Seja o Doutor Da Sua Soja IPCT
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D
e maneira semelhante ao ser humano, a soja necessita estimar as quantidades médias de nutrientes que estão presentes
germinar (nascer), desenvolver vegetativamente nos restos culturais e nos grãos da soja para cada tonelada de
(crescer), atingir a maturidade, florescer e produzir produção de grãos, como os dados apresentados na Tabela 1.
muitos grãos, mas para isto precisa estar sempre bem alimentada,
com saúde, livre de doenças e protegida contra as pragas que O elemento mais requerido pela soja é o nitrogênio. Portanto,
possam lhe atacar e diminuir sua produção de grãos. Portanto, não para uma produção de 3.000 kg/ha, há a necessidade de 246 kg de
adianta semear a melhor variedade, na melhor época, se não se nitrogênio, que são obtidos, em pequena parte, do solo (25% a 35%)
cuidar, antes, do ambiente onde as raízes irão crescer e absorver os e, na maior parte, pela fixação simbiótica do nitrogênio (65% a
nutrientes. Assim, para obter o ótimo retorno econômico do grande 85%). Por estes dados pode-se avaliar a importância de se fazer uma
investimento que a cultura requer, o agricultor necessita estar inoculação bem feita, com inoculante de boa qualidade, para ter
atento à semente a adquirir, às exigências climáticas da cultura e eficiência na fixação simbiótica do nitrogênio do ar a custo zero,
ao manejo do solo. através das bactérias nos nódulos das raízes da soja. Por isso, deve-
se evitar a adubação com nitrogênio mineral, pois além de causar
PROGRAMA DE CORREÇÃO DA FERTILIDADE DO a inibição da nodulação e reduzir a eficiência da fixação simbiótica
SOLO E DE ADUBAÇÃO DA SOJA do nitrogênio atmosférico não aumenta a produtividade da soja.
Quando a adubação for feita com adubo formulado, cuja fórmula
A primeira providência que o médico toma, ao receber um possua nitrogênio e esta seja de menor custo que a mesma fórmula
paciente na primeira consulta, é abrir uma ficha com todos os seus sem nitrogênio, pode-se utilizá-la na semeadura desde que não
dados, o histórico de suas doenças e as de seus genitores ou da ultrapasse 20 kg de N/ha. Para que a fixação simbiótica seja
família, do seu tipo de vida e dos seus hábitos, fazer um exame eficiente, há a necessidade de se corrigir a acidez do solo e fornecer
clínico e solicitar análises clínicas, para então poder formular, com os nutrientes que estejam em quantidades limitantes.
base em todas estas informações, o diagnóstico do paciente e
receitar os remédios adequados ao caso. Na seqüência, os mais exigidos são o potássio, o enxofre e
Do mesmo modo, o engenheiro agrônomo, para ser o o fósforo. Em relação aos micronutrientes, é importante observar
“Doutor da lavoura de soja”, deve abrir uma ficha com diversas as pequenas quantidades necessárias para suprir a cultura da soja,
informações sobre a lavoura e usar as ferramentas necessárias para porém, não se deve deixar faltar nenhum deles, pois todos são
completar as informações e auxiliar na formulação do quadro essenciais, e com a falta de apenas um deles não haverá bom
diagnóstico do “paciente-lavoura de soja” e, então, com maior desenvolvimento e rendimento de grãos (lei do mínimo).
segurança, fazer as recomendações dos remédios e das medidas a
serem tomadas. As ferramentas mencionadas são, no caso, as • Análise foliar: amostragem e interpretação
análises de solo e de folhas, que, mais adiante, serão abordadas
juntamente com as recomendações de calcário e de adubos. A análise de planta, para a produção agrícola, é conven-
cionalmente definida pela concentração dos nutrientes inorgânicos
Não custa lembrar que a atividade agrícola, como qualquer
no tecido da planta. Na recomendação de adubação, a análise foliar
empresa bem organizada, necessita ter um planejamento de
também deve ser usada como uma das ferramentas do “doutor da
utilização de todas as áreas, a médio e longo prazos, prevendo um
soja”, visando alcançar a máxima produtividade e a melhor qua-
programa de rotação de culturas, permitindo, assim, que todas as
lidade de grãos.
providências para execução das operações sejam tomadas com
bastante antecedência e tudo seja realizado na data prevista. Para ser válida a comparação com os dados das tabelas de
nível de suficiência, as amostras de folhas de soja devem ser colhi-
• Exigências nutricionais da soja das no período entre o início da floração e o pleno florescimento,
A absorção de nutrientes pela soja é influenciada por coletando-se 30-40 folhas recém-maduras com pecíolo, que corres-
diversos fatores, entre eles as condições climáticas, como chuva e pondem às 3ª e 4ª folhas trifolioladas a partir do ápice da haste
principal (para um talhão, ou gleba, entre 50 a 100 ha).
