberdade, convertendo
esse regramento em proibitivo, impositivo e vinculante.
22 Como salientado pelo Ministro Ayres Britto em seu voto na ADPF 130, “é da
lógica perpassante dos mesmíssimos preceitos constitucionais (art. 220 e seus
§§ 1º, 2º e 6º) o comando de que os eventuais abusos sejam detectados caso a
caso, jurisdicionalmente […], pois esse modo casuístico de aplicar a Lei Maior
é a maneira mais eficaz de proteção dos superiores bens jurídicos da liberdade
de manifestação do pensamento e da liberdade de expressão lato sensu”.
250 Sumário
[...]
Enfim, a liberdade de expressão também exige responsabili-
dade em seu exercício, devendo as emissoras resguardar, em
sua programação, as cautelas necessárias às peculiaridades do
público infantojuvenil. Não obstante, são as próprias emissoras
que devem proceder ao enquadramento horário de sua pro-
gramação, e não o Estado.
O que não pode persistir, porém, é legislação que, a pretexto
de defender valor constitucionalmente consagrado (proteção
da criança e do adolescente), acabe por amesquinhar outro tão
relevante quanto, como a liberdade de expressão. Não se pode
admitir que o instrumento constitucionalmente legítimo da
classificação indicativa seja, na prática, concretizado por meio
de autorização estatal, mediante a qual se determina de forma
cogente a conduta das emissoras no que diz respeito ao horário
de sua programação, caracterizando-se como mecanismo de
censura e de restrição à liberdade de expressão.
DOUTRINA CITADA
251 Sumário
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MACHADO, Jónatas. “Reality
shows” e liberdade de programação. Coimbra: Coimbra Editora, 2003.
p. 16 e 28-32.
CHEQUER, Cláudio. A liberdade de expressão como direito funda-
mental preferencial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 18.
CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição brasileira de
1988. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. v. 3. p. 1410 e 1420.
FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição brasileira. São Paulo:
Saraiva, 1995. v. 7. p. 253.
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de expresión. Revista Argentina de Teoría Jurídica, Buenos Aires, v.
14, n. 1, p. 82-101, jul. 2013.
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television. The Economist, London, 12 ago. 2016. Disponível em:
https://www.economist.com/prospero/2016/08/12/what-danes-
consider-healthy-childrens-television. Acesso em: 28 ago. 2016.
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ceitual, normativa e histórica dos princípios. São Paulo: Revista dos
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atual. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 357.
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e José Fonseca. Porto Alegre: L&PM Editores, 1980. p. 25.
252 Sumário
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
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MORAES, Alexandre de. Constituição brasileira interpretada e legis-
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ção: Antônio Francisco de Sousa e Antonio Franco. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 66, 205 e 207.
ROMÃO, José Eduardo Elias. A nova classificação indicativa: cons-
trução democrática de um modelo. In: CHAGAS, Cláudia Maria de
Freitas; ROMÃO, José Eduardo Elias; LEAL, Sayonara (org.). Classifi-
cação Indicativa no Brasil: desafios e perspectivas. Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça, 2006. p. 37-38.
SANKIEVICZ, Alexandre. Liberdade de expressão e pluralismo: pers-
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São Paulo: Malheiros, 2007. p. 98, 99 e 826.
253 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
254 Sumário
USO DE TATUAGEM POR
POSTULANTES A CARGOS PÚBLICOS
Sumário
TESE FIXADA Tema 838 REPERCUSSÃO
GERAL
256 Sumário
Tatuagem é instrumento de exteriorização da liberdade
de expressão e manifestação do pensamento
257 Sumário
7X1
Min. Luiz
Fux – Relator
Min. Edson Fachin
Min. Roberto Barroso
Min. Rosa Weber
Min. Dias Toffoli
Min. Marco Aurélio
Min. Celso de Mello
Min. Ricardo
Lewandowski – Presidente
Ausentes:
Min. Cármen Lúcia
Min. Teori Zavascki
Min. Gilmar Mendes
258 Sumário
FUNDAMENTOS
259 Sumário
no dizer de José Adércio Leite Sampaio, a não intromissão e o
direito de escolha. Em relação à não intromissão, há um espaço
individual sobre o qual o Estado não pode interferir, na medida
em que representa um sentido afirmativo da personalidade.
Nesse contexto, cada indivíduo tem o direito de preservar sua
imagem como reflexo de sua identidade, ressoando indevido
o desestímulo estatal à inclusão de tatuagens no corpo, o que
ocorreria, caso fosse admitida como fator impeditivo à assunção
de funções públicas.
DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA
260 Sumário
Nessa linha, resta claro, de plano, que, no contexto da sociedade
democrática brasileira pós-88, descentrada, plural e multicul-
tural, a mera circunstância de um candidato possuir tatuagens
não pode ser fato que acabe por influir na sua capacidade para
o desempenho das atividades de um cargo público, e, a fortiori,
que constitua óbice para o acesso ao serviço público23.
261 Sumário
RESTRIÇÃO AO ACESSO A CARGO PÚBLICO DEVE ESTAR
RELACIONADA COM A NATUREZA E AS ATRIBUIÇÕES DAS
FUNÇÕES A SEREM DESEMPENHADAS
EXCEÇÕES
262 Sumário
DOUTRINA CITADA
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
263 Sumário
FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS
ELEITORAIS
É inconstitucional a doação
de pessoas jurídicas a partidos
políticos e campanhas eleitorais.
Sumário
RESUMO
266 Sumário
Doação por pessoas jurídicas
• contraria o regime democrático
• ofende o princípio da liberdade de
expressão no aspecto político
• denota, antes de refletir eventuais
preferências políticas, um agir estratégico
• promove o desequilíbrio da corrida
eleitoral e viola o princípio da igualdade
FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS
ELEITORAIS POR PESSOAS JURÍDICAS
267 Sumário
7X4
Min. Luiz
Fux – Relator
Min. Joaquim Barbosa
Min. Dias Toffoli
Min. Roberto Barroso
Min. Teori Zavascki
Min. Marco Aurélio
Min. Ricardo
Lewandowski – Presidente
Min. Gilmar Mendes
Min. Rosa Weber
Min. Cármen Lúcia
Min. Celso de Mello
268 Sumário
FUNDAMENTOS
269 Sumário
Princípio da liberdade de expressão no aspecto político
Embora não se negue o seu caráter substantivo, o princípio da
liberdade de expressão, no aspecto político, assume uma dimen-
são instrumental ou acessória. E isso porque a sua finalidade é
estimular a ampliação do debate público, de sorte a permitir
que os indivíduos tomem contato com diferentes plataformas
e projetos políticos. Como decorrência, em um cenário ideal,
isso os levaria a optar pelos candidatos mais alinhados com suas
inclinações políticas.
Ocorre que a excessiva penetração do poder econômico no
processo político compromete esse estado ideal de coisas na
medida em que privilegia alguns poucos candidatos – que pos-
suem ligações com os grandes doadores – em detrimento dos
demais. Trata-se de um arranjo que desequilibra, no momento
da competição eleitoral, a igualdade política entre os candida-
tos, repercutindo, consequentemente, na formação dos quadros
representativos
[...]
Examinando as informações acerca dos principais doadores de
campanhas no país, eliminam-se quaisquer dúvidas quanto à
ausência de perfil ideológico das doações por empresas priva-
das. [...]
[...] uma mesma empresa contribui para a campanha dos princi-
pais candidatos em disputa e para mais de um partido político,
razão pela qual a doação por pessoas jurídicas não pode ser
concebida, ao menos em termos gerais, como um corolário da
liberdade de expressão. A práxis, antes refletir as preferências
políticas, denota um agir estratégico destes grandes doadores
que visam a estreitar suas relações com o poder público, de
forma republicana ou não republicana.
270 Sumário
[...] defender com fortes tintas que a questão da doação por
pessoas jurídicas se restringe aos mecanismos de controle e
de transparência dos gastos, data maxima venia, me parece
insuficiente para amainar o cenário de cooptação do poder
político pelo econômico e resgatar a confiança da população
no processo eleitoral. [...] Na realidade, tanto a proibição de
doações por empresas privadas quanto o aperfeiçoamento das
ferramentas de controle podem caminhar juntas. E, a este res-
peito, proscrever a doação por pessoas jurídicas pode, inclusive,
facilitar a tarefa dos órgãos de controle, uma vez que se tornam
autoevidentes as campanhas mais dispendiosas.
