15 Dossie Tereza Ventura

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 14

Notas sobre política cultural contemporânea

Tereza Ventura*

Resumo – Neste texto, aborda-se a redefinição das agendas de política cultural, relacio-
nando-as aos conceitos de reconhecimento, pluralismo cultural, justiça e igualdade. Esses
conceitos, bem como os movimentos sociais que os sustentam, trazem à tona dimensões
éticas, morais e identitárias que, tendo permanecido sob a tutela do Estado, eram silencia-
das do debate político-cultural. Destaca-se, ainda, a importância do Estado na conciliação
de processos socioculturais particulares com modelos universais de cidadania e de política.
Palavras-chave
Palavras-chave: cultura; reconhecimento; pluralismo; cidadania; espaço público.

1. Cultura e representação de igualdade de gênero, igualdade étnica e


política empoderamento local, inevitavelmente, trouxe-
ram à tona a idéia fundamental de reconheci-
A relação entre cultura e representação
mento dos estilos de vida e da produção mate-
política tem sido objeto de redefinição e debate
rial e imaterial das diversas culturas. Novas for-
nas políticas públicas contemporâneas. Gover-
mas de participação e de luta das comunidades
nos, movimentos sociais, organizações não-go-
na representação política de suas culturas in-
vernamentais, nacionais e internacionais, setor
cluem a justificativa ética do direito ao seu
privado e agências multilaterais de desenvolvi-
modus vivendi e a expansão de suas aspira-
mento estão em coalizão no sentido de
ções e habilidades como uma demanda por
implementar políticas de empoderamento co-
justiça. (Armathia Sen, 1995)
munitário. Todos esses atores, de acordo com
sua lógica específica de atuação, estão envolvi- O debate teórico e acadêmico sobre: direi-
dos na legitimação de concepções alternativas to das minorias, multiculturalismo, reconheci-
de reconhecimento cultural das minorias. As mento e pluralismo ampliou a importância de
agendas voltadas para a preservação da questões como auto-estima e representação
sustentabilidade ambiental, dos direitos humanos, local e global das comunidades que, por um

*
Pós-Doutora em Políticas Culturais pela New York University, Doutora em Sociologia da Cultura pela USP, Professora de Sociologia
da Cultura da UERJ e Pesquisadora do LPP/UERJ. E-mail: [email protected].

Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005 77


Dossiê Nacional

longo período histórico, foram mantidas isola- uma luta criativa, na qual as políticas culturais e
das das políticas do Estado Nacional e das agên- movimentos de reconhecimento desempenham
cias internacionais. Contudo, as pressões do papéis cruciais.
mercado criam condições complexas que afe-
tam a dinâmica política, sociocultural, a natu- Empoderamento comunitário
reza simbólica e a sobrevivência econômica das
comunidades. Como já foi dito, a implementação de pro-
jetos locais de desenvolvimento trouxe a co-
O desafio do processo democrático é con-
alizão entre os atores do mercado, mobiliza-
ciliar a igualdade social, pluralismo cultural,
dos por interesses neoliberais, os movimen-
cidadania e economia política. As políticas cul-
tos sociais e as comunidades locais, todos
turais voltadas para a preservação cultural das
eles interessados na redefinição do poder
minorias não alcançaram estabilidade
do Estado sobre a sociedade e sobre o mer-
institucional e enfrentam a desregulação cres-
cado. Desde os anos 1980, ativistas sociais
cente e o avanço do mercado globalizado
nacionais e internacionais têm alcançado im-
que se respalda na racionalidade econômi-
portante posição dentro das comunidades e
ca da busca de mercados alternativos para
contribuído para dar visibilidade política aos
formas de produtividade local. Esse é o caso
temas do pluralismo, identidade e reconhe-
de várias comunidades indígenas e tradicio-
cimento das minorias.
nais que têm suporte de grandes cor-
porações internacionais sem qualquer inter- O movimento social de reconhecimento
venção reguladora do Estado e da Justiça. reflete também as transformações da esfera
Por um lado, a mobilização política para o da cultura no contexto de um capitalismo
reconhecimento cultural desloca as condi- pós-industrial, no qual a classe social não
ções sócio-econômicas e jurídicas no que atua como base de referência da identidade
diz respeito ao direito civil e político de auto- e das lutas sociais, e o Estado e as agências
governança (Fraser, 1995). De outro lado, a públicas não atuam como únicas forças re-
ausência de reconhecimento e legitimidade guladoras dos dispositivos institucionais de
(Honneth, 1995, 2004; Taylor, 1992) pode representação e distinção da cultura em suas
afetar a sentido coletivo e solidário, o auto- variáveis nacional, popular e erudita. Trata-
respeito e autoconfiança das comunidades se de um contexto em que práticas vincula-
“subalternas”. Várias iniciativas comunitári- das às comunidades étnicas, indígenas e ur-
as, sejam urbanas ou tradicionais, têm de- banas de rua ganham evidência por trazer
monstrado que a ética de pertencimento a um dispositivos de representação de grupos su-
modus vivendi (ser, fazer e viver) é também balternos e autodidatas, ausentes não só nas

