Administracao Japonesa

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Administração Japonesa

Autor: Vanessa Monteiro


Email: [email protected]
Fonte: Pollon Engenharia

O QUE É ADMINISTRAÇÃO JAPONESA

A administração japonesa poderia ser classificada como um modelo de gestão


fortemente embasado na participação direta dos funcionários. Em especial
participação na produtividade e eficiência voltada para a tarefa, do que na linha
gerencial das relações e desenvolvimento humanos desenvolvida e implementada
principalmente pelos americanos. Porém, as peculiaridades da administração
japonesa merecem uma discussão mais profunda porque os índices de produtividade
japoneses superaram os da maioria dos países ocidentais, a partir da década de 70 e
também porque a cultura oriental infiltrada no comportamento organizacional sempre
provoca polêmica e discussões sobre a importância do aspecto cultural, refletido no
caráter obediente e disciplinado do trabalhador japonês, como o fator condicionante do
sucesso da administração e da aplicação das técnicas industriais japonesas.

O fato é que apenas vinte e cinco anos após a derrota na Segunda Guerra Mundial,
que deixou o país completamente destruído, o Japão começa a invadir o mercado
internacional com seus produtos mais baratos, confiáveis, sem defeitos. As empresas
ocidentais se viram despojadas dos mercados internacionais e dos seus mercados
internos. Pela primeira vez uma nação oriental ameaçava e rompia com a hegemonia
americana em alguns setores da indústria, particularmente nos setores de
eletroeletrônicos e automobilístico, este último considerado a espinha dorsal do
desenvolvimento da manufatura nos EUA, desde o lançamento do Modelo T da Ford.

Consultando a história do processo de industrialização do Japão, verificamos que o


país buscou a transferência de tecnologias das nações ocidentais mais avançadas,
particularmente dos EUA e Alemanha, tanto antes da Primeira Guerra Mundial no
período da Revolução Meiji, quanto após a Segunda Guerra Mundial, durante o
período de reconstrução promovido pelos EUA. Mas seria simplista considerar que o
poder econômico alcançado pelo Japão se deve à simples aplicação dos métodos
ocidentais, como “the best way to do”ou o controle estatístico de produção
desenvolvido nos laboratórios da Bell System, na década de 30. Se fosse assim,
poderíamos esperar um melhor equilíbrio de forças entre americanos e japoneses,
mas essa hipótese é facilmente refutada quando se observa a avidez com que os
americanos e estrangeiros de modo geral têm procurado compreender as técnicas
responsáveis pelo sucesso japonês para adaptá-las ao seu ambiente, visando
alcançar uma posição competitiva melhor.

Há que se ressaltar que as técnicas orientais foram implantadas em um ambiente


cultural diferente do ocidental e são as peculiaridades da cultura japonesa que
primeiramente devem ser compreendidas, para permitir qualquer adaptação da
administração japonesa a outro ambiente.

ORIGEM DA ADMINISTRAÇÃO JAPONESA

A modernização do Japão remonta ao ano de 1868, época em que teve início o


período conhecido como Restauração Meiji e durante o qual foi conduzido o processo
de industrialização do país. Os valores da sociedade japonesa, porém, têm origem em
épocas anteriores, particularmente na era Tokugawa, entre 1615 e 1868. Foram estes
valores que trouxeram as especificidades ao processo de industrialização, ao
funcionamento da sociedade como um todo e consequentemente à forma de
administrar os negócios no Japão.

A era Tokugawa resgatou o confucionismo como filosofia oficial, direcionando o


pensamento para o mundo ao redor, de forma a moldar um sistema social rigidamente
controlado. Os elementos básicos desta filosofia – benevolência, adequação,
sabedoria e obediência - permitiram a formação de uma sociedade hierarquicamente
orientada, pregando a correta observância dos padrões nos relacionamentos sociais.
O objetivo dos líderes é a harmonia. A família é a unidade coletiva básica mais
importante. O coletivo prevalece sobre o individual; as ações e comportamentos são
julgados pelo que podem representar ao grupo. O bem e o mal são determinados pela
aprovação ou desaprovação da sociedade. É o medo da desonra ou a rejeição pelo
grupo que mantém os padrões de comportamento.
O Japão da era Tokugawa era uma sociedade feudal rigidamente dividida em classes,
pela ordem de importância: samurais, lavradores, artesãos e mercadores. Era uma
nação praticamente isolada e preparada para a guerra, decidida a repelir qualquer tipo
de dominação por parte das outras nações, em especial das nações européias.
Porém, em 1853 os americanos invadiram a baía de Uraga e forçaram os japoneses a
se abrir para o comércio com outras nações. A partir deste episódio seguiu-se um
período de turbulência, envolvendo uma guerra civil interna e diversos confrontos com
outros povos em expansão. Os conflitos terminaram com a Revolução Meiji, que
restaurou o império e unificou o país.