1
Engº Agrº, PhD, Pesquisador em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas da O conceito de limites de suficiência classifica a concentração
EMBRAPA-CNPSo. de elementos nas categorias: deficiente (ou muito baixo), baixo,
2
Engº Agrº, PhD, Pesquisador em Fitopatologia da EMBRAPA-CNPSo. suficiente (ou médio), alto e excessivo ou muito alto (às vezes
3
Bióloga, Dra., Pesquisadora em Entomologia da EMBRAPA-CNPSo.
4
Engº Agrº, Dr., Pesquisador em Fitopatologia da EMBRAPA-CNPSo.
tóxico). Esta classificação de concentração dos elementos na
5
Engº Agrº, Dr., Pesquisador em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas da Tabela 2 é usada na interpretação de análises de tecido de folhas de
EMBRAPA-CNPSo. soja.
N P K S Ca Mg B Cl Mo Cu Fe Mn Zn Al
- - - - - - - - - kg em cada tonelada - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - g em cada tonelada - - - - - - - - - - - - - - - -
Tabela 2. Concentração de elementos usada para a interpretação de análises de tecido de folhas1 de soja.
Elemento Deficiente ou muito baixo Baixo Suficiente ou médio Alto Excessivo ou muito alto
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (%) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
N < 3,25 3,25-4,00 4,01-5,50 5,51-7,00 > 7,00
P < 0,16 0,16-0,25 0,26-0,50 0,51-0,80 > 0,80
K < 1,25 1,25-1,70 1,71-2,50 2,51-2,75 > 2,75
Ca < 0,20 0,20-0,35 0,36-2,00 2,01-3,00 > 3,00
Mg < 0,10 0,10-0,25 0,26-1,00 1,01-1,50 > 1,50
S < 0,15 0,15-0,20 0,21-0,40 0,40 -
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (ppm) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Mn < 15 15-20 21-100 101-250 > 250
Fe < 30 30-50 51-350 351-500 > 500
B < 10 10-20 21-55 56-80 > 80
Cu < 5 5-9 10-30 31-50 > 50
Zn < 11 11-20 21-50 51-75 > 75
Mo < 0,5 0,5-0,9 1,0-5,0 5,1-10 > 10
1
Terceira a quarta folha trifoliolada abaixo da gema apical, no início da floração à floração plena.
Fonte: SFREDO et al. (1986).
Quando se deseja fazer a análise de micronutrientes na necessidade de 160 a 210 kg de nitrogênio fornecidos pela fixação
amostra é aconselhável a imersão rápida das folhas em água des- simbiótica, para armazenamento na folha e para translocamento no
mineralizada para retirar a poeira das folhas (devido à contamina- período de enchimento de grãos, e a planta já deve ter nas folhas (3ª
ção por ferro, manganês e zinco, principalmente), colocando-as e 4ª folhas do botão terminal para baixo) mais de 4,5% de N na
para secar ao sol ou em estufa (cuidar para que a temperatura da floração (R1-R2), para não haver quebra no rendimento de grãos.
