II Trabalho - Sociologia Geral

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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Impacto de ritos de Iniciação na Cultura/tradição Moçambicana

Rufina de Fatima Remigio Jonas Lissa


Codigo:708216468

Curso: Licenciatura em Administração


Pública
Disciplina: Sociologia Geral
Ano de Frequência: 1º Ano
Tutor: Msc. Gomes Juliasse.

Nampula, Janeiro de 2022


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organizacionais
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• Bibliografia 0.5
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problema)

• Descrição dos
Introdução 1.0
objectivos
• Metodologia
adequada ao objecto
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do trabalho
• Articulação e
domínio do discurso
académico
(expressão escrita 2.0
cuidada, coerência /
Conteúdo coesão textual)
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Análise e nacional e
discussão 2.
internacionais
relevantes na área de
estudo
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Conclusão • Contributos teóricos 2.0


práticos
• Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação paragrafo, 1.0
gerais
espaçamento entre
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Normas APA 6ª
• Rigor e coerência das
edição em
Referências citações/referências 4.0
Bibliográficas citações e bibliográficas
bibliografia

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Folha para recomendações de melhoria:

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Índice
1. Introdução......................................................................................................................................... 5

2.1. Algumasabordagens ediscussõessobreos ritos deiniciaçãoem Moçambique ............................................ 6

2.2. Definição e operacionalização dos conceitos ................................................................................... 7

2.2.3. Socialização ................................................................................................................................ 8

2.2.4. Identidade social ........................................................................................................................ 9

2.3. Aspectos positivos dos ritos de iniciação ..................................................................................... 9

2.4. Aspectos negativos dos ritos de iniciação .................................................................................. 10

2.5. Factores que podem interferir nos ritos de iniciação .................................................................. 10

Referência Bibliográfica .................................................................................................................... 13


1. Introdução

Este trabalho fala do impacto dos ritos de iniciação na cultura moçambicana, visto que os ritos
de iniciação, também designados ritos de passagem em alguma literatura, são uma prática
bastante antiga entre vários povos de diferentes lugares do mundo. Nos diferentes lugares estes
simbolizam a preparação dos indivíduos para fazes seguintes da vida, acreditando-se que são
uma fase necessária e pela qual os indivíduos devem passar. Contudo, estamos em uma era em
que os hábitos e práticas dos indivíduos em diferentes lugares do mundo são cada vez mais
parecidos. Contudo, ainda assim, mesmo com essa “difusão cultural” determinadas práticas
locais prevalecem e entre elas, podemos destacar os ritos de iniciação, a nossa proposta de
análise.

1.2. Objectivo geral

✓ Compreender as influências dos ritos de iniciação na cultura Moçambique

1.3. Objectivos específicos

✓ Caracterizar os ritos de iniciação praticados em Moçambique


✓ Identificar as possíveis transformações que os ritos de iniciação enquanto tradição
podem ter sofrido ao longo do tempo em Moçambique
✓ Analisar o significado social dos ritos para os seus praticantes
✓ Identificar os factores que estão por detrás da continuidade dos ritos de iniciação .

1.4.Metodologias
A Pesquisa exploratória é um método de pesquisa de diversas técnicas de pesquisa, com as quais
estabelece uma estrutura de investigação activa ao nível da captação da informação, sendo
aplicado todos meios de colecta onde a busca de informação relevante ao tema usou se varias
técnicas de colecta desde as pesquisas na internet até as consultas bibliográficas de manuais,
livros e materiais em digital.

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2.1. Algumasabordagens e discussões sobreos ritos de iniciação em Moçambique

Começamos por apresentar as principais tendências de abordagem ao tema ritos de iniciação na


literatura que versa sobre os mesmos no contexto moçambicano. Nesta ordem de ideias,
identificamos duas principais tendências: a primeira é a abordagem de género e a segunda é a
abordagem que analisa o papel dos ritos na edificação das identidades sociais dos seus
praticantes.

Na primeira abordagem – onde encontramos algumas autoras feministas como são os casos de

Os ritos de iniciação são vistos como uma prática que reproduzem e acentuam as
desigualdades sociais de género nas comunidades onde são praticados. A razão
deste ponto de vista está na forma diferenciada como os rapazes e as raparigas
são ensinados a enfrentarem a vida adulta ou seja, os rapazes são preparados para
posições de poder enquanto que as raparigas são preparadas para serem as
eternas submissas aos homens (Casimiro 2000).