78 Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005


Notas sobre política cultural contemporânea

esferas legítimas da cultura nacional, popular Cultura, rede e movimentos


e erudita, como também nas agendas de reivin- sociais
dicação política e social.
Com a globalização, a política cultural pas-
De outra parte, desde o fim do regime co-
sa a se inscrever num conjunto mais amplo de
munista, os Estados Nacionais, tanto da Euro-
demandas e formas de luta e pertença simbóli-
pa, quanto da América Latina, se defrontam
ca que veiculam pretensões de reconhecimen-
com a problematização ao nível público de
to étnico, cultural, sexual, afetivo e de
uma economia da cultura e de sua ra-
potencialidades criativas inscritas em redes lo-
cionalidade administrativa. As principais ini-
cais específicas de organização e diferenciação
ciativas na área de política cultural se deram
social e individual. Movimentos de solidarieda-
em regimes autoritários ou em Estados soci-
de, de modo ainda informal, passaram a cana-
al-democratas, de modo que a combinação
lizar aspirações das manifestações culturais lo-
entre democracia liberal e pluralista e políti-
cais fossem elas sociais, morais, afetivas, de res-
ca cultural é um fato novo no processo con-
sentimento, enfim, fontes de motivação de in-
temporâneo. Considerando o fato de que a
terpelação e resistência política. Os movimen-
política cultural nacional deve levar em con-
tos de solidariedade se configuram como espa-
ta os condicionantes políticos e econômicos
ços de atuação e reivindicação, no qual os agen-
da globalização, as distâncias internacionais tes locais articulam e tematizam repertórios
se encurtam para alguns setores da indústria culturais, lógicas e códigos de conduta que não
da comunicação inseridos no mercado glo- coincidem com os do Estado e do mercado.
bal, enquanto aumentam as distâncias inter- Apoiados em novas formas de cooperação, es-
nas em relação ao consumo e ao mercado de ses agentes resistem à assimilação às estruturas
produtos nacionais. A América Latina, embora partidárias e institucionais do Estado. Os anos
possua 9% da população mundial, detém ape- 1990 foram paradigmáticos no que diz respei-
nas 0,8% da exportação de bens culturais, en- to à visibilidade da pobreza e da desigualdade
quanto o mercado de exportação europeu com social e cultural através de um conjunto de acon-
7% da população mundial exporta 37,5% de tecimentos globais que mostravam, além da
seus bens culturais. pobreza extrema, a humilhação moral e física
A política cultural não pode ignorar os cri- sofrida pelas diversas populações das periferi-
térios próprios da racionalidade do mercado as do mundo capitalista civilizado como Paris,
que induzem à privatização e à desregulação Nova York ou Londres. Conceitos como desi-
da produção cultural, por outro lado, não pode gualdade e exclusão ganhavam significados mais
ignorar as bases normativas que sustentam a amplos associados às dimensões éticas, morais
vida democrática na era pós-industrial. e identitárias, como também as formas de

Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005 79


Dossiê Nacional

expressão e relação que os grupos periféricos que agregava e dava voz aos diversos segmen-
constroem com a cidade e o espaço público tos representativos das comunidades locais. As
transnacional. Novas arenas de tematização dos ONGs estabeleciam parcerias com os grupos
problemas vivenciados no cotidiano e nas rela- locais e internacionais e intermediavam o apoio
ções sociais concretas são articuladas no âm- da prefeitura, de advogados para processos
bito de estruturas associativas locais, trans-lo- judiciais, implantavam projetos culturais e apoi-
cais, iniciativas de base, festas e territórios digi- avam rádios comunitárias. Contudo, a presen-
tais de referência que se disseminavam ça do Estado e do poder público nas comuni-
descentralizadamente pelo mundo. Vários epi- dades periféricas ainda é insignificante quando
sódios brutais de execução das populações de comparada à presença da polícia e do poder
favelas chamavam atenção dos movimentos so- local que pode ser o do tráfico de drogas ou
ciais e da imprensa internacional. A violência dos grandes proprietários de terra. O movimen-
policial se destacava no debate público, pelo to globalizador proporcionou, tanto para as
assassinato brutal de 111 detentos do Presídio comunidades indígenas quanto para as urba-
Carandiru em São Paulo (02 de outubro de nas, o acesso à comunicação eletrônica
1992), pelo assassinato freqüente de menores interativa através de redes de Internet e a difusão
e trabalhadores residentes das favelas conside- de canais comunitários de rádio e televisão, inclu-
rados como “desaparecidos” e pelo assassina- indo-se aí as rádios e gravações piratas que se
to da líder do movimento Mães de Acari, Edméia disseminavam em várias comunidades. As redes
Eusébia, que denunciava o “desaparecimen- de internet proporcionaram a internacionalização
to” de crianças e liderava a luta judicial e social da troca, cooperação intercultural e o acesso fácil
das mães pela apuração dos “desaparecimen- e descentralizado à informação (Castells, 1997).
tos”. Naquele mesmo mês de agosto de 1993, Acresce-se o fato de que o crescimento do merca-
oito crianças de rua foram assassinadas pela do de equipamentos eletrônicos, vídeos, televisão
polícia, episódio que ficou conhecido como o e assinaturas de TV a cabo e por satélite, as novas
Massacre da Candelária. A violência policial tecnologias de produção foram imediatamente
mobilizou entidades internacionais como a incorporadas pelos setores da comunicação pro-
Anistia Internacional, o Human Rights Watch, porcionando o avanço de redes locais de comu-
que, em conjunto com movimentos sociais lo- nicação nas comunidades periféricas como as
cais, atuam na luta pela inclusão social e pelo rádios comunitárias. Pequenas redes semi-indus-
respeito moral e cultural às minorias. triais foram conformando um mercado de cir-
Destaca-se o movimento Ação da cidadania culação, produção e estratégias de marketing
contra a Fome, a Miséria e pela Vida, liderado específicas, através das quais produtores de
pelo sociólogo Hebert de Souza – o Betinho –, eventos e festas ganhariam visibilidade e

80 Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005


Notas sobre política cultural contemporânea

influência nas suas comunidades, a despeito relação entre o Ministério e a clientela fixa de
dos meios oficiais de comunicação de massa. produtores culturais. Os interesses coletivos e
A condição de excluído surge no discurso valores universais que integram a dinâmica do
do Rapper, nas lutas indígenas e étnicas, na campo cultural ou apontem para ordens de
imagem dos grafites de rua, como arte e de- menor visibilidade da atividade cultural oficial,
núncia, a crônica do cotidiano circula no espa- não participavam da dinâmica decisória.
ço onde o poder público e a mídia estão ausen- A política fiscal, tal como foi institucio-
tes. O processo globalizador inscreve a transfor- nalizada, não atende uma demanda de me-
mação a partir das formas locais e redes globais nor visibilidade numa economia de merca-
de intercâmbio, de expressão e de solidariedade. do. A lei de incentivo, ao lado de deses-
A sociabilidade de rede induz a partilha de um timular a iniciativa privada a investir o seu
capital simbólico comum através do qual se for- próprio capital em projetos culturais, per-
jam identidades. Práticas e experiências, que se mite ser usada pela empresa de forma
realizavam de forma desagregada e privada, pas- utilitária à sua imagem institucional. A lei
saram a ser históricas e socialmente associadas a permitiu às corporações criarem as suas
semânticas subculturais comuns. Favorecidas pelo instituições culturais “sem fins lucrativos”
crescente intercâmbio material e simbólico que que hoje detêm um orçamento incompa-
questiona as fronteiras simbólicas e geopolíticas ravelmente superior ao do Ministério da
vigentes, as reivindicações culturais e políticas das Cultura.
populações periféricas ganham sentido no âmbi- Seria o papel das agências públicas do
to de formas e aspirações de reconhecimento en- Estado atuar junto aos vários segmentos da
tão vigentes em outros contextos socioculturais. A sociedade e do mercado, intermediando va-
valorização da diversidade cultural e a identifica- lores e modos de produção cultural “legiti-
ção com as heranças afro-hispânicas, indígenas mando a valor simbólico de certos bens
ou islâmicas e outras mobilizam redes sociais como também os grupos competentes na
transnacionais e fornecem espaços discursivos apropriação desses valores” (DiMaggio,
para tematização de assuntos de relevância co- 1992, p.135). Contudo, a dinâmica da ad-
mum a todas as comunidades periféricas do ministração pública é complexa, tendo em vis-
mundo pós-colonial. ta o projeto de desativar as instituições do Es-
tado, as elites que lá se estabeleceram e a
integração dos setores do mercado na produ-
Estado e política cultural
ção decisória. Os setores não organizados e
Enquanto a prática multicultural avançava, isolados socialmente, não têm poder de parti-
a política cultural dos anos 1990 se baseava na cipação e barganha na dinâmica das decisões.

Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005 81


Dossiê Nacional

A produção de eventos como shows de música Capital social, cultura cívica e


e espetáculos de teatro e dança incluem em seu solidariedade
patrocínio os recursos da lei e, no entanto, os
A tradicional organização burocrática e for-
ingressos e os custos são cobrados a preços
mal do Estado e de suas agências públicas foi
do mercado. O ganho privado dos produto-
repensada por defensores da proposta de ca-
res culturais é favorecido por duas fontes: a
pital social. Segundo Coleman (1992), o Esta-
da produção (assegurada pelos recursos fis-
do de Bem-Estar acabou por atrofiar o desen-
cais) e do consumo. Enquanto as leis de in-
volvimento de canais informais e ordinários de
centivos fiscais agenciam duas instâncias da
participação social. Outros autores, como
cultura: a erudita e a do entretenimento. Fun-
Putnam e Evans, defendem a idéia de sinergia
dações culturais, construídas com recursos
entre capital social e Estado, segundo a qual o
fiscais, poderiam destinar e ampliar os re-
Estado pode fortalecer a eficiência de institui-
cursos no atendimento às demandas das co-
ções locais e atrair o setor privado no processo
munidades. Contudo, a gestão anterior am-
de produção e distribuição (delivery) de bens.
pliou o poder decisório das empresas públi-
Para essa visão, as políticas associadas aos gru-
cas sobre o setor cultural. Empresas como a
pos locais agregam tanto a solidariedade local
Petrobrás, Embratel, Telecom, BNDES e Ban-
quanto a incentivos a interesses individuais. No
co do Brasil destinam recursos fiscais e de-
âmbito das políticas de preservação do
cidem grande parte da produção cultural do
patrimônio e renovação de centros históricos,
país. Essas empresas detêm um orçamento a participação local, ao lado de proporcionar a
maior que o Ministério. Esses recursos, con- ocupação social do espaço, a valorização da
tudo, são recursos públicos tratados como memória e da cultura local, pode atrair o de-
investimentos institucionais privados. senvolvimento sustentável do turismo e outros
Está em jogo a extensão dos recursos de investimentos econômicos de maior e menor
Estado e mercado com que conta os agentes rentabilidade como, por exemplo, a
políticos e comunidades culturais para pro- comercialização do artesanato e passeios eco-
cessar suas demandas e implementar deci- lógicos locais. Parte considerável do patrimônio
sões e a organização de uma agenda da qual histórico está situada em regiões de baixa ativi-
se extraia instituições e orientações políticas dade econômica e sem recursos de sus-
para todos os setores, mas, principalmente, tentabilidade. Importa considerar os diversos
aqueles que não dispõe dos mesmos recur- contextos organizacionais locais em sua capa-
sos de congraçamento e inclusão cultural e cidade de gestão, regulação e cooperação com
social estabelecidos pela modernidade atores estatais e privados. A disputa pelo re-
eurocêntrica. conhecimento político da área cultural

82 Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005


Notas sobre política cultural contemporânea

configura um processo complexo, tendo em No entanto, que tipo de reciprocidade poderia


vista que os conselhos de cultura dos estados e emergir entre a internacionalização e privatização
municípios não são normativos e paritários, e econômica e a valorização das identidades culturais
as ONGs que operam no cotidiano local não locais? Como inscrever o potencial da dimensão cul-
dispõem de recursos que viabilizem a cultura tural local no universo econômico competitivo.
como prioridade de suas políticas. Os conse- A tentativa de organizar a cultura localmen-
lhos, em sua maioria, não incorporam segmen- te expõe os riscos de construção de estratégias
tos representativos dos diversos campos que de diferenciação. Na visão de DiMaggio (1992),
envolvem interesses e valores que se vinculam na medida em que os campos de classificação
à produção, criação, distribuição e consumo tornam-se diferenciados, perdem–se os
da produção cada vez mais multicultural. substratos da autoridade cultural, aberta tanto
A UNESCO, desde o inicio dos anos 1990, às nomeações da sociedade de mercado quan-
tem afirmado que a política cultural deve substi- to das comunidades. As estratégias de diferen-
tuir as representações monolíticas da cultura e ciação que organizam os movimentos sociais
identidade nacional e permitir a emergência de são dispositivos de construção de novos cam-
associações locais junto a atores privados. Segun- pos de classificação e regulação das diferenças
do a UNESCO deve-se superar a idéia da cultura identitárias, baseadas em formas de solidarie-
“como responsabilidade normal do Estado e do dade. Já a proposta de Capital Social busca re-
Governo”. Ao invés de defender a identidade na- conhecer os laços de solidariedade, normas
cional, cabe ao Estado permitir a livre expressão de confiança e formas organizacionais existen-
da diversidade cultural, através da valorização das tes e resistentes que sobrevivem ao nível local e
práticas e demandas culturais locais. que imprimem resistências culturais e também
A inserção do Estado numa economia polí- produtivas, no sentido de possuir formas espe-
tica global e o processo de democratização fa- cíficas e informais de sobrevivência econômi-
zem com que a perspectiva universalista ou ca. Um dos papéis das políticas públicas foi o
pluralista de identidade nacional seja defendi- de manter determinadas instituições com rela-
da por diversos grupos que passam a competir tiva autoridade e autonomia de garantir e asse-
com o Estado pelo monopólio de uma ou vari- gurar a distinção entre formas e valores de de-
adas idéias de nação. terminadas práticas e formas de expressão cul-
Do ponto de vista de uma economia glo- turais. Cabe ao Estado atual ampliar o espaço
bal, a valorização ou fetichização da diferen- institucional para os diversos segmentos
ça cultural, viabiliza um processo distributivo socioculturais da sociedade que ficaram isola-
através do qual a diversidade cultural passa dos da partilha de valores. O processo de dife-
ser reconhecida no processo competitivo. renciação e classificação dos bens culturais

Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005 83


Dossiê Nacional

situava-se num espaço político cultural, em gran- Como garantir num contexto neoliberal a
de medida, ocupado por grupos de elites espe- convivência democrática entre os benefícios
cialistas da alta cultura, sejam aqueles que legi- materiais e maximizadores e a lógica dos valo-
timam narrativas da nacionalidade ou a sofisti- res, discursos e classificações que constituem a
cação de linguagens sejam elas clássicas ou obra cultural? A obra cultural não se restringe a
experimentais. O Estado, ao endossar de forma uma racionalidade econômica, na qual seus
tutelar um sistema de reprodução da alta cultu- empreendedores buscam reduzir custos,
ra “libertando-a dos constrangimentos do maximizar o lucro e a acumulação. O Estado, a
mecenato e do mercado” acabou por afastar menos que encontre novas estratégias de justi-
os bens culturais e artísticos das sanções do ficação ética, econômica e política, não terá a
próprio público. O efeito perverso dessa políti- capacidade decisória junto ao mercado cada
ca foi o de acentuar a distância entre o público vez mais internacionalizado e dominado por
cidadão e as “próprias” produções culturais e grandes corporações transnacionais e
confirmar a hegemonia dominante de uma clas- multinacionais. A atual defesa da diversidade e
se média educada. Tal política de Estado tam- criatividade vem inserindo a agenda cultural
bém permitiu às instituições da indústria de mas- não mais como representação de segmentos
sa se apropriarem do universo simbólico das específicos e linguagens de arte, mas como
populações periféricas regionais, de outros seg- “modo de vida, valores de coesão e solidarie-
mentos socioculturais populares como também dade, preservação de etnias e linguagens, co-
daqueles segmentos que não dominam os códi- munidades locais, sistema de valores e cren-
gos de classificação dos bens culturais. ças”. Proposta que pode aproximar a política
A política cultural está diante de grandes cultural dos projetos que visam a formação do
desafios para se justificar como política públi- capital social e ampliar a sua inserção numa
ca. A globalização inevitavelmente amplia e agenda mais ampla da política de Estado relaci-
fragmenta as demandas por políticas e lhes onada aos temas da cidadania, dos direitos bem
impõe outras estratégias de justificação, se- como com setores de meio ambiente, urbani-
jam elas ao nível discursivo ou na produção zação, turismo e outras áreas que afetam e são
de indicadores econômicos e de consumo. afetadas pelas práticas e valores culturais.
Na medida em que o processo de privatização Segundo a UNESCO, as políticas de cultura de-
avança, a escolha do consumidor tem um vem institucionalizar uma agenda que integre pro-
peso maior no mercado de decisões políti- postas de participação local junto às ONGs e instân-
cas, processo que “enfraquece as bases da cias associativas e devem ser também
autoridade cultural”, anteriormente situadas intergenerativas no sentido de transmitir para futu-
ao nível da produção. ras gerações os bens, práticas e valores herdados.

84 Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005


Notas sobre política cultural contemporânea

Novos critérios para a designação do valor de institucional da proteção às minorias. A agenda


