Dissertação ElisangelaSilva PPGSCA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM

INSTITUTO DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIEDADE E CULTURA
NA AMAZÔNIA

INDÍGENAS NO CONTEXTO URBANO: IDENTIDADE, CULTURA E EDUCAÇÃO


DOS INDÍGENAS RESIDENTES NA COMUNIDADE NAÇÕES INDÍGENAS TARUMÃ
MANAUS.

Elisãngela Guedes da Silva

MANAUS, 2019
Elisãngela Guedes da Silva

INDÍGENAS NO CONTEXTO URBANO: IDENTIDADE, CULTURA E


EDUCAÇÃO DOS INDÍGENAS RESIDENTES NA COMUNIDADE NAÇÕES
INDÍGENAS TARUMÃ MANAUS.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em


Sociedade e Cultura na Amazônia, da Universidade Federal do
Amazonas, como parte dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia.

Orientadora: Prof. Dra. Heloísa Helena Corrêa da Silva

MANAUS, 2019
3

Ficha Catalográfica
Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a)
autor(a).
4

ELISÃNGELA GUEDES DA SILVA

Indígenas No Contexto Urbano: Identidade, Cultura e Educação dos Indígenas


Residentes Na Comunidade Nações Indígenas Tarumã Manaus.

Dissertação apresentada ao Curso Mestrado da


Universidade Federal do Amazonas – UFAM,
como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre do Programa de Pós-Graduação em
Sociedade e Cultura na Amazônia, área de
Concentração: Processos socioculturais na
Amazônia.

Data da defesa: 09/07/2019.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Prof.ª Dr.ª Heloísa Helena Corrêa da Silva

(Presidente)

Universidade Federal do Amazonas

_________________________________________

Odenei Ribeiro de Souza

(Membro)

Universidade Federal do Amazonas

_______________________________________

Raimundo Nonato Pereira da Silva

(Membro)

Universidade Federal do Amazonas


5

EPÍGRAFE

Ao Deus pai todo poderoso que sempre


está comigo, está no comando de tudo, a
minha mãe e protetora Nossa Senhora,
ao meus pais Francisco e Maria Meu
esposo Elciney Alfaia, meus filhos
Gabriel, Gabriela, Ely Neto, as minhas
irmãs e irmãos, e, em especial, a minha
neta Maria Clara.
6

AGRADECIMENTOS

As vertentes para a concretização deste trabalho foram longos e cansativos, muitas


foram às transformações na minha vida, minha família, meu trabalho, mas muitos foram os
colaboradores que diminuíram este cansaço e tornaram possível a conclusão desta pesquisa.

Primeiramente ao meus Deus todo poderoso, que me permitiu realizar esse sonho,
a minha mãe Nossa Senhora que em momentos de angustias, pedia auxilio e sempre fui e sou
atendida.

Dentre estes destacarei alguns que foram peças fundamentais durante esse
processo. À Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e ao Programa de Pós-graduação
em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSA), que abriram as portas para que eu pudesse
dar esse importante passo na carreira profissional e na realização de um sonho. Aos Drs. Que
construíram pensamentos de liberdade para com a turma do mestrado de 2018, que
apresentarem importantes teóricos e possibilitarem discussões relevantes para construção
deste trabalho. Quero dizer “meu muito obrigada”, especialmente, à minha orientadora Dra.
Heloísa Helena Corrêa da Silva que inúmeras vezes mostrou uma nova forma de
conhecimento, com uma postura exemplar de responsabilidade, coerência, e apoio
incondicional ao nosso trabalho de pesquisadoras. Ao prof. Dr. Odenei Ribeiro e Dr.
Raimundo Nonato membros da banca de defesa da dissertação com contribuições valiosas.
Aos colegas da turma em especial ao Adriano Feitosa (razão) e Félix Cândido (emoção)
novos amigos.

As coordenadoras do Distrital Dariana Z. Corrêa Lopes e Rita Pereira dos Santos


pelo apoio e compreensão durante o curso do mestrado, porque trabalhava e estudava ao
mesmo período.

Aos Cacique Sebastião Kokama, Augusto Miranha e Pedro Mura lideranças da


comunidade Nações Indígenas localizada em Manaus, onde o interesse em pesquisar sobre os
povos indígenas surgiu. Ao coordenador da COPIME – Turí Sateré. Ao pedagogo da Gerencia
Escolar Indígena-SEDUC, José Farias pela disponibilidade das informações solicitadas. Aos
gerentes da Educação Escolar Indígena Centro de Formação profissional-CEPAN, Gerente
Carla Valentina, Coordenadora de Formação Andrea Sebastiana, Formador Rauciele da Silva
Cazuza, meu muito obrigada pela disponibilidade da pesquisa documental que entregaram a
7

minha pessoa. Aos gerentes da Educação Indígena da SEMED Dr. Glademir e Dra. Altaci
Rubim, pelo incentivo e as informações repassadas durante esse processo.

Aos colegas de trabalho, na pessoa da pedagoga e mestra Lana Barros, que


ajudaram de forma a organizar, e realizar as atividades mesmo sem a minha presença e tudo
acontecia perfeitamente.

Aos amigos de infância Charles Maciel Falcão pelas orientações e incentivo, aos
compadres Manuela Dantas e Azenilton Melo, pelas orientações, angustias e incentivos. Aos
meus irmãos: Penha, Raimundo, Elpidio, Izabel, Lídia, Lourenço e Daniele por inúmeras
vezes me deixarem de fora das situações de família que precisavam resolver, pelas orações e
por estarem comigo nesse sonho. Aos meus filhos Gabriel, Gabriela, Ely Neto, obrigada por
entender os dias, noites, que fiquei no quarto trancada, escrevendo, e vocês compreendiam
minha situação, e sonhavam comigo a conquista dos conhecimentos adquiridos.

Ao meu amor Elciney Alfaia, um dos maiores presentes que Deus reservou para
mim. Minha vida como ele mesmo me chama, como você foi e é importante na minha vida.
Tenha certeza que teria sido muito mais complicado se você não tivesse do meu lado. Nas
horas dos sonos, dos choros, das alegrias. Da pesquisa de campo, nas defesas em tudo, você é
meu melhor amigo, amor. Obrigada por tudo, como eu falo sempre metade do título é teu.

O agradecimento mais especial aos meus pais Francisco Castro e Maria Guedes,
meus maiores exemplos, esse sonho de se tornar mestra, foi construído há anos atrás quando
aprendi e ouvi de vocês que para sermos alguém na vida precisávamos estudar muito, pois eu
tinha nascido no momento difícil de que a família estava passando. Mas, vocês sendo
semianalfabetos sabiam que para os filhos terem um futuro melhor que o de vocês precisavam
estudar. Assim, mudaram do interior para a cidade com um objetivo proporcionar aos filhos
educação. Pai e mãe vocês fizeram tudo certo, conseguiram, por isso estou me tornando
mestre, mas meu sonho ainda não termina aqui, vou ser doutora, para ratificar os
ensinamentos de vocês... que inúmeras vezes falara [...]“que através dos estudos você será
alguém”. Amo vocês e enfatizo que: a filha de vocês está concretizando os sonhos vocês
sonharam para ela.
8

É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num
dado momento, a tua fala seja a tua prática.

Paulo Freire
9

RESUMO

A presente dissertação versa sobre os indígenas em contexto urbano, com o


objetivo de compreender os processos sociais e culturais dos participantes da pesquisa, que
vivem na cidade de Manaus em relação a sua cultura e educação. Para tanto, algumas questões
nortearam a pesquisa: como podemos compreender, a partir da situação atual dos indígenas
que vivem na cidade de Manaus, possibilita-se a reflexão acerca de como a cultura indígena, e
o processo da educação escolar estão sendo preservados. A metodologia adotada parti da
pesquisa bibliográfica, documental, pesquisa de campo, enfatizando a observação. A
dissertação divide-se em três capítulos. O primeiro capítulo é constituído pela Sócio gênese,
uma descrição acerca do cenário histórico etnográfico onde emergem os Kokama, povo foco
da pesquisa, enfatizando as relações de fronteira de território e cultura com não-indígenas na
cidade de Manaus. Este capítulo está dividido em três sub-tópicos: 1. Indígenas na cidade e a
legislação brasileira, 2. Direitos Indígenas na Constituição Federal de 1988, A LDB e as
diretrizes para a implantação das escolas indígenas. O segundo está centrado no processo de
migração indígena Kokoma para cidade de Manaus. Divide-se em dois sub-tópicos: 1. O
processo de migração e a organização das comunidades na cidade, 2. A luta pela visibilidade.
3. Pensando na trajetória histórica, analisando os percalços enfrentados pelos Kokama e sua
força em resistir às retaliações hegemônicas, tornou-se crucial buscar compreender as
motivações, os dispositivos, os mecanismos e as redes de relações sociais e culturais. O que
motivou a escrita do terceiro e último capítulo versa sobre aos indígenas que moram no
contexto urbano analisando as características ditas “tradicionais” e os seus aspectos culturais
presentes na atualidade, sua organização, seu espaço político na cidade e sua mobilização por
reafirmação de sua identidade étnica na Comunidade Nações Indígenas no bairro Tarumã.
Além de explicitar as organizações e as lideranças desse povo na cidade de Manaus, presentes
nas sociedades urbanas e as implicações presentes no processo de ressignificação da cultura.
Estão vivenciando e quais as formas de preservação da cultura através da língua materna.

PALAVRAS-CHAVE: Contexto Urbano. Migração. Educação.


10

ABSTRACT

The present dissertation is about the Indians in an urban context, with the purpose of
understanding the social and cultural processes of the participants of the research, who live in
the city of Manaus in relation to their culture and education. To that end, some questions
guided the research: how can we understand, based on the current situation of the natives
living in the city of Manaus, it is possible to reflect on how the indigenous culture and the
process of school education are being preserved. The methodology adopted was based on
bibliographical research, documentary, field research, emphasizing observation. The
dissertation is divided into three chapters. The first chapter is made up of the Genesis Partner,
a description of the ethnographic historical setting in which the Kokama, the research focus
population, emerge, emphasizing the territory-culture and non-indigenous relations in the city
of Manaus. This chapter is divided into three sub-topics: 1. Indigenous in the city and
Brazilian legislation, 2. Indigenous Rights in the Federal Constitution of 1988, The LDB and
the guidelines for the implementation of indigenous schools. The second is centered on the
process of Kokoma indigenous migration to the city of Manaus. It is divided into two sub-
topics: 1. The process of migration and the organization of communities in the city; 2. The
struggle for visibility. 3. Thinking about the historical trajectory, analyzing the setbacks faced
by the Kokama and their strength in resisting hegemonic retaliation, it became crucial to seek
to understand the motivations, devices, mechanisms and networks of social and cultural
relations. What motivated the writing of the third and last chapter is about the indigenous
people who live in the urban context, analyzing the so-called "traditional" characteristics and
their present cultural aspects, their organization, their political space in the city and their
mobilization by reaffirmation of their ethnic identity in the Indigenous Nations Community in
the Tarumã neighborhood. Besides explaining the organizations and the leaderships of these
people in the city of Manaus, present in the urban societies and the implications present in the
process of re-signification of the culture. They are living and what are the ways of preserving
culture through the mother tongue.

KEY WORDS: Urban Context. Migration. Education.


11

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Quadro com as etnias em Manaus, Fonte FUNAI - AM ..................................... 53

Figura 02 – Tabela de Explicação dos Centros Indígenas de Manaus.................................... 61

Figura 03 –Tabela de Explicação das Matrizes Curriculares Indígena Ensino Fundamental .. 66

Figura 04 –Tabela de Explicação das Matrizes Curriculares Indígena Ensino Fundamental .. 67

Figura 05 - Tabela com os municípios atendidos com Educação Indígena pela SEMED ....... 71

Figura 06 – Tabela do plano de formação professores indígenas........................................... 74

Figura 07 – Tabela das formações dos Professores Indígena................................................. 75

Figura 08 – Mapa do caminho percorrido pelos Kokamas do Peru até Manaus ..................... 81

Figura 09 – Recorte da Nova cartografia Social da Amazônia, referência Kokama ............... 84

Figura 10 - Recorte da Nova cartografia Social da Amazônia, referência Kokama ............... 85

Figura 11 - Recorte da Nova cartografia Social da Amazônia, referência Kokama ............... 86

Figura 12 – Mapa da autoidentificação das etnias indígenas em Manaus .............................. 97

Figura 13 – Mapa da autoidentificação das línguas faladas indígenas em Manaus ................ 98

Figura 14 – Mapa da autoidentificação das etnias indígenas em Manaus por bairro .............. 98

Figura 15 – Reunião na COPIME ......................................................................................... 99

Figura 16 – Copime ........................................................................................................... 100


12

LISTA DE IMAGENS

Foto 1 – Reunião da COPIME......................................................................................... 100

Foto 2 – Reunião da COPIME......................................................................................... 106

Foto 3 – Cacique da Kokama ............................................................................................. 107

Foto 4 – Líder Augusto Mura......................................................................................................... 108

Foto 5 – Rua principal que dá acesso a comunidade ........................................................ 110

Foto 6 – Vista da parte de cima da Comunidade .............................................................. 110

Foto 7 – Guedes em visita a comunidade, acompanhada das lideranças ........................... 111

Foto 8 – Imagem do chapéu de palha, que estava em funcionamento até 2018) .......................... 113

Foto 9 - Imagem do chapéu de palha ............................................................................... 113

Foto 10 – Pesquisa de campo, ano 2019 - rua de principal Acesso a Comunidade Nações
indígenas......................................................................................................................... 119
Foto 11 – Pesquisa de campo ano 2019, imagem da ausência de serviços públicos. Coleta de
lixo .............................................................................................................................. 120

Foto 12 – Pesquisa de campo, ano 2019. Imagem de uma das ruas da Comunidade Nações
Indígenas. ....................................................................................................................... 121
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LISTA DE SIGLAS

CEMEEI – Centro Municipal de Educação Escolar Indígena

CF – Constituição Federal

CIMI – Conselho Indigenista Missionário

CIMI – Conselho Indigenista Missionário

CNE – Conselho Nacional de Educação

COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira

COPIME – Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno

DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

DCNs – Diretrizes Curriculares Nacionais

FOREEIA- Fórum de Educação Escolar Indígena do Amazonas

FUNAI – Fundação Nacional do Índio

GEEI – Gerência de Educação Escolar Indígena

GEI – Gerencia de Educação Indígena

GT – Grupo de Trabalho

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LBI – Lei Brasileira de Inclusão

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais


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LOMAN – Lei Orgânica do Município de Manaus

MEC – Ministério da Educação e Cultura

PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola

PME – Plano Municipal de Educação

PNE – Plano Nacional de Educação

PPP – Projeto Político Pedagógico

RCNEI – Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas

SECADI - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão.

SEMED - Secretaria Municipal de Educação

SPI – Serviço de Proteção ao Índio

T. I. – Terra Indígena

UFAM – Universidade Federal do Amazonas

UMIAB – União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira


15

SUMÁRIO
Introdução .......................................................................................................................... 17
1. Capítulo 1 - Indígenas em contexto urbano e a legislação brasileira ........................... 23
1.1. Direitos Indígenas na Constituição Federal de 1988 ...................................................... 23
1.2. Declaração de Princípios IX Encontro dos Professores Indígenas do AM, RR e AC. ..... 25
1.3. Criação Ministério da Educação e Cultura – (MEC) ..................................................... 26
1.4. A LDB e as Diretrizes para a Implantação das Escolas Indígenas. ................................. 28
1.5. Plano Nacional de Educação ......................................................................................... 31
1.6. Convenção 169 da organização internacional do trabalho (OIT) ................................... 31
1.7. Conselho Nacional de Educação.................................................................................... 32
1.8. Referencial Curricular Nacional Para Escolas Indígenas (Rcnei) .................................. 34
1.9. Retrospectiva Histórica da Educação Indígena no Brasil ............................................... 35
1.10. Da República Nova ao Governo Militar de 1964 a Educação Escolar Indígena no Brasil38
1.11. História da Educação Indígena No Amazonas ............................................................. 41
1.12. Autonomia, Movimento Indígena Educação Escolar: Caminhos para a Educação
Intercultural Bilíngue. .......................................................................................................... 45
1.13. Formação de Professores Indígenas em Cursos de Licenciaturas Indígenas.................. 48
1.14. Configurações Acerca dos Indígenas em Contexto Urbano na Pan-Amazônia ............. 51
1.15. Educação Escolar Indígena pela Estrutura da Secretaria Municipal de Educação- Semed.55
1.16. Contexto histórico da educação escolar indígena de Manaus (2002-2017). .................. 56
1.17. Proposta Pedagógica da Secretaria Estadual de Educação. ........................................... 63
1.17.1. Gerência de Educação Escolar Indígena- Geei - A luz da Lei Federal criou-se a Lei
Estadual ............................................................................................................................... 63
1.17.2. Formação do Grupo de Trabalho (GT) Por Intermédio do CEEI ............................... 63
1.17.3. Proposta pedagógica de matrizes curriculares interculturais de referência para as
escolas indígenas no Amazonas: ensino fundamental e ensino médio. .................................. 64
1.17.4. Centro de Formação Profissional Pe. José Anchieta – CEPAN ................................. 71
2. Capítulo 2 – Caminho percorrido até a metrópole Manaus ......................................... 75
2.1. Indígenas e o processo de migração para a cidade.......................................................... 75
2.2. A Irmandade da Santa Cruz: um reflexo da migração dos indígenas da Pan Amazônia. ............... 77
2.3. Do início da aldeia no Peru e Colômbia a cidade: o caminho percorrido pelos indígenas
Kokama até Manaus............................................................................................................. 78
2.4. A luta pela visibilidade na cidade: o início das lutas, organizações. ............................... 81
2.5. Registro da história do “Mestre Supremo” de todo conhecimento da medicina .............. 90
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2.6. A presença multiétnica na cidade de Manaus: a cultura e vida social dos indígenas e não-
indígenas.............................................................................................................................. 93
2.7. Os Kokamas na Cidade de Manaus - Contribuições retiradas do documento oficial do
povo Kokama: ASSOCIAÇÃO DOS INDIOS KOKAMAS RESIDENTES NO MUNICIPIO
DE MANAUS-AM .............................................................................................................. 94
2.8. Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno – COPIME............................. 95

3. Capítulo 3 – As Comunidade Indígenas que se auto declaram Kokama localizadas em


Manaus. ............................................................................................................................ 100
3.1. Lócus da Pesquisa de Campo. ...................................................................................................... 102
3.2. A Comunidade Nações Indígenas................................................................................................. 105
3.3. Histórico da fundação da Comunidade (relatada no estatuto dos indígenas Kokoma) .. 105
3.4. Antropologia Social E Cultural Dos Indígenas Moradores Da Comunidade, A Vida Social
No Contexto Urbano. ......................................................................................................... 113
Considerações Finais ......................................................................................................... 122
Referências ........................................................................................................................ 127
Apêndice............................................................................................................................ 131
Anexos .............................................................................................................................. 136
17

INTRODUÇÃO

A Amazônia concentra a maior população indígena com cultura preservada, dados


comprovam que no Brasil a maior concentração de Indígenas vivendo em contexto urbano
localiza-se na região norte. No Amazonas as cidades que se destacam com povos indígenas
em contexto urbano, no Alto Solimões, Tabatinga, São Gabriela da Cachoeira, e a capital do
estado Manaus. Nesse contexto urbano, com os resultados dos ciclos econômicos implantados
na região Amazônica, as transformações nas últimas décadas, habita a cidade de Manaus
vários povos de populações tradicionais: os Tikuna, os Tukano, os Kambeba (Omáguas), os
Baré, os Sateré-Mawé, Kokama, Mundurucu, Apurinã dentre outros. De acordo com a fonte
da Coordenação dos povos Indígenas de Manaus e Entorno (COPIME).

Mapeamentos foram realizados e identificado o número de povos indígenas que


vivem nos bairros de Manaus tanto entre grupos e etnias. O indígena no contexto urbano
adentra uma temática discutida, pesquisada, debruçada sobre os movimentos das mudanças
culturais, territoriais dos indígenas que migram para a cidade. Os estudos sobre os povos
indígenas em contexto urbano circulam por um campo com uma temática complexa, em
movimento, onde os desafios, as incertezas e as surpresas sempre se fazem presentes.

Nos últimos anos verificou-se a criação de novas organizações indígenas e


indigenistas pelo Brasil, novas não apenas em termos de sua formação recente, mas, nos
princípios de suas funções e características políticas. Sahlins, (1997, pág78) diz que “apesar
de os indígenas se encontrarem situados em meio urbano, em outro contexto sociocultural,
suas raízes e identidade permanecem baseados na aldeia”. A migração para as cidades não
desvincula o indígena de sua origem étnica: no contexto urbano a sua identidade é reafirmada,
pois o indígena onde se encontrar vai ser indígena. Na teia das relações urbanas eles são parte
de uma sociedade dispersa, porém centrada na terra natal e unida por uma contínua circulação
de pessoas, ideias e sobrevivência.

O estudo aqui realizado trata-se sobre os indígenas em contexto urbano, em


referência à continuidade da cultura através do modo de vida no contexto urbano, para os
descendentes indígenas nascidos na cidade, ponto importante para conhecer-se a história e
vida dos indígenas, pode-se verificar no desdobramento da legislação brasileira com a
Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a lei Organização
Internacional do Trabalho - OIT sobre Povos Indígenas e Tribais.
18

Em mais detalhes a lei 11.645 de 10 de março de 2008, a partir da lei a


obrigatoriedade do ensino de história e cultura indígena nas instituições ensino inserida na
proposta pedagógica como componentes curricular das escolas públicas, contextualizando os
temas abordados de acordo com a realidade dos alunos, que ao adentrarem o mundo da
pesquisa, se tornarão pesquisadores e conhecedores da história e cultura dos indígenas da
Amazônia, trazendo conhecimentos grandiosos e tornando a realidade sobre cultura indígena
visível.
Neste sentido é de fundamental importância a abordagem do tema étnico nas
escolas como processo de análise sobre o como a escola pública contribui para que as crianças
indígenas descendentes estão conhecendo a história de seus ancestrais. Se há construção da
interação das escolas e os descendentes indígenas, no tocante a escola utilizar a experiência
vivenciada pelos alunos descendentes ,valorizando a experiências de vida que trazem para a
escola, seria uma gama de conhecimento e cultura, que fomentaria nos alunos o
reconhecimento a “outra realidade indígena” sem ser a que foi criada como mito pelos
colonizadores no período da colonização e que até hoje é disseminada nas escolas,
propiciando um pensamento confuso em relação à cultura.

O objeto da pesquisa está centrado nos indígenas que vivem em contexto urbano,
enfatizando a trajetória histórica do povo Kokama, seu processo de transformação cultural e
social, sua batalha política por reconhecimento, pela demarcação de terras, pela educação
diferenciada, pelo direito a saúde e ao Registro Administrativo de Nascimento do Índio. No
interior desta pesquisa trabalha-se a categoria “cultura” com base em Barth (2000), o autor
gerou uma mudança analítica na conceitualização de etnicidade. Enfatizando a educação
escolar indígena mapeada pela Secretaria Municipal de educação no município de Manaus e a
Secretaria Estadual de Educação como responsável pelos municípios do Estado do Amazonas.

Em referência a categoria “indígenas vivendo em cidades” reporta-se aos


trabalhos realizados anteriormente pela pesquisadora e orientadora Heloísa Helena Corrêa da
Silva, que realiza um trabalho minucioso e historicamente cronológico sobre os povos
indígenas no contexto urbano e sua teia social na Pan-Amazônia. Em referência a seu trabalho
pode-se verificar na afirmação de CORRÊA DA SILVA, Heloísa Helena “No longo processo
de colonização do Brasil, o contato com os colonizadores levou sociedades inteiras a extinção,
muitas foram acometidas de moléstias, com a exploração da sua mão-de-obra, outras foram e
19

ainda são perseguidas, expropriadas de suas terras e consequentemente de suas condições de


vida natural. O Estado do Amazonas é, dentre os estados brasileiros, o que abriga maior
número de populações indígenas no Brasil, um quarto (¼)1 da população indígena do país,
isso se explica pelo processo de ocupação, colonização/exploração e desenvolvimento, o que
influenciou significativamente na formação e composição da atual população regional, sendo
uma das particularidades da região Amazônica”. (CORRÊA DA SILVA, Heloísa Helena, 2008,
pág. 6). As informações valiosas, nos trabalhos sobre os indígenas vivendo em cidades,
indígenas urbanos, indígenas citadinos, indígenas em contexto urbano podem ser encontradas
em outras obras da qual a referida autora faz parte, com ênfase no estudo sobre La cuestión
indígena en las ciudades de las Américas, que abordam o contexto social dos indígenas
pertencentes a Pan-Amazônia.

Ao conhecer a Amazônia de uma forma unificada, compreende-se a necessidade


de respeitar as várias Amazônias que compõem uma grande região, onde cada uma tem
características regionais diferentes, culturas e povos indígenas de diferentes etnias, que vivem
no processo de migração constante.

Para não se desprender do tema desta pesquisa, indígenas em contexto urbanos, é


um dos aspectos centrais a ser discutido, utilizando, de um lado, autores que tratam de
esclarecer o processo de migração e adaptabilidade dos indígenas nos centros urbanos.
Recorre-se a leituras de João Pacheco de Oliveira Filho, Marshall Sahlins e Boaventura de
Sousa Santos, considerando novas possibilidades teóricas para uma leitura das sociedades
indígenas na contemporaneidade sem deixar de estudar o início, fazendo uma interligação dos
contextos.

Nessa perspectiva, a contribuição de autores como CUNHA (1994), OLIVEIRA


(1999), SAHLINS (1997) MALINOWSKI (1976 [1922]) tornam-se fundamentais, pois
trazem luz à compreensão dos estudos existentes sobre a temática. E para embasamento
científico não que os referidos acima não sejam, mas buscamos compreender o estudo das
ciências sociais com os autores. E como elegeu-se a pesquisa qualitativa de acordo com o
pensamento de MINAYO e GOLDENBERG, os autores elencados serão de grande
importância para o desenvolvimento do tema.

São diversos os motivos que concorrem para a ocorrência da migração indígena


para áreas urbanas. Segundo Cardoso de Oliveira (1993, apud SILVA, s/d, p.29), a atração
20

pela cidade inicia com a assimilação do modo de vida da cidade. E a penetração da cidade na
aldeia acontece pela adoção de costumes e valores, inerentes à cidade, ao modo de vida dos
indígenas aldeados que vão, sucessivamente, alterando aspectos da vida na aldeia, assim dão
origem a alguns componentes urbanos identificados no dia a dia da aldeia.

Em espaços urbanos se encontram indígenas, que são invisibilizados no


imaginário social brasileiro, no sentido de ter uma visão distorcida do indígena com hábitos
primitivos como: andar nu, viver com o corpo pintado, usar cocar, ser sujo. Conforme João
Pacheco de Oliveira a sociedade constitui vários termos para identificar o indígena como o
claro denotativo de morador das matas, de vinculação com a natureza, de ausência dos
benefícios da civilização. O contato de viver na cidade é gerado através de algum tipo de
contato com o indígena e o modo de viver urbano.

Para continuidade da contextualização da situação dos indígenas que vivem nos


centros urbanos é necessário compreender a dicotomia dos pensamentos dos antropólogos que
descrevem: Bastos (2007) esclarece; que o termo desaldeado foi criado pela Fundação
Nacional do Indígena (FUNAI), para descrever os indígenas que saíram de suas aldeias de
origem, porém, desaldeado remete à ideia de desenraizamento, de perda de identidade
indígena, em oposição ao que diz Sahlins (1997) salienta que a afirmação da identidade no
meio urbano dependente primordialmente da existência e continuação da terra natal. Assim,
viver em espaço urbano não faz com que os indígenas abram mão de sua identidade étnica. Na
convivência com pessoas de outras culturas, ocorre uma ressignificação de alguns de seus
traços culturais. Nesse viés o indivíduo ao migrar para cidade não perde sua essência cultural
de origem, no novo ambiente ele busca unir sua tradição para mantê-la viva na cidade, não
esquece sua origem, mas sim a valoriza, tendo na base uma reserva de força para manter sua
identidade.

A presença dos indígenas nos espaços urbanos, mesmo não tão visível constitui
uma nova forma de vivenciar culturas distintas, situações que fora das suas terras os indígenas
não contam com assistência de órgãos governamentais responsáveis pelas políticas, porém é
preciso na tessitura do urbano saber olhar de perto e em seu interior para reconhecer os modos
de vida diferenciados que se estabelecem no contexto urbano.

A metodologia escolhida por meio de pesquisa bibliográfica tem o objetivo de


construir uma base teórica para compreender a situação dos indígenas, no que diz respeito à
21

continuidade da Cultura através da Língua Materna, sua presença no espaço urbano e às


diversas figurações de uma comunidade multiétnica. O nome Nações Indígenas é uma
referência direta à diversidade étnica da comunidade, uma vez que foi identificada a presença
de treze etnias indígenas oriundos de diferentes regiões do Amazonas e de outros estados da
região norte.

Para realizar o trabalho da pesquisa, a metodologia foi dividida pelo tempo de


procedimento mais interligadas que se realizará em 4 etapas: primeiro momento a pesquisa
bibliográfica sobre indígenas que vivem na cidade, as leituras e compilações abarcaram livros,
artigos publicados em revistas, dissertações e teses, e pesquisa na internet, buscando subsídios
teóricos para aprofundamento das categorias analíticas da pesquisa. A pesquisa bibliográfica
serviu de base durante a execução de todo o processo de pesquisa.

No segundo momento, realizou-se observações sistemáticas e passou-se a coleta


de dados e depoimentos colhidos junto aos indígenas participantes da pesquisa e o
mapeamento dos órgãos e instituições governamentais e não governamentais que atuam com
serviços assistenciais junto à comunidade estudada. Concretizando a coleta informações nas
instituições ligadas aos povos indígenas ou que respondem pelos mesmo. Fundação Nacional
do Indígena - FUNAI, Coordenação das Organizações Indígenas Da Amazônia Brasileira –
COIAB, Conselho Indigenista Missionário - CIMI. Coordenação dos Povos Indígenas de
Manaus e Entorno- COPIME, Secretaria Estadual de Educação- SEDUC, Gerência Escolar
Indígena (GEI-Seduc), Centro de Estudo e Pesquisa da Amazônia – CEPAM/ Formação
Continuada de Professores Indígenas (Secretaria Municipal de Educação –SEMED, Núcleo de
Educação Escolar Indígena (NEEI- SEMED).

O presente estudo teve como local de coleta de dados a Comunidade Nações


Indígenas do povo Kokama moradores da Comunidade Nações Indígenas no bairro Tarumã,
Zona Oeste de Manaus. Os participantes da pesquisa foram os moradores da referida
comunidade.

No terceiro momento, aprofundou-se a pesquisa empírica com uso do celular,


tirando fotografias tendo como instrumental de suporte a entrevista semiestruturada. Registra-
se que os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido – TCLE com
22

a autorização do Grupo de Pesquisa questão social e serviço social no Amazonas. Registra-se


que os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido – TCLE.
Ratifica-se que a pesquisadora realizou todos os procedimentos solicitados na Plataforma
Brasil, respondendo todas as pendências, mas não foi aceito o referido projeto, porque os
analistas do CEP “ relataram que tratavam de indígenas em terras indígenas”.

Neste momento foram seguidos os passos preconizados por MINAYO (2003) e


GOLDENBERG que são: 1. Ordenação dos dados: consistiu em reunir todos os dados obtidos
no trabalho de campo e realizar a transcrição dos documentos recebidos com as informações
solicitadas; 2. Classificação de dados: após a leitura dos dados transcritos, estabeleceram-se
questões importantes e construíram-se categorias empíricas de estudo; 3. Análise final:
relacionamos os dados obtidos aos referenciais teóricos da pesquisa, procurando elucidar a
pergunta da investigação. 4. A quarta fase foi reservada à sistematização das informações no
trabalho.
Para melhor compreensão sobre a temática dos povos indígena, buscou-se
construir um Estado da Arte do projeto e o fichamento estudado dos textos dos seguintes
autores: Darcy Ribeiro (1995), Heloísa Helena Corrêa da Silva (2008), João Pacheco de
Oliveira (1998), Manuela Carneiro da Cunha (2001), Marshal Sahlins (1997), Roberto
Cardoso de Oliveira (2005) Roque Laraia (1986) A pesquisa de campo ocorreu entre os meses
de janeiro de 2019 a maio de 2019.
23

1. CAPÍTULO 1 – INDÍGENAS EM CONTEXTO URBANO E A LEGISLAÇÃO


BRASILEIRA
1.1. Direitos Indígenas na Constituição Federal 1988

A pesquisa bibliográfica e documental que subsidia essa dissertação tem como


marco legal a Constituição Federal de 1988, o marco regulatório que é a OIT.169, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Conselho Nacional de Educação que balizam esse
primeiro capítulo.

A legislação brasileira no tocante a educação indígena sofre um processo lento,


mas gradativo e cumulativo, onde o direito a uma educação diferenciada, garantida na
Constituição de 1988, vem sendo regulamentado por meio da legislação subsequente. A Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e da Resolução 3/99 do Conselho
Nacional de Educação, a educação escolar indígena está contemplada no Plano Nacional de
Educação, aprovado em 2001, e no Projeto de Lei e revisão do Estatuto do Indígena, em
tramitação no congresso Nacional. (bibliografia pesquisada nas leis que regem a educação
indígena, CF1988. LDB, 1996, CNE 1995)

A Constituição Federal de 1988, assegurou-se aos indígenas no Brasil o direito de


permanecerem indígenas, isto é, de permanecerem eles mesmos com suas línguas, culturas e
tradições. Ao reconhecer que os indígenas poderiam utilizar as suas línguas maternas e os
seus processos de aprendizagem na educação escolar, instituiu-se a possibilidade de a escola
indígena contribuir para o processo de afirmação étnica e cultural desses povos e ser um dos
principais veículos de assimilação e integração.