A abordagem de género os autores defendem que nos ritos de iniciação “as meninas aprendem
que existem para servir na cozinha, na cama e na machambaEnsina-se também a obediência
cega aos adultos, o não questionamento das imposições dos mais velhos ou com mais estatuto e
acima de tudo, que “estudar é bom, mas o bom mesmo é arranjar marido, ter casa e ter filhos”

(Osório, 2008:4). Nestes termos, mesmo contribuindo para a construção das identidades sociais
dos indivíduos, os ritos tem a disfunção de reproduzir o quadro ideológico predominante que
coloca homens e mulheres em posições socialmente desiguais.

Na segunda abordagem – onde encontramos autores como Bonnet (1996) e Bonnet & Ivala
(1999) – os ritos de iniciação são vistos como uma educação tradicional que se fundamenta na
necessidade de preparar os jovens para a vida segundo os diversos ideais étnicos. Os ritos são
aqui também entendidos como uma importante via para a transmissão às novas gerações dos
valores e ideais das gerações anteriores.

Segundo Bonnet (1996), os indivíduos são sujeitos a um contínuo processo de socialização onde
aprendem os valores da colectividade e as cerimónias de iniciação representam a aceitação
solene dos modos de vida da colectividade por parte dos rapazes e das raparigas. A intenção dos
ritos é “formar nos jovens um comportamento traduzido em atitudes que se esperam de um
membro idóneo naquelas sociedades” (Bonnet, 1996:38). Os indivíduos têm a obrigação moral
de passar pelos ritos de forma a se integrarem nos diversos espaços e actividades da
colectividade.
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2.2. Definição e operacionalização dos conceitos

2.2.1. Ritos de iniciação

Boudon (1990:272) segundo a qual os ritos de iniciação são um:

“Conjunto de actos repetitivos e codificados, muitas vezes solenes, de ordem verbal, gestual e
postural de forte carga simbólica, fundados na crença na força actuante de seres ou de poderes
sacros, com os quais o homem tenta comunicar, em ordem a obter um efeito determinado”.

O mesmo autor sugere dois aspectos analíticos sob os quais devem ser vistos e analisados os
ritos: o primeiro refere-se a construção e afirmação dos papéis sociais dos indivíduos que deles
participam e o segundo refere-se a estrutura na qual se assenta a prática de ritos. Em geral, é
possível encontrar determinadas características simbólicas e materiais nos ritos: os trajes, a
linguagem, os cânticos, as relações inter-individuais, os alimentos, as marcas físicas
(escarificações, circuncisões, modificações no formato dos dentes, perfurações no nariz e nos
lábios, entre outros).

Assumindo diferentes características em diferentes lugares, os ritos de iniciação têm a função


de integrar os indivíduos em uma sociedade determinada e permitindo assim uma certa coesão
social (Rodolpho, 2004). Os ritos de iniciação funcionam também como mecanismo de
educação não formal onde são transmitidos os valores e as normas de uma sociedade
determinada, querendo-se assim perpetuar os mesmos transmitindo-os de geração em geração.

Ao que apuramos, os ritos de iniciação entre os macuas de Nampula são uma prática bastante
antiga e o nosso propósito nesta monografia passa também pela descrição dos ritos, pela
compreensão dos significados sociais dos mesmos e que determinam, de alguma maneira, a
continuidade dos mesmos por várias gerações. Existe também o facto dos ritos de iniciação não
serem alheios às transformações globais da sociedade e por isso procuramos também analisar
as possíveis transformações e reconfigurações que os mesmos sofreram.

2.2.2. Tradição

Na literatura que consultamos no nosso processo de pesquisa não foi possível encontrar uma
definição única de tradição. De forma geral existe uma discussão sobre os possíveis elementos
que devem ser levados em consideração quando este assunto é abordado. Das nossas leituras,
entendemos que as discussões de Giddens (1991) são as que melhor se enquadram com as
análises aqui propostas.
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Segundo este autor, a tradição se refere à organização tempo-espacial da comunidade (ela é
parte do passado, presente e futuro; é um elemento intrínseco e inseparável da comunidade) e
está vinculada à compreensão do mundo fundado na superstição, religião e nos costumes; ela
expressa a valorização da cultura oral, do passado e dos símbolos enquanto factores que
perpetuam a experiência das gerações. O que se procura com a mesma é garantir uma
determinada ordem de coisas tendo em conta o que foi legado e transmitido pelas gerações
anteriores e tido como importante na construção de uma colectividade ideal.

