1783 1792 A Viagem Filosofica de Alexand
1783 1792 A Viagem Filosofica de Alexand
1783 1792 A Viagem Filosofica de Alexand
Este
artigo
foi
adaptado
a
partir
do
livro
“Grandes
Expedições
à
Amazônia
Brasileira
1500
-‐
1930”,
que
acompanha
41
viajantes
à
Amazônia,
desde
o
maravilhamento
de
Pinzón
com
la
Mar
Dulce,
em
1500,
ao
pacificador
Cândido
Rondon,
nas
primeiras
décadas
do
XX.
É
autorizada
a
reprodução
total
ou
parcial
sem
fins
lucrativos
do
texto,
desde
que
citada
a
fonte.
Referência
bibliográfica:
MEIRELLES
FILHO,
J.C.S.
Grandes
expedições
à
Amazônia
Brasileira
–
1500
-‐
1930.
São
Paulo:
Metalivros,
2009.
240
p.
29,5
x
30,0
cm.
ISBN:
8585371781.
Obra
distribuída
pela
Martins
Fontes:
http://www.martinsfontespaulista.com.br/busca/3/0/0/MaisRecente/Decrescente/20/1////joao-‐
meirelles-‐filho.aspx
1
A
Viagem
Filosófica
de
Alexandre
Rodrigues
Ferreira
–
1783-‐1792
A
terra
em
si,
Senhor
excelentíssimo,
é
um
paraíso;
aqui
mesmo
são
tantas
as
produções
que
eu
não
sei
a
que
lado
me
volte
[FERREIRA,
1783,
Carta
a
Martinho
de
Melo
e
Castro,
ao
chegar
a
Belém,
após
51
dias
de
viagem
de
Salvador].
1. O
contexto
O
forte
impacto
nos
cofres
do
reino
a
partir
do
acentuado
declínio
da
remessa
de
ouro
de
Mato
Grosso,
Goiás
e
Minas
Gerais
da
década
de
1760
em
diante
forçará
Portugal
a
lançar
novas
estratégias
para
salvar
as
colônias.
Urge
apropriar-‐se
de
conhecimentos
acerca
do
potencial
das
plantas,
minérios
e
povos
para
encontrar
novas
fontes
de
renda
e
garantir
a
posse
da
terra
conquistada.
O
reinado
de
D.
Maria
I,
a
partir
de
1770,
já
modernizado
pelo
Iluminismo
do
período
pombalino,
verá
um
longo
estirão
de
estabilidade
na
gestão
de
Martinho
de
Melo
e
Castro,
por
25
anos
à
frente
da
Secretaria
de
Estado
da
Marinha
e
Domínios
Ultramarinos.
Com
a
intervenção
direta
deste
e
com
a
orientação
técnica
do
naturalista
italiano
radicado
em
Portugal
Domenico
Vandelli,
a
coroa
enviará
os
mais
ilustres
alunos
deste
último
a
dirigir
as
três
expedições
filosóficas
–
à
África,
Ásia
e
Amazônia1.
Na
década
de
1780,
na
Amazônia,
a
segunda
leva
de
demarcações
de
fronteiras
(a
partir
do
Tratado
de
Santo
Ildefonso)
estará
em
curso.
Ao
mesmo
tempo,
uma
nova
economia
surge
a
partir
da
expulsão
dos
religiosos,
do
florescimento
de
São
Luís,
da
introdução
de
escravos
vindos
de
África
e
do
sucesso
da
Companhia
Geral
do
Grão-‐Pará
e
Maranhão.
Em
princípio,
o
Tratado
de
Madrid
(1750)
e
o
Tratado
de
Santo
Ildefonso
(1777)
incentivaram
a
produção
do
conhecimento
geográfico,
mas
a
Secretaria
de
Estado
da
Marinha
e
Negócios
Ultramarinos
exigia
dos
demarcadores
o
avanço
da
história
natural,
sobretudo
depois
de
criado
o
Museu
de
História
Natural,
que
reuniria
coleções
de
plantas,
animais
e
minerais
dos
mais
distantes
rincões
das
conquistas.
As
coleções
serviam
muito
mais
ao
deleite
das
cortes
que
propriamente
como
objeto
da
ciência.
