61-Apostila Dinamica Do Corpo Rigido USP

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5.

Dinâmica dos corpos rígidos

Para conseguir dar uma curva com uma bicicleta ou uma moto, é necessá-
rio que exista suficiente atrito entre os pneus e a estrada, porque a força de
atrito deverá ser igual à massa vezes a aceleração centrípeta. Como a força
de atrito atua na superfície dos pneus, se o condutor não se inclinasse, a
lei da inércia implicava que a sua tendência fosse continuar numa traje-
tória retilínea, contrariando a trajetória circular da superfície dos pneus
produzindo desequilíbrio. Nas corridas de motos, as velocidades elevadas
implicam ângulos de inclinação maiores; para conseguir inclinar mais a
moto, o condutor vira inicialmente o volante no sentido oposto ao sentido
em que vai tomar a curva e sai para o lado em que a moto se inclina para
contrariar a tendencia da moto cair para o lado oposto.
122 Dinâmica dos corpos rígidos

5.1. Vetores deslizantes

Os vetores introduzidos no capítulo 2 são vetores livres, que são consi-


derados iguais se tiverem o mesmo módulo, direção e sentido, indepen-
dentemente do ponto do espaço onde se encontrem. No caso das forças,
não basta saber o módulo, direção e sentido. Por exemplo, quando se
aplica uma força numa porta para fechá-la, para além do módulo, direção
e sentido da força, será também importante o ponto em que essa força
for aplicada. Quanto mais longe das dobradiças for aplicada a força, mais
fácil será fechar a porta; a força necessária para fechar a porta será muito
elevada se for aplicada num ponto muito próximo de uma das dobradiças.
Imagine que para movermos uma cadeira para outro sítio, levantamo-la
com uma mão. Se o peso da cadeira for 40 N, e o seu centro de gravidade
for o ponto C indicado na figura 5.1, poderíamos apoiar a nossa mão num
ponto P no espaldar da cadeira e aplicar uma força vertical ligeiramente
superior a 40 N para levantá-la. Enquanto a cadeira começa a subir, ro-
dará até ficar na posição de equilíbrio, como no lado direito da figura 5.1,
em que o peso e a força aplicada pela mão encontram-se na mesma reta
vertical. Se pudéssemos aplicar a força para cima num ponto da cadeira
que estivesse na mesma vertical em que o ponto C estava inicialmente, a
cadeira começaria a subir sem rodar.

40 N 40 N

P
P

C C

40 N
40 N

Figura 5.1.: Cadeira com peso de 40 N a ser levantada com uma força para
cima.
5.1 Vetores deslizantes 123

Podemos concluir que para prever o efeito que produzirá uma força, será
necessário saber o seu módulo, direção, sentido e também a sua linha de
ação, que é a linha reta na mesma direção da força, que passa pelo ponto
onde a força é aplicada. Uma força produz efeitos diferentes se for aplicada
em linhas de ação diferentes, embora o seu módulo, direção e sentido
continuem iguais.
Este tipo de vetores, caraterizados por uma
linha de ação específica, chamam-se veto-
res deslizantes. O ponto exato onde fo- ~
F
rem aplicadas não é importante, sempre
que esse ponto esteja na sua linha de ação. Q
No exemplo da cadeira a ser levantada, a
~ para cima podia ter sido P
mesma força F
aplicada nos pontos Q ou R na figura 5.2, R
que estão na mesma linha vertical com o
ponto P, e o efeito teria sido o mesmo. A
cadeira rodaria na mesma direção e com
a mesma aceleração angular. Como tal, é
equivalente admitir que F ~ é aplicada em P,
Q, R, ou qualquer outro ponto na sua linha
de ação. Contudo, a pesar do efeito inicial Figura 5.2.: Três pontos
ser o mesmo, uma vez a cadeira começa a equivalentes.
rodar, os pontos P, Q e R deixam de estar na
mesma linha vertical. A vertical que passa
por Q ficará mais próxima do centro de gravidade do que a vertical que
passa por R. Como tal, a cadeira oscilará mais antes de ficar em equilíbrio,
quando a força for aplicada em R, do que quando é aplicada em Q.
Sempre que foi necessário somar forças no capítulo 4, admitimos que
podiam ser deslocadas livremente e somadas como vetores livres, usando
a regra do paralelogramo. Nas próximas seções mostra-se que essa soma
de forças como se fossem vetores livres não está errada, sempre e quando
seja adicionado também o efeito de rotação introduzido quando se desloca
uma força para uma linha de ação diferente. A aceleração no movimento
de translação de um corpo rígido é devida à força resultante que pode
ser obtida somando as forças externas como vetores livres. A aceleração
angular no movimento de rotação é devida a que as linhas de ação das
forças externas não passam pelo centro de massa.
124 Dinâmica dos corpos rígidos

~
F
~
F

m~
g

Figura 5.3.: Forças colineares.

5.2. Sobreposição de forças

Para determinar como somar forças e, em geral, vetores deslizantes, consi-


deremos primeiro o caso mais simples, quando as forças a serem somadas
estão na mesma linha de ação. Por exemplo, se pretendermos levantar um
livro que está em repouso sobre uma mesa horizontal, como na figura 5.3,
para aplicar uma força oposta ao peso, e na mesma linha de ação, podía-
mos fazer um furo vertical no livro, passando pelo centro de gravidade, e
passar uma corda pelo furo, segurando-a na base com uma anilha.
Quando puxarmos a corda para cima, com uma força F ~ , essa força será
colinear com o peso, isto é, as duas forças têm a mesma linha de ação,
o que permite que sejam deslocadas para um ponto comum nessa linha
de ação e somadas como vetores livres. Se |F ~ | for maior que m g , o livro
subirá na vertical, com movimento uniformemente acelerado e sem ro-
tação; após ter ganho alguma velocidade, reduzimos o módulo da força
~ , fazendo com que fique igual a m g , para que o livro continue a subir
F
com velocidade constante. Quando o livro estiver próximo da altura à qual
o queremos subir, reduzimos o módulo da força F ~ novamente, de forma
que a aceleração vertical seja negativa, até o livro parar; uma vez para,
voltamos a aumentar ligeramente a força, ficando igual a m g , para que o
livro permaneça em repouso pendurado da corda. Estamos tão habituados
a seguir esse procedimento, que nem damos conta dele. Mas se fossemos
programar um braço robótico para repetir o processo, teríamos de seguir
todos esses passos.
Para não termos de furar o livro, para o levantar sem que rode, podía-
mos passar uma folha de papel por debaixo, como no lado esquerdo da
5.2 Sobreposição de forças 125

figura 5.4, e puxar nos dois lados da folha de papel, de forma que o livro
permaneça horizontal enquanto sobe. Estaremos então a aplicar duas
~1 e F
forças F ~2 , representadas na parte central da figura 5.4

~1
F C
~2
F

~r
F

~1
F ~2
F
P P

Figura 5.4.: Sobreposição de forças concorrentes.

