Doenças Da Soja

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A.

presentação

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J, ~onardo 1/umh ',!rto Sílva I Ca tro


Hrnan Miranda l ,,n ')
l<afa l 'faá')u d ' A i
Sumário

1. Vulnerabilidade genética da soja às doenças ...... . ......... : ..... . ................... 1


LARISSA B ARBO A DE So SA - ÉDER MAT · o - Awízm BoRÉM

1. Introdução ... ..... .. ..... . . . ... ... .................. . ......... .. .............. 1


2 . Importância da diversidade na vulnerabilidade genética . .. . ........................ • • • · 2
3. Evolução e Entraves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
4. Perspectivas . ... . ....... .. . .......................... . ....... . ................. 9
5. Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2. Cultivo da soja no Rio Grande do Sul: perspectiva atual e futura ..... . . ...... .. ... ..... . 15
E YAN DR0 CHAVES DE ÜLIVEJRA - R AFAEL DE ÁVILA RODRJGUES - JosÉ MARIA NOGUEIRA DA COSTA - LEONARDO N EVES -
FtAV Jo J sT1 o - D éBORA REGI 1A RosERTI - PAULO JoRGE DE OuvEIRA PONTE DE SouZA
1. Introdução .. .. ................... .... . .................... . . .. ........ ..... .. 15
2. Material e métodos ........ .... . .. . ........ . ..................... . ... . .. . ....... 17
2 .1. Descrição do Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2. 2. Calibração do modelo CROP RO- oy bean .. . .... . .............. ..... . .. ........ 17
2.3. Coeficientes genéticos do mod 1 R P RO- oybean . ..... . ...................... 18
2.4. Avaliação da calibração fenológica ... ... . .. ...... .. .... .. . . .. ... . . . . ..... ..... . 19
2.5. Avaliação do crescimento . . ... ... .... .. . ..... . .. ...... . ..... . ... ..... ... ..... 20
2. 6. Té nica culturais utilizadas na imutações da cultura da soja .. ..... ...... . ........ 20
2.7. n ário d e mudança climática . ..................... . .... . ... . .. . ......... . .. 21
2.8 . Aplicação do modelo em cenários de mudança climática . ... ... .... .. .. ... ........ . 21
3. Resultado e di u s ão ...... .. .. .. .. ............... • ............... . . ............ 22
:,.1. Influên ia d a mudança no clima agrícola regional na cultura de soja ........... . . . ... 22
· .2. Influ An ia d a mudança climática na duração
lo ido da cultura de oja . . . . .. . ....... . .... • • . • . • • . • • . • • . • . .. .... ..... . .... 24
3.3. Influ Ancia d a mudança climáti a no r ndimento d a cultura d soja .... . . . ........ . . .. 26
. Influ An ia da mudai a limáti a no total de 'huva - . vapotranspiração durante
iclo la cultura . .. ....... . . . .... . • • • • . • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • , • • , ... ... .... .. 27
. Jnflu ncia da mudan a Hmática na fi iência d u de água na cultura de oja . .... ... 29
'l . on lu õ · . . . . . . . . . . . • . • • • • • • • · • · • · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · • · · · · • • • . . . . . . . . . 30
R i r "ncia bibli gráfica .. .... . • • • . • • • • • • • • • • • · · • • · · • · · · · · • • • • • • • • • ... , ...... . . . 30

3. Ferrugem asiática da soja . . .. .. . ......... • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35


ER A E LEME - W LB R L rz
1. Importân ia conômica .... .... ....... . • • • • • • · · · · · · · · · · · · • • • • • • • • • • .... ......... 35
2. Pat g no, hosped iro intoma .. . ...... • • • • • • · · · · · · · · · · • • • • • • • . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Dístribuição e pidemiologia ..... .... ... .. • • • • · • · · · · · · · · · • • • • • • • • • . . . . . . . . . . . . . . . 37
Man jo controle .... . . . ... . .. . .... . • • • • • • • · · · · · · · · · · · · · · · • • · • • • • • .. .... .. .. . .. 39
.1. ntrole cultural da ferrugem asiática ... . . . ... • • . • ............................. 39
.2. ntrole biológico da ferrugem asiática ..... . .. • .. • ... . ....................... . . 41
ntr le químico da ferrugem asiática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
XIV D OENÇAS DA S OJA: MEU IORAMENTO GENÉTICO E T ÉC, ICAS DE MA, llfO

Ert'IA.'IE L B i ES - LEONARDO H 1.; MBE RTO - RAFAEL DE Ass

4.4. Controle ge nético da fe rrugem asiática ...... . . . ... . . . . . . . . . . • • • · · · · · · · · · · · · · · · · 44


5. Monitorame nto . . ........ . . . .. ... . .. . . . . . .. .. . . . ..... . .... ... . . . .. - - - · ·
6. umário e p er p ectivas futuras ... . .... . .. . .. . . . . .. .. . . . . ... .. .. . . . • • • • · · ·
· - · - - - - - 44
· · · · · - - - 46
1
- Referência bibliográficas ..... . .. .. .. . . .. . .... . . . . . . .... . . . . . . . . . . . • • - • • · - · - - - - - . 46

4. Mofo branco ............... _. . _. __ ... . .. . ..... ... . . .......... .. . . ... . .... . . . . .. . . 53


IL\t\.'\ lA H EI.E',.-\ f l "RL-\."\

l . Introdução .............. ... .. . .... ..... . .. .. .. .. . . . . . .. .. .. ... • • • • - • • • - - • - • - - 53


2. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - . . . . 54
3. .\ fanejo da Doença .. .... . . ... . .. .... .. . .. . . . . ................. . . .. .. - . . . - . .. . .. 59
--i . Con ideraçõe finais ................ .. ..... . .. . . .. .. . .. . ... .. . . .. . - • • • • • • • • • - .. . 67
Referê ncia bibliográfica .. .... .. . . ........ ..... .. . ......... .. .... . .. . • • • - - ..... . 68

5. Doenças fúngicas de solo na cultura a soja ..... .. . . .............. . . .. ... . . . - . . .. .. .. 73


Crno H ms;-1 L~,rnA - .\hRcELo G10\'.,sm1 C.'\'.\TIRr
l. Caracterí rica gerai .. .. ..... . .. ... . ............................. ... - . . . . . . . . . . 3
2. Podridão radicular de fitófto ra (Pbytopbtbora sojae Kaufm. & Gerd) Oomiceto . . . . . . .. . .. . 74
3. Podridão de can·ão da raiz (J facropbomina phaseolina (Ta i) Goid) ..... .. .. . . .. . . . . . . . 75
➔. Podridão ,·ermelha da raiz (Fusa rium pp.) .................... ...... . . .. . . . . . ...... 76
Tombamento e murcha de e clerócio ( clerotium rolfsii acc.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
6. Podridão da raiz de Rhizocronia (Rbizoctonia solani ].G. Kü hn) ......... .. .. . . ... . . ... .
- . lanejo para doenças radiculare .... .. .. .. ................. .
.\1elhoramento genérico pa ra re i téncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
9. Re_ulrado de pe quisa e pe pecri,·as ....................... . . . . ... . .... .. . ... 8
lf.'. Fonte.:: de re i -rência ..................................... . 9
11 O Futuro d _ a doença para a condiçõe do Bra il . . . . . . . . . . . · . - . - .. .. . .. . ... 80
12 Refer··nci~ biblio ráficas ................................. . · · . .. - . ... ...... 81
6. Fitobactérias na cu ltura da soja .......................... . · · - - - - ..... .... . 83
R· ~ r L F •
ln rrxiuc.,. 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . · - - .... . . ... . . . 83
2 CrL •.1menro baaeriano ............................... . · · - - - - . . . . ... . . . . 83
Pú t a bacteriana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . .. . . . . .. 86
Con iJeraçõe finai .................................... . - - - . .. . . . . .. .... 89
Reftrénci bibliográfic ........... . ................... . · - . ...... .. . . .. 89
7. Viroses da soja . . . . . . . . . ........... ... ................ . . .. .. . . . ... .. . . 9
• F "T t t.. -.r.n - L\RI , G úl"L\RT z.,. \RTX> - D, IELLE R IBEIRO OF. B,.
. Dl '\"E MÃRCL.\ C R . LHO
1. lntrodu -o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..................... .
. . .. .... . .. . .. . 9
., \ iro_ na culrura da ja .............. .. ......... ... .... . . . .... . . . . .... . . 95
2 1 Tobacco . lrea · \·iru ............................. .
. ..... .... ... . . 95
2 2 illalfa mo. ic ,;ru . . . . . . . . . . . . . . ................ .
. .. ... ... . . ... .. 95
kan mo ic ,·iru5 .
. ..... ...... . . .. 96
1 . ➔ Bean ru ... ose mo. 1c ,·iru . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..... .
. ..... ..... ... . . 9'
) - Bea n pod monJe \·irus . . . . . . . . . . ............. .
. ... . . . . . - . . - . .... .
2.6 Cov. pea míJd n onlc \·iru . . . . . . . ................ .
. . .... . .. . . .. . .. . 99
Dugn ............................... .
. - .. - .. . - .. 1
: 1. lnde çâo Biológjca . . . . . . . . . . .
100
SUMÁRJO
XV

3.2. Indexação sorológica .. . ...... . ..................... .. . . . ...... . . . . ........ 102


3.3. Detecção Molecular . ............. ... ..... ... . . . .. .... ..... ....... ...... .. . . 104
4. Considerações finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
5. Referências bibliográficas ...... . ... , .. . .... .... ............ .. .... .. ... • . • • • • • • • • 105

8. Fitonematoides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
MARIA AMELI.A DO SANTO

Meloidogyne spp....... . ................. . .. . ...... . .... • • • • • • • • • • • • · · · · · · · · · · 112


Praty lenchus brachyurus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... .. ... .. . • . • • • • • • • • • • • · · · · · · · · 113
Roty lenchulus reniformis ......... . .. . ...... . .. ... ....... ... . • • • . • • • • • • • • · · · · · · 113
Heteroderaglycines .. .............................. . .... • • • • • • • • • • • • • , · • · · · · · · 113
1. Referências bibliográficas ... . ..... .......... .. ................. • • • • . • • • • • • • • • · · · 115

9. Doenças de final de ciclo:


mancha parda e crestamento foliar de cercospora ou mancha púrpura da semente . . . . . . . . . . . 119
L Í H E 'RIQ E CARREGAL - HEIDI WEGENER - J LlA1 A REsE D E C AMPOS SILVA

1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
2 . Doenças de Final de Ciclo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
3. Mancha parda (Septoria glycines) ...... . ............ . . . .... ... ..... . ... . . ........ 121
4. Sintomatologia . ........................ ...................................... 122
5. Etiologia e Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
6. Perdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
7. Manejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
8 . Sementes de boa qualidade ......... ..... .... . ................. .. ........ . ...... 126
9. Rotação de culturas ................ .. .. .... ........... ...... ....... .... . ... ... 127
10. Espaçamento entrelinhas e população de plantas . ................................. .. 127
11. Adubação equilibrada ...... . .. ........... .. ....................... . .......... . . 128
12. Resistência genética . . ................... . .......... ....... ... .. ....... .. .... . . 128
13. Controle químico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . U9
14. Mancha Púrpura da Semente e Crestamento Foliar de Cercospora (Cercospora kíkuchii) ... . 129
15. Sintomatologia ........................... . .... . . . .. . ..... . ................. . . 130
16. Etiologia e Epidemiologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
1 . Manejo ..... . ................. . ... ... .. .............................. . .. ...... 133
18. Resistência Genética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
19. Controle químico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
20. Considerações finais . .... . ....... .... .... .. .. . .. ..... . .. ............... . ....... 134
21. Agradecimentos ....... . .......... . ........... . ............ .. ...... .. ......... 134
__ _Re fierenaas bibliográfi cas ..... ..... . . . .... . . ..... ..... ... .. .. . . . . . .... _ ... ... . . . 134
?? A •

1O. Estresses abióticos na cultura da soja .... . . .. .. .. .... ........... .. . ............... 13


DuR ALI,· MARIA M.-\THIAS oo S :\TO - ~ER u.:cIANo DE So ZA F ERRAZ - D ISE APAREODA CmCONATO -
A.'-10:\'10 P lZOLATO ETO

1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2 . Estre e térmico -Altas e baix as temperaturas . ..................... . . ....... _ . .. .. 138
3. Estresse nutricional - Macro e micronutrientes .......... . ....... .. . _ .. __ ...... .... . 142
E tresse sali no -Efeitos do cloreto de sódio (NaCl) ... ............................... 146
5. E tre e hídrico - Seca e alagamento .... . ........... _ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
XVI D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GE1 ÉTICO E TÉCNICAS DE M • .,
::..:..:....=---------------- --------=----=-----:-- -:-- --::--- ---=~::..::..::..~= ~ffiJO
ERNANE L EMES - L EONARDO H UMB ERTO - RAFAEL O E ~

6. Con ideraçõe finais ...... ....... . ............ . • • • • • • · • • · · · · · · · · · · · · · · · • • . . . . . . 154


' . Referência bibliográfica .. .. ............. . .... • • - • • • • • • · · · · · · · · · · · · · · · · • • • . . . . . 154

11. Avanços no melhoramento genético da cultura da soja nas últimas décadas . .. .. . .. . . . .. 159
A~A PAL'LA OLI\ºEIRA 0GL'EIRA - T NE0 EDIYAMA - ]O IANE D IAS GOMES

1. Introdução .. . .. ....... . ..... . ... ............. ... • • • • • · · · · · · · · · · · · · • • • • . . . .. . 159


2. Origem e expan ão da soja . . ... .... . ...... ....... . ....... • • • • • • - • • • • . . .. . . ... .. 160
3. Origem. dome ticação e diversidade genética da soja . .... .... .... • • ... • • . . . . . . . . . . . . . 161
➔. vanço no Melhoramento Genético da Soja .. . ...... . ..... ..... . .. . . • . . . . .. . . . . . . . . 162
-U . 1elboramento da soja. visando à produtividade de grãos e adaptação a novas áre as . . .. 162
➔ . 2 . Melhoramento de oja visando resistência à doença ..... ........ ..... .. . ... . .. . . . 164
➔ .3. Caracterí tica agronômica e dos grãos alvos no melhoramento de soja . . . . . . . . . . . . . 167
-L ➔ . Adaptabilidade e estabilidade de linhagens e cultivares ..... .. . .. . . . ... . . . .. . . .... 169
4.5. Melhoramento de soja para Alimentação Humana ........ .. .. .. ... .. . . .. .... . . . . 169
4.6. 1étodo de Melhoramento e Biotecnologia.. . . . . . . . . . . . . . . . . . .... . ... . . ... . . . 170
5. Con iderações fin ais ....... . ..... . ... .. .. • . • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • . . .. .. ... ... 172
6. Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . .. . . . ..... 172

12. Melhoramento genético da soja visando resistência a fitopatógenos . . . . .. . . . . . ..... . . 179


L EO '\ ARDO HntBERTO IL\'A E CASTRO - VIVIANE foR 11 CE VI ANNA - ANTO l0 ORI. \!\DO D1 \~ l '1{0 -

A!\0R.-\ H ELE'-A Ü'<ÊDA-TREVISOI.I

1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . ... . . . . .. . . . . 179


2. Variabilidade patogênica e o m lhoramento genético da soja . ... . . ... . .. .. ... .... 180
3. Quantificação de doenças da soja . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.1
. .. . . . .. . . .. .. 181
➔ . ~ecani mos de resi tência da soja às doenças .. .... . . ... .. .. .. . . .. . . .. .. .. .. . .. 183
5. Re i tência e tolerância da soja às doenças ..... .. ... ....... ... . . ... . . . . . .. . . . 184
5.1. Re ·istêncía vertical. ............. . . .. ......... .. .... . . .. . .. . .. . .. . ... . 187
5.2. Resistência horizontal .... ... ...... .. .... . ....... ...... . . . . . . .. . ... .. 188
6. Tolerâ ncia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . .. . . ..... .. 189
.., E tratégias dás icas do melhoramento genético da soja visando resb· •,: .t fito patóge nos . . 189
..,_l. Métodos que envolvem hibridação .................. . . .. . . · · · . . . . ... . . . 190
7.1.l Método Genealógico ou "Pedígree" ...... . ...... .. ... . .. . .. .. .. . . .. 190
7.1.2. Método ~a ai ....... . .. .... .. .. .......... . .. .. . . . .. .. .. . .. .. 191
1 .1 .3. Método da População ou "Bulk" ... . .... . .......... . . . ... .. . . . . ... 191
7 . 1.4 .
Método misto .......................... . . . ... . .. . . . . . . . .. . . . . . . 192
7.1.5. Método da Descendê ncia de uma , nica Semente
(Síngle Seed Descendent - 'SD) e derivado ........... . . .. . .. ... .... . .. .. 192
~.2. Retrocruzamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. ... .. . . . .. . 193
7.2.J. Piramidação de Genes: ............................. . .
. . ... .. . .. . . . ' 194
7. 2. 2. Rotação de gene : ...... ... .... . ................ .
.. . .. .... . . . .. . 194
7. 2.3. Multilinhas .................... .. ....... ... . . ..... . .... . . .
. ... . . . . .. . 194
"".3. ~elc:ção recorrente .. . ... ... .. . ....................... . ... .
195
k. Estratégias moleculares do melhoramento genético da soja a visando resistênch à fii.t o. · · ·; · · · · ·
•, p atoge nos . 195
8.1. Bíotecnología .......... . ..... . ...... • • • • ..... . ... . ....... .
195
8.2. A cultura da ~oja e: a biotecnologia ....... ..... ................ : : : · · · · · · · · · · · · ·
'd -
9. ( ,<Jns1 eraçoes
r·ina1~. .. . . . . . . . . . . . . . . . . • • • • • • • • .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..... . . ... . 196
. . . .. .. .. ... 199
10. Rcfcré:ncía!) bíblíográfíca ................. • • .. . ............ .
..... .. . . . . . . . . 199
SUMÁRIO XVII

13. Técnicas de manejo e tecnologia de aplicação no controle de doenças da soja ........... 205
UussEs Roc HA A rr IAss1 - MARIA A RoDRIG ES B E •o - JoÃo EDUARDO RIBEIRO DA SILVA - G ILHERME SousA ALvEs
1. Introdução ....... .... . . . ... . . ........ ... . . ... ................. . ....... . ... .. 205
2. Fatores que afetam a aplicação .. ............. . . ... .. . ............. . .......... . . . 205
2.1. Alvo ... ......... ... ...... . ..... ........ . ... ...... .. .. .... . .. . ..... . .. . .. 206
2.2. Ambiente .. .... .... .. . ... . .... .. .... .... .. .. ... . .... . ..... . . . ....... .. ... 206
2.3. Momento de aplicação . . .... . ........................... · . . .. . .... . ...... , . .. 207
2.4. Produto ... .. ... .. . ...... .. .. ..... .... . ..... . ... .. .... ........ . .. . . ... • • • 207
2.5. Equipamentos de aplicação ..... .. . . . ... .............. . . .. ............... . .. • 208
3. Aplicação terrestre .. . .. . ... .. . .. .. ....... .. . . .. . . . ...... . ......... . . • . ... • • • • • 208
3.1. Pontas de pulverização .......... ... .................. . ........ ... .... .. • . • • 208
3.2. Assistência de ar . . ....... ... . .. .. ....................... . .... .. ...... . .... 210
4. Aplicação aérea - aviação agrícola . . .. .... .. .... . ................................. 211
4.1. Características básicas de uma aeronave agrícola .. ........ . ..... .. ... .. ... . ...... 212
4.2. Gestão da aplicação aérea .. .. ............................................. . . 215
5. Cobertura do alvo .. .... . ... .. .. .. .. ......... . .. . ............................. 215
6 . Volume de calda . .. ..... ... . . .. .. ... ... .... . ... . ..................... .. ....... 216
7. Adjuvantes .. .. ...... .... ...... . .. .. . .... . . . ... ........... . .... . ............. 217
8. Tecnologia para controle da ferrugem na soja .. .............. .. .................... 218
9. Avaliação da qualidade da aplicação . . .... . ..... . ... . . . ... ...... ............ ... ... 219
10. Inspeção técnica de pulverizadores agrícolas ....................................... 221
11. Efeitos fisiológicos de fungicidas na soja .. . ................. . ......... . ...... . ..... 222
10.1. Tratamento de sementes . . .. ...... . .. . . . ..... . ................ . ..... . ...... 225
11. Referências bibliográficas ......... . .. ......... . . . ............... . .... .. .... .... . 226

14. Qualidade sanitária na produção e estratégias para o controle de doenças


transmitidas por sementes de soja . .. .. .. . . . .... .................. . ............... . .. . 229
FLAVlA A DREA N ERY-SILVA - M AR1 A L 1ZA N Es CosTA - Jo É DA CRuz MACHADO

1. Introdução ... ... .. . .. . ......... . .... ... .... ... ..... . ... ... ............... . . . 229
2. Aspectos sanitários de campos de produção de sementes ... ...... .... . .... . ..... .. ... 230
3. Análise da qualidade sanitária de sementes de soja ............................ . ..... 234
4. Controle de doenças da soja via tratamento de sementes . . .... . ....................... 237
5. Campo de produção de sementes - qualidade sanitária ............................... 238
6. Tipos de tratamento de sementes ................................................ 240
6.1. Tratamento Químico . ..... .. .... . .......................................... 241
6 .2. Tratamento Biológico . ... . . . .. ............... . ... . .. . ..................... . . 245
6.3 . Tratamento Alternativo . . . . . ....................... . ........................ 246
6 .4. Tratamento Químico de Sementes ................ .. .......................... 247
7. Considerações finais ............ . .. .... . .. .... .. .... . .... . ... .. . . .. . ........... 249
8 . Referências bibliográficas . ... . .. ..... ... ... .... . ........... . .................... 249

15. Interação entre o estado nutricional e o desenvolvimento de doenças . ... .. .... .. . ...... 253
RA FAEL T ADEU DE A 1• - G A PA R H EN RIQ E KoR N DÕRFER

1. Introdução ....... ............ .. . ... ................ .. ................... .. .. 253


2. Os nutrientes minerais e as doenças de plantas ... . .... .. .... . . . ... . .. ... .. .. ...... . 254
2.1. Nitrogênio . . .... .... . ... .. ..................................... . .. . ..... 254
Ili

E,t ANE L EMES - 1.EONAnoo H u MOEHTO - RA r-AEL DE Ass i s

2.2. l· · sforo .......... ... ......................... .. . .................... .. . . 257


- ·.. Pot:issio ............................... .................... . ........ . . . . . 260
2.--t . ':íl 'io ................. .... . . .... .. .... . .. .. .. .............. ... .. .......
. 261
- .'5 . ~1agnC:·si) ....................... ........... .. .......... . ........ ..... . ... 261
-· l . Enxofre ......... ..... . .................................... . . . .... ...... . 262

2.- . Zinco ..................................... ...... ..... ........... ....... . 262


2 .l' . 'obrl' ................................... .. . ....... . ......... . . .... . .... 263
.! .l). 1 >fO . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . ... .. .... .. .. ................... . . ' .. ' . . 263
- 10. \ tang,llll... S .. . . ............ ..... .... .. ....... . . ......... .... . 263
2. 11 'lom .. . ... . . . ...... .. .... . ... .. . . ... .. ' .. ... . ..... . . . 264
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.... . . . . . . 270

nited States .... 2 S

2 5
2 6
·! ·...til r h. r di ·ease re. 1:can ·e 2 8
,,unce............... . . ... . .. 280
. ... . .. 28
111',H L ,Jr· . . ... .. 285
d . . .... . 286

1i EI culti o de soja en en ína: principales enfermedades y estra eg a . ... .. . 289


,t t"' n f- , :<, DI'- ' ' - :'\t ,1\. .-\. , 1 \ F ,! d.\LLY -
- F , J, F _- \l n ,
El -ulm de- <.\) en . /enuna. pJ.norama. y mercado ·. . . .... . -89
Fnkm t..~ d~. dei culrno de oja en b .-\rgemin:i .. . . . .. .... -9
Pnn 1p k ,ntcrm dld . d la .·oja en la Ar~ emina .. . . ... _9
_, 1 Enl rm d d _ de Finde Ci lo de h .oja (EfC) .
.\t n hJ marrun o eprono., · de la ja . . . . . . . . . . ..
-i 1 Tizon de l.1 hoi . cw.n morado o púrpura ........ . ....... . . .. ..... _9
➔ - . tan h.1 Oro de Ran . .. .... .. .... .. . ... · .. . ..... 299
-1:. P hab,ca_m · dd ~ udo ~ pató eno~ d ·em ilia ........ . 02
de milla Cone pto. de calidad y anidad .... .
➔ : .2 Paro .. eno habitante dei _uelo ....................... . . .. .. .. -.. . . o
º-
-1 .: 2 1. Tizon de plamula . . . . . .... . . .. . ... ... ..... o
-1 ._... 11. Pudricione de r íz y callo en planta adulta ........ .
. . . . . . . . . . . . . . . . 0-¼
.: .2 : . Podredumbre a.rbono a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... ..... o4
3
S MÁ RI O
XIX

4.3.2.4. Síndrome de la muerte súbita o repentina . . ... .. . . .... .. .. . .. . .... . 305


4.3.2.5. Rhizoctonia solani . . ...... ... . . ............... ... ... ........... 305
4.3. 2.6. Podredumbre de la base del tallo y raíces (Phytophthora sojae) . .. . ..... 306
4.4. Manejo Integrado de las principales enfermedades dei cultivo de la soja en Argentina . . 307
4.4. 1. Manejo de los patógenos de semilla y habitantes dei suelo causantes del tizón de
plántulas ..... . . .......... . .. ............. .. .. .. ... .. . . ..... .. . . . ... 307
4.4. 2. Manejo Integrado de EFC ... . .................. . .. . ........... ....... .. 308
4.4.3. Manejo integrado de la Mancha Ojo de Rana (MOR) . . . ... .. ......... . ... .. .. 310
4.4.3. 1. El si tema de manejo químico sustentable en las variedades
muy susceptibles . .. . ........ ............. . ......... . .... ... .. 312
4.4.4. Manejo integrado de patógenos habitantes dei suelo .... . . . ...... . ........ .. 313
5. Consideraciones finale ............ .... . . . .. .. ......... .. . ...... ....... .. . . .... 316
6. Bibliografia ......... . ...... .. ... ............ . . .. ........... ... .... .... .. . .... 316

18. Soybean in China . . . ....... . .. . ........... ...... . ... .. ........ . ................. 325
W. l G LIA ZHE G - S I J I MING - WA G L\
1 - LI B1 - ZH Ü RONGJ AN
1

1. lntroduction of soybean de elopment and historie cultivation in China . .. . .... . . .. .. . ... 325
1.1. China - The Place of Origin for tbe Cultivated Soybean .... ........ ... ...... .. .. . .. 326
1.2. Ancient Literature ................... .. . . . . . .... ... .. ....... . . ... .......... 328
2. Production destination of so, bean (oil and feed) ..... .. . .. .. ... .... . . . .. .... . .. . .... 329
2.1. Soybean germpla m resource in China .. . ....... . .... ... .. ................... 331
3. Productivity and areas of soybean in China ....... . .. . ... . . . ......... . . .... . ....... 331
4. Progress of soybean breecling and cultivation for super high-yield ..... .... . ............ 334
4.1. Ideal plane morpholog) type of o bean cultivars for super high-yielding ............. 337
4. 2. Yield truccure of o ·bean cultivar with super high-yielding .... .... .. .. ........... 338
.3. The breeding direction of genetic improvement for soybean cultivars with
super high-yielding . . . . ....... . .... . . ... .. ... ... . . . .... . . . ............... .. 339
.4. election of o _bean cultivar for super high-yielding and breeding direction .. .. ..... 341
5. election criteria in different breeding generations .... ... ... .. .. ............. . ... . .. 342
6. Major biotic and abiotic problems faced b the Chinese soy farmers .. .. . . . ....... . ... ... 343
References. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 345

19. Soja: produção, patologias e manejes no Brasil ..... ... ... .. . . .............. . ...... . 3 9
LFRE0O R ICIERE D 1 - Eo ON P EREIRA B oRG

1. Importância no Bra il, área produzida, mercado atual e potencial da soja .. . . ..... . ...... 349
Principai problema edáfico e climáticos que podem favorecer patologias . . . . . . . . . . . . . . 350
Patologia de maior impacto no último anos e suas principais técnicas de manejo . ... . ... 351
.1. Ferrugem a iática da soja (Pbakopsora pacbyrbizi) .......... ....... ... ...... . ... 351
·- · Mofo branco ( clerotinia sclerotiorum) . ..................... ... . ........ . ..... 356
.3. Ma ncha al o (Corynespora cassi.icola) . ....... ....... ... . . .. ..... . ............. 358
3. . Antracno e (Colletotrichum dematium ar. truncata) . .... . ... . . .. . . ........ . ... . 359
4. Inovaçõe tecnológicas para a cultura da oja e per pectivas futuras quanto à produção e
po í ei problemas a erem enfrentado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 360
Referência bibliográficas . ... .......... ..... .. ............................... . .. 362
~ - -.\li. ~ ;,;i\~t,t•2.- . . _•e- . ,• ., ...,. ·- •· - ___,,_,__ _ , w _,, -·""""'"M-.~,..,..,.. ,,_,._.;,;:.~~ :: .. ,Cit"' -~;0·,;'; ,
~,- -1~·~--~t6'; ~ ""-·- ·-. . · ~
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·t ,,. - ,.., • u
Vulnerabilidade genética
da soja às doenças

W lSSA B ARBOSA DE S O USA


Engenheira Agrônoma, Me. , Ora.
Universidade Federal de Uberlãndia
ÉnERMxrsuo
Engenheiro Agrôno mo, Me., Dr.
U níversidade Federal de Viçosa
Campus de Rio Paranaíba
A.tuízIO B ORÉM
Engenheiro Agrônomo, Me. , Ph.D.
Universidade Federal de Viços.a

1. Introdução

A soja [Grycine max (L.) Merr.] é uma im- novas tecnologias em conjunto com o proces-
portante cultura do agronegócio brasileiro. Na so de melhoramento genético, que a cada ano
safra 2014/ 15, a produção nacional foi de 94,3 desenvolve e disponibiliza ao produtor no-
milhões de toneladas de grãos (CONAB, 2015), vas cultivares, com alta tecnologia embutida
tornando cada vez mais realista a projeção e mais responsivas a variações no ambiente
de que o Brasil se tornará o maior produtor (SOUSA, 2013).
mundial dessa leguminosa nos próximos anos O ambiente pode ser definido como a
(SEDIY4MA et ai. , 2009). A expansão da cul- soma de todos os fatores externos que afetam
tura pel~s diferentes regiões do país, visando a vida de um organismo (CARRETERO e ZAN-
produção comercial, iniciou-se no Rio Grande CANARO, 2010) e o estresse como sendo cada
do Sul (SEDIYAMA et ai. , 2009) e , atualmen- fator que afeta negativamente o desempenho
te , encontra-se nos Estados do Rio Grande do das plantas (Borém e Ramalho, 2011). Assim,
Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas acredita-se que o maior desafio atual do ho-
Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Fe- mem seja produzir alimentos em quantidade e
deral, Mato Grosso, Maranhão, Piauí, Bahia, qualidade para uma população recorde e cada
Roraima, Rondônia, Pará e Tocantins (CONAB, vez mais exigente em seu paladar, em um am-
2015) . Desta forma, a soja, no Brasil, é cultiva-
biente com constante aumento de estresse bi-
da sob diferentes condições ambientais.
ótico e abiótico (BORÉM e FRITSCHE-NETO,
O crescimento da cultura em área e rendi- 2012) . Neste capítulo, vamos considerar que
mento só tem sido possível devido à abertura doenças são causadas por estes dois tipos de
de novas fronteiras e ao desenvolvimento de estresses.
2
ANE L EMES - LEONARDO CASTRO - R AFAE L Assis

2. Importância da diversidade na vulnerabilidade genética


o Bra il. o primeiro estudo visando carac- Miranda (2005) apud Miranda et al. (2007)
terizar a ba genética das cultivares de soja foi apresentou valores de Ne e ntre 13 e 16; e Mi-
realizado por Hiromoto e Vello (1986). Neste , randa et al. (2007) estim aram magnitude de
foi anali ada a genealogia de 74 cultivares de Ne entre 11 e 13.
soja indicada para o Brasil, na safra 1983/84, Wysmierski e Vello (2013) estimaram a con-
com base no coeficiente de parentesco de Ma- tribuição genética relativa dos ancestrais de 444
lécoc. D terminaram que a ba e genética do cultivares atuais de soja através do coeficiente
germoplasma ela soja é oriunda da contribui- de parentesco de Malécot e verificaram mudan-
ão de 26 ance trais , sendo que dois (Tan loxi ças na base genética das cu ltivare brasileiras de
e Keclelle n .3) são d e origem desconhecida e soja antes do período entre 1971 e 2009. Consi-
os demais 2 ➔ são proven ientes da China (10) , derando estas 444 cultivare ·, os autores identifi-
do Japão (:;). da Coreia (-l), dos Estados ni- caram 60 ancestrais, sendo ele : 24 proveniente
dos (2), do Bra~il (2) <: das Filipi nas (J). Desses, da China. 16 do Japão, 4 de origem desconheci-
11 ance...,tr ti~ contrihc1ram, cm conjunto, com da, 3 dos Estados Unidos (EUA), 3 do Brasil, 3
89% dn 'wo/ g~nico da~ cultivares brasileiras da Coréia, 2 da Coréia do Sul e 1 da Índia, Filipii-
dl:' -oja · o anc~-;tral qut.> ap resentou maior nas. igéria, Peru e África do Sul. Destes 60, 14
contribl ,,ãn rclatiYa foi CNS, com 15,37% , pre- ancestrais contribuíram com 92 ,41% para a base
sente nc pnligree ele 93% das cultivares plan- genética e os demais ➔ 6 co ntribuíram cumula-
tadas n I Hra:-;il. ( )~ .rntores d iscorreram sobre tivamente com 7,59%. o que resulta em men
1 necess1d.1dc de aumenta r a b ase genética das de 1% para cada ancestral. Estes resultados, se-
culti\'aff . hra•,ileiras e evitar o perigo da vul- gundo os autores, mo"tram que as cultivares
n~rahihd~H.k do germoplasm a e o estabeleci- analisadas apresenrnrn.1n hase genética estreit-a,
mt:nco de I at.tmares de produção. sendo similar à do. E- e' <· aumento do número
Pn-.tt· 1r wnte. fo ram reali zadas diversas de ancestrais comparat · ·1me nte aos resultados
pc. qui., com o intuito d e calcular o coeficien- obtidos por Hirommu <· V ·llo (1986). No entan-
t<: de pa ..:mL':-i 'O e n tre cultivares brasileira . to, ao considerar o, <pi,1ír) rincipais ancestrais
\'dlo et 1. ! t 19~ B). com ba e em 69 cultivares (C S, Roanoke , 'lnt _, S-100), Wysrnierski e
ck !'loja indiLadas para o Brasil, estimaram co- Vello (201 3). ha imli• (1 h· redução quantitativa
dici ·ntc <le pare ntesco na magnitude de 0,16; da base genética em , 1· -i,1ração com Hiromo-
Bonato (2000), em estudo semelhante, com to e Vello (1986),
100 cultivares lançada desde 1984, obteve o Com o passar do npo, mais ancestraiS'
coefi icnte d e 0,21 , na média; Miranda (2005) foram incorporado - "e gen é tica da soja
apud \iti randa et ai. (2007), trabalhando com passando ele 18 arn 1 • • 1 is (período anterior
<-t5..., cu ltivares brasileiras, reportou a média a 1971) para 52 ann_' 1 • .., (período de 2001
do coeficiente de parentesco igual a 0,178 ; e a 2009) , enquanto 1, 1.)nú mero de cultiva-
Mira nda et a!. (2007) estimaram, com base res teve um acré:cin1~ , tl· o período de 1991-
e m 90 culti vares elite de soja, a média cio 2000 (WYSMI ERSKI l .'ELLO, 2010) . A base
coeficiente de parentesco igual a 0,2124. De genética sofreu redu ~:• ~- :endo que os quatro
acordo com estes os autores, é sugerido o u so principais ancestra b r · ', Roa noke , Tokyo e
de genótipo. com baixo coeficiente de paren- S-100) foram o s mesnios em todos os perío-
tesco para aumentar a diver idade genética. A dos, mas a contribuiç,io ge n é t ica acumulada
partir dos dados de coeficiente de parentes- (CGA) destes ance"itrai~, pa sou de 46,6% no
co, Vello et a!. (1988) e timaram o tamanho período anterior a 1970 para 57,59% no perío-
efetivo populacional ( e) igual a 11 ou 15; do 2001-2009 (WYSMJ ERSKI e VELLO, 2010).
1- V ULNE RABILI DADE GENÉTICA DA SOJA ÀS DOE ÇAS
3
LlRISSA B ARBOSA DE· S OUSA É DER
, !uH Aº'TS UO ,1.,
ru.U •
IZfO B ORÉ'M

Observaram, também, que a base genética das Brasil e apontam que o germoplasma brasileiro
cultivares públicas e privadas são bastante se- de soja manteve a variabilidade genética cons-
melhantes, no entanto, o número de ances- tante nos últimos 30 anos de expansão e me-
trais do conjunto de cultivares públicas (58) lhoramento da cultura. Posteriormente, Oda et
foi maior que a das cultivares privadas (37). al. (2015) analisaram 21 cultivares de soja pro-
Ademais, a CGA dos quatro principais ances- venientes de diferentes programas de melhora-
trais foi de 55,26%, 53,9% e 57,2%, respectiva- mento, adaptadas a diferentes regiões do Brasil
mente, para o total de cultivares, para as culti- e do mundo e lançadas no mercado em diferen-
vares públicas e para as privadas. Isto mostrou tes períodos. De acordo com os autores, consi-
que as cultivares privadas apresentaram a base derando os caracteres fenotípicose moleculares
genética mais estreita entre os três conjuntos (marcadores SSR) e o coeficiente de parentesco,
(WYSMIERSKY e VELLO, 2013). a variabilidade genética manteve-se a mesma ao
longo de quase 40 anos de melhoramento.
Segundo Wysmierski e Vello (2013), ao com-
parar a base genética da soja brasileira com a Os processos de endogamia e de seleção
dos EUA, observa-se que 26 ancestrais estão natural ou artificial, associados à domestica-
presentes como de importância nos dois países ção e agenetic bottlenecks, podem proporcio-
e, dos 14 principais ancestrais do Brasil, 11 são nar a eliminação de alelos deletérios e , tam-
encontrados na base genética americana, sen- bém, a perda de alelos não deletérios, o que
do que seis destes estão entre os principais an- pode resultar na vulnerabilidade da popula-
cestrais dos EUA. De grande destaque são CNS, ção ao ataque de pragas e doenças , além da
Richland e S-100, todos com mais de 5% de con- fragilidade a ambientes estressantes (ANN VE-
tribuição individual para a base genética da soja ASEY et al., 2011). No entanto, estes autores,
dos EUA (GIZLICE et al., 1994). De acordo com relataram que é possível, em menor escala,
Wysmierski e Vello (2013), os cinco principais realizar o caminho contrário do estreitamen-
to genético, ou genetic bottleneck, por meio
ancestrais encontrados em sua pesquisa (CNS,
da busca de novos alelos em espécies selva-
S-100, Roanoke, Tokyo e PI54610) são exata-
gens e variedades crioulas, principalmente
mente os mesmos cinco ancestrais de maior im-
aqueles relacionados à tolerância a diversas
portância para base genética do sul dos EUA,
pragas e doenças. Esta estratégia também foi
embora a ordem de importância não seja a mes-
comentada por Hyten et al. (2006) .
ma (CNS, S-100 Tokyo, PI54610 e Roanoke).
O risco de epidemias não se deve intrinse-
Estudos sobre divergência genética tor-
camente só à falta de diversidade entre os cul-
nam-se fundamentais para o melhoramento
tivares no mercado, mas também à decisão do
de plantas, pois permitem a identificação de
produtor de plantar um número restrito de
genitores adequados para obtenção de híbri-
cultivares em uma região; por isso, embora
dos com maior efeito heterótico e que propor-
deva ser objetivo dos programas de melhora-
cionem maior segregação em recombinações e
mento desenvolver diversificado e grande nú-
o aparecimento de segregantes transgressivos
mero de cultivares produtivos, à medida que
(CRUZ et al. 2012).
se aumentam as exigências para o lançamento
Os efeitos do melhoramento sobre a diver- de novos cultivares com resistência a doen-
sidade genética da cultura da soja no Brasil, ças, esse número é reduzido, contribuindo
com base em cinco períodos de lançamento de para o in~remento da vulnerabilidade genéti-
cultivares e seis programas de melhoramento ca (BOREM e MIRANDA, 2009). Uma revisão
foi estudado por Priol li et al. (2004). Os auto~ c~n:1 completa discussão sobre diversidade ge-
res identificaram maior variação dentro do que net1ca em soja pode ser encontrada em Carter
entre programas de melhoramento de soja no Jr et al. (2004) .
Ü OENÇA DA

3. Evolução e Entraves
A ub tituição da diver id ad natural das tre ano , reg1oes, propriedades, cultivares e
planta em milhare ou milhõe de hectare , condiçõe climática , e ntre outros fatores.
por uma ou poucas e pécie geneticamente A doença Mancha Olho de Rã, causada pelo
uniforme , tornou inevitável o urgimento ou fungo Cercospora sojina Hara, foi a primeira
o agravamento de, por exemplo, espécies exis- d impacto nacional (safra 1970/ 71), propor-
tente (YORI ORI e KIIHL, 2001). Um exemplo cionando perda significativas em mais de 70%
dás ico de de equilíbrio cau ado pelo homem da propriedade que cultivavam a cultivar
e que tev con equência d a tro ·as foi a fa- Bragg (mai popular à é poca) (YORINORI et
lência do projeto de plantio de extensas área ai. , 2013). O autor também afirmaram que,
de ringueira [Hevea brasíliensis (Willd . Ex com o de envolvim nto e uso de cultivares re-
Adr. de Ju s.) Muell. & Arg] na década de 1920, sist nte , que aconteceu após a ocorrência de
pela implantação da Fordlândia pela Ford Mo- everas perdas, a doença encontra-se de ma-
tor Company no E tado do Pará (YORI ORI e neira controlada na diversas regiões produto-
KJlHL , 2001) . E se projeto foi totalmente invia- re de soja. As im, o u o d e cultivares resisten-
1)ílizado pelo mal-das-folha , causado pelo fun- te· as ociado à medid as gerais de manejo da
go .'Hícrocyclus uleí (P. Henn .) v. Arx jcomb. nov. cu ltu ra (u o de emente sadias, tratamento de
= Dolh idella ulei P. Hcnn. = Melanpsamopsís semente , rotação de culturas e manejo de res-
ulei (1'. 1knn .J Stahel (Fusic/adium macrospo- tos cu lturai ) auxi liam no controle da doença
rum KuyperJ] (YORJ ORI e KIIHL, 2001). (DHINGRA et ai., 2009) e do surgimento de
novas raça de patógeno .
A ·xpansão da cultura d · soja para novas
án·as, a m nocultura, (1 adoção de prática.., Estudos demon tram que a r esistência é
inadequadas de manejo e a mudança do qua- governada por um gene dominante (ATHOW
<..: f'ROB T, 1952; PR 8 Teta!. , 1965; e BAKER
dro de cultivart:c, tém aumentado o nCm1ero de
doença~ que afetam t:st ~1 < ulr ura e tamb<-m os et ai., 1999). 1 to proporcio na ao programas
de.: melhoramento genétic a eleção de genó-
n í ·<.+, de dano ·ausados por tungo~ bactc:na..,
tipos clc.:scjávcis de ma neira re lativamente fá-
11 us e n<·mat ide~. al(·m lc out1 ª" anormalí-
cil por meio d ~ sele ã fe notípica. Atualmen•
<L1d< s <k causa~ ,k..,c.nn lw1 ,,h._, (Y<>HJNr >HJ et
t · , tcm-s utiljzad
À om fi nte d e resi tência
u i ~OHJ . YOH J OH J e/ ai LOJ 1>)
a<, cu ltivarc~ que são rc i ·te nte à doe nça e,
1lí '-lton ( am<· nt<' , e, ~r.,..,il . , ,,1, ura <l a adi ·ionaJm ·nt ·, adaptadas a · regiões de in•
V JJ::l ra. . v )U por di ,, r "'ª ('fJIC
1
c·rllJ a'-i qlH· r ·- t ·r ·ss ·. Essas sã< uti li zada ·, também, em
·rn p· ; da• rw :, ,,., rit· r lndím(·nto"i
lt,j l íH rl
programas d · r ·tro -ruzam nto . Na seleção
<. • d I q Ia 1"htc '· ( 1 J i< , d 11, , no <•11 ta nt o, a d · plantas, pod ·-s · Jan ·ar mão d e dife rente
, ,,d a ·, .11 te. f, · Jll í' r , .., ;1 d{ w 11 a qh~erva-~ · mar ·a lor ·s mol · · dar ·s qu e já fi ram ídentifí•
qu e ;·cai, 1 11k a r,, , , <f,, p roduto r·'> · meios · va li lados (RAPO, AFLP, HFLP e SSR) e
d í ;1 , , ,, 1;, 1 , 111,,1 p, 1: a I tts( a <.: adoção qu · po 1 ·m s ·r Lili:l:a los na sele ·ão d e genó·
d;:h 11 , 1d .1 d · e nnt JC 1 · o ,, , ;J 1t< c-era n ap6~ iprn, d ·s ·jáv ·is (M f 'SA ) J et ai., 2007; MJAN
· ,,, e, r< 1,, , d p·· da~ (Y() H I OH J
1 • 1 1<11 1<1<.·<., et ai., 2008) ·, aln la , pr >p r •i nar uma ele·
,,1 ai L.íJ 1) \. w ~ 1
JW" , 1n1pc,rtán ·ia ·o - > ·ão mais rápi la · s · ,ura.
11om11 ., d,1• li w1 , ,t ', <:'-i l,t (·1, f un ao d · vá rio~ O Can ·ro la f l ast ·, au •acl p r Diaporthe
fa 1 ,n a,, l,1 ·n ;, ~. y,< ·1w 1ic ""' (' da int ·raçã > phaseolorum f. sp . Meridionali , fi i r ~tarndo
gt 1 , 1p1 , ;a mbk 11tc-.., l"it< , porqu · a o ·or- no Brasil na safra 1988/ 9 D HI NGRA et ai.,
ri·r lí !11 1dí rH 1,1 dai, dc,,·n ·as pock variar ·n- 2009). a '·p ·a, pou mai , da m tade da

· ttttttrtWWilW
5

áreas de soja do Brasil tinha a possibilidade de et ai., 2009; HENNING et al., 2010). Apesar
semear cultivares que fossem resistentes e de desta estratégia, as perdas causadas por H. gly-
alto rendimento (YORINORI, 1996). Segundo cines ainda são muito expressiva, por isso vale
Yorinori e Kiihl (2001), a existência de fontes a pena reforçar o alerta sobre o manejo deste
de resistência com dominância completa e um patógeno (INOMOTO e SILVA, 2013).
forte programa de melhoramento permitiram As primeiras fontes de resistência da soja ao
a rápida substituição das cultivares suscetíveis H. glycínes foram plant íntroduction (PI) ou
por resistente de alta produtividade. A sele- cultivares norte-americanos, mas, atualmen-
ção de linhagens promissoras, em programas te tem-se utilízado os cultivares nacionais,
'
de melhoramento, pode er efetuada com su- pois, além de serem resistentes, são adapta-
cesso de maneira fenotípica (YORINORI, 1996) dos às condições brasileiras de cultivo (DIAS
ou com a utilização de marcadores molecula- et al., 2009). A base genética da resistência
res (CARVALHO et ai. , 2002 e GAVIOLI et ai. , nas cultivares de soja norte-americanas resis-
2007). Atualmente, e tão disponíveis cultiva- tentes ao H. glycínes é relativamente estreita
res resistente adaptadas a toda região produ- (YUE et ai. , 2000). Segundo Rao-Arelli (1994),
tora, que é con iderada a medida de controle a maioria dos materiais resistentes tem genes
de maior eficiência para e ta doença. de 'Peking' (raças 1, 3 e 5), da PI 88788 (raças
O nematoide de cisto da oja, Heterodera 3 e 14) ou de ambas. O número de genes que
glycines Ichinohe, foi identificado no Brasil na governam a resistência da soja a H. glycínes
safra 1991/92 (LIMA et ai. , 1992, LORDELLO foi relatado por vários autores, variando de
et ai. , 1992 e MONTEIRO e MORAIS, 1992). um a quatro, sendo dominante ou recessivo,
Na época, a cultivare em u o/recomendadas dependendo da fonte de resistência e da raça
para cultivo eram su cetívei (ME DE , 1993; estudada (DIAS et ai. , 2009).
DIA et ai. , 2006), o que re ultou em perdas Diversos estudos com o objetivo de iden-
financeira ignificativa ao , produtore . tificar e validar marcadore moleculares RFLP
A Embrapa oja (DIA et ai, 2006), a Uni- (Restrictíon Fragment Length Polymorphísm) ,
ver idade Federal de Viço a e a principai em- RAPO (Random Amplified Polymorphic DNA) ,
pre a d e melhoram nt genético implemen- R (Simple equences Repeats) e AFLP (Ampli-
taram a eleção de genótip com re 1 tencja fied Fragment Length Polymorphism) ligado
à H. glycines. De acordo com lnomoto e ilva a aleJo ele resistência da soja a raça de II. gly-
(201 ), este , e forç têm rc ultado em pou- cines ão apresentado na revisão de literatura
ca · cultivares resi ·t me (men . de 40 no uni- elaborada por Dia et al. (2009).
v rso de mai · de 300 cultivare ) e, além dis- E tas duas últjmas doenças cau ada pelos
o, a mai ria é re i ·tente apenas às ra ·a 1 e 3 fí topatógenos Diaporthe phaseolorum var.
(DJA · et ai., 2009). Fat pre cupante, p rquc rneridíonalis e Heterodera glycines Ichinohe
a área infc ·tada já up ~r u 2,0 mílhõe de fi ram motivo de preocupação ao nível gover-
hectare cm dez E ·tad bra ileir · (MG, MT, namental , d forma que, na época, o on-
M ', G , SJ>, PR, R ·, BA, TO e MA) (Embrapa, selh Monetário Nacional d Banco Central
201 ) e já ~ ram regi ·tradas 11 ra a · (1, 2, 3, interviu com re ·trição cio aces o ao crédito
4, +, 5, 6, 9, 10, 1 e 14+) de H. glycines n agricola para produtore qu não utiliza em
Brasil In m to , ' ilva, 201 ). tecnologia adequada, para control do
O man ·jo d ne mat ide tem ·id realizado cancro da haste e do nematoide de cisto da
p r meio da utilizaçã de cultivare re istente soja (YORINORI 1996).
(div ·rsifi ·and a font ,, de r si ·tência) e da r - Na afra 1996/97, foi a vez do oídio (Micros-
I" cuJtura · (DJA et ai., 2010; DHINGllA phaera diffu a in. Ery íphe diffusa) , uma do-
6

~ ~ e ísta como de menor ímportán- relato da presença da ferrugem a


aa nas regaoes de duna ameno no suJ e áreas raüna (~ Rl RI et ai., 2 13)-
altas dos Cerrados~ cmsar grandes perdas à A ímportáncía económica d
~ ao. ~ . r~ repentinameme~ níveis ep«ié- asiática da ja no Brasíl, no
JDJCOS na maJOC das regiões produtoras de soja 20 1 a 2011 12 p de r
do País RI. - RJ et ai.. 2013 . Atualmenr.e 0
sua rápida expa ão por a vírul
método mais t:ficiente de contr Je da d~ é montante de perdas econôm íc,
o uso de rultn-an:s resistentes~ no entanto. eví- R1 · RI et ai., 2 13 . Em nív
~ semt::adura tardia e uso exces ívo de fungi- ras perdas de rendimento de grá(
cidas JXJdem ser COfl5íderadas medídas ú tei no a 1 % em várío caso e o hí tó1
.rnantjo integrado (E_ BRAP- , 2 13; HE -~ ·1. ·G
e 12 an de con ívéncía nada ,
et ai. 2010: DHL -G et ai.. 2009 . Em função
mo traclo que a ferrugem asiátíc
da ,·ariabílidade patogf'níca do oídio culfurares
ível e variá el de acordo com a
anreriormente ímun à doença Ex. ~G R
climáticas da afra (YORJ ORI et
46: Conquista tém apresentado íntomas em-
bora em nfreís baÍXi (Yí R1 ORI et al. 2 13). manejo da doença em la 01
1
tem ido realizado por meio da
Estudos genétícos da soja quanto ao oídio
de árias tratégias (DHI GRA ,
revdaram que a resísténcia é gm em ada por
HE I G et ai., 2010; YORI 1

um gene dominante R.AL' e LA ·RE CE


2013 . abe- e que o emprego de
1~5: BC et ai. 198 · WH. "E e BE ARD,
re ístente é um método efícient
199,2· i ·çAL et ai. 2 0 2). A identificação
UM, 2006), entretanto, a grande v;
de genótipos r istentes em populações egre-
patogênica ( OARE et ai., 2009a·
gam:es de melhoramento genético pode serre-
et al., 2011; RAY et ai., 2009; 0 .1
alizada pelos programas de melhoramento ge-
2009b· YAMA AKA et ai. 2010 te
nétíco por meio de leção ísual submetendo
do o de en olvímento de taí varie
as plantas em teste e padrões de re í téncía
e su.scetibílídade ao patógeno em nível de cam- Diver as empresas de melhorar
po. Adicionalmente identificação e alidação tico da oja têm atuado no deser
de marcadores micr atélite (DEMORE et de cultivare resístentes/tolerantes
ai. 2009· G e R F MIA , 2010 e P asiática. De acordo com Henning e
F IA , 2 10) tem ido de gran- cultivare resistentes estão disponÍ'
de impo rtância p ís ão ótimas ferramentas na gumas regiões do Brasil, com a res~
seleção as í tida em populaçõe egregante de é recomendado a utilização do com
ja rujo objetivo é d envolvimento de genó- co, pelo menos uma vez, para que é
típ re · tente . não eja quebrada.
a afra 2000/01 , a identificação da ferru- Uma cultivar de soja resistente:
gem asíátíca da ja (Phakopsora pachyrhízi senta efeito "universal" à ferrugc
yd & yd) no Paraguai e no E tado do Para- deve er desenvolvido pela pirar
ná cau ou verdadeira revolução nas práticas genes de efeito maior (maior';/ ge ne.
agronómicas pra o cultivo da oja no Brasil trodução de resi tência horizontal
(YORI ORI et ai., 2005; DHI GRA et ai., 2009; et al. , 2010); para isto, Vello et a
YORI ORI et ai., 2013). Em 2002 , a doença já _ et ai. (2007) sugerem a Ul
Ribeiro
e tava di emínada em 60% da área de cultivo se1eçao recorrente
,
como métod OG
do paí e 90% no ano de 2003 (YORI ORI et menta genetico
. ' visando ao d esen
ai., 2005). Em março de 2013, o único E tado de cultivares resistentes com
. . AI ' e~
produtor de oja no Bra il que continua em quantitativas. em da utili·za Çao
- de
com gene píramídado e resisténcía quantíta- Epidemí~ estão m pre sujeitas
tí a , é neces ária a combinação de estratégia rem e a maior ou meno r perda na a
como o uso corre to de fungicida e a realização de pe nderá d o preparo técnico e cíe
do vazío anítário , devido à alta aríabilídade paí n a d efi a e ntra as d oenças ( ~
da P. pachyrbyzi . FRIED et ai., 2010 . KIIHL, 20 1 . Desta forma, o estres
D iver estudo identificaram marcado- co nstituí uma das príncipa· causas d
re mícr atélíte ligado a gen es de re í tên- da pro d utividad e d as lavo uras de v~
cia à ferrugem asiática da ja (HYTE et al.1 cie agrícolas (incluin do a oja), p o
2 ; RAY et ai. , 20 9; H KRABORTY et ai. sultar em redução de até 100% no n
2009· JLV et ai.~200 · G RCIA et ai., 2008 ; BORÉM e FRIT CHE- -fffO 2012).
HYTE et ai., 2009: MORCELI et ai. 2008 ; cultura da o ja també m tá
M TER.O et ai. 200 ; MAT T et ai. 201 . e tre e abiótíco . E te e tr
E te ão potenciai para erem utilizado na duzir ignificati amente o rendimei
eleção as í tida com o intuito de identificar o
ouras e r tringir as latitude e o ~
alelo de re istência em populaçõe egreg.an-
e pécie comercialmen te im portam
te e obter o genótipo homozigótico fixad o
er culti ad as ( EPOM CE O et
e d e ejáveís em p ouco ciclo de eleção.
i and o o de e n olvim ento de gene
Em março d e 2006, foi iden tificad a o utra
rante , pro gra m as d e m elho ra m e ntc
esp écie d e fungo cau ad or d o cancro d a h a -
d o em du a linha d e p e qui a (est1
te (D. phaseolorum f. p . caulivora) n a cid a-
m elho ra m e nto) : to le r a n cia à b aixa e
de de Passo Fundo e Coxilha no E tado d o
Rio Grande do ui em c ulti are re i tente
dade de recursos e/ou eficiência nc
ao D . phaseolorum f. p . meridíonalis (CO - (FRIT CH E- ETO et ai. , 20 11). Des1
TAl\1ILA et ai. 2008). De acordo com este m elhoramento gené tico te m por obJ
autores, essa no a e p écie é m e no agre iva ge nó tipo mais adaptado as co ndi1
por ter menor capacidade de multiplicação e tre e , eja por m e io da obte n ção de
está adaptada a clima mai ameno· alienta- tolerante (p. ex. ao déficit hídrio
ram , também, que, até o ano de 2008 , não identificação de genótipo mai efi
há registro de perda econômicas, poré m , u o do fator ambiental (maior eficié
merece atenção pelo risco de atingir áreas de gica) (BORÉM e RAMALHO, 2011).
clima favorável nas regiões altas do Cerrado, As mudança climáticas vão int1
isto porque há grande diferença de reação en- a agricultura em duas frente princ
tre genótipos de soja para as duas espécies. A
manda crescente de alimentos e o
única forma de controle é através do uso de
aquecimento global e alteração dos
cultivares resistentes (YORI ORI et ai., 2013) .
precipitação (BORÉM e RAMALHO,
Ainda, de acordo com Yorinori et ai. (2013)
informação é corroborada por Almt
uma doença que sempre esteve presente nas
lavouras de soja e que apenas ocasionalmente que reporta que o futuro é incert(
causava danos importantes é a mancha alvo mudanças climáticas, mas previsõ,
'
causada pelo fungo Corynespora cassicola. aumento da temperatura e redução
Nos últimos anos, essa doença tem sido res- dos rios . Assim, as mudanças clir
ponsável por crescentes prejuízos em diver- afetar o desenvolvimento e a pn
sas regiões, sendo mais severa nos Cerrados das lavoura (BORÉM e RAMALHO
além de causar desfolha, manchas e abertura
'
o Brasil, a cultura da soja 1
prematura de vagens, o fungo também causa progre sos quanto às condições
podridão radicular (YORI ORI et al. , 2013) . visando a adaptação e obtenção d
8
ERNANE L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL As IS

dimento , por meio de programas de melho- BLACK, 1994) e floração-enchimento de grãos


ramento genético. (DESCLAUX et al., 2000; DESCLAUX e ROUMET
O culti\ o da soja em baLxas latitudes foi 1996). A germinação e posterior emergência da'
pos ibilitado pela introdução da caraterística plantula requerem absorção de águ a de, pelo
' período ju enil longo em genótipos brasi- menos, 50% do peso seco dà semente (BAR-
leiro . utilizando alelo da linhagem PI2 066 ROS e SEDIYAMA, 2009). Durante o período re-
Kiihl et ai., 198 ). Isto p ermitiu que as plantas produtivo, o aborto de flores, óvulos e vagens
e tornas em perc pth is à variação do foto- em plantas de soja submetidas a déficit hídrico )

período e fo m induzida ao florescimento bem como a posterior redução no tamanho dos


a partir da - a e ª folha trifoliolada quando grãos, pode ser parcialmente atribuído ao efeito
o fotoperíodo máximo fo e menor ou igual do déficit hídrico sobre a fotossíntese antes que
ao fotoperíodo crítico da re p ecti, a cultivar ocorra diminuição da concentração de reservas
(B RRO e EDIYAMA. -009 . nos órgãos vegetativos (RAMSEUR et al., 1984).
Outro marco da cultura da soja no Bra- O déficit hídrico durante o período de enchimen-
il foi a fixaçáo biológica de nitrogenio. De to de grãos da soja reduz o seu tamanho, devido
a ordo co m Finoto et ai. (2009) na ausencia à diminuição do suprimento de fotoassimilados
de imbio e ntre a planta de soja e bactérias pelas plantas ou a inibição do metabolismo do
do gênero Bra dJ rb izobi u m a soja chegaria próprio órgão (WESTGATE et ai., 1989). Assim, a
a er uma cultura inviá el diante dos custos ocorrência de déficit hídrico durante a floração e
le, do que o agricultor teria com fertilizan- maruração acelera o desenvolvimento das plan-
te nitrogenado). I to porque dependendo da tas (BARROS e SEDIYAMA, 2009).
eficiência da imbio e a fLxação biológica de Perdas econômicas em função de déficit hí-
nitrogenio pode fornecer todo o nitrogênio drico têm sido observadas no cenário agrícola
qu a oja nece ita (EMBAPA 2013). brasileiro, especificamente na cultura da soja.
Do !eme nto do clima o que se apresen- Na região Sul, responsável por 40% da produ-
ta como o mais limitante é a água (déficit hí- ção nacional, estima-se perdas média decor-
drico = eca) em função da ariabilidade na rentes da seca na magnitude de 24% na safra
di po nibilidade hídrica durante o período de 2003/04 e de 44% na safra 2004/05; especifica-
de en ol imento da cultura (CASAGRANDE et mente no Rio Grande do Sul, na safra 2004/05,
al. 2001). O efeito da deficiência hídrica sobre a perda estimada foi de 70% da produtividade
o r ndimento de grão depende da sua inten- (FARIAS et ai. , 2006).
idade da duração , da época de ocorrência, O desenvolvimento de genótipos de soja
do culti ar, do e tádio de desenvolvimento da tolerantes ao déficit hídrico é essencial para
planta e da interação com outros fatores deter- que a agricultura continue alimentando a po-
minante do rendimento (FARIAS, 2011). pulação, gerando empregos e movimentando a
A água arua praticamente em todos os pro- economia (NEPOMUCENO et ai. , 2001). No en-
ce o de uma planta, de empenhando papel im- tanto, o seu desenvolvimento é uma atividade
portante na manutenção e distribuição de calor, difícil devido à complexibilidade das respostas
além de ter a caracterí ticas funcionais de pre- das plantas (NEPOMUCENO et ai. , 2011), que
enchimento, meio de transporte, solvente para envolvem alterações morfológicas, fisiológi-
reaçõe celular e proce o fotossintéticos, en- cas, bioquímicas e moleculares (PASSIOURA,
tre outras (CAMPBELL e GRIFFITHS, 1990). 1997). Estas bases fisiológicas, moleculares e
genéticas das respostas das plantas ao d éficit
Adisponibilidade de água é importante, prin-
são justamente a maior limitação para O me-
cipalmente, em doí períodos de desenvolvimen-
lhoramento genético da tolerância ao d éficit
to da soja: germinação-emergência (BEWLEY e
hídrico (NEPOMUCENO et ai., 2001).
.9

As linha de pesquisas hoje desenvolvidas Pesquisa visando a tolerância ao alumínio


n as vária in tituiçõe nacionais e internacio- ainda continuam no melhoramento da soja
nais de pesqui a agrícola objetivam, funda- (SPEHAR e SOUZA, 2006; KORIR, et ai. , 2011;
mentalmente, no caso de deficiência hídri- OJO e AYUBA, 2013; e ABDEL-HALEEM et ai.,
ca no solo, apena a amenizar as perdas que 2014). De acordo com Abdel-Haleen et ai. (2014),
normalmente ocorrem durante eventos de os marcadores do tipo SNPs identificado podem
eca fazendo com que as plantas genetica- ser utilizados na seleção assistida por marcado-
mente modificadas geradas ejam capazes de res moleculares para tolerância ao alumínio.
tolerar períodos mais prolongados de seca, até Entender o estresse abiótico do ponto de
que nova chuva ocorra ( EPOMUCE O et a!, vista fisiológico é de extrema importância para
2011) . E tes autore apresentam uma série de o melhoramento genético, por isso uma revi-
estratégias visando ao aumento de tolerância são com completa discussão sobre a fisiologia
de planta ao estresse abiótico (incluindo o dé- do estresse abiótico, contemplando o déficit
ficit hídrico) que podem ser utilizadas em pro- hídrico e toxidez por alumínio, pode ser en-
gramas de melhoramento genético. contrada em Cavatte et a!. (2011).

4. Perspectivas
Para atender a crescente demanda de ali- tado. Para vencer os desafios, é preciso uma
mentos, os programas de melhoramento gené- conscientização de todas as partes; os melho-
tico têm buscado avaliar e quantificar a diver- ristas precisarão buscar cada vez mais conhe-
sidade genética entre genótipos, uma vez que cimento sobre os mecanismos de tolerância
a base genética estreita da soja é a causa direta e/ou resistência e incorporar a biotecnologia
da sua vulnerabilidade genética. moderna à rotina dos programas de melho-
A diversidade genética é uma importan- ramento, e o produtor precisará manejar de
te forma de manter a capacidade natural das forma mais precisa a cultura, atender às reco-
plantas de responderem a todo os estresses mendações e sempre monitorar suas áreas de
bióticos e abióticos que a cultura tem enfren- produção.

5. Referências bibliográficas
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Cultivo da soja no Rio Grande do Sul :
perspectiva atual e futura

EVA ORO CHAVE DE ÜLIVEIRA


Meteorologista, Me. , Dr.
Instituto Federal do Espírito Santo
Campus Itapina
RAFAEL DE Ávu.A RODRIGUES
Geógrafo, Me. , Dr.
Universidade Federal de Goiás
Regional Catalão
Jo É MARIA NoG EIRA DA CosTA
Engenheiro Agrônomo, Me. , Ph.D.
Universidade Federal de Viçosa
L EO ARDO NEVES
Meteorologista, Me. , Dr.
Instituto Federal Catarinense
Campus Rio do Sul
PI.AVIO J USTINO
Meteorologista, Me. , Dr.
Universidade Federal de Viçosa
DÉBORA REGI A RoBERTI
Física, Me., Dra.
Universidade Federal de Santa Maria
PAuLo JoRGE DE OuvEIRA Po TE DE So ZA
Meteorologista, Me. , Dr.
Universidade Federal Rural da Amazônia

1. Introdução
A soja (Glycine Max (L.) Merrill) é uma olea- safra 2009/2010 foi de 23,6 milhões de hectares,
ginosa com grande destaque na economia mun- com produção de 68,7 milhões de toneladas e a
dial, sendo que a produção mundial na safra de produtividade média da soja brasileira foi de 2911
2009/2010 foi de 259,7 milhões de toneladas, kg por hectares (EMBRAPA, 2011).
com área plantada de 102,0 milhões de hectares No Rio Grande do Sul, nessa safra, foram
(USDA, 2011). O Brasil tem destaque mundial por colhidas em torno de 9,5 milhões de toneladas
ser o segundo maior produtor, ficando atrás so- de soja em numa área plantada de aproximada-
mente dos EUA, ressaltando a importância desta mente 3,8 milhões de hectares, posicionando-o
cultura para o país. No Brasil, a área ocupada na como o terceiro maior produtor nacional de soja
l ÜO HNÇAS DA ( Ji\: Mlll.llOIIAM HNTO <.t! i'l'ICO li 'I' 1CN IC S l )H MA ltJ ()

na afra 009. 010 nfi rm dad d ln tituto t e da produtivi lad las ultura n fun.1r ,
Brasil iI d Geografia E tatí'tl a (1B E 2011). 0 2 o sub trnt prime ri l ara
Emb E tad d taqu com um d . D v -s r s altar qu ' a, l lama
importante referenciai na pr du "ã d s ja n ja t rã maior b n "'fí i om
Brasil poderá ainda ter rendim nt s melh - aum nt d Oi d qu planta ., ( 'TRE K,
rad a partir da adoç1 d n :va ~ cn logia ' 200 ). Entr tanto um aum nt na t mp "ratura
tud , qu p · am diminuir ri co d qu bra do ar pod r duzir u anular s "f it s b "'n fi-
d rendim nto prinàpalm nre diant da mu- s do 0 2 s br a planta ( 'TRE K 00 ). A
dança climáti 4\S a, entadas por divers to1 s mudança limática , gund Aggan al Mall
da comunidad àentífica. (2002) ainda pod m cau ar ~ it indir t na
com ~'to tem ido ba tanre di cutido o produ ã agrícola mundial c m alt ra ·õ na
faro d qu aum nto da concentração do ga disponibilidad d água para a irriga ã
d efeito estufa na atm sfera - entre el di xido p tição com praga do n a alt raçõ
d carbono (CO metano xido nitroso - de- tilidad do solo ero ão ntr outras.
vido às atividades antrópicas como a queima de Em r lação à cultura da soja e o eE it do
combu tíveis fóssei e mudanças no u o da terra dióxido de carbono atmosférico, Heinemann et
tem contribuído consideravelmente para o aque- al. (2006) conduziram experimento obr o
àmento do planeta. As concentraçõe atmo féri- efeito do ambiente controlado e enriquecido
c.as de dióxido de carbono aumentaram de 2 8 com concentrações na faixa de 400 ppm 700
ppm (partes por milhão) no período pré-indu - ppm e em diferentes níveis de temperaturas diur-
trial para 3 9 ppm em 2005 excedendo os ní- nas e noturnas respectivamente (20 ºC /15 ºC
veis dos últimos 800 mil anos (180 a 300 ppm). A 25 ºC /20 ºC e 30 ºC /25 ºC). Os resultados
taxa de aumento anual da concentração de CO2 apontaram um aumento de biomassa total das
atmo férico foi em média 1 9 ppm no período plantas e no peso dos grãos quando o ambien-
de 1995 a 2005 e a tendênàa é atingir entre 730 te atinge nível de 700 ppm e a temperatura
ppm e 1020 ppm até 2100. Aliado a este fato, a amenas . No entanto, estudos dessa ordem são
temperatura média global, no período de 1906 a difíceis de serem executados, pois o aparato ex-
2005, aumentou O74 ºC, e há estimativa que, em perimental é oneroso e de manuseio complexo
2100, deva se elevar de 2 ºC a 4,5 ºC, conforme as (ANDRESEN et al., 2001).
previsões do IPCC (2007). Diante de todos os aspectos e dificuldades
Estudos numéricos com modelos de circula- operacionais, os modelos de simulação de cul-
ção geral da atmosfera (CGM) indicam que é bas- tura surgem como uma ferramenta útil para
tante provável que se verifique um aumento de 1 criar cenários, avaliar impactos e definir medi-
º C a 6 º C na temperatura média do ar até o final das de adaptação para o setor agrícola mediante
do século XXI em vários locais do Planeta (IPCC, as expectativas das alterações do clima (TAO ei
2007), incluindo o Brasil (Siqueira et al. , 2001; ai., 2008). Os modelos do sistema DSSAT (De-
As.sad et ai., 2004). As conclusões do Grupo de cision Support System for Agrotecnology Trans-
Trabalho I para o Quarto Relatório de Avaliação fer) têm sido usados nos últimos anos por pes-
do IPCC (IPCC, 2007) preveem um aumento de 1 quisadores de diferentes países do mundo na
º C a 6 ºC na temperatura média global até o ano avaliação das respostas da produtividade de vá-
de 2100. Para a região Sul do Brasil, este relatório rias culturas às mudanças futuras na concentra-
prevê aumentos de 1,5 ºC (no cenário mais otimis- ção de CO2 e temperatura do ar (TUBIELLO ez
ta) a 5,5 ºC (no cenário mais pessimista) até 2100. al., 2007; BRASSARD e SINGH, 2008; PATHAB
O efeito direto do incremento na concentra- e WASSMANN, 2009). Neste, é possível simulai
ção de CO 2 no desenvolvimento das plantas é a o crescimento, o desenvolvimento, 0 rendimen-
possibilidade de aumento da taxa de crescimen- to e diversos outros aspectos biofísicos para Zi
17
, Ro1>iuouH.~ - Jos M.N. :ns·ii\ _ l.l!ONAIU () Ni ns _ i:, vro J1 1sr rNo - 1 (mo1tA lt Hotm11r1 - J> 111.0 J. .H Souzt.

· 1lturas agrí · las d · gnn 1 · im ia so- >s po is im( da n u ·lim, ti ~a na


n a1-. mu n 1 , a >ja ·ultu ja n ·ta t 11 ,
t zl., 00 ; I 11). 1 um d · muchn 1 • in ·lui

·st .. s -- ntido, r r .. s - nr • tral alho foi 1 ·- la


S "n >1 i 1 bj ti o rln ·i1 ai 1' a aliar

2. Material e métodos
2.1. Descrição do Modelo
F i utiliza l R PGRO-' b ·m alt 3
- lim, ti as no 1 h da ultu-
( rop-En ironm ntb sis) r- ra Hm C>nt ri ' ln-
ão .O. rt n a D ' AT, qu ta
imula ·
tividad a Jª
A dinâmica da imul ui n sá ri para a sin ula-
·tvaliar difi r nt tip l d talhadam nt p t B t t
cos b m com r pond r p al. (1 Bb 200 ).
2.2. Calibração do modelo CROPGRO-Soy bean
A calibração do m d l ROPGRO- oy bean dad la ultivar d ci l ·e ic ()(:e, F NDA: EP
para as condiçõe xperim ntai d t trabalho 5 RR . . m ada m 1 /1 pa n-
foram efeniado a partir do aju t no coefici n- to d O40 m ntr linha la ã O
te genético que caracterizam a p ct imp r- mil planta ha·1 m si t ma l pla1 · · .
tantes da cultura, conforme recom ndação de E~ a cultivar · · 1 la -
Hoogenbom et al. (200 ) eJone etal. (2003). entro d Experimenta ão P qu · tri-
Para calibração do coefici nt genéti o do go (FUND~ EP) ua prin ipai ~uct t rí ti a
modelo CROPGRO- oybean foram utilizado o ncontram- li tada na Tabela 1.
Tabela 1. Principais características agronômicas da cultivar FUNDACEP 53RR.

Características principais FUNDACEP 53RR*


~

Grupo de Maturação 1 6_:.! _


Flor Roxa
-
Cord a Pubescência _ ~ arrom
Altura da Planta 75 cm (baixa)
Peso médio de 100 grãos 1 15,0 g
Acamamento 1~
Densidade de semeadura - 28-32stente
plantas m2
Resposta a adubação ' M a ---
Época de Semeadura ~ embro
Ciclo 1 1 ~recose
Rã- -
~

Area de Adaptação 1

Fonte: Adaptado de COTRISOJA, 2011 .* Cultivar com excelente engalhamento ampla estabilidade e ad t bºl'd d
A • t h'd · t· . • ap a 1 1 a e ,
boa toleranc1a ao es resse I nco, gene 1camente modificada para tolerância ao herbicida glyphosate (GLIFOSATO).
18 D OENÇAS DA SOJA : MELI-IORAM E TO GENÉ'll CO E TÚC ICAS OE MANEJO

EnNANE L EMES - L EONA RDO C AsTno - RAFAEL Ass,

As variáveis meteorológicas temperatura má- cação do solo, análise química e física (Tabela 2)
xima e mínima do ar, radiação global e precipita- foram obtidos do experimento de campo locali-
ção pluvial e os estádios da cultura no período do zado na FUNDACEP, no município de Cruz Alta,
experimento (Figura 1) e os dados como classifi- região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul.
70 40
35
30
25
-..
o
t-
CG
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15 E

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o
V6 V8 R1 R3 R5 R6 R8
1W1Kl9 2&01Kl9 0&102/1019,'02/10 05103110 ~o 13.W10

- Precipitação -Radiação - - Tmax --- Tmin


Figura 1. Dados meteorológicos observados durante o ciclo da cultivar FUNDACEP 53RR
para o ano de 2009/2010.

Table 2. Características físicas e químicas do solo na área de estudo.

Bulk density Field capaci- Wilting point Soil fraction (%)


Depth (cm)
(g cm-3) ty (cm 3 cm- 3) (cm 3 cm- 3) Sand SILT Clay
0.17 28.57 39.46 31 .95
---=-::"~-
0.17 27.50 41 ,34 31.15
-;;;:=;;;::::::::......
0.22 24,69 46.79 28.505
O solo é classificado como Latossolo Vermelho distrófico típico (EMBRAPA. 2006).

A corre ão do olo a adubação da área ex- alizado o controle da planta inva oras rema-
p rimental foram feita por meio d e análi e do nescentes, quando necessário, com a aplicação
olo m concordância com a. recomendações do me mo herbicida. O control d do n a
de Rola (1998) ou ja, utilizando- e 350 kg pragas foi realizado de acordo com a prática
da formula ão 0-20-20 por ha na ·e m adura. O culturai recom ndadas para o cultivo da oja
cultivo antecedent fi i de a ia. A área foi des- garantindo que o xp rimento oc rr s e m
ecada apli ando o h rbicicla glifo ' ato. Foi re- a mínima interfer "ncia des " fat re .

2.3. Coeficientes genéticos do modelo CROPGRO-Soybean


Na Tab la nta o ~ cficien- volvim mo ·d s 1
t g n "ti NDA! EP RR aju ta 1 · ' uz Alta (R '). O f
na alibrn ã d m R RO- yb an P 'E N EM-FL 1 1 ,

1ara a stimati a d im nt · d d · --n- • -LF d '"'fln m d ·s nv l im nt


2 - Currrvo DA SOJA
19
EVES - f1.,,w10 J sT1No - D ÉoonA R. Roomm - PA 1.0 JO.P. Sou7.A

da cultura, enquanto que LFMAX, SLAVAR e 0 coeficientes genéticos e, posteriormente, fo-


SIZLF definem o crescimento vegetativo; os ram realizadas as calibrações de variáveis de
coeficientes XFRT, WTPSD, FDUR, SDPDV e crescimento da soja. Essa sequência foi segui-
POD R estão relacionados com a definição do da devido à dependência entre as variáveis de
crescimento reprodutivo. Primeiro, calibrou-se crescimento com a fenologia da cultura.

TABELA 3. Coeficientes genéticos da cultivar Fundacep 53RR calibrados no CROPGRO-Soybean,


em Cruz Alta, RS, 2009/1 O.

CULTIVAR EM-FL FL-SD SD-PM FL-LF

FUNDACEP 53RR 18 42
LFMAX SDPDV PODUR
1.03 13 2.05 8

Sendo: CSDL - Também definida como CSDVAR que representa o comprimento crítico do dia acima do qual o pro-
cesso de desenvolvimento reprodutivo não é afetado (horas); PPSEN - Inclinação da resposta relativa do desenvol-
vimento para fotoperíodo com o tempo (1 /hora); EM-FL - Período entre a emergência da planta e o aparecimento da
primeira flor (R1) (dias fototermais) ; FL-SH - Período entre o aparecimento da primeira flor e a primeira vagem (R3)
(dias fototermais) ; FL-SD - Período entre o aparecimento da primeira flor e o início da formação da semente (R5) (dias
fototermais) ; SD-PM - Período entre o início da formação da semente e a maturidade fisiológica (R7) (dias fototer-
mais); FL-LF - Período entre o aparecimento da primeira flor (R1) e final da expansão foliar (dias fototermais) ; LFMAX
Taxa máxima de fotossíntese da folha a uma taxa ótima de temperatura 30 ºC ; SLAVARN - Área foliar específica
sob condições padrão de crescimento; SIZLF - Tamanho máximo da folha completamente expandida (cm2); XFRT -
Máxima fração do crescimento diário que é particionada para a semente mais a vagem ; WTPSD - Peso máximo por
semente (g); SFDUR - Duração do período de enchimento das sementes nas vagens , sob condições de crescimento
padrão (dias fototermais) ; SDPDV - média de sementes por vagem , sob condições de crescimento padrão (dias foto-
termais); PODUR - Tempo necessário para a cultivar alcançar condições ideais de vagens (dias fototermais) .

2.4. Avaliação da calibração fenológica

A calibração fenológica do modelo foi con- realizado pela Fundacep, Cruz Alta, RS. Confor-
duzida entre comparaçõe do crescimento e o me apresenta a Tabela 4, o modelo imulou com
acúmulo de biornas a real e a imulada entre preci ão o de envolvimento fenológico da culti-
os dia contabilizado de de o plantio até o var de oja FU DACEP 53RR. A proximidade do
flor cim nto d finição do início da formação valor imulados e ob ervado no campo refe-
da vag m enchim mo de grão e por fim, a - r nte ao e tádio fi nológico da oja tamb , m
p cto biofí icos caracterizadore da maturação foram contatado por Martorano (2007) para a
fi iológica. Parai o utilizaram- o dado ob- cultivar F pagro R -10. A im, a timativa da fi _
rvado d flor cim mo, início da formação n logia da cultura t rna- um fort indicador
da vag m nchim nt d grã matura ão d u d mp nh quando fiei nt g _
fisi lógica btid no exp rim nt d camp n tic ti r m ad quadam nt alibrad
Tabela 4. Dados fenológicos para a soja
observados e simulados pelo modelo CROPGRO:Soybean .
Observado Simulado Diferença (dias)
56 ~
55 1 ;

67 65 1
81 80
-___.;;._
l 1
120 118 2
'
' T ÉC JCAS D E MA
18 D OENÇAS DA SOJA: MELH ORAMENTO GENE'n co E
ERN, E LEMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAE L

As variáveis meteorológicas temperatura má- cação do solo, análise química e física (Tabel;
xima e mínima do ar, radiação global e precipita- foram obtidos do experimento de campo lo<
ção pluvial e os estádios da cultura no período do zado na FUNDACEP, no município de Cruz A
experimento (Figura 1) e os dados como classifi- região do Planalto Médio do Rio Grande do S
70 40

60 35

30
o
25 ~
20 i...
CD

15 ~
10 {!.

10 5

0 ~ "-f-.l&&.-',-JllLfJ-ILA..l..-',lJ-~11-----,-~.W...-,-ll~ _l_. -+ -_uL._.--,-~ - ---,-.-IDIJL.~ 0

o
V6 V8 R1 R3 RS R6 R8
12A>1.m 2.&01,109 08J02J1 O 19/02f1 O OS/0311 O 05l'CW1 O 13/0411 O

- Precipitação -Radiação - - Tmax --- Tmin


Figura 1. Dados meteorológicos observados durante o ciclo da cultivar FUNDACEP 53RR
para o ano de 2009/201 O.

Table 2. Características físicas e químicas do solo na área de estudo .

Depth (cm)
Bulk density
(g cm-3)
Field capaci-
ty (cm 3 cm- 3)
Wilting point
(cm 3 cm-3) .. Soil fraction (%)
SILT Clay
5 2.5 0.35 0.17 28.57 31 .95
2A8 0.34 0.17 27.50 31 .15
2.46 0.37 0.22 24.69 28 .505
o solo é classificado como Latossolo Vermelho distrófico típico (EMBRAPA. 2006).
A correção do solo e a adubação da área ex- alizado o controle das plantas invasora r e i
perimental foram feita por meio de análise do nescentes, quando necessário com a aplica
olo em concordância com as recomendações do mesmo herbicida. O controle de do nç,
de Rolas (1998) ou seja, utilizando-se 350 kg pragas foi realizado de acordo com as prá t ,
da formulação 0-20-20 por ha na semeadura. O culturais recomendadas para o cultivo das,
cultivo antecedente foi de aveia. A área foi des- garantindo que o experimento ocorre se e
secada aplicando o herbicida glifosato. Foi re- a mínima interferência desses fatores .

2.3. Coeficientes genéticos do modelo CROPGRO-Soybean


Na Tabela 3, são apresentados os coeficien- volvimento da soja para as condiçõe d ,
tes genéticos da FUNDACEP 53RR ajustados e de clima de Cruz Alta (RS). Os coeficiet
na calibração do modelo CROPGRO-Soybean genéticos CSDL, PPSEN, EM-FL, FL-SH, FL-
para a estimativa do crescimento e do desen- SD-PM e FL-LF definem O desenvolvime
2 CULTrvO DA SOJA NO Ri o GRANDE DO S UL: PERSPECTIVA ATUAL E FUTURA
EvANDRO C. ÜUVEIRA - RAFAELÁ. RODRIG UES - JOSÉ M.N. COSTA- L EONARDO EVES - fLAVIO J USTINO - Ü ÉBORA R. R OBERT! - P AULO J.Ü .

da cultura, enquanto que LFMAX, SLAVAR e os coeficientes genéticos e, posteriormen


SIZLF definem o crescimento vegetativo; os ram realizadas as calibrações de variáv,
coeficientes XFRT, WTPSD, SFDUR, SDPDV e crescimento da soja. Essa sequência foi
PODUR estão relacionados com a definição do da devido à dependência entre as variáv
crescimento reprodutivo. Primeiro, calibrou-se crescimento com a fenologia da cultura.

TABELA 3. Coeficientes genéticos da cultivar Fundacep 53RR calibrados no CROPGRO-Soybean ,


em Cruz Alta , RS , 2009/1 O.

CULTIVAR EM-FL llliBIII FL-SD SD-PM

FUNDACEP 53RR 12.83 7.5 18


LFMAX
►1 " '- SFDUR SDPDV
13 2 .05

Sendo : CSDL - Também definida como CSDVAR que representa o comprimento crítico do dia acima do qual
cesso de desenvolvimento reprodutivo não é afetado (horas) ; PPSEN - Inclinação da resposta relativa do de~
vimento para fotoperíodo com o tempo (1 /hora); EM-FL - Período entre a emergência da planta e o aparecime
primeira flor (R1) (dias fototermais); FL-SH - Período entre o aparecimento da primeira flor e a primeira vageI
(dias fototermais) ; FL-SD - Período entre o aparecimento da primeira flor e o inicio da formação da semente (Rt
fototermais); SD-PM - Período entre o inicio da formação da semente e a maturidade fisiológica (R7) (dias r
ma is); FL-LF - Período entre o aparecimento da primeira flor (R1) e final da expansão foliar (dias fototermais) ; L
Taxa máxima de fotossíntese da folha a uma taxa ótima de temperatura 30 ºC ; SLAVARN - Area foliar esp
sob condições padrão de crescimento ; SIZLF - Tamanho máximo da folha completamente expandida (cm2); ·
Máxima fração do crescimento diário que é particionada para a semente mais a vagem ; WTPSD - Peso máxir
semente (g); SFDUR - Duração do período de enchimento das sementes nas vagens , sob condições de cresci
padrão (dias fototermais) ; SDPDV - média de sementes por vagem , sob condições de crescimento padrão (dia
termais); PODUR - Tempo necessário para a cultivar alcançar condições ideais de vagens (dias fototermais) .

2.4. Avaliação da calibração fenológica


A calibração fenológica do modelo foi con- realizado p la Fundac p, Cruz Alta, R . C
duzida entre comparaçõe do cre cimento e o me apre enta a Tabela 4 o modelo imulou
acúmulo de biorna a real e a imulada entre precisão o d s nvolviment .6 nol gic da
os dia contabilizado de de o plantio até o var de oja FUNDACEP 53RR. A proximiclad
flore cimento, definição do início da formação valore simulado ob rvad no campo
da vagem e enchimento de grão e, por fim, a - rente ao e tádio .6 nológico da oja tan
pecto biofí icos caracterizadores da maturação foram contatados por Martorano (2007) p
fisiológica. Para is o, utilizaram-se o dado ob- cultivas Fepagro R -10. A sim, a e timativa (
ervado de florescimento, início da formação nologia da cultura torna- um fort indic
da vagem e enchimento de grão e maturação de eu desempenho quando o co ficiente
fisiológica obtido no experimento cl campo néticos tiverem ad quadam nt calibrad<
Tabela 4. Dados fenológicos para a soja ,
observados e simulados pelo modelo CROPGRO-Soybean .
Observado Simulado Diferença (dias)
55 1
65 1
Enct.li
-~=~:~~=--
Ma ªº
118
20 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Ass1

2.5. Avaliação do crescimento


Foram realizadas calibrações do modelo das por (MARTORANO, 2007) e (MERCAU et
CROPGRO-Soybean para a determinação da al. , 2007). Para o IAF, as simulações do mode-
massa de matéria seca da parte aérea (MS) e ín- lo acompanharam de perto as observações de
dice de área foliar (IAF), na variedade cultiva- campo durante a maior parte do ciclo de vida da
da FUNDACEP 53 RR, em Cruz Alta, RS na safra soja. O modelo previu a redução do lAF devido
2009/2010. Na Figura 2, é possível comparar as à senescência natural das folhas 80 dias após da
variáveis observadas referentes ao crescimento semeadura. Para observações, o pico do lAF foi
da cultura (MS e IAF) com as simuladas para de 6,17 m 2 m·2 . Já para as simulações do modelo
o conjunto de dados obtidos no experimento. do CROPGRO-Soybean, o pico de IAF foi de 5,9
De acordo com o resultado, o modelo superes- m 2 m·2 . Os resultados estão de acordo, em parte,
tima a biomassa. Algumas discordâncias entre com trabalhos anteriores realizados com mode-
biomassa observada e simulada foram informa- lo CROPGRO-Soybean (MARTORANO, 2007).

9000 7
MSsim
8000
-e:
~ • MSobs 6

-ef>
000
6000
--IAFsim
8 IAF obs
' ....

';' 5000 ,

(,J I
4,
4000 ,I
-.;--
~

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e:
,,
I
3000
i 2000 ,,
,
1000 ,, 1

o o
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101111121131
Dia., após o plantio
Figura 2. Valores observados (obs) e simulados (sim), pelo modelo CROPGRO-Soybean, das variáveis
(matéria seca - MS, kg ha·1 ; índice de área foliar IAF, m 2 m·2 ) para o experimento em Cruz Alta , RS , 2009/201 O.

O modelo CROPGRO- oybean estimou o que resultou numa diferença de 10 kg ha·1


com elevada preci ão o rendimento de grãos entre o valor observado (2848 kg ha·1) e o si-
da cultivar de oja F DACEP 53 RR para as mulado (2838 kg ha·1) pelo modelo.
condiçõe de olo e de clima de Cruz Alta, RS,

2.6. Técnicas culturais utilizadas nas simulações da cultura da soja


O manejo fítotécníco da cultura como es- CROPGRO-Soybean. Contudo, outros pressu-
paçamento e trato foram emelhante às uti- postos no ambiente agrícola foram assumidos.
lizada no ensaio de campo cujas medida Nas simulações usadas, consideraram-se
e arranjos agronômicos foram con iderados apena as necessidades hídricas e nitrogenadas,
integralmente para a calibração do modelo definindo, igualmente, a aplicação automática
2- C LTIVO DA OJA TIVA ATUAL E • 2}
EvANDRO C. OLIVEIRA . . Co TA - LEO 1 EVES - FLAVIO J sn o - DfooRA R. Roemm - PAu1.o J,O.P. o 7,A

da adubação nitrogenada e da irrigação. Apesar com eficiência global de 90%), considerou-se a


de, nos ensaios de calibração, existir datas fixas camada superficial de 0,30 m do perfil do solo
de adubação de plantio e de cobertura, optou-se como sendo de controle para o manejo das irri-
por se aplicar o Nitrogênio "N" automaticamen- gações. O nível de esgotamento da água do solo
te, sempre que necessário (isso favorece o cres- foi adotado como sendo 50% da água disponí-
cimento pleno da cul~ura). A adubação ocorre vel. As lâminas de irrigação foram aplicadas para
quando se atinge um stress nitrogenado de 15%. retornar o solo à capacidade de campo. O mo-
Nas irrigações automáticas (rotina de água liga- delo considera que a irrigação é uniforme e que
da com irrigação automática, do tipo aspersão toda lâmina aplicada infiltra no solo.

2. 7. Cenários de mudança climática


Os cenários de mudança climática foram e usado no projeto regional CREAS (Cenarios
construídos a partir de dados gerados pelo mo- Regionalizados de Clima Futuro da America do
delo atmosférico regional HadRM3P, alinhados Sul) (MARENGO, et ai. , 2010). Os pontos de
no modelo acoplado oceano-terra-atmosfera grade do modelo HadRM3 considerados para
HadCM3, recebendo a TSM (Temperatura da o Estado do Rio Grande do Sul foram apenas
Superfície do Mar) prescrita produzida por esse pontos de terra, tendo sido excluídos todos os
modelo. Os dados diários (temperatura máxima pontos cuja altitude fosse igual a O m (pontos
e mínima do ar, precipitação pluvial e radiação de mar), como mostra a Figura 3.
solar) obtidos a partir do HadRM3 refe-
rem-se às simulações de controle (1960
a 1990) e às simulações com os cená-
rios SRES (Special Report on Emission
Scenarios) A2 e B2 (2071 a 2100). Estes
cenários estão amplamente discutidos
em Justino e Amorim (2007).
O modelo regional HadRM3P
foi desenvolvido no Hadley Center
como parte do projeto PRECIS (Pro- 31'D's+-t-+--+--i.,.~. ~--:i........
viding Regional Climate for lmpacts 3193C)'s.-t--....~
' 1• • •
Studies) , ou seja, sistema de modela- -·-J-·-+-~ ~--L-~~
gem do clima regional que apresen- fl_f1_rt_r-,K,n
ta descrição detalhada em Jones et 33'D'S O0.4:J.8 1.6 2.4 32
al. (2004), que inclui uma descrição 33'".JO'S 17
i •
detalhada de HadRM3P. A escolha do
modelo justifica-se pelo fato de ter
1
~v~r~~-±
=_j, ~-~1-:~1~~±~~~~i-~t-~i~~~~ .:.::i:::::::i:=i=i::::z=::p
57-JO'W 5e'"JO'W 55'".JO'W 54-JO'W 63'".JO'W 52-JO'W 51 '"JO'W 50'"JO"W . . . .
sido avaliado positivamente no tercei-
Figura 3. Localização dos pontos de grade utilizados
ro relatório do IPCC (McAVANEY et ai. , 2001) pelo modelo HadRM3, no estado do Rio Grande do Sul.

2.8. Aplicação do modelo em cenários de mudança climática


Uma vez ajustado o modelo CROPGRO- ~o considerando o balanço de carbono, de
-Soybean com dados independentes, o ren- agua no solo e os níveis de CO 2 atmosférico
dimento de grãos de soja foi estimado nos em cada um dos 30 anos presentes em cada
diferentes cenários, rodando-se o mode- cenário.
22 D OENÇAS DA S OJA: MELHORAM ENTO GEN ÉTICO E TÉC l CAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

A análise dos dados foi realizada por meio mobilização de solo. As opções de manejo de-
do cálculo da mudança média percentual do finidas para a cultura foram semelhantes p ara
rendimento simulado nos diferentes cenários as condições climáticas de controle e futuras.
de mudança climática em relação ao cenário Assim sendo, as diferenças de produtividade
controle (1960-1990) para cada data de semea- entre a situação atual e futura são apenas de-
dura. Considerou-se como valor de referência pendentes das alterações climáticas.
para este cálculo a média simulada no cená- Nos cenários futuros, entre 2071 e 2100, foi
rio controle no mês recomendado atualmente definido o valor anual da concentração de C02
para a semeadura da soja (cultivar FUNDACEP (ppmv) (IPCC, 2007) e, para as simulações d e
53 RR) no estado do Rio Grande do Sul, que controle referentes aos anos de 1961 a 1990,
é novembro (simularam-se três épocas anuais foi considerado o valor dos registros de medi-
de emeadura, 1° 11 e 21 de novembro) . A ções diretas de C0 2 na atmosfera em Mauna
época preferencial para a semeadura foi d efi- Loa, no Havaí (ESRL, s/d).
nida a partir da recomendaçõ es técnicas do As características de solos utilizadas nas
zoneamento agrícola para a cultura da soja no simulações de cálculo de balanço hídrico dos
ul do Bra il (MAPA 2011). No presente es- cenários climáticos foram compiladas da base
tudo foi con ide rado que as doenças, pragas de dados feita a partir do projeto RADAM-
infe tant e tavam controladas· logo, não -BRASIL (BRASIL , 1986), sempre buscando
fora m con ider adas aplicaçõe de defensivo determinar o perfil de solo característico
agrícola . Id " ntica con ide ração se e tabe- mais representativo de cada ponto de grade .
1 u para o r ' ídu , e para a t , cnica de

3. Resultado e discussão
3.1. Influência da mudança no clima agrícola regional na cultura de soja
Pod m r b rvada na Figura e 5 no sentido leste-oeste do Estado, variando d e
a aria õ da t mperatura m (.dia do ar pro- 1,5 º C a 2,6 ºC.
j tada p lo m d lo climático r gi nal do Ha- Trabalhos realizados no E tado do Rio
dl y ntr - HadR M para os enário B2 Grande do ul relatam aumentos de tempera-
A2 - coo id rand a itua ã d ontrol (1961 tura do ar em dez das treze estações met oro-
a 1990), d nário futuro (2071 a 2100) e a 1 gica utilizadas no estudo e distribuída m
difer n a ntr e nári di tint . m todo o Estado. Neste trabalho, ão obs rvad as
r laçã a p ríod d ulti da ja nas m - variações de temp ratura do ar d at 2,1 e no
rr g1oe · n r t ,.., udo t centro ocid n- período de 1916 a 2005, endo que, na última
tal no E tad d Rio Grand do ul (nov m- década (1996 a 2005), ocorreram o aum nto
br a abril) ' b rvada a pr d minância de mai notávei (Machado, Blank e A i , 2007).
t mp ratura méd ia d ar mai levada . As Tal aquecimento parec er devido, principal-
t mp ratura m di a mai baixa e tão 1 cali- mente, a aumento na temp raturas m ínima~
zadas nas r giõ n rd te ud t ( erra d diárias. egundo teinmetz et ai. (2007) i•
ud t ) d E tado , i d vid , possiv lm n- queira et al. (2007), m trabalhos r alizad o,
t , à mai re altitude , con ·tituindo a região na e tação agroclimática d Pelota , R , hou ve
mai fria. A t ndência d aum .. nto da temp ra- aumento da temperatura mínima d 1 11 o n
tura média no c nári futuros, no p ríod períod de 1893 a 2006, enquanto qu a t nl •
d n vembro a abril, mo tra valore · re cente p ratura máxima p uco variou. Ainda, no Ri
2 Cucrrvo DA SOJA NO Rro GRANDE DO SuL: PERSPECTNA ATUAL E FUT RA 23

Grande do Sul, Marques et ai. (2005) destacam no período de outubro a dezembro, apresentou
que, no período de 1948 a 2004, a tendência de valores crescentes no sentido leste-oeste do Es-
aumento da temperatura mínima média anual, tado, variando de 0,8 ºC a 1,8 ºC.

a) b) c)
Temperatura mécia (ºC) Dife~nça de temperatura rc}

-- - □~~
=< t7.5 1825 19 19 .7 5 20.5 212 5 22 □□- --
22 .75 23.5 2-4 .25 25 =- > 2 5.75 - --
-< 1.5 1. 6 17 1.8 □ □□□- - --
1.9 2 21 2.2 2.J H 25 - 2.6

Figura 4. Temperatura média do ar para o período de novembro a abril, cenários climáticos B2


do modelo HadRM3: a) situação de controle ; b) cenário futuro B2; e c) diferenças entre os cenários .

a) b) c)
Tempen1tur~ medi~ (-C) Dfennç• de •~niur• ("C)
-- -□~~
e< 17. 182 19 9. 5 22 □ □- --
22. 5 23.5 24.25 2 => 2 .75 - - - □□□
-e 1 5 16 17 1S 19 1 2l
- - --
.3 l 6 - 26

Figura 5. Temperatura média do ar para o período de novembro a abril , cenários climáticos A2


do modelo HadRM3 : a) situação de controle; b) cenário futuro A2 ; e e) diferenças entre os cenários .

Ob ervam- e, na Figuras 6 7, a yaria- parada com a regiõe d menor latitud (por-


çõe da precipitação pluvial projetadas pelo ção norte), m e pecial no nordeste do E tado.
modelo climático regional do Hadley Centre O modelo limático tima que a r gião nor-
(HadRM3), para o c nário B2 e A2 conside- dest do e tado r gistre a maior difi r nça do
rando a ituaçã de controle (1961 a 1990), de acúmulo m dio anual enquanto qu a r gião
c nário futuro (2071 a 2100) e a difi r nça udo te apr senta a varia ão m no ac ntu-
ntr c nário cli tinto . A análi da preci- ada. Regionalm nte, o impacto da mudan-
pita ão pluvial no estado do Rio Grande do ul ça climática ' tão relacionados, m grand
indica qu xi t m difi r nça n comporta- part , ao aum nto na frequ " ncia int nsidad
m nto nas di tinta regiõ do E tado. A quan- a saciado ao fenôm no climático El Nino (UN-
tidade d chuva m nor na r giõe de maior FCC , 2007). O aument na c rr "n ia d El
latitud (p rção ul d Estado) quando com- Niõo para o Bra il r pr nta, g n ricam nt
24 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS D E MANEJO

ERNANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Assr

o aumento das precipitações pluviais médias maior ocorrência no número de. eventos de El
para a região Sul. No último século, o evento Nino em relação aos de La Nina (HANSEN et
vem se tornando cada vez mais marcante e com al. , 2006; BERLATO e FONTANA, 2003).

a)

-- --
b) c)
Precipitação total (mm) Diferença (mm)

--no aoo a5o DDDD


900
950 □□ - --
1.2So -uoo
1.000 1.050 1.100 uso 1.200 "<•20 0 20 40
DDD DD
60 &l 100 120 140 160 180 -2oc
Figura 6. Precipitação pluvial total para o período de novembro a abril , cená rios climáticos B2
do modelo HadRM3 : a) situação de controle; b) cenário futuro 82; e c) diferenças entre os cenários.

a) b) c)
Precipitação total (rrvn) Diferença (mm}

- eoo eso □□□□


~no - gso □ -- -- - - - "°□□□□□
900 m - -
1.000 1.oso 1.100 11so 1.200 1 zs o - 1.Joo •<·20 0 20 ◄0 100 120 1 ◄0 1110 1ro ;>200

Figura 7. Precipitação pluvial total para o período de novembro a abril, cenários climáticos A2
do modelo HadRM3 : a) situação de controle ; b) cenário futuro A2 ; e c) diferenças entre os cenários.

3.2. Influência da mudança climática na duração


do ciclo da cultura de soja
Mudança na fenologia do cultivos dão im- grã das cultura é o encurtamento do ciclo
portante vid ncia da re po ta à recente de desenvolvimento m c nários com aumen-
mudança climática r gionai . A alta corr la- to de t mperatura atmo férica.
ção entre a temperatura do ar o ciclo do cul- A Figura 8 apr nta a variação do ciclo
tivo agrícolas permite identificar altera õcs fenológico da cultura da oja para o c nário
no clima atrav da ant cipa ão ou atraso em B2, consid rando a ituação de controle, d e -
alg uma tapas do des nvolvimento da spé- nário futuro e a difi r n a entre o e nário
cie . Siqu ira et ai. (2001) relatam qu a prin- di tinto . Na imula õ do mod lo HadRM
cipal cau a da diminuiçã do r ndimento d para toda a r giõ do E tado do Rio Gran-
2- CULTIVO DA SOJA o R IO GRANDE DO SUL: PERSPECTIVA ATUAL E FUTURA 25
EvANDRO C. ÜLJVEIRA - RAFAEL Á. R ODRIGUES - J osÉ M.N. CoSTA - LEONARDO NEVES - FLAVIO J usnNo - D ÉBORA R. R oBERTI - PAULO JO.P. SouZA

de do Sul, ocorre o encurtamento do ciclo da ção em torno de 5 a 12 dias de ciclo (Figura


cultura, devido, principalmente, ao aumento 8b) em todas as regiões. Para Almeida (2005),
esperado da temperatura média do ar (Figura temperaturas do ar mais elevadas e deficiência
4c). No cenário otimista (B2), de modo geral, hídrica tendem a acelerar o desenvolvimento
as projeções reproduzem a tendência de redu- da planta em todas as fases .

a) b) c)
Ciclo (dias) Ciclo (dias)

---
-=108 110 112 11( □ □□□
116 118 120 122 124 126 - -
128 - 130 -
- 108 -
110 - 114 D
112 116 DDD
11 8 120 122 12( 126 -128 -- 130
Figura 8. Duração do ciclo da cultura de soja simulada com dados da simulação B2 do
modeloHadRM3: a) situação de controle; b) cenário futuro B2; e c) diferenças entre os cenários .

A Figura 9 mostra a variação do ciclo feno- ciclo de cultivo da soja em 7 dias na Região
lógico da cultura da soja para o cenário A2 , Sul. Assim, os atuais resultados obtidos no
considerando a situação de controle, do cená- presente trabalho destacam a importância da
rio futuro e diferenças entre os cenários dis- variabilidade térmica interanual entre novem-
tintos. As regiões nordeste e sudeste do Estado bro a abril, meses de cultivo, e seus impactos
apresentam redução na duração da estação de sobre a fenologia da cultura da soja. Isso pode
crescimento da soja em até 16 e 10 dias (Figura implicar em possíveis alteraçõe no calendário
9c), respectivamente. Com base nos cenários agrícola pela modificação do ciclo da cultura,
do GISS, Siqueira et ai. (2000) concluíram que já que a mesma responde às oscilações na tem-
o aumento de temperatura deveria reduzir o peratura média do ar.

a) b) c)
Ciclo (dias) ,--..,,.,.-.., __ Difet-enpa{diu)

-- - ,u
,,o ,u
-c10:I 116
□□~~-- -
-,Jo - -- 12a - -16 -1s .., , -u
□□□□
-to
..,
- --
..,, ..g -a ~ ~ - ~
Figura 9. Duração do ciclo da cultura de soja simulada com dados da simulação A2 do modeloHadRM3:
a) situação de controle; b) cenário futuro A2 ; e c) diferenças entre os cenários.
26
Ü OE ÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GENÉT ICO E TÉC I CAS DE MANEJ O

ERNAN E L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL As;;

3.3. Influência da mudança climática no rendimento da cultura de soja


Foi simulado, a partir dos dados de en- Na Figura 10, está apresentado o resultado
trada do cenário climático de controle e o das simulações realizadas com o modelo Ha-
cenário climático futuro B2 e A2 no modelo dRM3 para a produtividade média da cultura
CROPGRO-Soybean o rendimento da cultu- da soja, respectivamente, para a situação de
ra da soja para todo o Estado do Rio Grande controle, do cenário futuro B2 e para a varia-
do Sul. ção de rendimento.

--- ---
a) b) e)
Rendimento (lcgfha) variação de rendimento (%)

□D - --
- S 10 15 :O DD □ w • so•-
25 30 35~ssl0 '5

Figura 10. Produtividade da cultura da soja simulada com dados da simulação B2 do modelo HadRM3:
a) situação de controle; b) cenário futuro B2; e e) variações de rendimento.

Atra és da Figura 11 verifica-se que as si- controle, do cenário futuro A2 e para a varia-
mulaçõe do modelo HadRM3 para a produti- ção de rendimento.
idade média da cultura da soja a situação de

a) b) e)
Rendimento (llg/hlJ Var1açio de rendimento(%)


e< -
2..9l!iO D□
~m
u oo~;-;:=::
si-oo • ••
u ~ 1 1m 3!tl> 4. •>420Q -- -- □□□ -•s - -■>
•< 5 10 5 20 25 30 l5 40 so M
figura 11 . Produtividade da cultura da soja simulada com dados da simulaçãoA2 do modelo HadRM3.
a) situação de controle; b) cenário futuro A2; e) variações de rendimento.

De acordo com os resultados obtidos (Fi- mentos entre 5% e 55% comparativamente


gu ra 10 e 11) no geral, há certo acréscimo com as situações de controle, mostrando os
no rendimento da cultura da soja. Os rendi- efeitos positivos, possivelmente, derivados
mentos nos cenários futuros apresentam au- do aumento da concentração de co 2, e dos
2- C ULTIVO DA SOJA NO Rio GRANDE DO SUL: PERSPECilVA ATUAL E FUTURA 27
E VANDRO C. ÜLIVEIRA _ RAFAEL Á. R ODRIGUES _ JosÉ M. . Crnm _ L EONARDO EVES - F LAVIO J SllNO - DÉBORA R. R OBERTI - PAULO J.O.P. SOUZA

efeitos negativos do aumento de temperatura to que a região Oeste apresenta menores índi-
do ar. O aumento da concentração desse gás ces de rendimento.
constituiu, provavelmente, a principal causa Este aumento pode ser pela explicado pelo
do acréscimo de rendimento em todo o Es- aumento previsto pelo modelo dos valores da
tado. Resultados semelhantes foram apresen- concentração de CO 2 na atmosfera. Segundo
tados por Siqueira et al. (2000), que projeta- Streck et al. (2005) e Trnka, et al. (2004), o
ram, para a Região Sul do Brasil, acréscimos aumento da concentração de CO2 na atmosfera
médios no rendimento da soja em torno de tem elevado os níveis de produtividade da cul-
27%, como resultante de efeitos benéficos do tura, contribuindo para a redução da resistên-
aumento das concentrações de CO 2. De outro cia estomática e da evapotranspiração, contri-
lado, segundo Streck e Alberto (2006), basta buindo para o aumento da eficiência do uso da
apenas o aumento de 6 ºC para que os efeitos água. Tubiello et ai. (2007) citam que a chama-
benéficos do aumento de CO 2 no rendimento da "fertilização do efeito estufa" pode provocar
de soja sejam anulados. efeitos benéficos em locais onde ocorra gran-
Os acréscimos da produtividade para a de concentração de CO 2 , estimulando, assim, o
cultura da soja no Rio Grande do Sul são mais crescimento vegetal. As expectativas para que
evidentes nas simulações realizadas para o ce- tal fato pudesse ocorrer eram, essencialmen-
nário B2 do que nas realizadas para o cenário te, para regiões temperadas, com expectativas
A2. Essa diferença é justificada pelas proje- de aumento no rendimento de 10% a 25% para
ções das precipitações pluviais para os dois cultivas com menor eficiência fotossintética
cenários (Figuras 6 e 7). De acordo com os (plantas cultivadas - C3), considerando que os
resultados dos dois cenários, a região orte níveis de CO 2 na atmosfera alcançassem a con-
tem maior acréscimo no rendimento, enquan- centração de 550 ppm.

3.4. Influência da mudança climática no total de chuva e


evapotranspiração durante o ciclo da cultura
A necessidade total de água pela cultura da lada entre 750 mm e 850 mm, evidenciando,
soja para obtenção do máximo rendimento va- inclusive, a influência orográfica da região.
ria entre 450 mm a 800 mm por ciclo, depen- Na simulação para o cenário B2 , existe, real-
dendo das condições climáticas, do manejo da mente, o aumento substancial da quantidade
cultura e da duração do ciclo (DOORENBOS e de precipitação pluvial acumulada de 20 mm
KASSAM, 1979; REICHARDT, 1990). até 95 mm. A avaliação da influência para o
Nas Figuras 12, 13, 14 e 15, estão ilustradas cenário A2 , entretanto, demonstrou que, na
, respectivamente, o total de precipitação plu- parte sudoeste/nordeste rio-grandense, duran-
vial e evapotranspiração (ET) durante o culti- te o ciclo fenológico da soja, até a diminuição
vo da soja nas situações de controle e nos ce- de, aproximadamente, 70 mm de precipitação
nários futuros, assim como as diferenças entre pluvial pode ser esperado.
os cenários futuros e as situações atuais. Para A investigação da ET indica que as regiões
as condições controle, a soja recebeu cerca de mais elevadas, por apresentarem temperaturas
725 mm a 750 mm de água na região noroeste do ar mais baixas, possuem menor demanda
rio-grandense (maior produtora de soja). Nota- evaporativa e, portanto, menores valores de
-se, todavia, que a região nordeste apresenta ET da soja (415 mm). A faixa litorânea, assim
as maiores médias de índice pluviométrico como a região oeste, apresentam as maiores
durante a estação de crescimento da soja no taxas de ET da soja, com média de até 525 mm,
Estado, com precipitação média anual acumu- o que é coerente, pois esta região mantém,
-

ao longo do período de nm embro a abril, as chamento do e tômatos. O re ultados estão


maiore temperaturas do ar da área estudada. em concordância com as impre sões de treck
Por outro lado, nos cenários futuros B2 e A2 (2005) que cita o decré cimo da transpiração
a ET mostrou tendência de decréscimo de, i- das plantas acontece de ido ao fechamento e -
do ao encurtamento da estação de crescimen- tomático estimulado pelas maiores conce ntra-
to e ao efeito da concentração de C0 2 no fe- ções de C02.

----
a) b) c)

-
Precipàção (rmnt Diferença (mm)

s<
----L-=.J □
t!25 e!i> 1515 1'iXl 723 m 825 ::>S5l -"'( --55 -C>
- -25 DDDDD
5 35 5) ~ --
95 ::>

Figura 12. Total de precipitação pluvial durante o ciclo da soja com dados da simulação B2 do modelo HadRM3:
a) situação de controle ; b) cenário futuro B2; e c) diferenças entre os cenários.

t?'ll'WWJrllr lll"lJW M'IPW t:rlnl$ôl.,,...ll~ ~ . . . . . -

a) b) C)
Pleeipilaçio (rrm) Dlfenmça(mm)

------L
- rn
al:1.:1 - ---
125 s ns ?e s &CD a2s - &513 - - - - □□□□ - - -
&< -55 --40 .Z

Figura 13. Total de precipitação pluvial durante? _ciclo da soja com ?ªdos da simulação A~?º modelo HadRM3:
-~ 5 20 35 50 M ><> 95

a) situação de controle; b) cenano futuro A2 ; e c) diferenças entre os cenanos.


2 OJ ~o Rio 'A n:.u E FL'11. R.\ 29
E . - R™EL . co.5T..\ _ L.EO~,,RDO 1 E\ - - Fu,10 JL ,-TI'\O- DEBOR\ R. RosERTI - PALW JO. P. L7A

c)

---- ---
a) b)
Evapotranspiração (nm) Difec'eoça(mm)

--
- .l15 .l2S -lJ5 U5 - -~□
~ l6S 5 .l t 9S 505 515 - s2s :<-25 - 5 -1 □□□□
-5 5 5 - -- 25 =>JO

Figura 14. Evapotranspiração durante o ciclo da soja com dados da simulação B2 do modelo HadRM3 :
a) situação de controle ; b) cenário futuro B2 ; e c) diferenças entre os cenários.

---
a) b) c)
Evapotranspiração (mm) Diferença (mm)

---
- , , s , 2:S ~ 5 us ,ss
□□□- ---
, 65 , 5 , as , gs sos 51s - 52s - --25 --20 -15
&-< - -to DDD
..s o s D
,o 15 20 z>30

Figura 15. Evapotranspiração durante o ciclo da soja com dados da simulação A2 do modelo HadRM3:
a) situação de controle ; b) cenário futuro A2; e c) diferenças entre os cenários .

3.5. Influência da mudança climática na eficiência


do uso de água na cultura de soja
A eficiência de uso da água na cultura da tivamente, para as situações de controle e do
soja variedade FUNDACEP 53RR foi calculada cenário futuro B2 e A2 . As WUEs calculadas
dividindo a produção de grãos pela quanti- nos cenários futuros (B2 e A2) são superiores
dade de água evapotranspirada, durante seu àquelas da simulação de controle, (18% e 15%).
ciclo de cultivo, ou seja, kg (rendimento)/ha Os aumentos foram atribuídos, essencialmen-
por mm (ET). Na Figura 16, estão os resulta- te, aos acréscimos de produtividade como
dos de eficiência de uso da água - WUE, em consequência dos aumentos d a concentração
inglês - alcançados na cultura da soja, respec- de C0 2 •
28 D OENÇAS DA SOJA: MELl·IORAMENTO GENÉTICO E TÉC ICAS D E M AN EJO

ERNAN E L EMES - LEO AADO CASTRO - RAFAEL Assis

ao longo do período de novembro a abril as chamento dos estômatos. Os resultados estão


'
maiores temperaturas do ar da área estudada. em concordância com as impressões de Streck
Por outro lado, nos cenários futuros B2 e A2 (2005), que cita o decréscimo da transpiração
a ET mostrou tendência de decréscimo devi-' das plantas acontece devido ao fechamento es-
do ao encurtamento da estação de crescimen- tomático estimulado pelas maiores conce ntra-
to e ao efeito da concentração de C0 2 no fe- ções de C0 2 •

---- ----
a) b) c)
Precipiação (nwnJ Diferença (mm)

=< 575 t'00 eí25 650 m 100 r..s 1!,0 m 825 =,S5) -: <-10 ---55 --4'> -25 DDDDD
O 5 20 35 S> l!f) --
=> 95

Figura 12. Total de precipitação pluvial durante o ciclo da soja com dados da simulação B2 do modelo HadRM3:
a) situação de controle ; b) cenário futuro B2; e e) diferenças entre os cenários .

----
b) c)

----
a)
Precipitação (nm) Diferença (mm)

- s75 us MO s ns 775 100 125 - as, - - - - □□□□ - - -


z< -56 -..O .Z .V) 5 20 35 50 ~

Figura 13. Total de precipitação pluvial durante? _ciclo da soja com ?ªdos da simulação A~?º modelo HadRM3 :
a) situação de controle ; b) cenano futuro A2; e c) diferenças entre os cenanos .

..
2 - CuLTrvo DA SOJA o Rio G RANDE oo SliL: PERSPECllVA ATUAL E FUTURA 29
EvANORO C. OuvEIRA- RAFAEL Á. RooRJG ES _ Jo É M. . CosrA _ LEO A.ROO EVES - FuYlo Jcsn ·o - DÉBORA R. RoBERTI - PACLO J.O.P. 0UZA

--
a) b) c)
Evapotranspiração (nwn) Diferença (mm)

- - -5
=<-25-20 - -O DDDD
-5 O 5 25 :>lO

Figura 14. Evapotranspiração durante o ciclo da soja com dados da simulação B2 do modelo HadRM3:
a) situação de controle; b) cenário futuro B2; e c) diferenças entre os cenários .

a) b) c)
Evapotranspiração (mm) Diferença (mm)

- - - us
- '15 t 2:S t3S ,~
□□□-
,1s
t 65
---
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O
-5 5 10 15 20 - -
25 a>

Figura 15. Evapotranspiração durante o ciclo da soja com dados da simulação A2 do modelo HadRM3 :
a) situação de controle ; b) cenário futuro A2 ; e c) diferenças entre os cenários .

3.5. Influência da mudança climática na eficiência


do uso de água na cultura de soja
A eficiência de uso da água na cultura da tivamente, para as situações de controle e do
soja variedade FUNDACEP 53RR foi calculada cenário futuro B2 e A2. As WUEs calculadas
dividindo a produção de grãos pela quanti- nos cenários futuros (B2 e A2) são superiores
dade de água evapotranspirada, durante seu àquelas da simulação de controle, (18% e 15%).
ciclo de cultivo, ou seja, kg (rendimento)/ha Os aumentos foram atribuídos, essencialmen-
por mm (ET). Na Figura 16, estão os resulta- te, aos acréscimos de produtividade como
dos de eficiência de uso da água - WUE , em consequência dos aumentos da concentração
inglês - alcançados na cultura da soja, respec- de C0 2 •
30 D OE ÇAS DA SOJA : MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNI CAS D E MAN EJO

Eru ANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAE L Assis

a) b) c)

D-------
Eficiência do uso de água (kg/mm.ha)

=-<5 5.5 s 6.5 7 7.5 e e.s =>9


Figura 16. Eficiência do uso de água durante o ciclo da soja com dados da simulação do modelo HadRM3:
a) situação de controle; b) cenário futuro B2; e c) cenário futuro A2.

4. Conclusões
Baseado em projeções climáticas regionais concentração de CO 2 e de temperatura para os
a patir do modelo Had.RM3 para o cenário cenários futuros , ou seja, os efeitos positivos
climático de controle futuro B2 e A2 , este es- derivados do aumento da concentração de CO 2
tudo avaliou o impacto da mudança climática (fertilização de C02) constituiu, provavelmen-
na cultura da soja no Rio Grande do Sul utili- te, a principal causa do aumento do rendimen-
zando-se do modelo CSM-CROPGRO-Soybean to da soja no estado do Rio Grande do Sul. A
do DSSAT 4.0.2.0. Os resultados indicam que tendência de aumento da concentração de C0 2
o acréscimo de rendimento de grãos estima- foi responsável pelo acréscimo de 15% da WUE
do resultou, essencialmente, das projeções da no cenário mais pessimista.

5. Referências bibliográficas
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-
Ferrugem asiática da soja

ERNA E LEME .
Eng nh ir Agrôn m , M.Sc.
niv r idad F deral d Ub rlândia
W ALBEHL IZ GAVA S 1
Enge nh ir Agrôn m , M ., Ph .D.
niv r idacl F d ral da Grand D urado.

1. Importância econômica
Nos próximos 45 ano , a população mun- de oja está a ferrug m a iática au ada pelo
dial chegará a 10 bilhõe de habitante (WPP, fungo Phakopsora pachyrhiz i yd. & P. yd.
2013), e, entre o maiore de afio da huma- 1914, cau ando perdas d produ ão da ordem
nidade para as próximas década , e tá a pro- de 10 a 100% em condiçõ s favorávei nd
dução suficiente de alimento para uma po- o controle foi aplicado d forma inapropria-
pulação crescente. Para aumentar a produção da (HENNING e GODOY, 2006; KOENNING,
de alimentos no mundo, existem trê estraté- 2009; KUMUDINI et ai. , 2008; LI et ai., 2010;
gias básicas: (i) aumentar as áreas cultivadas, GODOY et ai., 2014). O prejuízo causado pela
abrindo campos agrícolas em áreas nativas; ferrugem não é apena na produção de grãos,
(ii) aumentar a produtividade das áreas já cul- mas também no gastos com aplicação de fun-
tivadas; e (iii) reduzir as perdas de produção gicidas, reduzindo a receita elos produtores.
para as plantas daninhas, pragas e doenças Na safra d oja 2006/2007, por xemplo, as
das lavouras. perda econômicas devido à ferrugem a iática
no Brasil foram estimada em 2,19 bilhões ele
Dentre a culturas agrícolas mais importan- dólares (SOARE , 2007). A cli tribuição global
tes para a alimentação humana está a soja (Gli- do cultivo ela soja e a ampla di seminação elo
cine max (L.) Merrill), que representa a quarta patógeno, aliados ao potencial elevado para
maior área plantada e a principal oleaginosa redução da produção, fazem da ferrugem a i-
cultivada e consumida no mundo. Entre as ática da soja um do principais problemas en-
doenças mais comprometedoras ela produção frentado pelos sojicultore .