Como
assevera
o
eminente
zoólogo
Paulo
Vanzolini,
Portugal
demonstra
enorme
desprezo
por
conhecer
cientificamente
as
colônias:
com
exceção
do
grande
e
completo
(e
muito
posterior)
José
1
Além
de
Alexandre
Rodrigues
Ferreira
para
o
Grão-‐Pará,
seguirá
para
Angola
o
brasileiro
Manuel
Galvão
da
Silva;
para
Goa
(na
Índia)
e
depois
Moçambique
(na
África),
Joaquim
José
da
Silva;
e
João
da
Silva
Feijó
para
Cabo
Verde.
Todos
assumem
cargos
burocráticos
ou
têm
a
viagem
suspensa
por
falta
de
apoio
local,
ou
seja,
de
maneira
geral,
somente
a
de
Ferreira
cumprirá
o
papel
que
fora
demandado.
2
Vicente
Barbosa
du
Bocage
(1857-‐1901),
nenhum
zoólogo
português
de
relevo
jamais
se
ocupou
da
fauna
das
colônias
[VANZOLINI,
2004,
p.
9].
Ao
que
complementa:
Se
a
geografia
permitia
a
delimitação
das
fronteiras,
a
história
natural
reunia
notícias
de
plantas,
lavouras
e
comunidades
indígenas,
responsáveis
pela
efetiva
ocupação
dos
limites
e
fomento
do
comércio
local
[RAMINELLI,
2008,
p.
11].
No
entanto,
se
tais
atitudes
parecem
modernizantes,
estaremos
diante
de
um
Portugal
decrépito,
como
lembra
o
historiador
Charles
Boxer:
um
profundo
conservadorismo
e
uma
profunda
relutância
em
ajustarem-‐se
a
um
mundo
em
evolução
tornaram-‐se
as
características
fundamentais
dos
Portugueses.
O
Império
Espanhol
pode
ter-‐se
tornado
artístico,
mas
o
português
possuía
a
rigidez
de
um
cadáver
(…)
O
Império
Português,
rígido,
ortodoxo,
decadente,
a
apodrecer
como
uma
antiga
ruína
no
calor
tropical,
subsistiu
pela
inércia
[BOXER,
1981,
p.
21-‐2].
2. Alexandre
Rodrigues
Ferreira
O
baiano
Alexandre
Rodrigues
Ferreira
nasce
em
1756.
Os
pais,
comerciantes
em
Salvador,
queriam-‐no
na
carreira
eclesiástica
e
enviam-‐no
para
estudar
em
Coimbra,
Portugal.
Bacharela-‐se
em
Leis
e,
logo
após,
em
Filosofia
Natural
e
Matemática.
Prossegue
na
universidade,
agora
como
demonstrador
de
História
Natural
e,
a
seguir,
no
Real
Museu
D’Ajuda.
Em
1780,
torna-‐se
membro
correspondente
da
Real
Academia
das
Ciências
de
Lisboa.
Vandelli
o
seleciona
para
dirigir
a
expedição
filosófica
ao
Grão-‐Pará,
que
lhe
demandará
a
energia
dos
27
aos
36
anos.
Antes
de
embarcar
de
retorno
a
Portugal,
casa-‐se
no
Pará.
Recebe
a
Ordem
do
Hábito
de
Cristo
e
na
corte
exercerá
diferentes
cargos,
entre
os
quais
o
de
diretor
interino
do
Real
Gabinete
de
História
Natural
e
Jardim
Botânico.
Diferentemente
do
que
se
esperava
de
um
cientista,
pouca
dedicação
empresta
a
se
aprofundar
nos
estudos
relacionados
à
Viagem
Filosófica,
uma
vez
que
Ferreira
encarava
o
desafio
como
segunda
prioridade
entre
os
muitos
afazeres
como
burocrata
do
reino2.
Em
1808,
na
invasão
de
Lisboa,
viu
boa
parte
do
que
coletou
ser
saqueado
pelo
naturalista
francês
Geoffroy
Saint-‐Hilaire
como
troféu
de
guerra
e
levado
para
a
França
napoleônica3.
Após
longo
período
adoecido,
falece
em
1815.
2
Em
busca
de
cargos
de
prestígio
e
enfrentando
conjuntura
desfavorável,
os
naturalistas
deixaram
de
produzir
conhecimento
e
provocaram
o
esvaziamento
dos
museus
e
academias,
fenômeno
evidente
nos
primeiros
anos
do
século
XIX
[RAMINELLI,
2008,
p.
8].
3
Napoleão
possuía
plena
consciência
da
importância
em
recolher
os
tesouros
culturais
dos
países
vencidos,
como
fizera
no
Egito
a
partir
de
1798.