Essas duas forças chamam-se concorrentes, porque as suas linhas de ação


são diferentes mas cruzam-se um ponto comum P. Podemos então deslocar
cada uma das forças na sua linha de ação até o ponto comum P, e somá-las
nesse ponto como vetores livres, produzindo a força resultante F~r no lado
direito da figura 5.4. Observe-se que, se o livro é levantado mantendo
sempre a sua orientação horizontal, não roda e a força resultante F ~r será
colinear com o peso m g . Ou seja, na figura 5.4 o ponto P e o centro de
~
gravidade, C, do livro deverão estar na mesma linha vertical; os módulos
~1 e F
e as direções de F ~2 deverão ter as relações necessárias para que isso
aconteça.
Quando as linhas de ação de duas forças F ~1 e F
~2 são paralelas, como é
o caso no lado esquerdo da figura 5.5, podemos usar o seguinte procedi-

~2
F

~1
F ~1
F ~0
F ~0
~2
F 1 C F 2

~
−F ~
F
~r
F
~0
F ~0
1 F 2

Figura 5.5.: Sobreposição de forças paralelas.


126 Dinâmica dos corpos rígidos

mento para obter a sua resultante F ~r : começa-se por deslocar as forças,


nas suas linhas de ação, até ficarem em pontos que estejam na mesma
linha perpendicular a essas linhas. A seguir, aplicam-se duas forças F ~ e −F
~,
~ ~
nos dois pontos onde estão a ser aplicadas F 1 e F 2 , como mostra a parte
central da figura 5.5; a introdução dessas duas forças não altera o sistema
de forças, porque as duas forcas F ~ e −F ~ são colineares e a sua resultante é
~ ~
nula. As forças F 1 e −F , aplicadas no mesmo ponto somam-se produzindo
~ 0 no mesmo ponto; de forma análoga, F
a força F ~2 e F
~ somam-se produ-
1
~ 0 ~ 0 ~0
zindo a força F 2 . As duas forças F 1 e F 2 são concorrentes, e a sua resultante
obtém-se pelo procedimento usado para forças concorrentes (lado direito
da figura 5.5).
Observe-se que a força resultante, F ~r , tem a mesma direção e sentido das
~1 e F
duas forças F ~2 e o seu módulo é igual à soma dos módulos de F ~1 e F
~2 ,
~ 0 ~0 ~
já que, a soma dos vetores livres F 1 e F 2 no ponto P, é igual à soma de F 1 e
~2 , como se fossem vetores livres:
F
¡ ¢ ¡ ¢
F ~0 + F
~r = F ~0 = F~1 − F
~ + F ~2 + F
~ =F~1 + F~2 (5.1)
1 2
~1 e F
Se F ~2 tivessem sentidos opostos, a resultante será então no sentido da
força que tiver maior módulo e o módulo da resultante seria o módulo da
maior menos o módulo da menor.
A linha de ação da resultante F ~r será outra
reta paralela, mas diferente, às linhas de
ação de F ~1 e F
~2 . Para determinar as dis- d1 d2
F1
tâncias d 1 e d 2 , desde a linha de ação da F2
θ1 Q θ2
resultante até às linhas de ação das forças
~1 e F
F ~2 , observa-se (figura 5.6) que a dis- F θ1 θ2 F
~ 0 ~0
tância entre o ponto comum de F 1 e F 2 , P,
e o ponto Q, onde a linha de ação da resul-
tante cruza a reta que passa pelos pontos
de aplicação de F ~1 e F
~2 , é igual a:

PQ = d 1 tan θ1 = d 2 tan θ2 (5.2)


onde θ1 e θ2 são os ângulos entre as forças P
~ 0 ~0
F 1 e F 2 e a perpendicular às suas linhas de Figura 5.6.: Linha de ação da
ação. Como F ~ 0 é a soma de duas forças
1 resultante.
perpendiculares, F ~1 e −F ~ 0 é também a soma de duas forças perpendi-
~, e F
2
culares, F ~2 e F
~ , as tangentes dos dois ângulos são:
F1 F2
tan θ1 = tan θ2 = (5.3)
F F
5.3 Momentos e binários 127

e, substituindo essas expressões na equação 5.2, obtém-se um resultado


chamado lei das alavancas:

F1 d1 = F2 d2 (5.4)

Resumindo, para levantar o livro por meio de duas forças verticais, sem
que o livro rode, será necessário que a relação entre os módulos dessas
duas forças, F 1 /F 2 , seja o inverso da relação entre as distâncias das suas
linhas de ação até o centro de gravidade, d 2 /d 1 .

5.3. Momentos e binários


A regra das alavancas pode ser explicada introduzindo o conceito de mo-
mento de uma força, em relação a um ponto. Define-se o momento de
uma força F~ , em relação a um ponto O, igual ao produto do módulo da
força vezes a distância d que há entre o ponto O e a linha de ação da força:

Mo = F d (5.5)

A distância d chama-se braço da força, em relação ao ponto O e o momento


M o também costuma chamar-se torque.
Se ~
r for o vetor posição, desde o ponto O
até o ponto P onde a força F~ é aplicada, o
braço da força em relação a O será igual a Mo
r sin θ, em que o ângulo θ é o ângulo entre F~ F sinθ
os vetores ~ ~ (figura 5.7). Conclui- -se
r eF
θ
que o momento da força em relação ao
r
~
ponto O é igual a, P
O
r sin θ
M o = F r sin θ (5.6) θ

O momento M o mede o efeito de rotação Figura 5.7.: Momento de


produzido pela força, se no ponto O hou- uma força.
vesse um eixo fixo, perpendicular ao plano
formado por ~ ~ , podendo o corpo rodar à volta desse eixo (se o ponto O
r eF
estiver fora do corpo, pode imaginar-se uma barra rígida ligada ao corpo,
que se estende até O). Quanto mais afastada estiver a linha de ação da força
do ponto O, maior será o momento da força. Isso explica porquê é mais
128 Dinâmica dos corpos rígidos

fácil fechar a porta quanto mais longe das dobradiças for aplicada a força.
Se o ponto O estiver na linha de ação da força, d será 0, os vetores ~
r eF~
não definirão nenhum plano, e o momento da força será nulo.
Na figura 5.7, observe-se que F sin θ é a componente da força na direção
perpendicular ao vetor posição ~r , ou seja, o momento da força é também
igual ao produto da distância desde a origem até o ponto onde atua, r ,
vezes a componente da força perpendicular à reta que passa por O e pelo
ponto onde a força é aplicada.
A equação 5.6 mostra que o momento da força é igual ao módulo do pro-
duto vetorial entre o vetor posição e a força. Como tal, é conveniente
~ , em relação ao ponto O,
definir o vetor momento da força F