A Portaria Interministerial nº 559 de 1991 e as Portarias n.º 60/92 e 490/93


instituíram no Ministério da Educação e do Desporto o Comitê de Educação Escolar Indígena
com a finalidade de "subsidiar as ações e proporcionar apoio técnico-científico às decisões
que envolvem a adoção de normas e procedimentos relacionados com o Programa de
Educação Escolar Indígena". As Diretrizes para a Política Nacional de Educação Escolar,
elaborada pelo Comitê de Educação Escolar Indígena em 1993, marcam uma etapa importante
da criação de dispositivos legais para os povos indígenas no Brasil.
24

Além do reconhecimento do direito dos indígenas manterem sua identidade


cultural, a Constituição de 1988 os garante, no artigo 210, o uso de suas línguas maternas e
processos próprios de aprendizagem, cabendo ao Estado proteger as manifestações das
culturas indígenas. Esses dispositivos abriram a possibilidade para que a escola indígena se
constitua num instrumento de valorização das línguas, dos saberes e das tradições indígenas,
deixando de se restringir a um instrumento de imposição dos valores culturais da sociedade
envolvente. Nesse processo, a cultura indígena, devidamente valorizada, deve ser a base para
o conhecimento dos valores e das normas de outras culturas. A escola indígena poderá, então,
desempenhar um importante e necessário papel no processo de autodeterminação desses
povos.

Na Constituição, que conta com um capítulo próprio para disciplinar a matéria


(Capítulo VIII, Arts. 231 e 232), reconhece aos indígenas sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, bem como o direito originário sobre as terras que
tradicionalmente ocupam. Os direitos dos povos indígenas de viverem segundo seus usos e
costumes ainda estão resguardados em nossa Carta Magna nos Artigos 215 e 216, que
garantem a todos o pleno exercício dos seus direitos culturais. Quando a CF/88 reconhece, no
caput do Artigo 231, a organização social indígena, seus costumes, línguas, crenças e
tradições, está declarando que os povos indígenas possuem um sistema de valores
diferenciado, como o caráter coletivo dos seus direitos e suas normas internas próprias.

Em relação à educação indígena o marco legal enfatiza que de acordo com o Art.
205 da Constituição, a educação é direito de todos, e o Art. 210, em seu § 2º, estabelece que
“o ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às
comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem. ” A quantidade de escolas indígenas e centros educacionais indígenas que
foram implantadas com os direitos resguardados pela constituição Federal na efetividade da
Lei nº 9.394/1996 estabelece as bases da educação nacional e, no Título VIII, das Disposições
Gerais, em seus Arts. 78 e 79, dispõe que o sistema de ensino da União desenvolverá
programas integrados de ensino e pesquisa para oferta de educação escolar bilíngue e
intercultural, bem como apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino.

Outro ponto importante da Resolução nº 3/99 é a garantia de uma formação


específica para os professores indígenas, podendo essa ocorrer em serviço e, quando for o
25

caso, concomitantemente com a sua própria escolarização. Sobre a formação do professor


indígena, falar-se-á em outro momento da pesquisa.

A resolução estabelece que os estados deverão instituir programas diferenciados


de formação para seus professores indígenas, bem como regularizar a situação profissional
desses professores, concursos já foram criados com vagas direcionada a indígenas, uma
carreira própria para o magistério indígena e realizando concurso público diferenciado para
ingresso na carreira. O que a legislação nacional estabelece é um conjunto de princípios que,
de modo geral, atende à extrema heterogeneidade de situações vividas hoje pelos povos
indígenas contemporâneos no Brasil. Essa legislação permite a expressão do direito a uma
educação diferenciada, a ser pautada localmente, em respeito às diferentes situações
socioculturais e sociolinguísticas de cada povo indígena, bem como em relação aos seus
diferentes projetos de futuro.

A cargo da funcionalidade das escolas indígenas ou centro educacionais indígenas


precisam estar de acordo com as normatizações estaduais e municipais que vão disciplinar o
funcionamento das escolas indígenas, como unidades integrantes dos sistemas estaduais de
ensino, bem como regularizar a situação dos professores indígenas como profissionais
contratados pelo estado ou pelo município. No Amazonas, mais precisamente em Manaus a
educação escolar indígena é trabalhada nos centros educacionais indígenas sobre a
responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação, com um professor de origem indígena.

Pode-se destacar a luta dos professores pela visibilidade, trabalho e luta por
direitos, em 1999 foi realizado o IX encontro de professores Indígenas, com participantes do
Amazonas, Roraima e Acre, do qual resultou uma declaração com os maiores anseios.

1.2. Declaração de Princípios IX Encontro dos Professores Indígenas do AM, RR e AC.

1.As escolas indígenas deverão ter currículos e regimentos específicos, elaborados pelos
professores indígenas, juntamente com suas comunidades, lideranças, organizações e
assessorias.
1. As comunidades indígenas devem, juntamente com os professores e organizações,
indicar a direção e supervisão das escolas.
2. As escolas indígenas deverão valorizar as culturas, línguas e tradições de seus povos.
26

3. É garantida, aos professores, comunidades e organizações indígenas, a participação


paritária em todas as instâncias – consultivas e deliberativas – de órgãos públicos
governamentais responsáveis pela Educação Escolar Indígena.
4. É garantida aos professores indígenas uma formação específica, atividades de
reciclagem e capacitação periódica para o seu aprimoramento profissional.
5. É garantida a isonomia salarial entre professores índios e não-índios.
6. É garantida a continuidade escolar em todos os níveis aos alunos das escolas
indígenas.
7. As escolas indígenas deverão integrar a saúde em seus currículos, promovendo a
pesquisa da medicina indígena e o uso correto dos medicamentos alopáticos.
8. O Estado deverá equipar as escolas com laboratórios onde os alunos possam ser
treinados para desempenhar papel esclarecedor junto às comunidades no sentido de
prevenir e cuidar da saúde.
9. As escolas indígenas serão criativas, promovendo o fortalecimento das artes como
formas de expressão de seus povos.
10. É garantido o uso das línguas indígenas e dos processos próprios de aprendizagem nas
escolas indígenas.
11. As escolas indígenas deverão atuar junto às comunidades na defesa, conservação,
preservação e proteção de seus territórios.
12. Nas escolas dos não-índios será corretamente tratada e veiculada a história e cultura
dos povos indígenas brasileiros, a fim de acabar com os preconceitos e o racismo.
13. Os Municípios, os Estados e a União devem garantir a educação escolar específica às
comunidades indígenas, reconhecendo oficialmente suas escolas indígenas de acordo
com a Constituição Federal.
14. Garantir uma Coordenação Nacional de Educação Escolar Indígena, interinstitucional
com participação paritária de representantes dos professores indígenas.
Fonte: Informativo Foirn – Educação 1999).

1.3. Criação Ministério da Educação e Cultura – (MEC)

A história do MEC, como é conhecido hoje, começa em 1930, quando foi criado o
Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, no governo de Getúlio Vargas. Como
é possível perceber pelo nome, a Educação não era a única área tratada pelo ministério, que
também desenvolvia atividades pertinentes à saúde, ao esporte e ao meio ambiente.
27

O ministério da Educação e Cultura - MEC busca promover ensino de qualidade


para o país. Com o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), em 2007, o
MEC vem reforçar uma visão sistêmica da educação, com ações integradas e sem disputas de
espaços e financiamentos. No PDE, investir na educação básica significa investir na educação
profissional e na educação superior.

Construir essa unidade só será possível com a participação conjunta da sociedade.


É por isso, por exemplo, que o MEC, hoje, discute a Base Nacional Comum Curricular de
norte a sul do Brasil. Com o envolvimento de pais, alunos, professores e gestores, a educação
se tornará um compromisso e uma conquista de todos.

O Ministério da Educação, órgão da administração federal direta, tem como área


de competência a política nacional de educação; a educação infantil; a educação em geral,
compreendendo ensino fundamental, ensino médio, educação superior, educação de jovens e
adultos, educação profissional e tecnológica, educação especial e educação a distância, exceto
ensino militar; a avaliação, a informação e a pesquisa educacionais; a pesquisa e a extensão
universitárias; o magistério e a assistência financeira a famílias carentes para a escolarização
de seus filhos ou dependentes.

Desde cedo, as novas gerações são estimuladas a participar das ações cotidianas,
assumir responsabilidades e realizar alguns trabalhos confere certa autonomia a cada um dos
sistemas educacionais. Entretanto, essa transferência de responsabilidade não implicou na
criação de mecanismos que assegurem um tratamento adequado e o respeito à especificidade
das escolas indígenas. Registra-se um avanço em relação à concepção de Educação Escolar
Indígena a partir da Portaria Interministerial 559/91, através da qual a escola deixa de ter o
caráter integracionista, conforme previa o Estatuto do Índio/Lei 6.001/73, e passa a ser regida
pelo reconhecimento da multiplicidade cultural e linguística dos povos indígenas e pelo
direito a eles assegurado de viver de acordo com suas culturas e tradições.

A Portaria também previa a criação de Núcleos de Educação Escolar Indígena


(NEI) nas secretarias estaduais de educação e determinava a prioridade na formação de
professores indígenas e isonomia salarial para estes profissionais, independente de sua
formação anterior. As escolas indígenas passaram a ser regulamentadas com flexibilidade nos
currículos, calendários, materiais e práticas pedagógicas. A partir deste entendimento, as
escolas indígenas foram sendo incentivadas a elaborar Projetos Pedagógicos próprios. O
28

Ministério da Educação assumiu, pelo Decreto 26/91, mencionado anteriormente, a


responsabilidade de coordenar as ações e iniciativas educacionais em terras indígenas. Uma
das primeiras medidas adotadas foi a criação de um Comitê Nacional de Educação Escolar
Indígena, composto por representantes de órgãos governamentais e não governamentais,
representantes dos povos indígenas e de seus professores.

Fundação Nacional do Índio (Funai) a incumbência exclusiva em conduzir


processos de educação escolar em comunidades indígenas. A responsabilidade em coordenar
as ações de Educação Escolar Indígena passou a ser do Ministério da Educação e a execução
das políticas nesta área foi atribuída aos estados e municípios, respeitando o princípio
federativo.

Em continuidade das leis subsequentes à Constituição que tratam da Educação,


como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e o Plano Nacional de Educação, a
OIT 169, têm abordado o direito dos povos indígenas a uma educação diferenciada, pautada
pelo uso das línguas indígenas, pela valorização dos conhecimentos e saberes milenares
desses povos e pela formação dos próprios indígenas para atuarem como docentes em suas
comunidades.

1.4. A LDB e as Diretrizes para a Implantação das Escolas Indígenas.

A nova LDB define como um dos princípios norteadores do ensino escolar


nacional o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. O art. 78 afirma que a educação
escolar para os povos indígenas deve ser intercultural e bilíngue para a reafirmação de suas
identidades étnicas, recuperação de suas memórias históricas, valorização de suas línguas e
ciências, além de possibilitar o acesso às informações e aos conhecimentos valorizados pela
sociedade nacional. De forma enfatizada, o art. 79 prevê que a União apoiará técnica e
financeiramente os sistemas de ensino estaduais e municipais no provimento da educação
intercultural às sociedades indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e
pesquisa, a realização do planejamento pelos indígenas em forma de audiência onde
possam opinar respeitando as práticas socioculturais e a língua materna, incluindo conteúdos
culturais correspondentes às respectivas comunidades, e como ferramenta didático pedagógica
a construção de material didático como livros, jogos na língua materna indígena.
29

A Lei de Diretrizes e Bases de Educação-LDB, Lei 9.394/96 em seus artigos 78 e


79, dispõe sobre a educação escolar indígena e determina o seguinte:

Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de
fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de
ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos povos
indígenas, com os seguintes objetivos: I – proporcionar aos índios, suas
comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de
suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;
II – Garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações,
conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades
indígenas e não índias. Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os
sistemas de ensino no provimento da educação intercultural às comunidades
indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa. § 1º Os
programas serão planejados com audiência das comunidades indígenas. § 2º Os
programas a que se refere este artigo, incluindo nos Planos nacionais de Educação,
terão os seguintes objetivos: I Fortalecer as práticas socioculturais e a língua
materna de cada comunidade indígena; II Manter programas de formação de pessoal
especializado, destinado à educação escolar nas comunidades indígenas; III
Desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos
culturais correspondentes às respectivas comunidades; IV elaborar e publicar
sistematicamente material didático específico e diferenciado.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9394/96,


reafirma os preceitos constitucionais, regulamentando e dando corpo aos princípios e
determinações mais gerais da educação nacional. Na LDB, os direitos indígenas à educação
escolar são incorporados em dois artigos específicos, que constam no Título VIII, “Das
Disposições Gerais” e, ainda, no § 3º do Artigo 32, que assegura às comunidades indígenas a
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.

A atribuição de organizar a Educação Escolar Indígena é da União, assim como a


responsabilidade de assegurar proteção e respeito às culturas e aos modelos próprios de
educação indígena. Admite-se a colaboração dos sistemas de ensino estaduais e municipais e
também de agências de assistência aos povos indígenas e de fomento à cultura, mas essa
colaboração não isenta a União de sua competência e responsabilidade.

Aplicam-se também, aos povos indígenas, todas as outras garantias estabelecidas


na Lei, como, por exemplo, a participação em programas de capacitação continuada de
professores; acesso aos níveis mais elevados de ensino; atendimento ao educando através de
programas suplementares de material didático; transporte; alimentação; assistência à saúde;
30

elaboração de projetos pedagógicos, regimentos; e participação em conselhos e instâncias


representativas afirmadas no princípio da gestão democrática do ensino, entre outras.

O Ministério da Educação assegura que a Lei 11.645/2008 estabelece as diretrizes


e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e cultura afro-brasileira e indígena”. Isso implica a
necessidade de abordar a temática na educação básica, que inclui o ensino fundamental e
médio. Consequentemente, essa temática aparece também no livro didático, uma vez que ele é
um dos instrumentos mais utilizados pelos professores e alunos nos processos de ensino e
aprendizagem.

Um ponto importante para conhece-se a história e vida dos indígenas, pode-se


verificar no desdobramento da legislação brasileira com a lei 11.645 de 10 de março de 2008,
a partir da lei a obrigatoriedade do ensino de história e cultura indígena nas instituições ensino
inserida na proposta pedagógica como componentes curricular das escolas públicas,
contextualizando os temas abordados de acordo com a realidade dos alunos, que ao adentarem
o mundo da pesquisa, se tornarão pesquisadores e conhecedores da história e cultura dos
indígenas da Amazônia, trazendo conhecimentos grandiosos e tornando a realidade sobre
cultura indígena visível.

Os materiais pedagógicos, não tem uma divulgação grande nas escolas, e alguns
materiais didáticos como livros, ainda carregam a mesma ideia de que o indígena era
preguiçoso, selvagem e em outras vezes como escravo ou inferior a raça branca, enfatizando o
mesmo pensamento relacionado ao indígena descrito no período da colonização. Cabe
ressaltar que essas informações circulando de forma correta poderá fornecer conhecimentos
que possibilitem à sociedade uma compreensão mais contextualizada e plural das culturas
indígenas e afro brasileiras

Em relação aos professores para trabalhar como professores bilíngues é preciso


reconhecer que a formação inicial e continuada dos próprios indígenas, enquanto professores
de suas comunidades, deve ocorrer em serviço e concomitantemente à sua própria
escolarização. A formação que se contempla deve capacitar os professores para a elaboração
de currículos e programas específicos para as escolas indígenas; o ensino bilíngue, no que se
refere à metodologia e ensino de segundas línguas e ao estabelecimento e uso de um sistema
31

ortográfico das línguas maternas. Esse processo precisa ter a condução de pesquisas de caráter
antropológico visando à sistematização e incorporação dos conhecimentos e saberes
tradicionais das sociedades indígenas e à elaboração de materiais didático-pedagógicos,
bilíngues ou não, para uso nas escolas instaladas em suas comunidades.

1.5. Plano nacional de educação

O Plano Nacional de Educação, Lei 10.172, promulgado em janeiro de 2001,


dedica um capítulo, com 21 objetivos e metas, à Educação Escolar Indígena. Considerando
que a educação escolar é melhor atendida através de professores indígenas, o PNE reconhece
a necessidade de uma formação inicial.

1.6. Convenção 169 da organização internacional do trabalho (OIT)

O Decreto nº 5.051/2004 promulgou, no Brasil, a Convenção 169 da Organização


Internacional do Trabalho (OIT) de junho de 1989, que dispõe acerca dos direitos dos Povos
Indígenas e Tribais. Nessa convenção, a educação escolar indígena está contemplada nos
artigos 26 a 31, enfatizando os programas e serviços de educação, criação de instituições e
instalações de educação próprias, a pertinência em elaborar objetivos para a educação infantil
em condições de igualdade com a comunidade nacional. Um aspecto importante, assegurado
na Convenção, é o reconhecimento do direito dos povos indígenas de criarem suas próprias
instituições e meios de educação, resguardando-se apenas o cumprimento das normas
mínimas estabelecidas para o sistema nacional. Além de reconhecer e respeitar as instituições
criadas pelos povos indígenas, os governos deverão também facilitar os recursos para o seu
efetivo funcionamento.

No decorrer da história da educação indígenas no ano de 1973, foi promulgada a


lei 6.001, que ficou conhecida como “Estatuto do Indígena”. A responsabilidade seria do
Serviço de Proteção ao Indígena em 1910, órgão que deu espaço para atual Fundação
Nacional do Indígena – FUNAI. Em 1967 Art. 1º Esta Lei regula a situação jurídica dos
indígenas ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua
cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional. Esses direitos
são resultados de inúmeras lutas que na década de 70 começaram a se organizar e manifestar
de modo organizado. E perceberam que para fortalecerem na luta precisam estar entre os
32

homens que criavam e votavam as leis, nesse período em 1983, conhecemos o primeiro
deputado indígena eleito no país Mário Juruna (Batizado: Mario Dzuruna Butsé) reforçando a
ideia de que, para evoluir em sua luta, os povos indígenas precisariam ser representados por
quem a conhecia e vivenciava de fato. Atualmente existem um quantitativo bem maior de
indígenas que exercem cargos políticos no Brasil de Norte a Sul.

Em síntese, a Convenção 169/OIT institui, no que tange ao tema da educação


escolar indígena, o direito à Consulta Prévia e Informada aos povos indígenas por parte dos
Estados nacionais sobre tudo o que lhes afeta e interessa, em matéria de atividades e projetos
nacionais. Além disso, reconhece a categoria “povos indígenas” aos habitantes originários
das Américas, que passas a ser denominadas assim pela primeira vez em um instrumento legal
no Brasil.

1.7. Conselho Nacional de Educação

Resolução 05/12 do Conselho Nacional de Educação (CNE). Em 2012, o


Conselho Nacional de Educação (CNE) promulgou a Resolução 05/12, definindo Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica. Esta
Resolução incorporou a nova reorganização proposta pelo Decreto 6.861/09, que instituiu os
Territórios Etnoeducacionais, bem como os princípios estabelecidos na Convenção 169 e
algumas deliberações da 1ª Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena, realizada em
novembro de 2009. O Artigo 2º desta Resolução, no inciso VII, incentiva “os sistemas de
ensino a fortalecer e apoiar processos de formação de professores indígenas que incluam a
colaboração e atuação de especialistas em saberes tradicionais, como os tocadores de
instrumentos musicais, contadores de narrativas míticas, pajés e/ou xamãs, rezadores,
raizeiros, parteiras, organizadores de rituais, conselheiros e outras funções próprias e
necessárias aos Bem Viver dos povos indígenas”.

O Parecer nº 14 de 1999, do Conselho Nacional de Educação, dispõe que nos


currículos das escolas indígenas deverá constar o conjunto de saberes e procedimentos
culturais produzidos pelos povos indígenas, ou seja, língua materna, crenças, memória
histórica, saberes ligados à identidade étnica, às suas organizações sociais do trabalho, às
relações humanas e às manifestações artísticas. As escolas indígenas deverão elaborar
projetos pedagógicos e regimentos escolares que contemplem a organização das atividades
33

escolares, independentemente do ano civil, que respeita o fluxo das atividades econômicas,
sociais, culturais e religiosas das comunidades, e os períodos escolares devem ajustar-se às
condições e especificidades próprias de cada comunidade.

A Resolução nº 03/99, do Conselho Nacional de Educação, apresenta duas


garantias importantes para a qualificação dos professores indígenas: a primeira é sua
formação em serviço e, quando for o caso, concomitantemente, com a sua própria
escolarização; a segunda é a ênfase que deverá ser dada, em cursos de formação, para a
reflexão em torno de conhecimentos, valores, habilidades e atitudes, como também para a
elaboração, desenvolvimento e avaliação de currículos e programas próprios, produção de
material didático e utilização de metodologias adequadas de ensino e pesquisa.

O Decreto 6.861, de 27 de maio de 2009, dispõe sobre a Educação Escolar


Indígena e define sua organização em territórios etnoeducacionais. Esse Decreto apresenta
políticas públicas específicas para os povos indígenas. No Art. 2º, explicita os objetivos da
Educação Escolar Indígena, e, no inciso V, a elaboração e publicação sistemática de material
didático específico e diferenciado.

O Parecer CNE/CEB nº 20/2009 (DCNEI) trata da Revisão das Diretrizes


Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e orienta o atendimento da educação escolar
infantil indígena e quilombola em suas especificidades. Esse parecer contribuiu para a criação
da Resolução CNE/CEB n° 05/2009. A Resolução CNE/CEB nº 4/2010 define Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial e articulado das etapas e
modalidades da Educação Básica em que a Educação Escolar Indígena é considerada uma
modalidade de ensino.

A Resolução CNE/CEB nº 7/2010 fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para


todas as modalidades do Ensino Fundamental previstas na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, bem como à Educação do Campo, à Educação Escolar Indígena e à
Educação Escolar Quilombola. O Ensino Fundamental deverá ser ministrado em Língua
Portuguesa, entretanto aos povos indígenas é assegurado o ensino em Língua Materna e
processos próprios de aprendizagem.
34

O Parecer CNE/CEB nº11/2010 fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o


Ensino Fundamental de 9 nove (anos). Apresenta uma articulação entre a base comum e a
parte diversificada do currículo do Ensino Fundamental, propondo uma formação mais ampla
de cidadania, por meio da contextualização das realidades diferenciadas existentes na
sociedade brasileira. Às comunidades indígenas é assegurada, também, “a utilização de suas
línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” (Constituição Federal, art. 210, §2º,
e art. 32, §3º da LDB).

A Resolução CNE/CEB n° 05/2012 fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para


a Educação Escolar Indígena na Educação Básica. Respalda a Educação Escolar Indígena
específica, intercultural, diferenciada, bi/multilíngue, comunitária e de qualidade. Traz
orientações sobre a educação escolar indígena infantil, quando solicitada pelo povo indígena.

O Parecer CNE/CEB nº 13/2012 fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a


Educação Escolar Indígena. Esse documento é resultado do engajamento dos povos indígenas
na luta por seus direitos. O protagonismo indígena é manifestado em diferentes espaços de
luta por meio de suas organizações.

A Resolução CNE/CEB nº 01/2015 institui as Diretrizes Curriculares Nacionais


para a Formação de Professores Indígenas em cursos de Educação Superior e de Ensino
Médio. O objetivo é regulamentar os programas e cursos destinados à formação inicial e
continuada de professores indígenas no âmbito dos respectivos sistemas de ensino, nas suas
instituições formadoras e nos órgãos normativos.

1.8. Referencial Curricular Nacional Para Escolas Indígenas (Rcnei)

Trata-se do Referencial Curricular Nacional para Escolas Indígenas (RCNEI), um


documento elaborado em 1999, pelo então Ministério da Educação (MEC), que contou com a
participação de especialistas e professores indígenas, em pequeno número. O referencial foi
publicado e encaminhado às escolas indígenas, secretarias de educação, entre outros órgãos
estaduais e municipais, e visava promover o debate em torno da Educação Escolar Indígena e
traçar perspectivas de ações, discorrendo sobre os princípios traçados na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB)
35

O Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEI) de 1998 é


um documento orientador, que subsidia as novas práticas das escolas indígenas, e contou com
a participação de especialistas, técnicos e professores índios em sua formulação. O documento
apresenta considerações gerais sobre a Educação Escolar Indígena, por meio de
fundamentação histórica, jurídica, antropológica e pedagógica que sustenta a proposta de uma
escola indígena intercultural, bilíngue e diferenciada. Nesse sentido, as orientações se
encontram por áreas do conhecimento.

Vale ressaltar ao término deste subitem que o marco legal e regulatório


pesquisado é o resultado das lutas dos povos indígenas brasileiros na relação desde a colônia
até os anos republicanos sobre os quais passaremos a discorrer a seguir.

1.9. Retrospectiva Histórica da Educação Indígena No Brasil.

Historicamente as escolas indígenas de acordo com relatos dos cronistas são


datadas do século XVI quando o Brasil foi invadido pelo homem europeu com a primazia de
colonizar através da imposição da língua, criando apenas uma língua comum aos indígenas
denominada nheengatu e português. Essa forma de dominação dizimou inúmeras culturas,
bem como línguas faladas pelos indígenas. O colonialismo, a educação para os indígenas e o
proselitismo religioso são práticas que tem, no Brasil, a mesma origem e mais ou menos a
mesma idade.

Os indígenas viviam muito bem aqui no Brasil, com suas tradições, seus
costumes, seu habitat e, especialmente, sua língua e alguns eram autóctones. Quando o
homem branco colonizador europeu chegou impondo sua cultura, para a dominação do Brasil
ser facilitada. Do período da colonização, a educação indígena era gerida pelos interesses dos
colonizadores, seguidamente pelos governantes, mas nunca pelos próprios indígenas, as leis
foram criadas instituídas, mas, foram criadas não por indígenas e sim pelo homem não
indígena, que colocou nas entrelinhas sua forma de pensar arraigadas durante séculos de
invasão.

A implantação de projetos escolares para povos indígenas aparece como forma de


controle político que virou prática durante séculos e até hoje perpetua em inúmeros lugares.
Um dos primeiros registros foi o primeiro vulto da linguística no Brasil foi, sem dúvida, o Pe.
36

Jose e Anchieta S.J. Anchieta que veio para a América do Sul na segunda metade do sec.
XVI, não apenas atraído pela tarefa de conversão dos gentios, mas para facilitar o processo de
dominação.

É importante lembrar, acerca da história da instituição escolar para os povos


indígenas, que no Brasil, desde o século XVI, esta oferta esteve pautada na perspectiva
integracionista. A tônica era a recusa da diferença e a tentativa de sua superação, tentando
integrar estas populações à “comunhão nacional”.
Em 1595, Anchieta publicou a sua venerável Arte de Gramática da Língua mais
usada na Costa do Brasil, instrumento com certeza fundamental para a elaboração do
Catecismo na Língua Brasíleira. Ainda no século XVII, precisamente em 1621, um colega de
Anchieta, Pe. Luís Figueira, publicou um novo estudo da língua tupinambá, intitulado Arte de
Língua Brasílica. Este trabalho pode ser considerado a primeira gramática pedagógica sobre
uma língua indígena falada no Brasil. A partir desses escritos pode -se dizer que até o fim do
período colonial, a educação indígena permaneceu a cargo de missionários católicos de
diversas ordens, por delegação tácita ou explicita da Coroa portuguesa.

Com a República, o quadro não mudou significativamente no que diz respeito a


educação escolar indígena. Mais uma vez se observa a inércia do Estado e o grande afluxo de
missões religiosas encarregadas da tarefa educacional civilizatória. Em poucas palavras, desde
a chegada das primeiras caravelas até meados do sec. XX, o panorama da educação escolar
indígena foi um só, marcado pelas palavras de ordem "catequizar", "civilizar" e "integrar" ou,
em uma capsula, pela negação da diferença.

Ao chegarem ao século XX sem que o Estado lhes tivesse assegurado essas


garantias, os povos originários – agora com suas populações bem reduzidas em decorrência da
longa trajetória de genocídio e etnocídio a que foram submetidos – passaram a incorporar uma
forma de luta diferente das guerras de resistência armada do passado, enveredando pelas lutas
institucionais, numa perspectiva semelhante àquelas que estavam sendo experienciadas pelos
vários grupos da sociedade brasileira e latino-americana que se constituíram enquanto sujeitos
coletivos de direito.
Em meados de 1956 o Summer Institute of Linguistics – S.I.L é instalado no
Brasil com características idênticas a escola dos não–indígenas. De origem fundamentalmente
etnocêntrica que encaravam a cultura dos povos nativos como atraso e que era preciso
37

civiliza-los. Com objetivos claros de converter os gentios e a salvação de suas almas. Com
essa premissa o S.I.L conquistou o poder público e a universidade brasileira. Que queriam
algo urgente na forma de documentação sob a alegação dos famigerados "riscos iminentes de
desaparecimento". E a diferença deixou de representar um obstáculo para se torna r um
instrumento do próprio método civilizatório. Dessa forma, não se tratava de negras os povos
indígenas e suas línguas, mas uma maneira de impor domesticando através de adotar normas e
sistemas ortográficos gerados pelos S.I.L. Neste quadro as línguas indígenas passaram a
representar meios de "educação" desses povos a partir de valores e conceitos civilizados.

Neste seguimento, surgiu a figura do monitor-bilíngue que era um professor


indígena que seguia as ordens do S.I.L. de forma domesticada e subalterna. O monitor
bilíngue foi "inventado" para ajudar os missionários/professores não-indígenas na tarefa de
alfabetizar nas línguas indígenas. Muitas vezes esse monitor indígena servia também de
informante sobre sua língua para os missionários, na tarefa da tradução da bíblia, objetivo
principal do S.I.L.

Trazendo para o momento da aprendizagem não só a língua materna de sua etnia,


mas a cultura, os rituais, para que os indígenas e descendentes indígenas continuam a
preservar os ensinamentos aprendidos. Os objetivos dessas escolas devem ser discutidos e
definidos pelas próprias comunidades onde estas estão localizadas. A experiência acumulada
de mais de cinco séculos demonstra como programas de educação escolar indígena podem
fazer estragos, quando estão sob controle de agências não indígenas. São os povos indígenas,
através de seus mecanismos políticos.

A escola assumiu diferentes facetas ao longo da História num movimento que vai
da imposição de modelos educacionais aos povos indígenas, por meio da dominação, da
negação de identidades, da integração e da homogeneização cultural, a modelos educacionais
reivindicados pelos indígenas, dentro de paradigmas de pluralismo cultural e de respeito e
valorização de identidades étnicas.

Retratando a história da educação indígena no Brasil do período da Colonização


até a metade do século passado a oferta de educação escolar às comunidades indígenas esteve
pautada pela catequização, pela civilização e pela integração forçada dos indígenas à
sociedade nacional. Dos missionários jesuítas aos positivistas do Serviço de Proteção aos
38

Indígenas, do ensino catequético ao bilíngue, a tônica foi sempre negar a diferença, assimilar
os indígenas, fazer que se transformassem em algo diferente do que eram, se enquadrando ao
padrão imposição de valores alheios e negação de identidades e culturas diferenciadas.

A primeira legislação indigenista só foi surgir na metade do século XVIII com a


pressão do Marquês de Pombal ao expulsar os jesuítas do Brasil e determinar a lei de proteção
ao índio. Pombal vê a necessidade de arrancar os indígenas da influência dos inacianos, tendo
para isso proclamado em 1755 a emancipação do povo indígena. Os colégios foram
substituídos por aulas régias e a administração passou a ser feita pelo Diretório dos Índios.
Em 1808, D João concedeu aos colonos o direito de invadir áreas indígenas, principalmente
em Minas Gerais e no Paraná, também deu o direito de escravizar os índios. Esta medida fez
com que os índios adentrassem ainda mais no território brasileiro, fugindo da violência e
exploração, não mais velada como na época de pombal. No projeto constitucional de 1823, foi
proposta a criação de catequeses para conversão e civilização do índio, esta foi a única
menção aos índios.

1.10. Da República Nova ao Governo Militar a Educação Brasileira antes de 1964.

No Brasil, até a implantação da República (1889), a assistência aos povos


indígenas era prestada quase que unicamente por missionários. A separação entre o Estado e a
Igreja, prevista na Constituição de 1891, impôs o desenvolvimento de um projeto leigo para
os índios. Em 1910, a Presidência da República cria o Serviço de Proteção ao Índio e
Trabalhadores Nacionais - SPILTN (apenas SPI, a partir de 1918), que tem entre seus
objetivos.

Historicamente na década de 1930 o governo brasileiro organizou um sistema


nacional de educação. Antes disso, a educação era de responsabilidade exclusiva dos estados,
que tinham autonomia financeira e pedagógica. Mas depois da Revolução de 1930, o governo
criou medidas centralizadoras, que reduziam a autonomia dos estados. Dentre essas, por
exemplo, a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, ao qual caberia edificar um
sistema nacional de educação, respondendo às demandas de intelectuais e educadores. Isso
implicava um conjunto de instituições de ensino integradas em diversos ciclos, que cumprisse
alguns objetivos modernizadores: alfabetizar a população, educar o cidadão, fortalecer a
39

capacidade dirigente das elites e qualificar as massas trabalhadoras para funções produtivas
mais complexas, inserindo os cursos técnicos de forma mais abrangente.

Nos anos seguintes de 1950 e 1960 foram marcados por um intenso debate sobre a
educação brasileira. Muitos intelectuais e movimentos sociais formularam propostas para a
organização de um sistema nacional de ensino mais democrático e popular, que superasse as
desigualdades socioculturais, formasse cidadãos consciente de seus direitos e preparados para
desafios econômicos. A referência do Brasil sobre analfabetismo não era positiva, o
quantitativo de pessoas analfabetas era enorme. No início dos anos sessenta, a Educação
Popular, que se articulava à ação política junto aos grupos populares: intelectuais, estudantes,
pessoas ligadas à igreja Católica e a CNBB. Em 1964, foi aprovado o Plano Nacional de
Alfabetização, que deveria atingir todo o país, orientado pela proposta pedagógica de Paulo
Freire, mas, foi suprimida pelo golpe militar de 64 e substituída pelo Movimento Brasileiro de
Alfabetização (MOBRAL). O presente trabalho, portanto, está voltado para a temática da
Educação de Jovens e Adultos e tem seu foco no Movimento Brasileiro de Alfabetização
(MOBRAL), criado no ano de 1967.

Do período da República Nova, governo republicano, a política indigenista


brasileira é pensada e implementada de forma a não comprometer os projetos de
desenvolvimento social e econômico do país, especialmente aqueles relacionados a novas
frentes econômicas ou de defesa das fronteiras.

Na racionalização do processo de incorporação dos territórios e das populações


indígenas à sociedade brasileira. O Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon, por indicação
do Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio, assume a direção do SPI, na qual
permanecerá até 1930, e concomitantemente continuará chefiando a Comissão de Linhas
Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas, onde havia adquirido experiência no trato com as
populações indígenas, que norteava a existência do SPI, adaptando-o ao projeto nacional-
desenvolvimentista implantado por Getúlio Vargas.

