Avaliação Da Fala e Da Linguagem
Avaliação Da Fala e Da Linguagem
Avaliação Da Fala e Da Linguagem
Organizadora
Avaliação da Fala e
da Linguagem :
perspectivas interdisciplinares
SITÁ
Δ
ΙΝ III°
RIA
IN ΩI
CULTURA
ACADÊMICAS
Editora
AvAliAção dA FAlA e
dA linguAgem
céliA mAriA giAcheti
(OrganizadOra)
Marília/Oicina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
Marília
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS
Copyright© 2016 Conselho Editorial
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Ana Maria Portich
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Maria Rosangela de Oliveira
Neusa Maria Dal Ri
Rosane Michelli de Castro
Parecerista
Brasilia Maria Chiari
Profa.Titular, Livre Docente do Departamento de Fonoaudiologia da
Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação – Unesp - campus de Marília
CDD 616.855
Editora afiliada:
Prefácio ------------------------------------------------------------------------ 7
Apresentação------------------------------------------------------------------ 9
Parafraseando
do
Guimarães Rosa “[...] as coisas acontecem no de
vagar depressa tempo [...]” podemos airmar que para a fonoaudiolo
gia, a história, em seu suceder, não foi diferente.
Inicialmente, como em qualquer ciência já constituída, foi preci
so delimitar o objeto de estudo, buscar métodos e paradigmas conceituais
que permitissem reconhecê-lo e estudá-lo.
No começo, trabalhamos com conceitos, métodos e paradigmas
emprestados de outras áreas já consolidadas. Aos poucos fomos ganhando
autonomi e organizamos os conhecimentos sobre os processos da lingua
gem e da fala, resultantes das pesquisas. Estes foram veiculados em revistas
da área que também se constituíam como veículos de divulgação de nossas
conquistas. Surgiram os tratados, os livros.
Nossa abordagem sobre os processos da linguagem e da fala cur
sam do diagnóstico à intervenção e leva em conta toda a complexidade que
lhes é peculiar. Considera o homem em suas dimensões biológica, psicoló
gica e sócio-cultural, buscando compreendê-lo sendo no mundo.
Hoje, deinido o objeto de estudo, os métodos para estudá-lo e os
paradigmas conceituais que dão sustentação às discussões, reflexões e con
testações, podemos compartilhar em igual condição, dos saberes de outras
ciências, com suas possibilidades e limites.
Esta visão interdisciplinar é profícua em nosso cotidiano clínico
e acadêmico, subsidia o processo de compreensão também na avaliação da
fala e da linguagem, temática deste livro.
7
https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p7-8
Célia M. Giacheti
(Org.)
1Professora Titular, Livre Docente do Departamento de Fonoaudiologia – Universidade Federal de São Paulo
– Escola Paulista de Medicina
8
APresentAção
Estedolivro
é produto do evento intitulado “II Simpósio
Internacional Grupo de Pesquisa Avaliação da Fala e da Linguagem
– Perspectivas Interdisciplinares em Fonoaudiologia e 1o Encontro de
Pesquisadores em Linguagem”, realizado na Unesp-Marília, sob minha co
ordenação. O título do livro é iel ao tema do evento: Avaliação da Fala e da
Linguagem – perspectivas Interdisciplinares. Nesta edição, o evento con
tou com a comissão cientíica dos professores doutores: Ana Luiza Navas
(Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo-FCMSCSP),
Antonio Richieri-Costa (Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Anomalias
Craniofaciais-HRAC-USP), Brasília Maria Chiari (Universidade Federal
de São Paulo-UNIFESP), Célia Maria Giacheti (Universidade Estadual
Paulista-Unesp), Dionísia Cusin Lamônica (Faculdade de Odontologia de
Bauru–Universidade de São Paulo-USP) eLourenço Chacon(Universidade
Estadual Paulista-Unesp). A comissão executiva foi assim constituída: Prof.
Dr. Danilo Moretti-Ferreira (Universidade Estadual Paulista), Dra. Natalia
Freitas Rossi (Universidade Estadual Paulista) e Ms. Tâmara de Andrade
Lindau (Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR e Universidade
Estadual Paulista - Unesp).
O evento foi apoiado pelo CNPq (Processo 441211/2014-3),
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - INCT-ECCE, Pró-Reitoria
de Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista - Unesp (PROPG),
Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Universidade Estadual Paulista
- Unesp (PROEX) e Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia da
Universidade Estadual Paulista - Unesp (PPGFONO/Unesp). A vinda
da Profa. Dra. Carolyn Mervis foi apoiada pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo- FAPESP (Processo 14/08465-5), sob
9
https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p9-16
Célia M. Giacheti
(Org.)
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
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Célia M. Giacheti
(Org.)
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
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Célia M. Giacheti
(Org.)
descritivo, atualizado para publicação neste livro, que tem sido utilizado
pelo grupo em nossas investigações.
Para iniciar a Parte 3, temos o capítulo Escalas de desenvolvimen
to para avaliação de crianças, de autoria da Profa. Dra. Dionísia Aparecida
Cusin Lamônica e da Fga doutoranda Amanda Tragueta Ferreira-Vasques,
que apresenta alguns instrumentos de triagem e avaliação do desenvolvimen
to infantil, utilizados no Brasil, sua inalidade e o estado da arte deste tema.
O capítulo − Preditivos da linguagem falada na identificação de
problemas da escrita −, de autoria da Profa. Dra. Ana Luiza G. P. Navas,
apresenta as evidências cientíicas da existência de preditivos na linguagem
oral para o aprendizado da leitura e da escrita. Esses fatores preditivos,
segundo a autora, podem ser de proteção ou fatores de risco, uma vez que
há uma enorme complexidade nas relações envolvidas no desenvolvimento
de linguagem da criança, como sua constituição individual, ambiente fa
miliar, escolar, entre outras.
O capítulo − Procedimento de avaliação miofuncional orofacial –
MBGR, de autoria das Profas. Dras. Katia Flores Genaro, Giédre Berretin
Félix e da Fga. Ms. Andréia Fernandes Graziani, aborda questões pertinen
tes ao exame miofuncional orofacial - MBGR, no que se refere aos itens
investigados, forma de avaliação, registro das informações, organização,
análise e interpretação dos dados para a deinição do diagnóstico e das
metas terapêuticas na área da motricidade orofacial.
O capítulo − A clínica e a pesquisa na avaliação e diagnóstico fo
noaudiológico −, de minha autoria e da Fga. doutoranda Tâmara Andrade
Lindau, apresenta informações sobre a avaliação em Fonoaudiologia
e faz referência à atuação em clínica e na pesquisa do grupo, membros
do Laboratório de Estudos, Avaliação e Diagnóstico em Fonoaudiologia
(LEAD) da Unesp.
O último capítulo − Roteiro Descritivo de Avaliação
Fonoaudiológica da Criança −, de minha autoria e da Dra. Cristiana
Ferrari, tem por objetivo apresentar um roteiro descritivo de avaliação fo
noaudiológica infantil, contendo o conjunto de habilidades que compõem
o repertório de comunicação e subjacentes e também a deglutição; e, ain
da, propor um recurso para organização dessas informações.
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
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(Org.)
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Parte i
transtOrnOs dO neurOdesen
vOlvimentO e a interdisciPlinaridade
17
18
criAnçAs com síndrome de WilliAms
(deleção do 7Q11.23) ou síndrome
dA duPlicAção do 7Q11.23: cognição,
linguAgem, FAlA e PsicoPAtologiA
Carolyn B. MERVIS
Cláudia CARDOSO-MARTINS
INTRODUÇÃO
19
https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p19-50
Célia M. Giacheti
(Org.)
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
A SÍNDROME DE WILLIAMS
DESENVOLVIMENTO INICIAL
Esta seção começa com uma descrição do peril intelectual de
crianças com SW no início do desenvolvimento, seguida por uma con
sideração do desenvolvimento lexical, gramatical e das habilidades de
comunicação.
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Célia M. Giacheti
(Org.)
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
DESENVOLVIMENTO LEXICAL
A maioria das crianças com SW começa a falar mais tarde do que
as crianças com desenvolvimento típico (DT). De modo geral, as primeiras
palavras aparecem entre os 15 e 36 meses de idade, embora algumas crian
ças apresentem um atraso ainda maior, começando a falar apenas aos 48
meses ou até mesmo mais tarde. Uma vez que a aquisição do vocabulário
expressivo tem início, seu padrão de crescimento assemelha-se em geral ao
padrão apresentado por crianças com DT10.
O instrumento mais frequentemente utilizado para avaliar as
habilidades iniciais de linguagem de crianças com SW é o Inventário
MacArthur-Bates de Desenvolvimento Comunicativo (CDI)11, uma me
dida de relato parental. Existem duas versões do CDI. Em inglês america
no, o CDI palavras & gestos inclui uma lista de 396 palavras. Solicita-se
à mãe e/ou pai que indique as palavras que sua criança compreende e
as palavras que ela compreende e produz espontaneamente (não apenas
como imitação ou repetição de algo dito por outra pessoa ou de parte de
uma canção). Seções adicionais avaliam a compreensão e a produção de
gestos comunicativos e habilidades simbólicas e de brincadeira de faz-de
-conta. Existem normas para crianças entre 8 e 18 meses. A CDI palavras
& sentenças inclui uma lista de 680 palavras. Novamente, a mãe e/ou pai
devem indicar as palavras que a criança produz espontaneamente. Seções
adicionais avaliam as habilidades gramaticais. Existem normas para crian
ças entre 16 e 30 meses de idade. O CDI já foi adaptado para mais de 50
línguas, incluindo o português do Brasil12.
Uma análise de correlação entre o tamanho do vocabulário ex
pressivo no CDI e a idade cronológica (IC), para 213 crianças com SW,
cuja idade variava entre 18 e 48 meses por ocasião da primeira avaliação
no Laboratório de Ciências do Neurodesenvolvimento, indicou uma rela
ção forte entre o tamanho do vocabulário expressivo e a IC: r = 0,63 (p<
.0001). Essa correlação é pelo menos tão grande quanto aquela que seria
esperada para crianças com DT. No entanto, um exame dos dados obtidos
para 128 crianças entre 18 e 30 meses de idade (as idades incluídas nas nor
mas do CDI palavras e sentenças) revelou que o vocabulário expressivo era
consideravelmente mais limitado do que o de crianças com DT da mesma
idade. Em particular, a mediana para a amostra com SW correspondeu
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Célia M. Giacheti
(Org.)
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
DESENVOLVIMENTO GRAMATICAL
O desenvolvimento gramatical inicia-se mais tardiamente em
quase todas as crianças com SW. No entanto, semelhante ao que ocorre
com a maioria de crianças com DT, as primeiras combinações novas de
2 palavras por crianças com SW são geralmente observadas quando seu
vocabulário expressivo inclui de 50 a 100 palavras. Para as 31 crianças
com SW mencionadas acima, a idade mediana em que as primeiras com
binações novas de palavras apareceram foi 30,4 meses (percentil 25o: 25,4
meses; 75o: 45,2 meses, intervalo: 18,0 – 75,0 meses). Essas idades são um
pouco inferiores àquelas em que as crianças alcançaram um vocabulário
expressivo de 100 palavras. Uma vez iniciado o desenvolvimento gramati
cal, seu ritmo acompanha o ritmo do desenvolvimento lexical. Na amostra
de crianças com 30 meses de idade descrita anteriormente, 51% haviam
começado a produzir combinações novas de palavras espontaneamente e
22% haviam começado a produzir morfemas flexionais no inal das pa
lavras (tipicamente, o morfema “s” para marcar o plural nos substantivos
regulares, o possessivo inal “’s” nos substantivos, ou o presente progressivo
“ing” nos verbos). Aos 48 meses, 83% haviam começado a produzir com
binações novas de palavras e 78% haviam começado a produzir morfe
mas de flexão no inal das palavras. No entanto, as habilidades gramaticais
nessa idade variaram tremendamente, abrangendo desde crianças que não
haviam ainda começado a produzir combinações de palavras ou morfemas
flexionais no inal das palavras até crianças que produziam frases comple
xas e, quase sempre, gramaticalmente corretas. Como ocorre entre crianças
com DT, as habilidades gramaticais correlacionaram-se estreitamente com
as habilidades lexicais13.
25
Célia M. Giacheti
(Org.)
DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO
Desde a mais tenra idade, crianças com SW evidenciam habilidades
relativamente fortes de atenção compartilhada diádica. Nos dois primeiros
anos de vida, elas tendem a olhar consideravelmente mais para outras pes
soas do que crianças com DT da mesma idade cronológica ou crianças com
DT mais jovens com o mesmo nível de desenvolvimento, e seu olhar tam
bém tende a ser muito mais intenso14. Como tem sido observado por pais e
também por pesquisadores, os bebês com SW excedem-se no sorriso social;
seus sorrisos são frequentemente descritos como “iluminando o ambiente”.
Adicionalmente, há evidência de que os bebês com SW gostam de interações
diádicas (e.g., gostam que lhes façam cócegas) e, em geral, solicitam ativa
mente (com gestos ou palavras isoladas) a continuação dessas interações15-16.
Por outro lado, as crianças com SW têm consideravelmente mais
diiculdade com a atenção compartilhada triádica. Um dos indicadores
mais fortes dessa diiculdade envolve o comportamento de seguir com o
olhar os gestos de apontar de seus parceiros comunicativos e o comporta
mento de apontar referencialmente. De maneira geral, as crianças come
çam a compreender e a produzir gestos referenciais antes de começarem
a usar a linguagem referencialmente. Esse padrão é observado não ape
nas entre crianças com DT, mas também entre crianças com síndrome
de Down (SD) e crianças com atraso severo do desenvolvimento17. Por
outro lado, a maioria das crianças com SW começa a falar muito antes de
compreender ou produzir gestos referenciais de apontar10,17. Mesmo depois
de começarem a compreender e a produzir gestos, as crianças com SW de
monstram essas habilidades menos assiduamente do que crianças com DT
com o mesmo nível de desenvolvimento e, por conseguinte, mais novas
e com vocabulários mais limitados16 ou crianças com SD da mesma IC e
com um atraso mais sério do desenvolvimento18. A maioria das crianças
com SW também apresenta atrasos consideráveis na aquisição de outras
manifestações da atenção compartilhada triádica (e.g., comportamento de
mostrar ou dar objetos para outras pessoas), e atrasos consideráveis no de
senvolvimento da brincadeira simbólica ou de faz-de-conta15.
26
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
SUMÁRIO
Em síntese, nos primeiros anos de vida, as crianças com SW eviden
ciam um padrão característico de forças (raciocínio não verbal, linguagem)
e fraquezas (habilidades motoras inas, incluindo a construção visoespacial)
relativas. O início da linguagem é quase sempre atrasado, e o ritmo do desen
volvimento gramatical correlaciona-se estreitamente com o ritmo do desen
volvimento lexical. As habilidades comunicativas triádicas (apontar, mostrar,
dar) são inferiores ao esperado com base nas habilidades de linguagem. Há
muita variação na idade em que as crianças adquirem um vocabulário ex
pressivo de 50 palavras, e a idade em que esse marco é atingido correlaciona
-se estreitamente com o QI verbal e não verbal aos 4 anos de idade.
27
Célia M. Giacheti
(Org.)
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Nota 1: Para a população geral, a media no DAS-II = 100, DP = 15. Menor valor possível do EP =
30 para o GCA e área verbal, 31 para a área de raciocínio não-verbal e 32 para a área espacial. Os
dados relatados para as crianças com Síndrome da Duplicação 7q11.23 são de Mervis et al. (2015).
Nota 2 : Mervis CB, Klein-Tasman BP, Huffman MJ, Velleman SL, Pitts CH, Henderson DR, et
al. Children with 7q11.23 duplication syndrome: psychological characteristics. Am J Med Genet
A. 2015; 167(7):1436-50. doi: 10.1002/ajmg.a.37071.
VOCABULÁRIO
Dois testes têm sido utilizados para avaliar as habilidades lexicais
de crianças com SW no Laboratório de Ciências do Neurodesenvolvimento:
o Teste Peabody de Vocabulário de Figuras-4 (PPVT-4)20 tem sido utilizado
na avaliação do vocabulário receptivo; e o Teste de Vocabulário Expressivo-2
(EVT-2)21, normatizado na mesma amostra, tem sido utilizado na avalia
ção do vocabulário expressivo. Ambos avaliam principalmente o vocabulário
concreto (nomes de objetos, ações e adjetivos). O PPVT-4 e o EVT-2 são
normatizados até 5,33 DPs abaixo da média da população geral. As estatís
ticas descritivas referentes ao desempenho das 221 crianças com SW men
cionadas no início desta seção são apresentadas na Tabela 3. O EP médio no
PPVT-4 foi maior do que o EP médio em qualquer dos outros testes admi
nistrados. O desempenho médio localizou-se no intervalo médio-inferior;
1,3% das crianças apresentaram escores acima da média e 32% no inter
valo correspondente à média da população geral; apenas 2,1% apresenta
ram escores indicativos de uma deiciência severa. No EVT-2, o nível médio
de desempenho localizou-se na região fronteiriça, com 0,08% das crianças
apresentando escores acima da média, 21,5% na média e apenas 2,5% no
intervalo correspondente a uma deiciência severa.
Tabela 3 - Estatísticas Descritivas: Desempenho na Avaliação da Linguagem e da Fala em Crianças
com Síndrome de Williams ou Síndrome da Duplicação 7q11.23
Síndrome de
Síndrome da Duplicação 7q11.23
Williams
Avaliação
Faixa
N Média (DP) Variação N Média (DP) Variação
etária
Teste Peabody de Voc.
4 – 17 239 82,01 (16,06) 20 - 115 63 91,51 (19,73) 20 – 120
Receptivo-4 EP
Teste de Vocabulário
4 – 17 237 78,88 (15,58) 20 - 113 63 87,21 (23,17) 20 – 118
Expressivo - 2 EP
Teste de Conceitos
5–7 205 54,37 (22,63) 25 - 115 --- --- ---
Relacionais EP
Avaliação Clínica
dos Fundamentos da
Linguagem
CELF Pré-escolar-2 Ling.
4–6 41 74,05 (14,15) 45 - 106 28 74,14 (16,60) 45 – 96
Nuclear EP
CELF-4 Linguagem
7 – 17 72 58,49 (14,83) 40 - 97 36 71,83 (23,21) 40 – 109
Nuclear EP
CELF Pré-escolar-2
4–6 41 66,20 (12,75) 45 - 92 28 74,11 (15,78) 45 – 103
Receptiva EP
30
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Nota 1: Para todas as avaliações: Média = 100, DP = 15. Menor EP possível: 20 para o Teste
Peabody de Vocabulário Recetpivo-4 e para o Teste de Vocabulário Expressivo-2; 25 para o Teste de
Conceitos Relacionais; <40 para o Teste Goldman-Fristoe de Articulação-2; 40 para a Linguagem
Nuclear e a Estrutura de Linguagem do CELF-4; 45 para a Linguagem Receptiva e a Linguagem
Expressiva do CELF-4, e para todos os EPs do CELF Pré-escolar-2. Os dados para crianças com
Síndrome da Duplicação 7q11.23 no Teste Peabody de Vocabulário Receptivo-2 e no Teste de
Vocabulário Expressivo-4 são de Mervis et al. (2015).
Nota 2 : Mervis CB, Klein-Tasman BP, Huffman MJ, Velleman SL, Pitts CH, Henderson DR, et
al. Children with 7q11.23 duplication syndrome: psychological characteristics. Am J Med Genet
A. 2015; 167(7):1436-50. doi: 10.1002/ajmg.a.37071.
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Célia M. Giacheti
(Org.)
HABILIDADES GRAMATICAIS
A Avaliação Clínica dos Fundamentos da Linguagem (CELF),
elaborada com o objetivo de avaliar as habilidades de linguagem necessá
rias para um bom desempenho na escola, foi utilizada na avaliação das ha
bilidades gramaticais das crianças com SW mencionadas anteriormente. A
CELF pré-escolar-227 foi usada para crianças entre 4 e 6,99 anos de idade, e
a CELF-428, para crianças entre 7 e 17,99 anos. Quatro índices relaciona
dos foram examinados: linguagem nuclear (concebido com o propósito de
determinar o risco de a criança apresentar uma diiculdade de linguagem),
linguagem receptiva, linguagem expressiva e linguagem estrutural (dispo
nível apenas para as idades entre 4 e 8,99 anos). Na CELF-4, o EP para a
linguagem nuclear e o EP para a linguagem estrutural estão normatizados
até 4 DPs abaixo da média da população geral; o EP para a linguagem
nuclear na CELF-2 e os demais índices em ambas as versões são normati
zados até 3,67 DPs abaixo da média. De acordo com os autores do teste,
EPs abaixo de 85 indicam a existência de uma diiculdade de linguagem. A
CELF-4 foi recentemente adaptada para o português brasileiro para crian
ças entre 7 e 10 anos de idade29.
Como indicado na Tabela 3, as crianças com SW têm mais diicul
dade nos componentes da linguagem avaliados pela CELF do que naqueles
avaliados pelo PPVT-4 ou pelo EVT-2. Além disso, em média, os EPs foram
bem mais baixos na CELF-4 do que na CELF pré-escolar-2, muito prova
velmente em função do maior número de habilidades linguísticas abstratas
avaliadas na CELF-4 em comparação com a CELF pré-escolar-2. A maior
32
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
PRAGMÁTICA
As habilidades pragmáticas (incluindo as de comunicação
não verbal) de crianças com SW têm sido estudadas com o Checklist de
Comunicação Infantil-2 (CCC-2)30. Trata-se de uma medida de relato pa
rental que avalia o desenvolvimento de várias habilidades de linguagem,
incluindo as pragmáticas. De acordo com Philofsky et al.31, as crianças
com SW apresentam diiculdades nas escalas pragmáticas do CCC-2. Este
resultado foi replicado em uma amostra de 76 crianças com SW avaliadas
no Laboratório de Ciências do Neurodesenvolvimento. Os itens que se re
velaram particularmente problemáticos incluíam “falar com outras pessoas
com excessiva prontidão”, “permanecer muito próximo/a de seus interlo
cutores”, “contato ocular inconsistente ao conversar com outras pessoas”,
“falar repetitivamente sobre tópicos alheios ao interesse de seus interlocu
tores”, “persistir em fazer a mesma pergunta mesmo depois de a resposta
ter sido dada”, “diiculdade em compreender piadas ou ironias”, “mostrar
-se confuso/a quando uma palavra é usada com um sentido diferente do
sentido usual”, e “interpretar incorretamente uma frase por considerar ape
nas algumas de suas palavras”. Esses problemas afetam a habilidade de fazer
e manter amizades.
33
Célia M. Giacheti
(Org.)
FALA
Em inglês, a qualidade da fala é comumente avaliada pelo Teste
Goldman Fristoe de Articulação (GFTA-2)32. Esse teste avalia a produção
de consoantes em posição inicial, medial e inal e encontros consonantais
em posição inicial. O GFTA-2 é normatizado até 4 DPs abaixo da mé
dia da população geral. O GFTA-2 foi administrado a 57 crianças com
SW de 4 a 8 anos de idade por membros do Laboratório de Ciências do
Neurodesenvolvimento. EPs abaixo de 85 sugerem a presença de uma di
iculdade da fala. Como indicado na Tabela 3, o EP médio localizou-se no
topo do intervalo correspondente a uma diiculdade leve, com 50,9% das
crianças apresentando escores no intervalo médio. Apenas 1,8% apresenta
ram escores no piso do teste. O EP no GFTA-2 correlacionou-se fortemen
te com o EP no PPVT-4 e com o EP no EVT-2, e o escore bruto no GFTA
2 correlacionou-se estreitamente com o tamanho médio dos enunciados
produzidos pelas crianças. O padrão de aquisição dos sons consonantais
exibido pelas crianças com SW é consistente com o padrão encontrado em
crianças com DT.
PSICOPATOLOGIA
O Formulário de Entrevista de Transtornos da Ansiedade –
Pais (ADIS-P)33 foi administrado aos pais de 211 crianças com SW en
tre 4 e 17 anos de idade pelos membros do Laboratório de Ciências do
Neurodesenvolvimento. O ADIS-P é uma entrevista semiestruturada usa
da no diagnóstico de transtornos de ansiedade e também de transtornos
afetivos e transtornos externalizantes, como o Transtorno de Deficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH), o Transtorno Desaiador Opositor e o
Transtorno de Conduta. A proporção de crianças com SW com cada um
desses diagnósticos está indicada na Tabela 4. Diagnósticos de fobias espe
cíicas (64, 9%) e TDAH (61,1%) foram muito comuns.
