09231208102012historia Medieval II Aula 08
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OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
Analisar fatores que teriam contribuído para a crise.
Enfatizar causas e efeitos econômicos e sociais da epidemia de peste.
Destacar a opinião de diferentes estudiosos do medievo a respeito da crise.
Examinar a crise como marco do fim da Idade Média.
INTRODUÇÃO
Para exame do tema reservado para a aula de hoje, a crise que atingiu a
Europa nos séculos XIV e XV, utilizaremos como material indicativo, texto
extraído do livro Sociedade Feudal: Guerreiros, sacerdotes e trabalhadores.
Autor: Francisco Carlos Teixeira da Silva. Vamos a ele.
“Nem mesmo a existência de uma crise de caráter geral da sociedade
feudal, nos séculos XIV e XV, é um fato estabelecido e inconteste entre os
historiadores. Enquanto a maioria dos autores procura ressaltar os cortes
e rupturas entre o período de marcante crescimento (uma fase ascendente
cobrindo os séculos XI-XIII) e o período de depressão (a fase de baixa dos
séculos seguintes), outros procuram mostrar as continuidades entre ambas as
épocas. Para tal, apontam para os sinais inequívocos de continuidade estru-
tural e mesmo de crescimento em várias regiões. Então, o que teria mudado?
Para responder a esta pergunta, como pretendemos neste capítulo, devemos
deixar o mais claro possível o conceito de crise. Esta não é entendida, aqui,
como um acidente no curso da bela performance da economia feudal, com
uma posterior retomada dos seus próprios ritmos. Aceitando a definição
de Ruggiero Romano poderíamos dizer que crise representa a substituição
de uma estrutura, que não consegue mais se reproduzir como antes, por
outra. Neste sentido, a questão da continuidade e da descontinuidade fica
irremediavelmente prejudicada principalmente se tivermos em mente que
todo fenômeno social tem contradições internas que lhes são inerentes e
que explicam seu próprio movimento. O movimento também não deve ser
visto como um raio em céu azul. A crise não surge do nada, e o trabalho de
inúmeros historiadores, particularmente sobre a Inglaterra, vem mostrando
que a contração econômica tinha ensaios locais.
Figura 23: Peste Negra vitimou grande parte da população européia no século XIV http://www.felipex.com.br
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A crise da sociedade feudal: os séculos xiv e xv Aula 8
Entre 1315 e 1317 sucedem-se pesadas chuvas por todo o norte da
Europa Ocidental, de forma tão intensa e ininterrupta que os campos são
devastados e as colheitas perdidas, gerando uma situação de calamidade
para o mundo camponês [...] e que se soma aos vários anos bons que ha-
viam levado o preço dos cereais a níveis bastante baixos. Sem colheitas e
sem poupança, o mau tempo inaugura o grande movimento de crise do
século XIV.
O crescimento demográfico contínuo dos séculos anteriores havia ga-
rantido uma estável alta dos preços até 1300, quando os primeiros sinais de
instabilidade se fazem notar. Entre 1300 e 1320 os preços caem ou oscilam
bruscamente, ora em face de colheitas abundantes ora em face de crises
localizadas sobre centros produtores, para novamente estabilizarem-se en-
tre 1320 e 1342, a partir do que a crise da Peste Negra destruirá qualquer
equilíbrio próprio. [...]
Mesmo os contemporâneos não conseguiam ver com clareza as razões
do tumulto e da insegurança do mundo dos negócios [...] Muitas vezes não
se vendo as razões do infortúnio, se procurará culpar alguém pela sua ex-
istência. Ao mesmo tempo em que o abade de Saint-Martin morria de peste,
Filipe V, o rei da França, ordenava a caça de todos os leprosos acusados de
inveja e malefícios que sob tortura eram confessados, dando ensejo a que
se armassem as fogueiras. Um pouco por toda parte judeus, prestamistas,
mercadores, mulheres solitárias, leprosos, serão queimados na esperança
de manter vivos seus algozes.
Uma primeira tentativa de explicação da contração econômica do
período deve passar, necessariamente, pela história do clima. [...] Tal fato
provocou certo espanto em bom número de historiadores que viram, de-
sta forma, se buscar no movimento dos astros ou nas explosões do sol a
causa do infortúnio dos homens. Os marxistas, em especial, protestaram
contra tais interpretações até o momento em que o historiador marxista, o
polonês Witold Kula, procura relacionar os fenômenos naturais com a luta
de classes. Partindo do princípio de que é tarefa do historiador conhecer os
processos e diferenciar as tendências de aproveitamento da natureza pelo
homem, Kula afirma que as flutuações das colheitas incidem sobre a renda
social, suscitando complexos processos de readaptação e de distribuição.
Na verdade, a capacidade dos homens em resistir a pragas ou acidentes
climáticos prende-se à técnica usada por aquela sociedade, assim como à
possibilidade do trabalhador de acumular um estoque próprio, ou seja, às
condições em que se dá a repartição do produto do trabalho. Jacques Le
Goff nos lembra, a propósito da fome de 1315, que “os pobres morrem
de fome no mesmo lugar em que o rico tem seu celeiro ou a sua bolsa com
que saciar-se”. A crise exacerba as contradições de classe levando para o
plano social as mutações do econômico. De qualquer forma o fato é que a
partir de 1315 grandes chuvas se abateram sobre a Irlanda, Escócia, Ingla-
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sociedade feudal, destruindo as condições para a reprodução da força de
trabalho [...]. Assim, o fato é que a exploração dos camponeses vinha se
intensificando rapidamente antes da crise, abrindo possibilidades para que
qualquer grande impacto, mesmo “externo” ou “acidental”, como chuvas,
pestes e fomes, provocasse uma ruptura de grandes proporções.
