Texto Completo
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Dissertação apresentada à
Universidade Federal de Viçosa, como
parte das exigências do Programa de
Pós-Graduação em Solos e Nutrição de
Plantas, para a obtenção do título de
Magister Scientiae
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2008
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e
Classificação da Biblioteca Central da UFV
T
Simões, Diana Ferreira de Freitas, 1980-
S593q Química, física e mineralogia de solos utilizados na
2008 agricultura familiar e na fabricação de cerâmica artesanal
em Itaobim, Médio Jequitinhonha, MG / Diana Ferreira
de Freitas Simões. – Viçosa, MG, 2008.
xix, 151f. : il. ; (algumas col.) ; 29cm.
Dissertação apresentada à
Universidade Federal de Viçosa, como
parte das exigências do Programa de
Pós-Graduação em Solos e Nutrição de
Plantas, para a obtenção do título de
Magister Scientiae.
_____________________________ _______________________________
Prof. Maurício Paulo Ferreira Fontes Prof. Elpídio Inácio F. Filho
(Co-orientador) (Co-orientador)
_____________________________ _______________________________
Prof. João Luiz Lani Pesq. João Herbert Moreira Viana
____________________________
Prof. João Carlos Ker
(Orientador)
ii
O Senhor é minha vida, minha luz e minha salvação, a quem temerei?
O Senhor é o defensor da minha vida, diante de quem temerei?
Salmo 26
ii
AGRADECIMENTOS
iii
Aos ex-esamianos e pós-graduandos da UFV, Adriana, Phalevi,
Georgiana, Franciscleudo, Marcelo e Roberto, pelo convívio, amizade e apoio.
Aos colegas de departamento Edyglei, Ana Catarina, Cristiane, Eliana,
Nilza, Luiz Antônio, Eulene, Thiago, Cecília, Ivanilda, Gislane e Patrícia que
suavizaram as dificuldades diárias.
Aos que não cito aqui, mas, que de alguma forma contibuiram para a
realização deste trabalho e para minha formação profissional.
iv
BIOGRAFIA
v
ÍNDICE
RESUMO............................................................................................... ix
ABSTRACT........................................................................................... xii
INTRODUÇÃO GERAL......................................................................... 1
CAPÍTULO 1 – Caracterização física, química e mineralógica de
Neossolos Flúvicos, Cambissolos Háplicos com e sem
murundus, utilizados na agricultura familiar no Médio
Jequitinhonha 4
1. INTRODUÇÃO................................................................................... 4
2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................. 6
2.1. Contribuição das frações areia e silte para a fertilidade dos
solos................................................................................................... 6
2.2. Murundus.................................................................................... 8
3. MATERIAL E MÉTODOS................................................................. 11
3.1. Caracterização da área............................................................... 11
3.1.1. Localização da área de estudo.......................................... 11
3.1.2. Clima e vegetação............................................................. 11
3.1.3. Geologia e geomorfologia................................................. 13
3.2. Seleção, descrição morfológica dos perfis, coleta e preparo
das amostras de solos....................................................................... 14
3.3. Caracterização física.................................................................. 15
3.3.1. Análise textural.................................................................. 15
3.3.2. Curva característica de retenção de
água............................................................................................. 15
3.4. Caracterização química.............................................................. 15
3.4.1. Fertilidade dos solos.......................................................... 15
3.4.2. Preparo, separação e análise química das frações areia
e silte........................................................................................... 16
3.4.3. Fe extraído por ditionito-citrato-bicarbonato (DCB) e
oxalato ácido de amônio.............................................................. 16
3.4.4. Digestão sulfúrica.............................................................. 17
3.4.5. Digestão ácida total........................................................... 17
3.5. Caracterização mineralógica...................................................... 18
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................... 19
4.1. Caracterização morfológica e física dos solos............................ 19
4.1.1. Curva característica de retenção de
água............................................................................................. 25
vi
4.2. Caracterização química.............................................................. 28
4.2.1. Fertilidade dos solos.......................................................... 28
4.2.2. Análise química das frações areia e silte ......................... 34
4.2.3. Digestão sulfúrica e Fe extraído por ditionito-citrato-
bicarbonato (DCB) e oxalato ácido de amônio ........................... 38
4.2.4. Digestão ácida total........................................................... 41
4.3. Caracterização mineralógica...................................................... 44
4.3.1. Fração areia...................................................................... 44
4.3.2. Fração silte........................................................................ 49
4.3.3. Fração argila……………………………………………........ 54
5. CONCLUSÕES………………………………………………………….. 56
6. REFERÊNCIAS………………………………………………………….. 58
CAPÍTULO 2 – Caracterização dos materiais de solos utilizados
para fabricação de cerâmica artesanal no distrito de Pasmado,
66
Itaobim, MG
1. INTRODUÇÃO................................................................................... 66
2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................. 69
2.1. Etnopedologia e uso não-agrícola dos solos.......................... 69
3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................. 73
3.1. Caracterização da área de estudo.............................................. 73
3.2. Seleção, descrição morfológica dos perfis, coleta e preparo
das amostras de solos....................................................................... 73
3.3. Caracterização física.................................................................. 74
3.3.1. Análise textural, limites de Atterberg e índice de
atividade coloidal (IA).................................................................. 74
3.3.2. Curva característica de retenção de
água............................................................................................. 75
3.4. Caracterização química.............................................................. 75
3.4.1. Fertilidade dos solos.......................................................... 75
3.4.2. Fe extraído por ditionito-citrato-bicarbonato (DCB) e 76
oxalato ácido de amônio..............................................................
3.4.3. Digestão sulfúrica.............................................................. 76
3.5. Caracterização mineralógica...................................................... 76
3.6. Entrevistas.................................................................................. 76
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................... 78
4.1. Caracterização morfológica dos solos de cerâmica.................. 78
4.2. Caracterização física.................................................................. 80
4.2.1. Análise textural, índice de atividade coloidal (IA) e limites
80
de Atterberg ................................................................................
4.2.2. Curva característica de retenção de 86
água.............................................................................................
4.3. Caracterização química.............................................................. 87
4.3.1. Fertilidade dos solos.......................................................... 87
4.3.2. Digestão sulfúrica na TFSA e Fe extraído por ditionito-
citrato-bicarbonato (DCB) e oxalato ácido de amônio na fração 90
argila............................................................................................
4.3.3.Teores de Fe2O3 na TFSA extraídos pelo ditionito-citrato-
bicarbonato (Fed) e oxalato de amônio (Feo) após
aquecimento nas temperaturas de 100 ºC, 350 ºC e 550
ºC................................................................................................. 91
4.4. Caracterização mineralógica...................................................... 93
4.4.1. Fração areia e silte............................................................ 93
vii
4.4.2. Fração argila...................................................................... 95
4.5. Entrevistas com ceramistas........................................................ 98
4.5.1. Cerâmica artesanal:etapas................................................ 98
4.5.1.1. Obtenção e transporte do “barro”.......................... 100
4.5.1.2. Secagem e destorroamento................................... 103
4.5.1.3. Separação dos torrões........................................... 105
4.5.1.4. Hidratação e formação da pasta............................ 105
4.5.1.5. Confecção e cozimento das “vasilhas”.................. 106
4.5.1.6. Comercialização..................................................... 115
4.5.2. Cerâmica artesanal: um trabalho tipicamente
feminino....................................................................................... 117
5. CONCLUSÕES.................................................................................. 120
6. REFERÊNCIAS................................................................................. 122
APÊNDICE GERAL............................................................................... 129
viii
RESUMO
ix
agricultura familiar ao longo de duas topossequências, e caracterizar solos
hidromórficos utilizados para a fabricação de cerâmica artesanal na
comunidade de Pasmado, município de Itaobim, MG. Para as caracterizações
físicas, químicas e mineralógicas, foram selecionados e coletados nove perfis,
distribuídos nas topossequências 1 (T1), composta por dois Cambissolos
Háplicos (P1 e P2), um Cambissolo com murundu (P3) associado ao perfil P2 e
dois Neossolos Flúvicos (P4 e P5), e na topossequência 2 (T2),
compreendendo um Cambissolo Háplico (P6), seu Cambissolo com murundu
(P7) e um Neossolo Flúvico (P8) utilizados para a agricultura familiar. Também
foi coletado perfil de Cambissolo Háplico (P9) que serviu de amostra extra de
referência para esta classe. Foram ainda coletados três perfis de “barreiros”
usados para a fabricação de cerâmica artesanal. Foram realizadas as
seguintes análises: granulometria, curva de retenção de água e limites de
consistência para os solos utilizados na cerâmica; químicas de rotina e teores
totais de Ca, Mg, K, P, Co, Cu, Zn e Ni na TFSA e nas frações areia e silte,
extrações de Fe por ditionito-citrato-bicarbonato (DCB) e oxalato amônio e
análises mineralógicas por meio da difratometria de raios-X nas frações argila,
silte e areia. Foram ainda realizadas entrevistas semiestruturadas com os
artesãos e elaboração do fluxograma de fabricação da cerâmica até sua
comercialização. Os Cambissolos Háplicos e Neossolos Flúvicos apresentam
textura média e, ou argilosa, com valores mais elevados de argila no horizonte
B dos Cambissolos. Os solos apresentaram-se fracamente ácidos, eutróficos e
distróficos, sugerindo que existe diferenciação nas produtividades alcançadas,
mesmo que os teores de cálcio, magnésio e potássio tenham sido
considerados de médios a bons nos horizontes superficiais. Além disso, os
teores totais e trocáveis das frações areia e silte, juntamente com a fração
argila, parecem importantes fontes de nutrientes para as plantas. Os
Cambissolos Háplicos fase murundus apresentaram maiores teores de silte e
argila, Ca2+, P e carbono orgânico (CO), indicando que a atividade das
térmitas, provavelmente no passado, foi importante para sua maior fertilidade
em relação aos Cambissolos Háplicos aos quais estão associados. A
mineralogia da fração argila dos Neossolos Flúvicos e Cambissolos é
constituída basicamente de caulinita e ilita, e as frações areia e silte por mica,
plagioclásios cálcicos e sódicos e feldspatos potássicos. A análise química total
das frações TFSA, areia e silte confirmaram maiores teores de potássio nestes
x
solos. Os horizontes selecionados pelos ceramistas para a fabricação de
cerâmica artesanal apresentaram os maiores teores de argila e silte, índice de
plasticidade (IP) e índice de atividade coloidal (Ia), importantes para a
qualidade final da cerâmica. As pequenas quantidades de areia fina parecem
não ser suficientes para promover efeito “não plástico” no Gleissolo estudado,
confirmando seu uso restrito para a confecção de algumas peças artesanais.
Com o aumento da temperatura na massa cerâmica, houve redução da relação
Feo/Fed, o que leva a questionar se isto pode influenciar na qualidade do
produto final da cerâmica, principalmente em termos de resistência ao
rompimento. A camada superficial, por ser mais arenosa, e subsuperficial, pela
sua dureza, são descartadas, mesmo que em alguns casos esta última possa
ser aproveitada para a fabricação de peças artesanais (horizonte C). O uso do
horizonte C dos Planossolos estudados como matéria-prima (“barro”) para o
uso em cerâmica é de extrema relevância para a comunidade, pois estes solos
ocupam pequena extensão geográfica nas várzeas do rio Jequitinhonha,
podendo serem considerados como um recurso finito para o desenvolvimento
dessa atividade. As análises mineralógicas desses solos indicam presença de
quartzo, feldspatos, plagioclásios e micas nas frações areia e silte, e caulinita e
ilita na fração argila. As etapas pertinentes ao processo de confecção da
cerâmica artesanal contam com participação masculina nas etapas iniciais de
coleta, transporte do “barro” e formação da pasta, cabendo às mulheres,
mesmo que não exclusivamente, a modelagem das peças até a arte final. A
atividade ceramista é desenvolvida em todos os meses do ano, realizada por
homens, mulheres e crianças, todos vendendo sua própria produção. Além de
aposentadorias e programas sociais como o bolsa escola, a atividade
ceramista constitui importante complemento da renda familiar, sendo mesmo,
em alguns casos, a única fonte de renda na comunidade de Pasmado.
xi
ABSTRACT
xii
Cambisoils (P1 and P2), a Cambisoil with small hills (P3) associated to profile
P2 and two Fluvial Neosoils (P4 and P5) and in toposequence 2 (T2), consisting
of a Haplic Cambissoil (P6), its Cambissoil with small hills (P7) and a Fluvial
Neosoil (P8) used for family agriculture. A Haplic Cambisoil profile (P9) was
also collected that served as an extra sample and reference for this class. In
addition, three `barrier´ profiles were used to manufacture handcrafted pottery.
Granulometric analyses were carried out along with the water retention curve
test and consistency limits for pottery soils; routine chemical analyses and total
Ca, Mg, K, P, Co, Cu, Zn and Ni in the TFSA contents in the sand and silt
fraction, Fe extraction for dethionite citrate bicarbonate (DCB) and ammonium
exalate and mineralogical analyses by X ray difratometry in the clay, silt and
sand fractions. Semi-structured questionnaires were carried out with the
craftsmen and a manufacture flow gram was made of pottery up to its
commercialization. The Haplic Cambissoils and Fluvial Neosoils presented
medium texture and, or clay, texture, and there were high values of clay in the B
horizon of the Cambissoils. The soils were slightly acid, eutrophic and
dystrophic, suggesting that there is differentiation in the yields reached, even
though the calcium magnesium and potassium contents were good and
considered from medium to good in the surface horizons. Furthermore, the total
and exchangeable contents of the sand and silt fractions, together with the clay
fraction, seemed to be important sources of nutrients for the plants. The Haplic
Cambissoils with small hills had greater silt and clay, Ca2+, P and organic
carbon (CO) contents, indicating that termite activity, probably in the past, was
important for its greater fertility compared to the Haplic Cambissoils to which
they are associated. The minerology of the Fluvial Neossoils and Cambissoil
clay fraction consists basically of kaolin and ilyte and the sand and silt fraction
consists of mica, calcium and soda plagioclasium and potassium feldspars.
The total chemical analysis of the TFSA fraction and the sand and silt fractions
confirmed greater potassium contents in these soils. The horizons selected by
the potters for handcrafted pottery manufacture have greater clay and silt
contents, plasticity index (PI) and colloidal activity index (Ia), that are important
for the end pottery quality. The small quantities of fine sand did not seem to be
sufficient to promote a non-plastic effect on the Gleysoil, confirmed by its
restricted use for the manufacture of some handcrafted pieces. With the
increase in temperature in the pottery mass, the Feo/Fed decreased that led to
xiii
questioning whether this can influence the quality of the end pottery product,
especially in terms of resistance to breakage. The surface layers, because they
are more sandy, and the subsurface layers, because of their hardness, are
discarded even though in some cases the latter can be used to manufacture
handcrafted pieces (C horizon). The mineralogical analyses of these soils
indicate the presence of quartz, feldspar, plagioclasiums and mica in the sand
and silt fractions, and kaolin and mica in the clay fraction. This aspect is
relevant because of the small areas that the Jequitinhonha river alluvial plains
occupy, and they can be considered as a finite natural resource. The stages of
the manufacture process of the handcrafted pottery count on the participation of
the men in the initial collection stages, `mud´ transport and paste formation
while mostly women model the pieces to the final art. The pottery activity is
carried out in all the months of the year, by men, women and children and they
all sell their own production. In addition to retirement pensions and social
programs such as the School Grant, the pottery activity is an important
complement of the family income, and is even, in some cases, the only source
of income in the Pasmado community.
xiv
INTRODUÇÃO GERAL
1
erosão laminar e mesmo em sulcos.
A produtividade das culturas de subsistência é considerada satisfatória
pelos agricultores, particularmente nos anos “bons de chuva” (chuvas mais
regulares entre outubro a abril). Contudo, tanto dados sensitários do IBGE
como informações obtidas na Emater de Itaobim apontam para baixas
produtividades, particularmente de milho, o que pode ser atribuído
principalmente à irregularidade das precipitações mesmo no período chuvoso,
à falta de aplicação de nutrientes e corretivos, à erosão acentuada com perda
expressiva do horizonte A.
O contato com vários agricultores ou com pessoas que trabalham com
agricultura indica que a permanência dos cultivos de subsistência está
associada à fertilidade natural dos solos, considerada elevada a inferir-se por
colocações do tipo: “tendo chuva, moço, aqui produz de tudo sem uma gota de
adubo”. Em levantamento bibliográfico prévio, entretanto, foram encontrados
solos distróficos e também eutróficos, sobretudo os Cambissolos Háplicos de
rampa de colúvio. Além disso, parece claro que as rochas granitóides da área
não apresentam constituição mineralógica capaz de originar solos bem
supridos em alguns nutrientes essenciais às plantas.
A agricultura familiar desenvolvida na área é feita tanto em Cambissolos
Háplicos de rampa de colúvio, normalmente de textura média com cascalho,
como em Neossolos Flúvicos de algumas várzeas estreitas dos cursos d’água
que cortam a área, sobretudo daquelas dos rios Jequitinhonha e Araçuaí.
Destacam-se os cultivos de mandioca, milho e feijão, além de diversas
hortaliças, nas chamadas “roças de barranca”, localizadas próximo ao rio, em
que a água para “irrigação” é transportada em latas ou galões plásticos nas
costas dos agricultores, ou é lançada diretamente do rio na cultura, com o
auxílio de prato de esmalte ou de “cuia” (cabaça) amarrada em vara de
madeira. Em algumas baixadas aluviais, verificam-se, também pequenas
lavouras de cana-de-açúcar, capineiras, pomares desordenados de manga,
banana e coco-da-bahia.
No domínio dos Cambissolos Háplicos de rampa de colúvio, é comum a
ocorrência dos chamados murundus ou murunduns, montículos de tamanho
variado, de forma arredondada ou elíptica, resultantes provavelmente da páleo
atividade de cupins e que também são usados nos cultivos de subsistência.
Especula-se que os solos desses murundus apresentem melhor fertilidade do
2
que os solos adjacentes, indicando que esses animais poderiam promover
acúmulo e distribuição de nutrientes e matéria orgânica nas camadas dos
cupinzeiros.
Associado à atividade agrícola, o artesanato de cerâmica é outra
atividade econômica das famílias da região. A atividade de cerâmica retrata o
modo de vida das comunidades do Vale, particularmente na zona do Médio
Jequitinhonha. Normalmente essa atividade é desenvolvida como
complementação do orçamento doméstico, principalmente nos períodos de
seca, em que a agricultura se restringe às áreas de várzeas devido à maior
oferta e possibilidade de irrigação.
A matéria-prima utilizada para fabricação de cerâmica é retirada de
horizontes dos solos hidromórficos, Planossolos e Gleissolos, chamados
localmente de “barreiros”. Ocorrem em pequenas extensões territorias
descontínuas nos terraços do rio Jequitinhonha, e embora amplamente
utilizados para a fabricação das peças artesanais, não possuem nenhum tipo
de caracterização físico-química e mineralógica, como também não se conhece
a potencialidade no uso de outras camadas dos “barreiros” até então não
aproveitadas para o uso cerâmico.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivos caracterizar
física, química e mineralogicamente solos de duas topossequências de
Cambissolos, Cambissolos com murundus, ambos Háplicos, e Neossolos
Flúvicos, utilizados na agricultura familiar, além de Planossolos e Gleissolos
utilizados na fabricação de cerâmica artesanal na comunidade de Pasmado,
município de Itaobim, MG.