Esse novo ordenamento ofereceu uma face econômica mais definida à política
indigenista, propondo não apenas a transformação do índio em trabalhador nacional - como
previa o positivismo nos primórdios do SPI -, mas principalmente a transformação do Posto
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Indígena (unidade básica criada pelo SPI, que ainda funciona no interior das terras indígenas)
em uma empresa capitalista moderna.

A política indigenista republicana, pós-1930, até a criação da Fundação Nacional


do Índio - Funai, em 1967, mantém alguns pilares ideológicos que vão marcar profundamente
esse período. Será referência para a criação da Funai o Decreto nº 58.824, de 14 de julho de
1966, que promulga a Convenção nº 107 da OIT – Organização Internacional do Trabalho
sobre a proteção e integração das populações indígenas. Essa Convenção estará presente no
discurso feito à política indigenista do governo brasileiro

Com um diferente modo de visualizara o indígena, o antropólogo Roberto


Cardoso de Oliveira (1988, 22), a perspectiva de manter a sobrevivência dos índios “enquanto
passagem de um estado evolutivo a outro mais avançado na escala do progresso da
humanidade.

”: [...]manteve-se praticamente durante todo o período de existência do Serviço


de Proteção aos Índios, de 1910, data da sua criação, até 1966, ano de sua
extinção, com a sua consequente transformação na Fundação Nacional do Índio
em fins de 1967. Alimentou as práticas indigenistas adotadas pelo Estado, como
as políticas de pacificação e de assistência e proteção [...]. Talvez o maior erro da
política indigenista então aplicada foi o de ignorar tacitamente a possibilidade de
diálogo entre o órgão federal e as lideranças indígenas[...] (OLIVEIRA, 1988, p.
22-23).

A partir da década de 1970 e com o apoio do Conselho Indígena Missionário –


CIMI, foram iniciadas visitas de articulação de lideranças indígenas aos seus parentes de
outras comunidades e povos. Estas lideranças começaram a ver e sentir que o sofrimento e os
seus causadores eram os mesmos. Em abril de 1974 foi realizada a primeira Assembleia
Indígena, em Diamantino (MT) O caminho mais eficaz encontrado foram as Assembleias
Indígenas, organizadas por povos, regiões e também em nível nacional.

Por essa razão, mantém-se sempre o esforço no sentido de assegurar a existência


de uma esfera política que seja referência para o movimento indígena em nível nacional. Por
isso, após a extinção da UNI, foi criado o Conselho de Articulação dos Povos Indígenas do
Brasil (Capoib), em 1992, sendo esse substituído, em 2005, pela Articulação dos Povos
Indígenas do Brasil (Apib).
41

Num primeiro momento a escola aparece como instrumento privilegiado para a


catequese, depois para formar mão-de-obra e, por fim, para incorporar os indígenas
definitivamente à Nação como trabalhadores nacionais desprovidos de atributos étnicos ou
culturais. A ideia da integração firmou-se na política indigenista brasileira, desde o período
Colonial até o final dos anos 1980. A política integracionista começava por reconhecer a
diversidade das sociedades indígenas que havia no país, mas apontava como ponto de chegada
o fim dessa diversidade. Toda diferenciação étnica seria anulada ao se incorporar os indígenas
à sociedade nacional.

Recentemente esse quadro mudou com novas formas de pensar a educação escolar
indígena. Passou a ser entendia como categoria étnica e social transitória e fadada à extinção;
as mudanças e as inovações garantidas pelo atual texto constitucional e a crescente
mobilização política de diversas lideranças indígenas ensejaram a necessidade de se
estabelecer uma nova forma de relacionamento jurídico e de fato entre as sociedades
indígenas e o Estado brasileiro. A escola entre grupos indígenas ganhou, então, um novo
significado e um novo sentido, como meio para garantir acesso a conhecimentos gerais, sem
precisar negar as especificidades culturais e a identidade daqueles grupos.

1.11. História da Educação Indígena no Amazonas

O direito à uma educação diferenciada foi garantida na Constituição de 1988, com


a LDB de 1996, e da resolução de 3/99 do Conselho Nacional de Educação, a educação
indígena está no Plano Nacional de Educação e no projeto de Revisão no Estatuto do índio.

Com a legislação ratificada em vários momentos da história da educação indígena,


é notório fazer um acompanhamento do processo que se deu na Amazônia em relação a
educação indígena. A partir de 1910, o controle da ação educativa para as comunidades
indígenas estava sob a responsabilidade do Serviço de Proteção ao Índio – SPI, e prevalecia à
tendência de formação do trabalhador nacional, com repercussão na proteção aos índios com
o objetivo de transformá-los em pequenos produtores rurais, a fim de atender à política de
regeneração agrícola do país.
42

Mesmo a educação escolar das comunidades indígenas estando sob a


responsabilidade do SPI, ainda permanecia a presença das missões religiosas na tarefa
educacional, que incluía uma parcela indígena, sobretudo, no interior do Amazonas. Prova
disso, é a presença efetiva, a partir de 1915, de missionários salesianos na condução de
internatos para crianças índias, na região do Alto Rio Negro, interior do Amazonas; e para tais
internatos, meninos e meninas índios eram recrutados e recebiam ensino primário, eram
proibidos de falarem suas línguas maternas, e eram, ainda, iniciados na religião católica e no
aprendizado de hábitos e padrões estranhos à sua cultura.

Pode-se ainda visualizar o catolicismo visível em inúmeras escolas de cunho


religioso. No período de 1930, a definição de políticas públicas no Amazonas com o auxílio
das missões religiosas e o processo de aculturação indígena, reforçava uma competência
federal; pois a função educativa, sob a responsabilidade do SPI, em 1936, objetivava a
incorporação do indígena ao território brasileiro.

Nas décadas seguintes, as políticas públicas para educação escolar indígena


mudaram, consubstancialmente, de acordo com a prevalência de ideias e de interesses que
refletiam na Região Amazônica. É a partir da década de 70, que os povos indígenas do
Amazonas e do país, juntamente com organizações da sociedade civil, passam a se mobilizar
no sentido de organizar um movimento indígena para discutir e viabilizar soluções para os
problemas que atingem as comunidades indígenas. A base das reivindicações associa-se a
questão da educação escolar indígena, da terra, da saúde e da participação política nacional,
sendo esta, compreendida como o caminho mais viável para a garantia e usufruto dos direitos
indígenas, nos quais estão inseridos o direito social e a educação.

Os elementos determinantes para o surgimento do movimento indígena no


Amazonas foram fatores tanto internos como externos, pois as comunidades indígenas viviam
em condições extremas de sobrevivência, tendo seus territórios invadidos ou tomados, suas
expressões culturais ridicularizadas e desprezadas, e condenadas, compulsoriamente ao
extermínio. Tal situação vivida pelos povos indígenas na Região Amazônica era resultado de
uma política desenvolvimentista e de segurança nacional empreendida desde 1964, e que
objetivava a qualquer custo inserir esta área no contexto econômico brasileiro. A política
colocada em prática pela ditadura militar no país demonstrava a posição de plena exclusão
43

política e social em que vivia o índio brasileiro e de como era difícil romper com concepções
étnicas e culturais que se estabeleceram há séculos sobre os indígenas do país.

A Igreja Católica iniciou um processo de revisão de suas políticas indigenistas e


passou a defender os grupos indígenas na sua luta pela terra e autodeterminação. E em 1972,
cria o Conselho Indigenista Missionário – CIMI, ligado a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil – CNBB. O CIMI está organizado em regionais distribuídos pelo país, sendo que o
CIMI NORTE I, regional da Amazônia está sediado em Manaus desde 1974. É inegável que o
CIMI conferiu um novo sentido ao trabalho da Igreja Católica junto aos povos indígenas, pois
vem atuando como parceiro nas lutas do Movimento Indígena; informando, discutindo
possibilidades e caminhos, e apoiando suas iniciativas. O objetivo geral do Conselho, definido
em 1995, é intensificar a presença e apoio junto a comunidades, povos e organizações
indígenas e intervir na sociedade brasileira como aliados dos povos indígenas e fortalecer o
processo de autonomia desses povos na construção de um projeto alternativo, pluriétnico,
popular e democrático. Entre 1970 e 1980, também surgem associações nacionais e outra
entidades não-governamentais, e elas surgiram em defesa da causa indígena no país,
desenvolvendo uma prática indigenista paralela à oficial e quase sempre, em conflito com
esta. (Fonte CIMI, 20I9)

A criação de organização a favor da causa indígena reflete a tentativa de


estabelecer uma política indigenista alternativa, pautada na mobilização e conscientização da
sociedade, do Estado, da Igreja e dos próprios índios, de que estes têm o direito à alteridade
em sua pluralidade étnico-cultural, a valorização de seus conhecimentos e tradições Assim
surgiram projetos alternativos, na área de educação escolar indígena, desenvolvidos por
organizações pró-índio nos Estado do Amazonas, Acre, Rondônia e outros; desenvolvidos
junto a comunidades indígenas e foram experiências marcadas pelo compromisso político
com a causa indígena, no sentido de oferecer às populações educação formal compatível com
os projetos de autodeterminação. Nesse contexto, criam-se canais de experiência e
articulação, que vão se consolidando em formas de solidariedade, apoio e estratégias mais
amplas de lutas pela cidadania, liberdade, democracia, direitos e transformação social.

Nos anos de 1980, que lideranças e representações das sociedades indígenas de


todo o Brasil, passam a se articular em assembleias indígenas, procurando soluções coletivas
para problemas comuns, basicamente: a defesa de território, o respeito à diversidade
44

linguística e cultural, o direito à assistência médica adequada e a processos educacionais


específicos e diferenciados dos que até então vinham sendo praticados nas áreas indígenas
pela FUNAI e entidades religiosas.

A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN, criada em 1987


com 44 associações indígenas participantes e com sede em São Gabriel da Cachoeira, está
centrada nas questões de demarcação de terras, manejo florestal sustentável para os povos
indígenas da região e apoio as iniciativas na área da educação em busca de alternativas para a
melhoria da educação escolar indígena e o acesso diferenciado de indígenas à universidade. A
criação da FOIRN representou um marco importante dentro do movimento indígena no
Amazonas, pois abriu espaço para a atuação efetiva das lideranças indígenas que buscavam
representar seus povos e a luta pelos direitos dos índios.

Em 1989, é criado a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia


Brasileira – COIAB, representando 23 povos do Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre e
Amapá; atualmente, existem 75 organizações indígenas vinculadas a COIAB e atuando como
representante de 160 povos indígenas. Na questão educacional a COIAB, visa ações que
garantam a implementação de políticas públicas de educação escolar indígena diferenciada em
todos os níveis de ensino, em conformidade com a legislação vigente, a cultura e o os
interesses dos povos indígenas. Outras entidades que vem lutando pela educação escolar
indígena no Amazonas, desde 1989, é o Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas –
MEIAM, e o Movimento dos Professores Indígenas, inicialmente por meio da Comissão dos
Professores Indígenas do Amazonas e Roraima – COPIAR, e em 2000, ampliando sua área de
atuação, configura-se no conselho de professores indígenas do Amazonas – COPIAM.

Nesse contexto os povos indígenas têm apresentado aos órgãos competentes do


Estado do Amazonas e a própria União, suas propostas e alternativas para a implantação de
uma educação escolar indígena diferenciada e de qualidade.

No Amazonas, o Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena assumiu o


caráter normativo, através do Parecer nº 01/2011 do CNE/CEB, graças à mobilização de seus
membros, que enviaram carta-consulta ao Conselho Nacional de Educação em 2010, na qual
explicaram as dificuldades que encontram para implementar a política de Educação Escolar
45

Indígena, sobretudo no que diz respeito à autonomia do CEEI frente à Secretaria Estadual de
Educação- SEDUC.

O Decreto-Lei nº 5.173/66 define que a Amazônia Legal compreende os estados do


Acre, Amazonas, Pará, os então Territórios Federais do Amapá, Rondônia e Roraima (atuais
estados), bem como as áreas do estado de Mato Grosso a norte do paralelo 16º, do estado de Goiás
a norte do paralelo 13º (atual estado do Tocantins) e a região do estado do Maranhão a oeste do
meridiano de 44º.

As relações entre Estado brasileiro e as sociedades indígenas, no Brasil,


construído historicamente, apresentam-se em dois paradigmas: o paradigma da assimilação,
dominação e homogeneização e o paradigma do pluralismo cultural com perspectivas de
reconhecimento, da afirmação de uma sociedade nacional multilíngue e pluricultural, em que
os povos indígenas constituem-se numa parcela considerada nesse processo, que tem como
marco os princípios constitucionais a partir de 1988.

Após as determinações do Decreto Presidencial n.º 26 de 4/2/1991, que confere ao


Ministério da Educação a responsabilidade de coordenar as ações relativas à Educação
Escolar Indígena, o Governo do Amazonas inclui no seu Plano Estadual de Educação um
programa de Educação Escolar Indígena, no intuito de responder ao desafio histórico de apoio
às escolas indígenas. A Educação Escolar Indígena no Estado do Amazonas deverá promover
uma mudança de mentalidade sobre o índio na sociedade, e garantir a participação dos povos
indígenas em todas as fases de seu processo educacional, considerando suas especificidades e
características próprias de aprendizagem. Nessa ótica, o Sistema Educacional deve ser
reformulado, assumindo a Educação Escolar Indígena, não apenas como um programa de
escola das comunidades indígenas, mas como dimensão essencial de um processo educacional
que insiste na descoberta, reconhecimento e na valorização da cultura dessas populações.
Construindo escolas indígenas de acordo com a cultura dos povos indígenas, e não como a
estrutura que hoje encontra-se nas escolas denominadas indígenas.

1.12. Autonomia, Movimento Indígena Educação Escolar: Caminhos para a Educação


Intercultural Bilíngue.
46

A educação intercultural bilíngue passa a ter reflexos políticos e legais,


principalmente a partir dos anos 1980, essas mudanças surgiram proporcionando um novo
momento da Educação Escolar Indígena vem se consolidando na América Latina em estreita
relação com a mudanças que correram no aparelho de Estado em relação aos indígenas. Outra
situação positiva, os grupos indígenas estão se organizando, em anos recentes, adquiriu uma
dimensão política e institucional significativa para as diversas etnias que podem ser
percebidas em novas bases jurídicas e em discussões voltadas para a organização de
currículos das escolas indígenas e de formação de seus professores. Vive-se um aumento da
visibilidade da Educação Escolar Indígena, seja por meio da sua inscrição em constituições,
leis, declarações e convenções de organismos internacionais, seja incorporada ao discurso
reivindicativo de movimentos indígenas. (CF 1988)

Em relação aos movimentos indígena, segundo uma definição mais comum entre
as lideranças indígenas, é o conjunto de estratégias e ações que as comunidades e as
organizações indígenas desenvolvem em defesa de seus direitos e interesses coletivos.
Movimento indígena não é o mesmo que organização indígena, embora esta última seja parte
importante dele. Como afirma Gersem Baniwa, um indígena não precisa pertencer
formalmente a uma organização ou aldeia indígena para estar incluído no movimento
indígena, basta que ele comungue e participe politicamente de ações, aspirações e projetos
definidos como agenda de interesse comum das pessoas, das comunidades e das organizações
que participam e sustentam a existência do movimento indígena (BANIWA, 2006).

Esses movimentos indígenas ganharam força e ocorreu uma visível explosão no


número de organizações indígenas em toda América Latina nas últimas décadas. Só nos
estados da Amazônia brasileira, de acordo com Albert, há existência de 183 organizações
indígenas. Essas organizações indígenas tiveram influência de fatores internos e externos
progressivamente que impulsionam o surgimento dessas organizações indígenas. No âmbito
interno, são apontadas facilidades na constituição dessas associações como pessoas jurídicas,
a partir de alterações no sistema constitucional do país após 1988.

A partir desse momento a Constituição Federal (1988) traçou um quadro jurídico


novo para a regulação das relações do Estado com as sociedades indígenas contemporâneas.
Rompendo com uma tradição de quase cinco séculos de política integracionista, ela reconhece
47

aos indígenas o direito à prática de suas formas culturais próprias, de acordo com 231 da
Carta Magna que afirma,
[...]são reconhecidos aos indígenas sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus
bens. (CF, Art 231,)

O fortalecimento dos grupos amparados nas leis tem notoriedade nas presenças
marcadas pelos indígenas nos movimentos e eventos que a partir de então tornam mais
rotineiro e visíveis. Assim, a educação escolar indígena passa a receber um tratamento, no
Ministério da Educação e Cultura, focado na asserção dos direitos humanos, entre eles o de ter
seus projetos societários e identitários fortalecidos nas escolas indígenas.

Por definição do Decreto Presidencial nº 26/1991, o MEC passa a ser responsável,


em todos os níveis e modalidades de ensino, pela definição de políticas de educação escolar
indígena de qualidade, fundamentada nos princípios constitucionais, e os Estados e os
Municípios passam a ser responsáveis pela execução desta política educacional. (BRASIL.
MEC, 2005a)

De acordo com texto do Ministério da Educação com a afirmativa: a escola


indígena tem como objetivo a conquista da autonomia socioeconômico-cultural de cada povo,
contextualizada na recuperação de sua memória histórica, na reafirmação de sua identidade
étnica, no estudo e valorização da própria língua e da própria ciência, sintetizada em seus
etnoconhecimentos, bem como no acesso às informações e aos conhecimentos técnicos e
científicos da sociedade majoritária e das demais sociedades, indígenas e não-indígenas
(MEC, 1993: 12). Possibilita a que a temática indígena, nessa perspectiva, deve ser abordada
de maneira que crie condições para a reflexão sobre a riqueza que a diversidade étnica
possibilita, aproveitando a comporta de troca e aprendizado recíproco entre os diversos
segmentos que constituem o país.

Por conseguinte, estamos assistindo a um processo em que as organizações


indígenas, juntamente com a recém-criada categoria dos professores indígenas, um novo e
relevante ator social tem se firmado e renovado sua importância: o professor indígena, que
desempenha papeis fundamentais como: promover o registro de sua cultura, atuando como
intermediário cultural entre as concepções culturais dos indígenas e as dos não-indígenas,
48

participado da formulação de políticas públicas nos seminários indígenas, buscando, com isso,
combater a discriminação e o preconceito, ainda vigentes, em relação às sociedades indígenas,
e procurando valorizar a diversidade sociocultural do país. Nesse sentido, pode-se afirmar
que os professores estão constituindo uma nova forma de liderança no interior dessas
comunidades, possibilitando a construção de uma nova escola indígena e, portanto, de uma
nova concepção de cidadania.

A partir da década de 1980, contudo, observou-se, nas últimas décadas, por meio
de movimentos de afirmação étnica, que outro modelo escolar apareceu no cenário
educacional: a escola dos povos indígenas. Amparada em leis que constituem um modelo
diferenciado e específico de educação escolar, cada povo tomou para si a tarefa de elaborar
currículos escolares e propostas pedagógicas, informados por suas cosmologias.

Uma grande parte deles dominava conhecimentos próprios da sua cultura e não
possuíam o domínio da língua portuguesa e das demais áreas dos conteúdos considerados
escolares. De acordo com a Fundação Nacional do Indígena (Funai), órgão vinculado ao
Ministério da Justiça, informou que até o final dos anos 1980, a instituição era a única
responsável pela oferta da educação escolar indígena. Na época, a demanda era de apenas 200
estudantes em todo Brasil. Sob a responsabilidade custeada de mensalidade, material didático,
hospedagem e alimentação eram por conta da própria Funai.

1.13. Formação de Professores Indígenas em Cursos de Licenciaturas Indígenas

Mudanças ocorreram, atualmente nas universidades públicas do Brasil existem


cursos com vagas exclusivas para indígenas e para os que se declaram indígenas.
Licenciaturas para os que buscam por uma formação acadêmica, várias universidades públicas
e privadas possuem convênios com a Funai para garantir o acesso desses estudantes ao Ensino
Superior. A Universidade Nacional de Brasília - UNB foi uma das primeiras a firmar
convênio com a Fundação e o Ministério da Educação e Cultura -MEC. No quadro atual,
existem na UnB 51 estudantes indígenas nos cursos de graduação e 21 na pós-graduação
(Mestrado e Doutorado). Em 2017 entraram 16 novos alunos na UnB por meio do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) e no vestibular de 2017, os cursos com maior procura
foram Medicina, Psicologia, Direito e Enfermagem. No Amazonas na Universidade do Estado
do Amazonas- UEA realiza o Projeto de Formação de Professores Indígenas do Alto
49

Solimões, que contempla 250 professores dos povos Tikuna, Kokama, Kaixana. Existe uma
parceria com a Organização Geral dos Professores Tikuna Bilíngües (OGPTB), Fundo
Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), Funai e a Prefeitura Municipal de
Benjamin Constant/AM. Fonte (site encurtador.com.br/dt049.

A Universidade Federal do Amazonas -UFAM oferece aos indígenas curso de


licenciatura indígena na capital Manaus e em algumas cidades do interior do Amazonas cito
os municípios de Manicoré, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Benjamin Constant, São
Paulo de Olivença, no alto Solimões. A Faculdade de Educação da Universidade Federal do
Amazonas (Faced/Ufam) no interior oferece curso de Formação de Professores Indígenas,
com turma formada por indígenas das etnias Tikuna e Kokama, teve o apoio do Instituto de
Natureza e Cultura (INC), Unidade Acadêmica da Ufam localizada em Benjamin Constant.
Essa é uma das turmas de um total de cinco que estão em andamento, com oportunidades em
São Gabriel, Lábrea, Manicoré e no Médio Solimões.

Há mais de dez anos, projetos-pilotos em educação diferenciada estão em


desenvolvimento na região do Alto Rio Negro. E desde o início de 2008, as escolas Pamáali,
Taracuá, Kariamã, Pari Cachoeira, Tuyuca e Wanano têm desenvolvido o Ensino Médio
Integrado Indígena (EMII), tendo como prerrogativas projetos sustentáveis para suas
comunidades. As instituições que têm apoiado essas iniciativas são a Universidade Federal do
Amazonas (UFAM), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), as ONGS,
representadas, sobretudo, pelo Instituto Socioambiental (ISA).

As escolas indígenas que hoje se configuram no município de São Gabriel da


Cachoeira, na região do Alto Rio Negro são o reflexo de uma história de lutas travadas pelas
lideranças indígenas locais que decidiram se organizar e reivindicar seus direitos perante a
sociedade brasileira. As escolas que se constituem como diferenciadas ou interculturais,
fazem parte de uma história recente de valorização da cultura indígena e de reconhecimento
de suas especificidades.

Trata-se de um curso com características específicas e diferenciadas, criado em


atendimento a uma demanda dos povos indígenas. Na UFAM, as atividades são
desenvolvidas com o financiamento do Programa de Formação Superior e Licenciaturas
Indígenas (Prolind), promovido pelo Ministério da Educação (MEC) com o objetivo de dar
apoio à formação superior de professores que atuam em escolas indígenas de educação básica.
50

As bases legais para a formação intercultural de professores indígenas estão na


Constituição Federal, artigos 210 e 231, na LDB - Lei nº 9.394/96, no Plano Nacional de
Educação e na normatização do Conselho Nacional de Educação - Parecer 14 e Resolução
03/CEB-CNE, de 1999. Estes textos legais e normativos asseguram a formação de professores
indígenas em programas específicos à docência por professores oriundos de sua própria
comunidade.

Pose-se afirmar que a formação dos professores indígenas é um espaço onde


proporciona-se inúmeras formas de luta, do pensamento sobre o olhar do indígena, da real
necessidade de cada etnia, dos direitos indígenas. Desmitificando a forma como foi inserida
há séculos a educação escolar indígena, buscando o aperfeiçoamento e discutindo políticas
públicas será possível construir novas práticas pedagógicas indígenas.

Na história da renovação das práticas pedagógicas e curriculares da escola


indígena, algumas ideias se firmaram a partir da reflexão e ação promovidas pelas
experiências inovadoras conduzidas pelas organizações de apoio aos povos indígenas e da
mobilização de professores e lideranças indígenas interessadas em uma educação escolar que
contribuísse para sua autonomia.

A escola deve trabalhar com os valores, saberes tradicionais e práticas de cada


comunidade e garantir o acesso à conhecimentos e tecnologias da sociedade nacional
relevantes para o processo de interação e participação cidadã na sociedade nacional. Com
isso, as atividades curriculares devem ser significativas e contextualizadas às experiências dos
educandos e de suas comunidades. Caracterizando por ser comunitária, ou seja, espera-se que
esteja articulada aos anseios de comunidade e a seus projetos de sustentabilidade territorial e
cultural. Dessa forma, a escola e seus profissionais devem ser aliados da comunidade e
trabalhar a partir do diálogo e participação comunitária, definido desde o modelo de gestão e
calendário escolar o qual deve estar em conformidade às atividades rituais e produtivas do
grupo - até os temas e conteúdo do processo de ensino-aprendizagem, de acordo com o
Ministério da Educação.

[....] Levar em conta os direitos linguísticos das crianças nas escolas indígenas
significa, então, conhecer a realidade sociolinguística da comunidade e discutir
essa realidade na escola, fortalecendo e valorizando a língua indígena em seu uso
como língua de instrução, de comunicação, dos materiais didáticos e como
objeto de análise e estudo. (BRASIL. MEC, 2005a).
51

O reconhecimento dos processos próprios de aprendizagem deriva do


conhecimento das diferentes formas de se organizar socialmente dos povos indígenas. Desse
modo, muitos professores indígenas têm se preocupado em pesquisar os fundamentos e as
estratégias desses processos cognitivos, gerando o que se entende hoje por pedagogias
indígenas, fortalecendo o vínculo com a comunidade e concretizando o papel social que o
mesmo desempenha. Nos últimos anos, porém, verificaram-se significativas mudanças no
tratamento da temática educacional indígena, os próprios indígenas entraram em cena para
debater a política de escolarização e para exigir uma educação escolar voltada ao atendimento
dos seus interesses. A educação escolar passou a ser vista como uma política pública, como
um direito de cidadania.

É notório a denominação que Gersem Baniwa, atribui a organização indígena:


Organização indígena é a forma pela qual uma comunidade ou povo indígena organiza seus
trabalhos, sua luta e sua vida coletiva. Sendo assim, toda comunidade indígena possui sua
organização ou organizações. Ela é como tal uma organização social própria. A existência de
organização é uma necessidade coletiva, uma vez que a convivência só é possível com um
mínimo de ordenação interna em que haja definição de objetivos, metas, estratégias e ações a
serem desenvolvidas coletivamente, além da distribuição de tarefas e responsabilidades.
(BANIWA, 2006)

1.14. Configurações Acerca dos Indígenas em Contexto Urbano na Pan-Amazônia

Os povos indígenas têm uma história, que inclui guerras e migrações, trazendo
consigo a redefinição das unidades socioculturais, algumas vezes com a fragmentação e outras
com a fusão ou incorporação em unidades maiores. Uma vez que estão situados dentro da
história, os povos indígenas passam por enormes mudanças culturais, que decorrem seja da
adaptação a um meio ambiente novo ou modificado, seja da influência ou troca cultural
realizada com outros povos, ou ainda por um dinamismo interno aquelas culturas. Pode-se
definir como um processo de migração das aldeias para as cidades, iniciando seguimento de
mudanças e adaptabilidade.

A Amazônia se caracteriza pela coexistência de inúmeros povos distintos segundo


a sua origem, cultura, raça e língua. Viviam primeiro numa imensa região de selvas
exuberantes e rios caudalosos, de igarapés e igapós, de mangues e cerrado, de várzeas e vastos
52

campos naturais. Mas hoje a maior parte da população já vive nas cidades e a tendência do
êxodo rural, ou melhor, da “fuga” para as grandes aglomerações urbanas cresce
vertiginosamente.

O processo de migração dos indígenas para outros locais vem historicamente


refazendo retomadas demográficas, ainda no período da colonização, quando em aconteceu
entre 1562 e 1564 uma epidemia de doenças trazidas pelo homem europeu, o primeiro contato
de populações indígenas com outras populações ocasiona imensa mortandade, por ser a
barreira imunológica desfavorável aos indígenas. Um relato presente que inúmeras aldeias
jesuítas foram dizimadas na Bahia, em que se haviam reunido milhares de indígenas, o que
facilitou o contagio. Outros indígenas sobreviventes, movidos pela fome, vendiam-se a si
mesmos em escravidão. Sendo levados pelos seus senhores para outras regiões do Brasil.

O destino dos povos e culturas indígenas, tal como o de qualquer grupo étnico ou
mesmo nação, não está escrito previamente em algum lugar. A sua tendência a extinção não
foi jamais um processo natural, mas apenas o resultado da compulsão das elites coloniais em
instituir a homogeneidade apagando ou abolindo as diferenças

Como descreve Cunha, no século XVIII, como escrevia em 1757 o jesuíta João
Daniel, encontravam-se nas missões do baixo Amazonas indígenas de "trinta a quarenta
nações diversas". Alguns grupos apenas foram mantidos nos seus lugares de origem para que
atestassem e defendessem os limites da colonização portuguesa: foram eles os responsáveis
pelas fronteiras atuais da Amazônia em suas regiões. É o caso dos Macuxi e Wapi-xana, na
Roraima atual, chamados no século XVIII de "muralhas do sertão (CUNHA,131).

Muitos anos se passaram e em referência as perdas que os indígenas sofreram e


sofrem, pode-se enfatizar a afirmação de Heloísa Helena.
[....] “atualmente em se tratando da região Amazônica tem-se um diferencial do
contingente populacional em relação as outras regiões do país. O Estado do
Amazonas é, dentre os estados brasileiros, o que abriga maior número de populações
indígenas no Brasil, um quarto (¼)1 da população indígena do país, isso se explica
pelo processo de ocupação, pela simples razão de que grande parte da Amazônia
ficou à margem, nos séculos passados, das explosões econômica, desenvolvimento,
o que influenciou significativamente na formação e composição da atual população
regional, sendo uma das particularidades da região Amazônica.( fonte CORRÊA DA
SILVA, Heloísa Helena,2008 )
53

Ainda pode-se provar pelas exceções: onde houve borracha, por exemplo no Acre,
as populações e as terras indígenas foram duramente atingidas e a maior parte dos
sobreviventes dos grupos pano do Brasil hoje estão em território peruano. (IBGE, 2010).

Como afirma Manuela Cunha, O número de indígenas urbanos em Manaus pode ser
considerado muito pequeno se comparado a outras capitais. Essa característica pode
ser justificada em razão de grande parte da Amazônia ter ficado à margem dos
grandes surtos econômicos, dessa forma, só poderia apresentar um processo de
urbanização (CUNHA, 2004).

Em decorrência de acontecimentos econômicos a partir da década de 1970 durante


o período do chamado "Milagre brasileiro”, inúmeras migrações de indígenas para a capital
do Estado ocorreram. Um outro fator de crescimento populacional, embora de menor impacto
demográfico, é que muitos grupos, em áreas de colonização antiga, após terem ocultado sua
condição discriminada de indígenas durante décadas, reivindicam novamente sua identidade
étnica.

Assim o Aumento dos movimentos migratórios que envolvem as sociedades


indígenas costuma interpretar, tais a deslocamentos, aparecem como indícios de há em
marcha um processo de mudanças das organizações indígenas. Construindo forças em busca
dos direitos indígenas. Esse processo de migração trouxe para capital amazonense Manaus, a
presença de indígenas distribuídos pelos diferentes bairros de Manaus, como os seguintes:
Figura 01: Etnias Residentes nos bairros de Manaus

Fonte: FUNAI – AM

Representa um emaranhado de diferentes línguas, histórias, tradições, além de


formas de organização diferenciadas. Formando grupos de indígenas em contexto urbanos.
54

Em escritos sobre a temática indígenas em contexto urbanos, partiu-se de estudos


realizados por, Manuela Carneiro da Cunha, trabalha um pouco a ideia antropológica da
identificação de um grupo étnico. Afirma que essa definição por muito tempo esteve sob o
domínio da biologia, que a concebia com o critério racial, identificável biologicamente
(aspectos físicos), herdado geneticamente. Tomando como base os indígenas brasileiros,
tentar identificá-los como aqueles que herdaram uma descendência pura das populações pré-
colombianas é praticamente impossível, apesar de ser a noção do senso comum. (CUNHA,
1986).

Esse desafio de mudar a rotina de vida não é simples para os indígenas que
migram para os centros urbanos da Amazônia. Pois ao migrarem, se deparam com situações
de exclusão e marginalização, com políticas públicas que não atendem as mínimas condições
de promover o respeito e a dignidade do grupo, apesar da existência de um aparato legislativo
com validade formal e vigência que regulamenta a referida comunidade.

Atualmente, os indígenas da Amazônia têm seus interesses representados não pela


agência indigenista, mas por organizações que os representam em diferentes níveis, desde o
local e o étnico até o regional e o nacional. Hoje, as organizações indígenas articulam-se em
rede, e sua coordenação geral é executada pela Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira (COIAB), sediada em Manaus, e que tem representações próprias em
conselhos diretores de muitas agências governamentais (OLIVEIRA, 2010).

A importância de cada seguimento dentro do espaço (comunidade, aldeia,) O


cacique, o tuxaua, o líder, o pajé, o professor, o agente de saúde, o pai de família e outros
agentes e membros comunitários fazem parte da organização interna de uma comunidade
indígena, na medida em cada um possui sua função e responsabilidade bem definidas,
conhecidas e controladas por todos. Como relata Gersem Baniwa, as lideranças indígenas
brasileiras, de forma sábia, gostam de afirmar que existe sim um movimento indígena, aquele
que busca articular todas as diferentes ações e estratégias dos povos indígenas, visando a uma
luta articulada nacional ou regional que envolve os direitos e os interesses comuns diante de
outros segmentos e interesses nacionais e regionais. (BANIWA, 2006).
55

As culturas indígenas são concretas, como concretos são os que dão vida a elas.
Os indígenas conservam suas línguas, suas experiências e sua relação com a natureza e com a
sociedade. Eles mantêm a tradição oral e os rituais como manifestação artística e maneira de
vinculação com a natureza e o sobrenatural. Mantêm o papel socializador e educador da
família, aplicam os sábios conhecimentos milenares e praticam o respeito à natureza. Com
isso, as culturas indígenas seguem manifestando sua personalidade coletiva e de alteridade,
seja em qualquer lugar. O Indígena é indígena na Aldeia ou na Cidade, o lugar que ele se
encontra não defini sua raça, e sim a gama de conhecimentos culturais que fazem parte da sua
história.

Segundo o Censo de 2000, a metade da população indígena tem hoje também


alguma forma de residência (em tempo parcial, provisória ou definitiva) em pequenas cidades
do interior ou mesmo nas grandes capitais, o que lhes coloca novos problemas e desafios, a
serem respondidos por associações de características variadas.

