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Aula 8

A CRISE DA SOCIEDADE FEUDAL:


OS SÉCULOS XIV E XV
META
Situar a crise que se abateu sobre a Europa nos séculos XIV e XV no contexto da crise do
modo de produção feudal.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
Analisar fatores que teriam contribuído para a crise.
Enfatizar causas e efeitos econômicos e sociais da epidemia de peste.
Destacar a opinião de diferentes estudiosos do medievo a respeito da crise.
Examinar a crise como marco do fim da Idade Média.

Lenalda Andrade Santos


Bruno Gonçalves Alvaro
Historia Medieval II

INTRODUÇÃO

Para exame do tema reservado para a aula de hoje, a crise que atingiu a
Europa nos séculos XIV e XV, utilizaremos como material indicativo, texto
extraído do livro Sociedade Feudal: Guerreiros, sacerdotes e trabalhadores.
Autor: Francisco Carlos Teixeira da Silva. Vamos a ele.
“Nem mesmo a existência de uma crise de caráter geral da sociedade
feudal, nos séculos XIV e XV, é um fato estabelecido e inconteste entre os
historiadores. Enquanto a maioria dos autores procura ressaltar os cortes
e rupturas entre o período de marcante crescimento (uma fase ascendente
cobrindo os séculos XI-XIII) e o período de depressão (a fase de baixa dos
séculos seguintes), outros procuram mostrar as continuidades entre ambas as
épocas. Para tal, apontam para os sinais inequívocos de continuidade estru-
tural e mesmo de crescimento em várias regiões. Então, o que teria mudado?
Para responder a esta pergunta, como pretendemos neste capítulo, devemos
deixar o mais claro possível o conceito de crise. Esta não é entendida, aqui,
como um acidente no curso da bela performance da economia feudal, com
uma posterior retomada dos seus próprios ritmos. Aceitando a definição
de Ruggiero Romano poderíamos dizer que crise representa a substituição
de uma estrutura, que não consegue mais se reproduzir como antes, por
outra. Neste sentido, a questão da continuidade e da descontinuidade fica
irremediavelmente prejudicada principalmente se tivermos em mente que
todo fenômeno social tem contradições internas que lhes são inerentes e
que explicam seu próprio movimento. O movimento também não deve ser
visto como um raio em céu azul. A crise não surge do nada, e o trabalho de
inúmeros historiadores, particularmente sobre a Inglaterra, vem mostrando
que a contração econômica tinha ensaios locais.

SÉCULO XIV: A CHEGADA DA


ESTRELA DA MORTE

Figura 23: Peste Negra vitimou grande parte da população européia no século XIV http://www.felipex.com.br

