Seja o Doutor Da Sua Soja IPCT

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ARQUIVO DO AGRÔNOMO - Nº 5

Seja o doutor da sua soja


Clóvis Manuel Borkert1 Álvaro M.R. Almeida2
José Tadashi Yorinori2 Léo Pires Ferreira4
Beatriz Spalding Corrêa-Ferreira3 Gedi Jorge Sfredo5

INTRODUÇÃO temperatura, as diferenças genéticas entre as variedades, o teor de


nutrientes no solo e os diversos tratos culturais. Contudo, é possível

D
e maneira semelhante ao ser humano, a soja necessita estimar as quantidades médias de nutrientes que estão presentes
germinar (nascer), desenvolver vegetativamente nos restos culturais e nos grãos da soja para cada tonelada de
(crescer), atingir a maturidade, florescer e produzir produção de grãos, como os dados apresentados na Tabela 1.
muitos grãos, mas para isto precisa estar sempre bem alimentada,
com saúde, livre de doenças e protegida contra as pragas que O elemento mais requerido pela soja é o nitrogênio. Portanto,
possam lhe atacar e diminuir sua produção de grãos. Portanto, não para uma produção de 3.000 kg/ha, há a necessidade de 246 kg de
adianta semear a melhor variedade, na melhor época, se não se nitrogênio, que são obtidos, em pequena parte, do solo (25% a 35%)
cuidar, antes, do ambiente onde as raízes irão crescer e absorver os e, na maior parte, pela fixação simbiótica do nitrogênio (65% a
nutrientes. Assim, para obter o ótimo retorno econômico do grande 85%). Por estes dados pode-se avaliar a importância de se fazer uma
investimento que a cultura requer, o agricultor necessita estar inoculação bem feita, com inoculante de boa qualidade, para ter
atento à semente a adquirir, às exigências climáticas da cultura e eficiência na fixação simbiótica do nitrogênio do ar a custo zero,
ao manejo do solo. através das bactérias nos nódulos das raízes da soja. Por isso, deve-
se evitar a adubação com nitrogênio mineral, pois além de causar
PROGRAMA DE CORREÇÃO DA FERTILIDADE DO a inibição da nodulação e reduzir a eficiência da fixação simbiótica
SOLO E DE ADUBAÇÃO DA SOJA do nitrogênio atmosférico não aumenta a produtividade da soja.
Quando a adubação for feita com adubo formulado, cuja fórmula
A primeira providência que o médico toma, ao receber um possua nitrogênio e esta seja de menor custo que a mesma fórmula
paciente na primeira consulta, é abrir uma ficha com todos os seus sem nitrogênio, pode-se utilizá-la na semeadura desde que não
dados, o histórico de suas doenças e as de seus genitores ou da ultrapasse 20 kg de N/ha. Para que a fixação simbiótica seja
família, do seu tipo de vida e dos seus hábitos, fazer um exame eficiente, há a necessidade de se corrigir a acidez do solo e fornecer
clínico e solicitar análises clínicas, para então poder formular, com os nutrientes que estejam em quantidades limitantes.
base em todas estas informações, o diagnóstico do paciente e
receitar os remédios adequados ao caso. Na seqüência, os mais exigidos são o potássio, o enxofre e
Do mesmo modo, o engenheiro agrônomo, para ser o o fósforo. Em relação aos micronutrientes, é importante observar
“Doutor da lavoura de soja”, deve abrir uma ficha com diversas as pequenas quantidades necessárias para suprir a cultura da soja,
informações sobre a lavoura e usar as ferramentas necessárias para porém, não se deve deixar faltar nenhum deles, pois todos são
completar as informações e auxiliar na formulação do quadro essenciais, e com a falta de apenas um deles não haverá bom
diagnóstico do “paciente-lavoura de soja” e, então, com maior desenvolvimento e rendimento de grãos (lei do mínimo).
segurança, fazer as recomendações dos remédios e das medidas a
serem tomadas. As ferramentas mencionadas são, no caso, as • Análise foliar: amostragem e interpretação
análises de solo e de folhas, que, mais adiante, serão abordadas
juntamente com as recomendações de calcário e de adubos. A análise de planta, para a produção agrícola, é conven-
cionalmente definida pela concentração dos nutrientes inorgânicos
Não custa lembrar que a atividade agrícola, como qualquer
no tecido da planta. Na recomendação de adubação, a análise foliar
empresa bem organizada, necessita ter um planejamento de
também deve ser usada como uma das ferramentas do “doutor da
utilização de todas as áreas, a médio e longo prazos, prevendo um
soja”, visando alcançar a máxima produtividade e a melhor qua-
programa de rotação de culturas, permitindo, assim, que todas as
lidade de grãos.
providências para execução das operações sejam tomadas com
bastante antecedência e tudo seja realizado na data prevista. Para ser válida a comparação com os dados das tabelas de
nível de suficiência, as amostras de folhas de soja devem ser colhi-
• Exigências nutricionais da soja das no período entre o início da floração e o pleno florescimento,
A absorção de nutrientes pela soja é influenciada por coletando-se 30-40 folhas recém-maduras com pecíolo, que corres-
diversos fatores, entre eles as condições climáticas, como chuva e pondem às 3ª e 4ª folhas trifolioladas a partir do ápice da haste
principal (para um talhão, ou gleba, entre 50 a 100 ha).
1
Engº Agrº, PhD, Pesquisador em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas da O conceito de limites de suficiência classifica a concentração
EMBRAPA-CNPSo. de elementos nas categorias: deficiente (ou muito baixo), baixo,
2
Engº Agrº, PhD, Pesquisador em Fitopatologia da EMBRAPA-CNPSo. suficiente (ou médio), alto e excessivo ou muito alto (às vezes
3
Bióloga, Dra., Pesquisadora em Entomologia da EMBRAPA-CNPSo.
4
Engº Agrº, Dr., Pesquisador em Fitopatologia da EMBRAPA-CNPSo.
tóxico). Esta classificação de concentração dos elementos na
5
Engº Agrº, Dr., Pesquisador em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas da Tabela 2 é usada na interpretação de análises de tecido de folhas de
EMBRAPA-CNPSo. soja.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94 1


Tabela 1. Quantidade de nutrientes absorvida e exportada nos grãos pela cultura da soja, em cada tonelada produzida.

N P K S Ca Mg B Cl Mo Cu Fe Mn Zn Al
- - - - - - - - - kg em cada tonelada - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - g em cada tonelada - - - - - - - - - - - - - - - -

Restos culturais1 31 2,5 7,5 10 9,2 4,7 - 23 2 - - - - 172


Grãos 51 5,0 17 5,4 3,0 2,0 2,0 237 5 10 70 30 40 15
1
Folhas, pecíolos e caules que são restituídos ao solo.
Fonte: EMBRAPA (1993a).

Tabela 2. Concentração de elementos usada para a interpretação de análises de tecido de folhas1 de soja.
Elemento Deficiente ou muito baixo Baixo Suficiente ou médio Alto Excessivo ou muito alto
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (%) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
N < 3,25 3,25-4,00 4,01-5,50 5,51-7,00 > 7,00
P < 0,16 0,16-0,25 0,26-0,50 0,51-0,80 > 0,80
K < 1,25 1,25-1,70 1,71-2,50 2,51-2,75 > 2,75
Ca < 0,20 0,20-0,35 0,36-2,00 2,01-3,00 > 3,00
Mg < 0,10 0,10-0,25 0,26-1,00 1,01-1,50 > 1,50
S < 0,15 0,15-0,20 0,21-0,40 0,40 -
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (ppm) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Mn < 15 15-20 21-100 101-250 > 250
Fe < 30 30-50 51-350 351-500 > 500
B < 10 10-20 21-55 56-80 > 80
Cu < 5 5-9 10-30 31-50 > 50
Zn < 11 11-20 21-50 51-75 > 75
Mo < 0,5 0,5-0,9 1,0-5,0 5,1-10 > 10
1
Terceira a quarta folha trifoliolada abaixo da gema apical, no início da floração à floração plena.
Fonte: SFREDO et al. (1986).