34
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Síndrome de Williams 1,4 1,9 64,9 6,2 0,0 61,1 7,1 0,9
Síndrome da duplica
12,9 50,0 53,2 6,5 29,0 35,5 16,1 8,1
ção 7q11.23
TAG = Distúrbio de ansiedade generalizada TDAH = Transtorno de Deficit de Atenção e
Hiperatividade TDO = Transtorno Desaiador Opositivo
TCD-NE = Transtorno de Comportamento Disruptivo – Sem Especiicação
Nota 2 : Mervis CB, Klein-Tasman BP, Huffman MJ, Velleman SL, Pitts CH, Henderson DR, et
al. Children with 7q11.23 duplication syndrome: psychological characteristics. Am J Med Genet
A. 2015; 167(7):1436-50. doi: 10.1002/ajmg.a.37071.
Nota 3 : aAdicionalmente, duas crianças com Dup7 (3.2%) e duas com WS (0,9%) foram diagnos
ticadas com Transtorno Obsessivo Compulsivo, uma criança com Dup7 (1,6%) foi diagnosticada
com Transtorno Depressivo Maior, uma criança com WS (0,5%) foi diagnosticada com Transtorno
Distímico e uma criança com Dup7 (1,6%) foi diagnosticada com Transtorno de Ajustamento
Misto de Ansiedade e Humor Depressivo.
35
Célia M. Giacheti
(Org.)
SUMÁRIO
Em suma, crianças em idade escolar com SW continuam a evi
denciar o mesmo padrão de forças (habilidades verbais e habilidades de
raciocínio não verbal) e fraquezas intelectuais relativas (habilidades de
construção visoespacial) encontrado entre crianças de 18-24 meses de
idade. Adicionalmente, um padrão paralelo de força e fraqueza relativa
foi encontrado para as habilidades lexicais, com o vocabulário concreto
consideravelmente mais forte do que o vocabulário relacional, e as habi
lidades de linguagem relacional estreitamente relacionadas às habilidades
de construção visoespacial. Embora em torno de 6 anos de idade a maior
parte das crianças com SW se expresse através de frases e evidencie habili
dades articulatórias normais ou levemente debilitadas, a maioria apresenta
limitações de linguagem que afetam sua chance de sucesso escolar35. Apesar
de sua ânsia de interagir com outras pessoas, as crianças com SW apresen
tam diiculdades signiicativas de comunicação verbal e não verbal, e de
consciência social e cognição social, resultando em problemas no estabele
cimento e manutenção de amizades com os colegas. Embora a maioria das
crianças com SW não tenha TEA, elas apresentam muitas características
em comum com as crianças que têm TEA.
36
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
DESENVOLVIMENTO INICIAL
Esta seção inicia-se com uma descrição do padrão de forças e
fraquezas relativas apresentado por crianças de 2 a 4 anos de idade com
Dup7. O desenvolvimento lexical e comunicativo são, então, considerados
brevemente.
37
Célia M. Giacheti
(Org.)
38
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
HABILIDADES LEXICAIS
Estatísticas descritivas para o desempenho no PPVT-4 e no EVT
2 são apresentadas na Tabela 3. No PPVT-4, o nível médio de desempenho
situou-se no intervalo médio, com 14,3% das crianças obtendo EPs acima
da média e 49,2% no intervalo médio; 3,2% das crianças com escores no
intervalo de deiciência severa apresentaram escores no piso do teste. No
EVT-2, o nível médio de desempenho localizou-se no intervalo médio
-inferior: 11,1% com escores no intervalo acima da média e 65,1% no
intervalo médio; 7,9% das crianças obtiveram escores no intervalo de dei
ciência severa, 4,8% das quais no piso do teste.
HABILIDADES GRAMATICAIS
Como pode ser visto na Tabela 3, a maioria das crianças com
Dup7 apresentou consideravelmente mais diiculdade na CELF do que no
PPVT-4 e no EVT-2. Em cada componente da CELF, uma grande pro
porção de crianças atingiu o critério de deiciência de linguagem indicado
pelos autores do teste. Na CELF pré-escolar-2, apenas 17,9% apresenta
ram escores acima do intervalo de deiciência de linguagem na estrutura
de linguagem; 21,4% na linguagem expressiva; 28,6% na linguagem re
ceptiva; e 32,1% na linguagem nuclear. Na CELF-4, 30,6% apresentaram
escores acima do intervalo de deiciência na linguagem nuclear; 30,9% na
linguagem expressiva; e 33,3% na linguagem receptiva. Embora nenhuma
criança com Dup7 tenha apresentado escores acima do intervalo de deici
ência em todos os índices da CELF pré-escolar, 27,8% o izeram na CELF
4, sugerindo que, relativamente a crianças da mesma IC, as habilidades de
linguagem são mais fortes entre crianças mais velhas com Dup7 do que
entre crianças mais jovens.
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(Org.)
HABILIDADES DE FALA
Osmembros dolaboratóriodeCiências do Neurodesenvolvimento
administraram o GFTA-2 em 17 crianças com Dup7, de 4 a 8 anos de
idade. Como indicado na Tabela 3, o EP médio localizou-se no intervalo
correspondente a uma deiciência moderada da fala, segundo os autores do
teste. Apenas 17,6% das crianças apresentaram escores no intervalo médio;
41,2% apresentaram escores no intervalo correspondente a uma deiciên
cia severa, incluindo 11,8% com escores no piso do teste.
Os problemas de fala associados à Dup7 vão bem além das dii
culdades de produção de sons consonantais avaliadas pelo GFTA-2. Das 62
crianças entre 4 e 17 anos de idade que realizaram uma avaliação completa
da fala, 51 (82,3%) foram diagnosticadas como portadoras de Transtorno
do Som da Fala segundo o DSM-57. Todas as 25 crianças mais jovens (4,01
a 6,78 anos de idade) foram diagnosticadas com o Transtorno do Som
da Fala; embora a prevalência desse transtorno tenha sido menor entre as
crianças mais velhas, ainda assim foi elevada (41,7% para as crianças de
13,89 a 17,55 anos). O EP médio no GCA do DAS-II foi 14 pontos mais
baixo para as crianças com Dup7 com Transtorno do Som da Fala do que
para aquelas sem esse transtorno8.
Diagnósticos formais de tipos especíicos de Transtorno do Som
da Fala foram feitos para 33 crianças: 52% atingiram o critério pleno para
Apraxia Infantil da Fala com um adicional de 42% apresentando sintomas;
e 21% atingiram o critério pleno para Disartria com um adicional de 58%
evidenciando sintomas7.
PSICOPATOLOGIA
O ADIS-P foi administrado aos pais de 63 crianças de 4 a 17 anos
de idade com Dup7. A Tabela 4 indica a percentagem de crianças que re
ceberam vários diagnósticos do DSM-IV33. Como é evidente nessa tabela,
transtornos de ansiedade foram muito comuns. Por exemplo, 53% apre
sentaram fobia especíica. Os transtornos de ansiedade que têm o maior
impacto são a fobia social (ansiedade social severa), que afetou 50%, e o
mutismo seletivo (recusa de falar em alguns contextos, mais comumente
na escola ou em outros contextos públicos), que afetou 29%. O transtorno
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SUMÁRIO
Em resumo, as crianças com Dup7 comumente evidenciam ha
bilidades intelectuais no intervalo médio inferior. O padrão de forças e
fraquezas relativas parece sofrer mudanças com a idade7. No início dos
anos pré-escolares, as crianças tipicamente evidenciam forças relativas no
raciocínio não verbal e na linguagem receptiva. Embora exista muita va
riação entre as crianças em idade escolar, o peril mais comum é relativa
mente uniforme, com níveis semelhantes de habilidade não verbal, verbal e
espacial. Na idade adulta, as habilidades não verbais (raciocínio não verbal,
habilidade espacial) são com frequência signiicativamente mais fortes do
que as habilidades verbais. As crianças com Dup7 evidenciam diiculdades
consideráveis na produção da fala. A maioria atingiu os critérios necessá
rios para o diagnóstico do Transtorno do Som da Fala, e o QI das crianças
com esse diagnóstico foi signiicativamente inferior ao QI das crianças sem
ele. O Transtorno do Som da Fala mais comum foi a Apraxia Infantil da
Fala. Transtornos de ansiedade que afetam o funcionamento social (fobia
social e mutismo seletivo) foram muito comuns, e aproximadamente me
tade das crianças apresentou diiculdades acentuadas no que diz respeito
à responsividade social. Essas diiculdades coincidem, em parte, com as
diiculdades observadas em crianças com TEA e, embora a maioria das
crianças com Dup7 não tenha TEA7, as crianças com Dup7 são signiica
tivamente mais propensas a apresentar esse transtorno do que as crianças
na população geral36.
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ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS
Diversos estudos indicam uma redução signiicativa de volume
cerebral total na SW em comparação com indivíduos com desenvolvimen
to típico – entre 13% e 18% - que parece derivar principalmente de uma
redução desproporcionada de substância branca31,57-58. Ademais, a forma
cerebral parece estar alterada nesta síndrome, com evidências de redução
volumétrica de regiões parieto-occipitais (mas relativa preservação de regi
ões frontais), bem como corpo caloso mais curto e com curvatura menos
pronunciada59-60. Curiosamente, estudos recentes têm demonstrado que o
cerebelo – estrutura tradicionalmente implicada no funcionamento motor,
mas que se comprovou ter também um importante papel no funciona
mento socioemocional61 – se encontra relativamente aumentado na SW,
e que isso talvez se deva a uma proporção mais equilibrada de substância
branca e cinzenta nesta região, em contraste com a signiicativa redução de
substância branca no cérebro56.
Em um detalhado estudo neuroanatômico, Reiss et al. (2004)62
observaram a presença de anomalias estruturais em áreas relevantes para as
habituais alterações cognitivas e comportamentais da SW. Por exemplo, mes
mo após controlarem o efeito do reduzido volume cerebral global, os autores
veriicaram reduções de substância cinzenta no tálamo e no lobo occipital,
bem como densidade reduzida de substância cinzenta em várias regiões do
sistema visuoespacial. Foram também reportados aumentos de volume e
densidade da substância cinzenta de áreas como amígdala, córtex orbitofron
tal e pré-frontal medial, cingulado anterior, ínsula e circunvolução temporal
superior - áreas associadas ao processamento de emoções e de rostos.
Na mesma linha, vários outros estudos corroboraram a existência
de alterações neuroanatômicas consistentes com dois dos domínios mais
signiicativamente atípicos na SW. Por um lado, Meyer-Lindenberg et al.
(2004)63 reportaram reduções de volume de substância cinzenta no sul
co intraparietal, enquanto64 encontraram um padrão de maior giriicação
nas regiões do cúneo, pré-cúneo e regiões occipitais. As regiões identiica
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Célia M. Giacheti
(Org.)
ALTERAÇÕES FUNCIONAIS
No que concerne ao funcionamento cerebral, começaremos por
elencar alguns dos principais dados obtidos por meio de EEG, para então
avançar resultados obtidos com RMf. Na medida em que os estudos fun
cionais têm como objetivo explorar padrões dinâmicos de funcionamen
to do cérebro em resposta a um determinado estímulo, iremos apresentar
estudos em duas importantes áreas de funcionamento, reconhecidamente
alteradas nesta síndrome: processamento de informação socioemocional e
visuoespacial.
Estudos com EEG têm demonstrado padrões alterados de pro
cessamento de rostos humanos na SW. Por exemplo: Mills et al (2013)70
veriicaram que, enquanto adultos clinicamente saudáveis apresentavam
potenciais relacionados a eventos (avaliados via EEG) distintos no reco
nhecimento de rostos na posição normal em comparação com rostos na
posição invertida, a sua amostra de adultos com SW parecia processar de
62
Avaliação da fala e da linguagem:
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forma idêntica rostos nas duas posições. Por outro lado, estudos dedicados
ao processamento de informação visual de natureza não social têm relatado
alterações ao nível do processamento de informação global versus local.
Key e Dykens (2011)71 veriicaram que a sua amostra de SW não apre
sentava os padrões esperados de resposta neuronal à informação local. O
estudo sugere que indivíduos com SW têm tendência a processar predomi
nantemente a coniguração global dos estímulos, apresentando diiculdade
no processamento de detalhes locais.
Estudos com EEG demonstraram também uma organização atí
pica da atividade cerebral relativa ao processamento de estímulos auditivos
e de linguagem. Por exemplo: quando comparados com indivíduos con
trole e com autismo, indivíduos com SW apresentaram um efeito de inte
gração semântica superior relativamente a inais de frase incongruentes72.
