Andrei Koerner HC e Pratica Judicial 1-Mesclado
Andrei Koerner HC e Pratica Judicial 1-Mesclado
Andrei Koerner HC e Pratica Judicial 1-Mesclado
L
N
ANDREI KOERNER
HABEAS-CORPUS,
PRÁTICA JUDICLAL
E CONTROLE SOCAL
NO BRASIL (1841-1920)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Koerner, Andrei
controle social no Brasil (1841-1920)
Habeas-corpus, prática judicial e
Andrei Koerner.- São Paulo : IBCCrim, 1999.
Bibliografia.
1. Controle social - Brasil 2. Habeas-corpus Brasil 3. Pratica
Torense Brasil 4. Processo judicial Brasil 5. Processo penal
-
99-3958 CDU-343.155(81)
e responsabilidade da autoridade coatora. Veremos que a prática Na conclusão deste estudo, compara-se
a prática e o pensamento
judicial do habeas-corpus no Império neutralizou ou pelo menos -
No terceiro capítulo, descre ve-se o processo de mudança social tencias de profissionais de diferentes instituições, bem como as
nas décadas finais do Império, em especial as novas relações sociais tortuosas invenções doutrinárias cuja finalidade é circunscrever o
decorrentes da passagem do trabalho escravo ao trabalho livre, a ambito de efetividade da garantia constitucional do habeas-corpus
urbanização e as continuidades e descontinuidades institucionais da na Primeira República. Tais invenções, formuladas no Império e na
importante instrumento de garantia da liberdade. Simultaneamente, exposição foi organizada tendo como eixos os aspectos mais
na pesquisa. No se adota uma ordem
ocorreram mudanças no próprio pensamento jurídico, com a critica relevantes elou polêmicos
positivista ao jusnaturalismo, com as quais os juristas adotam novas cronológica, virtude
em da continuidade de algumas regras durante
perspectivas em relação às instituições políticas, à sua pråtica e
o período; só quando tenha havido mudanças importantes é que se
técnicas mais sistemáticas de interpretação das leis. indica a época de sua ocorrência.
No quarto Também não é objetivo neste trabalho fazer uma história social
capítulo, volta-se a atenção para a
transformaçao da prática judicial e, por isso, não se tomou como fonte a
republicanae seus efeitos na organização e na atividade judiciaria
e policial. A Constituição republicana atribui novo papel ao Poder documentação produzida pela prática cotidiana. Tampouco é nosso
Judiciário e acolhe o habeas-corpus como garantia. Acompanha-se objetivo, pelo menos o central, estudar o conteúdo da prática judicial
a fim de determinar a incidência diferenciada das suas decisões nos
debate a esse respeito no STF e apresenta-se a
legislaçao varios segmentos da sociedade.
processual do habeas-corpus. Na seqüência, examina-se a pratica
do habeas-corpus no domínio penal, comparativamente ao periodo que se pretende é, a partir da prática judicial, analisara
imperial, levando em conta não apenas decisões do STF, mas constnição, a circulação e as transformações do instiruto juridico
do habeas-corpus, de seu conceito, das regras de sua utilizagão, da
tambem dos tribunais superiores do Distrito Federal e de São Paulo.
Apresenta-se a famosa "questão das prostitutas", que suscu
debates a época,
cujos temas ajudam a compreender as posigo A S obras específicas sobre o habeas-corpus no Império são apenas duas:
das diversas correntes
doutrinárias a respeito dos limites da atividade de O. MACHAD0 (1878) de Manuel G. de Alencastro AUTRAN
policial e dos seus poderes em relação aos 4de Joaquim e
(1879). O seu conteúdo é bastante limitado, pois ambas limitam-se a explicar
debates entre "infra-cidadaoS decisões do governo a respeito do
o
constitucionalismo liberal e a criminologia positivista arigos do Código do Processo e compilam
a
respeito desse tema enceram este
capítulo.
assunto.
22 HABEAS-CORPUS, PRÁTICA JUDICIAL E CONTROLE SOCIAL
brasileira. 1. INTRODUÇÃO
tem como fontes decisões
Por essa razão, nossa pesquisa
Judiciais e artigos publicados em revistas e livros de doutrina
estudar a
Para compreender os mecanismos de controle social e de
Jurídica, visto que estas nos pareceram suficientes para
produção da dependência pessoal na sociedade escravista brasileira
trama dos debates oposições e convergências,
jurídicos, com suas
do século XIX, tomamos como referência os estudos sobre a
e jurídicOs,
com suas ficções seus deslocamentos teóricos, políticos
e estrutura dessa sociedade, a fim de ressaltar a importância do
desse tipo
com suas construções e seus silêncios. A importância problema do controle da mobilidade física dos indivíduos e a forma
de fonte decorre do seu caráter normativo para a prática judicial como este era realizado, através da estratégia de produção da
Esses materiais constituem
que é dado pela sua ampla circulação. dependência fundada em laços de lealdade pessoal, utilizada pelas
modelos,
importantes referências para a atividade jurídica, enquanto camadas senhorias em relação a seus subordinados (2.). Em seguida
futuras
precedentes e "disponíveis", tanto para decisões
argumentos
3), examinamos as relações entre a dependência pessoal e a
de outros juizes em casos semelhantes, como para o proprio dua atividade policial, procurando mostrar sua complementaridade com
doutrinário. Ao utilizar essas fontes, contudo, deparamo-nos co as práticas privadas de controle social, e estendemos a análise
OS seus Iimites para a reconstrução de alguns casos, cujos processoOS apontando a penetração dessas relações sociais em outras prâticas
lacunas, recorremos,
Criminais não pesquisamos. Para suprir essas punitivas estatais, em especial as prisões (4.). Esses mecanismos
quando necessário, trabalhos de história ou aos jornais da epoca.
a praticas colocam-se como condições políticas e sociais da pratica
das
Mas, de modo geral, não fizemos uma análise detalhada Judicial, que estudamos na última seção (5.), onde a estrategia de
circunstâncias e do conteúdo de decisões particulares. produção da parte do mecanismo mais
dependência é estudada como
da troca de O
geral favores, com seus aspectos complementares,
ravor violência física argumento dirige
e a -
e de sua ameaça. Nosso
se no sentido de caracterizar as condições sociais e institucionais
da prática judicial e o mecanismo da troca de favores, buscando
demonstrar como a mediação judicial dos conflitos é diferenciada
24
HABEAS-CORPUS, PRÁTICA JUDICIAL E CONTROLE SOCIAL CONTROLE SOCIAL 25
segundo as
categorias de
indivíduos. Qualificamos como esta era a única forma possível
e conservadora prática judicial da sociedade
a prudencial produção da auto-subsistência-, de capital na
escravista brasileira, a garantir preços compatíveis
com a acumulação
relacionando-a com os mecanismos de
produção da dependência metrópole. A escravidão era a forma do trabalho compul-
extrema
pessoal estudados nas seções iniciais. Concluímos este
contrastando este mecanismo de controle social e a capítulo sório, e a escravização do africano, um aspecto do sistema colonial,
legalidade estrita em que o tráfico representava mais um setor aberto à acumulação
da racionalidade jurídica liberal
suposta no habeas-corpus na do capital mercantil metropolitano, proporcionando também o
sociedade escravista brasileira do século XIX. Assim, nossa controle político dos colonos.
voltar-se-á à própria prática judicial do atenção
habeas-corpus, para verificar A passagem ao capitalismo industrial nos países centrais pôs
as características deste instituto
naquelas condições. em crise o sistema colonial, modificando as relações entre o centro
e a periferia. O capitalismo industrial passou a exigir da periferia
2. SENHORES, ESCRAVOS E POBRES LIVRES: novos tipos de produtos, alimentos e matérias-primas produzidos em
O PROBLEMA DA MOBILIDADE DOS INDIVIDUOS massa para baratear os custos da produção e da reprodução da força
E A PRODUÇÃO DA DEPENDËNCIA PESSOAL de trabalho, e impôs o fim da exclusividade do comércio das
colôniascom as metrópoles e, assim, dos preços fixados
monopolisticamente, além de promover a mercantilização da força
No processo de independência do Brasil dá-se a sua rearticulação de trabalho.
política e econômica ao centro capitalista, prevalecendo, no entanto,
a continuidade no âmbito das relações sociais internas. No Brasil, o momento da crise do antigo sistema colonial é
também o da
organização da economia mercantil-escravista cafeeira
A expansão ultramarina do mercantilismo europeu voltara-se à
pelo capital mercantil nacional, que, para isto, valeu-se dos recursos
acumulação primitiva da burguesia metropolitana; na costa da Africa disponíveis subutilizados: as terras perto do Rio de Janeiro apropri-
e portos da Asia, formaram-se colônias extrativas ou enclaves adas ao café e os escravos
provenientes de outras regiões. A empresa
militares destinados ao comércio com produtores locais.' cafeeira era latifundiária, em virtude dos vultuosos investimentos e
colônias americanas, Portugal formou o próprio da escala mínima de
Nas suas
sistema produção lucrativa,
e escravista, n o só porque
produtivo, a partir do século XVII. Essas colônias, chamadas de havia disponibilidade
de escravos, mas também porque o trabalho
exploração, destinaram-se à produção em larga escala para expor assalariado estava excluído, em virtude da
disponibilidade de terras.
tação, apoiada em grandes unidades produtivas. Os mecanismos ASsim, a economia nacional surgiu com os
seguintes traços: "grande
básicos da relação entre a metrópole e as colônias eram o controle empresa produzindo em larga escala, apoiada no trabalho escravo,
militar pela metrópole do território colonial e de seus habitantes, articulada a um sistema comercial-financeiro,
controlados, uma e
a exclusividade do comércio e o trabalho compulsório. Estes outro, nacionalmente." Com isto, manteve-se o controle nacional do
mecanismos serviam para assegurar a das colônias e SIstema produtivo e definiram-se os
subordinação
decadas
traços das relações sociais nas
atransferência de renda dessas para a metrópole. subseqüentes (MELLO, J., id.: 57-8).
