Processos Transdiagnósticos Perfeccionismo - Secad

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29/08/2023, 13:03 PROCESSOS TRANSDIAGNÓSTICOS NA CLÍNICA EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL: DESREGULAÇÃO …

󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 JC

Aa 󰍉

PROCESSOS TRANSDIAGNÓSTICOS NA
CLÍNICA EM TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL: DESREGULAÇÃO
EMOCIONAL, AUTOCRITICISMO E
PERFECCIONISMO
MARCELA MANSUR-ALVES
PAOLA LUCENA-SANTOS
LUCAS ANDRÉ SCHUSTER DE SOUZA
ANA CAROLINA MACIEL CANCIAN
MARGARETH DA SILVA OLIVEIRA

> OBJETIVOS

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

conceituar os processos transdiagnósticos;


diferenciar a abordagem centrada no transtorno e a centrada nos processos;
avaliar o potencial de uso clínico da desregulação emocional, do autocriticismo (AC)
e perfeccionismo.

> ESQUEMA CONCEITUAL

https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/processos-transdiagnosticos-na-clinica-em-terapia-cognitivo-comportamental-desregulacao-emocional… 1/59
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󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 JC

Aa 󰍉

> INTRODUÇÃO

Confira aqui os slides


deste capítulo

Slides aqui

As abordagens ou os modelos transdiagnósticos buscam identificar processos


fundamentais subjacentes a múltiplos (geralmente comórbidos) transtornos
psicológicos, considerando, ainda, que grande parte desses processos integra o
funcionamento psicológico de qualquer ser humano, esteja ele em um grupo clínico
ou não.1,2

Neste capítulo, serão abordados três processos transdiagnósticos — a desregulação


emocional, o AC e o perfeccionismo —, uma vez que a literatura científica vem
apresentando considerável evidência de sua representatividade, influência e
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associação à origem, manutenção e intervenção de vários transtornos mentais. Cada

󰍜 um desses processos será abordado em detalhes. 󰂜 󰐍 󰘥 JC

> CARACTERÍSTICAS DOS PROCESSOS TRANSDIAGNÓSTICOS

󰍉
Aa A formação do terapeuta cognitivo-comportamental (de forma específica, a segunda

geração do movimento comportamental) tem tradicionalmente em sua base uma


maneira de pensar que é orientada para o transtorno mental.2

Os terapeutas aprenderam a construir diagramas de conceituação cognitiva e a


intervir a partir de protocolos desenvolvidos para trabalhar com essa ou aquela
psicopatologia. Assim, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) cresceu e se
consolidou como um modelo de intervenção orientado ao transtorno (disorder-
specific approach).2 E não há qualquer problema com isso.

Por estar baseada na nosologia psiquiátrica, a TCC se consolidou como uma


abordagem terapêutica extremamente eficaz para o tratamento de diversos
transtornos psicológicos.3 Essa maneira de trabalhar está focada na premissa de que
os fatores causais e mantenedores são, de forma significativa, diferentes entre as
psicopatologias, justificando, assim, a construção de estratégias de avaliação e
intervenção, que são, até certo ponto, distintas para cada transtorno.2

A partir de 1990, a premissa básica que sustenta toda a nosologia psiquiátrica e


também a prática profissional em TCC começou a ser questionada, e propostas
alternativas (ainda que complementares) passaram a ser debatidas.2

Uma parte desses questionamentos advém do reconhecimento de que atualmente o


Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — 5ª edição (DSM-5)4
advoga a existência de 350 diagnósticos diferentes. Apenas a título de exemplificação,
na primeira edição do DSM, de 1952, existiam quatro transtornos de ansiedade
mapeados, ao passo que, na edição mais recente, são 22 transtornos de ansiedade
distintos. Assim, é possível se perguntar:

os métodos de diagnóstico e extensão de conhecimento foram ampliados de forma


avassaladora a fim de oferecer ferramentas mais capazes de mapear as nuanças
entre os transtornos?
será mesmo que esses transtornos são assim tão diferentes uns dos outros para
justificar a criação de categorias e critérios diagnósticos não sobrepostos?

Ademais, outro ponto chama a atenção: as elevadas taxas de comorbidades


existentes entre os transtornos. Em geral, metade dos indivíduos que possuem
diagnóstico para um transtorno também atende aos critérios diagnósticos para uma
segunda psicopatologia. Ao se considerar apenas os transtornos de ansiedade e
depressão, alguns estudos apontam para sobreposição entre ambos em 76% das
pessoas.5

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Norton e Paulus chamam a atenção para a existência de outros desafios para as

󰍜 intervenções focadas em transtornos específicos. São eles:5 󰂜 󰐍 󰘥 JC

concordância apenas moderada entre clínicos quanto aos diagnósticos realizados


(ficando entre 50 e 70%);
Aa 󰍉
excessiva quantidade de diagnósticos em outra especificação, o que aponta para
uma dificuldade de se obter a quantidade mínima de critérios para qualificar um
diagnóstico preciso;
dificuldades advindas da capacidade de os clínicos conhecerem e serem capacitados
a utilizar um número enorme de protocolos de intervenção, assim como os custos
excessivos que isso implicaria.

Assim, o início do século XXI foi marcado por uma transição na forma de pensar, em
que a prática clínica em TCC passou a ter seu foco mais voltado aos papéis de
diferentes processos (cognitivos, comportamentais e emocionais) na origem e/ou
manutenção de múltiplos transtornos.6 Tal forma de pensar é chamada de abordagem
transdiagnóstica.

Será visto aqui um exemplo. O viés atencional direcionado a eventos negativos é um


processo presente na população de maneira geral. As pessoas típicas ou saudáveis
possuem viés atencional negativo, assim como as pessoas que fazem parte de
determinados grupos clínicos (por exemplo, transtornos de ansiedade e depressão).
Qual é a diferença, então, entre o viés atencional de pessoas que fazem parte de
grupos clínicos e aquelas que não fazem? Tudo seria uma questão de quantidade.6

As pessoas com transtornos de ansiedade e/ou depressão apresentariam níveis


extremamente elevados de vieses atencionais negativos, ao passo que os indivíduos
saudáveis poderiam apresentar níveis elevados, mas estes não seriam ainda clínicos,
uma vez que não estão causando prejuízos funcionais.6

O exemplo do viés atencional como um processo transdiagnóstico ajudaria, não


obstante, a pensar também que esses processos facilitariam a explicação acerca dos
elevados níveis de comorbidade entre transtornos psicológicos, já que alguns deles
compartilham processos.6

Outra vantagem ao se usar um modelo transdiagnóstico para o raciocínio clínico é


que, como um processo transdiagnóstico está associado a duas ou mais
psicopatologias, a avaliação e o treinamento para intervenção tornam-se muito mais
parcimoniosos se comparados à quantidade de investimento necessária para uso de
inúmeros protocolos especialmente elaborados para categorias diagnósticas
discretas.6

As evidências sugerem que, quando um transtorno é tratado com


TCC, as psicopatologias comórbidas que não são o alvo específico

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da intervenção também melhoram, muito provavelmente em

󰍜 󰂜2,6
função dos processos transdiagnósticos compartilhados.
󰐍 󰘥 JC

A lista de processos transdiagnósticos é extensa e inclui tanto fatores ambientais e


6
󰍉
Aa experiências de vida como características e processos individuais. No primeiro caso,
o abuso físico e sexual (particularmente na infância), a disciplina parental punitiva ou
negligente e a psicopatologia das figuras parentais são aspectos ambientais que, de
forma confiável, têm sido associados a diferentes dificuldades de saúde mental.2

No que se refere aos aspectos e às características individuais que poderiam atuar


como processos transdiagnósticos, eles englobam aspectos cognitivos (por exemplo,
viés atencional, hipervigilância, viés de interpretação, raciocínio emocional,
pensamento negativo recorrente, autocriticismo [AC], entre outros); emocionais (por
exemplo, desregulação emocional, afetividade negativa, neuroticismo); e
comportamentais (por exemplo, evitação, esquiva, comportamento de segurança,
controle inibitório).1,2

Um ponto que merece destaque nessa discussão é que parecem existir níveis
hierárquicos de complexidade entre os processos transdiagnósticos, sendo que há
aqueles mais básicos (como a desregulação emocional) até aqueles mais complexos,
que seriam produto da intersecção entre processos emocionais, cognitivos e
comportamentais mais básicos (como o perfeccionismo, por exemplo).6

Não obstante, os processos transdiagnósticos associados a múltiplos transtornos


podem exercer sua influência nos processos mais próximos ou mais distantes
(temporalmente) a eles, representando fatores de risco distais ou proximais.6

Por exemplo, no caso de processos transdiagnósticos comuns a transtornos de


ansiedade e depressão, o neuroticismo poderia ser um fator de risco distal, ao passo
que o viés atencional negativo e a esquiva experiencial poderiam ser fatores de risco
proximais.

Assim, a análise dos processos transdiagnósticos pode facilitar a construção de um


diagrama de causalidade para diferentes psicopatologias que considere processos
cognitivos, emocionais e comportamentais de diferentes níveis de complexidade e de
influência temporal. Como exposto, são inúmeros os processos transdiagnósticos que
atualmente encontram-se sob escrutínio científico.

> EXEMPLOS DE PROCESSOS TRANSDIAGNÓSTICOS

A seguir, serão apresentados exemplos de processos transdiagnósticos.

/ DESREGULAÇÃO EMOCIONAL

As características da desregulação emocional serão apresentadas a seguir.

> EMOÇÕES E REGULAÇÃO EMOCIONAL


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As emoções e a sua regulação são fenômenos de extrema importância para a vida

󰍜 󰐍 󰘥
󰂜 Por conta
humana e estão intimamente ligadas à qualidade de vida e à saúde mental.
dessa importância, o manejo das emoções tem sido um assunto relevante para
JC

estudiosos da psicologia desde a Antiguidade.7


Aa 󰍉
Nas últimas décadas, a regulação emocional tem se tornado um dos temas mais
estudados no campo da psicologia.7 A abordagem mais prevalente no estudo das
emoções é o modelo modal, que descreve o processo de geração das emoções em
uma série de quatro etapas:8

reconhecimento de uma situação emocionalmente relevante;


direcionamento da atenção a essa situação;
avaliação e interpretação da situação;
ocorrência de uma resposta emocional envolvendo componentes experienciais,
fisiológicos e comportamentais.

A maioria das apresentações psicopatológicas envolve emoções, seja em relação à


intensidade, duração ou frequência. Os problemas relacionados à intensidade das
emoções podem ter a ver tanto com uma hiporreatividade emocional (por exemplo,
transtorno de personalidade antissocial) como com hiper-reatividade (por exemplo,
ansiedade social), ou com uma combinação de ambos, como é o caso do transtorno
depressivo, em que há uma hiper-reatividade às emoções de tristeza e culpa e uma
hiporreatividade à alegria e ao entusiasmo.8

A duração e a frequência problemática das emoções também se relacionam a


apresentações psicopatológicas, especialmente quando há duração ou frequência
excessiva de emoções negativas ou quando são excessivamente infrequentes (ou
demasiado curtas) as experiências de emoções positivas.8

Da mesma forma, os problemas ligados ao tipo de emoções diante de certos


contextos são relevantes em alguns problemas de saúde mental, como é o caso da
inadequação emocional presente na esquizofrenia, por exemplo.8

As estratégias de regulação emocional tendem a ser utilizadas


quando as emoções se tornam problemáticas, geralmente se
dirigindo a aumentar a experiência de emoções positivas e a
atenuar as emoções negativas, objetivando promover satisfação e
bem-estar no curto prazo ou facilitar o cumprimento de metas
importantes de longo prazo.7

Existem diferentes modelos conceituais de regulação emocional, sendo o modelo


processual o mais difundido e amplamente adotado nas abordagens cognitivo-
comportamentais.7 Em sua versão original, esse modelo se foca primordialmente na

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compreensão das estratégias de regulação correspondentes a cada etapa do processo

󰍜 generativo da emoção.9,10 󰂜 󰐍 󰘥 JC

A regulação emocional é um conjunto de processos implícitos ou


Aa 󰍉 explícitos, automáticos ou controláveis, que se fazem presentes em
diferentes etapas do processo de geração e manutenção da emoção,
podendo incidir em qualquer um dos quatro estágios descritos pelo
modelo modal, desde a influência sobre a ocorrência ou não de uma
situação emocionalmente relevante até a modulação dos diferentes
componentes da resposta emocional propriamente dita.9,10

A regulação emocional visa auxiliar o indivíduo a atingir suas metas e seus objetivos
relevantes no contexto, mediante a modificação da frequência, intensidade, duração
e/ou formas de expressão dos diferentes componentes da resposta emocional, sejam
eles fisiológicos, comportamentais ou experienciais.11 A regulação pode ocorrer em
duas linhas:12

intrapessoal — o próprio indivíduo interfere em aspectos relevantes de sua emoção,


reavaliando uma situação como forma de reduzir a resposta de ansiedade, por
exemplo;
interpessoal — quando há interferência no processo de geração da emoção de outro
indivíduo, por exemplo, conversando com uma pessoa assustada para acalmá-la.

