RTDoc 17-10-2023 4 - 53 (AM)
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RTDoc 17-10-2023 4 - 53 (AM)
desafio democrático
Nos Estados Unidos, o conceito de judicial review é restrito à possibilidade de uma corte de justiça
declarar uma lei inconstitucional. Já em países com Constituições analíticas – ambiciosas e
desconfiadas do legislador,1 como o Brasil –, a jurisdição constitucional (terminologia mais
adequada, “equivalente” ao judicial review) abrange, além da invalidação de atos legislativos (judicial
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Abstract judicial review: concretização de direitos e o
desafio democrático
Necessário, então, apresentar breve esboço do sistema constitucional brasileiro,3 acionado em face
de eventual atentado ao princípio da supremacia da Constituição ou do menosprezo à força
normativa de preceitos constitucionais4.
A aplicação direta da Constituição para o fim de invalidar leis a ela incompatíveis era uma raridade
até o início do século XIX. A atuação jurisdicional atrelava-se estritamente às formas previstas em lei,
levando Montesquieu a concluir que o poder de julgar era um poder nulo (“en quelque façon, nulle”).9
Em 1803, com o julgamento do caso Marbury vs. Madison nos Estados Unidos, mudou-se de
paradigma: a Constituição passou a ser dotada de supremacia tal que os atos de outros poderes (a
ela incompatíveis) poderiam ser invalidados por um tribunal.10
Não mais subsiste o pretenso discurso de separação estanque entre as áreas do direito e da política,
havendo sobreposição entre elas.12 Por mais que o direito deva ter uma pretensão autônoma em
relação à política, toda a decisão proferida refletirá também fatores extrajurídicos13 – contudo, é na
aplicação do direito que o distanciamento em relação à política se impõe.14
Constituem causas diretas dessa sobreposição: (i) o reconhecimento do Judiciário para a proteção
de direitos fundamentais e do Estado de direito; (ii) a desilusão com a política majoritária; e (iii) a
preferência dos atores políticos em que seja o Judiciário a instância decisória de questões
polêmicas.15
Questões relevantes do ponto de vista político, social ou moral estão sendo decididas, em caráter
final, pelo Judiciário (fenômeno da judicialização). Há verdadeira transferência de poder para as
instituições judiciais em detrimento do Legislativo e do Executivo. O fenômeno é particularmente
intenso no Brasil, com decisões provocando reações diretas (e, às vezes, enérgicas) nos demais
poderes.16 Entretanto, não se pode imputar “aos Ministros do STF a ambição ou a pretensão [...] de
criar um modelo juriscêntrico, de hegemonia judicial”, haja vista que tal modelo decorre da disposição
constitucional.17
Isso não significa, contudo, que o controle de constitucionalidade represente a mera “submissão das
leis à guilhotina anuladora judiciária”. Com o diálogo entre Judiciário e legislador, existe a
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Deve-se ter em mente a visão externada por John Rawls e sintetizada por Virgílio Afonso da Silva,
de que “o poder final não pode ser deixado para o Poder Legislativo, mas também não para o Poder
Judiciário. O poder final é compartilhado pelos três poderes [...]. Para tanto, é preciso haver diálogo”.
19
A Carta Magna de 1988 proporcionou ao Judiciário o papel de realização de direitos, de forma que
o princípio de separação dos poderes merece ser analisado a partir da Constituição, com a ideia de
controles recíprocos e, principalmente, de diálogo.20
Nesse contexto, merece destaque a teoria de atribuição de poderes desenvolvida por Karl
Loewenstein, posicionando as cortes constitucionais como um dos quatro detentores formais de
poder, ao lado do governo, da assembleia e dos partidos políticos.21 De qualquer sorte, é evidente o
protagonismo e a força conquistados pelo Judiciário.22
Evidentemente, nem sempre é o diálogo que prevalece quando a lei ou ato normativo são
submetidos à jurisdição constitucional. Às vezes, a relação entre os Poderes acaba não sendo
saudável, havendo a possibilidade de um deles simplesmente sobrepor uma decisão sobre a do
outro, sem adequado diálogo e argumentação adequados.
Por isso, faz-se necessário entender a relação da jurisdição constitucional com a democracia, tendo
em vista que juízes anulam atos emanados dos representantes da sociedade. Além de compreender
o ponto de vista judicial, a reação do Legislativo também deve ser objeto de análises.
Referida postura é alvo de críticas, elencadas por J. Waldron em dois argumentos centrais: (i) de
que não existe qualquer razão para crer que os direitos estariam melhor protegidos pelo exercício do
judicial review do que por legislaturas democráticas; e (ii) de que, sob o ponto de vista democrático,
o Judiciário seria ilegítimo para tais decisões.26
A questão da legitimidade da jurisdição para anular atos legislativos foi também tratada por Robert
Alexy. O autor afirma três formas de contemplar a relação entre direitos fundamentais e democracia:
uma ingênua, uma idealista e outra realista.28
Direitos fundamentais seriam antidemocráticos justamente pelo fato de terem a função de “verificar a
adequação do processo democrático ou de negar as decisões da maioria parlamentar legitimada
pelo povo”. Porém, não há simples oposição do direito fundamental à lei (elaborada
democraticamente pelos “representantes do povo”), mas sim a demonstração, “mediante adequada
argumentação”, de que a posição adotada pelo legislativo contrasta com direito fundamental. O
controle de constitucionalidade da lei justifica-se justamente em julgamentos amparados em bons
argumentos, desde que assim reconhecidos “por todas aquelas pessoas racionais que aceitam a
Constituição”.29
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Isso não significa, contudo, que o exercício do controle de constitucionalidade implica nulidade da
maioria dos atos legislativos e normativos impugnados – “a invalidação de atos emanados do
Legislativo é a exceção, e não a regra”.30 Na grande maioria dos casos:
“[...] as cortes constitucionais mantêm a legislação impugnada, julgando improcedente o pedido. Isto
se deve à primazia que a Constituição deu ao Legislativo para a tomada de decisões políticas e à
deferência que os tribunais devem aos atos dos outros ramos do governo, em nome do princípio da
separação de Poderes. Como consequência, uma quantidade relativamente pequena de leis é
declarada inconstitucional” (BARROSO, 2018, p. 2.196).