3
3. Principais
colaboradores
Entre
os
principais
colaboradores
destacam-‐se
os
riscadores
(desenhistas)
Joaquim
José
Codina
(que
morre
no
Rio
Jauru,
em
1791)
e
José
Joaquim
Freire
(segundo-‐tenente
e
cartógrafo
do
Museu
Real,
de
Lisboa)
e
o
preparador
(jardineiro,
naturalista
e
botânico)
Agostinho
Joaquim
do
Cabo,
do
Real
Gabinete
de
História
Natural
de
Lisboa,
que
morre
no
Rio
Negro
em
1791.
4. O
percurso
da
Viagem
Filosófica
Segundo
recentes
pesquisas
de
Ermelinda
Moutinho
Pataca
e
Rachel
Pinheiro,
inicialmente,
Vandelli
preparava
uma
única
expedição,
planejada
para
percorrer
as
costas
do
Pará,
a
ilha
de
Marajó,
o
rio
Xingu,
os
rios
Amazonas,
Tapajós,
Madeira
até
o
Mato
Grosso,
devendo
regressar
pelo
rio
Tocantins
(Memória
sobre
a
viagem
do
Pará).
Nesses
planos
iniciais,
cada
membro,
naturalista
ou
desenhista,
teria
uma
função
específica
de
forma
complementar.
Mas,
em
1782,
essa
expedição
se
desmembrou
e
foram
criadas
mais
três
Viagens
Filosóficas
[PATACA
e
PINHEIRO,
2005,
p.
58].
Na
verdade,
não
se
trata
de
uma
única
expedição
de
nove
anos
e,
sim,
de
um
conjunto
do
que
podemos
dividir
em
pelo
menos
cinco
circuitos.
São
viagens
detalhadamente
planejadas
e
supervisionadas
de
Lisboa
por
Melo
e
Castro,
que
se
comunica
tanto
com
Ferreira
como
com
os
governadores
locais,
instruindo-‐os
acerca
do
que
fazer
para
garantir
à
Viagem
Filosófica
o
necessário
apoio
logístico
local
(militares,
remeiros,
embarcações,
suprimentos
etc.).
O
primeiro
conjunto
de
viagens
será
dedicado
ao
entorno
de
Santa
Maria
do
Grão-‐Pará
(Belém),
a
Ilha
do
Marajó
(Ilha
de
Joannes
à
época)
e
o
baixo
Tocantins,
à
altura
de
Cametá.
A
segunda
viagem,
em
setembro
de
1784,
será
à
vila
de
Barcelos
(antiga
aldeia
carmelita
de
Mariuá),
no
alto
Rio
Negro,
havia
trinta
anos
sede
da
capitania
do
Rio
Negro.
O
percurso
exigirá
seis
meses.
Demora-‐se
em
Barcelos
outros
quatro
meses,
de
onde
partirá
em
fins
de
1785
para
explorar
o
alto
Rio
Negro
e
o
Rio
Branco
até
a
fronteira
com
os
domínios
de
Holanda
e
Espanha
(por
mais
quatro
meses).
A
terceira
grande
missão,
e
que
lhe
absorve
quatro
anos,
inicia-‐se
em
agosto
de
1788.
De
Barcelos
desce
o
Rio
Negro
e
um
pequeno
trecho
do
Amazonas.
Na
etapa
que
pode
ser
considerada
a
mais
difícil,
durante
pouco
mais
de
treze
meses
sobe
o
Rio
Madeira
e
seu
formador,
o
Guaporé,
fronteira
internacional
de
Portugal
com
Espanha,
até
Vila
Bela
da
Santíssima
Trindade.
É
nesse
trecho
que
Ferreira
enfrentará
os
maiores
desafios
da
vida,
na
penosa
travessia
das
cachoeiras
do
Madeira,
com
a
deserção,
doença
e
morte
de
índios
remeiros.
4
Conforme
se
pode
depreender
dos
diários,
Ferreira
perceberá
a
fragilidade
da
situação
e
a
necessidade
de
compreender
o
índio
como
igual
e
não
apenas
como
uma
máquina
de
remar.
Ferreira
solicita
retorno
a
Lisboa;
no
entanto,
Melo
e
Castro
ainda
lhe
reserva
penosa
missão.
Na
quarta
viagem,
prossegue
para
a
Bacia
do
Rio
da
Prata,
adentrando
o
Pantanal
e
navegando
no
São
Lourenço
e
no
Cuiabá.
Desce
o
Rio
Paraguai
até
o
Forte
de
Coimbra
(atualmente
em
Corumbá,
Mato
Grosso
do
Sul,
a
100
quilômetros
rio
abaixo
da
sede
deste
município).
