Fascículo II - Eletrostática No Vácuo

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MNPEF

Eletromagnetismo

Fascículo II
Eletrostática no vácuo

Professor Tibério Alves, D. Sc.

IFRN Campus Natal/Central


21 de abril de 2023
Sumário

II Elestrostática no vácuo 5
1 A lei de Coulomb e o campo elétrico 7
1.1 O rotacional do campo eletrostático . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.1.1 Potencial elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.2 A lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.3 Condições de contorno na eletrostática . . . . . . . . . . . . . 50

2 Trabalho e energia potencial eletrostática 61


2.1 Distribuições discretas de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.2 Distribuições contínuas de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

3 Condutores 67
3.1 Propriedades fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.2 Cargas induzidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.3 Pressão eletrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

4 Capacitores 73
4.1 Capacitância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.2 Energia em capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.3 A matriz de capacitância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.3.1 Coeficientes do potencial, de capacitância e indução . 77
4.3.2 Energia para um conjunto de condutores . . . . . . . . 79

5 Lista de exercícios II 87

A Apêndices 99
A.1 Séries de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
A.1.1 Séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
A.1.2 Expansão em série de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . 100
A.2 Integrais úteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
A.2.1 Integral I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

3
Sumário 4

A.2.2 Integral II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109


A.2.3 Integral III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
A.2.4 Integral IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
A.2.5 Integral V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
A.2.6 Integral VI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
A.2.7 Integral VII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
Fascículo II

Elestrostática no vácuo

5
Capítulo 1

A lei de Coulomb e o campo


elétrico

“[...] we may therefore conclude that the mutual


attraction of the electric fluid which is called
positive on the electric fluid which is ordinarily
called negative is in the inverse ratio of the square
of the distances.”

Charles Augustin Coulomb

Nossa abordagem sobre as leis e equações fundamentais da


eletrostática se inicia com uma das constatações experimentais mais
importantes do eletromagnetismo, a lei de Coulomb. A lei de Coulomb, que
se deve a Charles August Coulomb, estabelece que a intensidade da força
entre dois objetos carregados será diretamente proporcional ao produto das
cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles. O
trabalho de Coulomb foi publicado no ano de 1785 e seu aparato se baseava
na torção sofrida por um fio metálico devido à repulsão elétrica de pequenas
esferas metálicas carregadas. Vamos apresentar a lei de Coulomb em nosso
contexto através da idealização da carga pontual. Considere duas cargas
pontuais q1 e q2 no espaço livre (vácuo) nas posições ~r1 e ~r2 , separadas
r
pelo vetor ~ 12 = ~r2 −~r1 , usando como referência um sistema cartesiano
ortogonal, como ilustra a figura 1.1 a seguir. A lei de Coulomb determina
que a força elétrica ~F12 , no sistema internacional (SI), que atua sobre a carga
q2 devida à carga q1 é expressa matematicamente por

~F12 = k e q1 q2
r r̂
2
12
12 , (1.1)

7
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 8

Figura 1.1: Representação gráfica de um sistema cartesiano ortogonal e duas cargas


r
pontuais q1 e q2 , nas posições ~r1 e ~r2 , respectivamente. O vetor separação ~ 12 =
r
~r2 −~r1 liga a carga q1 a carga q2 , ao passo que ~ 21 = ~r1 −~r2 faz o contrário. Os
r̂ r̂
versores 12 e 21 são vetores unitários que dão os sentidos na direção que liga as
cargas.

e, a força que atua sobre a carga q2 devida à carga q1 (apenas trocando os


índices) será
~F21 = k e q1 q2 21 ,
r r̂ 2
21
(1.2)

sendo a constante de proporcionalidade k chamada de constante


e
eletrostática. Como r̂ = −r̂ e r = r
21 12 é fácil perceber que a lei
21 12
de Coulomb é compatível com a terceira lei de Newton, ou seja,

~F12 = −k e q1 q2 q1 q2
r r̂
2
12
21 = −k e
r r̂
2
21
21 = −~F21 , (1.3)

~F12 = −~F21 . (1.4)


No SI, a carga elétrica é definida através da unidade Coulomb (C),
comprimento é definido em metros (m), tempo em segundos (s), massa
em kilogramas (kg) e a força em Newtons (N). Podemos escrever ainda a
constante eletrostática em termos de outras constantes da seguinte forma,
1
ke ≡ , (SI) (1.5)
4πe0
com e0 sendo a permissividade do espaço livre. O fator 4π surge devido
racionalização das equações de Maxwell para o SI, como veremos no
decorrer dos fascículos.
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 9

A expressão para a força elétrica fica consideravelmente mais simples


se adotarmos o sistema de unidades Gaussianas, atribuído a Carl Friedrich
Gauss. Neste sistema, as unidades para comprimento, massa e tempo
são, respectivamente, o centímetro (cm), o grama (g) e o segundo (s),
que de forma abreviada é chamado também de sistema CGS. No sistema
Gaussiano, a carga não é considerada uma grandeza fundamentalmente
primitiva, mas sim proveniente da definição mecânica de força. O
statcoulomb (stC) ou unidade eletrostática, que em língua inglesa é
eletrostatic unit (esu), é definida de tal maneira que duas cargas pontuais,
ambas de valor igual a 1 stC (ou 1 esu), distantes 1 cm, sofrem 1 dina
de força. Nesta definição, a constante eletrostática é supérflua, é definida
para unidades de grama, centímetro e segundo. Diferentemente, no SI, já
sabemos que a unidade para a carga elétrica é o Coulomb (C). No CGS,
intensidade força elétrica Coulombiana F12 = F21 entre as cargas q1 e q2 é
expressa matematicamente por
q1 q2
F12 = , (1.6)
r 2
12

sendo as cargas dadas em unidades eletrostáticas, a distância em


centímetros e a força em dinas. Usando a análise dimensional, é fácil
mostrar que
1 esu = 1 g1/2 cm3/2 s−1 . (1.7)

A conversão de unidades para carga elétrica é feito usando fator 4πe0 , ou
seja,
qG 1
= √ = 2, 998 × 109 esu/C u 3, 0 × 109 esu/C, (1.8)
qSI 4πe0
sendo qSI o valor da carga no sistema internacional e qG nos sistema
Gaussiano (CGS). O valor 2, 998 surge de uma aproximação para a
velocidade da luz, como veremos futuramente. No decorrer de todos
fascículos, iremos fazer uso do sistema internacional de unidades. No
entanto, faremos uma rápida exposição do contexto no sistema gaussiano
tendo em vista a sua importância histórica e relevância ainda atual na física.
Para um conjunto de N cargas pontuais, a força sobre a j-ésima carga,
ou seja, q j , obedece ao chamado princípio da superposição, e é dada por

N
1 qi q j
~Fj = ∑
i =1( i 6 = j )
4πe0 2ij r r̂ ij , (1.9)

Isto é, a força é obtida mediante a soma de todas as forças exercidas pelas


i-ésimas cargas sobre a j-ésima carga.
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 10

Podemos definir agora um conceito muito importante na teoria


eletromagnética, isto é, o campo elétrico. Esta quantidade indica a força
elétrica sofrida por unidade de carga, sobre uma carga de prova, pela fato
desta estar sob influência de uma distribuição de cargas fonte. Como a soma
é no índice i, podemos fatorar a carga q j do somatório escrevendo
~Fj N
1 qi
qj
= ∑
i =1( i 6 = j )
4πe0 2ij r r̂ ij , (1.10)

e definimos o campo elétrico na posição ~r j , como sendo


N
1 qi
~E(~r j ) = ∑
i =1( i 6 = j )
4πe r r̂
2
0 ij
ij , (1.11)

de tal modo que o campo elétrico ~Ei devido a uma única carga i exercido na
posição j é dado
~Ei (~r j ) = 1 qi ij ,
4πe0 2ij r r̂ (1.12)

Se na posição ~r j não se encontra nenhuma carga, não há necessidade


de excluir termo algum no somatório, e o campo elétrico da distribuição
discreta de N cargas será, na posição ~r j = ~r,

N
1 q
~E(~r ) =
4πe0 ∑ r 2i r̂ i , (1.13)
i =1 i

r
sendo agora ~ i = ~r −~ri .
No SI, a unidade para o campo elétrico é simplesmente Newton por
Coulomb (N C−1 ) ou, como veremos mais adiante, é o Volt por metro
(V m−1 ). Já no sistema CGS, o campo será em Dinas por unidades
eletrostáticas (dina esu−1 ). De acordo com a análise dimensional, termos
que
1 dina esu−1 = 1 g1/2 cm−1/2 s−1 = 1 G, (1.14)
onde a unidade G é o Gauss. Com uma vantagem considerável, pelo menos
para físicos, o CGS unifica no Gauss a unidade para todos os campos
elétricos e magnéticos, sem necessidade de conversão entre eles quando
se apresentarem simultaneamente nas equações do eletromagnetismo. Isso
não ocorre no SI, que possui unidades diferentes para os campos elétricos e
magnéticos. A√conversão de unidades para o campo elétrico também é feita
usando fator 4πe0 ,

EG p 1 G
= 4πe0 = . (1.15)
ESI 2, 998 × 104 N/C
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 11

Exemplo 1.1. Considere o dipolo elétrico físico composto de duas cargas


pontuais no eixo z de um sistema cartesiano de coordenadas, uma de valor
q, ocupando a posição z = − L, e uma de valor −q, ocupando na posição
z = L (sendo q > 0), como indica a figura 1.2 a seguir. Determine o campo
elétrico sobre o eixo x em uma posição arbitrária ~r = x x̂.

Figura 1.2: Dipolo elétrico com as cargas pontuais ocupando as posições ~r1 = − Lẑ
e ~r2 = Lẑ de um sistema cartesiano de coordenadas.

z
L -q
2 r2
E2 y
E1 r r1

x -L q
1

Solução: As posições das cargas fonte são


• ~r1 = − Lẑ,
• ~r2 = Lẑ,
as separações em relação à ~r = x x̂ são
r
• ~ 1 = ~r −~r1 = x x̂ + Lẑ,
• ~r 2 = ~r −~r2 = x x̂ − Lẑ,
ao passo que as distancias em relação à ~r = x x̂ são

r
• 1 = x 2 + L2 ,

r
• 2 = x 2 + L2 .

Usando o fato que


r̂ = ~r ,
r r2 3

~E(~r ) = q ~r + q ~r
1 2 q ( x x̂ + Lẑ) q ( x x̂ − Lẑ)
2 = − , (1.16)
r r
3
1
1 3
2 ( x2 + L2 )
3/2
( x 2 + L2 )
3/2
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 12

~E(~r ) = 2qL
3/2
ẑ (CGS) . (1.17)
( x 2 + L2 )
A componente x̂ é nula, o campo elétrico só possui componente na direção
ẑ. Na figura 1.3 a seguir, apresentamos o gráfico para a componente Ez ( x )
do campo elétrico do dipolo no eixo x no sistema CGS.

Figura 1.3: Gráfico para a componente Ez ( x ) do campo elétrico do dipolo no eixo x


no sistema CGS com valores q = 1 esu e três comprimentos diferentes, L = 0, 5 cm,
L = 1, 0 cm e L = 1, 5 cm

Campo elétrico
9
L = 0, 5 cm
8 L = 1, 0 cm
L = 1, 5 cm
7
Ez ( x ) (dina/ esu)

−1
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4
x(cm)

Exemplo 1.2. Considere o quadrupolo elétrico constituído de 4 cargas


pontuais no plano x-y de um sistema cartesiano de coordenadas, ocupando
os vértices de uma quadrado de lalo 2L, como indica a figura 1.4 a seguir.
As cargas de valor q estão localizadas nos pontos ( L, L, 0) e (− L, − L, 0)
ao passo que as cargas de valor −q estão localizadas nos pontos (− L, L, 0)
e ( L, − L, 0). Determine o campo elétrico sobre o eixo x em uma posição
arbitrária ~r = x x̂.
Solução: Trata-se uma distribuição discreta de cargas onde iremos recorrer à
equação 1.13, para determinar o campo elétrico na posição arbitrária ~r = x x̂.
Vamos usar os índices 1, 2, 3 e 4, respectivamente, para as cargas localizadas
em ( L, L, 0), (− L, L, 0), (− L, − L, 0) e ( L, − L, 0), de tal forma que q1 = q,
q2 = −q, q3 = q e q4 = −q. As posições das cargas serão

~r1 = L x̂ + Lŷ , ~r2 = − L x̂ + Lŷ, (1.18)


Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 13

Figura 1.4: Quadrupolo elétrico formado por 4 cargas pontuais ocupando os


vértices de um quadrado no plano x-y de um sistema de coordenadas.

~r3 = − L x̂ − Lŷ , ~r4 = L x̂ − Lŷ, (1.19)


ao passo que os vetores de separação das cargas em relação à posição sobre
o eixo x, ~r = x x̂, serão
r r
~ 1 = ~r −~r1 = ( x − L) x̂ − Lŷ , ~ 2 = ~r −~r2 = ( x + L) x̂ − Lŷ, (1.20)

~r 3 = ~r −~r3 = ( x + L) x̂ + Lŷ , ~r 4 = ~r −~r4 = ( x − L) x̂ + Lŷ, (1.21)


de módulos,
q q
r 1 = ( x − L) + 2
L2 , r 2 = ( x + L )2 + L2 , (1.22)

q q
r 3 = ( x + L )2 + L2 , r 4 = ( x − L )2 + L2 . (1.23)
Na figura 1.5 a seguir, temos uma representação dos vetores de interesse
para o problema.
O campo elétrico será então dado pela seguinte soma,
N
1 q
~E(~r ) =
4πe0 ∑ r 2i r̂ i , (1.24)
i =1 i

r̂ ~r i i
ou, usando o fato que
r =r , 2
i
3
i
!
N
1 q 1 q q q q
∑ r ~r = 4πe r ~r + r ~r + r ~r + r ~r ,
~E(~r ) = i 1 2 3 4
3 i 3 1 3 2 3 3 3 4 (1.25)
4πe0 i =1 i 0 1 2 3 4
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 14

Figura 1.5: Representação dos vetores de interesse para resolução do problema do


quadrupolo. As cargas q1 , q2 , q3 e q4 estão localizadas, respectivamente, em ~r1 , ~r2 ,
~r3 e ~r4 (vetores pretos). As separações das cargas em relação à posição ~r = x x̂ são
r r r r
~ 1 , ~ 2 , ~ 3 e ~ 4 (vetores cinzas).



~E(~r ) = 1  q
4πe0  h i3/2 [( x − L) x̂ − Lŷ] +
( x − L )2 + L2

−q
+h i3/2 [( x + L) x̂ − Lŷ]
( x + L )2 + L2
q (1.26)
+h i3/2 [( x + L) x̂ + Lŷ]
( x + L )2 + L2


−q 
+h i3/2 [( x − L) x̂ + Lŷ] .
2
( x − L) + L2 

Perceba que soma das componentes na direção x̂ é nula, ao passo que o


resultado para o campo elétrico só possui componente na direção ŷ, isto é,
 
 
~E( x ) = 1  2qL 2qL 
i3/2 − i3/2  ŷ, (1.27)
4πe0 
h h
( x + L )2 + L2 ( x − L )2 + L2 
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 15

 

 

 
~E( x ) = q 1  1 
3/2 −  3/2  ŷ . (1.28)
2πe0 L2 

x  2 x  2
+1 +1 −1 +1

 

 
L L

É importante notar que, mesmo o problema apresentando simetria bem


definida, não recorremos a nenhuma argumento de simetria para chegar
ao resultado, isto é, a soma vetorial dos termos já conduz ao resultado de
forma operacional segura. Um resultado gráfico para a componente y do
campo elétrico do quadrupolo como função de x está apresentado na figura
1.4 a seguir

Figura 1.6: Resultado gráfico para a componente y do campo elétrico produzido


por um quadrupolo sobre o eixo x co L = 1, 0 cm e q = 1 esu.

Gráf co de Ey( x) do quadrupolo


4

2
Ey ( x ) (dina/ esu)

−1

−2

−3

−4
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4
x (cm)

Para distribuições contínuas de carga, vamos recorrer à ideia


fundamental do cálculo integral e fracionar um volume arbitrário V , que
contém uma distribuição volumétrica de carga, em elementos infinitesimais
de volume, digamos dτ 0 , contendo uma carga dq0 = ρ(~r 0 )dτ 0 com
ρ(~r 0 ) sendo a densidade volumétrica especificada para a distribuição de
carga. Desta forma, o campo elétrico devido este elemento infinitesimal
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 16

é considerado como um campo elétrico devido uma carga pontual. O vetor


~r 0 indica a posição do elemento infinitesimal de carga, o vetor ~r indica a
r
posição de interesse para cálculo do campo e o vetor ~ = ~r −~r 0 indica a
posição ~r relativa a ~r 0 (veja a figura 1.7). Com essas definições, o campo
elétrico na posição ~r, devido toda distribuição, é dado pela integral sobre
todo volume V do objeto carregado, ou seja,
˚
~E(~r ) = 1 ρ(~r 0 )dτ 0
4πe0 V
2 r r̂
. (1.29)

Caso a distribuição de carga seja superficial ou linear, temos,

Figura 1.7: Representação esquemática de um objeto carregado com uma


distribuição volumétrica de cargas ρ(~r 0 ) e os vetores de interesse para determinação
do campo elétrico no ponto desejado. ~r 0 é o vetor posição do elemento de carga, ~r
r
é o vetor posição de onde se deseja determinar o campo elétrico e ~ é a separação
entre os dois vetores anteriores, dando a posição de onde se quer calcular o campo
elétrico em relação à posição do elemento de carga.

respectivamente, as seguintes expressões


¨
~E(~r ) = 1 σ (~r 0 )da0
4πe0 S 2
,
r r̂ (1.30)

ˆ 0 0
1 λ(~r )dl
~E(~r ) =
4πe0 C r r̂ ,
2
(1.31)

com σ e λ sendo as densidades superficiais e lineares de carga,


respectivamente.
Exemplo 1.3. Considere um anel circular de raio R com centro coincidindo
com a origem do sistema de coordenadas estando sobre o plano x-y (veja
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 17

figura 1.8 a seguir). Sua densidade linear de carga λ é uniforme. Determine


o campo elétrico num ponto de posição ~r = zẑ, ou seja, um ponto sobre o
eixo z.

Figura 1.8: Representação esquemática de um anel carregado e os vetores de


interesse para integração do campo elétrico.

Solução: Em coordenadas cilíndricas, dl 0 = Rdφ0 e ~r 0 = Rρ̂ = R(cos φ0 x̂ +


r
sin φ0 ŷ). Dessa forma, ~ = ~r −~r 0 = − R(cos φ0 x̂ + sin φ0 ŷ) + zẑ com
r 2 = R2 + z2 . Portanto, resolvendo a integral do campo elétrico para esta

densidade linear de carga, temos


ˆ
~E(~r ) = 1 λ(~r 0 )dl 0
4πe0 C 2
,
r r̂ (1.32)

ˆ 0 0
1 λ(~r )dl
~E(~r ) =
4πe0 C r ~r ,
3
(1.33)

ˆ
1 λRdφ0

~E(~r ) = [− R(cos φ0 x̂ + sin φ0 ŷ) + zẑ]. (1.34)
4πe0
0 ( R2 + z2 )3/2
´ 2π
As integrais nas componentes x e y se anulam pois 0 cos φ0 dφ0 =
´ 2π 0 0
0 sin φ dφ = 0, fazendo com que o campo elétrico tenha componente
apenas na direção z, como era de se esperar pela simetria da distribuição de
carga, isto é,
ˆ 2π
~E(z) = 1 λRz
dφ0 ẑ, (1.35)
4πe0 ( R2 + z2 )3/2 0

~E(z) = λR z
ẑ . (1.36)
2e0 ( R2 + z2 )3/2
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 18

No caso limite de z  R,

~E(z) = λR z ẑ, (1.37)


2e0 |z|3

1 Q

 ẑ, z>0
 4πe0 z2


~E(z) = (1.38)
− 1 Q ẑ,


 z < 0.
4πe0 z2
com Q = 2πRλ sendo a carga total do anel. Isso mostra que no limite de
z  R, o campo elétrico é típico de carga pontual. Na caso limite de z  R,
vamos fatorar R2 no denominador da seguinte maneira,

~E(z) = λR  z
2e0 3/2 ẑ, (1.39)
z2

R2 1+ 2
R

~E(z) = λ z/R
2e0 R  3/2 ẑ, (1.40)
z2
1+ 2
R
e definindo x ≡ z/R,

~E( x ) = λ x
ẑ. (1.41)
2e0 R (1 + x2 )3/2

Podemos agora usar a expansão em série de Taylor (veja no apêndice A.1


um texto complementar detalhado sobre as séries de Taylor)

3 15 35
(1 + x2 )−3/2 = 1 − x2 + x4 − x6 + ... (1.42)
2 8 16
para chegar a um resultado em série de potências de x para o campo elétrico,
 
~E( x ) = λ 3 3 15 5 35 7
x − x + x − x + ... ẑ. (1.43)
2e0 R 2 8 16
Considere agora a aproximação z  R, ou seja, x  1. A aproximação de
ordem zero indica que o campo elétrico terá comportamento linear em x, e
será
~E( x ) ≈ λx ẑ (1.44)
2e0 R
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 19

É interessante notar que se colocarmos uma carga pontual de sinal


contrário ao sinal da carga do anel, numa posição do eixo z nesta
aproximação (z  R), mantendo-se o anel fixo, a força elétrica sofrida pela
carga pontual será do tipo restauradora e obedecerá a lei de Hooke. Para
uma carga pontual de valor −q e massa m, a componente da força elétrica
será
qλz
F≈− , (1.45)
2e0 R2

F ≈ −kz, (1.46)

com k ≡ . Considerando apenas a força elétrica, o movimento seria
2e0 R2 r r
k qλ
harmônico simples de frequência ω = = . No entanto,
m 2e0 mR2
como a carga elétrica acelerada emite radiação eletromagnética, como
estudaremos mais adiante neste texto, o movimento será amortecido. Na
figura 1.9 a seguir, estão apresentados os gráficos para o campo elétrico
gerado por um anel para pontos no eixo z para os resultados exata, carga
pontual (z  R) e aproximação linear (z  R).