Campo de estudos relativamente recente no Brasil, a demografia antropológica


voltada ao estudo das sociedades indígenas se desenvolveu no país sob a influência dos
estudos de Darcy Ribeiro (1956, 1977) sobre a avaliação dos efeitos do despovoamento na
organização social das sociedades indígenas, provocado pelo contato com as diferentes frentes
de expansão no interior do país, que se tornaram importantes referenciais para o estudo desses
povos.

Conquistas foram alcançadas, mas ainda temos grandes desafios à frente, dentre
eles, citamos como relevantes: o respeito pelo indígena em contexto urbano, que preceitua
uma história de migração, adaptabilidade ao novo local de vida, a necessidade, continuidade
da cultura recebida pelos encentrais, a sobrevivência econômica, mas essencialmente o
respeito pelas lutas dos direitos conquistados.

1.15. Educação Escolar Indígena pela Estrutura da Secretaria Municipal de Educação-


Semed.
56

A Secretaria Municipal de Educação de Manaus, possui uma estrutura


organizacional na Gerência de Educação Escolar Indígena. Em 2017 em resposta aos
movimentos indígenas de reinvindicação que solicitavam políticas públicas voltadas para os
povos indígenas em Manaus foi elaborada e aprovada a criação das Diretrizes Pedagógicas da
Educação Escolar Indígena do Município de Manaus, abrangendo a Educação Infantil, o
Ensino Fundamental, a Educação de Jovens e Adultos e os Centros Municipais de Educação
Escolar Indígena.

As Diretrizes Pedagógicas da Educação Escolar Indígena de Manaus amparam-se


juridicamente nas legislações que regem os direitos dos povos indígenas, que garantem a
educação escolar específica e diferenciada. Com o objetivo de subsidiar os profissionais
envolvidos na gerência nas modalidades de ensino apresentadas, com os seguintes
profissionais: Professores Indígenas e os Professores Especialistas em Saberes Tradicionais,
em suas práticas educativas, bem como interagir com os demais agentes sociais, como
organizações não governamentais, instituições indigenistas, comunidades indígenas e a
sociedade em geral. (Diretrizes pedagógicas da educação escolar indígena do município de
Manaus, 2017).

A Secretaria Municipal de Educação diante de suas atribuições, assegura a


Educação Escolar Indígena nos artigos.

Art. 35. A Educação Escolar Indígena na Rede Pública Municipal de ensino será
oferecida, preferencialmente, no Ensino Fundamental e terá por finalidade o
atendimento de crianças, jovens e adultos das comunidades indígenas, assegurando-
lhes a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem,
conforme preconiza o art. 210, § 2º da Constituição Federal e o art. 32, § 3º da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/96.

Art. 36. A escola indígena será criada por meio de iniciativa do Poder Público
Municipal ou por meio de reinvindicação da comunidade interessada, ou com sua
anuência, respeitadas suas formas e representações, de acordo com o Decreto n.
1.394/2011.

A Gerência Escolar Indígena é a responsável por toda demanda referente aos


indígenas de Manaus em relação a Educação, dentro do Âmbito da Secretaria Municipal de
Educação, proporcionando aos indígenas asseguradas condições para criar e difundir suas
expressões culturais; direito à formação de qualidade que respeite sua especificidade;
57

possibilidade de participar da vida cultural de sua preferência, exercer e fazer fruir suas
próprias práticas culturais que dão sentido a sua existência.

1.16. Contexto histórico da educação escolar indígena de Manaus (2002-2017).

Pretende-se aqui fazer uma descrição da história da Educação Escolar Indígena no


município de Manaus, do período de 2002 a 2017, a fim de contextualizar os desafios, as
dificuldades e os avanços na relação dos povos indígenas em Manaus com o poder público, no
que diz respeito à educação específica e diferenciada. Em abril de 2002, a SEMED promoveu
o seminário: “I Círculo de Palavras - Educação Escolar Indígena: pensando uma escola
diferenciada”, possibilitando aos povos indígenas discutirem e reivindicarem uma educação
diferenciada, e aos técnicos da SEMED, informações preliminares acerca das características
de uma Educação Escolar Indígena para Manaus. Nesse evento, organizou-se um Grupo de
Trabalho Indígena (GTI) para estudar, refletir e elaborar uma proposta de educação a ser
implantada na SEMED, além de, durante as reuniões, realizar diagnóstico da situação escolar
indígena no Município de Manaus. Era composto por representantes de organizações
indígenas (Associação Comunitária Ticuna Wotchimaücü, Conselho Indígena Sateré-Mawé
Y‟apyrehy‟t, Conselho Indígena SateréMawé Inhãa-bé, dentre outras), e órgãos indigenistas
(Fundação Nacional do Índio – FUNAI, Conselho Indigenista Missionário - CIMI)), além da
Secretaria Municipal de Educação (SEMED), da Universidade do Estado do Amazonas
(UEA) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM). A partir das reuniões do GTI, foi
solicitada à SEMED a imediata oficialização do grupo para dar seguimento aos trabalhos,
bem como a publicação da Portaria n. 0350/2017 Semed/DG, que institucionalizaria a
Educação Escolar Indígena no Sistema Educacional do Município.

Seguidamente o Grupo de Trabalho Indígena, no dia 23 de dezembro de 2003, foi


realizada uma avaliação das atividades desenvolvidas, da qual o GTI tirou como síntese os
seguintes encaminhamentos: 1) Criação/oficialização da modalidade Educação Escolar
Indígena no Sistema Municipal de Educação para que este tenha acesso aos recursos federais
e estaduais destinados à Educação Escolar Indígena; 2) Criação de um setor no Organograma
da SEMED para gerenciar os trabalhos da Educação Escolar Indígena como prescreve a
legislação vigente; 3) Oficialização imediata do grupo de trabalho, em função de muitos
58

membros do grupo não terem como justificar oficialmente às suas instituições de origem suas
presenças nas reuniões do GTI; 4) Levantamento socioantropológico das comunidades
indígenas que vivem no Município de Manaus; 5) Na fase inicial de implantação da escola
Indígena, a SEMED deverá apoiar as experiências educacionais desenvolvidas nas
comunidades, estabelecendo parcerias, viabilizando a contratação dos Professores Indígenas,
a orientação didático-pedagógica e administrativa, a aquisição de materiais (carteiras,
quadros, bebedouros) e merenda escolar.

Em 2005, foi autorizado pelo Secretário Municipal de Educação a criação da


constituição do Núcleo de Educação Escolar Indígena-NEEI, que consistiu em equipe
interdisciplinar de professores indígenas e não indígenas, do quadro da SEMED, com
formação nas áreas de humanas e biológicas (História, Pedagogia, Geografia, Normal
Superior, Letras e Educação Física). Assim, iniciaram-se os trabalhos de diagnóstico e
levantamento de dados sobre a situação escolar dos grupos indígenas residentes em Manaus.

Ainda no ano de 2005, foi realizado o II Seminário de Educação Escolar Indígena,


sob o tema: “Perspectivas e Desafios na Rede Municipal de Ensino”, que visou retomar
discussões sobre a implantação da categoria Escola Indígena no Município; dar seguimento às
demandas indígenas e formar o Grupo de Trabalho Indígena-GTI para elaborar Diretrizes,
Objetivos, e Metas para o programa de escolarização diferenciada em Manaus, possibilitando
a execução de políticas públicas de alteridade para estes povos.

No corrente ano, foram identificadas 15 comunidades indígenas no Município de


Manaus:

 Sateré-Mawé (Santos Dumont/Hiléia);


 Tikuna (Cidade de Deus);
 Deni (Cidade de Deus);
 Tukano, Baniwa,
 Tuyuka,
 Piratapuya,
 Dessana e Tariana
 (Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – AMARN
(Conjunto Villar Câmara – Tiradentes/Aleixo);
59

 Apurinã (Val Paraíso);


 Baré, Baniwa, Tukano e Munduruku (Comunidade Terra Preta /Rio
Negro);
 Baré e Tariana (Comunidade São Thomé/Rio Negro);
 Baré (ACIPAIA – Associação Comunitária Indígena do Paraná de
Anavilhanas do Igarapé-Açuzinho);
 Kokama (Ramal do Brasileirinho – Puraquequara II);
 Kambeba (Comunidade Três Unidos/Rio Cuieiras);
 Baré (Nova Esperança/Rio Cuieiras);
 Baré (Boa Esperança/Rio Cuieiras);
 Baré e Karapanã (Nova Canaã/Rio Cuieiras);
 Baré e Tucano (Barreirinha/Rio Cuieiras);
 Munduruku (Japiim/Petrópolis). (Fonte Diretrizes Pedagógicas da
Educação Escolar Indígena do Município de Manaus).

Nesse período, segundo estimativa da Coordenação dos Povos Indígenas da


Amazônia Brasileira (COIAB), existia em Manaus uma população indígena de 18 a 20 mil
pessoas, divididas em diversas etnias, localizadas em áreas geográficas distintas: Zona urbana,
Zona rural rodoviária (Br 174, AM 010, ramais e vicinais) e Zona rural ribeirinha (Rio Negro
e Rio Amazonas).

Para se obter um melhor acompanhamento, em 2008, foram realizados os


assessoramentos pedagógicos nos Espaços Culturais Urbanos e Rurais e nas Escolas
Indígenas. Paralelamente a esse trabalho, foram iniciadas ações de construção da minuta de lei
sobre a criação das escolas indígenas concretizadas pelo Decreto Municipal nº 1.394, de
novembro de 2011. Além disso, foram ofertadas as formações mensais aos professores
indígenas pela GEEI.

Logo em seguida realizava-se a I Amostra Pedagógica dos Professores Indígena


de Manaus, momento em que os professores socializaram suas atividades realizadas, assim
como os materiais didático pedagógicos produzidos a partir do projeto pedagógico. No
Regimento e Estrutura Operacional da SEMED de 2009 (por meio do Decreto nº0090/2009),
o Núcleo de Educação Escolar Indígena passou a ser a Gerência de Educação Escolar
Indígena – GEEI, subordinada à Divisão de Ensino Fundamental/DEF do Departamento de
Gestão Educacional/DEGE.
60

A SEMED por meio de sua gerência indígena estrutura um calendário de


atividades e ações com participações exitosas, dentre elas: Semana dos Povos Indígenas de
2013; Encontro Internacional de Intercâmbio Técnico em Educação Fiscal; Encontro de Troca
de Experiências dos Centros Culturais Indígenas da Cidade de Manaus; Brincadeiras de
Curumim e Cunhantã; Jogos Interculturais; Mostra de Trabalhos Pedagógicos dos
Professores Indígenas; IV Conferência Municipal de Educação (COMED) 2013; Discussão e
elaboração do Currículo Diferenciado; Eleição do Conselho de Cultura, e Formação Saberes
Indígenas (tutores-UFAM/IFAM/SEDUC/SEMED Manaus e de São Gabriel da Cachoeira).

Em continuidade ao trabalho de visibilidade dos povos indígenas através da GEEI,


em 2014, cria-se uma parceria com a Universidade Federal do Amazonas – UFAM e, por
meio da Pró-reitora de Extensão e Interiorização – PROEXTI, participa da implantação do
Programa Saberes Indígenas, que visou atender aos professores indígenas da Rede Municipal
de Ensino de Manaus.

A secretaria Municipal de Educação deu início as regulamentações dos Centros


Culturais Indígenas no ano de 2014. No ano seguinte, foram realizados os pré-fóruns junto às
comunidades atendidas educacionalmente pela SEMED, no intuito de ouvi-las no que diz
respeito às suas necessidades educativas e sociais. Ademais, foram iniciados os processos de
articulação junto às escolas indígenas e espaços culturais, objetivando a construção de seus
projetos político pedagógicos. Em 2016, a partir das propostas sistematizadas nos pré-fóruns,
foi realizado o I Fórum Municipal de Educação Escolar Indígena, que oportunizou ampla
discussão acerca do contexto da educação escolar indígena no município de Manaus.

Em 2017, a GEEI, a partir das demandas dos fóruns, tem efetivado importantes
ações na construção de políticas definitivas na educação escolar indígena no município de
Manaus, tais como: 1) Construção das Diretrizes Pedagógicas da Educação Escolar Indígena,
a partir de escutas e discussões dos pré-fóruns e fóruns realizados, e constituição de Grupo de
Trabalho com representantes dos diversos setores da SEMED, de organizações indígenas e
indigenistas, do movimento indígena, de instituições e universidades públicas e particulares.

A SEMED como responsável legal por todos os centros educacionais indígenas da


cidade de Manaus, criou-se projeto pedagógico geral, e outro especifico de cada centro e
etnia, assessorada por equipe de profissionais que realizam o acompanhamento. Atualmente
em se tratando da educação escolar indígena, não é diferente, os professores indígenas que
61

trabalham nos centros educacionais indígenas são contratados pela Secretaria Municipal de
Educação – SEMED, utilizando a proposta pedagógica que é direcionada pela mantenedora.
Este modelo de escola indígena bilíngue não é, portanto, novo. Não queremos dizer com isso
que os povos indígenas não possam ler e escrever em suas línguas nativas e que possam
aprender a fazer isso em suas escolas. Mas o que as escolas indígenas devem ou não ensinar é
matéria cuja decisão depende exclusivamente dos povos indígenas para os quais elas existem.
Atualmente com a demanda de indígenas que vivem na a cidade de Manaus,
cresceu demasiadamente e houve a necessidade de cria novos centros educacionais nas
diversas zonas da cidade. Do ano de 2018 para 2019 aumentaram 9 centros, chegando ao
montante de 39 centros educacionais em atuação. De acordo com informações da GEEI
SEMED.

Centros Educacionais Indígenas Manaus (fontes Dados SEMED)

Figura 02 – Tabela de Explicação dos Centros Indígenas de Manaus


CENTROS EDUCACIONAIS /LOCALIDADE
Nº ESCOLA INDÍGENA ENDEREÇO TOTAL Carga Horária

01 Esc. Ind. Munic. Kunyata Comunidade São Tomé/Rio 02 220h


Putira Negro, Manaus/AM.
02 Esc. Ind. Munic. Arú Comunidade Terra Preta/Rio 04 220h
Waimi Negro, Manaus/AM.
03 Esc. Ind. Munic. Kanata T- Comunidade Três Unidos/Rio 03 220h
Ykua Cuieiras, Manaus/AM.
04 Esc. Ind. Munic. Puranga- Comunidade Nova 04 220h
Pirasú Esperança/Rio Cuieiras,
Manaus/AM.
SUB-TOTAL 113
Nº CENTRO MUNICIPAL ENDEREÇO TOTAL
DE EDUCAÇÃO
ESCOLAR INDÍGENA
Wotchimaücü Rua São Salvador, 1216 - 01 220h
1 Cidade de Deus 01. Manaus-
AM.
Atauanã Kuarachi Kokama Estrada do Brasileirinho, 01 220h
2 Ramal: km 08. Manaus-Am.
Wanhut’i Rua Comandante Norberto 01 220h
3 Wongal, nº 261/Conjunto
Santos Dumont/Redenção 01.
Manaus-AM.
62

Buû-Miri Rua 06 nº156 – Conjunto Villar 01 220h


4 Câmara 01 – Aleixo. Manaus-
AM.
Tsetsu Kadun Kokama Rua Lábrea, nº447 – Grande 01 220h
5 Vitoria 01, Manaus-AM.
Bayaroá Rua São Luiz 474, Bairro São 01 220h
6 João – BR 174, km 04. Manaus-
AM.
Kuiá Aldeia Inhaã-Bé, Igarapé do Tiú 01 220h
7 02, Rio Tarumã Açu. Manaus-
AM.
Tupãna Yupirunga Rua Cojubi, Bairro Tarumã 01 220h
8
Inemiri Comunidade Rouxinol, igarapé 01 220h
9 do Caniço 01. Rio Tarumã Açu,
Manaus-AM.
Amarini Arutã Arini Av. Real s/n – Mauazinho. 01 220h
0 Apurinã Manaus-AM.
Weku Durpuá Comunidade Barreirinha / Rio 01 20h
1 Cuieiras – Negro 01. Manaus-
AM.
Wainhamary Apurinã Av. Coletora 02, Nova 01 220h
2 Cidade/Conjunto Cidadão 12.
Manaus–AM.
Poranga Yasarú Comunidade Boa Esperança/Rio 01 220h
3 Cuieiras-Negro 01. Manaus-
AM.
Nusoken Rua Comandante Norberto 01 220h
4 Wongal, nº 261/Conjunto
Santos Dumont/Redenção 01.
Manaus-AM.
Tupana Ruka Comunidade Livramento do Rio 01 220h
5 Tarumã Mirim e Tarumã Açu.
Manaus-AM.
Tayra Kaá Pura Assentamento Sol Nascente, 01 220h
6 Bairro Francisca Mendes II,
Manaus-AM.
Nossa Senhora de Fátima Av. Beija Flor Vermelho, Rua E 01 220h
7 200 – Comunidade Nações
Indígenas – Tarumã, Manaus-
AM.
Wakenai Anumarehit Comunidade Parque das Tribos 01 220h
8 – Tarumã, Manaus-AM.
Kurasí Weara Aldeia Yamuatiri Anama/Rio 01 220h
9 Cuieiras-Negro 01,
Manaus/AM.
Nusoken II – Tarumã Rua Cojubim, 201, Bairro 01 220h
0 Tarumã.
Yatsi ikira ‘Lua Verde’ Rua Francisca Mendes, Cidade 01 220h
1 de Deus, nº116
Kuruara Rua Cravinho s/n - Bairro João 01 220h
2 Paulo
Branquinho Igarapé do Branquinho 01 220h
3
63

Gavião Tarumã Açu – Igarapé do Tiú 01 220h


4
Indígena Tucumã Verde Km 15, BR 174 – Rio Tucumã 01 220h
5
Munguba Comunidade Paxiubal – Santa 01 220h
6 Etelvina
SUB-TOTAL 226 -
TOTAL 339 -
Fonte: Pesquisa documental Gerência Escolar Indígena SEMED, 2019
Nos documentos registrados da SEMED é enfatizado a importância e conceito da
Escola Indígena e dos Centro Municipal de Educação Escolar Indígena-CMEEI são espaços
sociais e educativos de aquisição e elaboração de conhecimentos com base em critérios
reconhecidos na sua forma tradicional, vinculados a sua especificidade etno-cultural.

Esses conhecimentos e critérios identitários constituem um saber de extensão


social, política e cultural. Nesses centros educacionais culturais, as crianças aprendem a
língua materna, canto, dança, hábitos alimentares, rituais, pinturas e artesanato em horário
diferente da escola do ensino regular. É o espaço de ressocialização das crianças e jovens nos
modos de vida indígena e a reafirmação dos aprendizados pretéritos da aldeia na cidade. Esses
centros estão localizados em associações indígenas, mas podem ser encontrados em cômodos
das residências, no quintal, na maloca ou em outro espaço improvisado para este fim. (Fonte
Documento planejamento pedagógico Semed).

1.17. Proposta Pedagógica da Secretaria Estadual De Educação.

1.17.1. Gerência De Educação Escolar Indígena- Geei - A luz da lei federal criou-se a lei
estadual

Os ordenamentos jurídicos gerados em âmbito federal, entre outros em vigor, têm


encontrado detalhamento e normatização nas esferas estaduais, por meio de legislações e
normas específicas que procuram adequar preceitos nacionais às suas particularidades locais,
como é o caso da Constituição Estadual /89, que "assegura às comunidades indígenas a
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem" (Artigo 199, inciso
I, alínea i) e Resolução estadual Nº 11/2001/CEE-AM, de 13 de fevereiro de 2001, que fixa as
normas para criação e funcionamento da Escola Indígena, autorização e reconhecimento de
Cursos, no âmbito da Educação Básica no estado do Amazonas, e dá outras providências.
64

A Gerência de Educação Escolar Indígena desenvolveu ações educacionais para


fundamentar as discussões acerca da orientação e construção da Proposta Pedagógica das
Matrizes Curriculares de Referência para as Escolas Indígenas no Estado do Amazonas e do
Projeto Político Pedagógico, considerando a sua condução de forma autônoma e coletiva,
valorizando os saberes, a oralidade e a história de cada povo em diálogo com os demais
saberes produzidos por outras sociedades, conforme assegura a legislação pertinente, as
diretrizes curriculares vigentes, os princípios da igualdade social, da diferença, da
especificidade, do bilinguismo e da interculturalidade, fundamentos da Educação Escolar
Indígena. Diante desta especificidade, foram realizadas nos Territórios Etnoeducacionais
(TEE): Rio Negro, Baixo Amazonas, Alto Solimões, Vale do Javari, ações em momentos
distintos tais como.

1.17.2. Formação do Grupo de Trabalho (GT) Por Intermédio do CEEI

O Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena do Amazonas-CEEI-AM, na


ocasião de sua reunião ordinária realizada em Manaus entre os dias 05 a 09.05.14,
recomendou a constituição de um Grupo de Trabalho, formado por técnicos da Gerência de
Educação Escolar Indígena (GEEI), Conselheiros das instituições UEA, UFAM, FUNAI,
CIMI, SECOYA, COIAB e Técnicos do CEEI sob a coordenação da GEEI, para contribuir na
revisão e adequação das Matrizes Curriculares para o Ensino Fundamental e Médio das
escolas indígenas.

Com base no RCNEI as Línguas Indígenas não são somente sistemas linguísticos
pertencentes às comunidades Indígenas, compostos por um conjunto de signos, que permitem
a comunicação entre os indivíduos de determinado grupo étnico, mas elas exigem muito mais
reflexão na composição do currículo, objetivando proporcionar aos indígenas a recuperação
de suas memórias históricas, a reafirmação de suas identidades e a valorização de suas
Ciências.

A inclusão de uma língua indígena quer como língua de instrução, quer como uma
disciplina específica tem como objetivos possibilitar que os alunos indígenas usufruam dos
direitos linguísticos que lhe são assegurados, como cidadãos brasileiros e de atribuir prestígio
as línguas indígenas, o que contribui para que seus falantes desenvolvam atitudes positivas em
relação elas, diminuindo assim, os riscos de perdas linguísticas e garantindo a manutenção da
65

rica diversidade linguística do país, favorecendo o desenvolvimento das línguas indígenas no


nível oral e escrito. (RCNEI,1998, p.118, 120, 121).

1.17.3. Proposta pedagógica de matrizes curriculares interculturais de referência para as


escolas indígenas no Amazonas: ensino fundamental e ensino médio.

Descrição dos Componentes da Matriz Curricular Intercultural de Referência Para


o Ensino Fundamental Do 1º Ao 9º Ano Escolas Indígenas do Estado do Amazonas.
66

Matriz Curricular Intercultural de Referência para o Ensino Fundamental de 1º ao 9º ANO para as Escolas Indígenas do Estado do Amazonas
Resolução nº 02/2014 – CEEI-AM

1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º Ano 5º Ano 6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano Carga
Área do
Legislação Componentes Curriculares Horária
conhecimento A.S H.A A.S H.A A.S H.A A.S H.A A.S H.A A.S H.A A.S H.A A.S H.A A.S H.A
Total
Língua Indígena 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 1440
Língua Portuguesa e
4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 1440
Conhecimentos Tradicionais
Linguagens
Arte, Cultura e Mitologia 2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 720
RE. Nº 11/2001 CEE/AM
Lei Federal Nº 9393/96

RES Nº 05/2012 CNE

Língua Estrangeira 2 80 2 80 2 80 2 80 320


RES. Nº 7/2010 CNE

Práticas Corporais e Esportivas 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 360


Matemática e Conhecimentos
Matemática 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 1440
Tradicionais
Ciências da
Ciências e Saberes Indígenas 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 2 80 2 80 2 80 2 80 520
Natureza
Ciências História e Historiografia Indígena 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 2 80 2 80 2 80 2 80 520
Humanas Geografia e Contextos Locais 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 2 80 2 80 2 80 2 80 520
Formas Próprias de Educar: Oralidade, trabalho, lazer
2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 2 80 720
e expressões culturais
TOTAL GERAL DA CARGA HORÁRIA 20 800 20 800 20 800 20 800 20 800 25 1000 25 1000 25 1000 25 1000 8000

Legenda: A.S: Aulas Semanais / H.A: Horas Anuais / Semana Letiva: 40

Formas Próprias de Educar: Oralidade, Trabalho, Lazer e Expressões Culturais - Serão desenvolvidas de forma intercultural e contarão com a colaboração e atuação de especialistas em
saberes tradicionais: os tocadores de instrumentos musicais, cantadores, contadores de narrativas míticas, pajés e xamãs, rezadores, raizeiros, parteiras, organizadores de rituais, conselheiros
e outras funções próprias e necessárias ao bem viver dos povos indígenas. O procedimento será aplicado em forma de Projetos, através de pesquisa com temáticas e área de interesse dos
saberes indígenas nos que envolvem a consulta de outros membros da comunidade. (Resolução CEB/CNE nº. 5/12, art.2º, VII). Eles serão articulados numa perspectiva de formação ampla,
contemplando a gestão territorial e ambiental das terras indígenas e a sustentabilidade das comunidades indígenas, saúde indígena e pluralidade cultural, sendo desenvolvidos com atividades
práticas e teóricas, tendo a base na cultura indígena e sua especificidade.

Figura 03 – Tabela de Explicação das Matrizes Curriculares Indígena Ensino Fundamental


67

Matriz Curricular Intercultural de Referência para o Ensino Médio para as Escolas Indígenas do Estado do Amazonas
Resolução nº 02/2014 – CEEI-AM

1º ANO 2º ANO 3º ANO CARGA


ÁREA DO
LEGISLAÇÃO COMPONENTES CURRICULARES HORÁRIA
CONHECIMENTO A.S H.A A.S H.A A.S H.A TOTAL
Língua Indígena 3 120 3 120 3 120 360
Língua Portuguesa e Conhecimentos Tradicionais 3 120 3 120 3 120 360
Linguagens Arte, Cultura e Mitologia 1 40 1 40 1 40 120
Língua Estrangeira 1 40 1 40 1 40 120
Práticas Corporais e Esportivas 1 40 1 40 1 40 120
RE. Nº 11/2001 CEE/AM
Lei Federal Nº 9393/96

Matemática Matemática e Conhecimentos Tradicionais 3 120 3 120 3 120 360


RES Nº 05/2012 CNE
RES. Nº 7/2010 CNE

Biologia e Conhecimentos Tradicionais 2 80 2 80 2 80 240


Ciências da Natureza Física e Conhecimentos Tradicionais 2 80 2 80 2 80 240
Química e Conhecimentos Tradicionais 2 80 2 80 2 80 240
História e Historiografia Indígena 1 40 1 40 1 40 120
Geografia e Contextos Locais 1 40 1 40 1 40 120
Ciências Humanas Sociologia e Estudos Específicos 1 40 1 40 1 40 120
Filosofia e Interfaces Culturais 1 40 1 40 1 40 120
Direitos Indígenas 1 40 1 40 1 40 120
Formas Próprias de Educar: Oralidade, trabalho, lazer e expressões culturais 2 80 2 80 2 80 240
TOTAL GERAL DA CARGA HORÁRIA 25 1000 25 1000 25 1000 3000

Legenda: A.S: Aulas semanais / H.A: Horas anuais / Semanas letivas: 40


Formas Próprias de Educar: Oralidade, trabalho, lazer e expressões culturais - Serão desenvolvidas de forma intercultural e contarão com a colaboração e atuação de especialistas em saberes
tradicionais: os tocadores de instrumentos musicais, cantadores, contadores de narrativas míticas, pajés e xamãs, rezadores, raizeiros, parteiras, organizadores de rituais, conselheiros e outras funções próprias e
necessárias ao bem viver dos povos indígenas. O procedimento será aplicado em forma de Projetos, através de pesquisa com temáticas e área de interesse dos saberes indígenas nos que envolvem a consulta de
outros membros da comunidade. (Resolução CEB/CNE nº. 5/12, art.2º, VII). Eles serão articulados numa perspectiva de formação ampla, contemplando a gestão territorial e ambiental das terras indígenas e a
sustentabilidade das comunidades indígenas, saúde indígena e pluralidade cultural, sendo desenvolvidos com atividades práticas e teóricas, tendo a base na cultura indígena e sua especificidade.

Figura 04 – Pesquisa Documental Tabela de Explicação das Matrizes Curriculares Indígena Ensino Fundamental
De acordo com Lei nº 9.394/96 em seu artigo 23 afirma que a educação básica
poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de
estudos, grupos-não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por
forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o
recomendar.

Esta Matriz Curricular Intercultural de Referência para o Ensino Fundamental está


estruturada em Áreas de Conhecimentos, integrando e articulando aspectos da vida indígena
com os componentes curriculares. Esta referência de currículo proposto é aberta com
orientações de considerar os objetivos, os conteúdos e procedimentos didáticos a serem
adaptados à realidade de cada escola. Esses aspectos devem estar apontados no Projeto
Político Pedagógico, serem claramente especificados na organização das atividades
curriculares e constantes do planejamento didático. Além disso, é importante ressaltar que os
componentes curriculares poderão ser desenvolvidos através da metodologia via pesquisa,
assim como a produção de material didático e paradidático no processo de ensino-
aprendizagem de cada povo.

Os Saberes Tradicionais e Formas Próprias de Educar contarão com a colaboração


e atuação de especialistas em saberes tradicionais: os tocadores de instrumentos musicais,
contadores de narrativas míticas, pajés e xamãs, rezadores, raizeiros, parteiras, organizadores
de rituais, conselheiros e outras funções próprias e necessárias ao bem viver dos povos
indígenas. O procedimento será aplicado em forma de Projetos, através de pesquisa com
temáticas e área de interesse dos saberes indígenas nos que envolvem a consulta de outros
membros da comunidade. (Resolução CEB/CNE nº. 5/12, art.2º, VII). Eles serão articulados
numa perspectiva de formação ampla, contemplando a gestão territorial e ambiental das terras
indígenas e a sustentabilidade das comunidades indígenas, saúde indígena e pluralidade
cultural, sendo desenvolvidos com atividades práticas e teóricas, tendo a base na cultura
indígena e sua especificidade.

Áreas de Conhecimentos e Componentes Curriculares

 Linguagens: Língua Indígena; Língua Portuguesa e Conhecimentos


Tradicionais; Arte, Cultura e Mitologia; Língua Estrangeira; Práticas
Corporais e Esportivas.
 Matemática: Matemática e Conhecimentos Tradicionais,
 Ciências da Natureza: Ciências e Saberes Indígenas.
69

 Ciências Humanas: História e Historiografia Indígena, Geografia e


Contextos Locais.
 Formas Próprias de Educar: oralidade, trabalho, lazer e expressões
culturais.

Componentes Curriculares das Áreas do Conhecimento

Linguagens

Possibilitar aos indígenas, em conjunto com suas comunidades, a discussão e


formulação de sua política cultural, linguística e pedagógica, atribuindo à escola tal função,
utilizando e ressaltando a eficácia das diferentes formas de linguagens no intuito de estruturar
suas experiências e aplicá-las a realidade da cada aldeia.

Língua Indígena

Componente Curricular obrigatório decorrente da LDB que integra a área de


conhecimento de Linguagens (Resolução CEB/CNE Nº. 5/12). O currículo tem a função de
atribuir-lhe status de língua plena e de colocá-la, no cenário escolar, em equidade com a
língua portuguesa, observando-se os casos em que a mesma se alterna como primeira ou como
segunda língua.

A língua Indígena é um componente que não deve ser trabalhado isoladamente,


pois, a mesma perpassa em todas as áreas do conhecimento. Deve ser atribuída num contexto
da realidade e necessidade de cada povo no fortalecimento de suas línguas, através do qual os
povos constroem, modificam e transmitem suas culturas. (RCNE/Indígena/2005). Aos povos
Indígenas que não falam mais a língua indígena de origem, a carga horária, destinada a essa
língua, poderá ser dividida com o componente curricular Língua Portuguesa, de acordo com o
consenso da comunidade, tendo como referencial o RCNEI/98 que versa sobre a importância
de entendimento de que “mesmo tendo perdido sua língua de origem, um povo poderá
continuar mantendo uma forte identidade étnica, uma forte identidade indígena.

A oralidade é a fala de um povo. Já a escrita é a representação física dessa fala,


expressada por signos e símbolos gráficos. Daí, a necessidade de que ambas ocupem espaços
definidos nos processos de ensino e aprendizagem dos conhecimentos escolares, no intuito de
desenvolver nos alunos competências linguísticas necessárias para que possam entender e
falar nas mais variadas formas de comunicação a qual será submetido no dia-a-dia. A
70

oralidade nas sociedades indígenas está presente nas relações de troca, construção e
transmissão de conhecimentos em todas as fases da vivência humana, antagonicamente à
escrita que tem uma história recente e conflituosa junto às sociedades indígenas.