Quando se deseja fazer a análise de micronutrientes na necessidade de 160 a 210 kg de nitrogênio fornecidos pela fixação
amostra é aconselhável a imersão rápida das folhas em água des- simbiótica, para armazenamento na folha e para translocamento no
mineralizada para retirar a poeira das folhas (devido à contamina- período de enchimento de grãos, e a planta já deve ter nas folhas (3ª
ção por ferro, manganês e zinco, principalmente), colocando-as e 4ª folhas do botão terminal para baixo) mais de 4,5% de N na
para secar ao sol ou em estufa (cuidar para que a temperatura da floração (R1-R2), para não haver quebra no rendimento de grãos.
estufa não ultrapasse os 60oC, para evitar a decomposição e a perda
de alguns elementos, o que irá alterar o resultado da análise). • Fósforo

SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA E DE TOXICIDADE DE Os sintomas de deficiência deste elemento às vezes não são
NUTRIENTES NA SOJA muito bem definidos. Os sintomas de deficiência de fósforo são
caracterizados nas folhas maduras por uma cor verde-escuro, mas
• Nitrogênio os sintomas principais são o crescimento lento, com plantas
raquíticas, de folhas pequenas e muitas vezes verde-escuro azuladas
A lavoura de soja com deficiência de nitrogênio vai perdendo (Fotos 2, 3 e 4). Por causa da alta mobilidade do P na planta, sob
a cor verde-escuro, passando a verde-pálido com um leve amarelado condições de deficiência há o translocamento do elemento das
e, dias mais tarde, todas as folhas tornam-se amarelas. Este sin- folhas mais velhas para as mais novas, esgotando as reservas de P
toma aparece primeiro nas folhas inferiores mas espalha-se nas folhas mais velhas, onde o sintoma aparece primeiro. A
rapidamente pelas folhas superiores (Foto 1). O sintoma aparece, deficiência de fósforo pode ocorrer em quase todos solos ácidos
por último, nas folhas novas porque o N é um elemento extre- tropicais, com baixo pH e alta capacidade de fixação de P (Foto 4,
mamente móvel na planta, sendo translocado dos tecidos velhos em Balsas, MA). Além disso, o limitado fornecimento de fósforo
para as folhas novas. O crescimento da planta é lento, com plantas reduz o número e a eficiência dos nódulos e, como conseqüência,
menores e de baixa produção. O sintoma visual de deficiência de a fixação simbiótica do nitrogênio. Altos teores de fósforo no solo
nitrogênio só irá ocorrer quando não for feita a inoculação da podem induzir à deficiência de zinco desde que esses altos teores
semente de soja e ela for semeada em solos que nunca foram estejam associados com reduzidas absorção e translocação de Zn,
cultivados com esta leguminosa (mesmo assim ela pode nodular Fe e Cu.
com estirpes nativas de baixa eficiência), ou quando a eficiência da
fixação do N do ar é baixa devido à inibição pela acidez do solo ou
• Potássio
à falta de algum nutriente essencial na simbiose soja-bactéria.
Mesmo em solos já anteriormente cultivados com soja, a falta de A baixa disponibilidade de potássio sem o aparecimento
inoculação na semeadura faz com que ela seja nodulada por visual da deficiência deste causa a “fome oculta”, ou seja, a redução
bactérias de baixa eficiência já existentes no solo. Nestas na taxa de crescimento da planta com redução da produção de soja
circunstâncias, mesmo não aparecendo sintomas visuais de (Foto 5). Quando a deficiência é mais severa, o aparecimento dos
deficiência de N nas folhas, o suprimento deste fica limitado para sintomas visuais começa com um mosqueado amarelado nas
as exigências da planta e a produtividade é reduzida. Como já foi bordas dos folíolos das folhas da parte inferior da planta. Estas
mencionado, para produções de 3.000 kg de grãos/ha há a áreas cloróticas avançam para o centro dos folíolos, dando-se então

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o início da necrose das áreas mais amareladas nas bordas dos e de caule fino. Os sintomas de deficiência de enxofre não são facil-
folíolos, com o aumento progressivo do sintoma. Com o passar dos mente reconhecidos quando comparados aos sintomas de deficiência
dias, a necrose avança para o centro dos folíolos e há, finalmente, de alguns outros elementos. Eles podem ser facilmente identificados
a quebra das áreas necrosadas, deixando os folíolos com aspecto pela resposta da planta à aplicação de sulfato ou enxofre elementar
esfarrapado (Foto 6). em faixas na lavoura de soja. A análise de folhas das plantas tam-
As plantas com deficiência de potássio produzem grãos bém pode ser uma ferramenta útil na identificação da deficiência.
pequenos, enrugados e deformados e a maturidade da soja é A deficiência de enxofre poder ocorrer, com maior freqüência, em
atrasada, podendo causar também haste verde, retenção foliar e solos tropicais ácidos, com baixa quantidade de matéria orgânica.
vagens chochas. A toxicidade de enxofre tem sido observada em algumas
espécies de plantas localizadas especialmente nas proximidades de
• Cálcio áreas com muitas indústrias, nas quais há altos níveis de SO2 na
atmosfera. É muito baixa a probabilidade de que isto ocorra nas
A deficiência de cálcio é caracterizada pela redução de áreas cultivadas com soja no Brasil.
crescimento do tecido meristemático no caule, na folha e na ponta
da raiz. A deficiência normalmente aparece primeiro nas folhas • Manganês
novas e nos pontos de crescimento (meristema apical),
provavelmente como conseqüência da imobilidade do cálcio na A deficiência de Mn em soja também provoca clorose entre
planta (Foto 8). A emergência das folhas primárias da soja defi- as nervuras das folhas. Exceto as nervuras, as folhas de soja
ciente em cálcio é retardada e quando as folhas emergem elas já tornam-se verde-pálido e passam para amarelo-pálido (Foto 10).
crescem deformadas (folhas encarquilhadas). Os botões terminais Áreas necróticas marrons desenvolvem-se nas folhas à medida que
das folhas primárias tornam-se necróticos, faixas cloróticas estreitas a deficiência torna-se mais severa. A deficiência de manganês
desenvolvem-se em volta das porções das folhas remanescentes e difere da de ferro e da de magnésio devido às nervuras permanecerem
o tecido entre as nervuras tende a enrugar. Os botões terminais verdes e aparecerem ressaltadas, de forma saliente. Também na
deterioram e ocorre o colapso dos pecíolos (Foto 7). As folhas deficiência de Mn os sintomas são visíveis primeiro nas folhas
primárias tornam-se moles e flexíveis e caem da planta. A deficiência novas, enquanto na de Mg as folhas velhas são as primeiras a serem
de cálcio é observada em soja cultivada em solos ácidos que não afetadas. Algumas vezes, as folhas novas em estádio fisiológico, e
receberam calcário, e estes sintomas, com certeza, resultam de uma com deficiência, podem manter os sintomas enquanto aquelas que
combinação da deficiência de cálcio com toxicidade de alumínio e se desenvolveram depois, em estádio fisiológico mais avançado,
manganês. podem ter aparência verde, de folha saudável, sem o problema. Isto
pode ocorrer por causa da mudança das condições climáticas ou
• Magnésio porque as raízes cresceram para um horizonte mais abaixo, com
solo ácido, e que tenha maior disponibilidade de manganês na
A deficiência de magnésio causa inicialmente uma cor solução do solo. Isto ocorre muitas vezes quando o calcário é in-
verde-pálido nas bordas, passando após para uma clorose marginal corporado com grade a pouca profundidade, ocorrendo um excesso
nas folhas mais velhas, e com o decorrer do tempo a clorose avança de calcário a 5 ou 10 cm, com elevação do pH acima de 7,0.
para dentro, entre as nervuras (Foto 9).
A deficiência de manganês tem sido observada em solos
O amarelecimento começa pelas folhas basais e, com o com altos teores de ferro e/ou alumínio e em latossolos arenosos que
aumento dos sintomas de deficiência, as folhas jovens também são receberam calcário muito acima da dose recomendada (ou foram
atingidas (baixa produção de clorofila na planta). mal incorporados) como pode ser observado em uma lavoura de
Esta ordem ascendente de aparecimento dos sintomas de soja no Brasil Central (Foto 11).
deficiência indica que o Mg, do mesmo modo que o N e o P, é móvel Em muitos solos ácidos dos trópicos, e mesmo nos solos
na planta. Pintas que lembram ferrugem e manchas necróticas ácidos do Sul do Brasil, é mais comum a ocorrência de toxicidade
irregulares podem, mais tarde, aparecer entre as nervuras, nos de manganês do que de deficiência. O excesso de manganês parece
folíolos medianos e no topo da planta. Em estádios mais avançados afetar mais diretamente a parte aérea do que as raízes. Os sintomas
de crescimento, a deficiência de magnésio causa uma aparência de de toxicidade de manganês incluem uma clorose nas bordas dos
maturação antecipada. Ocorre o enrugamento das margens das folíolos seguida de necrose, com enrugamento por contração do
folhas para baixo e o amarelecimento das folhas partindo das folíolo e clorose das folhas novas (semelhante à deficiência de
margens para o interior, havendo um bronzeamento de toda a ferro) e desenvolvimento de pontos necróticos (Foto 12). Ocorrem
superfície da folha. Do mesmo modo que a deficiência de cálcio, a também problemas fisiológicos específicos que são associados à
deficiência de magnésio tende a ocorrer com mais freqüência em toxicidade de manganês, que é o encarquilhamento dos folíolos
solos arenosos tropicais ácidos, com baixo teor de matéria orgânica, (Foto 13).
mas a correta aplicação de calcário dolomítico pode prevenir a
deficiência de ambos os elementos. • Zinco
Os folíolos com deficiência de zinco ficam menores, com
• Enxofre
áreas cloróticas entre as nervuras (Fotos 14 e 15), sendo estes
Os sintomas de deficiência de enxofre são muito similares sintomas mais severos nas folhas basais. Os tecidos cloróticos
aos da deficiência de nitrogênio. Ocorre uma clorose geral das tendem a ficar de cor marrom ou cinza e morrem prematuramente.
folhas, incluindo as nervuras, que de verde-pálido passam a ama- Uma lavoura de soja deficiente em zinco será de cor marrom-
relo. Os sintomas iniciam-se nas folhas novas, enquanto na amarelada quando vista à distância. A maturação será atrasada e
deficiência de N os sintomas iniciam-se nas folhas velhas. Em um poucas vagens serão produzidas. A deficiência de zinco pode
estádio mais avançado do sintoma, as folhas velhas tornam-se ocorrer sob as mais variadas condições de solo. A primeira e
amarelas e depois necrosadas. As plantas deficientes são pequenas principal ocorre quando o solo já possui baixa disponibilidade