271 Sumário
manifesta. Com efeito, o princípio geral de igualdade, encartado
no art. 5º, caput, da Lei Maior, se afigura como limite material,
e não apenas formal, ao legislador. Ele impõe que exista uma
razão constitucional suficiente que justifique a diferenciação,
bem como reclama a necessidade de que esse tratamento dife-
renciado guarde pertinência com a causa jurídica distintiva. [...]
Na realidade, não existem princípios contrapostos que justi-
fiquem a autorização de doações a campanhas por parte de
empresas, mas que não franqueiem similar possibilidade às
entidades sindicais. A mesma racionalidade pode ser esten-
dida à proibição de doações por entidades não governamentais
que recebam recursos públicos, prevista no art. 24, X, da Lei
nº 9.504/97. Ora, se as empresas privadas que contratam com o
governo não apenas podem doar como também figuram entre
os maiores doadores, é inelutável que entidades não governa-
mentais também devem poder realizar doações a campanhas
políticas. Daí por que, se a mens legislatoris do art. 24, X, da Lei nº
9.504/97 quis impedir a formação de pactos antirrepublicanos
entre associações que recebem recursos governamentais com o
poder público, a permissão de doações por empresas privadas
colide frontalmente com a sua finalidade subjacente. Trata-se,
destarte, de critérios injustificáveis que, além de não promover
quaisquer valores constitucionais, deturpam a própria noção de
cidadania e de igualdade entre as pessoas jurídicas.
272 Sumário
DOUTRINA CITADA
273 Sumário
WALECKI, Marcin. Political money and corruption. In: TRANSPA-
RENCY INTERNATIONAL. Global Corruption Report. Berlin: Trans-
parency International, 2004, p. 19-32.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
274 Sumário
BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS
É inexigível o consentimento de
pessoa biografada relativamente
a obras biográficas literárias ou
audiovisuais, sendo desnecessária
autorização de pessoas retratadas
como coadjuvantes.
Sumário
RESUMO
276 Sumário
Biografias constituem manifestação típica
da liberdade de expressão
• elaboração = liberdade da atividade
de criação intelectual e artística
• produção e divulgação = direito
de informação
PUBLICAÇÃO DE BIOGRAFIAS
Autorização prévia é
• incompatível com a
liberdade de expressão
• forma de censura
277 Sumário
9 X 024
Vencedores no mérito:
Min. Cármen
Lúcia – Relatora
Min. Roberto Barroso
Min. Rosa Weber
Min. Luiz Fux
Min. Dias Toffoli
Min. Gilmar Mendes
Min. Marco Aurélio
Min. Celso de Mello
Min. Ricardo
Lewandowski – Presidente
Ausente:
Min. Teori Zavascki
278 Sumário
FUNDAMENTOS
279 Sumário
De outro lado, a exposição da imagem, privacidade, intimidade e
honra do biografado, ainda que em graus variados, é da própria
essência do gênero literário. Em uma biografia, a personalidade
do biografado, seus relacionamentos interpessoais, sua trajetória
e os episódios que compuseram sua vida são tomados como
objeto de estudo e transformam-se em uma narrativa, a ser
contada ao grande público a partir da perspectiva (sempre sub-
jetiva) do biógrafo. É natural e mesmo inevitável que o autor da
obra, além de interferir por meio da seleção dos fatos a narrar,
não se limite à mera descrição dos acontecimentos, formulando
também juízos de valor sobre as pessoas e casos. A história tam-
pouco se restringe a elogios ou a descrições dos momentos de
glória dos sujeitos retratados, incluindo correntemente críticas
e fatos desabonadores ou controvertidos. Assim, é certo que a
divulgação de tais pontos de vista pode causar sofrimento, ser
desagradável ou prejudicial aos biografados (e a seus familia-
res) e, por consequência, ensejar pretensões indenizatórias e de
interdição de veiculação das obras, ao argumento de que explo-
rariam ou violariam seus direitos da personalidade, amparados
pela ordem constitucional brasileira (CF, art. 5º, X).
280 Sumário
Este lugar privilegiado que a expressão ocupa nas ordens interna
e internacional tem a sua razão de ser. Ele decorre dos próprios
fundamentos filosóficos ou teóricos da sua proteção, entre os
quais se destacam cinco principais. O primeiro diz respeito à
função essencial que a liberdade de expressão desempenha para
a democracia. De fato, o amplo fluxo de informações e a for-
mação de um debate público robusto e irrestrito constituem
pré-requisitos indispensáveis para a tomada de decisões pela
coletividade e para o autogoverno democrático. A segunda
justificação é a própria dignidade humana. A possibilidade de
os indivíduos exprimirem de forma desinibida suas ideias, pre-
ferências e visões de mundo, assim como de terem acesso às
ideias, preferências e visões de mundo dos demais é essencial
ao livre desenvolvimento da personalidade, à autonomia e à
realização existencial dos indivíduos, consistindo, assim, em
uma emanação da sua dignidade.
Uma terceira função atribuída à livre discussão e contraposição
de ideias é o processo coletivo de busca da verdade. De acordo
com essa concepção, toda intervenção no sentido de silenciar
uma opinião, ainda que ruim ou incorreta, seria perniciosa, pois
é na colisão com opiniões erradas que é possível reconhecer a
“verdade” ou as melhores posições. O quarto fundamento da
proteção privilegiada da liberdade de expressão está atrelada
à sua função instrumental para o exercício e o pleno gozo dos
demais direitos fundamentais. A quinta e última justificação
teórica se refere à preservação da cultura e história da socie-
dade. As liberdades comunicativas constituem claramente uma
condição para a criação e o avanço do conhecimento e para a
formação e preservação do patrimônio cultural de uma nação.
Por fim, além dos fundamentos filosóficos, há uma importante
razão de ordem histórica para a atribuição de uma posição prefe-
rencial às liberdades expressivas: o temor da censura. Existe uma
suspeição, historicamente fundada, em relação a intervenções
281 Sumário
estatais para regular a expressão. No Brasil, o trauma é parti-
cularmente intenso e invoca memórias recentes. A história da
liberdade de expressão no país é uma história acidentada. Desde
o Império, a repressão à manifestação do pensamento elegeu
alvos diversos, da religião às artes. Durante diferentes períodos
ditatoriais, houve temas proibidos, ideologias banidas, pessoas
malditas. No jornalismo impresso, o vazio das matérias censura-
das era preenchido com receitas de bolo e poesias de Camões.
Censuravam-se músicas, peças, livros e programas de televisão.
Diante desses fundamentos, as múltiplas e até redundantes
disposições sobre a liberdade de expressão na Constituição de
1988 refletem a preocupação do constituinte em garantir o
florescimento de um espaço de livre fluxo de ideias no cenário
de redemocratização do Brasil, após o fim da ditadura militar,
e de criar salvaguardas para impedir o retorno dos fantasmas
do passado. O reconhecimento de uma posição preferencial
às liberdades comunicativas é justamente um dos principais
mecanismos dessa proteção.
[...]
[...] Isso não significa, por evidente, que a liberdade de expressão
ostente caráter absoluto. Excepcionalmente, essa prioridade
poderá ceder lugar à luz das circunstâncias do caso concreto.
Sua posição preferencial deverá, porém, servir de guia para o
intérprete, exigindo, em todo caso, a preservação, na maior
medida possível, das liberdades comunicativas.
282 Sumário
retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares no caso
de pessoas falecidas) aniquila a proteção às liberdades de mani-
festação do pensamento, de expressão da atividade intelectual,
artística e científica e de informação, golpeadas em seu núcleo
essencial. Tais liberdades, de um lado, e a autorização ou licença,
de outro, são conceitos excludentes.
A Constituição veda não somente ao Poder Público, mas
também ao particular, a interferência nas liberdades de mani-
festação e de expressão mediante o emprego de artifícios ins-
titucionais, como a licença e a censura prévias, que atuem no
sentido de delinear o seu conteúdo.
[...]