Por definição, no modelo processual, uma resposta emocional ou


estratégia de regulação será problemática somente à medida que
implicar uma falha em atingir objetivos importantes ao indivíduo.13

Os achados empíricos apontam que certas estratégias tendem a ser mais


frequentemente disfuncionais, como a ruminação e a supressão, por exemplo, porém
essa consideração deve ser sempre ponderada conforme o contexto em que a
estratégia é utilizada e o resultado produzido.13

Alguns fatores são reconhecidamente centrais para que seja


possível uma regulação adaptativa, como a presença de um
repertório amplo e bem desenvolvido de estratégias de modulação
de respostas, a capacidade do indivíduo de estar consciente da
própria experiência emocional e do contexto em que ela ocorre e a
clareza sobre seus objetivos com a regulação das emoções.8

O modelo processual apresenta cinco grandes conjuntos de estratégias de regulação


emocional (Figura 1), cada um deles incidindo sobre uma das etapas do processo de
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geração da emoção. A seta maior, na figura, indica que as estratégias de modulação da

󰍜resposta também podem produzir alterações na situação. 󰐍 󰂜 󰘥 JC

+
Aa 󰍉

FIGURA 1: Modelo processual de regulação das emoções. // Fonte: Adaptada de


Gross e Jazaieiri (2014).8

As estratégias de regulação emocional descritas pelo modelo processual podem ser


classificadas em dois grupos, conforme o momento do processo de geração de
emoções em que os esforços de regulação incidirão. O primeiro grupo de estratégias
consiste na regulação focada nos antecedentes.9,14

No primeiro grupo, as mudanças ocorrem antes de a emoção ser gerada, focando-se


nos elementos desencadeantes da resposta emocional. Dentro desse agrupamento,
pode-se também fazer uma distinção entre as alterações dos elementos internos e
externos ao indivíduo:9,14

alterações externas — envolvem as estratégias de seleção da situação (por exemplo,


evitação ou confrontação de situações ansiogênicas com vistas a objetivos de curto
ou longo prazos) e estratégias de modificação da situação (por exemplo, estratégias
de soluções de problemas ou busca de apoio social);
alterações internas — envolvem as estratégias de modificação do foco atencional
(por exemplo, ruminação, distração, mindfulness) e de modificação cognitiva (por
exemplo, verificação de evidências, reavaliação das situações ou da própria
capacidade de enfrentamento).

No segundo grupo, que consiste na regulação focada na resposta, a modulação


ocorre após a emoção ser gerada, focando-se na modulação da resposta emocional.14
Tal modulação pode incidir sobre quaisquer dos componentes da resposta emocional,
como a expressão verbal e física (por exemplo, dizer à outra pessoa o que sente, uso
de diários, agredir ou abraçar alguém, suprimir ou alterar expressões faciais, posturas
e gestos), sobre alterações fisiológicas (por exemplo, técnicas de respiração, uso de
substâncias, exercício físico) e sobre mudanças comportamentais (por exemplo, inibir
impulsos relacionados à emoção ou adoção de comportamentos opostos ao impulso
emocional).

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Ao longo da última década, a literatura sobre a regulação emocional e psicopatologia

󰍜vem 󰂜
sinalizando mais claramente a importância de elementos contextuais
desfecho adaptativo ou desadaptativo dos processos de regulação emocional. 15
no
󰐍 󰘥 JC

A perspectiva atual é de que o fator definidor da relação entre regulação emocional e


Aa 󰍉
disfuncionalidade ou psicopatologia é o caráter descontextualizado do processo de
regulação emocional utilizado, muito mais do que o uso ou não de estratégias
específicas de regulação.15

Com o foco recaindo cada vez mais na apreciação do contexto da regulação como
fator crucial na produção de desfechos saudáveis ou patológicos, uma importância
maior vem sendo atribuída aos fatores que facilitam ou dificultam essa sensibilidade
ao contexto pelo indivíduo.10

Os avanços no estudo da regulação emocional têm sustentado que a


atenção no manejo da regulação emocional deve se voltar aos
problemas que geram a descontextualização das estratégias, como a
insensibilidade ao contexto circundante, a baixa responsividade ao
feedback ou os déficits na capacidade de implementação das
diferentes estratégias, tornando esses fatores alvos de tratamento
prioritários.10

De forma coerente ao desenvolvimento do campo, propôs-se o modelo processual


estendido, que adiciona ao modelo processual original a noção de que o processo de
regulação emocional se compõe de um ciclo com quatro estágios:10

identificação da necessidade de regular emoções;


seleção da estratégia de regulação emocional;
implementação da estratégia de regulação;
monitoramento da implementação ao longo do tempo, a fim de verificar a
necessidade de modificações táticas ou estratégicas.

Cada estágio, por sua vez, é descrito em termos de uma sucessão de ciclos iterativos
de percepções, avaliações e ações do organismo sobre um ambiente em fluxo. Com
essa extensão do modelo, o aspecto dinâmico da regulação emocional se torna mais
nítido e torna possível maior granularidade na identificação de falhas em pontos
específicos do processo regulatório como um todo, bem como a identificação de
processos básicos com potencial de gerar desfechos problemáticos.10

A partir desse ponto de vista, é possível descrever, por exemplo, que falhas
perceptivas no estágio de identificação da necessidade de regulação, especificamente
a sobrerrepresentação de sinais de ameaça por um longo período, representam um
papel preponderante no desencadeamento e na manutenção de ataques de pânico.16

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Ainda, é possível descrever que falhas avaliativas no estágio de seleção de estratégias,

󰍜 󰐍
nomeadamente a avaliação positiva de estratégias mal-adaptativas󰂜
󰘥
de regulação,
contribuem para a ocorrência de autolesões não suicidas e abuso de substâncias no
JC

transtorno borderline.16
Aa 󰍉
A abordagem da formulação e do diagnóstico dos problemas de
saúde mental, tendo em conta o processo de regulação emocional,
tem um grande potencial de aprimorar a qualidade dos
diagnósticos, permitindo que haja maior integração com o
conhecimento de processos psicológicos básicos, mecanismos
fisiológicos e aspectos contextuais no entendimento dos
problemas de saúde mental.8

Além disso, a adoção desse ponto de vista também pode promover um entendimento
útil de apresentações psicopatológicas subclínicas (isto é, aquelas que não atendem
aos critérios diagnósticos para transtornos específicos) e até mesmo derivar propostas
preventivas de problemas de saúde amparadas no conhecimento dos fatores
emocionais relacionados à saúde mental, uma vez que se entende que a regulação
emocional não é um fenômeno unicamente presente nas condições psicopatológicas,
mas sim uma dimensão do funcionamento humano geral.8

Porém, para que as potencialidades desse ponto de vista sejam efetivadas e, de fato,
seja possível a transposição dos avanços da pesquisa em regulação emocional à
prática clínica, é preciso que existam tecnologias de avaliação e de intervenção
relacionadas aos processos relevantes.

ATIVIDADES

1. Observe as afirmativas sobre a TCC.


I. A formação do terapeuta cognitivo-comportamental tem em sua base uma
maneira de pensar que é orientada para o transtorno mental.
II. A TCC se consolidou como um modelo de intervenção orientado por
questionários e escalas de avaliação.
III. A TCC trabalha sobre a premissa de que os fatores causais e mantenedores
são diferentes entre as psicopatologias, o que justificaria a construção de
estratégias de avaliação e intervenção.

Quais estão corretas?


A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
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C) Apenas a II e a III.

󰍜 D) A I, a II e a III.
󰐍 󰂜 󰘥 JC

Confira aqui a resposta

Aa 󰍉
2. Qual é a estimativa de sobreposição entre os transtornos de ansiedade e
depressão?
A) 35%.
B) 70%.
C) 50%.
D) 76%.
Confira aqui a resposta

3. Qual é o objetivo da abordagem transdiagnóstica?


Confira aqui a resposta

4. Sobre os aspectos ambientais nos processos transdiagnósticos, assinale V


(verdadeiro) ou F (falso).
___ Abuso físico e sexual.
___ Viés atencional.
___ Disciplina parental punitiva ou negligente.
___ Raciocínio emocional.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.


A) V — F — V — F
B) F — V — F — V
C) F — F — V — V
D) V — V — F — F
Confira aqui a resposta

5. No estudo das emoções, o modelo modal é o mais prevalente, que descreve o


processo de geração das emoções em uma série de quatro etapas. Quais são
essas etapas?
Confira aqui a resposta

6. Observe as afirmativas sobre o modelo processual.


I. Na modulação da resposta, a situação é avaliada.
II. A modificação da situação é um dos conjuntos de estratégias de regulação
emocional.
III. Na modulação da resposta, é possível ter respostas experienciais, fisiológicas
e/ou comportamentais.

Quais estão corretas?


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A) Apenas a I e a II.

󰍜 B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
󰐍 󰂜 󰘥 JC

D) A I, a II e a III.
Aa 󰍉
Confira aqui a resposta

7. Sobre as alterações internas (estratégia de regulação do modelo processual),


assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
___ Envolvem as estratégias de modificação do foco atencional.
___ Envolvem as estratégias de modificação cognitiva.
___ Envolvem as estratégias de seleção da situação.
___ Envolvem as estratégias de modificação da situação.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.


A) V — F — F — V
B) V — V — F — F
C) F — F — V — V
D) F — V — V — F
Confira aqui a resposta

8. Quais são os estágios do modelo processual estendido?


Confira aqui a resposta

> AVALIAÇÃO DA REGULAÇÃO EMOCIONAL

Assim como na maioria dos estudos sobre psicopatologia e clínica em saúde mental,
as pesquisas relacionadas à regulação emocional se utilizam principalmente de
instrumentos psicométricos de autorrelato para aferir processos emocionais, de
regulação e seus correlatos. Entre os instrumentos mais utilizados, destaca-se a Escala
de Dificuldades com a Regulação Emocional (em inglês, Difficulties in Emotion
Regulation Scale [DERS]).17

A DERS se propõe a avaliar um construto multidimensional descrito como dificuldades


na regulação emocional, que diz respeito às habilidades de consciência, compreensão
e aceitação das emoções, às habilidades para controlar comportamentos impulsivos e
comportar-se em direção a metas, mesmo na presença de estados emocionais
intensos, e às habilidades de usar estratégias de modulação adequadas ao
contexto.18,19

A DERS é um questionário autoaplicável, amplamente utilizado ao redor


do mundo, que mensura elementos envolvidos na regulação
emocional.18,19

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A DERS foi originalmente desenvolvida em inglês e destinada à população adulta, é de

󰍜 󰂜 18,19
uso livre e já foi adaptada a diversas línguas, inclusive ao português brasileiro.
󰐍 󰘥 JC

Alguns estudos com a versão original em inglês da DERS apontam


Aa 󰍉 que o instrumento funciona adequadamente na avaliação de
regulação emocional em adolescentes, porém não há estudos
brasileiros publicados até o momento que avaliem seu uso nessa
população.

A DERS é composta por 36 itens, que formam seis subescalas:

não aceitação da resposta emocional;


falta de clareza emocional;
acesso limitado a estratégias de regulação emocional;
dificuldade em controlar os impulsos;
dificuldade em manter um comportamento dirigido a objetivos;
falta de consciência emocional.

A soma dos escores das subescalas da DERS gera um escore total, em que as maiores
pontuações indicam maiores dificuldades na regulação emocional, sendo possível se
utilizar dos escores nos domínios específicos para um perfil mais detalhado das
dificuldades.

Além da avaliação multidimensional viabilizada pela DERS, alguns outros instrumentos


avaliam a regulação emocional focando diferentes aspectos, como o Emotion
Regulation Questionnaire (ERQ)20 e o Cognitive Emotion Regulation Questionnaire
(CERQ),21 que mensuram aspectos cognitivos da regulação emocional, além do
Interpersonal Emotion Regulation Questionnaire (IERQ),12 ainda sem adaptação
brasileira, que mensura o uso de estratégias interpessoais de regulação.

Os procedimentos experimentais, como as tarefas go-no-go,22 também são utilizados


para medir aspectos relacionados à regulação emocional, como o controle cognitivo
em contextos de elevada ativação emocional. No Brasil, está disponível um estudo de
adaptação do ERQ, avaliando fatores relacionados à reavaliação cognitiva e à
supressão emocional, o qual fora conduzido em uma amostra de idosos.23

Em uma pesquisa recente, foi realizada a adaptação e validação de outra escala — o


Emotion Regulation Checklist — em uma amostra de crianças brasileiras,24 sendo essa
uma versão do instrumento que avalia a regulação emocional nas dimensões de
labilidade emocional e regulação, usando itens em formato de Escala Likert,
respondidos por pais ou cuidadores.

Alguns autores sugerem que os tradicionais registros de pensamentos disfuncionais


na TCC já seriam, por si só, úteis para captar aspectos relevantes da regulação

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29/08/2023, 13:03 PROCESSOS TRANSDIAGNÓSTICOS NA CLÍNICA EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL: DESREGULAÇÃO …

emocional e sugerem a expansão dessa ferramenta para contemplar, de forma mais

󰍜 explícita, esse processo. 󰂜 󰐍 󰘥 JC

Aldao e Plate propõem um registro expandido que integra aspectos emocionais e


contextuais para um monitoramento clínico da regulação emocional. Nessa
Aa 󰍉
ferramenta simples, dispõem-se cinco colunas em que o paciente deve registrar
informações sobre situações estressantes, com:25

descrição da situação;
emoções experimentadas e intensidade;
estratégias de regulação usadas;
resultados de curto prazo da regulação;
resultados de longo prazo da regulação.

Aldao e colaboradores apresentam também uma ferramenta um pouco mais


complexa, com a capacidade de gerar dados quantitativos para o monitoramento da
flexibilidade de regulação emocional, integrando indicadores numéricos para a
importância dos objetivos de regulação, efetividade da estratégia para atingir
objetivos e congruência entre objetivos de longo e curto prazos, que são computados
em um escore geral de flexibilidade de regulação emocional do cliente.26

Outras ferramentas de registro de emoções e estratégias de regulação são


apresentadas em protocolos de tratamento informados pelo modelo de regulação
emocional, como os registros diários da terapia comportamental dialética (TCD)27 ou
os registros de comportamentos dirigidos pela emoção no protocolo unificado.28
Esses são instrumentos potencialmente valiosos para conferir estrutura à avaliação e
ao monitoramento na clínica em pessoas com dificuldades relacionadas à regulação
emocional.