A
O trabalho compulsório era
condição necessária para a produçao adoção de formas compulsórias de controle da força de
mercantil voltada para a exportação, pois, dadas as condições da rabalho era, pois, um dado estrutural do tipo de colonização
colönia- abundância de terras apropriáveis pelos colonos para a CTetuada pela expansão do capitalismo mercantil europeu. Na
Anerica
portuguesa, a forma escolhida foi a escravidão de africanos,
. Para
MELLO. J..
este parágrafo e seguintes, NOVAIS, 1979; ALENCASTRO, 1986; eSe manteve durante o processo de Independência do país e de
constituição da economia de base nacional.
1987[1982): COSTA, E.. 1989
26 HABEAS-cORPUS, PRÁTICA 27
JUDICIALE CONTROLE SOCIAL CONTROLE SOCIAL
tropas de linha. A criminalizaço da vadiagem e as indagações pelas do século XIX, e m virtude da presença
a partir das primeiras décadas
autoridades a respeito dos suspeitos e desconhecidos que chegavam e m 180O8 e da posterior
da corte portuguesa, da abertura dos portos
das maciças
aos distritos eram outras formas de controle sobre essa camada de
instalação do governo imperial brasileiro, assim c o m o
indivíduos. Por não encontrarem uma posição definida no interior transferências de escravos africanos, pelo tráfico interno e, poste-
metade
da ordem social, estes indivíduos eram considerados uma ameaça riormente, pelo fluxo de imigrantes portugueses. Na primeira
pelas autoridades e senhores, estando sujeitos à criminalização pela contava c o m o
do século XIX, era a maior cidade da América, e
maior número absoluto de escravos desde o fim do Império
simples falta de um documento ou da suspeita de uma autoridade. romano.
Indivíduos de ascendência africana, livres ou libertas, que se (ALENCASTRO, 1997: 24; HOLLOWAY, 1993, Apêndice. ).
deslocavam de suas localidades ainda corriamo risco suplementar A proporção de e s c r a v o s em relação à população
estimada da
de ser reescravizados, seja não por possuírem o título de
liberdade cidade passou de 35% em 1799 para cerca de 46 % em 1821 e
seja por fraude (AUFDERHEIDE, id.: 161; CASTRO, H.. 1995). 38% em 1850, reduzindo-se para 16% em 1872 e decrescendo ano
A violência na sociedade escravista não se a ano até a Abolição. Essa proporção se fazia sentir na presença,
limitava, pois, ao
controle dos escravos, e o controle social no nas ruas da cidade, em todos os locais e a qualquer hora
do dia,
se baseava apenas
na
repressão. O objetivo geral da economia dos castigos, na de africanos ou seus descendentes brasileiros, tanto escravos como
sociedade escravista, era criar e manter os libertos ou, ainda, livres, os quais eram, em geral, categorizados
laços de dependëncia
pessoal que uniam aos proprietários os indivíduos de status ou de como suspeitos. O aumento da população escrava da cidade
condição econômica subordinada. Em re lação a esse fim ordenavam- significava maior risco de revoltas, e o temor da população livre
se, como numasérie, a violência, efetiva era crescente desde a grande revolta de São Domingos. em 1791
e sua ameaça, e a
benevolência, arbitrariamente concedida e/ou e o levante do malês, na Bahia, em 1835.
prometida.
Depois de 1850, o problema do controle social na cidade foi
3. ATIVIDADE POLICIAL E CONTROLE SOCIAL NA
CORTE agravado pelo aumento do número de imigrantes portugueses e, mais
tarde, também de italianos. Nos censos de 1872, 1890 e 1906, mais
O número de
indivíduos livres e pobres aumentou de 25% da população total da cidade era formada por estrangeiros,
no país, devido ao crescimento continuamente com predomínio de jovens solteiros do sexo masculino. A migração
economia, aos conflitos populacional, às crises cíclicas da interna também fornecia um novo contingente populacional à cidade.
estes, as cidades
políticos, a de
sastres climáticos, etc. Pard Embora tenha sido mais importante nas décadas subseqüentes à
apareciam como uma
alternativa para a busca de
emprego ou a obtenção de socorro de abolição, este movimento começou nas décadas anteriores, pois, já
as instituições de caridade. Porem,
oportunidades de trabalho assalariado em 1890, os migrantes internos representavam 26% da população
nas cidades eram
ja que os pobres livres reduzidas, total da cidade. Essa parcela de migrantes também era predomi-
mesmo
sofriam a
concorrência dos
tempo, os escravos e, ao
nantemente não-branca, do sexo masculino, jovem e solteira, ainda
postos de trabalho nas
ampliavam em virtude da forte pequenas indústrias nao Se
que não de forma tão acentuada quanto os estrangeiros (ADAM0.
manufaturados presença no mercado de produtos
vistas como estrangeiros. Desde a época colonial, cidades
1983: 16-31).
visão dos "depósitos de
gente desclassificada e
as eram
Grande parte dos escravos era de ganho de aluguel. Eles
ou
mais
abastados,
perigosos e povoados de
as ruas despossuída. Na
apareciam como espaços trabalhavam e viviam em locais distantes do controle imediato do
inóspitos,
84:
AUFDERHEIDE, id.ladrões,
88 et
mendigos e vadios". (FRAGA,
passim).
id.: senhor, podendo
ou seu
circular nas
endurecia, e aumentavam os cuidados com a eficácia da polícia bêbados habituais, prostitutas escandalosas, mendigos e
(ALGRANTI, 1988: 34-40; CHALOUB, 1990). turbulentos,
que perturbassem a paz e o sossego público e das famílias obrigava -
Na punição de delitos praticados por escravos, também havia a assinatura de termo de bem viver. A
própria ameaça desse tipo
complementaridade entre as autoridades e os senhores. A estes cabia de acusação consistia em um
importante recurso para o controle
punir os delitos mais leves, como as faltas no trabalho, as fugas, policial do comportamento público dos indivíduos pobres
a sabotagem à propriedade, a resistência às suas ordens. E ao (HOLLOWAY, id. 130; para o Recife, HUGGINS, 1984).
poder
público, os crimes mais graves, como homicídios, lesões corporais A detenção cotidiana de
e roubo. A punição mais aplicada eram os açoites e havia funcionários
suspeitos e acusados de vadiagem pela
polícia tinha também o objetivo de suprir a carência de mão-de-
especialmente destinados a este fim. Os açoites eram
publicamente, o que lhes conferia um caráter exemplare intimidador.5
aplicados obra para os serviços e obras
públicas. Esta carência, que existia
desde os tempos coloniais,
As autoridades também se incumbiam de aplicar os castigos, quando agravou-se com a instalação da corte
portuguesa na cidade, que promoveu o crescimento populacional e,
OS senhores
não podiam ou não queriam fazê-lo. Os senhores
dispunham ainda do Calabouço, prisão pública destinada aos escra-
com isto, aumentou demanda de mão-de-obra para a prestação
a
deserviços e a
construção novos de edifícios e obras públicas. Para
vOS, que nela eram aprisionados por tempo indeterminado, mediante OS
serviços públicos diários, como transporte de água e de dejetos,
a simples requisição do senhor e sem necessidade de justificação. eram
Havia escravos que
aproveitados os prisioneiros, tanto os que cumpriam pena,
permaneciam durante
detidos no meses e anos Como os escravos detidos a pedido de seu senhor e os acusados
Calabouço, sem qualquer acusação por parte de seus senhores. de
(ALGRANTI, id.: 103-5; HOLLOWAY, id.). vadiagem. Desde sua criação, a polícia carioca foi encarregada
de fornecer trabalhadores para esses serviços e obras públicos
Assim, no Rio de Janeiro, como em outras cidades escravistas, (HOLLOWAY, id.: 133; ALGRANTI, id.: 76, 80).
o controle
público completava o controle senhorial dos escravos. A polícia era incumbida também de encaminhar detidos
O controle público se processava nas rondas noturmas, em que para
indivíduos que circulassem na cidade
após o toque de recolher recrutamento forçado nas tropas de primeira linha. A literatura
relata que eram comuns as requisições do Exército e da Marinha
podiam ser detidos sem maiores explicações, considerados escravos
fugidos, por infrações dos regulamentos municipais sobre porte de nesse sentido, e que o utilizado para fazer uma
recrutamento era
6. "Proteger alguns pobres da ameaça do recrutamento surgia como tema tão A economia dos castigos da sociedade escravista implicava a
freqüente nos documentos da época, que se pode acreditar que a sua verdadeira
finalidade era obrigar a todos a se identificarem com quem
distribuição do exercício da violência entre a autoridade pública e
pudesse oferecer essa oS particulares, e não o monopólio estatal da violência legítima,
ajuda. A obediência merecia essa proteção, e os pobres trabalhavam desespera- característica dos Estados modernos. Segundo a imagem de um
damente para assegurar que um patraão os
ajudasse a escapar à transferência da
Guarda Nacional, ou, o que era mais autor, com a atribuição aos senhores da punição dos escravos,
provável, ao recrutamento forçado."
(GRAHAM, R., 1997: 48) inexistiam regras gerais para os delitos e os castigos. Cada senhor
7.
ALGRANTI, id., 184; para o definia o seu próprio conjunto de delitos, graduava a sua gravidade,
uso da Guarda Nacional neste intuito, ver
CASTRO. J.B (1979); para a cidade de determinava os critérios da culpabilidade, adotava o seu processo
Salvador, ver FRAGA FILHO (1996);
ver também HAHNER (1986: 50).
penal particular, com procedimentos, sistema de provas e de penas.
