Resp 984607
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RELATÓRIO
Alega o recorrente que o acórdão viola o disposto nos artigos 105, X, do DL nº 37/66, 108 e
112 do Código do Tributário Nacional-CTN. Sustenta que a pena de perdimento prevista no art. 105, X,
do DL 37/66 somente pode ser aplicada às mercadorias expostas à venda, depositadas ou em
circulação comercial no país, o que não é o caso dos autos, pois as mercadorias foram apreendidas em
trânsito.
Aponta, ainda, ofensa ao art. 118 do CTN. Argumenta que a pena de perdimento é
incompatível com a cobrança do tributo, pois, segundo entende, a aplicação dessa penalidade
simultaneamente à cobrança do tributo configura, a um só tempo, enriquecimento sem causa do Poder
Público e dupla penalização do contribuinte pelo mesmo fato.
A Fazenda Nacional ofertou contra-razões à fl. 92.
Admitido o apelo na origem (fl. 94), subiram os autos para julgamento.
É o relatório.
EMENTA
VOTO
Quanto ao ponto, nada tenho a opor ao acórdão recorrido, que examinou minuciosamente a
legislação de regência da matéria, tendo ressaltado a existência de fortes indícios, não refutados pela
parte autora, de que os bens importados tinham natureza comercial, o que justifica a aplicação da pena
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de perdimento.
A natureza comercial destacada no artigo 105 do Decreto-lei nº 37/66 foi devidamente
aferida pela autoridade fazendária e o procedimento adotado encontra respaldo no artigo 68 da Medida
Provisória n.º 2158/01, o que justifica a retenção das mercadorias.
Confira-se o dispositivo retro mencionado:
Desse modo, a Receita Federal está autorizada a reter mercadorias sobre as quais pairem
indícios de infração punível, estabelecendo procedimento administrativo que, ao final, poderá implicar na
aplicação da pena de perdimento.
No caso dos autos, vê-se que o recorrente tentou ingressar no território nacional com
quantidade de mercadorias que excede, e muito, o conceito de bagagem, a ponto de indicar nítida
destinação comercial, não se podendo afastar, portanto, a conclusão do aresto de segundo grau.
O segundo ponto tratado no apelo diz respeito à possibilidade de cumulação da pena de
perdimento com a cobrança dos tributos incidentes sobre a operação.
O acórdão recorrido assim examinou a questão:
O art. 118 do CTN consagra o princípio do "non olet" (sem cheiro), que chegou ao nosso
ordenamento jurídico como uma herança do Direito Romano.
Em Roma, o imperador Vespasiano, ao perceber que o Império enfrentava uma grave crise
financeira, com aumento significativo das despesas públicas, chama seu filho, Tito, e sugere o aumento
da tributação.
Tito diz que a população não suportaria, sem protestos, um aumento da carga tributária.
Como saída para o problema, Vespasiano resolve tributar o uso dos banheiros públicos. O filho diz que
o dinheiro seria sujo, mas o pai lhe responde que supriria a falta de recursos.
Depois de arrecadado o novo tributo, Vespasiano chama Tito e lhe entrega um punhado de
moedas, pedindo que cheirasse o dinheiro.
Diante da constatação do filho de que o dinheiro não tinha cheiro, disse a célebre frase:
"tributum non olet" ou, em português literal, "tributo não tem cheiro".
Assim, nasceu esse princípio, consagrado no art. 118 do CTN, segundo o qual o produto da
atividade ilícita deve ser tributado, desde que realizado, no mundo dos fatos, a hipótese de incidência da
obrigação tributária.
Há certa convergência na doutrina de que a regra de tributação pode atingir o produto
patrimonial de uma atividade ilícita. O que não pode é a regra de tributação tomar como hipótese para a
incidência do tributo uma atividade ilícita.
Em outras palavras, se o ato ou negócio ilícito for acidental à norma de tributação (=
estiver na periferia da regra de incidência), surgirá a obrigação tributária com todas as conseqüências
que lhe são inerentes. Por outro lado, não se admite que o ato ou negócio ilícito figure como elemento
essencial da norma de tributação.
Assim, por exemplo, a renda obtida com o tráfico de drogas deve ser tributada, já que o
que se tributa é o aumento patrimonial e não o próprio tráfico. Nesse caso, a ilicitude é circunstância
acidental à norma de tributação.
No caso de importação ilícita, reconhecida a ilicitude e aplicada a pena de perdimento, não
poderá ser cobrado o imposto de importação, já que "importar mercadorias" é elemento essencial do
tipo tributário. Assim, a ilicitude da importação afeta a própria incidência da regra tributária no caso
concerto.
Essa tese, aliás, foi expressamente consagrada na legislação do Imposto de Importação,
como se observa do art. 1º, do Decreto-Lei 37/66:
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Já os demais tributos que incidem sobre produtos importados (IPI, PIS e COFINS) não
ensejam o mesmo tratamento.
O IPI incide sobre produtos industrializados (sejam nacionais ou estrangeiros). Assim, o
fato de ser irregular a importação não atinge a materialidade da hipótese de incidência tributária, já que
a importação é algo não essencial à norma, mas apenas aspecto acidental.
Já a contribuição ao PIS e à COFINS incidem, via de regra, sobre o faturamento. Mais
uma vez, o fato de ser irregular a importação em nada abala a aplicação dessas normas tributárias.
Portanto, em relação a esses tributos, não se pode aplicar a mesma conclusão adotada para
o imposto de importação.
Nesses termos, a aplicação da pena de perdimento, em face da ilicitude da importação, não
afeta a incidência do IPI e das contribuições sociais (PIS e COFINS).
Basta que se examine, por exemplo, a regra do art. 622, § 2º, do Decreto 4.543, de 26 de
dezembro de 2002, ato legal que institui o chamado regulamento Aduaneiro.
O dispositivo em destaque enuncia o seguinte:
É como voto.