2. Patógeno, hospedeiros e sintomas


As ferrugens ele plantas (ordem Puccinia- um importante grupo da biodiversidade glo-
les, antiga Uredinales) são fungos para itas bal e, como microrganismo fitopatogênico ,
obrigatórios (biotrófico ) que estão presen- também são importantes agentes da diversi-
te em praticamente todo os locai onde ficação d seus hospedeiros atravé da coe-
existam seu hospedeiros. As ferrugen ão volução (GILBERT, 2002) . Muita espécie de
-
36

ferrugens apresentam ciclos de vida comple- Esta característica reflete a complexidade das
xos com dois hospedeiros distintos (ferrugem interações deste patógeno e é, também, o que
heteroécia) e diferentes esporos produzidos permite ao fungo P. pachyrhizi sobreviver de
(A IKSTER, 1989). As ferrugens podem ter um ano agrícola para o outro no que são cha-
até cinco tipos de esporos (aéciósporo, ure- mados de "pontes verdes".
diniósporo teliósporo, basidiósporo, picni- Phakopsora pachyrhizi pode infectar a
ósporo) com características morfológicas e soja em qualquer estágio fenológico da planta;
funcionais específicas. Entre os possíveis es- no entanto, os sintomas da ferrugem são m ais
poros produzidos por uma ferrugem, somen- comumente detectados nos estágios tardios do
te os urediniósporos são capazes de produzir vegetativo, como mostrado na figura 1 (McLE-
o mesmo esporo repetidamente. A especifici- AN, 1979; DUFRESNE e BEAN, 1987; DOR-
dade fungo-planta geralmente é elevada de RANCE et ai. ; 2008). Os sintomas iniciais da
forma que a ocorrência de uma ferrugem esta ferrugem asiática na soja são pequenas pontu-
condicionada a presença dos hospedeiros, e ações encharcadas que evoluem para pústulas
estes têm sua presença determinada por di- (uredinia) e ocorrem majoritariamente na face
versos fatores ambientais. abaxial das folhas do terço inferior da soja.
O gênero Phakopsora (Filo Basidiomyco- Estas lesões podem coalescer, formando mar-
ta, Classe rediniomycetes, Ordem Puccinia- gens necróticas e causando a clorose, desfolha
les Família Phakopsoraceae) possui aproxi- prematura (SINCLAIR e HARTMAN, 1999) e
madamente 80 espécies conhecidas (Hennen, consequente queda da produção através da
1996), das quais seis são patógenos da família redução do tamanho dos grãos (TICHAGWA,
Fabaceae. A ferrugem da soja é causada por 2004). A cor das pústulas depende de sua ida-
duas espécies deste gênero, Phakopsora mei- de e, principalmente, do tipo de interação do
bomiae (Arthur) Arthur, conhecida por ferru- fungo P. pachyrhizi com a cultivar de soja. As
gem americana, que é uma forma mais bran- pústulas podem ser de coloração marrom-
da da ferrugem da soja nativa do continente -avermelhada (RB), caracterizando uma rea-
americano (HARTMAN et ai., 2005), e P. pa- ção de resistência da soja, mas que pode ser
chyrhizi, a ferrugem asiática da soja. incompleta por ainda permitir uma pequena
Apesar dos agentes etiológicos das ferru- quantidade de urediniósporos; as pústulas
gens erem doenças com poucos hospedeiros, também podem apresentar uma coloração
a ferrugem asiática tem uma grande amplitu- castanha (TAN), que é característica de culti-
de de hospedeiros, sendo capaz de infectar vares suscetíveis ou com diferentes níveis de
maí de 150 espécies restritas à subfamília resistência à ferrugem asiática (BROMFIELD,
Papílionoideae (RYTTER et ai., 1984; ONO et 1984; MILES et ai. , 2011). Na fase inicial de de-
ai. , 1992; MIT et ai., 2008). Diferentemente senvolvimento das lesões, a ferrugem asiática
de outras ferrugens , que penetram as plantas da soja pode ter sintomas parecidos com os
via e tômato, o fungo P. pachyrhízi pode pe- da infecção de outras doenças como a pústula
netrar diretamente as células da epiderme das bacteriana [Xanthomonas campestrís pv. gly-
plantas, fato que ju tífícaria seu grande nú- cínes (Nakano) Dye] , o que pode confundir a
mero de ho pedeíro (Koch e Hoppe, 1988). identificação inicial da ferrugem .
3 F ERRUGEM ASIÁTICA DA 'OJA 37
ERNAJ E L EME - wALBER LUIZ G ,WASSOi I

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Estádio
Figura 1. Ocorrência de ferrugem asiática , em todos os estados do_Brasil ,
da safra 2004/2005 à safra 2014/2015 por estádio de desenvolvimento da soja
Fonte: Consórcio Antiferrugem (2015).

3. Distribuição e epidemiologia
Phakopsora pachyrhiz i é nativo do leste tógeno já estava presente no Brasil (YORINO-
da Ásia e Oceania (Figura 2) e era exclusivo RI et ai. , 2005) e Argentina (ROSSI, 2003) e,
dessas regiões até o início da década de 1950; em 2004, no Uruguai (STEWART et ai., 2005).
em 1951, foi identificada a ferrugem asiática na Em novembro. de 2004, o patógeno também
Índia (SHARMA e MEHTA, 1996) e, em 1994, foi identificada em Luisiana, nos EUA, possivel-
no Havaí, EUA (KILLGORE ét ai. , 1994). Du- mente introduzida pelo furacão Ivan, ocorrido
rante a segunda metade da década de 1990, em outubro daquele ano (SCHNEIDER et al.,
o patógeno disseminou-se pelo continente 2005). Atualmente, P. pachyrhizi está presente
africano (LEVY, 2005) e, em 2001, foi identi- em praticamente todas as áreas produtoras de
ficado no continente americano, no Paraguai soja no mundo, sendo, portanto causa de gran-
(MOREL & YORINORI, 2002). Em 2002 , o pa- de preocupação entre os sojicultores .

Figura 2. Registro da dispersão da ferrugem asiática pelo mundo desde o início do século XX.
Fonte: Modificado de ASR (2005).
38 Ü OE 'ÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉC ICAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL A.,;;;

O transporte atmosférico transoceânico de teliósporos (produzidos em pústula do tip o telia)


microrganismos é conhecido (PROSPERO et ai. , da ferrugem asiática da soja já foram observados
2005), e a dispersão a longas distancias da ferru- (BROMFIELD, 1984; HARTMAN et al. , 1999). A
gem asiática é um exemplo de como isto pode ocor- dispersão do patógeno é tipicamente anemófila.
rer (ISARD et ai., 2005). A fonte de inóculo primá- Os urediniósporos são liberados mais intensa-
rio para novas epidemias da ferrugem asiática nas mente nos períodos de maior temperatura e me-
áreas de cultivo são plantas hospedeiras contendo nor umidade do dia (BECK et ai. , 2006) e atingem
o estágio uredinial, produtor dos urediniósporos as correntes de ar mais turbulentas da atmosfera,
(Figura 3A e B). O urediniósporos são sésseis, de disseminando-se para outras áreas e iniciando
formato ovoide a elíptico (18-38mm - 13-29mm) novas epidemias. Apesar da grande quantidade
com superfície equinulada (coberta por "espi- de urediniósporos produzidos em uma área de
nhos") e coloração hialina a amarelada em tom soja infectada com P. pachyrhiz i é estimado que
ferrugem (O O et ai., 1992). Na natureza, ape- a maioria dos esporos do fungo seja depositado
nas o e tágio produtores dos urediniósporos no solo ou nas folhagens de plantas próximas
(produzido em uredinia) e, mais raramente, os (AYLOR, 1986).

Figura 3. Pústulas de ferrugem asiática em folíolo de soja (A) e detalhe de urédinias com liberação de
uredínosporos de Phakopsora pachyrhizi. Fotos: Paulo Henrique do Nascimento.

A den idade de folhas de uma cultivar de quantidade de luz solar e radiação ultravioleta
soja é, portanto, um fator influente da disper- a que os urediniósporos estão sujeitos duran-
são dos urediniósporos, sendo que cultivares te a dispersão podem, inclusive, servir de in-
com e trutura do dossel mais abertas per- dicativos de sua germinação e viabilidade. Os
mitem que cerca de 26% dos urediniósporos urediniósporos são dispersos a longas distân-
produzidos escapem, enquanto que cultivares cias via correntes de ar e pemanecem viáveis se
com dossel mais fechado possibilitam que ape- estiverem protegidos da radiação ultravioleta
nas 10% dos urediniósporos escapem para as pela presença de nuvens (ISARD et ai. , 2006) .
correntes de ar (ZIDEK, 2007). O escape das Após a deposição na superfície das folhas de
plantas de soja hospedeiras pelos urediniós- soja, seja pelo vento ou chuva, os uredinióspo-
poros também está sujeito às variações am- ros iniciam a germinação tão logo as condições
bientais e, como discutido por Gregory (1973) sejam favoráveis. A germinação dos esporos
e lsard et ai. (2005), a luz solar, temperatura ocorre preferencialmente no lado sombreado
e umidade do ar influenciam o período de li- da folha, com o tubo germinativo demonstran-
beração e a viabilidade dos urediniósporos. A do um comportamento fototrópico negativo,
3 - f ERRUGEM ASIÁTI CA DA SOJA 39
ERN E L EMES - WALl3 ER Luiz G AVASSON I

inclusive não germinando ou cessando o desen- superfície foliar não for limitante, a germina-
volvimento quando é exposto diretamente à luz ção do urediniósporo é fortemente afetada
(KOCH e HOPPE, 1988). Para que o urediniós- pela temperatura (BROMFIELD, 1984).
poro germine, é necessária a pre ença de água A penetração direta da folha da oja pelo
líquida na uperfície foliar por no mínimo 6 ho- fungo P. pachyrhizi e inicia a partir do apres-
ras em temperaturas de 15 ºC e 24 ºC (KITANI e sório, com a formação de um peg de penetração
INOUE, 1960; MELCHI G et ai., 1989). que pressiona a parede celular das células da
Em e tudo com isolados de P. pachyrhizi de epiderme foliar (BROMFIELD, 1984; KOCH e
Taiwan, Zimbábue, EUA (Hawaii) e Brasil, Bon- HOPPE, 1988). Após p netrar no interior da fo-
de et ai. (2007) determinaram a amplitude de lha de soja, a hifa fúngica atinge o espaço inter-
temperatura ideal para a germinação de uredini- celular e forma um haustório (hifa de alimen-
ósporo da ferrugem asiática entre 17 ºC e 28 ºC. tação) na células do mesófilo foliar (KOCH et
Temperaturas inferiore a 15 ºC ou uperiores ai. , 1983). A formação do primeiro hau tório
a 30 ºC não possibilitaram a de envolvimento ocorre entre 24 e 48 horas após o contato do
da infecção de P. pachyrhizi (CALDWELL et ai. , urediniósporo com a folha de soja. O fungo P.
2005). Dentro dos intervalos ideais de tempera- pachyrhiz i coloniza intensamente os espaços
tura para o desenvolvimento pleno da ferrugem intercelulares na regiõe vicinais ao ponto de
asiática, todas as regiõe do Bra il ão apropria- infecção, nessa regiões que irrompem a ure-
das para o desenvolvimento da doença (DEL dinia (75-120 mm de diâmetro) cerca de 5-7
PONTE et al. , 2006; 2008). dia após a penetração da epiderme foliar, e,
Em condições favorávei de umidade e 4 dias após o surgimento das uredinia, ão ob-
temperatura na superfície foliar, o uredini- servados urediniósporos que emergem por um
ósporos podem aderir à folha em 0,5 h , ini- ostíolo e podem ser dispersos pelo vento. Cada
ciarem a germinação de seu único tubo ger- uredinia pode esporular por cerca de 3 a 7 se-
minativo em 1 a 2 h , iniciarem a formação do manas, produzindo até 12 .000 urediniósporos,
apressório em 3 h e penetrarem na folha de enquanto que cada le ão pode ser e porulante
soja em até 12 h (BROMFIELD, 1984; ALVES por até 15 semanas através do desenvolvimento
et al., 2006; VÉLEZ-CLIME T e DUFAULT, de uredinias secundárias (MARCHETTI et ai. ,
2007). O crescimento do tubo germinativo 1975; KOCH et al. , 1983). Após a formação das
pode atingir de 5 mm a 400 mm e, em sua uredinias, ocorre a clorose e posterior necrose
extremidade, forma-se um apressório, uma dos tecidos foliares adjacentes, sendo que ape-
estrutura globosa de tamanho imilar ao ure- nas 15% da área le ionada pelas pústula é teci-
diniósporo. e a disponibilidade de água na do esporogênico (MELCHI G et al. , 1989).

4. Manejo e controle
A ferrugem asiática da soja é uma doença cultural, biológico, químico e genético podem
que exige que diferentes medida de controle er empregada para minimizarem o danos
sejam adotadas complementarmente para que cau ados pelo fungo P. pachyrhizi.
se maximize eu controle. Medida de controle

4.1. Controle cultural da ferrugem asiática


A determinação legal de período com au- contra a ferrugem a iática adotada p la maio-
ência total de planta viva d oja no campo ria do e tado bra il iro - produtore d oja.
(Vazio anitário) é uma m dida cultural efeti a a afra 2003/ 200 2004/2005, o prim i-
o D OE ÇA - DA S OJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉC ICAS D E MANEJ O

ros focos de ferrugem asiática foram relatados belecidos até períodos distintos para difere ntes
em algumas áreas dos estados do MT e GO aos microrregiões (Quadro 1). A efetividade do va-
20 dias da germinação. A produção de sementes zio anitário baseia-se em impedir a sobrevivên-
em áreas irrigadas e áreas com u ma segunda sa- cia do patógeno em plantas ('pontes verdes')
fra de soja durante o inverno permitiram a mul- de soja na entressafra. O Paraguai, país que faz
tiplicação do patógeno. Consequentemente, a fronteira com os estados de Mato Grosso d o
safra de verão iniciou-se com um potencial de Sul e do Paraná, estabeleceu o vazio san itário
inóculo de P. pachyrhizi extremamente eleva- desde 2011 entre 1° de junho de 30 de ago sto
do, com ataque em e tádio iniciai das lavou- (Paraguai, 2011). Medidas legais adotadas p elo s
ras. A partir de 2006, o azio Sanitário p assou a estados de Goiás e Mato Grosso proibiram o
ser adotado, inicialmente por três estados, che- cultivo de soja em sucessão a soja (safrinha) n ão
gando hoje a e tar instituído em 13 estados. só para impedir o aumento na população d o
O Vazio anitário normalmente abrange um patógeno, mas, principalmente, para reduzir a
período de 60 a 90 d ias, variando de estado possibilidade de seleção de populações m eno s
para estado e em alguns estados foram esta- sensíveis aos fungicidas disponíveis.

Quadro 1. Períodos de vazio sanitário da soja por unidade da federação e base legal de sua implementação.

Período Base Legal


15/08 - 15/1 O Portaria ADAB Nº 623 ae 05 outubro de 2007
l:=~ ;:;:;::;;::::;:;;:::=::::;:::~::=:=0=1=10=7=_=3~0~/0~9~=;;==== Portaria Nº 30 de 13 junho de 2007
01/07 - 30/09 1 Instrução Normativa Nº 08, de 06 de novembro de 2014
8=- ~1~5f~1 (F,
~ ~~~===:::;:;::::=9t=1~5~{0:=;: ~ =,j=====~::::;;:===:--
lnstrução Normativa Nº 01 , de 03 de abril de 2008

Instrução Normativa conjunta Nº 01, Sedec Seaf lndea-MT,


éte 06 de janeiro de 2015
~======-=-Lei Estadual Nº 4.218
!!j~~~ -== ===-===~r=""=~Re
~ so;;l::'.
uçã ~ o=;N~º~8~84, de 06 julho de 2007 / Resolução Nº 882,
de 26 abril de 2007 / Resolução Nº 854, de 19 ·unho de 2006

Portaria 2634, de 21 de julho de 2014

Resolu~o Nº 120, de 10 de outubro de 2007

15/06--1 5/09 . .;;;.::; ~~=::;;: Portaria Nº 220, de 19 de agosto de 2009


Portaria Nº 15, de 07 de agosto de 2008
01/07 -30/09
01/07 - 30/09 Resolu~ o Nº 09, de 15 março de 2007
--===~
Portaría Nº 219, de 03 de julho de 2006
01/07 - 30109 Portaría Nº 106 de 28 março de 2007

1 Em adição ao vazío sanitário, estabelece calendário de semeadura para a soja entre 01/10 e 31/12.
O
2 Mícrorregíões do AJto Mearím, Grajaú, Balsas, lmperatrí~ e Porto Franco, , .. .
2 • 'õ d 8 , d Maranhense c axías Chapad1nha, Codó, Coelho Neto, Gurup1, ltapecuru M1nm Pinda-
tcrorregl es a arxa a , ' , é d R'b , '
ré, Presíd en te Outra e Ros árío , além de P~M
--r- do Lumiar, Raposa, São, Jos . e I amar e São Lu1s.
' Proíbe o plantio em sucessão da cultura de soja sobre a cul!ura de soJa (safnnha), . , .
5 Mícrorregíõe de Conceíção do Araguaía, Redenção, ltattuba (com exceção dos mun1c1p10s de Rurópolis e
Trairão Marabá e Altamíra dístrrto de Castelo dos Sonhos). .
,, Aícrorr~giões de Santarém, Paragomínas, Bragantína, Guamá, Altamira (com exceção Dístríto Ca stelo dos
Sonhos),
3- F ERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA 41
ERN E L EMES - WALB ER L u iz GAVASSON I

As medidas culturais para controle de doen- entre linhas de soja (60 cm) proporcionaram
ças como as ferrugens são geralmente pouco efi- menores valores de doença acumulada e maior
cientes, pois o inóculo pode ser deslocado por produtividade, provavelmente devido ao micro-
longas distâncias. No entanto, Madalosso et ai. clima mais seco, em espaçamentos maiores ser
(2010) observaram que espaçamentos maiores menos favorável ao desenvolvimento da doença.

4.2. Controle biológico da ferrugem asiática


A utilização do controle biológico para o ma- o parasitismo de urediniósporos e a proliferação
nejo da ferrugem asiática é uma estratégia que destes hipertparasitas onde ocorriam as pústu-
tem apresentado resultados promissores. Ape- las da ferrugem asiática n a soja (SAKSIRIRAT e
sar de muitos estudos conduzidos para a iden- HOPPE, 1990; WARD et ai., 2011). O modo de
tificação de parasitas do fungo P. pachyrhizi, parasitismo observado nestes hiperparasitas está
apenas duas espécie de fungos hiperparasitas relacionado à degradação dos urediniósporos
foram identificadas, Lecanicillium psalliotae por enzimas quitinases, E-glucanases e proteases
(Treschew) Zare & W Gams (Saksirirat e Hoppe, (SAKSIRIRAT e HOPPE, 1991a; 1991b).
1990) e Simplicillium lanosoniveum G.F.H. Bey- Apesar dos resultados promissores (GO-
ma) Zare & W Gams, tendo sido observadas sig- ELL ER et al. , 2010), deve-se atentar para as
nificativas reduções no desenvolvimento de pús- dificuldades e limitações do controle biológi-
tulas e urediniósporos (WARD et ai. , 2011, 2012; co, mesmo em associação com outras medidas
GAUTHIER et ai. , 2014). Estes hiperparasistas de controle. A necessidade de condições favo-
não se desenvolvem em folhas saudáveis de soja, ráveis para o desenvolvimento de hiperpara-
mas apenas quando o fungo P. pachyrhizi está sitas, especialmente a presença de umidade
presente na folha, mesmo ainda não demons- sobre a superfície foliar são essenciais para o
trando os sintomas das doenças. Foi observado sucesso do controle.

4.3. Controle químico da ferrugem asiática


Nas safras subsequentes à detecção da fer- Entretanto, em safras recentes, até mesmo
rugem asiática no Brasil, a doença era plena- formulações a base de DMis e Qols têm pro-
mente controlável somente pela aplicação de porcionado controle menor ao verificado em
fungicidas de ação sistêmica pertencentes ao safras passadas. Atualmente, encontram-se re-
grupo dos DMis - inibidores da desmetilação gistrados no MAPA dois produtos comerciais
na síntese de esteróis (KOGA et ai., 2011). O com formulação mista à base de Qol e inibi-
uso frequente em extensas áreas e aplicações dores da succinato desidrogenase - carboxa-
curativas pode ter contribuído para a perda de midas (SDHI). m produto foi registrado em
eficiência dos fungicidas (Figura 4). A menor 2013 e outro, em 2014: fluxapiroxade e benzo-
eficiência dos DMis, observada de de 2007, foi vindiflupyr, re pectivamente. A introdução de
as ociada com a seleção de populaçõe de P. novo fungicida do grupo SDHI elevou a efici-
pachyrhizi meno sen íveis (GODOY, 2011). A ência de controle a nívei emelhante ao ní-
partir da safra 2007/2008, com a perda de efi- veis proporcionado pelos DMis antes da per-
ciência do fungicidas DMis, pas ou-se a reco- da de eficiência (GODOY et ai. , 2014). Porém,
mendar a aplicação de formulaçõe comerciai re i tê ncia de patógeno a fungicida do grupo
com a sociação de fungicida inibid re da DHI já foi r latada (MIYAMOTO et al., 2009;
quin na oxida e - Q I (estrobilurina ). I Hll et ai., 2011 ; G UDME TAO et ai., 2013).
42
E RNANE L EMES - L EONA RDO C ASTRO - RA rAEL As~,s

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80 ,.,' .,..,_
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...e: 50 \

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30

20

10
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- -+--
··· ··· Â ·· · · ·
Azoxistrobina
Ciproconazol
Azoxistrobina + Ciproconazol
Tebuconazol

Safra
Figura 4. Eficiência do controle da ferrugem asiática da soja por fungicidas DMls, Qol e associação
dos dois grupos ao longo de 11 safras em diferentes regiões do Bra sil. Fonte: ensaios em rede e cooperativos.

Exi te mais de uma centena de fungicidas po dos DMis é aquele com maior número de
registrados no MAPA para o controle da ferru- produtos registrados, seguido das formulações
gem asiática da soja (Figura 5). Um grande nú- mistas de DMI e Qol. Dentre os DMls, o tebuco-
mero de registros foi conferido a formulações nazol é o ingrediente ativo com maior número
simples, atualmente não utilizados no controle de produtos registrados (Figura 6). As formula-
da ferrugem devido à baixa eficiência ou ao ris- ções mistas estão limitadas a um número redu-
co de elecionar populações resistentes. O gru- zido de ingredientes ativos (Quadro 2).

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Figura 5. Número de produtos comerciais , reg istrados para ~plicação n_


a p~rte aérea da soja no controle de
Phakopsora pachyrhrízí, agrupados por modo de açao/ e assoc,açoes. Fonte: MAPA, 2015.
DMI · inibidores da desmetilação; Qol : inibidores da quinona oxidase; B: benzimidazois;
· SDH I: inibidores da succinato desidrogenase.
3- F ERR UGEM ASIÁTICA DA SOJA 43
ERN E L EMES - W ALDER L ülZ GAVA.'iSO~I

45

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:1,.0\ . ~o\ :1,.0\ :1,.0\ :1,.0\ j,.O\ •"'-~~ j,.o\ '<>1,0\ '<>1,0\ ~1,d ,
~'<> ~<-?> ~'<> ~'<> ~'<> ~'<> ~-v'-Y . o(;-o'<> c:P(;-o <:P~ <:P~
-;o-ve,O ~\0 "-j...,<P '!<...~e,O ·n{..o<P r,.oc:P Lt:,/>° o<~'G ~,~ L11.e~ o~º
'\ e ~Ç" '\ e O'< (j~e ""' ~{,, ~\-vôl. ""' ~{,,

Figura 6. Produtos comerciais (%), por ingrediente ativo, inibidores da desmetilação, reg istrados para
aplicação na parte aérea da soja no co ntro le de Phakopsora pachyrhrizi. Fonte: MAPA, 20 15.

Quadro 2. Número de produtos comerciais à base de Qol e DMI


em sua compos ição registrados no MAPA para o controle da ferrugem asiática da soja .

Cresoxim-Metíllco

Plcoxistrobina o o o
Plraclostrobina o 8 o 1 o
Trifloxistrobina o o o o 1
Fonte: Brasil , 2015 .

A manutenção dos níveis de controle pro- empresas detentoras do registro. Em adição,


porcionados pelos fungicidas ao longo das sa- recomenda-se, também, a não adoção de aplica-
fras passa obrigatoriamente pela adoção de es- ções curativas e adoção de medidas integradas
tratégias de combate a resistência. Para retardar de controle (FRAC, 2015).
o desenvolvimento de populações resistentes A resistência aos DMis manifesta-se por uma
de P. pachyrhizi pela pressão de seleção exer- alteração gradual do patógeno, aumentando ao
cida pelos fungicidas, a recomendação é que longo do tempo (GISI e SIEROTZIKI, 2009). Tal
sejam preconizados produtos registrados que fato foi observado em isolados brasileiros de
contenham Qol associados a DMis e/ou SDHI P. pachyrhizi, em alguns isolados com fatores
em doses, épocas e intervalos indicados pelas de resistência 1000 vezes superiores a isolados
4
J OENC~J\.'i DA SOJA : Mf!I.IIOltAM l!N'IO (;ENfrl'IU) 1. 'l'l!CN ICAS D H MA N IU<J

.UNA f! Ll'Ml'S - l. l!ONAltDO C -\S'l'llO - HAl'Al!f. A ">SIS

r ·f •r ncia (S HMITZ et ai., 20 1 ). No a ·o d . los 1· r ·sist ~n 'ia, por ·m sua o ·orr "•n 'ia • n -
fungi ida Q 1, a r ist n 'ia p d · manifr· tar-s , si l ·ra a J ou ·o prováv ·I ( ;RASS et ai. , 2006) .
d man ira par ial (mu a ·ã F129L) , o l s ·rvada
Phalw psora pa hy rhlzi r ·1 ro luz-s _. p ·la
o Bra 'iJ na ·afra 201 / 20 14 (FRA ·, 201 ) . A
pr >d ·ão 1• ur ·di1 iosp ros, m J ro ". . o
mu a 'ão I ba · "· na p si ·ã 129 ' m . bstitui-
-' SS .. n 'ialm · 1 t · ass • uai. En r · tant > fi i ·ons-
·ã d " fi--nHalanina p r l u ·ina r ·sui ta ·m alt •- tatada a mi ,ra ·ã I u ·I ·ar ·ntr · tub s g ·rmi-
ra ã par 'ial na , :,n ibHidad • l P. J l hyrhiz i
nativos 1· ur · li njosp rc s 1u · sofr ·ram anas-
a fungicida Q I. A · muta - "S • 1 A " 1137R
t mos (VlTTAL et ai., 20 J 2) . surgimento d ·
não foram bservada · m P. p a hyrhizi. A mu- p pulaç • ·s r · ·ist _.nt "S •} u m ·nos s ·nsív ·i s
ta ão Gl A, m qu · · rr a ub •titui ·ã J a fun 1 icida p I ria · "r " pli ·a lo, ·m part .. ,
gli ·ina p r alanina, impli aria ·m nív -'i · •l "va- I "Ja tran fi r ~n ia nu ·I :.ar.

4.4. Controle genético da ferrugem asiática


ão geraJm nt bem con- redu ão do desenvolviment dos sintomas e a
trolada p r cert período atravé da re i tência produção de lesõ s marron-avermeJhada (MI-
genética. a re i t ncia e p cífica à ferrugem LE et al. , 2011; BONDE et al.; 2006).
asiática, i gene foram identificado : Rppl, A reaçõe de re i tência da oja à ferru-
Rpp2, Rpp3 Rpp4, Rpp5 e Rpp6 (BROMFIELD gem asiática são elas ificadas como parciais
e HARTWIG, 1980; McLEAN e BYTH, 1980; devido à reduzida produção de uredinióspo-
HARTWIG e BROMFIELD, 1983; HARTWIG, ros pelas uredinias. Esta redução da produ-
1986; GARCIA et ai., 2008; CALVO et ai., 2008; ção de urediniósporos demonstra uma inefi-
CHAKRABORTY et ai. , 2009; LI et ai. , 2012). No ciência de controle da doença por parte dos
entanto, genes Rpp, ainda não identificados, genes isoladamente, indicando que o contro-
são detectados e indicam que a resistência da le da ferrugem asiática da soja deve ser feito
soja à ferrugem asiática pode ser o resultado da com o maior· conjunto de genes possível. O
ação conjunta de vários genes (PAUL e HART- emprego da resistência genética traz retornos
MAN, 2009; YAMANAKA et ai. , 2010). As reações à produtividade, reduz os custos com defen-
de incompatibilidade entre a soja e o fungo P. sivos e aplicações, permite à planta expressar
pachyrhizi são mediadas pelo gene Rppl; para melhor seu potencial sem afetar a produção e
os demais genes, são observadas apenas uma reduz o impacto ambiental.

5. Monitoramento
Um dos fundamentos da epidemiologia é do ar são determinantes para o desenvolvimen-
o entendimento dos mecanismos que afetam a to da epidemia CTONES, 1987; DUTHIE, 1997).
produção de inóculo e a dispersão da doença. Deste modo, o monitoramento das condições
Na ferrugem asiática - onde a disponibilida- que favorecem o desenvolvimento da ferrugem
de de inóculo (urediniósporos) normalmente asiática é decisivo para prever epidemias e au-
não é um fator limitante, pois há grande quan- mentar a eficiência do controle químico.
tidade produzida e diversos hospedeiros - as Outros fatores que também influenciam a
condições ambientais são os fatores que mais ocorrência e a severidade da epidemia de fer-
influenciam o desenvolvimento desta doença. rugem asiática são: (i) o estádio da cultura _
Entre os fatores ambientais isoladamente, a o período entre o final do vegetativo e início
duração do molhamento foliar e a temperatura do reprodutivo da soja é o de maior risco de
3 F,rnnuc; .M ASIÁTICA l>A SOJA 15
EHNAN ll L HMHS - W AJ.llHll f.l JIZ i,WA'l,CJNI

>• rr , ia la lo --n ·a; (ii) a ·fi ·j "•n 'ia 1· mo- 0 •uraJ (BATCI fELOR t ai. , l 7) t I gl ·a di fu-
da ár ·a (asso •iado aos . i. t ·ma. sa U'uzry kJgíc) (K fM c>t at. , 20 )5 , (U • 1 ·v · ·':1
l ri s ·o 1, n a •pid ·, ia); · (iíi) 0 • Jmp > t' m •nt< da •pí 1·mia p, ra um 1 ·t ·rm~•
< m m "nt (timing) 1· aplkação lo ·ontrol · nado vai r la variáv ·I av" li' la. s lados Ju • ali•
quími o, JU • " d :> t ·rmin ado ·om bas · nas in- m •mam o. mo l ·lo. ·mpfri '<s ·stãc g ·ralm •n ,.
forma ·õ ·s d s lois prim ·iros fa tor ·~. r or ·s- r •h •iona lrn; · )m : (i) , . p ·rí I<s ·ri i · s para a
tas .-a:t • --s, a apJi ·a 'ão 1• f ingi ·idas não 1 ·v • ín~ ,, •ão (p. •x.: d ra ·ão lo m Jlhar ·nto foliar);
s ·r uma práti ·a ·ai ·n larizada, pois po 1· g ·rar (ii) < progt· ·s. o da lo ·n ·a (p. ·x.: ·xtr --mo, ~
·u to i mpa ·t >s · · ,lógi ·os 1·sn ·e ·ssários,
J
t "mp •ratura); · (iii) a s -"V ·rida · máxima ·orr1-
ai ·m I favor · r surgim ·nto l · raças r -'S is-
J
la. Sfü>, portanto, mo l ·los altam ntc d ·p ·, 1·n-
·nt " l patóg n > (I EL P )NTL et ai. , 2006; t •s da 1uali la 1• · r ·pr ·s ·nta ividad • 1 s ~-ado.s
DORRAN 'E et ai. , 2008; G D )Y et ai., 2009) . ·ol ·ta I s ( KH A , E · MAS ·rn, ·1 75; D l f Hl!,
1997; DEL PONTE et ai.; 2006).
Até prcs ·ntc mom ' nto, somente a aplka-
çã d controle químico com fungicidas realiza-
Os m I lo · d ., simula .-" sã< ·onstruíd s
da na primeira metad " do enchimento dos grãos a partir do ,.nt ·ndiment da liss --mina ão .. de-
da soja tem sid uma medida eficiente de con- senvolvimento da fr·rrug .. m asiáti a; ·m outras
trole ela ferrugem a iática (MILE · et a!., 2007; palavras, o dados coletad s m camp alim n•
MUELLER et ai., 2008; BARBO et ai. , 2014). tam um m clelo qu prevê e mp rtamento da
doença posteriormente àqu le da variável avalia-
No entanto, o manejo químico eficiente des-
da (TENG, 1985). As símulaçõe para a fi rrug m
te patógeno pode apre entar- e complexo por
asiática da soja podem ser epidemiológicas ou
depender de informações preci a que alertam
aerobiológicas. A simulação epidemiológica pre-
sobre a presença do patógeno e o progre so da
vê o impacto da ferrugem asiática em função dos
doença. Informações precisas e a tempo sobre
fatores que afetam o desenvolvimento da epide-
as condições predisponentes da doença podem
mia, utilizando informações como a disponibili-
alertar os sojicultores sobre a necessidade e o
dade e viabilidade do inóculo inicial, a tempera-
momento mais apropriado para as aplicações
tura diária ou o volume de chuva (DEL PONTE e
fungicidas, consequentemente reduzindo os
ESKER, 2008), e mesmo eventos como o El Nino
custos e amenizando os impactos ambientais.
podem ser utilizados como fontes de informa-
Os programas de monitoramento e infor- ções para a previsão de epidemias (DEL PONTE
mes das condições climáticas e de dispersão de et ai. , 2009). A simulação aerobiológica prevê o
esporos fúngicos são importantes instrumentos transporte e a disseminação dos urediniósporos
para a decisão de aplicar fungicidas. Estes mode- a longas distancias através da atmosfera, esti-
los estimam com certa antecedência o risco de mando o potencial de entrada, estabelecimento
ocorrência/entrada e o estabelecimento/desen- e desenvolvimento da ferrugem asiática (ISARD
volvimento das epidemias da ferrugem asiática e et ai., 2005; PAN et ai. , 2006).
são baseados em modelos epidemiológicos ela-
Atualmente, existem sistemas de previsão de
borados a partir de condições controladas e/ou epidemias da ferrugem asiática disponíveis on-
em observações atualizadas de campo (YANG, -line que monitoram regularmente certas regi-
2006). Para o monitoramento e previsão das epi- ões, prevendo a ocorrência e o desenvolvimento
demias da ferrugem asiática da soja, dois mode- da doença. Nos EUA, o Integrated Pest Manage-
los distintos podem ser classificados, o modelo ment - Pest Information Platform for Extension
empírico e a simulação (DEL PONTE et a!. , 2006). and Education (ipmPIPE, sbr.ipmpipe.org) é
O modelo empírico é construído com dados dedicado ao monitoramento e à liberação de in-
experimentais através de relações estatísticas, formações atualizadas sobre a ferrugem asiática,
regressões lineares e não-lineares, modelagem demarcando limites geográficos de risco e sendo
46

uma imp rtante ferramenta para pr dut re N Brasil, o onsórci Anti~ rrugem (e n-
n rte am rican na d - e quand aplicar rci antiferrugem .net/p rtal/ ) in~ rma s >-
t m fungi L ARO et ai., 2006; bre a d ença em nit ra ·ua o rrência e d e-
LLER et ai., 2008). m IPE pr duz infor- env Jvime nt no paí desde d etembr de
m pr ri da d en a atravé 2004. on rei é um pr j t rd n ado
do m ame qu nas áreas emeadas pela Empre a Bra ileira de Pe quisa Agr p e-
entine , ár ·as c ntend h p "· cuária (Embrapa), pela niver idade Fed "r a l
deír nativ (p.ex.: kudzu, Pueraria loba- d Rio Grande d ul ( FR ) e p e la n i-
ta ,. áreas mer ia ja. infi rmaçõe d ver idade de Pa Fund ( PF) e ~ i ri ad
ipmPfP tadas p r a vali de para atender a ne "' S ·idade p r in~ rma · - .,.s
d · - · DE et ai., 2008 cca rápidas, de bai x cu t e ampl alcanc s br ·
e , 200 ) d uredini ·po- a oc rrência e a di sper ã d ta d e n a n
pturad m armadilh de país ( ABR ERA e ILV EJRA , 2013). O mapa
- da ~ huva p de m indicar a chega- de m nit ramento da situaçã da ferrugem
pr e ni nte d " fi nte di tante , asiática n ite d n órci Anti~ rrug m
íni iand aL"rtas para a chegada da doe é aba tecid p r técnic e e pecialistas d ·
po pturad em armadilhas d dcp ão lab ratóri credenciado . Entre o c lab -
'" a ante ipam infor . · · bre a dis ão rad re · d n óci , també m e tã dive r
urediní m uma região e Hb ram pe qui ad rc de diferente área da ojicul-
al,ertas para e · m fungí idru ante da tura, re pre e ntante de in tituiç - e d p es-
de - atr entinel plot . qui a pública e iniciativa privada.

6. Sumãrio e perspectivas futuras


Mai de uma década ap !idade de cultivare de oja resistente, à exten a
Br ·H, a 6 rrugem asiátí a da ja per i ·te e m área cultivada c m ja e à di ponibilidade limi-
a prín ipal da d --n a da ultura. O e ntr le tada de fungicida e m modo ação de ação di -
d a d ença ainda erá d e grand pr cupa- tinto . A pre ervação das ferramenta que di -
ão para ojí ultore no pr ximo an s, p mo atualmente para o seu manejo, como o
prin ipa lme nte d ~ id à levada variabilidade fungicida , é crucial para que se e nsiga manter
da p pul :- d patóg n , re trita di ponibi- e ampliar os atuai nívei ele produtividade.

7. Referências bibliográficas
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Mofo branco

SILVÂNIA HELENAFuRI.AN
ENGENHEIRA AGRÔNOMA, ME.' DRA.
INSTITUTO BIOLÓGICO

1. Introdução
No Brasil, as epidemias de mofo branco, Estima-se que aproximadamente 23% da
causadas por Sclerotinia sclerotiorum, estão área cultivada de soja no Brasil e 100% da área
amplamente distribuídas em várias regiões irrigada de soja por pivô central estejam conta-
produtoras de um grande número de culturas, minadas pela presença de escleródios do pató-
tendo sua incidência aumentada na soja a par- geno (CAMPOS et ai., 2005; MENTEN e BAN-
tir da década de 90. ZATO, 2014; MEYER et ai., 2014).
Os primeiros relatos de ataque em soja sur- É uma doença com grande capacidade des-
giram na década de 70 no Estado do Paraná, trutiva. Segundo Nasser et ai. (1990) e Meyer
na década seguinte em Minas Gerais, e logo et ai. (2014), S. Sclerotiorum é responsável por
depois em Goiás, nas áreas de pivô central. No perdas de até 30% em lavouras de soja e de até
entanto, o feijão de inverno era um hospedei- 70% em lavouras de feijão irrigadas por pivô
ro bem mais importante que a soja (NASSER central nos Cerrados. Plantas doentes podem
et ai. 1990; NASSER e SPEHAR, 2001). Atual- ter a produção reduzida em até 37% se consi-
mente, há registros de ocorrências severas em derarmos uma incidência de 50% na lavoura.
lavouras de soja, prevalecendo em áreas com Naturalmente, estas perdas variam grande-
alto potencial produtivo onde a doença encon- mente em função de fatores genéticos como o
tra melhores condições para se desenvolver. potencial produtivo e a tolerância da cultivar,
Dentre as mais de 400 espécies hospedeiras fatores nutricionais, principalmente a adubação
do patógeno, pertencentes a aproximadamente nitrogenada, que interfere no crescimento das
200 gêneros botânicos, está a soja (BOLAND e plantas, e fatores ambientais, sobretudo a pre-
HALL, 1994; BOLTON et ai., 2006), que, nos últi- cipitação e a irrigação, que afetam de maneira
mos anos, em especial a partir da safra 2006/07, significativa a severidade do mofo branco.
ao lado do feijão, girassol, algodão, canola e al- O fungo disseminou-se de maneira rápida e
gumas hortaliças como tomate, batata e alface, eficiente pelas sementes de soja infectadas por
tem sido afetada com danos variáveis (CAMPOS meio do micélio dormente, ou quando conta-
e SILVA, 2009; MACHADO e CASSETARI, 2010; minadas pela presença de escleródios associa-
FURLAN, 2012 e MEYER et ai., 2014). Diversas dos, estabelecendo-se notadamente nas áreas
plantas daninhas também fazem parte da lista irrigadas por pivô central, o que assegurou sua
de hospedeiras, entre elas o caruru , o amen-
d. ampla distribuição e multiplicação (NASSER e
01 SPEHAR, 2001; CAMPOS e SILVA, 2009). Ou-
m bravo, a guanxuma, a vassoura, a corda
de viola, o carrapicho e o picão preto. tro veículo importante da disseminação entre
54 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉC1 ICAS D E MANEJO

ERNANE L EMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL A ':i':> IS

as lavoura foram o implemento e máquinas Dentro do atual sistema de rotação de cul-


carregando o propágulo do fungo, também turas, plantas hospedeiras em sucessão à soja,
re ponsávei por introduzi-lo em locai antes como algodão, girassol, feijão e canola, elevam
i ento do problema. o potencial destrutivo da doença pelo acúmu-
Habitante de olo, . sclerotiorum apre- lo do inóculo, refletindo em crescentes p reju-
enta grande longevidade por meio de uas ízos. As gramíneas, por não fazerem parte da
e trutura de re i tência e tem a capacidade lista de hospedeiras de Sclerotinia, represen-
de colonizar toda as parte aéreas da plantas tam uma alternativa na rotação, visando à re-
( CHWARTZ et al., 2005). E ta , quanto mais dução de inóculo na área.
adensadas, ob condiçõe climática favorá- A importância de uma abordagem epide-
vei , tornam o proce o infeccio o, incremen- miológica e de manejo do mofo branco , de-
tado pelo ombreamento, maior umidade e nominada na soja também como "podridão
menore temperatura dentro do dos el. branca da haste", se dá na prevenção e redução
A quantidade de e cleródio na área, orna- dos sintomas, de forma a viabilizar a produção
da a vário componente do ho pedeiro, do por meio da adoção de práticas eficientes que
ambiente e do patógeno, que ão di cutidos visam evitar ou minimizar os problemas d e
ne te capítulo, também influencia con idera- uma doença tão agressiva e de difícil controle,
velmente a gravidade da doença. como já é amplamente conhecida no mundo.

2. Epidemiologia
Para caracterizar e diagno ticar o mofo o micélio e os escleródios, quanto as reprodu-
branco, é preciso conhecer as estruturas propa- tivas, os apotécios e ascósporos, que estão ilus-
gatívas do fungo, tanto as vegetativas, que são tradas, respectivamente, nas figuras 1, 2 , 3 e 4.

Figura 1. Crescimento micelial típico de Sc/erotínía sclerotiorum sobre folhas de soja caídas ao solo.
4 MoFO BRANCO

S1LVÂN IA H ELENA F URlA'\

Figura 2. Escleród ios típicos de Sclerotinía sclero tíorum , de coloração escura , semelhantes a fe:

Figura 3. Apotécios de Sclerotinia sclerotiorum


, d. . . . no solo em lav
no es ta 10 1rnc1al dP. fnrm::lr5n rlô ""·-- ·- _ . oura de saia
D OE ÇAS DA SOJA : MELHORAMENTO GE ÉTICO E TÉC ICAS D E MANEJO

ERNAN E L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL Assi

Figura 4. Ascósporos de S. sc/erotiorum visualizados em microscópio ótico,


obtidos após a maceração de apotécios em laboratório.

s do aparecimento dos sintomas nas devido ao surgimento de apotécios no solo, as


é comum, na superfície do solo, sur- estruturas de reprodução sexuada ou corpos
:rescimento micelial branco e cotono- de frutificação, formados a partir da germina-
mado da germinação dos escleródios, ção (carpogênica) dos escleródios, em especial
Lior frequência no locais sombreados aqueles que estão imersos a até 5 cm de pro-
hamento das ruas, logo no pré- ou iní- fundidade no solo, pois as estipes dos apoté-
>eríodo reprodutivo da oja. Este micé- cios raramente são maiores que 6 cm. Os apo-
:!, por contato, alcançar a parte aérea e técios podem produzir ascósporos por 5 a 10
amos, folha e vagens. Ainda, pode ser dias e, quando liberados, alcançam e infectam
Lidade infectiva primária e infectar fio- as flores, em especial as senescentes, que asse-
las ao olo ou danificada embora co- gurarão o potencial da doença.
lte participe das infecções ' ecu ndárias. Os ascósporos são disseminados a curtas
es de acamamento das plantas facilitam distâncias pelo vento, podem permanecer viá-
·am a infecção. veis por 2 a 3 semanas na superfície da planta
licélio pode permanecer viável em flores e, ao se depositarem, colonizam o tecido floral
ias por aproximadamente uma emana ou aqueles com ferimentos, originando, assim,
idições desfavoráveis e retornar ao de- as primeiras infecções. Uma vez estabelecida a
imento quando voltarem as condições infecção inicial, o fungo pode atacar qualquer
eis (HARIKRISHNAN e DEL RÍO, 2006). órgão da planta (SCHWARTZ et al. , 2005).
tores epidemias normalmente não ocor- A partir das infecções das flores, conside-
,.._ _ ,., fAntP 1niri~I rle. inóculo. os sintomas
4- M OFO BRANCO

SrLVÂNIA H ELE A FURL\N

evoluem para as axilas das folhas e ramos late- tecidos das hast1
r ais. Estes caracterizam-se por pequenas man- estruturas rígida
chas aquosas que rapidamente evoluem para lhantes na sua f<
u ma podridão mole dos tecidos onde, sob 2). Em consequê
condições favoráveis, há o crescimento típico murcha, seca e m
do micélio de aspecto cotonoso (Figuras 5 e ra 7), podendo e
6). Este origina, interna e externamente aos 1989; HARTMAl\

Figura 5. Sintomas do mofo branco (S. sclerotiorum) Figura 6. Sin


na haste da planta de soja . ( S. sclerotiorum) en
58 D OEN ÇAS DA S OJA: MELHO RAM E T O GENÉTI CO E T ÉC ICAS D E W EJO

ER1 ANE L EMES - L w ARDO CASTRO - R A FA EL Ass1

Figura 7. Sintomas avançados de morte de plantas em ataque severo de S. sclerotiorum


em lavoura de soja cv. BRS-231 , em Pilar do Sul , SP, safra 2009/1 O.

Adam e Aye (1979) relatam que um úni- cas, produzidas pelo fungo são mais eficientes
co escleródio viável a cada 5 m 2 é suficiente (ECHANDI e WALKER, 1957), indicando tam-
para causar uma epidemia e, de acordo com bém sua função na patogenicidade.
Schwartz (2005), o tempo de sobrevivência A disseminação do fungo ocorre principal-
dele no solo é de 5 anos ou mais. mente pelas sementes, mas também pelo vento
O ácido oxálico produzido pelo fungo du- e por implementas agrícolas que, por transi-
rante o processo de infecção é considerado o tarem em áreas contaminadas vizinhas ou na
principal fator na patogenicidade de S. sclero- própria lavoura, carregam micélio e escleró-
tiorum (KIM et ai., 2000; KOLKMA e KELLY, dios. O fungo é transmitido pelas sementes
2000). Portanto, as diferenças na tolerância (MACHADO et ai., 2002) e, segundo Botelho
ao ácido oxálico e à sua difusão nos tecidos (2011), a forma micelial foi visualizada por
do hospedeiro podem influenciar na veloci- métodos moleculares de detecção do fungo ,
dade de aumento da doença e re ultarem em apresentando-se nas camadas protetoras e no
variações no tamanho do encharcamento das embrião das sementes de soja.
lesões. Segundo Tu (1982 e 1985), sintoma de Ascósporos, considerados como o principal
podridão mole similare ao do mofo branco inóculo primário, são disseminado por cor-
podem ser induzidos em folha de feijão desta- rentes aéreas dentro da cultura e também em
cadas e inoculadas com o ácido oxálico nos pe- lavou~as ~róx~mas (TU, 1989; VIEIRA, 1994). A
cíolos. Na patogênese, o ácido oxálico cria um germmaçao direta elo e cleródios (miceliogê-
ambiente de pH mais baixo (em torno de 4,0) , nica) e o c~e cimento micelial, embora ejam
no qual as enzimas de degradação, pectinolíti- um evento importante no ciclo de vida do fun-
4 M OFO BRAI\/CO 59
SILVÂNIA H ELE A FuRJ.AN

go, em geral apresentam menores riscos que as ao redor de 18 ºC a 24 ºC. Regiões de eleva-
infecções de origem carpogênica. da altitude, acima de 700 m , são propícias ao
Cada escleródio pode produzir um ou vários desenvolvimento do patógeno, principalmente
devido ao período de molhamento e às tempe-
apotécios em função, principalmente, do seu ta-
raturas noturnas menores. A frequência de dias
manho. O potencial dos apotécios é elevado, po-
nublados também afeta a severidade da doença.
dendo produzir mais de dois milhões de ascós-
poros cada, sendo maior quanto maior o corpo o microclima, caracterizado pelo sombrea-
de frutificação. Em média, o apotécio mede em mento, umidade, temperatura e aeração dentro
torno de 1,5 cm de diâmetro (Figura 3). do dossel, afeta consideravelmente a incidência e
a velocidade da doença, agindo diretamente so-
Os escleródio que se formam dentro e fora
bre a germinação miceliogênica ou carpogênica
das hastes e vagens podem retornar ao solo no
dos escleródios. Temperaturas mais baixas, ao
momento da colheita, o que as egura e eleva o
redor de 15 º C, associadas à alta umidade, favo-
potencial de inóculo na área, ou podem, ain-
recem a formação dos apotécios, enquanto que
da contaminar as sementes colhidas. Culturas
' temperaturas mais elevadas, ao redor de 24 º C
hospedeiras em sucessão, se infectadas, pode- podem favorecer a germinação miceliogênica dos
rão contribuir para o acúmulo crescente dos escleródios. De acordo com Steadman (1983) e
escleródios no solo. Schuartz et ai. (2005), o fungo pode se desenvol-
Na cultura da soja, a fase mais vulnerável à ver dentro de uma faixa ampla de temperatura,
infecção vai da floração plena ao início da for- sendo mais destrutivo entre 15 ºC e 25 º C, espe-
mação dos grãos (DANIELSO et al. , 2004), o cialmente na presença de alta umidade
mesmo período correspondente à cultura do fei- Além da condição do ambiente ser determi-
joeiro (OLIVEIRA, 1998). Quanto mais cedo in- nante para favorecer ou impedir a germinação
fectar as plantas, maiores as perdas do potencial das estruturas infectivas, o fator genético dos
produtivo da soja (DORRANCE e MILLS, 2008). diferentes isolados também exerce importante
As condições macroclimáticas favoráveis a influência, alguns são mais aptos à produção de
uma epidemia são precipitações elevadas, ir- apotécios e outros, menos, refletindo na severi-
rigações frequentes e temperaturas amenas, dade da doença.

O inóculo, após ser introduzido na área, é alto potencial de produção e de difícil contro-
de difícil erradicação, portanto a melhor forma le, especialmente quanto à obtenção de mate-
de controle da doença é a preventiva. rial genético resistente. As principais práticas
Dentro do período crítico, que abrange do de prevenção do mofo branco se constituem
florescimento até a formação das vagens, po- no uso de sementes sadias, no tratamento das
dendo se estender até o enchimento dos grãos, sementes e na limpeza de implementas e má-
as flores são elemento-chave na epidemiologia. quinas que transitam em lavouras vizinhas.
Com o fechamento das plantas, os cuidados Para as áreas já infestadas, devem ser incluí-
devem ser maiores, devido ao microclima for- das outras medidas, como a racionalização do
mado pela alta umidade e baixa luminosidade, volume de água na lavoura, a semeadura em
principalmente em plantios densos, bastante épocas menos favoráveis ao patógeno, a rota-
adubados e em cultivares de dossel fechado. ção de culturas com gramíneas (trigo e milho),
o uso de microrganismos antagônicos a base
Como já discutido aqui, o mofo branco é de Trichoderma e Bacillus, a redução do aden-
uma doença mais frequente em lavouras com samento de plantas, o aumento do espaçamen-
60 D OENÇAS DA SOJA: MELH O RAM E TO GENÉTICO E TÉCN ICAS D E MAN EJO

E RNANE L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

to , o uso de cu ltivares com porte e dossel que Durante o beneficiamento, recomenda-se o


proporcio nem menor acamamento e maior uso do separador espiral, seguido de mesa gra-
aeração, a eliminação dos restos de cultura vitacional para a redução dos escleródios p re-
contaminados, a redução do volume e frequ- sentes nas sementes. Ainda indispensável, o
ência da irrigação , o uso de palhada como uma seu tratamento com produtos registrados, que
barreira fís ica à germinação dos escleródios , a incluem o grupo dos benzimidazóis, princi-
elimin ação de plantas d an inhas hosp edeiras e, palmente quando combinados com fungicidas
finalmente, o u so de fungicidas em parte aérea mais específicos, apresenta bons resultados no
(FERRAZ et al. , 1999; FURLAN, 2008/2012). controle de Sclerotiniaa e de outros importan-
O emprego de cultivares ge neticamente re- tes patógenos veiculados pelas sementes.
sistentes ao mofo branco em soja inexiste na Para garantir a melhoria nas condições das
prática. Segu ndo Kim e Diers (2000), o u so sementes e para a tomada de decisão sobre
da resistência ge nética da soja para S. sclero- o tratamento das mesmas, a avaliação prévia
tiorum é difícil, devendo estar ligada mais a da sua sanidade por testes apropriados torna-
mecanismos de escape, como as características -se indispensável. Entretanto, S. sclerotiorum
de resistência ao acamamento , ao tipo da ar- não é facilmente detectado nos testes rotinei-
quitetura do dossel, à altura d e plantas e aos ros, como o papel de filtro comum (NASSER
períodos de floração e de maturação. et al. , 1999; MACHADO et al. , 2002). Outros
Devido à importância do ácido oxálico na métodos são recomendados para esta finalida-
infecção do fungo, o trabalho realizado por de, com adaptação a temperaturas mais baixas
e período prolongado de incubação. Parisi et
Cunha (2010), evidenciou a expressão da en-
al. (2006) obtiveram resultados positivos com
zima oxalato descarboxilase de Flammulina
o método do rolo de papel toalha modificado
velutipes, que degrada o ácido em plantas de
para detecção deste fungo.
soja, com o intuito do desenvolvimento de
eventos transgênicos resistentes a S. sclerotio- De acordo com Napoleão e Nasser (2002),
rum. Os resultados confirmaram este papel do o meio Néon pode, também, ser utilizado, sen-
ácido e a expressão do gene da enzima, con- do o tempo para identificação reduzido para
ferindo aumento do nível de resistência das 12 dias. Ainda, de acordo com Botelho (2011),
plantas. Segundo o autor, a introdução de ge- métodos moleculares (qPCR e o BIO-PCR) fo-
nes capazes de produzir estas enzimas é apli- ram avaliados para detecção nas sementes de
cável ao desenvolvimento de linhagens de soja soja com diferentes níveis de inóculo de S.
sclerotiorum na forma micelial.
resistentes ao patógeno.
Assim, o tratamento químico das sementes
Um exemplo bem sucedido do controle do
de soja no controle de S. sclerotiorum é uma
mofo branco na cultura do feijoeiro refere-se
prática necessária e eficaz para eliminar o pató-
ao manejo do solo no sistema de integração
geno presente ou para protegê-las de uma pos-
lavoura-pecuária com Brachíaria, desenvolvido
sível infecção, além de evitar a disseminação
pela Embrapa. Segundo Brandão et al. (2008),
do fungo (GOULART, 1998; GOULART et al. ,
a inibição da germinação carpogênica de S. scle-
2002; FURLAN , 2010) . Machado et al. (2001)
rotiorum foi observada principalmente em solo
constataram que a germinação e a emergência
de vegetação nativa no cerrado, seguido de so-
de plântulas de soja provenientes de sementes
los cultivados com Braquiaria ruziz iensis por
de soja inoculadas com S. sclerotiorum foram
3 anos, enquanto que, em solo de cultivo de significativamente afetadas.
soja, a germinação carpogênica foi elevada. Esta
prática, posteriormente, foi integrada ao uso de Portanto, recomenda-se consultar as Reco-
mendações em Tecnologias de Produção de
antagonistas no solo (GORGEN , 2015).
4- M OFO BRANCO
SrLVÂNIA H ELE A F uRIAN

Soja - Região Central do Brasil (2014) visando nia, a exemplo de Bacit


a direcionar o tratamento com fungicidas re- lus (LOBO JUNIOR, 201
gistrados em misturas de diferentes ativos para e Coniothyrium minita
as sementes de soja e, ainda, obedecer as indi- 1999; OLIVEIRA e COS
cações de uso para cada produto formulado. et a!., 2005), sendo o pr
Especificamente para Sclerotinia, na reco- Bacillus, registrado e n
mendação da Embrapa, o tratamento deve con- para este alvo na cultun
ter fungicidas benzimidazóis em sua formula- na bula atual do produ,
ção. A mistura formulada de tiofanato metílico aponta para a importâi
(fungicida sistêmico do grupo benzimidazol) antagonistas devido à s1
+ fluazinam (fungicida de contato do grupo <luzir antibióticos de an
piridinamina) apresenta bons resultados por cillus spp. e Pseudomor.
conter dois ativos eficientes contra o patógeno. como um dos maiores
controle biológico, com
Uemura et a!. (2013) compararam a efici-
nados periodicamente.
ência de fluazinam , fluopyran , carbendazim,
lata a importância dos
procimidone, cloreto de benzalcônio e tio-
destes antagonistas em
fanato metíloco + fluazinam em tratamento
vimento e o parasitismo
de sementes de soja visando ao controle de
as condições adversas, a
S. sclerotiorumm. Esse último, formulado em
petitividade e o uso de e
mistura de tiofanato metílico + fluazinam
ção insuficiente.
(126+ 18,9 g i.a. 100 kg 1), apresentou eficiên-
cia de 100% no controle de S. sclerotiorum Trichoderma harziai
pelo teste de Neon e aumento de 60% na aplicados via sulco mo~
germinação das sementes inoculadas com o missares para o controlt
patógeno. O fungicida procimidone, do gru- lavouras comerciais de
po das dicarboximidas, embora bastante uti- Jataí, GO, duas cepas de
lizado em parte aérea no controle do mofo provaram o parasitismo
branco, não tem registro para este patógeno dios presentes na área.
em tratamento de sementes, somente para o T harzianum sob cobt
controle de Rhizoctonia solani na cultura do aumentou a eficiência d
algodão nesta modalidade de uso, de acordo incremento de parasitisn
com a bula do produto. dios (GORGEN et a!. , 20(
O uso de antagonistas, como Trichoder- O espaçamento de pl
ma spp., aplicados às sementes ou ao sulco de semeadura e a arquitetur
plantio, pode auxiliar na redução de Sclerotinia ciam no desenvolviment<.
(GORGEN et al., 2009). Este gênero com diferen- na eficiência da aplicaçãc
tes espécies é apontado como o melhor exemplo cos por afetarem o alcai
para o avanço no conhecimento em biocontrole alvo, as partes baixeiras
com o desenvolvimento de formulações que au-' (VIEIRA, 1994).
mentam a viabilidade de esporos para produção O mesmo é válido I
em escala comercial, tendo em vista um elevado produtos biológicos forn
potencial de seleção de novas cepas para o con- choderma e Bacillus ai
trole biológico (LOBO JUNIOR, 2013). '
para Sclerotinia, tendo
Estudos mostram, também, a ação de para se obter bons resul
outros antagonistas eficientes para Scleroti- to, produtos a base de
62 Ü OENÇAS DA SOJA: MEU IORAMENTO GENÉTICO E TÉCN ICAS DE MA EJO

En ANE L EMES - L Eo AHDO C ASTRO - RA FAEL Ass ,

incluem a soja na recomendação de culturas, mostraram inibição total a 1 ppm i.a. para os
constatado na bula.' três produtos. Essas diferenças se d evem, pos-
As modalidade de uso do antagônicos sivelmente à diferença de sensibilidade entre os
incluem o tratamento de sementes e as pul- isolados utilizados ou a sua adaptabilidade.
verizações no sulco de plantio no período da Atividades in vitro e in vivo de fungicidas
emergência até no máximo antes do fecha- foram avaliadas sobre o crescimento micelial,
mento da cultura. Ainda, Trichoderma pode a produção e germinação de escleródios, a ger-
ser empregado na dessecação ou pós-colheita minação carpogênica (formação de estipes e
para reduzir os escleródios para a próxima apotécios) , a germinação de ascósporos e sobre
safra, segundo as recomendações técnicas de a incidência de folíolos de soja infectados por
produto a base de T. asperellum obtidas na micélio de diferentes isolados de S. sclerotio-
bula de produto comercializado .2 rum (FURLAN, 2011). Entre eles, os produtos
Deve-se levar em consideração a compati- fluazinam, procymidone, tiofanato metílico,
bilidade dos biológicos com os demais produ- fluopyram, dimoxistrobin + boscalid, pentio-
tos, aplicados em tratamento de sementes ou pyrad e ciprodinil + fludioxonil apresentaram
em parte aérea, quando em usos associados ou significativa ação fungicida ou fungistática já a
misturas, caso contrário ele d evem ser empre- partir de 0,1 ppm i.a., em diferentes níveis de
gados isoladamente p ara não comprometer a inibição, indicando potencial de uso nos dife-
su a viabilidade. rentes estágios de desenvolvimento do fungo.
Há décadas foi relatada a atividade dos Diferença quanto à sensibilidade a fungici-
ben zimidazóis no controle de S. sclerotiorum das de isolados de S. sclerotiorum também foi
(EDGI GTO et al. , 1971). Hawthorne e Jar- verificada por Mueller et al. (2002) , os quais
ves (1973) já haviam avaliado a atividade de observaram que 91 isolados de S. sclerotiorum
nove fungicida sobre vários estágios do ciclo foram mais sensíveis a tiofanatometílico do que
de vida de S. sclerotiorum e . minar: beno- a vinclozolin. Isto demonstra a necessidade do
mil, captan, diclofluanid, diclozoline, dicloran, uso de fungicidas de diferentes grupos químicos
quintozene tiofanato, tiofanato metílico e ti- para controle de S. sclerotiorum, tendo em vista
ram, con tatando diferença e interações entre uma possível resistência encontrada em campo.
os fungicida e o tipo d e inóculos para cada Gindrat (1993) constatou que vários isolados de
e pécie do fungo. Benomil e tiofanato metíli- S. sclerotiorum produziram colônias com cres-
co, por exemplo, mo traram a maiores ativi- cimento irregular a 1 ppm i.a. de vinclozolin
dades sobre a iabilidade do escleródios. o que sugere potencial de resistência do fungo
Re ultado obtidos por Menten et al. (1995) aos fungicidas dicarboximidas, provavelmente
indicaram uma inibição de 50% abaixo de 1 ppm relacionado ao seu micélio heterocariótico.
i.a. para os produto procimidone e tiofanato Alguns trabalhos mostram, também a ação
metílico, e aquele obtido por Oli eira (1998) de produtos alternativos com potencial de
utilização no manejo da doença. Fosfitos e mi-
1 Oi ponívei em : http:/;www.baye rcrop cience.p
cronutriente como cobalto e molibdênio as-
int ro e r/ produto /produto .a p ?id_c ultura =2 &id_
proble ma =*&id_produto=2 2: http:/. .o erse-
sociados ao grupo de fungicida benzimidazol
a agro.com/p 2013/08 a e r-crop cience-pre e nto podem indicar uma alternativa no manejo do
-·u-fungicida- ere nade- n-br i ; para as recomen- mofo branco. Conhecer o comportamento e o
daçõe técnica d e u o de Tricbodenna. perellum , papel de tes nutriente na defe a da planta e
con ultar http:/ ;vw.agroto talho lambra .com .br/
na ocorrência da doença pode ter grande im-
detalhe _produto .php?prod_id=5 .
portância para o manejo (LEH ER et al. 2008;
2 Oi poní e l m : http:''""' .agrorotalholambra.com .
br/detalb _produro.php?prod_id=5 .
FEK A et al. 2009; F RLAN et al. 2010).
4 - Mo r-o BRAN CO 63
ILVÁN JA H ELENA F RLAN

O u o de produtos químicos deve ocorrer Como o período crítico da doença com-


quando outras medida não são uficientes para preende desde o florescimento até a formação
assegurar o controle. É preci o assegurar uma da vagens, podendo e estender em função da
boa cobertura da plantas e do solo visando a cultivar e época, pode ser necessária uma ter-
maior eficiência, normalmente, para o mofo ceira aplicação para se obter um tempo maior
branco, facilitada pelo maior volume de água, de proteção. Considerando-se que as flores
porém nem sempre viável para aplicações em desempenham um papel epidemiológico mui-
grandes áreas. Comparativamente, o produtor to importante por elas serem a fonte de ener-
de feijão utiliza, em média, um volume de 500 gia inicial do fungo , durante o florescimento, é
1/ha via barra e de 5 a 10 mm de lâmina no pivô preciso atentar-se para a presença do patógeno
central, enquanto que, na oja, este volume, em na área cultivada, principalmente em épocas
geral, não ultrapas a 200 L ha·1 via barra. Os chuvosas, plantios adensados e cultivare com
dois métodos, o convencional por trator e a fun- maior período de florescimento e ramificação.
gigação por pivô central, são eficientes (Myers, Resultados de eficiência de fungicidas no
1985; Vieira, 2001) desde que a distribuição do controle do mofo branco obtidos em feijoeiro
produto nas plantas e no solo seja uniforme. na década de 90 e seguinte (OLIVEIRA, 1998;
Por avião, a eficiência da aplicação diminui pelo VALE et ai. , 1997; VIEIRA, et ai., 2001) auxilia-
baixo volume de água utilizado. Os tipos de ram nos estudos de manejo dos produtos para
ponta dos bicos de pulverização parecem não a soja; em ambas as leguminosas, são preconi-
exercer influência significativa no controle, o zadas, em média, duas aplicações, nos estádios
mais importante é utilizar a técnica de aplicação de botão floral e em pleno florescimento, de
corretamente e no momento indicado (OLIVEI- maneira preventiva (FURLAN, 2012 ; MEYER,
RA, 1998; FURLAN, 2009/2013). 2014). Associados a outras medidas de controle,
Portanto, o volume de água deve ser sufi- o fungicida de contato fluazinam e os sistêmi-
ciente para ser bem distribuído nos alvos, não cos procimidone, tiofanato metílico e carbenda-
devendo ser muito baixo - a ponto de compro- zim têm sido empregados contra o mofo branco
meter uma boa cobertura - ou muito elevado do feijoeiro e, mais recentemente, em soja.
- por questões operacionais, e ainda, não me- Os controles químico e biológico podem al-
nos importante, por desperdício de água. Es- cançar máxima eficiência quando associados a
tes fatores devem ser levados em consideração medidas culturais como a adequação do espa-
para a sustentabilidade da produção. çamento e estande de plantas, a rotação de cul-
Em resumo, para a eficiência e a praticidade turas, o uso de sementes tratadas, o manejo da
do controle do mofo branco em soja com o uso água de irrigação e o uso de palhada, entre ou-
de produtos químicos e biológicos, são desta- tras, vistas como fundamentais na redução das
ques a época, o número, o modo de aplicação estruturas fúngicas na área ao longo do tempo
e a compatibilidade entre eles. Para os quími- e no refreamento da velocidade de aumento da
cos, a primeira pulverização deve ser feita pre- doença durante a safra. Para Trutmann (1985)
ventivamente, na abertura das primeiras flores C. minitans e Sporidesmium sclerotivorum
- estádio Rl (botões florais) nas áreas com o são importantes hiperparasitas de S. sclerotio-
histórico da doença e nas condições propícias rum e a combinação do tratamento biológico
que geralmente coincidem com o início do fe- no solo após a colheita com o enterro profun-
chamento das ruas e o surgimento dos primei- do dos re tos culturais é uma estratégia iável
ros apotécios. Deve-se repetir a aplicação, e as no controle da doença, incluindo ainda o uso
condições persistirem, após um período de de fungicidas durante o culti o .
a 12 dias, variando de acordo com o clima e o Dada a importância econômica recente
ingrediente ati o do produto. de ta doença na cultura da soja, especialmente
64
E!lNANE LEMIJS - Lr.ONA RDO CASTRO - RA rA EL Ass i s

a partir da safra 2008/09 (FURLAN, 2009), têm cv. BRS-231; em local de altitude de 800 m e co m
sido desenvolvidos, no Brasil, trabalho coo- hi tórico da doença, foram avaliados, além dos
perativos de controle químico para avaliar a fungicidas da rede, dois produtos nutricionai a
eficiência de fungicidas para o mofo branco e, base de manganês. Furlan et al. (2010) consta-
mai recentemente, de controle biológico, em taram que a testemunha alcançou 55,0% de in-
d iversas regiões produtoras de diferentes Esta- cidência e 72,5% de severidade e que o controle
dos, com o objetivo de gerar resultados para da doença foi eficiente a partir de aplicações pre-
registro e recomendações de u so dos diferen- ventivas, iniciadas no estádio Rl e reaplicada em
tes produtos (MEYER et al., 2014). A prevalên- duas três ou quatro vezes de acordo com cada
cia de resultados positivos com incidência do ' '
tratamento, com volume de 400 L ha·1 (Tabela 1).
mofo branco nestes ensaios pode ser consta- Mesmo nesta situação de alta incidência e severi-
tada por estes trabalhos, quando evidenciam dade das plantas não tratadas, as pulverizações
as condições de maiores precipitações, mos- permitiram minimizar as perdas de rendimento
trando maiores incidências de plantas doentes e peso dos grãos ocasionadas pelo mofo branco.
em locais de maiores altitudes, principalmente Os fungicidas fluazinam, procimidone, tiofana-
nos e tado de Goías, Minas Gerais e Paraná. to metílico, carbendazim e alguns novos, como
Os resultados destes estudos cooperativos fluopyram, dimoxistrobin + boscalid, pentio-
apontam para a necessidade, em geral, de duas pyrad e os nutrientes fosfito de Mn, e o com-
aplicações dos fungicidas mais específicos posto de macro e micronutrientes mostraram
como fluazinam, procimidone e fluopiram, e benefícios no controle da doença por reduzir a
de um maior número para os menos específi- incidência e severidade dos sintomas (Gráficos 1
cos do grupo dos benzimidazóis. e 2) e no rendimento avaliados pela produtivida-
Dentro dos trabalhos cooperativos, foi de- de e peso de 1000 grãos (Gráfico 3), embora os
senvolvido um experimento no Estado de São dois últimos produtos podem ser considerados
Paulo pelo Instituto Biológico, na safra 2009/10, como supressores da doença.

Tabela 1. Tratamentos de fungicidas e nutrientes e seus estádios de aplicação ,


a partir de R1 (botão floral) em DAA (dias após a aplicação) visando o co~trole do mofo branco (S. sclerotiorum)
na cultura da soja cv. BRS-231 . Safra 2009/1 O. Pilar do Sul , SP.

Produto comercial Ingrediente ativo Estádios de aplicação


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~: ~========---, r- ·~~·
1. Testemunha - - .-J= - - - _

J
1 ,2
~-~Ce
~ rco
~bi~n====~=H=Ti
=3. Carbomax
:;:1=t;:
0 a=na~to~ m=et=fl=
Carbendazim
ico
: :::::::=====jF:~ R--
~1
R1 -=- _ 1Õ
10 DAA
D
~-:
10 DAA _ 10 DAA_..:
=1~ D~ - JI
1O DAf',. _
4. Sumilex
5. Frowncide
Procimidona
Fluazinam R1 =- .J: :"
R1 ____ .... 10 DAA •:=:---·--::--=:::!~=:;::======~
1o DAA
- -