Figura 1.9: Resultados gráficos para o campo elétrico sobre pontos no eixo z
produzido pelo anel carregado com densidade linear λ. As linhas tracejada,
pontilhada e sólida representam, respectivamente, os resultados para o campo
elétrico exato, carga pontual (z  R) e aproximação linear (z  R).

0 ,4 E x a to
P o n tu a l
0 ,2 L in e a r

2 e 0E /  R 0 ,0

- 0 ,2

- 0 ,4

-6 -4 -2 0 2 4 6

x = z /R
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 20

Exemplo 1.4. Considere uma superfície hemisférica de raio R compreendida


entre π/2 ≤ θ ≤ π, carregada com densidade superficial uniforme de carga
σ no vácuo, com centro na origem de um sistema de coordenadas como
indica a figura 1.10 a seguir. Encontre o campo elétrico na origem do sistema
de coordenadas, ou seja, no centro do hemisfério.

Figura 1.10: Representação esquemática de uma superfície hemisférica de raio R


compreendida entre π/2 ≤ θ ≤ π.

E ʹ
R
y
ʹr
ʹ daʹ
x

Solução: Os vetores de interesse serão:


• ~r 0 = R sin θ 0 cos φ0 x̂ + R sin θ 0 sin φ0 ŷ + R cos θ 0 ẑ.

• ~r = ~0.
r
• ~ = − R cos θ 0 ẑ − R sin θ 0 cos φ0 x̂ − R sin θ 0 sin φ0 ŷ.
• r = R.
• da0 = R2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 .
Calculando o campo elétrico na posição ~r, teremos
¨
~E = 1 σ (~r 0 )da0
4πe0 S 3
~.
r r (1.47)

Separando a integral por componentes vetoriais


~E = ~Ex + ~Ey + ~Ez , (1.48)

ˆ ˆ
~Ex = 1 2π π
σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 [− R sin θ 0 cos φ0 x̂ ]
, (1.49)
4πe0 0 π/2 R3
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 21

ˆ ˆ
~Ey = 1 σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 [− R sin θ 0 sin φ0 ŷ]
2π π
, (1.50)
4πe0 0 π/2 R3
ˆ 2π ˆ π
~Ez = 1 σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 [− R cos θ 0 ẑ]
. (1.51)
4πe0 0 π/2 R3
Perceba que as componentes nas direções x̂ e ŷ se anulam, visto que
´ 2π 0 0
´ 2π 0 0 ~
0 cos φ dφ = 0 sin φ dφ = 0, sobrando apenas Ez ,
ˆ ˆ
~E = − 1
2π π
σR2 sin θ 0 cos θ 0 dθ 0 dφ0
ẑ, (1.52)
4πe0 0 π/2 R2
ˆ 2π ˆ π
~E = − σ dφ0 sin θ 0 cos θ 0 dθ 0 ẑ, (1.53)
4πe0
| 0 {z } | π/2 {z }
2π −1/2

~E = σ ẑ . (1.54)
4e0

Exemplo 1.5. Seja um cilindro uniformemente carregado com densidade


volumétrica ρ0 no vácuo, com eixo principal coincidindo com o eixo z de
um sistema cartesiano, de raio R, compreendido entre z = − L/2 e z = L/2
tendo comprimento L. Calcule o campo elétrico em um ponto sobre o eixo
z tanto dentro quanto fora do cilindro.
Solução: Os vetores de interesse serão:
• ~r = 0x̂ + 0ŷ + zẑ
• ~r 0 = ρ0 cos φ0 x̂ + ρ0 sin φ0 ŷ + z0 ẑ
r
• ~ = −ρ0 cos φ0 x̂ − ρ0 sin φ0 ŷ + (z − z0 )ẑ

r p
• = ρ 02 + ( z − z 0 )2
• dτ 0 = ρ0 dz0 dρ0 dφ0
Calculando o campo elétrico na posição ~r, teremos
˚
ρ0 dτ 0
~E =
3
~,
V r r (1.55)

ˆ ˆ R ˆ L/2
~E(z) = ρ0

ρ0 dz0 dρ0 dφ0 [−ρ0 cos φ0 x̂ − ρ0 sin φ0 ŷ + (z − z0 )ẑ]
.
0 0 − L/2 [ρ02 + (z − z0 )2 ]3/2
(1.56)
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 22

Figura 1.11: Representação esquemática de um cilindro uniformemente carregado


com densidade volumétrica ρ0 no vácuo.

r
R
L/2
z- zʹ



y
ʹ ʹ

x -L/2

Perceba que as componentes nas direções x̂ e ŷ se anulam, visto que


´ 2π 0 0
´ 2π 0 0
0 cos φ dφ = 0 sin φ dφ = 0, sobrando apenas a componente na
direção ẑ,
ˆ 2π ˆ R ˆ L/2 0 0 0 0
~E(z) = ρ0 ρ dz dρ dφ (z − z0 )
02 0 2 3/2
ẑ, (1.57)
0 0 − L/2 [ ρ + ( z − z ) ]
ˆ 2π ˆ R (ˆ
L/2 0 (z − z0 )
)
~E(z) = ρ0 0 0 0 dz
dφ ρ dρ 02 0 2 3/2
ẑ. (1.58)
0 0 − L/2 [ ρ + ( z − z ) ]

Resolvendo a integral em z0 por substituição u = z − z0 ,


ˆ z− L/2 z− L/2
udu 1
− = , (1.59)

02 2 3/2
p
z+ L/2 [ ρ + u ] ρ 02 + u2

z+ L/2

ˆ z− L/2
udu 1 1
− = p −p , (1.60)
z+ L/2 [ ρ 02 2
+u ] 3/2 0 2
ρ + (z − L/2) 2 0
ρ + (z + L/2)2
2

voltando agora para o cálculo do campo elétrico,


ˆ R ( )
~E(z) = 2πρ0 0 0 1 1
ρ dρ p −p ẑ,
0 ρ02 + (z − L/2)2 ρ02 + (z + L/2)2
(1.61)
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 23

(ˆ ˆ )
~E(z) = 2πρ0
R
ρ0 dρ0 R
ρ0 dρ0
p − p ẑ, (1.62)
0 ρ02 + (z − L/2)2 0 ρ02 + (z + L/2)2

(q R q R )
~E(z) = 2πρ0

ρ02 + (z − L/2)2 − ρ02 + (z + L/2)2 ẑ, (1.63)
0 0
q
~E(z) = 2πρ0 R2 + (z − L/2)2 − |z − L/2|−
q  (1.64)
R2 + (z + L/2)2 + |z + L/2| ẑ.

Para z > L/2, |z − L/2| = z − L/2 e |z + L/2| = z + L/2,


q
~E(z) = 2πρ0 R2 + (z − L/2)2 − (z − L/2)−
q  (1.65)
2 2
R + (z + L/2) + z + L/2 ẑ,

 q q 
~E(z) = 2πρ0 L + R2 + (z − L/2)2 − R2 + (z + L/2)2 ẑ . (1.66)

Para − L/2 < z < L/2, |z − L/2| = L/2 − z e |z + L/2| = z + L/2,


q
~E(z) = 2πρ0 R2 + (z − L/2)2 − ( L/2 − z)−
q  (1.67)
2 2
R + (z + L/2) + z + L/2 ẑ,

 q q 
~E(z) = 2πρ0 2z + R2 + (z − L/2)2 − R2 + (z + L/2)2 ẑ . (1.68)

Para z < − L/2, |z − L/2| = −(z − L/2) e |z + L/2| = −(z + L/2),


q
~E(z) = 2πρ0 R2 + (z − L/2)2 + (z − L/2)−
q  (1.69)
2 2
R + (z + L/2) − (z + L/2) ẑ,
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 24

 q q 
~E(z) = 2πρ0 − L + R2 + (z − L/2)2 − R2 + (z + L/2)2 ẑ . (1.70)

Na figura 1.12 são apresentados os resultados gráficos para a componente


do campo elétrico gerado pelo cilindro ao longo de seu eixo.

Figura 1.12: Resultados gráficos para o campo elétrico sobre pontos no eixo z
produzido pelo cilindro uniformemente carregado. As dimensões usadas para o
resultado gráfico são R = 2, 0 cm, L = 10, 0 cm e densidade volumétrica de carga
ρ0 = 1, 0 esu/cm3 .

15
R=2,0 cm
L=10,0 cm
10
Ez (z) (dina/ esu)

−5

−10

−15
−10 −5 0 5 10
z(cm)

1.1 O rotacional do campo eletrostático


Com intuito de obter as equações fundamentais da eletrostática,
vamos inicialmente calcular o rotacional do campo eletrostático. Vale
recordar aqui do cálculo vetorial, que o rotacional de uma função vetorial
é uma operação que calcula a circulação por área desta função. Desta
forma, calculando o rotacional do campo eletrostático, vamos estudar o
comportamento circular de suas linhas de campo. Vamos partir da lei de
Coulomb para distribuições volumétricas de carga para determinar quanto
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 25

vale ∇ × ~E. Aplicando o rotacional diretamente na equação 1.29, temos


˚
ρ(~r 0 )dτ 0
 
1
∇ × ~E = ∇ ×
4πe0 V
2
,
r r̂
(1.71)

e como o rotacional é sobre as variáveis da posição ~r, e não de ~r 0 , ele irá


atuar apenas nos termos contendo ~ , r
˚
∇ × ~E =
1

ρ(~r 0 )dτ 0 ∇ ×
 
.

(1.72)
4πe0 V
2 r
Observe que o cálculo se resume apenas em calcular o rotacional de uma
r̂ r
~
função vetorial ~f = 2 = 3 . Em coordenadas cartesianas, os vetores de
r r
interesse são ~r = x x̂ + yŷ + zẑ, ~r = x x̂ + y ŷ + z ẑ e ~r = ( x − x ) x̂ + (y −
0 0 0 0 0
y )ŷ + (z − z )ẑ com r = ( x − x ) + (y − y ) + (z − z ) . Vamos calcular
0 0 2 0 2 0 2 0 2
de início somente a componente x e facilmente generalizar para as demais
componentes. A componente x do rotacional de ~f é dada por
∂ fy
 
~ ∂ fz
(∇ × f ) x = − , (1.73)
∂y ∂z
com
(z − z0 )
fz = 3/2
, (1.74)
[( x − x 0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 ]
(y − y0 )
fy = 3/2
. (1.75)
[( x − x 0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 ]
Calculando as derivadas temos
( )
∂ fz ∂ (z − z0 )
= , (1.76)
∂y ∂y [( x − x 0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 ]3/2

∂ fz 3(z − z0 )(y − y0 )
=− 5/2
, (1.77)
∂y [( x − x 0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 ]
( )
∂ fy ∂ (y − y0 )
= , (1.78)
∂z ∂z [( x − x 0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 ]3/2
∂ fy 3(y − y0 )(z − z0 )
=− 5/2
, (1.79)
∂z [( x − x 0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 ]
de onde concluímos que
∂ fy
 
∂ fz
(∇ × ~f ) x = − = 0. (1.80)
∂y ∂z
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 26

O mesmo se sucede para as demais


  componentes devido a forma da
~ r
função 3 , concluindo que ∇ ×

= 0. Logo, o rotacional do campo
r
eletrostático é nulo, ou seja,
2 r
∇ × ~E = ~0 . (1.81)

1.1.1 Potencial elétrico


De acordo com a equação 1.81, o campo elétrico é do tipo irrotacional,
ou seja, suas linhas de campo não realizam circulações. Como veremos
através da lei de Gauss, as linhas do campo eletrostático convergem ou
divergem, dependendo do sinal, em fontes que são as cargas elétricas.
Essa propriedade do campo eletrostático permite definirmos um campo
escalar que pode ajudar tanto na descrição física da eletrostática como no
tratamento matemático. Esse campo escalar é definido como o potencial
elétrico. Não é tão difícil perceber isso quandoolhamos para a expressão do
campo elétrico, usando o fato que 2 = −∇
r̂ 1

(fica para demonstração
do leitor). Desta forma,
r r
˚
1 ρ(~r 0 )dτ 0
~E(~r ) =
4πe0 V r r̂ ,
2
(1.82)

˚  
~E(~r ) = − 1 0 0
ρ(~r )dτ ∇
1
, (1.83)
4πe0 V r
˚
ρ(~r 0 )dτ 0
 
~E(~r ) = −∇ 1
, (1.84)
4πe0 V r
~E(~r ) = −∇V, (1.85)
onde definimos a expressão entre colchetes acima como o potencial elétrico,
isto é,
˚
1 ρ(~r 0 )dτ 0
V (~r ) = . (1.86)
4πe0 V r
Para as distribuições superficiais e lineares temos, respectivamente,
¨
1 σ(~r 0 )da0
V (~r ) = , (1.87)
4πe0 S r
ˆ
1 λ(~r 0 )dl 0
V (~r ) = . (1.88)
4πe0 C r
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 27

Do ponto de vista geométrico prático, o campo elétrico diz a variação


direcional do potencial elétrico no espaço por unidade de comprimento.
Seu sentido indica para onde ocorre a variação máxima do potencial elétrico
por comprimento no espaço, e sua intensidade indica quanto vale a referida
variação. Para visualizar esta conexão entre ~E e V através de ~E = −∇V,
vamos calcular o potencial elétrico devido a unidade de carga mais simples
na eletrostática, ou seja, a carga pontual. Para começar, considere a integral
de linha por um caminho arbitrário desde uma posição ~R de referência até
uma posição ~r, ou seja,
ˆ ~r ˆ ~r
− ∇V · d~l = ~E · d~l. (1.89)
~R ~R

Como a integral do gradiente do potencial elétrico é simplesmente igual ao


potencial elétrico (teorema fundamental para gradientes), temos
ˆ ~r
V (~r ) − V (~R) = − ~E · d~l. (1.90)
~R

Note que o lado esquerdo da equação apresenta simplesmente a diferença


de potencial elétrico entre a posição ~r e uma posição de referência ~R. É
comum, quando temos uma distribuição finita de cargas, assumirmos que o
potencial é nulo para distâncias infinitamente grandes em relação as cargas,
ou seja, vamos fazer lim V (~R) = 0. Desta forma, temos que
R→∞

ˆ ~r
V (~r ) = − ~E · d~l . (1.91)

Esta é a definição do potencial elétrico para um determinado ponto numa


posição ~r, em relação a um ponto de referência tomado no infinito. Se
considerarmos uma carga elétrica pontual de valor q na origem do sistema
de coordenadas, para qualquer caminho C temos que
ˆ ~r 1 q
V (~r ) = − r̂ · (drr̂ + rdθ θ̂ + r sin θdφφ̂), (1.92)
∞ 4πe0 r2

ˆ ~r
q dr
V (~r ) = − , (1.93)
4πe0 ∞ r2

q 1 ~r

V (~r ) = . (1.94)
4πe0 r ∞
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 28

onde chegamos ao potencial elétrico devido uma carga pontual localizada


na origem do sistema de coordenadas no ponto arbitrário de posição ~r,
1 q
V (~r ) = . (1.95)
4πe0 r
Não é tão difícil notar que se a carga não estiver na origem, mas sim numa
posição ~r 0 , o potencial na posição ~r será
1 q
V (~r ) = . (1.96)
4πe0 r
Chamamos de equipotenciais eletrostáticas, o conjunto de
superfícies definidas cada uma por um mesmo valor de potencial elétrico.
Para pontos sobre uma mesma superfície equipotencial, não há obviamente
diferenças de potencial. Sendo ~a e ~b pontos sobre uma mesma equipotencial,
a integral de linha do campo elétrico em um caminho arbitrário será nula,
ou seja,
ˆ ~a
V (~a) − V (~b) = − ~E · d~l = 0. (1.97)
~b
Se esta última integral é nula para qualquer caminho sobre uma
equipotencial, implica que ~E · d~l = 0, que por sua vez indica que o campo
eletrostático ~E será perpendicular à superfície equipotencial. Na figura 1.13
a seguir, temos as configurações de linhas de campo elétrico e as superfícies
equipotenciais para uma carga pontual positiva e negativa, para um dipolo
elétrico, para um par de cargas positivas e para um par de cargas negativas.

No SI, a unidade para potencial elétrico é o famoso Volt (1 N · m/C).


Já no sistema CGS, o potencial elétrico é medido em statVolts, que análise
dimensional é expressa apenas multiplicando a unidade do campo elétrico
no CGS por centímetros, de tal maneira

1 stV = 1 dina cm esu−1 = 1 g1/2 cm1/2 s−1 . (1.98)

Como o statVolt é obtido apenas multiplicando a unidade do campo por


centímetro, a conversão de unidades entre os sistemas SI e CGS é feita da
mesma forma que o campo elétrico. Se usarmos o valor da permissividade
elétrica no espaço livre em termos de uma razão stV/V, teremos
VG p 1 stV 1 stV
= 4πe0 = u . (1.99)
VSI 2, 998 × 102 V 300 V

Usando a relação ~E = −∇V, podemos perceber que o campo elétrico pode


ser escrito no SI em unidades de V/m. De forma análoga, no CGS podemos
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 29

Figura 1.13: Representação gráfica para as linhas de campo elétrico (linhas


sólidas) e equipotenciais (linhas tracejadas) para uma carga pontual positiva (a)
e uma carga pontual negativa (b). Neste caso, as equipotenciais são superfícies
esféricas concêntricas, de tal maneira que os potenciais definidos por essas superfície
diminuem com o aumento do raio para carga positiva, sendo o contrário para a carga
negativa. O campo elétrico, calculado por ~E = −∇V, aponta da direção radial e
tem seu sentido indicando para onde o potencial elétrico diminui. Perceba também
que ~E é perpendicular nas equipotenciais. Em (c) e (d) temos, respectivamente,
as configurações para as linhas de campo elétrico (linhas sólidas) e equipotenciais
(linhas tracejadas) para um dipolo elétrico e duas cargas pontuais positivas.

Equipotenciais Equipotenciais
E
E
Potencial Potencial
diminuindo diminuindo
+q -q

V>0 V<0

(a) Carga pontual positiva. (b) Carga pontual negativa.

Equipotenciais

Equipotenciais V<0 E
-q +q
V=0

E
+q
+q
V
V>0
V>0

(c) Dipolo elétrico. (d) Cargas pontuais positivas.


Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 30

escrever o campo elétrico em unidades de stV/cm. Usando o valor da


V/m
permissividade elétrica no espaço livre em termos de uma razão ,
stV/cm
1
× 10−4
EG 2, 998 stV 1 stV
× 10−4
p
= 4πe0 = u . (1.100)
ESI 1 V 2, 998 V
Na expressão para o cálculo do potencial elétrico de distribuições
contínuas e volumétricas de carga, transformando do SI para o CGS,
teremos ˚
1 ρSI (~r 0 )dτ 0
VSI (~r ) = . (1.101)
4πe0 V r
˚ √
VG (~r ) 1 4πe0 ρG (~r 0 )dτ 0
√ = . (1.102)
4πe0 4πe0 V r
˚
ρG (~r 0 )dτ 0
VG (~r ) = . (1.103)
V r
˚
ρ(~r 0 )dτ 0
V (~r ) = (CGS). (1.104)
V r
O mesmo acontece com as densidades superficiais e lineares.
Exemplo 1.6. Considere uma casca esférica de raio R com centro localizado
na origem do sistema de coordenadas possuindo densidade superficial σ
uniforme de carga elétrica. Determine o potencial elétrico para pontos
dentro (r < R) e fora (r > R) da superfície esférica através da equação
1.87. Encontre o campo elétrico dentro e fora da superfície esférica através
de ~E = −∇V.
Solução: Sem perdas de generalidade, devida a simetria esférica do
problema, podemos fazer o vetor posição ~r apontar da direção z, de
tal forma que ~r = r ẑ (veja a figura 1.14 a seguir). A localização do
elemento de carga dq0 = σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 é o vetor ~r 0 e o vetor posição ~ r
em relação
√ ao elemento de carga tem módulo dado pela lei dos cossenos
r = R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 . Sendo assim, a partir da equação 1.87, a integral
do potencial elétrico será
ˆ ˆ
1 2π π
σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0
V (r ) = √ , (1.105)
4πe0 0 0 R2 + r2 − 2Rr cos θ 0
ˆ
σR2 π
sin θ 0 dθ 0
V (r ) = √ . (1.106)
2e0 0 R2 + r2 − 2Rr cos θ 0
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 31

Figura 1.14: Superfície esférica carregada com densidade σ(~r0 ) de cargas e os


vetores de interesse para cálculo do potencial elétrico.

r
daʹ
ʹ
R rʹ
y
ʹ
x

Esta integral pode ser resolvida através da substituição, e os detalhes do


cálculo podem ser consultados no apêndice A.2.1. O resultado é

2

ˆ  , r≤R
σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0
π

√ = R (1.107)
0 R2 + r2 − 2Rr cos θ 0  2 , R ≤ r.

r

De tal maneira que o potencial elétrico será


σR
 e , r≤R


0
V (r ) = (1.108)
 σR2

 , r ≥ R.
e0 r

Note que ele será contínuo em r = R.


∂V
Para encontrar o campo elétrico, vamos usar ~E = −∇V = − r̂,
∂r
considerando o gradiente em coordenadas esféricas com componente
apenas na direção radial. Desta forma, apenas derivado o resultado para
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 32

o potencial elétrico, teremos


 2
 σR r̂, r > R

~E(r ) = e0 r2

(1.109)


0, r < R.