Já o papel iluminista é empregado no seguinte sentido: “o de uma razão humanista que conduz o
processo civilizatório e empurra a história na direção do progresso social e da liberação de mulheres
e homens”. Cuida-se da superação do senso comum majoritário.35
No Brasil, são várias as decisões que podem ser consideradas iluministas, destacando-se, dentre o
rol, a ADI 4.983, que declarou inconstitucional a prática da vaquejada, e a ADI 4.277, que
reconheceu as uniões entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar – mesmo com 55% da
população brasileira sendo contra referido reconhecimento. Esse fenômeno não é exclusivo do
Brasil.36
Importante frisar, nesse ponto, que a figura da judicialização não se confunde com o ativismo.37
Judicialização é um fato, decorrência direta do modelo constitucional brasileiro,38 e significa “que
algumas das grandes questões políticas, morais e sociais do nosso tempo têm algum dos seus
capítulos decisivos perante os tribunais”.39
Ativismo, por sua vez, opõe-se à autocontenção do Judiciário. O primeiro se manifesta com:
(i) aplicação da Constituição a situações não expressas em seu texto; (ii) declaração de
inconstitucionalidade de atos emanados do Legislativo com base em critérios menos rígidos; e
(iii) imposição de condutas ou abstenções ao Poder Público.
Já a autocontenção toma lugar quando o Judiciário: (i) evita aplicar a Constituição em situações não
expressas em seu texto; (ii) utiliza critérios rígidos e conservadores para declarar inconstitucionais
leis e atos normativos; e (iii) se abstém de interferir na definição de políticas públicas.40
Pode-se afirmar que o ativismo, tal como a judicialização, também tem seu lugar na pauta do Brasil,
expondo um lado positivo e um negativo. A face positiva é de que o Judiciário está atendendo a
anseios da sociedade não satisfeitos pelo Congresso Nacional; enquanto a faceta negativa expõe
“as dificuldades enfrentadas pelo Poder Legislativo”.41
Cabe uma última ponderação sobre o ativismo: ele é um remédio poderoso que, utilizado em
excesso, gera o risco de “se morrer de cura”.42
Sob um sistema de legislative override, o tribunal passaria a ser mais cuidadoso na tomada de
decisões, para o fim de evitar que seus julgamentos sejam superados pelo legislativo. O tribunal
consideraria a resposta do Legislativo e da sociedade antes de anular uma lei ou ato normativo.
Passaria, pois, a se esforçar para posicionar-se do lado da maioria da população (ou, ao menos, que
a maioria do legislativo não manifestasse oposição).44 A popularidade da lei tornar-se-ia um critério
para julgamento e, já de certa forma crítica, pode-se dizer que tornar-se-iam impossíveis as decisões
ditas iluministas.
Esse sistema seria mais apropriado quando “há baixa probabilidade de a maioria [parlamentar]
deliberadamente violar direitos de minorias”,45 e “menos apropriado quando a legislatura perdeu
credibilidade devido a ações pretéritas – como abuso de direitos, corrupção, ou incompetência”.46
Outro fator propício para a implementação desse sistema seria a existência de uma Corte
Constitucional com pouca atuação histórico-política.
Fazendo menção à relação entre direitos fundamentais e democracia cunhada por Alexy, pode-se
afirmar que o legislative override assume uma concepção idealista, em que a maioria parlamentar
jamais defenderia posições capazes de violar direitos fundamentais.
Por mais que o “poder final” não pertença a nenhum dos poderes, a utilização de emendas
constitucionais para “derrubar” posicionamentos do Tribunal, além de banalizar ainda mais o instituto
das emendas, acaba por retirar a autoridade do órgão jurisdicional. Não se cogita que as decisões do
Tribunal sejam intocáveis. O que se pretende é um efetivo diálogo entre os poderes, e não uma
reação imediata do Legislativo movido por fins políticos – um verdadeiro contra-ataque institucional.
Talvez seja nesse momento que a teoria do legislative override encontra um grande obstáculo: as
incertezas do fator político – aqueles fatores extrajurídicos que sondam o próprio Tribunal e, por
óbvio, são manifestos no Congresso. O diálogo institucional, que tem como objeto a efetividade dos
direitos fundamentais, é afastado e preterido pela imposição de interesses meramente políticos, em
vezes alheios aos direitos fundamentais.
É aqui que a concepção realista de Alexy toma parte: direitos fundamentais são também
antidemocráticos. As lições de Barroso convergem nesse ponto: o Tribunal exerce os papéis
contramajoritário, representativo e iluminista.
Propõe-se uma alteração meramente gramatical, não conceitual. A defesa dos direitos fundamentais
não é, em si, antidemocrática por anular atos emanados dos representantes do povo. Retorna-se à
afirmação de Luís Roberto Barroso: “[E]eventual atuação contramajoritária do Judiciário em defesa
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Proteger valores e direitos fundamentais pode significar ir contra a vontade de quem possui mais
votos – a “democracia não se resume ao princípio democrático”. É dever do Supremo Tribunal
Federal, como intérprete final da Constituição, “velar pelas regras do jogo democrático e pelos
direitos fundamentais, funcionando como um fórum de princípios – não de política – e de razão
pública – não de doutrinas abrangentes, sejam ideologias políticas ou concepções religiosas”.48
Entretanto, conforme é reiteradamente afirmado neste artigo, não se pode “anular” o parlamento,
deve prevalecer o diálogo acima de tudo. Caso tenha o Congresso observado com rigidez os valores
e fins constitucionais, sequer há que se falar em atuação do Judiciário.49
Porém, em sendo o caso e, havendo a atuação do Judiciário através do STF, como deve proceder o
órgão do qual foi emanada a lei ou ato normativo tido como nulo?