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natural de zinco (alguns solos derivados de arenitos). Aplicações ou com alta saturação de água. Nessas condições, o teor de ferro
muito elevadas de calcário e de fósforo reduzem a disponibilidade solúvel pode aumentar no solo de 0,1 ppm a até 100 ppm, aumen-
de zinco e podem causar deficiência do elemento na soja. tando a absorção pelas plantas.
A deficiência de zinco também é muito comum em regiões
de baixa quantidade de chuvas, onde parte da camada de solo foi • Boro
removida por erosão ou para nivelamento do terreno ou construção A deficiência de boro aparece inicialmente causando um
de terraços. anormal e lento desenvolvimento dos pontos de crescimento apical.
Os folíolos das folhas novas são deformados, enrugados, com
• Cobre freqüência ficam mais grossos e com cor verde-azulado escuro.
A deficiência de cobre geralmente causa necrose nas pon- Podem ter clorose entre as nervuras do dorso do folíolo. As folhas
tas dos folíolos das folhas novas. Essa necrose prossegue pelos e os caules tornam-se frágeis, indicando distúrbio na transpiração,
bordos dos folíolos, resultando em folhas com aparência de perda e as folhas do topo ficam de cor amarela ou avermelhada. Com o
de turgidez e de água, parecendo que secaram (Foto 16). O cres- progresso da deficiência, a elongação dos entre-nós fica lenta,
cimento da soja é retardado e a cor da planta muda para verde- ocorre a morte dos pontos de crescimento terminal e a formação de
acinzentado, verde-azulado ou cor de oliva. flores é restrita ou inibida. A deficiência de boro normalmente
ocorre com maior freqüência em solos arenosos e em solos alta-
Para muitas espécies de plantas, altas quantidades de cobre mente intemperizados das regiões mais chuvosas. Boro disponível
em solução nutritiva são tóxicas e limitam o crescimento, inclusive é facilmente lavado do solo e perdido por percolação e lixiviação.
para a soja. Isto ocorre porque há indícios de afetar, em parte, a Muito do boro disponível no solo em uma safra de soja é liberado
habilidade do cobre em deslocar outros cátions, particularmente o da matéria orgânica pela ação dos microrganismos.
ferro, de importantes sítios fisiológicos. A clorose das folhas é,
portanto, o sintoma mais comum observado na toxicidade de cobre, A soja também é muito sensível à alta concentração de boro
sendo muito semelhante e lembrando a deficiência de ferro. nos solos. Os sintomas de toxicidade de boro resultam em ama-
relecimento das pontas dos folíolos seguido de progressiva necrose,
• Molibdênio que começa nas pontas e nas margens e, finalmente, espalha-se
entre as nervuras laterais e encaminha-se para a nervura central. As
Como o molibdênio tem participação na fixação do N2 do ar, folhas ficam com a aparência de queimadas e caem prematuramente.
os sintomas de deficiência deste elemento são muito semelhantes
àqueles da deficiência de N. Nos primeiros estádios do desen- • Cloro
volvimento dos sintomas, as folhas parecem verde-pálido e têm
A deficiência de cloro é caracterizada por plantas cloróticas
áreas necróticas adjacentes às nervuras centrais dos folíolos, entre
com folíolos que ficam flácidos nas bordas. Entretanto, a toxicidade
as nervuras principais e ao longo das margens. Já que a solubilidade
de cloro é mais comum do que a deficiência. Soja cultivada em solos
e a disponibilidade do Mo no solo aumenta com o aumento do pH,
que freqüentemente recebem altas doses de adubo pode apresentar
a deficiência pode ser eliminada pela calagem (Foto 17), desde que
acúmulo de sais de cloreto e sintomas de toxicidade de cloro, que
haja molibdênio neste solo na forma imobilizada pela acidez.
são: queima das pontas dos folíolos ou da margem, conferindo-lhes
Também, se as sementes de soja usadas na semeadura foram
cor de bronze, e amarelecimento e queda prematura das folhas.
produzidas em um solo com alta disponibilidade de Mo, ou se estas
Quando esses sintomas ocorrem, a alta concentração de cloro nos
sementes são provenientes de lavoura de soja pulverizada com
tecidos das folhas é associada com altos teores de manganês,
adubo foliar contendo Mo no estádio de enchimento de grãos, isto
especialmente quando uma seca ocorre antes da floração.
fará que haja suprimento suficiente de Mo (na semente assim
produzida) para a próxima geração. A toxicidade de molibdênio
• Cobalto
raramente é encontrada em soja.
Não há relatos de sintomas de deficiência de cobalto em
• Ferro plantas cultivadas a campo. Em soja cultivada em solução nutritiva,
os sintomas de deficiência de cobalto são descritos como clorose e
Como no caso da deficiência de Mg, a deficiência de ferro encarquilhamento das folhas. O cobalto aplicado via foliar é
é caracterizada pela diminuição na produção de clorofila pela absorvido, porém, não é translocado para outras partes da planta;
planta. Porém, inversamente à deficiência de Mg, a deficiência de portanto, a adubação foliar de cobalto não resolve o problema de
ferro sempre começa nas folhas novas. deficiência.
No estádio inicial do desenvolvimento dos sintomas, as A toxicidade de cobalto já foi observada em plântula de soja
áreas entre as nervuras dos folíolos das folhas de soja passam a no início da germinação, quando uma dose muito grande de Co e
apresentar cor amarelada (Foto 18). À medida que ocorre uma Mo é aplicada junto às sementes. Os sintomas de toxicidade são
evolução na severidade da deficiência, também as nervuras ficam manchas necróticas nos cotilédones e folhas com folíolos cloróticos.
amarelas e, finalmente, toda a folha fica quase branca. Este efeito do excesso de cobalto pode induzir à deficiência de ferro.
Manchas necróticas de cor marrom podem surgir na margem O sintoma desaparece depois de alguns dias, principalmente com
dos folíolos, próximo às bordas. A deficiência de ferro normalmente boas condições de umidade, com condições de rápido desen-
ocorre em solos calcários. Latossolos tropicais geralmente têm alta volvimento das plantas.
concentração de ferro, todavia, a deficiência pode ocorrer se os
solos são calcariados e o pH é elevado, acima de 7,0. Também, altas • Alumínio
concentrações de alumínio e manganês na planta podem reduzir a Embora não seja um elemento essencial ao desenvolvimento
absorção de ferro e induzir à deficiência deste elemento. das plantas, o alumínio é importante na maioria dos solos ácidos
A toxicidade de ferro pode ocorrer em solos hidromórficos devido ao seu efeito tóxico sobre as plantas. Os sintomas de
(solos de várzeas), desde que fiquem alagados por algumas semanas, toxicidade de alumínio nas folhas de soja lembram aqueles de

