Saúde
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INSTITUTO DE FÍSICA
Niterói, RJ
2021
1
LUIZ PAULO DA SILVA ROCHA
Orientação:
Prof Dr Kita Chaves Damasio Macario e BSc Ingrid Silva Chanca
Niterói, RJ
2021
2
3
4
Trabalho realizado no Laboratório de Radiocarbono, pertencente ao Instituto
de Física da Universidade Federal Fluminense. Sob a orientação da Dr. Kita
Macario e Ingrid Chanca. Com apoio financeiro de PROPPI, CNPq e FAPERJ.
5
"A parte mais importante do progresso é o desejo de progredir."
Sêneca
6
Agradecimentos
7
Resumo
8
diferenças nos dados resultados, e utilizar fragmentos de carvão com quantidade
antes considerada insuficiente para análise e interpretar os resultados com maior
acurácia, podendo, dessa maneira entender melhor os paleoincêndios.
9
Abstract
In this work we seek to understand the process of carbon dating by the carbon
14 technique in the context of paleofires that occurred in the Amazon Basin region.
Establishing the chronology of the fires, their frequency and extent, requires the
analysis of a large number of dates obtained from coal fragments. Thus, it is
essential that the parameters that interfere with the accuracy and precision of these
results are understood and optimized. To this end, our work describes the steps
involved in dating coal samples by mass spectrometry with accelerators, from
sample preparation to interpretation of results.
With regard to the chemical treatment of the samples, we seek to compare the
protocols used in the Radiocarbon Laboratory at UFF and in the UK laboratory
NERC-SUERC where the coal samples of the project are being analyzed. The
results show that in 9 out of the 11 samples there was no considerable amount
of contamination, which does not make it possible to draw conclusions regarding
the chemical treatment for this group of samples, however it does indicate the
possibility that there are charcoals that may not need chemical treatment, since
they do not have a significant amount of contamination. If so, it will be a great
advantage since most of the samples collected do not have a diameter greater than
1 cm, which makes it very likely that they will be dissolved in the treatment, and if
we can avoid this treatment we can measure charcoals that could not be otherwise
measured. In general, the results show agreement between chemical treatments,
which shows that there is reproducibility in the methods and each laboratory can
follow the protocol that is most convenient.
In parallel, we use a mathematical model to represent the probability that a
charcoal fragment data will result in a dating older than the fire event. With this
model we will be able to mitigate errors specifically from coal, such as the Ancient
Wood Effect, where the radiocarbon signature of the coal belonging to a ring does
not correspond to the signature of the context we want to analyze, such as the fire
that killed the tree.
Based on this preliminary study, we will be able to analyze when we will be
able to combine results from the two laboratories, that is, to be able to analyze
the data from the different laboratories knowing that the treatments carried out do
not produce differences in the results data, and use fragments of charcoal with an
10
amount previously considered insufficient for analysis and to interpret the results
with greater accuracy, being able, in this way, to better understand the paleo-fires.
11
Conteúdo
1 Introdução 15
2 O Radiocarbono 18
2.1 Carbono-14: nascimento, vida e morte . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2 A concentração de 14 C no ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Datação de Radiocarbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.3.1 Espectrometria de massa com aceleradores - AMS . . . . 27
2.3.2 Correções para premissas teóricas . . . . . . . . . . . . . 30
2.3.3 Calibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4 Materiais e métodos 43
4.1 Carvões da Bacia Amazônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2 Tratamento químico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.3 Combustão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.4 Purificação do CO2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.5 Conversão em grafite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5 Resultados e discussão 49
5.1 Intercomparação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.2 Análise matemática dos anéis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
6 Conclusão 56
12
Lista de Figuras
13
Lista de Tabelas
14
Capítulo 1
Introdução
15
sítios arqueológicos ou em incêndios ambientais(Caldararo, 2015).
Nos sítios arqueológicos o uso da madeira em atividades necessárias à sobre-
vivência e que gerem o carvão, como nas fogueiras para se manter aquecido ou
assar a comida, ou mesmo em rituais tribais, como no ato da cremação de um
corpo, nos ajuda a entender os costumes dos povos antigos que não poderiam ser
descobertos de outra maneira (Scheel-Ybert et al., 2008).
Nos incêndios ambientais as datas de radiocarbono em conjunto com a análise
do carvão em si nos dão dados que possibilitam saber as origens do fogo, seja ele
natural ou antrópico. Para os incêndios naturais, conhecer onde e em que época
aconteceram permite construir planos para prever e lidar com queimadas futuras,
para melhor manter o equilíbrio do ecossistema. Da mesma forma estes resultados
ajudam no combate às práticas antiéticas como queimadas humanas e ilegais (ao
analisar os carvões destes incêndios) e no comércio de carvão vegetal ilegal (que
destroem a mata nativa e muitas vezes vêm de carvoarias com trabalho infantil
e semi escravo (Gonçalves and Scheel-Ybert, 2012)), já que o Brasil é um dos
maiores produtores deste tipo de carvão no mundo.
Porém apenas entender os mecanismos teóricos acerca da produção e datação
de carvão não são o suficiente. É necessário também o domínio dos protocolos
laboratoriais para o manuseio e tratamento do carvão, desde seu manuseio até os
produtos químicos utilizados, de forma a se remover contaminantes que deturpem
a idade real dos eventos que se deseja datar e não que os introduza na manipulação
inadequada deste tipo de amostra.