Toma-se como analogia, nesse ponto, um conceito proveniente do Direito Processual Civil: o
overruling. O Código de Processo Civil de 2015 inaugurou um sistema de força normativa de
precedentes judiciais vinculantes, visando à proteção da igualdade (pelo processo) e da segurança
jurídica. Com referida vinculação, surgiu uma questão: como fazer com que o Tribunal que fixa uma
tese possa (ele mesmo) superá-la, sem que os respectivos recursos esbarrem no juízo de
admissibilidade?50
Barbosa Moreira já entendia que a fixação de uma tese jurídica estava condicionada a diversas
circunstâncias, especialmente à realidade social. Afirmava ser natural a evolução da jurisprudência
com a constante revisão das teses fixadas, alterando-se o entendimento da norma, por mais que
permanecesse o teor literal da lei.53
“[...] audiências públicas e franquear a participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam
contribuir para a rediscussão da tese (art. 927, § 2º), bem como modular os efeitos da alteração no
interesse social e no da segurança jurídica (art. 927, § 3º). Além disso, prevê que as mencionadas
Cortes, sempre que promoverem a modificação do precedente, deverão observar a necessidade de
fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da
proteção da confiança e da isonomia (art. 927, § 4º).55 ”
Assim, deve tal conceito ser transplantado para o tema analisado neste trabalho: os direitos
fundamentais. Evidente que, lançada uma decisão em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade, ela não ficará imune a qualquer mudança. A realidade é fluida, e assim também
deve ser a jurisprudência. Não deve haver o engessamento de uma norma ou de uma interpretação
tão somente por ter havido acórdão proveniente do STF.
Por óbvio, cabe a reanálise da matéria pelo próprio STF, eis que dele emanou a decisão. Entretanto,
independentemente da provocação do Poder Judiciário, entende-se cabível a revisão da decisão
proferida pelo Legislativo. Observada uma discussão constituída por amplo debate e uma decisão
pautada em fundamentação necessária e adequada, considerando – acima de tudo – a primazia
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dos direitos fundamentais, abre-se a possibilidade de que o Legislativo supere a tese firmada por
meio do controle abstrato concentrado. Sobre o tema:
“[...] se a função precípua do STF é atuar como ‘guardião da constituição’, e se compete à maioria de
três quintos das Casas Legislativas alterar formalmente a constituição, a princípio não há óbice a
que, aprovando-se emenda que altere a norma constitucional que fundamenta decisão do STF,
acabe-se por conduzir, ainda que por via reflexa, à modificação da jurisprudência constitucional da
Suprema Corte.57 ”
Afirma, ainda, que o Congresso Nacional não poderia reverter a interpretação conferida pelo STF.
Todavia, considerando a não vinculação do posicionamento do STF ao Poder Legislativo, aponta que
“não se pode afastar a possibilidade de ser aprovada emenda constitucional em sentido contrário à
interpretação conferida pelo STF”, nem de o próprio Supremo rever o posicionamento.58 Em síntese,
a atuação contramajoritária do Judiciário deixaria de criar obstáculos para que “os canais de
deliberação democrática promovam alterações substanciais no projeto de desenvolvimento social
concebido pela geração constituinte”.
Ressalta, porém, os casos em que essa emenda é (ela mesma) submetida ao controle de
constitucionalidade e, consequentemente, “derrubada”, bem como a hipótese em que Judiciário e
Legislativo não obtenham consenso “sobre os seus âmbitos de atuação”. Nessas hipóteses,
instalar-se-ia um impasse constitucional.59
A doutrina lista hipóteses, suposições e estipula constantes a fim de relacionar a taxa de nulidade
proveniente do exercício do controle de constitucionalidade com variáveis políticas, jurídicas e
institucionais.
Tomio, Robl Filho e Kanayama60 compilam diversos estudos referentes ao abstract judicial review,
listando as seguintes hipóteses: (i) a maior rigidez constitucional elevaria a taxa de declaração de
nulidade (cf. Lipjhart); (ii) a maior politização judicial, com o consequente aumento da participação
de veto players (governo, parlamento e partidos políticos), elevaria o número de atos e leis
declarados inconstitucionais (cf. Alivizatos); (iii) uma maior estabilidade política, decorrente da
participação direta de veto players, elevaria a taxa de inconstitucionalidade (cf. Tsebelis); e (iv) de
que o controle abstrato restringe a descentralização (cf. Bzedera).
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Os mesmos autores apresentam, ainda, a ideia de que (v) o maior número de legitimados para
propor ações em controle concentrado, aliado à autonomia individual e coletiva da corte e dos juízes,
aumentaria o número de atos declarados nulos; em contrapartida, baixos índices de declaração de
nulidade caracterizariam a absorção da corte pela coalizão.
