2001 Mar 06
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ARTIGO ORIGINAL
Gráfico 1
Fig. 1
Caso 1: Imagem
ponderada em T2
mostra pequenas
pseudomeningoceles
nos recessos Figs. 3 e 4 – Caso 2: Espessamento e contorno irregular das divisões e
laterais esquerdos cordões do plexo braquial direito nas imagens ponderadas em T1 e si-
dos espaços C5- nal hiperintenso em T2 nos componentes do plexo braquial (setas).
C6, C6-C7, C7-T1
(setas).
Fig. 2 – Caso 1: Imagem ponderada em T1 mostra ausência da raiz C7 Fig. 5 – Caso 3: Imagem ponderada em T2 mostra atrofia da muscula-
esquerda no recesso lateral e forâmen neural esquerdo com a presença tura escalena direita com retração e irregularidade dos componentes
de pseudomeningocele (setas). do plexo braquial direito (setas).
TABELA 1
Casuística, achados da RM e a correlação eletromiográfica e cirúrgica
braquial podem ocorrer em qualquer local, desde a origem A eletromiografia pode ajudar na localização da lesão,
das raízes até os nervos periféricos(11), sendo classificadas uma vez que a anormalidade nos músculos paravertebrais
em relação à localização em centrais (espaço epidural e indica uma lesão proximal aos troncos do plexo e anorma-
forâmen neural(7)), ou pré-gangliônicas, e periféricas (do lidades nos músculos periféricos definem qual o território
forâmen neural até a axila(7)), ou pós-gangliônicas(13). Os dos nervos periféricos envolvidos(5,12). Portanto, ela é útil
acidentes motociclísticos são as causas mais comuns de na localização do nível da lesão e deve ser realizada antes
lesão por tração do plexo braquial(17) e o tratamento destas da avaliação por imagem(11). Entretanto, ela não é suficien-
lesões depende do seu nível e grau(13). temente confiável para diferenciar definitivamente se as
A distinção entre lesões proximais ou pré-ganglionares lesões são pré ou pós-ganglionares, na maioria dos ca-
e distais ou pós-ganglionares é um dos mais importantes sos(7,17).
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Fig. 10 – Caso 6: Seqüência de supressão de gordura inversion reco- Fig. 11 – Caso 6: Imagem ponderada em T1 mostra espessamento dos
very (STIR) mostra edema na musculatura escalena com perda do con- componentes do plexo braquial direito (setas).
torno dos componentes dos troncos dos plexos (setas).
Fig. 13 – Caso 7:
A mielografia convencional, apesar de até bem pouco Seqüência TSE
tempo ter sido considerada por alguns autores como gold ponderada em T2
standard no diagnóstico das plexopatias pós-traumáticas(15), mostra edema
medular de C4 a
é um método invasivo. Além disso, tanto a mielografia con- C7 (setas).
vencional quanto a mielotomografia envolvem os riscos
de reação ao contraste e exposição à radiação ionizante(10).
A avaliação detalhada do plexo braquial é possível com a nal, o que proporciona um contraste intrínseco entre estas
RM pela habilidade multiplanar e elevada resolução, pro- estruturas, bem como as relações do plexo com a artéria
porcionando melhor definição anatômica(5,11) sem a neces- axilar permitem identificá-lo facilmente por este méto-
sidade de administração do material de contraste intratecal do(1,5,7,12). Além disso, a RM oferece a vantagem adicional
como na mieloCT ou endovenoso como na tomografia con- de visualizar os nervos distais aos forâmens vertebrais, sen-
vencional do plexo braquial(9). do atualmente considerado o método de escolha na avalia-
Na RM, os nervos e a gordura perineural são facilmente ção pré-operatória do plexo braquial(4,5,7,18). Os achados da
identificados pelas suas diferenças em intensidade de si- RM vão depender de a lesão ser aguda ou crônica(14).
14 16
15 17
Figs. 14 e 15 – Caso 7: Seqüência TSE ponderada em T2 mostrando Figs. 16 e 17 – Caso 8: Seqüências gradiente echo (FFE) ponderadas
espessamento e avulsão da raiz C7 esquerda. Imagem ponderada em T1 em T1 e T2 mostrando ausência das raízes C5, C6 e C7 nos recessos
mostra avulsão da raiz C7 esquerda (setas). laterais esquerdos com pequena pseudomeningocele no espaço C6-C7
esquerdo.