6. Frowncide Fluazinam R1
= 10 DAA 1 ~ 10 DAA ~~=::::;;;;==::
,, -
R1 10 DAA
17~-JVi~
era
~ ngo
~ +~Au
~ reo
~ ~=~~~F~lUOP
~ Y~ra~m
~ ========,iF- = '-
!íl~: ;ª·~Verângo
~~~~~==J~
+_Aureo FI~~~~~=~~=:~f-=.
m I =: R11 -__ :::.. 1_OQ_AA_ 1 1_ 10 DAA
--=~.',==-====:=
9. BASi54.001 F · Dimoxy8_!obin + boscalid R = º DAA_ 1 1

~ -- --=~I•:=;;:==-====::
10. BAS.540Ôf F . Dimo~trobín + boscalid - R1 __ ~ E_AA _ 1~ _AA
----::::::~:=::::::;:-= ~
R1 10 DAA - _
1 ·1~1-JD~P~
x·:i
~1:~Mt 1~7~ = = ~~Pe~nth ~~~ ======,ir~-F ==::===:::....;.;;===:::==;=;;;;;=
~ fop
~ d ~1 _ 1O DAA 1O DAA _
l ·1~2J.D
~P~Xg-.L~E~
13. Ph~"ogard
:::::~ ~ ~ ~~
MJ1r1 :::::::===~~P~en~th~ícm
Mn =:;::::::~~Fosfito
F~
~Ma
~ i ~ ~~ ======7f:=..
de~mangan
~ ~ê~s ~ =1F~1R1
1R17 !t =
-
10 DAA ~- 10 DAA
W Lo\ ~li-'::.. ·1-:. Mac.r:<) e micronutrientes. R1 1
1oDAA- 1 1o DAA -
- ' ' - - - - - - 1 1 . ._ _ _---5
J4. ~ia1..~r .I.Y!.n
4- M OFO BRA CO

ILVÂN IA H ELE A f RI AN

lnddência - % plantas doertes


60

dO
~
o
20

o g, 10 11 12 13
1 2 3 d 5 6 7 8

11.7 3,75 2,5 1 0,37 0,25 0,5 0,25 0 ,37 0 ,12 0,5 0,5 2.25 1
■ R5.1
1,5 0,5 0 ,37 0 ,37 1.12 1 9 d
OR5.3 18.8 6.25 6,25 1,62 1,12 0 ,87
■ R5.5 55 1d,2 1d,5 11,7 52 5 7 6 ,75 2 3,25 8 ,75 d,5 21,2 1'

tratamentos

Gráfico 1. Efeito dos produtos (fungicidas e nutrientes)


na % de plantas (incidência) com sintomas do mofo branco ( S. sclerotiorum)
na cultura da soja , cv. BRS-231 , safra 2009/1 O. Pilar do Sul , SP

% Sevendm:le Mdo Ba100 - RS.1; RS.3; R5.5

8)..,.....-- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

00

40
a)

o
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
5e.l - R5.1 15,3 3 3 1,25 0,37 0,25 1,5 0,5 0,37 0,25 0,75 0,75 4 1,75
■ Se\l R5.3 33,8 6 ,75 9,75 3 2, 122,252, 75 1,75 2,25 2,25 4,75 3,75 15 8,25
o 5e.l R5.5 72,5 21 ,2 3l 12,5 7,5 8, 75 13 12,5 5 6,25 17,5 12,5 33,8 33

Gráfico 2. Efeito dos produtos (fung icidas e nutrientes)


na % de severidade dos sintomas do mofo branco ( S. sclerotiorum )
na cultura da soja , cv. BRS-231 , safra 2009/ 1O. Pilar do Sul , SP.
66
ERNANE L EM ES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

Produtividade (kg ha-1 ) e peso de 1000 grãos (g)

6000

Kg e g 4000 - f----
- - - - ·- ,_ ~

- - - f---- f---

■ kg/ha

2000 ,- - f----
- - ,- - - - - - - - - ,_
□ grãos-g

o ._ =:l__ t=L,.... CL =:J__ t::::L. =:J_ _ t::::J.... =i.... =:J_ :=J._ o__ :=J._ =:J__ t::::J....
1 2 1 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
■ kg/ha 3351 482e 466t 4751 467( 470L 443~ 434E 451( 478( 486!: 465L 4237 444~
□ grãos-g 193 196 199 195 201 205 197 198 200 204 201 201 197 200

tratamentos
Gráfico 3. Efeito dos fungicidas sobre a produtividade (Kg ha- 1 ) e peso de 1000 grãos
na cu ltura da soja , cv. BRS-231 , safra 2009/1O. Pilar do Sul , SP.

Determinado produto alternativo com microclima favorável à doença, aumentam a


potencial de u o no manejo da doença po- everidade do patógeno (LEE et ai. , 2000) , en-
dem exercer ação dire ta obre o patógeno, ou quanto que o uso, por exemplo, dos difenilé-
agir como indutor d e r sistência. De acordo teres como lactofen e acifluorfen em culturas
com Kirkby e Romheld (2007), pe qui as re- tolerantes pode promover uma indução de re-
cente obre fi iologia indicam que os micro- sistência aos patógenos (DANN et al. , 1999).
nutrie nte de empenham importante papel Estes autores verificaram, em três anos de
na re i t'' ncia a e tre es abióticos e bióticos. trabalho, que a ocorrência de S. sclerotiorum
Em oja, re ultado obtidos por Feksa et al. em soja foi menor naqueles tratamentos que
(2 009) obre o u o do micronutriente co- receberam subdoses do herbicida lactofen,
balto e molibd ênio a ociado a fungicida com resultados de melhor supressão da doen-
be nzimidazol indicaram po ibilidade de ça em anos e locais com maior incidência do
u o a ociado para o manejo do mofo bran- patógeno quando comparados com locais de
co. Furlan et al. (2010) v rificaram resultados menor incidência.
positivo de produto a ba e de manganês Hammerschmidt e Del Rio (2000) inves-
(fo fito d Mn) e d macro micronutriente tigaram o mecanismo pelo qual o herbicida
( tart r Mn) no controle do mofo branco e no lactofen induz resistência em soja a . sclero-
r ndimento da oja, ugerindo a importância tiorum e constataram que o mesmo relacio-
d e conhecer m lhor comportamento e o na-se ao acúmulo da fitoalexina gliceolina,
papel d t nutrie nt na defesa da plantas.
em acordo com o trabalho de Sanogo et al.
H rbicida tamb ' m pod m exercer feito (2000) , que con tataram que a supressão da
favorável ou d fav rável a . sclerotiorum , doença cau ada por Fusarium solani f. sp.
induzindo ou inibindo a íntes de fitoalexi- glycine foi atribuída também à produção de
na ou ainda xercendo ação direta obre o gliceolina.
patóg 'no (RIZZARDI
' et al. , 2003 ; GARCIA et
A a ão direta de herbicida foi verifica-
ai., 2013). Algun pod m influ nciar negati-
d a por Casale e Hart (1999) quanto à ini-
vam nte mecani mo d d efe a da planta ,
bi ão in vitro do crescimento micelial de
quando a ociado a fator que propiciam
4- M OFO BRANCO 67

S. sclerotiorum com a adição de metribuzin e branco, visto que o produto biológico utiliza-
diuron em meio de BDA e quando aplicado do no período de pré-plantio visa à coloniza-
ao solo. Ambos reduziram a produção de es- ção dos escleródios, ou , ainda, para o controle
tipes, estrutura que su tentam os apotécios. de outros patógenos de solo. Portanto, a apli-
Atrazina e simazina não afetaram as estirpes, cação destes herbicida de pré-emergência ou
mas os apotécios não se desenvolveram ou de certos fungicidas no início da cultura pode
não produziram ascosporo na presença de- ser viável sem neutralizar a ação do antagôni-
les, o que inviabiliza o inóculo. co quando em uso associado.
A seletividade in vitro de alguns herbici- Ainda, e m áreas produtoras de feijão, foi
das e fungicida para clerotinia, em dife- verificado que o herbicida EPTC inibiu a ger-
rentes concentrações, foi avaliada para duas minação in vitro de e cleródios e a produção
formulações do produto antagônico à base de apotécios quando os escleródio foram
de Trichoderma harzianum. Foram testado imersos em suspensão do produto por um rá-
o herbicidas trifluralina e metolachlor, até pido período ele tempo (FERNANDES et ai. ,
100 ppm do ingrediente ativo, os quai não 1994). A ação in vitro também foi constatada
reduziram ignificativamente a e porulação para fome afen e imazaquin sobre a redução
do fungo antagônico, bem como o fungici- da germinação dos escleródio e na formação
das azoxystrobin e procimidone, com respo - de estipes e para trifluranina sobre a redução
tas semelhantes (F RLA , 2004, dados não do número ele apotécios. Portanto, ele acordo
publicados). Constatada a compatibilidade com Nas er e Spehar (2001), os princípios ati-
destes produtos a T harzianum, o re ulta- vos fomesafen , imazaquin e trifluralina podem
dos podem contribuir para o manejo do mofo ser indicados para o controle do patógeno.

4. Considerações finais
Várias reuniõe e evento que abordaram especial nas áreas de Cerrado com maiores alti-
parcial ou integralmente o tema ' mofo bran- tudes e nos Estados do Sul e Sudeste brasileiros.
co" nos últimos ano , com destaque para a soja Outro agravante é o fato das cultivares não
entre outras hospedeira evidenciam a impor- apresentarem resistência genética. Por outro
tância crescente da doença nesta cultura pelos
lado, espaçamento, diversidades no dossel,
diversos motivo aqui discutidos e de afiam os
porte ou arquitetura e resistência ao acama-
fitopatologistas a conquistar novas técnicas de
mento das plantas podem ser manejados vi-
controle que po am minimizar os custos e os
sando ao menor desenvolvimento da doença.
danos decorrentes. Podemo citar o Encontro
Internacional do Mofo Branco e o Simpósio Sabe-se, no entanto, que tai práticas podem
Brasileiro de Mofo Branco, realizado em 2012 não resultar no rendimento esperado.
e 2014, ambos no Estado do Paraná e coorde- Como esta doença tem caráter explosivo, a
nados pelo prof. Dr. David de Souza Jaccoud começar pelos milhões de ascósporos produ-
Filho da UEPG, como uma grande contribui- zidos em cada apotécio, com grande aptidão
ção dentro da Fitopatologia. e potencial de infecção em períodos chuvoso
Diante do cenário das lavouras de soja com ou áreas irrigada por pivô central, a adoção
o acúmulo de inóculo de Sclerotinia sclerotio- de medidas preventivas e integrada nas áreas
rum nos solos, ao longo destes anos, o proble- com histórico da doença representa uma ga-
ma do mofo branco pode e agravar ainda mais, rantia da produção ainda que ocorram perdas.
pela dificuldade de controle e de ua distribui- Dentro do período crítico entre o floresci-
ção ampla nas diferentes regiões produtoras em mento e a formação das vagens, as flores são o
68
ERNANE L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

elemento chave no processo infeccioso. Portan- e luminosidade, a rotação de culturas, a elimi-


to, desde o fechamento das plantas, os cuidados nação de resíduos de plantas hospedeiras cul-
nas lavouras devem ser reforçados, sobretudo tivadas e de plantas daninhas e o tratamento
em cultivares de dossel fechado e nos plantios das sementes podem evitar epidemias.
densos, nos quais justamente os recursos utili- Nas áreas isentas, o uso de se m entes certi-
zados conduzem a maiores produtividades. ficadas livres do patógeno é obrigatório para
Assim, práticas isoladas de controle não são evitar a sua entrada. Depois de introduzido, o
eficazes, em especial nos solos com elevado custo de produção torna-se elevado, ainda por-
número de escleródios. Por isso, o incremen- que os fungicidas específicos registrados para
to dos microrganismo antagônicos no solo, as o mofo branco não controlam adequadamente
boas práticas culturais que promovam aeração outras importantes doenças da soja.

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Doenças fúngicas de solo
na cultura a soja

Crno H mEKI S UMIDA


Engenheiro Agrônomo, Me ., Dr.
Universidad e Estadual de Londrina
MARCELO G IOVANEITI CANTERJ
Engenheiro Agrô nomo, Me., Dr.
Universidade Estadual de Londrina

1. Características gerais
As doenças na cultura da soja causadas por fungistasia do solo é interrompida quando uma
fungos de solo podem ocorrer nas sementes, fonte de nutriente se torna disponível ao fungo fi-
raízes e colo, tanto na fase inicial de plântu- topatogênico, principalmente carbono e nitrogê-
las como na fase adulta. Dentre eles, os mais nio. Mas os propágulos da rizosfera e rizoplano
comuns são Phytophthora sojae (fitopatógeno são os que normalmente se beneficiam com adis-
oomiceto aqui tratado entre os fungos, porém, ponibilidade de nutrientes, causando a quebra da
pertencente ao filo Oomycota, no reino Strame- fungistasia do solo e, consequentemente, infec-
nopyla), Macrophomina phaseoli, Sclerotium ção do hospedeiro (OWNLEY e BENSON, 2010).
rolfsii, Fusarium spp., Corynespora cassiico- A água do solo influencia diretamente na predis-
la, Rhizoctonia solani, Phomopsis longicolla, posição das plantas ao ataque de fitopatógenos,
Cylindrocladium clavatum e Rosellinia. seja devido ao excesso ou à deficiência de água, à
Esses fitopatógenos de solo são um grupo de duração e à intensidade do estresse hídrico.
patógenos capazes de sobreviver no solo até que O excesso de água ou inundação do solo di-
haja um hospedeiro para infectar, pois possuem minuem a disponibilidade de oxigênio para as
uma fase saprofítica que permite o crescimento e raízes, comprometendo o desenvolvimento da
colonização de restos de cultura. A vida no solo planta (BEDENDO e AMORIN, 2011) ; no caso
para fitopatógenos é regulada por fatores am- de Pythium e Phytophthora, os zoósporos pro-
bientais como temperatura, umidade, oxigênio duzidos são liberados dos esporângios e são dis-
e pH, entre outros, mas, principalmente, pela seminados pelo filme de água até as raízes das
disponibilidade de nutrientes para o crescimen- plantas (BEDENDO, 2011). A temperatura do
to do fungo, desenvolvimento, disseminação e solo afeta diretamente o metabolismo , o cres-
germinação de esporos sobre o hospedeiro. Po- cimento e as interações de plantas, patógenos
dem sobreviver no solo em um estado dormente de plantas e outros microrganismos no solo. Os
como esporos, clamidósporos, escleródios ou patógenos diferem quanto às suas preferências
outras estruturas de sobrevivência. por temperaturas altas ou baixas.
Esse fenômeno é chamado de fungistasia do A maioria das doenças de plantas se desen-
solo, sendo mais comum a poucos centímetros volve mais rapidamente quando temperaturas
da camada superficial do solo, onde o número e altas prevalecem, outras, sob temperaturas mais
a diversidade de microrganismos são maiores. A
frias. O pH do solo também pode influenciar na
7

ocorrência d doen a ele planta , na e tabilida- suscetível e um fitopatógeno agres ivo podem
1 e atividade de antibiótico nzima , na ad- permanecem num si tema inalterado por vários
, orção d ub tância e bactéria para coloides dias, semana ou meses, que só será modifica-
do oi , no equilíbrio entr populações totai do com as condições ambientais favoráveis para
dos fungo ·, na div r idade mi robiana e na dis- cada tipo ele sist ma patógeno-hospedeiro. Tais
ponibilidade de nutriente min rai para plantas alterações podem influenciar drasticamente o
e microrganismos ( W LEY BE ON, 2010). de envolvimento de uma doença, ou o início de
Para uma doen ·a de ·envolver-se, uma nova doenças, ou até epidemias. Naturalmen-
combina ·ão d trê fatores de e ocorrer: sus- te, uma mudança nos fatores ambientais pode
cetibilidade da planta, fit patógeno infectan- favorecer tanto o hospedeiro quanto o patóge-
te ambient favoráv l. Portanto uma planta no, ou até ambo (AGRIO , 2005).

2. Podridão radicular de fitóftora


(Phytophthora sojae Kaufm. & Gerd) Oomiceto
A doen a foi con tatada pela primeira vez relacionado com maior teor de umidade do
no Brasil na afra de 1994/95, em Pa o Fun- solo, principalmente após chuvas pesadas na
do (RS). a afra 2005/06, foi re pon, ável por fa e de emergência. Em áreas infestadas, é mais
falha, de e tande m muito - municípios do comum em locais de solo compactado, como ca-
R e da região Oe te do PR (ALMEIDA et a!. , beceiras de lavoura (EMBRAPA, 2013). Durante
2005 : EMBRAP , 201 ). Pode afetar a cultura a pré-emergência, ocorre apodrecimento de
m qualquer fa. de de envolvimento, causan- sementes ou flacidez na radícula, que adquire
do apodrecimento de plântula em pré e em coloração marrom. Sementes infectadas germi-
pó - mergência, tombamento de plântulas ou nam lentamente e, quase sempre, as plântulas
podridão radicular e de ha te em planta adul- morrem durante a emergência, com hipocótilo
com aspecto de anasarca e coloração escureci-
ta (DHI GRA et al., 2009) .
da. Nesta fase, os sintomas são idênticos ao tom-
egundo chmitthenner (1999 apud CO - bamento causado por Pythium sp.
T MILA et a!. 2010), a doença pode causar
Durante a emissão da folha primária, a extre-
redução de rendimento de grão de até 100%
midade da raiz principal torna-se flácida e mar-
em cultivare altamente u cetívei . Wrather e rom. Essa descoloração estende-se e envolve o
Koenning (2009) realizaram uma e timativa hipocótilo até o nó cotiledonar, ocorrendo o co-
da perda cau ada pela ocorrência de podri- lapso do tecido. Na sequência, as folhas tornam-
dão de fitóftora no período de 1996 a 2007, -se amareladas, murcham e a planta seca e mor-
relatando perda de 14 5 milhõe de tonelada re (ALMEIDA et al. , 2005; COSTAMILAN et ai.
no E tado nido de um total de 129 mi- 2010). Plantas mais desenvolvidas morrem lenta-
lhõe de tonelada em perda , ornando-se a mente, apresentando folhas com amarelecimen-
maioria da doença da cultura da oja. ão se to e seca de tecido entre as nervuras, seguindo a
tem e timati a de perdas cau ado por e sa murcha completa e a seca dos tecidos, permane-
doença em oja no Bra il, ma Rei (2012) rela- cendo as folhas presas às plantas. Há destruição
ta perda de até 40 % no E tado nido · quase completa de raízes secundárias e apodre-
perdas são decorrente de falhas de e - cimento da raiz principal, que adquire coloração
tande e da redução de peso e de produção de marrom escura. O sintoma característico é 0
grão . Além do R e do PR, planta doentes tam- aparecimento, no exterior da haste, de tecido de
, foram observadas em e e em MS. Maior cor marrom-escura, que circunda a mesma des-
bem
, diretamente de o solo e, frequentemente, progride ao longo
desenvolvimento da d oença e ta
5 - D oE ÇAS FÚNGICAS l)E SO LO NA cu ,:ruRA A SOJA 75
Crno H11)EK1 UMIDA - MAHCHLO G1ovANEn1 CANTE1u

desta e da haste laterai em direção ao topo da quantidade de KCl também ão fatores p~edis:
planta, por veze alcançando até o décimo nó. ponente (REI , 2012). A temperatura ot1ma e
Os tecido apodrecido da raiz e da ha te perma- de 25 º C para germinação direta, 14 º C para a
necem firme . Frequentemente, o tecido escure- indireta 20 º C para a produção de zoósporos e
' ,
cido na ha te fica recoberto de micélio, principal- para formação e 24 ºC germinação de oosporos
mente de Fusarium spp., levando à confusão na ( CHMITTHER ER, 1999; REIS, 2012).
identificação do agente causal (CO TAMILAN et Práticas culturais como preparo reduzido
ai., 2010; EMBRAPA, 2013). de solo, plantio direto, monocultura de soja e
Essa podridão radicular é mais comum em aplicação de altas doses de fertilizantes orgâ-
solos argilosos, pesados, fortemente compacta- nicos ou de potássio imediatamente antes da
dos, com pé-de-arado superficial, que são sujei- semeadura podem tornar a doença mais se-
tos à saturação e à inundação. Inundação por vera (EMBRAPA, 2013). Portanto, para o con-
chuva durante uma semana apó a semeadura trole efetivo da podridão de raiz de fitóftora,
cria condições favoráveis ao desenvolvimento recomenda-se o uso de cultivares resistentes,
da doença. Em áreas com plantio direto com melhoria nas condições de drenagem do solo e
solos mais compactados, monocultura e alta aplicação de fungicidas (ALMEIDA et al. , 2005) .

3. Podridão de carvão da raiz


(Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid)
A ocorrência desse patógeno foi relatada ção, visto que o patógeno pode ser transmitido
pela primeira vez no Brasil em raízes de feijão por sementes e é um habitante natural dos so-
(EMBRAPA, 2014 apud BITANCOURT, 1935). Na los. Radículas infectadas apresentam escureci-
cultura da soja, essa doença teve sua importân- mento. A evolução da infecção é facilitada por
cia negligenciada por diversos anos, por apare- condições de déficit hídrico do solo, quando as
cer nos estádios finais de desenvolvimento da plantas apresentam fraco desenvolvimento e as
cultura e pelos primeiros relatados de danos ex- folhas ficam cloróticas. Após o florescimento,
pressivos em soja terem ocorrido somente a par- ocorrendo déficit hídrico, as plantas tornam-
tir do final da década de 70 (EMBRAPA, 2014). -se inicialmente cloróticas, secam e tornam-se
É a doença radicular mais comumente marrons, permanecendo aderidas aos pecí-
encontrada nas áreas cultivadas com soja, sendo olos. Nessa fase , as plantas retiradas do solo
causada pelo fungo Macrophomina phaseolina apresentam raízes de cor cinza, cuja epiderme
(Tassi) Goid. Os danos são variáveis, sendo mais é facilmente destacada, mostrando massa de
severos em anos secos. Nas lavouras onde o pre- microesclerócios negros (EMBRAPA, 2014).
paro do solo não é adequado, permitindo a for- A podridão radicular causada por M. phase-
mação do pé-de-grade, as plantas desenvolvem olina ocorre em 1.408 espécies de plantas culti-
sistema radicular mais superficial, não suportan- vadas, nativas e invasoras, inclusive gramíneas,
do veranicos (ALMEIDA et ai., 2005). Segundo como o milho e o sorgo. Esse fato sugere que M
estimativas realizadas por Wrather e Koenning phaseolina não apresenta especificidade à hospe-
(2009), as perdas causadas pela ocorrência de
deiros (BOARETTO e DANELLI, 2012). Apresenta
Macrophomina phaseolina na cultura da soja
micélio uninudeado, embora células das extre-
nos Estados Unidos, no período de 1996 a 2007,
midades do micélio sejam usualmente multinu-
totalizaram 9 milhões de toneladas em perdas.
cleadas. A formação de picnídios não ocorre em
A infecção das raízes de soja por M. phaseo- todos os hospedeiros, mas foi descrita em soja,
lina pode ocorrer desde o início da germina- feijão e juta. Os picnídios são globosos e negros,
76 DOI ! <, A... l>A S OJA: Ml!LIIOIIAM l!NTO <,l!N(rn <:o I! T((<.N IC .A', 1)1' MAN I~

Eu ANI! L HMI' " - L HONAIU)O ; A!<i'l'r<CJ - HA11M11 A 'i'1 11,

a)m tamanhc variá "' "ntr · JOO µ,m a 2 Oµ,m . s pot ·n 'ial hídri , > aum · ta a su. · ·til ili la ·
pi nidí <ip r . são uni ·lular •!, • híalin< s. a · plantas • r · lu z a · · ' · r< rg r i. -
Em t • id >S in tad s, o ng > prc I z m s antag( ni · s (AL 10 .
micr ·~ ·J ·r ( li s, '> quais sã a pri n ·ipal fon • p, ra ·o trol · da I< ·n a, · ,. · · >m ·n la lo
t • d ín' u lc de" · pat , g • >. ( s mi ro ·s ·I ·- o tratai ·nt 1 • s ·m ·nt ·s, rc ta ;ãc 1 • • lt ras
rf: dío !,ão · tru uras m lti ·lular ·s, lu ras · ·om •sp • ·I ·s nãc hosp • 1·i ras ~ =vitar a luha .,
r<: i"t ·nt ·s , ·ondi ·ô ·s a lv ·rsas. Em ·< ntato ·x ·ssíva (J J JJ (iHA t ai., 200 ) . A ·eh ·r ur·
< m a planta, alguma e ~lulas g ·rminandc · lo "iolo ·em r ·stos 1· ·ult ra, ' ompanha la 1 ·
ini · tan lo plama cm p rí do~ d ifi rc nt '!-i . A hom man ~;o ísi ·o • quími dos lo, m< s ra-, •
long vida e t ~n 1• a diminuir · m o t ·mpc nc ·fi ·az, por r · luzir hí lri ·o , liminuin-
se lo. Em ,ol ,. úmid >., a , >brc iv'·n ·ia<: re lu• do a pr .,di ·posi ~- das planta! ao ataqu · d · M .
zida d · ·,do a baixa oxig ·nação d > ',O)o . iai x , pha eoltna (A LM hlJ A et ai., 2005) .

4. Podridão vermelha da raiz (Fusaríum spp.)


Ec,. a docn ·a foi ob ·rvada pela pnm ·ira 20J 3). s ·intoma r~fl x na parte aérea de
,·cz na ~afra 1981 82 . cm <;ão C,otardo (M j), folha-carijó ·ão emelh ante a cau ad p r
e n ontra- e díc, emina<la cm praticamen- Diaporthe pha eoiorum var. meridionalis,
te t d~ a~ regiôe produtora.~ (ALM :IDA et (cancro da ha te), Cadophora (Phíaiophora)
ai.. 2(J05 J. podridão vermelha da raiz ( PV R) gregata (p dridão parda da medula), Rhizoc-
o orre cm rcbokiras ou de forma generalizada tonia croccorum , Heterodera glycines e fitoto-
na lavoura. O ·intoma de infecção na raiz ini- xidade por tebuconazol. O sintomas iniciais
cía com uma man ha avermelhada, mai vi ível aparecem na folha como manchas cloróticas
nt1 raiz principaL geralmente localizada um a entre a nervura ( CA DIA I et ai., 2012).
doi centímetro abaixo do nível do ·olo. E a
mancha e expande, ci rcunda a raiz e pas a da Como medida de manejo da doença, reco-
coloração vermelho -arroxeada para ca tanho menda- e evitar emeadura em solos compacta-
a ermelhada. depoi para quase negra. E a do e mal drenado . o Bra il, não há cultivares
necro e acentuada loca1iza- e mai no tecido resi tentes. Safra chuvosas e semeadura direta
cortical , enquanto que o lenho da raiz adquire favorecem a incidência da doença (Embrapa,
coloração, no máximo, castanho-clara, e ten- 2013). ão existe controle químico adequado
dendo- e pelo tecido lenho o da haste a vário para podridão vermelha da raiz (DIA ESE et
centím tro acima do nível do olo (EMBRAPA, ai., 2010 apud HARTMAN et ai. , 1999).

5. Tombamento e murcha de esclerócio (Sclerotíum rolfsii Sacc.)


E ta doença é mum em todas as regiõe as planta infectada , ocorre a presença de um
pr dutoras de ja no Brasil. fungo ' re iden- micélio branco, com pequenas estruturas esfé-
te do 1 , p rtanto orre cm p nto i olad ricas branca a ca ranho-escuros (escleródios)
ou em reboleiras. O ag nt ú l ' gi o pr duz com aproximadamente 1 mm de diâmetro.
uma ari d.ade d ~ íntom na ja, endo de Infecçõe em planta adulta e de envol-
valor diagn ti o ~ mbamento das plântulas vem também na linha de olo e na raíze u-
m pr ' pó - mergência, a p dridã de raíz perfi iai , provocando podridão de raíze e na
e da ha t b ai das plantaS mai clha . a fa ba e da haste (DRI GRA et ai. 2009) . o in-
d plântula, as 1 - ~ .. ini iam na Jinha d t mas vi ívei na part aér a da planta ou
lo, r ultand numa p dridã m le .. aqu a. •int ma r .. fl xo ·, manif ·tam- em rgã
5- J Jl!Nc; A11 11(JN<,H .A., 1m 'Hl W NA 1 1J1;11 111A A l\t1J A 7'
Cruo J f 11 rn1< 1 S 1JMll >A - M All< ,l'w ( , 111vAN1q ·11 ,AN''"'"

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i ·ia is ma Jfi ·. a - · f , r J ·v · amar jJ • ·lm ·n- " • • HHH,, 201 2~ ).

6 . Podridão da raiz de Rhizoctonia (Rhlzoctonla solanl J.G. KOhn)


J > ·n p > 1 • e ·orr ·r ·m Iualq ·r
·a <.J _.
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p róxima ao nív "J d s l , _. :; t Cànd Cà m• · · para --ratur' a t --mp
baíx _. p ara cima. Em fas _. post .. ri r, o ist "· o PJanalt p
m a radí ·ular ganha uma · 1 raçã ca tanho- HS, PJanaJt m "' O S P
Paran á ' A . 11 ·, 201 2b).
- Jsc u ra e o te ido e rtícal fica mole · _. sol-
ta e m facilidade, exp nd um lenh firme e A everídad · / ainda m aio r em
d e c lo raçã branca e castanho-clara. corre ciente em álcio, fi rr , magn é i , nítr g ni .
caracterí tico e trangulament no n ível do fo for u a combina ão d t · minerai .
ol , re ultando em murcha, to mbamento u tógeno o brevíve em ol e m livr r cimen
sobrevivência temporária, com a emis ão de to mie líal e col nização de material orgânico
r aíze adventícias acima da região afetada. Em condiçõe ó tim a , a everidade d a doença t
O tombamento ocorre entre a pré-emer- proporcional ao p o tencial d e inóculo no solo
gê ncia e 30-35 dias após a emergência, sob A taxa de tran m i ão d o fungo p or emente .
condições de temperatura e umidade relativa baixa e ua importância na epid m ia é duvido a
elevadas. A morte em reboleiras é observada ge- A ocorrência e a everidad e do tombamento po1
ralme nte após a floração, em áreas recém-aber- R. solaní podem ser reduzidas por tratamentc
tas, sendo raramente detectadas em campos de sementes com fungicidas para proteger con
cultivados por mais tempo. A doença é favoreci- tra o fungo presente no solo, manejo de resto~
da por temperaturas amenas, com ótimo entre culturais, melhoria da e trutura físico-químin
25 ºC a 29 ºC, embora perdas severas já tenham do solo, rotação de cultura com gramíneas t
sido relatadas nas temperaturas de 15 ºC a 24 ºC. boa drenagem do olo (DRI GRA et ai., 2009).

7. Manejo para doenças radiculares


O controle das doenças por meio da resis- resistentes é limitado. Portanto, a convivêncü
tência genética é a forma mais econômica e econômica com as doenças depende da adoçãc
de melhor aceitação pelo agricultor. As vanta- de vária estratégias compondo assim o maneje
gens da resistência de plantas incluem redu- integrado de doença (EMBRAPA 2013).
ção ou eliminação de aplicações de produtos A integração das prática culturais result2
para o controle da doença, compatibilidade em alta produti idade, eliminação ou supres·
com outras práticas de manejo e a natureza de são de er a daninhas in etos e fitopatóge·
longa duração de vários genes de resistência no m geral. Prática culturais como eva-
(OWNLEY e BENSON, 2010). Entretanto para ão rotação d cultura manejo ' de resíduos
um grande número de doenças, não exist m ou r t? culturais, man jo d e água, manejo
cultivar resist nte ou o m'.'unero d culti ar d ulti o práti a anitária p ara fitop ató -
78
ERNANE L EMES - LEO NARDO C ASTRO - RAFAEL Ass1

genos do solo, têm sido ú teis em limitar do- à ocorrência de estresse hídrico evita condi-
enças causad as p or fungo s de solo. Semear ções de secas durante o enchimento de grãos
cultivares precoces com maturação anterior (OWNLEY e BENSON, 2010).

8. Melhoramento genético para resistência


Um dos mais importantes desafios no bir sua patogenicidade; b) transferir genes de
melhoramento de plantas é aumentar a resis- resistência qualitativa ou de defesa; e c) trans-
tência aos patógenos que ameaçam as nossas ferir genes do próprio patógeno que, uma vez
culturas. Os problemas cada vez maiores da expressos, estimulem o sistema de defesa da
população mundial, mudand o populações de planta (CAMARGO, 2011).
patógenos e fungicidas de resistê ncia, aumen- Além de um influxo vital de novas fontes de
taram a urgência dessa tarefa. resistência em programas de melhoramento, a
Além do melh oramento de plantas tradi- caracterização funcional e implantação de resis-
cional, abordagens transgênicas também es- tência também precisa de melhorias. Por isso,
tão sendo desenvolvidas na tentativa de gerar melhoristas precisam adotar novas estratégias
plantas resistentes aos seus patógenos. Esta e técnicas. No melhoramento genético moder-
abordagem não se propõe a substituir, mas no, efetores estão emergindo como ferramentas
sim a se juntar às estratégias tradicionais de para acelerar e melhorar a identificação, carac-
melhoramento. As estratégias usadas na resis- terização funcional e implantação de genes de
tência engenhada podem ser agrupadas em resistência. Os trabalhos com efetores de pató-
três grandes categorias: a) usar genes de mi- genos têm contribuído para o melhoramento
crorganismo planta ou animais que interfi- de plantas clássico, assim como para transgêni-
ram na fi iologia do patógeno, de modo a ini- cos (VLEESHOUWERS e OLIVER, 2014).

9. Resultados de pesquisa e perspectivas


Pe qui a mais específicas e detalhadas marcadores fenotípicos ou baseados em DNA, a
ão de en ol ida para o controle da podri- proteômica fornece informação em nível molecu-
dão de raíze de Phytophthora sojae. O re- lar da variabilidade genética que é efetivamente
flexo di o é o grande número de materiais expressa do genoma (PENNINGTON e DUNN,
re i tente no mercado. 2001 apud SALVATO e CARVALHO, 2010).
Muito trabalho de proteômica vêm sen- Proteínas e outras moléculas envolvidas na
do realizado para caracterização de proteínas depredação de barreiras químicas e físicas (cuti-
produzida por P. sojae. Trabalho como de nases ou enzimas que degradam a parede de
han et al. (2003) o et ai. (200 ) avidor plantas), detoxificação de substâncias de plantas
et ai. (2008) Zhang et ai. (2011) Xiong et ai. (fitoalexinas) produção de toxinas e a formação
(201 ) Zhang et ai. (2015) e Gao et ai. (2015). de estruturas de infecção são considerados de-
terminantes potenciais da patogenicidade (VAN
prot ôntica vi a a caracterizar o conjunto
WE T et ai. 2003 apud COSTA, 200 ).
d prot ínas expressas e urge como mai uma
ramificação entre as ômicas para complemen- Moléculas derivadas de microrganismo pa-
tar o tudo obre a biologia molecular das togênico têm como atividade intrínseca intera-
células LKI et al. 1996 apud ALVATO gir com o ho pedeiro e a im infectar uas cé-
CAR '.ALHO 2010). É também uma podero a lulas. Patógeno de plantas ecretam uma asta
ferramenta no melhoramento genético pois dife- quantidade de efetore que coleti am nte pro-
rentemente do que ocorre quando ão utilizado mo em ua virulência em ho pedeiro u cetí-
79
Cmo Hrn EKI UMIDA - M ARCE LO G1ovA m , C ANTE RI

veis. Alguns efetores, tais como toxinas, podem Segundo Xiong et ai. (2014), cada genoma
difundir para seu sítio alvo, enquanto outros de Phytophthora codifica centenas de prote-
efetores, tais como proteínas secretadas, atuam ínas, ou seja, efetores citoplasmáticos que são
ou na zona de infecção, do lado de fora do pa- translocados para dentro da célula da planta, os
tógeno e fora das células hospedeiras (apoplas- quais, possivelmente, induzem a uma resposta
to) , ou dentro das célula hospedeiras (citossol) de hipersensibilidade contra infecções desse pa-
(MACKEY e McFALL, 2006 apud COSTA, 2007). tógeno. A maioria dos efetores de Phytophthora
Esse efetores manipulam a estrutura e função permanecem funcionalmente descaracteriza-
d a célula hospedeira, facilitando a infecção (fa- dos, mas pesquisas recentes têm sido realizadas
tores de virulência ou infecção) e/ou induzindo para caracterizá-los. Xiong et ai. (2014) desco-
re postas de defesa (fatores de avirulência) (KA- briram dois efetores de P. sojae com atividade
MO UN, 2006 apud COSTA, 2007). para suprimir RNA silenciador em plantas e re-
Um efetor que desencadeia uma resposta lataram que o PsPSR2 pertence a uma família de
necrótica pode funcionar como um elicitor que efetores do gênero Phytophthora que realizam
limita a infecção por um patógeno biotrófico, já importantes funções de virulência.
que esse necessita das células vivas para se de- Gao et ai. (2015) realizaram um estudo e
senvolver. Por outro lado, isso pode facilitar a identificaram um gene denominado PsMPK7,
infecção por um patógeno necrotrófico e, então, um dos 14 possíveis genes que codificam pro-
funcionar como uma toxina. Em hemibiotrófi- teínas quinases ativadas por mitógeno, que
cos, como Phythophthora, um efetor pode ter funcionam como transdutores de sinais fun-
diferentes efeitos na interação, dependendo se damentais para adaptação, sobrevivência e
ele é expresso durante a fase biotrofica mais pre- infecção de P. sojae. O silenciamento gênico
coce ou no estádio necrotrófico mais tardio da de PsMPK7 afetou produção de oósporos e a
doença (KOMOU , 200 apud COSTA, 2007). patogenicidade em soja.

1O. Fontes de resistência


Utilização de culti ares resistentes é a ma- a severidade não será tão elevada quanto nas
neira mais eficaz de manejar a podridão de raiz cultivares altamente suscetíveis.
de Phytophthora causada na cultura da soja, as- Em ensaios de campo realizados em Ne-
sim como a maioria das doenças. A resistência braska, observou-se uma boa resistência par-
genética no hospedeiro é expressa em termos cial, bem como em cultivares com genes de
de genes RPS ("resistência à Phytophthora so- resistência e cultivares com resistência parcial.
jae") . Os genes específicos à raça garantem uma Em campos onde P. sojae é agressivo contra os
resistência completa a uma determinada raça de genes de resistência disponíveis em cultivares
P. sojae e os genes são denominados como RPS comerciais esta é a única opção para contro-
la, lb, lc ld lk 3 6, . uma reação de resis- le genético. Se possível uma boa combinação
tência completa a planta sobrevive à infecção e de resistência parcial e um gene RPS são reco-
cultivares suscetíveis são mortas quando ocorre me?d:dos. Somente a resistência parcial não
infecção. Resistência específica à raça é eficaz sera tao eficaz durante a fase inicial de cres-
nas fases iniciais de germinação. Outro parâme- cimento sob alta pressão de inoculo ou alta
tro em que culti ares de soja são classificados severidade (GIESLER 2014). Sugimoto et ai.
para P. sojae é resistência parcial (também cha- (~012) ha i~ relatado sobre as raças patogê-
mado de resistência de campo ou tolerância). mcas de P. so1ae nos EUA e Japão e a seleção
Cultivare de oja com alto ní eis de resistência de fonte de genes Rp ou genes menores que
parcial podem er infectados com P. sojae mas oferecem a upracitada re istência parcial.
80 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GENÉTICO E TÉCNI AS DE MAN EJO

E RNANE LEMES - L EONARD O C ASTRO - RAFAEL Ass,s

De acordo com Costamilan et al. (2010), mesma reação em todos os três conjunto s de
no total, são relatados 14 genes de resistência diferenciadores de soja para Rpslb, Rpslc, Rp-
dominantes (genes Rps) em oito loci, com u ma slk, Rps3a, Rps3b, Rps3c, Rps6, Rps7, e em di-
série alélica em dois destes loci: Rpsl (la, lb, ferenciadores Harlon, Harosoy 12xx, 159-731,
lc, ld e lk), Rps2, Rps3 (3a, 3b e 3c), Rps4, e da União para Rpsla. 188-8470 usado como
Rps5, Rps6, Rps7 e Rps8, esse último mapeado um diferenciador para Rpsla e 193-3312 usado
por Burnham et al. (2003). para Rpsld não tiveram a resposta esperada.
Entre as linhagens de soja, cada uma contém Isolados das raças 4 e 25 de Ohio e Indiana
um gene de resistência diferente (Rps), e as linha- responderam de forma diferente sobre os dife-
gens são utilizados como diferenciadores para renciadores com o gene Rps2 porque este gene
caracterizar isolados de Phytophthora sojae em não foi usado anteriormente para caracteri-
raças fisiológicas. Em testes realizados em dife- zar raças de P. sojae. Uma reação semelhante
rentes regiões de produção de soja, têm sido uti- ocorreu quando os diferenciadores com Rps4
lizados vários conjuntos de diferenciadores para e Rps5 foram inoculadas com isolados das ra-
transportar os mesmos genes Rps. Em alguns ca- ças 1 e 7, respectivamente. Recomenda-se um
sos, isolados de P. sojae têm sido relatados como conjunto padronizado de diferenciadores de
tendo reações diferentes quando avaliados em soja, o que corresponde a diferentes grupos de
laboratórios usando diferentes conjuntos de di- maturação, por treze dos quatorze genes Rps
ferenciadores que se acreditava terem o mesmo (DORRANCE et al. , 2004)
gene Rps (DORRANCE et al., 2004). Até 2007, havia sido observado que os ge-
O objetivo do trabalho de Dorrance et al. nes Rpsla e Rps7 não eram efetivos para isola-
(2004) foi comparar a consistência da classifi- dos brasileiros de P. sojae. (EMBRAPA, 2013).
cação das raças, quando três d iferentes con- Mas Costamilan et al. (2010) mostram as rea-
juntos de diferenciadores de soja foram testa- ções de cultivares de soja da Embrapa ao teste
dos com um conjunto comum de cinco raças de resistência completa à Phytophthora sojae,
de P. sojae de Ohio e Indiana. Isolados das ra- usando-se isolado com fórmula de virulência
ças 1, 3, 4, 7 e 25 de Ohio e Indiana tiveram a compatível aos genes Rpsl e Rps7.

11. O Futuro dessas doenças para as condições do Brasil


A patogenicidade, em função dos vários fa- BRS 388RR, BMX POTÊNCIA RR, BMX TURBO
tores determinantes no processo de doença, so- RR e muitas outras.
fre alterações constante no decorrer dos anos, No entanto, para outras doenças comenta-
principalmente se tratando da grande diversida- das anteriormente no capítulo, causadas por
de das condiçõe ambientais observadas nas di- fungos de solo, não existem muitas cultivares
ferente regiões brasileiras, caracterizando um resistentes no mercado. Mas, num futuro não
muito distante, em geral, existe uma tendên-
processo muito dinâmico no desenvolvimento
cia de aumento do desenvolvimento de culti-
de cultivares resistentes às doenças.
vares resistentes às doenças, principalmente,
Atualmente muitas cultivares comerciais com o auxílio dos resultados de pesquisas da
'
de soja com excelente níveis de resistência à genômica e proteômica, mais detalhados e
podridão de raízes de P. sojae estão di poní- específicos sobre a identificação e caracteri-
veis no mercado como a cultivares BRS 257, zação de genes de resistência e centenas de
BRS 262 , BRS 361, BRS 359RR, BR 360RR, efetores produzidos pelos patógenos.
5 D OENÇAS FÚNGICAS DE SOLO A CUL11J RA A SOJA
Cmo HmEJa SuMIDA - MARCELO GrovANETII C ANTE RI

12. Referências bibliográficas


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Fitobactérias na cultura da soja

R OBERTO FILHO
Engenheiro grono mo e. Dr.
ni ersidade Federal do Rio Grande do ul

1. Introdução
Fitobactérias são um dos principais agentes os problemas com bacterioses de plantas são
causadores de doenças em plantas e podem grandes e há centenas de espécies já relatada
ser amplamente encontradas causando enfer- que acarretam perdas de graus , ariá, eis em
midades às culturas mais relevantes do globo culturas de alor economico (ROBBS et ai.
(GOTO, 1992; JANSE , 2006; KADO, 2013). To- 1982· ROMEIRO e RODRIG ES ETO 2001 ·
davia, algumas são de importância negligenci- ROMEIRO 2005).
ável, seja por afetarem hospedeiros de pouca O crestamento e a pústula bacteriana são
importância econômica ou ocorrerem espo- causadas por Pseudomonas savastanoi p . gly-
radicamente e em tão poucas plantas que são cinea (COERPER 1919· GARDA et ai. 1992)
quase uma curiosidade (ROMEIRO, 2005). [sin.: Pseudomonas syringae p . gl cinea (CO-
Adaptadas às diferentes condições ambien- ERPER 1919· YO Getal. 19 8)] eXanthomo-
tais e extremamente versáteis em termos de nas a:xonopodis p . glycines (NAKAl~O 1919·
metabolismo, fitobactérias podem facilmente VAUTERI et ai. 1995) [sin.: Xanthomonas
modificar seus mecanismos de ataque ou defe- campestris p . glJcines (I AKANO 1919· D e
sa ao sabor das alterações do ambiente (PRES- 19 8b)] respect.i amente e são as doenças que
TON et ai. , 1998; BOCH, 2009; RICO et ai. mais acometem a produção de soja [Gly cine
2009). Essa plasticidade adaptativa se reflete max (L.) Merr.] em todo o mundo (WRATHER
na capacidade de certas estirpes suplantar are- et ai. 2001). o Brasil essas enfermidades são
sistência de cultivares recém-introduzidas ou prevalentes nas principais regiões produtoras
mesmo driblarem a ação tóxica de compostos de soja e podem ocasionar surtos epidêmicos
químicos (COOKSEY, 1990; GRENNAN, 2006; quando da ocorrência de condições fa oráveis
BONDARCZUK; PIOTROWSKA-SEGET, 2013). e uso de cultivar suscetí el. este capítulo são
Isso torna esses patógenos agentes causais de apresentados os aspectos relevantes sobre es-
doenças de difícil controle o que pode resultar sas doenças que ocasionalmente têm causado
em prejuízos econômicos relevantes devido ao problemas à cultura da soja nas principais
insucesso das práticas de manejo. No Brasil, regiões produtoras do país.

2. Crestamento bacteriano
A doença é uma das mais comuns e é tipifica- longo do tempo apresentam coloração marrom-
da pelo surgimento de pequenas lesões enchar- -escura circundada por um halo erde-amarelado
cadas de aspecto translúcido (anasarca), que, ao (Figura lA) (SINCLAIR e HARTMAN, 1999). Com
84 DOE ÇAS DA SOJA: MELI-IORAME TO GENÉTICO E TÉC ICAS D E MANEJO

ERNAN E LEMES - LEONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

o progresso da doença, as lesões aumentam, as- e STALL, 1985). No Brasil, foram descritas oito ra-
sumindo formato angular, e tornam-se numero- ças, das quais cinco são similares às raças 2, 3,
sas, coalescem, surgindo extensas áreas de tecido 4 6 e 7 descritas nos Estados Unidos e às raças
morto de aspecto seco-quebradiço (Figura lC) 10, ' 11 e 12 (FERREIRA, 1984; LONG et al. , 1985;
(DAMICONE, 2009). As folhas podem ter condi- FERREIRA e ROMEIRO, 1986; FERREIRA, 1986).
ção rasgada ou perfurada em decorrência da que- O aumento populacional da fitobactéria no
da dos tecidos mortos (Figura lB) (DAMICONE, campo está diretamente relacionado à manu-
2009). Folhas jovens são mais suscetíveis à infec- tenção de temperaturas amenas (20 a 26 º C) e
ção, por is o a doença é primeiramente notada umidades superiores a 70% (COERPER, 1919).
no topo das plantas (DAMICO E, 2009). Esta ca- A disseminação do patógeno planta a planta é
racterística é diferente de outras doenças foliares favorecida por precipitações acompanhadas por
da soja, tais como a ferrugem e a mancha-parda, ventos, o que permite formar um aerossol de
que iniciam em folhas mais velhas (baixeiras). Em gotículas d / água contendo células bacterianas a
condições favoráveis manchas negras podem ser serem transportadas (Figura 2) (McGEE, 1992).
ob ervadas em hastes, pecíolos e vagens. as pri- A fitobactéria associada à semente é a principal
meiras horas do dia e em condições de alta umi- fonte de inóculo em áreas indenes, bem como
dade, pode er observada uma pequena película inóculo primário para o caso do sucesso da
brilhante sobre as lesõe foliares, o que configura transmissão à plântula (DALFT e LEBEN, 1972).
exsudação de natureza bacteriana. Neste caso, os cotilédones provenientes dessas
P. savastanoi pv. glycinea em presença de sementes podem apresentar lesões necrosadas,
um filme d/ água obre a superfície foliar, pode a partir das bordas, logo após a emergência. A
penetrar em fração de segundos através dos es- infecção evolui pelas folhas unifolioladas para
tômato ou ferimento . Quando isolada, sobre as trifolioladas. Restos culturais também ser-
ágar nutriente, as colónias ão brancas, elevadas, vem como fonte primária de inóculo para a
circulares brilhantes, lisas de bordo regulares, próxima estação de plantio (KENNEDY, 1969;
mas não apresentam viscosidade (Figura 1D). A fi- SCH STER, 1977; BASU, 1986). Isso porque a
tobactéria po sui 10 raças f15iológicas já descritas, fitobactéria pode pa ar para as folhas unifolio-
numeradas de O a 9 (THOMAS e LEARY, 1980; ladas (primárias) e destas para as demais ou di-
G .......... ICKAM e WARD, 1982; K CHAREK retamente para as primeiras trifolioladas.

Figura 1: Sintomas em folhas de soja


[Imagens co rtesia de Damicone (2009)]
e morfologia das colônias (Imagem
cortesia de lgnjatov et ai. (2007)) .
(A) Sintoma inicial do crestamento
bacteriano, com manchas de halo
amarelo e centro marrom ; (8 ) Lesões
coalescidas e de aspecto rasgado ou
perfurado em decorrência da queda dos
tecidos mortos; (C) Numerosas lesões
de bordos amarelados na face abaxial ,
evidenciando o avançado estádio da
doença; e (D) Colônias de P. savastanoi
pv. glycínea, em ágar nutriente , de
pigmentação branca , elevadas,
circulares, brilhantes, lisas e de bordos
regulares .

'
6- FITOBACTÉRIAS A CULTURA DA SOJA 85

Fitobactérias sobrevivem como


populações epífiticas na
superfície foliar, sem
causar doença

Fitobactérias penetram
através do estômato
são formadas próximas aos
estômatos e tricômas

Fitobactérias podem . Plântula infectada


ser transportadas via pode gerar planta
chuva-vento para doente
plantas sadias

Resto de cultura é
fonte de lnóculo

Fltobactérias associadas às
para plantas sadias sementes podem originar
plântulas infectadas

Planta de soja com crestamento


bacteriano e fitobactérias
sobrevivendo em resto de cultura

Figura 2: Ciclo do crestamento bacteriano causado


por P. savastanoí pv. glyclnea (Imagem cortesia de Lanna Filho, R) .

D natureza epifítica, a fitobactéria pode davia, p r haver pel m "nos Jt raças da fí-
obreviver em planta a intomática e iniciar tobactéria pre. ente n Bra il, é xtre mam n-
o pr e o de inva ã quand em condiç - e te difícil prever e mo a cultivar , resi te nt
fav rávei (LEBEN et ai. , 1968; 1981; MAY et Jra e e mportar em uma d terminada ái· a.
ai., 1997). Nas condiçõe do inverno brasileiro, A aquisição d ,. s m n e d mpre as idô n a
pat "g no omente brevive por d i me es ou d áreas indene p d '" evitar o surgim n~
em r to de planta (FEET, 1979) e, em se- to da do n a urt epid mi e m lav ura
m nte armaz nada a 3 ° , p de br vi.ver em hi t ric d cre tam ba te riano. Em
até 24 me (NI HOL ON et ai., 1973). E e om · ri da do pr pa1·0 1
últim fat é rel vante, p i end a emente sol para ximo plan io ssita d una
principal agente de disseminaçã , pode ela ara ã pr funda para · brir r st t ·ul tu- co

tran p rtar pat gen para l nga di tâncias ra e é impr "scindív 1 a li mina ão d pla nta.
um m intr duzi-1 em áreas inclene ·. v luntária . Nã exi t ntr l :-.fj i nt pai-a
orno e tratégia d manej , é 'alutar abrir r tamento ba t rian quand t ·m uma
l cultivar r i tent ao pat g n . T - ra a agr , iva, uma ultivar su e tí l um li-
----
Ü OHNÇAS DA

ma t orá el p·u-a o de ' n l imento d a nfi r- a d ença pa a desperc bida na lavoura e


midad . Na predi ão d condi ·õ s favoráv i apr enta maior everidade em anos chuvo o
para a corr ncia da d nça, pul eriza õe com t mp ratura amena . Geralment , o cre -
rep tidas com comp to cúprico pode ter tamento bacteriano está mais para uma doen-
algum feito. Mas quando a do n a stá e - ça adicional na soma do complexo de doe nça
tabelecida, o u o d cobre ou dor to de ben- que acometem a produção de soja no Bra il do
zalcônio é ineficaz e geralm nte não ão reco- que uma doença particularmente importante.
mendad os. Mas isso não significa que ela não mereça a de-
No Brasil, não há estudos sobre p erdas e vida atenção. Embora haja diferentes tipos de
dan causados pela doença, mas em outros cultivares disponíveis no mercado, o produtor
países os danos e timados podem variar entre sempre opta por um número restrito, fazendo
5 a 22% (DUNLEAVY et ai., 1960; CHO e YOO, uso contínuo de genótipos que podem ter a
1977; \X·1 LLIAMS e YVALL, 1980). A prevalên- sua resistência suplantada pelo patógeno. So-
cia e a severid ade da doença flutu am de ano mados às condições favoráveis, surtos da doen-
a ano, pois ão dependentes das condições ça podem vir a acometer boa percentagem da
climáticas. No entanto, na maioria das vezes, produção, tornando-se um problema.

3. Pústula bacteriana
A doença apresenta sintomas similares ao do das por um estreito halo amarelo, especialmente
crestamento bacteriano, o que pode causar con- na face abaxial OONES e FETT, 1987; SINCLAIR,
fusão às pessoas menos treinadas (Tabela 1). No 1999). As lesões coalescem, formam grandes áre-
entanto, o sintoma da pústula bacteriana pode as marrons, necróticas e irregulares, e são fre-
ser diferenciado por iniciar como pequenas le- quentemente associadas com a nervura principal
sões de coloração verde-clara (não translúcidas), (Figura 3A). Infecções severas frequentemente re-
com centros elevados presentes nas duas faces da sultam em desfolha prematura, ocasionando are-
superfície foliar OONE e FETI, 1987; Sinclair, dução do número e tamanho dos grãos (WOLF,
1999; ARVEL et al., 2001). Mais tarde, pústulas 1924). Embora tipicamente de folhas, a pústula
de coloração esbranquiçada se desenvolvem no bacteriana pode atacar outros órgãos da planta
centro das le õe de coloração parda, circunda- como pecíolos, hastes e vagens (HEDGES, 1924).

Tabela 1. Comparação entre as características das doenças bacterianas que acometem a cultura da soja no Brasil.

Características Crestamento bacteriano Pústula bacteriana

Sobrevivência Resto de cultura e sementes Resto de cultura e sementes

Sintoma inicial Lesões verde-amareladas e translúcidas Pequenas lesões de coloração verde-clara


(anasarca) (não translúcidas)

Sintoma tardio Lesões de forma irregular, marrom-escuras Lesões irregulares, marrons , de centro
com anasarca, circundadas por halo elevado, com estreito halo amarelado
amarelado
~;;...==:...===:.===: 30 a 33 ºC
Tem~eratura ótima 20 a 26 ºC

A opodis 1 v. ·n s pod " p n - lular (H ED 1ES, 192 ; MILLAR 19 5· GROTH


trar v at u fr-·ri n s a s · BRAUN, 1 86; JONE ' FETT 1 87· AlN ~
it lutar s ini ·iar a ·í d su n ia · GOUR, 201 ). Es · · ' v "'nt · ausan a
q 1 .. 'ausam listúr as a lo p nqui- "' ruptura da li I rn ·, " t--ri riza ·ã d
ma l' "'S 1lt·tnd " ll hi1 jl'tr • hip coq lasia ·- 1 ar nquimatoso ·· forma ·ã da [ ústula fig ura ·
1.TU RA DA SOJA

di em 1

B D). E ta pod r confundida com aquela


chuva<
formada na .6 rrugem da oja; entretanto, a pú -
ecund
tula bacteriana não apre enta, em ua abertura,
de env•
u ma ma sa de e poro como a da ferrugem. A fi-
<lições
tobactéria, quando isolada, obre ágar nutriente,
cipitaçê
forma colônia de pigmentação amarelo-pálido,
com ui
circulares, brilhantes, li a , elevada , mucoides
umidac
e de bordos regulare (Figura 3C). A doença é
88 DOE ÇAS DA SOJA: MP.LJIOltAMENTO GHNÉTJCO E T(:.C,NIC,AS OH MAN l!J()

EnNANE L EMES - L EONARDO ·....sTH< > - RA1 1AE1. Ai,s,~

As sementes ão fonte primária de in ' u l lógicas d critas (PRATH AN -WONG e 'H -


(HEDGES, 1924; GRAH~ 1953a; JOH et ETHANA, 1998; KAEWN M et ai., 2005; ATHJ-
ai., 1955), bem como resto de cultura LEHMAN, WAT et al. , 2009) e, n Brasil, não tem
1931), solo GRAHAM, 1953a) e rizo fera de raí- informaç- e de qual raça é mai prevalente nas
zes de trigo (KE EDYe I LAlR, 1989). Este principai regC e pr dut ras.
último nich· é de uma importância, po · , n A aquisição de mente ·adias é ~ imp r-
tado do Ri rande do u1, alguns produtor tãncia cabal, p · , nd as emente fonte de
optam pela sucessão trigo-soja, plantando culti- inócul primári , p dem dar o rigem a plântulas
ares de soja adaptadas ao pla.nti ma· tardio, infectadas e, as im, plantas doen tadam c.n-
ou seja, após o trigo. Dessa forma, ratégias de te, produtor deve primar peJ uso de semen ~
manejo que visem .reduzir a população desse pa- üvr d patógeno, riundas de L ca· inck.,~ ~
tógeno na rizosfera do trigo são de uma ímpor- ou adquiridas de empr as íd neas. Em ndi-
tánci.a para evitar fontes de inoculo no cultív da de armazenamento, em aco de p JietHe-
soja.. Associada a sementes de soja, a fi.tobactéria no, a fitobactéria p de breviver p r até n ve
pode permanecc..--r viáve] por até 2,5 a PA: EL m as iada à semente ( RIV: TAVA e BAJ ,
e J DAL, 1972 e sobreviver em plantas Vi hm- 1987 . r culturai devem ser destruído
tárias, como epilltica (FETI, 1978 . As ínfi ,, - por aração pr funda, incorp rado ao . lo , fu-
secundárias são favorecidas principalmente via cilitando a ação de agentes decompo ítores (an-
chuva-vento, pelo transporte de gotículas d'água tag nistas e a m rte acentuada da população
contendo a fitobactéria para plantas •adias; ím- da fitobactéria. Brasil e na Índia, patógeno
p.lemen:tos agrícolas e o movimento de homen pode brevíver em resto de cultura, na superfí-
e animais na w ura também ão fatores rele- cie d lo, de 4 a 8 meses, mas somente de 1 a
vantes para a díssemínação. A transmís ão por 3 meses quando resídu vegetais ão enter-
inseto não é comum, mas, na " ia, o perceve- rado FETI, 1979; R1VASTAVA e BAI , 1987).
jo Carpocoris fusíspínus aprest:nta papel chave Outr aspecto relevante diz respeito a aduba-
na díssemínação da doença (J E, 20 6). ção; esta deve ser suplementada com potás ío
Brasil, não há estudos que comprovem papel e fósfor , que desempenham papel importan-
de insetos na disseminação patógeno, o que te na resistência das plantas contra o patógeno
carece de ínvestigação. ( J LAIR e Bi\; KMAN, 1989). N Brasil, não é
principal métod de controle utilizad comum a recomendacão de produto químico
para esta doenca é o de cultivar r isten- a base de cobre ou utr compo to . I so p r-
HARTWI e L HMA , 1951; ']AYA e que a doença é considerada de baixo risco e as
PAWAR, 999; ~ et aJ., 2008 . o BrasH, qua- cultivares utilizadas atualmente apre entam al-
se a totalidade das cultivares recomendadas ão gum grau de resistência contra a doença.
resistentes à pústula bact<..>!°íana. A r .ist(.,'¼t ia à Brasil, não há estudo obre perdas e
doença fi í descoberta na ultivar , e ndo dan cau ad pela doença, mas, em certas par-
g emada peJ gene reces ív rxp HARTWIG tes do nrundo, os dano estimado podem va-
e LEH . , 1951; AMBERLAI , 1962; RAO riar de 11 a 40% HARTWIG e JOHNSON, 1953;
e PATEL, 1973; TT, 1984; ROTH e BRA - PARTHUANGWONG e AMNUAYKIT, 1987; AIN
198 ; VA et ai., 2008 . Hoj , cultívare com e GO R, 2013). A pústula bacteriana raramente
outras fi ntes de resi tên ia ão utilizadas e n - causa problemas na maioria das lavouras no país.
vas fontes estão sendo tudadas ( HARMA et N entanto, uso continuad de um único genó-
ai., 1993; H KLA e HARMA, 1996; MA JAYA tipo re istente a doença pode favorecer o aumen-
e PAWAR, 1999; KAEWN M , 2004; KA WN M to de p pulaçõe da fitobactéria que apre entem
et ai., 2005; HAN et ai., 2007; KIM et ai., 2011). resistência natural. A hipóte e de haver, no Bra-
A fitobactéria po sui p lo men s trê raças fisi - ·il, mai de uma raça do patógeno não deve er
6 - Frr
Ron .rn·0>BACr(!J
L'>N AW,Sru1<,
NA (,I JJ:l'I JKA l)A ')(JJA
·. :__ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

ae::;cartada ·are :; de inv "S igação. (, n tório r' d soja.


que a au ~ ia de ,. tudo, da div Ársidad • gcn ~ vígHan ·
tíca, bem · m comportam --ncaJ, do patóg ..no
dificultam prediz ""r se há ri · J de o · ,rr" n fa • d · ma --Jo ão
. urto da d ·nça nas prín 'ÍJY&is r_.gi{ ·s pr< uto- s q ímía ~, m i ,

4 . Considerações finais
.,mb ra restam ·nto e a pú tula bac --ría- pro utor s, p hJ -- ' ~ ª"
na #stejam pr :nte =-m todo hr síl, , urtos uraJm '"n ", i
d re ·tam n tl111 rríd · m maior fr · u- raç H ão t,y
én ·ia em r tas r "gj - · pr dutoras. P r apr "· ári , p · J-
sentar peI men oítc raç s de · •rítas n país, J gi . a J
não rar , d :param · com a do ~nça no amp 0 #m r :,.. plan-
~m cultívare · ditas re. ísten ·s. Haram "n _., tem a re · " ia s at u i-
uso d e práticas de manej são adotadas, p is Hzado . _, am '
acabam e tornand dí pendi ·a~ e ín ·fi ·í c,-n- p ' tufa IYd.C ·rfan - n ·íder
tcs. I p rque, quand a d ença é con tatada, rcJevân ·ía ' _. ·un · Brasil,
se encontra em um e.stádi mai · avançado, não trito e contínuad o ' 'f ,n
sendo maí p íveJ a intervenção. tocante p de fav: r --cer o aum nto , p
à p ó tula bacteriana, é quase uma curi idade füobactérias 1en ~í ·amcnte · , que
quand a d enca urge n camp . AJ; cultiva- faria com qu . sas do nças " tatu "
re empregadas atualmente nferem boa re- de ecundárías para primárias n ampo. d ,
i tl11cía à d ença, não end con tatado, pelo pr ducão de ja em todo paí .

5. Referências bibliográficas
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Viroses da soja

FABIO N ASCIMENTO DA SILVA


Engenheiro Agrônomo, Me. , Dr.
Universidade do Estado de Santa Catarina
LArussA GouIART 2ANARDo
Bioquímica, Me.
Universidade Federal de Viçosa
DANIELLE RIBEIRO DE BARROS
Engenheira Agrônoma, Me. , Dr.
Universidade Federal de Pelo tas
CLAUDINE MÁRCIA CARVALHO
Engenheira Agrônoma, Me. , Dr.
Universidade Federal de Viçosa

1. Introdução
Os vírus são completamente dependentes ínas virais, e parte inicia o movimento célula-
da maquinaria celular do seu hospedeiro, sen- -a-célula via plasmodesmas e a longa distância
do considerados agentes infecciosos biotró- via floema. Dependendo do vírus, o movimen-
ficos. Em geral, os vírus que infectam plantas to pode ocorrer por meio da partícula virai
são constituídos de ácido nucleico (DNA ou (genoma viral + capa proteica) ou apenas do
RNA) e proteína. Alguns vírus de plantas po- seu material genético. Em praticamente todas
dem apresentar, em sua composição, glicopro- as células infectadas, o vírus formará a partícu-
teínas, lipídios e até mesmo membranas. Como la viral, também denominada de vírion.
regra geral, o ácido nucleico viral é protegido A transmissão natural dos vírus de plantas
por subunidades proteicas (capsídeos) que em ocorre de três maneiras: (i) sementes e pólen;
conjunto formam a partícula viral, a qual pode (ii) material propagativo; e (iii) vetores (fun-
apresentar morfologia alongada, icosaédrica ou gos, ácaros, nematoides e insetos). Estas vias
baciliforme. As partículas virais podem ser visu- de transmissão podem·· ser mais ou menos im-
alizadas apenas por microscopia eletrônica. portantes dependendo da espécie viral e da
Dentro da célula vegetal, os vírus são de- planta hospedeira.
sencapsidados (perda da proteína capsidial) Os vetores, especialmente os insetos, são
e iniciam a replicação, utilizando proteínas extremamente importantes na disseminação
v· ._
de segu ndos até várias horas. Em alguns ca- A soja é a fonte de proteína e óleo vegetal
os o inseto não é capaz de transmitir o vírus mais importante no mu ndo. Desde sua intro-
imediatamente após a aquisição, precisando dução no Brasil, vem ganhando destaque no
de um tempo denominado de período latente. cenário nacional e, atualmente, é semeada em
ssim como é necessário um tempo para o in- várias regiões do país. O Brasil é o segundo
seto adquirir o vírus na planta infectada, é ne- maior produtor mundial de soja, ficando atrás
ce sário um tempo para a inoculação do vírus apenas dos Estados Unidos. Vários fatores po-
em uma planta sadia, e este tempo é denomi- dem afetar a produtividade da cultura da soja;
nado de período de inoculação. Outro aspecto dentre eles, as doenças causadas por vírus
importante é o período que o inseto permane- podem impactar direta ou indiretamente esta
importante cultura do agronegócio brasileiro.
ce virulífero (capaz de transmitir o vírus). Este
período também é variável dependendo prin- No Brasil, diversas viroses já foram descri-
cipalmente da espécie viral, com uma du ração tas na cultura da soja [Glycine max (L.) Mer-
que aria de hora dias, semanas a até para o rill] , ocasionando perdas variáveis de acordo
com o vírus, cu ltivar e as condições edafocli-
resto da vida do inseto vetor.
máticas. Os vírus associados à cultura da soja
Com ba e neste períodos citados acima, podem afetar o re ndimento da planta e/ou
são definidos três tipo de relacionamento a qualidade das sementes colhidas. No Bra-
vírus/vetor: (í) não persistente [o vírus fic a sil, os vírus descritos na cultura da soja são:
restrito ao aparelho bucal com período de Abutilon mosaic vírus ; Alfafa mosaíc vírus;
aqui ição curto, não existe período latente e Bean golden mosaic vírus ; Bean pod mot-
o período de inoculação é curto] ; (ii) p ersis- tle vírus; Bea n yellow mosaíc vírus; Cowpea
tente [ne te caso, o vírus circula n o corpo do m ild m ottle vírus ; Cowpea severe mosaic ví-
inseto, porém não replica no m esmo, apresen- rus; Euphorbia mosaic vírus; Okra mottle ví-
tando o s períodos de aquisição e inoculação rus; Sida micrantha mosaic vírus; Soybean
mais longos e também um p er íodo late nte] ; mosaic vírus ; Bean rugose mosaíc vírus; To-
e (íií) p er is tente propagativo [neste caso , bacco mosaic vírus ; Tomato spot wilt vírus; e
o vírus replica no inseto, sendo este capaz Tobacco streak vírus.
de tran mitir o víru pelo resto de sua vida; Embora várias espécies já tenham sido
neste tipo d e relacionamento, os períodos de descritas na cultura da soja, nem todas re-
aquisição e inoculação també m são mais lon- presentam uma ameaça em potencial à cultu-
gos e existe um p eríodo latente]. ra. Entretanto, algumas destas espécies têm
potencial para causar sérios prejuízos à cul-
O conhecimento do tipo de transmissão tura da soja. Por isso, neste capítulo, serão
natural do víru , bem como o tipo de relacio- descritas as características das viroses com
namento vírus/vetor é de fundamental impor- maior potencial de dano, conforme listado
tância na recomendação de medidas de contro- a seguir: (i) a queima do broto - Tobacco
le. Além de tas informaçõe , a ob ervação de streak vírus ; (ií) o mosaico cálico - Alfalfa
sinto mas e a utilização de teste de diagnóstico mosaic vírus ; (iii) o mosaico comum - Soy-
para determinação d a e pécie virai associada bean mosaíc vírus; (iv) o mosaico rugoso -
à planta ão fundamentais na e colha da me- Bean rugose mosaic vírus ; (v) o mosqueado
lhor estratégia de controle . Inúmeras e p écies - Bean pod mottle vírus ; e (vi) a necrose da
de plantas ão ho pedeira de tes importantes haste - Cowpea mild mottle vírus. Adicional-
patógeno e, dependendo da interação vírus/ me nte , serão abordados o s princípios e con-
planta, o re ultado po de er extremamente ceitos dos principais mé todos de diagnóstico
preocupante, acarretando érío prejuízo . de vírus d e plantas.
7- VIROSES DA SOJA 95
FABIO N ASCIM ENTO DA S ILVA - LAru SA Gou LART ZANARDo - D AN I ELLE R IBEIRO DE B ARROS - C LAUDI NE MÁRCIA C ARVALHO

2. Viroses na cultura da soja

2. 1. Tobacco streak virus


O Tobacco streak vírus (T V, família Bro- estados de São Paulo e do Paraná. estas áreas,
moviridae, gênero Ilarvirus) é constituído de é comum encontrar outras espécies hospedei-
RNA de fita simples sentido positivo apresen- ras (principalmente a espécie Ambrosia polys-
tando três segmentos genômicos (R AI - 3491 tachya), bem como espécies de tripes transmis-
n t, RNA2 - 2926 nt, e R A3 - 2205 nt). as ex- soras do vírus. O TSV apresenta ampla gama de
tremidades 5' e 3' dos RNAs, são encontrados, hospedeiros, tendo sua ocorrência relatada em
respectivamente, o Cap (m7GpppG) e uma soja, fumo algodão, alface, amendoim, girassol,
cauda PoliA. Os RNAs 1 e 2 codificam as pro- tomate e algumas plantas daninhas.
teínas associadas à replicação virai, e o RNA 3 O sintoma característico da doença da
codifica as proteínas associadas ao movimen- queima do broto é a curvatura e necrose do
to e encapsidação (formação da partícula virai broto apical. A morte do broto apical resulta
por meio da proteína capsidial). As partículas em excessiva brotação das gemas axilares e na
virais apresentam morfologia próxima à iso- redução do tamanho das plantas, devido à pa-
métrica ou, ocasionalmente baciliforme com ralização do crescimento. A medula da haste
30 nm de diâmetro. Cada segmento de RNA principal apresenta-se escura, sendo esta a ca-
é encapsidado em uma partícula distinta, ou racterística principal para diagnose da doença.
seja, para o início da infecção é necessário que Os trifólios jovens tornam-se amarelo-casta-
três partículas contendo, respectivamente, o nhos, com inúmeras lesões microscópicas. In-
RNA 1, RNA 2 e RNA 3, estejam presentes. fecções severas podem promover a queda das
O TSV é transmitido por espécies de tripes folhas. Quando há a formação de sementes em
do gênero Frankliniella que se alimentam de plantas infectadas por TSV, estas apresentam
grão de pólen infectado. Além da transmissão manchas associadas à ruptura do tegumento.
mediada por tripes, o TSV pode ser transmitido As medidas de controle para o TSV visam
por sementes, sendo que a taxa de transmissão a redução da população do inseto vetor. A po-
pode variar dependendo do isolado virai e da pulação de tripes pode ser reduzida pela ação
cultivar de soja. Por isso, ensaios controlados das chuvas, por isso a semeadura tardia pode
devem ser realizados nas condições brasileiras diminuir consideravelmente a incidência des-
para determinar o potencial da disseminação ta virose. Outra forma de reduzir a população
deste vírus por sementes. de tripes é pela aplicação de inseticidas. Entre-
O primeiro relato da queima do broto da tanto, esta prática não é efetiva no controle do
soja causada por TSV no Brasil foi no estado de TSV, uma vez que os tripes virulíferos continu-
São Paulo em 1955. Atualmente, a queima do am migrando durante longo período antes de
broto da soja está restrita a algumas áreas nos morrer devido à ação do inseticida.

2.2. Alfalfa mosaic virus


O A/falfa mosaic vírus (AMV, família Bro- tremidades 5' e 3' dos RNAs, são encontrados,
moviridae, gênero Alfamovirus) é constituído respectivamente, o Cap (m7GpppG) e uma cau-
de RNA de fita simples sentido positivo apresen- da PoliA. Assim como o ilarvirus TSV descrito
tando três segmentos genômicos (RNAl - 3644 no item 2.1., os RNAs 1 e 2 do AMV codificam
nt, RNA2 - 2593 nt, e RNA3 - 2037 nt). Nas ex- as proteínas associadas à replicação virai, e o
96

RNA 3 codifica a proteínas as ociadas ao movi- a infecção teve início a partir das sementes.
mento e encapsidação. partículas virais apre- Infecções mistas com o Soybean mosaic vírus
sentam morfologia baciliforme com 18 nm de promovem efeito sinérgico, aumentando a se-
diâmetro e 30-57 nm de comprimento. veridade dos sintomas. Os sintomas foliares
O AMV é transmitido de maneira não per- podem ser confundidos com fitoxidade ou d e-
sistente por Myzus persicae e pelo menos mais ficiên,cia nutricional, o que acaba dificultando
13 espécie de afídeos. dicionalmente, o vírus o diagnóstico. Os sintomas de mosaico amare-
pode er transmitido por sementes de soja com lo observados na cultura da soja deram origem
uma baixa taxa de transmissão (1-5%) quando ao nome de mosaico cálico, atribuído como o
comparado à alfafa, onde a taxa de transmis- nome da doença induzida por AMV.
são por sementes pode atingir 50%. Além da O AMV é encontrado com baixa frequência,
alfafa, ho pedeiro onde o vírus foi inicialmen- o que não representaria um problema sério na
te descrito, o AMV apre e ma uma ampla gama cultura da soja. Entretanto, suas característi-
de hospedeiros pertencentes a várias famílias cas epidemiológicas relacionadas à transmis-
botânicas. Dentre os hospedeiros, vale desta- são por sementes e por diversas espécies de
car a alfafa, a batata, o feijão, a soja e o tomate, afídeos podem, eventualmente, tornar o vírus
além de várias espécies silvestres que podem importante em uma dada região produtora de
servir como fonte de inóculo. soja. Dentre as medidas de controle, destacam-
O primeiro relato do mosaico cálico em -se medidas que visem a impedir a entrada do
soja causado por AMV é datado de 1981 e, atu- vírus em áreas livres por meio da utilização de
almente, esta doença pode ser encontrad a nos sementes sadias. No entanto, esta prática não
estados de São Paulo e do Paraná. Os sintomas é adotada, uma vez que não é prática rotinei-
induzido pela infecção virai consistem de ra a realização de análises de sementes para
manchas clorótica e enrugamento das folhas. verificar a presença do AMV e a consequente
Além dos sintoma foliares, o d esenvolvimento certificação deste material. Outra alternativa
das plantas infectadas p od e ser afetado signifi- no controle desta virose é a utilização de culti-
cativamente, esp ecialmente nos casos em que vares resistentes.

2.3. Soybean mosaic virus


O Soy bean mosaic vírus (SMV, família Po- é a presença de inclusões citoplasmáticas em
ty viridae, gênero Potyvirus) é constituído de forma de cata-vento. Estas inclusões são forma-
um único R A de fita imples entido positivo, das pelo acúmulo de uma proteína virai.
com aproximadamente 10.000 nt. as extremi- O SMV é transmitido de maneira não persis-
dades 5' e 3' do R A viral, são encontrados, tente pelos afídeos Myzus persicae, Acyrthosi-
respectivamente, a proteína Vpg (virai protein phon dirhodum, Hysteroneura setariae, Schi-
genome-linked) e uma cauda PoliA. Este RNA zaphis graminum, Rhopalosiphum maydis e
codifica uma poliproteína que sofre autopro- Dactninotus ambrosiae. O SMV também pode
teólise, gerando 11 proteínas maduras. Estas ser transmitido por sementes, com uma taxa
proteínas são respon áveis pela replicação e de transmissão entre 0,5 e 7%, dependendo da
movimento virai, encapsidação, transmissão cultivar de soja e do isolado viral. A gama de
pelo vetor e supressão de respo tas de defesa hospedeiros naturais do SMV é restrita à soja, a
da planta. As partículas virais apresentam mor- algumas cultivares de feijão, à Cassia occiden-
fologia alongada flexuosa com 12-15 nm de di- talis e à Centrosema macrocarpum.
âmetro e 710-750 nm de comprimento. Outra O primeiro relato do mosaico comum da
característica interessante do gênero Potyvirus soja causado por SMV no Brasil foi no esta-

do de São Paulo em 1955. Atualmente o SMV Os sintomas de mosaico e enrugamento po-


pode ser encontrado em todas as regiões pro- dem ser observados na figura lA. Além dis-
dutore de soja no Bra il, embora a utiliza- so, causa um sintoma típico que consiste no
ção de cultivare resistentes tenha diminuí- aparecimento da "mancha-café". Este sintoma
do a importância deste víru . O SMV induz típico em semente é caracterizado pelo apa-
sintomas de nanismo, redução do número de recimento de manchas escuras que cobrem
vagens, mosaico, enrugamento, distorção do as sementes por inteiro ou parcialmente (Fi-
limbo foliar e perda generalizada de vigor. gura lB) .

Figura 1. Sintomas induzidos por Soybean mosaic vírus (SMV) em soja.


A. Sintomas de mosaico e enrugamento foliar; B. Manchas escuras nas sementes denominadas de "mancha-café".
Fotos: Cortesia do Professor Dr. Ricardo Trezzi Casa (UDESC/CAV).

A principal medida de controle é a utiliza- quais são designados Rsvl, Rsv3 e Rsv4. Estes
ção de cultivares resistentes, as quais têm sido três genes de resistência ao SMV apresentam
disponibilizadas aos produtores. Existem três diferentes especificidades quanto aos diferen-
alelos dominantes de resistência ao SMV, os tes isolados virais caracterizados.

2.4. Bean rugose mosaic virus


O Bean rugose mosaic vírus (BRMV, fa- O BRMV pode ser transmitido pelos cri-
mília Secoviridae, Sub-família Comovirinae, somelídeos Cerotoma arcuata, C. ruficornis,
gênero Comovirus) é constituído de RNA de Diabrotica speciosa, D. balteata e D. adelfa.
fita simples sentido positivo, apresentando No Brasil, a espécie C. arcuata é a que trans-
dois segmentos genômicos (RNAl e RNA2). mite o vírus mais eficientemente. Os crisomelí-
Nas extremidades 5' e 3' dos RNAs virais, são deos supracitados podem manter a capacidade
encontrados, respectivamente, a proteína Vpg e de transmissão por dias ou mesmo semanas. A
uma cauda PoliA. O RNA 1 codifica as proteínas gama de hospedeiro é restrita a poucas espé-
associadas à replicação viral e o RNA 2 codifica cies da família Leguminosae. O BRMV também
as proteínas associadas ao movimento e encap- causa lesões necróticas locais em Chenopo-
sidação. As partículas virais apresentam morfo- dium amaranticolor.
logia icosaédrica com 28-30 nm de diâmetro. Este vírus foi inicialmente descrito infec-
Assim como ocorre com o TSV e o AMV, descri- tando feijão, causando o mosaico em desenho
tos anteriormente, os RNAs 1 e 2 do BRMV são do feijoeiro. Em regiões onde o cultivo de fei-
encapsidados em partículas distintas. jão e soja ocorre simultaneamente, pode ser
96 DOE <; AS DA SOJA : MEI.IIOHAMENTO GENÍffl C(

RNA 3 codifica as proteínas as ociadas ao movi- a infecção teve início a partir da emente .
m nto e encapsida ão. A, partícula virais apre- Jnfec õcs mistas com o oybean mosaic vírus
sentam morfologia baciliforme com 18 nm de promovem efeito sinérgico, aumentando a e-
diâmetro " 30-57 nm de comprim nto. veridad dos sintoma . Os sintoma foliares
AMV é transmitido de maneira não per- podem ser confundido com fitoxidad u de-
si ·tente por Myzus persicae " pelo m nos mais ficiêqcia nutricional, o que acaba dificultando
13 spé i · de afíde s. Adicio nalm nte, o vírus o diagnóstico. Os sintoma de mosaico amare-
p I ser transmitido p r s m ·ntes d soja com lo observados na cultura da soja deram origem
uma bai a taxa d '"' tran mi ão ( l-5%) quando ao nome ele mosai cálic , atribuído como o
comparado à alfafa, n le a taxa de tran mis- nome da doença incluzi~la por AMV.
são por >ment ·s pode atingir 50%. Além da O AMV é encontrado com baixa frequ "ncia,
alfafa , ho ·pecl iro on le víru · foi inicialmen- o que não repres ntaria um problema sério na
te descrito, o AMY apre ·enta uma ampla gama cultura da soja. Entr tanto, uas característi-
d · ho ·p "deiros pertencente a vária · família cas epidemio! , gica relacionadas à transmis-
botânicas. Dentre o hosp deiros, vale desta- são por seme nte por diversas espécies de
car a alfafa, a batata, o feijão , a soja e o tomate, afícl os pocl m, ev ntualmente, tornar o vírus
al , , m de vária espécies silvestres que podem importante em uma dada região produtora de
ervir ·orno fonte de inóculo. soja. D ntre a m elidas de controle, destacam-
1 rimeiro r ·lato do mosaico cálico m -sem didas qu visem a impedir a entrada do
·oja causado por M é datado de 1981 e, atu- vírus em áreas livres por meio da utilização de
almente e ·ta d ença pode · r encontrada no s m nte sadia . No entanto, e ta prática não
e ·tados ele ão Pau lo e do Paraná. Os sintomas é adotada, uma vez que não é prática rotinei-
induzidos p la infec ·ão virai consistem de ra a realização de análises de sementes para
man ha · ·I rócicas e nrugam nto da folh as. v rificar a presença do AMV e a consequente
lém do . intoma fo liar , o de envolvimento certificação deste material. Outra alternativa
da · plantas infi tada p od er afi tado signifi- no controle desta virose é a utilização de culti-
atívament -, e p cialme nt " no ca o em qu var s resi tentes.

2.3. Soybean mosaic virus


oybean mo aic viru ( 'M , fa mília Po- é a pre ença de inclu ões citoplasmáticas em
tyvirida , g n r Potyvirus) é coo tituído d
A forma de cata-vento. Estas inclusões são forma-
um únic R d fita impl ntido po iti o, da pelo acúmulo de uma proteína virai.
e m apro.,rimadam nte 10.000 nt. a · xtremí- O MV é tran mitido de maneira não per i -
dad ' d R A iral ão nc ntrado t nte pelos afídeos Myzus persicae, Acyrthosi-
r p ti am nt a prot ína pg (virai protein phon dirhodum , Hysteroneura setariae, Schi-
en m e-linked ) uma cauda PoliA. E te R A zaphis graminum Rhopalosiphum maydis e
odifi a uma polipr t ína qu ofre autopro- Dactninotus ambrosiae. O SMV ta1nbém pod
teóli . g rando 11 proteína madura . E tas er transmitido por semente com uma taxa
pr t ína r pon á i p ela r plicação e d transmissão entre O 5 e 7%, dependendo da
mo iment irai n ap ida ão, tran mi ão cultivar de soja e do i olado virai. A gama d
p 1 tor upr ão d r po ta de d fi a ho ped iro naturais do MV é r strita à oja a
da planta. partí ula irai apr entam mor- alguma cultivare d feijão à Cassia occiden-
fologia alongada flexuo a com 12-15 nm d di- talis e à Centrosema macrocarpum.
âm tro 10- 50 nm d comprim nto. Outra O prim iro relato do mosaico comum da
caract rí tica int r ant do g "n ro Po~yvirus oja causado por SMV no Bra il foi no e ta-
7 - Vrnosm; OA ' OJA
97
FABro N ASCIM ENTO DA i1.vA - LA1ussA G ouLAHT ZANA1mo - º" IELLE R m1:1110 DE 13AHHos - Ci.A1ID1 E M AHU A CA1<VA1.110

d d ão Paulo e m 1955. Atualmente o SMV O sintoma de mosaico e enrugamento po-


' pro-
pod e e r encontrado em todas a · regiõe dem r ob ervados na figura lA. Além di -
dutor d oja no Brasil, embora a utiliza- so, cau a um intoma típico que con i te no
ção d cultivare resi ·tente tenha diminuí- aparecimento da "mancha-café". Este sintoma
d a importância de te víru . O MV induz típico em sem ntes é caracterizado pelo apa-
int ma de nani mo, redução do número de recimento de mancha e curas que cobrem
vage n , m aico, enrugamento, cli torção do a ementes por int iro ou parcialmente (Fi-
lim bo foliar e p rda generalizada de vigor. gura lB) .

Figura 1. Sintomas induzidos por Soybean mosaic virus (SMV) em soja .


A. Sintomas de mosaico e enrugamento foliar; B. Manchas escuras nas sementes denominadas de "mancha-café".
Fotos: Cortesia do Professor Dr. Ricardo Trezzi Casa (UDESC/CAV).

A principal medida de controle é a utiliza- quai são designados Rsvl , Rsv3 e Rsv4. Estes
ção de cultivares resi tente , as quais têm sido três genes de resistência ao SMV apresentam
di ponibilizada ao produtore . Exi tem três diferentes especificidades quanto aos diferen-
alelos dominante de resistência ao SMV os tes isolados virais caracterizados.

2.4. Bean rugose mosaic virus


O Bean rugose mosaic vírus (BRMV, fa- O BRMV pode ser transmitido pelos cri-
mília Secoviridae, Sub-familia Comovirinae, somelídeos Cerotoma arcuata, C. ruficornis,
gênero Comovirus) é constituído de RNA de Diabrotica speciosa, D. balteata e D. adelfa .
fita simples sentido positivo, apresentando No Brasil, a espécie C. arcuata é a que trans-
dois segmentos genômicos (RNAl e RNA2). mite o vírus mais eficientemente. Os crisomelí-
Nas extremidades 5' e 3' dos RNAs virais, são deos supracitados podem manter a capacidade
encontrados, respectivamente, a proteína Vpg e de transmissão por dias ou mesmo semanas. A
uma cauda PoliA. O RNA 1 codifica as proteínas gama de hospedeiro é restrita a poucas espé-
associadas à replicação viral e o RNA 2 codifica cies da família Leguminosae. O BRMV também
as proteínas associadas ao movimento e encap- causa lesões necróticas locais em Chenopo-
sidação. As partículas virais apresentam morfo- dium amarantico/or.
logia icosaédrica com 28-30 nm de diâmetro. Este vírus foi inicialmente descrito infec-
Assim como ocorre com o TSV e o AMV, descri- tando feijão, causando o mosaico em desenho
tos anteriormente os RNAs 1 e 2 do BRMV são do feijoeiro. Em regiões onde o cultivo de fei-
encapsidados em partículas distintas. jão e soja ocorre simultaneamente, pode ser
l)oENÇAS DA SOJA: ME I.II O HAMENTO UEN (ffl CO E T (,C l CAS DE MAN EJO

E1t ANE L EMES - L i!ONA rtDo Asrno - RAFA Ei. Assis

bscrvad a 1 ·n a d m sai ·o rugoso la Não existem m "<lidas p cíficas d c n-


soja, rnmb '•m ·ausacla p "lo BRMV. r ·1 "ncl n - trol · para st " víru, , uma v z que ainda nã
lo lc g ·1 tipc d • se. ja u tiliza 1 1 o plan tio, o ~ ·onsid ·rado um probl ma séri na cul u ra
Bl M I o 1 ' ·ausar s' --r s lan s. No ·n tan- el a soja. No ntanto, on id rando- a ara -
to, em infc ·~ão 11ista ·e n o SMV, os lan s à t ·rL ti ·as d · s us ins to ~ v tor , o quaL sã
e ltu ra d , soja são n aior ·s, o l ·ndo a ·at-r ·- pol ífa ·ãc pr m tod ' ,d -
lar I l·rdas d · · ·r ·a de !,0% na pr ) 1 çã ). Os vi to · > su · ssivo d m " ip ,
sin tomas oi s ·rvados cm ·ampos cl ~ · ltlvo d ' icl imida 1· d • ultiv s m
dt' so ja ·on sist ·m d · 1 nsai ·o , ·nc, rq uilha- · 1ltivos d · f ·ijfl o ·orr "•n ·ia_d · ·
n nto · b< ll >Si hd ·, s ·n l ) J 1 • ) m s, i o n ista ·, l3RMV s ar p1
ln lu;.t,id ) t or BRM Y • mais s .V '. f do <} U n las ja. As -
mosa i ·o inclu ✓. i 1 ) p lo SMV. N ' l!'i s ·m •nt' ' S, > tr s ·r l
BHMV J o d · h du:t.ir a f >rm't ·ã > l · man ·h, s [ .
: imH ar ·s , s o l s ·r a la:-i ·tn it f ' · · -) ·s l ·l (d st •j' qu =- ainda
.' MV, ·1 thora 1 ,.. o · i~Ham i k n ·ias l , sua , al "m vitar o ·ultiv ·u > i-
transmissüo I or s ·r l' J t ' •. vo e · · s/ ·u lti ar ·s sus ·tív is .

2.5. B n pod mottle virus

1 >an pod nwul ~ lrus (B PMV, fa, ília r ·strita á' fi -- ij ir " ~ ~ ja, Lespedeza striata,
S ~ ·ovlrida , ul -fam íli, ,omovt,~tn >, Stiz lohiwn de ') rin 7 íanwn, Trifolium incar-
.,'0111()1 tru:;) '· ·0 1 stltu í I< 1• RNA 1• fi ·a sim - ncl,/,um · Desmodiwn paniculatum .
pi •s s · t iv > nta !oi s ) BPMV ·n ·01 trado na América I N r-
s (H 59 · R t ·, bq uador Brasil, s _.n lo qu , n Bra ·il,
tr .. mida l ·s 5' os H prin ir r "lato foj "m 19 2 m Planaltina -
virais, sfw sp · ·tivam ·nt ·, a Distrit< l· _. 1 ral. l vi 1 ' ampla 1.istribui ã
pro ·ína Vpg · um a ·a , h J>o li A. O R A J ·o - g _. gráfi ' a "' alta eafi ·i " n ia d e transmissã d e
li i ·a as J rc a ·so ·ia las à r • virai .,'erotoma arcuata, BPMV pode estar 1 r -
• e R A 2 ·o lifi ·a as p · t Jínas ass Ls ao
, "nt · 1 as Hfi ~r "nt s áreas pr dutora · de soja
movim •nto · ·n ·apsid · partí · 1las vi rai · no Brasil. O sintoma induzid s p e l BPMY
a ntam m rfol gi dri ·a m O nm
·on ·istem de mosqueado ·lorótico e forma-
d· ssi orr para T ·v,
·ão d bolhas e m folhas jovens. Estes sint ma
AMV ·· o BRMV, cJ ·s ·rit s ant .. ri rm ·nv,
tornam-s .. atenuados com d ese nvolvime nto
R A · 1 .. 2 d BPM p idad s .. m par-
da planta. Em infec ·ões mi stas (BPMV e MV) ,
tí ·ul · tín as. O MV .. BPMV p r-
o sintomas são mais sevcr s e consi tem d e
t "n m ... m , ·ompar-
listorção foliar, recluçã do re cime nto e ne -
tílham ·ara ·t "ris i a. , · acima.
crose no ápice da planta. Em alguma folhas ,
Al .. m da · g n mi as, podem ·er ob ·ervada · enações filiformes com
BPMV tamb "m é tran ·mitíd por crisomelí- iníci na nervura centrai .
d ', ·mb ra d di ferentes e ·pécie ( erato-
A recome nda õe de e ntrole podem ser
ma trifurcata, J tabrotica undecimpunctata,
ba eadas n manejo d in eto ve tor, na utili-
.,ola pis f !avida , . lata, Epícauta vittata e
Epílachna varive tis). A espécie Diabroti- zação de genótipo re istente , além de evitar
ca balteata e erotoma arcuata ão capaze cultivo ·uce ivo de e pécie /cultivare us-
de tran mitir tanto BRMV quant BPM V. cetíveis. Até o moment , não foram de crito
O BPMV apre ·enta uma gama d ho ·p ed eiro genótip resi tente ao BPMV.
7- V m OSES DA SOJA 99
· rLvA - L\Rr ssA GouLART ZA AR Oo - oAN 11,1.u,
. . rl rnr:rno OE B ARROS - C1.Au o1 E M 1,1tCIA C·AIWAI.I 10

2.6. Cowpea mild mottle virus


O owpea mi/d mottle vírus ( PMMV, fa- · do produt r d oja qu nã apre nta relato
mília Betaflexiviridae, n ro arlavirus) da vir é o Rio Grand do 'ui. I o foi r cen-
n tituíd d um R A fita imple ntid t ment onfirmado atravé da análi d 200
p itiv com g n ma d apr ximadam nt amo tra. d ja coletadas no campo produ-
8200 n t. Na xtr midad ' d R A vi- t r do municípios de Vacaria, apã B nito
raJ , sã n • ntrad , 1 a1 e Lag a Vermelha n ano de 2014 (dad n ão
(m7 i p ppG) uma P liA. A pr t ína publicado ).
fifi ada a part A virai ão n- O · intoma , cau ·ado p r carlavíru variam
la r plica - · nt encap icla-
d acordo e m h pedeir qu e tá ndo in-
ã viral. A part - n-
fectad e a ép ca do ano. O PMMV m feijão
gadas ,. fl u 1 · - 10-15 x
cau1 i (Vigna unguiculata) cau a manchas elo•
6 0 -700 nm e p d ·ada n i-
r tica ' nas folhas primária dist r ão da fo-
t pla ·ma de célula , arênquima
lhas, m am ndoim pr v cal õ s n erótica ,
e "Pi l .. rme em o iana cleuelandii.
anéi. clor ' tkos, com post rior dorose sistêmi-
K artí u las fi rmam agre ad · em fi rma
de · podem- ·e b · ·rvar inclusões tipo ca. Em soja e fcijã comum (Phaseolus vulga-
(bru h-like). ris) , pod e) cau ar uma liversidacle de sint ma
como: cloro e e mosaic nas folhas , necro
víru é tran miticl pela m ca branca
apical, cli torçã e nani m . Em cam1 o , o in-
(B mi ia tabaci) d man ira nã p "rsistent .
tomas iniciais da virose da oja não chamam
A transmi sã p r me nte · tamb m parece
a aten ~ão dos produtores, apenas próxim à
s r d p nd nt d i lad virai. i · lado cio
PMMV le Gana fi i tran mitid p r em nte · floração e surgimento ela vagens é que ele
d ja, feijã caupi e, e m bai a frequência, tornam-se mai evidentes. É após e se período
em fi ijã c mum, p r ' m, até moment , não que são ob ervada a queima do broto e a ne-
foi e nfirmada a tran mi ·ão via ementes de cro e das hastes (Figura 2A), que terminam na
lacl de PMMV e ncontrad no Bra il. morte das planta e consequente perda d pro-
dução. A variedade de sintomas em oja é uma
Apesar d ter ido relatado no Bra il na dé-
cada de 80, foi om nte na afra 2000/01 que característica do CPMMV. ão encontrado iso-
sintoma da n cr da ha t foram relatado lados que causam sintomas ev ros como ne•
em campo d e oja n tado de Goiá . No- crose. Na folha , podem- e observar intoma
v foc ela doença ocorr ram no e tado do de mosaico e bolhosidade (Figura 2B) e, em
Mato Gro so, Bahia, Maranhão e Paraná nos algun ca os, podem ser a ·sintomáticos.
doi ano guinte . Atualmente, o único e ta-
EHNANE L EMES - L EONAHDO CASTHO - l t~f'AEI . A 'i', J<,

Figura 2. Sintomas induzidos por Cowpea mi/d mottle vírus (CPMMV) em soja . A. Sintomas de queima do broto e
necrose da haste; 8 . Sintomas de mosaico e bolhosidade . Fotos: Larissa Goulart Zanardo.

O intoma di tinto apre entado pelos O CPMMV vem sendo um sério problema
i olado de CPMM ugerem a existência de para a soja brasileira nos últimos anos, e a única
e tirpes di tinta . mo tras de oja coletadas medida de controle viável é a utilização de culti-
no e tado da Bahia, Goiá , Maranhão, Mato vares resistentes ao vírus. O controle da mosca
Gro o, Mina Gerai e Pará entre os anos de branca é inviável, devido ao tipo de relaciona-
2001 e 2010 re elaram que, no Brasil, há duas mento vírus etor. Trabalhos recentes têm de-
e tirpe de CP M (CPMMV-BRl e CPMMV- monstrado uma alta variabilidade genética deste
-BR2) que apre entam ariabilidade biológica patógeno, o que pode inviabilizar a utilização de
e molecular. determinadas cultivares tidas como resistentes.

3. Diagnose
o caso de írus de plantas, o te tes mais A utilização de medidas de exclusão e o
comumente utilizado para o diagnó tico ão: diagnóstico precoce de vírus de plantas são
testes biológico (baseado na expres ão de sin- pontos chave no estabelecimento e manuten-
tomas em plantas indicadoras); teste orológico ção da sanidade de uma área de cultivo. O ob-
(baseado no reconhecimento do víru por um jetivo deste tópico é o de -fornecer informações
anticorpo pecífico) e teste molecular (basea- básicas sobre os principais testes de diagnós-
do na amplificação de uma região e pecífica do tico de vírus de plantas, os quais podem ser
material genético irai). Estes testes podem ser aplicados na detecção de vírus em qualquer
utilizado isoladamente ou em conjunto depen- e pécie vegetal, incluindo a soja.
dendo do pato istema analisado, da disponibili-
dade de recurso e de mão de obra e pecializada.

3.1. Indexação Biológica


O íru de plantas podem cau ar uma é- queado, amarelecimento, clorose, clareamento
rie de intomas em eu ho pedeiro , como, de nervura), ~edução do crescimento (nanis-
por exemplo: de vio de cor (mo aico, mo - mo), deformaçoes (encarquilhamento, enruga-
m n to, pina tia , entr utr . A b rva ã A vantagen do te te de diago
d e tes intoma m u ho p deir naturai pécie indi ad ra n istem na facil
e tá con dicio nada ao i lad virai, à cultivar ex cu ão, baix cu to e em nã hav 1
a cond i õ ambi ntai . dade d mã d bra e p cializada .
lização do te te. Evidentemente, na
O d iagnó tico ba eado na expre ão d do re ultado d te te, ,, nece ár i
intoma no ho pedeiro natural ,, complicado, m nt para percepção e elas ificação <
u m a vez que diferente pécie virai podem ma ob rvado . Ap ar das vantage1
o ca ionar o me mo intoma em um determi• ta acima, o te te biológico apre enta
nad o ho pedeiro e, ainda, o intomas podem desvantagen , tai como: í ) demora :
er confu ndido com deficiência nutricional ou ção do re ultado ; ií nece idade <
d e ordens fi iológicas. E te cenário demon tra fí ico (ca a de vegetação) com condi,
que, de maneira geral, o diagnó tico baseado trolada para a execução do te te; (i1
em intomas no ho pedeiro natural pode con• te a detecção apena de víru transrr
<luzir a conclusõe equivocadas. Por i o, o uso canicamente (TSV, AMV, SMV, BRM\
d e u m a série de espécie indicadoras pode for• CPMMV são transmitidos mecanicam
ne cer resultados consistentes no diagnó tico o te te biológico está sujeito a variaçõ
de vírus. o d iagnó tico biológico de víru em <lendo das condições ambientais, isa
soja, u ma série de espécies indicadora pode e espécie/cultivar da planta indicadoJ
ser inclu ída. Na tabela 1, ão apresentada as Devido às desvantagens apresent
espécies indicadoras que podem ser utilizados teste não é comumente u tilizado em
para o diagnóstico do TSV, MV, SMV, BRMV, cos de rotina, sendo utilizado, princi
BPMV e CPMMV. na caracterização de isolados virais.

Tabela 1. Lista de espécies indicadoras e sintomas induzidos por Tobacco streak vírus, A/falta mosaíc vi
an mosaíc vírus, Bean rugose mosaic vírus , Bean pod mottle vírus e Cowpea mi/d mottle viru~

Tobacco streak vírus


Espécie indicadora
1
..
Beta patellaris 1 Lesão necrótica local
Cyamopsis tetragano/oba Lesões locais pequenas e escuras
Phaseolus vulgaris cv. Manteiga Lesão necrótica local
Vigna unguiculata Lesões locais cloróticas ou necróticas
Nicotiana tabacum cv. Turkish 1 Folhas superiores com aspecto serrilhado

Alfalfa mosaic virus


Espécie indicadora

Chenopodium amaranticolor -- __ Lesões doróticas locais e sistêmicas


-
Chenopodium quinoa 1
Lesões cloróticas locais e sistêmicas
-·-
Ocimum basilicum Mosaico amarelo sistêmico
- - ·--
Phaseolus vulgaris Lesão necrótica local
~-
Pisum sativum Lesão local e necrose sistêmica da haste
- -- ·- -- --
Vicia faba Lesão local necrótica e necrose da haste
'-
Vigna unguiculata Lesão necrótica local
~

Nicotiana tabacum 1
Lesão néGrótica local e mosqueado sistêmico
lü.2

· · SÔyb_~à,~-n:,osa_ic vlrus
Espécie Indicadora
. .
Chenopodlum a/bum Lesão clorótica local
Le ao clorótica local
Lesão necrótica local
Mosaico sistêmico
Mosaico sistêmlco para alguns isolados virais

Espécie indicadora
. .
Lesão necrótica local ·
Mosaico ou mosqueado severo e rugosidade
Mosqueado

Espécie indicadora

Glycine msx Mosqueado severo e má formação das folhas


Phaseofu vuJ aris Mosqueado severo e má formação das folhas
Mucuna deeringianum Mosqueado
Trifolium lncamatum
_ _..;;;:::=:;:;;:;;;;:::==;;;;::::;:;
Mosqueado
Lespedeza striata Mosqueado

Espécie indicadora
.. ..

Arachis hypogaea Mosqueado


-
Che,nopodium amaranticolor Lesão clorótica local
~
Chenopodium quinoa Lesão clorótica local
Glycine max cv. CD206 Mosaico , clareamento de nervura e deformação foliar
Phaseolus vulgaris cv. Jalo Mosaico

Vigna unguiculata Mosaico

Nicotiana benthamiana Lesão clorótica local

Nicotlana glutinosa Lesão necrótica local e redução no crescimento*

Nicotiana debneyi Lesão clorótica local

Fonte: Plant virus online (http://pvo.bio-mirror.cn/refs.htm) - *Sintomas induzidos por alguns isolados virais.

3.2. Indexação sorológica


A detecção orológica ba eia- e no reco- ou a proteína virai purificada, procede-se à in-
nhecimento de um antígeno (vírus) por um an- jeção em animais de sangue quente, geralmen-
ticorpo e pecífico. De maneira geral, procede- te em coelhos por serem animais de tempera-
-se a purificação virai com protocolo específico mento tranquilo e de fácil manejo. Em síntese,
para manter a integridade da partícula virai após a inoculação do vírus em coelhos, células
ou utiliza-se da expre ão in vitro em istema e pecíficas do sistema imune (linfócitos B e T)
procarioto de uma proteína virai, geralmente produzem antissoro específico contra a partí-
a proteína capsidial. Obtido o víru purificado cula viral ou a proteína virai purificada.
li. - l.ARISSA GOlllAlff ZANAlll)() - D AN IEI.I.E R lO El llO Dl! ílAl@)S - IA DI NE M IICIA C\lt\J

O t t ba ad na 'Orol >"ia mai omu- r m v m que nã fi u ads


n1 n t utilizad n diagnó tico d fitovíru d ela pia a, dir ta u indire,
ã : ELI A (Enzyme link ed lmmuno orbent última lavag m, adi i na- ·
A s a ) indir t DA -EU A (Double Antibo- rá clegradad pela enzima ,
dy a n d wich-Enzyme Linked lmmunosorbent tis r . Apó incubação no e
A s ay). E t t t ba iam- em uma r açã de trinta minutos, proc de- e
n z im ática qu amplifi a a reaçã orológica, sorbância ( 05 nm) em um es1
aum ntando a n ibilidad do te te. a figura Tanto as amo tras quanto o
ã ap r ntada a etapa do t t s ELI 'A vos e negativo devem er adi
indi re t DA -EU A. Entr as quatro tapa ca de poli stireno m triplic:
apr n tada na figura 3, xist m três lavagen t stadas são con iderada po
com PB -T (tampão a ba e de fo 'fato de po- média do valor de ab orbênc
tá io , fo fato de ódio e twe n-20) , a quai maior que o controle negative

E LISA indireto DAS-ELISA

D1 1ª Lava1em(PBS-1)
D
Q 2ª Lava1ea (PBS.1)

Figura 3. Representa«

il
dos testes sorológ icos

[IJ illJ
DAS-ELISA. Na prime
3ªETAPA a ad ição da amostra r
e a ad ição do antissor
ELISA. Na segunda e
o antissoro no teste E
amostra no teste DA~
3ª Lava1em(PBS-1) etapa , é ad icionado o
fus ionado a enzima),
Nesta etapa, no teste

CTJ [i] conjugado reconhece


do antissoro que reco
no teste DAS-ELI SA,
como o antissoro prin
reconhece o vírus. Né
Proteína do hospedeiro XConjugado ad icionado o substrat
na presença da enzi n
• Panícula viral
■ Mudança de coloração degradação do subst
Y Antissoro
devido ação da enzima coloração somente s,
sobre o substrato presença do vírus na
104

O DA -ELI A / mai en ível que o ELI A do te te. O conjugado adicionado no ELI A


indireto, uma vez que o anticorpo é adicio- indireto é u niver al e pode er utilizado para
nado inicialmente na cavidade da placa, re- detecção de qualquer víru , conferindo uma
cobrindo toda a cavidade. o entanto, apre- vantagem em relação ao DAS-EU A . O te te
enta a de vantagem de er nece ário um orológico é o te te diagnó tico mai utiliza-
conjugado e pecífico (anti oro fu ionado a do na detecção de víru de planta , e pecial-
uma enzima) para cada víru a er detectado. mente de vírus que po ui material genético
o ELI A indireto, adiciona- e inicialmente, de R A, onde o diagnóstico molecular se tor-
a amo tra e, ne te caso, tanto o vírus quan- na mais caro, conforme erá di cutido no tó-
to proteína do ho pedeiro ficarão ligada na pico eguinte.
cavidade da placa, reduzindo a en ibilidade

3.3. Detecçao oi cular


Em ca o em que os re ultados do testes geneuco é D A, como os begomovirus, por
biológico e. ou sorológicos forem inconsis- exemplo, o diagnóstico molecular pode ser
tentes, devido à baixa concentração vira! no utilizado como rotina.
tecido da planta, para vírus que são difíceis Para delimitação da região amplificada
de erem purificado ou vírus que não são utilizam-se oligonucleotídeos (primers) que
transmitido mecanicamente (teste de gama flanqueiam a região a ser amplificada, confe-
de ho pedeiro ), utilizam- e a técnica mo- rindo especificidade ao teste. Para realização
leculares para a diagno e. As técnica de de- do diagnóstico molecular baseado na PCR, são
tecção molecular são mai sensíveis que as necessárias três etapas: na primeira etapa, pro-
técnicas orológicas e, em muito ca os, a sua cede-se à extração de DNA; a segunda etapa é a
utiJização é indi pensável para o d iagnó tíco reação de PCR propriamente dita - nesta etapa,
correto. A técnica mai utilizada no diagnós- além do D A molde, da Taq DNA polimerase
tico molecular de fitovíru é a PCR (Polime- e do oligonucleotídeos, são utilizados outros
rase Chain Reactíon ). E ta técnica baseia- e componentes como o tampão da enzima,
na amplificação de um molde de D A (ácido cloreto de magnésio, dNTP "s (dATP, dTTP,
de oxírribo nucleíco) por ação da enzima Taq dCTP e dGTP) e água para completar o volu-
D A polimera e. E ta enzima foi i olada da me da reação. Na terceira etapa, é realizada a
bactéria Thermus aquatícus e sintetiza D A eletroforese em gel de agarose. Nesta etapa, o
em alta temperatura , o que propiciou a au- objetivo é separar os fragmentos amplificados
tomatização da técnica de PCR. pelo tamanho, submetendo-os a uma corrente
Como a maioria do víru de plantas é de elétrica. Como -os ácidos nucleicos são carre-
R A (ácido ribonucleico) é nece sária uma gados negativamente, eles irão migrar do polo
etapa adicional que con i te na tran crição re- negativo para o polo positivo. Posteriormente,
ver a do R A para D A. Para realização desta o gel é colocado em uma solução de brome-
etapa, utiliza- e a enzima tran criptase rever- to de etídeo para visualização dos fragmentos
a, a qual ainda é muito cara no Bra il, o que, amplificados, uma vez que o brometo de etí-
de maneira geral, inviabiliza o diagnóstico de deo é um agente intercalante, que se liga ao
rotina. estes casos, onde o vírus a ser diag- ácido nucléico de maneira irreversível e pode
no ticado é de R A, recomenda- e a utilização ser visualizado sob luz ultravioleta.
do teste sorológico. Já para vírus cujo material
- V IROSES DA SOJA

JLVA - URISSA Goi;!ART Z\MRDO - D A.'\'JELLE RJBEIRO DE B ARROS - Cu.t:Dl~E MÁRCIA e

4. Considerações finais
O de e nvolvimento, produtividade e qua- controle. Como o diagnóstic
lidade d as emente de oja ão afetado por toma pode er subjetivo, a u
vário tipo de e tre e biótico e abiótico . técnicas e faz nece ária p:
Entre os fato res biótico que dificultam a pro- tificação do age nte virai as
dução agrícola de oja no Bra il, e tão a do- Este cenário demon tra a irr
enças cau adas p or fungo , vírus, bactérias e dos de identificação, caractt:
nematoides. Várias doença com os mais diver- tico, bem como a compilaç;
so agentes patogên icos já foram de critas no sobre os vírus que estão as
Brasil. A prática da monocultura da soja tem da soja e que representam
promovido o aumento do nú mero de patóge- presentar um problema sédi
nos associados à cultura da soja, bem como a importante para agricultur
seleção de gen ó tip os patogênicos. capítulo, foram apresentadé
A soja, assim como muitas culturas de im- talhadas dos principais vírrn
p ortância econômica, é afetada por uma série e os testes de diagnóstico
d e espécies virais. Doenças causadas por vírus, utilizados, propiciando, ass
como foi constatado no decorrer deste capí- rendimento destes agentes 1
tulo, são de difícil diagnóstico, identificação e

5. Referências bibliográficas
ALMEIDA, A.M .R. Virose da Soja no Brasil: Sintomas, Etiologia, Controle . Séri
2008. 2 7 p .
ALMEIDA, A. M. R. Vírus de Soja. Cultivar, pp. 26-32. 2000.
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Fitonematoides

MAruA AMELIA DOS S ANTOS


Engenheira Agrônoma, Me., Dr.
Universidade Federal de Uberlândia

Até o início da década de 60 do século XX carijó, redução no porte de plantas com hastes
1ltura da soja restringia-se praticamente a~ de menor diâmetro, murcha e seca de plantas
ido do Rio Grande do Sul, desenvolvendo- que, muitas vezes, levam à morte da planta.
lentamente em outros estados brasileiros. Mundialmente, as perdas por nematoides na
artir de 1968, a expansão de lavouras de cultura da soJ· a estão na ordem de 10 6% ou
L ocorreu em nível significativo em Santa
' '
seja, 3,9 bilhões de dólares. Já os danos (redu-
arina, no Paraná, em São Paulo, no Mato ções na produção de soja) variam conforme o
,sso, em Minas Gerais e em Goiás (BACA- nematoide envolvido e a população existente
I et ai., 2011). na lavoura, sendo estimados ao redor de 30%
No Brasil, os nematoides parasitas de plan- da produção. Em algumas situações, pode
que atuam como patógenos na cultura da ocorrer comprometimento total da lavoura
. são parasitas de raízes e compreendem as pelo aumento populacional dos nematoides
écies Meloidogyne incognita, M. javanica, safra a safra nas áreas contaminadas.
1renaria, Pratylenchus brachyurus, Hete- O desenvolvimento de genótipos resisten-
era glycines, Rotylenchulus reniformis e tes é uma busca constante de pesquisadores
ixaba tuxaua. Essa última espécie é um que se deparam com esses problemas fitossa-
blema mais recente e preocupante, princi- nitários que afetam significativamente a pro-
nente, nas culturas de soja, milho e trigo dução da soja. O efeito do uso de cultivares de
RLANETTO et ai., 2010). soja resistentes a nematoides também pode ser
percebido nos cultivas subsequentes de outras
i\ importância dessas espécies no país se
espécies vegetais suscetíveis, que são benefi-
e a aspectos relevantes, como presença en-
ciadas pela redução populacional do nematoi-
lica em diversas regiões produtoras, eleva-
de na área.
rariabilidade genética e risco potencial de
0 co1n o incremento da área cultivada com
Segundo Roberts (2002), a maioria das
variedades resistentes a nematoides ocorrem
~ctos suscetíveis a estes nematoides.
para endoparasitos sedentários (Meloidogyne,
üs sintomas provocados pela infecção das Heterodera e Globodera) e semi-endoparasi-
~cies de nematoides da soja diretamente , rios Rotvlenchulus,
108 D OE ÇAS DA SOJA: MELHORAME TO GENÉTI CO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE LEMES - L EONARDO C ASTRO RAFAEL Assis

patógenos. Isto se deve ao fato de que o uso vento da Biotecnologia, novos genes de resis-
contínuo de cultivares resistentes possibilita a tência presentes no próprio germoplasma da
ocorrência de pressão de seleção na população soja podem ser rapidamente incorporados às
do nematoide e, quando há ocorrência da anfi- cultivares superiores, aumentando a variabili-
mixia, a variabilidade genética é maior. Normal- dade genética útil aos programas de melhora-
mente, materiais resistentes devem estar inse- mento (SILVA, 2001) .
ridos em um programa de rotação de culturas O processo de desenvolvimento de novas
para minimizar essa pressão de seleção, alter- cultivares de soja pode ser dividido em três
nando espécies vegetais não hospedeiras com etapas principais: escolha dos progenitores e
variedades resistentes e suscetíveis de soja. realização da hibridação; avanços de gerações
A variabilidade genética da soja é mantida e seleções; e avaliação das linhagens mais pro-
e conservada em bancos de germoplasma exis- missoras. Para o início das avaliações do po-
tentes em vários países orientais e ocidentais. tencial apresentado pelas linhagens, seleção e
O EUA mantém sua coleção de aproximada- realização de testes em diferentes ambientes,
mente 15.000 acessos (genótipos) de soja. No espera-se após a geração F6 ou F7, devido ao
Brasil, existe uma coleção de germoplasma processo de autofecundação e segregação nas
com aproximadamente 4.000 acessos, que está primeiras gerações.
sendo conservada em câmaras climatizadas
A maioria das plantas é imune aos nema-
no Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa
toides. A imunidade é definida como condição
Soja em Londrina, Paraná. Essa mesma cole-
da planta que leva à incapacidade do nematoi-
ção é mantida, em cond ições de conservação
de desenvolver-se e reproduzir no interior de
a longo prazo, na Coleção Base da Embrapa
seus tecidos, frequentemente por mecanismos
Recursos Genéticos, em Brasília, DF. A maioria
de bloqueio que se manifestam já no início
desses acessos foi introduzid a da coleção de
da penetração, inibindo-a (ROBERTS, 1990).
germoplasma norte-americana e é composta,
A resistência e a suscetibilidade de plantas re-
principalmente, por genótipos da China, Japão
ferem-se à habilidade evidenciada na supres-
e de outros países onde ocorreu diversificação
são do desenvolvimento e da reprodução de
dessa espécie vegetal (ALMEIDA et ai., 1997).
determinadas espécies de nematoides. Plantas
Nas coleções de germoplasma de soja, a altamente resistentes possibilitam taxas de re-
variabilidade genética para caracteres fisio- produção muito restritas dos seus parasitos, ao
lógicos, morfológicos e agronômicos _é_ con- passo que as suscetíveis permitem abundante
siderada bastante ampla. Essa variabilidade reprodução. Outra definição importante é a de
existente nas coleções de germoplasma ainda tolerância. Plantas tolerantes a certas espécies
é pouco utilizada nos programas de mel~ora- de nematoides sofrem pouca ou nenhuma in-
mento de soja. ormalmente, os melhonstas júria, mesmo sob alta infecção.
se utilizam mais de germoplasma melhorado,
Plantas intolerantes, por sua vez, sofrem
ou seja, cultivares e linhagens mais adaptados
em seus programas de crúzamentos, condu- danos severos. Os atributos de resistência e
zindo a um estreitamento da variabilidade tolerância são independentes e podem ser
genética. Por isso, muitos pesquisadores con- herdados de maneira separada e diferenciada.
sideram que a base genética das cultivares co- Assim, plantas resistentes podem ser intoleran-
merciais de soja é restrita, podendo represen- tes, sofrendo injúrias, mesmo sob baixa infec-
tar um fator de risco para a estabilidade da ção (SILVA, 2001). Uma adaptação de Roberts
cultura. O germoplasma é um recurso na_tu~al (2002) é apresentada a seguir com a represen-
de inquestionável importância na amphaçao tação diagramática do crescimento das plantas
da base genética existente na soja. Com o ad- e reprodução do nematoide nas plantas.
8 - F ITONEMATO IDES
MARIA AME LIA DOS S ANTOS

CresàtnentodD
hD5pedNo

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ntfUtl0ides
llnlllnalol,ia: S&latMI

Na literatura, encontram-se relacionados


Nio
'-lledelro ---- •Phy.
,
vários mecanismos de resistência elaborados bar)
pelas plantas que afetam negativamente a po- carl
pulação de nematoides:
tign
1. Produção de substâncias tóxicas aos dip~
nematoides:
2. A pia
• Tagetes (cravo-de-defunto): suas raí- em q
zes contêm a-tertienil e derivados de
cias e
bithienyl. Estes limitam as popula-
e are
ções de Meloidogyne e Pratylenchus.
Além dos compostos tóxicos, os juve- • Par:
nis que penetram são cercados por des
células mortas em função da reação co j
de hipersensibilidade. são
• Aspargo: contém, em seu caule, fo- tes
lhas e raízes, um glucosídeo tóxico à qu~
Paratrichodorus teres, denominado trii:
ácido asparagúsico. O ácido foi sin- 3. Falta
tetizado em 1956. No entanto, não é netr'1
utilizado porque esse ácido é um ini- 4. Sítio~
bidor de crescimento de planta. Ovos
sinci1
de Heterodera glycines e Globodera
rostochiensis em solução desse ácido deno
apresentaram inibição total. são
men1
--
110 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉC I CAS D E MANEJO

ERNANE L EM ES - L Eo ARDO C ASTRO RAFAEL Ass i s

Wyss (1999), a invasão dos nematoides veis são aquelas com FR > 1, enquanto que as
também ocorre em plantas resistentes, más hospedeiras do nematoide apresentam FR
contudo dentro da raiz, a indução do < 1. Esse é um método indireto de avaliação
sítio de alimentação é inibida, ou mes- da doença.
mo as estruturas de alimentação podem A seleção de plantas de soja através do fa-
ser e tabelecidas inicialmente, mas são tor de reprodução baixo, buscando-se plantas
desintegradas nos estágios iniciais de resistentes, pode incluir plantas intolerantes.
desenvolvimento do nematoide. Nesses genótipos, o ataque dos nematoides im-
5. Hipersensibilidade. Para soja e nema- pede o desenvolvimento do sistema radicular,
toide de ci to, é muito comum o me- tornando-o pequeno e suportando uma popu-
canismo de resistência do tipo reação lação pequena na raiz. Assim, é impossível se-
de hiper ensibilidade, isto é, os tecidos parar a resistência da intolerância, pois em am-
afetados morrem e o nematoide não bos os casos há pequena taxa de reprodução.
consegue completar seu desenvolvi-
Quando pesquisadores discutem o objeti-
mento (SCHMITT e NOEL, 1984).
vo para alcançar a resistência na planta hospe-
Em programas de melhoramento, alguns deira, geralmente o definem como redução da
itens devem ser observados: definição do ne- reprodução do nematoide bem como redução
matoide (gênero, espécie, raça); condições ide- dos sintomas da doença que incluem dano à
ais para a planta reagir ao nematoide (é comum raiz, vulnerabilidade aos estresses como seca
a perda de re istência de plantas quando sub- e, especialmente, perda de produção.
metidas a temperaturas maiore que 30 ºC, em
Alguns sintomas podem ser utilizados para
condições de estufa, que acontece com o gene
avaliar a resistência das plantas, como é o caso
Mi dependente de temperatura para manuten-
da contagem das galhas radiculares incitadas
ção de sua estabilidade); critérios válidos para
por Meloidogyne spp. Nesse caso, é fundamen-
a avaliação da resistên cia; estudo da herança
tal que haja correlação entre a ausência dos
da resistência· cruzamentos e/ou retrocru-
' ,.. . sintomas e a resistência da planta. Conforme
zamentos visando n ão somente à resistencia,
Kinloch (1990), para a soja, há correlação po-
mas também a boas características agronômi-
sitiva entre o número de galhas e a suscetibili-
cas teste do material resistente em condições
dade de plantas.
de 'campo e em d iferentes locais.
Bruinsma (2013), em seu trabalho de ava-
Segundo Oostenbrink (1966), ª resistê~cia
liação de métodos para o estudo da resistência
de plantas aos ne matoides pode ser avaliada
de genótipos de soja a Meloidogyne javanica,
com base na capacidade ou taxa de reprodu-
utilizou-se de uma escala de notas de O a 5
ção dos nematoides nas plantas teS t adas. A re-
(Figura 1) sugerida pelo Serviço Nacional de
produção dos nematoides pode ser mens~ra-
da procedendo-se a contagem dos nemato1des Proteção de Cultivares (MAPA, 2015) . Foram
extraídos do sistema radicular da planta e do considerados resistentes (R) os genótipos que
substrato determinando-se o índice de repro- receberam nota até 2,0, moderadamente resis-
dução o; fator de reprodução (FR). O : R ~ ~
tentes (MR) os genótipos com nota de 2,1 até
razão entre a população final e populaçao m~- 3,0, e suscetíveis (S) os que receberam nota su-
cial do nematoide . Plantas hospedeiras favora- perior a 3,0.
111

Figura 1. Plantas de soja com nota de intensidade de galhas (IG) de 1 a 5. _


o= imune; .
1 = 1 ou 2 galhas e sistema radicular normal; 2 =poucas galhas pequenas e sistema radicular bem desenvolvido;
3 = galh as pequenas e sistema rad icular pouco prejudicado; 4 = muitas galhas e sistema radicular prejudicado; e
5 = sistema rad icu lar totalmente tomado por galhas. Fonte: Bruinsma (2013).

Nesse mesmo trabalho, para as avaliações Vários genes são desativados após infecção
de resistência dos genótipos em casa de ve- do nematoide na planta. Muitos desses estão
getação, foi usada a escala de Taylor e Sasser envolvidos nas respostas de defesa, o que su-
(1978) , atribuindo-se índices de galhas (IG) de gere que o nematoide ativamente suprimi a
O a 5. Associou-se o IG ao fator de reprodu- resposta de defesa do hospedeiro.
ção (FR) para o uso do esquema proposto por A identificação de genes que conferem re-
Canto-Sáenz (1985): sistência a um patógeno é o ponto de partida
• hipersuscetível = IG > 2 e FR $ 1 para um programa de melhoramento genético.
Alguns genes conferem resistência a mais de
• suscetível = IG > 2 e FR > 1
uma espécie de nematoide.
• tolerante = IG $ 2 e FR > 1
Os endoparasitos sedentários são conside-
• resistente = IG $ 2 e FR $ 1
rados os mais bem adaptados ao parasitismo
• imune = IG = O e FR = O
de plantas por passarem a maior parte do ciclo
A infecção do nematoide inicia complexas de vida no interior das raízes onde induzem es-
alterações na expressão gênica da planta. Um truturas de alimentação especializadas (sítios
grande número de genes induzidos pela in- de alimentação). Os fitonematoides secretam
fecção contribuem para o estabelecimento da substâncias pelo seu estilete e essas são libera-
interação parasítica com grandes alterações na das das duas glândulas esofaginas subventrais
arquitetura da parede celular, causando o de- e da glândula esofagiana dorsal, representan-
senvolvimento de células gigantes e sincício. A do papel importantíssimo na infecção e na
infecção pelo nematoide aciona genes que co- formação das células de alimentação na planta
dificam para enzimas que degradam a parede hospedeira. As atividades secretórias levam a
celular, como endoglucanase e poligalacturo- acreditar que as glândulas subventrais estejam
nase em nematoides de galhas e de cisto. relacionadas às fases iniciais do parasitismo, e
112 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTI CO E T ÉCN I CAS D E MANEJO

ERNANE L EMES - LEONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

que a glândula dorsal, ao desenvolvimento e dadas para as diferentes regiões do país. A


manutenção dos locais de alimentação. identificação e a validação de marcado res
A avaliação d a resistência aos nematoides moleculares associados aos genes ou QTLs
é uma atividade complexa, onerosa e que de- de resistência podem oferecer uma impor-
manda temp o, além d e ser muito influencia- tante contribuição aos programas de melho-
da p elo ambiente. A identificação de marca- ramento de soja, no sentido de aumentar a
dores ligados a genes de resistência em soja frequência de linhagens resistentes em suas
permite maior rapidez no processo de obten- progênies. A seleção assistida por marcado-
ção de cultivares resistentes, em programas res moleculares é mais simples, mais rápida
de melhoramento, por meio da incorporação e pode ser mais econômica do que a sele ção
de genes específicos de resistência às culti- fenotípica, além de não ser influenciada pelo
vares mais adaptadas e produtivas, recomen- ambiente (OLIVEIRA, 2012).

Meloidogyne spp.
Silva et ai. (1952) relataram pela primeira Oliveira (2012) comenta que a resistência
vez que as variedades de soja cultivadas nessa da soja às espécies de Meloidogyne é, de ma-
época no Brasil eram bastante suscetíveis ao neira geral, quantitativa. Na grande maioria
ataque de nematoides formadores de galhas. das plantas hospedeiras favoráveis, as secre-
Silva (2001) traz o histórico sobre as fontes ções esofagianas injetadas pelos nematoides
de resistência a Meloidogyne no germoplas- de galhas induzem não apenas à formação do
ma brasileiro de soja com as contribu ições do tecido nutridor (conjunto de células gigantes)
pesquisador Dr. Romeu Afonso de Souza Kiihl, no cilindro vascular e áreas adjacentes, como
profundo conhecedor desse germoplasma. De também podem incitar certo grau de hiper-
acordo com a análise das genealogias, qua- plasia local e, principalmente, causar hiper-
se todas cultivares resistentes disponíveis no trofia de células do parênquima cortical, em
mercado descendem de apenas uma fonte de especial daquelas que circundam o corpo do
genes de resistência, a cultivar de soja norte- nematoide em desenvolvimento. Como re-
-americana Bragg. Essa cultivar é originária do sultado, as raízes tornam-se engrossadas na
cruzamento Jackson X D49-2491, onde Jackson região em que o parasitismo ocorre, poden-
contribuiu com os genes de resistência. Har- do atingir diâmetros ao dobro ou triplo do
twig é uma fonte de resistência para diversas normal; tais áreas diferenciadas constituem
raças de Heterodera glycines e , também, para as chamadas galhas. As células gigantes e as
algumas espécies de Meloidogyne. A resistên- galhas são respostas distintas a um mesmo
cia da soja aMeloídogyn e spp., d e uma maneira evento, a injeção de secreções produzidas pe-
geral, é quantitativa. Oliveira (2012) encontrou las glândulas esofagianas do nematoide em
que a resistência ao nematoide M. íncognita células das raízes da planta hospedeira. As
presente na cultivar CD 201 é conferida por células gigantes são essenciais ao desenvolvi-
três genes epistático , dois dominantes e um mento e a reprodução do parasito, porém as
recessivo. Para a resistência completa (R), as galhas não são. As galhas constituem apenas
plantas necessitam dos três genes. Dois genes bons indicadores da extensão das reações hi-
conferem resistência moderada (MR) e, com perplástica e hipertrófica dos tecidos afetados
u m gene, as plantas mostram- e mo derada- pelas secreções, podendo ser formadas bem
mente suscetíveis (MS). As plantas suscetíveis antes que as células gigantes e mesmo na au-
( ) não possuem nenhum gene de re istência. sência destas (FERRAZ, 2001).
8 F ITO EMATOIDES
MARIA AMELfA DO SANTO

Pratylenchus brachyurus
riedades com va
o m elhoramento genético vegetal para re-
para que a mult
sistência a espécies de Pratylenchus é conside-
mento populad
rado difícil, provavelmente porque são muito
temente, as aro
polífagos e relativamente pouco especia~izado_s
laboratórios tên
(mai p rimitivos), de hábito endoparas1to ~1-
extremamente a
grador, não se fixando na planta hospedeira.
No estu do de hospedabilidade de soja ao ne- rus, com mais d 1
de por grama d,
matoide Pratylenchus brachyurus, não se tem
encontrado genótipos com fator de reprodução panheiras da soj
(FR) do nematoide menor que 1 (ALVES, 2008). algodão, são exc
Em ensaios conduzidos pela EMBRAPA Soja, os do nematoide d
genótipos de soja apresentaram FR variando de tendem somentt:
1,2 a 24,6. A recomendação é a escolha de va- toides na área.

Rotylenchulus reniformis
Em soja, a resistência aos nematoides Ro- que todas as cul
tylenchulus reniformis e Heterodera glycines de de cisto da se
é dada por um gene em comum. Pelo menos a Rotylenchulus
quatro alelos recessivos e um ou mais alelos Conforme
dominantes controlam a herança de resis- cultivar Centem
tência ao nematoide de cisto da soja (Santos, reniforme, foi a
2011). No desenvolvimento de cultivares resis- twig e Epps. Es~
tentes ao nematoide reniforme, recomenda-se eia, também, a
a avaliação de genótipos oriundos de fontes terodera glycin(;
de resistência ao nematoide de cisto, excetu- variedade de SOJ
ando-se a fonte PI 88788, pois já foi observado foram altamenu
que ela não possui os níveis consideráveis de niforme. Hartw
resistência ao nematoide reniforme. Rebois et o registro da ct
ai. (1970) avaliaram a resistência de cultivares volvida por retrc
de soja a ambos os nematoides e observaram uma cultivar sus

Heterodera glycines
No Brasil, este nematoide foi encontrado tes de resistêncfa
na safra 1991/92 (LIMAetal., 1992; LORDELLO também possue 1
et ai., 1992; MONTEIRO e MORAIS, 1992) dos cies de Meloido~
Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Gros- que possui resist
so do Sul e, subsequentemente, no Estado do dera glycines e c1
Mato Grosso (MENDES; DICKSON, 1992). Atu- variedade descei
almente, encontra-se em 10 estados brasileiros rentais de Sharkt
produtores de soja. em cruzamentos
Algumas cultivares de soja provenientes Conforme D
dos EUA que são utilizadas no Brasil como fon- mais utilizada p
11
'
ER NANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Ass,

eia ao n matoide de ci to tem sido a seleção ele No Brasil, a quantidade de cultivares de oja
linhagen a partir de populações originárias resistentes ao nematoide de cisto ainda não é
d hibridaçõ s entre g nótipos adaptados e suficiente. A quase totalidad das cultivare re-
culti are norte-am ricanas r sistentes deriva- si ·tentes são para a raça 1 e 3, embora algu-
da d 'Peking', PI 88788, PI 90763 e PI 437654, mas regiões de cultivo d soja não apresentem
como 'Hartwig', 'Pi kett', 'Peking·, 'Ccntennial', cultivare resistentes para e a duas raças. Ou-
'Forre t', 'Padr ', ' harkey', 'Bryan', 'Gordon', tra itua ão é que, ntre as cultivares de oja de
'B dford', 'Epps', ' athan', 'Foster ', 'Carver', ciclo precoce, não há opções de resi tentes. A
' ton wall', 'C rn 11' 'Thomas'. A estratégj a enorme variabilidade genética desse nematoide
é ar aliza ão d cruzamentos simpl ·~ e múlti- e o manejo inadequado contribuem para r du-
plo (retro ruzam nto m dificado) nvolven- ão da vida útil das cultivares resi tentes. Para
d difer ntes fo ntes e vari dades ad aptadas. tanto, evitar a pres ão de eleção de novas raças
ma parte da população do n matoide de em uma área, pr ·ervaria a re istência da cul-
ci to da soja no campo reproduzirá em qualquer tivar. O conhecimento da div rsidade genética
fonte d ~ r ·i tên ia. Não há font de r si tAncia do nematoide de ci to de uma determinada re-
que li.mina toda populaçã d n matoide por giã é nece sário para direcionar os caminhos a
não permitir a reprodu ão. Ob erva- e que as erem seguido no d envolvimento de genóti-
p pula - d Heterodera glycines nã sã li- po resi tente · e método de controle eficientes
nhas puras, mas im uma mistura d indivídu s (DlA et al., 2010).
com difer ntc mbinaç - e gênic qu p d m Niblack et al. (2002) relataram que o es-
ser afetado d difi rente maneiras p r fat re quema de raça proposto por Golden et al.
externo , que p dem fav, rec r det rminad e (1970) e Riggs e chmitt (1988) não seria mai
de fa~ rec r utr (ABDEL O Retal., 2001). adequado para diferenciação de populações
geneticamente diferente do nematoide de cis-
A maí ria das cultivare re i tentes a ne-
t da soja. E te autore propuseram um novo
mat ide d ci to apresentam a me ma fi nte de
e quema u ando ete linhas indicadoras (plant
re i t " ncia, a PJ 88788. me ta fonte de resis-
intr duction - PI' ) em uma ordem fixa, cujos
tência é mai fácil bter gen ,, tip re i ·tentes
genótipo ã : posição 1. PI 548402 ('Peking'),
pelas té ni as tradi ionai de m Ih rament
p i ão 2. PI 88788 e posição 3. PI 90763 fo-
veg taJ. rmalmente, é mantíd o alt ren-
ram mantido e acre centou-se os genótipos
dimento d parental d cruzament para es a
p ição 4. PI 437654, po icão 5. PI 209332 ,
característí a. po ição 6. PI 89772 e posição 7. PI 548316
·e a me ma fi nte de re í tenda é u ada n (' 1 ud'), para ela ificação da populaçõe de
camp p r vário an , a população do nema- Heterodera glycines em tipos HG ("HG type").
íde de í to erá alterada e terá a capacidade O genótipo 'Lee 74' foi con iderado o padrão
de repr duzír na variedade, cau and perdas de us etibilidade para er u ado no cálculo
·ignífí ativas, "' · a ituação p de er evitada do Índice de Femea (IF) para cada linha indi-
pel cultív de varíedack re i te nte com di- cad ra. O IF é a razão entre o número médio
ferentes .fi nre de re í tência. de fi mea ci to da soja diferenciadora e o
Luedder e Anand (1989 mo traram que númer médio de fêmea e ci to da cultivar
as re p tas de 'Peking' e PI 88788 quant 'Lee 74'. Para IP < 10% c rre p nele o inal ne-
re ístên ia ao nematoide de ci to da ja . ão gativ (-) e para IP ~ 10%, sinal po itivo (+).
anatomicamente dífi rentes. A re istencia de A den minação da p pulaçã do nematoide
'Peking' env lve uma rc: p ta rápida e p te n- apre enta a numeraçã da() p içã (õe ) da