Contudo, conforme apresentado pelos próprios autores, apenas a rigidez constitucional guardaria
associação positiva com a taxa de declaração de nulidade de atos normativos (quando comparados
os dados de Brasil, México, Portugal e Espanha).61 Propuseram, portanto, a incorporação de
variáveis políticas na explicação das decisões: composição do parlamento ou governo, nomeações
individuais para as cortes e a relação entre o nomeado e o governo, a posição majoritária do governo
na constitucionalidade – ou não – e o tempo despendido até que fosse proferida decisão pela
corte.62
Através dos dados fornecidos pelos repositórios de Tribunais e Cortes Constitucionais do Brasil,
Espanha, Itália, México e Portugal, foram compiladas as decisões (em sede de controle concentrado
e abstrato) proferidas entre 2010 e o primeiro semestre de 2019.
Com esses dados, pretendia-se analisar as seguintes variáveis: (i) composição do parlamento ou
governo; (ii) nomeações individuais para as cortes; (iii) a relação entre o nomeado e o governo;
(iv) a posição majoritária do governo na constitucionalidade – ou não – da lei ou ato normativo;
(v) rigidez constitucional; e (vi) tempo despendido até a decisão final.
No período compreendido entre 2010 e 2019, o STF julgou, em sede de decisão final, 1.437 ADIs.
Delas, apenas 517 tiveram o julgamento procedente, declarando a inconstitucionalidade (parcial ou
total63 ) de lei ou ato normativo federal. Constatou-se, também, que o tempo médio para que seja
proferida uma decisão é de sete anos e oito meses.
Há de se consignar que, ao menos no caso brasileiro, não é correto afirmar que a forma de indicação
de Ministros ao STF compromete a autonomia do Judiciário. Conforme Virgílio Afonso da Silva, um
dos motivos que garante a autonomia dos Ministros é o fato de o processo de escolha depender não
apenas da escolha do Presidente da República, mas também do Senado Federal – este,
responsável por sabatinar e aprovar (ou não) o indicado.65 Sem prejuízo, considerando que os
Ministros mantêm o cargo até serem (em regra) compulsoriamente aposentados, suas atividades no
Tribunal ultrapassam, muitas vezes, o tempo de mandato do Presidente que os indicou.66
Para fins de exposição, considerando a ressalva já apresentada (de que as decisões foram
“simplificadas” em procedentes e improcedentes), apresentam-se os dados colhidos nos países,
outrora indicados, no período compreendido entre 2010 e o primeiro semestre de 2019:67
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Antes de prosseguir com o estudo, a quantidade de processos julgada pelo STF merece destaque.
De fato, existem ações ajuizadas há anos, entretanto, considerando o sobrecarregamento do
Tribunal, é evidente que sua taxa de eficiência é alta.68
Imagine-se a seguinte hipótese: uma ADI que contenha dez pedidos, todos referentes a diferentes
dispositivos de uma lei específica. O que se requer não é a inconstitucionalidade da lei, mas de
artigos, incisos ou parágrafos específicos. A decisão proferida pelo Tribunal pode declarar nove dos
dez dispositivos inconstitucionais e seria contabilizada, através do critério quantitativo adotado
apresentado anteriormente, como uma decisão que de fato declarou a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo.69
Porém, e se o único dispositivo que não foi tido como inconstitucional fosse a verdadeira razão do
ajuizamento da ADI? Isto é, e se o único pedido julgado improcedente fosse o que realmente
causasse impactos na sociedade? E se aquele único dispositivo fosse o que mais causasse debates
e implicações práticas nos cidadãos e no livre exercício dos direitos fundamentais?
Nessas hipóteses, por mais que 90% (noventa por cento) da ADI tenha o julgamento de
procedência – pela decretação de nulidade de lei ou ato normativo –, a análise qualitativa não
permite que tal decisão seja tida como de “procedência”. O real objetivo não foi alcançado, a
verdadeira tutela jurisdicional pretendida não foi efetivada.
Não se está desmerecendo, por óbvio, a análise quantitativa – que, inclusive, funda os dados
empíricos deste trabalho. Ela é necessária, importante e essencial para determinados fins. Contudo,
não é possível adotar um discurso cego à análise qualitativa.
Além do exemplo hipotético apresentado, uma ADI não é “binária”. Os resultados da ADI (seja a
análise qualitativa ou quantitativa) podem ser outros além da declaração de constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo. Pode haver interpretação conforme ou declaração
parcial de nulidade sem redução de texto, por exemplo.
Na interpretação conforme (que “não constitui método de interpretação, mas técnica de controle de
constitucionalidade”), persiste a constitucionalidade da norma mesmo quando a ADI é julgada
procedente, haja vista que apenas a “interpretação suscitada [pelo requerente] é reconhecida
incompatível com a Constituição”. Já na declaração parcial de nulidade sem redução de texto,
reconhece-se a aplicação de determinada norma em certa situação (suscitada pela parte),
“admitindo-se sua aplicabilidade em outras situações”.70
A apresentação dos diferentes pedidos formulados e resultados de uma ADI é feita justamente para
ilustrar “ponto cego” da análise quantitativa. Em uma primeira análise, pode-se cogitar que a
declaração de nulidade de um tribunal, em sede de controle abstrato/concentrado, é alta. Porém,
analisando decisão por decisão (de forma qualitativa), existe a hipótese de a maioria das decisões
que julgaram os pedidos como procedentes deixou de anular o verdadeiro dispositivo que fundou
toda a controvérsia, ou que simplesmente declarou como inconstitucional determinada interpretação
da norma – mantendo-a no ordenamento.
Neste trabalho, serão analisadas apenas duas variáveis: o tempo despendido até a decisão final e a
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rigidez constitucional. Neste item, serão expostas ações-modelo para fins de amostragem. Após,
serão os dados dessas ações submetidas à variável temporal para o fim de constatar se, quanto
maior ou menor o tempo, maior a taxa de constitucionalidade.