Língua Portuguesa e Conhecimentos Tradicionais

Esse componente curricular será desenvolvido de forma intercultural, constará no


currículo como instrumento de comunicação entre as diversas sociedades indígenas e não
indígenas, buscando o acesso ao conhecimento e o exercício da cidadania. Nesse sentido, o
uso desse sistema linguístico passará a ser um forte instrumento na interpretação e
compreensão das bases legais que orientam a vida no país, compreendendo as normas do
mercado de consumo, as relações de trabalho e demais formas de produção e negociações
gerais. Além disso, também fortalecerá a divulgação do conhecimento da diversidade cultural
e de afirmação étnica, tendo o ensino do português como primeira ou como segunda língua,
de acordo com a situação sociolinguística de cada povo.
71

POSSUI MATRIZ
LOCALIDADE (Aldeia ou
Nº MUNICÍPIOS ESCOLAS ESTADUAIS INDÍGENAS E ANEXOS CURRICULAR NÍVEL DE ENSINO
Comunidade)
INDÍGENA
Es col a Estadual Pio Veiga (Ato de Criação Lei nº 266 de
Cidade NÃO 6º ao 9º
17.08.1965)
Anexo Indígena da Escola Estadual Pi o Vei ga São Sebastião NÃO 6º ao 9º
Anexo Indígena da Escola Estadual Pi o Vei ga Maronal NÃO 6º ao 9º
1 Atalaia do Norte Anexo Indígena da Escola Estadual Pi o Vei ga Vi da Nova NÃO 6º ao 9º
Anexo Indígena da Escola Estadual Pi o Vei ga Tawaya NÃO 6º ao 9º
Anexo Indígena da Escola Estadual Pi o Vei ga São Luis NÃO 6º ao 9º
Anexo Indígena da Escola Estadual Pi o Vei ga Massapê NÃO 6º ao 9º
Anexo Indígena da Escola Estadual Pi o Vei ga Mayuruna NÃO 6º ao 9º

Es col a Estadual Indígena Manoel Joaqui m Sal danha Fi lho


2 Amaturá Nova Itali a SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e Tec.
Tchaiareecü (Dec. nº 37215 de 29.08.2016)

Anexo Indígena da Escola Estadual Raimundo Sá (Dec. de


3 Autazes São Feli x SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e Tec.
14.03.75 de 14.03.1975)
Escola Estadual Indígena Caci que Manuel Fl orentino
Feijoal SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e Tec.
Mecüracü (Dec. nº 25.140 de 04.08.2005)
Escola Estadual Indígena Professor Gil do Sampaio
4 Benjamin Constant Fi ladélfia SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e Tec.
Megatanücü (Dec. nº 28.909 de 10.08.2009)
Es col a Estadual Indígena Dári a Gabriel Quiri no I'Cürana
Porto Es pi ritual SIM Tecnológico
(Dec. nº 35483 de 22.10.2014)
POSSUI MATRIZ
LOCALIDADE(Aldeia ou
Nº MUNICÍPIOS ESCOLAS ESTADUAIS INDÍGENAS E ANEXOS CURRICULAR NÍVEL DE ENSINO
Comunidade)
INDÍGENA
Es col a Estadual Indígena Ester Cal deira Cardoso (Dec. nº
Kwatá SIM 6º ao 9º, Ensi no Médi o e EJA
31.842 de 05.12.2011)

5 Borba Escola Estadual Indígena Agos ti nho de Goés (Dec. nº 34.169


Forno SIM 6º ao 9º, Ensi no Médi o e EJA
de 12.11.2013)
Escola Estadual Indígena Laranjal (Dec. nº 34.164 de
Laranjal SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e EJA Rai mundo A. As san dos Santos
12.11.2013)

Escola Estadual Indígena Governador Eduardo Braga


6 Nhamundá Kass awá SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e Tec.
(HEXKARYANA)

Escola Es tadual Indígena Kwati jariga (Dec. nº 35840 de


Traíra SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e Tec.
22.10.2014)
7 Humaitá
Escol a Es tadual Indígena Tupajakui (Dec. nº 35.785 de
Marmel o SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e Tec.
30.04.2015)

Anexo Indígena
8 daIpixuna
Es cola Estadual Armando de Souza Mendes funcionando na Escola Municipal Indígena
Aldei a Marechal
Pi au RondonSIM 6º ao 9º

9 Jutaí Escola Estadual Indígena Joaquim Romão (Dec. nº 35.453 de 12.12.2014) Bugai o SIM 6º ao 9º e Ensino Médi o

Escola Es tadual Indígena Gomerci ndo Caetano de Ol iveira


Comuni dade Boa Uni ão SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e Tec.
(Dec. nº 35.783 de 30.04.15)

Escol a Estadual Indígena Raimundo Soares (ai nda anexo da Comunidade Boca do
SIM 6º ao 9º, Ens. Médi o e Tec.
Escol a Estadual Indígena Gomerci ndo Caetano de Oli vei ra) Jauari
10 Manicoré
Es col a Estadual Indígena São José (ai nda anexo da Es col a Estadual Indígena Gomerci ndo
Comuni
Caetano
dade
deSão
Oli vei
Joséra) SIM 6º ao 9º
Comunidade Nazaré do
Anexo Indígena da Escol a Estadual Indígena Gomerci ndo Caetano de Oli vei ra SIM 6º ao 9º
Uruá
Comunidade Nossa
Anexo Indígena da Escol a Estadual Indígena Gomerci ndo Caetano de Oli vei ra SIM 6º ao 9º
Senhora de Nazaré

Demanda das escolas indígenas nos municípios do Amazonas atendidas pela SEDUC
72

POSSUI MATRIZ
LOCALIDADE(Aldeia ou
Nº MUNICÍPIOS ESCOLAS ESTADUAIS INDÍGENAS E ANEXOS CURRICULAR NÍVEL DE ENSINO
Comunidade)
INDÍGENA

Comunidade Terra
Manicoré
Anexo Indígena da Es cola Es tadual Indígena Gomercindo Caetano de Oliveira SIM 6º ao 9º
Preta
Anexo Indígena da Escola Estadual Santo Antônio do Matupy (Dec. nº 28.918 de 10.08.2009)
Aldeia Campinho SIM 6º ao 9º, Ens. Médio e Tec.

Escola Estadual Indígena Sagrada Família (Dec. nº 6047 de


Komixiwe SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
21.12.1981)
Anexo Indígena Pohoroa SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Anexo Indígena Tabuleiro SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Anexo Indígena Balaio SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Anexo Indígena Piranha SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
11 Stª Izabel do Rio NegroAnexo Indígena Massarabi SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Escola Estadual Padre José Schneider (Dec. nº 13.769 de
Cidade SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
11.03.1991)
Anexo Indígena (Secoia) Bicho Açú SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Anexo Indígena Ixima SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Anexo Indígena Pukima Bera SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Anexo Indígena Pukima Cachoeira SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
POSSUI MATRIZ
LOCALIDADE(Aldeia ou
Nº MUNICÍPIOS ESCOLAS ESTADUAIS INDÍGENAS E ANEXOS CURRICULAR NÍVEL DE ENSINO
Comunidade)
INDÍGENA
Santo Antonio do Escola Estadual Indígena Dom Pedro I (Dec. nº 11.181 de
12 Betânia SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Iça 16.06.1988)

Escola Estadual Indígena Imaculada Conceição (Dec. nº 24.832 de 28.02.2005)


Maturacá SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio

Anexo Nossa Senhora de Guadalupe Comunidade Maiá SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Anexo IBARN-ESTRADA Comunidade Bíblica SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Comunidade Ilha das
Anexo Ilha das Flores SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Flores
Escola Estadual Indígena Ye Pa Mahsa Imikohorimahsa (Dec. nº 36.729
Balaio
de 26.02.2016) SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Curika Curicuriarí SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Itapereira Itapereira SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio

Escola Estadual Indígena Nossa Senhora da Assunção (Dec. nº 4870 deIçana


24.03.1980) SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio

Boa Vis ta Comunidade Boa Vista SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio


Canadá Canadá SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Pamaali Pamaali SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Anexo Eénawi-Nazaré Comunidade Nazaré SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Comunidade Castelo
Anexo Castelo Branco SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Branco
Comunidade Tunuí-
Anexo Tunuí-Cachoeira SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Cachoeira
Escola Estadual Indígena São Miguel (Dec. nº 1212 de 23.09.1968) Iauaretê SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
São Gabriel da Escola Estadual Indígena Pamuri Mahsã Wi’i (Dec. nº 35.452 de 12.12.2014)
Iauaretê SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
13
Cachoeira
Anexo Caruru Cachoeira Caruru Cachoeira SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Comunidade
Anexo Marabitanas SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Marabitanas
Escola Estadual Indígena Sagrado Coração de Jesus (Dec. nº 1212 de 23.09.1968)
Taracuá SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio Mª Ermelinda G. Vas concelos
Anexo Aeitym Yepá Mahsã Comunidade Cunuri SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Escola Estadual Indígena Nossa Senhora Imaculada Conceição (Dec. nº
Querari
4870 de 24.03.1980)SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Duque de Caxias (Dec. nº....... 15.11.1992) São Joaquim SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Escola Estadual Indígena Dom Pedro Mas sa (Dec. nº 1212 de 23.09.1968)
Pari Cachoeira SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino MédioMaria Ana Cleide Penha Barreto
Anexo São José II São José II SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Comunidade São Pedro
Anexo São Pedro SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Tuyuka
Comunidade Nova
Anexo Nova Fundação SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Fundação
Escola Estadual Tenente Antônio João (Dec. nº 6998 de 07.02.1983) Cucuí SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio Carlos Savio Gonçalves Gas par
Anexo Amium Comunidade Amium SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Comunidade Tabocal d.
Anexo Tabocal d. Pereiras SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Pereira
Comunidade
Anexo Campinas SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Campinas/Xié
Comunidade
Anexo Anamuim SIM 1º ao 5º, 6º ao 9º e Ensino Médio
Anamuim/Xié

Escola Estadual Indígena Genésio Costodio Manuel (Dec. nº 6º ao 9º, Ensino Médio e
Campo Alegre SIM
São Paulo de 34.613 de 21.03.2014) Tecnol ógico
14
Olivença Escola Estadual Indígena Pogüta (Dec. nº 30.954 de 6º ao 9º, Ensino Médio e
Vendaval SIM
31.01.2011) Tecnol ógico

Escola Estadual Indígena Almirante Tamandaré (Dec. nº 1º ao 5º, 6º ao 9º, Ensino Médio e
Umariaçu II SIM
6998 de 07.02.1983) Tecnol ógico
Escola Estadual Indígena Belém do Solimões (Dec. nº 23.011 6º ao 9º, Ensino Médio e
15 Tabatinga Belém do Solimões SIM
de 23.10.2002) Tecnol ógico
Escola Estadual Indígena Profess ora Elécia Campos
Umariaçu II SIM 1º ao 5º
Manduca (Dec. nº 34168 de 12.11.2013)

Figura 05: Fonte: Pesquisa de Campo- GEEI da Tabela com os municípios atendidos
com Educação Indígena pela SEDUC 2019
73

1.17.4. Centro de Formação Profissional Pe. José Anchieta – CEPAN

Nos avanços e conquistas na política educacional escolar indígena no Estado do


Amazonas destacam-se as criações do: Conselho de Educação Escolar Indígena / CEEI-AM,
órgão consultivo, deliberativo e de assessoramento técnico sobre as matérias relativas às ações
e projetos de Educação Escolar Indígena, desenvolvidos junto às comunidades indígenas no
Amazonas, em todos os níveis de modalidade de ensino; A Gerência de Educação Escolar
Indígena / GEEI, na estrutura da Secretaria de Educação, com a finalidade de executar a
Política de Educação Escolar Indígena, que deve assegurar aos povos indígenas uma educação
diferenciada e de qualidade, bi/multilíngue e intercultural e a Fundação Estadual dos Povos
Indígenas - FEPI, cuja finalidade é de promover a Política Indigenista, em parceria com as
organizações indígenas, órgãos governamentais e não governamentais.

O Plano Estadual de Educação/Educação Escolar Indígena, integrando-se aos


dispositivos legais e às diretrizes para a Política de Educação Escolar Indígena pretendem
responder à prioridade atribuída ao ensino aos povos indígenas, tendo como objetivo:
assegurar condições de acesso e de permanência na escola à população escolarizável para a
Educação Básica, garantindo uma educação diferenciada, específica, intercultural,
bi/multilíngue, comunitária e de qualidade, que responda aos anseios dos povos indígenas.

O CEPAN através da coordenação de formação de professores indígenas, realiza


um trabalho único na educação indígena do Amazonas. O plano abrange os municípios do
estado, independentemente da localidade (ver plano no quadro) e as formas que os
formadores, que utilizam dos variados meios de transporte aéreo, terrestre e fluvial. Como é
de conhecimento o estado do Amazonas possui características regionais diferenciadas, que
tornam alguma localidade de difíceis acessos.

Dessa forma, o CEPAN trabalha com planejamento anual, semestral e mensal das
formações para atender a demanda. Segue o roteiro das atividades desenvolvidas: planejamento
na Gerencia Indígena, Planejamento na coordenação de formação, criação do Plano de Ensino,
Projeto Político Pedagógico, Plano de Curso em Ensino de Matemática e Conhecimento Tradicionais
74

nas Séries Iniciais, Plano de Curso em Ensino de Língua Portuguesa e Conhecimento Tradicionais nas
Séries Iniciais, vide em quadro:

O CEPAN realiza formações para os professores indígenas dos municípios do


Estado do Amazonas, com vistas à sistematização do planejamento das ações de formação a
são desenvolvidas pela Gerência de Formação-GEFOR, em 2019, com base na Legislação e
documentos oficiais que regem a Educação da Educação (BNCC, PNE, LDBEN 9394/96...)

Coordenação: Coordenação de Formação Docente das Escolas Indígenas


Professora Coordenadora: Alva Rosa Lana Vieira

PLANO DE FORMAÇÃO PARA 2019


Ord.
AÇÃO: Multisseriado nas escolas indígenas.
1
DESCRIÇÃO: Visa orientar o professor das series iniciais a pratica docente em
2
salas multisseriados nas escolas indígenas.

JUSTIFICATIVA: Atendimento da Lei nº 4.183 de 26 de junho de 2015 do Plano


Estadual de Educação do Amazonas (PEE/AM) nas suas metas 16.5, garante a
promoção da Formação Continuada de docentes em todos os sistemas de ensino e em
todas as áreas de atuação; e 21.17 que assegura o atendimento de 100% (cem) da
Formação Inicial e Continuada de Professores Indígenas em regime de colaboração
3
entre União, Estado e municípios das escolas indígenas e sistemas de ensino.
Garantido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na
Educação Básica (Resolução nº 05/CNE-CEB/2012), no cumprimento das Diretrizes
Curriculares Nacionais para formação de professores indígenas em cursos de
Educação Superior e de Ensino Médio (Resolução nº 01/CNE-CEB/2015). E também
no eixo I do Programa Nacional dos Territórios Etnoeducacionais (PNTEE) da
Educação Escolar Indígena, que trata de promover a Formação Continuada de
professores da educação escolar indígena, especialmente daqueles que atuam nos
anos iniciais da educação básica, em escolas indígenas. Esta formação visa atender o
quadro dos 4.571 professores indígenas aproximadamente, para o aperfeiçoamento
do fazer pedagógico, fortalecendo a instituição como um todo, melhorando e
cumprindo sua missão educacional para com os 65 povos indígenas, das 1.067
75

PLANO DE FORMAÇÃO PARA 2019


Ord.
escolas indígenas, no atendimento dos 65.767 alunos indígenas dos sete Territórios
Etnoeducacionais, sendo: Baixo Amazonas, Rio Negro, Médio Solimões, Alto
Solimões, Vale do Javari, Juruá/Purus, Yanomami e Ye`kuana.
OBJETIVO: promover formação de professores, atendendo às necessidades
4 específicas das salas multisseriados em escolas indígenas, através do uso de
metodologias que congregue a formação integral dos alunos à interdisciplinaridade
em um diálogo intercultural.
LOCAL: Alvarães, Santa Isabel do Rio PERÍODO (S) CARGA
5 Negro, Manaquiri, Tapauá, Uarini, PREVISTO (S): HORÁRIA: 80hs
Nhamundá, Beruri, Benjamin Constant e 1° semestre de
Pauini. 2019
PÚBLICO ALVO: Professores das séries iniciais das escolas indígenas
6
OPERACIONALIZAÇÃO: CEPAN /GEFOR Tapauá: fluvial
Alvarães: Manaus/Tefé – aéreo Uarini: Manaus/Tefé – aéreo
Tefé/Alvarães – fluvial e terrestre Tefé/Uarini – fluvial
Santa Isabel do Rio Negro: aéreo Manaquiri: Nhamundá: Manaus/Parintins –
Manaus/ Manaquiri – fluvial ou terrestre aéreo
Beruri: Manaus/Manacapuru – terrestre Parintins/Nhamundá – fluvial
7 Manacapuru/Beruri - fluvial Pauini: Manaus/Rio Branco –
Benjamin Constant: Manaus/Tabatinga – aéreo aéreo
Rio Branco/Boca do Acre –
Tabatinga/Benjamin Constant - fluvial Terrestre Boca do Acre/Pauini -
fluvial
MODALIDADE: Presencial
8
METODOLOGIA: será desenvolvido um conjunto de atividades de análise e
reflexão sobre as práticas pedagógicas utilizadas nas salas multisseriadas,
fomentando oficinas de planejamento de aula, seleção de conteúdo, pesquisa de
9 campo e bibliográfica, produção e revisão de materiais didáticos e elaboração de
projetos interdisciplinares a serem efetuados de modo participativo.
PARCERIAS: Secretarias municipais de educação.
10
ESTA AÇÃO ESTA PREVISTA NO PAR PARA 2019? SIM (X) NÃO ( )
11
OBSERVAÇÕES PERTINENTES E ELUCIDATIVAS: O curso não tem como
12 ser executado à distância.

Figura 06 Fonte Gerência de Formação de Professores Indígenas CEPAN, 2019


76

Coordenação de Formação Continuada de Professores Indígenas no Amazonas


Realizada pela Secretaria de Educação nos Municípios do Estado.

Figura 07, fonte: Gerência de Formação de Professores Indígena CEPAN, 2019)


77

2. CAPÍTULO 2 – CAMINHO PERCORRIDO ATÉ A METRÓPOLE MANAUS

2.1. Indígenas e o processo de migração para a cidade.

São diversos as motivações para a ocorrência da migração indígena para áreas


urbanas. Segundo Cardoso de Oliveira (1993, apud SILVA, s/d, p.29), a atração pela cidade
inicia com o imaginário da vida na cidade. E a penetração da cidade na aldeia acontece pela
adoção de costumes e valores, inerentes à cidade, ao modo de vida dos indígenas aldeados que
vão, sucessivamente, alterando aspectos da vida na aldeia, originando alguns componentes
urbanos identificados no dia a dia da aldeia.

O Estado, como agente colonizador, exerce o poder sobre as mudanças que


ocorrem na teia social, econômica, levando uma configuração no movimento de deslocamento
de ovos indígenas dos locais de origens para as cidades. Isso não se refere somente ao modo
como um certo grupo de pessoas se representa mentalmente a outras, mas refere-se aos
dispositivos de saber/poder que servem de ponto de partida para a construção dessas
representações. Nesse sentido o “ocultamento” de uma identidade cultural preexistente, o
problema do “outro” deve ser teoricamente abordado da perspectiva do processo de produção
material e simbólica no qual se viram envolvidas as sociedades ocidentais.

Em espaços urbanos se encontram muitos indígenas, que são invisibilizados no


imaginário social brasileiro, no sentido de ter uma visão distorcida do indígena com hábitos
primitivos como: “ andar nu, viver com o corpo pintado, usar cocar”. Com a afirmação de
João Pacheco de Oliveira a sociedade constitui vários termos para identificar o indígena como
o claro denotativo de morador das matas, de vinculação com a natureza, de ausência dos
benefícios da civilização. De um ser em constante integração com a natureza, com os seres,
tanto no contexto da aldeia como no contexto urbano.

No mesmo período, a migração na Amazônia deixou de ser atividade


fundamentalmente relacionada a acompanhamento familiar, busca por trabalho e acesso a
serviços básicos, sobretudo no caso de indígenas, para se configurar enquanto atividade
relacionada à necessidade por estudo e busca por reconhecimento social. São diferentes
padrões motivacionais formados e que levam o indígena a confluir à urbe e enfrentar
processos de reterritorialização.
78

A luta dos povos indígenas por reconhecimento, criou-se um processo de


mobilização de reivindicações dos direitos atribuídos nas leis brasileiras, que asseguram a
identificação dos grupos étnicos, que ao penetrarem no contexto urbano, firmando os
movimentos sociais, torna a visibilidade da sua história sociocultural que se misturam com
elementos socioculturais urbanos, e criam um hibridismo de identidades étnicas, que
garantem instrumentos políticos de afirmação dos seus direitos coletivos, por intermédio dos
movimentos e organizações indígenas, que viabiliza e acentua as identidades étnicas,
reforçadas com a capacidade de coesão do grupo de enfrentar as dificuldades de preconceitos
e diferenças no reconhecimento da sua identidade para a sobrevivência na cidade.

Para realizar um trabalho embasada nos fatos é necessário buscar várias fontes
documentais retratam a história do contato desde povo com os colonizadores. Assim como a
literatura desde contato é realizada por pesquisadores que trabalham ou trabalhavam com este
povo tanto no Brasil, quanto na Colômbia e Peru. A exemplos temos os seguintes trabalhos
dos pesquisadores no Brasil: CABRAL (1995); FREITAS (2002); RAMOS (2004); RUBIM
(2011); VIEGAS (2010), (2014); ALMEIDA e RUBIM (2012); na Colômbia: GONZALÉZ
(1999); e no Peru: ABAURRE (2002), RUIZ (2003), VALLEJO (2010) e outros. Todos os
autores ressaltam a história do contado dos colonizadores com as populações indígenas da
Amazônia peruana, principalmente sobre o povo Kokama. Como dito anteriormente,
atualmente o povo Kokama se encontra na Colômbia, Peru e Brasil.

Foi criada uma visão estereotipada do povo brasileiro indígena historicamente


com foi relatada pelos cronistas no período colonial, com o indígena sendo parte integrante da
floresta, recusando a sua presença no contexto urbano. Embora seja constante a presença de
indígenas nas cidades, o ambiente urbano em muitos casos historicamente tem se mostrado
hostil a essa presença. No período colonial a população indígena era utilizada como mão de
obra barata ou mesmo como escravos, atualmente por inúmeras lutas, e regulamentações das
leis poucos indígenas possuem uma estabilidade financeira, a maioria que vivem nos grandes
centros, são trabalhadores autônomos, que relatam a ausência de assistência de instituições
públicas que reconhecem sua identidade fora da aldeia.

Historicamente a migração dos povos indígenas da aldeia para a cidade vem


acrescido de registros da legislação imperial que na época instituía incentivos para a
escravidão e colonização dos indígenas, dentro de seus próprios territórios, “roubando-lhes”
79

seu espaço, sua cultura e sua liberdade. Oliveira (1997). Descreve a perda da interação entre o
sentimento de pertencer ao lugar de nascimento, sua cultura, passando a pertencer outro lugar,
e outras formas de cultura.

No período áureo do ciclo da borracha, com extração e comercialização de látex


para a produção da borracha forma atividades da base econômica do Estado do Amazonas,
com início em 1879. A extração da borracha foi o apogeu para utilização da mão-de-obra
indígena, os mesmos foram levados a mudar seu modo de vida, acostumados a viverem da
pesca e da agricultura, modificaram–se adaptando a novas formas de trabalho passando a
extrair madeira e caçar animais com peles de valor comercial. Outras transformações foram
necessárias de acordo com a nova realidade social vivenciada naquele contexto da época que
os levou a migração para outros lugares onde com o objetivo maior de extrair a seringa que se
apresentava como economia local.

Em relação a migração do povo Kokama objeto da pesquisa, foi no século XX,


que a população Kokama do Amazonas peruano, iniciou o processo migratório para o alto
Solimões, já no território Brasileiro. Além, de serem trazidos para trabalhar nos seringais,
muitos foram atraídos pelo movimento messiânico da Irmandade da Santa Cruz. A qual teve
influência significativa no processo de migração da aldeia para a cidade, neste caso os
aldeamentos e deslocamentos forçados, impostos primeiramente pelas missões e depois pelas
frentes extrativistas, trouxeram negação da identidade indígena por muitas décadas.

2.2. A Irmandade da Santa Cruz: um reflexo da migração dos indígenas da Pan


Amazônia.

O momento que reflete os processos de migrações dos indígenas Kokama rumo ao


Brasil no período áureo da Pan-Amazônia foi o movimento messiânico que ficou conhecido
como Irmandade da Santa Cruz. Entre 1971 e 1987 numerosas famílias Kokama emigraram
da cidade de Nauta, no Peru, e de diversas habitações às margens do rio Marañón (próximo à
sua confluência com o Ucayali) até o interior da floresta. De acordo com registro do relatório
Kokama, os indígenas chamavam uns aos outros de "irmãos" e passaram a formar novas
comunidades, enquanto esperavam o iminente fim do mundo”. Então empreenderam uma
marcha até uma “cidade santa” no rio Juí, afluente do Içá (continuação do Putumayo), em
território brasileiro.
80

Relatos da história do povo Kokama, chamavam “O líder do movimento de


profeta brasileiro”, provavelmente mestiço, conhecido como Francisco da Cruz. Ele visitou
comunidades dos principais rios da Amazônia peruana (Ucayali, Amazonas, Marañón), onde
foi pregando sua doutrina sobre a última reforma do cristianismo e o fim do mundo. Contam
que curava enfermos, ensinava técnicas agrícolas, plantava cruzes e fundava novas
comunidades religiosas, assim como ditava as normas da vida para aqueles que seriam seus
seguidores. De acordo com o texto do Instituto Socioambiental.

A longo dos anos a história dos Kokamas sobre sua localização nos países da
América Latina que fazem fronteiras Colômbia, Peru e Brasil. De acordo com Instituto Sócio
Ambiental, em 2005, a população Kokama conhecida no Brasil era de 786 pessoas (Cimi,
2005), distribuída por comunidades localizadas no alto e médio rio Solimões, no estado do
Amazonas, principalmente nos municípios de Tabatinga, São Paulo de Olivença, Benjamim
Constant, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Tonantins, Fonte Boa, Tefé e Jutaí. Por outro lado,
o CGTT – Conselho Geral da Tribo Ticuna, que foi conveniado com a Funasa – Fundação
Nacional de Saúde, no tratamento da saúde indígena na região do Alto Solimões.

2.3. Do início da aldeia no Peru e Colômbia a cidade: o caminho percorrido pelos


indígenas Kokama até Manaus.

Para conhecer a cultura, a formação do povo Kokama é preciso recorrer a história


registrada nos escritos dos colonizadores que no século XVI quando as expedições
adentraram os rios Huallaga, Marañón, Ucayali e Napo, buscando colonizar junto aos
“selvagens” o “Novo Mundo”, que de acordo com Freitas (2002:19) corresponderia à noção
do “desconhecido” que fazia referência ao “El Dourado”, a riquezas materiais como o ouro, e
outras riquezas. As expedições buscavam riqueza e poder, mas com os colonizadores vieram
as epidemias (varíola, sarampo, coqueluche, peste bubônica e até o vírus da gripe) que para os
indígenas torna-se algo fatal. Com isso, provocou-se um declínio demográfico em relação aos
indígenas, e processo de migração para outras regiões fugindo das epidemias.

Os primeiros registros sobre o povo Kokama, encontra-se nos relatos dos


missionários nos séculos XVI e XVII, situam os seus principais assentamentos no médio e
baixo rio Ucayali, afluente meridional do Amazonas peruano. A expedição de Ursua e
Aguirre ao Amazonas no período 1560-1, narrada pelo capitão Altamirano, informa o
81

encontro com esses indígenas na foz do Ucayali. Na região próxima ao alto rio Amazonas,
incluindo o Marañón, baixos Huallaga e Ucayali e o rio Napo, a conquista missionária já
havia atingido os Omágua (Kambeba) e Kokama desde 1547 A frente missionária jesuítica
estabelece-se na Amazônia de forma mais contundente, através da atuação dos padres Samuel
Fritz e Richler, que deram início aos trabalhos de catequese junto aos Omágua, Assuare,
Ibanoma, Tauma, Xebeco e Kokama. Em território brasileiro a missão de San Joaquin de
Omágua, coordenada por Fritz, estabeleceu-se no Putamayo (Içá) e 27 outras foram fundadas
durante as décadas seguintes.

Por muito tempo as expedições comandadas pelos Jesuítas tinham um controle


das terras indígenas da América. Com a missão de catequisar os indígenas, tinham uma
concentração numerosa de grupos étnicos nos aldeamentos. Em referencias as populações
indígenas que habitavam o Amazonas, encontradas nas narrativas dos viajantes, missionários,
naturalistas e exploradores, são as seguintes: Abacaxis, Aisuaris ou Curucirari, Amicuanos,
Apantos, Aroases, Aruás, Bobuis, Carabayanas, Caripunas, Cocamas, Conuris ou Conduris,
Curiatós, Cunibas ou Cunivos, Curinas, Gacarás, Guayazis, Ibanonas, Iruris, Jivaros ou
Jibaros, Júris, Mainas, Manaos, Maraguás, Omáguas ou Cambebas, Paguanas, Pebas, Piros,
Tabaos, Tapajós, Taguaus, Tupinambás, Yurimáguas, Sorimões, Solimões, Yoriman ou
Culiman, entre outros. Muitos desses povos, acima descritos, passaram por uma intensa
transformação cultural. Os Kokama em sua maioria foram diretamente afetados,
acompanharam tanto as missões como também os exploradores, sendo participantes do fluxo
imigratório para o Brasil, uma vez que habitam a região do Peru e Colômbia.

Os colonizadores portugueses investiram rumo ao rio Amazonas, no final do


século XVII e início do XVIII Com a transmissão de poder das missões jesuítas espanhóis
para as carmelitas portuguesas, em 1710 inicia-se o período das chamadas "Tropas de
Resgate" portuguesas que, por meio de incursões devastadoras, penetram na zona das
missões, provocando o seu abandono e a retirada dos sobreviventes.

No século seguinte XIX, a legislação imperial permanece anti-indígena,


estabelecendo proibições formais, incentivos oficiais para a escravização dos indígenas e a
organização de ações armadas destinadas ao alargamento da colonização nas áreas
por eles ocupadas. No período de 1750-1850, todas as informações disponíveis sobre a
82

situação das povoações do alto Amazonas são concordantes em relatarem a instabilidade dos
núcleos indígenas, que sofreriam bruscas variações populacional.

Após esse período com o surgimento da exploração da borracha 1879. O processo


extrativo necessitava da incorporação de novas áreas de terra e do alargamento da mão-de-
obra disponível, já bastante escassa após a abolição da escravatura em 1888, a região próxima
ao rio Solimões constituía-se em um razoável reservatório natural de seringa.

Fatores externos, como a inserção nas missões, em um primeiro momento da


história do contato, aliada às frentes extrativistas que se instalaram na região do alto

Amazonas alguns séculos depois, desencadearam o deslocamento de muitos


grupos indígenas de suas áreas tradicionais. É também em decorrência das realidades sociais
impostas que, em fins do XIX, parte dos Kokama desloca-se do Peru e Colômbia ao Brasil,
inserindo-se no esquema de exploração da seringa.

Figura 08: mapa do caminho percorrido pelos Kokamas até Manaus

Fonte: Pesquisa Documental www.maps.google.com 2019

Outro fator determinante na migração dos Kokamas, que seguiram Francisco


Cruz. O líder do movimento era um profeta brasileiro, que visitou comunidades dos
principais rios da Amazônia peruana (Ucayali, Amazonas, Marañón), onde foi pregando sua
doutrina sobre a última reforma do cristianismo e o fim do mundo. Contam que curava
enfermos, ensinava técnicas agrícolas, plantava cruzes e fundava novas comunidades
religiosas, assim como ditava as normas da vida para aqueles que seriam seus seguidores.
83

Finalmente, desce o rio Amazonas com a intenção de entrar na Colômbia, mas é


detido na fronteira, acusado de "comunista" e preso pelas autoridades brasileiras. Ao cabo de
alguns dias é libertado devido à pressão de seus seguidores, mas firma o compromisso de ficar
restrito ao interior da floresta. O irmão Francisco decide, então, subir novamente o rio Içá
(Putumayo) e funda ali, em um de seus afluentes, o Juí, sua residência definitiva e sede central
do movimento. Ali ficou com seus adeptos até 1982, quando morre e deixa como sucessor um
indígena de origem tupinambá que posteriormente tomará o nome de Francisco Neves da
Cruz (Agüero, 1994: 7)

O pensamento dos povos de indígenas Kokama (Kukami-Kukamiria) de acordo


com relatos, possuem o modo de vida muito diferente dos brancos (não-indígenas), a própria
Cosmovisão, propriedade intelectual, cultura, língua, espiritualidade, medicina tradicional,
artesanato e identidade com uma cultura milenar muito forte. Desenvolveram a arte de pintar,
cantar, lutar, caçar e pescar.

2.4. A luta pela visibilidade na cidade: o início das lutas, organizações.

A Consulta Prévia é um direito dos povos indígenas originários de serem


consultados e participarem das decisões do Governo por meio do diálogo intercultural
marcado pela boa fé, compromisso e anuência.

Lutam por direito de ser respeitado como povo originário, respeito à diferença
conforme a Constituição, querem a autodeterminação, querem as garantia e respeito no
atendimento das políticas públicas. Querem participar dos órgãos públicos de acordo com os
costumes e ter representantes Kokama dentro das esferas do governo para atender com
atenção o povo. Querem respeito a auto declaração, que é o direito de dizerem quem
realmente são. De acordo com SILVA (2005, p. 853): "o sentimento de pertinência a uma
comunidade indígena é que identifica o indígena. A dizer, é indígena quem se sente indígena"
(Curso de Direito Constitucional Positivo. 25. cd. São Paulo: Malheiros Editores, 2005)
sentimento de pertinência a uma comunidade indígena é que identifica o indígena. A dizer, é
indígena quem se sente indígena" (Curso de Direito Constitucional Positivo. 25. cd. São
Paulo: Malheiros Editores, 2005).
84

A pesquisa bibliográfica confrontada com a realidade forneceu elemento para que


se afirme que a criação da Nova Cartografia Social da Amazônia1, proporcionou um olhar
direcionado para os indígenas e consolidando a rede de povos e comunidades tradicionais
através das relações de pesquisa empreendidas no âmbito do estado do Amazonas. O Projeto
Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA) tem como objetivo dar ensejo à auto
cartografia dos povos e comunidades tradicionais na Amazônia, A cartografia se mostra como
um elemento de combate. A sua produção é um dos momentos possíveis para a autoafirmação
social. É nesse sentido que o PNCSA busca materializar a manifestação da auto cartografia
dos povos e comunidades nos fascículos que publica, que não só pretendem fortalecer os
movimentos, mas o fazem mediante a transparência de suas expressões culturais diversas”
(novacartografiasocial.com).

A força deste processo de territorialização diferenciada constitui o objeto deste


projeto. A cartografia se mostra como um elemento de combate. A sua produção é um dos
momentos possíveis para a autoafirmação social.

1
Capacitar povos indígenas e moradores de comunidades tradicionais na Amazônia, como
quilombolas, pescadores, ribeirinhos e quebradeiras de coco babaçu, o Projeto Nova Cartografia Social da
Amazônia, PNCSA) – criado em 2005 pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) coordenado pelo
antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, esse público, nos últimos anos, adquiriu conhecimentos sobre o
uso de tecnologias modernas, como softwares e técnicas de GPS, e sobre linguagem cartográfica formal, pelos
quais começaram a produzir mapas e monitorar em tempo real suas próprias terras.
Fonte: www.mundogeo.com/blog/16/06/2019/projeto-nova-cartografia-social-na-amazonia
85

Figura 09: Recorte da Nova cartografia Social da Amazônia, referência ao povo


Kokama, 2005

Fonte: Nova Cartografia Social da Amazônia, Alfredo Wagner Breno de Almeida,2005


86

Figura 10: Recorte da Nova cartografia Social da Amazônia, referência ao povo Kokama

Fonte: Nova Cartografia Social da Amazônia, Alfredo Wagner, 2005


87

Figura 11: Recorte da Nova cartografia Social da Amazônia, referência Kokama

Fonte: Nova Cartografia Social da Amazônia Kokama, Alfredo Wagner, 2005)


88

Esse diálogo deve ser amplamente participativo, transparente, flexível e livre de


pressões para atender as diversidades dos povos indígenas, as comunidades indígenas e ter
efeito vinculante, no sentido levar o Estado brasileiro a incorporar o que se dialoga
obrigatoriamente na decisão a ser tomada. Queremos que esse documento seja respeitado pelo
Governo brasileiro, pelos países e organismos internacionais como documento base de
Consulta do povo indígena Kukami-Kukamiria.