4 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94


deficiência de fósforo: as plantas ficam pequenas, não há desen- calcário dolomítico (> 12,0% MgO) ou magnesianos (entre 5,0 e
volvimento normal, folhas menores com cor verde-escuro, 12,0% MgO); no caso de haver interesse no uso de calcário
amarelecimento e necrose nas pontas dos folíolos e atraso na calcítico, aplicar fontes de Mg para atender o suprimento do
maturação. nutriente;
A toxicidade de alumínio em soja parece que também - a reação do calcário no solo se realiza, eficientemente, sob
provoca deficiência induzida de cálcio ou reduzido transporte de condições adequadas de umidade; recomenda-se a aplicação do
cálcio dentro na planta, causando o curvamento e o enrolamento calcário com antecedência mínima de 60 dias da semeadura,
das folhas novas e o colapso dos pontos de crescimento e do preferencialmente;
pecíolo. - a incorporação do calcário deve ser feita em toda a camada
Raízes de soja desenvolvidas em solo com alto alumínio arável do solo, através da aração. Quando a aração não for possível
trocável são caracteristicamente curtas e frágeis. Ocorre o engros- no primeiro ano, devido ao grande volume de raízes ou outra razão,
samento das pontas das raízes e das raízes laterais, que podem incorporar o calcário com grade no primeiro ano e fazer a aração
adquirir cor marrom. Todo o sistema radicular fica na forma de um no segundo ano.
coral, com muitas raízes laterais curtas e grossas, mas com
pequenas e finas ramificações. • Correção da acidez subsuperficial
Os solos do Cerrado apresentam problemas de acidez
PRÁTICAS PARA A CORREÇAO E A MANUTENÇÃO DA subsuperficial, uma vez que a incorporação profunda do calcário
FERTILIDADE DO SOLO nem sempre é possível, ao nível de lavoura. Assim, camadas mais
profundas do solo (abaixo de 35 cm ou 40 cm) podem continuar com
• Cálculo da calagem pela saturação por bases do solo excesso de alumínio tóxico, mesmo quando tenha sido efetuada
uma calagem considerada adequada. Esse problema, aliado à baixa
O cálculo da necessidade de calcário (NC) é feito através da capacidade de retenção de água desses solos, pode causar decrés-
seguinte fórmula: cimos na produtividade, principalmente nas regiões onde é mais
(V2 - V1). T freqüente a ocorrência de veranicos.
NC (t/ha) = Uma forma de correção dessa acidez é o uso de maior
100 quantidade de calcário, num prazo maior de tempo – quatro a oito
em que: anos.
V1 = valor da saturação por bases trocáveis do solo, em porcentagem, Com o uso de gesso é possível diminuir a saturação de
antes da correção; V1 = 100 S/T, sendo S = Ca2+ + Mg2+ + K+; alumínio nessas camadas mais profundas, uma vez que o sulfato
V2 = Valor da saturação por bases trocáveis que se deseja; existente nesse material pode arrastar o cálcio para camadas abaixo
T = capacidade de troca de cátions; T = S + (H + Al3+); de 40 cm. Desse modo, criam-se condições para o sistema radicular
f = fator de correção do PRNT (poder relativo de neutralização das plantas se aprofundar no solo, explorar melhor a disponibili-
total) do calcário; f = 100/PRNT. dade hídrica e, conseqüentemente, minimizar o efeito de veranicos,
obtendo melhores índices de produtividade. Além disso, todo esse
Como o potássio normalmente é expresso em ppm nos processo pode ser feito em um período de um a dois anos. Deve ficar
boletins de análise do solo, há necessidade de transformá-lo em claro, porém, que o gesso não neutraliza a acidez do solo, mas
meq/100g pela fórmula: diminui a saturação por alumínio.
O gesso deve ser utilizado em áreas onde a análise de solo,
meq de K/100 g = ppm de K x 0,0026 na profundidade de 30 a 50 cm, apresentar a saturação por alumínio
maior que 20% e/ou quando a saturação por cálcio for menor que
Este método consiste na elevação da saturação por bases 40% (cálculo feito com base na capacidade de troca de cátions
trocáveis para um valor porcentual que proporcione o máximo efetiva). A dose de gesso agrícola (15% de S) a aplicar é de 700,
rendimento econômico do uso de calcário. 1.200, 2.200 e 3.200 kg/ha para solos de textura arenosa, média,
Para os Estados do Paraná e de São Paulo, a recomendação argilosa e muito argilosa, respectivamente. O efeito residual destas
da quantidade de calcário, em função da saturação por bases, deve dosagens é de, no mínimo, cinco anos.
ser quantificada para atingir 70%. Para a região da grande Dourados- Caso o gesso seja utilizado apenas como fonte de enxofre, a
MS, a recomendação deve ser feita para a saturação por bases dosagem deve ser ao redor de 200 kg/ha/cultivo.
atingir 60%. Nos demais Estados da Região Central, formados
basicamente por solos sob vegetação de Cerrado, o valor adequado • Adubação fosfatada de correção e de manutenção
de saturação é de 50%. Deve-se sempre fazer a incorporação do
calcário na maior profundidade possível. A recomendação da quantidade de nutrientes, principal-
mente em se tratanto de adubação corretiva, é feita com base nos
• Qualidade do calcário e condições de uso resultados da análise do solo.
Na região do Cerrado, o método utilizado pelos laboratórios
Para que a calagem atinja os objetivos de neutralização do para a extração de fósforo do solo é o Mehlich 1. Na Tabela 3 são
alumínio trocável e/ou de elevação dos teores de cálcio e magnésio, apresentados os teores de P extraível, obtidos pelo método Mehlich
algumas condições básicas devem ser observadas: I, e a correspondente interpretação, que varia em função dos teores
- o calcário deverá passar 100% em peneira com malha de de argila. Os níveis críticos de P correspondem a 3, 8, 14 e 18 ppm
0,3 mm; para os solos com teores de argila de 61% a 80%, 41% a 60%, 21%
- o calcário deverá apresentar altos teores de cálcio e a 40% e menos de 20%, respectivamente. Em solos com menos de
magnésio (CaO + MgO > 38%), dando preferência ao uso de 15% de argila não se recomenda praticar agricultura intensiva,