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A crise da sociedade feudal: os séculos xiv e xv Aula 8
Entre 1315 e 1317 sucedem-se pesadas chuvas por todo o norte da
Europa Ocidental, de forma tão intensa e ininterrupta que os campos são
devastados e as colheitas perdidas, gerando uma situação de calamidade
para o mundo camponês [...] e que se soma aos vários anos bons que ha-
viam levado o preço dos cereais a níveis bastante baixos. Sem colheitas e
sem poupança, o mau tempo inaugura o grande movimento de crise do
século XIV.
O crescimento demográfico contínuo dos séculos anteriores havia ga-
rantido uma estável alta dos preços até 1300, quando os primeiros sinais de
instabilidade se fazem notar. Entre 1300 e 1320 os preços caem ou oscilam
bruscamente, ora em face de colheitas abundantes ora em face de crises
localizadas sobre centros produtores, para novamente estabilizarem-se en-
tre 1320 e 1342, a partir do que a crise da Peste Negra destruirá qualquer
equilíbrio próprio. [...]
Mesmo os contemporâneos não conseguiam ver com clareza as razões
do tumulto e da insegurança do mundo dos negócios [...] Muitas vezes não
se vendo as razões do infortúnio, se procurará culpar alguém pela sua ex-
istência. Ao mesmo tempo em que o abade de Saint-Martin morria de peste,
Filipe V, o rei da França, ordenava a caça de todos os leprosos acusados de
inveja e malefícios que sob tortura eram confessados, dando ensejo a que
se armassem as fogueiras. Um pouco por toda parte judeus, prestamistas,
mercadores, mulheres solitárias, leprosos, serão queimados na esperança
de manter vivos seus algozes.
Uma primeira tentativa de explicação da contração econômica do
período deve passar, necessariamente, pela história do clima. [...] Tal fato
provocou certo espanto em bom número de historiadores que viram, de-
sta forma, se buscar no movimento dos astros ou nas explosões do sol a
causa do infortúnio dos homens. Os marxistas, em especial, protestaram
contra tais interpretações até o momento em que o historiador marxista, o
polonês Witold Kula, procura relacionar os fenômenos naturais com a luta
de classes. Partindo do princípio de que é tarefa do historiador conhecer os
processos e diferenciar as tendências de aproveitamento da natureza pelo
homem, Kula afirma que as flutuações das colheitas incidem sobre a renda
social, suscitando complexos processos de readaptação e de distribuição.
Na verdade, a capacidade dos homens em resistir a pragas ou acidentes
climáticos prende-se à técnica usada por aquela sociedade, assim como à
possibilidade do trabalhador de acumular um estoque próprio, ou seja, às
condições em que se dá a repartição do produto do trabalho. Jacques Le
Goff nos lembra, a propósito da fome de 1315, que “os pobres morrem
de fome no mesmo lugar em que o rico tem seu celeiro ou a sua bolsa com
que saciar-se”. A crise exacerba as contradições de classe levando para o
plano social as mutações do econômico. De qualquer forma o fato é que a
partir de 1315 grandes chuvas se abateram sobre a Irlanda, Escócia, Ingla-

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terra, França, Itália do Norte e planícies germano-polonesas até a Rússia.


A maioria das colheitas foi perdida gerando a “fome européia”. [...]
A conseqüência imediata de tal situação foi o enfraquecimento da
população e sua vulnerabilidade em face das pandemias, como a Peste Negra
de 1348. A discussão sobre seu papel como elemento causador da crise da
sociedade feudal parece já suficientemente ultrapassada, entretanto talvez
sua imagem permaneça como símbolo da precária situação da população
da época. As “origens” da Peste e sua precisa diagnose são discutíveis,
destacando-se a origem genovesa. [...] De qualquer forma a doença se
alastrou por toda a Europa atingindo uma população mal alimentada e
bastante extenuada por exigências crescentes do sistema. Em 1348, a Itália,
a Espanha, a França e a Inglaterra – os eixos do novo comércio – já conhe-
ciam seus efeitos. Em 1349 penetra na Alemanha e daí à Europa Central,
chegando à Escandinávia e países bálticos em 1350. [...]
A maioria dos historiadores admite, com Gimpel, uma “punção” de-
mográfica de 33% até 40% do total da população e, como seria natural, com
um índice mais concentrado nas cidades do que no campo. Isso justifica
a expressão “fratura demográfica” utilizada por Romano para descrever o
impacto da crise sobre a demografia e, consequentemente, sobre os demais
setores da sociedade feudal [...].
Algumas vezes se tem explicado todo este quadro de calamidades
através de um pensamento neomalthusiano que registraria crise através
do estancamento do crescimento econômico e a manutenção do ritmo
de crescimento demográfico. Tal interpretação, a nosso ver, separa forças
que atuam conjuntamente e que não se explicam per se. Os homens e
seus movimentos, compreendidos como forças produtivas, não podem
ser vistos ao lado de um regime ou sistema econômico abstrato. O cresci-
mento econômico tem como elemento central uma demografia capaz de
sustentá-lo. Esta só se torna um impedimento ao crescimento quando as
próprias condições sociais visam utilizá-la no seu limite de resistência. No
caso específico do deslanchar das calamidades em 1315, a fragilidade da
população nos deixa ver que já vinha se processando um movimento de
intensificação da exploração dos camponeses capaz de impedir a constitu-
ição de estoques alimentícios ou de trocas.
A partir deste momento devemos trabalhar em dois planos diferentes:
de um lado, o processo acima descrito (as chuvas, as fomes, as pestes) e que
era sem dúvida irremovível para sua época pela ação dos homens. De outro
lado, vinha se processando um movimento mais telúrico (enquanto o outro
virtualmente cai do céu) e que diz respeito às transformações no modo de
extrair o excedente dos camponeses por parte dos senhores. Particular-
mente Kosminsky parece ter percebido isto ao assinalar que o crescimento
da exploração feudal acaba por levar a economia camponesa à exaustão,
e após algum tempo impede o desenvolvimento das forças produtivas na