estufa não ultrapasse os 60oC, para evitar a decomposição e a perda
de alguns elementos, o que irá alterar o resultado da análise). • Fósforo
SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA E DE TOXICIDADE DE Os sintomas de deficiência deste elemento às vezes não são
NUTRIENTES NA SOJA muito bem definidos. Os sintomas de deficiência de fósforo são
caracterizados nas folhas maduras por uma cor verde-escuro, mas
• Nitrogênio os sintomas principais são o crescimento lento, com plantas
raquíticas, de folhas pequenas e muitas vezes verde-escuro azuladas
A lavoura de soja com deficiência de nitrogênio vai perdendo (Fotos 2, 3 e 4). Por causa da alta mobilidade do P na planta, sob
a cor verde-escuro, passando a verde-pálido com um leve amarelado condições de deficiência há o translocamento do elemento das
e, dias mais tarde, todas as folhas tornam-se amarelas. Este sin- folhas mais velhas para as mais novas, esgotando as reservas de P
toma aparece primeiro nas folhas inferiores mas espalha-se nas folhas mais velhas, onde o sintoma aparece primeiro. A
rapidamente pelas folhas superiores (Foto 1). O sintoma aparece, deficiência de fósforo pode ocorrer em quase todos solos ácidos
por último, nas folhas novas porque o N é um elemento extre- tropicais, com baixo pH e alta capacidade de fixação de P (Foto 4,
mamente móvel na planta, sendo translocado dos tecidos velhos em Balsas, MA). Além disso, o limitado fornecimento de fósforo
para as folhas novas. O crescimento da planta é lento, com plantas reduz o número e a eficiência dos nódulos e, como conseqüência,
menores e de baixa produção. O sintoma visual de deficiência de a fixação simbiótica do nitrogênio. Altos teores de fósforo no solo
nitrogênio só irá ocorrer quando não for feita a inoculação da podem induzir à deficiência de zinco desde que esses altos teores
semente de soja e ela for semeada em solos que nunca foram estejam associados com reduzidas absorção e translocação de Zn,
cultivados com esta leguminosa (mesmo assim ela pode nodular Fe e Cu.
com estirpes nativas de baixa eficiência), ou quando a eficiência da
fixação do N do ar é baixa devido à inibição pela acidez do solo ou
• Potássio
à falta de algum nutriente essencial na simbiose soja-bactéria.
Mesmo em solos já anteriormente cultivados com soja, a falta de A baixa disponibilidade de potássio sem o aparecimento
inoculação na semeadura faz com que ela seja nodulada por visual da deficiência deste causa a “fome oculta”, ou seja, a redução
bactérias de baixa eficiência já existentes no solo. Nestas na taxa de crescimento da planta com redução da produção de soja
circunstâncias, mesmo não aparecendo sintomas visuais de (Foto 5). Quando a deficiência é mais severa, o aparecimento dos
deficiência de N nas folhas, o suprimento deste fica limitado para sintomas visuais começa com um mosqueado amarelado nas
as exigências da planta e a produtividade é reduzida. Como já foi bordas dos folíolos das folhas da parte inferior da planta. Estas
mencionado, para produções de 3.000 kg de grãos/ha há a áreas cloróticas avançam para o centro dos folíolos, dando-se então
Semeadura Período vegetativo Floração Formação de vagens Enchimento de vagens Maturação Colheita
30% de desfolha ou
15% de desfolha ou 40 lagartas/pano de batida*
40 lagartas/pano de batida*
*
Maiores de 1,5 cm; ** Maiores de 0,5 cm.
1. DOENÇAS FÚNGICAS mancozeb (80PM) (250g + 1.600 g); c) carbendazim (75PM) (250
g); d) fentin hidróxido de estanho (40F) (200 g); e) tiabendazol
Entre os principais fatores que limitam o rendimento da (40F) (400 g).
soja, as doenças são os mais importantes e de difícil controle. Cerca
de 40 doenças causadas por fungos, bactérias, nematóides e vírus 1.3. Cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f. sp.
afetam a cultura no Brasil. A importância econômica de cada meridionalis/Phomopsis phaseoli f. sp. meridionalis) (Fotos 32,
doença varia de ano para ano e de região para região, dependendo 33 e 34)
da condição climática de cada safra. Ao nível nacional, o valor das
perdas anuais por doenças é estimada em cerca de US$ 2 bilhões. O fungo é disseminado por sementes contaminadas,
multiplica-se nas primeiras plantas infectadas e, posteriormente,
A maioria dos patógenos da soja é transmitida através das
nos restos culturais. A ocorrência da doença depende da
sementes, e o uso de sementes contaminadas, originadas de dife-
suscetibilidade da cultivar e de chuvas freqüentes nos primeiros
rentes áreas de produção, tem sido importante causa de introdução
40-50 após a emergência.
e aumento de novas doenças ou de raças fisiológicas de patógenos.