É importante perceber que o potencial elétrico é função contínua em todo o


espaço, neste caso, ao passo que o campo elétrico salta de zero (dentro) para
σ/e0 (imediatamente fora), sendo assim uma função descontínua. Veremos
o comportamento descontínuo para o campo elétrico devido distribuições
superficiais de carga no estudo das condições de contorno mais adiante e
determinaremos o campo elétrico sobre a superfície da esfera. Os resultados
gráficos, tanto para o potencial elétrico quanto para o campo elétrico estão
apresentados na figura 1.15 a seguir, bem como uma representação gráfica
das linhas de campo elétrico e equipotenciais.

1.2 A lei de Gauss


Vamos abordar agora uma das equações fundamentais do
eletromagnetismo, isto é, a importante lei de Gauss para eletrostática. Esta
lei garante que o fluxo do campo elétrico sobre qualquer superfície fechada
S só depende da carga elétrica total encerrada por essa superfície, ou seja,

~E · d~a = Qenc . (1.110)
S e0
Se esta carga interna puder ser escrita como uma integral de alguma
densidade ρ no volume V encerrado por S, temos que
‹ ˚
~E · d~a = 1 ρ(~r )dτ. (1.111)
S e0 V

Por outro lado, o teorema da divergência nos garante que


‹ ˚ ˚
~E · d~a = ~ 1
(∇ · E)dτ = ρ(~r )dτ, (1.112)
S V e0 V

conduzindo ao seguinte resultado,

ρ(~r )
∇ · ~E = . (1.113)
e0

Chamamos esta última equação de forma diferencial da lei de Gauss. No



sistema Gaussiano, convertendo o campo por ~E → ~E/ 4πe0 e densidade
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 33

Figura 1.15: Resultados gráficos para o (a) potencial elétrico (normalizado para
e0 V (r )/σR) e do (b) campo elétrico (normalizado para e0 E(r )/σ) de uma superfície
esférica carregada com densidade σ uniforme. Em (c), temos a configuração de
linhas de campo elétrico (linhas sólidas com setas) e superfícies equipotenciais
(linhas tracejadas).

1 ,0 1 ,0
e 0V ( r ) /  R

e 0E ( r ) / 
0 ,5 0 ,5

0 ,0 0 ,0
0 1 2 3 0 1 2 3
r /R r /R

(a) (b)

E
E=0
R V

(c)


de carga por ρ → 4πe0 ρ, temos que a lei de Gauss nas formas integral e
diferencial serão expressas, respectivamente, por

~E · d~a = 4πQenc , (1.114)
S

∇ · ~E = 4πρ(~r ) . (1.115)
A lei de Gauss na forma integral é bastante adequada quando
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 34

queremos resolver problemas de eletrostática com simetria bem definida.


Densidades uniformes de cargas distribuídas em fios, cilindros e planos
(infinitos), bem como esferas ou superfícies esféricas são exemplos em
que a simetria geométrica é aproveitada no cálculo do campo elétrico.
Nestes casos, recorremos à uma superfície Gaussiana S na mesma simetria
do campo, com intuito da integral do fluxo na superfície Gaussiana seja
reduzido simplesmente ao produto da área pela intensidade do campo
elétrico.
A lei de Gauss na forma diferencial estabelece uma equação
diferencial parcial (EDP) que o campo elétrico deve obedece em todo espaço.
Em situações com simetria bem definida, em que a dependência do campo
elétrico se dá em termos de uma única variável, a EDP se torna uma equação
diferencial ordinária (EDO), e conduz a uma solução geral que constantes
para determinação mediante certas condições. Para uma distribuição
volumétrica não singular, ou seja, a distribuição não é idealizada para uma
superfície de cargas, o campo elétrico deve ser uma função contínua em
todo espaço. Veremos que em distribuições superficiais, o campo elétrico
sofre descontinuidade. Outra condição fisicamente aceitável, é o que o
campo elétrico deve ser finito para todo o espaço. Impondo essas duas
condições para o problema, conseguimos chegar ao valor do campo elétrico
através da lei de Gauss na forma diferencial. Para exemplificar o exposto
acima, considere o seguinte problema.

Exemplo 1.7. Determine o campo e potencial eletrostático gerado por


uma esfera sólida de raio R, carregada uniformemente com densidade
volumétrica ρ, para pontos internos (r < R) e pontos externos (r > R) à
esfera.
Solução: Vamos começar notando que a função densidade volumétrica de
carga ρ(r ) será, para uma esfera uniformemente carregada de raio R,

 ρ, r < R
ρ (r ) = (1.116)
0, r > R.

Utilizando a lei de Gauss na forma integral e admitindo, por questões de


simetria, que ~E = E(r )r̂, usaremos uma Gaussiana esférica para r > R e
r < R (veja figura 1.16 a seguir). Devido à simetria esférica do campo
elétrico e da superfície Gaussiana escolhida, o fluxo na lei de Gauss será,
para r > R ‹
~E · d~a = Qenc , (1.117)
S e0
ρ4πR3
E(r )4πr2 = , (1.118)
3e0
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 35

ρR3
E (r ) = , (1.119)
3e0 r2
ao passo que, para r < R,

~E · d~a = Qenc , (1.120)
S e0

ρ4πr3
E(r )4πr2 = , (1.121)
3e0
ρr
E (r ) = . (1.122)
3e0
De forma resumida,
 ρr
 , r≤R
 3e0


E (r ) = (1.123)

 ρR3

 , r ≥ R.
3e0 r2

Figura 1.16: Superfícies Gaussianas de raio r para resolução do problema da esfera


maciça uniformemente carregada com densidade ρ. Em (a), temos o caso com raio
r > R ao passo que em (b) temos o caso com r < R.
Gaussiana r>R
Gaussiana r<R
E =E(r)r
E=E(r)r
r
R r
R

(a) (b)

Utilizando a lei de Gauss na forma diferencial e admitindo, por


questões de simetria, que ~E = E(r )r̂, teremos
ρ(~r )
∇ · ~E = , (1.124)
e0
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 36

1 d h 2 i ρ(~r )
r E ( r ) = . (1.125)
r2 dr e0
Vamos resolver esta equação diferencial para r > R e r < R. Para r < R,
teremos
1 d h 2 i ρ
2
r E (r ) = , (1.126)
r dr e0
ˆ h i ˆ ρr2 dr
d r 2 E (r ) = + A, (1.127)
e0

ρr3
r 2 E (r ) = + A, (1.128)
3e0
ρr A
E (r ) = + 2, (1.129)
3e0 r
com A sendo uma constante de integração para se determinar. Note que
A 6= 0 conduziria a um campo elétrico infinito da origem (r = 0), sendo
uma solução não aceitável do ponto de vista físico. Dessa forma, somos
obrigados a considerar que A = 0, o que implica que
ρr
E (r ) = , (1.130)
3e0

para r < R.
Para r > R, temos

1 d h 2 i
r E ( r ) = 0, (1.131)
r2 dr

r2 E(r ) = B, (1.132)

B
E (r ) = , (1.133)
r2
com B sendo uma constante de integração para se determinar. Como a
distribuição de carga é volumétrica e não singular, o campo elétrico deve
ser uma função contínua em todo o espaço. Vale notar aqui que isto
não acontece em distribuições superficiais de cargas, como veremos mais
adiante. Com efeito, no limite de r → R, o campo elétrico deve ser o mesmo
tanto vindo de dentro como de fora, isto é,
ρR B
= 2, (1.134)
3e0 R
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 37

ρR3
B= . (1.135)
3e0
De forma resumida, o campo elétrico será
 ρr
 , r≤R
 3e0


E (r ) = (1.136)

 ρR3

 , r ≥ R.
3e0 r2

O potencial elétrico será calculado através de


ˆ r
V (r ) = − E(r )dr. (1.137)

Para r > R, ˆ r
ρR3
V (r ) = − 2
dr, (1.138)
∞ 3e0 r
r
ρR3 r −2+1
V (r ) = − , (1.139)
3e0 −2 + 1 ∞

ρR3
V (r ) = . (1.140)
3e0 r
Para r < R, ˆ ˆ
R r
ρR3 ρr
V (r ) = − dr − dr, (1.141)
∞ 3e0 r2 R 3e0

ρR2 ρr2 ρR2


V (r ) = − + , (1.142)
3e0 6e0 6e0

r2
 
ρ 2
V (r ) = R − . (1.143)
2e0 3
De forma resumida, o potencial elétrico será

ρR3

, r≥R


3e0 r



V (r ) = (1.144)
r2
  
 ρ 2
R − , r ≤ R.



2e0 3
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 38

A função delta de Dirac


Em muitas situações na física estamos interessados em densidades
que são extremamente localizadas, ou seja, uma certa quantidade finita
concentrada em apenas um ponto, linha ou superfície, as chamadas
distribuições singulares. No caso da carga pontual, apesar da carga q
ser finita, a densidade de carga no ponto ocupado pela carga em si é
indeterminada visto que o volume é zero. Isto poderia trazer sérios
problemas para lei de Gauss (teorema da divergência) da seguinte forma:

(I) Uma carga pontual q isolada e localizada na origem de um sistema


cartesiano gera um campo elétrico radial (para r 6= 0) expresso por

~E(~r ) = 1 q
r̂. (1.145)
4πe0 r2

Para r = 0, o campo elétrico é indeterminado.

(II) O teorema da divergência de Gauss garante que


‹ ˚
~E · d~a = ∇ · ~Edτ, (1.146)
S V

sendo S sendo uma superfície fechada contorno de um volume V .


Escolhendo uma superfície esférica centrada na origem e de raio R, a
integral do fluxo do lado esquerdo da equação anterior é igual a

~E · d~a = 1 q · 4πR2 = q , (1.147)
S 4πe0 R2 e0

resultado este já conhecido pela lei de gauss na forma integral.

(III) Calculando o lado direito da equação que apresenta o teorema da


divergência, temos
   
q r̂ q 1 d 1
∇ · ~E = ∇· = r2 · = 0, (1.148)
4πe0 r2 4πe0 r2 dr r2

para r 6= 0, implicando em
˚
∇ · ~Edτ = 0, (1.149)
V

onde chegamos assim em uma inconsistência, pois as duas integrais,


tanto a de volume como a de superfície deveriam ser iguais a q/e0 .
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 39

A inconsistência evidenciada anteriormente é simplesmente aparente,


tendo em vista que não consideramos a indeterminação em r = 0
para o campo elétrico. Quando assumimos que a carga é pontual,
estamos assumindo uma trágica e fatídica idealização, pois um ponto
não possui volume, e isso traz sérias implicações para especificação
da função densidade de carga elétrica, já que a densidade para um
volume nulo implicaria em uma indeterminação. Chamamos estes tipos
de distribuições idealizadas de carga de distribuições singulares, e seu
tratamento matemático adequado é feito via um processo limite. Linhas
de cargas e superfícies são exemplos de distribuições singulares.
Vamos tentar contornar a aparente inconsistência mencionada
anteriormente usando o seguinte artifício, trocamos r2 por r2 + α no campo
vetorial que estamos calculando a divergência e depois tomamos o limite
α → 0. Sendo assim, integrando sobre todo o espaço, temos
˚
lim ∇ · ~Edτ, (1.150)
α →0 V
ˆ 2π ˆ π ˆ ∞  
q r̂
lim ∇· r2 sin θdrdθdφ, (1.151)
4πe0 α→0 0 0 0 r2 + α
ˆ ∞  
q 1 d 2 1
lim r · r2 dr, (1.152)
e0 α → 0 0 r2 dr r2 + α
ˆ ∞ 
1 2r (r2 + α) − r2 (2r )

q
lim r2 dr, (1.153)
(r 2 + α )2

e0 α → 0 0 r2
ˆ ∞
q 2rα
lim dr, (1.154)
e0 α → 0 0 ( r + α ) 2
2

usando a substituição u = r2 + α, temos du = 2rdr, o que conduz a


ˆ ∞
q du
lim α , (1.155)
e0 α → 0 α u 2

q u−2+1
lim α , (1.156)
e0 α → 0 − 2 + 1 α
q 1
lim α , (1.157)
e0 α → 0 α
q
, (1.158)
e0
e agora o resultado não apresenta inconsistência alguma. Note que o
processo limite foi necessário pois temos uma indeterminação em r = 0.
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 40

É de se esperar que a função densidade de carga para uma


carga pontual seja extremamente localizada. Vamos investigar agora as
propriedades de uma função deste tipo. Admita que exista uma densidade
de carga ρ(r ) que possa representar uma carga ˝pontual e que seja possível
integrar essa densidade de tal modo que q = V ρ(r )dτ com q sendo uma
quantidade finita de carga. Se a carga for finita, tomando um processo
limite que reduza o volume ocupado pela carga a zero, a densidade tenderia
ao infinito na localização da carga e seria nula para todos os demais pontos
do espaço. Assumindo estas considerações, temos que
˚
q
∇ · ~Edτ = , (1.159)
V e 0
˚ ˚
e0 ~
∇ · Edτ = ρ(r )dτ, (1.160)
V V
˚   ˚
1 r̂
q ∇ · 2 dτ = ρ(r )dτ, (1.161)
V 4π r V
sendo V um volume fechado qualquer no espaço. Temos os seguintes casos:
˝
1. Se o volume V englobar a carga pontual q, a integral V ρ(r )dτ deve
ser igual a q visto que a carga total é finita, mesmo estado concentrada
apenas em um ponto (r = 0).
˝
2. Se o volume V não englobar a carga pontual q, a integral V ρ(r )dτ
deve ser nula, visto que não haverá nenhuma carga no volume
considerado.
Estas duas constatações indicam que a integral
˚  

∇ · 2 dτ (1.162)
V r
deve ser igual a 4π, se o volume V englobar a carga q, como já mostrando
usando o processo limite, e zero, se o volume V não englobar a carga q.
Este resultado esta conectado com o conceito de ângulo sólido, que é a
extensão do conceito de ângulo em um plano para o espaço. Enquanto um
ângulo é o resultado da razão de um arco de circunferência pelo seu raio,
o ângulo sólido é o resultado da razão de uma área de superfície esférica
divida pelo seu raio ao quadrado. Para entender esse conceito, considere
que o volume V devido para a integração na equação 1.162 é contornado
por uma superfície S e definida por um versor normal n̂ e que S0 é uma
superfície esférica de raio R com centro na origem (veja a figura 1.18(a)).
Perceba que aplicando o teorema da divergência na equação 1.162, temos
˚   ‹
r̂ r̂
∇ · 2 dτ = 2
· n̂da, (1.163)
V r S r
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 41

˚   ‹
r̂ cos θda
∇· dτ = . (1.164)
V r2 S r2
O integrando desta última integral é definido como elemento infinitesimal
de ângulo sólido (em esterradianos)

cos θda
dΩ ≡ . (1.165)
r2
Note que está quantidade é igual a razão da projeção esférica da área
infinitesimal da superfície S por r2 . Esta razão é a mesma se considerarmos
o mesmo ângulo sólido, isto é, se aumentarmos (ou diminuirmos) a projeção
esférica da área, r2 aumenta (ou diminui) na mesma proporção. Se
considerarmos a área infinitesimal esférica correspondente a uma superfície
esférica S0 de raio R (com R < r), teremos

da0 R2 sin θ 0 dθ 0 dφ0


dΩ0 = = = sin θ 0 dθ 0 dφ0 . (1.166)
R2 R2

Como dΩ = dΩ0 , teremos que a integral do ângulo sólido em S será


exatamente igual à integral do ângulo sólido em S0 . Com efeito,
‹ ‹ ˆ 2π ˆ π
dΩ = dΩ0 = dφ0 sin θ 0 dθ 0 = 4π, (1.167)
S S0 0 0

mostrando que, de fato, se o volume V englobar a carga pontual a integral


é 4π. Caso o volume V não englobe a carga pontual (veja a figura 1.18(b)), o
ângulo esférico será nulo, pois para cada elemento infinitesimal de ângulo
sólido positivo, ou seja, com θ < π/2 (agudo, cos θ > 0), teremos um
elemento infinitesimal de ângulo sólido negativo, com θ 0 > π/2 (obtuso,
cos θ 0 < 0), se anulando mutuamente, mostrando que, de fato, se o volume
V não englobar a carga pontual, a integral é nula.
Podemos resumir o que foi exposto anteriormente da seguinte
maneira,

˚

1
 
r̂ 0, se V não contém ~r = 0
∇ · 2 dτ = (1.168)
V 4π r 
1, se V contém ~r = 0.

ou, definindo uma função δ(~r ) como sendo


 
1 r̂
∇· ≡ δ(~r ), (1.169)
4π r2
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 42

Figura 1.17: Representação do ângulo sólido infinitesimal dΩ. Em (a), temos a


superfície S arbitrária fechada ao passo que S 0 é uma superfície esférica de raio
unitário centrada na origem do sistema. O ângulo sólido infinitesimal dΩ para a
superfície S é simplesmente a projeção do elemento infinitesimal de área da ~ sobre
cos θda
uma esfera de raio r dividido por r2 , ou seja, dΩ = . Em (b), A superfície S
r2
não engloba a carga pontual na origem do sistema de coordenadas. Dessa forma, o
ângulo sólido se anula, pois as projeções esféricas que definem os ângulos sólidos
são opostas.
z
Projeção esférica do z d = cos 2 da Ângulos sólidos de
elemento de área da r
r
sinais opostos S r
nda n
ʹ
S r r

R daʹ nʹ
q y
q y
x Elemento de área de uma
esfera de raio R (R < r)
x
(a) (b)

temos que
˚

0, se V não contém ~r = 0
δ(~r )dτ = (1.170)
V 
1, se V contém ~r = 0.
Chamamos esta “função” de delta de Dirac δ(~r ), e ela representa uma
concentração infinita de carga no ponto ~r = 0, sendo nula para todos os
demais pontos do espaço (~r 6= 0). A delta de Dirac é representada através
da expressão 
 0, ~r 6= 0
δ(~r ) = (1.171)
∞, ~r = 0,

de tal maneira que  



∇· = 4πδ(~r ). (1.172)
r2
A partir destas considerações, a densidade ρ(~r ) que estávamos procurando
para representar uma carga pontual não é feita através de uma função usual
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 43

e seria dada por


ρ(~r ) = qδ(~r ), (1.173)
com
˚

0, se V não contém ~r = 0
qδ(~r )dτ = (1.174)
V 
q, se V contém ~r = 0.
A delta de Dirac é uma construção proveniente de um processo limite
de uma sequência de funções, como apresentado na teoria das funções
generalizadas ou teoria de distribuições.
Fizemos nossa abordagem colocando a carga pontual q na origem
do sistema de coordenadas. Mas o fato é que para qualquer posição ~r 0
escolhida, a função delta de Dirac também assume a seguinte representação

 0, ~r 6= ~r 0

0
δ(~r −~r ) = (1.175)
∞, ~r = ~r 0 ,

r
ou, através do vetor separação ~ = ~r −~r 0 ,

 0, ~ 6= 0 r
δ(~ ) = r , (1.176)

∞, ~ = 0. r
o que permite escrever também,

∇·

r̂  = 4πδ(~r ). (1.177)
r2

Uma outra propriedade muito importante da função delta de Dirac


é a propriedade de filtrar o valor de uma função (veja o complemento I).
Filtro no sentido de que, se realizarmos a integral do produto de um a
função f (~r 0 ) por δ(~r −~r 0 ), o resultado é o valor da função f no ponto de
localização da delta, ou seja, ~r. Basta a integral ser feita em um volume que
contenha ~r, caso contrário, o resultado será nulo. Portanto,
˚
f (~r 0 )δ(~r −~r 0 )dτ 0 = f (~r ), (1.178)
V

com V englobando a posição em ~r. Dessa forma, podemos obter a


divergência de ~E diretamente a partir da equação 1.29. Com efeito,
˚
ρ(~r 0 )dτ 0
 
1
∇ · ~E = ∇ ·
4πe0 V r r̂
2
. (1.179)
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 44

˚
∇ · ~E =
1 0
ρ(~r )dτ 0

∇·

r̂  , (1.180)
4πe0 V r2

e usando as equações 1.177 e 1.178 temos


˚

∇ · ~E = ρ(~r 0 )δ(~r −~r 0 )dτ 0 , (1.181)
4πe0 V

ρ(~r )
∇ · ~E = . (1.182)
e0

Esta última equação é a lei de Gauss na forma diferencial. Do cálculo


vetorial, sabemos que a divergência é uma operação que calcula o fluxo
de um determinado campo vetorial por unidade de volume ponto a ponto
no espaço. A lei de Gauss na forma diferencial apresenta a densidade de
carga elétrica como fonte de linhas de campo elétrico, de tal maneira que a
linhas de campo elétrico divergem ou convergem nas cargas elétricas. A lei
de Gauss na forma diferencial juntamente com o rotacional nulo do campo
eletrostático formam as equações fundamentais da eletrostática no vácuo,
ou seja,

ρ(~r )
∇ · ~E =


e0
(1.183)

∇ × ~E = ~0,

e determinam como o campo elétrico, devido um conjunto de cargas fontes


representadas por ρ, se comporta no espaço.

Exemplo 1.8. Considere uma coroa cilíndrica maciça infinita de espessura


δ, raio médio R e raios externo e interno, respectivamente, R + δ/2 e R −
δ/2, carregada com densidade volumétrica uniforme ρ (veja a figura 1.18
a seguir). Determine o campo elétrico a uma distância r do eixo principal
da coroa para todos os valores possíveis, ou seja, para r > R + δ/2, sendo
a região externa à coroa, para R − δ/2 < r < R + δ/2, sendo a região da
coroa, e r < R − δ/2, região interna à coroa. Tome o limite δ → 0 e estude o
comportamento do campo elétrico neste caso para pontos com r > R, r < R
e r = R.