~ o =~
M ~
r ×F (5.7)

O momento é uma tendência a rodar em torno de um eixo na direção do


vector M ~ o , ou seja, num plano de rotação perpendicular a M~ o e no sentido
da regra da mão direita: se o eixo dos z for escolhido na direção e sentido
de M~ o , a rotação será no sentido do semieixo positivo dos x para o semieixo
positivo dos y. Na figura 5.7 o momento é um vetor que aponta para fora
da imagem e foi representado por um arco circular com uma seta a apontar
no sentido da rotação.
O método descrito para somar forças pa-
ralelas falhará no caso em que as duas for-
ças formam um binário, que são duas for- M
F~
ças paralelas com o mesmo módulo mas
em sentidos opostos, como na figura 5.8.
~0 e F
~ 0 não serão con- rQ/P
~
Nesse caso, as forças F 1 2
P Q
correntes e não podem ser deslocadas para θ
um ponto comum. No entanto, a equa- d
ção 5.1 indica que a resultante será nula. O
−F~
binário não produz nenhuma translação
em nenhum sentido, mas apenas rotação.
O momento total, em relação à origem O,
Figura 5.8.: Binário.
é a soma dos momentos das duas forças,
¡ ¢
~ ~ −~
rQ × F ~= ~
rP × F r Q −~ ~
rP × F (5.8)

Os dois vetores posição dos pontos Q e P dependem de onde estiver a


5.3 Momentos e binários 129

origem O, mas a sua diferença é a posição relativa ~


r Q/P na figura, que não
depende do ponto onde estiver a origem.
Isso quer dizer que o binário produz um momento que não depende de
nenhum ponto de referência,

~ =~
M ~
r Q/P × F (5.9)

Na figura 5.8 o vetor momento do binário aponta para fora da figura, e foi
representado por um arco circular com uma seta, no sentido anti-horário.
Uma força F ~ aplicada num ponto P pode ser deslocada para outro ponto Q,
fora da sua linha de ação, usando o procedimento ilustrado na figura 5.9.
Adicionam-se duas forças −F ~eF ~ nos pontos P e Q, que acrescentam um
momento que chamaremos −M ~ (no sentido dos ponteiros do relógio na
figura); para não alterar nada, adiciona-se também um binário M ~ (no sen-
~ . No ponto
tido contrário aos ponteiros do relógio) que anula o binário −M
P ficam duas forças iguais e opostas que se anulam; o sistema resultante é
então a mesma força inicial F~ , mas aplicada no ponto Q, e o binário M
~:

~ =~
M ~
r P/Q × F (5.10)

que é igual ao momento M~ Q que a força original, em P, produz em relação


ao ponto Q para onde foi deslocada.

F~ F~
F~
F~
Q
P Q P
~
M ~
M
−F~

Figura 5.9.: Procedimento para deslocar uma força de um ponto P para


outro ponto Q.

Conclui-se então que a resultante de um conjunto de forças será a soma


delas como vetores livres e pode colocar-se em qualquer ponto Q, sempre
130 Dinâmica dos corpos rígidos

e quando seja acrescentado também um binário que é igual à soma dos


momentos de todas as forças em relação a Q.
Quando as direções de todas as forças estiverem num mesmo plano, será
conveniente definir dois dos eixos coordenados nesse plano, por exemplo
x e y, e a origem no ponto onde vão ser somadas as forças. Como tal, o mo-
mento de cada força F ~n em relação à origem tem unicamente componente
segundo z, igual ao determinante:
¯ ¯
¯ xn y n ¯¯
M n = ¯¯ (5.11)
F x,n F y,n ¯

em que x n e y n são as coordenadas do ponto onde atua a força F ~n = F n,x ı̂ +


F n,y ̂. Se houver p forças externas, todas no plano x y, a força e binário
resultantes na origem O são:
µ p ¶ µ p ¶ µ p ¯ ¯¶
X X X ¯ xn y n ¯¯
~
Fr = F n,x ı̂ + ~
F n,y ̂ M r = ¯
¯ ¯ k̂ (5.12)
n=1 n=1 n=1 F x,n F y,n

O binário resultante pode ser eliminado, deslocando a força resultante para


um ponto a uma distância M r /F r da linha que passa pela origem, paralela
~r .
aF
Quando as linhas de ação das forças não estão num mesmo plano, o binário
resultante M~ r terá também uma componente paralela à força resultante F
~r .
~ ~
A componente de M r perpendicular a F r pode ser eliminada, deslocando a
força, ficando força e momento resultantes paralelos.

5.4. Equilíbrio dos corpos rígidos


Se a força resultante F ~r de todas as forças externas atuando num corpo
rígido for nula, e se o momento resultante dessas forças, M~ r , for também
~
nulo em relação a um ponto, então M r será também nulo em qualquer
outro ponto, já que o deslocamento da força resultante (nula) não introduz
nenhum binário. Nesse caso, as forças externas não produzem nenhum
efeito de aceleração linear nem angular e o corpo rígido encontra-se em
equilíbrio: ou em repouso, ou com velocidade (linear e/ou angular) cons-
tante.
Como tal, as condições de equilíbrio de um corpo rígido é que a soma das
forças externas, como vetores livres, seja nula e que a soma dos momentos
de todas as forças externas, em relação a qualquer ponto, seja nula.
5.4 Equilíbrio dos corpos rígidos 131

Exemplo 5.1
O automóvel na figura, com peso de 9000 N, encontra-se em repouso
numa estrada horizontal. O centro de gravidade, C, do automóvel
encontra-se 60 cm detrás do eixo das rodas da frente e 120 cm à frente
do eixo das rodas de atrás. Determine a força de reação normal em
cada pneu.