3
CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO
4
e, possivelmente, da sua boa fertilidade natural, conforme alegam os
agricultores.
Nas pequenas áreas de várzeas e/ou baixos terraços, acompanhando
os principais cursos de água da região, concentra-se a maior proporção de
cultivos de olerícolas, como abóbora, melancia, alho, cebola, maxixe, coentro,
dentre outros. São nessas áreas que se encontram as planícies aluviais, onde
ocorrem os Neossolos Flúvicos.
Em ambos os casos, a agricultura é predominantemente de sequeiro,
em virtude da escassez e irregularidade das precipitações pluviométricas,
características da região em estudo. A escassez de investimentos públicos e
dificuldades operacionais de assistência técnica por parte de órgãos
competentes dificultam o avanço tecnológico na agricultura, com respeito ao
uso de sementes, fertilizantes e corretivos, controle de pragas e doenças e uso
de práticas de conservação do solo, principalmente no controle da erosão.
Todos esses fatores em conjunto têm propiciado, ao longo dos anos,
produtividades relativamente baixas, de acordo com dados obtidos na Emater
de Itaobim, sobretudo para milho, embora os agricultores considerem suas
produtividades satisfatórias para sua sobrevivência.
Em razão do exposto, considera-se que a produtividade das culturas
nesses ambientes está intimamente relacionada à fertilidade natural dos solos,
com provável contribuição das frações mais grosseiras. A análise dessas
frações do solo é medida indicativa do seu potencial de reserva nutricional a
médio e longo prazo para as plantas, servindo na predição e acompanhamento
da fertilidade desses solos.
O presente trabalho teve como objetivo caracterizar física, química e
mineralogicamente solos ao longo de duas topossequências representativas da
área onde ocorrem Cambissolos Háplicos, Cambissolos Háplicos associados a
murundus e Neossolos Flúvicos utilizados na agricultura familiar na
comunidade de Pasmado, município de Itaobim - MG.
5
2. REVISÃO DE LITERATURA
6
Em Itaobim, Neossolos Flúvicos e Cambissolos Háplicos, e, em menor
escala, pequenas áreas de Planossolos, quando não sódicos, são muito
utilizados para a produção agrícola. A ocorrência desses solos revela a
presença de minerais feldspáticos herdados das rochas granitóides do
Complexo Medina, predominantemente leucocráticos e foliados, que ocupam
cerca de 80 % da área total do município. Também são encontrados intruções
de granitos peraluminosos nas porções noroeste e nordeste (Brasil, 1987;
CPRM, 2003).
Em solos mais intemperizados, a importância das frações areia e silte
reflete seu efeito nas características físicas do solo, como retenção e fluxo de
água, estrutura, compactação, erosão, dentre outros (Mcaleese & Mitchell,
1958; Tedrow, 1966). Quando se trata de solos mais jovens, a mineralogia das
frações areia e silte pode contribuir favoravelmente na capacidade de troca
catiônica (CTC) do solo, servindo de reserva nutricional para as plantas em
ambientes áridos e semiáridos (Karim & Islam, 1956; Mcaleese & Mcconaghy,
1957; Sánchez, 1969; Petre & Priano, 1971), pela liberação dos nutrientes em
solução.
A grande maioria dos nutrientes presentes no solo encontra-se na fase
mineral, servindo como fonte de reserva para a solução do solo e crescimento
das plantas. O potássio se apresenta sob diversas formas no solo (K-não
trocável, K-trocável, K-estrutural e K-solução). Micas e feldspatos potássicos
(ortoclásio e microclínio) são os principais minerais fonte de potássio estrutural
para o solo, enquanto minerais de argila 2:1 são ricos em K não-trocável,
permanecendo temporariamente retido. A liberação do potássio não-trocável,
envolve processos de difusão, enquanto o potássio estrutural está localizado
dentro da estrutura do mineral, sendo liberado sob a ação do intemperismo, por
meio das reações de dissolução (Sadusky et al., 1987). Por outro lado, o
potássio trocável, que estabelece equilíbrio com o potássio em solução, liga-se
às cargas negativas do solo, sendo influenciado pela textura do solo, podendo
representar de dois a oito por cento do potássio total do solo (Ricci, 1987).
Os granitos do Complexo Medina são constituídos basicamente por
feldspatos e quartzo, com presença de albita, plagioclásio e biotita, como
mineral máfico (Brasil, 1987). De acordo com Song & Huang (1988), a biotita
apresenta maior facilidade de liberação de K em relação à muscovita, quando
se utilizam ácidos orgânicos. Na escala de intemperismo de Jackson (1968),
7
compreendida de 1 a 13, a biotita apresenta índice de intemperismo 4 e a
muscovita 7, indicando maior resistência da segunda em relação à primeira.
Essas formas são consideradas por Melo et al. (2005) reserva a médio e longo
prazo de K para as plantas.
Os fedspatos são componentes de vários tipos de rochas granitóides.
São importantes por originarem argilominerais durante o processo de
intemperismo, constituem fontes de nutrientes e, quando presentes nas frações
silte e areia, fornecem informações valiosas a respeito da reserva mineral ou
do grau de intemperismo do solo. Os feldspatos variam em sua composição
química, sendo o ortoclásio, microclínio, albita e anortita os chamados “puros”,
pois não constituem séries isomórficas intermediárias, como os plagioclásios
(Resende, et al., 2005). Os feldspatos que apresentam sódio na estrutura
(plagioclásios sódicos) são considerados mais persistentes à ação do
intemperismo que os plagioclásios cálcicos (Keller, 1968).
O magnésio também pode ser liberado de formas estruturais. Sua
ocorrência nos solos acontece pela ação do intemperismo em minerais
ferromagnesianos presentes nos solos (Rice & Kamprath, 1968; Christenson &
Doll, 1973). A presença de micas, principalmente biotita, e minerais
secundários com Mg em substituição ao Al na camada octaédrica são suas
fontes no solo (Melo, 1998).
Em razão do exposto, o conhecimento mineralógico das frações areia e
silte é de grande relevância, uma vez que nelas se encontra a maior parte dos
minerais que permitirão a liberação de elementos a médio e longo prazo para
as plantas, principalmente nas áreas utilizadas para agricultura familiar.
2.2. Murundus
8
Filho & Furley, 1990). Na literatura científica, o termo microrrelevo de murundus
e campo de murundus vem sendo mais amplamente divulgado (Funch, 1985).
Em levantamentos de solos realizados na região já na década de
setenta, destaca-se a presença de microrrelevo de murundus, principalmente
nas áreas de transição para os solos da unidade de mapeamento dos
Cambissolos Háplicos, fase terraço semiárido (Brasil, 1970), como também
pelo levantamento de solos da folha SE 24 Rio Doce (Brasil, 1987).
Um dos primeiros estudos sobre murundus foram retratados por
Dalquest & Scheffer (1942) nos Estados Unidos. No Brasil, os estudos se
iniciaram na década de 60, intensificando-se nos anos 80. A grande maioria
das pesquisas abordavam estudos sobre vegetação, classificação, distribuição
e gênese desses microrrelevos. Porém, sua formação e evolução na paisagem
ainda são discutidas (Furley, 1986; Ponce & Cunha, 1993). Dois são os
modelos sobre sua gênese: a biológica e a geomorfológica. Na primeira, os
murundus seriam resultantes da ação das térmitas (Oliveira Filho, 1992a, b), e
na segunda, a erosão diferencial seria responsável pelo seu aparecimento, em
resposta ao escoamento superficial das águas como agente modelador da
paisagem (Araújo Neto et al., 1986).
Os murundus descritos e estudados até o presente no Brasil localizam-
se em áreas em que a drenagem é deficiente, como no Pantanal
Matogrossense, Planalto do Parecis, Planalto Central Goiano, Planalto Central,
dentre outros (Furley, 1986; Corrêa, 1989; Castro Júnior, 2002).
Diferentemente dos microrrelevos acima descritos, os murundus no Médio
Jequitinhonha localizam-se em áreas dissecadas, com relevo mais
movimentado e vegetação de caatinga, em ambiente não hidromórfico,
ocupando posições mais elevadas na paisagem. Esse mesmo tipo de formação
foi descrito, com pouco detalhe, nos trabalhos de Funch (1985) na chapada
Diamantina (BA) e por Abreu (1981), no Norte de Minas Gerais, sugerindo que
esses murundus se formaram em condições de boa drenagem, parecendo
guardar maior semelhança com os termiteiros encontrados na África. Por outro
lado, existem diferenças marcantes entre os termiteiros africanos, que podem
chegar aos 20 metros, daqueles encontrados no Brasil. Além disso, na América
do Sul não existem, como na África, os cupins criadores de fungos do gênero
Macrotermes (Hesse, 1955).
9
As térmitas são consideradas “engenheiros de ecossistemas” por serem
organismos modificadores do ambiente em que vivem. Modificam
características físicas e químicas do solo, influenciando em vários processos
de sua gênese (Black & Okwakol, 1997). Em recente revisão, Huhta (2007)
relata a importância da fauna do solo para a melhoria da qualidade do solo
dentro de ecossistemas. Por isso, os térmitas desempenham grande
importância ecológica, auxiliando na decomposição da necromassa vegetal e
na ciclagem de nutrientes no solo (Matsumoto, 1976; Cancello &
Schlemmermeyer, 1999).
A contribuição das construções das térmitas para as características
físicas do solo é observada na melhoria da sua estrutura (aeração, porosidade,
agregação), textura (seleção de partículas mais finas), aumento na capacidade
de infiltração e disponibilidade de água no perfil do solo (Anderson & Wood,
1984).
As modificações químicas do solo causadas pelas térmitas ocorrem pela
mistura entre as diferentes camadas dos solos, desempenhando papel chave
na recliclagem de nutrientes em todo o perfil. Quando são comparados com
solos adjacentes, os murundus estão enriquecidos em matéria orgânica e na
capacidade de troca de cátions (Jones, 1990; Basppa & Rajagopal, 1991;
Roose-Amsaleg et al., 2005). Isso resulta em contribuição das térmitas na
quantidade de cátions trocáveis e, consequentemente, no aumento da
fertilidade dos solos.
Na literatura a respeito de murundus, tem sido verificada a presença de
vários gêneros de térmitas habitando esses microrrelevos. Em observações
realizadas in loco nos murundus estudados, foi verificada ausência de térmitas
até a profundidade de cerca de 220 cm, ainda que fosse visível sua atividade,
expressa por canais paralelos e perpendiculares à superfície em toda a
extensão do murundu. Possivelmente esses animais estejam em camadas
mais profundas do solo buscando locais de menores temperaturas, pois o
período da coleta de solo se concentrou na época de baixa precipitação
pluviométrica.
10
3. MATERIAL E MÉTODOS
11
BR 116
BR 367
BR 367
BR 116
12
1350
1200
1050
Precipitação (mm)
900
750
600
450
300
0
8
5
9
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
Ano
14
classificação dos solos foi realizada conforme a 6a aproximação do Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 2006).
Os Cambissolos com murundus foram coletados em camadas, cerca de
10 metros dos Cambissolos P2 e P6, em murundus seccionados ao meio. No
período de coleta, aparentemente os murundus estavam descolizados, ou
devido à estação seca as térmitas se encontravam em camadas mais
profundas do que as observadas neste trabalho, em busca de água e menores
temperaturas.
As amostras foram secas ao ar, destorroadas e passadas em peneira de
2 mm, obtendo-se terra fina seca ao ar (TFSA) para as caracterizações físicas,
químicas e mineralógicas.
15
determinado potenciometricamente, na relação solo:solução 1:2,5; carbono
orgânico total (Walkley-Black), com oxidação da matéria orgânica por via
úmida, com dicromato de potássio 0,1667 mol L-1, sem aquecimento, e titulado
com sulfato ferroso amoniacal 0,1 mol L-1; cálcio, magnésio e alumínio
trocáveis, extraídos com solução de KCl 1 mol L-1, em que o Ca2+ e o Mg2+
foram quantificados por espectrofotometria de absorção atômica e Al3+ por
titulação com solução NaOH 0,025 mol L-1; fósforo disponível, sódio e potássio
trocáveis foram extraídos com solução Mehlich-1 (HCl 0,05 mol L-1 + H2SO4
0,0125 mol L-1), sendo o P determinado por colorimetria, e o Na+ e o K+ por
fotometria de emissão de chama. A partir desses dados, foram calculadas a
soma de bases (valor S), a atividade da argila (CTCr = CTCpH7,0 / % argila), a
saturação por bases (V %) e a saturação de sódio (PST %) e alumínio (m %).
16
3.4.4. Digestão sulfúrica
17
3.5. Caracterização mineralógica
Foi realizada nas frações silte e argila por sedimentação e na areia por
peneiramento (Embrapa, 1997). As amostras foram preparadas em lâminas de
vidro, orientadas e não tratadas para as argilas, e em pó, para as frações areia
(lâminas escavadas) e silte (Whitting & Allardice, 1986). A análise mineralógica
foi realizada por difratometria de raios-X (DRX), com radiação de Co (CoKα),
na faixa entre 4 a 35 °2θ, em intervalos de 0,01 °2θ por segundo, com tensão
de 40 kV e corrente de 30 mA.
18
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
19
Quadro 1. Caracterização física dos perfis da topossequência 1 (T1) e topossequência 2 (T2)
20
Quadro 1. Caracterização física dos perfis da topossequência 1 (T1) e topossequência 2 (T2) (cont.)
21
Quadro 1. Caracterização física dos perfis da topossequência 1 (T1) e topossequência 2 (T2) (cont.)
22
baixa capacidade de armanezamento de água destes solos, como será
discutido posteriormente.
Durante a descrição dos perfis e coleta de materiais de solo em campo,
constatou-se presença expressiva de minerais primários facilmente
intemperizáveis na fração grosseira dos Cambissolos, principalmente
feldspatos. Isto se deve ao fato de que estes solos são pouco lixiviados e
intemperizados, formados da dissecação das chapadas. Além disso são
originados de rochas granítóides do Complexo Medina, em que a quantidade
de feldspatos potássicos é expressiva (Brasil, 1971). No Levantamento de
Reconhecimento de Solos da Zona do Médio Jequintinhonha (Brasil, 1970), já
se havia destacado a presença marcante de feldspatos potássicos (microclínio
e ortoclásio) na mineralogia das frações areia e cascalho para esta classe de
solo, anteriormente reconhecida como “Latosol Regosólico fase terraço
semiárido” (Brasil, 1970).
Os perfis P2 e P3 são morfologicamente semelhantes com relação às
características de cor e textura. Na maior parte dos perfis P2 e P3, a textura é
franco-arenosa. Nas camadas centrais (3ª, 4ª e 5ª camadas) do Cambissolo
Háplico de murundu P3, os teores de silte e argila são maiores que os de
areia, proporcionando textura franco-argilo-arenosa (Quadro 1). Essa diferença
textural é atribuída ao papel das térmitas durante a formação desses
microrrelevos, indicando que houve maior atividade biológica nessas camadas.
Assim como as formigas (Cammeraat et al., 2002), as térmitas ingerem
preferencialmente partículas minerais menores, explicando suas maiores
quantidades quando comparado ao Cambissolo adjacente P2 (Quadro 1).
Estes resultados concordam com os encontrados por Lee & Wood (1971) para
os solos da Austrália; Konaté et al. (1999) no Oeste da África; e Fageria &
Baligar (2004) para o estado de Goiás. Estes autores afirmam que a maior
presença de partículas mais finas nos murundus deve-se ao seu uso como
material cimentante utilizado para a construção de seus ninhos, e que, em
razão disto, poderiam promover maior capacidade no fornecimento de
nutrientes ao solo. Também verifica-se que a preferencialidade de partículas
minerais está diretamente associada a espécie de térmita que é encontrada no
solo (Lee & Wood, 1971).
É importante ressaltar que nas camadas centrais dos Cambissolos de
murundus P3 e P7, onde se concentram os maiores teores de argila, ocorre
23
acumulação de areia fina em relação às demais camadas. Provavelmente,
esses resultados em conjunto com os canais construídos pela atividade
biológica das térmitas (observação de campo) forneçam aeração ao solo no
centro dos murundus.
Na topossequência 2 (T2), os Cambissolos P6 e P7 encontram-se em
áreas de declividade superior a 10 %. A erosão acentuada resulta no perfil P6
horizonte A pouco espesso, mas ainda classificado como A moderado.
A relação silte/argila nos Cambissolos não deve ser observada
isoladamente para classificar esta classe de solos, pois, nesse caso, a
expressiva participação da fração areia grossa e a mineralogia das frações
areia e silte sugerem que estes solos não sofreram grandes modificações
morfológicas e que poderiam apresentar características latossólicas em
estágios mais avançados de intemperismo (Quadro 1).
Os Cambissolos Háplicos com murundu (P6 e P7, na T2) apresentaram
maior uniformidade nas características de cor e, principalmente, textura. O P7
igualmente como ocorrido no P3 apresentou maiores quantidades de partículas
menores (silte e argila) nas suas camadas centrais, concordando com o
observado por Hesse (1955). Esse autor cita a idade, ou seja, ao grau de
evolução desses microrrelevos como um fator preponderante para maior
distribuição de partículas mais finas em profundidade, provavelmente devido ao
carreamento de material mais fino para camadas mais profundas. O mesmo
autor acredita que, em murundus ainda habitados, a atividade das térmitas
impediria esse processo, devido aos processos de bioturbação com seleção de
partículas causando seu transporte. Essa observação parece totalmente
verdadeira, pois em meses de menores índices pluviométricos as térmitas se
concentram em maiores profundades buscando temperaturas mais confortáveis
à sua sobrevivência e consequentemente favorecendo o carreamento de
partículas.
A partir dos resultados morfológicos (Quadro 1A) e físicos (Quadro 1),
foram identificados que os Neossolos Flúvicos P4 e P5 (T1) e o perfil P8 (T2)
apresentaram variações em cor e em textura. Nesta classe, os solos com
matizes amarelados (10YR e 7,5YR) restringem-se às várzeas do rio
Jequitinhonha, com estratificação bem diferenciada, identificada pela presença
de estrutura colunar fraca nos horizontes 2C1, 2C2 e 2C3 no P4, e da
marcante diferença granulométrica entre os horizontes do perfil P5. Em razão
24
disso, constata-se que no perfil P5 essas diferenças são decorrentes de
distintos ciclos de sedimentação (Oliveira et al., 2002) principalmente por se
localizar em terraço mais recente que o P4.
O perfil P8, localizado na várzea do ribeirão Pasmado, afluente do rio
Jequitinhonha, apresenta cores mais acinzentadas (matiz 2,5Y) com teores
elevados de areia grossa, conferindo-lhe textura franco-arenosa (Quadro 1).
De maneira geral, os solos apresentaram baixo grau de floculação, com
valores mais baixos nos perfis P6 e P7, provavelmente devido aos distintos
teores de sódio (Quadro 2) e aos efeitos dos minerais de argila 2:1 não
expansíveis como ilita (ver item 4.3.3.), no incremento das cargas negativas do
solo.
25
(a)
0,25 0,20
P1 P2
0,20
0,15
A
A Bi2 A
Bi2Bi2
0,15
Bi2
0,10
0,10
0,05
0,05
0,00 0,00
10 30 100 500 1500 10 30 100 500 1500
Potencial Matricial (-kPa) Potencial Matricial (-kPa)
0,25 0,25
P3 P6
0,20 0,20
1ª
1ªCam. A
Teor de Água (kg kg-1)
Cam. A
Teor de Água (kg kg-1)
4ª
4ªCam.