Outras tecnologias também vêm sendo indicadas como potenciais recursos para
aprimorar a avaliação clínica dos processos de regulação emocional. Além dos
instrumentos de monitoramento descritos, vêm sendo apontados outros, mais
estruturados, voltados a gerar informação detalhada sobre os contextos de regulação
emocional. São exemplos a integração de recursos de avaliação ecológica
momentânea aos processos de avaliação e intervenção clínica ou mesmo o uso mais
frequente de instrumentos voltados a mensurar aspectos regulatórios mais
transitórios e dependentes de estado.29

As técnicas de avaliação ecológica momentânea e os instrumentos que mensuram


regulação emocional como estado proporcionam uma perspectiva mais dinâmica ao
entendimento do fenômeno pois permite mensurar estados emocionais instantâneos
e o uso de estratégias e habilidades de regulação no momento em que elas estão
sendo aplicadas. Assim, se apresentam como complementares às avaliações
tradicionais que abordam a regulação emocional como traço, como é o caso da DERS
e dos outros questionários citados anteriormente.

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Alguns exemplos de instrumentos que avaliam o construto de regulação emocional

󰍜 como estado são o State Emotion Regulation Inventory (SERI)30 e o State


󰂜 Difficulties
in Emotion Regulation Scale (S-DERS),31 ambos ainda sem versão brasileira. Nessa
󰐍 󰘥 JC

mesma linha, também tem se apresentado como possibilidade o uso de dispositivos


󰍉
Aa móveis para compreensão mais acurada de aspectos contextuais, comportamentais e
fisiológicos envolvidos na regulação emocional.29,32

Os smartphones podem ser usados para gerar informação sobre


engajamento social, atividade física, entre outros, enquanto os
dispositivos vestíveis, como pulseiras e smartwatches, podem
captar sinais fisiológicos relevantes à regulação emocional, como
variabilidade da frequência cardíaca, arritmia sinusal respiratória e
resistência galvânica da pele.29,32

ATIVIDADES

9. Observe as afirmativas sobre a DERS.


I. Avalia um construto multidimensional descrito como dificuldades na regulação
emocional.
II. É um questionário autoaplicável, amplamente utilizado ao redor do mundo,
que mensura elementos envolvidos na regulação emocional.
III. Avalia a regulação emocional a partir dos seus aspectos cognitivos.

Quais estão corretas?


A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

10. Quais são as subescalas que compõem os itens de avaliação da DERS?


Confira aqui a resposta

> INTERVENÇÕES FOCADAS EM REGULAÇÃO EMOCIONAL

No que concerne às intervenções cognitivo-comportamentais, a


regulação emocional é cada vez mais reconhecida como um

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processo clínico transdiagnóstico e tem sido amplamente integrada

󰍜 aos modelos de intervenção. 󰂜 󰐍 󰘥 JC

Algumas abordagens — como o protocolo unificado para o tratamento


28 33
󰍉
Aa de transtornos emocionais, a terapia focada nas emoções, a terapia de regulação
emocional34 e a TCD35 — são exemplos de intervenções com suporte empírico, nas
quais a regulação emocional faz parte da fundamentação e da formulação de caso e
informa diretamente as estratégias de intervenção.

No protocolo unificado, por exemplo, Barlow e colaboradores sugerem uma


unificação do entendimento e manejo de diversas condições clínicas sob o
agrupamento de transtornos emocionais, propondo um modelo integrado de
intervenção alicerçado na reavaliação de antecedentes cognitivos, na prevenção de
evitação emocional e no manejo de tendências de ação relacionadas às emoções
desreguladas.28

Já as terapias comportamentais de terceira geração adotam os processos de


regulação emocional como balizadores das intervenções e têm se focado
especialmente no uso adaptativo de estratégias de aceitação e reavaliação.36

Por razões de espaço, não é possível uma apresentação detalhada de todas as


abordagens terapêuticas citadas. Este capítulo irá focar no exame da TCD como uma
intervenção potencialmente eficaz à abordagem de problemas com a regulação
emocional.

A TCD parte de uma conceitualização inovadora do transtorno de


personalidade borderline como uma desordem generalizada dos
sistemas de regulação emocional.35

Ainda que tenha sido desenvolvida incialmente para o tratamento de pessoas com
transtorno de personalidade borderline, a conceitualização ampla de desregulação
emocional proposta pela TCD proporciona que esta seja uma intervenção aplicável
(com poucas adaptações) a populações diversas e com as mais diferentes condições
clínicas.37

Alguns estudos brasileiros já demonstram que a TCD é aplicável e potencialmente útil


na população brasileira para promover melhora clínica em pessoas com dificuldades
com regulação emocional e problemas relacionados ao comportamento alimentar,
nas quais a TCD foi eficaz para promover melhorias em indicadores de
comportamento alimentar problemático e adaptativo e reduzir sintomas afetivos.38,39
Além disso, foram observadas melhorias relatadas na capacidade de autocontrole e
autoconsciência e nas relações interpessoais.39

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󰍜 󰂜TCD e diz
O conceito de desregulação emocional é central na 󰐍 󰘥 JC

respeito à inabilidade de regular estados emocionais e


comportamentos, o que acarretaria excesso de experiências
Aa 󰍉 dolorosas, dificuldade em voltar a atenção para outro estímulo ou
conseguir funcionar de maneira independente do humor, controle
insuficiente de comportamentos impulsivos relacionados com
afeto positivo ou negativo e tendência a dissociar em contextos de
estresse elevado.35

Na sua abordagem da desregulação emocional, a TCD se alinha muito bem com os


modelos atuais sobre a regulação emocional como processo transdiagnóstico também
em função de seu entendimento etiológico, pois, em sintonia com os pontos de vista
contextualistas atuais, conceitualiza a desregulação emocional pervasiva como um
fenômeno que emerge a partir da transação entre fatores contextuais e individuais.35

A desregulação emocional, na perspectiva da TCD, surgiria da combinação de uma


vulnerabilidade biológica e de ambientes de crescimento desfavoráveis, que
invalidariam respostas emocionais ao longo do tempo. Esse ambiente invalidante
dificultaria o desenvolvimento de repertórios adequados de regulação emocional por
não fornecer informações precisas sobre como rotular e regular emoções, tampouco
daria suporte para o indivíduo aprender a confiar em suas próprias percepções como
interpretações válidas dos acontecimentos.35

A teoria biossocial é um modelo transacional elaborado para explicar


possíveis origens da desregulação emocional.40

Na teoria biossocial, a hipótese é que os indivíduos nasceriam com temperamentos e


necessidades distintas. As respostas do ambiente familiar às necessidades poderiam
potencializar ou amenizar possíveis disfuncionalidades. Ao mesmo tempo, a criança
que demanda muito poderia levar o ambiente a um esgotamento, resultando em
invalidações da experiência privada da criança.40

Os ambientes invalidantes referem-se a ambientes familiares que


respondem à comunicação da experiência privada da criança, rotulando-a
como não válida, injustificada, banal, distorcida, exagerada, entre outros,
e que falham em oferecer recursos necessários ao manejo das emoções e
às necessidades do indivíduo.40

O ponto crucial é que esse ambiente invalidante não ensina a criança a rotular suas
próprias experiências, criando dificuldades para o reconhecimento efetivo de
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emoções e problemas, tampouco ensina adequadamente as habilidades para modular

󰍜 󰂜a inibição de
as respostas emocionais intensas. Constitui-se então uma oscilação entre
respostas emocionais e as respostas emocionais extremas, que, em geral, são
󰐍 󰘥 JC

reforçadas pelo ambiente.40


Aa 󰍉
Para além da formulação diagnóstica e etiológica, a TCD também vai diretamente ao
encontro dos modelos processuais de regulação emocional na sua implementação, ao
propor estratégias de intervenção e princípios terapêuticos que, além de poderem ser
claramente mapeadas nas diferentes estratégias do modelo processual,40 também
guardam amplo potencial de facilitar a sincronização entre o indivíduo com suas
emoções e estratégias de regulação e o contexto circundante — como propõem os
desenvolvimentos mais recentes em flexibilidade de regulação e o modelo processual
estendido.10,26

A TCD, na sua forma padrão, configura-se em uma intervenção


altamente estruturada, de base comportamental, que envolve
psicoterapia individual e grupo de treinamento de habilidades.41

Entende-se que a efetividade terapêutica da TCD está diretamente relacionada ao


incremento da capacidade regulatória, que se opera principalmente mediante a
redução de tendências de ação inefetivas ligadas às emoções desreguladas.41 A
terapia incorpora diversos princípios comportamentais para possibilitar o treino
explícito de uma ampla gama de habilidades relevantes à regulação emocional, as
quais são dispostas em quatro módulos:27

habilidades de mindfulness;
habilidades de aceitação da realidade e tolerância ao mal-estar;
habilidades de regulação emocional;
habilidades de eficácia interpessoal.

Esses módulos de treino de habilidades geralmente são desenvolvidos mediante a


aplicação de protocolos estruturados de treinamento em grupo. Já a terapia na
modalidade individual tem o propósito de viabilizar a generalização das novas
habilidades a contextos diversos da vida dos pacientes.

Em cada um dos módulos da TCD, os diversos processos relevantes


à regulação emocional são treinados e fortalecidos, de modo a
aumentar a capacidade regulatória geral.

Com o desenvolvimento das habilidades do módulo de mindfulness, promove-se


melhora do controle atencional e redução de tendências automáticas de resposta,
junto com a atenuação do impacto de vieses de avaliação cognitiva.

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Com as habilidades de regulação emocional, proporciona-se um aumento do


󰍜 repertório de identificação, a avaliação e modificação das respostas 󰂜
emocionais em
seus diversos componentes e o incremento da capacidade de alterar situações
󰐍 󰘥 JC

geradoras de emoções positivas e negativas.


Aa 󰍉
Com as habilidades de aceitação da realidade e de tolerância ao mal-estar, promove-
se, por um lado, um aumento na capacidade de identificar as situações em que a
regulação pode não ser necessária e, por outro, incrementam-se as capacidades de
inibir respostas e impulsos problemáticos em situações emocionalmente carregadas.

Por fim, com as habilidades de efetividade interpessoal, promove-se melhor


reconhecimento e clarificação de objetivos pessoais em diferentes contextos, assim
como a melhora na capacidade de mobilização de recursos no ambiente e de
obtenção de apoio social.

ATIVIDADES

11. Observe as afirmativas sobre o protocolo unificado.


I. É um exemplo de intervenção de suporte empírico.
II. Nele, a regulação emocional faz parte da formulação de caso e avalia os
resultados das estratégias de intervenção.
III. Corresponde a uma unificação do entendimento e manejo de diversas
condições clínicas sob o agrupamento de transtornos emocionais.

Quais estão corretas?


A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

12. Embora tenha sido desenvolvida para o tratamento de pessoas com


transtorno de personalidade borderline, por que a TCD é útil para populações
diversas e com as mais diferentes condições clínicas?
Confira aqui a resposta

13. Sobre os quatro módulos de habilidades relevantes à regulação emocional,


correlacione as colunas.

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Mindfulness ___ Proporciona um aumento do repertório

󰍜 Aceitação da realidade e de
tolerância ao mal-estar
󰐍
de identificação, avaliação e 󰂜
modificação
das respostas emocionais em seus diversos
󰘥 JC

Regulação emocional componentes, bem como proporciona o


Aa 󰍉
Efetividade interpessoal incremento da capacidade de alterar
situações geradoras de emoções positivas
e negativas.
___ Promove melhora do controle atencional
e redução de tendências automáticas de
resposta, junto com a atenuação do
impacto de vieses de avaliação cognitiva.
___ Promove melhor reconhecimento e
clarificação de objetivos pessoais em
diferentes contextos, assim como a
melhora na capacidade de mobilização de
recursos no ambiente e de obtenção de
apoio social.
___ Promove, por um lado, um aumento na
capacidade de identificar situações em que
a regulação pode não ser necessária e, por
outro, incrementam-se as capacidades de
inibir respostas e impulsos problemáticos
em situações emocionalmente carregadas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.


A) 2 — 1 — 4 — 3
B) 4 — 3 — 2 — 1
C) 1 — 2 — 3 — 4
D) 3 — 1 — 4 — 2
Confira aqui a resposta

/ AUTOCRITICISMO

A seguir, serão apresentados aspectos relevantes do autocriticismo (AC).