JUDICIAL E CONTROLE SOCIAL 37
HABEAS-CORPUS, PRÁTICA CONTROLE SOCIAL
36
das práticas punitivas estatais, Segundo relatório de uma comissão criada em 1873 para
Vimos que, do ponto de vista
havia a colaboraç0 entre autoridades Inspeção da Casa de Correção da Corte, o sistema de isolamento
nas cidades escravistas
escravos para punir, deter, controlar a nunca foi verdadeiramente adotado nessa penitenciária. As obras
públicas e senhores de
escravos nas ruas. Vejamos agora
circulação e as atividades dos prolongavam-se, o projeto inicial fora alterado, não se podiam ver
se davam as punitivas no interior das prisões.
práticas as celas da torre central, foram feitas divisões entre os pavilhões,
como
construíram-se celas maiores, com capacidade para até seis conde-
A prisão era a punição predominante no Código
forma de
modelo penitenciário, nados. No interior dos raios, realizaram-se construções de outro tipo,
Criminal de 1830. O Código baseava-se no
com dois calabouçosjunto à porta principal para os condenados a
buscando a regeneração dos indivíduos pelo silêncio, pela solidão,
trabalho e treinamento profissio- galés, uma oficina para canteiros e outra para ferreiros, fora o
pela reeducação moral, através do calabouço para escravos, o colégio dos menores e a casa da
nal. Esse modelo supunha a construção de várias penitenciárias
além de problemas administração. O segundo raio fora destinado provisorianmente à casa
adequadas ao novo sistema de penas. No entanto, de detenção. "... os edifícios da projetada penitenciária, bem
derivados da própria
orçamentários, esse sistema enfrentava aqueles desenham a vacilação do pensamento sobre o regímen, que se
estrutura social. Como aplicar o princípio da regeneração dos pretendia ensaiar, há quarenta anos; muito se despendeu, e pode
criminosos aos escravos? Como pretender a regeneração
dos indi-
se dizer que não se tem conseguido ensaiar sistema algum"" (RM
víduos pelo trabalho numa sociedade que degradava o próprio
dos 1874: 213).
trabalho? Como levar em conta as diferenças de "condição"
A Casa de Correção era sobrecarregada ainda com "necessidades
indivíduos na aplicação da pena? (AUFDERHEIDE, id.: 306-10).
de outra ordem", em virtude da falta de casas de detenção e de
A Casa de Correção da Corte começou a ser construída em 1833,
mas só foi inaugurada em 1850. A de São Paulo foi inaugurada execução de outras penas que não a de prisão com trabalho. Ela
em 1852, mas o projeto datava de 1825. Havia também propostas sempre abrigara os condenados a prisão simples, a galés, os escravos
do calabouço, africanos livres e menores, mas depois da extinção
para Salvador, Pernambuco, Goiás e Maranho, que no foram do Aljube e das antigas prisões, nela aglomeravam-se "presos e
levadas adiante. O projeto da Casa de Correção da Corte baseava- sentenciados de todas as espécies com prejuízo da disciplina, por
se no modelo do panóptico, com uma torre central e longos
melhor que fosse o regímen adotado, e com perturbação do plano,
corredores, celas individuais nas quais os prisioneiros deveriam
com
que aliás começara errado" (id., ibid.: 214).
manter completo silêncio. Também no trabalho, mesmo que coletivo,
o silêncio tinha de ser total (AUFDERHEIDE, id.: 311-3). O objetivo Construída em local inadequado, anão tinha
Casa de Correção
declarado da construção Casa de Correção da Corte era experimentar água encanada, e a enfermaria e a divisão para alienados ficavam os
o sistema de isolamento, tendo em vista a sua possível adoção em nos raios. A "condição moral, religiosa e instrutiva" dos presos
todo o Império.*
vimento econômico, a sua formação de classes e suas relações sociais. A condição
de sociedade periférica manifesta-se também nas práticas punitivas
estatais, na
8.0 "panóptico" da Casa de Correção da Corte nunca deixa de ser um projeto,
cuja execuçàão foi sempre protelada, e que não chega a ser completada. Quarenta organização e funcionamento das instituições judiciárias.
anos depois do início de sua execução, as sociedades centrais
já produziam novos 9. No ano seguinte, a penitenciária afirmava que os erros
Comissão de reforma
também o foram na
modelos. Estes sero utilizados no Brasil como
prova do fracasso do modeloo cometidos na construção da Casa de Correção da Corte
anterior, e serão por sua vez adotados, protelados, distorcidos, etc. Isso não Penitenciária de Pernambuco. Os inspetores
"
só culto católico e as escolas considerá-lo "muito duro entre nós". Sugeria 'a agregação por
também era precária: se praticava o
funcionavam até 1868, classes, e estas com subdivisöes e disericionárias", considerando as
previstas para a instrução dos presos não
A escola era freqüentada variáveis e relativas condições individuais. Considerava "repugnante
assumiu esta tareta.
quando o capelão aos nossos hábitos e educação, é uma violência sem razão
anualmente por 35 a 50 presos. Havia ainda problemas
na aplicação plausível"
sujeitar s detidos e indiciados ao isolamento e ao trabalho.
da disciplina: as tumas de trabalho eram muito grandes e os presos
determinou o fechamento
.
"Enquanto a necessidade de descobrir a verdade o exigir, seja o
podiam se comunicar entre si. A Comissão preso isolado; cessando esta necessidade, só devem ficar isolados
da "cela obscura", com 3,52 m. de comprimento, de 1,76 de largura
Os perversos, os maus, cujo contato se teme. Seja obrigado a trabalho
e de 1,98 a 1,10 m. de altura, na qual, fechada a porta, não havia
aquele que só vive dele, o vadio, o devedor detido e outros que
a renovação do ar, risco de vida para o condenado.
com
por motivos especiais o devam ser; aos demais seja ele livre e não
A Comissão fazia extensas considerações sobre a mortalidade dos imposto; assim que convirá que as celas tenham capacidade para
da Casa. De
presos, resultante das precárias condições higiênicas um, dois, trës e quatro presos" (id.; ibid.).
julho de 1850 a dezembro de 1873, foram recolhidos 1.265 conde-
Quanto ao sistema de penas, a Comissão defendia a necessidade
nados; falecendo 260, isto é, 20,55%. Dos 1.099 recolhidos de junho
de reformar o sistenma do código criminal, fundado nos princípios
de 1850 a dezembro de 1869, faleceram 245. Segundo a duração da
da intimidação e da proteção da sociedade contra os malfeitores,
4 anos, 17%;
pena, dos condenados até 2 anos, faleceram 2%; de 2 a sem ter em vista o terceiro princípio, o do melhoramento do
de 4 a 8 anos, 31,58%: de 8 a 10 anos, 46,8%; de 10 a 14 anos,
condenado, que constituía uma das bases do regime penitenciário
40%; e de 14 a 16 anos, 50%; de 16 a 20 anos, 33,3%. Para as penas
moderno. Dever-se-iam abandonar os princípios baseados no iso-
maiores de 20 anos, de 32 condenados morreram 27. Não morreram
lamento, para adotaro sistema irlandês ou da classificação progres-
todos porque dois foram perdoados, dois removidos e o único que
siva das penas durante a execução, defendidos no Congresso de
existia na época, tinha começado a cumprir a pena perpétua hâ pouco
Londres de 1872. O fim da pena era melhorar o criminoso, e sua
mais de um ano. Dos 656 condenados a penas menores que 2 anos,
execução devia consistir em despertar e alimentar a esperança no
faleceram 236, ou 36%. Um membro da Comissão concluía: "Pelos
"coração do preso", para que este se tormasse o agente de seu próprio
dados colhidos quando médico, que fui dez anos nesta casa, estudando
melhoramento; sem excluir a força física, preferiam-se as forças
a clínica especial da penitenciária, cheguei a persuadir-me de que
morais: respeito e dignidade pessoal do preso; educação, religião
a pena maior de dez anos equivale em regra a uma sentença de morte.
e trabalho.
São muito raros os que cumprem este tempo e, se por acaso cumprem,
não tenham adquirido lesões graves, que os constituam valetudinários, A Comissão recomendava a construção de uma nova torre e de
durante o tempo mais ou menos limitado de vida que lhes reste." um novo raio, de estilo panóptico, com até 400 celas, para os
condenados que atingissem a segunda etapa do cumprimento da
(id.: 49).10
Embora o sistema de isolamento na Casa de Correção nunca pena. Esta recomendação não foi adotada, assim como as suas
tivesse sido adotado plenamente, a Comissão demais apresentadas por esta e de outras Comissões de inspeção.
o rejeitava, por
Outro aspecto criticado era a pena de galés, por ter perdido "a
10. O movimento da Casa de Virtude de intimidação", especialmente para os escravos criminosos,
Correção de São Paulo entre 1852 1875 foie
o
seguinte: entraram 852 prisioneiros; saíram 450; e faleceram 126, % do 14,8 que consideram vantajosa a troca da escravid o pela vida folgada
total de presos. As mulheres eram 11,6% do e ociosa das cadeias". A pena de galés era menos dura que a prisão
total, apenas 2% delas faleceram,
e
ao passo que entre os
homens, faleceram 16,4%. Em 1896, esse Com trabalho, pois os réus não queriam receber a comutação a que
de 10,2%. Segundo Rushe e percentual era
Kirsheimer, nas prisões inglesas faleciam em 1877 natural". Para
1,08% do total dos condenados; e 0,56% teriam direito, por "falta de robustez
e fraqueza
em 1896 (apud SALLA, id.:
83-4).