Cam. Bi2
Bi2
0,15 0,15
0,10 0,10
0,05 0,05
0,00 0,00
10 30 100 500 1500 10 30 100 500 1500
0,25 P7 0,25
P9
1ª Cam.
2Bi1
0,15 4ª Cam. 0,15
0,10 0,10
0,05 0,05
0,00 0,00
10 30 100 500 1500 10 30 100 500 1500
Potencial Matricial (-kPa) Potencial Matricial (-kPa)
26
(b)
0,25 0,50
P4 P5
0,20 0,40
Teor de Água (kg kg-1)
0,10 0,20
0,05 0,10
0,00 0,00
10 30 100 500 1500 10 30 100 500 1500
Potencial Matricial (-kPa) Potencial Matricial (-kPa)
0,20
P8
0,16
Teor de Água (kg kg-1)
AA
AC1
0,12 AC1
0,08
0,04
0,00
10 30 100 500 1500
Potencial Matricial (-kPa)
27
Os menores valores de retenção de água foram encontrados para os
Neossolos Flúvicos (Figura 3b), principalmente o perfil P8, devido à sua textura
mais grosseira (franco-arenosa) em relação aos perfis P4 e P5, possivelmente
com maiores valores de porosidade total. As maiores quantidades de areia fina,
silte e argila dos perfis P4 e P5 contribuíram para o armazenamento de água
no perfil de solo (Franzmeier et al., 1960). Como consequência, principalmente
quando se inicia a estação seca, existe maior disponibilidade de água para as
plantas.
Nos horizontes superficiais dos Neossolos, os valores de umidade nas
tensões aplicadas foram em geral menores que nos horizontes subsuperficiais,
à exceção do perfil P5. Nesse perfil, os valores de silte e argila no horizonte
superficial, da ordem de 630 g kg-1, são muito elevados em relação ao AC3
(140 g kg-1) (Quadro 1), formando estrutura laminar fortemente desenvolvida.
Mesmo assim, não foi verificado “selamento superficial”, confirmado pela
presença de raízes até os 35 cm de profundidade.
Os maiores teores de argila dos horizontes subsuperficiais poderiam
influenciar na maior retenção de água das camadas mais profundas em razão
do fenômeno de adsorção entre as partículas de argila e as moléculas de água,
à medida que são aplicadas tensões mais elevadas. A fração argila dos solos
estudados foi composta basicamente por caulinita e mica (Figura 12). De
acordo com Silva (2005), ilitas, montmorilonitas e vermiculitas são
consideradas argilominerais que apresentam boas propriedades de retenção
de água. A quantidade e a qualidade da fração argila influenciam na retenção
de umidade e no seu armazenamento no solo. Os valores de água disponível
foram baixos, principalmente no horizonte subsuperficial, não ultrapassando 17
g/100g nos solos estudados (Apêndice geral).
28
Quadro 2. Caracterização química dos solos nas topossequências estudadas
Prof. pH(1:2,5) Ca2+ Mg2+ Na+ K+ Al3+ H+Al S1/ t2/ T3/ CTCr4/ V5/ m6/ PST7/ P CO
Horiz. -3
cm H2O KCl -------------------------------------cmolc dm ------------------------------------- ----------------%---------------- mg dm-3 dag kg-1
---------------------------------------------TOPOSSEQUÊNCIA 1---------------------------------------------
P1 - Cambissolo Háplico Tb Distrófico típico
A 0-7 4,8 3,7 0,76 0,56 0,01 0,35 0,3 4,50 1,68 1,93 6,17 20,57 27,2 15,1 0,2 10,2 1,24
BA -18 4,9 3,8 0,33 0,58 0,02 0,38 0,2 3,00 1,31 1,45 4,29 12,62 30,5 13,2 0,5 7,1 0,80
Bi1 -39 4,9 3,7 0,24 0,48 0,02 0,35 0,4 2,50 1,09 1,42 3,57 9,65 30,5 26,8 0,6 6,0 0,73
Bi2 -70 4,7 3,6 0,14 0,20 0,03 0,28 0,5 5,20 0,65 1,17 5,82 16,17 11,2 71,4 0,5 7,4 0,88
Bi3 -110 4,6 3,7 0,23 0,15 0,05 0,23 0,6 5,10 0,66 1,26 5,71 15,43 11,5 47,6 0,9 10,0 0,73
Bi4 -210+ 4,8 3,8 0,64 0,89 0,09 0,13 0,0 2,30 2,05 1,60 3,86 10,43 53,1 0,0 2,3 5,6 0,29
P2 - Cambissolo Háplico Ta Eutrófico argissólico
A 0-18 6,6 5,7 2,83 0,81 0,01 0,30 0,0 1,20 3,95 3,98 5,14 57,11 76,8 0,0 0,2 29,4 0,88
BA -32 7,0 5,7 1,41 0,61 0,01 0,35 0,0 1,20 2,38 2,37 3,57 27,46 66,7 0,0 0,3 13,3 0,44
Bi1 -60 7,0 5,6 1,25 0,59 0,02 0,28 0,0 1,20 2,14 2,12 3,32 27,67 64,4 0,0 0,6 9,4 0,29
Bi2 -120+ 6,2 4,6 0,85 0,75 0,03 0,28 0,0 2,10 1,91 1,88 3,98 19,90 47,9 0,0 0,7 2,8 0,29
P3 - Cambissolo Háplico Ta Eutrófico típico (Murundu)
1ª C. 0-15 5,7 4,9 2,29 0,69 0,02 0,33 0,0 2,70 3,33 3,31 6,01 33,39 55,4 0,0 0,3 19,4 0,73
2ª C. -30 5,9 4,9 2,76 0,60 0,02 0,17 0,0 2,00 3,55 3,53 5,53 27,65 64,2 0,0 0,4 20,9 0,66
3ª C. -50 6,1 5,1 3,58 0,38 0,04 0,11 0,0 2,50 4,11 4,07 6,57 31,29 62,5 0,0 0,6 19,5 0,80
4ª C. -75 7,3 6,4 4,69 0,43 0,01 0,08 0,0 0,60 5,21 5,20 5,80 26,36 89,8 0,0 0,2 12,40 0,58
5ª C. -100 7,7 6,9 4,46 0,78 0,02 0,09 0,0 0,30 5,35 5,33 5,63 26,81 95,0 0,0 0,3 35,23 0,44
6ª C. -125 8,3 7,8 4,30 0,97 0,03 0,11 0,0 0,30 5,41 5,38 5,68 31,56 95,2 0,0 0,5 26,35 0,22
7ª C. 200+ 8,3 7,6 3,20 1,09 0,03 0,18 0,0 0,30 4,50 4,47 4,77 23,85 94,3 0,0 0,6 6,40 0,15
P4 - Neossolo Flúvico Tb Eutrófico típico
A 0-17 6,9 5,5 1,84 0,59 0,01 0,23 0,0 0,20 2,67 2,66 2,86 35,75 93,3 0,0 0,3 4,3 0,66
AC1 -40 6,9 5,0 1,41 0,48 0,02 0,40 0,0 0,30 2,31 2,28 2,58 25,80 89,5 0,0 0,8 1,3 0,29
AC2 -60 6,3 4,7 1,33 0,52 0,02 0,14 0,0 0,60 2,01 1,99 2,59 25,90 77,6 0,0 0,8 1,8 0,22
2C1 -78 6,2 4,8 1,86 0,76 0,03 0,07 0,0 0,70 2,72 2,69 3,39 22,60 80,2 0,0 0,9 1,8 0,22
2C2 -110 5,6 4,4 1,95 1,43 0,26 0,05 0,0 0,10 3,69 3,43 4,53 23,84 81,4 0,0 5,7 2,5 0,22
2C3 -140+ 6,1 4,5 1,55 1,97 0,04 0,05 0,0 1,40 3,61 3,57 4,97 22,59 72,6 0,0 0,8 3,1 0,15
P5 - Neossolo Flúvico Ta Eutrófico típico
A1 0-18 6,7 4,9 2,77 1,72 0,04 0,19 0,0 2,20 4,72 4,68 6,88 43,00 68,6 0,0 0,6 4,0 1,39
AC2 -60 6,7 4,4 0,56 0,29 0,02 0,05 0,0 0,80 0,92 0,90 1,70 170,00 54,1 0,0 1,2 3,0 0,22
AC3 -77 6,0 4,8 0,97 0,40 0,03 0,05 0,0 1,90 1,45 1,42 3,32 110,67 43,7 0,0 0,9 2,6 0,37
1/
Valor S = Soma de bases. 2/ t = Capacidade de troca catiônica efetiva. 3/ T = Capacidade de troca catiônica a pH 7,0. 4/ CTCr = Atividade da fração argila. 5/
Valor V = Saturação por bases. 6/ m = Saturação por alumínio trocável. 7 PST = Saturação por sódio trocável.
29
Quadro 2. Caracterização química dos solos nas topossequências estudadas (cont.)
Prof. pH(1:2,5) Ca2+ Mg2+ Na+ K+ Al3+ H+Al S1/ t2/ T3/ CTCr4/ V5/ m6/ PST7/ P CO
Horiz. -3
cm H2O KCl -------------------------------------cmolc dm ------------------------------------- ----------------%---------------- mg dm-3 dag kg-1
P5 - Neossolo Flúvico Ta Eutrófico típico
2C2 -96 6,1 4,6 2,62 1,36 0,03 0,09 0,0 2,50 4,10 4,07 6,57 46,93 62,4 0,0 0,5 2,6 0,88
2C3 -103 6,0 4,8 1,20 0,60 0,03 0,05 0,0 2,10 1,88 1,85 3,95 79,00 47,6 0,0 0,8 2,5 0,37
2C4 -118 6,0 4,6 3,28 1,64 0,05 0,07 0,0 4,00 5,04 4,99 8,99 37,46 56,1 0,0 0,6 1,8 1,24
2C5 -130 6,0 4,7 1,47 0,75 0,03 0,07 0,0 3,00 2,32 2,29 5,29 58,78 43,8 0,0 0,6 0,7 0,51
2C6 -143 5,9 4,6 3,90 2,14 0,07 0,10 0,0 4,80 6,21 6,14 10,94 39,07 56,7 0,0 0,6 2,3 1,31
2C7 -160 5,8 4,3 1,76 0,89 0,03 0,04 0,0 3,50 2,72 2,69 6,19 51,58 43,9 0,0 0,5 1,6 0,66
---------------------------------------------TOPOSSEQUÊNCIA 2---------------------------------------------
P6 - Cambissolo Háplico Tb Eutrófico típico
A 0-10 6,6 5,2 2,04 0,78 0,00 0,41 0,0 2,50 3,23 3,23 5,73 31,83 56,4 0,0 0,0 7,7 1,24
Bi1 -50 5,7 4,2 0,81 0,41 0,00 0,28 0,3 3,70 1,50 1,85 5,20 20,00 28,8 16,7 0,0 1,4 0,51
Bi2 -100 6,3 4,7 1,25 0,50 0,00 0,52 0,0 1,60 2,27 2,27 3,87 13,82 58,6 0,0 0,0 1,1 0,29
P7 - Cambissolo Háplico Tb Eutrófico típico(Murundu)
1ª C. 0-15 5,5 4,8 3,18 0,69 0,01 0,40 0,0 2,90 4,28 4,26 7,16 21,70 59,8 0,0 0,1 9,3 0,80
2ª C. -30 5,2 4,6 4,18 0,64 0,01 0,11 0,0 2,30 4,94 4,93 7,23 21,26 68,3 0,0 0,1 4,3 0,95
3ª C. -50 5,4 5,0 4,82 0,72 0,01 0,12 0,0 1,90 5,67 5,66 7,56 22,24 75,0 0,0 0,1 9,5 0,95
4ª C. -75 5,2 4,5 4,54 0,71 0,01 0,12 0,0 2,40 5,38 5,37 7,77 24,28 69,2 0,0 0,1 6,70 0,88
5ª C. -100 6,0 5,4 5,36 0,91 0,02 0,15 0,0 0,90 6,44 6,42 7,32 24,40 88,0 0,0 0,3 15,60 0,51
6ª C. -125 6,8 6,1 4,71 0,92 0,02 0,21 0,0 1,00 5,86 5,84 6,84 26,31 85,7 0,0 0,3 9,84 0,29
7ª C. 200+ 7,6 7,0 5,15 1,60 0,03 0,35 0,0 0,70 7,13 7,10 7,80 35,45 91,4 0,0 0,4 3,46 0,15
P8 - Neossolo Flúvico Tb Eutrófico gleissólico
A 0-10 6,3 5,3 2,50 1,12 0,00 0,47 0,0 2,60 4,09 4,09 6,69 41,81 61,1 0,0 0,0 28,9 1,31
AC -30 6,4 5,4 2,99 0,84 0,00 0,35 0,0 1,90 4,18 4,18 6,08 43,43 68,8 0,0 0,0 7,7 1,02
2C1 -50 6,6 5,6 0,10 0,51 0,00 0,20 0,0 0,90 0,74 0,81 1,64 14,91 49,4 0,0 0,0 5,9 0,29
2C2g -90 6,7 5,6 0,99 0,90 0,00 0,25 0,0 0,80 2,14 2,14 2,94 14,70 72,8 0,0 0,0 3,8 0,22
-----------------------------------PERFIL EXTRA-----------------------------------
P9 - Cambissolo Háplico Tb Distrófico típico 8/
A 0-15 6,0 4,8 2,24 1,11 0,01 0,53 0,0 3,20 3,89 3,88 7,08 27,23 54,9 0,0 0,1 2,0 1,31
2Bi1 -100 5,5 4,1 0,30 0,64 0,02 0,48 0,2 2,50 1,44 1,58 3,92 10,05 36,7 12,2 0,5 2,3 0,22
R 100+ 6,0 4,4 0,41 0,91 0,02 0,28 0,0 0,80 1,62 1,60 2,40 60,00 67,5 0,0 0,8 0,7 0,08
1/
Valor S = Soma de bases. 2/ t = Capacidade de troca catiônica efetiva. 3/ T = Capacidade de troca catiônica a pH 7,0. 4/ CTCr = Atividade da fração argila. 5/
Valor V = Saturação por bases. 6/ m = Saturação por alumínio trocável. 7/ PST = Saturação por sódio trocável. 8/ Perfil extra.
30
de cargas negativas na superfície dos colóides do solo. É importante destacar
maiores valores de pH nas camadas mais profundas dos Cambissolos Háplicos
com murundus (P3 e P7). Alguns autores observaram a mesma tendência (Lee
& Wood, 1971; Barnerjee & Dohan, 1976; Araújo Neto et al., 1986; Fageria &
Baligar, 2004; Jouquet et al., 2004) em murundus localizados na África,
Austrália e Brasil, sugerindo que a atividade das térmitas tenha conduzido ao
aumento do pH do solo. Essas diferenças são provavelmente devidas aos
teores de cálcio dos murundus, o que será discutido posteriormente (Quadro
2).
Apesar da similaridade morfológica dos solos, particularmente dos
Cambissolos Háplicos, verificaram-se diferenças quanto à soma e saturação
por bases. Todos os Cambissolos se mostraram eutróficos em razão dos
maiores teores de Ca2+ e Mg2+ no complexo de troca, enquanto os perfis P1 e
P9 se revelaram distróficos, mas não álicos. Os teores desses cátions nos
horizontes superficiais variaram de médios a bons para a maioria das plantas
cultivadas de acordo com as recomendações para o uso de corretivos e
fertilizantes em Minas Gerais (Alvarez V. et al., 1999), à exceção do perfil P1.
Em razão da coloração (mais amarelada), profundidade (> 200 cm) e
localização elevada na paisagem, o perfil P1 aparentemente é mais
intemperizado e lixiviado que os demais Cambissolos que se localizam em área
mais conservadora que exportadora de nutrientes.
Os Cambissolos Háplicos com murundus P3 e P7 apresentaram aumento
nos teores de Ca2+ e Mg2+ em profundidade. Sua maior fertilidade em relação
aos solos adjacentes P2 e P6, mesmo que ambos tenham sido eutróficos, é
atribuída ao acúmulo de material vegetal nos cupinzeiros, como também às
fezes e saliva utilizadas na cimentação das paredes dos edifícios e galerias
construídas pelas térmitas (López-Hernández, 2006; Roose-Amsaleg et al.,
2005; Arshad, 1981). Ainda Barnerjee & Dohan (1976) afirmam que durante a
formação dos termiteiros as térmitas poderiam promover algumas modificações
no complexo de troca, como à capacidade de complexação de cátions.
Os Neossolos Flúvicos P4, P5 e P8 caracterizaram-se como eutróficos.
Esses solos são sistemas importadores-conservadores de nutrientes (Oliveira,
1988), que constituem a fonte principal para o enriquecimento das áreas mais
depressionadas da paisagem (Fagéria et al., 1994; Chaves et al., 2004).
Todos os solos apresentaram baixos valores de CTC devido à
31
composição da fração argila rica em caulinita e ilita (Figura 12). Os maiores
valores da CTC corrigida (CTCr) para os perfis P2, P3 e P5 classificam esses
solos de alta atividade (Ta) (Quadro 2), não condizentes com a mineralogia da
fração argila, como também sem nenhuma evidência morfológica durante a
descrição dos perfis no campo. A correção dos valores de CTC a pH7,0 pelo
teor de argila não funciona bem para solos mais arenosos, caso dos
Cambissolos mais cascalhentos. De maneira geral, a CTCr está relacionada
com a mineralogia da fração argila sugerindo as designações Ta e Tb.
Possivelmente a fração silte também possa estar influenciando na
determinação da CTC superestimando seus resultados.
Os valores de CTC encontrados nos Cambisolos Háplicos fase murundu
foram bem maiores que aqueles dos Cambissolos adjacentes (P2 e P6),
estando de acordo com os resultados de Jones (1990) e Basppa & Rajagopal
(1991), que atribuem esse enriquecimento à mistura que as térmitas fazem
entre as diferentes camadas do perfil de solo desempenhando papel chave na
recliclagem de nutrientes em todo o murundu.
Os teores de carbono orgânico variaram de baixos a médios (Alvarez V.
et al., 1999) para os solos estudados. Em comparação com dados de perfis de
solos do levantamento realizado pela Equipe de Pedologia e Fertilidade de
Solos (EPFS) da Zona do Médio Jequitinhonha (Brasil, 1970), para as mesmas
classes de solos, os valores de CO são maiores que os encontrados neste
trabalho. Supõe-se que tenham ocorrido reduções nesses teores durante o
tempo, influência da retirada da vegetação, como também pela ação das
queimadas, sejam elas para a implantação dos cultivos de subsistência ou para
o uso com pastagens. Considerando a redução dos teores de carbono orgânico
um dos fatores da perda de qualidade do solo (Silveira, 2005; Conceição et al,
2005; Campos et al, 2007), pode-se afirmar que estas práticas de manejo têm
contribuído para a perda da qualidade e, consequetemente, para a baixa
sustentabilidade agrícola dos solos da região.