> DEFINIÇÕES E RELEVÂNCIA DO AUTOCRITICISMO

O AC é um processo psicológico humano e transdiagnóstico de interesse


de clínicos e pesquisadores. Há divergências na maneira como o AC é
conceitualizado, contudo, de forma geral, pode ser entendido como um
processo psicológico humano caracterizado por uma maneira hostil,
crítica, punitiva e/ou acusatória de se relacionar consigo mesmo.42,43

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O AC também pode ser considerado uma tendência a responder de maneira

󰍜 excessivamente crítica a uma discrepância percebida entre o eu real e󰂜


o eu desejado.
Assim, diante de diferentes contratempos e falhas, um indivíduo com níveis altos de
󰐍 󰘥 JC

autocrítica tende a hiper-generalizar suas falhas, ao ponto de isso gerar um estado


󰍉
Aa emocional negativo global para consigo mesmo enquanto pessoa.44

Enquanto um traço, o AC inclui a incapacidade de manter uma perspectiva


equilibrada, junto com um exagero relacionado aos aspectos negativos de si mesmo e
as reações negativas diante de falhas.43

Desde a década de 1970, o AC tem sido foco de estudos,45,46 especialmente de


pesquisas que buscavam investigar a sua relação com o sofrimento psicológico,
sobretudo, os transtornos depressivos.47

Apesar de ser frequentemente descrito na literatura como uma dimensão de


vulnerabilidade à depressão ou como um componente da depressão, ressalta-se que o
AC não aparece, de forma exclusiva, no contexto de quadros depressivos.48 Por essa
razão, as pesquisas acerca do AC têm sido feitas no âmbito de diversos quadros que
envolvem o sofrimento psicológico.47

De forma mais específica, o AC tem sido consistentemente associado a uma ampla


diversidade de dificuldades, incluindo sintomas depressivos, de ansiedade,
transtornos alimentares, transtornos de personalidade, sintomatologia psicótica,
problemas interpessoais, abuso de substâncias, suicídio, vergonha, comparações
sociais desfavoráveis e insatisfação corporal.42,43,47,48

Nesse sentido, um estudo de revisão corroborou ainda mais a relação entre AC e


sofrimento emocional ao verificar que os pacientes que apresentam transtornos
associados com AC estão mais propensos a experienciar mais dificuldades em se
conectar aos outros, assim como sofrimento psicológico mais intenso.48

Na mesma linha, uma revisão sistemática recentemente publicada observou que o AC


está presente em diversos transtornos mentais, representando um fenômeno central.
Os autores chamam a atenção para o fato de que as pesquisas têm se dedicado, de
forma primordial, às formas extremas de AC ou a desfechos clinicamente relevantes,
existindo poucos estudos que investiguem esse processo como algo normalmente
presente na população.47

De forma curiosa, as intervenções terapêuticas que explicitamente consideram o AC


disfuncional como foco terapêutico não tentam eliminá-lo de forma completa,
buscando apenas alcançar melhor maneira de lidar com isso ou promover o
aprendizado de como se autotranquilizar.48

De fato, o AC pode ser compreendido enquanto um fenômeno virtualmente universal


nos seres humanos, porém com imensas variações em sua apresentação, intensidade e
consequências individuais e/ou sociais.49

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Ademais, existem hipóteses consideráveis de que possam existir formas e funções

󰍜 potencialmente adaptativas de AC, as quais precisam ser consideradas 󰂜 em estudos


futuros que investiguem antecedentes e consequentes desse processo, já que podem
󰐍 󰘥 JC

ser utilizadas como possível foco de abordagens psicoterapêuticas.47


Aa 󰍉
Corroborando tal entendimento, Kannan e Levitt definem AC como “uma consciência
avaliativa de si próprio, a qual pode ser um comportamento saudável e reflexivo, mas
também pode ter efeitos e consequências prejudiciais”, posicionando, assim, o seu
significado dentro de um continuum que vai de um comportamento saudável até
aspectos desadaptativos da experiência.48

> FISIOLOGIA DO AUTOCRITICISMO

O possível papel adaptativo da autocrítica encontra respaldo nos próprios


mecanismos evolutivos e fisiológicos humanos, conforme teorizado por Gilbert,
criador da Terapia Focada na Compaixão (em inglês, Compassion Focused Therapy
[CFT]). Segundo Gilbert, existem três sistemas básicos que regulam as emoções e que
mutuamente se influenciam. O sofrimento ocorre quando esses sistemas estão em
desequilíbrio ou encontram-se padronizados/moldados de determinadas maneiras
(Quadro 1).50

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󰍜 QUADRO 1 󰐍 󰂜 󰘥 JC

Aa 󰍉

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SISTEMAS DE REGULAÇÃO DAS EMOÇÕES


󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 JC

Sistema de ameaça e É um sistema ativador e inibitório.


autoproteção (focado na Sua função consiste em detectar ameaças, ativando a
󰍉
Aa ameaça, busca de pessoa para correr ou lutar (ativador) ou inibindo-a
proteção e segurança — para que congele, submeta-se ou pare de fazer coisas
ligado à raiva, ao (inibitório).
desgosto e à ansiedade) Esse sistema também entra em ação quando se
detectam ameaças para pessoas amadas, amigos ou
grupo do qual se faça parte.
Ele evoluiu como um sistema protetivo, portanto, é
natural que evoque emoções dolorosas ou difíceis,
como ansiedade, desgosto e raiva.
O cérebro outorga maior prioridade às coisas
ameaçadoras do que às prazerosas.
Esse sistema opera por meio de alguns networks
cerebrais, sendo um deles a amígdala, que processa
rapidamente as coisas importantes, em especial, as
que representam ameaças.
O cortisol, o hormônio do estresse, igualmente
desempenha um papel importante na sensibilidade às
ameaças, na maneira como se lida com elas e no
senso geral de ansiedade.
Gilbert ressalta que a própria sociedade
contemporânea está configurada de tal forma que
acaba sendo muito fácil ter o sistema de ameaça e
proteção hiperativado (p.ex., medo de perder o
emprego, receio de cometer erros no trabalho, medo
de ser criticado ou rejeitado por outras pessoas,
excesso de tarefas, entre outros).

Sistema de busca por É um sistema ativador que visa dar emoções positivas
recursos e recompensas que guiem, motivem e encorajem a buscar os
(desejar, perseguir, recursos que a pessoa e as pessoas amadas precisam
conquistar e consumir — — não apenas para sobreviver, mas também para
ligado à busca, excitação prosperar.
e vitalidade) Os seres humanos sentem prazer e se sentem
motivados a buscar, consumir e obter coisas legais
(p.ex., sexo, comida, confortos, amizades,
reconhecimento, status).
Se esse sistema estiver hiper ou hipoativado, é
possível se deparar com quadros de bipolaridade, em
que o sistema muda de uma ativação muito alta para
uma ativação muito baixa.
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Contudo, quando esse sistema está em equilíbrio

󰍜 󰐍 󰂜direção
com os outros dois, ele guia a pessoa em
àquilo que é importante em sua vida.
󰘥 JC

Se ele não existisse, não haveria motivação, desejo


Aa 󰍉 ou senso de energia/vitalidade, o que acaba
ocorrendo em quadros graves de depressão.
Por outro lado, a hiperativação desse sistema pode
levar a quadros crônicos de insatisfação, em que se
deseja sempre mais e mais, acarretando frustração e
desapontamento.
Fisiologicamente, a dopamina é uma substância
cerebral que desempenha relevante papel nesse
sistema, já que é produzida quando se conquistam
coisas relevantes (p.ex., ir bem em uma avaliação,
conquistar algo que deseja, entre outros).
Gilbert igualmente salienta que é muito fácil ter o
sistema de busca hiperativado (p.ex., busca constante
de prazeres, confortos, sucessos e conquistas mais
onerosas do ponto de vista financeiro; desejo de se
provar digno de determinado trabalho; entre outros)
e, em virtude disso, a pessoa acaba encontrando
dificuldade para relaxar.

Sistema de afiliação e É um sistema tranquilizador que habilita a uma certa


contentamento quietude, apaziguamento e contentamento, os quais
(segurança, focado na ajudam a restaurar o equilíbrio.
afiliação e no não desejar Contentamento significa sentir-se seguro e estar feliz
— ligado à satisfação, com as coisas da maneira como são, em vez de estar
sentir-se seguro e desejando e se esforçando para conquistar algo.
conectado) É uma quietude/calmaria interna bem diferente dos
sentimentos positivos do sistema de busca.
Esse sistema pode ser ativado por meio do treino da
compaixão/autocompaixão.
Esse sistema é ativado quando uma criança está
assustada e sua mãe a abraça, acaricia e fala com ela
usando uma voz suave, tranquilizando-a e
acalmando-a; ou quando um adulto está estressado e
é tranquilizado por outros (p.ex., por meio de afeto,
gentileza, compreensão).
Tais sentimentos de tranquilização e segurança
parecem operar por meio dos mesmos circuitos
cerebrais associados à satisfação e ao
contentamento, como as endorfinas e ocitocinas,
que, juntas, proporcionam sentimentos de bem-estar
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advindos da sensação de sentir-se amado, desejado e

󰍜 seguro.
󰐍 󰂜 󰘥 JC

// Fonte: Adaptado de Gilbert (2009).50

󰍉
Aa O entendimento de Gilbert50 acerca dos sistemas de ameaça e autoproteção e do
sistema de afiliação e contentamento é compartilhado por Neff e Germer, que são os
criadores do programa Mindful Self Compassion (MSC).51

Ao explanarem o assunto no manual do programa MSC (um dos programas mais


conhecidos de treinamento da compaixão/autocompaixão), Neff e Germer iniciam
sua explanação citando a visão de Paul Gilbert acerca dos sistemas de ameaça e
autoproteção e do sistema de afiliação e contentamento, com a qual concordam.51

Para Neff e Germer, quando uma pessoa se autocritica, ela acessa o sistema
fisiológico de ameaça, o qual é rápido e facilmente desencadeado quando se está
diante de algum perigo e que tende a funcionar muito bem quando se enfrentam
perigos externos (corpo físico).51

Neff e Germer ressaltam que, atualmente, a maioria dos perigos


enfrentados consiste em potenciais ameaças ao autoconceito ou à
autoimagem da pessoa.51

Assim, o AC, ao ativar o sistema de ameaça e proteção, torna-se uma das reações mais
frequentes quando as coisas não ocorrem como o esperado. Ao perceber uma
ameaça, a amígdala é ativada, e o corpo libera cortisol e adrenalina para que se possa
ser capaz de lutar, fugir ou congelar. Assim, a autocrítica provoca estresse físico e
mental e, quando crônica, pode levar à ansiedade e depressão.51,52

Em contraponto, o sistema de afiliação e contentamento libera ocitocina e endorfinas


quando ativado, o que auxilia na redução do estresse e no aumento de sentimentos
de segurança e proteção. Tanto a compaixão como a autocompaixão ativam o sistema
de afiliação, ajudando a regular a resposta do sistema de ameaça.51,52

> ORIGENS DO AUTOCRITICISMO

Quanto às origens da autocrítica, muitos autores concordam que se trata de uma voz
real e externa introjetada/internalizada durante o processo de desenvolvimento, voz
essa geralmente relacionada a relações precoces cruciais com os pais.45,48,53

A exposição precoce a ameaças — seja em forma de abuso,


negligências ou mesmo expectativas irrealistas por parte dos pais
— é reconhecidamente associada ao aumento da vulnerabilidade a

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dificuldades de saúde mental e pode ser traduzida em diferentes

󰍜 formas de cognições e sentimentos relacionados


autodesvalorização, AC e autocondenação.54
󰂜 󰐍
à
󰘥 JC

󰍉
Aa Isso faz os teóricos sugerirem que tanto o AC como a autotranquilização são
decorrentes de históricos de relações interpessoais, em que as pessoas aprendem a se
relacionar consigo próprias da mesma maneira que os outros se relacionaram com
ela.54

Indo além, Whelton e Greenberg realizaram um estudo experimental sobre AC, por
meio do qual encontraram evidências de que não somente o conteúdo autocrítico em
si é internalizado, mas sobretudo o tom emocional de desprezo e
descontentamento.53

Whelton e Greenberg salientam que, mais central do que o desprezo, é


o grau de vulnerabilidade do self em resposta ao AC.53

Enquanto o grupo de pessoas com altos níveis de AC respondia à autocrítica de forma


submissa, dando desculpas, concordando com a crítica, pedindo misericórdia ou se
colapsando em vergonha e tendendo a se desorganizar frente ao criticismo, os
participantes do grupo controle, apesar de conseguirem mostrar um AC severo,
respondiam a ele de forma calma, assertiva, resiliente, com autocontrole e, algumas
vezes, com raiva ou desdenho pela crítica. Assim, parece que o AC severo é diluído
quando se depara com um self forte e resiliente, que responde de igual para igual.
Por fim, os pesquisadores concluem o estudo afirmando que os seus dados fornecem
suporte ao entendimento de que, quando as pessoas experienciam um humor
disfórico e autocrítico, parecem sentir-se impotentemente presas a um capataz
interior contra quem nunca irão vencer e a quem, com frequência, submetem-se,
sentindo-se ressentidas e secretamente dominadas.53

Assim, as emoções que acompanham a autocrítica, como o desprezo e a raiva,


importam mais para os efeitos patogênicos do AC do que o seu conteúdo.42 Acredita-
se que o principal fator mantenedor do AC seja o afeto negativo (por exemplo,
desprezo ou aversão) que acompanha as autocríticas.48

De fato, a autocrítica se mostra muito comum durante as experiências de vergonha


(considerada um tipo de afeto negativo).42,50 Por tudo isso, acredita-se que o AC só se
torna um problema quando as pessoas não possuem recursos suficientes para lidar
com ele.

ATIVIDADES

https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/processos-transdiagnosticos-na-clinica-em-terapia-cognitivo-comportamental-desregulacao-emocion… 27/59
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󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 JC

14. Observe as afirmativas sobre o entendimento do AC.


I. O AC é um processo transdiagnóstico que pode ser entendido como um
Aa 󰍉 processo psicológico caracterizado por uma maneira crítica, punitiva, hostil
e/ou acusatória de se relacionar consigo mesmo.
II. As pessoas com níveis altos de AC não possuem a tendência de generalizar
seus erros.
III. O AC pode ser entendido como um fenômeno universal nos seres humanos,
apresentando variações em sua apresentação, consequências e intensidade.
IV. Existem hipóteses consideráveis, as quais são defendidas por diferentes
autores, de que existam formas adaptativas/saudáveis do AC.

Quais estão corretas?


A) Apenas a I, a II e a III.
B) Apenas a I, a II e a IV.
C) Apenas a I, a III e a IV.
D) Apenas a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta

15. Observe as afirmativas sobre os mecanismos evolutivos e fisiológicos que


regulam as emoções.
I. Existem três sistemas básicos de regulação das emoções baseados em
mecanismos evolutivos e fisiológicos, conforme teorizado por Paul Gilbert:
sistema de ameaça e autoproteção, sistema de busca por recursos e
recompensas, sistema de afiliação e contentamento.
II. O AC ativa o sistema de ameaça e autoproteção, sendo uma das reações mais
frequentes quando as coisas não ocorrem como se espera, provocando
estresse físico e mental.
III. A sociedade contemporânea está configurada de tal forma que acaba sendo
muito difícil que não se tenha hiperativados tanto o sistema de ameaça e
autoproteção como o sistema de busca por recursos e recompensas, gerando
desequilíbrio entre os três sistemas, o que pode, por sua vez, gerar
sofrimento psicológico.
IV. A autocompaixão atua no mesmo sistema de regulação emocional que o AC.