Solução: Antes de começarmos o cálculo para o campo elétrico, vamos


abordar um processo limite interessante que nos ajudará a compreender
o conceito de uma distribuição singular de carga e o comportamento de
campo elétrico dessas tipos distribuição de cargas. Como a densidade de
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 45

Figura 1.18: Coroa cilíndrica infinita carregada. À esquerda, temos uma


representação finita em perspectiva de uma secção de altura h da coroa. À direita,
temos uma representação da secção da coroa de espessura δ, indicando o raio médio
R, o raio externo R + δ/2 e o raio interno R − δ/2.

carga é uniforme, para uma secção de altura h do cilindro, podemos escrever


que
Q
ρ= , (1.184)
As h
sendo Q a carga total compreendida na altura h e As a área da secção da
coroa. Esta área é simplesmente
"  #
δ 2 δ 2
 
As = π R+ − R− , (1.185)
2 2
" #
2 δ2 2 δ2
As = π R + Rδ + − R + Rδ − , (1.186)
4 4

As = 2πRδ, (1.187)
de tal maneira que a densidade volumétrica de carga é

Q
ρ= . (1.188)
2πRδh
Note agora a seguinte constatação. Podemos admitir uma espessura da
coroa cada vez menor, ou seja, tornando a coroa cada vez mais fina, de
tal modo que o limite δ → 0, corresponde a uma superfície cilíndrica de
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 46

raio R. Perceba que a partir da equação 1.188, o limite δ → 0, conduz a um


valor infinito para a densidade volumétrica de carga ρ, mantendo-se a carga
total Q fixa divida pela área lateral do cilindro, isto é, 2πRh. Estamos aqui
tratando de uma idealização admitindo que δ → 0, pois na prática não há
uma superfícies de espessura nula. Neste processo limite, podemos definir
uma densidade superficial de carga. Veja que

Q
lim ρδ = , (1.189)
δ →0 2πRh

lim ρδ = σ, (1.190)
δ →0

sendo σ a densidade superficial de carga para a superfície cilíndrica de raio


R e altura h. Neste caso, a distribuição volumétrica de carga seria nula para
pontos com r 6= R, e infinita para pontos com r = R, comportamento este
típico de uma função delta de Dirac, como apresentado anteriormente.
Voltemos agora para o cálculo do campo elétrico. Pela simetria da
distribuição de carga, o campo elétrico será radial, isto é, E = E(r ). Para
pontos na cavidade da coroa, temos que r < R − δ/2. Escolhendo uma
superfície Gaussiana S cilíndrica, como eixo coincidindo com o eixo na
coroa cilíndrica, altura h, e raio r na cavidade da coroa, nenhuma carga
elétrica será encerrada. Dessa forma, a lei de Gauss determina que o fluxo
total será nulo e consequentemente o campo elétrio no interior da coroa,
ou seja, E(r ) = 0, para r < R − δ/2. Para pontos no interior da coroa,
temos que R − δ/2 < r < R + δ/2. Fazemos agora superfície Gaussiana S
cilíndrica ter raio r nesta condição. Dessa forma, a lei de Gauss determina
que ‹
~ = Qenc ,
~E · da (1.191)
S e0
"  #
δ 2

2
ρπ r − R − h
2
E(r )2πrh = , (1.192)
e0
"  #
δ 2

ρ 1
E (r ) = r− R− . (1.193)
2e0 r 2

Para pontos externos à coroa, temos que r > R + δ/2. Uma superfície
superfície Gaussiana S com r > R + δ/2 encerra toda uma carga de secção
de altura h. Sendo assim,

~ = Qenc ,
~E · da (1.194)
S e0
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 47

ρ2πRδh
E(r )2πrh = , (1.195)
e0
ρδ R
E (r ) = . (1.196)
e0 r
De maneira compacta, podemos escrever o campo elétrico para toda região
no espaço da seguinte maneira,

0, r < R − δ/2





 "  #
δ 2
 
1

 ρ

r− R− , R − δ/2 < r < R + δ/2
E(r ) = 2e0 r 2 (1.197)





 ρδ R ,


r > R + δ/2.

e0 r

Vamos estudar agora o comportamento do campo elétrico tomando o


limite de δ → 0, no entanto, considerando que lim ρδ = σ, como mostrado
δ →0
anteriormente. O campo elétrico sobre um elemento de área sobre a casca
cilíndrica será calculado pela a seguinte integral,
´ φ+∆φ ´ z+∆z ´ R+δ/2
φ z R−δ/2 E (r ) ρrdrdzdφ
E( R) = lim ´ φ+∆φ ´ z+∆z ´ R+δ/2 , (1.198)
δ →0
φ z R−δ/2 ρrdrdzdφ

´ R+δ/2
R−δ/2 E (r )rdr
E( R) = lim ´ R+δ/2 = lim < E(r ) > . (1.199)
δ →0 δ →0
R−δ/2 rdr

Fazendo as integrais separadas, para o denominador teremos


ˆ R+δ/2
( R + δ/2)2 − ( R − δ/2)2
rdr = = Rδ. (1.200)
R−δ/2 2

e para o numerador teremos


ˆ ˆ "  #
R+δ/2 R+δ/2
δ 2

ρ 1
E(r )rdr = r− R− rdr (1.201)
R−δ/2 R−δ/2 2e0 r 2

ˆ ˆ "  #
R+δ/2 R+δ/2
δ 2

ρ 2
(r )rdr = r − R− dr, (1.202)
R−δ/2 R−δ/2 2e0 2
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 48

ˆ R+δ/2 ˆ R+δ/2  2 ˆ R+δ/2


!
ρ δ
E(r )rdr = r2 dr − R − dr , (1.203)
R−δ/2 2e0 R−δ/2 2 R−δ/2

ˆ "  #
R+δ/2
( R + δ/2)3 − ( R − δ/2)3 δ 2

ρ
E(r )rdr = − R− δ , (1.204)
R−δ/2 2e0 3 2
ˆ R+δ/2
3R2 δ + δ3 /4
 
ρ
E(r )rdr = − R2 δ + Rδ2 − δ3 /4 , (1.205)
R−δ/2 2e0 3
ˆ R+δ/2
ρ 3Rδ2 − δ3 /2 ρRδ2
   
δ
E(r )rdr = = 1− . (1.206)
R−δ/2 2e0 3 2e0 6R
Substituindo agora as integrais,

ρRδ2
 
´ R+δ δ
1−
R E(r )rdr 2e0 6R
E( R) = lim ´ R+δ = lim , (1.207)
δ →0 rdr δ →0 Rδ
R

Tomando agora o limite δ → 0 com lim ρδ = σ, temos que


δ →0
 
ρδ δ
E( R) = lim 1− . (1.208)
δ→0 2e0 6R

σ
E( R) = . (1.209)
2e0
Com efeito, a campo elétrico para uma distribuição superficial cilíndrica e
idealizada será 

 0, r<R




 σ

, r=R
E (r ) = 2e0 (1.210)



σ R


, r > R.



e0 r
Um estudo gráfico para o campo elétrico da coroa cilíndrica e o processo
limite que conduz à densidade superficial de carga está apresentado na
figura 1.19 a seguir.
O estudo gráfico revela um comportamento diferenciado para o
campo elétrico quando consideramos a densidade de carga volumétrica
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 49

Figura 1.19: Resultados gráficos para o campo elétrico (normalizado em e0 E(r )/ρ)
gerados pela coroa cilíndrica uniformemente carregada, de espessura δ. Temos,
respectivamente em (a), (b), (c) e (d), os resultados para δ/R = 0, 5, δ/R = 0, 2,
δ/R = 0, 05 e lim ρδ. Perceba claramente que o campo elétrico é uma função
δ →0
contínua nos três primeiros casos, mas descontínua, quando tomamos o limite
δ → 0.

0 ,5 
0 ,2 0 

0 ,4
0 ,1 5

0 ,3
0 ,1 0
e 0E ( r ) / 

e 0E ( r ) / 
0 ,2

0 ,0 5
0 ,1

0 ,0 0 ,0 0
0 1 2 3 0 1 2 3
r /R r /R

(a) δ/R = 0, 5. (b) δ/R = 0, 2.

0 ,0 6

1 ,0
0 ,0 4
e 0E ( r ) / 

e 0E ( r ) / 

0 ,5
0 ,0 2

0 ,0 0 0 ,0
0 1 2 3 0 1 2 3
r /R r /R

(c) δ/R = 0, 05. (d) lim ρδ.


δ →0

e após tomarmos o limite de δ → 0, conduzindo à uma densidade de


carga superficial cilíndrica. Fica evidente que o campo elétrico passa de
uma função contínua, nos casos de espessura finita, para uma função
descontínua, no caso limite, isto é, quando se considera uma superfície
ideal de cargas, como mostraremos mais ainda no estudo das condições de
contorno da eletrostática. Apesar de estarmos se referindo à uma superfície
cilíndrica, isto acontece sempre que idealizamos uma densidade superficial
de carga. A densidade volumétrica quando tomamos o limite δ admite uma
representação de uma função delta de Dirac, pois para r 6= 0, temos que
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 50

ρ(r ) = 0 e para r = R, temos que ρ(r ) = ∞, ou seja,



 0, r 6= R
ρ (r ) = (1.211)
∞, r = R.

Uma representação delta da densidade volumétrica de carga, considerando


o processo limite que leva a uma superfície cilíndrica, pode ser a seguinte
função
σR
ρ (r ) = δ (r − R ). (1.212)
r
Note que a integral de volume desta densidade para uma altura h,
corresponde a uma carga total Q, de tal modo que
ˆ h ˆ 2π ˆ ∞
ρ(r )rdrdφdz = Q, (1.213)
0 0 0

ˆ h ˆ 2π ˆ ∞
σR
δ(r − R)rdrdφdz = Q, (1.214)
0 0 0 r
ˆ h ˆ 2π ˆ ∞
σR dz dφ δ(r − R)dr = Q, (1.215)
0 0 0

Q
σ= , (1.216)
2πRh
onde chegamos à expressão para densidade superficial de carga, sendo
2πRh a área lateral da superfície cilíndrica que contém uma carga total Q.

1.3 Condições de contorno na eletrostática


Vimos no exemplo anterior que uma distribuição superficial de
carga conduz a um comportamento descontínuo para o campo elétrico em
interface de cargas, em especial uma superfície cilíndrica. Motivados em
alcançarmos um entendimento mais geral do comportamento do campo
elétrico em interfaces de cargas (superfícies), considere uma interface
genérica com densidade superficial σ de carga (figura 1.20). Vamos definir
os vetores ~E1 e ~E2 representando os campos elétricos imediatamente acima e
abaixo da interface, respectivamente. Entenda aqui o termo imediatamente
como sendo um processo limite da função campo elétrico tomado os dois
lados da interface. Escolhemos agora uma superfície Gaussiana S em
formato de um paralelepípedo de área da base A e altura h, com a metade
de seu volume acima da interface e a outra metade abaixo da interface, e
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 51

aplicamos a lei de Gauss neste caso. Considere que a altura é extremamente


pequena comparada com as dimensões da área da base, e que a área da base
é pequena suficiente para que não ocorra mudança da densidade de carga σ
na área tomada, justificando a aproximação de que a carga seja distribuída
uniformemente na área A (veja a figura 1.20 a seguir).

Figura 1.20: Interface com densidade superficial de carga σ. Uma superfície


Gaussiana S foi escolhida em formato de paralelepípedo de área A de altura h. Os
vetores ~E1 e ~E2 representam os campos elétricos imediatamente acima e abaixo da
interface, respectivamente. O versor n̂ é o vetor unitário perpendicular à superfície
de área A.

Aplicando a lei de Gauss, no limite de h → 0, somente os fluxos


nas superfícies imediatamente acima e abaixo da interface serão relevantes.
Portanto, ‹
~E · d~a = Qenc , (1.217)
S e0

~E1 · A ~ = σA ,
~ − ~E2 · A (1.218)
e0

~E1 · n̂A − ~E2 · n̂A = σA , (1.219)


e0

σ
E1⊥ − E2⊥ = , (1.220)
e0

onde usamos a notação E⊥ = ~E · n̂ para denotar a componente normal do


campo elétrico. A equação anterior determina que a existência de cargas
em interfaces gera o que chamamos de descontinuidade da componente
normal do campo elétrico. Em termos do potencial elétrico, temos que
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 52

∂V
−∇V = ~E, portanto, ~E · n̂ = −∇V · n̂ = − . Sendo assim, a equação
∂n
1.220 se torna

∂V ∂V σ
− =− , (1.221)
∂n 1 ∂n 2 e0

Considere agora, uma curva fechada C em formato retangular de


altura h e comprimento L, com a metade do retângulo acima da interface
e a outra metade abaixo da interface, como ilustra a figura 1.21 a seguir.
A circulação do campo elétrico para este caminho e por qualquer outro é
nula, tendo em vista a equação fundamental da eletrostática ∇ × ~E = ~0.
Sendo assim, no limite de h → 0, somente o produto escalar de ~E com

Figura 1.21: Interface com densidade superficial de carga σ. Uma curva fechada foi
escolhida em formato retangular de comprimento L de base e altura h. Os vetores
~E1 e ~E2 representam os campos elétricos imediatamente acima e abaixo da interface,
respectivamente.

os seguimentos acima e abaixo do retângulo contribuem para a integração.


Portanto, ˛ ¨
~E · d~l = ~ = 0,
∇ × ~E · dda (1.222)
C S

~E1 · ~L − ~E2 · ~L = 0, (1.223)

~E1 · lˆ − ~E2 · lˆ = 0, (1.224)

k k
E1 = E2 . (1.225)
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 53

onde usamos a notação Ek = ~E · lˆ para denotar a componente tangencial


do campo elétrico ao longo da interface com lˆ sendo o versor tangente
à superfície. Esta última equação mostra que não há mudança da
componente tangencial do campo elétrico através da interface. Desta
forma, a componente tangencial do campo elétrico é contínua através das
interfaces.
Uma outra condição de contorno muito importante para eletrostática
é que o potencial elétrico é uma função contínua através das interfaces.
Portanto, no limite de proximidades das interfaces, temos que o potencial
imediatamente acima e imediatamente abaixo adquirem o mesmo valor, ou
seja,
V1 = V2 . (1.226)
As equações 1.220, 1.225 e 1.226 representam o conjunto de condições de
contorno da eletrostática, de tal forma que os problemas, que envolvam a
determinação do potencial via equação de Laplace

∇2 V = 0, (1.227)

devem obedecer a estas condições nas interfaces.

Exemplo 1.9. Considere uma camada esférica muito fina de raio R com
densidade superficial de carga σ. Mostre que a condição de contorno 1.220
é obedecida para este caso.
Solução: Através da lei de Gauss, é fácil mostrar que os campos elétricos
numa posição r fora (acima) e dentro (abaixo) da esfera (interface) são dados
por 
σ R2
r̂, r > R


~E(~r ) = e0 r2

(1.228)


0, r < R.

σ
Portanto, no limite r → R, temos que E1⊥ = e E2⊥ = 0, o que conduz a
e0

E1⊥ − E2⊥ , (1.229)

σ σ
−0 = , (1.230)
e0 e0
o que verifica a condição de contorno citada.

Estudamos anteriormente as condições de contorno para o campo


elétrico com valores imediatamente acima e abaixo de interfaces com
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 54

distribuições superficiais de cargas. Surge naturalmente o seguinte


questionamento: qual deve ser o campo elétrico sobre a interface?
Já tivemos um resultado para uma superfície cilíndrica e mostramos
que E( R) = σ/2e0 , ou seja, metade do valor para o campo elétrico
imediatamente fora do cilindro, como mostra a equação 1.210. Para
responder ao questionamento anterior de forma geral, vale lembrar algo
muito importante: uma carga não realiza força elétrica sobre si mesma.
Logo, se estamos tratando do campo elétrico em um determinado ponto
sobre uma superfície de carga, a carga neste ponto não contribui para
este campo elétrico, da mesma forma que o campo elétrico devido uma
distribuição discreta de cargas sobre uma certa carga q, não leva em conta
o campo elétrico devido a esta carga q, mas sim o campo elétrico devido às
demais cargas da distribuição.
Para contornar este problema em uma distribuição superficial,
considere uma distribuição superficial de carga σ e que fracionamos o
campo elétrico imediatamente acima e abaixo da superfície como sendo
atribuído a duas fontes. Sendo elas: um disco pequeno em torno do ponto e
as demais cargas da distribuição superficial. Chamaremos o campo elétrico
devido ao disco no ponto sobre a superfície de ~Edisco , que já sabemos
σ
pela lei de Gauss que tem módulo imediatamente acima ou abaixo
2e0
da superfície. Chamaremos o campo elétrico devido às demais cargas de
~Edemais . Veja a figura 1.22 a seguir.

Figura 1.22: Separação das contribuições do campo elétrico sobre uma superfície
carregada de densidade σ. Para retirarmos a contribuição do campo elétrico devido
a carga sobre o ponto de interesse, separamos as contribuições devido o disco e
devido às demais cargas.

A diferença básica entre esses campos é que o campo elétrico devido


Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 55

ao disco é descontínuo, visto que possui uma densidade de carga, como


visto na equação 1.220, ao passo que o campo elétrico devido às demais
cargas da superfície é contínuo, visto que o espaço deixado pelo disco
não possui carga. Dessa forma, podemos escrever que o campo elétrico
imediatamente acima da interface é dado por

~E1 = ~Edemais + σ n̂, (1.231)


2e0
ao passo que imediatamente abaixo da superfície, o campo elétrico é dado
por
~E2 = ~Edemais − σ n̂. (1.232)
2e0
Usamos o mesmo valor ~Edemais para ambas as expressões acima devido ao
fato dele ser contínuo através da interface. Somando as duas equações
anteriores é fácil mostrar que o campo elétrico sobre a superfície devido
as demais cargas, excetuando-se assim a carga sobre o ponto de interesse, é
dado por
~Edemais = 1 ~E1 + ~E2 ,
h i
(1.233)
2
sendo portanto dado pela média aritmética entre os valores do campo
elétrico imediatamente acima e abaixo da interface.
Exemplo 1.10. Usando a equação 1.233, mostre que o campo elétrico sobre a
superfície da casca esférica de densidade superficial uniforme σ é dado por

~E(r = R) = σ r̂. (1.234)


2e0
Mostre o mesmo resultado pela lei de Coulomb.
Solução: Usando a equação 1.233, é trivial que

~E( R) = 1 ~E1 + ~E2 ,


h i
(1.235)
2
 
~E( R) = 1 σ r̂ + 0 , (1.236)
2 e0

~E( R) = σ r̂. (1.237)


2e0
Usando a lei de Coulomb, vamos considerar a mesma geometria adotada
anteriormente para o cálculo do potencial elétrico devido uma casca esférica
de densidade superficial de cargas σ, como apresentado na figura 1.14.
Sem perdas de generalidade (simetria esférica), os vetores e quantidades
de interesse serão
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 56

• ~r = r ẑ.
• dq0 = σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 .

• ~r 0 = R[sin θ 0 cos φ0 x̂ + sin θ 0 sin φ0 ŷ + cos θ 0 ẑ].



r
• = R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 .
Sendo assim, a integral para o campo elétrico será

~E(~r ) = 1 σ (~r 0 )da0
4πe0 S 2
,
r r̂ (1.238)

‹ 0 0
1 σ (~r )da
~E(~r ) =
4πe0 S r ~r .
3
(1.239)

Nas compontnes cartesianas, teremos


ˆ ˆ
~Ex = 1 2π π
σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 [− R sin θ 0 cos φ0 x̂ ]
. (1.240)
4πe0 0 0 ( R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 )3/2
ˆ ˆ
~Ey = 1 2π π
σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 [− R sin θ 0 sin φ0 ŷ]
. (1.241)
4πe0 0 0 ( R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 )3/2
ˆ ˆ
~Ez = 1 2π π
σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 [(r − R cos θ 0 )ẑ]
. (1.242)
4πe0 0 0 ( R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 )3/2
Perceba que as componentes nas direções x̂ e ŷ se anulam, visto que
´ 2π 0 0
´ 2π 0 0
0 cos φ dφ = 0 sin φ dφ = 0, restando apenas a componente na direção
ẑ, de tal forma que
ˆ
~E(r ) = σR
2 π
sin θ 0 dθ 0 (r − R cos θ 0 )ẑ
. (1.243)
2e0 0 ( R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 )3/2
A integral acima chamaremos de II, e pode ser resolvida por substituição,
consulte o apêndice A.2.2 para ver em detalhes o cálculo. Com efeito,
   
1 2 2 1 1
II = 2 (r − R ) − + (| R + r | − | R − r |) , (1.244)
2r R |R − r| |R + r|
de tal forma que o campo elétrico será
   
~E(r ) = σR (r2 − R2 ) 1 1
− + | R + r | − | R − r | ẑ .
4e0 r2 |R − r| |R + r|
(1.245)
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 57

Para r > R, | R − r | = r − R,
   
~E(r ) = σR (r2 − R2 ) 1 1
− + r + R − r + R ẑ, (1.246)
4e0 r2 r−R r+R

r + R − r + R
   
~E(r ) = σR  22

(r − R )  + 2R ẑ, (1.247)
4e0 r2 r2 
−R2


2
~E(r ) = σR ẑ. (1.248)
e0 r 2
Usando a expressão para densidade de carga σ = Q/4πR2 , temos o campo
típico de uma carga pontual,

~E(r ) = 1 Q
ẑ . (1.249)
4πe0 r2

Para r < R, | R − r | = R − r,
   
~E(r ) = σR (r2 − R2 ) 1 1
− + R + r − R + r ẑ, (1.250)
4e0 r2 R−r R+r

R+r−R+r
   
~E(r ) = σR − ( R2 
− r
2
) + 2r ẑ, (1.251)
4e0 r2 R2
−r2



~E(r ) = σR [2r − 2r ] ẑ, (1.252)


4e0 r2

~E(r ) = ~0 , (1.253)

como indica o teorema da casca esférica para eletrostática.