Nos Cambissolos Háplicos com murundus (P3 e P7), os teores de CO
foram maiores em relação aos Cambissolos aos quais estão associados (P2 e
P6) (Quadro 2). Estes teores se concentraram nas camadas centrais dos
murundus (2ª a 5ª camadas) e possivelmente houve mudanças na composição
química da MOS devido à paleoatividade das térmitas. Essa diferenciação
pode ser devida à grande subdivisão do aparelho intestinal dos térmitas em
32
cinco compartimentos, submetendo o alimento a diversos ambientes físicos e
químicos, ricos em mudanças de pH e variações de pressão de gases como O2
e H2. Além disso, os processos de hidrólise alcalina e degradação
microbiológica (fermentação, respiração anaeróbica e mineralização),
realizados por bactérias e fungos encontrados no seu aparelho intestinal
alteram a natureza da matéria orgânica (concentração da matéria orgânica e na
relação ácidos fúlvicos/ácidos húmicos) (Zech et al., 1999; Brauman, 2000).
(Breznak, 1982; Breznak & Brune, 1994).
Os teores de P foram baixos, principalmente nos Neossolos, à exceção
do horizonte superficial P8. Esses resultados explicam a pobreza na
composição química das rochas graníticas do Complexo Medina, confirmados
pelos dados do ataque sulfúrico e total (Quadros 4 e 5). É importante destacar
a tendência de maiores teores de P nas camadas dos Cambissolos com
murundus, sugerindo grande paleociclagem deste elemento no passado (os
murundus não parecem mais colonizados pelos cupins).
Os teores de Na+ e PST (porcentagem de saturação de sódio) não se
mostraram elevados em nenhum dos solos estudados. Verificado em campo e
confirmado pelos resultados analíticos, o perfil P4 apresentou dureza mais
acentuada a partir dos 70 cm de profundidade, com indício de estrutura colunar
fraca nos horizontes 2C1, 2C2 e 2C3. Mesmo assim, os valores de PST foram
baixos, não chegando a classificá-lo como solódico (Embrapa, 2006). Isso se
deve à pobreza do material de origem em plagioclásios (possivelmente albita) e
feldspatos sódicos.
De acordo com as recomendações para o uso de corretivos e
fertilizantes do estado de Minas Gerais (Alvarez V. et al., 1999), os teores de K+
variaram de médios a bons nos horizontes superficiais (Quadro 2). Estes
resultados indicam prováveis respostas às adubações fosfatadas potássicas e,
certamente, nitrogenadas nestes solos, mesmo considerando as reservas de
alguns destes elementos nas frações areia e silte.
Quanto à saturação por alumínio, o maior valor foi obtido no horizonte
Bi3 (49,62 %) para o perfil P1. O teor de Al3+ trocável foi menor que 4 cmolc dm-
3
, não satisfazendo os critérios requeridos para caráter alumínico do Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS).
33
4.2.2. Análise química das frações areia e silte
Os valores dos íons trocáveis nas frações areia e silte são apresentados
no Quadro 3. O somatório dos teores de Ca2+, Mg2+ e K+ revelou que cerca de
24,14 a 99,66 % da soma de bases da TFSA provém das frações > 0,002 mm.
Ou seja, a presença de minerais primários em diversos estágios de
decomposição é importante em solos menos intemperizados pela sua
capacidade de repor nutrientes à solução do solo. Fatores como tamanho e
resistência ao intemperismo interferem na capacidade do solo ser fonte de
nutrientes.
Em alguns horizontes dos perfis estudados, foram encontrados teores
de cátions trocáveis mais elevados do que aqueles obtidos na análise química
da TFSA (Quadro 2). Em alguns casos, um determinado volume de areia ou
silte contém mais minerais fontes desses elementos do que o mesmo volume
de TFSA. Ou ainda, o uso de um sal neutro para a determinação dos cátions
trocáveis poderia ter efeito na sua liberação dos minerais pela redução do pH
(Corti et al., 1997). O mesmo autor afirma que isso pode causar aumento de
cátions em solução e, portanto, causar superestimação dos cátions trocáveis,
ainda que, em alguns casos, uma porção média desses cátions não sejam
trocáveis.
Os maiores teores de Ca2+ foram encontrados na fração silte dos solos
com exceção do perfil P5. Esses valores se reduzem em profundidade,
acompanhando a mesma tendência observada na análise química da TFSA
destes solos (Quadro 2). Os Cambissolos Háplicos com fase murundu P3 e P7
apresentaram maiores teores de Ca2+ em relação aos Cambissolos adjacentes
P2 e P6 (Quadro 3). Mesmo com predomínio de feldspatos potássicos, a fração
silte dos solos apresenta anortita (plagioclásio cálcico), mineral primário
responsável pelos altos teores de cálcio trocável nesta fração. Ainda assim, o
cálcio total destes solos indica que sua reserva mineral se encontra na fração
areia, provavelmente influenciada pelo diâmetro e volume da fase mineral,
entre 2,0 – 0,05 mm, rica neste elemento, como será discutido posteriormente.
Os teores de magnésio foram maiores na fração areia principalmente no
perfil P5, nas camadas 5ª, 6ª e 7ª no P7 e P9. Na fração areia desses solos, as
pequenas quantidades de mica (muscovita), identificadas pela análise
mineralógica de raio x, permitem supor que os minerais presentes nesta fração
34
Quadro 3. Caracterização química das frações areia e silte dos solos da topossequência 1 (T1)
Areia Silte
Σ Σ Contrib.2/
Horiz. Ca2+ Mg2+ K+ P Ca2+ Mg2+ K+ P
Σ Σ A+S1/ TFSA
----cmolc dm-3---- mg dm-3 ----cmolc dm-3---- mg dm-3 %
P1 - Cambissolo Háplico Tb Distrófico típico
A 0,24 0,22 0,17 0,63 1,10 0,37 0,10 0,07 0,54 1,51 1,17 1,67 70,06
BA 0,14 0,18 0,19 0,51 0,15 0,42 0,13 0,10 0,65 1,25 1,16 1,29 90,13
Bi2 0,05 0,15 0,19 0,39 0,70 0,07 0,03 0,08 0,18 0,85 0,57 0,62 91,94
Bi4 0,33 0,30 0,27 0,90 1,22 0,22 0,23 0,09 0,54 0,89 1,44 1,66 86,75
P2 - Cambissolo Háplico Ta Eutrófico argissólico
A 0,26 0,06 0,15 0,48 1,61 1,76 0,10 0,08 1,93 3,01 2,41 3,94 61,13
BA 0,18 0,07 0,15 0,40 1,45 0,33 0,00 0,06 0,39 2,72 0,79 2,37 33,43
Bi2 0,05 0,07 0,11 0,23 0,55 0,17 0,01 0,04 0,23 1,23 0,45 1,88 24,14
P3 - Cambissolo Háplico Ta Eutrófico típico (Murundu)
1ª C. 0,15 0,06 0,13 0,35 1,23 0,77 0,04 0,06 0,87 1,89 1,21 3,31 36,67
2ª C. 0,32 0,07 0,12 0,51 2,19 0,81 0,01 0,05 0,88 2,30 1,39 3,53 39,25
3ª C. 0,44 0,02 0,10 0,56 1,88 1,05 0,01 0,05 1,12 6,48 1,67 4,07 41,08
4ª C. 0,89 0,05 0,14 1,07 1,26 2,04 0,07 0,07 2,18 9,47 3,24 5,2 62,40
5ª C. 0,95 0,24 0,12 1,32 1,00 1,54 0,08 0,07 1,69 11,70 3,01 5,33 56,44
6ª C. 1,71 0,29 0,18 2,17 1,51 2,01 0,35 0,09 2,44 11,41 4,62 5,38 85,81
7ª C. 0,88 0,29 0,16 1,33 1,81 1,17 0,28 0,09 1,54 2,91 2,86 4,47 64,09
P4 - Neossolo Flúvico Tb Eutrófico típico
A 0,27 0,13 0,12 0,52 1,30 1,49 0,29 0,15 1,92 2,14 2,44 2,66 91,66
AC1 0,18 0,08 0,12 0,39 0,36 0,89 0,19 0,11 1,20 0,56 1,58 2,29 69,08
AC2 0,10 0,03 0,06 0,20 0,22 0,79 0,18 0,04 1,00 0,47 1,20 1,99 60,43
2C1 0,13 0,04 0,06 0,23 0,85 0,94 0,23 0,04 1,20 1,03 1,43 2,69 53,15
2C2 0,11 0,09 0,06 0,26 1,05 0,73 0,30 0,03 1,06 1,15 1,32 3,43 38,49
2C3 0,08 0,16 0,05 0,29 1,10 0,49 0,35 0,03 0,87 1,27 1,16 3,57 32,54
P5 - Neossolo Flúvico Ta Eutrófico típico
A1 1,49 0,56 0,12 2,17 1,05 1,55 0,46 0,05 2,05 2,35 4,22 4,68 90,21
AC3 0,52 0,23 0,02 0,77 0,59 0,39 0,15 0,01 0,55 1,39 1,32 1,42 92,60
2C3 0,90 0,31 0,09 1,29 0,52 0,35 0,17 0,01 0,53 1,41 1,29 1,85 69,80
2C5 1,02 0,37 0,03 1,42 0,28 0,29 0,21 0,02 0,52 0,54 1,94 2,29 84,72
1/
Somatório das frações areia e silte. 2/ Contribuição das frações areia e silte para a TFSA.
35
Quadro 3. Caracterização química das frações areia e silte dos solos da topossequência 2 (T2) (cont.)
Areia Silte
Σ Σ Contrib.2/
Horiz. Ca2+ Mg2+ K+ P Ca2+ Mg2+ K+ P
Σ Σ A+S1/ TFSA
----cmolc dm-3---- mg dm -3 -3
----cmolc dm ---- mg dm -3
%
P6 - Cambissolo Háplico Tb Eutrófico típico
A 0,40 0,16 0,15 1,60 0,71 1,78 0,27 0,14 2,19 1,73 2,90 3,23 89,80
Bi2 0,33 0,12 0,16 0,11 0,61 0,57 0,10 0,11 0,78 0,15 1,39 2,27 61,06
P7 - Cambissolo Háplico Tb Eutrófico típico(Murundu)
1ª C. 0,66 0,21 0,19 0,32 1,05 1,11 0,09 0,11 1,31 2,53 2,37 4,27 55,41
2ª C. 1,20 0,37 0,16 1,15 1,73 1,55 0,10 0,08 1,73 1,47 3,46 4,93 70,11
3ª C. 1,06 0,21 0,14 1,39 1,41 1,46 0,08 0,08 1,62 1,73 3,03 5,66 53,57
4ª C. 0,85 0,17 0,23 1,16 1,26 1,26 0,08 0,08 1,42 2,80 2,68 5,37 49,85
5ª C. 2,21 0,59 0,24 1,84 3,03 1,97 0,20 0,10 2,26 11,41 5,30 6,42 82,51
6ª C. 2,34 0,58 0,32 3,24 3,54 2,21 0,25 0,12 2,58 11,67 5,82 5,84 99,66
7ª C. 2,69 0,58 0,41 3,68 4,69 2,25 0,59 0,12 2,96 6,02 6,64 7,10 93,52
P8 - Neossolo Flúvico Tb Eutrófico gleissólico
A 0,63 0,25 0,16 0,62 1,03 2,26 0,35 0,10 2,71 1,40 3,74 4,09 91,52
AC 0,42 0,12 0,08 0,31 0,62 1,46 0,14 0,07 1,68 1,41 2,30 4,18 54,93
2C1 0,04 0,10 0,09 0,23 0,50 0,05 0,04 0,05 0,14 1,62 0,37 0,81 45,68
2C2g 0,26 0,07 0,06 0,31 0,40 0,29 0,11 0,07 0,47 0,71 0,87 2,14 40,48
P9 - Cambissolo Háplico Tb Distrófico típico3/
A 0,52 0,22 0,19 0,85 0,93 1,32 0,16 0,09 1,57 1,02 2,50 3,88 64,41
2Bi1 0,41 0,24 0,21 1,12 0,86 0,25 0,07 0,07 0,40 1,07 1,26 1,42 88,59
R 0,24 0,28 0,24 0,76 1,16 0,10 0,10 0,05 0,25 0,36 1,01 1,60 63,13
1/
Somatório das frações areia e silte. 2/ Contribuição das frações areia e silte para a TFSA. 3/ Perfil extra.
36
não foram suficientes para promover grandes contribuições nos teores de
magnésio trocável no solo. No entanto, a digestão ácida total da fração silte
indica que a presença de muscovita foi responsável pelos valores mais
elevados de Mg2+ para a CTC destes solos.
Os teores de K+ em ambas as frações foram baixos (< 0,50 cmolc kg-1),
com maiores contribuições associadas à fração areia (Quadro 3). De maneira
geral, os teores de potássio trocável nos perfis de Cambissolos aumentaram
em profundidade. A maior proximidade com o material de origem rico em K e o
menor intemperismo sofrido nestes horizontes explicam seus elevados teores.
Em razão das maiores quantidades de areia grossa e fina e da presença de
feldspatos (microclínio e ortoclásio) e plagioclásio potássico (anortoclásio)
nesta fração, os teores de potássio nos Cambissolos Háplicos são mais
elevados que nos Neossolos Flúvicos. Já se chamava a atenção para a
mineralogia da fração areia e cascalho destes solos analisados por meio de
lupa binocular, devido à grande quantidade de feldspato e mica (biotita e
muscovita) presentes em todo o perfil (Brasil, 1970). Lepcsh et al. (1978) e
Sadusky et al. (1987) consideram que feldspatos potássicos na fração areia
dos solos são os minerais que possuem maior facilidade de serem atacados
pelo intemperismo.
Nos Cambissolos de cupinzeiros P3 e P7, foram observados os valores
de potássio mais elevados (18 cmolc kg-1 e 0,41 cmolc kg-1, respectivamente).
Durante a decomposição dos resíduos das térmitas nos murundus (atualmente
descolonizados), poderia ocorrer produção de ácidos orgânicos capazes de
facilitar o intemperismo dos feldspatos - K. Ao efeito desses ácidos na liberação
de potássio, bem como de outros minerais, é atribuída a formação de
complexos orgânico-metalícos por meio da dissociação dos íons H com
complexação dos ligantes orgânicos (Song & Huang, 1988).
Os teores de fósforo foram mais elevados na fração silte dos solos,
diminuindo com o aumento da profundidade. Destacaram-se os valores de P
encontrados nas camadas mais profundas dos perfis de Cambissolos de
murundus P3 e P7. Nestes solos, os teores de carbono orgânico (Corg) não
ultrapassam 1,0 dag kg-1, contudo, poderiam contribuir para a adsorção de P,
devido aos complexos organo-argilosos formados durante a passagem da
matéria orgânica do solo pelo aparelho digestivo das térmitas (Brauman, 2000).
Outro efeito da matéria orgânica nos murundus seria a adição de fósforo
37
orgânico (Po) ao teor de fósforo total (PT) originado pela atividade das térmitas
sobre a produção de fosfastases (Roose-Amsaleg et al., 2005). Estes autores
argumentam que o aumento da atividade enzimática seria devido ao maior teor
de C e à inibição do teor de P inorgânico nos montículos.
38
Quadro 4. Valores da digestão sulfúrica na TFSA e teores de Fe2O3 na fração argila, extraídos com ditionito-citrato-
bicarbonato de sódio (Fed) e oxalato de amônio (FeO).
SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 CaO MgO K2O P2O5 CaOs1/ MgOs1/ K2Os1/ P2O5s1/ Fe2O3d Fe2O3o Feo2/ Fed2/
Horiz. _____________________________ -1 _____________________________ Ki
dag kg CaOt MgOt K2Ot P2O5t dag kg-1 Fed Fes3/
P1 - Cambissolo Háplico Tb Distrófico típico
A 17,07 10,59 0,87 0,09 0,03 0,05 0,12 0,00 0,25 0,31 0,02 0,00 2,74 0,98 0,10 0,10 0,33
Bi2 18,41 14,32 1,67 0,06 0,03 0,18 0,17 0,01 0,20 1,06 0,03 0,09 2,18 1,03 0,10 0,09 0,22
Bi4 15,35 9,86 0,82 0,08 0,02 0,04 0,11 0,00 - - - - 2,64 0,91 0,27 0,29 0,04
P2 - Cambissolo Háplico Ta Eutrófico argissólico
A 6,77 3,74 0,37 0,06 0,06 0,05 0,11 0,00 0,22 0,33 0,02 0,00 3,07 0,48 0,45 0,93 0,11
Bi1 7,70 4,48 0,56 0,08 0,03 0,06 0,13 0,00 - - - - 2,92 0,48 0,17 0,35 0,10
Bi2 9,24 5,95 1,21 0,06 0,05 0,17 0,16 0,01 0,33 0,30 0,02 0,03 2,64 0,36 0,18 0,50 0,06
P3 - Cambissolo Háplico Ta Eutrófico típico (Murundu)
1ª C. 8,03 4,53 0,69 0,09 0,04 0,06 0,12 0,00 0,20 0,30 0,02 0,00 3,01 0,51 0,30 0,51 0,13
4ª C. 11,06 5,61 1,13 0,08 0,18 0,15 0,13 0,01 0,67 0,68 0,02 0,03 3,35 0,60 0,37 0,63 0,11
6ª C. 10,30 5,01 0,77 0,09 0,13 0,08 0,12 0,00 - - - - 3,49 0,33 0,07 0,21 0,08
P4 - Neossolo Flúvico Tb Eutrófico típico
A 6,32 2,85 1,82 0,27 0,06 0,19 0,17 0,00 0,27 0,31 0,07 0,00 3,76 5,85 2,66 0,45 0,26
2C1 7,05 3,01 1,78 0,27 0,04 0,17 0,17 0,00 - - - - 3,98 4,38 1,64 0,37 0,37
2C3 12,61 6,39 2,71 0,29 0,04 0,30 0,23 0,00 - - - - 3,35 5,05 1,50 0,29 0,41
P5 - Neossolo Flúvico Ta Eutrófico típico
A1 10,47 5,78 3,03 0,27 0,04 0,33 0,45 0,00 0,09 0,25 0,20 0,00 3,07 5,36 3,01 0,56 0,28
AC3 4,20 2,09 1,80 0,25 0,04 0,21 0,17 0,00 - - - - 3,41 6,04 3,93 0,65 0,10
2C3 2,11 4,59 1,70 0,23 0,04 0,21 0,16 0,00 0,10 0,30 0,09 0,00 3,69 5,08 1,67 0,33 0,15
P6 - Cambissolo Háplico Tb Eutrófico típico
A 7,84 3,47 0,63 0,06 0,05 0,05 0,13 0,00 0,19 0,33 0,02 0,00 3,84 0,85 0,42 0,50 0,24
Bi2 14,61 9,10 1,44 0,05 0,06 0,17 0,18 0,09 0,37 0,81 0,03 0,17 2,72 0,77 0,25 0,32 0,15
P7 - Cambissolo Háplico Tb Eutrófico típico(Murundu)
1ª C. 14,35 10,26 0,93 0,08 0,07 0,08 0,11 0,00 0,32 0,25 0,02 0,00 2,37 0,77 0,38 0,50 0,27
4ª C. 15,82 9,05 1,50 0,05 0,14 0,09 0,17 0,01 0,64 0,40 0,03 0,10 2,97 0,71 0,22 0,31 0,15
6ª C. 14,64 10,11 0,94 0,08 0,08 0,08 0,13 0,00 - - - - 2,46 0,70 0,10 0,14 0,20
P8 - Neossolo Flúvico Tb Eutrófico gleissólico
A 8,90 4,63 0,63 0,06 0,05 0,04 0,08 0,00 0,20 0,33 0,02 0,00 3,26 0,67 0,37 0,55 0,17
2C1 6,43 3,24 0,28 0,06 0,03 0,03 0,07 0,00 0,18 0,20 0,01 0,00 3,37 0,10 0,07 0,77 0,04
P9 - Cambissolo Háplico Tb Distrófico típico4/
A 11,05 7,97 2,24 0,31 0,03 0,04 0,12 0,05 0,21 0,12 0,02 0,14 2,35 1,44 0,27 0,18 0,17
2Bi1 13,46 9,50 2,25 0,32 0,02 0,15 0,17 0,04 0,15 0,42 0,03 0,13 2,40 1,25 0,19 0,15 0,18
R 5,32 3,70 1,14 0,20 0,02 0,29 0,32 0,03 - - - - 2,44 2,01 0,51 0,25 0,10
1/
Determinado na TFSA. 2/ Determinado na fração argila. 3/ Determinado na TFSA e corrigido para a fração argila. 4/ Perfil extra.