Foram selecionadas as seguintes ADIs para o estudo: (i) ADI 4.983, que declarou inconstitucional a
vaquejada; (ii) ADI 3.937, que declarou constitucional a proibição do amianto; (iii) ADI 4.277, que
reconheceu as uniões entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar; e (iv) ADI 5.508, que
julgou constitucional a celebração de acordos de colaboração premiada por delegados de polícia.
A ADI 4.983 foi ajuizada pela Procuradoria-Geral da República em 31 de maio de 2013, pretendendo
a declaração de inconstitucionalidade da Lei 15.299/2013 do Estado do Ceará – que regulamentou
a vaquejada como prática desportiva e cultural. Em 2016 (publicação em 27 de abril de 2017), o
Min. Marco Aurélio, após analisar ambos os princípios envolvendo a questão (de um lado o direito
fundamental ao meio ambiente sadio e equilibrado; de outro, direito fundamental à cultura e ao
patrimônio histórico), decidiu pela inconstitucionalidade da vaquejada.71
Em 1º de agosto de 2007, foi ajuizada a ADI 3.937. Nela, a Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Indústria (CNTI) pretendia que a proibição do uso de amianto (da espécie
crisotila) fosse declarada inconstitucional. O julgamento se encerrou no ano de 2017 (publicação em
1º de fevereiro de 2019), tendo o Tribunal julgado improcedente a ação. No acórdão, os direitos
fundamentais à saúde e ao meio ambiente levaram à improcedência da ADI, enquanto a
argumentação da CNTI tinha como premissa o direito fundamental à livre iniciativa, da livre
concorrência e da propriedade.
No que se refere à ADI 4.277, houve a afirmação do direito fundamental à dignidade da pessoa
humana – representada, no caso, pela liberdade sexual, pelo livre desenvolvimento da
personalidade e pela busca da felicidade. O julgamento ocorreu em 2011 (publicação em 14 de
outubro de 2011). A ação foi proposta pela Procuradoria-Geral da República em 05 de dezembro de
2006.
Por fim, a ADI 5.508 foi proposta também pela Procuradoria-Geral da República – em 26 de abril de
2016. A ação questionava dispositivos da Lei 12.850/13 (LGL\2013\7484) (que define organização
criminosa e trata da colaboração premiada), especificamente os §§ 4º e 6º, que permitiam ao
delegado de polícia firmar acordos de colaboração premiada. Em 20 de junho de 2018, a ação foi
julgada improcedente.
As quatro ações apresentadas versam sobre temas diversos, porém, todas têm um ponto de
convergência: abordaram temas polêmicos, dignos de manchetes e cobertura jornalística. Ato
contínuo, todas elas envolveram diretamente direitos fundamentais, sejam de primeira, segunda ou
terceira geração.
Tem-se, portanto, que a ação com a maior tramitação é a relativa ao amianto. Talvez pela pressão
da indústria – que, de fato, gerava empregos –, a ação tomou longo período. De outro vértice, a
ADI com resultado mais célere envolve garantias processuais penais – questão “meramente”
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Analisando todas as ações entre 2010 e 2019, o tempo médio para decisão era de sete anos e oito
meses, com taxa de nulidade média de 36%. Nas quatro ações anteriormente apresentadas, apenas
uma foi julgada procedente, pela inconstitucionalidade – representando 25%. Sem prejuízo, essa
única ADI julgou determinado ato normativo inconstitucional demorou três anos para sua conclusão.
De certo modo, pode-se dizer que a baixa taxa de nulidade do STF acabou constatada nessas
quatro ADI’s, afinal, apenas uma delas declarou nulidades. Quanto ao tempo médio de tramitação,
este foi de cinco anos nas quatro ADI’s aqui analisadas. Novamente, há certa relação com a média
geral constatada (de quase sete anos e oito meses).
Em item anterior, foi afirmado que, quanto menor o tempo despendido até o julgamento, maior é a
taxa de nulidade. Nas quatro ações analisadas, a segunda que menos demorou foi a única que
declarou nulidade de lei. A afirmativa se confirma. Veja-se que, após três anos, houve a declaração
de inconstitucionalidade. Já na ADI 3.937, que demorou dez anos até haver uma decisão final, o
resultado foi improcedente.
Embora não seja possível afirmar, categoricamente, constantes e verdades no mundo jurídico, é
possível constatar certa relação entre as constantes encontradas no estudo quantitativo com os
resultados provenientes do estudo dessas quatro ADI’s. A priori, a taxa de nulidade de atos é maior
quanto menor o tempo para decisão.
Em um âmbito global, esse resultado advém, talvez, do grande número de ações diretas distribuídas
junto ao STF. Isto é, basta que um ato gere certa comoção na sociedade que determinados partidos
políticos ingressam, em seguida, com uma ADI para “restabelecer a ordem”. Entretanto, muitas
dessas ações são desde já indeferidas, afinal, nem sempre preenchem os requisitos legais para
tanto.
Para além do rol enxuto de legitimados para propor emendas à constituição, a formação de uma
supermaioria apresenta-se como requisito para que seja a emenda aprovada. Constatados esses
fatos, fica claro que a Constituição da República de 1988 se inclui no quadro de constituições rígidas.
Como explicar, então, mais de cem emendas à constituição em pouco mais de 30 anos de vigência
da CF/88 (LGL\1988\3)?
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Por mais que esteja inserta no rol de constituições rígidas, pode-se afirmar – por meio de dados
empíricos – que a Constituição brasileira apresenta uma das menores taxas de rigidez (efetiva) em
toda a América Latina.75 Ou seja, a rigidez do texto constitucional acaba por residir apenas no campo
formal, sendo que a realidade expõe uma faceta muito mais “flexível”, fator esse que “explica” o
grande número de emendas à Constituição.