Contudo, para r = R, ou seja, para o ponto sobre a casca esférica,
1
a integral apresenta uma indeterminação na divisão , visto que
|R − r|
nossa integração levou em conta toda distribuição de carga, inclusive a
carga posicionada sobre o ponto com r = R que, como bem sabemos,
gera uma indeterminação não contribuindo com campo elétrico sobre si
mesma. Vamos contornar essa indeterminação, excluindo a carga localizada
em θ = 0 (r = R), definindo um ângulo θ0 e depois tomando o limite θ0 → 0
(veja a figura 1.23 a seguir).
A integral na equação ?? para z = R e com os novos limites (θ0 ≤
θ 0 ≤ π) será ˆ π
sin θ 0 dθ 0 ( R − R cos θ 0 )
2 2 2 0 3/2
, (1.254)
θ0 ( R + R − 2R cos θ )
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 58

Figura 1.23: Superfície esférica carregada com densidade σ de cargas e a retirada


da carga promotora da indeterminação usando o ângulo polar θ0 .

ˆ
1 π
sin θ 0 dθ 0
. (1.255)
23/2 R2 θ0 (1 − cos θ 0 )1/2
Fazendo u = 1 − cos θ 0 , temos que a integral fica
2
1 u−1/2+1
, (1.256)
23/2 R2 −1/2 + 1

u ( θ0 )

2
[21/2 − (1 − cos θ0 )1/2 ], (1.257)
23/2 R2
onde tomamos o limite θ0 → 0 para mostrar que a integral na equação ??
para r = R, excluindo a indeterminação causada pela carga neste ponto,
resulta em ˆ π
1 sin θ 0 dθ 0 1
= 2. (1.258)
23/2 R2 θ0 (1 − cos θ 0 )1/2 R
Sendo assim, o campo sobre a superfície carregada será
2
~E( R) = σR 1 ẑ = σ ẑ, (1.259)
2e0 R2 2e0
como queríamos demonstrar e compatível com a média calculada
anteriormente.
Nos limites das proximidades da esfera, em seu interior, o campo
elétrico pode ser examinado através do princípio da superposição como
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 59

sendo a soma do valor limite σ/2e0 com o campo devido ao disco de


−σ/2e0 , sendo nulo no interior do condutor, como esperado. Nos limites
das proximidades da esfera, em seu exterior, usando novamente o princípio
da superposição, chegamos à soma do valor limite σ/2e0 com o campo
devido ao disco de σ/2e0 , sendo igual a σ/e0 imediatamente no exterior da
superfície esférica carregada. Sobre a superfície, temos apenas o campo
elétrico devido às demais cargas, ou seja, σ/2e0 (veja a figura a seguir
1.24). Vale aqui alguns comentários sobre o que este este resultado implica

Figura 1.24: Em (a), temos o exame da resultante do campo elétrico nos limites
de proximidade da superfície esférica com densidade de carga uniforme σ. Em (b),
temos o resultado gráfico para o campo elétrico encontrado como função de r.

(a)

1 ,0
e 0E ( r ) / 

0 ,5

0 ,0
0 1 2 3
r /R

(b)
Capítulo 1. A lei de Coulomb e o campo elétrico 60

para a equação ~E = −∇V. Como vimos na equação 1.220, a lei de


Gauss determina que o campo elétrico deve sofrer descontinuidades em
interfaces e, desta forma, a equação ~E = −∇V só se aplica em pontos em
que o potencial é uma função diferenciável, sendo portanto insuficiente
para determinação do campo elétrico sobre uma interface. Dito de outra
forma, a não diferenciabilidade do potencial elétrico em um ponto não
implica na indeterminação do campo elétrico, mas sim na insuficiência da
equação ~E = −∇V para determinar o campo elétrico neste caso. Isto é o
preço que pagamos pela idealização da distribuição superficial de cargas
que assumimos. Lembremos que quando definimos o potencial elétrico,
tomamos como pressuposto que o campo elétrico era uma função contínua
e diferenciável, o que não acontece quando temos densidades superficiais
de cargas, como já mostrado neste texto.
Capítulo 2

Trabalho e energia potencial


eletrostática

2.1 Distribuições discretas de cargas


Uma configuração qualquer de cargas elétricas, seja ela discreta
ou contínua, se efetivou mediante a realização de algum trabalho. Por
exemplo, para colocarmos duas cargas pontuais q1 e q2 nas posições ~r1 e
r
~r2 no espaço, distantes ~ 12 = ~r2 −~r1 entre si, após fixar q1 na posição ~r1 ,
algum agente externo, através de uma força ~Fext , deve ter realizado trabalho
sobre a segunda carga q2 contra a força elétrica ~F12 , para levá-la até a posição
~r2 .
Para calcularmos o mínimo trabalho realizado para montar esta
configuração de cargas, devemos trazer a carga q2 de uma distância
suficientemente grande (infinito), onde a interação entre as cargas seja nula,
até repousa-la em ~r2 . O trabalho W realizado contra a força elétrica devido
a carga q1 sobre a carga q2 é calculado por (por um caminho qualquer)
ˆ ~r2
W=− ~F12 · d~l, (2.1)

ˆ ~r2
W = − q2 ~E12 · d~l, (2.2)

W = q2 [V1 (~r2 ) − V1 (∞)], (2.3)


onde ~E12 e V1 são o campo e o potencial elétrico, respectivamente, devido
a carga q1 sobre a carga q2 . Se considerarmos o infinito como referência

61
Capítulo 2. Trabalho e energia potencial eletrostática 62

r
Figura 2.1: Cargas pontuais q1 e q2 nas posições ~r1 e ~r2 com ~ 12 = ~r2 −~r1 . A força
~Fext é aplicada contra a força ~F12 para montar a configuração final do sistema de
duas cargas.

F12 z
q2
Fext
r2 12

q1
r1 y
x

para o potencial elétrico, temos que V1 (∞) = 0, e o trabalho para gerar a


configuração citada é dado agora por,

W = q2 V1 (~r2 ), (2.4)

1 q2 q1
W= . (2.5)
4πe0 12r
Note que se tivéssemos feito o mesmo procedimento, só que com a carga
q1 teríamos exatamente o mesmo resultado. Basta trocarmos os índices na
expressão anterior ficando com

1 q1 q2
W= . (2.6)
4πe0 21r
A equação 2.4 indica que para colocar uma carga q2 (na presença
de q1 ) numa posição ~r2 , demandou-se um trabalho igual a W = q2 V1 (~r2 ).
Portanto, podemos generalizar que para uma carga q esteja numa posição ~r,
um trabalho igual a W = qV (~r ) foi necessário, com V (~r ) sendo o potencial
elétrico na posição ~r. Definimos então, neste caso, de energia potencial
eletrostática U, o trabalho mínimo necessário para que a configuração
pretendida de posição das cargas seja alcançada. Neste sentido, o potencial
Capítulo 2. Trabalho e energia potencial eletrostática 63

elétrico pode ser visto como a razão da energia potencial por quantidade de
carga, ou seja,
U
V (~r ) = . (2.7)
q
A unidade para o potencial elétrico no SI é o Volt (V), de tal maneira que um
Volt é definido como um Joule por um Coulomb (1 V=1 J/1 C). No sistema
Gaussiano, a unidade para o potencial elétrico é o statVolt (statV), definido
como um erg por um statcoulomb (1 statV=1 erg/1 statC).
Continuando com a abordagem sobre a configuração anteriormente
mencionada, se quisermos adicionar uma nova carga q3 à configuração de
carga numa posição ~r3 , teremos o trabalho contra o campo elétrico da carga
q1 sobre q3 bem como o campo elétrico da carga q2 sobre q3 , resultando na
seguinte expressão para energia potencial eletrostática,
1 q1 q2 1 q1 q3 1 q3 q2
U= + + . (2.8)
r
4πe0 21 4πe0 31 r
4πe0 23 r
Para uma generalização com N cargas, teríamos a soma
N N qi q j
1
U=
4πe0 ∑∑ r ij
, (2.9)
i =1 j > i

com o segundo somatório tendo j > i para evitarmos somar duas vezes a
mesma quantidade. Ou poderíamos permitir a soma dupla e usarmos um
fator 1/2 para compensar, ou seja,
N N qi q j
1 1
U=
2 4πe0 ∑ ∑ r ij
. (2.10)
i =1 j =1( j 6 = i )

Note que podemos escrever também que


 
N N q
1 1 j
U = ∑ qi  ∑ . (2.11)
2 i =1 j =1( j 6 = i )
4πe 0 ij r
Nesta última equação, podemos identificar o somatório entre parênteses
como sendo o potencial elétrico na posição ~ri devido ao do conjunto de
cargas, excetuando-se a i-ésima carga (j 6= i), isto é,

1 N
2 i∑
U= qi V (~ri ), (2.12)
=1

representando assim, a energia potencial de uma configuração discreta de


cargas.
Capítulo 2. Trabalho e energia potencial eletrostática 64

2.2 Distribuições contínuas de cargas


A equação 2.12 representa a energia potencial de uma configuração
discreta de cargas. Usando o cálculo diferencial e integral, podemos
generalizar este resultado para uma distribuição contínua de cargas
substituindo o somatório por uma integração, isto é,
˚
1
U= ρVdτ, (2.13)
2 V
sendo V o volume que compreende a distribuição volumétrica de
densidade ρ. Para distribuições superficiais e lineares de carga, temos,
respectivamente, ¨
1
U= σVda, (2.14)
2 S
ˆ
1
U= λVdl. (2.15)
2 C
Um conceito interessante sobre a energia potencial eletrostática surge
quando usamos a equação fundamental da eletrostática para o campo
elétrico ∇ · ~E = ρ/e0 na equação 2.13. Fazendo isto, a integral da energia
fica da seguinte maneira,
˚
1
U= e0 (∇ · ~E)Vdτ. (2.16)
2 V

Vamos usar a regra do produto ∇ · (~EV ) = (∇ · ~E)V + ~E · ∇V na integral,


obtendo ˚ ˚
e0 e
U= ∇ · (~EV )dτ − 0 ~E · ∇Vdτ. (2.17)
2 V 2 V
Na primeira integral, podemos aplicar o teorema da divergência de Gauss
e, na segunda integral, podemos usar ∇V = −~E, obtendo,
‹ ˚
e0 e0
U= V ~E · d~a + ~E · ~Edτ, (2.18)
2 S 2 V
sendo S a superfície que contorna o volume V que contém a distribuição
volumétrica de carga. Esta nova abordagem permite escolhermos qualquer
superfície S , desde que englobe toda a distribuição de carga. Se
escolhermos uma superfície esférica de raio R e tomarmos o limite de R →
∞, o potencial elétrico V (∞) se anula devido a referência que adotamos.
Logo, a energia potencial seria dada apenas pela segunda integral, visto
que o integrando da primeira seria nulo. Ou seja,
˚
e0 E 2
U= dτ, (2.19)
V 2
Capítulo 2. Trabalho e energia potencial eletrostática 65

com a integral no volume V varrendo todo espaço.


A equação 2.19 para a energia potencial traz um novo significado para
energia de uma configuração de cargas elétricas. A integral citada pode ser
vista como sendo uma integração de uma função densidade de energia ue ,
de tal maneira que ˚
U= ue dτ, (2.20)
V
com ue ≡ e0 E2 /2. Sendo assim, a energia de uma configuração de cargas
pode ser calculada através de seu campo elétrico em todo espaço, inferindo
assim que a energia da configuração está atrelada ao campo elétrico que
esta configuração de cargas gera em todo espaço. No sistema Gaussiano,
˚
1
U= E2 dτ. (2.21)
8π V
Apesar de nossa dedução está em um contexto da eletrostática no
vácuo, as equações 2.19 e 2.21 se aplicam a qualquer distribuição finita de
cargas elétricas.
Exemplo 2.1. Determine a energia de uma distribuição superficial esférica
de carga de densidade σ e raio R. Mostre através das expressões 2.14 e 2.19.

Solução: O potencial elétrico na superfície é dado por σR/e0 . Aplicando na


equação 2.14, temos que

1
U= σVda, (2.22)
2 S
ˆ 2π ˆ
1 π
σ 2 R3
U= sin θdθdφ, (2.23)
2 0 0 e0
2πσ2 R3
U= . (2.24)
e0
Usando agora a equação 2.19, vamos notar primeiro que o módulo
quadrado do campo elétrico dentro e fora da superfície esférica é dado por


 0, r < R

E2 = (2.25)
σ 2 R4 1
 2 4 , r > R.


e0 r
Integrando sobre todo espaço, temos que
˚
e0 E 2
U= dτ, (2.26)
V 2
Capítulo 2. Trabalho e energia potencial eletrostática 66

:0
ˆ ˆ ˆ  ˆ ˆ ˆ
e0 2π π ∞ σ2 R4 1 2
2π π   R
e0 2 
U=  (
 0 ) r sin θdrdθdφ + r sin θdrdθdφ,
2 

0
0 0 2 0 0 R e02 r4
 (2.27)
ˆ ∞
4πe0 σ2 R4 1
U= dr, (2.28)
2 e02R r 2


2πσ2 R4 r −2+1
U= , (2.29)
e0 −2 + 1 R

2πσ2 R4 1
U= , (2.30)
e0 R

2πσ2 R3
U= . (2.31)
e0
Capítulo 3

Condutores

3.1 Propriedades fundamentais


Em isolantes, a força de ligação entre os elétrons e núcleos atômicos
mantêm os elétrons fortemente ligados, não permitindo, sob moderado
regime de intensidade de campo elétrico, a condução dos elétrons através
do material. Esse comportamento é diferente em condutores, que
possui um certo conjunto de elétrons, que estão fracamente ligados aos
átomos, permitindo que estes possam ser conduzidos através do material.
Chamamos estes elétrons de elétrons livres1 e em um condutor idealizado,
existe uma quantidade ilimitada destes. O equilíbrio eletrostático de
um condutor é atingido quando a condução destes elétrons livres cessa,
após uma aplicação de campo elétrico externo, chegando assim a uma
configuração estática de distribuição de cargas. Neste contexto de equilíbrio,
os condutores possuem algumas propriedades importantes, estando elas
listadas a seguir.

(i) ~E = 0 dentro de um condutor. Do contrário as cargas livres sofreriam


ação de uma força elétrica e o condutor não estaria em equilíbrio
eletrostático.

(ii) ρ = 0 dentro do condutor. Consequência de ~E = 0 juntamente com


∇ · ~E = ρ/e0 .

(iii) A carga em um condutor deve ser superficial. Consequência da


constatação anterior.
1 Cabea teoria de bandas da física do estado sólido, através das leis da mecânica quântica, a
explicação do surgimento de elétrons livres nos metais.

67
Capítulo 3. Condutores 68

(iv) A superfície de um condutor e seu interior é uma equipotencial. Como


~E = −∇V e ~E = 0 no interior do condutor, implica que o potencial V é
uma constante no interior do condutor. Sendo o potencial uma função
contínua, o potencial na superfície será igual ao potencial elétrico do
interior do condutor em equilíbrio eletrostático.

(v) ~E é perpendicular à superfície imediatamente fora de um condutor


(ver figura 3.2(a)). Se houvesse componente tangencial à superfície, a
integral
ˆ ~b
~
V (b) − V (~a) = − ~E · d~l, (3.1)
~a
em algum caminho na superfície do condutor, seria diferente de zero,
com ~a e ~b sendo pontos na superfície do condutor, o que contrariaria a
afirmação anterior.

3.2 Cargas induzidas


Um condutor na presença de um campo elétrico sofre indução de
cargas, gerando assim cargas induzidas. Para entender melhor como
ocorre esse processo de indução de cargas em um condutor, considere
uma região extensa onde atua um campo elétrico inicialmente uniforme
~E0 , como indica a figura 3.2(a) a seguir. Considere agora que um condutor
esférico descarregado é colocado na referida região. Inicialmente, o campo
elétrico externo age sobre os elétrons livres do condutor aplicando-lhes uma
força elétrica, fazendo com que se movam no interior do condutor. Este
deslocamento de elétrons livres no condutor irá fazer com que o condutor
adquira cargas de sinais opostos em diferentes regiões do condutor, ou
seja, parte do condutor ficará com excesso de elétrons livre e a outra
parte com escassez, produzindo assim cargas induzidas no condutor. Estas
cargas induzidas, no processo de indução, geram um campo elétrico ~E I ,
que se opõe ao campo elétrico ~E0 , e gradativamente vai aumentando sua
intensidade, até que o campo elétrico devido às cargas induzidas cancele
completamente o campo elétrico indutor. Neste momento, chegamos ao
equilíbrio eletrostático, e o campo no interior do condutor deve ser nulo,
pois não haverá movimento de elétrons livre no interior do condutor, e
toda sua carga estará na superfície, como indica a figura 3.2(b) a seguir.
Obviamente, todo esse processo ocorre em um tempo absurdamente curto,
chamado de tempo de relaxação. O efeito de cancelamento do campo
elétrico no interior de um condutor em equilíbrio eletrostático devido o
campo elétrico da cargas induzidas é também chamado de blindagem
eletrostática.
Capítulo 3. Condutores 69

Figura 3.1: Esfera metálica posta em campo elétrico inicialmente uniforme. Em (a)
temos uma representação das linhas de campo elétrico ~E0 (linhas sólidas pretas)
inicialmente uniforme em uma região do espaço. As linhas tracejadas cinzas
representam as superfícies equipotenciais (planos perpendiculares a ~E0 ). Em (b),
temos uma representação das linhas de campo elétrico com a inserção do condutor
esférico. Os sinais + e − indicam as cargas superficiais induzidas sendo ~E I o campo
devido a essas cargas. Note que ~E I se opõe a ~E0 no interior do condutor, blindando
a esfera metálica. As linhas de campo elétrico serão distorcidas, de tal forma que
o campo elétrico externo será a superposição do campo elétrico indutor ~E0 com o
campo elétrico devido às cargas induzidas.

Campo elétrico uniforme

E0 EI E
E0

Equipotenciais
(a) (b)

A equação para descontinuidade da componente normal do campo


elétrico através de uma interface com densidade σ de carga será

σ
E1⊥ − E2⊥ = . (3.2)
e0

No caso de condutores em equilíbrio eletrostático, o campo elétrico acima


da superfície (~E1 ) fora do condutor só possui componente normal, tendo
em vista as propriedades já listadas anteriormente. Abaixo da superfície do
condutor (~E2 ), ou seja, em seu interior, o campo elétrico é nulo. Portanto,
podemos afirmar que
~E1 − 0 = σ n̂, (3.3)
e0
Capítulo 3. Condutores 70

~E1 = σ n̂. (3.4)


e0
Ou seja, para um condutor em equilíbrio eletrostático, o campo elétrico
externo imediatamente acima de sua superfície será normal de intensidade
σ/e0 (veja a figura 3.2(b) novamente). Em termos do potencial elétrico,
usando ~E = −∇V, temos que

∂V σ
− n̂ = n̂, (3.5)
∂n 1 e0
o que nos permite escrever que a densidade superficial no condutor será

∂V
σ = − e0 . (3.6)
∂n 1
Esta equação será muito útil no estudo de condutores imersos em campos
elétricos no regime eletrostático, como veremos nos próximos fascículos.

3.3 Pressão eletrostática


Como vimos no fascículo passado, o campo elétrico sobre uma
superfície com densidade σ de carga é dado pela média dos campos elétricos
imediatamente acima e abaixo da superfície que contém a carga, ou seja, o
campo elétrico sobre a interface de cargas é dado por
1 h~ i
E1 + ~E2 . (3.7)
2
Se tratando de um condutor fechado, acima da superfície do condutor temos
a região externa e abaixo da superfície temos a região interna. Já vimos que
campo elétrico imediatamente acima da superfície do condutor é normal
σ
e de intensidade dada por . No interior do condutor em equilíbrio
e0
eletrostático, o campo elétrico é nulo. Desta forma, aplicando a equação
1.233, o campo elétrico sobre a superfície de um condutor é expresso por

*0
" #
1 σ 
~Eabaixo

n̂ +   , (3.8)
2 e0

σ
n̂. (3.9)
2e0
Este é o campo sofrido por um elemento de carga na superfície de um
condutor. Se multiplicarmos a intensidade deste campo elétrico pela
Capítulo 3. Condutores 71

densidade de carga σ, teremos a força eletrostática por unidade de área


~f sobre a superfície do condutor, calculada por
2
~f = σ n̂ (3.10)
2e0
cuja sua intensidade chamamos de pressão eletrostática P, expressa por
σ2
P= . (3.11)
2e0
Exemplo 3.1. Determine a força eletrostática que sofre o hemisfério superior
de uma casca esférica condutora de raio R e densidade superficial de carga
uniforme σ devida ao hemisfério inferior (veja a figura 3.2 a seguir).

