Poesias de Cecília Meireles-1

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Poesias

de
Cecília Meireles

@prof.gaby.alfabetização
AS MENINAS

ARABELA
ABRIA A JANELA.
CAROLINA
ERGUIA A CORTINA.
E MARIA
OLHAVA E SORRIA:
“BOM DIA!”
ARABELA
FOI SEMPRE A MAIS BELA.
CAROLINA,
A MAIS SÁBIA MENINA.
E MARIA
APENAS SORRIA:
“BOM DIA!”
PENSAREMOS EM CADA MENINA
QUE VIVIA NAQUELA JANELA;
UMA QUE SE CHAMAVA ARABELA,
UMA QUE SE CHAMOU CAROLINA.
MAS A PROFUNDA SAUDADE
É MARIA, MARIA, MARIA,
QUE DIZIA COM VOZ DE AMIZADE:
“BOM DIA!”
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OU ISTO OU AQUILO

OU SE TEM CHUVA E NÃO SE TEM SOL


OU SE TEM SOL E NÃO SE TEM CHUVA!

OU SE CALÇA A LUVA E NÃO SE PÕE O ANEL,


OU SE PÕE O ANEL E NÃO SE CALÇA A LUVA!

QUEM SOBE NOS ARES NÃO FICA NO CHÃO,


QUEM FICA NO CHÃO NÃO SOBE NOS ARES.

É UMA GRANDE PENA QUE NÃO SE POSSA


ESTAR AO MESMO TEMPO EM DOIS LUGARES!

OU GUARDO O DINHEIRO E NÃO COMPRO O DOCE,


OU COMPRO O DOCE E GASTO O DINHEIRO.

OU ISTO OU AQUILO: OU ISTO OU AQUILO …


E VIVO ESCOLHENDO O DIA INTEIRO!

NÃO SEI SE BRINCO, NÃO SEI SE ESTUDO,


SE SAIO CORRENDO OU FICO TRANQÜILO.

MAS NÃO CONSEGUI ENTENDER AINDA


QUAL É MELHOR: SE É ISTO OU AQUILO.

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A BAILARINA

ESTA MENINA
TÃO PEQUENINA
QUER SER BAILARINA.
NÃO CONHECE NEM DÓ NEM RÉ
MAS SABE FICAR NA PONTA DO PÉ.

NÃO CONHECE NEM MI NEM FÁ


MAS INCLINA O CORPO PARA CÁ E PARA LÁ

NÃO CONHECE NEM LÁ NEM SI,


MAS FECHA OS OLHOS E SORRI.

RODA, RODA, RODA, COM OS BRACINHOS NO AR


E NÃO FICA TONTA NEM SAI DO LUGAR.

PÕE NO CABELO UMA ESTRELA E UM VÉU


E DIZ QUE CAIU DO CÉU.

ESTA MENINA
TÃO PEQUENINA
QUER SER BAILARINA.

MAS DEPOIS ESQUECE TODAS AS DANÇAS,


E TAMBÉM QUER DORMIR COMO AS OUTRAS CRIANÇAS.
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PARA IR À LUA

ENQUANTO NÃO TÊM FOGUETES


PARA IR À LUA
OS MENINOS DESLIZAM DE PATINETE
PELAS CALÇADAS DA RUA.

VÃO CEGOS DE VELOCIDADE:


MESMO QUE QUEBREM O NARIZ,
QUE GRANDE FELICIDADE!
SER VELOZ É SER FELIZ.

AH! SE PUDESSEM SER ANJOS


DE LONGAS ASAS!
MAS SÃO APENAS MARMANJOS.

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O CAVALINHO BRANCO

À TARDE, O CAVALINHO BRANCO


ESTÁ MUITO CANSADO:

MAS HÁ UM PEDACINHO DO CAMPO


ONDE É SEMPRE FERIADO.

O CAVALO SACODE A CRINA


LOURA E COMPRIDA

E NAS VERDES ERVAS ATIRA


SUA BRANCA VIDA.

SEU RELINCHO ESTREMECE AS RAÍZES


E ELE ENSINA AOS VENTOS

A ALEGRIA DE SENTIR LIVRES


SEUS MOVIMENTOS.

TRABALHOU TODO O DIA, TANTO!


DESDE A MADRUGADA!

DESCANSA ENTRE AS FLORES, CAVALINHO BRANCO,


DE CRINA DOURADA!
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O MENINO AZUL

O MENINO QUER UM BURRINHO


PARA PASSEAR.
UM BURRINHO MANSO,
QUE NÃO CORRA NEM PULE,
MAS QUE SAIBA CONVERSAR.

O MENINO QUER UM BURRINHO


QUE SAIBA DIZER
O NOME DOS RIOS,
DAS MONTANHAS, DAS FLORES,
— DE TUDO O QUE APARECER.

O MENINO QUER UM BURRINHO


QUE SAIBA INVENTAR HISTÓRIAS BONITAS
COM PESSOAS E BICHOS
E COM BARQUINHOS NO MAR.

E OS DOIS SAIRÃO PELO MUNDO


QUE É COMO UM JARDIM
APENAS MAIS LARGO
E TALVEZ MAIS COMPRIDO
E QUE NÃO TENHA FIM.