Por seu lado, Pinheiro et al. (2011)73 procuraram caracterizar a resposta
eletroisiológica à prosódia neutra, feliz e zangada (com ou sem conteúdo
semântico e sintático) na SW, tendo observado padrões atípicos de proces
samento auditivo em componentes de processamento precoce de informa
ção emocional vocal, em comparação com o desenvolvimento típico.
Para além de estudos com EEG, cada vez mais grupos de pesquisa
têm procurado expandir o conhecimento sobre o funcionamento cerebral
da SW – nomeadamente sobre as áreas ativadas durante determinadas ta
refas - fazendo uso de RMf. Em seguida, sintetizamos os principais resul
tados obtidos por meio desta técnica.
Relativamente a estudos centrados em áreas recrutadas em tarefas
visuais, a evidência disponível aponta para um prejuízo da função da rota
dorsal, mas uma relativa preservação da rota ventral na SW, congruente com
dados comportamentais de forte prejuízo na percepção visuoespacial, mas
bom desempenho em tarefas de reconhecimento de rostos56,63,74. O processa
mento neuronal de informação visual segue duas rotas principais: a rota ven
tral, que une áreas occipitais a áreas temporais e é responsável pela identiica
ção e reconhecimento dos elementos visuais (como objetos e rostos) – O quê/
Quem; e a rota dorsal, em que a informação segue da região occipital para a
parietal e está relacionada com o processamento de informação sobre a lo
calização espacial e movimentos dos elementos – Onde/Como75. Nesta linha,
o estudo de Meyer-Lynderberg et al. (2004)63, realizado com uma amostra
63
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CONCLUSÕES
No presente capítulo buscou-se apresentar evidência recente e re
levante acerca dos peris cognitivos, comportamentais, neuroanatômicos e
neurofuncionais da SW. Tratando-se de um transtorno de causa genética
bem delimitada, o seu estudo oferece uma oportunidade inigualável para
o esclarecimento de como alterações no genoma se expressam no desen
volvimento da cognição, comportamento e cérebro dos indivíduos afeta
dos16. Porém tal objetivo apenas poderá ser satisfatoriamente perseguido
através de uma visão interdisciplinar que congregue diversas disciplinas.
Consideramos que áreas tão distintas, como a Psicologia, a Educação,
a Linguística, a Genética, a Neurologia, a Biologia, a Engenharia ou as
Ciências da Computação, poderão, em conjunto, dar um contributo lar
64
Avaliação da fala e da linguagem:
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CNVS E AUTISMO
A expressão alterada de vários genes que convergem para o mesmo
efeito ou efeitos de diferentes variações genéticas deletérias combinatórias
parece exceder um limiar e resultar no fenótipo autista. Em apoio a essa
hipótese, estratégias baseadas em bioinformática identiicaram vários genes
candidatos, mostrando que TEA pode ser desencadeado por diferentes tipos
de variações genéticas, normalmente alguma ou algumas raras combinadas
com algumas comuns, em muitos genes (heterogeneidade genética não-alé-
lica), particularmente em genes sinápticos e genes envolvidos na neurogê
nese. Assim, presume-se que a maioria dos afetados tenha um conjunto de
variantes genéticas que predispõem ao desenvolvimento anormal de estrutu
ras cerebrais envolvidas no processamento da informação social (o “cérebro
social”). Entretanto, não existe um denominador comum entre os casos13.
O fenômeno biológico que se encaixa perfeitamente nesta hipó
tese, e por este motivo é tão estudado em TEA, é o das CNVs, ou seja,
microduplicações e microdeleções que resultam de inserções, deleções ou
translocações no genoma humano. São observadas como variantes isoladas
na população em geral, mas com frequências maiores, isoladamente ou em
associação, em indivíduos com distúrbios neuropsiquiátricos. Podem ser
herdadas ou de novo, frequentes ou raras (menos que em 1% da popula
ção). Uma parte substancial dos casos de autismo parece resultar de CNVs
raras, com variações maiores que 100kb. CNVs de novo são detectadas em
5-10% dos casos de TEA idiopático14.
Algumas CNVs ocorrem em frequências signiicativamente mais
elevadas do que outras e há as que são exclusivamente observadas em au
tistas. Isto tem permitido a identiicação de novos genes candidatos que
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perspectivas interdisciplinares
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OS MIRNAS NO AUTISMO
Como já citado, CNVs são reconhecidas como fatores genéticos
importantes na etiologia do autismo, com uma alta prevalência das de novo
em casos esporádicos e familiares, em comparação com indivíduos contro
les normais. No entanto, os estudos têm destacado um papel patogênico
de CNVs em termos de mudanças na dosagem de genes que codiicam
proteínas, sem levar em conta o envolvimento potencial de CNVs em loci
de miRNAs. Eles são pequenas moléculas de RNA, de sequência curta,
com aproximadamente 19-22 nucleotídeos, não codiicantes, capazes de
regular a expressão gênica. Influenciam na expressão de maneira dinâmica
e funcionam como importantes mediadores na diferenciação celular. O
micro se liga à região 3’(3’UTR) do RNA mensageiro e, ocorrendo com
plementaridade, o RNA mensageiro é clivado e degradado. Assim, é capaz
de silenciar o gene-alvo26. Geralmente, CNVs e miRNAs são investigados
separadamente. Inclusive, há poucos estudos de transcriptoma em amos
tras de cérebros de autistas post-mortem e há alguns realizados a partir do
sangue periférico dos pacientes. No entanto, as células linfoblastóides não
são representativas de tecido neural.
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
ORGANIZAÇÃO DA CROMATINA
Outro assunto relacionado à origem do fenótipo autístico é a re
modelação da cromatina, uma vez que alguns genes reguladores deste pro
cesso, como SMARCC1, SMARCC2, ARID1A, ARID1B, CHD8, CHD1,
CHD3, CHD75 e ATRX, apresentam mutações de novo em uma peque
na proporção de casos. Tais mutações teoricamente poderiam resultar em
TEA porque os genes envolvidos, além de serem altamente expressos no
cérebro, do ponto de vista hierárquico, são reguladores fundamentais para
o funcionamento celular normal e proteção do genoma dos danos do am
biente. Interagem com inúmeros outros genes e por diferentes vias, o que
signiica que, se alterados, podem afetar vários processos celulares simul
taneamente. Também, alterações em genes reguladores de cromatina são
frequentemente descritas como a causa de outros transtornos do desenvol
vimento neurológico e neuropsiquiátricos.
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ACONSELHAMENTO GENÉTICO
A alta prevalência e complexidade do autismo tem motivado vá
rios estudos utilizando diferentes estratégias de pesquisa. Os fatores gené
ticos são os mais estudados e sua causa potencial, em muitos casos, resul
tou em um aumento signiicativo no número de encaminhamentos para
Aconselhamento Genético (AG).
O AG é um processo de comunicação. Como tal, deve ser en
tendido como “uma “via de mão dupla”, isto é, como uma situação de
“troca””. Os aconselhadores não têm nenhuma garantia ou controle de que
a sua “mensagem” será entendida como pretendido, nem mesmo sobre as
consequências do processo. Assim, além da comunicação de informações
biológicas e clínicas, eles devem priorizar os aspectos educacionais e psi
cológicos do processo, de modo a oferecer apoio para tomada de decisão e
ajuda para reduzir a ansiedade e a culpa.
É essencial lembrar que a não diretividade é crucial neste proces
so. Não é uma questão de se evitar dizer o que é melhor ou não. É uma
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CONCLUSÃO
É muito difícil realizar uma abordagem global sobre toda a
complexidade etiológica do TEA, sem correr o risco de super ou subestimar
alguns fatores. A literatura sobre o tema é tão vasta e diversiicada que dá
a impressão ao leitor de que tudo pode causar autismo. A verdade é que
tudo o que potencialmente pode afetar o cérebro, na sua estrutura e função
normais, pode interferir com a saúde mental e isso abre um universo de
possibilidades, o que torna crucial a atuação multidisciplinar. Entretanto,
na investigação de causas genéticas e orientações quanto aos tratamentos,
ainda paliativos e sintomáticos, cada caso deve ser considerado em parti
cular, e todos devem realizar o AG. A compreensão dos fatores genéticos
envolvidos na etiologia deste transtorno é crucial, inclusive para delinear
intervenções futuras.
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o sono e suA relAção com o
comPortAmento no Autismo
Luciana PINATO
Gabriela Melloni ZUCULO
Leila Maria Guissoni CAMPOS
INTRODUÇÃO
SONO-VIGÍLIA
Para se analisar parâmetros da isiologia do sono, a polissonograia
mostra, dentre outros registros, a atividade elétrica cerebral característica
das diferentes fases do sono1-2. Embora a função que cada uma dessas fases
desempenha na saúde em geral seja incerta, acredita-se que o equilíbrio
entre elas seja importante para a obtenção de um sono reparador, restau
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https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p93-108
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sono mais frequentes entre as crianças com TEA17-18. Muitos desses dis
túrbios persistem no adulto jovem como padrão desordenado de sono,
incluindo o sono fragmentado ou períodos prolongados sem dormir18-19.
Como consequência dessa má qualidade de sono está a intensiicação das
condições clínicas dos pacientes com TEA, com a observação de uma re
lação direta entre a redução de horas de sono durante a noite e a gravi
dade dos estereótipos comportamentais, diiculdades nos relacionamentos
sociais, estresse familiar e problemas de comunicação20. No TEA, os dis
túrbios de sono mostraram influenciar negativamente o quadro compor
tamental, sendo mais evidente essa relação nas crianças que apresentavam
SED20. A forma de investigar esse padrão de sono em crianças e adolescen
tes com TEA ocorre por meio da utilização de dados subjetivos, tais como
questionários e diários de sono e/ou dados objetivos obtidos por actigraia
e polissonograia18-20. Os resultados têm destacado a prevalência de distúr
bios do sono entre 44% a 83% dos indivíduos18-20.
Os problemas de sono observados em pacientes com TEA inter
ferem com a modulação neuronal, diretamente relacionada com processos
fundamentais de aprendizagem21-22. A gravidade desta condição torna-se
ainda mais clara quando os pais de crianças autistas relatam mudanças na
qualidade do próprio sono como resultado dos problemas de sono de seus
ilhos. As consequências negativas dos distúrbios do sono podem, portanto,
ameaçar a eicácia dos tratamentos comportamentais, como resultado da
redução do desempenho da criança e da reduzida capacidade dos pais para
empregar corretamente as técnicas de tratamento e estratégias aprendidas.
Quando olhado sob a perspectiva da intervenção fonoaudiológica
em linguagem, o sono e os déicits de linguagem têm uma relação propor
cional, e os estudos mostram que os indivíduos que têm distúrbios de sono
apresentam déicits em funções neurocognitivas, que influenciam direta
mente no processo de aquisição de linguagem; e os indivíduos com distúr
bios de linguagem podem ter distúrbios de sono, principalmente quando
se trata de uma manifestação de um transtorno neurológico ou psicoló
gico. Portanto é de extrema importância considerar as queixas de sono e
abordar questões sobre hábitos de sono na anamnese fonoaudiológica22-23.
As razões para a ocorrência comum de problemas de sono em
TEA não são claras. Isto parece ser o resultado de complexas interações en
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, foram descritos os principais aspectos da isiolo
gia do sono e as possíveis causas, consequências e tratamento dos distúr
bios de sono no TEA.
Veriicou-se que, no TEA, assim como em outras condições, o
sono influencia todas os principais sistemas isiológicos do corpo, incluin
do a termorregulação, o metabolismo, o sistema musculoesquelético, en
dócrino, respiratório, cardiovascular, gastrointestinal, e imunológicos. A
qualidade do sono também tem impacto na saúde mental, no comporta
mento, na cognição e qualidade de vida global.
Todas essas relações são bidireccionais, ou seja, muitos destes sis
temas isiológicos também podem influenciar o sono do indivíduo. A falta
parcial ou total de sono e os distúrbios do sono podem mudar drastica
mente o pensamento e o comportamento de um indivíduo e impactar
negativamente na sua saúde física, mental e emocional.
O fato de o tratamento dos distúrbios de sono no TEA levar à
melhora comportamental destes indivíduos indica a importância de sua
investigação antes do inicio de tratamentos multidisciplinares incluindo
terapias de linguagem.
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uso dAs técnicAs de ressonânciA
mAgnéticA FuncionAl e
eletroenceFAlogrAFiA nos
estudos sobre o desenvolvimento
dA linguAgem
INTRODUÇÃO
109
https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p109-132
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Fonte: Cortesia Dra. Maria da Graça Morais Martin – Laboratório de Investigação Médica -
Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São
Paulo (InRad-HC-FMUSP – LIM44) e Hospital Sírio Libanês. Acervo Pessoal.
