18442-Texto Do Artigo-62310-1-10-20161107
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ESPAÇOS COSTEIROS
04 a 07 de outubro de 2016
Resumo
1. INTRODUÇÃO
Os espaços costeiros sempre foram o lócus de diversidade de transformações,
explorações e modo de vida dos quais compartilham do mesmo espaço. Os espaços
costeiros baiano não é diferente, caracterizados por uma dinâmica ambiental específica
bem como uma grande quantidade de comunidades que vivem sobretudo da atividade
pesqueira como sua principal fonte de renda e reprodução da vida há muito tempo.
Porém esses espaços passaram a ser valorizado e explorados por outras atividades
III SEMINÁRIO NACIONAL
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São Sebastião é uma localidade com cerca de 729 habitantes que vive
basicamente da atividade pesqueira praticada na praia, mar aberto e recifes da costa
oceânica, bem como na zona estuarina do município. Porém, tais atividades vêm
sofrendo por ameaças a sua prática devido a exploração de gás no litoral, sobrepesca e
principalmente a expansão do turismo, foco do presente trabalho. Recentemente essa
ameaça se tornou mais real a partir do processo de licenciamento de um novo
empreendimento turístico que irá circundar a localidade e gerar uma série de impactos
negativos a população e sua atividade fonte de renda.
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Foram realizadas entrevistas com pescadores, donos de restaurantes, moradores locais. Foram aplicados
159 questionários dos 220 domicílios locais.
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Em seu processo histórico Cairu passou por grandes modificações em seu espaço
marcado pelo projeto de desenvolvimento em cada período, influenciado pela sua
situação de ilha. Assim, em seu surgimento, pode integrar a rota de ocupação espacial
do Brasil no período colonial (MORAES, 1999). Observa-se então o primeiro grande
momento do processo de produção e ocupação do espaço de Cairu é a chegada de novos
moradores e o desenvolvimento das primeiras atividades econômicas entre os séculos
XVI e XVII, após da expropriação e realocação territorial dos indígenas (MOREIRA,
2011; RISÉRIO, 2003; SOUSA, 1971; OLIVEIRA, 2006,)
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Com uma população com cerca de 729 habitantes (IBGE, 2010), Cova da Onça,
como é denominada pelos moradores locais, tem seu acesso se dado principalmente de
barco ou lancha, vindos de Valença (duração de 3 horas em média) ou via terrestre
associado ao barco. Essa dificuldade de acesso dificultou e ainda dificulta a saída
constante da população para realizar atividades profissionais e educacionais em outras
áreas fora da localidade.
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Daqui, para aqui mesmo. Nós convivemos apenas com a pesca mas é um
local tranquilo e calmo [...] Tem gente aqui que não quer sair para fora, já é
acostumado aqui em cova da onça e não quer sair para fora. Ainda mais hoje
em dia que está essa violência ai, e para conseguir emprego é difícil e as
pessoas só conseguem arranjar emprego se tiver um segundo [...] mas a não
ser e aqui não, a pessoa já convive a tantos anos através da pesca. Você
consegue o peixe, já vai ali e consegue um trocado, ai agora bota um manzuá
e arranja outro trocado e na cidade não, na cidade a pessoa tem que correr
atrás de trabalho e mesmo assim se tiver um curso pronto. Se não tiver um
curso de segundo grau não pega um emprego e nem nada (Pescador, 48 anos,
2014).
Para falar a verdade não. Cidade não é comigo! Do jeito que a cidade está
violenta, não sabe se volta com vida. É difícil [...] O único lugar que eu sai
para trabalhar foi para Morro de São Paulo, por 4 meses. Cairu que é Cairu
eu vou ali, minha irmã mora em Valença eu agoniado para vir embora, fico 2
dias, fico querendo vir embora, quem dirás em outra cidade? Cidade grande
não é comigo. O que é a cidade hoje rapaz? a cidade está muito violenta!
você é doido?! a pessoa sai e não sabe se volta, na ilha não, a pessoa tá
tranquila, tá de boa (Pecador, 44 anos, 2014).
Percebe-se que a pesca é de grande importância na localidade e está inserida e
com forte interação com as outras atividades econômicas. A mesma está presente como
principal fonte de renda de grande parte dos moradores e como fonte secundária
também, mas acima de tudo está inserida nos modos de vida da população, expressos na
cotidianidade do local.
Sendo assim, percebe-se que o turismo pouco oferece para a população, que
termina desenvolvendo nas atividades cotidianas ligadas principalmente com a pesca.
Porém nos últimos anos a dinâmica socioambiental da comunidade e prática pesqueira
vem sendo ameaçada com um projeto de um empreendimento hoteleiro que circundará a
localidade e tomará boa parte da ilha de Boipeba.
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Observa-se que a comunidade passa a ter sua dinâmica ameaçada bem como sua
a reprodução de suas atividades profissionais também, já que o empreendimento irá
provocar mudanças em terra e em alto mar. Foram então apontadas ameaças que tal
empreendimento juntamente com o aumento do fluxo do turismo poderá causar à
localidade.
Outro ponto levantado é a obstrução das vias terrestres que dão acesso aos
pesqueiros, utilizados pelos pescadores. Tais obstruções passarão a retirar o direito de ir
e vir e de uso do espaço por parte dos pescadores. Vale ressaltar que atualmente já
existem conflitos por parte de proibições de comércio em umas das praias que
circundam a localidade em detrimento ao fluxo turístico externo.
Embora haja essa mais nova ameaça a atividade em São Sebastião, verifica-se
que a atividade pesqueira vem sendo impactada pelo turismo há muito tempo, através da
desvalorização da mesma como atividade e modos de vida, que abrange a localidade por
completo. Logo a atividade passa a ser desenvolvida através de conflitos as quais
terminam reconfigurando esses espaços.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode ser percebido que a atividade turística vem se expandindo nas áreas
litorâneas, passando a ser o vetor de transformação e crescimento econômico, e não
desenvolvimento. No caso de Cairu, no qual teve um processo histórico marcado por
uma inércia econômica, a atividade turística veio proporcionar um novo dinamismo
municipal, sobretudo econômico. Porém existem atividades de grande relevância
cultural, social, ambiental que não está sendo respeitada ao adotar o turismo.
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Referências
CARNEIRO, M. J. O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário dos jovens rurais. In:
ILVA, F. C. T (Org.). Mundo rural e política: ensaios interdisciplinares. Rio de
Janeiro: Campus, 1999. p. 97-117.
FLEXOR, Maria Helena Matue Ochi Flexor. Era uma vez ... a mata. In: VI Seminário
Internacional Dinâmica Territorial e Desenvolvimento Socioambiental: Desafios
Contemporâneos, 2011, Salvador. Seminário Internacional Dinâmica Territorial e
Desenvolvimento Socioambiental: Desafios Contemporâneos. 6. Salvador: Programa
de Pós-Graduação da UCSal, 2010. v. 1. p. 36-36.
RISÉRIO, Antônio. Tinharé: História e Cultura no Litoral Sul da Bahia. Salvador: BYI
Projetos Culturais Ltda, 2003.
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Disponível em: <
http://www.novomilenio.inf.br/santos/lendas/h0300a2.pdf>. Acesso em 19 mai. 2014.