te n lo al de ínfec ão enquanto qu~ em PI diferenciadora que apre · ntaram o inal po-
8878 , a re p ta é maí lenta. itiv . Quand a ete linha indicad ra ão
8 - f ITONEMATOlDE
MARIA AMELIA D SANTO

resi tente , ou seja, apre entam o sinal nega- 'Hartwig' (DIAS et ai. , 1998 e
tivo, a população é ela ificada como HG tipo res propuseram que o númen
O (z ro) . Ao contrário, e toda a linha forem o acompanhamento do sinal p
u cetívei , a população erá denominada de vez que a população do nematc
HG tipo 1.2.3.4.5.6.7. cesse a re istência de 'Hartwig'.
ultivare com IF < 10% ão classificada Outro e tudos são relatadc
como r i tente , entre 10% e 30% como mo- (2009) para outras PI's, elucid:
deradamente re i tente e com IF > 30% como genético da resistência da soj:
use tívei (MAPA, 2015). de cisto. A PI 548402 ('Peking')
A PI 437654 apre enta re i tência às raças 1, tência às raças 1, 3 e 5, encont
2 , 3, 4, 4+, 5, 14 e 14+ de Heterodera glycines, quatro genes envolvidos, sendc
conforme revisão de Dia et ai. (2009), po suin- reces ivo , trê genes recessivrn
do doí ou trê loco de resi tência para raça 3, minante, dois rece sivos e um g
doí o u quatro para a raça 5 e trê ou quatro podem estar ne se controle ger
para a raça 14. Como apre enta emente preta, 88788, as raças 3 e 4 seriam e
sua re i tência nece ita ser introduzida em ger- um gene recessivo e dois domir
mopla ma elite de oja. Do cruzamento dessa PI Nos estudos com a PI 9076
com 'Forrest', foi criada 'Hartwig', com semen- 5 foram controladas por um g<
tes amarelas e re istência a toda a raça detec- e dois recessivos. Um gene dor
tadas nos EUA (Anand, 1992). Aqui no Brasil, recessivos foram encontrados r,
duas populaçõe de 4+ e 14+ multiplicaram em genético da raça 3 nas PI's 209?

1. Referências bibliográficas
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Agropecuária Brasileira, 33, 971-3. 1998.
Doenças de fi nal de ciclo: mancha parda
e crestamento foliar de cercospora
ou mancha púrpura da semente

Luís HENRIQUE CARREGAL


Engenheiro Agrônomo, Me.
Universidade de Rio Verde
Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas
HEIDIWEGENER
Engenheira Agrônoma
Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas
JULIANA RESENDE CAMPOS SILVA
Engenheira Agrônoma, Me.
Universidade de Rio Verde
Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas

1. Introdução
Desde que a soja passou a ser cultivada no uma varia de região para região, sendo que,
Brasil, a inserção de tecnologia foi constante, em um mesmo local, podem também variar a
tanto no que diz respeito ao maquinário e sis- cada safra em função das condições ambien-
tema de cultivo quanto ao melhoramento ge- tais e das medidas de controle implementadas
nético das variedades. O potencial produtivo (EMBRAPA, 2008).
dessa leguminosa aumentou vertiginosamen- Infelizmente, o produtor rural, em sua
te, sendo possível obter produtividades acima maioria, não implementa as medidas de con-
dos 100 sacos por hectare (CESB, 2015). trole de uma forma lógica e racional, a qual de-
A consequência não poderia ser diferen- nominamos manejo integrado, e acredita que
te: redução na rusticidade dos materiais, o apenas o controle químico seja suficiente para
que culminou em maiores problemas fitossa- proteção efetiva das lavouras.
nitários. Pragas, plantas daninhas e doenças Com a intensificação dos cultivas nos últi-
destacam-se entre os principais limitantes à mos anos, a adoção em larga escala do plantio
obtenção do máximo potencial produtivo direto ou cultivo mínimo, a não realização da
(WHRATER et ai. , 2010). E, embora devam rotação de culturas e o uso exacerbado de de-
ser consideradas com a mesma importância fensivos agrícolas, tem-se verificado a ocorrên-
por produtores e técnicos, as doenças mere- cia de várias espécies de fungos resistentes aos
cem especial atenção, uma vez que a diagnose fungicidas na cultura da soja.
nem sempre é realizada em tempo hábil e de
Silva et ai. (2008) foram os primeiros
forma correta.
a relatar a resistência do Phakopsora pa-
São mais de quarenta doenças que podem chyrhizi (ferrugem asiática) aos triazóis. Fa-
incidir na cultura, e a importância de cada biano Siqueri (2009, informação pessoal) e
120
D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNlCAS DE MANEJO

ERNANE LEMES - LEONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

Valtemir Carlin (2009, informação pessoal) ou redução de sensibilidade de P. pacbyrhizi


também relataram problemas d e resistência, às estrobilurinas ocorreu na posição F129L
mas dessa vez de Corynespora cassiicola do citocromo B (Du Pont, 2014), conforme
(Mancha Alvo) aos benzimidazóis e, mais re- postulado por Silva e Silva (2014), WEGNER
centemente, os trabalhos realizados na Agro (2014).
Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas, em Infelizmente os problemas não param por
parceria com a Universidade de Rio Verde aqui; desde a safra 2011/12, tem se verificado
(UniRV) , também comprovaram a resistência a menor eficácia das estrobilurinas também
de Pbakopsora pacbyrbizi às estrobilurinas. no controle das doenças conhecidas como
A empresa de defensivos agrícolas Du Pont Doenças de Final de Ciclo, as quais serão alvo
confirmou em seus estudos que a resistência deste capítulo.

2. Doenças de Final de Ciclo


As doenças denominadas como Final de Para as condições de clima tropical tem se
Ciclo (DFC) podem ser causadas por dois fun- verificado um modelo diferente daquele ocor-
gos: Septoria glycines e Cercospora kikuchii, rido nos Estados Unidos. No Brasil, tais doen-
os agentes etiológicos das doenças Mancha ças têm intensificado sua incidência desde as
Parda e Crestamento Foliar de Cercospora fases iniciais de desenvolvimento da cultura
ou Mancha Púrpura da Semente, respectiva- (Figura 1).
mente. Muitos técnicos e até mesmo pesqui- Trabalhos conduzidos por Klingelfuss e
sadores denominam outras doenças como Yorinori (2001) demostraram que Cercospo-
Mancha Alvo e Antracnose como Doenças de ra kikucbii foi um dos fungos necrotróficos
Final Ciclo, o que não é o mais apropriado. presente na maioria das amostras de folíolos
A denominação Final de Ciclo foi primeira- e também de hastes coletadas a campo, mes-
mente utilizada pelos americanos como Late mo quando não havia sintomas aparentes da
Season Foliar Diseases, uma vez que os sinto- doença. Para esses autores, infecções latentes
mas eram observados fundamentalmente na são comuns nesse patossistema, e a maior co-
fase final do ciclo da soja, normalmente após lonização ocorre inicialmente na parte inferior
a metade do enchimento dos grãos (R5.3). E, das plantas, podendo ocorrer desde a fase ve-
como mencionado anteriormente, os patóge- getativa. A infecção pode ser oriunda tanto de
nos envolvidos são Septoria glycines e Cercos- sementes infectadas quanto do inóculo sobre-
pora kikucbii. vivente nos restos culturais.
9- D OENÇAS DE FINAL D E CICLO : MANCHA PARDA E CRESTAMENTO FOLIAR DE CERCOSPORA OU MANCHA PÚRPURA DA SEMENTE 121
Luís H ENRIQ UE CARREGAL - furor W EGENER- J ULIANA REsENDE CAMPOS SILVA

-Figura 1. Sintomas de Mancha Parda (DFC) nas fases iniciais de desenvolvimento da soja.

Para as condições de clima tropical, onde apresentaria eficácia semelhante no controle


a incidência pode ocorrer em qualquer fase da de ambas as doenças? Certamente não!
cultura, não seria o momento de caracterizar Independentemente da adoção da adequa-
e denominar essas doenças de forma isolada? ção de nomenclatura, o importante é que agri-
Não seria mais apropriado utilizarmos os no- cultores e técnicos estejam atentos para a inci-
mes Mancha Parda e Crestamento Foliar de
dência cada vez mais precoce dessas doenças,
Cercospora ao invés de generaliza-las como
que a diagnose seja realizada de forma correta
Doenças de Final de Ciclo? Será que a relação
dano/perda é a mesma para ambas as doenças? e que as medidas de controle sejam adotadas
A resistência genética também seria idêntica a de forma coerente e eficaz.
ambos os patógenos? Em caso de controle quí- Em virtude do exposto, cada doença será
mico, nos dias atuais, o mesmo grupo químico relatada separadamente.

3. Mancha parda (Septoria glycines)


A olhos menos atentos, a Mancha Parda apresentar urédias ou uredósporos na face
pode ser confundida com a Ferrugem Asiática, abaxial da folha, como é característico da Fer-
causada por Phakopsora pachyrhizi, embora rugem. Em caso de dúvidas, um diagnóstico
apresentem sinais completamente diferentes. completo e definitivo pode e deve ser realiza-
No caso da Mancha Parda, as lesões não irão do em laboratório (GIESLER, 2011).
122 Ü OENÇAS DA SOJA: MELI-IORAMENTO GENÉTICO E TÉCN I CAS DE MANEJO

ERNANE LEM ES - L rn1 ARDO CASTRO - RAFAEL Assi s

Tem se verificado a incidência dessa doen- mancha de cor parda (castanho claro) pode ser
ça de de o início do de envolvimento vegetati- facilmente verificada e, em caso de alta severi-
vo da cultura cau ando o amarelecimento da dade, pode ocorrer intensa desfolha ainda na
folhas unifoliolada e do primeiros trifólios. A fase vegetativa (REIS et al., 2012).

4. Sintomatologia
egundo Almeida et a!. (2005) , os primei- eia precoce pode ocorrer oriunda també m do
ro intoma aparecem aproximadamente inóculo presente nos restos culturais. Pode- e
dua emana apó a emergência das plântu- observar pequenas manchas castanho-aver-
o quando proveniente de infecção na melhadas e angulares nas folhas unifolioladas
ilva et al. (2009) , a incidên- (Figura 2).

Figura 2. Manchas castanho-avermelhadas e angulares em folhas unifolioladas.

Mantendo- e a condiçõe favoráveis, a do- ríodo, a planta e recuperam (YORI ORI


ença poderá progredir e atingir o primeiro 1997). Muito agricultore acred itam , 1nc . u 1- .
1
ve, que a doença tenha reduzido u a
trifólio cau ando evera de folha em plantas
' v n.d a-
de até 35 a 40 dias, endo que, apó e e pe- de, o que acontece em fu nção da d e fio lh a.
123
Luís H E RJQUE C ARREGAL- fum, WEGENER - J ULIANA REsE DE CAMPOS SitvA

Mesmo que ocorra uma recuperação futu- A doença pode apresentar uma fase epidê-
ra da plantas, a de folha precoce interfere na mica ao final do enchimento das vagens - nor-
formação das raíze na fase inicial de desenvol- malmente a partir de R5 .4 - caso as condições
vim e n to e também na parte aérea, prejudican- ambientais estejam favoráveis e o controle não
d o a capacidad e da planta de tolerar estresses, seja realizado de forma adequada. Nas folhas
prin cip almente o hídrico. verdes poderão ser observadas pequenas pon-
Além di so, a redução da área fotossintéti- tuações pardas (menores que 1 mm de diâme-
ca da p lanta em níveis acentuados, mesmo na tro), que, ao evoluir, irão formar manchas com
fase vegetativa, pode reduzir diretamente o halos amarelados e coloração parda na face
p o ten cial produtivo da cultura. adaxial e rosada na abaxial, medindo então de
1 a 3 mm de diâmetro (Figura 3).

Figura 3. Sintomas de Mancha Parda em soja durante a fase de enchimento de grãos.

Caso a infecção seja severa, ocorre desfo- A ?esfolha ocorre do terço inferior para o
lha e maturação prematura, reduzindo assim supenor na planta. Em casos de alta severida-
o r e ndimento da cu ltura (ALMEIDA et ai. , ?e, ~ode-se ocorrer a desfolha total do terço
2005) . mfenor antes de a planta atingir a maturação
fisiológica.
124 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉT ICO E T ÉCNI CAS D E MANEJO

ERNANE L EMES - LEO ARDO CASTRO - RAFAEL Assis

5. Etiologia e Epidemiologia
A Mancha Parda, também denominada Sep- Deuteromicetos), Subclasse Coelomicetos, Or-
toriose, é causada pelo fungo Septoria glyci- dem Sphaeropsidales e Família Sphaeropsida-
nes Hemmi, que pertence à ela se dos Fungos ceae; possuindo corpos de frutificação do tipo
Mitospórico (anteriormente conhecidos como picnídio (Figura 4) (REIS et ai. , 2012).

Figura 4. Pícnídíos formados por Septoria glycines.

É um fungo necrotrófíc , u eja, apresen- tação de cultura , o inóculo tem aumentado


ta a capacidade d ínfe tara planta viva, m~ ano apó an .
também <le e ntínuar u atividade metabo- A infecção corre quando part do fungo
li as me m n re t culturaí ·. Dcs a fi ram, (e nídi , hifas e micéli ) entram m contat
a prín ipal fi nte de ín cul de e patógeno é com as folha · atravé · d " re ping d chuva.
a palha reman .. '" fite da afra ant .. ri r. Altm A infcc ·ão de env lvim nt da d n ça
di , fungo também p de breviver nas ·e- oc rr ~m na faixa de temperatura de 16 º a
ment " d ja p rum p --rí do d · 30 º , tend 25 º com temperatura tima. É
m · (R I · et ai., 2012) . ne sário um períod , uperior a 6 h ra d
J

Dífer "nt •m "nt · d qu muitos imaginam, m lham .. nt fi liar para qu '-' rra mai r in-
a palha d · ja pod _. perman · · ·r a ·ampo fi .. ' ão _. s v ·ridad · da cl n a. Gi l r (2011)
p r um p rí d up ·ri a 20 m _. "'S ·, · m r --lata que, --rnb ra a d "n a in ida m maior
s ultív s ·ontínuos ·m a r ·alíza ã la r - s ·veridad · ·m p ' t'Í do 1-- m lham "'nt foliar
9- D OENÇAS DE FINAL DE CICLO: MANCHA PARDA E CRESTAMENTO FOLIAR DE CERCOSPORA OU MANCHA PÚRPURA DA SEMENTE

Luís H E ruQUE C ARREGAL - HEIDI WEGENER - JULIANA RESENDE CAMPOS SILVA

superiores a 36 horas, o mm1mo necessano não são prejudiciais ao progresso da e


p ara a infecção seria de apenas seis horas, o conforme observado em visitas realiza
q ue pode ocorrer por chuva ou orvalho. Tocantins, Pará e Maranhão. O fator dt
limitação está relacionado à umidade n
Para Hershman (2012) , o progresso da do-
molhamento foliar.
ença é prejudicado por altas temperaturas e
b aixa umidade, mas se normaliza assim que as Infecções no começo do ciclo da
condições ambientais voltarem à faixa ótima são geralmente a fonte das infecções
p ara o fungo. O que se tem verificado a cam- final (enchimento de vagens) (Figura 5
p o , no entanto, é que as temperaturas elevadas SHMAN, 2012).

Figura 5. Incidência da doença no terço médio das plantas .

6. Perdas
A d nça d planta ó ão important clusivament m r la ão ao dano
n e itam er man jada · s afetar m a r nela na r du ã de ár a fi t sint tica da ç
d pr dut r rural, eja p la r du ão na quan- Praticam nt in xi t m tud <.
ticlad I r duzida u na quali lacl d pro luto pr m P tencial d dan d sa ú
final. No ca · da Mancha Parda, que nã d . on qu a p rela cau adti
teri ra as ·em nt · nã ·ausa sintomas que ficulclad tá relacionada nu
r trinjam ua · m rcializa ã , a p rela ·orre d n ·a m onjunto m
126 D OE ÇAS DA SOJA: MELHORAME TO GENÉT ICO E TÉC ICAS D E MANEJO

ER ANE L EMES - L EONARDO CAST RO - RAFAEL Assis

Cercospora, comumente conhecidas como Do- tatísticas através de contrastes ortogonais,


enças de Final de Ciclo. Assim sendo, é difícil verificou-se que diferentes grupos químicos
precisar quanto da perda causada é oriunda de apresentam eficácia de controle, sendo os
uma ou outra doença. mais efetivos: estrobilurinas, benzimidazóis
Algun autores relatam perdas por Doen- e triazóis, respectivamente. A associação de
ça de Final de Ciclo na ordem de até 30% grupos químicos difere ntes mostrou-se mais
(Yorinori 199 ). o entanto, em experimen- efet iva em relação ao uso dos mesmos pro-
to conduzido pela Agro Carregal Pesquisa e dutos de forma isolada. É importante salien-
Proteção de Planta , em parceria com a UniRV, tar que houve diferença significativa entre os
indicam que a perda ocorrida no cerrado ingredientes ativos de u m mesmo grupo quí-
variam de % a 15%. mico. Quando o experimento foi conduzido,
Em várias monografias de conclusão de considerou-se o complexo de Final de Ciclo e
cur o de Agronomia na UniRV, não se verificou não apenas a Mancha Parda.
diferenças e tatísticas na produtividade entre Em algumas regiões do Brasil, a Mancha
área tratadas e não tratadas com fungicidas Parda tem sido ainda mais preocupante, uma
ao ní ·el de 5% de ignificância. o entanto, em vez que incide em maior severidade, como
mai de 80% do caso , verificou-se diferença pode ser observado no oeste da Bahia, Mara-
acima de três aco por hectare quando se rea- nhão, Pará, norte do Mato Grosso e de Goiás
lizou a aplicação de fungicidas. Tocantins e Piauí. Silva et al. (2005a) acreditam
'
o trabalho de pe quisa conduzido por que nesses locais a perda ocasionada possa ser
Boldrin (2003), ao realizar- e análi es e - superior aos sete sacos por hectare.

7. Manejo
O manejo de toda e qualquer doença en- le químico. A determinação do espaçamento,
volve a adoção de diferente medidas de con- população de plantas, cultivar a ser plantada,
trole que visam a redução na incidência e seve- adubação e a necessidade ou não da realiza-
ridade, de forma que o patógeno não interfira ção de rotação de culturas são medidas de
no potencial produtivo. controle que devem ser pensadas ao final da
Dentre as medidas de controle a serem uti- safra anterior. Por não ser uma doença endê-
lizadas para o manejo da doença, de tacam- e mica e raramente causar surtos inesperados, o
o uso de emente de boa qualidade e tratadas controle químico pode ser realizado de forma
com fungicidas, determinação da população mais elaborada, monitorando-se a lavoura e
e e paçament entrelinha. , adubação equili- aplicando-o conforme necessidade. A seguir,
brada, rotaçã de culturas, e colh a da culti- a principais medidas de controle serão abor-
var (ciclo, re i tência genética, etc.) e contro- dadas eparadamente.

8. Sementes de boa qualidade


Por ser um fungo tran mítido por seme n- zada no istema Agrofít do Ministério da Agri-
te , o manejo inicia- e pela e colh a de um a cultura, Pecuária e Aba tecime nto - MAPA 1 • A
emente de excelente qu alidade sanitária adoção de sa medida de controle pode evitar
e fí ioJógica, aJém da necc idade de erem ou atrasar a entrada do patóge no e m áreas
tratada c m fungicida eficiente . A lista de
1 www.agricultura.gov.br
produto regi trado enc ntra- ·e d i ·po nibili-
9- D OE ÇAS D E FINAL DE CICLO: MANC HA PARDA E CRJ: STAME TO FOLIAR DE CE RCOSl'OHA OU MA CJ IA l'ÚHPURA DA SEM ENTE 127

isentas, ou até me mo prevenir a ocorrên- verificado alta incidência de eptoria glyci-


cia de novas raças. o entanto, o agricultor nes nas semente . O patógeno mai comuns
raramente realiza um te te de anidade da tem sido Fusarium spp., Colletotrichum trun-
sementes, o qual pode determinar, inclusive, catum, Aspergillus spp., clerotinia sclero-
qu al o fungicida mais apropriado. os testes tiorum, Corynespora cassiicola, Rhiz octonia
d e patologia realizado na UniRV não e têm solani e Cercospora kikuchii.

9 . Rotação de culturas
A prática mai conhecida para manejo de estabelecer um programa efetivo de rotação de
doenças é a rotação de culturas. o entanto, culturas em 20% a 25% da propriedade.
ainda existe muita confu ão no entendimen- Tal medida é ainda mais importante para o
to do que são rotação e sucessão de culturas. manejo de patógenos necrotróficos, os quais
Um exemplo clássico de suce são de cultu- podem permanecer nos restos culturais de
ras ocorre no sudoeste goiano, onde normal- uma safra para outra.
m e n te o agricultor cultiva oja na safra de Em trabalhos conduzidos na região de Passo
verão e milho na safrinha, ou seja, logo após Fundo-RS no período de 1998 a 2001, verificou-
a colheita da soja. Para que seja considerada -se de maneira geral maior rendimento de cul-
como rotação de culturas, o agricultor deve tivares de soja quando realizou-se a rotação de
cultivar espécies de plantas diferentes na cultura soja/milho (HOFFMAN et ai. , 2004). Para
mesma época de cultivo em anos consecuti- os autores, além da redução na incidência das
vos. Um exemplo de rotação de culturas seria doenças, a rotação de culturas pode promover
o cultivo de soja na safra de verão 2014/15 e melhorias nas características químicas, físicas e
o cultivo de milho na safra de verão 2015/16. biológicas do solo, o que também pode influen-
Dessa forma , o agricultor só utilizaria a mes- ciar diretamente no rendimento da cultura.
ma cultura em determinada área no intervalo É importante salientar que a menor incidên-
de 20 a 24 meses. cia da doença, em virtude da rotação de culturas,
A rotação não deve ser adotada em 100% da se deve principalmente pela redução do inóculo,
área, uma vez que os preços das commodities uma vez que os restos das culturas da soja po-
podem apresentar variações significativas de dem permanecer a campo por períodos superio-
uma safra para outra. Sendo assim, é possível res há 20 meses (COSTAMILAN et ai. , 1999).

1 O. Espaçamento entrelinhas e população de plantas


Não há como considerar espaçamento en- doenças (COSTA et ai., 2002), praticamente ine-
trelinhas e população de plantas separada- xistem trabalhos que a comprovem. Observações
mente. Essas duas medidas de controle devem a campo também levam a crer nessa possibilida-
ser adotadas conjuntamente visando o melhor de, mas, na maioria das vezes, não se considera a
arranjo espacial de plantas na área e, conse- interação com a população de plantas.
quentemente, um microclima desfavorável ao Trabalhos conduzidos pela Universidade
patógeno. Além disso, a distribuição adequada de Rio Verde desde a safra 2002/03 demostram
da plantas favorece a penetração da calda fun- que o maior espaçamento entrelinhas associa-
gicida, facilitando o contato do produto com do a menor população de plantas é fundamen-
o tecidos vegetais a serem protegidos. tal para redução da Antracnose da soja. o mes-
Embora alguns autores afirmem que o me- mo fato foi verificado também para a doença
nor espaçamento provoca maior severidade das conhecida como Mofo Branco. Embora sejam
128 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GENÉTICO E TÉCNI CAS D E MANEJO

ERNANE L EMES - L Eo ARDO CASTRO - RAFAE L Ass i s

doenças diferentes da Mancha Parda, tais ob- menta. Avaliaram-se as populações de 200,
servações indicam a possibilidade na redução 400 e 600 mil plantas por hectare sob os espa-
da incidência de doenças fúngicas em geral. O çamentos entrelinhas de 22,5, 45,0 e 67,5 cm.
que deve ser considerado, ainda, são os parâ- Menor severidade das doenças foi verificada
metros relativos ao rendimento da cultura. ao se t eduzir a população de plantas, inde-
Knebel et ai. (2006) avaliaram a severi- pendente do espaçamento entrelinhas. Menor
dade das Doenças de Final de Ciclo (Mancha severidade das doenças e maior produtivida-
Parda e Crestamento de Cercospora) e Oídio de foram verificadas nas parcelas conduzidas
sob populações e espaçamentos diferentes, sob menor espaçamento e menor população
e consideraram alguns parâmetros de rendi- de plantas.

11 . Adubação equilibrada
Planta bem nutridas são naturalmente Outros nutrientes como zinco e manganês
mais resi tentes às doenças. Zambolin e Ven- são importantes cofatores enzimáticos, catali-
tura (1993) relatam a importânciá da nutrição sando reações químicas importantes nas plan-
mineral para a resistência a doenças de plan- tas, inclusive para síntese de outras substân-
tas em diferentes patossistemas. Para esses cias de defesa, como as fitoalexinas.
autore , cada nutriente tem um papel impor- Além dos benefícios diretos de cálcio e po-
tante e deve ser disponibilizado à planta de tássio, esses nutrientes podem também estar
forma equilibrada. itrogênio é fundamental
relacionados à maior rigidez das paredes ce-
para formação 'de aminoácidos e, consequen-
lulares vegetais, impedindo ou dificultando a
temente, de proteínas. Desde os tempos mais
penetração dos patógenos.
remoto da fitopatologia, as PR-proteínas cons-
tituem- e como mecani mos de defesa de plan- No caso específico das doenças da soja, Yo-
1

tas, com destaque especial para as quitinases e rinori (1997) destaca a importância do potás-
glucana e , as quai podem degradar a parede sio para o manejo da Mancha Parda e também
1
celular da células fúngicas . da Cercospora.
,
1
1

12. Resistência genética


Os programas atuais de melhoramento das decorrentes da Mancha Parda variaram de
não coo ideram a Mancha Parda importante a 3% (variedades FT-6 e FT-5) a 38,4% (varieda-
ponto de se de tinar uma linha específica de de Davis).
melhoramento. Além da perdas não serem Trabalhos mais recentes conduzidos por
tão significativas como aquelas causadas por Rampazzo e Blum (2014) evidenciaram, den-
outras doenças, o controle químico tem sido tre cinco cultivares, menor severidade da Man-
realizado com uces o . cha Parda em MS_OY 8411 e em Emgopa 313,
Até 1980 a pe quisas indicavam não ha- as quais apresentaram também a.s maiores pro-
ver fonte de resistência à Septoría glycínes em dutividades. Nesse estudo, verificou-se que a
soja (LIM, 1980). o entanto, os trabalhos re- cultivar MSOY 9001 foi a mais suscetível, apre-
sentando, em média, a Área Abaixo da Curva
alizados pela Embrapa Soja indicavam pos-ª de Progresso da Doença (AACPD) duas vezes
ibilidade de resistência parcial ª esse agente
maior que a das anteriores.
etiológico. Segundo Yorinori (l99 7 ), as per-
9- D OENÇAS D E FI AL DE CICLO: MANCHA PARDA E CRESTAMENTO FOLIAR DE CERCOSPORA OU MANCHA PÚRPURA DA SEMENTE 129
Luís HENRIQUE C ARREGAL - HEm1 WEGENER - J ULIANA REsE DE C AMPOS S 1LvA

Importante considerar além da reação di- ram bem essas características, sugerindo que,
reta das cultivares, o seu ciclo, uma vez que nas cultivares de ciclo precoce, o fungo teria
o m aior período de exposição (ciclo médio a menor período de tempo para causar danos
t ardio) poderá culminar em maior severida- foliares e, consequentemente, reduzir a pro-
d e da doença. Michel et al. (2000) explora- dutividade.

13. Controle químico


Embora seja adotado como estratégia Os fungicidas triazóis são os que apresen-
ú nica , o controle químico deve ser encarado tam maior variação de eficácia em função do
com o ferramenta adicional ao manejo dessa ingrediente ativo (SILVA et al., 2005c). Mas,
doença. Em experimentos conduzidos por um independente de sua eficácia, esses produtos
p eríodo superior a dez anos têm-se verificado não devem ser utilizados isoladamente, pois
q ue diferentes grupos químicos apresentam podem agravar o problema da resistência já
eficácia no controle dessa doença (SILVA e conhecida a Phakopsora pachyrhizí.
CAMPOS, 2005). Fungicidas protetores ou de contato, que
Os produtos mais efetivos pertencem ao vêm sendo amplamente recomendados para
grupo químico das estrobilurinas. Além da auxiliar do controle da Ferrugem Asiática (SIL-
elevada eficácia, esses fungicidas apresentam VA et al. , 2014), também são efetivos para o
período de controle superior a vinte dias, controle da Mancha Parda. Nas últimas safras,
sendo efetivos também para outras doen- tem-se demonstrado a eficácia de mancozebe
ças, como a Antracnose (SILVA et al., 2005). nesse patossistema (SILVA, 2014).
Em virtude dos problemas de resistência já Tão importante quanto a escolha do pro-
identificados para Cercospora kikuchii, reco- duto a ser aplicado é o momento de realiza-
menda-se o uso das estrobilurinas exclusiva- ção da aplicação. E, diferentemente do que é
mente em misturas formuladas com triazóis, posicionado a campo, não existe um momento
independentemente da época em que será mágico para que a aplicação seja realizada. O
realizada a aplicação (SILVA et al., 2010). Os agricultor ou técnico que o assiste deverá re-
benzimidazóis, tanto o carbendazim quanto alizar o acompanhamento periódico da área
o tiofanato metílico, também são efetivos no (monitoramento) e aplicar conforme neces-
controle, mas se diferenciam das estrobiluri- sidade. Em determinados casos, onde não há
nas por apresentarem um período de contro- rotação de culturas e se conhece o histórico de
le inferior. Normalmente, esses fungicidas são incidência da doença, as aplicações podem ser
efetivos por um período de dez a doze dias iniciadas desde a fase vegetativa, mas sempre
(SILVA et ai., 2005b). baseadas em monitoramento.

14. Mancha Púrpura da Semente e Crestamento


Foliar de Cercospora (Cercospora kikuchil1
Segundo Reis et al. (2012), essa doença Um fator determinante para estimar a per-
ocorre praticamente em todas as regiões onde da ~u_e a doe~ç~ pode causar na produção é o
se produz soja no País, mais frequentemente estad10 fenolog1co em que incide na cultura.
onde as chuvas são abundantes durante a fase Segundo Hérshman (2009), a incidência foliar
de maturação da cultura, o que está relaciona- da do~nça é a que mais irá contribuir para a
do ao termo Doenças de Final de Ciclo. reduçao de produtividade quando a infecção é
130
ERNANE LEMES - L EONARDO CASTRO - RA FAEL A ssis

intensa. A época em que a doença incidir, as- ser esperadas; mas, caso ocorra no fina l do e n-
sim como a velocidade em que se desenvolve chimento de vagens, o dano será mínimo. As-
ão os fatore chave para determinar o impac- sim como ocorre com a Mancha Parda, é difícil
to da doença na produção. Se e ta ocorrer na precisar a perda causad a. Entretanto, muitos
época do início do enchimento de vagens, re- autores acreditam que podem ser superiores a
duçõe ignificante na produ tividade podem 30% (YORINORI, 1997, JULIATTI et ai. , 2006) .

15. Sintomatologia
O fungo Cercospora kikuchii pode ocor- O nome crestamento é oriundo de uma colora-
rer em toda a parte da planta e em qualquer ção arroxeada e de a pecto duro, similar a cou-
e tádio de de envolvimento. O intomas mais ro. Sob alta severidade, pode ocorrer desfolha
importante ão ob ervado em ambo os lados precoce (DHI GRA et al., 2009) (Figura 6).
das folhas e normalmente aparecem ao final do Nas vagens podem-se observar pontuações
e tádio do enchimento de grão . ão tipicamen- vermelhas que evoluem para manchas casta-
te repre entado por manchas e cura , casta- nho-arroxeadas. Pela vagem, o fungo alcança
nho-avermelhadas, de aproximadamente 2 a 3 a semente e causa a mancha púrpura no tegu-
mm de diâmetro. Com o progresso da doença, mento. Nas haste aparecem manchas verme-
as le õe irão aumentar de tamanho e podem lhas, geralmente superficiais, limitadas ao cór-
coale cer, formando grandes manchas escuras. tex (ALMEIDA et al., 2005) .

Figura 6. Sintomas do Crestamento Foliar de Cercospora.


a emente , o intoma mai caracterí tico em nte c m alta porc ntagem .
é a ocorrência d mancha de colora ão varian- tação con qu ntement d colora,
do de ro a a roxo pálido ou e curo, podendo er u m menor con entração d ól
apena uma pequena pontuação ou cobrir a e- cone ntração d proteína quando
mente por inteiro. A ementes afetada podem radas a mente audáv i . A germ
apre entar rachadura na camada e terior d emergência em m nor
tegu mento (Figura 7) (DHI GRA et ai., 2009). comparada ' · (GI ~ , 2013

Figura 7. Sintomas do Crestamento Foliar de Cercospora nas sementes.

Em casos de solos de baixa fertilidade, como rina possui uma coloração vermelh
ocorre nos primeiros anos de cultivo nos cerra- que, ao agir na planta, explica a ten<
dos, pode ocorrer infecção nos nós, facilitando tecidos afetados a adquirirem uma
a penetração do fungo na haste da planta, cau- arroxeada. A toxina causa a ruptu
sando uma necrose de coloração avermelhada te das células, o que resulta na m
na medula (ALMEIDA et ai. , 2005).
sintoma observados nas plantas
O patógeno produz uma toxina ativada (HERSHMAN, 2009).
pela luz, chamada cercosporina. A cercospo-
132
ERNAN E LEM ~ - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Assis

16. Etiologia e Epidemiologia


A doença é cau ada pelo fungo Cercospora rentemente de Septoria glycines, e se fungo
kikuchii (Mat umoto e Tomoya u) Gardner e não forma picnídios. As estruturas reproduti-
pertence à Clas e do Fungo Mito pórico va (conidióforos e conídios) ão produzida
(antigo Deuteromiceto ), Ordem Moniliales, de forma livre sobre a superfície vegetal infec-
Família Dematiaceae (REI et ai., 2012). Dife- tada (Figura 8).

Figura 8. Conidíófor e conídíos produzídos por Cercospora kíkuchíí sobre tecidos vegetaís infectados.

A traru,mis"ão de patógcn >e · rre p r meio com baixa infcc ão s brevivem (DHI GRA et
das &ementt:s, que quando ínfcctad ~ podem ai. , 2009 .
gc:rmínar ou não, dép --nd ·11do da ~,vcrida.dc pro 1 rcsso da d <:nça .,. fav recid m
da do :nça. 'o --ntant! , quandc germinam , pc - ambiente qu ·nre _. úmíd (22 " a 30 º r-
&m prc duzír p1ántu1a." do -ntc~. r ·nd a --sp ,ru)ação d fu ng n e tHéd
'a pJán uJa ínfc ·tufa, b4,c:rvam- e cotí- n' s folhas e n' s hastes afotada . E s<: · nídi
J-:d mcs -n rugadc s, pod --nd< ter coJ raçã< forma.do irão :xcre<;r pap ·J lc in ' ·ul e-
r ru -<:scura, ~ quais ·a<:m pr .,a e -m n -. ·undárío, s ·ndo fac íl m ·n · d ' ·semín ad por
A ínfecção do cútil ".d( n., p d · tér extensão r ·bpíng s d · _água · v--ntos. patógJn , p r
até a h~tc, pr duzíndo áreas n .,cr6 i ·as q "', . ·r n _. ·r >trófie<, tam b ·m . br 'Vive d " fi rma
cas v:-nham a cí rcu lar a has~, pc dcm ·au- ·fí ·i ·ntc: ·m r •1,t< ·ul urai · d " uma ·afra para
~ar a me rtc d - plan ª"
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a ou ra J ff J GJ A et ai., 2( (
133
Luís HE RJQUE C ARREGAL - H EID I W EGENER - ] l:LIANA íl.E!)EI\OE CAMPOS ILVA

17. Manejo
O manejo do Cre tamento Foliar de Cer- peito are í tência genética e controle químico.
co p o ra, embora emelhante ao da Mancha A demai medidas de controle podem er ado-
Parda , requer algun cuidado no que diz re - tada conforme já citado para Mancha Parda.

18. Resistência Genética


Are istência genética é uma medida ma· e - rimento. egundo, mai de 87% das linhagens
pecífica e diretamente relacionada ao patógeno. te tadas apre entaram- e como re istentes. e-
Alguns autore já demo traram que linhagen gundo autore , a cultivar que dev er utili-
ou c ultivare re í tente à Mancha Parda podem zada como padrã de re i tência é a Emg pa 313.
não apre entar a me ma característica em rela- Em experiment c óduzid p r Kud e
ção ao Cre tamento Foliar de erco pora, e vice- Blum (2011), ape ar da men r everidade, tam-
-ver a (YORI ORI, 1997; K D e BL M, 2011). bém e verifíc u que a mai r parte das linha-
Ao e avaliar ar · têncía genética de linha- gen te tadas foram re i tente a es e patógen ,
gens de oja a Cercospora kikucbíí em tr" L ca- o que indi a a real p ibilidade de e utilizar a
lidade , Juliatti et ai. (2006) verificaram que 75% re i ·têncía genética com principal medida de
d materiais foram re · tenli no primeiro expe- contr leda doença.

19. Controle químico


e ntr le químic de doença em ja Experimento de campo e nduzid s pela
tem id um de afi n último ano ·, princi- Agr arregal Pe qui a e Pr teçã de Plantas
palmente p r er utilizado c m única e traté- c rr boram · relat de Príce et a!. (2014),
gía pel agricult re . / muito mai imple e que e mpr varam a re istência de e fung a
prátí t mar a deci ã de aplicar fungicida. e tr bilurinas em L ui íana, o · E -rad · ni-
entant , a nã ad ã d demai práticas do . E e era um fat pre umível , uma vez que
de c ntr le tem cau ad um de equilíbrio pre- Klingelfu e ~ rínorí (2001) relataram infec-
cupante a amp . nfi rme já mencionado çõe latente de de a fa e vegetativa da soja,
ne ·te capítuJ , ca de re. i têncía u me- e a rec mendaçõe de contr le quími o n
n r sen ibiUdade do. fungo ao fungicida Bra í1 de de 2004 e ntempJavam u de e -
têm id e nstantemente relatad . trobilurína i oladamente no e ntrole de do-
ca · de Cercospora kíkuchíí, embo- ença em ja. Durante a ·afra 2011/ 12, foram
ra ainda nã c mprovad cientificamente no tratado rnai · de 2,7 milh - es de hectare c m
Bra íl, é evidente a perda de eficácia da e - e trobílurinas is !adas. Acredita- e que, na sa-
tr bílurina . Pr vavelmente d n J43A é fra p teri r, a área tratada tenha íd pr / xima
a p içá nd rreu a muta ã , a qual é do a 5 rnílh - e de hectare .
tip quaJitativ , u eja, aquela que ac nte e Patógen presente d . de o e. tád i m1-
d .. fi rma abrupta e fungicida perde comple- ciai , a não realização de rotaçã ele cultura ,
tam .. nt .. a <:flcácia. ite d omHê de Ação u · de ultívarc · . uscctívei. , relato de re-
à R • ·ísténcia de ungicidasr (FRA! , 2015), há i tên ia des e gêner às e tr bHurina o
uma lis ta e m vári gêner de fung · re L - u de e grup químic i ladamente de de
·nt · · a ~ ·tr bilurína n mund e, entre de , a fa e vegetativa nã p deríam culminar em
aJg n · d g "' ner erco ~ora , cuja p içá de utra e i a anã er --m re i tência.
mutaç - " ju ·tamente a 1 3A.
134

20. Considerações finais


Agricultura sustentável não é uma utopia. controle poderão proporcionar o manejo efe-
É uma necessidade! Agricultura sustentável ou tivo da Mancha Parda e Crestamento Foliar de
ecologicamente correta não implica na aboli- Cercospora, mantendo a rentabilidade do agri-
ção do u o de defen ivo agrícolas , m as sim cultor e preservando a eficácia dos fungicidas.
em eu uso de forma racional. Por u o racio- A melhor alternativa para obter êxito no
nal entende- e que as aplicações devam ser manejo das doenças é através da assistência
realizada conforme nece idade e como me- técnica de qualidade e um engenheiro agrôno-
dida complementar à demai estratégias de mo deverá sempre ser consultado.
controle. omente a integração de medidas de

21 . Agradecimentos
Ao organizadores pelo convite. Certamen- A todos que direta ou indiretamente contri-
te e a obra irá contribuir de forma relevante buíram nos trabalhos de pesquisa e na redação
com o manejo de doenças em oja. deste capítulo.

22. Referências bibliográficas


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Estresses abióticos
na cultura da soja

DuRVALINA MARIA MATHIAS oos SANTOS


Bióloga, Me. Dra.
Universidade Estadual Paulista
UNESP Jaboticabal
RENER LUCIANO DE SOUZA FERRAZ
Licenciatura em Ciências Agrárias, Me.
Universidade Estadual Paulista
UNESP Jaboticabal
DENISE APARECIDA CHICONATO
Bióloga, Me_.
Universidade Estadual Paulista
UNESP J aboticabal
ANTONIO PIZOIATO NETO
Engenheiro Agrônomo
Universidade Estadual Paulista
UNESP Jaboticabal

1. Introdução

Qualquer tipo de estresse prejudica o de- continuum solo-planta-atmosfera, necessitam


sempenho de um organismo vivo, e as plan- ter condições de superar as mudanças ambien-
tas, como seres sésseis, são mais susceptíveis tais desfavoráveis, que podem ocorrer em qual-
aos efeitos de vários tipos de estresses, que quer momento ao longo de seu ciclo, mediante
provocam mudanças e disparam respostas em uma eficiente coordenação de mecanismos bio-
todos os níveis funcionais do organismo, seja lógicos que proporcione a real sobrevivência.
anatômico, morfológico, celular, bioquímico e/ Neste capítulo serão abordados os efeitos dos
ou molecular. Em condições naturais e agricul- estresses ambientais na cultura de soja, enfati-
táveis, as plantas, frequentemente, estão expos- zando cinco tipos de estresses que comumente
tas aos fatores físicos e químicos da natureza afetam essa cultura, como estresse térmico (alta
(ambientais ou abióticos), os quais limitam o
e baixa temperaturas), nutricional (deficiência e
desenvolvimento e as suas chances de resistir às
toxidez mineral), estresse salino (por NaCl) e
condições adversas. Os vegetais, por viverem no
estresse hídrico (seca e alagamento).
138 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GEN ÉTI CO E TÉCNI CAS DE MAi~EJO

Eru ANE L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

2. Estresse térmico -Altas e baixas temperaturas


a atual conjuntura agrícola mundial, a co- res que controlam a germinação, existindo um
munidade científica vislumbra a necessidade limiar entre baixa e alta temperaturas e m que,
crescente de compreender as implicações de acima ou abaixo, o processo germinativo não
variáveis climáticas subótimas e supraótimas ocorre. Para a cultura da soja, a faixa de tempe-
na dinâmica do crescimento e desenvolvimen- ratura em que ocorre germinação está situada
to de plantas cultivadas (DO G et a!. , 2015) . na amplitude de 10 º C a 30 º C (BOROWSKI e
Tal ensejo sustenta-se na instabilidade do cli- MICHALEK, 2014). No Brasil, a faixa de tempe-
ma que está se apresentando em nosso plane- ratura ideal do solo para a germinação de soja é
ta nos últimos tempos. De fato , as mudanças de 20 º C a 30 º C, com ponto térmico ótimo de
no clima têm preocupado diversos segmentos 25 ºC (FARIAS et a!. , 2007; EMBRAPA, 2009) .
sociais, notadamente, por comprometerem A amplitude térmica em que as sementes são
a segurança alimentar e, sobretudo, no que expostas é determinante para o sucesso na
tange à produção agrícola (WEI et a!., 2014). germinação. Estudando variações na amplitu-
De acordo com Flexas et a!. (2014), as pros- de de temperatura, FangLei et a!. (2011) veri-
pecções ambientais para o final do século XXI ficaram que, conforme ocorria diminuição na
evidenciam impactos no desempenho das cul- faixa de temperatura, havia drástica redução
turas em condições naturais. Esses pesquisa- na germinação de sementes de soja selvagem,
dores reportam que as variáveis climáticas, com ocorrência de 40% de decréscimo entre
com destaque às oscilações de temperatura, a maior (O ºC) e a menor amplitudes (20 ºC)
merecem atenção especial por terem maior estudadas (Figura 1).
amplitude de variação. Esse cenário evidencia O tempo de exposição das sementes a de-
a necessidade de abordagens teóricas quanto termiriadas condições de temperatura pos-
aos efeitos de temperaturas baixas e altas em sui implicações no processo germinativo. Por
culturas relevantes para o agronegócio, visan- exemplo, sementes de cultivares de soja, quan-
do ampliar a disponibilidade de informações do expostas a temperaturas elevada, tendem a
pertinentes e incentivar novas pesquisas. expressar redução na germinação na medida
As variações bruscas de temperatura em em que a temperatura é ampliada (OUTRA e
plantas de oja podem comprometer a ger- VIEIRA, 2004). Essa informação pode ser con-
minação de su as sementes (BOROWSKI e MI- firmada por meio do teste de envelhecimento
CHALEK, 2014), o crescimento (TACAR!~DUA acelerado, o qual parte do princípio de que
et al., 2013), de envolvimento, produtividade sementes mais vigorosas tendem a suportar
e qualidade do produto colhido (PUTEH et al., condições adversas de temperatura e umidade
2013). A temperatura é um dos principais fato- com a menor deterioração possível.
10 - ESTRESSES ABIÓTICOS NA CULTURA DA SOJA
139
D U RVALl1 A M. M. DO S ANTOS - RE ER L. S. FERRAZ - D EN ISE A. CHICONATO - .ANTONIO P. ETO

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e., • Redução = 40% ♦

20 X

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o 5 10 15 20 25 30 35 40
Temperatura média (ºC)
Figura 1. Efeito da alternância de temperatura na germinação de sementes de soja selvagem .
As amplitudes das alternâncias de temperatura foram O ºC , 5 ºC , 10 ºC , 15 ºC e 20 ºC .
Fonte: Adaptado de Fanglei et ai. (2011 ).

O crescimento das plantas pode ser dras- observaram que o aumento térmico reduz o
ticamente comprometido em função de varia- acúmulo de fitomassa da parte aérea (Figura
ções bruscas de temperatura (TACARINDUA 2A) devido à diminuição da fotossíntese (Fi-
et ai. , 2012). A soja responde significativamen- gura 2B), que, por sua vez, está associada à
te a essas mudanças, com reflexos na alocação menor condutância estomática registrada nes-
de fitomassa e diferenciação no crescimento sas plantas.
(Thanacharoenchanaphas e Rugchati, 2011).
Estudos em Câmaras de Gradiente de Tempe- Estádios de desenvolvimento dependem
ratura (TGC), visando avaliar o efeito de va- da condição ideal de temperatura, de modo
riações térmicas no acúmulo de massa seca de que oscilações bruscas podem provocar atra-
soja, são bastante contraditórios (SHIRAIWA sos ou antecipação no desenvolvimento das
et ai. , 2006; OHE et al., 2007). Em virtude plantas e consequente redução na produti-
da inconsistência de resultados, Tacarindua vidade. De acordo com Thuzar et ai. (2010),
et ai. (2013) salientam que o emprego dessas os constituintes do processo reprodutivo da
câmaras no estudo da temperatura em soja soja, como pólen, tubo polínico e formação
precisa ser mais explorado. Assim, esses cien- da vagem, são afetados notadamente em ca-
tistas, estudando o efeito da temperatura em ráter majoritário pela temperatura quando a
TGC sobre a cultura da soja por quatro anos, água não é o fator limitante.
140
ÜOENÇAS DA SOJA: MELHORAME TO GENÉTICO E TÉC I CAS D F. MANEJO

ER A1 E L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAE L Assis

A)

1000 B)
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25 26 27 28 29
o
30 31 40 45 50 55
Te171>Cratuni media do ar (/C) 60 65
Dias npós a se~dura

Figura 2. Variação no acúmulo de fitomassa da parte aérea em função da temperatura (A)


e da mudança temporal na fotossíntese (B) da cultivar de soja Enrei.
Fonte: Adaptado de Tacarindua et ai. (2013).

etapas de crescimento e desenvolvi-


A
alterações expressivas no crescimento e na
mento da planta ão decisiva para a ob-
fase reprodutiva com significativa redução da
tenção de produtividade e qualidade satisfa-
quantidade colhida por área plantada. As in-
tórias. Realmente, em contribuição científica
flu ências de temperaturas muito baixas (fai-
relevante Thanacharoenchanaphas e Rug-
xa de -2 ºC a O ºC) e muito altas em um campo
chati (2011) reportam que, em condições de
de soja são apresentadas nas Figuras 3 e 4,
temperatura de favoráveis , a oja evidencia respectivamente.

Figura 3. Necrose foliar é um


sintoma visível do efeito do frio
intenso em plantas de soja na
região do Kansas , USA.
Fonte: Retirado de Ciampitti
e Knapp (2014).
141
ETO

Figura 4. Quebra de safra da soja na região de Londrina, PR, devido ao efeito de altas temperaturas
e pouca chuva , o que antecipou a maturação e prejudicou a qualidade do grão.
Fonte: retirado de Salvatico e Guimarães Filho (2014). Foto: crédito, Gilberto Abelha/JL.

Puteh et ai. (2013) observaram drástica re- abortadas na comparação de plantas mantidas
dução nos componentes de produção e pro- em temperatura ambiente com aquelas sub-
dutividade da cultura de soja ob temperatura metidas à temperatura muito alta (Figura 3).
alta. Acre cente-se que, comparando as médias Em outro aspecto, constituintes importantes
obtidas nas temperaturas ambiente (25 ºC) e das sementes de soja, as quais as caracterizam
alta (30 ºC) com as obtidas em temperatura qualitativamente, podem variar em função da
muito alta (35 ºC), verificaram-se reduções de temperatura, como, por exemplo, compostos
13,6% e 31,1%, respectivamente, no número de bioativos, proteína solúvel, lunasina, inibido-
sementes por vagem e na produtividade (Figu- res Bowman-Birk (BBI), lectina, saponinas e
ra 3). Para o número de vagens e sementes por isoflavonas (PAUCAR-MENACHO et ai. , 2010).
planta, as reduções foram de 37,2% e 43,5% Esses cientistas verificaram a redução no teor
quando e comparou a temperatura ambiente de proteína solúvel, aumento na lunasina, re-
com a muito alta (Figura 3). Houve aumento dução no BBI, aumento na lectina e saponina,
expressivo no número (75,1%) e, consequen- e redução de isoflavonas na medida em que a
temente, na porcentagem (73,1%) de vagens temperatura era elevada.
142
D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E T ÉCNICAS D E MAN
EJO
ERNANE L EMES - L EONARDO CASTRO _ RAFAEL Assis

A) □ 25 ºC D30ºC D35 ºC B)
4,0 - □ 25 ºC D30 ºC □ 35ºC
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3,0 - A 100
- A A
- 80 - - B
2,0 - A A B r--

- - B r---
60 - A
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B
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NS (un 7
NVP (un) NSP (un)
C) D 25 ºC D 30 ºC D35 ºC
60
50 A
40
30 A
B
20
B e Figura 5. Componentes de produção.
10 e Sementes por vagem e produtividade (A},
vagens e sementes por planta (B), número e
o -t--_ ....__......._.___.___.____.___-,--_...__..__.____.__.__....,__-----,
porcentagem de ~agens abortadas (C) de soja sob
NVA (un) PVA(un) tem~eratura ambiente (25 ºC), alta (30 ºC) e muito alta
(35 C). Fonte: Ad aptado de Puteh et ai. (2013 ).

3. Estresse nutricional - Macro e micronutrientes


m ão deficiente m
um u n 1ru ária para a
plan d quadam nte. gundo
Kre t Mio · · big po tula
a nutrient n r cim nto na
n pend d rva do ou tro
iai nã p r interpretado

Figura 6. Lei de Lieblg ou Lei do Mínimo.


Todos os nutrientes e fatores ambientais estão adequados,
exceto o P. Essa deficiência de P causa diminuição
significativa do potencial de produção do cultivo que,
analogicamente, é simbolizado pela égua contida no barril.
Fonte: De acordo com Lepsch (1976).
10 - E STRESS ES ABIÓTICOS NA CULTURA DA SOJA 143
O URVALI NA M.M. D OS S TO - RE NER L. S. F ERRAZ - Ü E ISE A . C HICONATO -ANTO ro P. N ETO

Muitas são as pesquisas que abordam a entretanto, se níveis altos de produção são de-
importância da adequada nutrição mineral sejados, torna-se necessário um suprimento
dos vegetais para a obtenção de alta produti- adequado tanto de macro como de micronu-
vidade agrícola (MALAVOLTA, 2006; EPSTEIN trientes. Os estudos de Sfredo e Borkert (2004)
e BLOOM, 2006; MARSCHNER, 2012). Acidez, e Mascarenhas et ai. (2013; 2014) evidenciam
alcalinidade, salinidade, processos antropogê- que os efeitos da deficiência ou toxicidade
nicos, a natureza da agricultura e da erosão dos nutricional causam sérios prejuízos nas
podem levar à degradação do solo. Com isso, plantas de soja. De acordo com Peck (1979),
a adição de fertilizantes é essencial para um a cultura de soja com nutrição deficiente ou
fornecimento adequado de nutrientes e ren- tóxica pode ser afetada negativamente (Tabela
dimen tos máximos. A correta utilização de 1). Dependendo da fertilidade do solo, fatores
insumo s garante a manutenção da fertilidade climáticos e da própria planta, e deficiências
do solo e níveis elevados de produção, de for- de N, P e Fe podem causar perdas de produ-
ma sustentável, econômica e ambientalmente tividade na soja, respectivamente, de 10%, 29-
segura. A otimização da eficiência nutricional 45%, 22-90%, 100% e 16-30%, (HELLAL e AB-
é fundamental para ampliar a produtividade DELHAMID, 2013). Além da elevada absorção
e reduzir o custo de produção (MALAVOLTA, do N pela cultura de soja, o K se destaca como
2006; EPSTEIN e BLOOM, 2006; MARSCHNER, o segundo elemento absorvido em grandes
2012). A nutrição mineral compreende os ma- quantidades, sendo que, em cada 1000 kg de
cronutrientes, como nitrogênio (N), fósforo sementes produzidas, são extraídos 20 kg de
(P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e K2 0 (MASCARENHAS et ai. , 2003). A deficiên-
enxofre (S), os quais são requeridos em quan- cia de K causa amarelecimento no ápice das
tidades maiores (HAWKESFORD et ai., 2012), folhas adultas, crescimento reduzido e ha~-
e os micronutrientes como ferro (Fe), cobre te grossa, flores remanescentes e redução da
(Cu), zinco (Zn), níquel ( i), cloro (Cl), moli- produção de sementes (SFREDO e BORKERT,
bdênio (Mo) e manganês (Mn), requeridos em 2004; MASCARENHAS et ai. , 2013; 2014;
quantidades menores (BROADLEY et ai. , 2012). KRUEGER et ai. , 2013). A Figura 7 evidencia os
A soja no Brasil é cultivada em larga escala sintomas da deficiência de K em soja. O P é um
em solos ácidos e.g. cerrados os quais apre- dos macronutrientes mais importantes para a
sentam baixo pH e menor capacidade de troca cultura de soja. A baixa disponibilidade desse
catiônica alta capacidade de adsorção de P e elemento, segundo Wang et ai. (2009; 2010), é
elevadas concentrações de alumínio (AI 3+) e especialmente problemática para as plantas de
Mn trocáveis ou disponíveis (MOREIRA et ai. soja, que necessitam de quantidades adequa-
2003). A produtividade da cultura da soja em das desse elemento para que haja fixação de
solos de baixa fertilidade pode ser satisfatória, nitrogênio pelos nódulos radiculares.
--
1 J OENÇAS DA S OJA : MEI.IIORAM F.NTO GENÉT I .O E TP.CN ICAS Oll MANEJO

ErtNANE L EME - L EONAnno ASTRO - RAFAEL Ass is

Ta bela 1. Classes de interpretação do estado nutricional das plantas de soja no Brasil.


Fonte: Adaptado de Peck (1979).

Classes de interpretação
Nutrientes Deficiente Baixo . Suficiente Excessivo
< 9 kg•I >
32,5 32,6-40,0 40-55 55-1-70 70
p 1,6 1,7-2,5 2,6-5 5,1-8 8
K 12,5 12,6-17 17, 1-25 25-1-27,5 27,5
Ca 2 2, 1-3,5 3,6-20 20, 1-30 30
Mg 1 1,1-2,5 2,6-10 10,2-1 5 15
1,5 1,6-2,0 2,1-4 4,1
mg kg·1
10 11 -20 21 -55 56-80 80
5 6-9 10-30 31-50 50
30 31 -50 51 -350 351 -500 500
15 16-20 21-100 101-250 250

0,5 0,6-0,9 1-5 5,1-10 10

11 12-20 21-50 51-75 75

Figura 7. A deficiência de K em soja causa i~icialmente o ama~eleci mento na borda dos


trifólios (A) e, posteriormente, necrose foliar (B). Fonte: Retirado de Taylor (2014 ).

D ido à alta mobilidad do P na planta o deficiente. E a deficiência reduz a altura e 0


intoma d ua d fiei · ncia aparece inicialmen- cre cimento de fitoma a em plantas de OJa.
A
·
t . n folh mai elha , ndo caract rizado Parametro de cre cimento e tudado em ní-
p la col ração anormal em verde-e uro azu- vei alto e baixo de p em planta de OJa . ct·1-
. 1n
lado ou bronzeado. A cor púrpura de e- e ao cam que e e elemento é fundamental
.. d d d para a
d cr ' cimo da ínt de proteína quando P é pr d ut1 1 a e a cultura (Tabela Z) .
145

Tabela 2. Crescimento de plantas de soja sob altos e baixos níveis de P.


Fonte: Adaptado de Hawkesford et ai. (2012).

PARÂMETROS FÓSFORO (P)


DE CRESCIMENTO Baixo ..
Área foliar (dm 2) 1,8 12,1
Clorofila (mg dm·1)
~ 2,8
Razão parte área/raiz 1 1,0

Nº de folhas trifoliatas 1
4,0 7,0

De acordo com Ma carenha et al. (2014), soja no Brasil (MARCONDES e CAIRES, 2005).
no Estado de São Paulo é rara a ocorrência As folhas de soja com deficiência de Zn, segun-
de d ficiência por micronutrientes em soja, do Mascarenhas et ai. (2014), apresentam cor
porém, as deficiências podem ocorrer pelo amarelo-amarronzado claro e os sintomas são
uso intensivo dos solos e cultivas sucessivos, intensificados nas épocas frias e úmidas do
solos com baixo teor de matéria orgânica ou ano, desaparecendo com a elevação da tem-
outros fatores, podendo resultar ao longo do peratura. As folhas jovens são pequenas, o
tempo na deficiência das plantas em relação caule torna-se rígido e ereto, com entrenó e
aos micronutrientes. Os micronutrientes mais agrupamento de folhas na forma de roseta, a
estudados na cultura da soja são Mn, Zn, Mo maturação é atrasada e há menor número de
e B01·0 (B). A toxicidade de Mn caracteriza-se vagens nas plantas. Estudos citados por Broad-
pelo encarquilhamento das folhas e pontos ne- ley et al. (2012) mostram que diferentes taxas
cróticos de coloração marrom-escura no limbo de suplementação de Zn (5, 10, 50 e 100 µ,g
foliar (SFREDO e BORKERT, 2004). Quantida- 1·1) em soja perene (Glycine wightii) causaram
des elevadas de Mn, segundo Broadley et al. aumento significativo da massa fresca (g mf
(2012) , causam drástica redução da fitomassa planta·1), atividade da redutase do nitrato (%
de soja (600 mg Mn kg·1 de massa seca). Plantas hidrólise) e proteína (mg g- 1 mf).
deficientes em Mn inicialmente mostram clo- Nas plantas, tanto a identificação das de-
rose nas folhas , sendo esta mais intensa que ficiências quanto dos excessos nutricionais
a observada na deficiência de Fe (SFREDO e são parâmetros de relevância para que me-
BORKERT, 2004). A deficiência de Mo resulta didas técnicas sejam adotadas no sentido de
na cor verde claro nas plantas de soja. Isso in- solucionar o problema, uma vez que as plan-
dica deficiência de N, pois Mo é essencial para tas não completam o seu ciclo vegetativo na
o processo simbiótico de fixação de nitrogê- ausência dos macro e micronutrientes. No-
nio. a soja, a deficiência de Mo ocorre em so- vas técnicas que melhorem a nutrição mine-
los ácidos, devido ao baixo pH que disponibi- ral devem estabelecer um equilíbrio entre o
liza alumínio tóxico (AIH) no solo (SFREDO e uso eficiente dos nutrientes e a identificação
BORKERT 2004; MASCARENHAS et al. , 2013; das desordens metabólicas causadas pela sua
2014). O crescimento e processo fotossintético ausência ou abundância a fim de minimizar
de três variedades de soja foram incrementa- perdas e aumentar a produtividade vegetal
dos com tratamentos de Mo e Boro (B) (LIU (SFREDO e BORKERT, 2004· MASCARE-
et al. , 2005). A aplicação de Mo nas sementes NHAS et al. , 2013 ; 2014).
tem sido uma prática comum para o cultivo de
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5 600
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~
~ 400
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o 300
"O
'~ 200
~
§ 100 Figura 8. Quantificação de
u o ABA em plantas de soja
submetidas ao tratamento
o 1 2 4 8 18 48 96 168 de 200 mM L·1 de NaCI por
Tempo de tratamento (h) várias horas. Adaptado de
Ali et ai. (2012).

Além di o, as plantas ainda podem res- rendimento de grãos, óleo e proteínas dessas
ponder de forma negativa ao e tres e, apre- plantas (Tabela 3). Ainda, Phang et ai. (2008)
entando acentuada diminuição em compos- observaram queda na taxa de condutância es-
to fundamentai para o eu metabolismo. tomática (Figura 10). Kao et ai. (2006) veri-
Golezani e oori (2011) encontraram dimi- ficaram drástica redução no crescimento d e
nuição do conteúdo de clorofila em trê cul- plantas de soja sob efeito de concentrações
tivare de oja (Figura 9) e diminuição do crescentes de NaCl (Figura 11).
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Dias após a semeadt.ra
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A:
Figura 9. Conteúdo de clorofilasde três cultivares de soja submetidas ao estresse salino por NaCI.
Fonte: Adaptado de Golezani e Noori (2011).

Taxa de Duração Taxa de Duração Rendimento Rendimento Rendimento


acúmulo deacúmulo acúmulo de acúmulo de grãos de proteína deóleo
Tratamento de proteína deproteina de óleo deóleo por planta por planta por planta
mg/dia dia mg/dia dia g mg mg

Sali nidade
o 0.851• 59.8• 0.390• 59.2 • 1.250• 478.41• 216.18•
(~m-i) 3 0.846• 55.6• 0.398• 55.4., 0.892" 338.70t> 157.27t>
6 0.806• 50.J c 0.409 1 48,l c 0.516< 19254< 92.38<
9 0,7121> 47,2d 0.388• 44,6d Q,27Sd 101.12d 49,84d

Williams 0.841 • 55.3 • 0.415• 528• 0.766• 296.65• 131.65•


CUitivares ZAN 0.791 • 53.8• 0.389.., 524• 0.651 11 245.12b 114.72b
L1 0.779• 50.7 " 0.384" 50.3• 0.782• 291.31 • 140.38•

Tabela 3. Comparação de diferentes variáveis em três cultivares de soja submetidas à salinidade.


Fonte: Adaptado de Golezani e Noori (2011 ).

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<nJ 11 110 IIO IIO
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o -eo Figura 1O. Condutância
estomática em soja sob
u
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estresse salino.
Fonte: Adaptado de Phang
Dias após tratamento salino (125 mM de NaCI-) et ai. (2008).
14
Ü OE.'\ Ç DA OJA: '.\IEUlORru\lEi\TO GEKÉTICO E TÉCN ICAS DF. MAXEJO

ER.\ANE LEMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL

Parteaérea 0.3
T Raiz
o G. OJCl

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o
o 17 51 85 o 17 51 85
(A) Cl (mM) (B) NnC l (mM)
Figura 11 . Crescimento da parte aérea (A) e da raiz (B) de três cultivares de soja sob estresse sal ino.
Fonte: Adaptado de Kao et ai. (2006).

ária e tudo e tão en ol ido com a e o turgor celular (HARE et ai. , 1998) como
concentração de a na folhas poi e e íon o aminoácido prolina. E tudos de Hakeen et
irá competir por canai e pecífico de ab or- a!. (2013), em dez genótipos de soja sob es-
ção de K, diminuindo a ab orção de e ma- tre e alino, ob ervaram aumento linear do
cronutriente. egundo Kao et ai. (2006) , o o mólito compatível prolina (aminoácido) ,
acúmulo diferencial de a e K pode er in- conforme o aumento da alinidade no subs-
dicador de diferentes ní ei de en ibilidade trato. Ainda, enzima antioxidantes protegem
de plantas de aja ao e tre e alino. Tam- a planta de dano oxidativos gerados pelo
bém, plantas de aja podem acumular mai e tre e alino. Ar hi et a!. (2012) verificaram
Ct- que a+ na folhas pelo fato de que, ,em que a enzimas superóxido dismutase (SOO)
algumas e pécie o a+ fica retido na ra1ze a corbato peroxidase (APX) e glutationa re-
e o ci- é tran portado em maior quantidade, duta e (GR) aumentam significativament em
e acumulando na parte aérea (Muno e Te - cultivare de oja tratada com concentraçõe
ter 2008). ma ariá el para a aliar e a plan- cre cente de aCl. Por outro lado, Amirja-
ta é tolerante ou en í el ao al é a exclu ão ni (2010) verificou diminuição acentuada na
de a+ e/ou ci- eguida da manutenção do 0D, peroxidase e catala es em plantas d
teore de K das folhas . E a (2002) concluiu aja ubmetida às concentrações de 100 mM
que a culti ar Lee é relati amente tolerante
e 200 mM de aCl. E e resultados depen-
comparada com a variedade Coquitt e Cla-
dem das variáveis genotípicas das planta de
rk 63 uma z que manteve alta taxas de
aja, mo trando-se mai ou meno en ívei
K+ ob e tre e alino, ao contrário das ou- ao e tres e por ai .
tra dua . Em ituação de e tre e, a planta
podem produzir algun compo to que aju- Outro e tudo enfatizam O emprego e ó-
dam na tolerância frente ao prejuízo cau ado. geno de composto qu po am minimizar 0
Exemplo de e campo to ão o o ·mólitos efeito do e tresse alino em oja. Klein et ai.
compatívei , que e acumulam em grandes (2015) aplicaram ácido cafeico (AC) , um an-
quantidade no compartimento celulares, tioxidante que age na e pécie reativa de
colaborando para a manutenção m tabólica oxigênio, em planta de oja ubmetida ao
149

e tresse por aCl, concluindo que o ácido ca- da sinalização de óxido nítrico, abrindo opor-
feico pode e r b enéfico para a minimização tunidades de novos estudo em e tre se sali-
d o efeito d o e tre e alino pela regulação no e segurança alimentar (Figura 12).

Figura 12. Plantas de soja submetidas a diferentes tratamentos.


A ) controle ; (B) ácido cafeico (CA); (C) NaCI; (D) CA + NaCI. Fonte: retirado de Klein et ai. (2015).

A expansão de soja tran gênicà no Bra il apre entando um maior desenvolvimento do


tem alcançado áreas com alto teore de sal sistema radicular, em comparação com a soja
no solo. Carvalho et ai. (201 2) comparando convencional. O desenvolvimento de raízes é
o dese n volvimento de planta de oja CD 206 uma das características de plantas sob estresse
e a transgênica CD 206 RR enco ntraram que, salino, uma vez que a salinidade causa a defici-
apesar de o estresse salino reduzir o desenvol- ência hídrica pela ligação dos átomos de água
vimento de ambos os genótipos, a soja gene- com o sal da solução no solo, causando indis-
ticamente modificada apresenta menor sen- ponibilidade de água para a planta.
sibilidade ao sal até o n ível de 120 mMol 1-1

5. Estresse hídrico - Seca e alagamento


As plantas, como todo er vivo são depen- considerada fator-chave para a sobrevivência
dentes primariamente das condições hídricas e produção vegetal. Assim, a deficiência hí-
impostas. O vegetal possui rápidos mecanis- drica afeta as plantas mais do que qualquer
mos de percepção e sinalização para comba- outro estresse.
ter o desequilíbrio hídrico. O estresse hídrico O estresse causado na planta pela restrição
nos vegetais engloba tanto a deficiência hídrica de água no solo pode ser tanto devido a um
quanto o excesso de água. efeito direto, em que a deficiência de água no
As alterações climáticas observadas em substrato é o fator estressante primário, quan-
âmbito planetário levam a pensar que, nos to a um efeito indireto, em que o fator estres-
próximos tempos, os períodos de seca deve- sante é outro agente de estresse (e.g. estresse
rão ser muito mais intensos nas diversas áreas térmico, salino, mineral, entre outros), que
do mundo. Como a água é limitante para o não a água per se. As im, a deficiê ncia hídrica
crescimento do vegetal e fundamental para os constitui uma da mais importantes limitações
processos fisiológicos como a fotossíntese , é à produtividade e à distribuição dos vegeta is,
150
D o J:Nc;A', IJA SOJA : M f:I IIOltAMEN'I<) (,ENÍfflCC) E TÍ!CN ICAS f) J: MAN l:j()

EHNANE LJ '. MI!', - LEONAlll)O ASTRO - ílA PAHJ . A S'i JS

apre ·entand o influência negativa, a q ual , de-


folhas para minimizar a superfície expo ta à luz,
pendendo da ·everidade, pode variar de J 0%
aumento do crescimento radicular (profundida-
a 50% das área agrícol a · do globo terrestre
de), ajuste osmótico (prolina e glicina betaína) ,
(X O 'TLE- AZARES et ai. , 2010).
e eficiência na remoção de espécie reativas ao
A cascata de eventos molcculare~, bioquí- oxigênio (Eros), formadas pelo metaboli m e m
micos, fi iológico , e morfológicos acionada em plantas estrcssad,L~ (MANAVALA et ai. , 2009;
plantas ubmetidas à deficiéncia hídrica desen- MITTLER e BL MWAJ.D, 2010; MA MI et ai.,
cadeia uma érie de re. posta!') ~imultáneas, a 2011; XOCONOSTLE-CAZARE et ai. , 2010; KU
quai induzem os mecani smos de proteção a et ai. , 2013; SOUZA et a/., 2013; VIEIRA et a!.,
aju tarem o de ·envolvimento vegetal aos efei- 2013; DESHMUKH et ai., 2014; AKITHA DEVI
tos da eca no m taboJi~mo deficitário (MJT- e GIRIDHAR, 2015; FANG e XI , 2014; AKI-
TLER e BL MWALD, 2010; THAO e TRAN, 2012; THA DEVJ e GIRIDI JAR , 2015).
AKABE et a!. , 2014). mecanismos fisiológi- Em comparação a outra cultura de rele-
co que p dem retardar a de idratação incluem vância na agricultura, a. oja caracteriza por
o fe hamcnto e tomático, a redução da área fo- ser bastante sen ívcl ao déficit hídrico do solo
liar, ·ene céncia de folhas velhas para diminuir como pode er visto abaixo, o cultivo de soja na'
a tran piração, orientação e enrolamento das região do Triângulo Mineiro, MG (Figura 13).

Figura 13. Cultivo de soja no Triângulo Mineiro, MG, sob deficiência hídrica do solo.
Nota-se que as plantas apresentam cloros~, necrose e morte _ (parte inferior da foto) em comparação com as plantas
sem estresse hídrico (parte superior da foto). Cortesia de Leonardo H. S. Castro, Uberlândia _ MG.
O
15 J
ETO

en ibilidad d plantas de oja a deficiên- to obr o efeito da eca na produtividade da


cia híd rica provo ar du ão da pr dutividade na oja, como quantidad e qualidade de emente ,
rd m de até 40%, p lo fato d utilizar cerca ele cre cimento, aju tes fi iol ~ gico e bioquímico ,
450 a 700 mm d água duram o e tádio d cre - asp cto morfológico e moleculare , melhora-
cimento (D G et ai., 2007; M AVALA et mento genético, e prática agronômica , a fim de
ai., 2009; K etal., 2013; O ZAetal. , 2013). e- que minimizem e a condição adver a.
g und pe qui a realizada na Embrapa (2011), Muito autore enfatizam que a fa e repro-
a n e sidad hídrica para produtividade eleva- dutiva da oja (floração-enchimento de grão )
d as da oja é, relativamente, alta (7,5 mm dia•1). é o principal momento em que a disponibilida-
Por es e fato, muito e tudo enfatizam o d hídrica adequada é fundamental (BO ATO,
efeito da re trição hídrica ( eca) na cultura 2000; DOGA et ai. , 2007; FRA CHI I et a!.,
de oja tanto no Brasil (BO TO, 2000; CA - 2009; MA AVALA et a!. , 2009; BORRMA N
GRANDE et ai., 2001; FARIA et ai., 2001; MO- et a!. , 2009; EMBRAPA, 2011 ; THAO e TRAN,
RAE e ME E E , 2003; ~ et ai., 2004; ILVA 2012; KU et a!. , 2013; SOUZA et ai., 2013 ;
et ai., 2006; TEXEIRA et ai., 2008; BORRMAN BH TIA et ai., 2014). Devido a todos os pro-
et ai. , 2009; FRANCHI I et ai., 2009; FIOREZE ce o para tolerar ou minimizar o efeitos do
et ai., 2011; CAT CHI et ai. , 2011; G IMARÃE - e tre e hídrico por deficiência de água, a soja
-DIA et ai. , 2012; O ZA et ai., 2013; VIEIRA et apre enta perdas, como a redução da produ-
ai. , 2013), quanto em outro paí e (DOG et ção de biomassa vegetal, comprimento de en-
ai., 2007; MANAVALAN et ai. 2009; MASO MI et trenó , redução no número de sementes por
ai., 2011; MAKBUL et a!., 2011; TI-IAO e TRAN, legume, abortamento de legumes e limitação
2012; KU et al., 2013; BHATIAetal. , 2014; DE H- no peso de semente (BONATO, 2000; OYA et
M KH et a i., 2014; FE T et a!. , 2014; HO AI ai. , 2004; MA AVALAN et a!., 2009; FENTA et
E KOMAT U, 2014; AKITHA DEVI e GIRJDHAR, ai. , 2014). a Figuras 14 e 15, visualizam-se os
2015). Em recente revisão de Ku et a!. (2013) e efeito causado em planta de oja sob estres-
ouza et ai. (2013), ão abordado vário aspec- e por deficiência hídrica.

Figura 14. Limitado crescimento vegetativo de plantas de soja Figura 15. Abortamento de fruto em soja
_sob deficiência hídrica. As plantas apresentam menor altura e sob estresse por deficiência hídrica .
area foliar em comparação complantas cultivadas em solo sem Fonte: Retirado de Conley (2012).
deficiência . Fonte: Retirado de Casteel (2012).
152

Embora apre ente um menor número de vegetal etileno (IRFAN et al., 2010; VALLIYODAN
pe qui as em comparação à realizada obre et al. , 2014). Assim, um do efeitos do estresse
o reflexo da deficiência hídrica no egetai os por saturação hídrica do solo é causar a biossín-
efeitos do exce o hídrico de água no olo (ala- tese do etileno, via aminoácido metionina , ubs-
gamento ou inundação) também preocupam trato adomet, e do ACC que, metabolizado pela
a comunidade científica e vêm ganhando cada enzima ACC oxidase na presença de ox igê nio,
vez mais e paço na ciência no que tange a ex- se transforma em etileno. Esse hormônio induz
plorar mecani mo de tolerância desse estres- a formação de raízes adventícias, no balanço
se em planta de grande importância agrícola. hormonal etileno-auxina, e a formação do teci-
O alagamento ou inundação do solo é um do aerenquimático. De acordo com Kadempir et
fenômeno bastante comum, principalmente al. (2014), o desenvolvimento de aerênquima e a
em olos compactado ou com deficiência de formação de raízes adventícias são fortes modi-
drenagem natural (BAILEY-SERRES e COLMER, ficações na morfologia radicular, as quais cons-
2014). O e tre e por alagamento pode ocorrer, tituem um mecanismo adaptativo para permitir
egundo lrfan et ai. (2010), devido a fatores di- a entrada de oxigênio, conferindo tolerância nas
reto ou antropogênico (práticas impróprias de plantas estressadas. Também, a hipoxia diminui
irrigação), e indiretos ou naturais (aquecimento a condutividade hidráulica afetando as aquapo-
global). O excesso de água no solo causa dimi- rinas e diminuindo a absorção de nutrientes e
nuição da concentração de oxigênio (hipoxia) água pela raiz (ALAM et al. , 2010; KOKUBUN,
ou sua total au ência (anoxia), o que vem a re- 2013). Embora os efeitos do alagamento sejam
duzir drasticamente a produtividade dos culti- complexos, dependendo da fase de desenvolvi-
vas (KOMAT U e HOSSAI et al., 2013; BAILEY- mento e da duração do estresse, as alterações
- ERRES e COLMER, 2014). Isso ocorre pelo fato bioquímicas, fisiológicas e morfológicas são
de a difu ão de gase da atmosfera até o solo ser acentuadas para prover o vegetal de condições
fortemente afetada, e as trocas gasosas serem protetoras a essa situação adversa (IRFAN et al. ,
reduzidas a níveis extremamente baixos, tor- 2010; BAILEY-SERRES e COLMER, 2014; BEU-
nando o istema radicular hipóxico (KOMATSU TLER et al., 2014; KADEMPIR et al. , 2014).
e HO SAI , 2013; BAILEY-SERRES e COLMER, Plantas de soja são mesófitas e, portanto,
2014; BLOKHJ A et al., 2014; K.ADEMPIR et al. , muito sensíveis ao estresse por alagamento
2014). A hipo:xia afeta inicialmente a respiração (Figura 16). De acordo com Valliyodan et al.
das raíze . Como o oxigênio é o aceptor final da (2014), o estresse por alagamento pode redu-
cadeia tran portadora de elétrons, na condição zir a produtividade da soja em 17% a 43% no
anaeróbica (anoxia) ou com a redução da sua estádio do crescimento, e em 50% a 56% no
concentração (hipoxia), há acúmulo de ADH estádio reprodutivo. Estudos recentes enfocam
e FADH com coo equente diminuição da ati- os efeitos do excesso hídrico em plantas de
2'
vidade enzimática no ciclo de Kreb e acúmulo soja cultivadas no Brasil (ZENZEN et ai. , 2008;
d compo to intermediário como o piruvato FANTE et al. , 2010; MISSIO et al., 2010; BEU-
( HAW et ai., 2013; BORELLA et ai. , 2014). A TLER et al. , 2014; BORELLA et ai. , 2014) e em
evera diminuição da difu ão do oxigênio nas outros países (ALAM et al. , 2010; KOKUBUN,
raíz em plantas me ófitas ob alagamento (10· 2013; HOSSAIN e KOMATSU, 2014; KADEMPIR
4 veze) indi ponibiliza o oxigênio e provoca a et al., 2014; VALLIYODAN et ai., 2014). A fal-
indução da proteínas anaeróbica (ANPs), en- ta de 0 2 faz com que ocorra a redução na taxa
zimas envolvidas no metaboli mo de açúcares, fotossintética das folhas, devido à diminuição
glicóli e e fermentação, incluindo a indução do da condutância e tomática (IRFAN et ai., 2010;
ácido l-carboxílico-1-aminociclopropano (ACC), BEUTLER et al., 2014; MUTAVA et ai., 2015). A
principal precur or da bio ínte e do hormônio diminuição das taxas de assimilação líquida e
10 - E TRES ES ABIÓTICOS NA CULTURA DA SOJA 153
D R ALl1 A M. M. DOS ANTO - RENER L. . F ERRAZ - DE ETO

a expansão foliar provocam a inibição do cres- inibir a fixação imbiótica e, consequentemen-


cimento da planta de oja tanto na parte aérea te, a ab orção do nitrogênio (BEUTLER et ai.,
quanto na raíze (ZE ZE et a!. , 2008; HI 2014). Planta de soja tolerantes ao alagamento
et a i., 2008; BE TLER et a!. , 2014), proporcio- mediante técnicas de melhoramento genético
nando menor rendimento de grão e acúmu- e transgenia apresentam intenso crescimento
lo d e ma a eca (F TE et a!. , 2010), além de radicular (Figura 17).

Figura 16. Cultivo de soja sob excesso hídrico em Missouri , USA.


No detalhe, a morte de plantas de soja sob alagamento . Fonte : Adaptado de Donohue (2013) .

Figura 17. Crescimento rad icular intenso em plantas de soja tolerantes ao alagamento .
Fonte: Retirado de Vantoai (2009).
154 Ü OENÇAS DA SOJA: MELHO RAME TO GENÉTICO E T ÉCN I CAS DE MAi EJ O

ERNAN E L EMES - L Eo AR DO C ASTRO - RAFAEL Assis

O estresse prolongado inevitavelmente leva proteção contra os danos oxidativos (Eros) e


ao desenvolvimento de estresse oxidativo se- pode ser controlada pela concentração d e o na
cundário tanto nas raízes quanto na parte aé- célula sob condições de alagamento (BLOKHI-
rea (BEUTLER et ai., 2014; BLOKHINA et ai. , NA et al., 2014) . Tais respostas enzimáticas são
2014). A atividade de enzimas antioxidantes similares às encontradas em outros estresses
como a SOD, APX e CAT, dentre outras, atua na abióticos, como relatados anteriorme nte.

6. Considerações finais
A produção da cultura de soja é muito in- influência dos estresses abióticos, como o tér-
fluenciada pelos estresses abióticos impostos mico, nutricional, salino, seca e alagamento,
pelo ambiente. Pela importância que a cultura consiste em ampliar o leque de oportunidades e
possui na agricultura mundial, inúmeros es- estratégias de manejo da cultura nos agroecos-
tudos focam os efeitos das condições adversas sistemas. As prospecções evidenciam aumento
na produtividade da soja, da germinação à fase das pesquisas nessa área, sobretudo no que tan-
reprodutiva. Assim, reunir informações sobre a ge à biotecnologia e ao melhoramento genético.

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Avanços no melhoramento genético da
cultura da soja nas últimas décadas

ANA P AULA OLIVEIRA N OGUEIRA


Engenheira Agrônoma, Me ., Dra.
Universidade Federal de Uberlândia
T uNEO S ED IYAMA
Engenheiro Agrônomo, Mr. , Ph.D
Universidade Federal de Viçosa
JOSIANE DIAS GOMES
Biotecnologia
Universidade Federal de Uberlândia

1. Introdução

Originária da China, a soja (Glycine max kg ha- 1 (IBGE , 2015). Atualmente, o Brasil
(1.) Merrill) é uma importante cultura em ní- figura como o segundo maior produtor (Fi-
vel mundial e no Brasil. Na safra 2013/2014 a gura 1) e lidera o ranking entre os países
área plantada superou 30 milhões de hecta- exportadores.
res com uma produtividade média de 3021

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Figura 1. Produção mundial de soja em 2014. Fonte: www.soystats .com .
1O

Os fatore que contribuíram e impulsio- sição dentre os maiores produtores, conforme


naram o e tabelecimento e expansão da soja já sinalizado por Francisco e Câmara (2013) e
no território bra ileiro estão relacionados aos Sediyama (2014). Atualmente, diferentes insti-
avanço científico com o desenvolvimento de tuições públicas e privadas dedicam esforços
tecnologia de produção e sem dúvida, quanto para obtenção de cultivares de soja que agre-
ao melhoramento genético da espécie, reali- guem valores benéficos para produtores, indús-
zado por diver a in tituiçõe (PRIOLLI et al. , tria e consumidores. Durante cinco décadas, 0
2004), também com a criação de cultivares de melhoramento da soja foi desenvolvido, e uma
elevada produti idade de grãos, adaptação às consulta no Serviço Nacional de Proteção de
diver as condiçõe edafoclimáticas e toleran- cultivares resultou em 660 cultivares no Brasil
te ao e tre e bióticos e abióticos. A soja é incluindo as cultivares de certificado provisório
cultivada em regiõe de de o ul até o orte e e definitivo (MAPA, 2015).
orde te do paí . Os programas brasileiros de melhoramento
Considerando o ucesso da soja brasileira, de soja possuem objetivos prioritários comuns,
alicerçadas em ciência e tecnologia, não há dú- tais como incremento de produtividade de grãos,
vidas de que o Bra il alcançará a primeira po- adaptação e resistência às principais doenças.

2. Origem e expansão da soja


A oja está entre as plantas mais antigas do o Brasil, a primeira referência de soja foi
mundo (BEZERRA et al., 2015) e já era conhecida feita por Gustavo D'utra em 1882, no estado
pelo homem há mais de 5.000 anos a.e. (BONET- da Bahia, quando alguns materiais genéticos
TI, 1981). a China, a soja encontrava-se entre os foram cultivados experimentalmente (SEDIYA-
cinco grão agrados, essenciais para a existência MA et ai. , 2005). Contudo, nessa época a soja
de eus povo ( EDIYAMA et al., 2005). não teve boa adaptação, devido às marcantes
Embora o local exato de origem da soja seja diferenças ambientais em relação ao ambiente
de conhecido (KIM et al. 2012) a maioria dos de cultivo no estado baiano e o ambiente de
pe quisadores concorda que ela é uma planta de origem da soja.
origem Chinesa (Ql e SHANG, 2010; MISHRA e o Estado de São Paulo, para cultivo, foi in-
VERMA, 2010). Baseado em evidências geográfi- troduzida por imigrantes japoneses em 1908
cas e históricas, Hymowitz (2004) cita que a soja
sendo em 1914 introduzida oficialmente no
foi domesticada no norte da China e partir dali
Estado do Rio Grande do Sul. Durante muitas
foi dis eminada para várias regiões do mundo.décadas a soja foi cultivada apenas em cará-
ter experimental por algumas instituições de
A partir da China, a oja f~i introduzida ini-
cialmente na Coréia, Japão e Asia (BEZERRA etpesquisa (BONETTI, 1981). A partir de 1960
a cultura da soja passou adquirir importância'
al., 2015). Em 1712, do Japão foi levada para Eu-
ropa, endo cultivada na Inglaterra, em 1790. Na
no País, inicialmente, na região Sul, onde apre-
França a primeira referência de soja ocorreu em
sentou melhor adaptação devido à semelhança
1739 (BO ETTI, 1981; EDIYAMAet ai., 2005). com as regiões tradicionais de cultivo no mun-
O cu ltivo de oja na América do orte foi do. Posteriormente, em 1968, foi observada ex-
relatado em 1890 na Pen ilvânia, nos Estados pansão desta leguminosa para Santa Catarina
nido . Em 1958, iniciaram- e os primeiros São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Gros ~
cultivo comerciai no México, no e tado de do Sul e Goiás (ALLIPANDINI et ai. , 1993) e
onora e, e m 1964, no e tado de inaloa ( E- outras regiõe do Cerrado brasileiro (URBE
D IYAMA et ai., 2015). FILHO e SOUZA, 1993).
11 - A VANÇOS O MELHORAMENTO GE ÉTICO DA CULTURA DA OJA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS 161
A A P AULA Ü LfVEfRA OGUEIRA -Tu EO S EOIYAMA - ] OSIANE Ü IAS G OME

No Paraguai, em 1946, sementes de linha- ses da América Latina, como Uruguai, Paraguai,
gens de soja foram introduzidas. Na Argentina, Equador, Bolívia, Peru e Chile, produzem soja
por volta de 1957, iniciaram-se as tentativas de em escala comercial (SEDIYAMA et a!., 2005).
exploração da soja com uso de variedades ame- No início do século XX experimentações
ricanas (BONETTI, 1981). Desde 1928 a soja é com soja foram relatadas na Nigéria, Gâmbia,
cultivada na Colômbia, em escala experimental, Gana e Rodésia. Em 1930 a soja foi introduzida
e em 1972 tornou-se o segundo maior produtor na Austrália e no Egito; em 1950, na Etiópia; e
sul-americano, posição hoje ocupada pela .Ar- em 1965, na Nigéria (SEDIYAMA et a!. , 2005).
gentina, precedida pelo Brasil. Os demais paí-

3. Origem, domesticação e diversidade genética da soja


A soja cultivada (G. max) nunca foi encon- moplasma brasileiro são os mesmos que dão
trada na forma silvestre (Sediyama et al, 2005), maior contribuição para o germoplasma do sul
mas alguns pesquisadores indicam sobre sua dos Estados Unidos, que também possui base
origem genética. Hymowitz (1970) relatou que genética estreita (GIZLICE et a!., 1993).
(G. max) evoluiu da espécie Glycíne soja e que Bonato et a!. (2006) em pesquisas com
o intercruzamento de ambas originou a Glycine 100 cultivares de soja, disponibilizadas entre
gracilis. Segundo Bonetti (1981) a forma culti- os anos de 1984 e 1998, relataram valores de
vada (G. max) evoluiu de G. soja por meio do coeficiente de parentesco oscilando entre O e
acúmulo de genes controladores de caracterís- 1. Além disso, Miranda et a!. (2007) ao avalia-
ticas qualitativas e quantitativas, resultantes de rem 90 cultivares elites, adaptadas a diferen-
mutações genéticas. Contudo, há relatos de que tes ambientes brasileiros, evidenciaram o alto
G. soja teria evoluído à G. gracílis, e desta origi- grau de similaridade de cultivares brasileiras.
nado a G. max (HADLEY e HYMOWITZ, 1973). Em pesquisas realizadas com 437 cultivares
Kim et a!. (2012) mencionam que durante a brasileiras, lançados entre os anos 1968 e 2001
domesticação da soja, muitos dos genes úteis - a e avaliados por marcadores microssatélites, foi
exemplo dos relacionados ao conteúdo de prote- demonstrado que os cultivares estudados foram
ína e resistência a doenças - podem ter sido per- provenientes de um reduzido número de culti-
didos ao longo do processo de. seleção artificial. vares (YANAMAKA et a!., 2007). Resultados se-
Aliado a isso, sabe-se que o germoplasma da soja melhantes foram relatados por Wysmierski et a!.
americana e brasileira tem base genética estrei- (2013), que ao avaliarem 444 cultivares brasilei-
ta (HIROMOTO e VELLO, 1986; GIZLICE et a!. , ras, agrupados por período de lançamento ante-
1993; PRIOLLI et a!., 2002; PRIOLLI et a!. , 2004). rior a 1971 até o ano de 2009, identificaram que
Bonetti (1983) mencionou que cerca de quatorze parentais contribuíram com mais de
70% das cultivares desenvolvidas para o Rio 90% da base genética das cultivares brasileiras.
Grande do Sul na década 60, foram oriundas Embora alguns estudos tenham demonstra-
das cultivares americanas ou de ambas. Hiro- do que a base genética da soja brasileira é es-
moto e Vello (1986) avaliaram a base genética treita, Oda et a!. (2015) avaliando o parentesco,
do germoplasma de soja, com base em estu- a diversidade morfológica e molecular em 21
dos, utilizando coeficiente de parentesco, e re- cultivares agrupadas pelo período de lançamen-
lataram que 100% do conjunto gênico da soja to (antigas, intermediárias e recentes) no Brasil,
existente no Brasil naquela época eram oriun- observaram que a variabilidade genética perma-
dos de 26 ancestrais e que mais de 90% foi pro- neceu constante durante 40 anos de melhora-
veniente de onze linhagens asiáticas. Quatro mento e que ainda existe variabilidade genética
ancestrais com maior contribuição para o ger- útil para o melhoramento da soja.
162
E L EME - L Eo ARDO C ASTRO - RAFAEL Ass,

4. Avanços no Melhoramento Genético da Soja


4.1. Melhoramento da soja, visando à prod utividade
de grãos e adaptação a novas áreas
egundo Panthee (2010) 50% do aumento nho genéticos anuais de 1,8 e 1,3%, respec-
do potencial produtivo da oja é atribuído ao tivamente, para genótipos de ciclo precoce e
melhoramento genético e 50% relacionado às semiprecoce. Já em estudos de ganho genético
tecnologia de produção. O desenvolvimento no estado do Paraná, entre as safras 1985/1986
científico e tecnológico foram fatores decisivos a 1989/1990 Alliprandini et al. (1993) obser-
para que a oja torna e e a cultura de eleva- varam ganho genético médio anual de 0 ,89%,
da importância ocioeconômica para o Bra il. 0,38% e -0,28%, re pectivamente, para os gru-
m hi tórico detalhado obre a primei- pos precoce, semiprecoce e médio.
ra coleçõe de germopla ma brasileiro, bem Lange e Federezzi (2009) avaliaram o pro-
como o de envolvimento do melhoramento gres o genético de quatro programas de me-
no e tado do Rio Grande do ul, Paraná, São lhoramento de oja, em quatro regiões de cul-
Paulo Mina Gerais , Mato Gro o, Mato Gro - tivo de soja no estado do Rio Grande do Sul,
o do ul Goiá , Tocantin , Bahia, Maranhão, em um período de 20 anos. Estes autores men-
Piauí foi de crito por ediyama et al. (2005) no cionaram que os ganhos obtidos em produti-
capítulo de melhoramento de oja. este, foi vidade de grãos oscilaram O a 3,39% e que o
po ível identificar contribuições de diferentes melhoramento para cultivares de ciclo precoce
foi ineficiente para as regiões avaliadas.
in tituiçõe e universid ade para o avanço da
oja bra ileira. Os dois requisitos para atingir a elevada
produção nacional de grãos de soja referem-
O objeti o prioritário do programas de
- e ao aumento de produtividade e aumento
melhoramento de oja, eja do etor privado ou
da área cultivada. Inicialmente, os cultivos de
público, foi a obtenção de genótipo de eleva-
soja no Brasil predominavam na região Sul do
da produ tividade de grão . a safra 1976/1977 país, pois havia uma barreira fotoperiódica,
a produtividade de grão de soja foi de 1758 kg em razão de a soja ser uma planta de dias cur-
ha-1 e na afra 2013/2014 foi de 2854 kg ha-1 tos (BARROS e SEDIYAMA, 2009; SILVA et ai.
(CO AB, 2015). Conforme mencionado por 2015) - quando cultivada em regiões de baixas
ediyama (2014), em condições de lavoura, a latitudes, apresentava curto período vegetati-
produtividade de oja tem superado 6000 kg vo, florescimento precoce que, consequente-
ha-1 e, em condiçõe experimentais, este mes- mente, resultava em plantas de baixa estatura
mo autor e colaboradore observaram produ- e baixa produtividade de grãos.
tividade uperior a 9000 kg ha-1.
O cultivo de soja para regiões de baixa lati-
egundo Lope (2006), as pesquisas em re- tude tornou-se possível com o desenvolvimento
cur o genético e melhoramento foram fun- de cultivares de período juvenil longo (BEZER-
damentai para competitividade da agricultura RA et al., 2015). Cultivares com esta caracterís-
brasileira. E te me mo autor comenta que a pro- tica foram desenvolvidas a partir dos genótipos
dutividade média da oja bra ileira apresenta PI240664, PI 159925 e Santa Maria (SEDIYAMA
taxa de aumento de 1,5% ao ano, representando et al., 2005). Adicionalmente, foram seleciona-
um ganho ignifícativo, acumulativamente. dos genótipos capazes de crescerem e desenvol-
Avaliando a eficiência de um programa de verem-se em solos da região dos Cerrados, ca-
melhoramento de oja no Paraná entre o ano racterizados por solo com alto teor de alumínio
1981 a 1986, Toledo et al. (1990) relataram ga- e baixa disponibilidade de nutrientes.
O DA CULTURA DA OJA AS ÚI:ffMAS DÉCADAS 163
EDMMA - ] OSIANE Ü JAS G OMES

O período juvenil longo é controlado por "período juvenil longo" em condições de dias
um, doi ou mais gene rece ivo (SEDIYAMA curtos foi controlado por um par de genes re-
et ai. , 2005). Um estudo realizado ob condi- cessivos e que os genótipos estudados são fonte
çõe d e dias curto , com os parentais Paraná, de variabilidade genética para o de envolvimen-
Bossier, Bragg, Davi MG/BR 22 (Garimpo) e to de cultivares para regiões de baixa latitude.
eu de cendente : Fl, F2 e F3, Carpentieri-Pí- Pelas Tabelas 1, 2 e 3, notou- e um conside-
polo et ai. (2002) mencionaram que o caráter rável incremento na área plantada, produtivi-
"período juvenil longo" não é condicionado por dade e produção de soja em diferentes regiões
apenas um loco rece ivo. Por outro lado, em brasileiras, sendo esta uma adaptação a dife-
um estudo de herança, com variantes naturais rentes faixas de latitudes, resultado do melho-
das cultivares de soja, Doko, BR 9 (Savana), Da- ramento genético, com desenvolvimento tanto
vis, Em brapa 1 (IAS 5RC) e BR 16, Carpentie- de cultivares de período juvenil curto e longo,
ri-Pípolo et ai. (2014) relataram que o caráter conforme a região de adaptação.
Tabela 1. Área plantada de soja (em mil hectares) em diferentes safras brasileiras de soja

i Região
1977/78 1989/90
Safras
1999/00 2009/10
Norte 42,0 70,6 574,9 1178,9
Nordeste 1,9 385,0 861,0 1861 ,7 2602,24
Ce ntro-Oeste 1117,0 3706,0 5499,4 10539,2 139,09
Sudeste 710,0 1165,0 1152,9 1591 ,2 1989,9
Sul 6253,0 6049,0 10492,7
Fonte: CONAB (2015).

Tabela 2. Produtividade de soja (kg ha-1) em diferentes safras brasileiras de soja

(
Região
1977/78 1989/90 1999/00 2009/10 2013/14
Norte - ~267,0 2507,0 2943,0 2877,0
-
i)
..
Nordest.i : .. . - 695,0 2425,0 2852,0 2-544,0
Centrc►.-Q.~e.v .,•r.í. 968,0 1707,0 2813,0 2997,0 3005,0
Sudeste, 1314,0 159210 2229,0 2801 ,00 2520,0
Sul 1269,0 1857,0 2085,0 2881 ,00 2792,0
Fonte: CONAB (2015).

Tabela 3. Produção de soja (em mil toneladas) em diferentes safras brasileiras de soja
Safras
Região
• : •• 1 ' ' ' 11 11 • 1

53,2 177,0 1691 ,7 3391 ,3


267,8 2064,0 5309,5 6620,9
578,0 6325,6 15467,6 31586,7 41800,5
882,0 1843,5 2569,7 4457,6 5015,3
8266,0 11611 ,2 12611 )7 25642,7 29292,8
Fonte: CONAB (2015).
16 Ü OENÇAS DA SOJA: MELH O RAM ENTO GENÉT I CO E T ÉCN ICAS DE MANEJO

ERNAN E L EMES - L EONARDO C Asrno - RAFAEL Assi s

Silva et al. (2015) mencionam que o avanço no Brasil, o que contribuiu para o incremento
da soja para regiões do cerrado impulsionou a no lançamento de novas cultivares.
entrada de novas empresas de melhoramento

4.2. Melhoramento de soja visand o resistência à doença


O melhoramento genético visando resistên- A doença mancha olho-de-rã, causada pelo
cia a doenças tem sido focalizado desde a déca- fungo Cercospora sojina Hara, ffoi relatada pela
da de 60 (SEDIYAMA, 2014) . Na cultura da soja primeira vez na década de 70 (MATUSO et ai.,
ocorrem doenças oca ionadas por diferentes 2015). A mancha olho-de-rã está entre as princi-
agentes fitopatogênicos, tais como bactérias, pais doenças foliares em soja, pois existe ampla
fungos, vírus e nematoides, os quais podem diversidade genética do patógeno e há indícios
ocasionar perdas em diferentes intensidades, de até 25 raças (YORINORI e KLINGELFUSS
podendo atingir até 100%. 2000). No Brasil, dados exatos relativos a perdas'
O desenvolvimento de cultivares resistentes causadas por este patógeno não foram mencio-
aos patógenos foi uma das grandes contribui- nados, no entanto, em condições experimentais,
ções do melhoramento genético da soja, pois a no Estado do Paraná, os danos variaram de 10
resistência genética às doenças é foco em uma a 32% (YORINORI, 1992). Segundo Mian et a!.
política de agricultura sustentável em mui- (2008), já foram observadas perdas entre 10 a
tos países (FRA CK-OBERASPACH e KELLER, 60%, proveniente da mancha olho de rã.
1997), inclusive no Brasil. Matsuo et a!. (2015) Atualmente, a doença mancha olho-de-rã
na descrição e indicação de controle de doenças está sob controle, devido ao uso de cultivares
de relevância para a cultura da soja, citaram am- resistentes. A resistência a esta doença é obri-
plamente o uso de cultivares resistentes, incluí- gatória para o registro de um novo cultivar nos
do no manejo integrado de doenças. órgãos oficiais (MARTINS FILHO et ai., 2002).
A incorporação da resistência genética para A resistência é condicionada por um ou poucos
doenças oscilou, conforme os anos sucessivos genes (oligogênica). A partir de estudos com as
de cultivas e expansão da soja, bem como pela cultivares Bossier (suscetível), Paraná (resisten-
ocorrência do patógenos em áreas produtoras. te) e as progênies resultantes do cruzamento
De 1960 até 2014 tem sido observado o desenvol- entre ambas as cultivares, Gravina et ai. (2004)
vimento de cultivare re istentes a diversas doen- mostraram que a resistência genética é um ca-
ças tais como: pústula bacteriana, fogo selvagem, ráter quantitativo e que o efeito genético aditi-
mancha olho de rã, cancro da haste, vírus do mo- vo predomina para os caracteres relacionados
saico comum da oja, vírus da necrose da haste, à resistência à mancha olho-de-rã em soja.
oídio míldio nematoide de cisto, nematoide de Um dos grandes entraves ocorridos na
'
galhas' (Meloydogine javanica e Meloydogine in- cultura da soja foi a ocorrência do cancro da
cógnita), ferrugem asiática ( EDIYAMA, 2014) e haste, causado pelo fungo Diaporthe phase-
mofo branco ç clerotinia sclerotiorum). olorum f. sp. meridionalis, identificado pela
Na década de 70, a pústula bacteriana causa- primeira vez no Brasil em 1989 (YORINORI ,
da por Xanthomonas axonopodis pv. glycines 1996). Este fungo ocasionou grandes perda
era uma da principai doenças da oja ( E- chegando até 100% em alguma localidade
DIYAMA et a!. , 2005). E ta bactéria pode ocor- (DHINGRA et ai. , 2009). Conforme Yorinori
rer em toda as regíõe produtora de oja, ma (1996), entre 1989 a 1995, tal fungo trouxe
e ta doença não tem cau ado perda para a oja alto prejuízo para o paí . O fungo cau ador
brasileira, poi a maioria da cultivares m u o do cancro da ha te e tá amplamente di tribu-
po ui re i tência genética (F MIKO, 2013). ído no Bra 'il, ma graça ao trabalho do m e-
11 - A VANÇOS NO MEU IORAMENTO GENÉTICO DA CULTURA DA SOJA AS ÚL11MA5 DÍ,CADAS 165
A P AUlA ÜLIVEIRA N OGUl: IRA - TUNF.O EDIYAMA - ] OS IANE DIAS G OMES

lhoramento genético, com desenvolvimento todos os estágios de crescimento, Rmcl con-


de cultivares resistentes ao cancro da haste, fere a resistência de uma planta adulta e rmd
esta doença não tem mais ocasionado danos à proporciona a suscetibilidade.
cultura da soja (VECHIATO et a!. , 2003). A ferrugem asiática é causada pelo fun-
Avaliando 137 principais cultivares de soja go Phakopsora pachyrhizi Sydow & Sydow
para o Brasil, Yorinori (1990) relatou que 33 (DHINGRA et a!. , 2009). Esta doença foi relata-
foram resistentes ao Diaporthe phaseolorum da como causadora de epidemias no Brasil em
f. sp. m eridionalis, 37 moderadamente resis- 2001, sendo altamente agressiva, e expandiu-se
tentes, 17 moderadamente suscetíveis, 39 sus- rapidamente, provocando reduções de até 80%
cetíveis e 11 altamente suscetíveis. Hoje está na produtividade (YORINORI, et a!. , 2004).
dispon ível no mercado muitas cultivares de O manejo da ferrugem asiática compreen-
soja e , na sua maioria, resistentes ao cancro de a combinação de diferentes estratégias, tais
da haste. Considerando as cultivares indicadas como a resistência genética, controle cultural e
no Manual de Tecnologia de Produção de Soja químico. Nesse aspecto, o desenvolvimento de
- Região Central do Brasil (EMBRAPA, 2013), cultivares resistentes à ferrugem tem sido um
notou-se que das 258 cultivares desenvolvidas dos objetivos dos programas de melhoramen-
por diferentes programas de melhoramento to genético da soja.
79% eram resistentes ao cancro da haste. O desenvolvimento de cultivares resistentes
Atualmente, a resistência ao cancro da has- à ferrugem asiática tornou-se um foco do me-
te é uma condição obrigatória paras as novas lhoramento de soja e, também, um desafio para
cultivares. Quatro genes são relatados como os melhoristas (OLIVEIRA et a!. , 2005). Alguns
genes de resistência de efeito maior, dominan- genes já foram relacionados à resistência à fer-
tes e n ão alélicos. (GÓRGE , et ai. , 2010). Ava- rugem asiática em soja, sendo os alelos domi-
liando grau de resistência de linhagens de soja nantes em: Rppl/rppl, identificado em PI 200492
ao cancro da haste, proveniente do Progra- (McLEAN e BYTH 1980), Rpp2/rpp2 na PI230970
ma de Melhoramento Brasileiro, Hillen et a!. (BROMFIELD e HARTWIG, 1980), Rpp3/rpp3
(2006) sugere que o gene de resistência pode (PI462312) (BROMFIELD e MELCHING, 1982) e
ser proveniente das cultivares Tracy-M, Bay e Rpp4/rpp4 (PI459025) (HARTWIG, 1986), Rpp6/
Bragg, as quais possuem como ancestral a cul- rpp6 (PI 567102B) (LI et a!. , 2012). O gene Rpp5/
tivar CNS, de origem americana. rpp5 está relacionado à resistência, mas na forma
O oídio causado pelo fungo Erysiphe di- recessiva (GARCIA et ai. , 2008).
Jfusa causou perdas, oscilando de 30 a 40% A identificação de materiais genéticos que
na safra 1996/ 1997 (DHINGRA et ai. , 2009), e apresentam resistência ou tolerância à ferru-
ele pode desenvolver-se em toda a parte aérea gem, bem como estudos de diversidade gené-
da planta. De acordo com Vernetti e Vernetti tica, é uma das etapas importantes em um pro-
(2009) e Matsuo et ai. (2015) a principal forma grama de melhoramento genético de soja, pois
de controle é por meio do uso de cultivares re- orientam os melhoristas na escolha dos paren-
sistentes. Nesse sentido, os programas de me- tais que constituirão o bloco de cruzamentos.
lhoramento de soja têm disponibilizado culti- Ao quantificar a resistência à Phakopsora pa-
vares resistentes ao oídio. chyrhizi em 50 genótipo de soja, em condição
Em estudos de herança da resistência ao de casa-de-vegetação, Azevedo et ai. (2007) re-
oídio em oja, Unêda-Trevisoli et ai. (2002) re- lataram que as cultivares Emgopa 313 e M-SOY
lataram um gene dominante, com doi alelo . 8211 apresentaram menor período latente mé-
Vernetti e Vernetti Júnior (2009) citam que o dio, menor número de pústulas, severidade e
alelo Rmd-c confere resi tência completa em área abaixo da curva de progresso da doença.
166

Alguma cultivares com resistência à ferru- Segundo Juliatti et ai. (2013), o mofo bran-
gem asiática já foram di ponibilizadas no Bra- co está entre as principais doenças da soja no
sil, como, por exemplo, a TMG 801 e TMG 803, Brasil, e pouco se conhece sobre a resistência
com a tecnologia Inox®, lançadas pela Funda- da soja ao S. sclerotiorum. Conforme estes
ção MT, indicadas para semeadura em Mato mesmo autores, a cultivar Emgopa 316 pode
Grosso do ul, Goiás e Mato Grosso (FU DA- ser considerada uma fonte de resistência par-
ÇÃO MT, 2010); e a BR GO 7560, pela Embra- cial ao S. sclerotiorum.
pa e parceiros, indicada para semeadura em Existe mais de 100 espécies de nematoides
São Paulo, Minas Gerai Goiá e Distrito Fede- endo de 50 gêneros associados a cultivos de'
ral ( O ZA et ai. , 2009). Duas cultivares foram soja no mundo (DIAS et ai. , 2010a). As espécies
lançada como tolerante à ferrugem asiática: a causadoras de danos no Brasil são: Heterodera
UF S-Impacta e a FU -Milionária. a "XXXI glycines, Meloidogyne javanica, Meloidogyne
Reunião de Pesquisa de Soja da Região Cen- incognita, Pratylenchus brachyurus e Roty-
tral do Brasil" a cultivar F S 8011 foi lançada lenchulus reniformis (DIAS et ai., 2007).
como de resistência parcial à ferrugem asiáti- O nematoide de cisto (Heterodera glycine)
ca, indicada para os estado de Minas Gerais, foi relatado pela primeira vez no Brasil na safra
Goiás e Mato Grosso (HAMAWAKI et ai. , 2010). 2001/2002 (LIMAet ai. , 1992; LORDELLO et al.,
Mat uo et ai. (2014), em estudo de herança 1992), e naquela época todas as cultivares em
e identificação de marcadores para resistência uso eram suscetíveis (DIAS et al., 2007). Este
à ferrugem, avaliaram os genitores TMG 803 e nematoide pode causar perdas em até 100%
BRS Valio a e a progênies Fl e F2. Estes au- (DIAS et ai., 2007; DIAS et al. , 2009). No Brasil
tore ob ervaram que a resistência da cultivar ocorrem as raças 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 14,
TMG 803 é governada por um gene com do- 4+ e 14+ (DIAS et ai. , 2009; DIAS et al., 2010b).
minância completa, mapeado como o loco de O uso de cultivares resistentes ao nema-
re i tência Rpp4. toide de cisto da soja está entre as principais
Em razão da elevada variabilidade genética alternativas de controle, pela sua praticidade
do fungo P. pachyrhizi, Oliveira et ai. (2005) e eficiência (ALZATE MARIN et al., 2005). Não
cita a dificuldade da estabilidade para resistên- obstante, alternativas também devem ser ado-
cia à ferrugem asiática. Por outro lado, Yama- tadas, como, por exemplo, rotação de culturas
naka et ai. (2012), com base em um estudo de com plantas não hospedeiras.
piramidação de gene para resistência à ferru- Nos últimos anos o melhoramento visando
gem, indicaram que um alto nível de resistên- resistência à nematoide de cisto da soja tem
cia pode er obtido em linhagens contendo os sido objetivo de melhoramento de diversos
trê gene (Rpp2 , Rpp4 e Rpp5) , inseridos em programas, mas essa não é uma tarefa fácil ,
base genética uscetível. em razão do elevado número de raças do ne-
O mofo branco, causado pelo fungo Scleroti- matoide e, também, do reduzido número de
na sclerotiorum, é uma doença que causa danos fontes de resistência (DIAS et al., 2009), prin-
econômico e é encontrada nas principais regiões cipalmente no início do melhoramento.
produtoras de soja. o Brasil a doença ocorre em As pesquisas nas áreas da genética clássica e
todas as regiõe , cau ando muitas per?as duran- molecular têm mostrado que sua herança é gover-
te a época de chuvas abundantes. (GORGEN, et nada por poucos genes (três a quatro em média),
ai., 2010). o caso da oja, a ausência de altos ní- sendo, portanto, um caráter oligogênico (MOU-
veis adequados para a re i tência a esse patógeno RAet al. , 2008). Por outro lado, Dias et al. (2009)
causa muito prejuízo na produção, sendo alvo de com base em diversos estudos, comentam que a
pe quisas no melhoramento genético. base genética da resistência ao nematoide de eis-
ÉllCO DA CU LTU RA DA SOJA NAS ÚLllMAS DÉCADAS 167
o SEDl'IM!A - ] OS!ANE DIA G OMES

to na oja é complexo, podendo envolver blocos de resistência para o melhoramento genético


de genes ou poucos genes com vários alelos. Em foi inicialmente a partir da cultivar norte-ame-
experimento com a cultivar Hartwig (resistentes ricana Bragg (DIAS et ai. , 2007).
a todas as raças nematoide de cisto), Ferreira et Estudos de herança têm demonstrado que
al. (2011) reportaram a existência de interações o controle genético para resistência ao M. ja-
epistática para a resistência ao nematoide de eis- vanica é quantitativa, e também a possibilida-
to raças 9 e 14, e também a existência de QTL de de ocorrência de alelos múltiplos (LUZZI et
(Quantitative Trait Locus) com efeitos maior e a!. , 1995; SILVA et ai. , 2001). Por outro lado,
menor p ara a resistência ao nematoide de cisto. a herança da resistência a M. incógnita tem
O d esenvolvimento de cultivares resistentes sido atribuída a um ou poucos genes (LI et ai. ,
ao n ematoide de cisto foi, inicialmente, feito a 2001; LUZZI et ai. , 1994; TAMULONIS et ai.
partir de hibridações de cultivares adaptadas 1997; VERNETTI e VERNETII, 2009).
às cond ições brasileiras e cultivares americanas As lesões radiculares causada por Pratylen-
com resistê ncia. Posteriormente, com avanço chus ssp. não têm mesma significância que o
do m elhoramento genético para nematoide de nematoide de galhas, mas não deixam de ser
cisto no Brasil, cultivares brasileiras tornaram- importantes, pois preocupam muito o produtor
-se fontes de resistência (DIAS et a!. , 2009). de soja da região central do Brasil. Um levanta-
O número de cultivares resistentes ao nema- mento realizado na safra de 2008/09 por Ribeiro
toide de cisto disponibilizado aos produtores de et ai. (2010) no Centro-Oeste brasileiro, preci-
soja tem sido crescente. Em 2007 havia em tor- samente em regiões produtora de soja no Mato
no de 30 cultivares resistentes ao nematoide de Grosso, onde foram coletadas 411 amostras, de-
cisto, e em 2009 esse número passou a 50 culti- tectou-se a presença de 96% de P. brachyurus.
vares (DIAS et ai. , 2009). Contudo, ainda existe Na região do Centro-Sul o nematoide reni-
carência de cultivares resistentes ao nematoide forme (Rotylenchulus reniformis) é considera-
de cisto no Brasil, pois a resistência é, em geral, do como um dos patógenos mais importantes
a uma ou duas raças (DIAS et ai., 2010b). do sistema radicular da soja. Os danos causa-
Os nematoides de galhas acarretam gran- dos por esse nematoide têm aumentado con-
des perdas na cultura da soja. O gênero Meloi- sideravelmente na última década. Geralmente
dogyne compreende um número muito gran- a soja resistente ao nematoide cisto apresenta
de de espécies, mas as espécies M. incognita e resistência ao nematoide reniforme.
M. javanica são as mais existentes na cultura O nematoide reniforme é um parasita obri-
de soja no Brasil, sendo o primeiro de ocor- gatório. Assim, realizar plantações sucessivas,
rência generalizada (DIAS et ai. , 2007). sem realizar rotação de culturas diversas au-
O uso de cultivares resistentes constitui-se menta os índices da densidade populacional.
em um método eficiente e barato para o con- Portanto, o melhor controle hoje em dia é a
trole de nematoide de galhas em soja. A fonte rotatividade das culturas.

4.3. Características agronômicas e dos grãos


alvos no melhoramento de soja
Durante o processo seletivo para a obten- Ao longo da história do melhoramento de
ção de genótipos superiores em soja, as carac- soja no Brasil foram desenvolvidas cultivares
terísticas relacionadas ao ciclo, arquitetura da de ciclos precoce, médio e tardio para os dife-
planta, tolerância ao acamamento e indeiscên- rentes grupos de maturidade da soja. Segundo
cia da vagem foram também temas dos progra- Sediyama et ai. (2005), na década de 70 alme-
mas de melhoramento de soja. jou-se o desenvolvimento de cultivares altas e
168

tardia . Mai recentemente, o desenvolvimento Isto porque a soja pode ser utilizada como fon-
de cultivares de ciclo precoce tem sido prefe- te de matéria prima para produção de biodiesel
rido nos programas de melhoramento de soja, sendo uma alternativa para redução da depen-'
visando atender às demandas dos produtores dência dos derivados de petróleo (REIS, 2009).
que almejam realizar du as safra , bem como, Conforme relatado por Marques et ai.
auxiliar no manejo de doenças, a exemplo, da (2010), a competitividade da soja brasileira no
ferrugem a iática da soja. mercado internacional, principalme nte para 0
A altura da planta desejável de uma cultivar óleo, vai depender em grande parte do aumen-
de soja varia entre 50 e 60 cm, e as plantas com to da produtividade de óleo ; havendo, assim,
altura uperior a 100 cm não são desejáveis, de- a necessidade da seleção de genótipos de soja
vido à pos ibilidade de acamamento e perdas com alta produtividade e alto teor de óleo.
durante a colheita ( EDIYAMA et ai., 2005). Ou- Embora os teores de óleo e proteína sejam
tro caráter importante e também considerado características importantes durante o melho-
na seleção de genótipos de soja refere-se à al- ramento de soja, não foi observado incentivo
tura da inserção da primeira vagem, que deve econômico para criação de genótipos com ele-
estar entre 12 e 16 cm (SEDIYAMA et ai., 2005). vado teor proteico, uma vez que o produtor é
O teore de óleo e proteina nos grãos de soja remunerado pela quantidade produzida, e não
ão características importantes durante o melho- pela concentração de proteínas e/ou óleo nas
ramento de oja. Variabilidade para ambos os sementes (RANGEL et ai. , 2007).
caractere tem ido observado nas cultivares dis- De acordo com Costa (1996), os teores de
ponibilizadas no Brasil, contudo, as correlações proteína oscilaram de 40 a 41,8% nas sete culti-
negativas entre teores de proteína e óleo em soja vares mais plantadas no Brasil, no ano de 1972.
(BO ATO et ai., 2000) têm dificultado o progres- Costa et ai. (1981) relataram teores de proteí-
so do melhoramento (MI ZZI et ai., 2009). na bruta entre 40,00% e 41,38% em grãos de
Em uma pesqui a no Rio Grande do Sul, Bo- sete cultivares comerciais, produzidas na safra
nato et ai. (2000) avaliaram cultivares de soja de 1973. Já no ano agrícola de 2004, as cultiva-
lançada de de 1966 até 1998 e linhagens em res desenvolvidas pela Universidade Federal de
fase final de avaliação, com intuito de determi- Viçosa apresentaram teores de proteína na se-
nar se a cultivares de oja lançadas após 1990 mente oscilando entre 36,08 a 42,2%. Avaliando
difeririam da mai antigas quanto aos teores 17 cultivares da Embrapa na safra 2004/ 2005,
de proteína e de óleo. E tes autore observaram Benassi et al. (2006) encontraram variabilidade
que a maior parte das cultivare lançadas entre genética para o teor de proteínas, com médias
1991 e 1996 apresentaram menor teor de pro- variando de 36,52 % a 42,22%.
teína e maior teor de óleo que as mais antigas. Avaliando os teores de proteína e óleo d e
Conforme os autores, o u o das cultivares União quatro cultivares de soja n as safras 2004/2005
e Industrial como genitore deve ter contribuí- e 2005/2006, Minuzzi et ai. (2009) observaram
do para o menor teor de proteína apresentado valores de 31 a 35% para teor de proteína, e d e
pelas cultivare . Além dis o, comenta-se que as 18 a 22% para o teor de óleo . Em e studos com
linhagens experimentai apre entaram teor de 24 genótipos, incluindo linhage ns e cultivares
proteína tão elevado quanto o das cultivares em de soja, Cavalcante et al. (2009), notaram te ores
cultivo desde antes de 1990, o que pode ter ido de óleo oscilando de 13,51% a 21,59%. Já Barbo-
causado pela mudança de genitores. sa et al. (2011) verificaram teores d e óle o osci-
Mais recentemente, a seleção de genótipos lando de 16,17% a 23,75% para o teor d e óle o
com alto teor de óleo tornou-se um dos objetivos em estudos com 21 cultivares nas safras d e
de algun programas de melhoramento de soja. 2008/2009 e 2009/2010. Entre todos o s estudo
169

é notória a presença de diferentes potenciais de bem como a alta influencia ambiental para este
produção de proteína e óleo entre as cultivares, caráter (RANGEL et al. , 2007; PÍPOLO, 2002).

4.4. Adaptabilidade e estabilidade de linhagens e cultivares


Durante a fase final do desenvolvimento de cimento das cultivares de ampla adaptação,
linhage ns de soja são realizados os ensaios pre- estáveis e responsáveis às melhorias das con-
liminares, intermediários, finais e os ensaios de dições ambientais.
VCU (valor de cultivo e uso), em vários locais e Atualmente, há disponíveis diversos méto-
safras consecutivas. Nestes, a produtividade de dos de estudos de adaptabilidade e , também,
grãos e outras características quantitativas de software de fácil acesso e uso para qualquer
importância agronômica são avaliadas. programa de melhoramento genético de soja.
A p artir dos dados coletados nos ensaios, Nesse sentido, tem sido disponibilizado cons-
poder-se-á realizar os estudos de interação de tantemente aos melhoristas e produtores in-
genótipos por ambientes, seguidos de adap- formações importantes acerca de linhagens e
tabilidade e estabilidade. Estas análises au- novas cultivares de soja que são lançadas pelos
xiliam os melhoristas na avaliação e conhe- diferentes programas de melhoramento.

4.5. Melhoramento de soja para Alimentação Humana


No oriente, a soja na alimentação huma- e as características agronômicas são considera-
na é utilizada há muitos anos. No entanto, no das durante o melhoramento de soja para fins
Brasil, o consumo de soja nas dietas é mais de alimentação humana (JUHÁSZ et al. , 2014).
recente e um dos fatores que restringiam seu Os programas de melhoramento de soja vol-
uso era o sabor característico da soja (gosto de tados à seleção de genótipos com características
feijão cru), devido à expressão de três genes especiais para o uso na alimentação humana vi-
dominantes (SEDIYAMA et al. , 2005). sam aprimorar o valor nutrucional e funcional
Em busca de alimentação mais saudável e da soja. De acordo com Nogueira et al. (2015)
atenção aos benefícios trazidos à saúde, a deman- entre os atributos necessários estão os aspectos
da pela soja tem aumentado, e isso levou à criação visuais dos grãos, integridade do tegumento e
de programas de melhoramento genético, com hilo claro. Além disso, a produtividade de grãos
intuito de obter genótipos destinados à alimenta- e as características agronômicas são considera-
ção humana, tais como: o Programa de Melhora- das durante o melhoramento de soja para ali-
mento de Soja da Universidade Federal de Viçosa, mentação humana OUHÁSZ et al., 2014).
a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, o Algumas cultivares de soja para alimentação
Instituto Agronômico de Campinas (SEDIYAMA et humana já foram desenvolvidas, tais como: BRS
al., 2005) e também em parcerias da: EMBRAPA, 155, BRS 21_3, BRS 216, BRS 257, BRS 258, BRS
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Ge- 267 (CARRAO P~NIZZI e PÍPOLO, 2007), BRS
rais e Fundação Triângulo (JUHÁSZ et al. , 2014). MG 800 A (JUHASZ et al. , 2014), UFV TN 101,
Os programas de melhoramento de soja UFV TN 102, UFV TN 103 e outras (SEDIYAMA
voltados à seleção de genótipos, com carac- et al. , 2009).
terísticas especiais para o uso na alimentação Benassi et al. (2011), em pesquisas com oito
humana, visam aprimorar o valor nutricional cultivares indicadas para alimentação humana
e funcional da soja, obter genótipos com dife- observaram diferenças em termos: de tamanh~
rentes tamanhos dos grãos, cores do tegumen- dos grãos (11-22 g/100 grãos), conteúdo de cas-
to e hilo. Além disso, a produtividade de grãos cas (6,3-8,3 g casca/100 g grãos) e capacidade de
1 O
ERNA E L EMES - L EONA RDO C ASTRO - R AFAEL As IS

absorção de água (121-140 g água/100 g grãos). lipoxigenases; BRS 258 - descendente da cultivar
Além disso, citam as seguintes características: BR 36, bastante usada na alimentação humana·
BRS 155 - teor reduzido de inibidor de tripsi- BRS 262 - hilo preto e alto teor de isoflavonas'.
na (1/3 do normal); BRS 216 - grãos pequenos, BRS 267 - grãos de tamanho acima da média ~
alto teor de proteínas e de isoflavonas; BRS 232 sabor considerado suave; BRS MG 790A - casca
- grãos grandes; BRS 257 - ausência de enzimas alaranjada e sabor considerado bom.

4.6. Métodos de Melhoramento e Biotecnologia


Todo o métodos de melhoramento de tem sido observado em programas de melho-
plantas tiveram e têm sua relevância no me- ramento de soja do setor privado. E uma das
lhoramento de soja. As introduções de germo- razões do menor uso de marcadores no setor
plasma foram realizada , principalmente de público pode ser atribuída aos altos custos de
materiai originários dos E A Japão, China, implantação e manutenção dos laboratórios que
Canadá, México, Argentina, Colômbia e Bolívia permitam a genotipagem em larga escala. Con-
(SEDIYAMA et al., 2005) . o entanto, sabe-se forme Sakyama et al. (2014), a SAM tem sido
que a maior parte do germoplasma brasileiro é empregada em programas de melhoramento de
proveniente do germopla ma americano. soja da: Pioneer, Monsanto, Coodetec.
A eleção de planta , seguida de testes de m fator importante para a utilização de
progênie também foi um método adotado para marcadores para a seleção assistida é a identi-
o desenvolvimento de cultivares de soja. Após ficação e validação de marcadores com a carac-
as introduçõe de germoplasma no Brasil, ini- terística de interesse. Muitos estudos de iden-
ciaram- e as hibridaçõe , eguida de diferentes tificação de marcadores já foram realizados,
método de condução de população segregan- ma alguns ainda necessitam de validação em
te , tai como: método da população, método outros backgrounds genéticos.
descendente de uma única semente (Single Seed Silva et al. (2007) realizou um estudo para
Descendent- D), método descendente de uma a validação de marcadores microssatélites para
única vagem (Single Pod Descendent - SPD), tes- seleção assistida de resistência de soja ao nema-
te de geração precoce e retrocruzamento. toide cisto, onde foram testados microssatélites
Com o de envolvimento da biologia mole- em duas populações e suas eficiências para se-
leção assistida. Os resultados obtidos indica-
cular e a de coberta da e trutura da molécula
ram uma eficiência de 100% nas combinações
de D A, vário tipo de marcadores molecu-
Satt309+GMENOD2B e Satt309+Satt18 para se-
lares foram de envolvido . Este foram imple-
leção de plantas resistentes ao nematoide de cis-
mentado em programa de melhoramento de
to, o que foi possível explicar a variância fenotí-
soja, eja para avaliar a diver idade genética
pica dos marcadores Satt309 e GMENOD2B.
do germoplasma, eja para a eleção assistida
por marcadore moleculares ( AM) , auxilian- Alzate-Marin et ai. (2005) identificaram
do na identificação e el ção de indivíduo que dois marcadore microssatélites, capazes de
po uam o gene favorávei (MORCELI et al,, detectar os genes que conferem resistência ao
2008; TE TER e LA GRIDGE, 2010). nematoide cisto da raça 14, sendo o micros a-
Morceli et al. (2008) mencionam que a bus- télites Satt038 e Satt163.
ca por marcadore moleculares, ligados à resis- Em estudos com 51 linhagens de oja, pro-
tência a doenças e ua utilização na SAM para venientes de uma população obtida pelo cruza-
o de envolvimento de cultivare resistentes é mento entre BRS 133 (suscetível) e PI 595099
uma realidade em diverso programa de me- (resistente) aoM. javanica, Fungati et ai. (2004)
lhoramento. O emprego mai intenso da AM relataram que os marcadores SOYH P176 e Satt
17 1
11 - A VANÇOS O MELHORAMENTO GENÉTICO DA CULTURA DA SOJA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS

ANA P AUl.A Ü UVEIRA OGUEIRA - T UNEO SEOíYAMA - ] OSIANE Ü CAS G OMES

114 são promissores para seleção assistida para cos passou de 1,7 milhão de hectares em 1996,
resistê ncia genética ao M javanica em soja. para cerca de 175 milhões de hectares em
Pelo cruzamento dos genitores contrastan- 2013. A soja é a principal cultura com cultivo
tes: PI 459025 (resistente à ferrugem - Rpp4) x de transgênico (ZERBINI et ai. , 2013).
Coodetec 208, Costa et ai. (2008) obtiveram as Um exemplo da utilização da biotecnologia
populações F2 e F2:3, as quais foram avaliadas moderna no melhoramento é o da soja Round
quanto a reação à ferrugem asiática e a marca- up Ready (RR), da empresa Monsanto. Plantas
dores moleculares. Estes autores verificaram os de soja transgênicas RR possuem resistência ao
herbicida glifosato, contribuindo para o mane-
marcadores RAPO OPBB-16, OPAK-04 e OPR-04
jo de plantas daninhas em lavouras de soja. A
a 5,1, 6,3 e 14,7 cM de distância do loco de resis-
soja RR, resistente ao herbicida, foi obtida pela
tência, em fase de repulsão, e os indicaram para
inserção de um gene oriundo do genoma da
seleção assistida, em genótipos de soja com a
Agrobacterium sp., estirpe CP4, a qual codifica
mesma fonte de resistência da PI459025.
uma variante da EPSPs (CP4 EPSPS), especial-
Matsuo et a!. (2014) verificaram que o mar- mente tolerante ao glifosato (PADGETTE et a!. ,
cador sc21_3420 encontra-se completamente 1995; ZERBINI et ai. , 2013).
ligad o (0,0cM) ao gene da resistência à ferru- A soja transgênica RR, resistente ao glifo-
gem asiática (Rpp4), podendo, portanto, ser sato, tem sido cultivada na maioria dos prin-
útil p ara a seleção indireta para introjeção da cipais locais produtores de soja (YAMADA et
resistência da cultivar TMG 803. ai., 2012), e no Brasil em torno de 90% de toda
Além da SAM, a biotecnologia pode ser a área cultivada nas últimas safras. O uso de
empregada nos programas de melhoramento, cultivares transgênicas de soja no Brasil tem
para o desenvolvimento de plantas transgêni- evoluído bastante na última década, conforme
cas. A área global com cultivas de transgêni- pode ser observado na Figura 2.
30,0
25,9
24,7
25,0

... 20,0
e
.3
u 15,0
J!
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~
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Safras
Figura 2. Evolução da área plantada com soja transgênica no Brasil.
Fonte: Céleres 2012, Adaptado de Morais e Borém (2015) .

Silva et a!. (2015) citam outros eventos lerante


. ao herbicida glufosinato de a momo; A · e
transgênicos em soja, aprovado para o Brasil: SoJa IPRO®, que combina resistência a herbi-
Soja Cultivance®, tolerante aos herbicidas do cidas à base de glifosato e resisteAnci·a a msetos
·
grupo imidazolinonas; Soja Liberty Link®, to- da ordem lepidópteras.
5. Considerações finais
O s avan os n o m e lhoramento genético ela nuo trabalho do melhoramento genético. Pois,
-o ja no Bra sil são notó rios e e le ocorreu pelo somente a partir desse estudo é possível o de-
empenh o ele instituições públicas e privad as, senvolvimento de genótipos que se adaptem às
que u aram vantajo sa m e nte a variabilid ad e mudanças climáticas já evidentes e , também,
1
ge 1 ' tica disponível par a selecionar genótipos que superem os entraves impostos pelos es-
produtivos, adaptá-los às novas condições e cla- tresses bióticos.
focli m áticas ~super a ndo as barreiras fitopatoló - Os melhoristas de soja devem estar atentos
gkas. Com avan ço d a biotecn ologia m o d ern a à ampliação da base genética da soja, com intui-
foi possível acelerar os programas de melhora- to de assegurar fonte de genes para criação de
mento e obter p lanta s tra nsgê nicas, com carac- genótipos, que agreguem características úteis
terísticas úteis para o produtor. ao produtor, à indústria e ao consumidor. O
Com uma persp e ctiva do crescimento da desenvolvimento de cultivares transgênicas é
população mundial, é e vide nte que a soja con- uma realidade nos programas de melhoramen-
tin uará a se r uma importante cu ltu ra em nível to; não obstante, ainda existem programas que
mundial. Entretanto, para q ue ela continue a ainda dedicam esforços para o desenvolvimen-
ser cultivada com êxito no Brasil, trazendo be- to de cultivares convencionais.
nefícios socioeconômicos, é esse ncial o contí-

6. Referências bibliográficas
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-.

Mel horamento genético da soja


visando resistência a fitopatógenos

L EONARDO H UMBERTO SILVA E C ASTRO


Engenheiro Agrônomo, Me.
VMANE FORMICE VIANNA
Bióloga, Me., Dra.
Instituto Taquaritinguense de Ensino Superior
.ANTONIO ÜRIANDO D1 MAURO
Engenheiro Agrônomo, Me., Dr.
Universidade Estadual Paulista
SANDRA HELENA UNÊDA-TREVISOLI
Engenheira Agrônoma, Me., Dra.
Universidade Estadual Paulista

1. Introdução
A ocorrê ncia de doenças é um dos prin- A aplicação de estratégias do melhoramen-
cipais proble mas relacionados ao sistema de to genético para o controle de fitopatógenos se
cultivo da soja (Glycine max (L.) Merrill), por torna um indicador de sustentabilidade para o
causar grandes perdas de produtividade (YO- sucesso produtivo da cultura dentro de toda a
RIN ORI, 1986), sendo esses níveis variáveis de cadeia produtiva. Isto pode ser observado a par-
acordo com o patógeno, o genótipo e as con- tir da obtenção de uma vantagem competitiva
dições ambientais. No Brasil, o agravamen- e de melhores resultados ao nível de negócio
to da intensidade das doenças e o aumento dentro de toda a cadeia, a partir do melhor de-