Quais estão corretas?


A) Apenas a I, a II e a III.
B) Apenas a I, a II e a IV.
C) Apenas a I, a III e a IV.
D) Apenas a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta

https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/processos-transdiagnosticos-na-clinica-em-terapia-cognitivo-comportamental-desregulacao-emocion… 28/59
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16. Quais são os sintomas associados ao AC?

󰍜 Confira aqui a resposta 󰐍 󰂜 󰘥 JC

> AVALIAÇÃO DO AUTOCRITICISMO


Aa 󰍉
Uma avaliação baseada em instrumentos confiáveis e que efetivamente avaliem o que
se propõem a avaliar é de suma importância para a adequada análise clínica e o
tratamento do AC. Considerando o objetivo deste capítulo, o foco será na avaliação
do AC em adultos, apresentando as principais medidas de autorrelato disponíveis,
assim como algumas formas de avaliação do AC no contexto clínico.

> ESCALAS DE AUTORRELATO

Dada a relevância do assunto, um recente artigo de revisão sistemática da literatura


dedicou-se a identificar e analisar as medidas de autorrelato existentes para avaliação
do AC. Os pesquisadores ressaltam que o conteúdo dos itens das escalas varia de
acordo com a forma como seus autores conceitualizam o AC e que, portanto, a
escolha do instrumento deve ser baseada no tipo de AC que se quer avaliar.43

As medidas elaboradas para avaliar o AC variam desde a sua avaliação enquanto


traço, como resposta às situações difíceis, enquanto estratégia de regulação
emocional ou enquanto AC repetitivo (uma forma de pensamento negativo e
ruminativo que desvaloriza o self).43

Durante o processo de escolha do instrumento avaliativo, pode ser igualmente útil


atentar para a observação de Gilbert. Segundo o autor, existem algumas escalas que
se propõem a avaliar o AC, mas que, na verdade, não o fazem.42

Quando se olha para o conteúdo dos itens dessas escalas, pode-se facilmente
perceber que avaliam mais algo como baixa autoestima ou comparações sociais. A
partir de seu entendimento, é necessário que se pense o AC em termos de
comentários, diálogos e sentimentos internos associados à crítica.

Gilbert conceitualiza o AC como um processo que é ativado em resposta


a situações consideradas difíceis.42

Na visão do autor, o AC possui diferentes formas e funções.42 No que diz respeito às


formas, uma delas seria o self-inadequado, em que estão presentes sentimentos de
inferioridade e desapontamento. Outra forma bem distinta é o self-odiado. Esta
última tende a ser menos frequente em amostras não clínicas, porém se mostra mais
intensa em pessoas com históricos difíceis, traumáticos e/ou abusivos.55

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Embora não tenha sido incluída neste capítulo, por não focar em avaliar o AC em si,
󰍜 󰂜 às funções
mas sim no que leva as pessoas a se engajarem nele, no que diz respeito 󰐍 󰘥 JC

do AC, existe uma escala destinada à sua avaliação: a Escala de Funções do


Autocriticismo/Autoataque (em inglês, Functions of Self-Criticizing/Attacking Scale
Aa 󰍉
[FSCS]).55

As duas formas de AC mencionadas podem ser avaliadas por meio da Escala de


Formas do Autocriticismo/Autoataque e Autotranquilização (em inglês, Forms of Self-
Criticizing/Attacking and Self-Reassuring Scale [FSCRS]), disponível em português do
Brasil.55

Outro instrumento muito utilizado para avaliação do AC enquanto um processo


ativado em situações difíceis é o domínio de atitudes autocríticas da Escala de
Autocompaixão (em inglês, Self-Compassion Scale [SCS]) da Neff,56 validada no Brasil
por Souza e Hutz.57

O domínio de atitudes autocríticas da SCS é formado por três subescalas (autocrítica


severa, sobre-identificação e isolamento),58 cujos itens avaliam o quanto uma pessoa
é intolerante, desaprovadora ou dura consigo mesma diante de falhas ou em situações
de sofrimento.

Para Neff e Germer, quando o estresse é desencadeado por uma ameaça percebida ao
autoconceito, a pessoa apresenta uma tendência a apresentar uma trindade profana
de reações: luta (AC), fuga (isolamento) ou congelamento (ruminação). Segundo os
autores, essas três reações autocríticas seriam justamente o oposto dos componentes
da autocompaixão (por exemplo, autobondade, humanidade compartilhada e
mindfulness).51

Já a Escala de Níveis de Autocriticismo (em inglês, Levels of Self-Criticism [LOSC])


considera o AC como uma característica disfuncional da personalidade.59 A medida foi
desenvolvida para avaliar duas formas disfuncionais de autoavaliação negativa: o
autocriticismo comparativo (ACC) e o autocriticismo internalizado (ACI).

O ACC é definido como uma visão negativa de si próprio quando


comparado com os outros (vistos como superiores, hostis e críticos),
envolvendo comparações desfavoráveis e um senso de inferioridade. Já o
ACI é entendido como uma visão negativa de si próprio quando
comparado com os próprios padrões pessoais internalizados.

Esses padrões no ACI são frequentemente altos, resultando em crônicas tentativas


fracassadas de atingi-los. O foco do ACI não está nos outros, tampouco nas opiniões
dos outros sobre si, mas sim em sua própria visão de self como deficiente.

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Mesmo quando padrões altos são atingidos, a pessoa com ACI não se sente satisfeita,

󰍜 󰐍
mostrando-se relutante em reconhecer o seu próprio sucesso. Em vez 󰂜
󰘥
disso, responde
ao sucesso redefinindo-o como um fracasso e aumentando a definição de sucesso
JC

para níveis ainda mais altos.


Aa 󰍉
Portanto, o problema não está apenas em definições não realistas de sucesso, mas na
própria resposta do indivíduo ao atingi-las. Tal sentimento crônico de fracasso cria um
senso global de inutilidade.

Uma das medidas mais utilizadas para avaliação do AC enquanto uma tendência
disposicional é o Questionário de Experiências Depressivas (em inglês,
Depressive Experiences Questionnaire [DEQ]).46

O DEQ trata-se de uma medida cuja versão original possui 66 itens, os quais se
agrupam em três diferentes fatores: dependência, AC e eficácia (este último como
fator protetivo). A dimensão de AC avalia:

sentimentos de culpa;
autoavaliação negativa;
vazio;
desesperança;
insatisfação;
insegurança;
fracasso em atender expectativas ou alcançar determinados padrões;
sentimentos de ambivalência para consigo mesmo e os outros;
medo de mudanças;
tendência de assumir a culpa;
sentimentos críticos direcionados ao próprio self.

A partir do modelo teórico que embasa a DEQ, a dimensão de AC é compreendida


como um fator de vulnerabilidade à depressão. Além disso, conforme pontuam Rose e
Rimes, o objetivo consiste em avaliar a depressão introjetada e não o AC per se.43

Existe ainda o Inventário de Estratégias Cognitivas de Regulação do Afeto (em inglês,


Inventory of Cognitive Affective Regulation Strategies [ICARUS]),60 o qual avalia
múltiplos estilos disposicionais ou estratégias cognitivas que uma pessoa pode utilizar
para regular o seu afeto negativo. Uma de suas subescalas avalia o AC/autoculpa
enquanto uma das possíveis estratégias que as pessoas costumam utilizar para
melhorar o seu humor quando estão tristes e incapazes de mudar a situação.

Uma escala relativamente recente para avaliação do AC é a Escala de Ruminação


Autocrítica (em inglês, Self-Critical Rumination Scale [SCRS]).61 Trata-se de uma
medida unifatorial breve (10 itens) que se foca especificamente na ruminação
autocrítica, de maneira a avaliar tanto o estilo ruminativo (por exemplo,

https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/processos-transdiagnosticos-na-clinica-em-terapia-cognitivo-comportamental-desregulacao-emocion… 31/59
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prolongado, frequente, repetitivo e difícil de controlar) como o conteúdo dos

󰍜 pensamentos ruminativos (nesse caso, o conteúdo autocrítico). 󰂜 󰐍 󰘥 JC

Nessa medida, o AC é compreendido enquanto uma forma de pensamento negativo


que desvaloriza o self, em vez de um estilo mais global de personalidade (como é feito
Aa 󰍉
na DEQ e na LOSC, já mencionadas). De forma específica, os itens se focam de forma
mais restrita em pensamentos que criticam o self em virtude de defeitos percebidos,
erros, fraquezas, inadequação geral, maus hábitos ou deficiências.

> AVALIAÇÃO CLÍNICA DO AUTOCRITICISMO

No contexto da clínica psicológica, é importante que o terapeuta atente para


determinadas falas com conotação autocrítica, como:50

“Fiz papel de idiota! Fui lá para passar vergonha”;


“Nunca mais vão me convidar e vai ser bem feito! Talvez assim pelo menos eu
aprenda a fazer algo melhor!”;
“Como fui estúpido! Não acredito que consegui ser tão bobo”.

[avaliação] O AC se mostra frequentemente associado a sentimentos de


vergonha. Assim, quando se monitoram pensamentos e sentimentos
autocríticos, poderá ser útil atentar para dois tipos de fluxos de pensamentos.
Um deles se foca no que a pessoa acredita que está se passando na cabeça das
outras pessoas a seu respeito. O outro se foca nos pensamentos e sentimentos
relacionados a si próprio enquanto pessoa.50

Além disso, é importante que o terapeuta se mantenha atento à forma do AC. O self-
inadequado pode ser identificado diante de falas que denotem desapontamento ou
frustração consigo próprio, assim como sentimentos de inadequação ou inferioridade.
Já o self-odiado é bem distinto, indicando formas mais severas de autocrítica, em que
estão presentes sentimentos de ódio para consigo mesmo.42

Durante a avaliação do self-odiado, vale lembrar que o auto-ódio


pode ser direcionado apenas a determinadas partes do self, como
o próprio corpo (por exemplo, “Eu odeio e não suporto o meu
corpo gordo”).42

Além disso, considerando as origens do AC e o sistema de ameaça e autoproteção do


qual faz parte (conforme já abordado), poderá ser útil que o terapeuta explore suas
origens, já que tipicamente o AC aparece em situações que lembram a ameaça
original.42

Pode ser relevante analisar a possível relação entre ameaças antigas e as origens e
memórias de AC para se obter uma ideia mais clara do tipo de ameaças/gatilhos que
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se fazem presentes quando o AC começa. A avaliação poderá ser feita por meio de

󰍜 󰂜
perguntas que possam levar à identificação das ameaças que estavam
quando o AC começou, como:42
ao redor
󰐍 󰘥 JC

“Quando foi a primeira vez que você se lembra (ou tomou consciência) que estava
Aa 󰍉
sendo autocrítico?”;
“O que estava acontecendo?”;
“Qual foi o desapontamento, frustração ou sonho/objetivo/projeto que foi ‘por
água abaixo’?”;
“Por que isso era importante para você?”.

> INTERVENÇÕES EM QUE O AUTOCRITICISMO É FOCO DIRETO DE


TRATAMENTO

Em virtude de sua natureza transdiagnóstica, considerar o AC como um dos objetivos


terapêuticos pode ser relevante para o tratamento de diferentes quadros. Por essa
razão, o AC tem sido objeto de inúmeros estudos, incluindo pesquisas que possuem a
autocrítica como foco direto de tratamento.43

Com relação às opções de tratamento psicoterapêutico que tenham o AC


disfuncional como um dos principais focos, as abordagens terapêuticas focadas
na compaixão e nas emoções se mostraram úteis na sua redução em amostras
clínicas e não clínicas.47

Kannan e Levitt realizaram um estudo de revisão acerca das abordagens terapêuticas


que se focam no tratamento do AC excessivo. De acordo com esses autores, o ponto
em comum entre as diferentes abordagens existentes é que todas entendem o AC
enquanto um processo que se tornou automatizado ao longo do desenvolvimento
(por meio de criticismo parental e experiências negativas relacionadas ao sistema de
hierarquia social) e buscam fazer o paciente tomar consciência disso, além de
fortalecerem o self para lidar melhor com a autocrítica.48

Uma vez que uma revisão detalhada fugiria do escopo do presente capítulo, serão
apresentadas a seguir duas das principais abordagens que possuem o AC como foco
explícito do tratamento: a CFT e o programa MSC.

A CFT foi desenvolvida por Gilbert e é embasada na psicologia evolutiva, teoria do


apego e em processos psicológicos aplicados da neurociência e da psicologia social.
Entre os objetivos da CFT, encontram-se a psicoeducação dos pacientes acerca do
funcionamento da mente humana e dos três sistemas básicos de regulação das
emoções (previamente descritos neste capítulo). Essa abordagem enfatiza como é fácil
ficar preso nos sistemas de ameaça e de busca, o que, com frequência, acarreta altos
níveis de AC e vergonha.42

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Uma vez que os diferentes sistemas de regulação das emoções possuem diferentes

󰍜 󰂜 parecem
correlações neurofisiológicas, em que o AC e a compaixão/autocompaixão
operar de diferentes formas, pertencendo a diferentes sistemas, o trabalho
󰐍 󰘥 JC

terapêutico não se foca no sistema de ameaça ao qual o AC está relacionado, mas sim
󰍉
Aa em fortalecer o sistema de afiliação por meio do desenvolvimento de habilidades
compassivas, de maneira que elas amorteçam seus efeitos negativos e fortaleçam o
self.42

Um estudo de revisão sistemática acerca de intervenções CFT concluiu que a


abordagem é promissora para os transtornos de humor, sobretudo quando se trata de
pacientes com níveis altos de AC.62 Além disso, outra revisão sistemática publicada
em 2015 concluiu que a CFT tem sido a intervenção terapêutica baseada na
compaixão mais investigada e testada entre as existentes até então.63

O MSC foi desenvolvido por Neff e Germer.51 Trata-se de um programa


grupal de oito sessões (duração média de 120 a 150 minutos), contando
com um retiro de meditação (opcional), com meio dia de duração, no qual
o AC é um dos principais objetivos terapêuticos.