O período da Restauração Meiji inaugurou o processo de modernização do Japão,


mantendo, porém os valores da sociedade, o que pode ser bem refletido pela filosofia
da época: “espírito japonês, tecnologia ocidental”. A revolução industrial no Japão
durou cerca de 40 anos e teve como objetivo a defesa da nação contra o avanço dos
colonizadores europeus. Daí o papel fundamental da indústria bélica no processo de
modernização, contando com amplo subsídio do governo japonês e favorecendo a
formação dos zaibatsu, assim denominadas as grandes corporações familiares que
predominavam em diversos setores da economia.

Apesar dos seus valores culturais, em termos de relações exteriores com seus
vizinhos, o Japão adotou uma atitude imperialista predatória a partir da sua vitória nas
guerras contra a China e contra a Rússia, no início do século. Tal postura culminou
com a Segunda Guerra Mundial, causando a destruição quase completa do país.
Entretanto, seus valores seculares continuaram permeando o funcionamento da
sociedade: compromisso com a educação, responsabilidade social, priorização do
coletivo, autoridade e hierarquia, busca de harmonia, cooperação e consenso grupal.

Os “Keiretus”

Após a Segunda Guerra Mundial, encontramos um povo decidido a apagar as


lembranças do período anterior e uma nação em busca da prosperidade. Uma nova
visão de poder se instala: não mais a expansão através do poderio militar, mas através
do poder econômico. No período que sucede a guerra o Japão conta com os
investimentos e a intervenção dos EUA para a reconstrução econômica do país e
desmobilização da máquina de guerra. Entretanto, apesar dos rigores da intervenção,
o Japão acaba se beneficiando da guerra fria entre EUA e a ex-URSS. Enquanto nos
moldes americanos as empresas deveriam se desenvolver por si mesmas, no Japão
as empresas estavam apoiadas no poder político compromissado com sua
prosperidade, disposto a proteger sua indústria e fortalecê-la, antes de abrir o país ao
comércio internacional.

Este período pós-guerra caracteriza-se por uma crise generalizada, que cede com a
consolidação do que se considera os três pilares da recuperação do país em pouco
mais de duas décadas: um partido político forte e consolidado no poder, paz
trabalhista e unificação do povo. Some-se a isso o compromisso do governo com a
educação, além da valorização cultural da instrução; uma alta taxa de poupança
interna; a ampla utilização dos serviços de consultoria para o desenvolvimento
empresarial; a compra de tecnologia e a manutenção da essência de valores culturais
seculares, apesar do processo de ocidentalização do estilo de vida ocorrido a partir do
início da restauração. Forma-se assim um amplo quadro de referência onde se insere
a administração japonesa, que transformou o país numa máquina econômica
ambiciosa e cujos métodos tornaram-se alvo da comunidade empresarial, buscando
compreendê-los para adaptá-los e alcançar melhores condições na competição global.

A ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO JAPONESA

A administração japonesa nasceu no chão-de-fábrica, com a filosofia básica de evitar


qualquer tipo de desperdício – muda – e de promover o melhoramento contínuo –
kaizen. Com esta filosofia, agregada a permanente busca de conhecimentos e
tecnologias avançadas de produção (controle estatístico de processos, planejamento
de produção, engenharia de produtos) e aliados ao favorecimento da política
econômica governamental, os produtos japoneses alcançaram um diferencial
competitivo no mercado internacional. Foi esta diferenciação que resgatou o foco da
comunidade empresarial à área de produção, que até então era visa pelos outros
setores na organização como um mistério insondável e desinteressante, barulhento,
muitas vezes sujo, onde trabalhavam pessoas inexpressivas. A partir disso, a gestão
da produção passou a ser novamente incluída na discussão das estratégias do
negócio. Buscou-se, então, adaptar o sistema de produção japonês a outros
ambientes, desprendendo-o de sua origem na manufatura, buscando implementá-lo
amplamente em qualquer tipo de indústria e em outros setores.