Desse
momento
em
diante,
empreenderá
longo
retorno
seguindo
o
mesmo
trajeto,
chegando
a
Belém
em
1792,
nove
anos
depois
de
partir.
5. As
obras
Inexiste
uma
obra
única
sob
o
nome
de
Viagem
Filosófica
pelas
Capitanias
do
Grão-‐Pará,
Rio
Negro,
Mato
Grosso
e
Cuiabá.
Não
houve,
da
parte
de
Ferreira,
ou
do
governo
português
à
época,
esforço
para
a
sistematização
das
anotações
e
do
enorme
material
coletado.
Hoje
deparamos
com
57
breves
trabalhos
(notas
técnicas)
sobre
temas
diversos,
que
praticamente
não
receberam
atenção
à
época.
Vale
destacar
a
série
de
memórias,
escritas
entre
1787
e
1789,
sobre
nações
indígenas
que
conheceu,
muitas
das
quais
extintas,
como
Cambeba,
Caripuna
e
Mura,
entre
outros4.
Escreveu,
ainda,
Memórias
sobre
as
cuias;
Memórias
sobre
a
louça,
Memórias
sobre
as
malocas
dos
Curutus,
Memórias
sobre
as
salvas
de
palhinha.
Os
diários
reúnem
preciosos
registros
sobre
a
vida
na
região
no
final
do
século
XVIII,
como
esta
passagem
sobre
as
tartarugas
no
Rio
Negro
(vaca
cotidiana
das
mesas
portuguesas,
como
Ferreira
denominava):
Em
uma
palavra,
das
53.468
tartarugas
que
desde
o
ano
de
1780
até
o
de
1785
entraram
em
ambos
os
currais
de
demarcação
e
da
capitania,
aproveitaram-‐se
tão
somente
36.007
e
morreram
17.461.
Hoje
seu
material
está
distribuído
entre
o
Rio
de
Janeiro
(Biblioteca
Nacional
e
Museu
Nacional),
Portugal
(Museu
da
Ajuda)
e
França.
Vale
notar
que
Agostinho
José
do
Cabo
também
deixa
um
diário
e
uma
coleção
de
artefatos
indígenas
(entre
museus
de
Lisboa,
Madrid
e
Paris).
Como
iconografia,
tanto
de
Joaquim
José
Codina
como
de
José
Joaquim
Freire,
as
obras
estão
dispersas
entre
o
Museu
Bocage,
de
Lisboa,
e
a
Biblioteca
Nacional,
do
Rio
de
Janeiro.
Há
também
as
instruções
de
viagens
e
a
correspondência
administrativa.
Vandelli
redigiu
a
Memória
sobre
a
viagem
do
Pará
para
o
Rio
das
Amazonas,
do
Madeira,
até
Mato
Grosso,
voltando
pelo
Rio
dos
Tocantins
para
o
Pará.
A
autoria
desse
manuscrito
foi
atribuída
a
Alexandre
Rodrigues
Ferreira,
mas
um
olhar
atento
em
alguns
de
seus
trechos
nos
fez
concluir
que
este
teria
sido
confeccionado
pelo
próprio
Vandelli
[PATACA
e
PINHEIRO,
2005,
p.
58].
4
Como
lembra
Raminelli,
na
Viagem
Filosófica,
os
índios
foram
classificados
em
monstruosos
por
artifício
e
monstruosos
por
natureza
[RAMINELLI,
2008,
p.
233]
5
6. Principais
contribuições
A
valorização
da
obra
de
Ferreira
deu-‐se
bem
mais
tarde,
com
a
publicação
dos
trabalhos
no
Segundo
Império,
na
Revista
do
Instituto
Histórico
e
Geográfico
Brasileiro
(RIHGB)
a
partir
de
1841
(e
principalmente
a
partir
de
1881).
Sua
obra
só
será
inteiramente
conhecida
a
partir
de
1970,
dois
séculos
depois
da
realização
da
viagem.
Para
o
eminente
crítico
Antônio
Cândido,
as
ciências
naturais
e
humanas,
a
despeito
do
belo
início
que
tiveram
aqui
em
fins
do
século
XVIII
e
início
do
século
XIX
(quando
delimitaram
nossa
breve
Aufklärung5),
não
se
desenvolveram
em
seguida
no
mesmo
ritmo
que
as
letras
ou
o
direito.