Partindo da tabela apresentada no item 3.1., 36% das ações diretas de constitucionalidade
analisadas pelo STF entre 2010 e 2019 foram julgadas procedentes – declararam a nulidade de
dispositivos. Esse percentual é nitidamente baixo, ainda mais quando comparado com os índices de
Espanha (50%), Itália (67%), México (54%) e Portugal (56%).
Torna-se claro que a rigidez constitucional brasileira é muito mais formal do que real. Inclusive, isso
acaba por ratificar uma das conclusões de Tomio, Robl Filho e Kanayama, de que a rigidez
constitucional guarda associação positiva com a taxa de declaração de nulidade de atos normativos.
Quanto menor a rigidez, menor o índice de nulidade.77
Uma observação, porém, é necessária. A rigidez acima aludida é aquela real, verificada
fatidicamente e nos dados do respectivo Tribunal. Isso porque, considerando a rigidez estabelecida
em nossa Constituição, a conclusão seria justamente a inversa.
6. Considerações finais
O papel do STF é de, acima de tudo, proteger e promover direitos fundamentais, resguardando as
regras do jogo democrático, seja com apoio ou de forma contrária ao anseio popular. Atuar de forma
contramajoritária, porém, não significa ser antidemocrático, muito pelo contrário, pode significar a
efetiva implementação de direitos.
Frisa-se que esse papel não seria necessário em uma sociedade utópica, em que jamais houvesse
proposta legislativa que implicasse afronta aos direitos fundamentais; ou em que democracia e
direitos fundamentais jamais pudessem colidir. A realidade é outra e a atuação jurisdicional deve ser
condizente.
A maioria das críticas direcionadas ao STF são referentes a eventual violação de um direito no
momento de decidir. Talvez essa seja a questão de maior relevância e elas (as críticas) sempre irão
existir. Os casos apreciados não detêm resposta simples – esses de menor complexidade,
inclusive, sequer são objeto de grande debate. Todo caso complexo pode ter mais de uma resposta,
e isso é crucial para entender a atuação da Corte.
Essa posição atuante, por certo, acaba ocupando lacunas deixadas por outros Poderes ou, em
determinados casos, terreno alheio. É nesse momento de tensão institucional que conflitos entre
Poderes aparecem, ainda mais quando os interesses tutelados afetam diretamente a própria
sociedade. Por essa razão, o diálogo institucional é medida necessária a todo momento, evitando
sobreposições e conflitos propriamente ditos.
Do mesmo modo que o Legislativo pode tomar a decisão acertada, pode tomar decisões erradas (a
depender da subjetividade do indivíduo). Porém, salvo se houver inconstitucionalidade, não pode o
STF anular questões advindas de outro Poder. O controle é legal-constitucional, não de conveniência
e oportunidade. De outro lado, caso o STF tome uma decisão devidamente fundamentada, não
parece correto a aprovação de uma emenda à constituição tão somente por haver discordância para
com a decisão tomada. O cenário ideal envolve, acima de tudo, diálogo.
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Abstract judicial review: concretização de direitos e o
desafio democrático
Sob a ótica judicial, isto é, da atuação da Corte Suprema, este artigo se propôs a encontrar
constantes na taxa de nulidade de atos declarada pelo Tribunal. Evidentemente, não é possível
localizar constantes exatas, afinal, Direito não é um simples cálculo de soma ou subtração. Porém, a
taxa de nulidade de atos aparenta ser maior quanto menor o tempo para decisão. Além disso, ainda
que rígida no aspecto formal, a Constituição apresenta faceta mais maleável no campo prático, razão
pela qual a rigidez constitucional guarda associação positiva com a taxa de nulidade – quanto
menor a rigidez, menor o índice de nulidade.
Concluindo, tem-se uma Suprema Corte forte e atuante, responsável por resguardar direitos
fundamentais. Isso, por si só, já causa intenso desgaste – afinal, o controle de constitucionalidade
implica a escolha de um lado em casos complexos e de grande repercussão. O papel do STF,
contudo, não é “final”. É possível que eventual matéria seja revisitada pelo próprio Tribunal ou
superada pelo Legislativo – ficando aqui as críticas ao uso indevido de emendas constitucionais.
Diferentemente do que parece, porém, o STF não é um “carrasco” de atos dos demais poderes, sua
taxa de nulidade é relativamente baixa. Assim, ao mesmo tempo que expõe sua força democrática
(protetiva e promovente), nos números, respeita decisões que também possuem viés democrático
(este, representativo). Como projeto futuro, independentemente da situação atual, deve-se ter em
mente a primazia do diálogo institucional, essencial para o bom funcionamento da democracia como
um todo.
7. Referências
ARAUJO, Luis Claudio Martins; MORAES, Guilherme Braga Peña de. Contramajoritarismo,
diálogo-argumentativo e legitimação das expectativas institucionais: o papel estabilizador das Cortes
nas sociedades complexas. Revista Quaestio Iuris, v. 11, n. 2, Rio de Janeiro, 2018.
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de políticas públicas. Rev. direito GV, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 59-85, jun. 2012. Disponível em:
[https://bit.ly/2Xj6ZJV]. Acesso em: 31.08.2021.
LEAL, Mônia Clarissa Hennig; MORAES, Maria Valentina de. “Diálogo” entre Poderes no Brasil? Da
inconstitucionalidade da regulação da vaquejada à vaquejada como patrimônio cultural imaterial
brasileiro: uma análise crítica. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, v. 5, n. 1,
p. 63-81, jan./abr. 2018.
LIPIANI, Júlia. Como promover a superação dos precedentes formados nos julgamentos de recursos
repetitivos por meio dos recursos especial e extraordinário? In: GALINDO, Beatriz Magalhães;
KOHLBACH, Marcela (Coords). Recursos no CPC/15 (LGL\2015\1656): perspectivas, críticas e
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Abstract judicial review: concretização de direitos e o
desafio democrático
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civil: teoria do processo civil. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2017. vol. 1.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 12. ed.