O sistema de produção japonês, tal como é estruturado atualmente, surgiu nos vinte e
cinco anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, na Toyota Motor Co. Seu maior
idealizador foi o engenheiro Taiichi Ohno. Daí decorre as duas outras denominações
do método: Sistema Toyota de Produção ou Ohnoísmo. São características básicas do
Ohnoísmo:
a) Just-In-Time: O sistema de just-in-time envolve uma tentativa de reduzir custos e
melhorar o fluxo de trabalho através da programação de materiais que devem
chegar à uma estação de trabalho no momento certo de seu uso. Permite cortar
custos de manter estoque, maximizar o uso do espaço e contribuir para melhorar a
qualidade dos resultados. Os principais fatores de sucesso do JIT são:

- Alta qualidade de fornecimento: os usuários devem receber apenas bons materiais


dos fornecedores. As relações devem ser construídas e mantidas com
fornecedores confiáveis;
- Cadeia de fornecedores: um número mínimo de fornecedores é melhor;
- Concentração geográfica: tempos de trânsito e de transporte pequenos das
fábricas do fornecedor para o cliente são necessários.
- Transporte e manuseio de materiais eficientes: o transporte entre os fornecedores
e os usuários deve ser confiável.
- Forte compromisso da administração: a administração deve assumir suas ações e
fazer os arranjos necessários para assegurar que o sistema funcione.

Kanban: Um método de autorização da produção e movimentação do material no


sistema JIT. Na língua japonesa a palavra Kanban significa um marcador (cartão,
sinal ou placa) usado para controlar a ordem dos trabalhos em um processo
seqüencial. O objetivo do sistema é assinalar a necessidade de mais material e
assegurar que tais peças sejam produzidas e entregues a tempo de garantir a
fabricação ou montagem subsequentes.

O sistema de controle da produção pelo sistema de kanbans deve funcionar,


através dos diversos centros produtivos da empresa, como se fosse uma corrente
contínua fechada. O resultado será que todos os centros de fabricação do sistema
produtivo receberão no momento exato as quantidades necessárias de itens para
que se cumpram os objetivos do programa de produção.
b) Muda: Busca da eliminação total de qualquer tipo de desperdício;

c) Kaizen: Ênfase na qualidade através da melhoria contínua, onde cada pessoa é


responsável pela qualidade e pela solução dos problemas em seu trabalho. Porém,
a busca da melhoria não se limita aqui à esfera da produção mas constitui uma
filosofia de vida e comportamento, dentro e fora da organização, envolvendo todos,
inclusive executivos e operários. Esta filosofia assume que nossa forma de vida –
seja nossa vida profissional, social ou pessoal – merece ser constantemente
aperfeiçoada;

d) Qualidade e melhoria contínua: A ênfase na melhoria contínua reflete a tentativa de


manter uma vantagem de qualidade ao longo do tempo, sempre buscando novos
meios para melhorar incrementalmente o desempenho atual. A filosofia básica da
melhoria contínua é que cada pessoa nunca deve estar satisfeita com o que faz,
mas estar sempre na busca constante do aperfeiçoamento – Kaizen. Uma maneira
de combinar o envolvimento das pessoas e a melhoria continua é a utilização do
conceito de círculos de qualidade. O círculo de qualidade é um grupo de pessoas –
não mais do que dez – que se reúnem regularmente para discutir meios de
melhorar a qualidade de seus produtos ou serviços. É através dos círculos de
qualidade que se realiza a melhoria contínua a partir das operações diárias

1º passo
Escolher uma
área
6º Passo 2º passo
Administrar a Organizar
implementaçã equipe de