JUDICIAL E CONTROLE SOCIAL 41
40 HABEAS-CORPUS, PRATICA CONTROLE SOCIAL
colocada pela legislação, que a considera mortis próxima. escravos uma penalidade diferente da dos homens livres. O código
em que foi
Criar estabelecimentos centrais onde os condenados serão subme- não estabelecia uma base certa, sobre a qual o juiz deveria regular
em trabalho contínuo"
tidos à rigorosa disciplina e empregados a comutação da prisão em açoites, indefinição que apresentava
(RMJ, 1874: 42). inconvenientes. pois "sendo o juiz amigo do senhor do escravo. pode
de 1878, sugerida ser muito benigno..., se for inimigo, então fará o inverso" (TOLEDO,
No Relatório do Ministério da Justiça era
era condenada por ser desmoralizadora, porque As condições da Casa de Correção da Corte eram comuns às
pena de galés
ao desprezo
aviltava o criminoso, a seus próprios olhos e o expunha demais prisões do Império. Seu estado geral era péssimo: eram
no compatível com a época,
de seus semelhantes". Tal pena já era
pouco seguras, que facilitava as evasões; não tinham capacidade
o
intuitos da justiça criminal era a
em que um dos principais para abrigar os detidos e para atender às exigências da Constituição;
era substituí-la pela prisão quanto às instalações, a higiene e a alimentação eram precárias,
regeneração do delinqüente. A proposta
era a mais grave
celular ou prisão com trabalho. A prisão simples facilitando a proliferação de doenças e as mortes."
e tendia ao aniquilamento físico e moral do condenado,
aflitiva, pois
excelência Quanto ao estatuto dos presos, os livres e libertos estavam
levando-o à morte, se demasiado prolongada. A pena por
trabalho, que exercia sobre o criminoso ação
sobrerepresentados relação à população, o mesmo ocorendo comn
em
era a de prisão com
Os estrangeiros, o que se constata pelas listas de prisioneiros dos anos
a que melhor o educava,
regeneradora mais ativa e incessante, de 1834-1837, para o Rio de Janeiro e a Bahia. Em relação à
dando-lhe profiss o e hábitos de ordem e paz. cor
eram sobrerepresentados os indivíduos enquadrados nas categorias
Quanto porém, a ""experiência dolorosa" de todos
aos escravos, os "brancos" e "pardos" e subrepresentados os "negros" e os
os dias mostrava que a aplicação
da pena de galés no seu caso era "escravos". Estes respondiam às penas mais longas, o que indica que
totalmente ineficaz, já que não produzia o efeito da intimidação.
Por esta razão, o Ministério da Justiça propunha substitui-la pela
estavam mais sujeitos às punições mais sumárias e, quando entravam
no sistema, às mais severas (AUFDERHEIDE., ibid.: 324-8).
de dia de noite, trabalho e silêncio absolutos.
de prisão celular, e com
Este gênero de prisão, que não tem o caráter barbaresco da pena As prisões do Império destinavam-se sobretudo a punir os pobres
de galés. é, na opinião dos homens práticos, mais dura de sofrer- livres que estivessem fora dos laços de clientelismo. Eram também
se que a de galés" (id.; ibid.: 89). depósitos de escravos fugidos e lugar de detenção de outras pessoas
Sobre as quais recaía a suspeita de escravidão. Serviam igualmente
A preocupação com o tipo de penalidade mais apropriada para
para arregimentar mão-de-obra para os trabalhos públicos
e para a
os escravos era comum entre os juristas da época. Manoel Dias
Toledo, diretor da Casa de Correção de São Paulo e professor na custódia de indivíduos de qualquer condição, acusados de turbulen
se tratar de menores, loucos
Academia de Direito, também criticava a pena de galés. E igual- tos, vadios, bëbados, prostitutas, ou por
mente considerava ineficaz a pena de morte
que, na sua opinião,
não intimidava os escravos, "porque todos eles
(os africanos) T1. Sobre as condições das cadeias paulistas no Império e na Primeira República,
acreditam na metempsicose ou Casa de Detenção do Recife, ver HUGGINS
(id.: 79
transmigração das almas e ver SALLA, 1997; sobre a
G., 1994; sobre
freqüentemente se suicidam". "Quase não se encontra pena, para el passim); sobre o Presídio de Fernando de Noronha, PESSOA,
ALGRANTI, 1988 e
punir esses indivíduos, que convivem na sociedade; tudo isso devido 0 estado das prisões na Corte e em outras Províncias,
1874. Em geral, há nos RMI de todos
à existência da escravidão...". Assim como outros AUFDERHEIDE, id.: 314 et passim).;RMJ,
reputava a pena de açoites a mais juristas, ele 0S anos
considerações sobre o estado precário dasprisões do Império e a necessidade
de
cárcere.. Ipois,] a um homem amento da penitenciária, houve quase 12%
educação, que teve a
desgraça de cometer um crime, é muito
sOlamento levava a numerosos suicídios (SALLA, id.: 237).
cONTROLE SOCIAL
44 HABEAS-CORPUS, PRÁTICA JUDICIAL E CONTROLE SOCIAL 45
nas relações
está disseminado no próprio espaço, "pessoalizado" uma pena que tinha um acentuado caráter de suplício, exemplaridade
entre o que vigia e
concretas dos agentes. A distribuição espacial e vingança.
que é vigiado no *"panóptico tropical-escravista
corresponde,
pois,
o Enfim, as prisões da sociedade escravista não visavam regenerar
à forma geral das relações de controle social da sociedade escravista,
pelo menos uma parcela dos detidos: os escravos criminosos. Os
a da distância social e a proximidade
física entre dominantes e
excessos na punição, sua publicidade e o seu caráter ritual davam
dominados, com suas faces complementares da benevolência e da dos caráter de
violência.
à punição escravos um vingança exemplar e de
intimidação. As más condições higiênicas das prisões faziam com
O sistema punitivo da Casa de Correção seguia a economia dos que, na prática, a detenção significasse a pena de morte para os
castigos da sociedade escravista. O sistema de isolamento, cujo escravos condenados às longas penas. A aniquilação dos escravos
objetivo suposto era reformar a consciência moral do preso, criminosos era funcional para a sociedade escravista, pois eles eram
transformava-se na pena mais adequada para os escravos, por ser subtraídos do domínio senhorial ao ser condenados à morte ou às
a mais cruel e destinar-se a indivíduos considerados irrecuperáveis. galés perpétuas, podendo sobrevir extinção da pena. Aqueles
Consideradas as condições de higiene da prisão, o enclausuramento punidos com longas penas de galés näão teriam condições físicas
dos escravos condenados a penas mais longas significava sua para voltar ao trabalho, depois de cumpri-la nas precárias condições
condenação à morte. A pena de isolamento era vista como inade das prisões do Império. Ou seja, não havia, na sociedade escravista,
um "lugar" para o escravo que tivesse cumprido uma longa pena
quada porque atingia indistintamente os indivíduos, sem considerar
a sua condição social. A hierarquia social dos indivíduos era o de prisão, restando-lhe no máximo sobreviver da caridade pública.
critério adotado para a aplicação da pena sobre os condenados, A aniquilação dos escravos condenados nas prisões tinha também
havendo uma espécie de individualizaç o dos criminosos na exe o duplo aspecto de intimidação e de vingança exemplar.
cução da pena, que não resultava, porém, do conhecimento sobre O objetivo manifesto da extinção das penas de galés era
o indivíduo produzido por um saber do tipo das ciências humanas, "humanizar" a execução da pena, retirando da paisagem urbana as
pois o princípio de classificaço utilizado na aplicação da pena era bárbaras cenas dos condenados. Pelos mesmos motivos, a execução
dado pela categoria social dos indivíduos.
Mesmo o saber médico tinha outro campo de aplicação nas 4. u s o do saber médico na aplicação dos açoites era recomendado aos
práticas punitivas estatais da sociedade escravista. Os escravos Juizes pelo Aviso do Ministério da Justiça de 10/6/1861 "Sendo mister, para
da
podiam ser condenados a um número máximo de açoites, que não conciliar-se o rigor da lei princípios de humanidade, que a impOsição
com os
duzentos, e sempre
para regular a execução dos açoites sobre os escravos criminosos, racultativos, todas as vezes que o número de açoites exceder a
a executasse.
quem CScravos, mas também as mulheres, osclassificados como pertencentes a estera
Contlitos desses indivíduos eram
A
indeterminado de promessas de proteção e de serviços por parte do
relação da
prática judicial com a escravido não era a de proprietário, como consequência desse dom inicial. Diante do
funcionários que aplicavam as leis escravistas e no se tratava apenas
da orientação pessoal dos
montante do dom recebido inicialmente, o homem livre e pobre.
magistrados, favoráveis à escravidão. Esta incapaz de retribuir "à altura'", tornava-se um dependente, agregado
relação não era apenas episódica, no sentido de que, quando haVia
escravos envolvidos num processo, ocorriam desvios na
aplicaçao
ou
morador
e, nesta condição, era obrigado a receber outros "bens
correta da lei. O
eserviços" prometidos e eventualmente prestados pelo proprietário.
antagonismo inerente à escravidão penetrava na A dívida do
agregado para com o proprietário de teTas, que se
própria estrutura do julgamento jurídico e persistia, mesmo que as
decisões judiciais fossem uniformemente favoráveis aos tornavaseu patrão, tormava-se incomensurávele as suas obrigações
rios de escravos (o
proprieta- para com este eram ao mesmo tempo indefinidas quanto ao seu
que não era o caso), visto que, na proprd conteudo
afirmação da intangibilidade da propriedade do senhor, estava e indeterminadas quanto seu montante, com o paga-
ao
presente, de forma explícita ou tácita, a negação da liberdade natural mento exigivel a qualquer tempo incondicionalmente.
e Esse tipo
do escravo na ordem ae relaçao perpetuava desigualdade econômica e
a social entre os
jurídica.
O favor era o instrumento privilegiado de
ndivíduos e, nesse sentido, era objetiva: no entanto, como veremos
sociedade escravista. subordinação na seguir, esse tipo de relação importava em dificuldades para a
Abrangia múltiplos aspectos da vida social, decisão judicial."
como a cessão da terra
pelos proprietários aos pobres livres, proteçao
contra perseguições das Do ponto de vista dos indivíduos, a desigualdade de status
autoridades, atividade política e crédito. manifestava-se na noção de honra pessoal. Suas relações os envol-
Enquanto relação social, o favor
caracteriza-se como uma rede
de trocas entre um número limitado de indivíduos
posiçoes de diferentes 18. Sobre o dom, ver os trabalhos de Marcel MAUSS citados na bibliogralia
ou
categorias sociais, em um circuito restrito de bens e de
serviços. Estes últimos ver também DAVY (1922); BESNARD (1985); KARSENTI (1994) e FOURNIER
eram em
grande parte excluídos de relaçoes (1994).