São Paulo: Saraiva, 2017.
SILVA, Virgílio Afonso da. O STF e o controle de constitucionalidade: deliberação, diálogo e razão
pública. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 250, p. 197-227, jan. 2009. Disponível
em: [https://bit.ly/3dQpoTX]. Acesso em: 31.08.2021.
SILVA, Virgílio Afonso da. A atual forma de indicação dos ministros do STF compromete a autonomia
do Judiciário? Não. Revista Folha de São Paulo. São Paulo, 19 jun. 2008. Disponível em:
[https://bit.ly/3585X5k]. Acesso em: 30.08.2021.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 30. ed. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda., 2008.
STEPHANOPOULOS, Nicholas. The Case for the Legislative Override. UCLAJournal of International
Law and Foreign Affairs, v. 250, n. 10, 2005. Disponível em: [https://bit.ly/3bMWfY0]. Acesso em:
31.08.2021.
WALDRON, J. The Core Against Judicial Review. The Yale Law Journal, v. 115, 2006.
ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia das liminares nas ações de controle concentrado de
constitucionalidade. Revista de Processo, n. 98, p. 275, abr./jun. 2000.
4 .ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia das liminares nas ações de controle concentrado de
constitucionalidade. Revista de Processo, n. 98, abr./jun. 2000. p. 275.
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Abstract judicial review: concretização de direitos e o
desafio democrático
5 .Dar-se-á o controle abstrato concentrado através das seguintes ações: Ação Direta de
Inconstitucionalidade; Ação Direta de Constitucionalidade; Ação Direta de Inconstitucionalidade por
Omissão; Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental.
7 .Sobre o tema: CASTRO, Moisés Coelho; BORGES, Daniel Damásio. Do “concreto” ao “abstrato”:
a tendência de abstrativização do controle de constitucionalidade no Brasil. Revista da Faculdade de
Direito do Sul de Minas, v. 35, p. 211-233, 2019.
8 .Conforme enuncia o art. 102, I, a), da Constituição Federal de 1988, compete ao Supremo
Tribunal Federal o processamento e julgamento da “ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal ou estadual (...)”.
9 .MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de
processo civil: teoria do processo civil. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2017. v. 1. p. 286.
12 .Remete-se aqui, inclusive, ao conceito de sistema elaborado por Luhmann, no sentido de que o
sistema jurídico é normativamente fechado, mas cognitivamente aberto. Ou seja, não há que se falar
em isolamento total, em “pureza”.
14 .Ibidem, p. 2.217.
15 .Ibidem, p. 2.177.
19 .Ibidem, p. 221.
22 .Cf. BARBOZA, Estefânia Maria de Queiroz; KOZICKI, Katya. Op. cit., p. 64: “Esse aumento de
deferência do Legislativo para o Judiciário aconteceu em várias nações ao redor do mundo,
transformando as Supremas Cortes no mais importante corpo de tomada decisão política”.
23 .Vale ressaltar, porém, que existem casos em que o papel exercido pelos tribunais se deu “contra
os direitos das minorias”. Sobre o tema: ARAUJO, Luis Claudio Martins; MORAES, Guilherme Braga
Peña de. Contramajoritarismo, diálogo-argumentativo e legitimação das expectativas institucionais: o
papel estabilizador das Cortes nas sociedades complexas. Revista Quaestio Iuris, v. 11, n. 2, Rio de
Janeiro, 2018. p. 927-931.
27 .WALDRON, J. The Core Against Judicial Review. The Yale Law Journal, v. 115, 2006. p. 1.406.
Do original: “(...) inappropriate for reasonably democratic societies whose main problem is not that
their legislative institutions are dysfunctional but that their members disagree about rights”.
28 .MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Op. cit., p. 98.
29 .Ibidem., p. 100-101. Frisa-se o trecho extraído pelos autores da obra Balancing, constitutional
review and representation.International Journal of Constitutional Law, v. 3, n. 4, p. 572-581,
out. 2005. p. 580, de Robert Alexy: “O controle judicial de constitucionalidade pode obter sucesso
somente se os argumentos apresentados pelo tribunal constitucional são consistentes e somente se
um número suficiente dos membros da comunidade está apto e desejoso de exercer suas
capacidades racionais”.
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Abstract judicial review: concretização de direitos e o
desafio democrático
33 .Ibidem, p. 2.197-2.198.
34 .Ibidem, p. 2.205.
35 .Ibidem, p. 2.208-2.209.
36 .Ibidem, p. 2.215-2.216.
37 .Cabe aqui destacar a fala do ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, em
seu artigo “Poder Judiciário: ativismo versus proatividade”: “O ativismo é proibido, a proatividade é
dever. Dever de desentranhar dos dispositivos jurídicos, isoladamente e também imersos no sistema
de que eles façam parte, todas as respectivas angulações ou propriedades normativas. Dever de não
ficar aquém do potencial normativo ali engastado. Dever, enfim, de imprimir aos enunciados jurídicos
todos os ganhos de funcionalidade sistêmica a que eles se predisponham. Inclusive e sobretudo
diante de comandos ativistas por si mesmos. Ativismo, óbvio, não como subjetiva postura do
intérprete, porém como objetivo traço de preceitos que tudo investem na sua própria força normativa.
Sem nenhuma dependência de legislação intercalar, portanto. Como faz a Constituição, por
amostragem, nos parágrafos 1.º e 2.º do seu artigo 5.º: o primeiro, a dizer que ‘as normas definidoras
dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata’# o segundo, a ordenar que ‘os direitos
e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados (...)’. Concluo, citando opinião atribuída a Michelangelo: ‘As estátuas não se fazem.