39
amorfo que os teores de matéria orgânica, já que estes são muito baixos.
A relação Fed, obtida na fração argila e corrigida para TFSA, e Fes
determinada no ataque sulfúrico (Fed/Fes), revelou-se baixa, provavelmente em
consequência dos menores teores deste elemento no material de origem, pois
o Fes é considerado medida dos teores totais de ferro no solo (Quadro 4).
O somatório dos teores de óxidos obtidos pelo ataque sulfúrico para a
uma parte dos perfis (P2, P4 e P5) se apresentou maior que o conteúdo de
argila (Quadro 1). É possível que, nestes casos, além da fração argila, tenham
sido atacadas as frações silte e areia. Dessa forma, essa medida não é um
bom indicativo para solos menos intemperizados, principalmente para
Neossolos.
Dentre os cátions, Ca, Mg, K e P expressos na forma de óxidos, as
maiores contribuições foram dos valores de K2O, principalmente no horizonte A
dos perfis P4 e P5. Ainda assim, os valores foram baixos (< 0,45 dag kg-1),
embora a composição mineral seja formada basicamente por feldspatos
potássicos e, em menores proporções, por mica. Em geral, os valores de K2O
para os Cambissolos foram muito semelhantes. Analisando-se o saprolito do
perfil P9, encontraram-se maiores valores de K2O, guardando uma relação
mais estreita com a rocha matriz. Utilizando a estimativa do conteúdo de ilita a
partir do resultado obtido para potássio do ataque sulfúrico (Jackson, 1974) por
meio da equação, ilita = 10 * K2O, demonstra-se que esse mineral está
presente na fração argila destes solos.
Os resultados de fósforo foram baixos para todos os solos estudados
(Quadro 4), estando condizentes com aqueles obtidos por Brasil (1970) para as
mesmas classes de solos, mostrando a pobreza desses solos em fósforo. Para
assegurar a produção agrícola e obter incrementos significativos de
produtividade, é necessária a fertilização do solo com fontes de P, já que
apresenta cerca de 784 kg ha-1 de P total como valor máximo encontrado
nesses solos. Além disso, a presença de minerais fontes de cálcio, magnésio e
potássio não são suficientes para a obtenção de produtividades elevadas nos
cultivos familiares. Logo, a associação com o uso de fertilizantes químicos
poderia promover maiores ganhos na produtividade e consequentemente
melhores safras e lucros aos agricultores. É importante também ressaltar que a
baixa precipitação pluviométrica apresenta papel preponderante nesse
aspecto.
40
O Quadro 4 mostra as relações dos óxidos obtidos no ataque sulfúrico
(CaOs, MgOs, K2Os, P2O5s) e no ataque total (CaOt, MgOt, K2Ot, P2O5t). As
relações CaOs/CaOt e MgOs/MgOt foram mais elevadas devido aos baixos
teores desses elementos determinados pelo ataque sulfúrico em relação ao
ataque total. Mesmo que o ataque sulfúrico seja considerado estimativa dos
teores totais, ele não se mostrou efetivo na solubilização destes elementos no
solo. Uma baixa relação K2Os/K2Ot foi encontrada em todos os solos
estudados, principalmente pelos teores mais elevados no ataque total. Este
fato pode ser observado com maior ênfase nos Cambissolos, com valores
próximos de zero. Mesmo que seja constatado que no ataque sulfúrico, além
da argila outras frações também sejam atacadas, os valores obtidos não
ultrapassaram aqueles resultantes da mistura dos ácidos no ataque total. As
baixas relações de P2O5s/P2O5t demonstram sua quase ausência no material de
origem destes solos.
41
Quadro 5. Resultados da digestão ácida total na TFSA, areia e silte dos horizontes superficiais e subsuperficiais dos solos
das duas topossequências estudadas.
42
provenientes de materiais de origem (coluviais) em comum (Quadro 5). Esta
uniformidade pode ser confirmada pela textura e teores similares de Ti (Quadro
4), à exceção do perfil P9 que se localiza fora das topossequências estudadas.
A fração silte foi aquela que maior contribuiu como fonte fornecedora de
K para o solo. Os feldspatos (microclínio, anortoclásio e ortoclásio) estão
presentes nas frações areia e silte de todos os perfis estudados (item 4.3.1 e
4.3.2.). É bastante expressiva a diferença entre os teores totais de K2O nos
Cambissolos em relação aos Neossolos Flúvicos (Quadro 5). Essa observação
também é válida para os Cambissolos com fase murundu P3 e P7,
principalmente na primeira camada da fração silte, explicando em parte seu
uso para a agricultura. O potássio possui grande importância para a cultura do
milho, uma das culturas exploradas na região, pois, depois do nitrogênio, é o
elemento mais exigido nutricionalmente, seguido pelo cálcio, magnésio e
fósforo (Coelho, 2006).
A mineralogia da argila dos Cambissolos e Neossolos é essencialmente
composta por caulinítica e mica (Figura 12). Lepsch et al. (1978) afirmam que
solos que apresentam caulinita na mineralogia da fração argila podem
encontrar, além de mica nas frações silte e argila, feldspato potássico nas
frações areia e silte. Quando esse fenômeno ocorre, a fração silte também
apresenta os mais altos teores de K-total em relação às outras frações do solo.
O ataque total das frações estudadas revela a pobreza das rochas pré-
cambrianas como o granito, em fósforo (Quadro 5), fato mais bem observado
nas frações areia e silte. Nos Cambissolos com murundus P3 e P7, os teores
de P2O5 foram mais elevados. Neste caso, não se pode afirmar se realmente
as térmitas estariam influenciando nos teores de fósforo no solo, pois os perfis
P2 e P6 apresentaram teores muito próximos àqueles encontrados nos perfis
com murundus.
Zn e Cu mostram-se com maiores teores nos solos estudados, enquanto
o Ni e, principalmente, o Co não se mostraram tão elevados, à exceção dos
perfis de Neossolos P4 e P5. No passado, a pecuária de gado extensiva foi a
principal atividade econômica dessa região. Durante a década de 70, a
atividade foi afetada pela grande mortalidade nos rebanhos bovinos,
provavelmente por deficiência nutricional do gado. Pelos resultados
encontrados neste trabalho para estas duas classes de solos, pode-se afirmar
que possivelmente a mortalidade do gado possua maior ligação com os baixos
43
teores de fósforo no solo, influenciando nutricionalmente nas gramíneas
oferecidas no pasto, do que em relação aos micronutrientes Co, Cu, Zn e Ni.
De acordo com Santos et al. (2002), somente depois da deficiência de P é que
a deficiência de cobre é considerada como principal fator limitante para animais
em pastejo extensivo.
44
Qz - 0.334 nm
An - 0.322 nm
Fd - 0.329 nm
M i - 0.319 nm
Ab - 0.377 nm
Qz - 0.426 nm
At - 0.321 nm
M i - 0.316 nm
M i - 0.995 nm
Ab - 0.337 nm
At - 0.384 nm
An - 0.649 nm
Ab - 0.642 nm
An - 0.392 nm
Fd - 0.349 nm
P1 P1
P2 P2
P3 P3
P6 P6
P7 º2θ P7
P9 P9
10 20 30 25 30 35
º2θ º2θ
Figura 4. Difratogramas de raios-X de amostra não-orientada da fração areia do horizonte A dos Cambissolos P1, P2, P6, P3,
P7 e P9. (Ab - albita; An - anortoclásio; At – anortita; Fd - feldspato; Mi - mica; Qz - quartzo).
45
Qz - 0.334 nm
Qz - 0.426 nm
Fd - 0.324 nm
M i - 0.319 nm
Fd - 0.331 nm
Ab - 0.301 nm
Ab - 0.350 nm
Fd - 0.377 nm
Ct - 0.411 nm
Ab - 0.403 nm
Ct - 0.342 nm
M i - 0.995 nm
At - 0.649 nm
M i - 0.503 nm
Ct - 0.717 nm
P4
P4
P5 P5
P8 P8
10 20 30 25 30 35
º2θ º2θ
Figura 5. Difratogramas de raios-X de amostra não-orientada da fração areia do horizonte A dos Neossolos P4, P5 e P8. (Ab -
albita; At - anortita; Ct - caulinita; Fd - feldspato; Mi - mica; Qz - quartzo).
46
Qz - 0.334 nm
Fd - 0.329 nm
Fd - 0.422 nm
Fd - 0.331 nm
Qz - 0.426 nm
Fd - 0.324 nm
Ab - 0.347 nm
M i - 0.995 nm
Fd - 0.394 nm
Ab - 0.319 nm
Ab - 0.375 nm
Ct - 0.717 nm
Ab - 0.637 nm
Ct - 0.342 nm
At - 0.665 nm P1
P1
P2 P2
P3 P3
P6 P6
P7 P7
P9 P9
10 20 30 25 30 35
º2θ º2θ
Figura 6. Difratogramas de raios-X de amostra não-orientada da fração areia do horizonte B dos Cambissolos P1, P2, P6, P3,
P7 e P9. (Ab - albita; At - anortita; Ct - caulinita; Fd - feldspato; Mi - mica; Qz - quartzo).
47
Qz - 0.334 nm
Qz - 0.426 nm
Fd - 0.331 nm
Fd - 0.349 nm
M i - 0.995 nm
Ab - 0.643 nm
Ab - 0.378 nm
Fd - 0.383 nm
Ab - 0.388 nm
Fd - 0.324 nm
M i - 0.497 nm
An - 0.344 nm
Fd - 0.374 nm
Ab - 0.319 nm
Ct - 0.384 nm
Fd - 0.299 nm
At - 0.313 nm
P4 P4
P5 P5
P8 P8
10 20 30
25 30 35
Figura 7. Difratogramas de raios-X de amostra não-orientada da fração areia do horizonte subsuperficial dos Neossolos P4,
P5 e P8. (Ab - albita; An - anortoclásio; At - anortita; Ct - caulinita; Fd - feldspato; Mi - mica; Qz - quartzo).
48
assim, não foram suficientes para proporcionar elevados valores de Na+ nos
horizontes.
49
Qz - 0.334 nm
At - 0.324 nm
An - 0.347 nm
Fd - 0.329 nm
Qz - 0.426 nm
Fd - 0.331 nm
Fd - 0.422 nm
Fd - 0.394 nm
Fd - 0.377 nm
Fd - 0.382 nm
Ab - 0.366 nm
Ct - 0.357 nm
An - 0.369 nm
An - 0.318 nm
At - 0.341 nm
M i - 0.995 nm
Ct - 0.717 nm
P1
P1
P2
P2
P3 P3
P6 P6
P7 P7
P9 P9
10 20 30 25 30 35
º2θ º2θ
Figura 8. Difratogramas de raios-X de amostra não-orientada da fração silte do horizonte A dos Cambissolos P1, P2, P6, P3,
P7 e P9. (Ab - albita; An - anortoclásio; At – anortita; Ct - caulinita; Fd - feldspato; Mi - mica; Qz - quartzo).
50
M i - 0.995 nm
Fd - 0.331 nm
Ct - 0.715 nm
Qz - 0.334 nm
M i - 0.499 nm
Ct - 0.358 nm
Qz - 0.426 nm
Ab - 0.363 nm
Ab - 0.350 nm
Ab - 0.348 nm
An - 0.347 nm
An - 0.320 nm
Fd - 0.329 nm
M i - 0.395 nm
Fd - 0.422 nm
At - 0.324 nm
Ct - 0.411 nm
Fd - 0.396 nm
P4
P4
P5
P5
P8
P8
10 20 30 25 30 35
º2θ º2θ
Figura 9. Difratogramas de raios-X de amostra não-orientada da fração silte do horizonte A dos Neossolos Flúvicos P4 e P8
(2C1) e P5 (2C5). (Ab - albita; An - anortita; At - Anortoclásio; Ct - caulinita; Fd - feldspato; Mi - mica; Qz - quartzo).
51
10
M i - 1.010 nm
M i - 0.995 nm
Ct - 0.717 nm
20
º2θ
M i - 0.497 nm
M i - 0.447 nm
30
P3
P2
P9
P7
P6
P1
52
Qz - 0.426 nm
Fd - 0.422 nm
Qz - 0.421 nm
25
Ab - 0.402 nm
Fd - 0.394 nm
Fd - 0.380 nm
An - 0.378 nm
Fd - 0.370 nm
Ab - 0.369 nm
An - 0.362 nm
Ct - 0.357 nm
30
An - 0.347 nm
º2θ
Fd - 0.337 nm
An - 0.347 nm
Qz - 0.334 nm
M i - 0.332 nm
Fd - 0.325 nm
Fd - 0.329 nm
M i - 0.319 nm
At - 0.324 nm
P7 e P9. (Ab - albita; An - anortita; At - Anortoclásio; Ct - caulinita; Fd - feldspato; Mi - mica; Qz - quartzo).
M i - 0.307 nm
35
P3
P2
P9
P7
P6
P1
Figura 10. Difratogramas de raios-X de amostra não-orientada da fração silte do horizonte B dos Cambissolos P1, P2, P6, P3,
M i - 1.010 nm
10
M i - 0.995 nm
quartzo ).
Ct - 0.717 nm
Fd - 0.396 nm
20
º2θ
Fd - 0.377 nm
30
P8
P5
P4
53
Mi - 0.430 nm
Qz - 0.426 nm
Fd - 0.422 nm
25
Fd - 0.396 nm
Ct - 0.384 nm
Fd - 0.381 nm
Ab - 0.378 nm
Fd - 0.374 nm
Ct - 0.357 nm
Ab - 0.350 nm
Ab - 0.347 nm
30
º2θ
Ct - 0.342 nm
Qz - 0.334 nm
Fd - 0.331 nm
Fd - 0.329 nm
At - 0.324 nm
Ab - 0.319 nm
Ab - 0.317 nm
35
P8
P5
P4
Figura 11. Difratogramas de raios-X de amostra não-orientada da fração silte do horizonte subsuperficial dos. Neossolos
Flúvicos P4 e P8 (2C1) e P5 (2C5). (Ab - albita; At - Anortoclásio; Ct - caulinita; Fd - feldspato; Mi - mica; Qz -
4.3.3. Fração argila
54
Ct - 0.717 nm
Ct - 0.717 nm
a b
Ct - 0.357 nm
Ct - 0.357 nm
M i - 0.332 nm
M i - 1.010 nm
Ct - 0.446 nm
M i - 0.503 nm
M i - 0.995 nm
M i - 1.010 nm
M i - 0.332 nm
M i - 0.499 nm
Ct - 0.446 nm
P1
P2
P4
P3
P6 P5
P7
P9 P8
10 20 30 10 20 30
º2θ º2θ
Figura 12. Difratogramas de raios-X de amostra orientada da fração argila do horizonte subsuperficial dos Cambissolos (a) e
Neossolos Flúvicos (b). (Ct - caulinita; Mi - mica)
55
5. CONCLUSÕES
56
indicando que a atividade biológica pretérita dos cupins foi importante para a
ciclagem de nutrientes (paleocupins).
57
6. REFERÊNCIAS
58
BANERJEE, S. P. & MOHAN, S. C. Some characteristic of termitaria soils in
relaion to their surroundings in New Forest Estate, Dehra Dun. The Indian
Forester, v.102, p.257-263, 1976.
BRAKENSIEK, D.L. & RAWLS, W.J. Soil containing rock fragments: effects on
inflitration. Catena, v.23, p.99-110, 1994.
BRAUMAN, A. Effect of gut transit and mound deposit on soil organic matter
transformations in the soil feeding termite: A review. Eur. J. Soil Biol., v.36,
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59
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60
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372, 1989.
65
CAPÍTULO 2
1. INTRODUÇÃO
66
conhecimento científico. Porém, poucos são os relatos e estudos sobre o uso
de solos para fins não agrícolas.
O Vale do Jequitinhonha é conhecido nacional e internacionalmente pela
beleza de seu artesanato em cerâmica. Suas peças retratam o modo de vida
da sua população, sendo normalmente desenvolvida por pessoas de renda
mais baixa. A arte de cerâmica se iniciou pela confecção de simples objetos
artesanais pelas mulheres, como vasos, moringas, vasilhas e panelas
utilizadas no cotidiano, sendo, com o tempo, incorporada na complementação
do orçamento doméstico, principalmente nos períodos de seca ou entressafra
agrícola.
Na comunidade de Pasmado, no município de Itaobim, Médio
Jequitinhonha, vivem cerca de 40 famílias que praticam como principais
atividades econômicas a agricultura familiar e a pecuária de gado extensiva. Os
solos hidromórficos, popularmente conhecidos como “barreiros”, são utilizados
para a fabricação de artefatos cerâmicos. Esses solos, normalmente, ocupam
pequenas áreas às margens do rio Jequitinhonha, sendo considerados pela lei
federal Nº 4.771 de 1995 que instituiu o Código Florestal Brasileiro e das
Resoluções números 4/1985 e 303/2002 do Conama como áreas de
preservação permanente.
A mineração é uma das mais importantes modalidades de exploração
dos recursos naturais, tanto do ponto de vista econômico como quanto aos
aspectos negativos que normalmente são observados no meio físico. A
extração do “barro” para a fabricação das peças cerâmicas é de grande
importância social e econômica para a comunidade de Pasmado, porém
provoca degradação ambiental com desconfiguração da paisagem local, ainda
que nestas áreas o uso agrícola seja limitado, principalmente em razão de
problemas com sais solúveis e drenagem deficiente.
A motivação deste estudo está focalizada na observação de que o
“barro” extraído é recurso com exploração finita, pois os “barreiros” são de
pequena extensão. Assim, a caracterização inicial desses solos deve ser o
primeiro desafio a ser enfrentado, e a identificação de sua natureza física,
química e mineralógica pode contribuir para seu entendimento e auxiliar no uso
alternativo de outras camadas de “barreiros”, ainda não utilizadas na cerâmica.
Tendo em vista a finita disponibilidade de matéria-prima para o uso
cerâmico e o pouco conhecimento das características desses solos, o objetivo
67
desse trabalho foi avaliar física, química e mineralogicamente Planossolos e
Gleissolos destinados à produção de artefatos de cerâmica artesanal na
comunidade de Pasmado – MG e caracterizar as etapas pertinentes ao
processo de confecção artesanal, enfatizando o papel da mulher em todo o
processo de produtivo.