Nota: Imagem 3D de estudo de ressonância magnética funcional corregistrado à aquisição volumétri
ca T1 mostrando áreas de sinal BOLD positivo na tarefa de fluência verbal covert speech (sem produção
de fala), na qual o sujeito gera mentalmente palavras que comecem com a letra apresentada. Há no
estudo apresentado dominância do hemisfério esquerdo, com áreas no giro frontal inferior, pré-central
e temporal superior à esquerda, e apenas no pré-central à direita, além de áreas cerebelares.
Figura 1 – Funcionamento cerebral durante a execução de tarefa de fluên
cia verbal (sem produção de fala).
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perspectivas interdisciplinares
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
CONSTRUÇÃO DE PARADIGMAS
O pesquisador que almeja utilizar técnicas eletroisiológicas e de
neuroimagem funcional voltadas à investigação de habilidades complexas,
como a cognição e a linguagem, tem um longo caminho a percorrer. Esse
caminho frequentemente tem sido trilhado com a colaboração de pesqui
sadores de diferentes áreas, o que é premissa da Neurociências.
Engana-se quem pensa que para realizar um estudo com técnicas
como a RMF e o EEG, na área da linguagem, basta um equipamento de
última geração, com excelente resolução, seja temporal ou espacial. Antes
de tudo, é preciso ter um paradigma muito bem delineado, a im de evitar
correlações equivocadas entre o processo cognitivo ou linguístico que está
sendo posto como evento de interesse e os respectivos padrões eletroisio
lógicos ou de ativação cerebral que venham a ser encontrados.
Salvo problemas técnicos que possam ocorrer com o equipamen
to no momento da coleta, gerando a perda de dados, ou com problemas re
lacionados com o participante, principalmente crianças e indivíduos com
problemas comportamentais (e.g., recusa em participar, agitação, cansaço),
pode-se dizer que a coleta de dados é a parte mais fácil de um estudo com
EEG ou RMF, sendo as fases de construção da tarefa, de análise e interpre
tação dos dados as mais difíceis.
O paradigma representa o conjunto de tarefas cognitivas e de
linguagem que será utilizado durante a realização do exame e é conside
rado parte fundamental do estudo. Nos estudos com RMF, o desenho de
paradigma mais utilizado é o paradigma em bloco, ou seja, quando há
alternância entre a realização de uma tarefa (e.g. permanecer com a mão
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COLETA
Imagine-se deitado dentro de um tubo de 60 cm de largura por
120 cm de comprimento, exposto a um ruído de 120dB (com vibração
mecânica), tentando manter-se imóvel (ou o mais contido possível), sendo
solicitado a você executar uma tarefa cognitiva. Este é o cenário que os
voluntários em estudos com RMF experimentam5.
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
ANÁLISE
Uma das grandes decepções constatadas por quem se interessa
nos estudos sobre o funcionamento cerebral – ainda não familiarizado no
assunto – é o fato de que não é possível estabelecer, de imediato (no mo
mento da coleta), uma relação direta entre os componentes eletroisiológi
cos ou regiões de ativação cortical e o paradigma que está sendo estudado.
As imagens coloridas geradas pelos mapas de ativação cerebral,
sobrepondo regiões do cérebro durante a execução de uma tarefa especíi
ca, bem como as diferenças de amplitude encontradas para os componen
tes eletroisiológicos, representados por curvas em gráicos, resultam de
várias etapas de processamento e análise dos dados. Essas etapas incluem o
pré-processamento dos dados seguido pelo processamento de sinais (bioe
létricos ou hemodinâmicos) e análises estatísticas.
Tais etapas são necessárias tanto nos estudos com RMF e EEG
e são realizadas por meio de análises em softwares especíicos, requerendo
por parte do pesquisador o conhecimento e domínio técnico para exporta
ção dos dados e manuseio dos comandos de análise.
Há softwares comercializados que estabelecem uma interface es
pecíica com o tipo de arquivo gerado, frequentemente adquirido com o
equipamento, e há também outros softwares que poderão ser utilizados, re
querendo neste caso a conversão dos arquivos para ins de compatibilização.
De forma muito simpliicada, pode-se dizer que a etapa de pré
-processamento de dados hemodinâmicos (RMF) ou eletroisiológicos
(EEG) tem como função promover a melhoria dos dados que serão anali
sados a posteriori (fase de processamento), excluindo-se informações que
não estão relacionadas com o evento que está sendo estudado (tarefa de
linguagem). Nesta fase, são realizadas correções de artefatos, gerados por
atividade motora, e iltragem dos dados para melhora da resolução.
O processamento de dados é destinado à análise dos registros ele
troisiológicos ou da imagem funcional. Esses dados são analisados por
meio de métodos estatísticos que têm como princípio calcular a probabi
lidade de uma área cerebral especíica estar relacionada com o paradigma
investigado, no caso dos estudos com RMF; no caso dos estudos com
EEG, tais métodos são utilizados para extrair as médias dos ERPs do com
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PROCESSOS FONOLÓGICOS
Um dos aspectos que mais tem sido investigado no contexto de
desenvolvimento da linguagem com o uso das técnicas de RMF e de EEG
é a resposta neural apresentada por crianças logo nos primeiros dias e meses
de vida para sons verbais e não verbais. A capacidade de perceber e discri
minar sons é imprescindível para a aquisição da linguagem falada.
A percepção auditiva corresponde ao estágio inicial para a com
preensão da linguagem falada. Inicialmente, o cérebro da criança apresenta
capacidade para aprender sons que não são pertinentes à língua materna.
Essa capacidade diminui consideravelmente ao inal do primeiro ano de
vida, quando a percepção e a discriminação de sons da fala passam a ser
prioritariamente voltadas às peculiaridades da língua materna22.
Essa programação biológica para o processamento acústico dos
sons da fala tem sido respaldada pelos estudos funcionais, como a técnica
de RMF, que mostram que aos três meses de idade já é possível observar a
ativação de estruturas nomeadamente reconhecidas pela sua participação
na percepção da fala, como os giros temporal e angular, evidenciando uma
assimetria funcional precoce para a percepção da linguagem falada23.
Já nos estudos com a técnica de EEG, o componente Mismatch
Negativity (MMN) tem sido amplamente investigado por pesquisadores
interessados em compreender como ocorre o desenvolvimento do sistema
de percepção da fala.
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PROCESSAMENTO SEMÂNTICO
O paradigma de fluência semântica (evocação) sem produção de
fala (inner speech) tem sido o mais utilizado com crianças e adultos para
investigação da dominância cerebral relativa à linguagem, com a técnica de
RMF. Em crianças, esse paradigma tem possibilitado também investigar o
processo de lateralização hemisférica ao longo do desenvolvimento, por
meio da evocação de substantivos e verbos.
O padrão de ativação cortical de crianças e adolescentes durante
a evocação de verbos, sem produção de fala, é bastante semelhante quanto
às áreas recrutas, incluindo a área de Wernicke, o giro cingulado e o córtex
pré-frontal inferior, exceto a área de Broca no hemisfério esquerdo, que
tende a ser ativada nos indivíduos mais velhos. Esse dado sugere ser resul
tado do processo de maturação cortical e também do desenvolvimento do
sistema semântico e de outros recursos cognitivos que permitem o acesso
mais rápido às palavras durante a realização da tarefa27.
Aos três meses de idade, as crianças já apresentam um padrão de
ativação cerebral hierarquizado, semelhante ao do adulto, quando escutam
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PROCESSAMENTO SINTÁTICO
O uso de paradigmas sintáticos com a apresentação verbal de fra
ses tem sido amplamente utilizado para a investigação das bases neurais do
processamento sintático. No entanto um grande desaio ao pesquisador
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não há dúvida de que a evolução tecnológica, com o surgimento
de equipamentos que permitem a realização de estudos sobre o funciona
mento cerebral de forma não invasiva, trouxe contribuições incomensurá
veis para os estudos na área da linguagem. Mas é importante reconhecer
que parte das mudanças relacionadas à participação de regiões cerebrais,
bem como de componentes eletroisiológicos especíicos numa tarefa de
linguagem especíica, deve-se à evolução no delineamento dos paradigmas
de linguagem, que foram sendo propostos em associação com esses adven
tos técnicos.
128
Avaliação da fala e da linguagem:
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Parte II
recursOs tecnOlógicOs
na avaliaçãO da Fala
133
134
uso dA tecnologiA nA AvAliAção
e intervenção dos distúrbios
dA FluênciA
INTRODUÇÃO
O
objetivo deste capítulo é conversar sobre tecnologia, seus con
ceitos e concepções, e suas formas de uso para a avaliação, o diagnóstico
diferencial e o tratamento dos distúrbios de fluência, principalmente a
gagueira.
Em quatro dicionários distintos1-4, o vocábulo tecnologia tem sig
niicados convergentes, a saber:
“[…] estudo das ciências aplicadas; método, processo para lidar com um
problema técnico específico; sistema pelo qual a sociedade provê aos seus
membros as coisas desejadas ou necessárias1. A aplicação do conhecimento
científico para propósitos práticos. Maquinários ou equipamentos desen
volvidos para tal conhecimento. Tecnologia é o ramo do conhecimento per
tinente às ciências aplicadas2.Tecnologia é um substantivo feminino que
significa teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, méto
dos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade
humana3. Técnicas ou conjunto de técnicas de um domínio particular4.
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https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p135-156
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TECNOLOGIA E PESQUISA
Atualmente, há uma quantidade de tipos especíicos de tecno
logias empregadas para a captação de neuroimagens de cérebros em fun
cionamento e in vivo. Chang (2015)15 mostrou com detalhes como essas
tecnologias permitiram um conhecimento sobre o cérebro infantil e a ga
gueira. Uma das dúvidas existentes era se crianças pequenas com gagueira
apresentariam as mesmas bases neurais que são encontradas nos adultos
que gaguejam. Ainda não se sabe exatamente por que quase 80% das crian
ças que gaguejam se recuperam espontaneamente sem intervenção. Pior
que isso, ainda não há formas precisas de diferenciar quais dessas crianças
vão ou não se recuperar sem intervenção. No entanto, segundo a autora, já
há suporte para a ideia de que a intervenção realizada o mais cedo possível
pode alterar ou até normalizar as funções cerebrais antes que a gagueira
se instale completamente. Entendendo cada vez melhor a genética e de
senvolvendo melhores tecnologias, os cientistas poderão encontrar mar
cadores biológicos da manutenção da gagueira e o que determinaria essa
recuperação espontânea.
A gagueira inicia predominantemente ao redor dos 33 meses,
embora haja relatos sobre crianças que começaram a gaguejar aos 18 me
ses, e que este início é similar entre meninos e meninas11,16. Esse dado é
interessante porque a diferença entre gêneros é clara em adultos, em uma
proporção de quatro homens para uma mulher, mas não é tão visível na
infância. Se meninos e meninas gaguejam em igual proporção na infância,
o que determinaria que nos adultos a proporção seja de quatro homens
para uma mulher? Teriam as meninas uma capacidade maior de recupe
ração espontânea do distúrbio? Apesar de ainda não haver total concor
dância entre os autores15-16 sobre a proporção entre gêneros, algumas das
alterações observadas nos cérebros adultos não são vistas nos cérebros das
crianças. Principalmente o aumento de volume no hemisfério direito que
as imagens mostram nos adultos17-18.
O uso da tecnologia para captação de imagens em cérebros infan
tis tem sido um desaio para os cientistas. Tudo o que for possível descobrir
de forma não invasiva proporcionará um conhecimento inestimável que,
por sua vez, poderá mudar completamente as técnicas e procedimentos de
avaliação e terapia para a gagueira15.
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TECNOLOGIA E GENÉTICA
Outra área onde a tecnologia é importante no entendimento da
gagueira é a genética. Além dos aspectos sobre o que as tecnologias torna
ram possível para o entendimento das questões da genética na gagueira11,
um grupo de pesquisadores22 divulgou, em novembro de 2015, que de
2,1% a 3,7% dos casos de gagueira persistente são causados por mutações
no gene AP4E1. Defeitos neste gene diicultam o trânsito das informações
intracelulares, especialmente no processo de direcionar as proteínas para o
compartimento de reciclagem. Esse grupo de pesquisadores descobriu que
aquele gene interage bioquimicamente com outro gene já anteriormente
identiicado com o transporte de proteínas em casos de gagueira. Esses
defeitos de trânsito intercelular já foram correlacionados com outros dis
túrbios neurológicos, como a Doença de Parkinson.