Elas já estão feitas no mármore bruto. Eu apenas removo os excessos’. Pois assim é que deve ser o
atuar do juiz: apenas desvelar (de tirar os véus) a inteira compostura das normas jurídicas. Desvelar
argumentativamente normas já abrigadas no objeto de sua interpretação. Mas fazê-lo com todo o
empenho, paciência, imparcialidade, independência, sentimento, pensamento e consciência, pois a
norma só se dá por inteiro a quem por inteiro se dá a ela”. Disponível em:
[https://ayresbritto.adv.br/poder-judiciario-ativismo-versus-proatividade-ayres-britto/].
38 .BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática, Op. cit.,
p. 25.
40 .BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática, Op. cit.,
p. 26.
41 .Ibidem, p. 27.
42 .Ibidem, p. 32.
43 .STEPHANOPOULOS, Nicholas. The Case for the Legislative Override. UCLA Journal of
International Law and Foreign Affairs, v. 250, n. 10, 2005. p. 264-269.
44 .Ibidem, p. 280-281.
45 .Ibidem, p. 291. Do original: “[the legislative override system] is most apposite when there is a
relatively low probability that the majority will deliberately violate minority rights”.
46 .Idem. Do original: “[The override] is least appropriate when the legislature has been discredited
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desafio democrático
due to its past actions - such as abuse of rights, corruption, or general incompetence”.
48 .BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática, Op. cit.,
p. 28.
49 .Idem.
50 .LIPIANI, Júlia. Como promover a superação dos precedentes formados nos julgamentos de
recursos repetitivos por meio dos recursos especial e extraordinário? In: GALINDO, Beatriz
Magalhães; KOHLBACH, Marcela (Coords). Recursos no CPC/15 (LGL\2015\1656): perspectivas,
críticas e desafios. Salvador: Editora JusPodivm. p. 146-147.
51 .Ibidem, p. 160.
52 .Ibidem, p. 148.
53 .Idem.
54 .Ibidem, p. 152-153.
55 .Ibidem, p. 151.
56 .LEAL, Mônia Clarissa Hennig; MORAES, Maria Valentina de. “Diálogo” entre Poderes no Brasil?
Da inconstitucionalidade da regulação da vaquejada à vaquejada como patrimônio cultural imaterial
brasileiro: uma análise crítica. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./abr.
2018. p. 76.
58 .Idem.
59 .Ibidem, p. 121.
61 .Ou seja, quanto maior a rigidez constitucional, maior seria a taxa de nulidade da respectiva
corte/tribunal.
62 .Em relação ao fator “tempo”, vale a ressalva de que o direito à duração razoável do processo
(art. 5º, LXXVIII, CF/88 (LGL\1988\3)) não se confunde com o direito a processo rápido ou célere. A
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desafio democrático
duração do processo, para ser razoável, deve ser proporcional à especificidade do direito material
tutelado em juízo. Para fins de aferição da concretização do direito à duração razoável do processo,
são aplicados os parâmetros (i) da complexidade da causa, (ii) sua importância na vida do litigante,
(iii) o comportamento das partes e (iv) o comportamento do juiz. Evidentemente, os critérios devem
ser adaptados na ação direta de inconstitucionalidade, eis que não há “partes” propriamente ditas; o
comportamento é o do Tribunal; e a importância é na vida não do requerente, mas de toda a
coletividade. Sobre o tema: MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO,
Daniel. Op. cit., p. 270-273.
65 .Todavia, Leonardo Scofano Damasceno Peixoto aponta que, caso o Senado não realize de
forma verdadeiramente efetiva a sabatina do indicado, o sistema de indicação poderá gerar uma
ligação (talvez indesejável) entre o Ministro e o Presidente que o indicou. Sobre o tema: PEIXOTO,
Leonardo Scofano Damaesceno. Op. cit., p. 60.
66 .SILVA, Virgílio Afonso da. A atual forma de indicação dos ministros do STF compromete a
autonomia do Judiciário? Não. Revista Folha de São Paulo. São Paulo, 19 jun. 2008. Disponível em:
<https://bit.ly/3585X5k>. Acesso em: 31.08.2021.
68 .Responsável não apenas por ADIs, mas também para ADCs, ADPFs, extradições solicitadas por
Estado estrangeiro, infrações penais comuns de detentores de determinados cargos, habeas corpus,
mandados de segurança, habeas data, mandados de injunção, recursos extraordinários etc.
69 .Novamente, destaca-se que não é toda a compilação quantitativa que chegaria a tais resultados.
Os dados coletados nesse estudo foram simplificados para fins de demonstração. Por óbvio, uma
análise criteriosa das 1.437 ADIs coletadas poderia alcançar resultados diversos, mas não muito
diferente dos encontrados.
70 .MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Op. cit., p. 76.
71 .Sobre o tema: LEAL, Mônia Clarissa Hennig; MORAES, Maria Valentina de. Op. cit.
72 .MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional.
12. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. [e-book] Capítulo 1, IV - Classificações, 3. Constituições rígidas e
flexíveis.
73 .Idem.
74 .SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 30. ed. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda., 2008. p. 41.
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Abstract judicial review: concretização de direitos e o
desafio democrático
75 .FERNANDES, Antônio Alves Tôrres. Op. cit., p. 21. Até 2008, apenas Honduras possuía uma
taxa maior de emendas à Constituição, estando o Brasil no mesmo patamar que Colômbia e México.
77 .TOMIO, F. R. L.; ROBL FILHO, I. N.; KANAYAMA, R. L. Comparative studies of … Op. cit.,
p. 168.
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