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94 5


devido serem solos facilmente sujeitos à erosão, quando ocorrem 23 kg de enxofre), promove o carreamento de cálcio, magnésio e
chuvas pesadas. potássio para o subsolo, reduzindo a saturação de alumínio. Isto
propicia condições para maior aprofundamento do sistema radicular,
Tabela 3. Interpretação da análise de solo para recomendação de adubação aumentando, conseqüentemente, o suprimento de água e nutrientes
fosfatada (fósforo extraído pelo método Mehlich 1). para as plantas.
Teor de argila Teor de P (ppm) A utilização de rochas fosfatadas brasileiras na adubação
(%) Muito baixo Baixo Médio Bom corretiva só é possível em áreas próximas às jazidas, combinando-
61 a 80 0 a 1,1 1,1 a 2,0 2,1 a 3,0 > 3,0 a com a adubação de manutenção, usando-se fonte de P solúvel. Isto
41 a 60 0 a 3,0 3,1 a 6,0 6,1 a 8,0 > 8,0 porque as rochas fosfatadas brasileiras têm solubilidade muito
21 a 40 0 a 5,0 5,1 a 10,0 10,1 a 14,0 > 14,0
baixa e só apresentam efeitos semelhantes às solúveis quando
< 20 0 a 6,0 6,1 a 12,0 12,1 a 18,0 > 18,0
aplicadas em quantidade duas vezes maior (P2O5 total) e após três
anos da sua incorporação.
Fonte: EMBRAPA-CPAC (SOUZA et al., 1987).
Outra fonte já disponível no mercado é o fosfato parcialmente
acidulado. Possui eficiência ao redor de 60%, quando comparado
Duas proposições são apresentadas para a recomendação com o superfosfato triplo. Portanto, a sua utilização é recomendada
de adubação fosfatada corretiva: a correção do solo de uma só vez, se o custo por unidade de P2O5 for, aproximadamente, 40% inferior
com posterior manutenção do nível de fertilidade atingido, e a ao das fontes solúveis (superfosfato triplo e superfosfato simples).
correção gradativa, através de aplicações anuais no sulco de
semeadura (Tabela 4). No primeira caso, recomenda-se aplicar a • Adubação potássica de correção e de manutenção
adubação corretiva total a lanço e incorporar o adubo à camada
arável, para corrigir um maior volume de solo, a fim de que as raízes A recomendação para adubação corretiva com potássio, de
das plantas absorvam água e nutrientes. Doses inferiores a 100 kg acordo com a análise do solo, é apresentada na Tabela 5. Esta
de P2O5/ha, no entanto, devem ser aplicadas no sulco de semeadura, adubação deve ser feita a lanço, em solos com teor de argila acima
à semelhança da adubação corretiva gradual. de 20%. Em solos de textura arenosa (< 20% de argila), não se deve
fazer adubação corretiva de potássio, devido às acentuadas perdas
Tabela 4. Recomendação fosfatada corretiva, a lanço, e adubação fosfatada por lixiviação.
corretiva gradual, no sulco de semeadura, de acordo com a classe de
disponibilidade de P e o teor de argila. Tabela 5. Adubação corretiva de potássio para solos sob Cerrado com teor de
Adubação fosfatada (kg de P2O5/ha)1 argila de 20%, de acordo com dados de análise de solo.
Teor de argila
Corretiva total Corretiva gradual Teores de K extraível Adubação corretiva recomendada
(%)
P muito baixo P baixo2 P muito baixo P baixo2 (ppm) (kg K2O/ha)

61 a 80 240 120 100 90 0-25 100


26-50 50
41 a 60 180 90 90 80 > 50 01
21 a 40 120 60 80 70
1
Estando o nível de K extraível acima do valor crítico (50 ppm), recomenda-se a
< 20 100 50 70 60 adubação de manutenção de 25 kg de K2O para cada tonelada de grão a ser produzida,
1
Fósforo solúvel em citrato de amônio neutro mais água, para os fosfatos acidulados; quando o solo for de textura arenosa ou média. Em solos de textura argilosa a
solúvel em ácido cítrico 2% (relação 1:100), para termofosfatos e escórias. adubação de manutenção recomendada é de 20 kg de K2O/tonelada de grão de
2
Classe de disponibilidade de P, ver Tabela 2. expectativa.
Fonte: EMBRAPA-CPAC (SOUZA et al., 1987).
Como a cultura da soja retira grande quantidade de K nos
grãos (aproximadamente 20 kg de K2O/t de grãos), fazer adubação
A adubação corretiva gradual pode ser utilizada quando não
de manutenção com 60 kg/ha de K2O, se a expectativa de produção
há a possibilidade de fazer a correção do solo de uma só vez. Essa
for de três toneladas de grãos/ha, independentemente da textura do
prática consiste em aplicar, no sulco de semeadura, uma quantidade
solo.
de P superior à indicada para a adubação de manutenção,
acumulando, com o passar do tempo, o excedente e atingindo, após A aplicação de adubo potássico (KCl) nos solos sob Cerrado
alguns anos, a disponibilidade de P desejada. Ao utilizar as doses deve ser feita preferencialmente a lanço, pois estes solos possuem
de adubo fosfatado sugeridas na Tabela 4 é esperado que, num baixa capacidade de retenção de cátions. A alta concentração,
período máximo de seis anos, o solo apresente teores de P em torno provocada por grandes quantidades de adubo (em torno de 100 kg/
do nível crítico. ha de K2O), distribuídas em pequeno volume de solo, favorece as
perdas por lixiviação.
A adubação de manutenção é indicada quando o nível de P
no solo está classificado como médio ou bom (Tabela 3), a qual,
• Adubação com micronutrientes
para a cultura da soja, é de 60 kg de P2O5/ha, para uma expectativa
de produção de 3.000 kg/ha. Na maioria dos casos, para produ- Para a prevenção da deficiência em micronutrientes em
tividade maiores, a adubação de manutenção deve ser propor- solos sob Cerrado, recomenda-se sua aplicação nas seguintes
cionalmente aumentada, ou seja, 20 kg de P2O5/ha para cada dosagens: Zn: 4 a 6 kg/ha; B: 0,5 a 1,0 kg/ha; Cu: 0,5 a 2,0 kg/ha;
tonelada de grãos/ha de expectativa de colheita. Mn: 2,5 a 6,0 kg/ha; Mo: 50 a 250 g/ha; Co: 50 a 250 g/ha.
As fontes de fósforo mais utilizadas são o superfosfato As fontes podem ser solúveis ou insolúveis em água, desde
simples, o superfosfato triplo, os fosfatos naturais da Carolina do que o produto satisfaça a dose indicada. Para reaplicação de
Norte e de Gafsa, e o termofosfato. De preferência, utilizar o super- qualquer um desses micronutrientes, utilizar a análise foliar como
fosfato simples ou fórmulas menos concentradas, que contenham instrumento indicador. A análise foliar pode ser feita a cada dois
enxofre. Este, além de ser um nutriente essencial para a cultura da anos. O efeito residual das dosagens indicadas atinge pelo menos
soja (para produzir três toneladas de grãos de soja são necessários um período de cinco anos.