Este conceito é aqui trazido porque entendemos que há necessidade de compreender a tradição
por forma a determinar como a mesma persiste e sobrevive às grandes transformações que
ocorrem na sociedade. Mais especificamente, a nossa preocupação é compreender os ritos de
iniciação como uma tradição macua que reinventa-se e persiste num contexto de grandes
transformações sociais e culturais na cidade de Nampula.

2.2.3. Socialização

De modo geral a socialização se refere ao “processo de aquisição de conhecimentos, paixões,


valores e símbolos. É, ainda, a aquisição de maneiras de agir, pensar e sentir próprias dos grupos,
da sociedade, da civilização em que o indivíduo vive” (Galliano, 1981:303). Na verdade, tal
como referem Berger & Luckmann (2004), nenhum indivíduo nasce membro da sociedade; este
nasce com predisposição para a sociabilidade e se torna membro da sociedade a medida que
apreende e interioriza as normas e valores vigentes na sociedade que o rodeia.

Segundo Berger & Luckmann (2004), existem duas etapas do processo de socialização: a
primeira, socialização primária que é aquela que ocorre na infância e no contexto das relações
familiares, onde o indivíduo aprende e interioriza as normas sociais, valores culturais e os
costumes do meio social em que está inserido. A segunda é a socialização secundária que
consiste na interiorização de “sub mundos” institucionais ou baseados em instituições; “a
socialização secundária é a aquisição de conhecimento de funções específicas, funções com raiz
directa ou indirecta na divisão do trabalho” (Berger & Luckmann, 2004:146).

Tendo em conta que os ritos de iniciação acontecem longe dos contextos familiares e são
ministrados a indivíduos adolescentes e que já passaram por um processo de socialização
primária, acreditamos que estes são uma instituição socializadora secundária onde os indivíduos
adquirem um conhecimento específicos que os torna preparados para a vida adulta: os rapazes
incorporam os valores da masculinidade e as raparigas incorporam os valores da feminilidade.
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É nestes ritos que os rapazes e raparigas macuas se tornam homens e mulheres, interiorizando
valores e normas inerentes aos papéis sociais que passarão a assumir.

Usando a perspectiva construtivista de Berger & Luckmann (2004) interessa-nos mais a


socialização secundária que prepara os indivíduos a assumirem papéis mais específicos na
sociedade e através de instituições socializadoras. Assim, os ritos de iniciação são aqui
entendidos como uma instituição socializadora secundária dos macuas e que transmite valores
e normas determinados que se pressupõem sejam cumpridos por estes.

“Tradição em Espaço Urbano”- um estudo sobre os ritos de iniciação no contexto da Cidade de


Nampula

2.2.4. Identidade social

Segundo Dubar (1998), a identidade social envolve um complexo processo de combinação entre
as expectativas do indivíduo sobre si e as expectativas que a sociedade tem sobre como este vai
agir e se comportar em função dos seus papéis sociais.

É nestes termos que este autor fala na alteridade entre dois processos de construção identitária:
a atribuição, que consiste naquilo que sociedade diz que o indivíduo é usando as categorias
socialmente disponíveis para tal e a interiorização que acontece quando o indivíduo assume
como verdadeiras as categorias sociais usadas para o definir.

A identidade social está ligada ao reconhecimento que o indivíduo tem sobre si mesmo enquanto
portador de características que o identificam através das categorias socialmente disponíveis
(Dubar, 1998). Ela resulta do processo de interacção com os outros e com o meio social
envolvente e que determinam quem o indivíduo é, o que os dizem que ele é e na medida em que
esses outros existem.

Utilizamos o conceito de identidade social na medida em que pretendemos captar as lógicas de


construção dos papéis sociais dos jovens e adolescentes macuas a partir dos ritos de iniciação.
Os ritos envoagir expectativas sobre como é que vão agir e se comportar os indivíduos na vida
adulta e, portanto, envolvem expectativas generalizadas sobre as identidades sociais daqueles
que passam por eles.

2.3. Aspectos positivos dos ritos de iniciação

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✓ A circuncisão, devido a higiene pessoal que evita possíveis doenças de transmição
sexual;
✓ Integração social e formação da pessoalidade do indivíduo;
✓ Educação cívica moral (respeito aos mais velhos, aos lugares sagrados, aos mortos);
✓ Educação sexual e matrimonial.