60 cm 120 cm

Resolução. O automóvel encontra-se em


equilíbrio. A figura à direita mostra o di- 60 cm 120 cm
agrama de corpo livre. R 1 é a soma das
reações normais nos dois pneus da frente
e R 2 é a soma das reações normais nos
pneus de atrás (admitindo que os lados
esquerdo e direito sejam simétricos, essas C
forças estarão aplicadas ao meio de cada ~
R1 ~2
R
um dos eixos). Se houver forças de atrito 9000 N
nos pneus, o único que podemos concluir A B
é que a soma delas deverá ser nula; o cal-
culo dessas forças implica conhecer me-
lhor a estrutura do carro e a sua deformação devida ao seu peso; admitire-
mos que o carro é perfeitamente rígido, sem sofrer deformações e, como
tal, não há forças de atrito.
132 Dinâmica dos corpos rígidos

A condição de equilíbrio para que a força resultante seja nula é:


R 1 + R 2 = 9000

Para encontrar o valor dessas duas forças há que considerar também a


condição de que a soma dos momentos, das 3 forças externas, é nula, em
relação a qualquer ponto. A soma dos momentos em relação ao ponto A é:
1.8 R 2 − 0.6 × 9000 = 0 =⇒ R 2 = 3000 N

A seguir podia substituir-se esse valor na condição para a soma das for-
ças verticais, mas também é possível usar a condição de que a soma dos
momentos em relação a B é nula:
1.2 × 9000 − 1.8 R 1 = 0 =⇒ R 1 = 6000 N

Admitindo que o centro de gravidade está a igual distância dos pneus


direitos e esquerdos, cada uma das reações normais nos pneus da frente
será 3000 N e a reação normal em cada pneu de atrás será 1500 N.

Se o automóvel tivesse movimento uniforme, estaria ainda em equilíbrio,


mas existiria também a força de resistência do ar, que aponta para a direita
e para baixo. A componente horizontal dessa força do ar seria contrariada
por forças de atrito entre os pneus e a estrada, com resultante para a es-
querda, e a componente vertical seria contrariada por um aumento das
reações normais nos pneus. Mas como a resistência do ar e as forças de
atrito teriam linhas de ação diferentes, o resultado seria um binário que
faz rodar o automóvel no sentido dos ponteiros do relógio; o aumento da
reação normal seria maior nos pneus de atrás do que nos da frente. Para
poder calcular esse binário seria necessário conhecer o coeficiente aero-
dinâmico C D do automóvel, a velocidade do vento e o ponto de aplicação
da resistência do ar, que é uma força distribuída em toda a superfície do
automóvel.

5.5. Centro de massa


Um corpo rígido é uma distribução contínua de massa num volume. Se a
massa total do corpo for m, e dm for a massa infinitesimal que existe em
cada ponto do corpo, w
m= dm (5.13)
5.5 Centro de massa 133

em que o integral é de volume, dentro do volume ocupado pelo sólido,


já que d m é o produto da massa volúmica ρ pelo volume infinitesimal
d x d y d z.
Define-se o vetor posição do centro de massa, ~
r cm , igual à média, pesada
pela massa, do vetor posição no sólido:

1 w
r cm =
~ r dm
~ (5.14)
m

Exemplo 5.2
Encontre a posição do centro de massa do sólido homogéneo repre-
sentado na figura.

c
x
y
a
b

Resolução. O volume do sólido é delimitado pelos 5 planos x = 0, y = 0,


y = a, z = 0 e z = c (1 − x/b).
A área infinitesimal d m é igual à carga volúmica ρ vezes o volume infinite-
simal em coordenas cartesianas, d xd yd z. Começa-se por calcular a massa
total a partir da equação 5.13:
wa wb w
c (1−x/b)
m= ρdz dx dy
0 0 0

Como o corpo é homogéneo, ρ é constante. No Maxima, os três integrais


devem ser calculados de forma sequencial; p representará a massa volú-
mica
134 Dinâmica dos corpos rígidos

(%i1) integrate (p, z, 0, c*(1 - x/b))$


(%i2) integrate (%, x, 0, b)$
(%i3) m: integrate (%, y, 0, a);
abcp
(%o3)
2

Embora os resultados intermédios não tenham sido apresentados, estão


armazenados nas variáveis %o1 e %o2.
r
Para calcular ~r d m, repete-se o mesmo integral de volume, mudando o
integrando de ρ, para ρ~r

(%i4) r: [x, y, z]$


(%i5) integrate (p*r, z, 0, c*(1 - x/b))$
(%i6) integrate (%, x, 0, b)$
(%i7) rcm: integrate (%,y,0,a)/m;
· ¸
b a c
(%o7) , ,
3 2 3

b a c
Conclui-se que o vector posição do centro de massa é: ~
r cm = ı̂ + ̂ + k̂.
3 2 3

Em todo corpo rígido existe sempre um único ponto que é o centro de


massa. Se a origem for escolhida exatamente no centro de massa, o integral
na equação 5.14 será nulo para cada uma das três componentes:
www www www
ρx d x d y d z = ρy d x d y d z = ρz d x d y d z = 0 (5.15)

Os integrais em 5.15 serão todos nulos unicamente se a origem estiver no


centro de massa. Este resultado será muito importante mais para a frente.
Derivando os dois lados da equação 5.14 obtém-se a expressão da o veloci-
dade do centro de massa:
1 w
v cm =
~ v dm
~ (5.16)
m

Isto é, a velocidade do centro de massa é a média das velocidades de todos


as partes do corpo, com pesos iguais às massas das partes.
5.5 Centro de massa 135

E derivando a equação 5.16, obtém-se a aceleração do centro de massa,

1 w
a cm =
~ a dm
~ (5.17)
m
que é a média, pesada pela massa, das acelerações de todas as partes do
corpo.
Se o referencial em que é medida a aceleração ~ a de cada ponto for um
a d m será igual à força resultante d ~
referencial inercial, o produto ~ f que
atua sobre a massa dm:
d~f =~
a dm (5.18)

Observe-se que sempre que exista aceleração, deverá existir uma força
infinitesimal d ~
f aplicada em cada ponto do sólido, para conseguir acom-
panhar o movimento do corpo, permanecendo rígido. Na maioria dos
pontos essa força é devida unicamente às forças internas de contacto entre
as partes do corpo, forças essas que são desencadeadas em todo o corpo
pela ação de n forças externas F~1 , F ~2 , . . . , F
~n que atuam em n pontos do
corpo rígido. Nos pontos 1, 2, . . . , n, a força ~ f inclui as forças de contacto
mais a força externa em cada ponto. A diferencial d ~ f é a variação da força
em todos os pontos do volume do corpo.
Substituindo a expressão 5.18 na equação 5.17, conclui-se que,
w
d~
f = m~
a cm (5.19)