68
2. REVISÃO DE LITERATURA
69
pedologia tem maior abrangência, pois explica, por meio dos processos e
efeitos, o entendimento do solo na natureza, sua classificação, distribuição
espacial, uso e ocupação na perspectiva de transferência dos conhecimentos
adquiridos durante os anos de pesquisa (Ker & Novais, 2003).
Os critérios gerados por meio de experiências e observações dos
agricultores são ferramentas importantes para identificar áreas homogêneas
dentro de uma propriedade. Esse conhecimento pode ser utilizado como
informação valiosa na estratificação do ambiente (Resende et al., 1997). A
pesquisa científica poderia utilizar esse conhecimento para solucionar os
problemas cotidianos de pequenas propriedades. A associação do
conhecimento científico com o popular, reunindo critérios considerados
importantes na classificação local do solo, poderia servir para caracterizar
níveis categóricos mais baixos, como as séries, nos sistemas de classificação
de solos (SiBCS) (Tabor, 1992; Talawar & Rhoades, 1998; Correia et al., 2007).
Um entrave é a restrição da informação gerada, ou seja, é válida dentro dos
limites das propriedades ou nas suas proximidades, não podendo ser
extrapolada para áreas mais amplas (Queiroz & Norton, 1992).
O uso de solos pelas populações para diferentes finalidades foi descrito
por vários autores (Ollier et al., 1971; Browman & Gundersen, 1993; Alves,
2005; Schaefer et al., 1997; Correia et al., 2004). Grande número de trabalhos
foram documentados com ênfase na utilização agrícola do solo (Barrios &
Trejo, 2003; Osbahr & Allan, 2003). No entanto, poucos abordam o uso não-
agrícola dos solos, como, por exemplo para a confecção de cerâmica artesanal
(Arnold, 1971; Alves, 2004).
O artesanato de cerâmica está presente no cotidiano do homem desde
os povos mais primitivos. Advém das necessidades do indivíduo de alimentar-
se, proteger-se e expressar-se (Freitas, 2006). A palavra cerâmica deriva do
grego kéramos, traduzido como “materiais queimados”, mas o uso popular da
palavra está relacionada a materiais produzidos com argila (Renfrew & Bahn,
1993). A cerâmica popular brasileira preserva o caráter tradicional da produção
da “louça”, ou seja, objetos de barro cozidos em fornos rudimentares, cuja
retratação das peculiaridades locais e regionais é característica marcante na
manifestação da arte ceramista (Funarte, 1980).
A tradição da arte oleira encontra-se firmada no estilo de vida das
populações do Médio Jequitinhonha, influência deixada por tribos indígenas,
70
como Botocudos e Trococós, que habitavam todo o Nordeste de Minas Gerais,
Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo (Moraes, 2004). A produção de peças
de cerâmica na região se iniciou com a confecção de simples objetos
artesanais pelas mulheres, como vasos, moringas, vasilhas e panelas
utilizadas no cotidiano, atribuindo o adjetivo de “paneleiras” a essas artesãs
(Matos, 2001). Esta atividade se dá pela necessidade de melhoria da renda
familiar, principalmente nos períodos de seca prolongada, em que a produção
agrícola familiar se torna insuficiente para suprir a demanda financeira da
família. O trabalho com cerâmica é quase que exclusivamente feminino, com
raras exceções entre os homens. Assim, a mulher, antes considerada com
papel secundário de ajudante da família, encontra na produção artesanal uma
forma de contribuição ativa para as despesas domésticas (Buhler, 2000).
Os solos utilizados como matéria-prima para a fabricação do artesanato
de cerâmica em Pasmado (Médio Jequitinhonha) são popularmente conhecidos
como “barreiros”, em referência ao local de onde se acumula e se extrai “barro”
(Bueno, 1985). Em geral, apresentam coloração acinzentada, localizando-se
em terraços mais antigos do rio Jequitinhonha, em áreas de topografia plana ou
deprimida, e referem-se normalmente aos horizontes B e C de Planossolos e
Gleissolos, respectivamente (Brasil, 1970; Brasil, 1987).
O uso destes horizontes para a produção artesanal é determinada pelas
suas características de plasticidade, que permitem o manuseio, modelagem e
resistência da pasta cerâmica para a confecção das peças artesanais. Para a
determinação da plasticidade, utillizam-se os limites de Atterberg, que separam
distintos estados de consistência (estado sólido, semi-sólido, plástico ou semi-
plástico) dependendo do conteúdo de água presente no solo. São eles: limite
de liquidez (LL), limite de plasticidade (LP) e índice de plasticidade (IP), e são
utilizados para avaliar a estabilidade química e a consistência de solos
argilosos (Jefferson & Rogers, 1998). Além disso, utiliza-se o índice de
atividade coloidal (IA) para determinar a natureza dos minerais de argila
presentes no solo, indicativo de sua atividade.
Em razão da pequena expressão geográfica destes solos na área (são
inclusões nas áreas de Neossolos Flúvicos) e da pouca utilização agrícola, são
pouco estudados, não se encontrando nenhum perfil representativo nos
levantamentos de solos da área, teses e/ou viagens de correlação. Assim, sua
caracterização torna-se essencial, sobretudo para conhecer com mais detalhes
71
as características físicas, químicas e mineralógicas do material empregado na
cerâmica do distrito de Pasmado, Itaobim, MG, sendo este um dos objetivos
deste capítulo.
72
3. MATERIAL E MÉTODOS
73
artesanal. Foram selecionados dois locais (propriedades particulares) para
coleta do solo, identificados como “barreiros 1 e 2”. No “barreiro 1”, localizado a
4 km da comunidade de Pasmado, sentido Itaobim, foram coletados dois perfis
de Planossolos (P1 e P2). No “barreiro 2”, localizado a 2,8 km da mesma
comunidade, sentido de Itinga, foi coletado um perfil de Gleissolo (P3).
Os solos foram descritos e coletados em pequenas trincheiras (Santos
et al., 2005) e classificados como Planossolo Háplico Eutrófico típico (P1 e P2),
e Gleissolo Háplico Tb Eutrófico solódico (P3), conforme Embrapa (2006).
IP = LL – LP (eq. 1)
74
Quadro 1. Classificação da consistência dos ‘barreiros’ em função do índice de
plasticidade (IP)
IA = IP (eq. 2)
-1
(dag kg < 0,002 mm)
75
3.4.2. Fe extraído por ditionito-citrato-bicarbonato (Fed) e oxalato
ácido de amônio (Feo)
3.6. Entrevistas
76
Foram entrevistados 12 ceramistas, em sua maioria mulheres,
acompanhando um roteiro de perguntas (Apêndice geral) como elaborado por
Cardoso (1993), de forma a direcionar o mesmo tipo de questões a todos os
entrevistados.
Pela entrevista e contato inicial com os artesãos, foi elaborado
fluxograma de fabricação da cerâmica artesanal com todas as etapas
pertinentes ao processo, desde sua obtenção à comercialização.
77
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
78
Quadro 2. Caracterização morfológica dos solos utilizados na cerâmica artesanal
79
pluviométricas. Suas cores acinzentadas devem-se às condições redutoras
decorrentes do excesso de água, com estrutura em blocos subangulares
fortemente desenvolvida, e, no caso do P2, ainda se encontra formação de
estrutura em colunas. Nesse perfil, o horizonte Btg foi subdividido em Btg1 e
Btg2, totalizando espessura de 30 cm. No topo do Btg1, foi nítido o maior
endurecimento provocado pela translocação de argila do horizonte E e maiores
teores de Na+.
No perfil P2, encontrou-se horizonte E álbico aos 17 cm de
profundidade, com 3 cm de espessura, cor do solo úmida de 10YR 4,5/2
(bruno-acinzentado-escuro) e seca de 10YR 6/2 (cinzento-brunado-claro). A
presença de horizonte E eluvial parece estar relacionada ao processo de
ferrólise (Ranst & Coninck, 2002), que provoca aparecimento de cores mais
esbranquiçadas, expressas principalmente em razão da cor de partículas de
areia e silte (Embrapa, 2006). Sua estrutura foi classificada como do tipo
moderada e média com blocos subangulares, transicionando abruptamente
para o horizonte Btg iluvial.
O horizonte C do perfil P3 foi subdividido em C1g, C2g e C3g, com
espessura de 56 cm e textura argilo-siltosa. O regime de hidromorfismo,
mesmo que por curto período de tempo, foi revelado pelos mosqueados ocre
de radicela encontrados no horizonte C1g.
80
Quadro 3. Características físicas e índice de atividade coloidal para os solos
utilizados para cerâmica artesanal em Pasmado, Itaobim – MG
Granulométria da TFSA1/
Areia Areia ADA2/ GF3/ IA4/ Silte/Argila
Horiz. Prof. Silte Argila
Grossa Fina
cm ------------g kg-1------------ ----------%----------
P1 - Planossolo Háplico Eutrófico típico
A 0-20 90 250 350 310 170 45 0,19 1,13
BA 20-45 50 110 270 570 420 26 0,26 0,47
Btg 45-70 40 100 340 520 410 21 0,31 0,65
BCg 70-90 40 130 340 490 360 27 0,31 0,70
Cg 90-120+ 20 120 320 540 420 22 0,31 0,60
P2 - Planossolo Háplico Eutrófico típico
A 0-17 30 430 350 190 110 42 0,32 1,84
E 17-20 60 400 360 180 90 50 0,33 2,00
Btg1 20-30 40 250 360 350 290 17 0,31 1,03
Btg2 30-50 40 270 330 360 300 16 0,44 0,92
BCg 50-80 80 330 270 320 270 16 0,19 0,84
P3 - Gleissolo Háplico Ta Eutrófico solódico
Ag 0-4 20 40 480 460 380 17 0,39 1,04
C1g 4-14 20 50 510 420 330 21 0,45 1,21
C2g 14-30 10 40 480 470 450 4 0,40 1,02
C3g 30-60+ 10 50 490 450 430 4 0,40 1,08
1/
TFSA = Terra fina seca ao ar. 2/ ADA = Argila dispersa em água. 3/ GF = Grau de floculação.4/
IA = Índice de atividade coloidal.
82
sua classificação de atividade alta, não condizente com a mineralogia da fração
argila composta por ilita e caulinita (Figura 6).
O IA é uma relação empírica sobre o potencial de expansão dos solos,
apresentando uma relação indireta com a densidade de cargas negativas do
solo, enquanto a CTC do solo é uma medida direta da quantidade de cátions
adsorvidos nas superfícies dos minerais de argila requeridos para neutralizar
suas cargas negativas (Hardcastle, 2003). Dessa forma, o IA não se mostrou
um bom indicador na diferenciação da qualidade do “barro” utilizado para a
cerâmica. Fabbri (1994) afirma que a atividade coloidal de Skempton se baseia
nos resultados dos limites de Atterberg, cujo material de solo utilizado para os
ensaios é menor que 0,42 mm, em que, além das frações argila e silte, também
se encontra a fração areia, dependendo do seu tamanho. Este fato poderia
influenciar nos resultados de IA, não refletindo a verdadeira atividade da fração
argila. Assim, o solo seria classificado como “inativo”, ainda que possua
características de “ativo”.
Os valores do limite de liquidez (LL) foram mais elevados nos horizontes
utilizados para a fabricação de cerâmica, principalmente no perfil P3 (Figura 1).
As maiores proporções de argila presentes neste perfil são responsáveis por
isso, pois o LL é dependente dos constituintes minerais do solo, da intensidade
das cargas de superfície, da espessura do filme de água e da relação da área
de superfície ao volume ou à forma das partículas (Means & Parcher, 1963).
A grande uniformidade nos teores de argila dos horizontes C1g, C2g e
C3g do perfil P3 resultaram em pequena diferença entre os valores de limite de
plasticidade (LP), à exceção do horizonte A. De acordo com Smith et al. (1985),
os teores de matéria orgânica aumentam a área superficial específica do solo,
com acréscimo na retenção de água e consequente aumento nos valores de
LP.
A relação positiva entre a CTC do solo e o limite de liquidez permite
supor a associação entre o tipo de minerais de argila com o potencial de
expansão dos solos. Esta relação demonstra que os maiores valores de CTC
ocasionaram incrementos nos valores de LL, aumentando a maior adsorção
das moléculas de água às partículas do solo (indicados pelas setas) (Figura 2).
Observou-se correlação positiva entre LL com argila (r = 0,72, p < 0,01), silte (r
= 0,51, p < 0,01) e silte + argila (r = 0,85, p < 0,01), sugerindo que essas
83
Perfil 1 – P1 Perfil 2 – P2 Perfil 3 – P3
Limites de Atterberg (%) Limites de Atterberg (%) Limites de Atterberg (%)
0 10 20 30 40 0 10 20 30 0 10 20 30 40 50
A A A
BA E
C1g
Horizonte
Btg Btg1
C2g
BCg Btg2
Cg BCg C3g
LL
LL LP
LP IPIP
84
50
Ag
45
100g )
-1
(g(%) C2g
40
C3g
Liquidez
Liquidez
35
dede
30
Limite
Limite
25
20
0 6 8 10 12 14 16 18
CTC(cmol
CTC (cmolcc dm
dm ))-1
-3
85
O “barreiro 2” (P3) apresenta grande uniformidade nos valores de IP em
todos os horizontes do perfil. Contudo, a grande presença de raízes de
gramíneas e os teores de matéria orgânica nos dois primeiros horizontes (Ag e
C1g) ocasionam rompimento das peças (“pocar”) durante seu cozimento. A
matéria orgânica influencia a característica de plasticidade dos solos,
aumentando os limites de liquidez e plasticidade e reduzindo o índice de
plasticidade (Chassefiere & Monaco, 1989), devido à sua grande capacidade
adsortiva de água (Malkawi et al., 1999).
86
0,40 P1 0,40
A P2
A
Bpp
Bpp
Teor de Água (kg kg-1)
0,20 0,20
0,10 0,10
0,00 0,00
10 30 100 500 1500 10 30 100 500 1500
Potencial matricial (-kPa) Potencial matricial (-kPa)
0,40 P3
C1g
C2g
Teor de Água (kg kg-1)
0,30
0,20
0,10
0,00
10 30 100 500 1500
87
Quadro 4. Caracterização química dos solos utilizados para cerâmica na comunidade de Pasmado, Itaobim - MG
4/
Prof. pH(1:2,5) Ca2+ Mg2+ Na+ K+ Al3+ H+Al SB1/ t2/ T3/ CTCr V5/ m6/ PST7/ P CO
Horiz. -3 -3
cm Água KCl -------------------------cmolc dm ------------------------ -----------%--------- mg dm dag kg-1
P1 - Planossolo Háplico Eutrófico típico
A 0-20 5,9 5,7 3,52 2,06 0,05 0,24 0,1 1,70 5,87 5,88 7,57 24,41 77,5 1,7 0,7 9,2 0,73
BA 20-45 5,3 4,0 4,16 3,47 0,22 0,13 0,0 2,30 7,98 7,76 10,28 18,03 77,6 0,0 2,2 3,5 0,51
Btg 45-70 5,2 3,9 4,11 3,55 0,51 0,05 0,1 2,70 8,22 7,79 10,92 21,00 75,3 1,2 4,9 0,9 0,43
BCg 70-90 5,9 4,4 4,44 3,27 0,62 0,03 0,0 1,10 8,36 7,74 9,46 19,30 88,4 0,0 7,0 0,7 0,43
Cg 90-120+ 6,2 4,7 4,41 3,20 0,62 0,03 0,0 0,80 8,26 7,64 9,06 16,77 91,2 0,0 7,3 0,9 0,36
P2 - Planossolo Háplico Eutrófico típico
A 0-17 5,2 3,9 2,17 0,88 0,01 0,05 0,2 3,30 3,11 3,26 6,41 33,73 48,5 6,0 0,2 1,1 1,23
E 17-20 5, 8 4,1 2,24 1,25 0,07 0,03 0,1 2,00 3,59 3,60 5,59 31,05 64,2 2,7 1,3 1,1 0,80
Btg1 20-30 6,7 4,7 4,60 3,63 0,20 0,04 0,1 1,10 8,47 8,33 9,57 27,34 88,5 1,2 2,1 0,8 0,51
Btg2 30-50 7,3 5,4 4,50 3,42 0,34 0,06 0,0 0,10 8,32 8,43 8,42 23,38 98,8 0,0 4,0 2,8 0,43
BCg 50-80 8,3 6,0 4,30 3,25 0,30 0,06 0,0 0,30 7,91 7,84 8,21 25,65 96,3 0,0 3,7 7,7 0,14
P3 - Gleissolo Háplico Ta Eutrófico solódico
Ag 0-4 5,8 4,3 3,17 1,35 0,67 0,73 0,0 7,70 5,92 5,25 13,62 29,60 43,5 0,0 5,2 20,6 0,65
C1g 4-14 6,4 4,5 4,47 2,97 0,83 0,45 0,0 3,20 8,72 7,89 11,92 28,38 73,2 0,0 7,5 2,2 0,29
C2g 14-30 6,6 4,8 8,95 4,50 1,13 0,28 0,0 2,50 14,86 13,74 17,36 36,93 85,6 0,0 6,9 0,6 0,22
C3g 30-60+ 7,3 5,4 8,26 4,42 1,31 0,14 0,0 1,60 14,13 12,82 15,73 34,95 89,8 0,0 9,1 3,8 0,22
1/
Valor SB = Soma de bases. 2/ t = Capacidade de troca catiônica efetiva. 3/ T = Capacidade de troca catiônica a pH 7,0. 4/ CTCr = Atividade da fração
argila. 5/ Valor V = Saturação por bases. 6/ m = Saturação por alumínio trocável. 7/ PST = Saturação por sódio trocável.
88
na paisagem e pelo material sedimentar dos quais são formados. Registrou-se
que Ca2+ e Mg2+ são os principais cátions responsáveis para os valores na
soma de bases (SB), com teores elevados desses elementos, principalmente
nos horizontes Btg (P1 e P2) e C2g (P3).
Todos os perfis estudados mostraram-se eutróficos, com maiores
valores de CTC nos horizontes BA, Btg e BCg (P1), Btg1 e Btg2 (P2) e C2g e
C3g (P3), coincidindo com seu uso na fabricação da cerâmica artesanal. Os
valores de CTC são baixos, quando comparados com as mesmas classes de
solos da região Nordeste do Brasil (Parahyba, 1993; Agbenin & Tiessen, 1995;
Oliveira, 2007).
Os valores de CTCr foram baixos, mesmo assim o perfil P3 foi
classificado de atividade alta (Ta). É conveniente ressaltar que a CTC da ilita é
baixa (5 a 15 cmolc kg-1) e originada nas zonas de perda de potássio das suas
arestas (Brown et al., 1978).
Os teores de Na+ foram baixos no horizonte superficial, com incremento
em profudidade (Quadro 4). As maiores participações deste elemento
conferiram ao perfil P3 o caráter solódico no 4º nível categórico. A drenagem
deficiente, o clima semiárido e o intemperismo de minerais sódicos
(plagioclásios) na fração mais grosseira do solo parecem ser os principais
fatores resultantes do índice de saturação de sódio (Corrêa et al., 2003).
Os teores de K+ e fósforo disponíveis foram baixos para os solos de
Minas Gerais (Alvarez V. et al., 1999) decrescendo em profundidade. Nas
áreas de Planossolos, além do seu uso com cerâmica, encontram-se pequenos
cultivos de milho e feijão destinados ao consumo familiar. Para o ciclo
vegetativo destas culturas, principalmente na fase inicial, a exigência
principalmente de K pelas plantas de milho é maior durante os primeiros 30 a
40 dias de desenvolvimento (Coelho, 2006).