O uso de sementes sadias, ou o seu tratamento químico, evitaria a Controle: Uso de cultivar resistente. A atual falta de
disseminação. semente de cultivares resistentes exige a adoção de medidas
capazes de reduzir o potencial de inóculo do patógeno e de
PRINCIPAIS DOENÇAS E MEDIDAS DE CONTROLE melhorar as condições nutricionais das plantas. Assim, além de
cultivar resistente, é essencial complementar com tratamento de
O controle das doenças através de resistência genética é o semente, rotação/sucessão de culturas, incorporação dos restos
modo mais eficaz e econômico, porém, para a maioria das doenças, culturais, semeadura tardia, população e espaçamento que evitem
não existem cultivares resistentes. A eliminação ou a manutenção o estiolamento e o acamamento e adubação potássica equilibrada.
das doenças, ao nível de dano econômico, depende do conhecimento
das exigências específicas de cada uma delas e da integração de 1.4. Antracnose (Colletotrichum dematium var. truncata)
várias práticas culturais, onde se incluem: rotação/sucessão de (Fotos 35 e 36)
culturas, tratamento químico da semente, resistência varietal,
A antracnose é uma das principais doenças do Cerrado.
calagem e adubação equilibrada, população adequada e melhor
Pode causar perda total mas, com maior freqüência, reduz o
época de semeadura, controle de plantas daninhas e, eventualmente,
número de vagens e induz a planta à retenção foliar e haste verde.
o tratamento químico da parte aérea.
O sintoma na haste (Foto 36) é facilmente confundido com a fase
1.1. Mancha “olho-de-rã” (Cercospora sojina) (Foto 27) inicial do cancro da haste (Foto 37).
Já foi uma das mais sérias da cultura da soja e poderá voltar Controle: Rotação/sucessão de culturas, maior espaça-
a causar grandes prejuízos se não houver diversificação genética mento entre as linhas e população adequada, controle de plantas
das cultivares, principalmente no Cerrado, onde cerca de 60% é daninhas, tratamento da semente e manejo adequado do solo, com
representada por uma cultivar, a “FT-Cristalina”. O fungo C. ênfase na adubação potássica.
sojina ataca toda a parte aérea, porém, é mais visível nas folhas
onde produz manchas circulares, medindo de 1 a 4 mm de diâme- 1.5. Seca da haste e da vagem ou Phomopsis da semente
tro. (Phomopsis sojae e outras espécies) (Fotos 37 e 38)
Controle: cultivares resistentes e tratamento químico da É uma das doenças mais tradicionais da soja e, anualmente,
semente. junto com a antracnose, é responsável pelo descarte de grande
número de lotes de sementes. Ocorre principalmente em anos
1.2. Doenças de final de ciclo: mancha parda (Septoria
chuvosos, causando morte prematura (Foto 37) ou apodrecimento
glycines) (Fotos 28 e 29) e crestamento foliar e mancha púrpura
das vagens e sementes quando ocorre retardamento de colheita por
da semente (Cercospora kikuchii) (Fotos 30 e 31)
excesso de umidade (Foto 38).
Tanto a mancha parda como o crestamento foliar de Controle: Idem ao da antracnose.
Cercospora/mancha púrpura da semente são de ocorrência gene-
ralizada, mas são mais perigosas nas regiões quentes e chuvosas
1.6. Mancha alvo e podridão da raiz (Corynespora
do Cerrado. Seus efeitos são mais visíveis na fase de maturação e
cassiicola) (Fotos 39 e 40)
reduzem o rendimento por causarem desfolha prematura. Sob
condições favoráveis, a redução da produtividade pode atingir a Presente em todas as regiões produtoras de soja, além de
mais de 30%. manchas foliares (Foto 39), o fungo causa podridão da raiz (Foto
40), forçando a planta à maturação antecipada. Aparentemente há
Controle: Rotação/sucessão de culturas, incorporação dos
variação de patogenicidade entre a Corynespora cassiicola que
restos culturais, tratamento de semente e adubação equilibrada,
causa a mancha foliar e a podridão da raiz. Essa hipótese está sendo
com ênfase no potássio. O controle pode também ser obtido com
investigada.
uma ou duas aplicações preventivas de fungicidas, iniciando no
estádio R5.5 (75% de vagem formada). A segunda deve ser feita Controle: A maioria das cultivares comerciais são tolerantes
10-12 dias após a primeira (estádio R6). Os fungicidas e dosagens à mancha foliar, porém, não há informação detalhada sobre a
(i.a./ha) são: a) benomil (50PM) (500 g); b) benomil (50PM) + reação à podridão da raiz. Como o fungo C. cassiicola possui uma
1.7. Podridão branca da haste ou podridão de Sclerotinia Importância econômica: Na safra 1991/92, a área afetada
(Sclerotinia sclerotiorum) (Foto 41) foi estimada em 10 mil hectares, com perda avaliada em US$ 1 mi-
lhão. Na safra 1993/94, a área infestada foi estimada em cerca de
Uma das mais antigas doenças da soja, a podridão de 1 milhão de hectares e os prejuízos só não foram catastróficos
Sclerotinia continua causando perdas significativas na Região Sul devido à semeadura do milho.