Na soma das forças em todos os pontos do corpo, por cada força interna
de contacto que existir num ponto, existirá outra força igual mas de sen-
tido oposto em outro
r ponto vizinho, devido à lei de ação e reação. Assim
sendo, no integral d ~f todas as forças internas de contacto serão elimina-
das, ficando unicamente a soma das forças externas, F~1 , F
~2 , . . . , F
~n , que é
igual à força resultante sobre o corpo rígido. Como tal, a equação 5.19 é
equivalente a,
~r = m ~
F a cm (5.20)

Este resultado importante é a lei do movimento de translação do corpo


rígido:
O movimento do centro de massa de qualquer corpo rígido com
massa m é igual ao movimento que teria uma partícula pontual
com massa m sob a ação de uma força igual à força resultante
sobre o corpo rígido.
136 Dinâmica dos corpos rígidos

Lembre-se que a soma das forças é feita como se fossem vetores livres. Se
a força resultante for nula, o centro de massa estará ou em repouso ou
em estado de movimento retilíneo uniforme, mas outros pontos no corpo
rígido poderão ter movimentos mais complicados.
O peso é um exemplo de força externa aplicada em todos os pontos do
corpo rígido. A equação 5.19 nesse caso dá,
w
g dm = m~
~ a cm (5.21)

Se a aceleração da gravidade ~
g for igual em todos os pontos do corpo, o
integral no lado esquerdo será igual a m ~
g e conclui-se que a aceleração
do centro de massa é igual à aceleração da gravidade e que o centro de
gravidade —ponto de aplicação da força resultante do peso de todas as
partes do corpo— coincide com o centro de massa. Existem casos em que
g não é constante em todo o corpo, mas geralmente isso não acontece,
~
sendo possível assumir que o peso total do objeto é a força m ~
g aplicada
no centro de massa.
Considere-se, por exemplo, uma lâmina triangular. Pendurando-a por um
dos vértices, começará a oscilar até parar numa posição em que o centro
de gravidade esteja no mesmo segmento de reta vertical que passa pelo
vértice; traçando esse segmento no triângulo e repetindo o procedimento
para os outros dois vértices, o ponto onde se cruzam os três segmentos
será o centro de gravidade e centro de massa. Se a massa volúmica do
triângulo for igual em todos os pontos, cada um dos segmentos verticais
será a mediana que divide o triângulo em duas partes com a mesma área e,
consequentemente, com o mesmo peso. Nos sólidos com formas simétri-
cas e massa volúmica constante, o centro de massa encontra-se no centro
geométrico. A figura 5.10 mostra outros três exemplos.

Figura 5.10.: Centros de massa de 3 objetos com massa volúmica cons-


tante: esfera, cilindro e paralelepípedo.
5.6 Translação sem rotação 137

5.6. Translação sem rotação


Num corpo rígido com movimento de translação sem rotação, a cada
instante a aceleração de todos os pontos é a mesma, igual à aceleração do
centro de massa, que é igual à soma das forças externas dividida pela massa
do corpo. Como o corpo não roda, a soma dos momentos de todas as forças
em relação ao centro de massa deverá ser nula. Há que ter atenção ao facto
de que a soma dos momentos é nula unicamente em relação ao centro
de massa; em relação a outro ponto P, a soma dos momentos será igual e
oposta ao momento da força resultante, que atua no centro de massa, em
relação a P.

Exemplo 5.3
O mesmo automóvel do exemplo 5.1, acelera durante 20 s, com ace-
leração tangencial constante, desde o repouso até à velocidade de
60 km/h. Sabendo que o centro de gravidade está 57 cm por cima do
chão, determine as forças de reação normal em cada pneu, no instante
em que começa o seu movimento.

Resolução. No momento em que o automóvel começa a andar, a resis-


tência do ar é nula, porque a velocidade também é nula. Como tal, as
únicas forças horizontais que podem ser responsáveis pela aceleração são
~e , entre os pneus e a estrada. A figura seguinte
as forças de atrito estático, F
mostra o diagrama de corpo livre.

60 cm 120 cm

C
57 cm ~1
R ~2
R
9000 N
~e A
F B

R 1 é a soma das duas reações normais nos dois pneus da frente e R 2 a


soma das reações normais dos pneus de atrás. A aceleração tangencial do
automóvel é no sentido horizontal e igual a:
60/3.6 5 m
at = =
20 6 s2
138 Dinâmica dos corpos rígidos

A lei do movimento para a translação conduz às equações:



½
R1 + R2 = m g  R 1 + R 2 = 9000

=⇒ 9000 × 5
Fe = m at 
 Fe =
9.8 × 6

Como o automóvel não roda, a soma dos momentos das forças externas,
em relação ao centro de massa (que é o mesmo centro de gravidade) deverá
ser igual a zero. O peso não produz momento em relação ao centro de
massa. Os momentos das forças R ~1 e F
~e , em relação ao centro de massa,
são no sentido dos ponteiros do relógio. O momento da força R ~2 é no
sentido oposto aos ponteiros do relógio. A soma dos momentos em relação
ao centro de massa é:

1.2 R 2 − 0.6 R 1 − 0.57 F e = 0

A resolução do sistema das 3 equações conduz a,

F e = 765 N R 1 = 5758 N R 2 = 3242 N

A força de atrito nos quatro pneus é 765 N, a reação em cada pneu da frente
é 2879 N e em cada pneu de atrás 1621 N. Observe-se que no diagrama de
corpo livre é equivalente colocar a força de atrito nos pneus da frente ou
nos pneus de atrás, mas como é uma força de tração, será produzida pelos
pneus onde o automóvel tiver tração.

5.7. Movimento geral do corpo rígido

A dinâmica do corpo rígido consiste no estudo dos efeitos das forças e


binários externos na variação dos seus seis graus de liberdade. A trajetória
de um ponto qualquer no corpo, usado como referência, dá informação
sobre a variação de três desses graus de liberdade. A descrição da variação
da direção do eixo de rotação dá informação sobre outros 2 graus de liber-
dade e a rotação em torno desse eixo fornece a informação sobre o sexto
grau de liberdade. No pião da figura 5.11 indicam-se dois ângulos, β e φ,
que definem a direção do eixo do pião; um terceiro ângulo, θ, determina a
rotação do pião em relação ao seu eixo. Nesse caso, dois dos ângulos, β e θ,
variam em função do tempo e, portanto, há duas velocidades angulares, β̇
e θ̇.
5.8 Rotação com eixo fixo 139

Figura 5.11.: Os 3 graus de liberdade na rotação de um corpo rígido.