Assim como incompatível com o Estado Democrático de Direito
instituído pela Carta de 1988 o arrogar-se, pelo Poder Judiciário,
ou qualquer dos outros Poderes da República, do comando da
linha editorial de qualquer veículo de imprensa, a publicação
de obras de teor biográfico em absoluto pode ficar na depen-
dência da chancela do biografado. A necessidade de autorização
para biografias traduz censura prévia, em dissonância com as
garantias albergadas nos arts. 5º, IV, IX e XIV, e 220, §§ 2º e 6º,
da Lei Maior, em indevida reintrodução do espírito autoritário
expurgado pela Constituição vigente.
[...]
Sendo assim, parece-me que a censura prévia, seja ela executada
por órgãos públicos ou por particulares, aniquila completamente
o núcleo essencial dos direitos fundamentais de liberdade de
expressão e de informação, bem como, por via de consequência,
fragiliza todos os demais direitos e garantias que a Constituição
protege. Nas palavras de THOMAS JEFFERSON, “a liberdade de
falar e escrever guarda nossas outras liberdades” (Jefferson on
freedom. New York: Skyhorse Publishing, 2011, p. 104).
283 Sumário
DAR INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO AOS
ARTS. 20 E 21 DO CÓDIGO CIVIL
284 Sumário
Ademais, tal interpretação equivale a atribuir, de forma absoluta
e em abstrato, maior peso aos direitos à imagem e à vida privada,
em detrimento da liberdade de expressão, compreensão que
não se compatibiliza com a ideia de unidade da Constituição.
[...]
Ação direta julgada procedente para dar interpretação con-
forme à Constituição aos arts. 20 e 21 do Código Civil, sem
redução de texto, para, em consonância com os direitos funda-
mentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de cria-
ção artística, produção científica, declarar inexigível autorização
de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias
ou audiovisuais, sendo também desnecessária autorização de
pessoas retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares,
em caso de pessoas falecidas ou ausentes).
285 Sumário
Quem informa e divulga informação responde por eventual
excesso, apurado por critério que demonstre dano decorrente
da circunstância de ter sido ultrapassada esfera garantida de
direito do outro.
A informação, a exposição e a divulgação de dado podem gerar
dano como qualquer outro agir humano. Inúmeras vezes este
Supremo Tribunal debruçou-se sobre esse tema e concluiu, com
fundamento em normas constitucionais e legais, que a responsa-
bilização compõe o sistema de liberdades (ADPF n. 130, Relator
o Ministro Ayres Britto, Plenário, DJ 13.11.2009; AI n. 595.395/
SP, Relator o Ministro Celso de Mello, decisão monocrática, DJ
3.8.2007; Rcl n. 9.428/DF, Relator o Ministro Cezar Peluso, Ple-
nário, DJ 25.6.2010; ADI n. 4.451-MC-REF/DF, Relator o Ministro
Ayres Britto, Plenário, DJ 24.8.2012; e RE n. 511.961/SP, Relator
o Ministro Gilmar Mendes, DJ 13.11.2009).
No inc. V do art. 5º da Constituição da República, dispõe-se:
“Art. 5º [...]
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.
A responsabilidade civil, administrativa, contratual ou extra-
contratual evoluiu na ordenação do direito. No Brasil, a Cons-
tituição elevou a matéria à categoria de elemento fundamental
de equilíbrio sistêmico, garantindo a mais ampla liberdade e
fazendo a ela corresponder igual responsabilidade.
[...]
[...] O regime constitucional adotado em matéria de liberdade
de expressão é, portanto, o de responsabilização posterior, e
286 Sumário
não o de interdição prévia25. Isso, é claro, não significa que os
demais princípios e valores constitucionais em conflito serão
sacrificados. Em regra, nas hipóteses de exercício abusivo desta
liberdade, o caminho para a acomodação dos interesses coliden-
tes é o recurso aos diversos mecanismos de sanção e reparação
a posteriori oferecidos pela ordem jurídica, que incluem a retra-
tação, a retificação, o direito de resposta, a responsabilização
civil e (muito excepcionalmente) penal.
DOUTRINA CITADA
287 Sumário
SARMENTO, Daniel. A liberdade de expressão e o problema do “hate
speech”. In: SARMENTO, Daniel. Livres e iguais: estudos de direito
constitucional. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2006. p. 242.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
288 Sumário
LEI GERAL DA COPA
Sumário
RESUMO
290 Sumário
A liberdade de expressão não é um direito
absoluto, sendo suscetível de restrição
291 Sumário
8X2
Min. Gilmar
Mendes – Relator
Min. Roberto Barroso
Min. Teori Zavascki
Min. Rosa Weber
Min. Luiz Fux
Min. Dias Toffoli
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Marco Aurélio
Min. Joaquim
Barbosa – Presidente
Ausente:
Min. Celso de Mello
292 Sumário
FUNDAMENTOS
[...]
É notória, por certo, a importância que a liberdade de expres-
são representa para o regime democrático, inclusive como
instrumento para fomentar debates e “assegurar o combate
intelectual de opiniões” (den geistigen Kampf der Meinung zu
gewährleisten) (PIEROTH, Bodo; SCHLINK, Bernhard. Grun-
drechte Staatsrecht II. Heidelberg: C.F. Müller, 2007, p. 137).
Não é verdade, contudo, que o constituinte concebeu a liber-
dade de expressão como direito absoluto, insuscetível de res-
trição, seja pelo Judiciário, seja pelo Legislativo. Há hipóteses
em que essa acaba por colidir com outros direitos e valores
também constitucionalmente protegidos. Tais tensões dialéticas
precisam ser ponderadas a partir da aplicação do princípio da
proporcionalidade.
Em síntese, a aplicação do princípio da proporcionalidade se dá
quando verificada restrição a determinado direito fundamen-
tal ou um conflito entre distintos princípios constitucionais de
modo a exigir que se estabeleça o peso relativo de cada um
dos direitos por meio da aplicação das máximas que integram
o mencionado princípio da proporcionalidade.
[...] há de perquirir-se, se em face do conflito entre dois bens
constitucionais contrapostos, o ato impugnado afigura-se ade-
quado, isto é, apto para produzir o resultado desejado; neces-
sário, isto é, insubstituível por outro meio menos gravoso e
igualmente eficaz; e proporcional em sentido estrito, ou seja,
293 Sumário
se estabelece uma relação ponderada entre o grau de restrição
de um princípio e o grau de realização do princípio contraposto
(“A Proporcionalidade na Jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal”, in Direitos Fundamentais e Controle de Constitucio-
nalidade: Estudos de Direito Constitucional, 2ª ed., Celso Bastos
Editor: IBDC, São Paulo, 1999, p. 72).
294 Sumário
DOUTRINA CITADA
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
295 Sumário
MARCHA DA MACONHA
Sumário
RESUMO
298 Sumário
Pleno exercício de direitos e liberdades fundamentais:
• liberdade de expressão e livre manifestação do
pensamento
• direito de reunião (art. 5º, XVI, da CF)
• a reunião deve ser pacífica
• sem armas
• não deve frustrar outra reunião
Manifestação pública anteriormente convocada
legítima • deve ser previamente comunicada
à autoridade competente
MARCHA DA MACONHA
299 Sumário
8X0
Vencedores no mérito:
Min. Celso de
Mello – Relator
Min. Luiz Fux
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Ayres Britto
Min. Ellen Gracie
Min. Marco Aurélio
Min. Cezar Peluso – Presidente
Impedido:
Min. Dias Toffoli
Ausentes:
Min. Gilmar Mendes
Min. Joaquim Barbosa
300 Sumário
FUNDAMENTOS
301 Sumário
É por isso que esta Suprema Corte sempre teve a nítida per-
cepção de que há, entre as liberdades clássicas de reunião e
de manifestação do pensamento, de um lado, e o direito de
participação dos cidadãos na vida política do Estado, de outro,
um claro vínculo relacional, de tal modo que passam eles a
compor um núcleo complexo e indissociável de liberdades e de
prerrogativas político-jurídicas, o que significa que o desrespeito
ao direito de reunião, por parte do Estado e de seus agentes,
traduz, na concreção desse gesto de arbítrio, inquestionável
transgressão às demais liberdades cujo exercício possa supor,
para realizar-se, a incolumidade do direito de reunião, tal como
sucede quando autoridades públicas impedem que os cidadãos
manifestem, pacificamente, sem armas, em passeatas, marchas
ou encontros realizados em espaços públicos, as suas ideias e
a sua pessoal visão de mundo, para, desse modo, propor solu-
ções, expressar o seu pensamento, exercer o direito de petição
e, mediante atos de proselitismo, conquistar novos adeptos e
seguidores para a causa que defendem.