herança cultural incluem áreas urbanas, bair- ambiental disseminava a idéia segundo a qual o
ros, festas populares, centros de culto do Can- que poderia ser menos satisfatório em termos
domblé, estações de trem, teatros, bibliotecas, de crescimento econômico poderia ser auto-
enfim, toda e qualquer manifestação, esteja sustentável no sentido de preencher as neces-
ela no passado ou na contemporaneidade, que sidades econômicas e culturais em escalas lo-
interligue o modo de vida local. Resta consi- cais. As concepções de empoderamento, soli-
derar de que forma as políticas nacionais, lo- dariedade e estima têm sido aplicadas de várias
cais e de parceria podem ser menos dis- formas às políticas públicas no sentido de pro-
criminatórias e mais eqüitativas, inter- mover a coexistência multicultural, mas ainda
generativas e não contribuir para a constru- não existe uma legislação e institucionalização
ção da espetacularização do local. que regule a distribuição e poder e recursos
entre comunidades, associações, governos e
Cultura, sustentabilidade, esfera jurídica, bem como fundações e institui-
ções universitárias. Como os grupos mino-
poder local e cidadania
ritários poderiam obter acesso material e polí-
O debate sobre sustentabilidade ambiental, tico aos meios de defesa de seus direitos e de
precisamente a partir do relatório “Nosso Fu- seu modo de vida?
turo Comum”, advogava a preparação e a in- As políticas culturais jogam um papel fun-
corporação das mais isoladas comunidades na damental no sentido de conduzir a hegemonia
economia de mercado. Essa justificativa desses grupos e suas tradições silenciadas pela
discursiva alcançou um amplo consenso nas modernidade eurocêntrica.
agências internacionais de desenvolvimento no O conceito de política cultural e de distri-
sentido de apoiar a chamada agenda sobre lo- buição deve consolidar um argumento político
cal empowerment. Por um lado, essas inicia- e suas respectivas posições de valor. Política
tivas trouxeram novas oportunidades econô- cultural não trata apenas dos direitos de pro-
micas, políticas e sociais para as comunidades, dução simbólica de bens, mas de um processo
o nome de Chico Mendes surge como uma li- generativo, que não é assegurado por leis, mas
derança internacional na defesa da Amazônia e por práticas que operam fora do Estado e das
das comunidades extrativistas ribeirinhas. A intervenções discursivas que lutam pelo seu
reunião da Comissão Mundial pelo Meio-Am- controle.
biente e o Fórum Global em 1992 inscreveram Contudo, o empoderamento comunitário
o debate sobre os direitos legais, as aspirações, pode representar um projeto contra-hege-
capacidades, os estilos de vida e a regulação mônico em face do discurso neoliberal do

Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005 85


Dossiê Nacional

processo de globalização capitalista e da Cultura, igualdade e justiça


regulação globalizada das diferenças iden-
Podemos afirmar, respaldados por Honneth
titárias.
(1995), que, para esses grupos, a cultura re-
Os conceitos de multiculturalismo e presenta potencialmente a justificação moral
sustentabilidade trouxeram a defesa do de suas correspondentes demandas de inclu-
pluralismo de identidades e do direito das po- são e respeito social. Resta considerar que for-
pulações tradicionais à sua própria organiza- ma e dinâmica tais demandas adquirem na so-
ção e desenvolvimento. Neste contexto, o ide- ciedade. Tais grupos caracterizam-se como uma
al de cidadania multicultural é um meio de comunidade culturalmente integrada partilhan-
confrontação e luta que abre caminho para do história, memórias, práticas por meio das
a proliferação de esferas públicas locais, si- quais reivindicam – como membros de seus
multaneamente capazes de articular específicos grupos – o acesso à igualdade.
translocalmente confrontando e, às vezes,
A pluralidade de formas de vida inscreve
trabalhando junto com o Estado como uma
dinâmicas específicas de reconhecimento mú-
força contra-hegemônica que harmoniza e
tuo que são passíveis de progresso normativo
impulsiona a vocação emancipatória para a
na medida em que possam articular a seu favor
cidadania cosmopolita. (Santos, 2003).
concepções ético-políticas.
Diferentemente das análises pós-estrutura-
listas, o ideal de auto-realização e contesta- Honneth mostra como a partir da
ção presente nas iniciativas culturais nos institucionalização da idéia normativa de igual-
possibilita perceber um procedimento que dade legal, a idéia de “individual achievement”
busca afirmar uma potência criativa e, ao emergia “as a leading cultural idea” (Fraser e
mesmo tempo, reconciliar os agentes numa Honneth: 2003, p.140). O conceito de honra
prática intersubjetiva dotada de uma moldura gradativamente perdia validade, abrindo espa-
normativa que visa a estabelecer novas condi- ço para a individualização do desempenho e
ções sociais de auto-realização e integração. formas de realização individual e diferencial de
valores socialmente partilhados.
A política cultural cumpre um papel fun-
damental na construção de um processo Entretanto, o processo de reorganização do
institucional e discursivo, no qual os mem- status legal e da ordem de prestígio dividiu a
bros de culturas marginalizadas sejam ca- concepção de honra em duas idéias opostas:
pazes de deliberar suas demandas e neces- por um lado, os indivíduos passaram a desfru-
sidades, bem como manter as práticas den- tar respeito e adquirir dignidade e autonomia,
tro das quais se tecem e emergem suas as- enquanto outra parte da noção de igualdade
pirações. submetia à estima social a atribuição de mérito

