Sonata Andina Jaime Zenamon
Sonata Andina Jaime Zenamon
Sonata Andina Jaime Zenamon
RESUMO:
Este trabalho é uma análise musical do primeiro movimento da Sonata Andina,
obra para duo de violões, composta por Jaime Mirtenbaum Zenamon. A análise
pretende servir como um material de apoio ao intérprete, visto que não há bibliografia
disponível sobre a peça, buscando destacar o contexto em que esta foi composta,
suas principais características rítmicas, melódicas e harmônicas, demonstrando como
esses elementos se relacionam e ao mesmo tempo sugerindo algumas idéias de
interpretação da música baseadas em informações do próprio compositor.
INTRODUÇÃO
JAIME ZENAMON
1
Aluna do 3º ano do Curso de Superior de Instrumento (Violão), da Escola de Música e Belas Artes do
Paraná.
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
Quanto à sua formação, teve aulas de violão erudito com Abel Carlevaro
(Uruguai), Almosnino (Hungria) e Avber Brender (discípulo de Andrés Segovia –
Israel); aulas de composição com Guido Santórsola (Itália), Alceu Bocchino (Brasil),
Nicola Flagello (Itália/E.U.A), Wladimir Nokolovsky (discípulo de Shostakovich –
Calendônia/Rússia); aulas de regência com Carlos Prates (Brasil), Guido Santórsola
(Itália/Uruguai) e frequentou como ouvinte, as aulas do maestro Hebert Von Karajan
(Alemanha).
SONATA ANDINA
A Sonata Andina é uma obra para duo de violões, composta em 1982. Foi
publicada pela Editora Margaux, em 1988. É constituída de três movimentos: I.Vivo,
II.Lento e III.Bien animado. Segundo Jaime Zenamon, esta peça foi composta quando
ele residia na Alemanha, para um duo de violões que o compositor mantinha com a
violonista norte-americana Laurie Randolph. Zenamon avalia esta obra como sendo
descritiva, pois foi feita com intenção de “remeter o ouvinte à paisagem e
características Andinas, tais como montanhas, pampas, cavalos, churrascos, etc.”
Portanto, é de grande valia que o intérprete tenha em mente este tipo de imagem e
reconheça os elementos musicais que criam essa atmosfera andina. Para ilustrar o
depoimento do compositor, a figura 1 mostra a foto de uma paisagem tipicamente
andina:
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
2
Fig. 1
Andamento: Vivo
Forma: A – B – A’
Fig.2
2
Foto disponível em <http://www.visitingargentina.com/blog/wp-
content/uploads/andes,_patagonia,_argentina.jpg>
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
Logo depois teria surgido a idéia do ritmo 6/8, cuja base está nos ritmos
folclóricos sul-americanos como o malambo3 e a chacarera4, que apresentam como
forte característica a sobreposição e justaposição dos ritmos 6/8 e 3/4. Como se vê
nos compassos 5 e 6 da figura 3, essa característica polirritmia é explorada no
movimento I da Sonata Andina.
No que se refere à melodia, encontramos duas visões diferentes a respeito da
primeira frase:
A primeira visão esta notada na partitura por meio da ligadura de frase, que
sugere que a frase a inicia-se no compasso 5 e termina no compasso 14, refletindo a
opinião do compositor Jaime Zenamon sobre o trecho.
De acordo com a segunda visão, a frase a inicia-se no primeiro compasso,
com um intervalo de quinta que atua como um eco e, ao mesmo tempo, um gesto
melódico, numa seqüência de quatro compassos e após desenvolver-se é finalizada
no compasso 14. Esta visão é sugerida pela observação das funções harmônicas e
melódicas do trecho, dessa forma, a frase a apresenta um sentido coerente pois inicia
com o primeiro grau da tonalidade de Sol Maior, tanto harmonicamente quanto
melodicamente, e após se desenvolver tendo como base o acorde vizinho de La Maior
(uma espécie de “bordadura harmônica”) a melodia e harmonia retornam à tônica.