302 Sumário
estarem armados. As medidas policiais são contra os que, por
ato seu, perderem o direito a reunirem-se a outros, e não contra
os que se acham sem armas. Contra esses, as medidas policiais
são contrárias à Constituição e puníveis segundo as leis” [...].
A essencialidade dessa liberdade fundamental, que se exterioriza
no direito de qualquer pessoa reunir-se com terceiros, pacifica-
mente, sem armas, em locais públicos, independentemente de
prévia autorização de órgãos ou agentes do Estado (que não se
confunde com a determinação constitucional de “prévio aviso
à autoridade competente”), revela-se tão significativa que os
modelos político-jurídicos de democracia constitucional sequer
admitem que o Poder Público interfira no exercício do direito
de reunião.
[...]
É de ressaltar que, em nosso sistema normativo, o direito de
reunião pode sofrer, excepcionalmente, restrições de ordem
jurídica em períodos de crise institucional, desde que utilizados,
em caráter extraordinário, os mecanismos constitucionais de
defesa do Estado, como o estado de defesa (CF, art. 136, § 1º, I,
“a”) e o estado de sítio (CF, art. 139, IV), que legitimam a utiliza-
ção, pelo Presidente da República, dos denominados poderes de
crise, dentre os quais se situa a faculdade de suspender a própria
liberdade de reunião, ainda que exercida em espaços privados.
Em período de normalidade institucional, contudo, essa liber-
dade fundamental, além de plenamente oponível ao Estado
(que nela não pode interferir, sob pena de incriminação de
seus agentes e autoridades, consoante prescreve, em norma
de tipificação penal, a Lei nº 1.207, de 25/10/1950), também
lhe impõe a obrigação de viabilizar a reunião, assim como o
dever de respeitar o direito – que assiste aos organizadores e
participantes do encontro – à autônoma deliberação sobre o
tipo e o conteúdo da manifestação pública.
303 Sumário
[...]
O Estado, por seus agentes e autoridades, não pode cercear
nem limitar o exercício do direito de reunião, apoiando-se, para
tanto, em fundamentos que revelem oposição governamental
ao conteúdo político, doutrinário ou ideológico do movimento
ou, ainda, invocando, para restringir a manifestação pública,
razões fundadas em mero juízo de oportunidade, de conve-
niência ou de utilidade.
Disso resulta que a polícia não tem o direito de intervir nas
reuniões pacíficas, lícitas, em que não haja lesão ou perturbação
da ordem pública. Não pode proibi-las ou limitá-las. Assiste-lhe,
apenas, a faculdade de vigiá-las, para, até mesmo, garantir-lhes
a sua própria realização. O que exceder a tais atribuições, mais
do que ilegal, será inconstitucional.
304 Sumário
Corte Suprema, quando assim proferidos, objetivam preservar,
em gesto de fiel execução dos mandamentos constitucionais, a
intangibilidade de direitos, interesses e valores que identificam
os grupos minoritários expostos a situações de vulnerabilidade
jurídica, social, econômica ou política e que, por efeito de tal
condição, tornam-se objeto de intolerância, de perseguição,
de discriminação, de injusta exclusão, de repressão e de abuso
contra os seus direitos.
Na realidade, o tema da preservação e do reconhecimento dos
direitos das minorias deve compor, por tratar-se de questão
impregnada do mais alto relevo, a agenda desta Corte Suprema,
incumbida, por efeito de sua destinação institucional, de velar
pela supremacia da Constituição e de zelar pelo respeito aos
direitos, inclusive de grupos minoritários, que encontram fun-
damento legitimador no próprio estatuto constitucional.
Com efeito, a necessidade de assegurar-se, em nosso sistema
jurídico, proteção às minorias e aos grupos vulneráveis qualifica-
-se, na verdade, como fundamento imprescindível à plena legi-
timação material do Estado Democrático de Direito, havendo
merecido tutela efetiva, por parte desta Suprema Corte, quando
grupos majoritários, por exemplo, atuando no âmbito do Con-
gresso Nacional, ensaiaram medidas arbitrárias destinadas a
frustrar o exercício, por organizações minoritárias, de direitos
assegurados pela ordem constitucional (MS 24.831/DF, Rel. Min.
CELSO DE MELLO – MS 24.849/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO
– MS 26.441/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
[...]
Desse modo, e para que o regime democrático não se reduza a
uma categoria político-jurídica meramente conceitual ou sim-
plesmente formal, torna-se necessário assegurar, às minorias,
notadamente em sede jurisdicional, quando tal se impuser,
a plenitude de meios que lhes permitam exercer, de modo
305 Sumário
efetivo, os direitos fundamentais, que a todos, sem distinção,
são assegurados.
Isso significa, portanto, numa perspectiva pluralística, em tudo
compatível com os fundamentos estruturantes da própria
ordem democrática (CF, art. 1º, V), que se impõe a organização
de um sistema de efetiva proteção, especialmente no plano da
jurisdição, aos direitos, liberdades e garantias fundamentais em
favor das minorias, quaisquer que sejam, para que tais prerro-
gativas essenciais não se convertam em fórmula destituída de
significação, o que subtrairia – consoante adverte a doutrina
(SÉRGIO SÉRVULO DA CUNHA, “Fundamentos de Direito
Constitucional”, p. 161/162, item n. 602.73, 2004, Saraiva) – o
necessário coeficiente de legitimidade jurídico-democrática ao
regime político vigente em nosso País.
306 Sumário
sideram apologia de fato criminoso as condutas daqueles que
organizam, promovem e/ou participam de movimentos como
o da “Marcha da Maconha”.
De outro lado, registram-se decisões que, proferidas em sentido
diametralmente oposto, buscam compatibilizar o art. 287 do
Código Penal com o texto da Constituição, interpretando-o
de forma a não inviabilizar o exercício da liberdade de reunião
e a prática dos direitos de petição e de livre manifestação do
pensamento.
[...]
Pois bem. A realização de manifestações ou eventos públicos
nos quais seja emitida opinião favorável à descriminalização
do uso de entorpecentes – ou mesmo de qualquer outra con-
duta – não pode ser considerada, de per se, como apologia ao
crime, por duas razões. A primeira delas é lógica e de rara sim-
plicidade: se ocorre uma manifestação em que se defende o fim
da proibição legal de uma determinada prática, quer-se que a
mesma passe a ser considerada legalmente admissível, deixando
de ser crime. Em outras palavras, não se exalta a prática de um
crime – louva-se o entendimento de que a prática não deveria
ser considerada um crime.
A segunda razão é de cunho substancial: a proteção consti-
tucional da liberdade de expressão garante a livre emissão de
opinião, inclusive quanto à descriminalização de condutas. Há
que se compreender o alcance da liberdade de expressão cons-
titucionalmente assegurada.
[...]
A criminalização da apologia ao crime e a liberdade de expressão
convivem no sistema jurídico nacional, porquanto pretender
descriminalizar não significa exaltar prática antijurídica, bem
307 Sumário
como expressar livremente a opinião a esse respeito em reunião
pública ou privada encerra exercício regular de direito funda-
mental. É que, na percuciente visão da doutrina do tema, a “liber-
dade de expressão, enquanto direito fundamental, tem sobre-
tudo caráter de pretensão a que o Estado não exerça censura”
(In MENDES,Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de Direito Constitucional. 6. edição. São Paulo: Saraiva, 2011,
p. 297-298), repercutindo o magistério de ULRICH KARPEN)
308 Sumário
ideias e opiniões, transmitir, mediante concreto exercício do
direito de petição, mensagem de abolicionismo penal quanto
à vigente incriminação do uso de drogas ilícitas.