Para os indígenas Kukami-Kukamiria tem que ter sangue de origem, tem que ser
filho de indígena, tem que pertencer ao povo, é aceito e reconhecido e se autodeclaram.
Afirmam “que indígenas que residem em cidades sofrem discriminação, preconceitos e
descasos institucional de todos os lados”. (Relato do Indígena Kokama). A forma de
organização dos povos da etnia Kokama, em aceitar uma pessoa a fazer parte de sua família
indígena, segue algumas ordens: quando for filho indígena e quem define é o pai, exemplo, se
o pai for branco e mãe for Kukami-Kukamiria então o filho é branco, mas esse filho meio
branco poderá decidir ser Kukami-Kukamiria e se a comunidade o acolher. A autodeclaração
é válida para dar essa ajuda momentânea, mas que depende da heteroidentificação que é a
aceitação do povo que confirma a veracidade da informação de que alguém pertence ao povo
indígena Kukami-Kukamiria. (afirmação do cacique Kokama)

Nas Organizações Sociais Indígenas Nos relatos dos Kukami-Kukamiria existe


uma hierarquia representada pelos nossos principais supremos líderes tradicionais dos últimos
tempos, denominados Patriarcas Caciques Gerais; Benjamin Samlas, Antônio Januário
Samias, Francisco Guerra Samias, Edney da Cunha Samias e seus sucessores.

As organizações superiores:

 Movimento do Patriarcado Cacicado Geral do Povo Indígena Kukami-


Kukamiria do Brasil MPKK (Poder tradicional);
 Escola Superior de Pajés (Poder tradicional);
 Federação Indígena do Povo Kukami-Kukamiria do Brasil, Peru e
Colômbia (Poder jurídico-administrativo)
 São nossas organizações de segunda instância:
 Organizações Kukami-Kukamiria;
 Cacicados municipais;
89

 Ouvidorias do patriarcado nos municípios;


 Delegacia da Federação nos municípios
 São nossas organizações de terceira instancia (base):
 Associações das comunidades Kukami Kukamiria do Estado do
Amazonas-Brasil;
 Cacicados locais de Aldeia/Comunidade ou grupos organizados
 Conselhos locais de Anciãos, Fiscais, Guerreiros, Pajés, Artesãos,
Professores tradicionais da língua materna das Comunidades.

Todas as organizações supracitadas também devem participar da Consulta prévia,


mas jamais podem ser consultadas sozinhas e não decidem nada pelo povo.
Tabela 2: As Lideranças tradicionais

Ord. Liderança em forma hierárquica Função

01 Patriarca Cacique Geral É o supremo guardião da cultura milenar Kukami-


Kukamiria e que passa informação aos Caciques
Gerais, liderança tradicional, é o organismo
permanente, superior e autônomo denominado
patriarcado Cacicado Geral com sede na cidade de
Tabatinga-AM.

02 Superior Médico Tradicional Tayta (Pajé-Mestre dos Mestres), Último da


hierarquia dos pajés, liderança Tradicional, é o
guardião supremo do conhecimento medicinal
milenar Kukami-Kukamiria e como Pajé Mestre
dos Mestres ensina juntos com outros Pajés-
Mestres e gradua os novos pajés.

03 Caciques Gerais de Municípios Kuraka Ritamakuara se articulam e passam


informação aos Caciques locais de sua jurisdição,
de seu município, liderança tradicional, é o
organismo denominado do Cacicado Geral de
Município;

04 Ouvidores do patriarcado de municípios São os Caciques locais que se articulam e passam


informações para todos os moradores da Aldeia ou
comunidade, liderança tradicional, é o organismo
denominado Cacicado local (do grupo organizado,
da Aldeia ou da Comunidade).
05 Caciques de Comunidade-Kuraka

06 Pajés (médicos tradicionais) Os pajés são lideranças do conhecimento


medicinal na Comunidade que tem também status
de comando, liderança tradicional, é o equilíbrio
do poder na Comunidade. Cada conhecimento
dominado com perfeição vai subindo de grau
dentro do sistema de medicina tradicional. Aqui
também são membros os curandeiros, sopradores,
benzedores e parteiras
90

07 Artesãos Os artesãos, são lideranças tradicionais que


dominam a técnica de cerâmicas, pinturas
corporais, pintura da vestimenta, confeccionam
artesanatos, cocás, colares, vestimentas acessórios
tradicionais, armas, instrumentos de caça e pesca,
instrumentos de agricultura, tintas naturais,
dominam as danças, músicas e culinárias. Existe
um artesão-mestre que transmite os conhecimentos
aos novos artesãos.

08 Idosos falantes maternos que são professores Os guerreiros e guerreiras (os guardas indígenas
Tradicionais da língua materna voluntários, conselheiros tradicionais e fiscais
tradicionais) ajudam e cuidam do cacique e do
pajé, andam com eles e protegem os territórios e
moradores. Existe um idoso que domina a técnica
de luta e defesa que é o chefe dos guerreiros.

09 Colegiado dos anciãos Os anciãos conselheiros (Conselho colegiado de


idosos), são os que passam orientação tradicional a
comunidade, dão conselhos aos jovens,
transmitem os conhecimentos do passado, contam
histórias, também são responsáveis pelo Conselho
de ética e penalidade dos moradores. Quando um
cacique local viola a lei tradicional, abre o
Conselho de ética composto por Caciques locais
sob a presidência do Cacique geral de município
10 Autoridade dos guerreiros Os ouvidores do patriarcado cacicado geral, são os
que recebem denúncias de violações aos
moradores indígenas das aldeias/comunidades e
encaminha informação ao patriarca, dão suporte ao
cacique geral de município e assessorias aos
caciques de comunidade

11 Guerreiros e Guerreiras Os guerreiros e guerreiras (os guardas indígenas


voluntários, conselheiros tradicionais e fiscais
tradicionais) ajudam e cuidam do cacique e do
pajé, andam com eles e protegem os nossos
territórios e nossos moradores. Existe um idoso
que domina a técnica de luta e defesa que é o
chefe dos guerreiros.

12 Professores tradicionais Os professores tradicionais da Língua Materna,


são os idosos que dominam a escrita e a fala da
língua Kukami-Kukamiria e ensinam a língua
materna a comunidade. Existem duas falas em
nossa língua, de questão biológica, uma masculina
e uma feminina que se completam l) A linguista
oficial, é membro de nosso povo que estudou para
ter conhecimento técnico - cientifico para manter
viva a nossa língua Kukami Kukamiria, que
trabalha consultando os idosos falantes
Professores tradicionais da Língua Materna.

13 Lideranças Jurídicas As lideranças jurídico-administrativas Kukami-


Kukamiria membros das entidades com
atribuições estatutárias que são os Presidentes de
entidades civis indígenas, Diretores das entidades
civis indígenas, Coordenadores de entidades civis
Kukami-Kukamiria, Secretários, Tesoureiros e
Fiscais que trabalham na comunidade
91

administrativamente nas entidades indígenas


organizadas e com projetos. São também os
Conselheiros Delegados da Federação nos
municípios (Delegacia da Federação nos
Municípios), que recebem denúncias das
Organizações e Associações indígenas Kukami-
Kukamiria e tentam resolver com os órgãos locais
e comunicam diretamente o Presidente da
Federação.

Fonte: Protocolo de Reconhecimento Étnico, de consulta e consentimento do


Povo Indígena Kukami-Kukamiria, 2017.

São as Lideranças jurídicas administrativas

 O Presidente da Federação indígena Kukami-Kukamiria e seus 5 Vices;


 Presidentes das Organizações indígenas Kukami-Kukamiria e seus Vices
 Presidentes das Associações indígenas Kukami-Kukamiria e seus Vices;
 Diretores da Federação, das Associações e Organizações Kukami-
Kukamiria;
 Assessores da Federação, das Associações e das Organizações Kukami-
Kukamiria;
 Linguista oficial autorizada da língua Kukami-Kukamiria;
 Coordenadores de segmento da Federação, das Associações e
Organizações indígenas Kukami-Kukamiria
 Conselheiros Delegados da Federação nos municípios
 Conselheiros Fiscais da Federação, das Associações e das Organizações
indígenas
 Kukami-Kukamiria

O alfabeto da Língua Kukami-Kukamiria é prático, simples e não complicado


para educação escolar inicial. Tem um total de dezoito letras e desses contendo três dígrafos,
que não contamos como letras separadas, pois não conseguimos encontrar grafemas para
representá-los. A letra "O" não fazia parte de nosso alfabeto, mas aprovamos recentemente o
seu ingresso no alfabeto Kukami-Kukamiria no dia 26 de agosto de 2017.
92

No Amazonas, entre o povo Kokama, segue-se o padrão de escola rural e, como


na maioria dos estabelecimentos de ensino, trabalha-se com as ciências naturais e a história do
povo. Não é uma escola diferenciada e apenas algumas disciplinas inserem a cultura indígena.

2.5. Registro da história do “Mestre Supremo” de todo conhecimento da medicina

Tradicional milenar do povo, que e é o responsável geral pela Escola Superior de


Pajés. Em cada forma o novo pajé do município existe um Cacique Geral de Município que
guia os Caciques de Aldeias, cargo de confiança do patriarca, que em consenso os caciques e
lideranças escolhem seu cacique geral, que depois de escolhido indica seu sucessor, caso não
houver deixa o cargo à disposição da escolha entre os caciques, esse evento é presidido pelo
Patriarca ou alguém por ele designado, o cacique geral é diplomado e tem fé pública. (registro
do Estatuto Kokama)

Cada Cacique de Aldeia é autônomo nas suas atribuições e guia sua comunidade,
que tem apoio na liderança do Pajé da Comunidade e das demais lideranças da comunidade,
esse governante é escolhido pelos seus moradores, só pode ser cacique local, se for filho de
pai e de mãe Kukami-Kukamiria, esse tipo de cacique pode deixar o cargo também para seu
filho se houver aceitação da maioria dos moradores, mas caso o filho não dispõe de boa
conduta, o cargo fica à disposição da comunidade.

Em relação as punições quando o cacique cometer algo ilegal, pode perder o cargo
o cacique que transgredir os costumes ou violar o código de hora e costumes, tradição, rituais,
hierarquia e também como venda de RANI, venda de declaração ou qualquer documento, bem
cometer crimes dispostos pelos brancos, como qualquer tipo de tráfico, estupro, pedofilia,
falsificação, falsa declaração, roubo, furto, assassinatos e outros crimes dispostos das leis.
(documentos do estatuto dos Kokamas).

É realizado uma eleição e depois de eleito, os registros são anexos a ATA e


enviado a Federação Kukami-Kukamiria, que expede o diploma de cacique assinado pelo
cacique geral de município Presidente da federação e pelo Patriarca.
93

A família Kukami-Kukamiria no Brasil, no Peru e na Colômbia que falam uma só


língua Kukami-Kukamiria. Mas no lado brasileiro estão vivenciando mudanças regionais por
necessidades de adaptação a lei Nacional, mas que não afeta ligação ancestral Kukami-
Kukamiria no Brasil, no Peru e na Colômbia, um só povo.

Apesar de termos um líder superior, o Patriarca Cacique Geral que representa todo
o povo Kukami-Kukamiria no que diz respeito à cultura milenar, ele não decide sozinho as
necessidades e desejos.
Quem decide as coisas que afetam todos os Kukami-Kukamiria é a Grande
Assembleia Geral do Povo Kukami-Kukamiria, que é um conjunto dos representantes de
todas as aldeias, moradores e lideranças conversando entre si, em ajuri e consenso. Essa
Grande Assembleia geral poderá ser convocada extraordinariamente caso for necessário e
urgente.
As necessidades e demandas locais são feitas em Assembleia local, de cada
aldeia, daí passa para a Assembleia Municipal com todas as Aldeias daquele município e daí
passa para a Grande Assembleia Geral do Povo Kukami-Kukamiria. Não existe uma
Assembleia Regional, não temos divisão de Kukami-Kukamiria do Alto Solimões, do Médio
ou Baixo Amazonas, somos um só povo Kukami-Kukamiria.

Lembrando mais uma vez, que como órgãos máximos do Povo Kukami
Kukamiria: A Federação Indígena Do Povo Kukami-Kukamiria Do Brasil, Peru e Colômbia
(Órgão Jurídico-Administrativo); é o órgão permanente, tradicional do Movimento
Patriarcado Cacicado Geral do Povo Indígena Kukami Kukamiria do Brasil, (Órgão supremo
tradicional). Como organismos de apoio as várias Associações e Organizações Indígenas
Kukami-Kukamiria, sendo que também as Associações e Organizações não tem o poder de
tomar decisões sozinhas em nome do povo.

O povo Kokama ou Kukami-Kukamiria possuem de acordo com os relatos no


documento (estatuto do Povo Kukami – Kukamiria, a prioridade para eles é a conservação da
terra, da floresta, da biodiversidade, dos recursos naturais, demarcação de terras e
fortalecimento língua indígena. A continuidade da cultura mesmo morando nas cidades. Não
há distinção do povo Kukami-Kukamiria, de quem reside na cidade ou na comunidade/aldeia,
pois mesmo vivendo na cidade mantêm os nossos costumes (agrícolas) como artesanatos ou
94

plantio de economia familiar (agricultura). Mantendo vivo a nossa língua, pintura, cerâmica,
colares, cocá, vestimenta, cânticos, orações, curas, chás, bebidas, alimentos etc.
Na cultura dos indígenas Kukami-Kukamiria é necessário algum documento
comprobatório, como o atestado de comprovação de prazo indeterminado e declaração
assinado por três caciques e lideranças, a rani -Funai como documento de identificação
indígena, documento expedido pela FUNAI.

Os Kokamas habitam aldeias e comunidades indígenas nos municípios do Estado


do Amazonas. Atualmente muitos Kokamas Kukami-Kukamiria também levam sobrenomes
que foram incorporados em diferentes momentos de nossa história, famílias de origens do
Alto Solimões e alguns específicos de uma determinada cidade.

Entre este estão: De acordo com as informações retiradas (Protocolo de


reconhecimento Étnico, de consulta e consentimento do povo Indígena Kukami-kukamiria
– 25/08/2017).

Abensur, Aimane, Aguiar, Aguilar, Ahuanari, Albam, Alcinez, Alencar, Almcida,


Alves (Jutaí, Tabatinga e Amaturá), Amacifem, Anaquiri, Anaquiry, Anastacio, Andi,
Andrade (São Paulo de Olivença), Aracari, Araújo, Arcanjo (São Paulo de Olivença),
Arévalo, Ariano, Aricari, Aricuarima, Arimuia, Arirama, Asiole (Atalaia do Norte), Asipali,
Assis (Tabatinga), Auanari, Auanario, Auanaris, Babilônia (Tabatinga), Balieiro (Amaturá),
Ballejo (Santo Antonio do Içá), Bancho, Banis, Bardalhes, Barros, Barroso, Basques, Bastos
(Amaturá), Batalha, Batista, Bentes, Bento (Amaturá), Bezerra, Braga (Amaturá e Santo
Antônio do Içá), Brota, Cactano (Tabatinga), Cahuachi, Cahuasa, Cauasa, Caitano, Cajueiro
(Santo Antonio do Içá e Tabatinga), Canache, Canaquia, Cantaga, Canvache, Garcere,
Cardena, Cariuasari, Carihuassari, CarvalheoTonantins), Caruacare, Casado (Tabatinga),
Casara, Castilho, Castro (Amaturá), Catachunga,Catique, Cavaça, Cauache, Cauachi,
Cauamare, Cauasa (Tabatinga), Cauates, Caumari, Cavaca, Cavalcante, Chachari, Chanchari,
Chaves, Chistama (Tabatinga), Chujutadi, Chunha, Chuquival, Cobos, Coelho, Comapa,
Cooper (Kukami com Americano), Coral, Correa (Amaturá e Santo Antonio do Içá), Costa,
Couto (Santo Antonio do Içá), Cruz, Cuasabe, Cuespan, Curinuqui, Da Cruz, Da Silva,
Dávila, De Almeida, De Araujo (Tabatinga), De Freitas, De Matos, De Moura, De Oliveira,
Dias, Domingo, Do Carmo, Dones, Dos Santos, Erazo (Tabatinga). Eufrazio (Amaturá),
Faba, Fancho, Façanha, Fatama, Faria, Felipe, Fermino (Amaturá), Figueiredo, Filomeno,
95

Flores (Atalaia do Norte), Franco, Freitas (Alvarães e Fonte Boa), Fumachi, Garcia, Gean
(Amaturá), Germana, Germano, Gomes, Gonçalves, Gordom, Graça (Tabatinga), Grandes
(Tabatinga e Atalaia do Norte). Guedes (Tabatinga), Guerra, Guerreiro, Guerrero, Guimarães
(Amaturá), Haiden, Hayden, Hilario (Tabatinga, Kukami/Caixana), Huanaquiri, Huance,
Huane, Huanse, Huanuiri, Huarin, Huayta, Icahuate, Icomiena (Amaturá), Inácio (Amaturá),
Inaquiri, Inuma, Ipuchima, Izuisa, Jaramillo, Jean, Junio (São Paulo de Olivença), Lancha,
Laranhaga, Laranja (Santo Antônio do Içá), Laranjeira, Laurente, Leite, Leitão, Leonardo,
Lima, Linares (Atalaia do Norte), Linhares, Lomas, Lopes, Lozada, Lucas, Lujan (Tabatinga),
Maca, Macahuachi, Macario, Macedo, Machado (Fonte Boa), Macuiama, Macuyama, Mafra
(Santo Antônio do Içá, Amaturá e São Paulo de Olivença), Maia, Maia, Malafaia (Amaturá e
Santo Antônio do Içá), Maldonado, Mananita, Manrrique, Manuiama, Manuyama, Mapiama,
Marcelo, Maricaua,Marin, Marinho (Santo Antônio do Içá e Benjamin Constant), Marite,
Marques (Santo Antônio do Içá), Marquez, Martines, Martins, Marulanda (Tabatinga),
Maytahuari, Melo (Amaturá e Santo Antônio do Içá), Medina, Mendes (Santo Antônio do Içá
e Benjamin Constant), Menezes (Santo Antônio do Içá). Miller (Kukami com Alemão),
Moçambite, Montalvão (São Paulo de Olivença), Montes, Moraes (Tabatinga), Moraiari,
Morais, Morales, Moralles (Santo Antônio do Içá), Moreira, Moreno, Mota, Moura (Benjamin
Constant), Mourão, Mozombite, Muraiare, Murayari, Nascimento, Nazario, Neves
(Amaturá)Nilo, Niveira, Nogueira (Amaturá e Santo Antônio do Içá), Noriega, Nube, Nunes
(Santo Antônio do Içá), Nunhes, Oliveira, Pacaio, Pacaya, Paima, Paiva, Panduro, Paredes,
Patricio, Pedrosa, Pedroza, Penedo, Penha (Tabatinga), Pereira, Peres, Pevas, Peso, Pezo,
Pinheiro, Pinto, Pipa, Pisco, Pissango (Atalaia do Norte), Plascido, Portilho, Portillo (Atalaia
do Norte), Prado (Santo Antônio do Içá), Prisco, Quicube, Rabelo, Ramires, Ramos, Reategue
(Kukami com Frances), Reateque, Rego, Reis (Tabatinga, Amaturá, São Paulo de Olivença e
Santo Antônio do Içá), Renchecho.(Amaturá), Rengifo, Restrepo, Ribeiro, Ricopa, Rimachi,
Rimate, Rios, Rivera, Rocha, Rodrigues, Rojas, Romaina, Rosas, Rubem, Rubim,
Rufino,Ruiz, Sajamir, Saldanha, Sales, Salvino (Tabatinga), Sambrano (Alto Solimões),
Samia Samires, Sampaio, Sammp, Sanches (Amaturá), Sanchez (Amaturá), Sangama, Santa,
Santana, Santiago, Saquiray (Kukami com Japonês), Sarate, Satiro, Seabra, Serpa, Serras,
Sevalho, Shahuuano, Sias, Silvano, Silveira (Amaturá), Sinarau, Sintras, Silvano, Soares
(Amaturá), Taite, Talecio, Talexio, Tamaio, Tamani, Tamanho, Tango, Tangoa, Tapaiuri,
Tapayuri, Taricuarima, Taricuaryma, Tavares, Tello, Tenazon (Ticuna com Kukam). Fonte
(Protocolo de reconhecimento Étnico, de consulta e consentimento do povo Indígena
Kukami-kukamiria – 25/08/2017).
96

2.6. A presença multiétnica na cidade de Manaus: a cultura e vida social dos indígenas e
não-indígenas

A presença dos indígenas na cidade de Manaus é crescente e visível, ganhou


maior notoriedade com a adesão da Lei Federal n 6.001/1973 disposta no Estatuto do
indígena, no artigo 3, inciso I afirma que indígena é "todo indivíduo de origem e ascendência
pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas
características culturais o distinguem da sociedade nacional". Nos grupos étnicos existem
diferente formas de identificação. No povo Kokama para o indígena é necessário a
identificação, como a confirmação realizada pela comunidade tradicional, a
heteroidentificação necessária atestado e/ou declaração de comprovação indígena.

A identificação do indígena Kokama é de linhagem confirmada pelos sobrenomes


que surgiram dos clãs que continuam mantidos ou foram adaptados por padrinhos de batismos
cristãos, patrões e até mesmo mudado na ocasião de registros nos Cartórios do Alto Solimões-
Estado do Amazonas no Brasil. Sabe-se que inúmeros indígenas do povo Kokama ao realizar
o processo de migração não se auto identificou como indígena da referida etnia, e não possui
registo. Por inúmeros motivos, como preconceito, perseguição, foram levados a negar a
própria identidade, integrados forçadamente, catequizados para esquecer os rituais, foram
ensinados a negar quem eram e a acreditar desonestamente que a natureza é separada dos
indígenas e que os indígenas não fazem parte da natureza.

2.7. Os Kokamas na Cidade de Manaus - Contribuições retiradas do documento oficial


do povo Kokama: Associação dos Indígenas da etnia Kokamas residentes no município de
Manaus-Am.

Estudos realizados anteriormente sobre indígenas que vivem no contexto urbano,


elaborados por associações indígenas, órgão governamental Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE, Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno - COPIME, em
2015 foi realizado mapeamento dos povos indígenas que residiam na cidade de Manaus,
identificando-se mais 34 etnias Munduruku, Tikuna, Sateré-Mawé, Dessana, Tukano,
Miranha, Kaixana, Baré, Kokama, Apurinã, Tuyuka, Piratapuya, Camaxilra, Kambeba, Mura,
Maraguás, Baniwa, Macuxi, Wanano, Tariano, Bará, Arara (Aripuanã), Karapãna, Barasana,
97

Anambé, Deni, Kanamari, Katukina, Kubeo, Kulina, Marubo, Paumari, Arara do Pará e
Manchineri. Em vários bairros da capital amazonense. Fonte (COPIME, 2019)

No que se refere à língua, os dados indicam 7 línguas faladas - Munduruku,


Tikuna, Mawé, Mura, Dessano, Tukano, Baré, Língua geral amazônica (Nheengatu)
Piratapuya, Wanano, Apurinã, Tariano, Kaixana, Kokama, Karapãna, Tuyuka, Barasana,
Baniwa e Kambeba - Fonte (COPIME, 2019)

Far-se-á um corte com os indígenas da etnia Kokama que residem em Manaus,


com as atribuições culturais que cada localidade desenvolve.

As Comunidades Kokama em Manaus (registro do protocolo de reconhecimento


étnico povo Kukami-kukamiria –Kokama)

No dia 28 de março de 2018, chegaram em Manaus onde reuniram-se na casa do


cacique geral do Povo Kokama de Manaus senhor Sebastião Castilho Gomes. Onde reunimos
reuniram-se as lideranças e abordaram ações como as visitas as comunidade indígenas
Kokama, e os trabalhos que seriam desenvolvidos em Manaus, trabalho esses de
levantamento e de triagem do povo Kokama para saber quantas e quais são as comunidades e
suas lideranças (caciques e associações) para os órgãos competentes tenham conhecimento
dos tais, seus anseios suas dificuldades e suas contribuições, as lideranças presentes na
reunião presidente da Federação Kokama Glades Ramires, Vice-presidente da Federação Ana
Milena Marulanda, Ouvidora do MPKK Suzete Almeida Ramos, Cacique Elaine Moreira
Girão e a equipe da Assessoria). Pelos moldes da convenção 169 da OIT, Lei 6001 estatutos
do indígena, decreto n 6040 art. 3 da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais e consulta ao nosso protocolo de consulta com
consentimento, assim nós reconhecemos como Kokama (Kukami-kukamiria).

2.8. Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno – COPIME

Manaus (AM) é a cidade mais populosa da Amazônia brasileira com quase 2


milhões de habitantes (IBGE, 2010), distribuídos em 63 bairros por uma área de mais de 11
mil km². Os mapas de autoidentificação que elaboramos com integrantes da Coordenação
dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (COPIME), em 2015, identificou 34 etnias em
98

51 bairros, sendo elas: Munduruku, Tikuna, Sateré-Mawé, Dessana, Tukano, Miranha,


Kaixana, Baré, Kokama, Apurinã, Tuyuka, Piratapuya, Kamaiura, Kambeba, Mura, Maraguá,
Baniwa, Macuxi, Wanano, Tariano, Bará, Arara [do Aripuanã], Karapãna, Barasana, Anambé,
Deni, Kanamari, Katukina, Kubeo, Kulina, Marubo, Paumari, Arara do Pará e Manchineri.
(Fonte: www.indigenasemcidades.com acessado em 22 maio de 2019)

Figura 12: Mapa da autoidentificação das etnias indígenas em Manaus

Fonte: www.indigenasemcidades.com acessado em 22 maio de 2019

A COPIME realiza um trabalho, onde buscar dentro da legalização brasileira, dar


voz e visibilidade aos povos indígenas que vivem no contexto urbano, no qual pode-se fazer
um recorte dos povos indígenas que vivem na cidade de Manaus e entorno. A Associação
COPIME, estrutura-se com: Coordenação Geral, e outras sub- coordenação.

As organizações como a COPIME e outras organizações indígenas existentes em


Manaus foram construídas por lutas dos povos indígenas por respeito, direitos sociais. Uma
das lutas que os indígenas integrantes da Copime, procuram através do movimento indígena
em ter um representante no Conselho Municipal de Educação, porque até hoje de acordo com
as informações colidas, não existe uma representatividade no referido conselho. “É importante
99

ter a representatividade nessa casa por ser o lugar onde se discuti as políticas públicas de
educação voltadas aos indígenas”. (relato da administradora da Copime).
Conselho precisa contemplar essa participação dos indígenas no Conselho
Municipal, discutir as pautas dos professores, discutir os anseios dos indígenas que vivem em
contexto urbano em relação a educação dos indígenas nascidos na cidade, outro ponto de
referência das lutas é por escolas indígenas para os indígenas. Manaus é uma cidade na
Amazônia, com um quantitativo grande de indígenas vivendo em seu contexto, historicamente
os indígenas sempre estiverem aqui, e permanecem até os dias atuais.

Figura 13: Mapa da autoidentificação das línguas faladas indígenas em Manaus

Fonte: www.indigenasemcidades.com acessado em 22 maio de 2019

Figura 14: Mapa da autoidentificação das etnias indígenas em Manaus por bairro
100

Fonte: Fonte: www.indigenasemcidades.com acessado em 22 maio de 2019

A COPIME realiza reuniões mensalmente, para elaboração e planejamento das ações a serem
realizadas.

Figura 15: Reunião na COPIME


Fonte: www.facebook.com - Copime
101

Figura 16, Fonte, www.facebook.com| Copime, acessado dia 12/06/2019)


102

3. CAPÍTULO 3 – AS COMUNIDADE INDÍGENAS QUE SE AUTO DECLARAM


KOKAMA LOCALIZADAS EM MANAUS.

No contexto urbano, existem uma quantidade significativa de indígenas, que


vivem localidades distante do centro da cidade de Manaus, com características parecidas: sem
saneamento básico, estrutura de bairro. Essas localidades foram escolhidas estrategicamente
pelos indígenas por permitir uma forma de controle, melhor convívio social. Dentre essas
localidades estão elencadas:

1.Comunidade Ramal do Brasileirinho Nova Esperança Kokama do ramal do


Brasileirinho, localizada no Bairro Puraquequara II, no ramal do Brasileirinho, km-8, ramal-
08 na cidade de Manaus-AM, as famílias indígenas da etnia Kokama possuem uma,
organização bem definida com local de produção de artesanato, horta comunitária, centro
cultural e o centro educacional Atawanã Kwaratxi Kokama. Na comunidade há um projeto em
plena atividade, que é a “roça comunitária”, com vários tipos de plantio, tais como horta,
mandioca, macaxeira, cará, jerimum e outros. O resultado de todas essas atividades, sobretudo
a autonomia na gestão da relação com os recursos naturais, é fruto de muito trabalho das
lideranças e de toda a comunidade, que espera ansiosamente conseguir regularizar sua terra
para ter sua escola.

2. Comunidade Nações Indígenas - Tarumã - Zona Oeste de Manaus


a comunidade tem representação em 3 caciques das etnias, Kokama, Mura, Miranha, a
comunidade possui uma quantidade significativa de etnias, um Centro Educacional Indígena,
chapéu de palha que utilizado como centro cultural, possui uma quantidade de árvores
frutíferas plantadas pelos moradores.

3. Comunidade Kokama Aldeia Karna – A comunidade fica localizada na zona


norte e tem como representantes, Eliziario Rodrigues Arirama e Pedro Kokama dão base as
famílias cadastradas no bairro Joao Paulo I, seus caciques são respeitados líderes no
movimento comunidade vivem de acordo com a tradição Kokama pouco acima da
comunidade além de sobreviverem do uma comunidade calma e pacata onde as famílias
vivem em paz um terreno cedido para plantio.
103

4. Comunidade Kokama Imakana Riai Kiwi - Cidadão 12 - Monte das Oliveiras.


A comunidade fica localizada na Avenida Preciosa, n. 1248 Monte das Oliveira e Cidadão 12
(sede do processo de regularização), os Kokama que residem nessa parte do bairro onde tem
como senhoras Geisa e Elaine surgiu da iniciativa de organizar os Kokama residentes no
bairro terreno trabalham conjunto cidadão 12 a maioria trabalha com artesanato e alguns que
possuem ligação com a agricultura. Os Kokama residente desse bairro e membros dessa
associação que leva o mesmo nome de Imakana riai Kiwi sobrevivem da cultura do artesanato
e agricultura a maioria dos seus membros possuem Carteiras de Artesãos. O Cacique titulares
são Geisa Kelly Moreira Campos e Elaine Cristina Moreira Girão.

5. Comunidade Kokama Tubal Caim – Santa Etelvina (comunidade urbana) A


comunidade fica localizada na rua Tubal Caim, n. 91 Santa Etelvina – lote Santa Tereza (sede
da associação em processo de regularização), os Kokama que residem nessa parte do bairro
onde tem como cacique a senhora Tatiana da Silva Serrão e seu segundo cacique Jackson Luiz
Alves, os Kokama residente desse bairro e membros dessa associação que leva o mesmo
nome da rua sobrevivem da cultura dos seus membros possuem Carteiras de Artesãos, são
unidos e trabalham em bem comum ajudando uns aos outros. O Cacique titulares Tatiana da
Silva Serrão e Jackson Luiz Alves.

6. Comunidade Kokama do Grande Vitoria-Centro Cultural Isentsu Kumutun.


Localizada no Grande Vitoria com Centro Cultural Isentsu Kumutun onde se desenvolve um
excelente trabalho com o processo de fortalecimento da língua Kokama através da música e
de aulas ministradas no espaço cultural sobrevivem da cultura do artesanato a maioria dos
seus membros. O Cacique titular e Francisco Braga Maricaua. A comunidade também
trabalha com artesanato também seus caciques são os irmãos Oscilei e Alex Mafra de existe a
frente da Comunidade Kokama Dona Edite da Silva Kokama (comunidade Urbana). E uma
comunidade na Aparecida com agrupamento familiar onde a sua sustentabilidade e o
Artesanato Caciques-Railson Felix Reis e Eliana Pereira Arcanjo.

Comunidade surgiu da necessidade de agregar os Kokama residente no Grande


Vitoria a comunidade tem uma sede provisória da associação que leva o mesmo nome,
também possuem um local de cultivo de roça caça e pesca no lago do timbó no rio Janauca
em Manacapuru onde cultivam suas roças, pescam e lá esses Kokama tem uma sala de aula
improvisada onde funciona de 2 em 2 sábados o ensino da língua
104

Kokama e saberes tradicionais e ancestrais iniciativa esta dos próprios Kokama residente
nessa comunidade localizada na Rua: Guaraná, n 258 São José, Cep: 69 0866-58, Manaus-
Am. A Comunidade sempre realiza ações voltadas para a revitalização da língua e da cultura
Kokama, sempre mobilizando os comunitários, associados ou não a participarem dessas
mobilizações para o resgate da língua e da cultura Kokama.

7. Comunidade Parque das Tribos - (comunidade Urbana). Chefiada pelo


cacique Messias Moreira Martins Cacique a comunidade localiza-se no Bairro
Tarumã, Zona Oeste de Manaus. O parque é habitado por indígenas de etnias diferentes, mas
com predominância da etnia Kokoma. A cultura indígena é vivida a
Tribos vivem aproximadamente 28 famílias Kokama residentes.

8. Comunidade Indígena Monte Horebe II - (comunidade Urbana) assentamento


indígena Monte Horebe tem como cacique a senhora Maria de Jesus na qual comanda o
assentamento, em que habitam várias etnias, foram emitidas 25 declarações nesse
assentamento, o mesmo possui campo de futebol e já está sendo construída uma escola para
atender a demanda dos alunos que residem ali. Assentamento Indígena Ysuarate (comunidade
Urbana) o está em início mais residem 36 Kokama.