O teor de C orgânico decresceu em profundidade, atingindo níveis
menores que 2 dag kg-1 (Quadro 4). Esses valores de CO, ainda que baixos,
poderiam atuar de forma negativa durante o processo de cocção da peça
cerâmica. A presença de compostos de carbono juntamente com óxidos de
ferro de argilas seriam os principais responsáveis pela incidência de “coração
negro” em peças cerâmicas (Damiani et al., 2001). Em analogia ao coração
negro, poder-se-ia pensar que possivelmente acontece o mesmo princípio, sem
que haja escurecimento central da peça, e que a carbonização da matéria
89
orgânica e produção de gases como CO2 possam reduzir suas características
técnicas.
90
Quadro 5. Teores de SiO2, Al2O3, Fe2O3 e TiO2 obtidos pelo ataque sulfúrico na
TFSA, Fe obtido na fração argila por ditionito-citrato-bicarbonato de
sódio - DCB (Fed) e oxalato de amônio (Feo), com as relações
Feo/Fed, Fed/Fes e Ki dos solos estudados
1/ 2/
SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 Fe2O3d Fe2O3o Feo/Fed1/ Fed /Fes
Horiz. _________ -1 _________ Ki ____________ -1 ____________
dag kg dag kg
P1 - Planossolo Háplico Eutrófico típico
A 7,69 3,76 1,82 0,19 3,47 1,46 0,80 0,54 0,13
Bt 27,20 12,39 3,03 0,21 3,73 0,41 0,15 0,36 0,05
C 27,68 14,90 4,39 0,24 3,16 0,78 0,17 0,21 0,09
P2 - Planossolo Háplico Eutrófico típico
A 10,60 4,60 2,50 0,27 3,91 2,97 1,44 0,48 0,22
E 12,42 5,38 1,98 0,26 3,92 2,50 1,27 0,51 0,23
Bt2 19,63 9,62 2,37 0,26 3,46 1,15 0,40 0,34 0,17
P3 - Gleissolo Háplico Ta Eutrófico solódico
Ag 29,55 15,62 4,93 0,83 3,21 1,41 0,76 0,53 0,13
C2g 21,07 12,30 4,30 0,69 2,91 1,41 0,58 0,41 0,15
C3g 25,06 14,66 2,95 0,24 2,90 1,26 0,60 0,48 0,19
1/
determinado na fração argila. 2/ determinado na TFSA e corrigido para argila.
91
Quadro 6. Teores de Fe obtidos na TFSA nas temperaturas de 100 ºC, 350 ºC e 550 ºC por extração com ditionito-citrato-
bicarbonato de sódio (Fed) e oxalato de amônio (Feo) e relações Feo/Fed dos solos de cerâmica
92
nas temperaturas de 350 ºC e 550 ºC (Quadro 6). Esses resultados estão de
acordo com os observados por Sherman et al. (1964) que atribuem às
temperaturas as causas da redução na quantidade dos óxidos de ferro amorfos
(FeO) devido ao processo de desidratação e subsequente transformação para
formas de maior cristalinidade. Resultados semelhantes foram encontrados por
Juo et al. (1974) em condições naturais, com altas temperaturas e períodos
prolongados de seca (4 a 5 meses) em solos da Nigéria. Ainda que
predominem formas de melhor cristalinidade com aplicação de temperaturas
mais elevadas, desconhece-se sua contribuição para a qualidade da cerâmica
final, como, por exemplo, em relação à resistência das peças ao rompimento.
Com a elevação da temperatura, óxidos de ferro como lepidocrocita
goethita, hematita e formas amorfas de ferro, poderiam modificar-se em
maghemita na presença de compostos orgânicos (Schwertmann, 1985;
Resende, 1976). Mesmo assim, nos perfis estudados, não foi verificada
presença de magnetização nas amostras em função das temperaturas
estudadas.
A mineralogia das frações areia e silte dos horizontes Btg, Bt2g e C2g
nos perfis de solos estudados revelam a presença de minerais de fácil
intemperização como feldspatos, piroxênios e plagioclásios (principalmente
albita e anortita), seguidos por quartzo (0,334 e 0,426 nm) e mica (0,995;
0,502; 0,497; 0,449 e 0,316 nm) (Figura 4a, b). Esses minerais são as
principais fontes de K+, Ca2+ e Na+ nesses solos.
Foram encontrados picos de caulinita (0,717 e 0,358 nm) nos perfis P1 e
P3 na fração areia, ainda que estes solos apresentem baixo grau de
intemperismo (Figura 4a). A presença de argilominerais como caulinita na
fração areia tem sido relatada para solos mais intemperizados (Melo et al.,
2003; Melo et al., 2004), ou na fração silte de solos mais jovens (Oliveira et al.,
2004).
Na fração silte, os picos de caulinita são mais intensos e mais bem
definidos, bem como para a mica (Figura 4b). Possivelmente a mica esteja
93
10
M i - 0.995 nm
Ct - 0.717 nm
º2θ
20
M i - 0.502 nm
M i - 0.449 nm
Qz - 0.426 nm
At - 0.369 nm
Ct - 0.358 nm
Fd - 0.349 nm
30
Qz - 0.334 nm
At - 0.321 nm An - 0.324 nm
M i - 0.316 nm
94
(a)
P3
P2
P1
10
M i - 0.995 nm
Ct - 0.717 nm
20
º2θ
M i - 0.497 nm
Pi - 0.441 nm
Qz - 0.426 nm
Ab - 0.385 nm
Fd - 0.369 nm
Ct - 0.358 nm
30
An - 0.348 nm
Qz - 0.334 nm
Fd - 0.323 nm
At - 0.320 nm
(b)
Gleissolo (C2g - P3). (Qz-quartzo; Pi-piroxênio; Fd-feldspato; Mi-mica; Ct-caulinita; Anortita-At; Anortoclásio-An; Albita-Ab)
Figura 4. Difratogramas de raios X da fração areia (a) e silte (b) do horizonte subsuperficial dos Planossolos (Btg - P1 e Btg2 - P2) e
P3
P2
P1
contribuindo para a formação de caulinita, como verificado por Oliveira et al.
(2004) na fração silte de solos planossólicos do Sertão de Pernambuco. A
caulinita também poderia servir para reserva de potássio (não-trocável) para as
plantas por permanecer retida entre suas unidades cristalográficas (Melo,
1998).
95
P1 - A P1- Btg P1- Cg
Ct - 0.717 nm
Ct - 0.717 nm
Ct - 0.717 nm
Ct - 0.357 nm
Ct - 0.357 nm
Ct - 0.357 nm
Il - 0.995 nm
Il - 0.336 nm
Il - 0.446 nm
Il - 0.336 nm
Il - 0.995 nm
Il - 0.336 nm
Il - 0.504 nm
Il - 0.995 nm
Il - 0.446 nm
Il - 0.446 nm
Il - 0.504 nm
Il - 0.504 nm
K25º
K25º
K25º
K350º
K350º
K350º
K550º
K550º K550º
Mg Mg Mg
Figura 5. Difratograma de raios X da fração argila desferrificada do perfil P1 saturadas com K (25 ºC, 350 ºC e 550 ºC), magnésio (Mg) e
magnésio + etileno glicol (Mggl). (II-Ilita e Ct-caulinita)
96
P2 - Btg1 P2 - Btg2
Ct - 0.717 nm
Ct - 0.357 nm
Ct - 0.717 nm
Ct - 0.357 nm
Il - 0.995 nm
Il - 0.336 nm
Il - 0.995 nm
Il - 0.336 nm
Il - 0.446 nm
Il - 0.446 nm
Il - 0.504 nm
Il - 0.504 nm K25º K25º
K350º K350º
K550º K550º
Mg Mg
Mggl Mggl
10 20 30 10 20 30
º2θ º2θ
P3 - C2g P3 – C3g
Ct - 0.717 nm
Ct - 0.717 nm
Ct - 0.357 nm
Ct - 0.357 nm
Il - 0.995 nm
Il - 0.995 nm
Il - 0.336 nm
Il - 0.446 nm
Il - 0.336 nm
Il - 0.446 nm
Il - 0.504 nm
Il - 0.504 nm
K25º K25º
K350º K350º
K550º K550º
Mg
Mg
Mggl
Mggl
10 20 30 10 20 30
º2θ º2θ
97
4.5. Entrevistas com ceramistas
98
OBTENÇÃO DO COMERCIALIZAÇÃO
“BARRO” Vendas em barracas na
Planossolos e Gleissolos BR-367
TRANSPORTE COZIMENTO
Animais e mecanizado 2 a 3 horas em fornos
artesanais
99
4.5.1.1. Obtenção e transporte do “barro”
100
a b
c d
Figura 8. Propriedades onde estão localizados o “barreiro 1” (a), com criação de gado e plantação de frutíferas ao fundo (seta), e o
“barreiro 2” (b), além de cultivos de milho e feijão consorciado (c) e criação de suinos nos “barreiros” (d).
101
A extração do “barro bom”, utilizado para a fabricação de cerâmica, é
realizada por meio de corte com enxadão. Devido ao grande esforço realizado,
é um trabalho exclusivamente masculino. Entretanto, quando necessário,
algumas mulheres também realizam esta operação, visto que muitas vezes
seus maridos migram para outras regiões em busca de trabalho para auxiliar
no orçamento familiar. O êxodo rural é uma característica bastante comum na
região, sendo comum o deslocamento dos homens para o interior do Estado de
São Paulo para a colheita de cana-de-açúcar e citrus, ou para a região do Alto
Paranaíba para a colheita do café (Carvalho, 1998).
A camada de solo considerada apropriada para a fabricação das
“vasilhas” pelos ceramistas está em torno de 60 cm de profundidade no
“barreiro 1” e 50 cm no “barreiro 2” (Figura 9d), correspondendo aos horizontes
BA, Btg e BCg do perfil P1; Btg1 e Btg2 do P2 e C2g e C3g do P3. Esses
horizontes apresentaram os maiores teores de argila e silte e os maiores
valores no índice de plasticidade (IP), coerente com a seleção do “barro” de
melhor qualidade pelos ceramistas.
A camada mais superficial do solo não é utilizada principalmente pelos
maiores teores de areia, que conferem ao material menor plasticidade,
ocasionando ruptura (“poca” ou “faz quebrar”) e perda de volume da “vasilha”
ao ser levada para o cozimento. Possivelmente, os maiores teores de material
orgânico no horizonte A dos perfis estudados aumentariam a adsorção de
água, principalmente em relação aos minerais de argila caulinita e ilita. Com
isso, além da perda de água durante a operação de queima, existe a
carbonização da matéria orgânica promovendo emissão de gases como CO2,
aumentando, em consequência, a porosidade da peça, favorecendo sua
ruptura (Damiani et al, 2001; Andrade et al, 2005). O material superficial é
descartado (“desmonte”) e amontoado na própria área (Figura 9e).
No caso do “barreiro 1”, a camada mais profunda, em torno de 90 cm em
diante, correpondente ao horizonte C, não é usada devido à “sua grande
dureza”, dificultando todo o processo produtivo de confecção das peças
artesanais, seja durante a coleta do “barro”, ou no seu processo de
destorroamento e umedecimento. Por isso, até o momento, ainda não se tentou
o horizonte C para a confecção das “vasilhas”, em virtude de ainda
encontrarem “barro” de qualidade nesses “barreiros”. Devido aos seus mais
elevados teores de argila e índice de plasticidade, como também pela sua
102
semelhança mineralógica (ilita e caulinita) em relação às demais camadas,
esse horizonte poderia também ser utilizado para a fabricação das peças
artesanais, principalmente em virtude de o material atualmente usado ter sua
disponibilidade limitada.
É de consciência geral que o “barro” é um recurso não renovável e
futuramente, com o constante uso, se torne recurso escasso, principalmente
devido à pequena extensão do “barreiro 1”, que é o que permite confeccionar
maior variedade de peças cerâmicas. Por esse motivo, é importante buscar a
utilização de novas camadas dos “barreiros”, que também possam ser
utilizadas.
O processo de retirada e transporte do “barro” acontece durante dois
dias. No primeiro dia, três a cinco homens retiram quantidade suficiente de
“barro” para completar uma caçamba de aproximadamente 7,5 m3. No outro
dia, é feito o transporte do material até a comunidade. Há casos em que os
artesãos não pagam pelo serviço de retirada do “barro”, pois os homens de
duas ou mais famílias se reúnem e retiram o material em conjunto e o repartem
de forma igualitária entre as famílias participantes. Muito raramente,
conseguem ajuda externa (política) para o custeio do transporte do “barro” até
a comunidade.
Há cerca de 10 anos, o transporte do “barro” era realizado por meio de
jegue por toda a comunidade. Atualmente esse tipo de transporte continua
sendo utilizado, todavia em menor proporção (Figura 9f).
103
a b
c d
e f
Figura 9. Localização dos “barreiro 1” (a) e “barreiro 2” (b); “coleta do barro” (c);
indicação do “barro” utilizado para a confecção da cerâmica (d);
“desmonte” ou descarte do horizonte A (e); e “transporte do barro”
em jegue até a comunidade (f).
104
muita força que faz” (Figura 10a).
105
Em estudos realizados com cerâmica tupi-guarani, Brochado (1991)
observou que os antiplásticos usados são: areia fina, grãos de quartzo e,
possivelmente, grãos arredondados de argila, todos com dimensões
normalmente menores que 1 mm.
O “barro molhado” é acondicionado em saco plástico para que a
umidade seja conservada (Figura 10e), permitindo utilizá-lo por maior período
de tempo. Caso a pasta se desidrate, dificultando a modelagem das vasilhas,
todo o processo descrito anteriormente deve ser repetido.
As etapas pertinentes à fabricação da cerâmica artesanal em Pasmado
estão bem definidas e embasadas em conhecimentos passados de geração em
geração. Em geral, as atividades são divididas da seguinte forma: os homens
participam das etapas de coleta, transporte do “barro” e formação da pasta,
devido ao maior esforço físico exigido na execução dessas etapas. As
mulheres, ainda que não exclusivamente, são responsáveis pela confecção das
peças até arte final.
106
a
b c
d e
Figura 10. Ceramista “batendo o barro” (a); “cessando” (b) com seta indicando
a madeira usada para “quebrar o barro”; “canjica” depois do
peneiramento (c); “vasilha com água” (d); e acondicionamento do
“barro molhado” em saco plástico (e).
107
a b
Figura 11. Artesã fazendo a homogeneização para iniciar a modelagem (a); instrumentos utilizados para a fabricação das peças
cerâmicas (b); e instrumentos submersos em água (c).
108
artesanais é herdada das tradições indígenas. O mesmo autor relata que
cacos de cuia, tacos de madeira, pedaços de sola, tintas e misturas também
são utilizadas.
Depois da primeira homogeneização muito rápida, a artesã golpeia com
as mãos o centro da massa para iniciar a formação da panela (Figura 12a).
Com o auxílio de um sabugo de milho queimado, que possibilita melhor
acabamento das “vasilhas”, e com a ponta dos dedos, a artesã soergue as
laterais da “vasilha” (Figura 12b), retirando o excesso de “barro” de dentro dela
com o auxílio da cabaça (Figura 12c). Em seguida, para que a panela seja
propriamente modelada, utiliza-se novamente o sabugo de milho ou cano de
PVC, retirando os excessos de “barro” e reduzindo a espessura das paredes
internas e externas da futura panela (Figura 12d). A panela fica secando em
torno de trinta minutos, enquanto a artesã continua modelando mais peças,
para posteriormente fazer a “ponta” ou “boca” da panela (Figura 12e).
Para modelar a “boca” da panela, primeiramente corta-se com faca o
excesso de “barro” deixando na mesma altura, para, em seguida, passar o
couro molhado, visando a deixar a superfície lisa e com bom aspecto (Figura
13a). Somente depois que a panela está bem seca, processo realizado à
sombra, é que serão colocadas suas “asas”, para evitar a danificação da sua
estrutura. Para isso, são fixados roletes anelares em suas laterais (Figura 13b,
c).
O acordelado, técnica normalmente usada para adição de roletes para
as “asas” ou para a “boca” da panela, é usado de modo secundário no
processo de modelagem das panelas em Pasmado. Porém, em outros tipos de
“vasilhas” como as esculturas de jegues de tamanho médio a grande,
confeccionadas por artesãos do sexo masculino, os roletes de “barro” na forma
de anéis individualizados são utilizados pela maior facilidade na confecção,
mesmo as “vasilhas” tendo sido iniciadas pelo processo de modelagem (Figura
13d). A mesma técnica foi observada por Alves (2004) em seus estudos sobre
a “loiça de barro” na Paraíba. Em outros tipos de cerâmica, como a tupi-
guarani, utiliza-se a técnica do acordelado para a confecção de toda a peça
(Bona, 2006).
A fabricação das peças é geralmente feita no interior das próprias casas.
Algumas artesãs, entretanto, possuem local destinado para a modelagem e
secagem das “vasilhas”, pois alegam que o “barro suja muito a
109
b
e d
110
casa”. Em média, uma artesã consegue fazer por dia em torno de 15 a 20
panelas, dependendo da sua habilidade. Elas podem mesclar a produção de
vários tipos de “vasilhas” ao mesmo tempo, como chaleiras, já que possuem o
mesmo tipo de modelagem inicial e tempo de secagem. Depois, a panela ficará
secando até que possa ir ao forno para a queima (Figura 13e).
A etapa de secagem à sombra obdece às condições de clima. Quando
está quente, as “vasilhas” secam mais rapidamente e, se está chuvoso, a
secagem demora um pouco mais, devido à maior dificuldade de as “vasilhas”
perderem umidade para a atmosfera. Outro fator a que a secagem é
dependente é o tamanho da “vasilha”, com período de tempo de secagem
geralmente de 24 a 48 horas.
Quando a artesã julga que a panela está sufucientemente seca, ela é
retirada da tábua de madeira, iniciando-se os trabalhos de acabamento, como
“rapar”, “arrancar pedras” e “alisar”. A parte inferior das panelas que
permanece em contato com a madeira, é raspada com faca (“rapar”) de forma
a deixá-la com base mais arredondada. Durante esse processo, retiram-se
eventuais pedras pequenas que possam aparecer.
Os “barreiros” apresentam pouca quantidade de areia grossa,
característica apreciável em “barros” utilizados para cerâmica e praticamente
não apresentam sérios problemas com a presença desta fração ou mais
raramente cascalho nas “vasilhas”. Para que as impressões digitais das mãos
durante o processo de modelagem desapareçam e a panela apresente um
aspecto mais uniforme, utiliza-se uma esponja umedecida em água, que é
passada em toda a peça antes de levá-la ao forno para o cozimento (ou
cocção).
A técnica de cozimento das “vasilhas” exige, como na modelagem,
conhecimento, experiência e habilidade em relação às demais atividades
desenvolvidas (“tirar”, “bater”, “cessar”, “molhar” e “transportar o barro”) para a
fabricação das “vasilhas”. Os fornos são artesanais e encontram-se a céu
aberto, normalmente dentro da propriedade (quintal) dos ceramistas, ou em
locais bastante próximos.