309 Sumário
não seja reprimido e, o que se mostra fundamental, para que
as ideias possam florescer, sem indevidas restrições, em um
ambiente de plena tolerância, que, longe de sufocar opiniões
divergentes, legitime a instauração do dissenso e viabilize, pelo
conteúdo argumentativo do discurso fundado em convicções
divergentes, a concretização de um dos valores essenciais à
configuração do Estado democrático de direito: o respeito ao
pluralismo político.
A livre circulação de ideias, portanto, representa um signo
inerente às formações democráticas que convivem com a
diversidade, vale dizer, com pensamentos antagônicos que se
contrapõem, em permanente movimento dialético, a padrões,
convicções e opiniões que exprimem, em dado momento his-
tórico-cultural, o “mainstream”, ou seja, a corrente dominante
em determinada sociedade.
É por isso que a defesa, em espaços públicos, da legalização das
drogas, longe de significar um ilícito penal, supostamente carac-
terizador do delito de apologia de fato criminoso, representa,
na realidade, a prática legítima do direito à livre manifestação
do pensamento, propiciada pelo exercício do direito de reunião,
sendo irrelevante, para efeito da proteção constitucional de tais
prerrogativas jurídicas, a maior ou a menor receptividade social
da proposta submetida, por seus autores e adeptos, ao exame
e consideração da própria coletividade.
310 Sumário
DOUTRINA CITADA
311 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
312 Sumário
DIPLOMA PARA O EXERCÍCIO DO
JORNALISMO
É inconstitucional a exigência
de diploma para o exercício do
jornalismo.
Sumário
TESE FIXADA
314 Sumário
Liberdade de exercício profissional
• restrições legais à liberdade do exercício profissional
• qualificações profissionais
• restrição legal desproporcional que viola o
conteúdo essencial da liberdade
• declarada inconstitucional
Qualificações profissionais (art. 5º, XIII, da CF)
• exigidas, pela lei, daquelas profissões que
podem trazer perigo de dano à coletividade
ou prejuízos diretos a direitos de terceiros
Atividade de jornalismo
• manifestação e difusão do pensamento e da
informação
• umbilicalmente ligada às liberdades de
expressão e de informação
• não há espaço para a regulação estatal quanto às
qualificações profissionais
• responsabilização civil e penal, a posteriori em
caso de exercício abusivo
315 Sumário
8X1
Ausentes:
Min. Joaquim Barbosa
Min. Menezes Direito
316 Sumário
FUNDAMENTOS
317 Sumário
Assim, parece certo que, no âmbito desse modelo de reserva
legal qualificada presente na formulação do art. 5º, XIII, paira
uma imanente questão constitucional quanto à razoabilidade
e proporcionalidade das leis restritivas, especificamente, das
leis que disciplinam as qualificações profissionais como condi-
cionantes do livre exercício das profissões. A reserva legal esta-
belecida pelo art. 5º, XIII, não confere ao legislador o poder
de restringir o exercício da liberdade a ponto de atingir o seu
próprio núcleo essencial.
[...] desde o importante julgamento da Representação nº
930 (Relator p/ o acórdão: Ministro Rodrigues Alckmin, DJ,
2-9-1977), o Supremo Tribunal Federal tem entendimento
fixado no sentido de que as restrições legais à liberdade de
exercício profissional somente podem ser levadas a efeito no
tocante às qualificações profissionais. A restrição legal despro-
porcional e que viola o conteúdo essencial da liberdade deve
ser declarada inconstitucional.
318 Sumário
a terceiros causados pelo profissional do jornalismo não seriam
inerentes à atividade e, dessa forma, não seriam evitáveis pela
exigência de um diploma de graduação. Dados técnicos neces-
sários à elaboração da notícia (informação) deveriam ser bus-
cados pelo jornalista em fontes qualificadas profissionalmente
sobre o assunto.
[...] esses entendimentos, que bem apreendem o sentido norma-
tivo do art. 5º, inciso XIII, da Constituição, já demonstram a des-
proporcionalidade das medidas estatais que visam a restringir
o livre exercício do jornalismo mediante a exigência de registro
em órgão público condicionado à comprovação de formação
em curso superior de jornalismo.
[...]
É fácil perceber que a formação específica em curso de gra-
duação em jornalismo não é meio idôneo para evitar even-
tuais riscos à coletividade ou danos efetivos a terceiros. De
forma extremamente distinta de profissões como a medicina
ou a engenharia, por exemplo, o jornalismo não exige técnicas
específicas que só podem ser aprendidas em uma faculdade. O
exercício do jornalismo por pessoa inapta para tanto não tem
o condão de, invariável e incondicionalmente, causar danos ou
pelo menos risco de danos a terceiros. A consequência lógica,
imediata e comum do jornalismo despreparado será a ausên-
cia de leitores e, dessa forma, a dificuldade de divulgação e de
contratação pelos meios de comunicação, mas não o prejuízo
direto a direitos, à vida, à saúde de terceiros.
As violações à honra, à intimidade, à imagem ou a outros direi-
tos da personalidade não constituem riscos inerentes ao exercí-
cio do jornalismo; são, antes, o resultado do exercício abusivo
e antiético dessa profissão.
319 Sumário
O jornalismo despreparado diferencia-se substancialmente do
jornalismo abusivo. Este último, como é sabido, não se restringe
aos profissionais despreparados ou que não frequentaram um
curso superior. As notícias falaciosas e inverídicas, a calúnia,
a injúria e a difamação constituem grave desvio de conduta
e devem ser objeto de responsabilidade civil e penal. Repre-
sentam, portanto, um problema ético, moral, penal e civil que
não encontra solução na formação técnica do jornalista. Dizem
respeito, antes, à formação cultural e ética do profissional, que
pode ser reforçada, mas nunca completamente formada, nos
bancos de uma faculdade.
É inegável que a frequência a um curso superior com disciplinas
sobre técnicas de redação e edição, ética profissional, teorias
da comunicação, relações públicas, sociologia etc. pode dar ao
profissional uma formação sólida para o exercício cotidiano do
jornalismo. E essa é uma razão importante para afastar qualquer
suposição no sentido de que os cursos de graduação em jorna-
lismo serão desnecessários após a declaração de não recepção
do art. 4º, inciso V, do Decreto-Lei nº 972/1969.
320 Sumário
são atividades que estão imbricadas por sua própria natureza e
não podem ser pensadas e tratadas de forma separada.
[...]
No [...] julgamento da ADPF nº 130, Rel. Min. Carlos Britto, na
qual se declarou a não recepção da Lei de Imprensa (Lei nº
5.250/1967), o Tribunal enfaticamente deixou consignado o
entendimento segundo o qual as liberdades de expressão e
de informação e, especificamente, a liberdade de imprensa,
somente poderiam ser restringidas pela lei em hipóteses excep-
cionalíssimas, sempre em razão da proteção de outros valores e
interesses constitucionais igualmente relevantes, como os direi-
tos à honra, à imagem, à privacidade e à personalidade em geral
[...]
[...] em matéria de liberdade de expressão e de comunicação em
geral, as restrições legais estão reservadas a casos extremamente
excepcionais, sempre justificadas pela imperiosa necessidade
de resguardo de outros valores constitucionais.
Assim, no caso da profissão de jornalista, a interpretação do
art. 5º, inciso XIII, em conjunto com o art. 5º, incisos IV, IX, XIV,
e o art. 220 leva à conclusão de que a ordem constitucional
apenas admite a definição legal das qualificações profissionais
na hipótese em que sejam elas estabelecidas para proteger, efe-
tivar e reforçar o exercício profissional das liberdades de expres-
são e de informação por parte dos jornalistas. Fora desse quadro,
há patente inconstitucionalidade da lei
É fácil perceber, nessa linha de raciocínio, que a exigência de
diploma de curso superior para a prática do jornalismo – o qual,
em sua essência, é o desenvolvimento profissional das liberdades
de expressão e de informação – não está autorizada pela ordem
constitucional, pois constitui uma restrição, um impedimento,
321 Sumário
uma verdadeira supressão do pleno, incondicionado e efetivo
exercício da liberdade jornalística, expressamente proibido
pelo art. 220, § 1º, da Constituição. Portanto, em se tratando
de jornalismo, atividade umbilicalmente ligada às liberdades
de expressão e de informação, o Estado não está legitimado a
estabelecer condicionamentos e restrições quanto ao acesso à
profissão e respectivo exercício profissional.