3º passo
5º Passo
Desenvolver Identificar os
estudo piloto benchmarks

4º passo
Analisar o
desempenho do
método atual

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ADMINISTRAÇÃO JAPONESA

a) Administração Participativa: A administração japonesa se baseia na forma


participativa de gestão, envolvendo a participação dos funcionários no processo
decisório, negociação de metas, trabalho em grupo, controle exercido através de
liderança, comunicação bilateral, participação nos resultados. Através dela, o
subordinado compartilha um significativo grau de poder na tomada de decisões com
seus superiores imediatos. O resultado é a obtenção de melhores decisões;

b) Prevalência do Planejamento Estratégico: O planejamento estratégico é um,


processo organizacional compreensivo de adaptação através da aprovação,
tomada de decisão e avaliação. Procura responder a questões básicas como:
porque a organização existe, o que ela faz e como faz. A falta de planejamento
desperdiça mão-de-obra, recursos materiais e tempo, elevando os custos de
produção, gerando perdas de mercado e desemprego. Através do estabelecimento
de um planejamento estratégico a empresa ganha flexibilidade, utilizando seus
pontos fortes para atender às necessidades de seus clientes e conquistar os
clientes da concorrência.

O planejamento estratégico se assenta sobre três parâmetros: a visão do futuro, os


fatores ambientais externos e os fatores organizacionais internos. Começa com a
construção do consenso sobre o futuro que se deseja: é a visão que descreve o
mundo em um estado ideal. A partir daí, examinam-se as condições externas do
ambiente e as condições internas da organização.

Capacidade
Viabilidade Interna
Externa O que a organização
O que é é capaz de fazer?
necessário e Área
possível? definida no
plano

Visão compartilhada
Qual é o futuro desejado?

c) Visão Sistêmica: A empresa é um sistema, pressupondo o conhecimento das inter-


relações de seus diversos componentes. O desempenho de cada componente do
sistema deve ser considerado por sua contribuição ao objetivo do sistema. Os
objetivos propostos só podem ser atingidos eficientemente quando os membros da
organização agem de forma eficiente. O trabalhador tem consciência de que se a
empresa alcançar lucros maiores, ele terá benefícios diretos (melhorando seu nível
de vida) e indiretos (participando dos resultados);

d) Supremacia do Coletivo O coletivo prevalece sobre o individual. O ser humano,


visto como o bem mais valioso das organizações deve ser estimulado a direcionar
seu trabalho para as metas compartilhadas da empresa, preenchendo suas
necessidades humanas e se auto-realizando através do trabalho. Satisfação e
responsabilidades também passam a ser valores coletivos;

e) Busca da Qualidade Total: A Qualidade total é uma filosofia de gestão que


pressupõe o envolvimento de todos os membros de uma organização em uma
constante busca de auto-superação e contínuo aperfeiçoamento – o envolvimento e
participação de todas as pessoas em todos os níveis da organização e a busca da
melhoria constante e contínua.

O termo qualidade total é utilizado para descrever o processo de fazer com que os
princípios de qualidade constituem parte dos objetivos estratégicos da organização,
aplicando-os a todas as operações, juntamente com um melhoramento contínuo e
focalizando as necessidades do cliente, para fazer as coisas certas na primeira vez.
O movimento da qualidade total está associado ao trabalho de consultores
pioneiros nos conceitos de qualidade como Deming e Juran.

A Qualidade Total é assegurada pelo Controle de Qualidade Total – CQT, baseado


em um sistema de métodos estatísticos, centralizado no melhoramento do
desempenho administrativo. Seus resultados são garantia da qualidade, redução de
custos, cumprimento dos programas de entrega, desenvolvimento de novos
produtos e administração do fornecedor. A abrangência do CQT ultrapassa os
limites físicos da empresa, começando com os esforços totais de treinamento de
gerentes e operários.

Os Quatro Aspectos Absolutos Da Qualidade Total

- Qualidade significa conformidade com os padrões: Os funcionários devem saber


exatamente quais os padrões de desempenho que se esperam deles;
- Qualidade decorre da prevenção de defeitos, e não da correção de defeitos: A
liderança, treinamento e disciplina devem prevenir os defeitos em primeiro lugar, e
não somente cuidar da sua correção;
- Qualidade como um padrão de desempenho significa trabalho isento de defeitos:
O único padrão aceitável de qualidade é o trabalho perfeito e sem defeitos;
- Qualidade economiza dinheiro: Fazer as coisas certas da primeira vez economiza
tempo e reduz o custo da correção do trabalho mal feito.