Figura 3.2: Superfície esférica com densidade superficial σ de carga. O elemento


de área é da = R2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 e o vetor preto sobre a superfície indica a força
eletrostática por unidade de área ~f .

f
ʹ
rʹ daʹ
R
y
ʹ
x

Solução: No caso de uma superfície esférica, o versor normal n̂ se torna o


versor radial r̂. Dessa forma, a força eletrostática por unidade de área ~f
sobre a superfície do condutor esférico, será
2
~f = σ r̂. (3.12)
2e0
Para calcularmos a força sobre o hemisfério superior, basta integrarmos a
força por unidade de área sobre a área do hemisfério superior, ou seja,
Capítulo 3. Condutores 72

sobre os limites 0 ≤ θ 0 ≤ π/2 e 0 ≤ φ0 ≤ 2π. O versor radial escrito em


termos dos ângulos esféricos θ e φ fica expresso por r̂ = sin θ 0 cos φ0 x̂ +
sin θ 0 sin φ0 ŷ + cos θ 0 ẑ. Desta forma, a força total ~F sobre o hemisfério
superior é calculada pela seguinte integral,
ˆ 2π ˆ
~F =
π/2
σ2 0
da r̂, (3.13)
0 0 2e0

ˆ 2π ˆ
σ2 π/2
~F = [sin θ 0 cos φ0 x̂ + sin θ 0 sin φ0 ŷ + cos θ 0 ẑ] R2 sin θ 0 dθ 0 dφ0 .
0 0 2e0
(3.14)
Note que as integrais nas componentes das direções x̂ e ŷ se anulam, visto
´ 2π ´ 2π
que 0 cos φdφ = 0 sin φdφ = 0, sobrando apenas uma componente na
direção ẑ expressa por
2 2 ˆ 2π ˆ π/2
~F = σ R dφ0 cos θ 0 sin θ 0 dθ ẑ, (3.15)
2e0 0 0

π/2
2 R2 2 0
~F = σ sin θ
2π ẑ, (3.16)

2e0 2

0

2 2
~F = πσ R ẑ . (3.17)
2e0
Capítulo 4

Capacitores

4.1 Capacitância
Suponha que dois condutores no vácuo, inicialmente descarregados,
são postos sob ação de um gerador que consegue carrega-los com carga
de módulo Q, porém de sinais opostos, submetidos a uma diferença de
potencial ∆V ≡ V+ − V− , sendo V+ o potencial elétrico na superfície do
condutor com carga positiva e V− o potencial elétrico na superfície do
condutor com carga negativa, como indica a figura 4.1 a seguir.

Figura 4.1: Condutores carregados com carga Q de sinais opostos.

E
V-

V+ -Q

+Q

Definimos a razão
Q
C≡ , (4.1)
∆V
como sendo a capacitância do conjunto. Sua unidade no SI é o Faraday,
de tal forma que 1 F=1 C/1 V, ao passo que no sistema CGS fica expresso

73
Capítulo 4. Capacitores 74

em centímetros. É importante frisar que capacitância de um conjunto de


condutores só depende de fatores geométricos. O valor de ∆V pode ser
calculado através da integração
ˆ +
∆V = − ~E · d~l. (4.2)

Exemplo 4.1. Determine a capacitância do capacitor esférico composto por
duas esferas metálicas concêntricas de raios r1 e r2 com r2 > r1 . Considere
que uma carga − Q está distribuída na superfície da esfera de raio r1 e uma
carga + Q está distribuída na superfície da esfera de raio r2 , como indica a
figura 4.2 a seguir.

Figura 4.2: Vista seccional do capacitor esférico. Os vetores pretos representam o


campo elétrico e as linhas tracejadas cinzas representam as superfícies equipotenciais
(esféricas).

+Q
r2
-Q
V E
r1

Solução: Primeiro, devemos determinar o campo elétrico na região entre


os condutores. O campo elétrico, neste caso, possui simetria esférica, ou
seja, ~E = E(r )r̂. Para uma superfície Gaussiana de raio r, com r1 < r < r2 ,
concêntrica às esferas condutoras, a lei de gauss permite escrever que

~E · d~a = qenc , (4.3)
S e0

−Q
E(r ) · 4πr2 = , (4.4)
e0
1 Q
E (r ) = − , (4.5)
4πe0 r2
Capítulo 4. Capacitores 75

~E(r ) = − 1 Q r̂. (4.6)


4πe0 r2
Segundo, devemos calcular a diferença de potencial V = V+ − V− , ou seja,
ˆ +
∆V = V+ − V− = − ~E · d~l, (4.7)

ˆ r2  
1 Q
∆V = − − r̂ · drr̂, (4.8)
r1 4πe0 r2
ˆ r2
Q dr
∆V = , (4.9)
4πe0 r1 r2
r
Q r −2+1 2
∆V = , (4.10)
4πe0 −2 + 1 r1
 
Q 1 1
∆V = − , (4.11)
4πe0 r1 r2

r2 − r1
 
Q
∆V = . (4.12)
4πe0 r1 r2
Terceiro, aplicando a definição de capacitância, temos que

Q r r
C≡ = 4πe0 1 2 . (4.13)
∆V r2 − r1

4.2 Energia em capacitores


Considere que para carregar um capacitor com uma carga
infinitesimal dq, tivemos que realizar um trabalho dW = dqV. Usando a
definição de capacitância, este trabalho é dado agora por

qdq
dW = . (4.14)
C
Para carregarmos o capacitor desde seu estado descarregado até uma carga
Q, a quantidade de energia potencial acumulada (ou trabalho realizado) é
calculada pela integral
ˆ Q
qdq
W= , (4.15)
0 C
Capítulo 4. Capacitores 76

Q
1 q2
W= , (4.16)
C 2 0

Q2
W= . (4.17)
2C
Este último resultado representa a energia potencial de um capacitor com
carga Q e capacitância C. Usando a definição de capacitância, podemos
escrever também que
1
U = C∆V 2 , (4.18)
2
1
U= Q∆V. (4.19)
2
Exemplo 4.2. Mostre, usando o conceito de densidade de energia no campo
eletrostático, que a energia potencial no capacitor esférico é igual a Q2 /2C.

Solução: Devemos calcular a seguinte integral sobre todo o espaço


˚
e0 E 2
U= dτ. (4.20)
V 2
Como o campo elétrico é nulo para r < r1 e r > r2 , basta integrarmos no
volume que contém campo elétrico, ou seja, na região compreendida entre
r1 e r2 . Portanto,
ˆ ˆ ˆ
e0 2π π r2 1 Q2 2
U= 2 4
r sin θdrdθdφ, (4.21)
2 0 0 r1 (4πe0 ) r
ˆ 2π ˆ ˆ r2
e0 Q 2 π
1
U= sin θdθdφ dr, (4.22)
2 (4πe0 )2 0 0 r1 r2
r
4πe0 Q2 r −2+1 2
U= , (4.23)
2 (4πe0 )2 −2 + 1 r1
4πe0 Q2 r2 − r1
 
U= , (4.24)
2 (4πe0 )2 r1 r2
4πe Q2 1

r2 − r1

 0
U=  , (4.25)
2   4πe0
4πe r r2
0
{z 1

| }
1/C

Q2
U= . (4.26)
2C
Capítulo 4. Capacitores 77

4.3 A matriz de capacitância


4.3.1 Coeficientes do potencial, de capacitância e indução
Vimos que a definição de capacitância C ≡ Q/∆V expressa o fato de
que a carga acumulada no capacitor é proporcional à diferença de potencial
∆V entre os capacitores, quando carregados com a mesma intensidade de
carga Q. Sem muito esforço, é fácil notar que esta situação representa um
caso particular, pois podemos ter um conjunto maior de condutores que não
só dois, e também podemos ter quantidades de cargas diferentes em cada
condutor do conjunto.
Considere então um conjunto de N condutores localizados no espaço
(veja a figura 4.3). O i-ésimo condutor tem seu elemento de carga superficial
de área dai localizado pelo vetor ~ri , ao passo que o j-ésimo condutor tem
seu elemento de carga superficial de área da j localizado pelo vetor ~r j . Sobre
a superfície de cada condutor, temos uma equipotencial. Vamos definir que
para o i-ésimo condutor, o potencial num ponto ~ri , em sua superfície, é
Vi . Este potencial será devido a todo o conjunto de cargas nos condutores,
inclusive as cargas no próprio condutor i.

Figura 4.3: Conjunto de condutores e os vetores de localização dos elementos de


cargas superficiais.

i
j
z
dai
ij
daj
ri
rj
y
x

O potencial elétrico na superfície do condutor i, devido toda carga do


condutor j, é dado pela integração sobre toda densidade de carga σ (~r j )
na superfície S j da seguinte maneira

1 σ(~r j )da j
. (4.27)
4πe0 S j r
ij
Capítulo 4. Capacitores 78

O potencial Vi é obtido mediante soma sobre os condutores, isto é,


N ‹
1 σ (~r j )da j
Vi =
4πe0 ∑ Sj r ij
. (4.28)
j =1

Note que a integração é feita inclusive sobre o próprio condutor i quando


j = i. Neste caso, é conveniente diferenciarmos os vetores em um mesmo
r
condutor por ~r j e ~r 0j , de tal maneira que j = |~r j −~r 0j |. Dessa maneira, a
integração seria

1 σ (~r j )dai
. (4.29)
4πe0 S j |~r j −~r 0j |
Este seria o potencial elétrico devido às cargas do condutor j sobre um ponto
em ~r 0j na sua superfície S j .
Façamos agora o seguinte: multipliquemos o potencial Vi (equação
4.28) por σ (~ri ) e integremos sobre toda superfície Si . Com efeito,
‹ N ‹ ‹
1 σ(~ri )σ (~r j )dai da j
Si
σ (~ri )Vi dai =
4πe0 ∑ Sj Si r ij
. (4.30)
j =1

Como Vi é uma equipotencial, podemos fatorá-lo da integração à esquerda


da equação anterior, ficando com
‹ N ‹ ‹
1 σ (~ri )σ(~r j )dai da j
Vi
Si
σ (~ri )dai =
4πe0 ∑ Sj Si r ij
, (4.31)
j =1

N ‹ ‹
1 σ (~ri )σ (~r j )dai da j
Vi Qi =
4πe0 ∑ Sj Si r ij
, (4.32)
j =1

N ‹ ‹
1 σ (~ri )σ (~r j )dai da j
Vi =
4πe0 Qi ∑ Sj Si r ij
, (4.33)
j =1

N ‹ ‹
1 Qj σ (~ri )σ (~r j )dai da j
Vi =
4πe0 Qi ∑ Qj Sj Si r ij
, (4.34)
j =1

N ‹ ‹ !
1 σ (~ri )σ (~r j )dai da j
Vi = ∑ 4πe0 Qi Q j Sj Si r ij
Qj. (4.35)
j =1

Note que a quantidade entre parênteses é um número que depende apenas


de aspectos geométricos dos condutores. Apesar de no denominador
estarem as quantidades Qi e Q j , no numerador do integrando temos σ (~ri )
Capítulo 4. Capacitores 79

e σ(~r j ), de tal maneira que a razão dependa apenas da geometria dos


condutores. Estas quantidades que relacionam a geometria do i-ésimo com
o j-ésimo condutor são chamadas de coeficientes do potencial pij , isto é,
‹ ‹
1 σ(~ri )σ (~r j )dai da j
pij ≡ , (4.36)
4πe0 Qi Q j S j Si r ij

de tal maneira que


N
Vi = ∑ pij Q j . (4.37)
j =1
Os elementos pij são elementos de uma matriz simétrica, pois a troca de
i por j não muda o resultado do cálculo na equação 4.36. Dessa forma,
pij = p ji .
A equação 4.37 estabelece que os potenciais nas superfícies dos
condutores são proporcionais às cargas dos condutores por meio de uma
relação linear dos coeficientes do potencial. Podemos escrever uma relação
inversa, de tal maneira que as cargas nos condutores sejam proporcionais
ao potenciais estabelecidos em cada deles. Isto é, podemos escrever
N
Qj = ∑ cij Vj , (4.38)
j =1

sendo os elementos de matriz cij obtidos a partir da matriz inversa


dos coeficientes do potencial. Chamamos os elementos cij com i = j
(diagonal principal) de coeficientes de capacitância, ao passo que os demais
elementos com i 6= j de coeficientes de indução. A matriz composta pelos
elementos cij é denominada matriz de capacitância, e é obtida mediante
cálculo da matriz inversa composta pelos elementos pij , ou seja,

c = p −1 . (4.39)

4.3.2 Energia para um conjunto de condutores


A energia de um sistema de N condutores pode ser calculada usando
a expressão 2.14. Note que a energia Ui associada somente ao i-ésimo
condutor é igual à ‹
1
σ (~ri )Vi dai . (4.40)
2 Si
Como a superfície de um condutor é uma equipotencial, temos que a
energia do i-ésimo condutor será igual a

1
Ui = Vi σ (~ri )dai , (4.41)
2 Si
Capítulo 4. Capacitores 80

1
Ui = VQ . (4.42)
2 i i
A energia potencial U do conjunto será obtida mediante a soma sobre todos
os condutores, isto é,
1 N
U = ∑ Vi Qi . (4.43)
2 i =1

Em termos dos coeficientes do potencial, a energia potencial será

1 N N
2 i∑ ∑ pij Qi Q j ,
U= (4.44)
=1 j =1

ou em termos dos coeficientes de capacitância e indução

1 N N
2 i∑ ∑ cij Vi Vj .
U= (4.45)
=1 j =1

Os termos com i = j são as chamadas auto-energias eletrostáticas do


sistema. É importante notar que o fato dos potenciais nos condutores
dependerem de suas cargas tanto de forma isolada (coeficientes de
capacitância) como de forma acoplada (coeficientes de indução), a energia
total do sistema não será dada simplesmente pelas auto-energias, mas
também pelas energias provenientes das induções de cargas.

Exemplo 4.3. Mostre que para um capacitor com seus condutores com
cargas Q e − Q sob potenciais V+ e V− , respectivamente, a capacitância
será

c11 c22 − c212


C= . (4.46)
2c12 + c11 + c22
Solução: Para dois condutores, temos a seguinte equação matricial
    
Q1 c11 c12 V1
= , (4.47)
Q2 c21 c22 V2

que implica no sistema



 Q1 = c11 V1 + c12 V2
(4.48)
Q2 = c21 V1 + c22 V2 .

Capítulo 4. Capacitores 81

Assumindo que Q1 = Q e Q2 = − Q, e potenciais V1 = V+ e V2 = V− , o


sistema agora ficaria

 Q = c11 V+ + c12 V−
(4.49)
− Q = c21 V+ + c22 V− .

A solução deste sistema para os potenciais é


c12 + c22
V+ = Q, (4.50)
c11 c22 − c12 c21
e
c21 + c11
V− = Q, (4.51)
c12 c21 − c11 c22
A diferença de potencial é, já usando o fato que c12 = c21 ,
!
c12 + c22 c12 + c11
V+ − V− = − 2 Q (4.52)
c11 c22 − c212 c12 − c11 c22
!
2c12 + c11 + c22
∆V = Q. (4.53)
c11 c22 − c212
Usando a definição de capacitância, percebemos que

c11 c22 − c212


C= . (4.54)
2c12 + c11 + c22

Exemplo 4.4. Determine os coeficientes do potencial pij e o coeficientes


de capacitância e indução para o sistema de dois condutores esféricos
concêntricos de raios r1 e r2 (r2 > r1 ) carregados com cargas Q1 e Q2 ,
respectivamente (considere a figura 4.2 substituindo − Q por Q1 e + Q por
Q2 ).

(a) Use inicialmente o fato que o potencial de uma superfície esférica de


raio R e carga Q é

1 Q


 , r≥R
 4πe0 r

V (r ) = (4.55)
 1 Q,


 r≤R
4πe0 R

e monte a matriz p dos coeficientes do potencial.


Capítulo 4. Capacitores 82

(b) Obtenha a matriz dos coeficientes de capacitância e indução c sabendo


que c = p−1 .

(c) Determine a capacitância do sistema através da expressão 4.54 e veja se


confere com o método do exemplo 4.

(d) Calcule os coeficientes do potencial explicitamente através da relação


‹ ‹
1 σ (~ri )σ(~r j )dai da j
pij ≡ , (4.56)
4πe0 Qi Q j Sj Si r ij

e verifique se os resultados conferem com o método anterior.

Solução: (a) Vamos definir V1 como sendo o potencial elétrico no condutor


de raio r1 e V2 o potencial elétrico no condutor de raio r2 . Usando a
expressão para o potencial de uma superfície esférica e o princípio da
superposição, os potenciais são dados em função das cargas da seguinte
maneira
1 Q1 1 Q2


 V1 = +

 4πe0 r1 4πe0 r2
(4.57)


V2 = 1 Q 1 1 Q 2
 + .
4πe0 r2 4πe0 r2
Fica então direta a relação entre os potenciais e as cargas, de onde podemos
tirar os coeficientes do potencial, ou seja,

 V1 = p11 Q1 + p12 Q2
(4.58)
V2 = p21 Q1 + p22 Q2 ,

então,

1 1 1
p11 = , p12 = p21 = , p22 = . (4.59)
4πe0 r1 4πe0 r2 4πe0 r2

e a matriz p procurada é

1 1
 
 4πe0 r1 4πe0 r2 
p= . (4.60)
 
 1 1 
4πe0 r2 4πe0 r2
Capítulo 4. Capacitores 83

(b) A matriz dos coeficientes de capacitância e indução c é obtida mediante


a inversa p−1 . Ou seja,
 
p22 − p21
1 
c = p −1 = . (4.61)
det p
− p12 p11

Sendo assim, temos que o determinante é

det p = p11 p22 − p21 p12 , (4.62)

1 1 1 1
det p = − , (4.63)
4πe0 r1 4πe0 r2 4πe0 r2 4πe0 r2
!
1 1 1
det p = − , (4.64)
(4πe0 )2 r1 r2 r22

1 r2 − r1
det p = . (4.65)
(4πe0 ) r1 r22
2

Substituindo os coeficientes do potencial e este determinante na equação


4.61, temos a matriz dos coeficientes de capacitância e indução,

1 1
 

r1 r22  4πe0 r2 4πe0 r2 
c = (4πe0 )2 , (4.66)
 
r2 − r1

 1 1 

4πe0 r2 4πe0 r1
 r1 r2 r1 r2 

 r2 − r1 r2 − r1 
c = 4πe0  , (4.67)
 
 r r r2 
− 1 2 2
r2 − r1 r2 − r1
de onde tiramos que

r1 r2 r r2 r22
c11 = 4πe0 , c12 = c21 = −4πe0 1 , c22 = 4πe0 .
r2 − r1 r2 − r1 r2 − r1
(4.68)
(c) Substituindo os coeficientes de capacitância e indução na equação 4.54,
temos
c11 c22 − c212
C= , (4.69)
2c12 + c11 + c22
Capítulo 4. Capacitores 84

r1 r23 r12 r22


(4πe0 )2 − ( 4πe 0 ) 2
(r2 − r1 )2 (r2 − r1 )2
C= , (4.70)
r1 r2 r1 r2 r22
−2 · 4πe0 + 4πe0 + 4πe0
r2 − r1 r2 − r1 r2 − r1
r1 r22 (r2 − r1 )
(r2 − r1 )2
C = 4πe0 , (4.71)
r2 (r2 − r1 )
(r2 − r1 )
r1 r2
C = 4πe0 . (4.72)
(r2 − r1 )
Note que, mesmo não assumindo cargas de mesma intensidade nos
condutores, a capacitância deve depender apenas de fatores geométricos,
resultando na mesma quantidade deduzida anteriormente por meio da
definição C ≡ Q/∆V.
(d) Vamos calcular agora os coeficientes do potencial pij por meio da
integração
‹ ‹
1 σ (~ri )σ (~r j )dai da j
pij ≡ . (4.73)
4πe0 Qi Q j S j Si ij r
Vamos usar a geometria indicada na figura 4.4 a seguir. Usando a geometria
proposta, da1 = r12 sin θ1 dθ1 dφ1 , da2 = r22 sin θ2 dθ2 dφ2 , σ (~r1 ) = Q1 /4πr12 ,
q
σ (~r2 ) = Q2 /4πr22 e, pela lei dos cossenos, 12 = r12 + r22 − 2r1 r2 cos γ. r
Calculando inicialmente p12 , temos
ˆ ˆ ˆ ˆ
1 π 2π π 2π
Q1
 Q2  r12
r22 sin θ1 sin θ2 dθ1 dφ1 dθ2 dφ2
p12 = q ,
Q1
4πe0 Q2 0 0 0 0 r12
(4π )2 r22 r2 + r2 − 2r1 r2 cos γ
1 2
(4.74)
ˆ π ˆ 2π ˆ π ˆ 2π
1 sin θ1 sin θ2 dθ1 dφ1 dθ2 dφ2
p12 = , (4.75)
(4π )3 e0
q
0 0 0 0 r12 + r22 − 2r1 r2 cos γ

ˆ ˆ ˆ ˆ
 
2π π 2π π
1 sin θ1 dθ1
p12 =   sin θ2 dθ2 dφ1 dφ2 .
(4π )3 e0
q
0 0 0 0 r12 + r22 − 2r1 r2 cos γ
(4.76)
Nesta última equação, fatoramos a integração nas variáveis θ1 . Já
resolvemos esta integração no problema da superfície esférica carregada
Capítulo 4. Capacitores 85

Figura 4.4: Representação esquemática dos condutores esféricos de raios r1 e r2 .