O pião está a rodar à volta do seu eixo, no sentido indicado para o ângulo
θ, com velocidade angular θ̇. Como tal, tem velocidade angular na direção
do seu eixo e desde a ponta para a parte superior. Como o eixo do pião não
está em posição vertical, o seu peso e a reação normal na ponta produzem
binário no sentido em que o ângulo φ aumenta. Esse binário implica uma
aceleração angular ~α tangente à circunferência na figura, e com o sentido
indicado para o ângulo β, que faz com que o vetor velocidade angular,
no eixo do pião rode com velocidade angular β̇, no sentido indicado na
circunferência.
O movimento geral dum corpo rígido é mais fácil de estudar usando di-
nâmica lagrangiana, em vez da mecânica vetorial usada neste capítulo.
Concluiremos este capítulo analisando o caso da rotação plana, em que a
direção do eixo de rotação permanece fixo, de forma que só há um ângulo
(θ) que varia em função do tempo.

5.8. Rotação com eixo fixo

Quando o eixo de rotação de um corpo rígido permanece fixo em relação a


um sistema inercial, a segunda lei de Newton será válida para as acelerações
medidas no referencial do corpo rígido. Assim sendo, a equação 3.35
140 Dinâmica dos corpos rígidos

permite calcular a força que atua na massa diferencial d m em cada ponto


¡ ¢
f = R α ê t − R ω2 ê n d m
d~ (5.22)

Cada uma dessas forças produz um momento ~ r ×d~ f em relação à origem,


mas como o corpo rígido pode rodar unicamente em torno do eixo fixo z,
interessa unicamente calcular a componente z, obtida usando unicamente
a projeção de ~
r no plano de rotação:

dM f = R 2 α k̂ d m
~ z = (R ê n ) × d ~ (5.23)

Integrando no volume do corpo rígido obtém-se a componente z do binário


resultante, w w
M r,z = d M z = α R 2 d m (5.24)

A aceleração angular foi colocada fora do integral, por ser igual em todos
os pontos do corpo rígido. O integral no lado direito,
w
Iz = R2 d m (5.25)

é o momento de inércia, do corpo rígido, em relação ao eixo dos z.


r
No integral d M z todos os momentos das forças internas de contacto
serão eliminados, em consequência da lei de ação e reação, ficando uni-
camente a soma dos momentos produzidos pelas forças externas, F~1 , F ~2 ,
~n . Assim sendo, a equação 5.24 conduz à lei da rotação com eixo de
..., F
rotação fixo:
M r,z = I z α (5.26)

Num corpo rígido que pode rodar em torno de um eixo fixo, a


componente ao longo desse eixo, do momento resultante em
relação a um ponto qualquer no eixo, é igual ao produto do seu
momento de inércia em relação ao eixo, vezes a sua aceleração
angular.

Exemplo 5.4
Determine o momento de inércia de um cilindro homogéneo, com
raio R e altura L, em relação ao seu eixo de simetria.
5.8 Rotação com eixo fixo 141

Resolução. Como o eixo de rotação é o mesmo eixo do cilindro, o volume


do cilindro define-se em coordenadas cilíndricas através das condições
0 ≤ z ≤ L, 0 ≤ θ ≤ 2 π, 0 ≤ R 0 ≤ R.
O elemento diferencial de volume em coordenadas cilíndricas é (R d R d θ d z)
e, como tal, dm = ρ R d R d θ d z, em que ρ é a massa volúmica. O momento
de inércia é,
wL w2πwR ρ π L R4
Iz = ρ R 03 d R 0 d θ d z =
2
0 0 0

Observe-se que a massa do cilindro é obtida a partir do integral,

wL w2πwR
m=ρ R0 d R0 d θ d z = ρ π L R2
0 0 0

1
Assim sendo, a expressão para o momento de inércia é: I z = m R2
2

No movimento de rotação, o momento de inércia joga um papel seme-


lhante à massa no movimento de translação. Observe-se a semelhança da
equação 5.26 com a segunda lei de Newton.
A tabela 5.1 mostra as expressões do momento de inércia de alguns sólidos
em relação aos eixos que passam pelo seu centro de massa. O momento de
inércia é sempre diretamente proporcional à massa do corpo e a expressão
que multiplica a massa tem unidades de distância ao quadrado. Define-se
o raio de giração em relação a um eixo de rotação, igual à raiz quadrada
do momento de inércia dividido pela massa:
s
Iz
rg = (5.27)
m

O momento de inércia em relação a um eixo que passa pelo centro de


massa permite calcular o momento de inércia em relação a qualquer outro
eixo paralelo, que não passe pelo centro de massa, usando-se o teorema
dos eixos paralelos:
I z = I cm + m d 2 (5.28)

onde m é a massa do corpo e d a distância entre os dois eixos paralelos.


Também é possível calcular o momento de inércia de um sólido somando
os momentos de inércia de várias partes que o constituem, já que o inte-
gral 5.25 pode ser escrito como a soma dos integrais nas várias partes.
142 Dinâmica dos corpos rígidos

Tabela 5.1.: Momentos de inércia de alguns sólidos com massa volúmica


constante, para eixos que passam pelo centro de massa.
Esfera Cilindro Paralelepípedo
2
a b
R
L R

m 2
Eixo 1: R
2
2 m¡ 2 ¢ m¡ 2 ¢
m R2 Eixo 2: 3 R + L2 a + b2
5 12 12

O momento de uma barra suficientemente fina, de comprimento L, pode


obter-se usando a tabela 5.1, a partir da expressão para um cilindro, no
limite R → 0, ou a partir da expressão para o paralelepípedo, com b = L e
a → 0.
Uma roldana fixa é um exemplo de corpo rígido com eixo de rotação fixo.
Se a roldana for homogénea, o centro de massa também estará no eixo de
rotação. A figura 5.12 mostra uma roldana de massa m e raio R, em que o
fio acompanha a rotação da roldana, sem deslizar. As forças e momentos
externos são o peso, m~ ~1 e F
g , as tensões nos dois lados da corda, F ~2 , a força
de contacto no eixo da roldana, F ~e e o binário M que é produzido pelo
atrito no eixo da roldana, no sentido oposto à rotação da roldana.
O peso da roldana e a força de contacto F~e não produzem momento em
relação ao eixo. Como a roldana é um cilindro, usando a expressão para o
momento de inércia na tabela 5.1, a equação para o binário resultante é,
1
R F1 − R F2 − M = m R2 α (5.29)
2
Quando o atrito no eixo pode ser ignorado,
1
F1 − F2 = m at (5.30)
2
Perguntas 143

F~2 F~e

M
m~
g

F~1

Figura 5.12.: Forças e binários externos sobre uma roldana.

em que a t = R α é a aceleração tangencial de um ponto na corda. Observe-


se que, independentemente do raio da roldana, quando a massa da roldana
for muito menor que F 1 /a t e F 2 /a t , pode admitir-se que a tensão é igual
nos dois lados da corda.