Técnicas De Qualidade Total

A filosofia básica da Qualidade total está voltada para a satisfação do cliente, os


objetivos da organização e algumas considerações ambientais. A aplicação dos
conceitos de QT implica investimentos em pessoas e em tempo. De toda forma, a
implementação da QT envolve o uso de muitas técnicas. As principais são:

- Benchmarking: Ele foi introduzido em 1979 pela Xerox que, para se livrar de um
enorme problema de concorrência no mercado fez comparações com as melhores
empresas concorrentes a fim de melhorar seus próprios processos internos. O
Benchmarking funciona como “o processo contínuo de avaliar produtos, serviços e
práticas dos concorrentes mais fortes e daquelas empresas que são reconhecidas
como líderes empresariais”. Ele permite comparações de processos e práticas
entre as organizações para identificar o “melhor do melhor” e alcançar um nível de
superioridade ou de vantagem competitiva.

- Os 15 estágios do benchmarking:

1. Selecionar departamentos ou grupos de processos para avaliar;


Planejar 2. Identificar o melhor concorrente, utilizando informações de
clientes ou analistas;
3. Identificar os Benchmarks;
4. Organizar o grupo de avaliação;
5. Escolher a metodologia de coleta de informações e dados;
6. Agendar visitas;
7. Utilizar a metodologia de coleta de dados;
Analisar 8. Comparar a organização com seus concorrentes, com os dados
do benchmarking;
9. Catalogar as informações e criar um centro de competência;

Desenvolve 11. Estabelecer os objetivos/padrões do novo nível de


desempenho;

Melhorar 13. Implementar ações específicas e integrá-las nos processos da


organização;
Revisar 14. Monitorar os resultados e as melhorias;
15. Revisar os benchmarks e as relações atuais com a organização
de referência.
- Terceirização (Outsourcing): A terceirização ocorre quando uma operação interna
da organização é transferida para outra organização que consiga fazê-la com
qualidade superior, no sentido de melhorar a qualidade e reduzir custos;

- Redução do Ciclo de Tempo: Tempo de ciclo representa as etapas seguidas para


completar um processo da organização. Cada atividade tem um ciclo de tempo: a
produção de um produto, o desenvolvimento de um novo produto, o retorno do
investimento efetuado. A redução ou simplificação de ciclos de trabalho, a
remoção de barreiras entre departamentos situados entre as etapas do trabalho, a
eliminação de etapas improdutivas no processo são os aspectos que permitem
que a QT seja bem sucedida nas organizações. Por trás da redução do ciclo
operacional, está a competição pelo tempo, o atendimento mais rápido do cliente,
etapas da produção mais bem encadeadas entre si, queda de barreiras e
obstáculos intermediários etc. A redução do ciclo de tempo melhora o
desempenho global da empresa e se reflete diretamente na qualidade;

– Produtividade: A administração japonesa propõe adotar uma visão cooperativa


dos funcionários, incentivando o envolvimento de todos na consecução das metas
da empresa, visando o aumento da produtividade. Além da participação nas
decisões e da auto-realização profissional, as gratificações por níveis de
produtividade são freqüentes nas organizações orientais. Apesar de calcar sua
filosofia nos valores de realização pessoal dos funcionários, a empresa japonesa
reconhece que o incentivo monetário é uma poderosa ferramenta na busca do
comprometimento de seus membros com os objetivos empresariais;

– Flexibilidade: Para responder rapidamente às flutuações de mercado, a


flexibilidade é refletida em vários aspectos: racionalização do espaço,
equipamentos de utilidade geral e versáteis, layout celular, nivelamento e
seqüenciamento da produção em pequenos lotes, redução de estoques, quadro
de trabalhadores qualificados e flexíveis;

– Recursos Humanos: A ênfase é no trabalho em grupo, na cooperação, no


aproveitamento da potencialidade humana. Nas grandes empresas existe
estabilidade no emprego, distribuição de bônus e outros benefícios. A ascensão
na carreira é lenta. O treinamento é intenso e a estrutura de cargos é
extremamente vaga;
– Tecnologia e padronização: Busca-se a harmonia entre o homem, a maquina e o
processo. O trabalho padronizado é tido como fundamental para garantir um fluxo
contínuo de produção. Primeiro ocorre a racionalização do processo; depois, se
conveniente, a automação;