JUDICIAL E cONTROLE SOCIAL CONTROLE SOCIAL 51
50 HABEAS-CORPUS, PRATICA
troca de favores consistia virtude da lei positiva do Império. Juridicamente, a escravidão era
como pessoas, já que a
viam integralmente uma exceção criada pela lei positiva, contrária ao direito natural
no caso eventual
num conjunto
difuso de obrigações, e implicava,
ou desafio, a ameaça de violência. Esta
e aos princípios gerais do direito civil. O antagonismo da escravidão
de quebra da reciprocidade, estava no interior da própria legislação comum, que era composta
central nas relaçoes inter-individuais, e sua
ameaça ocupava posição de normas jurídicas em conflito, formuladas em conceitos juridicos
conduta legitima, como também, em
utilização não só era uma confusos e fundadas em princípios contraditórios. No julgamento
determinadas situações, tornava-se um imperativo (FRANCO, id.).
nas situações de jurídico, essas normas dificilmente se compatibilizavam com os
A complexidade das obrigações e o envolvimento, métodos usuais de interpretação da lei. O antagonismo da escravidão
aliavam-se a outra característica
troca, da integralidade das pessoas, estava também presente no julgamento jurídico do ponto de vista
a desigualdade de categoria
dos indivíduos. As relações entre os
ordenavam segundo
das conseqüencias da decisão. Os escravos eram o "vulcão que
indivíduos de categorias sociais desiguais não se
bens e serviços que pudesse ser ameaça constantemente a sociedade;. a mina fazer
pronta a
uma regra de distribuição dos centelha" (MALHEIRO, id., I: 51-2). Isso
indivíduos de explosão à menor
enunciada objetivamente. Assim, os conflitos entre
de justiça, significava a necessidade do cuidado permanente da manutenção da
categorias desiguais não se configuravam como problemas tranqüilidade nas senzalas; a necessidade de uma gestão constante
mas como meras desavenças ou confrontos pessoais.
Nessa situação,
do risco de resistência, de revolta ou de rebeliäo dos escravos. Os
caso em
a solução pela violência, ou pela benevolência,
seria dada
magistrados necessariamente tinham de levar em conta os efeitos
situada socialmente.
que a decisão dependeria da parte mais bem sociais de sua decisäão, pois a escravidão impunha "circunstâncias
de
Os processos judiciais ocorriam apenas entre individuos especiais", e mesmo a aplicação rigorosa da lei podia ser incom-
mesma posição social. Em geral, não eram levados à justiça
conflitos
patível com a necessidade e a utilidade públicas.
diferentes, e a
que envolvessem indivíduos de categorias sociais
mesma A prática judicial prudencial e conservadora era também conse-
Justiça servia para regular a competição entre indivíduos da
categoria social (AUFDERHEIDE, id.). A competição entre iguais qüencia das condições político-institucionais do exercício do cargo
complementava a deferência entre os desiguais na sociedade ecravista. pelos magistrados. Na tomada de decisão, o magistrado era colocado
Nas relações entre desiguais não era buscada a "aplicação" de uma diante de uma situação complexa: ele devia considerar instrumentos
regra objetiva de juízo pelo representante do Estado. O Judiciario legais heterogêneos, fundados em princípios jurídicos contraditórios
servia como árbitro de última instância para os conflitos entre os e conceitos jurídicos confusos, indivíduos de diferentes categorias
indivíduos de mesma categoria social, e não como regulador das sociais, outras circunstâncias particulares da situação (mesmo nao
relações sociais entre todos previstas na lei, e não presentes nos autos), e, enfim, os efeitos
os indivíduos, aos quais deveria forneco politicos e sociais de sua decisão. Politicamente, havia considerações
uma medida comum para servir de
referência às suas relaçoes.
lei imperial e o Judiciário eram como que à rede d relacionadas à estabilidade da ordem política imperial e à fidelidade
relações sociais locais.
sobrepostos
partidária do magistrado. O magistrado também confrontava-se com
Para a prática lealdades locais e expectativas de conduta contrárias ao enunciado
judicial da sociedade escravista brasileira do
havia
século XIX, a troca de generico das normas legais deveria "aplicar". Além disso,
favores não era um conjunto de relaçoe
que
que se colocava "ao lado" da O problema da eficácia da decisão, pois, de um lado, o poder
sua
N A P R Á TI C A
S
O H A B E A S- C O R PU
CANA:
JU D IC IA L R E P U B LI
TI N U ID A D E S
MUDANÇAS E CON AL
N O D O M ÍN IO P E N
1. IN TR OD UÇ ÃO
lamação
os , ini cia lm en te, um a interpretação da Proc
Apresentam nas insti-
alg um as da s mu da nç as e continuidades
da Re pú bli ca e ciação do habeas-
ca s de co ntr ole social (2.). A enun
tuições e pr áti ergências no
ga ran tia co ns tit uc ion al (3.) suscitou div
corpus co mo ).
u es tat uto jur ídi co (4.
STF, a respeito do se vigor a legi~lação
bli ca, permaneceu em
Na tra ns içã o à Re pú do habeas-corpus
pe na l do Im pé rio , inclusive as normas
processu al cessual,
ão Im pe ria l, o ha be as -co rp us era norma pro
(5.). Na leg isl aç inária. Porém , ao ser
m se r op os tas outras, de lei ord
à qu al po de ria a, o habeas-
mo ga ran tia na Constituição republican
acolhido co efiniam-
-se su pe rio r a es sa s normas e, co m isso, red
co rp us tor na va entendida a sua
õe s. Es tud am os o modo como foi
se su as rel aç icial passou a
no do mí nio pe na l (6. e 7.). A prática jud s pela
aplicação qu e era m formalmente excluída
a sit ua çõ es
ap lic ar o instituto so, com a separação
eb ida do reg ime anterior. Al ém dis
leg isl aç ão rec is claramente
Po de r Ju dic iár io passou a delimitar ma
de po de res , o l daquelas
pr op ria me nte ju dic iais no processo pena
as atr ibu içõ es -c01p us tornou-se um
nis tra çã o e à po líc ia. O habeas
rel ati va s à ad mi processo, aos
nto de ve rif ica çã o jud icial do res pe ito, noCom ele, eram
in5tru me
d. . . . d os na C onst1·t111· · ça-o ·
dl.re 1·t os .m 1v1dua1s enun cia
A 167
TIC A J U DI C IAL R EPU B LI CAN
ICIA L E CONTROLE SOCIAL O HAl lEA S-CO RPU S NA PRÁ
166 HAB EAS-CORPU S, PRÁTICA JUD
exp osto s, a federação e a
1 : 32- 3) . Re _ivin dica çõe s fede ra 1,.stas, À med ida que este s limites eram
lena mente. (AN DR AD _E, 198 . . . i~s com uns que permitiam a esse s
P . e as ten soes cna das pela aboli _ Repúbli ca tom ava m-s e as refe rênc
questão reli gws a, que stao mil itar o. No enta nto , esta "as pira ção "
com um ent e apo nta dos pelo s observa ores
d Çao agentes enc ont rar algu ma _un_1f1ca~a
da escravidão são fatores resultou na bus ca de uma açã o
.
o as causas. da Pro clam açã o_.1 Estes ela fede raçã o e pe la Rep ubl rca nao
da época e pelo s estu dio,sos .com . def iniç ão con cret a dos atri buto s
. . _
re mado, que cabena . ~oletiva entre os gru pos par a uma
fatores se con Jug ava m a. reJe 1çao ao terc eiro ser apli cad a aos faze nde iros
. , .
estrang eiro . da nova ord em . A análise pod eria
a uma princesa ultr a-re 11g1osa e
a um pnn c ,pe aos repu blic ano s, aos militares e
dec epcio nad os co m a Abo liçã o,
com que se depara a ordem aos pad res env o lvid os na "qu estã
o reli gio sa".
As tensões e conflitos pol ític os
política imperial pod em ser sintetiz
ada s na i ~,ag em de uma mudança rou ta mb ém seu s limites nos
A ord em polí tica imp eria l enc ont
em poh t1ca imperial, nas suas nt~da: o federali sm? e a abo liçã o
de polaridade do Imp era dor na ord pro blem as com os qua i s foi conf~o
e sup erio r do Imperador, que, 1d1ram de alto a baix o os age ntes
4
últimas décadas. A pos ição cen tral da esc rav idão . Estes pro ble mas d1v
um pon to de referência para 0 cuj as org aniz açõ es par tidá rias
na ordem polí tica imp eria l, fora do sist ema pol ític o do Impé rio,
age ntes , pas sou a ser, para estes, ncia pol ític a. Ma nife stav am- se
movimento cen tríp eto dos out ros perdiam imp ortâ nc ia com o re ferê
uma espécie de pon to com um de
rep ulsã o. Os agentes políticos es seto riai s e cor por ativ os, etc.
então cliv age ns reg ion ais, inte ress
com as sua s dife renças específicas ica, di sso lve u-s e o sist ema de
começaram a mar car sua s pos içõe s Com a Pro clam ação da Rep úbl
imp eria l . Est as forças não eram l. Ao se rom per a ord em pol ític a
a algum atributo da ord em pol ític a referências da ord em pol ític a imp eria
vez que , em gera l, opunham-se "po lític o-c onc eitu ai" exi sten te. O
especificamente rep ubl ican as, uma imperial, sup ero u-s e o esq uem a
ític a e soc ial. Também não se te-
a aspectos limitados da ord em pol o pre side nci alis mo de tipo nor
iais pro gressis tas ou que pudes- regime pol ític o pas sar ia a ser que
tratava exc lusi vam ente de forç as soc o pap el do Pod er Jud iciá rio,
, mas , sob retu do de forças que americano, no qua l se red efin ia do
sem ser unificadas sob este asp ecto exa min ar a leg alid ade dos ato s
ren tes, mar can do de forma mais passava a ter as atri bui çõe s de
se desenvolviam em sen tido s dife das leis ; com isso , os juíz es não
ção ao cen tro da ord em política. Exe cuti vo e a con stit uci ona lida de s
acentuada a sua dife renc iaçã o em rela ant es e os lim ites ent re as que stõe
lim ites des sa ord em, visto que deviam mai s obe diê nci a aos gov ern
Eles expunham des ta man eira os priv ado tinh am de ser rev isto s.