e nas regiões altas do Cerrado. Além da redução do rendimento, a
doença é importante por ocorrer nas principais regiões produtoras Nos Estados Unidos, os níveis de danos econômicos são
de semente. observados após seis a sete anos do início da infestação. No Brasil,
são relatadas perdas totais em áreas de três a cinco anos de cultivo
Controle: Tratamento químico das sementes; aumentar o de soja. Geralmente, essas áreas apresentam forte infestação de
espaçamento (50-60 cm) e adequar a população para evitar acama- plantas daninhas.
mento; rotação/sucessão de soja com espécies resistentes como o
milho, aveia branca ou trigo e eliminar as plantas daninhas. Evitar Sintoma: A presença do nematóide de cisto é caracterizada
a sucessão da soja em áreas cultivadas com girassol, nabo e canola. por reboleiras de plantas amareladas de diferentes tamanhos. As
plantas infestadas podem morrer aos 30-40 dias da semeadura.
1.8. Podridão parda da haste (Phialophora gregata) Geralmente, o sintoma mais característico é o amarelecimento das
(Foto 42) folhas com acentuado sintoma de deficiência de manganês,
acompanhado de nanismo das plantas, abortamento de flores e
A podridão parda da haste foi identificada pela primeira vez
vagens. O sintoma de deficiência de manganês é mais visível nos
em Passo Fundo-RS e municípios vizinhos, em 1989/90
solos sob cerrado, enquanto no latossolo roxo (Palmital, SP) a
(COSTAMILAN et al., 1991). Desde então, tem causado sérios
deficiência de potássio se acentua. As características mais distintas
danos em diversos municípios do Planalto Central do Rio Grande
para diagnóstico do nematóide é a presença típica dos cistos
do Sul e em Santa Catarina.
(fêmeas) de coloração branca a amarela nas raízes e castanha no
Controle: Cultivares resistentes e rotação/sucessão com solo (Foto 48).
milho, sorgo, arroz, trigo, aveia preta e cevada. As cultivares mais
resistentes no Rio Grande do Sul são: BR-16, Davis, EMBRAPA-1, Controle: A primeira medida a ser adotada é a de evitar a
EMBRAPA-4, EMBRAPA-19, Ivorá e OCEPAR-4=Iguaçú dispersão do nematóide para novas áreas. As principais formas de
(COSTAMILAN & BONATO, 1993). disseminação para áreas indenes são: a) movimentação e transporte
de solo infestado aderido a máquinas e implementos agrícolas,
1.9. Podridão radicular vermelha ou síndrome da morte veículos e calçados; b) erosão eólica; c) erosão por água de chuva;
súbita-SDS (Fusarium solani) (Fotos 43 e 44) d) sementes com partículas de solo contendo cistos; e) aves e
animais silvestres; e f) transporte de soja não beneficiada, contendo
Observada pela primeira vez em São Gotardo (MG) na safra torrões e resíduos contaminados, distribuídos por caminhões, ao
1981/82, na cultivar UFV-1, a podridão vermelha da raiz é hoje um longo das rodovias. A identificação do nematóide na fase inicial de
problema nacional. Ocorre nas principais regiões produtoras de infestação é fundamental para o controle.
semente de Goiás, Minas Gerais, sul do Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul. Além da soja, causa sérios prejuízos em feijão Manejo integrado: A alternativa de controle mais viável e
irrigado sob pivô central. duradoura é o manejo integrado, cujo objetivo é a redução da
população do nematóide a um nível de convivência através da
Controle: A semeadura direta e a monocultura da soja
combinação de diversas práticas agronômicas: a) rotação/sucessão
parecem favorecer a doença, porém, não se dispõe de dados
de culturas com hospedeiros não suscetíveis (algodão, amendoim,
experimentais mais concretos para uma recomendação de manejo.
arroz, cana-de-açúcar, girassol, mandioca, milho, sorgo/aveia,
Entre as cultivares testadas, IAC-1 e IAC-4 foram resistentes.
cevada, trigo, milheto e pastagem); b) adubação verde (mucuna,
Crotalaria); c) controle de plantas daninhas; e d) retardamento da
2. DOENÇAS CAUSADAS POR NEMATÓIDES
semeadura de cultivares precoces.