A maioria dos historiadores concorda em que o final do século XII e
o século XIII assistiram a um recrudescimento dos laços feudais, fato que
não é estranho ao desenvolvimento do senhorio banal. Robert Boutrunhe,
Por exemplo, destaca o aumento dos gastos dos senhores feudais princi-
palmente com monumentos religiosos e obras de caridade, num sentido
técnico. Já Wilhelm Abel destaca o aumento do luxo na vida cotidiana dos
senhores [...].
Obviamente, os dados disponíveis são de um período tardio, século XV,
mas servem como comprovadores de tendências que se esboçam no século
XIII e tomam força ao longo do século XIV. Além disso, devemos destacar
uma rápida mudança de hábitos que liga a economia senhorial ainda mais
intimamente com o mercado, do qual nunca esteve inteiramente afastada [...].
Um ponto destacado por Jacques Heers (1968) é a inconformidade das
mulheres em continuar usando os grossos tecidos feitos em casa. Lembra o
mesmo autor uma crônica do século XIV na qual uma “viúva havia vendido
uma aldeia para fazer um belo vestido”, numa época em que um só vestido
de seda poderia valer várias aldeias.
Parece que 1315 se torna, desta forma, um verdadeiro ponto de colisão.
De um lado, os acidentes naturais e, de outro, o recrudescimento da explo-
ração feudal sobre os camponeses. Transformação da Europa do século
XIV, mais especificamente entre 1378 e 1381, em palco de violentas insur-
reições camponesas. Particularmente a Inglaterra, onde as transformações
se faziam sentir mais intensamente, assistiu a ferozes revoltas que por duas
vezes lançam sobre Londres exércitos de miseráveis [...]
Georges Duby explica o clima de revolta que varreu a Europa do
Quatrocento através de pesadas exações exigidas por reis e nobres, princi-
palmente a talha e a manutenção dos exércitos. Porém, fundamentalmente,
localiza o germe do desespero dos camponeses nasb tentativas vitoriosas dos
senhores feudais em reagir contra a deterioração das suas rendas através da
multiplicação das exigências de pagamentos. Neste sentido não são apenas
revoltas de trabalhadores famintos em busca do pão. Muitas sublevações
acontecem em regiões ricas e prósperas, como o Norte da Itália, em Flandres,
ou a jacquerie francesa de 1358, que se explicam pelo ódio a novas taxas
e pela tentativa de garantir a manutenção do status quo. São os senhores
feudais, com suas novas e crescentes exigências atendidas por um comércio
próspero, que promovem um profundo desequilíbrio estrutural. As novas
exigências incidem sobre a capacidade de poupar dos camponeses [...].
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do uso comunal pelos camponeses. Ao leste de Elba, particularmente em
Brandenburgo e Polônia, formam-se imensas propriedades, assim como na
Dinamarca, Suécia e Noruega. Normalmente, produzem cereais vendidos
para o ocidente através do intenso comércio do Báltico e que, em vez de
“dissolver” os laços feudais, os reforçam. Dinamarca e Noruega reforçam
sua área de criação e exportam carnes salgadas e manteiga. Na Toscana
também se dão os reagrupamentos sob a forma do “apoderamento” sobre
as terras camponesas com uma produção voltada para as plantas industriais,
principalmente as tintoriais [...].
Ao mesmo tempo em que se apoderam das terras, reforçando seu
patrimônio fundiário, os senhores procuram os salários inteiramente
descontrolados com a rarefação da mão-de-obra. Assim, as monarquias na
Espanha, França, Portugal e Inglaterra sob a pressão da nobreza estabelecem
rigorosos estatutos tabelando os salários [...]
Tendo este quadro por fundo só restava aos senhores, como nos lembra
R. Romano, duas saídas:
a) arrendar suas terras, a preços cada vez mais baixos, aos camponeses;
b) proceder à exploração direta com a contratação de trabalho assalariado.
Desta forma os senhores viam, pela primeira vez, a redução do seu
poder e a ascensão de um segmento superior de camponeses abastados e
burgueses que investiam nos arrendamentos de terras, produzindo matérias-
primas e alimentos para o mercado. Concomitantemente a grande maioria
dos trabalhadores, apesar de livres da servidão da gleba, não veria mais
os momentos de melhoria de vida que a rápida elevação de salários havia
provocado. Através de um processo de aguda diferenciação social começa a
se constituir novos segmentos sociais no campo. De um lado, camponeses
que consolidam a posse das terras em que trabalhavam e o uso de direitos
coletivos, dando origem a uma prioridade parcelar da terra principalmente
na França e Alemanha renana; de outro, não podem resistir aos senhores
e são englobados em grandes explorações com o renascimento da corvéia
produzindo artigos para o grande comércio, como no leste de Elba; nas
regiões mediterrâneas desenvolve-se a parceria e por quase toda a parte
desenvolve-se o arrendamento, no qual camponeses e burgueses abastados
exploram camponeses pobres ou sem terra via salário.
Esta última forma, o arrendamento, permitirá a aceleração do desen-
volvimento econômico a partir de novas bases. Seja através da “segunda
servidão” como no leste, seja través da especialização da produção para
o mercado, com culturas com um nível técnico mais elevado, poupadoras
de mão-de-obra, mais concentradas geograficamente e com qualidades
reconhecidas em toda a Europa. É assim que a lã inglesa, diferente (mais
cara) por sua vez da lã dos merinos espanhóis; o queijo da Sicília; a manteiga
da Noruega exportada pela Hansa; os corantes e linhos da Alemanha; os
vinhos da frança, do Reno e do Douro e etc. [...] (SILVA, 1982, P. 69/82).
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CONCLUSÃO
RESUMO
ATIVIDADES
PRÓXIMA AULA
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REFERÊNCIAS
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