3.1. Lócus da Pesquisa de Campo.

Situado na Zona Oeste da cidade, o Tarumã possui 8243.25 hectares de área, o


que o torna o bairro com maior extensão territorial de Manaus, fazendo fronteira com Ponta
Negra, Lírio do Vale, Planalto, Redenção, Bairro da Paz, Colônia Santo Antônio, Novo Israel,
Colônia Terra Nova e Santa Etelvina. O bairro tem trezentos logradouros, entre ruas,
avenidas, alamedas, estradas, ramais e vias.

Historicamente o bairro tarumã foi uma das primeiras localidades de Manaus a ter
registros indígenas, conforme alguns escritores, entre eles Moacir de Andrade, em "Manaus,
Ruas, Fachadas e Varandas", e Mario Ypiranga Monteiro, em "Roteiro Histórico de Manaus",
foi onde hoje está o bairro, por volta de 1657, o ponto inicial da colonização da cidade de
Manaus. Mario Ypiranga, por exemplo, diz que o local era habitado por índios aruaque e
alófila, quando da chegada de uma tropa de resgate que fincou uma cruz jesuítica e batizou o
local com o nome de Missão do Tarumã.
105

Figura 16: Mapa da cidade de Manaus e seus bairros com marcação no bairro Tarumã.

Vista panorâmica da Cidade de Manaus, destaque bairro Tarumã.

Fonte: www.maps.google.com acessado 27/05/2019

Faziam parte dessa expedição frei Teodósio e Pedro da Costa Favela, este
apontado por historiadores como o mais famoso matador de índios da história do Amazonas.
Esta tropa funda o primeiro núcleo cristão no vale do Rio Negro. O Intelectual Amazônida
Moacir de Andrade fala de uma segunda tropa de resgate que voltou para continuar com a
colonização e dar início à extração de drogas do sertão, rebatizando o local de Arraial do
Tarumã. Este nome vem sendo usado ao longo dos séculos é faz referência ao rio Tarumã, que
desemboca na margem esquerda do rio Negro. Fonte (ANDRADE, Moacir, 2006).

Como dito anteriormente, nessa localidade instalou-se a “Missão Tarumã”, que se


tornou a base de descanso e de negociação para o descimento. Todavia, com a expulsão dos
jesuítas século XVII, ocorreram algumas mudanças na missão.

Outro momento marcante que se deu no período áureo da borracha, o antigo


arraial era formado por área de grandes sítios e fazendas, que forneciam à cidade areia, barro,
madeira, pedra, carvão, peixes. Era um lugar que abastecia matéria-prima para as construções
da cidade de Manaus, a qual entrava num processo acelerado de urbanização. O lugar era
visitado pela população da época em razão das suas belezas naturais, com belíssimas
106

corredeiras e grandes areais. Porém, essa exploração, sem precedentes, dos recursos naturais
ao longo dos anos causou prejuízos à flora, fauna, pássaros e animais do Tarumã, fonte
(ANDRADE, 2006).

Hoje, o bairro Tarumã possui uma variada infraestrutura voltada ao turismo como
restaurantes, bares, casas noturnas, além de inúmeros condomínios de alto luxo como: Parque
do Lago, Vitória, Vivenda do Pontal, Mediterrâneo, residencial Solimões. Além disso, há,
ainda, parque náutico Marina Tauá, clubes de veraneio como: Clube dos Oficiais da
Aeronáutica, Bancrévea, Cetu, o cemitério Parque Tarumã, o Aeroporto Internacional
Eduardo Gomes e o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), além de inúmeras
indústrias (JORNAL A CRÍTICA, 2013).

O Tarumã é um bairro de grande especulação imobiliária e, ao mesmo tempo,


lugar de ocupações de terra. O referido bairro foi criado pelo Decreto Municipal nº 1.401, de
14 de janeiro de 2010, está situado na zona oeste da cidade de Manaus, possui 3.928 hectares
de área, representando o bairro com maior extensão territorial de Manaus. O Tarumã faz
fronteira com os bairros da Ponta Negra, Lírio do Vale, Planalto, Redenção, Bairro da Paz,
Colônia Terra Nova, Novo Israel, Santa Etelvina. Possui treze logradouros (ruas, avenidas,
estradas, ramais, vias) (MANAUS, 2010). Tarumã é um bairro do município brasileiro de
Manaus. Pertencente à Zona Oeste da cidade, tem uma população de 28 057 habitantes,
conforme Censo brasileiro de 2010. Até o ano de 2006, era considerado parte da área rural,
porém, foi integrado à Zona Oeste da cidade.

Integram o bairro: os conjuntos Áurea Braga (Parque Cidadão X) 1ª e 2ª etapa; os


loteamentos Parque Riachuelo I e II, Parque Rio Solimões, Parque São Pedro, Villa Suíça,
Paraíso Tropical, Parque das Mansões, Parque do Lago, Nova Friburgo, Abrahinópolis e
Barra do Cetur. E os condomínios ali situados, grande número de condomínios residenciais
fechados, como Parque do Lago, Vitória, Vivenda do Pontal, Condomínio Mediterrâneo,
Parque Riachuelo, Residencial Solimões, Vivenda Verde, Parque Náutico Bancrévea, Jardim
Tarumãzinho entre outros. Encontra-se em sua área o Aeroporto Internacional de Manaus, o
Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), o Clube do Cetur e o cemitério Parque Tarumã,
além de várias indústrias.

Mesmo sendo uma área preferencialmente residencial, o bairro apresenta um


comércio diversificado que atende às necessidades dos moradores, com padarias, pequenos
107

mercados, agência lotérica, restaurantes e lanchonetes. Também apresenta uma animada vida
noturna, com os bares recebendo público variado vindo dos bairros vizinhos. Com grandes
áreas verdes, o bairro possui ainda campos de futebol e quadras poliesportivas, destinados à
prática desportiva dos comunitários.

3.2. A Comunidade Nações Indígenas

A comunidade Nações Indígenas, foi criada por famílias que se organizaram e


ocuparam a terra devolutas do município no bairro Tarumã. (Fonte Jornal Em tempo). Por
conta dessa realidade e pelo interesse em compreender a complexidade que envolve os
indígenas em contexto urbanos, fazendo um estudo a Comunidade Nações Indígenas
localizada no bairro Tarumã da cidade de Manaus e a tomou-se como objeto privilegiado da
pesquisa.

Foto 2: Mapa da Comunidade Nações Indígenas

Fonte: www.maps.google.com – acessado 27/05/2019

3.3. Histórico da fundação da Comunidade (relatada no estatuto dos indígenas Kokoma)


108

Na madrugada de 19 de abril de 2011, um grupo de 14 famílias indígenas chegou


a um terreno baldio do bairro Tarumã, na zona oeste de Manaus. A data foi escolhida
estrategicamente pelo líder do grupo, o indígena Sebastião Castilho Gomes, mais conhecido
como cacique Sebastião Kokama (sobrenome que faz referência à sua etnia). No dia 20 de
abril, já se contabilizavam 30 famílias e, nas semanas seguintes, o número chegou a mais de
100. Passados 8 anos do dia do início da comunidade, a área é uma comunidade consolidada
em Manaus. Mesmo destituídos de serviços básicos de urbanização (água, luz, rua asfaltada,
escola, posto de saúde) e vivendo em moradias precárias (algumas delas de madeira e lona),
os indígenas classificam o local como um "bairro" batizado de Nações Indígenas.
Provavelmente o único do gênero no país localizado dentro da zona urbana de uma grande
cidade. Os moradores são indígenas, e os moradores que não são indígenas são os cônjuges.

O levantamento começou na manhã do dia 29 de março e terminou no dia


seguinte, onde o serviço de levantamento e triagem dos Kokama foi feita através da emissão
das declarações de Etnia e de vínculo com a comunidade indígena, este documento oferecido
de forma gratuita por delegados e ouvidores credenciados e legitimados pela federação no
último dia de visita a comunidade bairro das Nações Indígenas foi feita uma amostragem de
vídeos sobre o povo Kokama (Kukami-kukamiria) e sobre a história do movimento Kokama
em Manaus. O Cacique do Bairro das Nações Indígenas e Sebastião Castilho Gomes.

Foto 3: Imagem do cacique da Kokama - Fonte pesquisa de Campo (GUEDES, vide autorização
Cacique Sebastião Kokama)

Fonte: Relatório das atividades das comunidades Kokamas Manaus- 28/03/2018).


109

Foto 4: Líder Augusto Mura

Fonte: GUEDES, via autorização do líder Augusto Mura presidente da Comunidade

Os indígenas ocupam as terras estrategicamente, em Manaus nos locais mais


distantes do centro com os serviços públicos não presente. As ocupações de terras, realizadas
pelos indígenas fazem ocupações coletivas de terrenos desocupados. Mas quando as
ocupações ocorrem aparecem “donos” se auto declarando, pessoas dos setores públicos ou
privados. No caso da Comunidade Nações Indígenas não foi diferente, ao perceberem a
ocupação do terreno por indígenas sobre a liderança de 3 (três) caciques líderes das etnias
indígenas: Kokama, Miranha e Mura organizaram e estavam com suas famílias no terreno
ocupado. Mas o poder público acionou as forças militares para a retirada dos indígenas, houve
conflitos físicos, a polícia estava fortemente armada, e os indígenas permaneciam e lutavam
bravamente para permanecer no local.

O nome dado à Comunidade Nações Indígenas é uma referência direta à


diversidade étnica da comunidade, uma vez que foi identificada a presença de 13 etnias
indígenas oriundos de diferentes regiões do Amazonas e de outros estados da região norte,
repartindo uma área de aproximadamente 4 hectares (10.000 m), com lotes de terra de 8m x
20m (160m), destinada a 260 famílias.

De acordo com esta pesquisa, o aspecto marcante das Nações Indígenas é a


existência de várias etnias compartilhando um mesmo espaço geográfico, fazendo deste
assentamento o de maior diversidade étnica da capital.
110

Baniwa Apurinã Kambeba Pira Tapuia

Sateré
Tapeuas Tikuna Baré
Mawé

Macuxi Munduruku Kokama Miranha

Mura

Imagem: histórico da Comunidade Nações Indígenas

Fonte: GUEDES, etnias residentes na Comunidade nações Indígenas, 2019

A partir da observação direta, foi verificado que essa população é formada por
crianças, jovens, adultos e idosos. A maioria apresenta níveis de escolaridade elementar e se
valem do trabalho informal para sobreviver: faxineiros, verdureiros, auxiliares de pedreiro,
desempregados, alguns trabalham de carteira assinada em empresas no distrito industrial.

Em visita a comunidade de modo a observar a caracterização do local, notou-se a


ausência de infraestrutura de saneamento básico, energia elétrica pública e equipamentos
públicos de prestação de serviço à comunidade. O Local ë caracterizado por 6 (seis) ruas
transversais, com divisão de parte baixa e alta.

Em relação a água não há sistema público de água. Os indígenas construíram um


poço artesiano e mantido pelos moradores da comunidade. O sistema de energia elétrica é
retirado dos postes da rua principal que dá acesso a Comunidade Nações Indígena. E como
relatado anteriormente não há sistema de esgoto, os dejetos são direcionados no antigo
sistema de fossa (latrina). Não existe coleta seletiva de lixo.
111

Foto 5: Rua principal que dá acesso a comunidade

Fonte: GUEDES, 2019

Umas das características observadas sobre a área verde da comunidade, pode-se


notar uma grande variedade de flora, arvores frutíferas como: goiabeiras, açaí, mangueira,
coqueiro, jambeiro. De acordo com os relatos foram todas plantadas pelos moradores da
comunidade, quando chegaram no local. Enfatizam que as necessidades de plantar árvores
frutíferas fazem parte da cultural dos indígenas.

Foto 6: Vista da parte de cima da Comunidade


112

Fonte: GUEDES, 2019

Foto 7: Guedes em visita a comunidade, acompanhada das lideranças

Fonte: GUEDES, 2019


Neste sentido é interessante destacar as inúmeros etnias presente na cidade de
Manaus foram obrigadas (des) territorializar para sobreviver na cidade, de forma geral os
grupos étnicos aos poucos vão superando as dificuldades. Destacamos a iniciativa dos
moradores da comunidade em trabalhar a questão da língua entre os “parentes” mais jovens
reforçando seus ethos.

Na comunidade a presença de instituições religiosas representada na igreja


evangélica, e outra católica que possui na sua estrutura organizacional, projetos que envolvem
os moradores da comunidade em ações sociais, religiosas. Enfatiza-se a atuação da Igreja
Católica, por meio do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Caritas Brasileira.

Relacionando com o tema da pesquisa, pode-se enfatizar que a educação escolar


indígena na Comunidade Nações Indígena, não existe escola pública regular na comunidade.
E existem adultos, jovens e criança em idade escolar, que estão frequentando a escola mais
113

próxima, que fica em torno de 4 km da comunidade, percorrem essa distância a pé até a


escola. Fonte (observação de moradores deslocando para a escola mais próxima).

Ainda destaca que esse cenário de expansão tanto da língua como dos costumes,
esta ampliação ocorre em razão das escolas indígenas, estes espaços educacionais são
complexos pois vivem num dilema entre as barreiras legais, pedagógicas inseridas pela
“educação indígena” e as reais demandas das comunidades étnicas localizadas.

Na comunidade Nações Indígenas existe uma professora, contratada pela


secretaria Municipal de Educação, que realiza o trabalho com a língua geral indígena, a
referida professora é de etnia mura. Vale destacar a dificuldade de trabalhar com os indígenas
nascido em Manaus, afirmando que na comunidade existe várias etnias.

O trabalho que a professora realiza, acontece no espaço cedido, pois no momento


o chapéu de palha com o passar do tempo, desgastou e caiu uma parte. As lideranças da
comunidade, estão lutando para construir um novo local onde as aulas possam ocorrer
normalmente. Em relação a professora trabalha de forma “bilíngue”, pois, embora as aulas
sejam ministradas em Português, a professora, de origem mura, trabalha também com uma
língua geral, comum a todas as etnias, trabalha também, aspectos da cultura indígena das
diferentes etnias, cujo objetivo é fortalecer a identidade étnica.

A professora é contratada da SEMED, e recebe o assessoramento pela mesma


instituição, a qual possui a estrutura pedagógica citada anteriormente, o trabalho de resgate
cultural realizado pela professora com o envolvimento da comunidade principalmente os mais
experientes, os (anciãos) em um trabalho conjunto com a mesma, passam também a ser
professores por meio do ensino das palavras, das lendas e tradições, a professora e os alunos
vão fortalecendo a cultura indígena e a aprendizagem vai acontecendo no processo de resgate
de cultura, fortalecimento.
114

Foto 8: Imagem do chapéu de palha, que estava em funcionamento até 2018)

Fonte: GUEDES

Foto 9: pesquisa de campo, ano 2019. Imagem do chapéu de palha, que estava em
funcionamento até 2018)

Fonte: GUEDES, 2019

Nessa conceituação podemos dizer que a Comunidade, mesmo sendo constituída


por diferentes etnias e apresentar-se localizada em um centro urbano, percebe-se participar
das atividades culturais que acontecem em Manaus, como as feiras onde os povos indígenas
115

se apresentam, um grupo de dança composto por integrantes da comunidade nações indígenas


realizam apresentações. Outros indígenas confeccionam artesanatos para exposição e vendas.
E fortalecendo estratégias étnicas no contexto urbano. Ratificando que a condição de ser
indígena continua sendo construída e reconstruída na Comunidade, e no contexto urbano.

3.4. Antropologia Social E Cultural Dos Indígenas Moradores Da Comunidade, A Vida


Social No Contexto Urbano.

Denominar o conceito de cultura na atualidade, é necessário buscar nos séculos


passados os pensamentos dos antropólogos naturalistas, como Tylon (1871), que foi primeiro
antropólogo a dar nome ao conceito de cultura, nas primeiras linhas de cultura primitiva:
cultura ... “é o todo o complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes, e
todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Esse pensamento foi utilizado por inúmeros antropólogos que viam a cultura como algo
definido como um comportamento característico da espécie humana, que foi adquirido pela
aprendizagem e transmitido de um indivíduo, grupo ou geração a outro, através de herança
social. Do início da colonização aos dias atuais.

Estudos foram realizados sobre cultura e novas definições foram empregadas,


alguns antropólogos em continuidade as pesquisas sobre cultura, começam a analisar a cultura
como uma abstração, como afirma Kroeber e Kluckhohn (1952) .... “Cultura é uma abstração
do pensamento humano concreto, mas em si própria não é comportamento”. Diante desse
posicionamento há uma série de teorias que diferem desse pensamento, que será visto no
decorrer do estudo.

No decorrer da pesquisa, algumas fontes sobre os indígenas que vivem em


contexto urbano foram consultadas para embasamento teórico sobre o referido trabalho.
Leituras de jornais, blogs, associações indígenas, residentes em Manaus.

De acordo com informações do Jornal em Tempo (2010) A comunidade Nações


Indígenas as pessoas que residem, são de etnias diferentes, oriundos de lugares diferentes,
com traços físicos e mentais que divergem. Essa miscigenação torna o lugar atípico, com
formações culturais diversas. Nesse contexto com o intuito de melhor compreender a
dinâmica dos moradores da comunidade estudada, volta-se as leituras sobre cultura para
compreender o modo de vida dos indígenas que vivem na cidade, no corte da comunidade
estudada.
116

Para compreender o processo de cultura, se faz necessário recorrer ao conceito de


cultura na compreensão de White (1959), “ o homem torna-se humano, e se diferencia dos
demais animais, quando adquire a capacidade de simbolizar ”. Dessa forma, os indígenas que
convivem na comunidade, conseguem comunicar-se de forma completa porque construíram
uma forma de viver socialmente. Na comunidade Nações Indígenas, que é constituída por
uma média de 13 etnias diferentes, com pensamentos culturais distintos a convivência social
é imprescindível.

Ainda seguindo pensamento de que o homem se distingue pela capacidade de


organização, pode-se afirmar que para a cultura, na compreensão do autor, se modifica com o
tempo e, embora ele aceite a existência de uma relação intima entre cultura e habitat, deve-se
considerar que variações podem ocorrer dentro de um mesmo espaço, em decorrência dos
fatores que influenciam os fenômenos de difusão ou isolamento que compreende aspectos
ideológicos, sociológicos e tecnológicos. Marcantes da relação entre cultura e simbolização,
que procura demonstrar que a cultura norteia a organização humana, enquanto que, entre os
animais, a biologia é determinante.

Provocando uma possibilidade de reconhecimento do universo cultural em relação


a sociedade circundante. Ainda destaca que esse cenário de expansão tanto da língua como
dos costumes, esta ampliação ocorre em razão das escolas indígenas, estes espaços
educacionais são complexos pois vivem num dilema entre as barreiras legais, pedagógicas
inseridas pela “educação indígena” e as reais demandas das comunidades étnicas localizadas.

Outro ponto em destaque do pensamento de White é destacar a diferença entre a


interpretação psicológica e a culturológica como estratégias de estudos da espécie humana.
Para traçar um panorama do desenvolvimento das sociedades humanas, pensado a partir do
conceito de processo evolutivo. É necessário aprofundar o conhecimento de como se
configuram as múltiplas diferenças, de como elas se relacionam entre si, e como são
independentes.

A percepção de que o meio molda fortemente as sociedades e agrupamentos


humanos é anosa e não apenas serviu para alimentar noções e teorias equivocadas u
117

percebidas como prejulgadas, mas fundamentou mesmo a parte das teorias explicativas sobre
o desenvolvimento dos povos e sociedade.

Contudo, White constatou que a diferença entre os homens e os outros animais era
uma diferença qualitativa e não quantitativa. Explicando que o homem usa símbolos para
registrar, expressar seu conhecimento, para existir, mas que estes símbolos são criados,
inventados, pelos próprios humanos. E ao refere-se ao animal, é diferente e pode ser
condicionado por símbolos, mas jamais poderá criá-los. Esse controle de poder do homem
criar símbolos é especificamente humano, não há outro ser vivo que o façam, nem de forma
mais simples.

Neste sentido os moradores da comunidade Nações Indígenas ao longo do


processo sofrem os efeitos da violência simbólica, que os faz compreender o mundo diferente
da realidade vivida pelos seus antepassados. Além disso, criam estratégias representativas que
ignoram, fingem, nega a representação do poder legitimado pela sociedade tradicional.

O símbolo é uma coisa cujo valor ou significado é atribuído pelos seus usuários.
Este valor nunca é determinado pelas características físicas do objeto em questão, isto é, de
suas propriedades intrínsecas, mas sempre por algo arbitrário que se torna convencional. Os
indígenas Kokama que vivem em contexto urbano conseguem atribuir aos símbolos da cultura
uma forma de continuidade das ações culturais no contexto fora do seu local de origem. Em
relação a essa afirmação, pode-se relatar o pensamento de Roque Laraia relata que:

[...] “A natureza dos homens é a mesma, são os hábitos que os mantém


separados”. Com essa afirmação ele quis dizem basicamente os homens nascem
de forma igual, mas o que diferenciam esses homens são seus hábitos, o que
diferencia um homem dos outros são os hábitos daquela sociedade, hábitos
daquela sociedade, do momento que ele vive, do local que ele, o que vai
diferenciar de um homem para o outro é a cultura. O homem se diferencia de
outros animais, porque o homem é o único que possui cultura. (LARAI, 1968,
pág. 25)

A cultura de forma geral ela existe por via da comunicação e que o homem se
comunica através de símbolos, que é gravado no cérebro, com o passar dos tempos foi se
aprimorando, e o homem conseguiu transmitir informações, interpretar e armazenar
informações. Esse armazenamento através da memória, permite, o que se pode conhecer os
princípios básicos da cultura, quando pode-se transmitir conhecimentos, interpretar e
armazenar símbolos, cria-se hábitos e forma de conviver em sociedade.
118

Existe um preconceito criado sobre o indígena, de acordo com Heloísa Helena


(2009, pág,22) “A palavra índio evoca imediatamente à imagem de homem que possui olho
puxado, cabelo liso, corpos pintados – pele avermelhada-, anda nu, fala outra língua e vive na
mata, portanto é inconcebível pensar em um índio morando na cidade”. É notório enfatizar
que esse estereótipo criado não condiz com a realidade dos indígenas que vivem na cidade,
inúmeros grupos foram formados da fusão de grupos indígenas de etnias diferentes. E
mudanças físicas e culturais formaram um processo de hibridação.

Ainda em referência ao papel da cultura, para White (1959, pág.24), “Homem,


variação cultural e o conceito de cultura”. Neste ponto, propõe a distinção do homem
enquanto organismo biológico do homem enquanto ser social e desconstrói noções antigas ao
negar a existência de relação direta entre raça e cultura. White ainda faz uso de termos como
cultura superior e cultura inferior, mas avança em defender a ideia de que não é a biologia que
determina a organização cultural e nega a possibilidade de mensurar ou provar empiricamente
que habilidades possam ser determinadas biologicamente.

Em retomada ao grupo indígena em pesquisa vale ressaltar a história de cada etnia


que reside na comunidade Nações Indígenas, os processos de adaptabilidades que passaram ao
se organizarem e um mesmo local, com características diferentes do local de origem, conseguem
conviver. Mas vale ressaltar que apesar das diferenças culturais, conseguiram encontrar o
ponto (semelhança) comum para construir novo modo de vida.

A posição da moderna antropologia é que a "cultura age seletivamente", e não


casualmente, sobre seu meio ambiente, "explorando determinadas possibilidades e limites ao
desenvolvimento, para o qual as forças decisivas estão na própria cultura e na história da
cultura". As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em
termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio
ambiente. Seguindo pensamento de (LARAIA, 1986, pág13,) afirma que “as possibilidades
de realização humana, além de marcar fortemente o caráter de aprendizado da cultura em
oposição à ideia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos”. Todo elemento
cultural, todo traço cultural, portanto, tem um aspecto subjetivo e um objetivo, porém
conceitos, atitudes e sentimentos fenômenos culturais são enfatizados.
119

De acordo com a pesquisa bibliográfica e observação do local onde a comunidade


está inserida, percebe-se que cultura é definida com acontecimentos reais, observáveis, direta
ou indiretamente, o grupo étnico que reside no local, compreendem os acontecimentos que
compreendem a cultura tem sua existência no espaço e no tempo, dentro de organismos
humanos, conceitos , crenças e emoções, atitudes, dentro dos processos de interação social
entre os seres humanos, dentro de objetos materiais como ferramentas utilizadas
historicamente pelos seus ancestrais( machado, vestimentas, vasos de cerâmica, artesanato )
que continuam utilizando no cotidiano da vida urbana. Para BOAS “... O comportamento de
uma pessoa é uma resposta a sua cultura, uma função desta. A cultura é a variável
independente, o comportamento a dependente, o comportamento varia de acordo com a
Cultura. (BOAS, org. Celso Castro 2004, pág. 116)

Voltando o contexto da cultura de acordo com os relatos registrados que partir de


1920, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber, entre outros, refutaram este tipo de
determinismo e demonstraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre os
fatores culturais. E mais: que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural
localizada em um mesmo tipo de ambiente físico. Sucintamente a contribuição de Kroeber
para a ampliação do conceito de cultura proporcionou uns pontos essenciais, que a cultura,
mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas
realizações. Que o homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos
foram parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou.

Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, é este


processo de aprendizagem (socialização ou endoculturação, não importa o termo) que
determina o seu comportamento e a sua capacidade artística ou profissional. A cultura é um
processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações anteriores. Este
processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo. Os gênios são indivíduos altamente
inteligentes que têm a oportunidade de utilizar o conhecimento existente ao seu dispor,
construído pelos participantes vivos e mortos de seu sistema cultural, e criar um novo objeto
ou uma nova técnica.
120

Foto 10: Fonte GUEDES; pesquisa de campo, ano 2019 - rua de principal Acesso a
Comunidade Nações indígenas.

Sobre o aspecto geográfico da Comunidade, o assentamento está geográfica e


politicamente dividido em duas áreas distintas. Esta divisão é resultante de conflitos internas
por terra: a comunidade é dividida em duas partes devido a uma confusão por terras: área de
baixo e área de cima, existe duas lideranças em destaque: Cacique da Etnia Kokama –
Sebastiao Castilho e o presidente da Associação Comunidade Nações Indígenas- Pedro Silva
da etnia mura. Inicialmente a Comunidade se constituía como um lugar de acolhimento de
famílias indígenas oriundas do interior ou já residentes em Manaus, sem moradia própria ou
que viviam em condições de risco habitacional. As lideranças reuniram-se e organizaram a
ocupação do terreno onde hoje encontra-se a referida comunidade.
121

Foto 11, Fonte GUEDES, pesquisa de campo ano 2019, imagem da ausência de serviços
públicos. Coleta de lixo.

A inexistência de serviços públicos é notória ao adentrar na comunidade, pode-se visualizar


lixo jogando no meio fio das ruas, esgoto a céu aberto, fiação de energia é toda conseguida
ilegalmente (gato), as ruas não são asfaltadas. Tornando o acesso difícil no período da chuva.
Pode-se constatar na visualização da foto.
122

Foto 12, GUEDES, pesquisa de campo, ano 2019. Imagem de uma das ruas da Comunidade
Nações Indígenas

Pose-se notar que socialmente, os direitos dos indígenas que moram na cidade não
estão sendo respeitados, de acordo com a pesquisadora Heloísa Helena que enfatiza...

[...] dada da realidade possibilitou constatar que os desafios


enfrentados pelos indígenas na cidade carecem da compreensão por
parte dos não indígenas, principalmente, quanto a educação do
segmento criança e adolescente que fica dentro desse processo, em
maior vulnerabilidade à exclusão e desqualificação social.
(CORREA DA SILVA, Heloísa Helena 2018, pág.).

Em concordância com a afirmação da autora, em uma forma de contextualizar com


o povo Kokama está relacionado a sérios problemas de desigualdades, marcados por disputas
de domínio sobre os mesmos, relações de posse de terra, influências religiosas, acordos
123

políticos, questões linguísticas e conflitos internos ao grupo. Por isso, para compreender a
mobilização por reconhecimento da identidade étnica dos Kokama na comunidade nações
indígenas, foi preciso descrever todo processo histórico e social desse povo, os meios
encontrados para o enfrentamento e resolução dos problemas que surgiram em relação a sua
aceitação como indígena (pelos não-indígenas e por outros povos indígenas).

As apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais


e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o
resultado da operação de uma determinada cultura. Graças ao que foi dito acima, podemos
entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados
por uma série de características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem
mencionar a evidência das diferenças linguísticas, o fato de mais imediata observação
empírica.
124

Considerações Finais

Neste sentido é de fundamental importância a abordagem do tema étnico nas


escolas como processo de análise de como a escola pública, frequentada pelas crianças
indígenas descendentes estão conhecendo a história de seus ancestrais. Se há construção de
interação das escolas e os descendentes indígenas no tocante a escola utilizar a experiência
vivenciada pelos alunos descendentes indígenas, valorizando a experiências de vida que
trazem para a escola, seria uma gama de conhecimento e cultura, que fomentaria aos alunos
conhecer a realidade indígena que está inserido no contexto urbano, sem ser a história que
foi criada como mito pelos colonizadores no período da colonização e que até hoje é
disseminada nas escolas, que permite um pensamento confuso em relação à cultura, de como
está sendo preservada para futuras gerações.

As lutas que a Educação Escolar Indígena desse contexto maior das lutas gerais
dos povos indígenas no Brasil e, por essa razão, necessita ser compreendida como um
componente estratégico das relações de poder estabelecidas entre o Estado invasor e os povos
originários. Por isso, conscientes da realidade imposta pelo projeto colonial, os povos
indígenas, anteriormente avessos à educação escolar branca ocidental, por entendê-la como
sendo um dos principais instrumentos a serviço da colonialidade do poder, resolveram, num
dado momento histórico, convertê-la em mais um instrumento de resistência, de libertação,
fazendo dessa forma, um processo de apropriação e redefinição do papel da escola. Por essa
razão, o movimento de professores indígenas, se orienta por uma perspectiva de luta em vista
de uma prática educativa que contribua para o processo de descolonialidade, por uma
educação descolonial e libertadora.

A Amazônia precisa ser compreendida na sua singularidade para implementar


uma política pública condizente com sua realidade, principalmente quanto às políticas
públicas voltadas para os indígenas que estão fora das aldeias, nos centros urbanos, nas
cidades. Como afirma CORREA DA SILVA, Heloisa Helena (2008), [...] Existe a
necessidade de se realizarem estudos voltados para a realidade regional e especificamente
para as famílias indígenas que vivem na cidade de Manaus, imbricadas no contexto geral da
sociedade capitalista, pois estas precisam de ações concretas de atenção e assistência do
125

Estado que venham a suprir as suas necessidades básicas de sobrevivência e reprodução”.


Os povos indígenas também enfrentam dificuldades em outras áreas, tais como:
desapropriações de terras, exploração indevida dos recursos naturais e depredação ambiental
de seus territórios o que também tem corroborado para degradação de suas condições de vida.
O movimento indígena tem denunciado tal situação em todos seus eventos, inclusive nas
reuniões de conselhos e conferências de saúde

Para que esses debates continuem a fortalecendo as lutas pelos direitos indígenas
que vivem em contexto urbano, possam dar visibilidade, que os direitos explícitos na
Constituição Federal e nas leis que asseguram os direitos indígenas. Mesmo quando o
indígena não está no seu local de origem, de nascimento, que as políticas públicas possam ser
atendidas na aldeia, na cidade e qualquer lugar onde o indígena estiver.

A imposição do conhecimento ocidental como o único e válido e a negação e


destruição dos saberes dos povos originários se constituiu em um dos mais poderosos
mecanismos de dominação. Essa violência praticada contra os saberes dos povos
“conquistados”, chegando a expropriá-los de suas formas próprias de pensar a vida e do seu
jeito de existir no mundo, foi denominada pelo professor Boaventura de Sousa Santos de
“epistemicídio”. Isso revela quão desafiadora é a luta em defesa da Educação Escolar
Indígena e quão importante é, dentro desse contexto, o papel desempenhado pelo professor
indígena, que deve atuar na perspectiva de revolucionar a escola, tornando-a uma aliada dos
projetos de vida dos povos originários.

Com todos os problemas enfrentados nesse processo de reconhecimento étnico,


dentro até mesmo das instituições, afirmo com base em análise no campo que, o RANI e a
língua são elementos que legitimam a identidade indígena Kokama perante a sociedade não-
indígena e indígenas de outras etnias. Pois, grande parte da sociedade ainda sustenta a noção
“estigmatizada” do indígena “puro/selvagem” e para fazer valer seus direitos, seu
reconhecimento e garantir seu respeito é que os Kokama incluem no seu processo de
ressignificação esses elementos, buscando fortalecer a língua dentro das comunidades através
de oficinas e cursos para crianças, jovens e adultos.

Como enfatiza Levis Strauss, o pensamento indígena é idêntico ao do homem


branco, é a universalidade do pensamento humano não se pode hierarquizar povos ou
126

hierarquizar culturas como se fossem superiores a outros. O encontro com os indígenas


provoca nele uma defesa na diversidade cultural pela necessidade da existência de povos
diferente, uma humanidade que seja igual, globalizada todo mundo do mesmo jeito, não tem
sentido, seria o fim do homem. (STRAUSS, 1995, p. 268)

O processo de mudanças e mistura das culturas, é parte integrante e natural da


história indígena através dos tempos, povos indígenas de culturas diferentes uniram-se para
preservar sua língua, seus descendentes.

Acredita-se que a visibilidade dos indígenas no contexto urbano, cresce através


dos movimentos e organizações construídas no contexto urbano, as associações, as ONGs,
cooperativas. São formas de fortalecimento dos povos indígenas, forma de reivindicar os
direitos declarados nas leis que asseguram políticas públicas, atendimento aos serviços
públicos. E no âmbito do sistema educacional, respeito as diversas culturas existentes de cada
povo, diversidade da identidade étnico-cultural dos povos indígenas.

Contudo, a capacidade de resistir tem sido uma das maiores virtudes dos povos
indígenas. E, através das relações internacionais, por meio de congressos, tratados, acordos e
declarações, percebemos o quanto o movimento indígena tem se fortalecido. Sem dúvida, o
plano internacional (Pan-Amazônia) tem ocupado um papel estratégico em prol dos direitos
indígenas frente aos Estados Nacionais. E as lutas que cada vez conseguem ter os direitos
adquiridos, apesar de todo o sofrimento e as injustiças de que são vítimas os povos indígenas,
estes, no plano da Pan-Amazônia, vão ganhando espaços políticos importantes. Por ora,
espera-se que isso possa de forma concreta reverter-se para os milhares de comunidades
indígenas espalhadas pelo Brasil, pela América e pelo mundo, carentes do respeito que
possuem por direito.