3
O Malambo é uma dança folclórica tradicional argentina. Nasceu na região dos pampas por volta do ano
1600. Dentro das danças folclóricas argentinas, sua música é uma exceção já que carece de letra,
apenas os violões acompanham esta dança executada exclusivamente por homens. (disponível em
<http://es.wikipedia.org/wiki/Malambo>)
4
Chacarera é uma dança e música populares originárias do sul da Bolívia e noroeste da Argentina
dançada desde o século XIX. A música toca-se geralmente com violão, violino, sanfona e bumbo
"legüero". A chacarera pertence ao grupo de danças picarescas, de ritmo ágil e caráter muito alegre e
festivo. (disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Chacarera>)
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
Fig. 3
Fig.4 Motivo 1
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
Fig. 5
Fig. 6
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
Logo após uma seção rítmica, surge uma ponte constituída de arpejos em que
se observa uma imitação literal e duas inversões retrógradas, destacadas na figura 7.
A ponte leva à frase a’, iniciada no compasso 44, chamada assim por retomar
elementos da seção A, presentes no motivo rítmico-melódico do acorde inicial
circulado no compasso 44, figura 8.
Fig. 7
Fig.8
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
Na figura 9 observamos a frase c’, que utiliza os mesmos motivos melódicos dos
compassos 28 a 31 transpostos e imitados de forma não literal. A escala que antecede
a frase funciona como um levare5, novamente o motivo 1 é imitado e ocorre a inversão
de papéis entre os violões.
Fig. 9
5
“Levare é o gesto do regente que antecede e serve para preparar o tempo forte a seguir” (DOURADO,
Henrique A. Dicionário de termos e expressões da música. São Paulo: Ed. 34, 2004). Nesta análise,
adaptaremos este termo para definir um trecho musical que antecede e serve para preparar ou atingir, a
frase musical principal.
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
Fig.10
Fig.11
Fig. 12
Fig. 13
Fig. 14
A figura 15 mostra que a partir do compasso 114 há uma sequência que entra
em destaque, o que, segundo Zenamon, deve ser feito preferencialmente por meio do
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
timbre e não por intensidade, como podem sugerir os acentos que aparecem na
partitura. Novamente encontramos uma referência ao motivo ritmico-melódico do
acompanhamento feito pelo acorde que inicia a peça, uma referência já feita
anteriormente, mostrada na figura 13, acima:
Fig. 15
Fig. 16
variações, circulados na figura 17, A fórmula de compasso volta a ser 6/8, como no
início da peça. Nos compassos 146 e 147 ocorre uma liquidação6 que causa a
impressão de finalização da peça.
Fig. 17
6
Liquidação é privar gradualmente as formas-motivo de seus elementos característicos, dissolvendo-as
em forma amorfas, tal como as escalas e acordes arpejados. Segundo Schoenberg, um dos propósitos
da liquidação é neutralizar a extensão ilimitada. (SCHOENBERG, A. Fundamentos da composição
musical. São Paulo: EDUSP, 1993, p. 186)
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
Fig. 18
CONCLUSÃO
A cada vez que analisamos uma obra percebemos características novas, isso
nos permite descobrir relações que anteriormente não tínhamos consciência, o que
por sua vez nos auxilia na compreensão do discurso musical em questão e modifica a
visão sobre a interpretação da obra. A conclusão deste trabalho se dá a partir do
momento em que ele sirva como um material que proporcione essas descobertas e
esclarecimentos ao intérprete e o auxilie na construção de uma interpretação mais
clara e elaborada.
3º Simpósio de Violão da Embap, Outubro de 2009
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRAGA, Orlando. Curso de Especialização 2009 – Análise II: Guia de Classe. Curitiba:
EMBAP, 2006.
ZANON, Fábio. Estrangeiros III: Jaime Zenamon e Conrado Paulino. Programa n.123
da série “O Violão Brasileiro” transmitido no dia 06/08/08 pela Rádio Cultura FM de
São Paulo. Disponível em <http://vcfz.blogspot.com/2009/05/depois-de-tanto-tempo-
sem-atualizacoes.html> Acesso em 10/07/09.