Normalmente os fornos são o mais rudimentar possível construídos
pelos próprios artesãos. São construídos de tijolos feitos com os materiais de
solo disponíveis na comunidade, apresentando separação entre as duas
câmaras justapostas. A primeira, que se encontra ao nível do solo,
111
a b
c e
Figura 13. Artesã fazendo “boca” da panela (a); seta indicando panelas
secando para posteriormente serem colocadas as “asas” (b, c);
utilização de roletes anelares para a fabricação de jegues indicado
por seta (d); e panelas secando para em seguida serem levadas
ao forno (e).
112
é o local onde se dispõe a madeira (combustível) para a queima. A segunda,
encontrada na parte superior, é onde se depositam as “vasilhas” para serem
queimadas. Na parte superior e ao redor, o forno é coberto com latas de
alumínio ou chapas de ferro, que ajudam na conservação do calor, agilizando
todo o processo (Figuras 14a, b).
São utilizados espécies vegetais da caatinga como combustível. De
preferência escolhem-se as espécies que sejam mais resistentes e produzam
mais calor. Utilizam-se também “ramas” verdes de “mamona” e “marinheiro”
para que se consiga uma tonalidade escura nas peças. É importante destacar
que a fumaça ajuda no escurecimento das peças (Figuras 14c, d).
Para a etapa de cocção das panelas, utiliza-se inicialmente pequena
quantidade de lenha para que as peças absorvam calor gradativamente. Em
seguida, colocam-se gotas de água na estrutura de ferro, e, caso comece a
“chiar”, é o momento de aumentar a quantidade de madeira para aumentar a
temperatura. O processo final de queima das peças dura de duas a três horas
para que estejam completamente cozidas. A quantidade e o momento certo da
adição de madeira são muito importantes, caso contrário as peças se quebram
ou “pocam”. Alguns ceramistas também utilizam “cacos” de vasilhas, ou seja,
partes de “vasilhas” quebradas no momento da queima, como forma de manter
o calor produzido. As peças podem ser retiradas quando estão ainda quentes,
ou quando já completaram todo o processo de resfriamento, que dura em torno
de um dia.
Em toda a comunidade, só existem quatro fornos, de tamanhos
variados, utilizados de acordo com a quantidade de “vasilhas” que serão
colocadas de uma única vez para o cozimento. Normalmente o grau de
parentesco é o fator chave que determina o uso dos fornos. Na disposição das
“vasilhas” no forno, as peças maiores e mais pesadas ficam por baixo,
enquanto as menores e mais leves, em cima, para aproveitar o máximo o
espaço do forno e economizar madeira.
A “queima” das peças é atividade quase que exclusivamente masculina,
com algumas exceções, e com menor frequência com participação feminina.
.
113
a b
c d
Figura 14. Tipo de forno usado no cozimento das “vasilhas” e seta indicando
forno coberto e envolvido por ferro (a); artesão controlando a
entrada da “lenha” e a madeira utilizada (b); “queima” das peças,
utilizando folhas de mamona para mudança na tonalidade das
peças (c); e peças escurecidas depois da “queima” (d).
114
4.5.1.6. Comercialização
115
a b
c d
116
4.5.2. Cerâmica artesanal: um trabalho tipicamente feminino
117
a b
Figura 16. Duas gerações de uma família que utiliza o artesanato como fonte de renda (a); ceramistas que fabrica os jegues,
apoiados em madeira até a secagem final da peça (b) e bonecas “namoradeiras” antes do cozimento (c).
118
possuem a mesma resistência de permanecer na mesma posição durante
muito tempo. Mesmo mulheres grávidas (Figura 13) realizam os mesmos
trabalhos na modelagem das “vasilhas”, pois, segundo elas próprias, é seu
único meio de sobrevivência e também precisam sempre estar lançando
novos artigos nas bancas, como forma de conquistar a atenção dos turistas.
As mulheres da comunidade gostam muito de trabalhar com
artesanato, pois estabelecem seus próprios horários e dias da semana
destinados à produção artesanal, coisa que não poderia ser possível caso
tivessem emprego fixo. Todas afirmam que quando estão modelando as
“vasilhas”, se esquecem dos problemas e das dificuldades do dia-a-dia.
É bem verdade que a técnica de tirar exclusivamente do “barro” peças
modeladas a mão é uma grande manifestação da arte popular. Entretanto, o
“barro” utilizado para a fabricação das peças em Pasmado é extraído em
área aberta, dividindo espaço com animais domésticos (gado, suínos e
galinhas). Ou seja, manuseam matéria-prima possivelmente contaminada
com coliformes fecais e verminoses, principalmente, a esquistossomose.
Dessa forma, do ponto de vista da saúde pública, o ambiente de trabalho
dos ceramistas pode ser considerado insalubre pela contato direto das mãos
com o “barro”.
119
5. CONCLUSÕES
120
A relação FeO/Fed se reduz com o aquecimento, mas não se sabe a
influência da maior proporção das formas de ferro mais cristalinas na
qualidade final da cerâmica, sobretudo em sua resistência.
121
6. REFERÊNCIAS
122
industriais: usos e especificações. Rio de Janeiro: CETEM/COPM. Rio de
Janeiro, 2005. p.559-581.
BROWN, G.; NEWMAN, A.C.D.; RAYNER, J.H. & WEIR, A.H. The structures
and chemistry of soil clay minerals. In: GREENLAND, D.J. & HAYES, M.H.,
123
eds. The chemistry of soil constituents. Chichester, John Wiley & Sons, p.29-
178, 1978.
CAPUTO, H.P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6ª ed. Rio de Janeiro:
LTC Editora S.A., 1994. 225p.
CURI, N.; LARACH, J.O.I.; KÄMPF, N.; MONIZ, A.C.; FONTES, L.E.F.
Vocabulário de ciência do solo. 1.ed. Campinas, Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo, 1993. 90p.
124
DAMIANI, J. C.; PEREZ, F.; MELCHIADES, F. G. & BOSCHI, A. O. Coração
negro em revestimentos cerâmicos: principais causas e possíveis soluções.
Cerâmica Industrial, v.6, p.12-16, 2001.
125
MEHRA, O. P. & JACKSON, M. L. Iron oxide removal from soils and clay by
a dithionite-citrate system buffered with sodium bicarbonate. Clay Minerals,
London, n. 7, p. 317-327, 1960.
126
PARAHYBA, R. B. V. Gênese de solos planossólicos do Agreste de
Pernambuco. Recife, Universidade Federal Rural de Pernambuco, 1993.
152p. (Dissertação de Mestrado).
127
SCHWERTMANN, U. The effect of pedogenic environments on iron oxide
minerals. Advances in Soil Sci., v.1, p.171-200, 1985.
128
APÊNDICE GERAL
129
Quadro 1A. Características morfológicas dos perfis nas topossequências estudadas
130
Quadro 1A. Características morfológicas dos perfis nas topossequências estudadas (cont.)
131
Quadro 1A. Características morfológicas dos perfis nas topossequências estudadas (cont.)
Estrutura: 1 – fraca. 2 – moderada. p – pequena. m – média. bls – blocos subangulares. gs – grão simples. Ma – maciça. la – laminar.
Consistência: ma – macio. ld – ligeiramente dura. d – duro. mfr – muito friável. fr – friável. fi – firme. mfi – muito firme. ñ – não. Lg –
ligeiramente. mt – muito. pl – plástico. pe – pegajoso.
132
Capítulo 1 - Descrições morfológicas
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 1 – P1
DATA – 25.05.2006
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
133
Bi3 70-110 cm, bruno-amarelado (10YR 5/6, úmido) e amarelo-brunado
(10YR 6,5/6, seco); argilo-arenosa; fraca a moderada blocos
subangulares; ligeiramente dura, muito firme, não plástica e não
pegajosa.
Bi4 110-210+ cm, bruno-amarelado-escuro (10YR 4,5/6, úmido) e bruno-
amarelado-claro (10YR 6,5/4, seco); argilo-arenosa; não plástica e
não pegajosa.
RAÍZES- Grossas e médias nos horizontes A, BA, Bi1 e Bi2; poucas finas nos
demais horizontes.
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 2 – P2
DATA – 24.05.2006
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
134
plástica e não pegajosa.
BA 18-32 cm, bruno-amarelado-escuro (10YR 4/3,5, úmido) e cinzento-
brunado-claro (10YR 6/2, seco); franco-arenosa; aspecto maciço;
dura, friável, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
Bi1 32-60 cm, bruno-escuro (10YR 3/3, úmido) e cinzento-brunado-claro
(10YR 6/1,5, seco); franco-arenosa; fraca moderada blocos
subangulares; dura, friável, ligeiramente plástica e ligeiramente
pegajosa.
Bi2 60-120+ cm, bruno-amarelado-escuro (10YR 4/3, úmido) e cinzento-
brunado-claro (10YR 6/2, seco); franco-arenosa; ligeiramente plástica
e ligeiramente pegajosa.
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 3 – P3
DATA – 24.05.2006
135
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
1ª Cam. 0-15 cm, bruno (10YR 4/3, úmido) e bruno (10YR 5/3, seco); franco-
arenosa; aspecto maciço; ligeiramente duro, friável, não plástica e não
pegajosa.
2ª Cam. 15-30 cm, bruno-escuro (10YR 3/3,5, úmido) e bruno (10YR 5/3,
seco); franco-arenosa; aspecto maciço; ligeiramente duro, friável, não
plástica e não pegajosa.
3ª Cam. 30-50 cm, bruno (10YR 4/3, úmido) e bruno-acinzentado (10YR 5/2,
seco); franco-argilo-arenosa; maciço coesa; duro, friável, ligeiramente
plástica e ligeiramente pegajosa.
4ª Cam. 50-75 cm, bruno-escuro (10YR 4/3,5, úmido) e cinzento-brunado-claro
(10YR 6/2, seco); franco-argilo-arenosa; maciço coesa; duro, friável,
ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
5ª Cam. 75-100 cm, bruno (10YR 3,5/3, úmido) e cinzento-brunado-claro
(10YR 6/2, seco); franco-argilo-arenosa; maciço coesa; duro, friável,
ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
6ª Cam. 100-125 cm, bruno (10YR 4/3, úmido) e bruno-claro-acinzentado
(10YR 6/3, seco); franco-arenosa; aspecto maciço; igeiramente duro,
friável, não plástica e não pegajosa.
7ª Cam. 125-200+ cm, bruno (10YR 4/3,5, úmido) e bruno-claro-acinzentado
(10YR 6/3, seco); franco-arenosa; aspecto maciço; igeiramente duro,
friável, não plástica e não pegajosa.
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 4 – P4
DATA – 24.05.2006
136
ROCHOSIDADE – Não rochoso.
RELEVO LOCAL – Suave ondulado.
RELEVO REGIONAL – Suave ondulado.
EROSÃO – Nula.
DRENAGEM – Bem drenado.
VEGETAÇÃO PRIMÁRIA – Caatinga hipoxerófila.
USO ATUAL – Pastagem extensiva.
CLIMA – Bsw da Classificação de Köppen.
DESCRITO E COLETADO POR – João Carlos Ker, Diana Ferreira de Freitas
Simões e Felipe Vaz Andrade.
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
A 0-17 cm, bruno-escuro (7,5YR 3/4, úmido) e bruno (7,5YR 4/3, seco);
franco-arenosa; fraca média blocos subangulares; ligeiramente duro,
friável, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
AC1 17-40 cm, bruno (7,5YR 4/4, úmido) e bruno (7,5YR 5/3,5, seco);
franco-arenosa; fraca média blocos subangulares; ligeiramente duro,
friável, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
AC2 40-60 cm, bruno (7,5YR 4/4, úmido) e bruno (7,5YR 5/4, seco); franco-
arenosa; fraca média blocos subangulares; ligeiramente duro, friável,
ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
2C1 60-78 cm, bruno (7,5YR 4/5, úmido) e bruno (7,5YR 6/4, seco); franco-
arenosa; moderada média blocos subangulares; ligeiramente duro,
friável, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
2C2 78-110 cm, bruno-forte (5YR 4/6, úmido) e bruno-forte (5YR 5/6,
seco); franco-arenosa; moderada média blocos subangulares; duro,
firme, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
2C3 110-140+ cm, bruno-forte (5YR 4/6, úmido) e bruno-forte (5YR 5/6,
seco); franco-argilo-arenosa; moderada média blocos subangulares;
duro, firme, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 5 – P5
DATA – 24.05.2006
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
138
ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 6 – P6
DATA – 24.05.2006
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
139
RAÍZES- Poucas finas até Bi1.
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 7 – P7
DATA – 24.05.2006
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
140
ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
5ª Cam. 75-100 cm, bruno (10YR 4/4, úmido) e cinzento-brunado-claro (10YR
6/3,5 seco); franco-argilo-arenosa; maciço coesa; duro, friável,
ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa.
6ª Cam. 100-125 cm, bruno (10YR 4,5/6, úmido) e bruno-claro-acinzentado
(10YR 5/5, seco); franco-argilo-arenosa; aspecto maciço; ligeiramente
duro, friável, não plástica e não pegajosa.
7ª Cam. 125-200+ cm, bruno (10YR 4,5/6, úmido) e bruno-claro-acinzentado
(10YR 6/6, seco); franco-argilo-arenosa; ligeiramente duro, friável, não
plástica e não pegajosa.
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 8 – P8
DATA – 24.05.2006
141
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 9 – P9
DATA – 25.05.2006
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
A 0-15 cm, bruno-escuro (10YR 3/3, úmido) e bruno (10YR 5/3, seco);
franco-arenosa; solta; macio, muito friável, não plástica e não
pegajosa.
2Bi1 80-100 cm, bruno-amarelado (10YR 5/4, úmido) e bruno-amarelado-
claro (10YR 6/4, seco); franco-arenosa; solta; macio, muito friável, não
plástica e não pegajosa.
R 157 - 170+ cm.
Quadro 2A. Umidade (g/100g) nas tensões 10; 30; 100; 500 e 1.500 kPa e
água disponível (∆ = U10-U1.500) dos horizontes e camadas dos
solos estudados.
Pressão (kPa) ∆
Perfil Horizonte
10 30 100 500 1.500 g/100g
P1 A 17,3 14,4 11,5 9,2 8,2 9,1
Bi2 17,5 16,7 13,0 12,1 9,8 7,7
P2 A 11,4 9,60 5,6 3,8 2,8 8,6
Bi2 11,7 10,4 7,1 5,9 4,6 7,1
P3 1ª Cam. 13,5 11,2 6,7 5,3 4,7 8,8
4ª Cam. 14,5 12,6 9,1 7,8 5,6 8,9
P4 A 16,6 10,2 6,1 4,2 3,3 13,3
2C1 14,9 10,8 7,7 5,1 4,2 10,7
P5 A1 23,8 21,2 12,7 8,6 7,6 16,2
AC3 13,2 6,9 4,4 3,9 2,9 10,3
P6 A 14,0 12,6 8,3 6,9 4,9 9,1
Bi2 15,3 14,7 9,6 8,2 7,2 8,1
P7 1ª Cam. 18,8 17,2 11,2 9,7 7,7 11,1
4ª Cam. 17,9 16,7 12,1 10,9 8,6 9,3
P8 A 12,6 9,8 8,2 7,0 6,1 6,5
2C1 10,7 8,1 6,0 5,6 5,1 5,6
P9 A 16,1 13,0 10,5 9,1 7,4 8,7
Bi2 18,0 17,2 12,1 10,9 9,7 8,3
143
Capítulo 2 - Descrições morfológicas
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 1 – P1
DATA – 24.05.2006
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
A 0-20 cm, bruno-escuro (10YR 3/3, úmido) e bruno (10YR 5/3, seco);
franco-argilosa; moderada média grande blocos subangulares; muito
dura, muito firme, plástica e pegajosa; transição abrupta e plana.
BA 20-45 cm, bruno acinzentado muito escuro (10YR 3/2, úmido) e bruno-
acinzentado (10YR 5/2, seco); argilosa; moderada média grande
blocos subangulares; extremamente dura, extramamente firme, muito
plástica e muito pegajosa; transição gradual e plana.
Btg 45-70 cm, bruno acinzentado muito escuro (10YR 3/2, úmido) e
cinzento-brunado-claro (10YR 5/2, seco); argilosa; forte grande
colunar; muito dura, muito firme, muito plástica e muito pegajosa;
transição gradual e plana.
BCg 70-90 cm, bruno acinzentado muito escuro (2,5Y 3/2, úmido) e
cinzento-brunado-claro (2,5YR 6/2, seco); argilosa; forte grande
colunar; muito dura, muito firme, muito plástica e muito pegajosa;
transição gradual e plana.
Cg 90-120+ cm, bruno acinzentado muito escuro (2,5Y 6/1, úmido) e
144
cinzento (2,5YR 6/2, seco); argilosa; forte grande colunar; muito dura,
muito firme, muito plástica e muito pegajosa.
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 2 – P2
DATA – 24.05.2006
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
A 0-17 cm, bruno-escuro (10YR 3,5/3, úmido) e bruno (10YR 5/3, seco);
franco; moderada média blocos subangulares; ligeiramente dura, firme,
plástica e pegajosa; transição gradual e plana.
E 17-20 cm, bruno acinzentado escuro (10YR 4,5/2, úmido) e cinzento-
brunado-claro (10YR 6/2, seco), mosqueado comum, cinzento claro
(10YR 7/1, seco); franco; moderada média blocos subangulares;
ligeiramente dura, firme, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa;
transição abrupta e plana.
Bt1g 20-30 cm, bruno acinzentado muito escuro (10YR 3/2, úmido) e bruno
acinzentado escuro (10YR 4/2, seco); franco-argilosa; forte grande
145
colunar; extremamente dura, extremamente firme, muito plástica e
muito pegajosa; transição gradual e plana.
Bt2g 30-50 cm, bruno acinzentado (10YR 5/1,5, úmido) e cinzento-brunado-
claro (10YR 6/2, seco); franco-argilosa; forte grande colunar;
extremamente dura, extremamente firme, muito plástica e muito
pegajosa; transição gradual e plana.
BCg 50-80 cm, cinzento (2,5Y 5,5/1, úmido) e cinzento-brunado-claro
(2,5YR 6/2, seco); franco-argilosa; forte grande colunar; extremamente
dura, extremamente firme, muito plástica e muito pegajosa.
A. DESCRIÇÃO GERAL
PERFIL 3 – P3
DATA – 24.05.2006
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
146
C1g 4-14 cm, bruno-acinzentado-escuro (2,5Y 4/2, úmido amassado) e
bruno-oliváceo-claro (2,5YR 5/3, seco); argila-siltosa; maciça; muito
dura, extremamente firme, muito plástica e muito pegajosa; transição
clara e ondulada.
C2g 14-30 cm, bruno acinzentado muito escuro (2,5Y 3/2, úmido) e bruno-
oliváceo-claro (2,5YR 5/3, seco); argila-siltosa; maciça; muito dura,
extremamente firme, muito plástica e muito pegajosa; transição clara e
ondulada.
C3g 30-60+ cm, cinzento (2,5Y 5/1, úmido) e bruno-oliváceo-claro (2,5YR
5/2, seco); argila-siltosa; maciça; muito dura, extremamente firme,
muito plástica e muito pegajosa; transição clara e ondulada.
147
GLOSSÁRIO SOBRE CERÂMICA
148
C
149
Q
Tirar o barro – extrair o solo que será usado pelos artesãos para a confecção
das peças cerâmicas.
Transporte do barro – conduzir a matéria-prima dos “barreiros” para à
comunidade.
150
ROTEIRO DE PERGUNTAS
151