322 Sumário
denominados ordens ou conselhos, somente pode ser exercido
pelo Estado se existe uma regulamentação legítima da profissão,
entendida esta como a regulamentação das profissões que efe-
tivamente reclamam condições de capacidade ou qualificações
profissionais especiais.
323 Sumário
Parece que, nesse campo da proteção dos direitos e prerroga-
tivas profissionais dos jornalistas, a autorregulação é a solução
mais consentânea com a ordem constitucional e, especifica-
mente, com as liberdades de expressão e de informação.
[...]
Dessa forma, são os próprios meios de comunicação que devem
estabelecer os mecanismos de controle quanto à contratação,
avaliação, desempenho, conduta ética dos profissionais do
jornalismo. Poderão as empresas de comunicação estipular
critérios de contratação, como a especialidade em determi-
nado campo do conhecimento, o que, inclusive, parece ser mais
consentâneo com a crescente especialização do jornalismo no
mundo contemporâneo.
324 Sumário
DOUTRINA CITADA
325 Sumário
LERCHE, Peter. Grundrechtlicher Schutzbereich, Grundrechtsprägung
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326 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
327 Sumário
LIBERDADE DE IMPRENSA
Incompatibilidade da Lei de
Imprensa com a Constituição
Federal de 1988.
Sumário
RESUMO
330 Sumário
Liberdade de imprensa como reforço
das liberdades de manifestação do
pensamento, de informação e de expressão
Liberdade de imprensa e
democracia
Proporcionalidade entre
liberdade de imprensa e
responsabilidade civil por dano
331 Sumário
7X4
Min. Ayres
Britto – Relator
Min. Eros Grau
Min. Menezes Direito
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Joaquim Barbosa
Min. Cezar Peluso
Min. Ellen Gracie
Min. Marco Aurélio (Vencido
no mérito, integralmente)
Min. Celso de Mello
Min. Gilmar Mendes – Presidente
332 Sumário
FUNDAMENTOS
333 Sumário
vitalizar por muitos modos a Constituição, tirando-a mais vezes
do papel, a Imprensa passa a manter com a democracia a mais
entranhada relação de mútua dependência ou retroalimenta-
ção. Assim visualizada como verdadeira irmã siamesa da demo-
cracia, a imprensa passa a desfrutar de uma liberdade de atua-
ção ainda maior que a liberdade de pensamento, de informação
e de expressão dos indivíduos em si mesmos considerados.
O § 5º do art. 220 apresenta-se como norma constitucional
de concretização de um pluralismo finalmente compreendido
como fundamento das sociedades autenticamente demo-
cráticas; isto é, o pluralismo como a virtude democrática da
respeitosa convivência dos contrários. A imprensa livre é, ela
mesma, plural, devido a que são constitucionalmente proibidas
a oligopolização e a monopolização do setor (§ 5º do art. 220
da CF). A proibição do monopólio e do oligopólio como novo
e autônomo fator de contenção de abusos do chamado “poder
social da imprensa”.
334 Sumário
Os direitos que dão conteúdo à liberdade de imprensa são bens
de personalidade que se qualificam como sobredireitos. Daí que,
no limite, as relações de imprensa e as relações de intimidade,
vida privada, imagem e honra são de mútua excludência, no
sentido de que as primeiras se antecipam, no tempo, às segun-
das; ou seja, antes de tudo prevalecem as relações de imprensa
como superiores bens jurídicos e natural forma de controle
social sobre o poder do Estado, sobrevindo as demais relações
como eventual responsabilização ou consequência do pleno
gozo das primeiras.
A expressão constitucional “observado o disposto nesta Cons-
tituição” (parte final do art. 220) traduz a incidência dos dis-
positivos tutelares de outros bens de personalidade, é certo,
mas como consequência ou responsabilização pelo desfrute
da “plena liberdade de informação jornalística” (§ 1º do mesmo
art. 220 da Constituição Federal).
Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes
da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário,
pena de se resvalar para o espaço inconstitucional da prestidi-
gitação jurídica. Silenciando a Constituição quanto ao regime
da internet (rede mundial de computadores), não há como
se lhe recusar a qualificação de território virtual livremente
veiculador de ideias e opiniões, debates, notícias e tudo o mais
que signifique plenitude de comunicação.
335 Sumário
O exercício concreto da liberdade de imprensa assegura ao jor-
nalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda
que em tom áspero ou contundente, especialmente contra as
autoridades e os agentes do Estado.
A crítica jornalística, pela sua relação de inerência com o inte-
resse público, não é aprioristicamente suscetível de censura,
mesmo que legislativa ou judicialmente intentada. O próprio
das atividades de imprensa é operar como formadora de opinião
pública, espaço natural do pensamento crítico e “real alternativa
à versão oficial dos fatos”.
[...]
A uma atividade que já era “livre” (incisos IV e IX do art. 5º), a
Constituição Federal acrescentou o qualificativo de “plena” (§ 1º
do art. 220). Liberdade plena que, repelente de qualquer censura
prévia, diz respeito à essência mesma do jornalismo (o chamado
“núcleo duro” da atividade). Assim entendidas as coordenadas
de tempo e de conteúdo da manifestação do pensamento, da
informação e da criação lato sensu, sem o que não se tem o
desembaraçado trânsito das ideias e opiniões, tanto quanto da
informação e da criação.
336 Sumário
ver com essa equação a circunstância em si da veiculação do
agravo por órgão de imprensa, porque, senão, a liberdade de
informação jornalística deixaria de ser um elemento de expan-
são e de robustez da liberdade de pensamento e de expressão
lato sensu para se tornar um fator de contração e de esqualidez
dessa liberdade. Em se tratando de agente público, ainda que
injustamente ofendido em sua honra e imagem, subjaz à inde-
nização uma imperiosa cláusula de modicidade. Isto porque
todo agente público está sob permanente vigília da cidadania.
E quando o agente estatal não prima por todas as aparências
de legalidade e legitimidade no seu atuar oficial, atrai contra si
mais fortes suspeitas de um comportamento antijurídico fran-
camente sindicável pelos cidadãos.
337 Sumário
alcançar a realização de um projeto de poder, este a se eternizar
no tempo e a sufocar todo pensamento crítico no País.
São de todo imprestáveis as tentativas de conciliação hermenêu-
tica da Lei 5.250/67 com a Constituição, seja mediante expurgo
puro e simples de destacados dispositivos da lei, seja mediante
o emprego dessa refinada técnica de controle de constitucio-
nalidade que atende pelo nome de “interpretação conforme a
Constituição”.
[...]
Impossibilidade de se preservar, após artificiosa hermenêutica
de depuração, a coerência ou o equilíbrio interno de uma lei (a
Lei federal nº 5.250/67) que foi ideologicamente concebida e
normativamente apetrechada para operar em bloco ou como
um todo pro indiviso.
338 Sumário
Total procedência da ADPF, para o efeito de declarar como não
recepcionado pela Constituição de 1988 todo o conjunto de
dispositivos da Lei federal nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967.
DOUTRINA CITADA
339 Sumário
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341 Sumário
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
342 Sumário
5. Julgados relacionados
ADPF 601 MC, rel. min. Gilmar Mendes, dec.
monocrática, j. 7-8-2019, DJE de 12-8-2019.
RE 662.055 RG, rel. min. Roberto Barroso, j. 27-8-2015,
P, DJE de 3-9-2015, Tema 837 (aguardando julgamento
de mérito).
Rcl 15.243 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 23-4-2019,
2ª T, DJE de 11-10-2019.
Rcl 22.328, rel. min. Roberto Barroso, j. 6-3-2018, 1ª T,
DJE de 10-5-2020.
Rcl 9.428, rel. min. Cezar Peluso, j. 10-12-2009, P,
DJE de 25-6-2010.