ític o des ta não pod ia suportar. de dire ito púb lico e de dire ito
afirmavam posições que o sist ema pol
_...._
169
ROLE SOCIAL N A PRÁ TIC A J UD IC
IAL RE PU BLI CA NA
ICA JUD ICI AL E CONT O HABl.:.11S-CO RP US
168 HABEAS-CORPUS, PR ÁT
qu adros
Nas fac uld ades de Direit
o, oco rre um a renov ação dos
rem ov ido s do Norte para o Sul profes-
os magis, trados,~ qu. e eram
ios
, sem bli ca, foram aposentados vár
. a sua vo nta de ·' qu e era in nom ead do centes , po is, co m a Repú iti vis . Co m
tas
respeito as entrancias, contr os para ores, 0 qu e poss ibilito u
o rápido ing resso do s pos
de co nfi an ça so me nte para qu e. fo. ssem afa stados de su dir eit o de 189 1 (co nhecid a co mo
Re forma
cargos . , a as orm a do en sin o de ástico,
, . 1u1zes de direit o tinham cen eza do : ref
as cadeiras de direit o eclesi
comarcas. N o I mp.en o,"Hos . d desapareceram ; enjamin Co nst an t), são ex tin tas
as cadeiras de
. a, sua can-e1ra. OJe to .as ess as. esp era nça s do direito, sub stituíd as pel
respei to ~ . _ es d estados' direito nawral e filosofia al, direito
. , ço es Clfcun scn tas aos lu 0oar o, his tóri a do ~ireit o nacion
os 1m zes ve em sua s asp ira os , .
Gove 1110 prov,sor . , filo sofia e his tória do direit 2 11 -2).
en tan to o (B E VI LA C QU A ; 1b1d.:
.
.
tur a . E no
onde exe . rce m a sua Jud ica _ '
os dire i '
0
comparado, en tre outras mínio s de
, declarou qu e res pe itar ia passa a co nte mp lar os do
logo de po is da Re vo luç ao ras comarc~~s O progra ma de ensin o São
tro da Ju sti ça cri ara inúme ble ma s pro po stos pe lo novo paradi gm a.
adquiridos! " En fim , o Mi nis de direito ' conhecim ent o e os pro
os, co m novos
para no mear novos juízes s de Di re ito no s estad
sob rec arr eg an do os est ad os,
1889 e' criadas nova s Fa culda de de de Dire ito
en tre 15 de nove mbro de ais, po sitivi sta s. A Fa cu lda
somando 1 O 1 juí zes no me ad os
m-se muitos rofess ores, mu itos dos qu do de Re cife ;
90 . A partir de ssa data, nomeara foi fun da da em 18 91 po r um grupo oriun
de ma rço de 18 "o ~a Ba hia Rio de Janeiro,
15
a, "se m me do de errar", que c ias Jurídica s e Sociais do
outros, e Ta var es Ba sto s est im av na Fa cu lda de Liv re de Ci ên en do o mesmo
eito passou de 56 0. que
era, para mil e
s pro fes so res da Es co la do Recife, oc orr
nú me ro de juí zes de dir 224-9). enc on tra mo
ÂN CI O FI LH O, 1982:
185 -7 e 20 7 ;
(B RA SIL , CO NG RE SS O NA CI ON AL , 1926, II: Par á e 110 Ce ará (V EN
tantos " 110
153).
tig o reg im e foram po uc o absorv
idos pelo MA CH AD O NE TO , id. : mi zad oras
Os ma gis tra do s do an
am aposentados ça a so fre r mu da nç as mo de
ano. Em 1891 e 18 92 , for Na República , a polícia co me rec ursos
Po de r Judiciário republic ilidade. Assim, Ri o de Jan eir o. Am pli ou -se os
e 22 foram po sto s em disponib em São Pa ulo e no
s qu ad ros são
29 de sem ba rga do res
do antigo regime bli ca e, len tam en te, seu
9 J de sem ba rga do res destinados à seg ura nç a pú drõ es rac ion a-
não mais que 40 dos bargadores liz ad os, e es tab ele ce m- se pa
s fun çõ es e os 7 desem renova do s e pro fis sio na
en tos (F ER NA ND ES ,
1977;
continuaram ex erc en do sua Os juízes e pro ce dim
ST F Jog o pe dir iam sua aposentadoria. lizados de org an iza ção
ais de co ntr ole
aproveita do s par a o
oveitados: dos se, po rém , prá tic as a-l eg
de direito do antigo reg im
50 0 juí zes de
e tam bé m foram po uc o apr
dir eit o do Império, 239 estava
m em I BR ET AS , 19 97 ).
do co mp ort am en to do s ind
M an té m-
iví du os nas via s pú bli cas
.
no co ntr ole
cerca de
do qu e J J tinham sido apo
sentados em erdade de açã o da po líc ia
disponibilidade em 1895, sen Em São Paulo , a am pla lib a en tre
do s anos me nc ion ad os) .
5 A renovação da '
iví du os liv res e po bre s ve rif ica -se pe la dif ere nç
em 189 2 (R MJ
maior, se social dos ind ert os . Em 1893
nú me ro de inq ué rit os ab
l 891 e
da Re pú bli ca foi ainda çõ es e o
magistratura na organização os lugares o nú me ro de de ten
cap ita l e ab ert os ap en
as 329
os no vo s po sto s criados pe los est ad os e _foram pre sas 3.4 66 pe sso as na
consid era rm os foi organizado l 1.036 pri sõ es e 79 4
inq ué rit os; em
pre mo Tribunal Fe de ral 19 05 , for am
da ju stiça federa/. O Su mquér ito s; em
ra o nú me ro de
no rte -am eri can a, e ~ s_eus
0
nd0 0 modelo da Su pre ma Corte 19 9.3 6 I pri sõe s e 1. 141 inq ué rit os. Em bo
seg u _ 0~, . am en -
st no me ad os de ntr e bacharéi
s em dife~to,
putaçao. o im pli qu e su a co nc lus ão e seu en ca mi nh
mm: ros passaram a ser e re m~u~ntos ab ert os nã
ior pa rte da aç ão
ele g1v e 1s pa S
ra O enado Fe de ral co m no tá ve/ sab er
ão dos !u st ica -se po r est es nú me ros qu e a ma
to ª iça , ve rif . r, do Po de r
Essa descont' ·d d na fon na de' organização e na pro d.
mo·,ç · por
polic ial se d ava sem ne nh um co ntr ole , me sm o po ste no
mu i ª, e. 0 . .
· ,
Juizes permi. fm ª rap ida ocu pa ção de altos po sto s do Ju iciari lud1c1ário · Mais ·, d e 80 m,o da s pn.so_ es efe tua da s en tre os an os de 1892
ju · t - .
ras mu nic ipa is ou do s
ns as positivistas , emb ora na o exclus iva me nte . e 1916 era m po r va•d·1agem, qu eb ra da s po stu . aç õe s" de
termos d viv er ou "p ara av eri0vu
sobre " . e seg ura nç a e be m 31 -3 ).'
. m os dados 84:
rep res ent ado s, por que n ão obt1ve
5. Esses números esrão sub 0, 1893 e f 894. Suspeitos" (F AU ST O, 19
189
aposentadorias nos anos de
UB LIC AN A 17 1
ICA JUDICIAL E CONT
ROLE SOCIAL PR Á T ICA JUD IC IAL REP
HA BEAS-C OR PUS, PR ÁT O H A B EA S-COR PU S NA
170
A DAMO,
eles co 11 s1-derad obe dec ida (MARAM, 1979: 58 :
l co nc en tra va- se sob~re .aqu do is ano s de res idê ncia era
A açã o policia na C os
.
10s , em esp eci
•
al as pes soa s de asc end encia africa · orn e~ 198 3: 20 9 e 2 13) .
es contra a
vad .
a no rm a de com po rt amento , 0 a 19 1O, as rec lamaçõ
. .
ação po/_Jcial, procur ava -se
1mpor .um No Rio de .Jan eiro de 190 ero sas das
a em do mic ílio rixo , comª
.