O MSC foca-se na distinção entre o crítico interno e o self-compassivo, além de


objetivar o cultivo de mindfulness e autocompaixão.51,64 Contudo, conforme ressalta
Kirby,64 apesar de o MSC ser um dos programas baseados na compaixão mais
conhecidos, contando com mais de duas centenas de professores treinados ao redor
do mundo, ele ainda está em sua infância no que diz respeito às suas evidências de
efetividade. Portanto, ainda são necessários mais estudos controlados para garantir
uma adequada avaliação de seus potenciais benefícios, a despeito do grande
entusiasmo de clínicos com o programa.

ATIVIDADES

17. Quais são as medidas elaboradas para avaliar o AC?


Confira aqui a resposta

18. Segundo o modelo teórico que embasa a DEQ, como é compreendida a


dimensão do AC?
Confira aqui a resposta

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19. Observe as afirmativas sobre as intervenções terapêuticas nas quais o AC é

󰍜 foco direto de tratamento. 󰂜


I. Considerar o AC como um dos targets terapêuticos pode ser potencialmente
󰐍 󰘥 JC

útil no tratamento de diferentes quadros em virtude de sua natureza


Aa 󰍉 transdiagnóstica.
II. As diferentes abordagens que têm o AC como foco direto de tratamento
possuem em comum o entendimento de que se trata de um processo que se
tornou automatizado ao longo do processo de desenvolvimento, buscando
fazer o paciente tomar consciência disso, além de fortalecer o seu self para
lidar melhor com a autocrítica.
III. O programa MSC, desenvolvido por Neff e Germer, é um dos programas
baseados na compaixão mais conhecidos ao redor do mundo e o que mais
apresenta evidências robustas e consistentes acerca de seus benefícios.
IV. As abordagens baseadas na compaixão se mostraram úteis para reduzir o AC,
tanto em amostras clínicas como em amostras não clínicas.

Quais estão corretas?


A) Apenas a I, a II e a III.
B) Apenas a I, a II e a IV.
C) Apenas a I, a III e a IV.
D) Apenas a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta

/ PERFECCIONISMO

A seguir, serão apresentados aspectos relevantes do perfeccionismo.

> DEFINIÇÃO E EVIDÊNCIAS DA RELEVÂNCIA DO PERFECCIONISMO COMO


PROCESSO TRANSDIAGNÓSTICO

O perfeccionismo é compreendido, hoje em dia, como uma característica


multidimensional da personalidade que inclui o estabelecimento de altos
padrões de desempenho acompanhados por uma avaliação
excessivamente crítica sobre o próprio desempenho (AC) e de uma busca
constante por um desempenho sem falhas.65

Como característica multidimensional, deve-se considerar que o perfeccionismo


possui em sua essência a interação de múltiplos componentes, como:65,66

busca por excelência;


altos padrões de desempenho;
expectativas elevadas;

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percepção de discrepância constante entre aquilo que alcança e aquilo que gostaria

󰍜 de alcançar;
preocupação com erros e fracasso;
󰂜 󰐍 󰘥 JC

dúvidas sobre as próprias ações;


Aa 󰍉
intolerância com o erro.

Mais recentemente, todos esses componentes específicos têm sido agrupados em


duas dimensões mais gerais, que são conhecidas na literatura como esforços
perfeccionistas (padrões elevados de desempenho, motivação para realização e busca
por resultados positivos) e preocupações perfeccionistas (desejo de evitar falhas,
medo do fracasso e medo de ser visto negativamente pelo outro).65

As tendências perfeccionistas podem estar direcionadas para si mesmo


(perfeccionismo auto-orientado) e associadas à relação com os outros (perfeccionismo
socialmente prescrito e perfeccionismo orientado ao outro).67

O perfeccionismo socialmente prescrito envolve a crença de que


as outras pessoas esperam que o indivíduo seja sem falhas, um ser
humano capaz de atender às expectativas do outro o tempo
inteiro. O perfeccionismo orientado ao outro envolve o
estabelecimento de padrões de desempenho elevados e também a
altas expectativas relacionadas aos outros, acompanhadas de
hostilidade e culpabilização quando essas expectativas
direcionadas ao outro não são atendidas.67

Ademais, no cerne do funcionamento perfeccionista, estão as crenças e os


pensamentos associados à visão do self como falho e fraco e as crenças associadas à
rejeição. De maneira muitas vezes implícita, as pessoas com níveis elevados de
perfeccionismo acreditam que, corrigindo seus defeitos, as outras pessoas vão aceitá-
las e reconhecer suas habilidades e seus talentos.68

Portanto, os sentimentos atrelados à crença de que os outros não vão aceitá-la como
ela é fazem a pessoa perfeccionista buscar a perfeição como forma de conseguir
aceitação de si mesma e dos outros.68

Parece que o afeto condicional das figuras parentais pode ser uma das principais
causas do autovalor perfeccionista atrelado ao desempenho e, como consequência, de
sua crença de que, na ausência de um desempenho sem falhas, ele não seria
merecedor de afeto.68

Quando se fala em desempenho, não se está falando apenas de


desempenho no trabalho ou nos estudos. A ideia de desempenho está
mais associada ao estabelecimento de metas e alcance de resultados

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pretendidos em qualquer campo da vida humana, como estética,

󰍜 esporte, relacionamentos, alimentação, entre outros. 󰂜 󰐍 󰘥 JC

Assim, ainda que seja mais fácil observar o padrão de funcionamento perfeccionista

󰍉
Aa em ambientes de trabalho ou educacionais, o perfeccionismo pode estar direcionado
a ter um corpo perfeito, a ser o melhor atleta ou o melhor dançarino, a ter uma
alimentação perfeitamente saudável e a não poder cometer falhas nos
relacionamentos românticos e de amizade.

Para além das crenças de rejeição e fracasso, o mindset perfeccionista, como vem
sendo conhecido o conjunto de cognições e comportamentos frequentemente
observados, é composto por uma diversidade de crenças e pensamentos disfuncionais
que não são exclusivos de perfeccionistas.68 Assim, algumas características podem ser
observadas comumente em perfeccionistas:69

pensamento dicotômico com viés negativo em situações que exigem avaliações


rápidas;
excesso de comportamentos governados por regras (vistos como uma tentativa de
se evitar erros potenciais e atrelados à falta de espontaneidade observada em
perfeccionistas);
intolerância à incerteza;
senso de responsabilidade pessoal hiperdesenvolvido (tudo que acontece de ruim à
minha volta e nas minhas relações é culpa minha);
constante necessidade de reasseguramento e ruminação excessiva sobre fracassos.

Não obstante, parece haver um acúmulo de dificuldades relacionadas à regulação


emocional em perfeccionistas.70 Como visto, a desregulação emocional denota, entre
outras coisas, a dificuldade de expressar e comunicar a experiência emocional, o uso
ineficaz de estratégias de regulação emocional e/ou a dificuldade para escolher
estratégias mais apropriadas em um dado contexto ou situação.

Os perfeccionistas estão constantemente insatisfeitos com seu desempenho e seus


resultados, além de se sentirem frequentemente não amados e rejeitados quando
expostos ao erro, à crítica ou a fracassos.70

É muito comum que os perfeccionistas experimentem elevadas


intensidades de emoções negativas. Ademais, é comum que
também experimentem menos emoções positivas, mesmo quando
recebem avaliações positivas sobre seu desempenho, uma vez que
a percepção de que existe uma expectativa do outro em relação a
ele o faz temer e se preocupar com a frustração dessa expectativa
e a consequente possibilidade de rejeição.70

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Os perfeccionistas apresentam, ainda, menores níveis de consciência emocional,

󰍜 󰂜emoções em
muitas dificuldades para identificar e descrever emoções e de expressar
situações sociais ou de possível avaliação. Neste último caso, a reduzida expressão
󰐍 󰘥 JC

emocional em situações sociais pode levar a um distanciamento social e à falta de


󰍉
Aa intimidade dos perfeccionistas em suas relações.70

No que se refere ao uso de estratégias de regulação emocional, é muito comum que


os perfeccionistas relatem preferência pelo uso de estratégias de supressão e
evitação emocional, as quais reduzem o afeto negativo apenas temporariamente, mas
aumentam os níveis de hostilidade e agressividade com o passar do tempo.70

As cognições perfeccionistas e as emoções atreladas a elas podem ser vistas de


maneira mais explícita quando os perfeccionistas entendem que não são bem-
sucedidos em atingir os elevados padrões de desempenho para si colocados e
vislumbram a possibilidade de sucessivos fracassos.71

Nesses momentos, os perfeccionistas se tornam vulneráveis às emoções, aos


sentimentos negativos (culpa, tristeza, medo, rejeição, insegurança, hostilidade,
irritabilidade) e ao AC, o que poderia levá-los a buscar suporte na psicoterapia.71

O perfeccionismo é um construto psicológico extremamente estável,


inflexível e complexo que envolve motivação, emoção, comportamento e
cognição e que tem aumentado vertiginosamente na população durante
os últimos 40 anos.66,72

A complexidade do perfeccionismo também se expressa nas relações que a pessoa


estabelece com desfechos positivos e negativos nos mais variados contextos e nas
áreas de funcionamento.73,74 O foco, no presente capítulo, é, não obstante, a relação
do perfeccionismo com desfechos negativos e sua caracterização como processo
transdiagnóstico.

O perfeccionismo pode ser um fator transdiagnóstico envolvido em uma diversidade


de problemas emocionais e transtornos de personalidade. Nesse sentido, um corpo
consistente de pesquisas tem apontado que o perfeccionismo está presente nos
transtornos alimentares, no transtorno obsessivo-compulsivo, na ansiedade social, nos
casos de pânico com agorafobia e nos quadros de depressão.75

As tendências perfeccionistas estão associadas a diversos


transtornos de personalidade, sendo os mais frequentemente
citados na literatura os transtornos de personalidade obsessiva-
compulsiva e o transtorno de personalidade narcisista.76 Ainda,
podem ser vistos níveis elevados de perfeccionismo associados à

https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/processos-transdiagnosticos-na-clinica-em-terapia-cognitivo-comportamental-desregulacao-emocion… 38/59
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desesperança que predizem comportamentos de automutilação,

󰍜 ideação e tentativas de suicídio.77 󰂜 󰐍 󰘥 JC

Assim, é possível concluir que o perfeccionismo parece ser um fator relevante a ser

󰍉
Aa considerado quando se fala de diferentes quadros clínicos. Por isso, a seguir, serão
abordadas estratégias de avaliação e possibilidades de uso dessas informações no
contexto clínico.

> AVALIAÇÃO DO PERFECCIONISMO

Em se tratando da avaliação do perfeccionismo na clínica, em geral, ela pode ser


feita por meio de escalas, mas também a partir de entrevistas e conversas com o
paciente a fim de elaborar um diagrama de conceituação cognitiva que permita
ter acesso a pensamentos, emoções e comportamentos associados ao
perfeccionismo para aquele paciente.

Além de permitir entender melhor as situações nas quais os padrões perfeccionistas


se expressam para um dado paciente, o diagrama de conceituação cognitiva oferece
uma possibilidade de entender melhor os aspectos desenvolvimentais relacionados ao
perfeccionismo.

Deve-se começar com as escalas mais usadas para avaliação do perfeccionismo em


adultos. O foco será em adultos, em virtude do escopo e da extensão do capítulo, mas
já existem escalas para avaliação do perfeccionismo em crianças e adolescentes em
diferentes idiomas.

A escala mais utilizada para o perfeccionismo na infância e adolescência — a Child and


Adolescent Perfectionism Scale (CAPS), desenvolvida por Flett e colaboradores78 —
possui várias versões, inclusive para o português de Portugal.79 Para o Brasil, a CAPS
está em processo de adaptação transcultural.

As escalas mais comumente utilizadas para avaliação do perfeccionismo em adultos


são:65

Almost Perfect Scale — Revised (APS–R);80


Escala Multidimensional de Perfeccionismo de Frost (em inglês, Frost
Multidimensional Perfectionism Scale [FMPS]);81
Escala Multidimensional de Perfeccionismo de Hewitt e Flett (em inglês, Hewitt and
Flett Multidimensional Perfectionism Scale [H&FMPS]).82

As escalas APS-R, FMPS e H&FMPS possuem versões para diferentes


idiomas e estão sendo adaptadas para o português brasileiro, como é o
caso da APS-R,83 ou em processo de adaptação pelo grupo de pesquisa
coordenado pela primeira autora deste capítulo. Mais informações

https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/processos-transdiagnosticos-na-clinica-em-terapia-cognitivo-comportamental-desregulacao-emocion… 39/59
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sobre o processo de adaptação das escalas podem ser obtidas em:

󰍜 https://lavisufmg.wixsite.com/website. 󰂜 󰐍 󰘥 JC

As escalas APS-R, FMPS e H&FMPS oferecem pontuações referentes aos níveis gerais

󰍉
Aa de perfeccionismo (perfeccionismo total) e em cada componente do perfeccionismo
conforme operacionalizado pelo modelo teórico que orientou a construção da escala.