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sociedade feudal, destruindo as condições para a reprodução da força de
trabalho [...]. Assim, o fato é que a exploração dos camponeses vinha se
intensificando rapidamente antes da crise, abrindo possibilidades para que
qualquer grande impacto, mesmo “externo” ou “acidental”, como chuvas,
pestes e fomes, provocasse uma ruptura de grandes proporções.
A maioria dos historiadores concorda em que o final do século XII e
o século XIII assistiram a um recrudescimento dos laços feudais, fato que
não é estranho ao desenvolvimento do senhorio banal. Robert Boutrunhe,
Por exemplo, destaca o aumento dos gastos dos senhores feudais princi-
palmente com monumentos religiosos e obras de caridade, num sentido
técnico. Já Wilhelm Abel destaca o aumento do luxo na vida cotidiana dos
senhores [...].
Obviamente, os dados disponíveis são de um período tardio, século XV,
mas servem como comprovadores de tendências que se esboçam no século
XIII e tomam força ao longo do século XIV. Além disso, devemos destacar
uma rápida mudança de hábitos que liga a economia senhorial ainda mais
intimamente com o mercado, do qual nunca esteve inteiramente afastada [...].
Um ponto destacado por Jacques Heers (1968) é a inconformidade das
mulheres em continuar usando os grossos tecidos feitos em casa. Lembra o
mesmo autor uma crônica do século XIV na qual uma “viúva havia vendido
uma aldeia para fazer um belo vestido”, numa época em que um só vestido
de seda poderia valer várias aldeias.
Parece que 1315 se torna, desta forma, um verdadeiro ponto de colisão.
De um lado, os acidentes naturais e, de outro, o recrudescimento da explo-
ração feudal sobre os camponeses. Transformação da Europa do século
XIV, mais especificamente entre 1378 e 1381, em palco de violentas insur-
reições camponesas. Particularmente a Inglaterra, onde as transformações
se faziam sentir mais intensamente, assistiu a ferozes revoltas que por duas
vezes lançam sobre Londres exércitos de miseráveis [...]
Georges Duby explica o clima de revolta que varreu a Europa do
Quatrocento através de pesadas exações exigidas por reis e nobres, princi-
palmente a talha e a manutenção dos exércitos. Porém, fundamentalmente,
localiza o germe do desespero dos camponeses nasb tentativas vitoriosas dos
senhores feudais em reagir contra a deterioração das suas rendas através da
multiplicação das exigências de pagamentos. Neste sentido não são apenas
revoltas de trabalhadores famintos em busca do pão. Muitas sublevações
acontecem em regiões ricas e prósperas, como o Norte da Itália, em Flandres,
ou a jacquerie francesa de 1358, que se explicam pelo ódio a novas taxas
e pela tentativa de garantir a manutenção do status quo. São os senhores
feudais, com suas novas e crescentes exigências atendidas por um comércio
próspero, que promovem um profundo desequilíbrio estrutural. As novas
exigências incidem sobre a capacidade de poupar dos camponeses [...].