6 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94


PRAGAS: DIAGNÓSTICO E CONTROLE
A cultura da soja abriga um número elevado de espécies de a necessidade do controle químico. O complexo de inimigos
insetos. Alguns causam sérios prejuízos à cultura e são considerados naturais é diferente para as várias espécies de pragas, mas a sua
como pragas principais. Outros, porém, são considerados pragas conservação nas lavouras de soja é de fundamental importância
secundárias, pois ocorrem em menor abundância e somente em para o estabelecimento de um sistema adequado de manejo de
condições especiais causam danos econômicos. Um terceiro grupo pragas.
corresponde aos insetos benéficos que se alimentam dos insetos- Esses agentes benéficos podem ser agrupados em
pragas e, portanto, funcionam como agentes de controle natural. parasitóides, predadores e doenças. Os parasitóides são insetos que
passam parte de sua vida dentro do corpo de outro inseto, matando-
1. PRAGAS PRINCIPAIS o no final desse processo. No parasitismo de lagartas destaca-se,
1.1. Lagarta da soja - Anticarsia gemmatalis (Foto 19) especialmente, a ocorrência de espécies de himenópteros
(Microcharops bimaculata, Copidosoma truncatellus) e dípteros
É o principal inseto desfolhador da soja. As lagartas são,
(Patelloa similis, Voria ruralis). Em percevejos, o parasitismo é
geralmente, esverdeadas. No entanto, formas escuras, quase pretas,
exercido principalmente pelo díptero Eutrichopodopsis nitens que
ocorrem quando altas populações estão presentes. Possuem listras
ataca os adultos e por várias espécies de vespas que parasitam os
laterais e dorsais, claras, no sentido longitudinal e apresentam
ovos dos percevejos, sendo Trissolcus basalis (Foto 23) e Telenomus
quatro pares de patas abdominais, além de um par terminal. A
podisi as mais importantes. Os predadores são espécies entomó-
lagarta é muito ativa e, quando perturbada, joga-se ao solo.
fagas que consomem mais de uma presa para completarem o seu
1.2. Percevejos - Nezara viridula (Foto 20), Piezodorus desenvolvimento. A ocorrência de predadores em campos de soja
guildinii (Foto 21) e Euschistus heros (Foto 22) é bastante freqüente, incluindo, principalmente, insetos das or-
São três os percevejos mais prejudiciais à cultura: o verde, dens Hemiptera (Tropiconabis sp., Geocoris sp., Podisus connexi-
o verde pequeno e o marrom. Aparecem a partir da floração, vus) (Foto 24) e Coleoptera (Calosoma granulatum, Callida sp.),
causando os maiores danos entre os estádios de desenvolvimento além de várias aranhas. As doenças de insetos desempenham papel
das vagens e final do enchimento dos grãos. Seus ataques podem destacado na regulação natural de populações de muitas pragas e
causar considerável redução no rendimento e na qualidade da podem ser ocasionadas por fungos, vírus ou bactérias. Na soja, as
semente. São agentes transmissores de doenças fúngicas, como a mais importantes para o grupo das lagartas desfolhadoras são a
mancha-fermento, causada por Nematospora corily e podem retardar doença branca causada pelo fungo Nomuraea rileyi (Foto 25) e a
a maturação das plantas, causando o fenômeno da retenção foliar doença preta causada pelo vírus Baculovirus anticarsia (Foto 26).
– “soja louca” – o qual dificulta a colheita.
3. CONTROLE
2. PRAGAS SECUNDÁRIAS Para o controle das principais pragas da soja recomenda-se
a utilização do “Manejo de Pragas”, que visa um controle racional
2.1. Lagarta falsa medideira - Chrysodeixis (Pseudo-
dos insetos-pragas, por meio da compatibilização de diferentes
plusia) includens
táticas disponíveis (GAZZONI et al., 1988). Para atender a tal
A lagarta é verde-claro, com listras longitudinais nas laterais objetivo é fator primordial conhecer as espécies de pragas, seus
e no dorso do corpo, apresentando dois pares de patas abdominais, níveis de ataque e os danos já causados, com o que se pode tomar
além de um par terminal. Locomove-se "medindo palmos", de a decisão acertada quanto à necessidade de medidas de controle.
modo semelhante às lagartas medideiras. Esta tecnologia consiste, basicamente, de inspeções regulares à
2.2. Bicudo-da-soja - Sternechus subsignatus lavoura, verificando o nível de ataque, com base na desfolha e no
número e tamanho das pragas.
O adulto é um curculionídeo de aproximadamente 8 mm de
comprimento, de coloração preta, com listras amarelas no dorso da Para as pragas principais (lagartas desfolhadoras e
cabeça e nas asas. Os danos são causados tanto pelos adultos, que percevejos), as amostragens devem ser realizadas com um pano-de-
raspam o caule e desfiam os tecidos, como pelas larvas, que batida, preferencialmente de cor branca, preso em duas varas, com
broqueam o caule e provocam o surgimento de galha. um metro de comprimento, o qual deve ser estendido entre duas
fileiras de soja. As plantas da área compreendida pelo pano devem
2.3. Broca das axilas - Epinotia aporema ser sacudidas vigorosamente sobre ele, havendo, assim, a queda das
Seu ataque é facilmente identificado: quando ataca os brotos pragas sobre o pano, as quais deverão ser contadas. Este
forma um cartucho, unindo os folíolos com fios de seda, procedimento deve ser repetido em vários pontos da lavoura,
permanecendo no seu interior. Após atacar os brotos, a lagarta pode considerando como resultado final a média dos vários pontos
broquear várias partes da planta, cuja entrada geralmente está amostrados. No caso de lavouras com espaçamento reduzido entre
localizada nas axilas das folhas. as linhas, usar o pano batendo apenas as plantas de uma fileira de
soja. Recomenda-se vistoriar a lavoura pelo menos uma vez por
3. INIMIGOS NATURAIS semana, iniciando as amostragens no princípio do ataque das
Os insetos-pragas da soja estão sujeitos ao ataque de um pragas, intensificando o processo ao aproximar-se o nível de ação.
grande número de inimigos naturais que se encarregam de eliminar O controle das pragas deve ser efetuado somente quando for
parte da sua população, exercendo, portanto, um controle natural atingido o nível de dano econômico (Figura 1), a partir do qual
sobre os mesmos. Alguns desses agentes são tão eficazes que, sob essas pragas reduzem significativamente a produção.
certas condições, mantêm populações de insetos-pragas abaixo do Os inseticidas recomendados para o controle da lagarta
nível de dano econômico durante toda a safra, dispensando, assim, da soja (Anticarsia gemmatalis) são: Baculovirus anticarsia, Ba-

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94 7


cillus thuringiensis, Carbaril, Diflubenzurom, Endossulfam, Perme- Para o controle dos percevejos pode ser utilizada a tecnologia do sal
trina SC, Profenofós, Tiodicarbe, Triclorfom e Triflumurom. Na de cozinha (CORSO, 1991), que consiste em reduzir pela metade
escolha do produto considerar a sua toxicidade, os efeitos sobre os a dose dos produtos recomendados, misturando-os a 500 g de sal de
inimigos naturais e o custo por hectare (EMBRAPA, 1993). Para cozinha para cada 100 litros de água colocados no tanque do
o controle da lagarta da soja dar preferência à utilização do vírus pulverizador, em aplicação terrestre, ou utilizar a vespinha Trissolcus
Baculovirus anticarsia (Foto 26) que pode, inclusive, ser usado em basalis (Foto 23) que parasita os ovos dos percevejos da soja
aplicação aérea. A dose de B. anticarsia é de 50 lagartas equiva- reduzindo a população desses insetos sugadores (CORRÊA-
lentes por hectare, ou seja, 50 lagartas mortas pelo próprio vírus FERREIRA, 1993). Utiliza-se a quantidade de 5.000 vespinhas/ha,
maceradas em um pouco d’água e aplicadas em um hectare, ou 20 liberadas no final do florescimento da soja, época em que os
gramas do produto formulado por hectare (MOSCARDI, 1983). percevejos estão começando a chegar na lavoura e a depositar seus
Os inseticidas recomendados para o controle de percevejos ovos. Entretanto, o uso desta tecnologia só é recomendado em áreas
(Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros) são: que também utilizam o controle biológico ou produtos altamente
Carbaril, Endossulfam, Fenitrotiom, Fosfamidom, Metamidofós, seletivos no controle das lagartas da soja, preservando, assim, toda
Monocrotofós, Paratiom metílico e Triclorfom (EMBRAPA, 1993). a população de insetos benéficos presentes na lavoura.

Semeadura Período vegetativo Floração Formação de vagens Enchimento de vagens Maturação Colheita

30% de desfolha ou
15% de desfolha ou 40 lagartas/pano de batida*
40 lagartas/pano de batida*

LAVOURAS PARA CONSUMO 4 percevejos/pano de batida**

LAVOURAS PARA SEMENTE 2 percevejos/pano de batida**

Broca das axilas: a partir de 25-30% de plantas com ponteiros atacados

*
Maiores de 1,5 cm; ** Maiores de 0,5 cm.

Figura 1. Níveis de ação de controle das principais pragas da soja.