~
s era m de lo nge as mais num
çao po bre em ge ral : a res 1de nci po líc ia e as fo rças ann ada Jor nal do Brasil .
ula
pop . - .. estáve l no aprese nta das na co lun
a "Queixas do Povo" , do
org arn zaç ao fam ilia r reg
ular e co m u_m a ocu paç ão ara m cerca de 20% do tota l naq
ue les anos,
esta norma de ixa s rep res ent
ga m_e n~o das_ mf raç ões a Ess as qu e ações re laci-
me rca do de trabalho. ~ Jul sig nificado d~~ exc eto em 190 5, q uando
o ma ior número de reclam
a pro pn a de f1111çã o do ~ saneament o. As queixas sob re pri sões
com po rta me nto .- e ass im. po lícia. Este ona va- se aos pro ble mas de
era fei to exc lus iva me nte p e los age nte s da qüe nte s, sen tind o-se muita
s vezes os
no nn a -
ra ide nti fic ar sus pei tos , de
tê- los e mant/ ileg a is era m bas tante fre pa ssí m ).
tin ham total aut on om ia pa eaç ado s pe la po líc ia (S ILV A, E., 198 9: 106 er
j udi cia l, nem cidadã os am
na pri são , ou sol tá- los , sem ne nh um a interv enç ão dif icados os procedim en tos das
in s-
los o policiaJ.6 é m fo ram po uco mo
leg ali da de fon na l da açã Ta mb
ial, no sentid o do res pe ito
às fo rm as do
mesm o par a o con tro le da pretextos tituiçõ es jud ic iári a e po lic
pri sõe s po r vad iag em e ca fe tin ag em ser via m de ui sito s de acu saç ão e provas,
e aos prazos
As rev oltas popu- pro ces so, com o req
erá ria s. Ap ós g rev es ou per ma nec iam
par a rep rim ir lideran ças op es da s pri sões tam bé m
Janeiro ) proces sua is, e as cond içõ
7
out ro lad o, com as con tmu 1da pod er. " No pro je to rev is to 0, o art. 73 § 23
51 O, de 22/ 6/ 189
soc ial. à Con stit uin te p e lo dec reto n. sof re
disp unh a : " Dar -se -á o habeas
-co rpus, sem pre que o indi uo víd
sen tir-
a lida de ou abu so de pod er, ou
NS TIT UI ÇÃ O REPUBLICANA viol ê nci a , o u coa ção , p o r ileg
3. O HA BE AS -CO RP US NA CO se vex ado pel a imi nê nci a evi
de nte des se per igo " (apud RIB
EIR O,
da Con stit uiç ão
ivo do art. 72 § 22
ante 0 1917). Enf im, o tex to def init ind iv ídu o
eto esp eci al de deb ate s dur habeas -co rpus sem pre que o
O habeas-corpus não foi obj (BR ASI L, era O seg uin te: "D ar-s e-á o coa ção ,
stit uci ona l da R epú blic a per igo de sof rer vio lênc ia, ou
pro ces so de org ani zaç ão con sof rer ou se ach ar e m imi ne nte s, adq uiriu,
192 6; RO UR E, 1979, IL
378 et de p ode r. " O habeas-corpu
CO NG RE SSO NA CIO NA L, por ileg alid ade , o u abu so a des te
s sob re a seç ão rela ti va aos
direitos stit uci ona l e a red açã o gen éric
passim). As prin cip ais dis cus sõe istas, poi s, o est atu to de garant ia con cam po de
em tom o das pro pos tas dos pos itiv rpr eta ção que am plia va o seu
e gar ant ias ind ivid uai s gira ram par ágr afo per mit ia um a inte inid os no art.
istr o civil. os dire itos ind i vid uai s def
al, o ens ino reli g ios o e o reg apl icaç ão às lesõ es de tod os
com o a libe rda de pro fiss ion .
ão ileg al ou à sua ame aça
72 e não ma is ape nas à pris
ali continuam
prom etem prov iden ciar, mas eles
reco nhecem que são esquecidos, ado s é inferior
ao deli to de que muitos são acus AS SO BR E O HA BE AS -CO RP
US
e quando saem a pena que cabe
vados de libe rdad e. É pos síve
l que aind a não se 4. POSIÇÕES DO UT RI NÁ RI
ao tempo em que estiveram pri por desí dia ou por
fazer cess ar tais abu sos? Se é NO ST F
tenha encontrado meios de se não serã o pass íveis de
tão con den áve l dem ora
qualquer outro motivo que se dá erá no Pod er Judi ciári o, 1
con tra a lei ? Não hav e o hab eas -co rpu s no ST
F foi
pena aqueles que assim atentam m tenh a o dev er de olha r 1
O con flit o dou trin ário s obr
itos dos cida dãos, que o, em
que deve ser a garantia dos dire suas obrigaçõ es os sa, com o par te de sua atu
açã
para estas faltas e o pod er de
cha mar ao cum prim ento das 1 des enc ade ado por Ru i B a rbo odu zir inst i-
ada , a soci edad e tem o dever dif ere nte s for ma s, par a intr
que as esquecem? A liberdade
do cida dão é sagr
m que r que seJa. dife ren tes mo me nto s e de lora r, em
à mercê dos cap rich os de que p a ís. Ele foi o pri me iro a exp
de respeitá-la e não pode deix á-la só praticando-a se tuiç ões pol ític as libe rais no rpr eta ção
iça a que m a ped e, porq ue s, as pos sib ilid ade s d e inte
Não há direito de negar a just da libe rdade quem todas as sua s con seq üên cia
e não se con serv ará priv ado l do habeas-
reco nhecerá quem é criminoso e não cessaremos éric a do arti go con stit uci ona
os recl ama do con tra esse abu so pen niti das pel a red açã o gen com o
é inocente . Mais de uma vez tem igual para todos. ção de 1891 ). Foi ele que m,
corpus (art . 72 § 22 da Co nst itui
é
belecido o imp ério da lei, que
de fazê -lo até que vejamos resta e os julgados tra det enç ões
s, mas que 0ooz em da libe rdad me iro s hab eas -co rpu s con
Que sofram as penas os culpado ntia s dele apenas exig -
e adv oga do, imp etro u os pri
- o o magistra
inocentes · A Jei,· reve stind
. do de todas as 0aara ·1• cio
eda , tem'
imp osto SI en .
o seu leal e seve ro cumpnm · ento , e desde que assi m proc - " feita de 1869 como a
. relatava a rnspeçao
..- o Pro gram a do Pan ido Liberal
quer reclama ção · E m 11 de agosto, o Jorn al
" .istrados, mas IO. Pon tes de Mir and a apo nta
a qual
aos mag
..
iado laroo, vaoo e "" aeral dad o à garantia do hab eas-
por seu pessoal e afiirrnava que os problemas não se deviam - mo font e subjetiv a, rem ota" do en unc "" "" hab eas-
às defi -• .
as do júri · -
-• os Jurados sao refratári os aos serv iços e n ão ha co co,7;1 O rncr· · 8 da part e Ili daquele proe:rama prop ugn ava : "Co-mpete o ·
1c1enc1 _ · rcam . is. so - exe rc ido por
compel" _ ou efet ivo.
1 1os ao cumprrm ento d e seus deveres. Os pres os são pron unc iado s e J -i ica co,7J11s no
_1
d
caso e qua lque- r .con stra ng ime
nto ileoal , imin ente
""
muit o tempo ND A , 1951 : 100 ).
esperando O 1-ui g_amento. Os proc esso s segu em orde m crono og qua quer aut orr·d ade adm1ms trati va o u j udic iária" (MIRA
para julgament 11 /8/ 1897) .
~ o, o que tem sido criti cado (JC.
_.....
UB LIC AN A 175
PRÁ TIC A J UD IC IAL REP
IAL O HA BE AS- CO RPU S NA
JUD ICI AL E CONTROLE SOC
174 HABEAS- CORPUS, PRÁ TICA
leg alid ade .
so, se seu jog o não enc ont ras se lim ites est rito s na
xot o e en, outr e ao abu um a prát ica
de síti o po r F lor ian o Pei rcíc io da leg a lida de, ser ia
fei tas du ran te o est11ado · · as E O dire ito , e nqu ant o exe pre cip uam ent e à
cn .
se. Corn o pa rIa ~e n t ar e pu bl 1c1sta , ele defendeu nec ess a ria me nte ex te rna
à pol ític a e des tina do
s itu açõ es de e ito som ent e
so e na im pre nsa , cri tic
and o dec isões d
s dir eit os ind ivi dua is. Da pol ític a, ent ão, o dir
sua s po siç ões no Co ng res tar de, opo ndo-s~
def esa do
neg ati va. A di stin ção ent re
as esf era s do
p e lo Ex ecu ti vo e, ma is rec ebe ria um a inf luê nci a
ST F, pre ssõ es exe rci das ST F e o ins tituto ta mbém a um a re laç ão hie
rár qui ca, is to
lei qu e vis ara m a lim i tar os po der es do dire ito e da po líti ca lev ava os ao direito ,
a pro jet os de ca dev eri am ser sub me tid
é, os im per ati vos da po líti uc ion al.
do ha bea s-c o,p us. enç ão da libe rda de con stit
enquanto co ndi ção de ma nut
me nto
nesta ord em de idé ias , o ins tru
era l de Rui Barbosa A Co ns titu i ção Fed era l era , constru ir um a
4.1. O con sti tuc ion ali sm o lib dad or de'.a a s i me s mo par a
pri vil egi ado qu e o pov o fu~ el dev eri a ser
i sse sua libe rda de . Este pap
o suj eitos de ord em p o líti ca qu e gar ant era l, enq uan-
víd u os era m pen sad os com exe rci do pel o P od er Judici
ário, e o Su pre mo Tri bun al Fed
Pa ra Ru i Ba rbosa, os ind i erd ade indi vidual Co nst itu içã o.
diç ão de ser es liv res . A lib ia o sup re m o inté rpre te da
dire ito , a par tir d e sua con to seu órg ão sup erio r, ser
a is e a respon- o pod er
a ná lise do s di spo sit ivos leg gis tra dos não tinh a m ape nas
dev eri a ser o pri ncí pio de s açõ es. Assim, Ele arg um ent ava que os ma ato s ind ivi dua is
vid ual , o cri tér io d e j ulg am ent o das sua os dec re tos do Ex ecu tiv o,
sab ilid ade ind i
açõ es estávei s de dec lar ar sem val ida de os os gov ern os
o o es tab e lec im ent o de rel s iss o car ac te riz ava tod
a ord em pol ític a era vis ta com epe nde nte s uns de apl ica ção d a Je i, poi dis tin gui a o
os, qu e per ma nec eri am ind s o u rep ubl ica nos . O que
ent re ind i víd uos aut ôn om proibido con stit uci ona is, m oná rqu ico
la Co nstitui ção
qu a is tud o ser ia per mi tid o, des de que não te- am e ric ano , ado tad o pe
dos out ros , e aos
eri am se res umir sis tem a con stit uci ona l nor c ion alid ade das
as qu a is. po r s ua vez , dev a de cla raç ão de inc ons titu
exp res sam ent e p e las leis , ític a. rep ubl ica na bra sile ira , era
BO SA , 195 8a
a finalidade da ord em pol s pel o Co ng res so (B AR
ao nec ess ári o par a ati ngi r esa pró pri as leis ger ais vot ada do pre dom íni o
a ser ia a org ani zaç ão e a def tê nci a do ST F res ult ava
A fin ali dad e da o rde m polític [1893]: 93- 4). Es sa com pe a pró pri a
a legali dade o me io po r
exc elê ncia par a
ori gin ári a do po vo , cuj a exp res são era
da libe rda de ind i vid ua / e rel ati va ape nas
da von tad e
o exp res sav am
e rda de ind ivi dua l não era leis vot ada s pel o Co ngr ess
gar ant i-la. Para ele , a lib coisa pública, Co nst itu içã o, enq uan to as
os, m as tra tav a-s e de um a ape nas sua vo nta de de ri vad
a.