86 Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005


Notas sobre política cultural contemporânea

relativo ao desempenho diferencial em relação pelo reconhecimento de seus bens e de suas


a outras formas de atividades submetidas a es- habilidades específicas.
feras diferenciadas e assimétricas de valoração As lutas sociais e identitárias expressam
social e econômica. Sendo a expectativa questionamento moral dos modelos e princípi-
normativa básica do comportamento humano os avaliativos, reivindicando a estima social e a
a busca do reconhecimento social de sua habi- valoração de suas habilidades individuais e suas
lidade distintiva, os indivíduos lutam para pre- respectivas contribuições à sociedade.
encher essa potencialidade e a ausência de prin-
Na medida em que a ordem dos valores não
cípios normativos de reconhecimento mútuo
pode ser aplicada funcionalmente na socieda-
inevitavelmente isola capacidades e talentos da
de, as lutas e negociações se impõem de forma
livre expressão e inclusão na sociedade. A atri-
informal ou politicamente organizada, pressio-
buição do mérito (achievement) veicula as
nando o sistema de valores vigente. A fonte bá-
interpretações culturais que legitimam critéri-
sica de motivação social ou individual é a expe-
os de valor que sustentam uma idéia cultural-
riência moral do desrespeito, ou seja, “a injú-
mente construída de bem social como bem
ria social” a integridade e a dignidade.
público e critérios distintivos no acesso ao uso
dos recursos disponíveis. Na visão de Honneth (1995), o processo
de diferenciação é, ao mesmo tempo, um pro-
Ainda que experiências sociais conduzam
à valorização de outras práticas que concernem cesso de auto-identificação coletiva e individu-
à reprodução social, o desenvolvimento indivi- al de formas de vida e práticas sociais que não
dual e coletivo de novas potencialidades e cons- encontram legitimidade frente aos padrões cul-
tituam demandas por estima social, estas esbar- turais e institucionais existentes. Neste sentido,
ram no poder de justificação moral mobilizado demandas por reconhecimento e igualdade se
pela esfera do mérito (achievement). instrumentalizam a partir da culturalização dos
conflitos sociais, ou seja, a partir de um proces-
O princípio da igualdade assegurava inova-
so de autodefinição das minorias sociais, capa-
ções e ganhos de bem-estar social, mantendo a
citando-as a mobilizar criativa e moralmente
estratificação social inalterada na medida em
que assegurava acessos diferenciais aos recur- argumentos políticos a favor de sua inclusão.
sos, normativamente divididos em dois princí- Ainda que não haja consenso acerca de um
pios de distribuição: direitos sociais de igual- modelo político cultural de sociedade
dade que garantem aos sujeitos legais o acesso pluralizada, a sociedade é uma construção hu-
aos bens socialmente disponíveis e os princípios mana e como tal um processo permanente de
de mérito, que reserva maior partilha dos recur- reconhecimento e re-significação de valores e
sos distributivos para os grupos privilegiados práticas, em face do qual se inscreve o espaço

Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005 87


Dossiê Nacional

institucional para o debate acerca da pluri- O desafio que se impõe é combinar proces-
culturalidade do direito a que grupos se organizem sos culturais particulares com direitos de cida-
e optem pelo seu próprio desenvolvimento. dania universais.

Referências Bibliográficas ESCOBAR, A. Encountering development: the


making and unmaking of the third world.
ALVAREZ, S.; DAGNINO, E. & ESCOBAR, A.
Princeton: Princeton University Press, 1995.
Cultura e política nos movimentos sociais
COSTA, S. As cores de Ercilia: esfera pública,
latino-americanos. Belo Horizonte: Editora
democracia e configurações pós-nacionais.
UFMG, 2000.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
APPADURAI, A. Modernity at a large: cultural
DIMAGGIO, P. Social structure, institutions and
dimensions of globalization. Mineáppolis:
cultural goods: the case of United States. In:
Minesota, 1996.
BOURDIEU, P. & COLEMAN, J. (Orgs.) Social
BHABHA, Hommi. O local das culturas. Belo
theory for changing society. Westview:
Horizonte: Editora UFMG, 2001.
Westview Press Boulder, 1992.
BENHABIB, S. Situating the self. Cambridge:
ELIAS, N. & SCOTSON, J. Os estabelecidos e os
Polity Press, 1992.
_____. The claim of culture. Princepton: outsiders. Sociologia das relações de poder
Princepton University Press, 2002. a partir de uma pequena comunidade. Rio
BOURDIEU, Pierre. Les sens pratique. Paris: de Janeiro: Zahar, 2000 [1965].
Minuit, 1980. EVANS, P. State-society sinergy: government
_____. & Coleman, J. (Org.) Social theory for and social capital in development. Berkeley:
changing society. Washington: Westview University of California, 1996.
Press Boulder, 1990. FRASER, N. From redistribution to recognition?
BRADFORD, G. & GARY, M. The politics of culture: Dilemas of justice in post-socialist age. In:
policy perspectives for institutions and New Left Review, n. 212. London: Verso,
communities. New York: The New Press, 2000. 1995, p.68-93.
CALHOUN, C. The politics of identity and _____. Redistribution or recognition?
recognition. In: CALHOUN, C. Critical social Philosophical exchange. London: Verso,
theory. Oxford and Cambridge, 1995, 2001.
p.193-215. FRIEDMANN, J. Empowerment: the politics of
CANCLINI, N. G. Culturas híbridas: estratégias alternative development. UK: Blackwell,
para entrar e sair da modernidade. México: 1993.
Grijalbo, 1990. GILROY, P. O atlântico negro. Modernidade e
CASTELLS, M. Sociedade em rede. Rio de dupla consciência. São Paulo: Editora 34;
Janeiro: Paz e Terra, 1997. Rio de Janeiro: UCAM, 2001.