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Na França, os levantes camponeses ficaram conhecidos como


jacqueries, devido ao fato de os camponeses serem “chamados
pejorativamente naquele país de “jacques Bonhomme”, termo similar
ao que hoje conhecemos como “João-ninguém” ou “Zé-povinho”.
Reproduzimos abaixo trecho de um registro sobre a jacquerie ocorrida
em 1358.
“Nesse tempo revoltaram-se os Jacques em Beauvoisin [...] Entre
eles estava um homem muito sabedor e bem falante, de bela figura e
forma. Este tinha por nome Guilherme Carlos. Os Jacques fizeram-
no seu chefe. Mas ele viu bem que eram gente miúda, pelo que se
recusou a governá-los. Mas de fato os Jacques tomaram-no e fizeram
dele seu chefe, como um homem que era hospitaleiro, que tinha visto
guerras. Também as tinha visto Guilherme Carlos, que lhes dizia que
se mantivessem unidos. E quando os Jacques se viram em grande
número, perseguiram os homens nobres, mataram vários e ainda
fizeram pior [...] Na realidade, mataram muitas mulheres e crianças
nobres, pelo que Guilherme Carlos lhes disse muitas vezes que se
excediam demasiadamente; mas nem por isso deixaram de o fazer...”
(PEDRERO-SANCHEZ, 2000, p. 203).

Tanto os trabalhos de Georges Duby, Bronislav Geremek e Michel


Mollat [...] apontam para o mesmo fato: tanto os camponeses pobres como
os abastados se revoltam na tentativa de salvar alguma coisa de um passado
próspero, como também na massa de artesãos urbanos, desde Flandres até
Florença. [...]
Le Goff destaca o fato de que se os trabalhadores foram “a primeira
vítima da crise”, os senhores tornaram-se o seu mais poderoso alvo. Estes
estão pela primeira vez em face de uma situação na qual seus meios tradi-
cionais de manipulação não se adaptam ou dão resultados satisfatórios
imediatos. [...] Mesmo a monarquia com seus poderosos meios de manipu-
lação, como as desvalorizações monetárias, provocava reações que mesmo
ela não esperava ou desejava. [...]
A consciência, por parte dos senhores, da incapacidade de lidar com
o nível econômico, de alterar suas tendências [...], os levará a agir no nível
político na busca de sanar a crise através de um maior controle dos direitos e
das alterações dos costumes. Esta é a chave para a compreensão dos séculos
seguintes e de fenômenos como a reação senhorial e a chamada “segunda
servidão”. Na Inglaterra e na França os reinados de Eduardo II e de Filipe,
o Belo, são marcados pelo avanço da nobreza que em troca da devolução de
algumas regalias à Coroa arrancam inúmeros direitos dos camponeses sob
o beneplácito do rei. Por toda a Europa, e na Inglaterra mais agudamente,
a reação senhorial realiza um reagrupamento das terras em detrimento