O projeto "Do past fires explain current carbon dynamics of Amazonian fo-
rests?"(Incêndios antigos explicam a atual dinâmica do carbono nas florestas
amazônicas?) é uma colaboração entre universidades brasileiras (como a UFF
e UFAC, Universidade Federal do Acre) e universidades internacionais no Reino
Unido (Universidade de Exeter) e Austrália (Universidade James Cook e Uni-
versidade de Queensland) para tentar relacionar os incêndios antigos da Bacia
Amazônica com a dinâmica de CO2 das florestas. Usando datações de radiocar-
bono dos carvões encontrados no solos dessa grande região o projeto tem como
objetivo auxiliar análises para futuras legislações para reduzir a perda de flores-
tas e entender melhor as mudanças climáticas na região amazônica, assim como
beneficiar as futuras gerações, pois a maneira como lidamos com os incêndios
ambientais impactam o clima.
Trabalhos de intercomparação na área de radiocarbono são fundamentais (Ma-
cario et al., 2013), até mesmo para tratamentos químicos relacionados ao carvão
(Bird et al., 2014), porém foi necessário analisar essas diferenças voltadas às nos-
16
sas necessidades, como os reagentes químicos específicos que foram usados, por
exemplo. Dessa maneira também será abordado um trabalho de intercompara-
ção laboratorial em colaboração internacional, onde os protocolos químicos para
carvão do nosso laboratório, o LAC-UFF, são comparados com os de SUERC
na Escócia (escolhemos um número reduzido de amostras por questões logísticas
porém neste projeto temos centenas de amostras e resultados nos demais laborató-
rios), para melhor julgar os impactos que diferentes reagentes químicos podem ter
quando se tratam as mesmas amostras que deveriam indicar o mesmo resultado.
O objetivo é que o leitor tenha um entendimento geral sobre os processos que
o carvão sofre, desde a incorporação de 14 C à madeira da qual ele tem origem
até o momento em que temos os resultados finais em mãos. Além disso também
mostramos que o nosso laboratório atende a padrões de qualidade internacionais.
Além disso queremos otimizar a ferramenta de datação de 14 C nos carvões para
o estudo de paleoincêndios na bacia amazônica para avaliar a possibilidade de se
combinar resultados dos dois laboratórios, avaliar o melhor tratamento químico
para o contexto estudado, especialmente no caso de fragmentos de carvão com
quantidade reduzida e estudar os erros sistemáticos específicos das amostras de
carvão e propor uma abordagem que permita interpretar os resultados com maior
acurácia, onde foi desenvolvido, de maneira preliminar, um modelo matemático
para o mesmo.
17
Capítulo 2
O Radiocarbono
18
14, através da seguinte reação:
14
𝑁 + 𝑛 →14 𝐶 + 𝑝 (2.1)
Figura 2.1: Cascata de partículas causada por raios cósmicos. Fonte: https://bit.ly/3ogzlOG
19
De maneira semelhante, o campo magnético da Terra também é responsável
por blindar uma parte dos Raios Cósmicos Galácticos, pois como estes raios
são compostos em grande parte por prótons, estes são defletidos pelo campo
eletromagnético devido a força de Lorentz:
𝐹® = 𝑞®𝑣 × 𝐵® (2.2)
Onde 𝑞 é a carga do próton, 𝑣® é a sua velocidade e 𝐵® é o campo magnético
da Terra (ignorando qualquer campo elétrico que possa haver). Dessa maneira,
sabendo que o campo magnético aponta na direção norte, qualquer próton que
venha perpendicular à superfície terrestre sofrerá uma força que aponta na direção
oeste (pelo produto vetorial e a regra da mão direita), isto é, no equador, onde a
velocidade é perpendicular ao campo magnético. O mesmo não ocorre próximo
do polos, pois neles o campo é perpendicular à superfície (e por consequência
paralelo a velocidade de um próton incidente), e o produto vetorial se anula ou
gera uma força de Lorentz desprezível. Por esse motivo a intensidade do Raios
Cósmicos nos polos é maior e por consequência a produção de carbono-14 também
é. Uma ilustração é encontrada na figura 2.2
20
carbono-14, tem-se da ordem de 1012 átomos de carbono 12. Por um lado isso é um
ponto positivo, pois diminui a dosagem de radiação que os animais e plantas rece-
bem quando o radiocarbono decai (através do decaimento beta 14 14 −
6 𝐶 →7 𝑁 +𝑒 +𝜈 𝑒 ,
onde cada partícula beta possui uma energia máxima de 156keV (Bé and Chechev,
2019)), porém ao mesmo tempo impõe um problema logístico, pois se há tão pouco
em comparação com o carbono-12, sua contagem será bem mais difícil.
A interação com raios cósmicos não são a única maneira de se gerar carbono-
14 (da mesma maneira que a interação com o nitrogênio também não é a única
maneira, temos por exemplo a reação 13𝐶 (𝑛, 𝛾) 14𝐶, mas essas e outras reações
não são significativas se comparadas com as reações com nitrogênio). Qualquer
processo capaz de gerar nêutrons termais em um ambiente provido de nitrogênio-
14 pode resultar na criação de carbono-14. Mais proeminente nas últimas décadas,
esses processos incluem, mas não se resumem a, núcleos de reatores nucleares e
detonamento de dispostivos nucleares (uma discussão mais aprofundada é feita na
seção 2.2).
Minutos após ser formado, o carbono é oxidado e se torna o monóxido de
carbono e após alguns meses se torna dióxido de carbono (Riedel and Lassey,
2008; Schuur et al., 2016).
Ao tornar-se dióxido de carbono, o carbono-14 é então incorporado ao ciclo
do carbono, como ilustrado na figura 2.3.