Alguns autores também sugerem a possibilidade de se obter, a partir da aplicação das


escalas, os tipos de perfeccionismo, que seriam resultantes de uma combinação dos
dois aspectos mais gerais do perfeccionismo, os esforços e as preocupações, como
mencionado no início do capítulo.

Stoeber e Otto propõem a existência de três tipos de perfeccionistas:74

não perfeccionistas (baixos níveis de esforços e baixos níveis de preocupações


perfeccionistas);
perfeccionistas saudáveis (altos esforços combinados a níveis médios a baixos de
preocupações perfeccionistas);
perfeccionistas não saudáveis (que apresentariam altos níveis de esforços e altos
níveis de preocupações perfeccionistas).

Gaudreau e Thompson propõem a existência de quatro tipos de perfeccionistas,


proposta que ficou conhecida como modelo 2x2 de perfeccionismo, a saber:84

não perfeccionistas (idêntico à proposta anterior);


perfeccionistas puramente preocupados (possuiriam altos níveis de preocupações
perfeccionistas, mas baixos níveis de esforços perfeccionistas);
perfeccionistas puramente esforçados (altos níveis de esforços perfeccionistas
combinados a baixos níveis de preocupações perfeccionistas);
perfeccionistas de perfil misto (marcados por altos níveis de preocupações e altos
níveis de esforços perfeccionistas).

Para além das escalas, outros pesquisadores apontam a importância de


se pensar o perfeccionismo na clínica a partir de uma avaliação mais
compreensiva, incluindo informações detalhadas sobre a maneira como
o perfeccionista processa informações e emoções e se comporta em
resposta às várias situações de sucesso e fracasso vivenciadas.68,69

A conceitualização cognitivo-comportamental do perfeccionismo, proposta por


Shafran e colaboradores, inclui aspectos como autovalor atrelado ao desempenho,
padrões inflexíveis, vieses cognitivos e comportamentos direcionados à evitação de
falhas e busca por altos padrões de desempenho em dois tipos de situações mais
gerais vivenciadas pelo perfeccionista:69

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quando ele alcança temporariamente os altos padrões impostos (nesse caso, ele

󰍜 󰂜
reavalia que apenas alcançou os padrões porque eles não eram suficientemente
elevados);
󰐍 󰘥 JC

quando falha ao alcançar esses padrões, ocasionando evitação ou comportamentos


Aa 󰍉
contraproducentes, além de excessivo AC.

Flett e colaboradores, por sua vez, propõem uma estratégia de avaliação a ser utilizada
com pacientes perfeccionistas que inclui níveis distintos de análise e construção de
um diagrama completo do quadro apresentado pelo paciente.68

ATIVIDADES

20. Sobre a definição atual de perfeccionismo, assinale a afirmativa correta.


A) É uma característica unidimensional da personalidade.
B) Equivale ao que se chama de AC.
C) Os esforços e as preocupações perfeccionistas são duas dimensões gerais
do perfeccionismo que representam adequadamente os demais componentes
específicos.
D) Até hoje, são conhecidos apenas aspectos do perfeccionismo direcionados
à própria pessoa.
Confira aqui a resposta

21. Observe as afirmativas sobre as cognições e emoções perfeccionistas.


I. As emoções negativas e cognições disfuncionais perfeccionistas são mais
frequentemente ativadas quando o perfeccionista entende que está
fracassando em algo ou que pode vir a fracassar.
II. O afeto condicional das figuras parentais pode ser uma das principais causas
do autovalor perfeccionista atrelado ao desempenho.
III. A literatura tem dado o nome de mindset perfeccionista ao conjunto de
cognições frequentemente vistas em perfeccionistas.
IV. Os perfeccionistas vivenciam, de forma frequente e intensa, emoções
negativas e também emoções positivas.

Quais estão corretas?


A) Apenas a I, a II e a III.
B) Apenas a I, a II e a IV.
C) Apenas a I, a III e a IV.
D) Apenas a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta

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22. Quais são os múltiplos componentes do perfeccionismo?

󰍜 Confira aqui a resposta 󰐍 󰂜 󰘥 JC

23. Sobre os tipos de perfeccionismo propostos por Stoeber e Otto,


Aa 󰍉 correlacione as colunas.
Não perfeccionistas ___ Altos níveis de esforços e altos níveis de
Perfeccionistas saudáveis preocupações perfeccionistas.
Perfeccionistas não saudáveis ___ Altos esforços combinados a níveis
médios a baixos de preocupações
perfeccionistas.
___ Baixos níveis de esforços e baixos níveis
de preocupações perfeccionistas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.


A) 1 — 2 — 3
B) 2 — 1 — 3
C) 1 — 3 — 2
D) 3 — 2 — 1
Confira aqui a resposta

24. Sobre o processo de avaliação do perfeccionismo, assinale a afirmativa


correta.
A) A avaliação deve ser realizada por meio de escalas e também de entrevistas
que ofereçam informações mais compreensivas do caso.
B) Não existem escalas validadas para o Brasil para avaliação do
perfeccionismo.
C) As escalas fornecem apenas informações de pontuação geral de
perfeccionismo.
D) É consenso na literatura que existem apenas três tipos de perfeccionistas.
Confira aqui a resposta

> EXEMPLOS CLÍNICOS

A seguir, serão apresentados dois exemplos clínicos sobre a aplicação dos processos
transdiagnósticos, e em um deles utiliza-se o diagrama de avaliação.

E. vem ao tratamento com uma queixa de ansiedade relacionada ao desempenho na


prova prática para obter habilitação para dirigir. Após passar por um período de
avaliação da demanda e psicoeducação sobre as emoções na psicoterapia, foi
desenvolvido um plano terapêutico que envolveu a exposição gradual a um conjunto
de situações semelhantes que eliciavam diferentes níveis de ansiedade e o
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treinamento de algumas estratégias que ele pode utilizar durante os exercícios de

󰍜 exposição. 󰂜 󰐍 󰘥 JC

Entre as estratégias que podem ser utilizadas durante os exercícios de exposição de


E., estão:
Aa 󰍉
1. dirigir o carro na companhia de um instrutor com quem se sente seguro;
2. descrever em voz alta para si mesmo o que está fazendo a cada momento
enquanto dirige o carro;
3. realizar exercícios de respiração diafragmática e ritmada durante as aulas;
4. expor-se imaginativamente ao momento do exame de direção e reavaliação de
crenças distorcidas sobre sua capacidade de realizar adequadamente a tarefa.

ATIVIDADES

25. Observe as alternativas sobre a primeira estratégia do plano terapêutico do


exemplo clínico 1.
I. Modificação da resposta.
II. Regulação interpessoal.
III. Seleção da situação.

Quais estão corretas?


A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

26. Como pode ser considerada a segunda estratégia do plano terapêutico do


paciente do exemplo clínico 1?
A) Reorientação da atenção.
B) Modificação da resposta.
C) Seleção da situação.
D) Modificação cognitiva.
Confira aqui a resposta

N. tem 23 anos e é jogadora de vôlei de uma equipe profissional em seu estado. Ela
busca terapia por indicação da treinadora da sua equipe, que acredita que o
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desempenho de N. nos jogos tem sido prejudicado pelo que ela nomeia de

󰍜 󰂜
desequilíbrio emocional, excesso de ansiedade e cobrança pessoal excessiva.
󰐍 󰘥 JC

Em entrevista inicial com a paciente, ela relata humor deprimido, níveis altos de
estresse antes e após os jogos (mesmo quando a equipe sai vencedora) e
Aa 󰍉
comportamentos associados à ansiedade. Ela relata ainda que vem experimentando
uma preocupação excessiva com seu peso e sua forma física, manifestada em
restrições alimentares e comportamentos purgativos. Disse que quer ser a melhor do
time, ter um desempenho perfeito e que não tem paciência com os próprios erros e os
erros das colegas de equipe.

Em virtude da cobrança e da hostilidade direcionada às colegas, tem se sentido


excluída, uma situação que ela interpreta como positiva, porque “Prefere mesmo não
ficar perto de pessoas fracassadas e que não se importam em serem melhores (sic)”. N.
acredita que sua ansiedade piorou, assim como seu AC, após duas derrotas sucessivas
da sua equipe no campeonato nacional.

A paciente relata que sempre foi assim, cobrando-se muito desde pequena, não
apenas nos esportes, mas também na escola e nas relações familiares. Ela disse ser a
filha perfeita e que sua família teve sempre muito orgulho dela. O pai é ex-jogador de
vôlei e a mãe era bailarina, porém teve que abandonar a dança em virtude de uma
fratura séria que acabou por comprometer os movimentos da perna. Ela tem dois
irmãos.

N. refere-se ao pai como um atleta perfeito e um pai amoroso, mas muito rigoroso.
Sempre valorizou, acima de tudo, o bom desempenho e sucesso dos filhos. A mãe,
segundo N., é supercontroladora e protetora, é frustrada com a forma como a carreira
terminou e projeta nela (filha única) todas as expectativas de sucesso que possui.

> DISCUSSÃO

A descrição do caso de N. permite ter uma ideia geral da principal demanda da


paciente, de elementos de sua história de vida e de como os padrões perfeccionistas
estão presentes em sua vida. Os elementos — como foco demasiado em desempenho,
padrões elevados, autocrítica excessiva, perfeccionismo orientado ao outro e
preocupação com fracasso — permitem inferir que a paciente apresenta níveis
elevados de perfeccionismo. Isso poderia ser confirmado com a aplicação de algumas
das escalas sugeridas no capítulo.

Seria possível, ainda, a partir da aplicação das escalas, verificar se seu perfil estaria
voltado mais para esforços, ou para preocupações perfeccionistas ou para ambos.
Associados aos altos níveis de perfeccionismo, podem ser observados sintomas de
ansiedade e de possível transtorno alimentar, que também precisa ser melhor
averiguado para elaboração de uma proposta de intervenção.

Além das escalas, como mencionado, seria possível levantar com a paciente outras
informações com o intuito de elaborar um diagrama que contenha as cognições e
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emoções frequentemente observadas no caso. Flett e colaboradores sugerem que a

󰍜 󰐍
descrição de comportamentos, cognições e emoções presentes em 󰂜
󰘥
perfeccionistas
seja organizada em níveis de análise, do mais profundo ao mais superficial.68
JC

Segundo Flett e colaboradores, isso facilitaria a elaboração de uma proposta de


Aa 󰍉
intervenção para o caso e melhor acompanhamento da resposta terapêutica. Os níveis
de análise propostos por Flett e colaboradores constam no Quadro 2.68

QUADRO 2

NÍVEIS DE ANÁLISE PROPOSTOS POR FLETT E COLABORADORES

Nível Descrição dos esquemas sobre o self idealizado e internalizado


estrutural que remetem à ideia de perfeição, eventos da memória
autobiográfica — experiências de fracasso e não alcance das
expectativas, sentimento de inferioridade pessoal;
Tentar elencar memórias e descrições de atributos positivos.

Nível Crenças em formato de proposições “se, então”, que refletem


proposicional temas de perfeição e evitação do fracasso, autovalor
contingente, imperativo do controle das emoções.

Nível Viés atencional e reatividade a sinais de ameaça, especialmente


operacional em situações de avaliação que podem denotar fracasso ou falta
de aceitação, inadequação, portanto, relatar atitudes,
comportamentos e episódios de dificuldades cognitivas
associadas.

Nível do Pensamentos automáticos ou outras formas de cognições


produto perseverativas.

// Fonte: Adaptado de Flett e colaboradores (2018).68

Em conjunto com as demais informações de história de vida levantadas, esses níveis


permitiriam uma compreensão global e mais completa do caso de N. Vale a pena
mencionar que comorbidades, estratégias compensatórias e demais prejuízos
funcionais devem ser incluídos para descrição pormenorizada.

ATIVIDADES

27. Organize o caso da paciente do exemplo clínico 2 utilizando os níveis de


análise propostos por Flett e colaboradores.

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Confira aqui a resposta


󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 JC

> CONCLUSÃO

󰍉
Aa Considerando os elevados níveis de comorbidades entre transtornos psicológicos e o
fato de muitos transtornos compartilharem os mesmos processos, a sua utilização na
clínica psicológica apresenta diversas vantagens, como maior parcimônia no nível de
treinamento necessário para avaliação e intervenção, junto com a possibilidade da
construção de um diagrama de causalidade para diferentes psicopatologias, o qual
considere os variados processos e seus respectivos níveis de complexidade e
influência temporal.

O presente capítulo se focou em três processos transdiagnósticos com consideráveis


evidências de representatividade, influência e envolvimento na origem e manutenção
de inúmeros quadros de sofrimento psicológico: desregulação emocional, AC e
perfeccionismo.

Assim, após diferenciar as abordagens centradas no transtorno e as centradas nos


processos (incluindo vantagens e desvantagens), foram abordadas, para cada um
desses processos, as suas definições, a relevância clínica, os enquadramentos teóricos,
as estratégias disponíveis para avaliação e as intervenções psicoterapêuticas que
explicitamente tenham o processo como um objetivo terapêutico. Para além de
exemplos de intervenções fornecidos em trechos específicos ao longo do capítulo,
foram também apresentados dois casos com o objetivo de ilustrar os conceitos
apresentados e refinar o olhar clínico.

Por fim, espera-se que este capítulo instigue maior interesse de alunos, professores e
pesquisadores quanto à relevância e utilidade dos processos transdiagnósticos na
clínica psicológica, servindo como uma ferramenta propulsora de novos estudos,
pesquisas e desenvolvimento de materiais de uso clínico na língua portuguesa.

> ATIVIDADES: RESPOSTAS

Atividade 1 // Resposta: B
Comentário: A TCC se consolidou como um modelo de intervenção orientado ao
transtorno.