destas em cultivos de soja ocorreram devido sempenho do controle genético em relaç_ã o aos
demais métodos de manejo, em que os genó-
ao aumento da área produtora da cultura e
tipos adquirem algum nível de resistência aos
também à sua expansão nas regiões Central e
organismos causadores de doenças. Além disso,
Norte do país (HILLEN et al. , 2006).
investimentos elevados com produtos fitossani-
Entre as principais doenças da soja, en- tários e suas aplicações no campo serão reduzi-
contra-se a ferrugem asiática, que, segundo dos. (CASTRO, BORÉM e LEMES, 2014).
Godoy et al. (2013), possui potencial de cau- Neste sentido, o emprego do melhoramento
sar danos entre 10 e 19% em relação à produ- genético da soja visando à resistência a fitopató-
tividade de grãos, o que gera graves prejuízos genos, que consiste na incorporação da resistên-
em relação ao custo de produção, principal- cia genética, se comporta como uma estratégia
mente quando somado ao controle químico. viável. De acordo com o conceito de estratégia ·
Assim, são requeridas estratégias peculiares descrito por Barney e Hesterley (2007), a resis-
Para um manejo eficaz. tência da soja às doenças se torna uma alter-
180
E nNANE L EMES - L EONAnDo CASTRO - R AFAEi. s1s

nati a pr mis ra, n istind numa fi rma d g n competitiva , além d reduzir o impacto
r duzir , u t pr dução para obt r vanta- ambi ntais provocados p lo controle químico .

2. Variabilidade patogênica e o melhoramento genético da soja


,.i t'' ncia da ariabilidad aracteri- l nesta populaçõ é um indicativo de que
za la I la pr n a d d it re nte t nna para a re ist" ncia g nética vertical, confe rid a por
u m d t rminado orga ni m p at g "n ico. Na g n un1cos, uma e trat gia d ri co para
cultu ra da soja, a ariab ilid ad p atog " nica os programa d melhorame nto g né tico que
t m , ido de, crita para dit r ntes ag nt s cau - vi 'am à r ist"ncia à ferrug m asiática d a oja
sad r"' - de n D"'rm id ade . no Bra il (T H RT HE THALER et al. ,
Em studo realizado n a Arg ntina i ola- 201 2). O m ' mo fungo foi estudado e m. dife-
do do c mpl ., o do fungo Diaporthe/Pbo- r nte , r g10 da Nigéria em um importante
mop ' is (D/ P) foram col tado n a princip ai tudo, permitindo a id ntificação de 116 iso-
ár "as d"' pr du 'ã d ' t paí du rant tr " lado cl i po to em sete difere nte grupos na
ano, agrícolas. Foram ava liado vint três análi e de agrupamento realizada. Por meio
caractere - rela i nado ao fungo por análi e de te studo foi pos ível detectar dife re nças
ele e mp< nent s principai . l ~ m di o foram de irulências entre os grupos formados , as-
realizadas análise por m arcadore mol cula- im como r alizar o mapeamento das diferen-
rc: RAPO. est studo , foram id ntificado te forma do fu ngo nas áreas d e produção de
dez ito i, olado: p rt ncente ao mple. o oja de te país (T\VIZEYIMANA et al. , 2009).
O íP, send agr upado em qu atro grande gru- Por ser uma das mais importantes do-
po : i) Diaporthe phaseoloru m var. merid io- enças da cultura da soja, outro estudo en-
nalis, (ii) D. phaseolorum ar. ca ulivora, (iii) volvendo e te mesmo fungo foi realizado
D. phaseolorum ar. sojae, and (i ) Phomop- p ara caracterizar a resistê ncia da soja e a
sis long icolla. Além dest re ultados, os mar- variabilidade p atogênica do fungo , visando
cado re moleculare permitiram di tingu ir a à resistência durável. Foram coletados oito
variabilidade intraesp ecífic a e intere p ecífica diferentes i olaclos em cinco diferentes regi-
pre~ente" permitindo a identificação de d ife- ões da Georgia (USA) em dois anos agrícolas
renças entre i o lado d entro d a mesma varie- diferente . Os isolados foram , inicialmente,
dade (PIOU et al. , 2003). utilizado para inocular os ge nótipos de soja
A ariabilidade g nética do fu ngo causa- portadores de genes Rpp dife r e nciadores.
dor da ferrugem e m oja (Phakopsora pa- Os estudos indicaram que os oito isolados
chyrhizi) foi avaliad a por meio de marcadore coletados representaram três dife rentes iso-
micro atélite ( R - imple Sequence Repe- lados , baseados n as reações dos ge nótipos
ats) e pecíficos p ara o fungo. Populações de avaliados, indicando que as populações do
esporo do fungo foram coletadas nas regiões fungo cau ador da ferrugem asiática da soja
Sul Sude te e Centro Oeste do Brasil, e em no estado d a Georgia possu e m um nível re-
'
diver a variedade de oja em uma mesma lativamente alto de diversidade gené tica.
localidade , inclu indo populações com lesão Os d ados obtido foram importantes para a
"reddish brown" (RB). Ob ervou-se variabili- identificação de genes do patógeno e os cor-
dade genética entre a populaçõe coletadas respondentes nas plantas hosp e deiras , pro-
nas três regiõe (O a 0,36), estando as popu- cesso fu_n~am_e ntal ~ara imple m e ntação d e
lações do Sul e Centro Oe te dispostas em uma res1stenc1a ge netica durável e m p rogra-
grupo diferentes. A exi tência de variabilid a- ma de melhoramento d e soj a (TIA , 2015 ) .
181

A ariabilidad patogênica do fungo cau- servar a formação de nove grupos principais


ad r da podridão d caule e raiz em soja com 64% de imilaridade. Todos os i olados
(Ph tophthora sojae) foi e tudada na Argenti- foram patogênicos para a cultura da soja, a
na m 2 difi rent i olado coletados em di- qual apresentou também a maior virulência.
fer nt r g10 geográfica , ndo o e tudo O re ultados indicaram uma variabilidade
r alizado por m io de marcadore molecula- genética e patogênica importante dentro do
r R PD. análi det ctou alta variabilida- grupo de isolados avaliado para este patóge-
d intra pecífica me mo entre i alados da no (RAYATPA AH et al. , 2012).
m ma r gião g ográfica de origem (GALLY Vale res altar que e tudo de variabilidade
et al. 2007). patogênica são de extrema importância, vis-
div r idad genettca e patogênica de to que os me mo podem indicar a utilização
i lado do fungo cau ador da podridão de de importantes e tratégia de mecani mos de
car ão em oja (Macrophomina phaseolina) re i tência, visando à a ociação entre pató-
foi e tudada no Irã. Foram coletado etenta geno e hospedeiro, de forma a se obter me-
i olado d pécie oleagino a , incluindo a lhores re ultado com a implementação de
oja. O e tudo foi r alizado por meio de mar- mecanismos de resistência de maior eficiência
cadore moleculare RAPD com po terior em programas de melhoramento de soja.
análi e de agrupamento onde foi po ível ob-

3. Quantificação de doenças da soja


Ao ubmeter genótipo de oja à avaliação quentemente, ao seu resultado produtivo Oa-
da re i tência de e er a eriguada ua adapta- me , 1974) e pode definir o momento e a estra-
ção em relação à principai raça e às condi- tégia de controle. Amorim (1995) cita que os
ções ambientai propícia poi , as im, poderá parâmetros diretos de avaliação, que são a in-
diminuir o ri co de eliminação de genótipo cidência e a severidade, são a forma mais fácil
re i te nte . Para que e te teste seja o mais ri- de quantificar e te danos. Ca a et al. (2009)
goro o pos í el de em er conhecidas ampla- complementam que, para os dois parâmetros
mente a raça fi iológica dos patógenos, em de avaliações, é importante um profundo co-
especial na oca ião da condução deste em con- nhecimento acerca da sintomatologia do pató-
diçõ controladas em relação à temperatura geno no hospedeiro, i to para que não sejam
e lumino idade. o final dos testes, os genó- confundidos com estresse abióticos.
tipo de em ser avaliados ao nível de campo, A incidência é definida como a proporção
poi is o refletirá seu comportamento em di- ou porcentagem de indivíduos infectados em
ver a condições climáticas (BUE O, ME DES uma unidade de amostragem (SEEM, 1984). Já
e CARVALHO, 2013). a severidade está relacionada à área de tecidos
A quantificação de doenças em plantas infectados pelas doenças OAMES, 1974). Amo-
també m é denominada por fitopatometria rim (1995) complementa que a quantificação,
que é uma importante área da fitopatologia, empregando o parâmetro da incidência é mais
cuja aplicabilidade no melhoramento genético fácil, precisa e simples, mas a everidade expres-
de plantas é de suma importância. A mesma sa melhor no que se refere às doenças foliares.
está e tritamente ligada à diagnose das doen- Além dos parâmetros de avaliação incidên-
ças, e sua maior importância está ligada ao co- cia e severidade, a quantificação de plantas
nhecimento da amplitude dos danos causados requer alguns princípios para ser confiável.
pelo fitopatógenos aos hospedeiros e, canse- Portanto, um avaliador, ao quantificar danos
182 D OE ÇA DA SOJA: MELHORAMENTO GEN ÉTI CO E TÉC ICAS DE MANEJO

E RNANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Assis

causados por doenças em plantas, deve ter tica, o limite máximo desta deve ser a máxima
acurácia e precisão em sua avaliação. Segun- intensidade infecciosa ao nível de campo e que
do Gasparotto et al. (2010) , acurácia dentro da sua representatividade deve ter máxima preci-
fitopatometria relaciona-se à máxima proximi- são. Também citam que as possíveis subdivisões
dade ao valor real dos danos , sem erros siste- devem relacionar-se às limitações visuais dos
máticos, correlacionando-se a estimativa ao va- avaliadores, que é a acuidade visual humana.
lor real; e a precisão está relacionada ao nível Kowata et ai. (2008) elaboraram uma e -
de erro de um avaliador em suas estimativas. cala diagramática como ferramenta para ava-
Uma ferramenta para auxiliar na quantifi- liações da severidade do míldio na cultura da
cação de doenças são as escalas diagramáticas, soja, cujo agente causal é o fungo Peronospo-
que são ilustrações siste m áticas de sintomas de ra manshurica (Naoumoff) Sydow (Figura 1),
doenças em plantas e m difere ntes níveis, como que, mesmo sendo uma doença secundária da
enfatizam Sachs et al. (2011) . Os autores citam cultura, pode ocasionar perdas de produtivi-
que, para a elaboração de uma escala diagramá- dade de aproximadamente 8%.

. . d 'ld·o
1 (Peronospora manshurica (Naoumoff) Sydow) em folhas de soja na face superior (A),
Figura 1 · Sintomas em, face • · · 11
inferior (B) e nas faces supe rio r e 1nfenor para e amente
(C)
.
naD N· Oanelli A e Reis E.M. citados por Reis , E.M.; Danelli, A. ; Casa , R.T. 2015 .
Fonte: Gassen , . , , · ' '

tadas a três avaliadores com experiência na


este estudo, os autores coletaram 2_00 fo-
avaliação da doença e quatro sem. A determi-
lhas de soja em u m a á rea de 0 ,132 ha s1~uada
nação da acurácia e precisão foram realizadas
em Castro-PR, com espaçamento e ntre lmhas
por meio de regressão linear simples, sendo a
d 40 cm. Esta coleta teve in ício quando as
severidade "real" a variável independente e a
p~antas estavam no estágio fenológico V2 ' du-
"estimada", a dependente. A acurácia foi deter-
rand o ate/ o f'1nal do ciclo em que foram obser-. minada pelo teste t, que foi aplicado ao coefi-
vad o os sm . tomas da doença · A severidade
/ . foi
, - a/ xima e mm1ma da ciente regular e a preci ão foi o coeficiente da
relacionada a proporçao m . .
regressão (R2). E, então, foram propostos oito
área foliar com le õ es, sendo estes os hm1te
níveis de severidade da doença, como pode ser
da escala. A validação foi feita relacionando-
observado na Figura 2.
-se 100 folhas exsicatadas, que foram apre en-
183

0,08 % 0,30% 1,10 % 3,39%

Figura 2. Escala
diagramática para
avaliação da severidade
de míldio em soja
causado por Peronospora
manshurica (Naoumoff)
Sydow (porcentagem de
área foliar coberta com
sintomas)
Fonte: Kowata et ai.
12,85 % 34,92 % 66,13 % 87,65 % (2008)

4. Mecanismos de resistência da soja às doenças


A resi tência vegetal a um determinado sobrevivência nos tecidos do hospedeiro (PAS-
hospedeiro pode ser definida como a capaci- CHOLATI et ai. , 2008). As plantas utilizam di-
dade da p lanta em uprimir, atrasar ou evitar ferentes combinações de mecanismos estrutu-
a entrada e/ou subsequente atividade de um rais e bioquímicos de acordo com o patógeno
patógeno em seus tecidos. a maioria dos ata- que a ataca, por isso, teoricamente, os meca-
ques d os fitopátogenos, as plantas conseguem nismos são relatados independentemente, mas
se defender, por isso, a resistência mostra-se durante o ataque de um agente, podem atuar
como uma regra, enquanto a suscetibilidade de forma coordenada.
aos agentes, uma exceção. Os elementos de re- Os mecanismos estruturais e bioquímicos
sistência da planta ao patógeno podem agir no podem ser pré-formados ou pós-formados.
início d a infecção, na extensão ou na severida- Os mecanismo pré-formados ou constituti-
de da d oença (PASCHOLATI, 1994). vos são inerentes à plantas sadias, existindo
As p lantas podem reagir à incidência de mi- antes do contato com o patógeno e dificul-
crorganismos patogênicos por meio de meca- tam a infecção pelo me mo. os mecanismos
ni mo e truturais e bioquímico : as barreiras pó -formado ou ativos, ocorre a indução de
e truturais são impedimentos físicos que ini- algumas sub tância e estruturas após o re-
bem a entrada e disseminação do patógeno; os conhecimento do patógeno pelo hospedeiro.
mecani mo bioquímicos englobam substân- a Tabela 1, são apresentados os mecanismos
cia capaze de inibir o desenvolvimento do de re i tência descritos egundo Pascholati e
patóge no ou gerar condiçõe adversas para a Leite (1994) .
184 Ü OENÇAS OA SOJA: MELII ORAMENTO GENÉTICO E TÍ: N ICAS DE MANEJO

EnNAN E L EMES - L EONARDO C AS'J'HO - RAFAEL Assis

Tabela 1. Mecanismos estruturais e bioquímicos pré e pós-formados .


Mecanismos Pré-formados Pós-formados

Estruturais Papilas, halos, lignificação,


Cutícula , tricoma , estômato , fibras/vasos condutores
camadas de cortiça e tiloses
Fenóis, alcaloides, glicosídicos, lactonas insaturas,
Bioquímicos glicosídeos fenólicos, glicosídeos cianogênicos, Fitoalexinas
inibidores proteicos e fototoxinas

Entende- e que a re posta de resistência gão e/ou tecido afetado, do estado nutricional,
da planta ao microrganismo está ligada não das condições ambientais e do patógeno que
somente ao mecani mos de resi tência, mas ocorreu na espécie vegetal.
depende , também, da idade da planta, do ór-

5. Resistência e tolerância da soja às doenças


A definição de resistência está relaciona- cio, além de possibilitar a diminuição de im-
da à habilidade do hospedeiro em dificultar pactos ambientais, sendo uma tecnologia que
o crescimento e o desenvolvimento do pató- reduz o uso de pesticidas, além de ter fácil .
geno (PARLEVLIET, 1997). Porém, a resistên- aplicabilidade ao nível de campo. Para o de-
cia genética parcial ou total aos organismos senvolvimento de cultivares resistentes, pode
causadores de doenças em plantas é muito ser realizada a integração entre as plantas de
difícil de ser adquirida, por estar relaciona- soja e os organismos causadores de doenças
da a diversos genes. Então, o que se busca (VISHNYAKOVA e SEFEROVA, 2013).
em programas de melhoramento genético de Hartman, Miles e Frederick (2005) citam
plantas parece ser uma espécie de resistência que a ferrugem asiática (Phakopsora pa-
parcial, que Wang e Hartman (1992) denomi- chyrhizi) é a doença fúngica foliar mais se-
nam como sendo a capacidade da redução da vera em cultivas de soja, tendo em vista sua
taxa epidêmica, diminuição do número e da rápida disseminação e reprodução. Os indica-
ação dos fitopatógenos, a exemplo das lesões dores do tipo de reação das plantas de soja
nas folhas . Esta ação, geralmente fisiológica, à infecção a este patógeno são as pústulas
tem a capacidade de reduzir a população do que podem ser formadas em diferentes co-
patógeno, a quantidade de inóculo, e, por lorações. A resistência é caracterizada por
consequência, a incidência da doença. Porém, pústulas vermelho-amarronzadas (lesões RB)
Parlevliet (1997) cita que este tipo de resistên- nas folhas, porém poderá ser observada uma
cia se torna visível ao longo do tempo, após a pequena produção de uredósporos . Por sua
sua superação por uma nova raça do patóge- vez, o sintoma característico da suscetibilida-
no, e que pode ser considerada não durável de é a presença de pústula bronzeadas nas
ou monogênica. folhas (lesões TAN). Tais sintomas podem ser
A adoção da resistência genética é um visualizados na Figura 3, conforme citado por
meio eficaz, de baixo custo e elevado benefí- Bromfield (1984) e Mile et ai. (2011).
12 - M ELHORAMENTO GE ÉTICO DA OJA VISAN DO RESIST~NCIA A FITOPATÓGENOS 185
Leo ARDO H . S. CASTRO - V1v1ANE F. VIANNA - A NTON IO O. Dr M.AuRo - S ANDRA H . UNÉDA:f REVJsou

Figu ra 3. Sintomas da infecção de Phakopsora pachyrhízí em soja. A- lesões de resistência (RB- Reddish Brown);
8- lesões com pústulas contendo urédias indicando suscetibilidade (TAN ).
Fonte: Catelli, citado por Abdelnoor, et ai. (2015).

A cultura da oja apresenta diferentes lógicas do patógeno e realizada uma avaliação


meios de reagir ao fitopatógenos causadores da severidade destas em genótipos de forma
de doenças , os quais, por sua vez, possuem a individual; e o passo final é a identificação do
capacidade de gerar danos irreparáveis à pro- genes de resistência ou u cetibilidade do hos-
dutividade. Para avaliação da resistência da pedeiro, em que as ferramenta biotecnológi-
oja, bem como as demais culturas, à agressão cas são importante , pois não ofrem interfe-
infecciosa destes microrganismos, existem três rência do ambiente quanto aos resultados.
importantes fases : inicialmente, deve-se co- Para a obtenção de cultivare re i tente a
nhecer a herança da resistência, por meio do doenças, devem er levado em conta ete pro-
e tudo do número de genes ligados ao hospe- cedimento , eguindo o esquema apresentado
deiro que assegura a manifestação da doença; na Figura 4.
em seguida devem ser selecionadas raças fisio-

J
186 D OENÇAS DA S OJA: MELHORAM ENTO GENÉTICO E T ÉCNICAS D E MANEJO

E tlNAN E L EMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL As 1s

(i)

Fontes
de

Transfer ncia
d 1

(ü)
(vu)
Gcn

éodosde
Inoculação (iv)
ffScreening .,

Figura 4.
Procedimentos
para a obtenção
de genótipos
resistentes a
fitopatógenos
(v) Fonte: Castro,
L.H.S .

(i) Fontes de resistência: esta etapa perdas de resistência em relação ao


consiste na bu ca de germoplasma da método de linhas puras, que adota
me ·ma espécie com genes de resistên- um único genótipo resistente.
cia ao patógeno em avaliação, ou em (iii) Avaliação da resistência: neste mo-
esp ~cies da me ma natureza que pos- mento, devem-se conhecer as formas
suam e tes genes. biológicas especializadas do patóge-
(ii) Tra nsferência de genes de resistên- no, pois estes microrganismos pode1n
cia: esta etapa pode ser conduzida apresentar diversas raças fisiológicas .
por método de hibridação, a exem- Nesta etapa, a interação genótipo x
plo do retrocruzamentos, por predi- hospedeiro sob a influência do am-
zer diverso cru zamento entre indi- biente deve er conhecida.
víduos segregantes com um parental. (iv) Métodos de inoculação - "Scree-
A adoção de multilinhas utilizando ning test": a inoculação é uma forma
vários genótipo com níveis de r i - artificial de submeter o hosp ed e iro
tência também é u ma e tratégia eficaz ao patógeno, principalmente e m con-
nesta etapa, pelo fato de diminuir a dições controladas. Mascare nhas e Ito
12 - M ELHORAME TO GENÉllCO DA SOJA VI ANDO RE ISTÊNCIA A FITO PATÓGENOS 187

(1998) acrescentam que a condução controlados para que sejam identifica-


dos ensaios para avaliação da resistên- dos os tipos de resistência, podendo as
cia às doenças em casa-de-vegetação plantas ser: imunes, resistentes, mode-
facilita a identificação de uma possí- radamente resistentes, moderadamen-
vel variabilidade frente ao patógeno, te suscetíveis e suscetíveis.
e que estes testes devem ser rápidos e (vii) Conservação da resistência: é de
eficientes. Existem vários meios para suma importância que se trace a me-
este procedimento, a exemplo dos lhor estratégia para manter a resistên-
métodos empregados para avaliação cia no genótipo em avaliação. Segun-
da reação da soja ao mofo branco ou do Van Der Plank (1984), a resistência
podridão branca da haste (Sclerotinia poderá ser "quebrada" ou reduzida, ao
sclerotiorum). Até o presente momen- nível de campo, a partir do desenvolvi-
to, existem os seguintes métodos para mento de novas raças dos patógenos,
a realização deste procedimento em os quais se adaptam à resistência pre-
plantas de soja: pulverização de mi- sente. A mesma sofre influência ine-
célio (CHEN e WANG, 2005), inocula- rente à própria resistência, à variabi-
ção no cotilédone (KIM et ai. , 2000), lidade do fitopatógeno, aos ciclos que
corte em hastes (CHUN et ai. 1987), o patógeno e o hospedeiro são sub-
inoculação em folha destacada (WE- metidos, ao ambiente e a fatores epi-
LU GO, YANG e MARTI SON, 1998), demiológicos em relação à população
ácido oxálico (COBER et ai., 2003) e do patógeno. Os patógenos se adap-
o método da ponteira ou Straw test tam aos genes de resistência por meio
(AUCLAIR et ai., 2004). de seus mecanismos de escape, como
(v) Complexidade da hereditariedade mutação, recombinação sexual, paras-
da resistência: neste sentido, as do- sexualidade, heterocariose, herança ci-
enças ou raças fisiológicas são geral- toplasmática e a ação de transposons,
mente simples, pois são governadas o que irá gerar variabilidade e influen-
por um ou dois genes de resistência, ciará no potencial de adaptação.
que podem ser condicionados por ale- A resistência de plantas a doenças de forma
los dominantes ou recessivos. Apesar geral pode ser classificada em resistência ver-
dos dominantes serem mais frequen- tical e horizontal, de acordo com sua efetivi-
tes, existem casos em que a interação dade ao número de raças de patógenos contra
hospedeiro x patógeno é complexa, as quais fornece proteção (VAN DER PLANK,
envolvendo vários genes. 1963). As cultivares podem apresentar as duas
(vi) Proporções adequadas de intensi- formas de resistência simultaneamente. Para
dade do patógeno: submeter inten- um programa de melhoramento genético de
sidades adequadas de intensidade da soja efetivo, é importante a identificação de
doença, para diferenciação dos hospe- genótipos com resistência genética horizontal
deiros em teste. Neste momento, a me- aliada à resistência vertical, visando eficiência
lhor opção é a utilização de ambientes e estabilidade do processo.

5.1. Resistência vertical


A resistência vertical possui como prin- apresentando resistência a raças específicas de
cipal característica a herança qualitativa, ou fitopatógenos , reduzindo o inóculo inicial do
seja, é condicionada por um ou poucos genes mesmo e, por consequência, retardando O de-
(monogênica ou oligogênica) de efeito maior, senvolvimento da doença.
188 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉC I CAS DE MANEJO

E RNANE L EMES - L EO ARDO CASTRO - RAFAEL Ass is

Essa forma de resistência confere proteção 2003, foi conferida a quebra da resistência go-
completa, porém com curta duração, na gran- vernada pelos genes Rppl, Rpp3 e por um locus
de maioria das vezes. Esse fato ocorre em vir- identificado anteriormente na cultivar FT-2. Po-
tude do surgimento de novas raças do pató- rém, os genes Rpp2 e Rpp4 ainda permanecem
geno, por mutações e recombinações para as efetivos. Isto evidencia a importância da rotação
quais a planta n ão possui o gene de resistên- de cultivares em campos de soja, o que diminui
cia. Um exemplo dessa quebra de resistência os riscos de quebra da resistência.
ocorreu com a ferrugem asiática da soja, que A hipótese gene-gene proposta por Flor
é causada pelo fungo Phakop sora pachy rhiz i. (1942) corrobora com o mecanismo de resistên-
A soja possu i resistência conferida pelos genes cia vertical, onde, segundo essa teoria, há uma
maiores Rppl, Rpp2, Rpp3, Rpp4, Rpp5 e Rpp6 complementariedade entre os genes de resistên-
(BROMFIELD e HARTWIG, 1980; McLEAN cia e os de virulência, ou seja, para cada gene de
e BYTH, 1980; HARTWIG e BROMFIELD, 1983; resistência no hospedeiro há um gene comple-
HARTWIG, 1986; GARCIA et al., 2008; PAUL et mentar de virulência no patógeno e vice-versa.
ai., 2013). Segundo Paul et al. (2013), quando
Para os programas de melhoramento genéti-
genótipos de soja possuem os genes de resistên- co de soja, a resistência vertical é mais rápida e
cia Rppl ou Rpp6, os mesmos exibem elevados eficiente, uma vez que, com um simples cruza-
níveis de resistência ao nível de campo. mento, o gene de resistência é transferido para
Arias et al. (2004) relataram que, a exem- o genótipo de interesse, porém, devido à varia-
plo na cultivar brasileira FT-2, foram identifica- bilidade genética do patógeno, que permite a
dos os genes Rppl, Rpp2, Rpp3 e Rpp4, os quais quebra de resistência, é necessária a utilização de
eram conhecidos até o momento. E que, no pe- estratégias para maximizar a eficácia da resistên-
ríodo entre a descoberta da doença no Brasil e cia. Dentre as estratégias, pode ser descrito o uso
2003, estes quatro genes eram efetivos em seu de misturas multilinhas, rotação de genótipos e
controle genético. Após este período, no ano de piramidação de genes (MATIELLO et ai. , 1997).

5.2. esistência horizontal


A outra forma de resistência é a horizontal e grande período de latência. As plantas que
ou quantitativa, sendo também conhecida como apresentam resistência horizontal são infecta-
resistência de raça não-específica. Este tipo de das, mas o progresso epidêmico da doença é
resistência é definido pelo envolvimento de di- muito mais lento do que nas variedades susce-
versos genes (ação poligênica) de efeito menor, tíveis (VAN DER PLANK, 1963).
ocorrendo uma variação contínua de graus de Frequentemente, essa resistência está as-
resistência a todas as raças de patógenos (raça- sociada a um maior vigor da planta, pois uma
-inespecífica), proporcionando geralmente, um variedade que fotossintetiza com maior efici-
efeito estável e duradouro. ência terá, possivelmente, maior nível de resis-
A resistência horizontal é caracterizada por tência, tendo em vista que estará em condições
apresentar baixa penetração e esporulação do de resistir ao patógeno sem sofrer prejuízos
patógeno. Nessa forma de resistência, ocorre considerávei (GALLI et ai. , 1978).
a redução da taxa média de infecção do pató- A podridão vermelha das raízes de soja é
geno, ao contrário da resistência vertical, que causada pelo fungo Fusarium solani. Para esta
atua preferencialmente no inóculo inicial. Essa enfermidade, alguns trabalhos demonstram que
redução pode ser devido a vários fatores, ~~­ a resistência as ociada é de herança poligênica
tre eles: reduzido número de esporos que ini- e quantitativa, com forte influência ambiental
ciam a infecção, pequena produção de e poro (AB -THREDEIH et al., 1996; IQBAL et ai. , 2001).
189

Por ser condicionada por vários genes, há doença. A sua detecção é dificultada e requer
uma maior dificuldade do patógeno vencer a grande esforço, pois necessita do desenvolvi-
resistência por seus mecanismos naturais sen- mento de avaliações periódicas da severidade
do, portanto, uma resistência de grande ' inte- da doença em alguns anos agrícolas.
resse para os melhoristas. Então, empregar cultivares resistentes aos
De forma geral, segundo Vello e Carvalho diversos patógenos causadores de doenças
(2013), considera-se que, atualmente, o que à cultura da soja é um meio estratégico para
está sendo buscado em programas de melho- que perdas de produtividade sejam ameniza-
ramento genético, ao se trabalhar no desenvol- das os investimentos na adesão e aplicações
vimento de genótipos resistentes a fitopatóge- '
de produtos fitossanitários sejam diminuídos
nos , é a integração entre a resistência vertical e as plantas expressem melhor seu potencial
e horizontal em um mesmo genótipo, para a produtivo. Neste sentido, Santos et ai. (2005)
promoção da proteção deste, com o intuito de complementam que a resistência genética de
reduzir as chances de perdas pela quebra da re- cultivares de soja às doenças e o ciclo vegeta-
sistência vertical, que é conferida por um gene tivo e requisição em fertilidade do solo e nu-
específico. Lima et ai. (2012) acrescenta que, trição das plantas são importantes tecnologias
esse tipo de resistência é efetivo quando exis- estratégicas que poderão ser provenientes do
te um elevado número de raças fisiológicas do melhoramento genético e, assim, cont_ribuirão
patógeno e quando a sua ação está direcionada para a redução do impacto da agricultura ao
para a redução da taxa de desenvolvimento da meio ambiente.

6. Tolerância
A tolerância também é um sistema de defesa gião. Essa característica foi quantificada por meio
dos organismos vegetais, sendo governada por da diferença de produtividade entre subparcelas
vários genes em relação à diversidade de raças submetidas ou não ao tratamento com fungicida.
dos patógenos. A sua observação pode ser evi- Como resultado, os autores observaram que as
denciada a partir da avaliação de menores da- cultivares de ciclo tardio expressaram maiores
nos em relação à produtividade e qualidade do reduções de produtividade, o que pode ser resul-
prod uto quando as plantas sofrem infecções de tado da maior exposição à infecção do patógeno.
mesma intensidade em relação a outras plantas Algumas cultivares de soja já foram caracte-
(LIMA et ai. , 2012). Neste sentido, Oliveira, Go- rizadas como resistentes a este agente infeccio-
doy e Martins (2005) conduziram um trabalho so, conforme citado por Yorinori et ai. (2002),
na região oeste do estado da Bahia durante a sa- mas há relatos de que esta resistência é facil-
fra 2003/04, onde o intuito consistia em avaliar mente quebrada em cultivas do estado do Mato
a tolerância à ferrugem asiática de cultivares de Grosso, sendo que os genes Rpp2 e Rpp4 são
soja dos ciclos precoce e tardio, sendo estas am- os responsáveis pela maior estabilidade da re-
plamente utilizadas em cultivas comerciais da re- sistência, como relatado por Arias et ai. (2004).

7. Estratégias clássicas do melhoramento genético


da soja visando resistência a fitopatógenos
A resistência genética total ou parcial aos nético de plantas (SEDIYAMA et ai., 1999). As
organismos causadores de doenças é uma das pesquisas relacionadas ao controle genético das
maiores contribuições do melhoramento ge- moléstias da cultura sofreram grandes avanços
190

a partir do ano de 1920, conforme citado por métodos de inoculação para avaliação da re-
Sediyama et al. (1981), e, somada aos demais sistência fisiológica e da própria avaliação, até
caracteres de importância econômica, esta vem chegar ao emprego da biotecnologia.
sendo uma característica altamente investigada As estratégias clássicas que são empregadas
pelos programas de melhoramento genético de em programas de melhoramento genético da
soja. este sentido, os autore citam que a maio- cultura da soja para o desenvolvimento e se-
ria dos métodos me melhoramento clássicos re- leção de genótipos resistentes a fitopatógenos
lacionados às espécies autógamas podem ser são: (i) métodos que envolvem hibridações, (ii)
empregados para a obtenção de genótipos com retrocruzamentos e (iii) seleção recorrente. A
reação total ou parcial à ação de fitopatógenos . caracterização e descrição destes e as possíveis
Os método d e melhorame nto utilizados variações dentro de cada estratégia foram des-
para a avaliação de ou tras características , a critas por Vello (1992), Ramalho et a/. (2012),
exemplo da produtividade de grãos, são em- Borém e Miranda (2013), Bueno, Mendes e Car-
pregado s quando as doenças são governad as valho (2013) e Vello e Carvalho (2013). Castro,
por quatro ou mais genes d e resistência, em Borém e Lemes (2014) complementam que a
que estas são de nominad a poligênicas. O escolha da melhor estratégia depende da es-
primeiro passo é a for mação d a população pécie investigada, da quantificação dos danos
base para a investigação, em que podem ser econômicos causados pelo patógeno, das fon-
realizados cruzamentos biparentais, múltiplos, tes existentes de germoplasma com algum nível
dialélicos ou outros meios de recombinação, de resistência, da capacidade reativa da fonte
que envolvem genitores com elevado potencial de resistência, da complexidade de herança da
agronômico e as fonte de resistência à doen- resistência da espécie em relação ao patógeno,
ça em questão. O que irá determinar a melhor do nível de facilidade da manipulação do agen-
estratégia, inicialmente clássica, a ser aplicada te causal da doença em evidência, da estimativa
para condução da população egregante de- da durabilidade da resistência e sua frequência,
penderá da hcrdabilidade da resistência, das além da prevalência e distribuição do organis-
características específicas do fitopatógeno, dos mo no ambiente em forma de raças fisiológicas.

7.1. étodo que en olvem hibridação


7 .1.1 étodo Geneal · gic desta famílias. O processo se repete até que
ou '' Pedigre '' a maioria dos locos esteja em homozigose,
quando as melhores linhagens identificadas
A condução de populaçõe segregantes
irão participar de experimentos regionais de
por este método de eleção busca manter os
competição de cultivares.
dados relacionados aos genitores iniciais e
O processo de seleção é iniciado na geração
à sua descendência. a primeira geração, é
F2, momento em que as plantas em sua genera-
observada uma alta taxa de heterozigose, en-
lidade segregarão para vários genes e os indiví-
tretanto esta taxa geralmente não é máxima,
duos desta geração são diferentes entre si. Os
pois podem haver alguns locu em ho mozigo-
caractere das famílias começam a se manifestar
se com alelo idê nticos.
quando a homozigose é atingida, e esta estará
Tem como princípio a eleção de plantas presente na maioria dos locos quando a popula-
individuais a partir da geração F2, a quais ão ção estiver nas gerações F5 ou F6 e, por isso, a se-
colhida , isolad as e semead as em lin ha na ge- leção deverá er realizada entre famílias. Se ocor-
ração F3 , quando ocorre a eleção da melho- rer muita semelhança entre as famílias, deve-se
res famílias e do melhore indivíduo dentro priorizar por aquela de melhor performance.
12 - M ELHORAM El TO GENÉTICO DA SOJA VISANDO RESISTÊNCIA A FITOPATÓGENOS 191

As avaliações por ensaios comparativos 7.1.3. Método da População ou "Bulk"


deverão ser realizadas após a seleção entre fa~ Neste procedimento, a partir da geração
mílias até a geração F7 e, posteriormente, se- F2 , as plantas são colhidas em conjunto - mas-
rão realizados ensaios regionais, incluindo-se salmente - sendo, então, tomada uma amostra
cultivares comerciais ao grupo de linhagens, de sementes para a obtenção da população F3.
para serem utilizadas como testemunhas. Após O processo se repete por algumas gerações,
esta e tapa, são realizados os ensaios em diver- quando o bulk é "aberto", ou seja, são colhidas
sos locais, geralmente em três ou quatro anos plantas individuais, que darão origem às fa-
agrícolas, pois nestes serão avaliados o desem- mílias para serem avaliadas em experimentos
p e nho dos genótipos nas regiões selecionadas com repetição, até serem identificadas as me-
para avaliação, a resistência ao acamamento e lhores linhagens puras. Essas deverão, então,
à d egrana, a resistência às doenças ao nível de comprovar a sua superioridade nos experi-
camp o e outras importantes características. Ao mentos regionais de competição de linhagens.
final, as linhagens homozigóticas que obtive- A principal diferença deste método em re-
ram melhor performance poderão ser lança- lação ao genealógico é que, neste, é amostrado
das como novas cultivares comerciais. um maior número de sementes de uma gera-
Co mo aspectos favoráveis do método gene- ção para a outra. Nas primeiras gerações, o ob-
alógico , podem ser destacados: conhecimen- jetivo da seleção é direcionado para caracterís-
to d e talhado dos genótipos; maximização da ticas de alta herdabilidade, a exemplo do porte
variabilidade genética; subdivisão do trabalho e arquitetura das plantas. Esse método possui
de seleção em diferentes fases; e um menor como princípio avançar a população, sem ne-
núm ero de linhagens puras para teste ao final nhuma seleção artificial, até que a maioria dos
do pro cesso quando comparado a outros mé- locas esteja em homozigose, para só então ini-
todos, pelo fato da seleção já ter sido rigorosa- ciar o processo seletivo propriamente dito.
m ente implementada em outras fases. Inicia-se o procedimento de seleção com a
Por outro lado, como aspectos desfavorá- semeadura das linhagens puras em uma área
veis d o método genealógico, podem ser cita- experimental, cujo tamanho vai depender do
dos: necessidade de muitas anotações; neces- número de plantas individuais colhidas para
sidade de maior volume de trabalho e área compor estas linhagens puras (famílias) .
experimental; e a execução das atividades por O mesmo padrão de seleção é seguido até as
p essoas experientes. gerações F6 ou F7, em que o grau de homozigo-
se é relativamente alto e as mesmas são direcio-
7.1.2. Método Massal nadas para ensaios para a avaliação de suas per-
Neste procedimento, é efetuada a seleção formances. Este tipo de ensaio é inicialmente
fenotípica de indivíduos superiores a partir preliminar e, logo após, devem-se aumentar o
da geração F2 , com posterior mistura de suas número de locais e repetições, para que as me-
seme ntes e novo plantio, sendo este processo lhores linhagens sejam selecionadas. E, assim,
repetido nas sucessivas gerações, até atingir posteriormente, a condução seguirá os proces-
a homozigoze. Este processo pressupõe que, sos relacionados no método genealógico.
por meio de avaliação visual, é possível iden- O avanço das gerações F4 e F5 da cultivar
tificar os indivíduos genotipicamente superio- de soja lançada por Bonato et ai. (2001), BRS
res. Desta forma, mediante as peculiaridades 137, que tem indicação para o Sul do Brasil foi
do método, entende-se que sua maior eficiên- realizado empregando-se o método de popu- '
cia estará associada à seleção de caracteres de lações, sendo o seu cruzamento inicial a partir
alta herdabilidade. dos genótipos Dourados-1 (5) e Ocepar 9-SSl.
192 D OENÇAS DA S OJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E T l~CN I CAS DE MANEJO

E RNANE LEMES - LEo ARDO CASTRO - RAFAEL Assis

A mesma foi avaliada quando ao seu potencial avanço de gerações, em que é utilizada uma
produtivo, adaptabilidade e reação a doen- única semente de cada planta F2 até que certo
ças. A mesma é resistente à pústula-bacteriana grau de homozigose seja atingido. Inicialmen-
Q(anthomonas campestres pv. gly cines) , po- te, é colhida uma semente de cada planta F2
dridão-parda-da-haste (Phialophora gregatta) , de um determinado cruzamento para o avanço
mancha-olho-de-rã (Cercospora sojina) e ao de geração e o processo é repetido nas gera-
oídio (Microsphaera difusa). Outras impor- ções F3 e F4 • Plantas individuais são colhidas
tantes cultivares de soja foram obtidas por este a partir da geração F5 ou F6 , ao invés de uma
método, como a Cristalina, Doko, FT-2 , IAC-9 semente por planta, e estas serão semeadas
e a IAC-Foscarin-31. separadamente em fileiras e , então, caracteres
Como aspectos favoráveis do método da agronômicos desejáveis serão avaliados. Poste-
população, podem ser destacados: simplici- riormente, as progênies ou linhagens, são ava-
dade e baixo custo; permite mecanização do liadas em ensaios de competição.
plantio e colheita; importância da seleção na- Este é um método adequado quando se
tural no processo de seleção; e poder ser facil- deseja o avanço de mais de uma geração por
mente associado com outros métodos, além de ano, seja em condições de casa-de-vegetação
p ermitir cultivas de inverno para avanços de ou mesmo em campo. Além dessa vantagem, o
geração , como no caso da soja. método SSD ocupa menor espaço por geração,
Por outro lado, como aspectos desfavorá- demanda menor esforço na colheita, não requer
veis do método da população podem ser cita- anotações e possibilita a seleção, por meio de
dos: parte d a geração F2 não é representada avaliações individuais, para caracteres de alta
nas gerações posteriores; necessidade de se herdabilidade, como a altura da planta, matura-
testar um grande número de linhagens; e o ção, florescimento e resistência às doenças.
processo de seleção natural poder favorecer Como desvantagens do método, podemos
plantas agronomicamente não desejáveis. citar: quando é realizada a seleção artificial em
7.1.4. Método misto gerações segregantes, a mesma é baseada no
fenótipo de plantas individuais e não no de-
Este método de condução de populações
sempenho da progênie e a incapacidade da
segregantes é uma e tratégia imponente para
seleção natural de influenciar a população de
a seleção, visando a identificar genótipos resis-
um maneira positiva, a não ser que os genóti-
tentes a doenças e pragas ao nível de campo,
pos não germinem ou não deixem sementes
sem que seja realizada a inoculação de patóge-
na descendência.
nos em condições controladas. Então, o méto-
do genealógico e o da população serão alterna- A cultivar lançada por Souza et ai. (2000), de-
dos , de forma que, quando as pragas e doenças nominada por BRS Celeste, que tem indicação
ocorrem naturalmente, a seleção e formação para o sistema produtivo do Cerrado, foi obtida
de progênies seguem as predições do método através da hibridação entre as cultivares Bossier
genealógico. Já na ausência destes indivíduos e BR-lT, com posterior seleção empregando-
no campo, segue-se o método da população. -se o método SSD ou genealógico modificado.
Além das principais características agronômicas
7 .1.5. Método da Descendência de a serem selecionadas, a cultivar é resistente a
uma Única Semente (Single Seed três doenças, pústula bacteriana (X. campestres
Descendent - 55D) e derivados pv. glycines) , mancha-olho-de-rã (C. sojina) e
Este m étodo é uma modificação do método cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f. sp.
genealógico, q~e foi proposto por Brim (1966). meridiana/is). Outras cultivares importantes
O mesmo consiste na condu ção de ensaios de como FT-Cometa, UFV-14 (Itamarati) e UFV-15
12 - M ELHORAMENTO GE ÉTICO DA SOJA VISANOO RE ISTÍ:NCIA A FITOPATÓGE OS 193

(Uberlândia), também foram desenvolvidas por tragem de uma vagem por planta, SPDS (Single
um método derivado do SSD. Pod Descendent with Selection ) ou Descenden-
A limitação básica deste método é o fato da te de uma única vagem com seleção; SHD (Sin-
amostragem de uma única semente por planta gle Hill Descendent) com o semeio de uma cova
muitas vezes não garantir a representatividade por planta e o SHDT (Single Hill Descendent
do indivíduo, por ocorrer muita influência do Thinned) , que consiste no semeio de uma cova
processo de seleção natural no decorrer das por planta, mas com desbaste para evitar a com-
gerações. Para resolver o problema de amos- petição entre os indivíduos dentro da mesma
tragem , foram propostas algumas alterações na cova. Este último resolve, ainda, o problema de
metodologia inicial, derivando, então, os méto- desuniformidade, por exemplo, para o caráter
dos SPD (Single Pod Descendent) com a amos- ciclo de maturidade dentro da mesma parcela.

7.2. Retrocruzamento
Em se tratando de doenças que tem sua Este método é extremamente eficaz para
herança simples e, consequentemente, sua a incorporação de caracteres importantes em
herdabilidade é de média a alta, os genes de cultivares elites ou para o desenvolvimento de
resistência horizontal, geralmente de um a populações envolvendo parentais não adapta-
três, são introduzidos de maneira mais efi- dos, como a utilização de genitores de outras
ciente por meio de retrocruzamentos entre regiões ou países. Portanto, as introduções a
cultivares elites e indivíduos como fontes de partir de retrocruzamentos são realizadas em
resistência. Como o próprio nome indica, o programas de melhoramento que dependem
m étodo utiliza uma série de retrocruzamen- de germoplasma melhorado, linhagens e culti-
tos para a variedade a ser melhorada, sendo vares comerciais, desenvolvidos em outros pro-
que o caráter a ser melhorado é mantido por gramas. Alzate-Marin et ai. (2005) acrescen-
seleção. O genitor que contém o alelo dese- tam que a adoção desta metodologia permite
jável é denominado de não recorrente, ou a redução do arraste de genes, denominada
d oador. O genitor submetido aos sucessivos por "linkage drag", o que é indesejado durante
cruzamentos com os indivíduos da popula- os procedimentos de transferência de alelos de
ção segregante é denominado de recorren- resistência às doenças, empregando-se algum
te. Como resultado do processo, temos uma material genético exótico. A utilização de mar-
variedade com as mesmas características do cadores moleculares é uma excelente estraté-
genitor recorrente, sendo, porém, superior a gia quando se deseja acelerar o processo de
e sse e m relação ao caráter selecionado. recuperação do genótipo recorrente.
Portanto, o método do retrocruzámento A quantidade de retrocruzamentos a serem
é altamente preciso geneticamente, mas deve realizados para que a transferência de genes
ser uma estratégia complementar aos demais da característica desejada para o receptor seja
m é todos de melhoramento clássico, pois tem máxima depende da obtenção de uma popula-
por objetivo elevar a frequência de genes de ção mais próxima do parental recorrente do
" . ,.. '
interesse na população. Esta metodologia tem mento agronomico do parental doador e da
maior indicação para a introgressão de genes possibilidade de seleção dos caracteres seme-
maiores em genótipos suscetíveis, que é a re- lhantes entre o genitor recorrente e O doador.
sistência vertical. O conhecimento da herança A cultivar BRS 2 32, segundo Almeida et ai.
do caráter a ser incorporado na população é (2007), originou-se de uma planta da geração
de suma importância para que a utilização des- f 3 que foi selecionada dentro da população
te método seja eficiente. desenvolvida através do retrocruzamento BR
194 D OENÇAS DA S OJA : M ELHORAM E TO GENÉTICO E TÉCNICAS D E MANEJO

ERNAN E L EM ES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL Ass,s

85-18565 (3) x [Embrapa 4(3) x Tracy-M]. Nos pois este possibilita a condução da população
testes de resistência às doenças, a mesma se desenvolvida em diferentes regiões em que
comportou como resistente ao cancro da haste existirão diversas raças, que poderão provocar
(D. phaseolorum f. sp. meridionalis) , mancha- danos distintos e, também , é superior em rela-
-olho-de-rã (C. sojina) , ao vírus do mosaico ção às cultivares multilinhas, pois possibilita a
comum da soja, podridão-parda-da-haste (P. obtenção de genótipos com melhor desempe-
gregatta) e pústula-bacteriana (X. campestres nho agronômico, pois não existe a possibilida-
pv. glycines), além de ser moderadamente re- de de misturar vários fenótipos.
sistente ao nematoide Meloidogyne incognita As desvantagens estão relacionadas à difi-
e suscetível ao M. javanica. culdade de se procederem retrocruzamentos
Como vantagens do método, podem ser dentro das populações desenvolvidas, pois de-
destacados: a d ispensa dos testes finais das verão ser inoculados isolados de diversas raças
novas cultivares obtidas, tendo em vista que a do patógeno e isto dificulta a avaliação da po-
cultivar já é conhecida, tendo passado o perío- pulação e a identificação da raça que causou
do de testes pelo agricultor; o programa de re- maiores danos e, também, por aumentar as
trocruzamento pode ser conduzido fora da re- possibilidades da criação de "super raças".
gião onde o cultivar é utilizado; é um método
com alto nível de previsibilidade de resultado, 7 .2.2. Rotação de genes
pois apenas o caráter em transferência precisa Neste método, as cultivares empregadas na
ter herdabilidade alta; e confere características rotação possuem genes de resistência a dife-
de excelência a genótipos já superiores. rentes raças fisiológicas do patógeno em ava-
Como desvantagens, podemos citar: a libe- liação. Esta estratégia visa diminuir a pressão
ração de genótipos excepcionais, obtidos por de seleção sobre o fitopatógeno. No entanto,
outros métodos de melhoramento, pode tor- um ponto negativo é que os produtores rurais
nar o parental recorrente ultrapassado; o tem- não gostam de trocar de cultivares quando se
po gasto para obter o novo genótipo pode tor- possui uma de interesse.
nar produtivamente obsoleto este cultivar; e é
7.2.3. ultilinhas
um método muito trabalhoso e mais adequado
para tran ferência de um ou poucos genes. O método das multilinhas é a mistura de
linhagens agronomicamente idênticas, princi-
7.2.1 . Pir idaçã de enes palmente em relação à resistência às doenças,
A Piramidação de genes é a introgressão de porém estas diferem entre si do ponto de vista
diver os genes de resistência vertical a um fito- de genes fortes de resistência vertical. Este é
patógeno em um único indivíduo, consistindo uma estratégia alternativa empregada para que
na transferência dos genes em programas de sejam minimizadas as perdas decorrentes da
melhoramento independentes e, posteriormen- ação de várias raças fisiológicas de patógenos
te deverá ser realizada a combinação deste com prevalência distinta de ano para ano, pois
em' um único genótipo ao final da seleção. Sua se relaciona às mudanças ambientais.
aplicabilidade está relacionada à aceleração do As doenças podem ser mais frequentes em
processo de introgres ão dos genes de interesse uma multilinha do que em linhas puras, mas,
realizada por meio de retrocruzamentos. neste método, as perdas são menores, pois
Como todo procedimento, este também o efeito protetor da mistura de indivíduos é
apresenta vantagens e de vantagen • E t~ mé- maior. Esta proteção se comporta como uma
todo é superior para se comparar,, c~lt1vares barreira para a infecção de estruturas dos pa-
com níveis de resistência a u ma u ntca raça, tógeno provenientes de indivíduos suscetíveis
12 - M ELHORAM.E TO GENÉTICO DA SOJA VISANDO RESI TÊ CIA A FITOPATÓGE OS 195
L EO ARDO H . S. C ASTRO - V MANE F. V !AN A - ANTON IO O. D, MAURO - SAND RA H. u ÊDA-TREVISO LI

e isto dificulta a distribuição e concentração divíduo procedente de vários outros com pa-
inicial do fitopatógeno. drões agronômicos similares, à facilidade do
A maior vantagem da adoção de multili- surgimento de novas raças de fitopatógenos
nhas é que esta permite a obtenção de indi- altamente virulentos e à quebra da resistência
víduos resistentes às diversas raças ao mesmo em apenas um dos indivíduos, o que compro-
tempo. E as desvantagens estão relacionadas meterá a produtividade de grãos.
à dificuldade do desenvolvimento de um in-

7 .3. Seleção recorrente


Este método tem por objetivo ampliar de servirão como parentais para o ciclo seguinte,
maneira gradual a base genética de uma espécie, para a formação de populações especiais e para
permitindo, ao mesmo tempo, a preservação e a disponibilização de novas cultivares.
o u so do germoplasma. O mesmo reúne diver- O emprego da seleção recorrente em pro-
sos métodos cíclicos, envolvendo um número gramas de melhoramento fundamenta-se na
elevado de parentais, geralmente entre 8 a 40, possibilidade de atuar na seleção de caracteres
sendo até 25% do germoplasma exótico intra- governados por vários genes. Gargnin (2007)
específico; logo após, são realizadas três gera- acrescenta que, mesmo com certas limitações,
ções de recombinação, na maioria das vezes in- este método é muito eficiente no melhoramen-
tercruzando com ou sem o emprego de macho to genético para a obtenção de genótipos resis-
esterilidade, isto para a obtenção de uma popu- tentes às doenças, pois, além desta resistência,
lação com base genética ampla, o que envolverá ganhos contínuos são obtidos, a exemplo do
cruzamentos biparentais, quádruplos e óctu- rendimento de grãos. Segundo Morais Júnior et
plos; o avanço até a homozigose será realizado ai. (2013), o método possibilita a obtenção de
por três gerações de endogamia, empregando boa variabilidade genética, além de manter, em
o m étodo SSD ou algum de seus derivados. São toda a população, os alelos relacionados a todos
realizados testes de desempenho agronômico e os genitores, com frequência entre 5% a 10%,
seleção e, enfim, selecionadas as progênies, que isto se a recombinação for feita corretamente.

8. Estratégias moleculares do melhoramento genético


da soja a visando resistência à fitopatógenos

8.1. Biotecnologia
Biotecnologia, na sua definição mais am- alimentos, indústria, meio ambiente, pecuá-
pla , é a utilização de organismos vivos ou ria, saúde, entre outros.
parte deles para obtenção ou modificação A agricultura tem sido beneficiada pela
de produtos. Os microrganismos são utili- biotecnologia em muitos aspectos, principal-
zados como agentes modificadores desde os mente no melhoramento genético, por meio
primórdios da civilização, na fermentação do da seleção assistida por marcadores molecula-
pão e da cerveja. No entanto, a biotecnologia res e técnicas de transgenia, que desenvolvem
passou a ter grande relevância a partir da dé- cultivares cada vez mais produtivas aliadas à
• A • )

cada de 70, com a utilização das tecnologias res1stenc1a a pragas e doenças e/ou adaptadas
do DNA recombinante. Por ser uma ciência a diversos ambientes.
multidisciplinar, é empregada em diversos Com o advento dos marcadores moleculares
segmentos de atividade, como na agricultura, na década de 80, surgiu a possibilidade da uti-
196 D OENÇAS DA SOJA: MELHO RAM ENTO GENÉT ICO E T ÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE L EM ES - L Eo ARDO CAST RO - fu rAEL Assi s

lização desses como ferramentas para auxiliar eia ambiental; são herdados mendelianamente·
os melhoristas na seleção dos genótipos supe- e apresentam herdabilidade igual a um, o que'
riores. Algumas das vantagens dos marcadores pode aumentar muito a eficiência do processo
no processo de seleção são: não sofrem influên- de seleção dos genótipos superiores.

8.2. A cultura da soja e a biotecnologia


o contexto mundial, a soja é um dos prin- parear em diversos locais do genoma, sendo a
cipais produtos agrícolas, por isso muitas téc- região alvo desconhecida. Após a PCR (reação
nicas biotecnológicas são utilizadas objetivando em cadeia da polimerase), os segmentos obtidos
o melhoramento da espécie, principalmente no são submetidos a eletroforese em gel de agarose
que diz respeito à identificação de cultivares para separá-los. A presença ou ausência dos frag-
que apresentam resistência a fitopatógenos . mentos demonstra a ocorrência de polimorfis-
este contexto, uma das áreas de maior mos e, portanto, a variabilidade existente dentro
impacto é a utilização de marcadores mole- da espécie. Estudos realizados por Carvalho et
culare , principalmente quando os mesmos al (2002) identificaram marcadores RAPD liga-
são aplicados para incremento do processo dos a um gene de resistência da soja ao fungo
seletivo de resistência às doenças. Na seleção Diaporthe phaseolorum f sp. meridionalis/Pho-
as istida por marcadores moleculares (SAM), mopsis phaseoli f sp. meridionalís.
destacam-se Restríction Fragment Length A técnica de SCAR é uma derivação do
Polymorphism (RFLP), Random Amplified RAPD, onde o fragmento de DNA obtido da
Polimorphic D ~ (RAPD) , Sequence Charac- amplificação por RAPD é convertido em mar-
terízed Amplified Regions (SCAR) , Amplified cador SCAR por meio do isolamento e purifi-
Fragment Length Polymorphism (AFLP) , Sim- cação da banda de interesse, ligação do frag-
ple Sequence Repeat ( SR) e Single Nucleotide mento purificado em vetor "T", transformação,
Polimorphism (S P) . minipreparação de DNA plasmidial, sequencia-
A técnica de RFLP, ou polimorfismo no com- mento e desenho dos iniciadores, sendo estes
primento de fragmento de re trição, baseia- geralmente com um número maior de bases
-se na utilização de enzimas de restrição que que o marcador RAPD original, resultando em
clivam os fragmentos de D A em sequências uma amplificação reprodutível de um loco es-
e pecifica , gerando fragmento de diferentes pecífico. A cercosporiose, também conhecida
tamanhos que são eparados por eletroforese, como mancha olho-de-rã, é uma doença causa-
sendo transferidos para uma membrana de da pelo fu ngo Cercospora sojina Hara, sendo
náilon ou celulo e e reconhecidos por sondas altamente dispersa no Brasil e em outros paí-
específica marcada radioativamente ou por ses produtores, causando perdas de produtivi-
fluorescência. A sonda ão pequena sequên- dades e de qualidade de semente.
cias de D A complementares ao DNA em estu- Sendo assim, em um estudo para utilização
do. Por meio do marcador RFLP, Boutin et al da eleção assistida, Martins Filho et al. (2002)
(1992) identificaram, no cromos orno GL G da identificaram marcadores SCAR ligados aos lo-
soja, um loco de resi tência ao nematoide do cos de resistência à C. sojina nas cultivares Cris-
cisto da oja ( CS) . talina, Paraná e Uberaba, visando ao processo
O RAPD, ou polimorfismo de D A amplifi- de seleção assistida para esta enfermidade, com
cado ao acaso, consi te na amplificação de re- excelentes re ultado . Por sua vez, para o mosai-
giões do DNA por meio de um único iniciador co da soja, doença de grande importância para
com aproximadamente dez ba es de equência a cultura, causada pelo vírus SMV, em estudo
arbitrária que, devido ao eu tamanho, pode envolvendo a determinação da herança da resis-

...
197

tência e a investigação de marcadores ligados ao e altamente conservadas entre indivíduos da


gene de resistência, foi detectado um marcador mesma espécie. Após a amplificação por PCR,
SCAR muito próximo ao gene. de resistência, os fragmentos obtidos são separados por ele-
sendo um indicativo de que o mesmo poderá troforese, onde se identificam os polimorfis-
ser utilizado no processo de seleção assistida mos devido aos diferentes padrões de compri-
para as fontes de resistência utilizadas no pre- mento dos alelos, decorrentes da variação do
sente estudo (ZHENG et al. , 2003). Em outro número de unidades repetidas no microssaté-
trabalho, Costa (2008) desenvolveu marcadores lite. Marcadores microssatélites foram empre-
SCAR fortemente associados ao gene de resis- gados por Demore et ai. (2009), com o intuito
tê ncia à ferrugem em soja, também com grande de detectar as marcas próximas ao gene de re-
chance de aplicação em processos seletivos. sistência ao fungo Erysiphe diffusa, causador
O uso de marcadores do tipo AFLP, ou poli- do oídio, para que tais marcadores pudessem
morfismo no comprimento de fragmentos am- ser utilizados no processo de seleção assistida
plificados, é uma metodologia que se inicia com em programas de melhoramento visando ob-
a clivagem do DNA genômico do organismo de tenção de genótipos resistentes a esta doença.
interesse por enzimas de restrição de corte raro Por sua vez, marcadores SSR foram utiliza-
e frequente que geram fragmentos com extre- dos para identificar QTLs (Quantitative Trait
midades cujas sequencias são conhecidas, às Loci) associados à resistência ao nematoide de
quais são ligados adaptadores que são sequên- cisto da soja (NCS). Neste estudo, foram iden-
cias de nucleotídeos dupla fita complementares tificados dois SSR (Satt038 e Satt163), os quais
às ex tremidades oriundas da clivagem, sendo flanqueiam o alelo de resistência rhgl e tam-
assim possível construir iniciadores comple- bém marcadores ligados a um QTL que confere
mentares aos adaptadores e ao sítio de restrição resistência à raça 14 do NCS, presente na culti-
da enzima. Merk et al. (2001) utilizaram 512 var Hartwig, uma das principais fontes de re-
com binações de primers AFLP e marcadores sistência ao NCS (ALZATE-MARIN et ai. , 2005).
micro satélites para identificar !ocos de resis- Um estudo bastante completo do mapa genéti-
tê ncia ao nematoide do cisto em soja (Heterode- co da soja foi realizado por Cregan et ai. (1999)
ra glycines) , produzindo um mapa genético de com o objetivo de desenvolver um mapa inte-
alta densidade para os intervalos entre os genes grado e de grande escala, tendo sido estudados
Rhgl e Rhg4. Um estudo de grande interesse foi um total de 606 !ocos SSR em três populações
realizado integrando as técnicas de marcadores diferentes. Estes marcadores foram mapeados e
RFLP, AFLP e SCAR na busca de um sistema viá- localizados ao longo dos 20 grupos de ligações
vel de marcadores ligados à resistência ao Melo- pertencentes ao genoma da espécie.
doygine incognita, visando à seleção assistida, Os marcadores SNPs (Single Nucleotide Po-
consi tindo no primeiro relato com bons resul- limorphism) são variações de um único par de
tado para este patógeno (MIENIE et ai. , 2002). bases na sequência do genoma de indivíduos da
Marcadores microssatélites, ou SSR (Simple mesma espécie. Essas variações ocorrem devido
Sequ en ce Repeats), constituem a classe de mar- a mutações que podem ser inserções ou dele-
cado res moleculares mais utilizada no melho- ções. Os SNPs são muito frequentes no genoma
rame nto de plantas. Os microssatélites são se- de plantas, sendo encontrado um SNP a cada
quê ncias de nucleotídeos contendo 2 a 5 pares 100-300 pb (GUPTA et ai. , 2001). Existem diver-
de ba es que se repetem em tandem, podendo sos métodos de genotipagem de SNPs em regi-
ocorrer diversas vezes no genoma, tais como ões especificas do DNA, entre eles, podem ser
(AT)n e (ATT)n. A técnica de SSR é baseada citados: PCR-RFLP, sequenciamento automático
na construção de iniciadores para regiões que dos produtos de PCR marcados com corante flu-
flanqu eiam o microssatélite, por serem únicas orescente, PCR em tempo real e microarranjos
198

de D A, que ão lâmina de vidro que contêm Na tentativa de aumentar a eficiência <les-


o D A alvo impresso, permitindo a detecção de e processo, surgiu, em 2001, a Seleção Genô-
inúmero NPs ao mesmo tempo. mica Ampla (Genome Wide Selection - GWS),
m mapa de alta densidade para e tes mar- ou simplesmente Seleção Genômica (GS), que
cadores, publicado por Hyten et ai. (2010), ser- consiste no uso de um grande número de mar-
viu de ba e para vários estudo envolvendo este cadores genéticos (SNPs) dispersos em todo o
marcador. Estudo recentes encontraram três genoma de um organismo, com capacidade de
marcadore SNP funcionais , endo dois para 0 predizer pequenos e grandes efeitos de todos
loco Rhgl e um para o loco Rhg4, o quais po- os locas, o que explica grande parte da varia-
dem oferecer informação genética para a sele- ção genética de um caráter quantitativo (MEU-
ção de genótipos resi tente ao nematoide do WISSE et ai., 2001) . As análises são realizadas
cisto da oja ( C ). De forma geral, um ou dois de forma que os gene associados a um caráter
destes marcadores já ão uficientes para uma quantitativo (QTL) estejam em desequilíbrio
seleção robu ta de planta que apresentam re- de ligação com pelo menos um marcador (GO-
sistência ao CS ( HI et a i. , 2015). DDARD e HAYES, 2007).
Em outro recente trabalho com resistência Os efeitos desses marcadores são estima-
ao vírus do mosaico dourado na Índia (MY- dos com base nos dados fenotípicos de uma
MIV), os autore conduziram um ensaio para população de estimação, onde são obtidos os
de envolver marcadore S Ps de larga escala modelo de predição dos valores genéticos
e identificar marcadore potenciais ligados aos e genômicos e, posteriormente, a acurácia é
locos de resistência, para seu uso efetivo no testada em uma população de validação para
melhoramento a sistido pela genômica visando então serem aplicados em uma população de
à tolerância durável ao vírus MYMIV (YADAV seleção (CROSSA et ai. , 2011). A seleção genô-
et ai., 2015). Atualmente, os marcadores S P mica ampla p ermite a seleção em fases pre-
con tituem- e na classe mais promissora de coces do programa de melhoramento, sem
marcadore , em e pecial para resistência às do- neces idade de fenotipagem dos genótipos,
enças em oja, porém de aces o ainda um tanto reduzindo o intervalo entre os ciclos e au-
limitado, em função da automatização necessá- me ntando a precisão da seleção (RESENDE
ria para o equipamentos utilizados. A evolução et ai., 2008). Aliada à seleção assistida por
da bioinformática associada aos estudos genô- marcadores moleculares e à recente seleção
mico foi, e continua endo, de fundamental genômica, atualmente, a transgenia tem sido
importância para uma identificação precisa dos importante ferramenta na busca de cultivares
S Ps estudado , bem como para uas associa- com bons atributos agronômicos e resistência
ções e consequentes utilizaçõe dentro dos pro- a fitopatógenos.
gramas de melhoramento de soja. A evolução da engenharia genética permi-
Conforme mencionado anteriormente, a tiu a transferência da informação genética de
eleção as istid a por marcadores moleculares um organismo para outro entre diferentes es-
pode atuar na identificação de QTLs (Quan- pécies sem que haja fecundação ou cruzamen-
titative Trait Loci) , ou eja, loco a saciados to, originando os denominados transgênicos
a caractere quantitativo , por meio da a so- ou organismos geneticamente modificado
ciação de mapas genéticos de ligação e avalia- (OGMs). Para inserção do gene, existem duas
ções fenotípicas. o entanto, tem e mostrado metodologia principais: a transformação por
mais útil na identificação de características de biobalí tica e por Agrobacterium tumefaciens.
alta herdabilidade quando analisadas em um Em amba as técnicas, a primeira etapa é
grande número de progênie , tornando-a uma identificar o organismo que possui o gene que
técn ica laborio a e de custo elevado. expres a a característica de interesse; poste-
199

riormente, o gene deve er isolado e clonado seja verificada a expres ão da caracterí tica
em vetor de expre ão de plantas. Na bioba- desejada.
lí tica, o vetor contendo o gene de interes e No último ano , diversas empresas e
é precipitado obre micropartícula de ouro centro de pe qui a têm e dedicado ao de-
ou tung tênio, endo esse complexo acelerado senvolvimento de transgênicos. Dentre estas,
com alta pre ão de gás hélio. A parede celu- a empresa Monsanto Company produziu a
lar e a membrana pia mática são rompidas e o soja Mon87701, que recebeu o gene crylAc
D A é integrado aleatoriamente no alvo. de Bacillus thuringiensis por meio da trans-
A Agrobacterium tumefaciens é uma bac- formação mediada por Agrobacterium tume-
téria de olo, endo o agente causador de uma f aciens. Essa cultivar apresenta resistência a
doença nas plantas que se manifesta na forma Anticarsia gemmatalis e Pseudoplusia inclu-
de tumor e é conhecida como galha-da-coroa. dens, pragas que atualmente causam grandes
O Agrobacterium po sui um processo natural perdas econômicas nas áreas de cultivo de
de transferência de DNA plasmidial (T-DNA) soja. Apesar de ainda não terem sido lança-
da bactéria para a célula vegetal e integração dos eventos relativos à resistência genética
ao seu genoma, sendo esse mecanismo utiliza- de doenças, pelo impacto causado por este
do para inserir o gene exógeno na planta. tecnologia, existe uma grande possibilidade
O tecido que recebeu o gene, por biobalís- desta ferramenta ser incorporada ao grupo de
tica, via Agrobacterium tumefaciens ou por importantes estratégias para incorporação de
outro método, é regenerado e cultivado em genes de resistência às principais doenças da
meio de cultura para que posteriormente, cultura da soja.

9. Considerações finais
A adoção de estratégias que permitam a in- te aplicabilidade. No entanto, a escolha das
corporação da resistência genética a doenças em estratégias para incorporação desta resistên-
programas de melhoramento de soja sem dúvida cia dependerá primeiramente do melhorista,
foi u ma das medidas de maior impacto agrícola que precisará levar em consideração vários
e ambiental no decorrer do avanço da sojicultu- fatores preponderantes, como a herança da
ra nacional, bem como no desenvolvimento dos resistência trabalhada, acesso às fontes de
programas de melhoramento genético. Além de resistência adequadas, custo do processo e
oferecer a resistência ou tolerância ao fitopató- viabilidade de execução. De qualquer forma,
geno, conferindo maior qualidade ao produto para quaisquer estratégias escolhidas pelo
com reia!, ainda oferece a possibilidade de um melhorista, os resultados serão cultivares
cultivo ambientalmente correto do ponto de vis- com performances superiores, com resistên-
ta de ustentabilidade, pela diminuição do uso cia às doenças de grande importância e um
de produtos químicos em cultivas comerciais, reduzido impacto ambiental, levando a exce-
reduzindo, assim, o impacto ambiental. lentes progressos no setor agrícola relacio-
É urna tecnologia considerada limpa, de nado à cultura trabalhada.
fácil acesso, fácil manuseio e com excelen-

1O. Referências bibliográficas


ABDEL OOR, R.V. ; MARCELINO, F.C. ; NEPOMUCENO, A.L. Ferrugem asiática da soja. Agência Embrapa
de Informação Tecnológica. 2015 . Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/
soja/arvore/CONT000gcglrznk02wx5ok0rofsmq5epf6ux.html> . Acesso em: 26 abr 2015.
~
"cnicas de manejo e tecnologia de
aplicação no controle de doenças da soja

ULISSES ROCHA .ANTUNIASSI


ENGENHEIRO AGRÔNOMO , M E.' DR.
Universidade Estadual Paulista
UNESP Botucatu, SP
MAR.IANA RODRIGUES B UENO
Engenheira Agrônoma, Me. , Dra.
Universidade Federal de Uberlândia
]OÃO EDUARDO RIBEIRO DA SILVA
Engenheiro Agrônomo, Me.
Universidade Federal de Uberlândia
GUILHERME SOUSA ALVES
Engenheiro Agrônomo, Me.
Universidade Federal de Uberlândia

1. Introdução
A proteção de lavouras de soja por meio garantir que o produto alcance o alvo de forma
da aplicação de produtos fitossanitários é um eficiente, minimizando-se as perdas (CUNHA,
dos principais fatores que possibilitam que a 2008). Assim, a tecnologia de aplicação de pro-
cultura se desenvolva e produza em quantida- dutos fitossanitários refere-se à colocação da
de e qualidade, conforme o potencial genético quantidade correta de ingrediente biologica-
característico de cada cultivar, uma vez que es- mente ativo no alvo, com a máxima eficiência e
ses produtos ajudam a manter a sanidade das de maneira economicamente viável afetando o
lavouras, deixando-as livres da competição com mínimo possível o ambiente (MATTEWS,' 2002).
plantas infestantes, insetos-praga e doenças. A seguir, serão discutidos alguns aspectos
O que geralmente acontece nas regiões pro- importantes com relação à tecnologia de apli-
dutoras de soja no Brasil é que dá-se muita im- cação de fungicidas na cultura da soja, como
portância ao fungicida a ser aplicado e pouca à fatores que afetam a aplicação, equipamentos
forma de aplicação. Não basta apenas conhecer (terrestres e aéreos) utilizados na pulverização,
o produto, também é fundamental c~nhecer a adjuvantes, aspectos sobre a cobertura do alvo
tecnologia de aplicação empregada. E preciso e avaliação da aplicação.

2. Fatores que afetam a aplicação


A utilização de bons fungicidas durante uma para garantir o sucesso de uma aplicação. Contu-
pulverização na cultura da soja é fundamental do, a escolha do produto é apenas um dos fato-
206 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MAN EJO

ERNANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Assis

res que afetam a eficiência da aplicação. Também rante e após a aplicação, o momento ideal para
é fundamental conhecer a localização do alvo, aplicar cada produto e o equipamento utilizado
como estarão as condições meteorológicas du- para depositar corretamente o produto no alvo.
2.1. Alvo
Conhecer o alvo a ser controlado é o primei- O ideal é que, antes de qu alquer aplicação,
ro passo para escolher qual a melhor tecnologia seja realizado um levantamento de infestação
a ser utilizada. Os patógenos, em geral, são os do patógeno na lavoura p ara que este seja
alvos mais difíceis de serem controlados pois identificado corretamente. Após a identifica-
normalmente, o fungo, bactéria ou nematoide' '
ção, deve-se estudar a biologia e ecologia do
tem um tamanho muito reduzido e em mui- fitopatógeno, de maneira que possa ser deter-
tos casos, se localiza na face inferior' da folha minado o melhor momento para a aplicação.
(no caso dos fungos) , dificultando o contato do É importante verificar se há casos de tolerân-
fungicida com as estruturas do patógeno, como cia e/ou resistência a determinado grupo de
acontece com a ferrugem asiática, em que os es- ingredientes ativos para que não haja falhas
poros do fungo localizam-se, em geral, no terço no controle.
inferior da planta e na face abaxial das folhas.

2.2. Ambiente
Antes de programar ou iniciar uma aplica- realizar uma aplicação de fungicida, levando em
ção de fungicidas, também é primordial conhe- consideração o tamanho de gotas. É importan-
cer as condições do ambiente, principalmente a te que o responsável pela aplicação conheça os
temperatura média, a umidade relativa do ar e a princípios básicos da tecnologia de aplicação
velocidade do vento, pois, em função dessas con- para escolher a melhor alternativa para redução
dições, é possível escolher qual a melhor ponta de perdas por deriva (arrastamento das gotas
de pulverização, tamanho de gotas e volume de pelo vento) e evaporação de gotas, além da ade-
aplicação. Na Tabela 1, encontram-se alguns va- quação do tamanho de gotas não só em função
lores que poderiam ser chamados de ideais para do ambiente, mas em função do alvo biológico.

Tabela 1. Cond ições ambientais favoráveis à aplicação de fungicidas em relação ao tamanho de gotas.

Classe de gotas de acordo com as condições climáticas


Fator
Muito Finas a Finas Finas ou Médias . . .
.
< 25 ºC 25 a 28 ºC 28 a 32°C
> 70%
____ _________ ___
< 3,0 km h·1
Fonte: adaptado de Antun iassi et ai. (2005).
,
60 a 70%
3,0 a 8 km h·1 ....,.
< 60%
9 a 12 km h·1

Temperatura do ar acima de 30 ºC e umi- reduzir os riscos de perdas por evaporação an-


dade relativa abaixo de 55% são fatores que fa- tes que estas cheguem ao alvo (BOLLER, 2007).
vorecem a evaporação das gotas (Ramos e Pio, O vento em excesso causa deriva, prejudica
2003). A evaporação deve merecer maior aten- a qualidade da aplicação e ocasiona perdas do
ção quando se adotam baixos volumes de apli- produto aplicado. Pouco vento (velocidade <
cação. Neste caso, a adição de óleo ou outros 2 km h·1) não permite adequada redistribuição
aditivos anti-evaporantes à calda pode ser uma das gotas da calda sobre a folhagem e pode
alternativa para prolongar a duração das gotas e ocasionar perdas por inversão térmica. Assim,
13 - Téc 1CAS D E MANEJO E TEC OLOGIA DE APLICAÇÃO NO CONTROLE DE DOENÇAS DA SOJA 207
UussEs Roei IA ANTUN IASSI - MARIANA R ODRIGUES B UENO - JoÃo EDUARDO RIBEIRO DA SILVA - G u 1LHERME SousA ALVES

o vento pode interferir negativa ou positiva- gorias grossas a extremamente grossas pode
mente em u ma aplicação. Na impossibilidade ser uma solução, porém, isso vai depender das
de p o stergar uma aplicação, sob condições de exigências do produto a ser aplicado (BOLLER,
vento excessivo, a utilização de gotas de cate- 2007) e do alvo a ser controlado.

2.3. Momento de aplicação


O momento diz respeito à ocasião ideal umidade relativa do ar normalmente são mais
para a aplicação de um fungicida. Não implica favoráveis à aplicação do que nas demais horas
em nenhum custo adicional, possibilitando a do dia, porém pode haver orvalho sobre as su-
ação do produto na oportunidade em que o perfícies vegetais. Alguns fabricantes de produ-
agente biológico esteja mais vulnerável e, tam- tos fitossanitários alertam para que não sejam
realizadas aplicações sobre plantas cobertas
bém, quando o custo dos danos causados seja
por orvalho. No entanto, resultados de pesqui-
igual ou maior ao do tratamento (Limiar de
sas têm demonstrado que as aplicações de fun-
Dano Econômico) (COSTA, 2009). gicida sobre orvalho, desde que não causem
No período noturno e nas primeiras horas escorrimento da calda, podem ser realizadas
da manhã, as condições de temperatura e de com sucesso (BOLLER et ai. , 2007).

2.4. Produto
Quando se fala em produto, não basta es- necessano, devido à maior dependência com
colher apenas um ingrediente ativo que seja relação à cobertura dos alvos. Os produtos
capaz de controlar a doença. É importante, sistêmicos podem ser aplicados com menor
também, conhecer o mecanismo de ação e o densidade de gotas, permitindo o uso de go-
grupo químico de cada produto, visando are- tas maiores, o que facilita a adoção de técnicas
alizar alternância de produtos de mecanismos para redução de deriva e melhora a segurança
de ação diferentes, a fim de se evitar e/ou re- da aplicação. Se usadas de maneira correta, go-
tardar o aparecimento de patógenos resisten- tas grossas proporcionam bom nível de deposi-
tes aos produtos fitossanitários . A formulação ção, mas não proporcionam boas condições de
do produto também deve ser observada, pois cobertura e penetração (ANTUNIASSI, 2006).
alguns produtos possuem uma melhor disso- A manutenção da dose correta do produ-
lução e homogeneização da calda de aplicação to durante todo o processo também é impor-
(concentrado emulsionável, grânulos disper- tante, pois assegura economia. Dose excessiva
síveis em água) do que outros (pó-molhável, causa poluição ambiental e eleva os custos de
granulados). produção, além de poder causar fitotoxicidade
Também se deve conhecer a absorção e a à cultura. A dose correta assegura a maior efici-
translocação dos fungicidas no interior das ência no controle, inclusive com a garantia do
plantas. No mercado atual, a maioria dos fun- período de proteção previsto na bula, o que
gicidas indicados para o controle da ferrugem não se obtém quando são utilizadas subdoses
da soja, por exemplo, são sistêmicos e causam (COSTA, 2009).
movimento acropetal (da base para o ápice da Muitos fungicidas possuem, em suas for-
folha) , com mínima chance de movimentação mulações, aditivos de calda. Esses aditivos tam-
no sentido contrário e sem a possibilidade de bém podem ser vendidos separadamente para
translocação de uma folha para outra (ANTU- serem aplicados em mistura com o fungicida e
NIASSI et ai. , 2005). Para os produtos de conta- são conhecidos como adjuvantes. Maiores de-
to ou de menor ação sistêmica, o uso de gotas talhes sobre o uso e característica de adjuvan-
menores e/ou maior volume de calda torna-se tes serão discutidos no item 7.
208 D OENÇAS DA S OJA: MELHORAM ENTO GEN É'llCO E TÉC NICAS DE MANEJO

E RNANE L EMES - L EONARDO CAsrno - RAFAEL Assis

2.5. Equipamentos de aplicação


A aplicação terrestre via pulverizadores de Brasil, principalmente pela sua alta capacidad e
barra é o sistema mais empregado para o con- operacional. Seu uso tem crescido muito; con-
trole de doenças na cultura da soja, uma vez tudo, ainda existe pouca informação científica
que são os equipamentos relativamente fáceis a respeito de sua eficiência, principalmente e m
de serem manuseados e são mais acessíveis fi- comparação à aplicação terrestre, o que cau sa
nanceiramente aos produtores. Contudo, de- desconfiança por parte de agricultores quanto
pendendo do estádio de desenvolvimento da à sua viabilidade técnica, sobretudo quanto à
planta, a aplicação terrestre pode ocasionar capacidade de penetração da calda pulverizada
perdas de produção em função do amassa- no dossel das culturas (CUNHA et ai., 2011) .
mento (SILVA, 2004). Nos itens 3 e 4, serão discu tid as outras
Para suprir parte desses problemas, tem-se informações a respeito dos equip amentos de
a aplicação aérea, que já é uma realidade em aplicação terrestre e aérea respectivame nte.
boa parte das regiões produtoras de grãos no

3. Aplicação terrestre
O avanço no desenvolvimento da tecnolo- conforto ao operador, com cabine hermetica-
gia de aplicação permite a opção de uso das mente isolada, com piloto automático guiado
aplicações terrestres em baixo volume com por GNSS (Global Navigation Satellite Sys-
desempenho similar ao das aplicações com tem) e que chegam a ter 36 m de largura da
volumes tradicionais, desde que realizadas barra de pulverização. Isso resulta em maior
dentro dos critérios de respeito aos limites capacidade operacional, capaz de cobrir áre-
climáticos. Tal procedimento tem sido pro- as maiores em um menor intervalo de tempo.
curado para as aplicações de fungicidas em Entretanto, ainda há uma grande demanda
culturas que ocupam áreas extensivas, como por mão-de-obra qualificada capaz de operar
é o caso da soja, devido à maior capacidade tais máquinas. Toda essa tecnologia por si só
operacional dos pulverizadores. não reflete em uma aplicação eficiente. O trei-
A tecnologia embarcada nos pulverizado- namento e o senso crítico do operador e do
res terrestres tem melhorado substancialmen- produtor são fundamentais para que alguns
te a qualidade das aplicações. As mais moder- problemas (ver item 10) possam ser evitados
nas são máquinas que oferecem segurança e e resolvidos.

3.1. Pontas de pulverização


As diversas famílias de pontas hidráulicas ar e pré-orifício) até os modelos cujo objetivo
oferecem opções variadas dentro das classes é maximizar a cobertura dos alvos (jato plano
de tamanho de gotas, desde aquelas direciona- duplo ou cone) (Figura 1).
das ao controle do risco de deriva (indução de
13 - T ÉCNlt ' Df ~EJO E TEC OLOGIA DE APLICAÇÃO NO CO TROLE DE DOENÇAS DA SOJA 209
Uu SE Roe• .\l\íTllNIASSI - MARIANA R ODRIGUES BUE o _ J oÃo E DUARDO RI BEIRO DA SILVA_ G u 1LHERME S ousA ALVES

Figura 1. Pontas de
pulverização: (A) jato plano
com indução de ar, (B) jato
plano simples com pré-orifício,
(C) jato plano/defletor duplo,
(D) jato cônico vazio.
(Fotos: Guilherme Alves)

Ainda, os acessórios que permitem a apli- muito utilizadas para aplicação de fungicidas
cação simultânea com mais de uma ponta em na cultura da soja. No entanto, em razão de
cada posição na barra (tipo "TwinCap") ofere- seu espectro de gotas propiciarem deriva, tem-
cem a flexibilidade necessária para a adequa- -se dado ênfase à utilização de pontas que
ção do tamanho de gotas às necessidades de produzem gotas de maior diâmetro mediano
cada momento da aplicação, aliada à angula- volumétrico (DMV), como aquelas de jato pla-
ção das pontas para obtenção de melhor distri- no com pré-orifício e de jato plano com indu-
buição de calda. Os porta-bicos com múltiplas ção de ar. Essas, no entanto, podem compro-
pontas (normalmente de duas a quatro pon- meter a cobertura das plantas, em virtude de
tas) permitem adequar a qualidade da pulve- produzirem gotas de maior tamanho, levando,
rização à mudança dos fatores climáticos ao em muitos casos, a um controle ineficiente da
longo de uma jornada de trabalho. doença, principalmente quando os fungicidas
A maioria dos trabalhos que relacionam a apresentam baixa ou nenhuma sistemicidade.
tecnologia de aplicação ao controle de doen- Em um estudo conduzido por Cunha et al.
ças da soja é voltada para a ferrugem asiática, (2008), observou-se que as pontas de pulveri-
talvez por ser a principal doença da cultura. O zação jato plano defletor duplo, jato plano du-
que se percebe na prática é que, ao se fazer o plo com pré-orifício e jato cônico vazio com e
controle da ferrugem asiática, muitas vezes as sem indução de ar, bem como os volumes de
outras doenças também são controladas e, por calda de 150 L ha· 1 e 200 L ha·1 , ocasionaram
isso, não têm ocasionado grandes problemas. em semelhante porcentagem de controle da
Entretanto, um correto manejo de doenças é ferrugem asiática da soja utilizando-se o fun-
fundamental para que não se tenha problemas gicida tebuconazole, aplicado nos estádios V7,
de resistência de fungos aos fungicidas, bem R3 e RS.
como desequilíbrio ambiental, conforme dis- Cunha e Peres (2010) também avaliaram a
cutido em outros capítulos. deposição do fungicida azoxistrobina+cipro-
Segundo Cunha e Ruas (2006), pontas de conale e o controle químico da ferrugem asiá-
pulverização que produzem gotas finas são tica da soja, utilizando três tipos de pontas de
210 Ü OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GE !:T!C( l 1' TECNICAS DE MANEJO

ERNAN E L EMES - LEONARDO e.~ rno - RAFAEL Ass is

pulverização (jato plano defletor - TT, jato plano L ha·1 e 250 L ha·1) . As aplicações foram feitas
duplo com indução de ar (AD/D) e sem indução quando a cultura estava nos estádios V5, RI , R3
de ar (ADIA/D)) e dois volumes de calda (200 e R5. Os resultados obtidos estão na Tabela 2.
Tabela 2. Efeito da ponta de pulverização e do volume de calda na severidade de ferruge m
e produtividade da cultura da soja .

Severidade em R6 Severidade em RB ·
Tratamento
(%) (%)

ADIA/D 39,4 a 66,9 b 2508,7 b


AD/D -
38,5 a
;-_

61,3 a 2894,3 a
TT 36,3 a 62,5 a 2775,5 a
Volume de calda (L ha·1) · · · -~ · ,_'- -
- si::~

200 38,3 a 68,3 a 2712,7 a


250 37,7 a 63,3 a 2739,6 a

**Médias seguidas por letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 0,05 de significância .
Fonte: adaptado de Cunha e Peres (201 O)

Os pesquisadores concluíram que o aumen- Se usadas de maneira correta, gotas médias


to do volume de calda de 200 L ha·1 para 250 geralmente oferecem bom nível de depósito
L ha-1 não proporcionou melhor controle da (quantidade de defensivo depositado nas fo-
doença. Com relação às pontas, a produtivida- lhas), apesar de não proporcionar as melhores
de foi menor quando a aplicação foi feita com a condições de cobertura das folhas nas partes in-
ponta com indução de ar, devido à maior seve- feriores das plantas. Por outro lado, se o alvo da
ridade da doença no estádio R8 . Quanto maior aplicação inclui a parte interna ou inferior das
o tamanho das gotas, maior a dificuldade de se plantas, como no caso típico de uma aplicação
ter boa cobertura do terço inferior da planta. preventiva para ferrugem da soja em uma situa-
Neste caso, pontas com indução de ar não são ção de grande enfolhamento, é necessária uma
recomendadas para aplicar fungicidas quando boa penetração da nuvem de gotas e, para tanto,
se tem alto índice de área foliar. devem ser usadas gotas finas ou muito finas .

3.2. Assistência de ar
Os pulverizadores com assistência de ar e R5 .2, com volume de calda de 150 L ha·1 . Os
junto à barra de pulverização possuem ventila- pesquisadores concluíram que a assistência
dores, geralmente axiais, posicionados próxi- de ar junto à barra de pulverização, nas ve-
mos à seção central da barra de pulverização, locidades de 11 km h·1 e 29 km h ·1, resultou
que distribuem volume muito grande de ar em em melhores níveis de depósito nos folíolos
dueto inflado, montado acima da barra e bicos. da parte inferior das plantas de soja. Além
Prado et ai. (2010) avaliaram o controle disso, o uso da assistência de ar junto à barra
da ferrugem asiática da soja utilizando assis- de pulverização contribuiu para melhor con-
tê ncia de ar na barra e o fungicida priraclos- trole da ferrugem asiática, proporcionando
trobina +epoxiconazole. As aplicações foram acréscimo na produtividade de até 6 ,5 sacas
ha·1 (Tabela 3).
feitas quando a cultura estava em estádio R2
13 - T É<:Nt )•· \1,\NEJO E TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO O CO TROLE DE DOE ÇAS DA SOJA 211
ULISSES Rc .. \'..rtLN IASSI - MARJANA R ODRIGUES B UENO - J OÃO E DUARDO RIBEIRO DA SILVA - G UILHERME S OUSA ALVES

Tabela 3. Efeito de diferentes níveis de assistência de ar na produtividade da mistura fungicida


piraclostrobina+epoxiconazole no controle de P pachyrhizi.

f Velocidade do ar (km h·1) Produtividade (kg ha·1 )


o
9 2527,4 ab
11 2524,1 ab
29 2663,0 a
Testemunha 1564,1 e
Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste de Duncan a 0,05 de significância.
Fonte: adaptado de Prado et ai. (201 O)

Um a característica importante é que a as- controle de doenças que se instalam inicial-


sistência de ar p o sibilita o uso das gotas finas mente nesta região, como é o caso da ferrugem
com maior eficiência, pela redução da deriva e asiática da soja e o mofo branco. Entretanto,
maiores dep ósitos sobre o alvo, além de possibi- muitos resultados são inconsistentes, pois a
litar maior p enetração dessas gotas em culturas qualidade da aplicação depende principalmen-
mais enfolhadas CTORGE SE e WITT, 2000). te do fluxo de ar provocado pelos ventiladores.
O aumento dos depósitos da pulverização, O que se percebe no campo é que, ao invés do
especialmente na superfície abaxial de folhas produto se depositar nas folhas inferiores, ele
posicionadas na parte inferior das plantas, tem passa diretamente pelas folhas e deposita-se
contribuído para a melhoria na eficiência de no solo devido à corrente de ar excessiva.

4. Aplicação aérea - aviação agrícola


Segundo Carvalho et al. (2011), uma das brasileira 95 novas aeronaves a cada ano. Nos
principais características da aplicação aérea é a últimos três anos, essa média passou das 120
sua capacidade de tratar de maneira uniforme aeronaves ao ano.
e precisa grandes áreas em um curto espaço de Há uma estatística importante sobre a avia-
tempo, melhorando o aproveitamento das ja- ção agrícola no Brasil: cerca de 50% das ae-
nelas de aplicação de produtos fitossanitários ronaves vendidas na última safra (2013/2014)
para o manejo das culturas. foram adquiridas para uso privado. Ou seja,
A aviação agrícola brasileira vem crescen- os produtores rurais estão investindo pesado
do constantemente. De acordo com dados pu- na aplicação aérea como ferramenta para o
blicados pelo site especializado ''.Agronautas" tratamento de suas lavouras. Considerando
(AGRONAUTAS, 2014), em 2014, existiam 231 que, só no ano passado, mais de 100 unidades
empresas de prestação de serviços de aplicação novas foram acrescidas à frota nacional (Agro-
aérea estabelecidas no país, sendo que o cres- nautas, 2014), o mercado de aeronaves agríco-
cimento do setor tem sido, em média, de 6% las adquiridas para uso privado ultrapassou
ao ano. A frota registrada em 2014 foi de 1925 a marca de 50 unidades. Não que o mercado
aeronaves (a segunda maior frota do mundo, de serviços no setor esteja reduzindo, ao con-
depois dos Estados Unidos), sendo que este trário, mas há uma crescente percepção dos
crescimento vem se mantendo constantemen- empresários rurais de que a aplicação aérea é
te positivo nos últimos cinco anos. Na média, ferramenta indispensável.
entre 2008 e 2013, foram incorporadas à frota
212 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENT O GE ÉTICO L ÜCN JCAS DE MANEJO

ERNANE L EM ES - L EONARDO C,c:;TRo - RAFAEL Assis

Observando-se a frota brasileira como um fica evidente que cada vez mais o mercado de
todo, mais de 30% das aeronaves agrícolas bra- soja no Brasil vem se tornando dep e ndente da
sileiras estão registradas por operadores pri- aviação agrícola como ferramenta de trabalho,
vados, mostrando que de fato há um grande notadamente nas regiões de grande expan são
interesse dos empresários do agronegócio em de áreas cultivadas.
possuir suas próprias aeronaves. Esta estatís-
tica se torna mais interessante na medida em Segundo dados do Sindicato Nacion al das
que a análise se estende para as regiões do Empresas de Aviação Agrícola (SINDAG, 2014),
país onde se produz mais soja. Observa-se que, a aviação agrícola no Brasil é respon sável por
nas regiões onde há forte crescimento da fron- 23,8% do total de aplicações realizad as, corres-
teira agrícola (Centro-Oeste, Norte e Nordes- pondendo a mais de 70 milhões d e hectares
te), este percentual se aproxima de 50%, com aplicados ao ano no País. No que se refere à
um destaque individual para o estado de Mato quantidade de área tratada, a cultura da soja é
Grosso (estado com maior produção de soja a mais significativa, representando 41 milhões
no país), onde 56,6% das aeronaves estão sen- de hectares tratados anualmente pela aviação
do utilizada por operadores privados. Toman- agrícola, totalizando 56,8% da área total apli-
do-se como base a evolução destas estatísticas, cada via aérea (Figura 2).

Figura 2. Aeronave agrícola apl icando defensivos em soja no Estado de Mato Grosso . (Foto: Ulisses Antuniassi)

4.1. Características básicas de uma aeronave agrícola


O sistema de pulverização de uma aerona- ponentes (Figura 3): hopper (tanque de insu-
ve é bastante simples se comparado ao de um mos) , bomba, válvula de controle de pressão,
pulverizador terrestre. Como exemplo, uma válvula de abastecimento rápido, manômetro,
aeronave Ipanema possui os seguintes com- filtro e barras de aplicação. O tanque utiliza-
13 - TÉC I C\..'> IH· \tA:siEJO E TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO NO COt TROLE DE DOENÇAS DA SOJA 213
Uu E RouH A\iTl '1IAS r - MARIANA R ODRIGUES B ENo _ ] oÃo ED ROO RIBEIRO DA SILVA _
1
G u iLHERM E SousA ALVES

do em aeronaves agrícolas possui uma gran- suem acoplamentos do tipo engate rápido,
de abertura na parte uperior para o carrega- visando facilitar a substituição em caso de
mento de sólidos e uma comporta na parte mudança da tecnologia utilizada em uma de-
inferior através da qual o piloto pode alijar a terminada aplicação. A exemplo dos pulveriza-
carga p ara ganhar altura rapidamente em si- dores terrestres mais sofisticados, as aeronaves
tuação crítica. agrícolas são equipadas, em sua maioria, com
A bomba de pulverização normalmente sistema de navegação por GNSS e, em muitos
é centrífuga e tem acionamento eólico (uma casos, possuem controle eletrônico de fluxo,
hélice gira a bomba aproveitando o fluxo de possibilitando a manutenção da taxa de aplica-
ar durante o voo). A barras de aplicação pos- ção constante.

Figura 3. Sistema de pulverização da aeronave agrícola Ipanema: (a) hopper (reservatório para insumos),
(b) barra de aplicação , (c) válvula de abastecimento rápido, (d) bomba de acionamento eólico, (e) comporta para
alijamento da calda , (f) válvula de controle de pressão . (Fotos: Ulisses Antuniassi)

Os dispositivo mais utilizados para a gera- dores é ajustada por um sistema de orifícios
ção de gotas em aplicaçõe aéreas ão as pon- variáveis e pela pressão da calda no sistema
tas hidráulicas e os atomizadores rotativos. As hidráulico de pulverização. Alguns atomi-
pontas hidráulicas (usualmente de jato plano zadores mais simples utilizam uma conexão
ou cone vazio) podem ser montadas em su- hidráulica com restritores de vazão formados
portes providos de dispositivos antigotejado- por anéis perfurados, enquanto outros utili-
res, semelhantes aos de barras convencionais zam um sistema de ajuste rotativo denomina-
para aplicação terrestres, sendo utilizadas, do VRU (Variable Restrictor Unit). A intensi-
normalmente, para aplicações com volumes dade de fragmentação das gotas depende da
de calda entre 20 L ha-1 a 40 L ha· 1• Os atomi- rotação do atomizador, a qual é definida tan-
zadores rotativos , frequentemente utilizados to pelo ângulo de ataque das pás das hélices
para aplicações com volumes de calda entre 5 como pela própria velocidade de voo da aero-
L ha-1 e 20 L ha-1 , utilizam a energia centrífuga nave. Assim como na maioria das pontas hi-
gerada pelo fluxo do ar em voo para a gera- dráulicas, a combinação correta do tamanho
ção das gotas. de gotas e vazão pode ser obtida através de
Existem dois tipos de atomizadores mais consulta a tabelas fornecidas pelos fabrican-
utilizados no Brasil: os de tela e os de discos tes, de acordo com as características opera-
(Figura 4). A vazão de líquido nos atomiza- cionais da aplicação.

d
214 ÜOE ÇAS DA SOJA: MELHO RAMENTO G ENÉTICO F TEC~ICA~ OE MA EJO

ERNANE L EMES - LEo , ARDO CASTRO - RAFAE L Ass,s

Figura 4. Atomizadores rotativos : (a) atomizador rotativo de tela , (b) unidade de restrição variável (VRU) ,
(c) barra com atomizadores rotativos de disco. (Fotos: Ulisses Antuniassi)

A ponta hidráulicas (usualmente de jato to da aeronave. e te caso, o ângulo zero ocor-


plano ou cone vazio) podem ser montadas em re quando a ponta está virada totalmente para
suporte providos de dispositivos antigotejado- trás, enquanto o ângulo 90º representa a ponta
res, semelhantes aos de barras convencionais angulada para baixo (Figura 5). Este ângulo ser-
para aplicação terrestres. Em alguns casos, as ve para aumentar ou diminuir a fragmentação
barras ou os suportes podem ser angulados das gotas (quanto maior a angulação, menor
para frente com relação à linha de deslocamen- será o tamanho das gotas geradas, e vice-versa).

Figura 5. (a) barra com pontas anguladas em 90°, para geração de gotas menores (Foto: Tiago V. Camargo)
e (b) barra com pontas com ângulo zero (viradas totalmente para trás) ,
para geração de gotas maiores . (Foto: Ulisses Antuniassi)

Outra opção são as pontas de jato plano flexibilidade de ajuste da vazão e tamanho de
com defletor de ângulo ajustável e unidade gotas sem que haja necessidade de troca das
de restrição variável (conhecida como pontas pontas, tornando mais rápido o processo de
do tipo "CP"). E te sistema po sibilita grande ajuste da tecnologia de aplicação (Figura 6).
\I.\NFJO E TEC OLOGIA DE APLI CAÇÃO 215

Figura 6. Barra com pontas de jato plano ajustável. (Foto: Ulisses Antuniassi)

4.2. Gestão da aplicação aérea


A ap licação aérea é uma atividade que de- das aeronaves (GNSS), visando observar even-
manda investimento importante no gerencia- tuais falhas nas faixas aplicadas. Finalmente, a
mento. Mesmo que a e colha da tecnologia de temperatura e a umidade relativa devem estar
aplicação seja correta, outro fatore ao impor- adequadas no momento da aplicação, visando a
tantes, d e maneira i olada ou em uas intera- reduzir o risco de perdas e deriva.
ções: altura d e voo, faixa de trabalho, posição A gestão da disponibilidade é um dos fato-
do vento e cond içõe climáticas (umidade, tem- res mais importantes para o sucesso da apli-
peratura e intensidade do vento). A posição do cação aérea. Na maioria das vezes, a aplicação
vento é um d os fatores mai importante para ocorre como serviço terceirizado, sendo reco-
garantir bom recobrimento da faixas. A aero- mendada a análise detalhada de sua disponi-
nave deve ser preferencialmente posicionada bilidade visando à contratação das aplicações
de forma p erpendicular ao vento predominan- com antecedência. Este procedimento pode
te, facilitando alargamento natural das faixas. garantir o ajuste correto do momento da apli-
Caso contrário, p ode ocorrer o estreitamento cação. Para tanto, é fundamental o cálculo
involuntário d a me mas, com consequente operacional do sistema terrestre disponível,
erro por falta de sobrepo ição (falha de contro- visando a definir o número de dias necessários
le). Outro fator importante no gerenciamento para tratar toda a área, facilitando a tomada de
d a aplicação aérea é o cuidadoso acompanha- decisão quanto à contratação dos serviços de
mento dos relatórios do sistema de navegação aplicação aérea.

5. Cobertura do alvo
De maneira geral, o raciocínio para a defini- pulverizada e, se a escolha recair sobre as gotas
ção da tecnologia de aplicação deve ser a seguin- maiores, o volume de calda deve ser igualmente
te: para melhorar a cobertura de uma aplicação, aumentado para que se possa garantir um nível
deve-se adotar gotas mais finas ou volumes mínimo de cobertura para o tratamento. Por
maiores; na aplicação de volumes mais baixos, estes motivos, um dos princípios básicos da tec-
as gotas mais finas devem ser preferidas, para nologia de aplicação é que não existe uma solu-
que se consiga uma boa cobertura com a calda ção única que atenda todas as necessidades. É
216 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCN ICAS DE MAN EJO

ERNANE L EMES - L EONARDO CAsrno - RAFAEL Assrs

necessário, primordialmente, que a tecnologia sistêmicos e entre 50 a 70 para protetores. Da-


seja ajustada para cada condição de aplicação. dos obtidos por Ugalde (2005) na cultura da
Uma das formas de se expressar a cobertu- soja demonstraram que volumes de calda de
ra do alvo é em gotas cm-2 (CHRISTOFOLETTI, 120 L ha-1 e 160 L ha-1 proporcionaram cobertu-
1999). Esse parâmetro pode ser determinado ra de gotas mínima eficiente para fungicida sis-
tanto na forma de contagem manual como atra- têmico de 45 e 60 gotas cm-2 , respectivamente.
vés de softwares e estabelece a quantidade míni- Matuo et al. (2005), todavia, advertem que
ma de gotas suficiente para expressar o efeito do é possível conseguir um bom grau d e cobertu-
produto. Contudo, essa medida varia muito con- ra e redução das perdas através do aumento do
forme as características dos produtos e a adição volume aplicado, mesmo com gotas grandes,
de adjuvantes, apresentando muitas divergên- embora com menor rendimento operacional
cias entre pesquisadores (DEBORTOLI, 2008). do equipamento. Gotas menores têm pouco
No caso específico de fungicidas, Ozeki e peso e inércia, permanecendo por mais tem-
Kunz (1998) defendem a tese de que é neces- po em suspensão no ar e ficando suscetíveis
sário um mínimo de 30 a 50 gotas cm-2 para ao arraste pela deriva e evaporação durante a
fungicidas sistêmicos e mais de 70 para proteto- aplicação, porém, em condições adequadas, a
res. De modo semelhante, Christofoletti (1999) penetração e cobertura do alvo são frequente-
aponta a necessidade de 30 a 40 gotas cm-2 para mente maiores (SANTOS, 1998).

6. Volume de calda
O volume de calda (ou taxa de aplicação) complexa, aumentando o grau de dificuldade
é um fator que deve ser discutido sempre em das operações. Há potencial de degradação
conjunto com o tamanho das gotas que serão da qualidade dos depósitos (variabilidade de
aplicadas, visto que é a interação entre estes dose no campo) , assim como os problemas
dois fatores que definirá a qualidade da aplica- com misturas de tanque se tornam mais com-
ção, principalmente no que se refere ao poten- plexo. Neste sentido, a aplicação de volumes
cial de cobertura dos alvos. A necessidade de menores provoca um aumento na proporção
melhoria no desempenho operacional das apli- volumétrica das formulações na composição
cações de produtos tem pressionado os aplica- das caldas, o que amplifica o efeito de even-
dores para a redução da quantidade de água tuais erros nas dosagens dos produtos du-
usada nos tratamentos, induzindo a uma ten- rante o abastecimento dos pulverizadores.
dência generalizada de redução dos volumes
As aplicações com volumes reduzidos se
de calda nas aplicações. A redução do volume
tornam mais dependentes das condições cli-
de calda pode trazer vantagens, como a melho-
ria de desempenho de alguns produtos que se máticas, justamente pela tendência de uso
beneficiam da maior concentração na calda, de gotas mais finas, e este processo acaba
assim como um potencial de melhoria do con- por expor o tratamento a um maior risco de
trole fitossanitário em algumas aplicações, no- perdas e deriva. Neste sentido, independen-
tadamente pelo uso de gotas mais finas e pelo temente do tamanho das gotas, poderá, ain-
potencial de melhor escolha do momento para da, haver maior potencial de evaporação das
aplicação. Ainda, devido à maior capacidade gotas nas aplicações com volumes reduzi-
operacional dos pulverizadores nestas aplica- dos, justamente em função do menor núme-
ções, há vantagens na redução de custos. ro de gotas envolvidas, fator que interfere
Por outro lado, a operação de aplicação nas relações hídricas entre as gotas no jato
com volumes reduzidos se torna muito mais pulverizado.
f.JO E TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO O CONTROLE DE DOENÇAS DA SOJA 217
' JA.')S J - MARIANA R ODRIGUES B u E o - JoÃo EDUARDO RIBEIRO DA S11.vA - G u1u-1ERME SousA ALvES

7. Adj u antes
Os adju vantes são compostos sem proprie- na redução de espuma e na dispersão da cal-
dades fito ssanitárias, exceto a água, adiciona- da de pulverização (RYCKAERT et al., 2007).
dos às formulações de produtos fitossanitários Alguns possíveis benefícios dos adjuvantes
ou à calda d e p ulverização para facilitar a apli- podem ser destacados: aumento da absorção
cação, aumentar a eficiência e tornar a utili- do ingrediente ativo, aumento da retenção
zação do produto mais segura (MI GUELA e no alvo, aumento da persistência (STICK-
CUNHA, 2010). LER, 1992) e redução da tensão superficial
As principai elas es de adjuvantes são das gotas, permitindo maior contato entre
apresentadas a seguir: as gotas e a superfície da folha pulverizada
• Surfatantes (ou espalhantes): aumentam (VA ZYL et ai. , 2010).
a área d e contato das gotas com os alvos e Cunha e Peres (2010), avaliando a mistura
o molhamento da superfície tratada, po- do adjuvante dodecil benzeno com o fungi-
dendo, com isso, melhorar a adesão, pe- cida azoxistrobina+ciproconazol, não obser-
netração e absorção da calda. Auxiliam, varam diferença de severidade da ferrugem
também, no processo de emulsificação asiática da soja quando comparado com a não
de produtos oleosos. utilização do adjuvante. No entanto, o uso do
• Óleos: melhoram a penetração e adesão adjuvante incrementou a produtividade de
dos defensivos nas folhas aumentam o 2639 kg ha·1 para 2813,3 kg ha·1, ou seja, au-
tamanho médio das gotas e reduzem a mento de 2,9 sacas ha·1 .
formação de gotas muito finas no espec- Carvalho et ai. (2013) avaliaram a depo-
tro (efeito redutor de deriva). Em geral, sição de calda fungicida (azoxistrobina+ci-
pequenas quantidades de óleo ajudam a proconazol) com e sem o adjuvantes laurel
reduzir deriva, mas aplicações com gran- éter sulfato de sódio. Eles observaram que
de quantidade de óleo na calda podem este adjuvante não influenciou na deposição
causar o efeito contrário (maior deriva), de calda sobre plantas de soja, utilizando-se
devido à menor densidade do óleo em ou não o óleo mineral, que é utilizado jun-
comparação à água. tamente com o fungicida (por recomendação
• Adesivos e penetrantes: auxiliam na ade- da empresa fabricante).
são e penetração da calda nas folhas, Parte da dificuldade de fazer a escolha cor-
ajudando na proteção das aplicações no reta dos adjuvantes é devido à classificação de
caso da ocorrência de chuvas. alguns dos componentes da formulação como
• Redutores de deriva: interferem no pro- sendo "inertes", quando, na verdade, podem
cesso de pulverização de modo a reduzir ser química e biologicamente ativos, sendo
o risco de perdas e deriva. que, muitas vezes, compõe a maior parte da
formulação. Os resultados da interação entre
Condicionadores de calda: são produtos adjuvantes, produtos fitossanitários e tipos de
que interferem no pH e/ou propiciam o se- pontas de pulverização também não seguem
questro de cátions, melhorando a qualidade um mesmo padrão. Trata-se de um processo
da água utilizada na calda. complexo, que envolve muitos aspectos físi-
Os adjuvantes atuam de maneira diferen- cos, químicos e fisiológicos , dificultando a ge-
te entre si, promovendo melhorias no mo- neralização quanto à indicação de uso desses
lhamento, na aderência, no espalhamento, produtos (CHOW, 1993).
218 D OENÇAS DA S OJA: MELHORAM E TO GENÉTICO E TÍ:Ci\lCAS OE MA, EJO

ER AN E L EM ES - L EONARD O CM,rno - R,\FAEL Assis

8. Tecnologia para controle da ferrugem na soja


A ferrugem asiática da soja, principal doença ger toda a área foliar da planta, principalmente
da cultura, é uma doença que apresenta acentua- nas partes baixas, onde se inicia a infecção da
do potencial de destruição das lavouras e requer ferrugem. Entretanto, estas aplicações costu-
medidas rápidas e eficientes para o seu controle. mam ser mais demoradas devido às restrições
Nos anos de 2004 a 2006, nas regiões do Brasil climáticas quanto ao uso das gotas mais fina .
onde a ocorrência da ferrugem foi mais severa, Portanto, as aplicações preventivas para ferru-
houve a necessidade de se fazer quatro ou até gem devem ser realizadas com a máxima cober-
mais aplicações por safra de fungicidas para o tura, priorizando o uso de gotas muito finas ou
seu controle e os danos provocados na produ- finas. Para as demais aplicações, deve-se, primei-
ção variaram entre 30 e 80% (COSTA, 2009). ramente, analisar o grau de severidade d a ferru-
O controle da ferrugem asiática ainda é gem para a escolha da tecnologia de aplicação.
uma das principais preocupações no que se No caso de uma aplicação curativa inicial,
refere à tecnologia de aplicação para a soja no ainda com baixos níveis de severidade, a neces-
Brasil. Considerando-se o grau de desenvolvi- sidade de se pulverizar em menor tempo é fun-
mento vegetativo das plantas no momento das damental, principalmente devido à rapidez e
aplicações, muitas vezes com total fechamento agressividade com que a ferrugem se desenvol-
e grande área foliar, tornou-se consenso geral ve em poucos dias. Por esta razão, a aplicação
que as técnicas de aplicação precisariam ofere- de gotas muito finas se torna inviável devido às
cer gotas com boa capacidade de penetração e restrições ambientais para este tipo de técnica
cobertura da massa de folhas. (poucas horas de janela de aplicação no dia).
Logo nas primeiras safras após o apareci- Desta forma, devem-se evitar as gotas finas.
mento da ferrugem, o controle com aplicações Nas aplicações tardias , em que as folhas
preventivas se mostrou mais eficiente. Esta re- do terço inferior das plantas de soja já se en-
comendação é, hoje, considerada como padrão, contram totalmente comprometidas pela fer-
sendo que a maioria das recomendações técni- rugem, o raciocínio para a escolha da técnica
cas para o controle da ferrugem se baseia no de aplicação deve ser diferente. Neste caso, é
seguinte procedimento: "dar preferência para importante considerar que as aplicações com
aplicações preventivas a partir da floração (Rl) , gotas médias apresentam uma tendência de
optando por aplicações curativas apenas se a priorização do depósito nas folhas dos terços
ferrugem aparecer ainda nos estádios vegetati- médio e superior. Assim sendo, o procedimen-
vos". Fazendo-se uma análise básica da teoria da to pode se tornar mais vantajoso quanto mais
tecnologia de aplicação, da forma de ação dos tardio for o controle, tratando as folhas que
fungicida e da interação da ferrugem com as ainda estão com menor severidade da doe nça,
plantas de soja, torna-se possível observar que é as quais são mais importantes para a manuten-
necessária uma adaptação da tecnologia de apli- ção do desenvolvimento das plantas.
cação com relação ao momento em que se está Do ponto de vista operacional, estas aplica-
realizando o controle. As aplicações preventivas ções com gotas médias podem, ainda, ser be-
ou curativas irão requerer diferentes padrões neficiadas com melhores condições quanto ao
de tecnologia de aplicação. período disponível para o trabalho a campo,
O controle preventivo apresenta melhor re- visto que tais gotas são menos suscetíveis às
sultado através de aplicação de gotas finas ou restrições climáticas usuais para as gotas mais
muito finas notadamente devido à necessidade finas . Neste sentido, a vantagem do produtor
' a cobertura dos alvo para prote-
de maximizar reside no maior tempo de aplicação ao longo
13 - T ÉC ICA5 DE MANE_IO E TECNO LOGIA DE APLICAÇÃO NO CONTROLE DE DOE ÇAS DA SOJA 219
ULISSES R O CHA Al\n ' L\SS I - MAillANA R ODRIGUES B uE o - ] OÃO EDUARDO RI BEIRO DA SILVA- G UILHERME S OUSA ALVES

do dia, aumentando a eficiência operacional maiores reduz quantitativamente a deriva da


de suas m áquinas e melhorando o acerto do aplicação, refletindo em maior quantidade de
momento d a aplicação. Ainda, o uso de gotas produto atingindo as folhas .

9. Avaliação da qualidade da aplicação


O s sojicultores estão cada vez mais compro- o ambiente, na eficácia de atuação do fungicida e
metidos com a excelência em todas as etapas de na redução de custos e perdas em geral.
produção. E uma delas inclui, além da realiza- Contudo, não basta apenas realizar os
ção de uma pulverização eficiente, a avaliação cuidados com manutenção, regulagem e cali-
da qualidade de sas pulverizações. Algumas bração. É importante, também, saber se o tra-
metodologias permitem ao produtor avaliar a tamento está sendo eficaz, com pouco efeito
qualidade d a sua aplicação imediatamente após negativo ao ambiente.
a aplicação . Dessa forma, caso haja problemas, Uma das ferramentas mais utilizadas no
como baixa dep osição ou cobertura, escorri- campo, principalmente para caracterização
mento de calda ou deriva, ele pode adotar es- do espectro de gotas produzido pelas pontas
tratégias de correção antes que toda a pulveri- de pulverização, são os papéis hidrossensíveis
zação seja comprometida. (Figura 7), cuja leitura pode ser realizada ma-
Três pontos devem ser levados em conside- nualmente com o auxílio de microscópios ou
ração antes mesmo de iniciar uma aplicação: lupas, ou por programas de análise de imagem
manutenção preventiva, regulagem e calibração (BOUSE et ai. , 1994). Para isso, o papel deve ser
dos equipamentos de pulverização. Muitos pro- digitalizado (câmeras fotográficas ou scanners)
blemas podem ser evitados ao invés de serem e, posteriormente, analisado utilizando-se um
corrigidos, e uma das formas de evitá-los é reali- programa computacional apropriado, como o
zar a manutenção preventiva dos equipamentos e-Sprinke®, desenvolvido pela Embrapa, e o
de pulverização (trator, pulverizador e/ou avião). CIR 1.5 (Conteo y Tipificación de Impactos de
Regular a bitola do trator e do pulverizador e a Pulverización), de origem argentina.
distância entre os bicos na barra de pulverização São ferramentas simples e de fácil manejo
são cuidados que podem afetar diretamente nas para avaliar a qualidade das pulverizações, prin-
perdas por amassamento na cultura e na qua- cipalmente em aplicações aéreas com atomiza-
lidade da distribuição da calda sobre a cultura, dor rotativo, que não permitem avaliações com
respectivamente, assim como proceder à correta facilidade de espectro de gotas em laboratório,
calibração dos pulverizadores (vazão dos bicos, com equipamentos a laser, por exemplo. Deve-se
volume de calda) pode evitar falhas de deposição apenas ter um cuidado maior com esses papéis
em função de pontas estragadas ou com defeito. quando em contato com alta umidade relativa do
Desta forma, cuidados simples têm grandes im- ar e altos volumes de calda, pois podem danificar
plicações na redução de perdas de produto para o papel e dificultar sua leitura.

Figura 7. Papéis hidrossensíveis utilizados para caracterização do tamanho de gotas produzidas pelas pontas jato
plano simples XR (A) e jato plano simples com indução de ar AIXR (B) na cultura da soja. (Fotos: Mariana Bueno)
220 D OENÇAS DA S OJA: MELH O RAME TO GENÉTI CO E Tl::C I CAS DE MANEJO

A avaliação de deposição de calda e perdas um traçador fluore scente (sulfoflavina, roda-


por escorrimento pode ser realizada pela ava- mina B) pela medida da fluorescência com
liação do depó ito do próprio ingrediente ati- o uso de um fluorímetro (SCRAMIN et al.,
vo, por meio da técnica de cromatografia, ou 2002). Apesar de serem métodos bastante efi-
pela adição de traçadore à calda de pulveriza- cientes, para sua utilização, é necessário que
ção por meio das técnicas de espectrofotome- haja uma estrutura mínima de laboratório
tria ou fluorimetria. para realizar tais análises.
A cromatografia tem a capacidade de efe- A uniformidade de distribuição do líquido
tuar a eparação, identificação e a quantifica- também deve ser conferida, pois é nesse mo-
ção das espécie químicas por i mesma ou em mento que é possível verificar se a regulagem e
conjunto com outras técnicas instrumentais de a calibração do equipamento foram realizadas
análise. Contudo, é o mai caro e trabalhoso corretamente. O ideal é que a di tribuição do
dos trê métodos , principalmente em virtude líquido seja igual para todas as pontas da bar-
da dificuldade de recuperação do fungicida ra, e uma das formas mais simples de fazer essa
(MI GUELA e CU HA, 2010). verificação é por meio do uso de fluxômetros
A e pectrofotometria determina a concen- digitais ou pela utilização de bancadas de pul-
tração de um traçador (azul brilhante, por verização com provetas graduadas (Figura 8).
exemplo) por absorbância relativa de luz, to- Essa uniformidade é expressa pelo coeficiente
mando como referê ncia a faixa de detecção de variação de cada análise. Quanto menor esse
do corante utilizado, com o uso de um es- índice, mais uniforme a distribuição (MINGUE-
pectrofotômetro (PALLADI I et al. , 2005). Já LA E CUNHA, 2010). O desejável é que esses co-
a fluorimetria determina a concentração de eficiente sejam menores do que 10%.

Figura 8. Bancada de pulverização


móvel com provetas graduadas
para avaliação da uniformidade de
distribuição de calda : (A, B) fechada
para transporte , (C) aberta para
avaliação, (D) detalhe das provetas
graduadas . (Fotos: Mariana Bueno)
13 - T ÉC ICAS DF \L>.NFJO E TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO NO CONTROLE DE DOENÇAS DA SOJA 22 1
Uu SES R oC1--1 A A rL ;-..L\::iSI - M\.RIANA R oDRIG ES B uENo _ J oÃo E DUARDO Rl BEIRO DA SI LVA _ G u , u-i ERM E S ousA ALVES

Outr o tipo de perda que deve ser quantifi- por qualquer um dos métodos de avaliação
cada é a d eriva. A forma mai prática e fácil de de deposição citados anteriormente. Vale
fazer i o no campo é por meio da distribui- ressaltar que existe uma norma ISO especí-
ção d e coletores artificiai (lâminas, fios de fica para determinação de deriva, com grau
n ylon, papel filtro) e m distância e/ou alturas de detalhamento mais aprofundado sobre a
pré-e tabelecidas (Figura 9). Após a aplicação, metodologia, inclusive informando o tipo de
esses cole tores ão re tirado para análise em coletores a serem utilizados e distância entre
laboratório . Es a análise pode er realizada os mesmos (ISO, 2005) .

Figura 9. Coletores horizonta is (papel filtro) para avaliação de deriva na cultura da soja dispostos a cada 2,5 m
da área alvo de aplicação, até a distância de 50 m (a) Detalhe do coletor afixado em superfície de polietileno por
meio de grampos (b). (Fotos: Mariana Bueno)

1O. Inspeção técnica de pulverizadores agrícolas


Os produtos fitossanitários com enfoque aos mundial, é adequar e selecionar o correto equi-
fungicidas, são essenciais para o sistema de pro- pamento para a aplicação em uma determinada
dução agrícola e, por muitas substâncias serem de situação, bem como obter mão-de-obra especia-
alto risco, devem ser empregados de forma crite- lizada para operar tais máquinas. Não basta ape-
riosa. Trabalhar com esses produtos implica obe- nas ter uma máquina de última geração, é preci-
diência a um conjunto de leis, de normas e de téc- so ter alguém qualificado para operá-Ia.
nicas que garantam a segurança do trabalhador, a Quando um alvo biológico não é controla-
saúde do consumidor e o equilibrio do ambiente. do após a aplicação, o primeiro a ser culpado é
Para atender a todos esses critérios, os equi- o produto. Mas muitos esquecem que a quali-
pamentos de aplicação evoluíram considera- dade da aplicação também depende de outros
velmente nos últimos anos, porém, aquém da fatores, alguns já discutidos anteriormente.
necessidade, quando comparados com os inves- Um desses fatores é o estado de conservação
timentos para a descoberta de produtos cada vez e manutenção das máquinas aplicadoras, ava-
mais eficazes em menores doses. Neste ponto, liados através da inspeção técnica. Dentre tan-
infelizmente, o Brasil tem muito o que evoluir, tas características avaliadas, tem-se: adequação
principalmente quando se compara com o que é e precisão do manômetro, taxa de aplicação,
feito em alguns países europeus, como a Alema- pontas de pulverização, presença de vazamen-
nha, Espanha e Holanda. Assim, um dos gran- tos, posicionamento das mangueiras, proteção
des desafios da agricultura brasileira, e também de partes móveis, etc.
222

a Europa, há relatos de algumas inspe- (2013) nestes mesmos estados , constatou-se


ções feitas em 1943, passando a ser voluntária que houve uma redução d e 34,4% das má-
em 1960. Porém, somente em 1993 e 2002 tor- quinas que possuíam pontas ruins , (de 81 ,6%
nou-se obrigatória para pulverizadores hidráu- caiu para 47,2% em pouco mais de uma déca-
licos e hidropneumáticos, respectivamente. A da após o primeiro estudo) , o que indica uma
Alemanha foi um dos primeiros países onde melhoria na conscientização p or parte dos
passou a ser obrigatória, em 1993. Na Bélgica, produtores rurais.
a obrigatoriedade da inspeção passou a vigorar Da maneira semelhante, pulverizad o res da
em 1995, a princípio com o objetivo de educar região do triângulo mineiro também foram
trabalhadores e produtores, e, posteriormen- inspecionados em um trabalho dese nvolvido
te, visando a reduzir a quantidade de produ- por Alvarenga e Cunha (2010) na Universidade
tos fitossanitários utilizados naquele país. Para Federal de Uberlândia. Mais uma vez, os resul-
se ter uma ideia da importância da inspeção, tados obtidos mostraram que não era só em
antes de ser obrigatória, 80% das máquinas São Paulo e no Paraná que havia problemas.
inspecionadas foram reprovadas. Após 1995, Observou-se que, de 34 pulverizadores de bar-
90% dos pulverizadores foram aprovados, sen- ra avaliados, tendo idade média de 6 ,4 anos,
do que 82 ,4% receberam certificação, o que, considerada não muito velha, 61,8% das má-
sem dúvida nenhuma, resultou em melhoria quinas apresentaram vazamentos, 64,5% esta-
na qualidade da aplicação. vam com erros no volume de aplicação e 26,5%
o Brasil, a inspeção ainda não é obrigató- possuíam pontas inapropriadas para uso.
ria. o entanto, pesquisadores têm avaliado as Nem mesmo o estado do Mato Grosso,
condiçõe de trabalho da frota de pulverizado- maior produtor nacional de soja, esteve isen-
res deste país. m dos primeiros projetos de to destes problemas. Siqueira (2009), inspe-
maior abrangência que engloba este tema foi cionando pulverizadores nos estados do Rio
denominado de Inspeção Periódica de Pulve- Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e
rizadores, desenvolvido por volta de 2001 por Mato Grosso, constatou que este último apre-
Marco Antônio Gandolfo, então aluno de dou- sentava o maior número de máquinas com
torado da ESP-Botucatu, sob orientação do pontas danificadas (82 ,4%), além de 35,3% dos
Prof. Ulisses Rocha Antuniassi. Deste projeto, pulverizadores com vazamentos.
saíram resultados preocupantes. Fica evidente que esforços devem ser feitos
Das 76 máquinas (pulverizadores hidráu- para que esta situação seja melhorada. A iden-
licos de barra) avaliadas nos estados de São tificação do estado atual de conservação e uso
Paulo e Paraná, com idade média de 9,2 anos, de pulverizadores na agricultura pode nortear
percebeu-se que 93 ,4% possuíam manôme- novas pesquisas e investimentos para manu-
tros inadequados ou inexistentes, em 80,2% tenção adequada destes equipamentos, no sen-
havia erro na taxa de aplicação, pois em 81 ,6% tido de contribuir com a redução de perdas,
haviam ponta de pulverização ruins, e 56,6% custos de produção, contaminação ambiental
tinham algum tipo de vazamento. Em uma e, sobretudo, uso mais racional dos produtos