Existes dois grandes reservatórios de carbono-14, a atmosfera e o oceano, e
vários compartimentos, como lagos, cavernas e seres individuais como animais e
plantas. O CO2 pode ser absorvido pelas plantas terrestres através da fotossíntese,
e pelos consumidores primários e secundários durante a alimentação. Dessa
maneira, enquanto persistirem as trocas de carbono com o ambiente, o ser em
questão vai estar em equilíbrio com o compartimento em que vive (exceções
ocorrem).
Temos também o fracionamento isotópico, que é o fenômeno através do qual,
por motivos químicos ou físicos, muda-se a razão entre os isótopos, enriquecendo
um em detrimento de outro (Fahrni et al., 2017). Acontece primariamente devido
à diferença de massa entre os isótopos. Esse fenômeno ocorre de maneira natural
na forma de fracionamento termodinâmico, isto é, em reações de equilíbrio, ou
cinético, devido a diferenças na velocidade reacional de diferentes isótopos.
Um exemplo de fracionamento isotópico cinético ocorre quando o carbono
passa de um compartimento para outro, como por exemplo durante a fotossíntese,
onde o carbono 12 é mais absorvido que o 13 e 14. Dessa maneira uma folha não
vai ter a mesma razão isotópica que o ar atmosférico onde ela cresceu. É importante
21
Figura 2.3: Ciclo do carbono. Fonte: https://bit.ly/3sW04n2
ressaltar que o fracionamento isotópico ocorre tanto com átomos estáveis como
os radioativos. Também pode ocorrer durante a digestão, pois animais digerem os
isótopos a taxas diferentes, gerando então os chamados efeitos de dieta (Browman,
1981).
22
devido ao tempo que leva para o carbono da atmosfera se dispersar na água, aliado
às conchas antigas se dissolvendo no fundo do mar, os oceanos em geral tem uma
quantidade de carbono-14 ainda menor do que a atmosfera. Este fenômeno é
chamado de efeito de reservatório marinho.
Além dos Raios Cósmicos, o radiocarbono também é criado no núcleo de
reatores nucleares, que possuem um grande fluxo de nêutrons, originados da fissão
de elementos como urânio e plutônio (o carbono-14 pode inclusive ser usado
como um proxy para se calcular tal fluxo, pois existe nitrogênio no interior do
reator, seja para moderação ou como armadilha de neutrons, ou na forma de
impurezas no equipamento que, mesmo sendo menos de 1%, ainda produz uma
grande quantidade de carbono-14 devido ao grande número de nêutrons). Dessa
maneira o radiocarbono pode ser muito útil em estudos de radioecologia, pois o
equipamento irradiado e com grande quantidade de radiocarbono representa um
perigo à saúde humana (Mibus et al., 2018), e um descarte seguro precisa ser feito.
Outra importante fonte de radiocarbono que também precisa ser citada surgiu
apenas algumas décadas atrás, com o advento de dispositivos nucleares, que são
uma grande fonte de nêutrons (Também principalmente pela fissão de urânio e
plutônio). Durante as décadas de 40, 50 e 60, o uso desenfreado de armamento
nuclear resultou na criação excessiva de carbono-14 na atmosfera (Aumentando a
sua quantidade em quase duas vezes em relação a abundância natural (Hua et al.,
2013)) e, a despeito dos impactos negativos do uso de armamento nuclear, gerou
novas oportunidades para a comunidade de radiocarbono. Com o advento de
tratados de não proliferação e uso de armamento nuclear a partir da década de
60 e, por consequência, a diminuição dos testes nucleares, houve a necessidade
de se ter curvas diferentes para os últimos 70 anos, conhecida como a curva do
pico da bomba (Hua et al., 2013). Com essa assinatura específica de carbono na
atmosfera, é possível datar amostras das últimas décadas, o que não seria possível
de outra forma, e que é particularmente útil no radiocarbono aplicado nas ciências
forenses. Além disso, o radiocarbono proveniente dos testes nucleares é um
importante traçador da dinâmica da atmosfera, contribuindo para a determinação
de tempos de residência do carbono na biosfera.
Porém nem toda ação humana contribui no aumento de carbono-14 na at-
mosfera. A queima de combustível resulta na criação de monóxido e dióxido de
carbono e se este combustível tiver origem fóssil (que tem milhões de anos de idade
e por consequência todo o seu radiocarbono decaiu), este carbono possuirá apenas
os isótopos estáveis 12 e 13, resultando na diluição do já escasso carbono-14 na
atmosfera.
23
E é justamente o que tem acontecido no planeta desde a revolução industrial,
onde o uso de máquinas movidas a carvão mineral (um combustível fóssil) gerou
esse efeito que é conhecido como o efeito Suess (Suess, 1955). Esse efeito gera
dificuldades na datação de eventos ocorridos no século 19 e posteriormente (uma
discussão mais aprofundada das consequências do efeito Suess se dá na seção
2.3.3).