São apresentados os vetores ~r1 e ~r2 , seus respectivos ângulos esféricos θ1 , θ2 , φ1 e φ2 ,
r
o ângulo γ entre eles, o vetor separação ~ 12 e os elementos infinitesimais de áreas
nas superfícies dos condutores da1 e da2 , que servirão para calcular os coeficientes
do potencial.

r2 da2
1 r1 da1

2
1 y
x

no cálculo do potencial elétrico pela lei de Coulomb. A diferença é que


nesta integral, γ não coincide com θ1 . Usaremos um argumento de simetria
para mostrar que podemos fazer γ = θ1 na integral desejada. O argumento
é que como a integração fatorada é inicialmente somente na variável θ1 ,
sendo as variáveis θ2 e φ2 são tomadas como constantes. Neste caso, a
simetria esférica nos permite escolher as constantes que sejam convenientes
pois, devido a simetria de duas esferas concêntricas, o resultado não irá
depender desta escolha. Se fixarmos ~r2 na direção z na integral fatorada,
estaremos fixando θ2 = 0, o que implica que neste caso teremos γ = θ1 .
Desta forma, a integral fatorada (resolvida no apêncide A.2.1), para r2 > r1 ,
temos que
ˆ π
sin θ1 dθ1 2
q = . (4.77)
0 2 2
r1 + r2 − 2r1 r2 cos θ1 r 2

Desta forma, o coeficiente do potencial é simplesmente

ˆ 2π ˆ π ˆ 2π  
1 2
p12 = sin θ2 dθ2 dφ1 dφ2 , (4.78)
(4π )3 e0 0 0 0 r2
Capítulo 4. Capacitores 86

1 (4π )2
p12 = , (4.79)
(4π )3 e0 r2
1
p12 = , (4.80)
4πe0 r2
e por simetria, temos que p21 = p12 .
Vamos calcular agora p11 . Neste caso, para diferenciar os vetores,
usaremos ~r1 e ~r10 e os ângulos θ, φ, θ 0 e φ0 , respectivamente. Desta forma,
teremos
ˆ 2π ˆ π ˆ 2π ˆ π
1 Q21 r14 sin θ sin θ 0 dθdφdθ 0 dφ0
p11 = q , (4.81)
4πe0 Q21 0 0 0 0 (4π )2 r14
 r12 + r12 − 2r1 r1 cos γ

ˆ ˆ ˆ
2π 2π
sin θ 0 dθ 0
π ˆ π 
1
p11 = √ √ sin θdθdφdφ0 , (4.82)
(4π )3 e0 r1 2 0 0 0 0 1 − cos γ

onde podemos usar o mesmo argumento usado anteriormente, fazendo γ =


θ 0 . Dessa maneira, fazendo u = 1 − cos θ 0 , a integral fatorada será igual
ˆ 2 √
du √ 2
√ = 2 u 0 = 2 2, (4.83)
0 u

e o coeficiente do potencial p11 será igual a


ˆ 2π ˆ π ˆ 2π  √ 
1
p11 = √ 2 2 sin θdθdφdφ0 , (4.84)
(4π )3 e0 r1 2 0 0 0

(4π )2
p11 = , (4.85)
(4π )3 e0 r1

1
p11 = . (4.86)
4πe0 r1
1
De forma análoga, temos que p22 = , confirmando assim todos os
4πe0 r2
resultados obtidos anteriormente por outra forma de cálculo.
Capítulo 5

Lista de exercícios II

Questão II.1. Usando a lei de Gauss na forma integral, determine o campo


elétrico ~E(ρ), a uma distância ρ de um fio infinito uniformemente carregado
com densidade linear λ que se encontra isolado no vácuo.

Questão II.2. Considere um barra muito fina entortada até a forma de um


semicírculo de raio R com centro coincidindo com a origem de um sistema
cartesiano, carregada com densidade linear uniforme λ, como indica a
figura 5.1 a seguir.

Figura 5.1: Semicírculo de raio R carregado com densidade linear uniforme λ.


z
P

Determine:

(a) O potencial elétrico V (z) sobre eixo z no ponto P.


(b) O campo elétrico ~E(z) sobre o eixo z no ponto P.

87
Capítulo 5. Lista de exercícios II 88

(c) Quanto vale o potencial e campo elétrico na origem do sistema de


coordenadas.
(d) Encontre o resultado para o campo elétrico E(z) na aproximação z  R
(carga pontual).
Questão II.3. Considere uma esfera maciça de raio R uniformemente
carregada com densidade volumétrica ρ no vácuo.
(a) Usando a lei de Gauss na forma integral, determine o campo elétrico
~E(r ) para as regiões do espaço, ou seja, r ≥ R (fora da esfera), e r ≤ R
(dentro da esfera).
(b) Determine o campo elétrico agora pela lei de Gauss na forma diferencial.
Use o fato que campo elétrico deve ser finito e contínuo para todas as
regiões do espaço.
(c) Determine o potencial elétrico via lei de Coulomb para todas as regiões
do espaço.
Questão II.4. Considere um disco de raio R com centro coincidindo com
a origem de um sistema cartesiano, carregado com densidade superficial
uniforme σ, que se encontra isolado no vácuo, como indica a figura 5.2 a
seguir.

Figura 5.2: Disco de raio R carregado com densidade superficial uniforme σ.


z

Determine:
(a) O potencial elétrico V (z) sobre eixo z.
(b) O campo elétrico ~E(z) sobre o eixo z.
(c) Verifique se a relação ~E = −∇V é satisfeita.
Capítulo 5. Lista de exercícios II 89

(d) Encontre os resultados para o campo elétrico E(z) nas aproximações


R → ∞ (plano infinito) e z  R (carga pontual).
(e) Calcule o potencial elétrico na borda do disco e compare com o valor
no centro do disco. Podemos afirmar que o disco é uma superfície
equipotencial neste caso? Dica: Mude a posição do centro do disco
para ( R, 0), de tal forma que a origem coincida com borda do disco,
facilitando assim a integração.
Questão II.5. Considere uma “chapa” de extensão infinita no espaço livre
(vácuo), carregada com densidade volumétrica uniforme ρ e altura H,
compreendida entre − H/2 ≤ z ≤ H/2 no sistema de referência cartesiano,
como indica a figura 5.3 a seguir.

Figura 5.3: Representação finita da “chapa” uniformemente carregada com


densidade volumétrica ρ e altura H, compreendida entre − H/2 ≤ z ≤ H/2.

z
H/2

-H/2

y
H
x

(a) Usando a lei de Gauss na forma integral, determine o campo elétrico


~E(z) para as regiões com |z| > H/2 (fora da chapa) e |z| < H/2 (dentro
da chapa).
(b) Determine o campo elétrico agora pela lei de Gauss na forma diferencial.
Use o fato que campo elétrico deve ser finito e contínuo para todas as
regiões do espaço.
(c) Encontre o potencial elétrico V (z), usando como referência a origem do
sistema de coordenadas, isto é, V (0) = 0.
(d) Esboce os gráficos de E(z) e V (z).

Questão II.6. Considere uma cavidade plana circular de raio R com centro
coincidindo com a origem de um sistema cartesiano, em um plano infinito
carregado no vácuo com densidade uniforme σ. Determine:
Capítulo 5. Lista de exercícios II 90

Figura 5.4: Cavidade plana de raio R em um plano infinito carregado com


densidade uniforme σ.
z

(a) O campo elétrico numa posição z > 0 no eixo z.


(b) Mostre que o resultado anterior pode ser escrito como a superposição
do campo elétrico devido a um disco de raio R, com densidade −σ, com
o campo elétrico de um plano infinito carregado com densidade σ.
Questão II.7. O potencial elétrico em um ponto no espaço, devido a um fio
infinito carregado com densidade linear uniforme λ e isolado no vácuo, é
expresso por
λ ρ
V (ρ) = − ln , (5.1)
2πe0 ρ0
sendo ρ a distância do ponto em questão ao fio, e ρ0 uma distância onde o
potencial elétrico é tomado como referência, ou seja, V (ρ0 ) = 0. Baseado
no exposto acima, (a) mostre que o potencial elétrico devido aos dois fios
infinitos e carregados com densidades lineares uniformes λ e −λ, paralelos
ao eixo z e interceptando o eixo x em (d, 0, 0) e (−d, 0, 0) (figura 5.5),
respectivamente, é dado por

( x − d )2 + y2
 
λ
V ( x, y) = − ln . (5.2)
4πe0 ( x + d )2 + y2
(b) Mostre que, além do plano z-y com x = 0 ser uma superfície
equipotencial, um conjunto de superfícies cilíndricas são também
equipotenciais, de equações

( x − x c )2 + y2 = R2 , (5.3)

onde √
2d α d ( α + 1)
R= , xc = , (5.4)
| α − 1| α−1
Capítulo 5. Lista de exercícios II 91

com
α = e4πe0 V0 /λ , (5.5)
e V0 o potencial especificado para a equipotencial em questão.

Figura 5.5: Fios infinitos carregado com densidades lineares uniformes λ e


−λ, paralelos ao eixo z e interceptando o eixo x em (d, 0, 0) e (−d, 0, 0). Os
círculos tracejados representam secções transversais das superfícies cilíndricas
equipotenciais no plano x-y.

y
(x,y)

-l l
-d d x

Questão II.8. Seja um disco de raio de raio R que se encontra no vácuo com
centro coincidindo com a origem de um sistema cartesiano, com metade
de sua área preenchida com uma densidade de carga σ e a outra metade
carregada com densidade σ. Ou seja,
(
−σ, 0 < φ < π
σ(φ) =
σ, π < φ < 2π
Determine o campo elétrico numa posição z > 0 no eixo z.
Questão II.9. Seja um fio fino e finito no vácuo, carregado com densidade
linear uniforme λ no eixo z, compreendido entre z = − L/2 e z = L/2,
como indica a figura 5.7 a seguir. Considere agora, um ponto P localizado
em uma altura z e distante ρ do fio. Os ângulos α1 e α2 são definidos de tal
modo que
L/2 − z L/2 + z
sin α1 = p , sin α2 = p ,
ρ2 + (z − L/2)2 ρ2 + (z + L/2)2
ρ ρ
cos α1 = p , cos α2 = p .
2
ρ + (z − L/2) 2 ρ + (z + L/2)2
2

Considerando os versores ρ̂ e ẑ em coordenadas cilíndricas:


Capítulo 5. Lista de exercícios II 92

Figura 5.6: Disco de raio R com densidades σ e −σ de carga.


z

y
x R

Figura 5.7: Fio finito carregado com densidade linear λ de comprimento L.


z
L/2
1

P
y

x
-L/2 2

(a) Mostre que o potencial elétrico no ponto P será


" p #
λ z + L/2 + (z + L/2)2 + ρ2
V (ρ, z) = ln p .
4πe0 z − L/2 + (z − L/2)2 + ρ2

(b) Mostre que o campo elétrico no ponto P será

~E = λ
[(sin α1 + sin α2 )ρ̂ + (cos α1 − cos α2 )ẑ] .
4πe0 ρ

(c) Mostre que, se considerarmos um fio infinito (sem extremidades), o


Capítulo 5. Lista de exercícios II 93

campo elétrico se reduz a

~E(ρ) = λ
ρ̂.
2πe0 ρ

Dica: tome limites para os ângulos α1 e α2 .

Questão II.10. Considere uma superfície hemisférica de raio R


compreendida entre π/2 ≤ θ ≤ π, carregado com densidade superficial
uniforme de carga σ no vácuo, com centro na origem de sistema de
coordenadas como indica a figura 5.8 a seguir.

Figura 5.8: Superfície hemisférica carregada de raio R compreendida entre π/2 ≤


θ ≤ π.

R
y

(a) Encontre o potencial elétrico na origem do sistema de coordenadas.


(b) Encontre o campo elétrico em um ponto no eixo z em z = R.

Questão II.11. Considere uma superfície cilíndrica uniformemente


carregada com densidade superficial σ no vácuo, com eixo principal
coincidindo com o eixo z de um sistema cartesiano, de raio R, compreendido
entre z = − L/2 e z = L/2 tendo comprimento L, como representa a figura
5.9 a seguir.

(a) Encontre o campo elétrico ~E(z) sobre pontos no eixo z (~r = zẑ).
(b) Considerando agora que a superfície cilíndrica é infinita (L → ∞),
encontre o campo elétrico ~E( x ) sobre pontos no eixo x (~r = x x̂), para
dentro (x < R) e para fora (x > R) da superfície cilíndrica.
Capítulo 5. Lista de exercícios II 94

Figura 5.9: Superfície cilíndrica uniformemente carregada de comprimento L e raio


R.
z
R
L/2

x -L/2

Questão II.12. Seja uma carga pontual q no vácuo localizada na origem de


um sistema de coordenadas cartesiano, coincidindo com um dos vértices
de uma superfície cúbica de lado L, como ilustrado na figura 5.10 a seguir.
Determine o fluxo do campo elétrico devido a carga pontual na superfície
triangular sombreada:

(a) Usando a lei de Gauss.


(b) Usando a lei de Coulomb.

Figura 5.10: Carga pontual q localizada na origem do sistema de coordenadas


coincidindo com um dos vértices de uma superfície cúbica de lado L.

z
L
E

L
q y
L
x
Capítulo 5. Lista de exercícios II 95

Questão II.13. Considere um cone reto de raio R e geratriz L, carregado com


densidade superficial uniforme de carga σ, com eixo de simetria coincidindo
com o eizo z do sistema de coordenadas e com vértice coincidindo na origem
deste sistema, como indica a figura 5.11 a seguir. Encontre o potencial

Figura 5.11: Superfície cônica uniformemente carregada de raio R e geratriz L.

z
R

L
y
x

elétrico na origem do sistema de coordenadas.

Questão II.14. Determine a energia potencial eletrostática do quadrupolo


elétrico do exemplo 1.2.

Questão II.15. Determine a energia potencial eletrostática da esfera


uniformemente carregada. Para uma mesma quantidade de carga total Q,
qual a configuração terá a menor energia? Uma esfera maciça de raio R
uniformemente carregada ou uma superfície esférica de raio R, também
uniformemente carregada?

Questão II.16. Uma carga pontual q é colocada no centro de uma cavidade


esférica de raio Rc feita no interior de uma condutor esférico de raio R
isolado no vácuo (veja figura 5.12 a seguir).

(a) Qual a densidade superficial induzida na cavidade?


(b) Qual a densidade superficial induzida na superfície externa do
condutor?
(c) Qual é o campo elétrico em um ponto no interior da cavidade?
(d) O que mudará nos resultados acima se a carga pontual for deslocada do
centro da cavidade?
Capítulo 5. Lista de exercícios II 96

Figura 5.12: Cavidade esférica de raio Rc feita no interior de uma condutor esférico
de raio R isolado no vácuo contendo uma carga pontual q em seu centro.

R
Rc

Questão II.17. Considere dois condutores esféricos de raios r1 e r2 cujos


centros estão separados por uma distância d  r1 + r2 no vácuo. Suponha
que q é uma quantidade de carga total nos condutores de tal modo que
q1 + q2 = q sendo q1 e q2 as cargas nos condutores de raios r1 e r2 ,
respectivamente (veja a figura 5.13 a seguir). As esferas são então conectadas
por fio metálico.

Figura 5.13: Dois condutores esféricos de raios r1 e r2 cujos centros estão separados
por uma distância d  r1 + r2 no vácuo.

r1 r2
d
q2
q1

(a) Desconsiderando o efeito do campo elétrico de uma esfera sobre a outra,


pelo fato de d  r1 + r2 , aplique a minimização de energia potencial
eletrostática para mostrar que a condição equilíbrio será
q1 q r1 r2
= 2 , q1 = q , q2 = q, (5.6)
r1 r2 r1 + r2 r1 + r2
e o potencial elétrico nas esferas será

1 q
V= . (5.7)
4πe0 r1 + r2
Capítulo 5. Lista de exercícios II 97

(b) Considere agora que o efeito do campo elétrico de uma esfera sobre
a outra possa ser aproximado por uma carga pontual localizada nos
centros das esferas. Mostre que o potencial elétrico será

1 (d − r1 r2 /d)q
V= . (5.8)
4πe0 (r1 + r2 )d − 2r1 r2

(c) Ainda com a consideração do item anterior, determine a matriz de


coeficientes do potencial e a matriz de capacitância. Mostre que a
capacitância C do sistema será

4πe0 r1 r2 d
C= . (5.9)
(r1 + r2 )d − 2r1 r2

Questão II.18. Um capacitor cilíndrico infinito e coaxial é composto de


duas superfícies cilíndricas condutoras de raios R1 e R2 , carregadas
com densidades lineares uniformes −λ e λ, respectivamente. Os eixos
de simetria dos cilindros coincidem com o eixo z de um sistema de
coordenadas cartesianas, como indica a figura 5.14 a seguir.

Figura 5.14: Representação de uma secção transversal de um capacitor cilíndrico e


coaxial.
z
R2
R1

(a) Determine o campo elétrico a uma distância ρ do eixo z (coordenadas


cilíndricas) em todos as regiões do espaço, ou seja, ρ < R1 , R1 < ρ < R2
e ρ > R2 .
Capítulo 5. Lista de exercícios II 98

(b) Determine a diferença de potencial ∆V entre os condutores.


(c) Calcule a capacitância por unidade de comprimento do capacitor
cilíndrico.
Apêndice A

Apêndices

A.1 Séries de Taylor


A.1.1 Séries de potências
Definição A.1. Seja an , com n ≥ 0, uma sequência numérica conhecida e x0
um número real também conhecido. Dizemos que,


∑ an (x − x0 )n = a0 + a1 (x − x0 ) + a2 (x − x0 )2 + ... + an (x − x0 )n + ... (A.1)
n =0

é uma série de potências com coeficientes an , centrada em x0 .


Por exemplo, a série


(−1)n 1 1 1
∑ (n + 1)! (x − 1)n = 1 − 2! (x − 1) + 3! (x − 1)2 − 4! (x − 1)3 + ... (A.2)
n =0

(−1)n
possui an = e x0 = 1. Podemos dizer também que uma série de
( n + 1) !
potências é também uma série de polinômios un = an ( x − x0 )n com infinitos
termos.
As séries numéricas em geral podem ser classificadas em séries
convergentes e divergentes. Basicamente, a série que possui seu limite
como um número finito é classificada de convergente, do contrário, a mesma
é classificada como divergente. Vale salientar aqui que em problemas de
física, as séries devem ser convergentes para representar quantidades físicas
finitas. A partir desta constatação, surge a importância de estudarmos

99
Apêndice A. Apêndices 100

algum critério de convergência de séries. Existem vários critérios para


determinamos se uma série é convergente ou divergente. Vamos utilizar
o método da razão de D’lambert para determinar para quais valores uma
série de potências é convergente ou não.

Critério da razão. Seja a série ∑∞ n=0 un com un 6 = 0 para todo natural n. Se


u n +1
o limite L = lim existe, então ∑∞ un :
n→∞ n =0
un

• será convergente, se L < 1.

• será divergente, se L > 1 ou L = ∞.

• será de convergência indeterminada por este critério se L = 1.

Exemplo A.1. Determine x para que a série



∑ xn = 1 + x + x2 + x3 + x4 + ... (A.3)
n =0

seja convergente.

Solução: Temos que determinar os valores de x tais que



u
lim n+1 < 1.

(A.4)
n→∞ un
n +1
x
lim n < 1, (A.5)
n→∞ x
n
x x
lim < 1, (A.6)
n→∞ x n

| x | < 1. (A.7)
Neste caso, dizemos que o raio de convergência R é 1 e que o intervalo de
convergência é ]−1, 1[. Isto quer dizer para valores de x neste intervalo, a
série de potênciais será convergente.

A.1.2 Expansão em série de Taylor


Considere uma função f ( x ) que possui sua n-ésima derivada definida
e contínua no intervalo a ≤ x ≤ b, ou seja, podemos derivar a referida
Apêndice A. Apêndices 101

função n vezes neste intervalo. Para um x no intervalo citado, o teorema


fundamental do cálculo garante que
ˆ x
f 0 (t)dt = f ( x ) − f ( x0 ), (A.8)
x0

ˆ x
f ( x ) = f ( x0 ) + f 0 (t)dt. (A.9)
x0

Vamos usar o método de integração por partes fazendo u = f 0 (t) e dv =


dt. Desta forma, v = t + c onde vamos escolher de forma conveniente a
constante c = − x. Sendo assim, temos que a integral no segundo termo da
última equação é dada por

ˆ x t= x ˆ x
f 0 (t)dt = [(t − x ) f 0 (t)] − (t − x ) f 00 (t)dt. (A.10)

x0 t = x0 x0

Com isso, a equação A.9 se torna


ˆ x
f ( x ) = f ( x0 ) + ( x − x0 ) f 0 ( x0 ) − (t − x ) f 00 (t)dt. (A.11)
x0

Calculando novamente a última integral por partes, usando agora u = f 00 (t)


e dv = (t − x )dt, temos que

ˆ x  t= x ˆ x
(t − x )2 00 (t − x )2 000

(t − x ) f 00 (t)dt =

f (t) − f (t)dt. (A.12)
x0 2 t = x0 x0 2

A equação A.9 fica agora da seguinte forma,

ˆ x
( x − x0 )2 00
(t − x )2 000
f ( x ) = f ( x0 ) + ( x − x0 ) f 0 ( x0 ) + f ( x0 ) +
f (t)dt.
x0 2
2
(A.13)
Continuando o cálculo, após m integrações, teremos que a função
f ( x ) poderá ser escrita como a soma de um polinômio com o um termo
remanescente, ou resto, da seguinte forma,

m ˆ x
f n ( x0 )( x − x0 )n ( t − x ) m m +1
f (x) = ∑ n!
+ (−1)m
x0 m!
f (t)dt. (A.14)
n =0
Apêndice A. Apêndices 102

Chamamos o primeiro termo da soma polinômio de Taylor da função f ( x )


centrado em x0 , ou seja,
m
f n ( x0 )( x − x0 )n
Pm ( x ) = ∑ n!
(A.15)
n =0

ao passo que o termo remanescente é chamado de resto integral Rm ( x ), tal


que
ˆ x
( t − x ) m m +1
Rm ( x ) = (−1)m f (t)dt. (A.16)
x0 m!
No intervalo de convergência, o limite lim Rm ( x ) = 0, o que faz a função
m→∞
f ( x ) seja representada por uma série de potências, série esta chamada de
série de Taylor. Com efeito


f n ( x0 )
f (x) = ∑ n!
( x − x0 ) n , (A.17)
n =0

de onde podemos escrever também a série de Mclaurin fazendo


simplesmente x0 = 0. Neste caso,


f n (0) n
f (x) = ∑ n!
x . (A.18)
n =0

1
Exemplo A.2. Obtenha a série de Maclaurin da função f ( x ) = e
1−x
determine seu intervalo de convergência.

Vamos começar determinando a n-ésima derivada da função f ( x ) calculada


em x0 = 0. Calculando a n-ésima derivada, temos

f 1 ( x ) = −1(1 − x )−1−1 (−1) = (1 − x )−2 , (A.19)

f 2 ( x ) = −2(1 − x )−2−1 (−1) = 2(1 − x )−3 , (A.20)

f 3 ( x ) = −3(1 − x )−3−1 (−1) = 3(1 − x )−4 , (A.21)

f 4 ( x ) = −4(1 − x )−4−1 (−1) = 4(1 − x )−5 , (A.22)

f n ( x ) = n!(1 − x )−(n+1) (A.23)


Apêndice A. Apêndices 103

Temos então que f n (0) = n!, o que conduz à seguinte série de Maclarin
para a referida função,

1
= ∑ x n = 1 + x + x2 + x3 + x4 + ... (A.24)
1−x n =0

Esta série é exatamente a série de potência com intervalo de convergência


| x | < 1 já determinado no exemplo A.1, também chamada de série
geométrica. Respondendo ao nosso questionamento anterior sobre para
qual valor a série converge, para um valor x no intervalo de convergência,
1
a série converge para um valor dado por .
1−x

1
Uma análise gráfica da série de Maclarin da função f ( x ) =
1−x
revela propriedades interessantes a respeito de como a função f ( x ) pode
ser descrita como uma série de potências. Observando a figura A.1, note
que todas as aproximações melhoram quanto mais próximo estivermos de
x = x0 = 0 e note também que ao passo que o polinômio de Taylor aumenta
de ordem (m = 1, 2, 3, 20), a aproximação do polinômio também melhora
para intervalo maior de valores de x.
Acabamos de notar que a série de Taylor se apresenta como
uma técnica matemática muito útil quando nosso interesse é escrever
de forma aproximativa alguma função f ( x ) em torno de algum ponto.
Vamos fazer agora, alguns desenvolvimentos em série de Maclaurin para
algumas funções de importância em sistemas físicos, como as funções
trigonométricas e transcendentais.