343 Sumário
LEI DE BIOSSEGURANÇA E
PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS
Sumário
RESUMO
346 Sumário
Proteção constitucional do
direito à vida e os direitos do
embrião pré-implanto
Direito fundamental à
autonomia da vontade, ao
planejamento familiar e à
maternidade
Enfrentamento e cura de
patologias e traumatismos
Pesquisas com células-tronco
não caracterizam aborto
347 Sumário
6X5
Min. Ayres
Britto – Relator
Min. Ellen Gracie
Min. Menezes Direito
Min. Cármen Lúcia
Min. Ricardo Lewandowski
Min. Eros Grau
Min. Joaquim Barbosa
Min. Cezar Peluso
Min. Marco Aurélio
Min. Celso de Mello
Min. Gilmar Mendes – Presidente
348 Sumário
FUNDAMENTOS
349 Sumário
intervenção, a qualquer título, de força, condição ou estímulo
externo. É o que me permito denominar aqui capacidade de
movimento autógeno.
E isso não o têm os embriões congelados, cuja situação é só
equiparável à de etapa inicial de processo que se suspendeu ou
interrompeu, antes de adquirir certa condição objetiva neces-
sária, capaz de lhe ativar a potência de promover, com auto-
nomia, uma sequência de eventos, que, biológicos, significam,
no caso, a unidade permanente do ciclo vital que individualiza
cada subjetividade humana.
Mas não é esse algo simples mas esclarecedor critério discretivo
da qualidade do movimento autógeno, adotado pela biologia
e pela filosofia para caracterizar os seres vivos, ou para, na sua
falta, excluir de modo absoluto a existência de vida, que leva a
negá-la aos embriões congelados.
[...]
Se, por pressuposição, vida é processo, tem-se de concluir sem
erro [...] que, no caso das células-tronco embrionárias conge-
ladas, o ciclo subjetivo de mudanças iniciado no momento da
concepção foi suspenso ou interrompido, antes de lhes sobrevir
a condição objetiva de inserção no útero, sem a qual não adqui-
rem a capacidade de desenvolvimento singular autônomo que
tipifica a existência de vida em cada uma. Ninguém tem dúvida
de que, sem esse fato objetivo, futuro e incerto, da introdução
do embrião em útero de mulher, o processo não retoma o curso
geneticamente programado e, pois, não chega ao estágio em
que pode atualizar-se a potência vital naquele contida. Logo, a
fixação do óvulo fecundado na parede uterina é condição sine
qua non de seu desenvolvimento ulterior e, como tal, constitui
critério de definição do início da vida, concebida como processo
ou projeto. Nele, está longe de ser coadjuvante ou secundário o
papel causal representado pela participação do útero ou, antes,
350 Sumário
de todo o corpo feminino, que, como agente de complexas e
ainda mal conhecidas interações físicas, biológicas e psicológi-
cas com o feto, algumas das quais decisivas à conformação da
sua irrepetível estrutura unitária de pessoa dada à luz, aparece
como elemento intrinsecamente constitutivo da vida humana.
[...]
Todas essas razões, segundo as quais os embriões isolados não
são, já do ponto de vista biológico, portadores de vida atual,
nem podem equiparar-se ou equivaler a pessoas in fieri ou per-
feitas, sequer no plano moral, não vejo como nem por onde
a regra impugnada, que lhes dá análogo valor e qualificação
ao incorporá-los na experiência jurídica e autorizar-lhes a des-
truição em experiências científicas de finalidades terapêuticas,
mutile ou ofenda o chamado direito à vida, objeto da tutela
constitucional. Os embriões humanos ditos excedentários, não
são, enquanto tais, sujeitos de direito à vida, nem guardam
sequer expectativa desse direito.
351 Sumário
igualdade, à segurança e à propriedade”, entre outros direitos
e garantias igualmente distinguidos com o timbre da funda-
mentalidade (como direito à saúde e ao planejamento familiar).
Mutismo constitucional hermeneuticamente significante de
transpasse de poder normativo para a legislação ordinária. A
potencialidade de algo para se tornar pessoa humana já é meri-
tória o bastante para acobertá-la, infraconstitucionalmente,
contra tentativas levianas ou frívolas de obstar sua natural con-
tinuidade fisiológica. Mas as três realidades não se confundem:
o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a
pessoa humana. Donde não existir pessoa humana embrionária,
mas embrião de pessoa humana. O embrião referido na Lei de
Biossegurança (“in vitro” apenas) não é uma vida a caminho
de outra vida virginalmente nova, porquanto lhe faltam pos-
sibilidades de ganhar as primeiras terminações nervosas, sem
as quais o ser humano não tem factibilidade como projeto de
vida autônoma e irrepetível.
O Direito infraconstitucional protege por modo variado cada
etapa do desenvolvimento biológico do ser humano. Os
momentos da vida humana anteriores ao nascimento devem
ser objeto de proteção pelo direito comum. O embrião pré-
-implanto é um bem a ser protegido, mas não uma pessoa no
sentido biográfico a que se refere a Constituição.
352 Sumário
A conjugação constitucional da laicidade do Estado e do pri-
mado da autonomia da vontade privada, nas palavras do Minis-
tro Joaquim Barbosa. A opção do casal por um processo “in
vitro” de fecundação artificial de óvulos é implícito direito de
idêntica matriz constitucional, sem acarretar para esse casal
o dever jurídico do aproveitamento reprodutivo de todos os
embriões eventualmente formados e que se revelem genetica-
mente viáveis. O princípio fundamental da dignidade da pessoa
humana opera por modo binário, o que propicia a base consti-
tucional para um casal de adultos recorrer a técnicas de repro-
dução assistida que incluam a fertilização artificial ou “in vitro”.
De uma parte, para aquinhoar o casal com o direito público sub-
jetivo à “liberdade” (preâmbulo da Constituição e seu art. 5º),
aqui entendida como autonomia de vontade.
De outra banda, para contemplar os porvindouros componen-
tes da unidade familiar, se por eles optar o casal, com planeja-
das condições de bem-estar e assistência físico-afetiva (art. 226
da CF). Mais exatamente, planejamento familiar que, “fruto da
livre decisão do casal”, é “fundado nos princípios da dignidade
da pessoa humana e da paternidade responsável” (§ 7º desse
emblemático artigo constitucional de nº 226).
0 recurso a processos de fertilização artificial não implica o
dever da tentativa de nidação no corpo da mulher de todos
os óvulos afinal fecundados. Não existe tal dever (inciso II do
art. 5º da CF), porque incompatível com o próprio instituto do
“planejamento familiar” na citada perspectiva da “paternidade
responsável”. Imposição, além do mais, que implicaria tratar o
gênero feminino por modo desumano ou degradante, em con-
trapasso ao direito fundamental que se lê no inciso II do art. 5º
da Constituição. Para que ao embrião “in vitro” fosse reconhe-
cido o pleno direito à vida, necessário seria reconhecer a ele o
direito a um útero. Proposição não autorizada pela Constituição.
353 Sumário
LEGITIMIDADE DAS PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS PARA FINS TERAPÊUTICOS
354 Sumário
A perspectiva do uso de células-tronco embrionárias a partir
dos embriões ditos inviáveis ou daqueles congelados nas clíni-
cas de reprodução assistida não pode, sob nenhum pretexto,
resvalar para o absoluto sem a preservação da vida. Impõe-
-se estabelecer padrão ético que nem deixe de considerar a
bem-aventurança da pesquisa, seja para fins puramente cien-
tíficos, seja para fins terapêuticos, nem deixe de privilegiar a
importância do destino desejado pelos genitores ao procurar
a continuidade biológica por meio da fertilização in vitro. O
que se há de buscar é a preservação da vida e da dignidade do
homem, assim, a integridade da vida que nascerá se não sofrer
interrupção natural ou provocada e a possibilidade de avançar
na descoberta do próprio mistério da vida.
[...]
As investigações com células-tronco embrionárias, repita-se,
devem se limitar à pesquisa básica voltada para o estudo dos pro-
cessos de diferenciação celular e à pesquisa com fins terapêuticos;
devem ser autorizadas por órgão federal, integrado por equipe
multidisciplinar, composta por membros com larga experiência,
inclusive em pesquisa, nos ramos da medicina, da biologia e da
química, além de outras áreas do saber, como o direito, a sociolo-
gia, a teologia, a ética e a matemática; devem ser supervisionadas
por especialistas com comprovada experiência nos métodos de
manipulação dessas células; e devem ser devidamente registradas
e autorizadas pelo mencionado órgão federal.