88 Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005


Notas sobre política cultural contemporânea

HALL, S. Cultural identity and diaspora. In: SANTOS, B. S. Toward a multicultural


RUTHERFORD, J. (Hg.). Identity: conception of human right. In:
community, culture, difference. London: FEARTHERSTONE, M. & LASH, S. (Eds.)
Lawrence & Wishart, 1990, p.222-237. Spaces of culture: city-nation-world.
_____. Introduction. Who needs ‘identity’? In: London: Sage, 1999, p.214-29.
GAY, P. (Hg.) Questions of cultural identity. _____. Reconhecer para libertar. Rio de
London: Sage Publications, 199, p.21-17. Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
_____. The question of cultural identity. In: SEN, A. Culture and economic development.
HALL, S.; HELD, D.; HUBERT, D. & Paris. Unesco, 1995.
THOMPSON, K. (Orgs.). Modernity. An _____. Development as freedom. New York:
introduction to modern societies. Anchor Books, 1999.
Cambridge; Massachusetts: Blackwell, _____. Culture and development. Working
1996b, p.595-634. paper. Washington: World Bank, 2001.
HONNETH, A. The struggle for recognition: the UNESCO. Our cultural diversity. Paris: Unesco,
moral grammar of social conflicts. 1995.
Cambridge: Polity Press,1995. _____. World Culture report. Culture criativity
_____. Recognition or redistribution? In: and market. Paris:Unesco, 1998.
Theory, Culture and Society, n. 2-3. TAYLOR, C. Sources of the self. Cambridge:
London: Sage Publications, 2001, p.43. Cambridge University Press, 1992.
JOAS, H. Decline of community? Comparative _____. The politics of recognition. In:
observations on germany and the United GUTMAN (Ed.). Multiculturalism:
States. In: JANNING, J. et. al. Civic Examining politics of recognition.
engagement in Atlantic Community. Princepton, NJ: Princepton University
Gütersloch: Betelmann Foudation ed, 1999, Press, 1994.
p.55-66. URFALINO, Philippe. Les politiques culturelles:
MICELI, S. Estado e cultura no Brasil. São mecenat cache et academies invisibles. In:
Paulo: Difel, 1984. L’anee sociologique, n.39. Paris: Annes
PANKKRATZ, David. Multiculturalism and Sociologique, 1989, p.26-45.
public arts policy. Connecticut; London: WALBY, Sylvia. From community to coalization:
Bergin and Garvey, 1993. the politics of recognition as the handmaiden
PUTNAM, R. & NANNETI, R. Making democracy of politics of equality in a era of globalization.
work: civic traditions in modern italy. In: Theory, Culture and Society, n.2-3.
Princeton: Princeton University Press, 1993. London: Sage , 2001, p.67-82.

Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005 89


Dossiê Nacional

Abstract – This text goes over the redefinition of the agenda for cultural policies, relating
them to the concepts of recognition, multiculturalism, justice, and equity. Like the social
movements supporting them, these concepts bring up ethical, moral, and identity
dimensions, which, having stayed under State tutelage, were silenced out of political-
cultural debate. Special attention is given to the relevance of the State reconciling
specific social-cultural processes against universal models of citizenship and politics..
Keywords
Keywords: culture; recognition; multiculturalism; citizenship; public space.

Resumen – En este texto, se aborda la redefinición das agendas de política cultural,


relacionándolas a los conceptos de reconocimiento, pluralismo cultural, justicia e
igualdad. Esos conceptos, así como los movimientos sociales que los sostienen, hacen
emerger dimensiones éticas, morales e identitarias que, habiendo permanecido bajo
tutela del Estado, eran silenciadas del debate político-cultural. Se enfatiza, además, la
importancia del Estado en la conciliación de procesos socioculturales particulares con
modelos universales de ciudadanía y política.
Palabras-clave
Palabras-clave: cultura; reconocimiento; pluralismo; ciudadanía; espacio público.

90 Revista Rio de Janeiro, n. 15, jan.-abr. 2005

Você também pode gostar