Em
parte
porque
não
tinham
ressonância
ou
possibilidade,
como
demonstra
simbolicamente
o
ineditismo
em
que
os
poderes
conservaram
os
escritos
de
Alexandre
Rodrigues
Ferreira,
ou
a
odisséia
das
pranchas
de
frei
Mariano
da
Conceição
Veloso6;
em
parte,
porque
a
tarefa
social
mais
urgente
era,
como
ficou
indicado,
de
ordem
política
e
jurídica
[CÂNDIDO,
1980,
p.
133].
De
qualquer
maneira,
a
Viagem
Filosófica
é
uma
das
principais
fontes
de
referência
do
período
e
continua
a
atrair
a
atenção
de
pesquisadores
de
distintas
áreas.
Sua
equipe
realizou,
ainda,
desenhos,
aquarelas,
mapas,
plantas
e
vistas.
Uma
das
principais
falhas
seria
não
produzir
mapas
detalhados
das
rotas.
Nas
viagens
reconheceu,
por
exemplo,
quarenta
espécies
de
palmeiras
(segundo
levantamento
de
José
Cândido
de
Melo
Carvalho).
Até
a
expedição
de
Alexandre
Rodrigues
Ferreira,
a
principal
atenção
da
coroa
será
a
cartografia.
É
a
Viagem
Filosófica
que
prioriza
a
descrição
da
fauna,
da
flora
e
inaugura
a
etnografia
oficial.
A
visão
pragmática
de
Ferreira
oferece
uma
primeira
visão
do
período,
especialmente
pela
pouca
documentação
existente,
seja
em
função
da
proibição
de
Portugal
para
a
visita
de
cientistas
e
cronistas
de
outros
países
à
Amazônia,
seja
pela
pequena
atenção
de
Portugal
à
região.
É
preciso
esclarecer
que
a
Viagem
Filosófica
cumprirá
mais
o
papel
de
auditoria
ao
rei,
relatando
os
avanços
(ou
recuos)
da
implementação
dos
tratados
(e
das
comissões
demarcadoras
e
dos
governos
locais),
que
propriamente
de
dedicação
à
ciência.
Vanzolini
comenta:
Não
tenho
dúvida
de
que
os
objetivos
das
viagens
ao
Negro
e
a
Mato
Grosso
eram
antes
administrativos
e
estratégicos,
ligados
a
questões
de
fronteiras
e
de
produção
de
ouro.
O
título
de
philosofica
pode
ter
sido
em
parte
um
disfarce
[VANZOLINI,
2004,
p.
7].
Vale
notar
que,
durante
quase
uma
década,
Ferreira,
com
razoável
cuidado,
escreveu
diários
(o
Diário
do
Rio
Negro,
por
exemplo,
contém
692
páginas),
enviou
dezenas
de
cartas
e
centenas
de
5
Palavra
em
alemão
que
corresponde
ao
período
do
Iluminismo,
ilustração
(enlightment
em
inglês).
6
Franciscano
mineiro
que
se
dedica
à
botânica
(escreve
Florae
Fluminensis,
publicado
após
sua
morte),
trabalha
no
Real
Museu
e
Jardim
da
Ajuda
e
na
Academia
Real
das
Ciências
de
Lisboa
e
dirige
a
Oficina
Tipográfica,
Tipoplástica
e
Calcográfica
do
Arco
do
Cego,
até
seguir
com
a
família
real
ao
Brasil
em
1808.
6
caixas
com
objetos
diversos
(minerais,
exsicatas
de
plantas,
animais
empalhados,
artefatos
indígenas
etc.)
a
Melo
e
Castro,
que,
por
sua
vez,
parecia
desdenhar
os
esforços
do
viajante
e
não
demonstrava
interesse
em
dizer
se
recebera
as
remessas
e
em
que
estado
as
encontrou,
o
que,
naturalmente,
trazia
enorme
desgosto
a
Ferreira.
Vanzolini
é
duro
ao
comentar
a
displicência
de
Ferreira
em
coletar
tão
poucas
aves
em
Mato
Grosso
(115
ao
total):
Alexandre
demorou-‐se
29
meses
em
Mato
Grosso:
o
que
e
quanto
teria
coletado
aí?
(...)
Outras
coisas
terá
feito
(2004,
p.
14).
No
entanto,
é
um
marco
sem
par
na
história
do
Brasil.
O
historiador
português
Jaime
Cortesão
presta-‐lhe
homenagem
ao
alcunhá-‐lo
de
o
Humboldt
brasileiro
[CORTESÃO,
1958].