−𝑑𝑁 (𝑡)
𝐴= ∝ 𝑁 (𝑡) (2.3)
𝑑𝑡
Vamos chamar de 𝜆 essa constante de proporcionalidade. Podemos então
resolver essa equação diferencial:
24
−𝑑𝑁 (𝑡)
= 𝜆𝑁 (𝑡)
𝑑𝑡
𝑑𝑁 (𝑡)
= −𝜆𝑑𝑡
𝑁
∫ 𝑁 (𝑡) ∫ 𝑡
𝑑𝑁
=− 𝜆𝑑𝑡 0
0 𝑁 0
𝑁 (𝑡)
𝑙𝑛( ) = −𝜆𝑡
𝑁0
𝑁 (𝑡)
= 𝑒 −𝜆𝑡
𝑁0
𝑁 (𝑡) = 𝑁0 𝑒 −𝜆𝑡
25
Podemos definir também o tempo necessário para que a quantidade inicial de
átomos radioativos se reduza à metade, que é conhecido como o tempo de meia
vida 𝑡 1 :
2
−𝜆𝑡 1 𝑁0
𝑁 (𝑡 1 ) = 𝑁0 𝑒 2 =
2 2
1
−𝜆𝑡 1
𝑒 2 =
2
1
−𝜆𝑡 1 = 𝑙𝑛( )
2 2
1
𝜆𝑡 1 = −𝑙𝑛( ) = 𝑙𝑛(2)
2 2
Logo:
1
𝑡1 =
𝑙𝑛(2) (2.5)
2 𝜆
Se quisermos uma função de densidade de probabilidades para 𝑁 (𝑡) precisamos
normalizar a equação (2.4):
∫ ∞
𝐾 𝑁 (𝑡)𝑑𝑡 = 1 (2.6)
0
Onde 𝐾 é a constante de normalização. Precisamos encontrar seu valor:
∞ ∞ ∞
𝐾 𝑁0 𝑒 −𝜆𝑡
∫ ∫
𝐾 𝑁0
𝐾 𝑁 (𝑡)𝑑𝑡 = 𝐾 𝑁0 𝑒 −𝜆𝑡 𝑑𝑡 = =
0 0 −𝜆 0 𝜆
𝐾 𝑁0
=1
𝜆
𝜆
𝐾= (2.7)
𝑁0
Assim, definimos a função de densidade de probabilidade de 𝑁 (𝑡) como:
𝜆
𝐷 (𝑡) = 𝐾 𝑁0 𝑒 −𝜆𝑡 = 𝑁0 𝑒 −𝜆𝑡 = 𝜆𝑒 −𝜆𝑡
𝑁0
26
∫ ∞ ∫ ∞
𝜏 = h𝑡i = 𝑡𝐷 (𝑡)𝑑𝑡 = 𝜆 𝑡𝑒 −𝜆𝑡 𝑑𝑡
0 0
Essa integral pode ser resolvida usando integração por partes, assim, temos:
∫ ∞
1
𝑡𝑒 −𝜆𝑡 𝑑𝑡 = 2
0 𝜆
Logo:
𝜆
𝜏=
𝜆2
1
𝜏= (2.9)
𝜆
˜ que é o número de decaimentos por
Temos também a atividade específica ( 𝐴),
unidade de tempo por quantidade de amostra (massa, volume ou número de mols)
em um instante de tempo escolhido como o inicial:
−𝑑𝑁 𝑁0
𝐴˜ = =𝜆 (2.10)
𝑎 0 𝑑𝑡 𝑡=0 𝑎0
Onde 𝑁0 é o número de átomos inicial e 𝑎 0 a quantidade inicial da amostra.
Com estes dados podemos começar a entender numericamente como a datação
ocorre.
27
Na década de 70 percebeu-se a possibilidade de se unir avanços de outras
áreas para se melhorar a obtenção de resultados na técnica de datação. Um
grande exemplo disso foi o emprego de técnicas de espectrometria de massa com
aceleradores (sigla em inglês AMS) para a datação de 14 C (Kutschera, 1999).
Cíclotrons que eram usados apenas como fonte de partículas energéticas podem
também ser usados como espectrômetros de massa. Dessa maneira, ao invés de se
contar o decaimento do carbono-14, podemos estimar a idade de uma amostra a
partir da contagem dos átomos, isto é, estimando a razão isotópica do carbono.
A técnica de AMS tem vantagens e desvantagens em relação à contagem dos
decaimentos: Como já foi dito, ela exige menos material do que a contagem de
decaimentos (da ordem de miligramas de material ao invés de gramas), tem uma
aquisição de dados muito mais rápida (pode se obter muito mais contagens em
menos tempo por amostra). Ela é, porém, uma técnica mais cara.
A Universidade Federal Fluminense (UFF) dispõe do único Laboratório de
Radiocarbono por AMS da América do Sul. No Laboratório de Radiocarbono
da UFF (LAC-UFF) é usado um acelerador de estágio único (Single Stage Ac-
celerator Mass Spectrometry - SSAMS) de 250kV que conta com uma fonte de
íons negativos, um tubo acelerador e ímãs de seleção de massa. Uma ilustração
esquemática do aparelho pode ser vista na figura 2.5:
Porém, antes da medição no SSAMS, a amostra precisa ser primeiro alterada de
uma maneira que possa ser usada no acelerador. Algumas técnicas usam a amostra
bruta, outras transformam em gás. No nosso caso o que fazemos é transformar a
amostra em grafite, do qual um feixe de carbono poderá ser extraído.
Para fazer tal transformação é usado uma série de processos físicos e químicos,
a fim de isolar os átomos pertencentes à amostra original e eliminar os proveni-
entes de contaminação (para uma discussão mais detalhada sobre contaminantes
e maneiras de removê-los ver seção 4.2).
O grafite gerado no laboratório a partir da amostra de interesse é extraído no
acelerador através de um processo chamado sputtering, feito com Césio. Estes
átomos de carbono extraídos pela fonte de íons são então acelerados pela diferença
de potencial, passando por um ímã que faz a seleção magnética de acordo com
a equação 2.2, pois as partículas se movem perpendicular ao campo magnético e
descrevem um círculo, com força centrípeta dada por:
𝑣2
𝐹=𝑚 (2.11)
𝑟
Onde 𝑚 é a sua massa, 𝑣 sua velocidade e 𝑟 o raio da trajetória. Podemos então
28
Figura 2.5: Ilustração do SSAMS utilizado no LAC-UFF. Os números indicam os diferentes
estágios da aceleração.