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do uso comunal pelos camponeses. Ao leste de Elba, particularmente em
Brandenburgo e Polônia, formam-se imensas propriedades, assim como na
Dinamarca, Suécia e Noruega. Normalmente, produzem cereais vendidos
para o ocidente através do intenso comércio do Báltico e que, em vez de
“dissolver” os laços feudais, os reforçam. Dinamarca e Noruega reforçam
sua área de criação e exportam carnes salgadas e manteiga. Na Toscana
também se dão os reagrupamentos sob a forma do “apoderamento” sobre
as terras camponesas com uma produção voltada para as plantas industriais,
principalmente as tintoriais [...].
Ao mesmo tempo em que se apoderam das terras, reforçando seu
patrimônio fundiário, os senhores procuram os salários inteiramente
descontrolados com a rarefação da mão-de-obra. Assim, as monarquias na
Espanha, França, Portugal e Inglaterra sob a pressão da nobreza estabelecem
rigorosos estatutos tabelando os salários [...]
Tendo este quadro por fundo só restava aos senhores, como nos lembra
R. Romano, duas saídas:
a) arrendar suas terras, a preços cada vez mais baixos, aos camponeses;
b) proceder à exploração direta com a contratação de trabalho assalariado.
Desta forma os senhores viam, pela primeira vez, a redução do seu
poder e a ascensão de um segmento superior de camponeses abastados e
burgueses que investiam nos arrendamentos de terras, produzindo matérias-
primas e alimentos para o mercado. Concomitantemente a grande maioria
dos trabalhadores, apesar de livres da servidão da gleba, não veria mais
os momentos de melhoria de vida que a rápida elevação de salários havia
provocado. Através de um processo de aguda diferenciação social começa a
se constituir novos segmentos sociais no campo. De um lado, camponeses
que consolidam a posse das terras em que trabalhavam e o uso de direitos
coletivos, dando origem a uma prioridade parcelar da terra principalmente
na França e Alemanha renana; de outro, não podem resistir aos senhores
e são englobados em grandes explorações com o renascimento da corvéia
produzindo artigos para o grande comércio, como no leste de Elba; nas
regiões mediterrâneas desenvolve-se a parceria e por quase toda a parte
desenvolve-se o arrendamento, no qual camponeses e burgueses abastados
exploram camponeses pobres ou sem terra via salário.
Esta última forma, o arrendamento, permitirá a aceleração do desen-
volvimento econômico a partir de novas bases. Seja através da “segunda
servidão” como no leste, seja través da especialização da produção para
o mercado, com culturas com um nível técnico mais elevado, poupadoras
de mão-de-obra, mais concentradas geograficamente e com qualidades
reconhecidas em toda a Europa. É assim que a lã inglesa, diferente (mais
cara) por sua vez da lã dos merinos espanhóis; o queijo da Sicília; a manteiga
da Noruega exportada pela Hansa; os corantes e linhos da Alemanha; os
vinhos da frança, do Reno e do Douro e etc. [...] (SILVA, 1982, P. 69/82).

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O FIM DA IDADE MÉDIA

Se um habitante da Europa em 1200 pudesse viajar no tempo anos


adiante, teria encontrado um mundo completamente diferente. Até
o campo ia lhe parecer mais vazio. Alguns povoados tinham se
transformado em pequenas cidades, mas muitos outros desapareceram
para sempre devido à diminuição gradual de sua população depois da
“Peste Negra”.
Dentro dos povoados também ia encontrar muitas mudanças. Alguns
camponeses prosperaram e arrendaram mais terras dos novos senhores.
Outros haviam desistido completamente de suas terras e trabalhavam
agora para quem podia pagar em dinheiro. Alguns camponeses
abandonaram o campo para sempre e passaram a morar e trabalhar
nas cidades. A divisão dos camponeses entre “livre” e “não livre” tinha
cada vez menos importância.
Os soldados não vinham mais das fileiras dos cavaleiros e dos nobres.
Mercenários (homens que lutavam mediante um ordenado) tinham
tomado o lugar deles. Os mercenários não deviam lealdade aos
senhores feudais, mas apenas a quem os pagava. Eram homens rudes
e brutais, temidos em toda parte. Os nobres desempenhavam ainda
um papel importante no governo, mas partilhavam agora o cargo de
conselheiros do rei com comerciantes ricos da cidade e proprietários
do campo.
A Igreja estava sendo duramente criticada, em 1500. Estudiosos e
alguns padres diziam que os monges e as freiras não se dedicavam
mais à oração e à ajuda aos necessitados. Queriam também reformar
os ritos da Igreja, e traduzir a Bíblia para a língua do país, para que o
povo pudesse entender os ensinamentos sem ajuda dos padres.
Sob certos aspectos, o viajante de 1200 consideraria o século XV como
uma época muito triste. Todos estavam deprimidos pelos longos anos
das epidemias, preocupados com os próprios pecados e assustados
com a perspectiva de ir para o inferno. Receberam de boa vontade
a liberdade provocada pela decadência gradual do poder feudal. Mas
essa nova liberdade significava também que o mundo que conheciam,
regido pelo trabalho fixo e obrigatório, na mansão ou no castelo, e
pelos costumes locais, estava abalado.
Entretanto, sob outros aspectos, o fim da Idade Média foi uma época
de muitas invenções e descobertas. Artistas na Itália e nos Países Baixos
estavam produzindo telas e esculturas magníficas. O “novo” continente
da América foi descoberto em 1492. Foi inventada a prensa. A Europa
de 1500 devia ser um lugar fascinante para se visitar.” (MACDONALD,
Fiona, 1995, p.56).