Perguntas

1. As componentes cartesianas de uma força são F ~ = −3 ı̂ −2 ̂. Em qual das


posições na lista deveria ser aplicada a força para produzir momento
no sentido horário em relação à origem?

A. −2 ı̂ + 3 ̂ D. 3 ı̂ + 2 ̂
B. −3 ı̂ + 2 ̂ E. 3 ı̂ − 2 ̂
C. 2 ı̂ + 3 ̂

2. Duas crianças com massas de 30 kg e 45 kg estão sentadas nos dois


lados de um sobe e desce. Se a criança mais pesada estiver sentada a
1.2 m do eixo do sobe e desce, a que distância do eixo deverá sentar-se
a outra criança para manter o sobe e desce em equilíbrio?

A. 1.5 m D. 1.2 m
B. 0.8 m E. 0.98 m
C. 1.8 m
144 Dinâmica dos corpos rígidos

3. Se um objeto é dividido em duas partes, fazendo um corte vertical ao


longo de um reta que passa pelo seu centro de gravidade, qual das
afirmações acerca dos dois pedaços obtidos é verdadeira?

A. Devem ter a mesma massa. D. Devem ter a mesma área.


B. Podem ter massas diferentes. E. Devem ter o mesmo volume.
C. Devem ter o mesmo peso.

4. Aplicam-se duas forças externas sobre um disco, como mostra na figura.


Calcule o momento resultante, em relação ao ponto O, em unidades de
N·m.
60 N
30˚

3 cm 6 cm

85 N

A. 0.57 C. 4.35 E. 6.15


B. 1.05 D. 5.67

5. Uma peça metálica com massa volúmica constante e massa m é cons-


truída com dois cilindros da mesma altura, mas raios diferentes a > b,
colados um sobre o outro de forma que os seus eixos estejam alinha-
dos. Calcule o momento de inércia da peça em relação ao seu eixo de
simetria.

1 ¡ 2 ¢ 1 ¡ 2 ¢
A. m a − b2 D. m a + b2
2 2
1 ¡ ¢ µ 2 ¶
1 a + b2
B. m a 4 + b 4 E. m
2 2 a +b
µ 4 ¶
1 a + b4
C. m 2
2 a + b2
Problemas 145

Problemas

200 N
1. O martelo na figura apoia-se sobre um
bloco de madeira de 40 mm de espes-
sura, para facilitar a extração do prego.
Sabendo que é necessária uma força de 200 mm
200 N (perpendicular ao martelo) para
extrair o prego, calcule a força sobre o 20˚
prego e a reação no ponto A. Admita
que o peso do martelo pode ser despre- A 40 mm
zado e em A existe suficiente atrito para
evitar que o martelo escorregue.
40 mm
2. Um automóvel com tração frontal acelera uniformemente desde o re-
pouso atingindo uma velocidade de 100 km/h em 11 segundos. Se o
peso do automóvel for 9750 N, calcule as reações normais e a força
de atrito sobre cada pneu. ¿Qual será o valor mínimo que deverá ter
o coeficiente de atrito estático entre os pneus e a estrada para que o
automóvel possa atingir essa aceleração?

G
44 cm

160 cm 80 cm
3. Um armário de 45 kg, montado so-
bre rodas que o deixam andar livre-
mente sobre o chão, é acelerado por
uma força externa de 310 N.
(a) Encontre os valores máximo e
mínimo que pode ter a altura y para G
o armário acelerar sem as rodas per- 310 N
derem o contacto com o chão.
(b) Determine a aceleração do armá- 87 cm
rio, quando y estiver entre os valo- y
res mínimo e máximo calculados na
alínea anterior.

68 cm
146 Dinâmica dos corpos rígidos

4. Usando integração no volume do sólido, demonstre o resultado da


tabela 5.1, para o momento de inércia de um paralelepípedo com eixo
de rotação perpendicular a uma das faces e passando pelo centro de
massa.
5. Um tronco uniforme tem forma cilíndrica com 48 cm de diâmetro,
3 m de comprimento, massa de 100 kg e está pendurado em posição
horizontal, por meio de dois cabos de 2 m, como mostra a figura. O
tronco larga-se a partir do repouso na posição em que cada cabo faz
um ângulo de 60◦ com a horizontal. Determine a tensão e a aceleração
angular de cada um dos cabos, no preciso instante em que o tronco é
largado a partir do repouso.

2m 2m

60˚ 2m B 60˚
A C

100 kg 1m
6. A escada na figura está apoiada
B
numa superfície horizontal (ponto
A) e numa parede vertical (ponto B).
Entre a escada e a superfície hori-
zontal o coeficiente de atrito está-
tico é µe , enquanto que o atrito da
escada com a parede vertical é des-
prezável. Admitindo que o centro 6m
de gravidade da escada se encontra
a metade do seu comprimento, cal-
cule o valor mínimo de µe , para ga-
rantir que a escada permaneça em
repouso.
A

2.5 m

7. A massa do reboque na figura é 750 kg e está ligado no ponto P a uma


trela de um automóvel. A estrada é horizontal e os dois pneus idênticos
podem ser considerados como um só, com uma única reação normal e
Problemas 147

força de atrito desprezável; a resistência do ar também será desprezada.


(a) Calcule a reação normal nos pneus e a força vertical no ponto P,
quando a velocidade for constante. (b) Quando o automóvel estiver a
acelerar, com a t = 2 m/s2 , a força em P terá componentes horizontal
e vertical. Calcule essas componentes e a reação normal nos pneus (o
momento de inércia das rodas e o atrito com a estrada são desprezáveis).

cm
P
90 cm
95 cm 50 cm

128 cm
8. O avião na figura, com massa total de 1.1 × 105 kg, aterra numa pista
horizontal. O ponto C representa o centro de gravidade. No instante em
que a velocidade é de 210 km/h (para a direita), o piloto liga as turbi-
nas em modo inverso, produzindo a força constante R (representada
na figura) e após ter precorrido 580 m na pista a velocidade diminui
para 70 km/h. Durante esse percurso, as forças de atrito nos pneus e a
resistência do ar podem ser ignoradas, em comparação com a força R
que é muito maior. Calcule a reação normal na roda da frente.