𝑣2
𝑚 = 𝑞𝑣𝐵 (2.12)
𝑟
Cancelando a velocidade e isolando 𝑟, temos que:
𝑚𝑣
𝑟= (2.13)
𝑞𝐵
Logo, como conhecemos a massa do átomo desejado (seja ele o carbono 12,
13 ou 14), seu estado de carga (Castro et al., 2015) e controlando sua velocidade
através da diferença de potencial e o campo magnético através do ímã, temos total
controle sobre o raio da trajetória e podemos escolher qual isótopo passa para o
próximo estágio do acelerador.
Poder controlar o raio baseado na massa do elemento que compõe o feixe não é
o bastante, visto que existem outros átomos e moléculas com a mesma massa que
seriam "confundidos"com átomos de carbono, como as moléculas 13 CH e 12 CH2 ,
que têm a mesma massa do carbono-14 e como os ímãs não possuem nenhum
outro meio de diferenciá-los, passariam como se fossem o carbono-14 (o átomo
29
de nitrogênio não costuma formar íons negativos, logo não é uma preocupação
(Fogel et al., 1959)).
Dessa maneira precisamos encontrar uma maneira de nos livrarmos desses
isóbaros, ou nossa contagem final de carbono será incorreta. Sabendo que colisões
podem gerar dissociações moleculares, podemos usar um gás no caminho do feixe,
de maneira que a interação das moléculas com esse gás gere essas dissociações
(Schulze-König et al., 2011; Jacob et al., 2000). O acelerador possui então um
stripper molecular que injeta um gás (em geral Hélio ou Argônio) no caminho do
feixe para eliminar tais isóbaros.
Após esse processo, temos mais um ímã que serve ao mesmo propósito do
anterior, onde após o mesmo podemos medir a quantidade de átomos de carbono
12 e 13. Essa medição é feita após o primeiro ímã e após o segundo podemos
comparar a diferença para descobrir a transmissão do feixe (a proporção de átomos
de carbono em relação ao total do feixe que inclui os isóbaros moleculares). A
medição da intensidade do feixe de carbono 12 e 13 é feita com copos de Faraday,
permitindo a estimativa da quantidade de átomos. Para fazê-lo usamos a relação:
𝑁𝑒 = 𝐼𝑡 (2.14)
Onde 𝑁 é a quantidade de íons observados no tempo 𝑡, 𝑒 é a carga elementar
(1,60 · 10−19 C) e 𝐼 é a intensidade do feixe. Como já conhecemos 𝑒 e o copo de
Faraday nos dá 𝐼 e 𝑡, podemos isolar 𝑁 e assim temos a relação:
𝐼𝑡
𝑁= (2.15)
𝑒
Os isótopos 12 e 13 do carbono podem ser medidos a partir da intensidade do
feixe, porém o mesmo não é verdade para o carbono-14. Devido a sua escassez a
sua intensidade é muito pequena para ser medida por um copo de Faraday, logo o
que precisamos fazer é contar individualmente os átomos, usando um detector de
barreira de superfície, que se localiza após um terceiro ímã.
Com essas informações podemos calcular a idade convencional de radiocar-
bono.
30
conhecidos). Isso é feito a partir da normalização.
Para fazer a normalização, é necessário introduzir uma medida quantitativa do
fracionamento isotópico, o 𝛿13𝐶, que é calculado a partir do desvio relativo da
razão 13𝐶/12𝐶 da amostra com a do padrão VPDB (Vienna Pee Dee Belemnite):
( 14𝐶/13𝐶) 𝐴𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎[−25]
𝐹= (2.17)
( 14𝐶/13𝐶)1950 [−25]
Que é usado para se definir a Idade Convencional de Radiocarbono:
31
10 meias vidas, em torno de 57 mil anos, a quantidade de radiocarbono presente
é equivalente à menos de 0.1% da inicial, o que impossibilita o uso desta técnica
para amostras ainda mais antigas. Dessa maneira amostras com mais de 60 mil
anos não costumam ser analisadas.
2.3.3 Calibração
Até agora quando nos referimos às datações, falamos da idade de radiocarbono.
Porém, não podemos usar essa idade para dizer quando um evento aconteceu, pois
ela não leva em consideração a concentração real de radiocarbono na atmosfera
ao longo do tempo. Para corrigir esta e outras premissas adotadas por convenção,
fazemos a calibração, que é o processo de se usar a distribuição de probabilidade
da idade convencional (uma gaussiana) e corrigí-la com uma curva de calibração,
para então termos uma idade de calendário, que nem sempre é uma distribuição
aprazível.
Existem várias maneiras de se fazer tal calibração. As mais populares são
através de softwares, em especial o OxCal (Ramsey, 1995, 2001), onde são usados
modelos estatísticos baseados na estatística Bayesiana (Buck et al., 1991), pois por
possuir uma natureza iterativa é possível atualizar os resultados ao se obter novos
dados.
As curvas de calibração são montadas (Reimer et al., 2013; Blackwell et al.,
2008) usando-se dados de laboratórios de todo o mundo (medidas de radiocarbono
com outros métodos como validação, como dendrocronologia ou datação por
Tório-Urânio), para se estimar a concentração de carbono-14 na atmosfera em
função do tempo. Esta concentração não é uniforme globalmente em um ano,
pois muitos fatores que a influenciam não estavam presentes globalmente (o que é
muito relevante no período pós 1950, onde usamos curvas diferentes dependendo
de onde a amostra foi coletada).
Como já foi citado, o campo magnético do Sol é um dos fatores que influenciam
a produção de carbono-14, assim como mudanças no campo magnético da Terra.
Dessa maneira devemos esperar que ele afete o padrão da curva de calibração.