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CONCLUSÃO

Reconhecida pelos historiadores como “fato estabelecido e inconteste”,


a crise que nos séculos XIV e XV se abateu sobre a Europa “representa a
substituição de uma estrutura, que não mais consegue se reproduzir como
antes, por outra”. Dito de outra forma, a crise, na perspectiva aqui adotada,
indica uma passagem: a do modo de produção feudal para o modo de
produção capitalista.

RESUMO

A escassez de alimentos motivada por mudanças climáticas numa fase


de constante aumento populacional trouxe dificuldades econômicas, fome
e condições para pandemias, como a Peste Negra de 1348.
Como resultado da drástica redução de mão-de-obra causada pelas
epidemias cresce a exploração dos trabalhadores, motivo de constantes
levantes que, por sua vez, desorganizam ainda mais a produção.
Segundo Franco Jr., “apesar de sensíveis desigualdades regionais, no
conjunto a peste negra de 1348 -1350 dizimou de 25 a 35% da população
européia. Esta perda demográfica foi tão grande, que os níveis anteriores
a ela seriam alcançados apenas no século XVII.”
Menos alimentos, mais miséria, mais revolta. A aristocracia perde for-
tuna e poderes, camponeses e burgueses ganham espaço num Estado que
vai aos poucos se ajustando a uma nova ordem econômica e social. È esse
um breve quadro do fim da Idade Média.

ATIVIDADES

1. Faça um resumo do texto de Francisco Teixeira da Silva a respeito da


crise dos séculos XIV e XV.
2. Indique as mudanças representativas do fim da Idade Média.

PRÓXIMA AULA

A difusão do pensamento e conhecimento do mundo, as descobertas


geográficas é o tema do nosso próximo encontro.

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REFERÊNCIAS

ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo.


Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Brasiliense, 1987.
COSTA, Luís César Amad e MELLO, Leonel Itaussu A. História Geral
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CONTE, Giuliano. Da Crise do Feudalismo ao Nascimento do Capi-
talismo. Lisboa: Editorial Presença, 1976.
CROUZET, Maurice (Direção). História Geral das Civilizações. A Idade
Média: Os tempos difíceis. V. 8. Tradução de Pedro Moacyr de Campos.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
FRANCO Jr., Hilário. O Feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
------------------------- A Idade Média: o Nascimento do Ocidente. São
Paulo: Brasiliense, 1986.
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Geral. São Paulo: Atlas, 1986.
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Econômicos e sociais. Tradução de Anne Arnichand da Silva. São Paulo:
Pioneira, 1973.
10. HUIZINGA, Johan. O Declínio da Idade Média. Tradução de Au-
gusto Abelaira. Lisboa – Rio de Janeiro: Ulisseia, s/d.
11. MACDONALD, Fiona. O Cotidiano Europeu na Idade Média. São
Paulo: Melhoramentos, 1995.
12. MOLLAT, Michel. Os pobres na Idade Média. Tradução de Heloísa
Jahn. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
11. PIRENNE, Henri. História Econômica e Social da Idade Média.
Tradução de Lycurgo Gomes da Motta. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
13. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Sociedade Feudal: Guerreiros,
Sacerdotes e Trabalhadores. São Paulo: Brasiliense, 1982.

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