5.1 m 8.2 m

C
R 3m
1.4 m

9. Um atleta com massa de 91 kg puxa um camião numa estrada horizontal,


com velocidade constante, por meio de uma corda amarrada às suas
costas. A figura mostra as posições relativas do centro de gravidade do
atleta, C, do ponto de apoio do seu pé com o chão, A, e do ponto de
ligação com a corda, B.
(a) Calcule o módulo da tensão na corda. (b) Faça um diagrama com as
forças que julga que poderão estar a atuar no camião.
148 Dinâmica dos corpos rígidos

33 cm 19 cm

C B
15°

68 cm 91 cm

10. O cilindro de 1.5 kg na figura desce verticalmente, fazendo acelerar o


bloco de 5 kg sobre a mesa horizontal. A roldana pode ser considerada
um disco uniforme de massa 0.4 kg. O fio faz rodar a roldana, sem
deslizar sobre a sua superfície. O coeficiente de atrito cinético entre o
bloco e a mesa é 0.2. Determine o valor da aceleração do bloco e do
cilindro, desprezando o atrito no eixo da roldana, a massa do fio e a
resistência do ar.

0.4 kg
5 kg

1.5 kg

11. Para testar os travões, uma bicicleta foi colocada com as rodas para o ar
e a roda foi posta a rodar livremente, como mostra a figura. Foi medido
o tempo que a roda demorou a dar 10 voltas, obtendo-se o valor de
8.2 s (admita que nesse intervalo a velocidade angular ω permanece
constante). Imediatamente a seguir, aplicaram-se os travões e a roda
demorou 2.9 s até parar completamente. A figura mostra a força de
~ entre os calços e o aro, que é tangente ao aro e aplicada a uma
atrito F
distância de 27.1 cm do eixo da roda.
Problemas 149

~ é constante, a aceleração angular que ela


(a) Admitindo que a força F
produz também será constante; calcule essa aceleração angular.
(b) Calcule o número de voltas efetuadas pela roda durante o tempo em
que os travões atuaram.
(c) Sabendo que o momento de inércia da roda, em relação ao seu
centro, é igual a 0.135 kg·m2 , calcule o módulo da força F
~.

F~

12. Uma roda A, com raio de 20 cm, massa de 600 g e raio de giração de 12
cm (relativo ao seu eixo), está ligada a um motor que produz binário
M = 0.8 N·m no sentido indicado na figura. A roda B, com raio de 15
cm, massa de 400 g e raio de giração de 10 cm (relativo ao seu eixo)
mantém-se em contacto com a roda A, sem deslizar. A roda B está
ligada ao seu eixo por meio de um rolamento, que faz com que o atrito
no eixo seja desprezável. Determine a aceleração angular da roda B.
Sugestão: analise separadamente os diagramas de corpo livre das duas
rodas, tendo em conta que entre as rodas há força de atrito.

M
20 cm 15 cm
150 Dinâmica dos corpos rígidos

13. A caixa retangular homogénea na figura está ligada a duas dobradiças


que lhe permitem rodar para fechar a janela, ou abrir até a posição hori-
zontal apresentada na figura, para dar sombra durante o dia. A corrente
que segura a caixa na posição horizontal quebra-se repentinamente
e a caixa cai batendo na parede. Desprezando o atrito nos eixos das
dobradiças e a resistência do ar, calcule a velocidade angular com que a
caixa bate na parede.

1.0 m

m
2
1.

20 cm

14. Encontre a expressão do momento de inér-


cia de um cilindro de massa m e raio r 1 ,
com um orifício cilíndrico, coaxial, de raio
r 2 (menor que r 1 ), em torno do eixo do ci-
lindro. Sugestão: Determine a massa que
teria o cilindro completo, sem orifício, em
função de m, e a massa do cilindro que é
removido quando se faz o orifício; o mo-
mento de inércia é igual ao momento de
inércia do cilindro completo (consulte a ta-
bela 5.1), mais o momento de inércia do
cilindro que foi removido, admitindo que a
massa deste último seja negativa!
15. Para medir o momento de inércia de uma roldana com raio de 5 cm,
colou-se um fio que foi logo enrolado e ligado a um cilindro de massa
m = 80 g. O cilindro desce livremente desenrolando o fio e a acelera-
Respostas 151

ção angular da roldana foi medida, obtendo-se o valor α = 3 rad/s2 .


Sabendo que o atrito no eixo da roldana produz um binário constante
M = 0.02 N·m, no sentido indicado na figura, encontre o momento de
inércia da roldana em relação ao seu eixo.

Respostas

Perguntas: 1. E. 2. C. 3. B. 4. D. 5. C.
Problemas
~A = −187.9 ı̂ + 931.6 ̂
1. O prego exerce uma força de 1000 N, para baixo. F
(N)
2. Pneus da frente: R n = 3020 N, F a = 1256 N. Pneus trazeiros: R n = 1855 N,
F a = 0 (admitindo que as rodas trazeiras são perfeitamente livres). O
coeficiente de atrito estático mínimo é 0.416.
a = 6.89ı̂ (m/s2 )
3. (a) Altura mínima 38.6 cm, máxima 135.4 cm (b) ~
4. Neste caso R 2 = x 2 + y 2 e o volume do sólido é definido por −a/2 ≤ x ≤
a/2, −b/2 ≤ y ≤ b/2, −c/2 ≤ z ≤ c/2.
5. T A = 153.4 N, TB = 695.3 N, α A = αB = g /4 = 2.45 rad/s2
6. 0.21
7. (a) R n = 5455 N, F y = 1895 N. (b) F x = 1500 N, F y = 1426 N, R n = 5923 N.
8. 448 × 103 N.
9. (a) 559 N. (b) No camião atuam a tensão da corda, T ~ , o peso, P
~ , as
~1 e R
reações normais nas rodas, R ~2 , e as forças de atrito nas rodas, F
~1 e
152 Dinâmica dos corpos rígidos

~2 :
F

~1
N
~2
N
~
T

Fg
F~1 F~2

10. 0.7313 m/s2 .


11. (a) 2.64 s−2 . (b) 1.77 voltas. (c) 1.32 N.
12. 67.72 s−2 .
13. 5.274 s−1
m¡ 2 ¢
14. r 1 + r 22
2
15. 0.0062 kg·m2

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