Atividade 2 // Resposta: D
Comentário: Existem elevadas taxas de comorbidades entre os transtornos. Em geral,
metade dos indivíduos que possuem diagnóstico para um transtorno também atende
aos critérios diagnósticos para uma segunda psicopatologia. Considerando apenas os
transtornos de ansiedade e depressão, alguns estudos apontam para sobreposição
entre ambos em 76% das pessoas.

Atividade 3

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RESPOSTA: A abordagem transdiagnóstica busca identificar processos fundamentais

󰍜 󰐍
subjacentes a múltiplos (geralmente comórbidos) transtornos󰂜psicológicos,
󰘥
considerando que grande parte desses processos integra o funcionamento psicológico
JC

de qualquer ser humano, esteja ele em um grupo clínico ou não.


Aa 󰍉
Atividade 4 // Resposta: A
Comentário: Os processos transdiagnósticos incluem tanto fatores ambientais e
experiências de vida como características e processos individuais. Os fatores
ambientais incluem abuso físico e sexual (particularmente na infância), disciplina
parental punitiva ou negligente e psicopatologia das figuras parentais. As demais
alternativas referem-se a características e a processos individuais.

Atividade 5
RESPOSTA: As etapas da geração de emoções segundo o modelo modal são:
reconhecimento de uma situação emocionalmente relevante; direcionamento da
atenção a essa situação; avaliação e interpretação da situação; e ocorrência de uma
resposta emocional envolvendo componentes experienciais, fisiológicos e
comportamentais.

Atividade 6 // Resposta: C
Comentário: O modelo processual apresenta cinco grandes conjuntos de estratégias
de regulação emocional: seleção da situação, modulação da situação, mudança no
foco atencional, mudança cognitiva e modulação da resposta, cada um deles incidindo
sobre uma das etapas do processo de geração da emoção.

Atividade 7 // Resposta: B
Comentário: A distinção entre as alterações dos elementos internos e externos ao
indivíduo são divididas em: alterações externas — que envolvem as estratégias de
seleção da situação (por exemplo, evitação ou confrontação de situações ansiogênicas
com vistas a objetivos de curto ou longo prazo) e estratégias de modificação da
situação (por exemplo, estratégias de soluções de problemas ou busca de apoio
social); e alterações internas — que envolvem as estratégias de modificação do foco
atencional (por exemplo, ruminação, distração, mindfulness) e de modificação
cognitiva (por exemplo, verificação de evidências, reavaliação das situações ou da
própria capacidade de enfrentamento).

Atividade 8
RESPOSTA: De acordo com o modelo processual estendido, o processo de regulação
emocional se compõe de um ciclo com quatro estágios: identificação da necessidade
de regular emoções; seleção da estratégia de regulação emocional; implementação da
estratégia de regulação; e monitoramento da implementação ao longo do tempo, a fim
de verificar a necessidade de modificações táticas ou estratégicas.

Atividade 9 // Resposta: A

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Comentário: A DERS se propõe a avaliar um construto multidimensional descrito

󰍜 como dificuldade na regulação emocional, que diz respeito às 󰂜


consciência, compreensão e aceitação das emoções,
habilidades de
para
󰐍
habilidades
󰘥
controlar
JC

comportamentos impulsivos e comportar-se em direção a metas, mesmo na presença


󰍉
Aa de estados emocionais intensos, e às habilidades de usar estratégias de modulação
adequadas ao contexto.

Atividade 10
Resposta: A DERS é composta por 36 itens que formam seis subescalas: não aceitação
da resposta emocional; falta de clareza emocional; acesso limitado a estratégias de
regulação emocional; dificuldade em controlar os impulsos; dificuldade em manter um
comportamento dirigido a objetivos; falta de consciência emocional.

Atividade 11 // Resposta: B
Comentário: No protocolo unificado, a regulação emocional faz parte da
fundamentação e formulação de caso e informa diretamente as estratégias de
intervenção.

Atividade 12
Resposta: Ainda que tenha sido desenvolvida incialmente para o tratamento de
pessoas com transtorno de personalidade borderline, a conceitualização ampla de
desregulação emocional proposta pela TCD proporciona que esta seja uma
intervenção aplicável (com poucas adaptações) a populações diversas e com as mais
diferentes condições clínicas.

Atividade 13 // Resposta: D
Comentário: Com o desenvolvimento das habilidades do módulo de mindfulness,
promove-se melhora do controle atencional e redução de tendências automáticas de
resposta, junto com a atenuação do impacto de vieses de avaliação cognitiva. Com as
habilidades de regulação emocional, proporciona-se um aumento do repertório de
identificação, avaliação e modificação das respostas emocionais em seus diversos
componentes, bem como o incremento da capacidade de alterar situações geradoras
de emoções positivas e negativas. Com as habilidades de aceitação da realidade e de
tolerância ao mal-estar, promove-se, por um lado, um aumento na capacidade de
identificar situações em que a regulação pode não ser necessária e, por outro,
incrementam-se as capacidades de inibir respostas e impulsos problemáticos em
situações emocionalmente carregadas. Por fim, com as habilidades de efetividade
interpessoal, promove-se melhor reconhecimento e clarificação de objetivos pessoais
em diferentes contextos, assim como a melhora na capacidade de mobilização de
recursos no ambiente e de obtenção de apoio social.

Atividade 14 // Resposta: C
Comentário: Um indivíduo com níveis altos de autocrítica, diante de diferentes
contratempos e falhas, tende a hipergeneralizar seus erros, ao ponto de isso gerar um
estado emocional negativo global para consigo mesmo enquanto pessoa.
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Atividade 15 // Resposta: A
󰍜 Comentário: A compaixão e a autocompaixão atuam no sistema 󰂜 de afiliação e
contentamento, enquanto o AC ativa o sistema de ameaça e autoproteção. Uma vez
󰐍 󰘥 JC

que pessoas com níveis altos de autocrítica tendem a ter o sistema de ameaça
󰍉
Aa hiperativado, gerando desequilíbrio entre os três sistemas, as habilidades
compassivas/autocompassivas podem ser estimuladas para maior ativação do sistema
afiliativo, de maneira a diminuir os efeitos prejudiciais do AC.

Atividade 16
Resposta: O AC tem sido consistentemente associado a uma ampla diversidade de
dificuldades, incluindo sintomas depressivos, de ansiedade, transtornos alimentares,
transtornos de personalidade, sintomatologia psicótica, problemas interpessoais,
abuso de substâncias, suicídio, vergonha, comparações sociais desfavoráveis e
insatisfação corporal.

Atividade 17
Resposta: As medidas elaboradas para avaliar o AC variam desde a sua avaliação
enquanto traço, como resposta às situações difíceis, enquanto estratégia de regulação
emocional ou enquanto AC repetitivo (uma forma de pensamento negativo e
ruminativo que desvaloriza o self).

Atividade 18
Resposta: A partir do modelo teórico que embasa a DEQ, a dimensão de AC é
compreendida como um fator de vulnerabilidade à depressão.

Atividade 19 // Resposta: A
Comentário: O MSC foi desenvolvido por Kristin Neff e Christopher Germer, sendo
um dos programas baseados na compaixão mais conhecidos ao redor do mundo.
Contudo, o MSC está em sua infância no que diz respeito às evidências de
efetividade, sendo ainda necessários mais estudos controlados para garantir uma
adequada avaliação de seus potenciais benefícios.

Atividade 20 // Resposta: C
Comentário: O perfeccionismo é uma característica multidimensional da
personalidade que engloba, portanto, vários componentes que vêm sendo
comumente chamados de esforços perfeccionistas e preocupações perfeccionistas.
Embora o excesso de crítica sobre si mesmo faça parte das definições de
perfeccionismo, o AC é apenas um aspecto do perfeccionismo. Além disso, as
tendências perfeccionistas podem estar voltadas para a própria pessoa e para as
outras pessoas (perfeccionismo orientado ao outro, por exemplo).

Atividade 21 // Resposta: A
Comentário: Os altos níveis de afetividade negativa estão presentes em
perfeccionistas. Não obstante, mesmo diante do sucesso, os perfeccionistas se

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preocupam com as expectativas elevadas que podem despertar no outro,

󰍜 󰂜
experimentando, assim, menos emoções positivas do que seria esperado.
󰐍 󰘥 JC

Atividade 22
RESPOSTA: Como característica multidimensional, deve-se considerar que o
Aa 󰍉
perfeccionismo possui em sua essência a interação de múltiplos componentes, como:
busca por excelência; altos padrões de desempenho; expectativas elevadas;
percepção de discrepância constante entre aquilo que alcança e aquilo que gostaria
de alcançar; preocupação com erros e fracasso; dúvidas sobre as próprias ações;
intolerância com o erro.

Atividade 23 // Resposta: D
Comentário: Stoeber e Otto propõem a existência de três tipos de perfeccionistas:
não perfeccionistas (baixos níveis de esforços e baixos níveis de preocupações
perfeccionistas), perfeccionistas saudáveis (altos esforços combinados a níveis médios
a baixos de preocupações perfeccionistas) e perfeccionistas não saudáveis (altos
níveis de esforços e altos níveis de preocupações perfeccionistas).

Atividade 24 // Resposta: A
Comentário: O processo de avaliação do perfeccionismo na clínica deve incluir a
mensuração de sua intensidade, obtida pela aplicação de escalas que forneçam
pontuações gerais e possibilidade de obter o tipo de perfeccionismo apresentado pelo
paciente, mas também por meio de entrevistas que possibilitarão a construção de um
diagrama completo sobre as cognições, as emoções e os comportamentos
perfeccionistas e suas situações desencadeadoras. Ainda não é consensual o número
de tipos de perfeccionistas existentes, havendo um modelo que trabalha com três e
outro com quatro tipos de perfeccionistas.

Atividade 25 // Resposta: C
Comentário: A primeira estratégia envolve o recurso a uma outra pessoa como apoio
para regular as emoções de E., por isso, pode ser considerada uma estratégia de
regulação interpessoal. No que concerne à sua classificação conforme a família de
estratégias propostas no modelo processual, trata-se de uma estratégia de seleção da
situação, pois envolve a criação prévia de um ambiente com menor poder de
desencadear respostas emocionais desadaptativas em E.

Atividade 26 // Resposta: A
Comentário: A segunda estratégia do plano terapêutico de E. trata-se de uma
estratégia de reorientação da atenção utilizada no momento inicial da geração da
emoção. Ao estabelecer um foco alternativo para a atenção às atividades concretas
que E. está fazendo a cada instante, é possível atenuar vieses atencionais que podem
levar a uma sobrerrepresentação de sinais de perigo no ambiente externo (por
exemplo, velocidade do carro, olhar do avaliador, entre outros) e no ambiente interno
(por exemplo, cognições catastróficas, aceleração do ritmo cardíaco, sensação de calor
e boca seca).
https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/processos-transdiagnosticos-na-clinica-em-terapia-cognitivo-comportamental-desregulacao-emocion… 50/59
29/08/2023, 13:03 PROCESSOS TRANSDIAGNÓSTICOS NA CLÍNICA EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL: DESREGULAÇÃO …

Atividade 27
󰍜 󰂜paciente para
Resposta: Certamente seria preciso ter informações mais detalhadas da
elaboração de um diagrama de compreensão completo do caso. Não obstante, tendo
󰐍 󰘥 JC

como base o que foi descrito e as demais informações sobre o funcionamento de


󰍉
Aa perfeccionistas apresentadas neste capítulo, o diagrama conteria as respostas a seguir,
contudo, outras respostas que contemplem o que seria esperado em cada nível de
análise também estariam corretas. Dados relevantes da história de vida: mãe
superprotetora e controladora projeta suas expectativas de alto desempenho e
sucesso profissional na filha, provavelmente pelas próprias frustrações pessoais; pai
ex-jogador, bem-sucedido e rigoroso com os filhos; história provavelmente marcada
por expectativas elevadas das figuras parentais quanto ao desempenho dos filhos;
afeto condicionado a desempenho. Nível estrutural: “Eu quero/devo ser perfeita”, “As
pessoas esperam perfeição de mim”, “Só serei amada se for perfeita”, “As pessoas só
merecem estar perto de mim se também forem perfeitas”. Nessa parte, podem ser
incluídos eventos de vida que apoiaram a construção dessas crenças, além de
mencionar os esquemas presentes, como de rejeição e perfeição. Nível proposicional:
se eu for perfeita em tudo, então todos irão me amar; se eu não me esforçar mais,
então irei fracassar; se eu não tiver as medidas perfeitas no meu corpo, então serei
rejeitada no vôlei; se eu não me preocupar com meu desempenho, então as coisas não
sairão perfeitas. Nível operacional: quando a equipe perde os jogos, aumentam os
sintomas de ansiedade e o AC, o que desencadeia em N. um viés negativo sobre seu
corpo e seu desempenho (aumentam os comportamentos purgativos e o excesso de
treinos); nos momentos em que percebe que seu eu falho pode ser exposto, torna-se
mais hostil com as colegas de time e se isola socialmente. Nível do produto: para ser
perfeita, preciso me controlar ao máximo; sempre tem alguém tentando me
prejudicar; preciso me esforçar mais para atingir a perfeição.

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/ COMO CITAR A VERSÃO IMPRESSA DESTE DOCUMENTO


Mansur-Alves, M., Lucena-Santos, P., Souza, L. A. S., Cancian, A. C. M., & Oliveira
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Federação Brasileira de Terapias Cognitivas, C. B. Neufeld, E. M. O. Falcone & B. P.
Rangé (Orgs.), PROCOGNITIVA Programa de Atualização em Terapia Cognitivo-
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󰓒 󰓒 󰓒 󰓒 󰓒

ARTIGO ARTIGO
󰅁 lidando com 󰸞 Marcar como concluído terapia 󰅂
perdas e luto a… cognitivo-

https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/processos-transdiagnosticos-na-clinica-em-terapia-cognitivo-comportamental-desregulacao-emocion… 59/59

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