Recentemente em notícias publicadas nos meios de comunicação impresso e


mídias, denúncias feitas pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal (PF) sobre desvios
de verbas Federais que ocasionaram fraudes e desvio de recursos públicos no âmbito do
Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Kayapó (MT). De acordo com os dados do Portal
do Ministério da Saúde, atualizados em 31 de dezembro de 2017, o DSEI Kayapó (MT)
abrange uma população geral de 6.424 indígenas, com quatro etnias presentes, 51 aldeias, três
127

Casas de Saúde Indígena (CASAIs), além de abranger seis municípios, distribuídos pelo sul
do Pará e norte do Mato Grosso.

As investigações, iniciadas pela CGU, identificaram: fraude na licitação promovida


para aquisição de refeições para os indígenas; pagamentos sem cobertura contratual;
superfaturamento nas quantidades e adulteração nos controles das refeições servidas;
condições precárias de armazenamento dos alimentos; cozinhas inadequadas e falta de
refeitório para atender os pacientes acomodados nas CASAIs dos municípios de Colíder (MT)
e de Peixoto de Azevedo (MT).

A apuração conjunta evidenciou repasse de dinheiro pela empresa contratada para


servidores do DSEI Kayapó (MT), da FUNAI (inclusive lideranças indígenas) e da
Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), entidade responsável pela
disponibilização de profissionais das Equipes Multiprofissionais de Saúde Indígena (EMSI).
Também foi constatado um volume extremamente elevado de transações bancárias que não
permitem a identificação do destinatário do dinheiro, a exemplo de saques ou cheques pagos
diretamente na agência. (www.cgu.gov.br/noticias/2019/06/cgu-pf-e-mpf-investigam-desvio-
de-verbas-da-saude-indigena-no-mato-grosso).

As comprovações dos desvios desse montante de valores, que de acordo com as


informações coletas nas informações públicas recentemente pelo MPU (05/06/2019), chega a
ser um prejuízo potencial de aproximadamente R$ 2,5 milhões de um montante de R$ 5
milhões em despesas fiscalizadas. Dessa forma, esses recursos que poderiam estar sendo
utilizados nos serviços públicos destinados aos indígenas, não são utilizados corretamente,
interferem diretamente na vida dos povos indígenas, em referência a saúde, educação e vida
social.

A pesquisa bibliográfica confrontada com a realidade, forneceu elementos para


afirmar que os povos indígenas estão migrando da aldeia ou cidade pequenas para os grandes
centros a procura de equipamentos de serviços públicos que não são disponibilizados nos
municípios ou aldeia por ausência de políticas públicas concretas, com a utilização efetiva dos
recursos para os indígenas. Criando um processo de migração, que em muitos casos não
existiriam se fossem atendidos os direitos dos povos indígenas amparados na legislação
brasileira.
128

É notório enfatizar, que os povos indígenas continuam lutando para serem


respeitados seus direitos, sua identidade ética, sua cultura, sua convivência social no contexto
urbano, e que a educação seja a “ferramenta” de construção das conquistas e conhecimentos
dos povos indígenas em qualquer lugar onde eles estiveram. Afirmando que o indígena é
indígena em qualquer lugar que esteja.
129

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Tocantins. 9ª. Ed. Ver. – Manaus: Editora Valer/ edições Governo do Estado 2000.
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Mercado de Letras, 2005
133

Apêndice
134
135
136
137
138

Anexos

Fonte: GUEDES, pesquisa de campo, ano 2019 reunião com as lideranças Cacique José
Augusto, Cacique Pedro Mura, Erivelton Albuquerque- funcionário da FEI. Sr. Téo
Barros, pesquisadora Elisângela Guedes.

Fonte: GUEDES, pesquisa de campo, ano 2019 reunião com as lideranças da


Comunidade pesquisada.
139

Fonte: GUEDES, pesquisa de campo, ano 2019 apresentação cultural do COPIME dos
indígenas que moram na cidade.

Fonte: GUEDES, pesquisa de campo, ano 2019 apresentação cultural do COPIME dos
indígenas que moram na cidade.
140

Fonte; GUEDES pesquisa de campo, ano 2019 (apresentação cultural do COPIME dos
indígenas que moram na cidade)

Fonte; GUEDES, pesquisa de campo, ano 2019, rua da Comunidade Nações


Indígenas)
141

Fonte: GUEDES, pesquisa de campo, ano 2019, local onde está sendo construído outro
chapéu de palha)

Fonte: GUEDES, pesquisa de campo, ano 2019, rua da comunidade.


142

Fonte (GUEDES, livro doado pela Autora Altaci, sobre a língua Kokama).
143
144
145
146
147

PLANO PEDAGÓGICO

DO CURSO MULTISSERIADO
NA

ESCOLA INDÍGENA

MANAUS/2019
148

Sumário
1. IDENTIFICAÇÃO......................................................................................................................... 149
2. EMENTA ......................................................................................................................................... 149
3. OBJETIVOS ................................................................................................................................... 150
Objetivo Geral:............................................................................................................................................... 150
Objetivos Específicos: ................................................................................................................................... 150
4. CONTEÚDOS ................................................................................................................................. 150
5. MATRIZ DE DISTRIBUIÇÃO DA CARGA HORÁRIA ................................................... 151
6. METODOLOGIA/ESTRATÉGIAS .......................................................................................... 151
7. RECURSOS DIDÁTICOS ........................................................................................................... 152
8. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ..................................................................................... 152
9. CRONOGRAMA DE ESTUDO ................................................................................................. 155
10. BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................... 155

MANAUS/2019
149

1. IDENTIFICAÇÃO
CURSO: MULTISSERIADO NA ESCOLA INDÍGENA
MÓDULO: I
CARGA HORÁRIA: 80 horas PERÍODO: 1° semestre de 2019
PROFESSOR (A) FORMADOR (A):
Audres Marta Carvalho Gomes
Cristina Luciano de Oliveira Canuto
Rauciele da Silva Cazuza

2. EMENTA
A ensino da pratica do multisseriado no contexto pedagógico das escolas indígenas
municipais torna-se um ensino alternativo vivenciadas pelos professores indígenas, no Amazonas, levando
uma série de práticas interdisciplinares com a proposta de priorizar a reflexão/Reorganização coletiva para (re)
construção dos saberes locais e gerais, numa perspectiva de se produzir práticas condizentes com a realidade
de sua aldeia/comunidades. Este processo no Amazonas ainda é um desafio para os professores. O
multisseriado são aquelas onde encontramos alunos de diferentes séries e níveis em uma mesma sala de aula,
independentemente do número de professores responsáveis pela classe. Portanto é necessário pensar em todas
as atividades proposta para o ensino desta especificidade, várias atividades e situações individuais, em
pequenos grupos, dividindo por idades próximas e distantes, por saberes de acordo com o grau de
aprendizagem sem esquecer a intencionalidade do professor, seus objetivos, onde pretende chegar e quais as
aprendizagens esperadas.

Pensar o trabalho pedagógico para professores indígenas no multisseriado é levar em


consideração os cinco princípios da educação escolar indígena. Dialogar com outras culturas de forma
intercultural, possibilitar a construção de novos conhecimentos e a internalização de sua identidade. Estudo da
metodologia intercultural e a metodologia de sequência didática, com uso de slide;

Nessa perspectiva serão abordados:

 Diagnóstico das práticas pedagógicas por meio das dinâmicas e questionários.


 Reflexão para identificar as necessidades didático-pedagógicas dos professores e equipe pedagógica,
sobre as salas multisseriadas e suas realidades a educação indígena e seus marcos normativos;
 Preparação e execução de oficinas para a produção de planejamento de aula, com uso das
metodologias apresentadas e que priorizam o trabalho com base no acolhimento, diagnostico e
coletivo da escola.
150

3. OBJETIVOS
Geral:
Refletir e reorganizar de forma coletiva as práticas pedagógicas dos professores
indígenas, priorizando os conhecimentos tradicionais na construção de um
conhecimento intercultural.
Específicos:
 Fazer um diagnóstico das práticas pedagógicas utilizadas atualmente pelos professores em suas
escolas através das dinâmicas das arvore dos sonhos;
 Conhecer e refletir sobre as práticas pedagógicas nas escolas indígenas (pesquisa) e a prática
pedagógica de sequência didática;
 Produzir práticas pedagógicas que sejam condizentes com sua realidade, dando ênfase na sequência
didática e pequenos projetos.

4. CONTEÚDOS
1. Salas multisseriadas e a Educação Escolar Indígena

 A sala Multisseriada: um diagnóstico da realidade;

 O que são salas multisseriadas?

 Concepção de Educação Escolar Indígena;

 Princípios

 Marcos normativo

2. Escolas Indígenas e a prática pedagógica

 Planejamento de aula na perspectiva intercultural

 Sequência Didática como prática pedagógica

 Planejamento de aula na prática de sequência didática


151

5. MATRIZ DE DISTRIBUIÇÃO DA CARGA HORÁRIA

QTD.
CONTEÚDO/UNIDADE
AULAS TD. DIAS

Salas multisseriadas e a Educação Escolar Indígena- A sala


Multisseriada e diagnóstico da realidade. 0

Concepção de Educação Escolar Indígena – conceitos, princípios e 2 1

marcos normativo. 0
Escolas Indígenas e Práticas Pedagógicas
Planejamento de aula na perspectiva intercultural 0
Sequência Didática como prática pedagógica
0
Planejamento de aula na prática de sequência didática
0

6. METODOLOGIA/ESTRATÉGIAS

A atividade se desenvolverá em quatro momentos:

Primeiro momento: Organização da turma por polo, por escola ou por comunidade, para a fazer
o levantamento da realidade pedagógica dos docentes. Para essa ação, será realizado um diagnóstico das
práticas desenvolvimento em suas salas de aula, através de dinâmicas e questionários.

 Dinâmica: Árvores dos sonhos (1º momento: a educação escolar que eu quero na minha comunidade)

 Fichas de questionários

 Leitura dos textos

Segundo momento: Aula dialogada com reflexões para identificar as necessidades didático-
pedagógicas dos professores e equipe pedagógica. Para refletir sobre esse contexto serão utilizados textos sobre
salas multisseriadas; a realidade das salas de aulas indígenas; a educação escolar indígena e seus marcos
normativos.

 Exposição de conteúdos em slides

 Dinâmica da árvore (2º momento: as lamentações (problemas que enfrento) as reflexões acerca da
realidade que o professor e equipe pedagógica enfrenta.

Terceiro momento: estudo da pedagogia intercultural e sequência didática com uso de texto e slide.
152

 Exposição de conteúdos em texto e slide;

 Referencias de planos para análise e elaboração;

 Socialização da produção em grupo.

Quarto momento: preparação e execução de oficinas para a produção de planejamento de aula, com uso das
metodologias apresentadas e que priorizam o trabalho com base no acolhimento, diagnostico e decisões do
coletivo da escola.

 Grupos para planejamento das aulas;

 Socialização da produção de planos de aula.

7. RECURSOS DIDÁTICOS
Para as aulas expositivas: data show, notebook e textos, caixa de som, microfones sem fio;
Para atividades e avaliação: jornais, ilustrações, revistas, álbum seriado, livro didático e
paradidático, vídeos, máquina fotográfica, filmadora, quadro branco, pincel, apagador, cola, tesoura, tubo de cola,
chameguinho nas cores verde, azul e amarelo e papel pautado.

8. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

O processo avaliativo presente em todos os momentos da formação se dará de forma continua e


cumulativa, assim como, os recursos que o formador utiliza no processo de ensino-aprendizagem consiste em um
processo coletivo, cumulativo, contínuo, permanente, diagnóstico e comprometido com a construção de relações
dialógicas e onde os envolvidos, refletem, pensam sobre si e sobre o processo educativo, formativa
contemplarão frequência, atitudes, comportamentos, compromisso com o estudo e com a ação comunitária. Na
dimensão cognitiva, a partir dos eixos temáticos, contemplara trabalhos escritos e práticos.

ATIVIDADE -01
Ficha diagnóstica pedagógica do professor da pratica pedagógica do professor: é uma ficha de
diagnóstico da prática pedagógica do professor, que deverá ser preenchida no primeiro momento da formação para fazer
uma reflexão no desenvolvimento de seu trabalho em sala de aula. Será uma auto avaliação realizada pelo professor cursista.
(árvore dos sonhos)
Orientação: fazer um levantamento das situações problemas que o profissional da sala multisseriados
enfrenta no seu dia a dia.
153

Palavra de Estimulo:

 Construir frases curtas que explicita os sonhos que pretende realizar em suas práticas pedagógicas como bom
profissional que atua nas salas multisseriado. (Para compor a copa da árvore)

 Sintetizar situações de lamentação que enfrenta em suas práticas pedagógicas. (Para compor o caule da árvore)

 Relatar instrumentos necessários que irão contribuir na melhoria de suas práticas pedagógicas nas salas
multisseriadas. (Sementes, na raiz para obter uma educação escolar indígena de qualidade e comunitária.).

Critérios de avaliação cumulativa:


O cursista deve:
1) Participar da discussão, dentro do prazo previsto
2). Expor com clareza, objetividade e coerência seu ponto de vista, considerando o que foi solicitado no
enunciado da questão
3). Interagir com outros cursistas, a interação não pode fugir ao conteúdo proposto para a discussão
PARA REALIZAR ESTA ATIVIDADE
1. Ler o texto proposto
2. Construir os textos propostos
3. Interagir com os colegas;
4. Ler e expor sua proposta sobre a árvore do sonho.

Tipo de Atividade: ( ) Debate ( x) Leitura


( ) Pesquisa ( ) Produção de Texto
( ) Memorial ( ) Projeto
( ) Seminário ( X ) Outros

Atividade Avaliativa: ( x ) Sim ( ) Não

ATIVIDADE Nº 02
Plano de aula na perspectiva interdisciplinar: plano de aula para ser desenvolvido nas salas multisseriadas
construída pelos professores para aplicar os passos da pedagogia Intercultural. Levantamento dos eixos temáticos.
Orientação: levantamento sobre os instrumentos pedagógicos: PPP, plano de ensino, plano de aula.
Palavra de Estimulo:
Coletividade, diversidade de ideias, ensino-aprendizagem.
Critérios de avaliação:
O cursista deve:
1) Participar da apresentação e discussões, dentro do prazo previsto
2). Expor com clareza, objetividade e coerência seu ponto de vista, considerando o que foi solicitado no
enunciado da questão
3). Interagir com outros cursistas, a interação não pode fugir ao conteúdo proposto para a discussão (plano de
aula multisseriado).
PARA REALIZAR ESTA ATIVIDADE
1. Ler o conteúdo sobre a temática que irá apresentar;
2. Preparar seu material de exposição;
3. Expor o material com objetividade e segurança;
4. Interagir com seus colegas.

Tipo de Atividade: ( ) Debate ( ) Leitura


( ) Pesquisa ( ) Produção de Texto
154

( ) Memorial ( ) Projeto
( ) Seminário ( x ) Outros

Atividade Avaliativa: ( x ) Sim ( ) Não

ATIVIDADE Nº 03
Plano de aula com metodologia de sequência didática: construção e organização de um Plano de Aula
interdisciplinar com sequência didática-uma estrutura de plano de aula com sequência didática interdisciplinar e transversal
a ser elaborado pelo professor cursista, e em grupo para socialização.
Orientação: Elaboração de um Plano de aula interdisciplinar, tendo como base a diversidade textual das
comunidades indígenas e a interculturalidade.
Lembrete: O cursista confeccionará um Plano de aula semanal ou quinzenal, abordando uma temática
transversal, conteúdo, habilidades, competências, metodologia, recursos e avaliação.

Palavra de Estimulo: Interdisciplinaridade, interculturalidade organização, metodologia, habilidade,


competência, ensino-aprendizagem.

Critérios de avaliação:
O cursista deve:
1) Construir um Plano Interdisciplinar;
2). Expor com clareza, objetividade e coerência as competências e habilidades, considerando o que foi
solicitado no enunciado da questão.
3). Interagir com outros cursistas, a interação não pode fugir ao conteúdo proposto para a discussão
PARA REALIZAR ESTA ATIVIDADE
1. Ter acesso aos diversos formatos de plano de aula.
2. Construir um plano com eixo temático definido
3. Interagir com os colegas;
4. Participar das atividades de socialização.

Tipo de Atividade: ( ) Debate (x) Leitura


(X) Pesquisa ( ) Produção de Texto
( ) Memorial ( ) Projeto
( ) Seminário (x) Outros

Atividade Avaliativa: (x) Sim ( ) Não


155

9. CRONOGRAMA DE ESTUDO

INSTUMENTO
CONTEÚDO / UNIDADE DATA ATIVIDADE
AVALIATIVO
Sala multisseriado: Exposição oral, relatos de Ficha Diagnóstica
Ficha diagnóstica pedagógica do experiências e sobre as experiências Produção textual: síntese
professor da pratica pedagógica do didáticas das escolas indígenas.
professor: (árvore dos sonhos)
Concepção de educação escolar Fevereiro
indígena a
Marcos normativo Junho
Plano de aula na perspectiva 2019 Pesquisa e levantamento dos PPPs Levantamento dos planos
interdisciplinar: das escolas indígenas, plano de de aula
ensino e plano de aula. Apresentação/socialização

Apresentação
Sequência Didática como pratica Elaboração de plano de aula na /socialização
pedagógica com sequência didática.
Plano de aula com metodologia de
sequência didática

10. BIBLIOGRAFIA

___. Diretrizes para a política nacional de educação escolar indígena/Elaborado pelo comitê de Educação
Escolar Indígena-2’ed.Brasilia: MEC/SEF/DPEF, 1994.24p.(caderno de educação básica.institucional,2)
ZABALA, Antoni. A pratica educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed,1998
D’AGOSTINI, Adriana. Experiência e reflexões sobre escolas/classes multisseriadas.
Florianópolis: Insular,2014.
MARCUSCHI, L. A. Leitura e compreensão de texto falado e escrito como ato individual de uma prática
social. In: ZILBERMAN, R; SILVA, E. T. da (org.), Leitura: perspectivas interdisciplinares. São Paulo:
Ática, 2005.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa,
Curitiba, 2006.
MACEDO, A.V.1997.Pontos e contrapontos para a compreensão de uma história do Brasil. São
Paulo: MARI/UST.RIBEIRO, Berta.1991.O índio na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Revan.
156

PROJETO PEDAGÓGICO

DO CURSO

MULTISSERIADO NA

ESCOLA INDÍGENA

MANAUS/2019
157

Sumário
1.IDENTIFICAÇÃO....................................................................................................................... 158
1.1 ÁREA DE CONHECIMENTO ................................................................................................. 158
1.2 FORMA DE OFERTA: .............................................................................................................. 158
1.2 CARGA HORÁRIA: ................................................................................................................... 158
1.4 FORMADORE(A) RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO: .............................................. 158
2. JUSTIFICATIVA........................................................................................................................ 158
3. OBJETIVOS ................................................................................................................................ 159
Objetivo Geral ............................................................................................................................................. 159
Objetivos Específicos ................................................................................................................................. 159
4. PERFIL DO PARTICIPANTE................................................................................................ 160
5. ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA DO CURSO ................................................................. 160
5.1 FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS .............................................................................................. 160
5.2 ÁREAS DE DOMINIO ....................................................................................................................... 161
 Interdisciplinaridade: ...................................................................................................................... 161
 Transversalidades: ............................................................................................................................ 161
 Didática: .............................................................................................................................................. 161
 Componentes curriculares: ............................................................................................................. 161
6. ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA DO CURSO ......................................................... 161
6.1 RECURSOS NECESSÁRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO CURSO................... 162
6.2 CRONOGRAMA ................................................................................................................................. 163
7. ORGANIZAÇÃO AVALIATIVA DO CURSO ................................................................... 163
7.1 PRINCIPIOS ......................................................................................................................................... 163
7.2 INSTRUMENTOS ............................................................................................................................... 163
8. CERTIFICAÇÃO ....................................................................................................................... 164
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 164
158

1.IDENTIFICAÇÃO

1.1 ÁREA DE CONHECIMENTO: ( ) LINGUAGEM ( ) CIÊNCIA HUMANAS


( ) MATEMÁTICA ( x ) PEDAGÓGICA
( ) CIÊNCIAS DA NATUREZA ( ) GESTÃO

1.2 FORMA DE OFERTA: 1.2 CARGA HORÁRIA:


( X ) PRESENCIAL
( ) 20h ( ) 40h
( ) EAD
( ) 60h ( ) 80h

1.3 FORMADORES (A) RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO:


Audres Marta Carvalho Gomes
Cristina Luciano de Oliveira Canuto
Rauciele da Silva Cazuza

2. JUSTIFICATIVA

O trabalho pedagógico do profissional da educação em salas multisseriadas ainda é comum na


zona rural, principalmente nas regiões do Norte e Nordeste. É considerado um grande desafio para os
professores.
Segundo Informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP, 2007, p.25) classes multisseriadas são aquelas na qual encontramos “ [...] alunos de
diferentes séries e níveis em uma sala de aula, independentemente do número de professores
responsáveis pela classe’’. Portanto, ao propor cada atividade a ser desenvolvida numa sala
multisseriada, é importante pensar em diversas formas de organização da turma, com várias atividades
e situações individuais, coletivas e em pequenos grupos, dividindo por idades próximas e distantes,
por saberes de acordo com o grau de aprendizagem, sem esquecer a intencionalidade do professor,
seus objetivos, onde pretende chegar e quais as aprendizagens esperadas. Não esquecendo o senso da
coletividade, onde possam desenvolver, através dos conteúdos, sua aprendizagem e a interação: em
momentos individuais e em grupos.
Pensar o trabalho pedagógico para professores indígenas é raciocinar em situações
comunidade/escola/comunidade. São enormes as deficiências de professores indígenas no que diz
159

respeito ao desenvolvimento da proficiência em prática docente em salas com esse grau de


complexidade.
Nesse sentido, o curso multisseriado na escola indígena tem o objetivo de trazer uma reflexão
acerca das práticas pedagógicas vivenciadas pelos educadores (as) indígenas que utilizam essa
metodologia em suas respectivas salas de aula, fomentando várias atividades interdisciplinares
individuais e coletivas, condizentes com a realidade de suas comunidades, contemplando os saberes
locais e as formas próprias de educar. Saberes que, em outros tempos, foram silenciados, negados,
subalternizados, impedidos de circular: não só os mitos, crenças e valores, mas aquilo que poderia se
falar de conhecimento local/conteúdos que são ressignificados no encontro intercultural com outros
saberes.
Nesse sentido é peculiar ratificar uma nova realidade dos povos indígenas: os novos atores
dessas escolas produzem um espaço de “decolonialidade” (WALSH, 2009; CANDAU, 2010), o que

Nesta perspectiva os processos educativos são fundamentais.


Através deles se questiona a colonialidade presente na sociedade e na educação,
desvela-se o racismo e a racialização das relações, promove-se o
reconhecimento de diversos saberes e o diálogo entre diferentes conhecimentos,
combatesse as diferentes formas de deshumanização, promove-se a construção
de identidades e o empoderamento de pessoas e grupos excluídos, favorecendo
processos de construção coletiva na perspectiva de projetos de vida pessoal e de
sociedades “outras” (CANDAU, 2010, p. 309/10).

Nesse sentido, faz-se necessário pensar a prática do professor que atua nesse universo,
apresentando o uso de metodologias adequadas para o trabalho com a diversidade cognitiva, empírica
e etária, no contexto de uma educação interdisciplinar e intercultural.

3. OBJETIVOS

Geral
Promover formação de professores, atendendo às necessidades específicas das salas
multisseriadas em escolas indígenas, através do uso de metodologias que congreguem a formação
integral dos alunos à interdisciplinaridade, em um diálogo intercultural.

Específicos

 Promover troca de experiências entre os professores, buscando entendimento sobre a


metodologia do multisseriado;
 Oferecer subsídios para a construção do plano de aula para classe multisseriadas;
160

 Orientar e discutir sobre as formas de avaliação, a prática pedagógica e os instrumentos que


serão usados nas salas multisseriadas.

4. PERFIL DO PARTICIPANTE

Docentes indígenas do Ensino Fundamental das séries iniciais, que estejam em sala
multisseriadas, especificamente professores da rede pública municipal que desenvolvam atividades
pedagógicas interdisciplinar, em suas comunidades indígenas.

5. ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA DO CURSO

5.1 FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS

A educação escolar para os povos indígenas deve ser intercultural e bi/multilíngue, visando à
reafirmação de suas identidades étnicas, à recuperação de suas memórias históricas, a valorização de
suas línguas e ciências, como também possibilitando o acesso às informações e aos conhecimentos da
sociedade nacional (LDBEN, n.º 9.394, Arts. 78 e 79 1996). Será praticada de forma intercultural,
respeitando os princípios da educação escolar indígena que visa à conversa entre os saberes, através da
pedagogia intercultural, para o fortalecimento de práticas pedagógicas eficazes capazes de
ressignificar a aprendizagem dos alunos indígenas em suas respectivas comunidades.
Nesse sentido, convém enfatizar que a pedagogia utilizada no processo multisseriado, em salas
de escolas indígenas, está ligada às necessidades e desafios da escola de cada povo. É uma prática
pedagógica que objetiva o desenvolvimento da reflexão, o espirito investigativo e a habilidade de
argumentação dos alunos. É um instrumento voltado para a ampliação dos conhecimentos, a interação,
a descoberta e ressignificação de conceitos a partir de um universo cultural. E ao professor cabe a
função de gerenciar e orientar o processo ensino aprendizagem unindo dimensão científica, empírica,
social, histórica e econômica.
No mesmo contexto, a metodologia de sequência, definida por ZABALA, 1998, como um
conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos
educacionais, que tem um princípio e um fim conhecido pelos professores e pelos alunos (grifos do
autor),vem implementar o trabalho pedagógico do docente, pois objetiva construir um novo
conhecimento, um novo saber, levando em consideração a contextualização e uma prática pedagógica
de forma interdisciplinar e transdisciplinar, onde é importante considerar no planejamento as relações
entre professor e aluno, entre os alunos e as influências dos conteúdos nessas relações, sem deixar de
lado o papel do professor e do aluno, a organização para agrupamentos, organização de conteúdo, do
tempo e dos recursos didáticos, assim como avaliação.
161

5.2 ÁREAS DE DOMINIO

A partir dos conhecimentos assimilados no curso de formação continuada, os professores


indígenas poderão desenvolver estratégias pedagógicas em suas práticas em classes multisseriadas
dominando:
 Interdisciplinaridade: realizar seu planejamneto articulando conhecimentos de uma
disciplina com outras areas de conhecimentos.
 Transversalidades: inserir temas em suas aulas, como uma proposta didática que possibilita
o tratamento de conteúdos de forma integrada em todas as áreas de conhecimentos, com
significados e que devem estar inseridos de forma transdisciplinar.
 Didática: refletir, pedagogicamente, fazendo uma análise das condições de ensino e suas
relações com os objetivos, conteúdos e métodos que utiliza.
 Componentes curriculares: destacar em seu planejamento o que é comum e específico
entre os componentes curriculares trabalhados numa sequência didática ou um projeto.

6. ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA DO CURSO

Na resolução CNE nº 05/2012 no artigo 15, orienta que o currículo das escolas indígenas deve
estar ligado às concepções e práticas que definem o papel sociocultural da escola. Isso diz respeito aos
modos de organização dos tempos e espaços da escola, de suas atividades pedagógicas, das relações
sociais tecidas no cotidiano escolar, das interações do ambiente educacional com a sociedade.
Os princípios constitucionais consolidados com a promulgação da Constituição Federal (1988)
garantem aos povos indígenas o direito à cidadania, identidade étnica e uma educação escolar
diferenciada, específica, intercultural e bilíngue. (CRFB. Arts. 210 215, 231 e 232, 1988).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, n.º 9.394/96), reconhece a
diversidade cultural brasileira, definindo como um dos princípios norteadores do ensino nacional: o
pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, garantindo às escolas indígenas um processo
educativo diferenciado e respeitoso de sua identidade cultural, assegurando às comunidades indígenas
a utilização de suas línguas indígenas e processos próprios de aprendizagem.
A educação escolar para os povos indígenas deve ser intercultural e bi/multilíngue, visando à
reafirmação de suas identidades étnicas, à recuperação de suas memórias históricas, a valorização de
suas línguas e ciências, como também possibilitando o acesso às informações e aos conhecimentos da
sociedade nacional (LDBEN, n.º 9.394, Arts. 78 e 79 1996).
De acordo com a especificidade do curso, os princípios da educação escolar indígena e a
melhor compreensão do trabalho em salas multisseriadas. A formação contará com quatros momentos
distinta com suas especificidades e sua realidade, a saber:
162

 No primeiro momento, levantamento da realidade, com a realização das práticas em


desenvolvimentos por meio de dinâmica e questionários.
 No segundo momento, reflexões para identificar as necessidades didáticas- pedagógicas dos
professores e equipe pedagógica, com uso de texto sobre as salas multisseriadas e sua
realidade, educação escolar indígena e seus marcos normativos.
 Terceiro momento, estudo da pedagogia intercultural e a metodologia da sequência didática,
com uso de textos e vídeos.
 No quarto momento preparação e execução de oficinas para construção e organização do
planejamento de aula, com uso das metodologias apresentadas e que priorizam o trabalho com
base no acolhimento, diagnóstico e decisões do coletivo da escola. Para o desenvolvimento do
curso é necessárias 40 horas distribuídas de acordo com a meta dado abaixo.

Ch
Mês Temática
 Dinâmica: árvore dos sonhos
- A sala multisseriadas: diagnostico da  Ficha de questionamentos
 A turma será dividida em
realidade. grupos.
Salas multisseriadas e - O que são salas multisseriadas. 10 h
Educação Escolar Indígena Exposição de conteúdos
Princípios da educação escolar indígena. Refletir para identificar as necessidades 10 h
Marcos normativos. didáticas e pedagógicas do professor.

Apresentação em slide sobre as formas


 Pedagogia intercultural de atividades pedagógicas em salas 20 h
 Pesquisa multisseriadas e escolas indígenas.
 Planejamento interdisciplinar
Grupo para planejamento de aulas

Exposição dialogada
Escolas indígenas e  Sequência didática como pratica Analise dos planos apresentados
a prática pedagógica pedagógica Construção de planos 20 h
 Projeto de pesquisa.
 Planejamento na sequencia didática Apresentação de planos.
6.1 RECURSOS NECESSÁRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO CURSO

Recursos físicos: local para a formação, de fácil acesso, arrejado e com estrutura
adequada para o bem-estar dos cursistas.
Recursos materiais: projetor de mídias, notebook, caixa de som, microfones sem fio,
câmeras fotográficas, filmadoras, kit do cursista ( caderno, caneta, lápis, borracha, régua, apontador,
163

bloco de notas), papel madeira, cartolina, papel ofício, barbante, pincel atômico, cola, tesoura, pincel
para quadro branco, lápis de cor, giz de cera, textos, livros paradidáticos, banners, folders e outros.
Recursos humanos: professores indigenas, pedagogos, contadores de história, sábios,
curandeiros, pajés, benzendeiros e outos saberes empíricos presentes na comunidade.

6.2 CRONOGRAMA
DATA DE Nº DE COMUNIDADE
LOCAL CURSO
REALIZAÇÃO PROFESSORES INÍGENA
Janeiro Alvarães
a Sta.Isa.Rio Negro
Junho Manaquiri Multisseriado nas
Tapauá escolas indígenas
2019 Uarini
Nhamundá

7. ORGANIZAÇÃO AVALIATIVA DO CURSO

7.1 PRINCIPIOS

A avaliação é parte importante do processo ensino-aprendizagem,


acontece em todos os momentos da formação. Nesse sentido, a avaliação terá
como princípios:
 Processo continuo e permanente da participação do cursista e sua
relação com o formador;
 Coerência entre a pratica avaliativa, os objetivos e o
desenvolvimento metodológico;
 Observação de atitudes, comportamentos, vivencia de valores,
responsabilidades e cooperação, compromisso com o estudo e
envolvimento com as atividades desenvolvidas.
O processo avaliativo presente em todos os momentos da formação se dará de forma
contínua e cumulativa, assim, como, os recursos que o formador utiliza no processo de e coletivo,
cumulativo, continuo, permanente. A avaliação e auto avaliação da dimensão formativa contemplarão
frequência, atitudes, comportamentos, compromisso com o estudo e com a ação comunitária. Na
dimensão cognitiva, a partir dos eixos temáticos, contemplará trabalhos escritos e práticos.

7.2 INSTRUMENTOS
164

 Ficha diagnóstica pedagógica do professor da pratica pedagógica do professor: é uma


ficha de diagnóstico da prática pedagógica do professor, que deverá ser preenchida no
primeiro momento da formação para fazer uma reflexão no desenvolvimento de seu trabalho
em sala de aula. Será um auto avaliação realizada pelo professor cursista. (Árvore dos sonhos)
 Plano de aula na perspectiva interdisciplinar: plano de aula para ser desenvolvido nas salas
multisseriadas construída pelos professores para aplicar os passos da pedagogia Intercultural.
Levantamento dos eixos temáticos.
 Plano de aula com metodologia de sequência didática: construção e organização de um
Plano de Aula interdisciplinar com sequência didática-uma estrutura de plano de aula com
sequência didática interdisciplinar e transversal a ser elaborado pelo professor cursista, e em
grupo para socialização.

8. CERTIFICAÇÃO

Os cursistas serão certificados quando:


- Obtiverem frequência integral nos seis dias de formação;

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

___. Diretrizes para a política nacional de educação escolar indígena/Elaborado pelo comitê de
Educação Escolar Indígena-2’ed.Brasilia: MEC/SEF/DPEF, 1994.24p.(caderno de educação
básica.institucional,2)
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed,1998
D’AGOSTINI, Adriana. Experiência e reflexões sobre escolas/classes multisseriadas.
Florianópolis: Insular,2014.
MARCUSCHI, L. A. Leitura e compreensão de texto falado e escrito como ato individual de uma
prática social. In: ZILBERMAN, R; SILVA, E. T. da (org.), Leitura: perspectivas
interdisciplinares. São Paulo: Ática, 2005.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa,
Curitiba, 2006.
MACEDO, A.V.1997.Pontos e contrapontos para a compreensão de uma história do Brasil. São
Paulo: MARI/UST.
RIBEIRO, Berta.1991.O índio na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Revan.

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