nova inspeção, realizada por Gandolfo et al. fitossanitários.

11 . Efeitos fisiológicos de fungicidas na soja


São várias as investigações a respeito da tec- çado e novas moléculas com alta capacidade de
nologia de aplicação no manejo de doenças na supressão dos patógenos têm sido disponibili-
cultura da soja e, entre estas, estão estudos com zadas no mercado para atender à demanda da
produto fitos anitários. As pesqui as têm avan- cultura. De fato, a escolha do produto para a
13 - T ÉCNICAS DE \1 ,\.: ' EJO E TEC , OLOGIA DE APLICAy \O NO CONTROLE DE DOENÇAS DA SOJA 223
ULISSES R OCHA ANTI 'lilASS I - MARIANA R ODRIGUES B UENO - ] OÃO EDUARDO RIBEIRO DA SILVA - G UJLI-I ERM E S OUSA ALVES

aplicação sobre determinado alvo biológico é de Já em mistura com outras moléculas, a pira-
grande importância, pois, além das característi- clostrobina (estrobilurina) pode causar compor-
cas de supressão do patógeno, alguns fungicidas tamento diferente na fisiologia da planta. Carrijo
podem apresentar influência sobre o desenvolvi- (2014) relata que diversos fatores fisiológicos não
mento d as plantas de soja, sendo este fenômeno foram alterados quando se aplicou piraclostrobi-
conhecido como efeito fisiológico. na (estrobilurina) em mistura com fluxapiroxade
Como exemplo, a literatura cita a presença de (carboxamida) em soja. Já a aplicação desta últi-
efeito fisiológico com a aplicação de piraclostro- ma molécula isoladamente aumentou a taxa fo-
bina (estrobilurina) na cultura da soja (FAGAN et tossintética, ao mesmo temp<? em que diminuiu
ai. , 2010), estando esta relacionada com a inibi- a atividade de enzimas antioxidantes e a produti-
ção de alguns precursores da síntese do etileno, vidade. As enzimas antioxidantes são de extrema
hormônio envolvido na degeneração da clorofila importância, pois, em condições de estresse, em
(TAIZ e ZEIGER, 2009). geral ocorre um aumento na produção de radi-
As estrobilurinas são uma importante classe cais livres na planta, os quais são destruidores
de fungicidas, que surgiu a partir da descoberta de tecidos vegetais, prejudicando os mecanismos
do Stroblilurus tenacellus, um fungo causador fisiológicos. Estas espécies de oxigênios reati-
de podridão em madeira. A molécula isolada foi vos são combatidas por enzimas antioxidantes,
tida como responsável por proteger o fungo de como as superóxido-dismutases, catalases e pe-
outros microorganismos. Essa descoberta levou roxidases.
cientistas a isolar e produzir estrobilurinas sinté- Carrijo (2014) relata, ainda, redução na ati-
ticas, alteradas quimicamente, de forma a serem vidade de enzimas antioxidantes quando se
capazes de tolerar a luz solar (VINCELLI, 2002). aplicou fluxapiroxade (carboxamida) mais pira-
Segundo Reis et al. (2010), alguns mecanis- clostrobina (carboxamida) em plantas de soja.
mos bioquímicos estão envolvidos quando se O fluxapiroxade é uma nova molécula do grupo
aplica um fungicida do grupo das estrobilurinas das carboxamidas, lançada recentemente visan-
sobre plantas, sendo estes: redução da respiração do, principalmente, ao controle da ferrugem asi-
com aumento da fotossíntese líquida; aumento ática (Phakopsora pachyrhizi Sydow & Sydow)
da atividade da nitrato redutase· redução da pro- (AUGUSTI et al. , 2014).
dução de etileno minimizando a senescência de A mistura de diferentes produtos para a apli-
folhas; aumento na tolerância a estresses; e "efei- cação em um mesmo tanque do pulverizador,
to memória", associado à aplicação de cresoxim- apesar de ser uma prática não recomendada, é
-metílico antecipadamente às plantas, fazendo largamente utilizada em aplicações de produtos
com que estas passem por períodos posteriores fitossanitários. Tal prática apresenta riscos, devi-
de estresse, demonstrando melhores respostas. do à possível existência de incompatibilidade en-
Alguns estudos foram conduzidos em plan- tre os produtos, que podem se aglutinar e formar
tas de soja para se averiguar a presença de efeito borras que entopem bicos e peneiras, além de
fisiológico provocado por moléculas do grupo poderem apresentar antagonismo, quando um
das estrobilurinas e também de outros grupos. produto altera a eficácia do outro por inativação
Rodrigues (2009) observou que plantas de dentro do tanque ou na fisiologia da planta, ao
soja tratadas com piradostrobina (estrobilurina) ser absorvido. A presença de diferentes efeitos,
durante a fase vegetativa apresentaram aumento tanto no preparo da calda quanto na fisiologia da
nas trocas gasosas, na atividade da enzima ni- planta, exige cautela no uso simultâneo de pro-
trato redutase e na síntese de etileno. Quando a dutos fitossanitários em uma mesma aplicação.
aplicação ocorreu na fase reprodutiva, foi obser- Outro fator ligado à tecnologia de aplicação
vado aumento na atividade fotossintética. é em relação à dose. Os produtos fitossanitários
224 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GENÉTICO E TÉCN ICAS DE MANEJO

EtlNANE L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

vêm com uma recomendação de dose que não De fato, associa-se à aplicação de fu ngicidas,
deve ser alterada pelo usuário, tendo em vista particularmente do grupo das estrobilurinas, au-
que, para chegar ao mercado, passam por uma mento na incidência de "haste verde" na soja, fe-
série de estudos de eficácia e de toxicologia, sen- nômeno no qual as hastes primárias e secundá-
do recomendada, então, em uma dose ideal. rias se mantêm verdes mesmo após a maturação
· Confirmando isso, Carrijo (2014) cita que a das vagens e grãos, dificultando a operação de
aplicação de piraclostrobina (estrobiliurina) na colheita (HILL et a!. , 2013).
dose de 75 g ha·1 (dose· comercial), apresentou Estudo conduzido no estado da Louisiana
benefícios aos me.tabolismos fotossintéticos e também encontrou forte relação entre a ocorrên-
antioxidantes de plantas de soja. Já na dose de cia de "haste verde" em cultivares de sojas susce-
100 g ha·1 , esta mesma molécula reduziu a ati- tíveis a esse distúrbio e a aplicação do fungicida
vidade de enzimas antioxidantes e também a "Headline", cujo ingrediente ativo é a piraclostro-
produtividade. bina (estrobilurina) (SCHNEIDER et al. , 2010).
Joshi et a!. (2014) conduziram um estu- Em outro estudo, já havia sido relatado caso se-
do de campo para investigar o impacto de um melhante também em Louisiana (PADGETT et
fungicida à base de piraclostrobina (estrobilu- al. , 2003). De forma semelhante, Kyveryga e Bla-
rina) sobre a atividade da nitrogenase, enzima ckmer (2013) encontraram efeitos fisiológicos de
responsável pela redução do nitrogênio gasoso "haste verde" em soja, provocados pela_aplicação
(N2) em amônia (NH 3) na soja. O fungicida foi de piraclostrobina (estrobilurina) entre 2005 e
aplicado sobre as folhas de plantas de soja 10 e 2009, no estado americano de Iowa.
20 dfas após a emergência (DAE), em concen- Plantas com transtorno de "haste verde",
trações que variam de 0,05% a 1%, e avaliou-se tal como definido por Hill et a!. (2006), apre-
a concentração de leghemoglobina (proteína sentam haste verde ou verde-amarelada não se-
fixadora de 2 presente nas Fabáceas) e a ativi- nescente, ainda com bastante água nos tecidos,
dade da nitrogenase nos nódulos das raízes aos vagens secas e sementes maduras (umidade
45 DAE. Os autores observaram um aumento inferior a 20%), já em ponto de colheita. Esse
notável no conteúdo LegHb e na atividade da fenômeno se difere de outros tipos de atrasos
nitrogenase nos nódulos radiculares de plantas na maturação de plantas porque, em tal caso,
tratadas com piraclostrobina (estrobilurina). vagens e sementes amadurecem normalmente.
Eles concluíram, também, que o fungicida au- É o tipo mais comum de retardamento da ma-
mentou o número de nódulos, o peso dos nó- turidade encontrada em plantações de soja de
dulos, a biomassa radicular, o crescimento da alguns estados americanos produtores do grão,
parte aérea e foliar. Como consequência de to- como Wisconsin (GRAU, 2003) e Illinois (HILL
dos estes efeitos, foi observada melhor forma- et al. , 2006). O fenômeno é prejudicial por atra-
ção de vagens e maior produtividade, indicando palhar o processo de colheita, onde as hastes
que a piraclostrobina pode ser empregada com ainda verdes frequentemente causam "embu-
sucesso em pulverização foliar. chamento" na colhedora, apresentando dificul-
Incrementos na produtividade e na massa de dade para cortar e debulhar todas as vagens,
grãos de soja também foram obtidos por Henry et como ocorreria se estas estivessem totalmente
al. (2011), quando aplicaram piraclostrobina (es- secas. Atrapalha, ainda, a manutenção da umi-
trobilurina) no estágio R4 da cultura. Vários ou- dade ideal das sementes durante a colheita e
tros efeitos fisiológicos são relatados na literatura armazenamento.
para a molécula piraclostrobina. Estes vão desde Portanto, os efeitos fisiológicos advindos
a ação em mecanismos fotossintéticos até a ocor- da aplicação de fungicidas podem estar as-
rência de distúrbios fisiológicos na maturação. sociados ao momento da aplicação (RODRI-
225
UussEs R oo-1 A A.Nn NIAS 1 - MARIANA R oDRJ GUES B uE o - J oÃo EDUARDO RIBEIRO DA S1LVA - G u 1LHERME SousA ALVES

GUES, 2009), à presença de mistura de duas A investigação sobre a aplicação de fungi-


ou mais moléculas e à dose utilizada (CARRI- cidas do grupo das estrobilurinas em diversas
JO, 2014). Outro fator que influi na ocorrência culturas de campo sugere que existem bene-
de efeito fisiológico é a genética das plantas de fícios além da supressão de doenças (GROS-
soja (HE RY et ai. , 2011), como na ocorrência SMANN et a!., 2009), interferindo em vários
de "haste verde". No entanto, mais estudos são processos fisiológicos (KOEHLE et ai. , 2002).
necessários em variedades cultivadas no Bra- Assim, a aplicação de fungicidas pode tanto
sil para um melhor entendimento da ação de proteger a planta de doenças foliares nocivas
fungicidas, especialmente as piraclostrobinas, quanto acarretar diversas variações fisiológi-
sobre a fisiologia de plantas de soja. cas, influindo na produtividade.

10.1. Tratamento de sementes


Dentro da tecnologia de aplicação, destaca- to), carboxina (carboxanilida) + tiram (dime-
-se a importância do tratamento de sementes tilditiocarbamato) e difenoconazole (triazol)
no manejo de doenças na cultura da soja. Yori- + metafaxyl (acilalaninato) na emergência de
nori (1977) cita que em torno de 75 patógenos plantas de soja e observaram que especialmen-
podem ser transmitidos pelas sementes e, den- te a associação de carbendazin (benzimidazol)
tre estes, os fungos são os principais agentes + tiram (dimetilditiocarbamato), contendo
causadores de doença. Também Mertz et a!. uma molécula do grupo dos benzimidazois e
(2009) citam que, dentre os patógenos trans- uma molécula de ação por contato, garantiu
mitidos pelas sementes, os fungos são consi- um estande adequado de plantas, mesmo em
derados os mais importantes pelos prejuízos condições de estresse hídrico após o plantio.
causados no rendimento. Sabe-se, ainda, que o Outro fator relacionado à tecnologia de
tratamento de sementes é uma das tecnologias aplicação em sementes é a interferência de
mais antigas no manejo de doenças em diver- produtos fitossanitários sobre a nodulação
sas espécies cultivadas (RUSSELL, 2005). nas raízes da soja, responsáveis pela fixação
No entanto, tem-se como um problema da biológica do nitrogênio. A fixação biológica é
tecnologia de aplicação o tratamento das se- responsável por até 94% do nitrogênio total
mentes com fungicidas , onde se pode perder usado pela planta (HUNGRIA et ai., 2006), e
o vigor destas devido ao contato direto com pode ter estreita relação com a produtividade
o produto. Atualmente, diversas ·opções de de grãos em algumas cultivares (BRANDELE-
sementes tratadas industrialmente estão dis- RO et a!. , 2009). Esta é realizada basicamente
poníveis no mercado, nas quais são utilizadas por duas bactérias; Bradyrhizobium elkanii e
tecnologias de recobrimento com polímeros Bradyrhizobium japonicum.
para evitar esse contato e possíveis danos. Sementes de soja tratadas com fungicidas à
Ludwig et ai. (2011), estudando o efeito do base de carbendazim (benzimidazol) + tiram
tratamento de sementes de soja com fungicida (dimetilditiocarbamato) ou carboxina (carbo-
(fludioxinil (fenilpirrol) + metalaxil (acilalani- xanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato), ino-
nato)) e polímero, concluíram que a germina- culadas com diferentes estirpes de Bradyrhi-
ção diminuiu com o uso apenas do fungicida, zobium elkanii, reduziram a nodulação em
mas que não foi alterada quando se associou o plantas de soja. O fungicida carbendazim +
fungicida com o polímero. tiram reduziu em 50% a nodulação e em mais
Já Mertz et ai. (2009) estudaram o efeito das de 20% (cerca de 700 kg ha-1) o rendimento de
misturas comerciais de fungicidas carbendazin grãos, quando inoculada com a estirpe SEMIA
(benzimidazol) + tiram (dimetilditiocarbama- 587 (ZILLI et ai. , 2009).
Quar ·,. itária na produção e
estratégia " · o controle de doenças
transmitidas por sementes de soja

F LAVIA ANDREA NERY-SILVA


Engenheira Agrônoma, Me. , Dra.
Universidade Federal de Uberlândia
MARIA L UIZA N UNES COSTA
Engenheira Agrônoma, Me. , Dra.
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
JOSÉ DA CRUZ MACHADO
Engenheiro Agrônomo, Me. , Ph.D .
Universidade Federal de Lavras

1. Introdução
A semente tem uma importante função no Na soja, são mais de 20 doenças causadas
processo produtivo, sendo um dos pilares no de- por fungos, e dessas, mais de 14 são transmi-
senvolvimento da produtividade de uma lavou- tidas por sementes. Os de maior importância
ra. Ela leva o atributo genético que caracteriza o são Phomopsis sp., Colletotrichum truncatum,
material escolhido, e características agronômicas Cercospora sojina, Cercospora kikuchii e Scle-
que levaram à sua escolha como material de plan- rotinia sclerotiorum.
tio. Mas uma boa semente não se faz unicamente Antes de iniciar uma complexa discussão
com O atributo genético, sendo de extrema im-
sobre controle de doenças transmitidas por
portância e essenciais os atributos físico, fisiológi-
sementes, primeiro, a ideia, base de todo o
co e notadamente, o sanitário. Há que se reforçar
processo, deveria ser a produção de sementes
a es;reita relação existente entre ~s atributos fisio-
sadias. Portanto, campos de produção de se-
lógico e sanitário, e o desempenho das sementes
mentes conduzidos dentro de um sistema de
na germinação e emergência no campo.
manejo de doenças têm maior possibilidade de
A cultura da soja apresenta um grande nú- produzir sementes sadias ou com baixo poten-
mero de patógenos que podem ocorrer em ?ife- cial de inóculo. As principais doenças da soja
rentes fases de seu ciclo produtivo. Nematoides,
são transmitidas via semente, e a contaminação
vírus bactérias e fungos apresentam-se como
' ,, . por perd as expressivas nessa cul- desta ocorre no campo de produção de semen-
responsaveis . tes. Geralmente, são doenças comuns no ciclo
tura e requerem atenção especial por to?os os
produtivo da cultura e que requerem que o
atores da cadeia produtiva da soja. Os p~to?enos
campo de produção seja vistoriado, e, na medi-
presentes nas sementes d e SoJ·a ' na maioria das.
da da necessidade, devem ser adotadas medidas
vezes se associam . a e1as d u rante o desenvolvi-
ment~ da cultura, passando dos l?cais de repro- de controle de forma preventiva ou curativa.
duçao- do inoculo
,, na P1anta e migrando para o Após sua produção, a semente será importan-
local de formação das sementes. te veiculador da informação genética e qualidade
230

fisiológica, mas também, na sua superfície e até tógenos e, nessas condições, tanto a germinação
mesmo internamente em seus tecidos, podem es- quanto a emergência podem ser comprometidas
tar associados patógenos, que escaparam às me- pela ação desses microrganismos. Nesse sentido,
didas de controle adotadas nos campos de produ- a adoção do tratamento de sementes assume im-
ção. Essa semente será depositada em um leito de portante papel na proteção de toda a tecnologia
semeadura, que pode conter também outros pa- associada ao processo produtivo.

2. Aspectos sanitários de campos de produção de sementes


A semente de alta qualidade permite o rio: a recomendação primária no controle de
acesso aos avanços tecnológicos, como o me- doenças é de que as sementes utilizadas para
lhoramento gené tico e adaptabilidade às di- propagação sejam sadias e livres de patóge-
ferentes regiões de cultivo. A semente de alta nos. Elas podem servir de veículo para a dis-
qualidade é produzida dentro de um sistema seminação de patógenos ao mesmo tempo em
de certificação, no qual normas e padrões de que sementes infectadas por doenças podem
qualidade, estabelecidos por legislação espe- apresentar baixo desempenho fisiológico,
cífica, devem ser rigorosamente seguidos. como perda de viabilidade, redução na germi-
A semente de alta qualidade deve ser por- nação e no vigor.
tadora d e atributos de qualidade, sendo: a) A produção de uma semente sadia inicia-
Genético: garantia de que serão reproduzidas -se com a instalação do campo de sementes
as características que foram alvo da seleção em local apropriado, com conhecimento do
no programa de melhoramento e , ao mesmo histórico da área e das condições climáticas.
tempo, d e que o agricultor obterá o produ- As doenças de final de ciclo da soja (DFCs)
to dentro dos padrões de qualidade e quan- são mais severas em regiões com temperatu-
tidade esp erados. As características genéticas ra e umidade elevadas na época da colheita.
podem ser influenciadas pelo ambiente e são Nessas condições, as possibilidades de conta-
mais facilmente identificadas nas vistorias minação das sementes aumentam de forma
dos campos de produção d e sementes; b) Fí- significativa.
sico: este atributo compreende características
Durante a fase vegetativa, devem ser feitos
como a pureza física que reflete a composição
acompanhamentos e monitoramentos da inci-
física ou mecânica de um lote de sementes,
dência de doenças como o oídio (figura lA),
umidade , danos mecânicos, p eso de mil se-
mentes, aparência e peso volumétrico, prin- causado pelo fungo Mycrosphaera diffusa, e
cipalmente. A pureza física é o de maior im- a ferrugem asiática da soja - Phakopsora pa-
pacto na análise d este atributo de qualidade chyrhizi - (figura lB) que, apesar de não se-
da semente; c) Fisiológico: neste, está relacio- rem transmitidas por sementes, podem afetar
nado o metaboli mo da semente e sua capa- de forma indireta a sua qualidade, causando
cidade em expressar seu potencial em gerar graves danos à área foliar, com séria redução
uma nova plântula. A germinação, expressa da área fotossintética, refletindo na formação
em porcentagem, é um atributo obrigatório da semente. Para o controle da ferrugem é re-
pela legislação e deve acompanhar a semente comendada a aplicação de fungicidas (estru-
em todo o processo de comercialização. Mas bilurinas e triazóis) , preventivamente após o
outras características fisiológicas também são início da floração, ou no aparecimento dos
importantes, como dormência e vigor, sendo primeiros sintomas. É importante ressaltar a
este último bastante utilizado e já rotineiro importância da alternância dos grupos quími-
na análise de sementes d e soja, e , d) Sanitá- cos, com as misturas de estrubilurinas e tria-
14 - Q UALIDAD E SA ITARl \ .'IA PRO DUÇÃO E E TRATÉGIAS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS TRANSM ITIDAS POR SEME TES DE OJA 231

zóis. Esses grupo químicos também auxiliam zóis e estrubilurinas controla automaticamen-
no controle d as doença de fim de ciclo na te essa doença, além do fato de as variedades
cultura d a soja. Co m relação ao oídio, o ma- atuais de soja contarem com boas característi-
nejo da ferrugem através dos fungicida tria- cas de resistência a essa doença.

Figura 1. Sintomas de A: oídio (Mycrospha era diffusa) e, B: ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhiz1) em soja.
Fonte: Modificado de Henning et ai. (2014)

As doenças de fim de ciclo, crestamento fo- aparecimento de sintomas, pulverizações são re-
liar (Cercospora kikuchii) e mancha parda (Sep- comendadas. Fungicidas indicados para o con-
toria glycines) (figuras 2A e 2B, respectivamen- trole dessas doenças pertencem ao grupo dos
te), além de terem capacidade de sobrevivência benzimidazóis, que apresentam menor custo
em restos culturais, também podem ser transmi- que as estrubilurinas e os triazóis, e que tam-
tidas por sementes e especial atenção deve ser bém apresentam melhor eficiência no controle
dada no acompanhamento do campo de produ- de outras doenças, como a mancha alvo (Cory-
ção de sementes. Para elas, a inspeção do campo nespora cassiicola) (Figura 2C) e a antracnose
deve ser atenta e rigorosa e, sendo observado o (Colletotrichum truncatum) (Figura 2D).

Figura 2. Sintomas de doenças foliares que ocorrem na cultura da soja. A: crestamento foliar
(Cercospora kikuchil) , B: mancha parda (Septoria glycines) , C: ~ancha alvo (C~rynespora cassiicola), e
D: antracnose (Co/letotrichum truncatum) . Fonte: Modificado de Henrnng et ai. (2014)
232

Outra doença de extrema importância na Na inspeção do campo de sementes, ha-


cultura da oja e que deve receber e pecial aten- vendo a detecção de plantas com si ntomas
ção é o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum). de mofo branco e a depender da incidência,
E e fungo produz e trutura de re istência, o campo será condenado ou nova inspeção
e clerócio , que têm capacidade de sobrevivên- deverá ser realizada após procedimentos para
cia no solo por intervalos superiores a 10 anos. controle da doença (Figura 4). A aplicação de
Sua erradicação é praticamente impossível após fungicidas foliares em soja tem se mostrado
introdução em áreas agrícolas, e dessa forma importante ferramenta no controle do mofo
o uso de emente adia é de extrema impor- branco e pode apresentar eficiência acima de
tância no sistema produtivo. e se caso, os cri- 60% sob alta pre são de inóculo. Produto
tério para e colha da área para in talação do como o fluazinam e a procimidona, pulveriza-
campo de emente deve con iderar o histórico do isoladamente ou em associação com tio-
de ocorrência de a doença e deve-se orientar fanato metílico ou carbendazim, podem ser
para que ejam evitadas. recomendados .

Figura 4. Sintomas de mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) em plantas de soja em estágio reprodutivo.
Foto: José da Cruz Machado

Além de controlar as doenças foliares , o custo. A única maneira de alcançar es e objetivo


uso de fungicida nessa fase pode aumentar os é realizando as in peções do campo de forma
rendimento - e a qualidade de sementes. Pois rigorosa, eliminando plantas atípica , plantas
os danos causados por e sa doença não se infe tantes e planta com intomas quando po -
restringem unicamente à área foliar, mas tam- ível. E, na medida em que os sintomas forem
bém prejudicam a formação da emente e po- generalizado , realizar pulverizaçõe foliare
dem comprometer seu desempenho fisiológi- com fungicidas recomendado e, na análi e fi-
co, interferindo na germinação e vigor. nal, condenar o campo para semente .
A transferência do patógeno da planta mãe Para campos de produção de em nt d
para a semente e/ou das sementes infectadas soja, a legislação determina que ocorram no
para a ma sa de sementes deve er evitada a todo mínimo dua vi toria , endo a primeira no p -
14 - Q UALIDADE :SA 11 \HI \ '\A PRODUÇÃO E ESTRATÉGIAS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS TRANSMrnDAS POR SEME TES DE OJA 233
Fl.AVIA DREA N ER,- S11\.\ - MARJ,, L u iz.A UNE Co.;7i\ - J osÉ DA CRuz M ACHADO

ríodo d e floração e a segunda no período de tor guardar parte de sua produção de grãos para
colheita. O campo de soja, para fins de fisca- ser utilizada como sementes na safra subsequen-
lização, pode ser caracterizado de acordo com te. Ressalvado o motivos pelos quais essa per-
a etapas do desenvolvimento vegetativo em: missão foi regulamentada na lei, desenvolveu-se
período de floração, que compreende da emer- um mercado paralelo de comércio de sementes
gência até o início do florescimento, o estigma "piratas", o qual libera no mercado anualmente
receptivo e a antera liberando pólen e 5% ou esse material em garantias legai , poi não foi
mai das plantas já e tão florescidas, e período produzido no sistema de certificação.
de colheita, que inicia- e quando a emente e A semente "salva" não apresenta nenhuma
torna mais dura e alcança ou se aproxima da das garantia dos atributos de qualidade da e-
maturidade fisiológica, estando completamente mente (físico, genético, fi iológico e sanitário).
formada, mas ainda com alto teor de umidade, Vale re altar que o atributo sanitário, quando
e gradativamente vai perdendo água, permitin- não ob ervado, pode ser respon ável pela in-
do uma colheita fácil e egura. Recomenda-se trodução de patógenos de difícil erradicação,
que as inspeções ocorram ne a fases. como a Sclerotinia sclerotiorum, causadora do
a inspeção de campo, o objetivo é identifi- mofo branco, comprometendo todo o istema
car contaminante como planta atípica , inva- produtivo do produtor.
soras, plantas doente , entre outro . As plantas A taxa de utilização de sementes de oja
atípicas são da mesma e pécie da cultura, mas na década de 1990, de acordo com registros
com diferenças quanto ao porte, forma , cor, da Associação Brasileira de ementes e Mudas
pintas, pilosidade na ha te , tamanho, entre (ABRASEM) variou entre 60 a 80%, chegando,
outras caracterí tica . Planta ilvestres indese- nos anos de 1998, 1999 e 2000, aos 80%. Mas
jáveis (invasoras) competem com a cultura du- o mercado de ementes de soja sofreu doi im-
rante o desenvolvimento ão difícei de sepa- pactos importantes e que reduziram significa-
rar no beneficiamento, podem er ho pedeiras tivamente a taxa de utilização de ementes nos
de pragas e doença , e ainda dificultam as ins- último 15 anos. Primeiramente, a entrada de
peções e outras prática agronômicas. Plantas semente tran gênicas na região ul, principal-
da m esma espécie da cultura, e contaminadas mente no Rio Grande do Sul, contrabandeada
com agentes patogênico , podem produzir se- da Argentina, que praticamente de estruturou o
mentes com es e patógeno a ociados inter- istema legal de produção de emente no esta-
na ou externamente a ela . do. A taxa de utilização de sementes no RS, que
girava em torno de 60% nos anos 2000 e 2001
Todas as colocaçõe realizadas até este mo-
foi reduzida para 30 e 19%, respectivamente.'
mento ervem para corroborar uma expre ão
Para o Brasil, de forma geral, num egundo mo-
que há muito tempo vem sendo dita e repetida
mento, a homologação da nova Lei Bra ileira de
nos corredores da academia, da pesqui a e do
Semente , em 2003, definiu o termo ' emente
campo pelos profissionais que seriamente dedi- para u o próprio", que utilizado inadequada-
cam suas carreiras ao etor sementeiro: '½ qua- mente, abastece um mercado informal de e-
lidade da semente se faz no campo". es e en- mente que se aproveita das dificuldade da fi -
tido, estaria encerrado aqui este capítulo. Mas, calização do entimento de impunidade e do
eja por despreparo ou descuido de alguns, por oportuni mo, por parte de algun produtore e
capricho da natureza manuseando o clima, o profissionai , para agregar valor ao grão comer-
aspecto sanitário, um dos atributos de qualida- cializando-o como emente. Em 2004 a taxa de
de da emente, pode ficar comprometido. utilização de emente de oja ficou abaixo de
Numa abordagem ainda mais ampla, a legi - 60% e vem e mantendo próxima dessa média
lação brasileira de sementes permite ao agricul- de de então, com pequena variaçõe .
234

3. Análise da qualidade sanitária de sementes de soja


A análise sanitária de sementes é um pro- Apesar de todas as recome ndações na con-
cedimento que visa detectar em termos qua- dução do campo de produção d e semente ,
litativo e , quando possível, quantitativos, a patógeno ainda poderão ser e n contrad os a -
pre ença de microrganismos patogênicos as- saciados a elas. Atenção especial ser á d ada ao
sociados às sementes, eja externa ou inter- fungo Sclerotínía sclerotíorum, causador do
namente ao eus tecidos. Vários são os tes- mofo branco.
tes que podem ser utilizados para e se fim , O aumento da incidência desse fungo nas
diferenciando-se em sua praticidade, onero- áreas cultivadas com soja entre os anos de
sidade, tempo e limite de detecção do pató- 2008 a 2013 é significativo nas diversas regi-
geno. Os testes de sanidade de sementes são ões produtoras de soja do Brasil (Figura 5). No
descritos no Capítulo 9 das Regras para Aná- mesmo período, nas análises de rotina para
lise de Sementes, disponível para consulta e sanidade de sementes de soja realizadas no
impressão no site 1 , e as informações comple- Laboratório de Patologia de Sementes da Uni-
mentares no Manual de Análise Sanitária de versidade Federal de Lavras (UFLA/LAPS), foi
Sementes, também acessível para consulta e observado aumento relativo no número de lo-
impres ão no endereço eletrônica2. tes diagnosticados para presença desse fungo
pelo Método Neon (Tabela 1).

66 .6%
2000
C=:J2008
---
C)
C)
1800 c::::J 2009
~ 2010
C)
...-- 1600 ~ 2011
>< 2012
{O
:S, 1400 - 2013
ro
"õ' 1200
(/) 12.8%
(1) . 78.0%
"U 1000 18.9%
ro
"O 34.7%
ro 800
> 53.5%
E
:J

1
o 600
ro
(1)
'-
<(
400
18.0

11.5%
1 15.7%
39.6%
6 .5%

200

o
BA GO MG MS MT SP PR se RS
Figura 5. Área estimada de soja com mofo branco (Sclerotinia sc/erotiorum) no Brasil e sua evolução
entre os anos de 2008 a 2013 . Fonte: Machado (2014)

1 http://www.agricultu ra.gov. br/arq_editor/fi1e/2946_regra _analise_ sementes.pdf


2 http ://www.agricultura.gov.br/arq_ edito r/file/ 12261 _seme ntes _-web.pdf
14 - Q UALIDAD E SANTT\RI'\ NA PRODUÇÃO E E TRAlÍGIAS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS TRAN MITIDAS POR EMENTE DE SOJA 235

Tabela 1. Ocorrência de Sc/erotinia sclerotiorum em amostras de sementes de soja e feijão na forma micelial em
amostras de sementes (análises de rotina).
~ Nº de amostras positivas para
Ano 'dá.'ánálise Total de amostras analisadas
S. sclerotiorum*
...--
2008 120 1
2009 431 5
2010 33 o
2011 206 14
2012 158 9
2013 134 7

*Detecção pelo método Neon. Fonte: Machado (2014)

Os principais motivos que foram e que ain- verificar a presença de escleródios associa-
da têm sido utilizados para ju tificar o aumen- dos à massa de sementes, além de confirmar
to gradual, seja expansão para novas áreas ou a presença do micélio dormente em seus te-
intensidade da doença em área de ocorrên- cidos. Assim, devem ser priorizados métodos
cia, estão relacionados com o uso de sementes eficazes e viáveis para detecção. esse caso,
contaminadas com escleródios, o uso de se- a inspeção visual cuidadosa permite a identi-
mentes salvas (piratas) de origem de conheci- ficação de escleródios misturados à amostra
da e produzidas fora do sistema legal, e a não de sementes, pois são estrutura de resistên•
adoção de um sistema de rotação de culturas eia bastante diferenciadas em coloração, for-
adequado para o manejo dessa doença. mato e textura em relação à emente de soja
Com relação aos aspectos sanitários do (Figura 6A). Também pode ser feito o exame
lote de sementes, faz-se necessária a adoção visual do descarte da usina de beneficiamen-
do teste de patologia de sementes, que pode to (Figura 6B).

Figura 6. Escleródios de mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) em A: associados à massa de sementes


e B: fração impurafnaterial de descarte de usina de beneficiamento de sementes. Fonte : Machado (2014,)
236 É CO E TÉCNIC" ~')~
Ü OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GE ,TI O ,
C AS1"R0 - .L~
ERNANE LEMES - LEONARDO

Na continuidad e pode ser realizado o teste ., do dei


dessa doença, mas o longo peno _
de rolo de papel incubado à temperatura de ção d ificulta a rotina para emissao de
15-20 º C, no escuro, por u m p eríodo de até 30 de forma célere.
dias (Figu ra 7) . É um teste eficaz na detecção

Figura 7. Teste do rolo de papel para detecção de mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) em se mentes dt
Fonte : Machado (2014)

Outro método para a detecção d esse fungo por uma incubação preliminar (Bic
é o método de azul d e bromofenol (semissele- com o obj etivo de aumentar a biomé
tivo), também ch amado de eon. A amostra de fu ngo e facilitar sua detecção, ou ser
trabalho 400 sementes, é incubada em meio mente triturada para ex tração do D J
' .,
de cultura agarizado (Batata-Dextrose-Agar) meio de kits comerciais . Os resulta,
no qual é diluído Azul de bromofenol, clorafe- PCR indicam se um lote de sementes
nicol e dichloran, e o pH ajustado para 7,0, p or n ão infectado p elo fungo , sendo obti
um período de 7-8 dias a uma temperatura de !ativamente rápido, o que poderia ori
15-20 ºC. Após, é verificada a formação de ha- decisão de te stes para quantificação ,
los amarelos em torn o das semente qu e estão tamento ou não das sementes . A eficiê
contaminadas com o fungo . técnica da PCR pode ser observada 1
Dentre os métodos moleculares existe a junto d e amostras apresentadas abai
possibilidade da aplicação da técnica de PCR. b ela 2), quando comparada com O ~
Nesse caso, a amost ra submetida pode passar d e azul d e bromofenol.
F uVIA oREA N F.n,-S1LvA - MARIA Lu1ZA u ES CosTA - JosÉ DA CRuz MACHADO

Ta bela 2. Detecção de Sc/erotinia sclerotiorum em treze amostras de sementes de soja analisadas


pelo método de azul de bromofenol e pela técnica da PCR convencional.

Método de Detecção
Número da a
mostra Azul de bromofenol
(sementes positivaS"amostras)
1 21400 V4
2 ()1400 <Y4

3 ()1400 Q/4

4 21400 w .

5 ()1400 ()14

6 (W00 Oit
7 V400 V4
8 ()1400 Q/4
,_

9 21400 2l2J
-
10 (W00 Q/4
()1400
-
11 Q/4
12 ()1400 Q/4
- -
- 7
13 ()1400 Q/4
1
Fonte: Botelho et ai. (2015)

Método para a análise anitária da semen- metida, e considerando os prós e contras


te de soja exi tem e são comprovadamente efi- diferentes métodos, uma alternativa imedi:
cientes no diagnó tico de patógenos importan- plausível seria aplicar o teste visual de escJ
tes para a cultura. Especialmente com relação dias e o método semisseletivo Neon micéli1
ao fungo S. sclerotiorum o padrão sanitário à interior das sementes.
er proposto dever ser Zero na amostra sub-

4. Controle de doenças da soja via tratamento de sementes


O tratamento de sementes em sua essência O tratamento de ementes é um dos m
está relacionado a dois alvos principais, sendo a dos mais barato de controle direto de d(
eliminação do patógeno transmitidos pelas se- ças em planta e baseiam-se nos princípios
mentes ou sua diminuição, e a proteção das e- proteção e cura. Ba icamente, o tratamento
mentes contra os patógenos presentes no solo. semente para controle de doenças visa eli
o entanto, a importância desse tratamento en- nar os patógenos das emente e proteger ta
volve demais fatores de relevante importância, estas como a plântula dos patógenos do s<.
como o transporte a longas distâncias de pató- possibilitando assim manter ou melhorar a q
genos pelas sementes, quando estas são adqui- !idade sanitária da semente, proporcionan
ridas em regiões distintas da área de plantio, e um bom estande inicial da lavoura e evitandc
a manutenção de patógeno em ambiente prote- disseminação de microrganismos patogênico
gido e com fonte de alimentação, nos casos de Os tratamentos de sementes mais corr
armazenamento das sementes. mente utilizados ão baseados em proo
. - kikuchí,
tos químicos, de eficiência comprovada pe- ra da soja no Brasil sao Cercospora d
los fabricante e com registro no Ministério (Mancha púrpura); C. sojina (Mancha olbose f
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento rã)· Colletotricbum truncatum (Antracno )
(MAPA), Agência Nacional de Vigilância Sani- Di~porthe phaseolorum var. sojae, PhornoP·
D ·anortht
tária (ANVISA) e ln tituto Brasileiro do Meio sis sojae (Seca-de-haste e vagens) ; z r
Ambiente e dos Recursos Naturai Renováveis sojae var. meridionalis (Cancro-da-haste) · Fu·
(IBAMA). Porém outra formas de tratamen- sarium semitectum (podridão de sementes) :
to ão pesqui ada e avaliadas como opções Macrophomina phaseolina (Podridão-cinze?·
ao controle sanitário das sementes, como o ta-do-caule) ; Peronospora manshurica (Mil
u o de produto biológicos (microrganismos), dio) ; Phomopsis sp. (Cancro da haste) , Rhízoc-
produto à base d e plantas (extrato de plantas tonia solani, Sclerotium rolfsii, Pythíum sp.
e óleos essenciais), métodos físicos (termote- (Tombamento de plântulas), Sclerotinia scle-
rapia, ozonização) e a obtenção de variedades rotiorum (Mofo-branco); Aspergillus spp. , A.
resistentes . flavus, A. glaucus, A. ochraceus e Penicillíum
A cultura da soja é suscetível a inúmeros pa- spp. (redução de germinação e deterioração
tógenos, dentre eles diversos são transmitidos em pós-colheita) ; Heterodera glycines (Nema-
por sementes. De acordo com Machado (2006), toide-do-cisto) ; Meloidogyne incognita, M. ja-
Goulart (2005), Dhingra e Acufta (1997), os vanica (Nematoide das galhas) e Pratylenchus
patógenos mais importantes para a cultu- brachyurus (Nematoide das lesões).

5. Campo de produção de sementes - qualidade sanitária


A produção de ementes livres de pató- incidência de parasitas necrotróficos , agentes
genos é a opção ideal e desejada para uma causais de manchas foliares; lavouras produ-
semente. Vário ão os cuidados que se deve toras de semente, portanto, devem ser con-
ter para alcançar e sa meta de semente lim- duzidas com rotação de culturas, lembrando
pa, livre de patógenos. É necessário manter que uma semente doente origina uma lavoura
o controle rigoroso das doenças nas plantas doente (REIS e CASA, 2012) .
para que os patógeno causadores de sas do- De acordo com Machado (2000) e Soave e
enças não alcancem as semente produzidas, Moraes (1987), algumas medidas são impor-
nem externa, nem internamente. Daí o mane- tante para se fazer o manejo adequado das
jo das doenças na parte aérea, foliares, hastes, doenças em campos de produção de sementes:
pecíolo, flore e vagen deve ser rigoro o, se-
guindo os padrões estabelecidos pelo MAPA a. Escolha de variedades com maior
para que as sementes produzidas e tejam grau de resistência a doenças impor-
ausentes de doenças e/ou patógenos. Reis e tantes: Embora nem sempre uma varie-
dade mai resistente apresente toda
Casa (2012) evidenciam ponto importantes a / . s a
serem considerados ao produzir sementes de caractensticas desejáveis em termos d
nrorh1t-i-u1r1~r1. e
QUalicl~rfp nn= •. -~ - - ~t
'A PRODUÇÃO E ESTRATÉGIAS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS TRANSM ITIDAS POR SEME TES DE SOJA 239

b. Seleção de áreas e épocas de plantio: desqualificação do campo de produção


É sempre recomendável que regiões com de sementes (MACHADO, 2000).
d iferenças bru cas de temperatura (diur- f. Tratamento fitossanitário preventi-
n a e noturnas) e, consequentemente, vo: Para algumas fitodoenças , a aplica-
formação de orvalho, devam ser evitadas ção de defensivos na parte aérea (fungi-
(MACHADO, 2000). O solo deve seres- cidas e inseticidas) são requeridos para a
colhido qu anto às suas características to- eliminação de focos iniciais de algumas
pogr áfica , propriedades físicas e quími- doenças e vetores de outras (viroses).
cas, e fertilidade próprias à cultura que se O controle fitossanitário se torna mais
deseja in talar. Lembrando-se que o solo relevante principalmente quando a área
pode e tar contaminado com microrga- escolhida para a implantação do campo
nismos p atogênicos à cultura da soja e de produção de sementes não é a ideal
que estes podem ser transmitidos pelas (MACHADO, 2000).
sementes produzidas (SOAVE e MORAES, g. Cuidados na colheita e transporte:
1987). A adubação equilibrada é fator im- Os cuidados na colheita das sementes
portante, com atenção especial em rela- envolvem a época de maturação das
ção ao potássio, ressalta Goulart (2005). sementes, umidade ideal para que não
c. Rotação de culturas e descanso de haja danos ao pericarpo e regulagem
áreas: O ideal eria produzir sementes de maquinário para evitar danos mecâ-
em áreas ainda não cultivadas, evitando- nicos, pois todos esses fatores podem
-se solos já desgastados e contaminados estar associados à facilidade de pene-
com patógenos existentes em velhas tração de patógenos nessas sementes
áreas de cultivo. Mas como nem sem- (MACHADO, 2000; SOAVE e MORAES,
pre isso é possível, a rotação de culturas 1987). O transporte delas do campo ao
pode ser uma medida adequada para o beneficiamento deve ser o mais breve
possível, pois, dependendo da umidade
controle de muitas doenças transmitidas
das sementes e da presença de patóge-
por sementes. esse caso, é imprescindí-
nos nessa fase , pode proporcionar o au-
vel o conhecimento, pelo menos, da cul-
mento do inóculo, devido à temperatura
tura anterior (SOAVE e MORAES, 1987).
do ambiente durante esse processo.
d. Isolamento do campo: Sob o ponto de
h. Beneficiamento e Armazenamento:
vista sanitário, o isolamento do campo
A limpeza dos equipamentos de bene-
de produção de sementes deve ser con-
ficiamento é imprescindível para evitar
siderado quanto a outros campos de se-
contaminação das sementes, além da
mentes, campos de cultura comerciais
regulagem adequada para que fontes de
e também quanto a plantas silvestres e
inóculo infectivo possam ser eliminados
invasoras (SOAVE e MORAES, 1987). na fase inicial de beneficiamento. Estru-
e. Inspeções sanitárias (Padrões sanitá- turas como escleródios de Sclerotinia
rios de campo): O monitoramento da sclerotiorum, sementes com manchas
cultura em diferentes estágios de desen- causadas por Colletotrichum truncatum
volvimento pode revelar a presença de podem ser removidas nessa etapa (MA-
certas doenças, possibilitando a aplicação CHADO, 2000). O armazenamento ideal
de medidas que pode ir de uma simples de sementes deve atender às condições
recomendação de eliminação de plantas de umidade e temperatura para que inó-
com sintomas de doenças (roguing) à culos infectivos presentes em sementes
- -
D OENÇAS DA SOJA: MELHORAME TO GEN ÉTICO E TÉCN ICAS DE MANEJO
240
ERNAN E L EMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL Ass,

não aumentem durante essa fase. Vários resistência (acibenzolar-S-metil, ASM) em com-
patógenos podem sofrer uma redução binação com 3 aplicações de fungicidas folia-
drástica durante essa fase devido justa- res, proporcionando um ganho na qualidade
mente à adequação de temperatura e das sementes produzidas e obtendo germina-
umidade. o entanto, algumas espécies ção superior à testemunhada a partir de uma
de Aspergillus ainda podem permane- aplicação de fungicida. Além desses fatores , os
cer viáveis na temperatura de armazena- autores relatam a importância da utilização de
mento e continuar o seu desenvolvimen- cultivares com menor suscetibilidade à ferru-
to e multiplicação. gem asiática. Os tratamentos utilizados para o
Na literatura pertinente, diversos trabalhos controle da ferrugem asiática não prejudicam
evidenciam tecnologias que são pesquisadas vi- a qualidade fisiológica das sementes, salientam
sando auxiliar o manejo de doenças, principal- Gagliardi et ai. (2009). Ao contrário, a aplica-
mente em campos de produção de sementes. ção de flutriafol + carbendazin no controle de
Carvalho et al. (2013), pesquisando o manejo ferrugem asiática em plantas de soja diminuiu
da ferrugem asiática em campos de produção a incidência do patógeno Cercospora kikuchii
de sementes de soja, utilizaram um indutor de nas sementes.

6. Tipos de tratamento de sementes


Dentre os principais objetivos a se fazer 4. Estabelecimento inicial da lavoura
ao tratamento de sementes, de acordo com com uma população ideal de plantas
Machado (2006, 2000, 1999), Goulart (2005), (Figura 8A) ;
Dhingra e Acufi.a (1997) e Soave e Moraes 5. Proporcionar maior sustentabilidade à
(1987) , estão: cultura pela redução dos riscos na fase
1. Eliminar inóculo infectivo presente nas de implantação da lavoura; e
semente ; 6. Prevenção da transmissão e dissemina-
2. Proteger as sementes dos patógenos ção de inóculo por meio de sementes,
presentes no solo; evitando ou reduzindo os riscos de epi-
3. Promover uniformidade na germinação e demias.
emergência de plântulas (Figura 8B e 8C);
A PRODUÇÃO E ESTRATÉGIAS PARA O_CONTROLE DE DOE ÇAS TRANSMl11DAS POR SEME1 TES DE SOJA 24 1
f lAVIA AND REA NERY- ILVA - MARIA L UJZA UNES COSTA- }OSÉ DA CRUZ MACHADO

Figura 8. Comparação de sementes tratadas em relação a sementes não tratadas. A :


Efeito do tratamento de sementes na emergência de plântulas e formação de estande uniforme;
8 e C: Efeito do tratamento de sementes na germinação. Foto: Costa, M.L.N . (2010)

6.1. Tratamento Químico


O tratamento químico baseia-se na ação tos (MACHADO, 1999, 2000; MAUDE , 1996).
de produtos químicos inibindo ou eliminando O produto deve ser tóxico ao patógeno e não
os patógenos de sementes. Sua utilização con- à semente, mesmo em doses dobradas, deve
siste na mistura das sementes com fungicidas ser atóxico ao homem e aos animais, não acu-
registrados junto ao MAPA, obtendo adequada mulável no solo, nem explosivo ou corrosivo,
cobertura (fungicidas de contato) e, em alguns capaz de ser armazenado em temperaturas ex-
casos, uma penetração correta do produto nas tremas, deve ser facilmente obtido no mercado
sementes (fungicidas sistêmicos) (SOAVE e e com baixo custo (MACHADO, 2000, 2006).
MORAES, 1987). Nesse caso, quanto aos fun- A Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-
gicidas recomendados para cada caso, depen- cuária - EMBRAPA, em seu centro de pesqui-
dendo dos patógenos presentes nas sementes sa dedicado à cultura da soja, organiza anu-
ou no solo da área de plantio, é importante almente a Reunião de Pesquisa da Soja, em
consultar o sistema de registro de produtos que dentre outros assuntos, aborda a eficiên-
químicos do MAPA, o AGROFIT, no qual são cia dos produtos fungicidas para tratamento
encontradas informações sobre o princípio ati- de sementes. Na tabela 3 foram abordados
vo eficiente para o controle do patógeno e o os produtos que vêm sendo recomendados
modo de ação de cada produto. ao longo de alguns anos, como resultado de
O tratamento de sementes dentro do ma- pesquisas realizada por pesquisadores da
nejo integrado de doenças constitui uma me- Região Central do Brasil e que vêm apresen-
dida valiosa pela simplicidade de execução, tando resultados satisfatórios no tratamento
baixo custo relativo e eficácia sob vários aspec- de sementes de soja.
242

Tabela 3. Fungicidas e respectivas doses para o tratamento de sement~s de soja .


XXXI Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil.

NOME COMUM
Produto Comercial2

Captan 90 g
• Ca tan 750 TS • 120 g
Thiram 70 g (SC) ou 144 g (TS)
• Rhodiauram 500 se • 140 ml
• Thiram 480 TS • 300 ml
Tolylfluanid 50 g
• Euparen M 500 PM • 100 g
li. Fungicidas sistêmicos e misturas
Carbendazin 30 g
• Derosal 500 se • 60 ml
Carbendazin + Thiram 30 g + 70 g
• Derosal Plus4 • 200 ml
• Protreat4 • 200 ml
Carboxin + Thiram 75 g + 75 g ou 50 g + 50 g
• Vitavax + Thiram PM4 • 200 g
• Vitavax + Thiram 200 SC33 •4 • 250 ml

Difeconazole 5g
• Spectro • 33 ml

Fludioxonil + Metalaxyl - M 2,5 g + 1,0 g


• Maxim XL 4
• 100 ml
Piraclostrobina + Tíofanato metílico + Fipronil 5 5 g + 45 g + 50 g
• Standak Top • 200 ml
-__:-===;;:;;:::;;======:::::::
Thiabendazole 17 g
• Tecto 100 (PM e SC) • 170 g ou 31 ml

Thiabendazote + Thiram
=-========,- : ;: 17 g + 70 g
4 • 200 ml
• Tegram
Tiofanato Metflíco 70 g
.. Cercobín 700 PM • 100 g
• Cercobjn 500 se • 140 ml
• Topsin soo se • 140 ml

1
As doses dos produtos isolados são aquelas para a aplicação sequencial (fungicida de contato e sistêmi )
contrário , utilizar a dose do rótulo. co · Ca
2
Poderão ser utilizadas outras marcas comerciais , desde que sejam mantidos a dose do ingrediente ativo e .
de formulação . 0 t1p 1
3
Caso não seja adicionado nenhum outro produto líquido, fazer o tratamento com pré-diluição na _
250 ml do produto + 250 ml de água para 100 kg de semente . ' proporçao de
4
Misturas formuladas comercialmente e registradas no MAPA/DDIV/SDA.
5 Recomendação durante a XXXI RPSRCB , Brasília , DF, 201 O.

CUIDA DOS : devem ser tomadas precauções na manipulação dos fungicidas , seguindo as orientações da
prod utos . bula do
14 - Q UALIDADE SAi ITÁRIA I
A PRODUÇÃO E ESTRATÉGIAS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS TRANSM ITIDAS POR SEME TES DE SOJA 243
F uWIA A.NoREA N rnv-S1LVA - MAruA Lu1zA Nu E CosTA -Jo É DA CRuz MACHADO

A p esquisa na busca de novos produtos é mas novos e antigos, conforme consta na tabe-
dinâmica e a indú stria química, ao longo dos la 4 adaptado de Krzyzanowski et ai. (2015).
anos, d esenvolve moléculas novas para proble-

Tabela 4. Produtos fungicidas e respectivas doses para o tratamento de sementes de soja.


r., ~ ~ .....: r.- •
DOSE / 100 kg DE SEMENTE 1
·. NOME COMUM
Ingrediente ativo (gramas)
Produto Comercial2
Produto Comercial (g ou ml)

Fluazinam+Tiofanato metílico 9,5 g + 63 g a 11 ,3 g + 75,3 g


• Certeza 2 • 180mla215ml
--=---==r=:.::;;::..-,...;=:;;;;.;
Thiabendazol+Fludioxonil+Mefenoxan 15 g 2,5 g + 2 !1J a ! J ,5 g
• Maxim Advanced 2 • 100 ml a 125 ml
1
Poderão ser utilizadas outras marcas comerciais , desde que tenham registro no MAPA (e cadastro na SEAB/ PR)
e que sejam mantidos a dose do ingrediente ativo e o tipo de formulação .
2
Misturas formuladas comercialmente e registradas no MAPA/DDIV/SDA. Cuidados: devem ser tomadas precau-
ções na manipulação dos fung icidas, seguindo as orientações da bula dos produtos.

A eficiência dos produtos é continuamente os fungicidas trifloxystrobin + metalaxyl e


verificada com o passar dos anos através de mefenoxam + fludioxonil + azoxystrobina
pesquisas, cujos resultados são encontrados resultaram em estandes melhores. Os fungi-
na literatura. esse estudo, avaliando espé- cidas penta cloronitrobenzeno + carboxin
cies de Fusarium que causam diminuição na foram efetivos nas 3 temperaturas. Os fungos
qualidade das sementes e tombamento em encontrados nas plântulas causando danos
plântulas de soja, Ellis et ai. (2011) avaliaram foram Fusaríum sp., Pythium sp. e Rhízocto-
o efeito da densidade do inóculo, temperatu- nía solaní (URREA et ai. , 2012).
ra e tratamento de sementes com fungicidas A associação de fungicidas com produtos
no desenvolvimento de doenças. Sementes biológicos tem sido avaliada na tentativa de
de soja foram inoculadas com 100 µ,l do pa- diminuir o número de aplicações com fungi-
tógeno com suspensões de 2,5 x 102 , 2,5 x cidas. Brand et ai. (2009), com o objetivo de
103, 2,5 x 10 4 ou 2,5 x 105 macroconídios. avaliar o efeito do bioprotetor Agrotrich® e
mL-1 , sob temperaturas de 18 ºC, 22 ºC, e 25 do fungicida Vitavax-Thiram®, isoladamente
ºC. Sementes tratadas com captan ou fludio- ou combinados, sobre a qualidade sanitária e
xonil desenvolveram lesões menores em rela- fisiológica de sementes de soja, avaliaram sa-
ção aos outros tratamentos e à testemunha, nidade, germinação, plântulas e emergência
demonstrando que existe uma importância em casa de vegetação e no campo. Na avalia-
na escolha do fungicida para tratamento de ção de sanidade, os tratamentos com fungici-
sementes e manejo de doenças em plântulas. da químico, isolado ou em combinação, apre-
Doenças em plântulas são um dos princi- sentaram os menores valores de incidência
pais problemas para a soja, e o controle inicial dos fungos Rhíz opus spp., Aspergillus spp. ,
é realizado pelos fungicidas dos tratamentos Fusaríum spp. , Cladosporium spp., Rhizoc-
de sementes de soja. Nesse estudo, foi deter- tonia spp. e Penícillíum spp. em relação às
minada a eficácia dos fungicidas para trata- sementes não tratadas. Para germinação e pri-
mento de sementes em solos naturalmente meira contagem, o tratamento com metade da
contaminados sob condições de ambiente dosagem dos produtos foi o mais eficaz. Na
controlado. Sementes de 3 cultivares foram avaliação de plântulas em casa de vegetação,
tratadas com seis fungicidas. De forma geral, os tratamentos não diferiram entre si em ne-
'
244 Ü OENÇAS DA SOJA: MELH ORAMENTO GENÉTICO E TÉCN ICAS DE MANEJO

ERNAN E L EMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

nhuma das variáveis, assim como na emergên- bém reduziu significativamente o número
cia, índice de velocidade de emergência, dos total de nematoides. O desenvolvimento de
primeiro, segundo e terceiro trifólios no cam- plantas foi significativamente reduzido sob
po. A combinação dos produtos com metade condições de estresse hídrico, exceto nos tra-
da dose proporciona efeito positivo sobre o tamentos contendo piraclostrobina + tiofa-
potencial fisiológico das sementes de soja nato metílico + fipronil. Concluiu-se que os
(BRAND et ai. , 2009). tratamentos de semente ajudaram a reduzir a
O uso de tratamento de semente na soja população de P. brachyurus e o tratamento
para controle de nematoides foi eficiente na com piraclostrobina + tiofanato metílico +
redução do nematoide Praty lenchus bra- fipronil resultaram em benefícios nas plantas
chyurus, porém nem sempre essa redução de soja, aumentando a tolerância ao estresse
repercutiu em melhor desenvolvimento da hídrico (RIBEIRO et ai. , 2014) .
planta. Dentre os tratamentos utilizados Tl Goulart (2005) enfatiza a incompatibili-
(testemunha) , T2 (abamectina) , T3 (Imidaclo- dade do tratamento de sementes de soja com
prido + Tiodicarbe) , T4 (Paecilomy ces lilaci- fungicidas e o inoculante Bradyrhizobium
nus + Arthrobotrys sp.), TS (Piraclostrobina spp. , devido à sua sensibilidade aos produtos
+ Tiofanato Metílico + Fipronil) e T6 (Tri- químicos, mesmo quando a inoculação é rea-
choderma viride) , o que mais se destacou lizada após o tratamento de sementes com o
foi a abamectina, que se diferenciou positi- fungicida. A pesquisa tem sido realizada no
vamente dos outros tratamentos em todas as sentido de encontrar formas alternativas para
caracterí ticas observada . A inoculação foi se efetuar o tratamento de sementes com fun-
realizada 12 dias após o plantio, com 800 ne- gicidas sem afetar a nodulação das raízes de
matoides por vaso, e o experimento foi con- soja pelo Bradyrhizobium spp .. Alguns resul-
duzido até os 60 dias após a inoculação (Bor- tados obtidos com a pesquisa relatam quanto
tolini et ai., 2013). a alguns fungicidas que afetam menos a no-
Em outro estudo, realizado por Ribeiro et dulação; outros recomendam doses dobradas
ai. (2014) , objetivou-se avaliar a eficácia do do inoculante para garantir uma quantidade
tratamento de sementes também no contro- final de células do inoculante/semente satis-
le de Pratylenchus brachyurus, em dois re- fatório à nodulação, ou mesmo o uso de ino-
gimes hídrico . Sementes da cultivar MSoy culante no sulco de plantio.
7639 foram tratadas com produtos contendo Pereira et ai. (2 010) pesquisaram a inocu-
imidacloprid + thiodicarb, piraclostrobina + lação das sementes com inoculante turfoso,
tiofanato metílico + fipronil e abamectina + observando que este propiciou a formação
azoxistrobina + mefenoxam + fludioxonil + de maior número de nódulos. No entanto,
thiamethoxam. Os regimes hídricos para as os tratamentos carbendazin + thiram e thia-
plantas foram ausência e pre ença de estres- bendazole + thiram reduziram o número de
se hídrico, mantendo 60% e 40% da capaci- nódulos, e carbendazin + thiram via peli-
dade de campo 15 dias apó inoculação com culização diminuiu o número de vagem em
o nematoide. Aos 60 dias após inoculação, plantas de soja. De forma semelhante, Cam-
foram avaliadas a matéria fre ca e seca da pos et ai. (2000) haviam encontrado redução
parte aérea e raiz , o número de nematoides de , no mínimo, 20% no número de células do
por grama de raiz e nematoides total (solo e inoculante nas sementes após duas horas da
raiz). O resultado obtido foi que o tratamen- inoculação em sementes tratadas. Sob essas
to de sementes reduziu significativamente a condições, os fung icidas menos tóxicos fo-
população de P. brachyurus, independente ram Thiabendazole + Tolylfluanid, Thiaben-
do regime de água. O estresse hídrico tam- dazole + Thiram e Thiabe ndazole + Captan.
14 - Q UALIDADE SANITÁRIA A PRODUÇÃO E ESTRATÉGIAS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS TRANSM ITIDAS POR SEME TES DE SOJA 245
F lAVIA ANDREA NERY-SILYA - MARIA LUIZA u ES C OSTA - J OSÉ DA C RUZ MACHADO

Entretanto, quando esses fungicidas foram de Bradyrhizobium japonicum I B. elkanii,


deixados 24 h o ras em contato com a bactéria a nodulação e o rendimento de grãos da soja
'
a mortalidad e passou de 60%. Algumas com- não foram afetados pelos diferentes fungici-
binações desses fungicidas foram avaliadas das avaliados (COSTA et ai., 2013).
também em casa de vegetação. Os resultados Uma opção relatada nos resultados de
comprovam os resultados anteriores, de que pesquisa refere-se à substituição do método
os fungicidas aplicados nas sementes redu- tradicional de inoculação nas sementes pela
zem a sobrevivência das células ali presentes, aplicação do inoculante por aspersão no sul-
a nodulação e a fixação biológica de nitrogê- co, por ocasião da semeadura, em solos com
nio (FBN) (CAMPOS et ai., 2000). ou sem população estabelecida. Esse procedi-
Resultados mais recentes também de- mento pode ser adotado desde que a dose de
monstraram que estirpes do rizóbio podem inoculante seja, no mínimo, seis vezes supe-
ser afetadas por determinados fungicidas rior à dose indicada para as sementes. O vo-
aplicados às sementes de soja. o estudo con- lume de líquido (inoculante mais água) usado
duzido sob condições controladas de casa de nos experimentos não foi inferior a 50 L e ha·1 .
vegetação com terra de mata nativa, verificou- A utilização desse método tem a vantagem de
-se um efeito negativo na aplicação dos fun- reduzir os efeitos tóxicos do tratamento de se-
gicidas, promovendo redução no número e mentes com fungicidas e da aplicação de mi-
na matéria seca dos nódulos. a avaliação a cronutrientes nas sementes sobre a bactéria
campo, em solos com população estabelecida (EMBRAPA, 2015).

6.2. Tratamento Biológico


Pesquisadores têm se dedicado a encon- tos com agentes de biocontrole significativa-
trar formas alternativas ao controle químico mente reduziram os danos em sementes e
no sentido de contribuir para a diminuição plântulas em relação às sementes não trata-
desses produtos, somando esforços na dimi- das. Pseudomonas aeruginosa proporcionou
nuição de patógenos nas sementes. aumento na germinação de sementes e sani-
Begum et ai. (2010) avaliaram em seu tra- dade de plântulas de 32,4 a 60% e 56 a 73,9%,
balho os efeitos do Colletotrichum trunca- respectivamente. O tratamento com T. har-
tum em sementes e plântulas. A eficácia do zianum reduziu os danos em pré e pós-emer-
uso de agentes de biocontrole (BCAs), Tricho- gência de 42,8-46,8% e 35-85,1%, respectiva-
derma harzianum e T. virens e uma bactéria mente. Contudo, P. aerugínosa foi , de forma
(BCA) Pseudomonas aeruginosa, foi avaliada geral, comparável a T. harzianum e ao fungi-
sob condições de campo. Os tratamentos con- cida Benlate®. A combinação de tratamento
sistiram de um controle positivo Benlate®, P. de T. harzíanum e T. virens produziu resulta-
aeruginosa, T. harzianum, T. virens, mistura dos comparáveis a T. harzíanum isolado, e T.
de T. virens e T. harzianum, e o controle sem virens foi o menos efetivo dentre os tratamen-
tratamento. O agente de biocontrole Tricho- tos. Os tratamentos com P. aerugínosa ou T.
derma, isolado ou em mistura, proporciona- harzianum ofereceram um efetivo sistema de
ou o crescimento de suas hifas na superfície tratamento de sementes e uma alternativa ao
das sementes, e P. aeruginosa proporcionou fungicida Benlate® para o controle de danos
boa colonização como determinado pela ava- causados à soja por C. truncatum (BEGUM et
liação de unidades formadoras de colônias ai., 2010) .
(UFC) de 1.2 x 109 a 5.1 x 109 semente-1 As condições de pesquisa realizadas por
após 12 horas de contato. Todos os tratamen- Begum et ai. (Z0l0) foram satisfatórias ao
246 D OENÇAS DA SOJA: MELH ORAME TO GENÉTI CO E TÉCNICAS DE MANEJO

E RNANE L EMES - L Eo ARDO C ASTRO - RAFAEL Ass i s

uso de bioprotetores, o que suporta novas principalmente quando a semeadura coinci-


pesquisas . Porém, poucos são os relatos des- de com períodos de estiagem, ao contrário
se tipo de estudo no Brasil até o momen- do fungicida químico carbe ndazin + thiram,
to, e eles não recomendam essa prática em que proporcionou maior ger min ação e emer-
substituição aos fungicidas. Os resultados do gência de plantas. Nesse caso , são sugeridos
trabalho de Mertz et al. (2009) demonstram estudos posteriores com bioprote tores a fim
que o tratamento de sementes de soja com os de testar novas formulações com diferentes
bioprotetores Biotrich (Trichoderma spp.) , concentrações e associações de agentes bio-
HFF turfa fértil e Bacillus pumilus não ofere- lógicos (MERTZ et al. , 2009) .
ceram proteção às sementes de soja no solo,

6.3. Tratamento Alternativo


A utilização de ex tratos e óleos essen- tração de 2 mg mL·1 para os extratos e 20%
ciais de plantas diversas, sejam condimenta- para os óleos essenciais. Em seguida, as se-
res, medicin ais ou de cerrado, no tratamento mentes foram pulverizadas com os tratamen-
de seme ntes é uma outra linha de pesquisa tos e secadas à sombra durante 4 horas em
crescente em vários países. o Brasil esse temperatura ambiente (25 º C). Os tratamen-
tratamento é pesquisado para vários patos- tos utilizados foram Tl = testemunha (água
sistemas, apresentando resultados promisso- destilada), T2 = óleo essencial de gengibre,
res, mas ainda pouco eficientes se p ensarmos T3 = óleo essencial de limão Taiti, T4 = extra-
em substituição ao tratamen to qu ímico. Di- to de pariparoba e T5 = extrato de penicilina.
versos fatores podem interferir nesse resul- O óleo essencial de gengibre proporcionou
tado, como, por exemplo , a metodologia de redução da incidência de 75% de Cladospo-
extração e a dose utilizada do produto, e a rium sp., Rhizopus sp. e Fusarium spp. nas
formulação utilizada, uma vez que vários dos sementes quando comparado à testemunha.
produtos utilizados são fórmu las comerciais Pode-se concluir que o óleo essencial de gen-
diluídas, adquiridas em empresas de cosméti- gibre, na concentração de 20%, apresenta ati-
cos, ao contrário de diversas outras pesqu isas vidade positiva no controle de Cladosporium
em que se utiliza o óleo essencial, puro, em sp., Rhizopus sp. e Fusarium spp. em grãos
concentrações praticamente de 100%. A meto- de soja (GONÇALVES et al. , 2009).
dologia de aplicação também pode ser um fa- Na avaliação do efeito de óleos essenciais
tor negativo, visto que vários desses produtos no crescimento in vitro e in vivo de patógenos
têm seu efeito fungicida na fração volátil do associados a sementes de soja, foram aplicados
produto, e seria necessária metodologia que os óleos essenciais de erva-cidreira, alfavaca,
não permita essa perda por volatilização. capim-cidreira, canela, limão, citronela, euca-
Apesar de a aplicabilidade de óleos essen- lipto, cipreste, pimenta-longa, pitanga e o tra-
ciais não ser uma prática nova em seus di- tamento padrão com fungicida Carbendazim
versos usos no tratamento de ementes essa + Thiram (Derosal Plus®). Os óleos foram
'
pesquisa intensificou-se em seu uso muito re- aplicados em meio de cultura, e culturas puras
centemente. E nesse sentido está a importân- dos patógenos Phomopsis phaseoli var. sojae,
cia do relato de algumas pesquisas realizadas, Fusarium sp. e Macrophomina phaseolina fo-
pois são a base para pesquisas futuras. ram utilizadas para a avaliação in vitro, e poste-
Nos estudos de Gonçalves et al. (2009), os riormente em sementes de soja contaminadas
óleos essenciais e os extratos hidroalcoólicos pelos patógenos. O tratamento realizado com
foram diluídos em água destilada, na concen- óleo essencial de erva-cidreira (Melissa offici-
247
FuwlA ANDREA ERY-SILVA - MARIA LrnZA UNES CosrA - JosÉ DA CRuz MAcHADo

nalis) , cap im-cidreira (Cy mbopogon citratus), sanidade. A utilização dos óleos não interfe-
citronela (Cymbopogon winterianus) e canela riu negativamente na germinação das semen-
(Cinnamomum z ey lanicum) , e o tratamento tes. Nas condições em que os experimentos
com Carbendazim + Thiram inibiram com- foram conduzidos, os óleos essenciais de
pletamente o crescimento micelial dos fungos capim limão, cravo e manjericão inibiram o
testados. Ap esar dos resultados promissores desenvolvimento de Phomopsis sojae e apre-
apresentados pelos óleos essenciais para inibi- sentam possibilidade de uso no tratamento
ção e/ou redução do desenvolvimento in vitro de sementes de soja visando o controle desse
dos patógenos analisados, as respostas in vivo fungo, uma vez que reduzem sua incidência
com a aplicação diretamente nas sementes fo- nas sementes tratadas e não interferem na sua
ram estatisticamente inferiores ao tratamento qualidade fisiológica (SANTOS et a!. , 2014) .
padrão com Carbendazim + Thiram (INÁCIO A utilização de extratos aquosos de alho,
et a!. , 2009). canela e cravo-da-índia na concentração de
O fungo Phomopsis sojae é um dos 20% (400 mL 100 kg·1) reduziu a incidência
principais responsáveis pelo descarte de dos patógenos Alternaria sp., Botrytis sp.,
sementes de soja. A utilização de óleos Colletotrichum sp., Cercospora kikuchii, Fu-
essenciais sobre a sanidade e a germinação sarium sp. , Phomopsis sp., Aspergillus sp. e
de sementes infectadas por P. sojae foi avalia- Penicillium sp. nas sementes em relação à
da pela combinação de 3 óleos essenciais (ca- testemunha, porém o melhor controle foi
pim-limão, cravo e manjericão) em 2 concen- verificado com a utilização do fungicida Car-
trações (0,25% e 0,5%) . Todos os tratamentos bendazin + Thiram (200 ml 100 kg-1) (VEN-
diferiram da testemunha inoculada quanto à TUROSO et a!. , 2009).
6.4. Tratamento Químico de Sementes
O tratamento com fungicidas, inseticidas, da (lote) consiste na mistura de volumes de se-
micronutrientes (Co, Mo) e o revestimento com mentes e calda dos defensivos, em proporções
polímeros e/ou corantes pode ser feito em má- pré-determinadas, de maneira descontinuada
quinas específicas de tratar sementes (Figura (Figura 9A). No tratamento pelo sistema de
8) na unidade de beneficiamento (tratamento fluxo contínuo, tanto as sementes como a cal-
industrial, com rendimentos superiores a 13 t da fluem simultaneamente de forma separada
h·1), como na propriedade do produtor, onde a em fluxos pré-determinados até o momento
última operação é a inoculação com Bradyrhi- do tratamento, quando entram em contato e
zobium japponicum (HENNING et al. , 2010). passam a formar um fluxo único de sementes
Os equipamentos para tratamento indus- já tratadas. A qualidade do tratamento nesse
trial de sementes há dois sistemas predomi- sistema apresenta como avanço a atomização
nantes, o tratamento pelo sistema de batela- da calda, o que possibilita uma distribuição
da (ou intermitente) e o tratamento por fluxo mais uniforme da calda de defensivos sobre as
contínuo. O sistema de tratamento por batela- sementes (Figura 9B).
DOENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNI CAS DE MANEJO
248
ERNANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Assis

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A . o pclo \'Ofurne. B
Figura 9. Equipamentos de tratamento de sementes; A: Tratador profissional - sistema por bateladas; B: Tratador
profissional - sistema de fluxo contínuo. Fonte: Machado et ai. (2006)

A semente pode ser tratada imediatamente forem aplicados micronutrientes e/ou inseti-
antes da semeadura, pelo próprio agricultor, cida, estes devem ser adicionados sequencial-
utilizando máquinas de tratar sementes (MTS) mente e nunca misturados com o inoculan-
com capacidade de 60 sacos h·1 (Figura lOA) ou te (HENNING et ai., 2010). As sementes, em
com o uso de betoneira (Figura lOB) ou de um pequenas quantidades, para fins de pesquisa,
tambor giratório com eixo excêntrico. Durante por exemplo, podem ser tratadas manualmen-
a operação de tratamento com fungicidas, se te, utilizando sacos plásticos (Figura 11).

-

• TRANSMITIDAS POR SEMENTES DE SOJ,
14 Q UALIDADE SANITÁRIA NA PRODUÇÃO E ESTRATEGIAS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS
FIAVIA ANDREA N ERY-SILVA - MARIA L urZA N UNES C osTA - J osÉ DA C RUZ MACHADO

Figura 11. Tratamento químico manual de sementes. Foto: COSTA, M.L.N . (2012)

7. Considerações finais
A cadeia produtiva da cultura da soja está dem para proteger esse sistema e
amplamente distribuída pelas áreas agrícolas é que semente não é um grão q
brasileiras e representa significativa contri- Portanto, ela carrega consigo um
buição no agronegócio. Como tal, deve ser características, seus atributos dt
conduzida por todos seus partícipes visan- que permitirão que todo o seu p 1

do a manutenção de todas as contribuições expresso nas diversas condições


geradas pelos diversos setores após anos de ra. E, a depender do nível tecnol,
investimentos e pesquisas. A semente de alta do, suportar condições inadequat
qualidade é primordial para garantir a con- adura, o que certamente uma ser
tinuidade desses resultados. A palavra de or- salva ou pirata, não suportaria.

8. Referências bibliográficas
BARROCAS, E.N. Métodos de detecção de Sclerotinia sclerotiorum em sementes. ln:
ABRATES , 21(3). 2011. Disponível em: <http://www.abrates.org.br/images/stories/infom
palestras_Simposio_Patologia_Sementes. pdf>. Acesso em: 1O nov 2014.
BORTOLINI, G.L. et ai. Controle de Pratylenchus brachy urus via tratamento de semente
Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, 9 (17) , pp . 818-830. 2013.
BOTELHO, L.S. et ai. Detection of Sclerotinia sclerotiorum in soybean seeds by com
quantitative PCR techniques . ln: Journal of Seed Science. 2015 . Disponível em: <-
org/10.1590/2317-1545v37n1141460>. Acesso em: 3 mar 2015.
BRAND, S. C. et ai. Qualidade sanitária e fisiológica de sementes de soja submetidas a tra
bioprotetor e fungicida. ln: Revista Brasileira de Sementes, 31(4), pp. 87-94. 2009.
BRASIL. Ministério da Agropecuária e Abastecimento (MAPA). Guia de inspeção de e
produção de sementes. 3. ed. Brasília: MAPAIACS , 2011. 41 p .
BRZEZINSKI, C.R. et ai. Eficiência de fungicidas para controle da ferrugem asiática da soja e
na produtividade e na qualidade de sementes. ln: Informativo ABRATES, 22 (3), pp. 84-
CAMPO, RJ. et ai. Estudo da compatibilidade em aplicação conjunta nas sementes entt
micronutrientes e inoculantes, sobre a sobrevivência do Brady rhizobium e a efi;iênct
biológica de nitrogênio. ln: Embrapa Soja. Documentos, 142. Resultados de pesquisa
Interação entre o estado nutricional
e o desenvolvimento de doenças

RAFAEL TADEU D E Assis


ENGENHEIRO AGRÔ NOMO , M E.
Universidade Federal de Uberlândia
GASPAR HENRIQUE KoRNDóRFER
ENGENHEIRO AGRÔNOMO , ME. , DR.
Universidade Federal de Uberlândia

1. Introdução
O efeito da nutrição mineral na cultura da aparente resistência pode ser alcançada quan-
soja quase sempre é visto sob a ótica do aumento do existe uma relação entre os estádios de cres-
da produtividade. No entanto, ela afeta a resis- cimento mais suscetíveis da planta hospedeira
tência genética da planta, facilita ou não o escape e o período de maior atividade dos patógenos
ao patógeno e a alteração da sua patogenicidade, (MARSCHNER, 2012). Devido a esta relação recí-
virulência e habilidade de sobrevivência (HU- proca e à fácil manipulação pelo homem, a nutri-
BER e ARNY, 1985; HUBER e WIHELM, 1988). As ção mineral torna-se uma opção viável no mane-
plantas podem responder de diferentes manei- jo integrado de algumas doenças de plantas.
ras à presença de patógenos em seus tecidos. O A nutrição mineral desempenha um papel
estado nutricional em que se apresentam relacio- essencial e funcional no desenvolvimento e
na-se diretamente às respostas por elas expressa- crescimento da soja e tem sido o componente
das. O desequilíbrio nutricional, seja por excesso primário no controle de doenças desta cultura.
ou falta de determinados nutrientes, favorece o Os nutrientes essenciais estão envolvidos em di-
estabelecimento de enfermidades conforme o(s) versos processos fisiológicos e bioquímicos na
nutriente(s) em desequilíbrio nos tecidos do ve- planta: ativadores enzimáticos, componentes
getal (PAIVA, 2013). estruturais e reguladores metabólicos (MARS-
Dessa forma devido ao seu efeito no padrão de CHNER, 2012). Eles são fornecidos às plantas
crescimento, na' morfologia, na anatomia e parti- nas formas orgânicas ou inorgânicas, porém é
cularmente na composição química da planta, os interessante salientar que a disponibilidade de-
nutrientes minerais podem aumentar ou diminuir les é dependente de alguns fatores do solo como
a resistência das plantas às doenças. Resistência é a textura, pH, teor de umidade, temperatura,
principalmente determinada pela capacidade do retenção nas argilas, atividade microbiológica
hospedeiro em limitar a penetração, o desenvol- e a eficiência da planta em utilizá-los. Táticas
vimento e a reprodução do patógeno invasor a de controle como a rotação de cultura, adição
ele, enquanto que tolerância é a capacidade do de compostos orgânicos ao solo, correção da
hospedeiro em manter seu próprio crescimento acidez do solo e a irrigação frequentemente in-
e desenvolvimento mesmo com a presença do fluenciam a ocorrência de doenças através da
patógeno infectante (LIMA FILHO, 2009). Uma interação com os nutrientes (HUBER, 1989).
254
ERNAN E L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

É essencial o conhecimento do estado nu- atender a atual demanda do mercado por ali-
tricional da planta devido à resposta diferen- mentos saudáveis, reduzindo o uso de defensi-
ciada de cada nutriente em condições de defi- vos e podendo integrar as estratégias de con-
ciência ou de excesso. A indução de resistência trole de doenças.
por meio da nutrição mineral adequada busca

2. Os nutrientes minerais e as doenças de plantas


2.1. Nitrogênio
É muito bem documentado que a aplicação agentes causais das ferrugens e oídios, e dos
de nitrogênio estimula o crescimento, aumenta hemibiotróficos, como, por exemplo, Pyricu-
a produção e tem efeitos secundários no desen- laria oryzae, Phytophthora spp. , entre ou-
volvimento da planta, aumentando ou diminuin- tros (KÜRSCHNER et al. , 1992). Um efeito do
do a suscetibilidade aos diversos fitopatógenos. nitrogênio e do potássio, em doses baixas e
O nitrogênio frequentemente aumenta a altas, sobre alguns patógenos pode ser obser-
severidade de patógenos biotróficos, como os vado na Tabela 1.

Tabela 1. Efeito de níveis de nitrogênio e de potássio na severidade de algum as doenças .

--
Nível de Nitrogênio Nível de Potássio
Patógeno
Baixo Alto Alto
Puccinia spp il + +++ ++++ +
L
Alternaria spp 1
+++ + ++++ +

Fusar'ium spp 1
+++ + ++++ +
1
Xantomonas spp +++ + ++++ +

+ = severidade da doença
Fonte: adaptado de Zambolim e Vale (1997) .

Punja (1989) observou que o nitrogênio dade da doença, enquanto que a aplicação de
nas formas amoniacal e nítrica controla a po- sulfato de amônia aumentou a doença (PIE-
dridão do colo causada por Sclerotium rolfsii. NI G et al., 1969) .
O mecanismo pelo qual o reduziu a doença Em soja, a deficiência de nitrogênio está
deve-se ao efeito tóxico ao patógeno, devido associada a uma alta taxa de podridão das ra-
à amônia liberada e, indiretamente, à exposi- ízes por Rhiz octonia solani. Em "turfgrass",
ção dos escleródios ao antagonismo por mi- o baixo nível de N promove uma diminuição
crorganismos, os quais tiveram a sua popula- do ataque de Rhizoctonia solaní em relação a
ção aumentada. níveis normais e a severidade foi muito maior
A severidade de Gaeumannomyces grami- a níveis elevados de N.
nis var. tritici foi reduzida pela aplicação de Pacumbaba et al. (1997) estudaram o efeito
sulfato de amônia em cobertura, pai o fungo da adubação NPK nos níveis de O kg ha·1 , 50 kg
manifesta-se com maior intensidade em solos ha·1, 100 kg ha·1, 150 Kg ha·1 e 200 kg ha·L na
deficientes em N (BRENNA , 1993). A aplica- incidência de doenças em soja. Plantas de soja
ção de uréia em pré-plantio reduziu a severi- fertilizadas com a formulação 20-20-20 tiveram
l5 J TERAÇÁO ENTRE O ESTADO
RAFAEL Assis - G ASPAR H Ei ruQUE K oRNDÕRFER

1 Pela Tabel,
menor incidência de podridão radicular causa-
da por Phy tophthora megasperma f.sp. glyci- trogênio, nítri
nea e com o vírus do mosaico da soja. influência soe

Tabela 2. Efeitos de formas inorgânicas de nitrogênio sobre doenças de pi;

Gênero da espécie
Formas de Nitrogênio
Hospedeiro
patogênica Nitrato Amoniacal
Tombamento
1
Rhizoctonia Beterraba 01 A1
Podridão das raízes e caule
Phytophtora Citros A
Fusarium Citros
Rhizoctonia Feijão D
'

Fusarium Feijão D A
Aphanomyces Soja D A
Aomyces p Ervilha D A
Pyhium
Ervilha
A D
Aphanomyces
Milho
D
Pyhium A
Milho
Fusarium A D
Milho
Diplodia D
A
1
Milho
~
Poria - 1

p inus
A
D
Armillaria - Pi nus
D
A
~Fusarium - D
A
Trigo
Helminthosporium - Trigo
D
A
~ Rhizoctonia -- Tri go
D
A
~ ercosporelJa - , D
Tri go A
1
~ aeumannomyces - D
_!_hielaviopsis -- Tri go
Fu mo
A
IA
D
Phymatotrichum -- D
Rhizoctonia
~-
j Streptom~~ :
- ___,,.
-
-~
.. Alg Odão
B'atata
A
A
D
~
D
256 Ü OENÇAS DA SOJA:_MELHORAMENTO GENÉTI CO E TÉCNI CAS DE MANEJO

ERNANE L EME - L EO ARDO CASTRO - RAFAEL Ass,s

• ' f ...-·.
Doenças Vasculares _ ·· ~t~(
Fusarium i Algodão D A McNEW (1953 )
1

Fusarium Tomate 1
D A WALKER et ai. (1954)
Pseudo monas Tomate A D GALLEGLY e WALKER (1 949)
Corynebacteri1:.1m Tomate A D WALKER et ai. (1954)
~

Verticillium Tomate A D WALKER et ai. (1954)


Verticillium Batata A D WILHEIM (19510
Corynebacterium Batata A D WALKER et ai. (1954)
Fusarium Repolho D A WALKER (19490
Erwinia Milho A D McNEW e SPENCER (1939)

Doenças Foliares
Erysiphe Trigo A D LAST (1953)
__________
~================
Pucciriia _. Trigo
===::=:._
A D DALY (1949)

Doenças Foliares
Colletotrichum Tomate A D WILLIAMS (1965)
Helminthosporium Milho D A NELSON (1963)

Pyricularia Arroz D A PABHAN (1953)

Botrytis Feijão D A SOL (1967)

. · ========- Nematoides
Globodera Soja A D BARKER et ai. (1971)

Gtobodera Fumo A D MILLER e WIHRHEIM (1966)

Xiphinema Pêssego D McNEW (1953)

Meloídogyne Pepino A D HUBER (19800

PVY Batata D BAWDEN e KASSANIS (1950)

PVX Batata D BAWDEN e KASSANIS (1950)

Tabaco A BAWDEN e KASSANIS (1950)

TMV N. glutinosa D BAWDEN e KASSANIS (1950)

PVX Tomate D BAWDEN e KASSANIS (1950)

1: A= aumento da serevidade; D = decréscimo da severidade.

A fonte de nitrogênio nítrica pode reduzir Dos efeitos marcantes do nitrogênio sobre
a severidade da doença causadas pelos patóge- doenças em plantas, destacam-se os nematoi-
nos Fusarium, Rhizoctonia e Aphanomyces. Já des. Estudos sobre o efeito de N na atividade de
para os fungos Gaeumannomyces, Diplodia, Heterodera glycines revelaram que a aplicação
Pythium e Streptomyces, a fonte amoniacal de a N0 3 ou NHi N0 3 na concentração de 56
é mais importante (HUBER e WATSON apud ppm a 896 ppm de N no solo reduziu o ataque,
ZAMBOLIM e VENTURA, 1993). penetração e desenvolvimento de cistos do ne-
257
RAFAEL AsSI - GASPAR HENRIQUE K ORNDÕRFER

matoide. Efeito inibidor foi positivamente corre- aquelas que receberam amorna. Em geral, a
lacionado com a concentração de N, sendo que aplicação de amônia promove um decréscimo
uma concentração acima de 112 ppm acarretou na quantidade de injúrias causadas pelos ne-
uma redução no número de ovos por cistos. matoides, como também no número de ovos
Já estudos sobre o efeito de fontes de ni- produzidos em raízes infectadas.
trogênio sobre Meloidogyne incognita mostra- Observe, na Tabela 3, que a forma de nitro-
ram que tanto o número de fêmeas maduras gênio amoniacal sempre está correlacionada
quanto o número de massas de ovos produzi- com decréscimo da severidade de nematoides,
do por grama de raiz foi maior em plantas que ao passo que a forma nítrica esta relacionada
receberam nitrato quando comparadas com com aumento.
Ta bela 3. Efeito de formas inorgânicas de nitrogênio sobre fitonematoides

Formas de Nitrogênio
Hospedeiro Patógeno Referência
Amoniacal
Soja Heterodera A1 01 Barker et ai. 1971
r=:======::::::
Fumo G/obodera A D Miller e Wihrheim , 1966

Pepino Meloidogyne A D Huli>er, 1980


Feijã0 Meloidogyne incognita A D Huber, 1994
---~-----L
1: A= aumento, D = decéscimo da intensidade de doenças.
Fonte: Huber (1 980 , 1994).

2.2. Fósforo
O fósforo aumenta a resistência das plan- Para o mal do pé do trigo, o aumento no
tas por aumentar o balanço de nutrientes na teor de fósforo nas raízes correlacionou-se com
planta ou por acelerar a maturação da cultura, um decréscimo da exsudação de aminoácidos,
aux iliando-a a escapar da infecção por patóge- se comparado com plantas que não receberam
nos que têm preferência por tecidos jovens. Em fósforo (GRAHAM e MENGE, 1982).
raízes com baixo nível de P, foi observado um O fósforo e o potássio podem limitar a área
decréscimo de fosfolipídios, com um corres- onde o fungo Puccinia graminis, agente cau-
pondente aumento na permeabilidade da mem- sal da ferrugem em trigo, cresce; isto porque
brana celular e da exsudação radicular, tendo o faz com que o tecido da folha fique mais enri-
inverso sido observado em altos níveis de fósfo- jecido, em contraste com tecidos mais flácidos
produzidos por doses excessivas de nitrogênio
ro. De acordo com esses resultados, a exsuda-
(HUBER, 1980).
ção das raízes influencia na atividade de pató-
genos, desde que o fósforo induza decréscimo Com relação ao mal do Panamá, causado
pelo fungo Fusarium oxy sporum f.sp. cuben-
na exsudação radicular, o que é correlacionado
se em bananeiras, a aplicação de doses eleva-
com um decréscimo na severidade da doença.
das de fósforo afetou a absorção de zinco pela
Alas-Garcia e Bustamante (1993), após tes- planta e, de forma indireta, poderia estar in-
tarem diferentes níveis de calcário (O t ha·1 , 1 t terferindo nos mecanismos de resistência da
ha·1 e 4 t ha·1) e de fósforo (0,300 kg e 600 kg planta (BORGES-PEREZ et ai. apud ZAMBO-
de P2 0 5 ha-1) com o intuito de controlar Alter- LIM e VENTURA, 1993).
naria solani, verificaram que a resistência foi Altas doses de fósforo aumentaram a se-
aumentada devido ao efeito do calcário. veridade da murcha de fusa✓ ri·o e m tomate e
258 D OENÇAS DA S OJA: MELHORAM ENTO GE tnco E TÉCNICAS DE MANEJO

E RNANE L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL As I

a combinação de altas doses de calcário com Com relação às nematoses, resultados be-
baixas doses de P diminuiu a doença (WOLTZ néficos na redução da população d e Meloido-
e JONES apud JO ES et ai. , 1989). Isaac (apud gyne em feijão e pepino foram obtidos com a
PE NYPACKER, 1989), observou um aumento aplicação de doses crescentes d e fósforo.
na severidade da murcha de verticillium sob Uma demonstração do efeito de diversos
altas doses de uperfosfato. nutrientes, entre eles o fósforo, influenciando
certos fitopatógenos é mostrado na Tabela 4.
Tabela 4. Interações de alguns nutrientes minerais e vários patógenos de plantas .
BACTÉRIAS
Clavibacter
11mm1111mm1111am1111m
Tomate A1 A
míchigane.nse

Maçã e pera A A ± D
Erwinia amylovora
Repolho D D D
Pseudomonas Tabaco e
D A D D
salanacearum tomate

' Xantomonas Algodão D A D


malvacearum
1 Xantomonas oryzae Arroz A A
-Xantomonas pruni Pêssego D D
VÍRUS
Tabaco D A D D
PVX
Tomate D A D D
Tabaco,
Vírus do Mosaico do
tomate e A ± ± D D D
fumo
feijão

Feijão, lima
Meloidogyne incognita D A A ± D
e pepino
Meloidogyne javanica Tomate ± D D D
Tylenchu/us
Citros A A A D
semípenetrans

Batata e ±
Alternaria solanl ± D D D
tomate
Ervilha e
Altrenarla coclhioides D A D D D
beterraba
Armíllana me/lea Pinus A D

Tomate e D D
Botrytís cinerea A D A
feijão
Bremia lactucae Alface A A D
259
RAFAEL Assis GASPAR H E RIQUE K ORNDÓRFER

FUNGOS
Cercospora oryzae Arroz A D
Dip/odia zeae Milho D A A
Cereais de
Erysiphe graminis D A ± D
inverno
Helminthosporium Cana-de-
saccharl açúcar
A D D

Helminthosporium
Trigo D D D
sativum
Helminthosporium
Milho A D D
turticum
Arroz e
Gaeumannomyces
cereais de D A D D
graminis
inverno
Peronospora parasitica Repolho A D A
Phymatotrichum
Algodão D A A D A A
omnivorum
Phytopthora citrophtora Citros A D
Phytophtora infestans Batata ± ± D D
Pyricularia oryzae Arroz A D D
Plasmodiophora
Crucíferas ± D A A D D D D
brassicae
Legumes e A D
Rhizoctonia so/ani A D D
cereais
Sclerotinia sclerotiorium Tomate A D
Tomate e e
Sclerotium roffsii A D
beterraba
Sphacelotheca sorghi Sorgo D D
Streptomyces scabies Batata D A D A A
Feijão e D D
Thielaviopsis basicola A
tabaco
Urocystis tritici Trigo A D A A
Algodão,
Verticilium albo-atrum tomate e D ±
batata
1: A= aumento da severidade; D = decréscimo da severidade; ± efeitos do hospedeiro e do meio ambiente

Zambolim e Ventura (1993), mencionam a nível de P em certo ca o poderá aumentar


combinação de doses cre centes de fósforo e a everidade de ataque de outra doença , en-
de potássio na redução do ataque da cerco - tre ela a ferrugem da cana cau ada pelo fungo
porio e em cafeeiro. Entretanto, o aumento do Puccinia malanocephala.
260 D OE ÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNI CAS D E MANEJO

ERNANE L EMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL Assrs

2.3. Potássio
Dos macronutrientes citados na literatura penetração tanto de fungos como de insetos.
científica, o potássio é o elemento que apre- O potássio tem ação clara e bem definida na
senta consistentes resultados positivos na re- resistência às doenças causadas tanto pelos pa-
dução da incidência de doenças. A deficiência tógenos obrigatórios como pelos facultativos.
de potássio provoca acúmulo de aminoácidos Quando da deficiência de potássio nas folhas ,
solúveis, que são nutrientes de patógenos. existe acúmulo de putrecina nos bordos fo-
A elevada suscetibilidade de plantas de- liares, causando senescência das células desta
ficientes em potássio a certas doenças está região e favorecendo penetração e desenvolvi-
relacionada com as funções metabólicas do mento de microrganismos necrotróficos e sa-
potássio. Em plantas deficientes, a síntese de profíticos, principalmente.
compostos de elevado peso molecular (pro- Avaliando-se o efeito da adubação potássi-
teínas, amido e celulose) é diminuída e com- ca via solo sobre infecção por Phomopsis sp e
postos orgânicos de baixo peso molecular danos causados por percevejos em sementes de
acumulam-se. Em plantas deficientes em K, soja, os autores observaram que, mesmo nas
um aumento no seu fornecimento conduziu a doses de K em que a resposta à produção é mar-
um aumento no crescimento e diminuiu o con- ginal (por exemplo, 80 kg ha-1 de K2 0 contra 40
teúdo de compostos orgânicos de baixo peso kg ha-1 de K2 0), há melhoria na qualidade da se-
molecular até o ponto em que o crescimento é mente com redução da infecção por Phomopsis
máximo. Por outro lado, aumentos no nível de sp. e no dano por percevejo (BORKERT et ai. ,
K na planta além do ótimo não causam efeitos 1985; FRANÇA NETO et ai., 1985).
substanciais nos constituintes orgânicos das A adubação com potássio reduziu em gran-
plantas, nem na resistência a doenças. de parte a taxa de infecção das raízes por Fusa-
A deficiência em potássio também retarda rium oxysporum f.sp. apii e, dentre as formula-
a cicatrização das feridas , favorecendo a pe- ções utilizadas, nitrato de potássio, sulfato de
netração dos patógenos. A perda do turgor potássio e cloreto de potássio, este último foi o
celular pode ser um fator físico que facilita a que proporcionou os melhores resultados.
Tabela 5. Efeito de níveis de nitrogênio e potássio na severid ade de doenças

----
Nível Nitrogênio · Nível Potássio
Patógeno
Alto
=========~--.,
Fusarit.Jm oxysporum
(murcha e podrídões) __
...;.._

+
....
+++ +

=baixa severidade; ++++ =alta severidade .


++++ +

Fonte: Marshner (1 986).

A aplicação de cloreto de potássio em va- (1987) em cevada. Quando aumentou o nível


sos plásticos com solo (0,5 g planta- 1) , antes da de potássio na adubação, a ferrugem de risca
inoculação com Puccinia striformis, reduziu a (Puccinia striformis) e a ferrugem das folhas
severidade da ferrugem amarela do trigo em (Puccinia recondita) tiveram as suas severida-
cultivares de inver no. Em condições de cam- des decrescentes.
po, o cloreto de p otássio e o cloreto de sódio O efeito do K na resistência à Verticillium so- ·
também reduziram a severidade da enfermida- mente é evidente em solos deficientes neste ele-
de em cultivares de inverno (RUSSELL, 1978). mento (PENNYPACKER, 1989). Hafez et ai. (apud
Resu ltado semelhante foi observado por Arafa PENNYPACKER, 1989), verificou um relação en-
261

tre um aumento nas doses de K e o nível de resis- Dois isolados de Verticillium dahliae causa-
tência à murcha de verticillium, contrariando os ram um gradual desenvolvimento de deficiência
dados de I aac (apud PE NYPACKER, 1989). de potássio em folhas de algodão, como necro-
Ito et a!. (1993) observaram que a redução se e clorose, típico da murcha de verticillium,
na severidad e da queima foliar em plantas de sugerindo que a infecção pelo fungo causa um
soja foi inver amente proporcional ao efeito sintoma de deficiência deste elemento, devido a
residual das do es de K aplicadas no solo (Okg um prejuízo na sua absorção e translocação (De
ha·1, 150 kg ha·1, 300 kg ha·1, 450 kg ha·1 e 600 Vay et al., 1997). Gour e Dube (1985) mencio-
kg ha·1 de K2 0 ) e à concentração desse elemen- nam que o patógeno produz metabólitos com
to nas folhas. uma alta afinidade pelo íon K+.

2.4. Cálcio
O cálcio tem um papel crítico na divisão e das enzimas pectinolíticas produzidas pelo pa-
desenvolvimento celular, na estrutura da parede tógeno em atuar sobre os pectatos de cálcio da
celular e na formação da lamela média. É rela- parede celular.
tivamente imóvel nos tecidos. Complementa a A adição de cálcio ao solo afetou a germi-
função do potássio na manutenção da organi- nação dos oósporos de Pythium aphanider-
zação celular, hidratação e permeabilidade. Está matum e o comprimento do tubo germinativo
envolvido na mitose, ativação e regulação enzi- de Py thium splendens. A explicação para tal
mática e funcionamento das membranas. observação deve-se a uma modificação na ati-
O cálcio é essencial para a estabilidade das vidade microbiana do solo e também ao cál-
biomembranas. O conteúdo de cálcio nos tecidos cio ser essencial para a conversão da pectina
das plantas afeta a incidência de doenças parasíti- à pectacto de cálcio na parede celular, o qual
cas de duas formas: na primeira, quando os níveis é resistente à degradação pela enzima, produ-
de cálcio são baixos, o transporte de compostos zida por certos patógenos (KO e KAO, 1989).
de baixo peso molecular (açúcares) do citoplas- Segundo Huber (1980) , plantas deficientes
ma para o apoplasto é aumentado. a segunda, em cálcio ou em magnésio são suscetíveis ao
poligalacturonatos de cálcio são requeridos na la- ataque por Rhizoctonia solani. Segundo este
mela média para que haja estabilidade da parede mesmo autor, variedades resistentes de feijão
celular. Muitos fungos e bactérias fitopatogênicos com baixos teores de potássio nas folhas, mas
alcançam o tecido da planta pela produção de en- com altos teores de cálcio e magnésio, apre-
zimas pectolíticas extracelulares como a galactu- sentaram uma alta resistência às enzimas de
ronase, que dissolvem a lamela média. A ativida- degradação produzidas por Botrytis sp.
de desta enzin1a é inibida pelo cálcio, implicando Castano e Kernkamp (1956) relataram que
na resistência a várias doenças. células corticais de soja de plantas deficientes
Muchovej et a!. (1980), relatam que a apli- em cálcio desenvolveram-se pobremente com
cação de cálcio na cultura da soja resultou num parede celular fina, lamela média pouco desen-
controle da antracnose, causada por Colletotri- volvida e largos espaços intercelulares. Concluí-
chum dematium var. truncata. Os autores atri- ram que esta condição permitiu a penetração e
buíram os resultados obtidos à pobre atividade invasão de hifas de Rhizoctonia solani.

2.5. Magnésio
Como um constituinte da clorofila, o mag- menta das plantas, mitose, níveis de proteínas,
nésio é importante na fotossíntese. Está tam- metabolismo de carboidratos e fosforilação
bém associado com a velocidade de cresci- oxidativa em células fisiologicamente jovens.
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' 111 n ·1

in ·orp r :. ·noá ·i -
ína.-. nzimas, , ita mir fer-
n ·, 1i11i" ' l 11 • i- l · . É ·apaz d p r m r cr cim n to
it ·w, ,; -, · n. · frc. d ' raiz "' e nodu la ão d 1 gumin a .

.7. Zinco
t un , n nt _. d mui ~ 'clerotiwn pil orum. Phytophthora infe ·tans
· tt :. f um ua dire .m1 nr o,:rn pora pp .. Bura:e Per et ai. (199 1)
l ·1tt ... 1 · a acarrera r- ob~·en-:iram que a fertilização com zinco por trê
1 imt1.Tid. d 1 m n ra áti . au- ano reduziu ~ignifi ativam nt a in id "n ia d
1 ··n .md ,. pc r nseguint . a su ilidade a Fu arium oxysporum f. p . cuben i ·.
d lt'I _. ,· fün~1~ de\id à sua preterênàa de e
Porém, para o utro fitopatógeno . o zinco
Li... •u .\ _mJ()l.Y d n minad d H. ua d fiàên-
:ü pc j . também. reduzir a n ntração de áci- pode resultar e m uma maior v rida d e ou
do ind l a · à . De acordo com Huber (19 O). incidência de doença , tai como: anth omo-
_'\! d m mo e m ido indutor de re i tência nas campestris p v. oryzae, Drech lera uc-
e )ntra e rto. firopatógen , entre ele : Bipolaris cans, Penicillium italicum, Cerco ;_pora pp.
,·p .. Fusari.um culmorum, ertícillium dahliae, e Ustilago tritici.
26

2.8. Cobre
Um 1 ran i • núm ·r d · 1 at , eno - pod er plicaçã foliar d Zn u , e Zn+ u+Mo foi
' ·nsív 'l · a1 li -a 'à te br : P udomona fetiva em r duzir a r qu ima em tomat (6- a
, _ ri11g l
1
l v. pi. as oli ola, antbomonas ci- 92 o). a aplicação no olo aumenta a produção
lri, _,, 11tbomo11a ~ 0 1~) ' ae, aeumannomyce (TREHAl et ai., 199-). K inath e Loria (1989)
"l'amwrs ar. trili i Pbytophtbora palmivo- ug riram que a arna da batatinha ( . scabiens)
ra , ;1 m, r /la ingulata. erticillium albo- pod ria er controlada com u Ü -1, poi o íon Cu
•atrum , Botryli ' iuerea, ncinula necator é tóxico ao fungo. a prática porém, o eu u o
' ptoria itri, lternaria porri, [terna ria so- não é bem difundido de ido ao efeito negati-
lani 'o,yn pora ca iicola. o no cre cimento e na produção das plant, .
br " ~ um l m nto componente da Prima e i et ai. (apud CHABO O 1987),
n z ima p lifi nol o, ida po ui grande afi- mo traram , influência benéfica do manga-
ni iad por proteína . tua, também, na bio - nê, do cobre no controle da bru one do ar-
de lignina na produção de fenói roz; além di o, o Mn aumentou a quantidade e a
i qu idam a ub tânci tóxica de- qualidade da colh ita. im, eles ão capaze de
n minada quinona . agir obre a re istência da planta por sinergi mo.

2.9. Boro
mo para o outro elemento , o boro betae, Fusarium o:xysporum f.sp. lycopersici,
tamb ~ m pode reduzir ou aumentar a everi- Puccinia recondita , Ustilago trifiei, Tobacco
dad d alguma doença . O papel do boro é mo aic iru e Potato viru X.
d E nder a planta ati ando a ínte e de lignina,
Edgington e Walker (apud Jone et al.
atuar no metaboli mo de fenói e de proteí-
1989), demo traram que a influência do boro
na e no transporte de carboidrato (H BER,
19 O) . Entre o patógeno controlado pelo na everidade da murcha de fu ário foi depen-
boro, cita- e: Bipolaris sativum. Fu.sar-ium so- dente do suprimento em cálcio. Teores de cál-
lani f. p . phaseoli, Pia modiophora brassicae. cio de até 100 ppm com do es crescentes de
Ery -iphe 0 raminis, Melampsora lini, Phoma boro diminuíram a everidade da doença.

2.1 O. Manganês
O alto nível de Mn no tecido de cultivares do que nos irrigado tem sido atribuída ao au-
d trigo r i tente ao mal do pé (em opo ição mento na ab orção de Mn pelas planta (CHO-
ao baLxo ní el cultivares u cetívei ) tem ido O G-HOE et ai. apud H BER, 1988).
correlacionado com a baixa população de bac- O controle da arna da batatinha pelo pH
téria oxidante de Mn na rizo fera das planta
baixo de ido à adição de enxofre tem ido
(H BER e MB R apud H BER, 1988), poi
atribuído também ao Mn , tendo em vi ta o au-
a tran formação do MnH ou Mn..+ (in olú ei )
mento na ua di ponibilidade (McGREGOR e
para Mni+ ( olú el) é altamente dependente
WIL ' Or apud H BER 19 ) .
do pH da umidade, do nutriente , de inibido-
re da nitrificação. da matéria orgânica e da ati- murcha va, culare - ão diminuída p Ia
idad bioló ica no ·olo (GRAHAM e Tir KER adi - de Mn no ·olo. ita- - m .~ mplo a
apud H BER. l mu ha do . l d ire (Fu •ariwn O.\J' po,·um
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264 Ü OENÇAS DA SOJA : MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCN ICAS DE MANEJO

ERNA E L EMES - LEONARDO CASrno - RAFAEL Assis

O efeito da calagem no aumento da mur- Cultivares de tomate resistentes às nemato-


cha em algodão (Verticillium albo-atrum) ses possuem um sistema de ácido indo! acético
foi associada com um decréscimo na dispo- mais ativo, o qual requer o Mn como co-fator
nibilidade de Mn no solo, pois ele interfere (Ganguly e Dasgupta apud Huber, 1988). Cul-
na pigmentação do micélio e na produção tivares de ervilhas mais resistentes ao míldio
dos escleródios, os quais são essenciais para possuem maior concentração de fenóis do
a sobrevivência do fungo no solo (Shao & Foy que as cultivares suscetíveis (SINDHAN e PA-
citados por Huber, 1988).0 Mn pode ser di- RASHAr apud HUBER, 1988). A aplicação foliar
retamente tóxico aos fungos Rhizoctonia, Fu- de Mn, o seu possível uso no tratamento de
sarium e Pythium (ASSCHE e DEMEY apud sementes ou aplicado no solo, poderá ser uma
HUBER, 1988). estratégia de controle de muitas doenças.

2.11. Cloro
Elmer (1997) estudou o efeito do NaCl tida por patógenos do sistema radicular, ou a
combinado com Ca(N0 3) 2 e (NH4) 2S0 4 no de- redução na quantidade de ácidos orgânicos li-
senvolvimento de Rhiz octonia solani em be- berados como exudatos das raízes que são su-
terraba. Observou que, na ausência de NaCl, pridas com cloro. Esta alteração no exsudatos
o nitrato de cálcio suprimiu a doença mais do radiculares poderia prejudicar os patógenos das
que o sulfato de amônia, mas a adição de clo- raízes, por conta dos substratos de que eles ne-
reto de sódio junto com o nitrato de cálcio não cessitariam para a patogênese (ELMER, 1992).
aumentou a produção. Análise foliar revelou Tinline et al. (1993) verificaram que a seve-
que o sulfato de amônia aumentou os teores ridade da podridão comum das raízes do trigo
de N, P, S, a, Cl e Mn mais do que a aplica- diminuiu em 5 dos 8 anos testados com a apli-
ção de nitrato de cálcio. O aCl aumentou os cação de KCl em comparação com a aplicação
teores de a, Cl e Mn. O autor concluiu que o de P e N sozinhos e de P e N juntos. O CI, mas
NaCI poderia ser usado no manejo da doença, não o K, reduziu a severidade da doença em
pois este íon aumenta o crescimento e a pro- 4 dos 11 experimentos realizados com trigo
dução da beterraba. e em 7 dos 11 experimentos realizados com
O íon cloro inibe a nitrificação e tende a cevada. O mecanismo pelo qual o íon cloro re-
manter o na forma de H4 • , o qual pode duziu esta doença ou outras doenças em trigo
afetar a população microbiana na rizosfera e a e cevada deve-se, possivelmente, a um decrés-
disponibilidade de elementos traços, reduzindo cimo no teor de N0 3-N em plantas de trigo e
a d isponibilidade do 0 3- residual (Huber, cevada. O KCl decresce o teor de N0 3 -N nas
1989). O íon cloro também diminui o potencial plantas através da competição por sítios de ab-
de água na planta, o que pode aumentar a ha- sorção nas raízes das plantas e a diminuição
bilid ade da planta em manter o turgor quando dos teores de NOrN predispõe a planta ao ata-
a absorção de águ a pelas raízes for comprome- que pelo patógeno (GOOS et al., 1987).

2.12. Ferro
De acordo com Zambolim e Ventura (1993), A deficiência de ferro tem diminuído a seve-
quando o ferro n ão está disponível para o ridade da murcha de fusário em tomate (Fusa-
fungo, devido à ação de um agente quelante, rium oxysporum f.sp. lycopersici) , isto porque
como o EDTA, as lesões tendem a ser maiores, as bactérias do solo produzem sideróforos, o
como aquelas causad as por Botrytis cinerea quais complexam o ferro, reduzindo a sua di -
em Vicia / a ba. ponibilidade para o fungo QONES et al., 1989).
15 - l TE RAÇÃO ENTRE O E TADO NUTRICIONAL E O DESENVOLVIME TO DE DOENÇAS 265
RAFAEL Assis - G AS PAR H EN RIQ UE K ORNDÕRFER

2.13. Molibdênio
Há pouco relatos da associação do moli- Há, também, relatos de que a aplicação de
bdênio com doenças de plantas (GRAHAM, molibdênio no solo decresce a população de ne-
1983). O efeito direto de molibdênio parece matoides (HAQUE e MUKHOPADHYAYA, 1983).
estar ligado à redução na produção da roridina ão se sabe ao certo se o molibdênio dentro da
E, uma toxina produzida por My rothecium ro- planta hospedeira exerce efeito na proteção das
ridum (FER A DO et al.,1986); além disto, o plantas contra a infecção de patógenos; entretan-
molibdênio inibe a formação de zoosporângio to, abe-se que as enzimas nitrogenase e reduta-
por Phytophthora cinnamomi e P. dreschleri se do nitrato requerem molibdênio para sua atu-
(HAlSALl, 1977) . ação (SHKOL IK, 1984; MARSCHNER, 1986).

2.14. Silício
O silício não é essencial para a plantas do o aumento na disponibilidade de silício, o teor
ponto de vista fisiológico, porém traz inúme- nas folhas também aumenta, induzindo a uma
ros benefícios agronômicos para algumas cul- correspondente queda na suscetibilidade a do-
turas, como a do arroz, da cana de açúcar, do ença fúngicas como a bruzone.
pepino e de outras gramínea de inverno. Rodrigues et ai. (2009) obtiveram redução
A soja é classificada como sendo uma plan- na severidade da ferrugem em plantas de soja
ta intermediária em termos de absorção de Si pulverizadas com diferentes concentrações de
da solução do solo (TAKAHASHI et al., 1990). silicato de potássio. A aplicação foliar de KSi,
O teor foliar de Si em soja pode chegar a 1,5% como fonte solúvel de Si, reduziu a severidade
indicando que esse elemento é transportando da ferrugem da soja. Esses autores concluíram
para a parte aérea a partir das raíze de forma que o Si contido no KSi foi mais importante
não excludente (MITANI e MA 2005). olla em reduzir a severidade da ferrugem da soja
et ai. (2006) encontraram teore foliares de Si do que o K, mesmo após terem equilibrado a
variando de 0,34 a 0,55% em planta de soja concentração de K do tratamento KSi 40 g 1·1
cultivadas em solo deficiente nesse elemento com a aplicação foliar de hidróxido de potássio
e que recebeu a aplicação de silicato de cálcio na dose de 6,5 g 1-1 .
nas doses de O ton ha·1 a 12 ton ha·1. Balardin et ai. (2006) verificaram que plan-
Estudos vêm mostrando que o conteúdo de tas de soja cultivadas em substrato contendo O
silício da parede celular das células da epider- kg, 35 kg, 70 kg e 140 kg de K2 0 ha·1 apresen-
me pode ser muito importante na resistência taram redução significativa na severidade e na
de plantas a doenças, e que a supressão dos taxa de progresso da ferrugem .
depósitos de silício pode induzir suscetibilida- O mecanismos de resistência a patógeno
de. Quando o extrato de uma interação com- potencializados pelo Si em plantas ainda não
patível patógeno-hospedeiro é infiltrado em estão totalmente esclarecidos. A hipótese da
hospedeiro incompatível a resistência e o con- formação de uma barreira física abaixo da cutí-
teúdo de silício decrescem. cula após a polimerização do ácido mono ilíci-
Gramíneas em geral, particularmente o ar- co explica, embora parcialmente, o aumento da
roz, ão plantas acumuladoras de silício. Com resistência do arroz a bru one (KIM et ai. , 200).
266 D OENÇAS DA SOJA : MELHORAM ENTO GE NÚTICO E Tl:CN ICAS DE MAl EJO

ERN, NE L EMES - LEONA RDO CASTRO - RAFAEL As IS

3. Atuação dos nutrientes minerais no controle


das doenças de plantas
O principais mecanismos que envolvem plantas aos patógenos, a evasão, o au mento da
os nutrientes minerais no controle de doença resistência fisiológica do hospedeiro e o efeito
de plantas ão: o aumento da tolerância das sobre o patógeno e/ou na sua virulência.

3.1. Aumento da tolerância das plantas aos patógenos


O nitrogênio e o fósforo são responsáveis de raízes, compensando os dano causados pelo
pela formação de novas raízes no sistema radi- fungo e até diminuir o número de raízes infecta-
cular da planta, em sub tituição àquelas dani- das (GARRETT apud KO e KAO, 1989).
ficadas por alguns patógenos de solo. Algumas Tubos ligníferos no istema vascular são
espécie de Pythium são parasitas não especiali- obstáculos para muitos fungos e estão sempre
zados, os quai são muito destrutivos em tecidos associados à presença do manganês (SKOU
mais jovens; o cálcio pode aumentar a produção apud HUBER, 1988).

3.2. Evasão aos patógenos


Alguns nutriente podem fazer com que evitar a senescência dos tecidos e manter a plan-
a planta escape do patógeno, principalmente ta no estádio vegetativo por mais tempo (MARS-
por acelerar a maturidade de alguns órgãos CH ER, 1986). Outras mudanças fisiológicas e
vegetai . O papel do fósforo e do potássio em anatômicas incluem alteração nos constituintes
diminuir o ataque de fitopatógenos (como as da parede celular, como a lignina, redução do es-
ferrugen , por exemplo), deve-se à rápida ma- pessamento da parede e decréscimo no teor de
turação do tecido , impedindo a ocorrência compostos fenólicos fitotóxicos ou na toxicidade
de novas infecções. Dose cre centes de fós- de tais compostos (MATSUYAMA e DIAMOND,
foro reduziram a população de Meloidogyne, 1973). Não deve ser esquecido que parte da sus-
devido a um aumento na sínte e de proteínas cetibilidade também tem sido atribuída às mu-
na planta, atuaram na atividade celular dos te- danças microclimáticas (DAAMEN et a!. , 1989).
cido vegetais e provocaram mudança bioquí- A deposição de silício na parede celular re-
micas, como aumento na quantidade de vita- duz a penetração de muitos fungos em arroz. O
mina C, óleo vegetais, polifenóis, peroxidase silício é depo itado como uma camada de 2.5 mi-
e amônia, proporcionando maior resistência à cra de espessura logo abaixo da cutícula e esta
planta (ZAMBOLIM e VE T RA, 1993). dupla camada de silício e cutícula ajuda a manter
A literatura regi tra uma correlação entre a folhas eretas, minimiza a transpiração e aju-
alto níveis de compostos nitrogenado nas fo- da a proteger a planta de ataque de fungos (SA-
lhas e a infecção por fungo (KÜRSCH ER et VANT et a!. , 1997). Segundo Nogushi e Sugawara
al. , 1992). A sim, o teor de nitrogênio na idade (1966), deficiência de potássio reduz o acúmulo
fisiológica da folha é um importante fator que de silício na célula da epiderme das folha e
induz suscetibilidade, uma vez que o tende a aumenta a suscetibilidade das plantas à bru one.

3.3. Resistência fisiológica do hospedeiro


A interação fisiológica e a substituição entre no desenvolvimento da doença. Cada elemen-
os nutrientes no processo metabólico torna di- to funciona como parte de um sistema de de-
fícil identificar o papel de um único nutriente licadas reações químicas, as quais influenciam
15 - 1 TERAÇÃO ENTRE O ESTADO NUTRICIONAL E O DESENVOI.VlMENTO DE DOENÇAS 267
RAFAEL Assis - G ASPAR H ENRIQUE Koru DÕRFER

todo o processo da patogênese. A deficiência o íon Ca forma complexos com a proteína ,


ou o excesso de um elemento ocasiona sério uma vez que a resistência deve-se ao eu efei-
problemas em todo o metabolismo da planta. to no metabolismo de pectina . O Ca permite
Toda circunstância desfavorável à forma- manter o pH do solo em limites favorávei à
ção de nova quantidade de citoplasma, isto é, atividade biológica e à assimilação dos elemen-
desfavorável ao cre cimento da planta, tende a tos nutritivos essenciai à planta, o que pode
provocar, na solução vacuolar das células, um acarretar a uma maior resistência. O aumento
acúmulo de composto olúvei inutilizados, da severidade da gomose dos citros (Phyto-
como açúcares e aminoácidos. Este acúmulo de phthora parasitica) deve-se à alteração da re-
substâncias solúveis parece favorecer a nutrição lação K:Ca na permeabilidade das membrana
de fitopatógenos e, portanto, diminuir a resis- celulares (ZAMBOLIM e VE T RA, 1993). o
tência da planta às doenças parasitárias. Isto ca o das murchas causadas por Fusarium , as
representa a teoria da trofobio e propo ta por maiores severidade foram observada com
Chaboussou (1987). Este mesmo autor mencio- deficiências de cálcio, uma vez que o cálcio ini-
na que o acúmulo de amido e o aumento de be a atividade da poligalacturonase e, assim,
protídeos, de compostos fenólico e da re pira- influencia no estado de murcha pela decompo-
ção celular indicam que os materiai tran por- ição de substâncias pécticas na planta.
tados estão relacionados com um metaboli mo Sabe-se que o magnésio faz parte da mo-
acelerado no tecido, que se mo tra re i tente lécula da clorofila. Ele também intervém nas
ao ataque do fitopatógeno. Em outras palavras,
cadeia de decomposição e de síntese dos gli-
isto significa que a planta, ou, mais preci amen-
cídios. As substâncias ricas em energia (ATP)
te, o órgão, será atacada somente na medida em
servem de intermediárias para as sínteses e
que seu estado bioquímico, determinado pela
decomposições. A reação ADP + P = ATP só
natureza e pelo teor em substâncias solúvei nu-
pode ocorrer na presença do Mg, daí a impor-
tricionais, corresponder às exigências tróficas
tância bioquímica das relações entre P e Mg. É
do fitopatógeno em questão.
possível dizer que o dínamo celular não pode
As plantas calcífugas parecem acumular mais
funcionar sem o Mg. O metabolismo do fósfo-
cálcio do que as calcícolas, indicando uma di-
ro também está estreitamente relacionado com
ferença no metabolismo do cálcio nestas duas
o cálcio, portanto não é surpresa constatar-se
categorias de plantas. Podem ser diferenças na
a existência de um antagonismo Ca-Mg (CHA-
fixação do cálcio sobre os locais de troca iônica
BOUSSOU, 1987).
ou nas modalidades de uso deste elemento. Es-
tes fenômenos ocorreriam nas partes aéreas das A resposta das plantas às fontes de com
plantas, pois nas raízes, a evolução do teor de relação à murcha de vertícillium é diferente,
cálcio é praticamente idêntica numa espécie cal- pois as formas nítrica e amoniacal têm efei-
cífuga, como o tremoço, e numa calácola, como tos opostos no balanço entre cátion e ânion
a fava (BOUSQUET apud CHABOUSSOU, 1987). na planta. A forma H,i- inibe a ab orção de
O cálcio estimula a absorção de fosfatos no mi- cátions e pode causar deficiência de Ca e Mg.
lho com certos teores de cálcio, mas não apre- O pH da rizosfera é alterado quando a forma
senta este efeito com outros elementos como o Hi- é absorvida devido a uma saída de íons
K e o Mg (FALADE apud CHABOUSSOU, 1987). H+ para o balanço de carga no citoplasma. A
Daí a importância da relação Ca/P na planta, no forma Hr provoca um influxo de cátion e
que diz respeito à sua resistência às doenças. resulta num aumento de pH da rizo fera quan-
Estes fenômenos estão sempre relaciona- do OH- e HC03- são liberado para o balanço
dos com o processo da proteossíntese, em que de cargas (PE YPACKER, 1989).
268 D OENÇAS DA SOJA : MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - L EONARDO CASTRO RAFAEL Assis

Tais diferenças na absorção pela planta dos do local onde são formados para os locais
podem alterar o balanço iônico e afetar a ex- onde são utilizados.
pressão da resistência, a qual é dependente da Experimentos realizados por Shigeyasu
composição química e da atividade metabólica (apud CHABOUSSOU, 1987), indicaram uma
do hospedeiro. Plantas de tomate são resisten- menor porcentagem de manchas de Bipolaris
tes à Vertícillium albo-atrum quando o nível em milho de grandes dimensões com excesso
de carboidratos é reduzido. Na planta, a for- de potássio, enquanto que a mais elevada foi
ma NH4 -N é imediatamente incorporada em encontrada para os tratamentos com carência
aminoácidos e a_m ido nas células das raízes, de potássio ou carência de nitrogênio. Estes
processo que requer grande quantidade de dados destacam a importância do condiciona-
carboidratos. A forma NOrN pode ser arma- mento da planta pela fertilização, em relação à
zenado nos vacúolos ou sofrer redução para resistência genética à doença. Neste caso, a in-
NH 3 nas células das raízes, processo que tam- fluência primordial do nível de potássio sobre
bém requer esqueletos de carbono e, assim, a resistência é por intermédio de suas reper-
reduz o nível de carboidratos solúveis nas ra- cussões no teor dos elementos nitrogenados
ízes. Quando o nível de NOr N é alto no solo, solúveis nos tecidos.
ele é translocado via xilema para a parte aérea,
onde sofre redução. Logo, se a atividade de síntese das prote-
ínas, a partir de aminoácidos livres decresce
Muito móvel, o potássio se encontra parti-
nas plantas deficientes em potássio, este fenô-
cularmente localizado nos tecidos meristemá-
meno pode favorecer o desenvolvimento de
ticos, onde se opera a proteossíntese. A pro-
manchas sobre as folhas de arroz nas parcelas
teossíntese é tributária da glicogênese e, mais
com carência em potássio. Torna-se necessário
precisamente, da decomposição dos glicídios,
saber se o potássio não age sozinho, mas sim
que fornecem suas cadeias carbonadas aos pro-
segundo seu equilíbrio com os outros elemen-
tídeos. Assim se explica o papel do potássio na
tos, especialmente os catiônicos; desta forma,
proteossíntese, sua carência sendo acompanha-
a relação K/Mg deve ser lembrada. Da mesma
da de um problema geral da estruturação das
forma, deve-se considerar a influência do Mg
proteínas. A carência em K provoca um aumen-
e do P nas parcelas onde a relação K/ N está
to das enzimas de decomposição e o acúmulo
desequilibrada por um excesso de N.
de todos os aminoácidos livres, exceto a cistina.
Um incremento na síntese de fenol em cul-
Assim, os acúmulos e reduções observadas
tivares de melão suscetíveis à F. oxysporum
nos teores de proteínas das plantas carentes
f.sp. melonis e uma redução na percentagem
em K apoiam a hipótese de que um aport~
de plantas murchas em plantas adubadas com
adequado de K é necessário para que os ~m1-
potássio foram mencionados por Ramasamy e
noácidos sejam utilizados de forma apropriada
na síntese de proteína . O K tem participação Prasad (1975). Segundo Huber (1980), a seve-
em diversos processos biossintéticos, como a ridade de Phytophthora infestans em tomate é
fosforilação e a síntese do ATP, por iss~, o e~ui- reduzida com a aplicação de potássio, mas au-
líbrio N/K é importante, já que o K mflui na menta com doses altas de nitrogênio e fósforo .
síntese das proteínas e, portanto, na resistên- A explicação baseia-se no fato de que ocorre
cia da planta a seus diversos agressores. Sendo o acúmulo de arginina, que é uma substância
consumido em grandes quantidades, ele deve com propriedade fungistática.
estar presente nos locais onde as sínt~se são Em numerosos casos, os adubos potássi-
muito ativas, especialmente nos menstemas; cos aumentam a resistência da planta atravé
Presente na seiva e no protoplasma, o K esta da elevação do teor de K nos tecidos. Em ou-
estreitamente ligado à migração dos aminoáci- tros casos isto ocorre com o cálcio. Em cada
'
269

um deste dois ca o , a relações K/Ca e K a/ inibitórios e acúmulo de quantidades tóxicas


Ca+Mg encontram-se modificadas, num ou de Mn em torno dos sítios de infecção, que são
noutro sentido. O novo equilíbrio condiciona absorvidas pelo patógeno (HUBER, 1988). O
o metaboli mo e o nível de proteossíntese da envolvimento do Mn no metabolismo de car-
planta, que poderá ser intensificado ou reduzi- boidratos e do nitrogênio, na fotossíntese, na
do. A fertilização com K aumenta a concentra- biossíntese de lignina e de compostos fenólicos
ção de total na planta, diminui o acúmulo de resulta numa influência nos constituintes inter-
aminoácidos livre e favorece a sua incorpora- nos da planta e, também, na quantidade e com-
ção às proteína (CHABOUSSOU, 1987). posição dos exsudatos radiculares.
A concentração de Mn na planta é geralmen- A suscetibilidade da batata às moléstias da
te alterada pelo parasitismo por fungos, bacté- parte aérea pode ser reduzida com a aplicação
rias, vírus e nematoide (H BER, 1988). O Mn de determinados oligo-elementos, tais como o
é, geralmente, mais baixo nos tecido u cetí- Cu, Mn, B e Zn, no solo. Eles atuam como catali-
veis a estes patógenos do que nos tecidos não zadores, estimulando a atividade das enzimas e,
infectados ou resistentes, mas a sua concentra- consequentemente, acelerando a elaboração de
ção pode aumentar em torno dos sítios de in- proteínas e substâncias de reserva, a partir dos
fecções (FUJIMOTO e SHERMAN apud HUBER, macroelementos. O Mo favorece a fixação micro-
1988), como por exemplo nas infecçõe por biológica do nitrogênio, a amonificação e o índi-
Erysiphe polygoni, Scopolia sinensis e pelo ví- ce de nitrificação e, através deste último, pode-
rus do mosaico clorótico do caupi ( I DHAN -se ter uma boa apreciação da atividade biológica
E PARASHAR apud HUBER, 1988; INGH et ai. do solo (MUDICH apud CHABOUSSOU, 1987).
apud HUBER, 1988; DAWSO apud H BER, Os micronutrientes são indispensáveis à prote-
1988). Eficiência na absorção de Mn tem sido ossíntese. Inversamente, toda carência provoca
um dos critérios para se elecionar planta re- uma inibição da proteossíntese e o desencade-
sistentes às doenças (GRAHAM apud H BER, amento de moléstias (CHABOUSSOU, 1987). O
1988). A modificação da resistência da planta ferro é essencial na síntese de certas fitoalexinas
pelo Mn pode ser atribuída indiretamente às na planta e o cobre parece estar associado à ini-
exudações das raízes ou alteração no metabolis- bição das peroxidases e catalase , resultando no
mo, prejudicando o acesso do patógeno à plan- acúmulo de peróxidos que têm ação bactericida
ta ou diretamente pela produção de compostos (ZAMBOLIM e VENTURA, 1993).

3.4. Efeito sobre o patógeno e/ou na sua virulência


O ferro é essencial para que Fusarium no, reduzindo a absorção de K+ e Ca 2 +, além de
oxysporum f.sp . lycopersici intetize mais to- reduzir o pH da rizosfera, que influencia a ativi-
xina e cause uma maior severidade da doença. dade antagônica de rizobactérias. O nitrogênio
UONES et a!. , 1989). Para Fusarium oxyspo- na forma amoniacal, como o sulfato de nitro-
rum f.sp. phaseoli o nitrogênio na forma de gênio e as fonte que produzem amônia ( H )
3
NH4 + estimula a formação de clamidosporos, podem acidificar o solo atravé da nitrificação
aumentando a quantidade de inóculo no solo, (os íon H+ são liberados para o olo durante
por aumentar os níveis de glutamina e argini- a conver ão do amônio ao nitrato ou quando
na (ZAMBOLIM e VENTURA, 1993). os íons Ri são absorvido pela raíze , desta
As murchas de verticilium são mais severas forma os íons H+ ão ex udado para manter
quando o nitrogênio é aplicado na forma amo- a neutralidade). Re ultados po itivo têm ido
niacal do que na forma nítrica (HUBER, 1989), obtidos com ( H ,) 2 0 -1, o qual diminui o pH do
pois a fonte de N tem efeito deletério ao patóge- solo e afeta Streptomyces scabiens.
270 Ü OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCN ICAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - LEONARDO CASTRO RAFAEL Assrs

O pH do solo limita a disponibilidade de o zinco parece ser essencial ao crescimen-


muitos micronutrientes, os quais são essen- to, esporulação e virulência de Fusarium oxys-
ciais ao crescimento, esporulação e virulência porum f.sp. lycopersici, pois a sua adição ao
de certas espécies de Fusarium. Em condições solo resulta em um aumento na produção da
de pH mais elevado, as bactérias do solo e al- toxina pelo fungo. Para Fusarium oxysporum
guns actinomicetos são favorecidos e podem f.sp. udum, o zinco é essencial para a produ-
atuar como antagonistas ao fungo (ZAMBO- ção do ácido fusárico e para a formação de
LIM e VENTURA, 1993). apressórios de Puccinia coronata (ZAMBO-
LIM e VENTURA, 1993).

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1994.p.65
Soybean diseases and
management in United States

NICHOLAS s. D UFAULT, Ptt.D.


Assistant Professor - Vegetables and Agronomic Crops
Department of Plant Pathology/lFAS
University of Florida
Heather Marie Young-Kelly, Ph.D.
Assistant Professor
Department of Entomology and Plant Pathology
University of Tennessee

1. U.S. Soybean production


Soybean have been produced in the United planted 1994 to the more than 30 million ha
States since the 1800s when they are thought produced today (NASS, 2015). More recent in-
to have been brought into the U.S. from Eu- creases in soybean acreage can be attributed
rope as a specialty crop for soy sauce produc- to the increased uses of the crop along with
tion and for their possible use as a field crop commodity prices that are greater than $370
(McBLAIN, 1987). Since that time, soybean per tonnes. Soybeans have many industrial
has become the second largest field crop pro- and commodity uses ranging from flour or
duced in the U. S. with approximately 34 mil- meal for feed of animais and humans to al-
lion ha planted in 2014 (NASS, 2015). Soybean ternative fuels such as biodiesel (BOERMA,
production primarily occurs in the Midwest- 2004). Soybeans are an important commodity
ern states of Iowa, Illinois, Indiana, Minnesota to the U.S. that supplies many jobs and oth-
and Ohio (BOERMA, 2004). However, south- er valuable products that are not measured in
ern states such as Arkansas and Louisiana, the $41 billion crop production value.
' significant amounts of soybeans.
also produce ln general, soybean are planted across the
The average yield in 2014 was about 3.25 U.S. between the months of April and June,
tonnes/ha across the U.S. with yields being and harvested in mid-September through
slightly higher than average in many Midwest- mid-November (BOERMA, 2004; PENDER-
ern states (NASS, 2015). Soybean crops tend SON, 2007). ln some areas soybeans can be
to have lower yields in more southern states planted as early as April and as late as July,
(e.g. Texas, Alabama, Georgia and Florida) , but varietal and maturity group selection is
in part because of reduced nodulation by ni- criticai for these "non-normal" planting w in-
trogen-fixing bacteria in those climate zones dows. The extent of soybean production in
(HARTMAN, 1999), and the increase pressure the U.S. has remained unchanged over the