Para se chegar a tais conclusões, a tecnologia na área da bioquí
mica e da neurogenética é vital. Não seria possível investigar tais processos
sem a existência dessas tecnologias. E isso, no longo prazo, poderá signii
car o desenvolvimento de terapias genéticas especíicas para gagueira, o que
seria uma forma de evitar que o fator hereditário envolvido em quase 80%
dos que gaguejam continuasse ativo.
TECNOLOGIA E AVALIAÇÃO
No quesito aparatos e aparelhos para avaliação da gagueira, exis
tem desde tecnologias simples, como o abaixador de língua, até as soisti
cadas, como os aparelhos de eletromiograia de superfície e eletroterapia23,
eletroglotograia24, o EVA (Evaluation Vocale Assistée)25, eletroisiologia26,
ultrassonograia de língua27 e a ibronasolaringoscopia11,28 para captação de
imagens, movimentos e áudios, assim como uma quantidade de softwares
que analisam os vários quesitos da fluência e da não fluência. Para garantir
gravações de falas fluentes e gaguejadas também são necessários instrumen
tos, como câmeras de vídeo, tripés, microfones especíicos para fala, placas
de som compatíveis e caixas de som, computador e muitos softwares e
aplicativos disponíveis no mercado29.
No entanto, é bom salientar que nem todos estes aplicativos “fa
lam” Português. E, embora interessantes, contribuem pouco para a trans
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Esses são alguns exemplos que servem para mostrar que a tecno
logia está disponível para ser usada para a avaliação e a comprovação de
resultados terapêuticos.
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O NINISPEECH
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1
Comunicação pessoal de Y. Shapira com o autor, por email, em 2 de novembro de 2015.
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TECNOLOGIA E MEDICAMENTOS
Várias substâncias estão sendo pesquisadas e experimentadas para
a diminuição da gagueira em adultos. Quase na totalidade, essas substâncias
são bloqueadoras do neurotransmissor dopamina. O líder mundial dessas
pesquisas, Gerald Maguire, da Universidade da Califórnia em Riverside2,
em comunicação pessoal à autora por email, revelou que recentemente
recebeu a aprovação da Food and Drugs Administration dos Estados Unidos
para investigar os efeitos de uma nova substância para a gagueira. É um
medicamento que age sobre um receptor de dopamina diferente dos pes
quisados até agora e que já se mostrou eicaz para a Síndrome de Tourette.
É o que se sabe no momento.
2 Gerald G. Maguire, em comunicação pessoal com o autor, por email, em 3 de novembro de 2015.
149
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AvAnços tecnológicos nA
AvAliAção e terAPiA dA gAgueirA
INTRODUÇÃO
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AVALIAÇÃO
O critério diagnóstico para a gagueira é a presença de no mínimo
3% de disfluências típicas da gagueira3, medida esta calculada em uma
amostra de fala espontânea, coletada por meio de registro audiovisual para
que seja transcrita e analisada posteriormente. Portanto, é possível compre
ender que o processo de avaliação da gagueira sempre necessitou de alguns
recursos tecnológicos básicos, como ilmadora, computador (especialmen
te o uso de alguns programas como Word e Media Player), cronômetro,
calculador e fones auriculares. No entanto, com o desenvolvimento da
tecnologia, novos recursos foram incorporados para facilitar esse processo.
Atualmente, os softwares e aplicativos oferecem um amplo leque de possi
bilidades que podem facilitar o diagnóstico da gagueira.
Vale destacar que, embora as tecnologias sejam importantes fer
ramentas que auxiliam o diagnóstico, os “ouvidos e olhos clínicos” do fo
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TERAPIA
A seguir, serão abordados os recursos tecnológicos que auxiliam
na intervenção terapêutica da gagueira. Essas ferramentas têm como meta
colaborar com a dinâmica da terapia e proporcionar alternativas que com
plementam as atividades da rotina clínica.
Sabe-se que processos terapêuticos resultam do conhecimento, da
técnica, do rigor metodológico, do uso adequado de estratégias fonoaudio
lógicas, da tecnologia e das habilidades e competências do proissional que
vai trabalhar com pessoas que gaguejam17.
Tradicionalmente, recursos tecnológicos rotineiros, como ilma
dora e computador, são utilizados na terapia de gagueira. Sabe-se que a
motivação é um aspecto que deve ser considerado e estimulado para faci
litar o aumento da fluência na fala do paciente, bem como a transferência
e manutenção das novas habilidades adquiridas na terapia. Atualmente, o
uso de dispositivos tecnológicos favorece a motivação dos pacientes para a
intervenção, tendo em vista que crianças e adolescentes são acostumados
ao uso destas ferramentas.
Outra vantagem destes recursos é que o terapeuta consegue utili
zar vários estímulos para evocar as amostras de fala desejadas, respeitando
um dos princípios terapêuticos na intervenção da gagueira, que é o aumen
to gradual do tamanho e da complexidade linguística. Seja palavra isolada,
duas palavras, ou até mesmo conversação, iguras podem ser selecionadas
ou pequenos vídeos para desencadear a fala. Portanto, principalmente com
crianças, a apresentação dos estímulos visuais por meio da tela de compu
tadores, tablets e smartphones pode aumentar a motivação do paciente e
facilitar o trabalho do terapeuta.
O uso da câmera do computador, do smartphone ou do tablet é
indicado para facilitar o trabalho da aprendizagem da anatomia e isiologia
da fala, também denominado exploração da fala. O paciente fala, olhando
para a tela, e analisa os movimentos que realiza para aumentar a consci
ência das partes do corpo utilizadas na fala. Esse trabalho visa auxiliá-lo
no controle sobre a produção da fala e, consequentemente, no controle e
monitoramento da gagueira. Os mesmos recursos tecnológicos favorecem
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O_me_ni_no_
O_me_ni_no_é_bo_ni_to
O_me_ni_no_bo_ni_to_gos_ta_de_ jo_gar_bo_la
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foi
seguida,
a ferramenta
outro trecho do texto
utilizada parana
provocar
condição de atraso.
o atraso de 100ms.
O software
Os resultados
FonoTools
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recurso tecnológico APlicAdo
Ao diAgnóstico dos distúrbios dA
ressonânciA dA FAlA: nAsometriA
INTRODUÇÃO
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NASÔMETRO
VERSÕES DO EQUIPAMENTO
A partir de 1986, a empresa KayElemetrics Corp. disponibilizou
no mercado o Nasômetro, um instrumento com base nos princípios do
Tonar II, porém redesenhado, usando avanços tecnológicos no módulo
eletrônico. A forma mais comum de o clínico determinar a nasalância é
por meio do nasômetro, sendo ela, possivelmente, a medida objetiva mais
amplamente empregada que se relaciona com a nasalidade da fala17. Uma
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mente o sinal recebido da boca em relação aos sinais emitidos pelo nariz,
resultando nesta passagem de energia de um lado para o outro. Outro
aspecto que poderia justiicar nasalância registrada durante a fala oral é o
fato de que, mesmo para falantes sem alterações de fala, existe leve resso
nância nasal durante a produção das vogais8. Na fala patológica, quando
há excesso de ressonância nasal, os valores de nasalância para a estímulos
de fala desprovidos de sons nasais são mais altos que os estabelecidos para
a fala normal e sugerem hipernasalidade. Por outro lado, quando há falta
de ressonância nasal, os valores de nasalância obtidos para estímulos de
fala predominantemente nasais são inferiores aos estabelecidos para a fala
normal e sugerem hiponasalidade8.
ESTÍMULOS DE FALA
Os valores de nasalância são obtidos solicitando ao paciente que
leia ou repita (no caso de crianças pequenas) um texto padronizado, senten
ças ou sílabas. Conforme sumarizado por Kummer8e Mayo e Mayo15, no in
glês norte- americano, o texto “Zoo Passage”- constituído somente por sons
orais - é utilizado para inferir se há fechamento velofaríngeo e se o mesmo é
mantido durante a fala encadeada. Quando isso não ocorre, o ouvinte perce
be a fala como hipernasal neste estímulo de fala15.Sentenças nasais, constituí
das predominantemente por consoantes nasais (35% dos sons são nasais),são
usadas para favorecer a identiicação de obstrução nasal ou nasofaríngea que
reduz a transmissão da energia acústica pela cavidade nasal. Quando há pre
sença de tal obstrução, o ouvinte identiica a presença de hiponasalidade
neste estímulo de fala15. O texto Rainbow, um estímulo com distribuição ba
lanceada de sons orais e nasais (11,5% dos fonemas nesta passagem são con
soantes nasais), é utilizado para veriicar o aspecto temporal do fechamento
velofaríngeo. Quando há alterações no aspecto temporal do fechamento ve
lofaríngeo, a fala é percebida pelo ouvinte como hipernasal, com assimilação
da nasalidade ou como ambos (hipernasalidade-hiponasalidade)15.
Outras línguas, incluindo o Português Brasileiro (PB), desen
volveram estímulos de fala similares aos utilizados no inglês-americano.
Trindade, Genaro e Dalston (1997)19 desenvolveram conjunto de frases e
foram os primeiros autores a estabelecer valores normativos de nasalância
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CONSIDERAÇÕES GERAIS
O uso de recurso instrumental pode fornecer maior sistemati
cidade e/ou objetividade no diagnóstico dos distúrbios de ressonância da
fala, corroborando julgamentos perceptivos da nasalidade de fala. A na
sometria oferece o correlato acústico da nasalidade de fala (nasalância),
sendo considerada efetiva para o uso com populações clínicas distintas.
Clinicamente, uma das limitações encontradas é a não correspondência
absoluta dos valores de nasalância e nasalidade de fala em casos que apre
sentam hipernasalidade leve. De forma geral, a nasometria é considerada
um instrumento valioso no diagnóstico dos distúrbios da ressonância e no
monitoramento destes distúrbios após intervenção.
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190
Parte iii
avaliaçãO
FOnOaudiOlOgica
191
192
escAlAs de desenvolvimento
PArA AvAliAção de criAnçAs
INTRODUÇÃO
O
desenvolvimento infantil é influenciado por complexas in
terações entre os fatores biológicos, psicossociais e ambientais, que propor
cionarão a trajetória individual da evolução da criança, no decorrer da vida.
Diversas são as possibilidades de alteração no percurso do desen
volvimento de um bebê, considerando os períodos pré-natal, perinatal e
pós-natal1. Os fatores interferentes nestes períodos podem ser divididos em
dois amplos grupos: os fatores intrínsecos e os extrínsecos. Dentre eles, en
contram-se os fatores genéticos, hereditários, biológicos, neurológicos, es
truturais, funcionais, ambientais, sociais, emocionais e comportamentais1-2.
Nesta perspectiva, o acompanhamento do desenvolvimento de
crianças e a análise destes fatores, na primeira infância, são cruciais para a
compreensão dos rumos do desenvolvimento nos seus diferentes estágios.
Na trajetória do desenvolvimento infantil, é possível veriicar crianças que
não apresentam e que apresentam sinais de risco, alterações ou lesões neu
rológicas, problemas metabólicos ou síndromes genéticas3-4.
A primeira infância (zero a dois anos) é um período considerado
crítico para o desenvolvimento infantil. Assim, o acompanhamento infan
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til desde a mais tenra infância é fundamental não somente para prevenir
atrasos, na presença da condição de risco, mas também para estimular suas
habilidades, aprimorando seu potencial.
Os procedimentos de triagens e avaliações têm como objetivos:
monitorar o desenvolvimento; realizar os encaminhamentos adequados;
orientar a família em relação às expectativas do desenvolvimento e formas
de aperfeiçoá-lo; intervir precocemente e monitorar os efeitos dos procedi
mentos de intervenção.
Para o acompanhamento de crianças quanto ao desenvolvimento,
é necessário que o serviço ofereça condições de assistência integral à saúde,
com medidas preventivas, habilitadoras e reabilitadoras5. A organização de
um serviço público, para este im, necessita de condições físicas e estruturais
que congreguem o conhecimento cientíico, com a utilização de procedi
mentos avaliativos que favoreçam a identiicação da criança de risco, redu
zindo resultados falsos negativos no diagnóstico infantil. O diagnóstico pre
coce, nesta perspectiva, traz desaios para os proissionais da área da saúde6-7.
A avaliação clínica do desenvolvimento infantil é indispensável,
considerando dois aspectos fundamentais: o conhecimento cientíico e a
experiência do proissional ou equipe que atenderá o bebê. Somada a este
aspecto encontra-se a avaliação objetiva, por meio da utilização de instru
mentos padronizados, possibilitando a comparação do bebê com dados nor
mativos da população com desenvolvimento típico, conduzindo de maneira
mais assertiva o diagnóstico precoce de alterações do desenvolvimento, redu
zindo a possibilidade de falso negativo, permitindo intervenção adequada8-9.