8 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94


DOENÇAS DA SOJA E SEU CONTROLE

1. DOENÇAS FÚNGICAS mancozeb (80PM) (250g + 1.600 g); c) carbendazim (75PM) (250
g); d) fentin hidróxido de estanho (40F) (200 g); e) tiabendazol
Entre os principais fatores que limitam o rendimento da (40F) (400 g).
soja, as doenças são os mais importantes e de difícil controle. Cerca
de 40 doenças causadas por fungos, bactérias, nematóides e vírus 1.3. Cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f. sp.
afetam a cultura no Brasil. A importância econômica de cada meridionalis/Phomopsis phaseoli f. sp. meridionalis) (Fotos 32,
doença varia de ano para ano e de região para região, dependendo 33 e 34)
da condição climática de cada safra. Ao nível nacional, o valor das
perdas anuais por doenças é estimada em cerca de US$ 2 bilhões. O fungo é disseminado por sementes contaminadas,
multiplica-se nas primeiras plantas infectadas e, posteriormente,
A maioria dos patógenos da soja é transmitida através das
nos restos culturais. A ocorrência da doença depende da
sementes, e o uso de sementes contaminadas, originadas de dife-
suscetibilidade da cultivar e de chuvas freqüentes nos primeiros
rentes áreas de produção, tem sido importante causa de introdução
40-50 após a emergência.
e aumento de novas doenças ou de raças fisiológicas de patógenos.
O uso de sementes sadias, ou o seu tratamento químico, evitaria a Controle: Uso de cultivar resistente. A atual falta de
disseminação. semente de cultivares resistentes exige a adoção de medidas
capazes de reduzir o potencial de inóculo do patógeno e de
PRINCIPAIS DOENÇAS E MEDIDAS DE CONTROLE melhorar as condições nutricionais das plantas. Assim, além de
cultivar resistente, é essencial complementar com tratamento de
O controle das doenças através de resistência genética é o semente, rotação/sucessão de culturas, incorporação dos restos
modo mais eficaz e econômico, porém, para a maioria das doenças, culturais, semeadura tardia, população e espaçamento que evitem
não existem cultivares resistentes. A eliminação ou a manutenção o estiolamento e o acamamento e adubação potássica equilibrada.
das doenças, ao nível de dano econômico, depende do conhecimento
das exigências específicas de cada uma delas e da integração de 1.4. Antracnose (Colletotrichum dematium var. truncata)
várias práticas culturais, onde se incluem: rotação/sucessão de (Fotos 35 e 36)
culturas, tratamento químico da semente, resistência varietal,
A antracnose é uma das principais doenças do Cerrado.
calagem e adubação equilibrada, população adequada e melhor
Pode causar perda total mas, com maior freqüência, reduz o
época de semeadura, controle de plantas daninhas e, eventualmente,
número de vagens e induz a planta à retenção foliar e haste verde.
o tratamento químico da parte aérea.
O sintoma na haste (Foto 36) é facilmente confundido com a fase
1.1. Mancha “olho-de-rã” (Cercospora sojina) (Foto 27) inicial do cancro da haste (Foto 37).

Já foi uma das mais sérias da cultura da soja e poderá voltar Controle: Rotação/sucessão de culturas, maior espaça-
a causar grandes prejuízos se não houver diversificação genética mento entre as linhas e população adequada, controle de plantas
das cultivares, principalmente no Cerrado, onde cerca de 60% é daninhas, tratamento da semente e manejo adequado do solo, com
representada por uma cultivar, a “FT-Cristalina”. O fungo C. ênfase na adubação potássica.
sojina ataca toda a parte aérea, porém, é mais visível nas folhas
onde produz manchas circulares, medindo de 1 a 4 mm de diâme- 1.5. Seca da haste e da vagem ou Phomopsis da semente
tro. (Phomopsis sojae e outras espécies) (Fotos 37 e 38)
Controle: cultivares resistentes e tratamento químico da É uma das doenças mais tradicionais da soja e, anualmente,
semente. junto com a antracnose, é responsável pelo descarte de grande
número de lotes de sementes. Ocorre principalmente em anos
1.2. Doenças de final de ciclo: mancha parda (Septoria
chuvosos, causando morte prematura (Foto 37) ou apodrecimento
glycines) (Fotos 28 e 29) e crestamento foliar e mancha púrpura
das vagens e sementes quando ocorre retardamento de colheita por
da semente (Cercospora kikuchii) (Fotos 30 e 31)
excesso de umidade (Foto 38).
Tanto a mancha parda como o crestamento foliar de Controle: Idem ao da antracnose.
Cercospora/mancha púrpura da semente são de ocorrência gene-
ralizada, mas são mais perigosas nas regiões quentes e chuvosas
1.6. Mancha alvo e podridão da raiz (Corynespora
do Cerrado. Seus efeitos são mais visíveis na fase de maturação e
cassiicola) (Fotos 39 e 40)
reduzem o rendimento por causarem desfolha prematura. Sob
condições favoráveis, a redução da produtividade pode atingir a Presente em todas as regiões produtoras de soja, além de
mais de 30%. manchas foliares (Foto 39), o fungo causa podridão da raiz (Foto
40), forçando a planta à maturação antecipada. Aparentemente há
Controle: Rotação/sucessão de culturas, incorporação dos
variação de patogenicidade entre a Corynespora cassiicola que
restos culturais, tratamento de semente e adubação equilibrada,
causa a mancha foliar e a podridão da raiz. Essa hipótese está sendo
com ênfase no potássio. O controle pode também ser obtido com
investigada.
uma ou duas aplicações preventivas de fungicidas, iniciando no
estádio R5.5 (75% de vagem formada). A segunda deve ser feita Controle: A maioria das cultivares comerciais são tolerantes
10-12 dias após a primeira (estádio R6). Os fungicidas e dosagens à mancha foliar, porém, não há informação detalhada sobre a
(i.a./ha) são: a) benomil (50PM) (500 g); b) benomil (50PM) + reação à podridão da raiz. Como o fungo C. cassiicola possui uma

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94 9


ampla gama de hospedeiros e sobrevive por muitos anos no solo, Distribuição geográfica: Identificado pela primeira vez no
evitar a semeadura direta em monocultura, adotando-se a rotação/ Brasil na safra 1991/92, o nematóide de cisto da soja expandiu-se
sucessão de culturas. de forma assustadora nas safras seguintes.

1.7. Podridão branca da haste ou podridão de Sclerotinia Importância econômica: Na safra 1991/92, a área afetada
(Sclerotinia sclerotiorum) (Foto 41) foi estimada em 10 mil hectares, com perda avaliada em US$ 1 mi-
lhão. Na safra 1993/94, a área infestada foi estimada em cerca de
Uma das mais antigas doenças da soja, a podridão de 1 milhão de hectares e os prejuízos só não foram catastróficos
Sclerotinia continua causando perdas significativas na Região Sul devido à semeadura do milho.
e nas regiões altas do Cerrado. Além da redução do rendimento, a
doença é importante por ocorrer nas principais regiões produtoras Nos Estados Unidos, os níveis de danos econômicos são
de semente. observados após seis a sete anos do início da infestação. No Brasil,
são relatadas perdas totais em áreas de três a cinco anos de cultivo
Controle: Tratamento químico das sementes; aumentar o de soja. Geralmente, essas áreas apresentam forte infestação de
espaçamento (50-60 cm) e adequar a população para evitar acama- plantas daninhas.
mento; rotação/sucessão de soja com espécies resistentes como o
milho, aveia branca ou trigo e eliminar as plantas daninhas. Evitar Sintoma: A presença do nematóide de cisto é caracterizada
a sucessão da soja em áreas cultivadas com girassol, nabo e canola. por reboleiras de plantas amareladas de diferentes tamanhos. As
plantas infestadas podem morrer aos 30-40 dias da semeadura.
1.8. Podridão parda da haste (Phialophora gregata) Geralmente, o sintoma mais característico é o amarelecimento das
(Foto 42) folhas com acentuado sintoma de deficiência de manganês,
acompanhado de nanismo das plantas, abortamento de flores e
A podridão parda da haste foi identificada pela primeira vez
vagens. O sintoma de deficiência de manganês é mais visível nos
em Passo Fundo-RS e municípios vizinhos, em 1989/90
solos sob cerrado, enquanto no latossolo roxo (Palmital, SP) a
(COSTAMILAN et al., 1991). Desde então, tem causado sérios
deficiência de potássio se acentua. As características mais distintas
danos em diversos municípios do Planalto Central do Rio Grande
para diagnóstico do nematóide é a presença típica dos cistos
do Sul e em Santa Catarina.
(fêmeas) de coloração branca a amarela nas raízes e castanha no
Controle: Cultivares resistentes e rotação/sucessão com solo (Foto 48).
milho, sorgo, arroz, trigo, aveia preta e cevada. As cultivares mais
resistentes no Rio Grande do Sul são: BR-16, Davis, EMBRAPA-1, Controle: A primeira medida a ser adotada é a de evitar a
EMBRAPA-4, EMBRAPA-19, Ivorá e OCEPAR-4=Iguaçú dispersão do nematóide para novas áreas. As principais formas de
(COSTAMILAN & BONATO, 1993). disseminação para áreas indenes são: a) movimentação e transporte
de solo infestado aderido a máquinas e implementos agrícolas,
1.9. Podridão radicular vermelha ou síndrome da morte veículos e calçados; b) erosão eólica; c) erosão por água de chuva;
súbita-SDS (Fusarium solani) (Fotos 43 e 44) d) sementes com partículas de solo contendo cistos; e) aves e
animais silvestres; e f) transporte de soja não beneficiada, contendo
Observada pela primeira vez em São Gotardo (MG) na safra torrões e resíduos contaminados, distribuídos por caminhões, ao
1981/82, na cultivar UFV-1, a podridão vermelha da raiz é hoje um longo das rodovias. A identificação do nematóide na fase inicial de
problema nacional. Ocorre nas principais regiões produtoras de infestação é fundamental para o controle.
semente de Goiás, Minas Gerais, sul do Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul. Além da soja, causa sérios prejuízos em feijão Manejo integrado: A alternativa de controle mais viável e
irrigado sob pivô central. duradoura é o manejo integrado, cujo objetivo é a redução da
população do nematóide a um nível de convivência através da
Controle: A semeadura direta e a monocultura da soja
combinação de diversas práticas agronômicas: a) rotação/sucessão
parecem favorecer a doença, porém, não se dispõe de dados
de culturas com hospedeiros não suscetíveis (algodão, amendoim,
experimentais mais concretos para uma recomendação de manejo.
arroz, cana-de-açúcar, girassol, mandioca, milho, sorgo/aveia,
Entre as cultivares testadas, IAC-1 e IAC-4 foram resistentes.
cevada, trigo, milheto e pastagem); b) adubação verde (mucuna,
Crotalaria); c) controle de plantas daninhas; e d) retardamento da
2. DOENÇAS CAUSADAS POR NEMATÓIDES
semeadura de cultivares precoces.
2.1. Nematóides de galhas (Meloidogyne incognita, M. Na maioria das regiões, a rotação com o milho é a opção
javanica e M. arenaria) (Foto 45) econômica mais viável, porém, sua expansão já está apresentando
sérios problemas de armazenamento e comercialização. As sucessões
Os nematóides de galhas estão entre os maiores responsá- mais viáveis são as culturas de inverno ou de entressafra, com
veis por redução de rendimento em soja. A espécie mais finalidades econômicas ou de cobertura, adubação verde ou
predominante é a M. javanica. complementação de pastagem, como o milheto, sorgo, aveia preta,
Controle: O controle, através de resistência genética, a mucuna e espécies de Crotalaria. A principal limitação no uso
apresenta possibilidades limitadas. A forma mais eficiente e dura- dessas espécies é a pouca disponibilidade de semente, por falta de
doura de conviver com os nematóides de galhas é através da demanda e de estrutura de produção.
rotação/sucessão de culturas com espécies resistentes (algodão, Observações preliminares em lavouras com altas populações
milho, sorgo, aveia, trigo, etc.) e adubação verde com espécies de de nematóides têm mostrado que apenas um ano de rotação com
Crotalaria e mucuna preta (Styzolobium atterrimum). milho não é suficiente para reduzir os prejuízos ao nível de dano
econômico. Portanto, é fundamental que a presença do nematóide
2.2. Nematóide de cisto (Heterodera glycines) (Fotos 46, seja detectada na fase inicial de infestação, para que um ano de
47 e 48) rotação seja eficaz.