from plant diseases and pests. past de~a~e, however, the developme nt of
Soybean production has slowly increased new vaneties and maturity groups continue
in the U.S. from approximately 25 million ha to increase the soybean grow ing radius and

• •
276

change the dates of plaming and harvest. Fur- may also have ao impact on U.S. soybean pro-
ther advancements in precision agricultura! duction in the future (DERYNG, 2014).
tools as well a the effects of global warming

2. Common soybean diseases in U.S.


U.S. growers are faced with many ques- management strategies. Proper disease identifi-
tion each year when deciding how to produce cation starts by collecting information about
their soybean crops. These decisions include, the field, such as previous crop and pest prob-
but are not limited to, choosing the right vari- lems, planting date, variety, chemical used for
ety, maturity group, planting date, plant pop- management, and current environmental con-
ulation, row spacing, herbicides, and field in ditions (e.g. weather, soil, and fertility).
which to grow their crop. All of these factors There are more than 100 pathogens known
are importam not only for crop yield, but they to infect soybean, however, only one third of
also can influence the type and risk of diseas- those pathogens are considered to be econom-
es. Managemem of soybean diseases requires ically important (HARTMAN, 1999) ._ ln the
an integrated approach that combines multi- U.S., fungai diseases tend to cause the greatest
ple practice including resistam varieties, crop yield lasses to soybeans (Figure 1) (WRATHER,
rotation, tillage and pesticides (i.e. fungicides, 2009), however, there are bacterial and viral
bactericides and insecticides). diseases that can also cause significant eco-
The decision to manage a disease with a nomic impacts. ln 2007, it was estimated that
fungicide or other pest management strategies approximately 62% of the total yield losses
should be based on the increased risk that a attributed to disease were from funga! patho-
disease will develop, the crop developmental gens, and only 4% was from viral or bacterial
stage, actual disea e identification, and current diseases. A list of some of the common soy-
environmental condition . Disease identifica- bean diseases can be found in Table 1 with in-
tion is not only criticai in determining what cur- formation about the soybean regions in which
rem management strategy is needed, but can these pathogens are commonly observed
also be importam for determining next sea on's (HARTMA , 1999; MUELLER, 2013).

Virai
2%

Figure 1. Percent soybean yield suppression


dueto disease in the United States during
the 2007 growing season (WRATHER , 2009).
16 - S OYBEAN 0 ISEASES ANO MANAGEMENT 1N U ITED STATES 277
ICHOL\S S. Ü UFAULT - HF.ATHER M ARIE You G-KF.LLY

Table 1. Soybean diseases of the U.S. and general inforrnation


about regions of highest impact.
Group Disease Pathogen Regional lnformation
Bacterial Blight Psuedomonas syringae lmportant in north-central U.S,
Bacterial
Bacterial Pustule Xanthomonas axonopodis pv. g/ycines Throughout the U.S.
Aerial Blight Rhizoctonia solani Primarily in the southem U.S.
Anthracnose Colletofrichum spp. Throughout the U.S,
,.
Brown Stern Rot Phialophora gregata lmportant in north-central U.S.
Cercospora Leaf Blight Cercospora kikuchii Common in southem U.S.
Charcoal rot Macrophomina phaseolina Common in drier states
Downy Mildew Peronospora manshurica Throughout the U.S.
Frogeye Leaf Spot Cercospora sojina Common throughout the U.S.
Northem Stern Canker Diaporthe spp. Northem U.S.
Phomopsis seed rot Phomopsis longicolla Throughout the U.S.
Phytophthora root rot Phytophthora sojae Throughout the·U.S.
F.ungal
Pod and stem blight Dlaporthe phaseolorum var. sojae Throughout the U.S.
Powdery Mildew Microsphaera manshurica Throughout the U.S.
Pythium root rot Pythium spp. Throughout the U.S.
Rhizoctonia root rot Rhízoctonia so/ani Primarily in the southem U.S.
Septoria brown spot Septoria g/ycines Throughout the U.S.
Southem Blight Sclerotium rolfsii Primarily in the southem U.S.
Southem Stern Canker Diaporthe spp. Primarily in the southern U.S.
Soybean Rust Phakopsora pachyrhizi Primarily in the southern U.S.
Sudden Death Syndrorne Fasarium virgulfforme Throughout the U.S.
White Mold Sc/erotinia sc/erotiorum Throughout the U.S.
----
Soybean Mosaic Soybean Mosaic Vírus Throughout the U.S.
Virai ~=:==:::::::;
Bean Pod Mottle Bean Pod Mottle Vírus Throughout the U.S.
-=:::=~::==:;:::_ - :.:::===::::::=:=:
Soybean Cyst Nernatode Heterodera g/ycines Throughout the U.S.
Nematodes :
Root-Knot Nernatodes Meloidogyne spp. Primarily in the southem U.S.

Identifying soybean diseases in the field can Ofteo field identifications need to be coo-
be difficult. For example, the foliar pathogens firmed with laboratory observations. This can
rust, bacterial blight, bacteria pustule and brown be dooe by placiog a surfaced sterilized sample
spot ali produce lesions with reddish-brown of the plant tissue io a moist chamber and wait-
to black centers. The differences between the iog for the sigos (i.e. physical pathogen struc-
pathogens are subtle, such as, water soaking is tures) to develop, or by placing the sample 00
apparent (bacterial blight) or the production of a growth medium (e.g. potato dextrose agar)
spore containing pustules in the lesions (soy- to observe the pathogen colony developmeot.
bean rust) (HARTMAN, 1999). Diseases can also While visual inspections of pathogen fruiting
be confused with non-infectious disorders (e.g. structures maybe enough to identify a disease,
herbicide injury or excessive moisture), which is often diagnosticians need to examine these
why collecting informatioo about the field histo- sigos with the aid microscope. This allows a
ry as described above is essential. diagoosticiao to be more confident that the
278 Ü OENÇAS DA SOJA: MELI-IORAMENTO GEN ÉTI CO E TÚCNICAS DE MANl;JO

ERNANE L EMES - L EONARDO C Asrno - RAFAEL Assis

pathogen of interest is present. There are some while still using proven conservation tillage
cases, however, where molecular or serologi- practices. There are few, if any, chemical con-
cal methods are required for identification of trols for bacterial pathogens, so management
a pathogen (i.e. viruses). These methods tend requires proper use of cultural practices to re-
to be more expensive than standard laboratory duce the yield impacts of these diseases.
identification techniques and may not be used Usually, tillage practices will affect fungai,
for this reason. However, since a pathogen can bacterial and viral diseases of soybean (MENGIS-
be very destructive one year and difficult to TU, 2014). The magnitude of this effect is uncer-
find the next, proper identification is criticai tain, but any changes in the soil or plant canopy
to the determining appropriate management environments related to tillage may influence
strategies that lead to highest yield savings. pathogen development within a crop. Since
An understanding about the pathogens many reports provide conflicting information on
present within a location can assist growers the effects of tillage, it is criticai that regional ex-
with selecting the proper cultural manage- perimental data is generated to determine tillage
ment strategies for diseases that affect their impacts on soybean diseases for specific climates
crops. For example, bacterial diseases, such as and cropping sequences. For example, in the
bacterial blight and pustule, can be effectively Southeastern U.S. numerous growers will have a
controlled in the U.S. with tolerant varieties, rotation with soybean that includes peanuts and
and through crop rotation and tillage (HART- cotton. This cropping sequence is not possible in
MAN, 1999). These pathogens survive in crop the Midwestern states where soybean will most
debris left within a field and can easily spread likely be in a cropping sequence with corn and
to young soybean plants by wind and/or rain. wheat. The various impacts of these crops on dis-
Growers are encouraged to rotate away from ease will influence the impacts of tillage. While it
legume crops in fields that have had these dis- is challenging to assess the overall impact tillage
eases present by planting non-hosts such as practices have on plant diseases, it is important
wheat or corn. If growers plan to continually to note that burying or removing debris with
plant soybean within a field that has had these overwintering pathogens can help in reducing
bacterial pests, then is it recommended that pathogen inoculum, especially when combined
they reduce soybean residue through tillage with crop rotation.

3. Variety development and selection for disease resistance


Soybean variety selection is one of the most ty researchers. Such an example is JTN-5203
important decisions a grower makes and care- soybean germplasm which contains resistance
ful consideration should be taken in regards to multiple soybean cyst nematode (Heterode-
to disease resistance or susceptibility as resis- ra glycines) populations, reniform nematode
tant varieties are often the most cost effective (Rotylenchulus reniformis), frogeye leaf spot
means of managing oybean diseases. While (caused by Cercospora sojina), sudden death
no variety exists that is resistant to all soybean syndrome (caused by Fusarium solani f. sp.
diseases many varieties contain genetic resis- glycines), and stem canker (caused by Diaport-
tances to multiple diseases. ln general, seed of he phaseolorum var. meridionalis) (ARELLI et
resistant varieties do not cost any more than al., 2015). These public breeders release their
susceptible varieties. soybean germplasms to public access, which
Many new soybean germplasms with dis- are often utilized by seed companies which in-
ease resistance are developed by public breed- corporate them into their commercial variety
ers including USDA scientists and Universi- selections with biotechnology traits, which are
OI F.ASES ANO M 279
• D UFAULT - H EATII

the majority of what orth American producers syndrome, charcoal rot, phytophthora rot,
plant. Both conventional screening and mark- brown stem rot, and others. Many states and
er assisted selection are utilized in developing providences in orth America provide soybean
soybean germpla m or varieties with resis- variety guides specific for their area which in-
tance to multiple pathogens. Some common clude agronomic traits and disease resistance/
genetic re istance sought after in orth Amer- susceptibility ratings to the most common soy-
ica include re i tance or tolerance to oybean bean diseases in that area as well as responses
cyst nematode, frogeye leaf pot, udden death to fungicide application (Table 2).
Table 2. Example of variety guídes provided in most North American states and providences
on disease resistance/susceptibility (Allen et ai., 2012).

Yieldsf and disease ratings § of 18 early Maturity Group IV (4.9 -4.5) Roundup Ready
soybean varieties evaluated in 14 Tennessee and Kantucky Counry standard testsduring 2012
Research and Educaton at MlâJi SCN
CSTAvg.
MS Brand / Variefy Yield Moyslllre z Frogeye Stern Treated ♦ Untrea!ed
(n=14) RECt.ién
Can.~
SOS Yieki Yield
Race2 Race3 Race5
Oyaswg
= -~":: =~"" .• .. -•··
· ..:.
EitD nnll 1 • 2012 2012'
1A Asgrcm AG4231 GEN RR2Y/STS 59.5 122 o.o 2.0 56.5 53.6 s MR HS
1AB Annor 44-RDB RR2Y 58.8 12.7 5.5/4.0 7.5 o.o 42.9 34.7 HS MR HS
ABC Steyer 4203 R2 57.3 12.7 3.8/4.0 7.0 o.o 35.4 32.1 MS s HS
ABC * Armor 45-R64 RR2Y 57.3 122 O.O/O.O o.o 0.5 51 .5 49.4 HS MS HS
ABC * Progeny P4510 RY/STS 57.0 12.8 5.3 /4.3 3.5 O.O 42.7 39.4 HS HS HS
ABC * Annor ~R42 RR2Y 56.8 12.5 4.5/ 4.3 o.o 0.3 46.1 46.9 HS MS HS
ABC Mycogen 5N451 RR2Y 56.4 12.7 0.0/ 0.7 O.O 0.3 50.1 47.5 HS HS HS
ABC Croplan 4391 GEN RR2Y 56.3 122 3.8/ 4.3 7.8 O.O 41.4 33.1 HS MS HS
BCD NK Brand S41-J6 RR2Y 55.4 12.4 3.5/-3.7 o.o 0.3 40.6 42.7 s MS HS
CD Oyna-Gro 31RY45 RR2Y 54.9 12.1 O.O/ NA o.o o.o 42.0 47.2 HS HS HS
CD Terral REV-44R22 54.4 12.8 O.O / O.O O.O o.o 45.9 41.7 HS MS HS
CD Croplan 4541 GEN RR2Y 54.3 12.5 O.O/ O.O O.O O.O 48.0 49.0 HS MS HS
CD LG Seeds C4411 R2 54.1 12.7 5.5/ 5.3 o.o o.o 49.4 48.9 s MR HS
DE Wanen/Dairfand 4300 RR 52.4 12.1 8.0/ 6.3 o.o o.o 40.6 38.2 HS HS HS
DE Wanen/Dairtand 4343 R2Y 522 12.1 0.0/ 0.3 o.o o.o 44-6 43.6 HS s HS
DE Ag Venture 43A2 RR/STS 52.1 12.3 o.o o.o 47.5 45.4 HS MR


t
E NKBrand S44-K7 RR/STS
Ayerage (bula)
Yiels have been adjusted to 13% moisture --NA NA NA
45.3
NA
43.3

§ Disease ratings for Frogeye, Stern Canker and SOS (Sudden Death Syndrome) are from 0-10, where where O= no disease and
1O= maximum level of disease or plant death
i Moisture at harvest
NA NA

♦ Sprayed plots at Milan are treated at Headline @ 6oz./Acre tank mixed with Topgaurd @ 6oz. ACJe = 1% lnduce at 20 gpa T R
3
growth stage.
Disease ratings an~ yield data co~piled by DR. MELVIN NEWMAN and Dr. HEA.THER YOUNG-KELLYfrom replicated plota at Rese-
arch and Education Center at Mllan and Dyersburg.
SCN ratings: HS=highly susceptible; S=moderately susceptible; MR=moderately resistan~ R= resistant;
Race 2 (HG Type 1.2.5.7); Race 3 (HG Type 7) Race 5 (HG Type 2.5.7)
SCN Greenhouse Ratings complied by Dr. PAT DONALD Research plant path., USDA-ARS, West TN REC
MS- Variations with one or more letters in common are not statistically different at .05 level of probability.
Varietues denoted with an asterisk (*) were in the top perfonning group in 2011 .
Data provided by Robert e. Williams, Ext.Area Specialist, Grain Crops.
280 D OENÇAS DA S OJA: MELH ORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS D E MANEJO

E RNANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Ass,s

4. Fungicides and fungicide resistances


ln the last decade there has been a dramat- position (VALLIERES et ai. 2011). Other mu-
ic increase in the number of both foliar- and tations discovered to confer p artia! resistance
seed-applied fungicides available for use on to the Strobilurin/Qol fungicide group include
field crops, including soybean (MUELLER et amino acid substitutions from phyenylalanine
ai. 2013). There are more than 30 fungicide to leucine at position 129 (F129L) and glycine
products labeled for soybean in the U.S. alone. to arginine at position 137 (G137R) (FERNÁN-
The availability of products is one factor con- DEZ-ORTUNO et ai. 2007). The risk of resis-
tributing to the overall increase in fungicide tance development to Qol fungicides is classi-
use; other factors include higher market pric- fied as high (BRENT and HOLLOMON 2007).
es, increased levei of disease, and marketing of Contrary to the point mutation resistance
new fungicides . The majority of the fungicide to the Qol fungicide group, the genetic back-
products on the market today belong to one of ground of resistance to DMis is claimed to be
two different fungicide groups: demethylation polygenic for several plant pathogens, and
inhibitors (DMis or triazoles) or quinone out- high resistance leveis are observed only after
side inhibitors (Qols or strobilurins). a stepwise adaptation (GISI et ai. 2000). The
Strobilurins, as of 2005 were second only development of resistance to DMls has not
to triazoles in terms of importance within lead to a complete loss of disease control and
the fungicide market (STAUB and MORTON, is often described as continuous selection or
2008). Strobilurins are effective on many shifting. The resistance risk of DMI fungicides
plants against various diseases. Strobilurins is classified as medium ~r moderate (BRENT
are subject to b eing overcome by fungi because and HOLLOMON 2007) .
their mode of action is very sp ecific and, thus,
Not only do the characteristics a fungicide,
a single mutation at the target site may confer
but also the characteristics of a pathogen, de-
resistance. Field resistance to Qol compounds
termine the magnitude of selection pressure
has been documented for imp ortant patho-
and the risk of fungicide resistance occurring.
gens since 1998 (GISI et ai. 2002, ISHII et ai.
C. sojina, the fungai agent of frogeye leaf spot
2001, KIANIANMOMENI et ai. 200.7, REBOL-
(FLS) disease in soybean as well as many other
LAR-ALVITER et al. 2007). The majority of the
pathogens in soybean are polycyclic - being able
documented Strobilulrin resistance, including
to have severity infection cycles in one season,
the resistance identified in the soybean patho-
which increases the pathogens chances of devel-
gen Cercospora sojina (ZHANG et ai. 2012), is
oping resistance.
attributed to a single-point mutation at codon
143 (G143A), resulting in amino acid substitu- The development of fungicide resistance
tion where glycine is replaced by alanine in the pathogens in soybean could cause significant
cytochrome b gene (BRASSEUR et ai. 1996, losses to U.S. farmers. Ineffective fungicide
GISI et ai. 2002 , ISHII et ai. 2001 , KIA IAN- applications in the U.S. could cost $330 to
MOMENI et ai. 2007). Although some patho- $500M annually, and lost yields due to dis-
gens have not developed significant or any re- ease could cost an estimated $5B annually
sistance at all to the Strobilurin/Qol fungicide (estimates based o n National Agricultura! Sta-
group and for some pathogens, such as the rust tistics Service Information 2012) . Resistance
fungi in the U.S., a molecular mechanism was to fungicides in plant pathogen populations
described that prevents the emergence of the is one of the most significant problems con-
G143A mutation dueto a self-splicing intron in fronting North American agriculture in the
the cytochrome b gene directly after the G143A area of chemical disease management (DELP
ES AND MANAGEMENT I U ITED STATES 28 1
LT H EATH ER M ARIE Yo G-KEuv

1988). ln 2010 the fir t report in the


U.S. of fungicid e re i tant strain of
Cercospora sojina, the causal agent
of frogeye leaf pot in oybean, was
reported in west Te nne see (ZHA G
et ai. 2012). This resi tance has also Soybean Fungicide
been reported in other U. S. state in-
cluding Alabama, Mis i sippi, Louisi- Resistance Hub
ana, Arkan a , Missouri, Kentucky,
North Carolina, Illinois, and Indiana
(reported at frogeye.ipmpipe.org).
Other pathogens that cause di ea e
in soybean have also recently been
reported to have developed fungi-
cide resistance to the Strobilurin/
Qol fungicide group including Rhi-
zoctonia solani and Cercospora ki-
kuchii (OLAYA et ai. 2012 , PRICE et Principies of fungldde Reslstance: Focuslng on Soybean and Com
ai. 2013). ln addition to resistance to º'
Produdlon e.ri 8...dl• Y• ext.nslon ptil,,t htholQVlst. un1-,. ~ty IUlno
Hanagement of frogeye Leaf Spot and Fungicide Reslstance Hüth.r
the Strobilurin/QoI fungicide group, M. Kelly, Asllitlnt Pnihuor, Uriv.n ty ofT• MHJN

C. kikuchii has also developed re- Funglclde Res:lstance: A Case Study on Qol Reslmnt RJ1lz«tonla
so/M/ Clilyton A. Holll• r• Prof.ssor and Ext• nsJCH\/Re·sH rch Plant Pathol09l1t.
sistance to the benzimidazole fungi- Louilla S~t. UrJv• riity

cide group and has shown shift in


sensitivity to the Triazole/DMI fungi- 11111q ,c td<· Rr<>1..t.1n< r l r,t< k111Q

cide group (PRICE et ai. 2013). _ J Frogeye LHÍ Spot


! .- f 1 ~;,. ·'.(cc.rcosporasoF,,,.,.)
To provide educational resourc- , ...._ ► ~ Fungkld"' Re.lst.an<e D tributlon Hap

es on fungicide resistance in oy- li[!


-1
(
bean the 'Soybean Fungicide Resis-
tance Hub' (Figure 2) was developed
---;-..~ - Rh zoctonh salanl
on the Plant Management etwork , ~-( l "'(Qot F"ngidd• Rul:stan<•
~ 1.
, • < · ..,. Dis1ributlon Map
~

through the American Phytopatho- r·


logical Society in 2014 (www.plant-
managementnetwork.org). Resourc- runq1c1dr l~C"'"tJn,r l,lc-c,,,c)lJnr,

es on the website include webcasts


on the principies of fungicide resis- Fungldde reslstance management ln com, soybean, a.nd
wheat ln Wlsconsln · UnlYen ty ofW1- 1 n
tance, management of diseases that Fungldde Efflca<v for Control of oybean Foliar Olsease$
have developed fungicide resistanc- Figure 2. Screen shot of the Soybean Fungicide Resistance Hub
es such as frogeye leaf spot, Rhizoc- developed on the Plant Management Network through the American
tonia solani, and best practices to Phytopathological Society in 2014 (www.plantmanagementnetwork.org)
manage and avoid fungicide resis-
tance , as well as fungicide resistance track- pathogens, specifically C. sojina. The e di -
ing/monitoring information, and addit~on- tribution map are populated by niversity
al fungicide resistance resources. Similarly, plant pathology researchers that are running
monitoring platforms such as ipmPIPE have sen itivity monitoring programs on oybean
also begun to be utilized to monitor the dis- plant pathogen uch a C. sojina, C. kukukii,
tribution of fungicide resistance in soybean Septoria glycines, and Rhiz octonia solani.
282
EtlNANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Assis

Use of foliar fungicides should be based Soybean fungicide seed treatments have also
on an increased risk for disease development increased in North America w ith the majority of
or actual disease identification, as well as the seed being treated with one to two d ifferent fun-
growth stage of soybean and forecasted weath- gicide modes of action that are effective against
er. Other factors that need to be considered fungi (including Fusarium and Rhiz octonia
before applying a foliar fungicide include cul- species) and oomycetes (including Py thium and
tivar selection, cropping and cultivation histo- Phytophthora species) (MUELLER et a l. 2013).
ry, and profitability of the application based Factors contributing to soybean fungicide seed
on soybean and application price. ln North treatment include planting into reduced-till or
America, typically a single application of fo- no-till field, planting into cold, wet soils, plant-
liar fungicide is applied during reproductive ing seed with low seed vigor or germination, and
grow th stages, if at all, and in some south- planting at low seeding populations. To better
ern states multiple applications may be ap- utilize fungicides to manage soybean diseases
plied in response to increased disease devel- University researchers have developed fungicide
opment or risk, especially from soybean rust efficacy tables for foliar fungicides and fungicide
(MUELLER et al. 2013). seed treatments (Table 3 and 4).
Table 3. Fungicide Efficacy for Control of Soybean Seedling Disease - 2014 developed in the U.S ..
- .
Management of soybean diseases
Fungicide efficacy for contrai of soybeanan seedling diseases - 2014
The members of ldentitication of ldentification and Biologyof Seedling Pathogens of Soybean project founded by the North Central Soybean Research Program
have developed the following ratings for how well fungicides seed treatments control seedling diseases of soybeans in the United States. Efficacy ratings for
each fungicida listed in the table were determined by field-testlng the materiais over multiple years and locations by the members of the group, and include
ratings summarized from national fungicide triais published in Plant Disease Management Reports (and formerly Fungicide and Nematicide Tests) by the
American Phytopathological Society at http://www.apsnet.org. Each rating is based on the product's level of disease contrai, and does not necessarily reflect
yield increases obtalned from applyíng the product.
The table inciudes the most widely marketed products available. lt is not intended to be a list of all labled products. Additional products may be available, but
not been evaluated in a manner allowing a rating. Additional aclive ingredients may be included in some products for insects and nematode contai, however,
only aclive ingredients for pathogen contrai are listed and rated.
Many products have specific use restrictions. Read and follow all use restrictions before applying any fungicide to seed, or before handling any fungicide
handling-treated seed. Thís ínformatíon is provided only as a guide. lt is lhe applicators and users responsibility to read and follow all current label directions.
References in this publícation to any specific commertial product, process or service, or use of any trade, firm or corporation name is for general informational
purposes only and does not constitute an endorsement, recommendation, or cer:tification of any kiná by members of the group. Or by the North Central Soybean
Research Program. Individuais using such assume responsibility for their use in according with current dlrections of manufacturer.
-:::;:::;;:::;;;;:::--:;;;:::;;;;;;:::::::=========
Efficacy Categories: E= Excellent, VG= Very Good; G= Good; F= Fair; P= Poor; NR= Not Recommennded; NS= Not Specified on product label;

li-···•···•-··
U= Unknown efficacy or insufficient data to rank product.
Fungicide(s) Rate
Product/Trade narne Active lngredient ('/o) lbs a.iJ100 lbs seed •• • • 1 •

DX 61 2- Fluxapyroxad (28,7%) 0.005 to 0.01 0.015


Acceleron DX-309 Metalaxyl (28.35%) E E E G G
to 0.03 0.02 to 0.04
DX-109 Pyraclostrobin (18.4%)
Allegiance Fl Melalaxyt (28.35%) 0.015 to 0.03 E E NS NS NS
Allegiance LS Metalaxyl (17.7%) 0.015 to 0.03 E E NS NS NS
Apron XL LS Mefenoxan (33.3%) 0.003 to 0.015 E E NS NS NS
Fludloxoníl (2.31%) 0.006 p
Apron Maxx RFC E G G G
Mefenoxan (M6%
Fludloxonil (0.73%) 0.003 p
A'pron Maxx RTA E G G G
Mefenoxan 1.1%)
Chloroneb (30%) 0.132 to 0.169 p p p
CatapultXL E E
Mefenoxan 1.95%)
Fludioxonil (1 .12%) 0.006 p
Cruiser Maxx G G G G
Mefenoxan (1.7%)
283

Product / Trade name

eruiser Maxx Plus


Active lngredient (%)
Fludioxoníl (1.07%)
Mefenoxan (3.21%)
Metalaxyl (5.74%)
1
Rate
lbs a.i1100 lbs seed

0.010
-
- -
E
· ···•···11•
· . ' '· ·
G G G G

EverGol Energy SB Penffufen (3.59%) 0.011 E E G G G


Prothioconazole (7.18%)
lpoconazole (0.72%)
lnovate 0.006 E p F-G F-G G
Metal~! (1 .153%)
-
Maxim4FS Fludioxonil _(40.3%) 0.005 NR NS G G G
1
Carboxin (15%)
Prevail Metalaxyf (3.12%) see label G G G u G
PeNB(15%)
-
Metalaxyf (5.69%) p
Trilex 2000 0.009 E F-E F-G G
Triffoxvstrobin (7.12%)
Vibrance Sedaxane (43.7%) o.002 to 0.005 NS NS E NS G
Fludioxonil (1%)
Warden ex Mefenoxam (5.99%) 0.019 E E G G G
Sedaxane (1 %)
Warden RTA Fludioxonil (0.72%}
see label E E G G G
Mefenoxam (2.21%)
1 Products may vary in efficacy against different Fusarium and P}tthium species.
2 Listed seed treatments do not have efficacy against Fusarium vkguliforme, causal agent of sudden death syndrome

Table 4. Foliar Fungicide Efficacy for Contrai of Foliar Soybean Diseases -


2014 developed in the U.S. (page 1 of 2 shown).
Management of soybean diseases
Foliar fungicide efficacyfor contrai of soybeanan seedling diseases - 2014
The North Central Soybean Regional Corrvnittee on Soybean Diseases and lhe Regional Committee for Soybean Rust Pathology (NeERA 212 and NeERA
208 have developed the following information on foliar fungicide efficacyfor control of major foliar soybean diseases in the United States. Efficacy rating for
each fungicide listed on the table were detennined by fierd..testing materiais over multiple years and locations by the members of the committee, Efficacy ratings
are based upon levei of disease contrai achieved by product, and are not necessarily reflective of yield increases obtained from product application. Efficacy
depends upon proper application timing, rate and application melhod to achieve opUmum effectiveness or fungicides determioed by labeled instructionsand
overall level of disease in the field at the time of appllcation. Differences in eflicacy amo.ng fungicide products were determine<! by direct comparisons among
products in field tests and are based on a single application of the labeled rate as lisled in lhe table, unless otherwise noted. Table includes systemic fungicides
available that have been tested over multiple years and locations. The table is nol intended to be a líst of all labeled products1 .
Efficacy Categorias: E= Excellent; VG= Very Good; G= Good; F= Fair; P= Poor; NR= Not Recommennded; NL= Not labeled for for use against this disease;
U= Unknown efficacy or insufficient data to rank product efficacy.

■••■llllliiii Ili
Fungicide(s)

Azoxystrobin Quadris 2.08 6.0 • VG G F VG u G-VG p


VG 14 days
.,.....
.,..... 22.9% se 15.5
Q,
::::, R5 (be-
e Fluoxastrobin
Aftershock
2.0 •
(!)
480 se Evito VG G G F VG u u NL gin[ling
"'
e: 40.3% 5.7 seed) 30
·e: 480Se
.2 days

_g Aproach 2.08 6.0· F VG
cr, Picoxystrobin VG G G G G 14 days
õ se 12.0
o
Picoxystrobin Headline 6.0- VG VG G F VG u VG
12.0 NL 21 days
23.6% 2.09 ee, se
284 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

E RNANE L EMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

Fungicide(s) ~
Phomopsis

•• •
Aerial Cerco- !"lt
1/1 Rate Anthrac• Brown Frogeye /Diaporthe ·Soybean
1/1
cu
Active Product/ web spora leaf ·,·~rust
õ lngredient (%) / A (fl blight nose spot leaf spofl (Podand
TradeName blight2 /'~
oz) stemblight) .•.)· .
.....
Cyproconazole 2.75-
8.9% Alto 100 SL 1
5.5 u l!J VG tJ VG NL 30 days

Flutriafol 11.8% Topguard 1 7.0-


<") 1.04 SÇ 14.0 u u VG F F u VG - E G 21 days
e.
:::,
e Propíconazole lilt3.6EC R5 (be-
(!) 2.0- p
cn 41.8% Multiple p G NL VG NL VG NL ginning
~ 4.0
Generics6 seed)
~ Prothio-
:s Proline480 2.5-
:e
o
conazole
sc
1
4.3
NL NL NL NL F NL VG G 21 days
41 .0%

Tetraconazole Domark230 4.0- R5 (be-


20.5% ME 5.0
NL NL VG F VG u VG-E G ginning
seed)
0
:1
fde
cu .....
-ã_c. Topsin-M
Thiophan- 10.0-
~~ atemethyl
Multiple
20.0
u u F VG u G G
1---" (!) Ge,nerics
<..)
CD
~

5. Disease forecasting in U.S.


Weather plays a key role in determining the One example of a daily forecast system for
absence or presence of a disease. Most fungai and soybeans is the Integrated pest management -
bacterial d iseases will be more severe during pe- Pest Information Platform for Extension and Ed-
riods of increased rainfall and of less of a concern ucation or IpmPIPE (http://sbr.ipmpipe.org/cgi-
when rainfall and/or dew are absent for extend- bin/sbr/public.cgi) (Figure 3). The IpmPIPE is a
ed periods (Agrios, 2005). Numerous viral and multipurpose web-based platform that has daily
bacterial diseases are vectored by insects (Patsky, observation tools for soybean rust and frogeye
2003) and/or nematodes, where their develop- leaf spot. The soybean rust-PIPE (SBR-PIPE) is
ment and sometimes movement is also depen- a specific part of the IpmPIPE that was estab-
dent upon their environments. Because of this, lished in 2005, and is estimated to have saved
it is possible to predict or forecast the risk that a growers between $209 to 299 million, annually
disease will occur as well as determine the inten- (HERSHMAN, 2011). SBR-PIPE provides stake-
sity of the disease to increase (ESKER, 2008). holders with a disease monitoring platform that
Plant disease forecasting systems are designed is combined with risk assessment models and
to assist growers with their decision-making pro- information management resources that allow
cess when determining the costs and benefits of them to make educated real-time management
a disease management decision (ESKER, 2008). decisions (BRADLEY, 2010). One reason this
Forecast systems often focus on how a grower's platform has been successful is that monitoring
management decision will affect the development data has been collected in a timely manner by
of the epidemie or avoid initial inoculum, as was soybean specialists around the U.S. Without this
discussed with tillage practices above. There are element, the site would rely on models to pre-
many forecast systems available for plant diseases dict the presence of soybean rust, w hich would
around the world and for soybeans in the U.S. ultimately add more error to forecasts creating
16 - S OYBEA DI EASES ANO MANAGEME T IN UNITED STATES 285

a less dependable tool. The sustainability of the ture of the SBR-PIPE is uncertain, however, if
SBR-PIPE is in question as funding for the mon- current leveis infrastructure can be maintained
itoring efforts and information technology (IT) than it is likely that it will remain a viable re-
support staff is diminishing. This means the fu- source for stakeholders.

~ •U....-T...
·.l&ll.1.:..W
.~ ·lillm

_.,~~r.!!-..
._._t.!,o aGt.Wa8'1Aw
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Tme, rei C Si Mo:n tCs::-aeNc Dfe Irre e( O 11 Sewtc dí-maeNc PtN

Figure 3. Screen shots of the lpmPIPE website (http://sbr.ipmpipe.org/cgi-bin/sbr/publiG.cgi) for the two soybean
monitoring and forecast toeis of Soybean Rust and Frogeye Leafspot. These resources provide stakeholders with infor-
mation about disease manageement, national and state commentary on disease development, risk assessement, and
additional information links for disease information.

Decision support systems and forecast- success of the SBR-PIPE system and develop-
ing models for soybean diseases will contin- ment similar resources (i.e. Frogeye-PIPE) has
ue to be developed and refined in the future provided U.S . soybean growers with new edu-
(SHTIENBERG, 2013). The sustainability of cational tools to be more informed about soy-
these tools will always be a concern especially bean disease management. As new forecasting
with the need for IT support to maintain and and decision support systems are developed,
modify electronic publishing systems. Grower collaboration between academic researchers
acceptance of these tools is also a concern as and the agribusiness scientists will be criticai
many do not adopt them as part of their man- to producing reliable and effective disease in-
agement practices (GENT, 2011). However, the formation platforms.

6. Summary and future


There are now better informational tools, their consumption on human health indicate
and genetic and agronomic approaches avail- that this crop will continue to be a prominent
able for dealing with diseases and pests of soy- fLxture for U.S. grower in the future (BOERMA
bean. ln addition, the increased uses for soy- 2004; XIAO, 2008). The management of soy-
bean as well as the advantageous benefits of bean di eases will always be a cr·u · .
1 ca1 mput
286
E RNANE L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Ass is

to crop production, and will always start with (i.e. SBR-PIPE) will be important to maintaining
proper identification of the pathogen. The dis- soybean knowledge sharing. The incorporation
eases that used to limit soybean production in of novel electronic precision agriculture resourc-
the early 1900's are not the sarne as the diseases es such as unmanned aerial vehicle (UAVs) for
limiting production in 2014 (e.g. soybean rust ' and pathogen monitoring (TORRES-SAN-
crop
and sudden death syndrome) (BOERMA, 2004). CHEZ, 2013), will provide growers with new re-
Diseases impacting production will continue to sources for their management decisions. These
change, but through collaborative monitoring tools will be valuable to U.S. soybean produc-
and research efforts soybean will continue to tion as growers will be facing new challenges re-
thrive in the U.S. Searching for answers to the lated to global warming and water management
sustainability of disease management resources as well as problems yet to be identified.

7. Literatu re cite d
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Soja: produção, patologias
e manejos no Brasil

ALFREDO RICIERE DIAS


Engenheiro Agrônomo, Me.
Fundação Chapadão
EDSON PEREIRA BORGES
Engenheiro Agrônomo, Me.
Fundação Chapadão

1. Importância no Brasil , área produzida,


mercado atual e potencial da soja
O Brasil é conhecido desde sua coloniza- cultura da soja só não é maior devido a fatores
ção por ser um país que fora utilizado para a impactantes, como as limitações internas da
exploração de recursos minerais e, posterior- infraestrutura de transporte e armazenamento
mente, na exploração agrícola. O agronegócio de grãos do país.
brasileiro, com o passar dos anos, foi criando O cultivo da cultura teve seu início em
novas tecnologias até tornar-se cada vez mais 1914 no estado do Rio Grande do Sul, princi-
eficiente em sua produtividade. palmente por causa da localização e do clima
A soja (Glycine max) destaca-se como relacionado ao fotoperíodo. Com os estudos
sendo um dos principais produtos cultiva- pautados no melhoramento genético da plan-
dos atualmente pelos agricultores brasileiros, ta, foi possível aos cultivares uma maior adap-
tornando O Brasil um dos principais países tação e estabilidade, tornando cabível o seu
produtores dessa oleaginosa desde a safra cultivo em outras áreas do território brasilei-
2008/2009 até os dias atuais (CONAB, 2014a). ro (FREITAS , 2011).
A mesma cultura é responsável por destacar o
Os principais fatores para o crescimento
Brasil como um dos maiores exportadores de
da cultura da soja no país estão fortemente
grãos do mundo, e somando-se aos EUA e à ~r-
gentina são responsáveis por 80% da produçao relacionados aos avanços científicos e à dispo-
mundial. Dessa forma, a soja é sim considerada nibilização de tecnologias ao setor produtivo,
uma das mais importantes culturas na econo- como a mecanização e a criação de cultivares
mia mundial (FERREIRA et ai., 2014). altamente produtivas adaptadas às diversas re-
giões, o desenvolvimento de pacotes tecnológi-
Nesse contexto, as regiões brasileiras pro-
.. ~ , =- l~rinn,;:irf~~ ~O cresci- cos relacionados ao manejo de solos, ao mane-
350
ERNANE L EMES - L EONARDO C ASTRO - RAf-AEL AssI

Os grãos, por terem a produtividade em estabelece uma nova fronteira agrícola chamada
larga escala, têm grande porcentagem nessas de Mapitoba, uma junção do Maranhão, Piauí,
estimativas, rotacionando o mercado e conse- Tocantins e Bahia, no Norte e Nordeste do paí .
cutivamente a economia. Na última estimativa Por último, a mais nova fronteira agrícola bra-
nacional, da safra 2013/2014, a produção alcan- sileira, a região no sudeste do Pará e norde te
çada foi de 5,7% superior à safra 2012/2013, en- de Mato Grosso, conhecida como Vale do Ara-
quanto que a área plantada teve um aumento guaia, cujas condições para o cultivo de grãos é
de 2,437 milhões de hectares. A região Norte tão rentável e produtivo quanto em área tradi-
do país foi a que teve maior valor significativo cionais de produção agrícola do Cerrado.
para o aumento de área, obtendo 30,8% a mais Em relação ao comércio internacional em
de área cultivada com soja em relação à safra todas as projeções de longo prazo, é o comple-
2013/2014 (CONAB, 2014a). xo soja que assume a liderança. A China será
No entanto, a maior área plantada com a responsável pelo maior crescimento nas impor-
oleaginosa, de 13.909,4 mil hectares, está con- tações mundiais de soja em grão, tendo o Brasil
centrada na Região Centro-Oeste, apresentan- como seu maior fornecedor. A competitividade
do nesta temporada um incremento de 8,9% global brasileira se assenta também no dinamis-
sobre a safra anterior; diante desse contexto, mo do seu mercado doméstico, exemplificado
no Brasil, desde a safra 2006/2007, não houve na importância da soja como ingrediente de
redução da área ocupada pela soja, muito pelo base para novos produtos alimentícios indus-
contrário, esta só vem ganhando espaço a cada trializados, em outras palavras, agregar valor ao
ano agrícola, somando uma área equivalente grão precioso (WILKINSON, 2010).
a 30.173,1 milhões hectares (CONAB, 2014b). Em longo prazo, são vários fatores que po-
A oleaginosa lidera a implantação de uma derão aumentar a produção agrícola no Brasil e
nova civilização no Brasil Central, levando o de- consolidá-lo entre os maiores produtores mun-
senvolvimento e o progresso para regiões até diais na cultura da soja. Um deles é o fato de o
então isoladas, despovoadas e sem interesse Brasil possuir grandes áreas ainda inexploradas
econômico algum, continuando a se expandir ou insuficientemente exploradas que poderão
em novos territórios do biorna Cerrado, onde se ser incorporadas à produção agropecuária.

2. Principais problemas edáficos e climáticos


que podem favorecer patologias
o contexto do aumento da área cultiva- tanto, é um componente relevante nessa in-
da aliada a condições climáticas, pode ser res- teração, podendo, inclusive, impossibilitar a
ponsável pela predisposição de plantas à inci- ocorrência da doença mesmo na presença do
dência de patógenos e, consequentemente, o hospedeiro e do patógeno. Os fatores ambien-
potencial produtivo da oja ser comprometido tais podem determinar o grau de predisposi-
em função do ataque de pragas e doenças. A ção do hospedeiro, influenciando desde o es-
importância regional de cada problema fitossa- tabelecimento da doença numa cultura até o
nitário é dependente da condições climáticas desencadeamento de epidemia (BEDENDO e
decorrentes em cada região de cultivo. AMORIM, 2005).
O aparecimento e de envolvimento de do- O resultado de pesquisa realizada no es-
enças são resultantes da interação entre uma tado do Paraná demonstra que a presença
planta suscetível, um agente patogênico e fa- do molhamento é fundamental para a ocor-
tores ambientais favoráveis. O ambiente, por- rência de Phakopsora pachyrhizi na cultu-
19 - SOJA: PRODUÇÃO, PATOLOGIAS E MANEJOS O B RASIL
351
Al.FR.Eoo RicIERE D IAS - Eo 01 PEREIRA B ORGES

ra da soja, a presença ou ausência da água 21 ºC, e alta umidade, formam ambiente extre-
livre na superfície foliar determina a possi- mamente favorável à germinação dos escleró-
bilidade de germinação dos esporos e con- cios, que desenvolvem apotécios na superfície
sequentemente a ocorrência da infecção, ou do solo e que por sua vez, irão produzir a cós-
seja, existe alta correlação entre número de poros, que são responsáveis pela infecção das
dias de chuva e severidade final da ferrugem plantas, causando a doença conhecida como
(TSUKAHARA et ai. , 2008). Mofo Branco ou Podridão Branca da Haste
Além de P. pachyrhizi (ferrugem asiáti- (HENNING et ai. , 2010).
ca da soja), a frequência e a di tribuição das A disseminação de agentes patogênicos
chuvas, durante o ciclo da cultura, são fatores pode ser influenciada pela ação do vento, que
determinantes para a ocorrência de doença pode transportar esporos dos fungos a peque-
como Mela (Rhizoctonia solani AG 1) e An- nas ou longas distâncias, dependendo de ua
tracnose (Colletotrichum truncatum) , que intensidade. A Ferrugem Asiática, considerada
necessitam de longo período de precipitação a mais importante enfermidade da cultura, se
durante o desenvolvimento da soja e, quan- espalha facilmente pelo ar e é facilmente disse-
do associada à temperatura elevada, desen- minado pelos ventos. esse contexto, a Funda-
cadeia uma epidemia de sa duas doenças, ção Chapadão realiza o acompanhamento da
consideradas limitante ao cultivo da soja na doença em todo o Brasil, através do site Con-
região amazônica, por exemplo ( ECHET et sórcio Antiferrugem, onde é possível coo tatar
ai., 2008). Por outro lado, condição de menor a localização dos focos da doença, e paralela-
distribuição de chuvas ou baixa incidência de mente acompanhar a direção dos ventos. Ca o
precipitação favorece a maior infecção de Ery- o movimento das massas de ar das regiões com
siphe diffusa, patógeno causador da doença foco confirmado seja em direção à Região dos
conhecida como Oídio (BEDE DO e AMO- Chapadões, os produtores recebem a informa-
RIM 2005 ; HENNING et ai. , 2010). ção para intensificar o monitoramento dos ta-
Mesmo ocorrendo alta umidade, as tempe- lhões, bem como a coleta de folhas enviadas
raturas excessivamente altas ou baixas durante ao laboratório. Essa estratégia tem e tornado
certo período exercem influência na ocorrên- importante ferramenta para o produtor se in-
cia das doenças para a cultura da soja. O pató- formar sobre como está se espalhando a doen-
geno Sclerotinia sclerotiorum é favorecido por ça, e planejar melhor as medidas de controle
temperaturas amenas oscilando entre 10 ºC e (EMBRAPA, 2004).

3. Patologias de maior impacto nos últimos anos


e suas principais técnicas de manejo
3.1. Ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhiz,1
Dentre as doenças a ferrugem asiática produtoras de soja do Brasil (YORI ORI et
da soja, é considerada hoje a patologia que ai. 2002; TEC OLOGIA , 2011).
provoca os maiores níveis de danos à cultura. A ferrugem da oja foi encontrada no Bra-
Esse efeito ocorre devido a sua agressividade sil a partir de 2001; de de então, em alguma
de progresso e rápida disseminação, que, em condições, tem proporcionando impacto de até
função das características de suas estruturas 90% de redução na produtividade, bem como
de reprodução, fazem do vento o principal aumento no custo de produção ao agricultores.
meio de dispersão, e consequentemente há À e sa doença também pode er atribuída a re -
ocorrência em praticamente todas as regiões pon abilidade pela inten ificação do u o de fun-
352 D OENÇAS DA SOJA: M ELH ORAME TO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

E RNANE L EM ES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

gicidas nas safras seguintes e até mesmo nos dias do enchimento de grãos (R5 .1) e , próximo ao
de hoje (ALMEIDA et al. , 2005; CATELLI, 2009; final dessa fase , pode atingir alto nível d e se-
TECNOLOGIAS, 2011; GODOY et al., 2014). veridade que resultará em qued a pre matura
Os sintomas podem aparecer em qual- das folhas (Gráfico 1). É válido ressaltar que ,
quer estádio fenológico da cultura, sendo quanto mais cedo vier a ocorrer a d esfolha
comuns em plantas próximas ou posteriores
'
menor será o rendime nto da lavoura, d evido
ao florescimento ; quando em condições favo- ao menor enchimento de grãos (ALMEIDA et
ráveis, os sintomas podem evoluir no início al., 2005 ; GODOY et al., 2014).
100
90
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Rl R4 R 5.l R 5.2 R S.3 R S.4 R S.5 R6 R 7.1
F.stáclio dP. DP.sP.nvolvimP.nto
Gráfico 1. Curva de progresso e evolução da Ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhiz1) na cultura da soja na
região dos Chapadões . Fonte : Fundação Chapadão, 2015 .

O Consórcio Antiferrugem foi criado em ções climáticas já citadas, ou outros fatores que
2004 e constitui a união de e forços entre insti- atuam na quantidade de inóculo inicial; dentre
tuições de iniciativa pública e privada, universi- eles, destaca-se o vazio sanitário que consiste na
dades, fundações de pesquisa, cooperativas de eliminação voluntária de soja, interrompendo o
produtores e entidades representante de fabri- ciclo do patógeno na entressafra e n ão permi-
cantes de insumos em torno do problema da fer- tindo que o fu ngo faça a "ponte verde" entre
rugem asiática da soja. O Consórcio Antiferru- uma safra e outra (BORGES et ai., 2014).
gem tem como objetivo aux iliar o produtor rural No ano de 2006, essa medida foi instituí-
na identificação da doença, através dos diversos da nos estados de Mato Grosso , de Goiás e do
laboratórios credenciados espalhados nas prin- Tocantins. a safra seguinte foi a vez de Minas
cipais regiões produtoras de soja do país, incen- Gerais, de São Paulo, da Bahia, do Paraná e do
tivando a importante prática do monitoramento Distrito Federal. Os estados de Mato Grosso do
(CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM, 2014). ul, de Santa Catarina e do Maranhão inicia-
Através desse acompanhamento é possível ram o vazio sanitário em 2008, enquanto que
constatar o início d as epidemias regionais ano a Pará e Rondônia estabeleceram a lei no ano d e
ano, que por sua vez são dependentes das condi- 2009 (CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM, 2014).
19 - SOJA: PROD UÇÃO , PATOLOGIAS E MANEJOS O B RAS IL
353
ALFRE DO RJCIERE DIAS - E DSON P EREIRA B ORGES

Dentre as estratégias de controle que tenham com o objetivo de reduzir a quantidade de


por objetivo reduzir os danos causados pela fer- inóculo nos cultivos da safra de verão. Apesar
rugem asiática da soja, destacam-se: plantio no de ser cümprida a legislação, em algumas re-
início da época adequada de semeadura, o uso giões existe a possibilidade do cultivo de soja
de variedades de ciclo precoce, a prática de evitar na safrinha, aumentando significativamente a
cultivas de entressafra, a eliminação de plantas quantidade de inóculo. No intuito de restrin-
tigueras ou hospedeiros alternativos, implanta- gir e até mesmo eliII?-inar essa prática, o estado
ção do vazio sanitário (controle legislativo), e o do Mato Grosso, no ano de 2014, através da
não menos importante monitoramento (ALMEI- INSTRUÇÃO NORMATIVA CONJUNTA SEDEC/
DA et al , 2005; TECNOLOGIAS, 2011). SEAF/INDEA-MT Nº 001/ 2.015, estabeleceu o
Vários estados produtores implantaram o vazio sanitário de 138 dias para a cultura da
vazio sanitário (período sem plantas de soja soja, que acontecerá no período de 1 de maio
vivas no campo), de 60 a 90 dias (Gráfico 2), a 15 de setembro (Gráfico 2).

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Gráfico 2. Períodos de Vazio _Sanitário para a cultura da soja no Brasil. *PA (1 ): Microrregiões de Conceição do
Araguaia, Redenção, ltaituba, Marabá e Altamira (Distrito Castelo dos Sonhos). PA (2): Microrregiões de Santarém,
Paragominas, Bragantina, Guamá e Altamira (com exceção do Distrito Castelo dos Sonhos). *MA (1): Microrregiões
de Alto Mearim, Grajaú , Balsas, Imperatriz e Porto Franco. *MA (2): Microrregiões de Baixada Maranhense, Caxias,
Chapadinha, Codó, Coelho Neto, Gurupi , ltapecuru Mirim, Pindaré, Presidente Outra, Rosário, Paço do Lumiar,
Raposa , São José de Ribamar e São Luís. Fonte: Consórcio Antiferrugem, 2014.

Dentre as regiões brasileiras onde a doença do número de focos da ferrugem asiática a par-
tem sido mais agressiva (Sul e Centro-Oeste), tir da safra 2010/11; tal efeito se deve provavel-
tem-se constatado certa variação de safra para mente ao fato de que todos os estados brasi-
safra, em função das condições climáticas e do leiros produtores de soja implantaram o vazio
inóculo inicial. No entanto, é nítida a redução sanitário durante a safra 2009/10 (Tabela 1).
354

Tabela 1. Número de focos da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhiz1) na cultura da soja ,


nas diferentes regiões brasileiras.
Ano Agrícola
Região

26
Centro-Oeste 210
Norte o
Nordeste
-------- 929 64 277 55 6 7
Fonte: Consórcio Antiferrugem , 2014.

Na região dos Chapadões, através do levan- tada apenas no mês de janeiro. O mesmo atraso
tamento realizado pela Fundação Chapadão, da doença foi constatado nas safras seguintes
também observa-se uma variação no compor- (2011/2012; 2012/2013); em ambos os anos, a
tamento da doença entre uma safra e outra, po- primeira ocorrência foi detectada na segunda
rém é possível constatar um retardo no início quinzena do mês de janeiro (Tabela 2).
das epidemias (Tabela 2), bem como redução Durante as três safras (2010/2011; 2011/2012
do número de focos da doença (Gráfico 3) após e 2012/2013), a intensidade da epidemia foi baixa,
a implantação do vazio sanitário no estado. consideradas como safras tranquilas em relação
Realizando uma análise do ano agrícola às demais. Pois nesses anos, foram constatados
2009/2010, em que houve o maior número de os menores índices de foco da ferrugem asiática,
estado brasileiros executando o vazio sani- durante todo o monitoramento da região, reali-
tário da cultura, já foi possível constatar refle- zado pela Fundação Chapadão (Gráfico 3). Tal
xos na safra seguinte. Dessa maneira, na safra condição pode estar relacionada ao clima não
2010/2011 observou-se um atraso de 40 dias no propício para o desenvolvimento do patógeno
início do surgimento da ferrugem asiática em la- (inverno seco), e, principalmente, à redução da
vouras na região dos Chapadões, em compara- quantidade de inóculo inicial na safra devido à
ção à safra anterior (2009/2010), sendo consta- obediência e cumprimento do vazio sanitário.
Tabela 2 . Data da incidência do primeiro foco de ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhiz1) na cultura da soja , no
respectivo ano agrícola , na Reg ião dos Chapadões. Chapadão do Sul - MS , 2014 .
Safra/ano Agrícola Data
2006/2007 22/11/2006
2007/2008 18/12/2007
2008/2009 23/12/2008
2009/2010 02/12/2009
2010/2011 11/01/2011
2011/2012 24/01/2012
2012/2013 17/01/2013
2013/2014 28/12/2013
2014/2015 29/12/2014
Fonte : Fundação Chapadão, 2014.

A safra de 2013/2014 pode ser conside- cio do monitoramento realizado a partir da


rada a que teve o segundo maior número de afra 2007/2008 (Gráfico 3). Esse efeito pode
focos na região dos Chapadões desde o iní- er consequência da incidência mais cedo do
19 SOJA : PROD UÇÃO, PATO LOGIAS E MANEJ O NO B RASlL 355
ALFREDO RICIERE DIAS - EDSON P EREIRA B ORGES

patógeno na reg1ao, com apenas 26 dias de (2009/2010), proporcionando maior quantida-


atraso em relação à safra de maior ocorrência de de inóculo causador da doença.

- safra 200 /OS- Safra 2008/09- Safra 2009/1O-Safra 2010/11


- safra _011 112- satra _01 _/1.~- safra _01 V l 4- Safra 2014/1.
Gráfico 3. Número de folhas com sintomas de ferrugem da soja diagnosticadas pelo Laboratório de Diagnose
de Doenças e Nematoides da Fundação Chapadão, no período de novembro a fevereiro, dos anos 2007 a 2014.
Chapadão do Sul, MS. Fonte: Fundação Chapadão , 2015.

Além das estratégias de controle já cita- mação, como é o caso do Consórcio Antifer-
d as, o controle químico é o método de com- rugem, que é um sistema de monitoramento
b ate à ferrugem asiática da oja mai utilizado da dispersão da P. pachyrhizi; assim, tais ferra-
em todo país. O uso de fungicidas eficiente mentas, quando trabalhadas juntas, suprem a
até o momento vem garantindo o potencial deficiência uma da outra e podem auxiliar na
das lavouras brasileiras, no entanto a eficácia tomada de decisão, de modo a garantir que a
desse método é cada vez mais dependente de pulverização do fungicida seja realizada logo
vário fatores. no início da detecção do primeiros esporos.
O monitoramento é fator fundamental O uso de fungicidas a cada safra torna-se
para o ucesso do uso ustentável e eficiente uma ferramenta indispensável para o controle
de fungicidas. esse contexto, surgem algu- da ferrugem asiática da oja, assim como para
mas ferramentas que podem ser úteis para o garantir a produtividade da cultura (GODOY
auxílio na tomada de decisão, como progra- et ai., 2012; GODOY et al. 2013a· GODOY et
mas como Syntinelas, Consórcio Antiferru- ai. , 2014). Dentre o principais modo de ação
gem, S.O.S. Soja, Mini-lab, Radar, Aura, dentre utilizado no controle dessa doença de tacam-
outros (GARDIANO et ai. , 2010). Muitos des- -se o grupo das estrobilurina e triazóis. o
ses programas são baseados nas condiçõe cli- início da~- pachyrhizi no Bra il e es grupos
máticas para a determinação do momento de eram aplicado ozinho · a pe qui a, no de-
aplicação, levando em conta temperatura, umi- correr dos ano ' mo trou a melhor eficácia dos
dade e tempo de molhamento foliar. Porém fungicida quando eram realizadas a misturas
outros baseiam- e na disseminação de infor- comerciai de es doi modo de ação.
356 D OENÇAS DA OJA: MEI.HORAME TO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - L Eo ARDO CASTRO - RAFAE L Ass1

A partir da safra 2007/08, notaram-se pro- ção de moléculas do grupo das carboxamidas,
blemas de eficiência do modo de ação dos tria- que por sua vez apresentam excelente controle
zóis em experimentos realizados com semea- da ferrugem asiática da soja. Até o momento exis-
duras que favorecem altas pressões do fungo tem apenas dois ingredientes ativos desse grupo
em todo o país (TECNOLOGIAS, 2011). Des- registrados, ambos estão associados a outro in-
de aquele ano, não é recomenda a utilização gredientes ativos do grupo das estrobilurina .
de fungicidas comerciais que tenham em sua Atualmente, 109 fungicidas são registrado
composição um único modo de ação para o e indicados pelo Ministério da Agricultura,
controle de ferrugem asiática da soja. Pecuária e Abastecimento para o controle da
Durante a safra de 2013/2014, diversas ferrugem asiática na cultura da soja (AGRO-
instituições de pesquisa como Embrapa Soja, FIT, 2014). No entanto, como já mencionado,
Fundação Chapadão, Fundação Mato Grosso, os princípios ativos alternam a eficiência na
Universidade de · Rio Verde, Universidade Fe- redução de danos a cada safra. Nesse sentido,
deral de Uberlândia, AgroCarregal, Agrodinâ- a Embrapa Soja desenvolve desde 2003 uma
mica, entre outras, que participam dos ensaios rede de ensaios com objetivo de produzir re-
em rede (Consórcio Antiferrugem), constata- sultados com base em pesquisas para auxiliar
ram tanto a campo, como na análise dos dados os técnicos produtores na escolha dos melho-
levantados durante essa safra, uma menor efi- res produtos (GODOY et al., 2014).
cácia do fungicidas de diferentes misturas co- Na safra 2013/14 foram realizados experi-
merciai (estrobilurinas e triazóis). As mesmas mentos em 26 diferentes órgãos de pesquisa,
institmçoe têm constatado, através de suas testando a eficiência de 19 produtos, dos quais a
respectivas pesquisas, a melhor eficácia desses maior eficácia de controle em relação à testemu-
produtos quando associados a outro fungicida nha e a menor perda de produtividade foi obtida
de contato, como, por exemplo, Mancozeb e para o tratamento de mistura comercial entre es-
Oxicloreto de Cobre. trobilurina e carboxamida; no mesmo trabalho,
Recentemente as empresas fabricantes de é possível constatar a baixa eficácia de controle
fungicidas estão disponibilizando a nova gera- dos ativos isolados (GODOY et al. , 2014).

3.2. Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum)


a atualidade, a doença causada pelo pa- nas principais regiões produtoras no Brasil, no
tógeno Sclerotinia sclerotiorum que recebe período de 2008 a 2012 (MEYER et al. , 2014).
o nome de mofo branco, podridão branca Diversas regiões produtoras proporc~onam
da haste ou podridão de sclerotina, pode ser condições favoráveis à doença, como em todos
considerada uma da principais doenças que os estados do Sul e Centro-Oeste do Brasil, bem
ocorrem na cultura da oja no Brasil. O fungo como na Bahia, Minas Gerais e São Paulo, locais
ataca diversas e pécie em diferentes regiões que apresentam anos de clima chuvoso, tem-
do mundo, sendo assim também importante peratura amena e alta umidade relativa do ar.
em outra cultura hospedeiras (BOLA D e Tai condições são de fundamental importância
HALL, 1987; GÔRGE et al., 2008). quando ocorrem próximas ao início de flores-
A importância dessa doença é extremante cimento (Rl) até meados da formação de grãos
dependente das condições climática favorávei (TEC OLOGIA , 2011; MEYER et al. , 2014).
à incidência e ao desenvolvimento do fungo, Uma característica desse patógeno é o de-
podendo provocar média de 24% de redução na senvolvimento de escleródio , que é a estrutura
produtividade da soja, conforme re ultados de de sobrevivência do mofo branco, podendo per-
pesquisas realizadas por diversas instituições, manecer viável por 14 meses na superfície do
19 - OJA: PRODUÇÃO, PATOLOGIAS E MANEJOS O B RASIL 357
ALFREDO Ric1ERE DrAS - E oso PEREIRA B o RGES

solo e por aproximadamente 36 meses quando elo do patógeno e inviabilizar o escleródio, pois
enterrados (REIS e TOMAZINI, 2005). Em ftm- estes uma vez germinados raramente germinam
ção dessa característica, se faz necessário adotar novamente. Tais estratégias ajudaram a reduzir
várias estratégias de controle, como, por exem- a quantidade de inóculo inicial para a próxima
plo, controle cultural, biológico e químico. cultura (LEITE, 2005; MEYER et ai., 2014).
Quando esses escleródios, na presença do Após o período de infecção do fungo em
hospedeiro, são ubmetidos a condições cli- plantas de soja, as lesões iniciais são aquosas,
máticas favoráveis, há a formação da estrutura de coloração castanho-avermelhada com o
de reprodução conhecida como apotécio, que avanço da propagação do fungo na planta; nas
libera o ascósporo, que por sua vez irá infectar lesões há a formação de micélio branco, po-
a planta. É nesse momento que algumas estra- dendo infectar todas as partes da planta, estru-
tégias de controle podem reduzir o progresso turas vegetativas, estruturas de reserva como
do patógeno, como, por exemplo, a formação sementes e vagens, e feixes vasculares, e por
de palhada oriunda de gramínea exposta de fim há a formação do escleródio (LEITE, 2005;
modo uniforme no solo,.que servirá de barrei- HENNEBERG et ai. , 2011).
ra física de modo a impedir que os ascósporos O processo da germinação dos escleró-
cheguem ao órgão reprodutivo da planta, ação dios que podem desencadear uma epidemia
de fungos antagonistas no escleródio e apoté- de mofo branco na cultura inicia-se no final
cio (controle biológico), população de plantas da fase vegetativa, passando pelo início do es-
e espaçamento adequado entre linhas, cultiva- tádio reprodutivo (Rl) até o final de floresci-
res de curto período de florescimento. mento (R4); por último, os sintomas nas plan-
Outras duas estratégias de controle à rotação tas iniciam-se junto ao período de enchimento
de culturas e formação de palha atuam na forma- de grãos (RS.1) e, dependo de as condições
ção de microclima favorável, podendo induzir à climáticas serem favoráveis, pode aumentar e
germinação do escleródio na ausência de seu chegar à morte da planta próximo ao final de
hospedeiro, dessa maneira irá interromper o ci- enchimento de grãos (Gráfico 4) .

100 . - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
90 + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
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F.st.ádio de nesenvolvimento
Gráfico 4. Curva de progresso e evolução do mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) na cultura da soja
na região dos Chapadões . Fonte: Fundação Chapadão , 2015.
358 OJA : MELHORAMENTO GENb"fICO E TÉC ICAS DE MANEJO

O uso do controle químico através da aplica- controle dessa doença, como fluazinan e pro-
ção de fungicidas foliares pode ser adotado nessecimidona, aplicados isoladamente ou associa-
momento como uma estratégia de controle, em dos a tiofanato metílico ou carbendazin. Novos
que atuarão como proteção das plantas desde produtos ainda estão em fase de registro no
que aplicados de forma preventiva, podendo as- MAPA para serem utilizados no Brasil, como
segurar a planta da principal forma de infecção fluopyram e dimoxystrobina associada à bos-
que acontece pela colonização de flores de soja calida, que também apresentam eficiência no
por ascósporos (MACHADO e CASSETARl NETO, controle de mofo branco (MEYER et ai., 2014) .
2010; DIAS, et ai. , 2011; MEYER et al., 2014). AS. sclerotiorum pode ser disseminada por
Nesse sentido, desde a safra 2008/2009 são máquinas, porém seu meio mais eficiente de
realizados ensaios cooperativos fomentados contaminação de áreas anteriormente livres do
parcialmente pelo CNPq/MAPA e por empre- patógeno são as sementes, que podem conter
sas fabricantes de fungicidas , conduzido em escleródios misturados ou micélio aderido na
diferentes regiões brasileira por diversas ins- parte exterior e/ou nos tecidos internos (LEI-
tituições de pesquisa, com o objetivo de gerar TE , 2005). Justificando a importância do uso
resultados para auxiliar o registro e recomen- de sementes livres do fungo como ferramenta
dações de fungicidas para essa doença. Dessa primordial na supressão do inóculo inicial e
forma, os resultados dessas pesquisas revelam impedimento da contaminação de áreas livres
a viabilidade do controle químico, sendo que do patógeno, que ficou estabelecido através da
sua eficácia depende da dose, do momento da Portaria nº 47, de 26 de fevereiro de 2009, da
aplicação, do número e do intervalo entre as Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA,
pulverizações. Com base nos resultados desse a recomendação é para que sejam recusados
trabalho, é possível constatar maior eficiência lotes de sementes de soja que apresentem um
dos fungicidas já registrados no MAPA para o escleródio (BRASIL, 2009).

3.3. Mancha alvo (Corynespora cassiicola)


A mancha alvo pode ser encontrada prati- dões, que, desde a safra 2011/2012 , está cau-
camente em todas as regiões brasileiras onde sando desfolha de algumas lavouras (DIAS et
se cultiva oja; a doença, causada pelo patóge- ai. , 2014). Por fim , a baixa eficácia de controle
no Corynespora cassiicola, foi relatada pela dos fungicidas comumente utilizados na cultu-
primeira vez na região Sul do Brasil (ALMEIDA ra da soja (GODOY et al. , 2013b).
et ai. , 2005 ; GODOY et ai. , 2013b) . Os sintomas iniciais caracterizam-se por
Em função do sistema d e cultivo utilizado pontuações pardas, com halo amarelado,
principalmente na regiões de cerrado, com evoluindo para grandes manchas circulares ,
cultivares de ciclo precoce, a incidência dessa de coloração castanho-claro a castanho-escu-
doença tem aumentado significativamente na ro, atingindo até 2 cm de diâmetro. ormal-
últimas safras; normalmente, essas cultivares mente, as manchas apresentam pontuação no
apresentam maior suscetibilidade ao fungo , centro e anéis concêntricos. Cultivares sus-
assim como a utilização de plantas de cobertu- cetívei podem ofrer evera desfolha, com
ra na e ntressafra que também são suscetíveis, manchas na haste, na vagens , e ainda pode
como a Crotalaria spectabilis, re ultando em infectar as ementes (ALMEIDA et ai. , 2005 ;
maior fonte de inóculo para a safra seguinte. HE I G et ai. , 2010 ; TEC OLOGIA , 2011 ;
Outro fato que confirma su a maior importân- GODOY et ai., 2013b).
cia a cada safra é a incidência de C. cassiicola O sintomas podem aparecer em qualquer
na cultura do algodoeiro na região dos Chapa- estádio fenológico da cultura, d ependendo da
359

ensibilidade da cultivar, sendo comuns em chimento de grãos (R5.l) e, próximo ao final


plantas próximas e/ou posteriores ao floresci- dessa fase, pode atingir alto nível de severida-
mento; ainda podem evoluir no início do en- de, que causará desfolha precoce (Gráfico 5).

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F.stá rlio de Desenv olvim ento
Gráfico 5. Curva de progresso e evolução de mancha alvo (Corynespora cassiico/a) na cultura da soja na região
dos Chapadões. Fonte: Fundação Ch apadão, 2015.

O uso de cultivares resi tentes ao patógeno lho, além de fungicidas já registrados também
ainda é a ferramenta de controle mais eficaz, são avaliados aqueles que estão em fase de re-
no entanto, não é possível abrir mão do tra- gistro. Através dos resultados obtidos nesses
tamento de semente, rotação ou sucessão de trabalhos, é possível constatar a baixa eficá-
culturas com gramíneas e o controle químico. cia de fungicidas pertencente ao grupo do
A eficiência de fungicidas para o controle Benzimidazóis, e até mesmo a resistência de
da mancha alvo, também é avaliada através de C. cassiicola a esse grupo em diferentes regi-
ensaios cooperativos coordenados pela Em- ões produtoras do Paraná, Mato Grosso, Mato
brapa desde a safra 2011/2012 . esse traba- Grosso do Sul e Goiás.

3.4. Antracnose (Colletotrichum dematium var. truncata)


Para as condições de Cerrado brasileiro, causará a redução do número de vagen por
a antracnose pode ser considerada uma das planta e também haste verde (ALMEIDA et al.,
principais doenças na cultura da soja. As tem- 2005; TEC OLOGIAS, 2011) .
peraturas elevadas e alta precipitação, quan- As sementes contaminadas e ainda a defici-
do associadas ao adensamento de plantas ência nutricional podem elevar e/ou aumentar
formam o microclima favorável ao patógeno, a incidência da doença. O intomas da antrac-
que em alta severidade manife ta intomas em nose podem manife tar na morte de plântula ,
folhas , haste e vagens e consequentemente e tender-se durante a fa e vegetativa em ha te,
360 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GENÉ'nCO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - L EO ARDO CASTRO - RAFAEL Assis

folhas e ramos laterais, e, na fase reprodutiva, Devido a condições climáticas pouco favoráveis
as vagens adquirem coloração castanho-escuro a essa doença na região dos Chapadões, tanto a
a negro, resultando na sua queda; por fim as se- incidência quanto a severidade é baixa, poden-
mentes apresentam manchas deprimidas, de co- do chegar a níveis de no máximo 30% de seve-
loração castanho-escuro (ALMEIDA et al., 2005; ridade quando utilizados cultivares suscetíveis
HENNING et al. , 2010; BORGES et al. , 2014). seguido de clima favorável (Gráfico 6).
100

90
80

~
70
,:
e,;
...~
,: 60

t 50
t'✓.l
~
,: 40
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e
30
20
10
o
V9 Rl R4 R5 .l R5 .2 R5 .3 R5.4 R5 .5
F.st.ádio de nesenvolvhnent.o
Gráfico 6. Curva de progresso e evolução de antracnose (Co/letotrichum truncatum) na cultura da soja
na região dos Chapadões. Fonte: Fundação Chapadão, 2015.

Dentre as estratégias de controle é impor- taneamente, poderão reduzir a incidência da


tante utilizar o máximo possível de práticas doença e permitir o uso do controle químico,
agronômicas, como, por exemplo, o uso de que por sua vez ainda apresenta baixa eficácia
sementes livres do patógeno, rotação de cultu- quando realizada analise experimental (HEN-
ra, população e espaçamento adequado, equi- NING et a!., 2010; TECNOLOGIAS, 2011) .
líbrio nutricional. Quando utilizadas simul-

4. Inovações tecnológicas para a cultura da soja


e perspectivas futuras quanto à produção e
possíveis problemas a serem enfrentados
A disponibilidade da informação ao pro- tablets, etc. Através dessas ferramentas é pos-
dutor, descrevendo o problema ou até mesmo sível ter acesso rápido e direto do campo, o
sua solução, está se tornando cada vez mais que permite tirar dúvidas e comparar foto-
acessível e utilizada através da internet, das grafias, ou até mesmo contatar profissionais
redes sociais, aparelhos de telefonia celular, que poderão ajudar a definir a estratégia d e
19 S OJA : PRODUÇÃO, PATOLOGIAS E MANEJOS NO B RAS IL 361
ALFREDO RJc rERE D IAS - EosoN P EREIRA B O RGES

controle, resultando na maior agilidade na to- quência de aplicação a um mínimo necessário


mada de decisão e sua execução. do mesmo fungicida, etc. Tais estratégias po-
A mais recente ferramenta de apoio às pro- dem prolongar a vida útil de um determinado
priedades rurais, os chamados Drones ou Vant grupo químico, principalmente as Carboxa-
(Veículo Aéreo ão Tripulado), permite o regis- midas. Dessa maneira, é possível afirmar que
tro de fotos das lavouras, facilitando o monito- hoje não existe estratégia antirresistência para
ramento de grandes áreas de soja e disponibili- fungicidas sendo praticada no Brasil, e que no
zando ao produtor rural informações visuais da futuro será um grande desafio implantá-las.
evolução do cultivo, identificação de reboleiras, Através do trabalho em rede de fungicidas
etc. No entanto, ainda é preciso muito estudo coordenado pela Embrapa Soja e pesquisas de-
sobre a possibilidade de este equipamento ser senvolvidas por diversas instituições de pesquisa
utilizado como auxílio na diagnose de doenças espalhadas pelo Brasil, é sabido e já comprovada
em soja (leitura e interpretação de imagens), da necessidade de combinações de dois modos
porém é valido destacar sua agilidade em per- de ação para um fungicida sistêmico; nesse sen-
correr a área de um ponto de vista privilegiado, tido, novas tecnologias buscando a mistura tri-
facilitando o monitoramento. · pla de diferentes grupos químico em um mesmo
Intensificar o monitoramento das lavouras fungicida sistêmico é intensificada a cada ano.
. pode ser considerado uma perspectiva futura Novas formulações de fungicidas de contato
para a produção de soja. Tal acompanhamen- (Mancozeb, Clorotalonil, Hidróxido de Cobre e
to é a ferramenta mais segura, prática e bara- etc.) têm auxiliado a manutenção e preservação
ta que permite ao agricultor fazer a aplicação da eficiência dos fungicidas sistêmicos, isto se
de fungicidas para o controle de doenças na deve ao fato da inibição inespecífica de reações
época mais oportuna, tirando o máximo pro- bioquímicas, ou seja, podem atuar em vários
veito de todo o conhecimento técnico dispo- processos vitais dos organismos. Outro fato é
nível, e até mesmo adotar outros métodos de a possibilidade de mutação ou adaptabilidade
controle (físico, cultural e biológico). do fungo P. pachyrhizi a fungicidas sistêmicos,
O controle químico de doenças de plantas é resultando em menor eficácia desses produtos.
praticado com intensidade tanto no Brasil quan- Assim, novas oportunidades estão surgindo a
to nos países economicamente mais desenvolvi- esse grupo de fungicidas que no passado já foi
dos, pois ajudam a garantir a produtividade e muito utilizado em outras culturas.
a qualidade da produção agrícola. os dias de Nesse sentido, é de suma importância re-
hoje não há possibilidade de dispensar seu uso alizar o monitoramento contínuo dos princi-
sem riscos à produção vegetal, porém é neces- pais patógenos a fim de detectar a presença
sário que haja uma conscientização para tornar de linhagens resistentes e consequentemente
seu uso mais seguro, eficiente e econômico. conhecer a sensibilidade dos fungos aos defen-
O surgimento de resistência de fungos a sivos ~til~zados em cada região brasileira, que
fungicidas no campo pode se tornar o princi- podera aJudar a minimizar danos e até mes-
pal problema no futuro da produção de soja, mo mudar a estratégia antes que falhem. Esse
que pode ser proveniente da utilização de acompanhamento está sendo realizado com o
apenas um método de controle (químico), da fungo P. pachyrhizi por vária empre a fabri-
pressão de seleção exercida pela inadequada c~nte de defensivo , e provavelmente nos pró-
aplicação de fungicidas, o que pode ser evita- ximos ano irão estender o monitoramento a
do com o uso de estratégias como restringir outros fungo de interesse econômico.
a aplicação de fungicida vulnerável a período O uso de cult1· are res1· tente representa
crítico (alta pressão de inóculo), reduzir a fre- um pilar dentre a e t rateg1a
, . utilizadas
.. para
16 D OENÇAS DA SOJA: MELH ORAM ENTO GEN ÉTI CO E Tf,<,NJ< A'.:__IJE MANEJO

ERNANE LEMES - LEONARDO CAs·1Hn '' -,EL Ass rs

na safra 2009/2010, conforme dados do Instituto to e da produtividade das culturas ;•,} íu ro,
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011). uma vez que o CO 2 é o substrato p rm. _,-io para
Embora o Estado se destaque como um dos a fotossíntese. Deve-se ressaltar que ;1, p lantas
importantes referenciais na produção de soja no C3 , como a soja, terão maior bencfído co m o
Brasil, poderá, ainda, ter os rendimentos melho- aumento de CO 2 do que plantas C , (STRECK,
rados a partir da adoção de novas tecnologias e 2005). Entretanto, um aumento na temperatura
estudos que possam diminuir os riscos de quebra do ar pode reduzir ou anular os efeitos benéfi-
de rendimento, principalmente diante das mu- cos do CO 2 sobre as plantas (STRECK, 2005). As
danças climáticas aventadas por diversos setores mudanças climáticas, segundo Aggarwal e Mall
da comunidade científica. (2002), ainda podem causar efeitos indiretos na
Nesse contexto, tem sido bastante discutido o produção agrícola mundial, como alterações na
fato de que o aumento da concentração dos gases disponibilidade de água para a irrigação, com-
de efeito estufa na atmosfera - entre eles dióxido petição com pragas, doenças, alterações na fer-
de carbono (CO2), metano e óxido nitroso ' -, de- tilidade do solo e erosão, entre outras.
vido às atividades antrópicas, como a queima de Em relação à cultura da soja e os efeitos do
combustíveis fósseis e mudanças no uso da terra, dióxido de carbono atmosférico, Heinemann et
tem contribuído consideravelmente para o aque- al. (2006), conduziram experimentos sobre o
cimento do planeta. As concentrações atmosféri- efeito do ambiente controlado e enriquecido
cas de dióxido de carbono aumentaram de 278 com concentrações na faixa de 400 ppm e 700
ppm (partes por milhão) no período pré-indus- ppm e em diferentes níveis de temperaturas diur-
trial para 379 ppm, em 2005, excedendo os ní- nas e noturnas respectivamente (20 ºC /15 ºC,
veis dos últimos 800 mil anos (180 a 300 ppm). A 25 ºC /20 ºC e 30 ºC /25 ºC). Os resultados
taxa de aumento anual da concentração de CO2 apontaram um aumento de biomassa total das
atmosférico foi, em média, 1,9 ppm no período plantas e no peso dos grãos quando o ambien-
de 1995 a 2005 e a tendência é atingir entre 730 te atinge nível de 700 ppm e a temperaturas
ppm e 1020 ppm até 2100. Aliado a este fato, a amenas. No entanto, estudos dessa ordem são
temperatura média global, no período de 1906 a difíceis de serem executados, pois o aparato ex-
2005, aumentou 0,74 ºC, e há estimativa que, em perimental é oneroso e de manuseio complexo
2100, deva se elevar de 2 ºC a 4,5 ºC, conforme as (ANDRESEN et al., 2001).
previsões do IPCC (2007). Diante de todos os aspectos e dificuldades
Estudos numéricos com modelos de circula- operacionais, os modelos de simulação de cul-
ção geral da atmosfera (CGM) indicam que é bas- tura surgem como uma ferramenta útil para
tante provável que se verifique um aumento de 1 criar cenários, avaliar impactos e definir medi-
ºC a 6 ºC na temperatura média do ar até o final das de adaptação para o setor agrícola mediante
do século XXI em vários locais do Planeta (IPCC, as expectativas das alterações do clima (TAO et
2007), incluindo o Brasil (Siqueira et al., 2001; al., 2008). Os modelos do sistema DSSAT (De-
Assad et al., 2004). As conclusões do Grupo de cision Support System for Agrotecnology Trans-
Trabalho I para o Quarto Relatório de Avaliação fer) têm sido usados nos últimos anos por pes-
do IPCC (IPCC, 2007) preveem um aumento de 1 quisadores de diferentes países do mundo na
ºC a 6 ºC na temperatura média global até o ano avaliação das respostas da produtividade de vá-
de 2100. Para a região Sul do Brasil, este relatório rias culturas às mudanças futuras na concentra-
prevê aumentos de 1,5 ºC (no cenário mais otimis- ção de CO2 e temperatura do ar (TUBIELLO et
ta) a 5,5 ºC (no cenário mais pessimista) até 2100. al., 2007; BRASSARD e SINGH, 2008; PATHAK
O efeito direto do incremento na concentra- e WASSMANN, 2009). Neste, é possível simular
ção de CO 2 no desenvolvimento das plantas é a o crescimento, o desenvolvimento, o rendimen-
possibilidade de aumento da taxa de crescimen- to e diversos outros aspectos biofísicos para 27
18
DOENÇ1\S DA SOJA: MELHO HAMENTO GENÚTI O E TÉCN ICAS OE MAN EJO

bllNANE LEMES - LEONAJU)O CASTRO - R Amm. Ass is

A ariáveis m t orológicas temperatura má- cação do solo, análise química e física (Tabela 2)
xima e mínima do ar radiação global e precipita- foram obtidos do experimento de campo locali-
ção pluvial e o stádios da cultura no período do zado na FUNDACEP, no município de Cruz Alta,
experimento (Figura 1) e os dados como classifi- região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul.
70
40
35

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V6 VS Rl R3 R5 R6 RS
12A>1J09 25/01'09 0BJ02no 19,Wt0 OSJOl/10 05il04110 13/04110

- Precipitação -Radiação - - Trnax --- Tmin


Figura 1. Dados meteorológicos observados durante o ciclo da cultivar FUNDACEP 53RR
para o ano de 2009/201 O.

Table 2. Características físicas e químicas do solo na área de estudo.

Soil fraction (%)


Depth (cm)
Bulk density
(g cm-3 )
Field capaci-
ty (cm 3 cm- 3)
Wilting point
(cm 3 cm- 3) . . Clay
0.35 0.17 28.57 39.46 31.95
0.34 0.17 27.50 41.34 31.15
0.37 0.22 24.69 46.79 28.505

O solo é classificado como Latossolo Vermelho distrófico típico (EMBRAPA. 2006).

A correção do solo e a adubação da área ex- alizado o controle das plantas invasoras rema-
perimental foram feitas por meio de análise do nescentes, quando necessário, com a aplicação
solo em concordância com as recomendações do mesmo herbicida. O controle de doenças e
de Rolas (1998) ou seja, utilizando-se 350 kg pragas foi realizado de acordo com as práticas
da formulação 0-20-20 por ha na semeadura. O culturais recomendadas para o cultivo da soja,
cultivo antecedente foi de aveia. A área foi des- garantindo que o experimento ocorresse com
secada aplicando o herbicida glifosato. Foi re- a mínima interferência desses fatores.

2.3. Coeficientes genéticos do modelo CROPGRO-Soybean


Na Tabela 3, são apresentados os coeficien- volvimento da soja para as condições de solo
tes genéticos da FUNDACEP 53RR ajustados e de clima de Cruz Alta (RS) . Os coeficientes
na calibração do modelo CROPGRO-Soybean genéticos CSDL, PPSEN, EM-FL, FL-SH, FL-SD,
para a estimativa do crescimento e do desen- SD-PM e FL-LF definem o desenvolvimento
2
- Cui:nvo DA :--.oJA 'º Ri u G tu l >E no S111.: l'HHSPECTIVA ATUAL n FllT Ll llA 19
E A1 DRo . 0 1t\'EIRA - R A1~,n •. Ronmc;pi:.-, - Josú M.N. Co:-,·tA- L EONARDO N EVES - F1,w10 J1 1~·11 No - Ü ÉnonA R. Honr:1rr1 - PA11w J. .P. Snu7A

d a cultura, enqu a nto que LFMAX, SLAVAR e os coefici ntes genéticos e, posteriormente, fo-
SIZLF definem o crescimento vegetativo; os ram realizadas as calibrações d e variáveis de
coeficientes XFRT, WTPSD, SFDUR, SDPDV e crescimento da soja. Essa sequência foi segui-
POD R estão relacionados com a definição do da d evido à d ep e ndê ncia e ntre as variáveis de
crescimento reprodutivo. Primeiro, calibrou-se crescimento com a fenologia da cultura.

TABELA 3. Coeficientes genéticos da cultivar Fundacep 53RR calibrados no CROPGRO-Soybean ,

-
em Cruz Alta , RS , 2009/1 O.
CULTIVAR
EDIMAiMM■mam FL-5D SD-PM
FUNDACEP 53RR 12.83 0.303 33 7.5 18 42 18
LFMAX
►1!&1;IIEEDIIEmill-MW,i=M•■ SFDUR SDPDV
■4•M 1 h■
1.03 355 170 1 0.15 13 2.05 8

Sendo: CSDL - Também definida como CSDVAR que representa o comprimento crítico do dia acima do qual o pro-
cesso de desenvolvimento reprodutivo não é afetado (horas) ; PPSEN - Inclinação da resposta relativa do desenvol-
vimento para fotoperíodo com o tempo (1/hora) ; EM-FL - Período entre a emergência da planta e o aparecimento da
primeira flor (R1) (dias fototermais) ; FL-SH - Período entre o aparecimento da primeira flor e a primeira vagem (R3)
(dias fototermais ); FL-SD - Período entre o aparecimento da primeira flor e o início da formação da semente (R5) (dias
fototermais) ; SD-PM - Período entre o início da formação da semente e a maturidade fisiológica (R7) (dias fototer-
mais); FL-LF - Período entre o aparecimento da primeira flor (R1) e final da expansão foliar (dias fototermais); LFMAX
Taxa máxima de fotossíntese da folha a uma taxa ótima de temperatura 30 ºC ; SLAVARN - Área foliar específica
sob condições padrão de crescimento; SIZLF - Tamanho máximo da folha completamente expandida (cm2); XFRT -
Máxima fração do crescimento diário que é particionada para a semente mais a vagem ; WTPSD - Peso máximo por
semente (g); SFDUR - Duração do período de enchimento das sementes nas vagens , sob condições de crescimento
padrão (dias fototermais) ; SDPDV - média de sementes por vagem , sob condições de crescimento padrão (dias foto-
termais) ; PODUR - Tempo necessário para a cultivar alcançar condições ideais de vagens (dias fototermais).

2.4. Avaliação da calibração fenológica


A calibração fenológica do modelo foi con- realizado pela Fundacep, Cruz Alta, RS. Confor-
duzida entre comparações do crescimento e o me apresenta a Tabela 4, o modelo simulou com
acúmulo de biomassa real e a simulada entre precisão o desenvolvimento fenológico da culti-
os dias contabilizados desde o plantio até o var de soja FUNDACEP 53RR. A proximidade dos
florescimento, definição do início da formação valores simulados e observados no campo refe-
da vagem e enchimento de grão e, por fim, as- rente aos estádios fenológicos da soja também
pectos biofísicos caracterizadores da maturação foram contatados por Martorano (2007) para a
fisiológica. Para isso, utilizaram-se os dados ob- cultivar Fepagro RS-10. Assim, a estimativa da fe-
servados de florescimento, início da formação nologia da cultura torna-se um forte indicador
da vagem e enchimento de grão e maturação de seu desempenho quando os coeficientes ge-
fisiológica obtidos no experimento de campo néticos estiverem adequadamente calibrados.
Tabela 4. Dados fenológicos para a soja ,
observados e simulados pelo modelo CROPGRO-Soybean .
Fenologia Observado Simulado Diferença (dias)
Florescimento (dia) 1
56 55 1
"
Formação da vargem (dia) 67 65 1
-
Enchimento de grão (dia) 81 80 1
Maturação fisiológica (dia) ,, 120 118 2
Mofo branco

SILVÂNIA HELENA fURLAN


ENGENHEIRA AGRÔNOMA, ME.' DRA.
INSTITUTO BIOLÓGICO

1. Introdução
No Brasil, as epidemias de mofo branco, Estima-se que aproximadamente 23% da
causadas por Sclerotinia sclerotiorum, estão área cultivada de soja no Brasil e 100% da área
amplamente distribuídas em várias regiões irrigada de soja por pivô central estejam conta-
produtoras de um grande número de culturas, minadas pela presença de escleródios do pató-
tendo sua incidência aumentada na soja a par- geno (CAMPOS et ai. , 2005; MENTEN e BAN-
tir da década de 90. ZATO, 2014; MEYER et ai. , 2014).
Os primeiros relatos de ataque em soja sur- É uma doença com grande capacidade des-
giram na década de 70 no Estado do Paraná, trutiva. Segundo Nasser et ai. (1990) e Meyer
na década seguinte em Minas Gerais, e logo et ai. (2014), S. Sclerotiorum é responsável por
depois em Goiás, nas áreas de pivô central. No perdas de até 30% em lavouras de soja e de até
entanto, o feijão de inverno era um hospedei- 70% em lavouras de feijão irrigadas por pivô
ro bem mais importante que a soja (NASSER central nos Cerrados. Plantas doentes podem
et ai. 1990; NASSER e SPEHAR, 2001). Atual- ter a produção reduzida em até 37% se consi-
mente, há registros de ocorrências severas em derarmos uma incidência de 50% na lavoura.
lavouras de soja, prevalecendo em áreas com Naturalmente, estas perdas variam grande-
alto potencial produtivo onde a doença encon- mente em função de fatores genéticos como o
tra melhores condições para se desenvolver. potencial produtivo e a tolerância da cultivar
Dentre as mais de 400 espécies hospedeiras fatores nutricionais, principalmente a adubação'
do patógeno, pertencentes a aproximadamente nitrogenada, que interfere no crescimento das
200 gêneros botânicos, está a soja (BOLAND e plantas, e fatores ambientais, sobretudo a pre-
HALL, 1994; BOLTON et ai., 2006), que, nos últi- cipitação e a irrigação, que afetam de maneira
mos anos, em especial a partir da safra 2006/07, significativa a severidade do mofo branco.
ao lado do feijão, girassol, algodão, canola e al- O fungo disseminou-se de maneira rápida e
gumas hortaliças como tomate, batata e alface, eficiente pelas sementes de soja infectadas por
tem sido afetada com danos variáveis (CAMPOS meio do micélio dormente, ou quando conta-
e SILVA, 2009; MACHADO e CASSETARI, 2010; minadas pela presença de escleródios associa-
FURLAN, 2012 e MEYER et ai., 2014). Diversas dos, estabelecendo-se notadamente nas áreas
plantas daninhas também fazem parte da lista irrigadas por pivô central, o que assegurou sua
de hospedeiras, entre elas o caruru, o amen- ampla distribuição e multiplicação (NASSER e
doim bravo, a guanxuma, a vassoura, a corda SPEHAR, 2001; CAMPOS e SILVA, 2009). Ou-
de viola, o carrapicho e o picão preto. tro veículo importante da disseminação entre
54 Ü OENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

ErlNA E L EMES - LEONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

as lavouras foram os implementos e máquinas Dentro do atual sistema de rotação de cul-


carregando os propágulos do fungo, também turas, plantas hospedeiras em sucessão à soja,
responsáveis por introduzi-lo em locais antes como algodão, girassol, feijão e canola, elevam
isentos do problema. o potencial destrutivo da doença p elo acúmu-
Habitante de solo, S. sclerotiorum apre- lo do inóculo, refletindo em crescentes preju-
senta grande longevidade por meio de suas ízos. As gramíneas, por não fazerem parte da
estruturas de resistência e tem a capacidade lista de hospedeiras de Sclerotinia , represen-
de colonizar todas as partes aéreas das plantas tam uma alternativa na rotação, visando à re-
(SCHWARTZ et a!., 2005). Estas, quanto mais dução de inóculo na área.
adensadas, sob condições climáticas favorá- A importância de uma abordagem epide-
veis, tornam o processo infeccioso, incremen- miológica e de manejo do mofo branco, de-
tado pelo sombreamento, maior umidade e nominada na soja também como "podridão
menore temperatura dentro do dossel. branca da haste", se dá na prevenção e redução
A quantidade de escleródios na área, soma- dos sintomas, de forma a viabilizar a produção
da a vários componentes do hospedeiro, do por meio da adoção de práticas eficientes que
ambiente e do patógeno, que são discutidos visam evitar ou minimizar os problemas de
neste capítulo, também influencia considera- uma doença tão agressiva e de difícil controle,
velmente a gravidade da doença. como já é amplamente conhecida no mundo.

2. Epidemiologia
Para caracterizar e diagnosticar o mofo o micélio e os escleródios, quanto as reprodu-
branco, é preciso conhecer as estruturas propa- tivas, os apotécios e ascósporos, que estão ilus-
gativa do fungo, tanto as vegetativas, que são tradas, respectivamente, nas figuras 1, 2, 3 e 4.

Figura 1. Crescimento micelial típico de Sclerotinia sclerotiorum sobre folhas de soja caídas ao solo .
4-MOFO BRA CO
55
S1LvÀ ílA H ELE1\A Frn,x ,

Figura 2. Escleród ios típicos de Sclerotinia sclerotiorum , de coloração escura , semelhantes a fezes de rato .

Figura 3. Apotécios de Sc/erotinia sc/erotiorum no solo em lavoura de soja


no estádio inicial de formação de vagens (R3).
56
DOENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

EH.NANE LEMES - LEONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

Figura 4. Ascósporos de S. sc/erotiorum visualizados em microscópio ótico,


obtidos após a maceração de apotécios em laboratório.

Antes do aparecimento dos sintomas nas devido ao surgimento de apotécios no solo, as


plantas, é comum, na superfície do solo, sur- estruturas de reprodução sexuada ou corpos
gir um crescimento micelial branco e cotono- de frutificação, formados a partir da germina-
so, originado da germinação dos escleródios, ção (carpogênica) dos escleródios, em especial
com maior frequência nos locais sombreados aqueles que estão imersos a até 5 cm de pro-
pelo fechamento das ruas, logo no pré- ou iní- fundidade no solo, pois as estipes dos apoté-
cio do período reprodutivo da soja. Este micé- cios raramente são maiores que 6 cm. Os apo-
lio pode, por contato, alcançar a parte aérea e técios podem produzir ascósporos por 5 a 10
afetar ramos, folhas e vagens. Ainda, pode ser dias e, quando liberados, alcançam e infectam
uma unidade infectiva primária e infectar flo- as flores, em especial as senescentes, que asse-
res caídas ao solo ou danificadas, embora co- gurarão o potencial da doença.
mumente participe das infecções secundárias. Os ascósporos são disseminados a curtas
Situações de acamamento das plantas facilitam distâncias pelo vento, podem permanecer viá-
e aceleram a infecção. veis por 2 a 3 semanas na superfície da planta
O micélio pode permanecer viável em flores e, ao se depositarem, colonizam o tecido floral
infectadas por aproximadamente uma semana ou aqueles com ferimentos, originando, assim,
em condições desfavoráveis e retornar ao de- as primeiras infecções. Uma vez estabelecida a
senvolvimento quando voltarem as condições infecção inicial, o fungo pode atacar qualquer
favoráveis (HARIKRISHNAN e DEL RÍO, 2006). órgão da planta (SCHWARTZ et al. , 2005).
Maiores epidemias normalmente não ocor- A partir das infecções das flores, conside-
rem iniciadas pela infecção de micélio, mas, radas a fonte inicial de inóculo, os sintomas
4- M OFO BRANCO
57
SILVÂNIA HELENA FURIAN

evoluem para a axilas das folhas e ramos late- tecidos das hastes e vagens, os escleródios,
rais. Estes caracterizam-se por pequenas man- estruturas rígidas, de coloração preta, seme-
chas aquosas que rapidamente evoluem para lhantes na sua forma a fezes de rato (Figura
uma podridão mole dos tecidos onde, sob 2). Em consequência, surgem os sintomas de
condições favoráveis, há o crescimento típico murcha, seca e morte das áreas afetadas (Figu-
do micé lio de aspecto cotonoso (Figuras 5 e ra 7), podendo ocorrer em toda a planta (TU,
6) . E te origina, interna e externamente aos 1989; HARTMA et ai. , 1999).

Figura 5. Sintomas do mofo branco (S. sclerotiorum) Figura 6. Sintomas severos de mofo branco
na haste da planta de soja. (S. sclerotiorum) em hastes e vagens de plantas de soja .
58 ÜOENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GEN l~T ICO E Tl~C IG \ S DE MANFJO

ERNA ' E L EMES - L EONARDO CASTRO - R,,r-AEJ. Assis

Figura 7. Sintomas avançados de morte de plantas em ataque severo de S. sclerotiorum


em lavoura de soja cv. BRS-231 , em Pilar do Sul , SP, safra 2009/1 O.

Adam e Aye (1979) relatam que um úni- cas, produzidas pelo fungo são mais eficientes
co e cleródio viável a cada 5 m 2 é suficiente (ECHA DI e WALKER, 1957), indicando tam-
para cau ar uma epidemia e, de acordo com bém sua função na patogenicidade.
chwartz (2005), o tempo de obrevivência A disseminação do fungo ocorre principal-
dele no olo é de 5 ano ou mais. mente pelas sementes, mas também pelo vento
O ácido oxálico produzido pelo fungo du- e por implementos agrícolas que, por transi-
rante o proce so de infecção é con iderado o tarem em áreas contaminadas vizinhas ou na
principal fator na patogenicidade de . sclero- própria lavoura, carregam micélio e escleró-
tiorum (KIM et ai., 2000; KOLKMA e KELLY, dios. O fungo é transmitido pelas sementes
2000) . Portanto, a diferenças na tolerância (MACHADO et al. , 2002) e, segundo Botelho
ao ácido oxálico e à ua difu ão nos tecidos (2011), a forma micelial foi visualizada por
do ho pedeiro podem influenciar na veloci- métodos moleculares de detecção do fungo ,
dade de aumento da doença e re ultarem em apre entando-se nas camadas protetoras e no
variaçõe no tamanho do encharcamento das embrião das ementes de soja.
le õe . egundo Tu (1982 e 1985), intoma de Ascósporos, considerados como o principal
podridão mole imilare ao do mofo branco inóculo primário, são disseminados por cor-
podem er induzido em folha de feijão desta- rentes aéreas dentro da cultura e também em
cada e inoculada com o ácido oxálico nos pe- lavouras próximas (TU, 1989; VIEIRA, 1994). A
cíolo . a patogêne e, o ácido oxálico cria um germinação direta do e cleródios (miceliogê-
ambiente de pH mai baixo (em torno de 4,0) , nica) e o crescimento micelial, embora sejam
no qual a enzima de degradação, pectinolíti- um evento importante no ciclo de vida do fun-
4- M OFO BRANCO 59

go, em geral apresentam menores riscos que as ao redor de 18 º C a 24 º C. Regiões de eleva-


infecçõe de origem carpogênica. da altitude, acima de 700 m , ão propícias ao
ada escleródio pode produzir um ou vários desenvolvimento do patógeno, principalmente
apotécios em função, principalmente, do eu ta- devido ao período de molhamento e à tempe-
manho. O potencial do apotécios é elevado, po- raturas noturna menore . A frequência de dia
dendo produzir mai de doi milhõe de ascós- nublado também afeta a everidade da doença.
poros cada, sendo maior quanto maior o corpo O microclima, caracterizado pelo sombrea-
de frutificação. Em média, o apotécio mede em mento umidade, temperatura e aeração dentro
torno de 1,5 cm de diâmetro (Figura 3). do dossel, afeta consideravelmente a incidência e
a velocidade da doença, agindo diretamente o-
Os escleródio que e formam dentro e fora
bre a germinação miceliogênica ou carpogênica
das ha te e vagens podem retornar ao olo no
do e cleródio . Temperaturas mai baixa , ao
momento da colheita, o que a egura e eleva o
redor de 15 º C, associada à alta umidade, favo-
potencial de inóculo na área, ou podem, ain-
recem a formação do apotécios, enquanto que
da, contaminar as semente colhida . Cultura
temperaturas mais elevadas, ao redor de 24 º C
hospedeiras em sucessão, e infectada , pode-
podem favorecer a germinação miceliogênica dos
rão contribuir para o acúmulo cre cente do e cleródios. De acordo com teadman (1983) e
escleródios no solo. chuartz et ai. (2005), o fungo pode se desenvol-
a cultura da soja, a fase mai vulnerável à ver dentro de uma faixa ampla de temperatura,
infecção vai da floração plena ao início da for- endo mais destrutivo entre 15 º C e 25 º C, espe-
mação dos grãos (D IEL O et ai., 2004), o cialmente na presença de alta umidade
mesmo período correspondente à cultura do fei- Além da condição do ambiente ser determi-
joeiro (OLIVEIRA, 1998). Quanto mais cedo in- nante para favorecer ou impedir a germinação
fectar as plantas, maiores as perdas do potencial da e trutura infectivas, o fator genético dos
produtivo da soja (DORRANCE e MILL , 2008). diferentes isolado também exerce importante
As condiçõe macroclimática favorávei a influência, algun são mai apto à produção de
uma epidemia são precipitaçõe elevada , ir- apotécio e outro , meno , refletindo na everi-
rigações frequentes e temperatura amena , dade da doença.

ça
O inóculo apó er introduzido na área, é alto potencial de produção e de difícil contro-
de difícil erradicação, portanto a melhor forma le, e pedalmente quanto à obtenção de mate-
de controle da doença é a preventiva. rial genético re i tente. A principai prática
Dentro do período crítico, que abrange do de prevenção do mofo branco e constituem
florescimento até a formação da vagens, po- no uso de semente adia , no tratamento da
ementes e na limpeza de implemento e má-
dendo e e tender até o enchimento dos grãos,
quina que tran itam em lavoura vizinha .
a flore ão elemento-chave na epidemiologia.
Para as área já infe tada , devem er incluí-
Com o fechamento da planta , o cuidado
da outra medida , como a racionalização do
devem er maiore , devido ao microclima for-
volume de água na lavoura, a emeadura em
mado pela alta umidade e baixa lumino idade,
é~oca meno favorávei ao patógeno, a rota-
principalmente em plantios densos, ba tante çao de cultura com gramínea (trigo e milho),
adubado e em cultivare de do sel fechado. o u o de microrgani mo antagônico a ba e
Como já di cutido aqui, o mofo branco é de Trichoderma Bacillus, a redução do aden-
uma doença mai frequente em lavoura com amento de planta , o aumento do e paçamen-
60 DOENÇAS DA SOJA : MELHORAMENTO GENÉTICO E T ÉC ICAS DE MANEJO

to, o uso de cultivares com porte e dossel que Durante o beneficiamento, recomenda-se o
proporcionem menor acamamento e maior uso do separador espiral, seguido de mesa gra-
aeração, a eliminação dos restos de cultura vitacional para a redução dos escleródios pre-
contaminados, a redução do volume e frequ- sentes nas sementes. Ainda indispensável, o
ência da irrigação, o uso de palhada como uma seu tratamento com produtos registrados, que
barreira física à germinação dos escleródios, a incluem o grupo dos benzimidazóis, princi-
eliminação de plantas daninhas hospedeiras e, palmente quando combinados com fungicidas
finalmente, o uso de fungicidas em parte aérea mais específicos, apresenta bons resultados no
(FERRAZ et al. , 1999; FURLAN, 2008/2012). controle de Sclerotiniaa e de outros importan-
O emprego de cultivares geneticamente re- tes patógenos veiculados pelas sementes.
sistentes ao mofo branco em soja inexiste na Para garantir a melhoria nas condições das
prática. Segundo Kim e Diers (2000), o uso sementes e para a tomada de decisão sobre
da resistência genética da soja para S. sclero- o tratamento das mesmas, a avaliação prévia
tiorum é difícil, devendo estar ligada mais a da sua sanidade por testes apropriados torna-
mecanismos de escape, como as características -se indispensável. Entretanto, S. sclerotiorum
de resistência ao acamamento, ao tipo da ar- não é facilmente detectado nos testes rotinei-
quitetura do dossel, à altura de plantas e aos ros, como o papel de filtro comum (NASSER
períodos de floração e de maturação. et al. , 1999; MACHADO et al. , 2002). Outros
Devido à importância do ácido oxálico na métodos são recomendados para esta finalida-
infecção do fungo , o trabalho realizado por de, com adaptação a temperaturas mais baixas
e período prolongado de incubação. Parisi et
Cunha (2010), evidenciou a expressão da en-
al. (2006) obtiveram resultados positivos com
zima oxalato descarboxilase de Flammulina
o método do rolo de papel toalha modificado
velutipes, que degrada o ácido em plantas de
para detecção deste fungo.
soja, com o intuito do desenvolvimento de
eventos transgênicos resistentes a S. sclerotio- De acordo com Napoleão e Nasser (2002),
rum. Os resultados confirmaram este papel do o meio Néon pode, também, ser utilizado, sen-
ácido e a expressão do gene da enzima, con- do o tempo para identificação reduzido para
ferindo aumento do nível de resistência das 12 dias. Ainda, de acordo com Botelho (2011),
plantas. Segundo o autor, a introdução de ge- métodos moleculares (qPCR e o BIO-PCR) fo-
nes capazes de produzir estas enzimas é apli- ram avaliados para detecção nas sementes de
cável ao desenvolvimento de linhagens de soja soja com diferentes níveis de inóculo de S.
sclerotiorum na forma micelial.
resistentes ao patógeno.
m exemplo bem sucedido do controle do Assim, o tratamento químico das sementes
de soja no controle de S. sclerotiorum é uma
mofo branco na cultura do feijoeiro refere-se
prática necessária e eficaz para eliminar o pató-
ao manejo do solo no sistema de integração
geno presente ou para protegê-las de uma pos-
lavoura-pecuária com Brachiaria, desenvolvido
sível infecção, além de evitar a disseminação
pela Embrapa. Segundo Brandão et al. (2008),
do fungo (GOULART, 1998; GOULART et al.,
a inibição da germinação carpogênica de S. scle-
2002 ; FURLAN, 2010). Machado et al. (2001)
rotiorum foi ob ervada principalmente em solo
constataram que a germinação e a emergê ncia
de vegetação nativa no cerrado, seguido de so-
de plântulas de oja provenientes de sementes
los cultivado com Braquiaria ruziziensis por
de soja inoculadas com S. sclerotiorum foram
3 anos, enquanto que, em olo de cultivo de
significativamente afetadas.
oja, a germinação carpogênica foi elevada. Esta
prática, posteriormente, foi integrada ao uso de Portanto, recomenda-se consultar a Reco-
antagonistas no solo (GORGE , 2015). mendações em Tecnologias de Produção de
4- M O FO BRANCO
61
SI LVÂl IA HELENA FURLAN

Soja - Região Central do Brasil (2014) visando nia, a exemplo de Bacillus subtilis e B. pumi-
a direcionar o tratamento com fungicidas re- lus (LOBO JUNIOR, 2013 ; MEYER et a!., 2013)
gistrados em misturas de diferentes ativos para e Coniothyrium minitans (TRINDADE et a!. ,
as semente de soja e, ainda, obedecer as indi- 1999; OLIVEIRA e COSTA, 2000; SCHWARTZ
cações de uso para cada produto formulado. et a!. , 2005), sendo o primeiro deles à base de
Especificamente para Sclerotinia, na reco- Bacillus, registrado e recomendado no Brasil
mendação da Embrapa, o tratamento deve con- para este alvo na cultura da alface, constatado
ter fungicida benzimidazóis em sua formula- na bula atual do produto. Lobo Junior (2013)
ção. A mistura formulada de tiofanato metílico aponta para a importância de determinados
(fungicida i têmico do grupo benzimidazol) antagonistas devido à sua capacidade de pro-
+ fluazinam (fungicida de contato do grupo duzir antibióticos de amplo espectro por Ba-
piridinamina) apre enta bons re ultados por cillus spp. e Pseudomonas spp. , considerados
conter dois ativo eficiente contra o patógeno. como um dos maiores focos de pe quisa em
Uemura et a!. (2013) compararam a efici- controle biológico, com diferentes genes clo-
ência de fluazinam, fluopyran, carbendazim, nados periodicamente. O autor também re-
procimidone, cloreto de benzalcônio e tio- lata a importância dos métodos de aplicação
fanato metíloco + fluazinam em tratamento destes antagonistas em favorecer o desenvol-
de sementes de soja visando ao controle de vimento e o parasitismo do patógeno, e evitar
S. sclerotiorumm. Esse último, formulado em as condições adversas , as cepas de baixa com-
mistura de tiofanato metílico + fluazinam petitividade e o uso de esporos em concentra-
(126+ 18,9 g i.a. 100 kg 1), apre entou eficiên- ção insuficiente.
cia de 100% no controle de . sclerotiorum Trichoderma harz ianum e T. asperellum
pelo teste de eon e aumento de 60% na aplicados via sulco mo tram resultados pro-
germinação das semente inoculada com o missores para o controle do mofo branco. Em
patógeno. O fungicida procimidone, do gru- lavouras comerciais de soja no município de
po das dicarboximidas, embora bastante uti- Jataí, GO, duas cepas de T. harz ianum com-
lizado em parte aérea no controle do mofo provaram o parasitismo em 65% dos escleró-
branco, não tem regi tro para e te patógeno dios presentes na área. E o uso adequado de
em tratamento de emente omente para o T. harzianum sob cobertura de braquiária
controle de Rhizoctonia solani na cultura do aumentou a eficiência do antagonista, com o
algodão nesta modalidade de u o, de acordo incremento de parasitismo e morte de escleró-
com a bula do produto. dios (GORGE et a!., 2009 e 2010) .
O uso de antagonistas, como Trichoder- O espaçamento de plantas, a densidade de
ma spp. aplicados às semente ou ao sulco de semeadura e a arquitetura das plantas influen-
plantio, pode auxiliar na redução de Sclerotinia ciam no desenvolvimento da doença e mesmo
(GORGE et a!. , 2009). Este gênero com diferen- na eficiência da aplicação dos produtos quími-
tes espécies é apontado como o melhor exemplo cos por afetarem o alcance dos produtos no
para o avanço no conhecimento em biocontrole, alvo, as partes baixeiras das plantas e o solo
com o desenvolvimento de formulações que au- (VIEIRA, 1994).
mentam a viabilidade de esporos para produção O mesmo é válido para a aplicação dos
em escala comercial, tendo em vista um elevado produtos biológicos formulados à base de Tri-
potencial de seleção de novas cepas para o con- choderma e Bacillus, ambos com eficiência
trole biológico (LOBO JU IOR, 2013). para Sclerotinia , tendo que alcançar solo
O
Estudos mostram, também, a ação de para se obter bons resultados. Até o momen-
outros antagonistas eficientes para Scleroti- ª
to produtos base de Bacillus subtilis não
62 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

ER ANE L EMES - L EONARDO CAsrno - R AFAEL Ass,

incluem a soja na recomendação de culturas, mostraram inibição total a 1 ppm i.a. para os
constatado na bula. 1 três produtos. Essas diferenças se devem , pos-
As modalidades de uso dos antagônicos sivelmente à diferença de sensibilidade entre os
incluem o tratamento de sementes e as pul- isolados utilizados ou a sua adaptabilidade.
verizações no sulco de plantio no período da Atividades in vitro e in vivo de fungicidas
emergência até no máximo antes do fecha- foram avaliadas sobre o crescimento micelial,
mento da cultura. Ainda, Trichoderma pode a produção e germinação de escleródios, a ger-
ser empregado na dessecação ou pós-colheita minação carpogênica (formação de estipe e
para reduzir os escleródios para a próxima apotécios), a germinação de ascósporo e obre
safra, segundo as recomendações técnicas de a incidência de folíolos de soja infectados por
produto a base de T. asperellum obtidas na micélio de diferentes isolados de S. sclerotio-
bula de produtos comercializados. 2 rum (FURLAN, 2011) . Entre eles, os produtos
Deve-se levar em consideração a compati- fluazinam, procymidone, tiofanato metílico,
bilidade dos biológicos com os demais produ- fluopyram, dimoxistrobin + boscalid, pentio-
tos, aplicados em tratamento de sementes ou pyrad e ciprodinil + fludioxonil apresentaram
em parte aérea, quando em usos associados ou significativa ação fungicida ou fungistática já a
misturas, caso contrário eles devem ser empre- partir de 0,1 ppm i.a., em diferentes níveis de
gados isoladamente para não comprometer a inibição, indicando potencial de uso nos dife-
ua viabilidade. rentes estágios de desenvolvimento do fungo.
Há décadas foi relatada a atividade dos Diferença quanto à sensibilidade a fungici-
benzimidazóis no controle de S. sclerotiorum das de isolados de S. sclerotiorum também foi
(EDGI GTO et a!., 1971). Hawthorne e Jar- verificada por Mueller et al. (2002), os quais
ves (1973) já haviam avaliado a atividade de observaram que 91 isolados de S. sclerotiorum
nove fungicidas sobre vários estágios do ciclo foram mais sensíveis a tiofanatometílico do que
de vida de S. sclerotiorum e S. minar: beno- a vinclozolin. Isto demonstra a necessidade do
mil, captan, diclofluanid , diclozoline, dicloran, uso de fungicidas de diferentes grupos químicos
quintozene, tiofanato, tiofanato metílico e ti- para controle de S. sclerotiorum, tendo em vista
ram, con tatando diferenças e interações entre uma possível resistência encontrada em campo.
o fungicida e o tipo d e inóculos para cada Gindrat (1993) constatou que vários isolados de
espécie do fungo. Benomil e tiofanato metíli- S. sclerotiorum produziram colônias com cres-
co, por exemplo, mostraram as maiores ativi- cimento irregular a 1 ppm i.a. de vinclozolin,
dade obre a iabilidade dos escleródios. o que sugere potencial de resistência do fungo
Re ultado obtido por Menten et al. (1995) aos fungicidas dicarboximidas, provavelmente
indicaram uma inibição de 50% abaixo de 1 ppm relacionado ao seu micélio heterocariótico.
i.a. para o produto procimidone e tiofanato Alguns trabalhos mostram, també m , a ação
metílico, e aquele obtido por Oliveira (1998) de produtos alternativos com potencial d e
utilização no manejo da doença. Fosfito e mi-
1 Oi ponívei em : http://wWW. bayercropscience.p
cronutrientes como cobalto e molibdê nio, as-
internet/produto /produto .a p ?i d_cultura =2 &id_
problema= *&id_produto=242; http :/jwww.overse- ociado ao grupo de fungicida benzimidazol
a agro .com/pt/2013/08/bayer-crop cie nce-pre ento podem indicar uma alternativa no mane jo do'
- u-fungicida-serenade-en-bra íl/; para as recomen- mofo branco. Conhecer o comportamento e 0
daçõe técnicas de u o de Trichoderma. Asperellum , papel destes nutrientes na defesa da pla ntas e
consultar http:/ :vw.agrototalholambra.com .br/
na ocorrência da doença pode ter grande im-
detalhe _produto .php?prod_id=5 7.
portância para o manejo (LEH ER et a!., 2008;
2 Oi ponível em: http://www.agrototalholambra.com.
br/detalhe _produto.php?prod_id = 57. FEKSA et ai., 2009; FURLA et ai., 2010) .
4 - Morn BRANCO 63
S ILVÁ'\( HELE1 t\ F URIAN

O uso de produto químicos deve ocorrer Como o período crítico da doença com-
quando outra medidas não são suficientes para preende desde o florescimento até a formação
as egurar o controle. É preci o a segurar uma das vagens, podendo e estender em função da
b oa cobertura das planta e do solo visando a cultivar e época, pode er necessária uma ter-
maior eficiência, normalmente, para o mofo ceira aplicação para se obter um tempo maior
branco, facilitada pelo maior volume de água, de proteção. Considerando- e que as flores
p orém nem sempre viável para aplicações em desempenham um papel epidemiológico mui-
grandes área . Comparativamente, o produtor to importante por elas serem a fonte de ener-
d e feijão utiliza, em média, um volume de 500 gia inicial do fungo, durante o flore cimento, é
L/h a via barra e de 5 a 10 mm de lâmina no pivô preciso atentar-se para a presença do patógeno
central, enquanto que, na oja e te volume, em na área cultivada, principalmente em época
geral, n ão ultrapa a 200 L ha·1 via barra. Os chuva a , plantio aden ado e cultivare com
dois m étodo , o convencional por trator e a fun- maior período de flore cimento e ramificação.
gigação por pivô central, ão eficientes (Myer , Re ultados de eficiência de fungicida no
1985; Vieira, 2001) de de que adi tribuição do controle do mofo branco obtido em feijoeiro
produto nas planta e no olo eja uniforme. na década de 90 e eguinte (OLIVEIRA, 1998;
Por avião, a eficiência da aplicação diminui pelo VALE et ai. , 1997; VIEIRA, et ai. , 2001) auxilia-
baixo volume de água utilizado. O tipos de ram no e tudos de manejo dos produto para
ponta dos bico de pulverização parecem não a oja; em ambas as leguminosa , são preconi-
exercer influência significativa no controle, o zada , em média, <lua aplicações, nos estádios
mais importante é utilizar a técnica de aplicação de botão floral e em pleno florescimento, de
corretamente e no momento indicado (OLIVEI- maneira preventiva (FURLAN, 2012; MEYER,
RA, 1998; FURLAN, 2009/2013). 2014). Associados a outra medidas de controle,
Portanto, o volume de água de e er ufi- o fungicida de contato fluazinam e os istêmi-
ciente para ser bem di tribuído no alvos, não co procimidone, tiofanato metílico e carbenda-
devendo ser muito baixo - a ponto de compro- zim têm sido empregado contra o mofo branco
meter uma boa cobertura - ou muito elevado do feijoeiro e, mai recentemente, em soja.
- por questõe operacionai e, ainda, não me- Os controle químico e biológico podem al-
nos importante, por de perdício de água. E - cançar máxima eficiência quando associados a
tes fatores devem er le ado em consideração medidas culturai como a adequação do espa-
para a sustentabilidade da produção. çamento e estande de plantas, a rotação de cul-
Em re umo para a eficiência e a praticidade turas o uso de ementes tratada , o manejo da
do controle do mofo branco em oja com o u o água de irrigação e o u o de palhada, entre ou-
de produto químico e biológicos, são de ta- tras, vista como fundamentais na redução das
ques a época, o número, o modo de aplicação estruturas fúngicas na área ao longo do tempo
e a compatibilidade entre ele . Para os quími- e no refreamento da velocidade de aumento da
co , a primeira pulverização deve ser feita pre- doença durante a safra. Para Trutmann (1985),
ventivamente, na abertura das primeiras flore C. minitans e Sporidesmium sclerotivorum
- estádio Rl (botões florais) nas áreas com o são importantes hiperpara ita de . sclerotio-
histórico da doença e nas condições propícia , rum e a combinação do tratamento biológico
que geralmente coincidem com o início do fe- no olo após a colheita com o enterro profun-
chamento das ruas e o surgimento do primei- do dos resto culturais é uma estratégia viável
ros apotécios. Deve-se repetir a aplicação, se as no controle da doença, incluindo, ainda, o uso
condiçõe per i tirem, apó um período de 7 de fungicida durante o cultivo.
a 12 dia ariando de acordo com o clima e o Dada a importância econômica recente
'
ingrediente ativo do produto. de ta doença na cultura da soja, especialmente
64

a partir da safra 2008/09 (FURLAN, 2009), têm cv. BRS-231; em local de altitude de 800 m e com
sido desenvolvidos, no Brasil, trabalhos coo- histórico da doença, foram avaliados, além dos
perativos de controle químico para avaliar a fungicidas da rede, dois produtos nutricionai a
eficiência de fungicidas para o mofo branco e, base de manganês. Furlan et al. (2010) consta-
mais recentemente, de controle biológico, em taram que a testemunha alcançou 55,0% de in-
diversas regiões produtoras de diferentes Esta- cidência e 72,5% de severidade e que o controle
dos, com o objetivo de gerar resultados para da doença foi eficiente a partir de aplicaçõe pre-
registro e recomendações de uso dos diferen- ventivas, iniciadas no estádio Rl e reaplicada em
tes produtos (MEYER et al. , 2014). A prevalên- duas, três ou quatro vezes, de acordo com cada
cia de resultados positivos com incidência do tratamento, com volume de 400 L ha·1 (Tabela 1).
mofo branco nestes ensaios pode ser consta- Mesmo nesta situação de alta incidência e severi-
tada por estes trabalhos, quando evidenciam dade das plantas não tratadas, as pulverizações
as condições de maiores precipitações, mos- permitiram minimizar as perda de rendimento
trando maiores incidências de plantas doentes e peso dos grãos ocasionadas pelo mofo branco.
em locais de maiores altitudes, principalmente Os fungicidas fluazinam, procimidone, tiofana-
nos estados de Goías, Minas Gerais e Paraná. to metílico, carbendazim e alguns novos, como
Os resultados destes estudos cooperativos fluopyram, dimoxistrobin + boscalid, pentio-
apontam para a necessidade, em geral, de duas pyrad e os nutrientes fosfito de Mn, e o com-
aplicações dos fungicidas mais específicos posto de macro e micronutrientes mostraram
como fluazinam, procimidone e fluopiram, e benefícios no controle da doença por reduzir a
de um maior número para os menos específi- incidência e severidade dos sintomas (Gráficos 1
cos do grupo dos benzimidazóis. e 2) e no rendimento avaliados pela produtivida-
Dentro dos trabalhos cooperativos, foi de- de e peso de 1000 grãos (Gráfico 3), embora os
senvolvido um experimento no Estado de São dois últimos produtos podem ser considerados
Paulo pelo Instituto Biológico, na safra 2009/10, como supressores da doença.

Tabela 1. Tratamentos de fungicidas e nutrientes e seus estádios de aplicação,


a partir de R1 (botão floral) em DAA (dias após a aplicação) visando o co~trole do mofo branco (S. sclerotiorum)
na cultura da soja cv. BRS-231 . Safra 2009/1O. Pilar do Sul , SP.

Ingrediente ativo Estádios de aplicação


Produto comercial --
1. Testemunha -
Tiofanato metílico R1. 10DM 10DM 10DAA
2. Cercobin
Carbendazim R1 10DM 10OM 10DAA
3. Carbomax
Procimidona R1 10DM
4.Sumilex 1
~

Fluazinam R1 10DM 1
5. Frowncide - =
Fluazinam R1 10OM 10DAA
6. Frowncide
FIUOR~ram R1 10DM
7. Verango + Aureo
Floopyram R1 10 DM 10OM
8. Verango + Aureo =
Oimoxystrobin + boscalid R1 10 DM
9. BAS 54001 F
Dimoxystrobin + boscalid R1 10 DM 10OM
1O. BAS 54001 F
Penthiop)'rad R1 10 DM
11. DPX-LEM 17
12. DPX-LEM 17 PenthioRyrad
Fosfito de manganês
- R1
R1
10DM
10OM
10 DM
10DAA
13. Phytogard Mn
Macro e micronutrientes R1 10DM 10 DAA
14. Starter Mn
4- M c'1 1) BRANCO 65

lnddência - % plantas doertes


60
■ R5.1
dO
~ oR5.3
20
■ R5. 5

o
1 2 3 d 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1d

■ R5. 1 11.7 3.75 2.5 1 0,37 0.25 0,5 0,25 0,37 0 .12 0,5 0,5 2,25 1,25
OR5.3 18.8 6,25 6,25 1.62 1.12 0 ,87 1,5 0,5 0,37 0 ,37 1,12 1 9 4 ,37

■ R5.5 55 14,2 14,5 11,7 5.2 5 7 6,75 2 3,25 8 ,75 d,5 21,2 17,5
tratamentos

Gráfico 1. Efeito dos produtos (fungicidas e nutrientes)


na% de plantas (incidência) com sintomas do mofo branco (S. sc/erotiorum)
na cultura da soja , cv. BRS-231 , safra 2009/ 10. Pilar do Su l, SP

% Sewrica:te Meto Ba100 - RS.1; R5.3; RS.5

00
-
00 - 1

- -
rn Sev. - Ri.1
40 - - - - -- - - - -- - --
- ■ Sev. R5.3
-
o ~~
.20
:,

r _. Jl J7
·- -

.Il Jl Jl
--
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-

.n Jl Jl J __.
- □ Sev. R5.5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

lil Se\l - R5. 1 15,3 3 1,25 0,37 0,25 1,5 0,5 0,37 0,25 0,75 0,75 4 1,75
3
• Se\l R5.3 33,8 6,75 9,75 3 2, 12 2,25 2,75 1,75 2,25 2,25 4,75 3,75 15 8,25
o Se\l R5.5 72,5 21 ,2 3) 12,5 7,5 8,75 13 12,5 5 6,25 17,5 12,5 33,8 33

Gráfico 2. Efeito dos produtos (fung icidas e nutrientes)


na% de severidade dos sintomas do mofo branco (S. sclerotiorum)
na cultura da soja , cv. BRS-231 , safra 2009/ 10. Pilar do Sul , SP.
66 Ü OE ÇAS DA SOJA: MEL! IO RAMENTO GEN Í:'nCO E ·1Í,CNICAS DE MA F.JO

Produtividade (kg ha-1 ) e peso de 1000 grãos (g)

6000

Kg eg 4000 - ~

- 1---- 1- ~ ~
- - ,- ,_
■ kg/ha
□ grãos-g
2000 - 1- 1- 1-
- ,_ 1- 1- ,_ ,_ f--- 1--- ~ 1---
,___

o-
1
t:l...
2
t:L _ t:::L
3
t:L _
4
t:L
5
l::::::L
6
t::::::i__

7 8
b_ t::::::i_

9
l:::L
10
t:l...
11
-
12
,....,
13
t:L
14
■ kg/ha 3351 482E 466l 4751 467( 4704 4433 434E 451( 478( 486E 465~ ·4237 444~
1

□ grãos-g 193 196 199 195 201 205 197 198 200 204 201 201 197 200
tratamentos
Gráfico 3. Efeito dos fungicidas sobre a produtividade (Kg ha- 1 ) e peso de 1000 grãos
na cultura da soja , cv. BRS-231 , safra 2009/1O. Pilar do Sul , SP.

Determinados produtos alternativos com microclima favorável à doença, aumentam a


potencial de uso no manejo da doença po- severidade do patógeno (LEE et al. , 2000) , en-
dem exercer ação direta sobre o patógeno, ou quanto que o uso, por exemplo, dos difenilé-
agir como indutor de resistência. De acordo teres como lactofen e acifluorfen em culturas
com Kirkby e Romheld (2007) , pesquisas re- tolerantes pode promover uma indução de re-
centes sobre fisiologia indicam que os micro- sistência aos patógenos (DANN et al., 1999).
nutrientes desempenham importante papel Estes autores verificaram, em três anos de
na resi tência a estresses abióticos e bióticos. trabalho, que a ocorrência de S. sclerotiorum
Em soja, resultados obtidos por Feksa et al. em soja foi menor naqueles tratamentos que
(2009) obre o uso dos micronutrientes co- receberam subdoses do herbicida lactofen,
balto e molibdênio associados a fungicida com resultados de melhor supressão da doen-
benzimidazol indicaram possibilidade de ça em anos e locais com maior incidência do
uso a ociado para o manejo do mofo bran- patógeno quando comparados com locais de
co. Furlan et al. (2010) verificaram resultados menor incidência.
positivos de produtos a base de manganês Hammerschmidt e Del Rio (2000) inve -
(fosfito de Mn) e de macro e micronutrientes
tigaram o mecanismo pelo qual o herbicida
(Starter Mn) no controle do mofo branco e no
lactofen induz resistência em soja a S. sclero-
rendimento da oja, ugerindo a importância
tiorum e constataram que o mesmo relacio-
de se conhecer melhor o comportamento e o
na-se ao acúmulo da fitoalexina gliceolina,
papel de tes nutriente na defesa da plantas.
em acordo com o trabalho de Sanogo et ai.
Herbicida também podem exercer efeito (2000) , que constataram que a supressão da
favorável ou de favorável a S. sclerotiorum, doença causada por Fusarium solani f. sp.
induzindo ou inibindo a sínte e de fitoalexi- glycines foi atribuída também à produção de
nas ou ainda exercendo ação direta sobre o gliceolina.
patógeno' (RIZZARDI
' et ai., 2003 ; GARCIA et
ai. , 2013) . Alguns podem influenciar negati- A ação direta de herbicidas foi verifica-
vamente mecani mos de defesa da planta e, da por Casale e Hart (1999) quanto à ini-
quando as ociado a fatore que propiciam bição in vitro do crescimento micelial de
4 - 1\1 ,,rn BRANCO 67
S I LVÁ. "L• HEI.ENA FURu\N

S. sclerotiorum com a adição de metribuzin e branco, visto que o produto biológico utiliza-
diu ron em meio de BDA e quando aplicados do no período de pré-plantio visa à coloniza-
ao solo. Ambo reduziram a produção de es- ção dos escleródios, ou, ainda, para o controle
tipe s, estruturas que sustentam os apotécios. de outro patógenos de solo. Portanto, a apli-
Atrazi na e simazina não afetaram a estirpes, cação deste herbicida de pré-emergência ou
m as os apotécio não e desenvolveram ou de certos fungicidas no início da cultura pode
não produ ziram asco poros na presença de- ser viável sem neutralizar a ação do antagôni-
les, o que inviabiliza o inóculo. co quando em uso a saciado.
A seletividade in vítro de alguns herbici- Ainda, em área produtoras de feijão, foi