– Manutenção: Os operadores são responsáveis pela manutenção básica,


dispondo de enorme autonomia para interromper um processo errado. A
manutenção preventiva também é privilegiada;

– Relação com fornecedores e distribuidores: A subcontratação externa, prática


antiga no Japão, mantém-se e é reforçada pela formação dos Keiretsu. Com o
desenvolvimento do pós-guerra, ela evoluiu para uma relação de apoio técnico e
financeiro, cooperação e confiança;

– Cultura Organizacional: Procura-se estabelecer um clima de confiança e


responsabilidade, baseado no respeito à hierarquia, na participação das pessoas
no desenvolvimento da tarefa, nas decisões consensuais e na harmonia das
relações;

– Os 5S: são as iniciais de cinco palavras japonesas que começam com “s”, tem
por objetivo proporcionar melhor aproveitamento do espaço, eliminar as causas
dos acidentes, desenvolver o espírito de equipe e assegurar boa aparência da
organização. A implantação do programa dos cinco “S”nas empresas japonesas
requer que todos os funcionários sejam pessoalmente responsáveis pelas
seguintes atividades dentro da organização:

. Seiri: Eliminar o desnecessário


 O Estoque;
 Ferramentas não necessárias;
 Máquinas não utilizadas;
 Produtos com defeito.

. Seiton: Organizar, colocar as coisas nos seus devidos lugares. As coisas
precisam ser mantidas em ordem, para que estejam prontas quando necessário;

. Seiso: Limpar, manter o ambiente limpo e agradável;

. Seiketsu: Padronizar, simplificar as coisas;

. Shitsuke: Disciplinar, manter a ordem e os compromissos e obedecer as normas


do local de trabalho.

Uma vez listadas as características do sistema de produção japonês, não fica difícil
abstrair características genéricas do estilo de administração japonesa que podem
ser aplicadas em outros ambientes culturais. Paralelamente, é possível articular
melhor os temas afins, tais como terceirização, gestão da qualidade total e
organização de células de produção, no sentido de facilitar a comunicação e não
romper com a hierarquia.

VULNERABILIDADES E PONTOS FORTES DO SISTEMA JAPONÊS

O sistema de produção japonês não é nenhum sistema perfeito. Dois pontos frágeis
são bastante visíveis: Depende da cooperação irrestrita das pessoas e é um sistema
praticamente sem folgas. Sendo assim, qualquer erro gera graves repercussões em
todo o processo. Ele depende basicamente das pessoas, da sua competência,
exigindo, portanto qualificação, treinamento e reciclagem constantes.

Outros pontos vulneráveis poderiam ser inferidos. A busca de consenso e o emprego


vitalício, por exemplo, podem favorecer a burocracia e a morosidade no processo
decisório. A estabilidade no emprego implica no rigoroso planejamento das
necessidades de pessoal, seu plano de carreira e critérios de avaliação, mas depende
principalmente da relativa estabilidade do faturamento da empresa, que é cada vez
mais influenciado pelas tendências e preferências de um mercado globalizado.

Outro aspecto vulnerável, não tão explícito, é a eficiência das atividades


administrativas de apoio ao processo de produção. Apesar de terem criado a produção
enxuta e deterem tecnologia à disposição, até recentemente os japoneses não haviam
investido proporcionalmente na melhoria da produtividade desses processos. O
crescimento excessivo do número de produtos, a diminuição do seu ciclo de vida, o
desenvolvimento de um consumismo ambientalmente irresponsável e a concorrência
predatória também podem ser ressaltados como pontos vulneráveis do modelo. Enfim,
desvantagens e vulnerabilidades que devem ser ponderadas frente aos fatores de
sucesso. Um desses fatores, talvez não fique tão explícito na análise geral das
características do sistema japonês: Apesar da estrutura departamentalizada das
empresas japonesas, é evidente a noção de conjunto, a priorização do processo
acima da funcionalidade, o que para as empresas ocidentais só passou a despertar
interesse em função do próprio sucesso japonês e apenas nos anos 90 foi
exaustivamente enfatizado pela reengenharia.