à bus ca dos int ere sse s pri vad iedade. A
alg o de do mín io com um do s ind i víd uos na soc mi dad e das lei s e d os ato s do
gov ern o com
com o ade, poi s fora exa me da con for
qua do de gar ant ir a liberd O
nas um a pre rroga tiv a do
ST F, ma s dev er
leg alid ade ser ia o mo do ade sej a aqu eles a Co nst itu içã o não era ape
esp aço par a tod a esp éc ie de arb ítri os, o qu e est e dev eri a, na sua
ati vid ade
vadas, sej a ª
da lei se abr iria gis tra do , no sen tid
ma
res nas sua s rel açõ es pri de tod o com pat ibi lid ade
pro ven ien tes dos par tic ula d as le is, ve rifi car ess a
e r pol ític o. nor ma l de interp ret açã o 12 O s juí zes dev eri am
opress ão dec orrente do pod A, 195 8a [ 189 3] :69 , 81 e 91 ).
lec e-s e um a dis tin ção rig
orosa entre (BA RB OS
_N a sua con cep ção , est abe
s opo sta s, r:gida s p_or
~- ~ire1to _e
ª pol ític a, enq uan to du as esf era opr essao Cons titu içã o esc ri ta há doi
s gra us na ord em de
0 1
00 cas dif ere nte s. A esf era da
política te nde ria fat alm ent e a _ l 2. "Em qua lqu er paí s de . Nos paí ses federa liza dos
,
ion ais e as leis ord iná rias
legislação: as leis con stituc é quá dru pla : a Con stitu i ção
· e m favor com o o Brasil , a esc ala
d. tes
Wa . nde nko lk corno os Estados Uni dos , as leis des tes. A s uce ssã o.
s de hab eas -co rpu s. des taca m-s e as seg urn con stituiç ões dos es tado s,
11 . Das sua s peti çõe te Eduar do . e ourros :ede raJ, as leis fed era is, as a lega l. Ela trad uz as reg ras
erais, deti dos por Floriano, e m fav or do almiran - Cor e1r0 Leôncro . as, ex prim e-lh es hie rarq ui - · s d e 1e ·is.
dos 13 gen
.
_ uer em fav or do sen ad or 1oa0d~ ~ dire itos d m que aca bo de enu me rá-l ess as q ua tro esp ec1e
e outros deti.dos no vapor Jup , .
e prec edê ncia , e m que a a uto rida de se dist ribu i por d
. a de assassin. ado de Prudente de Mo raes , em fav or O Dado O am • o ent re a prim eira e qua lqu er das o utras, ent re a
segun a e
na tentativ def esa dos seus
GaJrão e do dr. Aurélio ViaRB nna, na B ahia, em / 9 J 2, e em ago nism
OSA , / 958 c).
de senador, em 19 14 (BA
L E CONTROL
176 HABEAS-CORPUS, PRÁTICA JUDIClA E SOC IAL TICA JUDICIA L REP UBL ICA
NA
177
O HABEAS- CO RPUS NA PRÁ
han non iza r log icam ent e seu s di spo sitivos e, vi sto que todas as out dos cidadão s, por seu deve r de
. d o pais . ' nor
, era m mie . es à Con stit uiç ão deve . ras _ sa
P.ela defe do dire ito imp . al
, esso Constituição.
1eis
. . . . , n am decl .
arar a oga do e part1 c1pe da elab oração da
crdadao, adv
. sem pre que constatas s pac ient es na- 0 representa
mconst1tuc1onahdade das lei s,· · - sem sua rn_· "O rec urso de qu e me va lho pelo
·b ·1·d d C 1çao Federal , quando da reso luçao s constituinte s não são os presos
•
erva dora
va-se de fazer do Pode r Judic iário um polo 4 .2. A pos ição cons
socie dade brasileira. Trata. . 1 .d
supe rior às relaç ões soc1a1s, reco n 1ec1 o por estas, para real•1zar sua teria sido uma
. .
. Para o.s cons ervad ores, a passa gem à República
pacif icaçã o a partl í do tem1 0 com um da le i. O Pode r Judiciári o sena um novo pacto
. 'b 'd 1 , fu ncionaria como disso lução do antig o pac to políti co, fo rmando-se
como uma força d 1stn UI a pe o pa is, que político. Porta nto, os e~eit os da t:a~s fo_rmação
republica na não
relações po11t1cas
,.
instr umen to de muda nça, a tuan do na form a das
. . seria m o de uma Revo luçao, mas se l1m1tarr am ao
domí nio do direito
nte pelos antigos
e soc1a1s. públi co. Esta pos_iç~o foi defendid a publi came
ni zação cons titu-
ém por advo a- mag istrad os tmpe rra1 s dura nte o proc esso de orga
A pos ição doutr in ári a liber a l foi adot ada tamb ciona l da Re públi ca e, como vere mos a segu
17 ir, serviu de baliza
citam os Marcel to
dos, 16 juíze s e dout rinad ores. De ntre os últim os, para a te nta ti va de reco mpo r os e le ment os da
tradição para a nova
a . Para COE LHO
Gam a Coel ho, Gald ino Siqu eira e Sam pa io Dóri orde m política.
verificar o direit ;
o habeas-c0 1pus era proc edim ento in stitu ído para tões, por sua
reputado criminoso Os cons erva dore s cons ide ravam que certa s ques
à liber dade , não obsta nte um a to do pacie nte judici~I, pela im-
direitos do cidadão própria na ture~a, _eram exclu ída~ da apreciação
"O l,abe as-co 1pus é em regra , a gara ntia dos
cons agrad os invio lá veis pe la Cons tituiç ão, exce
tuado s os direitos d: poss ibilid ade tec111ca_ de sepa raçao ~os _aspe ~t?s
prop name nte po-
s dos gove rnant es,
ça dela" (id .. , 1900: líticos, relac iona dos as facul dade s d1scnc1onana
prop rieda de, e posse, dia nte da violê ncia ou amea a quem cabia decid ir os objet ivos, circu nstân
cias e opor tunid ade
44). Para Gald ino SIQU EIRA , o pa rágra fo
da Cons tituição sobre cias polít icas fossem
essual em direito deste tipo de ação . Uma vez que as circu nstân
o habeas-co1pus o trans form ou de remé dio proc justi ficad as, e o s ítio decre tado, os meio s norm
ais de ação estab e-
entre um e outro.
individual , e por isso não exist ia cont inuid ade lecidos pela orde m legal estar iam susp enso s
para os respo nsáveis
tem10 "prisão" nem
Além disso , a Cons tituiç ão não empr egou o
" com "o intuito de políticos.
utilizou as palavras ''con stran gime nto corp oral pretação da lei a
ampl iar a ação prote tora do habe as-c0 1pus
além da liberdade Eles cons idera vam aind a a ativi dade de inter
l do Pode r Judic iário
corporal, de sorte a abran ger, não os direi tos reai
s ... mas toda espécie parti r da mane ira pela qual conc ebia m o pape
ensa contr a a decis ão
de liberdade individual , isto é, a liber dade espir
itual (liberdade na orde m polít ica. Na sua cam panh a na impr
critic ava o lacon ismo
religiosa, liberdade de expr essão , Jiber dade de ensin
o) e a liberdade do STF no habe as-c orpu s n. 300, Rui Barb osa
dos fund amen tos da
civil ( liberdade profi ssional, liber dade de reun
ião, liberdade de do acórd ão. Ele most rava a insuf iciên cia
s levan tados na sua
trânsito, liberdade de acess o aos carg os, liber dade
de contratar e decisão, que não tinha abor dado todo s os tema
idade parla ment ares
de associação)". Ele argu ment a ainda que não
seria razoável ter o petição (esp ecial men te o prob lema das imun
tava as refer ência s
legislador protegido a liber dade física ou corp
órea sem a ter durante e depo is do estad o de sítio ), apon
a invo caçã o pura
estendido à "liberdade psíqu ica, a livre mani festa
ção da vontade, doutr inári as trunc adas ou cont radit órias e enfim
255-6). Sampaio nenh um argu ment o
m~ito mais importante e eleva da" (id .; 191 O: e simp les do texto legal , sem apoi o em
livre docente na era fund amen tada,
DORIA (1925 ), em dissertação para conc urso de doutrinário. Para Rui Barb osa, a deci são não
defen der a inter- argu ment ar e con-
Faculdade de Direito de São Paul o, dedica-se a porque o acór dão "dev eria dedu zir e conc luir,
pretação de Rui Barbosa, e a critic ar as inter preta
ções restritivas cínio em seu favo r
vencer, e não simp lesm ente invo car, sem racio
do habeas-c01pus na República.
Pinto defen dia a posiç ao dos
às de l 7. Por e xemp lo João José de Andr ade
. oes .- solítica
- seme Jhante blica do Brasil. Idéias Gerai s'' (0
.
_ 16. Evansto de Moraes era socialista, mas adoto
u posiç magi_st rados no artigo "A Cons tituiç ão da Repú
civis. A sua aprox imaça o P JJ Dtreu o , n. 52, 1890: 321-3 60) .
Rui Barbosa em relaçã o às garantias às liberd ades
encial de 19 J 9 (ver MOR AES, 1989 f 192ZJ: JZ- ·
ocorreu na campanha presid
Cli