Os ciclos solares (Stuiver and Quay, 1980) fazem com que haja ondulações na
curva de calibração, pois essas mudanças devido ao Sol e o campo da Terra podem
contrabalancear aquelas do ciclo do carbono, fazendo com que a concentração de
carbono-14 se mantenha relativamente constante em períodos de até centenas de
anos, que é um dos fatores que geram os plateaus (figuras 2.6 e 2.7). As idades
calibradas são muitas vezes assimétricas e descontínuas em função do padrão
32
oscilatório das curvas de calibração.
Outro exemplo é o Efeito Suess (Suess, 1955), que mostra que com o advento
da Revolução Industrial a concentração de radiocarbono na atmosfera decresceu,
pois o carvão mineral passou a ser usado em larga escala e este carvão não contém
carbono-14, pois foi produzido há aproximadamente 300 milhões de anos atrás,
logo seu radiocarbono decaiu.
O resultado disso é que em amostras do século XIX a calibração gera datas
que se estendem muito além do alcance que a Idade Convencional gera. Este
efeito pode ser visto na figura 2.7, onde uma idade convencional tem mais de
95% (2 𝜎) de sua área cobrindo 40 anos, porém a idade calibrada cobre mais de
270 anos. Como pode ser visto o Efeito Suess torna difícil a precisão de idades
que se encontram neste período (note o plateau da curva de calibração).
Este não é o único fenômeno que interfere nas curvas de calibração. Como
foi mencionado anteriormente as bombas nucleares criaram mais carbono-14 na
atmosfera, logo as curvas foram impactadas por isto. Ao olharmos para as curvas
a partir de 1950 (Hua et al., 2013) podemos ver que quando se iniciaram os testes
nucleares de forma ostensiva (a partir de 1955) a concentração de carbono-14
disparou e, com os tratados de não proliferação de armamentos nucleares, muitos
33
Figura 2.7: Exemplo de uma idade da época da Revolução Industrial.
destes testes cessaram e este novo radiocarbono tem sido incorporado no ciclo do
carbono.
Na figura 2.8 podemos ver as curvas. O motivo de se ter mais de uma curva
é que, como os testes nucleares aconteceram primariamente no hemisfério norte,
logicamente lá haverá uma concentração maior de radiocarbono. Devido às cor-
rentes de ar e a dinâmica no oceano, este radiocarbono gerado foi gradualmente
sendo espalhado para o resto do mundo.
Outro fator que influencia essas curvas é a quantidade de dados disponíveis.
Períodos nos quais haja muitos dados disponíveis para serem usados na curva
fazem com que ela seja mais precisa (ou seja, mais fina) do que em regiões em que
haja poucos dados. Podemos comparar a curva em dois períodos diferentes para
ver como a largura da curva varia (figura 2.9).
34
Figura 2.8: As curvas do pico da bomba.
Figura 2.9: A curva de calibração em dois períodos diferentes. Note como a largura influencia
na distribuição de idades. A primeira tem 95% da área cobrindo quase 300 anos, enquanto que a
segunda cobre quase 35 anos com a mesma área.
35
Capítulo 3
36
cálculos preliminares podem ser vistos na seção 5.2.
Dentre os tipo de amostra que podem ser datados, o carvão pode ser um
dos mais significantes dependendo do contexto. Gerado a partir da combustão
parcial da madeira, o carvão é uma das amostras mais abundantes em vários sítios
arqueológicos e, claro, em incêndios.
Suas principais origens são a partir de incêndios (naturais ou antrópicos) e
da queima de artefatos manufaturados de madeira ou de fogueiras. Carvões de
diferentes origens podem nos dar informações importantes sobre o contexto que a
amostra está inserida.
Ao lidar com amostras deste tipo, há certas peculiaridades que não se aplicam
aos outros tipos de amostra, que vão desde a maneira como carvões são tratados
quimica e fisicamente até as interpretações dos dados posterior a medição. Para
entender as nuances do carvão primeiro precisamos entender sua formação, e como
isso impacta as possíveis interpretações que os resultados podem oferecer.
37
palmeiras e bananeiras), dessa maneira não possuem o crescimento secundário.
As árvores possuem um tecido radial chamado câmbio vascular. Este câmbio é
o responsável pela criação de dois tecidos diferentes, o xilema e o floema. O xilema
é o tecido da parte interna ao câmbio e transporta água e sais minerais (chamado de
seiva bruta) absorvidos pelas raízes até as folhas. Já o floema surge externamente
ao câmbio e conduz os fotossintatos (como glicose e sucrose, também chamado
de seiva elaborada) para outras partes da árvore. É a parte mais interna da casca.
O xilema que está na parte mais interna do tronco e que participa do cres-
cimento primário é o xilema primário, já o xilema produzido pelo câmbio é o
xilema secundário, que gera o crescimento secundário da árvore. A madeira é
composta exclusivamente pelo xilema secundário. A figura 3.2 mostra estes três
componentes.
Figura 3.2: Foto onde podemos ver o floema (A), o xilema (B) e o câmbio (C). Fonte:
https://bit.ly/3c9RoU4
38
de líquidos. Para sustentação há as fibras, que são compostas de lignina. Na figura
3.3 podemos ver melhor estas estruturas.
Figura 3.3: Foto onde podemos ver os vasos (os furos largos) e as fibras (os pequenos furos).
39
Estes são os mecanismos de transporte verticais, porém existem também os
transportes radiais, que se dão com os chamados raios parenquimáticos. Eles
podem ser vistos na figura 3.4.