A RM pode identificar hematoma, edema, fibrose, ruptu-
ra da musculatura escalena, pseudomeningocele, espessa- As raízes nervosas podem apresentar sinal hiperintenso
mento do plexo e distorção com a presença de massas indi- em T2, provavelmente representando edema radicular(5,12,18).
cando a formação de neuromas pós-traumáticos(7,9). Os ner- Neuromas pós-amputação são identificados como espes-
vos normais aparecem como estruturas lineares com sinal samento neural em imagens ponderadas em T1 e apresen-
hipointenso (similar ao do músculo) circundado por gor- tam sinal hiperintenso em T2 e STIR, indicando edema ou
dura em todas as seqüências(4,7,14). A lesão é classificada resposta inflamatória(11), ou podem apresentar-se como mas-
como avulsão radicular na ausência do sinal hipointenso sas hiperintensas em T2(7) ou ainda massas isointensas aos
da raiz circundada pela gordura no interior no forâmen neu- nervos em imagens ponderadas em T1 e T2(8).
ral(5,11,12), ou quando as raízes anteriores e posteriores são Estudos têm mostrado que a RM é equivalente em acurá-
claramente identificadas destacadas da medula(13). As avul- cia diagnóstica à mielografia convencional, sendo supe-
sões radiculares ocorrem mais freqüentemente na junção rior no diagnóstico de avulsões radiculares das raízes C5 e
cérvico-torácica (raízes C7 e C8) (15), podendo estar rela- C6(13), bem como tem demonstrado elevada sensibilidade,
cionadas a rupturas da dura com formação de pseudome- especificidade e acurácia em estudos comparativos com ci-
ningoceles. Pseudomeningoceles são dilatações císticas do rurgia(10) e potencial evocado peroperatório(9).
saco tecal, que se estendem aos forâmens neurais e até a No presente trabalho, todos os casos apresentaram ple-
região paravertebral, podendo ocorrer com ou sem avulsão xopatia pós-tração secundária a acidente automobilístico
radicular associada(1,13). ou motociclístico e a RM teve um papel essencial no diag-
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nóstico das alterações estruturais do plexo, definindo o ní- similares, o que poderia dificultar uma diferenciação se-
vel das lesões e permitindo classificá-las em pré e pós-gan- gura através do método.
glionares. Foi claramente demonstrado também através da O tratamento das lesões pós-traumáticas do plexo pode
RM um amplo espectro de achados dependentes do tempo ser complicado na prática pela freqüência de lesões em mais
de evolução das lesões. Alterações medulares foram iden- de um nível com diferentes graus de gravidade, sendo es-
tificadas em dois casos de lesão pré-ganglionar de evolu- sencial para o planejamento cirúrgico(13) definir a presença
ção recente e constituíram evidência indireta de lesão in- de lesão intradural. Enxertos malsucedidos dos nervos po-
tradural. A visualização de avulsão radicular foi possível dem ser o resultado da não identificação de avulsão intra-
em quatro casos, sendo nestes claramente identificadas as dural completa ou incompleta(17). No presente, o método
raízes destacadas da medula cervical em associação com a mais confiável na detecção de avulsão radicular é a explo-
presença de pseudomeningoceles. ração cirúrgica com registro de potenciais evocados para
O aspecto diagnóstico conflitante comparado com a ci- cada nervo(13).
rurgia foi a diferenciação entre a presença de neuromas e a
distorção do plexo causada por fibrose em um caso de le- CONCLUSÃO
são crônica do plexo braquial. Naquele caso, a RM mos-
trou espessamento e distorção do plexo que sugeriram a A presente série de pacientes, apesar de limitada, confir-
possibilidade de neuromas pós-amputação e durante a ci- ma a tendência de outros estudos prévios que afirmam que,
rurgia foi comprovado serem estas alterações causadas por cada vez mais, a ressonância magnética deve ocupar posi-
fibrose. A literatura tem mostrado sobreposição de acha- ção de destaque como método complementar não invasivo
dos no diagnóstico de neuromas pós-amputação e fibrose, no diagnóstico das lesões pós-traumáticas do plexo bra-
uma vez que tem sido descrito que tanto a fibrose quanto quial, permitindo excluir ou demonstrar a presença de le-
os neuromas podem apresentar-se como distorção e espes- são intradural orientando a conduta terapêutica mais apro-
samento das raízes com características de sinais por vezes priada para cada caso.
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