das e fungicida para Sclerotinia, em dife- verificado que o herbicida EPTC inibiu a ger-
rentes concentraçõe , foi avaliada para duas minação in vitro de escleródio e a produção
formul ações do produto antagônico à base de apotécios quando os escleródios foram
de Trichoderma harzíanum. Foram te tados imer os em suspen ão do produto por um rá-
os herbicidas trifluralina e metolachlor, até pido período de tempo (FER A DES et a!.,
100 ppm do ingrediente ativo, o quais não 1994). A ação in vitro também foi constatada
reduziram significativamente a e porulação para fomesafen e imazaquin sobre a redução
do fungo antagônico, bem como o fungici- da germinação dos escleródio e na formação
das azoxystrobin e procimidone, com re po - de e tipes e para trifluranina sobre a redução
tas semelhantes (F RLA , 2004, dado não do número de apotécios. Portanto, de acordo
publicados). Constatada a compatibilidade com assere pehar (2001) , os princípios ati-
destes produtos a T. harzíanum, o resulta- vos fomesafen , imazaquin e trifluralina podem
dos podem contribuir para o manejo do mofo ser indicados para o controle do patógeno.

4. Considerações finais
Várias reuniões e eventos que abordaram especial nas áreas de Cerrado com maiores alti-
parcial ou integralmente o tema "mofo bran- tudes e nos Estados do ul e Sudeste brasileiros.
co" nos últimos anos, com destaque para a aja Outro agravante é o fato das cultivares não
entre outras hospedeiras, evidenciam a impor- apresentarem resistência genética. Por outro
tância crescente da doença nesta cultura pelos lado, espaçamento, diversidades no dossel,
diversos motivos aqui discutidos e desafiam os porte ou arquitetura e resistência ao acama-
fitopatologistas a conquistar novas técnicas de
mento das plantas podem ser manejados vi-
controle que possam minimizar o custos e os
sando ao menor desenvolvimento da doença.
danos decorrentes. Podemos citar o Encontro
Sabe-se, no entanto, que tais práticas podem
Internacional do Mofo Branco e o Simpósio
não resultar no rendimento esperado.
Brasileiro de Mofo Branco, realizados em 2012
e 2014, ambos no Estado do Paraná e coorde- Como esta doença tem caráter explosivo, a
nados pelo prof. Dr. David de Souza Jaccoud começar pelos milhões de ascósporos produ-
Filho da UEPG, como uma grande contribui- zidos em cada apotécio, com grande aptidão
ção dentro da Fitopatologia. e potencial de infecção em períodos chuvosos
Diante do cenário das lavouras de soja com ou áreas irrigadas por pivô central, a adoção
o acúmulo de inóculo de Sclerotínía sclerotío- de medidas preventivas e integradas nas áreas
rum nos solos, ao longo destes anos, o proble- com histórico da doença representa uma ga-
ma do mofo branco pode se agravar ainda mais, rantia da produção, ainda que ocorram perdas.
pela dificuldade de controle e de sua distribui- Dentro do período crítico entre o floresci-
ção ampla nas diferentes regiões produtoras, em mento e a formação das vagens, as flores são o
Ü OE ÇAS DA SOJA: MELI IOHAMl'N I'<, (,/· 1· IH .<> 1: Tl:CN ICA.S DE MANEJO

EHNANE L EMES - Li;o rs..\HOO CASTllO - RAFAJ::J. Assis

el mento chave no proce so infeccioso. Portan- e luminosidade, a rotação de culturas, a elimi-


to de d o fechamento das plantas, os cuidados nação de resíduos de plantas hospedeiras cul-
na la, ouras devem ser reforçados, sobretudo tivadas e de plantas d aninhas e o tratamento
m cultivares de dossel fechado e nos plantios das sementes podem evitar epidemias.
den os, nos quais justamente os recursos utili- Nas áreas isentas, o uso de sementes certi-
zado conduzem a maiores produtividades. ficadas livres do patógeno é o brigatório para
Assim, práticas isoladas de controle não são evitar a sua entrada. Dep ois de introduzido, o
eficaze , em especial nos solos com elevado custo de produção torna-se elevado, ainda por-
número de escleródios. Por isso, o incremen- que os fungicidas específicos registrados para
to dos microrganismos antagônicos no solo, as o mofo branco n ão controlam adequadamente
boas práticas culturais que promovam aeração outras importantes doenças da soja.

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5- D ü l::NC,,A'; n ,,lf -~ ~'.110 !\·\ < ll!Tll RA A SOJA 77
Crno H m1 11.1 ~' .•: \, \11 l'l \ 1 ( rJO\'ANErn CANTERI

d istintos do !oca] de ação do patógeno. Por- to das folhas inferiores e encharcamento dos
tanto , a lesão ou podridão do colo, impedindo tecidos, com escurecimento na região do colo.
o livre fluxo de 5eiva, d etermina sintomas de Com a evolução da doença, as folhas superio-
m urcha na parte aérea d a planta. Os sintomas res murcham, amarelecem e, eventualmente,
iniciais m anifestam-se por leve amarelecimen- caem (CASA e REIS, 2012a).

6~Podridão da raiz de Rhizoctonia (Rhizoctonia solani J.G. Kühn)


Doença que pode ocorrer em qualquer Chuvas seguidas por temperaturas baixas, e
fas e da cultura durante o p eríodo úmido pro- subsequentemente mais elevadas, são favorá-
longado. O s sintomas se iniciam com uma po- veis à doença (DRINGRA et ai., 2009). Ocorre
dridão aquosa da haste, de coloração castanha, com maior frequência em regiões elevad as, com
próx ima ao nível do solo, e estendem-se para temperatura mais baixa d evido à altitude, como
baixo e para cima. Em fase posterior, o siste- o Plan alto Médio, Camp os d e Clima d a Serra no
ma radicular ganha u ma coloração castanho- RS, Planalto Catar inen se e Campos Gerais no
-escura e o tecid o cortical fica mole e se sol- Paraná (CASA e REIS, 2012b).
ta com facilidade, expondo um lenho firme e A severidade é ainda maior em solo defi-
de coloração branca e castanho-clara. Ocorre ciente em cálcio, ferro, magnésio, nitrogênio e
o característico estrangulamento no nível do fosforo ou a combinação destes minerais. Opa-
solo, resultando em murcha, tombamento ou tógeno sobrevive em solo com livre crescimen-
sobrevivência temporária, com a emissão de to micelial e colonização de material orgânico.
raízes adventícias acima da região afetada. Em condições ótimas, a severidade da doença é
O tombamento ocorre entre a pré-emer- proporcional ao potencial de inóculo no solo.
gência e 30-35 dias após a emergência, sob A taxa de transmissão do fungo por semente é
condições de temperatura e umidade relativa baixa e sua importância na epidemia é duvidosa.
elevadas. A morte em reboleiras é observada ge- A ocorrência e a severidade do tombamento por
ralmente após a floração, em áreas recém-aber- R . solani podem ser reduzidas por tratamento
tas, sendo raramente detectadas em campos de sementes com fungicidas para proteger con-
cultivados por mais tempo. A doença é favoreci- tra o fungo presente no solo, manejo de restos
da por temperaturas amenas, com ótimo entre culturais, melhoria da estrutura físico-química
25 ºC a 29 ºC , embora perdas severas já tenham do solo, rotação de culturas com gramíneas e
sido relatadas nas temperaturas de 15 ºC a 24 ºC. boa drenagem do solo (DRINGRA et ai. , 2009).

7. Manejo para doenças radiculares


O controle das doenças por meio da resis- resistentes é limitado. Portanto a conv1vencia
tência genética é a forma mais econômica e econômica com as doenças depende' da adoção
de melhor aceitação pelo agricultor. As vanta- de várias estratégias compondo assim o manejo
gens da resistência de plantas incluem redu- integrado de doenças (EMBRAPA, 2013).
ção ou eliminação de aplicações de produtos A integração das práticas culturais resulta
para o controle da doença, compatibilidade em alta produtividade, eliminação ou supres-
com outras práticas de manejo e a natureza de são de ervas daninhas, insetos e fitopatóge-
longa duração de vários genes de resistência nos em geral. Práticas culturais como eva-
(OWNLEY e BENSON, 2010). Entretanto, para são, rotação de culturas, manejo ' de resíduos
um grande número de doenças, não existem ou restos culturais, manejo de água, manejo
cultivares resistentes ou o número de cultivares de cultivo e práticas sanitárias para fitopató-
Viroses da soja

FABIO NASCIMENTO DA SILVA


Engenheiro Agrônomo, Me. , Dr.
Universidade do Estado de Santa Catarina
LArussA GouLART 2ANARDo
Bioquímica, Me.
Universidade Federal de Viçosa
DANIELLE RIBEIRO DE BARROS
Engenheira Agrônoma, Me. , Dr.
Universidade Federal de Pelo tas
CLAUDINE MÁRCIA CARVALHO
Engenheira Agrônoma, Me., Dr.
Universidade Federal de Viçosa

1. Introdução
Os vírus são completamente dependentes ínas virais, e parte inicia o movimento célula-
da maquinaria celular do seu hospedeiro, sen- -a-célula via plasmodesmas e a longa distância
do considerados agentes infecciosos biotró- via floema. Dependendo do vírus, o movimen-
ficos . Em geral, os vírus que infectam plantas to pode ocorrer por meio da partícula virai
são constituídos de ácido nucleico (DNA ou (genoma virai + capa proteica) ou apenas do
RNA) e proteína. Alguns vírus de plantas po- seu material genético. Em praticamente todas
dem apresentar, em sua composição, glicopro- as células infectadas, o vírus formará a partícu-
teínas, lipídios e até mesmo membranas. Como la virai, também denominada de vírion.
regra geral, o ácido nucleico virai é protegido A transmissão natural dos vírus de plantas
por subunidades proteicas (capsídeos) que em ocorre de três maneiras: (i) sementes e pólen;
conjunto formam a partícula virai, a qual pode (ii) material propagativo; e (iii) vetores (fun-
apresentar morfologia alongada, icosaédrica ou gos, ácaros, nematoides e insetos). Estas vias
baciliforme. As partículas virais podem ser visu- de transmissão podem ser mais ou menos im-
alizadas apenas por microscopia eletrônica. portantes dependendo da espécie virai e da
Dentro da célula vegetal, os vírus são de- planta hospedeira.
sencapsidados (perda da proteína capsidial) Os vetores, especialmente os insetos, são
e iniciam a replicação, utilizando proteínas extremamente importantes na disseminação
virais e proteínas do hospedeiro. Nesta célula de diversas espécies virais a curtas e longas
inicialmente infectada, são geradas inúmeras distâncias. Para o inseto adquirir o vírus em
cópias do genoma virai; parte destes genomas uma planta infectada, é necessário um perío-
serve de molde para tradução de novas prote- do de acesso à aquisição, o qual pode variar
Ü OE ÇAS DA SOJA: MELI-I ORAM E TO GENÉTI CO E TÉCNICAS DE Mi EJO
94

de segundos até várias horas. Em alguns ca- A soja é a fonte de proteína e ó le o vegetal
sos, o inseto não é capaz de transmitir o vírus mais importante no mundo. D e d e sua intro-
imediatamente após a aquisição, precisando dução no Brasil, vem ganhando d estaque no
de um tempo denominado de período latente. cenário nacional e , atualmente, é emeada em
Assim como é necessário um tempo para o in- várias regiões do país. O Bra il é o egundo
seto adquirir o vírus na planta infectada, é ne- maior produtor mundial de soja, ficando atrás
ce sário um tempo para a inoculação do vírus apenas dos Estados Unidos. Vários fatores po-
em uma planta adia, e este tempo é denomi- dem afetar a produtividade da cultura da soja;
nado de período de inoculação. Outro aspecto dentre eles, as doenças causadas por vírus
importante é o período que o inseto permane- podem impactar direta ou indiretamente esta
importante cultura do agronegócio brasileiro.
ce virulífero (capaz de transmitir o vírus). Este
período também é variável dependendo prin- o Brasil, diversas viroses já foram descri-
cipalmente da espécie virai, com uma duração tas na cultura da soja [Glycine max (L.) Mer-
que varia de horas, dias, semanas a até para o rill] , ocasionando perdas variáveis de acordo
resto da vida do inseto vetor. com o vírus , cultivar e as condições edafocli-
máticas. Os vírus associados à cultura da soja
Com base nestes períodos citados acima, podem afetar o rendimento da planta e/ou
ão definidos três tipos de relacionamento a qualidade das sementes colhidas. No Bra-
vírus/vetor: (í) não persistente [o vírus fica sil, os vírus descritos na cultura da soja são:
restrito ao aparelho bucal com período de Abutílon mosaíc vírus; Alfafa mosaíc vírus·
aquisição curto, não exi te período latente e Bean golden mosaíc vírus; Bean pod mot-
o período de inoculação é curto] ; (íí) persis- tle vírus ; Bean yellow mosaíc vírus; Cowpea
tente [ne te ca o , o vírus circula no corpo do mild mottle vírus; Cowpea severe mosaíc ví-
in eto, porém não replica no mesmo , apresen- rus ; Euphorbía mosaíc vírus; Okra mottle ví-
tando o períodos de aquisição e inoculação rus; Sida micrantha mosaíc vírus ; Soybean
mais longo e també m um período latente] ; mosaic vírus; Bean rugose mosaíc vírus ; To-
e (ííí ) per is tente propagativo [neste caso, bacco mosaíc vírus; Tomato spot wílt vírus; e
o vírus re plica no in eto, sendo este capaz Tobacco streak vírus.
de tran mitir o vírus p elo resto de ua vida; Embora várias espécies já tenham sido
ne te tipo d e relacioname nto, os período de descritas na cultura da soja, nem todas re-
aquisição e inoculação també m são mais lon- presentam uma ameaça em potencial à cultu-
go e exi te um período late nte] . ra. Entretanto, algumas destas espécies têm
potencial para causar sérios prejuízos à cul-
O conhecime nto do tipo de transmissão
tura da soja. Por isso, neste capítulo, serão
natural do víru , be m como o tipo de relacio-
descritas as características das viroses com
namento víru /vetor é de fundamental impor-
maior potencial de dano, conforme listado
tância na recome ndação de medida de contro- a seguir: (í) a queima do broto - Tobacco
le . Além de ta informações, a observação de streak vírus; (ii) o mosaico cálico - Alfalfa
sinto ma e a utilização de testes de diagnóstico mosaíc vírus; (ííí) o mosaico comum - Soy -
p ara determinação d a esp écie virai a saciada bean mosaic vírus ; (ív) o mosaico rugo o -
à planta ão fundame ntais na e colha da me- Bean rugose mosaíc vírus ; (v) o mosqueado
lhor estratégia de controle. Inúmera e pécies - Bean pod mottle vírus ; e (vi) a necrose da
de plantas ão ho pedeira deste importante ha te - Cowpea míld mottle vírus. Adicional-
patógenos e, dep ende ndo d a interação víru / mente, serão abordados os princípios e con-
planta, o re ultado pode er extremamente ceitos dos principais métodos de diagnóstico
preocup ante, acarretando ério prejuízo . de vírus de planta .
7- V IRO ES DA SOJA
95

2. Vi roses na cultura da soja

2. 1. Tobacco streak virus


O Tobacco streak vírus (T V, família Bro- estados de São Paulo e do Paraná. Nestas áreas,
movírídae, gê nero Jlarvirus) é con tituído de é comum encontrar outras espécies hospedei-
R A de fita imple entido po itivo apresen- ras (principalmente a espécie Ambrosia polys-
tando trê egmento genômico (R Al - 3491 tachya), bem como espécies de tripes transmis-
nt, RNA2 - 2926 nt, e R A3 - 2205 nt). as ex- oras do vírus. O TSV apresenta ampla gama de
tremidade 5' e 3' do R A , ão encontrados hospedeiros, tendo sua ocorrência relatada em
respectivamente, o Cap (m7GpppG) e uma oja, fumo, algodão, alface, amendoim, girassol,
cauda PoliA. Os R As 1 e 2 codificam as pro- tomate e algumas plantas daninhas.
teínas associada à replicação virai, e o R A 3 O sintoma característico da doença da
codifica as proteína a ociada ao movimen- queima do broto é a curvatura e necrose do
to e encapsidação (formação da partícula viral broto apical. A morte do broto apical resulta
por meio da proteína cap idial). partículas em excessiva brotação das gemas axilares e na
virais apresentam morfologia próxima à i o- redução do tamanho das plantas devido à pa-
métrica ou, ocasionalmente, baciliforme com ralização do crescimento. A medula da haste
30 nm de diâmetro. Cada egmento de R A principal apresenta-se escura, sendo esta a ca-
é encapsidado em uma partícula distinta ou racterística principal para diagnose da doença.
seja, para o início da infecção é nece ário que Os trifólios jovens tornam-se amarelo-casta-
três partículas contendo, re pectivamente, o nhos, com inúmeras lesões microscópicas. In-
RNA 1, RNA 2 e R A 3, e tejam presentes. fecções severas podem promover a queda das
O TSV é transmitido por e pécie de tripes folhas. Quando há a formação de sementes em
do gênero Frankliniella que e alimentam de plantas infectadas por TSV, estas apresentam
grão de pólen infectado. Além da transmissão manchas associadas à ruptura do tegumento.
mediada por tripes o T pode er transmitido As medidas de controle para o TSV visam
por sementes, sendo que a taxa de transmissão a redução da população do inseto vetor. A po-
pode variar dependendo do i olado virai e da pulação de tripes pode ser reduzida pela ação
cultivar de oja. Por is o, ensaios controlados das chuvas, por isso a semeadura tardia pode
devem ser realizados nas condições brasileiras diminuir consideravelmente a incidência des-
para determinar o potencial da disseminação ta virose. Outra forma de reduzir a população
deste vírus por sementes. de tripes é pela aplicação de inseticidas. Entre-
O primeiro relato da queima do broto da tanto, esta prática não é efetiva no controle do
soja causada por TSV no Brasil foi no estado de TSV, uma vez que os tripes virulíferos continu-
São Paulo em 1955. Atualmente, a queima do am migrando durante longo período antes de
broto da soja está restrita a algumas áreas nos morrer devido à ação do inseticida.

2.2. Alfalfa mosaic virus


O A/fa/fa mosaic vírus (AMY, família Bro- tremidades 5' e 3 dos RNAs, são encontrados,
moviridae, gênero Alfamovirus) é constituído respectivamente, o Cap (m7GpppG) e uma cau-
de RNA de fita simples sentido positivo apresen- da PoliA. Assim como o ilarvirus TSV descrito
tando três segmentos genômicos (RNAI - 3644 no item 2.1., os RNAs 1 e 2 do AMV codificam
nt, RNA2 - 2593 nt, e R A3 - 2037 nt). as ex- as proteínas associadas à replicação virai, e o
96 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAM E TO GENÉTICO E TÉCNICAS OE MANEJO

RNA 3 codifica as proteína a ociadas ao movi- a infecção teve início a partir das sementes.
mento e encap idação. As partícula virai apre- Infecções mista com o Soybean mosaic vírus
entam morfologia baciliforme com 18 nm de promovem efeito sinérgico, aumentando a se-
diâmetro e 30-5 nm de comprimento. veridade dos sintomas. O intomas foliare
O AM é tran mitido de maneira não per- podem ser confundidos com fitoxidade ou de-
i tente por Myzus persicae e pelo menos mais ficiê11cia nutricional, o que acaba dificultando
13 e pécie de afídeo . Adicionalmente, o vírus o diagnóstico. Os sintoma de mo aico amare-
pode er transmitido por emente de soja com lo ob ervados na cultura da soja deram origem
uma baixa taxa de tran mi são (1-5%) quando ao nome de mosaico cálico, atribuído como o
comparado à alfafa, onde a taxa de transmi - nome da doença induzida por AMV.
ão por emente pode atingir 50%. Além da O AMV é encontrado com baixa frequência,
alfafa, ho pedeiro onde o íru foi inicialmen- o que não repre entaria um problema ério na
te de crito o AM apre ema uma ampla gama cultura da oja. Entretanto, suas característi-
de ho pedeiro pertencente a vária família cas epidemiológicas relacionadas à transmis-
botânicas. Dentre os ho pedeiro vale de ta- ão por emente e por diversas espécies de
car a alfafa, a batata, o feijão, a soja e o tomate, afídeo podem, eventualmente, tornar o vírus
além de vária e pécie ilve tre que podem importante em uma dada região produtora de
ervir como fonte de inóculo. oja. Dentre as medidas de controle, destacam-
O primeiro relato do mo aico cálico em -se medidas que visem a impedir a entrada do
oja cau ado por AM é datado de 1981 e, atu- víru em área livre por meio da utilização de
almente, e ta doença pode er encontrada nos emente adias. o entanto, esta prática não
e tado de ão Paulo e do Paraná. O intomas é adotada, uma vez que não é prática rotinei-
induzido pela infecção virai con i tem de ra a realização de análises de sementes para
mancha clorótica e enrugamento da folha . verificar a pre ença do AMV e a consequente
Além do intomas foliare , o de envolvimento certificação deste material. Outra alternativa
da plantas infectada pode er afetado ignifi- no controle de ta virose é a utilização de culti-
cativamente, pedalmente no ca o em que vare re i tente .

2.3. Soybean mosaic virus


O oybean mosaic vírus ( M , família Po- é a pre ença de inclusões citoplasmática em
tyviridae, gênero Potyvirus) é con tituído de forma de cata-vento. Esta inclusões ão forma-
um único R A de fita imple entido po itivo, das pelo acúmulo de uma proteína virai.
com aproximadame nte 10.000 nt. a extremi- O MV é tran mitido de maneira não per i -
dade 5' e 3' do R A virai, ão encontrado , tente pelo afídeo Myzus persicae, Acyrthosi-
re pectivamente, a proteína Vpg (virai protein phon dirhodum , Hysteroneura setariae, Schi-
genome-línked) e uma cauda PoliA. E te R A zaphis graminum, Rhopalosiphum maydis e
codifica uma poliproteína que ofre autopro- Dactninotus ambrosiae. O MV também pode
teóli e, gerando 11 proteína madura . E ta er tran mitido por emente , com uma taxa
proteína ão re pon ávei p ela replicação e de tran mi ão entre 0,5 e 7%, dependendo da
movimento virai, encap idação, tran mi ão cultivar de oja e do i olado virai. A gama de
pelo vetor e upre ão de re po ta de defe a ho pedeiro naturai do MV é re trita à oja, a
da planta. A partícula virai apre entam mor- algumas cultivare de feijão, à Cassia occiden-
fologia alongada flexuo a com 12-15 nm de di- talis e à Centrosema macrocarpum.
âmetro e 710-750 nm de comprimento. Outra O primeiro relato do mo aico comum da
caracterí tica interessante do gênero Potyvirus oja cau ado por MV no Bra il foi no e ta-
7 - Vrno ES DA SOJA 97
f ABI O ASCIM ENTO DA SILVA - lAiussA Go LART 2ANARoo _ Ü ANIEUE RI BEIRO DE B ARROS _ CLAUDI E MÁRCIA C ARVALHO

do de ão Paulo em 1955. Atualmente o MV O sintomas de mosaico e enrugamento po-


pode er encontrado em toda a regiõe ' pro- dem ser ob ervados na figura lA. Além <lis-
dutores d e soja no Bra il, embora a utiliza- o, causa um sintoma típico que consiste no
ção de cultivares resi tente tenha diminuí- aparecimento da "mancha-café". Este sintoma
do a importância deste víru . O MV induz típico em semente é caracterizado p elo apa-
sintomas de nanismo, redução do número de recimento de manchas escuras que cobrem
vagens, mosaico, enrugamento, distorção do a sementes por inteiro ou parcialmente (Fi-
limbo foliar e perd a generalizada de vigor. gura 1B).

Figura 1. Sintomas induzidos por Soybean mosaic vírus (SMV) em soja.


A. S intomas de mosaico e enrugamento foliar; B. Manchas escuras nas sementes denominadas de "mancha-café".
Fotos: Cortesia do Professor Dr. Ricardo Trezzi Casa (UDESC/CAV).

A principal medida de controle é a utiliza- quais são designado Rsvl, Rsv3 e Rsv4 . E te
ção de cultivare re i tente as quai têm ido trê genes de resistência ao SMV apresentam
disponibilizada ao produtore . Exi tem trê diferentes especificidades quanto aos diferen-
alelos dominante de re i tência ao SMV, os tes isolados virais caracterizados.

2.4. Bean rugose mosaic virus


O Bean rugose mosaic vírus (BRMV, fa- O BRMV pode ser transmitido pelos cri-
milia ecoviridae, uh-familia Comovirinae, somelídeos Cerotoma arcuata, C. ruficornis,
gênero Comovirus) é con tituído de RNA de Diabrotica speciosa, D. balteata e D. adelfa.
fita simple entido po itivo, apresentando o Brasil, a espécie C. arcuata é a que trans-
doi egmentos genômicos (R Al e RNA2). mite o vírus mais eficientemente. Os crisomelí-
Nas extremidade 5' e 3' do RNAs virais, ão deos supracitados podem manter a capacidade
encontrados, re pectivamente, a proteína Vpg e de transmissão por dias ou mesmo emanas. A
uma cauda PoliA. O RNA 1 codifica as proteínas gama de hospedeiro é restrita a poucas espé-
associadas à replicação virai e o RNA 2 codifica cie da família Leguminosae. O BRMV também
as proteínas associadas ao movimento e encap- causa lesões necróticas locais em Chenopo-
sidação. As partículas virais apresentam morfo- dium amaranticolor.
logia icosaédrica com 28-30 nm de diâmetro. Este vírus foi inicialmente descrito infec-
Assim como ocorre com o TSV e o AMV, descri- tando feijão, causando o mosaico em desenho
tos anteriormente, os RNAs 1 e 2 do BRMV são do feijoeiro. Em regiões onde o cultivo de fei-
encapsidado em partículas distintas. jão e soja ocorre simultaneamente, pode ser
98

ob ervado a doença do mosaico rugoso da Não existem medidas específicas de con-


soja, também causada pelo BRMV. Dependen- trole para este vírus , uma vez que ainda não
do do genótipo de soja utilizado no plantio, o é considerado um problema sério na cultura
BRMV pode causar severos danos. No entan- da soja. No entanto, considerando-se as carac-
to, em infecção mista com o SMV, os danos à terísticas de seus insetos vetores, o quais são
cultura da soja são maiores, podendo acarre- polífagos e estão presentes em todo o país, de-
tar perdas de cerca de 30% na produção. Os vido ao cultivo sucessivo do mesmo genótipo,
sintomas observados em campos de cultivo devido à proximidade de cultivas d e soja com
de soja consistem de mosaico, encarquilha- cultivas de feijão e à ocorrência d e infecções
mento e bolhosidade, sendo que o mosaico mistas, o BRMV pode se tornar problema sério
induzido por BRMV é mais severo do que o na cultura da soja. As recomendações de con-
mosaico induzido pelo SMV. Nas sementes, o trole podem ser baseadas no manejo do inse-
BRMV pode induzir a formação de manchas to vetor, na utilização de genótipos resiste ntes
similares às observadas em infecções pelo (desde que estejam disponíveis, o que ainda
SMV, embora não existam evidências de sua não é o caso), além de evitar o cultivo sucessi-
transmissão por sementes. vo de espécies/cultivares suscetíveis.

2.5. Bean pod mottle virus

O Bean pod mottle vírus (BPMV, família restrita áó feijoeiro e à soja, Lespedeza striata,
ecoviridae, ub-família Comovirínae, gênero Stizolobium deeringianum , Trifolium incar-
Comovirus) é con stituído de R A de fita sim- natum e Desmodium paniculatum.
pie entido po itivo apresentando dois seg- O BPMV é encontrado na América do Nar-
mento genômico (R Al - 5983 nt e R A2 te, Equador e Brasil, sendo que , no Brasil, o
- 3662 nt). a extremid ade 5' e 3' do R A primeiro relato foi em 1992 em Planaltina -
virai , ão encontrado , respectivame nte, a Di trito Federal. Devido à ampla distribuição
proteína pg e uma cauda PoliA. O R A 1 co- geográfica e alta eficiência de transmissão de
difica a proteína a ociada à replicação virai Cerotoma arcuata, o BPMV pode estar pre-
e o R A 2 codifica a proteína associadas ao sente nas diferentes áreas produtoras d e soja
movimento e encap idação. A partículas virais no Brasil. Os sintomas induzidos pelo BPMV
apre entam morfologia ico aédrica com 30 nm consistem de mosqueado clorótico e forma-
de diâmetro. im como ocorre para o T V,
ção de bolhas em folhas jovens. Estes sintomas
o AM e o BRM de crito anteriormente, os
' tornam- e atenuados com o d esenvolvime nto
R A 1 e 2 do BPM ão encap idada em par-
da planta. Em infecções mistas (BPMV e SMV) ,
tícula di tinta . O víru BRMV e BPMV per-
o intomas são mais everos e consistem d e
tencem ao m mo gênero e, por i o , compar-
di torção foliar, redução do cre cimento e ne-
tilham caracterí tica , como vi to acima.
crose no ápice da planta. Em algumas folhas ,
Além da caracterí tica genômica , o podem ser observadas enações filiforme com
BPMV também é tran mitido por cri omelí- início nas nervuras centrai .
deo , embora de diferente e pécie (Cerato-
ma trifurcata, Díabrotica undecimpunctata, As recomendações de controle podem er
Colaspís //avida , C. lata, hpícauta víttata e baseadas no manejo do in eto vetor, na utili-
Epílachna varivestis). A e p écie Diabrotí- zação de genótipo re istentes, além de evitar
ca balteata e Cerotoma arcuata ão capaze o cultivo uce ivo de e p écie /cultivare u _
de tran mitir tanto o BRMV quanto BPMV. cetívei . Até o momento, não foram d crito
O BPMV apre enta uma gama de ho pedeiro genótipos resistente ao BPMV.
7- V IROSES DA OJA 99
f AB IO ASCl.'.I E 'TO DA . - lARr s,\ GO
SrrvA 7. . .
l.ART L.t\NAROO ·
- D ,\NIF.LLE R IBEIRO DE B ARRO - CLAUDlt E MÁRCIA CARVALI 10

2.6. Cowpea mild mottle virus


O Cowpea mild m ottle vírus (CPMMV fa- do produtor de soja que não apresenta relatos
1;1ília ~ et~flexiviridae, Gênero Carlavi;us) da virose é o Rio Grande do Sul. Isso foi recen-
e const1tu1do de um R A fita imples sentido temente confirmado através da análise de 200
positivo com genoma de aproximadamente amostras de soja coletadas nos campos produ-
8200 nt. Nas extremidades 5' e 3' do RNA vi- tores dos municípios de Vacaria, Capão Bonito
ra!, são en c0ntrados, respectivamente, o Cap e Lagoa Vermelha no ano de 2014 (dados não
(m7GpppG) e uma cauda PoliA. As proteínas publicados).
codificadas a partir do R A virai são respon-
Os sintomas causados por carlavírus variam
sáveis pela replicação movimento e encapsida-
de acordo com o hospedeiro que está sendo in-
ção virai. As partículas do CPMMV são alon-
fectado e a época do ano. O CPMMV em feijão
gadas e flexuosas com dimensões de 10-15 x
caupi (Vigna unguiculata) causa manchas clo-
650-700 nm e podem ser encontradas no ci-
róticas nas folhas primárias e distorção das fo-
toplasma de células do mesófilo, parênquima
e epiderme em soja e Nicotiana clevelandii. lhas, em amendoim provoca lesões necróticas,
Essas partículas formam agregado em forma anéis cloróticos, com posterior clorose sistêmi-
de feixes e podem-se observar inclusõe tipo ca. Em soja e feijão comum (Phaseolus vulga-
escova (brush-like). ris), pode causar uma diversidade de sintomas
como: clorose e mosaico nas folhas , necrose
O vírus é transmitido pela mosca branca
apical, distorção e nanismo. Em campo, os sin-
(Bemisia tabaci) de maneira não persistente.
A transmissão por sementes também parece tomas iniciais da virose da soja não chamam
ser dependente do isolado viral. O isolado do a atenção dos produtores, apenas próximo à
CPMMV de Gana foi transmitido por semente floração e surgimento das vagens é que eles
de soja, feijão caupi e, com baixa frequência, tornam-se mais evidentes. É após esse período
em feijão comum, porém, até o momento, não que são observadas a queima do broto e a ne-
foi confirmada a transmissão via ementes de crose das hastes (Figura 2A), que terminam na
isolados de CPMMV encontrado no Brasil. morte das plantas e consequente perda de pro-
Apesar de ter sido relatado no Brasil na dé- dução. A variedade de sintomas em soja é uma
cada de 80, foi somente na safra 2000/01 que característica do CPMMV. São encontrados iso-
sintomas da necrose da haste foram relatados lados que causam sintomas severos como ne-
em campos de soja no e tado de Goiás. o- crose. Nas folhas , podem-se observar sintomas
vos focos da doença ocorreram nos estados do de mosaico e bolhosidade (Figura 2B) e, em
Mato Grosso, Bahia Maranhão e Paraná nos alguns casos, podem ser assintomáticos.
dois anos seguintes. Atualmente, o único esta-
100 D OE 'ÇAS DA S OJA: MELH ORAM ENTO GE ÉTICO E TÉCNI CAS DL EJO

ERN E L EM ES - L rn1 ARDO C ASTRO - RAfAF.L Assi s

Figura 2. Sintomas induzidos por Cowpea mi/d mottle virus (CPMMV) em soja . A. Sintomas de queima do broto e
necrose da haste; 8. Sintomas de mosaico e bolhosidade . Fotos: Larissa Goulart Zanardo .

O sintomas di tintos apre entados pelos O CPMMV vem sendo um sério problema
isolados de CPMMV ugerem a exi tência de para a soja brasileira nos últimos anos, e a única
estirpe di tinta . Amo tras de soja coletadas medida de controle viável é a utilização de culti-
no e tado da Bahia, Goiá , Maranhão, Mato vares resistentes ao vírus. O controle da mosca
Gros o, Minas Gerai e Pará entre os ano de branca é inviável, devido ao tipo de relaciona-
2001 e 2010 revelaram que, no Brasil, há duas mento vírus/vetor. Trabalhos recentes têm de-
estirpe de CPMMV (CPMMV-BRl e CPMMV- monstrado uma alta variabilidade genética deste
-BR2), que apre entam variabilidade biológica patógeno, o que pode inviabilizar a utilização de
e molecular. determinadas cultivares tidas como resistentes.

3. Diagnose
o caso de víru de plantas, os te tes mai A utilização de medidas de exclusão e o
comumente utilizado para o diagnóstico são: diagnóstico precoce de vírus de plantas são
te te biológicos (ba eado na expre ão de in- pontos chave no estabelecimento e manuten-
tomas em plantas indicadoras); te te orológico ção da sanidade de uma área de cultivo. O ob-
(baseado no reconhecimento do víru por um jetivo deste tópico é o de -fornecer informações
anticorpo e pecífico) e te te molecular (basea- básicas sobre os principais testes de diagnós-
do na amplificação de uma região específica do tico de vírus de plantas, os quais podem ser
material genético viral). E te te te podem er aplicado na detecção de vírus em qualquer
utilizados isoladamente ou em conjunto depen- espécie vegetal, incluindo a soja.
dendo do patossi tema anali ado, da di ponibili-
dade de recursos e de mão de obra especializada.

3.1. Indexação Biológica


Os vírus de plantas podem cau ar uma é- queado, amarelecimento, clorose, clareamento
rie de sintomas em seus ho pedeiro , como, de nervuras), redução do cre cimento (nani -
por exemplo: desvios de cor (mosaico, mo - mo), deformações (encarquilhamento, enruga-
7 - Vrno ES DA SOJA 101
f AB IO ASCIME íTO DA STLVA - LlRl A GoUIART ÜJ~ARDO - D ANIELLE RIBEIRO DE B ARROS - Cu OI E MÁRCIA CARVALHO

mento, epinastia), entre outros. A observação As vantagens do teste de diagnose em es-


destes sintomas em seus hospedeiros naturais pécies indicadoras consistem na facilidade de
está condicionada ao isolado viral, à cultivar e execução, baixo custo e em não haver necessi-
às condições ambientais. dade de mão de obra especializada para rea-
lização do teste. Evidentemente, na avaliação
O diagnóstico baseado na expressão de
dos resultados do teste, é -necessário treina-
sintomas no hospedeiro natural é complicado,
mento para percepção e classificação dos.sinto-
uma vez que diferentes espécies virais podem mas observados. Apesar das vantagens descri-
ocasionar o mesmo sintoma em um determi- tas acima, o teste biológico apresenta algumas
nado hospedeiro e, ainda, os sintomas podem desvantagens, tais como: (i) demora na obten-
ser confundidos com deficiência nutricional ou ção dos resultados; (ii) necessidade de espaço
desordens fisiológicas . Este cenário demonstra físico (casa de vegetação) com condições con-
que, de maneira geral, o diagnóstico baseado troladas para a execução do teste; (iii) permi-
em sintomas no hospedeiro natural pode con- te a detecção apenas de vírus transmitido me-
duzir a conclusões equivocadas. Por isso, o uso canicamente (TSV, AMV, SMV, BRMV, BPMV e
de uma série de espécies indicadoras pode for- CPMMV são transmitidos mecanicamente); (iv)
necer resultados consistentes no diagnóstico o teste biológico está sujeito a variações depen-
de vírus. No diagnóstico biológico de vírus em dendo das condições ambientais, isolado viral
soja, uma série de espécies indicadoras pode e espécie/cultivar da planta indicadora.
ser incluída. Na tabela 1, são apresentadas as Devido às desvantagens apresentadas, este
espécies indicadoras que podem ser utilizados teste não é comumente utilizado em diagnósti-
para o diagnóstico do TSV, AMV SMV, BRMV, cos de rotina, sendo utilizado, principalmente,
BPMV e CPMMV. na caracterização de isolados virais.

Tabela 1. Lista de espécies indicadoras e sintomas induzidos por Tobacco streak vírus, A/falta mosaic vírus, Soybe-
an mosaic vírus, Bean rugose mosaic vírus, Bean pod mott/e vírus e Cowpea mi/d mottle vírus.

Tobacco streak vírus


Espécie indicadora
Sintomas
Beta patellaris 1 Lesão necrótica local
---
Cyamopsis tetragano/oba Les-oes locais pequenas e escuras
·--- - --· ---- --
Phaseo/us vulgaris cv. Manteiga Lesão necrótica local
Vigna unguicu/ata l Lesõe s locais cloróticas ou necróticas
Nicotiana tabacum cv. Turkish Folhas s uperiores com aspecto serrilhado
Alfalfa mosaic vírus
Espécie indicadora

Chenopodium amaranticolor Lesões cloróticas locais e sistêmicas


Chenopodium quinoa 1 Lesões cloróticas locais e sístêmicas
-
1
Ocimum basilicum 1 Mosaico amarelo sistémico
1
--
Phaseolus vulgaris Lesão necrótica lo<::al
Pisum sativum Lesão local e necrose sistêmica da haste
Vicia faba 1 Lesão local necrótica e necrose da haste
Vigna unguiculata 1 Lesão necrótica local
1
Nicotiana tabacum Lesão nécrótica local e mosqueado sistêmico
102
ERNANE L EMES - L Eo ARDO C Asrn o - RA FAE L Ass is

Soybean mosaic vírus · .- ~ : ·


Espécie indicadora

Chenopodium a/bum Lesão clorótica local


Chenopodium guinoa Lesão clorótica local
Lesão necrótica local
Mosaico sistêmico
Phaseolus vulgaris Mosaico sistêmico para alguns isolados virais
Bean rugose mosaíc vírus
Espécie indicadora

Cheno12odium amarantico/or Lesão necrótica local ·


Phaseo/us vu/garis cv. Plentiful Mosaico ou mosqueado severo e rugosidade
Vicia taba Mosqueado
Bean pod mottle vírus
Espécie indicadora
Sintomas
Glycíne max Mosqueado severo e má formação das folhas
Phaseolus vulgaris Mosqueado severo e má formação das folhas
Mucuna deeringianum Mosqueado
Trifo/ium incamatum Mosqueado
Lespedeza striata Mosqueado
Cowpea mi/d mottle vírus
Espécie indicadora
Sintomas
Arachís hypogaea Mosqueado
-Chenopodium
- amaranticolor Lesão clorótica local
Chenopodium quinoa Lesão clorótica local
Glycine max cv. CD206 Mosaico , clareamento de nervura e deformação folia r
Phaseolus vu/g_aris cv. Jalo Mosaico
Vigna unguiculata Mosaico
Nicotiana benthamiana Lesão clorótica local

Nicotiana glutinosa Lesão necrótica local e redução no crescimento*

Nicotiana debneyi Lesão clorótica local


Fonte : Plant vírus online (http://pvo.bio-mirror.cn/refs.htm) - *Sintomas induzidos por alguns isolados virais .

3.2. Indexação sorológica


Adetecção orológica ba eia-se no reco- ou a proteína virai purificada, procede-se à in-
nhecimento de um antígeno (víru ) por um an- jeção em animai de sangue quente, geralmen-
ticorpo e pecífico. De maneira geral, procede- te em coelhos por serem animai de tempera-
- e a purificação virai com protocolo e pecífico mento tranquilo e de fácil manejo. Em ínte e ,
para manter a integridade da partícula virai após a inoculação do víru em coelhos, célula
ou utiliza- e da expre são in vitro em i tema específicas do si tema imune (linfócito B e T)
procarioto de uma proteína virai, geralmente produzem antissoro específico contra a partí-
a proteína cap idial. Obtido o vírus purificado cula virai ou a proteína virai purificada.
103

Os testes baseados na sorologia mais comu- removem o que não ficou adsorvido à cavida-
mente u tilizado no diagnóstico de fitovírus de da placa, direta ou indiretamente. Após a
são: ELISA (Enzyme Linked Immunosorbent última lavagem, adiciona-se o substrato, o qual
Assay) indireto e DA -ELISA (Double Antibo- será degradado pela enzima fusionada ao an-
dy Sandwich-Enzyme Linked Immunosorbent tissoro. Após incubação no escuro por cerca
Assay) . Estes teste baseiam-se em uma reação de trinta minutos, procede-se a leitura da ab-
enzimática que amplifica a reação sorológica, sorbância (405 nm) em um espectrofotômetro.
aumentando a ensibilidade do teste. a figura Tanto as amostras quanto os controles positi-
3, são apresentada as etapas dos testes ELISA vos e negativos devem ser adicionados na pla-
indireto e DA -ELISA. Entre as quatro etapas ca de poliestireno em triplicata. As amostras
apresentada n a figura 3, existem trê lavagens testadas são consideradas positivas quando a
com PBS-T (tampão a base de fosfato de po- média do valor de absorbência for duas vezes
tássio, fosfato de sódio e tween-20), as quais maior que o controle negativo.

ELISA indireto DAS-ELISA

D 1ª Langem(PBS-1)

Q
Figura 3. Representação esquemática
dos testes sorológicos ELISA indireto e

Q] illJ
DAS-ELISA. Na primeira etapa , é realizada
a adição da amostra no teste Elisa Indireto
e a adição do antissoro no teste DAS-
ELISA Na segunda etapa , é adicionado
o antissoro no teste ELISA indireto e a
amostra no teste DAS-ELISA. Na terceira
etapa, é adicionado o conjugado (antissoro
fusionado a enzima) em ambos os testes .
Nesta etapa , no teste ELISA indireto o

QJ ffi] conjugado reconhece a porção invariável


do antissoro que reconhece o vírus ; já
no teste DAS-ELISA, o conjugado , assim
como o antissoro primário, também
reconhece o vírus . Na quarta etapa , é
Proteína do hospedeiro ~ Conjugado adicionado o substrato, o qual é degradado
na presença da enzima , ou seja , a
• Panícula viral Mudança de coloração degradação do substrato e mudança de
Y Antissoro devido ação da enzima coloração somente será detectada na
sobre o substrato presença do vírus na amostra testada .
104
ERNANE L EMES - LEONARDO C ASTRO - RAFAE L Assis

O DAS-ELISA é mais sensível que o ELISA do teste. O conjugado adicionado no ELISA


indireto, uma vez que o anticorpo é adicio- indireto é universal e pode ser utilizado para
nado inicialmente na cavidade da placa, re- detecção de qualquer vírus, conferindo uma
cobrindo toda a cavidade. No entanto, apre- vantagem em relação ao DAS-ELISA. O teste
senta a desvantagem de ser necessário um sorológico é o teste diagnóstico mais utiliza-
conjugado específico (antissoro fusionado a do na detecção de vírus de plantas , especial-
uma enzima) para cada vírus a ser detectado. mente de vírus que possui material genético
No ELISA indireto, adiciona-se, inicialmente, de RNA, onde o diagnóstico molecular se tor-
a amostra e, neste caso, tanto o vírus quan- na mais caro, conforme será discutido no tó-
to proteínas do hospedeiro ficarão ligadas na pico seguinte.
cavidade da placa, reduzindo a sensibilidade

3.3. Detecção Molecular


Em casos em que os resultados dos testes genético é DNA, como os begomovirus, por
biológicos e/ou sorológicos forem inconsis- exemplo, o diagnóstico molecular pode ser
tentes, devido à baixa concentração virai nos utilizado como rotina.
tecidos da planta, para vírus que são difícei Para delimitação da região amplificada
de erem purificados ou vírus que não são utilizam-se oligonucleotídeos (primers) que
transmitido mecanicamente (teste de gama flanqueiam a região a ser amplificada, confe-
de hospedeiro ), utilizam- e as técnicas mo- rindo especificidade ao teste. Para realização
leculare para a diagnose. A técnicas de de- do diagnóstico molecular baseado na PCR, são
tecção molecular ão mais sensíveis que as necessárias três etapas: na primeira etapa, pro-
técnica orológicas e , e m muitos casos, a sua cede-se à extração de DNA; a segunda etapa é a
utilização é indispensável para o diagnó tico reação de PCR propriamente dita - nesta etapa,
correto. A técnica mai utilizada no diagnós- além do DNA molde, da Taq DNA polimerase
tico molecular de fitovíru é a PCR (Polime- e dos oligonucleotídeos, são utilizados outros
rase Chain Reaction). Esta técnica baseia-se componentes como o tampão da enzima,
na amplificação de um molde de D A (ácido cloreto de magnésio, dNTP /s (dATP, dTTP,
de oxirribonucleico) por ação da enzima Taq dCTP e dGTP) e água para completar o volu-
D A polimera e . E ta enzima foi isolada da me da reação. Na terceira etapa, é realizada a
bactéria Thermus aquaticus e intetiza D A eletroforese em gel de agarose. esta etapa, o
em alta temperatura , o que propiciou a au- objetivo é separar os fragmentos amplificados
tomatização da técnica de PCR. pelo tamanho, submetendo-os a uma corrente
Como a maioria do vírus de plantas é de elétrica. Como ·os ácidos nucleicos são carre-
R A (ácido ribonucleico) é nece ária uma gados negativamente, eles irão migrar do polo
etapa adicional que coo i te na tran crição re- negativo para o polo positivo. Posteriormente ,
ver a do R A para D A. Para realização desta o gel é colocado em uma solução d e brome-
etapa, utiliza- e a enzima tran cripta e rever- to de etídeo para visualização dos fragmentos
sa, a qual ainda é muito cara no Brasil, o que , amplificados, uma vez que o brometo d e etí-
de maneira geral, inviabiliza o diagnóstico de deo é um agente intercalante, que se liga ao
rotina. e te ca o , onde o víru a er diag- ácido nucléico de maneira irrever ível e pode
no ticado é de R A, recomenda-se a utilização ser visualizado sob luz ultravioleta.
do teste sorológico. Já para víru cujo material
7- VIROSES DA OJA 105
FABI O NASCIM ENTO DA S ILVA - LAru A Gouwn 2ANARDO _ D ANIELLE RI BEIRO DE B ARROS _ CIAUDI E M,\RC IA CARVALHO

4. Considerações finais
O desenvolvimento, produtividade e qua- controle. Como o diagnóstico baseado em sin-
lidade das sementes de soja são afetados por tomas pode ser subjetivo, a utilização de outras
vários tipos de estre ses bióticos e abióticos. técnicas se faz necessária para a correta iden-
Entre os fatores bióticos que dificultam a pro- tificação do agente viral associado à doença.
dução agrícola de soja no Brasil, estão as do- Este cenário demonstra a importância de estu-
enças causadas por fungos, vírus, bactérias e dos de identificação, caracterização e diagnós-
nematoides. Várias doença com os mais diver- tico, bem como a compilação de informações
sos agentes patogênicos já foram descritas no sobre os vírus que estão associados à cultura
Brasil. A prática da monocultura da soja tem da soja e que representam ou podem vir a re-
promovido o aumento do número de patóge- presentar um problema sério a esta cultura tão
nos associados à cultura da soja, bem como a importante para agricultura brasileira. Neste
seleção de genótipos patogênicos. capítulo, foram apresentadas informações de-
A soja, assim como muitas culturas de im- talhadas dos principais vírus da cultura da soja
portância econômica, é afetada por uma érie e os testes de diagnóstico mais amplamente
de espécies virais. Doenças causadas por vírus, utilizados, propiciando, assim, um maior en-
como foi constatado no decorrer deste capí- tendimento destes agentes patogênicos.
tulo, são de difícil diagnóstico, identificação e

5. Referências bibliográficas
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Fitonematoides

MAruA AMELIA DOS SANTOS


Engenheira Agrônoma, Me. , Dr.
Universidade Federal de Uberlândia

Até o início da década de 60 do século XX carijó, redução no porte de plantas com hastes
'
a cultura da soja restringia-se praticamente ao de menor diâmetro, murcha e seca de plantas
Estado do Rio Grande do Sul, desenvolvendo- que, muitas vezes, levam à morte da planta.
-se lentamente em outros estados brasileiros. Mundialmente, as perdas por nematoides na
A partir de 1968, a expansão de lavouras de cultura da soja estão na ordem de 10,6%, ou
soja ocorreu em nível significativo em Santa seja, 3,9 bilhões de dólares. Já os danos (redu-
Catarina, no Paraná, em São Paulo, no Mato ções na produção de soja) variam conforme o
Grosso, em Minas Gerais e em Goiás (BACA- nematoide envolvido e a população existente
XIXI et al. , 2011). na lavoura, sendo estimados ao redor de 30%
No Brasil, os nematoides parasitos de plan- da produção. Em algumas situações, pode
tas que atuam como patógenos na cultura da ocorrer comprometimento total da lavoura
soja são parasitos de raízes e compreendem as pelo aumento populacional dos nematoides
espécies Meloidogyne incognita, M. javanica, safra a safra nas áreas contaminadas.
M. arenaria, Pratylenchus brachyurus, Hete- O desenvolvimento de genótipos resisten-
rodera glycines, Rotylenchulus reniformis e tes é uma busca constante de pesquisadores
Tubixaba tuxaua. Essa última espécie é um que se deparam com esses problemas fitossa-
problema mais recente e preocupante, princi- nitários que afetam significativamente a pro-
palmente, nas culturas de soja, milho e trigo dução da soja. O efeito do uso de cultivares de
(FURLANETTO et al. , 2010). soja resistentes a nematoides também pode ser
A importância dessas espécies no país se percebido nos cultivos subsequentes de outras
deve a aspectos relevantes, como presença en- espécies vegetais suscetíveis, que são benefi-
dêmica em diversas regiões produtoras, eleva- ciadas pela redução populacional do nematoi-
da variabilidade genética e risco potencial de de na área.
dano com o incremento da área cultivada com Segundo Roberts (2002) , a maioria das
aspectos suscetíveis a estes nematoides. variedades resistentes a nematoides ocorrem
Os sintomas provocados pela infecção das para endoparasitos sedentários (Meloidogyne ,
espécies de nematoides da soja diretamente Heterodera e Globodera) e semi-endoparasi-
nas raízes são galhas, lesões, podridões e fa- tos (ectoparasitos) sedentários (!?.otylenchulus,
lhas no desenvolvimento ou volume radicular. Tylenchulus).
Os sintomas indiretos que esse parasitismo Por outro lado, a utilização cuidadosa de
nas raízes provoca na parte aérea das plantas genótipos de soja com resistência aos fitone-
de soja, variam de manchas cloróticas ou ne- matoides deve ser feita com muito rigor, prin-
croses entre nervuras, caracterizando a folha cipalmente para populações anfimíticas desses
108 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉ'IlCO E TÉCNICAS DE MA EJO

ERNAN E LEMES - L EONARDO CASTRO RAfA.EL Ass1

patógenos. Isto se deve ao fato de que o uso vento da Biotecnologia, novos genes de resis-
contínuo de cultivares resistentes possibilita a tência presentes no próprio germoplasma da
ocorrência de pressão de seleção na população soja podem ser rapidamente incorporados às
do nematoide e, quando há ocorrência da anfi- cultivares superiores, aumentando a variabili-
mixia, a variabilidade genética é maior. Normal- dade genética útil aos programas d e melhora-
mente, materiais resistentes devem estar inse- mento (SILVA, 2001).
ridos em um programa de rotação de culturas O processo de desenvolvimento de novas
para minimizar essa pressão de seleção, alter- cultivares de soja pode ser dividido em três
nando espécies vegetais não hospedeiras com etapas principais: escolha dos progenitores e
variedades resistentes e suscetíveis de soja. realização da hibridação; avanços de gerações
A variabilidade genética da soja é mantida e seleções; e avaliação das linhagens mais pro-
e conservada em bancos de germoplasma exis- missoras. Para o início das avaliações do po-
tentes em vários países orientais e ocidentais. tencial apresentado pelas linhagens, seleção e
O EUA mantém sua coleção de aproximada- realização de testes em diferentes ambientes,
mente 15.000 acessos (genótipos) de soja. No espera-se após a geração F6 ou F7, devido ao
Brasil, existe uma coleção de germoplasma processo de autofecundação e segregação nas
com aproximadamente 4.000 acessos, que está primeiras gerações.
sendo conservada em câmaras climatizadas
A maioria das plantas é imune aos nema-
no Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa
toides. A imunidade é definida como condição
oja, em Londrina, Paraná. Essa mesma cole-
da planta que leva à incapacidade do nematoi-
ção é mantida, em condições de conservação
de desenvolver-se e reproduzir no interior de
a longo prazo, na Coleção Base da Embrapa
seus tecidos, frequentemente por mecanismos
Recursos Genéticos, em Brasília, DF. A maioria
de bloqueio que se manifestam já no início
de e ace o foi introduzida da coleção de
da penetração, inibindo-a (ROBERTS, 1990).
germoplasma norte-americana e é composta,
A resistência e a suscetibilidade de plantas re-
principalmente, por genótipos da China, Japão
ferem-se à habilidade evidenciada na supres-
e de outros países onde ocorreu diversificação
são do desenvolvimento e da reprodução de
de a espécie vegetal (ALMEIDA et al. , 1997).
determinadas espécies de nematoides. Plantas
a coleçõe de germoplasma de soja, a altamente resistentes possibilitam taxas de re-
variabilidade genética para caracteres fisio- produção muito restritas dos seus parasitas, ao
lógico , morfológico e agronômico é con- passo que as suscetíveis permitem abundante
iderada ba tante ampla. E sa variabilidade reprodução. Outra definição importante é a de
exi tente na coleçõe de germoplasma ainda
tolerância. Plantas tolerantes a certas espécies
é pouco utilizada no programa de melhora-
de nematoides sofrem pouca ou nenhuma in-
mento d e oja. ormalmente, o melhoristas
júria, mesmo sob alta infecção.
e utilizam mai de germopla ma melhorado,
ou eja, cultivare e linhage n mai adaptados Plantas intolerantes, por sua vez, sofrem
em eu programa de crúzamentos, condu- danos severos. Os atributos de resistência e
zindo a um e treitamento da variabilidade tolerância são independentes e podem ser
genética. Por i o , muito p esquisadore con- herdados de maneira separada e diferenciada.
ideram que a ba e genética das cultivare co- Assim, plantas resistentes podem ser intoleran-
merciai de oja é re trita, podendo re pre en- tes, ofrendo injúrias, mesmo sob baixa infec-
tar um fator de ri co para a e tabilidade da ção ( ILVA, 2001). Uma adaptação de Roberts
cultura. O germopla ma é um recur o na_tu~al (2 002) é apresentada a seguir com a represen-
de inqu tionável importância na amphaçao tação diagramática do crescimento da planta
da ba e genética exi tente na oja. Com o ad- e reprodução do nematoide nas plantas.
8- F ITON EMATOIDES 109
MARIA AM EUA DO SANTO

CreànenlDdD
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Ttnnlnaloda: SUatMI Resisbetwte Toleallle
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Na literatura, encontram-se relacionados • Physostigma venenosum (feijão cala-


vários mecanismos de resistência elaborados bar): o produto é do grupo N-metil
pelas plantas que afetam negativamente a po- carbamato e deram o nome de fisos-
pulação de nematoides: tigmina, testado para Ditylenchus
1. Produção de substâncias tóxicas aos dipsaci.
nem ato ides: 2. A planta não apresenta, ou apresenta
• Tagetes (cravo-de-defunto): suas raí- em quantidade insuficiente, substân-
zes contêm a-tertienil e derivados de cias que favorecem o desenvolvimento
bithienyl. Estes limitam as popula- e a reprodução do nematoide:
ções de Meloidogyne e Pratylenchus. • Para a reprodução de Aphelenchoi-
Além dos compostos tóxicos, os juve- des ritzemabosi, o ácido indolacéti-
nis que penetram são cercados por co (AIA) e seu precursor (triptofano)
células mortas em função da reação são necessários. As plantas resisten-
de hipersensibilidade. tes de moranguinho não fornecem
• Aspargo: contém, em seu caule, fo- quantidades necessárias de AIA e de
lhas e raízes, um glucosídeo tóxico à triptofano.
Paratrichodorus teres, denominado
3. Falta de atração e/ou resistência à pe-
ácido asparagúsico. O ácido foi sin-
netração.
tetizado em 1956. No entanto, não é
utilizado porque esse ácido é um ini- 4. Sítios de alimentação (células gigantes,
bidor de crescimento de planta. Ovos sincitos, células enfermeiras e outras
de Heterodera glycines e Globodera denominações) não são formados ou
rostochiensis em solução desse ácido são inadequados para o desenvolvi-
apresentaram inibição total. mento do nematoide. Segundo Jung e
110 ÜOENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE LEMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Assis

Wyss (1999), a invasão dos nematoides veis são aquelas com FR > 1, enquanto que as
também ocorre em plantas resistentes, más hospedeiras do nematoide apresentam FR
contudo, dentro da raiz, a indução do < 1. Esse é um método indireto de avaliação
sítio de alimentação é inibida, ou mes- da doença.
mo as estruturas de alimentação podem A seleção de plantas de soja através do fa-
ser estabelecidas inicialmente, mas são tor de reprodução baixo, buscando-se plantas
desintegradas nos estágios iniciais de
resistentes, pode incluir plantas intolerantes.
desenvolvimento do nematoide.
Nesses genótipos, o ataque dos nematoides im-
5. Hipersensibilidade. Para soja e nema- pede o desenvolvimento do sistema radicular,
toide de cisto, é muito comum o me- tornando-o pequeno e suportando uma popu-
canismo de resistência do tipo reação lação pequena na raiz. Assim, é impossível se-
de hipersensibilidade, isto é, os tecidos parar a resistência da intolerância, pois em am-
afetados morrem e o nematoide não bos os casos há pequena taxa de reprodução.
consegue completar seu desenvolvi-
Quando pesquisadores discutem o objeti-
mento (SCHMITT e OEL, 1984).
vo para alcançar a resistência na planta hospe-
Em programas de melhoramento, alguns deira, geralmente o definem como redução da
itens devem ser observados: definição do ne-
reprodução do nematoide bem como redução
matoide (gênero, espécie, raça); condições ide-
dos sintomas da doença que incluem dano à
ai para a planta reagir ao nematoide (é comum
raiz, vulnerabilidade aos estresses como seca
a perda de resistência de plantas quando sub-
e, especialmente, perda de produção.
metida a temperaturas maiores que 30 ºC, em
condiçõe de estufa, que acontece com o gene Alguns sintomas podem ser utilizados para
Mi dependente de temperatura para manuten- avaliar a resistência das plantas, como é o caso
ção de ua e tabilidade); critérios válidos para da contagem das galhas radiculares incitadas
a avaliação da resistência; estudo da herança por Meloidogyne spp. Nesse caso, é fundamen-
da re i tência; cruzamentos e/ou retrocru- tal que haja correlação entre a ausência dos
zamento vi ando não somente à resi tência sintomas e a resistência da planta. Conforme
' Kinloch (1990), para a soja, há correlação po-
ma também a boa característica agronômi-
ca , te te do material resistente em condições sitiva entre o número de galhas e a suscetibili-
de campo e em diferente locais. dade de plantas.
egundo Oo tenbrink (1966), a resistência Bruinsma (2013), em seu trabalho de ava-
de planta ao nematoides pode ser avaliada liação de métodos para o estudo da resistê ncia
com base na capacidade ou taxa de reprodu- de genótipos de soja a Meloidogyne javanica,
ção do nematoide na planta te tada . A re- utilizou-se de uma escala de notas d e O a 5
produção do nematoide pode er mensura- (Figura 1) sugerida pelo Serviço Nacional de
da procedendo- e a contagem dos nematoides Proteção de Cultivares (MAPA, 2015). Foram
extraído do i tema radicular da planta e do considerados resistentes (R) os genótipos que
ub trato, determinando- e o índice de repro- receberam nota até 2,0, moderadamente resi -
dução ou fator de reprodução (FR) . O FR é a tente (MR) os genótipos com nota de 2 1 até
3,0, e uscetíveis (S) os que receberam nota' su-
razão entre a população final e população ini-
cial do nematoide. Planta hospedeira favorá- perior a 3,0.
8- FITO 111

Figura 1. Plantas de soja com nota de intensidade de galhas (IG) de 1 a 5. O = imune;


1 = 1 ou 2 galhas e sistema rad icular normal; 2 = poucas galhas pequenas e sistema radicular bem desenvolvido;
3 = galhas pequenas e sistema radicular pouco prejudicado; 4 = muitas galhas e sistema radicular prejudicado; e
5 = sistema radicular totalmente tomado por galhas. Fonte: Bruinsma (2013).

Nesse mesmo trabalho, para a avaliações Vários genes são desativados após infecção
d e resistência dos genótipo em ca a de ve- do nematoide na planta. Muitos desses estão
getação, foi usada a escala de Taylor e asser envolvidos nas respostas de defesa, o que su-
(1978), atribuindo-se índices de galha (IG) de gere que o nematoide ativamente suprimi a
O a 5. Associou-se o IG ao fator de reprodu- resposta de defesa do hospedeiro.
ção (FR) para o uso do e quema proposto por A identificação de genes que conferem re-
Canto-Sáenz (1985): sistência a um patógeno é o ponto de partida
• hipersuscetível = IG > 2 e FR ~ 1 para um programa de melhoramento genético.
• suscetível = IG > 2 e FR > 1 Alguns genes conferem resistência a mais de
uma espécie de nematoide.
• tolerante = IG ~ 2 e FR > 1
• resistente = IG ~ 2 e FR ~ 1 Os endoparasitos sedentários são conside-
rados os mais bem adaptados ao parasitismo
• imune= IG = O e FR = O
de plantas por passarem a maior parte do ciclo
A infecção do nematoide inicia complexas de vida no interior das raízes onde induzem es-
alterações na expressão gênica da planta. Um truturas de alimentação especializadas (sítios
grande número de genes induzidos pela in- de alimentação). Os fitonematoides secretam
fecção contribuem para o estabelecimento da substâncias pelo seu estilete e essas são libera-
interação parasítica com grandes alterações na das das duas glândulas esofaginas subventrais
arquitetura da parede celular, causando o de- e da glândula esofagiana dorsal, representan-
senvolvimento de células gigantes e sincício. A do papel importantíssimo na infecção e na
infecção pelo nematoide aciona genes que co- formação das células de alimentação na planta
dificam para enzimas que degradam a parede hospedeira. As atividades secretórias levam a
celular, como endoglucanase e poligalacturo- acreditar que as glândulas subventrais estejam
nase em nematoides de galhas e de cisto. relacionadas às fases iniciais do parasitismo, e
112 ÜO ENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E T ÉC NI CAS DE MANEJO

ERNAN E L EMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL A'>SIS

que a glândula dorsal, ao desenvolvimento e dadas para as diferentes regiões do país. A


manutenção dos locais de alimentação. identificação e a validação de marcadores
A avaliação da resistência aos nematoides moleculares associados aos genes ou QTLs
é uma atividade complexa, onerosa e que de- de resistência podem oferecer uma impor-
manda tempo, além de ser muito influencia- tante contribuição aos programas de melho-
da pelo ambiente. A identificação de marca- ramento de soja, no sentido de aumentar a
dores ligados a genes de resistência em soja frequência de linhagens resistentes em suas
permite maior rapidez no processo de obten- progênies. A seleção assistida por marcado-
ção de cultivares resistentes, em programas res moleculares é mais simples, mais rápida
de melhoramento, por meio da incorporação e pode ser mais econômica do que a seleção
de gene específicos de resistência às culti- fenotípica, além de não ser influenciada pelo
vare mais adaptadas e produtivas, recomen- ambiente (OLIVEIRA, 2012).

Meloidogyne spp.
ilva et ai. (1952) relataram pela primeira Oliveira (2012) comenta que a resistência
vez que a variedade de soja cultivadas nessa da soja às espécies de Meloidogyne é , de ma-
época no Brasil eram bastante suscetíveis ao neira geral, quantitativa. Na grande maioria
ataque de nematoide formadores de galhas. das plantas hospedeiras favoráveis , as secre-
ilva (2001) traz o histórico obre as fontes ções esofagianas injetadas pelos nematoides
de re i tência a Meloidogyne no germoplas- de galhas induzem não apenas à formação do
ma brasileiro de soja com as contribuições do tecido nutridor (conjunto de células gigantes)
pe qui ador Dr. Romeu Afonso de Souza Kiihl, no cilindro vascular e áreas adjacentes, como
profundo conhecedor desse germoplasma. De também podem incitar certo grau de hiper-
acordo com a análise das genealogia , qua- plasia local e, principalmente, causar hiper-
e todas cultivare re istentes disponíveis no trofia de células do parênquima cortical, em
mercado de cendem de apenas uma fonte de especial daquelas que circundam o corpo do
gene de re istência, a cultivar de oja norte- nematoide em desenvolvimento. Como re-
-americana Bragg. Es a cultivar é originária do sultado, as raízes tornam-se engrossadas na
cruzamento Jack on X D49-2491, onde Jack on região em que o parasitismo ocorre, poden-
contribuiu com o gene d resistência. Har- do atingir diâmetros ao dobro ou triplo do
twig é uma fonte de re i tência para diversa normal; tais áreas diferenciadas constituem
raça de Heterodera glycines e, também , para as chamadas galhas. As células gigantes e a
algumas e pécie de Meloidogyne. A resi tên- galhas são respostas distintas a um me mo
cia da oja aMeloidogyne pp., de uma maneira evento, a injeção de secreções produzidas pe-
geral, é quantitativa. Oliveira (2012) encontrou las glândulas esofagianas do nematoide em
que a re i tência ao nematoide M. incognita célula das raízes da planta hospedeira. As
pre ente na cultivar D 201 é conferida por células gigante são essenciais ao desenvolvi-
trê gene epi tático , doi dominante e um mento e a reprodução do parasito, poré m as
rece ivo. Para a re i tência completa (R), a galhas não ão. As galhas con tituem apenas
plantas nece sitam do trê gene . Doi gene bons indicadore da extensão das reações hi-
conferem re i tência moderada (MR) e, com perplá tica e hipertrófica dos tecidos afetados
um gene, a planta mo tram- e moderada- pelas secreções, podendo ser formadas bem
mente u cetívei (M ) . A planta su cetívei antes que a célula gigante e mesmo na au-
( ) não pos uem nenhum gene de re i tência. sência de tas (FERRAZ , 2001).
8 - Frro EMATOID ES 113
MARIA AMELIA DO S ANTO

Pratylenchus brachyurus

O melhoramento genético vegetal para re- riedades com valores de FR mais próximos de 1
sistência a espécies de Praty lenchus é conside- para que a multiplicação do nematoide e o au-
rado difícil, provavelmente porque são muito mento populacional sejam menores. Frequen-
polífagos e relativamente pouco especializados temente, as amostras processadas em vários
(mais primitivos), de hábito endoparasito mi- laboratórios têm como resultados populações
grador, não se fixando na planta hospedeira. extremamente altas de Pratylenchus brachyu-
No estudo de hospedabilidade de soja ao ne- rus, com mais de 1.000 espécimes do nematoi-
matoide Pratylenchus brachyurus, não se tem de por grama de raiz de soja. As culturas com-
encontrado genótipos com fator de reprodução panheiras da soja, como é o caso do milho e do
(FR) do nematoide menor que 1 (ALVES, 2008). algodão, são excelentes plantas multiplicadoras
Em ensaios conduzidos pela EMBRAPA Soja, os do nematoide das lesões, assim as populações
genótipos de soja apresentaram FR variando de tendem somente a elevar os números de nema-
1,2 a 24,6. A recomendação é a escolha de va- toides na área.

Rotylenchulus reniformis
Em soja, a resistência aos nematoides Ro- que todas as cultivares resistentes ao nematoi-
tylenchulus reniformis e Heterodera gly cines de de cisto da soja foram, também, resistentes
é dada por um gene em comum. Pelo meno a Rotylenchulus reniformis.
quatro alelos recessivos e um ou mais alelos Conforme Pipolo (1994), o registro da
dominantes controlam a herança de re is- cultivar Centennial, resistente ao nematoide
tência ao nematoide de cisto da soja (Santos, reniforme, foi apresentado em 1977 por Har-
2011). No desenvolvimento de cultivares resis- twig e Epps. Essa cultivar apresenta resistên-
tentes ao nematoide reniforme recomenda-se cia, também, a Meloidogyne incognita e He-
a avaliação de genótipos oriundos de fontes terodera glycines. Os estudos mostram que a
de resistência ao nematoide de cisto excetu- variedade de soja Forrest e Pickett 71 também
ando-se a fonte PI 88788, pai já foi observado foram altamente resistentes ao nematoide re-
que ela não possui os níveis consideráveis de niforme. Hartwig et ai. (1988) apresentaram
resistência ao nematoide reniforme. Rebois et o registro da cultivar de soja 'Padre', desen-
ai. (1970) avaliaram a resistência de cultivares volvida por retrocruzamentos entre Forrest e
de soja a ambos os nematoides e observaram uma cultivar suscetível.

Heterodera glycines
No Brasil este nematoide foi encontrado tes de resistência ao nematoide de cisto da soja
' (LIMA et al. , 1992; LORDELLO
na safra 1991/92 também possuem resistência a algumas espé-
et ai., 1992; MONTEIRO e MORAIS, 1992) dos cies de Meloidogyne. É o caso de Centennial,
Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Gros- que possui resistência às raças 1 e 3 de Hetero-
so do Sul e , subsequentemente, no Estado do dera glycines e a Meloidogyne incognita. Essa
Mato Grosso (MENDES; DICKSON, 1992). Atu- variedade descende de Bragg e é um dos pa-
almente encontra-se em 10 estados brasileiros rentais de Sharkey, que também, é muito usada
'
produtores de soja. em cruzamentos no Brasil.
Algumas cultivares de soja provenientes Conforme Dias et al. (2009), a estratégia
dos EUA que são utilizadas no Brasil como fon- mais utilizada para incorporação de resistê n-
114 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GE ÉTICO E TÉCNICAS DE tANEJO
ER ANE LEMES - LEO NARDO C ASTRO - RArAF.L As 1

eia ao nematoide de cisto tem sido a seleção de No Brasil, a quantidade de cultivares de soja
linhagens a partir de populações originárias resistentes ao nematoide de cisto ainda não é
de hibridações entre genótipos adaptados e suficiente. A quase totalidade das cultivares re-
cultivares norte-americanas resistentes deriva- sistentes são para as raças 1 e 3, embora algu-
das de 'Peking', PI 88788, PI 90763 e PI 437654, mas regiões de cultivo de soja não apresentem
como 'Hartwig', 'Pickett', 'Peking', 'Centennial', cultivares resistentes para es as dua raça . Ou-
'Forrest', 'Padre', 'Sharkey', 'Bryan', 'Gordon', tra situação é que, entre as cultivares de soja de
'Bedford', 'Epps', 'Nathan', 'Foster', 'Carver', ciclo precoce, não há opções de resistente . A
'Stonewall', 'Cornell' e 'Thomas'. A estratégia enorme variabilidade genética des e nematoide
é a realização de cruzamentos simples e múlti- e o manejo inadequado contribuem para redu-
plo (retrocruzamento modificado) envolven- ção da vida útil das cultivares resistente . Para
do diferentes fontes e variedades adaptadas. tanto, evitar a pressão de seleção de novas raças
ma parte da população do nematoide de em uma área, preservaria a resistência da cul-
cisto da soja no campo reproduzirá em qualquer tivar. O conhecimento da diversidade genética
fonte de resistência. ão há fonte de resistência do nematoide de cisto de uma determinada re-
que elimina toda população do nematoide por gião é necessário para direcionar os caminhos a
não permitir a reprodução. Observa-se que as serem seguidos no desenvolvimento de genóti-
populaçõe de Heterodera glycines não são li- pos resistentes e métodos de controle eficientes
nhas puras, mas sim uma mistura de indivíduos (DIAS et al. , 2010).
com diferentes combinações gênicas que podem iblack et al. (2002) relataram que o es-
er afetados de diferentes maneiras por fatores quema de raças proposto por Golden et al.
externo , que podem favorecer determinados e (1970) e Riggs e Schmitt (1988) não seria mais
de favorecer outro (ABDEL OOR et al., 2001). adequado para diferenciação de populações
A maioria da cultivares resi tente ao ne- geneticamente diferentes do nematoide de eis-
to da oja. Estes autores propuseram um novo
matoide de ci to apre entam a mesma fonte de
esquema usando sete linhas indicadoras (plant
re i tência, a PI 88788. Com esta fonte de resis-
introductions - Pl's) em uma ordem fixa, cujos
tência é mai fácil obter genótipos re istentes
genótipos são: posição 1. PI 548402 ('Peking') ,
pela técnicas tradicionai de melhoramento
posição 2. PI 88788 e posição 3. PI 90763 fo-
vegetal. ormalmente, é mantido o alto ren-
ram mantidos e acrescentou-se os genótipos
dimento do parental do cruzamento para e sa
posição 4. PI 437654, posição 5. PI 209332 ,
característica.
posição 6. PI 89772 e posição 7. PI 548316
e a me ma fonte de re istência é u ada no ('Cloud'), para classificação das populações de
campo por vário ano , a população do nema- Heterodera glycines em tipos HG ("HG type") .
toide de ci to erá alterada e terá a capacidade O genótipo 'Lee 74' foi considerado o padrão
de reproduzir na variedade, cau ando perda de suscetibilidade para ser usado no cálculo
ignificativa . E a ituação pode er evitada do Índice de Fêmeas (IF) para cada linha indi-
pelo cultivo de variedade re istente com di- cadora. O IF é a razão entre o número médio
ferente fonte de re i tência. de fêmeas e ci to da soja diferenciadora e o
Luedder e Anand (1989) mo traram que número médio de fêmeas e ci to da cultivar
a re po ta de 'Peking' e PI 88788 quanto à 'Lee 74'. Para IF < 10% corresponde o sinal ne-
re i tência ao nematoide de ci to da oja ão gativo (-) e para IF 2::: 10%, o inal positivo (+).
anatomicamente diferentes. A re i tência de A denominação da população do nematoide
'Peking' envolve uma re po ta rápida e poten- apresenta a numeração da(s) posição(õe ) da
te no local de infecção enquanto que em PI diferenciadoras que apresentaram o inal po-
88788, a re po ta é mai lenta. sitivo. Quando a sete linhas indicadora são
115

resistentes, ou seja, apre entam o sinal nega- 'Hartwig' (DIAS et ai. , 1998 e 1999). Os auto-
tivo, a população é elas ificada como HG tipo res propuseram que o número da raça tivesse
O (zero) . Ao contrário, e todas as linhas forem o acompanhamento do sinal positivo (+), toda
suscetívei , a população será denominada de vez que a população do nematoide de cisto ven-
HG tipo 1.2.3.4.5.6.7. cesse a resistência de 'Hartwig'.
Cultivares com IF < 10% são classificadas Outros estudos são relatados por Dias et ai.
como resi tente , entre 10% e 30% como mo- (2009) para outras PI's, elucidando o controle
deradamente re istente e com IF > 30% como genético da resistência da soja ao nematoide
suscetíveis (MAPA, 2015). de cisto. A PI 548402 ('Peking') apresenta resis-
A PI 437654 apre enta re istência à raças 1, tência às raças 1, 3 e 5, encontrando de três a
2, 3, 4, 4+, 5, 14 e 14+ de Heterodera glycines, quatro genes envolvidos, sendo que três genes
conforme revisão de Dias et ai. (2009), possuin- recessivos, três genes recessivos e um gene do-
do dois ou trê loco de re istência para raça 3, minante, dois recessivos e um gene dominante
dois ou quatro para a raça 5 e três ou quatro podem estar nesse controle genético. Para a PI
para a raça 14. Como apresenta semente preta, 88788, as raças 3 e 4 seriam controladas por
sua resistência necessita er introduzida em ger- um gene recessivo e dois dominantes.
moplasma elite de soja. Do cruzamento dessa PI os estudos com a PI 90763, as raças 3 e
com 'Forrest', foi criada 'Hartwig', com semen- 5 foram controladas por um gene dominante
tes amarelas e resistência a todas a raças detec- e dois recessivos. Um gene dominante e dois
tadas nos EUA (Anand, 1992). Aqui no Brasil, recessivos foram encontrados para o controle
duas populações de 4+ e 14+ multiplicaram em genético da raça 3 nas PI's 209332 e 89772.

1. Referências bibliográficas
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brachyurus. 4 1 f. Dis ertação (Me trado em Agricultura Tropical) - Universidade Federal de Mato
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Santa Maria, Santa Maria. 2013.
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Agropecuária Brasileira, 33, 971-3. 1998.
Doenças de final de ciclo: mancha parda
e crestamento foliar de cercospora
ou mancha púrpura da semente

Luís HENRIQUE CARREGAL


Engenheiro Agrônomo, Me.
Universidade de Rio Verde
Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas
HEIDI WEGENER
Engenheira Agrônoma
Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas
JULIANA RESENDE CAMPOS SILVA
Engenheira Agrônoma, Me.
Universidade de Rio Verde
Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas

1. Introdução
Desde que a soja passou a ser cultivada no uma varia de região para região, sendo que,
Brasil, a inserção de tecnologia foi constante, em um mesmo local, podem também variar a
tanto no que diz respeito ao maquinário e sis- cada safra em função das condições ambien-
tema de cultivo quanto ao melhoramento ge- tais e das medidas de controle implementadas
nético das variedades. O potencial produtivo (EMBRAPA, 2008).
dessa leguminosa aumentou vertiginosamen- Infelizmente, o produtor rural, em sua
te, sendo possível obter produtividades acima maioria, não implementa as medidas de con-
dos 100 sacos por hectare (CESB, 2015). trole de uma forma lógica e racional, a qual de-
A consequência não poderia ser diferen- nominamos manejo integrado, e acredita que
te: redução na rusticidade dos materiais, o apenas o controle químico seja suficiente para
que culminou em maiores problemas fitossa- proteção efetiva das lavouras.
nitários. Pragas, plantas daninhas e doenças Com a intensificação dos cultivos nos últi-
destacam-se entre os principais limitantes à mos anos, a adoção em larga escala do plantio
obtenção do máximo potencial produtivo direto ou cultivo mínimo, a não realização da
(WHRATER et ai. , 2010). E, embora devam rotação de culturas e o uso exacerbado de de-
ser consideradas com a mesma importância fensivos agrícolas, tem-se verificado a ocorrên-
por produtores e técnicos, as doenças mere- cia de várias espécies de fungos resistentes aos
cem especial atenção, uma vez que a diagnose fungicidas na cultura da soja.
nem sempre é realizada em tempo hábil e de Silva et ai. (2008) foram os primeiros
forma correta. a relatar a resistência do Phakopsora pa-
São mais de quarenta doenças que podem chyrhizi (ferrugem asiática) aos triazóis. Fa-
incidir na cultura, e a importância de cada biano Siqueri (2009, informação pessoal) e
120 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAMENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DF. MANEJO

ERNANE LEMES - LEONARDO CAsTRO - RAr'.AEL Assis

Valtemir Carlin (2009, informação pessoal) ou redução de sensibilidade de P. pachyrhizi


também relataram problemas de resistência, às estrobilurinas ocorreu na posição F129L
mas dessa vez de Corynespora cassiicola do citocromo B (Du Pont, 2014), conforme
(Mancha Alvo) aos benzimidazóis e, mais re- postulado por Silva e Silva (2014), W EGNER
centemente, os trabalhos realizados na Agro (2014).
Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas, em Infelizmente os problemas não param por
parceria com a Universidade de Rio Verde aqui; desde a safra 2011/12, tem se verificado
(UniRV), também comprovaram a resistência a menor eficácia das estrobilurinas também
de Phakopsora pacbyrhizi às estrobilurinas. no controle das doenças conhecidas como
A empresa de defensivos agrícolas Du Pont Doenças de Final de Ciclo, as quais serão alvo
confirmou em seus estudos que a resistência deste capítulo.

2. Doenças de Final de Ciclo


As doenças denominadas como Final de Para as condições de clima tropical tem se
Ciclo (DFC) podem ser causadas por dois fun- verificado um modelo diferente daquele ocor-
gos: Septoria glycines e Cercospora kikuchii, rido nos Estados Unidos. No Brasil, tais doen-
os agentes etiológicos das doenças Mancha ças têm intensificado sua incidência desde as
Parda e Crestamento Foliar de Cercospora fases iniciais de desenvolvimento da cultura
ou Mancha Púrpura da Semente, respectiva- (Figura 1).
mente. Muitos técnicos e até mesmo pesqui- Trabalhos conduzidos por Klingelfuss e
sadores denominam outras doenças como Yorinori (2001) demostraram que Cercospo-
Mancha Alvo e Antracnose como Doenças de ra kikuchii foi um dos fungos necrotróficos
Final Ciclo, o que não é o mais apropriado. presente na maioria das amostras de folíolos
A denominação Final de Ciclo foi primeira- e também de hastes coletadas a campo, mes-
mente utilizada pelos americanos como Late mo quando não havia sintomas aparentes da
Season Foliar Diseases, uma vez que os sinto- doença. Para esses autores, infecções latentes
mas eram observados fundamentalmente na são comuns nesse patossistema, e a maior co-
fase final do ciclo da soja, normalmente após lonização ocorre inicialmente na parte inferior
a metade do enchimento dos grãos (RS.3). E, das plantas, podendo ocorrer desde a fase ve-
como mencionado anteriormente, os patóge- getativa. A infecção pode ser oriunda tanto de
nos envolvidos são Septoria glycines e Cercos- sementes infectadas quanto do inóculo sobre-
pora kikuchii. vivente nos restos culturais.
9 - Ü OENÇAS DE ANAL DE CICLO: MANCHA PARDA E CRES'L\M.ENTO FOLIAR DE CERCOSPORA OU MANC HA PÚRPURA DA SEMENTE 121
Luís H ENRIQUE ÚRREGAL - l1Ero1 WEGENER - J ULIANA REs ENDE CAMPOS SILVA

Figura 1. Sintomas de Mancha Parda (DFC) nas fases iniciais de desenvolvimento da soja.

Para as condições de clima tropical, onde apresentaria eficácia semelhante no controle


a incidência pode ocorrer em qualquer fase da de ambas as doenças? Certamente não!
cultura, não seria o momento de caracterizar Independentemente da adoção da adequa-
e denominar essas doenças de forma isolada?
ção de nomenclatura, o importante é que agri-
Não seria mais apropriado utilizarmos os no-
cultores e técnicos estejam atentos para a inci-
mes Mancha Parda e Crestamento Foliar de
dência cada vez mais precoce dessas doenças,
Cercospora ao invés de generaliza-las como
Doenças de Final de Ciclo? Será que a relação que a diagnose seja realizada de forma correta
dano/perda é a mesma para ambas as doenças? e que as medidas de controle sejam adotadas
A resistência genética também seria idêntica a de forma coerente e eficaz.
ambos os patógenos? Em caso de controle quí- Em virtude do exposto, cada doença será
mico, nos dias atuais, o mesmo grupo químico relatada separadamente.

3. Mancha parda (Septoria glycines)


A olhos menos atentos, a Mancha Parda apresentar urédias ou uredósporos na face
pode ser confundida com a Ferrugem Asiática, aba~:ial da folha, como é característico da Fer-
causada por Phakopsora pachyrhizi, embora rugem. Em caso de dúvidas, um diagnóstico
apresentem sinais completamente diferentes. completo e definitivo pode e deve ser realiza-
No caso da Mancha Parda, as lesões não irão do em laboratório (GIESLER, 2011).

ii:d
122 Ü OENÇAS DA SOJA : MELHORAM ENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MAl~EJO

ERNA E L EMES - L EO ARDO CASTRO - RAFAEL Assis

Tem se verificado a incidência dessa doen- mancha de cor parda (castanho claro) pode er
ça desde o início do desenvolvimento vegetati- facilmente verificada e, em caso de alta severi-
vo da cultura, causando o amarelecimento das dade, pode ocorrer inten a desfolha ainda na
folhas unifolioladas e dos primeiros trifólios. A fase vegetativa (REIS et al. , 2012) .

4. Sintomatologia
Segundo Almeida et al. (2005) , o primei- eia precoce pode ocorrer oriunda também do
ro intoma aparecem aproximadamente inóculo presente no resto culturai . Pode-se
duas emana após a emergência das plântu- observar p equena manchas castanho-aver-
las, i so quando provenie ntes de infecção na melhadas e a ngulare nas folhas unifolioladas
emente. Para ilva et al. (2009) , a incidên- (Figura 2).

Figura 2. Manchas castanho-avermelhadas e angulares em folhas unifolioladas .

Mantendo- e a condições favorávei , a do- ríodo, as planta e recuperam (YORI ORI,


ença poderá progredir e atingir os primeiro 1997). Muito agricultor acreditam, inclu i-
trifólios, causando severa desfolha em plantas ve, que a doença tenha reduzido sua everida-
de até 35 a 40 dias, sendo que, após esse pe- de, o que acontece em função da desfolha.
123
Luís H ENRIQ UE CARREGAL - HEIDI WEGENER - J ULIANA RE.sE DE CAMPOS SILVA

Mesmo que ocorra uma recuperação futu- A doença pode apresentar uma fase epidê-
ra da plantas, a desfolha precoce interfere na mica ao final do enchimento das vagens - nor-
formação das raíze na fase inicial de desenvol- malmente a partir de R5.4 - caso as condições
vimento e também na parte aérea, prejudican- ambientais estejam favoráveis e o controle não
do a capacidade da planta de tolerar estresses, seja realizado de forma adequada. as folhas
principalmente o hídrico. verdes poderão er observada pequenas pon-
Além di so, a redução da área fotos intéti- tuações pardas (menore que 1 mm de diâme-
ca da planta em nívei acentuado , mesmo na tro), que, ao evoluir, irão formar manchas com
fase vegetativa, pode reduzir diretamente o halo amarelados e coloração parda na face
potencial produtivo da cultura. adaxial e rosada na abaxial, medindo então de
1 a 3 mm de diâmetro (Figura 3).

Figura 3. Sintomas de Mancha Parda em soja durante a fase de ench imento de grãos .

Ca o a infecção seja severa, ocorre desfo- A desfolha ocorre do terço inferior para o
lha e maturação prematura, reduzindo a im uperior na planta. Em ca o de alta severida-
o rendimento da cultura (ALMEIDA et ai., de, pode- e ocorrer a de folha total do terço
2005). inferior ante de a planta atingir a maturação
fi iológica.
124 D OENÇAS DA SOJA: MELHORAME TO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - L EONARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

5. Etiologia e Epidemiologia
A Mancha Parda, também denominada Sep- Deuteromicetos) , Subclasse Coelomicetos, Or-
toriose, é causada pelo fungo Septoria glyci- dem Sphaeropsidales e Família Sphaeropsida-
nes Hemmi, que pertence à classe dos Fungos ceae; possuindo corpos de frut ificação do tipo
Mitospóricos (anteriormente conhecidos como picnídio (Figura 4) (REIS et a l., 2012) .

Figura 4. Picnídios formados por Septoria glycines.

É um fungo necrotrófico, ou seja, apresen- tação de cultura , o inóculo tem aume ntado
ta a capacidade de infectar a planta viva, mas ano após ano.
também de continuar sua atividades metabó- A infecção ocorre quando partes do fungo
licas me mo no re to culturais. Dessa foram, (conídio, hifa e micélios) entram em contato
a principal fonte de inóculo desse patógeno é com as folhas através de respingos de chuva.
a palha remane cente da safra anterior. Além A infecção e o de envolvimento da doen ça
dis o, o fungo também pode obreviver na e- ocorrem na faixa de temperatura de 16 ºC a
mentes de soja por um período de seis a ete 30 ºC, tendo 25 ºC como temperatura ó tima. É
mese (REIS et ai., 2012). nece sário um período uperior a 36 hora d e
Diferentemente do que muitos imaginam, molhamento foliar para que ocorra m aio r in-
a palha de soja pode permanecer a campo fecção e everidade da doença. Giesler (2 011)
por um período superior a 20 meses e, com relata que, embora a doença incida com maior
os cultivo contínuos sem a realização da ro- everidade em períodos de molhamento foliar
9- D OE ÇAS DE FfNAL DE CICLO: MANCHA PARDA E CRESTAMENTO FOLIAR DE CERCOSPORA OU MANCHA PÚRP URA DA SEME TE 125

superiores a 36 horas, o mm1mo necessano não são prejudiciais ao progresso da doença,


para a infecção eria de apenas sei horas, o conforme observado em visita realizadas no
que pode ocorrer por chuva ou orvalho. Tocantin , Pará e Maranhão. O fator de maior
Para Hershman (2012) , o progre o da do- limitação está relacionado à umidade relativa e
ença é prejudicado por alta temperatura e molhamento foliar.
baixa umidade, ma e normaliza as im que a Infecções no começo do ciclo da cultura
condiçõe ambientai voltarem à faixa ótima ão geralmente a fonte da infecçõe na fa e
para o fungo . O que e tem verificado a cam- final (enchimento de vagen ) (Figura 5) (HER-
po, no entanto, é que a temperatura elevada HMA , 2012).

Figura 5. Incidência da doença no terço médio das plantas.

6. Perdas
A doença de planta ó ão importante e exclu ivamente em relação ao dano cau ado
neces itam er manejada e afetarem a renda na redução de área foto intética da planta.
do produtor rural, eja pela redução na quan- Praticamente inexi tem e tudo que com-
tidade produzida ou na qualidade do produto provem o potencial de dano de a doença e,
final. o ca o da Mancha Parda, que não de- con equentemente, a perda cau ada. Tal di-
teriora a emente e não cau a intoma que ficuldade e tá relacionada ao e tudo de sa
restrinjam ua comercialização, a perda ocorre doença em conjunto com o Cr tamento de
12

Cercospora comumente conhecidas como Do- tatísticas através de contra te ortogona is,
ença de Final de Ciclo. Assim sendo é difícil verificou-se que diferentes grupos qu ímicos
precisar quanto da perda cau ada é oriunda de apresentam eficácia de controle, sendo os
uma ou outra doença. mais efetivos: estrobilurinas, b e n zimidazói
Alguns autore relatam perdas por Doen- e triazóis respectivamente. A a ociação de
ça de Final de Ciclo na ordem de até 30% grupos químicos diferentes mostrou- e mai
(Yorinori 199 ). o entanto em experimen- efetiva em relação ao uso dos m e mo pro-
to conduzidos p ela gro Carregal Pe quisa e dutos de forma isolada. É importante alie n-
Proteção de Planta em parceria com a UniRV tar que houve diferença significativa e ntre o
indicam que as p erda ocorridas no cerrado ingredientes ativos de um mesmo grupo quí-
ariam de % a 1-%. mico. Quando o experimento foi conduzido,
Em ária monografia d conclu ão de con iderou-se o complexo de Final de Ciclo e
cur o de gro nomia n a niRV não se verificou não apena a Mancha Parda.
diferença e tatí tica , n a produti idade entre Em algumas regiões do Brasil, a Mancha
área tratad a e não tratada com fungicid a Parda tem ido ainda mai preocupante, uma
ao ní · 1d 5% de ignificância. o entanto, em ez que incide em maior severidade, como
mai d 80% do ca o , rificou- e diferenças pode ser observado no oeste da Bahia, Mara-
acima de tr A aco p o r hectare quando e rea- nhão Pará, norte do Mato Grosso e de Goiás,
lizou a aplica ão de fungicid a . Tocantins e Piauí. Silva et ai. (2005a) acreditam
o trabalho de pe qu i a conduzido por que ne e locais a perda ocasionada possa ser
Boldrin (2003), ao r alizar- e an áli uperior ao t a o por hectare.

7. Manejo
man jo d toda qualqu er do nça en- 1 químico. A determinação do espaçamento
vol a ado ão d difi r nt medida d con- população de plantas, cultivar a ser plantada
trol qu i amar du ão na incid An ia e aduba ão a nece sidade ou não da realiza-
ridade, d forma qu o patógen não int rfira ão d rota ão de cultura ão medidas d e
no p t n ial pr duti controle qu devem er p en adas ao final da
D ntr a m <lida d control a r m uti- afra ant rior. Por não er uma doença endê -
lizada para man jo da do n a, d tacam- mica raramente cau ar urto ine perado , o
ou ' O d ment d boa qualidad tratada control qu ímico pode er realizado d forma
om fungi ida d t rmina ão da popula ão mai laborada, monitorando- e a lavoura e
, pa am nt ntr linha , aduba ão quili- aplicando-o conforme nece sidade. A guir,
brada, rota ·ão d .. ·ulturas, colha da ulti- a pri ncipai medid a d control rão ab r-
ar (ci ·lo, resi t'' n ia gen ~tica, etc.) contra- dada parad amente.

8. Sementes de boa qualidade


Por s r um fungo transmitido p r , m n- zada no 'i t ma Agrofit do Mini t ' rio d a Agri-
t • -, o man "j ini ia-se p ·la e colha d uma cultura, P uária Aba t cim nto - MAPA 1 • A
s m nt d l ntc qualidad .. anitária ado ã ele a m elida d contro l pod vita r
e fisi lógi a, al ~m da n " • sidad d ou atra 'ar a n trada d pat g n m ár a
tratada · , m fungi ·ida efi i nt ,. A lista d ..
produt regL tra l s cncontra-s .. di p nibili- 1 www.agri ulrnra .g v.br
9- ÜOEl ÇAS D E FINAI. DE CICLO: MANC HA PARDA E CRF.'ffAME NTO FOLIAR DE CERCOSPORA O 127

isentas, ou até mesmo prevenir a ocorrên- verificado alta incidência de Septoria glyci-
cia de nova raça . No entanto, o agricultor nes nas sementes. Os patógenos mais comuns
raramente realiza um te te de sanidade das tem sido Fusarium spp., Colletotrichum trun-
semente , o qual pode determinar, inclusive, catum, Aspergillus spp., Sclerotinia sclero-
qual o fungicida mai apropriado. os testes tiorum, Corynespora cassiicola, Rhizoctonia
de patologia realizados na niRV não se têm solani e Cercospora kikuchii.

9. Rotação de culturas
A prática mais conhecida para manejo de e tabelecer um programa efetivo de rotação de
doença é a rotação de culturas. o entanto, culturas em 20% a 25% da propriedade.
ainda exi te muita confu ão no entendimen- Tal medida é ainda mais importante para o
to do que ão rotação e uce ão de cultura . manejo de patógenos necrotróficos, os quai
Um exemplo dás ico de uce ão de cultu- podem permanecer no restos culturais de
ras ocorre no sudoeste goiano onde normal- uma safra para outra.
mente o agricultor cultiva oja na safra de Em trabalhos conduzidos na região de Passo
verão e milho na safrinha, ou seja, logo apó Fundo-RS no período de 1998 a 2001, verificou-
a colheita da soja. Para que eja con iderada - e de maneira geral maior rendimento de cul-
como rotação de cultura o agricultor deve tivare de soja quando realizou-se a rotação de
cultivar espécies de planta diferente na cultura aja/milho (HOFFMAN etal., 2004). Para
mesma época de cultivo em ano con ecuti- o autore além da redução na incidência das
vos. Um exemplo de rotação de cultura eria doença , a rotação de culturas pode promover
o cultivo de soja na safra de verão 2014/15 e melhoria nas características químicas, físicas e
o cultivo de milho na safra de erão 20r" /16. biológica do olo, o que também pode influen-
Dessa forma, o agricultor ó utilizaria a me - ciar diretamente no rendimento da cultura.
ma cultura em determinada área no inter alo É importante alientar que a menor incidên-
de 20 a 24 me es. cia da doença, em virtude da rotação de culturas,
A rotação não deve er adotada em 100% da e deve principalmente pela redução do inóculo,
área, uma vez que o preço da commodities uma vez que o re tos da cultura da soja po-
podem apresentar variaçõe ignificativa de dem permanecer a campo por período uperio-
uma afra para outra. ndo a im é po ível re há 20 me e (CO TAMILAN et ai., 1999).

1O. Espaçamento entrelinhas e população de plantas


ão há como con iderar e paçamento en- doença (CO TA et al., 2002) praticamente ine-
trelinha e população de planta eparada- xi tem trabalho que a comprovem. Ob ervaçõe
m nte. E a dua medida de controle devem a campo também levam a crer ne a po ibilida-
er adotada conjuntamente vi ando o melhor de, ma , na maioria da veze , não se con idera a
arranjo pacial de planta na área e, con e- interação com a população de planta .
quentem nt , um microclima de favorável ao Trabalho conduzido pela niver idade
patóg no. Além di o, a di tribuição adequada de Rio Verde d de a afra 2002/03 demo tram
da planta favor ce a penetração da calda fun- que o maior e paçam nto entr linha a oda-
gicida, facilitando o contato do produto com do a menor população d planta , fundamen-
o tecido vegetai a er m protegido . tal para redu ão da Antracno da aja. O me -
Embora algun autore afirmem qu o me- mo fato foi verificad também para a doen a
nor e paçam nto provoca maior ev ridade da conhecida como Mofo Branco. Embora jam
126 D OENÇAS DA SOJA: M ELH ORAME TO GENÉTICO E TÉCNICAS D E MANEJO

ERNANE L EMES - L EO ARD O CASTRO - RAFAE L As IS

Cercospora, comumente conhecidas como Do- tatísticas através de contrastes ortogonais,


enças de Final de Ciclo. Assim sendo, é difícil verificou-se que diferentes grupos químicos
precisar quanto da perda causada é oriunda de apresentam eficácia de controle, sendo os
uma ou outra doença. mais efetivos: estrobilurinas, benzimidazóis
Alguns autores relatam perdas por Doen- e triazóis, respectivamente. A associação de
ças de Final de Ciclo na ordem de até 30% grupos químicos diferentes mostrou-se mais
(Yorinori, 199 ). o entanto, em experimen- efetiva em relação ao uso dos mesmos pro-
to conduzidos pela Agro Carregal Pesquisa e dutos de forma isolada. É importante salien-
Proteção de Planta , em parceria com a UniRV, tar que houve diferença significativa entre os
indicam que a perda ocorrida no cerrado ingredientes ativos de um mesmo grupo quí-
variam de % a 15%. mico. Quando o experimento foi conduzido,
Em várias monografias de conclusão de considerou-se o complexo de Final de Ciclo e
cur o d e gronomia na niRV, não se verificou não apenas a Mancha Parda.
diferença e tatí ticas na produtividade entre Em algumas regiões do Brasil, a Mancha
área tratada e n ão tratadas com fungicida Parda tem sido ainda mais preocupante, uma
ao ní el d e 5% de ignificância. o entanto, em vez que incide em maior severidade, como
mai de 80% d o caso , erificou- e difere nça pode ser observado no oeste da Bahia, Mara-
acima de trê aco por h ectare quando se rea- nhão, Pará, norte do Mato Grosso e de Goiás,
lizou a aplicação de fungicida . Tocantin e Piauí. Silva et al. (2005a) acreditam
o trabalho de p e qu isa conduzido por que nesses locais a perda ocasionada possa ser
Boldrin (2003), ao realizar- e an áli es e - superior aos sete sacos por hectare.

7. Manejo
O m anejo de toda e qualquer doença en- le químico. A determinação do espaçamento,
vol e a adoção de diferente medida de con- população de plantas, cultivar a ser plantada,
trole que vi am a redução na incidên cia e eve- adubação e a necessidade ou não da realiza-
rid ade, d e forma que o patógeno não interfira ção de rotação de culturas são medidas de
no potencial produti o . controle que devem ser pensadas ao final da
Dentre a medida de controle a erem uti- afra anterior. Por não ser uma doença endê-
lizada para o m a nejo da doença, de tacam- e mica e raramente causar surtos inesperados, o
o u o de emente d e boa qualidade e tratada controle químico pode ser realizado de forma
com fu ngicida , d e terminação da popu lação m ai elaborada, monitorando-se a lavoura e
e e paçamento entrelinha , adubação equ ili- aplicando-o conforme necessidade. A seguir,
brada, rotação de cultura , e colha da culti- a princip ai medidas de controle erão abor-
ar (ciclo, re i tência genética, etc.) e contro- dada sep aradamente.

8. Sementes de boa qualidade


Por er um fungo tra n m itido por emen- zad a no istem a Agrofit do Ministério da Agri-
te , o manejo inicia- e p e la e colha d e uma cultura, Pecuária e Aba tecime nto - MAPA 1 . A
semente de excelen te qu alidad e anitária adoção d es a medida de controle pode evitar
e fi iológica, a lém d a nece idade d e erem ou atra ar a entrad a do patóge no e m á reas
tratada com fungicid a eficientes. A li ta de
produtos regi trados e ncontra- e di ponibili- 1 www.agricultura.gov.br
9- Ü OE ÇAS DE FINAL DE CICLO: MA CHA PARDA E CRESTAM E ro FOLIAR DE CERCO PO RA o MA 1CHA PÚRPURA DA SEMENTE 127
Luí HENRJQUE CARREGAL - H EIDI W EGENER - ] UIJANA REs ENDE C AM POS SILVA

isentas, ou até mesmo prevenir a ocorrên- verificado alta incidência de Septoria glyci-
cia de novas raça . o entanto, o agricultor nes nas sementes. Os patógenos mais comuns
raramente realiza um teste de sanidade das tem sido Fusarium spp., Colletotrichum trun-
sementes, o qual pode determinar, inclusive, catum, Aspergillus spp. Sclerotinia sclero-
qual o fungicida mai apropriado. os testes tiorum, Corynespora cassiico/a , Rhizoctonia
de patologia realizados na UniRV não se têm solani e Cercospora kikuchii.

9. Rotação de culturas
A prática mai conhecida para manejo de estabelecer um programa efetivo de rotação de
doenças é a rotação de cultura . o entanto, culturas em 20% a 25% da propriedade.
ainda existe muita confu ão no entendimen- Tal medida é ainda mais importante para o
to do que são rotação e uce são de culturas. manejo de patógenos necrotróficos, o quais
Um exemplo dá sico de uce ão de cultu- podem permanecer nos re tos culturais de
ras ocorre no sudoeste goiano, onde normal- uma afra para outra.
mente o agricultor cultiva aja na afra de Em trabalhos conduzidos na região de Passo
verão e milho na safrinha, ou eja, logo após Fundo-RS no período de 1998 a 2001, verificou-
a colheita da soja. Para que eja con iderada - e de maneira geral maior rendimento de cul-
como rotação de cultura , o agricultor deve tivare de soja quando realizou-se a rotação de
cultivar espécies de planta diferente na cultura soja/milho (HOFFMA et ai., 2004). Para
mesma época de cultivo em ano con ecuti- o autores, além da redução na incidência da
vos. Um exemplo de rotação de culturas eria doenças, a rotação de culturas pode promover
o cultivo de soja na safra de erão 2014/15 e melhorias nas características químicas, físicas e
o cultivo de milho na safra de erão 2015/16. biológicas do solo, o que também pode influen-
Dessa forma , o agricultor ó utilizaria a me - ciar diretamente no rendimento da cultura.
ma cultura em determinada área no intervalo É importante salientar que a menor incidên-
de 20 a 24 meses. cia da doença, em virtude da rotação de cultura ,
A rotação não deve er adotada em 100% da e deve principalmente pela redução do inóculo,
área, uma vez que os preço da commodities uma vez que os restos da culturas da oja po-
podem apresentar variaçõe ignificativa de dem permanecer a campo por período uperio-
uma afra para outra. endo a im, é po ível res há 20 mese (COSTAMILAN et ai. , 1999).

1O. Espaçamento entrelinhas e população de plantas


ão há como con iderar e paçamento en- doenças (COSTA et ai. , 2002), praticamente ine-
trelinha e população de plantas separada- xistem trabalhos que a comprovem. Observaçõe
mente. Es as dua medidas de controle devem a campo também levam a crer ne a po ibilida-
er adotada conjuntamente vi ando o melhor de, mas, na maioria das veze , não e con idera a
arranjo espacial de plantas na área e, con e- interação com a população de planta .
quentemente, um microclima desfavorável ao Trabalho conduzido pela ni er idade
patógeno. Além disso, a distribuição adequada de Rio Verde de de a afra 2002/03 demo tram
da plantas favorece a penetração da calda fun- que o maior e paçamento entrelinha a ocia-
gicida , facilitando o contato do produto com do a menor população de planta é fundamen-
os tecido vegetais a serem protegido . tal para redução da Antracno e da oja. O me -
Embora alguns autore afirmem que o me- mo fato foi verificado também para a doença
nor espaçamento provoca maior everidade das conhecida como Mofo Branco. Embora ejam
128 DOENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - L Eo ARDO CASTRO - RAFAEL Assi s

doenças diferentes da Mancha Parda, tais ob- mento. Avaliaram-se as populações d e 200,
servações indicam a possibilidade na redução 400 e 600 mil plantas por hectare sob o s espa-
da incidência de doenças fúngicas em geral. o çamentos entrelinhas de 22 ,5, 45,0 e 67, 5 cm.
que deve ser considerado, ainda, são os parâ- Menor severidade das doenças foi verificada
metros relativos ao rendimento da cultura. ao se t eduzir a população d e planta , inde-
Knebel et ai. (2006) avaliaram a severi- pendente do espaçamento entrelinhas. Menor
dade das Doenças de Final de Ciclo (Mancha severidade das doenças e maior produtivida-
Parda e Crestamento de Cercospora) e Oídio de foram verificadas nas parcelas conduzidas
sob populações e espaçamentos diferentes, sob menor espaçamento e menor população
e consideraram alguns parâmetros de rendi- de plantas.

11 . Adubação equilibrada
Plantas b em nutridas são naturalmente Outros nutrientes como zinco e manganês
mais resiste ntes às doenças. Zambolin e Ven- são importantes cofatores enzimáticos, catali-
tura (1993) relatam a importância da nutrição sando reações químicas importantes nas plan-
mineral p ara a resistência a doenças de plan- tas, inclusive para síntese de outras substân-
tas em difere ntes patossistemas. Para esses cias de defesa, como as fitoalexinas.
autore , cad a nutrie nte te m um papel impor-
Além dos benefícios diretos de cálcio e po-
tante e deve ser disp o nibilizado à planta de
tássio, esses nutrientes podem também estar
forma equ ilibrad a. itrogên io é fundamental
para formação 'de am inoácidos e, con sequen- relacionados à maior rigidez das paredes ce-
temente, de proteínas. Desd e os tempos mais lulares vegetais, impedindo ou dificultando a
remoto da fitopatologia, as PR-proteínas cons- p enetração dos patógenos.
tituem- e como mecanismos de defesa de plan- No caso esp ecífico das doenças da soja, Yo-
ta , com de taque especial para as qu itinases e rinori (1997) destaca a importância do potás-
glucana e , a quai podem degradar a parede sio para o manejo da Mancha Parda e também
celular das células fúngica . d a Cercospora.

12. Resistência genética


Os programas atuais de melhoramento d as decorrentes da Mancha Parda variaram de
não con ideram a Mancha Parda importante a 3% (variedades FT-6 e FT-5) a 38,4% (varieda-
ponto de se destinar uma linha e pecífica de d e Davis).
melhoramento. Além da perdas não serem Trabalhos mais recentes conduzidos por
tão significativas como aquelas causadas por Rampazzo e Bium (2014) evidenciaram, den-
outras doenças, o controle químico tem ido tre cinco cultivares, menor severidade da Man-
realizado com sucesso. cha Parda em MSOY 8411 e em Emgopa 313,
Até 1980 as pesqui a indicavam não h a- as quais apresentaram também a_s maiores pro-
ver fonte de resi tência à eptoria glycines em dutividades. Nesse estudo, verificou-se que a
soja (UM, 1980). o entanto, os trabalhos re- cultivar MSOY 9001 foi a mais suscetível, apre-
alizado pela Embrapa Soja indicavam a pos- sentando, em média, a Área Abaixo da Curva
sibilidade de resistência parcial a es e agente d e Progresso da Doença (AACPD) duas vezes
etiológico. Segundo Yorinori (1997) , as per- m aior que a da anteriores.
9- Ü O ENÇAS DE FINAL DE CICLO: MANCHA PARDA E CRESTAMENTO FOUAR DE CERCOS PORA OU MANCHA PÚRPURA DA SEMENTE 129
Luís H ENRJQUE CARREGAL - Harn W EGENER - } ULIANA REs EN DE C AMPOS S1LVA

Importante considerar além da reação di- ram bem essas características, sugerindo que,
reta das cultivares, o seu ciclo, uma vez que nas cultivares de ciclo precoce, o fungo teria
o maior período de exposição (ciclo médio a menor período de tempo para causar danos
tardio) pod erá culminar em maior severida- foliares e, consequentemente, reduzir a pro-
de da doe n ça. Michel et ai. (2000) explora- dutividade.

13. Controle químico


Embora seja adotado como estratégia Os fungicidas triazóis são os que apresen-
única, o controle químico deve ser encarado tam maior variação de eficácia em função do
como ferramenta adicional ao manejo dessa ingrediente ativo (SILVA et al. , 2005c). Mas,
doença. Em experimentos conduzidos por um independente de sua eficácia, esses produtos
período superior a dez anos têm-se verificado não devem ser utilizados isoladamente, pois
que diferentes grupos químicos apresentam podem agravar o problema da resistência já
eficácia no controle dessa doença (SILVA e conhecida a Phakopsora pachyrhizi.
CAMPOS, 2005). Fungicidas protetores ou de contato, que
Os produtos mais efetivos pertencem ao vêm sendo amplamente recomendados para
grupo químico das estrobilurinas. Além da auxiliar do controle da Ferrugem Asiática (SIL-
elevada eficácia, esses fungicidas apresentam VA et al. , 2014), também são efetivos para o
período de controle superior a vinte dias, controle da Mancha Parda. Nas últimas safras,
sendo efetivos também para outras doen- tem-se demonstrado a eficácia de mancozebe
ças, como a Antracnose (SILVA et al., 2005). nesse patossistema (SILVA, 2014).
Em virtude dos problemas de resistência já Tão importante quanto a escolha do pro-
identificados para Cercospora kikuchii, reco- duto a ser aplicado é o momento de realiza-
menda-se o uso das estrobilurinas exclusiva- ção da aplicação. E, diferentemente do que é
mente em misturas formuladas com triazóis, posicionado a campo, não existe um momento
independentemente da época em que será mágico para que a aplicação seja realizada. O
realizada a aplicação (SILVA et al. , 2010). Os agricultor ou técnico que o assiste deverá re-
benzimidazóis, tanto o carbendazim quanto alizar o acompanhamento periódico da área
o tiofanato metílico, também são efetivos no (monitoramento) e aplicar conforme neces-
controle, mas se diferenciam das estrobiluri- sidade. Em determinados casos onde não há
nas por apresentarem um período de contro- rotação de culturas e se conhece' o histórico de
le inferior. Normalmente, esses fungicidas são incidência da doença, as aplicações podem ser
efetivos por um período de dez a doze dias iniciadas desde a fase vegetativa, mas sempre
(SILVA et al. , 2005b). baseadas em monitoramento.

14. Mancha Púrpura da Semente e Crestamento


Foliar de Cercospora (Cercospora kikuchií)
Segundo Reis et al. (2012), essa doença Um fator determinante para estimar a per-
ocorre praticamente em todas as regiões onde da que a doença pode causar na produção é o
se produz soja no País, mais frequentemente estádio fenológico em que incide na cultura.
onde as chuvas são abundantes durante a fase Segundo Hershman (2009), a incidência foliar
de maturação da cultura, o que está relaciona- da doença é a que mais irá contribuir para a
do ao termo Doenças de Final de Ciclo. redução de produtividade quando a infecção é
130 DOE ÇAS DA SOJA: MELH ORAMENTO GENÉ'llCO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE L EMES - L EO ARDO C ASTRO - RAFAEL Assis

intensa. A época em que a doença incidir, as- ser esperadas; mas, caso ocorra no final do en-
sim como a velocidade em que se desenvolve chimento de vagens, o dano será mínimo. As-
são os fatores chave para determinar o impac- sim como ocorre com a Mancha Parda, é difícil
to da doença na produção. Se esta ocorrer na precisar a perda causada. Entretanto, muitos
época do início do enchimento de vagens, re- autores acreditam que podem ser superiores a
duções significantes na produtividade podem 30% (YORI ORI, 1997, J LIATTI et ai. , 2006).

15. Sintomatologia
O fungo Cercospora kikuchii pode ocor- O nome crestamento é oriundo de uma colora-
rer em todas as parte da planta e em qualquer ção arroxeada e de aspecto duro, similar a cou-
e tádio de desenvolvimento. O intomas mai ro. ob alta severidade, pode ocorrer de folha
importante ão ob ervado em ambos os lados precoce (DHI GRA et al. , 2009) (Figura 6) .
das folha e normalmente aparecem ao final do as vagen podem-se ob ervar pontuações
e tádio do enchimento de grão . ão tipicamen- vermelha que evoluem para manchas casta-
te repre entado por mancha e curas, ca ra- nho-arroxeada . Pela vagem, o fungo alcança
nho-avermelhada , de aproximadamente 2 a 3 a emente e causa a mancha púrpura no tegu-
mm de diâmetro. Com o progre o da doença, mento. a ha te aparecem manchas verme-
as le õe irão aumentar de tamanho e podem lha , geralmente superficiai , limitada ao cór-
coale cer, formando grande manchas e curas. tex (ALMEIDA et al. , 2005).

Figura 6. Sintomas do Crestam ento Foliar de Cercospora .


13 1

as sementes, o intoma mai caracterí tico emente com alta porcentagem de infes-
é a ocorrência de manchas de coloração varian- tação e coo equentemente de coloração po -
do de rosa a roxo pálido ou e curo, podendo er suem menor concentração de óleo e maior
apenas uma pequena pontuação ou cobrir a e- concentração de proteína quando compa-
mente p or inteiro. As emente afetadas podem rada a emente audávei . A germinação e
apre entar rachaduras na camada exterior do emergência de a semente é menor quando
tegumento (Figura 7) (DHI GRA et al. , 2009). comparada à adia (GIE LER, 2013) .

Figura 7. Sintomas do Crestamento Foliar de Cercospora nas sementes.

Em caso de olo de baixa fertilidade, como rina po ui uma coloração vermelha natural,
ocorre nos primeiros anos de cultivo no cerra- que, ao agir na planta, explica a tendência do
do , pode ocorrer infecção no nó facilitando tecido afetado a adquirirem uma coloração
a pe netração do fungo na haste da planta, cau- arroxeada. A toxina cau a a ruptura e mor-
ando uma necrose de coloração avermelhada te da célula , o que re ulta na maioria do
na medula (ALMEIDA et a!., 2005). sintoma ob ervado na planta infectada
O patógeno produz uma toxina ativada (HER HMA , 2009).
pela luz, chamada cerco porina. A cerco po-
132

16. Etiologia e Epidemiologia


A doença é cau ada pelo fungo Cercospora rentemente de Septoria glycines, esse fungo
kikuchii (Mat umoto e Tomoyasu) Gardner e não forma picnídios. As estruturas reproduti-
pertence à Cla e do Fungo Mitospóricos va (conidióforos e conídios) ão produzida
(antigo Deuteromiceto ), Ordem Moniliale , de forma livre sobre a uperfície vegetal infec-
Família Dematiaceae (REI et ai. , 2012). Dife- tada (Figura 8).

Figura 8. Conidióforos e conídios produzidos por Cercospora kikuchii sobre tecidos vegetais infectados.

A tran mi são do patógeno ocorre por meio com baixa infecção sobrevivem (DHI GRA et
da emente , que quando infectada podem ai. , 2009).
germinar ou não, dependendo da everidade O progresso da doença é favorecido em
da doença. o entanto, quando germinam, po- ambiente quente e úmido (22 ºC a 30 ºC) , ocor-
dem produzir plântula doente . rendo a esporulação do fungo nos cotilédones,
a plântula infectada, ob ervam- e coti- na folha e na ha te afetada . Esses conídios
lédones enrugado , podendo ter coloração formado irão exercer o papel de inóculo e-
roxo-e cura, o quais caem precocemente. cundário, sendo facilmente di seminados por
A infecção do cotilédone pode ter extensão re pingos de água e ventos. O patógeno, por
até a ha te, produzindo área necróticas que, er necrotrófico, também sobrevive de forma
ca o venham a circular a ha te , podem cau- eficiente em resto culturai de uma afra para
sar a morte de plantas jovens. Já a plântulas a outra (DHI GRA et ai. , 2009).
133
L í HEN ruQuE C ARREGAL - fum, W EGENER - J UANA REsEt\'DE C AMPOS S1LVA

17. Manejo
O manejo do Cre tamento Foliar de Cer- peito a resistência genética e controle químico.
co para, e mbora semelhante ao da Mancha As demai medidas de controle podem ser ado-
Parda, requer algun cuidados no que diz res- tada conforme já citado para Mancha Parda.

18. Resistência Genética


A resi tência genética é uma medida mai es- rimento. o egundo, mais de 87% das linhagen
pecífica e diretamente relacionada ao patógeno. te tadas apresentaram-se como resistente . e-
Alguns autore já demo traram que linhagen gundo esses autore , a cultivar que deve ser utili-
ou cultivares re istente à Mancha Parda podem zada como padrão de re i tência é a Emgopa 313.
não apre entar a me ma caracterí tica em rela- Em experimento conduzidos por Kudo e
ção ao Crestamento Foliar de Cerco pora, e ice- Blum (2011), apesar da menor everidade, tam-
-versa (YORI ORI, 1997; KUDO e BL M, 2011). bém e verificou que a maior parte da linha-
Ao e avaliar a re i tência genética de linha- gen te tadas foram resi tente a esse patógeno,
gens de soja a Cercospora kikuchii em três loca- o que indica a real po sibilidade de e utilizar a
lidades, Juliatti et ai. (2006) verificaram que 5% resistência genética como principal medida de
dos materiais foram resistente no primeiro expe- controle da doença.

19. Controle químico


O controle químico de doença em oja Experimento de campo conduzidos pela
tem sido um desafio no último ano , princi- Agro Carregal Pe qui a e Proteção de Planta
palmente por ser utilizado como única e traté- corroboram o relatos de Price et ai. (2014),
gia pelo agricultores. É muito mai imple e que comprovaram a re i tência de e fungo a
prático tomar a decisão de aplicar o fungicida. e trobilurina em Loui iana no E tado ni-
o entanto, a não adoção da demai prática dos. E e era um fato pre umível, uma vez que
de controle tem causado um de equilíbrio pre- Klingelfu e Yorinori (2001) relataram infec-
ocupante a campo. Conforme já mencionado çõe latente de de a fase vegetativa da oja,
ne te capítulo o ca o de re i tência ou me- e a recomendaçõe de controle químico no
nor sen ibilidade do fungo ao fungicida Bra il de de 2004 contemplavam o u o de e -
têm sido constantemente relatado . trobilurina isoladamente no controle de do-
o ca o de Cercospora kikuchii, embo- ença em aja. Durante a afra 2011/12 , foram
ra ainda não comprovado cientificamente no tratados mai de 2,7 milhõe de hectare com
Brasil, é evidente a perda de eficácia da e - e trobilurina isolada . Acredita-s que, na a-
trobilurinas. Provavelmente o códon G143A é fra po terior, a área tratada tenha ido próxima
a po ição onde ocorreu a mutação, a qual é do a 5 milhõe de hectare .
tipo qualitativo, ou seja, aquela que acontece Patógeno pre ente de de o e tádio ini-
de forma abrupta e o fungicida perde comple- ciais, a não realização de rotação de culturas,
tamente a eficácia. o ite do Comitê de Ação o u o de cultivare u c tív is, relato de r -
à Re i tência de Fungicida r (FRAC , 2015) , há istência de e gênero à e trobilurina e o
uma lista com vários gênero de fungo re i - u o de e grupo químico i oladamente de de
tente a e trobilurina no mundo e, entre ele , a fa e vegetativa não poderiam culminar em
algun do gênero Cercospora, cuja po ição de outra cai a a não r em re i tência.
mutação é ju tamente a G143A.
134 Ü OENÇAS DA SOJA: MELHORAM ENTO GENÉTICO E TÉCNICAS DE MANEJO

ERNANE LEMES - L EONARDO CASTRO - RAFAEL Assis

20. Considerações finais


Agricultura sustentável não é uma utopia. controle poderão proporcionar o manejo efe-
É uma necessidade! Agricultura sustentável ou tivo da Mancha Parda e Crestamento Foliar de
ecologicamente correta não implica na aboli- Cercospora, mantendo a rentabilidade do agri-
ção do uso de defensivos agrícolas, mas sim cultor e preservando a eficácia dos fungicidas.
em seu uso de forma racional. Por uso racio- A melhor alternativa para obter êxito no
nal entende-se que as aplicações devam ser manejo das doenças é através da assistência
realizadas conforme necessidade e como me- técnica de qualidade e um engenheiro agrôno-
dida complementar às demais estratégias de mo deverá sempre ser consultado.
controle. Somente a integração de medidas de

21 . Agradecimentos
Aos organizadores pelo convite. Certamen- A todos que direta ou indiretamente contri-
te essa obra irá contribuir de forma relevante buíram nos trabalhos de pesquisa e na redação
com o manejo de doenças em soja. deste capítulo.

22. Referências bibliográficas


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14 - Q UALIDADE SANITÁJUA NA PRODUÇÃO E FS"l'l"l'ÉG
• " ' " ' ,IAS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS TRANSM ITIDAS POR SEMENTES DE SOJA 237
F IAVIA .ANDREA NERY-SILVA - MARIA Lu1u NUNES CosTA _ J osÉ DA CRuz MACHADO

Tabela 2 - Detecção de Sclerotinia sclerotiorum em treze amostras de sementes de soja analisadas

.... . ..
pelo método de azul de bromofenol e pela técnica da PCR convencional.

. . . .
Número lia a
most~a Azul de bromofenol PCR convencional
(sementes positivas/amostras) (amostra positiva/repetições)
1 1
2/4
--
~00 _-,,--~·-----==--==----= V4
2 Q/4
~ºº Q/4
3 li

1:
Q/4
~ºº Q/4
4 21400 _______ V4
5
li
li Q/4
~ºº Q/4
6

7 li
Q/4
~ºº ~~~~----- Q/4
1./4
, -
. ~00 -=:,__;;::cc.c-.c=~:,;;;:.:.c=:...::..-=:.......=.....-=-:-:= V4
8 Q/4
~ºº Q/4
9 ~ ~ºº 214

-~ºº
10 Q/4
=::::;;::::::::=::.:~!~~::::==::::== Q/4

- ~ºº
11 Q/4
Q/4
12 Q/4
~ºº Q/4
13 li ~ºº
Q/4 ()/4

Fonte: Botelho et ai. (2015)

Métodos para a análise sanitária d a semen- metida, e considerando os prós e contras dos
te de soja existem e são comprovadamente efi- diferentes métodos, uma alternativa imediata e
cientes no diagnóstico de patógenos importan- plausível seria aplicar o teste visual de escleró-
tes para a cultura. Especialmente com relação dios e o método semisseletivo Neon micélio no
ao fu ngo S. sclerotiorum o padrão sanitário à interior das sementes.
ser proposto dever ser Zero na amostra sub-

4. Controle de doenças da soja via tratamento de sementes


O tratamento de sementes em sua essência O tratamento de sementes é um dos méto-
está relacionado a dois alvos principais, sendo a dos mais baratos de controle direto de doen-
eliminação do patógeno transmitidos pelas se- ças em plantas e baseiam-se nos princípios de
mentes ou sua diminuição, e a proteção das se- proteção e cura. Basicamente, o tratamento de
mentes contra os patógenos presentes no solo. sementes para controle de doenças visa elimi-
No entanto, a importância desse tratamento en- nar os patógenos das sementes e proteger tanto
volve demais fatores de relevante importância, estas como as plântulas dos patógenos do solo,
como o transporte a longas distâncias de pató- possibilitando assim manter ou melhorar a qua-
genos pelas sementes, quando estas são adqui- lidade sanitária da semente, proporcionando
ridas em regiões distintas da área de p lantio, e um bom estande inicial da lavoura e evitando a
a manutenção de patógeno em ambiente prote- disseminação de microrganismos patogênicos.
gido e com fonte de alimentação, nos casos de Os tratamentos de sementes mais comu-
armazenamento das sementes. mente utilizados são baseados em produ-
14 - Q UALIDADE SANITÁRIA NA PRODUÇÃO E ESTRATÉG IAS PARA O CONTRO LE DE DO ENÇAS THANSMl11DAS POR SEMENTES DE SOJA 249
FLAVJ.A ANoREA N ERY-SILVA - MARIA Lu1ZA NUNES CosTA - Josú DA CRuz MACHADO

Figura 11. Tratamento químico manual de sementes. Foto: COSTA, M.L. N. (2012)

7. Considerações finais
A cadeia produtiva da cultura da soja está dem para proteger esse sistema de produção
amplamente distribuída pelas áreas agrícolas é que semente não é um grão que germina.
brasileiras e representa significativa contri- Portanto, ela carrega consigo um conjunto de
buição no agronegócio. Como tal, deve ser características, seus atributos de qualidade,
conduzida por todos seus partícipes visan- que permitirão que todo o seu potencial seja
do a manutenção de todas as contribuições expresso nas diversas condições de semeadu-
geradas pelos diversos setores após anos de ra. E, a depender do nível tecnológico adota-
investimentos e pesquisas. A semente de alta do, suportar condições inadequadas de seme-
qualidade é primordial para garantir a con- adura, o que certamente uma semente ilegal,
tinuidade desses resultados. A palavra de or- salva ou pirata, não suportaria.

8. Referências bibliográficas
BARROCAS, E.N. Métodos de detecção de Sclerotinia sclerotiorum em sementes. ln: Informativo
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org/10.1590/2317-1545v37nl141460> . Acesso em: 3 mar 2015.
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na produtividade e na qualidade de sementes. ln: Informativo ABRATES, 22(3) , pp . 8 4_87 _2012 _
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biológica de nitrogênio. ln: Embrapa SoJa. Documentos, 142. Resultados de pesquisa da Embrapa
15 - J TERAÇÃO ENTRE O ESTADO NUTRICIONAL E O DESENVOLVlMENTO DE DOENÇAS 255
RAr<AEL Assrs - GASPAR HE RIQUE KORNDÔRFER

menor incidência de podridão radicular causa- Pela Tabela 2, o bserva-se que as fontes de ni-
da por Phytophthora megasperma f.sp. glyci- trogênio, n ítrica ou amoniacal, têm u ma grande
nea e com o vírus do mosaico da soja. influência sobre determinados fitopatógenos.
Tabela 2. Efeitos de formas inorgânicas de nitrogênio sobre doenças de plantas (HUBER, 1990ª; HUBER, 1994 ).

Formas de Nitrogênio
Hospedeiro Referência
IM®i·I
..
Amoniacal


Rhizoctonia 01 A1
-
Podridão das raízes e caule
Beterraba AFANASIEV e ARLSON (1942)

- j
Phytophtora Citros D A KLOTS (1958)
Fusarium Citros ALLEN (1962)
Rhizoctonia Feijão D A DAVEYe PAPAVIZAS (1960)
Fusarium Feijão D A HUBER (1966)
Aphanomyces Soja D A CARLEY (1969)
Aomyces p Ervilha D A CARLEY (1969)
Pyhium Ervilha A D CARLEY (1969)
Aphanomyces Milho D A CARLEY (1969)
Pyhium Milho A D CARLEY (1969)
Fusarium Milho D A PAINTER e SIMPSON (1969)

Diplodia Milho A D NELSON (1963)

Poria Pinus D A LI et ai. ( 1967)

Armillaria Pinus D A LI et ai. ( 1967)

Fusarium Trigo D A BUTLER 91961)


-~ D A SIMMONS (1960)
Helminthosporium Trigo

Rhizoctonia Trigo D A GLYNNE (1951)


-- Trigo D A GLYNNE (1951)
Cercosporella
Gaeumannomyces Trigo A D GARRET (1948)
-Thielaviopsis Fumo D A BEAUMONT (1936)

Phymatotrichum
- Algodão A D JORDAN et ai. (1939)
-Rhizoctonia Batata D A HUBER e WATSON (19700
:::::-
Streptomyces Batata A D CHASE et ai. (1968)
~ ... - D A
Sclerotium Tomate SITTERLY (19620
:-:::e
~ ~anomyces Tomate D A CARLEY (1969)

Rizoctonia Beterraba D A AFANAZIEVe CARLSON (1942)

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