Segundo Fritjof Capra, a visão do povo oriental tem como característica mais
importante, até mesmo como essência a consciência da unidade e da inter-relação de
todas as coisas e eventos. Ou seja, todas as coisas são encaradas como partes
interdependentes e inseparáveis de um todo dinâmico. Assume-se a noção de que
fluxo e mudança são características básicas da natureza. Mudanças são consideradas
manifestações cíclicas da interação de pólos opostos, que devem ser mantidos em
equilíbrio dinâmico. Ou seja, muito além de algumas características culturais como
respeito aos mais velhos, segurança nos investimentos, priorização do coletivo,
obediência à hierarquia, a cultura oriental permite maior flexibilidade de pensamentos
e ações. Ela encara as mudanças como um fenômeno característico da natureza, ao
contrário da cultura ocidental, herdeira do pensamento cartesiano. Entretanto, mesmo
essa aparente vantagem do pensamento oriental não se mostra exclusiva, dado o
sucesso que várias empresas ocidentais têm alcançado na adaptação do método
japonês a seus ambientes.

Diante do exposto, a questão não se resume a implantar nas empresas ocidentais o


modelo de administração japonês, tal e qual. Nosso contexto cultural, o quadro
histórico em que vivemos, enfim, nosso macroambiente deve ser considerado. Tendo
isso em conta, a adoção de conceitos do modelo japonês tem se mostrado não só
conciliável mas extremamente bem sucedida em nossas empresas ocidentais. Por
isso, listamos anteriormente o que consideramos como características gerais da
administração japonesa que bem podem ser utilizadas em quaisquer empresas, de
qualquer setor, inclusive se expandindo do chão-de-fábrica para processos
administrativos.

CONSIDERAÇÕES QUANTO AO SISTEMA JAPONÊS


A crítica mais freqüente ao modelo de administração japonesa se dirige não ao modelo
em si, mas à sua adoção por empresas que se encontram em um outro contexto
cultural. A prevalência do coletivo sobre o individual, por exemplo, mostra-se de difícil
aplicação em um ambiente cujos valores giram em torno da lei da vantagem e da
concorrência individualista. A adoção do modelo em sua íntegra mostra-se então de
pouca viabilidade. O que não impede que modelos alternativos que tentam conciliar
estes pólos estejam sendo implantados em várias empresas, buscando a valorização
do indivíduo através do trabalho em equipe.

Do ponto de vista social, não se pode perder de vista que a reconstrução da economia
japonesa no pós-guerra exigiu um enorme sacrifício social dos japoneses. Além disso,
a evolução em ritmo vertiginoso da inserção do Japão em um contexto mundial, no
qual prevaleciam valores antagônicos aos seus, favorece o questionamento de valores
tradicionais que são usualmente apresentados como justificativas do sucesso oriental.
O não-questionamento da autoridade, a imobilidade social, a interferência dos
superiores na vida pessoal de seus subordinados, a resistência à inclusão da mulher
no mercado de trabalho, entre outros dogmas da cultura oriental, são constantemente
atacados pelas novas gerações japonesas. Ao ingressarem de forma tão contumaz na
economia mundial, as empresas japonesas não apenas ensinaram a validade da
adoção de novos valores, pelas empresas ocidentais, como se expuseram a ter seus
próprios valores modificados.

Paralelamente, não é raro encontrar uma visão excessivamente romântica da


administração japonesa. Os valores confucianos, a tradição milenar de respeito ao
coletivo e a abstinência individual em proveito da coletividade são encarados como
bases de uma sociedade na qual tudo é perfeito e todos são felizes. Na verdade, a
sociedade japonesa, que reflete tão bem os valores citados, apresenta graves
problemas. Do ponto de vista político a corrupção é favorecida e ao mesmo tempo
ameaça a estabilidade das redes de relacionamentos constituídas pelos keiretsu. Do
ponto de vista econômico, o Japão se encontra em descompasso com a economia
mundial. Os freqüentes superávits da balança comercial japonesa, a supervalorização
do iene e o nível de aquecimento da economia provocam um choque face às nações
das quais a economia japonesa depende para suas importações e exportações.

Por fim, é provável que nos próximos anos ocorram novas adaptações e
questionamentos ao modelo de administração japonesa. A ameaça de recessão que
vem assombrando a economia japonesa ratifica essa previsão. Entretanto, para uma
cultura que vê nas ameaças oportunidades de aprimoramento, o que poderia ser mais
estimulante?

www.pollonengenharia.com.br/pagina_news1.asp?codigo=25

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