355 Sumário
todo embrião humano desencadeia uma gestação igualmente
humana, em se tratando de experimento “in vitro”. Situação em
que deixam de coincidir concepção e nascituro, pelo menos
enquanto o ovócito (óvulo já fecundado) não for introduzido
no colo do útero feminino.
O modo de irromper em laboratório e permanecer confinado
“in vitro” é, para o embrião, insuscetível de progressão reprodu-
tiva. Isto sem prejuízo do reconhecimento de que o zigoto assim
extracorporalmente produzido e também extracorporalmente
cultivado e armazenado é entidade embrionária do ser humano.
Não, porém, ser humano em estado de embrião.
A Lei de Biossegurança não veicula autorização para extirpar do
corpo feminino esse ou aquele embrião. Eliminar ou desentra-
nhar esse ou aquele zigoto a caminho do endométrio, ou nele
já fixado. Não se cuida de interromper gravidez humana, pois
dela aqui não se pode cogitar. A “controvérsia constitucional
em exame não guarda qualquer vinculação com o problema
do aborto.”
[...]
A controvérsia constitucional também não guarda qualquer
vinculação com o problema do aborto, pois, como bem des-
tacou a ilustre Professora MAYANA ZATZ, “Pesquisar células
embrionárias obtidas de embriões congelados não é aborto. É
muito importante que isso fique bem claro. No aborto, temos
uma vida no útero que só será interrompida por intervenção
humana, enquanto que, no embrião congelado, não há vida se
não houver intervenção humana. É preciso haver intervenção
humana para a formação do embrião, porque aquele casal não
conseguiu ter um embrião por fertilização natural e também
para inserir no útero. E esses embriões nunca serão inseridos no
útero. É muito importante que se entenda a diferença”.
356 Sumário
LIBERDADE DE EXPRESSÃO CIENTÍFICA X LEI DE
BIOSSEGURANÇA
357 Sumário
do vício da arbitrariedade em matéria tão religiosa, filosófica e
eticamente sensível como a da biotecnologia na área da medi-
cina e da genética humana. Trata-se de um conjunto normativo
que parte do pressuposto da intrínseca dignidade de toda forma
de vida humana, ou que tenha potencialidade para tanto. A
Lei de Biossegurança não conceitua as categorias mentais ou
entidades biomédicas a que se refere, mas nem por isso impede
a facilitada exegese dos seus textos, pois é de se presumir que
recepcionou tais categorias e as que lhe são correlatas com o
significado que elas portam no âmbito das ciências médicas e
biológicas.
[...]
A primeira restrição imposta diz respeito à indicação do uso das
células embrionárias exclusivamente nas atividades de pesquisa
e de terapia.
Outra limitação relevante é a definição de qual universo de
embriões humanos poderão ser utilizados: somente aqueles
que, produzidos por fertilização in vitro – técnica de reprodu-
ção humana assistida – não são aproveitados no respectivo
tratamento. Fica clara, portanto, a opção legislativa em dar uma
destinação mais nobre aos embriões excedentes fadados ao
perecimento. Por outro lado, fica afastada do ordenamento bra-
sileiro qualquer possibilidade de fertilização de óvulos humanos
com o objetivo imediato de produção de material biológico
para o desenvolvimento de pesquisas, sejam elas quais forem.
Além de excedentes no procedimento de fertilização in vitro, os
embriões de uso permitido ainda deverão estar dentre aqueles
considerados inviáveis para o desenvolvimento seguro de uma
nova pessoa ou congelados há mais de três anos. Presente, assim,
a fixação de um lapso temporal razoável, que leva em conta
tanto a possibilidade dos genitores optarem por uma nova e
futura implantação do embrião congelado quanto a improba-
358 Sumário
bilidade de sua utilização, para esse mesmo fim, após decorrido
um triênio de congelamento.
As restrições não param por aí. É preciso, ainda, para que os
embriões possam ser regularmente destinados à pesquisa, o
expresso consentimento dos genitores e que os projetos das
instituições e serviços de saúde, candidatos ao recebimento das
células-tronco embrionárias, sejam anteriormente apreciados
e aprovados pelos respectivos comitês de ética em pesquisa.
Saliente-se que a Lei de Biossegurança, reconhecendo a digni-
dade do material nela tratado e o elevado grau de reprovação
social na sua incorreta manipulação, categorizou como crime
a comercialização do embrião humano, com base na lei de
doação de órgãos (art. 5º, § 3º), bem como a sua utilização
fora dos moldes previstos no referido artigo 5º. Tipificou, ainda,
como delito penal, a prática da engenharia genética em célula
geminal, zigoto ou embrião humano e a clonagem humana
(arts. 6º, 25 e 26).
359 Sumário
DOUTRINA CITADA
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INFORMAÇÕES ADICIONAIS
363 Sumário
2.1 Despacho convocatório 1
2.2 Despacho convocatório 2
2.3 Obra Bibliografia, Legislação e Jurisprudência
Temática – Biossegurança e Células-Tronco
2.4 Vídeos da audiência
3. Vídeo do programa da TV Justiça “Grandes
Julgamentos”
Vídeo 1
Vídeo 2
Vídeo 3
Vídeo 4
364 Sumário
LIBERDADE DE REUNIÃO E DE
MANIFESTAÇÃO PÚBLICA
É inconstitucional o Decreto
distrital nº 20.098/1999,
que proibiu a realização de
manifestação pública na Praça
dos Três Poderes, Esplanada dos
Ministérios, Praça do Buriti e vias
adjacentes.
Sumário
RESUMO
366 Sumário
Direito de reunião
Direito de pensamento
LIBERDADE DE REUNIÃO E DE
MANIFESTAÇÃO PÚBLICA
367 Sumário
9X0
Vencedores no mérito:
Min. Ricardo
Lewandowski – Relator
Min. Eros Grau
Min. Celso de Mello
Min. Ayres Britto
Min. Cármen Lúcia
Min. Cezar Peluso
Min. Gilmar Mendes
Min. Sepúlveda Pertence
Min. Ellen Grace – Presidente
Ausentes:
Min. Joaquim Barbosa
Min. Marco Aurélio
368 Sumário
FUNDAMENTOS
369 Sumário
A chamada Constituição cidadã, promulgada em 1988, na senda
aberta pelas cartas anteriores, ao mesmo tempo em que garan-
tiu a liberdade de reunião, no art. 5º, XVI, estabeleceu, no pró-
prio texto magno, de forma parcimoniosa, os limites e condi-
ções para o seu exercício, quais sejam, “reunir-se pacificamente”,
“sem armas”, “que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local” e o “prévio aviso à autoridade
competente”.
370 Sumário
nesses locais, porque as tornaria emudecidas, sem qualquer
eficácia para os propósitos pretendidos.
[...]
A restrição ao direto de reunião estabelecida pelo Decreto distri-
tal 20.098/99, a toda a evidência, mostra-se inadequada, desne-
cessária e desproporcional quando confrontada com a vontade
da Constituição [...], que é [...] permitir que todos os cidadãos
possam reunir-se pacificamente para fins lícitos, expressando
as suas opiniões livremente.
DOUTRINA CITADA
371 Sumário
NASCIMENTO, Amaury Mascaro. Direito sindical. São Paulo: Saraiva,
1989. p. 136, 141-142.
RIVERO, Jean. Les libertés publiques. Paris: Presses Universitaires de
France, 1977. p. 356.
ROCHA, Carmen Lúcia A. Direitos de (para) todos. Belo Horizonte:
Fórum, 2004. 74 p.
SAAD, Eduardo Gabriel. Constituição e Direito do Trabalho. 2. ed.
São Paulo: LTr, 1989. p. 179-180.
SICHES, Luis Recaséns. Tratado general de filosofia del derecho.
6. ed. México: Editorial Porrua, 1978. p. 581.
SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas. Insti-
tuições de direito do trabalho. 8. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1981. v. 2, p. 1024.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
372 Sumário
Esta obra, projetada e composta na fonte
Cronos Pro, foi finalizada, em junho de 2023, pela
Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da
Informação do Supremo Tribunal Federal.