O clima afeta a produção de madeira. Como qualquer outro ser vivo, árvores
crescem mais em ambientes com alta quantidade de nutrientes. O mesmo acontece
quando uma mesma região tem uma alteração dos nutrientes disponíveis com o
passar do tempo. Em regiões de clima temperado (ou seja, com estações do ano
bem definidas) a madeira vai crescer mais em períodos mais quentes, onde haja
maior quantidade de água no solo e, consequentemente, crescer menos em épocas
com menos água disponível (como no inverno, quando a água congela). Estas
diferenças de crescimento nas diferentes épocas é o que dá origem aos anéis de
crescimento que as árvores possuem (Burger and Richter, 1991). Nas épocas de
calor os vasos são maiores e mais abundantes, a madeira mais clara. Em épocas
de frio os vasos são menores e em menor quantidade, a madeira é mais escura. A
figura 3.5 ilustra este efeito.
Todos estes detalhes na formação da madeira são fundamentais para a antra-
cologia, o estudo do carvão. Ao ser carbonizada de maneira parcial a madeira
se torna o carvão (a combustão total gera cinzas), onde as estruturas citadas são
deformadas porém ainda podem ser reconhecidas.
Na antracologia o carvão é dividido em três planos: transversal, longitudinal
tangencial e longitudinal radial. Cada plano revela diferentes detalhes do carvão
que permitem identificá-lo no microscópio. A figura 3.6 ilustra cada plano.
Com uma base de dados (que se dá na forma de centenas ou até milhares de
outros carvões devidamente identificados para comparação), os carvões analisados
40
Figura 3.5: Anéis de crescimento. Note que a parte escura parece ser mais densa que a parte clara.
Ambas abrangem aproximadamente a mesma quantidade de tempo.
41
no microscópio são identificados (seja em família, gênero ou espécie), nem sempre
com total acurácia, o que pode determinar de que árvore o carvão veio. Isto
é um poderoso aliado nas interpretações das datações de carvão. Pode, por
exemplo, ajudar a distinguir um carvão proveniente de uma queimada antrópica, do
proveniente de uma queimada natural ao observar se as árvores coincidem com um
padrão de queimada comum de alguma civilização antiga ou, se forem dispersas
os suficiente, podem indicar que o incêndio foi natural.
42
Capítulo 4
Materiais e métodos
43
Figura 4.1: Locais de amostragem. À esquerda a Floresta do Pibiri e à direita a Floresta Jenaro
Herrera.
44
Para avaliar o efeito dos tratamentos as amostras foram divididas em 4 grupos:
1) sem tratamento químico (ST), 2) amostras preparadas usando o protocolo do
LAC (NaOH@LAC), 3) amostras preparadas no LAC-UFF com o protocolo do
NRCL (KOH@LAC) e 4) amostras preparadas no NRCL com o protocolo de
NRCL (KOH@NRCL).
As amostras sem o tratamento químico foram feitas para se avaliar o quanto
o tratamento afetaria as idades das amostras (uma medida da contaminação) e
os tratamentos com KOH no LAC-UFF e no NRCL foram feitos para fins de
intercomparação, almejando garantir uma boa concordância entre os protocolos
dos dois laboratórios.
No LAC-UFF banhamos as amostras em ácido HCl 1M a 90 °C por duas horas,
removemos o ácido e repetimos até que não haja mais reação, o que em geral é
atingido na primeira vez. Então lavamos a amostra com água ultrapura deionizada
3 vezes e colocamos a amostra na base NaOH 1M a 90 °C por uma hora, repetindo
até que o líquido fique claro (perto da cor de palha), o que em geral é necessário
fazer 5 ou mais vezes. Repetimos a lavagem com água ultrapura e fazemos a etapa
final com ácido HCl 1M por duas horas a 90 °C. A amostra é então lavada 5 vezes
com água ultrapura e deixada para secar. Após estes procedimentos a amostra está
pronta para os passos de combustão, purificação do CO2 e conversão a grafite.
Se o pernoite for necessário devido ao tempo de cada etapa, as amostras são
deixadas em ácido HCl 0,1M a temperatura ambiente até o próximo dia, quando
são lavadas e podem prosseguir com o tratamento químico.
No NRCL as amostras são colocadas em ácido HCl 2M a 80 °C por 8 horas,
lavadas com água ultrapura e colocadas em base KOH 1M a 80 °C por duas horas.
Esta etapa é repetida até o líquido ficar claro. As amostras são então lavadas com
água ultrapura e colocadas em ácido HCl 2M a 80 °C por 5 horas. Após essa etapa,
as amostras são lavadas e deixadas para secar. Após isso estarão prontas paras as
próximas etapas. O pernoite se dá da mesma maneira que no LAC-UFF.
Estes protocolos são resumidos na figura 4.1
45
Tabela 4.1: O protocolo para carvões no LAC-UFF e no NRCL.
4.3 Combustão
Primeiramente colocamos a amostra em tubos de quartzo (chamados Tubos de
Combustão ou CT) previamente preparados com 60 miligramas de óxido cúprico
(CuO) e um fio de prata de aproximadamente 2mm, que é então degasado a
uma pressão inferior a 1 militorr para se eliminar gases atmosféricos que podem
contaminar a amostra. O CT vai então ao forno onde é assado a 900 °C por 5 horas
(2 horas de aquecimento até 900 °C e mais 3 horas nessa temperatura). Com isso
o carbono da amostra forma o dióxodo de carbono através das reações:
𝐶𝑢𝑂 + 𝐶 → 𝐶𝑢 + 𝐶𝑂 (4.1)
𝐶𝑢𝑂 + 𝐶𝑂 → 𝐶𝑢 + 𝐶𝑂 2 (4.2)
Este é o procedimento para amostras orgânicas (como carvão, madeira, solo,
etc), que são o foco deste trabalho. Para amostras inorgânicas (como conchas,
corais, dentes, etc) o processo é muito diferente (é usado o processo de hidrólise).