Exemplo A.3. Desenvolva as funções sin( x ) e cos( x ) em séries de


Maclaurin.

Vamos inciar pela função f ( x ) = sin( x ) calculando suas primeiras


quatro derivadas. Isto é,

f 1 ( x ) = cos( x ), (A.25)

f 2 ( x ) = − sin( x ), (A.26)

f 3 ( x ) = − cos( x ), (A.27)

f 4 ( x ) = sin( x ). (A.28)
Apêndice A. Apêndices 104

Figura A.1: Gráficos das aproximações sucessivas do polinômio de Taylor para a função
1
f (x) = . A linha preta sólida é o gráfico da função ao passo que a linha tracejada e
1−x
pontilhada representa o polinômio de Taylor nas respectivas aproximações.

(a) m = 1. (b) m = 2.

(c) m = 3. (d) m = 20.

De maneira geral,
 nπ 
f n ( x ) = sin x + . (A.29)
2
Isto revela que, para Série de Maclaurin (x0 = 0), somente os termos
 nπ  de
n
ordens ímpares serão diferentes de zero. Ou seja, f (0) = sin , onde
2
Apêndice A. Apêndices 105

fica claro que os termos com n = 0, 2, 4, 6... serão nulos. Para representarmos
a série sem esses termos nulos, basta mudarmos o índice da série de n para
2n + 1. Note que,
 
2n+1 (2n + 1)π
f (0) = sin = (−1)n , (A.30)
2
desta forma, a série de Maclarin para a função seno é dada por

f 2n+1 (0) 2n+1
sin( x ) = ∑ (2n + 1)!
x , (A.31)
n =0


(−1)n 2n+1 x3 x5 x7
sin( x ) = ∑ (2n + 1)!
x = x−
3!
+
5!

7!
+ ... (A.32)
n =0

Fica como exercício para o leitor mostrar que para a função cosseno
temos a seguinte série de Maclaurin,

(−1)n 2n x2 x4 x6
cos( x ) = ∑ (2n)! x = 1 −
2!
+
4!

6!
+ ... (A.33)
n =0

Uma outra função frequente em problemas da física é a função


exponencial f ( x ) = e x . Neste caso, todas as derivadas são iguais à própria
função, permitindo escrever que f n (0) = 1 para todo n natural. Sendo
assim, facilmente podemos desenvolver a função exponencial em série de
Maclaurin da seguinte forma,


f n (0) n x2 x3 x4 x5
ex = ∑ n!
x = 1+x+
2!
+
3!
+
4!
+
5!
+ ... (A.34)
n =0

Consideremos que x = iθ com i = −1 sendo a unidade imaginária dos
números complexos. Sendo assim, temos que

(iθ )2 (iθ )3 (iθ )4 (iθ )5


eiθ = 1 + (iθ ) + + + + + ... (A.35)
2! 3! 4! 5!

θ2 iθ 3 θ4 iθ 5
eiθ = 1 + iθ −
− + + ... (A.36)
2! 3! 4! 5!
de onde podemos rearranjar os termos em duas séries, de tal forma que

θ3 θ5 θ2 θ4
 

e =i θ− + + ... + 1 − + ... (A.37)
3! 5! 2! 4!
Apêndice A. Apêndices 106

obtendo assim, a fórmula de Euler,

eiθ = i sin θ + cos θ . (A.38)


Algumas séries de Mclaurin:

(i) (1 + x )−1 = 1 − x + x2 − x3 + x4 − ... (| x | < 1).


(ii) (1 + x )−2 = 1 − 2x + 3x2 − 4x3 + 5x4 − ... (| x | < 1).
(iii) (1 + x )−3 = 1 − 3x + 6x2 − 10x3 + 15x4 − ... (| x | < 1).
1 1 1 5 4
(iv) (1 + x )1/2 = 1 + x − x2 + x3 − x + ... (−1 < x ≤ 1).
2 8 16 128
1 3 5 35 4
(v) (1 + x )−1/2 = 1 − x + x2 − x3 + x − ... (−1 < x ≤ 1).
2 8 16 128
3 3 1 3 4
(vi) (1 + x )3/2 = 1 + x + x2 − x3 + x + ... (−1 < x ≤ 1).
2 8 16 128
3 15 35 315 4
(vii) (1 + x )−3/2 = 1 − x + x2 − x3 + x − ... (−1 < x ≤ 1).
2 8 16 128
x2 x3 x4
(viii) e x = 1 + x + + + + ... (−∞ < x < ∞).
2! 3! 4!
( x ln a)2 ( x ln a)3 ( x ln a)4
(ix) a x = 1 + x ln a + + + + ... (−∞ < x < ∞).
2! 3! 4!
x2 x3 x4
(x) ln(1 + x ) = x − + − + ... (−1 < x ≤ 1).
2 3 4
x3 x5 x7
 
1 1+x
(xi) ln = x+ + + + ... (−1 < x ≤ 1).
2 1−x 3 5 7
x3 2x5 17x7  π
(xii) tan x = x + + + + ... | x | < .
3 15 315 2
1 x x3 2x5
(xiii) cot x = − − − + ... (0 < | x | < π ).
x 3 45 945
x2 5x4 61x5  π
(xiv) sec x = 1 + + + + ... | x | < .
2 24 720 2
1 x 7x3 31x5
(xv) csc x = + + + + ... (0 < | x | < π ).
x 6 360 15120
x3 3x5 5x3
(xvi) arcsin x = x + + + + ... (| x | < 1).
6 40 112
π x3 3x5 5x3
(xvii) arccos x = − x − − − + ... (| x | < 1).
2 6 40 112
Apêndice A. Apêndices 107

A título de compreensão do quão próximo o valor da série de Taylor


é de sua função, considere a função f ( x ) = sin x. Para uma aproximação de
1ª ordem, temos que sin x ≈ x. Para para um ângulo de 15◦ , temos que

sin(15π/180)
≈ 98, 86%. (A.39)
15π/180
A figura A.2 a seguir apresenta as aproximações de sin( x ) para sucessivos
polinômos de Taylor.

A.2 Integrais úteis


A.2.1 Integral I

ˆ π
sin θ 0 dθ 0
I≡ √ . (A.40)
0 R2 + r2 − 2Rr cos θ 0

Fazendo a substituição u = R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 com du = 2Rr sin θ 0 dθ 0 ,


temos
ˆ ( R +r )2
1 du
I= √ , (A.41)
2Rr ( R−r)2 u

1
( R +r )2
1 u− 2 +1
I= , (A.42)
2Rr − 21 + 1

( R −r )2

1
I= (| R + r | − | R − r |) . (A.43)
Rr
Para r < R (dentro da esfera), | R − r | = R − r, então

2r
I= , (A.44)
Rr

2
I= . (A.45)
R
Para r > R (fora da esfera), | R − r | = r − R, então

2R
I= , (A.46)
Rr

2
I= . (A.47)
r
Apêndice A. Apêndices 108

Figura A.2: Gráficos das aproximações sucessivas do polinômio de Taylor para a função
f ( x ) = sin( x ). A linha preta sólida é o gráfico da função ao passo que a linha tracejada
representa o polinômio de Taylor nas respectivas aproximações.

(a) m = 1. (b) m = 2.

(c) m = 3. (d) m = 7.

De forma resumida, teremos que o resultado para integral será (contínua


Apêndice A. Apêndices 109

em r = R)

2

ˆ  , r≤R
σR2 sin θ 0 dθ 0 dφ0
π

I= √ = R (A.48)
0 R2 + r2 − 2Rr cos θ 0  2 , R ≤ r.

r

A.2.2 Integral II

ˆ π
sin θ 0 dθ 0 (r − R cos θ 0 )ẑ
I≡ . (A.49)
0 ( R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 )3/2

Fazendo u = R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 . Com efeito, temos que sin θ 0 dθ 0 = du/2Rr


r 2 + R2 − u
e R cos θ 0 = . Portanto,
2r
2 + R2 − u
 
ˆ π ˆ ( R +r )2 r − r
sin θ 0 (r − R cos θ 0 )dθ 0 1  2r 
2 2 0 3/2
= 
3
 du,
0 ( R + r − 2Rr cos θ ) 2rR ( R−r)2 u2
 

(A.50)

( R +r )2
#
r 2 − R2 + u
 
1
= du , (A.51)
(2r )2 R ( R −r )2 u2
3

" ˆ ( R + r )2 ˆ ( R +r )2 #
1 3 1
= (r 2 − R2 ) u− 2 du + u− 2 du , (A.52)
(2r )2 R ( R −r )2 ( R −r )2

 ( R +r )2 ( R +r )2 
1 u − 32 +1 u − 12 +1
=  (r 2 − R2 )
+ 1
, (A.53)
(2r )2 R 3
− 2 + 1 ( R −r )2
− 2 + 1 ( R −r )2

" 2
1 ( R−r)
#
√ ( R +r )2

1 2 2
= 2(r − R ) √ + 2 u ( R −r )2 , (A.54)
(2r )2 R u ( R +r )2

   
1 2 2 1 1
I= 2 (r − R ) − + (| R + r | − | R − r |) . (A.55)
2r R |R − r| |R + r|
Apêndice A. Apêndices 110

A.2.3 Integral III


Integrais de Fourier em senos

ˆ a
n0 πy
 nπy   
II = sin sin dy . (A.56)
0 a a

Para resolver a integral do lado direito da equação, vamos usar a seguinte


relação trigonométrica

1
sin(θ ) sin(φ) = [cos(θ − φ) − cos(θ + φ)] , (A.57)
2

ou seja,

n0 πy (n0 − n)πy
      0 
 nπy  1 (n + n)πy
sin sin = cos − cos .
a a 2 a a
(A.58)
Perceba que se n0 = n,

n0 πy
    0 
2 1 2n πy
sin = 1 − cos , (A.59)
a 2 a

o que conduz ao resultado,


ˆ ˆ
n0 πy
a  nπy    a   0 
1 2n πy a
sin sin dy = 1 − cos dy = (A.60)
0 a a 0 2 a 2

Para n0 6= n,
ˆ
(n0 − n)πy
a     0 
1 (n + n)πy
cos − cos dy =
0 2 a a

1 a
[sin (n0 − n)π − sin(0)]

0
(A.61)
2 (n − n)π

a 0

− 0 [sin (n + n)π − sin(0)] = 0
(n + n)π

Isto indica que a integral tem propriedade de uma delta de Kronecker, ou


seja,
ˆ a  nπy   0 
n πy a
sin sin dy = δnn0 (A.62)
0 a a 2
Apêndice A. Apêndices 111

A.2.4 Integral IV

ˆ π
cos θ 0 sin θ 0 dθ 0
III = 1/2
(A.63)
0 (z2 + R2 − 2Rz cos θ 0 )

Usando a substituição u = z2 + R2 − 2Rz cos θ 0 , temos sin θ 0 dθ 0 = du/2Rz e


z2 + R2 − u
cos θ 0 = . Desta maneira, a integral fica
2zR
ˆ ( R + z )2  2
( z + R2 )

1 1
= − u 2 du, (A.64)
(2zR)2 ( R−z)2 u2
1

 2 2
1 +1 ( R + z ) 1 +1 ( R + z )


1  ( z2 + R2 ) u u2
2
= − 1 , (A.65)

(2zR)2 −1 + 1

2 2
( R−z)
+ 1 2 2
( R−z)

 
1 2 2 2 3 3
= 2 ( z + R )(| R + z | − | R − z |) − (| R + z | − | R − z | ) . (A.66)
(2zR)2 3

Para z < R, temos que | R − z| = R − z. Então,


 
1 2 2 2 3 3
= 2 ( z + R )( R + z − R + z ) − (( R + z ) − ( R − z ) ) , (A.67)
(2zR)2 3
 
1 2 2 2 2 3
= 4z(z + R ) − (6R z + 2z ) , (A.68)
(2zR)2 3

1 8z3
= , (A.69)
(2zR)2 3
4z
. III = (A.70)
3R2
Para z > R, temos que | R − z| = z − R. Então,
 
1 2 2 2 3 3
= 2(z + R )( R + z − z + R) − [( R + z) − (z − R) ] , (A.71)
(2zR)2 3
 
1 2 2 2 2 3
= 4R(z + R ) − (6z R + 2R ) , (A.72)
(2zR)2 3

1 8R3
= , (A.73)
(2zR)2 3
Apêndice A. Apêndices 112

4R
III = , (A.74)
3z2
ou seja de forma resumida,

4z

ˆ  2, z≤R
cos θ 0 sin θ 0 dθ 0
π

III = = 3R (A.75)
1/2
0 (z2 + R2 − 2Rz cos θ 0 )  4R ,

z≥R
3z2

A.2.5 Integral V
ˆ π
sin θdθ
V≡ . (A.76)
0 ( R2 + d2 − 2dR cos θ )3/2
Fazendo u = R2 + d2 − 2dR cos θ temos que sin θdθ = du/2dR, u(0) =
(d − R)2 e u(π ) = (d + R)2 . Sendo assim,
ˆ ( d + R )2
1 du
V= , (A.77)
2dR ( d − R )2 u3/2

3
( d + R )2
1 u− 2 +1
V= , (A.78)
2dR − 23 + 1

(d− R) 2

2
1 1 (d+ R)

V= √ , (A.79)
dR u (d− R)2
 
1 1 1
V= − . (A.80)
dR |d − R| |d + R|
Para d > R, temos que |d − R| = d − R. Com efeito,

1 d+R−d+R
V= , (A.81)
dR d2 − R2

2 1
V= . (A.82)
d d2 − R2
Para d < R, temos que |d − R| = R − d. Então

1 d+R−R+d
V= , (A.83)
dR d2 − R2
Apêndice A. Apêndices 113

2 1
V= , (A.84)
R d2 − R2
ou seja de forma resumida,

2 1
ˆ π

 , d<R
sin θdθ 
R d − R2
2
= . (A.85)
0 ( R + d − 2dR cos θ )3/2
2 2 2 1
d>R

 ,
d d2 − R2

A.2.6 Integral VI

ˆ π
sin θ 0 cos θ 0 dθ 0
IV ≡ ẑ . (A.86)
0 ( R2 + d2 − 2Rd cos θ 0 )3

R2 + d2 − u du
Fazendo u = R2 + d2 − 2Rd cos θ 0 , temos cos θ 0 = e =
2Rd 2Rd
sin θdθ. Desta maneira, teremos
ˆ ( d + R )2 R2 + d2 − u du
IV = , (A.87)
( d − R )2 2Rdu3 2Rd
" ˆ ( d + R )2 ˆ ( d + R )2 #
1 2 2 du du
= (R + d ) − , (A.88)
(2Rd)2 ( d − R )2 u
3
( d − R )2 u
2

 2 2

−3+1 ( d + R ) −2+1 ( d + R )

1  ( R2 + d2 ) u u
= − , (A.89)
(2Rd)2 − 3 + 1 ( d − R )2 − 2 + 1 ( d − R )2
" ( d − R )2 ( d − R )2 #
1 2 2 1 1
= ( R + d ) − 2 , (A.90)
2(2Rd)2 u 2 ( d + R )2
u ( d + R )2

    
1 2 2 1 1 1 1
= (R + d ) − −2 − ,
2(2Rd)2 ( d − R )4 ( d + R )4 ( d − R )2 ( d + R )2
(A.91)

( d + R )4 − ( d − R )4 ( d + R )2 − ( d − R )2
    
1
= ( R2 + d2 ) − 2 ,
2(2Rd)2 ( d2 − R2 )4 ( d2 − R2 )2
(A.92)
Apêndice A. Apêndices 114

( R2 + d2 )[8R3 d + 8Rd3 ] − 2(d2 − R2 )2 [4dR]


 
1
= , (A.93)
2(2Rd)2 ( d2 − R2 )4

8R5 d + 16R3 d3 + 8Rd5 − 8R5 d + 16R3 d3 − 8Rd5


 
1
= , (A.94)
2(2Rd)2 ( d2 − R2 )4

1 32R3 d3
= , (A.95)
2(2Rd)2 (d2 − R2 )4

4Rd
IV = . (A.96)
( d2 − R2 )4

A.2.7 Integral VII

ˆ π
cos θ 0 sin θ 0 dθ 0
VII ≡ √ . (A.97)
0 R2 + r2 − 2Rr cos θ 0

Usando a substituição u = r2 + R2 − 2Rr cos θ 0 , temos que sin θ 0 dθ 0 =


r 2 + R2 − u
du/2Rr e cos θ 0 = . Portanto, a integral fica
2rR
ˆ ˆ ( R + r )2
cos θ 0 sin θ 0 dθ 0 (r 2 + R2 )
π  
1 1
√ = −u 2 du. (A.98)
0 2 2
R + r − 2Rr cos θ 0 (2rR)2 ( R −r )2 u2
1

 ( R +r )2
1 1 +1 ( R +r )
2
1  (r 2 + R2 )
u − 2 +1u2
= − 1 , (A.99)

(2rR)2 1
− 2 + 1 ( R −r )2

2 + 1 ( R −r )2

 
1 2 2 2 3 3
= 2(r + R )(| R + r | − | R − r |) − (| R + r | − | R − r | ) .
(2rR)2 3
(A.100)
Para r > R, | R + r | = R + r e | R − r | = r − R. Dessa forma,
ˆ π
cos θ 0 sin θ 0 dθ 0 1 n
√ = 2(r2 + R2 )( R + 
r−
r + R)
0 R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 (2rR)2

2
− [(r + R)3 − (r − R)3 ] ,
3
(A.101)
Apêndice A. Apêndices 115

1 n
= 2
4( Rr2 + R3 )
(2rR)
 (A.102)
2 3
− [r + 3r2 R + 3rR 2
+ R3 −  r3 + 3r2 R −  3rR 2
+ R3 ] ,

 

3
 
1 2 3 4 2 3
= 4 ( Rr + R ) − [ 3r R + R ] , (A.103)
(2rR)2 3

1 4n  2 3 2 3
o 8R3
= 3Rr + 3R − 3r R − R = , (A.104)
 
(2rR)2 3 12r2 R2
 
ˆ π
cos θ 0 sin θ 0 dθ 0 2R
√ = 2 , r > R. (A.105)
0 R 2 + r 2 − 2Rr cos θ 0 3r
Para r < R, | R + r | = R + r e | R − r | = R − r. Dessa forma,
ˆ π
cos θ 0 sin θ 0 dθ 0 1 n
√ = 2
2(r2 + R2 )(r + 
R−
R + r)
0 R2 + r2 − 2Rr cos θ 0 (2rR)

2
− [(r + R)3 − ( R − r )3 ] ,
3
(A.106)
1 n
= 4(r3 + rR2 )
(2rR)2
 (A.107)
2 3 2 2 3 3 2 2 3
− [r + 3r R + 3rR + R − R + 3R r −  3Rr + r ] ,
 

3
 
1 3 2 4 2 3
= 4(r + rR ) − [3R r + R ] , (A.108)
(2rR)2 3

1 4n  2 3 2 3
o 8r3
= 3rR + 3r − 3R r − r = , (A.109)
 
2
(2rR) 3
 
12r2 R2
ˆ π
cos θ 0 sin θ 0 dθ 0 2r
√ = 2
, r < R. (A.110)
0 2 2
R + r − 2Rr cos θ 0 3R
De forma resumida teremos

2r

ˆ  2, r < R
cos θ 0 sin θ 0 dθ 0
π

√ = 3R (A.111)
0 R2 + r2 − 2Rr cos θ 0  2R , r > R.

3r2

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