2.4. Aspectos negativos dos ritos de iniciação

✓ Os procedimentos para o acto de circuncisão é demasiado doloroso, aliado ao uso de


instrumentos cortantes não adequados;
✓ O elevado risco de vida dos iniciados ao mergulhar na água, durante o isolamento
ficam a mercê dos animais ferozes e frio;
✓ Preparação da mulher para total submissão ao marido, negando-lhe emancipação;
✓ Educação ao homem para manifestação do poder autoritário;
✓ Não adequação do programa dos ritos de iniciação com o calendário escolar;
✓ Longo período de permanência nos ritos de iniciação para os rapazes;
✓ Separação dos trabalhos caseiros e outros por sexo;
✓ Limitação da dieta alimentar (não consumo de ovos, fígado, moela, etc.).

2.5. Factores que podem interferir nos ritos de iniciação

✓ A educação tradicional em Moçambique através dos ritos de iniciação é complexo e


multiforme devido essencialmente as diversas culturas, como o ilustram as diferentes línguas
que abundam, alicerçado pela vastidão do seu território e influência de culturas dos países
vizinhos. Assim, podem ser apontados alguns factores que podem concorrer negativamente para
a manutenção dos traços culturais tradicionais originais:
✓ Os valores culturais tradicionais são transmitidos de geração em geração através dos
mais velhos aos mais novos com base na capacidade de aprendizagem e transmissão via oral de
vido a escassez ou não existência de registos escritos. Em cada fase, cada tipo de cultura vai se
fragilizando, e a pouco e pouco a originalidade vai cedendo lugar a inovações;
✓ Os interesses relativos a convicções e crenças religiosas que pululam no país, na maioria
transportadas gratuitamente do estrangeiro;
✓ O matrimónio conjugal entre uma pessoa que passou pelos ritos de iniciação com outra
que não passou pelo rito;
✓ O impacto do desenvolvimento económico, sócio-cultural, que origina a movimentação
campo-cidade e vice-versa, devido a implantação de novos projectos de desenvolvimento;
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✓ A actual preocupação do governo na divulgação do programa de prevenção e combate
as DTS/HIV/SIDA a todos os níveis e os cuidados básicos a ter em consideração para não
proliferação da doença orientando, por exemplo, aos procedimentos de utilização de objectos
cortantes, até aos médicos tradicionais;
✓ A livre escolha de parceiro(a), para o casamento (Cristão – Muçulmano, Macua – Sena,
Maconde – Ronga, Nhungue – Machangana, Negro(a) – Branca(o), etc.).

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3. Consideração final

O Rito de iniciação é uma prática que consiste em educar e preparar os jovens de modo a
encararem os desafios da vida, sobretudo em assuntos conjugais. Embora é sabido que os ritos
de iniciação variam de religião para religião, não só de de Província para Província e de um sexo
para o outro. Todavia a educação dos jovens é tida como objecto comum em todos os casos,
garantindo assim a integração dos jovens numa determinada sociedade ou comunidade a que
pertence.
Mas os ritos de iniciação tem um lado positivo a que já me referi que é de educar os jovens sobre
a sexualidade. As responsabilidades da mulher para com o marido, para com a família do marido
e para com as outras pessoas adultas que transmitem-se durante os ritos de iniciação. O lado
negativo dos ritos de iniciação é o de colocar sempre a mulher numa posição de submissão à
vontade do marido.

Há no entanto, pessoas no nosso país que defendem que os ritos de iniciação são positivos porque
mantêm uma certa estabilidade social e preservam certos valores. Muitas crianças que saem das
zonas rurais cedo, a procura de instituições de ensino, carecem de acompanhamento por parte da
família.
Os ritos de iniciação não são absolutamente negativos, na medida em que fornecem alguma
informação, mas é preciso, no meu entender arranjar outras formas de educação dos jovens na
nossa sociedade Moçambicana.

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Referência Bibliográfica

1. Bonnet, J. A. de S. (1996). Aspectos pedagógicos da socialização da criança durante os ritos


de iniciação da puberdade – estudo de caso da sociedade macua. Maputo, Universidade
Pedagógica,.
2. Boudon, R. (1990) Dicionário de Sociologia. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
3. Casimiro, I. (2000) Relações de género na família e na comunidade em Nampula. Maputo.
4. Damatta, R (2000). Individualidade e liminaridade: considerações sobre os ritos de
passagem e a modernidade. São Paulo: Revista Mana [online], pp. 7-29.
5. Durkheim, E. (1987) As regras do método sociológico. 13ª Ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional.

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