46
Figura 4.2: Foto da linha de vácuo usada para a purificação.
(que se dá na forma de água) fica retida, visto que a água se solidifica a 0 °C.
O gás passa então para uma segunda armadilha térmica, desta vez na forma de
nitrogênio líquido, que está a -196 °C, e desta vez o dióxido de carbono fica retido
na forma sólida e outras impurezas que permanecem na forma gasosa podem ser
eliminadas.
47
A mistura de ferro e grafite é então removido do tubo interno e prensado
em uma roda de catodos, como ilustrado na figura 4.3, onde é então levado ao
acelerador, onde a fonte cria íons negativos a partir do grafite através do processo
de sputtering por Césio+ (Middleton, 1976).
48
Capítulo 5
Resultados e discussão
5.1 Intercomparação
O primeiro grupo de amostras consiste em 9 carvões da floresta do Pibiri,
na Guiana. Estes carvões já tinham sido testados no NRCL com apenas o seu
protocolo. Após datar estas amostras no LAC sem nenhum tratamento químico
foi notado que a maioria delas (9 de 11 amostras) não tinha um grau elevado de
contaminação, com exceção das amostras 83481, 83489 e 83491, em torno de
12% a 13%. Todas as outras amostras tinha menos de 10% de diferença na idade
convencional. Estes dados podem ser vistos nas tabelas 5.1 e 5.2. Dessa maneira
um novo grupo de amostras foi procurado.
Tabela 5.1: Idades medidas no NRCL com o seu protocolo e no LAC-UFF sem tratamento químico.
[ST=sem tratamento]
49
Tabela 5.2: O pMC medido no NRCL com o seu protocolo e no LAC-UFF sem tratamento químico.
[ST=sem tratamento]
Estes resultados podem ser melhor vistos nas figuras 5.1, 5.2 e 5.3.
50
Figura 5.1: O efeito dos diferentes tratamentos nas amostras da floresta do Pibiri.
Figura 5.2: O efeito dos diferentes tratamentos nas amostras da floresta do Pibiri.
51
Figura 5.3: O efeito dos diferentes tratamentos nas amostras de Jenaro Herrera.
52
usados, já que muitos carvões chegam ao laboratório com menos de 2mm de
diâmetro. Assim se for estabelecido que certos carvões podem ser datados sem
o tratamento químico sem perda de acurácia teremos novas possibilidades para
carvões que antes não poderiam ser datados devido ao tamanho. Mais datações
são necessárias antes de se tomar tal decisão, já que uma variação de, por exemplo,
3% para uma amostra de 10 mil anos tem um impacto muito maior do que a mesma
variação percentual em uma amostra de 300 anos (logo este método provavelmente
será mais efetivo para carvões mais jovens).
Considerando:
𝑅 → Raio total da árvore
𝑟 → Raio até o anel em questão
𝑁 → Quantidade total de anéis
𝑁𝑖 → Quantidade de anéis até o ano em questão (também pode ser chamado
de i)
𝑔 → Espessura do anel em questão
Dessa forma temos 𝑔 constante, e:
𝑅 = 𝑁𝑔
𝑟 = 𝑁𝑖 𝑔
53
Figura 5.4: Ilustração dos anéis de árvore, em especial o anel hachurado que estamos calculando.
Área hachurada
Probabilidade = Área total
Área hachurada= 𝜋𝑟 2 − 𝜋(𝑟 − 𝑔) 2 = 𝜋(𝑟 2 − 𝑟 2 + 2𝑟𝑔 − 𝑔2) =
= 𝜋𝑔(2𝑟 − 𝑔)
Área total= 𝜋𝑟 2
Logo:
2º anel:
2 𝑥 2 −1 3
𝑃= 22
= 4 = 75%
54
Árvore com 10 aneis:
1º anel:
2𝑥 1−1 1
𝑃= 102
= 100 = 1%
10º anel:
2𝑥 10−1
𝑃= 102
= 19%
E, como deveria ser, os resultados somam 100%.
Sabemos, porém, que as árvores não depositam aneis de mesma espessura, mas
que cada anel é ligeiramente mais fino que o anterior. Dessa maneira é preciso
atualizar o modelo para levar em conta essa variação.
Vamos considerar então uma árvore que deposita aneis que diminuam conti-
nuamente por um fator constante. Dessa maneira definimos:
𝑔1 → Espessura do primeiro anel
𝑔𝑖 → Espessura do anel 𝑁𝑖
𝛼 → Fator de diminuição (constante neste modelo)
𝑟𝑖 → Raio da árvore até o anel 𝑁𝑖
Assim, contando os aneis do centro para fora, temos
𝑔𝑖 = 𝑔1 − 𝛼(𝑁𝑖 − 1)
De maneira que
𝑔1 = 𝑔1
𝑔2 = 𝑔1 − 𝛼
𝑔3 = 𝑔1 − 2𝛼
𝑔4 = 𝑔1 − 3𝛼
..
.
e
𝑁𝑖
Õ
𝑟𝑖 = 𝑔𝑗
𝑗=1
Mesmo ainda nos estágios iniciais, este modelo tem grande potencial para o
tratamento de incertezas relacionadas aos carvões pelo efeito da madeira antiga.
Sabendo-se de que árvore o carvão veio temos informações como o tempo de vida
e diâmetro médio da mesma, então podemos tentar predizer o impacto disso no
resultado final.
55
Capítulo 6
Conclusão
56
Bibliografia
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