10 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94


LITERATURA CONSULTADA E SUGERIDA PANIZZI, A.R. Manejo de Pragas da Soja. Londrina:
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EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Soja (Londrina, PR). CARGILL (ed.). Soja no Brasil Central. 3.ed. Campinas:
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TUDO VALE A PENA,


SE A ALMA NÃO É PEQUENA.

Fernando Pessoa

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94 11


Foto 2. À frente, deficiência de fósforo. Atrás, resposta
ao fósforo aplicado (160 kg P2O5).

Foto 1. Deficiência de nitrogênio.

Foto 4. À direita, plantas com deficiência de fósforo


(0 kg/ha de P2O5) e à esquerda com 300 kg/ha de
P2O5, em latossolo vermelho-amarelo de Balsas-
MA (solo de cerrado de 1º ano de cultivo).

Foto 3. Folha sem deficiência de fósforo (à esquerda) e


com deficiência de fósforo (à direita).

Foto 6. Folha com sintoma de deficiência de potássio.

Foto 5. À frente, parcela com deficiência de potássio. Ao


fundo, parcela com 160 kg de K2O/ha.

Foto 7. Colapso do pecíolo causado pela deficiência de


cálcio. Foto 8. Deficiência de cálcio.

12 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94


Foto 9. Folha com deficiência de magnésio: clorose Foto 10. Folhas com deficiência de manganês: clorose
internerval e nervuras de cor verde-pálido. internerval e nervuras de cor verde-escuro.

Foto 11. Vista de uma lavoura com deficiência de man- Foto 12. Toxidez de manganês em solos ácidos, de origem
ganês induzida pelo excesso e má incorporação basáltica. O sintoma é um encarquilhamento
de calcário, em região de cerrado. com pontos marrons no limbo foliar.

Foto 13. Toxidez de manganês (detalhe do encarquilha- Foto 14. Folhas deficientes em zinco apresentam colora-
mento dos folíolos). ção amarelo-ouro entre as nervuras.

Foto 15. Folha com sintoma avançado de deficiência de Foto 16. Deficiência de cobre em folha nova: necrose nas
zinco, com nervuras de coloração verde-escuro pontas e margens.
intenso.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94 13


Foto 17. Sintomas de deficiência de nitrogênio induzida Foto 18. Folha com deficiência de ferro.
pela deficiência de molibdênio em solo ácido (à
frente); ao fundo, acidez corrigida.

Foto 19. Lagarta da soja: Anticarsia gemmatalis. Foto 20. Percevejo verde: Nezara viridula.

Foto 21. Percevejo verde pequeno: Piezodorus guildinii. Foto 22. Percevejo marrom: Euschistus heros.

Foto 23. Vespa Trissolcus basalis parasitando ovos de Foto 24. Podisus connexivus predando uma lagarta.
percevejo.

14 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94


Foto 25. Lagarta desfolhadora com doença branca Foto 26. Lagarta desfolhadora com doença preta causada
provocada pelo fungo Nomuraea rileyi. pelo vírus Baculovirus anticarsia.

Foto 27. Mancha “olho-de-rã” (Cercospora sojina). Foto 28. Mancha parda ou septoriose (Septoria glycines).

Foto 29. Desfolha por mancha parda (Septoria glycines). Foto 30. Crestamento foliar de Cercospora (C. kikuchii).

Foto 31. Mancha púrpura da semente (Cercospora Foto 32. Cancro da haste: vários estádios de desenvol-
kikuchii). vimento (Diaporthe p. f.sp. meridionalis).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94 15


Foto 34. Cancro da haste: necrose da medula (D. p. f.sp.
meridionalis).

Foto 33. Cancro da haste: lesão inicial com necrose do


lenho (D. p. f.sp. meridionalis).

Foto 35. Antracnose: necrose e seca da vagem (Colleto- Foto 36. Antracnose: necrose superficial na haste (Colle-
trichum dematium var. truncata). totrichum dematium var. truncata).

Foto 37. Seca da haste e da vagem (Phomopsis sojae). Foto 38. Seca da haste e da vagem: deterioração da
vagem e semente (Phomopsis sojae).

Foto 39. Mancha alvo (Corynespora cassiicola). Foto 40. Podridão radicular de Corynespora (C.
cassiicola).

16 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94


Foto 41. Podridão branca da haste (Sclerotinia sclero-
tiorum).

Foto 42. Podridão parda da haste (Phialophora gregata).

Foto 43. Podridão radicular vermelha (SDS), sintoma


secundário de “folha carijó”: (Fusarium
solani).

Foto 44. Podridão radicular vermelha (SDS): necrose


vermelha na raiz (Fusarium solani).

Foto 45. Nematóide de galhas (Meloidogyne spp.).

Foto 46. Nematóide de cisto (Heterodera glycines): rebo-


leira com plantas amarelas ou mortas aos 30-40
dias da semeadura.

Foto 47. Nematóide de cisto (Heterodera glycines): lavou-


ra com sintoma de amarelecimento, nanismo e Foto 48. Nematóide de cisto (Heterodera glycines): cistos
deficiência de manganês no estádio R6. brancos nas raízes.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 66 - JUNHO/94 17

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