2.1. Nematóides de galhas (Meloidogyne incognita, M. Na maioria das regiões, a rotação com o milho é a opção
javanica e M. arenaria) (Foto 45) econômica mais viável, porém, sua expansão já está apresentando
sérios problemas de armazenamento e comercialização. As sucessões
Os nematóides de galhas estão entre os maiores responsá- mais viáveis são as culturas de inverno ou de entressafra, com
veis por redução de rendimento em soja. A espécie mais finalidades econômicas ou de cobertura, adubação verde ou
predominante é a M. javanica. complementação de pastagem, como o milheto, sorgo, aveia preta,
Controle: O controle, através de resistência genética, a mucuna e espécies de Crotalaria. A principal limitação no uso
apresenta possibilidades limitadas. A forma mais eficiente e dura- dessas espécies é a pouca disponibilidade de semente, por falta de
doura de conviver com os nematóides de galhas é através da demanda e de estrutura de produção.
rotação/sucessão de culturas com espécies resistentes (algodão, Observações preliminares em lavouras com altas populações
milho, sorgo, aveia, trigo, etc.) e adubação verde com espécies de de nematóides têm mostrado que apenas um ano de rotação com
Crotalaria e mucuna preta (Styzolobium atterrimum). milho não é suficiente para reduzir os prejuízos ao nível de dano
econômico. Portanto, é fundamental que a presença do nematóide
2.2. Nematóide de cisto (Heterodera glycines) (Fotos 46, seja detectada na fase inicial de infestação, para que um ano de
47 e 48) rotação seja eficaz.
COSTAMILAN, L.M.; BONATO, E.R.; REIS, E.M.; YORINORI, SOUZA, D.M.G. de; MIRANDA, L.N. de; LOBATO, E.
J.T. Brown stem rot, a new soybean disease in Rio Grande do Interpretação de análise de terra e recomendação de adubos
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128p. (EMBRAPA-CNPSo. Documentos, 62)
YORINORI, J.T. Doenças da Soja no Brasil. In: FUNDAÇÃO
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FERREIRA, B.S., VILLAS BÔAS, G.L., MOSCARDI, F.; 1989. p.1275-83.
Fernando Pessoa
Foto 11. Vista de uma lavoura com deficiência de man- Foto 12. Toxidez de manganês em solos ácidos, de origem
ganês induzida pelo excesso e má incorporação basáltica. O sintoma é um encarquilhamento
de calcário, em região de cerrado. com pontos marrons no limbo foliar.
Foto 13. Toxidez de manganês (detalhe do encarquilha- Foto 14. Folhas deficientes em zinco apresentam colora-
mento dos folíolos). ção amarelo-ouro entre as nervuras.
Foto 15. Folha com sintoma avançado de deficiência de Foto 16. Deficiência de cobre em folha nova: necrose nas
zinco, com nervuras de coloração verde-escuro pontas e margens.
intenso.
Foto 19. Lagarta da soja: Anticarsia gemmatalis. Foto 20. Percevejo verde: Nezara viridula.
Foto 21. Percevejo verde pequeno: Piezodorus guildinii. Foto 22. Percevejo marrom: Euschistus heros.
Foto 23. Vespa Trissolcus basalis parasitando ovos de Foto 24. Podisus connexivus predando uma lagarta.
percevejo.
Foto 27. Mancha “olho-de-rã” (Cercospora sojina). Foto 28. Mancha parda ou septoriose (Septoria glycines).
Foto 29. Desfolha por mancha parda (Septoria glycines). Foto 30. Crestamento foliar de Cercospora (C. kikuchii).
Foto 31. Mancha púrpura da semente (Cercospora Foto 32. Cancro da haste: vários estádios de desenvol-
kikuchii). vimento (Diaporthe p. f.sp. meridionalis).
Foto 35. Antracnose: necrose e seca da vagem (Colleto- Foto 36. Antracnose: necrose superficial na haste (Colle-
trichum dematium var. truncata). totrichum dematium var. truncata).
Foto 37. Seca da haste e da vagem (Phomopsis sojae). Foto 38. Seca da haste e da vagem: deterioração da
vagem e semente (Phomopsis sojae).
Foto 39. Mancha alvo (Corynespora cassiicola). Foto 40. Podridão radicular de Corynespora (C.
cassiicola).