(QUEM SOUBER DE UM BURRINHO DESSES,


PODE ESCREVER
PARA A RUAS DAS CASAS,
NÚMERO DAS PORTAS,
AO MENINO AZUL QUE NÃO SABE LER.)

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COLAR DE CAROLINA

COM SEU COLAR DE CORAL,


CAROLINA
CORRE POR ENTRE AS COLUNAS
DA COLINA.

O COLAR DE CAROLINA
COLORE O COLO DE CAL,
TORNA CORADA A MENINA.

E O SOL, VENDO AQUELA COR


DO COLAR DE CAROLINA,
PÕE COROAS DE CORAL

NAS COLUNAS DA COLINA.


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LEILÃO DE JARDIM

QUEM ME COMPRA UM JARDIM COM FLORES?


BORBOLETAS DE MUITAS CORES,
LAVADEIRAS E PASSARINHOS,
OVOS VERDES E AZUIS NOS NINHOS?

QUEM ME COMPRA ESTE CARACOL?


QUEM ME COMPRA UM RAIO DE SOL?
UM LAGARTO ENTRE O MURO E A HERA,
UMA ESTÁTUA DA PRIMAVERA?

QUEM ME COMPRA ESTE FORMIGUEIRO?


E ESTE SAPO, QUE É JARDINEIRO?
E A CIGARRA E A SUA CANÇÃO?
E O GRILINHO DENTRO DO CHÃO?
(ESTE É O MEU LEILÃO.)

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TANTA TINTA

AH! MENINA TONTA,


TODA SUJA DE TINTA
MAL O SOL DESPONTA!

(SENTOU-SE NA PONTE,
MUITO DESATENTA…
E AGORA SE ESPANTA:
QUEM É QUE A PONTE PINTA
COM TANTA TINTA?…)

A PONTE APONTA
E SE DESAPONTA.
A TONTINHA TENTA
LIMPAR A TINTA,
PONTO POR PONTO
E PINTA POR PINTA…
AH! A MENINA TONTA!
NÃO VIU A TINTA DA PONTE!
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A AVÓ DO MENINO

A AVÓ
VIVE SÓ.
NA CASA DA AVÓ
O GALO LIRÓ
FAZ "COCOROCÓ!"
A AVÓ BATE PÃO-DE-LÓ
E ANDA UM VENTO-T-O-TÓ
NA CORTINA DE FILÓ.
A AVÓ
VIVE SÓ.
MAS SE O NETO MENINÓ
MAS SE O NETO RICARDÓ
MAS SE O NETO TRAVESSÓ
VAI À CASA DA AVÓ,
OS DOIS JOGAM DOMINÓ.

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Poesias
de
Cecília Meireles

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A avó do menino

A avó
vive só.
Na casa da avó
o galo liró
faz "cocorocó!"
A avó bate pão-de-ló
E anda um vento-t-o-tó
Na cortina de filó.
A avó
vive só.
Mas se o neto meninó
Mas se o neto Ricardó
Mas se o neto travessó
Vai à casa da avó,
Os dois jogam dominó.
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Tanta tinta

Ah! Menina tonta,


toda suja de tinta
mal o sol desponta!

(Sentou-se na ponte,
muito desatenta…
E agora se espanta:
Quem é que a ponte pinta
com tanta tinta?…)

A ponte aponta
e se desaponta.
A tontinha tenta
limpar a tinta,
ponto por ponto
e pinta por pinta…
Ah! A menina tonta!
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Não viu a tinta da ponte!
Leilão de jardim

Quem me compra um jardim com flores?


Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?


Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?


E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é o meu leilão.)

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Colar de Carolina

Com seu colar de coral,


Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor


do colar de Carolina,
põe coroas de coral

nas colunas da colina.


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O menino azul

O menino quer um burrinho


para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho


que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho


que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo


que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,


pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)

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As Meninas

Arabela
abria a janela.
Carolina
erguia a cortina.
E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”
Arabela
foi sempre a mais bela.
Carolina,
a mais sábia menina.
E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”
Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
uma que se chamou Carolina.
Mas a profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”
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Para ir à Lua

Enquanto não têm foguetes


para ir à Lua
os meninos deslizam de patinete
pelas calçadas da rua.

Vão cegos de velocidade:


mesmo que quebrem o nariz,
que grande felicidade!
Ser veloz é ser feliz.

Ah! se pudessem ser anjos


de longas asas!
Mas são apenas marmanjos.
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O cavalinho branco

À tarde, o cavalinho branco


está muito cansado:

mas há um pedacinho do campo


onde é sempre feriado.

O cavalo sacode a crina


loura e comprida

e nas verdes ervas atira


sua branca vida.

Seu relincho estremece as raízes


e ele ensina aos ventos

a alegria de sentir livres


seus movimentos.

Trabalhou todo o dia, tanto!


desde a madrugada!

Descansa entre as flores, cavalinho branco,


de crina dourada!
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Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol


ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,


ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,


quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa


estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,


ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo …


e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,


se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda


qual é melhor: se é isto ou aquilo.

@prof.gaby.alfabetização
A bailarina

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá


Mas inclina o corpo para cá e para lá

Não conhece nem lá nem si,


mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar


e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu


e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,


e também quer dormir como as outras crianças.
@prof.gaby.alfabetização

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