Quando uma determinada alteração é diagnosticada precoce
mente, o acompanhamento do bebê, bem como a estimulação e trata
mentos adequados reduzirão as consequências funcionais destas alterações,
contribuindo para o desenvolvimento futuro e redução do impacto desta
condição, interferindo na qualidade de vida da criança e de sua família.
No processo de avaliação infantil, a escolha dos instrumentos a
serem utilizados é de extrema relevância. Ela deve se basear em critérios,
tais como: o referencial teórico, a acessibilidade, incluindo custos do ins
trumento, treinamentos para sua utilização, tempo de aplicação e, princi
palmente, propriedades psicométricas7,10-11.
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INVENTÁRIO
O PORTAGE
InventárioOPERACIONALIZADO (IPO) 25 foi criado
Portage Operacionalizado
por Bluma et
al. (1976)26 e adaptado para a realidade brasileira25. Esse material tem sido
utilizado para monitorar as aquisições de desempenho de crianças; propor
cionar ensino de habilidades e sistema de registro; propor procedimentos
de treinamento domiciliar; compor currículo para a avaliação e o ensino
de crianças com necessidades especiais; elaborar procedimentos de inter
venção e de avaliação dos progressos da criança ao longo e depois de um
período de intervenção.
É composto por 580 comportamentos, distribuídos em 5 áreas
(motora, cognitiva, linguagem, autocuidados e socialização), separados por
faixa etária, de 0 a 6 anos, e uma área especíica (estimulação infantil) para
bebês de 0 a 4 meses. A área de estimulação infantil possui 45 itens, a de de
senvolvimento motor, 140; a de autocuidados, 105; a de cognição, 108; a de
socialização, 83; e a de linguagem, 99 itens. Os itens são divididos por faixas
etárias: 0 a 4 meses, 1 a 2 anos, 2 a 3 anos, 3 a 4 anos, 4 a 5 anos e 5 a 6 anos.
O IPO tem se mostrado um instrumento extremamente útil na
identiicação de defasagens de crianças, embora não tenha objetivo de diag
nóstico. Quando aplicado em forma de questionário para os pais, veriica
-se que este instrumento auxilia na compreensão sobre o desenvolvimento
e desempenho da criança. A operacionalização das habilidades consiste em
especiicar as respostas observadas, as condições de avaliação, ou seja, como
proceder para avaliar, que objetos usar em cada item e qual critério usar
para a correção das respostas ou número de acertos/erros por tentativa.
O livro publicado25 traz todas as informações relevantes para o
conhecimento deste inventário.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fonoaudiólogo tem papel fundamental no diagnóstico das al
terações da linguagem infantil. Quando se avaliam crianças em condições
de risco, principalmente na primeira infância, é de extrema relevância que
sejam veriicadas todas as dimensões do desenvolvimento infantil, uma vez
que uma área influencia a outra. No processo de diagnóstico do desenvol
vimento infantil é indicada a aplicação de mais de um instrumento para
que se veriique se há concordância quanto aos escores obtidos. O proces
so de diagnóstico fonoaudiológico envolve diferentes e complexas ações,
tais como: observações sistemáticas e aplicação de provas que comparam o
desempenho da criança com outras crianças com desenvolvimento típico;
uso de instrumentos que favoreçam a comparação de crianças com um
grupo de referência. O uso de procedimentos formais requer alguns cuida
dos por parte do avaliador, uma vez que requer rigor na aplicação, domínio
no manuseio e, principalmente, cuidados na análise e interpretação dos
resultados obtidos quando se utilizam instrumentos que não estão norma
tizados e padronizados para a realidade brasileira.
204
Avaliação da fala e da linguagem:
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Preditivos dA linguAgem FAlAdA nA
identiFicAção de ProblemAs dA escritA
INTRODUÇÃO
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Figura 1 - Modelo processamento de leitura
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Célia M. Giacheti
(Org.)
Fonte: Seymour PH, Aro M, Erskine JM. Foundation literacy acquisition in European orthogra
phies. Br J Psychol. 2003; 94(pt. 2):143-74.
Figura 2 - Desempenho em identiicação letra-som (% de acertos) para
aprendizagem da leitura, em diferentes idiomas, 1º. Ano
Fonte: Seymour PH, Aro M, Erskine JM. Foundation literacy acquisition in European orthogra
phies. Br J Psychol. 2003; 94(pt. 2):143-74.
Figuras 3-4- Desempenho em acurácia de leitura (% de acerto) para pala
vras e pseudopalavras, em diferentes idiomas, 1º. Ano
212
Avaliação da fala e da linguagem:
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Célia M. Giacheti
(Org.)
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Avaliação da fala e da linguagem:
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Célia M. Giacheti
(Org.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das evidências cientíicas compiladas neste texto, conclui-se
que as falhas no desenvolvimento da linguagem oral são preditores impor
tantes dos transtornos de linguagem escrita. Por outro lado, o bom desenvol
vimento das habilidades de linguagem pode servir como fator de proteção,
quando há risco para diiculdades de aprendizado da leitura e da escrita.
Tanto em uma situação como na outra, a estimulação precoce, com
o intuito de promover o desenvolvimento de linguagem, pode causar um
impacto positivo e duradouro e deve ser sempre a abordagem preferencial.
REFERENCIAS
1. Navas AL. Por que prevenir é melhor que remediar quando se trata de diicul
dades de aprendizagem. In: Alves LM, Capellini SA, Mousinho R. Dislexia:
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216
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
217
Célia M. Giacheti
(Org.)
218
Procedimento de AvAliAção
mioFuncionAl oroFAciAl – MBGR
os
O
processo de diagnóstico fonoaudiológico abrange, dentre
outros, aspectos do sistema estomatognático, visto que este se relaciona
ao desempenho de várias funções, tais como a respiração, a mastigação, a
deglutição e a fala. Nesse sentido, este capítulo visa abordar questões per
tinentes ao exame miofuncional orofacial (MBGR), no que se refere aos
itens investigados, forma de avaliação, registro das informações, organiza
ção, análise e interpretação dos dados para a deinição do diagnóstico e das
metas terapêuticas.
Mesmo antes da regulamentação da Fonoaudiologia como prois
são, em dezembro de 1981, o exercício proissional já era uma realidade no
Brasil. Tais proissionais realizavam avaliação do sistema estomatognático,
cada qual seguindo seu roteiro especíico de exame, a im de compreen
der as disfunções e desenvolver, a partir de terapia, o equilíbrio morfo
funcional. Nas duas últimas décadas, houve importante avanço técnico
-cientíico da proissão1, especialmente com a criação das especialidades
em Fonoaudiologia, somado à organização da Sociedade Brasileira de
Fonoaudiologia em Departamentos e Comitês.
219
https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p219-232
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15
16
11 11
12
8 5 5 5
4
3
4 1
0
0
Exame Extraoral Exame Intraoral Tônus Mobilidade Funções Orofaciais
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Célia M. Giacheti
(Org.)
222
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
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Célia M. Giacheti
(Org.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obtenção de informações a partir da avaliação miofuncional
orofacial favorece a melhor compreensão das relações entre as condições
anatômicas e funcionais do sistema estomatognático. Tais informações são
essenciais no processo de diagnóstico, no prognóstico e no estabelecimento
de condutas terapêuticas apropriadas, as quais possibilitarão o sucesso do
tratamento.
Apesar da existência e da importância de exames instrumentais
para avaliar algumas funções orofaciais, o exame clínico ainda é soberano
para deinir o diagnóstico e o plano terapêutico das disfunções orofaciais.
Esse exame deve ser realizado por proissionais capacitados, utilizando pro
tocolos padronizados. Contudo, mesmo os protocolos padronizados re
querem treinamento para a sua aplicação e, especialmente, a interpretação
dos resultados obtidos, estabelecendo as possíveis relações morfofuncio
nais. Assim sendo, recomenda-se que os proissionais conheçam e realizem
corretamente o exame miofuncional.
REFERÊNCIAS
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pecialidades. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009; 14(3):viii-x. doi: 10.1590/
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Avaliação da fala e da linguagem:
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Célia M. Giacheti
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230
Avaliação da fala e da linguagem:
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27. Campos FR, Rabelo ATV, Friche CP, Silva BSV, Friche AAL, Alves CRL, et
al. Alterações da linguagem oral no nível fonológico/fonético em crianças de
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portadoras da síndrome de Moebiüs. Rev CEFAC. 2005; 7(1):68-74.
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232
A clínicA e A PesQuisA nA AvAliAção e
diAgnóstico FonoAudiológico
233
https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p233-244
Célia M. Giacheti
(Org.)
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perspectivas interdisciplinares
235
Célia M. Giacheti
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236
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Fonte: Blank M, Rose SA, Berlin LJ. Preschool language assessment instrument. 2nd ed. Austin:
Pro-Ed; 2003
Figura 1 - Itens e subitens que compõem a habilidade comunicativa do
Preschool Language Assessment Instrument (PLAI-2)
237
Célia M. Giacheti
(Org.)
238
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
239
Célia M. Giacheti
(Org.)
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral, o investimento em instrumentos de avaliação
fonoaudiológica e, mais recentemente, a possibilidade de correlação do
desempenho comportamental da linguagem com os achados eletroisioló
gicos contribuirão para ampliar a atuação do grupo de pesquisa.
As parcerias cientíicas do grupo e do LEAD com o INCT-ECCE
(UFSCar) e outras instituições de excelência, nacionais e internacionais,
têm proporcionado o fortalecimento das pesquisas, a consolidação do
grupo e o impacto positivo na produção do conhecimento na ciência
fonoaudiológica.
241
Célia M. Giacheti
(Org.)
REFERÊNCIAS
1. Kirk SA, McCarthy JJ. he Illinois test of psycolinguistic abilities. Urbana:
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6. Disponível
Universidadeem:
Estadual
http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/4106041153077496
Paulista. Faculdade de Filosoia e Ciências. Laboratório
242
Avaliação da fala e da linguagem:
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13. Soares TM, Lindau TA, Giacheti CM. Desempenho de crianças com e sem
distúrbio de comunicação no Plai-2: estudo comparativo. In: Anais do 23º.
Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia, 9º. Congresso Internacional de
Fonoaudiologia; 2015 outubro 14-16; Salvador, Ba. São Paulo: Sociedade
Brasileira de Fonoaudiologia, 2015. p. 6139.
14. Silva IB, Soares TM, Lindau TA, Giacheti CM. Habilidades receptiva e ex
pressiva da linguagem falada de prematuros. In: Anais do 23º. Congresso
Brasileiro de Fonoaudiologia, 9º. Congresso Internacional de Fonoaudiologia;
2015 outubro 14-16; Salvador, Ba. São Paulo: Sociedade Brasileira de
Fonoaudiologia, 2015. p. 7868.
15. Blackwood DH, Muir WJ. Cognitive brain potentials and their application.
Br J Psychiatry Suppl. 1990;(9):96-101.
16. Stöhr M, Kraus R. Eletroencefalograia clínica (EEG). In: Stöhr M, Kraus R.
Introdução à neuroisiologia clínica: EMG - EEG – potenciais. São Paulo:
Editora Santos; 2009. p.47-59.
243
Célia M. Giacheti
(Org.)
244
roteiro descritivo dA AvAliAçâo
FonoAudiológicA dA criAnçA
O processo
do
de avaliação fonoaudiológica, como etapa inicial de
de
investigação acerca status de habilidades comunicação, é crucial no
trabalho do fonoaudiólogo, uma vez que a obtenção de dados relevantes
servirá para a tomada de decisões bem fundamentadas sobre, por exem
plo, a necessidade de se realizar intervenção. Nessa etapa, são levantadas
as questões clínicas a serem investigadas, bem como os procedimentos de
avaliação que melhor responderão às perguntas de avaliação. Roteiros de
avaliação podem ser ferramentas úteis nesse processo de investigação, as
sim como no trabalho de ensino de futuros proissionais.
Neste capítulo, apresentaremos um roteiro de avaliação fonoau
diológica infantil, com o intuito de contribuir para ampliar o arsenal de
recursos instrumentais na área da avaliação da comunicação e seus dis
túrbios. Nas primeiras versões do instrumento, de uso restrito aos mem
bros de nossa equipe, o Roteiro era referido como Protocolo de Avaliação
Fonoaudiológica. Decidimos nominá-lo, na versão atual, de Roteiro
Descritivo pelas razões que se seguem:
1. Como roteiro, o instrumento proposto tem a inalidade de apresentar
um esquema do que deve ser abordado ou estudado;
2. Sendo um roteiro descritivo, sua função é proporcionar o detalhamen
to ou caracterização, de maneira organizada, do conjunto de habilida
des, que normalmente é alvo de avaliação fonoaudiológica.
245
https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p245-262
Célia M. Giacheti
(Org.)
246
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
247
Célia M. Giacheti
(Org.)
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Nome: Escolaridade:
D.N.: Discrepância idade-série:
Sexo: ( ) não há
Idade Atual: ( ) até 2 anos
Tel.: ( ) mais de 2 anos
Endereço:
Encaminhado por:
Lateralidade:
Mão dominante: ( ) Direito ( ) Esquerdo ( ) Indeinido
Olho dominante: ( ) Direito ( ) Esquerdo ( ) Indeinido
Pé dominante: ( ) Direito ( ) Esquerdo ( ) Indeinido
Características comportamentais:
( ) Ansiedade ( ) Agressividade
( ) Isolamento ( ) Problemas de atenção
( ) Quebra regras ( ) Outros:
Qualidade do sono:
O sono é ininterrupto? ( ) Sim ( ) Não. Quantas vezes acorda?__
O sono é agitado? ( ) Sim ( ) Não
249
Célia M. Giacheti
(Org.)
Funções sensoriais/perceptuais
Anormalidades observadas
Auriculares (de posição, de formato, entre outras):
Achados audiológicos
250 500 1K 2K 3K 4K 6K 8K Hz 250 500 1K 2K 3K 4K 6K 8K Hz
0 0
10 10
20 20
30 30
40 40
50 50
60 60
70 70
80 80
90 90
100 100
110 110
Masc.: VO:
VA: Masc.: VA:
VO:
Masc.:
M
% dB dB
OE
D % dB dB
Imitanciometria:
250
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Funções cognitivas
Reconhece:
+1,0 ( ) em que período do dia está;
+1,0 ( ) em que dia da semana está;
Orientação +1,0 ( ) em que mês está.
Temporal Reconhece relações temporais entre eventos:
+1,0 ( ) antes de/depois de;
+1,0 ( ) primeiro/último;
+1,0 ( ) ontem/hoje/amanhã.
Outras informações:
251
Célia M. Giacheti
(Org.)
Linguagem falada
Recepção Emissão
Percepção/discriminação Fala espontânea
Pode discriminar: Pode produzir:
+1,0 ( ) sons vocálicos;
consonantais +1,0 ( ) sons vocálicos;
+1,0 ( ) sons consonantais oclusivos;
oclusivos;
+1,0 ( ) sons consonantais +1,0 ( ) sons consonantais fricativos;
fricativos;
Fonética e
Fonologia +1,0 ( ) sons nasais;
de consoantes +1,0 ( ) sons nasais;
+1,0 ( ) sons de consoantes líquidas;
líquidas.
+5,0 ( ) É inteligível.
Repete acuradamente:
+2,0 ( ) logatomas;
+2,0 ( ) palavras;
+2,0 ( ) enunciados.
Outras informações:
252
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Linguagem falada
Recepção Emissão
Reconhece palavras /expressões Nomeia/diz/descreve:
que designam:
+1,0 ( ) objetos;
atributos
função
partes de
relaçõesde
temporais;
espaciais;
de
de
objetos;
objetos;
tamanho;
quantidade/
objetos; +1,0 ( ) objetos;
+1,0 ( ) atributos de objetos;
+1,0 ( ) função de objetos;
+1,0 ( ) partes de objetos;
+1,0 ( ) relações temporais;
+1,0 ( ) relações espaciais;
+1,0 ( ) relações de tamanho;
Semântica
+1,0 ( ) relações de quantidade/magnitude;
magnitude;
+1,0 ( ) relações de igualdade/ +1,0 ( ) relações de igualdade/singularidade;
singularidade;
+1,0 ( ) ações;
partes do corpo. +1,0 ( ) ações;
+1,0 ( ) partes do corpo;
+1,0 ( ) exemplos de uma categoria particular de
objetos.
+1,0 ( ) Reconhece sentenças +1,0 ( ) Completa sentenças com vocábulo ade
semanticamente incor quado ao contexto (e.g. o gato...).
reta (e.g. o gato late).
253
Célia M. Giacheti
(Org.)
Linguagem falada
Recepção Emissão
Na conversação:
+1,0 ( ) faz contato visual
com o interlocutor;
+1,0 ( ) mantém contato
visual;
+1,0 ( ) exibe atenção com
partilhada;
+2,0 ( ) Expressa desejos e necessidades.
+1,0 ( ) Fornece informação pessoal.
+1,0 ( ) Emprega regras sociais ao iniciar ou inalizar
interação (e.g. oi, obrigado).
Pragmática, +2,0 ( ) Inicia diálogo.
Habilidades +1,0 ( ) Propõe tópico.
Conversa +2,0 ( ) Mantém tópico.
cionais e +2,0 ( ) Troca turnos de conversação.
Narrativa
+1,0 ( ) Reformula mensagem (e.g. acrescenta informa
ção) em função da reação do interlocutor.
+1,0 ( ) Faz pergunta para obter nova informação.
Em histórias contadas: Em histórias contadas:
+1,0 ( ) identiica fatos +1,0 ( ) Descreve/conta fatos interligados temporalmente;
interligados tempo
ralmente;
+1,0 ( ) identiica persona- +1,0 ( ) menciona personagens envolvidos;
gens;
+1,0 ( ) identiica onde e +1,0 ( ) informa onde e quando a história acontece;
quando a história
acontece;
+2,0 ( ) compreende histó +2,0 ( ) É capaz de recontar história ouvida.
rias contadas.
254
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Anormalidades observadas:
( ) abertura ou fechamento da boca incompleto.
( ) presença de ruído ao abrir e fechar a boca.
( ) abertura e/ou fechamento da boca com desvio para direita ou esquerda.
( ) má oclusão.
( ) diiculdade para beber.
( ) faz força para engolir sólidos.
( ) saliva excessiva presente.
( ) dor ao engolir.
( ) incapaz de formar o bolo alimentar.
( ) alimento cai pelos cantos da boca.
( ) múltiplas tentativas para deglutir.
( ) presença e resíduos de alimento na cavidade oral.
( ) regurgitação oral.
( ) regurgitação nasal.
( ) escape de alimento.
( ) outras:
Outras informações:
255
Célia M. Giacheti
(Org.)
Linguagem escrita
Recepção
+1,0 ( ) Discrimina letras de números.
Identifica relações:
+1,0 ( ) de igualdade entre letras do alfabeto ou algarismos.
+1,0 ( ) de correspondência entre letras maiúsculas e minúsculas.
+1,0 ( ) de igualdade entre palavras escritas.
+1,0 ( ) Identiica correspondências entre letras do alfabeto e respectivos nomes.
Identifica correspondências entre palavras escritas e figuras:
+1,0 ( ) compostas por sílabas simples – CV.
+1,0 ( ) compostas por sílabas complexas (e.g. grupos consonantais).
Identifica correspondências entre palavras faladas e escritas:
+2,0 ( ) compostas por sílabas simples – CV.
+2,0 ( ) compostas por sílabas complexas.
Lê:
+1,0 ( ) letras e algarismos
+1,0 ( ) palavras compostas por sílabas simples
+1,0 ( ) com fluência
+2,0 ( ) palavras compostas por sílabas complexas
+1,0 ( ) com fluência
Leitura e
+2,0 ( ) frases e/ou pequenos textos
Escrita
+1,0 ( ) com fluência
+3,0 ( ) Revela compreensão na leitura de frases e/ou de pequenos textos.
Emissão
Escreve sob tarefa de cópia:
+1,0 ( ) letras e algarismos
+1,0 ( ) palavras compostas por sílabas simples
+1,0 ( ) palavras compostas por sílabas complexas
+1,0 ( ) frases e orações
Escreve sob tarefa de ditado:
+1,0 ( ) letras e algarismos
+2,0 ( ) palavras com sílabas simples:
+1,0 ( ) irregulares
+1,0 ( ) regulares
+2,0 ( ) palavras com sílabas complexas
Escreve/elabora/constrói (os itens são mutuamente excludentes):
+2,0 ( ) frases e pequenos textos, sem as convenções ortográicas da língua.
+3,0 ( ) frases e pequenos textos, segundo as convenções ortográicas da
língua.
Outras informações:
256
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
Habilidades matemáticas
Recepção
+1,0 ( ) Reconhece algarismos.
+1,0 ( ) Identiica relações entre quantidade e numeral.
+1,0 ( ) Identiica relações matemáticas entre quantidades (e.g. de equivalência, de
ordem, diferente de..., maior e menor que... ).
Compreende problemas aritméticos simples (i.e., sendo capaz de identificar a opera
ção aritmética requerida):
+1,0 ( ) de adição
+1,0 ( ) de subtração
+1,0 ( ) multiplicação
+1,0 ( ) divisão
Emissão
Habilidades
Numéricas e +1,0 ( ) Nomeia algarismos.
Aritméticas +1,0 ( ) Escreve algarismos sob ditado.
+1,0 ( ) Realiza corretamente contagem de quantidades.
Realiza operações aritméticas simples:
+1,0 ( ) de adição
+1,0 ( ) de subtração
+1,0 ( ) multiplicação
+1,0 ( ) divisão
Quanto à forma de resolução de problemas matemáticos (os itens são mutuamente
excludentes)
+3,0 ( ) Resolve operações aritméticas simples de modo formal.
+2,0 ( ) Resolve operações aritméticas simples apenas de modo não formal (e.g. mani
pulando objetos/desenhando).
Outras informações:
257
Célia M. Giacheti
(Org.)
Atenção
Memória
Orientação Espacial
Orientação Temporal
Voz, Articulação e Fluência
Práxis Oral e Verbal
Habilidades Numéricas e
Aritméticas
Recepção Emissão Recepção Emissão
Fonética e Fonologia
Semântica
Sintaxe
Pragmática, Habilidades Con
versacionais e Narrativa
Leitura e Escrita
Hipóteses diagnósticas:
Condutas:
258
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desejo de empregar recursos instrumentais para caracterização
do peril fonoaudiológico de crianças com diferentes distúrbios da comu
nicação foi a principal motivação para construir este roteiro descritivo de
avaliação. Ao fazer isso, procuramos propor um recurso simples, mas que
fosse, ao mesmo tempo, o mais completo possível. Para esse im, a primeira
providência foi elencar as principais perguntas de avaliação que deveriam
ser respondidas para caracterizar o peril de habilidades de comunicação de
crianças pré-escolares e escolares com queixas que venham a ser atendidas
em serviços de avaliação fonoaudiológica.
259
Célia M. Giacheti
(Org.)
REFERÊNCIAS
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do peril comportamental e de competência social de indivíduos com
a síndrome del22q11.2. Rev CEFAC. 2015; 17(4):1062-70. doi:
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competency proiles of stutterers. CoDAS, 2015; 27(1):44-50. doi:
10.1590/2317-1782/20152013065
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
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Célia M. Giacheti
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sobre os Autores1
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https://doi.org/10.36311/2016.978-85-7983-782-1.p263-268
Célia M. Giacheti
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Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
265
Célia M. Giacheti
(Org.)
266
Avaliação da fala e da linguagem:
perspectivas interdisciplinares
267
Célia M. Giacheti
(Org.)
268
SOBRE O LIVRO
Formato 16X23cm
Tiragem 300
2016
Impressão e acabamento
Gráica Campus
Unesp -Marília - SP
269
Avaliação da Fala e da Linguagem :
perspectivas interdisciplinares
sta obra traz em sua consecução a possibilidade de um olhar amplo,
E detalhado e atual sobre paradigmas conceituais e avanços
tecnológicos. Em seus três segmentos são abordados aspectos da
genética como subsídios necessários para entender as síndromes e alguns
dos transtornos do desenvolvimento, são apresentados os recursos
tecnológicos utilizados na avaliação da fala, distúrbios da fluência e
ressonância, que permitem análises mais objetivas e fidedignas dos
comportamentos observados, também são apresentados protocolos de
avaliação fonoaudiológica atualmente utilizados como balizadores do
desenvolvimento infantil possibilitando planejar a intervenção e pensar em
prognóstico, são discutidos protocolos para avaliação da fala e avaliação
miofuncional orofacial
ISBN 978-85-7983-782-1
RCNPq
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Científico e Tecnológico